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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ
CENTRO DE EDUCAÇÃO, COMUNICAÇÃO E ARTES
COORDENADO DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO
STRICTO SENSU EM LETRAS, COM ÁREA DE CONCENTRAÇÃO
EM LINGUAGEM E SOCIEDADE, NÍVEL DE MESTRADO
ROSANGELA MARTINS NABÃO
O ESTUDO DE NOMES PRÓPRIOS DE NIPO-BRASILEIROS DE TERRA ROXA
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CASCAVEL – PARANÁ
2007
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ROSANGELA MARTINS NABÃO
O ESTUDO DE NOMES PRÓPRIOS DE NIPO-BRASILEIROS DE TERRA ROXA
Dissertação apresentada para a Banca de Defesa
de Mestrado como requisito parcial para a
obtenção do grau de Mestre, pelo Curso de Pós-
Graduação em Letras, Stricto Sensu, área de
concentração em Linguagem e Sociedade, do
Centro de Educação, Comunicação e Artes da
Universidade Estadual do Paraná – Unioeste.
Orientadora: Profª. Dra. Clarice Nadir Von
Borstel
CASCAVEL – PARANÁ
2007
Dados Internacionais de Catalogação-na-Publicação (CIP)
(Biblioteca da UNIOESTE – Campus de Marechal Cândido Rondon – PR., Brasil)
Nabão, Rosangela Martins
N113e O estudo de nomes próprios de nipo-brasileiros de Terra Roxa / Rosangela Martins Nabão.
– Cascavel, 2007.
190 p.
Orientadora: Profª. Drª Clarice Nadir von Borstel
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Campus de Cascavel,
2007.
1. Sociolingüística. 2. Multiculturalismo. 3. Língua japonesa. 4. Cultura japonesa. I.
Universidade Estadual do Oeste do Paraná. II. Título.
CDD 21.ed. 306.44
306.446
CIP-NBR 12899
Ficha catalográfica elaborada por Marcia Elisa Sbaraini Leitzke CRB-9/539
TERMO DE APROVAÇÃO
ROSANGELA MARTINS NABÃO
O ESTUDO DE NOMES PRÓPRIOS DE NIPO-BRASILEIROS DE TERRA ROXA
Dissertação aprovada como requisito parcial à obtenção de grau de Mestre no Curso de Pós-
Graduação em Letras Área de Concentração em Linguagem e Sociedade, do Centro de
Educação, Comunicação e Artes da Universidade Estadual do Paraná, pela seguinte banca
examinadora:
Orientadora: Profa. Dra. Clarice Nadir von Borstel
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste
Profa. Dra. Elza Taeko Doi
Universidade Estadual de Campinas – Unicamp
Prof. Dr. João Carlos Cattelan
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste
Prof. Dr. Ciro Damke
Universidade Estadual do Oeste do Paraná – Unioeste
Profa. Dra. Elzimar Goettenauer de Marins Costa (suplente)
Universidade Federal de Minas Gerais
Cascavel, 15 de dezembro de 2006
DEDICATÓRIA
A Deus, sempre.
Para Narciso e Elza, meus pais, por tudo e tanto!
A Eliamar Aparecida Elias Novo, inesquecível e
querida professora de língua portuguesa da série,
lá pelos idos de 1974.
Ao Devanir, companheiro de vida e de viagens.
Ao Rafael e a Regiane, nossos filhos.
AGRADECIMENTOS
Uma dissertação é o resultado de um árduo desafio que envolve pessoas, tempo,
dinamismo, disciplina, trabalho, focalização de metas e muito estudo e, ao longo da
caminhada, descobrimos pessoas que se tornam companheiros, parceiros, amigos, pilares
fundamentais que sustentam a possibilidade de alcançar as metas propostas, por isso quero
sinceramente agradecer.
À professora-orientadora Clarice Nadir von Borstel que, com profissionalismo
conduziu as orientações de leitura, solucionou dúvidas cognitivas e sugeriu procedimentos de
pesquisa. Também aos professores que souberam repartir, além do conhecimento específico,
também um pouco de sua magnitude humana. Destaco os professores Maria Ceres Pereira,
João Carlos Cattelan, Ciro Damke e, abraçando o professor Wander do Amaral desejo
prolongar aos professores e coordenadores do Mestrado, os agradecimentos.
Um especial agradecimento ao grupo de nipo-brasileiros residentes em Terra Roxa,
participantes da pesquisa e, abraçando a Emilia Fumiko Yassue, abraço efusivamente a todos
os outros participantes. Também cito a professora e colega Setuko Matsubara, que emprestou
livros específicos de estudos da (i)migração japonesa ao Brasil.
Através dos amigos Mirtes Teiss, Helena Mioko Miura da Costa, Hegrisson Carreira
Alves e Andréia Carmona prolongo a todos os colegas do Mestrado os agradecimentos.
Também a minha cunhada professora Cidinha Nabão Penteado e ao seu esposo Dílson
Penteado, a ela, pelo apoio psicológico quando o desafiou do Mestrado se tornou árduo
demais; a ele, pelo auxílio referente à pesquisa do aspecto histórico do Município. Também
aos meus familiares pela compreensão por tantas horas de ausência por me dedicar ao estudo.
Aos colegas-professores do Colégio Estadual Antônio Carlos Gomes e, entre eles, ao
José Carlos do Nascimento, pela leitura da versão preliminar e revisão da escrita do abstract.
RESUMO
O presente estudo constitui-se em uma pesquisa sociolingüística, objetivando compreender a
relação intercultural entre japoneses e seus descendentes no Brasil, sistematizando, através da
pesquisa de cunho etnográfico junto à comunidade de nipo-brasileiros residentes no município
de Terra Roxa, no estado do Paraná, Brasil, a presença da etnia japonesa no Município. O fato
lingüístico em estudo são os nomes próprios “brasileiros” e “japoneses” de pessoas dentro do
espaço enunciativo sociocultural deste grupo étnico. O nome personativo evidencia
características próprias em seu desenvolvimento morfossintático e semântico-enunciativo
revelando aspectos sociais, culturais e lingüísticos, especialmente para o grupo de nipo-
descendentes, pois os nomes destes brasileiros transitam por dois sistemas onomásticos
diferentes: o ocidental e o oriental, sendo que o primeiro reflete a adaptação, adequação e/ou
aculturamento de aspectos culturais de/no Brasil e o segundo demonstra uma forma, pois
conservar os valores de sua origem étnica. O nome português e o nome japonês não se
constituem em tradução ou versão simultâneas. Os primeiros imigrantes japoneses chegaram
ao Brasil a partir de 1908. Atualmente, o Brasil possui a maior comunidade de japoneses e
nipo-descendentes fora do Japão e, entre os entrevistados, os dois nisseis mais velhos
possuem 94 anos e 77 anos. Não vieram diretamente para esta região, mas a presença da etnia
japonesa está presente desde a formação do Município, em 1955. No ano de 2008 completar-
se-ão 100 anos de imigração japonesa no País, por isso, não é possível manter a
invisibilidade deste grupo étnico e, por outro lado, a tese do conceito de monolingüismo
brasileiro não se sustenta na prática social. Os imigrantes japoneses, ou isseis, vieram em
busca de riqueza. Pretendiam voltar ao Japão, mas a Segunda Guerra Mundial afetou suas
identidades e decidiram ficar. No Brasil constituíram famílias e nasceram gerações nissei,
sansei, yonsei, gosei, respectivamente, segunda, terceira, quarta e quinta. Recebem ainda
outras denominações: nipo-brasileiros, etno-brasileiros e nipons, o que evidencia na própria
linguagem a separação entre “nós” e “outros”, separação tanto por parte dos participantes do
grupo étnico, que chamavam aos brasileiros de gaijin, como também pelos considerados
“brasileiros”. Tantos “eles”, faz inferência a significados de diferença e de estigmatização na
formação da identidade de um país que se manifesta discursando como coeso e aberto para a
diversidade étnica/cultural. A investigação revela que a primeira geração foi mais
conservadora quanto à manutenção da língua, demonstrando estranhamento diante dos nomes
“brasileiros” que lhes eram designados, citando-os como “apelidos”; já, a segunda geração
buscou no nome “brasileiro”, através do batistério da igreja Católica, uma forma de fazer parte
da cultura do Brasil; entre os representantes da terceira geração, alguns nomes se revelaram
híbridos culturalmente, transitando entre a língua japonesa e a língua portuguesa, revelando
criatividade e inclusão de valores étnicos e culturais, mas também entre os incluídos na
terceira geração, o grupo entrevistado demonstrou em alguns casos apontados dúvida entre
como é chamado pelas pessoas da família e como prefere ser conhecido socialmente,
revelando uma ambigüidade de identificação.
Palavras-chave: estudos sociolingüísticos, multiculturalismo, nomes e sobrenomes, nipo-
brasileiros.
ABSTRACT
This study discusses theoretical results of the research project “A Study of personal names of
the Brazilians whom are Japanese descendents and live in Terra Roxa, Parana, Brazil”. The
purposes of this study is to try to understand the intercultural interaction among Japanese and
their descendents in Brazil through the sociolinguistics information got with place research or
ethnography and participant observation with traditional families group that have been living
in the town, somebody since 1955, when the town was formed and to trace the history this
people in this town as too. The research group is divided into the first generation the
immigrants that were born in Japan and began to live in Brazil, called isseis; the second
generation – they are the first was born in Brazil, called nisseis; the third generation – they are
grandsons and granddaughters of the Japanese immigrants, called sanseis. These participants
are people were born since 1928 until 1999 and are involved in a sociocultural context. The
personal names are the linguistic object of this study, showing how Brazilian and Japanese
denominations belong to different onomastic systems: the oriental and the occidental, with
morphological, syntactic and semantic different characteristics, but than they had evidenced
that these etymons, first name and/or middle name and family one begin ethnic/cultural values
and their traditions. The issues had evidenced the level of the adaptation and assimilation to
the Brazilian culture and identity with more or less social representation of the Portuguese
name and it has evidenced the pacific belonging cultural with creativeness. In 2008 will be
completed 100 years what the first Japanese immigrants arrived in Brazil and it is not possible
to say about this ethnic-descendents that they are “invisible” like participants of the historical,
social and economical life in Brazil. In the other hand, the discussion had was showing than
the various classified ethnic names as gaijn, several generations and adjectives that straight
the Japan/Japanese, had indicated the stigmatization into the same country. This factor could
take the identity crises, which is characteristic by the post-modernity. Then, beginnings of the
knowledge of the cultural process Japanese person’s personal name, in fact this search
suggests that what is important above Brazil to need have recognized the interaction cultural
and linguistic and respect to minorities groups and the education should have a culturally
responsive pedagogy.
Palavras-chave: Sociolinguistic studies, multiculturalism, names and patronimics, niphon-
Brazilian.
LISTA DE ILUSTRAÇÕES
FIGURA 1 MAPA SITUANDO TERRA ROXA NO ESTADO DO PARANÁ
33
FIGURA 2 PROSPECTO REFERENTE À VISTA DE ALDEIA DE CIUDAD REAL
37
FIGURA 3 PROSPECTO DE PROPAGANDA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO
38
FIGURA 4 PROSPECTO DE PROPAGANDA PARA A CONSCIENTIZAÇÃO DO
VALOR TURÍSTICO
39
FIGURA 5 DOCUMENTO COMPROVANTE DO TOMBAMENTO COMO PATRIMÔNIO
HISTÓRICO
40
FIGURA 6 TERRA ROXA: LOCALIZAÇÃO PRIVILEGIADA PARA EXPORTAÇÃO
INDUSTRIAL PARA O MERCOSUL
43
FIGURA 7 FOTO DO CLUBE ACENIBRA E A COLÔNIA JAPONESA DE TERRA ROXA
55
LISTA DE TABELAS
TABELA 1 TABELA 1: RELAÇÃO DE NOMES “BRASILEIROS” DAS PESSOAS
PESQUISADAS, GERAÇÃO ISSEI E GERAÇÃO NISSEI
97
TABELA 2: TABULAÇÃO DE INFORMANTES POR PERÍODO DE ANOS E COMO
SÃO CHAMADOS, GERAÇAO ISSEI E NISSEI
99
TABELA 3: RELAÇÃO DE NOMES BRASILEIROS” DAS PESSOAS PESQUISADAS,
GERAÇÃO SANSEI
103
TABELA 4: TABULAÇÃO DE INFORMANTES POR PERÍODO DE ANOS E COMO
SÃO CHAMADOS, GERAÇÃO SANSEI
104
TABELA 5: NOMES MASCULINOS JAPONESES
111
TABELA 6: NOMES FEMININOS JAPONESES
113
TABELA 7: PATRONÍMICOS JAPONESES
121
LISTA DE SIGLAS UTILIZADAS NA TRANSCRIÇÃO DE
ENTREVISTAS E TEXTOS ESCRITOS
A. I.: representante sansei, com 7 anos, sexo masculino.
A.T.: representante issei, com 65 anos, sexo masculino.
A. Y. representante sansei, com 9 anos, sexo masculino.
A.H.: representante sansei, com15 anos, sexo feminino.
Ad.Y. representante sansei, com 7 anos, sexo feminino.
Al.H.: representante nissei, com 18 anos, sexo feminino.
Ali.H.: representante nissei, com 20 anos, sexo masculino.
C. Y. representante sansei, com 14 anos, sexo masculino.
C.H.: representante nissei, com 13 anos, sexo feminino.
C.I.: representante sansei, com 30 anos, sexo feminino.
E.T.: representante issei, com 63 anos, sexo feminino.
E.Y.: representante nissei, com 43 anos, sexo feminino.
Er.Y.: representante sansei, com 18 anos, sexo feminino.
F.K.: representante issei, com 94 anos, sexo feminino.
G. K: representante issei, falecido com 53 anos, sexo masculino.
H.K: representante da etnia alemã, com 69 anos, sexo masculino.
I. K.: representante nissei, com 75 anos, sexo feminino.
I.M.: representante nissei, com 67 anos, sexo feminino.
Ig.Y.: representante sansei, com 16 anos, sexo masculino.
J. H.: representante sansei, com 9 anos, sexo feminino.
J.M.: representante sansei, com 19 anos, sexo masculino.
K.M.: representante issei, com 7 anos, sexo feminino, nascida no Japão quando os pais como
decasséguis trabalhavam no Japão.
L. H.: representante nissei, com 44 anos, sexo feminino.
M.M. representante nissei, com 70 anos, sexo feminino.
M.N.: representante issei, com 77 anos, sexo masculino.
M.Y.: representante nissei, com 58 anos, sexo masculino.
Me.Y.: representante sansei, com 40 anos, sexo feminino.
N.G.: representante issei, com 75 anos, sexo masculino.
R.I.: representante sansei, com 33 anos, sexo masculino.
R.N.: representante nissei, com 45 anos, sexo feminino.
S.K. representante issei, com 43 anos, sexo feminino.
S.M: representante nissei, com 75 anos, sexo masculino.
S.T.: representante issei, com 77 anos, sexo masculino.
Sa.Y.: representante nissei, com 75 anos, sexo feminino.
Se.M.: representante nissei, com 66 anos, sexo feminino.
Si. H.: representante sansei, 11 anos, sexo feminino.
T. H: representante nissei, falecido aos 75 anos, em 1993, sexo masculino.
T.M.: representante nissei, com 70 anos, sexo masculino.
T.T. representante nissei, com 72 anos, sexo feminino.
Ta. H: representante issei, com 77 anos, sexo feminino.
To.M.: representante nissei, com 69 anos, sexo masculino.
W.Y.: representante sansei, com 15 anos, sexo masculino.
Y. M.: representante issei, com 68 anos, sexo feminino.
Y.H.: representante issei, com 47 anos, sexo feminino.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
13
1 A PESQUISA DE CAMPO ETNOGRÁFICA
19
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO MÉTODO
19
1.1.1 Etnografia: a Observação Participante
20
1.2 METODOLOGIA DA PESQUISA
23
1.2.1 Visitando as Famílias
25
1.2.2 Histórico de como a Linguagem (nome) foi trabalhada
28
1.2.3 Procedimentos para Análise do Nome
30
2 ESPAÇO GEOGRÁFICO E LINGÜÍSTICO
33
2.1 TERRA ROXA: TEMPO, ESPAÇO, MULTICULTURAS E ENRAIZAMENTO
33
2.2 O ESPAÇO TEMPORAL DA FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO
34
2.2.1 Fundação da Ciudad Real del Guayrá
35
2.2.2 Terra Roxa: Século XX e Início do Século XXI
40
2.2.3 Fatores Econômicos do Município
43
2.3 (RE)LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA E SOCIAL
44
2.4 PLURALIDADE E CULTURA DOS NIPO-BRASILEIROS: (I)MIGRAÇÃO
47
2.4.1 A Migração de Nipo-descendentes a Terra Roxa
50
2.4.1.1 Para Preservar a Cultura: a Acenibra
54
2. 4.2 (Re)Territorialização e Valores Éticos do Grupo
56
3 LINGUAGEM E SEUS ASPECTOS SOCIOCULTURAIS E IDENTITÁRIOS
61
3.1 ENUNCIAÇÃO E EFEITO DE SENTIDO
63
3.2 CULTURA E IDENTIDADE
65
3.2.1 Alguns Aspectos da Integração Social e Línguo-Cultural
71
3.2.2 O Fim da Segunda Guerra: Identidade em Crise
75
3.2.3 Em Busca da Competência Intercultural
78
4 A CONSTRUÇÃO DE NOMES PERSONATIVOS
81
4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA ONOMÁSTICA
82
4.2 FUNCIONAMENTO MORFOSSINTÁTICO E SEMÂNTICO-ENUNCIATIVO DE
NOMES PERSONATIVOS
88
4.3 NOMES E SOBRENOMES: UMA VIAGEM CULTURAL
94
4.3.1 Nomes “Brasileiros”: de Primeira e de Segunda Geração
96
4.3.2 Nomes Brasileiros: de Terceira e de Quarta Geração
102
4.3.3 Nomes Masculinos Japoneses: de Primeira a Terceira Geração
111
4.3.4 Nomes Femininos Japoneses: de Primeira a Terceira Geração
113
4.3.5 Fatores para a Escolha de Nomes de Pessoa
115
4.3.6 Sobrenomes de Famílias de Japoneses
121
4.4 O ENUNCIADO DE NOMES PERSONATIVOS NO ACONTECIMENTO DE
LINGUAGEM
125
4.4.1 A Não-Unicidade do Nome Próprio de Pessoa
129
CONSIDERAÇÕES FINAIS
132
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
138
APÊNDICES
145
ANEXOS
145
INTRODUÇÃO
Buscar em uma investigação no nível micro as figurações que podem estar ocorrendo no nível
macro-social é uma das prerrogativas desta pesquisa, pois com os dados coletados, delineia-se
como objetivo geral compreender a relação intercultural entre japoneses e seus descendentes
no Brasil, tendo como amostragem os entrevistados enraizados no município de Terra Roxa,
Paraná, há três gerações.
O Município é considerado de pequeno porte, com uma área terrestre de 838,53 km2 e
com um total aproximado de 17.000 habitantes. Os nipo-brasileiros se destacam, não porque
representem um grande percentual demográfico, mas porque é o grupo étnico mais
representativo, estando presente desde a colonização do Município, iniciada no ano 1955. A
história deste grupo étnico no Brasil a partir de sua imigração em 1908, em busca de melhores
condições de vida, fugindo da explosão demográfica em seu país de origem e em busca de
trabalho, é por vezes comovente.
O interesse sociocultural foi despertado em 2002, pela atitude da jovem Adriana
Hiromi Hata, então na série, com 11 anos de idade, aluna atenciosa e adiantada, que,
mesmo tendo sido chamada pela professora diversas vezes pelo nome em português constante
do livro de chamada, ela continuava suas atividades como se ninguém estivesse falando com
ela. O olhar da professora estranhou a desatenção, mas percebeu que ela prontamente atendia
aos colegas e estes a chamavam por Hiromi. Esse fato desencadeou a curiosidade
sociolingüística, nestes termos: (a) por que dois nomes em japonês? Ambos são
sobrenomes? São da genealogia do pai ou da mãe? (b) Se o nome é em português, por que ela
parece não ouvi-lo como seu nome e preferência ao segundo nome, que está em japonês?
Depois dessas, outras curiosidades foram se somando e também foram sendo realizadas
leituras específicas sobre a cultura japonesa, então, deu-se a origem à produção escrita do
projeto de pesquisa e, após, foi acontecendo a complementação e o desenvolvimento de
estudos bibliográficos e etnográficos que deram suporte e embasamento tanto para a
discussão e apontamentos na/para a pesquisa teórica quanto na/para a pesquisa com os
informantes.
A linguagem faz parte do ser humano e é usada como meio de comunicação e de
integração social do falante ao seu grupo social e à sociedade como um todo. A linguagem
verbal é, pois, o constructo básico das representações simbólicas realizadas pelo ser humano e
se na e pela linguagem através do tempo e dos espaços na sociedade. A linguagem que
pode unir pessoas, também pode separá-las, sendo assim, como se comportam pessoas sobre
um mesmo espaço geográfico, mas que possuem línguas tão diferentes, como o português do
Brasil e a língua japonesa? Como é o processo de identificação de um grupo considerado
minoritário, em “um país que se considera monolíngüe”? (CAVALCANTI, 1999;
SAVEDRA, 2003).
Parafraseando Bakhtin sobre a palavra como uma espécie de ponte lançada entre o
usuário e os outros (1999), tem-se a compreensão de que, para interpretar a identidade de um
grupo humano, faz-se necessário conhecer o contexto sócio-histórico em que a língua é
utilizada, mesmo que seja uma língua considerada de “pouca vitalidade entre os etno-
brasileiros a partir da terceira geração” (NAWA, 1988). Também segundo Guimarães, as
línguas são afetadas, no seu funcionamento, por condições históricas específicas e funcionam
de acordo com o modo de distribuição dos falantes. As línguas são elementos fortes no
processo de identificação social dos grupos humanos (2006).
Mas, como realizar um estudo sociolingüístico sem ter o conhecimento da língua
japonesa, que é falada pela primeira e segunda geração dos entrevistados e que, mesmo
representando-se como um grupo minoritário, não pode ser relegado à “invisibilidade”
(ERICKSON, 1986 apud PEREIRA; JUNG , 1998, p. 306). O Brasil possui a maior
comunidade de japoneses e nipo-descendentes fora do Japão e, no ano de 2008, completar-se-
ão 100 anos de imigração japonesa no País e, com a vivência na sociedade brasileira, como
está demonstrada a formação da identidade cultural desse grupo?
Assim refletindo, a opção foi realizar a pesquisa escolhendo como principal objeto de
estudo os nomes personativos do grupo de nipo-brasileiros. “No Brasil, a designação
personativa corresponde ao nome civil. É o nome completo da pessoa, iniciando pelo prenome
e finalizando pelo último nome aposto”
1
. Na seqüência de decisões, a escolha foi por um
método para obter informações lingüísticas referentes ao nome próprio de pessoa, mas que
também favorecesse a coleta de dados sociais e históricos de representantes deste grupo
étnico, residentes no Município. O registro de dados da história da imigração/migração
japonesa na cidade e a história dos nomes personativos do grupo, foi realizado a partir de
relatos das entrevistas e das narrativas biográficas. Portanto, nesta pesquisa de cunho
sociolingüístico, social e etnográfico, tentar-se-á ligar por diferentes vieses duas
problemáticas: ser brasileiro sendo nipon
2
, com seus nomes e sobrenomes de família,
sistematizando o resgate histórico e cultural de nipo-brasileiros a partir de entrevistas e relatos
das mais antigas famílias da etnia enraizadas na comunidade de Terra Roxa.
Segundo Handa “quando vieram ao Brasil, os imigrantes japoneses visavam ir atrás da
árvore de dinheiro para depois retornar ricos ao Japão” (1987, p. 9). Mas o retorno não se
concretizou. Ao chegarem ao Brasil ficaram em núcleos, formando comunidades de sua etnia,
verdadeiras “ilhas lingüísticas” (WIESINGER, 1980 apud BORSTEL, 2003b, p. 112), mas a
política de nacionalização estabelecida pelo governo de Getúlio Vargas (1937-1945), tornou
ilegal o uso e o ensino de todas as línguas européias em território nacional e, por
conseqüência, a comunidade japonesa ficou sem acesso à imprensa escrita e falada. E ainda, o
desfecho da Segunda Guerra Mundial (1945), atingiu os japoneses em suas identidades e
assim, “quando viram que não iam voltar ao Japão, resolveram buscar melhores condições de
1
<www.espacovital.com.br> Acesso em 20 julho 2006.
2
Esta expressão foi utilizada em Wilde, 1891, apud Abdalla-Pretceille (2004, p. 75).
educação para os filhos, e lhes permitir uma educação adequada para viver como brasileiros,
no Brasil” (NAWA, 1988).
No Brasil constituíram família e, então, nasceram as gerações nissei (o elemento
prefixal -ni significa segunda e sei vem a ser geração), sansei (provém de -san, que significa
a terceira geração: netos de imigrantes japoneses), yonsei e gosei (respectivamente quarta e
quinta gerações). De uma forma conjunta, são chamados de etno-brasileiros (OGUIDO,
1988). E, atualmente, no início do século XXI, são percebidos como “iguais” ou como
“diferentes” aos outros brasileiros? (SILVA, 2003).
Com o desenvolvimento das entrevistas, à medida que os dados iam sendo coletados,
verificaram-se no discurso dos entrevistados relatos que mereceriam análise detalhada, mas
que não pôde ser realizada, devido ao tempo da pesquisa e também para não se desviar do
foco a que se propôs o trabalho e ainda, devido à impossibilidade de se realizar o estudo de
todos os aspectos culturais e lingüísticos de uma comunidade em um único trabalho
dissertativo.
O enunciado personativo evidencia fatos, necessidades de grupos humanos que se
revelam e/ou são revelados em seus traços lingüísticos e culturais. “Em território brasileiro, o
registro civil de pessoas naturais é regido pela Lei Federal de Registros Públicos 6015, de
1973 e, ao ser registrado, o ser humano obtém direito e deveres, pois perante a lei ganha o
estatuto de ser cidadão” (OLIVER, 2005, p. 8).
A organização desta dissertação está sendo apresentada em quatro capítulos. O
primeiro capítulo apresenta a Pesquisa de Campo Etnográfica, com abordagem de pesquisa
centrada em André, Jovchelovitch; Bauer e Pais, sinaliza como o estudo foi realizado, desde
as gravações até a transcrição dos dados quando trata do significado literal, metafórico das
ações deste grupo no cenário do cotidiano na comunidade, na interação com os outros sob a
concepção sociológica e sob o enfoque da sociolingüística interacional (GUMPERZ, 1982
apud BORSTEL, 2003c) na comunidade investigada.
No segundo capítulo, Espaço Geográfico e Lingüístico, é que estão referenciados
fatores socioculturais sobre a história de Terra Roxa no tempo e no espaço do enraizamento
das pessoas que povoaram o Município, recorrendo ao site eletrônico
3
e, referente à chegada
dos imigrantes japoneses ao Brasil, estão referenciados estudos de autores como Oguido,
Handa e à Aliança Cultural Brasil-Japão; estes estudos apresentam a história sobre a
pluralidade e a cultura dos japoneses e, referente à migração para o município, a reflexão foi
apresentada e discutida a partir dos relatos da pesquisa de campo, apresentando o contexto dos
etno-brasileiros no município.
O terceiro capítulo apresenta a fundamentação teórica sobre Linguagem e seus
Aspectos Socioculturais e Identitários, em que são expressas teorias de Bakhtin e Orlandi e,
no tópico Cultura e Identidade, foram apresentadas teorias de Sarup, Silva, Hall e Certeau,
discutindo a construção da cultura na e pela diferença, enfocando a construção da cultura no
plural e, recorreu-se também aos PCN’s como um documento que justifica a necessidade de
estudos sobre o multiculturalismo.
Para finalizar, no quarto capítulo A construção de nomes personativos, apresenta-se a
fundamentação teórica sobre os estudos de Guimarães, Bakhtin , Pêcheux, Orlandi e
Maingueneau, analisando os nomes representativos do corpus da pesquisa, sob o enfoque
morfossintático e semântico-enunciativo da cultura étnica deste grupo de isseis e de seus
descendentes, assim como os referenciais dados pelo dicionário onomástico de nomes
japoneses.
Como o objeto de pesquisa é o nome personativo, não há como não citá-los em nome e
em sobrenome; assim, na parte da análise, para não entrar em questões jurídicas por apresentar
o nome real de uma pessoa, optou-se por reuni-los em grupos representativos, mas em que
nomes e sobrenomes fiquem separados, evitando assim, a identificação da pessoa. Já, quando
3
<www.terraroxa.pr.gov.br>
a referência é aos primeiros moradores que fizeram parte da organização e formação cultural
do Município, estes étimos estão apresentados integralmente.
Na parte referente a Apêndices, as informações estão transcritas literalmente quanto à
fala dos entrevistados, desde que estes tenham permitido que sua entrevista fosse gravada. No
corpo do trabalho, às vezes a fala está escrita literalmente e, em outras, está o resultado da
interpretação do olhar do entrevistador.
A realização deste estudo pode promover a conversação intercultural e, com o
conhecimento obtido levar para o espaço escolar alguns conhecimentos que permitam a
desmistificação de tabus e do enfrentamento de estigmatização de minorias, auxiliando não
simplesmente a convivência entre grupos étnicos no mesmo espaço geográfico, mas, também
a cooperação entre o multiculturalismo social com a diversidade cultural.
1 A PESQUISA DE CAMPO ETNOGRÁFICA
Para a realização de uma pesquisa, é necessário escolher uma metodologia que melhor
possibilite alcançar os objetivos propostos naquele determinado estudo e que também
viabilize a sua efetivação. Assim, inicia-se esta dissertação, apresentando a síntese de algumas
abordagens de estudo da linguagem até chegar à escolha da pesquisa de cunho etnográfico.
1.1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO MÉTODO
Parafraseando Bakhtin, não se deve subestimar a função comunicativa da linguagem
(2000, p. 290). A linguagem cria a imagem do mundo, mas é também produto social e
histórico. Assim, a linguagem criadora de uma imagem de mundo, é também criação desse
mundo. Mey afirma que a língua não é somente a expressão da “alma” ou do “íntimo” do
indivíduo, é, acima de tudo, a maneira pela qual a sociedade se expressa como se seus
participantes fossem sua fala (2002, p. 76). A língua surge da necessidade que o ser humano
tem de se comunicar e de construir o mundo ao seu redor.
Mas, se atualmente, no início do século XXI, parece evidente relacionar língua e
sociedade, esta realização se deve a William Labov. Segundo Tarallo, “foi ele quem insistiu
veementemente na relação entre língua e sociedade, e na possibilidade, virtual e real, de
sistematizar a variação existente e própria da língua falada” (2004, p. 7). O modelo de
descrição e interpretação do fenômeno lingüístico no contexto social de suas comunidades
ficou conhecido como Sociolingüística Variacionista, sendo também chamado de
Sociolingüística Quantitativa.
Também a abordagem qualitativa e/ou interpretativa que tem como base os estudos
de Gumperz (1982, apud BORSTEL, 2003c), que interpretam dados empíricos, analisados
ideologicamente, ou seja, de forma econômica, histórica, cultural, étnica e religiosa,
juntamente com os fatores internos e externos da língua de uma determinada comunidade de
fala, a partir da observação participante. Ficou conhecida como Sociolingüística Interpretativa.
De acordo com Borstel,
Gumperz propôs um modelo centrado no discurso que pudesse dar conta das
funções comunicativas das variações lingüísticas, ocorridas numa interação
contextualmente situadas. Este enfoque engloba, na sua análise, as
diferenças no estilo comunicativo e o conhecimento subjacente que
caracteriza comunidades culturalmente diversas (2003c, p. 167).
As abordagens quantitativa e interpretativa, unidas para o desenvolvimento de um
estudo sociolingüístico, permitem investigar temas na área, como o surgimento e extinção de
línguas, a variação e a mudança lingüística, o bilingüismo, o multilingüismo, as línguas de
contato e línguas em contato, a língua nativa, a língua materna nacional, entre outras áreas de
interesse da Sociolingüística.
A Sociolingüística encara os grupos humanos em sua interação e em contexto de
funcionamento; “a vida das palavras” e porque elas dão sentido à vida. A Sociolingüística
caminha junto com a etnografia.
1.1.1 Etnografia: Observação Participante
Para a atual pesquisa, que tem como objeto de estudo os nomes e sobrenomes
personativos de famílias de isseis, nisseis e sanseis enraizados no município de Terra Roxa,
Paraná, a opção escolhida foi por um método que fornecesse subsídios para obter informações
com famílias de nipo-brasileiros do Município, um método que favorecesse obter informações
lingüísticas referentes ao nome personativo, mas que também favorecesse registrar dados
sobre fatos sociais e históricos da vida deste grupo étnico. Assim, a metodologia deste estudo
realizou uma interdisciplinaridade com a Antropologia, mais especificamente no método
etnográfico e social.
O precursor sobre estudos etnográficos sob o enfoque lingüístico foi Gumperz, que
realizou pesquisa em comunidades bilíngües no ano de 1964. A partir dos anos 1980, a
pesquisa etnográfica tornou-se popular no Brasil. Segundo André, “a etnografia é um esquema
de pesquisa desenvolvida pelos antropólogos para estudar a cultura e a sociedade” (2004, p.
27-28). A etnografia é a tentativa da descrição da cultura. Cultura que, segundo Geertz,
citando Ryle, é conceituada como um sistema de símbolos construídos, “não é um poder, algo
a quem pode ser atribuída a causa dos eventos sociais, comportamentos, instituições ou
processos: é um contexto, algo dentro do que os símbolos podem ser inteligivelmente
descritos” (GEERTZ, 1973, apud ANDRÉ, 2004, p. 19-20). A cultura é sustentada pela
capacidade humana de simbolizar e exercer a função simbólica através dos significados destas
representações.
André aponta os seguintes princípios da pesquisa etnográfica:
a) interação constante entre o pesquisador e o objeto pesquisado;
b) o pesquisador é o instrumento principal na coleta e na análise dos
dados;
c) ênfase no processo, naquilo que está ocorrendo e não no produto ou nos
resultado finais;
d) preocupação com o significado, com a maneira própria com que as
pessoas vêem a si mesmas e o mundo que as cerca;
e) trabalho de campo: os eventos, as pessoas, as situações são observados
em sua manifestação natural;
f) descrição: situações, pessoas, ambientes, depoimentos, diálogos;
g) indução: busca e formulação de hipóteses, conceitos, abstrações, teorias
e não- testagem (2004, p. 28-30).
Uma pesquisa de cunho etnográfico demanda conhecimento prévio, respeito, tempo,
convivência, organização de fatos, aceitação da pessoa do outro e, ainda uma certa empatia
entre entrevistador e grupo entrevistado, pois o entrevistador não pode simplesmente querer
entrevistar, é preciso ser aceito e para a entrevista fluir é necessário saber pontuar o diálogo,
trazer ao assunto o interesse da pesquisa.
o que é parte do entrevistador, mas uma parte que não depende dele, como, por
exemplo, o tempo em uma pesquisa etnográfica. Não é possível em curto espaço de tempo
explorar todos os aspectos que envolvem a construção da onomástica de um grupo de pessoas,
mesmo que este grupo seja uma amostra relativamente pequena, pois, o tempo age também
para o(s) informante(s) que estabelece(m) seu horário para receber visitas, precisando que o
entrevistador não se faça inconveniente e tente elaborar estratégias para que seja recebido. Em
uma cidade pequena, em que muitos se conhecem, o conhecimento na comunidade é de certa
forma um facilitador, mas pode se complicar, se por acaso houver mal-entendidos,
interpretação quanto aos objetivos da pesquisa ou quanto à pessoa do entrevistador.
Assim, uma parte da preparação é trabalhar a acolhida no interior do próprio
entrevistador, que fará com que se “limpe os olhos” de preconceitos e de estigmatizações, pois
na pesquisa etnográfica, o entrevistador
4
é parte fundamental para que se crie um ambiente de
receptividade e as informações possam surgir fluidas e claras, pois na entrevista, como sugere
Erickson, recolhe-se “dados em potencial”
5
, mas que sob o olhar do pesquisador tornar-se-ão
dados e informações.
Foi a possibilidade de descrever e interpretar as relações culturais a partir das
narrativas orais dos nipo-brasileiros que fez com que a Etnografia fosse escolhida como
abordagem metodológica. E, mesmo ciente de que a inter-relação entre pesquisador e objeto
4
André utiliza-se do termo “pesquisador”, mas aqui foi trocado para entrevistador.
5
“Notas de campo, entrevistas, gravações e documentos locais, na sua forma bruta, não constituem dados, são
mais apropriadamente consideradas como fontes para dados potenciais” (ERICKSON, 2001, apud COX; ASSIS-
PETERSON, 2001, p. 14).
de estudo leve a aproximação entre eles, envolvidos pela motivação e emoção, buscou-se,
dentro do possível, a neutralidade, desejando que, com base nas evidências apresentadas, seja
possível formular, por indução, hipóteses e conceitos sobre a cultura, simbolizada e/ou
representada na enunciação dos nomes personativos dos nipo-brasileiros.
Esta dissertação objetiva apresentar algumas abordagens culturais e étnicas da
comunidade de Terra Roxa, fundamentada na pesquisa de cunho sociolingüístico/pragmático e
fazendo o uso do método etnográfico e social.
1.2 METODOLOGIA DA PESQUISA
Tratando-se de uma pesquisa sociolingüística e etnográfica, houve o registro do corpus
da pesquisa referindo-se ao resgate histórico deste grupo humano no Município, como
também houve a anotação de seus pré-nomes, nome do meio e sobrenome e o incentivo para
explicações sobre origens, causas e critérios que levaram à escolha do nome próprio dos
entrevistados. Mas o que se estabelecem nestas informações como verdadeiras? Jovchelovitch
e Bauer citam que “a resposta está totalmente a cargo do pesquisador, que tenta tanto
apresentar a narrativa com máxima fidelidade, como organizar informações adicionais de
fontes diferentes, para cotejar com material secundário e revisar a literatura ou documentação
sobre o acontecimento a ser investigado” (2002, p. 110).
Os registros de nomes de nipo-brasileiros de Terra Roxa estão delimitados até a
geração de sanseis, tendo como ponto de partida o sobrenome das primeiras famílias que
vieram para o Município, pesquisando seus nomes desde a primeira até a terceira geração.
Os procedimentos metodológicos estão sustentados na Sociolingüística Interpretativa.
O roteiro de entrevistas e a narrativa biográfica foram os instrumentos selecionados para a
investigação. O roteiro de entrevistas
6
é utilizado como um modelo de apoio, buscando
eqüitativamente direcionar as perguntas para todos os entrevistados. A narrativa biográfica,
especialmente com os isseis, transporta para uma época distante a da imigração –, em que
sonhos, expectativas, frustrações, aceitação e dificuldades no país em que escolheram para
viver são relembradas. A biografia étnica/cultural obedece ao fluxo da memória e, às vezes, é
entrecortado por saudosismo, silêncio, choro, nervosismo, dificuldade de expressão. Segundo
Pais,
que se entender que os documentos biográficos (memórias, biografias,
histórias de vida, etc.) não podem ser considerados reflexos passivos de
uma entidade individual, isolada, sem envolvimento social. O indivíduo não
constitui um átomo social representativo da unidade heurística mais
elementar da sociologia. O indivíduo é simplesmente, como refere
Ferraroti, “uma síntese complexa de elementos sociais”. Por seu lado, o
relato biográfico revela-se sempre como uma “prática humana”. Ora, se
cada biografia aparece como síntese de uma história social e,
paralelamente, cada comportamento ou acto individual aparece como
síntese de uma estrutura social, sempre lugar a um movimento de
vaivém, da biografia ao sistema social e deste à biografia. Ou seja, o
sistema social na medida em que não existe fora dos indivíduos
manifesta-se sempre na vida individual, de tal forma que pode ser
apreendido a partir da especificidade das práticas individuais (2003, p.
151).
A entrevista narrativa leva a compreender como objetos simbólicos, como as
enunciações nominativas, por exemplo, produzem sentidos. O roteiro de entrevistas que induz
à narrativa vai possibilitando a realização do resgate histórico da presença da etnia japonesa e
colhendo informações sobre o nome personativo, solicitando dados que fazem parte do corpus
da investigação desta pesquisa etnográfica, para tanto, foram obedecidas algumas etapas,
como o tempo para a pesquisa bibliográfica, com a qual foi possível atualizar conhecimentos
teóricos e práticos e descobrir novos conhecimentos e recortar a fundamentação teórica que dá
base também à pesquisa de campo.
6
O roteiro de entrevistas está em anexo.
1.2.1 Visitando as Famílias
Geralmente, as famílias de origem japonesa demonstram-se reservadas sobre a sua
tradição etno-cultural e lingüística e, a entrevistadora, que não tem ascendência nipônica,
esbarrou no desconhecimento da língua japonesa; então, como fazer acontecerem
possibilidades para a coleta de informações? A entrada na pesquisa de campo, assim como o
tempo de permanência, exige cuidados do entrevistador, como aponta Pereira:
A entrada de campo é um momento crucial para o desenvolvimento de
uma pesquisa de campo, sendo assim, cabe ao pesquisador valer-se de sua
intuição e sensibilidade para criar um contexto favorável ao seu trabalho.
Nessa negociação, um dos objetivos postos se relaciona com a confiança
a ser estabelecida entre as partes envolvidas (1999, p. 103).
As famílias visitadas foram escolhidas a partir de sobrenomes da lista telefônica e após
anotar, procurar entre as famílias, uma das participantes com quem a entrevistadora tivesse
um acesso mais normal para o diálogo e ter a primeira aproximação visando à pesquisa. A
aproximação atual com a comunidade aconteceu pela busca de dados no clube Acenibra
(Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Terra Roxa/Paraná) e houve a
colaboração de algumas mães e pais líderes, cujos filhos haviam sido alunos da entrevistadora,
que é residente mais de 30 anos no município de Terra Roxa, sendo que a mesma sempre
manteve diálogo com nipo-descendentes, seja por amizade em sala-de-aula como aluna, ou
como professora em escolas estaduais, particulares e de idiomas. Este contato no passado e no
presente tem facilitado receptividade às entrevistas.
Uma dificuldade tem sido marcar o horário para a entrevista e depois perceber que a
hora se fez imprópria, tendo que marcar para ocasião posterior, com o aval do entrevistado e
do(a) acompanhante da entrevistadora, que é geralmente uma outra pessoa da família do
entrevistado, que lhe inspire confiança e que fale a língua japonesa, ou seja: para chegar aos
mais velhos (os isseis e nisseis), foi preciso ser acompanhada por um integrante mais jovem,
seja nissei ou sansei. Também foi revelado por parte dos entrevistados um certo desconforto
quando as entrevistas eram com representantes do sexo masculino; então as visitas foram
implementadas com o acompanhamento do esposo da entrevistadora; ele é pertencente a uma
família de antigos moradores da cidade.
A primeira pessoa com quem a entrevistadora manteve diálogo no sentido de buscar
ajuda para a pesquisa, foi a Sra. Emília Fumiko Yassue, mãe da jovem Érika Harumi Yassue,
com 18 anos, ex-aluna da entrevistadora e com quem esta mantivera laços de amizade.
Através da filha, chegou-se até a mãe, que é uma das principais líderes femininas do Clube
Acenibra (Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira); então, juntamente com a Sra.
Emília, foi realizado o paralelo dos nomes copiados da lista com os nomes de quem realmente
residem no município de Terra Roxa e também foi descoberto que dados escritos de posse
do presidente da Acenibra, não chegam a ser documentos, mas estão escritos em língua
japonesa em que relatam os nomes dos primeiros moradores de origem japonesa na cidade e a
data em que as famílias chegaram. A escolha não foi totalmente aleatória, pois para ocorrer a
seleção entre os nomes sugeridos, teve relevância fatores como: o pioneirismo, a idade de
vida, o tempo de moradia, a amostra de gerações de isseis, nisseis, sanseis, a saúde dos
entrevistados, a provável disponibilidade, o acesso à residência e, rede de contatos. Após a
análise, chegou-se aos nomes de famílias selecionadas para a pesquisa: Miyakawa, Nakamura,
Takayama, Hata, Yassue, Mori, Kakimori, Takahashi, Ymazato, Kawase, Matsubara, Tokumi,
Shimokawa e Tanaka (mas chegou o término da pesquisa e não se tornou possível entrevistar
pessoas denominadas com os dois últimos sobrenomes arrolados acima.
A primeira entrevistada foi Helena Miwako Mori. A segunda foi a família de Mário
Yoshio Yasse. Na ocasião, foi pedido à Emília F. Yassue, que acompanhasse a entrevistadora
às residências de outros entrevistados. A próxima entrevista foi com o Tadashi Miyakawa e
esposa e, a partir daí, estabeleceu-se uma rede de contatos. As entrevistas continuaram com as
outras famílias.
Quanto à pesquisa etnográfica, Jovchelovitch e Bauer lembram que “primeiramente, o
pesquisador necessita criar certa familiaridade com o campo de estudo. Isso pode implicar em
ter de se fazer investigações preliminares, estudar documentos e tomar nota de boatos e relatos
informais de algum acontecimento específico” (2002, p. 97). Assim foi feito. E com base nos
objetivos da pesquisa, foi formulado o roteiro de entrevistas com a finalidade de
homogeneizar os dados de vários informantes para analisar na seqüência posterior, bem como
para o perder o foco da conversação e para estimular as narrativas de experiência pessoal.
Antes de cada entrevista, houve o cuidado de procurar informação com a acompanhante sobre
a pronúncia do(s) nome(s) e mais ou menos a idade do(s) entrevistado(s), porque às vezes o
nome japonês causa estranhamento tanto quanto à pronúncia quanto à escrita e a
entrevistadora poderia incorrer em uma situação de risco para a aceitação e realização da
pesquisa.
Durante as entrevistas foram usados um caderno de campo para as anotações e um
gravador de voz, mp3, e, quando havia o aceite dos entrevistados, o gravador era ligado e
deixado à mostra. Aos entrevistados foi explicado que a gravação seria para não perder dados,
que poderiam ser esquecidos ao longo do processo. Assim, as entrevistas foram concedidas de
livre vontade e originaram um banco de dados que conta com sete entrevistas individuais
7
e
doze entrevistas realizadas nas famílias. Uma entrevista em família e uma entrevista
individual foram realizadas na casa da entrevistadora e uma no ambiente de trabalho do casal
entrevistado, mas todas as outras, foram realizadas no espaço dos informantes, ou seja, em
suas residências. A primeira fala da entrevistadora ao ser recebida, antes ainda da gravação,
era: “muito obrigada por vocês estarem nos recebendo em seu lar”. Com exceção de três
entrevistas, as demais foram todas gravadas e os áudios obtidos foram arquivados no
computador.
7
Embora tenham sido intermediadas por outro(a) falante da língua japonesa.
Durante as entrevistas, um traço cultural que se diz genuinamente brasileiro foi regular
durante as entrevistas: o humor. De diálogos dos quais se esperava sisudez, primeiro devido a
idade dos representantes das gerações mais velhas e, também, porque a cultura japonesa é
vista pelos brasileiros como fechada e muito séria, sendo inclusive esta a opinião expressa
por outros colegas, não etno-descendentes, antes do início desta pesquisa: “mas como você vai
entrar em um grupo tão fechado?” e “Japoneses são muito rigorosos, são muito sérios, mas
são gente boa”, entre outras expressões, mas semanticamente semelhantes. Mas o diálogo
face-a-face, não confirmou estas expectativas. Ocorreu que, durante as entrevistas, que
começavam um pouco tímidas e com falas muito reservadas, após os primeiros dez minutos,
surgiam risos, que foram, inclusive, registrados no áudio e marcados na transcrição, e
percebia-se que falavam com normalidade as informações solicitadas pela entrevistadora, por
isto, o contexto da pesquisa foi situado na transcrição. E, no interior da dissertaçao, ao se
tratar de uma pesquisa qualitativa de base etnográfica, com relatos e memórias, utiliza-se
algumas vezes, vinhetas narrativas.
Houve momentos nas entrevistas em que o(a) entrevistado(a) falava em ngua
japonesa com seu outro interlocutor, como se tentasse interpretar melhor a pergunta que lhe
era dirigida, e depois, um deles transmitia a informação em língua portuguesa para a
entrevistadora. As falas em português foram transcritas literalmente na sessão “apêndices”.
O fato da entrevistadora não saber a língua japonesa expôs algumas limitações ao
trabalho, mas de certa forma, permitiu maior neutralidade para a observação participante.
1.2.2 Histórico de como a Linguagem (nome) foi trabalhada
Parafraseando Bittar, no que se refere às orientações de cunho jurídico sobre o nome
próprio, a identidade é um direito fundamental da pessoa humana e inaugura os direitos de
cunho moral, exatamente por se constituir em elemento de ligação entre o indivíduo e a
sociedade. O nome representa a identidade, que se considera como atributo ínsito na
personalidade humana (BITTAR apud SILVA, 2004)
8
; nesse sentido, então, tendo em vista
esta determinação, sempre que possível, o nome personativo do entrevistado foi mantido em
forma de abreviatura, com o objetivo de resguardar sua identidade. Mas, paradoxalmente,
como não citar os nomes, se eles constituem exatamente o objeto de estudo da pesquisa?
