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NIVERSIDADE
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EDERAL DO
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IO DE
J
ANEIRO
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ACULDADE DE
A
RQUITETURA E
U
RBANISMO
PROARQ
-
P
ROGRAMA DE
P
ESQUISA E
P
ÓS
-
GRADUAÇÃO EM
A
RQUITETURA
A IMPORTÂNCIA DA SELEÇÃO DE MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO PARA A
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO EDIFÍCIO.
Flávia Miranda Marques
Rio de Janeiro
Fevereiro, 2007
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U
NIVERSIDADE
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EDERAL DO
R
IO DE
J
ANEIRO
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ACULDADE DE
A
RQUITETURA E
U
RBANISMO
PROARQ
-
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ROGRAMA DE
P
ESQUISA E
P
ÓS
-
GRADUAÇÃO EM
A
RQUITETURA
A IMPORTÂNCIA DA SELEÇÃO DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO PARA A
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO EDIFÍCIO
Flávia Miranda Marques
Dissertação de Mestrado apresentada à banca do
Programa de Pós-graduação em Arquitetura,
Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, como parte
dos requisitos necessários para obtenção do título
de Mestre em Ciências em Arquitetura, linha de
pesquisa Qualidade dos Espaços Arquitetônicos.
Orientadora: Profª. Mônica Santos Salgado, D.Sc.
Rio de Janeiro
Fevereiro, 2007
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Marques, Flávia Miranda.
M357 A importância da seleção dos materiais de construção para a
sustentabilidade ambiental do edifício/ Flávia Miranda Marques. - Rio de
Janeiro: UFRJ/FAU, 2007.
xiv, 148 f.: il.; 30 cm.
Orientador: Mônica Santos Salgado.
Dissertação(mestrado) - UFRJ/PROARQ/ Programa de Pós-Graduação em
Arquitetura, 2007.
Referências bibliográficas: f. 129-136.
1. Materiais de construção. 2. Sustentabilidade. 3. Arquitetura – Projetos
e plantas. I. Salgado, Mônica Santos. II. Universidade Federal do Rio de
Janeiro, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-Graduação
em Arquitetura. III. Título.
CDD 691
A IMPORTÂNCIA DA SELEÇÃO DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO PARA A
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO EDIFÍCIO
Flávia Miranda Marques
Orientadora: Profª. Mônica Santos Salgado, D.Sc.
Dissertação de Mestrado submetida à banca do Programa de Pós-graduação em
Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em
Arquitetura, linha de pesquisa Qualidade dos Espaços Arquitetônicos.
Aprovada por:
_________________________________________
Profª Mônica Santos Salgado, D.Sc. - Orientadora.
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
________________________________________
Profª Louise Land Bittencourt Lomardo, D.Sc.
Universidade Federal Fluminense - UFF
________________________________________
Profª Cláudia Mariz de Lyra Barroso Krause, D.Sc.
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
________________________________________
Prof Leopoldo Eurico Gonçalves Bastos, D.Sc.
Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ
Rio de Janeiro
Fevereiro, 2007
AGRADECIMENTOS
À Deus, por guiar meu caminho e sempre se mostrar presente em minha vida.
À minha orientadora Mônica Salgado, pela dedicada orientação e por me ajudar no
crescimento acadêmico, profissional e pessoal.
Aos professores Cláudia Krause e Leopoldo Bastos por todos os comentários que
contribuíram muito para meu trabalho, e por aceitarem o convite de fazer parte de minha
banca avaliadora. Da mesma forma, agradeço à professora Louise Lomardo, que de forma
muito gentil, também aceitou a esse convite.
Aos meus pais Fernando e Zezé, que são os grandes responsáveis por eu ter chegado até
aqui, por sempre acreditarem e lutarem por mim, até nos momentos em que eu mesma não
achava ser capaz e por tudo que tiveram que abdicar para que eu pudesse alcançar mais
esse objetivo, sem nunca medir esforços para isso. Só tenho a agradecer por tudo.
Ao meu irmão Bruno, pela amizade e cumplicidade, e por me inspirar, a cada dia, com seu
exemplo de determinação. E ao meu “irmão” Nike, que mesmo de longe é responsável por
grandes alegrias.
Ao meu noivo Jakson, que foi fundamental nessa conquista, me incentivando a cada dia,
acreditando em mim, superando, e me ajudando a superar, as dificuldades da distância.
Agradeço pelo seu amor e dedicação.
À minha Vozinha por toda sua oração e torcida por mim. Ao Vovô Newton, Mim e Vó Lica
que, certamente, estão me acompanhando em mais essa etapa, olhando por mim e
ajudando a guiar meu caminho.
Aos meus tios, tias e primos por sempre se mostrarem tão presentes apesar de toda a
distância. Em especial à minha afilhada Beatriz, que ilumina minha vida, e ao meu tio
Ricardo Siqueira que foi o meu primeiro e mais próximo contato com a profissão de arquiteto.
Aos meus padrinhos Bolivar e Zil meus “pais cariocas”, e aos meus irmãos” Camila,
César, Bolivinha e Guilherme, que foram a minha base nesses dois anos, sem os quais,
certamente, tudo teria sido mais difícil. Agradeço por dividirem comigo todos os momentos,
por todo carinho e pelo colo que sempre me deram quando eu mais precisei.
Ao Tio Renato, Tia Regina, Rafael, Ricardo e Renata, pela amizade, enorme carinho e
atenção comigo.
A todos os meus amigos que se mostraram presentes nessa minha jornada. Em especial à
Thaís Athayde e Andresa Lisboa que, mesmo de longe, acompanharam cada passo meu,
sempre mostrando seu carinho e admiração que, muitas vezes, foi o que me ajudou a seguir
em busca de meus objetivos.
Às amigas Luciana Beck, Myrian Zubiete, Cynthia Marconsini e Nelba Galvez, pelo
companheirismo e apoio que nos demos ao longo desses dois anos. Em especial à Clarice
Sfair, que sempre esteve ao meu lado disposta a me ajudar, por todo seu apoio que foi
fundamental para o sucesso desse mestrado, e principalmente, pela sua sincera amizade.
A todos do PROARQ, em especial à Guia, Rita e Dionísio, por toda atenção e ajuda que me
deram sempre que precisei, e pelo convívio tão agradável durante todos esses meses.
Ao arquiteto Siegbert Zanettini, por me receber tão gentilmente em seu escritório, dedicando
parte de seu precioso tempo para me atender e dividir sua valiosa experiência.
Aos arquitetos que se dispuseram a participar da pesquisa, pela enorme contribuição que
deram ao trabalho, se dispondo a compartilhar de alguns de seus conhecimento e por usar
parte de seus valiosos tempos para atender a minha pesquisa.
Ao arquiteto Aurélio Meira que, além de grande amigo, sempre foi um dos grandes
incentivadores na minha carreira, agradeço pela confiança que sempre depositou em mim e
por todo o aprendizado que me proporcionou.
Aos arquitetos e amigos Fernando Chacel e Ary Costa, que me acolheram de forma tão
gentil na “família” CAP, pelos ensinamentos que levarei para a vida toda.
Às amigas Beth Cohen e Cláudia Costa, mais que colegas de trabalho, se tornaram grandes
amigas, acompanhando cada momento dessa etapa de minha vida. Agradeço, pelo apoio,
conselhos, aprendizados, risadas, e, principalmente, pelas suas amizades. À amiga Danielle
Purper, com quem tive afinidade desde o primeiro encontro, pela amizade e carinho.
À todos que, de forma direta ou indireta, contribuíram para a realização desta dissertação de
mestrado.
À CAPES pelo auxílio concedido por meio da bolsa de mestrado.
RESUMO
A IMPORTÂNCIA DA SELEÇÃO DOS MATERIAIS DE CONSTRUÇÃO PARA A
SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO EDIFÍCIO
Flávia Miranda Marques
Orientadora: Profª Mônica Santos Salgado, D.Sc.
Resumo da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em
Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em
Ciências em Arquitetura.
No decorrer do processo de projeto, diversas decisões devem ser tomadas para garantir
a qualidade da edificação a ser projetada, e uma dessas decisões é a escolha dos materiais
de construção a serem aplicados. Os materiais de construção exercem grande influência na
garantia da sustentabilidade do edifício e por isso sua especificação deve se dar de forma
cautelosa. Este trabalho estudou a influência da fase de projeto para a minimização do
impacto do edifício ao meio ambiente, levando em consideração a etapa de seleção dos
materiais a serem aplicados na edificação. Pretendeu-se também, conhecer a real influência
dos materiais de construção sobre a sustentabilidade ambiental do edifício. O
desenvolvimento do trabalho se deu através de revisão bibliográfica relacionada ao tema e
pesquisa de campo com arquitetos que aplicam conceitos de sustentabilidade a seus
projetos. Com isso, foi possível perceber que a ausência de informações ordenadas de modo
coerente que apresentem os principais aspectos a serem considerados na especificação dos
materiais, é uma das grandes dificuldades enfrentadas no momento das decisões de um
projeto ambientalmente sustentável. Foram apresentadas então, algumas diretrizes para
servir de auxílio ao arquiteto nessa especificação.
Palavras-chave: 1. Sustentabilidade 2. Projeto de arquitetura 3. Especificação de materiais
4. Materiais de construção.
Rio de Janeiro
Fevereiro, 2007
ABSTRACT
THE IMPORTANCE OF BUILDING MATERIAL SELECTION FOR THE BUILDING
SUSTAINABILITY
Flávia Miranda Marques
Orientadora: Profª Mônica Santos Salgado, D.Sc.
Abstract da Dissertação de Mestrado submetida ao Programa de Pós-graduação em
Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de
Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de Mestre em
Ciências em Arquitetura.
During the design process, some decisions must be taken to guarantee the building
quality, and one of these decisions is the choice of the building materials. Building materials
have great influence in the guarantee of the building sustainability and therefore its
specification must be done carefully. This work studies the design influence at the building
environmental impact shortage, considering the material specification stage. It was also
intended to find out the real influence that the building materials have on the building
sustainability. This work was based on some bibliography related to the subject and on a field
research with some architects who already apply sustainability concepts on theirs projects.
Thus, it was possible to understand that one of the greatest difficulties faced at the
sustainable design decisions is the absence of commanded information in a coherent way, in
order to present the main aspects to be considered at the materials specification. Also, some
lines of direction had been presented as an aid to the architect in this specification.
Key-words: 1. Sustainability 2. Design 3. Building Material selection 4. Building material.
Rio de Janeiro
Fevereiro, 2007
LISTA DE FIGURAS
Figura 1– Ciclo de vida de uma edificação e os diferentes níveis de alteração no meio
ambiente. Fonte: OLIVEIRA et al. (2004). .............................................................13
Figura 2– Os 10 Pontos-Chave para o Processo de Projeto Integrado. ................................40
Figura 3 - Diferenças entre o modelo de decisão antigo para o Processo de Projeto e o novo
modelo de decisão para o Processo de projeto integrado. ....................................47
Figura 4 - Fluxo das fases do Processo de Projeto. ..............................................................50
Figura 5 – Recomendações para seleção de materiais para um projeto de arquitetura
sustentável..........................................................................................................123
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 – Níveis da certificação LEED. ..............................................................................26
Quadro 2– Caracterização dos arquitetos participantes da pesquisa ..................................111
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Arquitetos identificados por realizar arquitetura ambientalmente sustentável no
Brasil e participantes da pesquisa.....................................................................110
Gráfico 2 – Resultado da questão 2: O que o motivou a incorporar os princípios de
sustentabilidade (aspectos ambientais) em seus projetos?...............................113
Gráfico 3 – Resultado da questão 03: Quais seus critérios para a especificação de materiais?
(5 = mais importante e 1 = menos importante)..................................................114
Gráfico 4 – Resultado da questão 4: Sabe-se que são diversos os impactos ambientais
causados ao longo do ciclo de vida dos materiais. A fim de minimizar esses
impactos, quais os principais aspectos que considera na decisão pelos materiais?
(9 = mais importante e 1 = menos importante)..................................................115
Gráfico 5 – Resultado da questão 5: Quais as principais dificuldades que enfrenta na seleção
de materiais de baixo impacto ambiental? (5 = mais importante e 1 = menos
importante)........................................................................................................117
Gráfico 6 – Resultado da questão 6: Costuma especificar materiais alternativos, ditos
“ecológicos”, para seus projetos? .....................................................................118
Gráfico 7 – Complemento de resposta para questão 06: Por que não costuma especificar
materiais alternativos, ditos “ecológicos”, para seus projetos? (5 = motivo mais
importante e 1 = motivo menos importante). .....................................................119
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Objetivos e pontuação máxima de cada área do LEED.......................................27
Tabela 2 – Relação dos créditos LEED com o projeto de arquitetura....................................70
Tabela 3 – Desempenho quanto ao impacto ambiental da madeira ......................................83
Tabela 4 – Desempenho quanto ao impacto ambiental do plástico.......................................85
Tabela 5 – Impacto ambiental dos materiais cerâmicos ........................................................86
Tabela 6 – Impactos ambientais dos materiais metálicos......................................................88
Tabela 7 – Classificação dos resíduos da construção civil....................................................92
Tabela 8– Avaliação da disponibilidade dos recursos não-renováveis necessários para a
produção dos materiais.......................................................................................95
Tabela 9 - Potencial de reciclabilidade de materiais de construção básicos..........................97
SUMÁRIO
Resumo
Lista de Figuras
Lista de Quadros
Lista de Gráficos
Lista de Tabelas
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 1
1. Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil ................................................... 5
1.1. Alguns conceitos e definições ....................................................................................6
1.2. Sustentabilidade na construção civil: Aspectos Ambientais .......................................9
1.3. O Ciclo de vida da edificação ...................................................................................11
1.4. Impactos ambientais e a construção civil .................................................................15
1.5. Sistemas de análise ambiental de edifícios .............................................................19
1.5.1. LEED .............................................................................................................22
1.5.1.1. Características do método .................................................................25
1.5.1.2. Requisitos do sistema ........................................................................26
1.5.1.3. Aplicabilidade do LEED no Brasil .......................................................28
2. Projeto do edifício e Sustentabilidade ambiental........................................................30
2.1. Aspectos da Qualidade do projeto do edifício ...........................................................32
2.2. Ações realizadas em relação ao projeto de edifício sustentável................................36
2.3. Processo do Projeto Integrado ..................................................................................45
2.3.1. Fluxo de atividades do processo do projeto sustentável do
empreendimento.................................................................................................48
2.3.2. Gestão do processo do projeto: em busca da qualidade e da sustentabilidade
ambiental.............................................................................................................56
2.3.3. O LEED e o Projeto de arquitetura de edifícios .............................................59
3. A especificação de materiais e a sustentabilidade ambiental....................................73
3.1. Ciclo de vida e impactos ambientais dos materiais de construção ...........................75
3.2. A influência dos materiais na sustentabilidade do edifício .......................................78
3.2.1. Alguns materiais de construção tradicionais...................................................79
3.2.1.1. Materiais Orgânicos............................................................................80
3.2.1.2. Materiais Cerâmicos...........................................................................85
3.2.1.3. Materiais Metálicos.............................................................................87
3.2.1.4. Materiais de acabamento....................................................................88
3.3. Gestão dos materiais na construção.........................................................................90
3.3.1. Gestão dos resíduos da construção................................................................90
3.3.2. Reutilização e reciclagem de materiais e renovação de matérias-
primas..................................................................................................................94
3.3.3. Materiais Regionais.........................................................................................97
3.3.4. Materiais Certificados......................................................................................98
3.4. Alternativas ecológicas para materiais de construção..............................................101
3.5. O LEED e os Materiais e Recursos Naturais............................................................104
3.6. Considerações sobre o LEED e a especificação de materiais.................................106
4. Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental.............108
4.1. Critérios da especificação por parte de alguns arquitetos brasileiros......................109
4.1.1. Caracterização do grupo consultado.............................................................111
4.1.2. Ferramenta utilizada......................................................................................112
4.1.3. Análise dos principais resultados...................................................................112
4.2. Recomendações para seleção de materiais............................................................120
CONSIDERAÇÕES FINAIS..................................................................................................124
Bibliografia ..........................................................................................................................129
Anexo 1 ................................................................................................................................138
Anexo 2 ................................................................................................................................140
Anexo 3 ................................................................................................................................142
Anexo 4 ................................................................................................................................146
INTRODUÇÃO
Introdução
___________________________________________________________________________
2
A indústria da construção civil é uma das grandes responsáveis por diversos
impactos ambientais, como a extração de matérias-primas, consumo de energia, geração de
resíduos, dentre tantos outros. A fim de reduzir estes impactos, as etapas de planejamento e
projeto de uma edificação devem receber especial atenção, por serem as etapas decisivas
do empreendimento e onde serão definidas as características do edifício. No entanto, pouco
se conhece sobre a relação entre os ideais ambientais e sua real interação com o processo
de projeto. Além disso, a possibilidade de intervenção nas fases de estudo de viabilidade e
de projeto é muito maior que nas outras etapas do empreendimento. Desta maneira,
FOSSATI (2005) avalia que o investimento em projeto é essencial na medida em que as
características de execução, uso, operação e manutenção são totalmente condicionadas
pela qualidade do projeto e podem representar ganhos significativos de rentabilidade.
Devem ser levados em consideração, desde a fase de projeto do edifício, alguns
aspectos que levam à sua sustentabilidade, a fim de minimizar possíveis impactos
ambientais. Um desses aspectos é a correta seleção dos materiais a serem aplicados,
devendo ser considerados os que representem o menor impacto ambiental durante seu ciclo
de vida, que diversos são os materiais que continuam a ser usados na construção civil e
que trazem enormes danos ao meio ambiente.
A dispersão e escassez de dados referentes a especificação de materiais com menor
impacto ambiental, e a falta de conscientização por parte dos envolvidos em todo o processo
de projeto do edifício, são uns dos grandes problemas que se enfrenta na busca por
soluções mais sustentáveis.
O objetivo geral deste trabalho é apresentar algumas diretrizes para que o arquiteto
possa fazer a especificação de materiais, em seus projetos, de forma ambientalmente
sustentável.
Como alguns dos seus objetivos específicos destacam-se:
- entender a relação entre o projeto de arquitetura e a sustentabilidade ambiental da
edificação;
- conhecer a real influência da seleção dos materiais de construção sobre a
sustentabilidade do edifício;
Introdução
___________________________________________________________________________
3
- conhecer quais os critérios adotados, por arquitetos brasileiros, na seleção dos
materiais e as principais dificuldades por eles enfrentadas nesse sentido.
Para isso, pretende-se responder as seguintes questões: “Como a escolha dos
materiais de construção na fase de projeto pode influenciar na sustentabilidade do edifício?”,
“Como ocorre essa escolha por parte dos arquitetos?” e Como deve se dar essa escolha
para que o resultado desse projeto seja o menos impactante possível?”
O trabalho está estruturado de forma a tentar obter respostas a essas questões e
atingir aos objetivos já mencionados, e para isso está divido em quatro capítulos.
O primeiro capítulo trata do desenvolvimento sustentável e sua aplicação na
construção civil. Essa é uma das indústrias que muito impacta o meio ambiente e por isso a
preocupação com a produção de construções de baixo impacto ambiental vem crescendo a
cada dia. São tratadas questões de ciclo de vida do edifício e de seus materiais, uma vez
que é de extrema importância se conhecer esse ciclo para que se conheça seu
comportamento, desde a extração de matérias-primas até seu descarte final, e assim poder
fazer as melhores escolhas, as que sejam menos impactantes ambientalmente. Os
possíveis impactos ambientais relacionados à construção civil são citados e analisados a fim
de que se entenda quais as conseqüências sofridas pelo meio-ambiente ao se fazer uma
decisão errada nesse aspecto. Ainda neste capítulo, são mencionados os sistemas de
análise ambiental de edifícios, que são baseados no conceito de análise do ciclo de vida de
edificações e encorajam, além de orientar os projetistas, a criar edifícios pensando
sustentabilidade, sendo que outra de suas funções é a avaliação e certificação de edifícios
desenvolvidos com qualidade ambiental. O sistema que será melhor detalhado e que servirá
de estrutura para parte do trabalho, será o LEED - Leadership in Energy and Environmental
Design, conforme justificado no texto. Esse primeiro capítulo servirá de base teórica para os
demais.
O segundo capítulo trata, de forma sucinta, do projeto da edificação, considerando as
questões de gestão do processo do projeto, dando ênfase à fase de projeto de arquitetura,
mostrando a importância que essa fase de projeto exerce sobre a qualidade final do
empreendimento, acrescentando ainda que questões de sustentabilidade aplicadas ao
edifício são também necessárias para que essa qualidade possa ser alcançada. Além disso
são colocadas algumas ações que vêm sendo realizadas para a garantia da
Introdução
___________________________________________________________________________
4
sustentabilidade do edifício através do projeto, e como alguns escritórios de projeto, que
adotam questões de sustentabilidade como filosofia de trabalho, fazem o que se chama de
projeto integrado - junção do processo de projeto com essas questões que são
desenvolvidas através de metodologias por eles criadas. O objetivo deste capítulo é mostrar
o quanto essa fase é decisiva para o edifício, tendo que ser tomadas, nela, todas as
decisões que irão caracterizá-lo e como as questões ambientais devem ser aplicadas nessa
fase.
Após embasamento teórico em torno das questões de sustentabilidade e de
entendida a real importância da fase de projeto para o sucesso do edifício e de se ter
destacado que a sustentabilidade é um dos aspectos decisivos para a qualidade do projeto,
inicia-se o terceiro capítulo, que trata das questões de sustentabilidade ambiental voltadas
exclusivamente para os materiais aplicados na construção civil. São levantados alguns dos
materiais mais utilizados na construção civil brasileira e suas características, avaliando, de
forma geral, seus impactos ambientais. Além disso, são indicadas algumas alternativas
ecológicas para os materiais de construção, que já se apresentam no mercado. Neste
capítulo pode se conhecer a influência que os materiais de construção causam à
sustentabilidade do edifício e quais as questões que devem ser consideradas no momento
da especificação dos materiais por parte do arquiteto.
No quarto capítulo são apresentados os resultados da pesquisa realizada com
arquitetos brasileiros, que já aplicam os conceitos de arquitetura sustentável em seus
projetos. Essa pesquisa buscou conhecer as características e critérios adotados por esses
arquitetos na especificação dos materiais. Ao final do capítulo, propõe-se uma ferramenta
de auxílio ao projeto, no que diz respeito à melhor seleção dos materiais de construção, com
base nos aspectos levantados pelo sistema de avaliação ambiental LEED e nas questões
apresentadas nos capítulos anteriores.
CAPÍTULO 01
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
___________________________________________________________________________
-
6
-
Este capítulo trata de questões de sustentabilidade, em seus vários aspectos,
aplicadas a construção civil.
1.1. Alguns conceitos e definições
Atualmente podem ser identificados vários sinais de que o ambiente natural não se
encontra tão saudável como deveria, sendo alguns desses sinais os altos níveis de poluição
aérea, a crescente quantidade de resíduos sólidos e líquidos, os altos consumos
energéticos, a elevada utilização de recursos naturais e a dificuldade cada vez maior em
encontrar locais para depósitos de lixo. Além disso ainda se verifica o aumento do efeito de
aquecimento global do planeta, a redução da camada de ozônio a crescente geração de
chuva ácida, dentre vários outros impactos ambientais (LYLE, 1994, apud SPERB, 2000).
Todos esses impactos vêm sendo causados pela ausência, ao longo dos anos, de
atitudes em prol da sustentabilidade do planeta. alguns anos, essa preocupação com a
sustentabilidade começou surgir, sendo que, no Brasil, recentemente, essa passou a ser
a uma questão amplamente considerada, mas que ainda tem muito que ser discutida.
O termo Sustentabilidade pode ser definido, neste trabalho, como o atendimento das
questões ambientais, sociais e econômicas em toda ação realizada pelo homem nas suas
atividades, evitando impactos negativos em todas essas esferas, visando sempre um futuro
adequado para todos.
Estando o mundo inteiro em constante desenvolvimento, espera-se que esse se
desenvolva baseado nos aspectos ambientais, sociais e econômicos da sustentabilidade, de
forma a garantir uma melhor qualidade de vida para todas as nações.
A primeira definição de desenvolvimento sustentável foi apresentada em 1987,
pela World Commission on Environment and Development WCED, também conhecida
como Comissão Brundtland, como sendo o desenvolvimento que satisfaz as necessidades
da geração atual sem comprometer a possibilidade das gerações futuras satisfazerem suas
próprias necessidades”(BRUNDTLAND, 1987, apud FOSSATI et al, 2005). O documento
elaborado por essa comissão, conhecido como The Brundtland Reportdiz ainda, segundo
AFONSO (2006, p.11) que:
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
___________________________________________________________________________
-
7
-
a sustentabilidade representa um processo de transformação no
qual a exploração de recursos, a direção dos investimentos, a
orientação do desenvolvimento tecnológico e a mudança
institucional se harmonizam e reforçam o potencial presente e futuro,
a fim de atender as necessidades e aspirações humanas.”
No ano de 1992, durante a realização da Conferência das Nações Unidas sobre Meio
Ambiente e Desenvolvimento na cidade do Rio de Janeiro – conhecida como Rio-92- na qual
representantes de 175 países estavam reunidos, foi aprovada a Agenda 21 que trata do
conceito fundamental de desenvolvimento sustentável, que combina as aspirações
compartilhadas por todos os países ao progresso econômico e material com a necessidade
de uma consciência ecológica (Ministério das Relações Exteriores, 2005).
Para que, efetivamente, se alcance o que se chama de desenvolvimento sustentável,
é preciso, segundo SILVA (2003), que se busque um equilíbrio entre o que é socialmente
desejável, economicamente viável e ecologicamente sustentável, o que vem a formar o
‘tripé’ que engloba as esferas sociais, econômicas e ambientais que levam ao
desenvolvimento sustentável.
SILVA (2003), conceitua ainda, com base no relatório da CIB/UNEP-IETC (2002), o
que é requerido em cada uma dessas esferas do desenvolvimento sustentável, da seguinte
forma: da esfera ambiental é esperado que haja o equilíbrio entre proteção do ambiente
físico e seus recursos, e o uso destes recursos de forma racional, sem comprometer a
qualidade de vida aceitável no planeta; no âmbito social requer-se o desenvolvimento de
sociedades justas, proporcionando oportunidades de desenvolvimento humano e de um
nível aceitável de qualidade de vida para todos; e da dimensão econômica espera-se a
facilidade de acesso a recursos e oportunidades, aumentando a prosperidade para todos,
sem ferir os direitos humanos básicos.
Ainda abordando o termo desenvolvimento sustentável”, STAHEL et al, citado por
CURWELL et al, (1997) demonstra grandes preocupações em reduzir os processos de
produção lineares, priorizando os processos cíclicos. Essa abordagem busca minimizar o
consumo de recursos naturais, assim como a produção de resíduos. Dando prioridade aos
processos cíclicos, tem-se a maximização do tempo de vida útil dos produtos, da sua
reutilização, reciclagem, adaptação a novas demandas da sociedade ao longo do tempo,
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
___________________________________________________________________________
-
8
-
dentre outros. Os processos cíclicos podem então ser definidos como aqueles onde os
resíduos gerados tornam-se novamente recursos, fechando-se um ciclo produtivo.
LYLE (1994, apud SPERB, 2000) também incentiva a realização de projetos
regenerativos, compostos por processos de produção cíclicos fechados, afirmando que a
grande utilização de recursos naturais e geração de resíduos sólidos, líquidos e gasosos
está acima do poder de regeneração da natureza, criando grandes impactos ambientais ao
planeta, e esse quadro precisa ser combatido.
CURWELL et al (1997) apresenta a abordagem feita por MITCHELL et al, na qual são
definidos quatro princípios básicos que devem juntos determinar um desenvolvimento
sustentável. Esses quatro princípios são referentes a preocupações com: as gerações
futuras; a proteção da integridade dos ecossistemas; a população economicamente pobre e
a participação da população nas decisões que a afeta. Com isso percebe-se que o conceito
de desenvolvimento sustentável é muito mais amplo, indo além das preocupações
ambientais, que é um dos itens de extrema relevância nesse contexto. Essa abordagem
mostra que para se obter esse desenvolvimento sustentável são exigidas novas formas de
pensar, já que ele vai muito além de ser somente uma preocupação ambiental.
Outra definição, neste mesmo sentido, para desenvolvimento sustentável é dada por
BARRET (1998, apud SPERB, 2000, p.11) como sendo a seguinte:
“Desenvolvimento sustentável promove, através de mudanças nos
sistemas de valores e políticas da sociedade, uma Terra saudável e
produtiva, e uma qualidade de vida social e econômica para todos,
tanto no presente como no futuro. Para alcançar isto fisicamente, os
seguintes princípios ecológicos precisam ser cumpridos: emissões
poluentes não devem exceder a capacidade de assimilação da
Terra; o índice de utilização de recursos renováveis não deve
exceder o seu índice de regeneração; e o índice de utilização de
recursos não renováveis não deve exceder o índice em que
substitutos renováveis possam ser encontrados”.
Neste trabalho, o conceito adotado é de que o Desenvolvimento Sustentável é aquele
que busca a qualidade de vida, no âmbito social, econômico e do bem-estar da população
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
___________________________________________________________________________
-
9
-
atual e futura, não desperdiçando e tratando, da melhor forma possível, os recursos naturais
existentes, além de evitar todas as formas de poluição ao meio ambiente.
Dado que toda ação humana traz algum impacto para o eco-sistema, o desafio da
sustentabilidade passa a ser um aspecto complexo a ser trabalhado. Isso vem forçar a todos
a aprender a valorizar e tirar o melhor proveito possível dos recursos naturais disponíveis,
eliminando de vez qualquer possibilidade de desperdício. Não se sabe exatamente como o
meio ambiente vai reagir à influência humana ao longo do tempo, mas é preciso que se aja
com responsabilidade usando todo conhecimento que vem sendo desenvolvido.
No contexto do desenvolvimento sustentável, as questões ambientais têm se tornado
cada vez mais importantes. E o setor da construção civil é um dos grandes responsáveis por
vários dos impactos ambientais que podem ser observados.
1.2. Sustentabilidade na construção civil: Aspectos ambientais
Na década de 70, inicia-se a preocupação com questões ambientais refletindo na
construção de edifícios, na busca da redução do consumo energético. Desde lá, a ênfase na
construção de baixo impacto ambiental passou a ter um escopo cada vez mais amplo e
sistêmico, sendo incluído dentro do conceito de desenvolvimento sustentável (OLIVEIRA et
al, 2004).
Na década passada, o enfoque estava baseado em requisitos mais técnicos da
construção, como materiais, componentes do edifício, tecnologias construtivas e conceitos
de projetos relacionados à energia. Atualmente, a compreensão do significado dos aspectos
não técnicos está crescendo e é compreendido que a sustentabilidade social e econômica
são cruciais para o desenvolvimento sustentável nas construções, devendo receber
tratamento específico em qualquer definição (FOSSATI, 2005).
Como foi dito, o conceito de sustentabilidade vai além de ser, apenas, relacionado
aos aspectos ambientais. Esse conceito, também se relaciona aos aspectos sociais e
econômicos e devem ser considerados em qualquer produto da construção civil, no que diz
respeito ao seu uso particular e à sua interação com seu entorno. Assim, além de considerar
os possíveis impactos ambientais que a construção de um edifício venha a causar, e
diversas outras questões ambientais, também é imprescindível que questões como
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
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acessibilidade, conforto, segurança, dentre várias outras, sejam levadas em conta, para que
o edifício possa ser considerado sustentável.
Confirmando isso, SILVA (2003), aponta os impactos econômicos e sociais que a
construção civil provoca, levantando que ela proporciona meios para o atendimento das
necessidades humanas básicas e possui participação efetiva na geração de empregos e na
economia do país.
Ainda esclarecendo, BRE/CAR/ECLIPSE (2002, apud SILVA, 2003), considerando
que não existe desenvolvimento sustentável sem construção sustentável, definem, da
seguinte forma, os compromissos que essa construção deve atender:
Sustentabilidade Econômica: aumentar a lucratividade e crescimento
através do uso mais eficiente de recursos, incluindo mão-de-obra, materiais, água
e energia.’
Sustentabilidade Ambiental: evitar efeitos perigosos e potencialmente
irreversíveis no ambiente através do uso cuidadoso de recursos naturais,
minimização de resíduos e, quando possível, melhoria do ambiente.
Sustentabilidade Social: responder às necessidades de pessoas e grupos
sociais envolvidos em qualquer estágio do processo de construção (do
planejamento a demolição), provendo alta satisfação do cliente e do usuário, e
trabalhando estreitamente com clientes, fornecedores, funcionários e
comunidades locais.’
Ressalta-se que, para se alcançar a sustentabilidade econômica, a construção civil
deve, também, ser geradora de empregos e promover o crescimento econômico do país.
Quanto à sustentabilidade social, acrescenta-se que a construção deve buscar a identidade
cultural local, a inclusão social e a equidade da população.
No entanto, não diminuindo a importância das outras esferas, as questões ambientais
aparecem como extremamente graves e urgentes a serem consideradas por essa indústria
da construção civil, que as ações dessa indústria vêm gerando conseqüências
irreversíveis ao meio ambiente. Por esse motivo, a ênfase do estudo deste trabalho é o
aspecto ambiental da sustentabilidade.
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
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A construção sustentável pode ser definida como aquela que considera a economia e
eficiência de recursos, o ciclo de vida
1
do empreendimento e o bem estar do usuário,
reduzindo significantemente, ou até eliminando possíveis impactos negativos causados ao
meio ambiente e a seus usuários (ECOPLANO, 2006).
VOSGUERITCHIAN et al, (2005) coloca que os objetivos principais da construção
sustentável estão sempre evoluindo, porém podem ser resumidos em alguns itens principais
que são: evitar o desperdício dos recursos de energia, água, e matérias-primas; prevenir a
degradação ambiental causada por edificações e infra-estrutura ao longo do ciclo de vida; e
criar ambientes construídos habitáveis, confortáveis e seguros.
BARRETO et al (2001, p.4), coloca que segundo o US Green Building Council, um
empreendimento para ser considerado com bom desempenho ambiental, é caracterizado por
ter minimizado ou até eliminado os seus impactos negativos sobre o meio ambiente e seus
usuários”.
Tendo a construção civil a possibilidade de influência em prol de uma qualidade
ambiental e contra diversos impactos ao meio ambiente, torna-se imprescindível que sejam
tomadas atitudes nesse sentido.
Diversas são as alternativas de escolha dos sistemas construtivos, materiais e
tecnologias disponíveis no universo da construção civil, e é de grande importância que se
conheça suas reais características, desempenho e possíveis impactos. É através desse
conhecimento que se poderá optar pelas melhores soluções e assim alcançar bons níveis de
sustentabilidade nos produtos da construção civil.
1.3. O Ciclo de vida da edificação
O termo “Ciclo de vida”, segundo VOSGUERITCHIAN (2005, p.4) é dado ao conjunto
de processos que envolvem a cadeia produtiva desde a extração de matéria prima até o
destino dos rejeitos ou do próprio produto”. Sendo que cada uma dessas etapas interage
com o meio ambiente de alguma forma, produzindo efeitos e causando impactos ambientais.
