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1
CLÁUDIA MARA PILOTO DA SILVA PAROLISI
DOS QUADRINHOS AOS “QUADRÕES”
-
EDUC
OMUNIC
AÇÃO E SEMIÓTICA: UMA PROPOSTA DE
LEITURA VERBO
-
VISUAL A SERVIÇO DO
MULTILETRAMENTO.
Mar
ília
2007
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http://www.livrosgratis.com.br
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2
UNIMAR
-
UNIVERSIDADE DE MARÍLIA
CLÁ
UDIA MARA PILOTO DA SILVA PAROLISI
DOS QUADRINHOS AOS “QUADRÕES”
-
EDUC
OMUNIC
AÇÃO E SEMIÓTICA: UMA PROPOSTA DE
LEITURA VERBO
-
VISUAL A SERVIÇO DO
MULTILETRAMENTO.
Dissertação de mestrado apresentada ao Programa
de Pós-Graduação em Comunicação, área de
concentração “Mídia e Cultura, linha de pesquisa
“Produção e Recepção de Mídia”, da Universidade
de Marília, como requisito para obtenção do grau de
Mestre
.
Orientadora:
Profª. Drª. NÍCIA RIBAS D’ ÁVILA
Mar
ília
2007
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3
UNIMAR
-
UNIVERSIDADE
DE MARÍLIA
FACULDADE DE COMUNICAÇÃO, EDUCAÇÃO E TURISMO
Reitor: Márcio Mesquita Serva
PROGRAMA DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM COMUNICAÇÃO
Coordenadora: Profª. Dra. Suely Fadul Villibor Flory
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO: MÍDIA E CULTURA
LINHA DE PESQUISA: PRODUÇÃO E RECEPÇÃO DE MÍDIA
Orientadora
Profª. Dra. Nícia Ribas D’ Ávila
4
5
AGRADECIMENTOS
Primeiramente agradeço a Deus, Nosso Mestre e Senhor, por criar algo tão
enigmático e fascinante como a inteligência humana, e nos dotar de espíri
to,
capacidade
e vontade para mergulhar na árdua tarefa, ou melhor, um desafio: o de fazer ciência.
Sem dúvida, a quem mais preciso dedicar agradecimentos especialíssimos é a
minha orientadora, Dra. Nícia Ribas D’ Ávila
, pela
dedicaçã
o fora do comum, por
todo o
comprometimento para com o nosso trabalho, pelo atendimento prestado, mesmo
intempestivo. Com seriedade e múltiplos conhecimentos soube direcionar meus estudos
de forma ampla e precisa. Reconheço a sorte em ter uma educadora de valor estimado,
orie
ntando meus passos não através de conhecimentos teóricos, mas como exemplo
de vida, por sua determinação e carinho.
À Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, que me proporcionou a
participação no Projeto Bolsa Mestrado, por intermédio da Coordenadoria de Estudos e
Normas Pedagógicas e Diretoria de Ensino de Marília.
Às Professoras e Doutoras: Lúcia Correia de Miranda e Rosangela Marçolla, pela
participação em minha qualificação e pelas contribuições oferecidas para conclusão deste
trabalho.
Especiais agradecimentos à ilustre banca examinadora, nomeadamente:
professora
Dr
a. Lúcia Correia de Miranda (UNIMAR) e professor Dr. Milton Koji Nakata
(UNESP
-
Bauru
).
À
Dra. Elêusis Miriam
Camocardi, pela atenção e sabedoria
.
À minha calorosa e dedicada
família:
mãe,
irmãos, avós (em especial aos que se
encontram em outro plano astral), tios, sobrinhos, primos, cunhados, sogros, afilhados
,
pessoas que me gratific
am com a amizade e cumplicidade.
6
Às professoras Gislaine Maldonado e Maria de Fátima Nascim
ento,
serão sempre
mais do que amigas
.
Aos amigos de trabalho, de hoje e de ontem, em especial aos da E.E.
Antonio
Augusto Netto,
pela amizade, incentivo e apoio incondicional.
Ao corpo discente e docente da E.E. Bento de Abreu Sampaio Vidal
,
por
possib
ilitar nossa pesquisa de campo, em
especial
à professora Valéria Pavão de Souza
Palú
.
À Profª. Dra. Mary Profeta, pela gentileza e colaboração.
Ao
s
Professores
Ms.
: Roberto Reis, Áurea Sílvia A. Marques e Márcia Machado,
sempre disposto
s
a colaborar.
À
secretaria da pós
-
graduação Ros
ângela Braga, pela atenção e profissionalismo.
Quero manifestar o meu profundo reconhecimento aos meus
filhos
e, muito
p
articularmente
, ao meu
marido
, pelo encorajamento e confiança demonstrados desde o
início da
realização
deste projeto até à sua conclusão. A paciência inesgotável perante o
meu estado
de “stress
emocional
”.
Aos meus amigos,
colegas
e professores doutores do programa de pós-
graduação, os quais tive o privilégio de conviver, apreender e compartilhar sonhos
c
omuns.
Aos meus alunos,
pelo encontro de novas possibilidades de aprender.
7
"A grande mágoa da minha vida é nunca ter feito
quadrinhos”.
“Aos doze anos eu já pintava como Rafael, mas levei a
vida inteira para aprender a
pintar como uma criança”.
Pablo Picasso
8
RESUMO
Levando
-se em conta a evolução da História em Quadrinhos e seu
assentamento no universo dos Quadrões, este trabalho se propõe a explicitar
sobre o valor das imagens extraídas dessa mídia visualizada como pr
ática
significante, quando escolhidas para fins pedagógicos na condução de crianças à
alfabetização.
Desse modo nos propusemos analisar a obra Mônica Lisa, parte
integrante do livro intitulado História em Quadrões, pintura de Maurício de Sousa
com a personagem Mônica da história em quadrinhos, fazendo alusão
à
Mona
Lisa
- o retrato mais famoso do mundo -, sob a óptica da teoria semiótica da
Figuratividade (texto visual), desenvolvida por Nícia Ribas D’Ávila. Nosso objetivo
é mostrar a eficácia desta metodologia para a escolha da imagem mais eficaz ao
desenvolvimento de potencialidades de aprendizagem na criança. Sua
aplicabilidade fundamenta-se cientificamente nos postulados da s
emiótica
desenvolvida por Algirdas Julien Greimas para o texto verbal
.
Diante da
necessidade de uma junção ao caráter verbal que recobre nossa preocupação
maior
- o acesso à leitura -
,
desenvolvemos em paralelo, sob o prisma das teorias
citadas, outra análise complementar verbo-visual de uma publicidade de
brinquedos (desenhados por Maurício de Sousa) portadora da continuidade de
vários traços imagéticos (desse autor) selecionados em nossas
pesquisas
anteriores.
A partir de constatações obtidas, nossa ta
refa consistiu em
mostrar que
o entrelaçamento dessas teorias possibilita uma leitura não apenas com os olhos,
mas com outros sentidos, interpretando até os sinais que não foram feitos para
serem “lidos”. A organização semântica no visual, uma vez desconstruída pela
teoria daviliana da Figuratividade, coloca-nos diante das dificuldades encontradas
pela criança em fase de alfabetização, permitindo superá-las com a seleção da
imagem apropriada como insumo para o ensino
-
aprendizagem. Diante do exposto,
pretend
emos mostrar aos profissionais preocupados com a formação de um leitor
competente, a importância de ambas as teorias que tornam o processo de leitura
mais produtivo, permitindo descobertas de novos horizontes na interpretação,
compreensão e reprodução do t
exto.
Palavras
chave
: Educomunicação; História em quadrinhos; História em
Quadrões, Multiletramento; Semiótica verbo
-
visual/
Figuratividade.
9
ABSTRACT
Taking into consideration the evolution of Comic Strips and its inserting on
the Quadrões universe, this paper has the goal of explicating the value of the
images extracted from this visualized media as a significant practice, when chosen
with pedagogical purposes conducting children to literacy. Thus, we have proposed
to analyse the masterpiece Monica Lisa, part of the book História em Quadrões,
Mauricio de Sousa’s painting of his comic strips’ character Monica, referring to
Mona Lisa the most famous portrait in the world under the view of the
Figurativity Semiotic theory (visual text), developed by Nícia Ribas D’Ávila. Our
Objective is to show the efficiency oh the methodology for chosing the most
efficient image for the development of potentialities of the learning for children. Its
applicability is founded scientifically on postulates of the semiotic developed by
Algirdas Julien Greimas for the verbal text. In front of a union to the character
which is our biggest worry
the access to reading
-
, we have developed in parallel,
under the mentioned theories view, another complementary verb-visual analysis of
toy
s propaganda (designed by Mauri
cio
de Sousa) holder of the continuity of many
imagetic traits (of this author), already selected in our prior researches. From
obtained proofs, our job was to show that the relationship of these theories makes
po
ssible a reading not only by the eyes, but also by other senses, interpreting even
the signs that were not made to be “read”. The semantic organization on the visual,
once unconstructed by the davilian Figurativity theory, sets us in front of the
difficult
ies met by children in literacy phase, allowing us to overcome them with the
selection of the appropriate image as an ingredient for the learning/teaching
process. Based on this, we intend to show to the professionals concerned about
formatting a competent reader, the importance oh booth theories that make the
reading process more productive, allowing the discovery oh new horizons on the
interpretation, comprehension and reproduction of new texts.
Key words: Educommunication; Comic Strips; História em Qua
drões
; Multi-
literacy; Verb
-
visual/Figurativity Semiotic.
10
SUMÁRIO
APRECIAÇÕES INTRODUTÓRIAS
...................................................................................15
I
-
HISTÓRIA EM QUADRINHOS
ORIGEM E EXPAN
SÃO DA NONA ARTE
............
26
1.1
Essência da arte/
comunicação....................................................
..............................26
1.2
Paralelismo entre a História em Quadrinhos e os movimentos artísticos que
precederam o seu nascimento....
..........................
................................
..............................28
1.3
A primazia da Nona Arte .............................................................
.
..............................58
1.4
Do Brasil para o mundo
As Histórias em Quadrinhos de Mau
rício de
Sousa...............................................................................
..............................
.....................60
1.5
Educomunicação
História e
m
Quadrinhos e sua interatividade com o
ensino........................................................................................
...........
..............................71
II
-
TEORIA GREIMASIANA E TEORIA DAVILIANA
........................
..............................79
2.1
Teoria Semiótica de A. J. Greimas para a linguagem
verbal ...
................................
.
...79
2.1.1
Percurso Gerativo do Sentido Verbal.......................................
...........................84
2.1.2
Níveis de estruturação do Sentido Verbal.................................
................
..........86
2.2
Teoria Semiótica da Figuratividade Visual de N. D’Ávila.............
...
..............................95
2.2.1
Percurso Gerativo do Sentido Visual........................................
..........................97
2.2.2
Níveis de estrut
uração do Sentido Visual................................
..........................99
III
-
A APLICABILIDADE DAS TEORIAS DE GREIMAS E DE D’ÁVILA
FAVORECENDO O MULTILETRAMENTO
.................................................................
...106
3.1
Letrame
nto Estético
-
Visual, além da Alfabetização.................
...............................
...106
3.2
Corpus
Visual.
Dos quadrinhos aos Quadrões
-
Mônica Lisa
-
Análise
semiótica
em Teoria
Daviliana.......................................................
.......................................
.
.....109
11
3.2.1
A Substância do Conteúdo Visual .......................................
.
.........................109
3.2.2
A Forma do Conteúdo Visual (nível superficial e profundo).......
..........
.
..
.
..
.
...112
3.3
A escolha de
um texto sincrético.
Uma Publicidade como
Corpus
verbo
-
visual
sob o caráter Proxêmico....................................................................................
........119
3.4
Análise semiótica da linguagem verbal...........................
....................
.................
.....
.
126
3.4.1
Estruturas Discursivas.....................................................................
...........
.....126
3.4.2
Estruturas Sêmio
Narrativas de Superfície......................................
............136
3.4.3
E
struturas Sêmio
Narrativas profundas...........................................
.....
.......
142
3.5
Análise semiótica da linguagem visual..............................................
.................
......
142
3.5.1
As etapas da reconstrução do sentido visual: Su
bstância e Forma da
Expressão + Substância e Forma do Conteúdo.
......................................
......146
IV
-
O PAPEL DAS HISTÓRIAS EM QUADRINHOS NO PROCESSO ENSINO
-
APRENDIZAGEM
.......................................................................
...............................
.....
.1
71
4.1
Em busca de respostas.
........................................................................................
.....171
4.2
Os quadrinhos na sala de aula
Estudo de caso.
......................
.........................
......173
4.2.1
A competência dos quadrinhos
no desenvolvimento global das
crianças.
.
....181
4.2.2
Desvendando o enigma do desenho infantil
.....................
..........
...........
........186
4.2.3
A escolha dos elementos visuais das H.Q.
para o exteriori
zar da
expressão visual da criança.
...................................
..................
......................189
CONSIDERAÇÕES FINAIS....
....................................
..
...................................................
193
REFERÊNCIAS BIBL
IOGRÁ
FICAS..............
...............................................................
...200
ANEXOS .............................................................................................
.............................209
12
Índice Geral dos Gráfi
cos, Quadros e Ilustrações:
a)
Lista de Gráficos
Gráfico 1: Rendimento dos alunos da 8ª série
do Ensino Fundamental.........................16
Gráfico 2: Rendimento dos alunos do 3º ano do Ensino Médio......................................16
Gráfico 3:
Prática de leitura dos alunos do Ensino Médio...............................................17
b) Lista de Quadros
Quadro 1: Percurso Gerativo do Sentido na manifestação verbal.................................. 85
Quadro 2: Percurso Gerativo do Sentido
na Manifestação Visual.................................. 97
Quadro 3: A circulação do Objeto entre Sujeitos...........................................................136
Quadro 4: Esquema Narrativo, Greimas
decodificado por D’Ávila......................
.......137
Quadro 5: Substância e forma da expressão do
corpus
............
.............................
.
......146
Quadro 6: Das oposições semânticas...........................................................................157
c) Tabelas
Tabela 1:
Dados dos alunos que responderam o questionário
.....................................173
Tabela 2:
O contado com as revistas em quadrinhos
....................................................173
Tabela 3:
O que
mais desperta atenção
HQ
...............................................................174
Tabela 4:
Personagens preferidos
.................................................................................174
d) Lista de Figuras
Figura 1: Sistema de co
municação de Jakobson ...........................................................27
Figura 2: Pintura rupestre
Gruta de Lascaux ............................................................29
Figura 3: Afresco Egípcio
Tumba de Menna..................
............................................. 30
Figura 4: Vaso Grego
“Corrida masculina a pé”...........................................................31
Figura 5: Cena da coluna de Trajano...............................................................
...............32
Figura 6: Fragmentos de um rolo de seda
séc. III
Ku
-
Khai
-
Chich.............................34
Figura 7: As tapeçarias de Bayeux..................................................................................35
Figura 8: Vitral
“Ex
pulsão de Adão e Eva do Paraíso”.................................................36
Figura 9: Efeito de iluminação cenital..............................................................................37
Figura 10: Iluminura
“Cantigas de Santa Maria”.....
......................................................38
Figura 11
: Filactério
“Conversão do Apó
stolo Paulo”...................................................38
Figura 12: Narrativa Visual
“Adoração do Cordeiro Místico”
Jan van Eyck...............40
Figura 13: Gravuras em série
“The Rakes’s Progress”
William Hogarth...................41
Figura 14: Série de quadros
Goya................................................................................43
Figura 15: Dr. Syntax........................
...............................................................................44
Figura16: Mangá
Hokusai.............................................................................................45
Figura 17: “Lê monde renversé”
Pellerin............
......................................................... 46
Figura 18: “Lês Amours de monsieur Vieux
-
Bois”...........................................................47
Figura 19: Max und
Moritz
Wilhelm Busch.........
.....................................
....................
48
Figura 20: “As aventuras de Nhô Quim”
Ângelo Agostini.............................................48
Figura 21: “La Famille Fenouillard”
Christophe...........................................................
.
49
Figura 22: “Down
Hogan’s Alley”
Richard Outcaut.....................
..................................53
Figura 23: “At the
Circus in Hogan’s Alley
Richard Outcaut........
.................................54
Figura 24: “The Yellow Kid”
camisola amarela................
.............................................54
13
Figura 25: “Down Hogan’s
-
uso do balão......................................................................55
Figura 26: “Litt
le Nemo in Slumberland”
McCay.........................
.......................
...........57
Figura 27:
“Little Nemo in Slumberland”
qualidade estética.........................................58
Figura 28: Paradáticos
Coleção Você Sabia?..............................................................65
Figura 29: Paradáticos
Turm
a da Mônica
Brasil Paraolímpico .................................65
Figura 30: Passagem da Bíblia com a Turma da Mônica................................................65
Figura 31: Turma da Mônica
Drogas
Uma História que precisa ter fim..............
.......65
Figura 32: História em Quadrões
pinturas de Maurício de Sousa................................66
Figura 33: Contos e lendas
O Gênio e as Rosas.........................................................66
Figura 34: Página do Quadrão
Magali e M
ônica de Rosa e Azul.................................69
Figura 35: Cena de H.Q surrealista.................................................................................74
Figura 36: Cena de H.Q romântica..................................................
................................74
Figura 37: Cena de H.Q expressionista...........................................................................74
Figura 38: Cena de H.Q. neogótica.........................................................................
........75
Figura 39: Cena de H.Q art n
ouveau.......
.
.......................................................................75
Figura 40: Cena de H.Q grafite........................................................................................75
Figura 4
1: Clássicos da literatura em quadrinhos
“Memórias Sargento”..................... 77
Figura 42: Esquema Figuralidade/ Figurativo
Nícia R. D’Ávila.....................................98
Figura 43: Esquema da Figuratividade em semiótica visual...........
...............................101
Figura 44:
Mônica Lisa
Maurício de Sousa
.................................................................109
Figura 45: Divisões
Mônica Lisa.............................................................................
....113
Figura 46: Esquema retilíneo ........................................................................................113
Figura 47: Corpo
Sema nuclear da
esferoidicidade
...............
..............................
.....114
Figura 48: Os planos..
....................................................................................................114
Figura 49: Proporções, distância, volumes e massas...................................................115
Figura 50: Isotopia da horizontalidade ........
..................................................................116
Figura 51: Isotopia da verticalidade...............................................................................116
Figura 52: Isotopia da diagonalidade...............................
..............................................116
Figura 53: Isotopia do paralelismo.................................................................................116
Figura 54: Ponto de tensão.............................................................
...............................117
Figura 55: Corpus verbo
-
visual......................................................................................121
Figura 56: Marca Turma da Mônica Baby................................................................
..... 121
Figura 57: Título
Pintaram os novos bonecos........................................................... 122
Figura 58: Logotipo do fabricante..................................................................................122
Figura 59: Boneco.
.........................................................................................................123
Figura 60: Texto complementar:....................................................................................123
Figura 61: A embalagem do pro
duto.............................................................................124
Figura 62: Quadrado semiótico da volição....................................................................142
Figura 63: Moldura
Espaço zero/ espaço fundo.............
............................................143
Figura 64:
Corpus
Visual...............................................................................................144
Figura 65: Espacialização das manchas................................................
.......................148
Figura 66: Manchas diagonalizadas..............................................................................148
Figura 67: Manchas
Projeção paradigmática.............................................................150
Figura
68: Cromatismo diagonalizado...........................................................................151
Figura 69: Extrapolação da
forma
..................................................................................153
Figura 70: Logotipos/
eqüiláte
ro
e isóscele...................................................................154
Figura 71: Pirâmide de base quadrada.........................................................................154
Figura 72: Simetria........................................
................................................................156
Figura 73: Rimas plásticas............................................................................................156
Figura 74: Espaços
figurais
/ figurativos:.......................
..............................................156
Figura 75: Percurso do olhar.........................................................................................157
14
Figura 76: Traços
manchas........................................................................................160
Figura 77: Mapa das Américas......................................................................................160
Figura 78: Formato original
manchas verde.............................................................
..160
Figura 79: Dragão..........................................................................................................16
0
Figura 80: Morcego........................................................................................................1
61
Figura 81: Caracol.........................................................................................................16
1
Figura 82: Gato..............................................................................................................
1
61
Figura 83: Galo..............................................................................................................
161
Figura 84: Coelho da Mônica.........................................................................................162
Figu
ra 85: Coelho/
interferência do analista...
....
...........................................................162
Figura 86: Pata do coelho..............................................................................................162
Figura 87: Pegada do co
elho.........................................................................................162
Figura 88: Projeção do boneco......................................................................................163
Figura 89:
E
sferoidicidade
..............
...............................................................................164
Figura 90: Ponto de incidência .....................................................................................164
Figura 91: Entrecruzamento de Linhas.................
.........................................................165
Figura 92: Ponto O/ eixo central....................................................................................165
Figura 93: Figura projetada...............................................
.............................................165
Figura 94: Formas circulares/ ovóide...... ......................................................................166
Figura 95: Forma circular.................................................................
..............................166
Figura 96: As linhas vertical e horizontal.......................................................................166
Figura 97:
Primitivos figurativos
........................................................................
.............167
Figura 98: Linhas paralelas............................................................................................167
Figura 99: simetria/ assimetria.....................................................................................
..167
Figura 100: Quadrado semiótico da espacialidade........................................................168
Figura 101:
Quadrado da Veridicção
.............................................................................168
Figura 102: Interpretação
Alice no país das Maravilhas............................................ 175
Figura 103: Alice conversando com Gui........................................................................175
Figura 104: Almanaque Chico Bento.................................
............................................176
Figura 105: Interpretação linguagem dos quadrinhos...................................................176
Figura 106: Atividades verbo
-
visuais...................................................................
......... 177
Figura 107: Atividade verbo
-
visual................................................................................177
Figura 108: Atividade contendo elementos da linguagem dos quadrinhos............
.
..... 178
Figura 109: História lida........
...............................................................................
.
.........178
Figura 110: Continuando a história utilizando a linguagem visual.................
.
.............. 179
Figura 111: Proposta de produção de texto.....................
.............................
.
................179
Figura 112: Narrativa seqüencial .......................................................................
.
..........180
Figura 113: Produção do aluno..........................................................
.......................
..
...180
Figura 114: Seqüência narrativa de três cenas.........................................................
.
...180
Figura 115: Mônica e a letra M....................................................................................
.
.189
Figura 116: Alice .........................................................................................................
.
.189
Figura 117: Imagem ampliada......................................................................................
.
190
Fig
ura 118
: Interpretação cena do filme
-
Alice...............................................
.
...........
.
.190
Figura 119
: Interpretação da leitura da
capa do gibi.....................................................191
Figura 120: Narrativa seqüencial visua
l ......................................................................
..
192
15
Apreciações Introdutórias
São muitos os indicadores que afirmam não terem os estudantes
brasileiros, domínio pleno das habilidades de leitura e escrita.
O Brasil tem 13 milhões de analfabetos, ou seja, 7% da população com
mais de 15 anos, que não sabem ler e nem escrever, dados mostrados pelo
Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional (INAF/ 2005).
Em 2005, foi realizada pesquisa pelo Instituto Paulo Montenegro,
verificando
-se que somente 25% da população com mais de 15 anos tem
domínio pleno das habilidades de leitura e escrita. Apenas um, em cada quatro
jovens e adultos brasileiros, consegue compreender completamente as
informações contidas em um texto e relacio
-las com outros dados. O
restante, 65% dos brasileiros, são os chamados analfabetos funcionais, que
mal conseguem identificar enunciados simples, sendo incapazes de entender
textos mais longos ou com alguma complexidade.
Todos os dados acima foram extraídos do Programa Internacional de
Avaliação de Alunos (PISA), efetivado pela primeira vez em 2000, o qual
mostrou que os alunos brasileiros com idade de 15 anos não entendem o que
lêem. Entre os 32 países que se submeteram aos testes, o Brasil ficou em
últ
imo lugar. O PISA é uma avaliação patrocinada pela Organização para a
Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), e tem como propósito,
traçar um panorama mundial da educação com a aplicação de testes trienais
nas diversas áreas do conhecimento.
O SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), aplicado
em 2005, que testa conhecimentos de português e matemática em estudantes
da série e da série do Ensino Fundamental e do ano do Ensino Médio,
divulga queda de rendimento em quase todos os
níveis de ensino.
16
Os resultados destas avaliações foram anunciados em 08/02/2007, pelo
Ministério da Educação (MEC) e publicados em diversos meios de
comunicação.
Os gráficos abaixo, demonstram os números percentuais das médias
Nacionais do SAEB entre os períodos de 1995 a 2005, num ponto máximo de
500 pontos. (gráficos 1 e 2).
Gráfico 1: Rendimento dos alunos Gráfico 2: Rendimento dos alunos
da 8ª série do Ensino Fundamental
1
do 3º a
no do Ensino Médio
Esses indicadores mostram uma tristíssima realidade, e revertê-
la,
tornou
-
se um dos maiores desafios da educação.
Sendo professora de arte mais de 20 anos, atuando com alunos do
ensino fundamental e médio
da
rede pública
de
ensino
, ao nos depararmos
com estes índices, não conseguíamos compreendê-los nem sequer aceitá-
los.
Então, mobilizamos várias indagações que nos levaram a perceber a
complexidade do fenômeno em questão que despertou em nós o desejo de
realizar um estudo sistematizado no qual pudéssemos investigar mais
detalhadamente, as causas e possíveis soluções.
Nesse meio tempo, participamos de várias capacitações e oficinas,
envolvendo a temática em questão, dentre elas destacamos: o E
ns
ino Médio
em Rede - um modelo de sistema de formação continuada em serviço de
agentes educacionais com o apoio de tecnologias de informação e
comunicação da Secretaria da Educação, Coordenadoria de Estudos e Normas
Pedagógicas (CENP) e Fundação Carlos Alberto Vanzolini (FCAV), sendo que
1
Fonte: Jornal O Estado de S. Paulo, quinta
-
feira, 8 de fevereiro de 2007, página
A16, caderno
VID
A
&.
17
um dos objetivos consiste em trabalhar o currículo de modo interdisciplinar,
principalmente por meio da leitura e da escrita, com o intuito de trazer
mudanças para as práticas pedagógicas.
Para uma análise inicial, recebemos alguns dados do Sistema de
Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (SARESP/2003),
traçando o panorama dos alunos do Ensino Médio, em relação às práticas de
leitura, conforme podemos observar no gráfico a seguir:
Gráfico 3: da prática de leitura dos alunos do ensino médio
Fonte material
Ensino Médio em
Rede, oferecido em 03/05/05.
Os números nos mostram que a preferência dos alunos pelas revistas
em quadrinhos e os livros de literatura são semelhantes, sendo mínima a
diferença entre eles.
Os resultados apresentados pelo gráfico despertaram a atenção e
curiosidade pelas revistas em quadrinhos, pois a História em Quadrinhos é
uma arte dinâmica que não pára de nos surpreender. É uma forma de
comunicação visual que emprega três códigos para transmitir a mensagem:
o
lingüístico, o pictórico e o proxêmico, e como qualquer outra narrativa, essas
histórias têm como elementos: personagens, tempo, espaço e ação, e o leitor
evidentemente, para entendê-las precisa desenvolver habi
lidades
18
interpretativas verbo-visuais e proxêmicas
2
. Fator este, significante para
escolha de nosso objeto de análise.
Partindo do princípio de que a aprendizagem da leitura é entendida
como um processo complexo e intenso, que envolve o domínio de uma sé
rie de
habilidades
- Ana Maria Yasuda (2004, p.77) nos alerta dizendo que,
infelizmente, a maioria das instituições de ensino desenvolve no aluno a
capacidade interpretativa, onde a mesma abordagem é utilizada tanto para a
poesia como para textos publicitários. E essa prática considera apenas o que o
texto quis dizer, e dificilmente busca a apreensão de sentidos do texto, ou seja,
a compreensão da produção de sentido desencadeado pelo texto que deve ser
atualizado pelo leitor.
Nesse nosso percurso, encontramos muitas informações como esta,
mas não conseguíamos entender e colocar em prática a busca efetiva da
apreensão do sentido textual, principalmente o que se insere nas Histórias em
Quadrinhos. Foi então que, em março de 2005, matriculamos-nos no programa
de Mestrado em Comunicação da Universidade de Marília, por sabermos que
dele obteríamos ensinamentos estruturados em recursos e estratégias
utilizados pela cultura midiática, assim como as possibilidades de se examinar
os produtos midiáticos da produção e recepção; a desconstrução de imagens e
os seus significados reconstruídos pelos meios de comunicação. Também pelo
simples fato da História em Quadrinhos ser um produto procedente da dia
impressa.
Logo no segundo semestre, chegou ao fim nossa incessante busca, pois
em agosto, iniciaram-se as aulas da disciplina de “Teoria da Semiótica
Texto
e Imagem”, ministrada pela Dra. Nícia Ribas D’Ávila, cuja fundamentação
teórica é totalmente centrada nos postulados greimasianos. Pouco a pouco,
percebemos que esta teoria proporciona elementos que favorecem uma leitura
efetiva do texto, pois ela não somente almeja estudar aquilo que o texto “diz“,
mas muito mais, “como o texto diz aquilo que diz” (D’ÁVILA, 2006, p. 01).
A respeito dessa leitura efetiva, Nícia D’Ávila (2006, p.04) diz que, “olhar
o mundo e aprender a ver, representa poder entender o mecanismo gerador do
2
A Proxêmica é uma disciplina semiótica que “visa a analisar a disposição dos sujeitos no
espaço e, mais particularmente, o uso que os sujeitos fazem do espaço para fins de
significação”. (GREIMAS & COURTÉS, s/d: 359)
19
sentido inserido nos objetos” (...) E continuando esse pensamento, a escola
deve preocupar-se em desenvolver habilidades que beneficiem esse tipo de
aprendizado, em que os textos devem provocar os sujeitos leitores, cuja
atuação possa recriar novos sentidos aos textos.
Os conhecimentos transmitidos pela Dra. Nícia D’Ávila foi de extrema
importância para efetivarmos nossos objetivos, além de facilitar o entendimento
da teoria greimasiana, ao realizar uma releitura didática do percurso gerativo
do sentido organizado por Greimas, ela teorizou o percurso gerativo do sentido
para análise de textos não-verbais, conhecida como teoria daviliana.
Realmente, era tudo o que faltava para analisarmos nosso
corpus
por
completo.
Objetivos:
Mediante tais considerações, nosso principal objetivo é que esta
dissertação sirva de suporte teórico e prático, para que outros educadores
possam utilizar os recursos aqui apresentados como instrumento pedagógico,
com o intuito de contribuir para aumentar o nível da compreensão leitora dos
alunos. Assim como mostrar que o entrelaçamento de duas teorias
(greimasiana
texto verbal e daviliana texto visual) possibilita uma leitu
ra,
não apenas com os olhos, mas com outros sentidos, interpretando até os sinais
que não foram feitos para serem “lidos”. Pretendemos uma leitura mais atenta,
levantando os referenciais do texto para uma perfeita compreensão. E também
apresentar a utilidade da História em Quadrinhos como prática educativa,
assim como, o resultado de algumas investigações realizadas com alunos na
fase de alfabetização utilizando o referido recurso midiático.
Nossa escolha, nosso
corpus
Tomando como base os apontamentos acima, para determinarmos um
corpus
para a nossa pesquisa e percebendo como educadora a preferência
das crianças pelos figurais das Histórias em Quadrinhos de Maurício de Sousa,
optamos por trabalhar o quadro Mônica Lisa, parte integrante do livro intitula
do
História em Quadrões
pintura de Maurício de Sousa com a personagem Mônica
20
da história em quadrinhos, fazendo alusão a Mona Lisa, o retrato mais famoso
do mundo. E como suporte teórico-metodológico analisaremos também o
anúncio publicitário, contido na contracapa de uma das publicações de
Maurício de Sousa, editadas pela Editora Globo, cujos direitos autorais
pertencem aos Estúdios Maurício de Sousa.
A escolha do anúncio ocorreu em função da similaridade com a
linguagem sincrética dos quadrinhos, ou seja, a união da linguagem verbal /não
verbal e pelo fato do mesmo apresentar uma riqueza de elementos
expressivos, intelectuais e simbólicos que dinamizam o texto.
Por que Mau
rício de Sousa?
Maurício de Sousa é considerado sem sombra de dúvidas o melhor e
mais popular quadrinista brasileiro de todos os tempos. Suas criações
atingiram três gerações, além de conseguir determinar uma identidade nacional
para o quadrinho infantil, o autor é um grande incentivador da leitura,
promovendo a participação e a execução de projetos de ação social, não
somente na área educacional, mas também na saúde, no meio ambiente e na
cultura.
Metodologia da pesquisa
A semiótica é entendida como uma ciência que nos ensina a ver.
Enquanto metalinguagem, ela cria o seu próprio método. Contudo, adotaremos
nesta pesquisa de método hipotético-dedutivo, que procura uma solução por
intermédio de tentativas, determinado pela ‘interoceptividade’
(GREIMAS/
COURTÉS, s/d. p. 239), categoria classemática dos estímulos
internos, que acarreta no analista pressuposições lógicas. Esse método
proporcionou
-nos a aquisição de resultados desejáveis (deduções), com o
acompanhamento, em sincronia, das teorias abaixo rela
cionadas.
São duas teorias semióticas: a teoria greimasiana
texto
-verbal e a
daviliana
texto visual, partiram do embasamento teórico desenvolvido pelos
estudos de A. J. Greimas, que oferece um instrumental de análise dos
21
processos de significação, os quais geram um efetivo aprofundamento no
estudo do texto, por via do
percurso gerativo de sentido
.
Organização da dissertação:
Nesse sentido, no Capítulo I, nosso trabalho se propõe a analisar a
evolução da História em Quadrinhos que conquistou legiões de admiradores e
colecionadores no mundo todo. Com tanta popularidade, acabou gerando toda
uma gama de produtos como desenhos animados, bonecos, mochilas, bolsas,
sapatos, roupas...
Tendo em vista tais informações, apresentaremos o nascimento e
expansão de uma das formas modernas de arte: a História em Quadrinhos -
técnica narrativa que conjuga as linguagens: verbal, visual e proxêmica.
Will Eisner, considerado o papa das Histórias em Quadrinhos, o
quadrinista que mudou os conceitos da chamada nona arte é o criador do
termo “arte seqüencial”. Para ele esta pode ser usada como “um veículo de
expressão criativa, uma disciplina distinta, uma forma artística e literária”...
(EISNER, 2001, p. 5).
Encontramos na obra História em Quadrinhos & Comunicação
de
COUP
ERIE, Pierre e outros (1970), argumentos que complementam o termo
criado por Will Eisner. Para os autores as histórias em quadrinhos, foram
elevadas ao
status
de Arte, como a música; a dança; desenho/pintura;
a 4ª escultura/arquitetura; a 5ª literatura; o 6ª teatro; o 7ª cinema e a 8ª
fotografia.
Em 1967, pela primeira vez na história, os quadrinhos ocupavam um
espaço ilustre, o Museu de Artes Decorativas do Louvre, em Paris, abriu suas
galerias para a exposição
Bande Dessinée et Figuration Narrat
ive.
Nesta mesma época, surgiram os primeiros estudos voltados à inserção
das histórias em quadrinhos como arte. Intelectuais, cineastas, artistas e
editores, principalmente italianos e franceses, enveredaram-se em defesa
desta também chamada
nona arte
, p
or esta destacar
-
se como uma mensagem
que transmite uma informação, representando idéias, temas, capaz de exercer
uma influência direta sobre o receptor, aguçando tanto a sua percepção quanto
a sua sensibilidade.
22
Demonstraremos ainda o surgimento e a prop
agação dos quadrinhos da
Turma da Mônica e outros produtos e subprodutos oriundos dessa mídia,
principalmente os direcionados à área educacional.
Importantes nomes serão destacados; mestres da história da arte,
grandes pensadores e ilustres pesquisadores, que também foram de extrema
importância para o desenrolar desta etapa.
Nosso intuito neste capítulo é mostrar que a História em Quadrinhos é
um valioso instrumento para o ensino, pois ainda nos dias de hoje,
encontramos leigos que consideram-na um tipo de literatura prejudicial à boa
educação dos leitores. Para tanto, tomaremos como processo de construção
de conhecimento a prática da Educomunicação.
3
Dentro desta perspectiva, no Capítulo II, apresentaremos os
fundamentos teóricos de duas teorias que citamos neste intróito: a semiótica
francesa de Greimas para textos verbais e a teorização de Nícia D’Ávila para a
semiótica visual, dedicada aos textos visuais, sendo que ambas servirão de
suporte metodológico para analisarmos nosso
corpus.
Na ótica da teoria
greimasiana
, o sentido é pluralizado em vários
percursos no universo das isotopias. O sentido está no texto e não fora dele.
Neste tipo de análise, buscaremos não descrever, mas chegar aos valores,
desmontar o texto, analisar suas oposições semânticas e remontá-lo a partir
das relações articuladas do sentido e organizadas no quadrado semiótico. Os
sentidos são relações que se estabelecem entre os dois planos da linguagem:
o plano do conteúdo (significado Saussuriano) para e o plano da expressão
(signifi
cante Saussuriano).
A teoria daviliana, por sua vez, prende-se vigorosamente no imagético,
simbólico e semi-simbólico, entendendo a arte como linguagem e o objeto de
arte como texto
.
Nesse caso a imagem, enquanto texto é uma unidade de
significação contendo um agenceamento de traços e formas, uma organização
relacional portadora de sentido, onde múltiplas partes “falam” de modo
coerente em relação ao todo imagético.
3
Educomunicação
é o nome dado ao campo de reflexão/ação que une as áreas de Educação
e Comunicação Social.
23
Dentro desta visão, a imagem é considerada um texto a ser lido. Todo e
qualquer texto constituído de imagens é compreendido, quase que
universalmente, diferentemente dos verbais. Aprender a abordar
significativamente o não-verbal de um texto qualquer em sua materialidade
significante é ver que essa camada do discurso vem também carregada de
signi
ficados, fornecendo a matéria-prima significante e significada que,
produzindo sentido, determina o modo sob o qual o texto deverá ser
interpretado.
Assim sendo, no capítulo III, analisaremos o
corpus,
efetivamente,
alcançado por meio da análise semiótica com a utilização da teoria daviliana
explicitada no capítulo II, onde pretendemos estudar os procedimentos
sintático
-semânticos, do quadro Mônica Lisa, parte integrante do livro intitulado
História em Quadrões
pintura de Maurício de Sousa com a personagem
Mônica
da história em quadrinhos, fazendo alusão à Mona Lisa, o retrato mais famoso
do mundo. Tendo em vista que cada vez mais a imagem passou a tomar conta
de nossas vidas, f
az
-se necessário adquirirmos habilidades e competências
para a prática da leitura visual, ou seja, aprender a captar os sinais que a
imagem carrega. Nesse caso, todos os elementos contidos na obra serão
analisados como um todo de sentido.
Num segundo momento, apresentaremos a análise verbo-
visual
da
mensagem publicitária do produto Maurício de Sousa Produções/ Turma da
Mônica em parceria com a empresa Multibrink, veiculada na contracapa da
revista de grande circulação: Almanacão de Férias da Turma da Mônica
nº.
34/2001, dirigida ao público infanto-juvenil, sob a ótica da semiótica
greimasiana (texto verbal) e daviliana (texto visual), com o intuito de atender
um dos propósitos desta pesquisa: oferecer suporte teórico e prático, para que
outros educadores possam utilizar os recursos aqui apresentados como
instrumento pedagógico. Sendo assim, a análise dessa peça publicitária
proporcionará uma visão mais clara das teorias, garantindo um
aprofundamento efetivo dos conceitos apresentados.
A preferência sobre esse anúncio deu-se também em função de
percebermos que o mesmo congregaria em sua espacialidade, todas as
possibilidades verbo-visuais programadoras de inserções enunciativas
24
(embreagens) no surgimento dos Quadrões e dos próprios bonecos constantes
na totalid
ade dos quadrinhos de uma História em Quadrinhos.
O texto como totalidade de sentido e busca, determina o modo de
produção desse sentido, isto é, como o texto se diz texto. Para isso, é adotado
como modelo o percurso gerativo da significação que é uma
representação
dinâmica dessa produção de sentido, criado por A.J. Greimas para a análise de
textos verbais, e para a manifestação visual, na teorização de Nícia D’Ávila,
esse percurso gerativo foi submetido a ajustes modificadores (acréscimos e
decréscimos) por tratar-se de uma prática significante admitida como
“linguagem”
-
a VISUAL.
No capítulo IV, será exposta a análise dos resultados obtidos com a
pesquisa de campo realizada com alguns alunos da 1ª A série do Ensino
Fundamental da E.E. Bento de Abreu
Sampaio
(rede Estadual de Educação da
cidade de Marília/SP), no exercício de 2005, em que as revistas da Turma da
Mônica
, foram utilizadas como material didático-
pedagógico.
Mostraremos como as crianças adquiriram competências e habilidades
nas diversas áreas do conhecimento. Tanto pelo apelo dos personagens, com
os quais criaram uma profunda empatia, quanto pelo aspecto gráfico das
publicações, sempre com muitas ilustrações, contendo figurais simples,
aproximando
-se da visão primária que as crianças têm das coisas. Diante do
exposto, a proposta dessa etapa é relatar o resultado de algumas
investigações realizadas com esse recurso midiático, apresentando os reais
benefícios em prol do multiletramento.
Como podemos observar, as análises aqui propostas re
almente,
atendem a perspectiva do multiletramento:
Multiletramento, aqui, significa que “compreender e produzir textos
não se restringe mais ao trato do verbal (oral ou escrito), mas à
capacidade de colocar-se, em relação às diversas modalidades de
lingu
agem: oral, escrita, imagem, imagem em movimento, gráficos,
infográficos, para delas tirar sentido. Esta é, aliás, uma das principais
dificuldades de leitura dos alunos do Ensino Médio apontada nos
diversos exames e avaliações.”(ROJO,
apud
Brasil
–MEC, 200
4,
p.31)
E por último, teceremos considerações finais sobre a exposição teórica
metodológica apresentada nas fases anteriores, dando destaque à
aplicabilidade da semiótica, mostrando que esta deve ser vista como prática
25
pedagógica inovadora e mediadora do processo ensino-
aprendizagem,
servindo de instrumento privilegiado para leitura e interpretação dinâmica dos
mais variados textos.
26
I
HISTÓRIA EM QUADRINHOS
ORIGEM E EXPANSÃO DA
NONA ARTE
1.1 Essência da arte/comunicaç
ão
Em toda a história da humanidade, a arte sempre esteve presente na
vida das pessoas, colaborando para a alfabetização estética, possibilitando-
lhes apreensão da realidade por via da sensibilidade. O encantamento da arte
eleva o espírito humano, acentua a percepção e o modo de ver o mundo à sua
volta.
A arte é um tipo especial de narrativa sobre o ser humano, que sintetiza
as visões de mundo de cada época e cultura. A arte também é forma de
expressão. Como forma de expressão é comunicação. A comunicação
,
igualmente, como a
arte está atrelada à vida humana.
Veremos então, o que Edmund Leach
,
diz sobre comunicação:
(...) a comunicação humana concretiza-se por meio de ações
expressivas que funcionam como sinais, signos e símbolos e que
comunicamos uns com os outros de modos e por canais muito
diferentes e muito complexos. (1992, p. 20).
Considerando o pensamento de Leach, a comunicação é um processo
comunicativo compartilhado que envolve a troca de informações, mediada por
sistemas simbólicos e pode acontecer de distintas maneiras e canais
diferentes; como o visual manifestado entre outras formas, por intermédio das
artes plásticas. A comunicação humana é algo tão antigo como a própria
história da humanidade.
Para compreender melhor como ocorre o processo comunicativo,
recorremos a Roman Jakobson (1960), lingüista russo, que nos sugere o
27
seguinte esquema: um emissor
/
destinador produz e envia uma mensagem ao
receptor/ destinatário, por intermédio de um canal/contacto de comunicação
(meio de comunicação)
;
para que se estabeleça a comunicação, essa
mensagem deve ser recebida e decodificada, sendo de extrema importância
que o emissor e receptor estejam inseridos dentro de um mesmo contexto, e
que o código utilizado, ainda que parcialmente, seja conhecido por ambos. O
esquema a seguir ilustra esta explanação.