Tentando resolver este paradoxo, optou-se por manter o nome completo dos
informantes no que se refere ao objetivo do resgate da história da etnia japonesa no município
de Terra Roxa, pois os nomes dos pioneiros imigrantes e de famílias tradicionais japonesas
foram descobertos e comprovados através do método de cunho etnográfico e estes nomes
representam dados históricos, por isso, manteve-se o nome completo citado pelos
entrevistados, tanto na parte apêndices, quanto no corpo do trabalho; mas, quanto ao estudo
morfossintático e semântico-enunciativo do nome de nipo-descendentes, realizou-se de forma
diferente, pois sempre que no corpo do trabalho ocorrer referência aos nomes próprios de
pessoa, as siglas estarão representando o informante, com o objetivo de mantê-lo “anônimo”.
Uma estratégia utilizada foi reunir nomes em língua portuguesa, nomes em língua japonesa e
sobrenomes, que estão desarticulados, ou seja, pré-nomes, nomes e sobrenomes estão longe
entre si, longe do nome completo que designe uma determinada pessoa. Assim é que, por
exemplo, Minaji Miyakawa, o nome do pioneiro de origem japonesa no Município e que é
falecido, é apontado de forma que permite identificá-lo, mas seu nome e sobrenome serão
estudados separadamente, e o nome do informante será representado através de uma sigla que
o mantém não-identificável como pessoa física e jurídica dentro do corpo da pesquisa, mas à
entrevistadora é natural conhecer cada sigla como representativa de um ser que tem um nome,
o qual representatividade a um ser histórico, social, lingüístico e humano. Um mesmo
informante será sempre designado com a mesma sigla. Embora respeitando a necessidade da
anomia, houve momentos em que se percebeu relevante demonstrar a idade do(a) informante
8
Esta refere-se a uma petição em que o Juiz de Direito, Antonio C. A. Nascimento e Silva, julga uma petição
referente a retirada do sobrenome, mas no corpo do texto, aponta história e autores sobre o nome personativo.
Disponível em <www.espacovital.com.br/sentenca11032005>).
após a sigla, sendo que para a contagem da idade está sendo levado em conta o limite de 31 de
dezembro do corrente ano de 2006.
Por se tratar de uma pesquisa qualitativa de base etnográfica, com relatos e memórias,
utiliza-se vinhetas narrativas e, no corpo do trabalho, nomes e sobrenomes foram escritos em
itálico, bem como nomes de origem japonesa, já, nas entrevistas, nomes que representam
localidades de origem ou de passagem dos entrevistados foram mantidas com letra em fonte
normal, fosse o nome em japonês, ou português. Como as respostas das entrevistas foram
escritas ipses teres, houve momentos durante a transcrição em que se utilizou esta
simbologia: “//”, como indicativo da falta de concordância plural; também foi utilizado “/
[ ]/", para indicar alguma explicação no momento pontual da entrevista oral e que foi assim
informada no momento da escrituração e o símbolo “/(...)/”, que foi usado para demonstrar
que algum relato não foi registrado por escrito. Mas, no corpo do trabalho, estes símbolos
somente foram utilizados quando estritamente necessários. Também muitas informações, às
vezes são transcritas literalmente, mas muitas vezes, são reescritas no corpo do trabalho como
resultante da interpretação da fala do(a) entrevistado(a), interpretação realizada sob o aspecto
do olhar etnográfico da entrevistadora.
1.2.3 Procedimentos para Análise do Nome
O sistema onomástico japonês é muito diferente do sistema ocidental, por isso, antes
da abordagem dos nomes da pesquisa de campo, o capítulo 5 apresenta dados gerais e
específicos sobre a onomástica e, apresenta um pouco de história pesquisada em meio
eletrônico e em bibliografia especializada.
A coleta dos nomes dos entrevistados seguiu etapas como: a) reunir os nomes próprios,
b) expor seu significado de acordo com as informações obtidas, c) reunir os nomes em
português, d) reunir os nomes em japonês e os sobrenomes, organizados de forma que se
constituíssem em grupos representativos. Para melhor identificação dos dados, foram
realizadas tabelas com os nomes em português, divididos em: primeira geração e segunda e
terceira geração; também foram divididos em período de tempo, obedecendo em primeira
instância o pertencimento a qual geração: issei, nissei, sansei e depois, dividi-las em períodos
de tempo que envolvesse os entrevistados, além de pertencerem a mesma geração, em
períodos de dez anos ou aproximadamente. Foi necessário o cruzamento destes dados porque
idade e geração variam de acordo com a chegada da família ao Brasil. Esse critério de escolha
de tempo não foi previsto no início das entrevistas, sendo decidido quando na reunião de
dados, e obedeceu ao fator comum da data de nascimento e buscou-se uma forma para que a
explicação ficasse um pouco mais sistematizada.
Assim, a Tabela 1(p. 93), referindo-se à primeira e à segunda geração, expõe
informações sobre: nome, ano de nascimento, nacionalidade, como é/era mais conhecido; e, se
o nome em português está/estava documentado oficialmente; logo a seguir, a Tabela 2 (p. 96)
reúne esses dados, tabulando-os. A Tabela 3 (p. 100), semelhante à primeira tabela, mas
referindo-se à terceira geração, expõe informações referentes ao nome em português, ano de
nascimento, como é conhecido socialmente, como é chamado em casa pelos pais e como é
chamado pelos avós; também espaço para algumas observações consideradas relevantes,
como o hibridismo cultural presente no nome, por exemplo. Logo a seguir, na Tabela 4 (p.
102), são reunidos os dados e contados. O objetivo específico é verificar se registro em
cartório de nomes brasileiros, quantos receberam um nome em português e, como são
referidos em família e na comunidade social. Não houve a necessidade de separar os nomes
em gênero masculino ou feminino quando em língua portuguesa. O objetivo é verificar a
vitalidade da língua através do uso lingüístico preferencial do nome.
Quanto aos nomes japoneses, foram divididos em masculinos e femininos para
facilitar o reconhecimento da indicação do gênero do nome e pelos aspectos culturais que
estes grupos diferentes apresentam. A sistematização também foi realizada através de tabelas.
A Tabela 5 (p. 109) informa os nomes masculinos e o significado atribuído quando no
momento da entrevista e a Tabela 6 (p. 110) faz o mesmo, mas referindo-se aos nomes
femininos. O objetivo é tornar mais evidente o significado dos kanjis apresentados pelos
informantes da pesquisa, mas os kanjis não estarão desenhados/escritos, pois exigiria maior
conhecimento e tempo de pesquisa, tanto da entrevistadora, quanto dos entrevistados.
A Tabela 7 (p. 117) reúne os patronímicos relacionados através da pesquisa a seu
significado, sendo que com a pergunta: “Você conhece o kanji do seu sobrenome? Tem
tradução, ou um significado específico em português?”, buscou descobrir a origem
etimológica do patronímico, unindo o significado do kanji original do sobrenome e, observar
relações com o significado atual.
Os significados apresentados tanto nos nomes quanto nos sobrenomes constantes nesta
listagem estão escritos literalmente como foram apresentados pelos informantes. E, o recorte
da memorialidade quando da escolha/seleção do nome atribuído, seja de quando recém-
nascido(a) ou depois de adulto(a) estão citados no interior do trabalho, paralelo à interpretação
do fato de nomear. Mas, como os sobrenomes Miyakawa e Yassue ficaram sem a informação
semântica, buscou-se, para estes, no dicionário onomástico de língua japonesa o auxílio para
sua significação utilizando a sonoridade apresentada por estes sobrenomes.
Entre os étimos analisados, foi observado como fatores culturais e lingüísticos agem
paralelamente sobre o sistema onomástico japonês e brasileiro.
2 ESPAÇO GEOGRÁFICO E LINGÜÍSTICO
Neste capítulo, serão apresentados os aspectos sócio-históricos e geográficos do
Município em que reside o grupo de nipo-brasileiros que são os informantes da pesquisa de
cunho etnográfico e lingüístico.
2.1 TERRA ROXA: TEMPO, ESPAÇO, MULTICULTURAS E ENRAIZAMENTO
Ao delimitar geograficamente a área de estudo, escolheu-se o município de Terra
Roxa, localizado no oeste do Paraná, Brasil
9
. O Município possui uma área de 838,53 km²,
que tem como limite geográfico ao norte os municípios de Altônia, Iporã, Francisco Alves e
estado do Mato Grosso do Sul; ao leste, o município de Palotina; ao sul, os municípios de
Nova Santa Rosa e Mercedes e, a oeste, o município de Guaíra.
FIGURA 1 MAPA SITUANDO TERRA ROXA NO ESTADO DO PARANÁ
FONTE: <www.terraroxa.pr.gov.br> Último acesso em 15 de maio de 2006.
9
O mapa situando o estado do Paraná no Brasil, encontra-se em Anexos.
Terra Roxa foi fundada em 1955, como distrito de Guaíra e era chamada de Terra
Roxa d´Oeste. Foi elevada a Município em 1961. Atualmente possui dois distritos: Santa Rita
d’Oeste e Alto Alegre.
Segundo pesquisas que reportam à origem de Terra Roxa, afirma-se que o uso
lingüístico oral deu o nome ao Município
10
. Ainda que paradoxalmente parte das terras da
região seja da cor roxa, especificamente no município, a maior parte da extensão territorial é
de cor branca (arenosa) ou rosa (mista) e só nos distritos é que a cor é acentuadamente “roxa”.
Segundo a tradição oral, logo no início da colonização, vieram imigrantes italianos e seus
descendentes para trabalhar nas lavouras de café na região. Estes se referiam à cor da terra em
que moravam como “terra rossa” com pronúncia fechada na vogal posterior média-alta /o/,
referindo-se à cor vermelha e os moradores que não falavam em italiano, entendiam a
pronúncia como “roxa”. Assim, devido ao uso oral da designação para a cidade recém-
nascida, a cidade foi registrada como Terra Roxa, aplicando, na realidade, a teoria de
Guimarães: “a reescrituração de enunciados por outros no decorrer do texto, movimentam a
construção das designações” (2002, p. 70).
2.2 O ESPAÇO TEMPORAL DA FORMAÇÃO DO MUNICÍPIO
Quem ainda não ouviu sobre os bandeirantes para o processo de ocupação do Brasil e
da ação dos missionários e viajantes no Brasil com o intuito de catequizar os índios? Esta
ação reporta à metade do século XVI e o município de Terra Roxa tem a ver com essa
história, pois, como informa Penteado (2006), neste espaço geográfico, encontra-se o sítio
arqueológico da Ciudad del Guayrá, demonstrando a importância que a região teve nos
séculos XVI e XVII, no quadro político da época, para a expansão do território brasileiro,
10
Disponível em <www.terraroxa.pr.gov.br>. Último acesso em 28 junho 2006.
com a fundação da vila espanhola de Ciudad Real del Guayrá, fundada em 1557 e destruída
por bandeiras paulistas em 1631/2. Segundo Penteado (2006), o local onde está o sítio
arqueológico foi considerado patrimônio histórico e cultural. A lei 33, de 17 de janeiro de
1948 da Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, havia decretado e sancionado a Lei,
que em sua súmula constava: “Reserva como patrimônio inalienável do Estado, áreas
territoriais, nas regiões onde estão situados os remanescentes das primitivas reduções
jesuíticas”. Entre elas foi citada: “Guairá, localizada no Município de Foz do Iguaçu e situada
à margem esquerda do rio Piquiri e junto a foz do mesmo com o rio Paraná”. Estava sendo
referenciada naquele ano de 1948 a localização do sítio arqueológico, hoje localizado dentro
do espaço geográfico e político do município de Terra Roxa.
2.2.1 Fundação da Ciudad Real del Guayrá
Os fatos históricos abordados nesta seção têm como base estudos de Igor Chmtyz,
João Chmtyz e Lércio Brochier (1999), compilados por Penteado (2006), e também estudos
sobre a região, realizados por Pontes Filho e Klüppel (2002), ele, geógrafo e arqueólogo; ela,
historiadora, do Centro de Pesquisas Arqueológicas da Universidade Federal do Paraná. A
pesquisa foi realizada e documentada a pedido da Prefeitura Municipal de Terra Roxa em
2001-2002.
De acordo com o tratado de Tordesilhas, uma subdivisão imaginária, firmado em
07 de junho de 1494 entre Portugal e Espanha, as terras que ficassem na parte oriental do
tratado, pertenceriam a Portugal e as que ficassem na parte ocidental pertenceriam à Espanha.
Sendo assim, a totalidade do território que coube ao Reino da Espanha
era praticamente toda a
região que atualmente compreende o sul do Brasil. Para Portugal coube o leste, próximo ao
litoral. Para consolidar a posse da terra, o governo espanhol iniciou um processo de conquista
e ocupação de algumas regiões sob sua jurisdição. Em 1535, a Espanha enviou a armada de D.
Pedro de Mendoza com o intuito de conquistar e povoar a região do rio do Prata. O primeiro
governo do Prata foi marcado exclusivamente por explorações. Na segunda fase do governo
de Domingo Martinez de Irala, que reassumiu depois de uma rápida passagem de Alvar Nuñez
Cabeza de Vaca pelo governo, iniciou-se o povoamento da região do Guayrá, situado à
margem esquerda do rio Paraná. As principais rotas utilizadas na conquista do território foram
através dos rios e trilhas indígenas.
À procura de uma rota terrestre entre Assunción e o Porto de São Francisco, no litoral
de Santa Catarina, os conquistadores espanhóis formaram, entre 1554 e 1589, vilas na antiga
Província do Guayrá ao longo da trilha indígena Caminho do Peabiru, que partia da Costa
Atlântica, nas proximidades de São Vicente, e atravessava os planaltos do sul do Brasil,
cruzando o rio Paraná e o chaco paraguaio, chegando ao planalto do Peru e ao Oceano
Pacífico.
Segundo estudos da Literatura Informativa e Jesuítica no Brasil, Nicola escreve que “o
que impulsionaram as grandes Navegações eram de um lado a preocupação com a conquista
material e, por outro, a preocupação com a conquista espiritual, a necessidade de ampliar a
cristã, resultante do movimento religioso da Contra-Reforma” (1993, p. 206); ou seja, por
princípio, com as Grandes Navegações, os europeus chegaram ao Novo Continente e, depois,
pelo Tratado de Tordesilhas, Portugal e Espanha, através das expedições denominadas
Entradas e Bandeiras, as quais vinham efetivar a posse da terra.
A trilha aberta para a conquista das terras da América iniciada pelos conquistadores
espanhóis foi seguida pelos padres jesuítas, que vinham para difundir o cristianismo na
América, por isso, pelo Caminho do Peabiru, chegaram a esta região, hoje determinada como
pertencente à região oeste do Paraná.
Por determinação de Martinez de Irala, em 1554, foi fundada a cidade de Ontiveros,
pouco acima da foz do rio Iguaçu, que ocupou uma povoação indígena com o nome de
Canideyú. A cidade foi desativada dois anos mais tarde e seus moradores transferidos. A
Ciudad del Guayfoi fundada em 1556, nas confluências dos rios Piquiri e Paraná e ocupou
uma grande aldeia indígena, cujo cacique tinha o nome de Guayrá.
FIGURA 2 PROSPECTO REFERENTE À VISTA DA ALDEIA DE CIUDAD REAL
FONTE: PENTEADO (2006)
NOTA: Prospecto veiculado pela Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Turismo de Terra Roxa, com o
intuito de reconstruir a imagem do que foi o local naquela época.
Em 1600, Ciudad Real se transforma em sede da Província de Guayrá e iniciam-se as
atividades missionárias. Os padres jesuítas fundaram diversas reduções jesuíticas entre os
anos 1610 ao ano de 1632. Os Jesuítas e os Bandeirantes entraram em conflito em relação ao
tratamento dado aos índios e à forma de utilização de sua mão-de-obra.
Ciudad Real del Guayrá situa-se na passagem do Peabiru para o Mato Grosso e o
Paraguai, nas proximidades do, então chamado, Salto Grande, as extintas Sete Quedas. Para a
fundação destas vilas, os espanhóis contavam com a ajuda dos índios da região. As atividades
iniciais eram facilitadas pela abundância de recursos de coleta, caça e pesca.
De acordo com dados da Secretaria de Comércio, Indústria e Turismo de Terra Roxa,
em informações veiculadas por Penteado (2006), a Ciudad Real del Guayrá foi a segunda vila
espanhola fundada no território do atual Estado do Paraná, localizada na confluência dos rios
Piquiri e Paraná. Foi fundada em 1557 pelo Capitão Ruy Dias de Melgarejo e destruída pela
Bandeira Paulista de 1631.
FIGURA 3 – PROSPECTO DE PROPAGANDA DO SÍTIO ARQUEOLÓGICO
FONTE: PENTEADO (2006)
A principal atividade econômica de Ciudad Real era a extração da erva-mate, que
chegou a ser exportada mais tarde para as reduções do Rio Grande do Sul. A erva-mate e o
fumo, inicialmente, eram proibidos aos espanhóis, mas depois se tornaram de uso comum. Os
espanhóis estavam à procura de pedras e metais preciosos, mas, em Ciudad Real
encontraram grande quantidade de cristais de rocha, de ametista e de minérios de ferro.
Mas estas informações ficaram esquecidas durante algum tempo, até que aconteceu o
encontro de peças de cerâmica que demonstravam vestígios de uma época muito antiga.
Levadas ao estudo científico, por volta do ano de 1978-80, e, depois, novamente, tendo sido
encontradas urnas funerárias indígenas, foram feitos levantamento e catalogação de peças que
comprovaram a historicidade do local.
Os remanescentes desta antiga vila espanhola são estudados conforme as
prospecções realizadas no local, com escavações, levantamentos topográficos para
delimitação da vila e caracterização das suas estruturas arquitetônicas. Os vestígios da
cidade encontram-se em um território de 121 hectares não disponível ao acesso do público,
mas com grande potencial ao aproveitamento turístico e ao desenvolvimento de pesquisas
históricas.
FIGURA 4 PROSPECTO DE PROPAGANDA PARA A CONSCIENTIZAÇÃO DO
VALOR TURÍSTICO
FONTE: PENTEADO (2006)
NOTA: No prospecto está escrito: “Projeto figurativo apresentado da antiga vila militar, remanescente
da colonização espanhola ocorrida no sul do Brasil em meados do século XVI. A região contribui para
a História do Brasil e do Estado do Paraná”.
Atualmente, a Secretaria Municipal de Indústria, Comércio e Turismo do Município
tem procurado documentar e valorizar este patrimônio histórico e cultural e está realizando
estratégias de marketing para o turismo.
FIGURA 5 DOCUMENTO COMPROVANTE DO TOMBAMENTO COMO
PATRIMÔNIO HISTÓRICO
FONTE: PENTEADO (2006).
2.2.2 Terra Roxa: Século XX e Início do Século XXI
Segundo informações veiculadas em meio eletrônico e sob a responsabilidade da
Secretaria de Indústria, Comércio e Turismo do Município
11
, até o século XIX, não se
estimulou a fixação de colonos na região, mas foi instalada uma colônia militar nas
11
Disponível em <www.terraroxa.pr.gov.br>. Último acesso 02 de setembro 2006.
proximidades da região. Em 09 de dezembro de 1882, junto com as empresas Mary Anna e
Espéria, a Companhia Mate Laranjeira foi concessionária de uma faixa de terra que ia de Foz
do Iguaçu até Ponta Porã, com a finalidade de explorar a erva mate.
Com a eclosão da Segunda Guerra Mundial, a Argentina, principal consumidor da
produção regional da erva-mate, incentivou a cultura da erva a fim de poupar divisas a seu
país, levando a Companhia Mate Laranjeira praticamente à falência. Frente a esta situação, a
Companhia teve que entregar suas terras ao Estado do Paraná para posteriores concessões.
A Fundação Paranaense de Terras concedeu a área de terra a Oscar Martinez. Em 20
de agosto de 1955, a Companhia Ipiranga, posteriormente denominada de Companhia de
Colonização e Desenvolvimento Rural (CODAL), adquiriu a área de terra que era de Oscar
Martinez e a dividiu em lotes rurais, delimitando o perímetro urbano com área de 3 km
2
, onde
atualmente está o centro da cidade de Terra Roxa.
Para lotear as terras, a CODAL, firma radicada na cidade de Londrina, Paraná,
deslocou seus maquinários pelo rio Paraná, embarcando-os no Porto Epitácio, em São Paulo,
com destino a Guaíra. Após o desembarque, vinham abrindo estradas até a atual sede do
Município, onde foi erguido o acampamento da Companhia.
De acordo com as informações veiculadas no site do Município
12
, as primeiras famílias
que se radicaram no Município foram a de Nilo Benigno Faya Corte, em 15 de dezembro de
1955, seguido por Sebastião Leão, formando a primeira comunidade e o início da colonização.
A 03 de outubro de 1956, pela Lei Estadual 45/56, criou-se o novo Distrito do
município de Guaíra, denominando-o Terra Roxa d’Oeste. Devido à ação da Colonizadora e
ao forte fluxo de migrantes, no dia 14 de dezembro de 1961, através da Lei nº 220, criou-se o
município de Terra Roxa.
Ainda de acordo com os dados obtidos no site da história do Município, a população
inicial de Terra Roxa foi composta por migrantes da região norte do Estado do Paraná,
12
Disponível em <www.terraroxa.pr.gov.br>. Acesso em 26 de junho 2006.
oriundos do nordeste e sudeste do Brasil e, segundo dados obtidos nas entrevistas
etnográficas/bigráficas, em 1955, chegaram também famílias de imigrantes japoneses, isseis, e
alguns nascidos no Brasil, nisseis adultos e crianças, que antes residiam no estado de São
Paulo, na região de Cafelândia.
Segundo informações veiculadas em meio eletrônico do Município
13
, na década de
1960, também vieram migrantes da região sul do Brasil, radicando-se, principalmente, no
distrito de Santa Rita d`Oeste. Vieram também imigrantes alemães. Em entrevista com um
representante desta etnia, H, com 67 anos de idade, foi declarado que, em 1961, vieram três
casais, representados nas famílias Lingnau e Kranish com grau de parentesco de primeiro
grau: dois irmãos e uma irmã da família Lingnau; ela, casada com o representante da família
Kranish. Os irmãos Lingnau, adquiriram lotes de terra no distrito de Santa Rita d’Oeste e
dedicaram-se à agricultura e a família Kranish construiu casa para comércio de compra e
venda de cereais, e aos poucos foi comprando terras para a produção agrícola.
Foi também durante a década de 1960, que, incentivados pelos representantes do
mesmo grupo étnico que haviam chegado primeiro ao município de Terra Roxa e, atraídos
pelos vendedores de lotes de terras para a agricultura, mais famílias nipo-brasileiras foram
chegando.
Pelos dados apresentados pelo IBGE
14
, na realização do Censo Demográfico, o número
da população total, em 01/09/1960 era de 5.916 habitantes; em 01/09/1970, era de 38.353
habitantes; em 01/09/1980, era de 25.215 habitantes; em 01/09/1991 era de 19.908 habitantes;
em 01/09/1993 era de 18.414 habitantes; em 01/09/1996 era de 16.887 habitantes.
O Censo demográfico realizado no ano 2000 apontou que Terra Roxa possuía, na
época, 16.291 habitantes. Hoje, percebe-se uma tendência para o aumento da população: em
torno de 17.000 habitantes.
13
Disponível em <www.terraroxa.pr.gov.br>. Último acesso em 02 de setembro 2006.
14
À avenida Coronel Otávio Tosta 47, Guaíra, Paraná.
2.2.3 Fatores Econômicos do Município
De acordo com informações obtidas no site do Município
15
, nas primeiras décadas de
emancipação do município de Terra Roxa, a economia predominante era a cafeicultura, mas
uma geada ocorrida na década de 1970 dizimou os cafezais de toda a região e fez com que
uma crise econômica e social fosse provocada. Com o constante êxodo rural iniciado após
1975, durante a década de 1980 a 1990, embora a agricultura ainda predominasse na economia
terra-roxense, e fosse diversificada, a crise na agricultura fez com que o município ao longo
de vinte anos, perdesse um terço de sua população. Segundo informações escritas em
documentos da APL
16
(2002), consta que, o sucesso inicial da confecção realizada em casa,
surgida do hobby de uma das moradoras da cidade foi tão grande, que daí surgiu a empresa
Paraíso, a primeira empresa de moda de bebê do Município, que hoje exporta para todos os
países do Mercosul.
FIGURA 6 TERRA ROXA: LOCALIZAÇÃO PRIVILEGIADA PARA A EXPORTAÇÃO
INDUSTRIAL PARA O MERCOSUL
FONTE: PENTEADO (2006)
Foi assim que a partir dos anos 1990 Terra Roxa começou a se destacar pelas diversas
indústrias de Confecção Infantil Moda-Bebê. Atualmente, o Município destaca-se como Pólo
15
Disponível em <www.terraroxa.pr.gov.br>. Último acesso em 28 junho 2006.
16
Sigla de Arranjo Produtor Local, Associação dos Empresários de confecção moda-bebê do Município, criada
em 2000. Disponível em www.aplterraroxa.com.br
Nacional do Vestuário Infantil, tendo concentradas cerca de 50 empresas neste ramo, gerando
3.500 empregos diretos e indiretos. As indústrias têm mudado a história do êxodo
populacional com a forte demanda de empregos. Não chegam a ser a economia predominante,
pois a agricultura continua significativa em decorrência da extensão territorial do Município e,
as famílias de origem japonesa no Município são proprietários de lotes de terra de pequeno e
médio porte.
2.3 (RE)LOCALIZAÇÃO GEOGRÁFICA E SOCIAL
O Brasil e o Japão são países com características muito diferentes, até o fuso horário
entre os dois países são opostos. O Japão é considerado um país de tradição milenar e
localizado no continente asiático. É um arquipélago
17
formado por quatro ilhas principais e
mais de três mil ilhas pequenas. O solo em sua maior parte não é agricultável, mas bem
aproveitado e oferece altíssima produtividade. A dieta alimentar dos japoneses se compõe de
produtos do mar, legumes e verduras (HANDA, 1987).
O clima é frio, como disse a entrevistada M.M.: “lá eles não têm medo de terremoto,
pois estão preparados, o maior castigo é a época do frio. Lá as casas têm três portas pra deixar
o frio do lado de fora”.
No Japão, as religiões mais tradicionais são o Xintoísmo e o Budismo, sendo a
primeira considerada oficial por ser adotada pela Família Imperial. (Oguido, 1988, p. 10), mas
a pesquisa de campo apontou que a grande maioria das famílias isseis pesquisadas tiveram a
certidão do batistério da Igreja Católica, com cuja certidão recebia um nome “brasileiro”
18
. Os
entrevistados nascidos no Brasil, disseram que quando jovens queriam participar das festas da
17
O Mapa do Japão encontra-se em “Anexos”. Disponível em <www.noticiasdobrasil.com.br/mapadojapao>.
18
Brasileiro será mantido entre aspas, pois deveria ser escrito “português”, mas optou-se por conservar o
enunciado usado pelos entrevistados.
Igreja Católica e outros disseram que freqüentavam os terços. Quando na entrevista lhes foi
indagado sobre qual religião praticavam, os representantes da primeira geração: N.G, Y.M, e
M.M. e Ta. H declararam-se pertencentes à Seicho-no-ie e I.K., S.K., Y.H., E.Y., Er.Y., R.I,
T.T., declararam-se pertencentes à religião Católica e A.T. e E..M declararam-se da religião
Budista. Aos entrevistados da segunda geração e terceira, quando a pergunta foi feita, A.H
declarou-se pertencer à religião Adventista, os demais disseram seguir a religião dos pais.
Segundo Oguido, atualmente não existem analfabetos no Japão, todos têm altíssimo
nível de escolaridade (1988, p. 10). O nível de escolaridade também pôde ser averiguado
quando da chegada dos imigrantes adultos ao Brasil, conforme relatou F.K.: “Meu pai era
professor, era diretor de escola no Japão” e segundo a afirmação de T.M.: “Diz que meu pai
era cartorário no Japão” e conforme a informação de A.T.: “Meu pai veio em 1962, e eu
fiquei lá pra acabar de me formar como dentista”. Pelas informações obtidas pode-se chegar à
conclusão que especialmente os homens que emigravam para o Brasil eram letrados. A
importância à educação escolar aqui no Brasil também pôde ser observada na ênfase da fala
dos pais em relação à formação dos filhos, e dos filhos que têm a formação universitária em
relação ao sacrifício financeiro dos pais para dar a eles condições para o estudo. Como no
diálogo entre a entrevistadora e E.T: “Olha, onde está o filho mais novo de vocês?”, “Ele está
dando aula na Faculdade em Santa Catarina” e, Se.M. afirmou emocionada que “Meu pai
estudou todos os filhos com o dinheiro da feira”. Na família desta entrevistada, eles eram
em três irmãos e quatro irmãs, são representantes da segunda geração, nascidos em Curitiba,
entre estes,o irmão mais velho não tem curso superior e os três filhos da entrevistada, bem
como o esposo, também cursaram a Universidade. Estes relatos confluem com a informação
divulgada por Oguido (1988), o qual ressalta a importância dada à educação escolar a partir
dos núcleos da comunidade, sendo que, muitos dos filhos dos imigrantes foram batizados para
ganhar um nome em português para poder se matricular na escola. É o que salienta a fala de
T.M. e S.M.
Conforme afirmações de Mey (2001) um espaço social onde as macro-condições e
o trabalho dos seres humanos individuais são suporte que serve como aporte para que este
espaço entre em funcionamento. que a formação da sociedade não é o trabalho individual,
mas cada um particularmente é responsável por este espaço social, na medida em que se torne
agente e autor e que tenha voz, vez, atitude, desde as mais simples, este conjunto de fatos
constitui-se na formação societal. Segundo Mey, “uma formação societal é o produto diferido
de fatores determinados e semi-determinados denominados condições econômicas e habitus”
(2001, p. 28). Mey cita Bordieu para explicar que habitus é
entendido como um sistema de disposições duradouras e transponíveis que,
integrando experiências passadas, funciona a todo momento como uma
matriz de percepções, apreciações e ações e torna possível a realização de
tarefas infinitamente diversificadas, graças à transferência analógica de
esquemas que permitem a solução de problemas de configurações similar e
graças às correções incessantes dos resultados obtidos, dialeticamente
produzidos por aqueles resultados (BORDIEU 1977 apud MEY 2001, p.
28).
Seria como costume arraigado que se tem de fazer algo, porque assim foi ensinado.
Em determinado meio cultural, vive-se daquela forma, aprende-se a pensar daquela forma e é
no fazer e refazer que se vai aprendendo, desenvolvendo esquemas e a inteligência, que, a
partir de esquemas simples, vão se tornando mais complexos e se adquirem formas de fazer.
De acordo com Mey, “formação societal é aquilo que os seres humanos ativos e perceptivos
podem promover, dadas certas condições temporais e espaciais, e no interior do quadro de
natureza e cultura, história e visões que os cercam” (MEY, 2001, p. 28) e, no século XIX, com
a mobilização de imigrantes estrangeiros para o Brasil, configura-se um novo contexto
societal.
2.4 PLURALIDADE E CULTURA DOS NIPO-BRASILEIROS: (I)MIGRAÇÃO
O Brasil tem uma extensa área geográfica, fator que, segundo Oguido, levou à
imigração:
A farta propaganda feita no Japão sobre um país de dimensões continentais,
que oferecia grandes facilidades de fazer fortuna, entusiasmou milhares de
japoneses que, à época, encontravam-se sem perspectiva de vida sequer
razoável na terra onde nasceram. Eram basicamente camponeses, que ficaram
alijados do processo de modernização artificial que se tentou imprimir ao
Japão. A transição da era feudal para a capitalista havia trazido reflexos
dolorosos para a comunidade rural daquele país (1988, p. 8).
Portanto, ficar rico e retornar era o objetivo do imigrante japonês. Esta afirmação foi
registrada na fala dos entrevistados S.M, S.T., Ta.H. e T.M.
Ainda referente aos motivos que possibilitaram a corrente emigratória da época, N.G.,
citou “pensar que no Japão a área era muito pequena e não tinha oportunidade de crescer, e
pensar que no Brasil ajuntava dinheiro como papel... e nisso caiu e veio, mas demorou,
juntou dinheiro, comprou terra, aí não quis vender e daí não quis voltar mais”.
Mas as dificuldades encontradas foram muitas, inclusive porque a imigração implica
em sacrifício, até mesmo em se acostumar com a vida em outro país, acrescente-se que,
segundo Handa, o governo japonês ao enviar para o exterior o excedente da população
nacional para enfrentar o problema populacional, deveria ter realizado maior estudo sobre a
realidade do local de destino dos emigrantes, mas isto não foi feito, e também, que o
imigrante servia como suprimento de mão-de-obra para o país que o recebia, as fazendas
deveriam ter feito preparativos mínimos iguais àqueles efetivados quando do recebimento de
imigrantes europeus (HANDA, 1987, p. 58-59).
Os primeiros imigrantes japoneses chegaram ao Brasil a partir de 1908 para suprir a
mão-de-obra cafeeira no Estado de São Paulo. Depois, vieram outros grupos. Chegavam de
navio e desembarcavam no Porto de Santos. Segundo informações obtidas com as entrevistas
junto ao grupo de nipo-brasileiros e também de acordo com Oguido (1988), a corrente de
imigração japonesa começou em 1908 e os imigrantes fixaram-se predominantemente no
estado de São Paulo. Segundo dados da Aliança Cultural Brasil-Japão do Paraná – doravante
ACBJP, “até 1914, chegaram mais oito navios com japoneses, elevando-se o total de
imigrantes para 13.289. Mantém-se o fluxo e serão 186.272 em 1941 e 249.177 ao cessar a
imigração em 1973” (2006, p. 48).
Os isseis (o elemento prefixal i, derivada de iti, tem o significado de primeira e sei o
significado de geração, ou seja, os nascidos no Japão e que emigraram para o Brasil) vieram
em família, embora às vezes essas famílias fossem “organizadas como um arranjo com o fito
único de receber salários” (HANDA, 1987, p. 58). “No início, o casamento dos japoneses e de
seus descendentes era arranjado entre as famílias, para unir e resguardar mútuos interesses.
Tudo era feito dentro do regime patriarcal que imperava no Japão no final do século dezenove
e que só começou a mudar após a Guerra” (OGUIDO, 1988, p. 227).
Mas se, ao chegarem, os isseis desembarcaram em Santos, São Paulo e, de foram
levados a outras cidades do estado de São Paulo e neste estado trabalharam como colonos, à
medida que obtinham lucro com seu trabalho, resolveram investir na compra de lotes de terra
cultiváveis. Nawa cita que “quando vieram ao Brasil, os japoneses pretendiam voltar ao
Japão, mas depois da Segunda Guerra Mundial, mudaram de atitude e resolveram ficar no
Brasil” (1988).
A Segunda Guerra Mundial, que teve início em 1938, levou o Brasil a declarar-se em
guerra e a romper, em 28 de janeiro de 1942, as relações diplomáticas com a Alemanha, Itália
e Japão. O Brasil declara-se em guerra no dia 31 de agosto. Os imigrantes dos três países são,
segundo a ACBJP, “postos sob suspeita de colaboracionismo, impedidos de falar em seus
idiomas, de ouvir rádio; passam a depender de salvo-conduto para viajar. Segue-se o confisco
de bens, liquidação de empresas e a remoção dos que se encontravam nas zonas portuárias”
(2006, p. 142).
Quanto aos entrevistados, não disseram nenhuma vez “Segunda Guerra Mundial”, o
que foi percebido pela entrevistadora ser este um enunciado que deveria ser evitado também
por ela. Mas, quanto a ficar no Brasil, conforme relatou o entrevistado N.G., com 75 anos,
nascido em Gifu-ken, Japão, e que chegou ao Brasil em 1936: “No Japão era muito pequena a
área para a plantação, e tem que sair porque não tem jeito de crescer. O pai ficou aqui porque
já não tinha pra onde ir”, outro entrevistado, T.M., com 70 anos, nascido na localidade de Alto
Pimenta, região onde atualmente se chama Barretos, São Paulo, assim fez um relato: “Meu pai
veio do Japão e naquele tempo (1932), o governo japonês viu que estava muito cheio, não
cabia o pessoal, porque o Japão é um país pequeno, não tinha ganho nenhum, era guerra
(...) Quando os rapazes vinham para o Brasil, vieram para não morar aqui, vieram para ajeitar
alguma coisinha, ajeitar a vida, mas daí, os filhos nasceram aqui no Brasil e não tinham como
voltar” e outro entrevistado, S.T. de 77 anos, nascido em Guma-ken, Japão, e que veio ao
Brasil com dois anos de idade, declarou:
meu pai veio trabalhar como colono na lavoura de café em Barretos, São
Paulo, depois foi para a região de Votuporanga, São Paulo, plantar algodão,
deu certo. Trabalhou como arrendatário. Conseguiu comprar terreno no
Paraná, no município de Nova Esperança. Depois que casei é que vim morar
em Terra Roxa, abrir sítio e trabalhar com café.
Segundo as informações, denota-se que, com os lucros obtidos no trabalho como
colonos e/ou arrendatários, resolveram investir na compra de lotes de terrenos para a
agricultura e por este motivo, a geração de nisseis mais nova e a geração de sanseis já nascem
em sítios em que geralmente seus pais são os proprietários.
2.4.1 A Migração de Nipo-Descendentes a Terra Roxa
Os isseis e nisseis residentes no município de Terra Roxa não vieram diretamente para
a região oeste do Paraná. Segundo informações obtidas nas entrevistas, constatou-se que
houve, no município de Terra Roxa, sete pioneiros japoneses que foram imigrantes, isseis,
provindos do Estado de São Paulo. De acordo com o desenrolar das entrevistas foi observado
que há medida de valor diferente entre ser “pioneiro” e “ser morador antigo”, como se verifica
na fala dos entrevistados E.Y., com 43 anos, S.M., com 75 anos, I.K, com 74 anos, R.N, com
45 anos, Ta.H., com 77 anos: “o primeiro mesmo foi Minaji-san
19
, que chegou em 1955”. Os
informantes estão se referindo a Minaji Miyakawa, pai do entrevistado T.M. O entrevistado,
T.M., veio com dezoito para dezenove anos com seus pais à nova cidade que se formava.
O entrevistado S.M., com 75 anos, quando, na entrevista lhe foi perguntado “por que
escolheu vir morar no município de Terra Roxa”, ele respondeu: “porque tinha vendedor que
fazia propaganda de terra boa e barata. Veio direto para Terra Roxa, porque dez alqueires
não eram suficientes para a família”. Quando se tornou adulto e se casou, os dez alqueires de
propriedade da família representavam pouca terra para muitas pessoas trabalharem e dela
tirarem seu sustento. Disse que “ao vir para Terra Roxa, em 1965, comprou terras, perto da
região onde se chama hoje São Benedito”, mas que em 1967 trouxe a família para fixar
residência, pois estava casado com Y. M. e tinham quatro filhos. Veio também a mãe de S.M.
Segundo uma entrevistada, I. K., com 74 anos de idade e seu esposo, G. K, falecido em
1985, vieram ao Município em 1963, tinham dois filhos e depois tiveram mais cinco filhos.
Ela relatou que o marido e ela vieram “procurar um progresso, tinha umas quarenta e cinco
casas só; a Companhia colocou bastantes capangas”. Ela relatou que “trouxe uma loja de
Armarinho, bazar com tecido, tinha aqui os Miyakawa e o Murakami, e depois foi buscar
meu sogro, sogra, cunhada e vieram morar também”. Conforme se interpreta, aCompanhia”
referida na entrevista é a CODAL, Companhia de Colonização e Desenvolvimento Rural, que
vendia os lotes de terra e planejava o desenvolvimento da região e, que apesar das
19
Segundo Shindo, “san é equivalente a ‘senhor’ e ‘senhora’. Em japonês, é rude chamar alguém diretamente
pelo nome” (2006, p. 14).
dificuldades na cidade que surgia, esta fora escolhida por aquela família de nipo-brasileiros
como esperança para um futuro melhor.
Segundo outra entrevistada, T. H., com 77 anos, relatou que “nasceu em Aichi-ken,
Japão, e veio com a família em 1933, no navio Hawai-Maru”. Ela e os pais residiram em
Mogiana, estado de São Paulo. Casou em 1950 com Te. H. Seu marido na época morava em
Lucélia, estado de São Paulo. Tinham os quatro filhos quando vieram para esta região. Tendo
lhe sido perguntado por que vieram a Terra Roxa, ela respondeu: “Nós trabalháva[mos] como
meeiro de café e ele juntava, juntava dinheiro e veio prae comprou mato, né?”. Este relato
expõe algumas das dificuldades encontradas pelos agricultores na região, como o árduo
trabalho para fazer a derrubada do mato para depois plantar o café e esperar o tempo
necessário para que ele produzisse.
Dos relatos obtidos e confrontados com documentos em posse da Associação Japonesa
de Terra Roxa, constatou-se que são considerados pelo grupo como as primeiras as famílias:
a) Minaji Miyakawa: falecido em 26/10/89, natural de Aichi-ken, Japão
20
, casado com
Shizue Miyakawa, falecida em 31/01/77. Da união, nasceram os filhos Mario Akira, Tadashi,
Yoshiko, Tieko, Shigueo, Mieki, Sumiko e Teruko Hata. Minaji chegou a Terra Roxa em 29
de outubro de 1955. Estabeleceu-se em zona urbana, onde teve quina de arroz e
posteriormente construiu o “Mercado Ouro Verde”, praticamente em frente ao marco zero da
cidade. Foi o primeiro morador a cultivar hortelã. Foi também o fundador da Associação
Japonesa que deu origem à Acenibra (Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira ).
b) Yoshikazu Tanaka: falecido em 29/07/90; natural de Okayama-ken, Japão, casado
com Aiko Motizuki, sendo pai de Oscar (falecido), Elza (falecida), Mauro, Carlos e Thiago.
Yoshikazu chegou a Terra Roxa em 1956 e trabalhou em sua propriedade na localidade de
São José – que antigamente, era distrito de Terra Roxa, atualmente, é considerada um bairro.
20
O Japão atualmente é dividido em quarenta e sete províncias e em nove regiões. Esses nomes encontram-se em
“Anexos”. Disponível em <www.noticiasdobrasil.com.br>
c) Sakae Takayama: Natural de Guma-ken, Japão, nascido em 21/08/1939. Chegou ao
Brasil em 1931. Casado com Tereza Emi Tanabe, Sakae é pai de onze filhos. Chegou a Terra
Roxa na localidade de Alto Alegre, distrito de Terra Roxa, em 1961, formou sua propriedade
de café e construiu um armazém de “Secos e Molhados”. Exerceu a atividade comercial
durante trinta e cinco anos.
d) Hideo Hata: Natural de Promissão, São Paulo. Chegou a Terra Roxa, na localidade
de Santa Rita do Oeste em 29 de setembro de 1959. Formou propriedade na Estrada Marfim.
Casado com Tiyo Hata (ambos falecidos). Da união, nasceram Kimiko, Takeshi, Minoru,
Yoshiko, Misako, Kiyoko, Setsuko, Toyoko e Nobuhide.
e) Tetsuo Hata: Natural de Promissão, São Paulo. Falecido em 14/12/93. Chegou em
Terra Roxa em 1959 em Santa Rita do Oeste. Casado com Tatsuko Yassue, tiveram os filhos
Valdemar Tadao, Alcides Hitoshi (falecido em 09/10/2005), Irina Takiko e Luis Mitsuro.
f) Nagao Yassue: Nasceu em Gifu-Ken, Japão, em 09/12/1931. Casado com Satsuki
Akiyama em 07/12/1957. Da união, nasceram os filhos Mário Toshio, Valdomiro Hissao,
Emílio Mitio, Luis Tatsui e Edgard Sueyoshi. Nagao chegou a Terra Roxa em Alto Alegre em
1963 na propriedade rural.
g) Juniti Mori: Natural de Gifu-ken, Japão. Falecido em 17/11/1995 aos 94 anos. Veio
para o Brasil, casou-se e trabalhou na agricultura paulista em Cafelândia e veio para Alto
Paraná, onde permaneceu até vir a Terra Roxa. Juniti chegou a Terra Roxa em 1964, com a
esposa Shigee (falecida em 01/08/92). Desta união, nasceram os filhos Nelson Massanori
(falecido em 22/02/1974), Hilário Hikaru (falecido em 16/11/1971), Antonio Fukuo, Maria
Kofumi, Elisa Midori e Teresinha Haruka. A família Mori também vive no centro da cidade e
tem posto de gasolina.
h) Suehiro Shimokawa: Natural de Promissão, São Paulo, nascido em 01/08/1924 e
falecido em 1971. Casado com Naoko Shimokawa. Desta união, nasceram 11 filhos. Chegou
na localidade de Alto Alegre em 1962, trabalhando em propriedade rural.
Estas famílias são consideradas pelos participantes da etnia como os precursores, com
a vinda ao Município entre 1956 a 1964, sendo que a família Miyakawa, com sua chegada em
1955, é considerada a pioneira. Estes dados foram delimitados, pois são os sobrenomes que
constam registrados no Clube Acenibra.
Segundo dados obtidos do IBGE
21
, do censo de 1970, havia no município, 38 chefes de
família, que se reconheceram como pertencentes à etnia japonesa, mas os sobrenomes não
foram demonstrados, estando ou não repetidos. Os isseis e nisseis trouxeram para o
Município, sobrenomes como: Endo, Fujiwara, Hata, Hataoka, Kakimori, Kawase, Konno,
Kushino, Makiyama, Matsubara, Matsui, Miike, Miyakawa, Momose, Mori, Murakami
Nakamura, Nishida, Noda, Ogassawara, Shimokawa, Takahashi, Takayama, Tanaka, Tokumi,
Yassue, Ymazato, Uno, inclusive, alguns deram nome a estabelecimentos comerciais, como
Supermercado Hata, Miike Vídeo e Produções, Posto Mori Shell e Ipiranga, Mecânica
Tokumi, entre outros. os agricultores, os trabalhadores com horta, os comerciantes, os
feirantes e os profissionais liberais. Como foi salientado anteriormente, não foi possível
contemplar a todos os sobrenomes, especialmente devido ao tempo da pesquisa, ou porque de
alguns sobrenomes, as pessoas não mais residem no Município, ou até mesmo porque alguns
faleceram. Um primeiro critério adotado para as entrevistas individuais e em família foi
verificar junto aos dados da Associação Nipo-Brasileira o nome dos precursores no Município
e o outro critério foi verificar a possibilidade de acesso às pessoas mais velhas representantes
daquele ramo patronímico. Assim, foram entrevistadas pessoas com os sobrenomes: Hata,
Kakimori, Kawase, Matsubara, Matsui, Miyakawa, Mori, Nakamura, Takayama, Tokumi,
Yassue e Ymazato.
21
O IBGE situa-se à avenida Coronel Otávio Tosta 47, Guaíra, Paraná.
2.4.1.1 Para Preservar a Cultura: a Acenibra
A Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira, Acenibra, popularmente chamada
de “O Clube Japonês” é o local onde este grupo étnico se reúne para os encontros sociais que
contribuem para preservar e conservar a identidade cultural na região. A fundação deste clube
no município de Terra Roxa, teve início em 1956, com a denominação de Associação
Japonesa, entidade fundada por Minaji Miyakawa, com participação de várias famílias de
origem japonesa residentes na época. O primeiro presidente foi Minaji Miyakawa e o segundo
foi Tetsuo Hata.
Em 1978, na gestão de Takao Momose, o clube teve a denominação mudada para
Acenibra Associação Cultural e Esportiva Nipo-Brasileira de Terra Roxa, da qual o atual
presidente pela segunda gestão consecutiva é Mário Toshio Yassue.
Na Associação são realizados eventos tais como jantares típicos, comemoração do dia
das mães, dos pais, das crianças undokai (gincana esportiva), entre outras, que contribuem
para dar continuidade à tradição japonesa nesta cidade.
Dentro desta Associação, o Fujinkai (Clube feminino), um clube composto
exclusivamente por senhoras, o qual tem como presidente, no segundo ano consecutivo Emília
Fumiko Yassue. No Fujinkai, realizam-se jogos esportivos para a participação de todos os
eventos promovidos pela Associação e excursões, entre outros.
Há também o Seinenkai (Associação de moças e rapazes), tendo como presidente atual
o jovem Jader Hiroshi Matsui.
A Acenibra, local onde antigamente os nipo-brasileiros se reuniam para realizar
festividades culturais e para recordar tradições e se comunicar em língua japonesa.
FIGURA 7 – FOTO DO CLUBE ACENIBRA E A COLÔNIA JAPONESA DE
TERRA ROXA
FONTE: Arquivo particular de Nagao Yassue.
NOTA: Imagem fotografada em 13 de maio de 1984, com cópias vendidas às diversas famílias
presentes na foto. Segundo informações obtidas junto aos entrevistados, esta é a foto que reuniu maior
número de famílias.
Atualmente, o clube é liderado por seus descendentes, mas aberto a todos,
independentemente da etnia, e seus participantes dividem suas tradições, inclusive, o típico
prato da culinária japonesa, o sukiaki, servido em um jantar tradicional. Os ingressos são
vendidos não exclusivamente dentro do grupo étnico e mobiliza muitas pessoas desde a
compra e doação dos ingredientes da culinária, até a acolhida e a preparação da refeição, que é
preparada exclusivamente por associados ao Clube.
