Igual quando fala Yamaguti, Yamá é montanha. Só que guti eu não sei. Esse sobrenome é
muito comum no Japão.
E= Fala pra mim, S.K., você é brasileira, mas quando foi para o Japão?
S.K.= Foi em 1998. Fiquei lá durante quatro anos. Lá no Japão conserva a tradição antiga. Lá
os museus ficam como era naquela época.
E= Dona K.I., fala pra mim o nome dos filhos?
I.K.= É Maria Lúcia Yoshiko Kakimori, depois casou ficou Perissato [também], depois é
Mateus Kakimori, tem 47 anos; depois o Roberto Tadao, depois Fátima Regina, que está no
Japão; depois a Silvia; depois o Marcos Antonio, depois o João Toshio, ele seguiu carreira no
exército de sargento.
E= A senhora lembra por que escolheu, por exemplo, Maria Lúcia?
I..K.= No Brasil, os japoneses pegavam o nome na bíblia, colocava o nome de santos, como
acontece hoje.
E= A senhora segue a religião católica, não é?
I.K.= É, sou do Congregado Mariano.
E= Olha, praticamente todos que entrevistei seguem a religião católica...
S.K.= Na região do Japão onde meus antepassados moravam, a religião era católica. A família
do meu pai veio de Hiroshima e a família de minha mãe veio de Nagasaki.
E= Lá onde estourou a bomba?
S.K.= É se meus pais não tivessem vindo para cá...[silêncio], por isso eles são agradecidos
pelo Brasil. Lá no Japão a gente vai lá e vê onde caiu a bomba, ficou tudo branco, como se
tivesse um vidro por cima.
E= Dona E.K., vi que seus filhos, alguns têm o nome em japonês e outros não, tem algum
motivo?
I.K.= Eu mesmo escolhi, aí fiz pesquisa com o marido e ele aceitou. É que como os filho∅
está∅ no Brasil, a gente usa o nome deles em brasileiro. Menos o João, meu marido mandou
colocar Toshio, que é pessoa de mais idade, pessoa com mais sabedoria.
S.K.= Lá no Japão eles põem o nome pelo significado, como a filhinha com o nome estrela
da manhã, raio de sol, mas lá eles não chamam pelo nome, só pelo sobrenome, igual o local
da fábrica onde eu trabalhava.
E= E a senhora, como prefere ser chamada: pelo nome em português ou o nome em japonês?
I.K.= ∅estou acostumada com Cecília.
S.K.= Os filhos também chamam ela de Cecília. Só quando vai no Banco, aí tem que falar o
nome que está no registro.
E= Fala pra nós alguma dificuldade que a senhora sentiu aqui no Brasil?
I.K.= Ahhh, acho que foi o estudo, né?
E= A senhora veio casada para Terra Roxa, em que ano?
I.K.= Em 1963, mas já tinha aqui os Miyakawa, Minaji-sanI, que foi pioneiro, e os Murakami.
E= E aqui em Terra Roxa, quando vocês chegaram, como estava a cidade, por que se vocês
vieram em 1963...
I.K.= Nossa Senhora, naquele tempo que nós viemos aqui não tinha casa de material ou de
tábua, era tudo coberto de prancha de palmito.
E= Dona I.K., o que fez a senhora e o seu marido escolherem vir a Terra Roxa?
I.K.= Viemo∅ procurar progresso, aqui tinha umas quarenta e cinco casas só. A Companhia
[referindo-se à Codal] colocou bastante capanga∅.
E= E a senhora e seu marido vieram comprar terra?
I.K.= Não, nós trouxemos uma loja de armarinho, bazar com tecido, sabe, onde tem gente tem
que ter essas coisas. Nós já tínha∅ dois filhos e vieram também o pai e a mãe e a irmã, depois
foram buscar meu sogro, sogra, cunhada e eles vieram também.