Download PDF
ads:
Algumas Considera¸oes sobre Espa¸cos de
Eilenberg-MacLane
´
Evelin Meneguesso
Orientadora: Profa. Dra. Erm´ınia de Lourdes Campello Fanti
Co-orientador: Prof. Dr. Jo˜ao Peres Vieira
Disserta¸ao apresentada ao Departamento de
Matem´atica - IBILCE - UNESP, como parte dos
requisitos para obten¸ao do t´ıtulo de Mestre em
Matem´atica.
ao Jos´e do Rio Preto - SP
Mar¸co - 200 7
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
Meneguesso,
´
Evelin
Algumas considera¸oes sobre Espa¸cos de Eilenberg - MacLane/
´
Evelin Meneguesso - ao Jos´e do Rio Preto : [s.n.], 2007. 92 f.:il
; 30cm.
Orientadora: Erm´ınia de Lourdes Campello Fanti
Co-orientador: Jo˜ao Peres Vieira
Disserta¸ao (mestrado) Universidade Estadual Paulista. Insti-
tuto de Biociˆencias, Letras e Ciˆencias Exatas
1.Top ologia Alg´ebrica. 2.Grupos de Homotopia. 3.Eilenberg-
MacLane, Espa¸cos de. I. Fanti, Erm´ınia de Lourdes Campello.
II. Vieira, Jo˜ao Peres. III. Universidade Estadual Paulista, Ins-
tituto de Biociˆencias, Letras e Ciˆencias Exatas. IV. T´ıtulo.
CDU 515.1 4
ads:
COMISS
˜
AO JULGADORA
Titulares
Prof
a
. Dra. Erm´ınia de Lourdes Campello Fanti - Orientadora
Prof. Dr. Tomas Edson Barros
Prof
a
. Dra. Maria Gorete Carreira Andrade
Suplentes
Prof. Dr. Pedro Luiz Queiroz Pergher
Profa. Dra. Luciana de atima Martins Brito
”O temor do Senhor ´e o princ´ıpio da ciˆencia;
os l oucos desprezam a sabedoria e a instru¸ao”.
Prov´erbios, 1: 7.
Dedico aos meus pais e
meus irm˜aos.
Agradecimentos
Primeiramente agrade¸co a Deus, por me conceder a gra¸ca de concluir mais
esta etapa, por ter me fortalecido nos momentos dif´ıceis e pelas pessoas que
colocou no meu caminho. Em especial agrade¸co:
Aos meus pais e meus irm˜aos pelo carinho, pelos conselhos, pela confian¸ca
e apoio que deles recebi durante todos os anos de minha vida.
`
A Prof
a
. Dra. Erm´ınia de Lourdes Campello Fanti por me iniciar nos
estudos de Topologia Alg´ebrica, pela amizade, pela orienta¸ao, paciˆencia, dis-
ponibilidade e tempo dedicado a este projeto.
Ao Prof. Dr. Jo˜ao Peres Vieira pela co-orient a¸ao e aux´ılio nas corre¸oes
necess´arias para a boa apresent a¸ao deste trabalho.
`
A Prof
a
. Dra. Maria Gorete Carreira Andrade, pela amizade, colabora¸ao
e pela sua alegria sempre presente.
`
A Prof
a
. Dra. Denise de Matto s, pelas sugest˜oes durante o Exame G eral
de Qualifica¸ao.
`
A todos os prof essores que tive desde o col´egio, especialmente `a Prof
a
. Dina
que foi quem me ensinou a amar a Matem´atica. Agrade¸co tamb´em aos profes-
sores do Departamento de Matem´atica do Ibilce, pela for ma¸ao acadˆemica.
`
As queridas amigas Marina, Michelle, Cibele e Aline pelo carinho, apoio e
agrad´aveis momentos que passamos juntas.
Ao meu namorado Rodrigo, pelo apoio e compreens˜ao pelo tempo dedicado
aos estudos em detrimento `a sua aten¸ao.
ao poderia deixar de agradecer `a Capes, pelo apoio financeiro sem o qual
ao seria poss´ıvel a realiza¸ao desse projeto.
Que Deus os aben¸coe.
Sum´ario
Introdu¸ao 10
1 Grupos de Homotopia de Ordem Super ior 13
1.1 Defini¸oes Equivalentes de π
n
(X, x
0
) . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.2 Propriedades asicas e Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . 20
1.3 Grupos de Homotopia Relativa e Sequˆencia Exata Longa . . . . 31
2 CW-Complexos 37
2.1 CW-Complexos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
2.2 Grupo Fundamental e Adjun¸ao de 2 - elulas . . . . . . . . . 44
2.3 Aproxima¸ao Celular e Torre de Postnikov . . . . . . . . . . . . 49
3 Espa¸cos de Eilenberg Mac-Lane 57
3.1 Defini¸ao e Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 57
3.2 Existˆencia dos K(G, n) - Espa¸cos . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
3.3 Exemplos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 62
3.4 Considera¸oes Finais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 64
A Grupo Fundamental 66
A.1 Caminhos Homot´opicos e o Grupo Fundamental . . . . . . . . . 66
A.2 O Grupo Fundamental de S
1
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
A.3 Homomorfismo Induzido e Equivalˆencia de Homotopia . . . . . 80
A.4 Exemplos de Grupos Fundamenta is e o Teorema de Van Kampen 87
Referˆencias Bibliogr´aficas 91
Resumo
O objetivo principal deste trabalho ´e mostrar a existˆencia dos complexos
de Eilenberg-MacLane, ou K(G, n)-espa¸cos (como ao comumente chamados),
para G um grupo arbitr´ario se n = 1, e G abeliano, se n 2. Esses espa¸cos
desempenham um papel muito importante na Topologia Alg´ebrica, principal-
mente na conex˜ao entre homotopia e (co)homologia
Palavras chave: Grupos de Homotopia, CW-Complexos, Aproxima¸ao
Celular, Espa¸cos de Eilenberg-MacLane.
Abstract
The main purpose of this wo rk is to show the existence of t he Eilenberg-
Maclane´s complexes, or K(G, n)-spaces (as they are usually called), for an
arbitrary group G if n = 1, and G abelian, if n 2. Such spaces play a
very important role in Algebraic Topology, mainly in the connection between
homotopy and (co)homology.
Key words: Homotopy Groups, CW-Complexes, Cellular Approximation,
Eilenberg-MacLane Spaces.
Introdu¸c˜ao
Dado um espa¸co topol´ogico X podemos associar a ele uma fam´ılia de
grupos π
j
(X)”, j 1, denominados grupos de homotopia. Se G ´e um grupo
e n ´e um inteiro, n 1, um espa¸co topol´ogico conexo X ´e dito um espa¸co
Eilenberg-MacLane do tipo (G, n) ou um K(G, n)-espco, ou ainda um espa¸co
Eilenberg-MacLane K(G, n), se π
j
(X) = 0, j = n e π
n
(X) G. Tais espa¸cos
desempenham um papel muito importante na Topologia Alg´ebrica principal-
mente na conex˜ao entre homotopia e (co)homologia. O nome ´e devido a Samuel
Eilenberg e Saunders MacLane, mas o caso n = 1 foi estudado por Hurewicz.
A existˆencia de um espa¸co K(G, n), n > 1, o faz sentido para G abeliano, uma
vez que os espa¸cos K(G, n) ao definidos em fun¸ao dos grupos de homotopia
π
n
(X)” e esses ao abelianos se n > 1. Uma importante propriedade dos
espa¸cos K(G, n) ´e que, para um grupo G e Y um CW-complexo, existe uma
bije¸ao entre [Y, K(G, n)] (o conjunto das classes de homotopia de aplica¸oes
de Y em K(G, n), com pontos base) e H
n
(Y, G), o grupo de cohomologia de Y
com coeficientes em G. Os K(G, 1) - espa¸cos, em par ticular, ao muito ´uteis na
teoria dos gr upos. Tais espa¸cos estabelecem uma rela¸ao entre a cohomologia
de grupos e a de espa¸cos uma vez que, para cada k, o grup o de cohomologia
de um grupo G com coeficientes em um ZZG-m´odulo M, H
k
(G, M), ´e isomorfo
a H
k
(X, M), onde X ´e um K(G, 1) e M ´e um sistema de coeficientes locais
sobre X associado ao ZZG-m´odulo M.
O objetivo principal deste trabalho ´e mostrar a existˆencia dos espa¸cos de
Eilenberg-MacLane, ou K(G, n)-espa¸cos, para G um grupo arbitr´ario se n = 1,
e G abeliano, se n 2. Para tanto faz-se necess´ario o estudo de arios concei-
tos e resultados. Dentre os conceitos destacamos, por exemplo, os de grupos
de homotopia de ordem superior (caso absoluto e relativo), CW-complexos e
aplica¸ao celular, e dentre os resultados, o de Aproximao Celular para Pares
e a Torre de Postnikov. Ressaltamos que o a lculo do grupo fundamental do
Introdu¸ao 11
bouquet de c´ırculos, e mais g eralmente do n-´esimo grupo de homotopia do
bouquet de n-esferas, desempenham um papel importante no desenvolvimento
do trabalho.
As principais referˆencias bibliogr´aficas ao [5] e [7].
No Cap´ıtulo 1, apresentamos um estudo sobre grupos de homotopia de
ordem superior. Inicialmente apresentamos trˆes defini¸oes equivalentes do n-
´esimo grupo de homotopia de um espa¸co X baseado no ponto x
0
, denotado
por π
n
(X, x
0
). Em seguida algumas propo si¸oes asicas e exemplos. Mos-
tramos que o grupo π
n
(X, x
0
) de qualquer espa¸co topol´ogico X ´e abeliano se
n 2. Uma propriedade ´util dos gr upos de homotopia de ordem superior ´e
que π
n
(B, b
0
Introdu¸ao 12
que para um CW-complexo X, ser K(G, 1) ´e equivalente a dizer que esse
espa¸co X tem π
1
(X) G e o espa¸co de recobrimento universal contr´actil. A
prova da existˆencia dos K(G, n) - espa¸cos ´e tratada em dois casos separados:
n = 1 e n 2, devido ao fato que π
n
(X, x
0
) ao a belianos para n 2. Para o
caso n = 1 recorremos ao Corol´ario 2.2 .1 e usamos a Torre de Postnikov. a
para o caso n 2, precisamos do resultado seguinte (Proposi¸ao 3.2.2), que
´e similar ao dado no caso n = 1, e que para ser obtido usa um resultado que
relaciona, sob certas hip´oteses, os grupos de homotopia de um par (X, A) e
do quociente X/A (Proposi¸ao 3.2.1), al´em de outro s, como por exemplo, o
alculo do n-´esimo grupo de homotopia do bouquet de n- esferas.
Para todo grupo abeliano G e n 2, existe um CW-complexo (n 1)-
conexo, de dimens˜ao n + 1, tal que π
n
(X) G.
Com esse resultado e o da Torre de Postnikov provamos enao a existˆencia
dos espa¸cos Eilenbeg Mac-Lane K(G, n)” para n 2 e G um grupo abeliano
qualquer (Teorema 3.2.3). Finalizando o Cap´ıtulo apresentamos alguns exem-
plos, analisando os passos da constru¸ao, e fazemos algumas considera¸oes
sobre os espa¸cos de Eilenberg-MacLane.
No Apˆendice ao apresentados alguns pr´e-requisitos, conceitos e resultados
sobre grupo fundamental, com destaque para o grupo fundamental do c´ırculo
unit´ario S
1
e o Teorema de Van-Kampen. Esses pr´e-requisitos ao ´uteis para
definirmos grupos de homotopia de ordem superior e para melhor compreens˜ao
do texto, por´em ao dispens´aveis para quem tem familiaridade com tais opicos.
Cap´ıtulo 1
Grupos de Homotopia de
Ordem Superior
A defini¸ao dos grupos de homotopia de ordem superior de um espa¸co X, usu-
almente denotados po r π
n
(X, x
0
)” n 2, foi dada nos anos 1932 - 1935 por
Eduard Cech (1893 - 1960) e Witold Hurewicz (1904-1956) e ´e de certo modo,
uma extens˜ao natural do conceito de grupo f und amental de X π
1
(X, x
0
)”(vide
Apˆendice). Foi Hurewicz quem deu a defini¸ao mais satisfat´oria para os grupos
de homotopia de ordem superior e provou as propriedades fundamentais. os
apresentaremos aqui trˆes defini¸oes equivalent es para tais grupos (defini¸oes
1.1.1, 1.1.2 e 1.1.5).
Se n ´e um inteiro positivo usamos o s´ımbolo I
n
para denotar o cubo unit´ario
n-dimensional
I
n
= {t = (t
1
, t
2
, . . . , t
n
) R
n
; 0 t
i
1 i}
e I
n
, chamado o bordo de I
n
, denota o seus pontos do bordo
I
n
= { t = (t
1
, t
2
, . . . , t
n
) I
n
; i, t
i
= 0 ou 1}.
(N˜ao devemos confundir aqui o s´ımbolo com o operador bordo normalmente
usado na teoria de homologia.)
13
Defini¸oes Equivalentes de π
n
(X, x
0
) 14
1.1 Defini¸c ˜oes Equivalentes de π
n
(X, x
0
)
Defini¸ao 1.1.1. (A) S eja X um espco e x
0
um ponto de X. Para um
dado inteiro positivo n considere o conjunto F
n
(X, x
0
) de todas as aplicoes
cont´ınuas α do n- cubo unit´ario I
n
em X para os quais α(I
n
) = x
0
. Defina
uma rela¸ao de equivalˆencia
x
0
em F
n
(X, x
0
), a saber, α ´e equivalente odulo
x
0
a β em F
n
(X, x
0
), escrito α
x
0
β, se existe uma homotopia
H : I
n
×I X tal que
H(t
1
, . . . , t
n
, 0) = α(t
1
, . . . , t
n
)
H(t
1
, . . . , t
n
, 1) = β(t
1
, . . . , t
n
), (t
1
, . . . , t
n
) I
n
,
e
H(t
1
, . . . , t
n
, s) = x
0
, (t
1
, . . . , t
n
) I
n
, s I.
Sob esta rela¸ao de equivalˆencia em F
n
(X, x
0
), a classe de equivalˆencia
determinada por α ´e denotada [α] e chamada a classe de ho motopia de α
odulo x
0
ou si mplesmente classe de homotopia de α.
Defina uma operao sobre F
n
(X, x
0
) como segue: pa ra cada α e β em
F
n
(X, x
0
),
(α β)(t
1
, . . . , t
n
) =
α(2t
1
, t
2
, . . . , t
n
), 0 t
1
1
2
β(2t
1
1, t
2
. . . , t
n
),
1
2
t
1
1.
Note que a operao ´e completamente de termi nada pela primeira coordenada
do ponto vari´av e l (t
1
, . . . , t
n
) e q ue a continuidade de α β segue do Lema da
Continuidade (A.1.1). A opera ¸ao induz uma operao sobre o conjunto
das clas s es de homotopi a de F
n
(X, x
0
):
[α] [β] = [α β].
Com esta operao, o conj unto das classes de equivalˆencia de F
n
(X, x
0
) ´e um
grupo. Este grupo ´e chamad o o n-´esimo grupo de homotopia de X com ponto
base x
0
e ´e denotado por π
n
(X, x
0
).
Observao 1.1.1. Como no caso d o grupo fundamental, pode-se verificar
que:
(1) A rela¸ao
x
0
´e uma rela¸ao de equivalˆenc i a sobre F
n
(X, x
0
).
Defini¸oes Equivalentes de π
n
(X, x
0
) 15
(2) A opera¸ao est´a be m definida. Em outras palavras, se α
x
0
α
e
β
x
0
β
ent˜ao α β
x
0
α
β
.
(3) Com a operao , π
n
(X, x
0
) ´e de fato um grupo. Sua identidade ´e
a classe [c] determinada pela apl i cao constante c(I
n
) = x
0
. A inversa
[α]
1
de [α] ´e a classe [α
1
] on de α
1
, chamada a inversa de α, ´e definida
por
α
1
(t
1
, . . . , t
n
) = α(1 t
1
, . . . , t
n
), (t
1
, . . . , t
n
) I
n
.
Par a a pr´oxima defini¸ao usamos que o espa¸co quociente de I
n
obtido pela
identifica¸ao do I
n
a um ponto ´e homeomorfo a n-esfera S
n
. Vamos assumir
que o ponto de identifica¸ao ´e o ponto 1 = (1, 0, 0, . . . , 0) de S
n
, que tem a
primeira coordenada igual `a um e as demais nulas. Enao o conjunto (e con-
seq¨uentemente o grupo ,) π
n
(X, x
0
) pode ser definido em termos de aplica¸oes
de (S
n
, 1) em (X, x
0
), como segue:
Defini¸ao 1.1.2. (B) Para um dado i nteiro positivo n, considere o conjunto
G
n
(X, x
0
) de todas as aplicoes cont´ınuas α, de S
n
em X, tal que α(1) =
x
0
. Defina uma rela¸ao de equivaencia do seguinte modo: Para α e β em
G
n
(X, x
0
), α ´e equivale nte odulo x
0
`a β, escrito α
x
0
β, se existe uma
homotopia H : S
n
× I X tal que H(·, 0) = α e H(·, 1) = β, H(1, s) = x
0
para s I.
A classe de equivalˆencia determinada por α, a qual denotamos por [α], ´e
chamada a classe de homotopia d e α e co nsideramos o conjunto das classes de
homotopia π
n
(X, x
0
) := G
n
(X, x
0
)/
x
0
.
A ope rao em π
n
(X, x
0
) ´e definida em termos da identificao de I
n
com
S
n
. Mais precisamente, sejam α, β G
n
(X, x
0
). A aplicao identificao q
leva os conjuntos
A = {(t
1
, . . . , t
n
) I
n
; t
1
1
2
}, B = { ( t
1
, . . . , t
n
) I
n
; t
1
1
2
}
nos hemisf´erios A
e B
, respectivamente, de S
n
cuja interseao A
B
=
q(A B) ´e hom eomorfo a S
n1
.
Imagine que A
B
´e identifica do com o ponto base 1 pela aplicc˜ao iden-
tificao r. O espco re s ultante consiste de duas n-esferas tange ntes no seus
Defini¸oes Equivalentes de π
n
(X, x
0
) 16
X
r
α
β
pontos comuns. O
n !2.7.7490
Defini¸oes Equivalentes de π
n
(X, x
0
) 17
Defini¸ao 1.1.3. Seja F uma cole¸ao de aplica ¸oes cont´ınuas de um espco
Y em um espco Z. Se K ´e um subconjunto compac to de Y e U ´e um aberto
de Z , seja
W (K, U) = {α F ; α(K) U}.
A fam´ılia de todos esses conjuntos W (K, U) on de K percorre todos os com-
pactos em Y , e U todos os subconjuntos abertos de Z, ´e uma sub-bas e para uma
topologia em F . Esta topol ogia ´e chamada a topologia compacto-aberta para
F .
Como aplicaremos a topologia compacto-aberta somente sobre o conjunto
de la¸cos num espa¸co X, repetimos a defini¸ao para este caso:
Defini¸ao 1.1.4. Seja X um espco e x
0
um ponto d e X. Considere o con-
junto Ω(X, x
0
) de todos os la¸cos em X com ponto base x
0
. Se K ´e um subcon-
junto compacto d e I e U ´e aberto em X, seja
W (K, U) = {α Ω(X, x
0
); α(K) U}.
A fam´ılia de todos os co njuntos W (K, U), ond e K ´e compac to em I e U ´e
aberto em X, ´e uma sub-base para uma topologia em Ω(X, x
0
). Esta topologia
´e a topologia compacto-aberta para Ω(X, x
0
).
Note que abertos asicos na topologia compacto-aberta tem a forma
r
i=1
W (K
i
, U
i
)
onde K
1
, K
2
, . . . , K
r
ao subconjuntos compactos de I e U
1
, U
2
, . . . , U
r
ao
abertos de X. Um la¸co α pertence a este aberto asico se, e somente se,
α(K
i
) U
i
, para cada i = 1, 2, . . . , r.
Proposi¸ao 1.1.1. Se X ´e um espco etrico, a topologia compac to-a berta
em Ω(X, x
0
) ´e equivalente `a topologia da converenci a uniforme.
Demonstra¸ao: Seja d a m´etrica sobre X. Recordemos que a topologia
da convergˆencia uniforme em Ω(X, x
0
) ´e determinada pela m´etrica ρ definida
como se segue: Se α e β pertencem a Ω(X, x
0
) enao
ρ(α, β) = sup{ d(α(t), β(t)), t I}.
Defini¸oes Equivalentes de π
n
(X, x
0
) 18
Enao a topolo gia da convergˆencia uniforme tem como uma base o conjunto
de todas as vizinhan¸cas esf´ericas
S(α, r) = {β Ω(X, x
0
); d(α, β) < r}
onde α Ω(X, x
0
) e r ´e um n´umero positivo.
Denotemos por T e T
, respectivamente, a to pologia compacto-aberta e
a topologia da convergˆencia uniforme para Ω(X, x
0
). Vejamos que T T
.
Seja W (K, U) um aberto sub-b´asico em T , onde K ´e compacto em I e U
´e aberto em X. Seja α W (K, U). Como o conjunto compacto α(K) est´a
contido em U, existe um n´umero positivo ε tal que qualquer ponto p de X com
d(p, α(K)) < ε temos que p U. Para obter tal ε, considere f : α(K) R
tal que f(x) := d(x, X U). Enao como f ´e cont´ınua e α(K) ´e compacto
existe o m´ınimo de f, ou seja, existe t
0
K tal que f (α(t
0
)) f(α(t)), t K.
Enao d(α(t
0
), X U) d(α(t), X U), t K. Tome ε = d(α(t
0
), X U).
Considere o aberto asico S(α, ε) em T
. Se β S(α, ε), enao para cada
t em K,
d(β(t), α( K)) = inf{d(β(t), u), u α(K)} d(β(t), α(t)) < ε.
Assim β( t) est´a em U. Conseq¨uentemente β(K) U, enao β W (K, U).
Agora temos que
α S(α, ε) W (K, U)
e assim W (K, U) ´e aberto em T
. Enao T T
pois T
conem uma sub-base
para T .
Vejamos agora que T
T . Seja S(γ, r), com centro γ e raio r > 0 um
aberto asico em T
. Para provar que S(γ, r) est´a em T , ´e suficiente encontrar
um elemento de T que cont´em γ e est´a contido em S(γ, r). Seja {U
j
} uma
cobertura de X por abertos com diˆametros menores que r, e seja η um n´umero
de Lebesgue para a cobertura {γ
1
(U
j
)} de I. Seja 0 = t
0
< t
1
< . . . < t
n
= 1
uma subdivis˜ao de I por pontos sucessivos diferindo por, no a ximo, η. Enao
para i = 1, 2, . . . , n, γ leva cada um dos conjuntos compactos K
i
= [t
i1
, t
i
]
em um dos abertos da cobertura {U
j
}. Para cada i escolha um aberto, que
denotaremos por U
i
, t al que
γ(K
i
) U
i
; i = 1, 2, . . . , n.
Defini¸oes Equivalentes de π
n
(X, x
0
) 19
Enao
γ
n
i=1
W (K
i
, U
i
)
e este conjunto ´e aberto em T . Se β
n
i=1
W (K
i
, U
i
) ent˜ao ρ(γ, β) ao pode
exceder o aximo dos diˆametros de U
1
, U
2
, . . . , U
n
. Assim ρ(γ, β) < r, e
portanto β S(γ, r). Enao S(γ, r) ´e aberto em T , e T cont´em T
pois
conem uma base de T
. Com isso temos que T T
e T
T , logo T = T
.
Defini¸ao 1.1.5. (C) Se j a X um espco com x
0
X, e considere o conjunto
Ω(X, x
0
) dos la¸cos em X baseados em x
0
com a mR53(h 11.9552 Tf65.64 0 T4)3.5.64 0 TJ/R111 5.9774.188013]T74.1880131691-323.02[(S)41 11conx
Propriedades asicas e Exemplos 20
Assim
t
1
O ˆα
1
(W (K, U)),
logo ˆα
1
(W (K, U)) ´e um aberto e ˆα ´e cont´ınua. Portanto cada membro de
F
2
(X, x
0
) determina de maneira natural um membro de Ω(Ω(X, x
0
), c).
Suponha que invertemos o processo e comecemos com um elemento ˆα de
Ω(Ω(X, x
0
), c). Enao ˆα determina uma aplica¸ao α : I
2
X definida por
α(t
1
, t
2
) = ˆα(t
1
)(t
2
); (t
1
, t
2
) I
2
.
Pode-se verificar que α F
2
(X, x
0
). Temos enao estabelecido uma corres-
pondˆencia biun´ıvoca entre F
2
(X, x
0
) e Ω(Ω(X, x
0
), c), α → ˆα. Al´em disso, te-
mos [α] = [β] (em F
2
(X, x
0
)/
x
0
) se, e somente se, [ˆα] = [
ˆ
β] (em π
1
(Ω(X, x
0
), c)
= Ω(Ω(X, x
0
), c)/
x
0
) pois se H : I
2
× I X ´e uma homotopia represen-
tando a equivalˆencia de α e β como na Defini¸ao A (1.1.1), ent ˜ao
ˆ
H : I × I Ω(X, x
0
);
ˆ
H(t
1
, s)(t
2
) := H(t
1
, t
2
, s); t
1
, t
2
, s I,
´e uma homotopia que a a equivalˆencia dos la¸cos ˆα e
ˆ
β. Invertendo o argumento
mostramos que ˆα equivalente a
ˆ
β implica α equivalente a β. Assim existe uma
correspondˆencia biun´ıvoca entre classes de homotopias [α] da defini¸ao A(1.1.1)
e as classes de homotopias [ˆα] da defini¸ao C (1.1.5). Como a opera¸ao
na defini¸ao A(1.1.1) ´e completamente determinada na primeira coordenada,
segue que para qualquer α, β F
2
(X, x
0
), [α β] corresponde a [ˆα
ˆ
β], ou
seja, [
α β] := [ˆα
ˆ
β], e conseq¨uentemente que a s duas defini¸oes de π
2
(X, x
0
)
fornecem grupos isomorfos.
