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ANA PAULA AZEVEDO CAMPOS
Análise Comportamental em Depressivos
PUC-Campinas
2007
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ANA PAULA AZEVEDO CAMPOS
Análise Comportamental em Depressivos
Dissertação apresentada ao programa de
Pós-Graduação Stricto Sensu em
Psicologia do Centro de Ciências da
Vida da PUC-Campinas como parte dos
requisitos para obtenção do título de
Mestre em Psicologia Clínica.
Orientadora: Profa. Dra. Diana Tosello Laloni
PUC-Campinas
2007
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Dúvidas e idéias sem rumo...
Durmo ainda para fugir do velho açoite.
Duas asas invisíveis me servem e
Deixo que me levem para bem longe:
Do medo, da vergonha,
De não tomar atitudes,
Do ser fraco e falido.
Deitado fico sem vencer a angústia,
Dentro do desânimo, fico sem objetivos
Dói o tormento e a culpa, sempre a culpa,
Domina minh’ alma o ser incapaz, inútil...
Desrespeito...só a humilhação me cobre
Derrota...não sou nada por fora...
(A.M.A. Campos)
AGRADECIMENTOS
À Deus pela graça de poder intensificar minha existência.
Aos meus pais que sempre me incentivaram, ensinaram e abriram novos caminhos para o
estudo.
À minha avó querida que sempre esteve ao meu lado e pôde acompanhar de perto mais essa
conquista.
Ao meu namorado Jarbas pelo apoio, estímulo, paciência e carinho em todos os momentos
da realização deste trabalho.
À minha irmã Ana Lúcia por oferecer suas mãos e momentos de descontração em meio à
tanta turbulência.
À Profa. Dra. Diana Tosello Laloni, por sua orientação e disponibilidade para a realização
deste projeto.
À Prof. Dra. Vera Lúcia Adami Raposo do Amaral pelas “dicas” e discussões durante as
aulas e pelas contribuições no exame de qualificação.
Aos participantes da pesquisa que permitiram com simpatia o meu acesso a conteúdos
particulares das suas vidas e a realização deste projeto.
À secretária da Clínica de Psicologia da PUC-Campinas, Isildinha, pela ajuda com as salas
e horários.
À psicóloga da Clínica de Psicologia da PUC-Campinas e amiga, Queila Pierre, pela ajuda
com as questões burocráticas da Clínica e, por garantir que houvesse atendimento
psicológico aos participantes da pesquisa após a coleta de dados
À Marjorie pelo auxílio com as transcrições das entrevistas.
Aos companheiros de mestrado que compartilharam comigo agradáveis momentos de
aprendizado.
Ao CNPq pelo apoio financeiro recebido, fato que tornou possível a conclusão deste curso
e deste trabalho.
SUMÁRIO
ÍNDICE DE FIGURAS
vii
ÍNDICE DE TABELAS E QUADROS
viii
ÍNDICE DE ANEXOS
ix
RESUMO
x
ABSTRACT
xi
APRESENTAÇÃO
xii
INTRODUÇÃO
1
Depressão
1
Análise do Comportamento
3
Métodos para tornar acessível a topografia e a função dos comportamentos
11
Análise do Comportamento e Depressão
16
OBJETIVOS
22
Objetivo Geral
22
Objetivos Específicos
22
MÉTODO
23
Descrição e caracterização dos participantes
23
Ambiente
24
Materiais
24
Procedimento
27
RESULTADOS E ANÁLISES
31
Participante 1
33
Participante 2
43
Participante 3
52
Participante 4
62
Participante 5
71
DISCUSSÃO
82
CONCLUSÕES
94
REFERÊNCIAS
98
ANEXOS
103
vii
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: Freqüência comportamental apresentada pelo participante 1 durante 28
dias
35
Figura 2: Freqüência comportamental apresentada pelo participante 2 durante 28
dias
45
Figura 3: Freqüência comportamental apresentada pelo participante 3 durante 28
dias
54
Figura 4: Freqüência comportamental apresentada pelo participante 4 durante 28
dias
64
Figura 5: Freqüência comportamental apresentada pelo participante 5 durante 28
dias
73
viii
LISTA DE TABELAS E QUADROS
Tabela 1: Dados pessoais dos participantes 24
Tabela 2: Dados da depressão em cada participante 31
Quadro 1: Análise Comportamental do Relato 1 37
Quadro 2: Analise Comportamental do Relato 2 38
Quadro 3: Analise Comportamental do Relato 3 39
Quadro 4: Analise Comportamental do Relato 4 40
Quadro 5: Analise Comportamental do Relato 5 46
Quadro 6: Analise Comportamental do Relato 6 47
Quadro 7: Analise Comportamental do Relato 7 48
Quadro 8: Analise Comportamental do Relato 8 49
Quadro 9: Analise Comportamental do Relato 9 55
Quadro 10: Analise Comportamental do Relato 10 56
Quadro 11: Analise Comportamental do Relato 11 57
Quadro 12: Analise Comportamental do Relato 12 58
Quadro 13: Analise Comportamental do Relato 13 65
Quadro 14: Analise Comportamental do Relato 14 66
Quadro 15: Analise Comportamental do Relato 15 67
Quadro 16: Analise Comportamental do Relato 16 68
Quadro 17: Analise Comportamental do Relato 17 75
Quadro 18: Analise Comportamental do Relato 18 76
Quadro 19: Analise Comportamental do Relato 19 77
Quadro 20: Analise Comportamental do Relato 20 78
ix
LISTA DE ANEXOS
Anexo 1: Consentimento livre e esclarecido para o participante 103
Anexo 2: Ficha de identificação dos participantes 104
Anexo 3: Roteiro de entrevista clínica semi-estruturada para os participantes –
Análise Topográfica
106
Anexo 4: Ficha de auto-observação da freqüência dos sintomas – Participante 1-P1 107
Anexo 5: Ficha de auto-observação da freqüência dos sintomas – Participante 2- P2 108
Anexo 6: Ficha de auto-observação da freqüência dos sintomas – Participante 3- P3 109
Anexo 7: Ficha de auto-observação da freqüência dos sintomas – Participante 4- P4 110
Anexo 8: Ficha de auto-observação da freqüência dos sintomas – Participante 5- P5 111
Anexo 9: Roteiro de entrevista clínica semi-estruturada para os participantes –
Análise Comportamental
112
x
Campos, A. P. A. (2007). Análise Comportamental em Depressivos. Dissertação de
Mestrado (Mestrado em Psicologia Clínica - PUC-Campinas). Campinas. viip. + 114p.
RESUMO
O transtorno depressivo é um dos mais freqüentes e incapacitantes problemas da atualidade,
e é considerado um dos grandes motivos pela busca de serviços de saúde em todo o mundo.
Caracteriza-se por humor triste, melancolia, choro fácil, apatia, tédio, aborrecimento
crônico, irritabilidade aumentada, ansiedade, angústia, desespero, desesperança, fadiga,
cansaço, desânimo, diminuição da vontade, entre outros sintomas. Do ponto de vista da
Análise do Comportamento, a depressão deve ser compreendida a partir da análise das
contingências que a mantêm, visto que são nas relações com o ambiente externo que devem
ser buscadas as explicações para o comportamento. Seguindo a perspectiva de que um
comportamento deve ser estudado nos termos da sua função, a depressão poderia ser
entendida como classes de respostas selecionadas e desenvolvidas ao longo da vida do
indivíduo a partir de suas interações com o meio. O objetivo do presente trabalho foi
identificar relações funcionais no relato verbal de cinco pessoas com diagnóstico de
depressão. Optou-se analisar os comportamentos de maior freqüência em cada participante,
e para a seleção dos comportamentos utilizou-se o Inventário de Depressão de Beck,
entrevistas clínicas e auto-observação. Após a seleção dos comportamentos foram feitas
outras entrevistas clínicas objetivando coletar dados sobre a função dos comportamentos de
maior freqüência e informações sobre a história de vida em cada participante. A análise dos
dados foi feita enfatizando-se os processos de análise do comportamento que poderiam
estar relacionados ao comportamento analisado. Os resultados apontaram processos
funcionais parecidos em todos os participantes. As contingências envolvidas no
comportamento de maior freqüência em cada um foram de reforçamento negativo e, logo,
tiveram função de esquiva de situações aversivas. Na investigação da história de vida
relacionada ao comportamento de maior freqüência, foram encontrados aspectos de
aprendizagem do comportamento e de reforçamento negativo, como freqüentes situações de
esquivas, baixa incidência de reforçamento positivo, punições freqüentes na infância e
adolescência e perda de reforçadores positivos. Conclui-se que a análise das contingências
envolvidas no comportamento de maior freqüência e a investigação das relações
estabelecidas na história de vida nesses participantes foram um método adequado para obter
dados a respeito da depressão, além de fornecer informações sobre a interação desses
sujeitos com seu ambiente. Dessa maneira, investigações como a apresentada auxiliam para
uma avaliação mais precisa de cada caso, contribuindo para uma intervenção clínica mais
adequada.
Palavras Chave: Depressão, Análise do Comportamento, Análise Funcional.
xi
Campos, A. P. A. (2007). Behavior Analysis in Depressive. Master Thesis (Master in
clinical Psycology – PUC-Campinas). Campinas. viip. + 114p.
ABSTRACT
Depressive Disorder is one of the most frequent problems that cause incapability nowadays.
It is considerated one of the great reasons that take people to search health care assistance
in the world. Its symptoms are sad humor, melancholy, cry, apathy, tedium, chronic dislike,
angry increase, anxiety, despair, fatigue, tiredness, less wish, beyond other symptoms.
From the point of view of behavior analysis, depression must be understood by analyzing
the contingencies that sustain the behavior because the main reasons that explain the
behavior must be searched in people relations with the external environment. Looking by
the perspective that a behavior must be studied in terms of its function, depression could be
understood as responses classifications selected and developed during the person´s life
considering the interaction with the environment that the person was exposed. The purpose
of this present study was to identify functional relations among the verbal report of five
people with depression diagnosis. It was chosen to do the analysis of the most frequent
behavior in each participant. The methodologies used for the selection of the behavior were
Beck´s Depression Inventory (BDI), clinic interviews and self-observation. After the
selection of the behavior, additional interviews were included in order to collect
information about the function of the behaviors and about the life history of each
participant. The results showed similar functional processes in all participants. The
contingences involved in the most frequent behavior in each one were about negative
reinforcement and as a result, it was observed avoidance behavior under an aversive
stimulation. In the investigation of their life history related with the most frequent behavior,
were detected learning aspects of the behavior and negative reinforcement such as frequent
situations of avoidance, low incidence of positive reinforcement, frequent punishment
situations in childhood and adolescence and lack of positive reinforcements. It was
concluded that the contingences involved in the most frequent behavior and the
investigation of the relationships during the life history of these participants were adequate
methods to obtain data regarding to depression. In addition, it gives information about the
interaction of these people with their environment. Therefore, investigations like this study
could support a more specific assessment in each case, contributing for a better treatment.
Key words: Depressive disorder; behavior analysis, functional analysis
xii
APRESENTAÇÃO
A depressão é uma doença cuja prevalência ao longo da vida é de 2% a 12% em
homens e 5% a 26% em mulheres (Kaplan & Sadock, 1999). A incidência chega a 10% em
pessoas que recebem atendimento médico geral e atinge 15% das pessoas internadas em
hospital geral. As causas são controversas; há hipóteses que atribuem estas diferenças a
fatores genéticos, hormonais, efeitos do parto, estressores psicossociais diferentes para
homens e mulheres e modelos comportamentais (Demetrio, 1997).
A preponderância de pesquisas de etiologia e tratamento da depressão tem sido
conduzida pelas teorias cognitivas, psiquiátricas e psicofarmacológicas, interessadas nos
substratos biológicos da depressão. A ciência, em se tratando dos aspectos orgânicos, vem
fazendo a sua parte e desenvolvendo sua tecnologia em favor da detecção precoce e do
desenvolvimento de novos fármacos. Essas linhas têm gerado dados úteis para tratamento e
intervenção mais efetivos, porém, do ponto de vista da Análise do Comportamento, eles
não provêm explicações suficientes (Dougher & Hackbert, 1994).
O enfoque da depressão, enfatizando o aspecto comportamental, deve destacar as
interações do sujeito com o meio e as influências das histórias filogenética, ontogenética e
cultural, às quais ele está submetido; o início e a duração da depressão dependem de
variáveis biológicas, históricas e ambientais (Capelari, 2002).
O critério para chegar a um consenso entre tantas posições depende da evolução do
conhecimento nas diferentes áreas, inclusive a clínica. A literatura encontrada nesta área
descreve os comportamentos apresentados pela pessoa deprimida; contudo, isso não é
suficiente para caracterizar a referida doença com base nos pressupostos da Análise do
Comportamento, os quais privilegiam a função dos mesmos. Assim, analisar as variáveis
presentes no contexto das pessoas deprimidas, os comportamentos apresentados por elas,
bem como a funcionalidade destes, contribuiria para o aperfeiçoamento do diagnóstico e
para programas de intervenção em um futuro próximo.
Das informações obtidas na literatura, da discussão de casos clínicos e da percepção
social de que a depressão está se tornando um mal que acomete cada vez mais a população,
surgiu o interesse em estudar quais aspectos comportamentais operam em seu
desenvolvimento e quais aspectos da história de vida de uma pessoa podem contribuir para
o quadro.
xiii
Esta pesquisa, é uma tentativa de colaborar para o desenvolvimento na área da
Análise do Comportamento aplicada à clínica. O estudo selecionou e analisou
comportamentos de maior freqüência em cinco pessoas deprimidas e correlacionou esses
dados com a história de vida de cada uma. A amostra e os materiais utilizados para a coleta
de dados foram detalhados no método, bem como o local e os procedimentos utilizados
para a sua realização. Em seguida, foram descritos os resultados juntamente com as análises
funcionais. A discussão foi apresentada agrupando-se as análises de cada um dos
participantes que sugeriram uma função comum aos comportamentos, em seguida
apresentou-se a conclusão. Encerrou-se o trabalho com as referências bibliográficas e os
anexos.
Espera-se que este estudo possa subsidiar pesquisas que almejem contribuir com os
delineamentos de práticas de intervenção psicológica junto a pessoas deprimidas.
Programas de intervenção baseados na Análise do Comportamento são diretivos, funcionais
e contextuais, beneficiando não só os profissionais, mas principalmente as pessoas
acometidas com a depressão, as quais poderiam usufruir de um programa de intervenção
psicológica específico às suas demandas.
Pesquisas na área clínica permitem o desenvolvimento profissional e ampliam as
possibilidades de atuação e aperfeiçoamento do psicólogo, o que implica, sobretudo, no
aumento da compreensão do comportamento humano.
INTRODUÇÃO
Depressão
Depressão é classificada dentre os Transtornos do Humor de acordo com o Manual
Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-IV-TR, 2000). Este diagnóstico é caracterizado
pela presença dos seguintes sintomas: humor deprimido; interesse ou prazer
acentuadamente diminuídos pelas atividades; perda ou ganho significativo de peso,
diminuição ou aumento no apetite; insônia ou hipersonia; agitação ou retardo psicomotor;
fadiga ou perda de energia; sensação de inutilidade; culpa excessiva ou inadequada;
capacidade diminuída para pensar, concentrar-se ou indecisão; pensamentos recorrentes
sobre morte e ideação suicida.
Segundo Dalgalarrondo (2000) o elemento central da depressão, do ponto de vista
psicopatológico, é o humor triste, melancolia, choro fácil ou freqüente, apatia, tédio,
aborrecimento crônico, irritabilidade aumentada, ansiedade ou angústia, desespero,
desesperança, fadiga, cansaço fácil e constante, desânimo, diminuição da vontade,
constipação, palidez, pele fria com diminuição do turgor, diminuição da libido, diminuição
da resposta sexual, anedonia, entre outros. Fatores biológicos, genéticos e neuroquímicos
têm um importante peso nos quadros depressivos.
A depressão pode ser dividida quanto à intensidade de seus sintomas e predomínio
de tipos de sintomas. Estas duas classificações são usadas em conjunto pela Classificação
Internacional das Doenças (CID 10, 1993):
1) Quanto à intensidade de seus sintomas: Leve, Moderada, Grave;
2) Quanto ao predomínio de sintomas: depressão atípica, depressão ansiosa,
depressão psicótica, distimia e transtorno bipolar de humor.
O critério de classificação quanto à intensidade dos sintomas tem a finalidade de
quantificar a gravidade da doença e o nível de comprometimento do sujeito acometido. O
que determina se ela é leve, moderada ou grave não é só o número de sintomas presentes,
mas, principalmente o quanto estes sintomas debilitam o sujeito, avaliando o prejuízo
funcional (Reche, 2004).
2
Ao longo da vida, uma em cada vinte pessoas é acometida por episódio depressivo
moderado ou grave. De cada cinqüenta casos de depressão, um necessita de internação e
15% dos deprimidos graves suicidam-se. A depressão tem caráter recorrente: o risco de
haver um segundo episódio é de 50%, aumentado para 70-80% para o terceiro episódio
(Botega, Furlaneto & Fráguas, 2002).
Com relação ao predomínio de sintomas, segundo dados da Organização Mundial
da Saúde (OMS, 1993) a depressão maior afeta cerca de 50 milhões de pessoas no mundo
todo e é considerada a primeira causa de incapacidade entre todos os problemas de saúde.
Estudos epidemiológicos do transtorno depressivo indicam que a prevalência em
mulheres é maior do que nos homens. As diferenças entre os sexos são consistentes ao
longo do ciclo da vida, mas são muito mais proeminentes em adultos jovens e pessoas de
meia-idade que nos idosos e crianças (Kaplan & Sadock, 1999).
A depressão maior tem uma incidência anual alta, sendo 1,59%. Até a idade de 70
anos a probabilidade cumulativa de um primeiro episódio de depressão foi de 27% nos
homens e 45% nas mulheres, tornando a depressão um dos problemas de saúde pública
mais importantes (Kaplan & Sadock, 1999).
Dentre os fatores de maior risco para o transtorno depressivo estão pessoas com
estado civil de separados e divorciados, pessoas com história familiar de depressão,
experiências infantis na primeira infância, morte precoce de um dos pais e estresse social. E
o risco em áreas urbanas é tão grande quanto em rurais (Kaplan & Sadock, 1999).
Dalgalarrondo (2000) enfatizou também o aspecto da perda como fundamental na
experiência depressiva, visto que tais experiências surgem com muita freqüência após
perdas significativas: de uma pessoa muito querida, de um emprego, de um local de
moradia ou de algo puramente simbólico.
A classificação do DSM-IV-TR (2000) ocorre quando os sintomas não são
explicados somente por luto, isto é, após a perda de um ente querido; persistem por mais de
dois meses ou são caracterizados por acentuado prejuízo funcional, preocupação mórbida
com inutilidade, ideação suicida, sintomas psicóticos ou retardo psicomotor.
3
Análise do Comportamento
A Análise do Comportamento, que tem como base filosófica o Behaviorismo
Radical, é uma abordagem funcionalista, e sendo assim, enfatiza os propósitos para os quais
os comportamentos servem para as pessoas. A abordagem oferece prioridade à parte
ambiental dos eventos que atuam nas causas, no controle e na manutenção do
comportamento, e está interessada na análise e tratamento de cada organismo
individualmente ao invés de um grupo de diagnóstico. Portanto, a ênfase desta abordagem
está em entender os determinantes ambientais do comportamento (Sturmey, 1996).
Os sistemas classificatórios descrevem topografias e freqüência de respostas
(Banaco, 1999). A ênfase na topografia do comportamento deixa de ser adequada para uma
análise comportamental quando se constata que um mesmo padrão de respostas pode ser
resultado de histórias diversas de interação e pode, ainda, ter funções adaptativas distintas
(além disso, histórias semelhantes podem produzir padrões muito variados de
comportamento).
A abordagem comportamental tem tentado entender as variáveis de controle de
vários problemas humanos. Dessa forma, seus estudos buscam descrever causas, efeitos de
variáveis e possíveis formas de modificar esses problemas. Sua metodologia prioriza o
estudo do sujeito único, em suas relações comportamentais estabelecidas com o ambiente
no qual está inserido. Dessa maneira, o objeto de estudo é o comportamento.
Os comportamentos são determinados por variáveis ambientais que atuam ao longo
da história do organismo enquanto membro de uma espécie, enquanto pessoa e enquanto
membro de uma cultura. Em todas as instâncias, o modo de ação do ambiente é a seleção
pelas conseqüências. Supõe-se que o organismo seja dotado de uma sensibilidade inata ao
efeito dessas conseqüências, e que esta sensibilidade associa as conseqüências com
determinadas condições antecedentes. Considerando este um processo evolutivo, pode-se
dizer que o organismo se adapta ao ambiente em que vive. Os comportamentos evoluem
porque têm uma função de utilidade na luta pela sobrevivência do organismo (Matos,
1999).
Moreira e Medeiros (2007) afirmaram que a Análise Funcional é o processo que
identifica esse valor de sobrevivência, ou seja, busca os determinantes da ocorrência do
4
comportamento. Sob a perspectiva behaviorista radical, esses determinantes estão na
interação do organismo com o meio.
Skinner (1953/2000) defendeu a existência de três níveis de causalidade do
comportamento, que, com maior ou menor medida, estarão sempre atuando em confluência
na ocorrência ou não de uma resposta. São eles:
x Filogênese: a interação com o meio advém da evolução da espécie. Características
fisiológicas e alguns traços comportamentais (comportamentos reflexos e padrões fixos de
ação) são determinados pela filogênese. Nesse sentido, certos comportamentos podem ser
aprendidos por humanos, outros não. Além disso, determinantes filogenéticos podem se dar
na pessoa e não apenas na espécie.
x Ontogênese Individual: esse nível de análise aborda a modificação do comportamento
pela interação direta com o meio durante a vida do organismo. Em outras palavras, trata-se
da aprendizagem através de experiências individuais com o meio. São os determinantes do
comportamento mais relacionados à subjetividade e à individualidade do ser. Na
ontogênese, o comportamento é modificado pelas suas conseqüências, ou seja, dependendo
da conseqüência de uma resposta, essa tende ou não a se repetir.
x Ontogênese Sociocultural: o comportamento será também determinado por variáveis
grupais, como moda, estilo de vida, preconceitos, valores, etc. O contato com a cultura
estabelecerá a função reforçadora ou aversiva da maioria dos eventos. Além disso, aprende-
se pela observação de modelos ou por instruções, o que compreende a aprendizagem social
responsável pela emissão de grande parte dos comportamentos humanos.
A depressão foi apresentada no tópico anterior a partir de uma visão estruturalista, a
qual valoriza, principalmente, o diagnóstico e a personalidade. Abordagens estruturalistas
enfatizam a forma do comportamento e têm sido utilizadas com sucesso na medicina para a
compreensão das doenças e para predizer satisfatórios processos de tratamento
farmacológico indicado para cada diagnóstico (Sturmey, 1996).
A abordagem da depressão, do ponto de vista da Análise do Comportamento,
pressupõe a definição dos comportamentos apresentados pela pessoa e a identificação das
relações entre as respostas dessa pessoa e os eventos que ocorrem no seu ambiente físico e
social. Deve ser compreendida a partir das contingências que a mantêm e, nas relações com
5
o ambiente externo, devem ser buscadas as explicações para o comportamento (Cavalcante,
1997).
Os sintomas da depressão descritos no DSM-IV-TR (2000) que classificam a
doença como uma categoria diagnóstica podem ser bons exemplos de comportamentos da
pessoa deprimida, e isto pode ser um bom ponto de partida para descobrir as formas reais
de conduta que darão a descrição das interações da pessoa deprimida com o seu ambiente
(Ferster, 1973).
A depressão deve ser entendida, basicamente, como um conjunto complexo de
comportamentos. Um padrão de interação com o ambiente envolvendo alterações
específicas nos comportamentos operantes, respondentes e estados sentidos normalmente
referidos como sentimentos. Por essa ótica, não há como compreender o comportamento
depressivo sem recorrer a uma análise funcional (Cavalcante, 1997).
A mesma autora ressaltou que o comportamento depressivo é determinado pela
genética, história de vida e contingências atuais. Portanto, abordar a depressão pressupõe a
identificação das possíveis relações existentes entre os sintomas depressivos (resposta do
sujeito) e eventos que ocorrem em seu ambiente (antecedentes e conseqüências de sua
ação).
Para a compreensão de como esta proposta pode ser utilizada, é necessário que
alguns conceitos e princípios da Análise do Comportamento sejam explicitados. Os
principais são ambiente, comportamento e contingência, que serão descritos a seguir.
O conceito “ambiente” é singular e define-se como o conjunto de condições ou
circunstâncias que afetam o comportar-se não importando se estas condições estão dentro
ou fora da pele (Smith, 1983 apud Matos, 1997).
Comportamento é definido como uma interação entre a ação do sujeito e o
ambiente. O conceito contingência é um instrumento a ser utilizado na análise dessas
interações. O termo resposta também pode ser utilizado e refere-se a ação do sujeito, o que
ele faz, fala ou sente (Skinner, 1953/2000).
A unidade básica de análise do comportamento é a contingência de três termos,
pois a formulação das interações entre um organismo e seu ambiente deve sempre
especificar: 1) a situação em que a resposta ocorreu; 2) a própria resposta; 3) as
conseqüências de tal resposta. As interações entre estes três aspectos constituem as
6
contingências de reforço. Analisando-se as contingências da vida da pessoa, da vida da
espécie e do grupo cultural, podem-se criar condições de discriminação, aprendizagem e
ampliação de repertório dos sujeitos (Skinner, 1975).
Comportamentos podem ser públicos ou privados. Um comportamento público é
aquele que é acessível à observação direta e pode ser relatado por mais de uma pessoa,
como andar, falar ou comer (Baum, 1999). Comportamentos privados, também chamados
de encobertos, englobam os pensamentos e sentimentos, exemplificados por pensar, sentir
ou sonhar (Carvalho, 1999). Eventos privados podem ser incluídos na análise do
comportamento porque a ciência requer apenas que os eventos sejam naturais, não há
nenhuma exigência de que sejam observáveis (Baum, 1999).
A diferença entre eles está no fato de que os eventos privados são acessíveis de
modo direto apenas à própria pessoa a quem diz respeito. Assim como fenômenos
comportamentais, estímulos e respostas privados são dotados de natureza física e podem ser
interpretados com os mesmos conceitos com os quais se interpretam fenômenos públicos
(Skinner, 1953/2000).
