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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
CAMPUS DE BOTUCATU
AVALIAÇÃO DE PROCEDIMENTOS NO MANEJO PRÉ-
ABATE DE BOVINOS E BUBALINOS NO PANTANAL SUL
MATO-GROSSENSE
ERNANI NERY DE ANDRADE
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação
em Zootecnia como parte das
exigências para obtenção do
título de Mestre.
BOTUCATU - SP
Fevereiro – 2007
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA
CAMPUS DE BOTUCATU
AVALIAÇÃO DE PROCEDIMENTOS NO MANEJO PRÉ-
ABATE DE BOVINOS E BUBALINOS NO PANTANAL SUL
MATO-GROSSENSE
ERNANI NERY DE ANDRADE
Zootecnista
ORIENTADOR: Prof. Dr. ROBERTO DE OLIVEIRA ROÇA
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação
em Zootecnia como parte das
exigências para obtenção do
título de Mestre.
BOTUCATU - SP
Fevereiro – 2007
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INFORMAÇÃO – SERVIÇO TÉCNICO DE BIBLIOTECA E DOCUMENTAÇÃO
UNESP - FCA - LAGEADO - BOTUCATU (SP)
Andrade, Ernani Nery de, 1976-
A553a Avaliação de procedimentos no manejo pré-abate de bovi-nos e
bubalinos no Pantanal Sul Mato-Grossense / Ernani Nery de Andrade. –
Botucatu : [s.n.], 2007
v, 133 f.: il. Color., gráfs., tabs
Dissertação (Mestrado) -Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, Botucatu, 2007
Orientador: Roberto de Oliveira Roça
Inclui bibliografia
1. Bovino de corte - Carcaças. 2. Búfalo. 3. Pantanal Ma-to-grossense
(MS). 4. Transporte rodoviário. 5. Carne - Qualidade. I. Roça, Roberto
de Oliveira. II. Universidade Estadual Paulista “Júlio de Mesquita
Filho” (Campus de Botucatu). Faculdade de Medicina Veterinária e
Zootecnia. III. Título.
i
DEDICO
À minha noiva Laura Aparecida Carvalho da Silva,
Porque tudo isto não faria sentido sem você....
Eu a amo muito.
OFEREÇO
A DEUS
Aos meus pais, Nelson Nery de Andrade e Aracy Rosa de Andrade,
que sempre investiram na educação como ferramenta de transformação e de sucesso.
A meu irmão, Nelson Nery de Andrade Filho.
A todos os parentes e amigos... e em especial aos meus avós Ariovaldo Nery de Andrade (In
Memóriam) e Josefina Silva de Andrade.
ii
Agradecimentos
A Deus.
Ao orientador e amigo Profº Dr. Roberto de Oliveira Roça, por
contribuir, orientar e acima de tudo pela amizade e incentivo ao
aprendizado;
A EMBRAPA – Pantanal pelo suporte na condução do trabalho;
E em especial ao meu grande amigo, pesquisador da Embrapa
Pantanal, Roberto Aguilar Machado Santos Silva, pela participação na
elaboração do trabalho e pela paciência e dedicação durante o
andamento da pesquisa. Obrigado de coração pela participação de
forma decisiva neste trabalho, pelo respeito, pela confiança, pela
amizade e alegria do dia a dia.
Ao Curso de Mestrado do Programa de Pós Graduação em
Zootecnia da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia FMVZ-
UNESP, pela valorização do aluno e pela excelente qualidade;
Ao CNPq, pela concessão de bolsa, possibilitando o
aprimoramento científico;
Ao professor: Heraldo César Gonçalves, Professor Assistente
Doutor do Departamento de Produção e Exploração Animal da
Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia, UNESP, Botucatu; pela
orientação na análise estatística, por participar deste trabalho, e pelas
valiosas e oportunas sugestões;
Aos meus amigos de pós-graduação, Charli, Amilton, Carol,
Camila, Dorival, Cleise e Hélio, do Departamento de Gestão e Tecnologia
Agroindustrial da Faculdade de Ciências Agronômicas, UNESP,
Botucatu; simplesmente e/ou principalmente pela enorme amizade.
E a todos que de alguma forma contribuíram para execução deste
trabalho e não foram citados nominalmente, mas que não foram
esquecidos, meu muito obrigado.
iii
SUMÁRIO
Página
CAPÍTULO I..........................................................................................1
CONSIDERAÇÕES GERAIS
Transporte de Bovinos e Qualidade de Carne...............................2
O Pantanal..................................................................................5
Pecuária no Pantanal..................................................................6
Bovinocultura no Pantanal .........................................................6
Bubalinocultura no Pantanal ......................................................8
Transporte de Bovinos no Pantanal...........................................10
Transporte por Comitiva de Bovinos no Pantanal.......................11
Transporte Fluvial de Bovinos no Pantanal................................11
Transporte Rodoviário de Bovinos no Pantanal..........................13
Referências Bibliográficas..........................................................16
CAPÍTULO II.......................................................................................22
PREVALÊNCIA DE LESÕES EM CARCAÇAS DE BOVINOS DE CORTE
ABATIDOS NO PANTANAL SUL MATO-GROSSENSE TRANSPORTADOS
POR VIAS FLUVIAIS
Resumo.....................................................................................23
Summary..................................................................................24
Introdução................................................................................25
Material e Métodos....................................................................26
Resultados e Discussão.............................................................35
Conclusões................................................................................45
iv
Referências ...............................................................................46
CAPÍTULO III......................................................................................49
OCORRÊNCIA DE LESÕES EM CARCAÇAS DE BOVINOS DE CORTE
NO PANTANAL TRANSPORTADO POR VIA RODOVIÁRIA
Resumo.....................................................................................50
Abstract....................................................................................51
Introdução................................................................................52
Material e Métodos....................................................................54
Resultados e Discussão.............................................................63
Conclusões................................................................................69
Referências ...............................................................................70
CAPÍTULO IV......................................................................................74
EFICIÊNCIA DA INSENSIBILIZAÇÃO E INFLUÊNCIA DO TRANSPORTE
FLUVIAL E RODOVIÁRIO NA INCIDÊNCIA DE LESÕES EM CARCAÇAS
DE BUBALINOS ABATIDOS NO PANTANAL SUL MATO-GROSSENSE
Resumo.....................................................................................75
Summary..................................................................................77
Introdução................................................................................79
Material e Métodos....................................................................83
Resultados e Discussão.............................................................95
Conclusões..............................................................................102
Referências..............................................................................103
CAPÍTULO V.....................................................................................109
v
INSENSIBILIZAÇÃO DE BOVINOS ABATIDOS NO PANTANAL SUL
MATOGROSSENSE E OCORRÊNCIA DE LESÕES EM CARCAÇAS
Resumo...................................................................................110
Abstract..................................................................................111
Introdução...............................................................................112
Material e Métodos..................................................................115
Resultados e Discussão...........................................................122
Conclusões..............................................................................127
Referências .............................................................................128
IMPLICAÇÕES..................................................................................138
1
CAPÍTULO 1
CONSIDERAÇÕES GERAIS
2
Transporte de bovinos e qualidade de carne
O transporte dos bovinos, após estarem prontos para o abate, é
uma importante etapa no processo da criação desses animais e da
produção da carne. É vital que esse processo seja feito da maneira mais
adequada, através da utilização dos métodos e técnicas mais indicadas
(Vieira, 2003). No Reino Unido à mortalidade de bovinos durante o
transporte é extremamente baixa. Segundo Knowles (1995) novilhos são
mais susceptíveis que animais adultos. Para Gregory (1994) o manejo
pré-abate inadequado compromete o bem-estar animal, causando desde
contusões, fraturas, arranhões, exaustão metabólica, desidratação,
estresse de temperatura e até morte. O transporte de animais para o
estabelecimento de abate constitui-se na primeira etapa do abate
humanitário com efeitos significativos na qualidade da carne (Roça,
2001). Segundo Ferguson (2000) a comercialização de bovinos para o
abate resulta em inevitáveis perdas em ambos qualidade da carne e
quantidade. A magnitude das perdas ira depender da intensidade e
duração dos vários estressores que ocorrem entre o portão da fazenda e
o frigorífico e também da susceptibilidade dos animais ao estresse.
Durante a fase do pré-abate, os bovinos podem ser expostos a vários
fatores estressantes que incluem:
jejum;
desidratação;
ambientes não familiares ou estranhos;
transporte;
aumento do contato com humanos;
alteração na estrutura social (separação ou mistura de
animais);
alterações climáticas súbitas;
números de animais/compartimento de carga;
distância até o frigorífico.
3
A qualidade da carne é influenciada por fatores intrínsecos e
extrínsecos. Entre os últimos, destacam-se as práticas de manejo no
local de criação, no transporte e no abatedouro (Batista de Deus et al.,
1999). Esses fatores estressantes ou estímulos resultam em
perturbação da homeostase animal. Uma resposta adaptativa é então
iniciada para restaurar o balanço fisiológico e isto pode envolver uma
simples alteração do comportamento (por exemplo, movimentos sem
direção resultante de um comportamento agressivo) ou alterações
autonômicas complexas e/ou alterações neuroendocrinas podem estar
envolvidas.
Esta resposta é freqüentemente não específica e existe considerável
variabilidade entre animais na percepção do agente estressor e a
coordenação da resposta fisiológica. Ambos são modulados por vários
fatores intrínsecos (por exemplo, genética, sexo, idade e estado
fisiológico) e pela experiência passada e aprendizado (Ferguson, 2000).
Vários estudos têm demonstrado que animais que recebem
contatos positivos do tratador apresentam menos medo das pessoas e
são mais fáceis de serem manipulados durante o manejo (Lensink et al.,
2000a; Lensink et al. 2000b). Estudos realizados por Lensink et al.
(2000a) demonstraram a influência da atitude do tratador no
comportamento de bezerros e também na qualidade da carne. Manejos
rudes poderão ser mais danosos e estressantes para os animais com
temperamento excitável quando comparados com animais que
apresentem comportamentos mais calmos. Bovinos cruzados com
Brahman têm níveis de cortisol mais altos quando contidos em troncos
do que cruzamentos com raças européias. Os níveis de cortisol estão
divididos em três categorias: níveis basais, níveis que ocorrem durante
a contenção e estresse extremo (Grandin, 1997). Os animais gordos são
mais susceptíveis que os animais magros.