1.2 Propriedades asicas e Exe mplos
A primeira propriedade a ser tratada ´e relativa a independˆencia do ponto base.
Teorema 1.2.1. Se o espco X ´e conexo por caminhos e x
0
e x
1
ao pontos
de X, en t˜ao π
n
(X, x
0
) ´e i somorfo a π
n
(X, x
1
), para cada n 1.
Demonstra¸ao: O caso n = 1 est´a provado na Proposi¸ao A.1.3. Verifi-
caremos aqui o caso n = 2. Seja γ : I X um caminho com γ(0) = x
0
e
γ(1) = x
1
. Podemos associar a cada a plica¸ao α : (I
2
, I
2
) (X, x
1
), que
representa um elemento [α] π
2
(X, x
1
), um elemento α
: (I
2
, I
2
) (X, x
0
)
Propriedades asicas e Exemplos 21
(que vamos denotar por γ · α) por diminuir o dom´ınio de α a um quadrado
menor, concˆentrico em I
2
e ent˜ao inserir o caminho γ em cada segmento radial
na “faixa”entre o bordo do quadrado menor e I
2
.
x
0
x
0
x
0
x
0
x
1
x
1
x
1
x
1
α
Assim γ ·α produz claramente um elemento de π
2
(X, x
0
) pois (γ ·α)(I
2
) =
{x
0
}. Agora pode-se verificar que se a aplica¸ao γ ´e homot´opica a ρ e α ´e
homot´opica a β (por aplica¸oes fixando I = {0, 1} e I
2
, respectivamente)
enao γ · α ´e homot´opica a ρ · β e porta nto [γ · α] = [ρ · β] em π
2
(X, x
0
).
Ainda γ · (α β) γ · α γ · β. Para ver isso primeiro deformamos α e
α
nas aplica¸oes constantes sobre a s metades direitas e esquerdas de I
2
,
respectivamente, produzindo aplica¸oes que podemos denotar por α 0 e 0 β.
Da´ı eliminamos progressivament e o peda¸co sim´etrico do meio de γ · (α 0) e
γ · (0 β) at´e obter γ · (α β):
Uma f ´ormula expl´ıcita para esta ho motopia ´e
H((s
1
, s
2
), t) =
γ · (α 0)((2 t)s
1
, s
2
), 0 s
1
1
2
γ · (0 β)((2 t)s
1
+ t 1, s
2
),
1
2
s
1
1.
Assim os temos γ · (α β) γ · (α 0) γ · (0 β) γ · α γ · β. Logo
Propriedades asicas e Exemplos 22
temos bem definida uma aplica¸ao
ϕ
γ
: π
2
(X, x
1
) π
2
(X, x
0
)
α [γ · α]
que ´e um homomorfismo pois ϕ
γ
([α] · [β]) = [γ · (α β)] = [γ · α γ · β] =
[γ · α] · [γ · β] = ϕ
γ
([α]) · ϕ
γ
([β]).
Ainda, do fato que (γ · η) · α γ · (η · α) e 1 · α α, onde 1 denota o
caminho constante, segue que, considerando o caminho reverso ¯γ, γ ·(¯γ ·α) α
e ¯γ · (γ · α) α. Logo ϕ
γ
´e um isomorfismo com inverso dado por ϕ
¯γ
.
Note que no caso n = 1 a representa¸ao anterior se reduz a
e a aplica¸ao γ · α ´e o caminho produto γ α ¯γ (como usado para provar a
independˆencia do ponto base no grupo fundamental). O caso n > 2 ´e similar
ao caso n = 2, trabalhando com o cubo n-dimensional I
n
ao inv´es do quadrado
I
2
.
Como no caso do grupo fundamental, ´e usual omitir a referˆencia ao ponto
base, quando conveniente, sempre que X for conexo por caminhos.
Proposi¸ao 1.2.1. Sejam X e Y espcos com pontos x
0
em X e y
0
em Y.
Ent˜ao
π
n
(X × Y, (x
0
, y
0
)) π
n
(X, x
0
) π
n
(Y, y
0
), n 1.
Demonstra¸ao: Sejam p
1
e p
2
as proje¸oes do espa¸co produto X ×Y em
X e Y , respectiva mente:
p
1
: X × Y X, p
2
: X × Y Y
(x, y) → x (x, y) → y
Todo elemento [α] de π
n
(X × Y, (x
0
, y
0
)), onde
α : I
n
X × Y, α(I
n
) = (x
0
, y
0
),
determina elementos [α
1
] e [α
2
] em π
n
(X, x
0
) e π
n
(Y, y
0
), respectivamente, onde
α
1
= p
1
α : I
n
X, α
2
= p
2
α : I
n
Y
Propriedades asicas e Exemplos 23
pois α
1
(I
n
) = p
1
(α(I
n
)) = p
1
(x
0
, y
0
) = x
0
e α
2
(I
n
) = x
1
.
Inversament e, dados [α
1
] π
n
(X, x
0
) e [α
2
] π
n
(Y, y
0
), com
α
1
: I
n
X, α
1
(I
n
) = x
0
e α
2
: I
n
Y, α
2
(I
n
) = x
1
.
Considerando α : I
n
X × Y definida por α := (α
1
, α
2
) temos que α de-
termina um elemento [α] π
n
(X ×Y, (x
0
, y
0
)). Enao obtemos a aplica¸ao h :
π
n
(X×Y, (x
0
, y
0
)) π
n
(X, x
0
)π
n
(Y, y
0
) definida por h([α]) = ([α
1
], [α
2
]), [α]
π
n
(X × Y, (x
0
, y
0
)). Tal aplica¸ao ´e um isomorfismo entre os grupos.
De fato, h ´e injetora, pois dados [α] e [β] pertencent es `a π
n
(X ×Y, (x
0
, y
0
))
tais que h([α]) = h([β]), enao ([α
1
], [α
2
]) = ( [β
1
], [β
2
]). Logo [α
1
] = [β
1
] e
[α
2
] = [β
2
]. Assim, considerando a Defini¸ao A (1.1.1) existem homotopias K
entre α
1
e β
1
e L entre α
2
e β
2
. Tomando H : I
n
× I X × Y definida por
H(t
1
, . . . , t
n
, s) = (K(t
1
, . . . , t
n
, s), L(t
1
, . . . , t
n
, s)) obtemos uma homotopia
entre α e β e assim [α] = [β].
Claramente h ´e sobrejetora pois dado ([α
1
], [α
2
]) π
n
(X, x
0
) π
n
(Y, y
0
)
existe [α] = [(α
1
, α
2
)] π
n
(X × Y, (x
0
, y
0
)) tal que h([α]) = ([α
1
], [α
2
]), al´em
disso h ´e homomorfismo.
Mais geralmente, pode-se mostrar:
Proposi¸ao 1.2.2. Para um produto
α
X
α
de uma cole¸ao qualq uer de
espcos conexos por caminhos X
α
existem isomorfism os π
n
(
α
X
α
)
α
π
n
(X
α
)
para todo n.
Demonstra¸ao: ([5], Proposi¸ao 4.2, p. 343).
Defini¸ao 1.2.1. (Homomorfismo Induzido) Seja f : (X, x
0
) (Y, y
0
) uma
aplicao cont´ın ua sobre os pares indicados. Se [α] π
n
(X, x
0
), n 1, ent˜a o
a composi¸ao f α : I
n
Y ´e uma aplicao cont´ınua que leva I
n
em y
0
,
de modo que f α re presenta um elemento [f α] em π
n
(Y, y
0
). Assim f induz
uma aplicao
f
: π
n
(X, x
0
) π
n
(Y, y
0
)
definida por f
([α]) = [f α], [α] π
n
(X, x
0
), que ´e um homomorfismo . Essa
aplicao f
´e chamad a homomorfismo i nduzido por f na dimens˜ao n.
Proposi¸ao 1.2.3. a) Se f : (X, x
0
) (X, x
0
) ´e a a p l i cao id entidade,
isto ´e, f = id
X
, ent˜ao f
= id
π
n
(X,x
0
)
.
Propriedades asicas e Exemplos 24
b) Se f : (X, x
0
) (Y, y
0
) e g : (Y, y
0
) (Z, z
0
) ao aplicoe s cont´ınuas
sobre os pares indicados , ent˜ao o homomorfi s mo induzido (g f)
´e a
aplicao composta g
f
: π
n
(X, x
0
) π
n
(Z, z
0
) em cada dimens˜ao n.
c) Se h : (X, x
0
) (Y, y
0
) ´e um homeomorfismo ent˜ao o homomorfismo
induzido por h ´e um isomorfismo para cada val or de n.
Demonstra¸ao:
´
E similar `a dada para o grupo fundamental (Proposi¸ao
A.3.1).
Nesse trabalho os grupos de homotopia do c´ırculo e mais geralmente das es-
feras, desempenham um papel importante. Assim estudamos a seguir a rela¸ao
entre os grupos de homotopia de um espa¸co e de seu recobrimento e como con-
sequˆencia determinamos os grupos de homotopia do c´ırculo. Computamos
tamb´em, na sequˆencia, os grupos de homotopia π
i
(S
n
)” para 1 i n.
Ressaltamos que os grupos de homotopia π
i
(S
n
)” para i > n ao ao em
geral conhecidos, muitos casos a foram computados e os resultados ao sur-
preendentes. De fato o estudo dos grupos de homotopia das esferas tem levado
ao desenvolvimento de muitas ferramentas poderosas usadas em Topologia
Alg´ebrica ([5] §4.1, p. 339).
Recordemos que um recobrimento do espa¸co B ´e um par (E, p) tal que
para cada ponto x em B existe um conjunto aberto conexo por caminhos
U B tal que x U e p aplica cada componente conexa por caminhos de
p
1
(U) homeomorficamente sobre U. Cada conjunto aberto U ´e chamado uma
vizinhan¸ca admis s´ıvel ou vizinhan¸ca elementar. O espa¸co B ´e o espco base e
p ´e a proje¸ao de recobrimento. Para maio r es detalhes ver [3], cap´ıtulo 5.
Teorema 1.2.2. Seja (E, p) um espco de recobrimento de B e sejam e
0
em
E e b
0
em B pontos tais que p(e
0
) = b
0
. Ent˜ao o homomorfismo induzido
p
: π
n
(E, e
0
) π
n
(B, b
0
)
´e um m onomorfismo pa ra n = 1 e um isomorfi smo para n 2.
Demonstra¸ao: Considere o caso n = 1,
p
: π
1
(E, e
0
) π
1
(B, b
0
).
Como p
´e um homomorfismo basta provar que essa aplica¸ao ´e injetora.
Sejam [˜α] e [
˜
β] classes de caminhos em π
1
(E, e
0
), tais que p
([˜α]) = p
([
˜
β]),
Propriedades asicas e Exemplos 25
isto ´e, p ˜α p
˜
β ent˜ao ˜α
˜
β, ou seja, [˜α] = [
˜
β] (por [3], Teorema 5.5, p.89).
Logo p
´e injetora e portanto um monomorfismo.
Par a o caso n 2, temos
p
: π
n
(E, e
0
) π
n
(B, b
0
), n 2.
Primeiro vejamos que p
´e sobrejetora. Seja [α] π
n
(B, b
0
) e considere α
como uma aplica¸ao cont´ınua de (S
n
,
¯
1) em (B, b
0
), (o s´ımbolo
¯
1 ´e usado aqui
como o ponto base de S
n
para evitar confus˜ao com o n´umero 1 que exercer´a
tamb´em um papel importante nesta prova ) . Como n 2, o grupo fundamental
π
1
(S
n
,
¯
1) ´e trivial pois S
n
´e simplesmente conexo se n 2 e conseq¨uentemente
α
(π
1
(S
n
,
¯
1)) = 0 p
(π
1
(E, e
0
)),
onde α
´e o homomorfismo induzido por α no grupo fundamental. Pelo Teo-
rema do Levantamento ([3] Teorema 5.10 , p. 95) α tem um levantamento
˜α : (S
n
,
¯
1) (E, e
0
)
tal que p ˜α = α. Enao ˜α determina um elemento [˜α] em π
n
(E, e
0
) para o
qual
p
([˜α]) = [p ˜α] = [α].
Logo, p
´e sobrejetora.
Vejamos agora que p
´e injetora. Suponha que [β] seja um elemento do
kernel de p
, isto ´e,
p
([β]) = [p β] = [c]
onde c ´e a aplica¸ao constante c(S
n
) = b
0
. Como ambas p β e c ao de
(S
n
,
¯
1) em (B, b
0
) e ao equivalentes, enao existe uma homotopia
H : S
n
×I B satisfazendo
H(t, 0) = (p β) (t), H(t, 1) = b
0
, t S
n
, H(
¯
1, s) = b
0
, s I.
Agora o grupo fundamental π
1
(S
n
×I, (
¯
1, 0)) ´e trivial visto que n 2 e as-
sim o Teorema do Levantamento ( [3 ], Teorema 5.3, p. 88 ) se aplica novamente
para mostrar a existˆencia de um levantament o
˜
H : S
n
× I E
tal que p
˜
H = H e
˜
H(
¯
1, 0) = e
0
. A homotopia levantada
˜
H ´e uma homotopia
entre β e a aplica¸ao constante d( S
n
) = e
0
. Para isto observe primeiro que,
p
˜
H(· , 0 ) = H( · , 0) = p β,
˜
H(
¯
1, 0) = β(
¯
1).
Uma conseq¨uˆencia do Teorema do Levantamento ([3], Corol´ario 5.2, p. 87)
garante que
˜
H(· , 0) = β pois S
n
´e conexo. O mesmo argumento mostra que
˜
H(· , 1 ) = d. Resta ver que
˜
H(
¯
1, s) = e
0
para cada s em I. O caminho
˜
H(
¯
1, ·) : I E tem ponto inicial e
0
e ´e um levantamento do caminho cons-
Propriedades asicas e Exemplos 26
tante H(
¯
1, ·) = c = b
0
. Como o ´unico levantamento de c que inicia em e
0
´e o
caminho constante e
0
, enao
˜
H(
¯
1, s) = e
0
, s I.
Assim
˜
H : S
n
× I E ´e uma homotopia tal que
˜
H(· , 0) = β,
˜
H(· , 1) = d,
˜
H(
¯
1, s) = e
0
, s I,
e ent˜ao [β] = [d] ´e o elemento neutro de π
n
(E, e
0
). Logo o kernel de p
conem
somente o elemento neutro de π
n
(E, e
0
) e portanto p
´e injetora.
Exemplo 1.2.1. Os grupos de homo topi a de ordem superior do c´ırculo unit´ario
S
1
ao triviais , isto ´e, π
i
(S
1
) = 0 se i 2. De fato, considere o espco de
recobrimento universal (R, p) do c´ırculo unit´ario S
1
. Pelo teorema anterior
p
: π
i
(R) π
i
(S
1
) ´e um is omorfismo para i 2. Mas todos o s grupos de
homotopia do espa ¸co contr´actil R a o triviai s, logo π
i
(S
1
) = 0 se i 2.
Par a esferas S
n
com n > 1, o que podemos afirmar ´e:
Exemplo 1.2.2. Para i < n, o i-´esimo grupo de homotopia π
i
(S
n
) ´e o grupo
trivial. De fato iss o ser´a provado no cap´ıtulo 2 ap´os falarmos de Aproximao
Celular.
Exemplo 1.2.3. Para n 1, o n-´esim o grupo de homotopia π
n
(S
n
) ´e isomorfo
ao grupo ZZ dos inteiros. Notemos que o caso n=1 foi tratado no Apˆendice
(Proposi¸ao A.2.2). Considere π
n
(S
n
), n 2, como o conj unto das classes de
homotopia das a plicoes α : (S
n
, 1) (S
n
, 1) como na Defini¸ao B (1.1.2).
Dessa forma podemos consid erar o grau da aplicao α (isto ´e, o inteiro r tal
que α
n
([z
n
]) = r[z
n
], onde α
n
: H
n
(K) H
n
(K), K ´e uma triangula¸ao de
S
n
e [z
n
] ´e um gerador (class e fundamental) d e H
n
(K) Z ([3], §3.3)). D efina
ρ : π
n
(S
n
) ZZ; ρ([α]) := grau de α, [α] π
n
(S
n
).
Observe que esta aplicc˜ao e sa bem definida, isto ´e, se α β, com α, β :
S
n
S
n
, e nao grau de α = grau de β ([3], Teorema 3.9, p.52). Agora pode-
se mostrar que ρ ´e injetora, isto ´e, grau de α = grau de β implica α β ([3],
Teorema 3.10, p.53). A aplicao identidade id : (S
n
, 1) (S
n
, 1) tem grau
1 e a descri¸ao da opera ¸a o na Defini¸ao B (1.1.2) mostra que a aplicao
id
k
= id id . . . id (k termos)
tem grau k. E pode-se verificar que [id] ´e um gerador de π
n
(S
n
), ρ([id]
k
) = k e
ρ([id]
k
) = ρ([id
k
]) = k, para qualquer inteiro positivo k. Concluindo assi m
que ρ ´e um isomorfismo.
Como uma consequˆencia do teorema ant erior podemos tamem calcular os
Propriedades asicas e Exemplos 27
grupos de homotopia π
i
(RP
n
), para n 2 e 2 i n, onde RP
n
indica o
espa¸co projetivo real n-dimensional:
Exemplo 1.2.4. O espco pro j etivo real n-d i mensional RP
n
, definido como
o espco quociente de S
n
pela rela¸a o de equivalˆencia que identifica os pon-
tos antipodais (v v) tem, quando n 2, o n-´esimo grupo de homotopia
isomorfo ao grupo Z dos inteiros e π
i
(RP
n
) = 0, se 2 i < n. Com efeito,
considere o recobrimento duplo (S
n
, p) sobre o n-espco projetivo RP
n
. O teo-
rema anterior i mplica que π
i
(RP
n
) π
i
(S
n
), 2 i n. Agora dos exemplos
anteriores, obtemos ent˜ao π
n
(RP
n
) Z, n 2 e π
i
(RP
n
) = 0, se 2 i < n,
como afirmado. Notemos que RP
1
´e homeomorfo a S
1
e assim π
1
(RP
1
) Z.
Nosso objetivo agora ´e mostrar que os grupos de homotopia π
n
(X) ao
abelianos para n 2. Para tanto ser´a ´util o resultado seguinte.
Teorema 1.2.3. Seja G um grupo topol´ogico com elemento e. Ent˜ao π
1
(G, e)
´e abeliano.
Demonstra¸ao: Um grupo topol´ogico ´e um grupo G com uma topologia
sob a qual a opera¸ao de G ´e uma aplica¸ao cont´ınua de G × G em G e a
aplica¸ao g → g
1
´e um homeomorfismo de G sobre G. A o pera¸ao em G
induz uma opera¸ao sobre Ω(G, e), o espa¸co dos la¸cos em G baseados em e,
definida por:
(α β)(t) = α(t) · β(t), α, β Ω(G, e), t I
onde a justaposi¸ao de α(t) e β(t) indica seu produto em G. Esta opera¸ao
tamb´em induz uma opera¸ao sobre π
1
(G, e):
[α] [β] = [α β], [α], [β] π
1
(G, e).
Seja c o la¸co constante e, e sejam [α] e [β] membros de π
1
(G, e). Observe
que
(α c) (c β)(t) = (α c)(t) ·(c β)(t) =
=
(α c)(t) · (c β)(t), 0 t
1
2
(α c)(t) · (c β)(t),
1
2
t 1
=
α(2t) · c( 2 t), 0 t
1
2
c(2t 1) · β(2t 1),
1
2
t 1
Propriedades asicas e Exemplos 28
=
α(2t) · e = α(2t), 0 t
1
2
e · β(2t 1) = β(2t 1),
1
2
t 1
(c α) (β c)(t) = (c α)(t) · (β c)(t) =
=
c(2t) · β(2t), 0 t
1
2
α(2t 1) · c(2t 1),
1
2
t 1
=
e · β(2t) = β(2t), 0 t
1
2
α(2t 1) · e = α(2t 1),
1
2
t 1
Isso nos a que
[(α c) (c β)] = [α β],
[(c α) (β c)] = [β α].
Enao
[α] [β] = [α β] = [(α c) (c β)] = [α c] [c β] =
= [c α] [β c] = [(c α) (β c)] = [β α] = [β] [α].
Logo π
1
(G, e) ´e abeliano. Aqui est´a um fato curioso e adicional, as o pera¸oes
e ao iguais:
[α] [β] = [α β] = [(α c) (c β)] = [α c] [c β] = [α] [β].
Defini¸ao 1.2.2. Um H-espco ou espco de Hopf ´e um e s pco topol´ogico Y
com uma m ultiplicao cont´ınua (indicada pela justaposi¸ao) e um ponto y
0
em Y para o qual a aplicao definida pela multiplicao `a esquerda por y
0
e a
aplicao definida pela multiplica o `a direita por y
0
ao ambas homot´op i cas `a
aplicao identidad e sobre Y por homotopias que deixam y
0
fixado. Em outras
palavras, existem h omotopias L e R de Y × I em Y tais que:
L(y, 0) = y
0
y, L(y, 1) = y, L(y
0
, t) = y
0
,
R(y, 0) = yy
0
, R(y, 1) = y, R(y
0
, t) = y
0
para todo y em Y e t em I. O ponto y
0
´e chamado homotopia unit´aria de Y .
Exemplo 1.2.5. Todo g rupo topol´ogico G ´e um H-espco.
Propriedades asicas e Exemplos 29
Basta tomar as homotopias de G ×I em G como L(g, t) = g e R( g, t) = g.
Exemplo 1.2.6. Se X ´e um espco e x
0
´e um ponto de X, ent˜ao o espco de
la¸cos Ω(X, x
0
) com a topologia co mpacto-aberta ´e um H-espco.
De fato , a multiplica¸ao ´e a opera¸ao (justaposi¸ao de caminhos), e a
homotopia unit´aria ´e a aplica¸ao constante c. As requeridas homotopias L e
R ao definidas para α em Ω(X, x
0
) e s em I por:
L(α, s)(t) =
x
0
, se 0 t
(1s)
2
α(
2t+s1
s+1
), se
(1s)
2
t 1,
R(α, s)(t) =
α(
2t
s+1
), se 0 t
(s+1)
2
x
0
, se
(s+1)
2
t 1.
Teorema 1.2.4. Se Y ´e um H-espco com homotopia unit´aria y
0
, ent˜ao
π
1
(Y, y
0
) ´e abeliano.
Demonstra¸ao: A opera¸ao multiplica¸ao cont´ınua sobre Y induz uma
opera¸ao sobre Ω(Y, y
0
), como no t eorema anterior, definida por:
(α β)(t) = α(t) · β(t), α, β Ω(Y, y
0
), t I.
Esta opera¸ao tamem induz uma opera¸ao sobre π
1
(Y, y
0
):
[α] [β] = [α β], [α], [β] π
1
(Y, y
0
).
Seja c o la¸co constante y
0
, ent˜ao
(α c) (c β)(t) =
α(2t) · y
0
, se 0 t
1
2
y
0
·β(2t 1), se
1
2
t 1
(c α) (β c)(t) =
y
0
· β(2t), se 0 t
1
2
α(2t 1) · y
0
, se
1
2
t 1
Como a multiplica¸ao `a esquerda por y
0
e a multiplicao `a direita por y
0
ao ambas homot´opicas a aplica¸ao identidade de Y enao,
[(α c) (c β)] = [α β],
[(c α) (β c)] = [β α].
Propriedades asicas e Exemplos 30
Assim, considerando a opera¸ao usual em π
1
(Y, y
0
), temos:
[α] [β] = [α β] = [(α c) (c β)] = [α c] [c β] =
= [c α] [β c] = [(c α) (β c)] = [β α] = [β] [α].
Logo π
1
(Y, y
0
) ´e abeliano. Note que, como na prova do teorema anterior
conclui-se que as opera¸oes e ao iguais.
Teorema 1.2.5. Os grupos de homotopia de ordem superior π
n
(X, x
0
), n 2,
de qualquer espco X, ao abeliano s .
Demonstra¸ao: Temos que o segundo grupo de homoto pia π
2
(X, x
0
) =
π
1
(Ω(X, x
0
), c) e assim ´e abeliano pois Ω(X, x
0
) ´e um H-espa¸co com a constante
c como homotopia unit´aria. Procedendo indutivamente, suponha que o
(n 1)-´esimo grupo de homotopia π
n1
(Y, y
0
) ´e abeliano para todo Y . Enao,
π
n
(X, x
0
) = π
n1
(Ω(X, x
0
), c) ´e abeliano, e a prova est´a completa.