Codificação Decodificação
Contexto
Emissor Mensagem Receptor
Destinador Contacto Destinatário
Código
Feed
-
back
Figura 1: Sistema de comunicação de Jakobson (1960: 123)
Baseado nesses dados, a arte se destaca como uma mensagem que
transmite uma informação, como se fosse um esplendor daquilo que o homem
é, representando idéias, objetos, temas, sendo capaz de exercer uma
influência direta sobre o receptor, ao afetar tanto a sua consciência quanto a
sua sensibilidade para as coisas do mundo. Nesse sentido, o receptor não
tenta entender o artista, mas também entender a si mesmo. Para isso, é
importante que aprendamos a nos comunicar com as imagens, dialogar com
elas, decifrar seus códigos, isto é, buscar a significação, enfim, no que ela pode
fornecer além de simplesmente “se fazer ver, seduzindo, mas de fazer-
ser,
descobrir, naquilo que ela mais esconde do que mostra”
4
. Abordaremos mais
detalhadamente, o processo de significação no próximo capítulo.
Dentro dessa amplitude de pensamentos, a arte é meio de praticar, de
produzir, de fornecer descobertas que transcendem ao seu tempo e aos
princípios em virtude dos quais, os efeitos se ligam às causas da vida,
4
Comentário feito pela Dra. Nícia Ribas D’Ávila no curso de Pós-
Graduação
da Universidade
de Marília,
no transcorrer da aula
Teoria da Semiótica
Texto e Imagem
,
em 21/09
/05.
28
mediante o emprego de meios adequados e estilos apropriados, em que o
artista
-destinador comunica-se consigo mesmo e com tudo o que o circunda,
assim como, o receptor-destinatário recebe essa
mensagem
por intermédio de
um
canal (no nosso caso a imagem), estabelecido por códigos, que precisam
ser decodificados, para que ocorra a comunicação. Para tanto, emissor e
receptor devem estar
inseridos dentro de um mesmo contexto.
Sendo a história em quadrinhos uma forma eficaz de comunicação
visual, onde o tempo é manifestado em espaços
,
descreveremos a seguir
alguns marcos que antecederam sua evolução, percorrendo toda a história da
arte, desde seus primórdios até a fase contemporânea, para que possamos
compreender a sua designação de nona arte.
1.2
Paralelismo entre a História em Quadrinhos e os movimentos
artísticos que precederam o seu nascimento
Como dissemos, arte é uma necessidade do homem, e praticamente
tudo que sabemos sobre o homem primitivo, deve-se a ela, por isso o período
da pré
-
história é considerado por muitos, um dos mais fascinantes.
De acordo com os estudos de Maria Beatriz Rahde (1996, p. 01), “desde
a Pré
-
História pode
mos verificar registros de imagens exercitadas pelo homem,
com traçados representativos de animais...”, ou seja; o homem pré-
histórico
riscava quadrinhos nas paredes de sua caverna: desenhos que mostravam
suas aventuras selvagens, que cercavam e ameaçavam a existência e o
universo primitivo. Tais registros podem ser encontrados nas grutas de
Lascaux
, na França, e Altamira, na Espanha, entre outras.
Sobre a cena representada na figura 2, Sérgio Russo escreveu em seu
site www.domíniosfantásticos.com.br (confo
rme bibliografia):
Aqui, você uma impressionante pintura rupestre, datada de cerca
de 15 mil anos, que é apenas uma dentre as inúmeras outras
situadas nas grutas de
Lascaux
, na França, e que denotam a
maravilhosa capacidade do chamado homem das caverna
s
que não
somente se comunicava através de grunhidos. A maravilhosa
perspectiva da cena, bem como as técnicas das cores empregadas,
revela uma elevada sensibilidade artística! (2006, p. 2).
29
Figura 2: Pintura rupestre
Gruta de
Lascaux
5
Quando Sérgio Russo faz referências sobre a comunicação do homem
das cavernas, ele deseja dizer que o homem primitivo, querendo expressar-
se
para as gerações futuras, deixou gravado nas pedras de antigas cavernas, seu
desenho; com isto comunicou
-
se com os outros hom
ens e outras gerações.
Esses estudos apontam que as figuras precederam em muito a palavra
escrita e nos indicam que o homem primitivo estruturava seus desenhos numa
seqüência narrativa. Seguindo esta linha de pensamento, podemos então,
considerar como sendo o primeiro desenhista da história da humanidade, o
homem das cavernas, um sintetizador da ação que utiliza uma temática e
prática estilizada.
A história em quadrinhos, também emprega o desenho, como forma de
transmitir idéias e pensamentos no espaço e no tempo, por meio da
sintetização da ação dentro de uma temática pré-estabelecida, logicamente
englobando códigos fundamentais apropriados à sua linguagem.
Dando continuidade a esse retrospecto, nos confrontamos com a
investigação realizada por Scott McClo
ud (1995, p.14), que descobriu, por meio
de uma incansável pesquisa, a existência de uma cena completa encontrada
na tumba de um nobre escriba egípcio, Menna, pertencente à dinastia do Faraó
Tutmés IV (c. 1.425
-
1.415 a.C.)
.
A unidade do estilo da arte egípcia se deve às gidas normas de
representação figurativa, como podemos ver na figura
3.
Tais representações têm o objetivo de garantir que os deuses, os
monarcas e os artesões fossem mostrados de um modo que permitisse sua
5
STRICKLAND, C. Arte Comentada: da pré-história ao pós-moderno. Rio de Janeiro:
Ediouro,
1999. Tradução: Ângela Lobo de Andrade. 5ª Ed.
p. 4
30
imediata identificação. Esse fato é notado na cena em questão, onde a figura
de Menna aparece duas vezes, sendo destacada dos demais, pela sua postura
imponente; o único que apenas observa, caracterizando-se como personagem
principal desta narrativa. A semelhança com os quadrinhos é vi
sivelmente
percebida. Dispensa maiores comentários.
Figura 3: Afresco egípcio
-
Tumba Menna
6
Com o desenvolvimento do pensamento e a acumulação de
experiências e conhecimentos, percebemos um aprimoramento das ações
manifestadas, na passagem do perí
odo pré
-
histórico para o egípcio.
Saímos então, da arte rudimentar, onde os grafismos dessa tradição são
os traços leves, pintados com instrumentos cortantes e pontiagudos, permitindo
uma aperfeiçoada técnica de delineação da pintura e nos deparamos com a
arte egípcia, fundamentada na figura humana, estabelecida por meio de
convenções e padronizações, tendo como técnica, a pintura afresco - um tipo
especial de pintura mural onde o pigmento puro da cor, em forma de pó, é
misturado com água numa superfície que tenha sido revestida recentemente
com nata de cal ou gesso ainda úmido.
Para Luigi Pareyson (1993, p. 59), “essa transformação se dá através do
trabalho, de uma
techné
, que, segundo os gregos, é um modo exato de
perfazer uma tarefa”. E segundo Luiza Boukharaeva (1995, p.58), o termo
techné significa habilidade, arte, maestria, e expressa a constituição do
6
McCLOUD, Scott,
Desvendando os Quadrinhos, Makron Books, 2005. p. 14 pintura feita para
reprodu
ção em preto e branco.
31
sentido e da razão de ser da própria existência do homem”. Sendo assim, a
técnica surge da analogia do homem com o ambiente em que vive.
Acompanhando essa linha de pensamento, destacaremos outras
técnicas desenvolvidas e conhecimentos adquiridos, expressos nas distintas
manifestações artísticas, produzidas em esferas culturais diversas, as quais
serão apresentadas a seguir.
A Grécia Antiga (776 - 323 a.C.), é considerada como a base da cultura
da civilização
ocidental
,
pois havia amplo conhecimento de pintura. Segundo as
informações contidas na obra Arte comentada
de
STRICKL
AND (1999), os
artistas gregos alcançaram o auge em efeitos realistas, pintavam cenas em
vasos contando histórias de deuses e heróis da mitologia, acontecidas em
tempos e espaços diversos. Criar uma peça completa requeria colaboração
cerrada entre o ceramista e o pintor. O ceramista formava a peça em barro e a
entregava ao pintor enquanto o barro ainda estava úmido. Ele desenhava
inicialmente o contorno das figuras, depois pintava as silhuetas de preto e, a
seguir, talhava com um instrumento afiado para criar os detalhes,
especialmente a musculatura. Nesse caso o pintor utilizou a técnica de figuras
negras.
Figura 4: vaso
“Corrida masculina a pé”
7
Na constante busca da perfeição, o artista grego cria uma arte de
elaboração intelectual em que predominam o ritmo, o equilíbrio, a harmonia
7
Ibid.
3
. p. 12
32
ideal, em que o “escritor, o escultor e o pintor eram considerados verdadeiros
mágicos, pois contribuíam para manter viva a história da humanidade”
8
.
Dois fatores fundamentais marcam esse estilo: a presença dos heróis
mitológicos e a intelectualidade do povo grego. Estabelecendo paralelos com a
arte dos quadrinhos, podemos dizer que estes também partem de uma gênese
cultural e intelectual impressionante, compreendendo várias áreas do
conhecimento (literatura, arte...). Assim, as histórias em quadrinhos,
juntamente com outras mídias, popularizou a figura do super-herói, mas temos
referências heróicas desde a Grécia antiga, como citado anteriormente. Os
gregos consideravam herói, aquele que tinha habilidades excepcionais. Hoje, o
super
-
herói, é aquele que tem capacidades sobrenaturais.
Outro grande exemplo é a Coluna de Trajano, construída por ordem do
Imperador romano Trajano, para relatar cenas triunfais de suas vitórias, como
se fosse uma história desenvolvida, por meio de uma tessitura visual
seqüenciada, que sobe em espiral, num total de 23 voltas ao longo da linha da
coluna. Erguida no século II, tinha cerca de 38 metros de altura, perfazendo
180 metros de pura narrativa.
Figura 5: “Cena da Coluna de Trajano”
9
8
Comentário feito pelo professor livre docente Romildo Sant’Anna no curso de Pós
-
Graduação
da Universidade de Marília, em 31/05/05.
9
A História da Arte, de
E.H. Gombrich
-
Trad.
Álvaro Cabral, 4 ed. RJ: Zahar
1985, pág. 86
33
Todas
as figuras da Coluna de Trajano foram esculpidas em baixo-
relevo
10
, sendo que a superfície foi talhada de modo a parecer um
pergaminho
11
, com o intuito de mostrar a magnitude dos detalhes.
Segundo Ernst Gombrich (1985, p. 86), a Coluna de Trajano,
caracteri
zou
-
se pelo modo de narrar os acontecimentos bélicos.
Antonio Luiz Cagnin argumenta sobre a ação narrativa da história em
quadrinhos, dizendo:
Nos quadrinhos, predomina a ação, a história. A ação narrativa, no
entanto, é muito simples; como veremos, as histórias não são mais
do que infinitas variantes sobre um tema: a luta do bem contra o
mal, que se resolve na seqüência, na contigüidade sintagmática dos
quadrinhos. A solução encontrada foi a de exagerar nos gestos e
procurar dar maior função narrativa
à imagem. (...) (1975, p. 10).
Os dois autores destacam a narrativa, em seus argumentos. O primeiro
referindo
-se às cenas de guerra, datada do século II e o segundo, aborda a
ação narrativa dos quadrinhos nos tempos modernos.
Segundo essa visão, tais considerações, não apenas interagem entre si,
mas apresentam uma similaridade de idéias, pois a citação de Cagnin se
encaixa perfeitamente em quase tudo o que foi dito sobre a Coluna de Trajano,
vale ressaltar: a predominância da ação, a seqüencialidade e a g
estualidade.
Com isso, o presente nada mais é que uma reunião de fatores e,
especialmente, ocorrência do passado interagindo com o nosso cotidiano.
Nesse sentido, enfatiza Sandra Jatahy Pesavento (2006), “a presentificação do
passado não nos remete apenas para o fato evocado, mas navega no tempo e
se desloca no espaço, correlacionando sentidos”
12
.
Refletindo sobre esses pensamentos, podemos dizer que por meio da
arte, o homem expõe metodicamente um assunto, discursando sobre o mundo
ao seu redor, e nesse caso, a Coluna de Trajano reconstrói a história por meio
da narrativa visual, onde a seqüencialidade dos fatos ocorre continuadamente,
10
(do grego
pergaméne
e do
latim
pergamina
ou
pergamena
), é o nome dado a uma
pele
de
animal
,
geralmente de
cabra
,
carneiro
,
cordeiro
ou
ovelha
, preparada para nela se
escrever
.
Fonte: Ibid. 14.
11
é um relevo cujas formas não ultrapassam os limites da visão frontal e, como tal, torna
possível sua reprodução com um molde rígido. No baixo-relevo, a terceira dimensão é
simulada de uma forma semelhante ao que acontece num
desenho
. Fonte: Ibid. 14.
12
Sandra Jatahy Pesavento, « Palavras para crer. Imaginários de sentido que falam do
passado
»,
Número 6 -
2006,
Nuevo Mundo Mundos Nuevos, mis en ligne le 28 janvier 2006,
référence du 24 mars 2007, disponible sur :
http://nuevomundo.revues.org/document1499.html
.
34
sem interrupções, influenciando no raciocínio, nos sentimentos dos sujeitos
receptores dessa mensagem. Por sua vez, as histórias em quadrinhos narram
histórias em seqüência de pequenos quadros justapostos, possibilitando que os
espaços entre um quadro e outro sejam preenchidos pelo imaginário do leitor,
esse processo permite combinar fatos e idéias abstratas, estimulando sua
capacidade criativa, pois a criatividade é a linha que costura todas as áreas do
conhecimento.
Temos na cultura oriental, registros importantes de narrativa visual.
Destacaremos o trabalho de Ku-
Khai
-Chich (cerca de 344 - 405), erudito e
livre
-pensador, além de ser considerado um dos artistas mais eminentes da
antiguidade chinesa, sua pintura representa as manifestações de seu espírito,
indicando uma maneira específica de viver.
Figura 6: Ku
-
Khai
-
Chich Conselhos da governanta imperial às damas do Palácio
-
fragmento de
um rolo de seda. Século III
13
Temos aqui uma das mais belas cenas, ela é um fragmento de um rolo
de seda, cujas imagens foram desenhadas a nanquim
14
sobre o fundo de
seda, preparado com cola. A narrativa trata de uma série de ilustrações c
ujo
tema foi tirado de um poema moralista de Chang Hua (século II), instruindo
normas de boa educação para as serviçais do palácio. Na figura, vemos a
governanta delicadamente inclinada com um texto nas mãos, explicando às
13
Enciclopédia Arte Medieval
IV volume (p.218)
14
T
inta nanquim
é um material de corante
preta
, que primitivamente vinha da
China
, preparada
com
negro
-
de
-
fumo
(
-
de
-
sapato
). Ela foi desenvolvida pelos chineses há mais de 2 mil anos.
Os chineses antigos descobriram que era possível estabilizar a tinta nanquim pela mistura de
uma cola (goma arábica) na solução com pó de carvão e água.
Fonte: Ibid. 14.
35
duas criadas os deveres que lhes cabem, e a imperatriz observa tudo
atentamente. A imagem também é destacada por inúmeros ideogramas
chineses, em que a ilustração exerceu a função de reforçar o significado do
poema.
Este trabalho de Ku-
Khai
-Chich, estabelece vários paralelismos com as
hi
stórias em quadrinhos: narrativa seqüenciada, o uso de formas verbal e não-
verbal de linguagem além da proxêmica e a aplicação da tinta nanquim como
material expressivo. Este por sua vez, é um elemento forte na arte final dos
quadrinhos.
A Tapeçaria de Bayeux é outro grande protótipo. Uma obra de arte
bordada entre 1070 -1080 (século XI), pelos artífices da catedral de
Canterbury, a mando da Rainha Matilde. Nela está gravada a história da vitória
de seu marido, Guilherme, o Conquistador, sobre o Rei Haroldo da Inglaterra,
em 1066. É feita de aplicações e bordados, medindo 68 centímetros de altura
por 70 metros de comprimento, é composta de 35 cenas, contendo uma
narrativa contínua e de alta significação, com efetivas cenas de duelo.
Figura 7: As
tapeçarias de Bayeux
15
15
http://www.ingrupo.com.br/hq_nova/hq
-
02.htm
:
acessado e
m jan. 2007
36
Observando atentamente a riqueza nesta narrativa visual, é como se
estivéssemos apreciando, segundo Álvaro de Moya (1993, p.150), “uma lenta
projeção cinematográfica -
ou
a cenas fixas, de uma singela peça de teatro
(...)”. Igualmente poderíamos nos referir às histórias em quadrinhos: “uma
forma narrativa por meio de imagens fixas, ou seja, uma história narrada em
seqüência de pequenos quadros”
16
.
Continuando nosso percurso, encontramos outra forma narrativa com
cenas seqüenciadas, os vitrais góticos (séculos V a XIII), que contam detalhes
sacros, histórias de santos, sendo raro a retratação de personagens não
bíblicos.
Por se tratar de uma narrativa visual, o contexto histórico, ocupa
segundo plano, feito somente após passar pela admiração das imagens. O
vitral é uma arte onde o homem, por meio de um objeto sensível como o vidro,
procura expressar seus sentimentos, tendo como principal componente a força
da luz solar, permitindo uma linguagem própria na sua expressão: a luz
atravessa
-o e transparência às histórias e figuras, realçando a pintura e
revitalizando a cor.
Figura 8: Expulsão de Adão e Eva do paraíso,
No losango do alto
A Parábola do Bom Samaritano.
Vitral (início do século XIII)
17
16
Wikipédia, a enciclopédia livre.
17
Ibid. 11, p. 59
37
Os princípios envolvidos na produção dos vitrais são precisos, e retratam
um modo primoroso de produzir uma obra, no caso, traços firmes contornados
de preto, pedaços de vidros, reunidos de maneira fragmentária.
Considerando tais informações, percebemos que a arte do vitral e a
história em quadrinhos possuem várias peculiaridades que se entrelaçam e
outras que se completam. Uma delas é a questão da luz. Tal qual o vitral, a
história em quadrinhos, utiliza-se da iluminação, embora fixa e cultural, para
construir uma atmosfera visual que possibilita mostrar as principais
características do momento em que foi produzido. No vitral, os momentos são
valorizados em conformidade com as horas de captação da luz (sol, lua,
neblina, noite, etc.), sua incidência sob as imagens, cria uma sensação de
realidade determinada por diferentes fontes de luz (natural e cultural).
A Ingrupo Propaganda Ltda. (empresa que a
tua
nas áreas de
publicidade
,
propaganda
, marketing e Internet) apresenta tipos de iluminação,
que se assemelham as usadas no cinema, também utilizados por vários
editores de histórias em quadrinhos, são elas: plana (de frente) é simples e
decorativa; lateral (de cima) produz o máximo de luz; cenital usada nas
cena
s noturnas; de baixo dramática e fantástica e contra luz efetiva e
decorativa.
Figura 9: Efeito de iluminação cenital
18
A cena apresentada acima em que foi utilizada a iluminação cenital,
expande os limites do realismo, pois os efeitos de luz possibilitam uma ampla
18
Revista Spawn nº 40, p. 13
publicada quinzenalmente
pela editora Abril, julho/ 1998.
38
gama de diálogos com aquilo que chamamos realidade, ou seja, o jogo de luz
aguça a capacidade de interpretação.
Após o apogeu dos vitrais, relacionamos a iluminura (final do séc. XIII);
um tipo de desenho decorativo sobre o pergaminho, empreendido nas letras
capitulares que iniciam capítulos em determinados
livro
s, especialmente os
produzidos nos
convento
s e mosteiros medievais.
Segundo Carol Strickland (1999, p. 27), “nessa época, os rolos de
papiro
19
usados do Egito a Roma foram substituídos pelos códices
20
de
pergaminho de pele de boi ou carneiro, feitos de páginas separadas unidas por
uma das extremidades”.
Profissionais especializados eram encarregados de organizar e produzir
o manuscrito: o copista era quem transcrevia o texto e o iluminador
responsável pela decoração. Estabelecendo um paralelo com os profissionais
que produzem os quadrinhos, falaríamos hoje, em diagramador e editor.
Figura 10:
Iluminura
associação Figura 11
: Filactério
gênese do balão
de texto e imagem Conversão do Apóstolo Paulo
21
Cantigas de Santa Ma
ria
22
19
Usado pela primeira vez em 4000 a.C. se transformou na maior exportação do Egito. Foi
produzido sob monopólio de estado. O
papiro
é um tipo de
papel
feito a partir da planta do
papiro (
Cyperus papyrus
). Fonte: Ibid. 14
20
Antecessor do livro.
21
Cantigas de Santa Maria. Biblioteca Nacional de Florença Fonte: Help! Sistema de
Consu
lta Interativa Técnica de Redação e Literatura
Kick Editora. Sp. 1996, p. 92.
22
http://www.nonaarte.com.br/mundoqd2.asp
39
É indiscutível o aprimoramento dos efeitos visuais comunicativos
presentes nessa susceptível evolução (figura 10). Notadamente, na iluminura
encontramos a palavra e a imagem numa analogia tua de transmissão de
pensamentos e idéias.
Dentro dessa lógica, percebemos que o período da Idade Média foi
marcado pela tentativa de se associar o texto verbal ao visual, na busca da
complementaridade entre ambos. Então, no c. XIV, surgiram os filactérios
pergaminhos com orações, compreendendo faixas com palavras escritas junto
à boca dos personagens, por isso, são considerados a gênese do balão
23
.
A figura 11 exibe a conversão do apóstolo Paulo, por intermédio da
linguagem verbo-visual. Diante desse fato, gradativamente, o filactério foi
evoluindo, na tentativa de introduzir a fala dos personagens numa forma de
emprestar à imagem os significados que ela não pode ter.
O exposto demonstra-nos claramente a necessidade do estudo da
proxêmica como linguagem, na descrição científica do uso do espaço pelos
sujeitos e objetos nele inseridos, com fins de significação.
Dentro dessa visão A. A. Nascimento diz:
(...) cada um desses processos se rege por códigos próprios. A
iconografia pode existir sem apoio do texto, como este pode subsistir
sem aquela, e em qualquer deles a relação com a realidade não tem
de ser necessariamente de transposição por identidade.
(1998, p.21).
No caso específico dos filactérios, o autor esclarece que tanto o texto
quanto a imagem são o processo de comunicação que se presta a narrar fatos,
sendo que cada um é conduzido por códigos próprios, e juntos nem sempre
revelam uma adaptação análoga.
Um trabalho deslumbrante, dentro dessa nossa trajetória, é encontrado
nas obras do pintor renascentista flamengo Jan van Eyck (1395 1441), que
cria uma linguagem pictórica moderna para sua época: descobriu os efeitos da
luz e do ar sobre a imagem a ser produzida na tela, refletia em suas obras
realidade tal como o olho humano a via e inventou a tinta a óleo, que
possibilitou retocar o quadro antes de ter
miná
-lo, além de conferir uma
luminosidade às obras e efeitos de prospecção (profundidade, afastamentos) e
23
Recurso gráfico, utilizado nas histórias em quadrinhos para indicar ao leitor qual das
personagens em cena está falando.
40
planos. Em especial, a obra representada pela figura abaixo A Adoração do
Cordeiro stico, apresenta realismo tanto nas figuras quanto nas cores,
dando
-nos a impressão de que estamos diante de uma ilustração produzida
com os mais avançados recursos da arte gráfica.
Figura 12: Jan van Eyck (1420
-
32) Adoração do Cordeiro Místico
narrativa visual composta
de 20 painéis
24
Acompanhamos, até ag
ora, alguns sinais que antecederam a história em
quadrinhos, encontrados nos períodos historicamente constituídos pela História
arte, os quais foram
aperfeiçoando
-se gradativamente, à medida que seus
criadores adquiriram técnicas e conhecimentos. Segundo Norton Simões
(2005, p. 25), “muitas dessas imagens existem milhares de séculos e são
registros visuais de culturas. Talvez tivessem objetivos diferentes, quando
foram realizadas, mas cada uma deixou um testemunho de sua época”.
Nessa perspectiva, mostramos o paralelismo entre a história da arte e
alguns elementos visuais que compõem a linguagem das histórias em
quadrinhos, por meio das manifestações e estágios coletivos e individuais,
24
Pinacoteca Caras, publicado pela Editora Caras S/A, impresso na Espanha, dezembro/1998,
suplemento 27
van Eyck
41
evidenciados desde mais de 15 mil anos até o período que precedeu a e
ra
moderna, assim como apresentamos dados que evidenciaram esta relação.
Precursores da História em Quadrinhos
A história em quadrinhos, como foi dito, evoluiu com a própria história
e cultura da humanidade. Desenvolvida ao longo dos séculos 18 e 19, quando
surgiram seus precursores.
Seguindo uma cronologia, destacaremos primeiramente os trabalhos de
William Hogarth, pintor e gravador inglês (século XVIII); influenciado por
mestres da prosa satírica, inventa um novo gênero a tira cômica, ou seja,
uma seqüência de quadros de narração sucinta de um fato irônico, extraído de
cenas do cotidiano.
Figura 13: William Hogarth, 1ª, 2ª e 3ª gravura da série:
The Rakes’s Progress
25
25
Germain Bazin Historia del arte de la prehistoria a nuestros dias, edição ediciones
o
mega,
S.A. Barcelona
1976 p. 326
42
Exemplo disso é a série The Rakes’s Progress A carreira do lib
ertino
(figura 13), gravada em 1734, é um conto que serve de advertência sobre o
consumo e luxúria, expondo francamente o lado avesso da vida. Esta série é
composta por oito gravuras, das quais mostraremos apenas, as três primeiras.
A população comprava as gravuras, reproduzidas aos milhares,
fundamentadas a partir desses quadros, os quais revelam uma perspicaz
capacidade de observação e de caricaturização.
Hogarth popularizou a caricatura na década de 1730, e também pode
ser considerado o primeiro caricaturista político. Suas caricaturas eram fortes
sátiras morais e sociais. Tendo como marca registrada a honestidade
descompromissada aliada ao humor. O autor não coloca-se apenas como um
artista, mas também como um crítico social, auto-judicante, mostrando-
se
favorável a tudo que é problemático na vida, tornando sua própria história de
vida uma obra de arte.
Como acabamos de ver, o consumismo não é uma característica
somente da sociedade contemporânea. Desde seus predecessores, a história
em quadrinhos também, por esse meio, é entendida como produto típico da
cultura de massa.
No início do século XIX, encontramos o ponto mais alto da sofisticação
da história com imagem, nos trabalhos de Goya, pintor espanhol, considerado
por muitos o gerador da arte moderna.
Em 1806, Goya executou uma série de seis gravuras que reconstituem
um episódio policial, o qual narra acontecimentos verídicos: a captura do
bandido Maragato pelo monge Pedro de Zaldivia.
Analisando estas cenas, poderíamos dizer que estamos diante de:
“imagens pictóricas justapostas em seqüência deliberada”, que Scott McCloud
(1995, p.9) denominou de histórias em quadrinhos.
O artista produz arte como meio de vida, para divulgar as suas crenças,
seus costumes e suas idéias, com o intuito de explorar nova
s formas de olhar e
decifrar o mundo ao seu redor. E Goya, produziu estes quadros em séries para
interpretar o mundo à sua volta de uma maneira muito peculiar; por meio da
arte da história em quadrinhos, sem palavras, mas com ótimas cenas de ão
e uma dra
maticidade inexplicável, conforme podemos verificar na figura 14.
43
Figura 14: Goya Série de quadros
26
Thomas Rowlandson (1756 1827), ilustrador e caricaturista inglês de
livros e revistas, especialista na arte do
desenho
a
bico de pena e de pintura
em aquarela, ganhou prestígio com a série muito bem sucedida, “Dr. Syntax
”,
criada em 1809, contendo características do que hoje chamamos de cartum ou
cartoon
, pois suas ilustrações eram realizadas em quadros, representadas por
cenas humorísticas de carát
er extremamente crítico.
As aventuras do Dr. Syntaxsão tiras produzidas em três volumes,
com ênfase na ilustração e no verso poético, narram experiências pitorescas,
vivenciadas no transcorrer de viagens feitas nos mais variados lugares da
Inglaterra.
26
Ibid. 13
44
Figura 15: Dr. Syntax
27
Rowlandson era simplesmente um pintor de cenas interessantes, tinha
seu olhar aguçado para a sátira, assim como, senso crítico e interpretativo;
representando a passividade das pessoas diante de algumas situações vividas,
grav
ada na maioria de seus desenhos.
Não poderíamos deixar de mencionar outro grande mestre da arte
oriental, Katsushika Hokusai;
(
1760
-
1849
)
pintor
,
gravador
e
ilustrador
de livros,
produziu de
zenas de milhares de obras, entre
desenhos
,
gravuras
e
pint
uras
.
Os quadrinhos japoneses surgiram em 1814, nos traços de Katsuhika
Hokusai, o precursor do que viria a ser o mangá
28
. Seus desenhos deram início
aos “Hokusai Mangá”, série de obras em quinze volumes, que tornaram um
marco absoluto dos mangás, as quais descrevem cenas de seu dia-a-
dia,
certamente o trabalho mais popular da arte japonesa.
Waldomiro Vergueiro, ao proferir entrevista ao canal da imprensa,
conduzida por
Thiago Campossano, faz o seguinte comentário:
(...) o mangá começa com a idéia de um ciclo. Faz-se uma
determinada saga com proposta de começo, meio e fim.
Eventualmente o sucesso do personagem pode fazer com que a saga
se multiplique e na prática você obtenha o mesmo resultado de
perpetuidade presente nas histórias em quadrinhos do modelo
ocidental. As temáticas de ponta dos mangás são a aventura, o
mundo da fantasia, as lutas marciais e os fatores mitológicos (...)
(Data de publicação: 18/05/2006).
27
homepages.tesco.net/~patio/syntax/syntax.htm
28
Mangá é o resultado da união dos ideogramas MAN (humor) e (grafismo), sendo
sua
tradução literal para o português “caricatura”, “desenho engraçado”. Fonte: Ibid. 22.
45
Figura 16:
Hokusai, Mangá, 1.814
29
Os mangás criados por
Hokusai
formaram uma espécie de enciclopédia
da vida japonesa em imagens, pois tinham grande preocupação com a vida do
homem quotidiano. Comparando com os dados de Vergueiro, percebemos que
a temática preferida por Hokusai (expressar amor e ódio nas relações humanas
com um toque fogoso), não faz mais parte da temática de ponta apontada
por Vergueiro, onde os mangás produzidos nos dias atuais estão cada vez
mais se distanciando no mundo real e partindo para universo onírico.
Segundo Roberto Elísio dos Santos (2002, p.52)., “na gráfica dos irmãos
Pellerin
30
, na cidade de Épinal, começou a produzir gravuras com textos
ilustrados por Caran D’Ache e Benjamin Rabier narrando histórias de crimes,
milagres ou fatos folclóricos.”
Esse tipo de trabalho recebeu o nome de Images d’ Épinal, dado pelos
leitores admiradores destas obras, as quais foram divulgadas em reproduções
que se espalharam pelo mundo, tornando famosa a cidade de Épinal (França).
Esta narrativa, contendo contos com legendas, ganhou popularidade a partir de
1822, nessa época, tinham até heróis de capa, com o intuito de oferecer à
população ídolos carregados de sentimento de adoração, possibilitando trazer
para a realidade todos os ensinamentos que eles embutiam em seus textos.
29
www.magyar.film.hu/.../an2
-
hokusai.jpg
30
Jean Charles Pellerin, célebre em imagens populares e Nicolas Pellerin, ajudante e sucessor
na gráfica.
46
Cada
Images d’Épinal era numerada para que os leitores pudessem
acompanhar as cenas e colecioná-las, pois eram folhas soltas, impressas
apenas em um lado.
Figura17:
Le monde renversé
Pellerin
31
A lâmina acima, intitulada: O mundo invertido representa ditos
populares
. É composta de um notável cenário iconográfico, facilitando o
processo visual de leitura. Especificamente, neste caso, percebe-se que
juntamente com o texto verbo
-
visual, estão embutidos valores éticos e morais.
O suíço, Rudolf Töpffer, professor, artista e escritor, foi o pioneiro a unir
imagem e texto de forma a constituírem um todo narrativo, técnica conhecida
como
literatura de estampa, chamada por ele de
histoires en estampes,
tendo a
história
Les Amours de Monsieur Vieux-
Bois
Os amores do senhor Vieux-
Bois
, se tornado um destaque mundial, criada em 1827, e publicada em
1833, anos mais tarde.
A história combina, de modo interdependente, texto e imagem,
mostrando situações burlescas envolvendo o senhor Vieux-Bois. Em outras
palavras, pode-se dizer que é um romance seriado totalmente ilustrado, onde o
texto era colocado no rodapé de cada cena.
31
www.centredelagravure.be/code/fr/expo_pass_2....
47
Figura 18: “
Les Amours de Monsieur Vieux
-
Bois"
32
Seguindo estas premissas, a data da criação da história Les Amours de
Monsieur Vieux
-
Bois
(1827) é apreciada e respeitada por vári
os pesquisadores,
no mundo todo, sendo um importante marco da história em quadrinhos. Em
2007, muitos irão comemorar mais uma década, 180 anos, de efetiva
existência.
Em 1829, Johann von
Goethe
, ilustre escritor alemão, faz o seguinte
comentário sobre o trabalho de Töpffer: “É verdadeiramente muito louco,
crepitante de talento e de espírito!” (apud MOYA, 1993, p. 12). O renomado
escritor devidamente valorizou a capacidade criativa, dizendo que Töpffer é
uma explosão de talento e versatilidade.
Em meados do século XIX, o livro Max und Moritz, do escritor e
cartunista alemão, Wilhelm Busch alcançou fama mundial por intermédio de
suas ilustrações. O livro foi criado em 1848, mas sua primeira edição
aconteceu em 1865. A história retrata as travessuras de dois meninos que
vivem em uma pequena aldeia, infernizando a vida de seus vizinhos,
organizados numa sucessão de sete travessuras.
O texto que acompanhava as ilustrações foi feito todo em versos,
baseado em fatos ocorridos na própria infância do autor. No Brasil foi traduzido
pelo poeta Olavo Bilac, que batizou os dois travessos como Juca e Chico.
32
www.bugpowder.com/andy/e.toepffer_viexbois_1.html
48
Figura 19: Max und Moritz
-
Wilhelm Busch
33
A semelhança entre a figura 18 e 19 é notória, pois Busch foi fortemente
influenciado por Töpffer.
Uma personalidade que os brasileiros m muito orgulho, é Ângelo
Agostini, ilustrador, caricaturista italiano que consolidou carreira no Brasil.
Vamos ver o que Gonçalo Junior diz sobre ele:
O mais importante autor do gênero foi o ítalo-brasileiro Ângelo
Agostini (1843
1910
), que lançou rias publicações importantes,
marcadas por humor político e muitas ilustrações, como Vida
Fluminense. Duas de suas criações em especial são consideradas
precursoras das modernas histórias em quadrinhos no mundo: As
Aventuras de Nhô Quim e A
s Aventuras de Zé Caipora. (2004, p. 47).
Figura 20: Ângelo Agostini, As Aventuras de Nhô Quim
34
O autor ressalta a importância do trabalho de Agostini, e cita que suas
narrativas muito se aproximam das modernas histórias em quadrinhos,
exemplo disso s
ão
As Aventuras de NQuim, também conhecida como,
As
Impressões de uma viagem à Corte, cujo primeiro capítulo foi publicado em 30
33
http://lexikon.freenet.de/Wilhelm_Busch
34
Gonçalo Junior, A guerra dos gibis: a formação do mercado editorial brasileiro e a censura
aos quadrinhos, 1993
-
64
SP: Companhia das Letra
s, 2004.
49
de janeiro de 1869, narra o comportamento de um caipira com toques de
irreverência, astúcia e ingenuidade, enfrentando diver
sas situações inusitadas.
A história é contada em nove páginas duplas, contendo um enredo
consecutivo com começo, meio e fim, desenvolvido em uma rie de cenas
engraçadas
, relatando as peripécias de caipira
perdido na cidade grande.
Não podemos deixar de citar a importância de Agostini, na implantação
de uma imprensa ilustrada em nosso país e anos de luta em prol da história em
quadrinhos brasileira.
O francês desenhista Georges Colomb, conhecido artisticamente como
Christophe, criou também histórias apresentando desenhos divididos em
quadros acompanhados de legendas, contendo cenas seqüenciadas. Em 1889
surgem os primeiros episódios de La Famille Fenouillard
(1889
-1893), sua obra
mais conhecida, narrando a rotina de uma família, constituída por um casal
e
suas filhas, cujas cenas são retratadas com muito humor.
Roberto Elísio dos Santos destaca algumas características sobre o
trabalho de Colomb:
La Famille Fenouillard, que também foi um avanço para a narrativa
em imagens pelos ângulos que utilizava e pela ação que ligava os
quadros, a seqüencialidade, característica do que logo seria
denominado História em quadrinhos. (2002, p. 53).
Figura 21: Christophe, La Famille Fenouillard
35
35
www.dinosoria.com/bande_dessinee.htm
50
Colomb realmente trouxe inovações no que diz respeito aos aspectos
grá
ficos, apontadas tão bem por Roberto Elísio dos Santos. Em suas
narrativas, usava a divisão de quadros e introduzia sucintos textos.
Os precursores das histórias em quadrinhos, aqui apresentados,
permitiram uma fantástica viagem neste vasto universo de informações em que
todos certificam, logicamente por meio de suas produções, a relevância das
gravuras no processo evolutivo da história em quadrinhos, assim como da
história da humanidade.
Percebemos que a história em quadrinhos oferece uma imensidade de
possibilidades de estudos, nas mais diferentes áreas do conhecimento. A partir
dos anos 90, passou a ter uma importância digna de estudo. Conseguimos
encontrar brilhantes obras, inúmeros artigos e matérias sobre este tema, mas
um projeto mais fundamentado, como teses e dissertações, o número é
extremamente baixo, reafirmando a proeminência desta investigação.
Destacaremos a seguir alguns trabalhos que de certa forma estabelecem
conexão com o nosso objeto de estudo.
Antes de apresentarmos a primeira história em quadrinhos reconhecida
no mundo, apreciaremos algumas reflexões a respeito deste importante meio
de comunicação de massa. Esses conceitos são imprescindíveis para
entendermos como a primeira história em quadrinhos foi considerada como tal.
Antonio Luiz Cagnin, estudioso e mestre dos quadrinhos, por intermédio
de sua pesquisa acadêmica, intitulada Os Quadrinhos (1975), apresenta um
importante estudo semiológico dos quadrinhos, usando como referência a
linguagem cinematográfica, as teorias de comunicação e os conceitos de
percepção das formas da
gestalt
.
Outra pesquisa realizada por Dagmar Serpa e Marcelo Alencar, mostra
que 100 % dos alunos pesquisados gostam de ler histórias em quadrinhos, e
destaca a participação do leitor em sua narrativa. SERPA, Dagmar &
ALENCAR, Marcelo. AS boas lições que aparecem nos gibis, amadas pelas
crianças, as histórias em quadrinhos podem tornar suas aulas melhores e mais
divertidas. In Nova Escola ano XIII, nº. 111, abril de 1998 (Fundação Victor
Civita, mantida pela Editora
Abril).
Histórias em Quadrinhos na Escola (2004) de autoria de Flávio Mário de
Alcântara Calazans, livre Docente em Artes Visuais, professor orientador no
51
mestrado em Comunicação e Mercado da Faculdade Cásper Líbero, mostra-
nos o papel dos quadrinhos, favorecendo uma abordagem de conteúdos e
conceitos para ser explorado em qualquer área e nível de aprendizagem.
Roberto Elísio dos Santos é pesquisador sênior do Núcleo de Pesquisas
de Histórias em Quadrinhos da ECA-USP, jornalista, doutor em Comunicação
pela
ECA
-USP e autor do livro Para reler os quadrinhos Disney
(Editora
Paulinas), trata da linguagem, evolução e análise de história em quadrinhos.
Concepções
-
História em Quadrinhos
Para Flávio Calazans, autor da obra
História em Quadrinhos na escola
:
(...) é uma forma de expressão tecnológica típica da indústria
cultural. Embora seja subestimada devido a preconceitos
academicistas, ela permite que seus autores expressem questões
científicas, filosóficas e artísticas sem patrulhamento (...) (2004, p. 7
).
Roberto Elísio dos Santos em sua obra, Para reler os quadrinhos Disney
argumenta:
A História em Quadrinhos pode ser definida como uma forma de
comunicação visual impressa (que utiliza determinado suporte, o
papel; existem narrativas seqüenciais sendo veiculadas pela Internet
a exemplo da revista eletrônica brasileira “Cybercomix” -, fato que
poderá alterar suas atuais características, transformando-a em uma
nova mídia, mudando também sua forma de fruição). (2002, p.21 e
22).
Ressaltamos as palavras de Antonio Luiz Cagnin, citadas em sua
pesquisa,
Os quadrinhos
:
A história em quadrinhos é um sistema narrativo formado de códigos
de signos gráficos: a imagem, obtida pelo desenho e a linguagem
escrita. A diferença entre os dois signos leva a expor al
guns
conceitos sobre a natureza e a classificação dos signos (...) a imagem
como elemento figurativo e o texto como elemento lingüístico
integrado no sistema narrativo.
(1975, p.25).
Partindo destas premissas, percebe-se a profusão de idéias entre os
au
tores, em que o inter-relacionamento destes conceitos possibilita-
nos
formular novas concepções, como por exemplo: história em quadrinhos é um
52
sistema de comunicação verbo-visual, que conjuga simultaneamente dois
códigos distintos: a linguagem imagética e a linguagem escrita. É forma de
expressão
e de conteúdo tecnológicos, característicos na indústria cultural
que
faz uso especial da imagem para criar narrativas seqüenciais, com o objetivo
de relatar histórias dos mais variados gêneros.
A história em quadrinhos surgiu no final no século XIX. Esta data nos
remete a vários marcos históricos, dentre os quais destacamos a Revolução
Industrial, assinalada pela fabricação de produtos em grande escala, ocorrendo
assim, intensas mudanças nos meios de produção, por decorrência da
invenção de máquinas modernas. Em contra partida, surgiram os baixos
salários em conseqüência da abundância de mão-
de
-obra. Contudo, houve a
implantação da sociedade de massa, pois neste período, concentrou enormes
quantidades de pessoas
nas cidades grandes.
Essa sociedade de massa foi estabelecida de modo a expandir as
possibilidades de recepção da informação, disseminada por meio de distintos
produtos culturais de forma padronizada e em série. É nesse contexto, que
surge então, uma nova
cultura social: a sociedade de consumo.
Estes apontamentos exercem a função de situar a primeira história em
quadrinhos, em um contexto histórico mais amplo, assim como, verificar os
critérios que permitem diferenciá-la de outras histórias seqüenciadas, as quais
não tiveram tal reconhecimento.
A importância do Jornal no surgimento de
The Yellow Kid
Joseph Pulitzer, húngaro que após longos anos fixou residência na
cidade de Nova York, compra, em 1883, o jornal New York World, que passava
por graves crises financeiras. Na busca incessante de reverter essa situação,
Pulitzer reestruturou-o por completo. Suas páginas foram tomadas por
desmedidas manchetes, artigos sensacionalistas, copiosas ilustrações, entre
outras.
Em 1894,
Pulitzer
convida o ilustrador n
orte
-americano Richard Outcault
que já trabalhava para a revista
Truth,
com o objetivo do mesmo produzir
cartuns centrados na vida de moradores dos guetos de Nova York, reforçando
53
assim, o teor do suplemento dominical. Neste mesmo ano, Outcault cria o
Cart
um
Down Hogan’s Alley (O beco do Logan), que foi publicado em edições
esporádicas para a revista
Truth
.