Seguindo esta orientação, a alternativa para investigar eventos privados encontrada
pelos analistas do comportamento tem sido utilizar o relato verbal como fonte de
informação. No caso da investigação de solução de problemas, é através do relato verbal
que o pesquisador pode ter acesso aos comportamentos encobertos quando a resolução
envolve a análise das contingências por parte do próprio solucionador e, assim, inferir as
variáveis que controlam a resposta solução (Simonassi, Tourinho & Silva, 2001).
Para que os comportamentos ocorram deve existir uma relação de interdependência
entre os estímulos antecedentes a eles e as conseqüências do mesmo. Um estímulo
antecedente é algo que vem antes de uma conseqüência. São caracterizados como estímulos
discriminativos, antecedem os comportamentos e são estímulos que se tornam efetivos
como sinais para que o comportamento ocorra. Podem sinalizar a apresentação de outros
estímulos e também as ocasiões em que as respostas terão conseqüências (Catania, 1999).
Muitas das emoções são respostas reflexas a estímulos ambientais e por esse motivo
é difícil controlar uma emoção. Os organismos nascem — de alguma forma — preparados
para interagir com o seu ambiente através das respostas reflexas. As emoções são respostas
a determinadas situações. A situação que elicia uma emoção pode não ser observável, o que
7
não quer dizer que ela não exista. Considera-se um pensamento, uma lembrança, uma
música, uma palavra como estímulos que podem eliciar uma resposta emocional. Ao sentir
medo, uma série de reações fisiológicas está acontecendo no corpo: as glândulas supra
renais secretam adrenalina, os vasos sanguíneos periféricos contraem-se e o sangue
concentra-se nos músculos. Da mesma forma, quando se sente raiva, alegria, ansiedade ou
tristeza, outras mudanças na fisiologia podem ser detectadas (Moreira & Medeiros, 2007).
Ao se referir às emoções (sobretudo às sensações), fala-se, portanto, sobre respostas dos
organismos que ocorrem em função de algum estímulo (situação).
As conseqüências do comportamento se referem às modificações no ambiente que
ocorrem após a emissão de um determinado comportamento e através delas as respostas
são aprendidas (Moreira & Medeiros, 2007).
Os eixos de uma análise comportamental são os paradigmas respondente e
operante, que se referem a uma classificação do comportamento.
O operante é aquele que modifica o ambiente aumentando a probabilidade dele
ocorrer novamente. O respondente é aquele que é eliciado ou reflexo, produzido através da
apresentação de estímulos (Catania, 1999).
Os respondentes são adquiridos através do condicionamento respondente, que é um
tipo de aprendizagem. São comportamentos característicos das espécies e desenvolvidos ao
longo da sua história filogenética como, por exemplo, os reflexos inatos.
O operante é aquele que produz conseqüências, isto é, modificações no ambiente, e
é afetado por elas. Entender o operante é fundamental para a compreensão da aquisição das
habilidades e dos conhecimentos, ou seja, falar, ler, escrever, raciocinar entre outros e é
adquirido através do condicionamento operante.
Operações Estabelecedoras (OE) são um outro conceito da Análise do
Comportamento. Catania (1999) afirmou que algumas conseqüências do comportamento
são mais importantes do que outras e a efetividade dessas conseqüências podem variar ao
longo do tempo. As coisas que podem ser feitas para mudar a efetividade dos reforçadores
(das conseqüências), mudando a probabilidade da aquisição ou ocorrência dos
comportamentos são chamadas de OE.
Michael (1993) definiu OE como evento ambiental, operação ou estímulo
condicionado que afeta um organismo e pode alterar, momentaneamente, a efetividade
8
reforçadora de um outro evento e a freqüência de ocorrência de uma parte do repertório do
organismo relevante para esses eventos como conseqüências.
Meyer (2003) afirmou que as OE produzem dois diferentes efeitos sobre o
comportamento de um organismo: 1) alterar a efetividade de algum objeto ou evento como
reforçador ou punidor, e 2) evocar o comportamento que, no passado, foi seguido por esta
conseqüência. Elas definem a efetividade das conseqüências.
Aparentemente, a maior parte dos eventos, operações ou estímulos que alteram a
eficácia reforçadora de outros eventos também altera a freqüência momentânea de
ocorrência de qualquer comportamento que seja seguido por esses eventos.
Ferster, Culberton e Boren (1978) afirmaram que o desempenho do organismo é
definido pelo seu efeito sobre o ambiente. Sendo assim, os comportamentos são adquiridos
através da aprendizagem. Dizer que as conseqüências dos comportamentos chegam a afetá-
los é o mesmo que dizer que as conseqüências determinarão, em algum grau, se os
comportamentos que as produziram ocorrerão ou não outra vez, ou se ocorrerão com maior
ou menor freqüência.
As conseqüências que são produzidas pelos comportamentos não têm influência
sobre comportamentos “adequados” ou socialmente aceitos. Elas também mantêm ou
reduzem a freqüência de comportamentos inadequados ou indesejados.
Os homens agem sobre o mundo, modificam-no e, por sua vez são
modificados pelas conseqüências de sua ação (Skinner, 1978/1957,
p.1).
Reforço é um tipo de conseqüência do comportamento que aumenta a probabilidade
dele ocorrer. Quando as alterações no ambiente aumentam a probabilidade do
comportamento que as produziu voltar a ocorrer, tal relação entre o organismo e o ambiente
é chamada de contingência de reforço (Moreira & Medeiros, 2007).
Quando uma conseqüência reforçadora segue um desempenho, ela aumenta a
probabilidade desse desempenho ocorrer e o fortalece. Essa conseqüência pode ser
reforçamento positivo ou reforçamento negativo. Quando uma conseqüência aversiva segue
um desempenho, ela diminui a probabilidade desse desempenho e é denominada de punição
(Ferster, Culberton & Boren, 1978).
9
Para determinar se um estímulo é um reforçador ou se uma conseqüência é um
reforço, deve-se considerar a relação entre o comportamento e sua conseqüência,
verificando se a conseqüência afetou o comportamento, isto é, aumentou sua probabilidade
de ocorrência.
O reforço positivo aumenta a probabilidade de um comportamento reforçado voltar
a ocorrer porque a modificação produzida no ambiente (conseqüência) é sempre a adição de
um estímulo.
O reforço negativo é a conseqüência produzida pelo comportamento que faz cessar
o estímulo aversivo. Os estímulos aversivos serão definidos como aqueles que reduzem a
freqüência do comportamento que os produzem (estímulos punidores positivos) ou
aumentam a freqüência do comportamento que os retiram (estímulos reforçadores
negativos). O reforço negativo se dá pela retirada de estímulos do ambiente (Moreira &
Medeiros, 2007).
Dois tipos de comportamento são mantidos por reforço negativo:
1) Comportamento de fuga: um estímulo aversivo está presente no ambiente no
momento em que o comportamento é emitido e em que a conseqüência produzida
por ele é a retirada de estímulo aversivo do ambiente.
2) Comportamento de esquiva: um estímulo aversivo não está presente no ambiente no
momento em que o comportamento é emitido e sua conseqüência é o atraso ou
cancelamento do contato com o estímulo aversivo.
Certos estímulos, por terem precedido a apresentação de estímulos aversivos no
passado, tornam a resposta de esquiva mais provável. O controle por reforçadores negativos
ocorre quando há uma tendência a livrar-se, fugir ou esquivar-se de eventos perturbadores,
perigosos ou ameaçadores (Sidman, 1995).
A suspensão do reforço é denominada extinção e, como conseqüência, produz uma
diminuição gradual na freqüência de um comportamento (Catania, 1999). Há outras
conseqüências que também diminuem a sua freqüência. São elas a punição positiva e a
punição negativa.
A punição é um tipo de conseqüência do comportamento que torna sua ocorrência
menos provável. O comportamento produz a apresentação de um estímulo aversivo,
10
resultando na diminuição da probabilidade de emissão do mesmo comportamento no futuro
(Moreira & Medeiros, 2007).
A punição destina-se a eliminar comportamentos inadequados,
ameaçadores ou, por outro lado, indesejáveis de um dado repertório,
com base no princípio de que quem é punido apresenta menor
possibilidade de repetir seu comportamento. Infelizmente, o
problema não é simples como parece. A recompensa (reforço) e a
punição não diferem unicamente com relação aos efeitos que
produzem. Uma criança castigada de modo severo por brincadeiras
sexuais não ficará necessariamente desestimulada de continuar, da
mesma forma que um homem preso por assalto violento não terá
necessariamente diminuída sua tendência à violência.
Comportamentos sujeitos a punições tendem a se repetir assim que
as contingências punitivas forem removidas (Skinner, 2000/1953,
p.50).
Punição positiva é uma contingência em que um comportamento produz a
apresentação de um estímulo aversivo que reduz sua probabilidade de ocorrência futura e
punição negativa é a conseqüência de um comportamento em que há retirada de
reforçadores (de outros comportamentos). Essa conseqüência tornará o comportamento
menos provável no futuro (Moreira & Medeiros, 2007).
A punição negativa e a extinção são similares porque em ambos não se tem acesso a
reforçadores outrora disponíveis. Na extinção, um comportamento produzia uma condição
reforçadora e não a produz mais. Por outro lado, na punição negativa, um comportamento
passa a ter uma nova conseqüência, que é a perda de reforçadores. A punição suprime
rapidamente a resposta, enquanto que a extinção produz uma diminuição gradual na
probabilidade de ocorrência da resposta (Moreira & Medeiros, 2007).
Os efeitos da punição podem variar, e o mais importante deles ocorre quando o
comportamento punido freqüentemente é forte. Mesmo que a estimulação assim gerada seja
bem sucedida na prevenção de uma ocorrência completa, também evoca reflexos
característicos de medo, ansiedade e outras emoções. O comportamento incompatível que
bloqueia a resposta punida pode se assemelhar à restrição física externa ao gerar raiva ou
11
frustração. Como as variáveis responsáveis por esses padrões emocionais são geradas pelo
próprio organismo, não há nenhum comportamento de fuga apropriado disponível. A
condição pode ser crônica e pode resultar em doenças ou outra coisa que interfira no
comportamento eficaz da pessoa em sua vida cotidiana (Skinner, 1953/2000).
A punição severa tem um efeito imediato na redução da tendência
para agir de uma certa maneira... “Instintivamente”, atacamos
qualquer um que nos ofenda — talvez não com um ataque físico, mas
com críticas, desaprovação, vituperação ou ridículo... Todavia, em
longo prazo, a punição realmente não elimina o comportamento de
um repertório e seus efeitos temporários são conseguidos com
tremendo custo na redução da eficiência e felicidade geral do grupo
(Skinner, 2000/1953, p.208).
Esses tipos de conseqüência são chamados de controle aversivo do comportamento
porque o sujeito se comporta para que algo não aconteça, ou seja, para subtrair um estímulo
do ambiente ou para fazer com que ele nem mesmo ocorra. Os organismos tendem a evitar
ou fugir daquilo que lhes é aversivo (Sidman, 1995).
Para que sejam realizados o processo de análise do comportamento e a conseqüente
aplicação dos conceitos descritos, o analista comportamental deve considerar, com
prioridade, os aspectos do ambiente e a função que o comportamento tem no mesmo, o que
significa identificar o valor de sobrevivência de determinado comportamento, buscando-se
a explicação de um evento pela descrição de suas relações com outros eventos.
Métodos para tornar acessíveis a topografia e a função do comportamento
O relato verbal é o comportamento operante mais utilizado por diferentes
profissionais em suas práticas como forma de coleta de informações. Barker, Pistrang e
Elliott (1994) afirmaram que métodos de pesquisa em clínica que usam o relato direto são
muito eficazes e aparecem principalmente na forma de entrevistas e questionários.
O relato verbal, além de uma fonte de dados, é também uma forma de
comportamento. O comportamento verbal é estabelecido e mantido pelas contingências de
três termos, como qualquer outro tipo de comportamento. Conseqüentemente, os princípios
12
da Análise do Comportamento permitem um tratamento integral do comportamento
humano, incluindo a linguagem, o pensamento e a cognição (de Rose, 1994). A
característica definidora do comportamento verbal é que ele é estabelecido e mantido por
reforçamento mediado por outra pessoa (o ouvinte).
A comunidade verbal é responsável pela produção de descrições de
comportamentos manifestos e privados, presentes, passados e futuros (de Rose, 1997).
Skinner (1974) assinalou que os relatos são pistas: 1) para o comportamento
passado e as condições que o afetaram; 2) para o comportamento atual e as condições que o
afetam, e 3) para as condições relacionadas com o comportamento futuro.
O relato verbal é a melhor forma de acessar comportamentos que não podem ser
observados diretamente, e esta é a sua principal vantagem.
A observação é um outro método utilizado para coletar dados acerca do
comportamento e da situação ambiental. Sua principal vantagem é que é uma medida direta
do comportamento e pode prover evidências concretas do fenômeno a ser investigado
(Barker, Pistrang & Elliott, 1994).
A auto-observação é a observação de si mesmo, que colabora para o
autoconhecimento e gera consciência. Consciência é a capacidade de descrever o que se
está fazendo (Machado, 1997). O mundo dentro da pele é sentido e observado apenas pela
própria pessoa (Skinner, 1974). Tato é o operante verbal que descreve estímulos internos ou
externos. O falante comunica seus estados internos à comunidade verbal. A comunidade
verbal modela o operante verbal através do reforço diferencial. O resultado deste processo é
a auto-observação (Skinner, 1978).
O autoconhecimento é de origem social. Uma pessoa que se tornou consciente de si
mesma por meio de perguntas que lhe foram feitas está em melhores condições de prever e
controlar seu próprio comportamento (Skinner, 1978).
O conceito “consciência” é verbal porque é conseqüenciado pela mudança no
comportamento do ouvinte; porque é estabelecido através da interação verbal do ouvinte
com o falante. É verbal na forma (oral ou escrita, manifesta ou encoberta) e na função, já
que é mantida pelo comportamento verbal do ouvinte (Machado, 1997).
Para a seleção da topografia dos comportamentos, isto é, como eles se apresentam,
outros métodos também podem ser utilizados, e garantem eficácia e fidedignidade dos
13
mesmos. Geralmente instrumentos padronizados, como, por exemplo, testes, inventários e
escalas podem fornecer esse tipo de dado. Para a realização deste estudo, foi utilizado o
Inventário de Depressão de Beck (Beck Depression Inventory, BDI) o qual será descrito a
seguir:
O BDI (Cunha, 2001) é um instrumento padronizado e, provavelmente, a medida de
avaliação de depressão mais amplamente usada (tanto em pesquisa como em clínica). Foi
traduzido para vários idiomas e validado em diferentes países. É indicado para sujeitos de
17 a 80 anos.
A escala original consiste de 21 itens, incluindo sintomas e atitudes, para a Análise
do Comportamento, sintomas e atitudes podem ser definidos como comportamentos. Cada
item contém quatro alternativas, submetendo graus crescentes de gravidade da depressão,
cuja intensidade varia de 0 a 3. Os itens se referem a tristeza, pessimismo, sensação de
fracasso, falta de satisfação, sensação de culpa, sensação de punição, autodepreciação, auto-
acusações, idéias suicidas, crises de choro, irritabilidade, retração social, indecisão,
distorção da imagem corporal, inibição para o trabalho, distúrbio do sono, fadiga, perda de
apetite, perda de peso, preocupação somática e diminuição de libido.
Para amostras de pessoas com transtorno depressivo recomendam-se, de acordo com
o Manual da versão em português das Escalas Beck (Cunha, 2001), os seguintes pontos de
corte: menor que 10, sem depressão ou depressão mínima; de 10 a 18, depressão leve a
moderada; de 19 a 29, depressão moderada a grave; de 30 a 63, depressão grave.
O método para se buscar compreender as funções do comportamento é a Análise
Funcional. Muitos autores da Análise do Comportamento descrevem esse método como a
forma mais adequada para estudar o comportamento, principalmente porque ele oferece
dados a respeito da função dos comportamentos a serem estudados. Os dados para a
confecção da Análise Funcional podem ser coletados a partir de entrevistas ou observação.
A Análise do Comportamento está interessada nas relações entre os eventos
ambientais (os estímulos) e as ações do organismo (as respostas). A identificação destas
relações é a Análise Funcional (Meyer, 2003).
Para Hanley, Iwata e McCord (2003) a metodologia da Análise Funcional identifica
variáveis que influenciam a ocorrência dos problemas de comportamento e tem se tornado
uma marca oficial da avaliação comportamental.
14
Costa e Marinho (2002) afirmaram que a Análise Funcional passa pelo
estabelecimento de relações entre variáveis funcionais. A função de um comportamento
pode variar de uma pessoa a outra, entre situações e no tempo. As funções dizem respeito à
obtenção de estímulos reforçadores ou a evitação de estímulos aversivos.
Segundo Skinner (1975):
Uma formulação das interações entre um organismo e o seu meio
ambiente, para ser adequada, deve sempre especificar três coisas: 1)
a ocasião na qual a resposta ocorreu, 2) a própria resposta e 3) as
conseqüências reforçadoras. É apenas quando se analisa o
comportamento sob contingências conhecidas de reforço que se pode
começar a ver o que ocorre na vida cotidiana e assim, interpreta-se
o comportamento com mais sucesso (p.10).
Malott, Walley e Mallot (1997) descreveram a Análise Funcional como uma análise
das contingências responsáveis pelos problemas do comportamento, não sendo nada além
de uma análise das contingências responsáveis por um comportamento ou por mudanças
nesse comportamento, seja ele comportamento problemático ou aceitável.
Os mesmos autores sugeriram alguns passos a serem seguidos no desenvolvimento
de uma análise funcional: primeiramente devem-se identificar os comportamentos alvos a
serem analisados e a freqüência com que eles ocorrem, o que será incluso na classe de
respostas; em seguida, devem ser descritas as relações comportamentais, identificar as
condições antecedentes, as operações estabelecedoras que tornam a condição motivadora,
especificar o estímulo discriminativo; e, finalmente, definir as contingências de
reforçamento, punição, fuga ou esquiva baseado na tríplice contingência ou nas
conseqüências das contingências.
Uma análise funcional apresenta a vantagem de identificar as variáveis importantes
para a ocorrência de um fenômeno e, exatamente por isso, permitir intervenções futuras.
Além disso, ela possibilita o planejamento de condições para a generalização e a
manutenção desse fenômeno (Matos, 1999).
Identificar o comportamento de interesse, de acordo com Meyer (2003), requer do
analista do comportamento a observação do comportamento e/ou a obtenção de relatos. O
comportamento de interesse deve ser especificado em termos de ações do participante e
15
também em termos de classes de ações, que são agrupamentos de comportamentos que
compartilham a mesma função, mesmo que com topografias diferentes.
Matos (1999) afirmou que pode ser foco de interesse a omissão ou não ocorrência
de um determinado comportamento e que após ter sido determinado o comportamento de
interesse, deve-se identificar e descrever o efeito comportamental (a freqüência com que
ocorre, duração ou intensidade).
Matos (1999) acrescentou que deve-se identificar as relações entre as variáveis
ambientais e o comportamento de interesse, assim como identificar as relações entre o
comportamento de interesse e os outros comportamentos existentes. Para isso, é preciso
descrever a situação antecedente e a situação subseqüente ao comportamento de interesse.
identificando quais eventos são condições antecedentes e quais eventos são conseqüências
de uma ação.
Gálvez, Prieto e Nieto (1991) defenderam a Análise Funcional a partir de um
modelo explicativo. A aplicação deste modelo não leva a uma única hipótese, e sim a uma
variedade de hipóteses. É um modelo aberto, uma vez que propõe o levantamento das
variáveis que parecem ser relevantes a serem detectadas e medidas para a explicação do
comportamento. O que deve guiar a análise é a fidelidade dos dados que se possui de cada
caso, e não modelos ou rótulos. As autoras enfatizam também a importância dos dados
biográficos na análise para complementar a explicação.
Somente uma avaliação completa das condições, estilo de vida e de trabalho do
sujeito poderá permitir uma descrição dos problemas reais que o mesmo enfrenta e a
especificação das medidas a serem tomadas para alterar a situação problemática. A história
de vida de uma pessoa é essencial para a compreensão de seu comportamento atual.
O delineamento utilizado no decorrer do trabalho parte do princípio de que para que
se possa compreender e modificar o comportamento de um organismo vivo deve-se analisar
o comportamento deste organismo como uma unidade individual, e não um comportamento
médio de um grupo de pessoas.
O primeiro momento é o de linha de base, e seu objetivo é obter medidas do
comportamento em uma situação que representaria o estado de funcionamento de um
sujeito sem a intervenção do pesquisador. Fornece uma medida do comportamento anterior
à manipulação da variável dependente. É uma fase na qual a freqüência do comportamento
16
de interesse (a variável dependente) é registrada para ser usada na avaliação dos efeitos da
variável experimental (Matos & Tomanari, 2002).
Análise do Comportamento e Depressão
A depressão é um quadro em que não se pode esperar que um único processo
psicológico subjacente esteja atuando, uma vez que o comportamento é subproduto de
inúmeros processos (não somente psicológicos, como já foi descrito anteriormente). A
depressão é uma doença que pode ser causada por uma variedade de condições, sejam elas
físicas ou ambientais.
Existem controvérsias no que diz respeito a essas causas. Seja a preponderância de
fatores neuroquímicos ou hormonais, assim como a responsabilidade dos fatores
ambientais. Seja qual for o substrato do repertório de uma pessoa deprimida, sempre é
preciso saber qual é a relação funcional entre o comportamento e o ambiente que serve de
ocasião, que modela e que mantém a depressão (Reche, 2004).
Sturmey (1996) apresentou uma revisão dos principais estudos sobre depressão e
análise funcional do comportamento até 1994. Dentre eles destacaram-se o de Ferster
(1973); McNight et al. (1984); Staats e Heilby (1985); Barnett e Gotlieb (1988); Lewinsohn
et al. (1985) e o de Dougher e Hackbert (1994). Após esta data, foram encontrados estudos
referentes a depressão em laboratório (Hunziker, 1997) e alguns estudos embasados na
teoria analítico-funcional de Bolling, Kohlenberg e Parker (2000) e García, Aguayo e
Montero (2006).
Ferster (1973), em seu estudo pioneiro sobre a análise funcional da depressão,
afirmou que:
Quando se puderem compreender todos os processos que podem
reduzir o número de comportamentos positivamente reforçados,
poder-se-á começar a identificar de que maneira o ambiente físico e
social de uma pessoa oferece as condições que são responsáveis por
eles (p.861).
Para o autor, além dos comportamentos referidos na descrição clínica do quadro,
deve-se observar a freqüência das diversas classes de atividades da pessoa deprimida e
17
compará-las com as de pessoas não deprimidas. A característica mais evidente de uma
pessoa deprimida é a perda de certos tipos de atividades, associada a um aumento de
comportamento de esquiva e de fuga, tais como queixas, choro e irritabilidade (Ferster,
1973).
De acordo Beck,, segundo Ferster (1973) sujeitos deprimidos adquirem uma visão
limitada, pessimista e imutável do mundo. A visão limitada pode ser entendida como
incapacidade do sujeito em perceber os aspectos sociais que o cercam. A visão pessimista
do mundo pode ser entendida como uma incapacidade atual, devido ao fato de que, na
história do desenvolvimento do sujeito, ocorreram eventos que o impediram, de alguma
maneira, de explorar seu ambiente completa e eficientemente. Supõe-se a ocorrência de
alguma falha no desenvolvimento devido a uma defasagem entre as contingências de
reforçamento e o comportamento emitido pelo sujeito, e a falha aumenta porque a falta de
contato com o ambiente reduz a freqüência do comportamento e impede o desenvolvimento
progressivo do repertório.
Como decorrência desses fatores a pessoa deprimida possui um repertório
comportamental bastante reduzido, tendo como principais características alguns
comportamentos irracionais e insólitos. Tornam-se comuns os atos repetitivos, que ocorrem
devido à ausência de outros elementos no repertório, e o comportamento passivo, originado
de indicações feitas, ordens dadas ou qualquer outro tipo de iniciativa aversiva proveniente
de outra pessoa, o que parece estar ligado, em grande parte, à preponderância do controle
aversivo exercido por outros e a ausência de controle positivo proveniente de seu próprio
repertório, além de uma interpretação distorcida, incompleta e confusa do ambiente
(Ferster, 1973).
Pessoas com o perfil depressivo podem ficar sentadas e em silêncio durante longos
períodos, e às vezes até ficar de cama durante o dia todo. A latência de uma resposta a
qualquer pergunta que lhe é feita pode ser mais longa do que de costume, e a fala, o andar
ou as atuações em tarefas rotineiras também decorrerão em ritmo mais lento. Embora em
certas ocasiões possa responder perguntas, fazer pedidos, ou falar livremente, a freqüência
geral dessas atividades será baixa. Alguns tipos de comportamento verbal, como, por
exemplo, contar uma história divertida, escrever uma carta, ou ainda, falar livremente sem
ser questionado, podem ocorrer raramente.
18
A depressão está intimamente ligada à história de reforçamento do sujeito. Seu
entendimento depende do conhecimento da relação sujeito-ambiente, ou seja, dos
antecedentes e das conseqüências do comportamento depressivo e, portanto, da análise
funcional. O repertório de pessoas com este quadro é definido como o resultado de um
decréscimo na freqüência de certas classes de comportamentos e um aumento na freqüência
de outros (Ferster, 1973).
A depressão também vem sendo estudada em laboratório. Muitos modelos animais
de depressão já foram propostos, mas poucos mantiveram uma credibilidade que justifica
seu uso por diferentes grupos de pesquisa. Um deles é o desamparo aprendido (Seligman,
1977), o qual tem sido um modelo comportamental bastante útil no estudo experimental da
depressão.
O estudo do desamparo aprendido se destaca pela análise da história passada como
um evento crítico na determinação do comportamento presente, e caracteriza-se pela
dificuldade de aprendizagem demonstrada por sujeitos previamente expostos a eventos
aversivos incontroláveis. Ocorre um efeito da interferência da exposição prévia a eventos
aversivos na aprendizagem futura, quando os eventos podem ser controláveis. O efeito
desta interferência ocorre porque os organismos, ao passarem pela experiência com eventos
incontroláveis, aprendem que não há relação entre o que fazem e as conseqüências
ambientais do que foi feito. O efeito é evidenciado pelo fato de os organismos apresentarem
dificuldade em iniciar respostas operantes, dificuldade em aprender a relação entre
respostas e conseqüências, perda de peso, aumento de defecação, aumento de úlceras e
diminuição de reações agressivas (Hunziker, 1993).