Segundo o presidente da Associação, esta se mantém financeiramente através da
mensalidade paga pelos seus sócios e através de aluguéis para festas de aniversário e de
casamento e através de jantares típicos. É através do Clube que reuniões são marcadas, grupos
de etno-brasileiros são recebidos e viagens em grupo são realizadas para o encontro de jogos
esportivos e cognitivos.
2. 4.2 (Re)Territorialização e valores éticos do grupo
Segundo informações de Oguido, “uma pesquisa realizada na década de oitenta
apontou para três valores mais expressivos da colônia nipo-brasileira: a honestidade; a
dedicação no trabalho e no estudo, a educação”(1988). Também uma das entrevistadas, I.K.,
nissei, com 75 anos, assim se expressou quando lhe foi feita a pergunta: “Fala pra nós alguma
dificuldade que a senhora sentiu aqui no Brasil?” “Ahhh, acho que foi o estudo, né?”. A
expectativa era de que a resposta iria relatar sobre aspectos financeiros ou ambientais, e a
resposta foi sobre “educação escolar”, esta informação retrata a importância dada ao estudo
escolar.
Outra das entrevistadas, M.M, de 70 anos, assim se reportou referindo-se à vinda do
pai ao Brasil:
Meu pai veio do Japão em 1912, ele tinha 17 anos. A viagem durou sessenta
dias e eles estudavam com uma cartilha do povo brasileiro para aprender a
língua. Meu pai chegou em São Paulo na terceira expedição de imigrantes em
Santos, no Navio Santos Maru. Quando desembarcou, ele era delegado, ou
seja, fazia parte da delegação como intérprete no Brasil, por saber um pouco
da língua portuguesa. Ele foi trabalhar na fazenda Cafelândia, São Paulo. Por
lá entrou todo
22
imigração, foi por Cafelândia, o custeio foi pago pela fazenda.
Morou lá vinte anos, desbravando a terra.
Conforme o relato anterior, percebe-se a aceitação do desafio para o aprendizado da
língua do Brasil, o estudo com zelo, a disposição para o trabalho. O pai da entrevistada era um
imigrante culto e pobre, que se dispôs a aprender uma segunda língua tão diferente de sua
língua materna.
22
Falado pela entrevistada no gênero masculino.
Aos valores éticos citados no livro de Oguido (1988), outros valores foram também
somados através dos relatos biográficos dos entrevistados, como: a força para o trabalho, a
coragem e a persistência, que podem ser reportados na fala de vários entrevistados, tanto
quando relembram da chegada ao Brasil, quanto quando especificamente estão relatando sobre
as dificuldades relacionadas à vida no início da colonização do Município, conforme
exemplifica a entrevistada Y.M., com 68 anos, referindo-se ao esposo: "Ele perdeu o pai
quando tinha treze anos, era o filho mais velho, com treze anos precisou trabalhar na roça,
puxou enxada”. O senhor referido é S.M., com 75 anos, nascido no estado de São Paulo, na
região chamada Primeira Aliança, no município de Mirandópolis. S.M. relatou que “os outros
irmãos tinham nove, cinco e três anos”. O relato de N.G., com 75 anos, declara que: “É, nós
trabalhamos dezesseis anos e não tínhamos comprado terra, depois conseguimos comprar.
O Brasil cresceu por causa do estrangeiro que queria ficar rico e trabalhava muito, a gente
tinha que trabalhar dobrado, até no domingo a gente trabalhava”.
Quanto à chegada a Terra Roxa, o entrevistado T.M., nissei, com 70 anos, recorda
emocionado: “É, a primeira missa que nós rezamos, não tinha nem capelinha, foi em 1955.
Nós mesmos fomos no mato, cortamos madeira, fizemos a cruz e amarramos com cipó.
juntamos meia dúzia de gente e fomos buscar o padre em Guaíra, que é cidade velha”. Em
outra entrevista, I.K., nissei, com 75 anos, assim declarou: “aqui em Terra Roxa, em 1963,
Nossa Senhora!, naquele tempo que nós viemos, aqui não tinha casa de material ou de tábua,
era tudo coberto de prancha de palmito!”. O relato de T.T., com 72 anos, reforça as
dificuldades encontradas:
Era puro mato aqui, tinha dois casas. Poço também tinha um só. Cedo,
levantava seis horas, tinha cinqüenta barde pra tirar no sarril
23
. Pra tomar
banho tinha que sair de caminhão no rio São João, embaixo da ponte. A
casa nós fizemos com tábua, mas quando nós entramos aqui, a gente morou
um mês debaixo da lona, que nem bóia-fria, até fazer a casa, né?(...) E eu
23
Cilindro disposto horizontalmente e no qual se enrola corda, cabo ou corrente de um aparelho de levantar
pesos (FERREIRA, 1999, p. 1820).
levava almoço na roça, com criança, nenenzinho nas costas e outro na mão, eu
vi oncinha, não muito grande, sabe que meu tremeu, tremeu, quase não deu
pra chegar onde meu marido estava, foi pulando galho, pulando galho (...)
Nós cortávamos árvore com serrote, pegava trançador cortava redonda, depois
pegava facon eu e ele, né?, batia, batia e depois com esses tabuinha nós cobria
a casa que antes tinha sido de lona, né? Carregava da roça até aqui
24
.
Outra entrevistada, Ta.H, quando lhe foi perguntado: “E aqui em Santa Rita, comprou
terra e foi trabalhar em quê?” Ela sem ironia, mas em seu discurso revela a decepção em vista
das dificuldades sofridas: “Comprou mato, né? Teve que derrubar árvores e plantou café.
Dava trabalho... plantei café e café, tudo [todo] ano morria, todo ano, geada, geada... Quando
tem mato bastante tem mais geada, sempre dois graus, zero grau. Geou muito, nunca deixou
criar café, era muito trabalho”. A força semântica de “comprou mato”, cria simbolicamente a
imagem das dificuldades sofridas para desmatar e desbravar a terra, para torná-la agricultável.
Trazendo mais próximo do tempo presente, ainda no que se refere à disposição para o
trabalho, o relato de R.I., sansei, nascido em 1973, demonstra que em 1990 foi como
decasségui
25
ao Japão: “Fui ao Japão com 17 anos, 12 anos fiquei lá, voltei duas vezes.
Fiquei um ano e meio no Japão na Escola pra aprender a ler e escrever em japonês. Fui
tradutor, a gente aprendeu lá”. Este entrevistado de 33 anos, com pouca escolaridade no
Brasil, trabalhou como intérprete no Japão. Ele retornou em 2002 ao Brasil, casou, teve filho e
para lá não voltou. Portanto, o enraizamento dos nipo-descendentes no Brasil é uma realidade.
E, se no início da colonização japonesa, a intenção dos imigrantes recém-chegados era
ficar ricos e voltar ao Japão, o plano inicial de retornar não se concretizou. Nawa (1988) cita
que, em um estudo realizado em 1939, constatou que 85% dos imigrantes esperavam retornar
ao Japão e apenas 10% estavam decididos a enraizar no Brasil, mas que, numa amostragem
feita, posteriormente, em 1952, o quadro apresentou-se bem diferente: 87% pretendiam
24
Fala literal, por exemplificar algumas das dificuldades sócio-línguo-culturais a que se propõe registrar esta
pesquisa.
25
Variante de dekassegui (<www.google.com.br). No dicionário Ferreira (1999, p. 609), está em forma de
verbete: decasségui, cuja escrita será seguida.
permanecer no Brasil e 11% pretendiam voltar. Mas na atualidade, também muitos nipo-
brasileiros estão fazendo o caminho inverso ao que foi percorrido por seus pais quando vieram
ao Brasil à procura de melhores condições econômicas, pois o Japão é, na atualidade, um país
moderno e rico e para se direcionam decasséguis brasileiros à procura de melhor
remuneração salarial.
Atualmente, o Brasil ainda é o país que possui a maior expressão demográfica de
etno-descendentes fora do Japão e o estado do Paraná “possui o maior continente de
imigrantes japoneses e seus descendentes, é o segundo dentro do espaço geográfico brasileiro”
(OGUIDO, 1988, p. 53) e, no ano de 2008 estarão sendo completados cem anos desde que os
primeiros imigrantes chegaram. No Brasil, nasceu a geração denominada nissei, seguida da
geração sansei, que foi seguida de geração yonsei e após, a quinta geração, denominada gosei
(OGUIDO, 1988, p. 227). De forma menos específica, os isseis enraizados no Brasil,
naturalizados ou não, e as gerações de descendentes nipônicos, cidadãos nascidos no Brasil,
são chamados nipo-brasileiros. Contudo, a própria forma de diversas classificações, e ao
referir-se como eles, traz embutida em sua forma semântica, mesmo que veladamente, um
processo de não-identificação como um nós e assinala que a estigmatização do diferente
persiste. Mas este grupo, mesmo minoritário, procura conquistar seu espaço, reelaborar um
sentido “híbrido de cultura” (HALL, 2003, p. 91), e buscar integrar-se, encontrar com
criatividade, meios para o pertencimento cultural de forma pacífica e ordenada.
Neste Município de terra vermelha, roxa, branca, ou mista; que tem as reminiscências
de um passado que reporta às reduções jesuíticas, que é formado por comunidades de
diferentes ascendências étnicas e por brasileiros vindos do norte e nordeste do Brasil, são
todos terra-roxenses, brasileiros que, vivendo sobre esta terra, procurando por integração e
integrando-se culturalmente, participando da economia do Município e mesmo no invisível do
cotidiano, exercendo e recebendo influências mútuas, constroem identidades e são construídos
por/com sua cultura social e lingüística.
3 LINGUAGEM E SEUS ASPECTOS SOCIOCULTURAIS E IDENTITÁRIOS
Ai palavras, ai palavras
Que estranha potência, a vossa,
Todo o sentido da vida
Principia à vossa porta.
Cecília Meireles
Este capítulo tratará sobre a importância da linguagem como formadora da
sociedade humana e para a formação da cultura e da identidade de um povo, buscando
focalizar o estudo dos aspectos socioculturais e identitários junto aos nipo-brasileiros.
As palavras nascem, vivem e morrem porque são reflexos das pessoas que formam
a sociedade humana. Mudam os homens, muda o mundo, muda-se a forma de se
expressar; modismos chegam e passam; altera-se a carga semântica de uma palavra devido
a determinado contexto social, ou geográfico, ou histórico/temporal e não é possível falar
em linguagem descontextualizadamente. A linguagem é o “maior milagre humano”
26
; sem
ela, não haveria sociedade estruturada como a que aos humanos foi dado conhecer, pois,
como afirma Charaudeau, “todo ello se realiza com ayuda del lenguaje, por medio del
lenguaje mismo, sin el cual no habría sociedad humana. El lenguaje, al poner a los
individuos em relación, crea sentido y ese sentido crea el lazo social” (2005, p. 311). Pais
resume e explícita o fundamento da construção da sociedade, via linguagem:
A linguagem aparece, ao mesmo tempo, como a base e o instrumento da
‘construção social da realidade’. Por um lado, a linguagem aparece como
um dos principais meios da socialização do indivíduo que se transforma
26
Da autora Ana Maria Machado. Citado por Tarcísio Padilha no discurso da Sessão Solene à Acadêmica Ana
Maria Machado, quando esta tomou posse na Academia Brasileira de Letras. Vide em
<www.academia.org.br/abl/cgi/cgilua> Acesso em 04 de set. 2006.
em habitante de um mundo compartilhado por outros –, proporcionando,
por outro lado, os meios através dos quais, na convenção com os
demais, o “mundo comum” ganha plausibilidade (PAIS, 2003, p. 104).
Para Bakhtin, as questões da linguagem estão além da noção de sistema lingüístico,
além de um sistema fixo de sentido entre significado e significante, conceito este defendido
por Saussure. Com sua crítica radical à postura saussureana, Bakhtin elabora uma concepção
de linguagem que não a separa dos sujeitos reais e concretos, comprovando que a interação
verbal constitui a realidade primordial da língua. Para Bakhtin, “toda palavra serve de
expressão de um em relação ao outro. Através da palavra, defino-me em relação ao outro, isto
é, em última análise, em relação à coletividade” (1999, p. 113), e também que “um signo é um
fenômeno do mundo exterior, mas os signos só podem aparecer em um terreno interindividual
(...) e ainda assim é fundamental que esses dois indivíduos estejam socialmente organizados,
que formem um grupo: assim um sistema de signos pode constituir-se” (BAKHTIN, 1999,
p. 35). A linguagem é vista como um lugar de interação humana, muito mais do que o modelo
de informação entre emissor e receptor. Segundo Faraco,
A concepção de linguagem fundamentada por Bakhtin torna os falantes
sujeitos. Os falantes não são meros atualizadores de leis e códigos de um
sistema inacessível, nem são assujeitados em sentido absoluto a uma supra-
estrutura ideológico-discursiva, mas também o são hipertrofiados na
condição de fonte absoluta da expressão. (2001, p. 119).
Orlandi afirma que “a linguagem é uma prática [social]; não no sentido de efetuar atos,
mas, porque pratica sentidos, intervém no real” (2001, p. 95), pois, no discurso, o sujeito
significa a si próprio, significado à vida e ao mundo, a realidade se constitui nos sentidos
que os sujeitos interpretam, compreendem e sentem.
Segundo a perspectiva de Bakhtin, a palavra não tem a intenção de ser monológica, e a
força expressiva não está na palavra. Ela vem de alguém e se dirige a alguém e, quando se fala
em diálogo, não é somente aquele face-a-face, masum “tu” ou “outro” virtual (BAKHTIN,
2000, p. 356), afirmação a que Maingueneau acrescenta:
O outro no espaço discursivo não é jamais redutível a uma figura de
interlocutor. Certamente, poder-se-ia considerar que, para cada um dos
discursos, seu Outro é um tu virtual. Se quiser mesmo pensar em termos de
pessoa lingüística, talvez seja mais justo ver no Outro um eu do qual o
enunciador discursivo deveria constantemente separar-se. Ele seria então, de
alguma forma o interdito de um discurso” (2005, p. 39-40).
Inscreve-se a visão do discurso como uma co-participação social, em que o sujeito do
discurso não diz, ele é dito pelo discurso: o que uma determinada estrutura lhe permite e o que
lhe disseram. O sujeito do discurso se enuncia enquanto ser afetado pelo simbólico e num
mundo vivido através do simbólico, torna-se sujeito. Segundo Fiorin (2000, p. 49) “o sujeito
inscrito no discurso é um ‘efeito de sentido’ produzido pelo próprio discurso, isto é, seus
temas e suas figuras é que configuram a ‘visão de mundo’ do sujeito”.
Segundo Bakhtin, os indivíduos estão imersos nas relações sociais historicamente
dadas, das quais participam de forma ativa e responsiva. Linguagem e sociedade são
indissociáveis (1999). A visão bakhtiniana recusa-se a separar o individual do social. A
linguagem é construída socialmente, é uma prática social. Ela cria a imagem do mundo, mas é
também produto social e histórico. Assim, a linguagem criadora de uma imagem de mundo, é
também criação desse mundo.
3.1 ENUNCIAÇÃO E EFEITO DE SENTIDO
Segundo Bakhtin “a verdadeira substância da língua não é constituída por um sistema
abstrato de formas lingüísticas, nem pelo ato psicofisiológico de sua produção, mas pelo
fenômeno da interação verbal, realizada através da enunciação, ou das enunciações” (1999, p.
123). A enunciação, compreendida como uma réplica do diálogo social, é a unidade de base
da língua. Ela é de natureza social, portanto ideológica. Ela não existe fora de um contexto
social, que cada locutor tem um ‘horizonte social’”(BAKHTIN, 1999, p. 16). Segundo o
autor, “la vida es dialogica por su naturaleza. Vivir significa participar em um diálogo... El hombre
participa em este diálogo todo y con toda su vida: com ojos, labios, manos, alma, espíritu, con todo el
cuerpo, con sus actos” (BAKHTIN apud FARACO, 2001, p. 119).” Bakhtin afirma que “as leis da
evolução lingüística não são de maneira alguma as leis da psicologia individual, mas também
não podem ser divorciadas da atividade dos falantes. As leis da evolução lingüística são
essencialmente leis sociológicas (1999, p. 127), pois, ainda que o recém-nascido tenha a
predisposição para a sociabilidade, será na relação com os outros que o seu mundo semiótico
irá sendo construído, pois a criança, ao nascer, estará imersa nos sentidos culturais de sua
comunidade de falantes, sentidos também expressos nos nomes dados e/ou nominalizados
pelos pais aos recém-nascidos e na construção identirária do nome no percurso social de vida
do sujeito, identificados e identificadores do ser que se esconde naquela designação
onomástica.
Bakhtin afirma que “o discurso se molda sempre à forma do enunciado que pertence a
um sujeito falante e não pode existir fora de outra forma” (2000, p. 293) e, de acordo com a
posição da Análise de Discurso (Francesa), o enunciado discurso engloba tanto os enunciados
pertencentes a uma mesma formação discursiva como as suas condições de produção,
afirmação reiterada por Orlandi “o discurso é o lugar em que se pode observar essa relação
entre língua e ideologia, compreendendo-se como a língua produz sentidos por/para os
sujeitos” (2001, p. 17).
Os sentidos não são fixos. Onde se fala em efeito de sentido, leia-se significação, em
conta do discurso em que ele se insere: é efeito de interlocução, por isso não é estável.
Orlandi, cita que “o discurso não é geral como a língua (ou a competência) nem individual e
assistemático como a fala (performance). Ele tem a regularidade de uma prática, como as
práticas sociais em geral” (1986, p. 62). Assim, o discurso pode ser definido, não como
transmissor de informação, mas como efeito de sentido entre locutores. Não é suficiente,
portanto, haver somente intenção de um locutor, mas o entendimento, a significação
alcançada. As manifestações discursivas estão sempre relacionadas a um tipo de atividade
humana e sempre marcadas por um sistema de valores, que se entrecruzam, complementam e
concorrem entre si.
O nome personativo faz parte de um discurso, portanto também é discurso. O nome
próprio diz quem é, então diz algo e é dito por alguém, procede de alguém e é dirigido a
alguém. Cada ser humano constitui-se a partir do discurso do outro. Fiorin afirma que “o
homem aprende a ver o mundo pelos discursos que assimila e, na maior parte das vezes,
reproduz esses discursos em sua fala” (2000, p. 35). Um mesmo nome, referindo-se à mesma
pessoa, pode carregar em si sentidos diferentes, dependendo do papel social de quem o
expressa, seja a mãe, a professora, o amigo, a namorada, entre outros, confirmando
Charaudeau sobre “o reconhecimento do poder: a legitimidade socioinstitucional (...), a
legitimidade vem ao sujeito não somente do espaço externo, mas do grau de adequação que se
estabelece entre a identidade psicossocial e seu comportamento enquanto ser linguajeiro,
comunicante” (1996, p. 27).
Tanto o nascimento quanto a seqüência da vida do ser humano vão sendo marcados
pelo diálogo com o outro, seja pelo olhar, pela “entonação expressiva da palavra”
(BAKHTIN, 2000, p. 312), ou pelo silenciamento, por aquilo que este outro e sabe a
respeito do mundo, da convivência, a respeito do “eu” do discurso.
3.2 CULTURA E IDENTIDADE
Bakhtin afirma que “toda palavra serve de expressão a um em relação ao outro.
Através da palavra defino-me em relação ao outro, isto é, em última análise, em relação à
coletividade. A palavra é uma espécie de ponte lançada entre mim [o enunciador] e os outros
”(1999, p. 113). O ser biológico ao qual se denomina “humano”, é um ser que se identifica, é
um ser que se no “olhar” do “outro” pelo “olhar” desse “outro”, que se percebe pelas
palavras e expressões utilizadas por esse “outro”. Se, por um lado, o ser é individualmente o
articulador do discurso, por outro lado, é socialmente motivado para o determinado discurso e
a sua sustentação advém do contexto. Segundo Fiorin, “sem linguagem não se pode falar [nem
mesmo] em psiquismo humano, mas somente em processos fisiológicos ou processos do
sistema nervoso, pois o que define o conteúdo da consciência são fatores sociais” (2000, p.
35). Neste sentido, Sarup afirma que:
a identidade é contraditória e fragmentada. O eu é necessariamente
incompleto, inacabado, é o sujeito em processo. (...) a identidade é
construída na e através da linguagem. Acrescente-se o ponto que é sempre
dentro da representação que a pessoa se reconhece (...) a identidade é
relacionada Àquilo que alguém não é o Outro. (...) a identidade é
concebida na e através da diferença (1996, p. 47).
Mas de que diferença se trata? São diferenças que se compõem pela negação de
equivalência, seja ela forjada no aspecto físico, psicológico, social e histórico. Mas essa
separação entre o “eu” e os “outros” sempre terá uma determinação cultural marcada por
valores morais e sociais. Por isso, considera-se a identidade do indivíduo como um “algo” que
se constrói e a linguagem age como meio para a identificação entre os componentes de um
grupo, mas também é dinâmica, como a sociedade humana. A experiência traduz-se em
expressões lingüísticas, em conceitos, que são o resultado da vivência pessoal e social.
De acordo com Silva,
a identidade e a diferença são o resultado de um processo de produção
simbólica e discursiva. O processo de adiamento e diferenciação lingüísticos
por meio do qual essas são produzidas está longe, entretanto, de ser
simétrico. A identidade, tal como a diferença, é uma relação social. Isso
significa que sua definição discursiva e lingüística está sujeita a vetores
de força, a relação de poder. Elas não são simplesmente definidas; elas são
impostas. Elas não convivem harmoniosamente, lado a lado, em um campo
sem hierarquias. Elas são disputadas (SILVA, 2003, p. 81).
Levando-se em consideração, que, conforme aponta Hall (2003), o pressuposto de
identidade não está impresso nos genes e que não estão nos genes os princípios de raça, pois
esta não é uma categoria biológica ou genética que tenha qualquer validade científica, é pela
interação entre o eu e a sociedade que a identidade individual e conseqüentemente a coletiva
vão sendo formadas. O sujeito ainda tem um núcleo – sua subjetividade –, mas este é formado
e modificado num diálogo contínuo com os mundos culturais “exteriores” e as identidades
que esses mundos oferecem. Segundo Erickson, “a formação da identidade está relacionada a
reflexões e observações simultâneas feitas pelo indivíduo. Esse processo ocorre em todos os
níveis do funcionamento mental e, por eles, o sujeito julga a si mesmo” (1976, apud
LOUREIRO, 2004, p. 51).
Por sua vez, a cultura, como um conjunto de representações simbólicas, porque são
compartilhadas socialmente, apresenta-se em um espaço social que oscila entre o rígido e o
flexível. Segundo Certeau (1995), a cultura é o flexível. Do lado do rígido, estão o espaço
planificado com seus sinais objetivos, o que é mensurável e/ou os textos; do lado do flexível,
estão a organização efetiva dos espaços internos e externos, os deslocamentos ou
enrijecimento de mentalidades, os “valores” de um grupo, “um enorme ‘resto’ na gestão de
uma sociedade”. Aparentemente, ela melhor se representa no rígido, mas a cultura se faz e se
refaz através do flexível, pois é constituída de atos e fatos do cotidiano, de cumprimentos de
tarefas, de respostas a incentivos/estímulos midiáticos e políticos. Assim, “a cultura oscila
entre o que se inventa e entre o que permanece” (CERTEAU, 1995, p. 235).
Segundo Loureiro (2004, p.63; 67) “passa-se a perceber que as diferentes formas de
organização social, de hábitos e crenças são apreendidas nas relações sociais (...) em que
modelos de identidade, de identificação e de afinidades são oferecidos”. Parafraseando Silva
(2003, p. 74-77), quando se refere que falar em identidade é invocar a identificação e a recusa
pela não identificação. Aquilo que se imagina único, pessoalmente seu, é fruto de uma
cultura, que, em sua representação a um novo grupo social causa estranhamento, e o que
dizer deste impacto sobre a identidade dos imigrantes japoneses recém-chegados ao Brasil,
que aqui foram imediatamente percebidos em sua diferente linguagem, seus hábitos
alimentares e seu aspecto físico? Segundo Certeau (1995), uma autonomia cultural, social ou
étnica sempre se manifesta dizendo não: “não, diz o negro, não sou um americano”; ou
dizendo que eles são japoneses, portanto, eles não são brasileiros?
Mesmo em um país multicultural como o Brasil, busca-se caracterizar através de
estereótipos o brasileiro. Segundo Silva, “a força homogeneizadora de identidade normal é
diretamente proporcional à sua invisibilidade” (2003, p. 83), o que se torna um paradoxo com
os nipo-descendentes, marcados pelas características físicas da etnia a partir de seus olhos
“puxadinhos” e que se prolongam na manifestação cultural mais imanente, a língua,
observada tanto no bilingüismo como nas variações dialetais, mas que, por outro lado, como
um grupo de minoria, não aparece na história do País, ou, quando muito, somente sob
aspectos folclóricos.
Segundo Fishman,
pode decir que cuanto más numerosos e importantes son los hablantes
nativos de una variedad particular, tanto mayores son su vitalidad,
autonomia e historicidade. Por el contrario, cuanto menos numerosa y más
baja es la clase social de los hablantes nativos de una variedade, tanto más
se puede reaccionar contra ella, si fuera un instrumento defectuoso o
contaminado, indigno de serios esfuerzos o funciones, y carente de
parentesco y unidad adequada” (1968, p. 52).
Quanto mais poderoso socioeconomicamente for o grupo representante de determinada
língua, isto se verá refletido no poder de uso daquela língua, o que se verifica no sistema
interior de uma mesma língua com suas variantes prestigiadas ou não e também entre línguas
diferentes, de contato e em contato. As línguas que representam minorias étnicas não o são
absolutamente de minorias em relação à quantidade de falantes, mas em relação à língua do
grupo que está no poder. É em relação ao conjunto de forças estabelecidas pelo grupo mais
poderoso e quem são os falantes usuários daquela língua. A convivência entre as línguas
reflete, de certa forma, a competitividade humana, mostrando que as línguas concorrem entre
si e se hibridizam umas com outras. Segundo Silva, “na perspectiva da teoria cultural
contemporânea, o hibridismo é a mistura, a conjunção, o intercurso entre diferentes
nacionalidades, entre diferentes etnias. A identidade que se forma não é mais integralmente
nenhuma das identidades originais, embora guarde traços delas” (2003, p. 87).
Conforme afirma Savedra, no Brasil uma língua majoritária, nacional: a língua
portuguesa do Brasil, país considerado monolíngüe, que não é. Não como negar a
existência e coexistência de “mais de 180 nguas indígenas (autóctones), além de cerca de
outras 30 línguas de imigrantes (línguas alóctones) provenientes da Europa, da Ásia, do
Oriente Médio e até de países do continente americano” (2003, p. 41).
Segundo Fishman (1968, p. 50) “todas las variedades de todas las lenguas son
igualmente extensibles y cambiables; de igual modo, todas são contráctiles e interpenetrables
al influjo de los modelos extranjeros. Sus virtudes están en los ojos (u oídos) de sus
cultivadores”, ou seja, as línguas têm uma tendência para a dispersão e para a hibridização
que também são verificadas na cultura. Para Hall (2003, p. 91), o hibridismo e o sincretismo
a fusão entre diferentes tradições culturais são uma poderosa fonte criativa, produzindo
novas formas de cultura, mais apropriadas à modernidade tardia que as velhas e contestadas
identidades do passado. Outros, entretanto, argumentam que o hibridismo, com a
indeterminação, a dupla consciência e o relativismo que implica, também tem seus custos e
perigos.
De acordo com Guimarães (2006), o multilingüismo brasileiro tem a finalidade de
caracterizar sua especificidade, enquanto um fato próprio do funcionamento de relações de
línguas. As línguas são afetadas, no seu funcionamento, por condições históricas específicas.
As línguas funcionam de acordo com o modo de distribuição de seus falantes. Elas estão
sempre relacionadas com aqueles que as falam. É por isso que as línguas são elementos fortes
no processo de identificação social dos grupos humanos. Isto caracteriza o que é, segundo o
autor, o espaço de enunciação.
No Brasil, já não é possível deixar invisível a existência de grupos étnicos, mesmo que
minoritários; não é possível deixar de levar em consideração a inter-relação de culturas e
identidades sociais em contextos simples ou complexos de aproximação de línguas e culturas.
Um contexto específico é a Escola em que se encontram crianças e jovens, revelando-se
culturalmente e convivendo com a diversidade cultural. Loureiro afirma que “a identidade
nunca é estabelecida como uma realização, na forma de uma armadura da personalidade ou de
qualquer coisa estática e imutável, é um processo em permanente construção”. (2004, p. 51)
O próprio documento que rege as Escolas de Ensino Fundamental de 5
a
a 8
a
séries, os
PCN’s Parâmetros Curriculares Nacionais –, contempla o respeito pelo multiculturalismo.
Ele convoca a Escola e, por extensão, os educadores, para o compromisso da cidadania. Nessa
perspectiva, na forma de conteúdos transversais, os PCN’s reconhecem a pluralidade cultural
do Brasil e argumentam para a necessidade do debate de questões sociais, para que os alunos
desenvolvam o respeito pelas diferenças, buscando uma forma de interação com o repertório
sociocultural (PCN 1998a, p. 17-41).
Certeau (1995) faz o questionamento e também afirma: em que condições pode ser
mudada a relação de forças que estabelece a maioria como limite de ação de uma minoria,
que milhares de maneiras de eliminar outras existências? Elas têm como característica
comum a vontade de instaurar uma unidade, isto é, um totalitarismo. A cultura no singular
impõe sempre a lei de um poder. A cultura no plural exige incessantemente uma luta
(CERTEAU, 1995, p. 241-242). O ser humano nasce culturalmente situado, o que não deixa
de ser uma imposição histórica, mas, com a interação social e lingüística, ele também estará
definindo e redefinindo o seu “pertencimento” cultural. Mesmo as minorias étnicas não são
“mudas”; elas travam relações em que uma hibridização cultural, étnica, lingüística e suas
relações de poder se fazem presentes.
Os imigrantes japoneses trouxeram consigo sua cultura e no Brasil foram percebidos e
mesmo estigmatizados, por seus traços sicos e pela língua muito diferente da majoritária do
Brasil.
3.2.1 Alguns Aspectos da Integração Social e Línguo-Cultural
Aqui no Brasil, os imigrantes japoneses ficaram em núcleos, formando comunidades
de sua etnia, verdadeiras “ilhas lingüísticas”. Segundo Wiesinger (1980 apud BORSTEL
2003b, p. 112), cita que “as ilhas lingüísticas são comunidades de fala relativamente fechadas,
de uma região onde se fala outra língua”. Os isseis aqui no Brasil moravam em comunidades a
que chamavam de coronia”, a colônia japonesa, onde falavam sua língua de origem, como
relatou T.M.: “lá era uma Colônia Japonesa, portanto que quando a gente chegou aqui em
Terra Roxa, a gente quase não sabia falar em brasileiro”.
A convivência limitada ao espaço da colônia tornou comum o uso do enunciado
gaijin. Pode-se citar que o contexto societal deu origem a estes dois enunciados de grande
representação etno-cultural no espaço geográfico brasileiro: gaijin e decasségui, o primeiro
designa estrangeiro e o segundo designa descendente de japoneses que vai trabalhar no
Japão. Ambos enunciados fazem parte do léxico brasileiro e estão dicionarizados
(FERREIRA, 1999, p. 960; p. 609).
Quando para S.M., nissei, com 75 anos, foi-lhe perguntado na entrevista “e o que vem
a ser gaijin?” ele riu e respondeu: gaijin é o que veio de fora, de outro país, mas na
Aliança, tinha japonês, era o contrário: quando via um brasileiro, ele que era gaijin”, foi o
uso de uma palavra para representar o Outro em contexto estrangeiro. De acordo com
informações obtidas, depreendeu-se que ao virem ao Brasil, os isseis sentiram-se
discriminados em sua etnia, mas também viram os “outros”, como “diferentes” de seu grupo
de origem (T.M., A.K., Sa.T., F.K., E.K., N.G., M.Y, I.K. M.K. e Ta.H.). A estigmatização
fica implícita quando se observa os casamentos, que, entre os entrevistados, nas gerações
issei, nissei – com exceção de um entrevistado sansei do sexo masculino –, todos mantiveram
casamentos interétnicos.
Uma entrevistada, F.K., issei, do sexo feminino, que veio ao Brasil com três meses de
casada em 1931, naquela época, com 19 anos, relatou:
Ele queria se aventurar, em primeiro, veio sozinho, solteiro (...) Esse amigo
arrumou duas noivas, uma pra ele e outra para o amigo aqui do Brasil, mas
no navio, a [noiva] com quem ele se casaria, preferiu o filho de um
trabalhador do navio, porque assim ela não teria que trabalhar na roça. Aí,
sem a noiva prometida, ele voltou para o Japão. Ele gastou tudo que tinha
ganhado no Brasil para voltar ao Japão à procura de uma esposa. Lá no
Japão, ele procurou durante três meses, mas nenhuma não queria vir para o
Brasil. Ia na vila, não deu jeito. Aí, meu tio que era amigo dele arranjaram o
casamento. Ele ia em casa, “brincar de jogo” e meu pai falou que eu
gostava [dele]. meu pai ficou com dele voltar de novo sozinho para o
Brasil, então meu pai mandou eu casar e vir. E quando o pai mandava tinha
que obedecer. Ficamos três meses no Japão, depois viemos. O primeiro
presente de casamento que recebi foi uma calça comprida.
A entrevistada supramencionada está com 94 anos. Segundo uma de suas filhas
(Se.M), lá no Japão, a família da mãe era muito tradicional e rica, com ascendência dos bushi
– samurais – e o pai era filho de um general do exército japonês. Na fala da entrevistada, pôde
ser observado que houve decepção com a ocorrência destes acontecimentos. Em outra parte da
entrevista, a decepção com o trabalho que tiveram que realizar no Brasil, pois “lá no Japão
tinha máquinas para cortar as árvores e aqui era tudo com a mão, faltava energia elétrica e
água” (F.K.).
A realização de uniões dentro da etnia japonesa é mais fácil de ser notada, mas o fato
em si não permite concluir sobre qual grupo estigmatizava primeiro o outro, a ponto de não
terem relações de namoro e casamento. Os casamentos entre descendentes japoneses e
“brasileiros”
27
somente vão se realizar a partir da geração sansei.
Segundo informações dos entrevistados sobre a forma de comunicação com os
brasileiros, foi respondido que “usava gestos”, referindo-se à mica (N.G., representante
issei, com 75 anos, sexo masculino e Ta.H., representante issei, com 77 anos, sexo feminino).
Oguido afirma que o completo desconhecimento da língua do Brasil, às vezes, criava aos
recém-chegados ao Brasil situações de ridículo, que levaram os brasileiros a ter certa
desconfiança da capacidade cognitiva dos imigrantes (1988). Da afirmação de Oguido, pode-
se depreender o grau de dificuldade e ainda ter comprovado como “a língua e a identidade se
constituem em um todo indissociável que designa o falante”, como afirma Sarup (1996).
Em língua japonesa, o som de uma palavra em língua japonesa pode levar a uma
palavra com sentido bem diferente em língua portuguesa, conforme foi relatado pelas
informantes, Y.H., representante issei, com 47 anos e Ta.H., representante issei, com 77 anos,
que, vivendo mais de quarenta anos no Brasil, têm o conhecimento da língua e conseguem
fazer uma comparação: “É, tem pessoa que chama, por exemplo, Massayoshi, todo mundo
fica chamando de Massa. Massa em português é feio, mas em japonês é um nome bonito,
27
É conveniente relembrar que brasileiros são todas as pessoas com cidadania brasileira, cidadãos nascidos no
Brasil, ainda que os pais sejam procedentes de diversos países, mas o enunciado é muito utilizado pelos
entrevistados quando se referem aos brasileiros que não têm ascendência japonesa, neste sentido, optou-se por
escrevê-lo entre aspas.
homem bem direito”. Elas expressaram um componente da cultura no Brasil: o diminutivo
hipocorístico, mas que no jogo intercultural passa a assumir novo significado.
Às vezes o jogo da palavra de uma língua para outra, provoca cacofonia, como, por
exemplo, através das entrevistas, foi observado que diferentes kanjis têm igual pronúncia,
como, por exemplo, os fonemas em língua portuguesa da sílaba /-ko/, em kanji representam
um enunciado com significado completo, como, conforme apresenta Shindo (2006, p. 178),
ele têm a significação de “criança e de filha” e são transcritos como ko em romaji e
geralmente fazem parte do nome de pessoas do sexo feminino, como foram citados: Chihoko,
Miwako, Mitiko, Setuko, Tatsuko, Yoneko e Yoko; mas, na referida sílaba, muitas vezes, a
vogal posterior média alta /o/ é pronunciada com o traço fônico da vogal posterior alta /u/, o
que causa transtorno em diversos níveis, dependendo do interlocutor.
também a sílaba /-ku/, da mesma forma escrita em romaji
28
, mas esse mesmo
fonema é a leitura de dois kanjis selecionados para nomes masculinos, em que cada qual tem a
respectiva significação: a) céu, b) longo período de tempo; palavras que trazem embutidas,
semanticamente uma ideologia positiva e, na cultura japonesa, muito escolhidas pelos pais
para compor o nome dos filhos, mas, no meio cultural brasileiro, os nomes japoneses
compostos com esta sílaba geram estranhamento cultural e até mesmo a estigmatização da
pessoa dona do nome.
Nawa relata outras dificuldades sofridas pelo desconhecimento da língua portuguesa e
também demonstra o embate cultural relacionado à linguagem e que foi vivido no interior das
famílias japonesas, pois
se por um lado a aprendizagem da ngua portuguesa era tida como
instrumento de sobrevivência, havia, por outro lado, a resistência em nome
da preservação das suas tradições culturais, porque acreditava que o
“espírito japonês” era incutido através da língua japonesa. Com o decorrer
dos anos, porém, a interferência do português no padrão de fala da língua
dos imigrantes começava a recorrer com maior freqüência. Devido ao
28
O desenho dos kanjis e sua leitura encontra-se em Shindo, 2006, p. 195.
ambiente sociolingüístico que não reforçava o repertório original,
proporcionando assim, uma exposição maior ao novo repertório (NAWA,
1988, p. 20).
Em casa e até a idade escolar, falava-se a língua japonesa. Com o ingresso na escola,
tinha-se o contato com a língua portuguesa e ampliava-se a situação de uso, conforme a
necessidade para entender e se fazer entendido na comunidade escolar. O uso da língua torna-
se competitivo conforme a situação comunicativa. Nawa (1988) afirma que a escolha
lingüística era crucial; se, por um lado, era grande a vontade de participar deste novo meio
ambiente, por outro, a língua materna simbolizava a tradição e a etnicidade.
3.2.2 O Fim da Segunda Guerra: Identidade em Crise
Uma agravante nas dificuldades em diversos aspectos e, sobretudo em aspectos
lingüísticos para os nipo-brasileiros no Brasil foi a Segunda Guerra Mundial e a política de
nacionalização estabelecida pelo governo de Getúlio Vargas, impondo que a comunidade
japonesa ficasse sem os únicos canais de comunicação com as suas origens a imprensa
escrita e falada –, visto que a grande maioria não havia adquirido, ainda, competência
lingüística em língua portuguesa. De acordo com a ACBJP, “entre 1942 a 1945, foram
levados a Curitiba, japoneses denunciados por terem ligado os aparelhos de rádios para ouvir
notícias do exterior” (2006, p. 142). Foi assim, em quase completa falta de informação que
souberam sobre a Segunda Guerra Mundial e, depois, tiveram a notícia de seu trágico fim.
Mas a falta de informações e,ou de informações desencontradas, resultaram que, no Brasil,
grupos de japoneses se dividissem em makegumi “os derrotistas” e katigumi “os vitoriosos”.
Há o relato do professor Watanabe, registrado no livro da ACBJP, narrando que ele, ao
ouvir a fala do Imperador Hirohito admitindo a derrota e, ainda, duvidando,
chorou incontrolavelmente. A seguir transmitiu a notícia a seus alunos. “Isto
foi o suficiente para que me impingissem o estigma do makegumi, alvo, a
partir de então, do ódio e perseguição dos katigumi. Alguns dias depois, na
calada da noite, minha casa foi incendiada e reduzida a cinzas, obra dos
seguidores dos katigumi(2006, p. 144).
O Tratado de Paz entre Brasil e Japão foi realizado em 28 de abril de 1952, no governo
do Presidente Getúlio Vargas (ACPJP, 2006, p. 145). Mas a Guerra atingiu os japoneses em
sua identidade também aqui no Brasil e, quando viram que não iam retornar ao país de
origem, resolveram criar raízes, buscando melhores condições de educação para os filhos, pois
havia a necessidade de proporcionar a eles uma educação adequada para viver como
brasileiros, no Brasil. Assim, começaram se mudar do campo para a cidade; por isso, a
tendência rural-urbana dos imigrantes japoneses naquela época.
Nawa ao analisar a mudança de código entre os nipo-brasileiros residentes em Brasília,
comparou a utilização da língua japonesa entre as gerações issei, nissei e sansei e afirmou que
“com os sanseis, ocorre exatamente o inverso [dos isseis], isto é, as interferências tanto no
nível fonológico como no nível morfossintático são do português no japonês, por ser a língua
portuguesa, a mais usada” (1989, p. 201). Ainda de acordo com a autora,
o repertório lingüístico deste grupo de imigrantes varia conforme a geração,
isto é, cada geração comporta-se seguindo um determinado padrão
lingüístico. Entre os isseis uma predominância da língua japonesa
acrescida de interferências do japonês no português; com os sanseis, ocorre
exatamente o inverso, isto é, as interferências tanto no nível fonológico
como no nível morfossintático são do português no japonês, por ser a língua
portuguesa a mais usada. A mais conflitante, sem dúvida, é a dos nisseis
devido aos dois mundos superpostos que sempre nortearam suas vidas.
(NAWA, 1988, p. 201).
Também, Bárbara e Kato apresentam que “quanto à variável ‘idade’, constatou-se que,
com relação à proficiência oral geral, a faixa etária a que pertence o sujeito é um fator
significativo, sendo a proficiência média dos mais velhos, significativamente maior que a dos
mais novos” (1982, p. 79), do que se conclui a pouca vitalidade da língua japonesa no Brasil.
Mas a língua japonesa falada no Brasil precisa morrer ou ela pode coexistir? Afinal, é
ou o é positivo que uma ngua consiga conquistar espaços sociais, sendo o motivo de
decisão na escolha de um trabalho, mesmo que dela se diga que “não é de verdade”?
Apresenta-se o relato de um dos entrevistados, R.I., com 33 anos, sansei, que, com pouca
escolaridade no Brasil, no Japão trabalhou como intérprete entre falantes de japonês/português
do Brasil e intérprete entre brasileiros/língua japonesa; ou seja, foi graças ao conhecimento da
língua materna, diferente da língua majoritária do país em que nascera que alcançou destaque
e melhor salário, pois quando foi ao Japão trabalhar como operário, foi contratado como
intérprete.
Pode-se citar que no contexto societal do Brasil originaram alguns enunciados de
grande representação etno-cultural; além dos citados, gaijin e degasségui, durante as
entrevistas foram observados outros enunciados específicos da língua japonesa e que ainda
não estão dicionarizados, mas fazem parte da fala de muitos brasileiros, como “bachã” /
batã/, [a pronúncia registrada no dicionário é “/obáasan/”] e dichã /didzãw/|, [segundo o
registro do dicionário, é ojiisan”]
29
, na seqüência: avó e avô. Também foi observado o uso
da expressão “né?” e o uso da palavra -san, usada quase exclusivamente pelos representantes
da etnia, mas em todas as gerações para se referir a pessoas mais velhas, em sinal de polidez.
A partícula -san, foi revelada nas entrevistas, como em: “quando cheguei, Ishiro-san
estava aqui” (N.G., com 75 anos, sexo masculino), e em “Mãe, Endo-san está pedindo café”
(C.H., com 13 anos, sexo feminino) e em “Tadashi-san é um kanji” (Ta.H,, com 77 anos, sexo
feminino) e em Minaji-san é o pioneiro” (Ta.H., I.K. e S.K. do sexo feminino). Segundo
Ta.H. “a gente não pode se dirigir a outra pessoa sem falar -san, ao que Y.H. complementou
bem baixinho: “é como senhor; em “brasileiro” também é falta de educação não chamar de
29
Segundo Ogawa; Sato (1963, p. 287).
senhor”, ou seja, essas palavras favorecem ao sentido de respeito entre o locutor e o seu
interlocutor, este traço lingüístico da comunidade de origem japonesa exemplifica o que
culturalmente se chama polidez. Utilizando a definição de Shindo, “-san é partícula mais
comum, equivalente a senhor e senhora (...) Utiliza-se -san tanto depois do nome quanto de
sobrenomes” (2006, p. 14). Também uma outra constatação é referente a expressão enfática
né?”. Certamente muitos brasileiros originários de diferentes etnias o incluíram no
repertório lingüístico. Falado com entonação suave, esta expressão é um dos elementos do
diálogo oral, face-a-face, quando se busca a compreensão entre os interlocutores, com um
interlocutor tentando persuadir o outro, mas sem imposição; ele não é exatamente uma
pergunta. Bleiler informa que “o que é colocado no fim de cada sentença tem a função
equivalente a n este-ce pas do francês, a nicht wahr do alemão, a isn’t it do inglês e a não é
do português. No português, tem a função enfático-exclamativa” (1981, p. 22 apud
NAWA, 1988, p. 116). O uso do está presente na fala de todas as gerações de
representantes da etnia e com reincidência na geração mais velha de isseis e de nisseis do
sexo feminino. De certa forma, essa linguagem está representando a polidez, fator cultural
identitário da etnia, com a tentativa de aproximação, de encurtar a distância para o diálogo e,
por outro lado, o reflexo do sistema patriarcal japonês.
3.2.3 Em busca da competência intercultural
Innerarity afirma que “a cultura não representa uma unidade fechada. Um sistema
cultural é uma realidade móvel e porosa, cuja vitalidade depende que se saiba gerenciar sua
pluralidade interna e dialogar com sua estranheza interior” (2004, p. 67), mas, referindo-se aos
nipo-brasileiros, segundo as entrevistas, ainda está muito presente a fala “brasileiro(s)”, como
foi observado na fala dos informantes issei e nissei, enunciado tão marcante, que no corpo
deste trabalho foi necessário transcrevê-lo entre aspas, pois em sua carga semântica
demonstrou significar “o oposto dos representantes do grupo da etnia japonesa” e, ao apontar
o outro como diferente de si, estava também apontando a si como diferente do outro. Já, na
terceira geração, os mais jovens optaram por falar baixinho: “ah, eu me sinto brasileiro(a)”,
mas a pergunta sobre sentir-se pertencente mais a uma ou a outra cultura era sempre
constrangedora.
Se, para a terceira geração e para a quarta está longe o significado de gaijin, para a
primeira e a segunda geração ainda é demonstrado o sentimento de divisão cultural, de
dilaceramento, que fica novamente implícito na fala de representantes da primeira geração, ao
referirem-se que, quando seus netos precisam ir ao Japão, não são considerados
japoneses, “porque o sangue afinou, no Japão tem muito mestiço brasileiro preso”, ou “antes
era diferente, tinha mais respeito”, sugerindo que conceitos de honestidade, respeito e
autoridade tão valorizados no interior da cultura japonesa estão se perdendo nas novas
gerações de etno-brasileiros. As afirmações dos entrevistados Sa.T., e de M.M. deixam
implícitas uma crítica à influência da convivência com a diversidade cultural do grupo neste
país, perdendo valores tradicionais da etnia e também aludem à crise de identificação sofrida
pelo grupo, pois no Brasil, são rotulados de “japoneses” e no Japão são rotulados de
“brasileiros”. A primeira e a segunda geração demonstram algumas dificuldades em aceitar e
serem aceitos pelos “brasileiros”, pelo que representam com suas tradições, religião e língua
As dificuldades da imigração sofridas no Brasil estão ainda muito presentes, vivas em seus
relatos, especialmente na fala de nisseis que têm a idade de vários dos isseis entrevistados. Ou
seja, as dificuldades sofridas pelos filhos nascidos na terra foram tão grandes quanto da
geração vinda do Japão. Já, as gerações nissei, descendentes de isseis, os quais eram ainda
muito crianças quando vieram ao Brasil e sanseis têm uma história menos triste, relatando
lembranças como “eu brincava embaixo do pé de café, que tinha quase três metros de altura”.
Visto que a identidade cultural é construída dentro da linguagem e pelo olhar do outro,
num diálogo constante (BAKHTIN, 1999) e, visto que o grupo de nipo-brasileiros e seus
descendentes vivem no Brasil em um espaço temporal de pelo menos três gerações, os sanseis
demonstram maior integração à cultura brasileira, pois é no nível de interlocução que a
influência cultural é mais forte e a escolarização é também um fator determinado e
determinante para a interação social. Neste sentido, Bortoni-Ricardo e Dettoni citam o
enunciado “uma pedagogia culturalmente sensível”, tradução de “a culturally responsive
pedagogy”, citado originalmente por Erickson (1987, apud BORTONNI-RICARDO,
DETTONI, 2001, p. 81). Segundo as autoras, uma pedagogia culturalmente sensível é
um tipo de esforço empreendido pela escola capaz de traduzir a dificuldade
de comunicação entre professores e alunos, desenvolver a confiança e
prevenir a gênese de conflitos que rapidamente ultrapassam a dificuldade
comunicativa, transformando-a em amargas lutas de identidade negativa
entre alguns alunos e professores (BORTONNI-RICARDO; DETTONI,
2001, p. 82).