Figura 22:
Richard Outcaut, Down Hogan’s Alley
36
Em 17 de fevereiro de 1895, as edições de Down Hogan’s Alley
foram
transferidas para o
jornal
New
York World, que a princípio, era publicado
semanalmente em branco e preto. A narrativa satirizava a vida dos imigrantes
nos cortiços de Nova York, em especial a de um garoto com traços orientais,
careca e dentuço, que para se comunicar usava mensagens inscritas em sua
vasta camisola.
Conforme Álvaro de Moya, na edição dominical do
jornal
New York
World
, no dia 5 de maio 1895, ano que coincidiu com o aparecimento do
cinema, Outcault desenha o primeiro quadrinho contínuo com personagem
semanal, intitulado
At
the Circus in Hogan's Alley
,
fato este que deu margem ao
aparecimento efetivo da história em quadrinhos.
O
cartum At the Circus in Hogan's Alley
,
apareceu realmente em um
grande veículo de imprensa, contendo riquezas de detalhes, onde Outcault
utilizou recursos gráficos jamais vistos antes, num verdadeiro jogo de ação,
capturando com exatidão os movimentos de cada personagem, possibilitando
uma
impressionante
expressividade
realística
, mesmo sem o uso de diálogos,
marcando assim, uma invocação no gênero de
ação.
36
R
evista Comix Book Shop nº 12
Editora Escala
-
(2000 p.16)
54
Figura 23:
Richard Oucault
-
At the Circus in Hogan's Alley
-
1895
(recursos gráficos)
37
Como podemos ver na figura acima, o protagonista (destacado pelo
círculo amarelo) está com seu traje habitual: camisolão, que especificamente
nesse caso, r
ecebeu a cor cinza.
Figura 24:
Richard Oulcaut, The Yellow Kid
camisola amarela
38
Com o passar do tempo, a camisola foi mudando de cor: do marrom
claro ao azul, tendo nuanças apagadas, com pouco destaque. Era preciso
estabelecer uma cor fix
a para assinalar o visual do personagem, então, Charles
Saalberg, responsável pelo controle das cores na máquina impressora do
jornal, escolheu um amarelo bem intenso e aplicou-o à camisola do garoto. O
37
At the Circus in Hogan's Alley
por Richard Felton Outcault,
New York W
orld
, 5
Maio
de 1895.
Richard D. Olson Collection.
[AC P13 21]
38
REVISTA NOVA ESCOLA
, Abril /1998, Editora Abril.
SP. p 14
55
sucesso veio de imediato, fazendo com que Down Hogan’s Alley passasse a
ser chamado de
The Yellow Kid,
O Menino Amarelo.
Figura 25:
Oulcaut, Down Hogan’s Alley
-–
Uso de balão
39
Outro fato importante é que, The Yellow Kid é uma das primeiras tiras
em quadrinhos a ser impressa em cores e foi o primeir
o personagem a utilizar o
recurso gráfico que hoje é chamado de balão, responsável por indicar ao leitor
qual dos personagens em cena está falando.
Criada na tendência moderna do jornal impresso, a primeira história em
quadrinhos que conjuga simultaneamente duas linguagens distintas, “imagem,
obtida pelo desenho e a linguagem escrita” (CAGNIN, 1975, p. 25),
foi
disseminada pelo mundo. Ambos são meios de comunicação de massa, tendo
como fundamental objetivo informar, educar e entreter de diversas maneiras,
com conteúdos elaborados, levando em conta as necessidades de um amplo e
diversificado público leitor
.
Vale a pena reproduzir as palavras de Roberto Elísio dos Santos:
(...) as Histórias em Quadrinhos norte-americanas transformaram-
se
em um empreendimento lucrativo e, ao mesmo tempo, de sucesso
popular e em uma manifestação artística, reconhecida até fora dos
Estados Unidos. É possível especular que sem a estrutura
empresarial (jornais, editoras, distribuidoras
os
syndicates
) que
tornou o quadrinho americano um produto comercial, a narrativa
seqüencial impressa não desenvolveria seu potencial (estético,
narrativo e mercadológico). (2002, p. 68).
39
Ibid. 35
56
As palavras de Roberto Elísio dos Santos realmente reforçam e
complementam nossa análise, enaltecendo nosso objeto de estudo, dizendo
que a história em quadrinhos tornou-se uma fonte rentável, uma forma de
manifestação artística e se propagou pelo mundo todo, com o apoio
incondicional do jornal impresso.
O autor ainda destaca que nesta época, os jornais norte-
am
ericanos
brigavam entre si pela conquista de público. O
cartum
The Yellow Kid
foi
criado,
como já dissemos, para ser editado semanalmente no jornal New York
World
, elaborado a partir de uma narrativa figurada, seguindo o estilo europeu,
com o intuito de atrair a população semi-alfabetizada e também os imigrantes
que tinham dificuldade com a língua inglesa, por isso os
cartuns
recebiam o
mesmo valor que um editorial e vinham, muitas vezes, em destaque na
primeira página.
O clássico da História em Quadri
nhos:
Little Nemo in Slumberland
Ainda relacionando os marcos desse processo evolutivo, no final de
1905, o autor/ cartunista norte-americano Winsor McCay cria a tira Little Nemo
in Slumberland (O pequeno
Nemo
no País dos Sonhos) primeiro clássico da
hi
stória em quadrinhos, consagrada por sua originalidade
,
a qual retrata a vida
de um garoto sonhador que dormia e sonhava com aventuras maravilhosas.
Roberto Elísio dos Santos consagra o talento de McCay:
Mas a tira mais original, sem dúvida, Little Nemo in Slumberland (...)
nela o pequeno Nemo tem toda sorte de sonhos e sempre acaba
acordando na última vinheta. A atmosfera é Surrealista e o desenho
segue o estilo
art
-
nouveau.
(2002, p.71).
Analisando a afirmação de Elísio dos Santos, percebemos que McCay
,
foi influenciado pelo movimento artístico surrealista
40
e pela
art
-
nouveau
41
,
40
O surrealismo foi por excelência a corrente artística moderna da representação do irracional
e do subconsciente. Este movimento artístico surge todas as vezes que a imaginação se
manifesta livremente, sem o freio do espírito crítico, o que vale é o impulso psíquico. Os
surrealistas deixam o mundo real para pe
netrarem no irreal. Fonte Ibid. 3.
41
O
art nouveau se insere no coração da sociedade moderna, reagindo ao historicismo da
arte
acadêmica
do século XIX, assim como ao sentimentalismo e expressões líricas dos românticos.
O novo estilo visa integrar-se na vida cotidiana, adaptado-se às mudanças sociais e ao ritmo
ace
lerado do mundo moderno. Fonte Ibid. 3.
57
onde desenhava e escrevia a partir do mundo dos
sonhos
, criando assim,
recursos inovadores no que diz respeito a estrutura narrativa, os
enquadramentos, a cor, os traços surrealistas, ou seja, os recursos ou
características das histórias em quadrinhos.
Figura 26:
McCay,
Little Nemo
in
Slumberland
1905
42
O pequeno protagonista sempre aparece de pijama e seus sonhos são
revestidos por paisagens fantásticas, onde McCay traça um belo e diferente
enquadramento, sem falar na articulação de sinais gráficos, imagéticos e
verbais como prática narrativa fundamentada na mais bucólica visibilidade,
confirmando seu alto nível potencial artístico e técnico.
Little Nemo
in
Slumberland
apresenta elevada qualidade estética,
responsável por levar o receptor a um estado de contemplação, em que a
informação é deixada a um segundo plano pela materialização da linguagem
específica desta mídia, a qual apresenta a liberdade de uma arte que acaba
de
se auto
-
afirmar.
42
Ibid. 37
58
Figura 27:
Little Nemo in Slumberland
McCay 1906 (qualidade estética)
43
1.3 A primazia da Nona Arte
Diante de tantos
argumentos
, sobre a difusão do conhecimento e da arte
que afluem para a história em quadrinhos, coube a ela a primazia mundial na
chamada “nona arte”.
Se procurarmos em qualquer dicionário o significado do vocábulo arte,
encontraremos
- arte significa técnica ou habilidade. A arte normalmente é
compreendida como atividade atrelada a manifestações de ordem estética e
tecnológica, sendo fruto de um processo sócio
-
cultural.
Diante dessa ótica, a história em quadrinhos é alicerçada em forte
estrutura industrial, sempre aberta às inovações, afirmando seu lugar como
uma forma de arte cada vez mais arrojada, empregando as mais diversas
técnicas plásticas.
Sintetizando nossas explanações, vimos como o avanço cultural
tecnológico contribuiu para a evolução e expansão da
nona arte
.
43
Ibid. 14
59
Importantes marcos antecederam a história em quadrinhos, a princípio
localizada nos períodos historicamente constituídos pela arte,
evidenciados
desde mais de 15 mil anos até o período que precedeu a era moderna,
os
quais foram
aperfeiçoando
-se, gradativamente, à medida que seus criadores
adq
uiriram técnicas e conhecimentos.
Dando continuidade, mostramos a ascensão da história em quadrinhos
como expressão artística, literária e histórica, por meio das manifestações
individuais, tendo representantes de várias partes do mundo, na sua quase
tota
lidade europeus, todos eles renomados artistas ilustres que aliavam
qualidades literárias ao desenho, aparecendo em folhetins, na grande maioria,
com poucas tiragens que, muitas vezes, indicavam situações cômicas. os
trabalhos de Ângelo Agostini e Wilhelm Busch foram publicados em periódicos;
isso tudo aconteceu no transcorrer dos séculos XVIII e XIX.
A história em quadrinhos recebeu contribuições do mundo todo, mas
foram realmente os americanos que no final do século XIX popularizaram esta
mídia; primeiramente editadas nas páginas de jornal, passando do desenho
jornalístico para o cartum, chegando até a tira de quadrinhos, sendo que na
década de 1920 criaram as primeiras revistas em quadrinhos, Comic Books
(como é conhecida nos Estados Unidos
).
Essas primeiras revistas tiveram
grande sucesso, ocorrendo uma verdadeira febre entre crianças e
adolescentes.
Diante do exposto, podemos dizer que a história em quadrinhos é fruto
da
cultura de massa, encontrando consumidores em todas as partes do mundo
e que pouco a pouco, viraram verdadeiros fenômenos de popularidade.
Baseando
-nos nas reflexões sugeridas no início deste trabalho, nosso
real propósito era justamente evidenciar a história em quadrinhos como forma
de arte e as palavras de Didier Quella Guyot (1994, p. 109) servem para
firmar essa idéia: “a História em Quadrinhos ocupa um lugar importante em
nosso sistema cultural, é verdade que entre duas cadeiras: de um lado, as
Bela
s-
Artes e, de outro as Belas
-
Letras!”.
A expressão usada por Quella conecta-se perfeitamente com a gama de
informações transmitidas até agora que, sem sombra de dúvidas, podemos
dizer: história em quadrinhos é arte
é a nona arte!
60
1.4
Do Brasil para o mundo - As Histórias em Quadrinhos de Maurício de
Sousa
As histórias em quadrinhos fascinam os jovens muito tempo, e como
dissemos essa mídia tornou-se uma popular forma de arte, espalhando-se pelo
mundo inteiro. Este meio de comunicação também ganhou popularidade no
Brasil. Diante de tal fato, Gonçalo Junior expõe:
(...) as histórias em quadrinhos foram chamadas durante algum
tempo de “historietas em quadrinhos” ou apenas historietas, numa
suposta apropriação do termo espanhol. Foi assim até meados da
década de 1960, quando ficaram conhecidas como são hoje. As
revistas em quadrinhos ou “revistinhas” receberam o diminutivo por
causa do formato reduzido a partir dos anos 50 e do público-
alvo
crianças e adolescentes. O termo “gibi” como muitos preferem
chamar hoje, nasceu do título de uma famosa revista semanal
lançada por Roberto Marinho em 1939. (2004, p.11).
Gonçalo mostra-nos a origem de determinados termos proferidos à
história em quadrinhos nacional, sendo que alguns são empregados até hoje.
Ainda segundo o autor, Adolfo Aizen, criou alguns neologismos derivados da
palavra quadrinhos: ‘quadrinização’
44
e ‘quadrinizar’
45
, que a partir dos anos
70, foram acionados nos dicionários brasileiros. Adolfo Aizen e Roberto
Marinho são os maiores responsáveis pelo advento das histórias em
quadrinhos do Brasil.
Outro dado importante Victor Civita
funda a Editora Abril
em 1950, com o
lançamento do gibi O raio vermelho e depois extasiou o mercado com o
clássico da
Disney
,
O Pato Donald
.
Neste mesmo ano, como aconteceu nos Estados Unidos com
Comic
Books,
aqui no Brasil as crianças e jovens foram ao delírio com a veiculação
das revistas em quadrinhos; era uma verdadeira febre, graças ao empenho dos
três editores citados, Marinho, Aizen e Civita.
Muitas revistas eram criadas para atender a demanda, roteiristas e
desenhistas eram convocados pelas editoras, em especial a de Victor Civita
44
Neologismo criado por Adolfo Aizen que segundo o dicionário Aurélio significa: Adaptar
uma narrativa, uma história à forma de quadrinhos, de história em quadri
nhos.
45
Ibid. 44.
61
Editora Abril, com o intuito de criar novos personagens. Dentre os desenhistas
estava Maurício de Sousa que deixou de ser repórter policial para dedicar-se à
produção de quadrinhos. Seu primeiro personagem foi criado em 1959
Bidu
que hoje é o cachorrinho de estimação do Franjinha e estreou nas páginas do
Jornal Folha de São Paulo, começando com êxito, uma vez que Bidu
repres
enta o símbolo da sua empresa, a Maurício de Sousa Produções, que
desde então, dedica
-
se à história em quadrinhos.
Em 1963, o Jornal Folha de S. Paulo publicou a
Folhinha
suplemento
infantil, que desde o início traz reportagens, histórias em quadrinhos e
passatempos, onde as tirinhas de Maurício de Sousa ganharam páginas
semanais no caderno Folhinha e se propagaram pelo Brasil afora. Este fato
nos remete a figura legendária do Yellow Kid, que muitos anos antes, também
popularizou
-
se por intermédio do jornal impresso.
Com o sucesso das tirinhas editadas na Folhinha, em 1970, Maurício de
Sousa lança sua primeira revi
sta:
Turma da nica, publicada pela Editora
Abril, com uma tiragem de 200 mil exemplares. Faz-se necessário, apresentar
alguns fatos para entendermos a denominação
Turma da Mônica.
Nesta data, haviam sido criados vários personagens: Cebolinha
(1960),
Cascão (1961), Jotalhão (1962), entre outros.
A personagem Mônica, por sua vez, surgiu modestamente em uma tira
de jornal no ano de 1963, quando Maurício de Sousa criou uma menina para
entrar nas histórias de meninos. Inspirado em sua primeira filha, Môni
ca
representa uma menina de personalidade forte, decidida, que não leva
desaforo para casa e tem características físicas marcantes: gordinha, baixinha
e dentuça.
Percebendo a popularidade de nica, que às vezes mostra-se irritada,
nervosa, e outras, doce e romântica, a personagem foi ganhando mais espaço
até chegar à primeira revista infantil brasileira, como já mencionamos.
Assim como a turma da Mônica, também podemos classificar outras
turmas: do Chico Bento, do Penadinho, da Tina, entre outros, em que cada
personagem distingue-se por apresentar certas peculiaridades. Anos depois,
foram editadas novas revistas:
Cebolinha
, Chico Bento, Cascão, Magali,
Pelezinho e out
ras.
62
Maurício de Sousa sempre criou personagens baseados em seus filhos,
amigos e parentes.
Fui me apegando em algumas características da personalidade e até
estéticas dos meus filhos e de alguns amigos deles para ir criando as
personagens. O Cascão, por exemplo, era um menino que brincava
ali perto de nossa casa. O mesmo ocorreu com o Cebolinha e outros
que povoam os gibis da turma (SOUSA, 2004 – Portal Turma da
Mônica).
Hoje, são cerca de duzentos personagens, dentre eles muitas
celebridades.
Mauríci
o de Sousa sempre está atento a tudo que acontece à
sua volta, pois alguns de seus personagens originam-se das necessidades ou
problemas sociais que fazem parte do cotidiano nacional. Diante desse fato,
muitos e muitos personagens com certeza virão.
Em relação às tiras e personagens criados por Maurício de Sousa,
Romildo Sant’Anna em seu artigo Rupturas e desvios de Maurício de Sousa
profere:
(...) No Brasil, as tirinhas são presença obrigatória, nos chamados
Cadernos Dois – aqueles especializados em cultura, arte, lazer e
amenidades em geral.
Quero enfocar o artista Maurício de Sousa (1935 -), o mais conhecido
dos quadrinistas brasileiros, e cujos personagens, em mais de 40
anos, interagem com o público no teatro, nos livros infantis, na
televisão, no cinema, na propaganda e publicidade, em incontáveis
marcas de produtos e, naturalmente, nas edições seriadas de gibis.
Escolho o período datado do decênio de 1970, adiantando que os
resultados apurados nesta pesquisa não diferem daqueles
concernentes aos dias atuais, o que prova que “em time que está
ganhando não se mexe”, o filtro do tempo denota que a fórmula deu
certo. (2002, p.151).
Romildo Sant’Anna argumenta que o trabalho de Maurício de Sousa
transformou
-se em sinônimo de entretenimento e conhecimento apreciado por
várias gerações, sendo que seus personagens mantêm sempre a mesma
essência, a mesma estrutura, ou seja, o mesmo encantamento das tirinhas
editadas na década de 70, pelo jornal Folha de S. Paulo. Vale acrescentar que
se passaram quase 50 anos e ainda suas histórias continuam aparecendo
nas tiras contidas em vários jornais espalhados pelos quatro cantos no país.
63
No que diz respeito ao processo de criação de suas histórias, Maurício
de Sousa realça o aspecto lúdico. Seu propósito é transmitir uma mensagem
de forma suave, e faz questão que todas as histórias sejam um momento de
relax. Contudo, existe uma preocupação muito grande com todos os temas,
especialmente os
atuais ligados à realidade brasileira. Vale destacar:
(...) tenho grande
orgulho e prazer de poder ajudar de alguma forma a
transmitir mensagens importantes que possam auxiliar a população
em geral a ficar alerta. (Maurício de SOUSA entrevista proferida à
Universo HQ, 2003)
Realmente, Maurício de Sousa apresenta uma inquietude frente a
assuntos que têm forte influência na vida dos brasileiros. Em suas criações
enfoca temas diversos como: saúde, solidariedade, ecologia, respeito,
desigualdade, preconceito, entre muitos outros. Tem um jeito lúdico e aéreo de
lidar com a profundidade de situações extremamente sérias. Justamente por
entender que as histórias em quadrinhos podem ser utilizadas para ensinar
conteúdos de forma rápida e eficaz.
As revistas de Maurício de Sousa, a princípio foram publicadas pela
Editora Abril, (como foi dito) ficando até 1986. No ano seguinte, a partir de
janeiro de 1987, estabeleceu parceria com Editora Globo, permanecendo 20
anos. E no início de janeiro de 2007, todos seus títulos começaram a ser
publicados pela Internacional Panini
46
, que faz parte de uma tática de Maurício
de Sousa em ampliar suas criações no exterior, que esta editora atua em
mais de cem países.
A estratégia é assumida pelo próprio Maurício de Sousa, como consta
na primeira página das novas revistas publicadas a partir de
05/01/2007:
"estamos com a Panini, uma casa multinacional que acena com novas
tecnologias e novos territórios para nossas revistas". (SOUSA, 2007).
Para Maurício de Sousa, a parceria com a
Panini
promoverá ainda mais
sua entrada no mercado estrangeiro, tendo em vista a editora ter uma estrutura
internacional bem montada que contém novas formas de transmissão. Sua
meta é alcançar uma tiragem de três milhões de exemplares. Sendo que, com
46
O Grupo Panini, com sede em Modena (Itália) e filiais nos principais países europeus,
no
Chile e no Brasil,
é
editor europeu no segmento jovem, líder italiano na distribuição de
histórias em quadrinhos e agora
encontra
-
se
desenvolven
do um programa sólido na área de
multimídia.
Fonte
:
www.
panini
comics.com.br
.
64
a Editora Globo, atingia tiragem mensal de aproximadamente dois milhões
de
exemplares.
Os quadrinhos de Maurício de Sousa, mesmo antes da parceria com a
Panini, tinham fama internacional, pois suas histórias em quadrinhos foram
adaptadas para o
cinema
, para a
televisão
, para os
vídeos
-
game
e seus
personagens ilustram: brinquedos, roupas, artigos escolares, produ
tos
alimentícios, livros, produtos de higiene e até parques temáticos, além de terem
sido licenciados para comércio em uma imensidade de produtos,
aproximadamente 3.000 itens diferentes, com a marca da Turma da Mônica,
produzidos por várias empresas, sendo comercializados em 30 países, entre
eles:
Itália, Japão, Indonésia, Estados Unidos, Portugal, Coréia do Sul, Bélgica
.
Esse artista começou modestamente desenhando tirinhas em
quadrinhos e hoje é dono de contratos milionários de merchandising e
licenciame
nto de produtos, graças à sua tenacidade e genialidade artística. Em
muito pouco tempo conquistou a preferência das crianças brasileiras. Possui
ainda um portal na Internet, líder na categoria de sites infantis, chegando a
quase um milhão de
page views
47
p
or dia.
Hoje, Maurício de Sousa assegura 70% do mercado editorial infantil que
ultrapassou, há muito tempo, a linha
Disney
. Para tanto, conta com várias
equipes de trabalho, num total de 150 artistas, que seguem um padrão de
desenho e roteiro em linha de montagem sob a marca registrada Maurício de
Sousa.
Paradidáticos Turma da Mônica
A seguir destacaremos alguns paradidáticos criados por Maurício de
Sousa, são produtos
direcionados
à
área educacional que utilizam aspectos
lúdicos e didáticos, tendo como objetivos além de entreter, também levar
informação e provocar reflexões. Dessa forma, são considerados eficientes do
ponto de vista pedagógico.
47
É um parâmetro utilizado pelos servidores web (WEB SERVERS), para medir a visi
bilidade
de um
site
ou grupo de arquivos ou parte de um
portal
na Internet. Logicamente quanto mais
page views se obtém, maior a visibilidade de um determinado site na Internet. Fonte: Ibid. 14
65
Especificamente a esse respeito, Maurício de Sousa criou uma
infinidade de produtos com o intuito de tornar ainda mais a leitura uma
experiência significativa, que propicia a integração de assuntos de interesses
diversos, utilizando o conteúdo das histórias em quadrinhos como um recurso
moderno, dinâmico, capaz de traduzir todo tipo de conhecimento: popular,
científico, religioso, em linguagem acessível para qualquer estudante.
Figura 28: Coleção Você Sabia? Figura 29: Turma da Mônica
-
Brasil
focando assuntos ligados às áreas de Paraolímpico
destaca o potencial
Ciências, História, Comunicações... dos portadores de necessidades
Especiais
Figura 30: Passagens da Figura 31: Turma da Mônica
Bíblia com
a Turma da Mônica conscientizando sobre as Drogas
66
Figura 32: História em Quadrões
Figura 33: Contos e lendas
Paulo Coelho
Pintur
as de Maurício de Sousa e Maurício de Sousa
O Gênio e as Rosas
Os produtos aqui apresentados servem de auxílio para a garantia de
uma efetiva apropriação do saber e também possibilita uma aprendizagem
transformadora de atitudes
e hábito de vida.
Retomando o propósito de Maurício de Sousa, no que se refere ao
processo de criação de seus produtos e de suas histórias, ele faz com que seu
público interaja de maneira descontraída com a mensagem. Seus paradidáticos
realmente são lúdicos e atraentes, os quais propiciam um verdadeiro
encantamento por meio das impressionantes imagens que simultaneamente
preenchem um espaço de aprendizagem criado por ele, tanto intelectual, como
moral, em que a prática se estende para a compreensão das diferenças como,
raça e culturas.
Destacaremos a inclusão das pessoas portadoras de deficiência, uma
vez que Maurício criou vários personagens para este fim: Dorinha, uma menina
cega e Paralaminha, um menino cadeirante. Maurício conta que resolveu criá-
los
para exercitar a cidadania e o respeito pelo próximo ou por intermédio de
seus personagens. Realizou também um grande sonho, lançou a Turma da
Mônica em versão braile.
Dentro desse mesmo pensamento, o Instituto Maurício de Sousa, com
parceria do Ministério da Educação distribuíram, no fim do ano de 2006, mais
de 800 mil revistas em quadrinhos e jogos educativos para alunos do ensino
fundamental. Outras 20 mil cartilhas foram enviadas aos professores para
trabalharem o tema em sala de aula a respeito do Proj
eto Diga Sim à Vida, cujo
objetivo é prevenir o uso de drogas entre crianças e adolescentes.
67
Todos estes produtos que auxiliam na prática pedagógica, conduzem o
universo da diversidade, levando o leitor a um avanço social, espiritual e
cultural.
Das Hist
órias em Quadrinhos para as Histórias em Quadrões
É comum ouvirmos falar que as histórias em quadrinhos invadiram as
telas da televisão, as telas do cinema, mas escutar que transformou-se em
exposição de arte, invadindo a “tela da pintura”, é algo totalmente extasiante,
exemplo disso, é o livro intitulado
História em Quadrões
48
pintura de Maurício
de Sousa (figura 32).
Com versatilidade evidente, mas também pela competência e
determinação de Maurício de Sousa, nasceu este fantástico projeto:
História
em Quadrões, onde os personagens da Turma da Mônica viram protagonistas
de 49 telas famosas e uma escultura, todos de artistas de renome
internacional.
Segundo Maurício de Sousa,
História em Quadrões
da Turma da Mônica
começou como por brincadeira. Em uma visita feita ao Masp - Museu de Arte
de São Paulo, no final dos anos 80, em um dos momentos de apreciação, se
deparou com o quadro Rosa e Azul do pintor impressionista francês Auguste
Renoir, que é, por sinal, uma de suas obras preferidas. Sobre essa gênes
e,
Maurício de Sousa diz:
Fiquei com meus pensamentos, que me levaram para longe. Até
que uma idéia chegou na minha cabeça e não quis mais sair: a de
incentivar e divulgar a arte de um jeito divertido. De falar sobre
Auguste Renoir e outros artistas importantes que deixaram em suas
obras um pouco da história e da sua genialidade. Era como se a arte
quisesse brincar comigo. (2001, p. 9).
48
Termo criado por Maurício de Sousa, para se referir a suas releituras de obras, onde usa
seus personagens como protagonistas de pinturas famosas. Ex: a personagem Mônica (história
em quadrinhos) posa de Mona Lisa - a mais notável e conhecida obra do
pintor
italiano
Leonardo da Vinci
. (1503
1507).
68
O aspecto lúdico é mais uma vez, evidenciado por Maurício de Sousa,
que mesmo se referindo aos gênios da pintura universal, com o intuito de
divulgar suas obras e incentivar a arte, a descontração é algo forte e presente.
Outro importante fato aconteceu no museu do Louvre, quando o
quadrinista avistou, crianças e jovens copiando em seus cadernos detalhes dos
quadros m
ais famosos, inclusive a Mona Lisa.
A idéia amadureceu e Maurício de Sousa (2001, p. 09) precisava agora
preparar
-se: “pesquisei em livros, na Internet, nos museus e descobri obras
maravilhosas”. Após essa etapa, ele foi se dedicar em desenvolver as mesma
s
técnicas utilizadas pelos pintores. O processo foi meticuloso, eram muitos
detalhes a serem verificados.
Para realizar as releituras/ paródias, Maurício de Sousa utilizou seus
personagens como protagonistas de obras de arte famosas da história
universal
e é assim que tudo aconteceu: a turma dos quadrinhos foi levada
para o universo dos
Quadrões.
O primeiro quadro pintado (1989) foi inspirado na referida obra,
Rosa
e Azul, e Mônica e Magali foram as protagonistas. Elas se transformaram em:
Magali e Mô
nica de Rosa e Azul
(figura 34).
O termo
quadrões
, dado pelo seu idealizador, refere-se ao fato de que a
maioria dos quadros parodiados é igual ao tamanho da obra original; até o
detalhe da moldura se assemelha. Como, por exemplo, na releitura
Consagração
do Imperador Caso I, pintada em 1995, que mede 147 x 217 cm
que comparado aos quadrinhos, realmente é um quadrão.
A segunda releitura executada foi uma homenagem à obra mais famosa
do mundo Mona Lisa, do gênio da pintura renascentista, o italiano Leonardo da
Vinci. Mônica transforma-se em Mônica Lisa, a qual será analisada sob a ótica
da teoria daviliana, no III capítulo.
De uma releitura para outra, Maurício se sentia cada vez mais
submergido, nesse mundo mágico da pintura:
(...) me envolvi cada vez mais com os quadrões. A toda hora me
lembrava de mais e mais pintores de que gosto muito. Van Gogh,
Sandro Botticelli, Michelangelo, Velázquez, Francisco Goya, Anita
Malfatti, Almeida Junior (...).(2001, p. 09).
69
Os pintores citados acima, foram pouco a pouco protagonizados por
Magali, Cascão, Chico Bento, Tina, Papa-Capim, Anjinho e muitos outros
personagens da turma.
Foram aproximadamente quatorze anos dedicados a este projeto, onde
Maurício de Sousa contou apenas com uma auxiliar, a Amélia. No transcorre
r
de todo esse tempo foram realizados quarenta e nove quadros e uma
escultura, Cebolinha, o pensador de planos infalíveis, um tributo a Auguste
Rodin, escultor francês e sua célebre obra
O
Pensador
.
Em outubro de 2001, História em Quadrões de Maurício de Sousa é
reunida em uma exposição realizada na Pinacoteca do Estado de São Paulo,
batendo recorde de público, com duzentas e trinta mil visitações.
A mostra foi muito bem organizada, de uma maneira didaticamente
adequada, disseminando informações sobre o autor e a obra retratada,
exibindo a releitura protagonizada com personagens da Turma Mônica e a
reprodução da obra original.
Figura 34: Releitura de Maurício de Sousa
Magali e Mônica de Rosa e Azul, baseado
na versão original:
Rosa e Azul
de Renoir
.
O resultado de todo esse trabalho está reunido em um livro (figura 32),
seguindo os mesmos moldes da exposição, e ainda contém material
complementar que contextualiza a obra e seu autor (figura 34), um glossário
70
que explica em linguagem bastante acessível alguns termos citados com
instruções
– chamadas de olho da legenda, orientando ao leitor sobre as
informações contidas nas legendas, mostrando seu real significado.
Silvana Zimmermann mestre em História da Arte, faz o seguinte
comentário a respeito do m
aterial mostrado acima:
Acreditamos que o envolvimento da criança com as artes, por meio
dos textos e das imagens, não é tão-somente um recurso para ela
perceber o modo como as pessoas e as épocas são retratadas, ou
para tomar conhecimento das diversas manifestações artísticas, é
também examinar a arte como uma oportunidade para que a criança
possa desenvolver ainda mais suas habilidades criativas a partir de
estímulos visuais e pela sua recriação. (apud SOUSA, Maurício de,
2001, p. 62).
Zimmermann levanta questões a respeito da criança como receptora de
mensagens visuais e verbais, em que ela interage com signos plásticos e
lingüísticos, e menciona que por intermédio desse contado a criança
desenvolve suas habilidades criativas partindo de estímulos visuais. Nesse
caso situam-se as releituras de Maurício de Sousa, levando em consideração
que é o receptor quem constrói a mensagem e, sobretudo, desenvolve as suas
capacidades criativas de discernir, interpretar, compreender, representar,
imaginar.
Para t
anto, faz
-
se necessário materializar o momento e conduzir a leitura
para além de um simples olhar, pois o olhar apenas não garante mudanças
significativas na aquisição do conhecimento. É preciso aprender a “ver” para
a
interpretar até os sinais que não foram feitos para serem lidos,
pois
especificamente, no caso da imagem, “ela não é inocente; ela esconde muito
mais do que mostra”
49
. E sobre este tópico, falaremos com maior propriedade
no próximo capítulo.
Esse projeto de Maurício de Sousa favorece a formação de leitores e
fruidores das linguagens e aproxima ainda mais, em especial as crianças, ao
mundo da arte. Porém, nenhum material, por si só, garante aos leitores a
competência para que os mesmos sejam capazes de realizar múltiplas
possibilidades de leit
ura de um único texto.
49
Ibid. 2, em 23/11/2006
71
Sendo assim, no próximo capítulo apresentaremos a teoria daviliana,
alicerçada na semiótica greimasiana, ambas indicadas como prováveis
caminhos na busca da construção dos sentidos inseridos nos textos
sincréticos.
Vimos neste tópico, a trajetória do maior quadrinista brasileiro, Maurício
de Sousa, seguindo o mesmo processo evolutivo da primeira história em
quadrinhos, criada mais de cem anos, nos Estados Unidos. Ambas
iniciaram
-se como tiras em quadrinhos nas páginas impressas de jornal. As
histórias de Maurício de Sousa, logo foram editadas em revistas, almanaques,
passando para as telas de TV; posteriormente, para cinema, e hoje seus
personagens conquistam o mundo, indo para os meios de comunicação
audiovisuais mais avançados.
As histórias de Maurício de Sousa possuem infinitas possibilidades a
serem exploradas, contribuem no incentivo à leitura, auxiliam na formação de
um vocabulário mais amplo, trazem para seus leitores um outro nível de
interesse pela pintura e pelo trabal
ho de arte, dentre outras situações.
Nada mais sensato do que concluir este tópico, com o próprio Maurício,
afirmando: “Boa leitura depende de orientação, educação e bons produtos à
disposição”. (SOUSA –
crônica 195:
"O dia em que eu queimei meus gibis")
1.5 Educomunicação
-
Histórias em quadrinhos e sua interatividade com o
ensino
Vimos no tópico anterior, que as histórias em quadrinhos, assim como,
os paradidáticos criados por Maurício de Sousa, proporcionam uma abordagem
multidisciplinar, fornecendo a
os professores suportes altamente eficazes para a
melhoria da qualidade do ensino.
Esta prática é crescente, tendo em vista a expansão dos meios de
comunicação de massa, em especial a mídia impressa.
Diante de tal fato, é imprescindível que os meios de comunicação de
massa invadam a sala de aula. Este procedimento é denominado
educomunicação, a utilização dos meios de comunicação TV, rádio, jornais,
revistas, Internet – como suplemento essencial a ser incluído no programa
72
escolar, conforme recomendam a Lei das Diretrizes e Bases da Educação
Nacional (LDB) e os Parâmetros Curriculares Nacional para o Ensino
Fundamental (PCN’s), formulados no ano de 1997, pelo Ministério da
Educação (MEC).
Para Paulo Freire (1979, p. 69), “a educação é comunicação, é diálo
go,
na medida em que não é a transferência de saber, mas um encontro de
sujeitos interlocutores que buscam a significação dos significados”.
Freire é um dos primeiros educadores a traçar um conceito de
comunicação conectada à educação. Para ele as “relações dialógicas”
(BAKHTIN, 1999, p.355), são a essência de uma educação de qualidade e
transformadora, e tem como marca algumas características: colaboração,
união, organização e síntese cultural, ou seja, primeiramente, para que ocorra
uma ação dialógica, precisamos de sujeitos que queiram estabelecer esta
relação; ligados a um propósito, que organizam-se na busca de uma
transformação, conectados a um instrumento de superação cultural.
Complementando, José Moran esclarece:
A escola pode e precisa estabelecer pontes com os Meios de
Comunicação
. Pode utilizá-los como motivação do conteúdo de
ensino, como ponto de partida mais dinâmico e interessante diante de
um novo assunto a ser estudado. Podem os Meios apresentar o
próprio conteúdo de ensino (...) bem como ser, eles próprios, objeto
de análise, de conhecimento. (1994, p. 23).
É indiscutível, a relevância da temática que gira em torno da
educomunicação. Paulo Freire em 1979, seguia esta linha, e a partir dos
anos 90, os próprios meios de comunicação, começaram abordar práticas
educomunicativas. José Moran, em seus estudos apresenta-se preocupado,
pois detectou que muitas escolas não estabelecem pontes com os meios de
comunicação de massa, sendo que a história em quadrinhos tanto pode ser um
ponto de partida diante de um novo assunto a ser estudado, quanto ser objeto
de estudo.
Frente a isso, gostaríamos de sistematizar os conceitos que norteiam a
história em quadrinhos, por meio da seguinte recomendação feita pelo MEC,
como constam nos PCN’s de Arte e de Língua Portuguesa do Ensino
Fundamental:
73
Os conteúdos dos temas transversais, assim como as práticas
pedagógicas organizadas em função da sua aprendizagem, podem
contextualizar significativamente a aprendizagem da língua, fazendo
com que o trabalho dos alunos reverta em produções de interesse do
convívio escolar e da comunidade. inúmeras situações possíveis:
produção e distribuição de livros, jornais ou quadrinhos, veiculando
informações sobre os temas estudados (...) (PNC Língua Portuguesa,
1997,
p. 32
).
Vimos claramente, por meio desta citação, que o MEC, reconhece a
importância da inserção da educomunicação como prática pedagógica na
aprendizagem da língua e destaca os quadrinhos como importante instrumento
no desenvolvimento da produção escrita
dos alunos.
O PCN de Arte orienta sobre os conteúdos de Artes Visuais e sugere no
tópico da apreciação significativa que os alunos desenvolvam competências e
o conhecimento da leitura ao explorar os diversos meios de comunicação da
imagem: “fotografia, cartaz, televisão, vídeo, histórias em quadrinhos, telas de
computador, publicações, publicidade, design, desenho animado etc.” (PCN
Arte, 1997, p.68).
Neste caso, a história em quadrinhos é objeto de análise e apreciação,
um recurso midiático essencial às práticas educativas que precisa ser incluída
no programa escolar. Também, os quadrinhos fomentam a aproximação do
leitor à arte literária.
Estabelecendo paralelo com tudo o que foi explicitado até agora, e
levando em conta os argumentos convincentes vindo de importantes
segmentos sociais, a história em quadrinhos é sucesso, enquanto meio de
comunicação de massa, e é um importante instrumento da educomunicação e
educomídia.
As páginas das Histórias em Quadrinhos - um elo entre a cultura e a
educação.
As histórias em quadrinhos podem ser usadas em todos os níveis de
ensino, desde educação infantil até a educação superior, conforme aponta
Serpa e Alencar, em seu artigo intitulado,
As boas lições que aparecem no gibi,
publicado em 1998, pela Revista Nova Escola. Vale ressaltar que esse artigo
foi referendado por Flávio Calazans, em sua obra História em Quadrinhos
na
74
escola
(2004), em que além de prestigiar o trabalho em questão, apresenta
uma infinidade de sugestões e possibilidades de uso dos quadrinhos
como
recurso didático, abrangendo diversas áreas do conhecimento.
Tendo como apoio os trabalhos acima citados e uma infinidade de
informações encontradas nessa nossa trajetória, abordaremos outras
possibilidades de uso no campo da história da arte.
Veremos o que José Moran disse anteriormente, no início deste tópico,
que os meios de comunicação, tanto servem para apresentar conteúdos, como
eles próprios, podem ser objetos de análise. As figuras que serão mostradas a
seguir relacionam-se com períodos específicos da história da arte, e neste
caso, apontam paralelismo com renomados pintores.
Figura 35: Jim Sterancko
Figura 36: Harold Foster
cena Surrealista
50
cena Romântica
51
Figura 37: Lorenzo Mattotti
-
Fuochi (1986) Cena expressionista
52
50
Ibid. 40
Fonte fig.ibid. 13
51
Romantismo
foi um movimento
artístico
e
filosófico
surgido final do século XVIII, que valoriza
os
sentimentos e a imaginação, o nacionalismo, os sentimentos do presente tais como:
Liberdade, Igualdade e Fraternidade. Fonte fig.ibid. 13
52
Expressionismo é a arte do instinto, trata-se de uma pintura dramática, subjetiva,
“expressando” sentimentos humanos. Utilizando cores irreais. Deforma-se a figura, para
ressaltar o sent
imento. Fonte fig.ibid. 13
75
Figura 38:
Carlos Gimenez
Figura 39:
Carlos Gimenez
-
Cena neogótica
53
Art
Nouveau
54
Figura 40: Peter Kuper
Cena grafite
55
O estilo do quad
rinhista
Jim Sterancko é muito parecido com as pinturas
do pintor espanhol Salvador Dali, pelos traços e características surrealistas que
apresentam (figura 35). O trabalho de Carlos Gimenez (figura 38) assemelha-
se ao estilo do arquiteto espanhol Antoni Gaudí, o qual utiliza padrões
neogóticos presentes em suas grandiosas construções.
Vimos nestes exemplos, à proposta de estabelecer comparações entre
duas imagens que possibilitam ao aluno encontrar semelhanças e diferenças,
no que diz respeito à forma, à estética, temática. Esta prática favorece o
diálogo entre o sujeito fruidor e o objeto de fruição, que implica no
desenvolvimento de várias habilidades como: julgar, classificar, perceber,
relacionar, despertando assim a expressividade, a comunicabilidade e
a
curiosidade em conhecer o patrimônio artístico cultural mundial.
53
O neogótico é o estilo das novas construções, contendo altas torres, os vitrais coloridos, os
arcos de ogivas e as colunas longilíneas que dão ao templo uma notável sensação de leveza.
54
Ibid. 41
-
Fonte fig.ibid. 13
55
Grafite,
também chamada de arte urbana, significa marca ou inscrição feita em muro, cujo
principal elemento é o spray. Fonte fig.ibid. 13
76
Estas mesmas cenas, contidas nas páginas dos quadrinhos, podem
servir como estratégia para outras disciplinas, como por exemplo, a Literatura.
Estes propiciam estabelecer paralelos com os movimentos literários,
entendendo a obra literária como expressão da subjetividade do autor, pelo fato
de podermos relacionar a cena surrealista (figura 35) com o pensamento do
escritor francês poeta e teórico, André Breton (1896 -1966) que liderou esse
movimento, ao publicar o Manifesto Surrealista em 1924.
Outra possibilidade seria abordar marcos históricos, referentes aos tais
movimentos, envolvendo a disciplina de História. Sem contar que existem
paradidáticos, totalmente voltados para essa disciplin
a, podemos citar
Gen Pés
Descalços
, histórias em quadrinhos escrita e desenhada por Keiji Nakazawa,
que mostra o garoto Gen vivendo momentos torturantes, desde os dias que
antecederam o lançamento da bomba atômica em sua cidade natal, Hiroshima,
até os horrores que ela causou: miséria, a fome, as mutilações, a luta pela
sobrevivência. É realmente um clássico da literatura japonesa que mostra de
uma maneira clara e envolvente esse triste e inesquecível fato histórico. Por
apresentar todas essas qualidades, é adotado como material didático nas
escolas de vários países. Acrescentamos ainda, a diversidade de conteúdos
que poderão ser extraídas deste material, para outras áreas do conhecimento:
Geografi
a
os conflitos geopolíticos e étnicos, as reconfigurações territoriais;
Química
os efeitos da radioatividade; Física – processo de obtenção da
bomba atômica; entre outros.
Tais fatores nos levam a pensar que os quadrinhos apresentam uma
diversidad
e de saberes, que poderão ser facilitadores da prática multidisciplinar
e interdisciplinar, e esta por sua vez, favorece uma aprendizagem muito mais
estruturada e rica, pois os conceitos são organizados em torno de unidades
globais, metodologicamente compartilhadas por várias disciplinas, cabendo
portanto, ao educador principiar esse processo.
Existe ainda a possibilidade da história em quadrinhos ser forte aliada no
processo de ensino-aprendizagem de crianças no início da alfabetização.
Segundo Flávio Calazans (2004, p. 10), “o prazer e sedução da leitura da
História em Quadrinhos ocorrem em vários estágios de desenvolvimento”, que
vai desde o período de alfabetização (entre 3 a 7 anos) até discussões
universitárias de estilos de arte e política empregando
sempre os quadrinhos.
77
Não poderíamos deixar de mencionar a infinidade de obras clássicas da
literatura brasileira, assim como universal, que foram adaptadas para histórias
em quadrinhos. As primeiras surgiram nas décadas de 50 e 60: A Moreninha,
Senhora e
O Guarani.