Pessoas submetidas à incontrolabilidade aprendem que os eventos do meio ocorrem
independentemente do seu comportamento e essa aprendizagem interfere na aprendizagem
oposta de fuga ou esquiva. Alguns sintomas da depressão são impossíveis de serem
avaliados em modelos animais, e restam para a análise da similaridade de sintomas apenas
as alterações comportamentais que podem ser objetivamente avaliadas, tais como a perda
de motivação ou insensibilidade aos reforçadores, baixa atividade locomotora, redução da
atividade sexual, distúrbio de sono, redução da ingestão alimentar e perda de peso.
No caso da depressão humana, muitos desencadeadores de quadros depressivos se
ajustam à definição de eventos incontroláveis, como, por exemplo, a morte de um ente
19
querido, demissões do emprego, dificuldades financeiras, a impossibilidade de se alterar
uma situação de vida insatisfatória, entre outros. Esses fatos, além de impedirem o acesso a
alguns reforçadores disponíveis (gerando extinção), podem ter um efeito mais drástico e
generalizado, diminuindo a emissão de outros comportamentos mantidos por outros
reforçadores. Esses estudos sugerem um tipo de história de vida como crítico para a
ocorrência desses comportamentos: a experiência passada com eventos aversivos
incontroláveis que dificulta à pessoa ficar sob controle das contingências reforçadoras
presentes (Hunziker, 1997).
Dougher e Hackbert (1994) analisaram alguns padrões de interação com o ambiente
apresentado por sujeitos classificados como deprimidos. São eles:
x Baixa densidade de reforçamento: argumentam que não é a densidade de reforço em
si que é crítica, mas a taxa de reforço positivo contingente à resposta. Desse modo, a
depressão pode surgir quando o reforço para o não-responder for maior do que para
o responder. Uma falta de reforço social é particularmente importante para o
surgimento e a manutenção da depressão.
x Extinção: Uma redução na freqüência do comportamento ou uma redução crônica
no nível de emissão de comportamentos podem ser resultados de extinção. Ainda,
quando há um processo de extinção lento e gradual, pode ser difícil identificar a
origem da depressão.
x Punição: Muito comum entre as pessoas com depressão crônica são histórias de
punição prolongada e sem a possibilidade de fuga. Torna-se ainda pior quando o
comportamento defensivo ou retaliatório produzido pela punição é também punido.
Um organismo exposto a essa condição resulta em uma redução generalizada de
comportamentos e interfere com os efeitos subseqüentes do reforço contingente.
x Reforçamento de comportamento de angústia (reinforcement of distressed
behavior): Pessoas depressivas são também caracterizadas por uma alta taxa de
comportamentos de ansiedade, incluindo lamentação, choro e irritabilidade. Esses
repertórios são estabelecidos em ambientes punitivos e podem ser estendidos para
outras situações, mesmo quando o reforço imediato para o comportamento de
angústia não está para ocorrer. Além da redução da estimulação aversiva, o
20
comportamento de angústia é, algumas vezes, reforçado positivamente pelo
aumento de atenção e apoio social.
x Estímulo discriminativo: Existem funções de controle de estímulos envolvidas na
manutenção do controle do comportamento depressivo. Eventos correlacionados
com a extinção e a punição evocam comportamento de esquiva, mantido por reforço
negativo. Como acontece com a maioria dos paradigmas de esquiva, no entanto, o
comportamento permanece sob o controle de estímulos discriminativos relevantes,
mesmo quando as contingências mudam. Como resultado, os sujeitos podem vir a
perder fontes potencias de reforço.
x Funções respondentes: O estado afetivo associado à depressão é seu primeiro
sintoma diagnóstico. Quando a escassez de reforço é generalizada ou persistente,
freqüentemente resulta em reações emocionais que se classificam como tristeza ou
desespero.
x Operações estabelecedoras: Uma característica da depressão é a falta de motivação
e uma habilidade diminuída de derivar prazer da vida. De acordo com a visão
comportamental, a perda da efetividade reforçadora e as mudanças na motivação
sugerem que operações estabelecedoras estão envolvidas. Eventos ou condições que
produzem taxas baixas de resposta e os estados afetivos característicos da depressão
podem funcionar como operações estabelecedoras.
x Comportamento verbal: É uma classe de respostas evocada pelas funções
estabelecedoras de punição e reforço insuficiente. Mandos e mandos estendidos na
forma de reclamações, autocríticas, insultos autodirigidos e autodemandas são
comuns entre os depressivos. Por serem freqüentemente evocadas por estimulação
aversiva, algumas destas reclamações autodirigidas são agressivas e visam infligir
dano ou dor. Geralmente elas são muito efetivas.
x Influências culturais: Muitas influências culturais podem contribuir para a
depressão. Por exemplo, o aumento global da prevalência de depressão é atribuído a
fatores associados à cultura moderna, incluindo o aumento da alienação e
características estressantes das sociedades industriais.
21
x Processos verbais: É válido ressaltar que a explicação comportamental da depressão
refere-se também aos determinantes do comportamento verbal que caracterizam os
deprimidos e como esses determinantes vêm influenciar outros comportamentos.
Este estudo evidencia que a análise do comportamento deprimido deve considerar a
genética, história de vida e contingências atuais presentes na determinação do
comportamento do sujeito. Sendo o comportamento a interação do organismo com o
ambiente, ele automaticamente reflete a herança genética selecionada ao longo da evolução
da espécie. A individualização se processa ao longo da vida sobre essa base orgânica
herdada: as relações aprendidas na interação com o meio formam uma história pessoal e
única que vai interagir com as condições presentes na vida desse sujeito, gerando seu
comportamento atual. Contudo, apesar de ser pressuposto, esse processo não é acessível a
nível genético, uma vez que ele se deu no ambiente evolucionário da espécie. Na história
do sujeito a seleção pelas conseqüências também só pode ser acessada indireta e
parcialmente através de relatos verbais.
Portanto, a ênfase deste trabalho está na identificação das contingências atuais e as
presentes na história de vida de pessoas deprimidas a partir de seus relatos verbais,
considerando que o conhecimento sobre essa história auxiliará na compreensão de algumas
das funções exercidas pelo ambiente atual, onde se estabelecem as relações que determinam
o comportamento.
22
OBJETIVOS
Objetivo Geral
Analisar funcionalmente os comportamentos de pessoas com diagnóstico de
depressão.
Objetivos específicos:
x Identificar os comportamentos depressivos do Inventário de Depressão de Beck
(BDI, Cunha, 2001) em cada participante;
x Identificar os comportamentos relatados pelos participantes como depressivos;
x Selecionar os comportamentos depressivos que foram identificados no BDI e no
relato dos participantes;
x Levantar a freqüência dos comportamentos deprimidos num período de tempo;
x Selecionar um comportamento de maior freqüência em cada participante para
análise;
x Identificar contingências atuais funcionalmente relacionadas com o comportamento
depressivo selecionado em cada participante;
x Buscar relação entre história de vida e o comportamento analisado.
23
MÉTODO
Descrição e caracterização dos participantes
Participaram do estudo cinco pessoas adultas (maiores de 21 anos) diagnosticadas
— por um psiquiatra — com Transtorno Depressivo Leve ou Moderado seguindo os
critérios do CID 10 (1993).
Os sintomas da referida doença estavam presentes há pelo menos dez anos em todos
os participantes (pré-requisito para compor a amostra).
As idades dos participantes variaram de 39 a 53 anos, sendo uma participante do
sexo feminino e quatro do sexo masculino. A renda financeira familiar variou de 2 a 10
salários mínimos. Os dados pessoais estão descritos na Tabela 1.
Todos estavam em acompanhamento psiquiátrico e faziam uso de medicação no
momento da coleta de dados. E, como fator de exclusão, os participantes não poderiam ser
portadores de transtornos do desenvolvimento, transtorno bipolar afetivo ou qualquer
transtorno psicótico associado.
24
Tabela 1: Dados pessoais dos participantes
Participante 1
(P1)
Participante 2
(P2)
Participante 3
(P3)
Participante 4
(P4)
Participante 5
(P5)
Sexo
M M M M F
Idade
53 anos 39 anos 48 anos 51 anos 48 anos
Escolaridade
Ensino
Superior
completo
Ensino
Fundamental
completo
Ensino
Fundamental
completo
4ª série do
Ensino
Fundamental
2ª série do
Ensino
Fundamental
Renda Familiar
10 salários
mínimos
3 salários
mínimos
3 salários
mínimos
8 salários
mínimos
2 salários
mínimos
Profissão
Gerente de
Marketing
Agente
Penitenciário
Operador de
Máquinas
Eletricista
Industrial
Empregada
Doméstica
Ocupação Atual
Aposentado Afastado do
emprego/
beneficiário do
INSS
Afastado do
emprego/
beneficiário do
INSS
Desempregado/
beneficiário do
INSS, faz
pequenos
serviços
informais.
Desempregada/
beneficiária do
INSS
Estado Civil
Casado Casado Casado Casado Casada
Família Atual
Mora com a
esposa, uma
filha de 27 anos,
um filho de 26
anos e outra
filha de 18 anos
Mora com a
esposa, uma
enteada de 10
anos e uma filha
de 7 anos; tem
um filho do 1º
casamento, com
18 anos que
mora em outra
cidade com os
avós paternos
Mora com a
esposa, uma
filha de 25 anos,
uma filha de 21
anos e um filho
de 17 anos
Mora com a
esposa, um filho
de 26 anos e
uma filha de 21
anos; tem um
filho com 31
anos de outro
relacionamento
Mora com o
marido e uma
filha de 18 anos;
tem uma filha
casada de 28
anos e uma filho
casado de 23
anos
Religião
Católica Católica Católica Evangélica Evangélica
Ambiente
Todos os encontros da pesquisadora com os participantes ocorreram numa sala de
atendimento com horário previamente agendado na Clínica de Psicologia da PUC-
Campinas.
Materiais
Durante as entrevistas foi utilizado um gravador digital para o registro das
informações coletadas.
Para a coleta de dados foram utilizados os instrumentos descritos a seguir:
25
1. Consentimento Livre e Esclarecido para o Participante (Anexo 1):
Foi elaborado um termo de Consentimento Livre e Esclarecido para o Participante
de acordo com a Resolução do Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) número 196/96 de 10
de outubro de 1996. O termo continha informações relativas a como seria a participação,
gravação das entrevistas, sigilo, conhecimento dos resultados, possibilidade de abandonar a
pesquisa e possibilidade de obter tratamento posterior ao estudo.
2. Roteiro de Identificação e Triagem dos Participantes (Anexo 2):
Este instrumento foi desenvolvido pela pesquisadora e utilizado com o objetivo de
obter dos participantes dados pessoais como escolaridade, renda econômica e estado civil; e
dados sobre o transtorno depressivo como tempo e duração dos sintomas, freqüência dos
sintomas, uso de psicofármacos e outras medicações, prejuízos causados pela depressão e
episódios recorrentes de depressão há pelo menos 10 anos. Incluía dados para a seleção dos
participantes que indicavam a presença de características de outros transtornos. O
instrumento foi utilizado para auxiliar na identificação e seleção do participante.
3. Roteiro de Entrevista Clínica Semi-Estruturada para os Participantes —
Análise Topográfica (Anexo 3):
Esse roteiro de entrevista com questão disparadora foi elaborado pela pesquisadora
para a obtenção e descrição dos comportamentos, sentimentos e pensamentos relatados pelo
participante que ele identificava como depressão. O objetivo desse roteiro foi coletar dados
de operacionalização de comportamento e análise topográfica.
4. Inventário de Depressão de Beck — BDI:
Trata-se de um instrumento padronizado originalmente criado por Beck, Ward,
Mendelson, Mock, e Erbaugh (1961) e revisado por Beck, Rush, Shaw e Emery
(1979/1982). A versão em português foi publicada por Cunha (2001).
26
BDI é a sigla pela qual é universalmente conhecido o instrumento Inventário de
Depressão para a medida da intensidade da depressão, é indicado para sujeitos de 17 a 80
anos.
A intenção dos autores não era construir um instrumento para diagnóstico de
quadros específicos, mas, antes, criar uma medida escalar, com itens descritivos de atitudes
e sintomas que podem ser encontradas em diferentes categorias nosológicas. Estimativas de
fidedignidade em seis amostras psiquiátricas do estudo original variaram entre 0,79 e 0,90.
É uma escala de auto-relato, de 21 itens, cada um com quatro alternativas,
submetendo graus crescentes de gravidade da depressão, cuja intensidade varia de 0 a 3.
Os itens foram selecionados com base em observações e relatos de sintomas e
atitudes mais freqüentes em pessoas sob tratamento psiquiátrico com transtorno depressivo.
Os itens do BDI se referem a: 1) Tristeza; 2) Pessimismo; 3) Sentimento de Fracasso; 4)
Insatisfação; 5) Culpa; 6) Punição; 7) Auto-aversão; 8) Auto-acusações; 9) Idéias Suicidas;
10) Choro; 11) Irritabilidade; 12) Retraimento Social; 13) Indecisão; 14) Mudanças na
Auto-imagem; 15) Dificuldade de Trabalhar; 16) Insônia; 17) Fatigabilidade; 18) Perda de
Apetite; 19) Perda de Peso; 20) Preocupações Somáticas; 21) Perda da Libido. Na versão
em português, o conteúdo dos itens se mantém idêntico.
Os dados obtidos referem-se à intensidade da depressão e a pontuação é dividida da
seguinte maneira: menor que 10, sem depressão ou depressão mínima; de 10 a 18,
depressão leve a moderada; de 19 a 29, depressão moderada a grave; de 30 a 63, depressão
grave.
O objetivo do uso desse instrumento foi identificar quais comportamentos que o
participante apresentava.
Por ser um instrumento bastante conhecido na área da psicologia, foi considerado
desnecessário anexá-lo no corpo do trabalho.
5. Fichas de auto-observação da freqüência dos sintomas (Anexos 4, 5, 6, 7 e 8):
Instrumento desenvolvido pela pesquisadora para cada participante que continha os
comportamentos selecionados nos itens 3 e 4 em uma ficha. O participante anotou
diariamente nesta ficha a ocorrência ou não dos comportamentos. O objetivo desse
27
instrumento foi obter a freqüência comportamental de cada comportamento, através da
auto-observação.
6. Roteiro de Entrevista Clínica Semi-Estruturada para os Participantes —
Análise Comportamental (Anexo 9):
Este roteiro foi elaborado pela pesquisadora e contém algumas questões
disparadoras que objetivaram investigar aspectos relativos à história de vida, ao início e
desenvolvimento dos sintomas da depressão, relações com familiares, além de
contingências atuais que possam ter influenciando esta condição.
Para a construção do instrumento foram utilizados como referência alguns autores
que explicam a Análise Funcional, como Ferster (1973), Gálvez, Prieto e Nieto (1991) e
Meyer (2003).
Procedimento
O procedimento incluiu três fases:
1ª Fase:
a) Inicialmente a pesquisadora, após explicar os objetivos da pesquisa, solicitou a um
psiquiatra do Ambulatório de Psiquiatria do Hospital e Maternidade Celso Pierro que
encaminhasse à clínica de Psicologia da PUC-Campinas (Pontifícia Universidade Católica
de Campinas) pessoas adultas com idade superior ou igual a 21 anos com diagnóstico de
depressão leve ou moderada.
b) Chegaram à Clínica de Psicologia da PUC-Campinas cinco pessoas com
encaminhamento feito pelo psiquiatra do Hospital e Maternidade Celso Pierro para agendar
individualmente dia e horário para o primeiro encontro com a pesquisadora, o que foi feito
pela secretária da Clínica.
28
c) No primeiro contato com a pesquisadora os participantes foram informados sobre os
objetivos da pesquisa e puderam tirar suas dúvidas. Todos concordaram em participar e,
após o aceite, foi solicitado que assinassem o termo de Consentimento Livre e Esclarecido
(Anexo 1) autorizando sua participação.
d) Em seguida os participantes responderam ao Roteiro de Identificação e Triagem (Anexo
2), o qual foi lido em voz alta pela pesquisadora que ia registrando suas respostas.
e) A partir dos dados obtidos com o Roteiro de Identificação, os cinco participantes foram
selecionados e contatados para dar continuidade à pesquisa (resultados do Roteiro de
Identificação nas Tabelas 1 e 2). Não havendo necessidade de outros participantes, a
pesquisadora comunicou ao médico psiquiatra que os encaminhamentos eram suficientes.
f) Em um novo encontro foi aplicado individualmente o BDI. O tempo das aplicações
variou para cada um, não ultrapassando 30 minutos. Cada questão foi lida pela
pesquisadora que ia registrando suas respostas e tirava dúvidas dos participantes. Utilizou-
se a administração oral, segundo critérios do manual (Cunha, 2001), que propõe essa
maneira de aplicação quando o examinador presume que o examinando pode necessitar de
ajuda ou se encontra impossibilitado de ele mesmo assinalar suas respostas.
g) Um novo encontro foi realizado e cada participante foi entrevistado individualmente
durante cinqüenta minutos, de acordo com o Roteiro de Entrevista Clínica Semi-
Estruturada — Análise Topográfica (Anexo 3). Através do roteiro foram coletados dados
relacionados a sintomas e comportamentos da depressão a partir do relato do participante.
A pesquisadora fez perguntas disparadoras e o participante falou de seus sintomas e
principais queixas em relação à depressão. Neste momento, o gravador digital foi utilizado.
h) Após a análise dos resultados obtidos no BDI e dos dados da primeira entrevista, a
pesquisadora selecionou todos os comportamentos que apareceram no BDI considerados de
intensidade média ou grande (pontuação 2 ou 3) e todos os comportamentos que
29
apareceram na primeira entrevista considerados pelo próprio participante como depressão
que mais o prejudicavam ou eram mais intensos no seu cotidiano.
2º Fase
a) Após a seleção dos comportamentos relatados como de maior intensidade em cada
participante, foi construída pela pesquisadora uma Ficha de Auto-Observação para cada um
deles (Anexo 4, 5, 6, 7 e 8) com todos os comportamentos selecionados durante a etapa
anterior.
b) Os participantes encontraram a pesquisadora em hora e local pré-definidos, uma vez por
semana, durante quatro semanas. Os encontros duraram cerca de 20 minutos.
c) Nesses encontros, a pesquisadora entregou a cada participante o instrumento que deveria
ser preenchido durante a semana e devolvido na semana seguinte. O participante marcou
com um “X” na ficha todos os dias, durante as quatro semanas, quais comportamentos
apareceram naquele dia. Durante os encontros, a pesquisadora fornecia uma nova ficha em
branco, dava orientações a respeito do procedimento a ser cumprido e esclarecia as dúvidas
dos participantes.
d) Ao término das quatro semanas foi feita uma análise estatística da freqüência dos
sintomas e constatado quais sintomas apareceram com maior freqüência em cada
participante. Todos os dados percentuais foram arredondados para cima.
O critério para escolha do comportamento de maior freqüência em cada participante
quando esses tiveram porcentagens comuns foi escolher o comportamento considerado pela
pesquisadora como o que mais prejudicava o participante nas interações sociais.
3º Fase:
a) Foi selecionado um comportamento de maior freqüência em cada participante para a
análise comportamental.
30
b) Este comportamento foi investigado em quatro entrevistas clínicas individuais de
aproximadamente 50 minutos.
c) As entrevistas foram realizadas seguindo o Roteiro de Entrevista Clínica Semi-
Estruturada para os Participantes – Análise Comportamental (Anexo 9), através do qual
foram coletados sobre o comportamento de maior freqüência em cada participante,
relacionados à história de vida e desenvolvimento dos comportamentos característicos da
depressão.
d) Após o término da coleta de dados os participantes foram encaminhados para
atendimento psicoterápico na Clínica de Psicologia da PUC-Campinas.
e) Análise Comportamental dos relatos
31
RESULTADOS E ANÁLISES
Os resultados apresentados a seguir se referem ao tempo de depressão, à prescrição
medicamentosa, aos prejuízos sociais, profissionais e nas relações familiares, à freqüência
dos sintomas e das comorbidades em cada um dos participantes.
Tabela 2: Dados da depressão em cada participante.
Participante 1
(P1)
Participante 2
(P2)
Participante 3
(P3)
Participante 4
(P4)
Participante 5
(P5)
Acompanhamento
psiquiátrico/ Tempo
14 anos 8 anos 2 meses 2 anos 1 ano e meio
Psicofármacos
Cloridrato de
Sertralina
Clonazepam,
Cloridrato de
Clomipramina,
Diazepam
Glibenclamida,
Metilfenidato
Cloridrato de
Sertralina
Diazepam e
Fluoxetina
Fármacos
Captopril,
Propranolol,
Atorvastatina,
Ácido acetil
salicílico
Captopril Captopril,
Atorvastatina,
Ácido acetil
salicílico
Captopril,
Propranolol
-
Tempo que relata ter
sintomas da depressão
14 anos 10 anos 10 anos 16 anos 10 anos
Prejuízo social
Sim Sim Sim Sim Sim
Prejuízo profissional
Sim Sim Sim Sim Sim
Prejuízo nas relações
familiares
Sim Sim Sim Sim Sim
Freqüência semanal dos
sintomas
5 vezes 2 vezes 4 vezes 2 vezes 4 vezes
Outras doenças
concomitantes com a
depressão
(no momento da coleta
de dados)
Hipertensão,
Diabetes,
Dislipidemia,
Insuficiência
cardíaca,
Hipotireoidismo
Hipertensão Hipertensão,
Insuficiência
Cardíaca,
Diabetes,
Dislipidemia,
Osteófito
calcâneo
(esporão nos pés)
Hipertensão,
Insuficiência
cardíaca
Tendinite,
Artrose
Os dados de cada participante serão expostos a seguir, individualmente e de acordo com
a seguinte ordem:
1) Descrição da história de vida, onde serão destacados eventos relevantes que possam
ter influenciado no quadro de depressão, conforme relato do participante no
momento da coleta.
32
2) Resultados da aplicação do Inventário de Beck – BDI e seleção dos
comportamentos assinalados pelo participante com intensidade 2 e/ou 3.
3) Seleção dos comportamentos relatados pelo participante durante a primeira
entrevista como de depressão.
4) Análise da freqüência dos comportamentos selecionados nos itens 2 e 3 em cada
participante.
5) Análise comportamental das verbalizações que ilustram as situações em que o
comportamento selecionado como de maior freqüência apareceu.
6) Seleção de algumas verbalizações que exemplificam situações ocorridas na história
de vida que possa ter contribuído com a depressão.
33
Participante 1 – P1
1) Resumo da história de vida
P1 nasceu no interior de Minas Gerais em uma família de classe média. Morava
com o pai, mãe e uma irmã 4 anos mais velha. Seu pai, juntamente com seus tios, era
empresário.
Um ano antes de ele nascer houve uma explosão em uma das fábricas da família e
seu pai ficou gravemente queimado, desenvolvendo uma série de problemas de saúde.
Relatou que presenciou seu pai muito doente, com crises de dores, acamado e recebendo a
extrema unção de padres.
Mudou-se para Campinas aos 18 anos porque seu pai, com problemas de saúde,
perdera os bens. Tinha 30 anos quando o pai morreu e relatou sentir-se desamparado, pois
compartilhava com ele suas decisões e o considerava um ponto de apoio.
Sua mãe era mais rígida e lhe aplicava punições. P1 relata que, apesar disso, não
tem nenhuma recordação desagradável em relação a ela. Sua mãe faleceu há dois anos, em
2004.
Formou-se administrador de empresas e fez pós-graduação em marketing e
publicidade. Trabalhou em uma empresa por 27 anos. Iniciou como office-boy aos 18 anos
e progrediu na carreira tornando-se gerente de marketing, cargo que ocupou por 12 anos.
Afirmou que, nessa época, teve uma situação financeira estável. Gostava de gastar, viajar,
comprar coisas para os filhos e pagar boa educação a eles. Entretanto, considerou que foi
um pai ausente e aponta a situação pela qual passa hoje como um castigo por não ter dado
mais atenção para a família.
Em 1992, com as mudanças na empresa, foi pressionado a trabalhar aos finais de
semana. Passou a ter medo de perder o emprego, e sentiu-se desvalorizado nas suas
iniciativas e desempenhos. Nessa época, recebeu o diagnóstico de depressão e passou a ser
medicado.
Em 1999 a empresa foi vendida e P1 foi demitido. Relatou que não conseguiu
aceitar isso até os dias atuais e demonstrou sentir-se injustiçado.
34
Tentou arranjar outro emprego. Como não conseguiu, decidiu investir num negócio
próprio em 2000. O filho sugeriu que ele abrisse uma empresa de promoções porque esse
era seu ramo de atuação, mas ele optou por abrir uma choperia. Com o dinheiro da rescisão
contratual e com empréstimos bancários, iniciou sua empresa.
Durante cinco meses trabalhou cerca de 20 horas diárias. Neste período adoeceu e
teve o primeiro enfarte. Em decorrência da doença, precisou afastar-se do trabalho e
endividou-se. Na mesma época foi internado em uma clínica psiquiátrica devido à
depressão. Justificou a depressão relatando que não consegue aceitar tantos fracassos e que
se sente culpado por não ter aceitado a sugestão do filho.
Em 2003 teve 7 enfartes e fez 2 cirurgias cardíacas. Em 2005 teve um AVC
(acidente vascular cerebral) e ficou com seqüelas que tiveram como conseqüência
problemas de memória. Nessa época, seu médico sugeriu que fosse interditado.
Teve muitos amigos enquanto trabalhava, mas depois que ficou doente e com
dívidas, perdeu o contato com todos. Atualmente só tem dois amigos e eles o ajudam
financeiramente.
Neste ano completou 30 anos de casado. Fez muitos elogios para a esposa dizendo
que “ela não mede esforços para lhe dar o melhor conforto do mundo”. Relatou que hoje
ela é responsável por resolver os problemas das dívidas. Ela negocia com os credores, vai
às audiências, além de levá-lo aos médicos e acompanhá-lo sempre.