Portanto, a história de vida dos nipo-brasileiros se constitui em um processo de
assimilação, tradução e enriquecimento cultural, contribuindo com a construção da auto-
imagem de um Brasil jovem, multicultural e multilíngüe e, assim, um dos maiores objetivos
da educação no século XXI, também no Brasil, talvez seja estimular, em todos os níveis de
escolarização, a educação intercultural, o pertencimento cultural pacífico, com uma pedagogia
culturalmente sensível.
4 A CONSTRUÇÃO DE NOMES PERSONATIVOS
O atual capítulo apresentará a respeito da importância do nome pessoal e a respeito de
como acontece a construção do enunciado personativo segundo o acontecimento de
linguagem, apresentando nomes e sobrenomes de nipo-brasileiros de primeira a terceira
geração.
Uma pessoa humana, um ser único e também um nome exclusivo para uma pessoa
única? A ciência genética informa que no momento da concepção de um novo ser humano,
milhões de células entraram em competição para alcançar o alvo e, naquela corrida pela
origem de uma vida, se fosse um ou outro o vencedor ou mais de um vencedor, a nova pessoa
gerada seria outra pelos caracteres hereditários trazidos pelos genes daqueles específicos
cromossomos do momento da fecundação. Cada ser humano carrega em seus genes
características fenotípicas de seus pais biológicos, mas, mesmo os irmãos gêmeos
univitelinos, não são absolutamente idênticos; cada ser humano é, assim, considerado único
30
.
E, ao nascer, o novo ser humano vai imergir para a vida em sociedade, viver e conviver com
outros seres semelhantes a ele, vai crescer e, durante o seu desenvolvimento cognitivo, vai
ouvir, agir, dialogar, aprender, responder, interagir. Durante este processo, vai criando
identificações, formando, modelando e remodelando sua identidade pessoal e social.
De acordo com a vida sócio-cultural, no espaço enunciativo, no caso, da língua
portuguesa do Brasil, como nomear este novo ser? Afinal, a um ser, com o status de “único”,
dever-se-á atribuir um nome único. Um nome específico para designar um sujeito específico,
pois atribuir um nome a um novo ser humano é diferenciá-lo de um outro ser biológico
semelhante a ele e registrá-lo é fazê-lo nascer como cidadão/cidadã nas leis de um país.
30
Esta afirmação tem como base estudos apresentados em livros de biologia em que constam estudos sobre a
genética humana.
leis jurídicas para o registro de nomes de pessoas, mas referente ao uso lingüístico, ao
discurso, ao acontecimento do enunciado personativo, que leis determinam a construção do
nome próprio de pessoa?
Como os nomes dos nipo-brasileiros situam-se entre dois sistemas onomásticos: o
oriental e o ocidental, serão explorados alguns conceitos referentes à origem do nome para
melhor compreender as intersecções línguo-culturais da onomástica que envolve o grupo da
pesquisa.
4.1 ASPECTOS HISTÓRICOS DA ONOMÁSTICA
As origens do nome relacionam-se com as origens da civilização. Vampré
31
(1935)
menciona que as origens do nome atribuído às coletividades e aos indivíduos “remontam a
antiqüíssimo passado e se confundem com as origens do homem”. O nome, entre os povos
primitivos, conforme Planiol
32
(1904) era único e individual, pois um vocábulo designava
as pessoas, que não o transmitiam aos descendentes.
O termo antropônimo é dado como um enunciado masculino, pertencente ao campo
enunciativo referente a nomes e designa “nome próprio de pessoa ou de ser personificado;
nome de batismo”. O dicionário Houaiss também explica que
na Grécia antiga, havia dois tipos de antropônimos: a) os teofóricos,
etimologicamente conexos com o nome de um deus (Apolônio, Dionísio etc.) e
b) os athéa (que não se referem aos deuses), etimologicamente conexos com
profissões, localidades, qualidades físicas ou morais (Édipo, Sócrates etc.),
como o menino tinha um nome (em geral do avô paterno), a distinção se
fazia pela adjunçao do nome paterno, no genitivo, às vezes do nomde do demo,
locativo; entre os romanos, de inicio, havia apenas dois nomes, mas, a partir de
300 a.C., começou a prevalecer o uso de três nomes o praenomen “prenome
31
Vampré (1935 apud SILVA, 2005). O Juiz de Direito, Antonio C. A. Nascimento e Silva, julga uma petição
referente a retirada do sobrenome, mas no corpo do texto, aponta documentos e autores sobre o tema: nome
personativo. Disponível em <www.espacovital.com.br/sentenca11032005>).
32
In: op. cit.
(no sentido antigo)”, o nomen ´nome gentílico ou da gens’ e o cognomen ‘nome
de família’ (Caio Júlio César, Marco Túlio Cícero). (2002. Dicionário
eletrônico. Impressão realizada em 24/04/2006).
Borstel (2005a), referenciando Gandía, confirma que “nas sociedades primitivas o
nome era único, para individualizá-lo, relacionava-o com o lugar ou a família de origem. Na
Antigüidade, entre os hebreus, o nome também era único”. No Velho Testamento, pode-se
identificar o nome pela família/parentesco e/ou pela procedência de localização: “Eis os
nomes dos filhos de Israel que foram para o Egito: Jacó e seus filhos. O primogênito de Jacó:
Rubem. Os filhos de Rubem: Henoc, Falu ...” (Ge 46, 9). No Novo Testamento, continua a
designação do nome sem o sobrenome, com a pessoa sendo identificada pelo parentesco,
localização de origem, pelo nome da profissão. No Evangelho de Mateus (1, 1), apresenta-se a
“genealogia de Jesus Cristo, filho de Davi, filho de Abraão”. E o Evangelho continua
apresentando as gerações até chegar aos pais de Jesus, José e Maria, ambos, segundo o texto
bíblico, descendentes da família de Davi. Em outra passagem (At 4, 10), lê-se “em nome de
Jesus Cristo Nazareno”, um epíteto que soma: “o nome Jesus, significando salvador” (Mt 1,
21), “Cristo, que é equivalente à palavra hebraica Messias, que significa consagrado por
unção” (Mt 1, 16), e “Nazareno”, fazendo alusão a Nazaré, uma pequena comunidade da
cidade de Belém, onde Jesus nascera.
Neste trabalho, a Bíblia é citada, pois é antiga representante das sociedades letradas.
Assim, no livro de Mateus, no capítulo 16, versículos 17-18, onde se “... Simão, filho de
Jonas (...) tu és Pedro, e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja”, o que implica identificar,
que, no caso, o enunciado “pedra” [do grego pêtra, pelo latim petra], é nome comum
designativo de objeto, com um valor significativo de matéria mineral sólida, como algo rijo,
forte especialmente para a época; o enunciado “Pedro”, passou a ser nome personativo,
que recebeu a transferência do valor representativo da palavra original, trazendo o sentido de
força para o nome próprio; houve uma transferência de sentidos. Os enunciados “pedra” e/ou
“Pedro” não pertencem à classe de palavras chamadas de adjetivos, mas têm em si a carga
semântica de algo que qualifica e/ou é qualificado, o que indica que o enunciado designativo
pode passar a formar o nome. O apóstolo passa a ser chamado de Simão Pedro. No exemplo,
não deixa de ser, no início, uma relação referencial, mas não exclusivamente, e, com o
processo social da utilização do nome, o referente foi ficando no passado, distanciando o
significado original da designação com a atual significação da denominação, o que se verifica
também na nomeação com referência na profissão, ou seja: pelo uso, o referencial vai se
perdendo no tempo, o que fica é o acontecimento de linguagem com suas temporalidades
próprias.
De que trata esta temporalidade? Segundo Guimarães, “um presente que se abre para
uma latência de futuro. O acontecimento de linguagem tem como seu um depois
incontornável e próprio do dizer. Todo acontecimento de linguagem significa porque projeta
em si mesmo um futuro” (2002, p. 12). Ou seja, o presente, a presentificação é o momento do
acontecimento de linguagem, mas que em si se projeta em uma possibilidade de futuro desse
acontecimento (enunciação), entendido como seqüência, em forma de interpretação,
compreensão, silenciamento... continuidade. E o passado não é recordação pessoal (de fatos
anteriores); “é o apagamento necessário para que o sujeito se estabeleça um lugar possível na
identidade dos sentidos: eles não retornam apenas, eles se projetam em outros sentidos,
constituindo outras possibilidades dos sujeitos se subjetivarem” (ORLANDI, 2001, p. 54).
Ainda no Novo Testamento, é observado que o evangelista Mateus é chamado de
“Mateus Publicano”, porque era um publicano, cobrador de impostos. Neste tempo, não era
costume utilizar nome composto ou sobrenome, mas destacá-lo por uma especificação, ou
seja, o adjetivo designativo passaria a determinar o nome próprio, costume que passaria a ser
uma tendência para a formação dos sobrenomes. Segundo Borstel,
do século XIII, até hoje, os prenomes duplos começaram a generalizar-se, os
sobrenomes se originaram das profissões, das funções e condições sociais,
de qualidades físicas e morais, denominações da fauna e da flora, da origem
espacial ou de lugar de habitação, à memorialidade de nomes célebres ou
também de uma posição à memória de sujeito religioso, à excentricidade
(2005a,
,
p. 2).
A pesquisa realizada por Borstel, aponta também que,
na Antigüidade, os romanos possuíam, entre as famílias patrícias (classe
nobre de Roma), um prenome (nome de batismo), um nome (da origem
familiar) e um cognome (distinguia a família da mesma origem). Na Idade
Média, com a perda do costume romano, os nomes voltaram a ser
identificado como únicos. A hegemonia do nome único se dava à religião
cristã. Por decreto do Papa São Gregório Magno, deveria ser dado às
crianças somente nomes santos, mas trouxeram vários inconvenientes nos
registros da época (2005a, p.3).
Segundo Houaiss,
na Idade Média, junto ao nome único, em situações distintas se juntava
um locativo, o que vai até a mais próxima época do Renascimento
(Leonardo da Vinci, Erasmo de Rotterdam). Na tradição peninsular ibérica,
começa a prevalecer, ademais do prenome, o patrônimo ou patronímico
(Afonso Henriques, isto é, filho de Henrique); breve o patronímico perde
seu conteúdo original, passando a nome da família (Rodrigues, Peres, Dias,
Fernandes), mas este tanto pode ser paterno quanto materno, razão por que
uma tríplice denominação se vai aos poucos enraizando (primeiro com a
anteposição do materno ao paterno, nos homens, e do paterno ao materno,
nas mulheres, até que se unifica, para ambos os sexos, a seqüência ‘prenome
+ nome materno + nome paterno, com a inversão dos últimos na Espanha e
sua área de influência cultural (2002. Dicionário eletrônico. Impressão
realizada em 24/04/2006).
Mesmo assim, é impossível definir toda a origem dos sobrenomes, pois eles
estiveram suscetíveis a acontecimentos sociais, econômicos, históricos, políticos, de
imigrações e de migrações, dos quais os sujeitos participaram em seu tempo e em seu
espaço. Alguns fatos, especificamente como períodos de entre-guerras, levavam grupos
humanos a migrações e imigrações forçadas e, por motivos de segurança, alguns eram
obrigados mesmo a trocar de sobrenome, outros o mantinham, fazendo ou não as
modificações fonéticas para adaptar à língua do novo país. O estudo de Borstel informa
como se sucedeu a adequação da enunciação nominativa em alguns sobrenomes:
como no caso do sobrenome que referencia um ofício ou profissão de
ferreiro, o nome em polonês Kowal, no inglês Smith, no alemão Schmitt ou
Schimtd, no austríaco Schmidt e judeu alemão Schmitd. Do sobrenome
polonês Kowal encontra-se várias variáveis, como Kowalski, Kowalik,
Kowalewski, Kowalezyk, hoje é muito difícil poder justificá-las, porém até
o século XVII, essas eram possíveis de serem explicadas pelos seus sufixos
(por região e classe social) na Polônia. Quando ocorreram as migrações
para a Polônia, muitos imigrantes étnicos mantiveram a fonética ou grafia
original de seus sobrenomes, como no caso Adank e Habdak (alemão),
Baubonanbek (persa), Korniakt (grego), Korybutt (lituano), Kardosz
(húngaro), Imbram (turco), Orman (armênio) (2005b, p. 30).
Também pode ser citada a tentativa de adaptação do sobrenome durante a imigração
dos japoneses ao Brasil, que consistiu ao que se refere à escrita: “como transformar o
ideograma japonês em alfabeto para adaptar-se ao país Brasil, com a língua portuguesa?” A
realização fonética do sobrenome foi transformada em fonemas do alfabeto, conservando o
som, mas modificando-se da escrita ideográfica para a alfabética.
Como se refere Shindo:
A transcrição de palavras japonesas para o alfabeto ocidental não é simples.
Alguns sons difíceis de serem reproduzidos com letras romanas. É o caso
das vogais prolongadas, que em hiragana são representadas por duas vogais
ou, no caso do “o” longo, pelas letras equivalentes a “o” e “u”. Na
transcrição para o alfabeto ocidental, um dos recursos utilizados para
transcrever essa peculiaridade do idioma japonês é o mácron, traço
alongado colocado sobre as vogais, como em Tôkyô. Em vez de c, utiliza-se
k: Mika, e não Mica; o grupo ch tem som de tch. Chieko lê-se Tchieko, e não
Xieco; para sons aspirados (como em rosa), utiliza-se o h, e não r. Assim,
Hana, pronuncia-se Rana; j tem som como dj. Lê-se Djun para Jun; o r tem
som fraco (como em arara). Por isso, o r de Rina é como o de perigo, e não
como de ritual; o s nunca tem som de z, como ocorre em português. Hisako,
lê-se rissaco, e não rizaco; para ditongos, utiliza-se o y, e não i: Haruyo; as
vogais têm som fechado. Ou seja, a letra o de Hiromi é muito mais próxima
de ô que de ó; a letra é transcrita como n: em Junichiro, a pronúncia é jun
itchiro (2006, p. 11).
O entrevistado A.K., dentista de formação e que, no município, foi professor de língua
japonesa durante a década de oitenta, assim se referiu quando lhe foi indagado se o katakana
era utilizado para os nomes estrangeiros:
Não, é que no japonês tem o katakana, o hiragana, e o kanji. O katakana
vem também da China, usa muito também, mas se é uma coisa que não
tem significativo, daí, igual, o nome... eu chamo Akifumi, mas, me
chamarem de Mário, que não tem o nome em japonês, costuma se escrever
com katakana, é letra totalmente diferente, é letra completamente diferente
o katakana e o hiragana.
Também o entrevistado R.I., referente à mesma pergunta, respondeu que “por
exemplo, Roberto entra no katakana, porque veio do estrangeiro”, e ele escreveu o nome em
três alfabetos. Depois continuou: “Em japonês não tem o som /εr/”, ele estava se referindo à
pronúncia aberta, como na palavra /robεrto/. Em japonês as vogais: /a/,/i/,/u/,/e/,/o/, não têm
traços de alternância vocálica
A partir destas informações, pode-se concluir que sons que na língua japonesa não
são utilizados, como /εr/, por exemplo, e também a vibrante palatina /r/, que é falada e lida
pelos integrantes das gerações issei e nissei como se fosse a consoante lateral alveolar /l/.
Assim é que foi falada pelo entrevistado: lomanji e estava se referindo a romaji, o sistema de
alfabeto com os caracteres latinos, “um sistema de transcrição fonética da língua japonesa
para o alfabeto latino
33
”. Por isso quando alguns nomes/sobrenomes tornam impossíveis de
serem escritos na escrita japonesa, e/ou precisam ser representados no alfabeto ocidental,
recorre-se ao romaji. Como por exemplo, orientou A.T. através de dicionário, onde na
primeira coluna estava escrito “Boa tarde” e ao lado “KONNICHIWA”, que, esta língua escrita
é o romaji, depois o entrevistado acrescentou: “por isso que pode não saber nada de escrita
japonesa, mas consegue aprender falar”.
33
Disponível em: <www.wikipedia.org/wiki/Romaji>.
4.2 FUNCIONAMENTO MORFOSSINTÁTICO E SEMÂNTICO-ENUNCIATIVO DE
NOMES PERSONATIVOS
Guimarães (2002, p. 36) aponta que “a ‘escolha’ do nome personativo não é bem uma
‘escolha’
34
. Sua ‘origem’ não é nem o Locutor-pai (lugar social) nem o enunciador-individual
(lugar de dizer)”, então, onde está, como acontece? De acordo com a vida sócio-cultural, no
espaço enunciativo, no caso, da língua portuguesa, como nomear um recém-nascido? Afinal, a
um ser, com o status de ser “único”, dever-se-á atribuir um nome único. Um nome específico
para designar um sujeito específico. Dar nome a um novo ser humano é diferenciá-lo de um
outro ser biológico semelhante a ele e registrá-lo é fazê-lo nascer como cidadão/cidadã nas
leis de um país.
De acordo com Pêcheux, “se nenhuma determinação pode ser aplicada ao nome
próprio, devem necessariamente existir termos que não sejam nomes próprios, ou antes, as
expressões parafrásticas que lhes correspondem, possam ser construídos por determinação”
(1988, p. 100), o que leva a compreender que dentro do espaço enunciativo da língua
portuguesa, o nome personativo tem suas particularidades específicas, tanto no processo do
funcionamento morfossintático, quanto no processo de construção semântico-enunciativa, isto
ocorre, em parte, porque a linguagem verbal em sua representação na forma oral ou escrita
está submetida a fatores subjetivos e sociais, os quais condicionam a constituição do nome
próprio de pessoa. Assim é que nomes e sobrenomes adquirem sentidos diferentes daquele do
qual se originaram como palavra formada por composição, seja por aglutinação ou por
justaposição. Por exemplo: provavelmente, os pais que nomearam a filha com o nome
“Rosângela”, nem pensaram na junção de “Rosa”, de flor e “Ângela”, de Angel, anjo; e
34
A escolha ficará entre aspas, pois não se constitui exatamente uma liberdade. Segundo Guimarães (2005), a
“escolha” se faz no recorte de uma memorialidade do acontecimento.
formou uma palavra composta por aglutinação; ou “Mara”, tendo em mente o significado do
radical de “amargo”. Assim, pode-se confirmar, na acepção de Guimarães, que “a descrição
do sentido não pode se limitar ao estudo do funcionamento do enunciado” (2002, p. 28). Em
língua portuguesa, o que leva à seleção do pré-nome de pessoa não tem em sua base o
significado etimológico do radical, ou da grafia, ou referencial.
As entrevistas apontaram que a “escolha” do nome próprio tem razões subjetivas por
conta dos que escolhem o nome, mas ainda assim obedece à estrutura do espaço enunciativo
da língua Oficial do Estado, em que a autoridade responsável deve não registrar nomes “fora
de propósitos” (GUIMARÃES, 2002, p. 35). É obrigação sustentada por lei que pais e/ou
responsáveis registrem o recém-nascido para que este possa receber a certidão de nascimento,
um texto que nomeia e inclui o nomeado no Estado, com os direitos e deveres recebidos com
esta inclusão, por isso também foi determinativo o período do nacionalismo imposto aos
cidadãos, proibindo o registro de nomes estrangeiros.
Nas considerações de Guimarães, “há uma constituição morfossintática do nome
próprio de pessoa e ela se dá como relações de determinação que especificam algo sobre o que
se nomeia, e estas relações são restrições que determinam o modo de nomear alguém” (2002,
p. 34). Não é uma relação referencial, literal, entre palavra e objeto, mas, ainda assim, a
nomeação obedece a regras para a sua consolidação no espaço enunciativo, sendo que o nome
é escolhido pelos pais e/ou responsáveis pelo recém-nascido, o sobrenome advém da
família do pai ou da mãe, ou de ambos, o que denota a “escolha” e a parte da herança
cultural que a criança está recebendo, demonstrado no ato de ser nomeada. No caso, através da
posposição do sobrenome do pai ao sobrenome da mãe, que em alguns nomes não aparece, a
criança em várias culturas leva para a vida somente a genealogia paterna, mas também
culturas étnicas em que recebem o patronímico da mãe; ou, em outros casos, quando não o
reconhecimento do pai, a criança é registrada com o sobrenome somente da mãe; em outros,
com dois sobrenomes do pai, ou com o sobrenome da genealogia paterna e materna, mas
quando tiver o sobrenome do pai e da mãe, o do pai será o último, dando a ele maior
importância, mesmo que menor, pois, no Brasil, não se tem o costume de chamar a pessoa,
mesmo na escola, pelo sobrenome, ou pelo pronome de tratamento “Mister” ou “Senhor”.
Há, ainda outros fatores intervenientes para nominalizar uma pessoa, como: ter um
nome próprio escrito com inicial maiúscula, constituído por prenome simples ou composto e
sobrenome(s); ter ou não elementos de ligação, os quais poderão realizar-se na forma da
conjunção “e”, ou de preposição “de”, ou desta preposição mais artigo “a”, efetuando-se em
“da”; ou por uma justaposição com ou sem hífen. Para Borstel, “os referentes concretos são
designados pelo funcionamento morfossintático, fundamentalmente pelo substantivo próprio,
quando é construído por uma determinação” (2005a, p. 4), ou seja, mesmo com a diversidade
de nomes próprios, ainda assim, características específicas, restrições determinativas
representadas por uma realidade concreta para a designação do enunciado denominativo na
certidão de nascimento.
O prenome que parece determinar um nome único para uma pessoa única também é
parte determinante e identificadora, assim como o sobrenome o é para o prenome; ambos
fazem parte do mecanismo de restrições para nomear alguém. Exemplificando, no nome “João
Luís da Silva”, “João Luís”, no caso um nome composto que identifica entre os integrantes da
família Silva”, a qual deles se refere, assim como o patronímico define a que tronco
genealógico pertence aquele ser chamado “João Luís”, para se estabelecer clara distinção da
origem familiar do possuidor do nome. Segundo Borstel, “a determinação do nome próprio de
pessoa é apresentada como um nome único para uma pessoa única quando o sobrenome
determina o nome e o identifica, tanto no funcionamento morfossintático como no semântico-
enunciativo” (2005a, p. 4).
O nome “Luís”, grafado com “z” no final, poderia estar representando uma grafia mais
antiga, pode ter sido designada por alguém mais velho, tendo sido registrado antes da Reforma
Ortográfica Brasileira, de 1971; o mesmo nome escrito com “s” representar-se-ia ser mais
moderno, e segundo a norma ortográfica, deveria ser registrado com acento agudo no “i” pois
representaria um hiato seguido de s; mas, por ordem da legislação, nomes personativos não
têm a obrigatoriedade de receberem o acento, para não incorrerem em risco de formações
esdrúxulas, às vezes por desconhecimento das regras de acentuação pelo cartorário. ainda
variações como “ph” em lugar de “f” e vice-versa, que tanto pode remeter a um nome escrito
de forma antiga quanto a modismos, como por exemplo, “Raphael”, e, apontando para o uso
das línguas indo-européias grafadas “ph” na idade média.
Em sua pesquisa, Borstel indica que sempre houve modismos também na permissão da
seleção da preposição junto ao nome, assim,
o uso da preposição de como traço de nobreza pela França, quando Pierre
de Corneille”, dramaturgo e poeta francês, obteve de Luís XIII, a concessão
do de depois da primeira apresentação de sua peça “Cid”. (...) o uso da
preposição von para indicar a nobreza alemã, como no caso de nomes
personativos de barão “Alexander von Humboldt; ou pela preposição van
para a nobreza holandesa “Vicent Willem van Gogh”, pintor impressionista
holandês. Da mesma forma, observa-se hoje o modismo do uso de um artigo
italiano antes de alguns nomes femininos La Brunet”. Ou pela nobreza
britânica quando homenageiam um cidadão com a comenda de Sir (título de
barão ou de respeito), como foi dado ao músico Sir Paul MacCartney”,
integrante da Banda dos Beatles (2005a, p. 4).
Afora o valor determinativo dos sobrenomes sobre o nome e do nome particularizando
um sobrenome, no cotidiano, as pessoas podem ter seu nome modificado por títulos de
dignidade e/ou de respeito, como Sr. Sra, Dr. Dra; o “Chefe”, o “Juiz”, “Pai”, entre outros
pronomes de tratamento, são exemplos em que a primeira nomeação dada pelo Locutor em
seu agenciamento discursivo vão sendo alterados pelo processo de identificação social. Os
nomes podem ser substituídos por hipocorísticos, que são apelidos carinhosos, formados às
vezes diminutivos do nome em forma de “inho”, como em “Juninho”, Ronaldinho; ou um
nome extenso ficado menor por conservar parte das sílabas, assim é que “Juliane”, torna-se
“Ju”, “Regiane”, torna-se “Re”, “Osvaldino”, passa a ser “Val”, “Maria Regina”, passa a ser
“Mara” e entre outras denominações, ou formado pelo valor semântico, como em “Bebê”,
“Nenê”, “Garotinho” sendo que o nomeado se tornou um adulto. As alcunhas são
geralmente constituídas por apelidos depreciativos, apegados a caracteres físicos, morais ou
psicológicos do sujeito ou da família; nos textos policiais, o apelido é chamado de “vulgo”,
cuja formação morfológica provém de “vulgar”. Os nomes também acontecem de ser
substituídos por epítetos, como em “uma homenagem ao Chico, referindo-se a Francisco
Buarque de Holanda, ou circunlóquios, como “o Rei do Futebol”, para se referir a Pelé que
é em verdade, Edson Arantes do Nascimento; “a Rainha dos Baixinhos”, substituindo Xuxa
Meneghel, “a Dama de Ferro”, referindo-se a Margareth Thatcher.
A Revista Época, em 2003, anunciou em uma reportagem sobre nomes, que brasileiros
com sobrenomes comuns, “latinos”, escolhiam os prenomes para seus filhos com a grafia com
“w” e “y”, bem como nomes de celebridades americanas. Para citar um exemplo de
construção: um prenome importado do inglês, que parece remeter ao ator Kevin Costner, é
“Kelvin”, “Keve,”, “Kevem”, “Keven”, que, pronunciado no Brasil, pode assumir o traço
fonético de /kεviw/ e, durante a identificação social do indivíduo, dependendo do grupo
social, pode receber modificações, alterações que vão desde a maior valorização até o campo
neutro, ou até o outro extremo, com valor depreciativo. Bakhtin afirma que a palavra é o signo
e “todo signo é ideológico” (1999, p.16). Portanto, a ideologia sempre está presente no
discurso, assim como o está em um enunciado personativo, fazendo parte de um discurso, que
veicula uma formação discursiva. Para Orlandi, “uma determinada formação discursiva se
define como aquilo que numa formação ideológica dada ou seja, a partir de uma posição
dada em uma conjuntura sócio-histórica dada determina o que pode e deve ser dito” (2001,
p.43), levando a uma formação de sentidos diferentes para um mesmo enunciado, dependendo
de quem fala e de qual status de autorização articula o enunciado. Neste sentido, a re-
nomeação vai depender da performance da nominalização, que verá associado o nome ao seu
desempenho individual, social e econômico, nas relações vividas e enunciativas que mantém
com seus pares. Essa relação designativa provém da força do sentido entre o simbólico e o
real. Do lado do simbólico, está o nome, ou seja, a palavra nominativa que vem a ser a
enunciação personativa de uma pessoa; do lado do real, está o vivencial, num momento
histórico e social bem definidos, com seus aspectos positivos e negativos alcançados e que
vão sistematicamente sendo avaliados pelo olhar do Outro, que se constitui na alteridade, no
processo de diálogo entre o exterior e o eu-interior que vai formando a identidade.
Ainda, é mistério ou é explicável porque, em uma sala de aula, com alunos da mesma
idade, em um determinado ano, há três alunas com o nome de “Andréia”. Passam-se os anos e
em outra turma com trinta e três adolescentes, quatro alunas têm o nome de “Jéssica”,
inclusive grafados de formas diferenciadas. Na atualidade, encontram-se muitas meninas de
dois a seis anos com o nome de Maria Eduarda, que é chamada de Duda, Dudu. O que sugere
o fato de haver pessoas que, nascidas em um mesmo ano, em mesma cidade ou outras têm
pré-nomes idênticos? São nomes que marcam uma época. A observação empírica tem
demonstrado que nomes que envelheceram, porque seus nomeados estão idosos, como os
nomes Tereza, Elza, Antônio, Agripino, entre outros, e, nomes que retornam
rejuvenescidos depois de apresentados pela mídia televisiva, e que passam a ser adotados
pelos pais nos recém-nascidos. A TV é um segmento formador de opiniões e tem efeito
multiplicador de suas idéias, e, com ainda mais forte poder em “um país de tradição oral,
como o Brasil” (BARBARA; KATO, 1982), assim, nomes indígenas, como Luan, Kawê,
Thainá, entre outros, marcam uma época e, às vezes são escritos em letras do alfabeto inglês,
nascem representando uma hibridização intercultural, como no século XIX representou o
nome Iracema ao lado de sobrenomes estrangeiros, após o sucesso do romance de José de
Alencar.
4.3 NOMES E SOBRENOMES: UMA VIAGEM CULTURAL
Esta preocupação com o registro de nomes antigos ou modernos para os filhos, assim
como a influência dos meios de comunicação, também foi verificada no grupo entrevistado.
De acordo com informações obtidas nas entrevistas biográficas e confrontadas com
pesquisas em meio eletrônico
35
, foi apontado que, na maioria dos países orientais, como a
China e a Coréia, o sobrenome é escrito antes do nome. No Japão, isto também ocorre.
Entretanto, muitos japoneses preferem escrever seus nomes de acordo com o estilo ocidental,
primeiro o nome e depois o sobrenome, quando estão escrevendo em inglês. Atualmente, os
japoneses, nascidos e moradores no Japão, não possuem o nome do meio. Todos têm apenas
um nome e um sobrenome.
Antes do século XIX, tornaram-se comum que personagens históricos tivessem entre o
pré-nome e o sobrenome, vários nomes; estes se referiam ao ofício de trabalho realizado por
eles.
Segundo pesquisas em meio eletrônico
36
, o Imperador do Japão e os pertencentes à
família imperial não possuem sobrenome, apenas o nome. Quando uma mulher passa a fazer
parte da família imperial, ela perde o seu sobrenome anterior sendo tratada apenas pelo
prenome.
Até o século XIX, apenas os nobres e os bushi (samurais) possuíam sobrenome. Todas
as outras pessoas, consideradas “comuns”, possuíam apenas o prenome. Quando a era Edo
terminou, em 1867, o imperador Meiji determinou que todas as pessoas deveriam ter
sobrenome. Antes disso, 80% dos japoneses não tinham sobrenomes, portanto, a atribuição de
sobrenomes em geral é algo relativamente novo, menos de duzentos anos.
35
Disponível em <http://www.japaoonline.com.br/pt/nomes.htm> Último acesso em 26 junho 2006
36
Disponível em: <www.geocities.com/sobreojapão/...>
No Japão, milhares de sobrenomes e é comum serem compostos por dois kanjis
Assim é que Tanaka é formado a partir da união do kanji ta, que significa arrozal, com o kanji
naka, que significa dentro.
Alguns nomes masculinos terminam com os sufixos -ichi ou -kazu; ambos significam
o primeiro filho. Por exemplo: Jun-ichi, Ken-ichi, Ryuichi, Masakazu, Toshikazu. O sufixo -ji
e -zo significam respectivamente o segundo filho e o terceiro filho.
A maioria dos nomes femininos modernos termina com o sufixo-ko, que significa
criança e significa filha. Exemplos: Aiko, Keiko, Masako, Mitsuko, Naoko, Reiko, Ritsuko,
Rumiko, Yoko, Yumiko. Alguns nomes femininos terminam com o sufixo -mi, que significa
beleza, tais como: Harumi, Mayumi, Naomi, Natsumi, Yumi.
Segundo dados obtidos on-line
37
, os sobrenomes mais comuns no Japão são: Sato,
Suzuki, Takahashi, Tanaka, Watanabe, Ito, Nakamura, Yamamoto, Kobayashi, Sato, Kato,
Yoshida, Yamada, Sasaki, Matsumoto, Yamaguchi e Kimura.
Segundo o informante T.T., em empresas, no Japão, os trabalhadores são chamados
somente pelo sobrenome: “Mas no Japão não chama pelo nome não, né? Lá, o pessoal para
trabalhar lá no Japão, se é Takayama, por exemplo, “Ô Takayama!”, é assim, tanto homem
como mulher”. Outra informante, R.N., também se reportou aos sobrenomes: “Daí pra ver
quanto Nakamura que tem no Japão. Meus filhos que estão lá, dizem que lá, a primeira coisa
que fala é o sobrenome de família”. Esta colocação reforça o que cita Shindo: “No
arquipélago, as pessoas apenas têm um nome e um sobrenome, nada de nomes compostos ou
vários sobrenomes como em outros países”(2006, p. 11).
Muitos brasileiros não descendentes de japoneses e que, mesmo com vários
conhecimentos em outros campos científicos, revelam seu desconhecimento cultural quando
manifestam pensar que o nome em japonês é uma versão/tradução do nome em português ou
vice-versa, como conta a experiência da pesquisadora, quando uma colega de trabalho se
37
Disponível em <www.desa.com.br/desa2cultura/h... >. Acesso em 6 junho 2006.
chamava Tieko, mas era chamada como Terezinha pelos alunos e pelos colegas de trabalho e,
quando questionada, sempre afirmava que era “a mesma coisa”. Esta explicação que favorece
uma interpretação não condizente com a realidade, talvez seja proveniente da dificuldade em
explicar sobre detalhes da própria cultura para um interlocutor que nem sempre está atento às
variantes culturais e, “em toda cultura, o ato de dar nomes é cheio de importância, por ser uma
decisão com implicâncias definitivas. No Japão, essa relevância era ainda maior, que vinha
acompanhada da crença de que os nomes carregam a alma” (SHINDO, 2006, p. 8); então
como explicar sobre um fator identitário tão valorizado na própria cultura a uma alguém
desinteressado em saber? Às vezes a preferência de quem sabia explicar-se foi calar, evitando
ironias de seu interlocutor e, estas posturas de ambas as partes ocasionou a ignorância e/ou
interpretação errônea para aqueles que não compartilham da descendência étnica do grupo.
4.3.1 Nomes “Brasileiros”: de Primeira e de Segunda Geração
Com base na Tabela 1 estão relacionados nomes da primeira e da segunda geração,
exclusivamente coletados durante a pesquisa de campo. De alguns nomes a informação foi
dada por familiares do portador do nome. O período aqui registrado compreende desde 1928
até 1973 porque é neste intervalo de anos, que está temporalmente situada a data de
nascimento do grupo de imigrantes, isseis, e os primeiros nascidos no Brasil, nisseis,
relacionados na pesquisa. Convém salientar que entrevistados isseis com a mesma idade
de entrevistados nisseis, o que se explica pelo fato de que algumas famílias vieram para o
Brasil logo no início da imigração, e outras famílias saíram do Japão posteriormente, vindo
como donos de terra, pois, segundo relato de S.M. e de T.M., o Japão comprara terras no
Brasil e doara dez alqueires para cada família que viesse tomar posse delas no Brasil.
TABELA 1 NOMES “BRASILEIROS DA GERAÇÃO ISSEI E DA GERAÇÃO
NISSEI
Nº Nome Ano de
nascimento
Nacio-
nali-
dade
Como é
mais
conhecido
Como os
pais o (a)
chamam
O nome
está no
registro de
nascimento
Observação
1 Alcides
1960 B Np Nj S
Comerciante
2 Alzira
1934 B Nj
N
Falecida
3 Ana
1954 B Np Nj S
4 Andréia
Aparecida
1972 B Np Np S
Só em port.
5 Carmem
1938 J Nj Nj N
6 Cecília
1931 J Np
N
Comerciante
7 Cecília
1932 B Nj
N
8 Celina
1939 B Nj Nj N
9 Elisa
1959 J Np Nj N
10 Emília
1963 B Np Nj S
11 Estéfano
1965 B Nj Nj S
12 Flávio
13 Francisco,
Chico
1968
1929
B
J
Np
Np
Np
S
N
Comerciante
14 Guilherme
1929 B Np
N
Falecido
Comerciante
15 Helena
1936 B Np
N
Comerciante
16 Irina
1951 B Nj Nj S
* **
17 Jiro
1937 B Np Nj S
**
18 João
1936 B Np
N
Comerciante
19 Julio
1950 B Np Nj S
20 Justino
1936 B Np Nj S
**
21 Lídia
1962 B Np Nj N
Comerciante
22 Luís
1958 B Np Nj S
Comerciante
23 Maria
1931 J Nj
N
24 Maria
Ignes
1929 J Np [Maria]
N
Comerciante
25 Mário1
1929 J Nj
N
26 Mário2
1958 B Np Nj S
27 Maura
1934 J Nj
N
28 Nelson /
Pedro
1941 J Nj
N
29 Paulo1
1931 J Nj
N
Agricultor
30 Paulo2
1972 B Np Nj S
Só em port.
31 Roberto
1973 B Np Np S
Só em port.
32 Roseli
1962 B Np Np S
Só em port.
33 Tereza
1934 B Np Nj N
***
34 Valdemar
1959 B Np Nj S
Comerciante
35 Valquíria 1964 B Np Np S
Legenda: B: Brasil; J: Japão; Np: Nome em português; Nj: Nome japonês; S: Sim; N: Não; : não informado;
*: nome considerado híbrido;
**: irmãos, nascidos na capital do Paraná.
***: Obaássan: /batchã/; /batã/: como as crianças da comunidade a ela se referem (avó).
Na Tabela 1, acima apresenta, os nomes em português, nestas gerações passaram a ser
registrados no ato do nascimento a partir de 1937
38
, mas este é um caso isolado, pois o
nomeado foi registrado na capital, do Estado do Paraná, em Curitiba. Segundo entrevistados, o
processo de não-registro de nomes estrangeiros era mais rígido nas capitais e cidades maiores.
Mas quanto aos nomes Justino, Jiro, Irina, tidos como portugueses, também são veladamente
nomes japoneses, pois, pela sonoridade que possuem, remetem a respectivos ideogramas, que,
mesmo não interpretados agora, naquele momento da nomeação, teve seu valor significativo,
visto que a mãe, uma senhora hoje com 94 anos, fala fluentemente a língua japonesa e
conserva a tradição escrita da língua, como pôde ser averiguado durante a entrevista, que foi
entrecortada pela fala em língua japonesa.
Um outro fato a ser considerado é que entre os entrevistados, sejam da geração issei ou
nissei, nascidos em anos diversificados: 1929, 1931, 1936, 1958, 1959, 1958 e 1960, todos
informaram serem mais conhecidos pelo nome português, por isso “comerciante” está
indicado na observação, pois, a profissão pode ser o dado significativo que os levou a serem
conhecidos pelo nome que culturalmente, naquele momento, melhor se adequava à interação
verbal.
TABELA 2 INFORMANTES POR PERÍODO DE ANOS E COMO SÃO CHAMADOS,
GERAÇÃO ISSEI E NISSEI
Nº. Período Nacionalidad
e
Conhecido
como
Chamado pelos
pais
Registro de
nascimento
J B Nj Np Nj Np
S N
Nº. de
Pessoas
Total
1
Até 1930 03 01 01 03 - - 04 - 04
04
2
1931 a 1940 05 08 07 06 05 - 08 02 11
13
3
1941 a 1950 01 01 01 01 01 - 01 01 01
02
4
1951 a 1960 01 06 01 06 07 - - 06 01
07
5
1961 a 1973 - 09 01 08 04 05 - 08 01
09
Subtotal 10 25 11 24 17 05 13 17 18 35
38
O nome destes irmãos foram assinalados com “**”.
Legenda: B: J: Nascidos no Japão, B: nascidos no Brasil; Np: Nome em português; Nj: Nome japonês; S: Sim, o
nome “brasileiro” consta no registro de nascimento; N: Não, o nome “brasileiro” não consta no
registro de nascimento; : não informado, pois os avós são falecidos ou não moram aqui.
Dos entrevistados nascidos no período de 1931 a 1940, oito deles, ou seja, 61,53%,
foram nascidos no Brasil e cinco entre estes entrevistados, 38,46%, nasceram no Japão, mas
entre todos (100%), somente dois deles declararam que tinham o nome português no registro
de nascimento, representando que somente 15,38% tinham o nome no registro de nascimento
contra 84,61% que eram os que não os tinham, predominando a escolha social pelo nome
japonês. Mas, na geração de 1951 a 1960, com exceção de uma pessoa, todos os outros são
nascidos no Brasil, sendo que estas pessoas tinham o nome português oficialmente
registrado, e verifica-se que o nome português se sobressai com 85,71% sobre o nome japonês
quanto ao reconhecimento social, e um outro fato registrado é que os pais são os
mantenedores da cultura, continuando a optar pelo nome japonês ao se dirigirem aos filhos.
Os grupos de 1931 a 1940 e de 1961 a 1973 são numericamente semelhantes quanto aos
nascidos no Brasil: respectivamente nove e oito nisseis, mas mesmo pertencentes à segunda
geração, o espaço temporal é diferente e a tabela demonstra que o uso do nome japonês vai
decaindo significativamente no convívio social, apontando que 53,84% dos nisseis
entrevistados da faixa de 1931 a 1940 optavam pela denominação japonesa, mas
comparativamente à faixa de nascidos entre os anos 1961 a 1973, revelou que o conhecimento
social pelo nome japonês cai para 11,11% . Por outro lado, parece haver uma adaptação ou
desejo de adaptação da parte dos pais desta mais nova geração nissei, que, conforme os
números demonstraram mais da metade dos pais preferiram chamar os filhos pelo nome
português.
Como também comprovou a Tabela 2, um dado é que, mesmo tendo recebido nome
português e vivendo no Brasil, as gerações de faixa etária de pessoas mais velhas continuaram
sendo nomeados socialmente pelo nome de origem japonesa, mas esta tendência vai
desaparecendo na proporção que a mesma geração ainda sendo nissei torna-se mais jovem.
Mas ainda é bem significativo o número de nomes japoneses que o nome próprio identificador
preferencial é de sua origem étnica, o que comprova que, se, aos brasileiros, os nomes
estrangeiros causavam estranhamento, os nomes “brasileiros” adotados, especialmente aos
isseis, causavam, além de estranhamento, crise de identidade. Sob este aspecto, alguns
entrevistados referiram-se aos nomes que lhes foram dados, como apelidos, como se verifica
na fala de YM: “Meu nome brasileiro é Carmem, mas ninguém conhece, acho que nem ele
conhece [apontando para o marido]”. E o diálogo com A.T : “O nome Nelson é apelido, esse
nome não existe, ele existe aqui no Brasil”!, [com entonação expressiva]. Além da
explicação dada, mais expressiva foi a risada pelo seu nome em português.
O relato de N.G. reitera a idéia anterior:
E= O senhor tem um nome em português?
N.G.= Tem apelido... é Joaquim [ele ri]. É um apelido que andou por
aí, mas lá em Terra Roxa ninguém sabe.
E= Mas o senhor não se reconhece como Joaquim, se chamar o
senhor de Joaquim, vai falar “será que é comigo”?
N.G.= As pessoas antigas me chamam de Joaquim, mas o certo é Seu
Nagao mesmo.
O nome em português, afastado no tempo, causa até mesmo dúvidas e confusões,
como relata R.N.:
Uma vez a minha filha, a Daniela, estava aqui em frente de casa e passou
um primo nosso de São Paulo e perguntou se ela sabia onde morava o Dr.
Mário, ela respondeu que ele devia estar enganado, porque por ali não tinha
nenhum Dr. Mário. Ela saiu e quando voltou, aquele primo estava dentro de
casa. ele falou: “você disse que não conhecia nenhum Dr.Mário, como,
se ele é seu avô”? Ela respondeu que nunca tinha ouvido que o avô dela se
chamava Mário.
Ao que o “Dr. Mário”, dentista durante mais de 35 anos no Município, acrescentou:
“Só os conhecidos muito antigos sabem do apelido, os outros não sabem, não dou
importância”.
Na Tabela 1, a profissão comerciante foi registrada porque este dado cruza com nomes
daqueles que, sem o nome “brasileiro” na identificação jurídica, foram assim reconhecidos
por ele, demonstraram aceitá-lo melhor e a causa certamente é a citacionalidade, como
proposta por Derrida (1991) e o interesse econômico, pois havia maior necessidade de
interagir além de seu grupo lingüístico específico da etnia.
Na geração dos brasileiros com nome japonês, à medida que esta geração é
representada por mais jovens, comparados a ela mesma, os nomes em português vão sendo os
mais divulgados para o reconhecimento social tanto fora do grupo étnico, quanto no interior
do próprio grupo, sendo que, mesmo sem o nome no registro de nascimento, alguns nisseis
conforme os dados apresentam, escolheram um nome em português. Como cita a entrevistada
M.M.:
− Por que todo mundo chama a senhora de Dona Helena?
[Riso], é que via a alegria das festas da Igreja Católica, então perguntei
para o padre o que devia fazer para ser batizada. Ele falou que precisava
encontrar uma madrinha, então conversei com a professora de catequese e
disse que gostava muito dela e queria que ela fosse minha madrinha e ter o
seu nome.
− Então a senhora emprestou o nome da madrinha de batismo?
− É, eu não tenho o nome na carteira, é só no de batismo.
− E como a senhora prefere ser chamada?
− Os “brasileiros” sempre me chamam por Helena, e eu gosto assim.
Pela necessidade de adaptação, houve uma integração cultural e vários integrantes da
etnia escolheram o nome pelo qual preferem ser chamados pelos “brasileiros”. Este foi um
costume entre os nipo-brasileiros de sua faixa etária: escolher para si um nome brasileiro de
batismo e ser chamado por ele. Sobre o designativo Helena, ela não soube definir o
significado etimológico, mas o relato biográfico demonstrou que houve efeito de sentido
positivo entre o nome da madrinha e o nome designativo de sua pessoa.
Nesta geração, o batismo e a certidão do batistério são muito utilizados, para obter
socialmente um nome em português. O entrevistado T.M. relata neste diálogo com a
entrevistadora:
A gente chama o senhor de Jo, mas na carteira de identidade, o senhor
não tem João, então o senhor lembra por que foi escolhido João?
Porque quando nós crescemos estava todo mundo conversando, de vez
em quando a gente ia no terço e daí falava pra gente: “vocês são batizados?
Vocês não querem batizar?” Daí nos juntamos todos, os irmãos também, e
fomos na Igreja. Juntou tudo com os padrinhos. o padre falou:
“Infelizmente, não dá pra batizar com esses nomes estrangeiros, tem que pôr
nome brasileiro”. Na hora o padre falou:Vou pôr pra você João, pra você
Vítor, o outro rio e assim por diante”.
Por sua vez, o entrevistado S.M., que é somente conhecido pelo nome em japonês,
assim se referiu ao próprio nome em português: “Não tem como explicar, eu estava no
primário, ficou Paulo”; ou seja, o nome foi utilizado na escola, mas não teve a aceitação pelo
identificado, ficando somente na aplicação prática.
4.3.2 Nomes brasileiros: da Terceira Geração
Na Tabela 3, apresentam-se todos os nomes em português da terceira geração,
denominada de sansei, mas também os que se declararam meio-sansei, ou porque o pai,
imigrante, ao chegar ao Brasil se naturalizou brasileiro então estes pais não são
considerados isseis e, portanto, seus filhos, mesmo fazendo parte da primeira geração nascida
no Brasil, são considerados sanseis, e os que seriam sansei ficariam chamados de yonsei
(quarta geração). Como este trabalho tem por objetivo limitar-se até a terceira geração,
utilizando o critério de nascimento no Japão ou no Brasil, optou-se por reconhecer estes meio-
sanseis incluídos/considerados também como sanseis. Para evitar distinções, também todos os
que se declararam por parte de um dos pais “meio", esta observação não foi levada em conta,
validando a geração imediatamente mais velha, como no exemplo de W.Y.: representante
meio- sansei, com 15 anos, sexo masculino, que é neto de avô nascido no Japão e avó nascida
no Brasil, W.Y, foi relacionado como sansei.
TABELA 3 NOMES “BRASILEIROS” DA GERAÇÃO SANSEI
Nome Ano de
nascimento
Como é
conhecido
Como é
chamado
pelos pais
Como é
chamado
pelos avós
Observação
1. Adriana
1988 Nj Nj Nj
2. Adriana
1999 Np Np Nj
3. Alex
1999 Np Nj Nj
4. Aline
1988 Np Np Nj
5. Alisson
1986 Np Np Nj
6. Anderson
1996 Np Nj Nj
7. Celso
1963 Np Np
8. Christian
1992 Np Np Nj
9. Cristiane
1993 Np Np Nj
10. Ednilza
1967 Np Np Nj
11. Edson
1969 Np Np Nj
12. Elena
1964 Np Nj
13. Eliane
1974 Np Np Nj
14. Elza
1960 Np Np
15. Emílio
1961 Np Nj
16. Érika
1988 Np H Nj
Ériko:
híbrido
17. Eunice
1973 Nj Nj
18. tima
Regina
1963 Np Np
19. Flávio
1972 H
(Tati/Tadashi)
´H
Tashi (apel.)