Em 2006, no entanto, uma editora, Escala Educacional, quadrinizou
doze clássicos da literatura, com efeitos gráficos visuais mais fascinantes e
expressivos, como Memórias de um Sargento de Milícias obra de Manuel
Antônio de Almeida, quadrinizada por Bira Dantas, com roteiro de Índigo,
lançada em outubro de 2006, onde a idéia principal é fazer com que a leitura se
torne mais acessível e envolvente, e a partir dela o jovem leitor sinta-se atraído
a entrar em contato com a obra original, tornando o livro ainda mais objetivo.
Essas condições estimulam o estabelecimento da leitura como fonte de prazer
e entretenimento.
56
Sobre a importância dos meios de comunicação com recurso didático
pedagógico, Maria Baccega acrescenta:
56
http://www.bigorna.net/index.php?secao=birazine&id=1160978895
Figura 41
:
Memórias de um sargento de
milícias
Roteiro: Indigo
Desenhos e arte
-
final: Bira Dantas
Cores: Maurílio DNA
Formato: 17 x 24 cm
Acabamento Lombada Canoa
78
A formação de cidadãos, atributo da escola, passa hoje
obrigatoriamente pela habilitação do cidadão para ler os meios de
comunicação, sabendo desvelar os implícitos que a edição esconde;
sendo capaz de diferenciar, entre os valores dos produtores dos
meios, aqueles que estão mais de acordo com a identidade de sua
nação; reconhecendo os posicionamentos ideológicos de
manutenção do
status quo
ou de construção de uma variável histórica
mais justa e igualitária. (2003, p. 81)
Dissemos no tópico anterior que o leitor precisa aprender a realizar
múltiplas leituras sobre um único texto, e Maria Baccega reforça dizendo que é
dever da escola capacitar o cidadão para ler os meios de comunicação, com o
intuito de descobrir os segredos do texto, ou seja, ler para compreender os
ef
eitos de sentido nos textos por meio de marcas implícitas e explícitas.
Maria Baccega propõe uma leitura crítica e transformadora, que
possibilite ao cidadão o exercício pleno da sua cidadania, seja para a resolução
dos problemas do cotidiano ou para mel
horia de sua qualidade de trabalho e de
vida. Então, como dissemos anteriormente, a teoria daviliana alicerçada na
semiótica greimasiana são indicadas como prováveis caminhos para esse
método de leitura, conforme veremos no capítulo II.
Neste contexto, convém reforçar nossas idéias sobre leitura e para isso,
usaremos as reflexões de José Marques de Mello:
Tanto maior o domínio dos códigos quanto mais oportunidades têm o
cidadão para entender o mundo que vive. Naturalmente, a própria
vida enseja mecanismos de apreensão do significado da cultura que
nos rodeia. Mas é inegável que a sistematização do conhecimento
proporcionado pela escola amplia chances de participação na
sociedade e do usufruto dos benefícios disponíveis. Quanto mais
escolarização, mais opções de intervenção no cotidiano. E melhores
expectativas de bem
-
estar. (1999, p. 43).
As idéias reflexivas de Marques de Mello somam-se a tudo o que foi dito
até agora; a leitura possibilita que o cidadão compreenda o mundo à sua volta,
abre novos caminhos para o conhecimento e contribui na formação
efetivamente de pessoas plenas e ativas, cada vez mais conscientes dos seus
papéis sociais, atuando na sociedade e usufruindo dos benefícios e serviços
que lhes são assegurados.
79
II
TEORIA GREIMASIANA E TEORIA DAVILIANA
2.1 Teoria Semiótica Verbal Teoria de A. J. Greimas para linguagem
verbal
Seguindo o pressuposto de que a leitura é essencial para formação do
ser humano como um todo, faz-se necessário que os educadores conheçam
caminhos para propiciar ao aluno a tão sonhada leitura transformadora, crítico-
reflexiva. Apontada como facilitadora desse processo, a semiótica greimasiana
da Escola de Paris é uma das teorias mais eficientes da atualidade, que
proporcionando novas possibilidades em estratégias de leitura, compreensão e
entendimento de texto, favorece ao que hoje denominamos em educação
aprendizagem de multiletramento.
Esta semiótica fundamenta-se nos conceitos de Ferdinand Saussure e
Louis Hjelmslev, mas foi organizada, desenvolvida e grandiosamente ampliada
pelo lingüista Algirdas Julien Greimas (Lituânia, 1917 -
Paris
,
1992)
e uma
equipe de pesquisadores durante os decênios de 60, 70 e 80. Tem como objeto
de estudo o texto, e, é conhecida como teoria da significação. Explora o
percur
so percorrido pelo sentido que atravessa o texto, procurando descrever e
explicar, não apenas o “que” o texto diz, “como o texto se diz texto”, mas “o
como” do sentido, isto é “arquiteturando a significação na articulação dos seus
elementos significantes”.
57
Hoje em dia, mesmo depois de sua morte, a semiótica greimasiana
conta com centenas de pesquisadores no mundo todo, inclusive no Brasil, por
57
Informações oferecidas nos transcorrer as aulas de Semiótica, Comunicação e Linguagens,
ministradas pela Dra. Nícia Ribas D’Ávila. Toda vez que ocorrer tal fato, utilizaremos como
indicação o seguinte
sinal **.
80
isso encontra-se em constante expansão. Dentre esses nomes, destacamos a
Dra. Nícia Ribas D’Ávila e o Dr. Silvio
Santana Junior.
Segundo Santana Junior (2006, p.01), a teoria desenvolvida por Greimas
“(...) parte do sentido manifestado no texto, reconstruindo-o, explorando-lhe o
sentido em seus diferentes níveis de estruturação, descrevendo assim sua
significação (...)”, ou seja, a semiótica analisa a estrutura interna do texto,
tentando estabelecer os percursos que o mesmo apresenta em relação a seus
níveis de estruturação e sentido, descobrindo mecanismos e conexões, que
conduzem ao seu sentido, na busca de encontrar as informações implícitas ao
longo do texto.
Segundo, o Dicionário de semiótica elaborado por Julien Greimas &
Joseph Courtés: "A teoria semiótica deve apresentar-se inicialmente como o
que ela é, ou seja, como uma teoria da significação (...)." (s/d: 415), que se
preocupa em atingir e desvendar o como do sentido. Sendo a significação o
objeto de estudo da semiótica greimasiana, convém esclarecer:
Definimos significação como "a articulação do sentido", para produzi-
la precisamos textualizar, isto é, fazer uso de uma linguagem de
manifestação; sabemos, outrossim, que qualquer linguagem (verbal
ou não-verbal) constitui-se de dois planos: o do conteúdo e o da
expressão, e que, uma vez escolhidos e unidos pelo sujeito da
enunciação, produzem a significação.
(D’ÁVILA **)
Como acabamos de perceber, a significação não é plural. Assim sendo,
a primeira preocupação é demarcar no texto todos os elementos de
significação, na busca de descrever e elucidar o que o texto enuncia e como
ele organiza seu enunciado. Para isso é necessário descobrir os vários
caminhos percorridos pelo sentido que abarca o texto.
Na tentativa de esclarecer o termo significação”, uma vez que é
comumente confundido com “sentido”, deparamo-nos com outra propriedade
comum às semióticas: o sen
tido.
De difícil definição, encontramos no dicionário de Greimas e Courtés
(s/d, p. 136), que a expressão “efeito de sentido” é equivalente ao termo que
significa impressão da realidade ou “ilusão referencial”, para Roland Barthes, e
por meio deste, podemos apreender o mundo à nossa volta, pois o efeito de
sentido que encaminha nossas ações e interpretações não é ainda o sentido
81
articulado denominado por Greimas de SIGNIFICAÇÃO. Esta só é apreendida
mediante análise.
Unificando as informações, vimos que a semiótica busca descrever os
efeitos de sentido e o sentido em si, sendo articulada, produzida pela
significação inserida no texto, marcada por um conjunto de pistas, de dados,
organizados em níveis de estruturação, que se instituem como caminhos que
deve
rão ser percorridos pelo leitor do texto.
Frente a essas colocações, é necessário clarear, o que a teoria
semiótica greimasiana entende por texto:
Considerado como enunciado, texto opõe-se ao discurso, conforme a
substância de expressão gráfica ou fônic
a
utilizada para a
manifestação do processo lingüístico (...) L. Hjelmslev utiliza o termo
texto para designar a totalidade da cadeia lingüística (...) o termo
texto em sentido restritivo: dá-se quando a natureza do objeto
escolhido (a obra de um escritor, um conjunto de documentos
conhecidos ou de depoimentos recolhidos) marca-lhe os limites,
nesse sentido, texto se torna sinônimo de
corpus.
(GREIMAS &
COURTÉS, s/d p. 460).
Alguns alunos de Greimas da década de 80 aplaudiam a semiótica
greimasiana, entendendo que o sentido estava no texto e não fora dele, fosse
ele uma foto, um filme, um quadro, um poema. Portanto, a semiótica
encarrega
-se de estudar as relações que se manifestam entre as categorias do
significante saussuriano, por meio do “plano da expressão”, assim denominado
por Hjelmslev e as categorias do significado (Saussure), instauradas no “plano
de conteúdo” (Hjelmslev).
Neste ponto de vista, qualquer obra artística, científica ou literária é
considerada um texto a ser lido. Um texto é uma unidade de sentido onde
múltiplas partes falam entre si de modo coerente e dependente.
Para operacionalizar sua teoria, Greimas buscou uma variedade de
subsídios teóricos, como acabamos de verificar. Mostraremos a seguir, as
contribuições extraídas dos conceitos lingüísticos e metodológicos de
Ferdinand Saussure e Louis Hjelmslev.
Ferdinand Saussure, (1857-1913) fundador da lingüística moderna,
refere
-se à linguagem como um sistema de signos, signo lingüístico, o qual se
define como objeto do conhecimento, resultado da reunião de um significante a
um significado, pela semiose. Segundo Saussure, a língua é o objeto da
82
lingüística, logo abstrata, para ele, pois como fato social pertence à
comunidade.
Para Greimas, conforme dicionário, podemos dizer que signo:
É uma unidade do plano de manifestação, constituída pela função
semiótica, isto é, pela relação de pressuposição recíproca, que se
estabelece entre grandezas do plano da expressão (significante) e do
plano do conteúdo (significado), no momento do ato de li
nguagem
(...).(s/d, p. 422).
Signo é qualquer coisa percebível, manifestada, representando um
resultado de junções perceptíveis entre expressão e conteúdo, sendo estes
responsáveis pelo processo cognitivo de interação entre o indivíduo e o mundo
externo.
Complementando; a expressão corresponde às substâncias múltiplas
(gráficas, sonoras, intonativas etc.), já o conteúdo se define no significado
produzido no que é dito, com seus efeitos de sentido apreendidos como
substância do conteúdo. Na forma do conteúdo colhemos o “modo” como a
substância foi organizada em sistema. Ela, a forma, é invariável, como por
exemplo, o sistema lingüístico (escrita).
Vimos que a semiótica greimasiana afastando-se da semiologia
saussuriana, buscou a significação no estudo das relações entre fenômenos
significantes, seguindo os princípios de Louis Hjelmslev (1899 – 1965) que
proporcionou uma perspectiva mais acurada, sugerindo que o signo deveria ser
constituído de: plano de expressão (do significante) e o plano de conteúdo (do
significado), sendo que cada plano subdivide-se em duas instâncias: forma e
substância. As referidas instâncias serão esclarecidas a seguir.
Acompanhando o pensamento de Greimas e Courtés, existem variados
empregos para a palavra forma:
(...) refletem praticamente toda a história do pensamento (...) o
estatuto atribuído a esse conceito, (...) a forma é o que garante a
permanência e identidade (...) Quando o conceito de forma é aplicado
aos “objetos do pensamento”, a matéria que ela enforma é
interpretada
progressivamente, por um deslizamento semântico (...).
(conforme dicionário s/d: p. 192).
Podemos então dizer que a forma é o que garante identidade ao signo,
ela lhe é inerente. É aquilo que faz com que o objeto seja ele mesmo, e não
83
uma coisa qualquer. Para Greimas é o “como do sentido” em se tratando da
forma do conteúdo ou da expressão.
Greimas, conforme D’ Ávila, considerava a substância com efeitos de
sentido, para o conteúdo e como “suportes de significação” para a expressão
que deveriam ser assumi
das pela FORMA. **
Encontramos outra definição, na obra de Roland Barthes (1996, p. 43),
nos
Elementos de Semiologia, designando “a substância como o conjunto dos
aspectos dos fenômenos lingüísticos”.
Refletindo sobre essas acepções, verificamos segundo D’ Ávila, que a
forma está ligada à maneira como algo é apresentado, responsável pela
ordenação e articulação do sentido garantindo-lhe a identidade; como um
suporte constituído de elementos variáveis que serão ordenados em sistema
por meio da FORMA. **
Partindo dos apontamentos acima, apresentaremos os planos
introduzidos por Hjelmslev para o estudo da forma de conteúdo, forma de
expressão, substância de conteúdo e substância de expressão.
Com o intuito de elucidar possíveis dúvidas a esse respeito,
empr
egaremos os conceitos de Santana Junior, para reforçarmos ainda mais
os argumentos utilizados até agora, pois ele cita exemplos que corroboram
com as reflexões já obtidas em sala de aula.
No plano do conteúdo, a forma, invariável, equivale, portanto a uma
“gramática” contendo seus termos (morfologia) e suas relações
(sintaxe), enquanto a substância semântica, variável, seria
comparável a um dicionário. Por exemplo: a) um conto narrado
(oralmente) comporta, no plano da expressão lingüística, forma
(sistema
de fonemas) e substância (cadeia fônica para cada idioma);
b) no plano do conteúdo, a forma (componente gramatical)
caracteriza o gênero conto, com suas particularidades narrativas no
encadeamento dos enunciados; a substância pode ser de ordem
temática e/
ou figurativa
()
(SANTANA JUNIOR, 2006, p.03)
.
Por intermédio dos ensinamentos greimasianos, a significação como "a
articulação do sentido", para produzi-la precisamos textualizar, isto é, fazer uso
de uma linguagem de manifestação; sabemos, outrossim, que qualquer
linguagem (verbal ou não
-
verbal) constitui
-
se de dois planos: o do conteúdo e o
da expressão, e que, uma vez escolhidos e unidos pelo sujeito da enunciação,
produzem a significação.**
84
A significação é colhida em sua essência, por meio da análise profunda
do sentido articulado. Assim sendo, obteremos a FORMA do conteúdo após
a realização dessa análise.
2.1.1 Percurso Gerativo do Sentido
Os dados aqui elucidados serviram de base para facilitar o entendimento
de parte da metodologia desenvolvida por Greimas, que tem como
embasamento o estudo da semiose, ou seja, a junção do plano de expressão
ao plano de conteúdo como duas faces da mesma moeda, estudadas
separadamente.
Essa correspondência é estabelecida por um todo significativo,
que será e
studado por uma “gramática do conteúdo”, segundo D’Ávila (2001, p.
05), idealizada pela forma de percurso gerativo do sentido, processo que
interpreta o sentido (simples ao complexo), buscando descobrir como o
enunciador elabora o seu texto, possibilitando assim, perceber todos seus
elementos de significação
.
Mencionamos que a análise greimasiana parte do plano do conteúdo,
em teorização, mas convém esclarecer que o plano da expressão nunca é
deixado de lado, uma vez que depende da relação entre a forma da
expressão
mais a forma do conteúdo de um texto (por intermédio da conexão da categoria
do significante com a categoria do significado) para que a mensagem texto seja
manifestada.
Novamente, fazendo referência a Santana Junior, quanto a análise
semiótica
proposta por Greimas, diferentemente das outras teorias, parte de
níveis de estruturação do conteúdo manifestados no texto:
O plano do conteúdo teorizado por Greimas divide-se em níveis de
estruturação, em patamares, que compõem o Percurso gerativo da
si
gnificação. Podemos falar desses níveis de modo simplificado:
profundo, narrativo e discursivo, considerando os primeiros o nível
semiótico propriamente dito (estruturas sêmio-narrativas), e o último,
o nível menos profundo ou mais superficial (estruturas
discursivas),
cada qual com seus componentes sintáxico e semântico. (SANTANA
JUNIOR, 2006, p. 05)
Acabamos de ver que a metodologia greimasiana preocupa-se em
explicar as condições da apreensão e da produção dos enunciados, a partir de
um conjunto de níveis de estruturação de sentido, que parte do mais abstrato
85
ao mais concreto, ou seja, o percurso é organizado em patamares que vão do
nível profundo e do nível de superfície das estruturas narrativas, ao nível das
estruturas discursivas, sendo que em cada um deles existe um componente
sintático e um semântico (quadro 1).
Quadro 1: Percurso Gerativo do Sentido: Autor A. J. Greimas (conforme dicionário s/d. p. 209).
A releitura didática feita pela Dra.Nícia Ribas D’Ávila, docente do curso de Pós-
Graduação
da
Universidade de Marília, foi elaborada face às dificuldades apresentadas pelos alunos oriundos
de áreas distintas do conhecimento para a compreensão devida da teoria greimasiana, mantida
sua absoluta autenticidade
.
86
O papel do enunciatário, porém, diant
e desses três patamares, define
-
se
em percurso inverso. Na desconstrução de um texto capacitado a possibilitar
uma análise ou abordagem semiótica dará preferência às estruturas
discursivas em primeira instância, uma vez que estas permitem a captação do
mom
ento da
“mise
-
em
-
discours”
- projeção da enunciação, do narrador no
enunciado (texto). Agora elucidaremos cada um desses níveis.
2.1.2
Níveis de estruturação do Sentido Verbal
Estruturas sêmio
-
narrativas profundas
Nível mais que profundo
Nesse nível busca-se revelar o estrato mais profundo que gera o
processo de significação, que conforme D’ Ávila (2007, p. 04), “nele surge a
significação como uma oposição semântica mínima. É o nível mais abstrato da
significação”.
Complementando os apontamentos acima, no nível fundamental, ou
seja, na instância das estruturas sêmio-narrativas profundas, investiga-se o
mais abstrato da produção de sentido do texto onde a significação é instaurada
por meio dos componentes sintático e semântico; o primeiro aborda as
relações
entre os semas
58
; as oposições semânticas de afirmação e negação
(no quadrado semiótico); o segundo trata dos valores articulados pelas
categorias tímicas (GREIMAS, s/d: p. 462) de euforia e disforia.
Podemos então dizer que neste nível são analisadas a s
intaxe
fundamental e a semântica fundamental, sendo ambas responsáveis por unir a
percepção à reflexão sintático
-
semântica do indivíduo.
Já, na sintaxe fundamental, quando no texto um termo é afirmado,
outro deverá ser, por pressuposição lógica, automaticamente negado. Em
outras palavras, as operações de negação e asserção podem surgir a partir
dos pares de contrários encontrados na semântica fundamental, que projetam
no quadrado semiótico os relativos contraditórios, gerando, por exemplo, na
exposição das categorias semânticas vida e morte (contrários) ou nas
58
Cada unida
de mínima de significação, que
combinada com outras, define o significado das
palavras;
traço semântico, componente semântico. Fonte: Ibid 12
87
categorias masculino e feminino os seguintes termos contraditórios: não-vida e
não
-
morte ou não masculino e não feminino. Elucidando:
vida morte masculino
feminino
não morte não vida não feminino não masculino
Na
semântica fundamental é onde são demonstradas as oposições
semânticas que comandam as diferentes idéias do texto, por exemplo: vida
versus morte, homem versus mulher, etc. Nesta relação, cada sema tem um
valor negativo (disfórico) ou um valor positivo (eufórico). Dentro dessa visão é
possível analisar as idéias centrais, os conteúdos fundamentais que autenticam
a mensagem do texto.
É sob esta ótica que a análise do nível profundo, ou “a quo”, arquiteta o
quadrado semiótico, a partir das representações visuais temáticas e
axiológicas
59
, destacadas pelos componentes de qualquer categoria, sendo
que a significação se constrói por oposições.
A tarefa do quadrado semiótico é garantir a condição da produção e da
apreensão do sentido, por isso é considerado útil e funcional para
interpretarmos e classificarmos textos, possibilitando-nos coligar as maneiras
pelas quais os sujeitos articulam seus pensamentos.
Em ntese, utilizaremos os ensinamentos greimasianos onde D’ Ávila
diferencia as duas categorias contidas nas instâncias das estruturas sêmio-
narrativas profundas:
A sintaxe fundamental é lógica e abstrata. Representa a instância
a
quo
do percurso gerativo. Nela o sentido se articula na relação entre
semas instaurados no quadrado semiótico (estrutura elementar da
significação). É puramente relacional, conceptual e lógica. Os termos-
símbolos de sua taxionomia são intersecções de relações, enquanto
simples
operações são apenas atos que estabelecem relações. Com
a semântica fundamental, de caráter paradigmático, constitui o nível
profundo da gramática semiótica e narrativa. Nela, pela axiologia,
constrói
-se o inventário de categorias sêmicas na investigação
de
valores morais, políticos, religiosos, sociais, etc.
(2001 b, p. 65
-
78).
59
A axiologia tem por objeto o estudo da natureza dos valores e juízos valorativos,
especialmente, os morais
,
éticos, políticos, religiosos e sociais. Fonte: Ibid 12
88
Finalizando, esta etapa, ou seja, no nível profundo, a significação se
no plano paradigmático, fundamental, mencionado no arrolamento de
categorias micas - relação elementar constituída pela diferença entre dois
termos semânticos unidos por um eixo semântico ou metatermo (superior ou
inferior), contidas nas instâncias das estruturas sêmio-narrativas profundas,
onde se encontram, sintática e semanticamente, as oposições essenci
ais sobre
as quais o texto foi arquitetado.
Estruturas sêmio
-narrativas superficiais -
Nível Narrativo
Este nível é conhecido como o nível intermediário das transformações,
marcado pela passagem de um estado inicial a um estado final. Essas
transformaçõe
s dizem respeito a um sujeito que busca seus valores a começar
das ações.
Sobre este tópico, D’ Ávila (2001 b, p. 65 -78) argumenta: “nas
estruturas sêmio-narrativas se fundamenta o esquema narrativo definido em
quatro termos: manipulação (busca), competência, performance e sanção”,
onde a narrativa é organizada, a partir do ponto de vista de um sujeito.
Geralmente a narrativa de um texto é a história de um sujeito de busca.
Seguindo os princípios de José Fiorin (1996, p.21) de que “nem todos
os textos são narrativos”, é necessário que façamos uma breve diferenciação
entre narração e “narratividade” (neologismo greimasiano).
Entendemos que
narração é uma descrição centralizada num acontecimento ou fato, onde um
narrador relata a ação. Por sua vez, a narratividade” é assinalada pela
seqüência de acontecimentos e pela transformação, sem distinção do narrador.
Sobre as questões que giram em torno da narratividade, Fiorin destaca,
parafraseando Greimas:
A narratividade é uma transformação situada entre dois estados
sucessivos e diferentes. Isso significa que ocorre uma narrativa
mínima, quando se tem um estado inicial, uma transformação e um
estado final. (...) A narratividade é um componente da teoria do
discurso. (1996, p. 21).
Considerando as informações tecidas acima, a “narratividade” segundo
Greimas, o autor do termo, toma caráter funcional na narrativa e é o processo
89
pelo qual os sujeitos atuam sobre outros sujeitos ou sobre si mesmos, gerando
transformações em busca de certos valores investidos nos
objetos.
As estruturas Sêmio-narrativas superficiais são alicerçadas pela sintaxe
narrativa de superfície e semântica narrativa.
Na
sintaxe narrativa, observamos o local onde se organiza o sujeito,
que se estabelece em distinção ora nos enunciados de estado, ora nos
enunciados de fazer. O enunciado de fazer apresenta as transformações
modalizadas na relação de junção do sujeito com um objeto.
Em suma, enunciado de estado é a relação entre sujeito e objeto, e no
enunciado de fazer ocorrem mudanças de um
enunciado de estado a outro.
De acordo com D’ Ávila, a sintaxe narrativa de superfície é:
(...) a fonte que origem a todo o processo semiótico onde são
concebidos programas narrativos que transformam, através do
homem, as coisas, as situações. Nela examinamos os actantes
(destinador, sujeito, objeto) envolvidos no esquema narrativo
citado. Possibilita, ainda, analisar os sememas e a relação entre os
mesmos.
(2001 b, p. 65
-
78).
Seguindo as idéias de D’ Ávila, é no processo semiótico que são
des
envolvidos os programas narrativos, caracterizados pela relação entre
actantes sujeitos e objetos. Nesta ação geralmente um sujeito do fazer exerce
uma função de transformação sobre um sujeito de estado, fazendo com que
este, seja capaz de entrar em conjunção com o objeto de valor, que segundo
Greimas (s/d: p. 483) é a relação entre o sujeito que aprecia e o objeto
desejável.
As transformações do enunciado do fazer o mostradas por intermédio
de um esquema narrativo canônico que Greimas dividiu em quatro estágios: a
manipulação; a competência; a performance e sanção. Nesse esquema é
instituído o contrato entre os sujeitos enunciador e enunciatário, demonstrando
no enunciador o “estado de falta” (propiano) que o auto-manipula a
desencadear um programa de busca, onde o destinador-manipulador propõe o
contrato e persuade o destinatário que, por sua vez, ao interpretá-lo, o aceita
ou o recusa.
Na manipulação, um sujeito age sobre o outro para levá
-
lo a querer e/ ou
dever fazer alguma coisa. Na competência, o sujeito que vai realizar a
transformação central da narrativa é dotado de um saber e/ou poder fazer. A
90
performance é a fase em que se a transformação (mudança de um estado a
outro). Na sanção ocorre a constatação de que a performance se realizou e,
por co
nseguinte, o reconhecimento do sujeito que operou a transformação.
Finalizando, podemos dizer que a sintaxe narrativa “simula o fazer do
homem que transforma o mundo” (D’ ÁVILA, 2007, p. 04).
Até agora apresentamos os princípios da sintaxe narrativa onde
são
elaborados os programas narrativos, caracterizados pela relação entre dois
actantes. Como dissemos o nível narrativo é embasado tanto pela sintaxe
narrativa de superfície quanto pela semântica narrativa, a qual será mostrada a
seguir.
A
semântica
narrativa
ocupa
-se dos valores apontados nos objetos e
estuda a constante busca de valores (ideologia), numa narrativa sob a
perspectiva greimasiana, aparecem dois tipos de objetos: objetos de valor
modal e objetos de valor ideológico. Os dois objetos são buscados pelo sujeito,
os primeiros (o querer, o dever, o poder e o saber) e os segundos dependem
da obtenção dos primeiros, os quais entram em conjunção ou disjunção na
performance principal.
Os primeiros são denominados “objetos de valor” (= om = valor modal);
os segundos são definidos como “objetos-valor” (= ov = valor ideológico ou
descritivo).
Gostaríamos de esclarecer que quando Greimas menciona em suas
obras sobre a categoria do objeto, ele quer dizer que:
O objeto é uma espécie de casa vazia (um modelo), que recebe
investimentos de projetos e determinações do sujeito. Não significa,
necessariamente, que o objeto deva ser algo inanimado, pois uma
pessoa pode ser no texto, o objeto para o sujeito. Os investimentos
fazem do objeto um objeto-valor e é assim, por meio dos objetos, que
o sujeito tem acesso aos valores. (segundo D’ Ávila 2007, p. 05).
As informações citadas levam-nos a pensar que existe narrativa se
houver um interesse sobre um determinado objeto valor (ou de valor,
ideológi
co, descritivo), pois todo enunciado performador apresenta a
performance do actante sujeito operador na narrativa, em busca desse
objeto. Na busca incessante do objeto - valor, o actante sujeito promove ações
em que os objetos de uso intermediário que propiciarão atingir o objeto valor
recebem o nome de objetos modais. Poderíamos assim dizer que, o objeto-
91
Valor é o ‘fim’** finalidade, e o objeto modal é ‘meio’** para se chegar ao fim
almejado (ideologia) na ação narrativa. Em síntese: Objeto-Valor (FIM) e
Objeto de valor modal (MEIO)**.
Por intermédio destas explanações, percebemos que uma narrativa
estrutura
-se num esquema narrativo constituído pelos quatro momentos já
citados: manipulação, competência, performance e sanção, onde os actantes
present
es na narrativa relacionam-se com seus objetos, estabelecendo laços
entre sujeito e objeto.
A manipulação se dá, segundo Greimas, por meio das fases: sedução,
que envolve um saber de quem manipula para fazer o manipulado (querer-
fazer); tentação, um poder fazer (querer-fazer); provocação um saber fazer
(dever
-fazer) e intimidação, um poder fazer (dever-fazer). A sedução e a
provocação são elementos de manipulação situados na dimensão cognitiva
(isotopia do Saber), assim como a tentação e a intimidação situ
am
-se na
dimensão pragmática (isotopia do Poder). **
Vale ressaltar que o sujeito sempre quer estar de posse com o objeto
Valor. Para isso ele precisa dispor de objetos modais para situar-se em estado
de junção ou disjunção. O percurso narrativo -
discursi
vo desse sujeito
organiza
-se no eixo sintagmático (caracterizado, numa primeira abordagem
como uma rede de relações do tipo “e...e”.(...) “é definida pela linearidade que
não é senão um modo de manifestação, temporal ou espacial, da estrutura
lógico
-
relaci
onal” (GREIMAS, s/d, p. 429). É responsável por conectar as
articulações das informações escolhidas, estabelecendo entre elas uma
relação de proximidade.
Nível Discursivo
sintaxe e semântica discursivas
Este nível considerado o mais superficial do per
curso, é conhecido como
o nível da diversidade, onde a narrativa é assumida pelo sujeito da enunciação.
Neste nível, ‘as formas abstratas no nível sêmio-narrativo são revestidas de
termos que lhe dão concretude’ (Fiorin, 1996, p. 29).
No nível das estruturas discursivas, temos: a) sintaxe discursiva com
ator, tempo e espaço;
b)
semântica discursiva onde ocorrem a
tematização
e a
figurativização.
92
A
sintaxe discursiva aborda aspectos estruturais do discurso, por
intermédio das categorias de pessoa, tempo e espaço em relação enunciador /
enunciatário. Sua função é explicar as relações do sujeito da enunciação com o
discurso enunciado e também as relações entre o enunciador e enunciatário**.
Entendemos por enunciador, parafraseando Greimas (s/d, p. 150)
o
desti
nador implícito da enunciação, distinguindo-o assim do narrador.
Paralelamente, o enunciatário corresponderá ao destinatário implícito.
É importante citar que nesta etapa serão examinados os atores no
espaço, dispondo-os de conformidade com seus papéis, que para D’ Ávila (
p.01) um papel será temático (discursivo) e outro actancial (narrativo). ‘A
construção do ator se faz com pelo menos um papel actancial e um temático. O
discursivo veste o narrativo’.
O ator é constituído por meio da análise:
O ator é, assim, uma soma de um (ou mais) papel actancial com um
(ou mais) papel temático, que são as substantivações e adjetivações
assumidas por um sujeito de busca da narrativa. O papel temático,
por sua vez, condensa o percurso figurativo; é uma espécie de
vestimenta de um personagem. A construção (soma) do ator se faz
em função do tempo e do espaço. (D’ ÁVILA, 2007, p. 10).
Na discursivização analisa-se a enunciação: o eu, aqui e agora, a partir
do não eu, não aqui e não agora, pelas marcas deixadas nes
se enunciado pelo
sujeito da enunciação, o qual faz uma série de escolhas do que vai gerar o
objetivo final do texto. Dentre essas escolhas estão as pessoas (atores), no
espaço e no tempo do discurso.
Os três procedimentos de discursivização mencionados acima, ou seja,
actorização, espacialização e temporalização, podem ser definidos como a
utilização das operações de dois mecanismos, a debreagem e a embreagem.
Segundo Greimas (s/d, p. 95), as debreagens são definidas “como a
operação pela qual a instância da enunciação disjunge e projeta fora de si”.
Podemos então dizer que debrear é construir um simulacro da realidade. Este
autor aponta que debreagem se decompõe em: a actancial, a temporal e a
espacial, podendo tanto ser enunciativa, quanto enunciva. A primeira, o
narrador coloca-se no interior do discurso, marcando o “eu” (ator), “aqui”
(espaço) e “agora” (tempo). na segunda, o eu enunciador ausenta-se do
93
discurso, pelas categorias da não-pessoa: o não-eu (ele), o não-aqui (lá) e o
não
-
agora (então)
.
A embreagem, por sua vez, é o efeito de retorno à enunciação,
estabelecido pela troca de uma pessoa pela outra, de um espaço por outro e
ou de um tempo por outro. Para Greimas (s/d, p.140) “toda embreagem
pressupõe, portanto, uma operação de debreagem que lhe é logicamente
anterior”.
Como observamos, o discurso desdobra-se em enunciador e
enunciatário. O enunciador busca fazer com que o enunciatário receba e aceite
o que ele diz, ou seja, permitindo que o enunciatário realize um fazer
interpretativo.
Concluindo, o nível discursivo é o mais superficial onde se localizam as
categorias da pessoa, espaço e tempo, as quais são responsáveis,
sintaxicamente, pela concretude” de um texto. Por intermédio dessas
categorias, podemos enfatizar as figuras e os temas contidos no enunciado e
entender semanticamente os valores construídos nele.
Diante de toda explanação realizada, procuramos mostrar como a
metodologia desenvolvida por Greimas examina os procedimentos e
mecanismos de produção e recepção do texto, por intermédio de sua
estruturação a organização textual, processando assim, os caminhos da
criação dos seus sentidos.
Na
semântica discursiva, os percursos são estruturados pela
tematização e pela figurativização, os quais são definidos pelo sujeito da
enun
ciação, que o transforma em discurso.
Para D’ Ávila (2007, p. 12), “os valores assumidos pelo sujeito da
narrativa são, no nível do discurso, disseminados sob forma de percursos
temáticos e recebem investimentos figurativos”.
Numa análise podemos perceber primeiro as figuras, depois os temas.
As figuras são recursos de cobertura figurativa de elementos semânticos, que
têm um correspondente perceptível no mundo natural: jóias, presentes, palácio,
etc.
Seguindo os pensamentos de D’ Ávila, o conceito de “figura” extrapola
os parâmetros da representação fornecendo subsídios aos estudos da
presentificação na semiótica do visível.
94
Os temas são palavras ou expressões que representam algo não
existente no mundo natural, que são recobertos por traços semânticos
como:
liberdade, conquista, felicidade, etc.
A tematização expressa elementos contemplativos procurando
esclarecer a realidade e conceber o mundo por meio de uma aquisição
conceitual.
Se a tematização é tomada pela forma abstrata, em oposição a este
prin
cípio, a figurativização assume a “concretude”, pois é o termo que remete a
alguma coisa do mundo natural.
D’ Ávila nos esclarece dizendo:
Tematizar um discurso é formular os valores de modo abstrato e
organizá
-
los em percursos.
Pelo procedimento da figurativização, figuras do conteúdo recobrem
os percursos temáticos abstratos e atribuem-lhes traços de
revestimento sensorial.
(2007, p. 12).
Tanto a figurativização, quanto a tematização contribuem para um
desenvolvimento semântico do discurso, criando efeitos de realidade que
possibilitam, simultaneamente, a coerência textual e a eficácia do mesmo. É
importante informar que a coerência é mantida pelo fenômeno designado de
isotopia (neologismo greimasiano)
60
,
que tanto pode ser figurativa quanto
temática.
D’ Ávila (2002, p. 02) em seu artigo “Aladim e a Lanterna Mágica
Análise Semiótica do conto”, esclarece que as figuras que comporão o
percurso figurativo serão escolhidas, após um levantamento dos campos
semânticos, que deverá remeter a um percurso temático. Por intermédio desse
encontro surgirão os níveis isotópicos que acompanharão a análise até seu fim.
“As isotopias garantirão a coerência no exame do conteúdo do texto em
questão”. (D’ ÁVILA**)
Como vimos a teoria semiótica desenvolvida por Greimas estabeleceu-
se a partir do modelo do percurso gerativo de sentido, ou seja, um percurso
que passa pelas instâncias mais simples de geração do sentido, adquirindo
60
Quer dizer da reiteração de quaisquer unidades semânticas (figuras e temas) no discurso,
criando um contexto. Ibid. 12.
95
maior concretude na medida em que se percorre o seu nível mais elevado,
como acabamos de verifi
car.
2.2 Teoria Semiótica da Figuratividade Visual de N. D’Ávila
No tópico anterior, mostramos o enfoque teórico e metodológico
posposto por Greimas, indicado por nós como um todo efetivo e eficaz para
a análise de textos verbais. Agora apresentaremos uma metodologia indicada
para o estudo de textos não
-
verbais, os visuais.
A Teoria Semiótica da Figuratividade Visual ou Teoria Daviliana, cuja
elaboração foi criada pela professora e pesquisadora Dra. Nícia Ribas D’ Ávila,
em meados dos anos
80
- 90, encontra-se ainda aberta a novas proposições e
em constante estado de reflexão. Está sintetizada no Percurso Gerativo do
Sentido na manifestação VISUAL, cientificamente inspirada no Percurso
Gerativo do Sentido, de Greimas, seu orientador de tese de doutorado. Esta
teoria foi elaborada para analisar as manifestações imagéticas, pois dentro dos
conceitos que a permeiam a arte é vista como linguagem e o objeto de arte
como texto. A imagem enquanto texto é uma unidade de significação.
Diante dessa ótica, a teoria daviliana possibilita apreender, desconstruir
e promover uma abordagem do sentido inserido nos textos visuais, com vistas
a sua articulação, visto que toda a imagem possui um agenceamento de traços
e formas portadores de sentido, onde múltip
las partes falam de modo coerente.
A linguagem não-verbal exerce um verdadeiro fascínio sobre a
humanidade desde seus tempos primórdios. Seguindo essas premissas, faz-
se
necessário que os indivíduos aprendam a ler as imagens, compreendê-
las,
interpretá
-las, decodificá-las, ou seja, adquirir habilidades e competências para
a prática da leitura visual. Esta teoria vem de encontro com estes anseios, pois
possibilita que o leitor percorra as etapas propostas pelo percurso gerativo do
sentido, atingindo níveis mais do que profundos da construção do sentido do
texto.
A teoria daviliana nasceu de questões não explicadas até então, por
outras teorias que tentaram desvendar os implícitos e explícitos contidos nos
textos não
-
verbais. Para tanto, D’ Ávila valeu
-s
e dos ensinamentos contidos em
96
algumas teorias semióticas, em especial a teoria desenvolvida por Algirdas
Julien Greimas, apresentada no tópico anterior.
Mostraremos a seguir, algumas das fundamentações teóricas que
contribuíram para a criação da Teoria Semiótica da Figuratividade Visual ou
Teoria daviliana.
A teoria semiótica greimasiana foi de extrema importância para D’ Ávila,
dado seu caráter objetal, descritivo-operacional, denotativo, voltada à
desconstrução e análise do texto lingüístico verbal*
*.
Conforme as palavras de D Ávila, a teoria greimasiana colaborou
efetivamente na criação de sua teoria, pois ela encaminha o analista ao exame
minucioso dos objetos, por meio de estruturas objetivas e precisas, analisando
os conteúdos de forma clara e significativa, com o intuito de desconstruir o
texto em busca de sua significação.
Outras teorias foram igualmente relevantes: as teorias de Jean-
Claude
Coquet, a de Charles Peirce e a semiologia de R. Barthes. A primeira é a
semiótica conhecida como subjetal e do contínuo, conotativo-denotativa, ou
seja, em oposição à semiótica objetal de Greimas. Ela preocupa-se com o
sujeito, com a precisão e exatidão de suas idéias e também com sua
subjetividade. A segunda estuda a origem, o emprego e os efeitos dos sig
nos e
como se dá a relação entre os signos e os intérpretes.
As teorias, talvez pelo fato de não poderem dar conta da análise de
conteúdos inseridos nos textos não
-
verbais
-
os visuais e os sonoros
-
, uma vez que os mesmos desenvolvem-se sob natureza tot
almente
diversa da verbal, foram, no entanto, grandes incentivadoras para que
essa nova teoria despontasse, fosse aplicada e tomasse vulto.
(D’ ÁVILA, 2006, p. 01).
Realmente, as teorias citadas, por si só, não foram suficientes para
analisarem profundamente todos os conteúdos contidos nos textos não-
verbais. Graças à competência de D’ Ávila, que desde 1971 desenvolve
estudos em semiótica, que o Percurso Gerativo do Sentido na manifestação
não
-
verbal se concretizou.
Ao desenvolver esta metodologia D’ Ávila realiza um grande desejo de
Greimas; distanciar a linguagem não-verbal, da verbal, no que diz respeito à
análise semiótica dos conteúdos, mostrando assim, a independência e
estrutura semiótica dos conteúdos de caráter não
-
verbal.
97
2.2.1
Percurso Gerativo do Se
ntido Visual
NÍVEL do
CONTEÚDO ( = SIGNIFICADO) NO TEXTO VISUAL
SUBSTÂNCIA DO CONTEÚDO
(Variável) +
FORMA DO CONTEÚDO
(Invariável)
Substância do Conteúdo
FORMA (nível superficial)
FORMA (nível profundo)
Simbólica (denotativa)
a) Pres
entificação
(Figural II)
Arte abstrata e variantes
*********
Semi
-
simbólicas
b) Representação
(conotativa)
Figurador I
-
“do
logos
".
Aquilo que a imagem esta´
representando; a história
retratada com fidelidade ao
figurativo e implicação com
o sema
ntismo verbal.
c) Re
-
representação
(conotativa)
Figurador II
-
“do
mythos
”.
A representação do objeto
é acrescida da
subjetividade interpretativa
do analista cujos
acréscimos fundam
-
se no
seu repertório e na
criatividade.
Denotação
formemas
Ritmo e
Aspecto
-
O Ritmo dos
espaços (= proxêmica) :
englobante x englobado.
simétrico x assimétrico
Planos : p1, p2, etc.
Espaços : e1, e2; e2´, e2´´,
etc. (contorno x contornado)
Perspectiva (superfícies e
volumes),proporcionalidade.
dimensão/posição/orienta
ção
rimas plásticas simples e
complexas determinantes da
natureza dos classemas
Projeções sintagmáticas
Planos isotópicos
Função de síncopa (figural)
Formema
total/parcial(ft/fp)
********
Conotação
Implicação verbal = rimas
poético
-
míticas e funções de
sin
copa no figurativo.
Ponto de tensão.
Figurema/
Imagema
: ponto de transição
Denotação
-
semas
Os semas
responsáveis pela
qualificação e quantificação
da figura, os ‘
punctuema’
,
'figurema',‘imagema’,
'tracema', ‘colorema’,
‘extensurema‘,’cromema',
‘angul
ema’ e
‘saturema’
'texturema', 'densirema',
'largurema','sincopema'
, etc.
em articulação nos
Quadrados Semióticos para
determinação da Forma,
abstrata, sistêmica,
paradigmática extraída de
semas, superfícies, volumes e
proporcionalidade. Isotopias
pelo
s tracemas
Projeções paradigmáticas por
extrapolação da forma, da
cor, movimento, ou por
Suprassegmentação.
Esta é determinante do
caráter figural, arcabouço de
um figurativo qualquer.
-
Estruturas Discursivas
Figural I Nuclear
Propulsor da Substânc
ia do Conteúdo
NÍVEL da EXPRESSÃO (Significante) no Texto Visual.
Substância (Variável)
Físico
-
ótico
-
química (processo)
Forma (Invariável)
O sistema que codifica a substância
VISUAL.(pictórico, cinematográfico, etc.)
1
2 Quadro 2: PERCURSO GERATIVO DO SENTIDO NA MANIFESTAÇÃO VISUAL
INSTRUMENTAL DE ANÁLISE -
Dra.
Nícia D’ÁVILA -
UNIMAR
23/11/06
Pós
-
Graduação em Comunicação
Disciplina: “Semiótica, Comunicação e Linguagens.”