2) Resultados da Aplicação do Inventário de Depressão de Beck (BDI)
Os resultados da aplicação do BDI apontaram que P1 tem uma depressão moderada.
Conforme a classificação presente no BDI, foram selecionadas as atitudes e os
sintomas de maior intensidade, assinalados pelo participante com pontuação 2 e/ou 3.
Foram eles: indecisão, dificuldade de trabalhar
1
, fatigabilidade (cansaço), perda de apetite,
perda da libido e irritabilidade.
1
Foi substituído por “dificuldade de desempenhar as atividades do dia”, devido à ausência de trabalho remunerado.
35
3) Seleção dos comportamentos relatados pelo participante durante a primeira
entrevista como de depressão
Os comportamentos selecionados na primeira entrevista, considerados como
respostas depressivas pelo participante, foram: ficar no quarto fechado, chorar, não comer,
sentir-se angustiado, sentir-se amargurado, insônia, sentir-se passivo e culpa.
4) Análise da freqüência dos comportamentos selecionados nos itens 2 e 3
Os comportamentos (atitudes e sintomas) selecionados no BDI, juntamente com os
comportamentos selecionados pela pesquisadora na primeira entrevista, foram colocados na
Ficha de Auto-Observação (Anexo 4) e a sua ocorrência foi observada e registrada pelo
participante durante 28 dias.
A freqüência foi analisada estatisticamente e os resultados estão descritos a seguir,
na Figura 1.
7%
10% 10%
14%
46%
57%
70%
75%
78%
96%
100% 100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Passividade (7%) Chorar (10%)
Ficar no quarto fechado (10%) Dificuldade com as atividades do dia (14%)
Innia (46%) Irritabilidade (57%)
Não comer (70%) Amargura (75%)
Angústia (78%) Cansaço (96%)
Perda da Libido (100%) Culpa (100%)
Figura 1: Porcentagens de dias durante o período observado (28 dias) em que P1 relatou ter emitido as
respostas levantadas em sua entrevista inicial
36
Os comportamentos considerados de maior freqüência foram: “culpa” e “perda da
libido”. Optou-se por analisar o comportamento relatado como “culpa”.
5) Análise do comportamento “culpa” e exemplos de verbalizações que ilustram o
comportamento
O relato verbal “culpa” sugeriu que os comportamentos: ficar passivo, fazer-se de
vítima, ficar “emburrado”, ficar quieto, angústia, medo, envergonhar-se, sentir-se
humilhado, entre outros, como será descrito a seguir, compõem a mesma classe de
respostas.
37
Relato 1:
P1) “Se alguém começa a falar qualquer coisa que deu errado ou começa a brigar comigo,
mesmo que não tenha nada a ver comigo, na metade eu já começo a me culpar. Me auto-
defino como sendo culpado, mesmo que eu não seja... Eu me torno passivo e me afasto. A
coisa acontece e eu tenho que tomar uma atitude, só que eu não tomo. Eu fico cheio de
frescurinha, de dodói. Acho que eu sou o mártir, que não podem me tratar assim, que tem
que me tratar assado... fico sendo a vítima. Depois é só sentimento de culpa que eu sou.”
“...Eles [família] me dão conforto de vida, de tudo, e eu sinto uma gratidão muito grande.
Brigam comigo? Brigam. Eles falam bravos comigo pra mim poder entender. Só que daí eu
vou pro quarto, fico emburrado 3 horas. Depois eu volto, né? Aí a minha cabeça fica
calma e eu entendo o que eles quiseram dizer.”
Quadro 1: Análise comportamental do Relato 1
Diante dos estímulos discriminativos (Sds):
1. Alguém falar alguma coisa que deu errado
2. Alguém brigar com P1
P1 apresentou respostas de:
1. Ficar passivo
2. Fazer-se de vítima
3. Sentir-se culpado
4. Ficar emburrado
Como conseqüência, P1deixa de ouvir críticas e param as brigas, fica mais calmo e
aliviado por não precisar entrar em contato com os tais Sds que são aversivos para ele
(comportamento de fuga).
Logo, o comportamento é mantido através de Reforçamento Negativo.
38
Relato 2:
P1) “Quando tenho que tomar esse tipo de decisão... eu tenho muito medo... porque eu
tenho problemas de ter perdido tudo. Eu fiquei devendo pra muita gente. Quando algum
desses credores liga pra casa cobrando, me dá um medo, me dá uma angústia, que eu
começo a ficar mal. Eu me transformo, não quero ser cobrado. Eu tenho medo, então é a
minha esposa que cuida disso. Ah, a minha cabeça trava. Se a senhora virar pra mim e
falar: “P1, pega aquela cadeira lá, ela tá lixada tudo, começa a pintar ela”, eu não vou
fazer porque eu não tenho condição. Eu tenho medo de errar. Eu quero ficar quieto em um
canto e não escutar nada sobre aquele assunto. Se a minha mulher pegar e negociar com a
pessoa, falar: “Vou te dar 50 conto por mês.”, ela negocia. Mas eu, não... Eu nunca gostei
de dever na minha vida, então com isso eu me sinto envergonhado, eu me sinto rebaixado,
eu me sinto uma falha. Eu me sinto, não é bem essa palavra, mas eu me sinto o escroto da
família. Eu me culpo, eu me culpo por tudo isso. Pelas dificuldades que a minha família
passa hoje, eu penso que o culpado disso sou eu. Porque eu tinha quatro carros na
garagem, eu tinha duas casas boas. Eu tinha dinheiro pra... eu gastava no supermercado,
com a minha família, em torno de 700, 800 paus. Hoje eu não posso fazer isso.”
Quadro 2: Análise comportamental do Relato 2
Diante do estímulo discriminativo (Sd):
1. Credores ligarem cobrando
P1 apresentou as seguintes respostas:
1. Sentir medo
2. Ficar angustiado
3. Não querer ser cobrado
4. Ficar quieto
5. Sentir-se culpado
6. Sentir-se envergonhado
7. Sentir-se humilhado
Como conseqüência, a esposa afasta os credores o que elimina os Sds aversivos e
negocia a dívida, o que adia os aversivos.
Dessa maneira, os comportamentos são mantidos através de Reforçamento
Negativo.
39
Relato 3:
P1) “Na sexta-feira eu já tava vibrando com o que eu ia fazer no jantar de domingo: a
minha pizza! Sábado de manhã minha filha já falou: ‘”Não pai, eu vou comprar as coisas
pra fazer crepe, tal. O meu namorado vai trazer a máquina.” Como tinha comida
sobrando, eu pensei: “Sabe, também não vou fazer coisa nenhuma.” Já fiquei chateado,
achando que ninguém gosta da minha comida... Eu fiquei quieto, na minha; ela que teve
que vir oferecer. Depois que tava pronto, comi. Mas também botei minha crítica. Falei:
“Não tá boa a massa.””
Quadro 3: Análise comportamental do Relato 3
Diante do estímulo discriminativo (Sd):
1. A filha fazer algo diferente do que ele tinha planejado
P1 apresentou comportamentos de:
1. Chatear-se
2. Pensar que ninguém gosta da sua comida
3. Criticar
Como conseqüência, se esquiva da situação ficando quieto, além de punir a filha por tê-
lo contrariado.
Logo, esses comportamentos são mantidos através de Reforçamento
Negativo.
40
Relato 4:
P1) “Eu me sinto incapacitado pra qualquer coisa que eu queira fazer. Eu acho que não
vou conseguir. Hoje, eu não tenho dinheiro porque eu gastei, eu joguei fora... Quando eu
penso nisso, viro um bagaço. Só de lembrar eu já quero ir pro quarto, eu quero ficar
sozinho, eu começo a chorar. A senhora pode ver que a minha voz começa a querer ficar
embargada. Eu me acho, depois desse negócio da choperia, eu me acho que... Eu, como
que eu pude ser um gerente de uma empresa, trazer tanto benefício pra uma empresa, e
hoje eu não tenho, não acredito que eu tenho capacidade pra fazer mais nada. Meus filhos
brigam comigo. Discutem: “Você tem capacidade.” Eu falo: “Só que grande parte do
dinheiro da gente, a gente colocou lá, perdemos tudo, eu fiz vocês passarem dificuldades.”
Perdi casa, perdi carro, perdi um monte de coisa. Na época meu filho falou: “Pai, monta
uma agência de publicidade e promoção, porque com o conhecimento que o senhor tem
das firmas eles vão contratar nosso serviço.” Mesmo assim eu recusei. Insisti em uma idéia
que não me levou a lugar nenhum. Só ao fracasso.”
Quadro 4: Análise comportamental do Relato 4
6) Seleção de algumas verbalizações que exemplificam situações ocorridas na
história de vida que possa ter contribuído com a depressão
6.1) Situação que indica perda de reforçadores positivos
Exemplo 1 – Relato:
P1) “Mudamos pra cá primeiro por causa que meu pai perdeu tudo lá na nossa cidade.
Foi roubado e nós não tínhamos nem o que comer. Meu tio roubou tudo o que meu pai
tinha. Levava os papéis e dizia: “Precisa assinar isso aqui pra gente fazer aquilo.” E meu
Diante do estímulo discriminativo (Sd):
1. Pensar que perdeu seu dinheiro investindo em algo que faliu
P1 apresentou respostas de:
1. Sentir-se incapaz
2. Querer ficar sozinho
3. Sentir-se culpado
Como conseqüência, P1 foi para o quarto na tentativa de se esquivar do Sd aversivo.
Logo, essa classe de comportamentos é mantida por Reforçamento
Negativo.
41
pai teve que mudar de cidade em virtude da altitude, porque ele não respirava direito. Meu
pai assinava, minha mãe não entendia de nada, eu era criança ainda. Então a gente passou
tudo isso. Aí, quando a gente foi reclamar mesmo com os irmãos da minha mãe... um dos
meus tios era diretor de banco. Ele falou assim: “Espera aí, vamos com cuidado, vamos
colocar ele na parede.” Colocou ele na parede e ele falou: “Não tem mais nada, só tem o
direito de um barril de 60 litros de vinho.” Meu tio falou: “Mais como?” Vendeu tudo pra
pagar as contas.”
Exemplo 2 – Relato:
P1) “A partir de Julho de 99 tudo começou a piorar. A mudança da empresa, isso
ameaçou... De julho até outubro eu já comecei a ser... relativamente foram me afastando,
já não me deixaram fazer o Projeto Inverno. Aí eles me demitiram. Eles me demitiram, mas
não por pressão, porque eu trabalhei mal ou... não! Foi uma... Pra mim, foi como se eu
tivesse perdido a minha mãe, pra ser honesto. Porque eu não tinha essa empresa como um
emprego. Porque eu entrei lá com 18 anos. Porque, pra mim, nunca passou pela minha
cabeça que eu ia perder o emprego. Como que eu ia perder se eu tava sendo
disponibilizado? Isso é a maior... como é que fala... angústia minha também. Eles iam dar
uma unidade pra mim. Eu ia sair da minha cidade, eu ia trabalhar no Nordeste, na fábrica
nova. Eu ia gerenciar uma indústria da companhia... Perdi tudo, eu perdi a minha mãe. E
a hora que eu saí de lá, eu não sabia como ganhar 50 centavos pra sustentar a minha
família.”
Exemplo 3 – Relato:
P1) “Eu acho que meu sentimento de culpa vai sumir a hora que eu ganhar na loteria 500
ou 1 milhão de reais, que eu realizar tudo do bom e do melhor pros meus filhos. Queria
viver como antes, quando eu trabalhava lá na empresa. Antes eu tinha 4 carros na
garagem, tudo carro bom. Várias casas de aluguel. Pagava boa educação pro meus filhos,
viagens, passeios... dava tudo do bom e do melhor pra mim e principalmente pra minha
família. Depois que eu perdi tudo virei esse escroto, esse lixo que sou hoje.”
6.2) Situação que indica punição em sua história de aprendizagem
Relato:
P1) “Teve uma vez que eu apanhei de vara de marmelo que eu lembro mesmo. A outra eu
apanhei com fivela de cinta. Aí eu falei: “O senhor vai bater até eu morrer, mas eu não
vou confessar porque não fui eu que fiz.” Depois que machucou tudo a minha barriga, aí a
minha irmã falou que foi ela que fez a arte.”
“E a outra foi aqui, já. Eu era moço — tô falando ‘moço’ acima de 18 anos — tomei um
tapa no rosto porque eu respondi malcriado pra ele. Ele falou: “Enquanto eu estiver vivo,
eu posso ter 90 anos, você vai ter 70 e você vai continuar a ser meu filho. E se precisar
você vai levar outro tapa no rosto, pra aprender a ser homem.”
“...A minha mãe era aquela mãe com o avental todo cheio de ovo e com o come-quieto na
mão. Da minha mãe apanhei pra burro. Apanhava mesmo: fazia arte e ela dava...”
42
“...O papai e a mamãe sempre trouxeram isso pra mim: “você vai apanhar...” Não é
chegar e vir batendo não. “Você vai apanhar, você sabe por que, se é por isso ou por
aquilo.” Então eu apanhava sabendo por que eu ia apanhar.”
6.3) Situação que indica uma baixa incidência de reforços positivos provenientes dos
pais
Relato:
P1) “Meu pai ficava muito mais na cama... aí eu fui muito mais criado por vizinhos e
amigos da família, pelos meus avós por parte de pai do que dentro da minha casa. Não
tenho do que reclamar, mas mesmo assim, a minha criação foi essa. Não posso dizer que
tive muito carinho porque nunca tinham tempo pra mim. Fui criado pelos outros. A
maioria fazia o que eu queria porque tinham dó, que eu era filho de um homem tão doente
e, a minha mãe, sempre tão cansada.”
6.4) Situação que indica a aprendizagem do comportamento “culpa” em sua história
Relato:
P1) “Briguei com ele pouco antes de le morrer, também. Era 25 de dezembro. Ele falou
pra mim: “Ah, quero comprar uma leitoa.” Eu falei: “Pai, o senhor não pode comer essas
coisas.” Meu pai nunca esteve tão bem como ele estava naqueles últimos dois anos. Aí
arranjei a leitoa. Eu comprei uma leitoa aqui, tal, aí levei. Fizemos, fizemos uma festa
mesmo. Até começar era umas dez horas da noite. Naquela época as crianças eram tudo
pequenas. Aí a minha esposa falou: “Eu quero ir amanhã ver meu pai.” Eu falei: “Ah, mas
não vou, num domingo de Natal você quer que eu saia de casa, do lado do meu pai e da
minha mãe, pra ir lá ver seu pai! Depois de amanhã nós vamos.” Aí meu pai olhou e falou:
“Não, você vai amanhã.” Falei: “Ah pai, não vou amanhã! Eu já sou dono do meu nariz!”
Eu não queria ir. Eu não sei, tinha uma coisa falando e eu não queria ir. Eu falei: “Eu vou
depois de amanhã, mas amanhã eu não vou!” Aí meu pai falou: “Você vai, vai.” Aí que ele
me deu a última bronca mesmo. Aí eu levantei 6 horas da manhã, passei lá na farmácia, as
crianças tava dentro do carro, cheguei e falei: “Olha, eu volto pra almoçar, antes das 2 eu
tô aqui”. Daí ele apareceu na janela e fazendo a barba, cheio de espuma de barba e falou:
“O pai espera você, filho. Traz logo as crianças que eu não agüento ficar longe deles.” E
as crianças brincaram com ele e ele fazendo farra pela janela com elas. Mas eu fui daquele
jeito. Cheguei lá e tocou o telefone. Minha mãe falando que ele tava morrendo, que ele
tava passando mal. Aí eu falei: “Não tem nada que passar mal! Ele já deve tá morto.”
Morreu de derrame cerebral. Morreu dentro da farmácia, trabalhando. Fiquei com aquela
culpa porque não devia ter ido.”
43
Participante 2 – P2
1) Resumo da história de vida
P2 foi criado no meio rural (roça) em uma família de 8 irmãos, sendo ele o 2º mais
velho. Estudava meio período e trabalhava na roça na outra metade do dia.
Segundo seu relato, o pai era muito rigoroso com ele e com os irmãos, aplicando-
lhes punições. Na escola, sentia muita vergonha de falar, sendo rotulado pelos adultos como
uma criança tímida. Na formatura da 8ª série, não foi receber o seu diploma por vergonha.
Não tinha amigos.
Ao descrever sua depressão, disse que quando começou a fazer o tratamento (para
depressão) percebeu que os sintomas que tem hoje estavam presentes desde a sua infância.
Relatou que se mudou para Campinas em 1986, aos 18 anos, com intenção de
estudar; mas por ter vergonha de procurar uma escola, ficou apenas trabalhando. Casou-se
aos 20 anos e teve um filho. O casamento durou três anos. Atualmente seu filho está com
18 anos e sob cuidado dos avós paternos. Pouco tempo depois da separação conheceu a
atual esposa, com quem está há 15 anos.
Trabalhou como agente penitenciário no período de 1990 a 1996, ano que precisou
ser internado por ser alcoolista. Relatou que, no presídio, presenciou rebeliões, tornando-se
temeroso dos presos e das ameaças que recebia.
Conforme seu relato, na época em que começou a trabalhar no presídio desenvolveu
a dependência alcoólica, que durou 7 anos. Foi internado em estado de coma alcoólico e
desde então não bebe mais. Segundo ele, começou a beber na adolescência, aos 16 anos,
para se aproximar de garotas, mas, nessa época, não considerava a bebida um vício.
Seus relatos sugerem que, quando bebia, não sentia dificuldade para conversar com
as pessoas ou fazer amizades. Afirmou que se sentia bem estando perto de pessoas quando
sob efeito da bebida.
Em 1997, após a internação para desintoxicação do álcool, foi diagnosticado com
depressão e, logo em seguida, começou a fazer tratamento psiquiátrico.
Relatou que teme falar para os vizinhos ou conhecidos que trabalhou em presídio
porque existem muitas famílias de presidiários na região em que mora. Segundo ele, não
44
conversa muito com a esposa e não vai a casa de parentes. Tem medo de voltar a beber para
poder ter comportamentos mais adequados socialmente.
Há 8 anos foi afastado do trabalho, e nunca mais conseguiu entrar no presídio. Nos
dias de perícia, quando precisa entregar seus documentos, pede para que a esposa vá em seu
lugar, pois não consegue aproximar-se do local. Receia perder o benefício e ter que voltar a
trabalhar no presídio.
2) Resultados da Aplicação do Inventário de Depressão de Beck (BDI)
Os resultados da aplicação do BDI apontaram que P2 tem uma depressão moderada.
Conforme a classificação presente no instrumento, foram selecionadas as atitudes e
os sintomas de maior intensidade, assinalados pelo participante com pontuação 2 e/ou 3.
Foram eles: pessimismo, sentimento de fracasso, auto-acusações, choro, retraimento social,
indecisão, dificuldade de trabalhar
2
, insônia e preocupações somáticas.
3) Seleção dos comportamentos relatados pelo participante durante a primeira
entrevista como de depressão
Os comportamentos selecionados na primeira entrevista, considerados como
respostas depressivas pelo participante, foram: ficar quieto, indisposição, ficar somente
deitado, ficar angustiado e não querer conversar.
4) Análise da freqüência dos comportamentos selecionados nos itens 2 e 3
Os comportamentos (atitudes e sintomas) selecionados no BDI juntamente com os
comportamentos selecionados pelo participante na primeira entrevista foram colocados na
Ficha de Auto-Observação (Anexo 5) e a sua ocorrência foi observada e registrada pelo
participante durante 28 dias.
A freqüência foi analisada estatisticamente e os resultados estão descritos a seguir,
na Figura 2.
2
Foi substituído por “dificuldade de desempenhar as atividades do dia”, devido à ausência de trabalho remunerado.
45
0%
35%
39%
42%
50% 50%
53% 53%
60%
64% 64% 64%
35%
32%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Choro (0%) Auto-acusações (32%)
Sentimento de Fracasso (35%) Ficar somente deitado (35%)
Pessimismo (39%) Angústia (42%)
Indecisão (50%) Preocupações somáticas (50%)
Retraimento social (53%) Ficar quieto (53%)
Indisposição (60%) Dificuldade com as atividades do dia (64%)
Innia (64%) Não querer conversar (64%)
Figura 2: Porcentagens de dias durante o período observado (28 dias) em que P2 relatou ter emitido as
respostas levantadas em sua entrevista inicial
Os comportamentos considerados de maior freqüência por P2 foram: “não querer
conversar”, “insônia” e “dificuldades para desempenhar as atividades do dia”. Optou-se,
entre estes, analisar o comportamento relatado por P2 como “não querer conversar”.
5) Análise do comportamento “não querer conversar” e exemplos de
verbalizações que ilustram o comportamento
O relato verbal “não querer conversar”, sugeriu que os comportamentos: sentir
medo, não conversar com pessoas, isolar-se, sentir vergonha, sentir timidez, entre outros,
que serão apresentados a seguir, compõem a mesma classe de respostas.
46
Relato 5:
P2) “Esses dias andei muito ansioso por causa desses problemas. Não quis sair de casa,
conversar, só fiquei em casa sozinho... Por causa desses problemas que teve aí... a
violência do PCC. Ainda mais a gente que trabalhou no meio disso daí. Meu medo é aqui
fora. Depois que eu ouvi na televisão que eles iam matar todo mundo... apesar que onde eu
moro, bem dizer, ninguém sabe que eu trabalhei no presídio. Eu tô encostado, tudo, mas
não comento essas coisas. Eu evito comentário, né? Porque onde a gente mora ali, bem em
frente é a casa do chefe que eles falam. Tem uma casa, aí é a segunda casa. Só que ele tá
preso. Tá preso, mas lá de dentro ele comanda tudo a região ali.”
Quadro 5: Análise comportamental do Relato 5
Diante dos estímulos discriminativos (Sds):
1. Ver notícias pela televisão da violência dentro dos presídios
2. Ouvir na televisão que os presos matariam as pessoas dentro dos presídios e nas
ruas
P2 apresentou as seguintes respostas:
1. Ficar em casa
2. Não conversar com pessoas
3. Isolar-se
4. Sentir medo
5. Não falar a respeito da sua vida
Agindo assim, P2 continua ansioso por não falar do seu passado como agente
penitenciário.
O princípio comportamental descrito através da análise desta contingência
é o Reforçamento Negativo.
47
Relato 6:
P2) “A minha maior dificuldade é que eu sou muito tímido. Tenho muita vergonha. Não
tenho coragem de conversar com as pessoas. Agora, se as pessoas vêm conversar comigo,
aí é melhor. Agora, procurar conversa, assim, pra mim já é mais difícil. O que eu mais
sinto é muita vergonha, timidez. Às vezes eu penso que posso conversar alguma coisa que a
pessoa não vai gostar, maltratar as pessoas. Às vezes não quero falar porque posso
magoar. Agora, se a pessoa vem conversar comigo, se nós tiver conversando, eu até
converso, acho que até normal. Procuro evitar de ter que falar com alguém... Só sei que é
estranho.”
“...Às vezes eu vou perguntar a hora para aquela pessoa porque eu não gosto de andar de
relógio. Aí eu fico: “será que eu pergunto, não pergunto...” Aí eu saio e vou procurar um
relógio até que eu acho. Nem informação! Tenho uma vergonha que Nossa Senhora...”
Quadro 6: Análise comportamental do Relato 6
Diante dos estímulos discriminativos (Sds):
1. Precisar perguntar a hora para alguém
2. Precisar perguntar alguma informação para alguém
P2 apresentou respostas de:
1. Sentir vergonha
2. Sentir timidez
3. Evitar falar com as pessoas
Como conseqüência, P2 encontrou uma outra alternativa para saber a hora ou
informação, indicando que o custo de resposta de procurar um relógio pode ser menor
que perguntar.
O princípio comportamental descrito através da análise desta contingência
é o Reforçamento Negativo
48
Relato 7:
P2) “Igual hoje, eu começo a falar um pouquinho o meu rosto já começa a ficar vermelho,
o rosto parece que tá pegando fogo. Parece que aumenta cada vez mais quando eu começo
a falar no meio de gente. Às vezes, no grupo, eu começo a ficar assim só de falar um
pouquinho. E o pior é que eles percebem. Até um senhor tava comentando outro dia que
ele percebeu isso aí. E é verdade mesmo. Tive uma sensação quente, assim... Eu sinto mal
com isso e parece que cada vez aumenta mais isso daí. Depois eu começo a suar frio, as
mãos fica gelada, as pernas... Depois até que passa. Eu fico quieto, e aí vai passando. Se
eu recomeçar de novo, aí volta tudo de novo. Mesma coisa às vezes eu chego lá na rua, em
casa e o povo fala assim: “Fala, P2, alguma coisa...” Aí eu já começo. Antes de eu falar eu
já pressinto assim, que eu vou ter isso. Acho que eles percebem também.”
Quadro 7: Análise comportamental do Relato 7
Diante do estímulo discriminativo (Sd):
1. Pessoas dizerem para ele falar
P2 apresenta como respostas:
1. O rosto ruborizar e esquentar
2. Sentir-se mal e envergonhado
3. Suar frio
4. Sentir as mãos e as pernas geladas
Como conseqüência P2 ficou quieto se esquiva de perguntas e contatos com grupo de
pessoas, o que o deixa aliviado.
O princípio comportamental descrito através da análise desta contingência
é o Reforçamento Negativo
49
Relato 8:
P2) “Às vezes, eles [esposa e filhos] querem ir na casa de um parente, uma irmã, um
irmão... Eu não vou. Já aviso ela antes que não precisa nem me convidar. Quando eu
bebia, não: nós saíamos, nós íamos a festas. Eu já fico pensando no pior se eu tenho que
sair de casa, penso que posso passar mal. Então eu já fico pensando: “Se for pra eu passar
mal, eu prefiro não ir.””
“...Passar mal é igual a mesma coisa que eu chegar no meio de um monte de gente e eu
não conseguir ficar. Dá um desespero que as pernas começa a gelar, começo a suar frio,
eu não consigo ficar. É igual quando eu venho aqui, tenho consulta aqui. Eu falo pro
doutor que eu fico lá fora num canto eu fico só olhando... a hora que me chamar eu...
aquele povo tudo conversando... aquele conversê... minha cabeça fica assim ó, fica
girando.”