1
Ciclo de vida é todo o processo que passa um produto ou edifício, considerando desde a extração da
matéria-prima para sua produção, até seu descarte final. Este conceito será desenvolvido no item 1.3 deste
trabalho.
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A análise do Ciclo de Vida (ACV) é uma técnica para avaliar aspectos ambientais e impactos
potenciais associados a um produto (Figura 01).
Cada uma das etapas do ciclo de vida da edificação extração de matéria prima,
manufatura de produtos, construção, uso e reposição e disposição final – recebe recursos de
entrada, que podem ser energia, matéria prima, água, solo, etc., e libera substâncias ao
meio ambiente, que podem ser emissões aéreas, resíduos sólidos, resíduos quidos, entre
outros. Esses recursos de entrada às etapas geram cargas ambientais – que são a extração
de recursos, uso do solo, etc. – que causam efeitos ambientais que pode ser, por exemplo, a
redução da biodiversidade. Também as substâncias liberadas por cada etapa geram cargas
ambientais que, conseqüentemente, geram efeitos como a alteração do meio ambiente,
ocasionando em impactos finais que podem trazer sérios danos à saúde humana e ao meio
ambiente.
Todas essas etapas geram produtos de entrada para a etapa seguinte e merecem
atenção especial por gerar um impacto ao ambiente, que precisa ser minimizado o máximo
possível. Deve-se, de fato, conhecer o ciclo de vida da edificação e de seus materiais e
componentes, assim como todos os efeitos e impactos que podem causar, para que, dessa
forma, possa se fazer as melhores decisões para o edifício em si e seu processo de
construção.
DEGANI et al (2002) afirma que o ciclo de vida de uma edificação contempla as
etapas de Planejamento, Implantação, Uso, Manutenção e Demolição. A etapa de
planejamento é a fase inicial do ciclo de vida de um edifício, quando ele é concebido. A
implantação é a produção do edifício, sua construção. A etapa de uso é a fase de
operação do empreendimento, quando ele está sendo usado por seus usuários. Na etapa de
manutenção, são feitas as reposições de componentes que estejam desgastados,
enquanto que na etapa de demolição o edifício é inutilizado através de seu desmonte.
Na etapa de implantação, que envolve a construção em si do edifício, existem
diversas questões que devem ser consideradas a fim de diminuir o impacto causado por
essa etapa e são apontadas por MONTEIRO (2002). Uma questão importante e pouco
considerada é o tempo demandado para a construção, que quanto mais demorada é a
obra e dependendo da tecnologia adotada, maior o consumo de energia e maior o tempo de
instalação do canteiro de obras. Além dessa questão, deve-se ter a preocupação também
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
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com o desperdício de materiais e insumos, com a destruição das características naturais
existentes no local e com os tipos de poluição possíveis durante a construção.
Figura 1Ciclo de vida de uma edificação e os diferentes níveis de alteração no meio ambiente.
Fonte: OLIVEIRA et al. (2004).
Ressalta-se que a etapa de disposição final ou de demolição não devem ser
consideradas como sendo o final do ciclo de vida do edifício, uma vez que a reutilização e
reciclagem dos resíduos gerados nessa etapa devem ser consideradas. Assim, o que puder
ser reaproveitado ou reciclado servirá como insumo para a etapa inicial de novos edifícios,
mantendo um ciclo constante.
Alguns métodos de análise do ciclo de vida ambiental de edificações foram
desenvolvidos e estão sendo aplicados e alguns ainda se encontram em fase de estudo.
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Segundo HANSEN e PETERSEN (1998, apud SPERB, 2000) a primeira geração desses
métodos de análise surgiu no inicio da década de 90, e mais atualmente vêm surgindo
métodos de análise ambiental específicos ao ciclo de vida dos materiais de construção,
que cada etapa de vida destes materiais também está relacionada a determinados impactos
ambientais.
A análise do ciclo de vida de um produto varia de complexidade de acordo com as
características do produto. Quando o produto a ser analisado é uma edificação, essa ACV
torna-se ainda mais complexa, uma vez que a edificação é composta por diversos produtos
e serviços que também têm um ciclo de vida e devem ser avaliados simultaneamente.
A fim de se conceber uma edificação na lógica de um desenvolvimento sustentável,
alguns princípios básicos devem ser considerados como é levantado por ANGIOLETTI et al
(1996) apud SPERB (2000, p.13) e dentre estes as principais preocupações devem ser:
a mínima exploração de recursos naturais (matérias-primas e combustíveis
fósseis), durante as fases de projeto, construção e utilização de edificações;
a facilidade de renovação ou reforma da edificação, permitindo que a mesma
se adapte às novas exigências dos usuários e permitindo uma minimização do
consumo de recursos materiais e da geração de resíduos sólidos durante a fase de
utilização de edificações;
a facilidade de desmontagem parcial ou total de edificações, para posterior
reutilização de componentes e reciclagem dos materiais, durante a fase de
reabilitação ou demolição final.
Diversos são os métodos para análise ambiental do ciclo de vida de materiais de
construção e SPERB (2000) aponta alguns desses métodos como sendo aqueles que
defendem a seleção de materiais de construção que representem o menor impacto
ambiental durante o seu ciclo de vida, estimulando os melhores produtos e práticas da
indústria manufatureira, abrindo caminho para a inclusão de considerações ambientais na
fase de escolha dos materiais a serem utilizados na construção de edificações e
conseqüentemente minimizando impactos ambientais.
No entanto, VOSGUERITCHIAN et al (2005), afirma que no Brasil, uma grande
dificuldade em se obter dados confiáveis de ACV, que não possui um banco de dados
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
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com as análises dos materiais de construção nacionais completo e confiável. Isso vem a
dificultar no conhecimento e na possibilidade de utilizar os materiais mais adequados para
cada situação. Os dados que são utilizados para este fim acabam sendo oriundos de outros
países e muitas vezes inadequados ao Brasil.
Fica clara, assim, a necessidade de se obter informações sobre os possíveis
impactos gerados em cada etapa do ciclo de vida do edifício e seus materiais, de forma a
subsidiar as melhores decisões no que diz respeito a diminuição dos impactos ambientais
causados pela construção civil.
1.4. Impactos ambientais e a construção civil
Impacto ambiental é definido pela Resolução CONAMA 001/86, de 23 de janeiro de
1986, como qualquer alteração das propriedades físicas, químicas e biológicas do meio
ambiente, causada por qualquer forma da matéria ou energia resultante das atividades
humanas que direta ou indiretamente afetem a segurança, a saúde e o bem-estar da
população, atividades sócio-econômica, biota, condições estéticas e sanitárias do meio
ambiente e a qualidade dos recursos naturais”.
Outro conceito para impacto ambiental é dado por GUERRA, et al (2004, p.25) como
sendo “o processo de mudanças sociais e econômicas causado por perturbações (uma nova
ocupação e/ou construção de um objeto novo: uma usina, uma estrada ou uma indústria) no
ambiente”.
KRAEMER (2004), também apresenta seu conceito, como sendo a alteração no meio
ou em algum de seus componentes por determinada ação ou atividade. A autora acrescenta
ainda, que o que caracteriza o impacto ambiental, não é qualquer alteração nas
propriedades do ambiente, mas as alterações que provoquem o desequilíbrio das relações
essenciais do ambiente, tais como as alterações que excedam a sua capacidade de
absorção.
Assim, pode-se dizer, também, que impacto ambiental é a alteração das
propriedades do meio ambiente causada por forças externas, provocando, direta ou
indiretamente, o desequilíbrio nas suas atividades.
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Levanta-se que esses impactos correspondem à qualquer tipo de alteração ocorrida
no meio ambiente, podendo esta ser negativa, mas também positiva, nos casos em que a
alteração pode beneficiar o local da alguma forma, como recuperações de terrenos
contaminados, novas plantações em locais que foram desmatados e se encontram
degradados, etc.
A preocupação com o meio ambiente vem crescendo a cada dia. Alguns autores
como LYLE (1994) e UHER e LAWSON (1998) apud SPERB (2000) têm discutido esse
assunto e afirmam que é cada vez mais clara a dificuldade que o planeta Terra enfrenta em
sustentar formas de vida, e isso se principalmente após a Revolução Industrial. Eles
colocam ainda a necessidade de se haver controle sobre esse quadro, que este resultará
em uma degradação irreversível do planeta, de seus ecossistemas e de seus recursos
naturais, o que ocasionará a redução da qualidade de vida de seus habitantes. Afirmam
ainda que o modo de vida atual da população contribui para o agravamento desse quadro.
A crescente utilização de recursos naturais não renováveis pelo homem, a geração
de emissões de gás carbônico acima da capacidade de assimilação pela natureza, a
redução da camada de ozônio, o aquecimento global, a contaminação do ar, da terra e da
água e a degradação de todo ecossistema terrestre são fatos aparentes e que precisam ser
tratados com urgência. É necessário que sejam conservadas a vitalidade e diversidade de
ecossistemas e que sejam obedecidos os limites que o planeta Terra pode suportar. Muitas
vezes não existe a preocupação com esses grandes efeitos ambientais e como afirmam
UHER e LAWSON (1998) apud SPERB (2000) isso pode se dar por questões políticas e
também, muitas vezes, pela falta de dados suficientes e conclusivos para a análise de
problemas ambientais.
Os mesmos autores colocam também que, além dos avanços no tratamento de
questões ambientais que vêm sendo desenvolvidos, é imprescindível que a preservação
ambiental comece a ser tratada também a nível individual, regional e nacional. A nível
individual espera-se que cada indivíduo se mobilize a fim de auxiliar nessa preservação,
através da redução do consumo de água e energia, da preferência por produtos reciclados e
considerados ambientalmente corretos, além de várias outras ações. A nível regional e
nacional as mudanças devem ser mais abrangentes como a redução das emissões
poluentes, o uso de fontes alternativas de energia, entre outros.
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A fim de garantir a melhoria na performance ambiental das edificações em geral,
seria de extrema importância que existissem alianças entre os governantes políticos e a
indústria da construção civil, pois assim os reais avanços na área ambiental seriam mais
facilmente implantados e consolidados nessa área.
O setor da construção civil, nesse contexto de impacto ambiental, é um dos mais
importantes a ser considerado. A construção, manutenção e operação das edificações
exigem uma grande quantidade de recursos renováveis e não renováveis, dentre os quais
encontram-se os recursos energéticos, territoriais, hídricos e materiais. Outra preocupação é
com a questão da geração de resíduos sólidos que são muito produzidos tanto na
construção como na demolição do edifício, e que normalmente destina-se para depósitos de
lixo urbano, que exigem área considerável da cidade, gerando vários problemas.
Esse impacto ambiental gerado pela indústria da construção civil é algo bastante
significativo e BARRETO et al (2001) aponta alguns desses impactos como os que mais se
destacam e necessitam de cuidados:
Consumo de recursos naturais: O setor da construção é um dos maiores consumidores de
recursos naturais de qualquer economia e esse consumo varia de região para região,
dependendo da tecnologia empregada e do volume de construção, dentre outros fatores.
Estimativas da participação da construção civil no consumo global de recursos naturais, em
geral, variam entre 14% e 75%.
Geração de Resíduos: O setor gera resíduos de construção e demolição, chamados de
RCD ou entulho de obra. No Brasil a estimativa é de 230 a 760 kg por habitante por ano, e
em alguns países da Europa Chegam a 3.000 kg/hab/ano, representando massa igual ou
superior ao lixo domiciliar produzido. A deposição irregular de RCD tem efeitos consideráveis
na qualidade do ambiente.
Perdas e desperdícios: O consumo excessivo de materiais e recursos humanos é uma
característica da construção civil. Grande parte desse desperdício acaba virando RCD.
Consumo de energia: Se considerar a energia gasta com a produção de materiais para
construção, mais o seu transporte, em conjunto com a própria construção, pode-se
considerar que o setor consome uma quantidade de energia bastante razoável. No entanto é
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necessário que se tenha atenção também à fase de uso das edificações, visto que estas
depois de prontas consomem ainda mais energia que a sua produção.
Poluição ambiental: Além da poluição sonora, o setor da construção civil é um grande
poluidor do ar por material particulado respirável gerado não em obras, mas também na
extração e moagem de matérias-primas.
Outros impactos: Além dos impactos antes citados, o setor da construção civil também
contribui com a poluição do ar em interiores, pois produtos são liberados pelos materiais e
equipamentos utilizados nas obras. Também contribui com a destruição da flora, fauna e da
paisagem através da extração de matéria-prima. Outro impacto gerado por esse setor é a
modificação do ambiente natural que acompanha qualquer construção.
DOERR (2005) chama atenção para alguns resultados dos impactos ambientais em
função da produção de edifícios, sendo eles:
- Mudança do clima do globo terrestre – resultado do aumento de poluição na atmosfera;
- Redução dos recursos naturais não-renováveis e a crescente agressão por parte da
sua extração e uso;
- Destruição do habitat natural e perda da biodiversidade – a ação do homem na
transformação de terrenos “virgens”, combinada com a extração de seus recursos naturais.
A fim de minimizar esses impactos ambientais e seus resultados totais relacionados
a edificações, WILSON e MALIN (1995), apud SPERB (2000, p.15) apresentam uma lista
com dez diretrizes básicas, que são as seguintes:
o projeto e a construção de edificações devem ser energeticamente eficientes;
os prédios já existentes devem ser aproveitados;
os projetos de comunidades devem exigir uma menor dependência de veículos
automotores
2
;
o uso de materiais de construção deve se dar de forma eficiente;
o ecossistema e a biodiversidade local devem ser preservados;
devem ser selecionados materiais de construção com baixo impacto ambiental;
a durabilidade e adaptabilidade da edificação devem ser maximizadas;
2
Para este item ser atendido é preciso considerar a presença de transporte coletivo no local.
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o consumo de água deve se dar de forma eficiente;
deve-se criar ambientes internos seguros e confortáveis;
os entulhos gerados devem ser minimizados.
Respeitando essas diretrizes, as chances de se obter produtos da construção civil
com baixo impacto ambiental são maximizadas. No entanto, é preciso que se conheçam
formas adequadas para essa prática e que se conheçam os reais impactos causados por
cada ação tomada no setor.
A fim de que se conhecer esses impactos, existem algumas metodologias de análise
ambiental de edifícios que avaliam a edificação em todo o seu ciclo de vida de forma a
conhecer seus impactos e dar diretrizes para melhores práticas.
1.5. Sistemas de análise ambiental de edifícios
Com a crise energética mundial, ocorrida na década de 70, vieram a tona problemas
relacionados aos impactos ambientais que acabaram desencadeando em diversas iniciativas
focadas na avaliação da eficiência energética de edifícios e, a partir daí, métodos e
indicadores para avaliação dos edifícios, no que diz respeito a sustentabilidade, passaram a
ser desenvolvidos.
No entanto ainda muito que evoluir nesse sentido. A maioria dos sistemas
existentes é voltada para o resultado de desempenho do produto final, no caso o edifício, e
no aspecto ambiental da sustentabilidade, como levantado por CARDOSO et al (2004). Para
que essa avaliação fosse eficiente, no que diz respeito à constatação de que um edifício é,
realmente, sustentável, seria necessário que os aspectos sociais e econômicos também
fossem abordados por esses sistemas, além de se avaliar não o edifício produto final
e sim seu processo como um todo. Mas, como as questões ambientais são as mais
aparentes e mais “simples” de serem analisadas através da avaliação de edifícios, são elas
as que vem sendo mais aprofundadas por esses sistemas.
Avaliação ambiental é definida por WBCSD (1996, p.6) como um processo
sistemático que fornece uma estrutura para reunião e documentação de informações e
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opiniões a respeito das conseqüências ambientais das atividades, avaliando seus efeitos e
providenciando recomendações e planos de ações”.
A base para o desenvolvimento de métodos de avaliação ambiental de edifícios nos
EUA e na Europa surge a partir do conceito de análise do ciclo de vida de edificações.
Esses métodos de avaliação têm como objetivo em comum encorajar a demanda do
mercado por veis superiores de desempenho ambiental, diagnosticando eventuais
necessidades de intervenção no ambiente construído, assim como, orientando os projetistas
e sustentando a atribuição de selos ambientais para edifícios.
Os diversos métodos existentes têm suas particularidades, sendo diferentes entre si
por algumas razões como a variação das agendas ambientais entre um país e outro, as
diferenças de práticas construtivas e de projeto, as questões culturais e econômicas e a
receptividade do mercado de cada país.
Entre esses métodos existem aqueles com destaque no cenário mundial, sendo que
alguns deles são o LEED (Leadership in Energy and Environmental Design) desenvolvido
nos Estados Unidos, o HQE (Haute Qualité Environnementale) na França, o BREEAM
(Building Research Establishment Environmental Assessment) no Reino Unido e o
CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building Environmental Efficiency) no
Japão, dentre outros. Esses métodos podem ser melhor entendidos a seguir:
- HQE (Haute Qualité Environnementale): Este é um sistema fundado na França, e
conhecido como démarche HQE. Não possui a certificação como seu principal objetivo, e é
um dos poucos sistemas a integrar-se ao desenvolvimento sustentável nos aspectos
ambientais, sociais e econômicos. No entanto, a partir da necessidade de se garantir a
qualidade dos empreendimentos que começaram a surgir na França de acordo com as
premissas do HQE, surge a preocupação, no ano de 2002, em se desenvolver uma
metodologia de certificação, que se chamou ‘Opération HQE tertiare 2002’ , que vem sendo
experimentado em empreendimentos franceses com a finalidade de validar essa
metodologia de certificação (CARDOSO et al, 2004).
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-
O HQE é conceituado no relatório da ADEME
3
(2004) como sendo uma abordagem
de gerenciamento de projeto visando diminuir os impactos ambientais, da construção ou da
reabilitação de edifícios , levando em consideração, também, as condições de saúde e
conforto no interior da edificação. ZAMBRANO et al (2006) levantam que essa abordagem
se difere, ainda, das outras, já que recomenda o gerenciamento ambiental do projeto, de
forma a orientar a tomada de decisão em todas as fases do projeto, do planejamento à
manutenção.
Esse sistema francês se estrutura em 14 categorias que são conhecidas como alvos,
e visam a elevada qualidade ambiental do edifício e agrupam-se em dois domínios e quatro
famílias, sendo eles: (1) controle dos impactos sobre o ambiente exterior (Famílias: Eco-
construção e Eco-gestao); (2) criação de um ambiente interior satisfatório (Famílias: Conforto
e Saúde). Cada uma dessas famílias apresentam seu alvos, que formam o total geral dos 14
mencionados (Association HQE, 2006).
O funcionamento do sistema não se baseia num sistema de pontuação. Existe um
perfil ambiental que é definido pelo empreendedor, levando em consideração as
características do local onde o empreendimento será realizado, as exigências legais, os
objetivos ambientais do empreendedor, entre outros aspectos. Algumas categorias deste
perfil têm que ser privilegiadas entre os 14 alvos definidos do sistema, sendo que essas
serão as categorias que deverão ter melhor desempenho. Existem três níveis possíveis de
desempenho: Base, Performant e Très Performant. Sendo que pelo menos sete categorias
devem atender o nível Performant. Não existe uma escala de atribuição do certificado, o
empreendimento é ou não é ambientalmente correto, tendo que responder ao perfil
ambiental estabelecido.
- BREEAM (Building Research Establishment Environmental Assessment): é um dos
primeiros e mais conhecidos sistemas da avaliação de desempenho ambiental, desenvolvido
no Reino Unido e lançado em 1990 (SILVA, 2001). Destina-se a atribuir certificação de
desempenho aplicado ao marketing do edifício e pode ser aplicado tanto na fase de projeto
como durante a utilização ou reformas de edificações comerciais. SILVA (2003, p.39), coloca
que o BREEAM é um dos sistemas de melhor aceitação internacional e sua popularidade
deve-se a abordagem de desempenho de referência (benchmark); cobertura abrangente de
aspectos relacionados à energia, impactos ambientais, saúde e produtividade; e
3
Agence de l’Environnement et de la Maîtrise de l’Energie
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identificação de oportunidades realistas para melhoria, assim como potenciais vantagens
financeiras adicionais”. A avaliação dos edifícios se dá por avaliadores com base em critérios
e benchmarks, para varias tipologias de edifícios, e os mesmos são avaliados de forma
global.
- CASBEE (Comprehensive Assessment System for Building Environmental
Efficiency): Esse é o sistema de avaliação ambiental de edifícios mais recentemente
lançado, no ano de 2002, pelo Japão. É constituído por quatro ferramentas de avaliação que
vão avaliar o projeto ou edifício existente em estágios específicos do seu ciclo de vida.
SILVA (2003), coloca que o CASBEE é caracterizado pela definição de limites do edifício e
pelo levantamento e balanceamento entre impactos positivos e negativos gerados ao longo
do ciclo de vida. É uma metodologia de que traz resultados bastante sólidos, no entanto, é
de difícil compreensão e aplicação.
- LEED (Leadership in Energy and Environmental Design): este será o método a ser
analisado neste trabalho, e por isso, sua estrutura será desenvolvida mais detalhadamente,
no subitem 1.5.1 adiante. A escolha desse método se deu por esse possuir uma estrutura
simplificada e de fácil entendimento, além de ser um dos mais “amigáveis” como ferramenta
auxílio de projeto, o que segundo SILVA (2001) facilita sua incorporação à prática
profissional.
1.5.1. LEED - Leadership in Energy and Environmental Design
O LEED Green Building Rating System é um sistema norte-americano de avaliação
e classificação de desempenho ambiental de edifícios, que segundo a U.S. GREEN
BUILDING COUNCIL (2006b), é utilizado tanto como uma ferramenta auxílio de projeto,
como uma ferramenta de certificação ambiental. É um sistema voluntário baseado nos
padrões nacionais americanos para o desenvolvimento de edifícios sustentáveis e de alta
performance.
A U.S. Green Building Council USGBC, fundada em 1991, é uma aliança
constituída por líderes da indústria da construção, educadores e agentes governamentais
com o intuito de produzir edifícios com responsabilidade ambiental, e saudáveis para se
morar e trabalhar. É um dos líderes da idéia de se produzir uma nova geração de edifícios
com alta performance tanto no seu interior como no exterior. Os membros do conselho são
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
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os responsáveis pelo desenvolvimento do LEED, que foi uma das primeiras ações do grupo,
suas políticas, além de ferramentas educacionais e de marketing que dêem suporte para o
aprendizado sobre questões sustentáveis, para arquitetos, construtores, empreendedores,
clientes e a todos que interessar. (USGBC, 2006b).
Os padrões LEED, que são desenvolvidos e refinados pelos membros do USGBC,
incluem sistemas específicos para diversos aspectos do edifício, dependendo das suas
características e finalidades. Para construções de edifícios comerciais, institucionais e
governamentais tem-se o LEED-NC New commercial construction and major renovation
projects; para operações em edifícios existentes tem-se o LEED-EB Existing building
operations; para projetos comerciais de interiores o LEED-CI Commercial interiors projects
deve ser utilizado; o LEED-CS Core and Shell projects é destinado a projetos que tratem
do fechamento externo do edifício e seu conteúdo; para residências deve-se aplicar o LEED-
H Homes; para o desenvolvimento da vizinhança tem-se o LEED-ND Neighborhood
development e, para finalizar, existe o LEED Application Guides, que trata de áreas com
vários edificios, campi, escolas, laboratórios, ambientes de saúde, dentre outros.
O sistema mais comumente utilizado e o pioneiro dos sistemas LEED é o LEED-NC.
Esse sistema teve sua primeira versão piloto testada em 1998, tendo os primeiros 12
projetos certificados, na versão 1.0. Já em 2000 foi lançada ao público a versão 2.0 baseada
em modificações feitas durante esse primeiro período. Em 2002, acrescentando melhorias, é
lançada versão 2.1, e a última atualização se deu em novembro de 2005, sendo esta a que
está em vigor - o LEED versão 2.2.
Esse é um sistema criado para ser utilizado durante as fases de projeto e construção
do edifício. Sendo voltado para questões dos impactos ambientais gerados pela seleção do
terreno e dos materiais do edifício, sua construção e demolição. E serve como instrumento
facilitador e encorajador às equipes de projeto para que alcancem um projeto integrado
4
do
começo ao fim do processo, resultando em edifícios com baixo impacto aos seus usuários e
ao meio ambiente e em um impacto econômico positivo aos seus proprietários.
Muitas empresas e indivíduos relacionados com a industria da construção civil já
entendem que a certificação LEED agrega valor a seus projetos e vêm adaptando seu modo
4
Aplicação de questões de sustentabilidade ao processo de projeto. Este conceito será aprofundado no
capítulo 2 a seguir.
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
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de trabalho, serviços e produtos para ajudar na obtenção do certificado. No entanto, essa
ainda não é uma prática comum às empresas brasileiras.
Algo constantemente questionado é o custo de se obter uma certificação e de se
fazer mudanças para atender a essas exigências ambientais. Mas como colocado por
USGBC (2006a), estudos recentes mostram que a certificação LEED pode ser obtida com
custo mínimo ou quase zero, se comparado com edifícios tradicionais, sem preocupação
ambiental.
A criação do sistema LEED foi destinada para aplicação no território dos Estados
Unidos sendo, portanto baseado no cumprimento de normas e padrões estabelecidos por
diferentes entidades daquele país, tanto no âmbito público como no privado
(VOSGUERITCHIAN et al, 2005). O sistema se tornou padrão para avaliar a qualidade
ambiental de edifícios na América do Norte e vem atraindo muitos seguidores pelo mundo
(MENDLER, 2005). Seu sucesso se deve a sua transparência e facilidade de uso.
O LEED, conforme afirmado por SILVA et al, (2003b) possui a singularidade de ser
um documento consensual, por ter sido aprovada e ter o apoio de diversas associações e
fabricantes de materiais e produtos da indústria da construção. Isso favoreceu para sua
ampla disseminação nos EUA, se estendendo também ao Canadá. Essa afirmação mostra
que o LEED teve, em sua formação, a contribuição e participação de diversas categorias da
indústria da construção civil. No entanto, fica a dúvida em torno da questão de se essas
categorias deram essa aprovação de forma espontânea ou sob a pressão, que era sabido,
que receberia dessa indústria. Mesmo assim, independente dos motivos que levaram a esse
consenso, o esforço é válido, uma vez que, quanto mais integrantes dessa indústria se
unirem em prol de um objetivo em comum, maiores as chances de se obter sucesso nessa
prática.
Nesse sistema o desempenho ambiental do edifício é avaliado de forma global, ao
longo de todo o seu ciclo de vida, a fim de considerar princípios essenciais para a obtenção
de um Green Building. (SILVA, 2003)
O LEED foi criado com a intenção de atingir os seguintes objetivos: (USGBC, 2006b)
definir “green building” estabelecendo um padrão comum de medição.
promover práticas de projeto integradas para todo o edifício.
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
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reconhecer liderança ambiental na indústria da construção de edifícios.
estimular a competição sustentável.
aumentar a atenção do consumidor em relação às vantagens do edifício sustentável
fazer uma transformação no mercado imobiliário.
A missão do LEED é encorajar e acelerar a prática global da sustentabilidade e de
“Green Buildings”, através da criação e implementação do entendimento e aceitação
universal das normas, ferramentas e critérios de avaliação. (USGBC, 2006a).
1.5.1.1. Características do método
5
A verificação de adequação às exigências LEED é avaliada através de um checklist
padronizado, divido por áreas. Cada uma destas áreas é subdividida em itens e cada um
destes deve ser avaliado individualmente. A cada item avaliado são atribuídos pontos que,
somados, devem atingir patamares pré-determinados para obtenção da certificação em
diferentes graus. Quanto maior o cumprimento dos requisitos maior o número de pontos
atingidos, o que resulta em um selo de maior valor. São quatro os padrões a serem
atingidos, descritos a seguir de forma crescente em relação a seu valor: o certified”, o
silver”, o gold e o platinum”. É importante ressaltar que alguns destes itens são pré-
requisitos e, não estando estes de acordo com as normas estabelecidas, poderá ser
impossibilitado o prosseguimento da avaliação e da certificação (VOSGUERITCHIAN et al ,
2005).
A nota obtida no LEED é global sendo que a pontuação deve atingir o mínimo de
38% do total dos pontos possíveis, obtendo assim a classificação mínima Certificado. Para
alcançar a certificação Prata, deve-se ter nota de até 48% do total; a Ouro deve ser acima
de 57% e a Platina, acima de 75%.
Esse sistema de avaliação é baseado numa serie de pré-requisitos e créditos, com
um total de 69 pontos. A equipe de projeto deve ter em mente que para se obter a
certificação mínima, todos os pré-requisitos devem ser atendidos para que se obtenha o total
de 26 pontos mínimos para se obter a classificação certificado. Os pontos necessários para
cada nível de certificação estão mostrados no quadro 1 a seguir.
5
Uma vez que o sistema LEED-NC é o pioneiro e o mais utilizado dos sistemas LEED, e por ser o que é
composto por aspectos mais abrangentes, ele será a base do estudo das características do LEED.
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
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Quadro 1 – Níveis da certificação LEED.
Pontos Níveis de Certificação
26-32 Certificado
33-38 Prata
39-51 Ouro
52-69 Platina
Cada requisito atendido é revertido em pontos, sendo que cada requisito tem sua
pontuação própria dependendo da sua importância. Essa relação pontos-requisitos será
apresentada neste trabalho no item 1.5.1.2 – Requisitos do sistema.
Os aspectos avaliados no LEED têm peso idêntico e a sua estrutura permite que se
escolha os quesitos a serem avaliados para obter a certificação. Um dos motivos disso é o
fato de esse método ter sido projetado também para funcionar como uma ferramenta de
auxílio à tomada de decisão.
O LEED está estruturado para promover melhores práticas e avaliar os seguintes
aspectos: seleção do terreno, eficiência da água e energia, seleção dos materiais de
construção e acabamentos, gestão dos resíduos, qualidade do ambiente interno e inovações
em projeto e construção sustentável.
Segundo SILVA (2003) O LEED pode ser considerado o sistema disponível mais
“amigável” enquanto ferramenta de projeto, facilitando a sua utilização por parte dos
profissionais. No entanto, algumas vezes o resultado de uma avaliação, feita através deste
método, pode ser incompleto e não necessariamente vai refletir o desempenho global do
edifício por sua estrutura ser bastante simplificada. Porém, para este trabalho o que
interessará serão os requisitos que o método coloca e que servirão de auxílio às decisões de
projeto e que darão subsídios para a avaliação de alguns elementos da edificação.
1.5.1.2. Requisitos do sistema
Conforme apresentado pelo USGBC (2005), no próprio documento LEED que é a
fonte das informações disponíveis a seguir o sistema LEED é dividido em 6 áreas, sendo
Fonte: USGBC, 2005.
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
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que cada uma dessas áreas possui seus pré-requisitos específicos, que devem,
obrigatoriamente, ser atendidos, além dos créditos, que são requisitos voluntários - e cada
um desses tem um valor que é contabilizado quando atendido. Essas áreas são Terreno
Sustentável, Eficiência da água, Eficiência Energética e Atmosfera, Materiais e Recursos,
Qualidade do Ambiente Interno e Inovações de Projeto.
Tabela 1Objetivos e pontuação máxima de cada área do LEED.
Terreno Sustentável
Objetivos
Pontuação máxima:
14 pontos
- Utilizar somente terrenos apropriados
- Reutilizar edifícios já existentes e/ou terrenos já utilizados
- Proteger áreas naturais e de agricultura
- Reduzir a necessidade de utilização de automóveis
- Proteger e/ou restaurar terrenos naturais
Eficiência da Água
Objetivos
Pontuação máxima: 5
pontos
- Reduzir a quantidade de água necessária ao edifício
- Reduzir a utilização da água fornecida pelo município e a necessidade de tratamento
Energia e Atmosfera
Objetivos
Pontuação máxima:
17 pontos
- Estabelecer eficiência energética e sistemas de performance
- Otimizar a eficiência energética
- Estimular o uso de energia renovável e a criação de fontes de energia alternativas
- Manter o protocolo quanto a proteção da camada de ozônio
Materiais e Recursos Naturais
Objetivos
Pontuação máxima:
13 pontos
- Utilizar materiais de baixo impacto ambiental
- Reduzir e desenvolver um programa de gestão de resíduos
- Reduzir a quantidade de material a ser utilizado
Qualidade do Ambiente Interno
Objetivos
Pontuação máxima:
15 pontos
- Estabelecer a qualidade do ar interno
- Eliminar, reduzir e administrar as fontes de poluição do ar interno
- Garantir o conforto térmico e sistemas de controle
- Fornecer ao usuário a possibilidade de contato com o ambiente externo
Inovação de Projeto
Objetivos
Pontuação máxima: a
partir de 5 pontos
adicionais
- Obter performance excepcional em qualquer um dos créditos LEED obtidos
- Aplicar inovações ao edifício no ramo de green building, mesmo que não solicitados nos créditos
LEED
Fonte: USGBC, 2005. Traduzido pela autora
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
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Cada uma dessas 6 áreas tem seus objetivos próprios, que devem ser atingidos com
o cumprimento de seus créditos. E cada crédito tem especificado suas próprias intenções,
requerimentos, documentações exigidas, ações que devem ser tomadas, sugestões para
seu melhor cumprimento, e sua pontuação individual. No geral cada área tem uma
pontuação máxima que pode ser alcançada, assim como seus objetivos gerais, como
exposto na tabela 1.
1.5.1.3. Aplicabilidade do LEED no Brasil
Algumas dificuldades são encontradas ao se tentar aplicar os sistemas de avaliação
ambiental ao contexto brasileiro, devido à grande diferença de cultura entre os diferentes
países de onde eles são oriundos. Não é possível copiar, traduzir ou simplesmente aplicar
um método estrangeiro no contexto brasileiro ou em qualquer outro país, pois mesmo a
ferramenta mais flexível apresenta dificuldades práticas para emprego no Brasil (FOSSATI,
2005).
É evidente que diversas são as diferenças entre os países diferença de clima, solo,
vegetação, cultura, economia, dentre outros aspectos sendo que para se pensar
sustentabilidade, deve-se levar em consideração essas características próprias locais. Não
se pode simplesmente importar” legislações e exigências de outros países com
características diferentes, pois certamente essas não serão aplicáveis.
O U.S. Green Building Council (USGBC) reconhece a importância de se considerar
as condições locais para a promoção da sustentabilidade local e da necessidade de o LEED
ser flexível para conseguir atender a essas condições. Adaptações no sistema para que este
possa ser aplicado em outros países são previstas, mas precisam ser feitas com cautela.