Como podemos observar no quadro 2, os patamares de estruturação do
percurso para a análise do não verbal, assemelha
-
se em parte, com o Percurso
Gerativo do Sentido proposto por Greimas. Várias modificações foram
98
indispensáveis para atender aos conteúdos referentes à linguagem
figura
l
figurativa
61
Diante de tais argumentos, a teoria daviliana segue os mesmos
propósitos da teoria greimasiana, ou seja, busca explorar o percurso percorrido
pelo sentido que atravessa o texto visual, procurando descrever e explicar,
“como a obra de arte se diz obra de arte. Não nos interessa a história que ela
está narrando, mas sim, o como do sentido; como a obra está dizendo aquilo
que diz”. (D’ ÁVILA) **
Podemos então proferir que a teoria daviliana é uma metodologia que se
prende à produção e articulação do sentido na linguagem imagética, definindo
o percurso da significação não-verbal, onde o nível do conteúdo (o significado)
é extraído do texto visual em substância e forma, dependente da expressão
(significante) em substância e forma, para demonstrar
seu modo de significar.
Na perspectiva de encontrar meios que permitam caracterizar a
figuratividade na linguagem visual, D’ Ávila mostra-nos a existência de uma
organização relacional composta de feixes de traços distintos que possibilita
identificar oposições semânticas envolvendo as categorias do figural e do
figurativo. A princípio, a autora destaca que tanto os figurais, quanto os
figurativos, mostram
-se sob duas maneiras, o primeiro Figural 1 e Figural 2, e o
segundo Figurador I e Figurador II. Os figurais, por sua vez, produzem o eixo
semântico da Figuralidade e os
figuradores
, o eixo semântico do figurativo.
Apresentaremos a seguir o esquema criado por D’ Ávila, que sintetiza as
idéias centrais embasadas nas categorias do figural e do figurativo.
FIGURALIDADE
FIGURAL 1
NUCLEAR
+
FIGURAL 2
CLASSEMÁTICO
FIGURADOR I
-
do LOGOS
+
FIGURADOR II
do
MYTHOS
FIGURATIVO
Figura 42: Esquema Figuralidade/ Figurativo
Nícia R. D’ Ávila
É imprescindível elucidarmos sobre cada um dos termos organizados
acima, para que o efetivo entendimento da teoria aconteça de forma clara e
61
Termo criado pela autora para a teorização.
99
objetiva. Cada terminologia proposta refere-se à visualização e denominação
dos objetos.
2.2.2 Níveis de estruturação do Sentido Visual
O figural 1 ou plástico nuclear, é a primeira ou última instância da
percepção do todo visualizado, salta à primeira vista e quando o analista deixa
de focar o objeto é o que fica como o condensamento fluídico do caráter formal
que se esvai. Neste caso não identificamos forma pura, nebulosas. É o
arcabouço da forma, composto de um sema nuclear. Ele encontra-se nas
estruturas discursivas e é propulsor da substância do conteúdo.
Com intuito de oferecermos um eficaz esclarecimento a respeito do
figural 2, utilizaremos as p
alavras da própria autora:
Figural 2 classemático; este último, contendo os: clas-a, clas-b, clas-
c. O clas-a (classemas-a), como formas gestálticas presentificadas; o
(clas
-b), como formas primitivas básicas, presentificadas a exemplo
da pintura abstrata, contendo circunferências, triângulos, quadrados,
cubos, etc., sem histórias a narrar; o (clas-c), formas icônicas
presentificadas em ícone puro, conquanto representando a passagem
da figuralidade ao figurativo, quando são incorporados às formas
geometri
zadas os semas básicos do traço (tracemas básicos),
compondo os classemas (ou semas contextuais da imagem) em
imagemas*, no ícone figural presentificado. (D’ ÁVILA, 2006, p.03).
O figural 2 ou plástico classemático contêm classemas do tipo clas-
a,
clas
-b
e clas
-c. O clas-a que são as manchas, tachas, gestalt (ilusão de ótica).
O clas-b classemático
62
básico é notado quando nos deparamos com as
formas de base primitiva, jungidas as linhas portadoras de classemas que
originam o traço contínuo, descontínuo, não descontínuo e não contínuo que
tenha o formato absorvido pelas figuras geométricas, exemplo: triângulo,
círculo, quadrados, etc.; e o clas-c são as formas icônicas presentificadas
(formas que se mostram em traços indicativos comuns ao objeto que elas
pr
etendem representar) significando a passagem do figural ao figurativo,
quando a figura se transformará em imagem.
62
Composto de um subconjunto de
semas
. Dicionário de Semiótica, s/d. p. 48.
100
A respeito dessa passagem D’ Ávila tece as seguintes palavras:
Este, já figurativizado, no entanto sem continuidade histórica, realizar-
se
como imagem nomeada na categoria dos figurativos
.
Como
exemplo podemos citar a composição primitiva de um gato onde
colocamos apenas, como croqui, esboço, uma circunferência com
dois triângulos eqüiláteros na sua parte superior. Mais classemas
serão acrescidos à figura, mais esta se assemelhará ao figurativo que
surgirá, aos poucos, diante do olhar observador.
(2006, p. 04).
Mediante estas considerações, verificamos a transformação de figuras
geométricas em imagem reconhecível, possibilitando assim, a saída do mundo
não natural para o mundo natural. Logo, o clas-c representa a instância de
transição. Neste caso, “a imagem é usada para nomear o ser vivo e a figura
nos remete ao triângulo, quadrado, etc., primitivos figurativos” (D’ ÁVILA**).
Podemos ass
im dizer que o figurativo é responsável pelas representações
do mundo em que vivemos. E seguindo os mesmos passos da figuralidade, o
figurativo subdivide
-
se em: figurador I e figurador II.
No figurador I, acontece a representação do
logos,
ou seja, a subs
tância
do conteúdo na representação semi-simbólica, onde cada imagem
representada é verbalizada para retratar com fidelidade o figurativo, com seus
efeitos de sentido inerentes ao objeto com correspondência no mundo natural.
Em outras palavras, podemos dizer que o texto visual é ancorado pelo verbal,
pois o verbal explica o que se passa no visual. Neste caso, também, camufla a
finalidade de contar histórias.
Essa ancoragem, onde o visual é revestido pelo verbal, cria uma
situação de “comparatividades verbo-visuais” (D’ ÁVILA, 2006, p.04), na
incidência das oposições semânticas, estabelecidas pelas relações entre os
semas, capturados pela percepção visual. Sobre este aspecto D’ Ávila
argumenta:
É pelo estabelecimento dessa junção verbo-visual que conseguimo
s
entender a fusão entre as linguagens, o sincretismo, em si, e detectar
a importância do caráter visual enriquecendo e transformando o
verbal. Isto se comprova quando qualquer alteração efetuada no traço
que compõe a imagem (visto como substância da expressão, ou do
significante), acarretará, imediatamente, uma transformação no
significado desta, fazendo com que o traço se transforme em tracema
intenso ou extenso, longo ou curto, forte ou fraco, grosso ou fino, etc.
(2006, p. 05)
101
Tecendo as palavras de D’ Ávila, vemos que o sincretismo não é
garantido somente pela união das linguagens, mas pelo simples fato das
mesmas estarem articuladas, ou seja, quando ocorre a mudança de qualquer
traço que constitui a imagem no plano da expressão, de imediato alterará
seu
significado no plano do conteúdo.
Diferentemente, do figurador I, o figurador II se presta a narrar histórias,
no plano da re-
re
presentação do
mythos,
onde os objetos são representados
por intermédio da subjetividade interpretativa fundada na criatividade do
analista.
Logo a seguir, apresentaremos o esquema da figuratividade organizado
por D’ Ávila:
Figura 43: Esquema da Figuratividade em semiótica visual
Teorização de Nícia R. D’ Ávila.
UNIMAR
23/11/06
Pós
-
Graduação em Comunicação
Discip
lina: “Semiótica, Comunicação
e Linguagens”.
102
Em suma, os princípios que compõem a teorização de D’ Ávila
resumem
-se neste esquema, onde a
figuralidade
(figural 1 e 2) composta por
classemas, que pouco a pouco, vão tomando corpo e ganhando forma. A
autora e
sclarece:
Dessa totalidade nuclear rudimentar que visualizamos, apreendemos
inicialmente o claro, o médio e o escuro das massas e volumes que
vão tomando corpo, como agrupados que se sobrepõem e que se
fundem, possibilitando neles antever a ‘forma nuclear’ totalizadora, o
figural 1 que os agrega e envolve, concebido como um arcabouço
condensador da manifestação imagética. (D’ ÁVILA, 2006, p.06).
As palavras de D’ Ávila nos remetem aos postulados greimasiano, onde
Greimas diz que o sema nuclear são traços definidores que caracterizam um
semema (conjunto de semas) na sua especificidade, os quais são responsáveis
por fazer surgir o objeto, mantido por uma isotopia dominante, que detém a
coerência do texto visual, e apresenta condições para que os semas sej
am
identificados.
Em seus estudos D’ Ávila apresenta diferentes semas nucleares
identificados no figural 1: sema nuclear da
esferoidicidade
, marcados pelo
círculo e o ovóide; sema nuclear da
triangularidade
* marcado pela presença do
triângulo, o sema da
q
uadrangularidade
63
, entre outros.
Como explicitamos anteriormente, esta teoria busca compreender o
percurso gerativo do sentido, onde o nível do conteúdo é extraído do texto
visual em substância e forma. Então, por intermédio dos apontamentos acima e
como nos mostra o quadro 2, tais princípios iniciam-se no plano da substância
do conteúdo, estruturada em três etapas de apreciação: a) Presentificação, b)
Representação e c) Re
-
representação.
A etapa da presentificação é considerada simbólica e denotativa
por
oferecer sínteses imediatas de expressão de linguagem direta, que denota
exatamente o que se quer transmitir. a representação e a re-
representação
são semi
-
simbólicas e conotativas, pois o visual é ancorado pelo verbal, onde a
imagem é revestida de impressões, valores afetivos, negativos e positivos,
cujos sentidos ultrapassam o senso comum. A ancoragem ocorre pelo fato da
linguagem verbal ter significados prontos e hegemonia.
63
Neologismo criado pela autora, para edi
ficação da teoria serão apresentados em itálicos
.
103
Mostraremos os fundamentos do segundo nível proposto por D’ Ávila, a
form
a do conteúdo no nível superficial, onde os parâmetros que caracterizam a
forma são compostos por
formemas
, sendo que a linha reta, as curvas, o
ponto, são elementos que aparentemente desprovidos de significado
pertencem à categoria dos
tracemas
. Estes contêm valor diferencial na
composição dos
figuremas
, ou seja, na representação dos semas
classificatórios das figuras, logo, dos figurais classemáticos.
Para organizar esta análise a autora cria patamares da organização
relacional
, que segundo ela:
A organização relacional enquanto estrutura de composição
constante de uma organização universal, fundamentada no caráter
“figural” rítmico estático que possibilita identificar a natureza dos
objetos visualizados, cujos dispositivos proxêmicos têm por
finalidade:
/fazer
-
saber/, /fazer
-
crer/ e /fazer
-
fazer/.
64
À noção de objeto do conhecimento, enfocamos sua presentificação
alicerçada na substancialização do mesmo e “apreensão visual, primeira pelo
receptor que lhe permitirá classificá-lo, possibilitando-lhe demonstrar como sua
representação acontece, fazendo-
se significar”. **
Por intermédio dos patamares organizados por D’ Ávila é possível
descobrir a base da formação do traço, a partir da desconstrução do próprio
traço riscado sobre a matéria. Neste nível de análise, a linguagem não-verbal é
distanciada da verbal, indicando assim, a independência dos conteúdos
visuais.
Os
patamares da organização relacional facilitam a localização e
assimilação dos conteúdos encontrados no patamar das estruturas discursivas:
0-
O número de ouro (Proporção Áurea, ou Divina proporção)
1-
Ritmo Estático (espacialidade temporalisada).
2-
Os Planos: p1, p2, p3, etc.
3-
Os Espaços: e1, e2, e3 (espaço zero)
64
Apud: ALMEIDA, L.B.C. de. “Ilha Rá-
tim
-bum”.: Abordagem semiótica por uma TV educativa.
2005
Dissertação de mestrado em comunicação. Faculdade de Arquitetura, Artes e
Comunicação, Unesp, Bauru. p. 109
104
4-
O Caráter Figural
5-
Os Semas Contextuais (classemas)
6-
O Sema Nuclear
7-
O Caráter Figurativo
8-
As Projeções Sintagmáticas (rimas plásticas e isotopias)
9-
Isotopias Horizontalidade, Verticalidade e Inclinância.
10
- As Projeções Paradigmáticas (rimas poéticas etc.)
11
-
Tridimensionalidade
perspectiva x proporção (a + s)
12
-
Os indicadores do Espaço Tridimensiona
l:
a)
-
A divergência de linhas (aproximação)
b)
-
A diminuição de elementos (convergência)
c)
-
A superposição de elementos
d)
-
A diminuição de detalhes:
a’) profundidade; lateralidade.
b’) tratamento de textura
e) A diluição gradual do primeiro ao último
plano.
f) O equilíbrio entre volumes e massas / claro x escuro
13)
-
Triangularidade
-
4ª dimensão.
14)
-
Ponto de Tensão
Sincopa
5ª dimensão: desorganização x projeção
x condensação x expansão x reorganização.
Nesta etapa, todos os elementos visuais contidos no texto partem do
formema
total
(ft)
= a totalidade textual manifestada, para o
formema
parcial
(fp)
= a parcialidade textual manifestada. A posteriori são enfatizados todos os
formemas
contidos na imagem.
Por intermédio dos patamares, verificamos que a maioria dos itens
destacados corresponde ao aspecto denotativo, imanente. o aspecto
conotativo está centrado na poeticidade. E esta por sua vez, faz com que o
destinatário saia do núcleo paradigmático para se relacionar com os dados
105
enunciativo
s do texto, acentuando o caráter conotativo, onde podemos
encontrar
rimas plásticas
65
e
poéticas
66
, e funções de síncopa no figurativo
67
entre outros, conforme nos mostra o quadro 2.
O último nível é considerado profundo, pois analisa a forma do conteúdo,
ond
e os semas contextuais são responsáveis pela quantificação e qualificação
da figura, em outras palavras, podemos então dizer que neste nível gramatical
do conteúdo existe uma relação entre semas, os quais são articulados no
quadrado semiótico. A seguir, mostraremos os possíveis semas detectados por
D’ Ávila:
Semas ou combinações em subunidades significativas
Angulema
= sema do ângulo reto, oblíquo etc.
Puntuema
= sema do ponto, como matéria significante desencadeadora de formas.
Tracema
= sema do traço, per
tinente a uma unidade léxico
-
visual.
Colorema = sema da coloração.
Cromema
= sema da cor, da cromática, das nuanças.
Densiremas
= semas da densidade do traço.
Texturemas
= semas da textura do traço.
Largurema
= semas da largura do traço.
Sincopemas
= envol
vidos sintagmaticamente nos 5 estados da função de sincopa.
Extensurema
=sema da extensão do traço.
Projetemas
= projeção paradigmática da forma responsável pela projeção supra-segmental por
extrapolação de traços da figura e do movimento. Entre outros.
T
ensurema
= semas da tensão
Saturema = saturação da cor ou dos traços num determinado espaço verificado na estrutura
proxêmica.
Figurema/ imagema = da figura/ da imagem.
Isotopias = redundância na presentificação de categorias sêmicas.
Tentamos apresentar a teorização criada por D’ Ávila de uma maneira
objetiva e didática, com o intuito de que possíveis leitores se apropriem dos
fundamentos teóricos aqui apresentados.
65
Rimas plásticas: são projeções sintagmáticas, ou seja, elementos que se repetem e fazem
parte do mesmo paradigma (rimam tracemas que compõem o figural 2). **
66
Rimas poéticas: são projeções paradigmáticas, que não remetem ao mesmo figural. O termo
foi criado por Lévi Strauss. E o fim que indica um começo, ou seja, são projeções de
afastamento.
**
67
A função de sincopa é a
que
la que faz fazer: realiza-se numa área que abrange e distorce a
estrutura do texto
(narrativo
-
discursiva) da organização à reorganiz
ação do discurso. **
106
III
A APLICABILIDADE DAS TEORIAS
-
GREIMASIANA E
DAVILIANA FAVORECENDO O MULTILETRAMENTO
3.1 Letramento Estético
-
Visual, além da Alfabetização.
É indiscutível negar que as imagens exercem forte influência no
imaginário de seus públicos,
desempenhando
um papel extremamente
importante na sociedade.
Todo e qualquer texto constituído de imagens é compreendido quase
que universalmente, porém, por inúmeras vezes, a compreensão da imagem
acontece diferentemente das implicações verbais que lhes são inerentes, ou
dos resultados que o destinador almejaria que fossem absorvidos pelos
destina
tários, uma vez que são dirigidos à cultura e linguagem específicas de
um determinado povo ou de um local.
Em função dessas particularidades, aprender a abordar
significativamente o visual de um texto qualquer em sua materialidade
aparentemente apenas significante, é ver que essa camada do discurso
também é carregada de significado “e alicerça o substrato semântico na
edificação das pré-condições de existência do sentido, assim como na
articulação do sentido em si mesmo” (D’Ávila, 2003
-
Congresso de Araraq
uara).
Foram grandes as dificuldades em elaborar esta nossa dissertação de
mestrado
, em função das descobertas a empreender na aprendizagem e
domínio das teorias s
emió
ticas de nossa escolha para tentar desvendar
problemas relacionadas à alfabetização das crianças com as quais nos
envolvemos nestes longos anos de exercício da profissão. Sabíamos,
entretanto, que era em virtude de um “entretenimento necessário” que
107
oferecíamos a esses nossos alunos, voltado à escolha que fazíamos de
determinadas imagens extraídas dos quadrinhos (Chico Bento, Mônica, Magali,
etc...) da Revista - Turma da Mônica, Almanacão de Férias, Chico Bento,
Cebolinha, Magali e
tc
-, que as alterações comportamentais aconteciam
podendo
ser observadas nessas crianças de
6
7 anos, benefici
ando
-as na
apreensão de detalhes do cotidiano, na melhor compreensão do que haviam
visto, no recontar particularidades da história, no retraçar as imagens que
haviam ficado retidas em sua memória visual. Inicialmente, com pouquíssimos
detalhes, as figuras eram quase incompreensíveis; após algumas, ou várias
tentativas
ia surgindo uma riqueza assustadora nas particularidades e detalhes
do todo que haviam observado, colhidos de um ou de alguns instantes
memorizados de determinados quadrinhos. Que quadrinhos eram esses,
capazes de produzir ou não efeitos de memorização, ampliando a capacidade
de compreensão e de retenção do visualizado nessas crianças?
Apresentaremos detalhadamente as etapas dessa vivência no próximo
capítulo.
Seguindo esta linha de raciocínio, o pesquisador norte-americano e arte-
educador
, Elliot Eisner (2001, p. 70 a 91) assegura que o processo de ensino-
aprendizagem torna-se mais significativo e abrangente quando os textos
visuais fazem parte de uma prática pedagógica constante em sala de a
ula.
Diante do exposto,
faz
-se necessário adquirirmos habilidades e
competências para a prática da leitura visual, ou seja, aprender a captar os
sinais que a imagem carrega, desvendando os sentidos implícitos e os
explícitos contidos nas representações visuais, como explicitamos
anteriormente.
Vale ressaltar que no capítulo anterior acompanhamos os conceitos e
princípios da teoria desenvolvida por D’Ávila (manifestação no texto visual), e
agora mostraremos a aplicabilidade de seu método, sendo possível atestar que
este favorece uma aprendizagem significativa e abrangente na identidade do
que nos propõe
Elliot Eisner.
Antes mesmo de mostrarmos a referida análise, teceremos ligeiras
considerações que giram em to
rno do termo letramento e multiletramento
.
Letramento é um vocábulo - termo novo, que ainda, não consta
em
nenhum d
icionário
. No Brasil, foi usado pela primeira em 1986, pela
108
pesquisadora Mary Kato em sua obra “No mundo da escrita: uma perspectiva
psicolingüística” (apud SOARES Magda, 2003, p. 15). Ela explica que o termo
passa a existir para atender a uma necessidade diante de uma nova realidade
social, quando não basta apenas saber ler e escrever, e sim, gostar de ler e de
escrever, sabendo por em prática estes aprendizados.
Nesse sentido, entendemos por letramento estético e visual uma prática
de cunho social que favorece o leitor a buscar o sentido contido no interior do
texto
visual.
Para D’Ávila (2006 **), o letramento visual favorece:
(...) olhar o mundo e aprender a ver; representa poder entender o
mecanismo gerador do sentido viso-estético inserido nos textos,
cientes de que a imagem, nada inocente, esconde muito mais do que
mostra em meio ao aglomerado de traços e linhas componentes de
um figurativo qualquer (...); por multi-letramento, esse mesmo
processo surgiria inscrito sob novas técnicas de ordem
multidisciplinar tendo por finalidade a multi
-
direcionalidade” .
A análise da obra intitulada Mônica Lisa, pintura de Maurício de Sousa
(2001), na qual a personagem Mônica faz alusão à Mona Lisa - o retrato mais
famoso do mundo
,
é um exemplo vivo do estilo híbrido, pois mostra-nos uma
tremenda possibilidade de variação icônica, compondo com a personagem
cartuni
zada momentos de deleite e euforia, assentados em fundos quase
fotográficos representativos da grande obra-
prima do mundo da arte.
Por intermédio dessa análise, entramos em contado com a
metodologia
daviliana propriamente dita, quando nos foi possível explorar todas as etapas
do percurso gerativo do sentido visual e com isso entender a sua relevância no
desenvolvimento de habilidades cognitivas capazes de promover a interação
do leitor com o mundo da
leitura
. Em outras palavras, podemos dizer que o
método
de D’Ávila capacita o professor ao letramento visual e estético,
oferecendo
-lhe ferramentas adequadas para um trabalho de produção e de
escolha de imagens que se coadunem com o desenvolvimento e com o grau de
amadurecimento do educando.
Assim sendo, como na atualidade a função do multiletramento surge
como uma exigência e uma cobrança constante dos dirigentes de setores
envolvidos com as práticas pedagógico-didáticas, entendemos que a aquisição
desses conhecimentos fez-se necessária para que pudéssemos, i
nicialmente,
encontrar as respostas aos nossos questionamentos.
109
A posteriori, com o ampliar de insumos que a teoria da figuratividade
oferece para aprimorar a atuação do profissional, certamente poderemos
enriquecer técnicas utilizadas na coleta de material e/ ou de dados sobre as
preferências
vinculadas no universo infantil seus gostos, garatujas, canções,
etc., enquadrados na teoria citada como objetos modais* geradores das
produções
infantis
, na certeza de que a criança, alvo de todos os nossos
esf
orços,
poderá
ser
beneficiada com um ensino-aprendizagem cujo
aproveitamento
superará nossas expectativas, principalmente no que concerne
às crianças com dificuldades e baixo rendimento, ampliando, assim, a sua e a
nossa visão de mundo.
Figura 44:
Mônica Lisa
Maurício de Sousa
3.2.1
Substância do Conteúdo
:
Representação
-
Figurador I “do
logos
”.
Semi
-
simbólica (em conota
ção com a linguagem verbal).
A obra narrada em sua total objetividade.
O autor da obra explora elementos da cultura de massa e da sociedade
de consumo, neste caso a linguagem dos quadrinhos na qual a personagem
sempre atuou com desenvoltura, rememorando
-
a
nos alusivos
Quadrões
.
3.2
Corpus
Vis
ual.
Dos quadrinhos aos Quadrões - Mônica Lisa
Análise
semiótica na Teoria Daviliana
110
Vemos a figura de uma jovem de sorriso enigmático (figura 44). Ela está
sentada com a mão direita sobre o pulso e a mão esquerda sobre o braço da
cadeira de madeira, segurando a borda.
No entanto, as mãos estão inteiramente relaxadas, acentuando assim a
suave majestade da figura.
O braço da cadeira encontra-se em paralelo ao plano horizontal do
quadro, identificado à linha do horizonte; a parte inferior de seu corpo não nos
é mostrada. Se ela estivesse sentada e seu rosto voltado em direção a
o
sentido que absorvamos visualmente de parte da totalidade de seu corpo,
veríamos somente o seu perfil. Ela, porém, encontra-se em posição de frente,
voltada ao observador, mostrando dois quartos de seu tronco + um quarto
representativo de sua cabeça. Seu rosto está diretamente voltado para nós.
Seus olhos fitam-nos nos olhos, embora aparentemente, pareçam ligeiramente
dirigidos à direita do observador. Suas faces são rechonchudas. Ela usa um
vestido vermelho. Seu ombro esquerdo está adornado por uma manta grossa,
pregueada.
A paisagem de fundo apresenta características da pintura renascentista,
que emprega técnicas de cor como o
sfumato
e o claro-escuro oriundos da
perspectiva científica. Maurício de Sousa usa a paisagem como fundo das
pinturas
-
ess
as
apresentam
-se sob um eixo central, seja na vertical, seja na
horizontal.
A sacada ou balcão no qual Mônica Lisa encontra-se apoiada parece
estar suspensa na beira de um abismo. Imediatamente atrás dela, depois do
parapeito, surge uma paisagem complexa, estranha e distante: formações
rochosas, cumes de montanhas, morros e vales, à esquerda do observador;
um lago e uma trilha sinuosa, à direita do observador; um rio atravessado por
uma ponte, o vestígio da existência humana em meio à paisagem.
Re
-
representação
-
Figurador II “do
mythos
(Em conotação com a linguagem verbal).
Explosão de criações artísticas, literárias e científicas dos séculos XV e
XVI, que pretendia ser um retorno à Antiguidade Clássica greco-romana ou um
111
renascer desta, num m
ovi
mento artístico que recebeu, em função desses
interesses comuns
,
o nome de Renascimento.
O homem renascentista acredita que tudo se explica pela razão e pela
ciência. Um traço marcante do Renascimento foi o humanismo, que tem por
base o neoplatonismo,
que
exalta os valores humanos e nova dimensão ao
homem. Choca-se, assim, com os dogmas e proibições da Igreja Católica,
criticando o mundo medieval e enfrentando a Inquisição.
Mona
Lisa
é uma interpretação artística de um conjunto de elementos
artísticos,
estéticos, talentos, sentimentos, motivações e circunstâncias
pessoais do pintor Leonardo da Vinci (ícone da pintura renascentista) que
representa
, igualmente, um registro de técnicas de pintura, modelos de
representação da realidade, valores culturais e morais da época em que ela foi
feita.
A reinterpretação da obra artística Mona Lisa - como fez Maurício de
Sousa,
utilizando a linguagem dos
Quadrões
é uma transferência, visando a
transmissão renovada de antigas informações. Ela nos provoca porque mesc
la
estilos híbridos, permitindo que os leitores se disfarcem no personagem e
entrem num mundo sensorialmente estimulante.
De modo geral, o mito é o conjunto de elementos que nos transmitem o
sentido no decorrer do
tempo
, da história, de significados, ações
e
responsabilidades.
A personagem Mônica Lisa, parodiada por Maurício de Sousa,
apesar de
ser uma
personagem
criança, assumiu o comportamento adulto, indicando um
contexto de emancipação da mulher. Mostrando a mulher como um ser mais
independente, menos s
ubmissa e mais dona dos seus atos.
O fascínio da personagem está ligado à sua misteriosa expressão. Sua
face congrega uma multidão de expressões. Quando não olhamos diretamente
a boca de Mônica Lisa, percebemos o ar alegre. Mas, se direcionamos o olhar
par
a sua boca (dentes), perdemos uma parte de seu sorriso e temos a
impressão de que a expressão muda. Seu sorriso é um enigma que está para o
movimento da vida, e o mistério da alma. Seu
olhar
é intenso, com semblante
sereno, mas ao mesmo tempo indagador qua
nto
ao de um personagem divino,
quão divina é a obra original. Estaria a Mônica Lisa alegre ou triste? Ou com
112
aspecto maroto voltado ao investigativo olhar, para trazer-nos de retorno à
competência do produtor dessa nova mensagem?
uma paisagem atrás da
Mônica
Lisa e nessa paisagem um detalhe
curioso e muito interessante: a linha do horizonte é ascendente do lado direito
do observador do quadro. A diferença é aguda, de modo a possibilitar que
Mônica Lisa seja observada de uma maneira mais intensa quando olhada pelo
lado esquerdo do quadro. Este lado parece estar representando o caráter
feminino, aberto ao mesmo tempo em que se fecha e se protege, enaltecendo
a força feminina.
As misteriosas montanhas azuis, elevando-se acima da planície
simbolizam o univ
erso, fortalecendo a idéia de emancipação.
3.2.2
Forma do Conteúdo (níveis superficial e profundo) -
Denotação:
Para a melhor apreensão do ritmo estático*
68
e pseudo-dinâmico* da
obra, estabelecemos a divisão da paisagem em retângulos sobrepostos,
capturand
o espaços que envolvem totalidades significativas em oposição aos
demais não significativamente valorizados.
O retângulo à direita, destaca-se pelo “rio contornado por “pedras e
rochedos
”, o retângulo à esquerda é realçado por um “caminho” que vai de
enc
ontro a um “lago” (figura
46
).
A mistura dos tracemas * que compõem o ritmo assimétrico* da
paisagem “lago, rio e caminho” cria à ilusão de movimento que a esse
quadro uma estranha sensação de vida.
Ao observarmos a personagem Mônica Lisa, em seu rosto, assim como
do seu pescoço ao decote e do seu decote à zona abaixo das mãos, podemos
definir por vários retângulos e pelo triângulo traçado a tentativa de encontrar a
Divina Proporção na regência do caráter proxêmico**
69
da obra que se
evidencia e se configura nos semas contextuais** que compõem a forma
68
A presença de um asterisco ao lado direito do termo significa ser o mesmo parte integrante
da ‘teoria da figuratividade’ devendo ser encontrado o seu significado no Quadro de termos, p
103, e o seu emprego no Quadro do Percurso Gera
tivo do Sentido Visual, p 95
69
A presença de dois asteriscos ao lado direito do termo significa ser o mesmo parte integrante
da ‘teoria greimasiana’, podendo ser encontrado no Dicionário de Semiótica (Greimas &
Courtés, Cultrix, s/data).
113
hiperbólica configurada em uma das “mãos”, “a que abraça a outra”, em seu
formato ou nos seus tracemas-
contorno*.
As dimensões do quadro em si coincidem com as dimensões
superpostas dos retângulos. Estas são observadas na horizontalidade do céu
com nuanças entre os cromemas* verde (mescla do azul celeste + amarelo
ouro), dos coloremas* /cinza/branco/com pinceladas ligeiras de /ocre/. Em dois
retângulos verticais nas laterais extremas do texto (paisagem/caminho
):
o
retângulo da direita do observador é finalizado por um triângulo retângulo em
seu extremo inferior esquerdo e o da esquerda é iniciado na extrema direita do
mesmo por um triângulo isóscele; na parte inferior, finalizado também por um
triângulo retângulo. Logo perfazem, assim, uma rima plástica* invertida e
complexa, quanto aos triângulos retângulos encontrados nas duas laterais
inferiores, convergindo entre ambos uma rima poética com projeção
paradigmática, pela disposição dessas formas (figura
45
).
Figura
45
: Divisões
Figura 46:
Esquema retilíneo
Geometrização do rosto, cabeça e orelha
Em conjunto, as diagonais formam um triângulo dentro do qual se
inscreve a silhueta da “cabeça da Mônica Lisa”, com uma base ampla e o
vértice apontando para o lado superior, não centralizado proxemicamente
,
como uma pirâmide em que o figurativo busca a Divina Proporção na
114
personagem que surge no centro piramidal, com os texturemas* responsáveis
pelo enuviamento da expressão serena
.
As mãos dobradas encontram-se no centro da base, refletindo a mesma
luz que lhe ilumina o pescoço, colo e face. O
classema
da
luminância
*
estudada às superfícies vivas uma geometria subjacente de esferas e
círculos, que acentua o arco de seu “sorriso famoso”.
Os contornos desfocados definem uma figura dominada por seu
arcabouço, nos contrastes dramáticos entre claro x escuro, cheio x vazio:
pintadas algumas áreas iluminadas e o
utras na sombra.
Figura 48
: Os planos
Figura 47
: Corpo.
Sema nuclear da
esferoidicidade*
P1:
mão direita da personagem.
P2:
mão esquerda da personagem
P3
:
braço da cadeira que a
personagem está apoiando a mão
esquerda;
P4:
antebraços da personagem
.
P5: tronco e cabeça da personagem;
P6:
parapeito da sacada;
P7:
forma estranha não identificada
;
P8:
caminho sinuoso;
P9:
rio;
P10
: a ponte;
P11
: pedras rochosas;
P12
: lago;
P13 e 14:
cumes das montanhas
;
P15: o céu.
115
Em segundo plano, a paisagem estende-se às montanhas,
inclui
caminhos e uma ponte que dão indicação de presença humana (Natureza e
C
ult
ura) nos contornos desfocados e nos contrastes dramáticos entre claro e
escuro.
A respeito dos planos
D’ Ávila (2006**) argumenta:
(...) uma obra pode prescindir dos planos. Neste caso ela poderá ser
examinada a partir das proporções e dos afastamentos. Na ausência
de perspectiva, em certas obras abstratas, deverá a análise ser
baseada nas proporções dos elementos inseridos nos espaços
preenchidos, numerados pelo analista segundo sua escolha por
gestalt.
O jogo de contrastes reforça a captura do volume dos corpos,
ajudada
pelo jogo de cores que permitem destacar na obra os elementos mais
importantes e obscurecer os
secundários. A
variação de cores frias e quentes e
o manejo da luz permitem criar distâncias e volumes que parecem ser copiados
da realidade.
Figura
49
: Proporções, Distâncias, Volumes
e Massas
A = a proporção B = equilíbrio das massas C = sensação de volumes dos corpos
Volumes e massas dos corpos foram bem representados devido à
gradação de cor, de luz e s
ombra
entre figura e fundo.
A1 = densirema* da manta jogada sobre
o vestido
A2 e A3 = densiremas* das pedras
rochosas
A4 e A5 = larguremas* piramidais*
nos
cumes das montanhas
B1 = extensurema* do braço da cadeira
B2 = largurema* do parapeito da sacada
B3 = espaços centralizadores filtráveis*
(repouso) = peitoral
B4 e B5 = projeções paradigmáticas* por
extrapolação do movimento e das
formas = nas águas d
o rio e do lago
B6 = diagonalidades circularizadas*
(força e movimento) no detalhe dos
cabelos
C1 e C2 = volumemas* no detalhe das
mãos
116
A roupa da personagem em paralelismo e rimas plásticas e poéticas por
projeções ora sintagmáticas, ora paradigmáticas das semi-circularidades
criadas completamente através de
sfumato
, encontra eco opositivo nas
ondulações dos rios da paisagem subjacente. A harmonia total conseguida no
quadro reflete a unidade entre Natureza e Cultura.
A seguir mostraremos o percurso isotópico, onde serão destacados os
traços que se repetem no interior do discurso, o qual é responsável pela
reiteração sêmica
que mantém
a coerência do texto.
Figura 50: Isotopia da Horizontalidade Figura 51: Isotopia da Verticalidade
Figura 52: Isotopia da Diagonalidade
Figura 53: Isotopia do Paralelismo
linhas sinuosas
117
A distribuição dos elementos do quadro de ambos os lados, ou de um
ponto ou ainda de um eixo central, traduzem equilíbrio de modo em que umas
partes estejam sempre em correspondência com outras.
Equilíbrio é ordem, um sentimento definido de repouso que se traduz em
maravilhosa sensação de conforto. No caso específico dessa obra podemos
obter um equilíbrio óptico. Ainda aqui o nome é definição. Essa forma de
equilíbrio é, de certa maneira, uma ilusão óptica resultante da habilidade e
disposição de seus elementos.
Figura 54
: Ponto de tensão
Por meio do ponto de tensão, podemos perceber que quando uma
pessoa
centraliza sua visão nos olhos da Mônica Lisa, sua baixa acuidade
visual periférica está em seus lábios. Como a visão periférica não distingue
detalhes, ela apenas capta as sombras pelos texturemas* das bochechas que
sugerem uma reentrância na curvatura do sorriso. Quando os olhos se voltam
para a boca da personagem, a vi
são central não vê as sombras, d
essa forma, o
sorriso vem e vai, conforme o seu ponto de orientação do percurso do olhar
receptor.
Conotação:
Rima plástica: Escolhemos os olhos da personagem Mônica Lisa, pois eles
se
identificam entre si, por meio de rimas plásticas dos figurais classemáticos e do
118
cromema de pigmentação negra. As rimas plásticas fazem parte de um
mesmo paradigma. Ex.= dedos, dobras da veste, olhos, natureza (árvores,
roc
has), c
abelos, arcos da ponte, etc
.
Mônica Lisa se destaca porque domina o observador. Seu criador fez
com que ela nos observasse talvez mais do que pudéssemos observá-
la.
Seríamos mais sujeitos à sua atenção do que ela à nossa? Aqui verificamos
uma auto-sanção do narrador de imagens, recuo do produtor de gestuemas
(D’Ávila, 2003b: 202) significativos. Diríamos que a imagem encontra-se como
figurador I do
logos
, podendo, porém ser interpretada no figurador II, do
mythos
, em função de seu alto grau de criatividade. Não nos esqueçamos que
o figurador II, embora conotativo, tem implicações com o nível profundo da
análise, extraído do figural 2.
Os semas responsáveis pela qualificação e quantificação da imagem
(semas contextuais):
Punctuema
*:
pontos (
punctus
) que por contigüidade formam tracemas*,
riscos traçados sobre a matéria que rompem espaços criando formas e
formatos;
Tracemas*: no que diz respeito à cabeça da personagem, os traçados
da obra são curvilíneos, geometrizados, ora triangularizados, ora
cônicos
, largos e cartunizados. Podemos dizer também que os traçados
curvilíneos se repetem na maioria dos elementos expressivos da obra.
Tratando
-se de alguns elementos da paisagem os tracemas* não são
bem contornados, dando, porém, um ar de suavidade. Destacamos a
isotopia da esferoidicidade*
;
Coloremas*:
por junção de pigmentos que vão do vermelho ao ocre,
misturados ao negro e originando o cromema* de nuanças no marrom
da natureza (terra) e fundo das vestes, produzindo texturemas* e
densiremas* diversos (D’Ávila, 2004a), também observados no céu
nublado. Pigmentos do cromema* azul misturados ao amarelo ouro
originam o cromema* verde da natureza (fundo) montanhas e rios. Do
colorema* branco com pouquíssima pigmentação de negro originou-se o
cromema* cinza de parte do rio, suas encostas e pinceladas no céu. Do
colorema* branco utilizado nos dentes e olhos, com raros pigmentos do
vermelho, originou-se o rosado da pele da personagem. Esses
119
classemas (clas-c)* são comuns ao figurador 1 do
logos*
, logo, realçam
o poder do figurativo, determinando seu o agenceamento aos figurais e
englobando, dessa forma, a totalidade apreendida pelo visual,
definindo
o conceito de “Figuratividade” em Semiótica Visual que, segundo D’Ávila
(1999ª. e 2003c) representa a soma entre os figurais 1 (nuclear) e 2
(classemáticos a) b) e c), acrescida dos figuradores 1 do
logos
(fonte e
origem da palavra), e 2 do mytho
s
(fonte e origem da criatividade).
3.3
A escolha de um texto sincrético. Uma publicidade como c
orpus
verbo
-
visual sob o caráter
proxêmico.
Explicamos no capítulo anterior que a metodologia de D’Ávila baseia-
se
cientificamente na teoria semiótica greimasiana (texto verbal). Diante da
necessidade de relacionar o caráter verbal que restaura nossa preocupa
ção
maior
- o acesso à leitura
,
ampliamos em paralelo, sob a ótica das referidas
teorias, outra análise complementar verbo-visual de um anúncio publicitário de
brinquedos (desenhados por Maurício de Sousa) portador do seguimento de
vários traços imagéticos (desse autor) já mencionados
anteriormente.
Diante do exposto, faz-se necessário tecermos maiores considerações a
respeito da linguagem sincrética. Segundo D’ Ávila:
(...) a semiótica sincrética designa linguagens que se manifestam
concomitantemente com interferências de estruturas semânticas e ou
sintáxicas no Objeto Semiótico em análise. Estas surgem como
interferentes ocasionais que proporcionam uma observação límpida
do caráter inferencial permitindo melhor articulação do sentido, pois
surgem em momentos precisos no interior do d
iscurso
ou
interferentes de atuação permanente (em concomitância), que seriam
examinados como “figura de fundo” não interferindo aparentemente,
na resultante significativa do fato (1998, p. 461).
Tendo como base tais apontamentos, podemos dizer que na l
inguagem
sincrética existe uma complementaridade entre o verbal e não-verbal, onde as
imagens (no nosso caso), não têm a função de ilustrar o texto escrito, muito
pelo contrário, ela própria contém informações que, associadas ao verbal,
fortalecem o pro
cesso de comunicação.
120
Trata
-se de uma peça publicitária onde pretendemos estudar os
procedimentos sintático-semânticos, primeiramente contidos na produção
verbal e, posteriormente, na visual, ambas manifestadas em simultaneidade na
mensagem publicitária dos produtos Maurício de Sousa Produções
/
Turma da
Mônica
, em parceria com a empresa Multibrink. A peça manifesta-se veiculada
na contracapa de uma revista de grande circulação: Almanacão de Férias da
Turma da M
ônica, nº. 34/2001.
Diante do exposto, nossa análise será dividida em duas etapas,
primeiramente, realizaremos uma abordagem semiótica, tendo como
referencial teórico a metodologia greimasiana, que será utilizada
prioritariamente nos textos verbais. Posteriormente, isolaremos o texto visual
do verbal e aplicaremos a teoria daviliana, com o intuito de examinarmos como
o publicitário escolhe e combina os recursos visuais com os verbais para
conquistar o enunciatário.
Na verdade, nossa tarefa consiste em reconstruir as conexões
intrínsecas dos níveis com
unicativos. Para tanto, partimos do princípio de que o
texto, como enunciado, traz em si marcas implícitas capazes de explicitar os
sujeitos da enunciação envolvidos com o enunciado: o enunciador e o
enunciatário.
Corpus
sincrético
Inicialmente, apresentaremos nosso próximo
corpus
(figura 55), a fim de
mostrar todos os elementos estruturais, tanto verbais quanto não-
verbais,
contidos no anúncio. Num segundo momento, enfatizaremos os conteúdos
verbais para concretizarmos a abordagem semiótica, seguindo as instruções
proferidas acima.
A estrutura descritiva do anúncio
O anúncio da Turma da Mônica Baby/ Multibrink é estruturado mediante
o uso da linguagem verbo-
viso
-plástica, numa seqüência definida pela
proxêmica na composição de planos; P1, o grande quadro, em si, contendo
sobreposições gráficas (letras), figurais e figurativos (desenhos) conforme
veremos a seguir.
121
Figura 55
:
Maurício de Sousa Produções/ Turma da Mônica em parceria com a empresa
Multibrink, veiculada na contracapa da revista: Almanacão de Férias da Turma da nica .
34/2001.
Suas grafias diversificadas sugerem as seguintes representações: 1) Em
amarelo, em caixa alta, grafia impressa, jornalística; 2) Em vermelho, caixa
baixa, grafia personalizada, não cursiva; 3) Em azul, e em itálico, grafia em
letra cursiva (manual). Esta tríade compõe o logotipo “Turma da Mônica Baby”.
Figura 56
: Marca
122
Basicamente todo o texto é apresentado como se fosse uma obra prima,
enquadrada por uma moldura de madeira, contendo acabamento interno de
friso metálico amarelo-
dourado
que
, apesar de bucólico, apresenta certo
requinte (figura 55).
Este
quadro tem como plano de fundo uma tela branca contendo
manchas multicoloridas que gradativamente aumentam de tamanho,
destacand
o-se mais precisamente no canto superior direito do observador. É
sobre esse plano de fundo que t
odo texto organiza
-
se.
Figura 57
: Título
Na base superior surge o Título: Pintaram os novos bonecos,
letras
em itálico 18,
destacadas
pela cor azul anil. Logo abaixo (lado direito do
observador),
-
se
a marca Turma da Mônica Baby
,
em
letras enfatizadas
pelas cores primárias: amarelo, vermelho e azul, pintadas sucessivamente, na
ordem citada, em movimentação de descendência do superior ao inferior,
segundo o
percurso do olhar.