Como no caso do grupo fundamental, se f : X Y ´e uma equivalˆencia
de homotopia com f(x
0
) = y
0
enao pode-se provar que f induz isomorfismos
entre π
n
(X, x
0
) e π
n
(Y, y
0
) para todo n. Apresentaremos aqui a prova no caso
particular em que exigimos que os pa res (X, x
0
) e (Y, y
0
) em o mesmo tipo de
homotopia. Isto torna a prova mais simples ([3], teorema 6.14).
Defini¸ao 1.2.3. Sejam X e Y espa¸cos com pontos x
0
em X e y
0
em Y. Di-
zemos que os pares (X, x
0
) e (Y, y
0
) ao homotopicamente equivalentes ou em
o mesmo tipo de homotopia, se existem aplicoes cont´ınuas f : (X, x
0
)
(Y, y
0
) e g : (Y, y
0
) (X, x
0
) para as quais as aplica ¸o e s compostas g f e
f g ao homot´opicas `as aplicc ˜oes identida des s obre X e Y , respectivamen te,
por h omotopias que deixam os pontos bases fixados. Em outras palavras, ´e
exigido que existam homotopias H : X × I X e K : Y × I Y tais que
H(x, 0) = (g f)(x), H(x, 1) = x, H(x
0
, t) = x
0
, x X, t I,
K(y, 0) = (f g)(y), K(y, 1) = y, K(y
0
, t) = y
0
, y Y, t I.
A apl i cao f ´e chamada uma equivalˆencia de homotopia com inversa ho-
mot´opica g.
A prova do pr´oximo resultado ´e similar `a prova da propo si¸ao A.3.2.
Proposi¸ao 1.2.4. Equivalˆencia de homotopia entre pares ´e uma rela¸ao de
equivalˆenci a.
Grupos de Homotopia Relativa e Sequˆencia Exata Longa 31
Teorema 1.2.6. Se uma ap l i cao f : (X, x
0
) (Y, y
0
) ´e uma equivalˆencia
de homotopia entre os pares indica dos, ent˜ao o homomorfismo induzido
f
: π
n
(X, x
0
) π
n
(Y, y
0
) ´e um isomorfismo para cada inteiro n.
Demonstra¸ao: Seja g : (Y, y
0
) (X, x
0
) uma inversa homot´opica para
f e H uma homotopia entre g f e a aplica¸ao identidade sobre X que deixa
x
0
fixo, ent˜ao
H : X × I X
H(·, 0) = g f,
H(·, 1) = id
X
,
H(x
0
, t) = x
0
, t I.
Seja [α] π
n
(X, x
0
), e considere α como uma aplica¸ao de I
n
em X tal que
α(I
n
) = x
0
. Defina uma homotopia K : I
n
× I X por
K(t, s) = H(α(t), s), t I
n
, s I.
Enao,
K(·, 0) = (g f ) α, K(·, 1) = α,
K(I
n
×I) = H({x
0
}× I) = x
0
,
assim
[(g f ) α] = [α].
Isto significa que
g
(f
[α]) = [α],
e portanto g
´e uma inversa `a esquerda pa ra f
. Como f ´e uma inversa ho-
mot´opica para g, conclu´ımos por simetria que g
´e ta mb´em uma inversa `a
direita para f
e ent˜ao f
´e um isomorfismo.
1.3 Grupos de Homot opia Relativa e Sequˆencia
Exata Longa
Generaliza¸oes muito ´uteis dos g r upos de homotopias π
n
(X, x
0
) ao os g r u-
pos de homotopia relativa π
n
(X, A, x
0
) para um par (X, A) com um ponto base
x
0
A.
Defini¸ao 1.3.1. Considere I
n1
como a face de I
n
com a ´ultima coordenada
s
n
= 0 e se j a J
n1
o fecho de I
n
I
n1
, a uni˜ao das faces restantes de I
n
.
Ent˜ao π
n
(X, A, x
0
) para n 1 ´e definido como sendo o conjunto das classes
Grupos de Homotopia Relativa e Sequˆencia Exata Longa 32
de homotopia de aplicoes
ψ : (I
n
, I
n
, J
n1
) (X, A, x
0
)
(isto ´e, que satisfazem ψ(I
n
) A e ψ(J
n1
) = x
0
) com homotopias por
interm´edio de aplicoes da mes ma forma, o u seja [ψ] = [ϕ] se existe uma
homotopia H : I
n
× I X satisfazendo H(u, 0) = ψ(u), H(u, 1) = ϕ(u) e
para cada t fi x o, H
t
(I
n
) A, H
t
(J
n1
) = x
0
, onde H
t
(u) := H(u, t).
Observao 1.3.1. (1) Pode mos ver os grupos de homotopia ab soluta como
um caso especial d os grupos de hom otopia relativa pois π
n
(X, x
0
, x
0
) =
π
n
(X, x
0
).
(2) A defini¸ao do conjunto das classes de homotopia π
n
(X, x
0
) pode ser
dada de modo a incluir o caso n = 0 por tomar I
0
como sendo um
ponto, que vamos denotar por p, e I
0
o conjunto vazio. Ent˜ao dado
x
0
X, π
0
(X, x
0
) ´e exatamente o con j unto das componentes conexas
por caminhos de X pois dado f : I
0
= { p} X ent˜ao f(p) = a X e
[f] = {g : I
0
X para o qual existe um caminh o γ ligando a ao ponto
g(p)}, visto que H : I
0
× I X tal que H(p, t) = γ(t) ´e uma homo-
topia (H(p, 0) = γ( 0) = a = f(p), H(p, 1) = γ(1) = g(p) e a condi¸ao
H(I
0
, t) = x
0
´e satisfei ta uma vez que I
0
= ). Conseuentem ente,
se X ´e conexo por caminhos ent˜ao π
0
(X, x
0
) tem um ´unico elemento.
Por´em ao podemo s dar `a π
0
(X, x
0
) uma estrutura de grupo a ao ser
quando X ´e conexo por caminhos que podemos tomar π
0
(X, x
0
) como
sendo o grupo trivial.
(3) A defini¸ao 1.3.1 ao se estende de maneira natural de modo a in-
cluir o caso n = 0. Assim os deixa remos esse caso sem incluir na
defini¸ao acima. Uma defini¸a o poss´ıvel ´e consi derar π
0
(X, A, x
0
) =
π
0
(X, x
0
)
0
(A, x
0
) (vide [5], Cap.4, exerc´ıcio 9 ).
Opera¸oes: Uma opera¸ao soma ´e definida em π
n
(X, A, x
0
) da mesma
forma como em π
n
(X, x
0
), exceto que a gora a coordenada s
n
desempenha um
papel especial em fun¸ao da escolha de J
n
(e ao tem valor para opera¸ao
soma). Dados [α] e [β] em π
n
(X, A, x
0
), [α] · [β] := [α β], onde
(α β)(s
1
, s
2
, . . . , s
n
) =
α(2s
1
, s
2
, . . . , s
n
), 0 s
1
1
2
β(2s
1
1, s
2
, . . . , s
n
),
1
2
s
1
1.
Grupos de Homotopia Relativa e Sequˆencia Exata Longa 33
Enao π
n
(X, A, x
0
) ´e um grupo para n 2, e este grupo ´e abeliano para
n 3. Para n = 1 temos I
1
= [0, 1], I
0
= {0} e J
0
= {1 }, enao π
1
(X, A, x
0
)
´e o conjunto das classes de homotopias de aplica¸oes α : ([0, 1], { 0}, {1})
(X, A, x
0
), isto ´e, caminhos em X com ponto inicial em um po nto qualquer
(vari´avel) de A e ponto final um po nto base fixo x
0
A. Em geral este ao
´e um grupo de maneira nat ura l. Para n = 2 , I
2
= I × I, I
1
= I × {0}; J
1
=
{0, 1]0, 1] I ×{1}, e π
2
(X, A, x
0
) = {[α]; α : (I
2
, I
2
, J
1
) (X, A, x
0
)}.
I
2
I
2
J
1
Observao 1.3.2. (1) Exatamente como ele mentos de π
n
(X, x
0
) podem ser
considerados como classes de homotopias de aplicoes (S
n
, s
0
) (X, x
0
)
(onde S
n
= I
n
/∂I
n
e s
0
= I
n
/∂I
n
), ex i s te uma defini¸ao alternativa
de π
n
(X, A, x
0
) como o conjunto das classes de homotopi as de aplicoes
(D
n
, S
n1
, s
0
) (X, A, x
0
), pois deform ando J
n1
(que ´e o fe-
cho de I
n
I
n1
) num ponto que vamos denotar por s
0
convertemos
(I
n
, I
n
, J
n1
) em (D
n
, S
n1
, s
0
). Deste ponto de vista, a opera ¸a o do
grupo ´e fe i ta via a aplicao c : D
n
D
n
D
n
deformando D
n1
D
n
em um ponto.
(2) At´e agora usamos, em geral, as letras gregas, como α e β, para indicar
aplicoes de S
n
X cujas class es [α], [β] representam elementos dos
grupos de homo topi a, seguindo a nota¸ao de [3] e [7]. No entanto, para
[5], os elementos dos grupo s de homotopia relativa ou mes mo absoluta ao
indicados por [f], [g] e em muitas oca so es esta ser´a tamb´em a nota¸ao
usada aqui. Tamb´em levando em conta a nota¸ao em [5], nos cap´ıtulos 2
e 3 ´e comum o uso das letras α e β para i ndicar ´ındices, o que n ˜ao causa
confus˜ao (embora entendemos ao ser uma nota¸ao muito apropriada).
Uma reformula¸ao ´util do que significa para um elemento de π
n
(X, A, x
0
)
ser trivial ´e dada pelo seguint e crit´erio:
Proposi¸ao 1.3.1. (Crit´erio da Compress˜ao) Uma aplica ¸a o
f : (D
n
, S
n1
, s
0
) (X, A, x
0
) re presenta o zero em π
n
(X, A, x
0
) se, e so-
mente se, ela ´e ho mot´op i ca relativamente a S
n1
`a uma aplica¸ao com image m
contida em A.
Grupos de Homotopia Relativa e Sequˆencia Exata Longa 34
Demonstra¸ao: (=) Suponhamos que [f] = 0 em π
n
(X, A, x
0
). Enao
existe uma homotopia F : D
n
×I X (entre f e a aplica¸ao constante x
0
),
satisfazendo F (x, 0) = f(x), F (x, 1) = x
0
, x D
n
, e para cada t I,
F (u, t) A, u S
n1
, isto ´e, F (S
n1
× I) A.
Queremos definir uma homotopia
˜
F : D
n
× I X, estacion´aria sobre
S
n1
, entre f e uma aplica¸ao g, com Im(g) A. A id´eia ´e definir a homotopia
˜
F atrav´es da restri¸ao da F a uma fam´ılia de n-discos em D
n
× I, iniciando
em D
n
× {0} e terminando em D
n
× {1} S
n1
× I (todos os discos dessa
fam´ılia tendo o mesmo bordo).
Par a tanto considere os discos
˜
D
n
t
, t I, dados por
˜
D
n
t
= S
n1
×[0, t] D
n
×{t}.
Ilustrando no caso n = 2.
˜
D
2
0
˜
D
2
t
˜
D
2
1
Note que
˜
D
n
t
= S
n1
×{0} D
n
× I, t. Restringindo F a essa fam´ılia
de discos e considerando que, para cada t, D
n
× {t} ´e homeomorfo a
˜
D
n
t
via
um homeomorfismo ϕ
t
, com ϕ
0
= id e ϕ
t
(u, t) = (u, 0), u S
n1
= D
n
,
definimos ent˜ao uma homotopia
˜
F : D
n
× I X; (x, t) → F (ϕ
t
(x, t))
tal que
˜
F (x, 0) = F (x, 0) = f(x), x D
n
.
Para cada t fixo, t [0, 1] e u S
n1
= D
n
,
˜
F (u, t) = F (ϕ
t
(u, t)) =
F (u, 0) = f(u) A.
Tomando g(x) :=
˜
F (x, 1) temos que Im(g) A pois Im(g) =
˜
F (D
n
×
{1}) = F (ϕ
1
(D
n
× {1})) = F (
˜
D
n
1
) = F (D
n
× {1} S
n1
× I) A,
porque F (D
n
× {1}) = x
0
e F (S
n1
×I) A.
Assim f ´e homot´opica, por uma homotopia estacion´aria sobre S
n1
, a uma
aplica¸ao g : (D
n
, S
n1
, s
0
) (X, A, x
0
) cuja imagem est´a contida em A,
como desejado.
Grupos de Homotopia Relativa e Sequˆencia Exata Longa 35
(=) Suponhamos f g por uma homotopia estacion´aria sobre S
n1
,
com Im(g) A. Afirmamos que [g] = 0 em π
n
(X, A, x
0
). De fato , como
D
n
´e contr´actil a s
0
, existe uma homotopia K : D
n
× I D
n
tal que
K(x, 0) = x = id
X
(x) e K(x, 1) = s
0
. Tomemos a composta
˜
K = g K : D
n
× I
K
D
n
g
X.
Enao
˜
K ´e uma homotopia entre g e a aplica¸ao constante x
0
pois
˜
K(x, 0) =
g(K(x, 0)) = g(x),
˜
K(x, 1) = g(K(x, 1)) = g(s
0
) = x
0
, e para todo u
S
n1
,
˜
K(u, t) = g(K(u, t)) A, visto que Im(g) A. Assim [f] = [g] = 0
em π
n
(X, A, x
0
).
Homomorfismo Induzido: Como no caso absoluto uma aplica¸ao
ϕ : (X, A, x
0
) (Y, B, y
0
) induz uma aplica¸ao
ϕ
: π
n
(X, A, x
0
) π
n
(Y, B, y
0
)
que ao homomorfismos para n 2 e em propriedades an´a logas `aquelas no
caso absoluto: (ϕ ψ)
= ϕ
ψ
, (id
X
)
= id
π
n
(X,A,x
0
)
e ϕ
= ψ
se ϕ ψ
atrav´es de aplica¸oes (X, A, x
0
) (Y, B, y
0
).
Provavelmente a caracter´ıstica mais ´util dos grupos de homotopia relativa
π
n
(X, A, x
0
) ´e que eles se encaixam numa seq¨uˆencia exata longa.
Proposi¸ao 1.3.2. Seja (X,A,B) uma tripla de e s pcos topol´ogicos e x
0
B A X. Ent˜ao a seguinte seencia ´e exata:
··· π
n
(A, B, x
0
)
i
π
n
(X, B, x
0
)
j
π
n
(X, A, x
0
)
π
n1
(A, B, x
0
) ···
π
1
(X, A, x
0
).
Em particular, considera ndo B = x
0
, podemos concluir que a seq¨e ncia para
pares ( X,A) ´e exata:
··· π
n
(A, x
0
)
i
π
n
(X, x
0
)
j
π
n
(X, A, x
0
)
π
n1
(A, x
0
) ··· π
0
(X, x
0
).
Demonstra¸ao: ([5], Teorema 4.3 , p. 344)
Observao 1.3.1. (1) Nas sequˆencias anteriores i
e j
ao as aplicoes
induzidas das inclus˜oes naturais (de pares). A aplicao , denomi-
nada aplicao bordo, vem das aplicoes restri¸oes (I
n
, I
n
, J
n1
)
Grupos de Homotopia Relativa e Sequˆencia Exata Longa 36
(X, A, x
0
) para I
n1
, ou (D
n
, S
n1
, s
0
) (X, A, x
0
) para S
n1
. Tal
aplicao ´e um homomorfismo quando n > 1.
(2) Pr´oximo ao fim d as seencias, onde estruturas de grupo ao est˜ao defi-
nidas, a exatid˜a o tamb´e m ´e cons i derada no seguinte sentido: A imagem
de uma aplica ¸a o ´e o “kernel” da pr´oxima, onde o kernel ´e considerado
como o conjunto dos elementos que ao levados na classe de homotopia
da aplicao constante.
Defini¸ao 1.3.2. Um espco topol´ogico X com ponto bas e x
0
´e chamado n-
conexo se π
i
(X, x
0
) = 0 para todo i n. Assim es pco 0- conexo sign i fica
conexo por caminhos e 1-co nexo significa espco simplesmente conexo. Um
par (X, A) ´e n-con exo se π
i
(X, A, x
0
) = 0 para todo i n.
Observao 1.3.3. (1) Em espa ¸cos n-conexos a escolha d o ponto base x
0
ao ´e relevante poi s n-conexo implica 0-conexo e assim conexo por ca-
minhos.
(2) Notemos que S
n
´e (n-1)-co nexo, como vimos no exemplo 1.2.2.
(3) Se π
0
(X, A, x
0
) ao foi d efinido, temos que exigir (na defini¸ao de par
n-conexo) que π
i
(X, A, x
0
) = 0 para 1 i n e que cada componente
conexa por caminhos de X contenha pontos de A.
Cap´ıtulo 2
CW-Complexos
2.1 CW-Complexo s
Intuitivamente um CW-complexo ´e um espa¸co topol´o gico de Hausdorff que
admite uma determinada “decomposi¸ao celular”, atrav´es de “c´elulas e
n
”onde
e
n
denota uma elula aberta de dimens˜ao n (que ´e homeomorfa ao disco aberto
n-dimensional). Tomamos as zero-c´elulas e
0
como pontos (v´ertices); uma 1-
c´elula e
1
´e homeomorfa ao intervalo ] 1, 1[; uma 2-c´elula e
2
´e homeomorfa ao
interior do disco unit´ario D
2
= { (x, y) R
2
; x
2
+ y
2
1} e assim por diante.
Mais precisamente temos ([8], p. 214):
Defini¸ao 2.1.1. Um CW-complexo ´e um es pco X e uma cole¸c ˜ao de elulas
abertas e
n
α
cuja uni˜ao ´e X tal que:
(1) X ´e Hausdorff .
(2) Para cada n-c´elula aberta e
n
α
da cole¸ao, existe uma aplicao cont´ınua
φ
α
: D
n
X (onde D
n
:= { x R
n
; x ≤ 1} ) que aplica int(D
n
)
homeomorficamente sobre e
n
α
e leva D
n
= S
n1
numa uni˜ao finita de
elulas abertas, cada uma de dimens˜ao menor do que n.
(3) Um conj unto A ´e fechado em X se A
¯e
α
´e fechado em ¯e
α
para cada α.
A parte finita da condi¸ao (2) foi chamada fecho finito (“closure-finiteness”)
por J. H. C. Whitehead. A condi¸ao (3 ) expressa o fat o que X tem o que ele
chamou de topolo gia fraca (“weak topology”) relativa `a cole¸ao {¯e
α
}. Estes
termos ao a origem das letras C e W na frase “CW-complexo”.
37
CW-Complexos 38
Observamos que as condi¸oes (1) e (2) implicam que φ
α
leva D
n
sobre
¯
e
n
α
e
(D
n
) sobre
¯
e
n
α
e
n
α
. De fato, como φ
α
´e cont´ınua, φ
α
leva D
n
, que ´e o fecho
do int(D
n
), no fecho de φ
α
(int(D
n
)), que ´e
¯
e
n
α
. Como φ
α
(D
n
) ´e compacto, ele
´e fechado ( pois X ´e Hausdorff); e porque esse conjunto conem e
n
α
, tamb´em
conem
¯
e
n
α
. Assim φ
α
(D
n
) =
¯
e
n
α
. Finalmente, como φ
α
(D
n
) ´e disjunto de e
n
α
enao ´e igual
¯
e
n
α
e
n
α
.
Notemos tamb´em que a rec´ıproca de (3) ´e satisfeita trivialmente; se A ´e
fechado em X, enao A
¯
e
n
α
´e fechado em
¯
e
n
α
para cada α.
Observao 2.1.1. (1) A aplica o φ
α
: D
n
X ´e chamada uma aplica-
¸ao caracter´ıstica para cada elula e
n
α
. Por um abuso de nota¸ao ´e co-
mum usar o s´ımbol o X para referir ambos , o CW-complexo e o espco
adjacente.
(2) Seja X um CW-complexo, considerando X
n
= { e
i
; 0 i n}, podemos
ver X =
X
n
. O subconjunto X
n
de X ´e cham ado d e n-esqueleto de
X. Os pontos de X
0
ao chamados de ertices ou 0-c´elulas.
(3) Um CW-com plexo X ´e dito s er finito ou infi nito se o n´umero de elulas
em X ´e fini to ou infinito, respectivamente. Se X = X
n
para algum n o
CW-complexo ´e dito de dimens˜ao fini ta e o menor inteiro n para o qual
isso ocorre ´e chamado a dimens˜ao de X.
(4) Observe que uma apli cao caracter´ıs tica φ
α
: D
n
X ´e uma extens˜ao
de uma a plicao ϕ
α
: S
n1
X
n1
, ch amada aplicao de “cola gem”.
Esta ϕ
α
´e usada para obter X
n
de X
n1
“colando” elulas e
n
α
, isto sig-
nifica que X
n
´e o espco quoc iente da uni˜ao d i sjunta X
n1
α
D
n
α
de
X
n1
com a cole¸ao de n-di scos D
n
α
sob as identifica¸oes x ϕ
α
(x) para
x D
n
α
= S
n1
. Ent˜ao como um conjunto, X
n
= (X
n1
α
e
n
α
)/
onde cada e
n
α
´e um n- d isco aberto.
Defini¸ao 2.1.2. Um subcomplexo de um complex o X ´e um subespco fe-
chado A X que ´e a uni˜ao de elulas de X. Como A ´e fech ado a aplicao
caracter´ıstica de ca da elula em A tem ima g em contida em A, e tamb´em a
imagem da aplica o colagem de cada elula est´a con tida em A, assi m A ´e um
CW-complexo. Em particular, cada esqueleto X
n
de um complexo celular ´e
um subcomplexo. Um par (X,A) consistindo de um complex o celular X e um
subcomplexo A ser´a chamado um par de CW-co mplexos ou um par CW.
CW-Complexos 39
Exemplo 2.1.1. Um com plexo celular 1-dimensional X = X
1
´e chamado um
grafo na topologia alg´ebrica. Ele consiste de ertices (as 0-c´elulas) nos quais
arestas (as 1-c´elulas) ao co l adas. Note que os extremos de uma aresta podem
ser colados num mesm o ertice .
Exemplo 2.1.2. A esfe ra S
n
tem uma estrutura celular ( canˆonica) de um
CW-complexo com exatamente duas elulas, e
0
e e
n
, a n-c´elula ´e colada pela
aplicao co nstante S
n1
e
0
. Isto ´e equivalente a enxergar S
n
como o
espco quociente D
n
/∂D
n
.
Exemplo 2.1.3. O toro T
2
admite uma estrutura celular 2-dimensional, com
uma 0-c´elula, duas 1-c´elulas e uma 2- c´elula:
T
2
= e
0
e
1
1
e
1
2
e
2
.
Exemplo 2.1.4. O espa¸co projetivo real n-dimensional, d enotado por RP
n
´e
definido como sendo o espco de todas as retas que passam pela origem em
R
n+1
. Cada tal reta ´e determinada por um vetor ao-nulo em R
n+1
, ´unico a
menos de multiplicao por escalar, e RP
n
´e topologizado como o es pco quoci-
ente de R
n+1
{0} sob a rela¸ao de equivaencia v λv para escalares λ = 0.
Podemos restringir para vetores de taman ho 1, en t˜ao RP
n
´e tamb´em visto
como o espco quociente S
n
/(v v), a esfera com pontos antipodais ide n-
tificados (como mencionado no exemp l o 1.2.4). Isto ´e equivalente a dizer que
RP
n
´e o espco quoc i e nte de um hemisf´erio D
n
com pontos antipodais de D
n
identificados. Como D
n
com pon tos antipodais identificados ´e exatamente
RP
n1
, vemos que RP
n
´e obtido de RP
n1
pela colage m de uma n-c´elula, com
a proje¸a o quociente S
n1
RP
n
como as aplicoes de colagem. Segue por
indu¸ao sobre n que RP
n
tem uma estrutura celular com uma c´elula e
i
em
cada d i mens˜ao i n:
RP
n
= e
0
e
1
··· e
n
Notemos que RP
k
ao subcomplexos d e RP
n
para k n.
Ainda, como RP
n
´e obtido de RP
n1
colando uma n-c´elula, a uni˜ao infinita
RP
=
n
RP
n
se torna um complexo cel ular co m uma elula em cada di-
mens˜ao. Podemos tamb´em ver RP
como o espco de retas que passam pela
origem em R
=
n
R
n
.
Exemplo 2.1.5. O n-espco projetivo complexo CP
n
´e o espco das retas
(complexas) passando pela origem em C
n+1
, isto ´e, subespc o de vetores 1-
dimensional de C
n+1
. Como no caso de RP
n
, ca da re ta ´e determi nada por
CW-Complexos 40
um vetor ao-nulo em C
n+1
, ´unico a me nos de multiplicao por escalar, e
CP
n
´e topologizado como o espco quociente de C
n+1
{0} sob a rela¸a o de
equivalˆenci a v λv para λ = 0. Equival e ntemente, este ´e o espco quoci ente
obtido da esfe ra unit´aria S
2n+1
C
n+1
, com v λv para | λ |= 1.
´
E tamb´em
poss´ıvel obter CP
n
como o espco quocien te d o disco D
2n
sob as identificoes
v λv para v D
2n
, da seguinte maneira. Os ve tore s em S
2n+1
C
n+1
com a ´ultima coord enada real e ao negativa ao precisamen te os vetores d a
forma (w,
1 | w |
2
) C
n
× C com | w |≤ 1. Tais vetores formam o g rafo
de uma fun¸c˜ao w →
1 | w |
2
. Este ´e um disco D
2n
+
limitado pel a esfera
S
2n1
S
2n+1
consistindo dos vetores (w, 0) C
n
× C com | w |= 1. Cada
vetor em S
2n+1
´e equivalente sob identificoes v λv `a um vetor em D
2n
+
,
e o ´ultimo vetor ´e ´unico se s ua ´ultima coordenada ´e ao-nula. Se a ´ultima
coordenada ´e zero, temos exatamente as identificc ˜oe s v λv para v S
2n1
.