Hibridismo
Cultural
20. Hercílio
1962 Np Nj
21. Igor
1993 Np
(Apel.port.)
Np Np
22. Jader
1987 Nj Nj Nj
23. Jéssica
1997 P/J Nj Nj
*
24. João
1966 Np Np
25. Marcos
Antônio
1965 Np Np
26. Maria
Lúcia
1958 Np Nj
27. Marli
1966 Np Np Nj
28. Mateus
1959 Np Np
29. Matilde
1982 Np Np
30. Meire
1966 Np Nj Nj
31. Paulo
1961 Np Nj
32. Roberto
1961 Np Np
33. Silvia
1995 P/J Np Nj
*
34. Silvia
1963 Np Nj Nj
35. Vanderléi
a
1978 Np Np
36. Vilson
1969 Np Nj
37. Willian 1991 Sobrenome Sobrenome Sobrenome
Legenda: Np: nome português; Nj: nome japonês; P/J: Português e Japonês (tanto faz); : não informado;
Sobrenome; H: hibridismo cultural imanente no nome.
* A resposta foi “tanto faz”, para a pergunta “Com qual nome você é mais conhecido(a)? Por qual
você prefere ser chamado(a)?”
Nas reflexões abaixo, apresentam-se os dados da Tabela 4, sobre o período e de sua
denominação de geração sansei.
TABELA 4: INFORMANTES POR PERÍODO DE ANOS E COMO SÃO
CHAMADOS, GERAÇÃO SANSEI
.
Período Como é chamado socialmente Chamado pelos pais Chamado pelos avós
Nj Np Sn H P/J Nj Np Sn H Nj Np Sn H
No-
mes/
Pes-
soas
1
Até 1960 - 02 - - - 01 01 - - - - - - 02
02
2 1960 a 1970 - 16 - - - 07 09 - - 05 - - - 11
16
3 1971 a 1980 01 02 - 01 - 01 02 - 01 01 - - - 03
04
4 1981 a 1990 02 04 - - - 02 03 - 01 05 - - - 01
06
5 Após 1991 - 06 01 - 02 03 05 01 - 07 01 01 - -
09
Subtotal 03 30 01 01 02 14 20 01 02 18 01 01 - 17 37
Legenda: Np: nome português; Nj: nome japonês; P/J: Português e Japonês (tanto faz); : não informado;
Sobrenome; H: hibridismo cultural imanente no nome.
No grupo de nomes de pessoas situado entre 1960 a 1970, o nome português
demonstrou o maior índice de assimilação, com a aceitação social do nome em língua
portuguesa em 100% dos entrevistados e foi demonstrado que, os pais estão divididos em
chamá-los pelo nome japonês, 43,%, contra 56% em chamá-los pelo nome português. Entre os
que tinham conhecimento de como eram chamados pelos avós, todos indicaram ser
exclusivamente pelo nome japonês, significando que os avós representam-se mais
conservadores da língua.
No grupo situado no período de 1971 a 1980, encontra-se a designação denominativa
Tati, entendida inicialmente pela entrevistadora e certamente pelos “brasileiros” como a um
hipocorístico português, mas quando da explicação dos pais, foi relatado que “eu ia colocar
Tadashi, mas eu esqueci o nome lá, então ficou Tashi (S.M). E o nome registrado português
ficou no documento, pois a identidade e identificação social dos papéis sociais de filho,
irmão, amigo, trabalhador, estudante, entre outros, nesta comunidade ficou na preferência por
aquele que poderia ter sido o nome, mas não chegou a ser registrado.
No grupo de 1981 a 1990, encontra-se o nome Erika, que tem o correspondente
japonês Eriko, mas na gramática portuguesa, geralmente os nomes femininos terminam com a
desinência de gênero a, sendo a vogal o, da desinência de gênero masculina; realizou-se aqui
uma transposição cultural, tanto que os avós pronunciam Eriko. O nome é o resultado do
hibridismo cultural que se refletiu no aspecto morfológico e sintático.
Neste grupo de nascidos após 1990, entre nove pessoas entrevistadas, para a pergunta:
“como é/prefere ser chamado(a) socialmente?”, duas pessoas fizeram o apontamento “tanto
faz” o pode estar revelando a crise de identidade e de identificação e/ou a dificuldade de um
pertencimento cultural, ou o “descentramento da identidade na pós-modernidade” (HALL,
2003). Neste grupo os avós enfocam a tradição de origem, pois se referem aos netos com o
nome japonês. Outro dado foi o jovem que tem “apelido” na escola, mas o apelido se restringe
ao ambiente escolar. Se a alcunha é positiva, por que não reconhecê-la, como é aceita na
escola? Já, se o apelido é semanticamente negativo, especialmente dirigido à língua ou à etnia,
o nome provoca crise de identidade e identificação, mas a intervenção deve ser feita pela
escola, com estratégias competentes para dissolver preconceitos étnicos e para promover a
aceitação de ser nipo-brasileiro e para haver melhor interação entre grupos de origens
diversificadas.
Referente ao nome que é dado ao adolescente em seu meio social, sua aceitação ou
não, além do sentido semântico, também depende de quem fala, como, se, por exemplo, é
outro jovem do grupo, especialmente do sexo oposto, pois o(a) jovem está definindo sua
identidade/identificação e quer ser aceito pelo grupo de convivência, no caso, a escola é um
ambiente “privilegiado para a formação de identidades” (PCN’s Introdução –, 1998, p.
126). Neste aspecto de reconhecimento de representação social, também está implícita a
afirmação de Guimarães quando aponta a discussão realizada por Orlandi, com a afirmação
que “a pessoa é interpelada em sujeito pela ideologia de um processo simbólico” (2004, p.
15). Guimarães argumenta que
antes de tudo, parece necessário descartar o conceito de representação na
medida em que, do ponto de vista discursivo, o que se tem são efeitos
imaginários. Pode-se começar, então, por definir o sentido de um enunciado
como os efeitos de enunciação. Ou seja, são efeitos do interdiscurso
constituídos pelo funcionamento da língua no acontecimento. Assim, o
sentido não é efeito de uma circunstância enunciativa, nem é memória. O
sentido são efeitos de memória e do presente do acontecimento: posições de
sujeito, cruzamentos de discurso no acontecimento (2005, p. 70).
A partir da época de ditadura militar brasileira, os nomes em português estão
registrados, mas como a tabela demonstra, nem sempre seus nomeados foram referidos por
estes nomes, tendo os avós como os fortes conservadores da tradição, referindo-se aos netos
geralmente pelo nome que recorda sua origem. À proporção que os representantes sanseis são
mais jovens, comparados ao próprio grupo, e/ou perderam os avós ou não tiveram grande
convivência com eles, aumenta o auto-reconhecimento pelo nome em língua portuguesa.
Mas se, na Tabela 2, a partir das gerações mais velhas, gradualmente o nome japonês
vai caindo em desuso, a Tabela 4 demonstra que a partir das gerações nascidas em 1980, há,
mesmo timidamente, formas de aceitação e auto-identificação pelo nome japonês. O que se
pode verificar em Adriana Hiromi, que firmemente disse Prefiro ser chamada por Hiromi.
Aqui e na escola meu nome é Hiromi” e por Jader Hiroshi, que assim dialogou:
− Como as pessoas te chamam, por Jader ou por Hiroshi?
Na faculdade me chamam de Jader, mas meus amigos me chamam de
Hiroshi.
− E você prefere...
Hiroshi.
Como foi demonstrado na entrevista e na tabela, duas irmãs sanseis respectivamente
com treze e com onze anos, ficaram em dúvida quanto ao nome pelo qual são mais
reconhecidas na escola. Convém esclarecer que no momento da entrevista, a mãe estava
presente e as adolescentes mostraram-se bastante tímidas e pensaram muito antes de
responder à pergunta: “Como você prefere ser chamada: pelo nome português ou pelo seu
nome japonês?” A resposta dada rapidamente foi que “em casa é somente pelo nome
japonês”, olhou para a mãe, refletiu e respondeu: “mas na escola e em outros lugares tanto
faz”. Foi observado que essa resposta foi dada de olhos baixos, como se a presença da mãe
não permitisse dizer que a preferência era pelo nome português, então, ao que indica, elas
decidiram pela neutralidade. Este fato registra a divisão cultural vivida pelas adolescentes
entre o vínculo que têm com a família e sua origem e o auto-reconhecimento no grupo em que
freqüentam. Já, como demonstra outra entrevista com dois adolescentes um pouco mais
velhos, ela, com 15 anos e ele com 19 anos, à mesma pergunta responderam com veemência,
que é pelo nome japonês, demonstrando que já se decidiram, o que aponta para a liberdade de
posicionamento entre uma e outra cultura e reflete vitalidade da cultura de origem dos pais.
Quanto aos nomes japoneses, um mesmo étimo pode ter vários significados. Shindo
explica que:
São mais de dois mil kanjis autorizados pelo governo japonês para o uso em
nomes próprios. Devido a essa enorme variedade de letras, um mesmo nome
pode ser escrito de inúmeras formas (...) A situação se complica ainda mais
pelo fato de um mesmo kanji poder ser lido de mais de uma maneira. São os
pais quem escolhem qual a leitura que querem utilizar (2006, p.10).
Por isso, a informação pode ser conseguida com o portador do nome, ou com seus
pais e/ou avós, tanto sobre o significado etimológico do kanji, quanto do sentido simbólico
expresso pelo pai no momento da nomeação/registro dos filhos. Nomeação que é esquecida,
segundo Guimarães, porque o nome que é dado do lugar de pai/responsável pela criança é
alterado no processo sócio-histórico em que a pessoa está inserida e assim o percurso social
do nome com as predicações do sujeito vai se alterando, cristalizando, reduzindo, ou
modificando e esse processo não é igual para todas as pessoas. Com isso, o nome
personativo vai sofrendo o processo de significação e ressignificação, seja na família, na
escola, na corporação, no grupo de amigos, pois essa reformulação inclui a voz de um
enunciador-coletivo, ou genérico que reformula a enunciação formulada/registrada pelo
enunciador-individual, em parte dividida por aquele que foi o locutor-pai.
Quando dúvida sobre que pessoa é representada por aquele nome, se a sociedade a
confunde, a corporação trata de repô-la, porque a identificação social leva o individuo a
responsabilidades, por isso ele não pode nem deve ser confundido. Mesmo assim, segundo
Guimarães (2002), esta é uma hipótese fraca para a unicidade, pois uma longa distância
entre ser necessário para a vida social manter a unicidade de um nome designando uma pessoa
única (por motivos de responsabilidade, por exemplo) e esta unicidade realmente existir. De
acordo com o autor, a unicidade do nome próprio de pessoa é uma construção da disparidade
que acompanha seu funcionamento, porque falar enunciativamente é tomar a palavra de uma
posição de sujeito e isto é possível no universo interdiscursivo, quando o Locutor se tornar
díspar de si e, porque no percurso vivencial, o nomeado “precisa ter” um nome que o
identifique como a ele mesmo.
O processo de nomeação inicial, dado pelo locutor-pai (lugar social) e pelo enunciador
individual, é esquecido para manter a unicidade daquele nome. É esquecido porque o pai
primeiro falou de uma posição ideológica de sujeito, ou seja, da posição de sujeito do
interdiscurso.
Nesta investigação sócio-lingüística, constatou-se que os nomes em português na
geração nissei e sansei seguiram o que Guimarães (2002) chama de “a memorialidade do
sujeito famoso”, ou “do sujeito religioso”, assim, a escolha do nome do(a) filho(a) geralmente
recai sobre um nome do momento, veiculado nos meios de comunicação. Prevaleceram os
nomes masculinos: Roberto, João; e os femininos: Adriana, Jéssica, Sílvia, Celina, Marli, entre
outros, como em português, ou seja, não uma busca etimológica e/ou morfossintática do
nome. Segundo os entrevistados, geralmente a escolha recai pelo “som”, ou porque “é bonito”,
ou “porque combina”, “ou porque conhecia alguém que admirava”, “ou era o nome de um(a)
artista bonito(a) e/ou inteligente.
Diferentes fatores são motivos de “escolha” de nomes personativos que, segundo
Guimarães, “acontece em um agenciamento enunciativo específico, pois este acontecimento de
nomear recorta como memoráveis os nomes disponíveis como contemporâneos, próprios
daquele período, daquela época” (2002, p. 37), por isto nomes que representem
regionalismos e também nomes religiosos, dependendo do nível de religiosidade dos pais. A
terceira filha da entrevistada T.T. “nasceu no dia de Santa Luzia, então pôs o nome de Luzia”.
A entrevistada I.K., nissei, com 75 anos, sexo feminino, sem o nome em português no
registro de nascimento, mas chamada pela comunidade e pelos filhos por Cecília, declarou-se
ter feito ela mesma a escolha do seu nome e dos filhos, também nomeou as filhas com o nome
em português: Aparecida, outra, Maria Lúcia e outra Fátima Regina, relatou: “no Brasil, os
japoneses pegavam o nome na bíblia, colocava o nome de santos, como acontece hoje”. Ela se
declarou pertencente ao grupo de Congregado Mariano, da Igreja Católica. Nesta família estes
dados foram diferenciados dos demais, porque entre os três filhos, todos têm o nome em
português, e, entre as quatro filhas, as três mais velhas têm nomes de santa, estão em português
com o sobrenome patronímico, fazendo um composto de três nomes, mas sem o nome em
japonês; o nome da filha caçula é composto pelo pré-nome em português, o nome em
japonês e o sobrenome. A informante também declarou que sua família antes de vir para o
Brasil, morava na região de Nagasaki e a família do marido era de Hiroshima e, de acordo com
a filha desta entrevistada, S.K., “na região do Japão onde meus antepassados moravam, a
religião era católica”. Informação semelhante foi transmitida por Okabayaski: “Jesuítas
chegaram ao Japão em 1549 e São Francisco Xavier, destacou-se na evangelização. Acredita-
se que, depois de um século, ao serem expulsos os missionários, havia dois milhões de
católicos entre os vinte milhões de japoneses” (Okabayaski, apud ACBJP, 2006, p. 32),
informação complementada em:
Depois da expulsão dos cristãos do Japão, por volta de 1600, o romaji
tornou-se fora de uso, e somente utilizado em textos estrangeiros, até por
vota de 1800, quanto então o Japão abriu-se para o mundo novamente. Os
sistemas de linguagem, entre eles, o romaji, utilizado atualmente, se
desenvolveu depois da metade do século XIX.
39
Referente ao romaji, complementou o entrevistado A.K.: “por isso que às vezes a
pessoa não sabe nada da língua japonesa, mas consegue falar com o outro, porque lê”. Ele
estava se referindo aos brasileiros-decasségui que, no Japão, conseguem interagir em língua
japonesa no trabalho, com parcial ou total desconhecimento prévio da língua japonesa quando
se aventuram para trabalhar no Japão.
39
Disponível em <www.wikipedia.org.?wiki/Romaji+Romanization of Japanese>. A informação está registrada
em inglês: “following the expulsion of Christians from Japan in early 1600s, romaji fell out of use, and were only
used sporadically in foreign texts untill the mid-1800s, when Japan opened up again. The systems used today is
developed in the latter half of the 19th century”.
Na pesquisa de campo não foram citadas observações quanto ao significado
morfológico do nome “brasileiro”; quanto a ele, a escolha é pela beleza, pelo conjunto
harmonioso do nome e pela relação do nome famoso e/ou religioso.
4.3.3 Nomes Masculinos Japoneses: de Primeira a Terceira Geração
Muitos nomes japoneses foram registrados durante as entrevistas e os informantes
disseram o significado do kanji. Os nomes personativos japoneses foram separados em
masculinos e femininos, aqui se apresentam os masculinos:
TABELA 5: NOMES MASCULINOS JAPONESES
__________.
Seqüência
Nomes japoneses
masculinos
Significado etimológico revelado pelos entrevistados
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
Akifumi:
Akira:
Hideo:
Hiromiti:
Hiroshi:
Hiroyuki:
Hissao:
Hitoshi:
Jiro
Ken:
Massayoshi:
Minaji:
Minokichi:
Mitsuro:
Nagao:
Sakae:
Shoji:
Sussumo
Suyoshi:
Tadashi:
Takeo :
Tati
Tatsuo:
Tetsuo:
Tokuji:
Toshio:
Tsutomo:
Yassuo:
Yoshio:
Yukihiro:
“aki” é claro, alegre e “fumi” vem de estudo.
claro, sábio, para ter sabedoria na vida.
“hiro” é grande, da família do Imperador.
“hiro” é largo, yuki é claro.
anda por caminho bem direito, não vai errado.
homem correto, direito.
kichi é pela escrita, mino:
é coisa comprida,é vida comprida, vida longa .
evolução.
homem honesto.
quer dizer vai pra frente, que sempre segue para
frente
é final bom.
é forte, boa saúde, bambu cede.
(forma hipocorística de Tadashi):
“uji” é uma letra que significa felicidade.
é pessoa de mais idade, pessoa com mais sabedoria.
é homem bom, tem dois kanjis.
Legenda: : a informação não foi dada como conhecimento do kanji.
Obs: alguns nomes foram repetidos nas entrevistas, mas na tabela não foram repetidos, salvo quando o
valor semântico atribuído foi diferente por diferentes informantes.
Assim relacionados, parecem poucos os nomes com explicação, nesta relação estão na
frente dos étimos somente o significado que, segundo os entrevistados, reportam ao kanji, mas
muitos tiveram o recorte do memorável da ocasião em que a denominação foi atribuída à
pessoa, fosse recém-nascido ou adulto. Por exemplo, como do nome Hiroshi que não teve a
informação do significado do radical, mas o pai da criança disse que “era o nome de um
soldado que estudou na história”, portanto, longe do sentido literal, mas que representa
semanticamente alguém para quem se desejasse valentia, coragem, força. Como também foi
apontado para o nome Sussumo: “que tem progresso financeiro, com um kanji¨.
O nome Takeo, com significado tão simples, se interpretado somente como
relacionado acima, ganha um valor diferente ao ter seu sentido explicado pelo pais: “Ele é
agrônomo. Nasceu em 1967. Takeo significa forte, bambu, tem dois kanji. Bambu cede,
bambu não quebra, né?” (S.M. e Y.M.). Certamente estavam se referindo ao desejo de
equilíbrio para a criança e para sua vida e, pela colocação em primeiro lugar, referindo-se à
profissão, vindo de família de agricultores, o discurso em torno do nome do filho reitera o
orgulho e sugere que o nome dirigiu o destino daquele que um dia foi criança. Como se os
pais, ao lhe escolherem o nome, tivessem o poder de escolher a direção guiada pelo nome, o
qual dirigiria o destino do filho.
4.3.4 Nomes Femininos Japoneses: de Primeira a Terceira Geração
Na Tabela 6, apresenta-se uma relação de nomes femininos, referenciando o
significado etimológico revelado pelos entrevistados quando da investigação.
TABELA 6 NOMES FEMININOS JAPONESES
Seqüência
Nome japonês
feminino
Significado etimológico revelado pelos
entrevistados
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14
15.
16.
17.
18.
19.
20.
21.
22.
23.
24.
25.
26.
27.
28.
29.
30.
Aiko:
Akiyama:
Chihoko:
Eiko:
Fujio:
Fumiko:
Haru:
Hatsu:
Hikari:
Hiromi:
Iemiko:
Kaori:
Koiada:
Mayumi:
Mitiko:
Miwako:
Satsuki:
Sayuri:
Setuko:
Shizue:
Suemi:
Takiko:
Tami:
Tatsuko:
Teruko:
Tiemi:
Yoko:
Yoneko:
Yoshiko:
Yukari:
filha do amor.
proveniente do nome do monte Fuji.
“Haru” é primavera e “mi” é fruto. É fruto da
primavera.
pessoa sofrida, mas que mesmo em situação
adversa, torna-se vencedora
é brilho, claridade, que deu luz.
é espaço aberto, iluminado.
é cheiro suave.
é bonita.
nasceu no mês de maio.
“yuri” é um lírio, “sayuri” é o nome de um lírio
É da família do Imperador. É filha forte, com
energia.
“Sue”, é caçula; “mi” significa beleza.
significa muito contente, estar alegre.
era para ser “Tamiko”: filha
filha.
“yo”: mar, oceano; “ko”: criança
claridade, pois “yuk” é neve.
Legenda: : a informação não foi revelada.
Obs: alguns nomes foram repetidos durante a entrevista, mas na tabela não foram repetidos, salvo
quando o valor semântico atribuído foi diferente por diferentes informantes.
O significado de Yoko, segundo a entrevistada, que veio ao Brasil em 1960, com
quatro meses de idade é “atravessar o mar, mas não é o significado do kanji (Y.H.), “é o
desejo dos pais, porque eles iam atravessar o mar, então tirou yo, que significa mar, oceano”.
(Ta..H.) Considerando seu nascimento e a idade que tinha quando a família veio ao Brasil,
certamente o nome foi escolhido porque sabiam que iam viajar e o nome é presságio de
esperança na nova terra. Quanto ao nome Chihoko, não foi reportado ao kanji, mas a
entrevistada lembrou que “diz que era o nome de uma ex-namorada do meu pai que ficou no
Japão, pois ela não quis vir com ele para o Brasil”, mas esta lembrança daquele significado
ficou perdido no tempo histórico, pois o sentido semântico es inerente ao tempo do
acontecimento, à presentificação, como também no outro exemplo Yoko, a informante não
citou para si o significado do kanji ko, que é comum nos nomes femininos, com o significado
de criança, filha, mas atualmente a criança cresceu e está com mais de 45 anos, então, tanto
ela quanto a sogra somente pronunciaram sobre o primeiro kanji.
Outro nome feminino, Takiko, que, explicado pela entrevistada foi citado como “fica
muito contente, acho que fala contente, né?, porque veio uma menina. Meu marido gostou,
estava esperando que fosse uma menina” (Sa.Y), ou seja, sem o valor semântico-enunciativo
de explicação do sentido, somente os étimos que compõem o nome não esclarecem
suficientemente, pois citou “contente”, mas, “contente”, por quê? Pode-se interpretar que,
segundo a entrevistada, a alegria do nascimento do bebê do sexo feminino foi celebrada no
próprio registro do nome próprio o que, sem a explicação da mãe, ficando o kanji pelo kanji
teria sido muito vago. Shindo implicitamente reitera esta afirmação quando cita como
exemplo o nome Yui e explica que “o nome feminino Yui é composto pelos ideogramas que
significam amarrar e vestido. O que vem a ser? O nome se refere a um matrimônio feliz,
que o ato de amarrar o vestido faz parte dos preparativos da noiva para o casamento” (2006, p.
8).
Nas entrevistas foi citado o nome Eiko, do qual se perguntou: “o seu nome, é um kanji
ou dois?”. E ouviu-se a resposta dada pelo esposo: “Não é kanji não. Escrito com o alfabeto
hiragana. Naquele tempo escolheram um nome mais difícil que não tem muito na região e
não tem muito no Japão também” (A.T.). Segundo foi possível depreender, o nome Eiko foi
originalmente escrito em hiragana. Shindo cita que "um recurso para transmitir a idéia de
doçura ao nome de garotas é registrá-lo em vez de kanjis, com o alfabeto hiragana. Este
alfabeto com traços mais simples e de formas arredondadas, é considerado mais feminino que
os ideogramas, cheios de traços e com aparência ‘dura’” (2006, p. 15). Assim, qual a
ideologia oculta nos étimos japoneses para nominalizar uma pessoa? Para conhecer o valor
semântico do nome, faz-se necessário situar o nome com seus respectivos elementos
lingüísticos em seu tempo cultural, histórico e social.
Ainda segundo Shindo, “no sistema lingüístico da onomástica japonesa, seus
significados não são explícitos, como em diversos nomes da cultura ocidental, como por
exemplo, Vitória, Sol, Glória, mas a interpretação, ocorre de maneira indireta” (2006, p. 6).
4.3.5 Fatores para a Escolha de Nomes de Pessoa
Guimarães (2002), afirma que o funcionamento dos nomes próprios de pessoa se dá no
processo social de subjetivação, isto é, passa a ser uma questão do sujeito. Ao falar em
subjetividade, há uma relação com o sujeito, o dono do nome, que, ao se produzir nas relações
sociais, é, de fato, produzido nas relações sociais; que, ao interagir, constrói a si e ao seu
nome, ou seja, ressignifica-se. É como aponta Derrida: “a escrita é repetível, isso vale para a
linguagem em geral. Ele [a palavra é de Silva, referindo-se ao autor] chama essa característica,
essa repetibilidade da escrita e da linguagem de citacionalidade (1991, apud SILVA, 2003,
p. 94). Quando se diz que a realização do nome no seu tempo histórico é subjetiva, está-se
relacionando com a pessoa denominada, cuja designação está no processo de identificação
social daquele a quem se nomeia, pois, durante o processo, a comunidade/sociedade vai re-
nomeando a pessoa, dependendo da fama, ou do estigma, de fatos particulares ou amplos. É o
processo de significação, que é justamente a interpretação, que coaduna com o processo
semântico, especialmente do acontecimento de linguagem. Por exemplo: ao enunciar que
“Fulano tem um sobrenome rico”, ou “Beltrano tem um sobrenome de respeito”, ou “Sicrano
tem um nome sujo”, está-se fazendo uma metáfora semântica tendo em vista a representação
para o meio social.
A opção de escolha de um nome feito pelos pais para seus filhos, na cultura do Brasil,
parece envolver aspectos da beleza alcançada com a sonoridade e, entre os brasileiros
descendentes de japoneses, este motivo também foi referido, mas são citados diversos outros
para a seleção de um nome quando este é um nome composto curto, sendo fácil de ser
pronunciado, que não permita um som de cacofonia: “Alex é nome bonito, pouca letra, nome
fácil. Ichiro, porque é o primeiro filho; geralmente o nome em japonês acaba com o”; ter a
inicial que coincida com o nome personativo da mãe ou do pai, ou com a inicial dos outros
irmãos: "O significado eu não sei porque foi meu sogro quem colocou. Tirou de mim: Yo”,
porque eu sou Yoshiko, e meu sogro que falava, né, vamos tirar o seu nome primeiro, porque
em japonês para o menino não fala Yoshiko, então ficou Yoshio. Os nome são terminados com
i e com o para os homens e para a mulherada é tudo com ko e com i” (T.M e I.M.); fazer uma
combinação que resulte em um som bonito, sem cacofonia: “Pra todos os filhos, a gente
queria um nome que soasse bonito, que combinasse” (E.Y.); preocupação também relatada
em: “Meu marido escolheu nome mais fácil pra todo mundo falar direito, senão todo mundo
confunde e não fala nome completo, certinho. Então meu marido escolheu nome mais fácil e
significado bom, então em casa, na escola, no trabalho, em todo lugar eles são chamados pelo
nome em japonês” (Y.M); ter sido nome de uma pessoa prezada e admirada pelos pais, ou em
sinal de gratidão, como em:
Edgar teve motivo, porque foi o Dr. Bardhal que operou, e o nome é
Edgar. Ele quase morreu, deu sinal de criança nascer e nada, depois
quando chegou em Guaíra estava um pouco atrasado, pensa
naquela época de 1964, quando chegou ele não garantiu vida do
Suyoshi, então agradecido, nós colocamos o nome do médico. Agora
os outros não, foi nascendo, foi escolhendo (N.G.).
Neste exemplo verifica-se o agradecimento ao se referir ao nome do médico, mas, na
vida familiar, o filho é lembrado pelo nome japonês, a presença do multiculturalismo: o
agradecimento no registro do nome de um filho, mas que recorde a cultura do homenageado,
mas cujo portador é referido pelos familiares através do étimo que recorde sua própria
tradição cultural e lingüística. O nome Suyoshi, segundo os pais, tem o significado de final
bom, porque nasceu difícil, mas teve um final bom”. Hoje tem 42 anos.
casos em que se verifica que o nome em português foi escolhido porque os
brasileiros tinham dificuldade em falar o nome japonês da pessoa, (Y.H., A.T., T.T., A.K.
L.H., S.H.), relato observado em pessoas que trabalharam no comércio; sendo relatados
também motivos como se matricular na escola, ou porque o fazendeiro mandava batizar para
ter um nome “brasileiro”.
Também foi relatado como motivo, o sorteio para a escolha, como em: “A gente
escreveu nomes que agradavam num papelzinho, depois tirou e saiu Toshio. Mais ou menos
escolhe os nomes que gente agrada e escolhe. Todos eles foi assim, também com o Mário e o
Valdomiro” (N.G. T.T). Havia uma seleção prévia, tanto de nomes referenciados no Brasil,
quanto aos de origem japonesa.
O envolvimento da família foi registrado em relatos como: Alisson foi a madrinha
dele quem escolheu, depois de uma lista; Hiroyuki foi o avô. Hiro é largo, uki é claro
(Y.H.) e em Aline é porque minha tia gostou do nome” (Al.H.). Akira foi o avô que
escolheu, é um nome bem comum no Japão, significa claro, sábio, é para ter sabedoria na
vida” (M.N.)
Foram encontrados durante a pesquisa, nomes constituídos com o pré-nome em
português e o sobrenome, como em: Paulo, Jorge, Roberto, de uma mesma família; e também
com mesma característica em: Roseli, Valquíria de uma outra família, mas nesta, os três
irmãos têm nome em português e em japonês, e a outra irmã do sexo feminino tem nome
composto, mas com dois nomes em português, sendo, um deles, o nome de uma santa. Nesta
segunda família, os três nomes masculinos têm registrado o pré-nome em português e o nome
em japonês. É provável que seja esta uma influência do sistema patriarcal japonês, pois “até
1853, a maioria das mulheres não tinham sobrenome, até mesmo a filha de um bushi, possuía
apenas o nome, porque de acordo com a tradição, uma mulher não poderia ser a sucessora de
sua família”
40
. E, no Brasil, também o reflexo do sistema patriarcal é observado como
determinativo nos dois sistemas onomásticos, pois na língua portuguesa, o sobrenome da
origem do pai, quando não é o único, é aposto ao patronímico de origem da mãe ou o nome
completo do pai e acrescenta-se Junior, ou Filho, se for do avô, acrescenta-se Neto, e também
esses são determinados pelo processo morfossintático, a questão é, por que não existe o
semelhante para nomes femininos na língua portuguesa?, é um exemplo do modelo patriarcal.
Entre os entrevistados da pesquisa, foi regra geral, a esposa retirar seu sobrenome de
solteira e trocá-lo pelo sobrenome do marido. O nome dos filhos, também, foi composto de
forma semelhante: os nisseis tiveram seus nomes compostos de nome e sobrenome japonês; já
os nascidos a partir de 1942 quando, segundo os relatos, “os cartórios não registravam nomes
estrangeiros, especialmente nas capitais” (T.M., Se.M., F.K., A.K., I.K., M.N.), então os
descendentes brasileiros passaram a ter nome composto por pré-nome em português, nome
em japonês e o sobrenome paterno. Houve momentos em que, certamente, apesar das forças
coercitivas da sociedade brasileira, que agia em nome de um nacionalismo, impedindo o
registro de nomes estrangeiros, os filhos dos imigrantes tentaram encontrar meios de
conservar a cultura onomástica, como, quando o pai (falecido em 1993) registrou a filha,
nascida em 1951, com o nome de Irina; a observação de Ta.H.: “Eu não sei o que significa
Irina, foi meu marido quem escolheu né? Ele não falou nada pra mim. Nunca vi outra pessoa
com o nome de Irina a hoje”. Segundo a mãe, Irina mora atualmente no Japão, mas,
consultando o dicionário de nomes japoneses, foi encontrado registrado o nome japonês
Erina, composto por três kanjis, sendo que “a) e: enseada; b) ri: aldeia, vila; c) na: maçã
vermelha” (Shindo, 2006, p. 156). Talvez o pai conhecesse os elementos significativos, mas
ao registrar a filha, trocou E por I, ficando assim, a criança com o pré-nome culturalmente
híbrido e com mais um nome japonês. Na mesma página do dicionário, também se encontra o
nome Eriko, demonstrando ser um nome composto por três kanjis, sendo: a) e: bênção, graça
40
Disponível em <www.geocities.com/sobreojapao>
divina; b) ri com kanji respectivo que poderia ser o mesmo do nome anterior, mas está
registrado com outras possibilidades de kanjis –, significando: verdade; com outro kanji:
benefício; com outro: pêra; e, onde c) ko é criança, filha. A mãe de Érika, assim se declarou
quando lhe foi perguntada sobre o nome personativo da jovem: “quem escolheu foi o pai, ele
queria dizer, assim, filha abençoada, com bastante inteligência”. Esta jovem é sansei e tem o
segundo nome em japonês, mas o pré-nome também é da origem de seus pais, mas o kanji ko
foi alterado para terminar com a desinência de gênero feminino a, característica da gramática
da língua portuguesa, o que se revela uma transposição cultural.
Um forte motivo que leva à escolha criteriosa do nome japonês é pela tradição porque
culturalmente, acredita-se na influência do nome sobre seu portador, que foi registrada em
diversos relatos, mas cita-se: “É como minha mãe fala: Hatsu: é tudo pessoa sofrida’. E é
verdade todo mundo que tem esse nome Hatsu é pessoa sofrida. E é verdade, minha mãe
sofreu, sofreu, mas hoje é uma pessoa mais feliz, eu acho” (L.H.). “Às vezes as mães colocam
em seus filhos, nome muito grande, não consegue falar, não consegue progredir, ou ficar
rico, ou alguma coisa” (S.M.). “Meu sogro dizia que precisa ter cuidado para escolher o nome
escrito, a letra, era assim, igual Tadashi, tem um significado, mas eu não sei” (I.M.). “As
pessoas mais antigas explicam assim: esse nome é bom, bom significado, esse nome é bom,
né?, esse nome é pesado...” (L.H). Também A.T. afirmou: “o nome japonês é mais
escolhido, porque coloca esperança em criança, né?”. A crença é que o nome atua sobre o
destino da criança, de acordo com o sentido que o étimo represente, por isso a escolha se
refere à expectativa dos pais para seu filho(a). O diálogo com Y.M. rememora a escolha de
Harumi:
−Haru é primavera e mi é fruto. É fruto de primavera.
− Era tempo de primavera, estação do ano, quanto ela nasceu?
− Era outubro, início de primavera, em 1968.
Quando você pensa numa criancinha fruto da primavera, o que você
planeja pra ela, tem como falar?
Pensa filha bonita, estudiosa, ela é bem paciente. Formou em Biologia.
Está em São Paulo.
De certa forma, no nome recebido pela criança, estão os votos de desejo recebidos por
ela na ocasião do nascimento, votos que a acompanharão, registrados, durante a vida e
também que “caracterize ou realce um atributo ou qualidade desejada à criança. Essa tradição
tem estreita relação com os princípios éticos da sociedade japonesa e encontra na escrita por
ideogramas, variadas opções para expressar o desejo dos pais a seus filhos” (SHINDO, 2006,
p. 7).
Também foram registrados três nomes referentes à família imperial: Setuko vem da
família do Imperador, era a nora do Imperador. Lê-se /tsu/, é quando vai cumprimentar e/ou
parabenizar alguém. É filha forte, com energia. Foi a primeira filha” (F.K.), e em “era para o
nome dela ser Mitiko, mas não registrou”. Segundo M.N., o nome é da Imperatriz do Japão” e
em Hiro é da família do Imperador”(A.H.). Ainda hoje, muitos brasileiros com ascendência
japonesa escolhem nomes para seus filhos, emprestados da família imperial. A ideologia da
ação parece ser homenagem de obediência, veneração, respeito e admiração pela família
imperial, mas também de desejo de importância, valorização, imponência pela sugestão do
nome.
E, unindo dois fatores, nomes imperiais e celebridade, “um exemplo da influência de
nomes de celebridades na escolha dos nomes de bebês, é quando nasceu a princesa Aiko, em
2001. Nos meses seguintes, nunca teve tantos registros deste nome, que significa filha do
amor no Japão” (SHINDO, 2006).
4.3.6 Sobrenomes de Família de Japoneses
Estas informações recolhidas são partes de falas literais dos informantes e, em alguns
nomes citados, não foram registradas informações sobre o sentido literal do étimo. Verificou-
se que este fato tem relação com o maior ou menor nível de letramento dos entrevistados.
Quanto aos patronímicos, foram assim sistematizados:
TABELA 7: PATRONÍMICOS JAPONESES
Seqüênci
a
Patronímicos Significado semântico reunindo o kanji e seu sobrenome,
atribuído pelos entrevistados
1.
2.
3.
4.
5.
6.
7.
8.
9.
10.
11.
12.
13.
14.
15.
16.
17.
18.
19.
Akyama:
Endo
Hata:
Hata:
Kakimori:
Kawase:
Massuoka:
Matsubara:
Matsui:
Miyakawa:
Nakamura:
Takahashi:
Takayama:
Tanabe:
Tokumi:
Yassue:
Yamaguti:
Yamamoto:
Yamazato.
:
“aki” é outono, e “yama” /-má/| é montanha.
“acho que significa decisão” (Y.H.)
com sílaba tônica /tá/ é bandeira.
comlaba tônica /há/, é da agricultura, da roça, trabalhador da
roça.
campo de caquis
curvas do rio, parte mais rasa.
“oka” é montanha.
espinho de rosa.
pinheiro alto, pinheirão.
vila do meio.
ponte alta.
no alto da montanha.
beira da lavoura
nome antigo de samurais
“yamá” é montanha, “guti”
base da montanha
“yamá” é montanha, zato
Legenda: : a informação não foi revelada.
Os dois patronímicos citados e cujos entrevistados não responderam sobre as letras do
kanji, estes foram buscados no dicionário onomástico da língua japonesa (SHINDO, 2006) e
foram encontradas as seguintes possibilidades de significações com a mesma pronúncia, mas
com kanjis diferentes para o sobrenome Miyakawa, com três kanjis distintos para Mi, um para
Ya, cinco para Ka e um para Wa, sendo seu significado explicado como: Mi: três; beleza;
serpente (sexto signo do horóscopo chinês)” (p. 335-336). Ya: ser, estar” (p. 375). Ka:
beleza, formosura; flor; fragrância, perfume; rio; verão” (p. 179). Wa: paz, harmonia,
suavidade, Japão” (p. 262). Em quais kanjis o sobrenome Miyakawa se originou? O uso do
dicionário é válido, mas não esclarece o sentido atribuído ao nome na sua temporalidade,
outro problema é o que o entrevistado T.M. afirmou “que o seu sobrenome é composto por
três letras e também quando o entrevistado justificou: no Japão, uma letra depois de um novo
traço se transforma em outra e, cada kanji diferente traz significados diferentes!”. Mas mesmo
sem a exatidão, pode-se depreender que o sobrenome Miyakawa tem significação positiva.
Referente ao sobrenome Yassue, no dicionário (SHINDO, 2006), foram encontrados
quatro kanjis diferentes para a leitura de Yasu e quatro kanjis para e, sendo eles: Yasu: paz;
calmo, tranqüilo; acalmar-se, aquietar-se; segurança, proteção” (p. 263). Para e: pintura;
bênção, graça divina; enseada, angra; galho, ramo de árvores” (p. 155). Resultando que, seja
em qual dos kanji, tem o significado de esperança, para uma vida com votos de felicidade. O
entrevistado mais velho desse tronco patronímico, quando chegou ao Brasil, com quatro anos
de idade, era o terceiro filho e, certamente não teve a informação, pois logo seu pai faleceu.
Atualmente, ele sendo o mais velho representante do tronco familiar, os entrevistados do
mesmo sobrenome, mesmo que em ocasiões diferentes, não arriscaram uma explicação do
étimo. foi sugerido pelo próprio entrevistado: “sei que veio da região de Gifu. Dona
Helena também veio de Gifu e o sobrenome de solteira é Yassue, mas acho que ela também
não sabe”.
O brasileiro sem ascendência japonesa, ainda que não tenha o conhecimento do
significado do sobrenome japonês, no entanto, ao lê-lo ou escutá-lo, é capaz de
compreender de qual origem étnica ele é representativo. O que leva a interpretar que os
sobrenomes Yassue ou Miyakawa sejam japoneses? Provavelmente o uso das letras y, k, ou
w, mas o que dizer dos sobrenomes como Endo e Mori, que têm as letras próprias do
alfabeto brasileiro? O uso de sílabas curtas, sem ditongo e/ou a preferência pelos fonemas /
u/ e /i/, /y/ e /w/ pode ser um sinalizador para este reconhecimento, mas, de qualquer
forma, tanto o uso dos fonemas vocálicos, quanto da consoante /k/, são empréstimos
lingüísticos usados na situação concreta de fala, e configura-se em uma integração cultural
e lingüística. Este processo teve início com os primeiros imigrantes, pois, mesmo os
entrevistados mais velhos e, que disseram não são mais reconhecidos pelo nome em
português, quando iam e, ou vão ao banco, ou à cooperativa, a identificação é realizada,
além do sobrenome, pelo nome japonês.
Uma outra entrevistada assim dialogou sobre seu sobrenome:
− E Mori, a senhora sabe de onde vem o sobrenome Mori?
Ela ficou pensativa e desenhou em kanji e disse:
Um assim é árvore. No ideograma tem um desenho que significa árvore,
mas o nosso sobrenome tem três árvores, então significa muita mata, mas
ninguém mais pensa nisso hoje em dia.
Uma tendência mostrada na pesquisa é que as famílias com tradição escrita definem
com confiança o sentido morfossintático de seu sobrenome e, na assertiva “mas ninguém
pensa nisso hoje em dia”, está implícita a afirmação de Guimarães de que “o nome próprio de
pessoa é uma construção em que relações semânticas de determinação constituem o nome, o
que nos afasta de posições estritamente referenciais ou cognitivas no estudo do nome
próprio” (2002, p. 35).
Para Orlandi, “o falante não opera com a literalidade como algo fixo e irredutível, uma
vez que não um sentido único e prévio, mas um sentido instituído historicamente na
relação do sujeito com a língua e que faz parte das condições de produção do discurso” (2001,
p. 52); como a enunciação personativa, tanto na forma do nome e/ou do sobrenome. O
discurso “não deve ser pensado somente como um conjunto de textos, mas como uma prática
discursiva” (MAINGUENEAU, 2005, p. 15). A enunciação personativa acontece em um
discurso, em um momento pontual regido por forças coercitivas da estrutura social que se
refletem na linguagem. Guimarães considera "o enunciado como uma unidade discursiva.
Nesta medida, o enunciado se caracteriza como elemento de uma prática social e que inclui,
na sua definição, uma relação com o sujeito, mais especificamente, com posições de sujeito e
seu sentido se configura como um conjunto de formações imaginárias do sujeito e seu
interlocutor e do assunto de que se fala”. (1989, p. 73). Segundo as afirmações de Orlandi,
todos os mecanismos de funcionamento do discurso repousam em
formações imaginárias. Assim não são os sujeitos físicos nem os seus
lugares empíricos como tal, isto é, como estão inscritos na sociedade, o que
poderiam ser sociologicamente descritos, que funcionam no discurso, mas
suas imagens que resultam de projeções. São essas projeções que permitem
passar das situações empíricas os lugares dos sujeitos para as posições
de sujeito no discurso. Essa é a distinção entre lugar e posição. (...) O que
significa no discurso são essas posições. E elas significam em relação ao
contexto sócio-histórico e à memória (o saber discursivo, o já-dito) ( 2001,
p. 40).
Atualmente, o sobrenome Mori, como tantos outros, representa uma família “de
japoneses” com muitas qualidades reconhecidas na comunidade terra-roxense.
4.4 O ENUNCIADO DE NOMES PERSONATIVO NO ACONTECIMENTO DA
LINGUAGEM
Os sobrenomes da forma em lista como foram expostos, parecem dicionarizados e
perdem o seu real sentido, pois é preciso buscar, como nos nomes em japonês o contexto
situacional familiar que deu origem ao nome, que busca o significado etimológico do kanji
ou do nome completo, é uma característica cultural que persiste, refletindo também na cultura
no meio ocidental, como afirma Makio, “também entre os não-nikkeis, tem crescido o
interesse pelos nomes japoneses” (2006, apud SHINDO, 2006), pela globalização da cultura.
Mas, de qualquer forma, quanto à origem significativa do sobrenome, o processo formador foi
designativo, relembrando elementos da natureza. Por ser um povo ligado a tradições da
agricultura, como sugerem as informações da pesquisa e confrontadas com pesquisa em meio
eletrônico: “o significado dos nomes de famílias japonesas geralmente tem relação com o
local em que vivia a família quando esta começou a utilizar os sobrenomes, após a restauração
Meiji (1868)”
41
, mas, na atualidade, muitos dos sobrenomes antigos perderam o seu
referencial e assumiram o significado do acontecimento atual, que, se a família não tem no
Brasil o conhecimento da escrita ideográfica, porque enunciados fonéticos idênticos, que
possuem kanjis diferentes e, por isso, expressam significados diferentes e, se os descendentes
não conhecem de qual kanji originou o nome/sobrenome, também não apontam para a
tradução e o significado atual ficou ainda mais distante do original, apenas refeito no
memorável do acontecimento atual.
O radical na gramática da língua portuguesa terá o seu semelhante transposto para a
gramática da língua japonesa no kanji/ideograma, embora os resultados demonstrem que para
entender o significado quando da origem do nome, é preciso conhecer a história, o contexto
familiar de quando se originou para aquela pessoa, pois enquanto o processo morfossintático
traz especialmente os determinantes restritivos para a construção do nome próprio de pessoa,
a construção semântico-enunciativa não é menos importante, nela estão presentes os
elementos e figuras do discurso. Pêcheux sustenta que as relações entre exterioridade-
anterioridade e do “retorno do saber no pensamento”, produzem uma evocação sobre a qual se
apóia a tomada de posição do sujeito. Essas relações, no interior das quais se constitui o
pensável, é que formam o terceiro elemento (1988, p.125).
Bakhtin cita que
o terceiro em questão não tem nada de místico ou de metafísico (...) Ele é o
momento constitutivo do enunciado total, que numa análise mais profunda,
41
Disponível em : <www.geocities.com/sobreojapao/...>. Último acesso em 5 de junho 2005.
pode ser descoberto. O fato decorre da natureza da palavra, que sempre
quer ser ouvida, busca a compreensão responsiva, não se detém numa
compreensão que se efetiva no imediato e impele sempre mais e mais
adiante (BAKHTIN, 2000, p. 333).
O momento constitutivo é o que Guimarães chamou de acontecimento na linguagem,
quando se refere a que “não é o sujeito que temporaliza, é o acontecimento com suas
temporalidades próprias” (2005, p.12); e Maingueneau afirma que “os sentidos não se
esgotam no imediato [do tempo]. Tanto é assim que fazem efeitos diferentes para diferentes
interlocutores” (2005, p. 50).
Conforme cita Guimarães, “uma cena enunciativa se caracteriza por constituir modos
específicos de acesso à palavra, dadas as relações entre as figuras da enunciação e as formas
lingüísticas” (2002, p. 23) e o processo sofre uma disparidade. De acordo com o autor (2002),
isso sucede porque o Locutor é díspar a si. No acontecimento de linguagem, ele sofre uma
divisão e se torna díspar: de um lado, pertence a um lugar de dizer, em que é chamado de
enunciador, que pode ser: individual, como quando fala em seu nome próprio pela escolha que
fez, no caso, o pai (e fala como se estivesse acima de todos, demonstra-se independente dos
demais); ou se generaliza, quando assume em si como se fosse a voz que fala em comum com
todos os outros; ou se universaliza como se estivesse fora da história, acima da história (e
submetido ao regime de verdadeiro e, ou falso). Esses enunciadores parecem desligados da
enunciação, como se o Locutor tivesse voz, mas este terá voz se apoiado no lugar social
do locutor-X, que, embora se apresentem independentes do acontecimento, são lugares
próprios no interdiscurso.
Como quando relatou que o filho Takeshi, era para ser Nagao, mas a gente achou que
era um nome antigo, quase não existe no Japão” (Me.Y.) e "A gente perguntou para as tias
que viviam no Japão se tinha um nome diferente e lá tem bastante com esse nome Kaoli
42
. É o
42
No momento da entrevista, foi entendido como a sílaba /-li/, mas depois foi averiguado que o nome da
adolescente é Kaori, com /-ri/.
nome de uma cantora. Kaoli é cheiro, perfume, é uma palavra que tem cheiro”(Y.H.),
referindo-se ao perfume, odor agradável e suave, e, a razão apontada por L.H., para o nome
dos filhos: Sílvia eu vi de uma jornalista, bonita e inteligente. Adriana foi de uma artista de
novela que eu achei muito bonita, né?, aí eu coloquei. Da Jéssica eu vi um filme muito bonito
que daí a gente tirou”. Mas estas lembranças ficaram no passado; atualmente, o nome e o
sobrenome perderam o seu valor referencial, mas conserva traços culturais, sociais e
relacionais. Um enunciado deslocado de seu campo semântico não se torna enunciação, fica
sem efeito de sentido, pois o discurso é mais que transmissor de informação é um efeito de
sentido entre interlocutores, pois, segundo Bakhtin, “o discurso se molda sempre à forma do
enunciado que pertence a um sujeito falante e não pode existir fora de outra forma” (2000, p.
293).