Ainda neste mesmo lado, observamos, o slogan Tem que ser
e logotipo
do fabricante -
Brinquedo
Multibrink: presente na infância.
Trata
-
se
de um
imagético ilustrado em letras, trazendo o nome do fabricante supernegritado na
cor azul, circundada por uma região em fundo branco, o que acentua seu
destaque.
Figura 58
: Logotipo
Este, contudo, é entrecortado por traços que mostram a composição
variável, destac
ada pela cor azul.
Logo abaixo, notamos
um boneco sentado
,
de bigodes, com seus braços
abertos (parte de seu corpo está saindo
da
tela), à direita do observador,
123
usando objetos e acessórios típicos dos grandes mestres da pintura: boina,
avental e paleta.
Figura 59
: Boneco
do lado esquerdo do observador, abaixo do título, o subseqüente
texto complementar:
Figura 60
: Texto complementar
Abaixo deste texto está o produto embalado, ou seja, uma boneca
pintora dentro de uma embalagem muito colorida que reforça os elementos
apresentados: o título, logotipo
, o
fab
ricante e alguns elementos novos: certas
reproduções dos quadrões, a assinatura de Maurício
de Sousa
, que aparece no
can
to inferior esquerdo da caixa, o logotipo dos Quadrões (no canto inferior
direito), algumas letras coloridas (no lado esquerdo) e o emolduramento da
embalagem por fitas nas cores da marca Turma da Mônica. Essa embalagem,
por sua vez, também se projeta para fora do quadro, à esquerda do
observador,
embaixo.
124
Figura 61
: A embalagem do produto
Ainda dentro da tela, mais precisamente
na
sua
base inferior (paralela
ao títu
lo), está um novo texto verbal
com letras pintadas de azul:
Á venda nas melhores lojas do ramo.
Visite nosso site:
www.multibrink.com.br
Finalizando a apresentação, fora do quadro, num faixa na cor marrom,
que se contrapõe com a moldura, (base inferior) aparece: (letras pintadas de
branc
o).
Visite o site da Turma da Mônica
:
www.monica.com.br
Percebemos que há uma enunciação global regendo a sincretização dos
dois discursos, sendo que a conjugação entre a linguagem verbal e linguagem
não verbal ocorre de forma organizada, encaminhando o olhar do leitor às
direções projetadas a partir da movimentação, da reiteração de palavras,
formas, cores, que atuam como pontos perceptíveis, pois a visualização
acontece da base superior para a inferior, seguindo um percurso em
ziguezague (direito
-
esquerda), saindo e voltando pelas transversais.
Complementando as informações, podemos dizer que os pontos
perceptíveis, ou ponto de ancoragem, interligam-se pelas laterais e voltam à
seus componentes centrais que abrangem a característica rítmica desse
corpus.
O sistema de idéias de persuasão está presente em todos os elementos
da mensagem. As imagens, por sua vez, foram cuidadosamente montadas
também para convencer.
125
Quando acontece essa fusão, entre a imagem e o texto escrito, os
princípios discursivos da linguagem visual são ancorados pela linguagem
verbal, isto porque, esta tem significados prontos, ou seja, é dominante em
primeira instância. Para buscar a significação sincrética, devemos procurar o
senti
do nos dois planos: o do conteúdo e o da expressão.
(...) devemos procurar entender que há dois planos, o do
conteúdo
,
onde situam-se: “o que o texto diz e como o texto se diz texto”; e o
plano da
expressão
, onde igualmente observamos o que compõe a
expr
essão, (as substâncias, em processo) e como é arranjada (a
forma, o sistema), usados em princípio para a manifestação verbal,
produtora de efeitos de sentido e de sentido articulado na produção
em simultaneidade desses dois planos: expressão + conteúdo.
(A
RAÚJO JUNIOR, 2007, p. 51)
Por intermédio dessas considerações, percebemos que a linguagem
verbal é auto-suficiente e como já dissemos, seu conteúdo é pronto e acabado,
sendo possível compreendermos o “que o texto diz”, por intermédio da
substância do co
nteúdo e “como diz”, pelo viés da forma do conteúdo, portanto,
com função simbólica.
Por sua vez, a linguagem visual figurativa, é independente da verbal no
plano da expressão (significante), por conter substância e forma. no plano
do conteúdo, ela consegue uma certa autonomia quando o semioticista,
conseguindo dessemantizar a aparência figurativa que envolve a imagem,
atinge sua essência figural, apreendendo-a. Diante dos figurativos, os
conteúdos somente serão compreendidos, apreendidos e decodificados, por
meio da linguagem verbal. Por este fato, a linguagem do visual figurativo
assume o caráter semi
-
simbólico.
Acabamos de verificar que o caráter semi-simbólico é consagrado pelas
categorias do plano do conteúdo com as categorias do plano da expressão
e
funcionam muito bem em textos sincréticos, os quais esclarecem os efeitos de
sentidos unidos e hierarquizados em um único texto.
Para a semiótica greimasiana,
em
todo ato discursivo existir
á
sempre um
manipulador e um manipulado em completa interação, s
endo
que o primeiro
tenta persuadir o segundo do que
se
está
garantindo
; o segundo, por sua vez,
faz o discurso interpretativo, julgando o percurso do enunciador, produtor do
126
texto, conforme um contrato de fidúcia estabelecido entre esses dois pólos, o
faz
er e o crer, podendo induzi
-
lo a crer ou não, no que foi apresentado.
3.4
Análise Semiótica da linguagem verbal
A semiótica greimasiana tem um instrumental adequado para ajudar
na
busca da significação; ela examina a questão da leitura do texto escrito e
capacita os sujeitos para ver o mundo com seus próprios olhos.
Pela razão da grande heterogeneidade do material escolhido que
compõem o nosso
corpus
de análise, e por ele envolver a junção de linguagens
diversificadas, nosso exame tecerá rápidas considerações aos enunciados
verbais contidos na caixa da embalagem do produto em questão.
3.4.1 Estruturas Discursivas
O anúncio publicitário que analisamos como
corpus
mostra
-
nos
cla
ramente a disposição dos elementos textuais, segundo seu grau de
valoraç
ão axiológica.
Inicialmente, destacaremos como o enunciador exerce um fazer
persuasivo, ao escolher os aspectos verbos-visuais sob forma de processo
discursivo. Greimas e Courtés (dicionário de semiótica
s/d
p.
418 e 419)
esclarecem: “o aspecto é introduz
ido na lingüística como ponto de vista sobre a
ação, suscetível de se manifestar sob a forma de morfemas
70
gramaticais
autônomos
”, utilizados para conquistar o enunciatário.
Seqüência I
Texto verbal
aspecto incoativo
e durativo descontínuo
:
PINTARAM OS
NOVOS BONECOS
(sanção do narrador sobre as
crianças que produziram manchas coloridas sobre os bonecos da
turma da Mônica) com conexão semântica da marca Turma da
Mônica Baby. Elas (narratárias) pintaram
.
70
Morfema é a par
te de uma palavra que indica sua função gramatical... Ibid. 60, p.
286.
127
PP.:
Quem
pintou? (Pressupõe o sujeito da enunciação Maurício de
Sousa e equipe, também (eles) referindo
-se aos Quadrões).
PP.: Venham vocês (enunciatárias) também, pintar!
Pintores
pintaram
os novos bonecos
Pintaram
os novos bonecos pintores.
Percebe
-se aqui uma “ambigüidade sintáxica”, que segundo o dicionário
de Semiótica, “se manifesta quando uma estrutura sintática de superfície
corresponde a duas ou mais representações semânticas”. (GREIMAS E
COURTÉS, s/d, p. 19). Uma frase altamente manipuladora pela ambigüidade
apresentada (na frase) (verbo no perfeito do indicativo com sujeito
indeterminado).
Seqüência II
Texto verbal de suporte
auto
-
promocional
PP.: E vocês, não vão pintar? Mesmo oferecendo o material?
Chegou a coleção Pequenos Pintores Turma da Mônica Baby:
a turminha que saiu da
s
histórias em quadrinhos e invadiu o
mundo das Histórias em Q
uadrões
71
Colecione e saia por
fazendo “arte”. Acompanha 1 aquarela com pincel, 2 lápis de cera
e desenhos para pintar.
A instituição da competência pela caixa alta em Histórias em Quadrões
simboliza uma auto-
sanção
do narrador; aproveitando do lazer
(bonecos
pintores)
invadir
am
o universo do saber (da cultura), pelo simples fato de
História em Quadrões estar escrito com letra inicial maiúscula, o que não
aconteceu com histórias em quadrinhos, escritas com letras minúsculas (caixa
baixa).
Outras considerações a respeito do texto:
Pequenos
(bonecos pintaram)
desambigüiza pela instância do visual (elimina as ambigüidades) e a palavra
71
Histórias em Quadrões implica em conhecimento artístico (aprender), história em
quadrinhos nos remete a descontração, diversão (brincar).
128
arte encontra-se entre aspas (saia por fazendo “arte”
),
mos
trando uma
homonímia: “
pala
vras que têm a mesma pronúncia, a mesma grafia, mas
diferente
significado
, ou seja, não têm o mesmo sema nuclear”. (grifos nossos)
Seqüência III
Logotipo (fusão figural figurativa x verbal) Brinquedos Multibrink
Presente
na Infância + slogan (com continuidade do verbal: Tem
que ser).
Provocação (frase geradora de ambigüidades)
A palavra ‘Presente’ trata-se de uma ambigüidade lexical (na palavra)
causada pela relação de homonímia.
Seqüência IV
b)
Imagem
-
texto
simboli
zando
san
ção
e manipulação por exposição
dos
bonecos pintores (sedução/ tentação/ provocação).
Seqüência V
Texto verbal
Seqüência de
caráter terminativo.
À venda nas melhores lojas do ramo. Visite nosso site:
www.mu
ltibrink.com.br
;
Visite o site da Turma da Mônica:
www.monica.com.br
Totalidade sincretizada viso
-
plástica de proxêmica saturada
/
saturema
72
Ainda ressaltando as palavras de Greimas e Courtés, esse ponto de
vist
a sobre
a ação, corresponde
:
(...) a uma dupla debreagem o enunciador se delega no discurso, na
qualidade de narrador, num actante sujeito do fazer pragmático
tímico e, por outro, num sujeito cognitivo que observa e decompõe
esse fazer, transformando-o em processo [caracterizado então pelos
semas duratividade ou puntualidade, perfectividade
ou
imperfectividade (acabado/inacabado), incoatividade
ou
terminatividade
.
(s/d: p. 29).
O anúncio tem como foco a divulgação do produto fabricado pela
empresa
Mult
ibrink
, que carrega consigo a marca Turma da Mônica Baby,
72
Termo designado por Loredana LIMOLI,
em 01/02/07.
129
expondo a
coleção
Pequenos Pintores
,
por meio do título
:
PINTARAM OS
NOVOS BONECOS.
O termo
baby
define a intencionalidade do autor em garantir as vend
as
desde a tenra infância
.
O título é enriquecido pela marca Turma da Mônica Baby, que atua
como um veículo de divulgação, contribuindo decisivamente para
a
garantia da
legitimidade e confiabilidade do produto ofertado. Por isso, ela aparece em
destaque “azul bebê”, por meio da proporção estético-
plá
stica entre
formemas
verbo
-plásticos definidos por
largurema
e
coloremas
das letras, fazendo com
isto, a distinção entre as informações principais e as secundárias. Por exemplo:
Turma da destaca-se por intermédio de letras maiúsculas, coloridas de
amarelo
e contornadas de preto.
A cor amarela é uma cor viva, quase incandescente, que estimula a
atenção e abre os espaços do conhecimento;
Mônica
está escrito com letras
minúsculas, que tem quase o dobro de tamanho das demais.
Suas letras apresentam-se pintadas de vermelho, delineadas com uma
cor de fundo branca. A cor vermelha é considerada a cor de maior impacto
emocional, o fundo branco transmite sobriedade e credibilidade ao nome,
remetendo
-nos assim à personagem das revistas em quadrinhos “Mônica” (a
escrita é idêntica a que aparece nas revistas em quadrinhos). Logo,
Baby
está
escrito com letra cursiva, carregando em si, todo um simbolismo pessoal
(familiarizado com a grafia que está associada à aprendizagem e uso das
crianças). Quanto à logomarca, verificamos uma rima plástica com a que se
insere na caixa
-
presente.
Entretanto, o texto verbal de suporte factitivo, posicionado abaixo do
título e ao lado da marca, tem um enorme apelo comercial, que além de
complementar o título, apresenta outro produto: História em Quadrões, como
se fosse um produto os do tulo e seu subproduto do texto
.
A
coleção
Pequenos Pintores, é matriz patrocinadora das Histórias em Quadrões. Então
,
os bonecos pintores se constituem em objetos modais, atuando como um meio
para obtenção de um fim, isto é, colecione e saia por aí fazendo “arte
-
ambigüidade lexical gerado pela homonímia (fazendo arte as crianças soltam a
imaginação para reinventar um universo de magia). Aprendem brincando e
assim continuarão alimentando economicament
e a matriz com o “novo”.
130
A díade; título e marca, acrescida do semema
homônimo
“presente” =
“ser” presente e “estar” presente = ser um presente na infância e estar presente
na vida da criança, compõe o texto verbal centralizado à direita da mensagem
sincré
tica, chamando a atenção do leitor por via emotiva, racional e
argumentativa.
Em síntese:
Presente = homonímia = plurissêmico, significantes
iguais com significados diferentes
-
a figura nuclear não é comum.
Para a semiótica todas as palavras com mais de um semema num
lexema são polissêmicas.
Porém, polissememia para Greimas e
Courtés
corresponde
:
(...)
à presença de mais de um semema no interior de um lexema”.
Os lexemas polissêmemicos opõem-se, assim, aos lexemas
monossemêmicos, que comportam um único semema (...)
A
p
oli
ssememia, entretanto afora o caso pluriisotópico, existe
somente em caso virtual (no dicionário), pois a manifestação de um
lexema dessa espécie, inscrevendo-o no enunciado, elimina sua
ambigüidade, realizando apenas um de seus sememas
”.
(s/d: p.
341)
Diante das pretensões expostas, pudemos perceber que a cor foi um
dos grandes elementos de produção de efeitos de sentido, passionais ou
emotivos, porém suas implicações com a significância, associadas a outras
codificações, como o sentido plástico das palavras, têm o potencial de gerar
novos efeitos de sentido, apenas possíveis quando diferentes códigos se
unem.
A intenção foi seduzir o leitor/ consumidor, produzindo uma transição
natural entre os significados associados por efeitos ou “
ilusões referenciais”.
O logotipo que grafa a marca do fabricante cria “ilusão referencial”
ao
globo terrestre, pelo seu formato elíptico. Este, contudo, é entrecortado por
traços que mostram a composição variável (em movimento), dando a idéia de
pseudo
-
di
namismo,
destacado
pelas
circularidades e semi-
circularidades
diagonalizadas
ascendente
s
e descendente
s
da cor azul.
Existe uma forte mensagem de persuasão aos pais, com forte função
conotativa,
de que brinquedos Multibrink, são um excelente presente e est
ará
sempre presente na vida da criança. Por isso, Tem que ser
brinquedos
Multibrink”
- “
Brinquedo Multibrink
:
presente na infância
”.
131
A embalagem do produto contém elementos que tentam
hiperbolicamente exteriorizar o valor do seu conteúdo, por isso apresenta um
conjunt
o de texto – verbal e pictórico-plástico que afetam a sensorialidade
conduzindo
, por vezes, pela proxêmica, à saturação visual. Sendo assim, a
embalagem do produto em questão possibilita ao enunciatário, também
narratário,
a
sanção
sobre o nar
rador
por exagerar na exposição de elementos.
A imagem em destaque apresenta a embalagem onde elementos se
repetem (fabricante, marca parte superior, mais especificamente nos cantos),
sendo que novos elementos aparecem: na parte inferior, lado esq
uerdo
(observador)
- a assinatura de Maurício de Sousa e, do lado direito,
logotipo
das
Histórias em Quadrões
.
Nesse universo do discurso da embalagem, a
marca, o produto, subproduto e o fabricante são destacados com forte apelo
comercial, reafirmando nova
mente as conexões emocionais.
Neste nível analisaremos as estratégias enunciativas tanto da sintaxe
discursiva com as projeções dos atores, tempo e espaço, quanto da semântica
discursiva com os procedimentos de tematização e figurativização.
a)
Sintaxe Discu
rsiva
É nessa fase que as transformações dos sujeitos são focadas; estes
recebem o nome de atores pelo simples fato de, ao longo da narrativa,
manifestarem
-se pelo menos um papel actancial e um papel temático. As
palavras de Araújo Junior sobre a sintaxe discursiva ilustram muito bem essa
passagem:
Segundo D’Ávila (2003b), corresponde à análise dos atores no tempo
e no espaço inserindo-os de acordo com seus papéis: temático
(discursivo) e actancial (narrativo). A construção do ator se faz com,
pelo menos, um papel actancial e um temático. O discursivo veste o
narrativo.
(2007, p.83)
Antes de demonstrarmos os papéis actancial e temático presentes em
nosso texto, apresentaremos os sujeitos discursivos enunciadores postos
:
Turma da Mônica e Multibrink.
No
caso de Maurício de Sousa trata-se de
“enunciação enunciada ou reportada” (GREIMAS s/d: p. 47).
Papel actancial e temático só tem os actantes do texto.
132
Papel Temático
Papel Actancial
Turma da
Mônic
a
marca
Sujei
to do /fazer
-
crer/ do /poder/
e
do
/dever
-
fazer/, manipulador e manipulado do convencer
actante individual e coletivo, destinador...
Os bonecos
sujeito do poder e do fazer
-
fazer
Multibrink
empresa
Sujei
to do /fazer
-
crer/ e do /d
ever-
fazer/,
manipulador
e manipulado
destinatário
-
destinador
, actante individual e coletivo ...
Narrador Sujeito do enunciado do /fazer-
saber/.
Em nosso discurso publicitário impresso
encontra
mos na enunciação
marcas
decisivas no enunciado, deixadas por um autor, o qual não aparece na
enunciação
senão
como simulacros em enunciador e enunciatário. Também
faz parte desse processo o leitor. Esses entes discursivos exercem o papel de
produtores e r
eceptores do enunciado.
Levando em conta tais considerações, em n
osso
discurso
tanto o
enunciador + marca + agência publicitária + empresa - sujeito da enunciação
+
enu
nciatário (público-alvo) + consumidores do produto, como também, entre
outros,
como nosso caso (analista) + agência de propag
anda
– sujeito da
enunciação
se auto-enuncia ao construir e produzir um enunciado dessa
natureza
.
No ato de
sta
prod
ução, temos uma marca, que manipula uma
empresa,
que, a posteriori, manipula uma agência de publicidade para produzir um
enunciado capaz de servir
-
lhe de objeto modal q
ue serv
irá para a busca do seu
objeto Valor que é a venda, o lucro dos produtos anunciados e a identidade do
produtor da mensagem
-
o publicitário.
O narrador exerce, por sua vez, vários papéis actanciais, cognit
ivos,
pragmáticos e/ou micos:
info
rmador
do saber por meio do enunciado,
manipulador (por sedução, provocação ou tentação) aos narratários, conforme
verificaremos a seguir.
133
A primeira delas é o emprego de valores comuns ao público infantil. O
anúncio trata da apresentação de bonecos pintores por meio da comunicação
verbal
e visual. No que diz respeito à difusão verbal, a manipulação por
sedução
fica evidenciada na expressão: acompanha uma aquarela com pincel,
dois lápis de cera e desenhos para pintar, atraindo a criança a consumir o
boneco para ganhar como “brinde”, ou seja, outro entretenimento, induzindo a
um
querer
-
fazer
.
A manipulação por provocação aparece na citação saiu das histórias
em quadrinhos e invadiu o mundo das Histórias em Quadrões
.
Em outras
palavras, o discurso diz que o brinquedo nasceu famoso, suscitando um
dever
fazer
. Outra manipulação é notada, a
tentação
: saia por fazendo
“arte”
, levando a criança a pensar que ao adquirir o produto ela não ficará
parada, e sim, o contrário: livre, leve e solta sugerindo um
querer
fazer,
ou
seja; manipulação provocativa anti-social (expressão dita por pichadores). E
por último a provocação e auto-
sanção
é observada no slogan do fabricante
‘Tem que ser’, ou seja, não outro igual, é o melhor brinquedo, indicando um
dever
fazer
, auto
-promocional (auto-sanção pragmática).
o público adulto (pais) sofre também manipulações: “saiu das
histórias em quadrinhos e invadiu o mundo das Histórias em Quadrões”,
(sedução e tentação), conduzindo o pensamento dos pais de que seus filhos
te
rão a oportunidade de serem grandes pintore
s.
Lojistas e profissionais do ramo também são alvos de manipulação
(
provocação
), por intermédio da sentença: À venda nas melhores lojas do
ramo. Visite nosso site:
ww
w.multibrink.com.br
, ambas as manipulações
incitando um
dever
fazer.
Como acabamos de verificar, neste nível, cada dizer tem uma motivação
ideológica. Agora, iremos centrar os estudos na segunda etapa das estruturas
discursivas.
b)
Semântica Discursiva
A semântica discursiva é marcada pela tematização e pela
figurativização,
as quais constroem os percursos definidos pelo sujeito da
enunciação,
com o intuito de
co
nvencer aquele que o interpreta.
134
A figurativização é marcada por figuras (sememas de valo
r), que geram
tema ou conteúdo temático. Para tanto, faz
-
se necessário realizar
primeiramente um levantamento de campos semânticos, (º) símbolo criado por
D’ Ávila. Segundo D’Ávila, 2007 em sala de aula:
O levantamento de Campos Semânticos tem como função
agrupar
figuras dentro de uma área de significação que representam isotopias
discursivas, criando coerência da primeira à última palavra do texto.
Ligam ao mesmo tempo sememas unidos por um núcleo sêmico
comum ou por relações de ordem classemática.
I
P
intaram os novos bonecos
Figuras de valor
: /Pintaram/, /os novos/, /bonecos/
(º) Temporalidade, novidade, brinquedo (Percurso figurativo da
diversão)
II
Chegou a coleção Pequenos Pintores Turma da Mônica Baby:
Figuras de valor
: /Chegou/, /a coleção/, /Pequ
enos Pintores/, /Turma da Mônica
Baby/
(º) Temporalidade, quantidade, desempenho, credibilidade (Percurso figurativo
da
Divulgação
)
III
a turminha que saiu das histórias em quadrinhos e invadiu o mundo das
Histórias em Quadrões.
(º)
Figuras de valor
: /a t
urminha/, /que saiu/, /das histórias em quadrinhos/, /e
invadiu/, /o mundo/, /das Histórias em Quadrões/.
Chantagem afetiva, distanciamento, lazer, ocupação, conquista, aprendizagem
artística (Percurso figurativo da
Transição Cultural
)
IV
Colecione e saia
por aí fazendo “arte”.
(º)
Figuras de valor
: /Colecione/, /e saia por aí/, /fazendo “arte”/.
Consumo, permissão, provocação anti
-
social (Percurso figurativo da
autonomia
)
135
V
Acompanha 1 aquarela com pincel, 2 lápis de cera e desenhos para pintar.
(º)
Figuras de valor: /Acompanha/, /1 aquarela com pincel/, /2 lápis de cera/, /e
desenhos para pintar/.
Conjunção, suplemento, complemento, aplicação (Percurso figurativo
do
Entretenimento
)
VI
Tem que ser, brinquedos Multibrink presente na infância.
(º)
Figura
s de valor: /Tem que ser/, /brinquedos Multibrink/, /presente/, /na
infância/
Afirmação, convicção, atualidade, período (Percurso figurativo da
Confiabilidade afetiva)
VII
À venda nas melhores lojas do ramo.
(º)
Figuras de valor
: /À venda/, /nas melhore
s/, /lojas do ramo/.
Comércio, vaidade, estabelecimento comercial (Percurso figurativo da
Autopromoção
)
VIII
Visite nosso site:
www.multibrink.com.br
.
(º)
Figuras de valor
: /Visite/, /nosso site/, /www.mul
tibrink.com.br/
Vistoria, eletrônica (Percurso figurativo da
Informatização
)
IX
Visite o site da Turma da Mônica:
www.monica.com.br
(º)
Figuras de valor: /Visite o site/, /da Turma da Mônica/, /
www.monica.com.br/
Vistoria, eletrônica (Informatização
-
co)
Conforme apontamentos anteriores, as figuras compõem os percursos
figurativos, a saber.
a)
Diversão, divulgação, transição cultural;
b)
Autonomia, entretenimento, confiab
ilidade afetiva;
c)
Autopromoção e informatização, e confirmação.
136
A seguir, relacionaremos as temáticas que correspondem aos percursos
figurativos apresentados acima:
a)
Encontramos neste percurso, a temática da
Ludicidade
(lazer)
e
Cognição;
b)
Neste percurso
,
en
contramos a temática da
Liberdade,
Criatividade, Confiabilidade;
c)
Por último, encontramos a temática da Lucrabilidade e
Marketing eletrônico.
Nesta etapa da reconstrução do sentido, começam a aparecer as
isotopias, que comandam a significação global do tex
to.
3.4.2 Estruturas Sêmio
Narrativas de Superfície
.
Programas Narrativos (PN)
Sintaxe narrativa
de superfície.
O programa narrativo – PN é uma unidade elementar construída de
enunciados de estado e de fazer, estabelecido pelo contrato entre o sujeito de
ser (estado) que deverá manter uma relação com o sujeito do fazer (ele
mesmo, ou outrem) para obter ou não o objeto-Valor. O primeiro estabelece
uma relação de posse ou de privação entre um sujeito e um objeto, ou seja,
uma disjunção (o sujeito S está disjunto do objeto O), ou conjunção (o sujeito S
está conjunto com o objeto O). O segundo mostram-nos as transformações por
intermédio de uma seqüência canônica que se divide em quatro estágios: a
manipulação, fase em que um sujeito age sobre o outro; a competência,
momento em que o sujeito é dotado de um saber e/ou poder fazer; a
performance, que é a transformação central da narrativa; e a sanção, que é a
fa
se do julgamento da performance.
Transformação
Aquisição
Privação
PROVA
APROPRIAÇÃO
Reflexiva
DESPOSSESSÃO
Transitiva
DOAÇÃO
ATRIBUIÇÃO
Transitiva
RENÚNCIA
Reflexiva
Quadro 3: A circulação do Objeto entre Sujeito
137
No PN principal, podemos interrogar-nos sobre a competência do
sujeito; terá ele o querer, o dever, o saber, e o poder-fazer? O querer está
implícito, é o desejo, ou seja, o próprio querer. Obviamente todos os pais
desejam que seus filhos alcancem a fama. Porém, quando o leitor é
considerado como um sujeito dotado do querer-fazer é que a publicidade vai
atuar, esforçando-se para tornar esse sujeito competente segundo um dever-
fazer. A publicidade serve como destinador de um saber e o produto que ele
veicula, de um poder-fazer. O papel actancial na publicidade manifesta-se no
nível discursivo através do emprego do imperativo: colecione
, saia.
Desta forma, a publicidade transmite um saber e um poder necessários
para o leitor realizar a performance de brincar e ainda desenvolver habilidades
artísticas e culturais.
No entanto, é o produto que tem o poder de consolidar a vontade de
viver ludicamente por meio de atividades artísticas, conforme o slogan do
próprio anúncio: colecione e saia por aí fazendo “arte”.
A seguir mostraremos o esquema narrativo de Greimas, em que o
sujeito irá se relacionar com o objeto de valor.
O ESQUEMA NARRA
TIVO
-
GREIMAS
Codificação: D’Ávila
Manipulação e sanção
= Relação entre sujeitos. Instaura o/querer/ e o
/dever/ O /Saber/ e o /Poder/ são adquiridos na Competência
Competência e Performance
= relação entre sujeito e objeto.
= disjunção
O c
ontrato é instaurado (Greimas)
Estado de falta
organiza programa de busca. (Propp)
(S x S) (S x O ) (S x O) (S x S)
Manipulação Competência Performance
Sanção
Fazer
-
fazer/ /Fazer
-
ser/ /Ser do ser/
cognitivo
pragmático
(Saber
-
fazer)
(Poder
-
fazer)
É o /ser/ do /fazer/
(Querer
-
fazer)
Sua essência.
(Dever
-
fazer)
Quadro 4: Greimas, Esquema Narrativo
-
decodificado por Nícia D’Ávila
138
Para
D’ Ávila, este esquema representa:
(...) um modelo hipotético geral da narrativa, que abrange o
encadeamento lógico dos três percursos narrativos: percurso do
sujeito, percurso do destinador-manipulador e percurso do
destinador
-
julgador
.
Para
Greimas, o esquema procura representar, formalmente o
“sentido da vida”, enquanto projeto, realização e destino. (2007, p.
8)
Símbolos indicativos na elaboração dos Programas Narrativos
:
S1 =
Os bonecos da
Turma da Mônica (
atores actantes
)
S2 = Multibrink (fabricante)
S3 =
narrador/ sujeito do enunciado (recuo do sujeito da enunciação)
S4 = S1 +
S2 + S3 (actante coletivo do fazer “comprar”)
Sx = sujeito observador
,
figurativizando os destinatários em geral,
diferentes destinatários enunciatários
Sx1 = já acostumados aos produtos da Turma da Mônica
Sx2 = já acostumados com a concorrência
Sx3 =
cautela para adquirir
Sx4 = desprezo aos produtos Turma da Mônica
SxT =
Sx +
Sx1, Sx2, Sx3, Sx4
Om = Objeto modal: todos os meios para atingir Ov
= Distribuição sintagmática (função do fazer)
Ov = Objeto-valor/ a identidade e a mensagem do Publicitário (narrador
verb
o-
vis
ual
...). Para tanto deverá levar o SxT à aquisição ou consumo do
produto e o conseqüente lucro.
n = conjunç
ão
U = disjunto
( ) = enunciado de Estado
[ ] = enunciado de Fazer
139
A Factitividade - As Manipulações ou o /fazer-
fazer/
, segundo D’Ávila (1992, p.
8).
Sedução e Provocação = dimensão do Saber
Tentação e Intimidação = dimensão do Poder
SEDUCÃO
/ fazer
querer
fazer /
(englobada)
SABER
(englobante)
PROVOCACÃO
/ fazer
dever
fazer /
(englobada)
TENTACÃO
/ fazer
querer
fazer /
(englobada)
PODER
(
englobante
)
INTIMIDACÃO
/ fazer
dever
fazer /
(englo
bada)
As dimensões Cognitiva
SABER
(englobantes) Pragmática
PODER
A função primordial da publicidade é atrair o enunciatário e fazê-
lo
percorrer o programa narrativo da busca de um determinado valor. Ao analista
cabe a tarefa de descobrir quais os caminhos percorridos pelo enunciador,
como primeiro enunciatário interessado em desvendar os mistérios daquele
dado enunciado. Deste modo, procuramos verificar o Programa Narrativo (PN)
de base do texto publicitário em questão e seus confrontos com Programas
Narrati
vos (PN) de uso, rumo ao objeto-Valor, destacando-se o jogo
manipulatório e isotópico.
Traçamos assim os seguintes programas narrativos:
PN Base
(de estado)
: (S
Ov)
(S
Ov)
1º Programa Narrativo da Marca:
PN BASE : (SxT U Ov)
(SxT
n O
v) ]
Estrutural
73
Ov = mensagem publicitária e identidade do publicitário
PN1 F: S3 [(SxT U om1) (SxT
n om1) ]
73
Este PN - somente será realizado após a análise da manifestação visual e conseqüente
sanção sobre a linguagem sincrética = compra do brinquedo.
D’
Á
V
I
L
A
1
9
9
2
140
Om1 = mensagem verbal
Este PN evidencia a intencionalidad
e do sujeito actante narrador S3
, que
modaliza e se instaura
como sujeito do FAZER comprar, usando primeiramente
a mensagem verbal como objeto modal 1; emprega no seu texto de suporte
factitivo, três manipulações:
Provocação
surge
no primeiro parágrafo - saiu das histórias em
quadrinhos e invadiu o mundo das Histórias em Quadrões, suscitando um
dever
fazer
;
Tentação
é
notada, no segundo parágrafo: Colecione e saia por
fazendo “arte”, sugerindo um
querer
fazer
; manipulação provocativa anti-
social (expressão dita por pichadores)
;
Sedução
aparece
no último
pará
grafo
acompanha
uma aquarela com
pincel, dois lápis de cera e desenhos para pintar, induzindo o receptor a um
querer
fazer
.
A manipulação por
provocação
também aparece no Slogan Tem que
ser
, indicando uma auto-
sanção,
ocasionando um
dever
fazer
, aut
o
promocional (auto sanção pragmática)
.
A sedução e provocação estão
inseridas no nível do saber e a intimidação e tentação englobadas no nível do
poder. O sujeito do Fazer atuou tanto na dimensão cognitiva, quanto na
dimensão pragmática, ao elaborar a men
sagem verbal.
PN2 F: S3
[(SxT U om2)
(SxT
n om2) ]
Om2 = mensagem viso-
plástica
O sujeito S3 também se auto-sanciona, ao exagerar na exposição de
elementos viso - plásticos na embalagem do produto. Apresenta elementos
que se repetem: fabricante e marca, na parte superior. Novos elementos são
reforçados na parte inferior,
a assinatura de
Maurício de Sousa
e o logotipo das
Histórias em Quadrões. Esta é mais uma forte mensagem de persuasão
direcionada aos pais (público adulto), pois os
impulsiona a pensar que por me
io
dess
e produto, seus filhos poderão alcançar a fama,
tornando
-
se
pintores
renomados, conduzindo novamente um
dever
querer
fazer,
por intermédio
da
provocação,
sedução
e
tentação.
141
ISOTOPIAS FIGURATIVAS CONVERGINDO À ISO
TOPIA TEMÁTICA DO
PODER COMO PRETENSÃO DO DESTINADOR S3, EM SEU DISCURSO
FIGURATIVAS
:
TEMÁTICA
:
LUCRABILIDADE
PODER
ECONÔMICO
AUTOPROMOCIONAL
MODERNIDADE
MARKETING ELETRÔNICO
CRIATIVIDADE
ENTRETENIMENTO
C
ONFIABILIDADE
AFETIVA
LIBERDADE
TRANSIÇÃO
CU
LTURAL
TRANSITIVIDADE
SINCRETISMO
VERBAL + FIGURAL
FIGURATIVO
TÍMICO
-
PATÊMICA
LUDICIDADE
As setas finas são representativas da interatividade processual
;
As setas finas intercaladas identificam a camuflagem do Poder Econômico na tentativa
de demons
trar atividade meramente lúdica;
As setas negras de densirema mediano demonstram o alto grau de dependência entre
isotopias;
As setas negras intercaladas de densirema acentuado (volumema) demonstram o alto
grau de dependência e de força unindo isotopias. A confiabilidade afetiva está
diretamente relacionada ao /CRER/
;
A seta negra verticalizada, contínua e de maior densirema, une isotopias temáticas
que se interdependem.
142
3.4.3
Estruturas Sêmio
-
narrativas profundas
.
Tendo como base o plano virtual, este solicita do analista cautela em
afirmar sua junção com o obj
eto
-Valor. Seu sucesso dependerá da aceitação
coletiva advinda dos receptores, destinatários Sx = diferentes destinatários que
observam
os quatro pólos figurativizados nas dêixis do quadrado semiótico,
conforme a
Estrutura Elementar da Significação abaixo
apresentada,
designando o nível profundo da análise propriamente dita.
Como podemos observar (figura 62), a competência do enunciador
por
meio dos re
cursos verbo
viso
plástico
proxêmicos
utilizados na montagem
da propaganda, teve com
o
objetivo levar o consumidor a /querer/ e /dever/
adquirir os boneco
s pintores, visando a lucrabilidade
.
3.5 Análise semiótica da linguagem visual
Nosso corpus de análise apresentado por completo na página 121
(figura 55) será
aqui
composto de quatro elementos expressivos, contido
na
peça publicitária em questão. A metodologia daviliana
,
conforme os
apontamentos apresentados no capítulo anterior e elucidados neste, será
nosso referencial teórico-metodológico para concretizarmos essa ação na
manifesta
ção viso
plástica
proxêmica.
Volição
Querer ter Querer não ter
(já acostumados produtos (já acostumados com a concorrência)
Turma da Mônica)
Sx1
Sx2
Não querer não ter
Não querer ter
(cautela para adquirir)
(desprezo aos produtos Turma da Mônica
)
Sx3
Sx4
Não Volição
Figura 62
: Quadrado semiótico da volição
N
Í
V
E
L
D
O
S
E
G
R
E
D
O
N
Í
V
E
L
D
A
M
E
N
T
I
R
A
143
O Caráter proxêmico
A
Proxêmica é uma disciplina semiótica que
visa a analisar a disposição
dos sujeitos no espaço e, mais particularmente, o uso que os sujeitos fazem do
espaço para fins de significação”. (GREIMAS & COUR
TÉS, s/d: 359)
Na comunicação proxêmica, segundo o dicionário de semiótica (
s/d:
359)
,
de
Greimas & Courté
s,
consid
eramos
a existência de um espaço zero,
que segundo D’Ávila é o espaço a partir do qual se projeta a mensagem;
um
além a partir do risco traçado enunciado viso-
plástico
sobre o qual são
produzidos traços e formas em planos hierarquizados para a produção de
sentido.
Como podemos observar, toda a zona imagética de produção sensível-
tensiva
foi enquadrada, emoldurando o espaço zero (Figura 63), s
endo
representada por uma moldura de madeira na cor marrom-
castanho
contendo
friso de metal
amarelo
dourado, de formato retangular, que apesar de
bucólica, apresenta certo requinte. É dentro deste espaço, também chamado
de espaço neutro
74
no qual o texto foi projetado, ele compõe o EF (espaço de
fundo), onde toda a mensagem foi desenvolvida.
Fig
ura 63
: Moldura
E
0= espaço zero
neutro
E
F= espaço de fundo
74
Em alguns casos, quando sua manifestação em nada interfere nos planos que serão
dispostos so
bre ele
.
E0
EF
144
Todo enquadramento tem como espaço de fundo uma tela de pintura
branca, que serve de base para outros espaços situados em diferentes planos
da mensagem imagética.
Símbolos designativos do conteúdo da linguagem visual.
75
Formante Total (FT) = a totalidade escolhida como “texto” (nível da
expressão)
;
Formante
Parcial (FP) = a parcialidade textual que está sendo
examinada (expressão);
Formema total (ft) =
a totalidade textual
manifestada (nível do conteúdo);
Formema
parcial (fp) = a parcialidade textual manifestada, (nível do
conteúdo).
O mesmo que semema (em Greimas);
Formema
parcial int. (
fpi)
= formas m
anifestadas no interior do /fp/;
75
Os termos em
itálico
identificam neologismos criados por D’Ávila, sendo seguidos da
respectiva aplicação teórico
-
metodológica para a semiótica visual.
p1
p2
p3
p4
Figura 64
: Corpus visual
P1 = manchas
P2 = logotipo
P3 = boneco
P4 = embalagem
145
/p/ = planos no texto plástico; /p1/ = plano 1; /p2/ = plano 2; /p3/ = plano 3,
etc.
/e/ = espaços; /e1/ = espaço 1; /e2/ = espaço 2; /e3/ = espaço 3, preenchidos
por formas, inseridos nos planos.
/e1’/
= espaço1, com formas interiorizadas; /e2’/ = espaço 2, com formas
interiorizadas, etc.
Seguindo os pensamentos de D’Ávila
temos a pretensão de
demonstrar
:
(...) a existência de uma organização relacional, enquanto arcabouço
da totalidade da obra (texto) equiparada ao /ft/ (formema total) que
possibilita identificar a natureza dos objetos pintados cujos
dispositivos proxêmicos têm a finalidade: fazer saber/, /fazer
crer/
e fazer
fazer. (1999, p.1001
)
Estas modalidades representam a comunicação para Greimas como
processo. Complementando podemos dizer que a comunicação proxêmica
desenvolve
o significado social do espaço, ou seja, demonstra como o homem
(no nosso caso
-
o publicitário)
, produtor do texto,
estrutura o espaço. Seguindo
esse pressuposto, apresentaremos como foi composto nosso texto e como
aconteceu a organização de seus significados.
No p1, visualizamos manchas multicoloridas de tamanhos e formas
diversificadas, que absorvem espaços diversos hierarquizados, conforme nos
mostra a figura 65: do ao 12º espaços numerados. Estes destacam-
se
mais
precisamente no canto superior direito do observador. Nesse mesmo lado,
após as
mancha
s tem-se os
figuremas
, ou formas pregnantes” (gestalt)
denominadas figurais.
Surge no p2, o logotipo do fabrica
nte
, de formato elíptico, este, contudo,
é entrecortado por traços que mostram a composição variável (em movimento),
da
ndo a idéia de não estaticidade destacada pelas circularidades e semi-
circularidades diagonalizadas de colorema
azul.
Logo abaixo do p2,
aparece no p3
um boneco sentado (sexo masculino),
de bigodes, com seus braços abertos, sendo que parte do seu corpo está
saindo da tela, em projeção diagonalizada descendente à direita do observador
(toma
-me) “em situação de ganho (aos receptores destros) 85% da população”
(D’Ávila, 2003)
.
146
No
p4,
o produto embalado, ou seja, uma boneca pintora sentada com
uma aquarela no colo, dentro de uma embalagem de fundo branco, destacada
com elementos extremamente coloridos: algumas reproduções dos Q
uadrões
que se co
ntrapõem às manchas
coloridas (ao alto na lateral direita)
e o logotipo
dos Quadrões (no canto inferior direito). A caixa, por sua vez, também se
projeta para fora do quadro, à esquerda do observador. Os citados Quadrões
examinados como
figuradores
do
log
os,
remetem
-nos à enunciação reportada
ao texto em análise, sob condição verbal-imagética (semi-simbólica) como
embreagem actancial, espacial e temporal, em situação de inserção* ou
embricamento* (Greimas & Courtés s/d, p. 227-228), tecendo apelos
enunciat
ivos de ordem auto-promocional, de conformidade com o sujeito
produtor do texto verbo
-
imagético.
3.5.1
As etapas da reconstrução do sentido visual: Substância e Forma
da Expressão + Substância e Forma do Conteúdo
.
Como explicitamos anteriormente, esta te
oria
busca compreender o
percurso gerativo do sentido
visual
, onde o nível do conteúdo é extraído do
texto visual em substância e forma, sob o embasamento da FORMA da
expressão, ou seja, do sistema pictural gráfico-plástico que, por sua vez,
apresenta
-se codificando as substâncias físico-química e gráfica (em
processo), ordenando-as em sistema invariável para que possam ser
manifestadas. Conforme veremos a seguir:
Expressão (significante)
Substância
Forma
Físico
Feixes de traços
Ótico
distintos: forma d
e
Químico
um sistema gráfico
Gráfica
pictural
(variável)
(invariável)
Quadro 5: Substância e forma da expressão do nosso
corpus
147
Neste nível de análise, a expressão impõe a manifestação da
significação, comuns ao domínio do visual.
Então, acompanhando tais princípios, iniciaremos nossa análise pela
Substância do Conteúdo
, que
oferece
como proposta
três níveis de apreciação:
a) Presentificação, b) Representação e
c)
Re
-representação, as quais
apresentaremos a seguir
:
Substância do Conteúdo
Presenti
ficação
Figural 2
(classemático)
-
Simbólica e denotativa
Esta primeira etapa é empregada somente para arte abstrata e suas
variantes.