De acordo Truscott e Gilbert (1978) a perda do peso vivo pode ser
mais alta em gado que jejuou durante 5 dias sem água do que os
4
providos com água, e estudos tem demonstrado que quando a água
estava disponível durante o jejum, uma tendência de perdas mais lentas
no peso vivo, nas 24h iniciais seguintes, do que os em que tinham
alimento e privação de água. As privações de alimentos por mais de 24
horas têm ação estressora (Lyon et al., 1990; Apple et al., 1993; Warriss
et al., 1994). Entretanto, em condições inadequadas, o jejum sempre
vem acompanhado de outros fatores estressores e esta associação
contribuiria para reduzir a qualidade das carcaças (Batista de Deus,
1999). Os animais cansados originam carne com menor tempo de
conservação, em virtude do desenvolvimento incompleto da acidez
muscular e conseqüente invasão precoce da flora microbiana. Essa
carne mostra-se escura e pouco brilhante, dando impressão de uma
sangria deficiente. A coloração indesejada é atribuída às alterações
físico-químicas do músculo e decréscimo da oxigenação da
hemoglobina. Portanto, não é recomendado abater o animal
imediatamente após a sua chegada ao frigorífico (Batista de Deus,
1999). Algumas propostas são recomendadas para a redução da perda
de peso do animal e da carcaça que ocorre durante o transporte, como a
utilização de soluções eletrolíticas via oral (Schaefer et al., 1997), no
entanto, a administração de soluções injetáveis de vitaminas A, D e E
não apresentam efeito na redução da perda de peso (Jubb et al., 1993).
Segundo Warriss (1990) lesões tendem a ser uma preocupação maior
em bovinos do que em suínos e ovinos. Lesões de tecido parecem pouco
apresentáveis e são usualmente cortadas, portanto reduzindo o peso
das carcaças e conseqüentemente conduzindo a menor rentabilidade. O
custo freqüentemente é maior que o valor do tecido perdido. George et
al., (1995) estimaram-se que, nos Estados Unidos, as perdas devidas às
lesões nas carcaças foram de aproximadamente US$ 55 milhões de
dólares. No mesmo ano perdeu-se US$ 1,79 por cabeça devido às lesões
que estavam presentes em 22,3% em pelo menos um corte de traseiro.
Em 1995, este percentual havia sido reduzido para 9,7%, mas o
5
prejuízo por cabeça saltou para US$ 7,05. No Canadá, as perdas por
animal provocadas pelas lesões nas carcaças foram estimadas em US$
8,05, com perdas totais anuais de US$ 17 milhões (Donkersgoesd et al.,
1998).
O meio mais comum de condução de animais de corte para o
abate é o transporte rodoviário (Tarrant et al., 1988). No Brasil, o
transporte também é realizado, principalmente, por via rodoviária, nos
chamados "caminhões boiadeiros", tipo "truque", com carroçaria
medindo 10,60 x 2,40 metros, com três divisões: anterior com 2,65 x
2,40 metros, intermediária com 5,30 x 2,40 metros e posterior com 2,65
x 2,40 metros, sendo a capacidade de carga média, de 20 animais
(Joaquim, 2002).
O transporte rodoviário, em condições desfavoráveis como a
diminuição do espaço, jejum, desidratação, cansaço, pode provocar a
morte dos animais ou conduzir a contusões, perda de peso e estresse
dos animais (Knowles, 1999). As altas temperaturas e as maiores
distâncias de transporte também contribuem para que ocorram
problemas de transporte (Thornton, 1969).
O Pantanal
O Pantanal é uma planície estacionalmente inundável, com
aproximadamente 139.558 Km² (Silva et al., 1995), onde fazendas de
criação extensiva de bovinos ocupam a maior parte da área. A
declividade da região é muito pequena, o que contribui para a demorada
retenção de água sobre a superfície do solo, por ocasião das inundações
fluvial e pluvial. O número de rios que percorrem a região é
considerável, sendo o rio Paraguai o mais importante. Fluindo no
sentido norte-sul, percorre toda região, tendo 2.730 km de extensão
desde suas nascentes até seu encontro com o rio Paraná, na
delimitação da fronteira argentino-paraguaia, formando a bacia do alto
6
rio Paraguai (BAP). O clima é quente, com semestre de inverno seco.
Ocasionalmente ocorrem geadas nos meses de julho ou agosto. A
precipitação pluviométrica oscila entre 1.000 e 1.400 mm por ano
(Cadavid Garcia, 1986). Cerca de 80% das chuvas ocorrem no período
de verão, durante os meses de novembro a março, sendo dezembro e
janeiro o zênite destas precipitações.
Pecuária no Pantanal
A pecuária no Pantanal acompanhou a colonização após a
exploração do ouro na Baixada Cuiabana, com a gradual ocupação das
pastagens nativas da planície. Com o término do ciclo do ouro a
pecuária expandiu-se pela região do Pantanal, sendo suas práticas de
manejo adaptada para as peculiaridades regionais.
Bovinocultura no Pantanal
Vários historiadores têm considerado que os primeiros bovinos
chegaram ao Mato Grosso somente após 1736, com a abertura do
caminho entre Goiás e Cuiabá (AYALA & SIMON, 1914; CORRÊA
FILHO, 1926). O bovino ibérico, trazido pelos colonizadores,
gradativamente se adaptou ao ambiente, dando origem ao “pantaneiro
ou Tucura”. Charque e couro eram os principais produtos, exportados
através do rio Paraguai (Ravazzani, 2004).
O processo de introdução de raças zebuínas no Pantanal iniciou
por meio dos bovinos trazidos do Estado de São Paulo e Minas Gerais.
Gradativamente, o gado Pantaneiro foi substituído pelo Zebu,
especialmente da raça Nelore, sendo este processo acentuado, entre
outros fatores, pela construção da Estrada de Ferro Noroeste do Brasil.
Apesar do isolamento e das dificuldades da região, a pecuária se
expandiu chegando, na década de 40, a representar 90% do rebanho do
então Estado de Mato Grosso e 6% do rebanho nacional (Ravazzani,
2004). No Pantanal há cerca de 1.100 fazendas, 49 mil cavalos (Seidi et
7
al., 1998) e segundo o IBGE (2003) o município de Corumbá é o maior
produtor brasileiro de bovinos com cerca de 1.841,186 milhões de
cabeças. O sistema tradicional de criação de gado é baseado na
produção de bezerros e animais de sobreano (Cadavid Garcia, 1985). A
adoção de tecnologias no Pantanal ficou defasada devido ao isolamento
da região, com deficiências em comunicação e transporte, além de
limitações impostas pelas condições naturais (solos pobres e
inundações). Os índices zootécnicos têm sido baixos com relação à
natalidade (55%), desmama (45%), intervalo entre partos (22 meses) e
idade à 1ª cria (3,5 a 4 anos). Apesar destes problemas e de sucessivas
crises de mercado e de crédito, o sistema produtivo se manteve. A
pecuária de corte na região do Pantanal encontra-se espalhada por
todas as 11 sub-regiões existente do Pantanal: Abobral, Miranda,
Aquidauana, Paraguai, Nabileque, Cáceres, Poconé, Barão do Melgaço,
Nhecolândia, Paiaguás (Figura 1).
Figura 1: Pantanal e suas sub-regiões.
Fonte: Embra
p
a Pantanal
8
O Paiaguás e a Nhecolândia são as maiores sub-regiões do
Pantanal e as mais importantes para a exploração da pecuária de corte
do município de Corumbá, onde a criação é feita extensivamente,
favorecida pela pastagem natural de excelente qualidade, existente nos
campos, fertilizados, periodicamente, pelas enchentes do rio Paraguai e
seu afluente principal o rio Taquari. De acordo com Mourão et al. (2002)
a densidade média observada de gado bovino em todo o Pantanal foi de
16,03 indivíduos/Km² (Figura 2).
Figura 2: Distribuição das densidades de gado bovino (indivíduos/km²) no Pantanal (setembro de
1991).
Bubalinocultura no Pantanal
Os animais introduzidos no início do século, de uma maneira
geral, adaptaram-se muito bem às condições brasileiras, sendo
explorada a sua capacidade em áreas que dificilmente seriam
aproveitadas pelos bovinos, ou seja, nas baixadas alagadas ou semi-
alagadas (Marques, 1984).
Como alternativa para o incremento da pecuária de corte no
Pantanal, o búfalo, Bubalus bubalis, apresenta-se com um potencial
Fonte: Embra
p
a Pantanal
9
altamente favorável, pois a sua rusticidade lhe confere uma elevada
adaptabilidade às condições do ambiente “pantaneiro”.
Alguns autores admitem a substituição dos bovinos pelos
bubalinos nas áreas sujeitas a inundações periódicas e com pastagens
de baixa qualidade (Devendra, 1972; Batista, 1979), pois, nestas
condições, esta espécie mantém um ritmo de crescimento mais
acelerado quando comparado com outros bovídeos.
A densidade média de bubalinos no Pantanal é baixa,
compreendem apenas 0,22% das observações de bovídeos. No norte da
Austrália encontra-se aproximadamente 1 búfalo para cada bovino em
levantamentos aéreos (Bayliss & Yeomans, 1989). Não há trabalhos
sobre impactos ambientais e econômicos causados pelos búfalos no
Pantanal, mas em planícies alagáveis da Austrália, búfalos têm causado
danos ambientais (Hill & Webb, 1982; Bayliss & Yeomans, 1989),
provocando sobrepastejo, pisoteio excessivo, alterando a composição de
comunidades de plantas aquáticas e reduzindo a produtividade da
pecuária (Bayliss & Yeomans, 1989).
O sistema de criação de búfalo no Pantanal está em elevação e é
semelhante àquele tradicional usado na produção de bovino. Segundo
Mourão et al. (2002) os bubalinos encontram-se em pontos isolados da
planície pantaneira e a densidade média aparente de búfalos é de 0,037
búfalos/km², um índice de abundância de cerca de 5100 búfalos no
Pantanal (Figura 3).
10
Figura 3: Distribuição das densidades de búfalos (indivíduos/km²) no Pantanal (setembro de 1991).
A comercialização de bovinos e bubalinos na região envolvem,
vários tipos de transporte. O método mais comum de transporte é o por
Comitiva.
Transporte de Bovinos no Pantanal
No início do século XX iniciou-se o transporte terrestre, através de
comitivas, de gado magro para engorda em pastagens cultivadas no
noroeste paulista e triângulo mineiro, onde as raças zebuínas
começavam a ganhar a preferência, em relação às crioulas. O
transporte de bovinos era feito por meio das “comitivas”, que eram
“tocadas” pelas estradas, pelos boiadeiros com seus berrantes, durante
dias ou semanas.
É freqüente a utilização de várias formas de transporte do gado
no Pantanal ao longo do escoamento, variando com as condições locais
e o estado do animal, entre outras. Segundo Allem & Valls (1987) o
sistema de transporte de bovinos no Pantanal é precário, e os
problemas são agravados pelas inundações e pela falta de estradas, e
devido ao assoreamento do rio Taquari.