Desta descri¸ao de CP
n
como o espco q uociente do disco D
2n
+
sob as iden-
tificoes v λv para v S
2n1
segue que CP
n
´e obtido de CP
n1
pela cola-
gem de uma elula e
2n
via a aplicao q uociente S
2n1
CP
n1
. Ent˜ao por
indu¸ao sobre n, obtemos uma e strutura celular CP
n
= e
0
e
2
···e
2n
com
elulas somente nas dimens˜oes pares. Similarmente, CP
tem uma estrutura
celular com uma el ula em cada di mens˜ao par.
Observao 2.1.1. Existem inclus˜oes naturais S
0
S
1
··· S
n
, mas
estas subesfera s ao s˜ao subcomplexos de S
n
na sua estrutura celular usual com
exatamente duas elulas. No entanto, podemos dar `a S
n
uma estrutura celular
diferente na qual ca da uma das subesferas S
k
´e um subcomplexo, olhando cada
S
k
como s endo obtida indutivamente do eq uad or S
k1
colando duas k-c´elulas,
as componentes de S
k
S
k1
. A esfera de dimens˜ao infinita S
=
n
S
n
ent˜a o se torna um complexo celular tamb´em. Note que a aplicao quociente
S
RP
que i dentifica pontos antipodais de S
identifica as duas
n-c´elulas de S
na ´unica n-c´elula de RP
.
Complexos celulares tˆem uma boa mistura de rigidez e flexibilidade, com
rigidez suficiente para permitir que alguns argumentos procedam numa com-
bina¸ao padr˜ao elula-por-c´elula e flexibilidade suficiente para permitir que
algumas constru¸oes naturais sejam executadas sobre eles de mo do a obter
novos complexos celulares. Aqui est˜ao algumas dessas constru¸o es.
CW-Complexos 41
Exemplo 2.1.6. 1.Produto. Se X e Y ao CW-complexos ent˜ao X × Y
tem a estrutura de um CW-co mplexo tendo como e l ulas o s produtos e
m
α
× e
n
β
onde e
m
α
percorre todas as elulas de X e e
n
β
percorre todas as elulas de Y .
Por exemplo, a estrutura celular do toro S
1
× S
1
(j´a descrita) ´e ob tida deste
modo conside rando a estrutura celular padr˜ao de S
1
. No caso geral existe, no
entanto, uma pequena complicao: A topologia sobre X × Y como um CW-
complexo ´e `as vezes despre zadamente mai s fraca do que a topologia produto,
com mais conjuntos abertos do que a topo l ogia produto tem, embora as duas
topologias coincidam se X ou Y tem um n´umero finito de elulas ou ambos X
e Y em uma quantidade enumer´avel de elulas.
2.Quocientes. Se (X, A) ´e um par CW cons i s tind o de um CW-complexo
X e um subcomplexo A, ent˜ao o espco q uociente X/A herda uma estrutura
celular natural de X. As elulas X/A ao as elulas de X A mais uma nova
0-c´elula, a i magem de A em X/A. Para cada elula e
n
α
de X A colada por
ϕ
α
: S
n1
X
n1
, a aplicao cola gem para a co rrespondente elula em
X/A ´e a composi¸ao S
n1
X
n1
X
n1
/A
n1
.
Por exemplo, se damos a S
n1
qualquer es trutura celular e constru´ımos D
n
de S
n1
colando uma n-c´elula, enao o quociente D
n
/S
n1
´e S
n
com sua estru-
tura celular usual. Um outro exemplo, tome X como uma superf´ıcie orient´avel
fechada com a estrutura cel ular tendo uma ´unica 2- c´elula, e seja A o comple-
mentar dessa 2-c´elula (o 1-esqueleto de X). Ent˜ao X/A tem uma estrutura
celular co nsistindo de uma 0-c´elula com uma 2-c´elula colada, e exis te somente
uma maneira de colar uma 2-c´elula `a uma 0-c´elula, pela aplicao constante.
Assim X/A ´e S
2
.
3.Suspens˜ao. Para um espco X, a suspens˜ao SX ´e o quociente de
X × I obtido pela deforma¸ao de X × {0} a um pon to e X × {1} a outro
ponto. O exemplo motivador ´e X = S
n
, onde SX = S
n+1
com os dois “pontos
de suspens˜ao ”no olo norte e sul de S
n+1
, os pontos (0 , 0, . . . , ±1). Podemos
considerar SX como um cone duplo sobre X, a uni˜ao das duas c´opias do cone
CX = (X × I)/(X ×{0}).
CW-Complexos 42
Se X ´e um CW-complexo, ent˜ao tamb´em ao SX e CX visto como quocien-
tes de X ×I com a estrutura celular produto, sen do dado a I a estrutura celular
padr˜ao de duas 0-c´elulas unidas por uma 1-c´elula. Uma proprieda de especi-
almente ´util de suspe nao ´e que ao som ente espcos mas tamb´e m aplicoes
podem ser suspensas. Isto ´e, uma aplica o f : X Y s uspende para
Sf : SX SY , a aplicao quocien te de f × id
I
: X × I Y ×I.
4.Join (Jun¸ao). O cone CX ´e a uni˜ao de todos os segmentos de retas
ligando pontos de X a um ertice externo, e similarmente a suspens˜ao SX ´e
a uni˜ao de todos os segmentos de retas ligando pontos de X a dois v´ertices
externos. Mais g eralmente, dados X e um segundo espco Y , pode-se definir o
espco de todos segmentos de retas ligan do pontos de X a pontos de Y . Isto ´e,
o join (jun¸ao) X Y ´e o espco quocien te de X ×Y ×I sob as identificoes
(x, y
1
, 0) (x, y
2
, 0) e (x
1
, y, 1) (x
2
, y, 1). Assim estamos deformando o
subespco X × Y × {0} em X e X × Y ×{1} em Y . Por exemplo , se X e Y
ao ambos intervalos fechad os, estamos deformando as duas faces opostas de
um c ubo sobre segmentos de retas de modo que o cubo se torna um tetraedro.
X
I
Y
No caso ge ral, X Y cont´em c ´op i as de X e Y e seus dois “extremos”, e
todos os outros pontos (x, y, t) em X Y est˜ao s o bre um ´unico segmento de
reta colando o ponto x X X Y ao ponto y Y X Y , o segmento
obtido por fixar x e y e conside/R51 11.955 Tf10.08 0 Td[(e)-1.0/R34 11.9552 Tf55 3093.337(s)-1Y Xe o
CW-Complexos 43
convexo de dimens˜ao n 1 chamado um simplexo. Concretamente, se os n
pontos ao os n vetores asicos padr˜ao para R
n
, ent˜ao seus joins ´e o e s pco
n1
= { (t
1
, . . . , t
n
) R
n
; t
1
+ . . . + t
n
= 1 , t
i
0}.
Se X e Y ao CW-complexos, ent˜ao e xiste uma estrutura cel ular natural
sobre X Y tendo os subespcos X e Y como subcomplexos, com as elulas
restantes sendo o produto celular de X × Y × (0, 1).
5.Soma Wedge. Esta ´e uma operao trivial mas ainda muito ´util. Da-
dos es pcos X e Y com pontos es colhidos x
0
X e y
0
Y , ent˜ao a soma
wedge X Y ´e o quocie nte d a uni˜ao disjunta X
Y obtido pe l a identificao
de x
0
e y
0
em um ´unico ponto. Por exemplo, S
1
S
1
´e homeomorfo a figura
“8”, doi s c´ırculos se tocando num ponto. Mais geralmente, podemos formar a
soma wedge
α
X
α
de uma cole¸ao arbitr´aria de espcos X
α
come¸cando com
a uni˜ao dis j unta
α
X
α
e identifican do pontos x
α
X
α
em um ´unico ponto.
No caso dos espcos X
α
serem CW-complexos e os pontos x
α
serem 0-c´elulas,
ent˜a o
α
X
α
´e um CW-complexo poi s ele ´e obtido do CW-complexo
α
X
α
deformando um subco mplexo num ponto.
Em pa rticular temos o bouquet de n-esferas: X =
λA
S
n
λ
, que tem
uma estrutura de CW-complexo n-dimension a l , com uma ´unica 0-c´elula, e
0
,
e uma n-c´elula, e
n
λ
, para cada elemento λ de A. Em especial, o bouquet de
c´ırculos X =
λA
S
1
λ
´e um CW-complexo 1-dim e nsional.
Notemos que para qualquer CW-complexo X, o quociente X
n
/X
n1
´e uma
soma wedge de n-esferas
α
X
α
com uma esfera para cada n-c´elula de X.
6.Produto Smash. Sobre um espco produto X ×Y existem opias de X
e Y , a saber X × {y
0
} e {x
0
} × Y para pontos x
0
X e y
0
Y . Estas duas
opias de X e Y em X × Y se intercep tam somente no ponto (x
0
, y
0
), assim
a uni˜ao delas pode ser id entificada com a soma w edge de X Y . O produto
smash X Y ´e ent˜ao definido como o quoc i ente X × Y/X Y .
O prod uto smash X Y ´e um CW-complexo se X e Y ao CW-compl exos
com x
0
e y
0
como 0-c´elulas, assumin do que atribu´ımos a X × Y a topologia
Grupo Fundamental e Adjun¸ao de 2 - C´elulas 44
de CW-complexo preferencialmente `a topologia produto no s casos on d e essas
duas topologias diferem. Por ex emplo, S
m
S
n
tem uma estrutura celular com
somente duas elulas de dimens˜ao 0 e m + n, conseq ¨uentemente S
m
S
n
=
S
m+n
. Em particular, quando m = n = 1 vemos que deformando c´ırculos
longitudinais e me ridionais de um toro em um ponto produzimos uma 2-esfera,
isto ´e, S
1
S
1
= T /(S
1
S
1
) = S
2
.
´
E interessante observar que o espa¸co de recobrimento de um CW-complexo
conexo ´e tamb´em um CW-complexo, mais precisamente:
Proposi¸ao 2.1.1. Seja X um espco topol´ogico conexo com estrutura de
CW-complexo. Considere
˜
X s eu espco de recobrimento e p :
˜
X X a
proje¸ao associada. Ent˜ao
˜
X pode ser repres e ntado como um CW-complexo
de tal maneira que toda el ula de
˜
X ser´a aplicada pela p topologicamen te sobre
uma elula de X ([10], §6.9, Teorema 2, p. 251).
2.2 Grupo Fundamental e Adjun¸ao de 2 -
C´elulas
Nesta se¸ao estamos interessados em CW-complexos 2-dimensionais, anali-
sando como o grupo f undamental ´e af etado por colar 2-c´elulas. Seja X
um
espa¸co de Hausdorff, obtido de um espa¸co conexo por caminhos X pela ad-
jun¸ao (ou colagem) de uma cole¸ao de 2-c´elulas abertas. Nosso principal ob-
jetivo ´e determinar a r ela¸ao entre o grupo fundamental de X e de X
. Par a
este prop´osito, suponhamos que colamos uma cole¸ao de 2-c´elulas e
2
α
, α Λ, a
um espa¸co conexo por caminhos X via aplica¸oes de colagem ϕ
α
: S
1
X,
produzindo um espa¸co X
. Se s
0
´e um ponto base de S
1
(que podemos supor
igual a 1), enao ϕ
α
determina um la¸co baseado em ϕ
α
(s
0
) (mesmo pensando
em la¸cos tecnicamente como aplica¸oes I X mais do que S
1
X). Va-
mos denotar tal la¸co por ϕ
α
. Para diferentes α
s os pontos bases ϕ
α
(s
0
) desses
la¸cos ϕ
α
podem ao coincidir (podemos ter ϕ
α
1
(s
0
) = ϕ
α
2
(s
0
), se α
1
= α
2
).
Par a corrigir isso, escolha um pont o base x
0
em X e um caminho γ
α
em X
ligando x
0
a ϕ
α
(s
0
), para cada α. Enao o produto de caminhos γ
α
ϕ
α
¯γ
α
,
onde ¯γ
α
indica o caminho reverso de γ
α
, ´e um la¸co em x
0
. Este la¸co pode ao
ser homotopicamente nulo em X (i.´e, homot´opico `a um la¸co constante), mas
certamente ser´a homoto picamente nulo ap´os a c´elula e
2
α
ser colada.
Grupo Fundamental e Adjun¸ao de 2 - C´elulas 45
Assim o subgrupo no rmal N π
1
(X, x
0
) g
Grupo Fundamental e Adjun¸ao de 2 - C´elulas 46
Considerando que π
1
(X) π
1
(U), resta somente ver que π
1
(U
V ) ´e gerado
pelas classes dos la¸cos γ
α
ϕ
α
¯γ
α
, ou melhor, la¸cos em U
V cuja imagem
em π
1
(U) (at rav´es da aplica¸ao induzida da inclus˜ao) ao homot´opicos a esse
la¸cos. Isto pode ser obtido como uma outra aplica¸ao do Teorema de Van
Kampen. Note que U V tem o mesmo t ipo de homotopia que o bouquet
de c´ırculos
αΛ
S
1
α
. Considere a cobertura {U
α
; α Λ} de U
V , onde cada
U
α
= U
V
β=α
(e
2
β
{y
β
}). Observe que U
α
retrai por deforma¸ao sobre
um c´ırculo em e
2
α
{y
α
}. Assim, π
1
(U
α
) Z ´e gerado (desconsiderando ponto
base) pela classe de um la¸co que a uma volta em tor no de y
α
e a imagem
desse la¸co em π
1
(U
V ) ´e homot´opico a um la¸co cuja imagem em π
1
(U) ´e
homot´opico ao la¸co γ
α
ϕ
α
¯γ
α
(que pertence a X), e o resultado segue.
Corol´ario 2.2.1. Da do um grupo G qualquer, existe um CW-complexo 2-
dimensional Y , conexo por caminhos, tal que π
1
(Y ) ´e isomorfo a G. Se G
tem uma apresenta¸ao com um umero finito de geradores e rela¸oes ent˜ao
podemos ob ter Y compacto.
Demonstra¸ao: Escolha uma apresenta¸ao de G, G = A; B, ou seja,
G F/R, onde F ´e livre gerado por A e R ´e o menor subgrupo normal de
F gerado por B (conjunto de rela¸oes). Tome X
1
=
αA
S
1
α
, o bouquet de
c´ırculos. Temos que X
1
´e conexo e π
1
(X
1
) F
αA
Z
α
(Exemplo A.4.9).
Par a cada β B, escolhemos uma aplica¸ao g
β
: S
1
β
αA
S
1
α
= X
1
, tal
que [g
β
] = β B F e usamos esta aplica¸ao pa ra colar uma 2-c´elula e
2
β
a
X
1
. Mais precisamente, cole a c´elula e
2
β
de modo que a aplica¸ao caracter´ıstica
φ
β
: D
2
β
X leve U
2
, o interior do disco D
2
, homeomorficamente sobre e
2
β
e
a restri¸ao φ|
D
2
β
=S
1
β
= g
β
. Seja enao X
2
= X
1
(
βB
e
2
β
). Temos que X
=
X
2
e X = X
1
satisfazem as hip´oteses da proposi¸ao anterior. Enao π
1
(X
2
)
π
1
(X
1
)/R F/R G, como desejado. Agora se G tem uma apresenta¸ao G =
α
1
, α
2
, . . . alpha
n
; β
1
, β
2
, . . . , β
s
ent˜ao Y = (
n
j=1
S
1
α
j
) (
s
i=1
e
2
β
i
) = (
n
j=1
S
1
α
j
)
(
s
i=1
¯e
2
β
i
), que ´e compacto.
Observao 2.2.1. A prova da Proposi¸c ˜ao anterior est´a de aco rdo com [5]
mas tamb´em pode ser encontrada em [7] (Teorema 2.1, p. 213). Quando
Grupo Fundamental e Adjun¸ao de 2 - C´elulas 47
X
´e obtido de X por colar elulas de dimens˜oes maiores que 2, obtemos um
isomorfismo, como mos tra o resultado seguinte:
Teorema 2.2.1. Se X
´e obtido do espco X pela adjun¸ao de elulas de
dimens˜ao n, n > 2, ent˜ao a aplicao inclus˜ao de X em X
induz um isomor-
fismo de π
1
(X) sobre π
1
(X
).
Demonstra¸ao: ([7], Teorema 3.1 , p. 214).
Usando esses resultados podemos provar que o grupo fundamental de
um CW-complexo o depende do 2-esqueleto. Para tanto apresentamos pri-
meiramente o conceito de limite direto de um grupo ([9] §1.4, p. 22) e um
lema.
Defini¸ao 2.2.1. (Limite Direto de Grupos ) Seja m G
α
uma fam´ılia de gru-
pos indexada por algum conjunto de ´ındices parcia l mente o rd enado I tendo a
propriedade que para cada par α, β I existe γ I com α γ e β γ.
Tal I ´e chamado um conjunto direto. Suponha que para cada par α β
tem-se um homomorfismo f
αβ
: G
α
G
β
, tal que f
αα
= id
G
α
para cada
α, e se α β γ ent˜ao f
αγ
´e a composi¸ao de f
αβ
com f
βγ
. O conjunto
{G
α
, f
αβ
, α β, α e β em I}, de grupos e homomorfismos ´e cham ado um
sistema direto de grupos. A partir d esse sistema de grupos podemos definir um
grupo, denominado “limite direto” e denotado por lim
G
α
da seguinte ma-
neira: Defi na uma rela¸ao de equivalˆencia sobre o conjunto
α
G
α
por a b
se f
αγ
(a) = f
βγ
(b) para alg um γ, onde a G
α
e b G
β
. (Aqui estamos su-
pondo que tal conjunto seja formado por grupos disjuntos, visto que podemos
substituir G
α
por uma opia isomorfa). Esta rela¸ao ´e claramente reflexiva e
sim´etrica, e a transitiva seg ue da propriedad e d e conjunto d i reto. Tal rela¸ao
pode tamb´em ser descrita como a rela¸ao de equivalˆencia gerada pelo conjunto
a f
αβ
(a). Quaisquer duas classes de equivalˆencia [a] e [b] tem re presentantes
a
e b
pertencentes ao mesmo G
γ
, assim defina [a].[b] = [a
.b
]. Pod e-se checar
que essa operao est´a bem definida e a uma es trutura de grupo ao conjunto
das clas s es de equivalˆencia. Tal grupo ´e que de notamos po r lim
G
α
.
Observao 2.2.2. (1) Se os grupos G
α
ao tod o s abelianos ent˜ao lim
G
α
´e isormorfo ao grupo quociente da soma d i reta
α
G
α
pelo subgrupo H
gerado pelos elementos da forma a f
αβ
(a) para a G
α
, on de vemos
cada G
α
como um subgrupo de
α
G
α
. A aplicao que associa cada
Grupo Fundamental e Adjun¸ao de 2 - C´elulas 48
classe de eq uivaencia [a] `a clas se lateral de a, aH, ´e um homomor-
fismo de lim
G
α
no grupo quoc i e nte
α
G
α
/H, com inversa induzida
pela aplicao
i
a
i
→
i
[a
i
], para a
i
G
α
i
([5] Se¸ao 3.3, p. 243).
(2) Uma situa¸ao interessante ´e quando I = N (ou um subcon j unto qualquer
de Z), os grupos G
n
, n N ao encaixan tes e o s homomorfismos
f
mn
: G
m
G
n
, para m n, ao as inclus˜oes.
Lema 2.2.1. Seja X um espco topol´ogico, e para cada inteiro n seja X
n
um subespco de X, conexo por caminhos, contendo o pon to base x
0
de X.
Assuma que os subespcos X
n
ao encaixa ntes, isto ´e , X
n
X
n+1
para todo
n, que X =
n=1
X
n
, e que para tod o subconjunto compacto A de X existe um
inteiro n tal que A X
n
. Sejam i
n
: π
1
(X
n
) π
1
(X) e
j
m,n
: π
1
(X
m
) π
1
(X
n
), m n, homomorfismos induzidos pela inclus˜ao.
Ent˜ao:
a) Para todo α π
1
(X), existe um inteiro n e um elemento α
π
1
(X
n
) tal
que i
n
(α
) = α.
b) Se β π
1
(X
m
) e i
m
(β) = 1, ent˜ao ex i ste um inteiro n m tal que
j
m,n
(β) = 1.
c) Se os homomorfismos j
n,n+1
ao monomorfismos, para todo n, ent˜ao cad a i
n
´e tamb´em um monomorfismo e π
1
(X) ´e a uni˜ao dos subgrupos i
n
(π
1
(X
n
)).
Demonstra¸ao: ([7], Exerc´ıcio II, 4.11, p. 67).
Observao 2.2.3. : O resultado anterior nos diz que, nas hip´oteses acima,
π
1
(X) ´e o limite direto da sequˆencia de grupos π
1
(X
n
) e homomorfismos j
m,n
.
Teorema 2.2.2. Seja X um C W-complexo conexo . A a p l i cao inclus˜ao do
2-esqueleto X
2
em X induz um isom o rfismo de π
1
(X
2
) em π
1
(X).
Demonstra¸ao: Considere a sequˆencia de subespa¸cos de X: X
2
= X
2
,
o 2-esqueleto de X, X
3
= X
3
, o 3- esqueleto, e assim por diante, isto ´e,
X
n
= X
n
. Temos que X
n
X
n+1
e X =
n=2
X
n
. Do Teorema 2.2.1 obtemos
que j
n,n+1
: π
1
(X
n
) π
1
(X
n+1
) ao isomorfismos para n 2. Assim, ao
monomorfismos, e pelo lema anterior, i
n
: π
1
(X
n
) π
1
(X) ao tamem
Aproxima¸ao Celular e Torre de Postnikov 49
monomorfismos e π
1
(X) =
n=1
i
n
(π
1
(X
n
)). Al´em disso, da sobrejetividade,
segue que j
n,n+1
(π
1
(X
n
)) = π
1
(X
n+1
), para n 2. Como o diagrama seguinte
π
1
(X
n
)
i
n
//
j
n,n+1
π
1
(X)
π
1
(X
n+1
)
i
n+1
99
r
r
r
r
r
r
r
r
r
r
´e comutativo, temos que i
n+1
(j
n,n+1
(π
1
(X
n
))) = i
n
(π
1
(X
n
)). Logo, da sobre-
jetividade e, comutatividade do diag r ama, o btemos que
i
3
(π
1
(X
3
)) = i
3
(j
2,3
(π
1
(X
2
)) = i
2
(π
1
(X
2
)).
Tamb´em i
4
(π
1
(X
4
)) = i
4
(j
3,4
(π
1
(X
3
)) = i
3
(π
1
(X
3
)) = i
2
(π
1
(X
2
)).
Prosseguindo assim temos:
i
n+1
(π
1
(X
n+1
)) = i
n+1
(j
n,n+1
(π
1
(X
n
)) = i
n
(π
1
(X
n
)) = i
n1
(π
1
(X
n1
)) = ...
= i
2
(π
1
(X
2
)). Logo π
1
(X) =
n=2
i
n
(π
1
(X
n
)) = i
2
(π
1
(X
2
)). Assim i
2
´e sobre-
jetora. Portanto i
2
´e isomorfismo de π
1
(X
2
) em π
1
(X).
2.3 Aproxima¸ao Celular e Torre de Po stnikov
O objetivo principal dessa se¸a o ´e apresentar alguns importantes resultados re-
lativos a CW complexos, com destaque para Aproxima¸ao C elular para Pares,
o que nos a como consequˆencia, sob certas hip´oteses, uma condi¸ao suficiente
para um par de CW-complexos (X, A) ser n-conexo. A seguir computamos o
grupo de homotopia no n´ıvel n, n 2, de um bouquet de n- esferas, fina-
lizando com o Teorema da Torre de Postnikov, que ´e fundamental na prova
da existˆencia de K(G, n)- espa¸cos. Outros conceitos e resultados como Pro-
priedade de Extens˜ao de Ho motopia e o Teorema de Whitehead ao tamem
apresentados.
Propriedade de Extens˜ao de Homotopia: Um fato interessante ´e que
todo par CW, (X, A), tem a propriedade de extens˜ao de homotopia. Tornar e-
mos isso mais preciso a seguir:
Defini¸ao 2.3.1. Um par (X, A) tem a propriedade de extens˜ao de homo topi a
Aproxima¸ao Celular e Torre de Postnikov 50
se toda aplicc˜ao H : X ×{0}A×I Y pode ser estendida a uma aplicao
˜
H : X × I Y .
Notemos que dizer que (X, A) tem a propriedade de extens˜ao de homotopia
´e equiva lente a dizer que para qualquer aplica¸ao f
0
: X Y e homotopia
H : A×I Y de f
0
|
A
podemos estender H a uma homotopia
˜
H : X ×I
Y de fo rma que
˜
H(x, 0) = f
0
: X Y .
Proposi¸ao 2.3.1. (1) Se (X,A) ´e um par CW, ent˜ao X × {0} A × I ´e
um retrato por deforma¸ao de X × I e consequentemente (X,A) tem a
propriedade de ex tens˜ao de homotopia.