Quadro 8: Análise comportamental do Relato 8
Diante dos estímulos discriminativos (Sds):
1. Esposa e filhos solicitarem sua companhia para sair de casa socialmente
2. Ficar na sala de espera com outras pessoas
P2 apresentou as seguintes respostas:
1. Ficar em casa
2. Calar-se
3. Pensar quer vai “passar mal” e não conseguirá ficar no meio de outras pessoas
4. Suar frio
5. Sentir as pernas gelarem
6. Ficar num canto fora de vista
Assim, avisou a esposa que não precisa convidá-lo para sair. Dessa maneira, sentiu-se
melhor, visto que não entrou em contato com situações que são aversivas a ele.
O princípio comportamental descrito através da análise desta contingência
é o Reforçamento Negativo
6) Seleção de algumas verbalizações que exemplificam situações ocorridas na
história de vida que possa ter contribuído com a depressão
6.1) Situação que indica repertório de comportamentos que desfavorecem a obtenção
de reforço positivo em ambientes sociais
50
Exemplo 1 – Relato:
P2) “Desde pequeno eu fui assim... Se eu perguntar pra alguém, eu penso que a pessoa vai
me responder mal, que a pessoa não vai gostar. Tenho vergonha de chegar e perguntar.
Então eu já tenho isso desde pequeno. Igual eu te falei aquele dia: quando eu estudava, se
fosse pra mim ir lá na lousa e escrever alguma coisa... Nossa Senhora! Eu não ia! Na
escola, quando eu era criança, sentava assim: fora. Eu tinha que sentar lá no fundo,
geralmente encostado na parede. Se tivesse uma fila de cá ou de cá, já sentia mal. Tinha
que ser logo numa fila, que sentar no corredor eu não consigo. Sentar no meio assim, já
não consigo.”
“...E de ficar quieto, quieto mesmo, isso aí sempre foi de natureza também. Só que quando
eu bebia, não. Quando eu bebia não tinha esse negócio. Não percebia, né? Lá no serviço,
na época que eu tava trabalhando, eu trabalhava à noite. Então toda noite eu tinha que
fazer a contagem dos presos. Lá tinha 111, tinha 120 naquela época. Agora tem mais de
200 em cada pavilhão. Então a gente reunia todo mundo no saguão, que é tipo um
refeitório deles, reunia todo mundo pra fora. A gente pegava a ficha de todo mundo e
chamava um por um. A gente chama aquela pessoa, vê se é ela, porque tem a foto na ficha
pra gente fazer a contagem... Aí chegou uma época que eu não conseguia fazer isso. Eu
falava que queria trabalhar em outro lugar que não precisava fazer isso, fazer a contagem
dos presos. Aí eu ia pra outro canto, lugar.”
Exemplo 2 – Relato:
P2) “Não fui nem na minha formatura de oitava série. Até há pouco tempo eu procurei em
casa e não achei. Eu tinha aqueles papelzinho que tem o nome de todos os alunos. Mas a
única pessoa da sala que não foi fui eu, porque eu tinha vergonha. Porque tinha que fazer
um baile de formatura. Acho que tinha um padrinho, uma madrinha, uma coisa assim.
Fiquei com vergonha... aí eu peguei e não fui. Aí depois, no começo do ano, que eu fui
pegar o certificado, o diploma do primeiro grau. Foi aí que eu parei de estudar. Porque o
patrão nosso tinha vendido o sítio e aí a gente foi pra o outro sítio. Só que onde a gente foi,
aí já era Minas. Lá não tinha escola, não tinha nada. Fiquei mais 2 anos perdido. Se a
gente tivesse ficado lá eu tinha estudado. Aí fiz 18 anos e vim embora pra cá.”
6.2) Situação que indica baixo repertório de busca de reforço positivo em sua história
de aprendizagem
Relato:
P2) “Desde pequeno eu sinto essas coisas assim. Na época que eu morava lá não tinha
essas coisas de brincar. Era só trabalhar e ir pra escola. Só quando não tinha serviço,
assim, que nós brincava... mas a brincadeira maior, qual que era? Era trabalhar e ir pra
escola. Não tinha outra coisa pra fazer. Era a única coisa. Depois que eu vim pra cidade,
fui crescendo...Vim sozinho. Fiz 18 anos e já vim embora. Passei a ser de maior. Eu quis
vim pra cidade porque lá onde a gente morava na roça não dá pra ter futuro. Só que eu
vim com um pensamento e acabou acontecendo outra coisa.”
51
“Eu vim com o pensamento... porque lá onde que eu tava não dava pra estudar. Era
trabalhar. Tanto que eu parei de estudar na 8ª série e fiquei mais 2 anos sem estudar. Eu
falei: “Eu vou pra lá, vou pra estudar.” Só que eu cheguei aqui e já arrumei um serviço à
noite. Tinha vergonha, não conhecia ninguém. Era de casa pro serviço, do serviço pra
casa. E ainda fui morar sozinho, aluguei uma casa e fui morar sozinho. Não sabia nem
como chegar num lugar pra comprar alguma coisa pra estudar. A intenção de eu vir pra cá
era trabalhar e continuar estudando o que eu tinha parado lá. Os 2 anos que eu parei eu
queria continuar. Aí eu entrei na firma. Aí o tempo foi passando e eu não estudei, não.”
6.3) Situação que indica punições e baixa incidência de reforçamento positivo
Relato:
P2) “O meu pai, quando eu era pequeno, era muito rigoroso. Hoje eu vejo que era o certo
dele fazer, mas na época a gente achava que não. Porque meu pai batia mesmo.”
“Então, como eu já sabia que as coisas que ele achava errado ele batia, então já
procurava não fazer. Então era trabalhar e ir pra escola. Eu estudava cedo, chegava em
casa 11 horas, meio dia, comia um pouquinho e já ia pra roça. Se estudava à tarde,
trabalhava até 11 horas. Porque nós morava no sítio e a perua passava pegar nós pra ir
pra escola estudar na vila. Então era assim: depois que eu passei do ginásio, dá 7ª série
em diante, eu passei a estudar à noite. Aí eu ficava o dia inteiro na roça, 5 horas vinha pra
casa, tomava um banho, ia pra escola, estudava até 11 horas.”
“A gente foi criado... não tinha muito diálogo assim não. Meu pai foi muito grosso... não
sei se era o certo da época. Ele bebia também. Meu pai, desde que mudou lá pro interior,
nunca ligou em casa. Em casa tem o telefone, ele nunca ligou. A mãe já ligou. Faz tempo,
mas ela já ligou.”
52
Participante 3 – P3
1) Resumo da história de vida
O participante 3 nasceu um uma cidade do interior de Pernambuco, onde viveu no
meio rural (roça) até os 17 anos de idade. Começou a trabalhar aos 7 anos de idade, na roça,
para ajudar seu pai. Quando não estava trabalhando, tinha que ajudar a mãe com afazeres
domésticos porque ela saia para bailes na cidade, enquanto ele cuidava da casa, dos irmãos
mais novos e do pai, que estava ficando cego.
Estudou até a 8ª série do ensino fundamental. Relatou que foi um menino quieto e
que não tinha amigos. Não conversava com a mãe, com o pai ou irmãos, e as interações
familiares se resumiam às ordens dadas pela mãe.
Segundo ele, sofreu maus tratos na infância e na adolescência. Apanhava da mãe,
que era muito agressiva.
Relatou que aos 14 anos tentou se suicidar com uma corda porque tinha apanhado
muito da mãe. Como conseqüência, apanhou mais. Nessa ocasião foi satirizado pelos
irmãos que riram muito dele. Costumeiramente, quando apanhava, preferia isolar-se dentro
do mato ou andar sem rumo, sozinho.
Segundo seus relatos, o medo e a angústia começaram em 1979, aos 21 anos,
quando faleceram seu pai e irmão em um acidente de caminhão, no qual ambos morreram
carbonizados. P3 considerou o ocorrido como desencadeante para o início de seus
problemas psicológicos, afirmando que não conseguiu esquecer esse fato.
Contou que, nessa época, um cunhado (marido de sua irmã) matou o seu irmão e,
como vingança, outro de seus irmãos matou esse cunhado. Relatou ter ficado muito
perturbado com essas mortes na família.
Mudou-se para Campinas aos 17 anos de idade para trabalhar. Morou com uma irmã
durante 3 anos e depois morou sozinho até se casar. Trabalhou em empresas como operador
de maquinas e empilhadeirista. Relatou que sempre teve bom relacionamento com colegas
de trabalho, apesar de não se interessar por conversas ou amizades. Depois de 12 anos
trabalhando na mesma empresa, começou a ficar agressivo com os companheiros e
53
supervisores, quando foi sugerido que ele se afastasse para tratamento. Está afastado do
trabalho desde 2001.
Casou-se aos 24 anos com uma moça que reviu quando visitava sua cidade em
Pernambuco. Relatou que têm um bom relacionamento.
Afirmou que, aos 40 anos, descobriu ter um problema no coração e, desde então,
pensa que o coração é uma “peça frágil” e que ele pode morrer a qualquer momento em
decorrência disso. Seus medos e a sua tristeza tornaram-se mais intensos nessa época. Teve
dois tios que morreram de parada cardíaca há 3 anos, e em 2002 sua mãe também morreu
de parada cardíaca. O fato de saber ou pensar em pessoas que morreram do coração o deixa
muito triste. Isola-se em seu quarto, chora e pensa que vai morrer.
Está em acompanhamento psiquiátrico desde fevereiro de 2006. Revelou que sentia
tristeza e angústia há mais de 15 anos e, no entanto, não tinha coragem de procurar um
psiquiatra por vergonha.
2) Resultados da Aplicação do Inventário de Depressão de Beck (BDI)
Os resultados da aplicação do BDI apontaram que P3 tem uma depressão moderada.
Conforme a classificação presente no instrumento, foram selecionadas as atitudes e
os sintomas de maior intensidade, assinalados pelo participante com pontuação 2 e/ou 3.
Foram eles: indecisão, dificuldade de trabalhar
3
, mudanças na auto-imagem e insônia.
3) Seleção dos comportamentos relatados pelo participante durante a primeira
entrevista como de depressão
Os comportamentos selecionados na primeira entrevista, considerados como
respostas depressivas pelo participante, foram: ficar isolado, sentir-se fracassado, chorar,
ficar quieto e medo.
4) Análise da freqüência dos comportamentos selecionados nos itens 2 e 3
3
Foi substituído por “dificuldade de desempenhar as atividades do dia”, devido à ausência de trabalho remunerado.
54
Os comportamentos selecionados no BDI juntamente com os comportamentos
selecionados pelo participante na primeira entrevista foram colocados em uma Ficha de
Auto-Observação (Anexo 6) e a sua ocorrência foi observada e registrada pelo participante
durante 28 dias.
A freqüência foi analisada estatisticamente e os resultados estão descritos a seguir,
na figura 3.
0%
25%
57%
89%
100% 100% 100% 100% 100%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Mudanças na auto-imagem (0%) Sentir-se fracassado (25%)
Dificuldade com as atividades do dia (57%) Innia (89%)
Ficar isolado (100%) Indecisão (100%)
Chorar (100%) Ficar quieto (100%)
Medo (100%)
Figura 3: Porcentagens de dias durante o período observado (28 dias) em que P3 relatou ter emitido as
respostas levantadas em sua entrevista inicial
Os comportamentos considerados de maior freqüência foram: “medo”, “ficar
isolado”, “chorar” e “ficar quieto”. Optou-se, entre estes, analisar o comportamento
relatado por P3 como “medo”.
5) Análise do comportamento “medo” e exemplos de verbalizações que ilustram
o comportamento
55
O relato verbal “medo” sugeriu que os comportamentos: medo, insônia, medo de
morrer, ficar nervoso, insegurança, não conversar com pessoas estranhas, entre outros,
como será descrito a seguir, compõem a mesma classe de respostas.
Relato 9:
P3) “A semana passada, passou pela televisão um monte de gente que morreu. Um monte
de gente que foi aí assassinado, guarda... essas coisas dos presídios que teve. Quando eu
ouço essas coisas, eu pioro. Eu já tinha isso comigo há muito tempo, esse medo, essa coisa
assim. Fico muito ruim, não durmo não, sabe? Que acordo muito, não consigo dormir. Eu
penso assim “É, eu tenho medo de morrer...” essas coisas. Eu tenho medo. Por exemplo, tô
sempre com o portão trancado, tenho medo dentro de casa, sei lá, de alguma pessoa ruim
querer atirar na gente, matar, sabe?”
“Minha mulher fala que eu sou muito medroso, que eu penso muito negativo. Mas eu sou
muito inseguro. Eu penso muito negativo. De repente pode entrar alguém e dar um tiro na
gente, sabe? A gente ouve falar essas coisas que acontecem com os outros. Aí eu fico com
aquele medo que é fogo. Me sinto mais seguro quando tranco o portão e quando estou
sozinho.”
Quadro 9: Análise comportamental do Relato 9
Diante do estímulo discriminativo (Sd):
1. Ouvir na televisão sobre mortes em presídios
P3 apresentou as seguintes respostas:
1. Sentir medo
2. Insônia
3. Sentir medo de morrer
4. Trancar o portão
5. Isolar-se
Como conseqüência ele sente-se seguro e aliviado.
Logo, essa classe de comportamentos é mantida através de Reforçamento
Negativo.
56
Relato 10:
P3) “A minha filha chega 6 horas. Aí ela chega e fala: “Eu vou assistir a novela, pai.” Aí,
por exemplo, eu já tô no canal que eu gosto. Aí ela vai, já pega e muda. Aí é só ela chegar
que eu já começo a ficar nervoso, com medo de brigar com ela. Eu, pra não falar nada pra
ela — que eu já percebo, né? — vou pro quarto e fico lá. Aí eu fico com muito nervoso. Eu
não quero ver ninguém conversando. Eu já mando calar a boca, eu quero ficar deitado. A
minha filha: “Ah, num sei o quê...” Eu: “Pára com isso.” Já fico agressivo, já começa a
ficar assim. Aí eu já saio dali, já vou direto pro quarto, já vou ficar pra lá. Aí não falo mais
nada. Eu fico ali, já quero assistir o que eu quero, já não me importo de discutir com ela.
Então, pra que isso não aconteça, qual é a solução? Eu tenho que ir pro meu lugar.”
Quadro 10: Análise comportamental do Relato 10
Diante do estímulo discriminativo (Sd):
1. Filha querer mudar de canal quando ele está assistindo televisão
P3 apresentou as respostas:
1. Ficar nervoso
2. Sentir medo de brigar com ela
Como conseqüência, não falou nada, foi para o quarto, se isolou e sentiu alívio.
Esquivando-se de ser agressivo com a filha, o que é aversivo para ele.
Logo, esses comportamentos são mantidos através de Reforçamento
Negativo.
57
Relato 11:
P3) “Quando eu tenho que sair pra rua pra fazer alguma coisa, é ruim. Aí eu tenho aquele
medo de sair, assim, para fora. De sair, sei lá, e acontecer alguma coisa ruim comigo. O
carro me atropela... alguma coisa. Aí eu fico totalmente assim... não sei direito,
insegurança total. É, também, eu tento não ir até quando não dá mais. Me isolo porque eu
não quero desagradar ninguém. Quando eu saio, assim, eu tenho medo, eu não me
aproximo de pessoas estranhas. Se eu tô no ponto de ônibus, assim, eu fico longe do
pessoal. Eu tenho medo, assim, não converso, assim. Eu tenho medo, eu sou assim. Eu não
sei quem é bom e quem é ruim. Eu tenho medo de ser assaltado. Eu tenho medo de tudo o
que a gente ouve falar, eu tenho medo de tudo que é ruim.”
Quadro 11: Análise comportamental do Relato 11
Diante do estímulo discriminativo (Sd):
1. Precisar sair de casa
P3 apresentou comportamentos de:
1. Sentir medo de sair de casa
2. Sentir medo de ser atropelado
3. Sentir medo de ser assaltado
4. Sentir-se inseguro
5. Ficar longe de pessoas
6. Calar-se
Como conseqüência, ao ficar em casa, sentiu alívio.
Logo, essa classe de comportamentos é mantida através de Reforçamento
Negativo, o que explica a contingência descrita acima.
58
Relato 12:
P3) “Quando dá isso aí, eu fico pensando: “Será que eu vou morrer a qualquer hora?”
Agora, depois que morreu aquele cara do “Casseta & Planeta” do coração, eu até
comentei que era um cara bom. Aí, pôxa, sei lá... o cara era bom, tava com
acompanhamento médico... isso pode acontecer comigo a qualquer hora. Eu penso tudo
isso daí... eu tenho medo, assim, doutora, de ter parada cardíaca, ficar sofrendo e dar
trabalho pros outros, sabe? Penso em tudo isso aí. Por isso eu fico assim sozinho, isolado.
Isso me dá muita tristeza.”
Quadro 12: Análise comportamental do Relato 12
Diante do estímulo discriminativo (Sd):
1. Ouvir na televisão sobre a morte de um comediante
P3 apresentou as seguintes respostas:
1. Pensar sobre morte
2. Pensar que ele terá uma parada cardíaca
3. Sentir-se triste
Como conseqüência, sente alívio por continuar vivo.
Logo, esses comportamentos são mantidos por uma contingência de
Reforçamento Negativo, o que explica a contingência descrita acima.
6) Verbalizações que exemplificam situações ocorridas na história de vida que
possam ter contribuído para a depressão:
6.1) Situação que indica que “medo” foi adquirido em sua história de aprendizagem
Exemplo 1 – Relato:
P3) “Porque 2 tios meus morreram de parada cardíaca. Eu já fico com aquilo na cabeça.
Quando eu ouço falar que o outro morreu lá já reforça o meu pensamento, aí eu digo:
“Não estou salvo.” Aí complica mais, acumula mais aquilo na minha cabeça. Eu fico com
a cabeça doendo de tanto pensar. Eu penso, sei lá, se eu morrer, me dar um treco. E se eu
morro logo? Porque eu tomo meus remédios direitinho mas o cara lá que morreu também
toma o remédio direitinho e tinha acompanhamento médico também. A minha mãe também
morreu disso daí. Amanheceu o dia, tava boazinha, coitada. Minha irmã disse que ela
falou: “Deixa o café pra mim aí que eu vou tomar banho, vou rezar meu terço.” Ela era
muito católica. Diz que ela foi rezar o terço dela lá, aí entrou para o banheiro pra tomar
59
banho, aí minha irmã mais nova disse que escutou o barulho do banheiro. Quando ela foi
pra lá diz que ela já tava caindo, se batendo, coitada. Minha irmã pegou, ela tava sozinha
naquela hora, coitada. Quando ela pegou, ela não resistiu mais. Foi fulminante. De
repente. Eu já tinha esses pensamentos desde quando eu descobri que eu tinha problema
do coração.”
Exemplo 2 – Relato:
P3) “Eu tenho muitos problemas com a minha família. Eu perdi meu pai e meu irmão tudo
de uma vez. Meu irmão, ele trabalhava num caminhão de óleo. Carregava óleo lá de
Recife. Aí ele — foi em 79 — ele bateu o caminhão. Deu uma batida e morreu carbonizado.
Meu pai tava junto e também foi. Ficou irreconhecível. Isso nunca saiu da minha cabeça.
Então, é só tristeza. Então, é as coisa que fizeram eu ficar com medo das coisas, sabe?
Assim... porque eu fiquei pensando a vida inteira nisso.”
Exemplo 3 – Relato:
P3) “Teve um cunhado meu, casado com a minha irmã, por causa de bens, terrenos, essas
coisas, ele matou meu irmão de faca. Aí, passado uns 15 dias, o outro meu irmão foi e
matou esse cunhado meu. É, foi até com faca também. Vingou meu outro irmão. Você
imagina a situação que ficou as duas famílias. Ficou duas mulher desamparadas, duas com
família. Então, daí prá cá, é só uma coisa: a gente tem que ser muito forte. Meu irmão
fugiu, se escondeu. Depois a justiça lá é — cidade pequena... — tranqüila. Depois, passado
mais uns tempos ali, vinha ali o vereador, vinha o prefeito, não prende ele porque foi um
negócio entre família. Foi vingança. Aí ficou naquilo... São coisas que magoam muito a
gente. Depois eu fiquei arrasado, arrasado mesmo. Com medo de tudo.”
6.2) Situação que indica uma história de punições freqüentes
Relato:
P3) “Quando eu tinha uns 14 anos mais ou menos, eu tentei me matar depois de tanto que
eu apanhei. Arrumei uma corda e me pendurei pelo pescoço. Aí a minha mãe apareceu e
falou que aí que ela ia me bater mais. Aí ela pegou a corda e me tomou. Me bateu mais
ainda... Eu tinha vontade de sair, de andar. Aí eu pegava aquelas estradas, ia pra aquelas
roças bem longe. Ficava andando no mato sem rumo.”
“...Ela me bateu. Fiquei com muita raiva. Ela me batia sem motivo. A gente quando é
moleque, tem coisas... Que as mulher fica de pé... A gente tava brincando lá e eu peguei e
minha mãe tava pisando café. Eu peguei, deitei debaixo dela e fiquei olhando de baixo
para cima. Ela, de saia, tava toda suja de café. Quando ela virou pra nós, que me olhou
assim: “que tá fazendo aí deitado debaixo deu?” Eu virei pra ela: “Não, eu só quero
limpar você.” Não sei nem seu posso falar isso: na verdade, ela pegou um arreio com uma
sela de animal, ela pegou lá um rolo de corda, mas me bateu, bateu tanto... Aquilo ficou
marcado pro resto da minha vida. Quando ela me bateu eu disse: vou me matar pra você
nunca mais me bater. Ela me segurou, eu deitado no chão, ela me deu um pé aqui [na
cabeça], tacou minha cabeça no chão assim, e bateu no resto do corpo. Com a gente, tipo
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assim, como o pescoço duma galinha, dum frango. Meus irmãos tava tudo olhando.
Ficaram tudo dando risada, os meus irmãos. Aí ela me bateu, mas me bateu... eu saí dali e
falei “Uma vida dessa não merece mais do que morrer. Vou me matar agora.” Não sei se
foi na hora do nervoso, que eu tava nervoso.”
“...Ela era muito carrasca com nós. Batia, batia demais ela, sim. Sempre. Ela era muito
nervosa com todos nós. Nós apanhamos pra caramba e por coisas banais. Qualquer coisa
ela já batia.”
“...Tinha época que nós ficava na roça e só ia pra casa pra dormir. Quando via ficava o
dia inteiro lá. Quando chegava em casa, quando era pra dormir, era hora de apanhar. De
corda ela batia, e a gente ficava arroxeado. Ficava com o corpo cheio de roxo, aqui no
meio da coluna. Tirava sangue da gente. Eu tenho aqui ó [mostra a cabeça], até um furo na
minha cabeça. Eu tinha 15 anos. Isso aqui foi com um pedaço de pau. A senhora tá vendo
esse furinho aqui ó, tá vendo? Isso aqui foi uma pisa que eu levei, que ela me batia com um
pedaço de pau, tudo, e uma ponta de pau entrou aqui. Pelo amor de Deus! Eu quase morri.
Eu era magrelo ainda, era tão magro, aquele molequinho pretinho, magrinho.”
“...Eu lembro que eu tinha 14 anos e aí eu não sei por que a minha mãe me bateu. Eu tava
lá, esperando ela me bater, eu sei que eu disse: “Se Deus quiser eu vou crescer, eu vou
ficar maior e vou embora pra longe.” Aí eu sei lá, porque a hora que eu descuidei, ela
pegou e me bateu de novo. Ela me bateu porque eu falei: “Eu vou embora daqui e vou ficar
livre de você”. Ela não gostava que respondia.”
“Eu apanhei até, quer ver... até uns 16 anos eu apanhei. Minha mãe batia nos mais velhos
até com 20 anos.”
6.3) Situação que indica baixa freqüência no repertório de busca de reforço positivo
em situações sociais em sua história de aprendizagem
Relato:
P3) “Não sou de falar muito não. Assim, quando eu trabalhava no serviço, eu só falava o
necessário. Desde moleque, desde rapaz novo eu nunca fui assim de ficar conversando
muito em serviço. Eu sempre trabalhava em empresa que tinha muito rapaz novo e tinha,
assim, de ficar batendo papo com os outros. Eu nunca fui assim porque eu nunca gostei,
assim, de ficar... de dar motivo pra ser chamado à atenção. Então eu procurava sempre
fazer o meu serviço e não ficar batendo papo. Conversava sempre o necessário. Acho que é
sempre melhor ficar quieto do que falar.”
6.4) Situação que indica alta freqüência no repertório de fuga e esquiva de situações
aversivas
Relato:
P3) “Quando eu chegava, tinha, assim, eu lembro como se fosse hoje: usava o coador
porque onde a gente pegava água tinha um barreiro. Quando a gente chegava, eu não
falava com ela. Agora, se não tinha água ou se caia e quebrava a cabaça, os irmãos já
61
chegava e falava: “Ele quebrou a cabaça! Ele quebrou a cabaça!” Aí era moleque
entrando pra dentro do mato... já fugia.”
62
Participante 4 – P4
1) Resumo da história de vida
P4 foi criado no meio rural (roça), filho do meio de uma família de 5 irmãos.
Sempre morou em sítios e estava sempre se mudando. Durante a infância, ficava em casa
cuidando das duas irmãs menores, enquanto seu pai saía para trabalhar com os dois filhos
mais velhos.
Estudou até a 4ª série do ensino fundamental. Teve muita dificuldade para estudar
devido a várias mudanças de cidade e a distância das cidades onde se localizavam as
escolas e o sítio onde trabalhava e morava.
Contou que foi criado apenas pelo pai até os 14 anos. Sua mãe tinha hanseníase e
morou em isolamentos de hospitais durante 11 anos. Quando ela saiu do hospital e foi
definitivamente para casa, P4 tinha 14 anos e relata que ela era agressiva. O pai, pelo
contrário, não costumava punir os filhos. Na vida adulta descobriu que tinha a mesma
doença da mãe. Tratou-se por 5 anos e nunca teve manifestações, e tampouco precisou ficar
isolado ou internado em hospitais.
Mudou-se para Campinas em 1967, com a família, para trabalhar e procurar
melhores condições de tratamento para a mãe. Algum tempo depois, seus pais voltaram
para o sítio onde moravam e ele ficou na cidade trabalhando.
Relatou que sempre teve dificuldade para arrumar emprego e manter-se neles.