Fonte: Embra
p
a Pantanal
11
Em 1985, as formas de transporte que predominavam era o a pé e
fluvial e destacaram-se nos centros pecuários de Nhecolândia e do
Paiaguás, enquanto que o Sul da região, favorecido pela infra-estrutura
correspondente, registrou-se a utilização do sistema de transporte
ferroviário por 28% dos produtores (Cadavid Garcia, 1985). O
escoamento atual da produção animal (vaca gorda, touruno, boi gordo,
boi magro, bezerros), utiliza-se de várias formas de transporte. Mediante
inúmeras observações por vários anos, pode-se afirmar que as
importâncias relativas aos transportes no Pantanal correspondem a
56% transportes por comitiva, 28% rodoviário e 16% fluvial que podem
ser combinados, dependendo das condições locais e do estado físico do
animal.
Transporte por Comitiva de Bovinos no Pantanal
Nas propriedades mais distantes e de difícil acesso, predomina o
transporte por Comitiva até os centros de embarque fluvial ou
rodoviário.
Segundo informações de fazendeiros do Pantanal o transporte por
Comitiva ocorre com bastante freqüência internamente, isto é, entre as
sub-regiões. Nessas ocasiões o gado vai de uma fazenda para outra,
principalmente na época da cheia, e ou em época de leilões. Nas
propriedades mais distantes e de difícil acesso, predomina o transporte
a pé. A composição numérica do lote define-se em 906 animais, os
quais percorrem, em média 230 km desde a origem até o destino. A
distância média percorrida é de 21 km/dia com intervalos de descanso,
ao final da jornada, de 12 horas/marcha. Estes intervalos de descanso
ocorrem entre as 11 e 13 horas e durante a noite (CADAVID GARCIA,
1985).
Transporte fluvial de bovinos no Pantanal
A navegação fluvial é importante no Pantanal, porque as cheias
da bacia do Paraguai dificultam a construção de vias terrestres. Os
12
principais rios utilizados para o transporte fluvial de animais, são: rio
Paraguai, rio Cuiabá, rio São Lourenço e rio Taquari (Figura 4).
Figura 4: Principais Rios Formadores do Pantanal.
O transporte fluvial é realizado por serviço privado, pouco
adaptados para este tipo de atividade, com um efetivo de
aproximadamente 10 embarcações, através de duas linhas principais.
As duas linhas de transporte fluvial são:
1º - Parte toda semana de Corumbá via rio Taquari, constituída por
lanchas-curral de "simples" com quatro a seis subdivisões sem corredor
e uma lotação de 20 a 60 rezes.
2º- Parte toda semana de Corumbá, via rios Paraguai, Cuiabá e
São Lourenço, constituída por lanchas-curral de "simples" e "duplas"
subdivisões. A "dupla" tem 8 a 16 subdivisões com ou sem corredor,
com uma lotação de 100 a 620 rezes.
No transporte fluvial realizado na região do Pantanal a mortalidade
é freqüente, principalmente quando os animais de várias idades são
transportados na mesma divisão do curral da lancha. A sub-região com
13
maiores problemas no transporte de bovinos para o abate é o Paiaguás,
sendo a via fluvial a única maneira de escoar a produção, utilizando-se
como via navegável as duas linhas de transporte fluvial. No transporte
fluvial realizado no rio Taquari devido ao assoreamento do mesmo as
lanchas podem encalhar por vários dias, deixando assim os animais
privados de alimento durante o período.
Transporte rodoviário de bovinos no Pantanal
O transporte rodoviário de bovinos no Pantanal é problemático, e
as dificuldades são aumentadas pelas inundações, entretanto
atualmente o sistema de transporte rodoviário tem uma importância
relativa de 28%.
Nos últimos anos este transporte prosperou relativamente no
Pantanal, basicamente devido ao surgimento de algumas estradas
pavimentadas ou outras novas estradas não pavimentadas.
No Pantanal, o transporte por via rodoviária, é realizado nos
chamados "caminhões boiadeiros", tipo "truque", sendo a capacidade de
carga média, de 18 animais.
Segundo informações de motoristas, a velocidade média é 30
km/hora. O período de viagem dos animais pode variar de 30 minutos
até 11 horas de transporte.
O transporte rodoviário é muito utilizado nas sub-regiões
próximas aos frigoríficos e cidades como Corumbá, Ladário, Miranda,
Aquidauana, entre outras. Praticamente todos os animais abatidos nos
frigoríficos situados nessas cidades são provenientes do transporte
rodoviário, sejam eles combinados ou não com os demais transportes.
O entendimento do sistema de manejo pré-abate e abate de
bovinos e bubalinos em regiões de pecuária ultra-extensiva como o
Pantanal Sul-Matogrossense permitirá a avaliação de como os efeitos de
diferentes estratégias de manejo podem afetar a qualidade de carcaça. A
pesquisa científica pode ser determinante para elucidar esta atividade.
14
O Capítulo II, denominado PREVALÊNCIA DE LESÕES EM
CARCAÇAS DE BOVINOS DE CORTE ABATIDOS NO PANTANAL SUL
MATO-GROSSENSE TRANSPORTADOS POR VIAS FLUVIAIS, apresenta-
se redigido em formato de artigo e deverá ser submetido à publicação na
revista: Ciência e Tecnologia de Alimentos. O objetivo desse trabalho foi
avaliar a influência do transporte fluvial na incidência de lesões
tissulares em carcaças de bovinos abatidos no Pantanal Sul Mato-
grossense, através da quantificação do número e tamanho das lesões,
bem como a identificação e determinação da idade das lesões em função
do tempo ocorrido e a localização dessas lesões tissulares nos principais
cortes comerciais brasileiros.
O Capítulo III, denominado OCORRÊNCIA DE LESÕES EM
CARCAÇAS DE BOVINOS DE CORTE NO PANTANAL TRANSPORTADO
POR VIA RODOVIÁRIA, apresenta-se de acordo com as normas da
revista Ciência Rural. Esse trabalho foi realizado com o objetivo de se
avaliar a influência do transporte rodoviário na ocorrência de lesões em
carcaças de bovinos abatidos no Pantanal Sul Matogrossense, por meio
da quantificação do número e tamanho das lesões, assim como a
identificação e determinação da idade das lesões em função do tempo
ocorrido e a localização da freqüência de ocorrência das lesões nos
principais cortes comerciais brasileiros.
O Capítulo IV, denominado EFICIÊNCIA DA INSENSIBILIZAÇÃO
E INFLUÊNCIA DO TRANSPORTE FLUVIAL E RODOVIÁRIO NA
INCIDÊNCIA DE LESÕES EM CARCAÇAS DE BUBALINOS ABATIDOS
NO PANTANAL SUL MATO-GROSSENSE, deve ser submetido à
publicação na revista Ciência e Tecnologia de Alimentos. Esse trabalho
foi realizado com o objetivo de examinar a eficiência de insensibilização
de bubalinos abatidos no Pantanal Sul Mato-grossense e a influência do
transporte fluvial e rodoviário na incidência de lesões tissulares em
carcaças, assim como a quantificação em meia carcaça direita e
15
esquerda e no quarto dianteiro e traseiro e o tamanho das lesões
tissulares.
O Capítulo V, denominado INSENSIBILIZAÇÃO DE BOVINOS
ABATIDOS NO PANTANAL SUL MATOGROSSENSE E OCORRÊNCIA DE
LESÕES EM CARCAÇAS, apresenta-se redigido em formato de artigo e
deverá ser submetido à publicação na revista: Pesquisa Agropecuária
Brasileira. O objetivo desse trabalho foi de avaliar a eficiência de
insensibilização de bovinos abatidos no Pantanal Sul Matogrossense e a
influência do transporte fluvial e rodoviário na ocorrência de lesões em
carcaças, assim como a quantificação em meia carcaça direita e
esquerda e no quarto dianteiro e traseiro e o tamanho das lesões.
16
Referências Bibliográficas
ALLEM. A. C.; VALLS. J. F. M. Recursos Forrageiros Nativos do
Pantanal Mato-Grossense. Brasília: EMBRAPA-DDT, 1987. 339 p.
(Brasília: EMBRAPA-CENARGEN, Documentos, 8).
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22
CAPÍTULO II
PREVALÊNCIA DE LESÕES EM CARCAÇAS DE BOVINOS DE CORTE
ABATIDOS NO PANTANAL SUL MATO-GROSSENSE
TRANSPORTADOS POR VIAS FLUVIAIS
Ernani Nery de ANDRADE
1.*
, Roberto de Oliveira ROÇA
2
,
Roberto Aguilar Machado Santos SILVA
3
, Heraldo César GONÇALVES
4
1
Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Faculdade de Medicina Veterinária (FMVZ),
Universidade Estadual Paulista (UNESP). Rua Dr. José Barbosa de Barros, 835, Jardim Paraíso,
Botucatu, SP, Brasil. 18609-085. E-mail: ernani@fmvz.unesp.br. Autor para correspondência.
2
Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial (DGTA), Faculdade de Ciências Agronômicas
(UNESP), Botucatu, SP, Brasil
3
EMBRAPA Pantanal (CPAP), Corumbá, MS, Brasil.
4
Departamento de Produção e Exploração Animal (DPEA), Faculdade de Medicina Veterinária
(FMVZ), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, SP, Brasil
*
A quem a correspondência deve ser enviada.
23
RESUMO
O objetivo deste estudo foi avaliar a influência do transporte
fluvial na incidência de lesões tissulares em carcaças de bovinos
abatidos no Pantanal Sul Mato-grossense, por meio da quantificação do
número e tamanho das lesões, bem como a identificação e determinação
da idade das lesões em função do tempo ocorrido e a localização dessas
lesões nos principais cortes comerciais brasileiros. Apurou-se que do
total de 88 carcaças avaliadas, 83 (94,3%) tiveram uma ou mais lesões,
totalizando 253 lesões que resultaram na remoção de 39,988 kg de
carne, com média geral de 0,454 kg por animal ou 0,481 kg por animal
considerando-se apenas os animais que tiveram lesões. Com relação ao
tamanho das lesões, as maiores médias foram encontradas em animais
oriundos das condições I e II. Foi encontrada a maior média em bovinos
procedentes da condição II para a idade de lesões em carcaças. Foi
constituída diferença na freqüência de lesões nos cortes comerciais nas
condições avaliados. Conclui-se que o sistema de transporte dos
bovinos no Pantanal influenciou a incidência de lesões, sendo o
aumento da distância tempo de transporte associado ao à longa
distância, jejum e maior número de interação homem-animal durante o
manejo da fazenda até o frigorífico, provocaram maior número de
lesões, porém de menor tamanho.
Palavras-chave: lancha-curral, manejo pré-abate, quantificação de
contusão, transporte fluvial
24
SUMMARY
The aim of this study was to assess the influence of fluvial
transport on the incidence of tissue bruises of beef cattle slaughtered in
the Pantanal of Mato Grosso do Sul state, by quantifying the number
and size of bruises, as well as their age related to the time spent and by
locating the bruises in the main Brazilian commercial cuts. From a total
of 88 carcasses assessed, 83 (94.3%) had one or more bruises, totaling
253 bruises, which resulted in the removal of 39,988 kg meat, with a
general mean of 0,454 kg by animal or 0,481 kg by animal, considering
only the animals that had bruises. Regarding the size of bruises, the
highest means were found in animals submitted to conditions I and II.