(2) Se o par (X, A) satisfaz a pro priedade de extens˜ao de ho motopia e A ´e
contr´actil, ent˜ao a aplicao quociente q : X X/A ´e uma equivalˆencia
de homotopia.
Demonstra¸ao: ([5] Proposi¸oes 0.16 e 0.17, p.15 e 16).
Uma vez que CW complexos ao constru´ıdos usando aplica¸oes de colagem
cujo dom´ınio ao esferas, ´e de se esperar que os grupos de homotopia de CW
- complexos carreguem um grande n´umero de informa¸oes. O Teorema de
Whitehead to rna isso expl´ıcito:
Teorema 2.3.1. (Teorema de Whitehead)
Se uma aplicao f : X Y en tre CW-complexos conexos induz i somorfis-
mos f
: π
n
(X) π
n
(Y ) para todo n , en t˜ao f ´e uma equivalˆe ncia de homo-
topia. No caso em que f ´e a inclus˜ao de um subcomplexo X ֒ Y, a conclus˜ao
´e mais forte: X ´e um retrato por deforma¸ao de Y.
Demonstra¸ao: ([5], Teorema 4.5 , p. 346).
Ressaltamos que para a prova do Teorema de Whitehead usa-se o
Aproxima¸ao Celular e Torre de Postnikov 51
Demonstra¸ao: ([5] Lema 4.6, p. 346).
Observao 2.3.1. (1) O Teorema de Whitehead ao diz que dois CW -
complexos X e Y com grupos de homotopia isomorfos ao equivalentes
por homotopia, pois a uma grande d iferen¸ca entre dize r que X e Y
tˆem grupos de homotopia isomorfos e dizer que existe uma aplicc˜ao
f : X Y que induz isomorfismos s obre todos os grupos de homotopia.
Por exemplo, considerando X = RP
2
e Y = S
2
× RP
tem-se que
π
1
(X) Z
2
π
1
(Y ), e usando o fato que o recobrim e nto universal de
X e Y ao, respectivam e nte, S
2
e S
2
×S
, que S
´e contr´a ctil e que a
proje¸ao de recobrimento induz isom orfismos nos grupos de homotopia,
para j 2, ob t´em-se que π
j
(RP
2
) π
j
(S
2
) π
j
(S
2
× S
) π
j
(S
2
×
RP
), se j 2. Mas RP
2
e S
2
× RP
ao em o mesmo tipo de
homotopia visto que seus grupos de homologia ao di f erentes: S
2
×RP
tem homologia ao nula em um umero infinito de dimens˜oes pois ele
retrai sobre RP
([5], cap´ıtulo 4, p. 348).
(2) Um caso muito especial em que o tipo de homotopia de um CW-complexo
´e determi nado por seus grupos de h omotopia ´e quando todos os grupos de
homotopia ao triviais, pois ent˜ao a a plicao inclus˜ao de uma 0-c´elula
no complexo induz um isomorfismo sobre os grupos de hom o topia e as s i m
o complexo se retrai por deforma¸ao sobre a 0-c´elula.
O Lema seguinte ser´a utilizado quando falarmos em Torre de Postnikov.
Lema 2.3.2. (Lem a da Extens˜ao) Dados (X, A) um par CW e f : A Y
uma aplicao com Y co nexo po r caminho s, ent˜a o f pode ser estendida a uma
aplicao ϕ : X Y se π
n1
(Y ) = 0 para todo n tal que X A tem c´elulas
de dime nao n.
Demonstra¸ao: ([5] Lema 4.7, p. 348).
Defini¸ao 2.3.2. Sejam X e Y CW-complexos. Uma a plicao f : X Y
´e chamad a uma aplicao celular se satisfaz f(X
n
) Y
n
para todo n .
Teorema 2.3.2. (Teorema da Aproxima¸ao Celular) Tod a aplicao
f : X Y de CW-comple x os ´e homot´opica `a uma aplicao celular. Se f
a ´e celular sobre um subcomplexo A X, a homotopia pode ser tomada como
sendo estacion´aria sobre A.
Aproxima¸ao Celular e Torre de Postnikov 52
Demonstra¸ao: ([5] Teorema 4 .8 , p. 349).
Observao 2.3.2. Com o resultado acima pode mos justificar que π
i
(S
n
) = 0
se i < n. De fato, considere [α] π
i
(S
n
), enao α : S
i
S
n
. Pelo teorem a
acima ex i s te uma apli cao α
: S
i
S
n
celular que ´e homot´opica a α. Como
α
´e ce l ular e i < n ent˜ao a imagem de α
cont´em apenas um ponto (a 0-c´elula
e
0
S
n
), ou seja , α
´e uma ap licao constante. Logo [α] = [α
] = 0 e portanto
π
i
(S
n
) = 0 se i < n.
Proposi¸ao 2.3.2. (Aproxima¸ao Celular para Pares) Toda aplicao
f : (X, A) (Y, B) de pares CW pode ser deformada atrav´es de aplicoes
(X, A) (Y, B) a uma aplicao celular. Al´em di sso, se f ´e celular sobre
um subcomplexo L de X ent˜ao a homo topi a de f a uma celular pode ser tomada
estacion´aria sobre L.
Demonstra¸ao: Consideremos a restri¸ao f |
A
: A B. Pelo teorema
da aproxima¸ao celular podemos deformar f |
A
a uma aplica¸ao celular g
A
:
A B atrav´es de uma homotopia H
A
: A × I B tal que H
A
(x, 0) =
f |
A
(x) e H
A
(x, 1) = g
A
(x).
Agora, como um par (X, A) de CW-complexos tem a propriedade de ex-
tens˜ao de homotopia (Proposi¸ao 2.3.1), considerando H : X ×{0}A×I
Y ta l que H(x, 0) = f(x), H(a, t) = H
A
(a, t) B (para x X e (a, t) A×I),
segue que H pode ser estendida a uma aplica¸ao
˜
H : X × I Y . As-
sim considerando g(x) :=
˜
H(x, 1), temos que f g, com g |
A
= g
A
que
´e celular sobre A X e
˜
H(a, t) B para todo (a, t) A × I. Nova-
mente pelo teorema da aproxima¸ao celular, existe uma homotopia
˜
˜
H entre
g e uma a plica¸ao celular g
1
: X Y , com
˜
˜
H estacion´aria sobre A, as-
sim
˜
˜
H(a, t) =
˜
˜
H(a, 0) = g(a) B. Logo obtemos de f g e g g
1
,
que f g
1
com g
1
celular (e essa homotopia ´e dada atrav´es de aplica¸oes
(X, A) (Y, B)).
Corol´ario 2.3.1. Um par de CW-co mplexos (X,A) ´e n-conexo se todas as
elulas de X-A tem dimens˜ao maior que n. Em particular o par (X, X
n
) ´e
n-conexo, da´ı a inclus˜ao X
n
֒ X induz is omorfismos π
i
(X
n
) π
i
(X) para
1 i < n e uma sobreje¸ao de π
n
(X
n
) π
n
(X).
Demonstra¸ao: Um elemento de π
i
(X, A, x
0
) pode ser visto como uma
classe de homotopia de uma aplica¸ao f : (D
i
, S
i1
, x
0
) (X, A, x
0
). Apli-
cando a aproxima¸a o celular para pares, temos que f pode ser deformada
Aproxima¸ao Celular e Torre de Postnikov 53
atrav´es de aplica¸oes (D
i
, S
i1
) (X, A) a uma aplica¸ao celular g. Assim
[f] = [g], com g celular. Em particular g ´e celular sobre S
i1
e assim no-
va mente pela aproxima¸ao celular para pares obtemos que g ´e homot´opica a
uma aplica¸ao g
1
: (D
i
, S
i1
) (X, A) (que ´e celular) por uma homotopia
estacion´aria sobre S
i1
. Da hip´otese que as elulas em X A tem dimens˜ao
maior que n, segue que X
i
= A
i
(mesmos i-esqueletos) para i n. Como
g
1
´e celular, g
1
(D
i
) X
i
= A
i
, ou seja, Im(g
1
) A. Assim, pelo crit´erio
da compress˜ao (Proposi¸ao 1.3.1), [g
1
] = 0, [f] = [g] = [g
1
] = 0 e portanto
π
i
(X, A, x
0
) = 0 para i n.
Claramente as c´elulas em X X
n
(se existir) tem dimens˜ao maior que n e
assim (X, X
n
) ´e n-conexo.
Agora para a ´ultima afirma¸ao, considere a seguinte parte da seq¨uˆencia
exata longa de homotopia do par (X, X
n
) (Proposi¸ao 1.3.2)
··· π
i+1
(X, X
n
, x
0
) π
i
(X
n
, x
0
) π
i
(X, x
0
) π
i
(X, X
n
, x
0
) ···
Se i n 1, enao i + 1 n e assim π
i+1
(X, X
n
, x
0
) = 0 = π
i
(X, X
n
, x
0
).
Logo, para i < n, obtemos isomorfismos π
i
(X
n
, x
0
) π
i
(X, x
0
). Quando
i = n, como π
n
(X, X
n
, x
0
) = 0, temos a sequˆencia exata:
···π
n
(X
n
, x
0
) π
n
(X, x
0
) 0
portanto a sobreje¸ao afirmada.
O resultado seguinte nos a o alculo de π
n
(
α
S
n
α
) a partir de π
n
(S
n
) e da
sequˆencia exata longa do par.
Proposi¸ao 2.3.3. π
n
(
α
S
n
α
)
α
Z
α
, para n 2, mais precisamente
π
n
(
α
S
n
α
) ´e abeliano livre tendo como base as classes de homotopias das in-
clus˜oes S
n
α
֒
α
S
n
α
.
Demonstra¸ao: Suponhamos primeiro que a somente um umero fi-
nito de somandos S
n
α
1
, . . . , S
n
α
k
. Podemos olhar
k
i=1
S
n
α
i
como o n-esqueleto do
produto
k
i=1
S
n
α
i
, onde `a S
n
α
i
´e dado a estrutura usual de CW e
k
i=1
S
n
α
i
tem
a CW estrutura do produto. Observe que
k
i=1
S
n
α
i
tem c´elulas de dimens˜oes
Aproxima¸ao Celular e Torre de Postnikov 54
m´ultiplas de n, mais especificament e, de dimens˜oes 0, n, 2n, ..., kn. Assim o
par (
k
i=1
S
n
α
i
,
k
i=1
S
n
α
i
) ´e (2n1) - conexo pois
k
i=1
S
n
α
i
´e obtido de
k
i=1
S
n
α
i
pela ad-
jun¸ao de c´elulas de dimens˜ao maio r ou igual a 2n, e obviamente, 2n 1 < 2n.
(Po r exemplo, S
2
1
×S
2
2
×S
2
3
= (e
0
1
e
2
1
) ×(e
0
2
e
2
2
) ×(e
0
3
e
2
3
) e
0
(e
2
1
e
2
2
e
2
3
) (e
4
12
e
4
13
e
4
23
) e
6
tem c´elulas de dimens˜oes 0, 2, 2.2 = 4, 3.2 = 6.
Ainda,
3
i=1
S
2
i
´e obtido de
3
i=1
S
2
i
por a djun¸ao das c´elulas e
4
12
, e
4
13
, e
4
23
, e
6
.)
Da´ı, conclu´ımos, usando o Corol´ario 2.3.1 (visto que o (2n-1) - esqueleto
de X =
k
i=1
S
n
α
i
´e igual a
k
i=1
S
n
α
i
) que a inclus˜ao
k
i=1
S
n
α
i
֒
k
i=1
S
n
α
i
induz
um homomorfismo de π
j
(
k
i=1
S
n
α
i
) em π
j
(
k
i=1
S
n
α
i
) que ´e um isomorfismo para
j < 2 n 1 e uma sobreje¸ao para j = 2n 1. Em particular, temos um
isomorfismo no n´ıvel j = n visto que n < 2n 1 se n 2.
Agora, sabemos que π
n
(
k
i=1
S
n
α
i
)
k
i=1
π
n
(S
n
α
i
) e cada π
n
(S
n
α
i
) ´e isomorfo
ao g r upo Z. Assim,
k
i=1
π
n
(S
n
α
i
)
k
i=1
Z
α
i
, o grupo abeliano livre tendo
como base as inclus˜oes S
n
α
i
֒
k
i=1
S
n
α
i
, e portanto obtemos π
n
(
k
i=1
S
n
α
i
)
π
n
(
k
i=1
S
n
α
i
)
k
i=1
Z
α
i
para todo n 2. Isto para o caso de um n´umero
finito de somandos S
n
α
’s.
Consideremos enao o caso geral (com infinitos somandos S
n
α
’s). Para re-
duzir esse caso ao caso finito, considere o homomorfismo
φ :
α
π
n
(S
n
α
) π
n
(
α
S
n
α
) induzido pelas inclus˜oes S
n
α
֒
α
S
n
α
. Enao
φ ´e sobrejetora pois toda aplica¸ao f : S
n
֒
α
S
n
α
, representando um ele-
mento de π
n
(
α
S
n
α
), tem (visto que S
n
´e compacto) imagem compacta cont ida
na soma wedge de um n´umero finito de S
n
α
’s, isto ´e, existe k N
tal que
Im(f)
k
i=1
S
n
α
i
. Logo , pelo caso finito (j´a provado), conclu´ımos que existe
u
k
i=1
π
n
(S
n
α
i
)
α
π
n
(S
n
α
) tal que φ(u) = [f], ou seja, [f] Im(φ).
Par a concluir que φ ´e injetora observemos que se [f] = 0 em π
n
(
α
S
n
α
),
isto ´e, f ´e homot´opica a uma constante, enao a (nulo)homotopia
Aproxima¸ao Celular e Torre de Postnikov 55
H : S
n
× I
α
S
n
α
tem imagem compacta e assim Im(H)
n
i=1
S
n
α
i
(soma
wedge de um n´umero finto de esferas), ou seja, f ´e homot´opica em
n
i=1
S
n
α
i
a
uma a plica¸ao constante. Da´ı a injetividade ta mb´em segue do caso finito.
Finalizando essa se¸ao mostramos um resultado fundamental para a cons-
tru¸ao dos K(G, n)-espa¸cos:
Defini¸ao 2.3.3. Uma Torre de Postnikov para uma espco conexo por cami -
nhos X ´e um diagrama comutativo (como abaixo) tal que:
.
.
.
X
3
X
2
X
//
>>
}
}
}
}
}
}
}
}
FF
X
1
(1) cada aplica o X ֒ X
n
induz um isomorfismo π
i
(X) π
i
(X
n
) para
i n,
(2) π
i
(X
n
) = 0, para i > n.
Teorema 2.3.3. (To rre de Pos tnikov) Para todo CW-complex o conexo X
e n 1, podemos co nstruir espcos X
n
X tais que π
i
(X) π
i
(X
n
) para
i n e π
i
(X
n
) = 0 se i > n. Al´em disso essa seq¨encia se encaixa num
diagrama comutativo co mo acima. Ou seja, X tem uma Torre de Postnikov.
Demonstra¸ao: Escolha aplica¸o es celulares ϕ
α
: S
n+1
X, onde
[ϕ
α
], α Λ geram π
n+1
(X) (podemos supor ϕ
α
celulares pois pelo Teorema
da Aproxima¸ao Celular, considerando que X e S
n+1
ao CW-complexos, toda
aplica¸ao ψ : S
n+1
X ´e homot´opica `a uma aplica¸ao celular ϕ : S
n+1
X). Use estas aplica¸oes para colar c´elulas e
n+2
α
a X, formando um CW-
complexo Y = X
(
α
e
n+2
α
).
Considere o par (Y, X). Ent˜ao, Y X t em elulas de dimens˜ao n+2 > n+1.
Logo pelo Corol´ario 2.3.1, (Y, X) ´e (n + 1) - conexo. Usando a sequˆencia exata
longa de homotopia para o par (Y, X) obtemos (de maneira similar ao que f eito
Aproxima¸ao Celular e Torre de Postnikov 56
na demonstra¸ao do referido corol´ario para (X, X
n
)) que a inclus˜ao X ֒ Y
induz isomorfismos π
i
(X) π
i
(Y ) par a i < n + 1 ( ou i n).
Par a ver que π
n+1
(Y ) = 0, seja [ρ] π
n+1
(Y ), ρ : S
n+1
Y . Como
antes, existe pela aproximao celular h
0
: S
n+1
Y tal que ρ h
0
e
Im(h
0
) X. Assim podemos associar um elemento em π
n+1
(X) dado pela
classe de
˜
h : S
n+1
X onde
˜
h(u) = h
0
(u) para todo u S
n+1
.
Suponha que a aplica¸ao
˜
h seja um gerador para π
n+1
(X), enao j
([
˜
h]) = 0
em π
n
(Y ), pois pela constru¸ao inicial foi colado via
˜
h uma c´elula de dimens˜ao
n + 2 em X Y . Mas 0 = j
([
˜
h]) = [h
0
] = [ρ]. Logo π
n+1
(Y ) = 0. Ag ora, se
˜
h
ao for um gerador para π
n+1
(X), ele ´e um produto de geradores e da mesma
forma temos [ρ] = j
([
˜
h]) = 0.
Obtemos enao um espco Y tal que π
i
(X) π
i
(Y ), para i n e
π
n+1
(Y ) = 0. O processo pode ser repetido com Y no lugar de X e n subs-
titu´ıdo por n + 1, de modo a obter um novo espa¸co Y
2
= Y
(
β
e
n+3
β
) com
π
n+2
(Y
2
) = 0 (visto que anexamos (n + 3) - c´elulas), π
n+1
(Y
2
) π
n+1
(Y ) = 0
e π
i
(Y
2
) π
i
(Y ) π
i
(X) se i n. Depois de infinitas itera¸oes temos
estendido X para um CW-complexo X
n
obtido de X por a nexar c´elulas de di-
mens˜ao maior ou igual a n + 2, tal que a inclus˜ao X ֒ X
n
induz isomorfismos
π
i
(X) π
i
(X
n
) para i n e π
i
(X
n
) = 0, para i > n.
Finalmente, aplicando o Lema da Extens˜ao (Lema 2.3.2) temos que a inclus˜a o
X ֒ X
n
pode ser estendida para uma aplica¸ao X
n+1
X
n
, pois X
n+1
´e
obtido de X anexando c´elulas de dimens˜ao n+3 ou maio r, e π
i
(X
n
) = 0, par a
i > n, obtendo assim um diagrama comutat ivo como acima, ou seja uma Torre
de Postnikov para X.
Observao 2.3.1. (1) Pode -se o l har os espa ¸cos X
n
como truncoes de X
que produzem, sucessivamente, melhores aproxima¸oes para X quando n
cresce.
(2) A Torre de Postnikov para X, dada no resultado anterior, ´e ´unica a
menos de homotopia ([5], Corol´ario 4.19, p. 355).
Cap´ıtulo 3
Espa¸cos de Eilenberg Mac-Lane
3.1 Defini¸ao e Propriedades
Defini¸ao 3.1.1. Seja G um grupo. Um espco topol´ogico conexo X tal que
π
n
(X) = G e π
i
(X) = 0 se i = n (n 1), ´e chamado um espco de
Eilenberg Mac-Lane do tipo (G, n), ou simpl e smente, um K(G, n) -
espa ¸co. E usualmente denotamo s tal X por K(G, n).
Exemplo 3.1.1. O espco S
1
= {(x, y) R
2
; x
2
+ y
2
= 1} com a topologia
usual ´e um K(Z, 1), poi s π
1
(S
1
) Z e π
n
(S
1
) = 0, para todo n 2 (esta
´ultima afirma¸ao segue do fato que R ´e o recobrimento universal de S
1
).
Proposi¸ao 3.1.1. Sejam G e L grupos. Se X ´e um K(G, n) e Y ´e um
K(L, n) ent˜ao X × Y ´e um K(G L, n) .
Demonstra¸ao: Segue do fato que π
j
(X × Y ) π
j
(X) π
j
(Y ), j 1.
Note que se X ´e um K(G, n) e Y ´e um K(L, m), com n = m enao X ×Y
ao ´e um K(G L, r) para nenhum r, po is π
n
(X ×Y ) = G e π
m
(X ×Y ) = L
e se j = n e j = m enao π
j
(X × Y ) = 0.
Par a o caso n = 1, a condi¸ao π
i
(X) = 0 para i > 1, pode ser substitu´ıda
(quando o espa¸co tˆem recobrimento universal do mesmo tipo de homotopia de
um CW-complexo) pela condi¸ao de que X tem um espa¸co de recobrimento
universal contr´actil, como veremos na
Proposi¸ao 3.1.2. Um CW-comp l exo X ´e um K(G, 1) - espa ¸co se, e somente
se, π
1
(X) = G e o es pco de recobrimento unive rs al de X ´e contr´actil.
57
Existˆencia dos K(G,n)- Espa¸cos 58
Demonstra¸ao: Suponhamos que X seja um K(G, 1). Ent˜ao, por de-
fini¸ao, π
1
(X) G e π
k
(X) = 0, k 2. Seja
˜
X o recobrimento universal
de X e considere p :
˜
X X a proje¸ao associada. Essa aplica¸ao induz
um isomorfismo p
: π
k
(
˜
X) π
k
(X), k 2. Logo π
k
(
˜
X) = 0, k 2.
Como
˜
X ´e recobrimento universal de X, enao π
1
(
˜
X) = 0. Assim temos que
π
n
(
˜
X) = 0, n. Agora considere f :
˜
X {x
0
} a aplica¸ao constante. Essa
aplica¸ao ´e cont´ınua e induz um isomorfismo f
: π
n
(
˜
X) π
n
({x
0
}). Enao,
pelo Teorema de Whitehead (Teorema 2.3.1), f ´e uma equivalˆencia de homo-
topia, ou seja,
˜
X tem o mesmo tipo de homotopia de um ponto. Portanto
˜
X
´e contr´actil. A rec´ıproca ´e obvia.
3.2 Existˆencia d os K(G, n) - Espa¸cos
Estamos interessados no seguinte problema: Dado um grupo G e n 1, sempre
existe um CW-complexo que ´e do tipo K(G, n) (supondo G abeliano se n 2)?
Conforme veremos, a resposta ´e afirmativa.
Vejamos inicialmente o caso n=1 .
Teorema 3.2.1. Para qualquer grupo G podemos construir um CW-complexo
do tipo K(G, 1).
Demonstra¸ao: Da do um grupo G, como a visto anteriormente (Co-
rol´ario 1.2.1) constr´oi-se inicialmente, a partir de uma apresenta¸ao de G
F/R, onde F ´e livre gerado por A (conjunto de geradores) e R ´e o menor
subgrupo normal de F g erado por B (conjunto de rela¸oes), um 2-complexo
Y := (
αA
S
1
α
)
(
βB
e
2
β
) tal que π
1
(Y ) = G. Usando o Teorema 2.3.3 (Torre
de Postnikov) obtivemos a partir de Y, por colar c´elulas de dimens˜ao maior ou
igual a trˆes, um espa¸co X = X
1
de modo que π
1
(X) = π
1
(Y ) = G e π
j
(X) = 0
para j 2, isto ´e, obtivemos um K(G, 1)-espa¸co.
Observao 3.2.1. Note que, de acordo com a demonstrao anterior o pri-
meiro espco X
1
da Torre de Postnikov a nos a o espco K(G, 1) desejado.
No entanto ´e interessante observa r que para o bter X
1
, em alg uns casos , temos
que colar elulas infinitamente (vide Exemplo 3.3.4).
Existˆencia dos K(G,n)- Espa¸cos 59
Nosso objetivo agora ´e a constru¸ao de um K(G, n) - espa¸co com n 2.
Par a tanto necessitamos de alguns resultados.
Teorema 3.2.2. (Exci s˜ao para grupo s de homotopia) Seja X um CW-comp l e xo
que ´e decomposto como a uni˜ao de subcomp l e xos A e B com interseao ao
vazia C = A B. Se (A, C) ´e m - conexo e (B, C) ´e n - conexo, m, n 0,
ent˜a o a aplicao π
i
(A, C) π
i
(X, B) induzida pela inclus˜ao ´e um isomor-
fismo para i m + n e uma sobreje¸ao para i = m + n.
Demonstra¸ao: ([5], Teorema 4.2 3, p. 360).
Proposi¸ao 3.2.1. Se um par CW, (X, A), ´e r - conexo e A ´e s - conexo,
com r, s 0, ent˜ao e aplicao π
i
(X, A) π
i
(X/A) induzida pela aplicc˜ao
quociente X X/A ´e um isomo rfi s mo para i r + s e uma sobreje¸a o para
i = r + s + 1.
Demonstra¸ao: Considere X
CA , o complexo obtido de X colando
um cone CA ao longo de A X. O cone CA (Exemplo 2.1.6- Join) ´e
a uni˜ao de segmentos de reta ligando pontos de A `a um v´ertice externo p.
Enao CA ´e homot´opico ao conjunto unit´ario p (por exemplo tome a ho-
motopia linear H : CA × I CA; (x, t) → tp + (1 t)x). Ou seja,
CA ´e um subcomplexo contr´actil de X
CA. Assim a aplica¸ao quociente
X
CA
q
(X
CA)/CA = X/A ´e uma equivalˆencia de homotopia visto
que o par (X
CA, CA) ´e um par CW e portant o tem a propriedade de
extens˜ao de homotopia (Proposi¸ao 2.3.1). Conseq¨uentemente q induz um iso-
morfismo de π
i
(X
CA) em π
i
((X
CA)/CA) = π
i
(X/A). Assim temos o
diagrama comutativo
π
i
(X, A)
//
π
i
(X CA, CA)
//
π
i
(X CA/CA) = π
i
(X/A)
π
i
(X CA)
OO
44
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
h
onde o isomorfismo vertical vem da seq¨encia exata longa
. . . π
i
(CA) π
i
(X CA) π
i
(X CA, CA) π
i1
(CA) ···
e do fato que CA ´e contr´a ctil. Donde obt´em-se da comutat ividade, um iso-
morfismo π
i
(X CA, CA) π
i
(X/A) (*).
