RESUMO
VERSA, Cezar Roberto. O Teatro de Plínio Marcos: Linguagem e Mascaramento Social.
2007. 185 f. Dissertação. (Mestrado em Letras) – Programa de Pós Graduação em Letras,
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – UNIOESTE, Cascavel, 2007.
Orientador: Profa. Dra. Lourdes Kaminski Alves.
Defesa: 02/03/2007.
Os anos 60 e 70 do século XX representam um período de vasta produção artística e cultural
no Brasil, contudo a censura foi o maior dilema encontrado pelos artistas, escritores e
dramaturgos, que acabavam tendo suas produções proibidas. No teatro, grandes escritores
produzem nessa época, como Nelson Rodrigues (1912-1980), Jorge Andrade (1922-1994), e
Plínio Marcos (1933 -1999); cada qual em seu estilo, no entanto, censurados por suas
produções. Esta pesquisa apresenta um estudo da peça Dois perdidos numa noite suja (1966)
de Plínio Marcos, a qual tematiza os conflitos de grupos sociais minoritários e marginalizados
na sociedade. Com uma linguagem repleta de gírias e palavras obscenas, as peças do autor
chocavam, tanto os que as viam quanto às autoridades, que entendiam tal procedimento como
uma afronta ao regime, uma vez que tal situação desvelava um processo de desordem dentro
da ordem instituída pelo governo militar. As obras de Plínio Marcos revelam um segmento do
Brasil em que os indivíduos precisam encarar um mundo sem perspectiva e esperança. Suas
peças criadas para serem transitórias imagens de um momento de turbulência transformaram-
se em retratos perenes de uma estrutura social e econômica inexorável. Contudo, deve-se
ressaltar que o intuito do dramaturgo, segundo ele mesmo, não era meramente protestar, já
que entendia que suas produções mostravam as pessoas como elas eram, o modo como se
comportavam e aquilo que diziam. A partir desta reflexão, postula-se nesse trabalho o aspecto
contracultural da linguagem explorada em sua obra. Pretende-se, desse modo, refletir como a
linguagem tornou-se dentro do texto dramático de Plínio Marcos uma ferramenta de
execração de dilemas e conflitos sócio-histórico-culturais do Brasil de 1960 até final dos anos
1970. O processo do desvelamento de uma linguagem crua se apega no uso contínuo de gírias
e palavrões, visando atingir o outro ou a própria sociedade. Para se entender esse processo,
recorre-se aos conceitos de dialogia, polifonia e carnavalização da teoria bakhtiniana, uma vez
que no bojo da linguagem das suas personagens há uma série de vozes, que carregam
ideologias asseveradas pela realidade social em que vivem, além de ressaltar o uso da
linguagem enquanto uma arma de combate à posição ocupada na sociedade, na qual a gíria e
o palavrão objetivam ferir ou rebaixar o outro em um diálogo. Na atualidade, as gírias são
enquadradas dentro da perspectiva de linguagens especiais. Metodologicamente, o trabalho se
pauta em uma pesquisa bibliográfica e documental, em que jornais e revistas dão suporte para
a revisão da fortuna crítica do dramaturgo, e que teóricos do âmbito da linguagem, da
sociologia, da antropologia, da literatura e do teatro embasam a fundamentação teórica, a
exemplo de Magaldi (1998), Bornheim (1992), Schwarz (1992), Artaud (2006), DaMatta
(1997), Preti (1981), Adorno e Horkheimer (1985), entre outros. Feita a revisão bibliográfica e
documental, o direcionamento dos conceitos teóricos incide na análise da peça, objeto de
estudo, Dois perdidos numa noite suja (1966), de Plínio Marcos. É mister destacar que a
análise se pauta e evidencia-se a partir do texto dramático e não em suas vias de encenação e
dramaticidade das montagens já feitas. Parte-se do texto para elucidar o quão vasto e completo
o mesmo é, embora carregado de uma linguagem coloquial, em que a informalidade e a
marginalidade fulguram como eixos centrais.
Palavras-chave: Teatro contemporâneo, linguagens especiais, máscara social.
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