Retomando a cena enunciativa: o Locutor tem em si um elemento díspar que é o
enunciador em seu lugar de dizer e, ao mesmo tempo, um locutor-X em seu lugar social,
no caso, o pai. Segundo afirmações de Guimarães, “o funcionamento do locutor dividido pelo
próprio jogo de se representar como idêntico a si, quando se lhe é díspare, é o processo pelo
qual a enunciação apaga seu caráter social e histórico” (2002, p. 30). No espaço
interdiscursivo, Locutor e locutor-x constituem-se em um único sujeito, que podem ocupar
várias regiões desse espaço, como a de sujeito jurídico-liberal e a de sujeito religioso, de
sujeito moderno, ou administrativo, ou do senso comum, ou científico, entre outros. No
primeiro porque é o responsável pela nomeação e nas demais regiões porque representará o
responsável pela busca de uma das opções dentro da memorialidade do acontecimento, que
levará à seleção de um recorte para a escolha de determinado nome. Guimarães afirma que
nomear uma pessoa é uma enunciação que funciona por um processo de
determinação semântico-enunciativa em virtude de se dar no interior do
processo social de identificação, mas que, ao apagar, pela representação do
enunciador, o lugar social do locutor, se mostra como meramente
referencial. Este apagamento do locutor-x (lugar social da enunciação) se
porque o Locutor não sabe que fala de uma posição ideológica de sujeito. A
referencialidade do nome próprio é produzida por este apagamento em
virtude deste esquecimento (GUIMARÃES, 2002, p. 41).
Maingueneau citando Bakhtin (1999) sugere que “esses enunciados têm um ‘direito’ e
um ‘avesso’ indissociáveis: deve-se decifrá-los sobre seu ‘direito’ (relacionando-os com sua
própria formação discursiva), mas também sobre um ‘avesso’, na medida que estão voltados
para a rejeição do discurso de seu Outro” (MAINGUENEAU, 2005, p. 40). A imbricação do
enunciado em seu Mesmo e seu Outro é que faz, por exemplo, que uma criança designada
com o prenome “Laura”, não seja “Lara”, “Marcos”, não seja “Márcio”, o que atesta que o
enunciado personativo sofre uma batalha regrada consigo mesmo e reflete o caráter relacional
da linguagem. A afirmação de que “é este o nome”, porque “não é o outro”.
4.4.1 A Não-Unicidade do Nome Próprio de Pessoa
Um recém-nascido identificado pelo seu nome personativo não tem rostinho
específico, estritamente referencial da designação recebida, no entanto, parece que o nome
adapta-se à pessoa ou a pessoa adapta-se ao nome.
O nome personativo parece então se referir a alguém especificamente e esta impressão
de referência do qual se tem a ilusão de que não poderia ser nenhum outro, é uma construção
morfossintática do funcionamento da língua, com suas regularidades determinativas do nome,
sobrenome e conjunções, preposições, justaposição com ou sem hífen e a anteposição de
sobrenomes (como sendo da parte do pai ou da mãe), que exercem sua força coercitiva no
espaço enunciativo da língua, mas ainda muito mais, segundo Guimarães, pelo processo
semântico do acontecimento, que tem um presente no momento da enunciação, e que festeja
em si uma latência de futuro, ou seja, em que momento do acontecimento de linguagem um
conceito lingüístico se constitui, permanece ou se torna outro (GUIMARÃES, 2004, p. 12-
13). Assim, desmancha-se a convicção de um nome único para uma pessoa única, dilui-se a
convicção de que uma nomeação é única desde a sua origem. Ao contrário, ela, no seu
surgimento, já é a construção do recorte de várias vozes que um Locutor realizou e depois, na
trajetória de vida, o sujeito recebe designações pela sua identidade social. Estabelece-se a
construção da relação entre o implícito (a carga semântica) e o explícito (a materialidade do
signo).
Um nome próprio para uma pessoa única é uma construção de relações lingüísticas e
não uma relação entre nome e objeto. Mesmo com a impressão de que se um nome para a
pessoa porque ela é única, a relação do nome-pessoa está no desejo, porque não relação
entre o enunciado e a pessoa (salvo casos muito específicos em que os pais dizem “Vou deixar
nascer para ver com quem se parece” e nomeia a filha de “Clara”, ou “Inocência”, com
referência a caracteres físicos ou emocionais); a nomeação geralmente no ato do nascimento
não é por uma relação direta entre o enunciado personativo e seu referencial, no caso, os
predicativos da criança ao longo de sua vida.
Segundo Guimarães, “as pessoas não são pessoas em si. O sentido do nome próprio
lhes constitui, em certa medida. O sentido constitui o mundo que povoamos. E o constitui
enquanto produz identificações sociais que são o fundamento do funcionamento do indivíduo
enquanto sujeito (2002, p. 41)”. Orlandi (2001) afirma que “o sentido é história. O sujeito do
discurso se faz e se significa na e pela história”. História que não é o tempo cronológico,
empírico, pois “o interdiscurso – a memória discursiva – sustenta o dizer em sua estratificação
de formulações feitas, mas esquecidas e que vão construindo a história de sentidos”
(ORLANDI, 2001, p. 54). E o nome próprio de pessoa constitui-se em um enunciado
personativo, identitário, do qual se tem a ilusão de ser único e unívoco, mas por ser
relacional, vai construindo sentidos. São as práticas discursivas que condicionam que uma
pessoa, ao longo de sua trajetória de vida, seja conhecida/representada através do nome da
profissão, ou mesmo por uma designação referencial pejorativa/depreciativa, ou por um título,
ou por um hipocorístico. A enunciação personativa adquire, na cena enunciativa, sentidos
permitidos pela cultura, pela sociedade, pelo grupo e/ou pela percepção individual.
A palavra está para a base das relações humanas, assim como a lingua(gem) para a
formação da sociedade. Nesse diálogo constante, por meio da interação verbal, o sujeito do
discurso torna-se sujeito empírico e constrói seu mundo e vai sendo construído por ele; a
pessoa constrói o nome e o nome a constrói, eles têm implicações recíprocas.
De certa forma, a opção no registro de nascimento pelo nome que recorde sua origem
identitária/cultural parece representar uma forma de preservação, uma “brecha nos feudos
todo-poderosos da cultura” (PAIS, 2003, p. 45). E, quando justamente alguns mais jovens
optam pelo nome em japonês, pode-se concluir que sua cultura tem vitalidade, sobrevivendo
enunciativamente no aspecto onomástico, que representa uma simbiose entre a língua e a
cultura através destas unidades terminológicas.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Ao estudar o nome personativo sob a perspectiva da língua e da cultura étnica,
percebe-se que uma interpenetração recíproca entre estes aspectos e o nome próprio de
pessoa. Levando-se em consideração que, anteriormente ao nome, um sujeito que é o
portador da palavra, mas que está “assujeitado pelas forças lingüísticas” (ORLANDI),
culturais e históricas, que pode tudo dizer, desde que se submeta à língua para dizê-lo, como
no caso, o nome personativo na língua japonesa que se encontra em uma situação lingüístico-
onomástica, dentro de um espaço enunciativo, que é a língua e a cultura do português
brasileiro.
A construção de nomes próprios de nipo-brasileiros está dividida entre dois códigos de
usos lingüísticos: o brasileiro e o japonês, com seus determinativos morfossintáticos e da
construção semântico-enunciativa. Os nomes de brasileiros provindos de diferentes etnias
estiveram e, ou estão sob o poder do: jurídico, lingüístico, social, cultural e individual da
sociedade brasileira. Estes diferentes campos enunciativos agem quando da efetiva nomeação
documentada de um recém-nascido, mas também agem quando da denominação realizada
pelos pais e através do percurso do sentido do nome adquirido pela vivência da pessoa. Assim
é que Hideo, ou outro, Mário, é conhecido por Japa, Japinha, o Japonês; Maria é conhecida
por Maria Japonesa, ou a mulher do japonês, entre outros, utilizados como hipocorísticos ou
pejorativos, ficando esquecido na memória de sentidos aquele que agiu no ato de nomear.
Assim também com os sobrenomes, que significam e, ou ressignificam no acontecimento de
linguagem.
O nome personativo é uma parte do discurso, torna-se enunciação, como quando uma
mãe chama o filho pelo nome, essa enunciação tem um sentido semântico dessemelhante se
quem o estiver chamando for um juiz que o acusa, ou se for um colega em sua idade de
escolarização. diferentes sentidos para se ter um mesmo enunciado em diferentes
momentos de interlocução, a que Guimarães se refere que o “enunciado se caracteriza como
elemento de uma prática social e que inclui uma relação com o sujeito, especificamente, com
posições de sujeito e o sentido se configura como um conjunto de formações imaginárias do
sujeito e seu interlocutor e do assunto que se fala” (1989, p. 73). A pessoa dona do nome é o
portador da linguagem, mas a linguagem também identifica seu locutor. E o nome identifica e
é identificável, pois ele nomeia e também “fala”, tem força de expressão, pois o nome traz
imbricado em si características indicativas de sua formação lingüística e sociocultural.
De acordo com a pesquisa etnográfica social, observou-se que os imigrantes japoneses
apresentam na carteira de identidade o nome formado pelo nome japonês e pelo sobrenome de
família, mas, para melhor interação com os falantes de ngua portuguesa e melhor integração
cultural e social, permitiam ser chamados por um nome considerado brasileiro
43
. Buscou-se
com esta atitude um nome com o qual a população estivesse habituada e, para não incorrer
em erros, geralmente o nome era copiado de alguém conhecido, visto que o nome japonês
causava estranhamento aos nativos brasileiros, mas, quanto ao nome em língua portuguesa,
muitos dos entrevistados se referiram ao próprio nome como apelido, demonstrando assim,
uma divisão na designação de sua identificação: alguns isseis e alguns nisseis procuraram
uma forma para receber para si um “nome brasileiro” e outros que o receberam na escola ou
porque trabalhavam no comércio, utilizaram-no de forma prática, mas não o internalizaram
como seu. A pesquisa demonstrou também que entre as pessoas de nacionalidade japonesa
nascidas até o ano de 1940 e entre as pessoas da geração nissei também nascidas até 1940
com exceção de dois nomes Jiro e Justino, porque foram, pela sonoridade, tabulados como
nomes “brasileiros” , todos têm somente o nome japonês no registro de nascimento, mas
foram conhecidos socialmente por um nome português, ainda que na família fosse exclusiva a
nominalização japonesa. Também as pessoas da geração de isseis e de nisseis nascidas desde
43
Por exemplo, Tatsuko Yassue Hata, nascida em 1929 em Aichi-ken, Japão, adquiriu através do batistério, o
nome de sua madrinha de batismo: Maria Ignes, ou seja, o nome adquirido não apresenta a origem cultural
etmológica.
o ano de 1941 até 1973 são conhecidas socialmente pelo seu nome “brasileiro”, apresentando,
entre os nascidos no Brasil, na sua grande maioria, o nome português no registro de
nascimento e, de igual forma, aqueles que não o possuíam, buscaram, através do batismo e do
batistério fornecido pela Igreja Católica, um nome considerado brasileiro, demonstrando com
esta ação uma busca de pertencimento cultural pacífico e ordenado. Entre os informantes da
geração sansei, nascidos desde 1958 até 1999, foi relatado que todos têm o nome português
em seu registro de nascimento, sendo que seus nomes são compostos por duas designações de
nome: um pré-nome português, um nome japonês e o sobrenome paterno e que, na escola,
socialmente e pelos pais, são geralmente chamados pelo nome português, sendo que aqueles
que m os avós vivos relataram que são chamados pelo nome japonês, demonstrando serem
os avós os conservadores de traços culturais e lingüísticos da etnia. Também entre a geração
de sanseis, alguns nomes se revelaram híbridos culturalmente, pois transitam entre a língua
japonesa e a língua portuguesa, revelando criatividade e inclusão de valores étnicos e culturais
que levam ao multiculturalismo. Entre a geração de sanseis, em alguns casos apontados,
também foi registrada a dúvida quanto à preferência do adolescente pelo nome que lhe é
designado, visto que em casa pelas pessoas da família é chamado pelo nome japonês e, na
escola e socialmente, é conhecido pelo nome português, revelando uma ambigüidade de
identificação que caracteriza a “identidade cultural na pós-modernidade” (HALL, 2003).
Ainda mais que, também os diversos enunciados para esses brasileiros que são chamados de:
nipons, nipo-brasileiros¸ isseis, nisseis, sanseis, yonseis e goseis sugerem, mais que
identificação, uma classificação que sinaliza e comprova que a representatividade envolvida
em tantos “eles” faz inferência a significados da diferença e da estigmatização.
Todas as tentativas de inclusão e/ou de exclusão étnica têm conseqüências na
formação da identidade de um país que se manifesta discursando como “coeso e aberto para a
diversidade étnica/cultural”, como é citado no PCN’s (1998) e este aspecto delicado vem
demonstrando que as escolas, e a mídia, pelo poder de formação de valores que têm, deveriam
se unir para efetivar, dentro e fora do cenário escolar, a pedagogia culturalmente sensível
(ERICKSON, 1987 apud BORTONI-RICARDO; DETTONI, 2001), uma prática educativa
que se evitem expressões que marginalizam as minorias culturais, lingüísticas e/ou étnicas.
Se for dado um nome japonês para um recém-nascido sem ascendência nipônica, este
se tornará japonês? Fisicamente não, mas se o gesto representar uma atitude sociolingüística
de compartilhamento social através de pré-nome de diferentes etnias, estará aproximando
pessoas, construindo “pontes de interação”, como se refere Bakhtin (1999) e estará
assinalando possibilidades de coexistência respeitosa e pacífica entre pessoas que não são
diferentes, apenas m características diferentes, pois dependendo da postura do sujeito e de
seu pertencimento cultural, os “outros” passam a ser “nós”, e esses sujeitos se situam em um
mesmo espaço geográfico e temporal/histórico. O desconhecimento cultural produz o
preconceito e a estigmatização destas minorias, que são, paradoxalmente, percebidas como
diferentes, mas cujas diferenças são tratadas como invisíveis, são julgadas pelo outro através
da análise de alguns atributos não compatíveis com a estereotipia e por isso, o julgamento,
mesmo que sutilmente observado nas falas, nas brincadeiras, nos olhares, torna a convivência
tensa e não-natural, pois somente a afinidade e a identificação levam ao sentimento de
pertencimento cultural e de grupo e, por extensão, de nacionalidade; caso contrário, um dos
prejuízos é que, sem o sentimento de pertencimento, a identidade fica dilacerada.
O conhecimento e respeito pelo multiculturalismo não são motivados por generosidade
ou por comiseração, mas porque a integração cultural e étnica favorece o diálogo e a
convivência de pessoas em um mesmo espaço geográfico e estará assinalando possibilidades
de coexistência respeitosa e pacífica entre pessoas. “O mito do Brasil como um país
monolíngüe” (CAVALCANTI, 1999) deve ser revisto com o estudo das culturas lingüísticas e
identitárias de minorias e de imigrantes, dando visibilidade a grupos humanos com sua
interação social, as recolocações geográficas e a recriação temporal. Nesse cenário, é
necessário perceber que dar um nome a um recém-nascido em uma língua que recorda sua
origem, esta pode ser considerada como tentativa de preservação de seus valores étnicos, de
suas identidades, de suas pluriculturas, afinal, o nome de pessoa não é algo simples, é o
primeiro patrimônio sociocultural do recém-nascido.
E quando se faz uma reflexão sobre o significado de nomes personativos e de
configuração cultural específica ao imigrante japonês e sua relação com o espaço cultural
brasileiro, a relação assim entendida queria dar conta do relacionamento entre um “nós” com
um “outro”. Essa relação se pela concepção de sua identidade e alteridade. Reforça-se as
considerações de Elias, para quem
o conceito kultur reflete a consciência de si mesma de uma reação que teve
de buscar e constituir incessante e novamente suas fronteiras, tanto no
sentido político como espiritual, e repetidas vezes perguntar a si mesma:
qual é realmente nossa identidade? (1990, p. 23).
Portanto, é importante pesquisar a pluralidade cultural de grupos étnicos nas várias
regiões brasileiras. Os documentos oficiais brasileiros reforçam estas iniciativas assim como
no caso, o PCN’s Pluralidade Cultural justifica a necessidade de estudos sobre a
linguagem multilíngüe e o multiculturalismo:
Conhecer a existência do uso de outras línguas diferentes da língua
Portuguesa, idioma oficial, significa não só, ampliação de horizontes, como
também compreensão de complexidade do país. A escola tem possibilidade
de trabalhar com esse panorama rico e complexo, referindo-se à existência,
estrutura e uso de várias línguas. Pode, com isso, além de oferecer
informações e possibilitar reflexões sobre a língua materna, promover a
compreensão de como se constituem identidades e singularidades de
diferentes povos e etnias, considerando as diferentes línguas (o bilingüismo
e o multilingüismo) e linguagem presente nas diversas regiões do Brasil
(1998, p. 133).
O presente estudo poderá, assim, oferecer subsídios preliminares que permitam
construir a compreensão do entrelaçamento de aspectos lingüísticos, sociais e culturais,
respeitando a língua e as multiculturas no Brasil.
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www.iej.uem.br. Último acesso em 15 maio 2006.
APÊNDICES
APÊNDICE A Entrevistas individuais.................................................................................146
APÊNDICE B Entrevistas com as famílias.........................................................................154
ANEXOS
ANEXO A Roteiro de entrevista para nipo-brasileiros imigrantes......................................185
ANEXO B Roteiro de entrevista para os nipo-brasileiros da 2ª geração.............................186
ANEXO C Roteiro de entrevista para os nipo-brasileiros da 3ª geração e da 4ª gerações..187
ANEXO D Mapa do Brasil situando estados e regiões.......................................................188
ANEXO E Mapa do Japão...................................................................................................189
ANEXO F Divisões administrativas do Japão: Nomes de províncias, regiões e principais
cidades.....................................................................................................................................190
APÊNDICE A Entrevistas individuais
1- Entrevistada: M.M. (1ª parte)
Contexto
A primeira entrevistada, participante e atuante na comunidade e líder reconhecida entre os
etno-descendentes. A entrevistadora foi acompanhada pela filha da entrevistada, que, após
alguns minutos ausentou-se da sala. A entrevistada, nissei, com 70 anos de idade, expressa-se
muito bem em língua portuguesa.
E= Dona M.M, a senhora pode me dizer seu nome completo?
M.M= É Miwako Yassue Mori.
E= Onde a senhora nasceu? E Quando?
MM= Em São Paulo, Birigui, em 20/05/1936.
E= A senhora então nasceu no Brasil, então a senhora é nissei?
M.M= É.
E= E seus pais? A senhora pode contar um pouco sobre a história deles?
M.M= Meu pai veio do Japão, de uma região chamada Província Gifu-ken, a palavra “ken”
significa capital, [ela fez questão de ensinar] e minha mãe veio da Província Wakayama-ken.
O nome da mãe da minha mãe era Koto-Kamine. Meu pai e minha mãe moravam em
províncias próximas, mas no Japão, eles não se conheciam. Meu pai veio do Japão em
1912, ele tinha 17 anos. A viagem durou sessenta dias e eles estudavam com uma cartilha do
povo brasileiro para aprender a língua. Meu pai chegou em São Paulo na terceira expedição de
imigrantes em Santos, no Navio Santo’s ao Mar, que quer dizer Navio Azul. Quando
desembarcou era delegado [fazia parte da delegação como intérprete no Brasil, por saber um
pouco da língua portuguesa]. Ele foi trabalhar na fazenda Cafelândia, São Paulo. Porentrou
todo
44
imigração, foi por Cafelândia, o custeio foi pago pela fazenda. Morou vinte anos,
desbravando a terra.
E= Dona M.M., mas e sua mãe, quando seu pai e sua mãe se conheceram?
M.M.= As famílias no Japão moravam perto, mas não se conheciam, meu pai e minha mãe se
conheceram aqui no Brasil e se casaram em 1935. Ele tinha 40 anos e minha mãe 30 anos. Eu
nasci um ano depois em Birigui, perto de Araçatuba. Fui a primeira neta do lado do meu pai e
do lado da minha mãe, mas quando eu tinha 5 anos, minha mãe faleceu. Meu pai logo se
casou de novo com uma moça da família Mori.
E= [Nesse ponto, a entrevistadora fez expressão de indagação, pois não estava entendendo,
porque Mori é o sobrenome de casada da entrevistada. Ela percebeu e continuou:]
M.M= Ela cuidou de mim, foi boa para mim. Depois que eu conheci meu marido, porque com
12 anos (1948) fui morar em Araçatuba com minha avó da parte da madrasta para poder
estudar.
E= A senhora estudou até que ano?
M.M.= Até o quarto ano. Em 1949 meu pai comprou terra no Paraná e eu fiquei com minha
avó. Foi lá que conheci meu marido.
E= Como assim?
M.M= A gente cresceu junto, ele era da família da minha madrasta. Quando eu tinha 17 anos
e ele 26 anos, começamos a namorar. Ele esperou eu completar 20 anos para casar porque na
tradição japonesa tem que ter 20 anos para a moça casar, porque se casar vem logo filho,
então antes a moça tem que ter estudado a língua, corte e costura, coisas de casa... porque
44
Dito por ela no gênero masculino.
depois que casa em que cuidar dos filhos. É diferente da tradição brasileira, que não esperam e
com 37 anos já tem quem é avó.
E= Então a senhora se casou com 20 anos e veio morar em Terra Roxa?
M.M.= Não... em 1956, fomos morar em Assis Chateaubriand, no Paraná. É que meu pai
tinha vindo no Paraná, comprou terra em Alto Paraná para trabalhar com horta.
E= Quando viera a Terra Roxa?
M.M.= Foi em 1964, Nelson colocou posto de gasolina. Nelson morreu em 1970.
E = Dona M.M., uma curiosidade: a senhora falou que seu nome é Miwako, então por que
todo mundo chama a senhora de Dona Helena Mori?
M.M. = [Riso], é que via a alegria das festas da Igreja Católica, então perguntei para o padre o
que devia fazer para ser batizada. Ele falou que precisava encontrar uma madrinha, então
conversei com a professora de catequese e disse que gostava muito dela e queria que ela fosse
minha madrinha e ter o seu nome.
E = Então a senhora emprestou o nome da madrinha de batismo?
M.M = É, eu não tenho o nome na carteira, é só no de batismo.
E = E como a senhora prefere ser chamada?
M.M. = Os “brasileiros” sempre me chamam por Helena e eu gosto assim.
E = E Mori, a senhora sabe de onde vem o sobrenome Mori?
M.M = [Ela ficou pensativa e desenhou em kanji e disse:] Um assim é árvore. No ideograma
tem um desenho que significa árvore, mas o nosso sobrenome tem três árvores, então
significa muita mata, mas ninguém mais pensa nisso hoje em dia.
E = E seu sobrenome de solteira?
M.M. = É Yassue [foi-lhe pedido para soletrar], com “e”, o sobrenome do meu pai, mas não é
parente de Yassue daqui de Terra Roxa.
E = A senhora tem quantos filhos?
M.M = Cinco: Regina, Olga, Sérgio Yukihiro, Marli Akiko, Kátia..
[Para não se tornar inconveniente, neste ponto terminou esta entrevista, sendo continuada em
data marcada posteriormente].
1 Entrevistada: M.M. (2ª parte)
Contexto
Como M.M. foi a primeira entrevistada julho de 2005 , ao fazer o relatório, sentiu-se a
necessidade de rever e de acrescentar alguns dados. Por isso, será demonstrada outra parte da
entrevista, realizada em outra ocasião.
E = O nome do seu sogro e sua sogra? Que ano faleceram?
M.M. = Juniti e de seu sogra Shigee, em 17 de novembro de 1995, aos 94 anos e ela em
primeiro de agosto de 1992. Nasceram em Gifu-ken.
E= Fala o nome de seus filhos?
M.M.= Regina, casada com Mário Murakami, Olga, casada com Edenir Rosso, Sérgio
Yukihiro, casado com Dalila Silva, Marly Akiko, Kátia Tiemi, casada com Eduardo Saito.
[Neste ponto a entrevista foi interrompida, porque chegaram muitas pessoas em sua casa].
2 Entrevistada: A.H.
Contexto
A aproximação aconteceu naturalmente, pois a entrevistada fora aluna da entrevistadora na
série. Foi-lhe explicado que foi ela que despertou a curiosidade sócio-lingüística, motivo que
suscitou a pesquisa. Foi pedido autorização para gravar. Na ocasião, a entrevistadora também
levou um jornal em que aparecia a foto de 15 anos, celebrados recentemente pela família e
amigos da entrevistada.
E= Bem, seu nome completo é...
A.H.= Adriana Hiromi Hata.
E= Você nasceu em Terra Roxa?
A.H.=Em Palotina.
E= Você fez aniversário nestes dias?
A.H= Em 18/02/1991.
E= Adriana, você é de qual geração?
A.H.= Sou da terceira, sou sansei.
E= Você está em que ano [de estudo]?
A.H.= No segundo ano do ensino médio
E= E a religião?
A.H. Meu pai é católico, minha mãe é da Assembléia e eu sou da Adventista.
E= Você entende bem o português, entende o [idioma] japonês também?
A.H.= Ah, bastante coisa.
E= E você escreve?
A.H.= É
E= Então você lê e escreve o hiragana, katakana e o kanji?
A.H.= O hiragana e o katakana, mas o kanji só alguns que eu ainda estou aprendendo.
E= Como, assim, quando você utiliza a língua japonesa?
A.H.= Aqui em casa é quase tudo português, mas quando eu vou na casa da minha avó, só
fala em japonês.
E= A sua avó mora aonde?
A.H.=Em Guaíra.
E= Hiromi, olha, fala pra mim, o seu nome do meio, você sabe o que ele significa, você se
lembra o porquê da escolha, o que papai e mamãe contou pra você, fala pra mim...
A.H.= Olha, o significado eu não sei, a escolha... também não lembro...
E= E Adriana?
A.H.= Foi porque minha mãe assistia uma novela e tinha uma mulher, bem, minha mãe
gostou...
E= Então quer dizer que o nome em português é por causa da escolha da televisão, agora você
não imagina se a palavra Hiromi significa flor, casa, árvore, qualidade...
A.H.= Não, só sei o das minhas irmãs.
E= Adriana, qual a vantagem de saber falar em japonês num país onde a grande maioria
fala em português? Fala pra mim...
A.H.= Ah, falar a língua japonesa é um conhecimento a mais, quando eu precisar eu vou
ter.
(...)
E= Referente ao teu sobrenome? Tem algum significado?
A.H.= Eu não sei.
E= Como você prefere ser chamada?
A.H. = Prefiro ser chamada por Hiromi. Aqui e na escola meu nome é Hiromi.
3 Entrevistada: Me.Y.
Contexto:
A aproximação aconteceu naturalmente, quando a entrevistada foi fazer a entrega de produtos
de beleza na casa da entrevistadora. Após o diálogo sobre o objeto da pesquisa, ela aceitou
que lhe fossem feitas perguntas, que foram assim respondidas:
E= Você pode me dizer seu nome completo?
Me.Y.= É Meire Mitiko Hata Yassue.
E= Quando você nasceu?
Me.Y.= Em 18 de janeiro de 1966.
E= Em Terra Roxa?
Me.Y.= Sim.
E= Qual o nome de seus pais?
MeY.= É Takeshi Hata e Lídia Maeda Hata.
E= Meire, você é de qual geração?
Me.Y.= Meu pai tem dupla nacionalidade, mas nasceu em Lucélia, São Paulo; minha mãe
nasceu em Uberaba, então eu sou sansei.
E= Você sabe dizer o porquê da escolha do seu nome?
Me.Y.= Bem, meu nome é porque a filha de uma amiga da minha mãe. Minha mãe achou o
nome bonito e gostava dela, que era querida, educada, com 12 anos.
E= E Mitiko?
Me.Y.= É o nome de uma princesa do Japão. Foi escolhido pelo avô, e o pai e a mãe.
E= Você sabe o significado de Hata?
Me.Y.= É da roça, da mata, da floresta.
E= E o seu sobrenome de casada: Yassue, você sabe?
Me.Y.= Não sei...
E= Você fala pra mim o nome dos seus filhos?
Me.Y= O primeiro se chama Anderson Takeshi [soletrado] Yassue.
E= Onde e quando ele nasceu?
MeY.= Em Guaíra, em 31 de agosto de 1996.
E= Você saberia dizer o que levou você e seu marido a escolherem este nome para o primeiro
filho?
Me.Y.= Bem, Anderson, porque [eu] gostava do nome, conheci muita gente, é simpático, com
respeito. Takeshi, era para ser Nagao, mas a gente achou que era um nome antigo, quase
não existe no Japão, aí era para ser Sueyoshi, o nome do pai, mas ele [o pai do recém-nascido]
foi e registrou escondido o nome do avô materno: Takeshi.
E= E o nome de sua filha?
Me.Y.= É Adriana Suemi Yassue, nasceu em Terra Roxa, em 26 de maio de 1999. Suemi, Sue,
é caçula, igual ao do pai, que também é o caçula; mi significa beleza e é o início do nome da
mãe.
4 Entrevistada: Ta.H
Contexto:
A entrevista foi marcada após a família com quem mora ter sido entrevistada. A nora esteve
presente durante a entrevista, auxiliando a sogra na tradução e compreensão de algumas
palavras e expressões da língua portuguesa.
E= Fala pra mim o seu nome completo?
Ta.H.= É Tatsuko Yassue Hata.
E= A senhora nasceu quando?
Ta.H.= Em 20 de janeiro de 1929.
E= Aonde?
Ta.H.= Em Aichi-ken, Japão.
E= E como veio para o Brasil?
Ta.H.= Veio [palavra literal] com quatro anos. Minha família veio em 1933, no navio Hawai-
Maru. Parou em Mogiana, São Paulo.
E= Qual o nome de seu marido?
Ta.H.= É Tetsuo Hata.
E= Ele é falecido, né? Mas quando ele nasceu?
Ta.H.= Ele faleceu em 14 de dezembro de 1993.
E= Conta pra mim como vocês se conheceram?
Ta.H.= Ele morava em Lucélia e a gente se conheceu... casou... trabalhava como meeiro
de café.
E= Em que ano vocês se casaram?
Ta.H.= Foi em 1950.
E= E quando vocês vieram para Terra Roxa?
Ta.H.= Viemo para Terra Roxa? Foi ano de 59, veio aqui, né? Mas não na cidade, meu
marido comprou sítio, Santa Rita.
E= E quando vocês vieram para Terra Roxa, já tinham filhos?
Ta.H.= Já, tinha os quatro filhos.
E= Quando veio já comprou sítio, e como foi para conseguir dinheiro?
Ta.H.= Nós trabalhamo como meeiro [em Lucélia], ele ajuntava dinheiro direto, direto,
começou a compra
E= E aqui em Santa Rita, comprou terra e foi trabalhar em quê?
Ta.H.= Comprou mato, né? Teve que derrubar árvore e plantou café. Dava trabalho...
plantei café e café tudo [todo] ano morria, todo ano, geada, geada... Quando tem mato
bastante gia [tem geada] mais, sempre dois grau, zero grau. Geou muito, nunca deixou criar
café, era muito trabalho.
(...)
E= Bem, a senhora tem quatro filhos, diz pra mim, o que levou a senhora e seu marido, por
exemplo, escolher o nome de Luís para o Luís?
Ta.H.= [Silêncio]
E= Deixa eu ver... olha o nome dos seus filhos, estão aqui, por exemplo, Irina, é o nome em
português, tem algum motivo para ter escolhido para ela esse nome?
Ta.H.= Eu não sei, foi meu marido que escolheu, né? Ele não falou nada pra mim. Nunca
encontrou uma Irina, até hoje.
E= E a Irina nasceu quando, a senhora lembra?
Ta.H.= Ela nasceu acho que em 1951, agora não sei bem, heim?
E= A senhora casou em 1950...
Ta.H.= Mas é sim, Luis é 58, Hideki é 53, Irina é 51...
E= Olha, é Irina Takiko, e vocês a chamam por Irina ou por Takiko?
Ta.H.= Por Takiko.
E= Então a preferência é pelo nome em japonês. E todo nome em japonês é feito por dois
kanjis?
Ta.H.= Não todo, todo, Irina é dois. Mitsuro, um(a) kanji só, do Luis, Hitoshi também um
kanji. Aqui é tudo kanji.
E= Diz que o nome em japonês, dependendo do kanji, tem um significado, igual Tadashi, se
feito com um kanji significa uma coisa, se for com dois significa outra coisa, é verdade?
Ta.H.= Ele também é um kanji, mas o mesmo Tadashi, outro kanji, tem bastante kanji, o
jeito de ler, mesmo nome é outro kanji.
E= Quando escolhe o nome da criança, como escolhe o nome em japonês?
Ta.H.= Igual Takiko significa muito contente (acho que fala contente, né) porque veio uma
menina. Meu marido gostou, estava esperando [que fosse] uma menina.
E= Depois de dois meninos, né? A Irina não mora mais aqui?
Ta.H.= Ela está no Japão.
E= Então a Irina ficou Irina Takiko Hata. Lembra quando ela foi?
Ta.H.= Ela foi em 2003, voltou no ano passado, foi de novo.
E= Ela é solteira?
Ta.H.= Não, ela é casada, tem três filhos.
E= Fala pra mim o nome dos filhos?
Ta.H.= Ih, agora eu não sei em português.
Y.H.= É Jader Hiroshi Matsui, Juliana Matiko Matsui, Solange Hidemi Matsui.
E= Cada nome bonito, né? É bom saber que Takiko tem o significado de muito contente.
Parece que os nomes em japonês têm sempre um significado. Bem, o Luís é o caçula, Mitsuro,
por que foi escolhido?
Ta.H.= Tem sempre um significado, mas é difícil de falar. Tem só um kanji. Foi meu marido
que escolheu, ele pesquisou bastante nome, daí ele falou que esse era o melhor e eu
também gostei.
E= E Hitoshi?
Ta.H.= O nome dele é bem bonito. [fala em japonês com a nora]. É difícil de explicar, mas é:
anda por caminho bem direito, não vai assim errado, caminha direito, acho que fala assim.
E= Eu escrevi “anda por caminho direito sem errar na vida”, mas eu posso tirar.
Ta.H.= Não, não é sem errar não, senão fica outro jeito [diálogo em japonês].
Y.H.= Ela está dizendo que é um nome bem bonito.
E= E é mesmo, até para a gente ouvir. Bem, todos os seus filhos têm o nome em português e
em japonês, já estão no registro de nascimento?
Ta.H.= Sim.
E= E o seu marido, ele tinha o nome em português no registro de nascimento?
Ta.H.= Não, ele não batizou, né? Tem nome, João, mas não no registro. Eu batizei, coloquei
Maria Ignes, ele não.
E= Mas e na carteira de identidade, a senhora sabe se tinha o nome em português?
Ta.H= Não, não tinha.
E= Então ele não tinha, igual, Alcides tem, Irina também.
E= E o nome dele, Tetsuo, tem um significado?
Ta.H.= Esse é difícil mais ainda pra mim, mas tem um significado.
E= Então vamos pensar no sobrenome, e Hata?
Ta.H.= É na roça, em português, fala na roça.
E= Falaram para mim que era bandeira?
Y.H.= Tem gente que fala.
Ta.H = Mas é outro kanji. Esse Hata |TA| (sílaba tônica) é outro kanji, significa bandeira.
Mas o nosso é Hata |Ha| (sílaba tônica), é na roça. É outro kanji bem difícil.
E= Então quer dizer que o kanji de sua família é Hata /Há/ (sílaba tônica), e significa na roça
Ta.H.= É Hatake, /ra/ta/KE/ é na roça. Tem bastante gente que fala Hatake, mas é Hata |
RA|ta|.Tem gente que fala Hatake-san [ela sorri].
E= Dona Ta.H., a senhora tem um nome em português?
Ta.H.= Madrinha falou: “vou escolher um nome bem bonito pra você: Maria Ignes, escreve
assim I-g-n-e-s, mas se lê Inês.
E= Como é a questão da língua? Continua falando a língua japonesa?
Ta.H.= Eu falo mal o português, as crianças dão risada.
E= As orações?
Ta.H.= Em japonês.
E= Ontem a senhora estava assistindo a um filme, era em que língua?
Ta.H.= Era um vídeo, né? tudo em japonês.
5 Entrevistado: J.M.
Contexto
A entrevista aconteceu no dia seguinte à entrevista de seus avós.
E= Seu nome completo é...
J.M.= Jader Hiroshi Matsui.
E= Em que ano você nasceu?
J.M.= Em 1987.
E= Como as pessoas te chamam, por Jader ou por Hiroshi?
J.M.= Na escola [faculdade] me chamam de Jader, mas meus amigos me chamam de Hiroshi.
E= E você prefere...
J.M.= Hiroshi.
E= E a língua japonesa, com quem você fala?
J.M.= Com os avós é em japonês, com meus pais é uma mistura, porque meu pai fala em
português.
E= Você sempre morou no Brasil?
J.M.= Não. Saí daqui na quarta série e continuei no Japão até o Colegial.
E= E como foi para os seus estudos?
J.M.= Legal porque passava o tempo, lá eu fiquei numa Colônia de brasileiros, no prédio tinha
muito brasileiro e a gente ia junto para o estudo.
E= De ônibus?
J.M.= Não, a pé para aprender, a gente ia junto.
E= Era fácil, ou difícil?
J.M.= Igual. Eu passei sempre.
6 Entrevistada: F..K.:
Contexto
A entrevistada tem l94 anos e se expressa quase exclusivamente em língua japonesa, por isso
esta entrevista foi realizada na casa da filha e acompanhada também pelo genro. Houve a
necessidade desta entrevista, pois a primeira entrevistada, Se.M., preferiu que as perguntas
referentes ao seu nome fossem feitas à mãe. A entrevista foi intermediada por To.M. e ainda
mais por Se.M. A entrevistada mesclava a língua japonesa com a língua portuguesa, fazendo o
code-switching.
E= Bem, eu sou, E, qual o seu nome?
F.K.= É Fujio Kawase.
E= Assim?
F.K.= É Fu-ji-o, que vem do Monte Fuji.
E= E qual o sobrenome de solteira?
F.K.= É Yamamoto.
E= A senhora disse que Fujio, tem origem no nome do monte Fuji, e o sobrenome, tem
alguma origem, ou significado?
F.K.= Yama quer dizer monte, moto quer dizer base.
E= É certo dizer que seria base da montanha ou de um monte?
Se.M.= É base da montanha e Fujio é do monte Fuji.
E= Então, Se.M., aqui fica realmente a tradução?
F.K.= É.
E= E Kawase?
F.K.= É de tradução complicado [fala literal], significa curvas do rio, parte mais rasa.
E= E os sobrenomes, em qual “alfabeto” é escrito?
F.K.= Pode ser escrito de qualquer forma, começa com katakana, com 6 anos na escola, vai
para o hiragana e já vai misturando o kanji.
E= Onde a senhora nasceu? Quando?
F.K.= Eu nasci em Yakayama-ken, em 29 de fevereiro de 1912. De quatro em quatro...
E= É em ano bissexto...!
Se.M.= A mãe só faz aniversário de quatro em quatro anos.
E= E o nome de seu marido?
F.K.= Era Hisashi Kawase (falecido).
E= Quando ele veio para o Brasil?
F.K.= O nome do pai do meu marido era Toro no Japão e ele era general. É de família de
samurai. Ele construiu um templo em cima do monte e construiu uma escola, quatro famílias
tomavam conta e cada uma de uma parte. Nessa época [em torno de 1932], a família dele
tomava conta de uma parte. Naquela época o Japão não permitia a entrada de gaijin.
Se.M.= De estrangeiros.
E= E seu marido veio para Brasil...
F.K= Ele queria se aventurar, em primeiro, veio sozinho, solteiro. Ele entrou numa escola
(Hikokai) [antes de vir] e aprendeu Inglês na intenção de vir para a América. Daí ele veio e
falou com o embaixador japonês na Argentina e ele disse que tinha terra boa no Brasil. Ele
comprou dez alqueires de mato na Aliança, mas precisava tirar água do poço, sabe, filho de
general no Japão, não sabia, teve que aprender todo serviço. Ele pegou malária e por um
amigo [influente] foi se tratar no Rio de Janeiro. saiu um anúncio de trabalho no jornal e
um amigo mostrou, daí ele foi trabalhar na casa de um General do Brasil, que tinha sofrido
derrame.
E= Ele trabalhou como enfermeiro?
F.K.= Ele dava banho. Naquela casa tinha ele [trabalhando] e a cozinheira, lavadeira,
passadeira, faxineira, motorista e uma costureira para a família... ele achava que no Brasil
fosse tudo rico, porque o pai dele no Japão também era general, mas era pobre. Daí ele teve
decepção [ênfase], o clima no Rio de Janeiro era quente, dormia em colchão de palha de
milho... Mas não dava para ficar sozinho, ele queria casar.
E= Então vocês se casaram?
F.K.= Não, através de um amigo que tinha estudado na mesma escola que ele, esse amigo
arrumou duas esposas, uma pra ele e outra para o amigo aqui do Brasil, mas no navio, a
[noiva] que era para ela se casar com ele preferiu o filho de um do navio, porque assim ela
não teria que trabalhar na roça. Aí ele voltou para o Japão.
E= Voltou?
F.K.= Ele gastou tudo que tinha ganhado para voltar, ia trazer amigos para morar aqui e casar.
E= Ele casou com a senhora lá no Japão?
F.K.= Ele procurou uma esposa durante três meses, mas não queria vir para o Brasil. Ia na
vila, não deu jeito. Aí, meu tio que era amigo dele arranjaram o casamento. Ele ia em casa,
“brincar de jogo” e meu pai falou que eu gostava [dele]. meu pai ficou com dele voltar
de novo sozinho para o Brasil então meu pai mandou eu casar e vir. E quando o pai mandava
tinha que obedecer. Ficamos três meses no Japão, depois viemos. O primeiro presente de
casamento que recebi foi uma calça comprida [nesse ponto ela faz uma expressão de
indignação].
Se.K.= Minha mãe foi uma das primeiras mulheres a usar calça comprida.
F.K.= Meu pai era professor, era diretor de escola no Japão [aqui com expressão de orgulho].
Ele era o único filho da família dele. Meus irmãos são todos ricos no Japão, só eu fiquei pobre
[em tom de lamentação].
E= E como foi a vida aqui no Brasil?
F.K.= Primeiro comprou terras na Aliança em São Paulo, mas a vida era muito difícil, teve
que aprender tudo. Tinha que tirar água do poço e tinha que mexer com café. Depois o pai
dele morreu e ele era filho único, não precisava ter vindo para o Brasil, ele recebeu herança e
aí comprou terra em Curitiba. Construiu a casa [pelo quadro, é uma casa de dois andares] e foi
lidar com criação e com horta.
E= Dona F.K, e quantos filhos vocês tiveram?
F.K.= Foram sete, mas o primeiro morreu com vinte anos.
E= A senhora sabe explicar o nome da Se.M.?
F.K.= Setuko vem da família do Imperador, era a nora do Imperador. Lê [-se] |TSU|, é quando
vai cumprimentar, parabenizar. É filha forte, com energia. Foi a primeira filha.
7 Entrevistados: M.N., R.N.
Contexto
M.N. ficou viúvo a pouco tempo e a filha R.N. mora em sua casa. Os dois filhos dela estão
morando no Japão. A entrevista foi marcada através de R.N., que, na adolescência, estudou
junto com a entrevistadora.
E= Qual é o nome completo do senhor?
M.N.= É Minokichi Nakamura.
E= Onde o senhor nasceu?
M.N.= Nasci em Aomori, Japão.
E= Quando?
M.N.= Em 19 de julho de 1929.
E= Então o senhor está com 77 anos. O senhor se aposentou, né?
M.N.= É agora a gente atende algumas pessoas aqui em casa mesmo [Ele foi um dos
primeiros dentistas do município de Terra Roxa].
E= Senhor M.M., o senhor nasceu no Japão e quando veio para o Brasil?
M.N.= Viemos em 1933, eu tinha quatro anos incompletos.
E= E do Japão, para onde vocês vieram no Brasil?
M.N.= Chegou na região de Araraquara. Foi na fazenda de café.
E= E quem veio da sua família além do senhor?
M.N.= Veio com dois irmãos e duas irmãs, o pai faleceu na viagem por um mal repentino.
Meu irmão mais velho tinha quatorze anos. Veio também os avós da parte do meu pai e um
tio solteira que tinha mais ou menos dezoito anos.
E= Vocês trabalharam na fazenda de café?
M.N.= É durante quatro anos. Depois mudamos para a cidade, colocou tinturaria, lavanderia.
E= O senhor sabe me dizer sobre o seu sobrenome, se tem significado em português?
M.N.= Naka quer dizer meio, entre; e mura quer dizer vila, então significa vila do meio.
E= E sobre o nome Minokichi?
M.N.= kichi é pela escrita.
E= Fala pra mim o nome de sua esposa [falecida]?
M.N.= Era Alzira Midori Nakamura. Olha, interessante pra você ver quanto Nakamura que
tem, interessante que não era parente, não era nada de parente antes de casar [e ele foi buscar a
certidão de casamento].
E= Que interessante, o sobrenome de solteira é Nakamura e depois de casada também, como
o senhor disse, consta aqui; “... encontra-se o assento do matrimônio de Minokichi Nakamura
com dona Alzira Nakamura... passando a contraente a chamar-se Alzira Nakamura”.
R.N.= Daí pra ver quanto Nakamura que tem no Japão. Meus filhos que estão lá, dizem que
lá, a primeira coisa que fala é o sobrenome de família.
E= Olha, aqui na certidão consta que seu pai e sua mãe se casaram em 1961 e aqui também
não está escrito o nome dela em japonês, somente o nome em português...
M.N.= Mas no registro ela tinha o nome Midori, agora não sei porque que não colocaram...
E= Em que ano ela nasceu?
M.N.= Em Bandeirantes, São Paulo, em três de outubro de 1934.
E= Será que ela só quis o nome em português?
M.N.= Acho que não, é porque naquela época estava proibido os nomes estrangeiros. Alzira
era só o nome de batismo.
E= Tinha no registro de nascimento?
M.N.= Não, porque ela foi registrada em 1934...
E= O senhor é issei e sua esposa...
M.N.= Ela era nissei porque nasceu no Brasil, os pais dela vieram do Japão.
E= Bem, eu estudei com duas filhas do senhor, meu irmão estudou com um filho, o senhor
fala pra mim o nome completo dos seus filhos?
M.N.= A primeira é a Roseli, de 1962.
E= É Roseli Nakamura, não tem o nome do meio em japonês?
M.N.= Era pra ter Mitiko, nome da imperatriz, mas não registrou no registro.
R.N.= Mas se meu nome é Roseli eu não aceito que chamem por outro.
E= E os outros filhos, fala o nome deles?
M.N.= É Estéfano Hiroshi Nakamura.
E= Está registrado assim?
M.N.= Sim.
E= Quando ele nasceu?
M.N.= Foi em vinte e quatro de agosto de 1965.
E= O senhor sabe dizer o que levou à escolha?
M.N.= Estéfano é porque morava perto de nós um vizinho muito simpático e Hiroshi era o
nome de um soldado que estudou na história, porque para eu estudar fui morar em um
internato japonês para concluir meus estudos.
E= E o nome dos outros filhos?
M.N.= Valquíria Nakamura, de 1964.
E= Também só o nome em português...
M.N.= É que tinha o nome em japonês, mas não registrou no registro, nem ela nem a Andréia.
E= Como é o nome da Andréia?
M.N.= É Andréia Aparecida Nakamura, ela é de 1972. É que minha mulher era muito
religiosa e colocou no meio o nome da santa.
E= E outros filhos?
M.N.= Flávio Akira Nakamura, ele nasceu em 1968. O nome Flávio eu não lembro, mas
Akira foi o avô que escolheu, é um nome bem comum no Japão.
E= O senhor sabe se tem tradução?
M.N.= Significa claro, sábio para ter sabedoria na vida.
E= Olha, a gente conhece o senhor pelo seu sobrenome, o senhor tem um nome em
português?
M.N.= [Risos dele e da filha]. Tem um apelido: Mário.
R.N.= Uma vez a minha filha, a Daniela, estava aqui em frente de casa e passou um primo
nosso de São Paulo e perguntou se ela sabia onde morava o Dr. Mário, ela respondeu que ele
devia estar enganado, porque por ali não tinha nenhum Dr. Mário. Ela saiu e quando voltou,
aquele primo estava dentro de casa. ele falou: “você disse que não conhecia nenhum
Dr.Mário, como, se ele é seu avô”? Ela respondeu que nunca tinha ouvido que o avô dela se
chamava Mário.
[Risos]
M.N.= os conhecidos muito antigos sabem do apelido, os outros não sabem, não dou
importância.
APÊNDICE B Entrevistas com as famílias
1 Entrevistados: E.Y., MY., Er.Y.Ig.Y.,W.Y., C.Y.
Contexto:
Esta é a primeira entrevista em família. É o núcleo familiar de E.Y., mãe da jovem Er.Y., de
quem a entrevistadora foi professora e com quem manteve laços de amizade. Estão presentes
o pai, a mãe, e os filhos. O pedido de gravação deixa as pessoas tímidas, mas pouco a pouco, a
conversa flui normalmente.
E = Emília, você pode me dizer seu nome completo?
E.Y. = Emília Fumiko Nakashima Yassue.
E = Onde você nasceu? Em que ano?
E. Y. = Morava em Iporã. Em 1963.
E = E seus pais, moram em Iporã?
E.Y. = Meu pai era issei, faleceu em 1982, com 93 anos de idade. Minha mãe também issei,
faleceu com 75 anos.