The animals submitted to condition II presented the highest mean of
bruise age. A difference was established among the conditions assessed
in terms of frequency of bruises in the commercial cuts. The results
show that the system of transport of cattle in the Pantanal influenced
the incidence of bruises. The increase of distances spent for transport,
associated to fast and a higher number of interactions man-animal from
the farm handling to the slaughterhouse, resulted in a higher number
of bruises, although smaller in size.
Keywords: ferryboat, pre-slaughter handling, quantification of bruises,
fluvial transport
25
1 - INTRODUÇÃO
O Pantanal Mato-Grossense ocupa uma área de
aproximadamente 140.000 km², sendo parte integrante da bacia do rio
Paraguai, que se situa na porção central da América do Sul (entre 14º
00’ e 22º 00’ S e 53º 00’ e 66º 00’ W), com uma área de 500.000 km²,
dos quais 28% pertencem à Bolívia e ao Paraguai [9].
O clima da região é tropical quente (Aw, segundo a classificação
climática de Köeppen), apresentando uma estação chuvosa e outra
seca. As chuvas concentram-se no período do verão, espaço
compreendido entre os meses de novembro a março, sendo dezembro e
janeiro o pico dessas precipitações [2]. Nesse período, registram-se altas
temperaturas com médias de 25ºC e máximas médias de 32ºC. As
máximas absolutas de outubro e novembro ficam acima de 40ºC [4].
O rio Paraguai é o principal coletor de águas do Pantanal. A
intensidade das inundações depende do regime de chuvas, que
apresenta ciclos plurianuais chuvosos ou secos [1].
A navegação no rio Paraguai, em Corumbá/Ladário, MS, é
essencial para os Estados de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul e para
a Bolívia. Nessa região, trafegam embarcações provenientes dos portos
de Cáceres, MT, e da Bolívia, principalmente carregadas de soja. São
escoados minérios de ferro e de manganês e navegam embarcações
militares, de pesca, de turismo e de transporte de animais para o abate.
Segundo GALDINO [5], a ocorrência de níveis muito baixos no rio
Paraguai implica em grandes prejuízos financeiros para as atividades
que utilizam a navegação.
As cheias da bacia do Paraguai dificultam a construção de vias
terrestres, desta maneira, a navegação fluvial de animais é importante
no Pantanal. O transporte fluvial de animais é realizado por serviço
privado, pouco adaptados para este tipo de atividade, com um efetivo de
aproximadamente 10 embarcações, através de duas linhas principais.
26
Os principais rios utilizados para o transporte fluvial de animais,
são: rio Paraguai, rio Cuiabá, rio São Lourenço e rio Taquari.
Este serviço é realizado por dois tipos de “lanchas-curral”, de
acordo com a situação atual dos rios e volume a ser transportado.
O transporte fluvial é praticado, quase em sua totalidade, por
lanchas-curral que transportam animais e pessoas, exceto duas
lanchas-curral que transportam exclusivamente animais. Os animais
que se destinam aos pontos de embarque fluvial procedem de fazendas
localizadas muitas vezes a centenas de quilômetros destes, deslocando-
se a pé das fazendas, até os portos de origem.
A sub-região com maiores problemas no transporte de bovinos
para o abate é o Paiaguás, sendo a via fluvial a única maneira de escoar
a produção, utilizando-se como via navegável as duas linhas de
transporte fluvial. No transporte fluvial realizado no rio Taquari devido o
assoreamento do mesmo as lanchas pode encalhar por vários dias,
deixando assim os animais privados de alimento durante o período.
O objetivo desse trabalho foi avaliar a influência do transporte
fluvial na incidência de lesões tissulares em carcaças de bovinos
abatidos no Pantanal Sul Mato-grossense, através da quantificação do
número e tamanho das lesões, bem como a identificação e determinação
da idade das lesões em função do tempo ocorrido e a localização dessas
lesões nos principais cortes comerciais brasileiros.
2 - MATERIAL E MÉTODOS
2.1 - Local
Esta pesquisa foi realizada no mês de julho de 2003, em
matadouro-frigorífico sob Serviço de Inspeção Federal, em Corumbá,
M.S.
2.2 - Animais
Foram avaliados oitenta e oito bovinos sãos, da raça Nelore sendo
pertencentes a 3 propriedades, situadas em 3 sub-regiões do Pantanal.
27
O estudo era composto por 76 fêmeas adultas com idade média de 10,5
anos, 7 machos castrados com idade média de 12,5 anos, 5 machos não
castrados com idade média de 9,5 anos. Todos os bovinos foram criados
sob o sistema extensivo, a pasto nativo no Pantanal.
Os animais foram divididos em 3 condições de observações, de
acordo com a distância da fazenda de origem. Cada condição de
observação continha de 05 a 42 animais.
Condição I: 41 animais (41 vacas de 8-10 anos), provenientes
da sub-região do Paraguai e foram submetidos aos transportes por
comitiva (12 quilômetros), fluvial (100 quilômetros) e rodoviário (25
quilômetros), totalizando 137Km ou 75Km em linha reta entre os
pontos conforme a Figura 1;
Condição II: 5 animais (2 vacas de 13-14 anos, 1 macho
castrado de 14 anos e 2 machos não castrados de 9-10 anos),
provenientes da sub-região da Nhecolândia e foram submetidos aos
transportes por comitiva (10 quilômetros), fluvial (236 quilômetros) e
rodoviário (25 quilômetros), totalizando 271Km ou 161Km em linha reta
entre os pontos conforme a Figura 1;
Condição III: 42 animais (33 vacas de 7-9 anos, 6 machos
castrados de 10-15 anos e 3 machos não castrados de 10 anos),
provenientes da sub-região do Paiaguás e foram submetidos aos
transportes por comitiva (33 quilômetros), fluvial (470 quilômetros) e
rodoviário (25 quilômetros), totalizando 528Km ou 230Km em linha reta
entre os pontos conforme a Figura 1.
28
FIGURA 1. Trilhas percorridas pelos bovinos abatidos no Pantanal Sul
Mato-grossense.
2.3 - Transporte
Os bovinos oriundos da condição I foram primeiramente
submetidos ao transporte em comitiva no período das 07:00 às 16:00
horas do dia 18-07-03, desde a propriedade de origem até ao porto de
embarque fluvial localizado no Castelo região norte da sub-região do
Paraguai, distância de 12 Km. Os bovinos pernoitaram no porto e no dia
seguinte (19-07-03) às 07:00 horas foram embarcados na lancha-curral,
onde foram submetidos por aproximadamente 8 horas de transporte,
distância de 100 Km, desde o porto até a cidade de Ladário-MS, onde
desembarcaram e pernoitaram no curral da cidade de Ladário. O
embarque no caminhão foi realizado no dia 20-07-03 no período da
manhã, onde foram submetidos por aproximadamente 20 minutos de
transporte por via rodoviária, distância de 25 Km, desde o curral de
Ladário até o desembarque no frigorífico. O tempo gasto foi de 72 horas
e 45 minutos, desde a saída dos animais da propriedade de origem até o
Condição I
Condição II
Condição III
29
ato da insensibilização no frigorífico ou 19 horas e 20 minutos
considerando-se apenas os períodos de transportes. Durante todos os
períodos de transportes e permanência no frigorífico os animais
permaneceram desprovidos de alimento e receberam água ad libitum
apenas nas instalações do curral da cidade de Ladário e no frigorífico,
Tabela 1. O abate realizou-se no dia 21-07-03 às 07 horas e 45
minutos.
Os bovinos procedentes da condição II foram inicialmente
transportados em comitiva no período das 05 horas e 30 minutos às 14
horas e 30 minutos do dia 13-07-03 por aproximadamente 9 horas,
desde a propriedade de origem até ao porto de embarque situados na
região norte da sub-região do Nhecolândia, distância de 10 Km. Os
bovinos foram embarcados na lancha-curral no mesmo dia às 16:30
horas onde foram submetidos por aproximadamente 19 horas de
transporte, distância de 236 Km, desde o porto até o desembarque no
curral situado na cidade de Ladário-MS, onde pernoitaram. O embarque
no caminhão foi realizado no dia 15-07-03 no período da manhã, onde
foram submetidos por aproximadamente 20 minutos de transporte por
via rodoviária, distância de 25 Km, desde o curral da cidade Ladário até
o desembarque no frigorífico. O tempo gasto foi de 74 horas e 10
minutos, desde a saída dos animais da propriedade de origem até o ato
da insensibilização no frigorífico ou 28 horas e 20 minutos
considerando-se apenas os períodos de transportes. Durante todos os
períodos de transportes e permanência no frigorífico os animais
permaneceram desprovidos de alimento e receberam água ad libitum
apenas nas instalações do curral da cidade de Ladário e no frigorífico,
Tabela 1. O abate realizou-se no dia 16-07-03 às 07 horas e 40
minutos.
Os bovinos pertencentes da condição III foram primeiramente
transportados em comitiva no período das 05 horas e 30 minutos às 16
horas e 30 minutos do dia 25-07-03 por aproximadamente 11 horas e
30
distância de 17 Km, deste a propriedade de origem até a fazenda Alegre,
onde pernoitaram. No dia seguinte saíram da propriedade em comitiva
no período das 06 horas e 30 minutos às 15 horas e 30 minutos por
aproximadamente 9 horas em uma distância de 10 Km até o porto de
embarque fluvial situado na própria sub-região do Paiaguás. No dia 27-
07-03 pela manhã os animais foram embarcados na lancha-curral,
onde foram submetidos por aproximadamente 25 horas de transporte
distância de 470 Km, desde o porto até o curral situado na cidade de
Ladário-MS, aonde foram desembarcados no dia 28-07-04. O embarque
no caminhão foi transcorrido no mesmo dia no período da tarde, onde
foram submetidos por aproximadamente 20 minutos de transporte por
via rodoviária distância de 25 Km, desde o curral da cidade Ladário até
o desembarque no frigorífico. O tempo gasto foi de 98 horas e 30
minutos, desde a saída dos animais da propriedade de origem até o ato
da insensibilização no frigorífico ou 45 horas e 20 minutos
considerando-se apenas os períodos de transportes. Durante o
transporte por comitiva os animais pastejavam e bebiam água. No
curral da cidade de Ladário os animais receberam água ad libitum, e
durante o transporte por via fluvial e rodoviária os animais
permaneceram desprovidos de alimento e água, Tabela 1. O abate
realizou-se no dia 29-07-03 às 07 horas 40 minutos.