Existˆencia dos K(G,n)- Espa¸cos 60
Ainda, da sequˆencia exata longa para o par ( CA, A),
. . . π
i
(A) π
i
(CA) π
i
(CA, A) π
i1
(A) ··· ,
do fato que A ´e s-conexo (por hip´otese) e que CA ´e contr´actil, obtemos que
π
i
(CA, A) = 0 para i s + 1, isto ´e, (CA, A) ´e s+1-conexo.
Agora usando o resultado anterior (Excis˜ao para Grupos de Homotopia -
Teorema 3.2.2) para o espa¸co X = X CA, C = X CA = A e o s pares
(X, A) r - conexo e (CA, A) s+1 - conexo, conclu´ımos que o homomorfismo
π
i
(X, A) π
i
(X CA, CA), induzido pela inclus˜ao , ´e um isomorfismo para
i < r + s + 1 e uma sobreje¸ao para i = r + s + 1.
Logo, considerando o isomorfismo (* ) acima, conclu´ımos que π
i
(X, A)
π
i
(X/A) ´e um isomorfismo para i r + s ´e uma sobreje¸ao para i = r + s + 1.
Lema 3.2.1. O espco A =
αΛ
S
n
α
(bouquet de n-esferas ) n 2, ´e (n 1)
conexo.
Demonstra¸ao: Para j n 1 , seja [ϕ] π
j
(A), com ϕ : S
j
A. Pelo
Teorema da Aproximao Celular, ϕ ψ : S
j
A, com ψ celular. Agora o
j- esqueleto de A, A
j
, j n 1 ´e um po nto (a ´unica 0-c´elula) uma vez que
A ao possui c´elulas de dimens˜ao j, para 0 < j n 1 e portanto, ψ ´e a
aplica¸ao constante. Da´ı [ϕ] = [ψ] = 0. Assim π
j
(A) = 0, para j n 1, ou
seja, A ´e (n 1)-conexo.
Proposi¸ao 3.2.2. Para todo grupo abel i ano G e n 2, existe um CW-
complexo (n 1)-conexo, de dimens˜ao n + 1 tal que π
n
(X) G.
Demonstra¸ao: Como no caso n = 1, considere uma apresenta¸ao do
grupo G, G =< A; B >, ou seja, G F/R onde F ´e o grupo livre gerado por
α A e R, normal a F , ´e o subgrupo gerado pelo conjunto de rela¸o es β B.
Notemos que nesse caso, como G ´e abeliano, F ´e abeliano livre.
Par a cada gerador α a ssociamos uma n-esfera S
n
α
. Enao, considerando o
espa¸co
αA
S
n
α
temos, do fato que n 2 (Proposi¸a o 2.3.3), que
π
n
(
αA
S
n
α
)
αA
Z
α
F.
Cada rela¸ao β B F entre os geradores α
s pode ser realizada como
uma classe em π
n
(
αA
S
n
α
), [ϕ
β
], representada po r uma aplica¸ao
Existˆencia dos K(G,n)- Espa¸cos 61
ϕ
β
: S
n
αA
S
n
α
. Considere o CW-complexo X obtido de
αA
S
n
α
anexando
(n + 1)-c´elulas e
n+1
β
via ϕ
β
, preservando ponto ba se,
X = (
αA
S
n
α
)
β
e
n+1
β
.
Note que X
n
=
αA
S
n
α
, que o par (X, X
n
) ´e n-conexo (Corol´ario 2.3.1) e
que X
n
´e (n 1)-conexo (pelo Lema anterior). Logo, pela Proposi¸ao 3.2.1,
o homomorfismo π
i
(X, X
n
) π
i
(X/X
n
), induzido pela aplica¸ao quociente
X X/X
n
´e um isomorfismo para i 2n1 (e uma sobreje¸ao para i = 2n).
Em particular, considerando os casos n+1 e n, e o fato que X/X
n
=
βB
S
n+1
β
,
obtemos que
π
n+1
(X, X
n
) π
n+1
(X/X
n
) = π
n+1
(
βB
S
n+1
β
) =
βB
Z
β
, o grupo abe-
liano livre gerado pelas aplica¸o es caracter´ısticas [φ
β
] das elulas e
n+1
β
, e
π
n
(X, X
n
) π
n
(X/X
n
) = 0 (visto que X/X
n
=
βB
S
n+1
β
´e n - conexo).
A sequˆencia exata para o par (X, X
n
) nos a:
··· π
n+1
(X, X
n
) =
βB
Z
β
π
n
(X
n
)
i
π
n
(X)
j
π
n
(X, X
n
) = 0.
Pela exatid˜ao da sequˆencia, Im(i
) = ker(j
) = π
n
(X). Ent˜ao, pelo Teorema
do Homomorfismo, π
n
(X) = Im(i
) π
n
(X
n
)/ker(i
). Agora, o operador
bordo leva as aplica¸oes caracter´ısticas [φ
β
] nas classes [ϕ
β
], assim Im() =
[ϕ
β
], β B =
βB
Z
β
= R. Da´ı, ker(i
) = Im() = R, e ent˜ao temos
π
n
(X) π
n
(X
n
)/ker(i
) = π
n
(
αA
S
n
α
)/Im() = F/R G.
Par a ver que X ´e n1 conexo, raciocinamos como no Lema anterior, isto ´e,
usamos o fato que toda aplica¸ao ϕ : S
i
X ´e homot´opica a uma aplica¸ao
celular (teorema da aproxima¸ao celular) e que tal aplica¸a o ser´a constante se
i < n.
Teorema 3.2.3. Se j a G um grupo abeliano qualquer e n 2 um inteiro.
Ent˜ao ex i s te um CW-complexo do tipo K(G, n).
Demonstra¸ao: Dado um grupo abeliano G e n 2 , pela Proposi¸ao
Exemplos 62
anterior, existe um CW-complexo (n 1)-conexo X, de dimens˜ao n + 1 tal que
π
n
(X) G. Usando o Teorema 2.3.3 (Torre de Postnikov) para X pode-se
construir uma sequˆencia de espa¸cos X
m
tal que π
i
(X
m
) π
i
(X) para i m
e π
i
(X
m
) = 0 para i > m. Em particular, para m = n, e considerando
Z = X
n
, temos π
i
(Z) π
i
(X) para i n e π
i
(Z) = 0 para i > n. Assim
π
i
(Z) π
i
(X) = 0, para 1 i n 1, π
n
(Z) π
n
(X) = G e π
i
(Z) = 0 para
i > n, ou seja, Z ´e um K(G, n) - espa¸co.
3.3 Exemplos
Exemplo 3.3.1. a vimos que o c´ırculo unit´ario S
1
´e um K(Z,1)-espco. Note
que uma apresenta¸ao para G = Z ´e < α, >. Nesse ca so, considerando a
constru¸ao de K(G, 1) - es pcos, tomamos inicialmente o “bouquet” com um
´unico c´ırculo S
1
= S
1
α
e como ao h´a rela¸oes ao neces s i tam os colar 2-c´elulas
para obter um CW-complexo 2-dimensinonal X com π
1
(X) = Z. Tem os ai nda
que π
j
(S
1
) = 0, j 2 e assim, o X
1
constru´ıdo na Torre ´e o S
1
e portanto
S
1
´e um espco do tipo K(Z, 1). Um racioc´ınio similar nos a que o bouquet
Y =
αA
S
1
α
´e um K(F, 1), o nde F ´e o grupo livre gerado por A.
Exemplo 3.3.2. O toro T
2
´e um K(Z Z, 1) - espco. Temos que Z Z
F/R, onde F ´e um grupo livre gerado por {α
1
, α
2
} e R ´e o menor s ubgrupo
normal de F co ntendo a rela¸a o β = α
1
α
2
α
1
1
α
1
2
. Considere X
1
=
2
i=1
S
1
i
(figura oito). Ent˜ao π
1
(
2
i=1
S
1
i
) Z Z. Colem o s uma 2-c´elula e
2
em X
1
, a
partir da rela¸ao β = α
1
α
2
α
1
1
α
1
2
, para obtermos o CW-comp l e xo
2 dimensional X
2
= X
1
e
2
com π
1
(X
2
) = (Z Z)/R Z Z. Agora
X
2
= T
2
= S
1
× S
1
e π
j
(T
2
) = π
j
(IR
2
) = 0, j 2. Portanto T
2
´e um espco
do tipo K(Z Z, 1) . Notemos que esse ´e um caso em que foi necess´ario colar
uma 2- elula para obter o complexo 2-dimensional com grupo fund amental
ZZ mas o complexo ob tido a ´e um K(ZZ, 1) e assim ao houve n ecessidade
de usar a Torre de Postnikov, uma vez que o e spco X
1
= T
2
a tem π
j
trivial
para j 2.
Exemplos 63
Exemplo 3.3.3. Superf´ıcies fechadas com grupo fundam ental i nfinito, em ou-
tra s palav ras, superf´ıc i es fecha das que ao se j am S
2
e RP
2
, ao K(G, 1)-
espcos. Isto segue d o fato que as ´unicas supe rf´ıcies sem bordo que ao sim-
plesmente conexas ao S
2
e R
2
(resultado da teoria de superf´ıcies) , de modo
que recobrimento universal de uma supe rf´ıcie fechada com grupo funda mental
infinito deve ser R
2
(pois o recobrimento universal nesse caso ´e ao compacto
visto que as fibras ao subconjuntos dis cretos que est˜ao em corres pondˆencia
com o grupo fundamental que ´e infinito), e R
2
´e contr´atil. Ainda, superf´ıcies
ao fechadas ao K(G, 1) - espcos com G livre, poi s tais superf´ıc i es se re-
tra em por deforma¸ao sobre grafos, e o grupo fundam ental de um grafo ´e livre
( [7], VI Teorema 5.1), al´em disso pos s uem grupo s de homotopias superiores
triviais.
Exemplo 3.3.4. O espco projetivo real infinito dimensional RP
, ´e um
K(Z
2
, 1) - espco. Para isso, n otemos que o grupo c´ıclico G = Z
2
tem como
apresenta¸ao G =< α; α
2
>. Consideremo s o grupo livre F Z com um
gerador α e X
1
= S
1
. Colemos uma 2-c´el ula em X
1
a partir da re l a¸ao α
2
, o
espco Y = X
2
, assim obtido, satisfaz π
1
(X
2
) = Z
2
e pode ser identificado com
o espco RP
2
. Temos en t˜ao um CW-complexo 2- dimensional que tem grupo
fundamental Z
2
. Agora π
2
(RP
2
) π
2
(S
2
) Z = 0, assim prec i samos usar
a constru¸ao na Torre de Postnikov para obter o espco X
1
de sejado. Ou
seja, temos que adicionar c´elulas de dimens˜oes superiores (n 1 + 2 = 3). De
fato, nesse caso o processo ´e infini to, is to ´e, adicionamos uma elula em cada
dimens˜ao: RP
3
RP
2
e
3
e π
1
(RP
3
) π
1
(RP
2
) Z
2
, π
2
(RP
3
) = 0 mas
π
3
(RP
3
) π
3
(S
3
) Z = 0 (tem um gerador). Anexamos ent˜ao mais uma
elula de modo a obter um espco (o RP
4
= RP
3
e
4
), que a g ora satisfaz
π
1
(RP
4
) Z
2
, π
2
(RP
4
) = π
3
(RP
4
) = 0 mas π
4
(RP
4
) π
4
(S
4
) Z = 0,
continuando o processo (Torre de Postnikov), obtem os o espco X
1
= RP
,
que ´e um K(Z
2
, 1)-espco.
Observao 3.3.1. Podemos concluir que RP
´e um K(Z
2
, 1) por verifi-
car que seu recobrimento universal ´e S
. Uma homotopia entre a aplicao
Exemplos 64
identidade de S
e uma aplicao constante pode ser constru´ıda como se-
gue: Primeiro definimos H : R
× I R
por H((x
1
, x
2
, ...), t) =
(1 t)(x
1
, x
2
, ...) + t(0, x
1
, x
2
, ...).
´
E cla ro que H(., t) leva vetor ao nulo em
vetor ao nulo. Ent˜ao K : S
× I S
; K(x, t) := H(x, t)/H(x, t),
onde x = (x
1
, x
2
, ...), a uma ho motopia entre a aplicao iden tida de de S
e a ap l i cao g : (x
1
, x
2
, ...) (0, x
1
, x
2
, ...). Agora uma homotopia en-
tre g e a aplicao constante ´e dada por L : S
× I S
; L(x, t) :=
S(x, t)/S(x, t), onde S(x, t) = (1 t)(0, x
1
, x
2
, ...) + t(1, 0, 0, ...).
Exemplo 3.3.5. Generalizando o exemplo anterior, podemos construir um
K(Z
m
, 1)- espa ¸co como um espco de Lens de dimens˜ao infinita L
m
= S
/Z
m
,
onde Z
m
atua sobre S
(visto como a esfera unit´aria em C
) pela m ulti-
plicao por escalar pela mesima ra i z da unidade, um gerador desta a o ´e a
aplicao (z
1
, z
2
, . . .) → e
2πi
m
(z
1
, z
2
, . . .). Pode-se verificar que e s ta ´e uma ao
no espco de recobrimento e que L
m
´e um K(Z
m
, 1)- es pco.([13], Teorema
2.10.10-demo nstra¸ao, p. 86)
Exemplo 3.3.6. A partir dos exemplos anteriores, e do fato que um produto
K(G
1
, 1) ×K(G
2
, 1) ´e um K(G
1
×G
2
, 1) podemos obter e s pcos K(G, 1) para
todo grupo abeliano finitamente gera do G. Para tanto basta lembrarmos q ue um
grupo abelia no finitamente gerado ´e isomorfo a um produto de grupos c´ıclico s
infinitos e finitos. Assim basta tomar o espco fo rmado por p rodutos de c´ırculos
e espcos d e Lens de dime nao infinita.
Exemplo 3.3.7. Exemplos d e K(G, n)- espa¸cos, para n 2, ao raros. Pode-
se verificar que o espco CP
´e um K(Z, 2) e consequentemente generalizar
esse exemplo tomando um produto de CP
’s para ob ter um K(G, 2) com G
um p roduto d e Z’s ([5], p. 365 ).
3.4 Considera¸oes Finais
(1 ) Observemos que π
1
(T
2
) Z Z ´e um grupo sem tor¸ao e T
2
´e um CW-
complexo de dimens˜ao finita. Agora π
1
(RP
) Z
2
, Z
2
´e um grupo de
tor¸ao e RP
´e um CW-complexo de dimens˜ao infinita. De fato , usando
cohomologia de grupos pode-se mostrar que se G tem t oa o ent˜ao ao
existe um CW-complexo finito que seja K(G, 1). ([5], Proposi¸ao 2.45,
p. 149 ou [2], Corol´ario 3.2.1)
Exemplos 65
(2 ) Seja Y um CW-complexo. Enao existe uma bije¸ao entre [Y, K(G, n)] e
H
n
(Y, G), onde [X, Y ] representa as classes de homotopia das aplica¸o es
de X em Y e G ´e um grupo abeliano. A prova desse resultado pode ser
feita usando teoria de cohomologia ([5],Teorema 4.57, p. 393) ou obtida
como uma aplica¸ao da teoria de obstru¸ao ([11], Teorema 8. 10, p. 428).
(3 ) Pode-se mostrar a unicidade dos espa¸cos K(G, n)’s a menos de homotopia
([5], Teorema 1B.8, p. 90 para o caso n = 1; Proposi¸ao 4.30, p. 366
para o caso n 2 ).
(4 ) Os K(G, 1)- espa¸cos, estabelecem uma rela¸ao entre a cohomologia de
grupos e a de espa¸cos uma vez que, para cada k, o grupo de (co)homologia,
H
k
(G, M) , de um grupo G com coeficientes em um ZZG-m´odulo M ´e iso-
morfo a H
k
(X, M), onde X ´e um K(G, 1) - espa¸co e M ´e um sistema de
coeficientes locais pa ra X associado ao ZZG-m´odulo M ( [1] II. Proposi¸ao
4.1; III. § 1, p. 59).
Apˆendice A
Grupo Fundamental
A.1 Caminhos Homot´opicos e o G r upo Fun-
damental
Defini¸ao A.1.1. Um caminho num espco topol´ogico X ´e uma aplicao
cont´ınua α : I = [0, 1] X. Os pontos α(0) e α(1) ao chamados pontos
inicial e final de α, respectivamente. Cami nhos α e β com pontos iniciais e
finais co muns, α(0) = β(0) e α(1) = β(1), ao ditos equivalentes se existe uma
aplicao cont´ınua H : I × I X tal que
H(t, 0) = α(t), H(t, 1) = β(t), t I,
H(0, s) = α(0) = β(0), H(1, s) = α(1) = β(1 ), s I,
A aplicao H ´e ch amada uma homotopia entre α e β. Para um dado
valor de s, a restri¸ao de H `a I × {s} ´e chamada o n´ıvel s de homotopi a e ´e
usualmente denotada por H(·, s), H
s
(·) ou h
s
(·).
Defini¸ao A.1.2. Um la¸co num e spco topol´ogico X ´e um cami nho α em X
com α(0) = α(1). O valor comum do po nto inicial e ponto final ´e chamado
ponto base do la ¸co. Dois la¸cos α e β com mesmo pon to base x
0
ao ditos
equivalentes, ou homo t´opicos odulo x
0
, se ao equiva l entes como caminhos.
Em outras palavras, α e β ao homot´opicos od ulo x
0
(denotado por α
x
0
β)
desde que exista uma homotopia H : I × I X tal que
H(·, 0) = α, H(·, 1) = β,
H(0, s) = H(1, s) = x
0
, s I.
Como H(0, s) e H(1, s) em sempre valor x
0
, independente da escolha de s
66
Caminhos Homot´opicos e o Grupo Fundament al 67
em [0, 1], `as vezes se diz que o ponto base x
0
“fica fixo do come¸co ao fim da
homotopia”.
Exemplo A.1.1. Os caminhos α e β no plano, representados na figura ao
equivalentes.
Y
X
α(0) = β(0)
α(1) = β(1)
α
β
Uma homotopia H que mostra a equivalˆen cia entre os caminhos ´e definida por
H(t, s) = s · β(t) + (1 s) · α(t), com (t, s) I × I. A homotopia essencial-
mente “puxa α n a dirc˜ao de β sem perturbar os pontos finais. Se o espco
tivesse um buraco entre os trco s dos caminhos α e β, ent˜ao eles ao seriam
equivalentes.
O seguinte lema ser´a muito ´util nesta se¸a o.
Lema A.1.1. (Lema da Co lagem ou Lema da Continuidade) Seja X um
espco topol´ogico com subco njuntos fechados A e B tais que X = A B.
Sejam f : A Y e g : B Y aplicoes cont´ınuas tais que f(x)=g(x ) para
cada x em A B. Ent˜ao ´e cont´ınua a aplicao h : X Y definida por
h(x) =
f(x), se x A
g(x), se x B.
Demonstra¸ao: Seja V Y um subconjunto fechado. Temos que
h
1
(V ) = f
1
(V ) g
1
(V ) ´e fechado em X, uma vez que f e g cont´ınuas
implicam que f
1
(V ) e g
1
(V ) ao fechados em A e B, respectivamente, e
conseq¨uentemente em X, pois A e B ao fechados em X. Agora, a uni˜ao finita
de fechados ´e fechado, e enao h
1
(V ) ´e fechado. Logo h ´e cont´ınua.
Teorema A.1.1. Os resultados seguintes ao alidos:
(a) Equivalˆencia de caminhos ´e uma re l a¸ao de equivalˆencia so b re o conjunto
dos caminhos n um espco X.
(b) Equivaencia de la¸cos ´e uma rela¸ao de equivalˆencia sobre o conjunto dos
la¸cos em X com ponto base x
0
.
Caminhos Homot´opicos e o Grupo Fundament al 68
Demonstra¸ao: Provemos o item (b). Considere o conjunto dos la¸cos
em X tendo como ponto base x
0
. Qualquer la¸co ´e equivalente a ele mesmo
pela homotopia F (t, s) = α(t), (t, s) I ×I. Enao a rela¸a o
x
0
´e reflexiva.
Suponhamos α
x
0
β. Assim existe uma homotopia H : I × I X tal que
H(·, 0) = α, H(·, 1) = β, H(0, s) = H(1, s) = x
0
, s I.
Enao a homotopia
¯
H(t, s) := H(t, 1 s), (t, s) I ×I mostra que β
x
0
α.
Pois,
¯
H(·, 0) = H(·, 1) = β,
¯
H(·, 1) = H(·, 0) = α
¯
H(0, s) = H(0, 1 s) = H(1, 1 s) =
¯
H(1, s) = x
0
, s I.
Logo a equiva lˆencia de la¸cos ´e uma rela¸ao sim´etrica.
Admita ag ora que os la¸cos α, β e γ ao tais que α
x
0
β e β
x
0
γ. Ent˜ao
existem homotopias H e K tais que
H : I × I X; K : I × I X;
H(·, 0) = α, K(·, 0) = β,
H(·, 1) = β, K(·, 1) = γ,
H(0, s) = H(1, s) = x
0
, K(0, s) = K(1, s) = x
0
.
A homotopia desejada L : I × I X ´e enao definida por
L(t, s) =
H(t, 2s), se 0 s
1
2
K(t, 2s 1), se
1
2
s 1.
Assim
L(·, 0) = H(·, 0) = α, L(·, 1) = K(·, 1) = γ.
L(0, s) =
H(0, 2s) = x
0
, 0 s
1
2
K(0, 2s 1) = x
0
,
1
2
s 1.
L(1, s) =
H(1, 2s) = x
0
, 0 s
1
2
K(1, 2s 1) = x
0
,
1
2
s 1.
A continuidade de L segue do Lema da Colagem (A.1.1) com A = [0 ,
1
2
] e
B = [
1
2
, 1]. Assim α
x
0
γ, logo
x
0
´e uma rela¸ao de equivalˆencia.
Defini¸ao A.1.3. Se α e β ao cam i nhos em X com α(1) = β(0), ent˜ao o
caminho produto α β ´e definido por
(α β)(t) =
α(2t), se 0 t
1
2
β(2t 1), se
1
2
t 1.
Observemos que a continuidade de α β ´e uma consequˆencia imediata do
Lema da Continuidade (A.1.1). Pensando na vari´avel t como tempo, um cami-
Caminhos Homot´opicos e o Grupo Fundament al 69
nho α em X ( ou melhor o seu tra¸co) pode ser pensado como o deslocamento
de um ponto come¸cando em α(0) e tra¸cando um caminho cont´ınuo at´e α(1).
Um produto α β ´e enao visualizado como segue: o ponto que se movimenta
come¸ca em α(0) e percorre o caminho α com o dobro da velocidade normal e
chega em α(1) quando t =
1
2
. O ponto enao percorre o caminho β com o dobro
da velocidade normal e chega em β(1) no tempo t = 1. Note que a condi¸ao
α(0) = β(1) ´e necess´aria para que o produto de caminhos seja cont´ınuo.
Lema A.1.2. Suponha que α, α
, β e β
ao la¸co s num espco X, todos com
ponto base x
0
e satisfazendo as re l a¸oes α
x
0
α
e β
x
0
β
. Ent˜ao o produto
α β e α
β
ao homot´opicos, odulo x
0
.
Demonstra¸ao: Temos que α, α
, β, β
: I X com α
x
0
α
e
β
x
0
β
. Enao existem homotopias H e K tais que
H : I × I X; K : I × I X;
H(·, 0) = α, H(·, 1) = α
, K(·, 0) = β, K(·, 1) = β
,
H(0, s) = H(1, s) = x
0
, K(0, s) = K(1, s) = x
0
.
Agora queremos uma homotopia entre α β e α
β
. Tome L : I × I X
definida por
L(t, s) =
H(2t, s), 0 t
1
2
K(2t 1, s),
1
2
t 1.
Temos enao que
L(t, 0) =
H(2t, 0), 0 t
1
2
K(2t 1, 0),
1
2
t 1
=
α(2t), 0 t
1
2
β(2t 1),
1
2
t 1
= (αβ)(t),
e
L(t, 1) =
H(2t, 1), 0 t
1
2
K(2t 1, 1),
1
2
t 1
=
α
(2t), 0 t
1
2
β
(2t 1),
1
2
t 1
= (α
β
)(t).
Defini¸ao A.1.4. Considere a fam´ılia de la¸cos em X com ponto bas e x
0
. Ho-
motopia odulo x
0
´e uma rela¸ao de equivalˆencia nesta fam´ılia e al´em disso
a particiona em classes de equivalˆencias disjuntas. D enote por [α] a classe
de equivalˆencia determinada pelo la¸co α. A classe [α] ´e chamada a classe de
homotopia de α. O conjunto de tais classes ´e denotado por π
1
(X, x
0
). Se [α]
Caminhos Homot´opicos e o Grupo Fundament al 70
e [β] pertencem `a π
1
(X, x
0
) ent˜ao o prod uto [α] [β] ´e definido como segue:
[α] [β] = [α β],
onde α β i ndica o produto de caminhos. O lema anterior assegura que o
produto est´a bem definido em π
1
(X, x
0
), e o teore ma seguinte mo stra que
π
1
(X, x
0
) ´e um grupo com a operao . Tal grupo ´e chamado o grupo funda-
mental de X em x
0
, ou o primeiro grupo de homotopia de X em x
0
, ou ainda
o grupo de Poincar´e de X em x
0
.