Trabalhou registrado em uma empresa por 10 anos, e refere-se a essa época com bastante
satisfação. Depois disso, só conseguiu empregos temporários, situação que perdura até os
dias atuais. Segundo ele, não conseguiu arrumar emprego porque não teve estudo e na sua
profissão, com o passar dos anos, a informatização dominou o mercado exigindo a
necessidade de uma especialização na área, o que ele não tinha.
Casou-se aos 23 anos. Relatou que seu relacionamento com a esposa sempre foi
bom, mas que se sente mal por não poder proporcionar à família boas condições
financeiras. A esposa sempre teve emprego fixo e manteve as contas da casa em dia.
Consumiu bebidas alcoólicas durante 12 anos (de 1990 a 2002) e considera-se
viciado. Segundo ele, começou a beber porque ia “no embalo” dos amigos e devido à
63
dificuldade em arrumar emprego. Parou de beber há 4 anos quando se converteu à religião
evangélica, em uma vertente que não aceita o consumo de álcool.
P4 está em acompanhamento psiquiátrico há dois anos. Segundo seus relatos, a
depressão teve início em 1978, quando um contrato de aluguel venceu e não pôde pagar. Há
14 anos piorou quando passou um período de dois anos sem conseguir emprego, o que
coincidiu com a morte do seu pai e do seu irmão na mesma época. Por dificuldade
financeira, não pôde comparecer aos velórios, ocorridos em 1991, referindo frustração e
angústia.
Afirmou que não gosta de ficar em casa porque fica entediado e sente-se prisioneiro,
mas acredita que não pode sair porque tudo o que ele poderia fazer depende de dinheiro.
Atualmente tem como principal atividade serviços domésticos leves e ajuda a esposa com
pequenos afazeres. Raramente faz alguns “bicos” como eletricista ou motorista para ganhar
algum dinheiro extra ou se distrair.
2) Resultados da Aplicação do Inventário de Depressão de Beck
Os resultados da aplicação do BDI apontaram que P4 tem uma depressão leve.
Conforme a classificação no BDI, foram selecionadas as atitudes e os sintomas de
maior intensidade, assinalados pelo participante com pontuação 2 e/ou 3. Foram eles:
tristeza, punição e dificuldade de trabalhar
4
.
3) Seleção dos comportamentos relatados pelo participante durante a primeira
entrevista como de depressão
Os comportamentos selecionados na primeira entrevista, considerados como
respostas depressivas pelo participante, foram: ficar sem disposição, ficar sem vontade,
sonolência, desânimo, nervosismo, cansaço, choro, sensação de abatimento, remoer os
pensamentos e angústia.
4
Foi substituído por “dificuldade de desempenhar as atividades do dia”, devido à ausência de trabalho remunerado.
64
4) Análise da freqüência dos comportamentos selecionados nos itens 2 e 3
Os comportamentos selecionados no BDI juntamente com os comportamentos
selecionados pelo participante na primeira entrevista foram colocados na Ficha de Auto-
Observação (Anexo7) e a sua ocorrência foi observada e registrada pelo participante
durante 28 dias.
A freqüência foi analisada estatisticamente e os resultados estão descritos a seguir
na Figura 4.
0% 0% 0%
3% 3% 3% 3% 3%
7% 7% 7%
10% 10%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Ficar sem vontade (0%) Chorar (0%)
Sensação de Abatimento (0%) Tristeza (3%)
Punição (3%) Dificuldade com as atividades do dia (3%)
Nervosismo (3%) Remoer os pensametos (3%)
Ficar sem disposição (7%) Desânimo (7%)
Cansaço (7%) Sononcia (10%)
Angústia (10%)
Figura 4: Porcentagens de dias durante o período observado (28 dias) em que P4 relatou ter emitido as
respostas levantadas em sua entrevista inicial
Os comportamentos considerados de maior freqüência foram: “angustia” e
“sonolência”. Optou-se, entre estes, analisar o comportamento relatado por P4 como
“angústia”.
5) Análise do comportamento “angústia” e exemplos de verbalizações que
ilustram o comportamento
65
O relato verbal “angústia” sugeriu que os comportamentos: ficar nervoso, chatear-
se, revoltar-se, tristeza, sentimentos de inferioridade, entre outros, como será descrito a
seguir, compõem a mesma classe de respostas.
Relato 13:
P4) “Me deu muito nervoso dele [colega de trabalho] “passar a perna” em mim. Ir falar
que eu não tava fazendo o serviço direito. Isso não é verdade, eu não fiz nada de errado.
Ele deve ter algum problema familiar pra ele tá nessa situação. Brigar, entendeu? Porque
eu fiquei muito chateado. Sabe, é melhor eu cair fora do que eu ter um inimigo. Eu não sou
de brigar, graças a Deus. Agora, um cara que acabei de conhecer, faz uma semana, já vem
fazer isso comigo? Eu fiquei muito chateado. Tô inconformado. Nunca fui mesmo de ficar
confiando, porque eu acho que o ser humano não tem compreensão, não tem amor, não
tem nada... Eu fiquei hoje o dia inteirinho rolando de lá pra cá no quarto e não tô bom
ainda.”
Quadro 13: Análise comportamental do Relato 13
Diante do estímulo discriminativo (Sd):
1. Colega de trabalho falar para o chefe que P4 não estava fazendo o serviço direito
P4 teve respostas de:
1. Ficar nervoso
2. Chatear-se
3. Revoltar-se
4. Frustrar-se
5. Isolar-se
Como conseqüência, P4 se esquivou de entrar em contato com o colega ficando no
quarto, além de afirmar a idéia de que é melhor não confiar em ninguém. Dessa
maneira, não precisou entrar em contato com tal Sd, que para ele é aversivo.
Logo, essa classe de comportamentos é mantida através de Reforçamento
Negativo, o que explica a contingência descrita acima.
66
Relato 14:
P4) “Sexta-feira eu fui cortado do recebimento do meu benefício do INSS. Eu sou um custo,
não é? Eu ia receber o meu dinheiro. Agora, só daqui a três meses. No sábado eu tava bem
triste. Eu levantei com tristeza. Aquela sensação de coração amarrado, sabe? Tristeza,
angustia... Só que não tinha motivo. Eu começo a sentir e não paro. Tem dias que você já
levanta triste, com aquela coisa, uma angustia. É o que acontece, e depois passa. Tento
fazer alguma coisa para esquecer. Hoje mesmo eu notei sonolência e desânimo, mais isso é
muito constante. Todo dia é assim.”
Quadro 14: Análise comportamental do Relato 14
Diante do estímulo discriminativo (Sd):
1. Ser cortado do recebimento do benefício do INSS
P4 teve as seguintes respostas:
1. Sentir-se triste
2. Ter “sensação de coração amarrado”
3. Sentir-se angustiado
Como conseqüência, P4 tentou esquecer o problema fazendo alguma outra atividade e
“fez de conta” que nada aconteceu. Dessa maneira, não entrou em contato com o Sd,
aversivo para ele.
Logo, os comportamentos descritos acima são mantidos através de
Reforçamento Negativo.
67
Relato 15:
P4) “Eu fico pensando: “Por que eu não fui aprovado num emprego.” Isso, mais uma vez,
aconteceu. Muitas vezes a pessoa não é aprovada porque a capacidade dele não foi
suficiente e o estudo dele não foi elevado pra aquilo. Eu penso no momento, depois passa.
Penso que poderia ter mais experiência. Tem umas perguntas assim que eu me faço: “Por
que eu não consegui? Por que eu não tenho mais experiência?” Eu acho que a minha
resposta é o estudo que eu não tive...”
“No caso, em cada profissão, as coisas mudam muito. Então, se você não tá
acompanhando isso daí, o que acontece? Você fica pra trás se você não tem estudo
suficiente pra acompanhar, porque as profissões vai evoluindo e você fica pra trás. Quer
dizer que o outro, aquele que estudou, talvez pra ele tem vaga, e pra mim não tem. Me
sinto amargurado e triste com isso aí. Acho que sou incapaz, mas ao mesmo tempo, não
tive as condição necessária.”
Quadro 15: Análise comportamental do Relato 15
Diante do estímulo discriminativo (Sd):
1. Não ser aprovado em uma seleção de emprego
P4 teve as respostas de:
1. Pensar que não tem capacidade
2. Pensar que não tem estudo
3. Sentir-se inferior
4. Sentir-se amargurado
5. Sentir-se triste.
Como conseqüência, P4 justificou a situação de não conseguir o emprego através da
falta de condições de estudar.
Logo, essa classe de comportamentos é mantida através de Reforçamento
Negativo.
68
Relato 16:
P4) “Ficar dentro de casa também, em parte, é ruim. Ficar assim, em casa, é como estar
amarrado, estar preso dentro de casa, ali. Muitas vezes você não pode sair. Você não tem
dinheiro. Você quer viajar e não tem condições de viajar. Então, eu acho que se você
tivesse, assim, 20 anos pra passar o tempo, você não ia querer ficar em casa. Quem fica
parado vira um preguiçoso. A gente fica em casa, fica meio desanimado, um sentimento de
inutilidade...”
“Em casa, vamos supor, você levanta às 6, tem louça pra lavar que ficou da janta de
ontem. Aí você tem que limpar a casa. Fazer o quê? Daí você fica olhando o tempo, dá
uma deitada no sofá da sala, aí o corpo fica doendo de você ficar deitado... acontece isso
aí se você fica em casa. Acho que todo mundo se sentiria um prisioneiro com isso. Eu me
sinto um prisioneiro. Da própria vida. A própria vida que me fez prisioneiro. Tenho que me
conformar e seguir assim...”
Quadro 16: Análise comportamental do Relato 16
Diante dos estímulos discriminativos (Sds):
1. Ausência de trabalho remunerado
2. Estar em casa
3. Louças para lavar
4. Casa suja
P4 teve as seguintes respostas:
1. Sentir-se incapaz
2. Sentir-se prisioneiro
3. Sentir preguiça
4. Sentir-se desanimado
5. Sentir-se inútil
6. Deitar no sofá
Logo, esses comportamentos são mantidos através de Reforçamento
Negativo.
6) Verbalizações que exemplificam situações ocorridas na história de vida que
possam ter contribuído para a depressão:
69
6.1) Situação que indica perda de reforçadores positivos durante sua história de
aprendizagem
Relato:
P4) “Eu acho que foi de 78 pra cá que a gente ficou mais ruim, tristeza, depressão. O
aluguel venceu, contrato pra cumprir, sabendo que você tinha conta para pagar, eu que
não arrumava emprego. Eu sofri muito nessa faixa de procurar emprego. Pode pôr aí uns
vinte anos de dificuldade que eu tenho. O emprego que eu mais fiquei era numa firma aí. Aí
foi mais de dez anos. Que maravilha! Depois já mandou sair. Aí você fica, trabalha dois
meses, três meses, seis meses, oito meses. É mandado embora e a firma não contrata. Eu
ficava muito nervoso por causa das condições financeiras. Muitas vezes você não podia
fazer as coisas por causa de dinheiro. O aluguel que não dava pra pagar. Eu ia pra cidade,
procura aqui, procura ali e não achava emprego. E acabava bebendo, descontando na
bebida. Porque a pessoa desconta. Talvez comece em você próprio os conflitos que levam a
bebida. Daí eu chegava bêbado em casa, com fome e não tinha comida, dai eu já ia
trançando as pernas pra cama. Isso é o que mais me entristece. Parece que eu só perdi as
coisas da vida.”
6.2) Situação que indica uma história de punições freqüentes e ausência de
reforçamento positivo
Exemplo 1 – Relato:
P4) “E fui criado pelo pai. O pai ficou com os três filhos homens e a gente tinha que
ajudar. A gente morava num sítio. Minha mãe ficou internada 7 anos. Antigamente não
tinha tratamento: era isolado. Era uma isolação da família que tinha que ter. Ficou
isolada num hospital. Então a gente tinha 6, 7 anos, e por causa disso passou a trabalhar e
o que era pra fazer os estudos, não podia estudar. Foi 7 anos que eu fiquei sem ver a
minha mãe. Depois teve uma irmã minha que tinha maior necessidade de visita, essa
também ficou isolada de nós no hospital. Aí meu pai só foi buscar ela quando ela tinha
nove anos de idade. Depois a minha mãe voltou, ela foi pra outro hospital e ficou
internada por mais 4 anos. Então a vida da minha infância foi muito isolada da mãe.”
“A mãe, depois que voltou pra casa, era muito severa com os filhos. Ela judiava muito dos
filhos. Tinha vez que eu apanhava muito. Quando ela voltou, que ficou bastante mesmo, eu
tinha uns 14 anos. Mas eu era o que menos trabalhava na roça e por isso apanhava mais.
Às vezes eu ia junto com meu pai e meus outros dois irmãos mais velhos mas a maioria das
vezes eu que ficava de babá das duas meninas mais novas, e então tava sempre na vista
dela.”
Exemplo 2 – Relato:
P4) “Lembro de uma vez: a venda ficava a uns dois quilômetros longe de casa, e ela [mãe]
me mandou buscar carne. Eu tava entrando e ela mandou eu buscar 1 litro de querosene
70
ainda, e eu fui buscar. Cheguei lá e a venda tava cheia e até alguém me atender demorou
muito. Na parte da tarde era muita gente da roça. Então, nós morava num sítio. Aí você ia
lá e olhava da janela aberta, você via um campo e quem tava indo de lá pra cá, quem tava
indo daqui pra lá. E ela ficava olhando se eu vinha vindo, ela ficava me esperando: “Cadê
o P4? Cadê o P4?” Porque eu era muito pequeno. Aí cheguei atrasado por causa desse
motivo e a minha desculpa foi essa. Aí, cheguei, ela tava lá. Mas me bateu... mas me bateu
tanto... Cheguei a falar que a culpa não era minha, mas não adiantou: só acabei
apanhando mais.”
6.3) Situação que indica baixo repertório de busca de reforçadores positivos durante
sua história de aprendizagem
Relato:
P4) “Teve uma época que eu trabalhava com empregos temporários. Você trabalhava, daí
demorava dois dias, três dias pra você arrumar alguma outra coisa. Então nesse sistema
eu fui no embalo. Uma época pra mim que eu gostei, que eu tinha um dinheirinho, foi em
76. Eu recebi aumento: dobrou o meu salário. Daí, eu fiquei tão contente e eu já vinha
avisando que emprestava dinheiro pros outros, que era profissional, pro pessoal que vinha
me pedir dinheiro emprestado. Na época tinha dinheiro pra viajar. Fui e fiquei “durinho”,
porque tinha ido pra outros estados viajar com os trocados que eu tinha no bolso. Aí
comecei a piorar. Perdi o emprego, aí só conseguia trabalhar 4 meses em um ano. Ficava
8 meses sem trabalhar, sem trabalhar... não achava. Passava em algum mas era pouco,
uma semana, uma semana e pouco.”
“Aí eu ficava pior. Me acabava. Eu ia pra cidade e, procura aqui, procura ali, e não
achava emprego. E acabava bebendo, descontando na bebida. Por que a pessoa desconta.
Talvez comece em você próprio os conflitos que levam a bebida. Daí eu chegava bêbado
em casa, com fome, e não tinha comida. Dai eu já ia trançando as pernas, não caia assim.
Ficava bem alterado. Tem hora que nem o organismo da gente agüenta.”
71
Participante 5 – P5
1) Resumo da história de vida
P5 é filha mais velha de uma prole de 7 irmãos, sendo a única mulher. Trabalhou na
roça dos 7 aos 16 anos para ajudar o pai e estudou somente até a 2ª série do ensino
fundamental.
P5 sofreu punições durante a infância e adolescência por parte dos pais. Relatou que
a mãe a proibia de sair, conversar com pessoas ou ter amizades. Mesmo quando estava na
igreja, se olhasse para os moços, apanhava na frente de todos. Apanhava no meio da rua e
era puxada pelos cabelos. Apanhava com cinto de couro e chegou a levar facadas da mãe.
Segundo ela, essa situação perdurou até que completasse 20 anos, quando casou-se e saiu
de casa.
Conta que tentou suicidar-se uma vez, aos 15 anos de idade, tomando inseticida.
Antes de tomá-lo, arrumou a casa para a mãe. Tomou, desmaiou, acordou no dia seguinte e
não disse nada para ninguém. Seus familiares não tomaram conhecimento.
Foi assediada pelo pai três vezes aos 16 anos. Na última vez, gritou e contou para a
mãe, que o expulsou de casa por três meses. Depois disso, ele não se aproximou mais dela.
Segundo seu relato, alguns anos mais tarde, aos 37 anos, soube que seu pai estava
assediando sua filha mais nova, na época, com 7 anos. Deixou de falar com ele por um
tempo. Porém, depois de alguns anos, voltaram a ter contato.
Sonhava em ser enfermeira, mas a mãe sempre dizia que as enfermeiras não
prestavam. Mesmo assim, aos 16 anos, foi trabalhar como lavadeira de um hospital.
Conheceu os donos e falou da sua vontade. Eles incentivaram-na a continuar os estudos e,
enquanto ela não se formasse, poderia ajudar como auxiliar de enfermagem. Relatou que
foi se desenvolvendo na profissão até que sua mãe descobriu e não permitiu mais que fosse
ao hospital. Aos 17 anos começou a trabalhar de bóia-fria junto com a mãe, por exigência
da mesma.
Tentou suicídio mais uma vez nessa época, depois de ser punida pela mãe na frente
do grupo de bóias-frias com quem trabalhava. Segundo seu relato, afastou-se do grupo e se
jogou de uma represa. Pessoas que a viram tiraram-na de lá.
72
Casou-se aos 20 anos e logo engravidou da sua primeira filha. Nessa gravidez, teve
eclampsia. Aos 28 anos, na sua segunda gravidez, teve depressão pós-parto, que durou
cerca de um ano. Conta que não conseguia fazer suas atividades e não conversava com
pessoas, que tomou alguns remédios que a faziam dormir, mas não lembra como se
recuperou. Quando estava grávida da terceira filha, aos 33 anos, seu marido parou de
procurá-la sexualmente por 12 anos. Relatou muito sofrimento nessa época.
Trabalhou de faxineira, na roça, de bóia-fria, de empregada doméstica e lavadeira
até juntar dinheiro para comprar uma máquina de sorvete com a qual trabalhou durante 12
anos. Acreditava que conseguiria ter uma vida melhor fazendo sorvetes, mas devido ao
esforço repetitivo, desenvolveu tendinite, o que a impossibilitou de continuar na profissão.
Segundo seu relato, há cerca de 6 anos começou a freqüentar emergências de
hospitais com dores no peito. Fez muitos exames, mas nunca foi encontrado nada. Explicou
a um médico cardiologista que tinha muita vontade de chorar, não tinha mais vontade de
viver e estava sempre doente, e que achava que estava ficando louca. Ele a encaminhou
para um psiquiatra e desde então vem sendo tratada. Relatou que piorou após a morte de
um dos seus irmãos, em 2004.
Atualmente está afastada de qualquer trabalho devido à tendinite, artrose e
depressão, mas não se conforma em não poder trabalhar. Continua tendo pensamentos
sobre morte, como por exemplo: “Vou ficar aqui na rua e deixar que o carro me mata”.
Relata que, apesar da vontade, não tem coragem de cometer suicídio por causa de suas
crenças religiosas. Até hoje, quando sai, precisa dar satisfação para a mãe, que mora ao
lado da sua casa e, se não o faz, é punida com xingamentos.
2) Resultados da Aplicação do Inventário de Depressão de Beck (BDI)
Os resultados da aplicação do BDI apontaram que P5 tem uma depressão moderada.
Conforme a classificação presente no instrumento, foram selecionadas as atitudes e
os sintomas de maior intensidade, assinalados pela participante com pontuação 2 e/ou 3.
Foram eles: tristeza, pessimismo, sentimento de fracasso, culpa, choro, mudanças na auto-
imagem, dificuldade de trabalhar
5
, preocupações somáticas e perda da libido.
5
Foi substituído por “dificuldade de desempenhar as atividades do dia”, devido à ausência de trabalho remunerado.
73
3) Seleção dos comportamentos relatados pela participante durante a primeira
entrevista
Os comportamentos selecionados na primeira entrevista, considerados como
respostas depressivas pela participante, foram: dores no corpo, pensamentos sobre morte,
irritação, não conversar com as pessoas e insatisfação.
4) Análise da freqüência dos comportamentos selecionados nos itens 2 e 3
Os comportamentos selecionados no BDI juntamente com os comportamentos
selecionados pelo participante na primeira entrevista foram colocados em uma Ficha de
Auto-Observação (Anexo 8) e a sua ocorrência foi observada e registrada pelo participante
durante 28 dias.
A freqüência foi analisada estatisticamente e os resultados estão descritos a seguir
na figura 5.
32%
42%
46% 46% 46% 46%
50%
57% 57% 57%
60%
64%
78% 78%
0%
20%
40%
60%
80%
100%
Choro (32%) Culpa (42%)
Mudanças na auto-imagem (46%) Preocupações somáticas (46%)
Dores no corpo (46%) Não conversar com pessoas (46%)
Tristeza (7%) Sentimento de Fracasso (57%)
Pesamentos sobre morte (57%)) Insatisfação (57%)
Pessimismo (60%) Irritação (64%)
Perda da libido (78%) Dificuldade com as atividades do dia (78%)
Figura 5: Porcentagens de dias durante o período observado (28 dias) em que P5 relatou ter emitido as
respostas levantadas em sua entrevista inicial
74
Os comportamentos considerados de maior freqüência foram: “tristeza”, “mudanças
na auto-imagem”, “choro” e “dificuldade para desempenhar as atividades do dia”. Optou-
se, entre estes, analisar o comportamento relatado por P5 como “dificuldade para
desempenhar as atividades do dia”.
5) Análise do comportamento “dificuldade para desempenhar as atividades do
dia” e exemplos de verbalizações que ilustram o comportamento
O relato verbal “dificuldade para desempenhar as atividades do dia” sugeriu que os
comportamentos: não limpar a casa, sentir-se fracassada, não conversar com ninguém,
isolar-se, sentir-se sozinha, entre outros, como será descrito a seguir, compõem a mesma
classe de resposta.
75
Relato 17:
P5) “Eu não consigo. Se eu vejo meu cesto de roupa lotado, eu não consigo fazer. Vejo
minha pia com louça e não consigo fazer. Eu vejo minha casa suja, eu nem me preocupo.
Eu fico sentada. Tem dia que eu não converso com ninguém. Tem dia que, quando eu vejo
alguém chegando perto, eu tenho vontade de correr. Então por isso que eu prefiro dormir.
Ontem, eu tentei e dormi a tarde toda. Preferia morrer, mas eu dormi. Me senti assim,
fracassada nas coisas. Não conseguia fazer nada. A pia tava assim de louça; eu nem... Eu
sinto muita solidão porque eu sou nada. Eu me sinto ainda pior. Esses dias eu sonhei que
fiquei internada num hospital de louco. Eu não sei o que tá acontecendo comigo. Eu acho
que foi tudo o que eu passei na minha vida que agora que atacou.”
Quadro 17: Análise comportamental do Relato 17
Diante dos estímulos discriminativos (Sds):
1. Cesto de roupas lotado
2. Pia com louça para lavar
3. Casa suja
P5 apresentou respostas de:
1. Não se preocupar
2. Não limpar a casa
3. Não conversar com ninguém
4. Ter vontade de correr das pessoas que se aproximaram
5. Sentir-se fracassada
6. Sentir-se sozinha
Logo, essa classe de comportamento foi mantida através de Reforçamento
Negativo.
76
Relato 18:
P5) “As vezes eu faço comida porque minha filha trabalha e vem almoçar. Quando eu tô
melhor eu faço o almoço. Quando eu não tô, ela pega da geladeira, esquenta e come. Tem
vezes que nem ela quer conversar comigo também. Não sei por quê. Ela senta e não
conversa. É difícil... não sei.”
“Às vezes eu pergunto porque ela não quer conversar comigo. Ela fala: “Ah, porque eu
não tô a fim. Hoje eu tô quieta, não tô a fim de conversar.” É ela evita a conversa, mas daí,
quando ela conversa, eu me sinto mais alegre. Quando ela não conversa, eu fico triste. Me
isolo, me sinto sozinha, quero desaparecer. Eu puxo conversa com ela, mas ela não
conversa... Nessa hora eu penso em ir dormir e pronto. Eu gostaria de dormir e nunca
mais acordar.”
Quadro 18: Análise comportamental do Relato 18
Diante dos estímulos discriminativos (Sds):
1. Filha não conversar com ela
2. Filha evitar conversar com ela
P5 apresentou as seguintes respostas:
1. Sentir-se triste
2. Buscar a filha
3. Sentir-se sozinha
4. Ter vontade de desaparecer
Como conseqüência dormiu, se esquivando de entrar em contato com quaisquer dos Sds
aversivos.
Logo, esses comportamentos foram mantidos através de Reforçamento
Negativo.
77
Relato 19:
P5) “Quando eu olhei no portão, vi que eles colocaram umas bexigas lá fora, mas não tava
muito no alto. Na hora, quando eu vi a garagem, eu não vi as bexigas. Tinha vários carros
na porta da minha casa e muitas pessoas. Tinha uma amiga que tava chegando comigo. Eu
falei: “Nossa! o que eu vou fazer agora? Eu perdi alguém da minha família, alguma coisa
aconteceu. Como que eu vou reagir? Que jeito eu vou fazer? Será que eu vou entrar ou vou
ficar aqui?” A minha amiga sabia, ela devia ter falado: “É uma surpresa, é um bolo, é
uma festa.” Mas ela só falou: “Fica em paz, fica em paz, não é nada não.””
“...Aí veio o pessoal todo sorrindo, eu fui subindo a escada, eles estavam descendo,
estavam tudo indo pra área, assim... eu achei que... falei: “Alguém morreu”. Pensei no
meu filho e na minha mãe. Pensei: “Minha mãe morreu ou mataram meu filho, e tão
esperando pra me dar a noticia.” E eu, nossa, eu fiquei assim... pra mim foi um tipo de
velório.”
