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Isto teria possibilitado a uma geração inteira de pensadores, que inclui
Ricardo, vivenciarem um período diferente do anterior, quanto ao arranjo institucional
bancário-financeiro, abrindo novos horizontes em Teoria Monetária (DEANE, 1980,
70-71).
Com a suspensão da conversibilidade e câmbio flutuante (antes era fixo),
criaram-se condições para que houvesse, por parte do Banco da Inglaterra, um certo
poder discricionário em determinar as variações e o nível do estoque monetário, o
que não ocorria antes, já que o estoque monetário seria dado, endogenamente, por
condições de Balanço de Pagamentos.
Com isso, dada a possibilidade de se afetar o estoque monetário de maneira
exógena, a TQM passaria a ter um poder explicativo maior, e, neste contexto, ela
faria mais sentido.
A razão disto seria, como aponta Schumpeter (1964) e Blaug (1995), a
exogeneidade da moeda sendo uma das hipóteses cruciais da TQM. Ao descrever
os fundamentos da TQM Clássica
9
, tendo basicamente a versão de Ricardo como
referência
10
, Schumpeter indica seus principais pressupostos:
[...] primeiramente, que a quantidade de moeda é uma
variável independente [...]; em segundo lugar, que a
velocidade de circulação é um dado institucional que
varia lentamente ou não varia [...] [e] é independente dos
preços e do volume das transações; em terceiro lugar, as
transações - ou, melhor dizendo, a produção – não são
relacionadas à quantidade de moeda, e somente devido
ao acaso é que ambas variarão juntas; em quarto lugar,
que as variações na quantidade de moeda, a não ser que
9
Humphrey (1993, p. 251-263) e de Blaug (1995, p. 30-33), referem-se a autores clássicos em Teoria
Monetária como sendo: Hume, Malthus, Ricardo, Thornton, Bentham, McCulloch, James Mill, John
Stuart Mill e Torrens. As proposições que, a partir da análise e constatação dos mecanismos diretos e
indiretos da transmissão monetária, compõem o núcleo duro da TQM, estão longe de serem
consenso em Teoria Monetária, mesmo entre os autores do século XIX. E, como será visto à frente,
Wicksell irá questionar algumas destas hipóteses inerentes à TQM. Apesar de serem reunidos sob
uma denominação comum (clássicos), não existia uma unicidade de pensamento sobre as questões
controversas da TQM. Havia, no entanto, alguns pontos comuns gerais e principais no pensamento
de tais autores que traria sentido colocá-los no mesmo grupo. Como por exemplo, a questão da não-
neutralidade da moeda no curto-prazo. Os clássicos, em geral, apesar de admitirem que os efeitos de
um aumento no estoque monetário seriam totalmente transmitidos no nível geral de preços, no longo
prazo, reconhecem que no curto prazo, a moeda não é neutra. A sua variação afetaria as
expectativas dos agentes econômicos, alterando as decisões de produção
10
Ao descrever essas hipóteses, Schumpeter aponta Ricardo como sendo o único autor na tradição
clássica que “conservou a teoria quantitativa nesse sentido estrito” (SCHUMPETER, 1964, v. 2, p.
400).