Ela é comparada ao nosso caso, nas manchas contidas no p
1,
uma
vez que estas não representam objetos próprios da nossa realidade embora
sugerindo
-
os,
usam as relações formais
dos
figuremas
entre cores e formas
aparentemente desconectas para compor a realidade da obra de uma maneira
não representacional. Por este simples fato, ela é um sistema simbólico
presentificado,
de
função denotativa, possuindo a capacidade de apres
entar
seu significado figural por meio da forma do
significante
= feixes de tracemas
organizados em sistema, ou seja, da figura como uma unidade auto-
suficiente
carregada de significados, mas sem histórias para contar, permitindo um jogo
infinito de combinações numa produtividade inédita de conformidade com
novas junções de classemas. A essa liberdade de expressão plástica, D’ Ávila
denomina de "figural 2 classemático básico"
(clas
-b) quando nos deparamos
com as formas de base primitivas (a circunferência, o triângulo e derivados)
denominados de “primitivos figurativos” que jungidas ao caráter aspectual
permitem detectar o ritmo dos
traço
s:
contínuo, descontínuo, não descontínuo
(misturado) e não contínu
o (s
incopado).
A pintura indica direção visual que leva o olhar do enunciatário
a
perceber o movimento descendente e ascendente diagonalizado das manchas.
Se observarmos atentamente, iremos verificar que elas ocupam
aproximadamente
um terço do EF, sendo demarcadas pela suposta figura de
148
um triângulo retângulo, que as manchas ocupam predominantemente
o
canto superior direito da tel
a.
Geometricamente falando, todo canto é constituído pela intersecção de
dois segmentos de retas (AB e BC), que formam um ângulo d
e 90°. Então, para
a efetivação concreta do triângulo mencionado, somente estaria faltando o
segmento AC, o qual completaria visualmente o espaço ocupado pela
figuralidade
. Nesse caso, esse segmento existe se imaginarmos a linha aérea
que limita o espaço ocupado pelas manchas (figura 55). A esta
complementaridade, a teoria denomina de “projeção paradigmática da
triangularidade, espacializada e circunscrita” (D’Ávila, 2003, p. 154) observada
como continuidade projetiva do lado inferior direito da caixa da bo
neca.
Figura 65
: Espacialização das manchas
Figura 66
Manchas diagonalizadas/
espaço/pseudo
-
movimentos
Div
idindo este triângulo em duas partes exatamente iguais pelo vértice
B, o qual leva ao eixo central da hipotenusa (a), entenderemos os referidos
movimentos. Na oscilação descendente, de cima para baixo, as manchas se
projetam no espaço, surgindo da base su
perior,
gerando
a impressão
de
que
as mesmas são empurradas para o eixo central desse espaço. Na ascendente,
as manchas aparecem da lateral direita e são levadas para o mesmo eixo,
subentendendo um encontro dos dois grupos.
Os
movimentos representam velocidade, uma forma física,
mostrando
um pseudo
-
dinamismo,
o interessante é
que
esse movimento inter-
relaciona
-
se
e2
e3
e4
e5
e5’
e6
e7
e7’
e8
e9
e10
e11
e12
C
e1
a
A
B
149
com todos
os
formantes
plásticos que
se
organizam no plano da expressão em
sistema (ou forma da expressão).
O
s
formantes
plásticos que organizam toda a pintura em questão
surgem
como
formemas
parciais internos (fpi), em ritmo assimétrico e
fazem
com que as
manchas
ou
figuremas presentificados reverberem-se sobre um
fundo branco, rodeadas por formas não pensáveis ou transmissíveis pela
discursividad
e contida na memória visual e instáveis na alteridade perceptiva,
contendo traços
descontínuos e não descontínuos (figura 66
).
uma diversidade de formemas, coloremas,
texturemas,
larguremas e
extensuremas
, responsáveis pelo realce e diferenciação das d
ezoitos tachas.
A mancha de
colorema
verde
formada por curvas irregulares, de
trac
emas
rápidos e descontínuos, apresenta certas reentrâncias côncavas na
parte superior e convexa na superior que expande-se na zona dimensionada,
alargando com desproporcionalidade sob forma de
extensurema.
Outras
manchas pequenas aparecem próximas a esta formando rimas plásticas por
metamorfose de redução e por pertencerem ao mesmo paradigma poético da
cor
. Pela disposição das mesmas, elas sugerem pontos de intersecção da
figura de um triângulo (figura
66
). Por último, seguindo um movimento
descendente,
a posição exata do eixo central - linha aérea que divide o espaço
em duas partes, uma outra mancha verde de dimensão média é interligada
c
om outras três manchas de
coloremas
díspares
-
azul
, rosa e laranja
.
A da cor roxa expande-
se
, alargando desordenadamente, sob forma de
largurema
de 1/5 da espacialidade da área da figura em análise, tendo uma
cavidade central superior (côncava) e várias convexas (na lateral e parte
inferior
)
também um afunilamento no seu eixo central inferior.
Encontramos quatro manchas de cromema azul claro, a maior delas
aparece na lateral direita, de tamanho pequeno formando uma bifurcação,
dando a imp
ressão de que a mesma divide
-
se em duas partes.
As
outras três
manchas
são bem pequenas da classe de
figuremas
,
assemelhando
-se àquelas gotículas de tintas que escorrem durante a pintura.
Pela posição, elas também sugerem pontos de encontro da figura de um
triângulo (figura 67
). Nesse caso, temos rimas pl
ásticas
.
Observamos
duas manchas coloridas de rosa, uma bem pequena, que
parece invadir o espaço da mancha verde (a maior) e outra de tamanho médio
150
conectada com mais quatro manchas. A menor, por sua vez, reforça a idéia de
que as manchas tênues foram dispostas para causar realmente esse diálogo
triangular. Nota
-
se também aqui rimas plásticas.
Figura 67
: manchas gotículas/ triângulos/ projeção paradigmática
Percebemos
a mancha alaranjada de tamanho médio, acoplada à
mancha de
colorema
amarelo
também de tamanho médio. A mistura destes
dois
coloremas
entre
si poderia resultar na mancha em
co
lo
rema salmão, que
s
urge interligada à mancha de colorema amarelo
.
Outra observação, referente às manchas tênues, é
que
o
colorema
rosa
estabelece relação com o
colorema
azul, na medida em que as mesmas são
interligadas por uma suposta linha diagonal, é o que acontece também com as
manchas verdes em relação à azul. Como podemos perceber, as duas linhas
seguem lado a lado numa perspectiva linear, cujo prolongamento revela
a
localização do ponto de fuga que provavelmente seria fora da tela,
ocasionando uma projeção paradigmática da triangularidade (figura 67), pela
qualidade dos
densiremas
e quantidades desses.
As duas últimas manchas, tanto a azul celeste
quanto
a lilás, estão em
movimento ascendente; a primeira direcionada ao canto superior esquerdo
(diagonalizada)
e a segunda indicando o canto superior direito
(verticalizado)
(figura 68).
151
Figura
68
: Cromatismo
diagonalizado e verticalizado
um predomínio de
coloremas
frio
s (verde, azul e roxo) nas manchas
posicionadas na base superior da tela. Já, as manchas dispostas na lateral
direita
apr
esentam uma dominância de
coloremas
quentes (laranja, amarelo e
rosa). Essas cores são lisas, chapadas
.
Entre os formantes cromáticos - azul/ frio e laranja/ quente,
encontram
-
se
uma das oposições semânticas: o
colorema
azul é um
color
ema primário,
o laranja é um
colorema
secundário
. Também elas são consideradas cores
complementares, por estarem em posição opostas no círculo das cores. O
mesmo acontece com o amarelo (colorema primário e quente) e o roxo
(colorema secundário e frio). Visualizamos os opostos - vazio e cheio, que
seriam as manchas pintadas (cheio) e os espaços instaurados entre uma
mancha e outra. Esses espaços, por sua vez, dialogam-se entre si tornando os
espaços brancos cheios de significados, os quais serão analisados no nível da
re
-
re
presentação.
Substância do Conteúdo (conotativa)
Representação -
Figurador
I “do
logos
Nesta etapa analisaremos a substância do conteúdo na representação
semi
-simbólica do
Figurador
I
do logos, onde aquilo que cada imagem
representa
verbalmente é retratada com fidelidade ao figurativo, com seus
152
efeitos de sentido inerentes ao objeto com correspondência no mundo natural.
Em outras palavras, podemos dizer que o texto visual é ancorado pelo verbal,
pois o verbal explica o que se passa n
o visual.
No nosso caso, a análise será realizada na qualidade de texto
como
Formante
Total/FT, porém em análise qualificado
formema
total =/ft/.
Todo o texto visual foi organizado dentro de uma moldura retangular de
madeira de cor marrom-castanho, onde podemos visualizar delicados
arabescos delineados de marrom escuro, com acabamento de friso cromado
dourado
. Uma tela branca de pintura aparece interiorizada nessa moldura,
onde estão dispostos os elementos: as manchas, a embalag
em,
logotipo do
pro
duto e o
boneco pintor.
As manchas são multicoloridas, evidenciadas pelas cores frias e
quentes, de tamanhos e formas inusitadas
,
destacam
-se mais precisamente no
canto superior direito do observador. As manchas de
cromema
azul
-
claro
posicionadas próximas a essa lateral, interrelacionam-se com outros objetos;
uma sobrepõe-se ao logotipo e a outra encontra-se justaposta à boina do
boneco.
O referido logotipo trata-se de um imagético ilustrado de colorema azul.
Possui formato elíptico de fundo branco com contornos coloridos de azul
entrecortado por traços que mostram a composição variável
,
dando a idéia de
pseudo
-
dinamismo,
destacado
pelas
circularidades e semi-
circularidades
diagonalizadas
ascendente
s
e descendente
s.
O boneco, por sua vez, mostra-se sentado muito próximo à base inferior
(lateral direita), de bigodes, imponente e de braços abertos, com aspecto de
felicidade e de realização, indicado por meio de seu sorriso (boca aberta),
sendo que parte do seu corpo está saindo da tela, em projeção diagonalizada à
dir
eita do observador, num espaço aberto e aparentemente iluminado, usando
objetos e acessórios típicos dos grandes mestres da pintura: boina, avental e
pale
ta (aquarela). A boina possui coloremas primários: amarelo e azul
(numa
maior proporção um terço). Suas vestes são brancas - macacão e avental,
onde podemos perceber a presença de manchas coloridas. No bolso d
o
avental, visualizamos uma bisnaga de tinta e dois lápis de cor. Os pés do
boneco são revestidos por um tecido azul do mesmo
cromema
e
texturema
utilizado na boina. Apoiada sobre sua perna direita e na inclinância de seu
153
bra
ço direito, aparece uma aquarela
semi
-inclinada (projeção diagonalizada à
direita do observador), contendo um pincel de cerdas marcadas de tinta azu
l.
No centro da aquarela, outro logotipo, que se contrapõe a seu orifício. Suas
pastilhas mostram-
se
todas usadas, pois apresentam-se borradas, sendo que
de um lado estão os
coloremas
quentes e do outro os frio
s.
Simulando um enquadramento da figura contida no p3, vemos uma
posição
contrá
ria a da figura que oc
upa o p
4, obtendo assim, uma projeção por
extrapolação da forma (figura
69
).
Muitos elementos expressivos estão reunidos na embalagem que
contém o produto (boneca pintora). Como o boneco, a caixa também se projeta
para fora do quadro, que agora diagonalmente à esquerda do observador.
A
embalagem é uma caixa branca contendo uma abertura
e dentro dela está uma
boneca pintora sentada, de postura cabisbaixa. Na base interna superior da
embalagem percebe-
se
efeitos de luz e sombra, onde é organizado o
formante
parcial,
a cabeça da boneca, não sendo possível identificá-la como um todo,
pois a superfície interna da caixa é um ambiente escuro, sem luz; ao menos
discernimos que ela usa boina vermelho rubro
e preto
.
Figura 69
:
Extrapolação da forma
O rosto da boneca apresenta-se iluminado, em que podemos notar
gestuemas
de humildade e delicadeza. Seus trajes são brancos, contendo
manchas multicoloridas. Apoiada sobre seu direito, surge uma aquarela em
154
inclinância à lateral direita, contendo um pincel e mostrando no seu eixo central
outro logotipo
sobreposto a um orifício.
Visualizamos somente três de suas pastilhas de
coloremas
amar
elo,
laranja e rosa (cores quentes), as mesmas estão intactas, sem uso.
Pela
repetição da circularidade das pastilhas, percebemos uma projeção
sintagmática da forma. Rimas plásticas formam-se entre a circularidade das
pastilhas, assim como entre os olhos dos bonecos
.
Na base externa superior da caixa, exatamente no canto esquerdo,
aparece o quarto logotipo do fabricante, tendo aproximadamente a metade do
tamanho do que aparece no espaço externo da caixa e o dobro dos outros dois
contidos nas aquarelas.
Nesse caso, o olhar tenta recompor os figurais classemáticos da
triangularidade, a partir dos logotipos constantes do
formante
total (FT). O
ponto da incidência para a reconstrução do olhar é a letra i do logotipo
(Multibrink). Temos
,
então, uma extrapolação da forma triangular (figura
70
).
Figura
70
: Logo
tipos/:
eqü
ilátero e isóscele Figura
71
: Pirâmide de base quadrada
As linhas verdes representam um triângulo eqüilátero e as linhas laranja
formam um triângulo isóscele. Invertendo todo o texto, veremos a pres
suposta
figura de uma pirâmide de base retangular, para isso basta acompanharmos
os
traços pontilhados (figura 71
).
155
A abertura dessa caixa (parte vazada que aparece a boneca) é toda
torneada com fios entrelaçados entre si nos
coloremas
primários
azul, amarelo
e vermelho, sob esses fios na lateral direita e na base inferior, sob um ângulo
de 90°
surge
m manchas coloridas de diversos tamanhos e formas, enfatizando
novamente os
co
loremas
quentes (amarelo e vermelho) que ocupam o centro
desse espaço, os coloremas frios (azul, verde e roxo) aparecem duas
extremidades.
Entre
os muitos emaranhados de fios e sob as manchas, na lateral
direita do observador, destacamos a presença de um losango amarelo do
mesmo cromema
que o fio e dentro dele nota-se o desenho de uma aquarela,
pincel
e uma folha de papel em branco. Logo abaixo, na base inferior (canto
direto) sobre as manchas azul escuro e vermelho, o logotipo das Histórias em
Quadrõe
s, tendo como símbolos uma paleta/aquarela,
que
ao invés de
pastilhas coloridas contêm manchas. Sob a lateral esquerda da caixa,
especificamente, em toda a extensão esquerda da abertura
encontram
-se três
representações de quadros (sentido vertical). A primeira obra está pro
jetada
diagonalizada à esquerda e apresenta uma pessoa do sexo feminino (já
analisada
). Logo abaixo, outro quadro pintado no sentido horizontal seguindo a
mesma projeção, onde podemos notar duas pessoas de sexo oposto
;
o últi
mo,
pintado no sentido vertical (como o primeiro), mostra a figura de um menino,
sendo este, inclinado à direita.
Segundo D’Ávila, nessa categoria
,
o ângulo, a linha reta, as curvas, o
ponto
são elementos que aparentemente desprovidos de qualquer significado,
contêm valor diferencial na composição dos
figuremas
, ou seja, na
present
ific
ação dos semas classificatórios das figuras, logo, dos figurais
cla
ssemáticos. Pelo simples fato de que
sentido denotativo é empregado sem a
representação
verbal.
Percebemos na figura 72, que o texto foi dividido em duas partes
assimétricas. A linha diagonal que delimita as manchas presentificadas,
juntamente com o canto esquerdo da tela, forma um triângulo retângulo,
este
ocupa 1/3 da dimensão do trapézio retângulo formado na base inferior. Ess
a
linha
, por sinal, reparte transversalmente o logotipo em duas partes
semelhantes. Verificamos a divisão em quatro partes iguais, realizadas pelas
linhas pontilhadas
vertical e horizontal,
formando quatro retângulos simétricos.
156
A linha vertical,
que
determina os dois retângulos posicionados na base
superior é intersectada pela linha diagonal, dividindo-a em duas partes
similares. Todo esse entrecruzamento de linhas constitui miniaturas em
duplicidade das duas figuras em questão: o triângulo retângulo e o trapézio.
Prontamente, produzem, assim, uma rima plástica invertida e complexa
(figura
73), quanto aos triângulos-retângulos encontrados nas duas extremidades
(canto superior esquerdo do observador para o canto inferior direito do
observador)
, convergindo entre ambos. Dois
retân
gulos formados na base
inferior:
o da direita do observador delimita o espaço do boneco e o da
esquerda
enquadra
,
quase em sua totalidade, a caixa do produto
.
Enfatizamos
, também que a citada linha horizontal interliga os
doi
s
logotipos, os quais se encontram em posições opostas, mas seguindo uma
mesma direção, ou seja,
o centro, ainda que pelas laterais
.
Figura
72
: simetria
Figu
ra 73
: Rimas plásticas
Figura 74
: Espaços: figurai
s
/figurativos
Percebemos na figura 74 que o espaço englobado pelos figurais forma
exatamente a figura de um triângulo retângulo e o espaço englobado pelo
figurativo delimita a figura de um trapézio, ou seja, as mesmas figuras
destacadas na base superior (figura 73), logicamente em maior proporção.
Obviamente, percebemos que a composição
viso
-espacial articulou
meticulosamente seus significados, ao mesmo tempo em que criou uma
narrativa em completa relação com a forma, enfatizando o caráter
manipulatório das relações
.
157
Primeiramente, nosso olhar foi conduzido a percorrer, diagonalmente, a
base superior esquerda, em direção à lateral direita, dirigindo-se ao espaço
ocupado pelo boneco que conduz à caixa, dirigindo-
se
novamente para o alto,
no
canto superior direito
.
Figura
75
: percurso do olhar
As oposições semânticas
HOMEM
/PINTOR/ BONECO
X
MULHER /PINTORA/ BONECA
Espaço aberto
Espaço fech
ado
Boina azul e amarelo
Boina vermelha e preta
À direita
À esquerda
Espaço areado com figuremas
Espaço condicionado de figurativos
Fora do enquadramento espacial
aberto em ascendência
Fora do enquadramento espacial fechado
em descendência
Bra
ços abertos em exaltação
Braços escondidos em recolhimento
Postura imponente
Postura cabisbaixa
Ambiente claro
Ambiente escuro
Quadro 6:
Das oposições semânticas
158
No nível dessas estruturas fundamentais, percebem-se rias oposições
semânticas
(duas palavras que pressupõe a existência da outra). Assim
acontece nos pares: direita x esquerda; cores frias x cores quentes; homem x
mulher; dentro x fora; luz x sombra; aberto x fechado; usado x sem uso;
horizontal x vertical; vazado x compacta; cromático x acromático; espaço cheio
x espaço vazio; côncavo x convexo.
Re
-r
epresentação
Figurador II “do
mytho
s
Nesta etapa, a representação dos objetos é acrescida da subjetividade
interpretativa fundada na criatividade do analista que segundo D’Ávila,
as
imagens são re-representadas em histórias narradas, ficcionais ou de
criatividade ilimitada.
Tendo como base os elementos expressivos apresentados na etapa
anterior, podemos constatar a efetiva relação entre a informação, o lazer e a
arte.
É visível a representatividade de períodos artísticos, marcados pela
Históri
a da Arte universal, assim como artistas e suas obras, compreendidas
desde o antigo Egito até o período contemporâneo.
Obedecendo à cronologia da história da arte, percebemos que uma
supost
a pirâmide foi projetada pela extrapolação da forma triangular,
remetendo
-
nos
a figura de uma pirâmide de base retangular, semelhante à
pirâmide de Miquerinos, com certeza uma das mais célebres do mundo,
pertencente a IV dinastia, construída pelos antigos faraós do Egito, com intuito
de causar permanência e estabilidade.
Continuando com a manifestação da arte da antiguidade, encontramos
na moldura da tela
do anúncio em questão
delicados arabescos, um ornamento
de origem árabe, presente na arte mourisca/ islâmica, que se expressa de uma
forma decorativa não - figurativa, marcada pela simetria, beleza, perfeição,
organização e também
pela inteligência abstrata dos homens do deserto.
Em seguida, a obra parodiada Mônica Lisa, fazendo alusão à famosa
obra de Mona Lisa, do grande gênio da pintura renascentista Leonardo da
Vinci. O marco deste período pode ser entendido como a valorização do
159
homem e da natureza, em oposição ao divino e ao sobrenatural, conceitos que
haviam impregnado a cultura da Idade Média.
O quadro
Magali fritando ovos pra ela, uma menção a obra A velha
fritando ovos, do pintor barroco Diego Velásquez, que contrariamente à arte do
Renascimento, pregava o predomínio da razão sobre os sentimentos. No
Barroco uma exaltação dos sentimentos, procurando envolver
emocionalmente as pessoas.
O pintor precursor do movimento impressionista Edouard Manet
também
é referenciado. Sua obra, O Tocador de Pífaro foi parodiada pela figura de
Cebolinha Tocador de Pífaro. O marco desse período é a vida quotid
iana,
tratada de forma simples e clara, despida da exaltação e personificação
fantasiosas.
As referidas obras parodiadas aparecem na caixa da embalagem e
oferecem um encurtamento da
distâ
ncia entre o passado e o presente,
mostrando o passado
revestido co
m uma nova roupagem.
Todo
corpus
visual está carregado de significados, inclusive o boneco
projeta
do fora da caixa é destacado pelos bigodes. Por sinal, é um bigode
muito peculiar, assim como seu cabelo, produzindo efeitos de sentido do
mestre da pintura surrealista Salvador Dali, que buscava a total liberdade de
imaginação e a exaltação do imaginário, tendo como musa inspiradora Gal
a,
esposa de um poeta do grupo que viria a ser a sua companheira por toda a
vida, rebatendo a idéia pejorativa de que arte é coisa de mulher ou de
homossexual. Todas essas informações são altamente manipuladoras
e
preconceituosas,
destinadas
a empanar o brilho do dom artístico, da
sensibilidade humana.
As manchas multicoloridas, que surgem predominantemente no lado
superior direito, são tachas criadas impulsivamente com toda a liberdade ou
efusão emocional do artista. Essas características igualmente abstratas e
expressionistas, designadas por Arte Informal,
são
tendência
s
encontrada
s
no
Tachismo (do francês tache, mancha), uma pintura sem formas, sem quaisquer
referências figurativas ou geométricas. Porém, em nosso
corpus
especificament
e, em se tratando do figurador II
do
mythos,
temos a
permissividade criativa da descoberta ou redescoberta de imagens ou figuras
160
apreendidas no visualizar as manchas, expostas na zona superior da obra,
canto direito do observador.
Considerando a riqueza de informações contidas nessas manchas,
apresentaremos duas leituras interpretativas, considerando, como foi dito, a
subjetividade do analista. Na primeira, estabelecemos a relação das manchas
com a vontade do enunciador de divulgar sua mensagem, tendo como meta
atingir um público maior de leitores, ou seja, propagar seu produto numa
dimensão que ultrapasse o âmbito do território nacional.
Pa
ra reforçar estas palavras, observaremos as figuras abaixo
relacionadas, que nos levam a perceber essa intencionalidade, ou seja,
conquistar consumidores não somente na América do Sul, como também
adentrar em todo continente americano.
Figura 76
: Traços
manchas
Figura: 77
: Mapa das Américas
A segunda leitura diz respeito ao universo onírico, ao imaginário infantil,
é possível notarmos a representação de vários animais, onde as
apreensões
serão, assim, descritas:
Figura 78
: Formato origi
nal Figura 79
: Dragão
Se invertermos a figura
78
, horizontalmente no sentido horário, a mesma
condensa indícios, nos reportando a imagem de um dragão, que para os
orientais
é sinal de felicidade (figura 79
).
161
Figura 80
: Morcego
Esta
mancha nos remete a imagem de um morcego, com suas asas
abertas, como se estivesse em pleno vôo
.
Figura 81
: Caracol
Figura 82
: Gato
Na posição original da mancha, representada pela figura 81, temos a
impressão de visualizar uma lesma, degustando uma folha. Se girarmos esta
mancha no sentido horário, iremos perceber a silhueta de um felino, um gato
Persa, charmoso e peludo, sentado e virado de costas, como se estivesse
parado para um leve descanso.
Figura 83
: Galo
Um galo, que parece muito faminto, surge
den
tre os espaços vazios das
manchas.
Por detrás de muitas manchas (entre vazios) encontra-se escondido um
coelhinho, que nos remete de imediato ao coelhinho de pelúcia azul usado pela
personagem Mônica das histórias em quadrinhos, que por sinal não fica
parado, dando-nos a impressão de que ele deu um grande salto (figura 86);
mais a diante podemos até ve
r sua pegada (figura 87).
162
Figura 84
: Co
elho da Mônica Figura 85
: Interferência do analista
Figura 86
: pata do coel
ho Figura 87
: Pegada
Observa
mos
aqui a intenção do enunciador, que mesmo utilizando
figurais pretendeu a todo o momento deixar os sinais da marca do produto.
Esse descobrir e explorar formas reproduz uma situação real do mundo
em que vivemos extrapolando as condições materiais reais com a ajuda do
aspecto imaginativo, fazendo emergir muitos sentidos.
Poderíamos ficar horas analisando este texto, mas as considerações
prescritas acima foram suficientes para mensurar as manchas, as quais v
em
carregadas de significados culturais, emocionais, sociais,
estéticos
e
econômicos. Promovendo a tríade lucrabilidade, a ludicidade e transição, onde
percebemos claramente a vontade do enunciador em demonstrar para o
mundo que os produtos Turma da Mônica não somente levam alegria,
diversão, mas também carregam consigo o conhecimento e cultura,
conseqüentemente a arte.
Forma do Conteúdo
(nível superficial)
163
Nesta etapa, todos os elementos
visuai
s contidos no texto partem
do
formema
total
(ft)
= a totalidade textual manifestada, para o
formema
par
cial
(fp)
= a parcialidade textual manifestada. A posteriori são
enfati
zados
todos os
formemas
contidos na imagem e, para organizar esse processo, utilizaremos o
patamar das estruturas discursivas criado por D’ Ávila.
Devido à riqueza de elementos expressivos contidos no
corpus
em
questão, escolhemos o boneco (P3, contido no FT) para efetivarmos esta
proposta.
Primeiramente, ressaltaremos que o FT “boneco” foi totalm
ente
projetado, tendo como base sete linhas diagonais paralelas, duas a duas,
sendo que cada par de linhas corresponde a um formante parcial (FP) ou
formema
parcial interno (fpi): 1- base superior da boina (FP); 2- área dos olhos
(fpi); 3- dedos (FP); 4- mãos (FP); 5-
bolso
do avental (fpi) e 6- pés (FP) (figura
77
).
Figura 88
: P
rojeção Boneco
No que se refere ao
ft,
podemos observar que o caráter esférico foi
dominante, sendo que o formato curvilíneo determinou a existência do plano
figural nuclear da esferoidicidade, contendo várias circunferências, formas
ovaladas, e poucas f
orm
as retilíneas, onde a isotopia circularidade
foi
redundante na reiteração de categorias sêmicas dos
tracemas
(figura 89
).
1
2
3
4
5
6
7
164
Figura 89
:
esferoidicidade
Figura 90
: Ponto de incidência
Encontramos pontos importantes os quais desencadeiam traços
categóricos. Seguindo as marcas deixadas na boina do boneco, encontram
os
uma suposta figura hexagonal, que envolve toda a estrutura da cabeça. As
linhas que
dividem ess
a figu
ra têm como ponto de incidência
a á
rea central dos
olhos (figura 90). Essa linha aérea é responsável pela divisão da estrutura
corpórea do boneco no sentido vertical, levemente diagonalizado da direita
para a esquerda, passando pelo nariz, pela boca e finalizando no avental que
reveste seu corpo.
Reporta
ndo
-
nos
ao refe
rido ponto de encontro, o mesmo serviu de apoio
na construção da suposta semi-circunferência, a qual dimensionou os braço
s
do boneco, determinando assim uma inclinância exatamente perfeita, pois
mensurando a linha horizontal que entrecruza a citada linha vertical,
averiguamos que a extensão ocupada, tanto para o braço direito quanto para o
braço esquerdo, é precisamente igual, considerando que ambos foram
enfocados sob duas diferentes configurações. A semi-
circunferência
determin
ou o limite do bolso do avental, ou seja, a base inferior que por sinal
também é uma semi
-
circunferência.
Como acontecem com as formas curvilíneas, as retilíneas estabelecem
conexões entre si; o dedo da mão esquerda do observador, representado aqui
pela figura de um triângulo (visto de perfil), interliga-se com o dedo da mão
165
direita
mostrado pelo desenho de um losango (visão frontal) por linhas
diagonais paralelas.
Figura 91: Entre
cruzamento de linhas
Ess
a
figura que acabamos de apresentar demonstra a realização
dos
primitivos figurativos (triângulo e circunferência) num espaço dominado pela
isotopia da
circularidade
,
sob o sema nuclear da
esferoidicidade.
Partindo dos dedos foram traçadas duas linhas transversais, uma em
sentido oposto da outra, as quais seguem como destino os cantos do avental,
ocasionando um entrecruzamento, o qual serviu de apoio para demarcar a
abertura do bolso do avental, as
sim como sua altura. (figura 92
).
Figura 92
: Ponto O/ eixo central
Figura 93
:
Figura projetada
Complementando
as informações acima, o ponto O que se formou no
eixo central inferior do avental, conduziu os segmentos os quais originaram os
A
B
C
D
O
166
pontos A, B, C e D que determinaram a mencionada forma da boina do
boneco (figura 92). Analisando estes segmentos, sem a imagem a que se
refere, vemos claramente a projeção de uma pirâmide hexagonal de base
invertida, tendo como vértice o ponto O.
No
formante
parcial (fp) ‘cabeça’, a circularidade está presente de várias
maneiras, como podemos verificar nas figuras 94, 95 e 96. Basi
camente,
percebemos na figura 94 que a circunferência, representada aqui pela cor
laranja e a forma ovóide (cor lilás), serviu de estrutura para a constituição
sêmica do rosto. Já
, as de
cor verde, definem as bochechas
.
Na figura 95, constatamos que as formas circulares serviram de alicerce
na demarcação da superfície côncava (base superior) e da superfície convexa
(base inferior), presentes na região central dos olhos.
Figura
94
: Forma circula
res/
Figura 95
: Forma circular
Figura 96: As linhas:
ovóide
vertical e horizontal
A circunferência traçada na base superior organizou o espaçamento
entre
os fios de cabelos. A forma ovóide da base inferior limitou os traços da
boca e do nariz. Essas reentrâncias dos olhos, interligada com o ponto que se
forma entre a repartição dos fios de cabelos (lado direito lado esquerdo),
dividem verticalmente o formante ‘cabeça’ em duas partes (figura 96), que
associando à linha horizontal, salientada pelas bochechas, repartem este
formante em quatro partes pelo sentido diagonal.
A aquarela disposta no colo do boneco é outro
formante
parcial,
contendo
formemas
ricos
e expressivos. Tem formato elíptico e encontra-
se
ligeiramente inclinada, tendo seu traço interrompido pelo do boneco. Esta
contém cinco pastilhas de formas circulares, sendo que na de cor bege não é
possível perceber seu formato, vemos apenas uma mancha contendo sobre si
as cerdas de um pincel. As pastilhas indicam uma trajetória circular, numa
167
repetição seqüencial da forma, ocorrendo então uma projeção sintagmáti
ca
pela distribuição das formas em rimas plásticas.
Figura 97
:
Primitivos
Figura 98
: Lin
has Figura 99
: simetria
figurativos
paralelas /assimetria
No cerne da aquarela encon
tra
-se o desenho de um logotipo
também
de
formato elíptico, sendo ele
responsáv
el pela divisão do objeto em oito
partes
aparentemente iguais, ou seja, o mencionado logotipo é o centro por onde
cruzam todos os segmentos que organizam o
espaço
. Tomando como
indicador as linhas tracejadas, podemos dizer que estas repartem o citado
objeto em: lateral direita e lateral esquerda, base superior e inferior. A que
corresponde à lateral esquerda (projetada para dentro)
encontra
-se em perfeita
simetria,
pois todas as pastilhas que ocupam esse lado estão interligadas
diretamente pelos segmentos formados (figura 99). Isso não ocorre
com
a
lateral oposta (lado de fora); nesse lado vemos uma pastilha em sua totalidade,
a parcialidade de outra, uma seqüência anulada da forma, ou seja, espaço em
branco, sem nenhuma figura e uma forma ovóide vazada com interrompimento
de traço.
FIGURATIVIDADE = FIGURAL + FIGURATIVO
A proxêmica
Quadrado semiótico da fusão entre espacialidade temporalizada (Visual)
76
e da tempo
ralidade espacializada (Verbal)
(figura 100)
76
D’ÁVILA, N. R. Conforme capítulo sobre Ritmo e Aspectualidade (2003c, p.).
168
FIGURAL
N
Í
V
E
L
D
O
S
E
G
R
E
D
O
FIGURALIDADE
Figura 100: Quadrado semiótico da espacialidade
Tendo em vista que todo o processo de comunicação, segundo Greimas,
fundamenta
-se no /crer/ do enunciatário sobre a veridicção da mensagem
oferecida
pelo enunciador, devendo ser sancionada, conforme D’Ávila (2005),
para que a comunicação recebida
(fazer informativo) transforme-se em
comunicação assumida
(fazer factitivo) geradora de feed-backs, o quadrado
semiótico aqui apresentado está do mesmo modo fundamentado no qu
adrado
semiótico da veridicção.
VERIDICÇÃO
VERDADEIRO
SER
PARECER
NÃO PARECER
NÃO SER
FALSO
Figura 101: Quadrado da Veridicção
Figurais nucleares da
circularidade nas letras =
Grafia Verbal + Branco
(Colorema vazio)
Figurais clas
-
b
classemático
Cores misturadas e
volumes
N
Í
V
E
L
D
A
M
E
N
T
I
R
A
Espaço figurativo
englobado
B
com
saturemas* em
cores e formas
contendo verbal e
não
-
verbal.
A
Delimitador de
espaços
figurativos A e B
Clas
-
c = metamorfo
se e
=
CAMUFLAGEM do
Figurador I, do
logos
A caixa toda.
Camuflagem do
Figurador II, do
mythos
169
Nas categorias semânticas situadas no plano do ser e do parecer,
assumidas pelo eixo semântico do “verdadeiro”,
posicionamos,
no parâmetro
do
ser
, na dêixis positiva do q
uadrado
- à esquerda e ao
alto,
os f
igurais
nucleares da circularidade observados no nível da essência do aglomerado de
letras que compõe a comunicação verbal, examinado pelo prisma visual
(formato ou natureza dos tracemas com os quais as letras se vestem). A esses
figurais nucleares soma-se o espaço vazio em colorema branco, observado
como ‘figura de fundo’, plano ou espaço zero sobre o qual a mensagem verbal
foi elaborada.
No parâmetro do
parecer
posicionamos os figurais classemáticos (clas-
b) observados no plano 1 sobre o fundo de colorema branco, sob forma de
tracemas no ritmo assimétrico + simétrico (mistura a + s) compondo figuremas*
vestidos de coloremas* e densiremas* variados. Sobre esse espaço avolumam
-
se grafemas de diferentes coloremas*, densiremas*, larguremas* e
extens
uremas*, cujas isotopias colhidas do formato das letras de estilo
misturado
denotam
isotopias da circularidade (em mônica e
Baby
), da
triangularidade, retilineidade* e diagonalidade (TURMA DA).
No
Não ser, observamos no espaço AB a totalidade da caixa do
brinquedo. Nela, a presença da
sincopa
77
surge (conforme D’Ávila, 2003c,
p.153
)
desorganizando
esse espaço no qual a história dos Quadrões é contada
no exterior da caixa (espaço A englobante),
projetando
-
se
ao espaço figurativo
englobado
B,
o do brinquedo no interior da caixa fechada. Nesse espaço
condensam
-
se
os questionamentos do olhar circuland
o entre os percursos de A
a B, buscando identidades de imagens ou de tracemas, com saturemas* em
cores e formas fundindo verbal e não-verbal. Esta instância favorece a
camuflagem do Figurador II, do
mythos
, nas embreagens/debreagens, entre
presente e passado, real e ficção. Pelas isotopias da Arte e da Similitude
(tracemas idênticos = Maurício de Sousa), o olhar do enunciatário deverá
expandir
-
se
do espaço B ao A,
re
organizando
a totalidade narrativa AB.
No parâmetro do Não Parecer, zona da camuflagem em todos os
quadrados semióticos, posicionamos o figural clas-c, cujos classemas-
comuns
à nova figura (ou imagem) que está sendo projetada é o da circularidade. Com
77
5ª dimen
são: desorganização, projeção, condensação, expansão e reorganização.
170
a posição e orientação dos primitivos figurativos na remontagem da imagem
“boneco”, uma totalidade figurativa sobre fundo de colorema branco que
no
nível do segredo poderá assumir seu arcabouço como figural nuclear da
esferoidicidade*. na dêixis da mentira, seria impossível um figurador II do
mythos transformar
-
se em classemático b.
Desse modo, segundo D’Ávila (2007 **), “a efetivação do caráter
proxêmico promulga-o como sustentáculo da FIGURATIVIDADE na linguagem
visual
”.
171
IV
O P
APEL DA HISTÓRIA EM QUADRINHOS NO PROCESSO
ENSINO
-
APRENDIZAGEM
4.1 Em busca de respostas
Este trabalho surgiu de inquietações provindas do baixo rendimento
escolar apresentados pelos alunos, tanto do ensino fundamental quanto do
médio, frente ao
processo de leitura e escrita, já salientados em nosso intróito.
Com a finalidade de reverter essa triste realidade, iniciamos uma
incansável busca. Primeiramente, encontramos os dizeres de Paulo Freire:
Em lugar de comunicar
-
se, o educador faz “comunic
ados” e depósitos
que os educandos, meras incidências, recebem pacientemente,
memorizam e repetem. Eis a concepção “bancária” da educação,
em que a única margem de ação que se oferece aos educandos é a
de receberem os depósitos, guardá
-
los e arquivá
-
los
.
(1978, p.58).
Refletindo sobre tais apontamentos, podemos dizer que Freire repudia a
concepção de educação que os educandos como vasilhas a serem
preenchidas. Para ele a comunicação é fundamental na relação professor-
aluno, assim como a inter-
relaç
ão entre os elementos comunicacionais no
processo de ensino
-
aprendizagem:
(...) o educador já não é mais o que apenas educa, mas o que
enquanto educa, é educado, em diálogo com o educando que, ao ser
educado, também educa. (...) Os homens se educam em com
unhão,
mediatizados pelo mundo.
(FREIRE, 1978, p. 78-
79).
172
Considerando as palavras de Paulo Freire, percebemos que existe uma
fusão entre seu legado e os princípios da Educomunicação de Geneviève
Jacquiot
78
, conforme apresentamos no Capítulo I, na página
70.
Educomunicação é um neologismo criado em 1987 por Mário Kaplún
(1924
-
1998), pioneiro na América Latina no campo dos estudos que relacionam
a comunicação com os processos educativos. É um novo campo entre a
comunicação e a educação, e tem como fundamentos a reflexão/ ação,
utilizando para isso os recursos das mídias a fim de promover e difundir a
informação e interagir nos processos de ensino
-
aprendizagem.
Kaplún coloca como base do processo de ensino-aprendizagem a
participação ativa dos educandos:
(...) nada se aprende – ainda que o pressuposto seja que a educação
consista em aprender –por transmissão, mas sim por elaboração
própria e pessoal do educando. É participando, envolvendo-
se,
fazendo
-se perguntas e buscando respostas, que se chega ao
co
nhecimento. Se adquire e se compreende o que se re-cria, o que
se re-inventa e não simplesmente o que se vê ou escuta. A educação
não é um conteúdo que se introduz na mente do educando, mas sim
um processo em que este se envolve ativamente. (1983, p. 26
27).
Na verdade, Kaplún define a aprendizagem como um processo ativo de
construção e re-criação do conhecimento, que deve formar nos educandos as
competências comunicativas responsáveis por desencadear iniciativas do
pensamento crítico.
Refletimos muito sobre esses conceitos que permeiam a
educomunicação e toda a problemática que gira em torno da competência
leitora do educando, em função de termos obtido alguns resultados positivos
advindos das reações das crianças com dificuldades de apreensão, retenç
ão,
memorização e reprodução dos ensinamentos que lhes oferecíamos como
requisitos necessários ao processo de alfabetização. Presenciávamos todos
os impedimentos que circundavam as crianças ao tentarem demonstrar, por
seus desenhos, aquilo que haviam conseguido capturar das imagens que
78
Termo utilizado pela primeira vez no Brasil, na cidade do Rio de Janeiro, num Congresso
sobre Educação por essa educadora francesa. É professora aposentada da Université de Paris
VIII
.
173
ajudavam a “contar” as histórias dos quadrinhos que lhes apresentávamos,
coletivamente, em sala de aula.
Além das coincidências na investigação dos progressos que aos poucos
fomos colhendo dessas crianças diante de imagens que selecionávamos
oriundas da mesma fonte de traços (produzidos por um mesmo autor), surgiu a
idéia de investigarmos qual o papel não apenas da história em quadrinhos
como recurso didático-pedagógico, mas das imagens que ela veicula ao
processo ensino-
apr
endizagem de alunos em início de alfabetização. Para
tanto, demos continuidade às investigações realizadas sob a forma de
“pesquisas de campo”.
4.2 Estudo de caso
Os quadrinhos na sala de aula.
O método específico desse tipo de pesquisa é o estudo de caso,
realizado na E.E. Bento de Abreu Sampaio Vidal, de Ensino Fundamental do
ciclo I (1ª a série), localizada à Rua Cincinatina, 252 Bairro Cascata, do
município de Marília/ SP, tendo como público alvo alunos da série A do
período da manhã, ocorrido no transcorrer no ano letivo de 2005. Aconteceram
dez encontros com a duração de aproximadamente 1hora cada, os quais serão
descritos a seguir.
Num primeiro momento, para coletarmos os dados, elaboramos um
questionário com o objetivo de conhecermos as preferências dos alunos a
respeito da mídia em questão. Veremos a seguir a síntese do questionário
realizado em 28/03/05:
Tabela 1: Dados dos alunos que responderam o questionário
Tabela 2: O contado com as revistas em quadrinhos
Contado com Revistas
HQ
Com que freqüência
sim
não
semanal
mensal
raramente
nunca
31
2 4 -
27
2
Tabela 3: O que mais desperta atenção
HQ
Nº de
participantes
Idade 6
anos
Idade 7
anos
Sexo
Feminino
Sexo
Ma
sculino
33
9
24
22
11
174
Cores
Os personagens
A história
3 20 8
Tabela 4: Personagens preferidos
Turma da Mônica
Disney
outras
27
2 2
Participaram desta etapa, os 33 alunos matriculados na referida série,
conforme dados contidos na tabela 1.
Na tabela 2, verificamos que os alunos têm pouco contato com as
revi
stas em quadrinhos, ou seja, dos alunos inseridos na pesquisa 91%
raramente tem acesso aos quadrinhos, contrapondo-se a menos de 5% que
semanalmente faz uso das revistas, contra 2% que disseram desconhecerem
esse veículo midiático.
A maioria dos alunos (70%) apontou que os personagens das revistas
em quadrinhos despertam maior atenção; 20% apreciam mais o enredo (a
história) e 8% se encantam com as cores, conforme consta na tabela 3.
A última tabela aponta que os personagens da Turma da Mônica são os
pre
feridos dos alunos (91%).
Esses conjuntos de dados confirmam a relevância da nossa pesquisa e
nos deram indicações de como conduzir as futuras investigações.
O segundo encontro ocorreu somente em 13/05/05, tendo em vista a
incompatibilidade de horários. Neste encontro, como estratégia pedagógico
didática, apresentamos o clássico da literatura Alice no país das Maravilhas
de
Lewis Carroll. Logo após a leitura destacamos as ilustrações contidas no livro e
como proposta de atividade, os alunos registraram a cena preferida por
intermédio da linguagem verbo-visual, com o intuito de efetuarmos uma
sondagem de aprendizagem, antes de iniciarmos a proposta com as revistas
em quadrinhos.
A pedido da professora regente da classe, as investigações foram
efetiva
das com apenas oito alunos, os quais apresentavam na época
dificuldades na aquisição da leitura e da escrita.
Mostraremos nessa etapa as produções de apenas um aluno, tendo em
vista, a complexidade de detalhes a respeito dos estágios de desenvolvimento
175
co
gnitivo do sujeito, possibilitando assim mostrar claramente as etapas do
processo.