“...Antes de eu ir lá pra dentro, minha amiga me contou. Só que eu não sabia que era ela,
eu não sabia quem era. De tão nervosa eu não sabia mais nada. Eu senti muita tristeza,
vontade de chorar. Mesmo que era uma festa, não teve motivo de alegria. Eu não
conseguia reagir. Fiquei parada, aí meu filho percebeu. Ele chegou por último — ele
estava trabalhando — ele chegou, e disse pra mim assim: “Mãe, parece que você está em
choque! Não fica assim não! Foi feito com alegria, pra você ficar contente.” Eu fui pro
quarto e não queria ver ninguém. Pra mim, só passava velório na minha cabeça. Velório...
velório... eu pensava no meu filho sendo assassinado e na minha mãe.”
Quadro 19: Análise comportamental do Relato 19
Diante dos estímulos discriminativos (Sds):
1. Ver carros estacionados na porta da sua casa
2. Ver muitas pessoas em sua casa
P5 apresentou respostas de:
1. Achar que alguém da família morreu
2. Ficar preocupada
3. Ficar indecisa
4. Ficar nervosa
5. Sentir-se triste
Como conseqüência, P5 foi para o quarto, chorou e não conseguiu reagir. Esquivou-se
dos Sds aversivos do ambiente e sentiu-se mais aliviada.
Logo, esta classe de comportamentos é mantida por Reforçamento
Negativo.
78
Relato 20:
P5) “Às vezes a minha mãe tá lavando roupa. Ela tem mais disposição do que eu. Ela lava
roupa duas a três vezes por semana. Aí, se ela vê uma sujeirinha no chão, ela fica: “Ah,
porque não tem quem faça isso pra mim, porque eu não posso fazer limpeza...” Eu não
faço, não posso fazer nem pra mim. É que os outros acham que eu tenho que ajudar. De
tanto ela falar, eu sinto mal e vou embora pra minha casa. Quando eu chego na minha
casa, eu fico lá sentada, deito um pouco, sinto tristeza. Eu fico pensando, minha cabeça
fica assim... Vejo tudo errado e não reclamo... Não compensa.”
“Por tudo o que eu já passei na minha vida, eu não gosto de reclamação. Eu não gosto de
contar que está faltando isso, que está faltando aquilo. Gosto de ficar quieta. Tudo que eu
faço, eu faço quieta. Não gosto de ficar dando satisfação da minha vida pra ninguém.”
Quadro 20: Análise comportamental do Relato 20
Diante dos estímulos discriminativos (Sds):
1. Mãe dizer que sua casa está suja
2. Mãe dizer que não tem ninguém para ajudá-la a limpar a casa
3. Ver a mãe lavando roupa
P5 apresentou as respostas:
1. Sentir-se mal
2. Sentir-se triste
3. Pensar de que tudo está errado
4. Pensar que não faz nem para ela
5. Ficar sentada
6. Deitar
Como conseqüência, esquivou-se, indo embora e ficando quieta.
Logo, essa classe de comportamentos se mantém por Reforçamento
Negativo.
6) Verbalizações que exemplificam situações ocorridas na história de vida que
possam ter contribuído para a depressão
6.1) Situação que indica pouco repertório para se esquivar de situações aversivas
79
Exemplo 1 – Relato:
P5) “Eu tinha que falar pra ela que eu ia ser enfermeira. Porque ela não saia do hospital.
Ela ia lá atrás de mim direto vigiar, ela via eu de jaleco. Aí eu tive que falar pra ela. Aí,
quando a minha patroa — que era a esposa do dono do hospital — falou assim: “Olha, a
partir de tal dia você passa a ser enfermeira. Você vai pra centro cirúrgico, a gente vai
fazer um acordo, só que você vai continuar estudando.” Aí minha mãe falou: “Não, de
enfermeira você não trabalha. Você vai ficar trabalhando de limpeza”. Aí eu pedi a conta.
Aí a minha patroa, que era a esposa do dono do hospital, quase chorou, porque ela queria
tanto me ajudar... Aí eu fui trabalhar na casa da doutora como doméstica. Eu penso,
porque era o sonho da minha vida ser enfermeira. Estudar e ser alguma coisa. Eu me senti
muito triste de não conseguir. Aí eu fui trabalhar de bóia-fria com a minha mãe, porque
ela queria que eu ficasse perto dela 24 horas. Sempre tive que fazer o que ela quis, nunca o
que eu quis. Se não, apanhava.”
Exemplo 2 – Relato:
P5) “Eu tava grávida de 4 meses da minha filhinha mais nova. Aí ele deixou de me
procurar. Vinha lá de vez em quando, assim, muito difícil. Só que isso durou uns doze anos.
Eu ficava totalmente transtornada, assim. Se fosse ficar lá um mês e meio, dois meses... e
pra um homem é difícil! Mas 12 anos... Eu ia na farmácia, e eles vendiam um calmante.
Podia vender 5 miligrama pra mim. Então eu me acalmava com esse calmante. Eu dormia,
eu tomava pra dormir pra poder esquecer. Ele conversava normal, ele vinha, falava, a
gente nunca brigava, nada. Só que ele deitava bem na beira da cama, quase caindo pra
não encostar em mim. Já era uma coisa praticamente normal. Às vezes ele perguntava se
eu tinha tomado o remédio. Eu até criei coragem e um dia perguntei pra ele por que ele
tava fazendo isso, e ele disse: “Ah, porque eu tô cansado.” Eu também não achava que eu
tinha que me humilhar pra ele. Do jeito que ele se comportava eu me comportava também.
Aí eu achava, nossa, muito feio de procurar ele. Ele que tinha que me procurar. Tinha
noite que eu chorava a noite inteira, e ele não percebia. Eu tampava o rosto e chorava,
chorava, chorava.”
“...Eu pensava em separar dele. Eu esperava que a minha filha pegasse 4 anos pra gente
se separar. Eu achava que a minha vida não era normal. Todo mundo tinha uma vida
diferente, um carinho diferente do esposo que eu não tinha. Eu esperava ela fazer 4 anos
pra separar, só que depois eu falei: “Quem sabe, vai melhorar.” Aí fui levando, fui
levando, ai veio filho, veio 5 gestação, tive 2 eclampsias. Aí veio meu filho e foi indo e eu
falei: “Não. Eu tenho que mostrar que eu casei e eu vou morrer com um homem só. Porque
a minha mãe já foi separada e doeu muito pra nós, os filhos. Ficamos com muita revolta.”
Exemplo 3 – Relato:
P5) “Eu tinha vontade de ir embora de casa. Mas os outros falavam: “Você vai embora,
vão falar que você é uma moça que não presta. Todo mundo vai falar que você não presta.
A polícia vai te pegar e trazer você de volta.” Eu tinha vontade de ir embora de casa
porque eu tinha vontade de estudar. E ela [mãe] não deixava eu estudar. Depois eu
comecei a trabalhar num hospital. Eu tinha um sonho de ser enfermeira. Eu tinha o maior
sonho de ser enfermeira e ela falava que todas as enfermeiras não prestava.”
80
6.2) Situação que indica baixa incidência de reforço positivo
Relato:
P5) “Tive que cuidar dos meus irmão e da casa, tive que trabalhar pra ajudar a cuidar.
Trabalhava na roça desde pequena. Eu tinha sete anos. Eu ia pra escola, voltava pro sítio,
voltava pra casa, guardava meus material e ia trabalhar com meu pai. Sabe, cafezal? Eu ia
limpar os troncos de café com as mãos. Tem 4 pés de café. Eu ia limpando todas as
folhas... isso era trabalhar. Se eu fosse levar almoço, se eu fosse ficar em casa pra levar
almoço, eu tinha que, enquanto eles almoçavam, eu tinha que trabalhar. Mais eu
trabalhava do que a minha mãe, porque a minha mãe ficava em casa cuidando dos filhos e
eu trabalhava.”
6.3) Situação que indica punições freqüentes na história de aprendizagem
Exemplo 1 – Relato:
P5) “Ela sempre me batia na frente dos outros. Era assim, se viesse uma amiga e falasse
assim pra ela: “Você deixa a P5 ir lá na minha casa agora?” A gente morava numa cidade
que tinha assim, um monte de casa de aluguel, e bastante gente de domingo ficava
conversando. Moças, moços, todo mundo lá fora conversando. Aí sempre tem uma
amiguinha que a gente se dá mais. Ela respondia: “Deixo.” Mas eu tinha que falar: “Não,
eu não quero ir.” Eu não podia ir. Aí eu falava: “Eu não quero ir.” porque eu sabia que eu
apanhava. Aí a amiga falava: “Vamos, vamos, vamos!” Aí um dia eu falei: “Mãe a
senhora deixa mesmo? Eu posso ir?” “Pode, pode ir.” Aí eu caminhei 10 metros com a
menina, quando eu percebi o meu cabelo já tava na mão dela e ela me bateu tanto, tanto
que eu voltei espancada pra dentro. A minha amiguinha continuou andando de volta pra
casa dela e o povo tudo se revoltou. Todo mundo viu e ficou super revoltado.”
Exemplo 2 – Relato:
P5) “A minha vida era ficar em casa, fazendo serviço de casa, porque eu sou evangélica e
até pra eu sair pra igreja, eu tinha que levantar cedo. Ficava fazendo serviço de casa, fazia
café, deixava a casa mais ou menos arrumada cedo. E a reunião de jovens era sempre nove
horas. E eu ia forçada, porque eu insistia, ainda porque eu gostava de ir na igreja. E se
fosse pelo gosto dela [mãe] acho que eu nem ia. Eu gostava de ir toda a semana. Reunião
de mocidade, sempre tinha aquelas excursão. Aí eu chorava muito, apanhava muito mas eu
ia dentro do ônibus com o olho tudo vermelho. Porque algumas poucas vezes, depois de eu
apanhar muito, ela deixava eu ir. Ela queria criar eu igual ela foi criada: assim, presa na
mão dela.”
“...Uma vez, eu tava sentada de um lado da igreja — não vai achar que eu tô falando mal
da minha mãe — Ela sentava do outro lado. Aí eu olhava assim para o lado dos
irmãozinho, dos mocinho e ela fazia assim pra mim [mostra como a mãe batia]. Era muito
complicada a minha vida.”
81
Exemplo 3 – Relato:
P5)“Quando eu quis arrumar um namorado, ela [mãe] já quis que ele falasse com ela, que
ele casasse, que ele tinha que casar logo e tal. E quando ela queria. Com quem ela
gostava, nunca foi com quem eu quis ou com quem eu gostava. Se eu conseguisse arrumar
alguém que me interessava, ela nunca queria. Falava que não queria e pronto. Eu não
podia sair de casa. Ela falava que não e pronto.”
“...O dia que ela não tava eu conversava. Teve uma vez que eu tava com um namoradinho
que é esse que é o meu esposo e tinha uma praça grande. E aquela praça era numa
avenida que lotava e no meio era um canteiro. Uma praça muito bonita, cheia de escada.
Aí ela subia a escada, eu tinha que subir junto. Aí, chegava lá na frente, ela ia descer a
escada, eu tinha que descer junto. Eu fui muito sofrida. Ela me pegou conversando com
ele, e aí eu apanhei tanto, mas tanto, que voltei praticamente arrastada pra casa.”
82
DISCUSSÃO
O presente estudo investigou comportamentos de cinco pessoas com diagnóstico de
depressão. Objetivou-se interpretar os comportamentos depressivos de maior freqüência
apresentados em cada uma destas pessoas com base nos princípios da Análise do
Comportamento.
A discussão proposta não tem a pretensão de mostrar todos os processos que
envolvem a determinação do comportamento depressivo, e sim interpretar, com base nos
princípios da Análise do Comportamento, algumas relações selecionadas e descritas nos
casos estudados.
A presente pesquisa não se propôs a atender a nenhum dos critérios de prevalência
do transtorno depressivo para a seleção dos participantes e, dessa forma, não teve a
preocupação de parear os dados encontrados com dados epidemiológicos da literatura.
Porém, algumas informações desta vertente merecem destaque.
De acordo com dados de Kaplan e Sadock (1999), o transtorno depressivo acomete
mais mulheres do que homens. A variável sexo não foi fator de exclusão para o estudo. Os
participantes estudados foram quatro do sexo masculino e um do sexo feminino, o que pode
ser considerado um dado curioso. Todavia, a amostra em questão correspondeu aos índices
de prevalência relacionados à idade, que afirmam taxas maiores de depressão em adultos
jovens e pessoas de meia idade (os participantes tinham entre 39 e 53 anos). Em relação ao
estado civil, todos os participantes eram casados e tinham filhos, dados diferentes dos que
afirmam fator de maior risco para separados e divorciados.
Todos os participantes estavam em idades produtivas e tinham uma profissão,
embora nenhum deles estivesse empregado. Apenas um dos participantes fazia “bicos”
(pequenos serviços informais). Um deles estava aposentado devido às condições
incapacitantes de saúde, dois recebiam benefícios governamentais e estavam
desempregados e dois recebiam benefícios governamentais afastados do emprego.
Em relação à escolaridade, dois participantes tinham o ensino médio completo e
dois tinham o ensino fundamental completo. Apenas um dos participantes concluiu o
ensino superior. A renda familiar variou entre eles de 2 a 10 salários mínimos.
83
Quanto à religião, os cinco participantes professaram uma religião. No entanto, este
dado não foi considerado para o estudo em questão, pois o comportamento religioso não
surgiu como relevante nos relatos analisados.
Os casos estudados seguiram o critério de chegada para a triagem. Os cinco
primeiros sujeitos que apareceram corresponderam aos critérios de inclusão do estudo e,
logo, foram aceitos. O fato dos participantes serem em maior número homens, assim como
outros dados pessoais e de caracterização, ocorreu ao acaso para a pesquisa. Por esse
motivo, e por ser uma amostra pequena, dados como os citados não podem ser
generalizados.
Com relação aos dados da depressão, quatro participantes apresentaram intensidade
moderada dos sintomas e um apresentou intensidade leve dos sintomas. Esses resultados
seguiram os critérios da CID 10 (1993) em que consta que a finalidade de quantificar a
gravidade da doença e o nível de comprometimento do indivíduo acometido refere-se
principalmente ao quanto estes sintomas debilitam o sujeito em termos do seu
funcionamento. Outro critério utilizado foi o BDI (Cunha, 2001) que fornece resultados em
termos da intensidade da depressão classificando-a em leve, moderada ou grave.
Todos afirmaram que estavam em acompanhamento psiquiátrico. O tempo de
acompanhamento variou em cada um deles de 14 anos a 2 meses. Este dado diferenciou-se
da informação referente ao tempo que relataram ter sintomas de depressão, variando de 10
a 16 anos. Três participantes afirmaram que apresentavam sintomas de depressão desde a
infância. Isso quer dizer que quatro dos participantes apresentavam sintomas da depressão
há alguns anos antes de procurar ajuda médica.
Os motivos que os fizeram procurar ajuda psiquiátrica apareceram posteriormente,
durante as entrevistas. Quatro participantes relataram que a época da procura pelo
psiquiatra coincidiu com a descoberta de que sintomas como tristeza e angústia eram
características de uma doença. Um dos participantes afirmou que tinha sintomas da
depressão há muitos anos mas tinha muita vergonha de procurar um médico por motivos
como tristeza e desânimo, não achando que isso poderia ser doença; somente com a difusão
da depressão nos meios de comunicação e na sociedade é que decidiu procurar ajuda. Esse
mesmo dado apareceu em outros três participantes, diferenciando-se apenas em um deles
84
que afirmou que sempre consultava médicos que lhe instruíam da gravidade de seus
sintomas depressivos.
Quanto à medicação, esta ficou dividida entre os psicofármacos utilizados por todos
os participantes para o tratamento farmacológico da depressão e fármacos para outras
doenças. O efeito dessas medicações, sejam elas psiquiátricas ou não, podem causar
alterações indesejadas no organismo, como, por exemplo, os efeitos colaterais. Por esse
motivo, foi considerado pertinente desconsiderar, na análise comportamental, sintomas
como sonolência, perda da libido e agitação motora, sobretudo por ser difícil distinguir se a
resposta era decorrente do efeito das medicações em uso ou não.
Os participantes afirmaram ter outras doenças concomitantes com a depressão no
momento da coleta de dados e estarem em tratamento médico devido a elas. Destacaram-se:
diabetes, hipertensão, insuficiência cardíaca, hipotireoidismo, dislipidemia em P1;
hipertensão em P2; diabetes, hipertensão, osteófito calcâneo e dislipidemia em P3;
hipertensão e insuficiência cardíaca em P4; tendinite e artrose em P5. A literatura aponta
que, na prática, pode ser muito difícil para o profissional de saúde reconhecer a depressão
como algo “a mais” além de uma doença física que o paciente apresenta. Dois erros são
levantados: por um lado, pacientes deprimidos não são diagnosticados devido à crença de
que sintomas depressivos são uma resposta normal a doenças físicas que ameaçam ou
alteram drasticamente a vida de alguém; no extremo oposto, faz-se o diagnóstico de
depressão em pacientes com tristeza ou com sintomas físicos unicamente causados pela
doença de base (Botega, Furlaneto & Fráguas, 2002). A depressão foi o diagnóstico
psicológico mais associado a condições físicas. Esse transtorno foi associado com
complicações no curso de muitas doenças, dentre elas diabetes e problemas cardíacos
(Stoudemire, 2000).
Entre os sintomas de outros quadros psiquiátricos que apareceram juntamente com
os sintomas da depressão, foram observados comorbidades cujo diagnóstico principal é a
Depressão. Em P1, comportamentos relacionados a ansiedade e comportamentos de
manipulação; em P2, comportamentos de fobia social e outros comportamentos
semelhantes a crises de pânico; em P3, comportamentos fóbicos e paranóides; e em P4,
comportamentos característicos da distimia. P5 foi a única participante que mostrou ter os
comportamentos depressivos aparecendo com maior destaque do que comportamentos de
85
qualquer outro transtorno, assemelhando-se, principalmente, a comportamentos de um
quadro de depressão grave.
Todos os participantes afirmaram que apresentavam prejuízos sociais, familiares e
no trabalho decorrentes da depressão. A freqüência semanal dos sintomas manteve-se entre
duas a cinco vezes na semana.
O BDI, instrumento escolhido para complementação diagnóstica e para a seleção de
comportamentos, teve resultados diferentes em cada participante. Foram selecionados as
atitudes e sintomas mais intensos em cada um. Em P1: indecisão, dificuldade de trabalhar,
fatigabilidade, perda de apetite, perda da libido e irritabilidade. Em P2: pessimismo,
sentimento de fracasso, auto-acusações, choro, retraimento social, indecisão, dificuldade de
trabalhar, insônia e preocupações somáticas. Em P3: indecisão, dificuldade de trabalhar,
mudanças na auto-imagem e insônia. Em P4: tristeza, punição e dificuldade de trabalhar e,
em P5: tristeza, pessimismo, sentimento de fracasso, culpa, choro, mudanças na auto-
imagem, dificuldade de trabalhar, preocupações somáticas e perda da libido.
Os comportamentos selecionados durante a primeira entrevista relatados pelos
participantes foram: Em P1: ficar no quarto fechado, chorar, não comer, sentir-se
angustiado, sentir-se amargurado, insônia e sentir-se passivo. Em P2: ficar quieto,
indisposição, ficar somente deitado, ficar angustiado e não querer conversar. Em P3: ficar
isolado, sentir-se fracassado, chorar e ficar quieto. Em P4: ficar sem disposição, ficar sem
vontade, sonolência, desânimo, nervosismo, cansaço, choro, sensação de abatimento,
remoer os pensamentos e angústia. Em P5: dores no corpo, pensamentos sobre morte,
irritação, não conversar com as pessoas e insatisfação. Esses resultados referem-se à
descrição de sentimentos e pensamentos considerados por cada participante como
depressão.
De acordo com de Rose (1982) à medida que as pessoas enfocam seus sintomas, só
conseguem discriminar o que sentem ou pensam. Esses sentimentos e pensamentos podem
ser relatados como sintomas depressivos. Os sentimentos, de acordo com Skinner (1974),
são um tipo de ação sensorial, como ver e ouvir. Discriminar aquilo que se sente ou falar
sobre isso são comportamentos aprendidos, produtos da comunidade verbal que ensina a
descrever o que se faz, o que se pensa e o que se sente (Skinner, 1995). Comportamentos
emocionais podem ser associados com reforçamento insuficiente, extinção e punição.
86
Respostas emocionais podem ocorrer em respostas a esses processos, os quais são
estímulos não condicionados para comportamentos problemáticos (Dougher & Hackbert,
1994).
Dentre todos os comportamentos apresentados pelos participantes optou-se por
analisar o comportamento de maior freqüência em cada um deles. Após a análise da
freqüência comportamental, em P1 foi escolhido “culpa”; em P2, “não querer conversar”;
em P3, “medo”; em P4, “angústia”; e em P5, “dificuldade para desempenhar as atividades
do dia”. Cada comportamento selecionado sugeriu, durante a análise das entrevistas, que
outros comportamentos, além dos selecionados, compunham uma mesma classe de
respostas em cada participante.
Os comportamentos de maior freqüência apresentados pelos participantes podem ser
analisados como excessivos ou deficitários. Muitas vezes estes são conceitos determinados
pela avaliação cultural do comportamento, baseada nas conseqüências deste para outras
pessoas. Kanfer e Saslow (1976) definiram excessos comportamentais como uma classe de
comportamentos relacionados que ocorrem e são descritos como problemáticos pelo
indivíduo, devido a excesso em freqüência, intensidade, duração ou ocorrência, sob
condições em que sua freqüência socialmente aceita é baixa. Comportamentos apresentados
por P1 — “culpa” (e classes de comportamentos afins), P3 — “medo” (e classes de
comportamentos afins) e P4 — “angústia” (e classes de comportamentos afins) podem ser
considerados como excessos comportamentais.
Déficits comportamentais, de acordo com os mesmos autores, fazem parte de uma
classe de respostas que é descrita como problemática porque deixa de ocorrer com
suficiente freqüência, com intensidade adequada, de maneira apropriada ou sob condições
socialmente previstas. Os comportamentos apresentados como de “não querer conversar” (e
classes de comportamentos afins) e “dificuldade para desempenhar as atividades do dia” (e
classes de comportamentos afins) podem ser considerados como déficits comportamentais.
Os estímulos discriminativos selecionados que fizeram parte da análise
comportamental dos relatos estiveram relacionados principalmente a problemas familiares e
a dificuldades nas relações sociais. Alguns exemplos de estímulos discriminativos para o
comportamento de cada participante estão descritos a seguir:
87
P1: “Se alguém começa a falar qualquer coisa que deu errado ou começa a brigar
comigo, mesmo que não tenha nada a ver comigo, na metade eu já começo a me
culpar” (Estímulo discriminativo em situação social)
“Quando algum desses credores liga pra casa cobrando, me dá um medo, me dá
uma angústia...” (Estímulo discriminativo em situação social)
“Sábado de manhã minha filha já falou: “Não pai, eu vou comprar as coisas pra
fazer crepe, tal. O meu namorado vai trazer a máquina. (...) Já fiquei chateado.”
(Estímulo discriminativo em situação familiar)
P2: “Às vezes eu vou perguntar a hora para aquela pessoa porque eu não gosto de
andar de relógio. Aí eu fico: “será que eu pergunto, não pergunto...” (...) Tenho
uma vergonha....” (Estímulo discriminativo em situação social)
“Às vezes, eles [esposa e filhos] querem ir na casa de um parente, uma irmã, um
irmão... Eu não vou. Já aviso ela antes que não precisa nem me convidar.”
(Estímulo discriminativo em situação familiar)
P3: “A minha filha chega 6 horas. Aí ela chega e fala: “Eu vou assistir a novela,
pai.” Aí, por exemplo, eu já tô no canal que eu gosto. Aí ela vai, já pega e muda.”
(Estímulo discriminativo em situação familiar)
“Quando eu tenho que sair pra rua pra fazer alguma coisa, é ruim. Aí eu tenho
aquele medo de sair, assim, para fora. De sair, sei lá, e acontecer alguma coisa
ruim comigo.” (Estímulo discriminativo em situação social)
P4: “Me deu muito nervoso dele [colega de trabalho] “passar a perna” em mim. Ir
falar que eu não tava fazendo o serviço direito.” (Estímulo discriminativo em
situação social)
“Eu fico pensando: “Por que eu não fui aprovado num emprego.” Isso, mais uma
vez, aconteceu.” (Estímulo discriminativo em situação social)
P5: “Tem vezes que nem ela quer conversar comigo também. Não sei por quê. Ela
senta e não conversa. É difícil... não sei.” (Estímulo discriminativo em situação
familiar)
“De tanto ela [mãe] falar, eu sinto mal e vou embora pra minha casa.” (Estímulo
discriminativo em situação familiar).
88
Dougher e Hackbert (1994) afirmaram que a depressão pode estar acontecendo sob
o controle de estímulos, por exemplo, em situações que foram aprendidas durante a história
de vida como aversivas. Isto significa que comportamentos depressivos estão sob controle
de estímulos, sendo considerados, portanto, operantes condicionados; o estímulo se tornou
discriminativo para a resposta depressiva. Comportamentos como chorar ou outros
excessos comportamentais podem ser operantes condicionados.
Nos casos analisados, interpretou-se que os comportamentos depressivos de alta
freqüência nos participantes eram mantidos por reforçamento negativo. Isso quer dizer que
as conseqüências destes comportamentos envolveram esquivas de situações aversivas.
Alguns relatos selecionados a seguir sugerem essa função.
P1: “Eu quero ficar quieto em um canto e não escutar nada sobre aquele assunto.”
“Só que daí eu vou pro quarto, fico emburrado 3 horas.”
P2: “Procuro evitar de ter que falar com alguém...”
“Eu tô encostado, tudo, mas não comento essas coisas. Eu evito comentário...”
P3: “Por isso eu fico assim sozinho, isolado. Isso me dá muita tristeza.”
“Quando eu saio, assim, eu tenho medo, eu não me aproximo de pessoas
estranhas.”
P4: “Eu fiquei hoje o dia inteirinho rolando de lá pra cá no quarto e não tô bom
ainda.”
P5: “Gosto de ficar quieta. Tudo que eu faço, eu faço quieta. Não gosto de ficar
dando satisfação da minha vida pra ninguém.”
“Eu fui pro quarto e não queria ver ninguém.”