Diversas são as exigências e recomendações feitas para se aprovar as adaptações para
aplicação do LEED em outro país. Primeiramente, é necessário que uma organização - que
deve ser um conselho que trate de questões de green buildings , no país em que será feita a
adaptação, seja licenciada pela USGBC. Essa organização vai ser responsável por adaptar
os padrões do LEED, considerando o clima local, as suas características, os códigos, as
legislações, e as práticas locais, promovendo e implementando os padrões adequados ao
país e por manter esses padrões rigorosamente atualizados. Além disso, será responsável
também por fazer o registro de projetos, dar suporte ao cliente fornecendo os materiais e
Desenvolvimento Sustentável e a Construção Civil Capítulo 1
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as informações necessárias, dar treinamentos, avaliar e certificar projetos e fornecer os
certificados e placas aos edifícios.
As regras para se fazer adaptações ao LEED são bastante rigorosas, mas no caso de
se adaptar para utilização em outros países, é reconhecida a necessidade de se ter uma
maior flexibilidade e permissão para mudanças, no entanto essas adaptações devem ser
feitas de forma a manter o padrão dos principais elementos que caracterizam o LEED. Sua
estrutura precisa ser mantida, assim como sua pontuação e os níveis de certificação.
O que o USGBC (2006a) pretende é que, com o passar do tempo, os países vão se
tornando cada vez mais integrados, aprendendo uns com os outros, de forma que os
métodos criados e as práticas sejam comuns a todos, na medida do possível e as
adaptações feitas em cada país possam fazer parte da lista de produtos LEED. No entanto,
essa é uma questão que deve ser analisada, uma vez que cada país apresenta suas
próprias características e não seria adequado que os métodos e as práticas fossem comuns
a todos os países, até porque isso parece ser inviável. O que é viável e interessante, é que
experiências sejam trocadas entre países, e que se busque alguns aprendizados que
possam ser aplicados em comum.
É verdade que, para fins de certificação, ainda é preciso evoluir, no sentido de
realizar diversas adaptações à realidade local, para que ele possa ser utilizado com sucesso.
Porém, essas adaptações não parecem ser tão difíceis de ser realizadas, se forem
desenvolvidas através de órgãos competentes para tal. As principais mudanças necessárias
são aquelas referentes às legislações ambientais locais.
Todas essas exigências feitas pela USGBC não eliminam a possibilidade de se usar,
enquanto essas adaptações não são criadas e aprovadas no Brasil, o sistema LEED como
ferramenta de auxílio ao projeto e como lista de verificação para projetos de edifícios
sustentáveis no Brasil. Deve-se tirar proveito da disponibilidade desse sistema, mesmo que
não seja para fins de certificação.
Novamente atenta-se que, para este trabalho, o LEED está sendo avaliado,
principalmente, sob o aspecto de sua aplicabilidade como ferramenta auxílio de projeto. E
para este fim, ele se apresenta bastante viável, principalmente considerando a ausência de
um método brasileiro disponível.
CAPÍTULO 02
Projeto do edifício e Sustentabilidade
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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É necessário que se haja uma maior base de dados com informações que auxiliem
nas decisões para um projeto sustentável, de forma a se entender mais profundamente os
impactos que os edifícios que estão sendo projetados geram ao meio ambiente, para que se
possa perceber onde estão as oportunidades de desenvolvimento nesse sentido (MENDLER
et al 2005). Os autores mencionam ainda que, para o projeto de edifícios se desenvolver
satisfatoriamente e obter um resultado de sucesso, precisa que o processo seja mais
inclusivo e rigoroso com suas soluções, de forma que elas estejam integradas com as
questões de sustentabilidade.
O projeto, em termos gerais, pode ser definido como sendo um conjunto de
atividades planejadas para serem executadas, a fim de alcançar determinados objetivos
dentro de um escopo definido, em um prazo de tempo limitado e levando em consideração
os recursos disponíveis (PFEIFFER, 2005).
Antes de qualquer atividade de projeto ser realizada, PFEIFFER (2005) menciona
que é preciso que as responsabilidades sejam definidas para que cada agente do projeto
conheça suas funções. Os objetivos devem ser muito bem definidos e claros, para que
possam orientar as atividades do projeto. Seu escopo precisa estar claro para não correr o
risco de ultrapassar seus limites, seja na capacidade da empresa, na quantidade de
recursos, ou na complexidade do empreendimento. O projeto é uma atividade que tem início
e fim definidos e para que seus prazos sejam cumpridos, é fundamental que seja feito um
planejamento, de forma realista, e que este seja cumprido. Para a realização desse
planejamento, é preciso que os recursos disponíveis sejam conhecidos e isso inclui não
apenas os recursos financeiros, mas também os recursos humanos e as ferramentas
disponíveis.
O desenvolvimento de um projeto de empreendimento é algo bastante complexo,
composto por uma série de processos compartilhados entre as empresas e os profissionais
que definem o produto-edificio, planejam e executam a obra e as empresas e os
profissionais que desenvolvem todas as especialidades de projeto
6
. E para que esse projeto
seja coordenado, gerenciado e mantenha uma interação com o planejamento e execução da
6
Os projetos de especialidades do produto são todos os projetos necessários para o desenvolvimento
completo do edifício, como projeto de fundações, projeto de estrutura, projeto hidrosanitário, projeto elétrico,
dentre vários outros.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 32 -
obra, é fundamental que sejam aplicados mecanismos de gestão da qualidade ao processo
global de concepção do produto-edificio.
O CTE Centro de Tecnologia em Edificações (1994, apud CTE, 2001, p.1)
conceitua processo como sendo “um conjunto de atividades pré-determinadas desenvolvidas
para gerar produtos/serviços que atendam às necessidades dos clientes”. E coloca ainda
que o objetivo desse processo é a obtenção de produtos muito bem definidos, com a
característica de transformar um ou mais insumos, recebidos de fornecedores interno e/ou
externos, em produtos a serem entregues a um ou mais clientes, sejam eles internos ou
externos
7
.
Esse processo de planejamento e concepção do edifício, é de extrema importância
para a qualidade final do empreendimento. Seja nos aspectos de atendimento das
necessidades dos clientes, adequação às questões técnicas, ou nas questões de
sustentabilidade, dentre outros. A aplicação de questões de sustentabilidade no
empreendimento, deve acontecer em todas as suas fases do projeto à sua utilização,
sendo que as principais decisões, nesse sentido, devem ser tomadas na fase de
planejamento e projeto, uma vez que, segundo SPERB (2000) essas fases são de extrema
relevância para a obtenção de um empreendimento sustentável.
Neste trabalho serão tratados os aspectos ligados ao Projeto do Empreendimento
(Project)
8
, com destaque para as decisões tomadas no Projeto do Edifício (Design)
9
, uma
vez que pretende-se abordar as decisões que devem ser tomadas no projeto arquitetônico.
2.1. Aspectos da Qualidade do Projeto do Edifício
O projeto está ligado a todas as demais atividades do processo de produção do
edifício, e tendo todas essas atividades participação efetiva na determinação da qualidade
do edifício, e também ambiental, fica ainda mais claro o quanto essa etapa de projeto é
fundamental e decisiva para o sucesso do empreendimento como um todo, no que diz
7
Clientes externos são os usuários finais, aqueles a quem o edifício está destinado. Os clientes internos
são os agentes do processo – os contratantes e os parceiros de projeto.
8
Project é o termo usado em inglês para definir Projeto de empreendimento.
9
Design é o termo em inglês que ser refere ao projeto do edifício, projeto arquitetônico.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 33 -
respeito a sua qualidade para com seus usuários, e também nos aspectos técnicos e
ambientais.
MESEGUER (1991, p.89) conceitua a palavra qualidade como sendo um “conjunto de
funções do bem construído que são necessárias para satisfazer as necessidades do
usuário”, sendo que essas funções se descrevem através de requisitos, sendo os mais
importantes na construção, os requisitos de segurança, habitabilidade, durabilidade, estética
e ambiental – que é o novo requisito que deve ser pensado nos projetos atuais.
Com isso, fica claro que além do atendimento às necessidades dos clientes externos
e internos, existem outros aspectos que influenciam na qualidade do projeto e o CTE (2001.
p. 41) aponta que esses aspectos estão relacionados com: a concepção de projeto; a sua
apresentação; o processo de desenvolvimento do projeto e a solução dada.
Com isso, para se atingir a qualidade do projeto arquitetônico, é preciso que sejam
atingidas, respectivamente, a Qualidade do empreendimento, a Qualidade na representação
gráfica, a Qualidade do processo de projeto e a Qualidade da solução proposta.
A Qualidade do empreendimento é vista como a qualidade na concepção de projeto e
deve ser atingida por meio de procedimentos que deverão ser estabelecidos pelo sistema de
gestão, sendo estes os fluxos de atividades, a identificação dos agentes atuantes, a
identificação das variáveis de uso que caracterizam a ação dos agentes e a metodologia de
desempenho que caracteriza as exigências dos usuários e os requisitos de desempenho
(CTE, 2001).
São apresentadas por FABRÍCIO (2002) algumas ações que devem ser tomadas no
intuito de atingir essa qualidade do empreendimento. São necessárias que sejam realizadas,
antes de tudo, pesquisas de mercado para que se saiba como aquele empreendimento será
recebido no mercado e suas condicionantes. É preciso que sejam identificadas também, e a
fundo, as necessidades dos clientes e essas devem ser analisadas através de métodos
adequados de pesquisas utilizadas pelas áreas de marketing, pouco comuns ao processo de
produção de edificações, mas muito eficazes em outras indústrias, procurando conhecer a
fundo as necessidades dos clientes. O processo de seleção e incorporação de terrenos é um
ponto de fundamental importância para a qualidade do empreendimento e esse processo
envolve a caracterização do entorno urbano; o levantamento da legislação construtiva e
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 34 -
ambiental referente à área, a fim de tomar conhecimento do que pode ser feito na área e
como isso deve ser feito; o levantamento topográfico e as sondagens do terreno, de forma a
conhecer as suas características. Outra ação necessária é o equacionamento econômico,
financeiro e comercial do empreendimento, para se saber exatamente o quanto se tem de
recursos disponíveis para sua realização e o que deseja alcançar. Um último ponto muito
importante é que as especificações do programa devem ser coerentes, claras e exeqüíveis.
A partir da tradução desses elementos nas características gerais a serem atendidas no
produto, tem-se a qualidade da concepção de projeto.
A qualidade global do projeto depende, de certa forma, da qualidade da sua
representação, já que es relacionado à adequação da documentação às características
dos processos nos quais os documentos serão utilizados, permitindo que as decisões
relativas às características do produto sejam tomadas nas instâncias responsáveis pela
elaboração do projeto profissionais de projeto dentro de processos de tomada de decisão
– eliminando-se a ocorrência de decisões improvisadas em canteiro de obras (CTE, 2001).
A produtividade também vem a depender dessa qualidade da apresentação do
projeto, pois é através da interpretação e das relações de interface de um projeto que são
definidas as formas que as atividades se desenvolverão no canteiro de obras e a
possibilidade de ocorrência de perdas de materiais e erros de execução, o que vem a definir
também a qualidade final do serviço executado.
A Qualidade do Processo do Projeto será garantida através de ações exigidas na
Gestão do Processo do Projeto. Essas ações, que visam garantir a qualidade do produto
final, englobam do planejamento prévio das atividades até a aprovação final do cliente,
sendo que, durante o processo, todas as atividades devem ser, efetivamente, gerenciadas,
de forma a garantir a eficácia e a diminuição da ocorrência de erros no processo.
Já a Qualidade da Solução Proposta refere-se a um conjunto de soluções que
englobam, segundo CTE (2001), a solução espacial e funcional, onde se deve considerar os
valores sócio-culturais e de desempenho técnico e econômico; a solução estética e
simbólica, que está ligada ao ato criativo e aos valores culturais do ambiente em que a
edificação está inserida; as especificações técnicas, levando em consideração o
comportamento da edificação e seu ciclo de vida e seus custos iniciais e ao longo de sua
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 35 -
utilização, e por fim, as relações estabelecidas entre o projeto e as atividades de produção,
que determinam a produtividade e custos de execução.
Dentro deste enfoque, cabe portanto destacar a construtibilidade, que deve ser
considerada através da integração e coerência entre os diversos projetos das
especialidades, da racionalização da construção e da padronização de materiais e serviços.
É muito importante estabelecer a integração entre o projeto e produção. Para se obter
construtibilidade é fundamental que as dificuldades sejam resolvidas antes do inicio da obra,
já na fase de projeto.
Outro aspecto que deve ter atenção especial é o atendimento às exigências de
economia, levando em consideração os custos de execução, operação, manutenção e
demolição, de forma a ter os menores gastos possíveis.
No entanto, no momento atual, um dos aspectos que passa a ser determinante na
avaliação da qualidade de um projeto, é a questão da sustentabilidade, levando em
consideração questões ambientais, a fim de reduzir ao máximo os possíveis impactos
ambientais que o edifício venha a causar.
Tendo a busca pela qualidade ambiental de um edifício que se dar desde a fase de
concepção de um empreendimento, este torna-se mais um parâmetro para avaliação dessa
fase, passando pela qualidade da solução, quando conceitos ligados à gestão de recursos,
escolha de materiais, eficiência energética, entre outros, passam, obrigatoriamente, a ser
considerados.
Para as soluções de projeto apresentadas, deve-se fazer uma análise crítica, tendo
como critérios de avaliação: as questões ligadas ao impacto ambiental da solução proposta,
dos materiais utilizados, a geração de resíduos provenientes do processo de construção,
dispositivos de redução do consumo de energia e água incorporados ao edifício, entre outras
questões.
Pode-se perceber que todos os aspectos que influenciam na qualidade do projeto
possuem alguma relação com aspectos ambientais da sustentabilidade do edifício, que
consideram desde a seleção do terreno até o desperdício de materiais de construção, dentre
várias outras questões que influenciam nessa sustentabilidade.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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JOBIM (2002) confirma que os aspectos relacionados à sustentabilidade passam a
ser diretamente relacionados à qualidade dos processos, materiais e componentes. A partir
dessa nova realidade, passa-se a ter que construir considerando aspectos da qualidade no
seu conceito mais amplo de desempenho, economia, durabilidade e sustentabilidade, entre
outros. A autora afirma, ainda, que para isso o conhecimento do processo de produção, e a
abrangência das especificações são determinantes e fundamentais.
Assim, a questão da sustentabilidade, levando em consideração os requisitos
ambientais, é um dos aspectos que influencia na qualidade do edifício e, por isso, é preciso
que esses cuidados, acima citados, sejam levados em consideração, de forma que ao se
preocupar, desde a fase de projeto com a sustentabilidade do edifício, dos materiais que
nele serão aplicados e da relação dos mesmos com o meio ambiente, pode-se diminuir
muito seus impactos e garantir uma arquitetura com alto grau de qualidade.
2.2. Ações em relação ao projeto de edifício sustentável
10
é possível verificar algumas atitudes em busca de melhorias no desempenho
ambiental de edifícios, no setor de projetos de arquitetura. Alguns movimentos, por parte de
projetistas, e pesquisas referentes a esse assunto vêm sendo desenvolvidos.
Uma demonstração da preocupação com questões de sustentabilidade aplicadas ao
projeto de arquitetura é dada pelo escritório Doerr Architecture, dirigido por Thomas Doerr.
Esse é um escritório de arquitetura norte-americano, com sede em Colorado, que aplica a
seus projetos aspectos que garantam ao máximo a sustentabilidade dos edifícios.
Compromissado com o desenvolvimento de projetos que minimizem seus impactos no
ambiente natural, o escritório Doerr Architecture tem como filosofia a busca constante de
estratégias e tecnologias que possibilitem a produção de projetos cada vez mais
sustentáveis, além de trabalhar junto aos proprietários e gerentes do projeto a fim de
levantar e balancear fatores do empreendimento que possam minimizar o impacto ao
ambiente e que possam trazer benefícios ao empreendedor. Essa filosofia serve de base
aos projetos oferecidos por Doerr - as EcoHomes - que podem ser definidas como sendo
casas ecológicas e economicamente responsáveis, mais saudáveis à família e ao planeta,
10
Levando em consideração as questões ambientais.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 37 -
que se propõe a não desperdiçar recursos naturais, não poluir e desgastar o meio ambiente,
além de proporcionar grande economia, na fase de uso, ao seu proprietário (Doerr
Achitecture, 2006).
Consciente de que a questão ambiental deve ser levada em consideração desde o
momento do projeto do edifício, o escritório Doerr Architecture lembra que os impactos
causados nos sistemas naturais pelo desenvolvimento humano crescem a cada dia. Leva
em consideração que tendo disponíveis as diretrizes para o desenvolvimento de um projeto
sustentável, que ainda ajuda a reduzir o desperdício e os custos da obra para seus
proprietários e gerentes, parece absurdo não usá-los. Todo projeto de edifício,
inevitavelmente, vem a causar algum impacto no eco-sistema em que está inserido,
ocasionando, no mínimo, gastos de energia e de recursos naturais, fazendo com que o
“green building” perfeito seja praticamente impossível de ser alcançado. No entanto, todo
projeto de edifício apresenta a oportunidade de melhorar sua performance ambiental, se
seguir as normas e diretrizes que vêm sendo criadas em torno dessa questão. Visto isso, foi
criado por Doerr, uma lista de verificação com aspectos ambientais para residências
denominada Green Architecture Checklist: Residential Buildings (Anexo 1). Essa lista de
verificação deve ser aplicada para verificar se o seu projeto e/ou edifício estão cumprindo
com as recomendações para que ele seja ambientalmente sustentável, além de servir como
diretriz para o projeto. É dividida em 4 partes e trata dos seguintes aspectos (Doerr
Achitecture, 2006):
localização “verde” e uso do terreno: orienta para a escolha de áreas já
urbanizadas; para a implantação do edifício de forma a reduzir ao máximo os
impactos, etc.
Projeto do edifício “verde”: propõe a otimização do espaço interno;
eficiência no consumo energético; conforto ambiental; otimização no uso dos
materiais; captação de águas pluviais, etc.
Material “verde”: orienta na busca da utilização de materiais não agressores
ao meio ambiente.
Equipamentos “verde”: orienta o uso de equipamentos e dispositivos de alta
eficiência.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 38 -
Essa ferramenta é utilizada pelo escritório Doerr na fase de projeto, para que os
agentes do projeto, conheçam as ações que devem tomar e para direcionar a tomada de
decisão. Isso, além de servir como base para se analisar, em aspectos sustentáveis, um
edifício construído. Após a criação desse checklist voltado para o uso em projetos de
residências, o escritório Doerr fez uma adaptação deste também para projetos de edifícios
comerciais.
Outra empresa com esta preocupação em produzir edifícios com alta qualidade
ambiental é a HOK
11
(Hellmuth, Obata and Kassabaum), situada em St. Louis, nos Estados
Unidos. Essa é uma das empresas pioneiras no movimento pela sustentabilidade e,
reconhecida por sua dedicação e contribuições para o projeto sustentável, tem algumas
conquistas nesse aspecto. Dentre essas conquistas pode-se destacar nove projetos
certificados pelo LEED, três pelo BREEAM e 38 ainda buscando certificação. Também faz
parte da Top 10 Green Projects List
12
, por seis anos consecutivos. Além disso, a empresa
recebeu recentemente, em maio de 2006, o prêmio internacional “2006 Sustainable Design
Leadership Award”, concedido pela CoreNet Global
13
, pela International Interior Design
Association
14
, e pelo American Institute of Architects Committees on the Environment and
Interior Architecture
15
, na categoria de empresas de projeto. Seus projetos têm como
premissa a combinação das decisões de projeto com as questões ambientais de
sustentabilidade (HOK, 2006).
Questões de sustentabilidade ao serem inseridas no processo de projeto desde o seu
início podem ser trabalhadas de forma muito mais eficaz, e a possibilidade de se obter
projetos mais sustentáveis e satisfatórios ao cliente passa a ser muito maior. Essa inserção
de requisitos ambientais no processo de projeto do edifício é chamada, por HOK (2006), de
Processo de Projeto Integrado.
11
Constituída por mais de 1.600 profissionais, a empresa tem 22 filiais distribuídas pela América do Norte,
América Latina, Europa e Ásia.
12
A “Top 10 Green Project List” é uma lista que engloba os principais projetos com preocupações
ambientais, e são escolhidos pela AIA – American Institute of Architects.
13
CoreNet Global é uma associação que, dentre diversas atividades, desenvolve programas de
reconhecimento profissional, sendo que um desses programas é o The Sustainable Design Leadership Award
que é uma premiação para projetos sustentáveis destacados.
14
International Interior Design Association é uma Associação Internacional de Projeto de Interiores, que
juntamente com outras associações, destaca projetos sustentáveis de excelência.
15
American Institute of Architects Committees on the Environment and Interior Architecture é um comitê
de avaliação do ambiente e de arquitetura de interiores do Instituto Americano de Arquitetos (AIA).
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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Cabe ressaltar que o processo de projeto refere-se ao projeto do empreendimento
como um todo e engloba todas as decisões que devem ser tomadas em relação ao
empreendimento, seu projeto e construção. É constituído por diversas fases que vão desde
a seleção do terreno até a avaliação pós-ocupação.
podem ser encontradas algumas ações, nesse sentido, pelo mundo. O escritório
HOK aplica em sua estrutura de trabalho o Processo de Projeto Integrado baseado no
método LEED. Além dessa aplicação, outra que é bastante significativa, nesse sentido, é a
realizada na França pelo ADDENDA
16
empresa que presta assistência visando a
otimização energética e ambiental das construções, que possui um método de auxílio à
concepção arquitetônica, para a realização de projetos de edificações sustentáveis, que
integra as questões ambientais, colocadas pelo HQE, com os aspectos específicos de cada
fase do processo de concepção.
Devido ao método utilizado pelo escritório HOK, ser baseado no LEED, que é um dos
objetos de estudo deste trabalho, este foi o método escolhido para servir de exemplo, apesar
da conhecida eficiência do método ADDENDA.
O HOK trabalha com 10 pontos-chave, que são o “retrato” organizacional de uma
empresa de projeto integrado que visa a sustentabilidade de seus projetos. Esses “10
Pontos-Chave para o Processo de Projeto Integrado” estão ilustrados na figura 2.
A fim de realizar seus projetos da forma mais adequada possível, no que concerne à
edificação sustentável, o escritório HOK dispõe de diversas ferramentas que são utilizadas
durante o processo de projeto, servindo de auxilio às decisões de cada etapa. Essas
ferramentas consistem em listas de verificação, listas de diretrizes e listas-resumo das
exigências do LEED, elaboradas e adaptadas pelo próprio escritório
17
.
16
Informação obtida em
www.addenda.fr
17
essas ferramentas são disponibilizadas a todos que tenham interesse em acessá-las. Disponível no site
oficial do escritório HOK -
www.hok.com
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
___________________________________________________________________________
- 40 -
1
1
Definão do projeto:
O empreendedor, o cliente e a equipe de projeto devem juntos definir as questões de
sustentabilidade que serão aplicadas ao projeto. Essas definicoes devem ser documentadas
em forma de contrato e inseridas no planejamento do projeto.
2
10
PONTOS
- CHAVE
PARA O PROCESSO DE PROJETO INTEGRADO
Formação da Equipe de Projeto:
Os membros da equipe de projeto devem ser escolhidos de acordo com as experncias e
compromisso de cada um com o projeto sustentável.
1
3
Treinamento e Definição de Objetivos:
A equipe deve discutir questões de sustentabilidade e as condições de se adotar essas
questões ao projeto, considerando custos e o planejamento do projeto. Devem ser definidos
os objetivos gerais e as diretrizes a serem seguidas.
1
1
4
Avaliação do Terreno:
O terreno deve ser analisado para que sejam identificadas as restrições do local e as
condições favoveis à sustentabilidade. O microclima e macroclima local devem ser
avaliados a fim de conhecer a disposição solar e de ventilação e sua orientação. Deve ser
realizado um inventário das espécies animais e vegetais do local. O sistema de transporte do
local deve ser identificado, assim como os recursos culturais e históricos que devem ser
1
1
5
Análise da “Linha-Base”:
Estabelecer oamentos e comparar com benchmarks e com os objetivos para o projeto
sustenvel estabelecidos. Investigar as possibilidades de utilização de energia renovel e
incentivos financeiros e de descontos nos serviços públicos, por uso de eficiência energética,
água e renováveis.
1
1
6
Concepção do Projeto:
O processo de projeto deve ser integrado com estratégias para a sustentabilidade, levando
em consideração as exigências do empreendimento e o ecossistema regional.
1
1
7
Otimizão do Projeto:
As soluções dadas devem ser analisadas, testadas e avaliadas, a fim de escolher as com
maior potencial. A equipe de projeto deve se reunir para uma discussão multidisciplinar a fim
de entrar em sintonia no desenvolvimento e refinamento do edifício e do local.
1
1
8
Documentos e Especificações:
As necessidades e exigências de projeto devem ser documentadas. Os contratos e
especificações devem ser constantemente revistas e melhoradas de forma a garantir que os
objetivos para sustentabidade, incluindo os materiais, sistemas e outros requerimentos, eso
sendo cumpridos da melhor forma possível.
1
1
9
Compromisso e Construção:
A equipe de projeto, a construtora, o incorporador e o propreitário devem estar engajados nos
momentos de negociação e decisão do empreendimento, comprometendo-se em tomar
decisões ambientalmente responsáveis que combinem com os objetivos de um projeto
sustenvel.
1
1
10
Pós - Ocupão:
A equipe de projeto deve contactar os usuários do edifício a fim de se saber o que pode ser
melhorado no edificio, no que diz respeito a sua operação, manutenção e satisfão na
ocupação. A avaliação pós-ocupão deve ser avaliada pela equipe e seus resultados
considerados para serem aplicados em projetos futuros.
Figura 2Os 10 Pontos-Chave para o Processo de Projeto Integrado.
Fonte: HOK, site oficial. (2006). Traduzido pela autora
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
___________________________________________________________________________
- 41 -
Essas ferramentas possuem as seguintes características (HOK, 2006):
- Lista-resumo” LEED Esta lista possui os requisitos necessárias para a obtenção
da certificação LEED, mas pode ser usada pela equipe de projeto a fim de estruturar seus
objetivos para obtenção de um projeto sustentável, assim como para rastrear o processo.
- Lista “HOK” de Avaliação de Materiais Destinada a avaliar o impacto ambiental
causado pelos materiais especificados no projeto. Essa lista é enviada ao fornecedor do
produto, que deve responder questões sobre a procedência do material e suas matérias-
primas, a geração de resíduos, os riscos que o material pode vir a causar ao meio ambiente,
dentre diversas outras questões.
- Lista “HOK” de Análise dos custos de aplicação do LEED Trata-se de um resumo,
baseado na experiência e pesquisas realizadas pelo escritório HOK, em relação aos custos
iniciais de aplicação do LEED e também da potencial economia que pode compensar esses
gastos iniciais.
- Lista “HOK” das Fases do Processo Sustentável identifica as ações-chave que
devem ser tomadas para a realização de um projeto sustentável, organizada pelas fases de
projeto.
A “Lista-resumo” LEED e esta última, Lista “HOK” das Fases do Processo
Sustentável, são as que mais estão ligadas diretamente ao trabalho do arquiteto e à equipe
de projeto, levantando as preocupações que devem ter e quais as ações a serem tomadas,
para cada etapa.
Todas essas ferramentas aplicadas no processo do projeto visam a garantia da
sustentabilidade do edifício, que deve ser, juntamente com o atendimento às necessidades
dos clientes, uma das principais preocupações do projetista.
No Brasil, se percebe a busca da arquitetura ambientalmente sustentável. Alguns
arquitetos têm como premissa, o alcance de altos níveis de qualidade ambiental em seus
projetos. Além disso, vem sendo exigido em alguns concursos de projetos de arquitetura
no Brasil, que questões de sustentabilidade, principalmente nos aspectos ambientais,
passem a ser inseridas nos projetos. E isso, de certa forma, faz infiltrar na consciência de
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
___________________________________________________________________________
- 42 -
alguns arquitetos e projetistas, a percepção da sua responsabilidade para com estas
questões.
Além dessa exigência, alguns arquitetos mais sensíveis nesses aspectos, vêm
aplicando esses conceitos em seus projetos e buscando ferramentas que lhe dêem auxílio
nessa prática tão nova. Este é o caso do escritório Zanettini Arquitetura, situado em São
Paulo, que vem desenvolvendo, algum tempo, certa consciência da importância de se
inserir questões de sustentabilidade a seus projetos.
Em busca de mais informações em torno dessa experiência, foi realizada uma
entrevista com o arquiteto Siegbert Zanettini em outubro de 2006, através da qual pôde-se
ter conhecimento, da sua visão de arquitetura sustentável, de algumas de suas experiências,
da aplicação de aspectos ambientais a seus projetos, das formas de fazê-la, de como o
LEED pode servir como ferramenta de projeto, e de como está se dando a certificação de
seus projetos através desse sistema, entre diversas outras questões.
A entrevista foi iniciada com uma breve contextualização, feita pelo arquiteto, de
como as questões ambientais passaram a fazer parte de sua prática profissional. Em
resumo, o que levou o arquiteto a tomar essa atitude foi sua inquietação em relação aos
conceitos da arquitetura moderna que tratava o edifício de forma solta, independente de seu
entorno.
“[...]quando predominava o conceito da arquitetura moderna, em que
o edifício era uma obra monumental isolada[...]uma série de
preceitos que caracterizavam o contexto da arquitetura moderna não
correspondiam a minha maneira de pensar que vinha de um
contexto do mundo operário, da zona leste de São Paulo. E eu via
na realidade nossa uma outra coisa, um outro clima específico
nosso, e aquela arquitetura era, de uma certa maneira, do mundo
acadêmico, ela representava muito uma visão acadêmica de pensar.
E até, de certa maneira, sensivelmente importada[...] Então, eu via
aqueles cubos montados, fechados totalmente para o externo, e isso
me agredia profundamente. Eu acho que era uma espécie de
negação do entorno, com uma visão do meu objeto, do objeto que
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
___________________________________________________________________________
- 43 -
eu crio como arquiteto, que é bem do período moderno, que era
unidimensional.” (Informação Verbal)
18
Para Zanettini o projeto não deveria terminar em sua obra, mas deveria integrar a
obra ao ambiente externo. Sua obra deveria se relacionar com o contexto existente, levar
alguma contribuição a esse meio. E seu projeto deve ser definido a partir dos in-puts que o
contexto lhe impõe.
“Quando eu fiz o projeto dessa casa (Casa de campo em Atibaia),
ficou para mim muito claro que o projeto não terminava na minha
obra e que a unidade, que sempre foi um prisma moderno, agora
essa unidade era muito mais ampla que a obra. Então, o ambiente
todo passava a participar do meu projeto. E não mais, o projeto
tinha, como os anteriores tinham sido, uma obra solta no espaço.[...]
Cada projeto que eu comecei a fazer, a partir de 70, eu via o
contexto [...] Eu vou fazer um edifício no meio de um contexto
existente, como é que eu me relaciono com esse contexto?, quais
são as contribuições que esse meu projeto tem em relação a esse
meio?, quais os in-puts que esse contexto me coloca para definir
esse projeto? ”. (Informação Verbal)
19
Zanettini acredita que não faz sentido fazer arquitetura que não seja eco-eficiente no
Brasil, que socialmente e economicamente é um país pobre, e que precisa evitar gastos
desnecessários, principalmente com energia por necessidade de refrigeração artificial. Ele
critica os projetos mau-resolvidos em relação ao nosso contexto, que vêm sendo feitos no
Brasil, dizendo que são edifícios importados, que não atendem as condições climáticas do
país sob nenhum aspecto.
“Não tem sentido fazer arquitetura que não seja eco-eficiente no
Brasil, porque socialmente e economicamente é um país pobre. [...]
Não se deve fazer cubos de vidro, com carga térmica fluente, dando
um volume de calor enorme, precisa por ar-condicionado para o
prédio inteiro, o que consome energia doidamente. [...]As empresas
18
Informações fornecidas por Siegbert Zanettini em entrevista realizada em outubro de 2006.
19
Informações fornecidas por Siegbert Zanettini em entrevista realizada em outubro de 2006.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 44 -
nacionais não estão aquentando esse exagero, esse ‘a mais’ de
projetos maus resolvidos em relação ao nosso contexto. Esses são
edifícios importados, edifícios que não atendem as condições
climáticas sob nenhum aspecto. E você cada vez mais vai ter que
dar esse cunho científico, de como eu vou estar resolvendo esse
edifício, à cidade brasileira.” (Informação Verbal)
20
O arquiteto alerta que o edifício deve ser criado para a realidade brasileira, através
dos elementos disponíveis, da herança cultural da região, da história do contexto em que
está sendo implantado o edifício, etc.
Em relação a um dos projetos mais desafiadores de sua carreira a ampliação do
CENPES (Centro de Pesquisa da Petrobrás) na ilha do Fundão no Rio de Janeiro – Zanettini
afirma que foi uma produção coletiva, reunindo cerca de 30 profissionais de diferentes
especialidades e setores de arquitetura e engenharia, concebendo e revendo as diferenças
de projeto conjuntamente. Para esse projeto foi exigido, pelo contratante, que alguns
princípios de sustentabilidade fossem considerados. Para isso, foram pensadas questões de
paisagismo visando a criação de microclimas agradáveis; o aproveitamento de materiais
encontrados no terreno, como a utilização de garrafas pet em todas as mantas de proteção
térmica e acústica; a instalação de captadores de energia solar para aquecimento da água,
dentre inúmeras outras questões.
Por todas as suas características, esse projeto está passando por um processo de
análise para receber certificação pelo LEED. Esse processo está na fase de preparação e
análise de documentos de forma a confirmar que o projeto se adequa às exigências do
sistema. Existem alguns itens que, de antemão, se sabe que não serão creditados, como
é o caso dos créditos referentes à seleção do terreno – que não atende às exigências LEED,
mas que já foi imposto pelo contratante e não teve participação da equipe na escolha.
Apesar de o LEED ter ‘entrado’ nesse projeto apenas para fins de certificação,
Zanettini afirma que este pode servir de auxílio às decisões do arquiteto. Porém, como a
20
Informações fornecidas por Siegbert Zanettini em entrevista realizada em outubro de 2006.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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base americana do sistema é muito forte, é preciso verificar quais questões não se aplicam à
realidade brasileira. (informação verbal)
21
Além de todos esses movimentos aqui citados, outros vêm acontecendo no Brasil e
no mundo. No entanto, essa movimentação deve ser ainda mais constante, fazendo com
que essa prática passe a ser comum aos projetistas.
2.3. Processo de Projeto Integrado: Projeto de edifícios e Sustentabilidade
Conforme mencionado anteriormente, vêm sendo tomadas algumas atitudes, por
parte de alguns responsáveis por projetos de arquitetura, em busca da realização de uma
arquitetura ambientalmente sustentável. No entanto, ainda é preciso evoluir muito nesse
sentido, e formas de se realizar essa arquitetura devem ser esclarecidas e aprimoradas.
Quando se trata do Processo do Projeto, refere-se ao projeto do empreendimento. O
projeto de arquitetura é parte primordial do empreendimento, e as atividades envolvidas para
a sua realização devem ser gerenciados para a obtenção de um melhor resultado.