TABELA 1. Caracterização das condições de estudo
Transporte (Km)
Origem
Comitiva Fluvial Rodoviário (E. P.)*
Distância
total
Tempo total
sem alimento
Cond. I 12Km
(9 horas)
100Km
(8 horas)
25Km
(20 minutos)
137Km 72 hs. e 45
min.
Cond. II 10Km
(9 horas)
236Km
(19 horas)
25Km
(20 minutos)
271Km 74 hs. e 10
min.
Cond. III 33Km
(20 horas)
470Km
(25 horas)
25Km
(20 minutos)
528Km Aprox. 49
horas
( ) Horas percorridas em cada meio de transporte.
* Estrada pavimentada.
O transporte por comitiva respectivos as condições I, II e III foram
conduzidos pelos peões das próprias propriedades rurais de origem dos
animais, utilizando-se em médias 5 peões. O transporte fluvial relativo
31
às condições I, II e III foi efetivado por lanchas-curral constituídas de
"simples" e/ou "duplas" subdivisões com ou sem corredor, com uma
lotação de 35 a 620 cabeças de bovinos. O transporte rodoviário
referente às condições I, II e III foi realizado por diferentes motoristas,
utilizando veículo com capacidade para 18 cabeças de gado.
O fluxograma do transporte fluvial de bovinos destinado ao abate no
Pantanal Sul Mato-grossense está resumido na Figura 2.
2.4 - Frigorífico
Antes do abate, os bovinos foram submetidos à inspeção ante-
mortem e a um período de jejum de 12 horas, com livre acesso à água.
O banho de aspersão dos animais foi realizado com água clorada, à
temperatura ambiente, durante 6 a 10 minutos.
A inspeção "ante-mortem" é de suma importância em um
estabelecimento de abate, visto que algumas enfermidades têm
sintomatologia clara nos animais vivos. No exame "post mortem", pouca
ou nenhuma alteração é detectada.
2.5 - Sistema de classificação de lesões tissulares
Os animais foram abatidos no período do dia 16 ao dia 29 de
Julho de 2003. Durante o abate, cada carcaça foi avaliada e numerada
em planilha individual, onde registrava-se o número e o tamanho das
lesões, conforme formulário próprio. Cada carcaça foi numerada
obedecendo à seqüência e velocidade normal de abate do
estabelecimento.
As lesões de carcaça foram visualmente identificadas e
classificadas. As classificações das lesões foram realizadas, durante as
avaliações das carcaças.
32
FIGURAS 2. Fluxograma do transporte Fluvial de bovino para abate no
Pantanal.
Adotou-se um sistema próprio de classificação baseado no
Australian Carcass Bruise Scoring System (ACBSS) de ANDERSON &
HOLDER [3]. As lesões foram classificadas em 5 categorias básicas de
acordo com o tamanho da área de superfície da lesão, como segue:
"Tamanho 1" - de 1 a 5 cm em diâmetro.
Sistema extensivo
Aparte dos animais
destinado ao abate no
curral da fazenda
T
ransporte por
Comitiva
Transporte Fluvial
Embarque
Embarque
Desembarque
Curral da cidade de
Ladário, MS
Transporte Rodoviário
Desembarque
Frigorífico
Abate
T
ransporte por
Comitiva
33
"Tamanho 2" - de 6 a 10 cm em diâmetro.
"Tamanho 3" de 11 a 15 cm em diâmetro.
"Tamanho 4" de 16 a 20 cm em diâmetro.
"Tamanho 5" de um diâmetro maior que 21 cm.
Lesão abaixo de 1 cm de diâmetro não foi registrada.
A colheita de dados está esboçada na Figura 3.
FIGURA 3. Sistema de classificação de lesões em carcaças de bovinos.
2.6 - Identificação e determinação da idade das lesões: validação
subjetiva
Durante o abate, cada carcaça foi inspecionada e numerada em
ficha individual, onde registrava-se a cor da lesão.
34
Foram feitas avaliações subjetivas visuais para validação de
lesões de carcaça, baseando-se no escore de coloração das mesmas
conforme Tabela 2. As identificações visuais das lesões foram
realizadas, logo após as avaliações e classificações das carcaças.
Recomenda-se que essa avaliação subjetiva aconteça sob condições
padronizadas de intensidade de luz, utilizando luz branca fria e seja
precedida de adequado treinamento.
TABELA 2. Determinação da idade das lesões conforme a coloração
Tempo Escore Coloração/Aspecto
Menos de 1 dia
1-2 dias
3-5 dias
5-7 dias
Mais de 1 semana
1
2
3
4
5
Vermelho/azulado ou púrpura
Marrom para púrpura escuro
Verde para marrom
Amarelo (aspecto exudativo)
Amarelo - marrom (aspecto exudativo)
2.7 - Quantificação das lesões tissulares por cortes comerciais
Durante o abate, cada carcaça foi avaliada e numerada em ficha
individual, onde anotava-se a ocorrência e a localização das lesões nos
cortes, conforme um formulário próprio.
Foram avaliadas as presenças de lesões nos cortes comerciais
brasileiro padronizados pela Portaria Sipa nº 5, de 8/11/1988. Os
seguintes cortes comerciais do quarto dianteiro foram avaliados: paleta,
músculo, cupim, acém, pescoço, peito e costela da dianteira. Foram
também avaliados os seguintes cortes comerciais do quarto traseiro: A)
Ponta de agulha: Costela do traseiro, vazio (fraldinha); B) Traseiro-
serrote: contrafilé, capa de filé, filé-mignon, aba-de-filé, picanha,
alcatra, maminha-da-alcatra, coxão de dentro (chã-de-dentro), lagarto,
coxão de fora (chã-de-fora), patinho, músculo.
As carcaças que apresentaram lesões foram submetidas à
remoção dos tecidos afetados na operação de toalete, conforme
procedimento próprio do frigorífico.
35
As lesões removidas foram colhidas e separadas em sacos
plásticos individualmente de acordo com o número da carcaça com
lesão e o peso total foi anotado segundo a condição de origem.
Todas as lesões foram pesadas e medidas no laboratório da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Pantanal.
2.8 - Avaliação estatística
A freqüência de lesões nas carcaças e a proporção de incidência
de lesões nos cortes comerciais entre as condições foram comparados
pelo Teste do Qui-quadrado (X
2
), ao nível de significância (NS) de 1%.
Também fez-se uma análise de variância não paramétrica pelo
teste de Kruskal-Wallis para comparação múltiplas entre médias de
condição para o tamanho das lesões e para a comparação dos escores
médios de coloração entre as condições. Foi adotado o nível de
significância de 1%. O Sistema de Analises Estatísticas e Genéticas -
SAEG 9.0 [14] foi utilizado para analise dos dados.
3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da influência do transporte fluvial na incidência de
lesões e peso dos tecidos retirados de carcaças de bovinos ao abate, são
apresentados na Tabela 3.
TABELA 3. Incidência de lesões e peso dos tecidos retirados de
carcaças de bovinos sob o efeito do transporte fluvial no
Pantanal Sul Mato-grossense
Carcaças Peso dos tecidos removidos (kg)
Origem
Sem
lesão
Com
lesão
Total de
lesões
% de
carcaças com
lesões**
Total
Peso/lesão
Peso/Animal
Cond. I*
Cond. II*
Cond. III*
5
0
0
36
5
42
87
20
146
87,80 a
100 b
100 b
19,943
2,878
17,166
0,229
0,143
0,117
0,553
0,575
0,408
TOTAL 5 83 253 39,988 0,158 0,481
**Médias na coluna seguidas por letras minúsculas diferentes diferem (P<0,01) pelo teste qui-quadrado.
*Condição I - transporte por comitiva (12 quilômetros), fluvial (100 quilômetros) e rodoviário (25
quilômetros), totalizando 137Km. Condição II - transporte por comitiva (10 quilômetros), fluvial (236
quilômetros) e rodoviário (25 quilômetros), totalizando 271Km. Condição III - transporte por comitiva (33
quilômetros), fluvial (470 quilômetros) e rodoviário (25 quilômetros), totalizando 528Km.
Apurou-se que do total de 88 carcaças avaliadas, 83 (94,3%)
tiveram uma ou mais lesões, totalizando 253 lesões que resultaram na
37
remoção de 39,988 kg de carne, com média geral de 0,454 kg por
animal ou 0,481 kg por animal considerando-se apenas os animais que
tiveram lesões. As lesões podem ocorrer em qualquer fase do manejo
pré-abate e levam a danificação das carcaças e contribuem para a
redução nos atributos de bem-estar e qualidade da carne [17].
Esta porcentagem de lesões em carcaças está abaixo dos 97%
observado por JARVIS, SELKIRK & COCKRAM [10] no Reino Unido e
bem acima dos 60% encontrado no Chile por GALLO, ESPINOZA &
GASIC [7] e dos 64,1% obtidos por MATIC [12], no principal matadouro-
frigorífico de Santiago em carcaças de bovinos procedentes de todas
partes do país.
Na tabela 3 são apresentados os resultados obtidos no teste de
Qui-quadrado. Verifica-se que houve diferença significativa entre as
condições, sendo a maior freqüência de lesões encontrada em animais
pertencentes às condições II e III (P<0,01). Os bovinos procedentes
destas condições foram submetidos aos transportes por comitiva, fluvial
e rodoviário por tempos superiores a 70 horas, distância média de
399,5km. Os animais passaram por vários manejos, inclusive 2
embarques e desembarques, sendo que durante os dias de transporte
os animais permaneceram desprovidos de alimento e água, exceto nas
instalações do curral da cidade de Ladário (6 quilômetros da cidade de
Corumbá), onde receberam água ad libitum. De acordo com WARRISS,
[17], durante o embarque e desembarque os animais podem cair e se
amontoar, principalmente se o piso estiver escorregadio.
Esta maior proporção de lesões encontrada neste estudo
possivelmente está relacionada ao aumento do tempo de transporte,
jejum e número de interação homem-animal durante o manejo da
fazenda até o frigorífico que segundo THORNTON [15]; TRUSCOTT &
GILBERT, [16] e GREGORY [8] influenciam o estado fisiológico dos
animais e provoca um efeito negativo sobre a qualidade da carne, pelo
qual estes estão de acordo com as observações feitas por MARIA et al.
38
[11] onde afirmaram que a suscetibilidade às lesões tem sido associada
ao estado fisiológico dos animais, sendo que bovinos sob estresse
crônico apresentam significativamente mais lesões do que bovinos sob
estresse agudo e que o aumento no tempo de transporte da fazenda ao
abatedouro geralmente tem um efeito negativo sobre a qualidade da
carne.
A bovinocultura no Pantanal é feita extensivamente, favorecida
pelas pastagens naturais de excelente qualidade. Segundo WARRISS
[17] a incidência de lesões é um grande problema no manejo de bovinos
criados extensivamente. No Pantanal os animais que se destinam aos
pontos de embarque fluvial procedem de fazendas localizadas muitas
vezes a centenas de quilômetros destes, deslocando-se a pé das
fazendas, até os portos de origem, entretanto, o período de transporte
fluvial dos animais podem durar de 2 a 7 dias de viagem, onde os
animais não recebem alimento e água, desta maneira o transporte
fluvial de bovinos para o abate é um motivo de preocupação, tanto sob o
ponto de vista do bem-estar, como da qualidade da carcaça e da carne.