E = Quantos irmãos você tem?
E.Y.= Nós éramos em 11 irmãos.
E = Bem, agora, o senhor, diz pra mim seu nome completo?
M.Y. = Mário Toshio Yassue.
E = Em que ano o senhor nasceu? Em que cidade?
M.Y.= Em 1958.
E = Pode me dizer o nome de seus pais e onde eles nasceram?
M.Y.= Nagao Yassue, nasceu na região chamada de Guifu-ken, no Japão, e minha mãe é
Satsuki Akiyama Yassue, nasceu no Brasil, no estado de São Paulo.
E = O senhor é nissei?
M.Y.= Sou meio nissei, porque da parte da mãe sou sansei. As gerações são issei, nissei,
sansei, yonsei e depois eu não sei [ele riu e depois dele, nós todos]
E = Você pode dizer quando seus pais vieram para Terra Roxa?
M.Y. = Foi em 1963, vieram trabalhar na agricultura, compraram terra em Alto Alegre
[distrito de Alto Alegre].
E = O seu sobrenome é Yassue, você sabe dizer se tem um significado? É uma palavra em
japonês, tem uma tradução? [percebendo a dúvida, a entrevistadora acrescentou: olha, eu
estou te fazendo uma pergunta que se perguntassem pra mim eu também não saberia
responder].
M.Y = Ah, isso tem que perguntar pro meu pai, porque se tiver eu não sei.
E.M. = Sabe que eu nunca pensei nisso, vou perguntar para o meu sogro.
E = E.Y., então me fala, e o seu nome, você recorda se tem significado?
E.M. = Bom, Emilia eu não sei, agora Fumiko foi por causa de um programa japonês, é o
nome de uma cantora, artista do Japão, foi a irmã do meu pai que escolheu. [Silêncio] Agora
Nakashima não dá pra perguntar [choro].
E = Érika, fala pra mim seu nome completo?
Er.Y.= Érika Mayumi Yassue.
E= Escrito com k.
E = Você nasceu em…
Er.Y. = Em 1988
E= Como você prefere ser chamada?
Er.Y.= Por Érika. Aqui em casa e na escola todos me chamam por Érika, mas meus avós me
chamam de Eriko, eles dizem que é um nome bonito e eu gosto do meu nome.
E= Você fala em japonês?
Er.Y. = Bem, com a batchã e com o ditchã [avó e avô] a gente fala em japonês. Mas
entende quando está misturado [com o português]. [Depois pesquisado: oba-san e odi-san,
segundo a outra informante]
E= E você, qual seu nome completo? Em que ano você nasceu?
Ig.Y.= Igor Yoshio Yassue. Nasci em 1990.
E= Você fala em japonês?
Ig.Y. = Só entendo pouco.
E = Como você prefere ser chamado?
Ig.Y. = Eu gosto de Igor, mas na escola me puseram um apelido.
E = E você, fala pra mim seu nome completo e quando você nasceu?
W.Y.= É Willian Eiji Yassue, nasci em 1991.
E = Como você prefere ser chamado?
W.Y. = Tanto faz, alguns me chamam de Willian e outros me chamam de Yassue [silêncio],
mas eu não gosto daquele apelido.
E= [A entrevistadora leciona para este aluno e conhece o conflito vivido por ele em sala de
aula, por isso continuou:] Você tem um apelido? Eu não sabia...
W.Y.: Ah, me chamam de “Japonês enrolado”, acho que é por causa da minha língua.
[...]
E = E você, C.Y, fala pra mim seu nome completo e quando você nasceu?
C.Y.= É Christian Eiji Yassue, nasci em 1992.
E = Como você prefere ser chamado?
C.Y. = Tanto faz, mas na escola me chamam de Yassue. Até na camiseta de jogo é Yassue.
E= E.Y., tem como você responder sobre o que levou vocês a escolherem estes nomes para os
filhos?
E.Y. = Bem, a Érika foi a primeira e quem escolheu foi o pai, ele queria dizer, assim, filha
abençoada, com bastante inteligência, mas pra todos os filhos, a gente queria um nome que
soasse bonito, que combinasse.
E = Com o quê?
E.Y. = Com o sobrenome e também o nome em português com o nome japonês e que não
ficasse, assim, um som feio, que representasse feio em português.
2 Entrevistados: R.I., C.I.,A. I.
Contexto:
O casal jovem com seu filhinho foi à casa da entrevistadora. R.I. é afilhado de batismo da tia
da entrevistadora.
E= Seu nome completo é...
R.I. = Roberto Akira Yamazato.
E= Você nasceu em...
R.I. = Em 1973, em Terra Roxa.
E= Você sabe dizer o significado do seu sobrenome?
R.I. = Você sabe que no Japão, quando tem uma filha, pra não morrer a raiz da família
pode ficar o sobrenome da mãe. Yamazato não é da parte do pai, é da minha mãe.
E = A tia me disse que você morou lá no Japão...
R.I.= Fui no Japão com 17 anos, 12 anos fiquei lá, só voltei duas vezes. Fiquei um ano e meio
no Japão na Escola pra aprender a ler e escrever [em japonês]. Fui tradutor, a gente aprendeu
lá.
E= Que bacana, ser tradutor!
R.I.= É, mas as confusões que os brasileiros fazia eu tinha que interpreta.
E= Quando você veio para o Brasil?
R.I. = Foi em 2002, ia voltar, mas a gente se casou.
E = E o seu nome?
C.I.= É Cristina Yukari Marumo Yamazato
E= Você nasceu em que ano?
C.I. Em 1976, em Guaíra [Paraná].
E= Como vocês se conheceram?
C.I.= Tinha uma tia que morava do outro lado, em Guaíra. A gente casou eu tinha 26 anos.
E= Como é o nome completo dele?
C.I.= É Alex Ichiro Marumo Yamazato.
E= O que levou vocês a escolherem exatamente estes nomes?
R.I.= Alex é nome bonito, pouca letra, nome fácil. Ichiro, porque é o primeiro filho;
geralmente o nome em japonês acaba com “o”. Yamazato: vem do estado de Fokoka, região
sul do Japão. Meu avô tinha dois filhos, herdou o nome da esposa. O nome em japonês
geralmente é relacionado com montanha, dinheiro, alegria.
E= Você sabe dizer sobre os nomes?
R.I= Roberto entra no katakana, porque veio do estrangeiro. [E escreveu o nome em três
alfabetos] Em japonês não tem o som |er|. Em japonês é: |A|, |I|, |U|, |E|, |O|. O hiragana é do
Japan e o kanji [também]. Akira, tem um cantor no Japão com esse nome.
E= E o nome da Cristina?
R.I.= Akarui deve ser claridade, porque yuk é neve.
E= Você gostaria que o Alex aprendesse a língua japonesa?
R.I.= Sim, mas é difícil porque não tem [escola].
E= Qual a língua que vocês mais falam?
R.I.= Em casa e em tudo é português.
3 Entrevistados: L. H., J. H., Si. H., A.H.
Contexto:
A jovem de 18 anos havia sido entrevistada individualmente. Nesta, apresenta-se o retorno
a casa para entrevistar a mãe e os filhos. O pai não está presente.
E= A senhora sabe que a sua filha foi o motivo que trouxe a curiosidade desta pesquisa? É que
quando eu fui professora dessa menina querida aqui,na escola eu a chamava por Adriana, e
ela não dava atenção, eu percebi que os coleguinhas a chamavam por Hiromi, mas eu não
sabia, queria chamar pelo primeiro nome do livro de chamada, então comecei a prestar
atenção e dái eu descobri Hiromi é também o nome, não é sobrenome. Então a senhora pode
me responder algumas perguntas sobre o nome dela?
L.H.= Se a gente souber...
E= A Adriana se chama Adriana Hiromi Hata, está assim no registro de nascimento?
L.H.= Está. O nome dela e das filhas e do Luís estão. O meu é que não está.
E= Como é o nome completo da senhora?
L.H.= Engraçado, eu sou nissei, mas não tenho o nome em português. No registro é Chihoko
(soletrado) Endo Hata.
E= Continua Endo?
L.H.= Continua.
E= Mas e Lídia, por que nós a chamamos de Lídia?
L.H.= Lídia é o nome da madrinha, não tem no registro. Chihoko é o nome de uma ex-
namorada que meu pai gostava muito, mas ela não quis vim[r] para o Brasil e meu pai tava
procurando uma moça que viesse para o Brasil e onde que ele encontrou minha mãe, então eu
acho que não casou por amor, sabe, porque naquela época era obrigado vir para o Brasil por
causa da guerra e o Japão tava pobre, né? Diz que meu pai na primeira filha que ele tinha
ele queria colocar esse nome, mas meu tio falou: “não, não vai colocar esse nome”, nasceu
a segunda, também não colocou porque ficava esquisito, mas nasceu a terceira, eu,
colocou.
E= A senhora sabe se tem significado o seu nome de solteira, Endo?
L.H.= Endo significa destino, acho que é. Olha que vou pegar o telefone e perguntar para a
minha mãe.... [risos]. Olha, eu não sei muito gramática, eu sei falar mais em yamagata.
E= E você conversa em português ou em japonês?
L.H.= Só com minha mãe e meu pai, em japonês.
E= Eles moram em Guaíra?
L.H.= É, eles são japonês mesmo.
E= E referente ao seu sobrenome de casada “Hata”, você sabe o significado?
L.H. Não sei bem, mas acho que significa bandeira, é bandeira, né? [com sílaba tônica em |
HÁ| que tem o som de |RÁ|].
E= E a senhora sabe explicar por que a senhora e seu marido escolheram o nome da Hiromi?
L.H.= Não sei bem como explicar... bem, eu coloquei dois nomes: Adriana, nome brasileiro,
Hiromi, nome japonês, geralmente coloca dois nomes.
E= E tem significado?
L.H.= Eu não sei explicar... mas Hiromi é espaço aberto, iluminado; Hikari é brilho,
claridade, que deu luz.
A.H.= Sayuri é flor...
L.H.= As pessoas mais antigas explicam assim: esse nome é bom, bom significado, esse nome
é bom, né?, esse nome é pesado... Eu não pus por causa da letra, sabe? Eu pus porque
combino.
E= E você? [para a outra entrevistada], vamos entrevistar você hoje também? O seu nome?
S.H.= É Silvia Hikari Hata.
L.H.= Só não entrou Endo.
E= Me ajuda aqui ...!
L.H.= Soletrando...
E= Parece com o dela, né?
L.H.= É, geralmente o nome japonês é com final /RI/, /MI/...
E= Quase que não tem |O| [som aberto], né?
A.H.= Tem /KO/ [som fechado].
E= Mas o som aberto...
A.H.= É as palavras igual Hi/DE/ki, Hi/DE/mi, o som é fechado, não tem Hi/DÉ/ki,
Hi/DÉ/mi...O som é fechado igual Hi/RO/uki, Hi/RO/chi...
E= Quando você nasceu? Aonde?
S.H.= Em 31 de maio de 1995. Em Terra Roxa.
E= Você sabe por que a mamãe escolheu o nome Silvia pra você?
S.H.= [Silencio...]
E=EHikari?
S.H.= Hikari foi minhas tias do Japão.
E= Você prefere ser chamada por Sílvia ou por Hikari?
S.H.= Tanto faz...
E= É? E na escola, como você é chamada?
S.H.= Mais de Sílvia.
E= E em casa?
S.H.= Mais de Hikari.
E= E a avó, os tios... como é que chamam?
S.H.= Me chamam de Hikari.
E= O que que você sente quando uma pessoa que você não conhece [muito bem] te chama
pelo seu sobrenome, Hata?
S.H.= Como assim?
E= Se não chamar você por Sílvia ou por Hikari, dá a impressão que é com você?
S.H.= Se não tiver mais ninguém da minha família...!
E= Obrigadão! Depois vou lembrar mais perguntas pra Sílvia.
E= Jéssica, fala pra mim o seu nome completo, por favor?
J.H.= Jéssica Sayuri.
E= Soletra pra mim?
J.H. S-a-y-u-r-i, Hata!
E= Na escola, como é que te chamam mais, de Jéssica ou de Sayuri?
J.H.= De Jéssica!
E= E você prefere que te chamem como?
J.H.= Não tenho preferência.
E= É como você falou, a Adriana que fez a escolha pelo nome.
E= E em casa?
L.H= Em casa é pelo nome em japonês: Hiromi, Sayuri e Hikari, dificilmente é pelo nome em
“brasileiro”.
E= Agora de novo pra mãe, por que você escolheu Jéssica, você tem lembrança?
L.H.= Jéssica eu tirei de um filme que eu gostei muito.
E= Igual a Adriana, então.
L.H.= Sílvia eu vi de uma jornalista, bonita e inteligente. Adriana foi de uma artista de novela
que eu achei muito bonita, né?, aí eu coloquei. Da Jéssica eu vi um filme muito bonito que daí
a gente tirou.
E= É claro...
L.H.= Agora Hiromi foi eu e o Luís que escolheu, até as tias lá do Paraguai falaram: “coloca
Hiromi”; agora Sayuri foi,o Luis ia viajar, quando voltou falou: “coloca Sayuri”, saiu os dois
juntos [referindo-se que mãe e pai falaram ao mesmo tempo o nome que seria dado à filha].
Da Hikari foi as tias dela que colocou, as tias do Japão, foi as tias que deu.
E= Você disse queSayuri você e seu marido falaram ao mesmo tempo, mas você lembra se
esse nome tem alguma referência, um significado em português?
A.H.= É porque lá no Japão tem uma flor que se chama sayuri.
L.H.= Não sei como é que foi... Eu acho assim que Sayuri é um nome mais suave; yuri é um
lírio, sayuri é o nome de um lírio.
E= E Hikari, as tias não falaram?
L.H.= Hikari é luz, claridade, brilho, né?
E= Como é a gente que é mãe, quanta coisa pra escolher o nome do filho, né?
L.H.= É como minha mãe fala: Hatsu: é tudo pessoa sofrida”. E é verdade todo mundo que
tem esse nome Hatsu é pessoa sofrida.
E= Então fala pra mim, soletra...
A.H.= H-a-t-s-u.
L.H.= E é verdade, minha mãe sofreu, sofreu, mas no final é feliz. Uma pessoa que vence e é
feliz. Minha mãe mesmo sofreu, mas hoje é uma pessoa mais feliz eu acho.
E= Agora falta seu marido, mas eu venho outro dia perguntar...
L.H.= Mitsuro: eu não sei o que significa, tem que perguntar, as pessoas mais antigas sabem...
E= Isso, eu venho outro dia e a gente conversa rapidinho.
4 Entrevistados: T.M., Y.M., KM.
Contexto
A entrevista foi marcada antecipadamente com a comunicação através de um dos filhos dos
entrevistados. Quando os entrevistadores chegaram, eles estavam esperando-os. Ressalta-se
que ele é o pioneiro da cidade de Terra Roxa.
E= Como era o nome dos seus pais?
T.M= É Minaji Miyakawa e Shizue Miyakawa.
E= E o nome dos seus irmãos?
T.M.= Meus irmãos era: Mário, Shigueo e eu.
E= O senhor é o mais novo?
T.M.= Não, eu sou o segundo.
E= Seu T.M., quando o seu pai veio para Terra Roxa?
T.M.= Em 1955.
E= O seu pai veio em 1955 e já ficou?
T.M.= Não. Viemo, derrubamo um pouquinho de mato e voltamos. Depois em agosto é
que nós viemo mesmo pra cá, em agosto de 1955.
E= Foi para o sítio, não?
T.M.= Não, nós viemo aqui dentro da cidade, mesmo. Quando viemo nossa casa só tava
armada, faltava cobrir...!
E= E quantos anos o senhor tinha nesta época?
T.M.= Em vim com 18 anos.
E= Olha, seu T.M., então o senhor é também um dos pioneiros?
T.M.= Quase todos os pioneiros já morreram, meu pai mesmo já morreu.
E= Seu T.M., pelas informações que eu tenho, foram oito os pioneiros e destes tem dois
vivos.
T.M.= É o Nagao Yassue e o Takayama, de Alto Alegre.
E= Nessa pesquisa, seu João, a gente está pensando em ir visitar a família dos pioneiros e daí
vai na família dos filhos dos filhos e assim vai indo. Olha, seu João, a gente tem procurar com
as famílias, porque a gente não encontra esses dados da vinda de vocês a Terra Roxa em livro
nenhum.
T.M.= É, a primeira missa que nós rezemo, não tinha nem capelinha. Nós mesmo fomos
no mato, cortamos pau, fizemo a cruz e amarramo com cipó.
I.M.= Foi aqui na frente, né?
T.M.= É, juntamo meia dúzia de gente e fomo buscar o padre de Guaíra, que tinha,
que é cidade velha e rezamos”. Antigamente o cartorário ia fazer casamentos...
E= Seu T.M., e como que era a questão da língua? Falava em português ou falava em
japonês?
T.M.= Geralmente falava tudo em “brasileiro”, agora quando a gente morava em estado de
São Paulo, aí era tudo em língua japonesa, né?
E= Lá eram várias famílias, uma comunidade, como era?
T.M.= era uma Colônia Japonesa, portanto que quando a gente chegou aqui em Terra
Roxa, a gente quase não sabia falar em brasileiro.
E= E onde era a Colônia?
T.M.= Em Alto Pimenta, na região onde hoje é Barretos, São Paulo.
E= E os pais?
T.M.= Os pais continuaram falando em japonês.
E= Então o senhor foi o do meio, que fazia o diálogo.
I.M.= Seu Minaji [o sogro, falecido em 26 de agosto de 1989] falava depois tudo em
português, ele era homem inteligente, ele que levava essas coisas de banco.
T.M.= Diz que, diz que meu pai era cartorário lá no Japão.
(...)
E= Seu T.M., e seus pais vieram de lá fugidos da Guerra... ou por quê?
T.M.= Não, não. É que naquele tempo (1932) o governo japonês viu que tava muito cheio,
não cabia o pessoal, porque o Japão é um país pequeno, não tinha ganho nenhum, era
guerra, porque o Japão é desse tamanhinho, agora é que cresceu porque entupiu aqueles mar...
agora está tudo entupido. Quando eu fui para o Japão mesmo, eles falavam: “sabe essa região
onde a gente está aqui hoje, era tudo água”.
E= O senhor lembra o ano que o senhor foi para o Japão?
T.M.= Eu fui em 94.
E= Aqui no Brasil, em que ano o senhor se casou?
I.M= Casamos em 1963.
E= Fala o seu nome pra mim? Soletra?
I.M.= Yoshiko Hata Miyakawa.
E= Então a senhora era da família Hata?
I.M.= Filha do Hideo Hata.
E= Você e seu João tiveram quantos filhos? Fala o nome deles pra mim?
I.M.= Hercílio, Edson, Ricardo e Fábio.
E= Todos meninos?
I.M= Todos meninos.
(...)
T.M= Porque mesmo, nos meus documento você não acha João.
E= Olha aí...! E o nome da senhora em português, tem?
I.M.= É Celina.
T.M.= Celina você também não encontra no documento, é só de batismo.
E= Então está só no batistério? E o sobrenome Miyakawa tem um significado?
T.M.= Eu não sei... porque quando meu pai veio do Japão eles vieram mas para não morar
aqui no Brasil, vieram para ajeitar alguma coisinha, ajeitar a vida, mas daí, os filhos, nós,
nascemos aqui no Brasil e não tinha[m] como voltar.
E= Seu T.M., então o nome do senhor é... soletra pra mim?
T.M= T-a-d-a-s-h-i M-i-y-a-k-a-w-a.
E= Então a gente chama o senhor de João, mas no registro do senhor não tem João, então o
senhor lembra por que foi escolhido João?
T.M.= Porque quando nós crescemos tava todo mundo conversando, de vez em quando a
gente ia no terço e daí falava pra gente: “vocês são batizado? Vocês não quer batiza?”
Daí juntamos tudo [todos], os irmãos também e fomo na Igreja. Juntou tudo com os
padrinho. o padre falou: “Infelizmente, não pra batizar com esses nomes estrangeiros,
tem que pôr nome brasileiro”. Na hora o padre falou: “Vou por pra você João, pra você tor,
o outro Mário”. [Risos]
E= E com a senhora também foi assim?
I.M= Não, não, eu não.
T.M.= Pra nós foi assim porque nós juntamos toda a família.
I.M.= Eu morava em cidade grande, foi preciso todos os padrinhos...
(...)
E= Vocês falando assim, eu nunca vi o registro disso em lugar nenhum. Por isso tem que
escrever, vocês sabem, mas se não escrever, esquece.
[Ele foi buscar a carteira de identidade].
E= Olha aqui, Tadashi Miyakawa, filho de Minaji, Minaji é com j!
K.M= Ditchã, o que você está ouvindo? Deixa eu ouvi!
(...)
T.M.= Faz 55 anos que moro aqui, nunca mudei! Quer dizer, no sítio, aqui, mas do
município nunca saí.
E= E o nome dos filhos: Hercílio, Ricardo, Fabio, por que que escolheu?
I.M.= Eu não pensei em nada. Fui eu que escolhi. Achei bonito: o Fábio, o Ricardo, O
Hercílio, o Edson, achei bonito e coroquei [coloquei]. Agora o nome em japonês foi meu
sogro que escolheu. O Ricardo, o terceiro filho, fui eu que escolhi.
E= A senhora fala pra mim? E o nome deles já tem no registro de nascimento?
T.M.= Já tem.
I.M= Hercílio Yoshio Miyakawa; Edson Yassuo Miykawa; Ricardo Tsutomu Miyakawa;
Fábio Ken Miyakawa.
E= Assim?
I.M.= É.
E= E Yoshio tem significado que a senhora pode dizer?
I.M.= Eu não sei, porque foi meu sogro quem colocou. Tirou de mim Yo”, porque eu sou
Yoshiko, e meu sogro que falava, né, vamos tirar o seu nome primeiro, porque em japonês
para o menino não fala Yoshiko, então ficou Yoshio.
E= A gente percebe que os nomes são terminados com i e com o.
T.M.= É os homens tudo com o, a mulherada tudo com ko e com i. É, mas eu não sei.
E= Como é o seu nome? [Para a menininha curiosa que estava rodeando a avó].
K.M.= É Karen Harumi Miyakawa.
E= Olha aí, o nome das meninas é sempre terminado com i, né?
T.M.= Essa nossa neta nasceu no Japão. É filha do Edson [já falecido por hemofilia].
E= Quando vai fazer oração é em que língua que fala?
T.M.= É tudo em português.
E= E em casa é em que língua?
T.M.= É tudo em português.
E= E para contar historinhas, você fala com ela em japonês?
T.M.= Só algumas palavrinhas.
K.M.= Bachã não conta histórias, é porque ela está doente, ela operou do olho [cirurgia de
piterígio].
E= Seu João, onde o senhor nasceu?
T.M.= Lá em Alto Pimenta, agora em Barretos. Esses dias que descobri.Com esses filhos
que está no Japão, eles precisam muito de documento e pelo cartório daqui eu descobri o de
lá. Mas o certo mesmo era Alto Pimenta. ´
E= Dona I.M., quando a senhora nasceu?
I.M.= Nasci em 1939.
E= A senhora prefere ser chamada por Celina ou Yoshiko?
I.M.= Yoshiko, né, porque é o meu nome.
E= Seu T.M., e o senhor, quando nasceu?
T.M.= Foi em 1936.
E= E agora, seu T.M., nós só chamamos o senhor de seu João?
T.M.= Aqui em Terra Roxa, ninguém me chama de Tadashi.
I.M.= Só no Banco.
T.M.= Nem no Banco.
I.M.= Mas quando telefona, pergunta: “seu Tadashi está?”
T.M.= A gente que tinha comercio, até no depósito escrevia João Miyakawa.
E= E o que o senhor acha disso, seu João?
T.M.= [Silêncio]
E= Acha que é porque o povo não sabia falar?
T.M.= É.
E= Eu tenho que perguntar: e Miyakawa? O senhor sabe se tem um significado?
I.M.= Na nossa época é colocado porque acha o nome bonito, mas no tempo do pai dele, ele
escolheu porque tinha um significado: esse nome é bom. Eu não sei, mas o nome dele se
escreve assim [e escreveu Tadashi em kanji, hiragana e em katakana].
T.M.= Em japonês, os nomes têm muito significado, de modo que uma letra se transforma em
dez! Tem muita palavra que você fala aquilo e depois se transforma em dois três. Por isso que
lá no Japão nunca aprende a escrever, porque uma perninha que você põe já muda tudo.
E= Parece... não sei... que os brasileiros não têm muito cuidado ao escolher as letras do nome,
com os descendentes de japoneses parece diferente.Mas parece, não sei se estou certa, que
igual o teu sogro, ao escolher o nome dizia: precisa ter muito cuidado.
I.M.= Meu sogro dizia que precisa ter cuidado para escolher o nome escrito, a letra, era assim,
igual Tadashi, tem um significado, mas eu não sei.
T.M= O brasileiro escreve Tadashi só de um jeito.
E= Pode ser com c ou com s?
T.M.= Não, não é com h, já muda o significado.
E= Ah, o senhor quer dizer em escrita japonesa.
T.M.= É na escrita japonesa.
I.M.= É difícil, olha, escreve assim, assim, e com uma letra se escreve Tadashi. Essa letra tem
um significado, mas eu nunca perguntei, eu não sei.
T.M.= Tem outro jeito de escrever Tadashi.
I.M.= Mas o seu nome é este sim.
T.M.= É, mas escreve em hiragana.
I.M.= Eu não sei porque é como no primeiro ano, igual letra a, b, c, d, que se escreve com a
mão e com a letra de forma. Cada ano se escreve um tipo de letra
T.M.= é letra de primeiro ano, depois é letra de segundo ano e depois vai multiplicando.
Cada grau vai mudando a perninha. Por isso que no Japão, o cheque principalmente não
tem assinatura. Porque o que você escreve todo mundo copia.
E= Não tem assinatura, então como que é?
T.M.= Tem um carimbo, a prefeitura fornece um carimbo.
I.M.= Carimbo e número, né?
(...)
E= Seu T.M., como é que foi chegar, como é que foi a convivência com os brasileiros aqui, o
seu pai e sua mãe? Como eles vieram? Vieram de navio, né? Quanto tempo demorou?
I.M.= Foi quarenta dias e quarenta noites, diz que gastou quarenta dias e quarenta noites, tem
que atravessar o Oceano Atlântico, ia na frente quebrando o gelo, porque daqui no Japão tem
que atravessar o Oceano. é [são] doze meses de gelo. Quando a criança acaba de nascer
tem que jogar numa bacia de gelo pra se acostumar com o frio. Diz que é assim. (...) Lá é tudo
asfaltado, você fica bobo como é que o pessoal trabalha. O asfalto estragou, o pessoal
trabalha vinte e quatro horas, enquanto não acabar, não pára, mas também o pedágio é caro.
Mas também você pode esquecer. Tem aquele negócio de pôr refrigerante, nem mexe, nem
treme, só de vez em quando você percebe “truu, truu”.
E= É para acordar o motorista?
I.M.= Não, é porque é país de muito terremoto, então o asfalto é tudo cortado, igual
atravessar uma ponte, não pode ser colado e a casa do mesmo jeito: quatro cantos, um canto
não é colado. Eu trabalhei um ano no Japão fazendo casa.
E= Quando o senhor foi?
T.M.= Fui em 1994. Por que muita gente vai para o Japão e não consegue guardar dinheiro?
I.M.= Porque gasta, gasta, igual ele, foi para conhecer, só ganhou o dinheiro da passagem.
T.M.= Cem real vai assim, num sopro. Quem segura tem.
I.M.= Se não segura, não tem.
(...)
5 Entrevistados: Y.H., Ali.H., Al.H., C.H.
Contexto
A entrevista foi marcada antecipadamente por telefone, visto que a principal entrevistada tem
conhecimento com a entrevistadora, que foi professora da jovem Al.H. e também através da
amiga E.Y., que tem ajudado a entrevistadora e é amiga particular da entrevistada Y.H., que
ficou viúva recentemente.
E= Y.H., fala seu nome completo para mim?
Y.H.= Elisa Yoko Hata.
E= E o seu nome de solteira?
Y.H.= Elisa Yoko Endo.
E= Então você é da família Endo. Quando você nasceu?
Y.H.= Nasci em 8 de dezembro de 1959. Vim do Japão com mais ou menos dois meses.
E= Então você não nasceu no Brasil! Você tem nacionalidade brasileira ou japonesa?
Y.H.= Japonesa.
E= Onde você nasceu?
Y.H.= Na província de Yamagata.
E= E o seu nome é em português?
Y.H= Elisa, não é registrado, viu? É que chamar Yoko era difícil, então o nome de batizado é
Elisa.
E= Repete pra mim o seu nome de solteira, como no registro, ta?
Y.H.= É Yoko Endo.
E= E de casada?
Y.H.= É Yoko Hata.
E= Você lembra, por exemplo, o significado de Yoko?
Y.H.= É atravessar o mar, mas não é o significado do kanji. É o desejo dos pais, porque eles
iam atravessar o mar, então tirou yo, que significa mar.
E= É porque você veio novinha, então os pais sabiam que iam viajar e colocaram em você,
como o nome é importante!
Y.H.= É, tem pessoa que chama, por exemplo, Massayoshi, todo mundo fica chamando de
Massa. Massa em português é feio, mas em japonês é um nome bonito, homem bem direito.
E= E você sabe por que foi escolhido o nome Elisa pra você?
Y.H.= Para batizar, porque muita gente achava difícil, então a madrinha que escolheu.
E= Era o nome da madrinha?
Y.H.= Não, foi ela que escolheu.
E= E a língua? Fala em português ou em japonês?
Y.H.= Em casa os filhos só fala o português.
E= E com a avó?
Y.H.= Com a avó também português. A gente está ensinando, mas é difícil.
Y.H.= A pequena sabe escrever. Ela foi premiada em letra, né, de letra, como é que fala?
Ganhou três troféus.
E= Caligrafia?
Y.H.= É, ela foi premiada em primeiro, terceiro e quinto num concurso de todo o Brasil.
E= Elisa, fala pra mim o nome dos seus filhos?
Y.H.= O mais velho Alisson Hiroyuki Hata, Aline Tiemi Hata e Cristiane Kaoli Hata.
E= C.H., fala pra mim, quantos anos você tem?
C.H= Tenho 13 anos.
E= Já fez ou vai fazer? Quando é seu aniversário?
C.H.= Nasci em 06 de janeiro de 1993.
E= Que série você estuda?
C.H.= Estou na 8ª série.
E= Como você prefere ser chamada, pelo seu nome em português ou em japonês ou pelo
sobrenome?
C.H.= Em casa e na escola eu prefiro Cristiane.
E= Você sabe o significado do seu nome?
C.H.= [Silêncio]
Y.H.= A gente perguntou para as tias que vivia no Japão se tinha um nome diferente e
tem bastante com esse nome Kaoli”. É o nome de uma cantora. Kaoli é cheiro [perfume], é
uma palavra que tem cheiro [Depois verificado que é /R/, ficando Kaori |Ô|.
E= E você, Alisson, qual seu nome completo? Quando nasceu?
Ali.H.: É Alisson Hiroyuki Hata, nasci em 03 de junho de 1986, em Terra Roxa.
E= Então você tem 20 anos?
Ali.H.= É.
E= Você sabe o significado do seu nome em japonês?
Ali.H.= A mãe fala que foi a tia Teruko que escolheu.
Y.H.= É, Alisson foi a madrinha dele que escolheu, depois de uma lista; já Hiroyuki foi o avô.
Hiro é largo, uki é claro.
E= Como seus colegas te chamam?
Ali.H.= Todos me chamam de Alisson.
E= E você, Aline, quando nasceu?
Al.H.: Em 19 de março de 1988.
E= Teu nome completo é...
Al.H.= Aline Tiemi Hata.
E= Você sabe o porquê da escolha do seu nome?
Al.H.= Meu nome tem três kanji. Parece que significa filha. Aline é porque minha tia gostou
do nome.
E= E você é mais chamada como: Aline ou Tiemi?
Al.H.= É sempre Aline.
6 Entrevistados: S.M., Y. M., J.M.
Contexto
A entrevista foi marcada antecipadamente com a comunicação através de um encontro em um
jantar típico japonês. A entrevista ocorreu na casa dos entrevistados. Como não havia relação
de conhecimento anterior, antes do início da entrevista, foi muito providente que o jovem neto
do casal se fez presente na sala e explicou que os entrevistadores eram pais de uma amiga da
idade dele, que ele conhecia bem e que havia estudado inglês com ele. O assunto versou sobre
esta amizade, para depois começar a entrevista. Também foi comentado o motivo da
entrevista.
E= O senhor me diz seu nome completo?
S.M.= É Sussumo Matsui.
E= Quando o senhor nasceu?
S.M.= Em 24 de junho de 1931.
E= Aonde?
S.M.= Eu nasceu em São Paulo, em lugar chamado Primeira Aliança, município de
Mirandópolis.
E= Seu S.M., o senhor tem um nome em português?
S.M.= É, o nome de batizado é Paulo.
E= Mas e na carteira de identidade?
S.M.= Na carteira de identidade é Sussumo Matsui.
E= E a senhora, fala para mim o seu nome?
Y.M.= É Yoneko Matsui.
E= Está certo assim?
Y.M.= Está.
E= A senhora também tem um nome em brasileiro?
Y.M.= Eu tenho, mas todo mundo chama esse, o do batizado não pegou. Eu nasci no
Japão.
E= A senhora lembra da província, o quando é capital?
Y.M.= Eu nasceu [fala literal] no Yamagata-ken.
S.M.= Só tem monte.
E= Então, certo, a palavra yamagata tem significado então?
Y.M.= É onde foi filmada a novela de “Ochin”.
E= Fala quando a senhora nasceu?
Y.M.= Eu nasci em 24 de julho de 1938.
E= Voltando ao nome, o senhor que escolheu o nome Paulo, o senhor era adulto, que idade
tinha mais ou menos foi por causa do batizado?
S.M.= Foi por causa do batizado.
E= Como é que foi para começar a chamar Paulo, você foi batizado... tem como explicar?
Y.M.= Depende, estava no primário, né?
E= O senhor estudou até quanto?
Y.M.= O primeiro grau, antigamente não tinha o ginásio, não é como agora.
S.M.= Meus irmãos estudaram ginásio depois segundo grau... Tinha escola, mas ficava longe,
então não era qualquer um que podia...
Y.M.= Ele perdeu o pai quando tinha treze anos, começou a trabalhar, com treze anos
precisou trabalhar na roça, “puxou enxada”.
E= Nessa época, o senhor era o mais velho, que idade tinha os seus irmãos?
Y.M.= Tinha de três, o caçula, o outro tinha acho que cinco, o outro tinha nove e outro onze
anos.
E= Referente ao nome, o senhor foi chamado por um nome em brasileiro, seu Paulo, e não
tem no registro de nascimento a senhora é Yoneko e também não tem o nome no registro de
nascimento...
Y.M= Por causa do batizado.
S.M.= Igreja de japonês, também tem batizado.
E= A senhora tem um nome brasileiro?
Y.M.= Carmem, mas ninguém conhece, acho que nem ele conhece [apontando para o marido,
risos].
S.M.= Significa pinheirão.
E= Muitas vezes, o sobrenome é dado pela região onde mora,
Y.M.= Talvez, pode ser.
S.M.= Não sei, é que vem de longe no Japão, diz que tem um vila chamado Matsui, no
Japão, então todo que mora tem esse nome Matsui, vila grande, então tudo que mora
chama Matsui e se espalhou pelo mundo, veio até no Brasil.
E= A senhora antes de ser Matsui, a senhora era...?
Y.M= Era Takahashi, o kanji significa ponte alta.
S.M.= Ponte alta, vai ver que lá tinha ponte alta.
E= Eu sempre vou invocar muito com o nome, ta? E a palavra Sussumo?
S.M.= Quer dizer vai pra frente, que sempre vai pra frente.
E= Fala se eu estou falando verdade, as pessoas de etnia japonesa tem um cuidado muito
grande para escolher o nome vai lá no kanji ver o significado da palavra, é assim?
Y.M.= É
S.M.= Ás vezes as mães põe nome muito grande, não consegue falar, não consegue
progredir, ou ficar rico, ou alguma coisa.
E= E o senhor sabe se Sussumo é um kanji ou dois?
S.M.= É um kanji.
E= Mas um kanji e significa tudo isso?
Y.M.= É.
E= Mas não é todo mundo que sabe a respeito do próprio kanji, né?
S.M.= Porque não estudou.
Y.M.= Os jovens não sabem.
(...)
E= Vocês tiveram quantos filhos? Fala pra mim?
Y.M.= Yoshio, Shoji, Mitiko, Takeo, Harumi.
E= Qual deles que estão em Terra Roxa?
Y.M.= É o Shoji e o Takeo.
E= Eles são chamados pelo nome em japonês?
Y.M.= É.
E= Aqui em casa, mas e na escola, no trabalho também?
Y.M.= Em todo lugar. Meu marido escolheu nome mais fácil pra todo mundo falar direito,
senão todo mundo confunde e não fala nome completo, certinho. Então meu marido escolheu
nome mais fácil e significado bom.
E= Vou pedir significado de cada um, ta?
Y.M.= Yoshio é homem bom, tem dois kanji.
E= Tem o nome em brasileiro?
S.M.= Não, e nem no registro do nascimento. Ele estuda Ciências Econômicas lá em Curitiba.
E= E Shoji?
Y.M.= Homem honesto, tem dois kanji. Nasceu em 1962.
E= Esqueci de perguntar: e Matsui é um ou dois?
Y.M.= Tem dois.
E= E a Mitiko, ela nasceu quando?
S.M.= Em 1965. É bonita.
E= Quando foi dado o nome Mitiko, tenta lembrar...
Y.M.= Haru é primavera e mi é fruto. É fruto de primavera.
E= Era tempo de primavera, estação do ano, quanto ela nasceu?
Y.M.= Era outubro, início de primavera, em 1968.
E= Quando você pensa numa criancinha filha da primavera, o que você planeja pra ela, tem
como falar?
[Risos]
Y.M.= Pensa filha bonita, estudiosa, ela é bem paciente. Formou em biologia. em São
Paulo.
E= E agora, Takeo, tem significado?
Y.M= Takeo é agrônomo. Nasceu em 1967. É forte, boa saúde, bambu, tem dois kanjis.
S.M.= Bambu cede, ele não quebra, é?
E= E Mitiko, quantos kanji?
Y.M.= Tem três. Ela estudou pedagogia em Maringá, na Estadual.
(...)
E= Em que ano vocês vieram para Terra Roxa?
S.M.= Em 1967.
Y.M.= Mas ele comprou terra em 1965. Começou café, depois a gente veio.
E= Em que região?
Y.M.= Perto de São Benedito.
E= Por que escolheu Terra Roxa?
S.M.= Porque tinha vendedor que fazia propaganda de terra boa e barata. E lá na Aliança com
dez alqueires não era suficiente para a família.
E= Tem como explicar sobre a Aliança?
S.M.= É que não dava pra viver no Japão, tinha gente demais, então o Governo Japonês
comprou 2.300 alqueires aqui no Brasil e colocou imigrante, com dez alqueires para cada
família. Teve a segunda e a terceira Aliança, depois Formosa com 1.200 famílias. A
colonização era muito grande, o governo ejetou dinheiro aqui, por isso Pereira Barreto e
Bastos formou Colônia Japonesa, onde trabalhou como dono da terra. Meu pai lá no Japão diz
que trabalhava na siderurgia.
E= Então vocês tinham dez alqueires lá em Mirandópolis?
S.M.= É, quando vendeu lá veio direto para Terra Roxa.
Y.M.= Tinha os quatro filhos e veio também minha sogra. Ela morreu com noventa anos. Ela
veio do Japão com vinte anos, ela estudou para enfermeira no Japão e fazia os partos na
Colônia.
E= Vocês com seus filhos falam em português ou em japonês?
Y.M.= Acho que cinqüenta por cento; quando tem pressa, fala em português.
E= E uma última pergunta: o que vem a ser gaijin?
S.M. [Risos], é o que veio de fora, de outro país, mas na Aliança tinha japonês, era o
contrário: quando via um brasileiro, ele que era gaijin.
7 Entrevistados: Se.M., To.M.
Contexto:
Ela é professora aposentada. A entrevista foi marcada com antecipação e sob indicação da
entrevistada, foi combinado para ser no local de trabalho do marido. Após a entrevista ela
entregou três livros para empréstimo.
E= Fala seu nome completo e quando e onde você nasceu?
Se.M.= Setuko Matsubara. Meu nome de solteira é Setuko Kawase. Nasci em Curitiba em
1946.
E= E seus irmãos, também nasceram em Curitiba?
Se.M.= Sim.
E= Tem algum motivo para seus pais terem escolhido Curitiba, a capital do Paraná?
Se.M.= Olha, meus pais moravam em São Paulo, mas depois com a herança que meu pai
recebeu do Japão, do pai dele, eles não quiseram mais continuar em São Paulo, então foram
para Curitiba. Compraram terra onde hoje é o parque Barigüi, que o Governo depois
desapropriou.
E= No Parque Barigüi?
Se.M.= Hoje a casa da minha mãe [e mostrou um quadro na parede] é igual aquela figura lá,
continua igualzinha, até o poço, mas a casa da minha mãe fica no meio do mato. Por isso ela
fica lá e um pouco na casa dos filhos.
E= Mas o Parque Barigüi é importante, não é?
Se.M.= É, mas eles não tiveram muita sorte nisso. Meus pais compraram terra onde havia
mato e ele foi trabalhando com hortaliças, vaca leiteira, suínos e frango. Depois formou o
cinturão verde. a cidade foi crescendo e não dava mais pra vender ali, que as pessoas iam
roubar, então meu pai vendia na feira. Meu pai estudou todos os filhos com o dinheiro
da feira. [Silêncio emocionado].
E= Fala pra mim o nome de seus irmãos?
Se.M.= O primeiro, Justino Kawase.
E= Ele não tem o nome em japonês?
Se.M.= Não. Mas o nome dele era para ser Ichiro. Ele trabalhava com o pai, faleceu com
vinte anos. O segundo é Jiro Kawase, é oficial da marinha, capitão de corvete, aposentado.
Depois veio eu, sou formada pela Faculdade de Filosofia do Paraná. Depois minha irmã é
Yoshiko Kawase Yamamoto, formada em bioquímica pela UFPR. O sogro dela é da primeira
Colônia em Antonina. A outra é Tami, era para ser Tamiko, também formada pela UFPR em
medicina, atuando em pediatria homeopática. Depois veio Julio Kawase, é técnico em
desenho, aposentado pela Telepar. A caçula é Ana Kawase Mazaroto, enfermeira padrão. A
Ana você conheceu não?
E= É aquela japonesa bonita, casada com um médico que vieram para Terra Roxa? Faz
bastante tempo... eu me lembro que ela era muito bonita. Mas Se.M., por que alguns de seus
irmãos tem nome em português e outros só em japonês?
Se.M.= É que no cartório não aceitava registrar nomes estrangeiros, principalmente nas
capitais.
E= E o senhor, também nasceu em Curitiba?
To.M.= Não, eu nasci em Presidente Prudente, São Paulo.
E= Pode me dizer seu nome completo, data de nascimento?
To.M.= É Tokuji Matsubara, nasci em 29 de março de 1937.
E= E como o senhor de Presidente Prudente conheceu Se.M., que morava em Curitiba?
To.M.= [Riso]. Foi na Universidade. Inclusive era para eu casar com a irmã dela, mas nós
preferimos casar. [Riso].
E= E quando vocês vieram para Terra Roxa?
To.M.= Foi em 1975. Viemos porque o cunhado (médico) estava em Terra Roxa, e viemos
trabalhar na mesma área da saúde [ele é bioquímico].
Se.T.= Naquela época era o Hospital Santa Lídia. Tinha tanta gente nessa cidade e vinha gente
de todo lado para fazer exames de saúde.
E= Seu To.M., o senhor sabe o significado do seu nome?
To.M.= [Silencio]. Bem, uji é uma letra que significa felicidade, agora, do sobrenome, Matsu,
significa espinho e bara significa rosa. Então significa espinho de rosa.
E= O senhor sabe dizer por que seu sobrenome foi formado assim?
To.M.= Olha, eu não sei dizer não.
E= E você, Se.T., sabe o significado do seu nome?
Se.T.= Olha, você poderia ver com a minha mãe, ela está lá em casa neste mês.
E= Você concordaria em eu entrevistá-la?
Se.T.= Se você quiser...
To.M.= Mas ela fala quase tudo só em japonês...
E= Bem, então eu só vou poder com a ajuda de vocês...
Se.T.= É bom, assim ela fala da história dela, que é comprida, heim? Daria um romance de
tanta coisa que tem.
(...)
E= Olha, fala pra mim o nome dos filhos de vocês?
Se.M.= Ednilza Aiko Matsubara, nasceu em 31 de julho de 1967 em Curitiba; Edson Luis
Matsubara, nasceu em 11 de agosto de 1969, em Curitiba; Eliane Matsubara, nasceu em 24
de outubro de 1974, em Curitiba. [Ela relatou com orgulho os cursos nos quais os filhos estão
formados, onde estudaram e a profissão].
E= Você pode me dizer o porquê, como foi a escolha do nome deles?
Se.M.= Ednilza foi porque eu tinha uma amiga com o nome de Nilza, e Aiko é o nome de uma
das tias. Depois nos outros filhos só colocamos o nome em português, que achamos bonito.
8 Entrevistados: A.T., E.T.
Contexto
Os entrevistados foram procurados em seu local de trabalho. A entrevistada estava sozinha,
mas reconheceu a entrevistadora que fora professora de seus filhos na terceira série do
primário. Foi marcada uma entrevista na casa dos entrevistados para um domingo, às 14
horas. A entrevistada se expressa muito pouco em português, o entrevistado se expressa em
ambas as línguas, tendo inclusive sido professor de língua japonesa durante três anos na
década de 70, mas estava bem reservado durante o início da entrevista, mas no final
presenteou a entrevistadora com um dicionário português/japonês.
E= O nome do senhor é...
A.T.= Akifumi Tokumi.
E= Mas o senhor também é chamado de Nelson, não é?
A.T.= É “Nelson do Bar do Ponto”.
E= Quando o senhor nasceu?
A.T.= Em 25 de julho de 1941.
E= O senhor nasceu aonde?
A.T.= Eu nasceu [fala literal] no Japão.
E= Então o senhor é imigrante?
A.T.= É...
E= Em que local do Japão o senhor nasceu?
A.T.= Em Kyushu, no sul do Japão.
E= Senhor A.T., aqui no Brasil, o senhor é chamado de Nelson, provavelmente a sua esposa
não [a entrevistadora queria se referir a como a esposa o chamava, mas foi entendido de outro
jeito, e ele respondeu:]...
A.T.: Maura, ela é chamada de Maura, nome católico, né, foi batizada depois que chegou
aqui, depois de velha, né? [Riso].
E= A curiosidade é por que alguns que têm o nome em português no registro de nascimento e
são chamados pelo nome em português e muitos que têm o nome em português o
chamados pelo nome em japonês... Por exemplo, por que os brasileiros chamam o senhor
de Nelson?
A.T.= [Riso]. É apelido, esse nome não existe, ele só existe aqui [no Brasil]!
E= Mas por que é Nelson, não é Luís, ou João...
A.T.= Isso aí... é porque quando eu cheguei aqui e quase não tava podendo falar porque não
entendia [a língua portuguesa], então eu fui trabalhar na casa Primavera pra aprender um
pouco, aí achou ruim de falar [risos], então dona Geni achava Akifumi muito difícil, aí colocou
Nelson, mas meu nome de batismo mesmo é Pedro; mas se falar Pedro ninguém conhece, é
Akifumi ou Nelson.
E.T.= Gente, olha! [Ela estava trazendo bombons e refrigerante, com muita alegria!].
E= Gente, não quero dar trabalho... muito obrigada!
(...)
E= Como é o nome da senhora?
E.T.= Eiko Masuoka Tokumi.
E= Está certo assim?
A.T.= A senhora tem um nome em português?
E.T.= Na certidão de batismo está Maura.
E= Por que escolheu Maura?
E.T.= Foi aquele tempo estava padre mandou escolher aí ponhei [pus] Maura mesmo.
E= Quando?
E.T.= Em 29 de janeiro de 1943.
E= E o lugar?
E.T.= Em Kyushu também.
E= Nossa, então vocês vieram para o Brasil, quando?
A.T.= Em 1964.
E= Veio para o Brasil, já vieram casados?
A.T.= Não, depois de três anos se casou, né?
E.T.= Em 1967 por aí.
E= Ela veio em 1967? E quando vieram para o Brasil, vocês vieram para que região primeiro?
A.T.= Viemo pra Guaíra.
E= Então veio do Japão e foi pra Guaíra, então vocês já se conheciam?
A.T.= Não, de vista, quer dizer se conhecia na escola, no Japão, eu quase saindo e ela
entrando, quer dizer, nem se conhecia.
E= Eu tenho ouvido que os nomes em japonês, alguns têm um kanji, outros têm dois, e o
nome Akifumi, tem quantos?
A.T.= Tem dois.
E= E o senhor sabe dizer o significado?
A.T.= Eu ouvi falar do meu pai uma vez assim: que seja criancinha assim... alegre e estudioso,
porque aki é claro, alegre e fumi é vem de estudo, né, em japonês. Foi mais ou menos assim
que ouvi falar.