O Projeto de arquitetura pode ser visto tanto como produto quanto como processo. O
projeto como produto é o resultado que se obtém do trabalho do arquiteto; é o projeto do
edifício que deve atender às necessidades estabelecidas. Enquanto que o projeto como
processo refere-se à seqüência de atividades necessárias para transformar a idéia original
da edificação em diretrizes a serem obedecidas para a sua construção (SALGADO, 2006).
O processo de projeto do edifício pode, então, ser definido, segundo FABRÍCIO
(2002, p.75), como sendo o processo que:
envolve todas as decisões e formulações que visam subsidiar a
criação e a produção de um empreendimento, indo da montagem da
operação imobiliária, passando pela formulação do programa de
necessidades e do projeto do produto até o desenvolvimento da
produção, o projeto ´as built` e a avaliação da satisfação do usuário
com o produto”.
21
Informações fornecidas por Siegbert Zanettini em entrevista realizada em outubro de 2006.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 46 -
SALGADO (2005) explica, ainda, que o processo de projeto envolve todas as
decisões e ações que fazem parte da criação e produção de um empreendimento, desde as
decisões imobiliárias, definição do programa de necessidades, formulação do projeto do
produto, desenvolvimento da produção, até o projeto as built”
22
e avaliação pós-ocupação,
indo muito além de ser apenas o desenvolvimento dos projetos de especialidades do
produto.
Todas essas decisões que acontecem ao longo do processo de projeto do edifício,
devem estar baseadas nas questões básicas, que o edifício deve considerar, no que diz
respeito á sua sustentabilidade. Isso é confirmado por FOSSATI (2005), que aponta que o
impacto ambiental da construção civil ocorre em toda a cadeia produtiva, desde o projeto até
a sua demolição. O projeto, a partir de definições como formas geométricas da edificação,
sua localização no terreno, soluções estruturais, especificações de materiais, componentes e
tecnologias, o padrão de acabamento e detalhamento, estabelece a otimização, ou não, da
execução e o efeito em seu entorno.
Sendo o projeto o ponto de partida do ciclo de vida do edifício, é de extrema
importância que soluções que venham a minimizar impactos ambientais sejam pensadas
pelos projetistas.
Isso pode ser confirmado por MENDLER et al (2005), que atentam para a
necessidade de se desenvolver um novo processo de projeto, sendo este o processo de
projeto sustentável, ou integrado, que demanda que todo produto, processo e
procedimento sejam questionados e revisados através de uma nova perspectiva, que inclua
os impactos ambientais e de saúde humana que as decisões de projeto podem causar
(figura 3). Dessa forma, pode-se ter uma melhora substancial, do ponto de vista ambiental, e
pode-se obter também um ambiente mais agradável e produtivo para seus usuários
combinado a uma maior economia aos seus proprietários.
BERTEZINI (2006) afirma ainda que o sucesso do empreendimento é influenciado,
de forma estratégica, pela fase de projeto, que possui potencial influência nas demais fases
22
Projeto “as built” quer dizer “projeto como construído”. É um “projeto” feito após o termino da obra para
indicar, exatamente, como o edifício foi construído. Esse projeto é necessário, já que é muito comum que o
projeto original do edifício sofra modificações no decorrer da obra e o usuário precisa ter conhecimento das
características reais de seu imóvel.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 47 -
do processo. Essa influência se nas fases subseqüentes de produção e no ciclo de vida
do edifício, nos seguintes aspectos:
- na fase de projeto das demais especialidades, influencia na coordenação e
compatibilização de projetos, na escolha dos sistemas construtivos, etc.
- na fase de execução a influência das decisões se nos custos, cumprimento de
prazos e cronogramas, desperdícios de material e mão-de-obra, produtividade, desempenho
global da edificação, inserção de novas tecnologias, construtibilidade, racionalização, entre
outros.
- na fase de gestão do empreendimento as decisões de projeto podem influenciar no
surgimento de patologias, durabilidade, economia de recursos (água, energia, tratamento de
esgotos), sustentabilidade, desempenho da edificação (acústico, térmico), adaptação a
novos usos, entre outros.
Assim, entende-se que a abordagem do processo do projeto deve incluir, não as
questões específicas do projeto-produto, mas também as questões relacionadas a sua
gestão e as demais fases do empreendimento.
No entanto, deve-se estar atento para as mudanças que vêm ocorrendo nesse
quadro, no sentido de que o modelo de decisão atual está baseado, principalmente, nos
custos, prazos e qualidade. No processo de projeto integrado os projetistas devem estar
atentos aos efeitos de suas decisões para o meio ambiente.
Figura 3 -
Diferenças entre o modelo de decisão antigo para o Processo de Projeto e o novo modelo de decisão
para o Processo de projeto integrado.
Fonte: MENDLER et al (2005). Traduzido pela autora
CUSTO
PRAZO QUALIDADE
Antigo modelo de decisão para o Processo
de Projeto.
CUSTO
SAÚDE HUMANA,
PRAZO SEGURANÇA E
CONFORTO
QUALIDADE ECOLOGIA
Novo modelo de decisão para o Processo de
Projeto Integrado
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 48 -
OLIVEIRA et al (2004) atentam que, a partir do acréscimo de novos requisitos no
processo de projeto, no caso requisitos ambientais, torna-se necessário que estes sejam
detalhados e processados de forma a auxiliar os agentes envolvidos na tomada de decisão a
aplicar esses novos conceitos em suas atividades.
Os mesmos autores afirmam que os requisitos ambientais devem ser entendidos
como aqueles que, uma vez introduzidos no processo e implementados na forma de
especificação de projeto, proporcionam a otimização do desempenho ambiental de uma
edificação.
Para que esses requisitos ambientais sejam introduzidos no processo de projeto,
devem existir dispositivos facilitadores que auxiliem e orientem os agentes envolvidos em
suas decisões nesse sentido. Esses dispositivos são quaisquer elementos como normas,
listas de verificação, sistemas de avaliação ou manuais que possam explicitar os requisitos
ambientais durante o processo de projeto (OLIVEIRA et al, 2004).
O Processo do Projeto Integrado ainda não é uma prática comum no Brasil, apesar
de já se encontrar alguns casos isolados, mas a partir do que vem sendo aplicado em países
desenvolvidos, nesse sentido, deve-se ter isso, como exemplo e base para práticas de
projeto mais sustentáveis neste país. KRONKA (2001, p.2), atenta que os profissionais da
área devem se voltar para as necessidades locais do país, utilizando os exemplos dos outros
países apenas como subsídios de soluções a serem analisadas e implantadas no Brasil.
O processo de projeto, nos moldes propostos atualmente no Brasil, pode ser
compreendido de forma mais detalhada a seguir, onde serão apontados alguns pontos em
busca da sustentabilidade, nos aspectos ambientais, que devem ser aplicadas em cada fase.
2.3.1. Fluxo de atividades do Processo do Projeto sustentável do
empreendimento
O processo do projeto é constituído de diversas atividades que são dividas em fases.
SILVA et al (2003) destaca a importância dessa subdivisão, colocando que assim torna-se
possível que sejam identificadas todas as atividades a serem realizadas durante o processo
de desenvolvimento de projetos; os insumos necessários para cada fase; as relações de
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 49 -
precedência entre as atividades; as responsabilidades de cada agente e os produtos e
serviços resultantes de cada fase.
Para que o resultado desse processo seja satisfatório, no que diz respeito a sua
sustentabilidade, MONTEIRO (2002) levanta a importância de o arquiteto ter conhecimentos
suficientes sobre conceitos de sustentabilidade e as conseqüências que seu projeto pode
causar a curto, médio e longo prazo. Assim, quanto maior esse conhecimento e a
preocupação com essas questões, mais sustentável tende a ser a obra resultante desse
processo.
No processo de projeto integrado é preciso que os agentes envolvidos estejam muito
mais conectados entre si do que no processo de projeto tradicional, para que as soluções
finais de projeto tenham sucesso.
Isso pode ser confirmado pelo arquiteto Zanettini que afirma que a integração total da
equipe, com todos participando juntos das decisões, é fundamental para o resultado positivo
do projeto. Ele afirma, ainda, que a multidisciplinaridade dos agentes ajuda muito nesse
resultado.
23
A divisão das atividades do processo, em fases, pode ser mostrada a seguir, na
figura 4, onde são estabelecidas as fases gerais de desenvolvimento do processo de projeto
de empreendimentos, sua seqüência de atividades e produtos gerados em cada fase, o que
sintetiza o processo de projeto apresentado pelo CTE (2001). Vale ressaltar que esta é
apenas uma das propostas de processo de projeto existentes. Outros autores apresentam
algumas propostas semelhantes mas com algumas poucas diferenças na divisão das fases e
fluxos. A escolha desse modelo se deu por esse englobar, praticamente, todas as fases do
ciclo de vida do edifício, desde seu planejamento, até seu uso final, ficando de fora somente
a fase de descarte final. E, também, por este ser um centro de especializado na pesquisa no
ramo da construção de edifícios.
Esse é um fluxo básico, que visa uniformizar o processo utilizando uma estrutura
compatível com as premissas de gestão da qualidade e deve ser adaptado para cada
empreendimento, conforme suas necessidades.
23
Informações fornecidas por Siegbert Zanettini em entrevista realizada em outubro de 2006.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 50 -
O fluxo do CTE trata do processo do projeto do empreendimento, que vai desde seu
o planejamento estratégico até a avaliação da satisfação do cliente, abrangendo todas as
etapas do ciclo de vida de uma edificação, com exceção da etapa de demolição.
Percebe-se através desse fluxo, que desde a primeira fase desse processo se
deve ter a preocupação em aplicar questões de sustentabilidade ao empreendimento. E isso
se estende a todas as demais fases, até a efetiva utilização do edifício.
São sete as fases do projeto, sendo que a primeira não é considerada uma fase e
sim um pré-requisito para que o projeto se desenvolva. Nos parágrafos a seguir, essas fases
serão explicadas com base em CTE (2001) e serão feitas algumas relações com questões
de sustentabilidade que devem ser consideradas em processo de projeto integrado:
Figura 4
- Fluxo das fases do Processo de Projeto.
Fonte: Adaptado de CTE, 2001.
O pré-requisito consta do planejamento estratégico do empreendedor e da empresa
de projeto, no qual as metas e estratégias para o desenvolvimento do produto devem ser
estabelecidas. O empreendedor caracteriza suas necessidades e objetivos no que diz
respeito à receita disponível, lucratividade, análise do mercado etc., enquanto a empresa de
projeto deve planejar suas metas, escolher pelo seu ramo de atuação no mercado etc.
Planejamento do
empreendimento
Concepção do
produto
Desenvolvimento do
produto
Anteprojeto
Projeto Legal
Pré
-
executivo
Executivo
Projeto de produção
Entrega final do projeto
OBRA
Projeto “as built
Acompanhamento Técnico
Avaliação pós-ocupação - USO
Fase V
Fase I
Fase II
Fase III
Fase IV
Fase VI
Fase VII
Fases do
Projeto de Arquitetura
Pré-requisito:
Planejamento Estratégico
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 51 -
Dentre os principais objetivos dessa fase está reduzir o risco de insucesso do
empreendimento do ponto de vista técnico, econômico e comercial.
Ainda nessa fase” inicial, é de extrema importância, como afirmado por
VOSGUERITCHIAN et al (2005), que todos os envolvidos no processo, incluindo a equipe de
projetistas, o coordenador de projetos e o próprio empreendedor, tenham consciência da
importância, e estejam enfocados em se considerar e realizar um edifício considerado
sustentável e de baixo impacto ambiental. Assim, deve-se considerar a contratação de
profissionais qualificados, nesse sentido, para a realização do empreendimento.
A Fase I é formada pelo planejamento do empreendimento, consistindo da
caracterização do empreendimento a ser desenvolvido cumprindo as metas definidas pelo
planejamento estratégico. Aqui devem ser combinadas as necessidades do empreendedor,
as necessidades dos clientes e a disponibilidade de terrenos adequados ao produto a ser
desenvolvido. Nessa fase os participantes são o incorporador, engenheiros, coordenadores
da empresa construtora e a empresa de arquitetura. E os principais objetivos da fase são
constatar a viabilidade do produto, definido a partir das necessidades de mercado e decidir
pelo terreno que possibilite a implantação do produto.
Acrescenta-se que essas decisões devem ser tomadas baseadas nas questões de
sustentabilidade. Um exemplo disso é que a decisão do terreno deve ser feita de forma a
evitar possíveis impactos ambientais, dando preferência a áreas já urbanizadas, a terrenos
já antes utilizados, etc.
A Fase II trata da concepção do produto, quando são estabelecidas as condições
que o produto deve atender, levando em consideração as exigências do cliente final e das
características do processo de produção. As informações e dados obtidos nas fases
anteriores devem ser tratados de forma a serem aplicados nessa fase de concepção, que
tem como principal objetivo definir todas as características do produto como os seus
ambientes, os sistemas construtivos, equipamentos e serviços do empreendimento, suas
formas e geometrias. Gera-se então, o programa de necessidades detalhado, a definição da
tecnologia a ser aplicada, chegando até ao desenvolvimento de um estudo preliminar de
arquitetura, estruturas, sistemas prediais, paisagismo e fundações do empreendimento
(CTE, 2001).
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 52 -
Cabe ressaltar que a fase de concepção do produto pode ser chamada também de
estudo preliminar, por outros modelos de processo de projeto, como é o caso do modelo da
AsBEA
24
(2006), que aponta o estudo preliminar como sendo a primeira das etapas de
projeto de arquitetura. Apesar de o CTE considerar essa fase isolada do projeto
arquitetônico, ela não deixa de ser de responsabilidade do arquiteto.
Nessa segunda fase, é importante que sejam tomadas algumas decisões que
venham a reduzir possíveis impactos ambientais causados pelo edifício, seja em sua
construção ou em utilização posterior. Alguns dos pontos que devem ser levantados nessa
fase são questões energéticas; de consumo de água; o possível reaproveitamento de
edificações já existentes, ao invés da construção de um edifício totalmente novo, entre vários
outros aspectos. Deverá ser analisada a possibilidade de se aplicar essas questões no
projeto.
Passando por essa fase de concepção entra-se na Fase III de desenvolvimento do
produto, que é o projeto de arquitetura, que, de acordo com o CTE (2001), envolve cinco
etapas de projeto que vão definindo cada vez mais detalhadamente o produto, diminuindo
gradativamente suas possibilidades de alteração. Essa fase é composta pelas etapas do
projeto arquitetônico, sendo elas o anteprojeto, projeto legal, projeto pré-executivo, projeto
executivo e projeto de produção.
Na etapa de anteprojeto, a solução de projeto adotada é apresentada contendo as
suas especificações técnicas. São dadas, segundo a AsBEA (2006), as soluções
preliminares para o edifício. Essa etapa consta de informações gerais de aspectos de
tecnologia construtiva, pré-dimensionamento estrutural, concepção básica das instalações. A
partir dessa etapa já é possível fazer uma avaliação em relação a custos e prazos.
Sugere-se que alguns aspectos relacionados a sustentabilidade do edifício também
sejam inseridas nessa etapa, como a escolha de alguns materiais construtivos eficientes e
de baixo impacto ambiental, a decisão da melhor implantação do edifício em busca da menor
“agressão” ao terreno, da melhor orientação, a decisão de como os sistemas e tecnologias
serão aplicados, entre diversos outros. Quanto mais cedo se começar a tomar decisões
baseadas nas “exigências” para um edifício sustentável, maiores as chances desse
24
AsBEA – Associação Brasileira dos escritórios de arquitetura.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 53 -
resultado ser positivo. Isso acontece porque as decisões tomadas nessa etapa servirão de
subsídio para as demais. Assim, deve ser decidido como essas questões serão aplicadas.
Além disso, existem outros aspectos que dizem respeito à fase de utilização do
edifício, que também devem ser definidos nesta etapa, e que são de extrema importância
para sua sustentabilidade. MONTEIRO (2002) coloca alguns desses aspectos como sendo:
a automatização de atividades como desligamento de luzes e equipamentos; alternativas de
aquecimento solar de água; sistemas de detecção de incêndio; controle da utilização da
água, entre outros.
Deve-se também considerar desde esta fase de projeto que o edifício possua
características flexíveis, facilmente adaptáveis a mudanças que possam vir a ocorrer no seu
tipo de uso no decorrer do tempo e que seja de fácil desmonte. Assim, além de reduzir os
depósitos de entulho, ainda se minimiza o uso de novos materiais.
A etapa seguinte corresponde ao Projeto legal, que consta do projeto arquitetônico
proposto, considerando todas as exigências do programa de necessidades, incluindo as
decisões tomadas no estudo preliminar e no anteprojeto, e deve estar baseado nos
requisitos legais e normas técnicas exigidas. Deve ser aprovado nos órgãos da
administração pública para que se possa dar prosseguimento ao processo.
Aprovado o projeto legal, segue-se para o Projeto pré-executivo. Esta etapa consiste
do anteprojeto de arquitetura combinado com os anteprojetos das especialidades,
englobando estrutura, sistemas prediais, fundações, interiores, paisagismo etc., de forma a
verificar as interferências entre eles e fazer as alterações devidas. Segundo a ASBEA
(2006), o projeto pré-executivo é a consolidação das principais soluções do projeto.
Já o desenvolvimento do Projeto executivo é feito a partir da solução desenvolvida, já
compatibilizada com os demais projetos complementares e contendo todas as informações
necessárias para a execução da obra, constando de todos os detalhes construtivos,
cadernos de especificações de materiais e serviços e o orçamento da obra. A AsBEA (2006)
mostra que nesta etapa as soluções já são definitivas, devendo ser detalhadas.
Portanto, esta etapa tem grandes atribuições para o alcance de uma arquitetura dita
ambientalmente sustentável, que é nela que as principais decisões, que já foram tomadas
anteriormente, são confirmadas, como a especificação final de materiais, a definição de
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 54 -
tecnologias inovativas para construção e manutenção do edifício, além da consideração do
custo dessas decisões, que devem estar de acordo com o planejado. A importância dessa
etapa se dá, também, por essa ser uma etapa definitiva, de forma que suas decisões serão
aquelas fornecidas à obra.
MONTEIRO (2002) atenta para a importância de se escolher o sistema construtivo a
ser adotado, na fase de projeto, de forma a já se determinar e poder caracterizar todo o
andamento do processo do projeto, que vem adiante.
Para se determinar esse andamento, tem-se a última etapa desta fase, que é o
Projeto de produção. Este é composto de informações necessárias à atividade de produção
do edifício, tais como a disposição e seqüência das atividades, frentes de serviço, arranjo e
evolução do canteiro, etc. É o detalhamento das soluções de projeto, levando em
consideração as suas especificidades no que diz respeito aos materiais e componentes e
dos processos de produção a serem utilizados em determinada obra (CTE, 2001).
Considerando que se deseja buscar a sustentabilidade
ambiental, deve-se pensar
nessa etapa de projeto de produção, entre outras coisas, em formas de diminuir, ao máximo,
os desperdícios na execução da obra.
A fase de entrega final do projeto, corresponde à Fase IV do processo e tem como
objetivo a transferência do projeto completo e detalhado à equipe de produção e assistência
técnica. Nessa fase é feita a apresentação de toda a documentação contratada plantas,
cortes, memoriais, etc. – e essas devem ser aceitas por seus contratantes.
Após a entrega final do projeto e durante sua execução, tem-se a Fase V que
corresponde à coleta de dados e desenvolvimento do projeto “as built”, que é o registro, em
forma de documentação de projeto, das especificações, detalhamentos e de qualquer item
que não tenha sido executado na obra de acordo com o previsto no projeto original.
Já a Fase VI consta do acompanhamento técnico e elaboração dos documentos para
o manual do usuário
25
. O acompanhamento técnico é a orientação que o projetista deve dar
à equipe de execução, devendo acompanhar o desenvolvimento da obra e, se preciso, fazer
25
Manual do usuário é um dos documentos exigidos pelo sistema de Gestão da Qualidade, que deve ser
entregue aos usuários da edificação, no ato de sua entrega, e que consta das informações técnicas necessárias
aos seus usuários, como uso, operação, limpeza, conservação e manutenção do edifício.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 55 -
as modificações necessárias no projeto original em função da necessidade detectada na
obra, além de fazer uma análise de como suas soluções se deram, no ponto de vista da
execução.
Nessa fase de execução, planos para que a obra seja o mais “habitável” possível
devem ser estabelecidos, considerando também o alcance dos menores níveis de poluição,
seja ela sonora, do ar, pela geração de resíduos, etc
.
A elaboração dos documentos para o manual do usuário, que também faz parte
dessa fase VI, deve-se dar de acordo com as informações obtidas pela equipe de
acompanhamento técnico, além de todos os documentos de projeto incluindo plantas e
especificações – e orientações necessárias aos usuários finais.
A última fase corresponde à utilização e avaliação da satisfação do cliente final a fim
de se identificar o quanto o projeto atendeu as necessidades do cliente e sua satisfação em
relação ao mesmo. Essa fase é de extrema importância para a melhoria contínua do projeto,
que vai retroalimentar novos projetos que virão a seguir, uma vez que se terá
conhecimento dos aspectos que atenderam e dos que não atenderam às suas expectativas.
Atenta-se que, nessa fase, também deve ser verificada a utilização da edificação no
âmbito ambiental, monitorando os sistemas instalados, controlando o conforto térmico,
olfativo, entre outros aspectos.
O atendimento aos requisitos ambientais de sustentabilidade, em todas essas fases
do processo de projeto do empreendimento, e que todos, ou os principais agentes do
processo, estejam conscientes da importância dessa “nova” exigência, é o que se considera
de mais adequado na busca de resultados ótimos nesse sentido. No entanto, como
levantado por ZANETTINI
26
, é claro que nem sempre, ou dificilmente, esses requisitos serão
inteiramente obedecidos, pois dependem das variantes de cada caso.
Essas variantes englobam, além das características físicas do empreendimento, a
equipe envolvida no seu desenvolvimento. Sendo que muitas vezes o próprio empreendedor
pode não ser sensível a essas questões, tornando mais difícil o alcance de um edifício
ambientalmente sustentável. Essa situação vem a dificultar bastante mas, não chega a
26
Informações fornecidas por Siegbert Zanettini em entrevista realizada em outubro de 2006
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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impossibilitar, que se obtenha sucesso nesse sentido, uma vez que, grande parte das
principais decisões para o edifício, está “nas mãos” do arquiteto, que pode, e deve dar as
melhores soluções para que uma edificação contemple, da melhor forma possível, essas
questões ambientais.
Esse fluxo de atividades deve ser gerenciado da maneira mais adequada possível,
de forma que o processo funcione e não comprometa a qualidade final do produto a ser
gerado, e este gerenciamento deve se dar através da Gestão do Processo do Projeto que
será tratada a seguir.
2.3.2. Gestão do Processo do Projeto: em busca da qualidade e da
sustentabilidade ambiental
Para que se consiga obter um projeto de edifício com baixo impacto ambiental,
baseado nas exigências para o alcance da esperada sustentabilidade, é de grande
importância que haja: um planejamento e gerenciamento do processo do projeto; que os
projetos das diversas especialidades estejam compatibilizados e que todos os agentes do
processo estejam integrados. Isso tudo pode ser alcançado, de forma eficaz, por um sistema
de gestão, daí a fundamental importância da gestão do processo de projeto ser aplicada.
Ainda não se tem muito conhecimento da utilização desse sistema no auxilio a aplicação de
questões ambientais no processo, no entanto, neste trabalho pretende-se mostrar que esse
sistema de gestão pode auxiliar, também, a qualidade ambiental do edifício.
Todas as colocações mencionadas a seguir, se encaixam, e auxiliam, de alguma
forma, no projeto de edifícios que buscam essa sustentabilidade ambiental.
A gestão do processo do projeto surgiu de uma demanda, identificada a partir da
implantação do sistema de gestão da qualidade (SGQ)
27
em empresas construtoras, por
uma intervenção maior para com outros agentes da cadeia produtiva, que tinham forte
impacto sobre a qualidade do produto final a ser entregue pela construtora/incorporadora.
No ano de 1995 começou a ser desenvolvido em algumas empresas construtoras envolvidas
no SGQ, pelo CTE Centro de Tecnologia de Edificações, procedimentos para que
houvesse maior interação com os projetistas e para se aplicar um processo de projeto e
27
Um sistema de gestão tem a função de organizar todas as atividades de uma organização, de forma a
gerenciar seus processos ou atividades, em busca da sua qualidade.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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gestão que permitisse menos desgaste, maior produtividade no processo e mais segurança
nos resultados a alcançar quanto à qualidade e custos envolvidos (SILVA et al, 2003).
SILVA et al (2003) aponta, que essas intervenções, primeiramente, não foram bem
aceitas pelos projetistas que não eram, e muitos ainda não são, acostumados a trabalhar
com procedimentos e padrões pré-estabelecidos. No entanto, era clara a necessidade de
haver essa interação entre projetistas e construtores/incorporadores, e para isso, o CTE
iniciou uma discussão sobre a necessidade de uma metodologia abrangente para a gestão
do processo do projeto. Essa discussão acabou por gerar o Programa de capacitação para
gestão da qualidade no desenvolvimento do projeto na construção civil, contando com a
participação de diversas empresas de construção/incorporação e de projeto. A partir desse
programa foram separados os processos sob responsabilidade da construtora/incorporadora
e os processos sob responsabilidade das empresas de projeto, e foram criados conceitos e
roteiros de metodologia para que o processo de projeto tenha uma efetiva organização e
gestão, focadas nos resultados técnicos e econômicos compatíveis com as necessidades de
todos os agentes.
Para que esse sistema de gestão do processo do projeto funcione, não basta que a
empresa de projetos provoque mudanças somente em questões técnicas, essa nova
organização e gestão requerem mudanças de postura, trabalho em equipe, integração e
ferramentas adequadas. Principalmente quando se deseja considerar que aspectos
ambientais sejam inseridos no processo, uma vez que essa é uma atitude extremamente
nova.
Por serem diversas as especialidades que compõe um projeto completo de uma
edificação, estas são desenvolvidas separadamente por diferentes profissionais. Por esse
motivo, por haver essa “distância” entre os diversos componentes do projeto como um todo,
é que se torna necessária a preocupação com o controle do processo. Cada projeto de
especialidades precisa alimentar um ao outro de forma a garantir que a complexidade,
continuidade e desempenho do projeto sejam controlados.
Para que a qualidade do processo do projeto seja atingida é necessário que se
garanta, segundo o CTE (2001, p. 44):
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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desenvolvimento de planejamento prévio das atividades em termos de tempo e
recursos necessários;
manutenção de um fluxo contínuo de atividades sem a incidência de tempos de
espera evitáveis;
comunicação eficaz entre os agentes, de forma a não permitir a ocorrência de erros e
retrabalho;
atendimento às necessidades dos clientes internos;
confiabilidade e rastreabilidade das decisões por meio de registros e documentação
adequada;
análise crítica do projeto;
controle da qualidade durante o desenvolvimento;
controle da qualidade no recebimento do projeto pelo contratante;
validação do projeto pelo cliente.
Acrescenta-se a essa lista a questão da validação dos mecanismos adotados no
projeto para incorporar os princípios da arquitetura ambientalmente correta. Além do
controle da aplicação desses princípios no decorrer do processo.
Para que sejam tomadas essas atitudes mencionadas, de forma satisfatória, é
necessário que seja adotada uma série de procedimentos de gerenciamento do processo,
que consiste em desenvolver um planejamento para o processo de elaboração do projeto e
assegurar que esse planejamento seja cumprido.
Desse gerenciamento faz parte a coordenação de projeto e, como conceitua
SALGADO (2002, p.5):
a coordenação é uma função gerencial a ser desempenhada no
processo de elaboração do projeto, com a finalidade de assegurar a
qualidade do projeto como um todo durante o processo. Trata-se de
garantir que as soluções adotadas tenham sido suficientemente
abrangentes, integradas e detalhadas e que, após terminado o
projeto, a execução ocorra de forma contínua, sem interrupções ou
improvisos”.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 59 -
A gestão do processo de projeto visa a contribuir para a qualidade do produto que é
gerado, o que pode ser alcançado através do suporte do sistema de gestão da qualidade
para o processo de projeto de modo que todos os métodos e procedimentos estejam
estabelecidos e padronizados de forma adequada, as equipes treinadas e os mecanismos
para avaliação de resultados estabelecidos.
Conforme as exigências para o projeto e o número de agentes envolvidos no
processo aumentam, gerando novas variáveis de projeto, maior a necessidade de se ter um
sistema de gestão, para que se possa garantir o sucesso final do edifício. Isso acontece com
os requisitos ambientais que devem ser incorporados ao projeto de edifícios, que passam
a ser novas atribuições de projeto que precisam ser incorporadas ao longo do processo e,
para isso, precisam ser gerenciadas e coordenadas, garantindo, assim, a esperada
qualidade do projeto e, principalmente, do produto final.
VOSGUERITCHIAN et al (2005) afirmam que existe uma real tendência e
necessidade, para um desenvolvimento integrado do edifício, de que se faça a utilização de
modelos que descrevam as tarefas, os métodos, as ferramentas de projeto, as técnicas de
gerenciamento, as informações e a organização do processo de desenvolvimento do
produto.
A partir do conhecimento do processo de projeto do empreendimento, percebe-se
que a fase de projeto de arquitetura consiste em uma das mais importantes e decisivas do
processo, devendo receber atenção especial. É no projeto de arquitetura que as
características gerais do edifício são definidas, e nessas características estão, também,
aquelas que dizem respeito à sua sustentabilidade ambiental.
Por esse motivo e, também, pela necessidade de conscientização e de atitudes no
setor de projetos de arquitetura, no que diz respeito à realização de edifícios ambientalmente
sustentáveis, a fase de projeto de arquitetura recebe especial atenção neste trabalho.
2.3.3. O LEED e o Projeto de arquitetura de edifícios
Os métodos de avaliação ambiental podem servir como auxílio às decisões
ambientais ao longo do projeto de arquitetura. Isso porque esses métodos apontam as
principais exigências para a obtenção de um edifício ambientalmente sustentável. No
entanto, essa é uma prática ainda pouco difundida que ainda merece ser melhor detalhada.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 60 -
Ao se analisar o LEED, através de seus pré-requisitos e créditos, percebe-se, de
antemão, que ele foi realizado para ter sua aplicação nos Estados Unidos, uma vez que
quase todos os seus requerimentos estão baseados nos padrões e normas norte-
americanas. No entanto, ao se fazer essa análise do checklist (Anexo 2) por ele proposto,
pode-se ter uma visão mais geral do método, percebendo-se que este pode ser aplicado à
realidade brasileira, com apenas algumas poucas adaptações.
Isso mostra que, pelo menos através do checklist, o LEED pode ser usado no Brasil.
As informações nele contida podem direcionar as decisões de projeto, o que já é um passo a
frente, em busca de melhores soluções ambientais.
No entanto, sabe-se da dificuldade de se utilizar, de forma eficiente, esses métodos
como ferramenta-auxílio de projeto, o que é confirmado por LOOTS et al (2005), que
levantam que esses métodos não possuem os mecanismos de ajuda ao projeto adequados
e, por isso, acabam falhando quando aplicados como ferramenta-auxílio ao arquiteto.
O LEED relata quais são os aspectos que devem ser considerados para se obter
edifícios sustentáveis, mas não menciona em que momentos de todo o processo, estes
devem ser considerados.
Pensando nisso, apresenta-se, primeiramente, a necessidade de se relacionar as
etapas do projeto de arquitetura com os aspectos levantados pelo LEED, de forma a
esclarecer quando cada uma das “exigências” ambientais deve ser atendida, nessa fase
dentre os pré-requisitos e créditos do LEED (Anexo 2) e quais são as principais decisões
que o arquiteto deve tomar para que o resultado de seu projeto seja um edifício
ambientalmente sustentável.
O projeto de arquitetura, sob os moldes do CTE, está dividido em cinco etapas,
sendo elas anteprojeto, projeto legal, projeto pré-executivo, projeto executivo e projeto para
produção. Acrescenta-se a estas etapas a fase de concepção do produto que, como foi
dito, corresponde à etapa conhecida como estudo preliminar e também deve fazer parte do
projeto de arquitetura. Ao longo de cada uma dessas etapas os aspectos LEED devem ser
considerados, como proposto a seguir.
Os requisitos e créditos LEED, como já foi mencionado no capítulo anterior, estão
divididos em quatro áreas, sendo elas Terreno Sustentável (T.S), Eficiência da Água (EF.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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- 61 -
A),Energia e Atmosfera (EN. AT), Materiais e Recursos Naturais (MAT. R.N) e Qualidade do
Ambiente Interno (QUAL. A.I) e cada uma dessas áreas apresenta requisitos e créditos que
precisam ser considerados ao longo da fase de projeto arquitetônico. Assim, propõe-se,
neste trabalho, a associação desses com as etapas do projeto e algumas ações que devem
ser tomadas, nesse sentido, em cada uma dessas etapas. Nem todos os requisitos e
créditos serão mencionados nesta proposta, pois muitos não possuem relação direta com a
fase de projeto de arquitetura.
Concepção do produto (Estudo Preliminar):
O arquiteto deve definir todas as características do produto considerando os seus
ambientes, os sistemas construtivos, equipamentos e serviços do empreendimento, suas formas
e geometrias, paisagismo, etc.
Nesta etapa o arquiteto deverá analisar criticamente as exigências e sugestões do
LEED para garantir a sustentabilidade da edificação, de forma a identificar se os créditos
poderão ser atendidos no projeto, e quais serão eles, dependendo de cada caso.
Sugere-se considerar os seguintes créditos LEED nessa análise, obedecendo às
ações propostas:
a) Área: Terreno Sustentável (T.S)
Crédito 6 - Gerenciamento de águas pluviais. Devem ser garantidas áreas permeáveis
destinadas para a criação de jardins e áreas verdes, de forma a absorver parte da água
da chuva e deve ser considerada a utilização de sistemas de coleta e tratamento de
águas pluviais.
Crédito 7 - Redução de ilhas de calor. A fim de reduzir as ilhas de calor que podem vir a
existir no local, sugere-se reservar uma área permeável no interior do edifício para servir
de “jardins de inverno”, além de considerar a possível aplicação de telhados verdes.
Essas ações visam a amenizar a temperatura interna geral do edifício.
Crédito 9 Redução da poluição luminosa. A implantação do edifício deve ser definida
considerando os edifícios vizinhos, de forma a minimizar a poluição luminosa que o
edifício possa vir a causar a estes.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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b) Área: Eficiência da Água (EF. A)
Crédito 2 Uso de tecnologias inovadoras para a redução do desperdício da água.
nesta etapa de estudo preliminar, deve-se considerar se serão utilizados, e quais serão
os sistemas utilizados para a diminuição do desperdício de água.