O tempo de transporte é também um motivo de preocupação na
Austrália, pois segundo WYTHES & SHORTHOSE [18], o tempo de
transporte mais freqüente é de 2 a 5 dias, podendo durar até 2
semanas. Durante esse tempo, os animais são sujeitados a remoção de
seu habitat, embarque e desembarque em veículos de transporte e
permanência em currais, além de serem expostos a outros agentes
estressantes como barulho, privação de alimento e água, vibrações e
mudanças de aceleração, temperaturas extremas, entre outras que
podem contribuir para um aumento do número de lesões e redução da
qualidade da carcaça.
Na Tabela 4 estão os resultados do Teste de Kruskal-Wallis para
os dados não paramétricos obtidos dos tamanhos das lesões entre as
condições observadas. Notou-se diferença entre as condições com
39
relação ao tamanho das lesões, sendo as maiores médias encontradas
em animais oriundos das condições I e II.
TABELA 4. Ordenações médias e comparação do tamanho das lesões
entre as condições pelo teste não paramétrico de Kruskal-Wallis
Origem Médias dos dados Total de Lesões
Condição I 2,18 a 87
Condição II 2,70 a 20
Condição III 1,34 b 146
Médias com letras distintas na mesma coluna diferem entre si (P < 0,01).
Nas Figuras 4 são apresentados as porcentagens dos tamanhos
das lesões sob influência do transportes fluvial.
Condição I
11,49%
39,08%
32,19%
12,64%
4,6%
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Tamanho 1 Tamanho 2 Tamanho 3 Tamanho 4 Tamanho 5
Condição II
15%
45%
35%
5%
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
50
Tamanho 1 Tamanho 2 Tamanho 3 Tamanho 4
40
Condição III
73,98%
19,86%
4,11%
2,05%
0
10
20
30
40
50
60
70
80
Tamanho 1 Tamanho 2 Tamanho 3 Tamanho 4
FIGURA 4. Distribuição percentual do tamanho das lesões para as
condições I, II e III.
Observou-se que nos animais oriundos da condição I as maiores
percentagens de lesões em carcaças foram de tamanho 2 (39,08%) e
tamanho 1 (32,19%). Os animais procedentes da condição II tiveram os
maiores percentuais de lesões em carcaças de tamanho 3 (45%) e
tamanho 2 (35%). Os animais pertencentes à condição III possuíram as
maiores percentagens de lesões em carcaças de tamanho 1 (73,98%) e
tamanho 2 (19,86%). Isto sugere que, os animais transportados por vias
fluviais, submetidos a diferentes distâncias e tempos semelhantes de
transporte, apresentaram maiores percentuais de lesões com diâmetro
entre 1 a 15 cm, (tamanhos 1, 2 e 3). Os valores da percentagem dos
tamanhos das lesões em carcaças foram parecidos com os observados
por GALLO et al. [6] para os graus de lesões em carcaças, sendo que as
maiores percentuais foram encontrados em graus 1 (afeta o tecido
subcutâneo) e 2 (afeta o tecido subcutâneo e o muscular) em animais
submetidos em diferentes tempo de transporte.
As comparações entre as médias dos escores de avaliação
subjetiva da coloração das lesões em função das condições são
apresentados na Tabela 5. Observou-se diferença para idade de lesões
em carcaças entre as condições, sendo a maior média encontrada em
animais procedentes da condição II.
41
TABELA 5. Ordenações médias e comparação da idade das lesões entre
as condições pelo teste não paramétrico de Kruskal-Wallis
Origem Médias dos dados Total de Lesões
Condição I 1,51 a 87
Condição II 3,05 b 20
Condição III 1,71 a 146
Médias com letras distintas na coluna diferem entre si (P < 0,01).
Os valores dos percentuais da idade das lesões em função dos
escores de coloração por condição estão apresentados nas Figura 5.
Condição I
1 a 2 dias
51,72%
Menos de
1 dia
48,28%
Condição II
Menos de
1 dia
20%
1 a 2 dias
5%
3 a 5 dias
30%
5 a 7 dias
40%
Mais de 1
semana
5%
42
Condição III
5 a 7 dias
1,38%
3 a 5 dias
0,68%
Menos de
1 dia
32,19%
1 a 2 dias
65,75%
FIGURA 5. Distribuição percentual da idade das lesões das condições I,
II e III.
Verifica-se que, todas as lesões em carcaças dos animais oriundos
da condição I foram de 1 a 2 dias (51,72%) e de menos de 1 dia
(48,28%), indicando que o transporte de comitiva não provocou lesões.
De acordo com a idade das lesões em função dos escores de coloração,
observou-se que as lesões em carcaças dos animais procedentes da
condição II foram mais constantes, desde menos de 1 dia até mais de
uma semana, no entanto, as maiores percentagens foram de 5 a 7 dias
(40%) e 3 a 5 dias (30%), houve lesões durante todo o processo, até
mesmo antes de iniciar o transporte. Os animais pertencentes à
condição III apresentaram os maiores percentuais de lesões de 1 a 2
dias (65,75%) e com menos de 1 dia (32,19) de idade, final do transporte
fluvial até o abate. Pode-se observar que, através do uso dos escores de
coloração para a validação subjetiva da idade das lesões mostra-se
possível estimar que, em todo momento do manejo pré-abate dos
bovinos no Pantanal ocorrem lesões. Estes resultados confirmam os
resultados de WARRISS [17], que afirma que as lesões podem ocorrer
em qualquer fase do manejo pré-abate. Estes resultados também
confirmam os observados por McCAUSLAND & MILLAR [13] em um
estudo na Austrália usando métodos histológicos para estimar a idade
43
das lesões concluíram que entre 43% e 90% das lesões em carcaças
examinadas ocorrem no frigorífico.
Várias técnicas têm sido experimentadas para determinar a idade
das lesões e assim estes agentes causais podem ser identificados no
tempo. Embora as mudanças de características na coloração, durante a
conversão de hemoglobina por bilirrubina para biliverdina, são usadas
em alguns sistemas de avaliação [3].
Em relação à freqüência das lesões em cortes comercias entre as
condições avaliadas o teste do Qui-quadrado revelou diferença entre as
condições.
A Figura 6 apresenta os valores dos percentuais de lesões em
cortes comerciais dos bovinos submetidos aos transportes fluviais,
abatidos no Pantanal Sul Mato-grossense entre as condições.
Observou-se que, os três principais cortes comerciais com
maiores incidências de lesões na condição I foram à costela (31,03%),
chã-de-fora (26,45%) e o lagarto (12,64%). Nas carcaças procedentes da
condição II os três cortes comerciais com maiores ocorrências de lesões
foram o lagarto (35%), chã-de-fora (20%) e a alcatra (15%). Na condição
III os três cortes comercias com maiores proporções de lesões em
carcaças foram à alcatra (40,49%), lagarto (30,83%) e a paleta (8,23%).
Pode observar-se que os principais cortes comerciais que apresentaram
altas percentagens de lesões, com exceção da costela e paleta estão na
porção caudal da carcaça correspondendo ao quarto traseiro especial,
sendo que o lagarto aparece entre as três condições avaliados com uma
alta percentagem de incidência de lesões. O manejo inadequado pode
causar o aumento das extensões das lesões [17].
44
Condição I
Costela
31,03%
Pata
dianteira
1,14%
Fraldinha
8,04%
Alcatra
8,06%
Paleta
12,64%
Lagarto
12,64%
Chã-de-fora
26,45%
Condição II
Contra filé
5%
Costela
5%
Peixinho
10%
Paleta
10%
Alcatra
15%
Chã-de-fora
20%
Lagarto
35%
Condição III
Peito
2,74%
Chã-de-fora
4,11%
Outros Cortes
Comerciais
7,51%
Costela
6,16%
Paleta
8,23%
Lagarto
30,83%
Alcatra
40,42%
FIGURA 6. Distribuição percentual de lesões segundo a localização na
(cortes comerciais) carcaça das condições I, II e III.
45
4 - CONCLUSÃO
O sistema de transporte de bovinos no Pantanal influenciou a
incidência de lesões.
O aumento da distância de transporte associado ao jejum e maior
número de interação homem-animal durante o manejo da fazenda até o
frigorífico, provocaram maior número de lesões, porém de menor
tamanho.
O uso da validação subjetiva de avaliação da idade das lesões em
função dos escores de coloração é possível estimar, em qual momento
do manejo ou meio de transporte ocorrem mais lesões.
Os cortes comerciais da porção caudal da carcaça
correspondendo ao quarto traseiro especial são mais lesionados.
46
5 - REFERÊNCIAS
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cerrados. Discussão sobre o conceito “Complexo do Pantanal”. In:
CONGRESSO NACIONAL DE BOTÂNICA, 32., 1981, Teresina.
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119.
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Pantanal Mato-Grossense. Brasília: EMBRAPA-DDT, 1987. 339
p. (Brasília: EMBRAPA-CENARGEN, Documentos, 8).
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scoring system. Queensland Agriculture Journal, v. 105, p.
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RADAM BRASIL, Folha SE 21 Corumbá. Rio de Janeiro, 1982.
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mínimo no rio Paraguai em Ladário, MS - Pantanal. Corumbá:
EMBRAPA-CPAP, 2001. p. 42 (EMBRAPA-CPAP. Circular Técnica,
28).
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del tiempo de transporte de novillos previo al faenamiento sobre
el comportamiento, las perdidas de peso y algunas
características de la canal. Arch. Med. Vet. n. 2, p. 157 - 170,
2000.
47
(7) GALLO, C.; ESPINOZA, M. A.; GASIC, J. Efectos del transporte por
camión durante 36 horas con y sin período de descanso sobre el
peso vivo y algunos aspectos de calidad de carne en bovinos.
Arch. Med. Vet. n. 1, p. 43-53, 2001.
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Meat Science, v. 36, p. 46-56, 1994.
(9) GODOI-FILHO, J. D de. Aspectos geológicas do Pantanal Mato-
grossense e sua área de influência. In: SIMPÓSIO SOBRE
RECURSOS NATURAIS E SÓCIO-ECONÔMICOS DO PANTANAL,
1., 1984, Corumbá. Anais... Brasília: Embrapa - DDT, 1986. p.
63-76. (Embrapa-CPAP. Documentos, 5).
(10) JARVIS, A. M.; SELKIRK, L.; COCKRAM, M. S. The influence of
source, sex class nd pre-slaughter handling on the bruising of
cattle at two slaughterhouses. Livestock Production Science,
v. 43, p. 215-224, 1995.