Figura 102: 1ª proposta
Interpretação do clássico Alice no país das Maravilhas.
Em 16/05/05, aconteceu nosso terceiro encontro. Como estratégia
metodo
lógica, os alunos assistiram ao filme Alice no país das Maravilhas. E foi
sugerido que os mesmos representassem uma cena em que aparecesse Alice
conversando com outro personagem.
Figura 103:
Alice conversando com o Gui
Texto verbal: Intenção do aluno
Alice está com a rainha
.
176
No quarto encontro em 18/05/05, disponibilizamos aos alunos algumas
revistas em quadrinhos Turma da Mônica. Primeiramente, eles ficaram livres
manuseando as revistas. Passado algum tempo, solicitamos que escolhessem
uma para iniciarmos nossos estudos do dia. A escolhida pela maioria foi
o
Almanacão do Chico Bento.
Figura 104
:
Almanaque Chico Bento
-
Análise dos elementos expressivos da capa
Exploramos todos os elementos expressivos contidos na capa: título,
personagem principal, os animais, as cores, o ambiente, etc. Após esse
proce
sso de “relação dialógica” (BAKHTIN,1999, p.355), os alunos
representaram os fatos vividos por intermédio da linguagem dos quadrinhos.
Figura 105: Interpretação linguagem dos quadrinhos
177
Para o quinto encontro, acontecido em 24/05/05, organizamos uma
série
de atividades envolvendo a discriminação verbo-visual, tendo como base os
conteúdos da revista em quadrinhos escolhidos no encontro anterior.
Figura 106: Atividades verbo
-
visuais
Figura 107: Atividade verbo
-
visual de exploração sonora mentaliz
ada
178
Em 01/06/05, ocorreu o sexto encontro e oferecemos novos desafios,
utilizando para tanto, os elementos expressivos da linguagem dos quadrinhos.
Figura 108: Atividade contendo elementos da linguagem dos quadrinhos.
No sétimo encontro (15/06/05),
foi lido para os alunos o início da história
intitulada
É de tirar o chapéu
, protagonizada por Chico Bento.
Figura 109: História lida
Realizada a leitura, sugerimos aos alunos que continuassem a história
por intermédio de desenhos.
179
Figura 110: C
ontinuando a história utilizando a linguagem visual.
Nosso próximo encontro ocorreu somente em 15/08/05, tendo em vista o
período de recesso escolar. Nesse dia, os alunos exploraram livremente as
revistas, sendo que no final cada um teve que tecer comentários sobre sua
revista.
Figura 111: Proposta de produção de texto, feita pela professora titular
Analista escriba do aluno
Quadro 1
: Chico Bento estava no jardim, num dia de sol. Bateu um forte
vento e levou o
seu chapéu.
Quadro 2
: O chapéu bateu na cabeça da Mônica. Ela assustou e ficou de cabelo em pé.
Quadro 3
: O chapéu fez a Magali rodar no ar e sumiu no céu.
180
A proposta acima apresentada foi solicitada pela professora titular com o
propósito dos alunos escreverem sobre atividades feitas no dia dos pa
is.
Valemo
-nos dessa sugestão para registrarmos o processo de desenvolvimento
do aluno, após o período de recesso escolar.
Em nosso nono encontro (17/08/05), desafiamos os alunos a produzirem
um texto a partir da narrativa seqüencial mostrada abaixo:
Figura 112: Narrativa Seqüencial Figura 113: Produção do aluno
Figura 114: Seqüência narrativa de três cenas
181
No décimo e último encontro (22/08/05), propusemos que os alunos
construíssem um texto partindo da seqüê
ncia narrativa de três cenas, mostrada
na figura 114.
4.2.1 A competência dos quadrinhos no desenvolvimento global das
crianças
Considerando
-se a linguagem como forma de ação entre os homens,
nesta pesquisa, o professor pesquisador e analista cumpre o papel de
responsável em levar o aluno por meio da tira de quadrinhos a elaborar textos
que permitirão colher dados elucidativos sobre a influência dos quadros no
desenvolvimento da percepção e reflexão do aluno em situação de
alfabetização. O professor, quando inserido no texto, ocupará o papel de
narrador passando a ser observador como um recuo do sujeito da enunciação,
ou seja, no papel de actante observador enuncivo - na análise do texto
produzido pela criança -, e enunciativo - na auto-análise do material que
aplicou intuitivamente ao universo infantil
e afortunadamente deu certo (logo,
deve ser conservado), por esse motivo que deverá aplicar futuramente a
casos
individuais
, uma vez portador dos conhecimentos necessários à diversidade da
problemáti
ca infantil, requestada pelas investigações.
Apresentamos o percurso do referido aluno que exerceu o papel de
sujeito manipulado a produzir suas obras.
A manipulação não é uma prova no verdadeiro sentido. Trata-
se
efetivamente de um contrato que organiza toda a narrativa; alguém que sabe
(cognitivo) ou que pode (pragmático) fazer-querer ou fazer-dever a um
determinado sujeito, definindo qual deve ser o objeto da ação desse sujeito
manipulado. A manipulação é, pois, um fazer que se exerce entre sujeitos,
de
signando o sujeito operador. Por isso é necessário fazer aparecer, ao lado
do sujeito manipulado, o papel do destinador-manipulador (o outro sujeito que
faz
-
fazer
). As relações entre o destinador (manipulador) e o sujeito
(manipulado) pertencem às dimensões ora cognitiva, ora pragmática, sempre
182
porém acompanhadas do caráter
persuasivo e epistemológico do /
fazer
-crer/.
A
manipulação, sendo também envolvida pela persuasão, faz-se sobre objetos
valorizados positivamente (Tentação) ou negativamente (Ameaça). A
manipulação determina assim um universo de valores, uma axiologia.
Por intermédio de manipulações eufóricas (sedução, provocação +
sedução, tentação + sedução) exercidas pelo educador sobre o educando, e
dos objetos modais (valorizados positivamente) - estímulo verbo-visuais. A
exemplo de
imagens
selecionadas inseridas nas tiras em quadrinhos, nas
revistas em quadrinhos, ou nos Quadrões, o aluno adquirirá a
competência
,
ação que se realiza entre o sujeito e o objeto (ler, escrever e expressar o que
se des
eja ou o que se pensa) para representar a realidade colhida ou revivida.
Notoriamente, percebemos que o aluno, utilizando inicialmente os
recursos dos quadrinhos, apresenta uma estrutura organizacional bem díspar
em suas produções, comparada quando desenvolve atividades sem esse
recurso.
Buscaremos nos estudos de Jean Piaget (1896 – 1980, psicólogo e
filósofo suíço), fundamentos teóricos para tecermos maiores considerações a
esse respeito.
O embasamento teórico de Piaget (1975) gira em torno de que a
cons
trução do conhecimento se por meio de ações físicas e mentais sobre
objetos que provocam desequilíbrio, que resultam em
assimilação
e na
construção de esquemas de conhecimento.
A
assimilação
, em conformidade com os dizeres de D’Ávila (2006**),
(.
..) não é apenas a apreensão de um Saber provindo do sujeito de
um /fazer-saber/ meramente informativo, demonstrando uma
comunicação simplesmente recebida
de uma mensagem ou prática
significante. É, sobretudo, a absorção de um Saber que se
fundamenta no /crer/ e que se justifica na soma das modalidades do
/querer, dever, poder, saber/ que o constituem, formadoras da
competência. Estas, transformando o sujeito-receptor, colocam-
no
como sujeito de uma comunicação assumida, geradora de
feed
-
back
s, podendo ou não auto-
sancionar
-se como sujeito-judicante ou
partícipe do processo de Significação. Como a Significação se
constrói nas diferenças e pelas diferenças, sem Significação não
haverá comunicação nem assimilação.
183
Neste caso, o importante em nossos estudos e a continuidade das
pesquisas é SABER construir as diferenças tanto na seleção do material a ser
aplicado coletivamente, como também, e mais precisamente, naquele
destinado à aplicação individual.
Podemos conferir que os recursos dos tracemas formadores da
s
imagens constantes nos quadrinhos agiram como objetos modais responsáveis
pelas semelhanças entre os tracemas reproduzidos pela criança, quando se
descobre no ato de
mimesis
, tentando recriar, através do desenho a sua
realidade. Assim também foram observadas as diferenças causadoras de
estranhamentos (aristotélicos) que desencadearam relações opositivas e o
reconhecimento destas relações, promovendo transferências e novas
descobertas que incentivaram a vontade de aprender.
O motivo está no fato de que as imagens por nós selecionadas nos
quadrinhos atenderam aos anseios, interesses, necessidades e expectativas
do aluno em questão, influenciando sua estrutura mental de maneira lúdica e
espontânea.
Nos casos mais difíceis, porém, segundo D’Ávila, que exigiriam do
educador uma atenção individualizada, mais importante do que perceber o
desenrolar da história na junção dos quadrinhos que se posicionam por
contigüidade, estão os vazios que se estabelecem entre um quadro e outro,
que se evidenciam como abismos frente à captação viso-sensitiva (emocional)
da criança. Esta se contrai diante do que não conseguiu reter na memória
visual, em conformidade com os excessos de tracemas (saturemas)
presenciados nas imagens, tão diferentes e/ou distantes da simplicidade do
seu mundo infantil. Ela se intimida diante daquilo que não pôde de imediato
recompor, para conseguir restabelecer a continuidade da mensagem proposta.
Achando
-se incapaz diante das demais crianças que “já conseguiram”, sofre e
se desencoraja ao invés de se
ntir
-se estimulada através delas. Ela cobra de si
mesma uma reação positiva. Quando isso não acontece se auto-
penaliza,
desenvolve uma desestima, uma sensação de culpa, chegando a demonstrar
perda do estímulo de brincar com seus amiguinhos, perda do gosto pela leitura
e, ainda, do desejo de retornar à escola.
Nesses casos, conforme D’Ávila, a preocupação do educador deverá
estar voltada diretamente àquela criança, elogiando-a mesmo na reprodução
184
de apenas um traço insignificante, fortalecendo, sempre que possível sua auto-
estima para entender aos poucos o seu mundo quase sempre “fechado a sete
chaves”.
Caso não se consiga obter da criança alguns traçados, rabiscos,
garatujas, bosquejos, devemos deixá-la por algum tempo completamente à
vontade em sala de aula, sem ser diretamente observada ou aparentemente
“esquecida”, porém com lápis e papel à disposição dizendo-lhe que “é para
rabiscar o que desejar”; “que o professor não vai nem querer saber quem foi
que fez aquele desenho, ou aqueles rabiscos”. Essa experiência, segundo
D’Ávila, deverá ser repetida por algumas vezes, até perceber-se que a criança
está realmente à vontade para ejetar suas saturações ou contrariedades
(fraquezas ou inseguranças), sem as preocupações de que surgirá alguém
para lhe pedir “p
ara por a casa em ordem”.
Posteriormente, com o desenho da criança em mãos, serão observadas
suas tendências na produção dos traços quanto ao ritmo (contínuo,
descontínuo ou intercalado, sincopado ou interrompido, e não-
descontínuo),
podendo o educador avaliar sua produção diretamente ligada à ordenação e à
coordenação viso-motora. Na insistência de uma determinada produção rítmica
em alusão a um determinado desenho, o educador poderá se posicionar
diante de um indicador inicial alusivo às preferências ou facilidades de
reprodução daquela criança.
Algumas crianças criam ao redor de si universos isotópicos na
construção de seus desenhos sob a primazia de tracemas reiterativos voltados
à isotopia da circularidade ou da semi-circularidade. Para essas crianç
as,
conforme nos coloca D’Ávila, o aprendizado da leitura, quando não saturado de
classemas na composição das figuras (das cores, das formas, da luminosidade
dos objetos e dos personagens selecionados para o acompanhamento do texto
verbal), far-
se
de forma tranqüila, principalmente no que tange à
manifestação da escrita em letra cursiva, uma vez que são as mesmas
compostas de tracemas semi
-
circularizados e circulares, obedecendo com rigor
à forma básica dos primitivos figurativos.
185
Porém, quando o universo isotópico da criança é fundamentado em
isotopias da quadrangularidade ou da triangularidade, sua facilidade será maior
quando a alfabetização for iniciada por letras de forma, o que não seria o usual,
dependendo do método utilizado pela escola na qual
a criança está inscrita.
Tentando evitar todas as digressões possíveis encontradas no
comportamento infantil e relacionadas a problemas emocionais ou à
motricidade concernente à escrita fina, o educador poderá encontrar total apoio
na entidade educacional na qual atua. Caso isso o ocorra, poderá ainda
obter respaldo em outras entidades preocupadas verdadeiramente com o
rendimento escolar. Nelas, na fase de pré-escolarização, seria ideal que o
educador lidasse com educandos utilizando um sistema atualizado de
produção de potencialidades (ou competências) na criança, visando o ensino-
aprendizagem que poderia vir-a-ser antecipadamente considerado um modelo,
em correspondência com as demandas da modernidade,
Nesse sistema seriam trabalhadas com as crianças as formas dos
primitivos figurativos (do clas-b ao clas-c), fazendo com que, de acordo com a
idade, com o grau de desenvoltura e de entendimento infantil, além de usos e
preferências relacionados ao comportamento da criança, possam ser
selecionadas pelo educador as figuras e imagens de acompanhamento à
alfabetização, já pertencentes e incorporadas ao mundo infantil.
Inicialmente será utilizada uma única imagem num quadrinho para não
poluir (ou saturar) a espacialidade visualizada como modelo. A
posteriori,
a
própria criança solicitará um maior preenchimento figurativo da espacialidade.
Nesse instante, todo o cuidado com os
saturemas
* será necessário para que a
criança chegue a dominar inicialmente as circularidades - como origem de
todas as formas para mais tarde, num processo de leitura, serem
trabalhados os primitivos figurativos da quadrangularidade e derivados, para a
aquisição de novos insumos que poderiam colaborar com outros meios ou
modalizações de manifestação da criança à escrita, quando a mesma
não
conseguir expressar-se fundamentada nos figurais classemáticos de estrutura
(as circularidades).
Esse fato é geralmente percebido em concomitância com outros
acontecimentos ligados a problemas na coordenação motora, a exemplo de
186
crianças que não engatinharam ou que não conseguiram caminhar com
andadores, nem ainda andar de bicicleta (mesmo tratando
-
se de triciclos).
Levantamentos realizados comprovaram que adultos portadores de uma
grafia incompreensível, ora quadrangularizada ora triangularizada, ora
diagonalizada com
tracemas
retilíneos foram crianças que não trabalharam a
motricidade convenientemente, não engatinharam, não andaram de bicicleta, e
nos movimentos alternados dos pés (passos de dança, por exemplo) tiveram
graves dificuldades com a coordenação pedalo
-
motora.
Ao observarmos a dificuldade do aluno em organizar seu pensamento
(figura 111), percebe-se que não lhe foi instaurado na proposta da atividade
nem o /querer-fazer/, nem o /dever-fazer/, ou seja, a sedução e provocação
responsáveis por o
timizar o processo de aprendizagem.
Vimos por meio dessas produções que figuras e imagens dos
quadrinhos seduziram e provocaram a imaginação, possibilitando um maior
desempenho tanto cognitivo quanto emocional do educando.
A história em quadrinhos é estabelecida pela técnica narrativa da
conjugação imagem-texto, com ampla aplicabilidade didático-
pedagógica,
como acabamos de verificar. Ela respeita o universo infantil na medida em que
estabelecem uma comunicação de forma simples e acessível, despertando o
desejo pela escrita, bem como a criatividade e a imaginação.
No capítulo I, acompanhamos o processo evolutivo dessa mídia, uma
das mais envolventes criações artísticas do homem, capaz de levar-nos ao
mundo da fantasia, sedução e do conhecimento. Todo esse universo, fez com
que o aluno adquirisse autonomia e se apercebesse como um personagem
ativo no processo pedagógico.
4.2.2 Desvendando o enigma do desenho infantil
A atividade criadora infantil está diretamente ligada com a vasta
experiência individual, ou seja, parte da maneira como a criança relaciona-
se
com o universo ao seu redor. Diante de tal fato, é imprescindível propiciarmos
187
vivências ricas e significativas que enriqueçam o repertório expressivo da
criança.
Segundo Viktor Lowenfeld a expressão artística da criança é uma
bibliografia de sua personalidade:
Tudo quanto pudermos fazer para estimular a criança no uso sensível
dos seus olhos, ouvidos, dedos e do corpo inteiro servirá para
enriquecer sua reserva de experiências e a ajudará em s
ua
expressão artística.
(1976, p. 108).
Existe uma relação empírica entre certos tipos de tracemas empregados
pelas crianças e sua personalidade. Seguindo os estudos grafológicos dos
autores Camilo Cardoso e Mª
Manuela
Valsassina:
As linhas retas e os ângulos se encontram em predomínio nas
crianças realistas, por vezes agressivas, conflituosas, mas com
razoável espírito de iniciativa.
As linhas curvas seriam utilizadas, por seu lado, pelas crianças
sensíveis, imaginativas, com pouca autoconfiança, dentro destas, as
formas circulares, quando predominassem, seriam um sinal de
imaturidade.
As linhas verticais encontrar
-
se
-
iam nas crianças activas e viris.
A predominância de linhas horizontais seria um índice de conflitos
psicológicos.
As linhas em ziguezague seriam, segundo as mesmas investigações,
sinais de instabilidade.
Desenhar somente na parte superior da folha de papel seria sinal de
orgulho; ao contrário, utilizar a parte inferior como base seria sinal de
estabilidade.
(1988, p. 55)
Essas considerações devem ser levadas em conta, porém resguardada
a devida proporção relacionada às formas circulares como primitivos figurativos
que aludirão às mudanças que, conforme pretendemos, venham a ser
vinculadas ao universo da motricidade reprodutora da criança para um devido
aproveitamento na alfabetização.
Como acabamos de verificar, o desenho infantil é um dos aspectos mais
importante para o desenvolvimento cognitivo, motor e sócio afetivo da criança,
é o reflexo de sua personalidade.
Seguindo esta linha de pensamento D’Ávila (2004, durante curso Na
Unicamp) argumenta:
188
A criança quando se inicia no desenho, traços, rabiscos apenas, fase
bem anterior à garatuja, busca já a afirmação de sua identidade
naquilo que traça. Aparentemente desconectados da realidade, seus
traços são de extrema importância e devem ser valorizados
verbalmente, pois colaboram para que seja estruturada sua auto-
estima e quem não tem auto
-
estima não tem identidade.
Por volta dos quatro anos (fase que antecede à alfabetização), a cri
ança
faz a descoberta das formas, elaborando gatafunhos calcados nos primitivos
figurativos. Seus desenhos definem objetos, pessoas, por meio de formas
criadas com movimentos circulares tal qual uma bola de brinquedo. Depois vai
acrescentando
classemas
circulares para os olhos, ovóide para a boca,
transformando a “bola” em boneco.
Neste estágio de desenvolvimento, os desenhos das crianças o
totalmente voltados à exploração dos figurais e dos planos isotópicos.
Exemplo: as circularidades (mãos), triangularidades (telhado da casa), o
retilíneo (dedos), a verticalidade, surgindo o esboço da figura humana, da casa,
etc.
Os desenhos pré-esquemáticos são resultados dos acréscimos dos
figurais classemáticos (clas-b) até uma definida configuração representa
tiva
(clas
-c) do mundo natural, onde ocorre a passagem do figural para o figurativo,
conforme apresenta D’Ávila, em sua teoria da figuratividade.
Dentro dessa ótica, a criação artística propicia a compreensão da mente
da criança, na medida em que seus desenhos são carregados de significados,
uma vez que o desenho é a primeira manifestação da escrita da criança,
conforme destaca Maria Lúcia Duarte:
O desenho é a primeira maneira de escrever a palavra que nomeia o
objeto. Após o aprendizado da escrita, pouco a pouco o desenho
infantil deixa de ser esquemático e generalizante como a palavra,
para tornar-se cada vez mais comprometido com detalhes que
provoquem a ilusão de plena visualidade de um objeto particular.
(1997, p.282).
Analisando as palavras acima citadas, podemos então dizer que o
desenho é uma forma especial de representação que impulsiona à escrita
alfabética. Contudo, é muito difícil para a criança assimilar letras que estejam
totalmente alheias ao seu mundo. Logo, as letras deveriam ter m
aior
189
proximidade com a sua vivência, longe dos excessos de classemas que
conduzem à saturação. Segundo D’ Ávila (2004, durante curso Na Unicamp):
Figura 115: Mônica e a letra M.
4.2.3 A escolha dos elementos visuais das H.Qs. para o exteriorizar da
expressão visual da criança.
Nesta etapa, analisaremos os desenhos do aluno, frente às propostas
sugeridas.
Figura 116: Alice
-
a partir do contado com o livro de literatura infantil
Alice no pais das
Maravilhas.
Na instância da figuralidade examinada, constatamos o figural 1 nuclear
da quadrangularidade, como sendo dominante na constituição do arcabouço da
forma da personagem Alice. Em segunda instância percebemos a isotopia do
paralelismo e da circularidade nos /fp/ cabeça e /fp/ braços (causam
Elas memorizam mais rapidamente o
“m”
letra cursiva, quando
associado aos cabelos da Mônica, ou “M” de Mônica, conjuntamente
ao som da vogal que lhe vem acoplada.
190
estranhamento
hipérbole), no caso dos braços não são acrescidos de
classemas
que poderiam formar as mãos e dedos. No que diz respeito a
espacialidade, o aluno não estabeleceu relações com o meio, ou seja, não
definiu o chão ne
m o céu. O desenho é monocromático.
Na figura 117, o aluno se projeta na espacialidade da obra,
estabelecendo diálogo com a personagem Alice. Os elementos englobados
dentro do espaço englobante são organizados somente nas extremidades:
superior
aparecem
dois sóis; inferior os dois personagens (“Gui e Alic” -
figura 118). Relacionando com o desenho anterior, percebemos
tracemas
quase imperceptíveis, com pouquíssimos
classemas
. Desta vez, não utilizou
cores. Qual seria o motivo do estado disfórico? Talvez pela necessidade de
exteriorizar o que apreendeu por meio de quadrangularidade e de tracemas
retilíneos, em sua maioria.
Figura 117: Imagem ampliada Figura 118: Interpretação cena do filme
Alice
A
teoria da desconstrução visual proposta por D’ Ávila, nos faz refletir a
esse respeito, pois coloca
-
nos diante das dificuldades encontradas pela criança
durante esse processo de alfabetização, em que a superação acontece quando
são disponibilizadas ao aluno imagens adequadas ao seu nível de
desenvolvimento, construídas a partir de poucos figurais. A explanação a
seguir ilustrará com maior clareza as questões acima levantadas.
191
Após o primeiro contato com as revistas em quadrinhos Turma da
Mônica, conseguimos notar o estado de euforia do aluno. É visível (figura 119),
parece que sua própria vida ganhou sentido. Os
tracemas
utilizados na
composição das figuras são mais imponentes. O aluno, pouco a pouco, foi
acrescentando
classemas
capazes de gerar significado (bermuda, pernas, as
mãos...) A capacidade da memória visual na representação das cores da roupa
do personagem, mesmo estando invertidas (camisa amarela – calça azul) é um
fator relevante.
Figura 119: Interpretando a leitura coletiva feita da capa do
gibi
Abaixo analisaremos o trabalho mais expressivo do aluno, que resultou
da visualização da primeira página da história intitulada É de tirar o chapéu
(figura 109). É impressionante como os figurais usados por Maurício de Sousa
para compor seus personagens estão pouco a pouco fazendo parte do
universo da representatividade do aluno. Parodiando com o título da história,
seu desenvolvimento viso
-
motor é “digno de tirar o chapéu”.
O interessante são os detalhes expressivos utilizados. Primeiramente,
ele
empregou uma expressão fisionômica diferente para cada quadro e
personagem: Chico Bento com ar de felicidade; a Mônica assustada, de cabelo
em pé e Magali, como se estivesse fora de órbita. Também empregou recursos
gráficos que indicam movimento, força do vento. Nos desenhos anteriores, os
detalhes faciais mostram-se insignificantes, sem notoriedade.
192
Figura 120: Continuando a história
narrativa seqüencial viso
-
plástica.
Aplicando a teoria de D’Ávila encontramos: rimas plásticas, projeções
sintagmá
ticas, ritmo estático e dinâmico, simetria –
assimetria.
Outro detalhe importante é o preenchimento dos vazios que liga um
quadro ao outro. O aluno visualizou somente a primeira página e por intermédio
do imaginário estabeleceu essas relações. Na história, escrita por Maurício de
Sousa, o aparece nem a Mônica e nem a Magali, mas na seqüência
narrativa do aluno, as duas estão em perfeita sintonia com o todo de
significação.
Tentamos promover o confronto entre os dados, as evidências, as
informações cole
tadas de uma forma clara e precisa.
Mostramos apenas o desenvolvimento do processo evolutivo de um
aluno, escolhido pelo fato do mesmo não ter faltado em nenhum encontro, mas
podemos garantir que as histórias em quadrinhos de Maurício de Sousa,
utilizad
as como recurso didático-pedagógico, por suas imagens totalmente
voltadas aos primitivos figurativos dos quais podemos recuperar facilmente os
seus figurais formadores, promoveram um salto qualitativo dos aspectos
sensório
-motor e cognitivo de todos os alunos, comprovando assim a eficácia
desse autor e dessa mídia usada como instrumento facilitador de avanços
significativos no processo de ensino-
aprendizagem.
193
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A leitura e a escrita são atos fundamentais para que o ser huma
no
exerça sua cidadania. Ler e escrever são competências necessárias para
facilitar a inserção do cidadão no mundo letrado, ou seja, possibilita-o a
compreender o mundo à sua volta e capacita-o para atuar na sociedade de
forma plena, consciente e ativa.
Apresentamos em nossos intróitos, queda no desempenho dos
estudantes brasileiros em quase todos os níveis de ensino, conferido por meio
dos exames de avaliações externas (Saeb, Pisa, etc), realizado em todo
território nacional, mostrando-nos que os alunos não têm pleno domínio das
habilidades de leitura e escrita.
Em nossa caminhada como profissional da educação, o que mais nos
tem preocupado é a formação integral dos alunos. Nessa incessante busca,
encontramos nos processos didáticos da educomunicação, algumas respostas
aos problemas que envolvem as práticas e as condições relacionadas ao ato
de ler e escrever dos alunos.
A educação para as mídias é uma prática que vai ao encontro das
propostas de multiletramento. Nós, entretanto, profissionais da educação, não
estamos plenamente preparados para compreender os diferentes sistemas de
linguagens presentes nas dias em geral, caracterizadas como textos
sincréticos.
Percebemos que a maioria dos educadores não tem uma formação
adequada de grandeza teórico-
me
todológica para enfrentar os desafios das
194
novas formas de comunicação presentes na contemporaneidade, é que
resolvemos “ir a luta” em busca de teorias que pudessem proporcionar um
instrumental adequado ao desenvolvimento dessas competências e
habilidades,
pois somente quando o educador adquire as habilidades que lhe
faltam, torna
-se apto a desenvolver destrezas também nos educandos.
Numa perspectiva modal a factitividade (fazer/ fazer) restaura as
diversas modalidades pelas quais se monta a competência (um querer-
poder
-
dever
-saber/fazer/ para vir-a-ser) do educador, em meio às mais variadas
formas de "manipulações" para fazer com que o aluno adquira também sua
competência.
Assim, na tentativa de sanar essa lacuna, contribuindo com
os
profissionais preocupados com a formação de um leitor competente,
organizamos nossa pesquisa fundamentada nos aportes teóricos e
metodológicos da semiótica greimasiana (texto verbal) e da Teoria Semiótica
da Figuratividade ou daviliana (texto visual). Neste trabalho analisamos, em
primeira instância, o
Quadrão
intitulado Mônica Lisa, desenho de Maurício de
Sousa, cujos traços nos eram familiares devido às pesquisas que
efetuávamos com as crianças em fase de alfabetização.
Em segunda instância, necessitando complementar nos
sos
conhecimentos semióticos sobre o texto sincrético verbo-visual, em virtude da
inserção do caráter verbal visando a escolarização dessas crianças, optamos
por um texto sincrético - uma publicidade de bonecos pintores portadores da
continuidade de vários traços imagéticos, encontrados no primeiro corpus e no
estudo de caso, apresentando o efetivo papel das imagens inseridas nas
histórias em quadrinhos responsáveis no processo de ensino
-
aprendizagem.
Diante do exposto, cabe-nos agora relembrar os pontos principais desse
nosso percurso.
No capítulo I, discorremos a respeito da origem e evolução da história
em quadrinhos, mostrando a infinidade de possibilidades que esta dia
oferece ao ensino, assim como apresentamos a transição dos personagens
195
criados
por Maurício de Sousa, que saíram do universo do lazer e invadiram o
mundo do saber (quadrinhos Quadrões), favorecendo ainda mais a
diversidade de saberes que privilegiam os processos cognitivos e
metacognitivos, responsáveis por tornar a aprendizagem mais eficaz e
significativa.
A imagem exerce um verdadeiro fascínio no imaginário dos alunos,
desempenhando um importante papel na aprendizagem multimodal.
Na prática do multiletramento, faz-se necessário que os envolvidos no
processo ensino-aprendizagem adquiram habilidades e competências também
para a prática do letramento visual.
Vimos no capítulo II, os fundamentos teóricos da teoria da figuratividade
ou daviliana, que possibilita-nos promover uma abordagem do sentido inserido
nos textos visuais. Esse método prende-se à produção e à articulação do
sentido na linguagem imagética, definindo o percurso da significação não-
verbal, em que o nível do conteúdo visual é extraído do texto visual em
substância e forma, dependente da expressão visual, para demonstrar seu
modo de significar.
Essa teoria fundamentou
-se cientificamente nos postulados da semiótica
greimasiana, que tem como objeto de estudo o texto verbal, e é conhecida
como teoria da significação. Ela explora o sentido em seu percurso que
atravessa
o texto, procurando descrever e explicar, não apenas o que o
texto diz, mas “como” ele faz para dizer o que diz.
Sendo a leitura verbal um ato de significar esse caráter teórico e a
semiótica greimasiana a teoria da significação verbal, faz-se necessário que os
educadores utilizem-na como um método facilitador da compreensão e do
entendimento efetivo do texto verbal.
Podemos considerar a semiótica greimasiana como sendo um
instrumental que capacita o educador para ultrapassar os limites do sentido no
te
xto verbal, pois é uma metodologia que permite a reconstrução dos caminhos
196
percorridos pelos sentidos no interior do texto, fornecendo marcas necessárias
para a descoberta da significação.
Acreditamos que o educador semioticista estará capacitado a fornece
r
meios elucidativos de acesso e abertura à visão do educando para novas
realidades ampliando seus horizontes e conhecimentos.
No capítulo III, oferecemos as duas análises citadas que ilustram bem
esses argumentos: um corpus visual e outro sincrético. O primeiro corpus
Mônica Lisa, analisada sob a ótica da teoria da figuratividade, fez-nos perceber
a diferença entre as categorias - figural e figurativo; entender como essas
camadas do discurso são portadoras de significação e também como a
coerência é mant
ida a partir das isotopias visuais.
Nossa opção por apresentar, primeiramente, um corpus não-
verbal
esteve ligada à primazia da imagem presente em nossa cultura, e mostrar
como a metodologia organizada por D’ Ávila inovou no distanciamento da
linguagem não-verbal da verbal, mostrando a independência e estrutura
semiótica dos conteúdos de caráter não-verbal, detalhe precioso que nenhuma
teoria havia, até o momento, conseguido elaborar uma nomenclatura. As outras
metodologias tratam o visual sempre com um caráter semi-simbólico, não
chegando a analisar o traço pelo traço que, no nosso caso, foi de extrema
importância para encontrarmos as respostas a antigas indagações em relação
aos problemas de aprendizagem.
Tendo em vista tais argumentos, esta abordagem teórica ofereceu-
nos
subsídios para compreendermos o valor das imagens extraídas dessa mídia
visualizada como prática significante, a dos quadrinhos e a dos Quadrões, pois
colocou
-nos diante das dificuldades encontradas pela criança em fase de
alfabetização.
A partir da análise da forma do conteúdo num texto sincrético, pela
desconstrução e exame dos tracemas que compõem as figuras, conseguimos
detectar a passagem do figural para o figurativo, possibilitando assim,
compreender como e quando acontece na criança a saída do mundo natural
para o mundo cultural. Ela passa pelos primitivos figurativos e chega no clas-
c
que representa a instância da transição do esboço à imagem (ou figura) criada
197
pela criança que a posteriori é extraída do seu universo para fazer pa
rte de sua
aprendizagem.
A criança realiza um processo inverso, inicia seus registros com figurais,
adquire habilidades para chegar ao clas-c e competências para adentrar no
mundo figurativo propriamente dito.
Esta experiência levou-nos a perceber como a criança vê o mundo,
entendendo assim, a sua visão primária das coisas. Também mostrou-nos que
os personagens de Maurício de Sousa são compostos, em sua grande maioria,
por figurais nucleares da circularidade. A primeira forma que a criança
consegue apreend
er o mundo.
Realmente, podemos dizer que o método de D’Ávila habilita o professor
ao letramento visual e estético, oferecendo-lhe um instrumental adequado para
um trabalho de produção e de escolha de imagens que se conciliem com o
desenvolvimento e com o g
rau de maturidade do educando.
Com o intuito de oferecermos uma maior compreensão das teorias
greimasiana e daviliana, e de também explorarmos o caráter verbal -
nossa
preocupação no desenvolver o domínio das habilidades de leitura -
,
ampliamos
em paralelo, sob a ótica das referidas teorias, a outra análise complementar
verbo
-visual citada, um anúncio publicitário que nos possibilitou mostrar
no
entrelaçamento dessas teorias uma leitura não apenas com os olhos, mas com
outros sentidos.
Por intermédio dessa análise sincrética, verificamos que as imagens não
tiveram somente a função de ilustrar o texto escrito, muito pelo contrário, elas
próprias contiveram informações que associadas ao verbal fortaleceram o
processo de comunicação.
Esta prática
abordagem d
e textos sincréticos
não desenvolve apenas
habilidades de ler e escrever, também amplia a capacidade de julgamento e o
entendimento do significado social implícito e explícito nos textos.
Apontamos como o entrelaçamento das teorias greimasiana e davilian
a,
contribuiu para a prática do multiletramento, uma vez que preparam o leitor
para construir significados que vão além da simples
decodificação/recodificação, interpretando os sentidos e até mesmo os sinais
que não foram feitos para serem lidos.
198
Este
corpus
ofereceu
-nos a oportunidade de reconhecer a competência
que o educador necessita ter ao apresentar uma imagem para o aluno.
Estando ele em fase de alfabetização, e mostrando dificuldades na construção
do conhecimento que o mais indicado é que as imagens sejam compostas por
um menor número possível de tracemas, exploradores de circularidades, sem
texturemas nem cromemas, evitando imagens saturadas que podem confundir
a criança e desestimulá-la. Um exemplo disso é a embalagem do produto
(figura 61) carregada de saturemas.
Após termos adquirido os fundamentos teóricos e metodológicos das
duas teorias, foi-nos possível compreender e auxiliar os alunos a vencer suas
dificuldades de aprendizagem, analisando as especificidades de cada
manifestação, não perdendo a ótica sobre ‘como e onde’ elas estão inseridas,
mas percebendo as particularidades delas em um sentido socialmente
construído.
Em nosso estudo de caso, percebemos a atração dos alunos pelas
histórias em quadrinhos. Essa mídia foi assimilada de forma lúdica e
espontânea por aproximar
-
se muito do universo infantil e juvenil.
Mostramos avanços significativos no nível de aprendizagem dos alunos
motivados pelos recursos dos quadrinhos, fazendo com que os mesmos
adquirissem autonomia e se apercebessem como protagonistas no processo
de ensino-aprendizagem, provando assim a eficácia desse instrumento
midiático para a educação.
Analisando as produções do aluno, vimos claramente seu progresso e
sua satisfação ao desempenhar as atividades dentro desse context
o
interacional com os quadrinhos. Anterior a este processo, o aluno não
apresentava o desejo do saber. E quando aconteceu o distanciamento dos
encontros, em decorrência do período das férias, notamos um novo bloqueio
que foi igualmente reavivado com a inte
rvenção dos quadrinhos.
A estratégia de utilizar dois textos (um visual e outro sincrético) além de
firmar os conceitos teóricos-metodológicos das duas teorias, amplia ainda mais
a utilidade desta pesquisa, servindo como pólo de apoio aos profissionais do
s
diversos níveis de ensino: alfabetização, ensino fundamental e médio,
abrangendo também as diferentes áreas do conhecimento, em especial a arte,
a língua portuguesa, a estética, a proxêmica, entre outras.
199
Gostaríamos de dizer que encontramos neste Curso de Mestrado em
Comunicação as respostas para nossas indagações: Como desenvolver o
domínio das habilidades de leitura e escrita dos alunos? Como melhorar a
qualidade de ensino? Respostas vividas e revividas a cada passo da trajetória
aqui apresentada.
Diante de tudo o que foi exposto, melhorar a qualidade de ensino é
dever de todos. Professores capacitados fazem a diferença.
Alfabetizador semioticista, uma inovação, porque não? Com certeza, ele
possibilitará a abertura de novos caminhos ao conhecimento e contribuirá na
formação plena de alunos críticos, participativos e transformadores em busca
uma sociedade mais justa, menos excludente e desigual.
200
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208
CD ROOM
EMR
Ensino Médio em Rede Programa de Formação Continuada para
Professores do Ensino Médio (documentos de referência para o ensino médio, anexos
do material impresso e t
extos de apoio), oferecido em 03/05/05.
209
ANEXOS
210
Dados Biográficos da autora da Teoria da Figuratividade: Nícia Ribas
D’Ávila
Nasceu no dia 12 de fevereiro de 1941. Seus pais chamavam-se Mano
el
Ildefonso Ribas D’ Ávila e Feverina Anita Adolorata Burocchi Ribas DÁvila. O
amor à arte iniciou com a família. Sua mãe, de origem italiana, tocava piano e
era cantora lírica. Cresceu num ambiente altamente musical, ouvindo
execuções musicais e o doce cantarolar da mãe. Sua primeira professora de
música, aos
seis anos,
foi Maria Celina Rodrigues (professora Nê).
É sombrinha bisneta, por parte de pai, do grande pintor, desenhista e ilustrador
Antônio da Silva Parreiras de superior talento, Tio Tonico (como seu pai o
chamava), de quem deve ter herdado a paixão pela arte visual. Desde muito
pequena tinha prazer em realizar desenhos e pinturas.
Em 1961 gradua-se em Educação Musical, recebendo Diploma Federal de
Piano pela Faculdade de Música de Santos, e por intermédio desta instituição,
em 1970, conclui seu primeiro mestrado em Piano (concerto).
Em 1971 ingressou na Faculdade de Educação Artística, em São Paulo, antiga
“Maestro Julião”, que no transcorrer do curso se transformou na “Júlio de
Mesquita Filh
o”
UNESP. Foi onde estudou a teoria semiótica verbal com
Dirce Ceribelli (teoria de Peirce). Nesta faculdade as disciplinas eram voltadas
à Música (instrumentação, Direção e Regência de Coro, Banda e Orquestra,
etc.) e às Artes plásticas, somadas à cibernética, psicologia, pedagogia e
prática de ensino, expressão e comunicação na música, nas artes plásticas e
nas artes cênicas, entre outras. Embora sua opção maior tivesse sido
dirigida à
Música,
tudo o que aprendia no verbal em semiótica tentava transferir para o
visual plástico, uma vez que Peirce favorecia mais o caráter visual (era artista
plástico: pirógrafo) do que o musical.
maestrina licenciada em Educação Artística, em pedagogia e em Estudos
Sociais e sem resolver seus questionamentos quanto à significação musical e
algumas respostas apenas para a visual, em 1976, começa na França, o curso
de “Semiologia da Música” na Universidade de Provença (Academia de Aix-
211
Marselha), no curso de Semiologia da Música, com o intuito de melhor
estruturar
-se para absorver a Semiótica da Escola de Paris. Desse modo
preparou sua dissertação de Mestrado sobre a análise semiológica da Música
Brasileira, conectando-a a um trabalho sobre a Linguagem das Percussões do
Brasil.
Tendo que regressar ao Brasil, Nícia continua sua vida de musicista,
professora, maestrina e pesquisadora sobre a Significação na Cultura Musical
de Massa. Ela só retorna à França no final de 1979, para concluir seu mestrado
e suas pesquisas musicais iniciadas em Aix-
en
-Provence, cidade onde morava
,
objetivando prosseguir estudos voltados para a Teoria da Significação”, a
semiótica francesa.
Em 1980, após ter obtido o Mestrado, ela muda-
se para Paris a fim de preparar
seu D.E.A. (Diploma de Estudos Avançados) em Semiótica - Lingüística e
Musical
-
na Universidade Sorbonne
-
Paris III.
A princípio foi aluna de Roland Barthes para ter uma continuidade dos estudos
semiológicos que havia iniciado, mas a grande intenção era chegar a
Greimas, considerado o “papa” da semiótica. Na França, entre os mais
renomados mestres semioticistas, lingüistas e fenomenólogos, encontrou
Coquet que felizmente, conseguiu responder em grande parte, suas
indagações, fornecendo subsídios cognitivos para sua própria caminhada na
eterna
procura do sentido verbo
-
viso
-
sonoro.
Como pedagoga, para fundamentar seu projeto de pesquisa, dedicou-se ao
ensino da cultura musical brasileira a inúmeros grupos que hoje encontram-
se
transformados em Escolas, com mais de trezentas Associações de CMB na
França e com irradicações em vários paí
ses.
Em 06 de maio de 1987, defendeu sua tese em Semiótica Lingüística (Verbal e
Musical) obtendo título de Dra. em "Ciências da Linguagem". Tendo como
orientador Greimas e co-orientador Coquet. Nesta tese ela introduziu uma
teorização para o ritmo (dinâmico/ estatizado = musical, e estático dinamizado
= visual) para dar continuidade às suas pesquisas já mais avançadas em
semiótica visual.
212
Dentre os pós-doutorados realizados, a Université de Paris VIII (Vincennes-
Saint
-Denis) com Michel Costantini, oca
sionou
-lhe o convite para ministrar,
como visitante, a disciplina 'Sémiotique musicale et publicité' e, como
conferencista em Paris VIII e na Sorbonne Panthéon - Paris I, onde apresentou
sua teorização para a semiótica visual, publicada por Paris VIII e Paris I, em
2003, pela editora l'Harmattan. Fez outros estudos pós-doutorais com Jean-
Claude Coquet (Semiótica das Instâncias) e François Rastier (Semiótica das
Culturas), ministrando conferências na Sorbonne Paris V - Université René
Descartes, a convite de
Anne
-
Marie Houdebine.
Acumulou larga experiência na área da Semiótica na Comunicação verbal, não
-
verbal (visual, musical) e sincrética (publicidade televisiva, cinema, jingles). Seu
trabalho fundamenta-se nas Teorias Semióticas da Escola de Paris (Greimas e
Coquet, para a linguagem verbal), e da Teoria Daviliana (para o Não-verbal e
sincrético), com ênfase nos seguintes temas: ritmo, psicomotricidade, síncopa,
aspectualidade, poeticidade, estilo, publicidade, textos visuais, verbais,
musicais (cultura musical popular/ folkcomunicação e erudita). Seus cursos
desenvolvem
-se sob forma direcionada à preocupação pedagógico-
didática
(ensino-aprendizagem) com a Educação (educomunicação e educomídia) e a
formação infanto
-
juvenil (multiletramento).
Hoje em dia, ded
ica
-se em propagar e aprofundar os conhecimentos a respeito
das Teorias da Significação, pois acredita que ainda muito caminho a
percorrer e sabedora, de antemão, que jamais esse assunto "significação"
será esgotado.
A trajetória desta semioticista, pesquisadora de renome internacional está
marcada
na essência pela busca contínua de novos conhecimentos.
“Quero morrer buscando...”
Nícia Ribas D’Ávila
Unimar/ 2006
213
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