Essa medida deve ser tomada para vasos sanitários, duchas, máquinas de lavar
louça, torneiras, entre outros. Algumas soluções que podem ser dadas nesse sentido é a
utilização de torneiras de desligamento automático, de descargas que demandem menor
volume de água, etc.
c) Área: Energia e Atmosfera (EN. AT)
Crédito 1 Otimização do desempenho energético. O projeto deve ser pensado de
forma a minimizar os gastos de energia. Isso deve ser feito através do próprio formato do
edifício, suas aberturas, materiais, entre outros, que devem ser pensados de forma a
diminuir a necessidade de utilização de iluminação artificial, ar condicionados,
aquecedores e qualquer outra forma de gasto excessivo de energia. Já deve ser pensada
também a utilização de sistemas que otimizem a eficiência energética do edifício.
Crédito 2 Uso de energia renovável. Este crédito se refere ao uso de sistemas de
reutilização de energia, como painéis de placas solares para aquecimento de água. Deve
ser considerada a utilização ou não de sistemas desse tipo, nessa etapa, pois
dependendo dessa decisão deverão ser previstas soluções de acordo com as exigências
desses sistemas.
d) Área: Materiais e Recursos Naturais (MAT. R.N.):
Crédito 1 Reuso do edifício. Este crédito, muitas vezes, foge do controle do arquiteto,
uma vez que o empreendedor e/ou cliente são quem definem se querem um projeto de
reforma ou construção de um novo edifício. No entanto cabe ao arquiteto propor que
sejam aproveitados as estruturas e os materiais já existentes no local – quando este for o
caso – evitando a necessidade de maiores demolições e geração de entulhos.
Crédito 3 – Reuso dos materiais. O arquiteto deve considerar a possibilidade de reutilizar
materiais utilizados em outras obras, evitando a fabricação de novos materiais. Assim
como, para os materiais novos que serão escolhidos, deve considerar aqueles de fácil
aproveitamento posterior.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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Crédito 5 Materiais Regionais. Nesta etapa, o arquiteto deve pesquisar quais são os
materiais disponíveis na região em que se localiza o terreno da obra e quais os materiais
mais propícios para a região, e considerar a utilização daqueles de fácil acesso e que
também se adeqüem ao programa de necessidades.
Crédito 6 Materiais Renováveis. Considerar a utilização de materiais provenientes de
fontes renováveis, evitando aqueles que tiverem em sua composição matérias primas de
difícil renovação.
Crédito 7 Madeira Certificada. no estudo preliminar deve ser decidido se a madeira
será utilizada, e caso seja decidido utilizá-la, o arquiteto deve começar a pesquisar qual
tipo de madeira irá aplicar.
e) Área: Qualidade do Ambiente Interno (QUAL. A.I):
Crédito 2 Eficácia da ventilação. A implantação do edifício deve se dar de forma a
aproveitar a melhor orientação do terreno, garantindo a ventilação e troca do ar, para
que o ambiente seja confortável e seguro a todos os seus ocupantes.
Crédito 6 Controlabilidade dos sistemas de ventilação, temperatura e iluminação: Os
ocupantes devem ter autonomia para controlar a temperatura, ventilação e iluminação
do edifício, conforme suas necessidades. A ação esperada para o atendimento deste
crédito é a colocação de janelas, aberturas e/ou sistemas que permitam o controle por
parte do usuário do edifício.
Crédito 8 Luz natural e vistas: Ainda no estudo preliminar as aberturas do edifício
devem ser indicadas para que 75% dos espaços sejam iluminados por luz natural e
90% dos espaços tenham vista para o exterior, de forma que seja evitada a
necessidade de iluminação artificial durante o dia e que os ambientes sejam
agradáveis de se freqüentar.
O que se pode perceber é que grande parte das “exigências” LEED precisa ser levantada
na etapa de estudo preliminar. Isso acontece por essa etapa ser bastante decisiva no
projeto. Mesmo que as soluções não sejam ainda detalhadas, elas precisam ser
pensadas.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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As “exigências” e ações propostas para esta primeira etapa do projeto de arquitetura
devem ser continuadas nas etapas seguintes, quando serão novamente consideradas, mas
com um grau de detalhamento maior. À medida que as etapas vão passando, as soluções
dadas passam a ser mais detalhadas e decisivas.
Anteprojeto:
Nesta etapa, na qual é feita a caracterização das formas e funções do edifício e é
dada a solução preliminar dos sistemas, métodos construtivos e materiais de acabamento,
será definido como serão atendidos os créditos possíveis de serem aplicados em cada
projeto. Os seguintes créditos devem ser considerados no anteprojeto.
a) Área: Terreno Sustentável (T.S)
Os créditos mencionados na etapa de estudo preliminar devem ser novamente
considerados, mas desta vez, para definir como se dará o seu atendimento. São eles o
Crédito 6 - Gerenciamento de águas pluviais
; Crédito 7 - Redução de ilhas de calor e Crédito
9 – Redução da poluição luminosa.
b) Área: Eficiência da Água (EF. A)
No anteprojeto o Crédito 2 – Uso de tecnologias inovadoras para a redução do
desperdício da água, deve ser definido. Caso tenha sido analisado no estudo preliminar que
existe a possibilidade de atender a este quesito, deve ser decidido quais serão essas
tecnologias e como elas serão utilizadas.
c) Área: Energia e Atmosfera (EN. AT)
Deve-se definir, nesta etapa de projeto, como os créditos: Crédito 1 Otimização do
desempenho energético e Crédito 2 – Uso de energia renovável serão aplicados, caso tenha
sido percebido na etapa de estudo preliminar que estes serão possíveis de ser aplicados
para o projeto em questão.
d) Área: Materiais e Recursos Naturais (MAT. R.N.):
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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Quando os créditos a seguir se mostram viáveis de serem aplicados no projeto, deve-
se definir, no anteprojeto, de que forma se dará a utilização dos materiais, conforme as
recomendações de cada crédito: Crédito 1 Reuso do edifício
, Crédito 3 Reuso dos
materiais, Crédito 5 Materiais Regionais, Crédito 6 Materiais Renováveis, Crédito 7
Madeira Certificada.
e) Área: Qualidade do Ambiente Interno (QUAL. A.I):
A forma como o Crédito 2 Eficácia da ventilação
, Crédito 6 Controlabilidade dos
sistemas de ventilação, temperatura e iluminação e Crédito 8 Luz natural e vistas devem
ser atendidos cabe a esta etapa. A implantação do edifício deve ser definida de acordo com
as recomendações desses créditos.
Projeto Legal
O projeto legal é aquele para aprovação junto aos órgãos públicos. Portanto, para
esta etapa nenhuma nova decisão arquitetônica precisa ser tomada e também não existem
exigências específicas relevantes que se relacionem ao LEED para esta etapa.
Projeto Pré-Executivo
Esta etapa consta de:
Anteprojeto de arquitetura combinado com os anteprojetos das especialidades
Dimensionamento e pré-detalhamento dos elementos construtivos
Soluções consolidadas dos sistemas, métodos construtivos e materiais de acabamento;
de implantação; e de todos os elementos do edifício.
Os créditos LEED a serem considerados e ações a serem tomadas nesta etapa são:
a) Área: Terreno Sustentável (T.S)
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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As exigências desta etapa, referentes à área de terreno sustentável, devem ser as
mesmas consideradas na etapa de estudo preliminar e anteprojeto, sendo elas Crédito 6 -
Gerenciamento de águas pluviais
; Crédito 7 - Redução de ilhas de calor e Crédito 9
Redução da poluição luminosa.
As decisões tomadas anteriormente devem estar
consolidadas neste momento.
b) Área: Eficiência da Água (EF. A)
As tecnologias e equipamentos a serem utilizados para a redução do desperdício da
água, conforme solicitado pelo Crédito 2 Uso de tecnologias inovadoras para a redução do
desperdício da água nas etapas anteriores, devem estar definidos.
Além disso, deve-se considerar nessa etapa o seguinte crédito:
Crédito 1 Paisagismo com uso eficiente da água: Devem ser tomadas medidas a fim
de reduzir ou eliminar o uso de água potável para a irrigação de jardins, considerando
que, pelo menos, 50% do uso total para irrigação seja de água não-potável. Prever a
utilização de plantas que necessitem de pouca irrigação e considerar o uso de
sistemas de irrigação de alta eficiência, considerando o uso de água pluvial para esse
fim.
c) Área: Energia e Atmosfera (EN. AT)
Todos os sistemas a serem utilizados para refrigeração e/ou aquecimento do edifício,
com base nos créditos de otimização da eficiência energética e uso de energia renovável
considerados no anteprojeto, devem estar definidos, assim como, todas as aberturas e
materiais que possam auxiliar nessa otimização.
d) Área: Materiais e Recursos Naturais (MAT. R.N.)
As considerações, referentes á escolha dos materiais a serem aplicados no edifício, já
feitas na etapa anterior devem ser melhor definidas nesta etapa. E o crédito mencionado a
seguir também deve ser considerado nessa definição.
Crédito 4 Conteúdo Reciclado: Ao definir quais materiais serão realmente utilizados
em seu projeto, o arquiteto deve priorizar aqueles que sejam compostos por materiais
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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reciclados. Muitas vezes existem materiais, equivalentes aos tradicionais, que são
muito menos agressivos ao meio ambiente. E cabe ao arquiteto propor em seu projeto
a utilização desses materiais equivalentes, mas de menor impacto ambiental.
e) Área: Qualidade do Ambiente Interno (QUAL. A.I)
O Crédito 2 Eficácia da ventilação
, Crédito 6 Controlabilidade dos sistemas de
ventilação, temperatura e iluminação e Crédito 8 Luz natural e vistas, tratados nas
etapas anteriores devem ser reconsiderados e melhor definidos nesta etapa, além do crédito
exposto a seguir.
Crédito 4 – Materiais com baixa emissão de compostos voláteis: Nesta etapa de
projeto pré-executivo devem ser especificados os materiais que serão aplicados no
acabamento da edificação e nessa especificação deve-se considerar aqueles materiais
que não liberem grandes quantidades de compostos voláteis. Esses compostos são
liberados por muitos materiais usados no interior das casas, como tintas, vernizes,
materiais de isolamento, revestimentos, etc, e podem apresentar desconforto e riscos
a saúde humana. Preferir as tintas à base de água, vernizes sem amônia, e materiais
sem substâncias químicas.
Projeto Executivo
Esta etapa consta de:
Todas as informações necessárias para a execução da obra
Soluções definitivas de todos os métodos construtivos e materiais de acabamento; de
implantação e de todos os sistemas.
Detalhes construtivos
Cadernos de especificações de materiais e serviços
Orçamento da obra
Nessa etapa de projeto executivo todas as soluções já definidas nas etapas
anteriores devem ser detalhadas, garantindo que sejam atendidas no momento de execução
da obra.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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Nas áreas de Terreno Sustentável, Eficiência da Água e Qualidade do Ambiente
Interno, não é exigida nenhuma nova ação, a não ser o detalhamento já mencionado.
Nas áreas de ‘Energia e Atmosfera’ e ‘Materiais e Recursos Naturais’, ainda devem
ser tomadas algumas decisões com base nos créditos LEED, sendo elas:
a) Área: Energia e Atmosfera (EN. AT)
Crédito 4 Proteção da camada de ozônio: Grande parte dos sistemas de ar
condicionado, refrigeração e extintores de incêndio possuem clorofluorcarbonos
(CFCS) que, segundo ROAF (2006), é um grupo de gases sintetizado pelo homem,
responsável pela destruição da camada de ozônio. Para evitar esse perigoso impacto,
é importante que, ao especificar esses sistemas, o arquiteto exija que os
equipamentos escolhidos não contenham essas substâncias.
b) Área: Materiais e Recursos Naturais (MAT. R.N.)
No projeto executivo todos os materiais devem estar especificados e detalhados de
acordo com todos os créditos LEED de materiais e matérias primas mencionados e
também com o crédito 2, que deve ser considerado da seguinte forma:
Crédito 2 Gestão dos resíduos da construção: Todos os resíduos resultantes da
construção devem ser tratados de forma adequada, e seu destino e tratamento devem
ser definidos ainda na etapa de projeto executivo.
Projeto para Produção
A última etapa da fase de projeto refere-se ao projeto para produção que deve
detalhar as soluções de projeto segundo as características específicas dos materiais e
componentes especificados, além dos processos de produção a ser adotado na obra.
Atenta-se para a necessidade de se fazer o detalhamento de todas soluções definidas nas
etapas anteriores de forma que haja o menor desperdício possível na execução da obra.
Para esta etapa não existe nenhuma exigência LEED específica, já que todas as decisões
devem ter sido tomadas nas etapas anteriores.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
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A tabela 2 a seguir resume e fornece uma visão geral dos créditos LEED que se
aplicam à fase de projeto arquitetônico, mostrando como estes devem estar relacionados
com cada etapa.
O projeto de arquitetura é a parte principal do trabalho do arquiteto, por isso foi esta a
fase escolhida para ser detalhada neste trabalho. No entanto, existem diversas outras
decisões que o LEED propõe como a seleção do terreno, o possível aproveitamento de
edifícios já existentes, entre outros – que devem ser tomadas nas fases anteriores ao projeto
para que seu resultado seja um edifício ambientalmente sustentável, e a participação do
arquiteto também nessas fases traz grandes benefícios para o resultado final do projeto.
Fazer uso do LEED, associado ao projeto de arquitetura, como proposto
anteriormente, parece bastante viável para a realidade brasileira. Isso porque, o formato de
projeto apresentado, já é comum a muitos escritórios de arquitetura no país e a utilização do
LEED, como checklist, se mostra viável. Assim, a combinação dos dois apresenta
características para funcionar de forma satisfatória.
O processo do projeto completo, assim como o projeto arquitetônico, associado com
aspectos da sustentabilidade gera o processo de projeto integrado (PPI), conforme foi
apresentado. A associação feita do LEED com o projeto visa a alcançar o PPI.
O processo do projeto como é apresentado pelo CTE se encaixa no modelo de
decisão do processo de projeto antigo por ainda não englobar as questões de
sustentabilidade em suas fases. o novo modelo de decisão se baseia nas questões
ambientais e de conforto, além das que são contempladas no modelo antigo. É esse novo
modelo que precisa ser colocado em prática. Ou seja, quem não aderir a essas questões em
seus projetos, certamente estará agindo de forma antiquada e inapropriada. Infelizmente, a
realidade é que o número de profissionais que possui essa consciência é muito reduzido,
principalmente no Brasil.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
___________________________________________________________________________
- 70 -
Tabela 2 – Relação dos créditos LEED com o projeto de arquitetura
ETAPAS DO PROJETO DE ARQUITETURA
CRÉDITOS LEED
EP AP PL PP-E PE PP
Cr.6 – Gerenciamento de águas pluviais -
Prever áreas permeáveis / Sistemas de coleta
e tratamento
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Cr.7 – Redução de ilhas de calor - Áreas
permeáveis internas (jardins internos, telhados
verdes)
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Terreno
Sustentável
Cr.9 – Redução da poluição luminosa -
Implantação
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Cr.1 – Paisagismo com uso eficiente da
água - reduzir uso de água potável em
jardins. (uso de água pluvial, irrigação
eficiente, tipo de plantas).
- - -
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Eficiência da
Água
Cr.2 – Uso de Tecnologias inovadoras para
a redução do desperdício de água -
utilização de equipamentos eficientes
(torneiras, louças, descargas...)
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Cr.1 – Otimização do desempenho
energético - reduzir uso de iluminação
artificial (formato edifício, aberturas, materiais,
sistemas)
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Cr.2 – Uso de energia renovável - sistemas
de reutilização de energia.
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Energia e
Atmosfera
Cr.4 – Proteção da camada de ozônio -
equipamentos sem Clorofluorcarbonos (ar
condicionados, extintores...).
- - - -
Sim
Detalhe
-
Cr.1 – Reuso do edifício - reaproveitamento
de estruturas e materiais.
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Cr.2 – Gestão dos resíduos da construção -
destino e tratamento adequados dos resíduos
- - - -
Sim
Detalhe
-
Cr.3 – Reuso dos materiais - reutilização de
materiais / novos materiais reutilizáveis.
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Cr.4 – Conteúdo reciclado - especificação de
materiais provenientes de reciclagem
- - -
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Cr.5 – Materiais Regionais - materiais
disponíveis na região.
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Cr.6 – Materiais Renováveis - materiais
provenientes de fontes renováveis.
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Materiais e Recursos Naturais
Cr.7 – Madeira Certificada
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Cr.2 – Eficácia da ventilação - melhor
orientação.
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Cr.4 – Materiais com baixa emissão de
compostos voláteis - materiais utilizados no
interior da edificação que não liberem grandes
quantidades de compostos voláteis. (tintas,
vernizes, isolamento acústico...).
- - -
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Cr.6 – Controlabilidade dos sistemas de
ventilação, temperatura e iluminação -
aberturas e sistemas controláveis pelo usuário
conforme necessidade.
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Qualidade Ambiente Interno
Cr.8 – Luz natural e vistas – aberturas que
proporcionem iluminação, ventilação e contato
com o externo.
Sim
Análise
Sim
Decisão
-
Sim
Pré-Detalhe
Sim
Detalhe
-
Fonte: Autora,2006
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
___________________________________________________________________________
- 71 -
LEGENDA Tabela 2:
EP – Estudo Preliminar AnáliseDeve ser feita análise da possibilidade de cumprir o requerido.
AP – Anteprojeto Decisão – Deve-se decidir como o crédito será atendido.
PL – Projeto Legal Pré-detalhe – As soluções devem ser consolidadas e devem ser pré-detalhadas.
PP-E – Projeto Pré-executivo Detalhe – As soluções devem ser definitivas e detalhadas para serem enviadas à obra.
PE – Projeto Executivo
Sim – Crédito se aplica a esta etapa de projeto.
PP – Projeto para Produção
Fonte: Autora,2006
Ressalta-se, porém, que somente o cruzamento dos aspectos de sustentabilidade
com o processo de projeto, não parece suficiente para que se obtenha um resultado ótimo,
no que diz respeito à realização de um projeto sustentável. Para isso, seria necessário que
os envolvidos no projeto, tivessem maiores informações e base para fazer as melhores
escolhas possíveis, nesse sentido.
Visto que diversas são as decisões, que influenciam na sustentabilidade ambiental
do edifício, e que cabem a fase de projeto de arquitetura, fica clara a importância dessas
decisões e do cuidado que elas demandam ao serem tomadas, que cada decisão precisa
estar muito bem embasada para seu sucesso.
Para isso, propõe-se que ferramentas, que auxiliem, efetivamente, nas tomadas de
decisão, principalmente para a fase de projeto arquitetônico, sejam elaboradas. Essa
necessidade se intensifica devido à escassez e, até, à não-existência de uma base de dados
que
dêem assistência aos responsáveis por esta fase. Seria bastante adequado que para
cada uma das principais decisões de projeto fosse criada uma ferramenta de auxílio à
decisão, com vista a sustentabilidade ambiental do projeto. No entanto, devido à grande
complexidade e quantidade de decisões que cabem a essa etapa, apenas um aspecto
dessas decisões será tratado neste trabalho.
Uma das decisões que cabe ao arquiteto e que representa grande parcela de
responsabilidade no resultado positivo do projeto é a seleção dos materiais de construção a
serem aplicados na edificação, devido à sua utilização em grande quantidade e aos grandes
impactos que sua produção e aplicação podem gerar ao meio-ambiente e até ao próprio
edifício no que diz respeito ao seu conforto.
Projeto do edifício e Sustentabilidade Capítulo 2
___________________________________________________________________________
- 72 -
Nesse sentido, DEL CARLO et al (2002, p.42-44) afirma que:
“As novas variáveis na escolha de material construtivo fazem parte
de um processo muito mais amplo de mudança na maneira de
projetar, que deve ser incorporada pelos arquitetos. Esta nova
realidade, com a necessidade de incorporação de variáveis de baixo
impacto ambiental e sustentabilidade tem tornado os projetos muito
mais complexos e abrangentes. Os profissionais da área devem ter
em mente que essa nova arquitetura será a base dos projetos do
próximo milênio”.
Com isso, percebe-se a necessidade de se ter os conhecimentos aprofundados em
relação aos materiais de construção, de forma a auxiliar os arquitetos nessa seleção. Assim
sendo, serão detalhados, no capítulo a seguir, os aspectos que devem ser considerados
para a melhor especificação de materiais, sendo proposto a seguir, algumas diretrizes de
auxilio a esta etapa de decisão, baseada na área do LEED de materiais e recursos naturais.
CAPÍTULO 03
A especificação de materiais e a sustentabilidade
ambiental
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 74 -
Conhecida a relevância do projeto para a garantia da qualidade do empreendimento
como um todo, assim como, das decisões que cabem a esta fase e que são fatores
fundamentais para a melhor caracterização possível da edificação, apresenta-se a
importância de se incluir, nessa prática de projeto, a melhor escolha dos materiais a serem
aplicados no edifício, levando em consideração ações que visem a sustentabilidade
ambiental do edifício.
A edificação se pela junção dos diversos serviços da indústria da construção civil
e o conjunto de materiais de construção que nela são aplicados. Portanto, a sustentabilidade
de uma edificação depende muito dos materiais selecionados para sua composição e, por
isso a importância desse capítulo, que trata da influência dos materiais na sustentabilidade
do edifício, considerando seus impactos ambientais de forma a conhecer a importância da
correta seleção dos materiais e as conseqüências de seu erro, o que facilitará o momento da
seleção. São apresentados os requisitos LEED para a especificação de materiais, além de
alguns materiais de construção tradicionais na indústria da construção civil e alguns
materiais alternativos, chamados ecológicos, que estão sendo inseridos nessa indústria,
além de suas características nos aspectos ambientais.
CROWTHER (1995), menciona que um dos aspectos mais difíceis do projeto
ambientalmente responsável é encontrar os materiais mais adequados e produtos
disponíveis que ajudem a sustentar a qualidade de vida do planeta e do homem.
No entanto, DEL CARLO (1999, apud DEL CARLO et al 2002) levanta que a
especificação de materiais com menor impacto ambiental é a maneira mais indicada de os
arquitetos começarem a incorporar elementos de sustentabilidade nas edificações.
JOBIM (2002) levanta que, geralmente, o processo de produção dos materiais, suas
características gerais, vida útil, qualidade ambiental, uso eficiente dos recursos naturais e
desperdícios, entre outros, são, possivelmente, desconhecidos por quem especifica,
ocorrendo que o projetista de arquitetura acredita, muitas vezes, ser responsável apenas por
definir a forma e estética dos materiais.
Esse é um quadro que precisa ser mudado, e isso pode ser possível através do
esclarecimento das responsabilidades do arquiteto nesse sentido e da orientação sobre
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
___________________________________________________________________________
- 75 -
essas questões ambientais que devem ser incorporadas ao processo de especificação de
materiais.
Outra dificuldade que se enfrenta ao realizar a especificação de materiais, é a
fragilidade das empresas de construção de edifícios, em geral pequenas e médias, frente
aos grandes fabricantes de materiais sintéticos e equipamentos, que agem muito mais em
função de suas conveniências e estratégias do que das necessidades de seus usuários
(FABRÍCIO, 2002). Entretanto, FARAH (1992, apud FABRÍCIO, 2002), contesta isso,
dizendo que as inovações da indústria de materiais e componentes não devem ser impostas
pelos fabricantes. Ao contrário, devem ser definidas pelas necessidades da atividade da
construção de edifícios.
Dentre essas necessidades deve estar a preocupação com o impacto ambiental
causado pelos materiais de construção em todas as etapas de seu ciclo de vida.
3.1. Ciclo de vida e impactos ambientais dos materiais de construção
Diversos são os impactos ambientais que a edificação em geral vem a causar, e a
seleção dos materiais de construção a serem aplicados na edificação possui grande
influência nesse sentido.
Para se conhecer o impacto causado por uma edificação, ROAF (2006) afirma que é
preciso conhecer o impacto resultante do uso diário e da fabricação e entrega dos materiais
e componentes de construção. Através dessa informação pode-se saber como a escolha dos
materiais influi no impacto ambiental geral da edificação.
Este autor comenta, ainda, que todos os materiais causam, inevitavelmente, algum
impacto, já que precisam ser processados de alguma maneira antes que sejam incorporados
à edificação. Este processamento, que pode ser mínimo ou extensivo, vai sempre requerer o
uso de energia e acaba por provocar a geração de resíduos, dentre outros possíveis efeitos.
COLE e LARSSON (1998, apud SPERB 2000), tratando sobre os impactos
ambientais gerados pelo setor da construção civil, falam sobre os impactos gerados pelos
materiais de construção, que possuem um grande custo ambiental, que vai, desde a
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
___________________________________________________________________________
- 76 -
extração de matérias primas para sua fabricação até seu descarte final, ocasionando a
destruição de habitats naturais, exploração de recursos, utilização de energia, poluição do
ar, da água e problemas com resíduos sólidos.
HALLIDAY (1994, apud SPERB, 2000) afirma que a fabricação de materiais de
construção necessita de gastos energéticos que podem gerar poluição para o ar, água ou
terra, nas fases de extração, manufatura, utilização e disposição final. Assim, fica clara a
necessidade de maximização do uso de recursos renováveis, a reciclagem e reutilização dos
materiais e ainda de reduzir gastos com o seu transporte.
Esses gastos energéticos são apontados por ROAF (2006), como um dos principais
fatores que devem ser levantados para se medir o impacto do material. A redução da
energia incorporada, ou energia embutida, que é a quantidade de energia usada para
produzir um objeto, é uma importante medida porque o uso de fontes de energia não
renovável é a principal razão para a degradação ambiental. O autor afirma, ainda, que essa
degradação é causada principalmente pelas emissões atmosféricas, em especial o CO2, que
contribui para o aquecimento global.
SPERB (2000) coloca que os impactos relacionados aos materiais de construção
devem ser avaliados em cinco etapas, levando em consideração o seu ciclo de vida. Devem
ser analisados:
- impactos causados pela extração de matérias primas;
- impactos durante a manufatura dos materiais de construção;
- impactos devido ao transporte dos materiais;
- impactos durante a utilização destes materiais em edificações;
- impactos referentes a sua disposição final.
A análise desses impactos ambientais ao longo do ciclo de vida dos materiais, pode
ser dividido em duas fases: produção e utilização. A etapa de produção inclui as etapas de
extração, processamento, produção e distribuição do material, e os impactos relacionados a
esta fase são gastos energéticos, exploração de recursos naturais, aquecimento global,
chuva ácida, redução da camada de ozônio, emissão de substancias tóxicas, além de danos
à saúde dos operários. Já na fase de utilização estão incluídas as etapas de instalação, uso
e disposição final do material, e seus impactos referem-se à durabilidade e manutenção, aos
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
___________________________________________________________________________
- 77 -
riscos a saúde dos ocupantes da edificação, à reciclabilidade, ao potencial de reutilização e
ao tipo de disposição final de cada material (SPERB, 2000).
A avaliação desses impactos, durante o ciclo de vida dos materiais, é de extrema
importância, que cada uma dessas fases vem a gerar uma determinada reação ao meio
ambiente que pode ser evitada, ou diminuída, se forem conhecidas.
Nessa análise ambiental deve ser incluída ainda, a avaliação da durabilidade dos
materiais, dando prioridade também àqueles que exigem menores gastos em manutenção.
Quanto mais tempo uma edificação durar, mais baixo será o impacto de energia e poluição
resultantes da fabricação de seus materiais, segundo ROAF (2006). Isso porque quando o
material é durável, não será necessário que novos materiais sejam fabricados para repô-lo,
então o impacto causado na sua fabricação passa a ser “dissolvido” pelos anos de vida útil
do material.
No relatório DETR
28
(UK, 1998, apud SPERB, 2000) consta que é necessário reduzir
a exploração de recursos naturais para a produção de materiais de construção através de
estratégias de minimização do consumo, maximização da reciclagem e reutilização de
materiais e componentes de edificações.
É importante também que se considere o uso de materiais alternativos a fim de
reduzir possíveis impactos ambientais, e que se faça comparações práticas e críticas entre
esses materiais, visando selecionar aqueles menos agressores ao meio ambiente.
Muitos países europeus apresentam grande interesse em conhecer os impactos
ambientais relacionados aos materiais de construção, e ações nesse sentido já são tomadas
em alguns desses países. Um exemplo disso é que produtos danosos à camada de ozônio
tiveram sua utilização bastante reduzida, ou até banida em muitos desses países. Outro
exemplo é a substituição do PVC (policloreto de vinila), material considerado agressor, por
outros como o polipropileno (PP) e o polietileno (PE), nas tubulações hidrosanitárias. (HAL e
DULSKI, 1997, apud SPERB, 2000)
Isso mostra a importância de se conhecer os impactos causados pelos materiais,
pois a partir desse conhecimento, ações em busca de materiais menos impactantes devem
28
Departamento de Meio-Ambiente, de Transporte e das Regiões do Reino Unido.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 78 -
ser cada vez mais freqüentes, e aqueles componentes de alta agressão ao meio ambiente
evitados.
3.2. A influência dos materiais na sustentabilidade do edifício
A correta escolha dos materiais a serem utilizados na obra deve se dar de forma
consciente considerando-se a distância de sua fabricação, o desempenho térmico, acústico,
o custo, a facilidade de operação e de manutenção, etc., fazendo com que o projeto seja
mais integrado ao local em que está implantado, com menos impacto ao ambiente (DEL
CARLO et al, 2002).
Sabendo-se que os efeitos causados ao longo de todo o ciclo de vida dos materiais
de construção afetam no impacto ambiental que o edifício venha a gerar, é fundamental que
estes sejam tratados e especificados de forma que esses impactos sejam os menores
possíveis.
É importante que, além da preocupação com os impactos causados pelo ciclo de vida
dos materiais, considere-se também as suas características em relação à fase de construção
do edifício. MONTEIRO (2002) relaciona algumas ações que devem ser tomadas, a esse
respeito, a fim de reduzir também os impactos gerados nessa etapa de construção:
- padronização dos materiais traz maior agilidade na sua fabricação diminuindo o
maquinário necessário, além de ter maior facilidade de reposição, e menor necessidade de
qualificação de mão de obra, gerando maior rapidez na obra e menores gastos.
- consideração da dimensão e peso dos materiais a fim de reduzir a
necessidade de equipamentos para o transporte e a montagem da obra, gerando menos
gastos de energia e combustíveis.
- interface bem resolvida entre os materiais para evitar a necessidade de se
adicionar novos materiais para vedações e acabamentos.
- utilização de materiais fornecidos por mais de um fabricante a fim de facilitar
a reposição e complementação de algum material durante a obra, alem de facilitar a eventual
manutenção posterior.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 79 -
- utilização de materiais de fácil desmonte a fim de reduzir perdas na
desmontagem e possibilitar o reuso dos materiais em uma nova obra, evitando geração de
entulho, e a necessidade de fabricação de novos componentes.
Além dessas ações, o descarte final dos materiais a serem aplicados na edificação
deve ser considerado desde a fase de projeto, preocupando-se em saber se o material em
questão é rapidamente reabsorvido pela natureza ou se é um material que pode vir a gerar
poluição por liberar resíduos perigosos.
Outro aspecto, além do ambiental, que deve ser considerado na seleção dos
materiais de construção, é o aspecto econômico. DEL CARLO, et al (2002), levantam que
atualmente uma das maiores dificuldades dos profissionais da área que utilizam em seus
projetos conceitos de arquitetura de baixo impacto ambiental, é medir os aspectos das
vantagens de se optar por escolhas ambientalmente favoráveis, uma vez que essas
escolhas nem sempre são as que possuem as maiores vantagens econômicas. Por isso, é
importante, de acordo com LIPPIATT et al (1996), que seja feito um balanço entre os
benefícios ambientais e seus custos econômicos, de forma a identificar aqueles materiais
com boa performance ambiental e pouco ou nenhum acréscimo no seu custo.
Sabendo-se das diversas preocupações que o arquiteto deve ter ao especificar os
materiais de construção a serem aplicados em seu projeto, é importante que este tenha
conhecimento das características dos materiais e seus possíveis impactos ao meio-
ambiente. Porém, podem surgir algumas dúvidas ao se tentar relacionar os materiais
existentes com essas “novas” exigências que são apresentadas. Assim, serão citados a
seguir, alguns materiais de construção tradicionais, e algumas de suas características, de
forma a dar uma breve noção dos impactos causados por eles. Não se pretende, aqui,
fornecer informações aprofundadas ou definitivas sobre os materiais. Com o item a seguir
pretende-se demonstrar algumas características básicas de alguns materiais de forma que o
projetista tenha idéia do desempenho dos materiais que está especificando.
3.2.1. Alguns materiais de construção tradicionais
Inúmeros são os materiais existentes que fazem parte da construção de edifícios,
estando entre eles os artesanais, como o barro, a taipa, etc; e os industrializados como o
tijolo, o cimento, revestimentos cerâmicos etc.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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Conhecendo-se a dificuldade em se classificar os materiais de forma a conhecer se
sua utilização é, ou não, adequada, apresenta-se uma análise de alguns materiais, sob
aspectos ambientais considerados relevantes no processo de escolha dos mesmos, de
forma a auxiliar os projetistas nessa decisão.
Será adotada a divisão apresentada por DEL CARLO et al (2002), que divide os
materiais de construção em três grandes grupos, sendo eles: Materiais Orgânicos,
Cerâmicos e Metálicos, e considera alguns dos materiais mais utilizados na indústria da
construção civil brasileira. Neste trabalho, será acrescentado a esta classificação, o grupo de
Materiais de Acabamento, no qual estão inseridas as tintas e vernizes, o gesso, o carpete,
etc.
Além de uma breve caracterização destes materiais e seus impactos, apresenta-se a
análise feita por DEL CARLO et al (2002)
29
sob os seguintes aspectos ambientais:
disponibilidade de matéria-prima, impacto ambiental na sua extração, energia embutida,
durabilidade, manutenção, potencial de reutilização e de reciclabilidade, na qual o
desempenho dos materiais é classificado em cada um destes aspectos como excelente,
muito bom, bom, ruim ou péssimo
30
. Essa análise foi realizada pelo autor apenas para os
grupos de Materiais Orgânicos, Cerâmicos e Metálicos. Para o grupo de Materiais de
acabamento será realizada, neste trabalho, uma análise com base em dados coletados em
bibliografia.
3.2.1.1. Materiais Orgânicos
De acordo com DEL CARLO et al (2002) os materiais orgânicos são aqueles com
base em carbono, e englobam nessa classificação as madeiras, tanto serradas como com
processamento industrial, e os plásticos
31
.
29
Essa análise foi feita por DEL CARLO et al (2002), com base nas informações coletadas na publicação
Building materials energy and environment”, do The Royal Institute of Architects Austrália, 1996.
30
Essa classificação se apresenta bastante subjetiva. No entanto, será mantida neste trabalho respeitando
o formato da fonte consultada, que para fins de uma breve caracterização dos materiais, como se pretende
neste trabalho, esta classificação se apresenta de forma satisfatória.
31
Os plásticos podem ser caracterizados como materiais orgânicos por serem derivados de materiais
orgânicos como o petróleo. Essa classificação, apesar de muitas vezes ser questionada, será mantida pelo
motivo de que essa é classificação feita pela fonte escolhida para servir de base para essa análise, neste
trabalho.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 81 -
As madeiras podem ser serradas, que são aquelas provenientes de reflorestamento,
ou com processamento industrial que são os aglomerados, compensados, laminados, etc.