(11) MARIA, G. A.; VILLARROEL, M.; CHACON, G.; GEBRESENBET, G.
Scoring system for evaluating the stress to cattle of commercial
loading and unloading. The Veterinary Record, v. 154, n. 26,
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(12) MATIC, M. A. Contusiones en canales bovinas y su relación con el
transporte. Tesis, M. V. Universidad Austral de Chile, Facultad
de Ciencias Veterinarias, Valdivia, Chile. 1997.
(13) McCAUSLAND, I. P.; e MILLAR, H. W. C. Time of occurrence of
bruises in slaughtered cattle. Aust. Vet. J., v. 58, p. 253 - 255,
982.
48
(14) SAEG - Sistema de Análise Estatística e Genéticas.
UNIVERSIDADE FEDERAL DE VIÇOSA - UFV. Viçosa, MG,
1997 (Versão 7.0).
(15) THORNTON. H. Compêndio de inspeção de carnes. Londres:
Bailliere Trindall an Cassel, 1969. 665 p.
(16) TRUSCOTT, T. G.; GILBERT, J. E. Effect of fasting on liveweight
and subcutaneous fat depth of cattle. Australian Journal
Expecion Agriculture Animal Husb, v. 18 p. 483-487, 1978.
(17) WARRISS, P. D. The handling of cattle pre-slaughter and its effects
on carcass meat quality. Applied Animal Behaviour
Science, Amsterdam, v. 28, p. 171-186, 1990.
(18) WYTHES, J. R.; SHORTHOSE, W. R. Australian meat research
committee Australian meat research committee, Review n.
46, 1984.
49
Ocorrência de lesões em carcaças de bovinos de corte no Pantanal
transportado por via rodoviária
Occurrence of carcass bruising of beef cattle in the Pantanal after road
transport
Ernani Nery de Andrade
I
Roberto Aguilar Machado Santos Silva
II
Roberto de Oliveira Roça
III
Heraldo César Gonçalves
IV
I
Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Faculdade de Medicina Veterinária (FMVZ),
Universidade Estadual Paulista (UNESP). Rua Dr. José Barbosa de Barros, 835, Jardim Paraíso,
Botucatu, SP, Brasil. 18609-085. E-mail: ernani@fmvz.unesp.br. Autor para correspondência.
II
EMBRAPA Pantanal (CPAP), Corumbá, MS, Brasil.
III
Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial (DGTA), Faculdade de Ciências
Agronômicas (UNESP), Botucatu, SP, Brasil
IV
Departamento de Produção e Exploração Animal (DPEA), Faculdade de Medicina Veterinária
(FMVZ), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, SP, Brasil
50
RESUMO
O trabalho teve como objetivo avaliar a influência do transporte rodoviário na
ocorrência de lesões em carcaças de bovinos abatidos no Pantanal Sul Matogrossense,
por meio da quantificação do número e tamanho das lesões, assim como a identificação
e determinação da idade das lesões em função do tempo ocorrido e a localização da
freqüência de ocorrência das lesões nos principais cortes comerciais brasileiros.
Constatou-se que do total de 121 carcaças avaliadas, 102 (84,3%) tiveram uma ou mais
lesões, totalizando 270 lesões que resultaram na remoção de 56,170 kg de carne, com
média geral de 0,464 kg por animal ou 0,550 kg por animal considerando-se apenas os
animais que tiveram lesões. A freqüência de lesões em carcaças de bovinos entre as
condições I, II, III, IV, V e VI evidenciou diferença significativa, consistindo nas
maiores proporções de lesões encontradas em animais, submetidos ao transporte
rodoviário por mais de 1 hora e distâncias maiores que 70 Km, sendo grande parte em
estradas não pavimentadas. Não houve diferença significativa quanto à incidência de
lesões nos cortes comerciais presentes nas carcaças entre as condições avaliadas.
Conclui-se que os animais submetidos à série sucessiva de manejo e transportados em
estradas não pavimentadas por longas distâncias apresentaram maior proporção de
lesões, sendo que os animais provenientes da condição VI apresentaram maior número
de lesões.
Palavras-chaves: abate de bovinos, caminhão, cortes comerciais, incidência de
contusão
51
ABSTRACT
This study aimed to assess the influence of road transport on the occurrence of carcass
bruising of cattle slaughtered in the Pantanal of Mato Grosso do Sul state, Brazil, by
quantifying the number and size of bruises, identifying and determining their age related
to time spent and by locating the frequency of occurrence of bruises in the main
Brazilian commercial cuts. From a total of 121 carcasses assessed, 102 (84.3%) had one
or more bruises, totaling 270 bruises, which resulted in the removal of 56.170 kg meat,
with a general mean of 0,464 kg by animal or 0,550 kg by animal, considering only the
animals that had bruises. The frequency of carcass bruises of cattle among conditions I,
II, III, IV, V and VI showed significant difference, consisting in the highest proportions
of bruises found in animals submitted to road transport for more than one hour in
distances longer than 70 km, a great part of which on dirty toads. There was no
significant difference regarding the incidence of bruises in the commercial cuts present
among the conditions assessed. The conclusion is that the animals submitted to the
successive series of handling and transported on dirty roads for long distances presented
the highest proportion of bruises, whereas the animals submitted to condition IV
presented the highest number of bruises.
Key words: beef cattle slaughtering, truck, commercial cuts, bruising incidence
52
INTRODUÇÃO
O Pantanal é uma planície estacionalmente inundável, com aproximadamente
139.558 km² (SILVA et al., 1995), situando-se mais ou menos entre os paralelos de 16º
e 21ºS e os meridianos de 55ºW. Está situado nos estados de Mato Grosso (sudeste) e
Mato Grosso do Sul (noroeste), adentrando pequenas partes na Bolívia e vinculando-se
com o Chaco, em prolongamento natural.
Cerca de 80% das chuvas caem no período de verão, espaço compreendido entre
os meses de novembro a março, sendo dezembro e janeiro o zênite destas precipitações.
A evaporação é bastante alta superando a precipitação pluviométrica nos meses da seca.
O relevo é essencialmente plano. A altitude no interior do Pantanal oscila entre 80 a
120m acima do nível do mar.
O bovino pantaneiro foi à base da economia da região por cerca de três séculos,
porém, nas primeiras décadas do século passado, esse tipo local foi substituído
gradativamente por raças zebuínas, predominantemente nos dias de hoje, o gado Nelore.
Segundo projeções do Anualpec 2006, o Brasil atingiu um efetivo de
164.943.515 em 2006 (ANUALPEC, 2006). O Estado de Mato Grosso do Sul (MS)
possui um rebanho de aproximadamente 20 milhões de cabeças, que representam 12%
do rebanho brasileiro. Entretanto, diversas áreas do estado como o Pantanal e zonas de
solos mais pobres apresentam índices zootécnicos inferiores à média brasileira. Segundo
VIEIRA & COMASTRI FILHO (2005), essa baixa produtividade no Pantanal, expressa
no desfrute do rebanho, entre outros fatores, é conseqüência da tardia idade da novilha à
primeira cria (4 anos), longo intervalo entre partos (22 meses), baixo índice de
natalidade (54%) e de desmama (43%), e elevada mortalidade, principalmente de
53
bezerros (15%). A pecuária de corte é a principal atividade econômica da região do
Pantanal, porém a fauna, flora, turismo e a mineração também apresentam potencial
para utilização.
O sistema de transporte de bovinos no Pantanal é precário, e os problemas são
agravados pelas inundações e pela falta de estradas. Segundo ROÇA (2001) o transporte
de animais para o estabelecimento de abate constitui-se na primeira etapa do abate
humanitário com efeitos significativos na qualidade da carne. Em condições
desfavoráveis pode conduzir à morte e ser responsável pelas principais contusões
observadas na inspeção post-mortem. Está relacionado com o estresse dos animais e
conseqüentemente com a queda do pH post-mortem.
Nos últimos anos o transporte rodoviário prosperou relativamente no Pantanal,
basicamente devido ao surgimento de algumas estradas pavimentadas ou outras novas
estradas não pavimentadas.
O transporte rodoviário é muito utilizado nas sub-regiões próximas aos
frigoríficos e cidades como Corumbá, Ladário, Miranda, Aquidauana, entre outras.
Praticamente todos os animais abatidos nos frigoríficos situados nessas cidades são
provenientes do transporte rodoviário, sejam eles combinados ou não com os demais
transportes.
Este trabalho foi realizado com o objetivo de avaliar a influência do transporte
rodoviário na ocorrência de lesões em carcaças de bovinos abatidos no Pantanal Sul
Matogrossense, por meio da quantificação do número e tamanho das lesões, assim como
a identificação e determinação da idade das lesões em função da escala colorimétrica e a
54
localização da freqüência de ocorrência das lesões nos principais cortes comerciais
brasileiros.
MATERIAL E MÉTODOS
Local
O estudo foi conduzido no município de Corumbá, região noroeste do estado de
Mato Grosso do Sul, em dois frigoríficos, um com inspeção estadual e outro com
inspeção federal localizados, nos municípios de Ladário e Corumbá respectivamente, no
mês julho de 2003.
Origem dos animais
Foram avaliados cento e vinte e um bovinos sãos, da raça Nelore sendo
pertencentes a 6 propriedades, situadas em 3 sub-regiões do Pantanal. Os animais eram
compostos por 34 fêmeas adultas com idade média de 6,5 anos, 26 machos castrados
com idade média de 6,5 anos, 61 novilhas com idade média 2,5 anos. Todos os bovinos
foram produzidos sob o sistema extensivo.
Os animais foram divididos em 6 condições de acompanhamentos, de acordo
com a distância da fazenda de origem. Cada condição de acompanhamento de animais
foi composto de 1 lote, contendo 10 a 50 animais por lote.
Condição I: 11 animais (11 novilhas com idade média 2,5 anos),
provenientes da região do assentamento rural Taquaral situada na sub-região do
Paraguai e foram submetidos ao transporte rodoviário (20 quilômetros) ou 11Km em
linha reta entre os pontos conforme a Figura 1;
55
Condição II: 50 animais (50 novilhas com idade média 2,5 anos),
provenientes da região de Albuquerque situada na sub-região do Paraguai e foram
submetidos ao transporte rodoviário (50 quilômetros) ou 30Km em linha reta entre os
pontos conforme a Figura 1;
Condição III: 11 animais (11 vacas com idade aproximada baseada na
informação do criador de 8-10 anos), provenientes da região de Albuquerque situada na
sub-região do Paraguai e foram submetidos ao transporte rodoviário (50 quilômetros) ou
30Km em linha reta entre os pontos conforme a Figura 1;
Condição IV: 19 animais (1 vaca com idade aproximada baseada na
informação do criador de 4 anos e 18 machos castrados de 3,5-4 anos), provenientes da
região de Maria Coelho situada na sub-região do Paraguai e foram submetidos ao
transporte rodoviário (70 quilômetros) ou 26Km em linha reta entre os pontos conforme
a Figura 1;
Condição V: 10 animais (2 vacas com idade aproximada baseada na
informação do criador de 6-8 anos e 8 machos castrado de 8-10 anos), provenientes da
sub-região do Nabileque e foram submetidos aos transportes rodoviário (68 km em
estrada não pavimentada e 120 km em estrada pavimentada), totalizando 188Km ou
106Km em linha reta entre os pontos conforme a Figura 1;
Condição VI: 20 animais (20 vacas com idade aproximada baseada na
informação do criador de 6-7 anos), provenientes da sub-região do Paiaguás e foram
submetidos aos transportes por comitiva (351 quilômetros) e rodoviário (120
quilômetros) totalizando 471Km ou 374Km em linha reta entre os pontos conforme a
Figura 1.