Teorema A.1.2. O conjunto π
1
(X, x
0
) ´e um grupo com a operc˜ao .
Demonstra¸ao: Para mostrar que π
1
(X, x
0
) ´e um g r upo temos que mos-
trar que: existe um la¸co c para o qual a sua classe [c] ´e o elemento neutro para
a opera¸ao , que todo elemento [α] tem um sim´etrico, a saber [˜α] = [α]
1
,
e que a multiplica¸ao ´e associativa . Vamos provar cada uma dessas propri-
edades separadamente, atrav´es dos trˆes lemas seguintes (lemas (A), (B) e
(C)).
Lema A.1.3. (A) π
1
(X, x
0
) tem um elem ento neutro [c] onde c ´e o la¸co
constante cujo ´unico v alor ´e x
0
.
Demonstra¸ao: O la¸co constante c ´e definido por c(t) = x
0
, t I. Se α
´e um la¸co em X baseado em x
0
, enao
(c α)(t) =
x
0
, 0 t
1
2
α(2t 1),
1
2
t 1.
Mostrar que [c α] = [α], requer uma ho motopia H : I × I X tal que
H(·, 0) = c α, H(·, 1) = α,
H(0, s) = H(1, s) = x
0
, s I.
Definindo
H(t, s) =
x
0
, 0 t
1s
2
α(
2t + s 1
s + 1
),
1s
2
t 1,
Podemos ver que H satisfaz as condi¸oes da homotopia desejada pois
H(t, 0) =
x
0
, 0 t
1
2
α(2t 1),
1
2
t 1.
= (c α)(t),
H(t, 1) =
x
0
, t = 0
α(t), 0 t 1,
= α(t),
Caminhos Homot´opicos e o Grupo Fundament al 71
e H(0 , s) = x
0
, H(1, s) = α(1) = x
0
.
Ainda, H ´e cont´ınua pelo Lema da Continuidade (A.1.1) visto que
2t + s 1
s + 1
´e uma aplica¸ao cont´ınua de (t, s) e as duas partes da defini¸ao de H coin-
cidem quando t =
1 s
2
. Provamos enao que se [α] π
1
(X, x
0
), enao
[c] [α] = [c α] = [α]. Logo [c] ´e um elemento neutro `a esquerda de π
1
(X, x
0
).
Observemos que para obter a homotopia H, determinamos a equa¸a o da reta
que passa pelos pontos (
1
2
, 0) e (0, 1), obtendo s = 1 2t ou t =
1 s
2
e assim
para s fixado, o ponto (
1 s
2
, s).
Consideramos enao a aplica¸ao
[0,
1s
2
] X
t → x
0
e a composta
[
1s
2
, 1] [0, 1] X
t →
2t + s 1
s + 1
→ α(
2t + s 1
s + 1
),
de acordo com o diagrama mostrado na figura seguinte:
Par a ver que [c] ´e tamb´em um elemento neutro `a direita, isto ´e, que [αc] =
[α] considere a homotopia definida por
H
(t, s) =
α(
2t
s + 1
), 0 t
s+1
2
x
0
,
s+1
2
t 1.
Par a obter H
, consideramos as aplica¸oes
[0,
s+1
2
] [0, 1] X
t →
2t
s + 1
→ α(
2t
s + 1
)
Caminhos Homot´opicos e o Grupo Fundament al 72
e
[
s+1
2
, 1] X
t → x
0
.
Das afirma¸oes anteriores concluimos que [c] ´e o elemento neutro para a opera¸ao
em π
1
(X, x
0
).
Lema A.1.4. (B) Para cada classe de homotopia [α] em π
1
(X, x
0
), o inverso
de [α] com respeito `a operao e o ele mento neutro [c] ´e a classe [α
1
] o nde
α
1
indica o caminho inverso (ou reverso) de α, α
1
(t) := α(1 t), t I.
Demonstra¸ao: O caminho α
1
(t) = α(1 t) (comumente chamado o
inverso ou o reverso do caminho α) inicia em α(1) = x
0
e percorre a mesma
“rota”de α, por´em no sentido cont r ´ario. Temos que provar que [α] [α
1
] =
[c] = [α
1
] [α] , ou seja, α α
1
c α
1
α. Vejamos primeiro que
c α α
1
. Note que
(α α
1
)(t) =
α(2t), 0 t
1
2
α(2 2t),
1
2
t 1.
Grosseiramente falando, a homotopia H a ser definida ser´a tal que, fixado
s [0, 1]:
para t [0,
s
2
], o caminho H
s
(t) := H(t, s) parte de α(0) = x
0
e vai, via α,
at´e α(s),
para t [
s
2
, 1
s
2
], o caminho fica “estacionado” em α(s) e,
para t [1
s
2
, 1] o caminho H
s
(t)“parte de α(s) = α
1
(1 s) e vai, via
α
1
, at´e α
1
(1) = x
0
”.
Assim, para s [0, 1] temos que considerar as aplica¸oes:
[0,
s
2
] [0, s] X
t → 2 t → α(2t)
[
s
2
, 1
s
2
] {s} X
t → s → α(s)
[1
s
2
, 1] [1 s, 1] X
t → 2 t 1 → α
1
(2t 1)
Caminhos Homot´opicos e o Grupo Fundament al 73
A homotopia ´e enao definida por
H(t, s) =
α(2t), 0 t
s
2
α(s),
s
2
t 1
s
2
α
1
(2t 1), 1
s
2
t 1,
Pelo Lema da Continuidade(A.1.1) H ´e cont´ınua, e temos
H(t, 0) =
α(2t), 0 t 0
α(0) = x
0
, 0 t 1
α
1
(2t 1), 1 t 1
=
α(0) = x
0
,
α(0) = x
0
,
α
1
(1) = x
0
,
= c(t), t,
H(t, 1) =
α(2t), 0 t
1
2
α(1), t =
1
2
α
1
(2t 1),
1
2
t 1.
= (α α
1
)(t),
e H(0, s) = α(0) = x
0
, H(1, s) = α
1
(1) = x
0
.
Logo c α α
1
, ou seja, [c] = [α α
1
] = [α] [α
1
].
Analogamente, tomando o homotopia H
: I × I X definida por
H
(t, s) =
α
1
(2t), 0 t
s
2
α
1
(s),
s
2
t 1
s
2
α(2t 1), 1
s
2
t 1,
temos que c α
1
α, isto ´e [c] = [α
1
α] = [α
1
] [α]. Portanto a classe
[α
1
] ´e o elemento sim´etrico de [α] em π
1
(X, x
0
).
Lema A.1.5. ( C) A opera o ´e associativa.
Demonstra¸ao: Sejam [α], [β] e [γ] membros de π
1
(X, x
0
). Queremos
prova r que ( [α] [β]) [γ] = [α] ([β] [γ]), ou equivalentemente, [(α β) γ] =
[α (β γ)].
Sabemos que
((α β) γ)(t) =
(α β)(2t), 0 t
1
2
γ(2t 1),
1
2
t 1
=
α(4t), 0 t
1
4
β(4t 1),
1
4
t
1
2
γ(2t 1),
1
2
t 1,
Caminhos Homot´opicos e o Grupo Fundament al 74
α
α
β
β
γ
γ
(
1
4
, 0)
(
1
2
, 0) (1, 0) t
(0, 1)
(α(βγ))(t) =
α(2t), 0 t
1
2
(β γ)(2t 1),
1
2
t 1
=
α(2t), 0 t
1
2
β(4t 2),
1
2
t
3
4
γ(4t 3),
3
4
t 1.
Par a um s fixo, consideremos a s aplica¸oes
[0,
s+1
4
] [0, 1] X
t →
4t
s + 1
→ α(
4t
s + 1
)
[
s+1
4
,
s+2
4
] [0, 1] X
t → 4t (s + 1) → β(4t (s + 1))
[
s+2
4
, 1] [0, 1] X
t →
4t (s + 2)
2 s
→ γ(
4t (s + 2)
2 s
)
Defina enao H : I × I X por
H(t, s) =
α(
4t
s + 1
), 0 t
s+1
4
β(4t (s + 1)),
s+1
4
t
s+2
4
γ(
4t (s + 2)
2 s
),
s+2
4
t 1.
Temos que H ´e cont´ınua e satisfaz
H(t, 0) =
α(4t), 0 t
1
4
β(4t + 1),
1
4
t
1
2
γ(2t 1),
1
2
t 1.
= ((α β) γ)(t),
Caminhos Homot´opicos e o Grupo Fundament al 75
H(t, 1) =
α(2t), 0 t
1
2
β(4t 2),
1
2
t
3
4
γ(
4t 3
3
),
3
4
t 1.
= (α (β γ))(t),
e H(0, s) = α(0) = x
0
, H(1, s) = γ(1) = x
0
.
Logo ((α β) γ) (α (β γ)). Isto completa a prova que ´e associativa e
prova finalmente que (π
1
(X, x
0
), ) ´e um grupo, como afirmado.
Defini¸ao A.1.5. Um espco X ´e conexo por ca minhos se cada pa r de pontos
de X pode ser ligado po r um caminho. Em outras pa l avras, se x
0
e x
1
ao
pontos em X ent˜ao exis te um caminho em X com ponto inicial x
0
e ponto
final x
1
.
O resultado seguinte nos mostra que o grupo fundamental de um espa¸co
conexo por caminhos independe do ponto base.
Teorema A.1.3. Se um espco X ´e cone x o por ca minhos e x
0
e x
1
ao pontos
de X, ent˜ao os grupos π
1
(X, x
0
) e π
1
(X, x
1
) s˜ao isomorfos.
Demonstra¸ao: Seja ρ : I X um caminho tal que ρ(0) = x
0
e
ρ(1) = x
1
. Se α ´e um la¸co baseado em x
0
, enao (ρ
1
α) ρ ´e um la¸co
baseado em x
1
onde ρ
1
denota o caminho reverso de ρ:
ρ
1
(t) = ρ(1 t), 0 t 1.
Definimos uma aplica¸ao P : π
1
(X, x
0
) π
1
(X, x
1
) por P ([α]) =
[(ρ
1
α) ρ], [α] π
1
(X, x
0
). Pode-se verificar que a imagem de uma
classe [α] em π
1
(X, x
0
) ´e independente da escolha do caminho α que repre-
senta a classe, e enao P est´a bem definida. Para mostrarmos que P ´e um
isomorfismo algumas observoes ao necess´arias. Primeiro: O Lema (B ) mos-
tra que [ρ ρ
1
] e [ρ
1
ρ] ao o s element os neutros de π
1
(X, x
0
) e π
1
(X, x
1
),
respectivamente. Segundo: O Lema (C) pode ser facilmente modificado par a
mostrar que quaisquer caminhos (n˜ao necessariamente fechados) α, β, γ, para
os quais (α β) γ e α (β γ) est˜ao definidos, os produtos triplos indicados
ao equivalentes. Assim em [(ρ
1
α)ρ], podemos ignorar o parˆentese interior
e simplesmente escrever [ρ
1
α ρ], a que a classe de equivalˆencia ´e a mesma
independente do modo em que os termos do produto ao associados. Agora
considere [α] e [β] em π
1
(X, x
0
), enao
P ([α] [β]) = P ([α β]) = [ρ
1
α β ρ] = [ρ
1
α ρ ρ
1
β ρ]
= [ρ
1
α ρ] [ρ
1
β ρ] = P ([α]) P ([β]).
O Grupo Fundamental de S
1
76
Logo P ´e homomorfismo. Agora, a aplica¸ao Q : π
1
(X, x
1
) π
1
(X, x
0
)
definida por Q([σ]) = [ρ σ ρ
1
], [σ] π
1
(X, x
1
) ´e a inversa de P . De fato,
para [α] π
1
(X, x
0
), Q(P ([α])) = Q([ρ
1
α ρ]) = [ρ ρ
1
α ρ ρ
1
] =
[ρ ρ
1
] [α] [ρ ρ
1
] = [α]. Ent˜ao a composta Q P ´e a aplica¸ao identidade
sobre π
1
(X, x
0
), e por simetria, observamos que a composta P Q ´e a identidade
sobre π
1
(X, x
1
). Logo os grupos fundamentais indicados ao isomorfos.
Por causa do teorema anterior, a men¸ao `a um ponto base para o grupo
fundamental de um espa¸co conexo por caminhos ´e, `as vezes, omitida. Vamos
em geral nos referir a o “grupo fundamental de X e escrever π
1
(X) quando
X for conexo por caminhos, a que o mesmo grupo abstrato ser´a obtido inde-
pendente da escolha do ponto base. O teorema ao garante, no entanto, que
o isomorfismo entre π
1
(X, x
0
) e π
1
(X, x
1
) ´e ´unico; caminhos diferentes podem
conduzir `a isomorfismos diferentes. a situa¸oes em que ´e importante esp ecifi-
car o ponto base. Quando comparamos, por exemplo, grupos fundamentais de
dois espa¸cos X e Y atrav´es uma aplica¸ao cont´ınua f : X Y , ´e necess´ario
especificar o ponto base de cada espa¸co.
A.2 O Grupo Fu ndamental de S
1
Esta se¸a o ´e dedicada a determinar o grupo fundamental do c´ırculo unit´ario.
Ser´a conveniente considerar o c´ırculo unit´ario S
1
como um subconjunto do
plano complexo. Vamos considerar R
2
como o conjunto de todos os complexos
x = x
1
+ ix
2
, onde i =
1. Assim S
1
= { x + yi; x
2
+ y
2
= 1 } . Considere a
aplica¸ao p : R S
1
definida por
p(t) = exp(2πit), t R.
Aqui exp denota a aplica¸ao exponencial no plano complexo. Em particular,
se t R, enao
exp(2πit) = cos(2πt) + i(sen(2πt)).
Note que p leva cada inteiro n R em 1 S
1
e envolve cada intervalo
[n, n + 1) exatamente uma vez em torno de S
1
no sentido anti-hor´ario.
Defini¸ao A.2.1. Se σ : I S
1
´e um caminho, ent˜ao um cam i nho ˜σ :
I R tal que p ˜σ = σ ´e chamad o um levantamento do caminho σ para
a reta real R. Se F : I × I R ´e uma homotopia, ent˜ao uma homotopia
˜
F : I × I R tal que p
˜
F = F , ´e chamad a um l e vantamento de F .
O Grupo Fundamental de S
1
77
Teorema A.2.1. (Propriedade do Levantam ento de Caminho s ) Se σ : I
S
1
´e um caminho em S
1
com ponto inicial 1, ent˜a o existe um ´unico levanta-
mento ˜σ : I R tal que o ponto inicia l ´e 0.
Demonstra¸ao: Seja U
1
o ar co aberto em S
1
come¸cando em 1 e cami-
nhando no sentido anti-hor´ario at´e i, e seja U
2
o arco aberto de -1 at´e i, no
sentido anti-hor´ario, como mostra a figura.
U
1
1
i
1
i
U
2
Enao U
1
e U
2
ao conjuntos abertos em S
1
, U
1
U
2
= S
1
e
p
1
(U
1
) =
n=−∞
(n, n +
3
4
), p
1
(U
2
) =
n=−∞
(n
1
2
, n +
1
4
).
Note que p leva cada intervalo (n, n +
3
4
) homeomorficamente sobre U
1
e
cada intervalo (n
1
2
, n +
1
4
) homeomorficamente sobre U
2
.
Daremos uma id´eia intuitiva da prova. Subdivida o dom´ınio do caminho
σ em se¸oes tais que cada se¸ao est´a contida em U
1
ou U
2
. Se uma se¸ao
particular est´a contida em U
1
, escolhemos um do s intervalos V = (n, n +
3
4
)
e consideramos a restri¸ao p |
V
. A composi¸a o de (p |
V
)
1
com esta se¸ao do
caminho “levanta”a se¸ao para uma se¸ao de um caminho em R. O mesmo
m´etodo se aplica para se¸oes que est˜a o em U
2
. Para ga rantir a continuidade os
precisamos ter cuidado para que o ponto inicial de uma dada se¸ao levantada
seja o ponto final da se¸ao levantada anteriormente.
Este m´etodo ´e aplicado indutivamente como segue. Seja ε o n´umero de
Lebesgue para uma cobertura aberta {σ
1
(U
1
), σ
1
(U
2
)} de I. Escolha uma
seq¨uˆencia 0 = t
0
< t
1
< . . . < t
n
= 1 de n´umeros em I tal que cada par suces-
sivo difere de pelo menos ε. Enao a imagem σ([t
i
, t
i+1
]) de um subintervalo
[t
i
, t
i+1
], 0 i n 1, deve estar contido em U
1
ou U
2
.
Agora, σ([t
0
, t
1
]) deve estar contido em U
2
pois σ(t
0
) = σ(0) = 1 ∈ U
1
. Seja
V
1
= (
1
2
,
1
4
) e defina ˜σ em [t
0
, t
1
] por
˜σ(t) = (p |
V
1
)
1
σ(t).
O Grupo Fundamental de S
1
78
Procedendo indutivamente, suponha que σ foi definido sobre o intervalo
[t
0
, t
k
]. Enao σ([t
k
, t
k+1
]) U onde U est´a em U
1
ou U
2
. Seja V
k+1
a com-
ponente de p
1
(U) onde ˜σ(t
k
) pertence. Note que V
k+1
´e um dos intervalos
(n, n +
3
4
) ou (n
1
2
, n +
1
4
). Ena o p |
V
k+1
´e um homeomorfismo, e a extens˜ao
de ˜σ para [t
k
, t
k+1
] ´e obtida definindo
˜σ(t) = (p |
V
k+1
)
1
(σ(t)), t [t
k
, t
k+1
].
A cont inuidade de ˜σ ´e gara ntida pelo Lema da Continuidade pois as se¸o es
levantadas concordam nos pont os finais t
k
. Esse passo indutivo estende a
defini¸ao de ˜σ para [t
0
, t
n
] = I.
Par a provar que ˜σ ´e um levantamento ´unico suponha que σ
tamb´em satisfaz
p σ
= σ, e σ
(0) = 0. Enao o caminho ˜σ σ
tem ponto inicial 0 e
p(˜σ(t) σ
(t)) = p(˜σ(t))/p(σ
(t)) = σ(t)(t) = 1, t I,
enao ˜σ σ
´e um levantamento do caminho constante cujo ´unico valo r ´e 1.
Como p aplica somente inteiros para 1, enao ˜σσ tem somente valores inteiros.
Assim, como I ´e conexo, ˜σ σ
pode ter somente um valor inteiro. Este ´unico
va lor deve ser um valo r inicial, 0. Al´em disso, ˜σ σ
= 0 , assim ˜σ = σ
. O
requerido levantamento ˜σ ´e enao ´unico.
Corol´ario A.2.1. (Propriedade do Levantamento de Caminho Generalizada)
Se σ ´e um caminho em S
1
e r ´e um n´umero real tal que p(r) = σ(0), ent˜ao
existe um ´unico levantamento ˜σ de σ com ponto inicial r.
Demonstra¸ao: O caminho σ(0) ´e um caminho em S
1
com ponto inicial
σ(0)(0) = 1 e al´em disso tem um ´unico levantamento η com ponto inicial
0. O caminho ˜σ : I R definido por ˜σ(t) = r + η(t), t I, ´e o requerido
levantamento de σ com ponto inicial r. A unicidade de ˜σ segue da unicidade
de η.
Proposi¸ao A .2.1. (Prop riedade do Levantamento de Homotopia)
Se F : I × I S
1
´e uma homotopia tal que F (0, 0) = 1, ent˜ao ex i s te um
´unico levantamento de homotopia
˜
F : I ×I R tal que
˜
F (0, 0 ) = 0.
Demonstra¸ao: A prova ´e similar `a do teorema anterior.
Defini¸ao A.2.2. Seja α um la¸co em S
1
com ponto inicial 1. A prop riedade
do levantamento de caminho garante que existe exatamente um levantamen to
O Grupo Fundamental de S
1
79
˜α de α com ponto inicial 0. Como,
1 = α(1) = p(˜α(1)) = exp(2πi˜α(1)),
ent˜a o ˜α(1) ´e um inteiro. Este inteiro ´e chamado o grau do la¸co α.
Proposi¸ao A.2.2. Dois la¸cos α e β em S
1
com pontos bases 1, ao equiva-
lentes se, e somente se, eles em o mesm o grau.
Demonstra¸ao: Sejam ˜α e
˜
β os levantamentos de α e β, respectivamente,
tendo ponto inicial 0 em R. Suponha primeiro que α e β tˆem o mesmo grau
enao ˜α(1) =
˜
β(1). Defina uma homotopia H : I ×I R por
H(t, s) = (1 s)˜α(t) + s
˜
β(t), (t, s) I × I.
Enao H demonstra a equivalˆencia de ˜α e
˜
β como caminhos em R. Note,
em particular, que H(1, s) ´e o g rau comum de α e β para cada s em I. A
homotopia
p H : I × I S
1
mostra a equivalˆencia de α e β como la¸cos em S
1
.
Suponha agora que α e β ao la¸cos equivalentes em S
1
e que K : I×I S
1
´e uma homotopia tal que
K(·, 0) = α, K(·, 1) = β, K(0, s) = K(1, s) = 1, s I.
Pela propriedade do levantamento de homotopia existe
˜
K : I × I R tal
que
˜
K(0, 0) = 0 e p
˜
K = K. Ent˜ao (p
˜
K)( 0 , s) = K(0, s) = 1, s I.
Segue que
˜
K(0, s) ´e um inteiro para cada valor de s. Como I ´e conexo,
˜
K(0, ·)
tem somente o valor
˜
K(0, 0) = 0. Um argumento similar mostra que
˜
K(1, ·) ´e
uma aplica¸ao constante. Como (p
˜
K)(·, 0) = K(·, 0) = α e (p
˜
K)(·, 1) =
K(·, 1) = β enao
˜
K(·, 0) = ˜α e
˜
K(·, 1) =
˜
β ao os ´unicos levantamentos de α
e β, respectivamente, com ponto inicial 0. Assim
grau(α) = ˜α(1) =
˜
K(1, 0) =
˜
K(1, 1) =
˜
β(1) = grau(β),
e portanto α e β tˆem o mesmo grau.
Teorema A.2.2. O grupo fundamental π
1
(S
1
) ´e isomorfo ao grupo aditivo Z
dos inteiros .
Demonstra¸ao: Considere π
1
(S
1
, 1), e defina a aplica¸ao
deg : π
1
(S
1
, 1) Z; [α] deg([α]) := grau(α).
A proposi¸ao anterior garante que deg est´a bem definida e ´e injetora. Vejamos
que deg leva π
1
(S
1
, 1) sobre Z. Seja n um inteiro. O la¸co γ em S
1
definido
por γ(t) = exp(2πint) ´e coberto p elo caminho t → nt, t I, e al´em disso
tem grau n. Enao deg([γ]) = n. Suponha que [α] e [β] est˜ao em π
1
(S
1
, 1).
Homomorfismo Induzido e Equivalˆencia de Homotopia 80
Mostremos agora que deg([α][β]) = deg([α])+deg([β]). Se ˜α e
˜
β ao os ´unicos
levantamentos de [α] e [β] que come¸cam em 0, enao o caminho f : I R
definido por
f(t) =
˜α(2t), 0 t
1
2
˜α(1) +
˜
β(2t 1),
1
2
t 1
´e o levantamento de α β com ponto inicial 0. Assim grau(α β) = f(1) =
˜α(1) +
˜
β(1) = grau(α) + grau(β), e portanto,
deg( [α] [β]) = grau( α β) = grau(α) + grau(β) = deg([α]) + deg([β]).
A.3 Homomorfismo Induzido e Equivalˆencia
de Homotopia
Nesta se¸ao estudaremos inicialmente o efeito, no grupo fundamental, de uma
aplica¸ao cont´ınua entre dois espa¸cos. Veremos tamb´em que o grupo funda-
mental ´e um invariante topol´ogico. A seguir examinaremos uma rela¸ao de
equivalˆencia para espa¸cos topol´ogicos que foi introduzida p or Hurewicz em
1936. Tal rela¸ao ´e mais fr aca do que homeomorfismo, mas forte o suficiente
para garantir que espa¸cos equivalentes em grupos fundamentais isomorfos.
Defini¸ao A.3.1. Dados X e Y espcos, x
0
X, y
0
Y , e f : X Y
uma aplicc ˜ao cont´ınua tal que f(x
0
) = y
0
. Ent˜ao f induz uma aplicao bem
definida f
#
: π
1
(X, x
0
) π
1
(Y, y
0
) dada por f
#
([α]) = [f α], que ´e um
homomorfismo . Tal homomorfis mo ´e chama do hom omorfismo induzido pe l a
aplicao f em π
1
.