O uso da madeira pode ser tanto estrutural quanto ornamental. Com este material
pode-se fazer grandes estruturas de edificações, telhados, etc., assim como diversos tipos
de mobiliário, pisos, entre outros.
Segundo o “The Sustainable Design Resource Guide
32
(DENVER AIA, 2006) a
madeira possui diversas vantagens ambientais por ser um material natural, renovável e com
baixíssimo nível de energia embutida. Por ser renovável, possui também a vantagem de
poder ser desenvolvida de forma sustentável, mesmo não sendo essa uma prática
constante.
A madeira serrada é a que possui as maiores vantagens ambientais, pois tem alta
eficiência quanto à energia embutida e, ainda, funciona como fonte de resgate de CO²
(KRONKA, 2000, apud DEL CARLO et al, 2002).
“O uso da madeira de reflorestamento representa inegavelmente
aspectos que contribuem para o equilíbrio do meio ambiente, na
forma de: alternativa ao uso ostensivo das florestas nativas;
proteção aos solos, às nascentes e aos cursos d’água quando
corretamente manejadas; redução do efeito estufa seqüestrando
CO2 da atmosfera; contribuição na geração de renda
[...]”.(BRANDÃO, 1997, apud CORTEZ-BARBOSA et al 2001, p.7).
A estocagem de carbono da madeira é muito eficiente durante quase todo seu ciclo
de vida, tanto na própria árvore como na forma de materiais de construção. Assim, mesmo
durante sua utilização como material, a madeira apresenta benefícios ao meio ambiente,
absorvendo CO2.
As madeiras com processamento industrial também possuem diversas vantagens
ambientais, como o maior aproveitamento da madeira e a menor quantidade de sobras na
construção.
32
Guia de recursos para o projeto sustentável, realizado pelo Comitê de Meio ambiente do Denver AIA
(Instituto de arquitetos americano de Denver).
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 82 -
No que diz respeito à geração de resíduos, o CANADIAN WOOD COUNCIL (1997,
apud CORTEZ-BARBOSA et al 2001) afirma que a manufatura dos produtos em madeira
produz pouco resíduo em comparação a outros materiais, e mesmo esses resíduos, como
cascas, pó-de-serra, etc., podem facilmente ser reutilizados na produção dos outros
derivados da madeiras, como as madeiras de processamento industrial. Ainda em relação à
geração de resíduos, WINTER (1998, apud CORTEZ-BARBOSA et al 2001) aponta que a
madeira apresenta também vantagem em relação ao consumo de energia, pela possibilidade
de aproveitamento de seus resíduos como energia calorífica. CORTEZ-BARBOSA et al
(2001, p.7) concluem que:
A madeira possui um potencial altamente favorável ao meio
ambiente para ser utilizada como material de construção, por
representar um recurso renovável, não fóssil, de baixa demanda
energética em seu processo de produção e com grandes
possibilidades de aproveitamento do poder calorífico dos resíduos
produzidos, alem de ter um importante papel como medida
estratégica na diminuição da concentração de CO2 na atmosfera.”
A análise apresentada por DEL CARLO et al (2002) mostra claramente os benefícios
da madeira de reflorestamento sobre a madeira nativa, que leva cerca de 80 anos para
poderem ser utilizadas, o que justifica sua necessidade de preservação e de ser considerada
como péssima disponibilidade de matéria-prima (Tabela 3). No entanto, mesmo comparados
com a madeira de reflorestamento, pode-se perceber que os aglomerados e laminados são
os que apresentam o melhor desempenho em todos os aspectos.
Apesar de a madeira possuir inúmeras características positivas, ROAF (2006) atenta
que o seu uso pode acarretar em alguns impactos negativos se não forem tomados alguns
importantes cuidados, como atestar se a madeira é mesmo oriunda de reflorestamento e
verificar a distância da sua origem para o local a ser aplicada. O autor levanta essa
preocupação afirmando que atualmente, apenas um pequeno percentual da madeira
disponível comercialmente é certificada como sustentável e, na prática, isso pode ser difícil
de obter(ROAF, 2006, p.61). A outra preocupação apresentada é quanto à necessidade de
transporte desse material, que, muitas vezes, é transportada por grandes distâncias, o que
não torna seu uso vantajoso.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 83 -
Fonte: Building Material Energy and the Environement. Adaptado por DEL CARLO e KRONKA (2002).
Tabela 3Desempenho quanto ao impacto ambiental da madeira
MADEIRAS (TIPOS) ASPECTOS
ANALISADOS
Nativa Reflorestamento Compensado Aglomerado Laminados
Disponibilidade
de matéria-
prima
Péssimo
33
Muito bom
34
Muito bom Excelente Excelente
Impacto
ambiental na
extração
Ruim Muito bom Muito bom Muito bom Muito bom
Energia
embutida
Muito bom
Muito bom Ruim Bom Bom
Durabilidade
Bom Bom Bom Bom Bom
Manutenção
Ruim Ruim Ruim Bom Bom
Reutilização
Ruim Ruim Péssimo Bom Bom
Reciclagem
Péssimo Péssimo Bom Ruim Muito bom
Atenta-se que essa classificação não foi feita baseada nos padrões nacionais, por
isso a classificação de disponibilidade de matéria-prima para a madeira nativa ser péssima e
a de reflorestamento Muito Boa. No Brasil a disponibilidade de madeira nativa é enorme,
mas essa não recebe tratamento adequado, de forma que sua utilização se de forma
desordenada, gerando sérios impactos ambientais. Já a madeira de reflorestamento no
Brasil, não é tão disponível e nem amplamente divulgada ainda. Isso mostra que o Brasil
precisa ampliar suas políticas de preservação das florestas nativas e incentivo ao manejo
sustentável e reflorestamento.
Os plásticos, segundo LAWSON (1996, apud DEL CARLO et al, 2002), são
materiais de grande versatilidade, com vasta aplicação nas construções, pois são muito
utilizados em tubulações de instalações elétricas, hidráulicas, nos elementos de isolamento,
portas, janelas, luminárias, etc. No entanto, este é um material que apresenta certas críticas
no que diz respeito aos seus aspectos ambientais, devido aos seus aspectos tóxicos durante
a sua produção e ao alto consumo de energia demandado no processo construtivo.
Esse é um material composto por uma mistura de materiais orgânicos, criado através
de um processo químico de manufatura, por isso recebe a classificação de material
orgânico. As matérias-primas básicas para a produção do plástico são o petróleo, gás
33
No Brasil, essa classificação poderia se dar como Muito Boa, devido ao grande número de madeira
nativa que ainda se tem disponível. No entanto, o impacto da extração dessa madeira vem a ser enorme, que
poucas são as políticas de preservação, manejo sustentável e de reflorestamento no país.
34
Para o Brasil, essa classificação deveria ser Ruim, já que poucas são as madeiras de reflorestamento
disponíveis e amplamente divulgadas no país.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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natural e carvão. O petróleo é, tecnicamente, um recurso renovável, porém, o tempo
necessário para sua renovação é de milhões de anos, o que faz com que este seja
considerado um recurso limitado, tendo, assim, que ser utilizado com cuidado (DENVER
AIA, 2006).
Outra colocação em relação aos impactos do plástico é feita por ROAF (2006), que
afirma que, depois de sua produção, este material tende a soltar gases na atmosfera,
chamados de compostos orgânicos voláteis (VOCs), os quais podem ser prejudiciais se
inalados em qualquer quantidade.
Um dos plásticos mais utilizados na construção e no mundo é o PVC, que o Instituto
do PVC (2006) conceitua da seguinte forma:
“O PVC é um dos plásticos mais utilizados no mundo dado sua
enorme variedade de aplicações. O PVC ou Policloreto de Vinila é
um dos sintéticos mais importantes dentre as resinas de origem
petroquímica. Proveniente de duas matérias-primas naturais (sal
marinho 57% e petróleo 43%), foi o primeiro plástico a ser
desenvolvido comercialmente e seu processo de produção é eletro-
intensivo” (Instituto do PVC, 2006).
No entanto o PVC é um dos materiais que vem causando polêmica quanto à
nocividade de sua utilização, e foi substituído por outro material nos países europeus.
SPERB (2000) explica o que se questiona em relação à utilização do PVC, dizendo que sua
produção exige a criação de dois subprodutos intermediários, bicloreto de etileno e
cloretileno, ambos tóxicos e cancerígenos, além de os resíduos do processo de produção
também serem altamente tóxicos. Paralelo a isso existe o problema do descarte deste
material que não deve ser queimado em ambientes abertos por liberar sustâncias altamente
perigosas.
ROAF (2006) também comenta algumas características negativas do PVC, alertando
que este deve ser evitado por ser particularmente difícil de ser descartado de maneira
ecologicamente segura. O autor firma ainda que, apesar deste material ter uma boa
reciclabilidade, (tabela 4), os produtos provenientes dessa reciclagem, que vêm sendo
apresentados no mercado, são, em geral, de baixa qualidade.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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Fonte: Building Material Energy and the Environement. Adaptado por DEL CARLO e KRONKA (2002).
Tabela 4 Desempenho quanto ao impacto ambiental do plástico
ASPECTOS
ANALISADOS
Plástico
Disponibilidade de
matéria-prima
Bom
Impacto ambiental
na extração
Péssimo
Energia embutida Ruim
Durabilidade Muito Bom
Manutenção Muito bom
Reutilização Péssimo
Reciclagem Bom
Recomenda-se, portanto, que o uso do PVC seja evitado sempre que possível. Este
não precisa ser eliminado definitivamente das possibilidades de uso, no entanto, é preciso
ser usado com cautela.
3.2.1.2. Materiais Cerâmicos
O grupo de materiais cerâmicos são aqueles inorgânicos e não-metálicos, tendo
como composição primária o concreto e produtos para alvenaria, e o vidro. Sendo os
principais materiais construtivos deste grupo, o tijolo de barro, pedras (pisos, fachadas),
revestimento cerâmico (pisos, paredes e fachadas), cimento e vidro.
LAWSON (1996, apud DEL CARLO et al, 2002), afirma que, dentre os materiais
construtivos, o cerâmico é o que requer menor processo de industrialização para chegar até
a obra.
Os blocos cerâmicos
, mais conhecidos como tijolos, destacam-se pela sua
durabilidade e facilidade de fabricação. São produzidos a partir da argila, que é uma matéria-
prima abundante na superfície terrestre (INMETRO, 2006). Seu desempenho ambiental é
bastante satisfatório, como mostra a tabela 5.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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Fonte: Building Material Energy and the Environement. Adaptado por DEL CARLO e KRONKA (2002).
Basicamente, existem dois tipos de blocos cerâmicos, os fabricados com terra crua, e
os queimados. Os de blocos de terra crua possuem a vantagem de não serem poluentes por
não passarem pelo processo de queima, mas apresentam menor durabilidade. os tijolos
queimados são mais resistentes e duráveis, porém, precisam de altos níveis de energia para
serem fabricados, sendo mais poluentes.
Os revestimentos cerâmicos
estão entre os materiais de acabamento mais duráveis,
possuem baixa emissão de compostos voláteis e ainda necessitam de poucos cuidados com
manutenção.
O cimento
é um dos principais componentes utilizados na construção de edifício nos
dias de hoje. Mas apesar de possuir algumas vantagens ambientais como durabilidade,
manutenção, boa disponibilidade de matérias-primas, etc., é um material que demanda uma
quantidade considerável de energia para sua produção e ainda libera grandes quantidades
de CO2 na atmosfera, conforme WILSON (2006). Mas, como pode ser analisado na tabela
(5), este material possui, no geral, características bem positivas.
Outro material importante a ser considerado é a pedra
, que possui desempenho
muito bom, mas por ser uma matéria-prima não renovável, sua extração é considerada de
alto impacto ambiental. Segundo CORCUERA (2007) as pedras, de um modo geral, não
são poluentes, mas o radônio presente em algumas minas de extração pode ser altamente
tóxico para os trabalhadores na sua extração. As minas de extração ainda desfiguram a
paisagem e envolvem grandes consumos energéticos para a exploração e transporte de
pedras.
Tabela 5 – Desempenho quanto ao impacto ambiental dos materiais cerâmicos
MATERIAIS CERÂMICOS
ASPECTOS
ANALISADOS
Tijolo Pedras
Revestimento
Cerâmico
Cimento Vidros
Disponibilidade de
matéria-prima
Muito Bom Bom Muito Bom Muito Bom Bom
Impacto ambiental
na extração
Excelente Péssimo Bom Muito Bom Bom
Energia embutida
Bom Muito Bom Bom Bom Bom
Durabilidade
Bom Muito Bom Excelente Excelente Excelente
Manutenção
Bom Muito Bom Excelente Excelente Muito Bom
Reutilização
Ruim Muito Bom Péssimo Excelente Bom
Reciclagem
Excelente Muito Bom Ruim Ruim Muito Bom
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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Os vidros
são materiais amplamente utilizados na construção civil, no entanto, seu
uso deve ser avaliado. Apesar de ser um material cuja materia-prima é natural, abundante e
não poluente, deve ser utilizado com cautela pois requer grandes quantidade de energia
para ser fabricado e suas características isolantes térmicas e acústicas, são pobres. Uma de
suas vantagens é que pode ser facilmente reciclado e reutilizável (CORCUERA, 2007).
3.2.1.3. Materiais Metálicos
Os materiais metálicos conquistaram um espaço significativo na arquitetura após a
Revolução Industrial, a partir da qual os materiais como ferro e aço passaram a ser
produzidos em larga escala (DEL CARLO et al, 2002). Alguns dos materiais desse grupo são
aço, alumínio, cobre, zinco e chumbo.
Esse é um grupo de materiais com alta energia incorporada, como pode ser visto na
tabela 6, e conforme é confirmado por ROAF (2006), que ainda comenta que seu processo
de produção resulta de degradação ambiental local com seus resíduos.
Conforme apresentado na tabela 6,
os metais apresentam grande potencial para ser
reciclado. No entanto, ROAF (2006) afirma que mesmo sua reciclagem apresenta danos
ambientais, pois o processo de fundição requer grande consumo de energia e gera altas
emissões de dióxido tóxicas por causa do cloreto encontrado na maioria dos metais.
O aço e o alumínio, como mostrado na tabela 6 possui excelente reciclabilidade.
Porém, mais uma vez, ROAF (2006) atenta que os impactos resultantes da sua fabricação
inicial são muito fortes e o fato de serem de fácil reciclagem, não compensa os impactos
causados na fase de extração e fabricação.
O autor afirma, ainda, que o uso extensivo em edificações não pode ser considerado
ecológico e sugere que os metais deveriam ser usados somente em pequenas quantidades
para propósitos específicos, como para junção e fixação de materiais.
No entanto, sua utilização não deve ser, tão radicalmente, descartada. Isso porque
dependendo do caso, este material pode ser o mais adequado. A característica do uso a que
se destina também deve ser considerada. Isso pode ser confirmado, em VILAÇA (2004,
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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p.83), por Wanderley John
35
, que afirma que as estruturas em aço, particularmente as
treliçadas, permitem vencer grandes vãos com pouco material”. Outra vantagem desse
material pode se dar pela sua rapidez e facilidade na montagem. Portanto, o uso a que o
material se propõe também deve ser considerado.
Tabela 6Desempenho quanto ao impacto ambiental dos materiais metálicos
MATERIAIS METÁLICOS
ASPECTOS
ANALISADOS
Aço Alumínio Cobre
Zinco e
Chumbo
Disponibilidade
de matéria-prima
Muito Bom Muito Bom Ruim Péssimo
Impacto
ambiental na
extração
Ruim Péssimo Péssimo Ruim
Energia
embutida
Ruim Péssimo Ruim Péssimo
Durabilidade
Muito Bom Excelente Excelente Excelente
Manutenção
Ruim Muito Bom Excelente Excelente
Reutilização
Ruim Ruim Péssimo Péssimo
Reciclagem
Excelente Excelente Excelente Excelente
3.2.1.4. Materiais de Acabamento
Deve-se ter conhecimento das características e do desempenho ambiental dos
materiais de acabamento, uma vez que estes são materiais que freqüentemente são
modificados ao longo do ciclo de vida do edifício e por isso são amplamente fabricados e
precisa-se estar a atento a eles.
Dentre os diversos materiais de acabamento existentes, alguns que podem ser
citados e que são muito comuns nas construções são as tintas, vernizes, carpetes, gesso
etc.
As tintas, apesar de muitas vezes parecerem inofensivas à saúde humana e ao meio
ambiente, apresentam alguns impactos que devem ser considerados no momento de sua
escolha. Elas podem afetar a saúde humana por serem tóxicas e por poderem exacerbar
problemas de umidade no ambiente que for aplicada. Isso porque grande parte das tintas
utilizadas, como as tintas acrílicas, não deixa que a parede “respire”, acumulando umidade
35
Doutor em engenharia civil e professor associado da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo
(USP).
Fonte: Building Material Energy and the Environement. Adaptado por DEL CARLO e KRONKA (2002)
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 89 -
dentro das paredes e impedindo o movimento do calor entre esta e o ar do recinto (ROAF,
2006).
ROAF (2006) atenta que deve-se evitar tintas que contenham solventes, álcool
banco, metais pesados como o chumbo ou mercúrio, ou formaldeído. existem tintas não
prejudiciais à saúde e nem ao meio ambiente, que não apresentam compostos tóxicos em
sua composição
36
.
Uma solução comumente usada como alternativa às tintas, são os papéis de parede.
Até mesmo este material precisa ser usado com cautela. ROAF (2006) alerta que ao se
escolher esse acabamento, deve-se dar preferência àqueles feitos de papel, e não de
materiais sintéticos, como o vinil. O autor explica que o vinil contém substâncias nocivas,
como amianto e mercúrio, que são liberadas durante sua fabricação.
Essa recomendação em torno do vinil, também é feita aos pisos. Apesar de práticos
e duráveis, os pisos de vinil também apresentam esse inconveniente durante sua fabricação.
Este é um material à base de petróleo, portanto, sua fonte é escassa e não-renovável, sendo
que é um dos materiais derivados do PVC. MALIN e WILSON (2006) acrescenta que a
instalação desse piso é feita com adesivos que dificultam sua possível reciclagem ao fim de
sua vida útil.
O gesso é um material freqüentemente utilizado nos interiores das edificações,
principalmente como acabamentos de forro e como divisórias de ambientes. No entanto, sua
instalação possui a característica de resultar em grandes quantidades de entulho. Segundo
ROUSSEAU (1996) esses detritos podem ser reciclados, mas somente se não tiverem sido
‘contaminados’ com tintas ou adesivos.
Um dos produtos que é fabricado com gesso, que é amplamente utilizado nos
Estados Unidos e Europa, e que é bastante utilizado no Brasil, é a divisória em gesso
acartonado, ou drywall, que mistura estrutura de aço galvanizado com chapas de gesso.
Quanto à quantidade de entulho gerado, a Associação Brasileira dos Fabricantes de Chapas
para Drywall (2005) afirma que o drywall gera muito menos que a alvenaria convencional, e
que as placas de gesso são 100% recicláveis para serem aplicadas no processo de
produção do cimento.
36
Essas tintas são chamadas “ecotintas” e serão melhor explicadas no item 3.4.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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Uma vantagem que o drywall, certamente, possui é a flexibilidade que a aos
projetos e a rapidez na sua montagem, reduzindo o tempo da obra. Porém, o aço causa
diversos impactos ambientais, como foi apresentado anteriormente. E o gesso, apesar de
ser reciclável lembrando que este não pode receber nenhum tratamento para isso
acontecer – é composto por uma matéria-prima não renovável, que é a gipsita.
Assim, sua aplicação deve ser pensada conforme as necessidades de cada caso,
considerando suas vantagens e desvantagens. Isso se aplica também aos demais materiais.
O uso a que o material se propõe deve ser considerado e ponderado no momento da
escolha, além de suas características físicas.
É importante, que diversas alternativas sejam pensadas em conjunto, para se chegar
a conclusão de quais materiais irão atender de forma satisfatória ao uso destinado, trazendo
os menores impactos ao meio ambiente e à saúde humana. Esses, com certeza, serão a
opção mais apropriada.
3.3. Gestão dos materiais na construção
3.3.1. Gestão dos resíduos da construção
O Ambiente-Brasil
37
(2005) conceitua resíduos como sendo os resultados da sobra
de atividades da comunidade em geral, sejam industriais, domésticas, hospitalares,
comerciais ou agrícolas e podem se apresentar nos estados: sólido, semi-sólido e
líquido”, e os aponta como um dos mais graves problemas mundiais na atualidade.
Os resíduos em geral podem ser divididos em classes que vai de 1 a 3, de acordo
com sua nocividade e são detalhados por Ambiente-Brasil (2006), da seguinte forma:
Os resíduos Classe 1 são Resíduos Perigosos e são aqueles que apresentam riscos
à saúde pública e ao meio ambiente e exigem tratamento e disposição especiais em função
de suas características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade e
patogenicidade.
37
Ambiente-Brasil é um portal da Internet, focado no meio-ambiente, que tem a missão de estimular a
ampliação do conhecimento ambiental e a formação de uma consciência crítica sobre os problemas e soluções
para o meio ambiente.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 91 -
Os resíduos Classe 2 são Resíduos Não-inertes, que são aqueles que não
apresentam periculosidade, porém não são inertes. Tem como propriedades a facilidade de
combustão, ser biodegradável e ser solúvel em água, tendo basicamente as características
do lixo doméstico.
os resíduos Classe 3 são Resíduos Inertes que não são solúveis em água que,
quando em contato com o resíduo, continuará potável. Muitos desses resíduos são
recicláveis e não se degradam ou se degradam muito lentamente quando dispostos no
solo. São considerados classe 3 os entulhos de demolição, pedras e areias retiradas de
escavação, estando então, a maioria dos resíduos de construção inseridos nessa classe.
Os resíduos da construção civil são aqueles provenientes de suas ações, como
construções, reformas, reparos e demolições de edifícios, e os resultantes da preparação e
da escavação de terrenos que são os chamados entulhos de obra e podem ser tijolos,
blocos cerâmicos, concreto em geral, solos, rochas, metais, resinas, colas, tintas, madeiras e
compensados, forros, argamassa, gesso, telhas, pavimento asfáltico, vidros, plásticos,
tubulações, fiação elétrica etc. (CONAMA, 2002).
Os resíduos gerados por todo ciclo de vida da edificação e seus materiais devem
receber atenção especial. MONTEIRO (2002, p. 1260) menciona que existem diferentes
níveis de aproveitamento dos materiais, sendo eles o reuso quando a reutilização do
material é viável sem que seja necessária nenhuma atividade sobre este, ele pode ser
aplicado da maneira que foi retirado; o reaproveitamento quando a utilização do material
é viável mas necessita que certas alterações sejam feitas, tais como adição ou retirada de
certo componente ou produto, alterações de dimensões, moagem, etc.; e a reciclagem
quando a utilização do material é viável mas servindo de matéria-prima na elaboração de
novos materiais.
Outro fator de extrema importância, que também é colocado pelo autor, é que o
fato de o material ser reaproveitável e reciclável não é suficiente, tem que se ter disponível
todo o aparato necessário para o devido tratamento deste material, além da conscientização
dos envolvidos quanto à importância dessa ação.
Com o intuito de regulamentar a disposição do entulho gerado pelo processo de
construção da edificação, estabelecendo diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 92 -
dos resíduos da construção civil foi criada, pelo Ministério do Meio Ambiente (2002), a
resolução CONAMA 307. Essa resolução é baseada em alguns aspectos que devem ser
considerados, sendo eles os seguintes:
- a necessidade de implementação de diretrizes para a efetiva redução dos impactos
ambientais gerados pelos resíduos oriundos da construção civil;
- a contribuição que a disposição de resíduos da construção civil em locais
inadequados traz para a degradação da qualidade ambiental;
- o significativo percentual que os resíduos da construção civil representam dos
resíduos sólidos produzidos nas áreas urbanas;
- os geradores de resíduos da construção civil devem ser responsáveis pelos
resíduos das atividades de construção, reforma, reparos e demolições de estruturas e
estradas, bem como por aqueles resultantes da remoção de vegetação e escavação de
solos;
- a viabilidade técnica e econômica de produção e uso de materiais provenientes da
reciclagem de resíduos da construção civil, e
- os benefícios de ordem social, econômica e ambiental que a gestão integrada de
resíduos da construção civil deverá proporcionar.
Os resíduos específicos da construção civil são classificados pela Resolução
CONAMA 307 nas classes A, B, C e D, conforme seus tipos e características, como
mostrado na tabela 7 a seguir:
Tabela 7
– Classificação dos resíduos da construção civil.
Classe Tipo de resíduo
A
Resíduos reutilizáveis ou recicláveis como agregados, como:
de construção, demolição, reformas e reparos de pavimentação e de outras
obras de infra-estrutura, inclusive solos provenientes de terraplanagem;
de componentes cerâmicos, argamassa e concreto;
do processo de fabricação e/ou demolição de peças pré-moldadas em concreto
produzidas nos canteiros de obra;
B
Resíduos recicláveis para outras destinações, tais como: plásticos, papel, papelão,
metais, vidros, madeiras e outros;
C
Resíduos para os quais não foram desenvolvidas tecnologias ou aplicações
economicamente viáveis que permitam a sua reciclagem/recuperação, tais como
produtos oriundos do gesso;
D
Resíduos perigosos oriundos do processo de construção, tais como: tintas,
solventes, óleos e outros, ou aqueles contaminados oriundos de demolições,
reformas e reparos de clinicas radiológicas, instalações industriais e outros.
Fonte: Adaptado de Resolução CONAMA 307, 2002.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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No intuito de diminuir a geração do impacto decorrente da produção de resíduos pela
indústria da construção civil, deve-se fazer um gerenciamento desses resíduos, o que a
Resolução CONAMA 307 (2002) afirma ser o sistema de gestão de resíduos que visa
reduzir, reutilizar ou reciclar resíduos, incluindo planejamento, responsabilidades, praticas,
procedimentos e recursos para desenvolver e implementar as ações necessárias ao
cumprimento das etapas previstas em programas e planos”.
A gestão de resíduos deve se dar através da criação de um Plano Integrado de
Gerenciamento de Resíduos na Construção Civil que deve ser composto, segundo a
Resolução anteriormente citada, de um Programa Municipal de Gerenciamento de Resíduos
da Construção Civil, que deve ser elaborado, implementado e coordenados pelos
municípios, devendo estabelecer diretrizes técnicas e procedimentos para o exercício das
responsabilidades dos pequenos geradores, em conformidade com os critérios técnicos do
sistema de limpeza urbana local; e de Projetos de Gerenciamento de Resíduos da
Construção Civil, que deverão ser elaborados e implementados pelos geradores de
resíduos, tendo como objetivo estabelecer os procedimentos necessários para o manejo e
destinação ambientalmente adequados dos resíduos.
A Resolução coloca ainda que o Projeto de Gerenciamento de Resíduos da
Construção Civil deve ser apresentado juntamente com o projeto do empreendimento para
aprovação do órgão competente e deve estar em conformidade com o Programa Municipal
já mencionado. E para a realização desse Projeto de Gerenciamento de Resíduos, as
seguintes etapas devem ser incluídas:
- Caracterização: etapa de identificação e quantificação dos resíduos;
- Triagem: deve ser realizada uma triagem dos resíduos na sua origem ou na área
destinada licenciada, de acordo com suas classes;
- Acondicionamento: esta etapa diz respeito ao confinamento dos resíduos da sua
geração até seu transporte, que deve assegurar as suas condições de reutilização e
reciclagem.
- Transporte: o transporte deve se dar conforme as normas técnicas vigentes, que
devem ser conhecidas para cada caso.
- Destinação: a destinação dos resíduos depende de sua classe, e das diretrizes
estabelecidas na Resolução.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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Através do cumprimento dessas etapas, a empresa construtora deverá realizar seu
Projeto de Gerenciamento de Resíduos para cada uma de suas obras, devendo esta ser
uma ação comum àquelas empresas que apresentem essa preocupação em não contribuir
para a degradação ambiental. E às que ainda não possuem essa mentalidade, que a partir
da obrigatoriedade dessa ação e do devido respeito à essa obrigatoriedade, passe a agir de
forma responsável.
Apesar dessas questões não serem responsabilidade direta do arquiteto, é de grande
importância que este tenha conhecimento das ações exigidas e dos perigos que a geração
de resíduos acarreta. Assim, ao decidir pelos materiais de construção, o arquiteto deve
considerar aqueles cuja geração de resíduos seja pouco danosa ao meio ambiente e à
saúde humana.
Caso a gestão de resíduos não seja feita de forma adequada, pode-se ter um
impacto negativo ao solo, à atmosfera, às águas subterrâneas e superficiais e à saúde da
população e do meio ambiente.
3.3.2. Reutilização e reciclagem de materiais e renovação de matérias-primas
A disponibilidade de matéria-prima para a fabricação dos materiais deve ser
considerada e deve ser um recurso natural renovável e, de preferência, rapidamente
renovável. Os recursos não renováveis só devem ser utilizados em último caso, quando não
houver alternativa, e nas menores quantidades possíveis. Além disso, deve ser levado em
conta, também, a quantidade de recursos disponível na natureza, que quanto menor essa
disponibilidade, mais agressiva se torna sua extração MONTEIRO (2002).
Diversos são os materiais amplamente utilizados na construção de edifícios que são
compostos por matérias-primas não-renováveis. A fim de listar alguns desses materiais,
explicitando suas matérias-primas básicas (não-renováveis) e sua disponibilidade no meio
ambiente, SPERB (2000) apresenta uma avaliação qualitativa desses materiais, nesse
sentido (Tabela 8).
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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Tabela 8Avaliação da disponibilidade dos recursos não-renováveis necessários para a produção
dos materiais.
MATERIAL DE CONSTRUÇÃO MATÉRIAS-PRIMAS BÁSICAS AVALIAÇÃO
AREIA Silica Abundante
BRITA
Aluminossilicatos; Silicatos de magnésio e ferro;
Carbonatos; Sulfatos.
Abundante
CAL VIRGEM OU HIDRATADA Calcário Abundante
CIMENTO PORTLAND Calcário; Argila; Gipsita Abundante
CIMENTO AMIANTO
Calcário; Argila; Gipsita; Silicatos de magnésio e
Ferro.
Abundante
CONCRETO
Sílica; Aluminossilicatos; Silicatos de magnésio e
ferro; Carbonatos; Sulfatos; Calcário; Argila;
Gipsita.
Abundante
CERÂMICA Argila (com óxido de ferro) Abundante
AZULEJO
Argila ( com Quartzo e Feldspato); Chumbo;
Estanho; Óxidos.
Não-abundante
LOUÇA
Argila (com Quartzo e Feldspato e praticamente
sem óxido de ferro).
Abundante
GESSO Gipsita Abundante
VIDRO PLANO Sílica; Calcário; Dolomita; Feldspato. Abundante
ALUMÍNIO Bauxita Não-abundante
COBRE Cobre Não-abundante
ZINCO Zinco Não-abundante
AÇO GALVANIZADO
Minério de Ferro; Carbono (Manganês, Silício,
Cromo, Chumbo...); Óxido de Zinco.
Não-abundante
AÇO
Minério de Ferro; Carbono (Manganês, Silício,
Cromo, Chumbo...)
Não-abundante
POLIESTIRENO (PS) Estireno (petróleo) Não-abundante
POLIETILENO (PE) Etileno (petróleo) Não-abundante
POLIPROPILENO (PP) Propileno (petróleo) Não-abundante
POLICLORETO DE VANILA (PVC)
Eteno (petróleo); Cloreto de Sódio.
Não-abundante
Percebe-se, a partir da análise desses dados, que grande parte dos materiais
utilizados na construção de edifícios é proveniente de recursos naturais não-renováveis e,
por isso, precisam ser utilizados com muita cautela, independente de serem abundantes ou
não.
Dentre os materiais citados, os que requerem maior precaução são os metais e os
polímeros plásticos, pois, além de serem não-renováveis, suas matérias-primas não são
abundantes na superfície terrestre, correndo maiores riscos de serem eliminadas
definitivamente. Mesmo aqueles considerados abundantes devem ser utilizados com
Fonte: PETRUCCI (1980) E LIPPIATT (1998), apud SPERB (2000).
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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bastante atenção, pois podem se tornar escassos com o passar dos anos, se forem usados
indiscriminadamente.
Um material que é considerado abundante na superfície terrestre e que não foi
contemplado nesta lista, por ser considerada um recurso natural renovável, é a madeira,
como ressalta SPERB (2000). Porém, a autora alerta que, apesar de ser abundante, é
imprescindível que se faça um manejo sustentável das florestas.
O ideal é que se adote a reutilização ou reciclagem de materiais como fonte de
matéria-prima, evitando o descarte de materiais no meio ambiente, e diminuindo a extração
de recursos naturais. A reutilização de materiais, além de diminuir os impactos causados
com a extração de recursos naturais, ainda diminui a agressão que se dá pela da geração de
resíduos no processo de manufatura de novos materiais.
Nem sempre é possível reciclar os materiais de construção, uma vez que muitos
deles possuem em sua composição elementos que impossibilitam este tipo de tratamento.
Para se ter conhecimento da reciclabilidade, ou não, de alguns materiais apresenta-se a
análise realizada por SPERB (2000). Essa análise foi baseada na possibilidade de os
materiais serem reciclados para exercer a mesma, ou novas funções (Tabela 9).
Dos materiais analisados, percebe-se que quase todos possuem potencial para
reciclagem, com exceção da madeira tratada com produtos químicos tóxicos, o PVC e o
cimento-amianto.
Assim, espera-se que ao fazer a escolha dos materiais de construção, o projetista
opte por aqueles materiais compostos por matérias-primas que sejam facilmente renováveis.
Caso isso não seja possível, deve-se considerar aqueles cuja matéria-prima não-renovável
seja abundante e que o material seja reciclável. E caso a matéria prima básica do material,
não seja renovável e nem abundante, espera-se, no mínimo, que este material seja
reciclável ou reutilizável, podendo exercer a mesma ou nova função.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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Tabela 9 - Potencial de reciclabilidade de materiais de construção básicos.
MATERIAL POTENCIAL DE RECICLABILIDADE
Alumínio Reciclável
Cobre Reciclável
Zinco Reciclável
Aço Reciclável
Poliestireno expandido Reciclável
Polietileno (PE) Reciclável
Polipropileno (PP) Reciclável
Policloreto de vanila (PVC) Não-reciclável
Cerâmica Reciclável
Concreto Reciclável
Cimento-amianto Não-reciclável
Madeira tratada com produtos químicos tóxicos Não-reciclável
3.3.3. Materiais regionais
A escolha de materiais fabricados na região em que será realizada a construção deve
ser considerada e isso se por diversos motivos. Um desses motivos é que a distância
entre o local de fabricação dos materiais e a obra, pode influir significativamente na energia
demandada no transporte.