A.T= Do meu sobrenome eu não ouvi falar não, porque meu tradição é muito velho, meu
sobrenome é muito antigo, antes da guerra. Então ele foi escolhido, não sei como é que
chama, tipo imperador, mas não é imperador, naquele tempo falava dois tipo de comunidade:
um guerreiro e outro que era trabalhador.
E= Tem a ver com samurai?
A.T.= É, isso. É um tipo lá do samurai e outro que era trabalhador, da roça. Foi escolhido esse
nome pra ele ir lá perto assim, divisa, quer dizer, cada um tinha um território para cuidar, né?
E= Então é por isso que tinha os samurais?
A.T.= É isso mesmo. Não era espionagem, mas servia como espionagem que cuidasse dessa
parte da divisa pra não ter invasão.
E= Parece que só os samurais tinham um sobrenome, né?
A.T.= Meu é mais antigo, quase duzentos, duzentos e cinqüenta anos, acho que mais ainda...
É assim que ouvi falar, e a gente lembrando agora. Se fosse no Japão, eu saberia dizer
tudo.
E= E da dona Eiko, o nome, é um kanji ou dois?
A.T.= Não é kanji, é escrito no alfabeto hiragana. Naquele tempo escolheram um nome
mais difícil que não tem muito na região e não tem muito no Japão também. O meu mesmo,
Tokumi, nem no Japão não acha, agora tem alguns que repete muito: Murakami, Nakamura,
Takahara.
E= E por que é que não encontra?
E.T.= É primeira geração, né?
A.T.= Não sei porque, deu certo, que não encontraram outro nome, assim... Se achar Tokumi
mesmo, é tudo parente.
E.T.= Massuoka também é parente.
(...)
E= Isso que o senhor está falando, o seu Sussumo falou pra gente: que na região onde ele
morava, uma vila, uma região até bem grande, todo mundo ficou sendo chamado Matsui,
então quando encontra nem todos são parentes. Chamou de matsui é pinheiro grande [A.T.
interrompeu dizendo “pinheirão”] então é por causa da região onde morava.
A.T.= Naquele tempo no Japão existia muito aquele pinho mesmo, que ficava como
sinalização, como marca pra eles andar. E também aquele que morava na cidade, tinha
como dize o chefe e fazia aquela comunidade e ninguém entrava.
E= A senhora falava de Massuoka.
A.T.= Ele corrigiu: Massu/O/ka, hiato, sílaba tônica O.
E= A gente tem mania de falar o |O| aberto, né? [risos]. A senhora falou que se encontrar é
parente, e é formado por dois kanji?
A.T.= Não, não é kanji.
E.T.= É katakana.
A.T.= São três letras.
E.T.= São três letras.
E= O katakana é para os nomes ocidentais? O katakana é para os nomes estrangeiros?
E.T.= Não. É que no japonês tem o katakana, o hiragana, e o kanji. O katakana vem também
da China, usa muito também, mas se é uma coisa que não tem significativo, daí, igual, o
nome... eu chamo Akifumi, mas se chama de Mário, que não tem o nome em japonês, costuma
se escrever com katakana, é letra totalmente diferente, é letra completamente diferente o
katakana e o hiragana.
E= O nome Eiko, quem escolheu o nome da senhora?
E.K.= Eu não sei, acho que pai e mãe, né?
E= Por que parece que o nome em japonês parece que é mais escolhido do que os brasileiros
escolhem...
A.T.= É porque colocava esperança em criança, né?
E= Ko, é criança?
A.T.= É criança.
E= E Massuoka, tem um significado, de onde ela vem, assim como Eiko que tem um
significado? Tem um significado assim, de onde a palavra vem...
A.T.= Não sei se tem alguma a coisa a ver com o significativo, mas, mas é mais, oka é uma
montanha, né? Não sei o significativo.
E= O costume, geralmente a mulher fica com três nomes [foi interpretado como kanji]. foi
mostrar uma palavra escrita.
E.T.= É
E= Eu queria pegar uma palavra pra eu perguntar de exemplo para o senhor. Por que essa
escrita é assim: /SAKURA/ Ela não é o kanji, nem o katakana, nem o hiragana. Significa
árvore, não é, emprestei esse livro
45
, porque aqui está escrito blossom, tree ou cherry, em
inglês.
A.T.= É cerejeira, o nome do meu pai.
E= Então por que está escrito por que essa escrita não é nem o kanji, nem o katakana, nem o
hiragana...
A.T.= Esse daí se chama o lomanji [romaji].
E= Porque do jeito que está escrito aqui é o jeito que se lê, não é? Por exemplo, o senhor que
fala em japonês, o senhor do jeito que está escrito, por que o senhor deu aula de língua
japonês, não foi?
A.T.= Eu dei aula sim, eu fui professor de Sílvia, da irmã dela, Mario, Edson, muita gente
que foi embora para o Japão.
E= Por que eu vi assim História de Imigração Japonesa no Paraná ||, como é que a gente lê?
A Se.M. me falou que aqui é para ficar comprido, dar um espaço pra falar forte. Como é que
lê pelo menos essa palavra, que é Japão, né?
A.T.= Esse aí é Niphon, o certo é Niphon, mas muitos falam /NI/HON/|.
E= Pôxa, eu achava... como é que se chama mesmo o nome dessa letra?
A.T.= Esse é o romaji [ele leu lomanji]. É que esse daí é abecedário igual em brasileiro.
E= Então, tem isso também?
A.T.= De lá aqui não sabe nada, mas se fosse pra ler, a gente lê tudo.
E= E se fosse, por exemplo, em hiragana, aí a gente já não lia [leria].
(...)
E= Por que resolveu vir para Terra Roxa? Por que escolheu Guaíra?
A.T.= Guaíra? Eu vim porque meu pai estava aqui e meu pai veio porque o irmão dele estava
ali [aqui já]. Outra, meu pai pegou aquele tempo de guerra quando o Japão tomou quase a
metade do território chinês.
E= E seu pai veio quando?
A.T.= Foi em 1962. E eu fiquei lá pra acabar de me formar [ele é “dentista” formado, mas não
conseguiu exercer a profissão no Brasil]. Meu pai sempre trabalhou fora do Brasil, então ele
trabalhava lá, no território chinês, mas quando conheceu a terra aqui, terreno bonito ele ficou
“doido”, porque a terra no Japão. O terreno que ele tinha se vaca deitasse, cobria [o
terreno], né? [Risos]
E= Vocês tem três filhos, não é? Fala o nome deles?
A.T.= É Paulo, Roberto e Jorge.
E= É Paulo [... fazendo uma entonação na voz para saber se tinha o nome em japonês, ele
logo respondeu:]
A.T.: É só Roberto, eu não coloquei o nome em japonês em nenhum dos três.
E= Você não colocou o nome em japonês? E pode dizer por quê?
45
SATO; OGAWA (1963, p. 21).
A.T.= Porque pra mim, a terra deles vai ser Brasil mesmo, então coloquei o nome em
brasileiro. Queria ser mais brasileiro, porque quando eu vim aqui no outro ano eu me
nacionalizei [brasileiro] também.
E= A senhora foi batizada quando?
E.T.= Tinha mais ou menos 21 ou 22 anos.
E= E a religião no Japão?
E.T.= A religião no Japão era budista.
E= O senhor também foi batizado no Brasil, até recebeu o nome.
E.T= Primeiro estudou um ano, depois batizou. (Entregaram para a entrevistadora um
dicionário de presente).
E= Olha, onde está o Jorge?
A.T.= Ele está dando aula na Faculdade em Santa Catarina.
9 Entrevistados: I.K., S.K.
Contexto
A entrevista foi combinada com uma das entrevistadas, S.K, que tem uma loja na cidade. Foi
combinado para um sábado à tarde, na casa das entrevistadas. A senhora I.K. há cinco anos foi
vítima de um acidente vascular cerebral e desde então não sai de casa.
E= Qual é o nome completo da senhora?
I.K.= É Iemiko Kakimori.
E= E o seu nome de solteira?
I.K.= É Iemiko Yamaguti.
E= A senhora nasceu quando? Aonde?
I.K.= Em 10 de agosto de 1932, em Araçatuba, São Paulo.
E= Então a senhora é nissei?
I.K.= É.
E= Seu nome é Iemiko, mas eu conhecia a senhora por Cecília...
I.K.= Non [não], Cecília é o nome de batizado, foram os padrinhos que escolheram o nome!
E= Então Cecília não está nos seus documentos?
I.K.= Não, é que aqui em Terra Roxa me chamam pelo nome brasileiro, o outro é difícil. Para
todos da cidade eles me chamam de Cecília.
E= Fala pra mim o nome do seu marido?
I.K.= É Guilherme Hiroshi Kakimori.
E= Quando ele nasceu?
I.K.= Foi em 1932.
S.K.= Meu pai faleceu em 1985, com 53 anos.
E= E ele nasceu aqui no Brasil?
S.K.= Foi em Araçatuba, São Paulo, mas registrou em Londrina, Paraná.
E= Você sabe o significado do nome Hiroshi?
S.K. olhando para I.K.= Não sei, mas Hiro é grande.
E= E o sobrenome Kakimori?
S.K.= Todos os nomes e sobrenomes têm um significado no Japão. Então o nosso sobrenome
é Kakimori, vem de kaki, que significa caqui [a fruta], mori significa campo, então é um
campo de caqui.
E= Então é campo de caqui.
S.K.= Eu pelo menos aprendi no Japão que dependendo da região em que a pessoa morava,
levava o sobrenome, então certamente a nossa família morava perto de um campo de caqui.
Igual quando fala Yamaguti, Yamá é montanha. que guti eu não sei. Esse sobrenome é
muito comum no Japão.
E= Fala pra mim, S.K., você é brasileira, mas quando foi para o Japão?
S.K.= Foi em 1998. Fiquei durante quatro anos. Lá no Japão conserva a tradição antiga.
os museus ficam como era naquela época.
E= Dona K.I., fala pra mim o nome dos filhos?
I.K.= É Maria Lúcia Yoshiko Kakimori, depois casou ficou Perissato [também], depois é
Mateus Kakimori, tem 47 anos; depois o Roberto Tadao, depois Fátima Regina, que es no
Japão; depois a Silvia; depois o Marcos Antonio, depois o João Toshio, ele seguiu carreira no
exército de sargento.
E= A senhora lembra por que escolheu, por exemplo, Maria Lúcia?
I..K.= No Brasil, os japoneses pegavam o nome na blia, colocava o nome de santos, como
acontece hoje.
E= A senhora segue a religião católica, não é?
I.K.= É, sou do Congregado Mariano.
E= Olha, praticamente todos que entrevistei seguem a religião católica...
S.K.= Na região do Japão onde meus antepassados moravam, a religião era católica. A família
do meu pai veio de Hiroshima e a família de minha mãe veio de Nagasaki.
E= Lá onde estourou a bomba?
S.K.= É se meus pais não tivessem vindo para cá...[silêncio], por isso eles são agradecidos
pelo Brasil. no Japão a gente vai e onde caiu a bomba, ficou tudo branco, como se
tivesse um vidro por cima.
E= Dona E.K., vi que seus filhos, alguns têm o nome em japonês e outros não, tem algum
motivo?
I.K.= Eu mesmo escolhi, fiz pesquisa com o marido e ele aceitou. É que como os filho
está no Brasil, a gente usa o nome deles em brasileiro. Menos o João, meu marido mandou
colocar Toshio, que é pessoa de mais idade, pessoa com mais sabedoria.
S.K.= no Japão eles põem o nome pelo significado, como a filhinha com o nome estrela
da manhã, raio de sol, mas eles não chamam pelo nome, pelo sobrenome, igual o local
da fábrica onde eu trabalhava.
E= E a senhora, como prefere ser chamada: pelo nome em português ou o nome em japonês?
I.K.= estou acostumada com Cecília.
S.K.= Os filhos também chamam ela de Cecília. quando vai no Banco, tem que falar o
nome que está no registro.
E= Fala pra nós alguma dificuldade que a senhora sentiu aqui no Brasil?
I.K.= Ahhh, acho que foi o estudo, né?
E= A senhora veio casada para Terra Roxa, em que ano?
I.K.= Em 1963, mas já tinha aqui os Miyakawa, Minaji-sanI, que foi pioneiro, e os Murakami.
E= E aqui em Terra Roxa, quando vocês chegaram, como estava a cidade, por que se vocês
vieram em 1963...
I.K.= Nossa Senhora, naquele tempo que nós viemos aqui não tinha casa de material ou de
tábua, era tudo coberto de prancha de palmito.
E= Dona I.K., o que fez a senhora e o seu marido escolherem vir a Terra Roxa?
I.K.= Viemo procurar progresso, aqui tinha umas quarenta e cinco casas só. A Companhia
[referindo-se à Codal] colocou bastante capanga.
E= E a senhora e seu marido vieram comprar terra?
I.K.= Não, nós trouxemos uma loja de armarinho, bazar com tecido, sabe, onde tem gente tem
que ter essas coisas. Nós já tínha dois filhos e vieram também o pai e a mãe e a irmã, depois
foram buscar meu sogro, sogra, cunhada e eles vieram também.
10 Entrevistados: N.G., Sa.Y.
Contexto
Esta entrevista foi marcada e desmarcada algumas vezes, por motivos como chuva, doença e
casamento. O local da entrevista é no distrito de Alto Alegre. A entrevistadora foi
acompanhada pela nora dos entrevistados.
E= Senhor N.G, qual o seu nome completo?
N.G.= Nagao Yassue.
E= O senhor nasceu quando? Onde?
N.G.= Em 09 de fevereiro de 1931, em Guifu-ken, lá no Japão.
E= E a senhora, qual o seu nome completo?
As.Y.= É Satsuki Akiyama Yassue.
E= A senhora nasceu em...
As.Y.= Em estado de São Paulo, no sítio em Valparaíso.
E= Dona As.Y., e a senhora tem um nome em brasileiro?
As.Y.= Nosso tempo não tinha assim direto, nome brasileiro, tinha nome japonês, o
povo começou a tratar de Maria, Maria, ficou Maria mesmo, era o nome do batismo
mesmo. Porque batizou aqui em Alto Alegre, depois que nós viemo aqui depois de grande
mesmo.
E= Então a senhora batizou aqui em Alto Alegre, depois de casada.
Sa.Y.=Batizou depois de casada, já tinha os quatro filhos.
E= Sr. N.G., o senhor tem um nome em português?
N.G= Tem apelido... é Joaquim [ele ri]. É um apelido que andou por aí, mas em Terra
Roxa ninguém sabe.
E= Mas o senhor não se reconhece como Joaquim, se chamar o senhor de Joaquim, vai falar
“será que é comigo”?
N.G.= As pessoas antigas [me] chamam de Joaquim, mas o certo é “Seu Nagao” mesmo.
E= O senhor sabe por que escolheu Joaquim pro senhor?
N.G.= [Risos] Ohhh, não sei, viu!
E= Igual a dona Maria trata por Maria porque é o nome de batismo...
As.Y.= É eles achava o meu nome difícil, mas em Terra Roxa me chamam de As.Y.,
documento mesmo é tudo nome em japonês. Eles falam que o meu nome é difícil, então trata
por Maria, aqui, né, porque lá em Terra Roxa não me conhece por Maria.
E= Seu N.G., tenta lembrar pra mim quando começaram a chamar o Senhor de Joaquim e
onde que era...
N.G.= Era estado de São Paulo onde nós morava, nós tinha namorada, começou a chamar
de Joaquim e ficou assim mesmo.
(...)
E= O senhor nasceu no Japão e veio para cá com quantos anos?
As.Y.= Eu vim com quatro anos.
E= Então veio no ano 1935. E de que região o senhor veio?
As.Y.= É de Gifu-ken.
E= Então deixa eu ver como escreve aqui no mapa...
As.Y.= Fala /GUi/fu|, mas escreve Gifu. Não sei por que, mas no Japão fala /GI/fu/|, mas
aqui no Brasil fala GUI|.
E= É por isso que eu vejo no mapa, dos entrevistados teve quem veio de Aichi-ken, de
Guma-ken, teve até de Hiroshima e Nagasaki, de Yamagata...
(...)
E= Quem veio com o senhor do Japão? O senhor é o primeiro, segundo... filho na sua
família...
N.G.= Eu era o terceiro. Viemo com cinco irmão, quer dizer irmão e irmã, mas no primeiro
ano no Brasil faleceu um homem.
E= Quando vieram para o Brasil, vocês foram direto morar onde?
N.G.= Eu lembro assim café de quatro ou cinco metros, que precisava pega com uma escada
e depois com uma varinha. Meu pai trabalhou como colono, imagina, colono, a gente paga
colono. Colono é mesada [que recebe]. Eu não, que eu era criança e ficava brincando debaixo
do de café. Meu pai trabalhou dois anos lá, sofreu, ainda perdeu o filho, né? Igual meu
primo que pegou doença no começo tinha remédio, remédio americano, então ele sarou, mas
aquele meu irmão que faleceu ele era muito forte, então não pegou doença no começo, pegou
depois e aí não tinha o remédio.
E= O senhor sabe de que doença que foi?
N.G.= Foi tifo.
E= Quantos anos ele tinha quando morreu?
N.G.= Acho que um ano e pouco.
(...)
E= Bem, o senhor falou pra mim que veio morar em Piratininga e quando veio morar em
Piratininga. Outro entrevistado, S.M. disse que veio na Aliança, a sua família veio na Aliança
ou veio como imigrante... explica pra mim, o que é Aliança, eu estou perguntando porque eu
não sei mesmo.
Sa.Y.= Não a família deles não.
N.G.= Não , meu pai veio como imigrante mesmo, como colono.
E= Então não tem nada a ver?
N.G.= Não, o navio que nós viemo é o Santos-Maru, depois foi para Piratininga, trabalhou
por dois anos. Depois tinha amigo do meu pai da mesma região de Gifu, foi para Birigui,
perto de Araçatuba, estado de São Paulo, e ali trabalhou durante cinco anos. Essa história é
comprida... Aquele ano eu era ainda menininho de oito, nove ano.
E= E depois?
N.G.= Depois quando nós saímos era 1942, fomos pra formar café lá, também sofreu. O
ano que meu irmão nasceu, fomo viajar com trem e ele chorava a noite inteira.
E= Então me fala quando vocês se casaram?
N.G.= Ainda tem mais história bastante!
E= Então me conta?
N.G.= venceu três anos e nós fomo formar pasta no [a] Companhia Inglesa aqui no
[tempo para lembrar], perto de Valparaíso, cidade pequena, ficou um ano, ali também era
formar pasto...
E= Pasto então, não era café?
N.G.= Não era pasto, venceu ali, foi para Mirandópolis, ficou três anos lá, que
acertou, deu bastante arroz e algodão e comprou trinta alqueires em Alto Paraná. Depois nós
casamos em 1957, né?
E= Trinta alqueires, o senhor falou em Alto Paraná?
N.G.= É, nós trabalhamo dezesseis anos e não tinha comprado terra, depois que conseguiu
comprar. O Brasil cresceu por causa do estrangeiro que queria ficar rico e trabalhava...
Quando a gente entrou em Alto Paraná o tinha bóia-fria, então a gente tinha que trabalhar
dobrado, até domingo a gente trabalhava.
(...)
E= Bem, vocês casaram em 1957 em Alto Paraná, foi lá que vocês se conheceram?
As.Y.= Foi por parente dele, né? Porque eu morava em Arapongas.
N.G.= Ficou até 1963 morando lá. Veio para Terra Roxa em 1963, maio.
E= Por que escolheu Terra Roxa?
N.G.= Porque não tinha mais para onde ir.
E= E vocês vieram para Terra Roxa?
As.Y.= Era um ranchinho. Veio ele e o irmão dele e comprou terra.
E= Vocês vieram juntos?
N.G.= Não nós viemo na frente, ele ficou lá em Alto Paraná.
As.Y.= Ichiro-san veio depois com a família.
(...)
E= Olha, agora vou perguntar dos nomes, mas vou perguntar para o senhor uma coisa que eu
também não sei do meu. Yassue, tem significado?
N.G.= Esse sobrenome tem naquela região... Dona Helena, também é Yassue, da mesma
região de Gifu, mas eu não sei o significado... Dona Helena acho que também não sabe, ou ela
falou alguma coisa?
E= Eu entrevistei a dona Helena e ela só falou do sobrenome do marido.
N.G.= Então, acho que ela também não sabe. A família dela veio no mesmo navio, o Santos-
Maru... Esse sobrenome só tem naquela região de Gifu.
E= Bem, que o senhor falou de dona Helena, e parentesco seu com a família dela, vocês
têm?
N.G.= Com dona ela? Nós não é parente, não, é porque é de Gifu também.
E= Da mesma província, região, né?
(...)
E= O senhor sabe dizer o significado de Nagao?
N.G.= Nagao é coisa comprida, então eu acho que é vida comprida, vida longa [risos], pode
ser assim, eu acho, né?
E= E o da senhora?
N.G.= Ela nasceu no mês de maio, no Japão é cinco, então satsu é o mês de maio, então
Satsuki significa que ela nasceu no mês de maio, mas no nascimento não está...
As.Y.= No nascimento está no mês de julho, talvez atrasou...
E= E o seu sobrenome de solteira...
As.Y.= Akiyama.
E= A senhora sabe [o significado]?
As.Y.= Nunca eu ouvi falar significativo, heim?
N.G.= Aki é outono e yama[tônico aberto na segunda sílaba] é montanha.
E= E os filhos, fala pra mim os nomes dos filhos de vocês...
N.G.= Significa?
E= Não, os nomes...
As.Y.= Mário Toshio Yassue, nasceu em 1958; Valdomiro Hissao Yassue, nasceu em 1960;
Emílio Mitio Yassue; nasceu em1961; Luis Tatsuo Yassue, nasceu em 1962 e Edgar Suyoshi
Yassue [soletrando], nasceu em 1964.
E= Mas me fala, o nome Toshio, tem um significado?
N.G.= Ihhh [risos].
E= Assim, o que levou para escolher, ou o significado...
N.G.= Toshio a gente escreveu nomes que agrada num papelzinho, depois tirou e saiu
Toshio. Mais ou menos escolhe os nomes que gente agrada e escolhe. Todos eles foi assim.
E= E os nomes em português também?
As.Y.= É que aquele tempo era assim: tem que colocar nome português em frente, né?
Então motivo nenhum, só chamar de Mário, Valdomiro...
E= Então os nomes Toshio, Hissao, Mitio, Tatsuo e Suyoshi não tiveram nenhum motivo
especial como ser o nome de um avô, ou do tio...
N.G.= Não, agora Edgar teve, porque foi o Dr. Bardhal que operou [e o pré-nome é Edgar].
Ele quase morreu, deu sinal de criança nascer e nada, foi para o Doutor daqui e segurou mais
um pouco, depois quando chegou em Guaíra estava um pouco atrasado, pensa naquela
época de 1964, quando chegou ele não garantiu vida do Suyoshi, então agradecido, nós
colocamos o nome do médico. Agora os outros não, foi nascendo, foi escolhendo.
E= E Suyoshi, tem algum significado? Por exemplo, tem nome com um, dois, três kanji...
N.G.= A maioria é dois kanji, agora Suyoshi é final bom, porque nasceu difícil, mas teve um
final bom.
E= Agora, me fala, assim... e Tatsuo, tem um significado?
N.G.= Não, esses daí não, escolhia, depois tirava a sorte e o que saía...
E= E todos eles já tem o nome em português, o nome em japonês e o sobrenome...
As.Y.= É, tem.
E= Lembra pra mim o ano de nascimento deles, por exemplo, o Luís nasceu em 1962...
As.Y.= Tatsuo [ela se referiu ao Luís pelo nome em japonês] nasceu em 1962, o Emílio
nasceu em 61, o Hissao em 60.
N.G.= O Edgar em 1964.
E= E o Senhor, a sua família, quando veio para o Brasil, em 1935, assim, por que foi que veio
para o Brasil?
N.G.= Pensar que no Japão era muito pequeno [fala literal]a área, não tinha oportunidade de
crescer e pensar que no Brasil ajuntava dinheiro como papel e nisso caiu e veio, mas
demorou, juntou dinheiro, comprou terra, aí não quis vender e daí não quis voltar mais.
E= Quem será que no Japão fazia propaganda?
N.G.= Quem, quem começou não sei, mas acho que Governo mesmo, porque país pequeno
tem muita gente, então tem que sair porque não tem jeito de crescer, né?.
11 Entrevistados (1ª parte): S.T., T.T.
Contexto
Esta entrevista aconteceu na casa dos entrevistados no distrito de Alto Alegre e foi marcada
com antecipação. Uma pessoa bem conhecida da família é quem marcou, acompanhou e
apresentou a entrevistadora. O entrevistado o estava muito bem de saúde. No domingo, dia
da entrevista, estavam presentes filhos, netos e bisnetos.
E= O nome completo do senhor é...
S.T.= Sakae Takayama.
E= O senhor nasceu no Japão?
S.T.= Sou natural de Guma-ken.
E= E quando o senhor nasceu?
S.T.= Em 21 de agosto de 1929.
E= E o senhor chegou em Alto Alegre aqui no ano...
S.T.= Foi em 1961, em novembro, fim de 61 né?
E= Quando o senhor chegou ao Brasil o senhor tinha quantos anos?
S.T.= Dois anos.
E= E quando o senhor chegou no Brasil, o senhor foi morar com a família em que lugar do
Brasil?
S.T.= No Brasil fui para Barretos.
E= Barretos, São Paulo, né? e foi trabalhar...
S.T.= Foi trabalhar no café, colono.
E= O senhor tinha só dois aninhos, e o senhor tinha quantos irmãos?
S.T.= Tinha quatro irmãos.
E= Cinco com o senhor, então?
S.T.= É.
E= O senhor era o primeiro, o segundo... o caçula...
S.T.= Era o caçula.
E= Então o senhor era o caçula e foi para Barretos, ficou lá quanto tempo?
S.T.= Ficou lá seis anos.
E= E de lá foi para onde?
S.T.= De lá foi para Votuporanga.
E= Também é São Paulo?
S.T.= É.
E= E lá também foi trabalhar com café?
S.T.= Não, foi trabalhar com algodão.
E= E sua família tinha experiência em trabalhar com algodão?
S.T.= Não, foi tudo aprendendo...
E= Ficou em Votuporanga mais ou menos quanto tempo?
S.T.= Uns doze anos.
E= E lá trabalhou como colono?
S.T.= Não, conta própria, como arrendatário.
E= E foi bom trabalhar lá, conseguiu dinheiro com a família?
S.T.= Consegui, porque deu pra comprar terra aqui no Paraná, né? [Ele riu].
E= Quando veio para o Paraná depois de 12 anos, mais 4 anos, é dezesseis anos, veio direto
para Terra Roxa?
S.T.= Não, veio para Nova Esperança.
E= Quantos anos morou lá, sabe?
S.T.= Até nós casar.
E= Então vamos para o casamento...
T.T.= Conheceu lá em Nova Esperança, também.
S.T.= Mais ou menos uns seis anos.
E= E o nome completo da senhora?
S.T.= É Tereza Mitiko Tanabe Takayama.
E= E a senhora nasceu aonde?
T.T.= Em Bauru.
E= E seus pais?
T.T.= Eles vieram do Japão.
E= E a senhora nasceu quando?
S.T.= Em 15 de abril de 1934.
E= A senhora tem quantos irmãos?
T.T.= Vivo tem um só, mas tudo é seis.
E= Como a senhora prefere que eu chame a senhora, por Tereza ou por Mitiko?
S.T.= É por Tereza, né?
T.T.= Aqui em Alto Alegre é tudo Tereza e as criançada, tudo chama de em japonês, fala
bachã.
S.T.= E o meu de batismo é Francisco, né? a turma trata de Chico. Non, non [não} no
registro, não, é nome de batismo, sabe como é, fui trabalhar como colono então fazendeiro
mandava batizar todo mundo e pôr nome em brasileiro.
E= E foi o senhor que escolheu?
S.T.= Não, foram eles, a gente tava com sete anos e não compreendia nada, então para fazer
matrícula na escola só tem o passaporte e o passaporte fica com os pais.
E= Veja se concorda com o que estou escrevendo certo: “Pra mandar fazer o documento na
escola, porque vem com o passaporte e o passaporte fica com os pais”. E do batismo da
igreja depois fazia os documentos?
S.T.= Não, não fazia não.
E= E com quantos anos o senhor foi para a Escola?
S.T.= Com sete anos.
E= E tinha escola onde o senhor morava?
S.T.= Mas a escola era na Colônia da fazenda, tirei até o segundo ano primário.
(...)
E= Vamos voltar na parte do casamento. Que ano vocês se casaram?
S.T.= Esqueci agora... [ele riu], é que japonês naquele tempo não fazia casamento no cartório,
fazia, apresentava para a turma lá. No cartório veio fazer aqui em Terra Roxa.
T.T.= Depois de quatro filho que casou [eles riem].
E= E por que escolheram pra vir para Terra Roxa?
S.T.= Porque achava que eram bom, né?
E= Já tinha conhecido aqui que tinha vindo antes?
S.T.= Nós tinha vindo em 1960 comprar terra. Passamo num terreno que tinha cafezal,
que acho que era do seu sogro, então achava que dava muito café aqui, né?
(...)
E= Quando vocês se casaram, vocês ficaram morando com o sogro?
S.T.= Ficamo morando perto do meu pai.
E= E lá também trabalhava com algodão?
T.T.= Não, lá era café.
E= em Nova Esperança era café. em Votuporanga como trabalhava como arrendatário
conseguiu dinheiro para Nova Esperança, de Nova Esperança, de novo, pra comprar terra
aqui [em Terra Roxa]... porque achava que era bom.
S.T.= Isso.
T.T.= Era puro mato aqui, tinha só dois casas [ela ri]. Poço também tinha um só [ele ri]. Cedo,
levantava seis horas, tinha cinqüenta barde [fala literal] pra tirar no sarril [sarrilho
46
]. Pra
tomar banho tinha que sair de caminhão lá no São João [um rio], lá num ponte lá.
S.T.= Caminhão, não tinha caminhão....
T.T.= Mas tinha um caminhão velho que tinha lá!
S.T.= Aquele é depois... caminhão veio depois... a gente ia a pé mesmo.
E= Nossa, quanta coisa!
E= Eu vou fazer uma pergunta: como que é quando escolhe o nome para um filho... Igual o
seu sobrenome é Takayama, tem algum significado?
S.T.= Ter, tem... no Japão era que nem aqui antigamente, a turma não tinha sobrenome,
então brasileiro ponhava [punha] tudo Silva... os mais velhos, soldados assim, que tinha,
assim, até uns quatrocentos anos para trás, então os poderoso que tinha o sobrenome. Os
outros falava “Comerciante tal, ou senão Lavrador tal”, quando chegou um duzentos anos
pra trás, então todo mundo foi obrigado a fazer [documento com sobrenome] então como nós
morava em cima da montanha, então foi Takayama, que quer dizer, no alto da montanha.
E= E... quando o senhor encontra alguém hoje com o mesmo sobrenome, quer dizer que é do
seu sangue, ou não?
S.T.= Não, não é não.
46
Cilindro disposto horizontalmente e no qual se enrola corda, cabo ou corrente de um aparelho de levantar
pesos (FERREIRA, 1999, p. 1820).
E= Mas é daquela mesma região?
S.T.= Não, é colocava assim, igual esse deputado, a gente nem conhece...
T.T.= Aquele também é Takayama, mas não é sangue nosso.
S.T.= Acho que não é, não.
E= Então é porque morava em cima da montanha. O senhor sabe se é em um kanji ou dois?
S.T.= É dois.
E= E a senhora é Tanabe, a senhora lembra?
S.T.= É beira da lavoura, né? Assim, tem bastante lavoura...
T.T.= [Ela ri], é beira da lavoura, né?
E= E o nome Sakae, tem significado?
S.T.= Sakae é evolução.
E= E o senhor lembra o que levou seus pais a escolherem este nome para você, tem
significado?
S.T.= Acho que não, igual meus filho mesmo, eu lembrava de pôr no cartório. Quando
chegava no cartório, colocava qualquer nome.
T.T.= Eu encomendava: “Põe tal nome”, ele esqueceu e colocava outro. Ele lembrava e
ponhava [colocava], lembra o nome da professora dele, pensou assim; “ah, aquele professora
era boa, põe o nome da professora”.
E= Em qual dos filhos que teve o nome da professora?
T.T.= A mais velha, Elza.
E= Nossa, minha mãe chama Elza e ela foi professora, já é aposentada.
T.T.= Ela também era professora aqui, até na hora de casar era professora. Nunca fez cozinha,
nada, não sabia nem fazer arroz. Casou deu arroz bem salgado para o marido [risos]. E pouco
a pouco marido ensinou.
E= E agora, onde ela mora?
T.T.= Ela mora no Japão, sabe tudo, mora na colônia japonesa.
E= O senhor estava falando do seu nome, então se alguém chamar de Francisco, o senhor
aceita ou não?
S.T.= Aceita, né? Aqui me chamam de Chico, na Terra Roxa, também. Bem, a turma meu
quase tudo já morreu.
(...)
E= O senhor tinha comércio aqui, então, foi quantos anos?
S.T.= Foi por trinta e cinco anos.
E= E a senhora, como é que o chama?
T.T.= (...) [risos]. Perdoa eu. Na maioria das vezes eu chamo ele de Pai, por causa das
criança. Então um dia um freguês perguntou “cadê o seu Chico?”, eu chamei: Pai!, o
freguês falou: “você mora com o pai?” [risos], será que não percebeu que eu sou mulher dele?
Aí eu falei: “esse aqui é meu esposo”.
E= Quem é que chama o senhor por Sakae?
S.T.= A maior parte a Cooperativa, o Banco, porque está registrado, né?
12 Entrevistados (2ª parte): S.T., T.T.
Contexto
Este casal teve onze filhos, então como a entrevista estava muito longa, esta parte da
entrevista foi realizada no domingo posterior à aquele.
E= O nome da senhora é Mitiko, tem bastante japonesa com este nome, né?
T.T.= Tem, tem bastante Teresa também. Aqui em Alto Alegre não tem Mitiko.
E= Quem escolheu, foi sua mãe?
S.T.= Foi ela mesmo.
T.T.= Minha mãe morreu eu tinha quatorze anos.
(...)
E= Você tem Tereza no registro de nascimento?
S.T.= Tem, ficou: Tereza Mitiko Tanabe Takayama.
E= Então ficou os quatro nomes?
S.T.= É, ficou ladrão de cavalo.
T.T.= Eu queria tirar um, só deixar três.
S.T= Vê, minha nora tirou o sobrenome do pai dela, ficou só Takayama.
E= Porque não é comum os quatro nomes... Em que ano foi registrado?
S.T.= Assim... 1968, o casamento no civil.
E= Quando escolheu o nome dos filhos, a senhora escolhia, ele ia e trocava o nome dos
filhos?
T.T.= É. Elza, a primeira. Depois veio Paulo Seichi. A terceira filha nasceu no dia de Santa
Luzia, então pôs o nome de Luzia, esta faleceu. Ela ficou Luzia Koiada Takayama, ficou só
dez, está tudo espalhado tem em Minas [Gerais], em São Paulo, no Japão.
S.T.= Depois? É Celso.
T.T.= Japonês fala Cerso.
E= E essa moça bonita, como é o nome dela?
T.T.= É Jaqueline, filha do meu filho.
E= Ela é sansei?
S.T.= É porque eu naturalizei, fiquei brasileiro, depois casei com nissei, então o meu filho já é
sansei, então ela é yonsei. O filho do meu filho, meu neto, tanto que pra ir pro Japão
dando um trabalho danado. É que no Japão, pra passear não é problema, mas se for pra ir
pra trabalhar, eles não considera que é filho de japonês. Então tem muito, mais ou menos
cinco mil brasileiro yonsei, mestiço preso no Japão, né?, então eles estão exigindo pra
danar, tirando certidão negativa do documento geral, de delegacia e espera mais ou menos uns
seis meses, depois que aprovar tudo é que vai, porque o sangue japonês está muito fino, já.
E= Bem, quando vocês vieram morar aqui em Alto Alegre, aqui era mato, e o que tinha aqui?
T.T.= Nossa Senhora! Aqui tinha cobra, tinha onça tamanho grande assim... Uma vez fez uma
casinha, como é que chama? é uma casinha... arapuca
47
... pôs o frango dentro e quando
entrou, prendeu, era onça pintada, tinha foto, mas filho levou.
S.T.= Aqui era puro mato.
E= Então, gente, e nesse mato, porque não tinha luz elétrica, não tinha água... a senhora e
ele...
T.T.= Não, mas nós tinha trazido peão pra ajudar derrubar mato, plantar tudo, né?
S.T.= Depois que plantou é que nós mudamos.
T.T.= Acabou de plantar tudo, é que nós viemos de mudança de lá.
E= E a primeira planta foi...
S.T.= Café.
E= Mas e quanto tempo demorou para produzir?
S.T.= Quatro anos, porque naquele tempo plantava com semente.
T.T.= Aí quando o café tá bonito aí já vem geada!
E= E naquele tempo plantava com semente?
S.T.= Tudo semente, agora planta com muda.
(...)
E= Tinha palmito, árvore baixinha, árvores alta, como que era?
47
Armadilha pequena para apanhar pássaros, formada de pauzinhos cada vez mais curtos dispostos em forma
piramidal. P. ext. cilada, armadilha. (FERREIRA, 1999, p. 180).
S.T.= Era árvore alta.
T.T.= Da altura dessa casa.
E= Por que eu vim vendo com a E.Y. e tem reserva, mas as árvores boas já tiraram tudo.
S.T.= Tinha árvore alta que era uma beleza! Tinha palmito, cada metro quadrado tinha cinco
palmito.
E= E a casa?
S.T.= A casa nós fez com tábua, quando nós entramo aqui, a gente morou um mês debaixo
da lona, que nem bóia-fria, até fazer a casa, né?
T.T.= Nós cortava com serrote, pegava trançador cortava redonda, depois pegava facon
[facão] eu e ele, né?, batia, batia e depois com esses tabuinha que nós cobria a casa depois
da lona, né? Carregava da roça até aqui.
E= Tinha medo dos bichos? Os bichos rondavam?
S.T.= Não.
T.T.= Até que não a gente não tem medo, né? Eu levava almoço nas costas, era almoço na
cabeça e criança nas costas.
S.T.= O bicho que tinha aqui era cobra, cobra tinha bastante demais. A gente sabia que onça
não pegava a gente, né?
T.T.= Levava almoço na roça, criança, nenezinho nas costas e outro na mão, eu vi oncinha,
não muito grande, sabe que meu tremeu, tremeu, quase não deu pra chega lá, pula galho,
pula galho.
E= Quem já morava aqui?
S.T.= Nós viemos depois veio o Shimokawa e depois os Yassue.
E= Nome dos filhos... A senhora falou: Elza, Paulo, Luzia e Celso. Vocês tiveram onze filhos,
fala pra mim o nome dos outros?
S.T.= Depois Elena Yuriko, depois Vilson Hiromiti, depois Flavio, Tashi [foi ouvido como
Tati].
E= Vocês chamam ele de Tati?
S.T.= Tashi é apelido, ia colocar Tadashi, eu esqueci, então ficou Tashi. Depois é Eiko,
Vanderléia, Vandrezza e Matilde, é a caçula.
E= Vamos falar da caçula, fala o nome dela inteirinho...
S.T.= Sueko Matilde Takayama.
T.T.= Sueko, caçula, em japonês, fundo de panela.
E= Aqui em casa, vocês chamam a Matilde por Matilde ou por Sueko?
N.T. e N.T.= Sueko.
E= E a Vanderléia?
S.T.= Miako, em japonês.
E= Prefere em japonês?
E.T.= É.
E= Vocês me falaram em português, agora fala o nome dos outros em japonês? O Paulo?
T.T.= É Seichi.
E= E o Celso?
S.T.= O Celso é só Celso, não tem o nome em japonês,
E= Em que ano ele nasceu?
S.T.= Em 1963.
E= Ele se chama então Celso Takayama. Onde ele mora?
T.T.= Mora em Minas Gerais.
E= E a Elena?
[Dúvida]
S.T.= É Yuriko.
E= Vocês chamam-na por Elena ou por Yuriko?
S.T.= Por Yuri.
T.T.= Em casa é Yuri, fora é Elena.
E= E o Vilson?
S.T.= O Vilson é Hiromiti, trata de Hiro.
E= E o Flávio tem nome em japonês?
S.T.= Não, nós ia colocar Tadashi, mas eu esqueci o nome lá, então ficou Tashi.
E= E a Eiko, tem nome em português?
T.T.= É Eunice.
E= Então fechei, gente! [Mas daí ele complementou, e a gravação continuou...]
S.T.= Mas lá no Japão não chama pelo nome não, né? Lá, o pessoal para trabalhar lá no Japão,
se é Takayama, por exemplo, “Ô Takayama”, só é assim, tanto homem como mulher.
E= É pelo sobrenome, então?
T.T.= Não chama pelo nome, não.
S.T.= Lá assinatura também não vale, tem que ter carimbo.
E= Ainda é assim, igual seu filho vai agora para lá trabalhar, e é assim?
S.T.= É pelo sobrenome ea assinatura também não vale, tem que ter carimbo, o que vale lá
é o carimbo.
E= E por que é assim, por que será?
S.T.= Você pode assinar e tem que bater carimbo, o carimbo seu, bate o carimbo assim.
E= É compreensível, igual, seus filhos são todos Takayama, se não souber, uma confusão,
né? Por que vai saber se é um ou se é o outro?
S.T.= pra fazer qualquer coisa, para tirar dinheiro, tem que ter carimbo, esse carimbo é
registrado.
E= É com um número?
S.T.= Não, é letra que ninguém compreende, eles que faz é que compreende. no
Japão, para tirar dinheiro tem que ter carimbo [ele ri].
T.T.= Igual esses dois moleque que está [estão] aqui também são Takayama.
ANEXO A Roteiro de entrevista para nipo-brasileiros imigrantes
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU – MESTRADO EM LETRAS
MESTRANDA: ROSANGELA MARTINS NABAO
A – DADOS PESSOAIS, ÉTNICOS E SOCIOCULTURAIS
1. Nome do(a) entrevistado(a
2. Local e data de nascimento
3. Sexo:
4. Idade:
5. Qual geração pertence:
5a.Com quantos anos chegou no Brasil? Com quem? Por quê? Como? Casado(a)? Solteiro
(a)? Onde morou? Em que trabalhou? Local e trabalho dos pais no Japão. Narrar a
história.
6. Em que ano veio a Terra Roxa? Como foi? Onde se estabeleceu: cidade; Santa Rita;
Alto Alegre; São José?
7. Escolaridade do(a) entrevistado(a):
B- FUNÇÃO
1. Que língua ou dialeto você tem preferência por falar? Em que ambiente?
C- DADOS SOBRE O NOME
1.A história do nome pessoal
1a Referente ao seu sobrenome, de que região do Japão ele vem? Você conhece o kanji do
seu sobrenome? Tem tradução, ou um significado específico em português? Explique.
Outros
2. Referente ao seu nome do meio, você se lembra o porquê da escolha e/ou o significado?
3. Seu prenome está escrito no registro de nascimento?
4.Você se lembra o porquê da escolha e/ou o significado?
5. Como você prefere ser chamado: pelo prenome; pelo nome em japonês, pelo
sobrenome; pelo apelido? Explique.
D- OUTROS
1. O que é gaijin?
2. O que é degasségui?
ANEXO B Roteiro de entrevista para nipo-brasileiros imigrantes
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU – MESTRADO EM LETRAS
MESTRANDA: ROSANGELA MARTINS NABAO
A – DADOS PESSOAIS, ÉTNICOS E SOCIOCULTURAIS
1. Nome do(a) entrevistado(a)
2. Local e ano do nascimento
3. Sexo:
4. Idade:
5. Qual geração pertence:
5a. Onde nasceu?
5b. Se for nissei de pais falecidos, procurar rememorar a história deles: Com quantos anos
eles chegaram ao Brasil? Com quem? Por quê? Como? Casado(a)? Solteiro(a)? Aonde?
Moraram em Terra Roxa? Quando? Em que trabalharam? Local de trabalho dos pais. Narrar
a história.
6. E o entrevistado, nasceu nesta cidade, ou veio para cá com quantos anos? Quando? Em que
localização do Município: cidade, Santa Rita, Alto Alegre, São José?
7. Escolaridade do(a) entrevistado(a):
B- FUNÇÃO
1. Que língua ou dialeto você tem preferência por falar? Com quem?
C- DADOS SOBRE O NOME PRÓPRIO
1.A história do nome pessoal
1a Referente ao seu sobrenome:
1b De que região do Japão ele vem? Você conhece o kanji do seu sobrenome?
1c Tem tradução, ou um significado específico em português? Pode explicar? Outros.
2. Referente ao seu nome do meio, você se lembra o porquê da escolha e/ou o significado?
3. Seu prenome está escrito no registro de nascimento?
4.Você se lembra o porquê da escolha e/ou o significado? Pode explicar?
5. Como você prefere ser chamado: pelo prenome, pelo nome em japonês, pelo sobrenome;
pelo apelido? Pode explicar?
ANEXO C Roteiro de entrevista para os nipo-brasileiros da 3ª geração e da 4ª geração
UNIVERSIDADE ESTADUAL DO OESTE DO PARANÁ – UNIOESTE
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, EDUCAÇÃO E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU – MESTRADO EM LETRAS
MESTRANDA: ROSANGELA MARTINS NABAO
A – DADOS PESSOAIS, ÉTNICOS E SOCIOCULTURAIS
1. Nome do(a) entrevistado(a)
2. Local e ano do nascimento
3. Sexo:
4. Idade:
5. Qual geração pertence: ( ) issei ( ) nissei ( ) sansei ( ) yonsei
5a. Onde nasceu?
5b. Se for sansei de pais falecidos, procurar rememorar a história deles: Eles moraram em
Terra Roxa? Quando? Com quem? Por quê? Como? Casado(a)? Solteiro(a)? Aonde? Em que
trabalharam? Local de trabalho dos pais. Narrar a história.
6. E o entrevistado, nasceu nesta cidade, ou veio para cá com quantos anos? Quando? Em que
localização do Município: cidade, Santa Rita, Alto Alegre, São José?
7. Escolaridade do(a) entrevistado(a):
B- FUNÇÃO
1. Que língua ou dialeto você tem preferência por falar? Com quem?
E- DADOS SOBRE O NOME PRÓPRIO
1.A história do nome pessoal
1a Referente ao seu sobrenome:
1b De que região do Japão ele vem? Você conhece o kanji do seu sobrenome
1c Tem tradução, ou um significado específico em português? Pode explicar? Outros.
2. Referente ao seu nome do meio, você se lembra o porquê da escolha e/ou o significado?
3. Seu prenome está escrito no registro de nascimento?
4.Você se lembra o porquê da escolha e/ou o significado? Pode explicar?
5. Como você prefere ser chamado: pelo prenome, pelo nome em japonês, pelo sobrenome;
pelo apelido? Pode explicar?
ANEXO D Mapa do Brasil, dividido em estados e regiões
FONTE:
<www.ibge.gov.br/i
bgeteen/mapas/imag
ens/brasil_regioes_g
de.gif>
NOTA: O
estado do
Paraná
localiza-se
na região sul
do Brasil,
fazendo
limites,
dentro da
federação
brasileira,
com os
estados de
São Paulo,
Mato
Grosso do
Sul e Santa
Catarina.
ANEXO E Mapa do Japão
FONTE: <http://www.noticiasdobrasil.com.br/mapajapao.htm>
NOTA: O Japão constitui-se em um arquipélago e é dividido pelas regiões apontadas no Mapa.
ANEXO F Divisões administrativas do Japão: Nomes de províncias, regiões e principais
cidades
Divisões administrativas do Japão
Províncias
Aichi | Akita | Aomori | Chiba | Ehime | Fukui | Fukuoka | Fukushima | Gifu |
Gunma | Hiroshima | Hokkaido | Hyogo | Ibaraki | Ishikawa | Iwate | Kagawa |
Kagoshima | Kanagawa | Kochi | Kumamoto | Quioto | Mie | Miyagi | Miyazaki |
Nagano | Nagasaki | Nara | Niigata | Oita | Okayama | Okinawa | Osaka | Saga |
Saitama | Shiga | Shimane | Shizuoka | Tochigi | Tokushima | Tóquio | Tottori |
Toyama | Wakayama | Yamagata | Yamaguchi | Yamanashi
Regiões
Hokkaido | Tohoku | Kanto | Chubu (Hokuriku - Koshinetsu - Tokai) | Kansai | Chugoku | Shikoku |
Kyushu
Principais cidades
23 bairros de Tóquio | Chiba | Fukuoka | Hiroshima | Kawasaki | Kitakyushu | Kobe | Quioto |
Nagoya | Osaka | Saitama | Sakai | Sapporo | Sendai | Shizuoka | Yokohama
FONTE:
<http://216.239.51.104/search?q=cache:y32HPh5b000J:pt.wikipedia.org/wiki/Subdivis%C3%
B5es_do_Jap%C3%A3o+provincias+do+Jap%C3%A3o&hl=pt-BR&gl=br&ct=clnk&cd=1>
NOTA: Os nomes das províncias foram pesquisados anteriormente, pois às vezes não era entendido
como deveria ser escrito, por exemplo, os informantes, diziam “Guifu-ken” e escreve-se “Gifu”.
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