O comportamento de se esquivar de situações aversivas apareceu em todas as
análises feitas das contingências atuais dos comportamentos de maior freqüência nos
participantes. Pode-se supor que em algum momento de suas vidas, os participantes
aprenderam a se comportar esquivando-se de situações aversivas e continuaram se
comportando dessa maneira numa freqüência elevada. Em outras palavras: certos estímulos,
por terem precedido a apresentação de estímulos aversivos no passado, tornaram a resposta
de esquiva mais provável. Assim, pode-se dizer que os participantes aprenderam a função
aversiva de determinados estímulos. Como afirmou Ferster (1973), a pessoa deprimida
empenha-se com alta freqüência em comportamentos de esquiva e de fuga de estímulos
89
aversivos que se traduzem por queixas e pedidos de ajuda. A pessoa queixa-se, com
freqüência, que se sente mal, chora e fala sobre suicídio, queixa-se de cansaço e de doença.
Essas contingências continuam a fazer parte do repertório do indivíduo, principalmente
porque este tipo de atitude produz alívio.
O mesmo autor enfatizou que é muito difícil uma pessoa sobreviver quando seu
repertório se limita a comportamentos que fazem cessar, reduzem ou previnem sensações
aversivas. Para o autor esse tipo de situação explica, em parte, o desenvolvimento de
comportamentos depressivos.
O tema suicídio apareceu em dois casos analisados. Exemplo de uma situação
ocorrida com a Participante 5:
P5: “Eu tava lá trabalhando com os bóias-fria e carpi um pezinho errado. Acabei
cortando a folha. Ela [mãe] começou a me repreender no meio de todo mundo. Me
bateu até. Eu fui me afastando e fui chorar lá atrás perto da represa, onde ninguém
podia me ver. Não pensei duas vezes e me atirei lá dentro. Minha vida era tão ruim
que eu queria morrer mesmo... Fui resgatada pelo grupo que viu a tempo, se não eu
tinha morrido ali mesmo.”
De acordo com a literatura, exceto nos casos em que é manipulativo, representa a
expressão máxima de esquiva da aversividade relacionada às experiências da vida.
No trabalho apresentado, buscou-se a relação entre os comportamentos de maior
freqüência analisados e os acontecimentos na história de vida dos participantes. Sabe-se
que comportamentos advêm de uma história de aprendizagem, e para conhecer a origem
desses comportamentos foi preciso observar a história de vida de cada participante. Isso
quer dizer que a história de aprendizagem dos comportamentos tem um papel fundamental
e esclarecedor no que compete à atuação das pessoas. Segundo Meyer (2003), variáveis
históricas levam à identificação de variáveis contemporâneas que afetam o comportamento
e que são controláveis. O conhecimento da história nos dá informações sobre a maneira
pela qual o sujeito tende a se comportar em função da aprendizagem e dos esquemas de
reforçamento a que foi submetido.
Muitos dos dados apresentados na história de vida dos participantes são evidências
relacionadas ao comportamento presente em cada um. A maneira como aprenderam a se
comportar na presença de determinados estímulos (no caso, estímulos aversivos) foi
90
generalizada para outras situações semelhantes e isso fez com que eles mantivessem esses
comportamentos inadequados ao ponto de desenvolverem comportamentos prejudiciais,
como os da depressão. Esses dados vão de encontro com o que apontou García et al. (2006)
em seu estudo da aplicação da Análise Funcional em uma paciente deprimida, onde afirmou
que normalmente esses comportamentos estão sob controle de estímulos discriminativos
aversivos e que os problemas depressivos podem envolver pensamentos, percepções,
sentimentos e lembranças que ocorreram no passado.
Após a análise comportamental das falas dos participantes pôde-se perceber que
existem algumas condições que favorecem o surgimento da depressão. Dentre elas, pode-se
destacar o histórico de punições freqüentes, observado em todos os participantes do estudo,
principalmente no que se refere a práticas educativas coercitivas. Os relatos de alguns dos
participantes indicam alguns exemplos:
P1: “Teve uma vez que eu apanhei de vara de marmelo que eu lembro mesmo. A
outra eu apanhei com fivela de cinta.”
P3: “Quando eu tinha uns 14 anos mais ou menos, eu tentei me matar depois de
tanto que eu apanhei. Arrumei uma corda e me pendurei pelo pescoço. Aí a minha
mãe apareceu e falou que aí que ela ia me bater mais.”
P5: “Aí eu caminhei 10 metros com a menina, quando eu percebi o meu cabelo já
tava na mão dela [mãe] e ela me bateu tanto, tanto que eu voltei espancada pra
dentro.”
Sidman (1995) destacou a generalização de comportamentos de fuga e de esquiva
entre os efeitos colaterais da coerção. Afirmou que comportamentos de fuga e de esquiva
que parecem não ter explicação plausível podem ser explicados por meio do controle
coercitivo ocorrido no passado de um indivíduo. Inclusive, muitos dos transtornos
psiquiátricos poderiam ser entendidos através de comportamentos de fuga e esquiva
aparentemente desnecessários ou não adaptativos, selecionados a partir de uma história de
coerção.
Ferster (1973) discutiu que comportamentos característicos da depressão,
entendidos como a diminuição na freqüência de comportamentos adequados e o aumento de
certos comportamentos inadequados, também poderiam ter a função de esquiva e serem de
origem coercitiva.
91
Dougher e Hackbert (1994) definiram pais críticos e que exigem demais de seus
filhos como uma condição punitiva que poderá intervir no desenvolvimento de
comportamentos depressivos, pois a repetida exposição à estimulação aversiva resultaria na
redução comportamental generalizada, isto é, na diminuição de certos comportamentos.
Um outro aspecto relevante no estudo foi a perda de reforçadores positivos ao longo
da vida, apresentados mais intensamente por dois participantes. Os participantes
apresentaram uma redução das atividades positivamente reforçadas principalmente em
decorrência de terem muitos déficits comportamentais. Temas como a perda de um
emprego apareceram em momentos variados da história de vida em todos os participantes.
O desemprego inclui outras perdas, como de status, de dinheiro e de ocupação. Alguns
relatos que exemplificam a perda de reforçadores positivos:
P1: “Mudamos pra cá primeiro por causa que meu pai perdeu tudo lá na nossa
cidade. Foi roubado e nós não tínhamos nem o que comer..”
“Antes eu tinha 4 carros na garagem, tudo carro bom. Várias casas de aluguel.
Pagava boa educação pro meus filhos, viagens, passeios... dava tudo do bom e do
melhor pra mim e principalmente pra minha família. Depois que eu perdi tudo virei
esse escroto, esse lixo que sou hoje.”
P4: “O emprego que eu mais fiquei era numa firma aí. Aí foi mais de dez anos. Que
maravilha! Depois já mandou sair. Aí você fica, trabalha dois meses, três meses,
seis meses, oito meses. É mandado embora e a firma não contrata.”
Também relacionado à história de vida, verificou-se uma baixa incidência de
reforçamento positivo durante a infância, vinculado ao excesso de práticas educativas
coercitivas. Quatro dos participantes relataram que começaram a trabalhar desde a infância,
o que impedia a busca por atividades que pudessem ser reforçadoras. É muito difícil saber
claramente se a pessoa deprimida se comporta de determinada maneira devido à ausência
de comportamentos positivamente reforçados, ou se o comportamento motivado pela
estimulação aversiva impede o comportamento positivamente reforçado. Exemplos:
P4: “Então a gente tinha 6, 7 anos, e por causa disso passou a trabalhar e o que era
pra fazer os estudos, não podia estudar. Foi 7 anos que eu fiquei sem ver a minha
mãe.”
92
P5: “Tive que cuidar dos meus irmão e da casa, tive que trabalhar pra ajudar a
cuidar. Trabalhava na roça desde pequena. Eu tinha sete anos. Eu ia pra escola,
voltava pro sítio, voltava pra casa, guardava meus material e ia trabalhar com meu
pai.”
Quatro dos participantes relataram ter tido poucos amigos e poucas relações sociais
durante a vida, o que indica um baixo repertório de comportamentos que favoreçam a
obtenção de reforço positivo em ambientes sociais, que pode ter sido desenvolvido devido à
falta de contato com pessoas e lugares diferentes. E, principalmente, por terem sido criados
em ambientes coercitivos, não tiveram oportunidade de desenvolver comportamentos
socialmente habilidosos. Alguns exemplos:
P2: “Desde pequeno eu fui assim... Se eu perguntar pra alguém, eu penso que a
pessoa vai me responder mal, que a pessoa não vai gostar. Tenho vergonha de
chegar e perguntar. Então eu já tenho isso desde pequeno.”
“Não fui nem na minha formatura de oitava série (...) a única pessoa da sala que
não foi, fui eu, porque eu tinha vergonha.”
P3: “Não sou de falar muito não. Assim, quando eu trabalhava no serviço, eu só
falava o necessário. Desde moleque, desde rapaz novo eu nunca fui assim de ficar
conversando (...)”
Dougher e Hackbert (1994) comentaram que vários teóricos apontam a falta de
reforçamento social como particularmente importante para o início e manutenção da
depressão. A causa apontada por eles para a falta de reforços sociais foi a falta de
habilidades sociais ou repertório social. Alguns autores (Lewinsonh, 1974; Libet &
Lewinsohn, 1973 apud Dougher & Hackbert, 1994) atribuem à depressão a falta de
habilidades sociais. A falta de reforços sociais também pode influenciar no
desenvolvimento de comportamentos depressivos.
Histórias de coerção podem ser variáveis importantes no desenvolvimento do
funcionamento por reforçamento negativo nos participantes. Segundo Dougher e Hackbert
(1994) eventos relacionados com a extinção ou a punição evocam comportamentos de
esquiva que são mantidos por reforçamento negativo. No entanto, como nos seres humanos
o comportamento verbal está operando, muitas vezes os comportamentos de esquiva
continuam sendo mantidos mesmo na ausência de estímulos concretos. Como resultado, o
93
sujeito continua se esquivando de cada vez mais estímulos e não desenvolve
comportamentos que possam ser positivamente reforçados, de modo que o reforçamento
positivo permanece baixo. Isso corrobora as afirmações de Sidman (1995) sobre os efeitos
maléficos da coerção: quando uma pessoa se desenvolve sob processos de reforçamento
negativo e punição, ela acaba se comportando por esquiva em várias áreas de sua vida, isto
é, o comportamento de esquiva estende-se cada vez mais, generalizando-se.
Vários acontecimentos podem ter sido variáveis que contribuíram para o
desenvolvimento de comportamentos depressivos. Observando-se tantas influências na
determinação dos comportamentos percebe-se que não há um acontecimento relevante, mas
uma somatória de diferentes situações que podem ser importantes para o desenvolvimento
destes comportamentos na vida de cada participante. Kanfer e Saslow (1973) afirmaram
que nenhum ambiente familiar específico, nenhuma experiência traumática, nenhuma
anormalidade constitucional conhecida pôde, até agora, ser apontada como resultado de um
padrão de comportamento desorganizado.
De acordo com Bolling, Kohlenberg e Parker (1999) a análise da função dos
comportamentos depressivos representa uma possibilidade de selecionar e confirmar que os
caminhos do comportamento se adaptam às circunstâncias.
94
CONCLUSÕES
Os trabalhos que se propõem a estudar a depressão geralmente se centram nos
aspectos fisiopatológicos da doença, no uso de categorias de sintomas e sinais que
compõem seu diagnóstico ou no tratamento farmacológico da mesma. Esta proposta
distinguiu-se das outras pela análise da função dos comportamentos depressivos.
A Análise Funcional utilizada como método para analisar a função dos
comportamentos mostrou-se uma escolha adequada, pois correspondeu à proposta. Um
diferencial deste trabalho foi analisar a freqüência dos comportamentos, o que clareou e
objetivou os dados.
Apesar do estudo em questão propor a análise individual dos relatos de cinco
pessoas deprimidas, os dados puderam ser agrupados e discutidos em conjunto devido às
semelhanças entre eles, principalmente em relação às funções que apresentaram. Os
comportamentos selecionados para a análise foram aqueles que apareceram em alta
freqüência em todos os casos. As contingências de reforçamento negativo e as
contingências de punição foram identificadas nesses comportamentos estudados. O estudo
valorizou comportamentos individuais, e não grupais.
Concluiu-se que as classes de comportamentos de maior freqüência são mantidas
por reforçamento negativo, e que os participantes, portanto, vivem em contingências
coercitivas.
Em relação às histórias de vida e de aprendizagem, observou-se que os
comportamentos analisados também foram aprendidos em contingências coercitivas,
principalmente de punição e de reforçamento negativo; observaram-se ameaças e atuações
constantes de punição provenientes dos pais na história de infância e adolescência, assim
como poucos reforçamentos positivos provenientes dos pais. Comportamentos
desenvolvidos em contingências coercitivas levam a um desenvolvimento deficitário de
repertórios alternativos. A pessoa varia pouco e não é exposta a situações que a levariam a
adquirir novos comportamentos. Sabendo que os mesmos são aprendidos e construídos a
partir da história de aprendizagem, verificou-se a relação existente entre a história de cada
um e o desenvolvimento da depressão.
95
A existência de uma relação entre a história de vida coercitiva e depressão não
pretende afirmar que existe uma determinação, ou seja, que por causa de uma história de
vida coercitiva os comportamentos da depressão foram desenvolvidos, visto que seria
impossível saber com certeza quais as contingências que controlavam os comportamentos
na época. O dado é válido, sobretudo, para sugerir a história como algo a suplementar o
diagnóstico, ou a análise comportamental da depressão, principalmente no contexto clínico.
Concluiu-se que os comportamentos da depressão desencadeiam uma série de
outros problemas associados com a baixa freqüência de busca de reforçadores positivos,
traduzidos como busca de coisas agradáveis e que possam trazer satisfação individual,
como praticar um esporte, cozinhar, caminhar ou ler. Esses comportamentos deixam de
ocorrer e, assim, a pessoa deprimida passa a ser rejeitada e não se enquadra mais no
contexto social ao qual pertence, tornando-se uma pessoa desagradável e evitada por todos,
o que colabora ainda mais para agravar o seu quadro.
As perdas também foram aspectos fundamentais para o desenvolvimento da
depressão, assim como se observa em dados da literatura. Os participantes relataram muitas
perdas ao longo da vida e a questão central está relacionada ao baixo repertório de
enfrentamento que possuem ao perderem um emprego, um ente querido ou algo
significativo; simplesmente não possuem repertório para lidar com tais perdas.
É válido ressaltar que o uso de medicação antidepressiva era constante, embora a
melhora do quadro fosse apenas temporária. Como hipótese, pode-se sugerir que
dificilmente a medicação soluciona a depressão atuando fisiologicamente de maneira eficaz
se as contingências permanecem inalteradas, reforçando o indivíduo a se comportar de
maneira inadequada.
Um dos fatores que surpreendeu as expectativas durante a coleta foi a
disponibilidade dos participantes para a realização da pesquisa. Ao se pensar em pessoas
deprimidas, faz-se um pré-julgamento em relação à adesão das mesmas, principalmente no
que se refere às respostas da Ficha de Auto-Observação, visto ser este um momento que
demandaria certo esforço da parte delas. Ao contrário das expectativas, todos responderam
e se mostraram dispostos. Devido às suas condições incapacitantes, houve contratempos
freqüentes, como desmarcar entrevistas por sentirem-se indispostos ou por não
conseguirem sair de casa.
96
Buscou-se com este estudo realizar a análise do comportamento da depressão em
pessoas que apresentavam sintomas da referida doença há mais de 10 anos através de seus
relatos. Quando um estudo desta natureza é realizado, tenta-se eliminar algumas “falhas”
hipotéticas que possam surgir. No entanto, nem sempre isso é possível, uma vez que as
limitações de uma pesquisa vêm à tona apenas na análise dos dados.
Com este estudo não foi diferente, e ele apresenta limitações. Em primeiro lugar, ele
se baseia nos relatos dos participantes, o que limita um pouco a Análise Funcional. A coleta
dos dados poderia ser complementada se houvesse a possibilidade de observação direta dos
comportamentos pela pesquisadora, se pudessem ser realizadas entrevistas com familiares,
ou se o número de entrevistas fosse maior, o que não é possível devido ao tempo restrito da
pesquisa. Todavia, é importante valorizar que o auto-monitoramento foi um instrumento
diferenciado e que trouxe dados extremamente proeminentes, principalmente para a
conscientização dos próprios participantes da sua doença, apesar de não proporcionar dados
tão precisos quanto uma observação direta. O relato objetivo a respeito da relação funcional
entre o comportamento de uma pessoa e suas conseqüências no ambiente físico e social
permite a identificação dos itens eficazes de um procedimento terapêutico que possam ser
aplicados seletivamente e com maior freqüência.
Espera-se que as variáveis levantadas no presente estudo subsidiem o delineamento
de intervenções na área da Análise do Comportamento com essa população, e que os dados
expressos possam ser aproveitados.
Deste modo, pesquisas futuras sobre a depressão e Análise do Comportamento
fazem-se necessárias. Uma sugestão seria a realização de pesquisas a respeito da relação
entre depressão e intervenção na terapia comportamental, o que poderia fornecer dados a
respeito do tratamento de uma enfermidade que acomete e incapacita uma grande parte da
população. A Análise Funcional é uma importante ferramenta neste processo, pois, além da
avaliação, também está intimamente relacionada à intervenção nesta abordagem e, dela,
depende seu sucesso.
O tratamento e a reabilitação da depressão podem ser difíceis. Trata-se de uma
doença com padrões de comportamento inadequados bem estabelecidos (como ficar à
mercê da amargura, “na cama”, ou chorar), o que impede que pessoas deprimidas busquem
ajuda especializada. No entanto, a amostra estudada revelou que, mesmo com a grande
97
ausência de repertório social dos participantes, o anseio e a disposição para se tratar e ter
uma vida melhor (ou “normal”, como se expressaram) existe e é considerada, por eles, com
grande expectativa e esperança.
98
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103
ANEXO 1
Consentimento Livre e Esclarecido para o Participante
A pesquisa em que você participará tem como objetivo investigar o
desenvolvimento da depressão ao longo da história de vida de uma pessoa. Ela será
conduzida pela estudante de pós-graduação em Psicologia da Pontifícia Universidade
Católica de Campinas (PUC-Campinas) Ana Paula Azevedo Campos (telefone: ........) como
requisito para a conclusão de seu programa de mestrado, sob orientação da Profª. Drª.
Diana Tosello Laloni do Programa de Pós-Graduação em Psicologia.
A sua participação é voluntária, podendo haver recusa na participação ou mesmo a
retirada do consentimento em qualquer fase da pesquisa, sem penalização ou prejuízo para
você. Assim sendo, você tem o direito de interrompê-la a qualquer momento se assim o
desejar.
A sua participação acontecerá em três etapas. Na primeira etapa você responderá a o
Roteiro de Identificação e Triagem que abordará questões como idade, sexo, estado civil e
sintomas da depressão. Nesse roteiro constará uma seleção de questões importantes para a
continuidade da pesquisa, e caso você não seja selecionado, será encaminhado para
acompanhamento psicológico.
Na segunda e terceira etapas a pesquisadora fará entrevistas individuais sobre o
desenvolvimento da depressão e sobre a história pessoal dos participantes efetivos da
pesquisa.
Esteja seguro de que qualquer dado que possa lhe identificar será omitido pela
pesquisadora, conforme os critérios de ética e sigilo profissional. Para registrar as
informações será utilizado um gravador a partir da segunda etapa, mas em nenhum
momento seu nome será mencionado junto com as respostas. Todos os dados serão
divulgados somente em conjunto com dados de outros participantes. Essa divulgação
poderá se dar em eventos e revistas científicas para ampliar os conhecimentos na área.
Caso você deseje iniciar um acompanhamento psicológico após a pesquisa, será
encaminhado para atendimento. No final da pesquisa, você poderá obter o conhecimento
dos resultados se assim o desejar.
Ao aceitar participar dessa pesquisa, você irá receber uma cópia deste
Consentimento Livre e Esclarecido na íntegra, que será assinado por você.
Este projeto foi avaliado pelo Comitê de Ética em Pesquisa da PUC-Campinas e o
telefone de contato do mesmo é (........).
Por favor, preencha abaixo:
Eu____________________________________________ (nome completo em letra
de forma), portador(a) do RG_________________, declaro que estou informado(a) sobre
os detalhes da pesquisa e autorizo a minha participação, assim como a publicação dos
resultados. Admito ter idade mínima de 18 anos.
______________________________________
(Assinatura)
Campinas, _____ de __________ de 200___.
104
ANEXO 2
Roteiro de Identificação e Triagem dos participantes
1) Dados Pessoais:
Iniciais:
Sexo:
Idade:
Data de Nascimento:
Escolaridade:
Renda Familiar:
Ocupação Atual:
Profissão:
Estado Civil:
Filhos:
Religião:
2) Dados da Depressão:
1) Você está em acompanhamento psiquiátrico? Há quanto tempo?
2) Você toma algum tipo de medicação atualmente? Como e qual?
3) Você tem sintomas de depressão há quanto tempo?
4) Esses sintomas causam-lhe algum prejuízo social?
( ) Não
( ) Sim
5) Esses sintomas causam-lhe algum prejuízo no trabalho, escola ou outras funções
diárias?
( ) Não
( ) Sim
6) Esses sintomas têm afetado seu relacionamento familiar?
105
( ) Não
( ) Sim
7) Com que freqüência você apresenta esses sintomas?
8) Os sintomas ocorreram permanentemente nos últimos 10 anos ou existiram períodos
em que eles não ocorreram?
9) Você tem algum outro problema de saúde além da depressão?
106
ANEXO 3
Roteiro de Entrevista Clínica Semi-Estruturada para os Participantes — Análise
Topográfica
Instrução da pesquisadora: “Como foi constatado no Roteiro de Identificação e Triagem,
você demonstrou estar triste, insatisfeito, e ter pouco prazer em suas atividades. Isso pode
ser caracterizado como depressão.”
x Quais comportamentos e sentimentos você tem que caracterizam a sua depressão?
x Descreva esses comportamentos.
107
ANEXO 4
Ficha de Auto-Observação do Participante 1 - P1
Instrução da pesquisadora na ficha: “P1, É muito importante que esta ficha seja
preenchida. Ela tem a finalidade de mostrar informações sobre a sua depressão. Você deve
anotar todos os dias durante uma semana se em algum momento do seu dia teve algum
desses pensamentos, sentimentos ou comportamentos. Obrigada!”
Comportamentos/Sentimentos/Pensamentos
dia
dia
dia
dia
dia
dia
dia
Dificuldade para desempenhar as atividades do dia
Cansaço
Perda da libido
Irritabilidade
Culpa
Ficar no quarto fechado
Chorar
Não comer
Angústia
Amargura
Insônia
Passividade
108
ANEXO 5
Ficha de Auto-Observação do Participante 2 – P2
Instrução da pesquisadora na ficha: “P2, É muito importante que esta ficha seja
preenchida. Ela tem a finalidade de mostrar informações sobre a sua depressão. Você deve
anotar todos os dias durante uma semana se em algum momento do seu dia teve algum
desses pensamentos, sentimentos ou comportamentos. Obrigada!”
Comportamentos/Sentimentos/Pensamentos
dia
dia
dia
dia
dia
dia
dia
Pessimismo
Sentimento de fracasso
Auto-acusações
Choro
Retraimento social
Indecisão
Dificuldade para desempenhar as atividades do dia
Insônia
Preocupações somáticas
Ficar quieto
Indisposição
Ficar somente deitado
Ficar angustiado
Não querer conversar
109
ANEXO 6
Ficha de Auto-Observação do Participante 3 – P3
Instrução da pesquisadora na ficha: “P3, É muito importante que esta ficha seja
preenchida. Ela tem a finalidade de mostrar informações sobre a sua depressão. Você deve
anotar todos os dias durante uma semana se em algum momento do seu dia teve algum
desses pensamentos, sentimentos ou comportamentos. Obrigada!”
Comportamentos/Sentimentos/Pensamentos
dia
dia
dia
dia
dia
dia
dia
Indecisão
Dificuldade de desempenhar as atividades do dia
Mudanças na auto-imagem
Insônia
Ficar isolado
Sentir-se fracassado
Chorar
Ficar quieto
Medo
110
ANEXO 7
Ficha de Auto-Observação do Participante 4 – P4
Instrução da pesquisadora na ficha: “P4, É muito importante que esta ficha seja
preenchida. Ela tem a finalidade de mostrar informações sobre a sua depressão. Você deve
anotar todos os dias durante uma semana se em algum momento do seu dia teve algum
desses pensamentos, sentimentos ou comportamentos. Obrigada!”
Comportamentos/Sentimentos/Pensamentos
dia
dia
dia
dia
dia
dia
dia
Tristeza
Punição
Dificuldade para desempenhar as atividades do dia
Ficar sem disposição
Ficar sem vontade
Sonolência
Desânimo
Nervosismo
Cansaço
Choro
Sensação de abatimento
Remoer os pensamentos
Angústia
111
ANEXO 8
Ficha de Auto-Observação do Participante 5 – P5
Instrução da pesquisadora na ficha: “P5, É muito importante que esta ficha seja
preenchida. Ela tem a finalidade de mostrar informações sobre a sua depressão. Você deve
anotar todos os dias durante uma semana se em algum momento do seu dia teve algum
desses pensamentos, sentimentos ou comportamentos. Obrigada!”
Comportamentos/Sentimentos/Pensamentos
dia
dia
dia
dia
dia
dia
dia
Tristeza
Pessimismo
Sentimento de fracasso
Culpa
Choro
Mudanças na auto-imagem
Dificuldade para desempenhar as atividades do dia
Preocupações somáticas
Perda da libido
Dores no corpo
Pensamentos sobre morte
Irritação
Não conversar com pessoas
Insatisfação
112
ANEXO 9
Roteiro de Entrevista Clínica Semi-Estruturada para os Participantes — Análise
Comportamental
Instrução da pesquisadora: Analisando a folha de registro que você respondeu durante 28
dias, pude perceber que você tem mais freqüentemente comportamentos de:
¾ Descrever o sintoma.
1. Agora, gostaria que você me contasse sobre esse comportamento:
¾ Em que situações este comportamento aparece? Exemplifique.
¾ O que você faz nessa situação? Exemplifique.
¾ O que acontece depois?
2. Você consegue se lembrar de alguma situação na sua história de vida em que este
mesmo comportamento esteve presente? Exemplifique.
3. Conte-me algum fato importante da sua história de vida que você acha que pode ter
contribuído para a sua depressão.
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