DEL CARLO et al, (2002), confirma isso, afirmando que uma importante
característica a ser observada na escolha dos materiais construtivos, é a sua fácil
disponibilidade, ou seja, que sejam encontrados em localidades próximas, não tendo que ser
transportados por distâncias muito grandes.
ROAF (2006), alerta que a influência que o transporte exerce sobre a energia
embutida do material, muitas vezes, é esquecida. Quanto mais longe um material tiver que
viajar, menor será sua eficiência quanto à energia incorporada. Isso deve ser ‘pesado’ ao
fazer a seleção dos materiais, uma vez que, de pouco adianta utilizar um material de baixo
impacto ambiental, se os ‘custos ambientais’ do seu transporte forem maiores.
Fonte
: Green Building Digest (1995); WILSON (1995); GANDOLLA et al (1994); STEUTEVILLE (1994)’,
apud
SPERB (2000).
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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Alguns dos diversos benefícios de se especificar materiais de origem local e/ou
regional são mencionadas por CROWTHER (1995), que afirma que através desse tipo de
especificação se estimula a economia local e regional; é reduzida a poluição causada pelo
transporte de materiais de fontes distantes; intensifica a eficiência ambiental dos materiais e
produtos locais e regionais; encoraja a formação de comércio ambiental na região; promove
a consciência da origem dos materiais e produtos usados nos projetos, e aumenta a
oportunidade de controle dos recursos da região.
Outra preocupação que se deve ter a este respeito é o fato de que alguns materiais
podem ser muito adequados a determinada região, mas inviáveis para outras. Necessitando
então que se faça avaliações para conhecer os materiais mais adequados para cada caso.
3.3.4. Materiais certificados
A certificação se apresenta como uma forma de diferenciação dos produtos, como
afirma OLIVEIRA
38
(2006, apud Editora Flex), pois ela garante a implantação eficaz dos
sistemas de controle e a garantia da qualidade dos produtos, diminuindo perdas e reduzindo
custos”. Assim, a certificação visa comprovar junto ao mercado e aos clientes que a
fabricação daquele produto é controlada de acordo com as normas específicas.
A ABNT (2006) aponta como os principais benefícios da certificação:
Assegurar eficiência e eficácia do produto, serviço ou sistema.
Assegurar que o produto, serviço ou sistema atende às normas.
Introduzir novos produtos e marcas no mercado.
Fazer frente à concorrência desleal.
Reduzir perdas no processo produtivo e melhorar a sua gestão.
Melhorar a imagem da organização e de seus produtos ou atividades junto aos
clientes.
Diminuir controles e avaliações por parte dos clientes.
Segundo MESEGUER (1991), dentre os materiais que são produzidos
industrialmente existem, os materiais tradicionais e os não tradicionais, sendo que os
primeiros, por serem utilizados bastante tempo, na sua maioria, são regulamentados
38
Informação obtida através da página da editora Flex na Internet acessada em 10/11/2006 . Antonio
Carlos Barros de Oliveira, Diretor de Certificações da ABNT – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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por normas ou especificações e são mais fáceis de ser controlados, utilizados e ter seu
“comportamento” analisado. No caso de materiais não tradicionais, por serem novos no
mercado, ainda não são qualificados por uma norma técnica que os regulamente. No
entanto, nos dois casos é importante que a qualidade do material seja atestada, seja por um
Certificado da Qualidade
39
do produto, por um certificado de garantia fornecido pelo próprio
fabricante ou por um selo de conformidade
40
. Essas são as exigências mais comuns nos
dias de hoje, e que são obrigatórias para empresas que possuem o Sistema de Gestão da
Qualidade implantado.
No entanto, é de fundamental importância que se acrescente a essas exigências a
preocupação com as questões ambientais, e essa atitude começa a se fazer presente a
partir do atestado de conformidade do produto sob os aspectos referentes ao ciclo de vida
dos materiais. Esse atestado é conhecido como “selo verde” e é uma prática comum entre
as empresas fabricantes de materiais de países como Estados Unidos, Japão, Austrália, e
diversos outros da União Européia. No Brasil, os selos verdes existentes atingem apenas o
segmento das madeiras, uma vez que o país não conta com legislação para estes fins no
setor de materiais (ARAÚJO, 2006).
Selo Verde pode ser conceituado como a certificação de produtos com qualidades
ambientais, que atesta - através de uma marca na embalagem - que o determinado produto,
é adequado ao uso, e apresenta o menor impacto ambiental em relação aos demais
disponíveis no mercado (ARQUITETURA ECOLÓGICA..., 2006).
Segundo CARVALHO
41
(2006, apud ARQUITETURA ECOLÓGICA..., 2006), esse
selo é atribuído com base em critérios ambientais elaborados para cada produto levando em
consideração o impacto das fases de extração da matéria-prima e produção. E funciona
como um tipo premiação, uma vez que esses critérios são elaborados visando a excelência
ambiental para a melhoria dos produtos e processos e se dá de forma voluntária.
39
Para obter esse Certificado da Qualidade, o produto deve passar por um processo de análise e testes
que irão comprovar que este atende às características a que se propõe. Esse processo de certificação é feito por
órgãos certificadores regulamentados que se baseiam em uma série de normas e especificações.
40
O selo de conformidade é composto pelas especificações do produto, normas de autocontrole do
fabricante, normas de inspeção, regulamento do selo, e, quando se tratar de um selo reconhecido por órgãos
oficiais, a homologação oficial.
41
Informação obtida em artigo da editora Flex na Internet, acessada em 10/11/2006. Rita Carvalho,
coordenadora da diretoria de certificação da ABNT - Associação Brasileira de Normas Técnicas.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 100 -
No Brasil a ‘certificação verde’ que se encontra disponível é a da madeira. A
responsabilidade em promover o manejo e a certificação florestal no Brasil é do Conselho
Brasileiro de Manejo Florestal, que representa o FSC
42
no Brasil. Sua missão, segundo o
FSC Brasil (2007), é difundir e facilitar o bom manejo das florestas brasileiras conforme
Princípios e Critérios que conciliam as salvaguardas ecológicas com os benefícios sociais e
a viabilidade econômica. O FSC não realiza certificações, ele é o responsável por
credenciar e monitorar entidades certificadoras que se comprometem a aplicar os princípios
e critérios adotados pelo FSC.
“Ao comprar um produto florestal certificado pelo FSC, o consumidor
tem garantias de que de que a extração da madeira foi realizada de
forma ambientalmente adequada. Além disso, o selo indica que os
direitos das comunidades que vivem na floresta ou nas proximidades
foram respeitados e de que a exploração de madeira resultou em
benefícios para a população local. A certificação também exige
condições de trabalho adequadas, segurança e melhor qualidade de
vida para os trabalhadores. Todo o processo respeita a legislação
de cada país, bem como tratados internacionais (GREENPEACE-
BRASIL, 2005).
Já existem diversos produtos e florestas com selo FSC no Brasil, e a tendência é que
cada vez mais produtores estejam aderindo a esta causa. Essa atitude tende, também, a
ser aderida pelos fabricantes dos diversos outros produtos da construção civil, no Brasil. No
entanto, a exigência do consumidor por ações desse tipo, é uma das grandes influências
necessárias para que isso ocorra, além da necessidade de se ter órgãos especializados para
fins de certificação de produtos.
42
FSC - Forest Stewardship Council (Conselho de Manejo Florestal), que é uma organização
internacional que promove o manejo responsável das florestas do mundo.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 101 -
3.4. Alternativas ecológicas para materiais de construção
Materiais de construção fabricados de acordo com alguns critérios de
sustentabilidade fazem parte do mercado da construção civil em diversos países. No
Brasil, os materiais considerados “ecológicos” também já começam a ser desenvolvidos.
Produtos ecológicos, ou eco-produtos podem ser definidos, segundo o IDHEA
43
(2006), como:
“[...] artigos e/ou bens de consumo elaborados sem agredir o meio-
ambiente e a saúde dos seres vivos, a partir do uso de matérias-
primas naturais renováveis ou naturais não renováveis, mas
reaproveitáveis, recicladas ou que impactem o mínimo possível
durante seu processo de fabricação e pós-uso”.
Deixa-se claro, que ao se referir a esses materiais como “ecológicos”, não se
pretende passar a informação de que estes sejam materiais que não causem impactos
ambientais nenhum, e sim que estes podem ser utilizados como alternativas àqueles de alto
impacto ambiental. Assim, o termo “material ecológico é utilizado, neste trabalho, como
referência aos materiais de baixo impacto ambiental e aos materiais alternativos criados a
fim de se obter o mesmo, ou melhor resultado que os tradicionais, mas gerando o menor
impacto possível ao meio ambiente.
Alguns materiais ecológicos já disponíveis no Brasil são: as ecotintas minerais a à
base d’água, os ecovernizes, as resinas para revestimento de pisos, as resinas para
isolamento térmico, as telhas onduline, dentre vários outros. Considera-se também como
ecológicos, alguns materiais como o bambu, a terra e a madeira (quando proveniente de
reflorestamento e manejo sustentável).
Algumas opções de ‘tintas ecológicas’ já são fabricadas no Brasil, sendo algumas
delas, segundo VILLAÇA (2004) e FONTES (2005):
43
IDHEA – Instituto para o desenvolvimento da habitação ecológica instituto que atua através da
prestação de serviços para a construção sustentável e reforma ecológica, e no desenvolvimento de produtos
ecológicos. Disponível em
www.idhea.com.br
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- Ecotintas minerais, com insumos de origem vegetal e mineral, não contêm
solventes e permitem que haja a transpiração do vapor de água;
- Tintas e texturas à base de terra crua, substituindo pigmentos que contêm metais
pesados;
- Tintas à base d’água, substituindo os solventes, tendo baixo teor de compostos
orgânicos voláteis, que são nocivas à saúde.
Em relação às tintas minerais, FONTES (2005) apresenta uma restrição em sua
aplicação, pois ela pode ser aplicada em paredes que tiverem sido regularizadas com
massa fina à base de cal, não podendo ser aplicada em paredes feitas com massa corrida
ou acrílica. No entanto, essa é uma medida simples de ser resolvida, que não impossibilita
seu uso, mas que precisa ser considerada.
A telha onduline, é uma ‘telha ecológica’ fabricada com uma monocamada de fibras
vegetais (orgânicas), impregnada com betume sob pressão e calor intensos, não possuindo
componentes que possam agredir o meio ambiente’. Seu fabricante garante, ainda, que essa
é uma telha leve, resistente, anticorrosão, de baixa transmissão térmica, impermeável, e
muito durável, entre outras. Ela é certificada com ‘selo verde’ por alguns países europeus.
(ONDULINE, 2003).
Outro tipo de cobertura ecológica já disponível são as produzidas com materiais
reciclados como embalagens ‘longa-vida’ e com tubos de pasta de dente. VILLAÇA (2004)
afirma que as oriundas dos tubos são compostas de 25% de alumínio e 75% de plástico,
suportando até 250kg/m e têm baixa transmissão de calor.
existem também, tubulações de esgoto feitas de garrafas plásticas (PET)
recicladas. Dessa forma, as garrafas são aproveitadas e ainda geram empregos para os
catadores de embalagens (VILLAÇA, 2004).
Outro material produzido através de materiais reciclados é a ‘madeira plástica’,
composta por diversos tipos de plásticos reciclados e fibras vegetais. FONTES (2005) cita
como algumas de suas utilizações a construção de decks, colunas, guarda-corpos,
corrimãos e mobiliários.
O bambu é uma opção que pode ser usada tanto em estruturas quanto nas paredes
da edificação. Segundo VILLAÇA (2004), este material possui ótima resistência, crescimento
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 103 -
rápido e é de baixo impacto ambiental, mas sua origem precisa ser verificada, para evitar
que estejam sendo extraídos de forma ilegal e inadequada.
A utilização de bambu, madeira e terra, em construções de pau-a-pique, adobe ou
taipa, também são alternativas sustentáveis, que podem ser consideradas. Porém, VILLAÇA
(2004) alerta que essas construções valem a pena se a terra for retirada for retirada do
próprio terreno ou de locais próximos, assim como a madeira e o bambu, que não devem
percorrer longas distâncias para chega no local da obra. E a extração não deve ter impacto
negativo no meio.
Apesar dos benefícios que os materiais ecológicos apresentam, ainda são várias as
dificuldades encontradas no Brasil para sua implementação e para o seu reconhecimento
através de selos verdes. ARAÚJO (2006) aponta que a falta de normalização e/ou legislação
para estes fins, no Brasil, faz com que a criação e o reconhecimento desses materiais seja
dificultada. O autor afirma ainda que as normas ambientais vigentes não garantem que uma
empresa não seja poluidora, mas sim que a mesma busque soluções para seus resíduos e
documente todas as ações que possam interferir no meio ambiente”.
ARAÚJO (2006) atenta que existem centenas de produtos ecológicos no mercado,
mas que ainda não possuem o devido reconhecimento, e afirma que o Brasil reúne todas as
condições para ser um grande produtor de produtos ecológicos e reciclados, que é o país
mais rico do mundo em matérias-primas naturais renováveis, tem um lixo abundante que
ainda é pouco aproveitado e possui milhões de toneladas de resíduos agrícolas e industriais
mal contabilizados. Com isso, poderia, ainda, gerar inúmeros empregos e exportar grande
parte desses produtos.
Assim, percebe-se um grande potencial desperdiçado por falta de educação
ambiental e informação prática sobre o assunto, além, claro, de maiores investimentos no
setor.
Enquanto os materiais ecológicos não são amplamente implementados no Brasil, de
forma a serem comumente aplicados na construção civil, é fundamental que os materiais
tradicionais, considerando, também, que muitos desses não possuem equivalentes
ecológicos, sejam especificados de forma responsável, de forma a diminuir, ao máximo,
seus possíveis impactos.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
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- 104 -
3.5. O LEED e os Materiais e Recursos Naturais
Sendo um dos objetivos deste trabalho estudar a importância da seleção dos
materiais de construção, na fase de projeto, para a garantia da sustentabilidade do edifício,
fica clara a necessidade de se conhecer mais profundamente a área do LEED de Materiais e
Recursos Naturais (Anexo 3), elaborado por USGBC (2005). Essa área é composta de um
pré-requisito e de 7 créditos, tendo a possibilidade de alcançar a pontuação máxima de 13
pontos.
O pré-requisito trata das formas de estocagem e coleta de materiais recicláveis para
o edifício com a intenção de reduzir a quantidade de lixo, produzido pelos seus usuários,
descartado de forma inadequada, a fim de dar a esse lixo o destino final adequado. O
requerimento é que se crie uma área facilmente acessível que sirva para todo o edifício e
seja dedicado à coleta e estoque do lixo reciclável, incluindo pelo menos a seleção de papel,
vidro, plástico e metais. Esse pré-requisito não é uma pratica difícil de ser aplicada, no
entanto é preciso que a cidade tenha um programa de reciclagem de lixo para que essa
coleta seletiva seja eficaz, caso contrário, de nada ou pouco adianta a aplicação desse pré-
requisito.
Os créditos requisitados nessa área estão resumidos a seguir com suas intenções, e
estratégias para seu cumprimento, de acordo com a versão 2.2 do LEED (2005). Esses
créditos tratam de questões que visam ao máximo a redução da geração de resíduos e do
desperdício de materiais.
Crédito 1. Reuso do edifício. Este item pede que, quando possível, o edifício seja
reaproveitado, reduzindo ao máximo a sua demolição. A intenção deste item é estender o
ciclo de vida dos componentes do edifício existente, conservar recursos naturais, reduzir a
geração de resíduos e o impacto ambiental causado pela demolição e construção de novos
edifícios, que estes demandam a fabricação de novos materiais, transporte, etc. Sugere-
se para este item que seja considerado o reuso de edifícios existentes, mantendo sua
estrutura, fechamentos e elementos e sejam removidos elementos que causem algum risco
aos usuários do edifício e melhorados os componentes que tragam eficiência energética e
da água, como janelas, sistemas mecânicos e instalações hidráulicas.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
___________________________________________________________________________
- 105 -
Crédito 2. Gestão dos resíduos da construção. A intenção desse item é reverter os
escombros da construção, demolição e limpeza do terreno, para áreas próprias, aterros e
incineradores, enquanto que os materiais recicláveis e reutilizáveis devem ser enviados para
seus locais apropriados ou para o processo de manufatura.
Crédito 3. Reuso dos materiais. A intenção deste item é que materiais e produtos sejam
reutilizados na construção de edifícios, com o objetivo de reduzir a demanda de matérias-
primas e de reduzir a geração de resíduos. Logo, reduzindo impactos associados à extração
e processamento desses recursos. Para isso, deve-se: identificar oportunidades em
incorporar materiais reaproveitados e/ou reciclados no projeto do edifício; pesquisar
fornecedores potenciais de materiais e considerar o reaproveitamento de materiais como
pisos, painéis, portas, caixilhos, mobiliário, tijolos e elementos decorativos.
Crédito 4. Conteúdo Reciclado. A intenção deste item é aumentar a demanda de produtos
do edifício que contenham materiais reciclados em sua composição, reduzindo, assim,
impactos resultantes da extração de matérias-primas. Algumas ações que devem ser
tomadas nesse sentido são: estabelecer metas para utilizar materiais com conteúdos
reciclados no empreendimento e identificar materiais e fornecedores que ajudem a atingir
essas metas.
Crédito 5. Materiais Regionais. Esse item visa aumentar a demanda por materiais
extraídos e fabricados na mesma região da obra, dando suporte ao uso de recursos nativos
e reduzindo a necessidade de transporte.
Crédito 6. Materiais Renováveis. Neste sexto item é pretendido que seja reduzida a
utilização de matérias-primas não-renováveis e os materiais que demandam longos ciclos
para serem renovados, e que estes sejam substituídos por materiais de fácil renovação. É
proposto que sejam estabelecidas metas na escolha de materiais facilmente renováveis e
identificados produtos e fornecedores para este fim e que seja considerado o uso de
materiais como bambu, madeira, linóleo, palha, cortiça, dentre outros.
Crédito 7. Madeira Certificada. Este item propõe que as matas sejam administradas de
forma ambientalmente responsável e que se estabeleçam metas para a escolha de madeira
certificada e identifiquem produtos e fornecedores que atendam essa determinação.
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
___________________________________________________________________________
- 106 -
Alguns desses créditos não fazem parte das decisões que devem ser tomadas na
fase de projeto de arquitetura, mas, mesmo assim, é importante que o arquiteto tenha
conhecimento de suas exigências. Isso ocorre com o crédito 2 Gestão de resíduos da
construção, que cabe mais à fase de construção do edifício. No entanto, o arquiteto precisa
ter conhecimento do quanto o material que está sendo especificado vem a gerar resíduos
danosos ao meio ambiente, e como os responsáveis pela obra devem tratá-los.
Além dos requisitos da área de Materiais e Matérias-primas, existem outros que
também devem ser considerados no momento da especificação de materiais para o edifício.
É o caso do crédito 4, da área de Qualidade do Ambiente Interno, que sugere a seleção de
materiais com baixa emissão de componentes voláteis.
Conhecidos os créditos e exigências do LEED, sente-se a necessidade de explorar e
desenvolver maiores conhecimentos em torno de cada um dos aspectos exigidos por este
sistema, no que diz respeito aos materiais de construção, tentando sempre tratar de
questões que tenham relação com a realidade brasileira.
3.6. Considerações sobre o LEED e a especificação de materiais
A partir da necessidade de se conhecer as características dos materiais, para que se
faça sua correta especificação, propõe-se, neste trabalho, que os aspectos LEED sejam
considerados. Esses aspectos demandados pelo LEED, podem ser tanto aplicados na
análise dos materiais no que diz respeito ao seu impacto ambiental, quanto podem servir de
diretrizes gerais para o arquiteto nesta escolha, na fase de projeto, que é a principal
proposta deste trabalho.
Em resumo, as principais exigências LEED para a escolha e tratamento dos materiais
requerem que o arquiteto considere alguns cuidados como os citados a seguir, que serão a
base para a formulação de diretrizes que serão propostas no capítulo seguinte. Os principais
elementos a serem considerados são:
reaproveitamento dos materiais e estruturas do edifício existente;
materiais que não gerem resíduos danosos ao ambiente e/ou à saúde humana;
A especificação de materiais e a Sustentabilidade Ambiental Capítulo 3
___________________________________________________________________________
- 107 -
previsão de tratamento aos escombros da construção, demolição e limpeza do
terreno;
seleção de materiais que possam ser reaproveitados e de fácil desmonte;
seleção de materiais que possuam componentes reciclados em sua composição;
uso de recursos nativos, reduzindo a necessidade de transporte;
redução da utilização de matérias-primas não-renováveis;
escolha de madeira certificada.
Acrescenta-se, ainda, a esta lista de ações, três itens que não são contemplados
diretamente pelo LEED, mas que também possuem grande importância nesse processo de
decisão dos materiais de construção a serem utilizados na edificação e que precisam ser
considerados. São eles:
Durabilidade: seleção de materiais que tenham longos ciclos de vida, e que sejam
de difícil deteriorização.
Manutenção: seleção de materiais que não precisem de constantes manutenções e
reposições.
Energia Embutida: seleção de materiais que não demandem muita energia em sua
fabricação.
Conhecendo já, a importância da especificação dos materiais para a qualidade
ambiental do edifício, além dos principais materiais utilizados na indústria da construção civil
brasileira, suas características, principais impactos ambientais que causam, dentre outros
aspectos, fica clara a necessidade de se considerar essas questões no momento da
especificação dos materiais a serem aplicados no edifício. Para tal, propõe-se, no capítulo
seguinte, algumas diretrizes que sirvam de auxílio ao arquiteto nessa tomada de decisão,
baseadas nas exigências LEED e no que foi previamente estudado neste trabalho.
CAPÍTULO 04
Critérios para especificação de materiais com menor
impacto ambiental
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 109 -
A geração de critérios para especificação de materiais de construção sustentáveis, no
que diz respeito ao seu baixo impacto ambiental, tem como objetivo orientar os projetistas na
melhor escolha possível de materiais, nesse sentido.
As informações apresentadas neste capítulo não pretendem ser conclusivas e nem
definitivas. Consta apenas de uma proposta de auxílio à seleção de materiais com menor
impacto ambiental, visto que existe uma escassez de dados neste sentido.
A fim de conhecer, na prática, os critérios que vem sendo adotados para a
especificação dos materiais, por parte dos arquitetos que têm como premissa de projeto
os aspectos ambientais da sustentabilidade, foi realizada uma pesquisa de campo, que é
descrita a seguir.
4.1. Pesquisa de campo: Critérios da especificação por parte de alguns
arquitetos brasileiros
Sendo um dos objetivos deste trabalho saber quais os principais aspectos que devem
ser considerados para a especificação de materiais de forma a reduzir, ao máximo, os
impactos do edifício no meio ambiente, acredita-se ser importante conhecer as ações que
vêm sendo feitas a respeito disso, no Brasil. Daí o motivo da realização dessa pesquisa de
campo.
Com essa pesquisa, será possível saber quais os aspectos considerados importantes
pelos arquitetos que se preocupam com a preservação do meio ambiente através da
arquitetura sustentável na seleção dos materiais e quais são as principais dificuldades
enfrentadas nessa escolha. Assim, pode-se entender, na prática, quais são as questões que
estão sendo levadas em conta na especificação do projeto no Brasil, e onde ainda é
preciso evoluir nesse sentido.
Para a realização da pesquisa de campo foram selecionados alguns arquitetos
brasileiros, para quem foram enviados questionários com algumas perguntas em relação a
seus critérios de especificação.
O critério utilizado para selecionar os arquitetos para participar da pesquisa foi que
tivessem, em seu currículo e/ou na apresentação de suas características de trabalho em
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 110 -
1
0
10
4
1 1
3
2
1
0
0
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
Nº de arquitetos
Sul Sudeste Centro-
oeste
Nordeste Norte
Região
Arquitetos identificados Arquitetos participantes da pesquisa
suas páginas pessoais da internet, alguma evidência da sua preocupação em realizar uma
arquitetura ambientalmente correta.
Para encontrar esses arquitetos foram consultados alguns órgãos como IAB
44
(Instituto Brasileiro de Arquitetos) e ANAB
45
(Associação Nacional de Arquitetura
Bioecológica), sites de busca na internet e comunidades na internet com grupos de
discussões em torno do assunto. Foram encontradas algumas dificuldades nessa busca,
devido a pouca quantidade de arquitetos brasileiros que aplicam conceitos de
sustentabilidade ambiental em seus projetos, e mais ainda, pela falta de um banco de dados
que os evidenciem.
Gráfico 1Arquitetos identificados por realizar arquitetura ambientalmente sustentável no Brasil e
participantes da pesquisa.
44
No IAB, buscou-se arquitetos cadastrados na área de atuação em Planejamento Ambiental e
Arquitetura Eco-sustentável. Dentre esses arquitetos, foram selecionados somente aqueles que apresentavam,
realmente, alguma evidência de ter feito ou de estar fazendo projetos baseados nos princípios ambientais da
sustentabilidade.
O núcleo consultado foi o IAB - São Paulo, por ser o único que disponibiliza a categorização por área de
atuação.
45
A maioria dos arquitetos selecionados foi encontrada através de referências feitas em artigos, cases,
parceiros, colaboradores e links disponíveis na página oficial da ANAB. Além disso, foi feito contato telefônico
com a associação em busca de indicações de arquitetos atuantes nesse setor. Através desse contato foram
indicados alguns poucos arquitetos e a falta de indicações precisas disponíveis foi justificada pelo pequeno
número de arquitetos atuantes nesse setor e por estes atuarem de forma pontual, isolada, dificultando a
formação de grupos de referência.
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 111 -
Foram identificados cerca de dezesseis arquitetos dentro destes parâmetros, em
diversos estados do país (Gráfico 1). Certamente, existem mais arquitetos no Brasil que se
encaixam nesse grupo, mas, devido às dificuldades mencionadas, estes não foram
encontrados. Dentre os que foram identificados, conseguiu-se os meios de contato de,
somente, doze deles. O contato com esses arquitetos foi feito através de e-mail, e alguns por
contato telefônico. Dos doze consultados, apenas sete se dispuseram a participar da
pesquisa, sendo esse, então, o universo da pesquisa.
4.1.1. Caracterização do grupo participante da pesquisa
Os arquitetos participantes da pesquisa
46
estão caracterizados no quadro 2, para que
se possa conhecer seu tempo de atuação no mercado, seu nicho de atuação, seu tempo
considerando questões ambientais em seus projetos e o estado e cidade em que trabalha.
Quadro 2Caracterização dos arquitetos participantes da pesquisa
Nicho de atuação
Tempo de
atuação
Tempo que
incorpora questões
ambientais
Local de trabalho
Arquiteto A
Residencial, comercial
e paisagismo.
Consultoria em arq.
Bioclimática e
Sistemas
sustentáveis.
16 anos
Desde 1999.
7 anos
Brasília, DF
Arquiteto B
Residencial,
comercial,
institucional, hotelaria
e urbanismo.
20 anos
Desde 1986.
20 anos
São Paulo, SP
Arquiteto C
Residencial, escola,
pousadas e ecovilas.
22 anos
Desde 1984
22 anos
Belo Horizonte,
MG
Arquiteto D
Variado 30 anos
Desde 1993.
13 anos
Maceió, AL
Arquiteto E
Comercial,
Residencial e lazer
25 anos
Desde 2001.
4 anos
Rio de Janeiro, RJ
Arquiteto F
Comercial, residencial
e hoteleiro
36 anos Não informado Fortaleza, CE
Arquiteto G
Residencial e
comercial
12 anos
Desde 2000.
6 anos
São Paulo, SP
46
Os arquitetos participantes da pesquisa serão identificados por letras, de forma a ter sua identidade
preservada.
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 112 -
4.1.2. Ferramenta utilizada
A ferramenta utilizada para coleta de informações sobre as características de
especificação de materiais por parte dos arquitetos consultados foi o questionário.
O questionário apresentado aos participantes foi composto de oito questões (anexo
4), sendo cinco objetivas e três subjetivas. Além dessas questões foi sugerido que cada um
fizesse algum comentário que considerasse pertinente, em torno do assunto.
As questões objetivas foram formuladas para permitir uma comparação mais clara,
entre os dados, ao final da pesquisa. Através das questões subjetivas desejou-se conhecer
as diferentes visões de cada um, em relação ao assunto.
As duas primeiras perguntas do questionário foram formuladas com a intenção de
saber desde quando e o que motivou esses arquitetos a incorporarem os princípios da
sustentabilidade ambiental em seus projetos. A partir da terceira questão procura-se
entender um pouco as características e princípios adotados por cada arquiteto no momento
da especificação de materiais em seus projetos.
4.1.3. Análise dos principais resultados
Todos os arquitetos participantes da pesquisa responderam às questões propostas,
de forma que se pôde ter uma visão geral das principais características e dificuldades
enfrentadas por esse grupo, dentro do assunto proposto. Alguns dos respondentes
apresentaram diversos comentários extras em relação ao assunto em questão e ainda
forneceram materiais informativos que auxiliaram no entendimento de suas colocações, e
ainda serviram como bibliografia para este trabalho.
Ao serem questionados, na questão dois, sobre o que os motivou a incorporar os
princípios de sustentabilidade (aspectos ambientais) em seus projetos (Gráfico 2), percebeu-
se que a maioria foi motivada simplesmente pelo anseio em colaborar, da maneira que pode,
com a preservação do meio ambiente. Outro motivo que foi colocado, por dois dos
arquitetos, de forma livre, foi o fato de a preservação ambiental consistir em questão ética da
atividade profissional do arquiteto.
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 113 -
0% 0%
71,43%
14,29%
28,57%
14,29%
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Sugestão/ Exigência de algum cliente/
empreendedor
Almejo de diferenciação no mercado
Simples anseio em colaborar com a
preservão do meio ambiente
Outros- Coerência com uma visão de
mundo sistêmica
Outros- Por uma questão ética da
profissão e respeito com o meio
ambiente
Outros- Influência de um cargo
assumido
A partir desse resultado percebe-se que a maioria dos arquitetos que adotam as
questões ambientais como premissa de seus projetos, o fazem com base na sua própria
consciência de que podem e precisam fazer algo para colaborar com a preservação do
planeta. O resultado mostra também que os clientes e empreendedores não exerceram
nenhuma influência nessa postura, mostrando o quanto estes ainda não se encontram
engajados com esta causa.
O almejo de diferenciação no mercado, também não foi um fator que os motivou a
incorporar os princípios ambientais a seus projetos. Essa informação mostra que o projeto
“ambientalmente correto” ainda não apresenta grande influencia na concorrência de
mercado.
Gráfico 2Resultado da questão 2: O que o motivou a incorporar os princípios de sustentabilidade
(aspectos ambientais) em seus projetos?
Nessa questão 2, os arquitetos puderam citar mais de um motivo que os levou a
incorporar os principios de sustentabilidade em seus projetos. A porcentagem apresentada
revela o quanto cada opção foi mencionada.
A fim de entender o que mais influencia nas decisões dos materiais a serem
aplicados em seus projetos, os arquitetos foram perguntados sobre quais os critérios
utilizados para a especificação de materiais (Gráfico 03). Os resultados para essa pergunta
foram os mais diversos, sendo que o impacto ambiental dos materiais foi o critério
selecionado como o mais importante pela maioria.
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 114 -
3,67
2,67
4,33
2,17
3,00
0,67
2,83
3,50
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00
Aspectos
Outros - Certificação do Material
Outros - Conforto Ambiental
Outros - Adequação ao uso do
ambiente e ao programa de
necessidades
Disponibilidade na região
Sugestão/ exigência do cliente
Impactos ambientais
Estética
Custo
Outro critério que os arquitetos mencionaram que exerce bastante influência na
decisão dos materiais é o custo dos mesmos, seguido da sua disponibilidade na região.
Esse resultado mostra que esses arquitetos dão preferência aos materiais com
menor impacto ambiental e que possuem o melhor custo-benefício. O fato de considerarem
a utilização de materiais disponíveis na região é um ponto positivo, pois evita gastos
desnecessários com transporte, e a poluição gerada por este.
A adequação do material ao uso do ambiente e ao programa de necessidades do
projeto, foi apontada de forma espontânea por alguns arquitetos. Este critério ficou
classificado como sendo o quarto mais importante no processo de escolha, comparado aos
demais. No entanto, levanta-se que dos três arquitetos que o mencionaram, os três
apontaram este como sendo o critério mais importante a ser considerado. Isso mostra que
este é, realmente, um item fundamental a ser atendido na especificação de materiais. Pouco
adianta escolher materiais de baixo impacto ambiental se estes não atenderem às
necessidades a que se propõem. Por esta lógica, acredita-se que este critério de escolha
não se apresentou como sendo o primeiro mais importante, porque não constava entre as
opções disponíveis no questionário.
Gráfico 3 – Resultado da questão 03: Quais seus critérios para a especificação de materiais? (5 =
mais importante e 1 = menos importante).
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 115 -
5,29
4,43
4,14
3,00
4,00
4,43
4,29
6,86
2,14
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00 6,00 7,00 8,00
Aspectos
Outros
Potencial da região
Existência de certificação “verde”
Durabilidade
Facilidade de Manutenção
Geração de resíduos na sua
fabricação, utilização e/ou descarte
Matérias-primas que sejam de fácil
renovação
Possibilidade de reutilização
posterior
Possibilidade de ser reciclado
A influência que os materiais exercem sobre o conforto ambiental do edifício foi
mencionada por apenas um arquiteto como sendo importante no auxilio a decisão, e mesmo
assim, o peso dado para este critério foi baixo. Esta constatação é, de certa forma,
preocupante, pois aparenta que mesmo por esses arquitetos, a estética ainda é considerada
mais importante do que o conforto ambiental que o material pode ajudar a proporcionar.
Os impactos ambientais dos materiais foram apontados como os critérios mais
importantes a serem considerados na escolha dos materiais. Porém, esses impactos são
causados por diversos fatores ao longo do ciclo de vida dos materiais. Os arquitetos foram,
então, perguntados sobre quais desses fatores consideram de maior importância na seleção
dos materiais, a fim de minimizar os impactos causados por estes (Gráfico 4).
Gráfico 4Resultado da questão 4: Sabe-se que são diversos os impactos ambientais
causados ao longo do ciclo de vida dos materiais. A fim de minimizar esses impactos, quais os
principais aspectos que considera na decisão pelos materiais? (9 = mais importante e 1 = menos
importante).
Dentre as diversas opções apresentadas, a que foi apontada como o principal
aspecto a ser considerado foi o potencial da região. Esta resposta mostra que esses
arquitetos estão preocupados em utilizar materiais regionais, reduzindo a necessidade de
transporte por longas distâncias e, ainda, beneficiando a produção local. Esse é, também,
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 116 -
um dos aspectos mais fáceis de ser colocado em prática, e que auxilia consideravelmente na
diminuição dos impactos ambientais gerados pela escolha dos materiais.
O grupo de arquitetos consultados destacou que a possibilidade de o material ser
reciclado é outro aspecto importante que consideram ao fazer a especificação para seus
projetos. Essa atitude é bastante positiva, pois, dessa forma, diminui-se a necessidade de
extração de novas matérias-primas.