Par a verificar que f
#
est´a bem definida, temos que mostrar que α β
implica f α f β. Mas de α β, segue que existe uma homotopia
H : I × I X entre α e β, relativamente a x
0
. Definimos ent˜ao a aplica¸ao
K : I ×I Y por K = f H. Claramente K ´e uma homotopia entr e f α e
f β relativamente a f (x
0
). Logo f
#
est´a bem definida. Al´em disso f
#
´e um
homomorfismo de grupos. De fato, temos que
(f (α β))(t) =
(f α)(2t), se 0 t
1
2
(f β)(2t 1), se
1
2
t 1
= (f α)(f β)(t).
e se [α], [β] π
1
(X, x
0
) ent˜ao f
#
([α] [β]) = f
#
([α β]) = [f (α β)] =
Homomorfismo Induzido e Equivalˆencia de Homotopia 81
[(f α) (f β)] = [f α] [f β] = f
#
([α]) f
#
([β]), o que prova que f
#
´e
realmente um homomorfismo.
Proposi¸ao A .3.1. a) Se f : (X, x
0
) (X, x
0
) ´e a aplicao identidade,
isto ´e, f = id
X
, ent˜ao f
= id
π
1
(X,x
0
)
.
b) Se f : (X, x
0
) (Y, y
0
) e g : (Y, y
0
) (Z, z
0
) ao aplicoe s cont´ınuas
sobre os pares indicados , ent˜ao o homomorfi s mo induzido (g f)
´e o
homomorfismo composto g
f
: π
1
(X, x
0
) π
1
(Z, z
0
).
c) (Invariˆancia Topol´ogica) Se h : (X, x
0
) (Y, y
0
) ´e um hom eomorfismo
ent˜a o o homomorfismo induzido por h, h
: π
1
(X, x
0
) π
1
(Y, y
0
) ´e um
isomorfismo.
Demonstra¸ao:
a) Se [α] π
1
(X, x
0
), enao (id
X
)
([α]) = [id
X
α] = [α] = id
π
1
(X,x
0
)
([α])
b) Seja [α] π
1
(X, x
0
), ena o (g f)
([α]) = [(g f )(α)] = [g (f α)] =
g
([f α]) = g
(f
([α])) = (g
f
)([α]). Assim, (g f)
= g
f
.
c) Supo nha que h : (X, x
0
) (Y, y
0
) seja um homeomorfismo e considere
h
1
: (Y, y
0
) (X, x
0
) a inversa de h. Ent ˜ao para [α] em π
1
(X, x
0
)
temos,
((h
1
)
h
)([α]) = ((h
1
) h)
([α]) = (id
X
)
([α]) = id
π
1
(X,x
0
)
([α]) = [α].
Similarmente, para [α] π
1
(Y, y
0
) temos (h
(h
1
)
)([α]) = id
π
1
(Y,y
0
)
([α]).
Logo, (h
)
1
= (h
1
)
.
Antes de definirmos espa¸cos homotopicamente equivalentes ou espa¸cos com
mesmo tipo de homotopia, apresentamos o conceito seguinte que ´e uma ex-
tens˜ao natural do conceito de homotopia de caminhos.
Defini¸ao A.3.2. Sejam X e Y espcos topol´ogicos e f e g a plicoes cont´ınuas
de X em Y , dizemos que f ´e homot´opica a g relativamente a um subconjunto
A X se existe uma aplica¸ao cont´ınua H : X × [0, 1] Y tal que para
todo x X, temos H(x, 0) = f(x) e H(x, 1) = g(x), para todo x X e
H(a, t) = f(a) = g(a), a A e t [0, 1]. A aplicao H ´e chamada uma
homotopia entre f e g. Denota-se f g para indicar que f ´e homot´opica a g.
Homomorfismo Induzido e Equivalˆencia de Homotopia 82
Observao A.3.1. Q uando na segunda condi¸a o tivermos A = , dizemos
que f e g ao livremente homot´opicas ou apenas homot´opicas.
Defini¸ao A.3.3. Sejam X e Y espcos topo l ´og i cos. Dizemos que X e Y
ao homotopicamente equivalentes, ou em o mesmo tipo de homotopia, se
existem aplicoes co nt´ınuas f : X Y e g : Y X para as quais as
compostas g f e f g ao h omot´opicas `a s aplicc ˜oe s identida des s o bre X e Y,
respectivamente. A aplicao f ´e chamada uma equiva lˆencia de homotopia, e
g ´e chamada a inversa ho mot´op i ca para f. Escreve-se X Y ou X Y para
indicar que X e Y ao homotopicamente equivalentes.
Exemplo A.3.1. Espcos homeomorfo s ao claramente homotopicamente equi-
valentes.
Proposi¸ao A.3.2. A rela¸ao “X ´e ho motopicamente equivale nte `a Y” ´e uma
rela¸ao de eq uiva lˆencia para espcos topol´ogicos.
Demonstra¸ao: A rela¸ao ´e reflexiva p ois a aplica¸ao ident idade sobre
qualquer espa¸co X ´e uma equivalˆencia de homoto pia. A propriedade sim´etrica
est´a impl´ıcita na defini¸a o. Note que ambas, f e g, ao equivalˆencias de homo-
topias e que cada uma delas ´e uma inversa ho mot´opica para a outra. Vejamos
que a rela¸a o ´e transitiva: sejam f : X Y e h : Y Z equivalˆencias
de homotopia com inversas homot´opicas g : Y X e k : Z Y , respec-
tiva mente. Queremos mostrar que X e Z tˆem o mesmo tipo de homotopia.
A candidata para uma equivalˆencia de homotopia entre X e Z ´e a aplica¸a o
composta hf, tendo gk como inversa homot´opica. Seja L : Y ×I Y uma
homotopia tal que L(·, 0) = k h e L(·, 1 ) = id
Y
. Enao M : X × I X,
definida por M(x, t) = g(L(f(x), t)), (x, t) X ×I, ´e uma homotopia tal que
M(· , 0) = g(L(f(·), 0)) = g((k h)(f )) = g k h f = (g k) (h f ),
M(· , 1) = g(L(f(·), 1)) = g(f) = g f.
.
Assim ((g k) (h f)) ´e homot´opica `a g f e conseq¨uentemente `a aplica¸ao
identidade sobre X, uma vez que g ´e uma inversa homot´opica de f.
Um argumento completamente an´alogo mostra que ((h f) (g k)) ´e
homot´opica `a h k, e portant o `a identidade sobre Z e assim X e Z em o
mesmo tipo de homotopia.
Exemplo A.3.2. Um c´ırculo e um anel tˆem o mesmo tipo de homtopia. Para
ver isto, consi dere o c´ırculo unit´ario S
1
e o anel
Homomorfismo Induzido e Equivalˆencia de Homotopia 83
A = {y R
2
; 1 |y| 2}
como na figura.
1
2
1
f
g
g(y)
x = gf(x)
S
1
f(x)
gf (y)
A
y
Uma equivalˆencia de h omotopia f : S
1
A e uma inversa homot´opica
g : A S
1
ao, respectivamente, definidas por
f(x) = x, x S
1
; g(y) = y/|y|, y A .
Ent˜ao g f ´e a identidade sobre S
1
,
g f : S
1
A S
1
; x → x → x/|x| = x e,
f g : A S
1
A; y → y/|y| → y/|y|.
A homotopia entre f g e a identidade em A ´e ent˜ao dada por H(y, t) =
ty + (1 t)y/|y|, pois H(y, 0 ) = y/|y| = (f g)(y) e H( y, 1) = y = id
A
(y).
Logo f g id
A
via a aplicao H e portanto S
1
tem o mesmo tipo de homo-
topia do anel A.
Defini¸ao A.3.4. Um espco X ´e contr´ac til s e existe um ponto x
0
X e uma
homotopia H : X ×I X entre id
X
e a aplicao constante x
0
, isto ´e, H ´e
tal que
H(x, 0) = x, H(x, 1) = x
0
, x X.
A homotopia H ´e chamada contrao do espc o X.
Proposi¸ao A.3.3. Um espco X ´e contr´actil se, e somente se, tem o mesmo
tipo de homotopia de um ponto.
Demonstra¸ao: Suponha que X ´e contr´actil, isto ´e, existe x
0
X e uma
homotopia H : X × I X entre id
X
e a aplica¸ao constante x
0
:
H(x, 0) = x, H(x, 1) = x
0
, x X.
Enao X tem o mesmo tipo de homotopia que o espa¸co {x
0
} pela equivalˆencia
de homotopia f : X {x
0
} e inversa homot´opica g : {x
0
} X definidas
por
f(x) = x
0
, g(x
0
) = x
0
, x X.
Homomorfismo Induzido e Equivalˆencia de Homotopia 84
Suponha agora que f
: X {a} ´e uma equivalˆencia de homotopia entre
X e o espa¸co com um ponto {a} com inversa homot´o pica g
: {a} X.
Enao existe uma homotopia K : X × I X entre g
f
e a identidade em
X, K(x, 0) = x, K(x, 1) = (g
f
)(x) = g
(a), x X.
A homotopia K ´e enao uma contra¸ao, e X ´e contr´actil.
Defini¸ao A.3.5. Seja X um espco e A em subespco de X. Dizemos que A
´e um retrato por deforma¸ao de X (ou que X retrai por def orma¸ao sobre A)
se existe uma homotopia H : X × I X tal que
H(x, 0) = x, H(x, 1) A, x X
H(a, t) = a, a A, t I.
A homotopia H ´e chamad a deforma¸ao retr´atil.
Proposi¸ao A.3.4. Se X ´e um espco e A ´e um retrato por deforma¸ao de
X, ent˜ao A e X tˆem o mesmo tio de homotopia.
Demonstra¸ao: Existe uma homotopia H : X × I X tal que
H(x, 0) = x, H(x, 1) A, x X,
H(a, t) = a, a A, t I.
Seja f : A X a aplica¸ao inclus˜ao f(a) = a, e defina g : X A por
g(x) = H(x, 1), x X. Ent˜ao g f ´e a identidade sobre A, e H ´e uma
homotopia entre f g e a identidade sobre X, assim f ´e uma equivalˆencia de
homotopia com g como inversa homot´opica.
Considere agora X e Y espa¸cos topol´ogicos conexo s por caminhos e sejam
f, g : X Y aplica¸oes cont´ınuas tais que f ´e homot´opica a g. Seja H :
X × I Y uma homotopia entre f e g. Enao H(x, 0) = f(x) e H(x, 1) =
g(x), x X e, como vimos, f e g induzem homomorfismos f
#
: π
1
(X, x
0
)
π
1
(Y, f(x
0
)) e g
#
: π
1
(X, x
0
) π
1
(Y, g(x
0
)). Seja γ : I Y definido por
γ(t) = H(x
0
, t). Temos que γ(0) = f(x
0
) e γ(1 ) = g(x
0
). Assim, γ ´e um
caminho em Y ligando f (x
0
) a g(x
0
). Logo, γ induz um isomorfismo γ
#
:
π
1
(Y, f(x
0
)) π
1
(Y, g(x
0
)) tal que γ
#
([β]) = [γ
1
β γ]. Temos enao o
seguinte resultado:
Lema A.3.1. Nas hip´oteses acima temos que g
#
= γ
#
f
#
. Isto ´e, o dia grama
Homomorfismo Induzido e Equivalˆencia de Homotopia 85
π
1
(X, x
0
)
f
#
π
1
(Y, f(x
0
))
ց
g
#
γ
#
π
1
(Y, g(x
0
))
´e comutativo.
Demonstra¸ao: Seja [α] π
1
(X, x
0
). Queremos mostrar que g
#
([α]) =
(γ
#
f
#
)([α]), isto ´e [(g α)] = [γ
1
(f α) γ]. Para isto temos que exibir
uma homotopia K : I ×I Y entre (g α) e (γ
1
(f α) γ) relativamente
a g(x
0
). Definimos K : I ×I Y por K(t, s) = H(α(t), s). Assim, temos que
K satisfaz K(t, 0 ) = H(α(t), 0) = (f α)(t), K(t, 1) = H(α(t), 1) = (g α)(t),
K(0, s) = H(α(0), s) = H(x
0
, s) = γ(s) = K(1, s). Portanto, K(0, s) =
K(1, s) mas ao ´e igual a uma constante, para todo s pertencente a I.
“Deformando”K como indicado na figura seguinte poderemos exibir uma
homotopia L entre g α e γ
1
(f α) γ, como desejado:
Temos que
(γ
1
(f α) γ)(t) =
γ
1
(2t), se 0 t
1
2
f α(4t 2), se
1
2
t
3
4
γ(4t 3), se
3
4
t 1
Seja s [0, 1]. Para t [0,
(1 s)
2
] a homoto pia L parte de γ
1
(0) =
γ(1) = g(x
0
) e vai at´e γ
1
(1 s) = γ(s). Para t [
(1 s)
2
,
(s + 3)
4
] temos a
Homomorfismo Induzido e Equivalˆencia de Homotopia 86
composi¸ao:
[
(1 s)
2
,
(s + 3)
4
] [0, 1] Y
t
(4t + 2s 2)
(3s + 1)
K(
(4t + 2s 2)
(3s + 1)
, s)
Par a t [
(s + 3)
4
, 1] a homotopia L parte de γ(s) e vai at´e g(x
0
).
Logo, a homotopia L ´e dada por
L(t, s) =
γ
1
(2t), se 0 t
1 s
2
K(
4t+2s2
3s+1
, s), se
1 s
2
t
s + 3
4
γ(4t 3), se
s + 3
4
t 1.
Note que, para 0 t 1,
L(t, 0) =
γ
1
(2t), se 0 t
1
2
K(4t 2, 0), se
1
2
t
3
4
γ(4t 3), se
3
4
t 1
= (γ
1
(f α) γ)( t),
L(t, 1) = K(t, 1) = (g α)(t), e L(0, s) = L(1, s) = g(x
0
).
Teorema A.3.1. Sejam X e Y espcos topol´ogicos conexos por
caminhos. Se X e Y em o mesmo tipo de homotopia, ent˜ao π
1
(X) ´e iso-
morfo a π
1
(Y ), mais precisamente, se f : X Y ´e uma equivalˆencia de
homotopia, ent˜ao f
#
: π
1
(X, x
0
) e π
1
(Y, f(x
0
)) ´e um isomorfismo.
Demonstra¸ao: Considere f : X Y uma equivalˆencia de homotopia.
Enao existe g : Y X (a inversa homot´opica) tal que f g id
Y
e gf id
X
.
Sejam y
0
Y e x
0
= g(y
0
). Vamos mostrar que f
#
: π
1
(X, x
0
) π
1
(Y, f(x
0
))
´e um isomorfismo. Temos g
#
: π
1
(Y, f(x
0
)) π
1
(X, g(f (x
0
))). Al´em disso,
pelo lema, (f g)
#
= γ
#
(id
Y
)
#
e (g f)
#
= σ
#
(id
X
)
#
, onde γ ´e um
caminho ligando y
0
a f(x
0
) e σ ´e um caminho ligando x
0
a g(f(x
0
)).
Mas, (f g)
#
= f
#
g
#
, (g f)
#
= g
#
f
#
, (id
Y
)
#
= id
π
1
(Y,y
0
)
e,
(id
X
)
#
= id
π
1
(X,x
0
)
.
π
1
(X, x
0
)
f
#
//
(id
X
)
#
''
O
O
O
O
O
O
O
O
O
O
O
(gf )
))
π
1
(Y, f(x
0
))
g
#
//
π
1
(X, g(f (x
0
)))
π
1
(X, x
0
)
σ
#
66
l
l
l
l
l
l
l
l
l
l
l
l
l
Exemplos de Grupos Fundamentais e o Teorema de Van Kampen 87
π
1
(Y, y
0
)
g
#
//
(id
Y
)
#
&&
M
M
M
M
M
M
M
M
M
M
(fg)
((
π
1
(X, x
0
)
f
#
//
π
1
(Y, f(x
0
))
π
1
(Y, y
0
)
γ
#
77
o
o
o
o
o
o
o
o
o
o
o
Assim,
g
#
f
#
= σ
#
id
π
1
(X,x
0
)
(1)
f
#
g
#
= γ
#
id
π
1
(Y,y
0
)
(2)
De (1), conclu´ımos que f
#
´e injetora e de (2) o btemos que f
#
´e sobrejetora.
Logo, f
#
´e um isomorfismo entre π
1
(X, x
0
) e π
1
(Y, f(x
0
)). Como X e Y ao
conexos por caminhos, o isomorfismo independe do ponto base.
Como uma primeira consequˆencia obtemos a invariˆancia topol´ogica a men-
cionada.
Corol´ario A.3.1. Se X e Y ao espcos topol´ogicos con exos por
caminhos com X homeomorfo a Y ent˜ao π
1
(X) π
1
(Y ).
Demonstra¸ao: Segue do Exemplo A.3.1.
Corol´ario A.3.2. Se A ´e um retrato por deforma¸ao de um espco X e x
0
´e um ponto de A ent˜ao a aplicao de π
1
(X, x
0
) em ´e π
1
(A, x
0
) induzida da
inclus˜ao ´e um isormo rfi s mo.
Demonstra¸ao: Segue do teorema anterior e da Proposi¸ao A.3.4.
Defini¸ao A.3.6. Um espco X cone xo por caminhos ´e simplesmen te conexo
quando π
1
(X) ´e o grupo trivial.
Corol´ario A.3.3. Todo espco contr´actil ´e simplesmente con exo.
Demonstra¸ao: Segue do fato que o espa¸co contr´actil tem o mesmo tipo
de homotopia de um ponto e do teorema anterior.
A.4 Exemplos de Grupos Fundamentais e o
Teorema de Van Kampen
Exemplo A.4.1. Considere o pl ano R
2
\{p} consistindo de todos os pontos
em R
2
exceto um ponto particular p. Seja A um c´ırculo com cen tro p, como
na figura:
Exemplos de Grupos Fundamentais e o Teorema de Van Kampen 88
A
p
r(x)
x
Para x R
2
\{p}, a linha que vai de p at´
Exemplos de Grupos Fundamentais e o Teorema de Van Kampen 89
Exemplo A.4.6. Um cilindro fechado C ´e o prod uto de um c´ırculo S
1
e um
intervalo fechado [a, b]. Ent˜ao π
1
(C) π
1
(S
1
) π
1
([a, b]) Z {0} Z.
Um resultado muito ´util para calcular o grupo fundamental de certos
espa¸cos ´e o T eorema de Van Kampen ([7], IV. Teoremas 2.1 e 2.2, ou [5]
Teorema 1.20). Apresentamos aqui a vers˜ao segundo Hatcher [5]. A vers˜ao
dada em [7] envolve propriedades do diagrama universal. Ressaltamos no en-
tanto que pode-se verificar que as duas vers˜oes ao equivalentes considerando
a defini¸ao de produto livre via diagramas.
Teorema A.4.1. (Teo rema de Van Kampen) S eja X a uni˜ao de espcos
abertos conexos por caminhos A
α
, ca da um contendo o ponto base x
0
X,
j
α
: π
1
(A
α
) π
1
(X), os homomorfismos induzidos das inclus˜oes A
α
em X, e
Φ :
α
π
1
(A
α
) π
1
(X) o homomorfi s mo e stendido no produto livre. Se cad a
interseao A
α
A
β
´e conexa por cami nhos, ent˜ao o homomorfismo
Φ :
α
π
1
(A
α
) π
1
(X) ´e sobrejetor. Ainda, se cada i nterseao A
α
A
β
A
γ
´e cone xa por caminhos, ent˜ao o kernel de Φ ´e o subgrupo normal N gerado
pelos elementos da forma i
αβ
(ω)i
βα
(ω)
1
(onde i
αβ
: π
1
(A
α
A
β
) π
1
(A
α
)
´e o homomorfismo induzido da inclus˜ao ) e assim Φ induz um isomorfismo
π
1
(X)
α
π
1
(A
α
)/N.
Demonstra¸ao: ([5], Teorema 1.2 0, p. 43).
Considerando o caso particular em que X ´e a uni˜ao de abertos A
1
e A
2
e
que A
1
, A
2
e A
1
A
2
ao conexos por caminhos, enao do teorema anterior
obt´em-se as seguintes conseq¨uˆencias:
Corol´ario A.4.1. Se A
1
A
2
´e simplesm ente conexo, ent˜ao π
1
(X) ´e o produto
livre dos grupos π
1
(A
1
) e π
1
(A
2
) com respeito ao s homomorfismos induzidos
das incl us˜oes j
1
: π
1
(A
1
) π
1
(X) e j
2
: π
1
(A
2
) π
1
(X).
Demonstra¸ao: ([7], Teorema 3.1 , p. 122).
Corol´ario A.4.2. Assuma q ue A
2
´e simple s mente conexo. Ent˜ao
j
1
: π
1
(A
1
) π
1
(X) ´e um epimorfismo, e seu kernel ´e o menor subgrupo nor-
mal de π
1
(A
1
) contendo a imagem k
1
(π
1
(A
1
A
2
)), onde k
1
´e o homomorfismo
induzido da inclus˜ao k
1
: π
1
(A
1
A
2
) π
1
(A
1
). Assim, π
1
(X) π
1
(A
1
)/N,
onde N ´e o subgrupo n ormal de π
1
(A
1
) gerado por k
1
: π
1
(A
1
A
2
) π
1
(A
1
)
Demonstra¸ao: ([7], Teorema 4.1 , p. 127).
Exemplos de Grupos Fundamentais e o Teorema de Van Kampen 90
Exemplo A.4.7. Seja X a reuni ˜ao de dois c´ırculos tangentes num ponto x
0
(X = S
1
1
S
1
2
). Ent˜ao π
1
(X) Z Z. Com efeito, sejam α
i
= [c
i
] onde
c
i
: I X ´e o caminho com ponto base x
0
e que a uma ´unica vo l ta em
torno de S
1
i
, para i = 1, 2. Tome dois pontos a e b, distintos, de X com
a S
1
1
e b S
1
2
. Considere U = X {a} e V = X {b}. Ent˜a o U e V
ao abertos, U V ´e conexo po r cami nhos e ´e simples mente conexo pois ´e
contr´actil. Pelo corol´ario A.4.1 temos que π
1
(X) π
1
(U) π
1
(V ). Mas U e V
tˆem o mesmo tipo de homotopia de S
1
, logo π
1
(U) Z e π
1
(V ) Z. Portanto
π
1
(X) Z Z α
1
α
2
.
Exemplo A.4.8. Se X ´e a reuni˜ao de n c´ırculos tangentes num ponto x
0
(X =
n
i=1
S
1
i
). Ent˜ao π
1
(X) Z ··· Z

n vezes
. Para ver isso considere agora α
i
= [c
i
]
onde c
i
: I X ´e o caminho com ponto base x
0
e que a uma ´unica volta
em torno de S
1
i
, pa ra i = 1, . . . , n. Mostrem o s por indu¸ao sobre n. Tome
pontos a
i
S
1
i
(distintos de x
0
) i = 1, . . . , n . Considere U = X {a
n
} e
V = X {a
1
, . . . , a
n1
}, ent˜ao U e V ao abe rtos, U V ´e conexo por caminhos
e ´e simplesmente conexo pois ´e contr´actil. Pelo corol´ario A.4.1 temos que
π
1
(X) π
1
(U) π
1
(V ). Mas U em o mesmo tipo de homotopia de
n1
i=1
S
1
i
e V em o mesmo tipo de homotopia de S
1
, logo π
1
(U) Z ··· Z

n1 vezes
(por
hip´otese de indu¸ao) e π
1
(V ) Z. Portanto π
1
(X) Z ··· Z

n vezes
.
Mais geralmente, temos:
Exemplo A.4.9. O grupo fundamental do bo uquet de c´ırculos π
1
(
αA
S
1
α
), in-
dexados em um conjunto A, ´e isomorfo a F onde F ´e o grupo livre g erado por
A. De fato, considere para cada α, um ponto x
α
em S
1
α
, diferente de x
0
e a
vizinhan¸ca aberta U
α
:= S
1
α
{x
α
} de x
0
em S
1
α
. Ent˜ao x
0
´e um retrato por
deforma¸ao d e U
α
em S
1
α
, e S
1
α
´e um retrato por de f orma¸ao de
A
α
:= S
1
α
β=α
U
β
. A interseao de dois ou mais A
α
s distintos ´e
α
U
α
que
´e con e xa por cam i nhos e tem como retrato por deforma¸ao o ponto x
0
. O
Teorema de Van Kampen implica que π
1
(X)
α
π
1
(S
1
α
)/N ond e N ´e o sub-
grupo normal gerado por i
αβ
(ω)i
βα
(ω)
1
. Por´em N = {0} vi s to que A
α
A
β
´e
contr´actil para quaisquer α, β A e π
1
(S
1
α
) Z. Log o π
1
(X)
α
Z
α
F ,
como afirmado.
Referˆencias Bibl iogr´aficas
[1] Brown, K. S. Cohomology of Groups. G. T. M. 87, New York,
Springer Verlag, 1982.
[2] Castro, F., Cohomolog i a d e Grupos e Algumas Aplicoes, Dis-
s5(c)1.35332(a)-0.a ee1646527(8)-2.2ra, e1
REFER
ˆ
ENCIAS BIBLIOGR
´
AFICAS 92
[13] Whitehead, G.W., Homotopy Theory, The Massachusetts Insti-
tute of Technology Press, 196 6.
[14] S. Eilenberg and S. MacLane (1947), Cohomology theory in abs-
tracts groups. II Groups extensions with a non-abelian kernel,
Annals of Mathematics (2) 48 (1947), p. 326-341.
[15] S. Eilenberg and S. MacLane (1945), Relations betwen homology
and homotopy groups and spaces, Annals of Mathematics (2) 46
(1945), p. 480-5 09.
[16] J. H. C. Whitehead (1948), On the realizability of homotopy
groups, Annals of Mathematics (2) 50 (1949), p. 2 61-263.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo