formas e o papel que elas desempenham na narrativa, é fácil considerar que elas causam
um problema para o tradutor quando este for realizar seu trabalho. A tradutora italiana
colocou a seguinte explicação sobre a solução encontrada por ela para esse problema:
Mi sono invece valsa della posibilità di rendere sia con il “voi” che con il “tu”
l’inglese you per sottolineare la differenza, molto marcata nel romanzo, tra gli
Earnshaw, campagnoli, semplici, vicini alla natura e lontani dal “mondo”, e i Linton,
“cittadini”, raffinati, lontani dalla natura e legati al “mondo”; così, per fare un solo
esempio, Catherine, che dà del tu a Heathcliff e al fratello, dà del voi al marito,
Edgar Linton, per sottolineare il passaggio da una “civiltà” all’altra avvenuto con il
suo matrimonio. Si intende che ho sempre lasciato il “tu” quando l’autrice ricorreva
al non consueto “thou”, vale a dire, quasi esclusivamente, quando il vecchio
Earnshaw si rivolge ai figli. (2006:2)
44
Essa afirmativa da tradutora deixa um espaço aberto para questionamentos: em
primeiro lugar, classificar os Earnshaws como gente próxima à natureza e afastada do
‘mundo’ e os Lintons como pessoas refinadas, distantes da natureza e ligadas ao
‘mundo’ é uma maneira um tanto simplista de analisar as personagens do romance, pois
essa definição parece afastar os Lintons completamente da realidade local, colocando-os
mais próximos de uma civilização urbana, e isolando os Earnshaw do que se poderia
chamar de ‘mundo exterior’, o que está longe de ser a realidade. Conforme observou
Terry Eagleton,
The Lintons, who are the largest capitalist landowners in the district, literally draw
their culture from Nature, in the sense of living by exploiting the land and those who
labour on it. The fatal blindspot of this kind of culture, however, is that it refuses to
acknowledge its dependency on Nature, and imagines itself instead to be an
autonomous sphere. The cosy, well-appointed drawing-room of the Grange is the
product of material labour, but at the same time shuts that labour out. The Heights,
by contrast, is home to that peculiarly English class, the yeomanry, meaning those
minor gentlemen who work their own land. It is thus closer to the realities of Nature
and labour than Thrushcross Grange, as well as in general a more egalitarian,
rough-and-ready place where you eat in the kitchen rather than in the dining room,
and where the lines between master and servant (is Hareton a servant or not?) are
more blurred than among the Lintons. (2005:138)
45
44
Pelo contrário, recorri à possibilidade de traduzir ora com o “vós” ora com o “tu” o inglês you para
estabelecer a diferença, muito marcada no romance, entre os Earnshaw, camponeses, simples, próximos
da natureza e afastados do “mundo” e os Linton, “citadinos”, refinados, afastados da natureza e ligados ao
“mundo”; portanto, para dar um único exemplo, Catherine, que trata o irmão e Heathcliff por tu, trata
Edgar Linton, seu marido, por vós, para sublinhar a passagem de uma “civilidade” a outra decorrente de
seu casamento. Deve-se entender que sempre deixei fiz uso do “tu” quando a autora recorria ao pouco
comum “thou”, ou seja, quase exclusivamente quando o velho Earnshaw se dirige aos filhos.
45
Os Linton, que são os maiores proprietários capitalistas de terras no distrito, literalmente retiram sua
cultura da Natureza, no sentido de viverem da exploração da terra e daqueles que nela trabalham. O ponto
fraco fatal desse tipo de cultura, entretanto, é que ela se recusa a reconhecer sua dependência da Natureza,
e se imagina pelo contrário como uma esfera autônoma. A aconchegante e bem arrumada sala de visitas
da Granja é o produto do trabalho material, mas ao mesmo tempo exclui esse trabalho. Em contraste, o
Morro é o lar daquela classe tipicamente inglesa, o pequeno proprietário rural, ou seja, aquele gentleman