Os demais aspectos foram classificados, praticamente, sob o mesmo grau de
importância, sendo que, a durabilidade dos materiais e a possibilidade de reutilizar os
materiais posteriormente, foram considerados mais relevantes.
Percebe-se, nos resultados do gráfico 4, que um dos aspectos que é menos levado
em consideração, pelos arquitetos, é a geração de resíduos dos materiais. Deve-se manter
atento para esta questão, que, muitas vezes, os resíduos podem apresentar sérios riscos
à saúde humana e ao meio ambiente.
Ainda na questão 4, foi perguntado se, na prática, alguns dos aspectos apresentados
são difíceis de ser considerados no momento da decisão dos materiais. As respostas obtidas
foram bastante diversas, mas os principais problemas citados foram:
- a dificuldade em encontrar materiais com certificação verde;
- a dificuldade em se obter materiais oriundos de matérias-primas de fácil renovação;
- a dificuldade em utilizar materiais considerando a possibilidade de sua reutilização
posterior.
Alguns comentários foram feitos a respeito dessas dificuldades. O arquiteto E
comenta que os aspectos citados não são de difícil aplicação, porém, no Brasil, a oferta de
produtos “sustentáveis” é mínima, o que faz com que sua aplicação seja muito dificultada.
Sobre os materiais certificados, o arquiteto B acrescenta que estes são muito difíceis
de serem utilizados por considerá-los raros e caros. E conta, ainda, que isso se aplica
principalmente às madeiras, e que, por esse motivo, tem utilizado em seus projetos outras
alternativas, como os laminados.
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 117 -
4
3,29
3
2,14
2,86
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5
Aspectos
Outros
Falta de métodos de auxílio à
decisão
Falta de materiais disponíveis na
região
Falta de interesse por parte dos
clientes/ empreendedores
Falta de informações disponíveis
em relação às características dos
materiais
O arquiteto C levanta que o mais difícil é compatibilizar todos esses aspectos e
sugere que estes sejam priorizados de acordo com o que for mais conveniente para cada
projeto e para cada situação.
Na questão 5 (Gráfico 05) pretendeu-se saber quais as principais dificuldades, no
geral, que esses arquitetos enfrentam no momento da especificação de materiais
tradicionais que sejam de baixo impacto ambiental. E a principal dificuldade apresentada foi
a falta de informações disponíveis em relação às características dos materiais.
Vale ressaltar que, as informações sobre as características dos materiais existem,
porém, não são sistematizadas de forma acessível a todos. O resultado dessa questão
comprova isso. E quando se trata de informações, sobre o desempenho ambiental dos
materiais, destinadas ao auxílio da tomada de decisão, se tornam ainda mais difíceis de
serem encontradas.
Gráfico 5 – Resultado da questão 5: Quais as principais dificuldades que enfrenta na seleção de
materiais de baixo impacto ambiental? (5 = mais importante e 1 = menos importante).
Outras dificuldades que receberam pesos altos na pesquisa foi a falta de interesse
por parte dos clientes e empreendedores em aplicar materiais de pouco impacto ambiental
em seus empreendimentos e também a falta de materiais disponíveis na região.
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 118 -
Sim; 71%
o; 19%
Sim o
Um dos arquitetos fez um pertinente comentário sobre a postura que o arquiteto deve
ter em relação a seus projetos:
Temos que muitas vezes embutir de forma camuflada os elementos
(ambientais no projeto). Pois muitas vezes os envolvidos nos
processos não têm consciência (da necessidade de aplicar as
questões ambientais), assim, para não parecer ‘papo de arquiteto’
aplicamos as soluções incorporadas a arquitetura de tal maneira como
se fosse natural ao projeto, sem grandes questionamentos[...]”.
Enquanto todos os envolvidos no processo, incluindo clientes, empreendedores,
fabricantes, projetistas, construtores, etc, não estiverem engajados nessa causa, a melhor
forma de o arquiteto consciente agir é mesmo camuflando suas decisões no projeto em
busca da arquitetura sustentável, fazendo dessas decisões, algo comum, que já faz parte de
seus princípios.
Ainda na questão 5, a opção outros foi bastante mencionada e recebeu peso alto.
Para esta opção foram apresentadas as seguintes dificuldades por alguns respondentes:
“Falta de uma política com benefícios fiscais e financiamentos com taxas mais baixas a
empreendimentos sustentáveis” e a falta de mão de obra especializada em tecnologias
sustentáveis em locais distantes das capitais.
Em relação aos materiais alternativos, ditos “ecológicos”, a grande maioria revelou
especificar esses materiais em seus projetos (Gráfico 06), sendo alguns deles: as tintas com
pigmentos minerais; tintas a base d’água; telhas onduline, telhas de material plástico
reciclado; tijolos de solo-cimento; concreto reciclável; forros em placas de papel reciclado de
caixa tetra pak; talo de babaçu; bambu; madeiras certificadas, etc.
Gráfico 6– Resultado da questão 6: Costuma especificar materiais alternativos, ditos “ecológicos”,
para seus projetos?
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 119 -
2,5
2
4
3,5
3
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5
Aspectos
Outros motivos 5 1
Não considera que sejam seguros
e/ou eficientes 4 3
Dificuldade de aceitação por parte
dos clientes e/ou empreendedores
3 5
O custo desses materiais 2 2
Dificuldade de encontrar esse tipo
de material na sua região 1 4
os arquitetos D e G não costumam especificar esse tipo de material,
principalmente, por ser de difícil aceitação por parte dos clientes e empreendedores, e por
perceberem certa dificuldade em encontrar esses materiais em sua região. Outros motivos
apontados foi a falta de materiais desse tipo com durabilidade, qualidade, estética e preço
compatíveis aos materiais tradicionais e a ausência de informações técnicas. Os outros
possíveis motivos apresentados a eles foram classificados conforme apresentado no gráfico
07.
Gráfico 7 – Complemento de resposta para questão 06: Por que não costuma especificar materiais
alternativos, ditos “ecológicos”, para seus projetos? (5 = motivo mais importante e 1 = motivo menos
importante).
Ao analisar esses resultados, pode-se perceber que o principal motivo para a não-
utilização dos materiais ecológicos é a falta de informações a seu respeito. Seja por parte do
cliente, que muitas vezes nem sabe da existência desses, seja por parte do arquiteto que
ainda tem muitas dúvidas sobre a real eficiência desses materiais.
Para se ter conhecimento da importância que os arquitetos participantes da pesquisa
dão à especificação dos materiais em seus projetos, lhes foi perguntado: qual a influência
que a especificação dos materiais exerce no seu ato de projetar?
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 120 -
As respostas obtidas foram bastante divididas. Metade dos consultados tem essa
decisão como sua principal diretriz de projeto. Ou seja, consideram que a partir da seleção
dos materiais, e claro, da implantação do edifício, é que as outras soluções são dadas. a
outra parte dos consultados acredita que a especificação seja um item muito importante,
mas que é uma conseqüência das decisões e dos conceitos adotados para o projeto.
Além dessas duas, existe uma terceira opinião, que é dada por um dos arquitetos
questionados, que acredita que essa influência seja muito pequena. Muito provavelmente
por acreditar que as demais decisões são mais relevantes a ponto de ter influência em seu
projeto.
Um dos arquitetos afirmou que os materiais e tecnologias que utiliza, inferem
diretamente nos sistemas de modulação e, mesmo, na construção do edifício. Sendo a
especificação, então, a base para seu projeto e para a obra em si.
Outro comentário interessante foi feito pelo arquiteto G que diz que a especificação
dos materiais “é um item muito importante do projeto, pois grande parte da decisão está a
cargo do arquiteto, e tal decisão irá repercutir em custos financeiros e ambientais, além de
influenciar no comportamento dos indivíduos e suas relações”. Foi levantado também, que a
especificação de materiais com menores impactos ambientais é algo que deve estar
incorporado às atividades comuns do arquiteto.
Finalizando, os participantes da pesquisa foram questionados sobre a necessidade
de diretrizes para o auxílio na seleção dos materiais de baixo impacto ambiental. A grande
maioria revela acreditar que a utilização de diretrizes é uma forma interessante de auxílio ao
arquiteto no momento de sua decisão.
4.2. Recomendações para seleção de materiais
Os dados em torno dos impactos causados pelos materiais de construção, ainda não
estão amplamente disponíveis, principalmente no Brasil, o que dificulta que os arquitetos
tenham conhecimento sobre as características de desempenho ambiental desses materiais.
Assim, espera-se que o arquiteto entenda quais os fatores que influenciam nesse
desempenho e saibam, pelo menos, quais informações devem buscar sobre os materiais, ou
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 121 -
seja, que eles saibam “fazer as perguntas necessárias” ao considerar a seleção dos
materiais a serem especificados em seus projetos. Assim, apresenta-se algumas das
principais diretrizes que devem ser consideradas no momento da especificação dos
materiais, na fase de projeto.
A base utilizada para fazer essas recomendações foi o LEED, a pesquisa
bibliográfica realizada e o resultado da pesquisa com os arquitetos. Através desse material
pôde-se perceber quais as principais preocupações que o arquiteto deve ter no momento da
escolha dos materiais de construção e, a fim de auxiliá-lo nessa decisão, propõe-se as
diretrizes apresentadas a seguir.
reaproveitamento dos materiais e estruturas do edifício existente: Analisar o edifício
existente para saber se alguns de seus materiais podem ser reutilizados, reaproveitados
ou reciclados.
materiais que não gerem resíduos danosos ao ambiente e/ou à saúde humana:
Selecionar materiais que não gerem resíduos danosos ao meio ambiente e/ou à saúde
humana. Esses resíduos podem ser gerados tanto na produção dos materiais como em
seu uso, podendo ser prejudicial á saúde dos usuários do ambiente.
previsão de tratamento aos escombros da construção, demolição e limpeza do
terreno: Deve-se prever o tratamento dos resíduos de demolição e construção do edifício
e providenciar limpeza do terreno para início da obra. Tomar como base a Resolução
CONAMA 307.
seleção de materiais que possam ser reaproveitados e de fácil desmonte: Selecionar
materiais que possam ser reaproveitados e facilmente desmontados posteriormente.
Principalmente, se houver intenção de fazer mudanças de uso do edifício e/ou reformas
ao longo do tempo.
seleção de materiais que possuam componentes reciclados em sua composição:
Selecionar materiais compostos por elementos reciclados. Considerar o uso de eco-
produtos, ou materiais ecológicos, de baixo impacto ambiental.
uso de recursos nativos, reduzindo a necessidade de transporte: procurar conhecer
quais são os materiais fabricados na região, e arredores.
redução da utilização de matérias-primas não-renováveis: Dar preferência aos
materiais provenientes de matérias-primas renováveis. Evitar, principalmente, aqueles
com matérias-primas não renováveis e que não sejam recicláveis.
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
- 122 -
escolha de madeira certificada: Especificar madeiras que sejam certificadas,
provenientes de reflorestamento. Considerar a certificação FSC.
durabilidade dos materiais: Considerar a durabilidade dos materiais de forma a evitar a
necessidade de troca de peças e/ou reposições ao longo do tempo.
facilidade de manutenção: Selecionar materiais que não precisem de constante
manutenção, e se for preciso que seja fácil de fazê-la.
escolha de materiais com baixa energia embutida: Considerar a energia incorporada
no material a ser especificado. Evitar aqueles que demandem muita energia em sua
produção
A partir dessas diretrizes, foi elaborado um fluxograma, em forma de passo-a-passo,
para servir como uma ferramenta de auxílio à decisão para ser utilizada por arquitetos no
momento da especificação de materiais (figura 5).
As recomendações propostas devem ser atendidas considerando as características
de cada caso. Dificilmente será possível atender a todos os aspectos sugeridos, mas quanto
mais se conseguir atender, certamente, menos impactos ambientais estarão sendo gerados.
Critérios para especificação de materiais com menor impacto ambiental Capítulo 4
___________________________________________________________________________
-
123
-
Figura 5 – Recomendações para seleção de materiais para um projeto de arquitetura sustentável
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações Finais
_________________________________________________________________________
- 125 -
Atualmente, não é difícil perceber o quanto as ações humanas, alteram, na
maioria das vezes de forma negativa, as características do planeta. Fica cada vez mais
clara a necessidade de se tomar alguma atitude para mudar o quadro caótico instalado.
A indústria da construção civil é uma das atividades humanas que mais modifica
as condições do planeta, gerando grandes impactos no meio ambiente. Impactos esses
que, na grande maioria das vezes, vêm sendo ignorados pelos diversos agentes dessa
indústria.
Considerando que o projeto do empreendimento e, mais especificamente, o
projeto arquitetônico das edificações é parte essencial da construção e que possui
enorme influência no resultado final, fica claro que é nesta fase que as principais
decisões devem ser tomadas, incluindo aquelas referentes aos aspectos da
sustentabilidade ambiental.
Esse trabalho teve como objetivo principal apresentar algumas diretrizes para a
seleção dos materiais de construção, considerando sua influência na sustentabilidade
ambiental do edifício. Os impactos provocados pelos materiais de construção vão desde
a extração, quando recursos naturais são retirados da superfície terrestre, até a sua
destinação final. Além disso, a manipulação dos materiais provoca a liberação de
resíduos que podem ser prejudiciais à saúde humana e a todo o meio. Dessa forma,
entende-se ser imprescindível realizar a especificação de materiais de forma consciente.
Algo que se revelou importante ao longo do trabalho, foi que pouco adianta
especificar materiais de forma ambientalmente correta, se decisões importantes a
respeito da sustentabilidade do edifício, não forem tomadas ao longo de todo o processo
de desenvolvimento do projeto arquitetônico, desde a concepção do empreendimento.
Assim, ficou clara a necessidade de apontar como deve se dar o processo de projeto do
empreendimento (PP) e sua gestão, visando a sua sustentabilidade. Para tal, foi
apresentado um modelo de PP e como alguns aspectos, em vista a sua sustentabilidade
ambiental, devem ser pensados em cada uma de suas fases, formando o que se chama
de processo de projeto integrado (PPI). Dentre esses aspectos está a correta seleção do
terreno, a implantação do edifício, a gestão da água, de energia, escolha dos sistemas e
tecnologias, etc.
Sabe-se que as dificuldades enfrentadas ao longo de um PP são grandes, e se
tornam ainda maiores no PPI. Mas, se o processo for gerenciado de forma adequada,
Considerações Finais
_________________________________________________________________________
- 126 -
considerando as questões certas, nos momentos certos, essas dificuldades serão
amenizadas e os resultados muito positivos.
Todos os agentes do PP arquitetos, empreendedores, clientes, demais
projetistas, engenheiros, etc. – devem estar atentos a necessidade de mudança de
valores para conseguir alcançar o PPI. Com a equipe toda integrada e buscando os
mesmos objetivos, torna-se muito mais fácil de se obter um produto mais eficiente no
final. Não se quer dizer que será impossível ao arquiteto agir de forma consciente em seu
projeto, caso alguns desses agentes não esteja compromissado em produzir edifícios
ambientalmente corretos. Porém, isso torna o processo todo mais difícil, e, certamente, o
resultado final não será tão satisfatório.
O projeto de arquitetura, que constitui uma das fases do processo de projeto, vai
ser diretamente influenciado pelas decisões tomadas nas fases anteriores. E,
principalmente, as suas soluções devem estar baseadas nos aspectos ambientais da
sustentabilidade. A especificação de materiais, dentre outras questões, é uma dessas
soluções que cabe a esta fase.
Ao conceber o projeto, o arquiteto deve considerar todo o ciclo de vida de vida do
edifício e seus componentes, de forma a fazer as escolhas menos impactantes possíveis
em cada etapa. Porém, uma dificuldade que se apresenta é a falta de informação em
torno desse assunto. Acredita-se que muitos arquitetos não projetem de forma
ambientalmente correta, por simples desconhecimento de como o fazer.
Sentiu-se, então, a necessidade de utilizar alguma ferramenta que fornecesse as
informações necessárias para um edifício ser considerado ambientalmente sustentável,
de forma a conhecer quais ações devem ser tomadas, nesse sentido, na fase de projeto.
Assim, decidiu-se por utilizar o sistema de avaliação ambiental LEED como fonte dessas
informações. Apesar desse sistema ser destinado à avaliação de edifícios, sua utilização
também pode ser destinada ao auxílio de projetos, e isso ocorre, justamente, através das
informações que ele dispõe, servindo como inputs para todo o processo de projeto, e
para o projeto de arquitetura como foi o caso neste trabalho.
Através da associação do LEED com as etapas de projeto de arquitetura pôde-se
ter uma visão geral de quais são as decisões que devem ser tomadas nessa fase e
quando elas devem ser tomadas. Contudo, somente essa relação ainda não pareceu
suficiente para servir como uma ferramenta-auxilio de projeto eficiente, servindo mais
como uma base de informações gerais. Para fazer as melhores escolhas de projeto, é
Considerações Finais
_________________________________________________________________________
- 127 -
preciso que o arquiteto tenha informações mais aprofundadas em relação a cada uma
das decisões que devem ser tomadas em um projeto integrado, como eficiência
energética, eficiência da água, seleção dos materiais, etc.
Assim, neste trabalho, foram mostrados alguns aspectos que devem ser
considerados para a correta especificação dos materiais, desencadeando na proposta de
algumas das principais diretrizes que devem ser atendidas nessa escolha. Mesmo que
não sejam informações aprofundadas sobre o desempenho ambiental dos materiais,
estas diretrizes servem para que o arquiteto saiba, ao menos, com que questões deve se
preocupar, e saiba o que deve pesquisar em relação aos materiais que está escolhendo.
A proposta de diretrizes é uma forma de levar ao arquiteto algumas dessas informações.
Todos os aspectos mencionados nas diretrizes são muito importantes, no entanto,
é extremamente difícil considerá-los em sua totalidade e até mesmo definir quais desses
são mais importantes. O que se deve fazer é analisar a situação em questão e aplicar
todos os aspectos que forem possíveis a cada caso. Cada arquiteto terá que escolher os
critérios que irá priorizar e usar o bom senso para decidir quais recomendações deve
seguir, dependendo da situação.
Para se basear em questões mais técnicas na decisão por quais aspectos
priorizar, além de somente utilizar sua intuição, o arquiteto poderia fazer uso de alguma
ferramenta, como por exemplo, uma matriz de prioridades, através da qual ele
conseguiria ver o que deveria ser priorizado para cada caso. Portanto, fica a proposta de
serem criadas matrizes para este fim, em trabalhos futuros.
Seguramente, existem diversos outros aspectos a serem considerados na
especificação de materiais para um edifício sustentável, além dos citados neste trabalho.
Através das diretrizes propostas, buscou-se dar um panorama geral dos principais pontos
a serem considerados pelos arquitetos, no momento da especificação dos materiais em
seus projetos.
A pesquisa com alguns arquitetos brasileiros, com reconhecida atuação na área
da arquitetura ambientalmente correta (sustentável) demonstrou, que a maioria destes
realiza seus projetos, mais por intuição do que por ter recebido alguma formação técnica
e específica nesse sentido.
Portanto, entende-se que é preciso inserir na formação profissional as bases para
a produção de uma arquitetura ambientalmente correta.
Considerações Finais
_________________________________________________________________________
- 128 -
Deixa-se então, a sugestão, para trabalhos futuros, para que seja desenvolvida
alguma metodologia para o ensino de projeto arquitetônico nas faculdades de
Arquitetura, na qual as questões de sustentabilidade devem ser aplicadas, não só no seu
aspecto ambiental, como também social e econômico. Dessa forma os ‘novos arquitetos’
iniciariam suas carreiras executando ‘projetos sustentáveis’ como sendo algo natural
de sua profissão.
Espera-se que logo as questões de sustentabilidade sejam respeitadas e estejam
sendo aplicadas ao projeto de forma intrínseca e grave, como vem acontecendo com
as questões de conforto ambiental e eficiência energética.
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ANEXOS
- 138 -
ANEXO 1
Green Architecture Checklist: Residential Buildings.
(DOERR Architecture, 2006)
Traduzido pela autora
Localização “verde” e Uso do terreno (Green siting and land use):
propõe a construção de edifícios em áreas exploradas e urbanizadas a fim de
preservar localidades ainda não exploradas;
projetos de múltiplos usos, integrando residência e comércio, reduzindo assim, a
necessidade de deslocamento e utilização de automóveis;
implantação de edificações em locais de fácil acesso ao transporte público, vias para
bicicletas e pedestres, minimizando o uso de automóveis. Outra forma de minimizar o
uso de automóveis é induzir os moradores a trabalharem em suas casas, mas para
isso deve-se trabalhar o layout em forma de home-office
47
;
renovação de edifícios antigos, ao invés de demoli-los. Renovar edifícios existentes
é a forma mais ecológica de construção.
A implantação da edificação deve se dar de forma a minimizar os impactos
ambientais. Espaços abertos e o as espécies locais devem ser preservados e
valorizados, e o local de implantação do edifício deve ser o que já se encontra
prejudicado;
A edificação deve ser situada de forma a preservar a vegetação existente.
Projeto do edifício “verde” (Green building design):
otimização do espaço interno, de forma a minimizar o tamanho geral do edifício e a
utilização de recursos na construção.
Eficiência no consumo energético através do melhor aproveitamento da iluminação
natural, de altos níveis de isolamento térmico, de janelas refletoras do calor etc.
Garantia do conforto ambiental através de soluções simples de projeto, como o
aproveitamento da iluminação natural, utilização da ventilação cruzada, implantação
do edifício levando em consideração a melhor orientação para o local, etc.
Utilização da energia solar para o aquecimento da água.
47
Home-office é o termo usado para residências com características também de escritório,
podendo ser usada para os dois fins.
- 139 -
Otimização no uso dos materiais. Os resíduos podem ser minimizados se o uso e
desperdício de materiais for reduzido, através de edifícios com formas geométricas
simplificadas, se a estrutura do edifício não for supercalculada, se as especificações
forem feitas de forma correta, etc.
Inserção no projeto de facilidades para que os usuários pratiquem a reciclagem de
seus resíduos. Locais para depósito e seleção de lixo devem ser colocados em
locais que tragam praticidade aos usuários.
Captação de águas pluviais deve ser considerada para uso na irrigação de jardins,
caixas de descargas, lavagem de carros, etc.
Material “verde” (Green materials):
Evitar o uso de materiais e equipamentos que contenham componentes que agridam a
camada de ozônio;
Deve-se dar preferência a materiais produzidos na própria região, a fim de reduzir
custos e poluição decorrentes de seu transporte;
Utilização de materiais recicláveis ou provenientes de reciclados;
Seleção de fornecedores de madeira responsáveis. A madeira selecionada deve,
preferencialmente, ser certificada e o vendedor deve provar que a procedência da
madeira é legal;
Materiais que desprendam gases poluentes devem ser evitados, como produtos
compostos por formaldeídos e compostos orgânicos voláteis (VOCs).
Equipamentos “verde” (Green equipaments):
Deve-se fazer uso de lâmpadas e dispositivos elétricos de alta eficiência. Lâmpadas
incandescentes devem ser substituídas por fluorescentes que são muito mais
econômicas;
Com a utilização e melhor aproveitamento da energia solar, o uso de aquecedores
deve ser reduzido;
Utilização de dispositivos eficientes para controle do uso da água.
- 140 -
ANEXO 2
- 141 -
- 142 -
ANEXO 3
Créditos LEED de Materiais e Recursos Naturais
Traduzido pela autora
Crédito 1. Reuso do edifício. Este item pede que, quando possível, o edifício seja reaproveitado,
reduzindo ao máximo a sua demolição. A intenção deste item é estender o ciclo de vida dos
componentes do edifício existente, conservar recursos naturais, reduzir a geração de resíduos e o
impacto ambiental causado pela demolição e construção de novos edifícios, que estes
demandam a fabricação de novos materiais, transporte, etc.
Esse crédito é dividido em 3 sub-itens, cada um deles, quando atendido, corresponde a 1
ponto:
1.1. Manutenção de 75% das paredes existentes, lajes e telhados: Esse sub-item tem
como requerimento a manutenção de pelo menos 75% da estrutura existente e do
fechamento do edifício.
1.2. Manutenção de 95% das paredes existentes, lajes e telhados: O requerimento deste
sub-item é o mesmo do anterior, mas exige a manutenção de 95% do edifício.
1.3. Manutenção de 50% dos elementos internos não-estruturais: É requerido que 50%
dos elementos o-estruturais do edifício paredes internas, portas, pisos, telhas, etc
– seja conservado.
Ações como tecnologias potenciais e estratégias para o cumprimento deste item:
- Considerar o reuso de edifícios existentes, previamente ocupados, mantendo
sua estrutura, fechamentos e elementos.
- Remover elementos que causem algum risco aos usuários do edifício e melhorar
componentes que tragam eficiência energética e da água, como janelas,
sistemas mecânicos e instalações hidráulicas.
Crédito 2. Gestão dos resíduos da construção. A intenção desse item é reverter os escombros
da construção, demolição e limpeza do terreno, para áreas próprias, aterros e incineradores,
enquanto que os materiais recicláveis e reutilizáveis devem ser enviados para seus locais
apropriados ou para o processo de manufatura.
Esse crédito é dividido em 2 sub-itens, cada um deles, quando atendido, corresponde a 1
ponto:
2.1. Reverter 50% dos resíduos: O requerimento para este sub-item é que se recicle ou
aproveite pelo menos 50% de materiais não-perigosos dos escombros da construção e
- 143 -
demolição. Deve ser desenvolvido e implementado um planejamento para a gestão
dos resíduos que, pelo menos indique o seu tratamento e destino.
2.2. Reverter 75% dos resíduos: As recomendações o as mesmas para o item 2.1, mas
considerando 75% reciclagem e/ou reaproveitamento dos resíduos.
Ações como tecnologias potenciais e estratégias para o cumprimento deste item:
- Estabelecer objetivos e adotar um planejamento para a gestão dos resíduos da
construção para alcançá-los.
- Designar uma área específica no canteiro de obra para a separação e coleta de
materiais recicláveis.
- Identificar quem serão os encarregados pela segregação dos materiais e quem
será o responsável pela reciclagem.
Crédito 3. Reuso dos materiais. A intenção deste item é que materiais e produtos sejam
reutilizados na construção de edifícios, para reduzir a demanda de matérias-primas e para reduzir
a geração de resíduos. Logo, reduzindo impactos associados à extração e processamento desses
recursos.
Esse crédito é dividido em 2 sub-itens, cada um deles, quando atendido, corresponde a 1
ponto:
3.1. Reuso dos materiais 5%: É pedido que sejam usados materiais reaproveitados,
reciclados, de forma que a soma desses materiais seja, pelo menos, 5% do valor total
de materiais previstos no projeto.
3.2. Reuso dos materiais 10%: A mesma exigência anterior, mas considerando 10% de
economia no custo total de materiais.
Ações como tecnologias potenciais e estratégias para o cumprimento deste item:
- Identificar oportunidades em incorporar materiais reaproveitados e/ou reciclados
no projeto do edifício e pesquisar fornecedores potenciais de materiais.
- Considerar o reaproveitamento de materiais como pisos, painéis, portas,
caixilhos, mobiliário, tijolos e elementos decorativos.
Crédito 4. Conteúdo Reciclado. A intenção deste item é aumentar a demanda de produtos do
edifício que contenham materiais reciclados em sua composição, reduzindo assim, impactos
resultantes da extração de matérias-primas.
Esse crédito é dividido em 2 sub-itens, cada um deles, quando atendido, corresponde a 1
ponto:
- 144 -
4.1. Conteúdo Reciclado 10%: Deve-se utilizar materiais com conteúdo reciclado de forma
que a soma desse conteúdo no produto pronto e metade do conteúdo antes do
consumo seja, pelo menos, de 10% do valor total dos materiais da obra.
4.2. Conteúdo Reciclado 20%: a recomendação é a mesma do item anterior, mas levando
em consideração que a soma deve dar pelo menos 20%.
Ações como tecnologias potenciais e estratégias para o cumprimento deste item:
-Estabelecer metas para utilizar materiais com conteúdos reciclados no
empreendimento;
- Identificar materiais e fornecedores que ajudem a atingir essas metas;
- Durante a construção é preciso certificar-se de que esses materiais estão, de
fato, sendo aplicados;
Crédito 5. Materiais Regionais. Esse item visa aumentar a demanda por materiais extraídos e
fabricados na mesma região, dando suporte ao uso de recursos nativos e reduzindo a necessidade
de transporte.
Esse crédito é dividido em 2 sub-itens, cada um deles, quando atendido, corresponde a 1
ponto:
5.1. Material Regional 10% extraído, processado e fabricado regionalmente: Devem ser
utilizados materiais que tenham sido extraídos, coletados e fabricados em até 500
milhas de distância do empreendimento, alcançando, no mínimo, 10% do valor total
dos materiais empregados.
5.2. Material Regional 20% extraído, processado e fabricado regionalmente: A
recomendação para este sub-item é a mesma, mas o valor a ser alcançado precisa ser
de 20%.
Ações como tecnologias potenciais e estratégias para o cumprimento deste item:
- Estabelecer metas para utilizar materiais regionais no empreendimento;
- Identificar materiais e fornecedores que ajudem a atingir essas metas;
- Durante a construção é preciso certificar-se de que os materiais regionais estão,
de fato, sendo aplicados;
- Considerar a diversidade de atributos ambientais, econômicos e de performance
no momento da seleção dos materiais e produtos.
Crédito 6. Materiais Renováveis. Neste sexto item é pretendido que seja reduzida a utilização de
matérias-primas não-renováveis e os materiais que demandam longos ciclos para serem
renovados, e que estes sejam substituídos por materiais de fácil renovação.
Para este item a recomendação é que sejam usados materiais e produtos de fácil
renovação, alcançando o numero de 2,5% do custo dos materiais totais.
- 145 -
Ações como tecnologias potenciais e estratégias para o cumprimento deste item:
- Estabelecer metas na escolha de materiais facilmente renováveis e identificar
produtos e fornecedores para este fim;
- Considerar o uso de materiais como bambu, madeira, linóleo, palha, cortiça,
dentre outros;
- Durante a construção certificar-se de que os materiais renováveis estão, de
fato, sendo aplicados.
Crédito 7. Madeira Certificada. Este item propõe que as matas sejam administradas de forma
ambientalmente responsável.
No mínimo 50% de materiais e produtos em madeira devem ser feitos de madeira
certificada.
Ações como tecnologias potenciais e estratégias para o cumprimento deste item:
- Estabelecer metas para a escolha de madeira certificada e identificar produtos e
fornecedores que atendam essa determinação;
- Durante a construção certificar-se de que os materiais renováveis estão, de
fato, sendo aplicados e quantificar esse uso.
- 146 -
ANEXO 4
U
NIVERSIDADE
F
EDERAL DO
R
IO DE
J
ANEIRO
F
ACULDADE DE
A
RQUITETURA E
U
RBANISMO
PROARQ
-
P
ROGRAMA DE
P
ESQUISA E
P
ÓS
-
GRADUAÇÃO EM
A
RQUITETURA
QUESTIONÁRIO
A partir deste questionário, pretende-se conhecer seus critérios adotados para a especificação dos
materiais em seus projetos, assim como, algumas das dificuldades que enfrenta nesse ato.
Caso tenha algum comentário a fazer em relação as questões abaixo ou alguma outra colocação
que considere importante, no final do questionário há um espaço destinado para este fim.
Caracterização geral
Há quanto tempo atua no mercado?
Qual seu nicho de atuação? (comercial, residencial, industrial, etc.)
1. Desde quando começou a incorporar os princípios de sustentabilidade (aspectos
ambientais) em seus projetos?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________
2. O que o motivou a isso?
( ) Sugestão/ Exigência de algum cliente/ empreendedor
( ) Almejo de diferenciação no mercado
( ) Simples anseio em colaborar com a preservação do meio ambiente
( )Outros motivos. Quais? ____________________________________________________
____________________________________________________________________________
3. Quais seus critérios para a especificação de materiais? (Favor numerar de 1 a 6, conforme
a ordem de prioridade para você. Considerar 1 = Mais importante, 6 = Menos importante)
a. ____ Custo
b. ____ Estética
c. ____ Impactos ambientais
d. ____ Sugestão/ exigência do cliente
e. ____ Disponibilidade na região
f. ____ outros. Quais?________________________________________________________
- 147 -
4. Sabe-se que são diversos os impactos ambientais causados ao longo do ciclo de vida
dos materiais. A fim de minimizar esses impactos, quais os principais aspectos que
considera na decisão pelos materiais? (Favor numerar conforme a ordem de prioridade que
você considera de 1 a 9. Sendo 1 = Mais importante, 9 = Menos importante)
a. ____ Possibilidade de ser reciclado
b. ____ Possibilidade de reutilização posterior
c. ____ Matérias-primas que sejam de fácil renovação
d. ____ Geração de resíduos na sua fabricação, utilização e/ou descarte
e. ____ Facilidade de Manutenção
f. ____ Durabilidade
g. ____Existência de certificação verde (madeira de reflorestamento, materiais ecológicos,
etc.)
h. ____ Potencial da região (uso de recursos da região reduzindo a necessidade de transporte
de longas distâncias)
i. ____ Outros. Quais? _______________________________________________________
____________________________________________________________________________
Algum dos aspectos citados acima são difíceis de considerar, na prática?
______________________________________________________________________
5.
Quais as principais dificuldades que enfrenta na seleção de materiais de baixo impacto
ambiental?
(Favor numerar de 1 a 5, conforme a ordem de prioridade para você.
Considerar 1 = Mais importante, 5 = Menos importante)
a. ____ Falta de informações disponíveis em relação às características dos materiais
b. ____ Falta de interesse por parte dos clientes/ empreendedores
c. ____ Falta de materiais disponíveis na região
d. ____ Falta de métodos de auxílio à decisão
e. ____Outros. Quais? _______________________________________________________
____________________________________________________________________________
6. Costuma especificar materiais alternativos, ditos “ecológicos”, para seus projetos?
(materiais reciclados, materiais feitos de fibras, tintas minerais, etc.)
( ) SIM. Quais? ___________________________________________________________
___________________________________________________________________________
( ) NÃO. Por quê? (numerar conforme a ordem de prioridade que você considera de 1 a 5. Sendo
1 = Mais importante, 5 = Menos importante
)
a. ____ Dificuldade de encontrar esse tipo de material na sua região
b. ____ O custo desses materiais
- 148 -
c. ____ Dificuldade de aceitação por parte dos clientes e/ou empreendedores
d. ____ Não considera que sejam seguros e/ou eficientes
e. ____ Outros motivos. Quais? ________________________________________________
7. Sente necessidade de diretrizes para uma melhor especificação de materiais de baixo
impacto ambiental? Conhece alguma ferramenta que forneça essas diretrizes?
utilizou alguma como base?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
______________________________________________________________________
____________________________________________________________________________
8. Qual a influência que a especificação dos materiais exerce no seu ato de projetar?
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
_______________________________________________________________________________
________________________________________________________________
Caso deseje fazer mais alguma consideração, sinta-se à vontade para fazer no espaço
abaixo:
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