56
Figura 1. Trilhas percorridas pelos bovinos abatidos no Pantanal Sul
Mato-grossense.
Transporte
Os bovinos oriundos da condição I foram submetidos ao transporte rodoviário no
período das 15:00 às 15 horas e 50 minutos do dia 15-07-03 por aproximadamente 50
minutos, distância de 20 Km, desde a propriedade de origem situada na região oeste da
sub-região do Paraguai até ao frigorífico que encontra-se situado na região centro-oeste
da sub-região da Paraguai. O tempo gasto foi de 17 horas, desde a saída dos animais da
propriedade de origem até o ato da insensibilização no frigorífico e/ou
aproximadamente 50 minutos considerando-se apenas o período de transporte. Durante
o período de transporte e permanência no frigorífico os animais permaneceram
desprovido de alimento, Tabela 1. O abate realizou-se no dia 16-07-03 às 08:00 horas.
Os bovinos procedentes da condição II foram submetidos ao transporte
rodoviário no período das 16:00 às 16 horas e 40 minutos do dia 17-07-03 por
Condição I
Condição II
Condição III
Condição IV
Condição V
Condição VI
57
aproximadamente 40 minutos, distância de 50 Km, desde a propriedade de origem
situada na região sul da sub-região do Paraguai até ao frigorífico. O tempo gasto foi de
22 horas, desde a saída dos animais da propriedade de origem até o ato da
insensibilização no frigorífico e/ou aproximadamente 40 minutos considerando-se
apenas o período de transporte. Durante o período de transporte e permanência no
frigorífico os animais permaneceram desprovido de alimento, Tabela 1. O abate foi
realizado no dia (18-07-03) às 14:00 horas.
Os bovinos pertencentes à condição III foram submetidos ao transporte
rodoviário no período das 15:00 às 16 horas e 10 minutos do dia 17-07-03 por
aproximadamente 1 hora e 10 minutos, distância de 50 Km, desde a propriedade de
origem situada na região sul da sub-região do Paraguai até ao frigorífico. O tempo gasto
foi de 22 horas e 10 minutos, desde a saída dos animais da propriedade de origem até o
ato da insensibilização no frigorífico e/ou aproximadamente 1 hora e 10 minutos
considerando-se apenas o período de transporte. Durante o período de transporte e
permanência no frigorífico os animais permaneceram desprovido de alimento, Tabela 1.
O abate foi realizado no dia (18-07-03) às 13 horas e 10 minutos.
Os bovinos oriundos da condição IV foram submetidos ao transporte rodoviário
no período das 10 horas e 30 minutos às 11 horas e 35 minutos do dia 17-07-03 por
aproximadamente 1 hora e 05 minutos, distância de 70 Km, desde a propriedade de
origem situada na região sudeste da sub-região do Paraguai até ao frigorífico. O tempo
gasto foi de 20 horas e 30 minutos, desde a saída dos animais da propriedade de origem
até o ato da insensibilização no frigorífico e/ou aproximadamente 1 hora e 05 minutos
considerando-se apenas o período de transporte. Durante o período de transporte e
58
permanência no frigorífico os animais permaneceram desprovido de alimento, Tabela 1.
O abate foi realizado no dia (18-07-03) às 07:00 horas.
Os bovinos procedentes da condição V foram submetidos ao transporte
rodoviário no período das 08 horas e 30 minutos às 11 horas e 10 minutos do dia 28-07-
03 por aproximadamente 2 horas e 40 minutos, distância de 188 Km, desde a
propriedade de origem situada na região centro-oeste da sub-região do Nabileque até ao
frigorífico. O tempo gasto foi de 22 horas 30 minutos, desde a saída dos animais da
propriedade de origem até o ato da insensibilização no frigorífico e/ou
aproximadamente 2 horas e 40 minutos considerando-se apenas o período de transporte.
Durante o período de transporte e permanência no frigorífico os animais permaneceram
desprovido de alimento, Tabela 1. O abate foi realizado no dia (29-07-03) às 07:00
horas.
Os bovinos pertencentes à condição VI foram transportados em comitiva do dia
18-07-03 ao dia 27-07-03, distância de 200 Km, deste a propriedade de origem situada
na sub-região do Paiaguás até ao leilão situado na sub-região da Nhecolândia,
totalizando 10 dias de transporte em comitiva, com uma média de 10 horas de
transporte/dia. O embarque no caminhão foi transcorrido no dia 28-07-03 no período da
manhã, onde foram submetidos por aproximadamente 4 horas, distância de 120 Km,
desde o leilão até o desembarque no frigorífico. O tempo gasto foi de 268 horas e 30
minutos, desde a saída dos animais da propriedade de origem até o ato da
insensibilização no frigorífico e/ou aproximadamente 104 horas considerando-se apenas
os períodos de transportes. Durante o transporte por comitiva os animais pastejavam e
bebiam água, e durante o transporte rodoviário e a permanência no frigorífico os
59
animais permaneceram desprovidos de alimento, Tabela 1. O abate realizou-se no
seguinte (29-07-03) às 10horas e 30 minutos.
Tabela 1. Caracterização das condições de estudo
Transporte (Km)
Rodoviário
Origem
Comitiva
E. P.* E. n. P.**
Total de
distância
percorrida
Tempo total
sem alimento
Condição I
- 5Km (15
minutos)
15Km (35
minutos)
20Km 17 horas
Condição II
- 40Km (32
minutos)
10Km (8
minutos)
50Km 22 horas
Condição III
- 25Km (20
minutos)
25Km (50
minutos)
50Km 22 hs. e 10
min.
Condição IV
- 5Km (15
minutos)
65Km (50
minutos)
70Km 20 hs. e 30
min.
Condição V
- 120Km (1 h.
e 30 min.)
68Km (1 h. e 10
min.)
188Km 22 hs. e 30
min.
Condição VI
351Km
(100 horas)
5Km (20
minutos)
115Km (3 horas
e 40 min.)
471Km Aprox. 50
horas
( ) Horas percorridas em cada meio de transporte.
* Estrada pavimentada.
** Estrada não pavimentada.
O transporte rodoviário referente às condições I, II, III, IV, V e VI foram
realizados por diferentes motoristas, utilizando veículo com capacidade para 18 cabeças
de gado. O transporte por comitiva relativo a condição VI, foi conduzido por peões
boiadeiros especializados para este tipo de atividade pertencentes ao leilão, composto de
7 peões e 1 cozinheiro, que utilizam-se em torno de 20 eqüinos e/ou mulas e burros.
O fluxograma do transporte rodoviário de bovinos destinado ao abate no
Pantanal Sul Matogrossense está sintetizado na Figura 2.
Frigorífico
No frigorífico os bovinos foram submetidos à inspeção ante-mortem e a
idênticos manejos pré-abate: jejum e dieta hídrica de 12 horas. O banho de aspersão dos
animais foi realizado com água clorada, à temperatura ambiente, durante 6 a 10
60
minutos. Os animais foram abatidos, suspensos por meio de guincho elétrico e
processados com o auxílio de transportador aéreo automático.
Figura 2. Fluxograma do transporte Rodoviário de bovino para abate no Pantanal.
Sistema de classificação de lesões
Os animais foram abatidos no período do dia 16 ao dia 29 de Julho de 2003.
Durante o abate, cada carcaça foi avaliada e numerada em ficha individual, onde
registrava-se o número e o tamanho das lesões, conforme formulário próprio. Cada
carcaça foi numerada obedecendo à seqüência e velocidade normal de abate do
estabelecimento.
As lesões de carcaça foram visualmente identificadas e classificadas. As
classificações das lesões foram realizadas, durante as avaliações das carcaças.
Adotou-se um sistema próprio de classificação baseado no Australian Carcass
Bruise Scoring System (ACBSS) de ANDERSON & HOLDER, (1979). As lesões
Sistema extensivo
Aparte dos animais
destinado ao abate no
curral da fazenda
Trans
p
orte
p
or Comitiva
Trans
p
orte Rodoviário
Embar
q
ue
Desembar
q
ue
Fri
g
orífico
Abate
61
foram classificadas em 5 categorias básicas de acordo com o tamanho da área de
superfície da lesão, como segue:
"Tamanho 1" - de 1 a 5 cm em diâmetro.
"Tamanho 2" - de 6 a 10 cm em diâmetro.
"Tamanho 3" de 11 a 15 cm em diâmetro.
"Tamanho 4" de 16 a 20 cm em diâmetro.
"Tamanho 5" de um diâmetro maior que 21 cm.
Lesão abaixo de 1 cm de diâmetro não foi registrada.
A colheita de dados está esboçada na Figura 3.
Figura 3. Sistema de classificação de lesões em carcaças de bovinos.
Identificação e determinação da idade das lesões
A determinação da idade das lesões foi baseada na escala de cores das mesmas
conforme Tabela 2. Durante o abate, cada carcaça foi inspecionada e numerada em ficha
individual, onde registrava-se a cor da lesão.
62
Foram feitas avaliações subjetivas visuais para validação de lesões de carcaça,
baseando-se na escala colorimétrica. As identificações visuais das lesões foram
realizadas, logo após as avaliações e classificações das carcaças.
Tabela 2. Determinação da idade das lesões conforme a escala colorimétrica
Tempo
Escala Coloração/Aspecto
Menos de 1 dia
1-2 dias
3-5 dias
5-7 dias
Mais de 1 semana
1
2
3
4
5
Vermelho/azulado ou púrpura
Marrom para púrpura escuro
Verde para marrom
Amarelo (aspecto exudativo)
Amarelo – marrom (aspecto
exudativo)
Quantificação das lesões por cortes comerciais
Durante o abate, cada carcaça foi avaliada e numerada em ficha individual, onde
anotava-se a ocorrência e a localização das lesões nos cortes, conforme um formulário
próprio.
Foram avaliadas as presenças de lesões nos cortes comerciais brasileiro
padronizados pela Portaria Sipa nº 5, de 8/11/1988. Os seguintes cortes comerciais do
quarto dianteiro foram avaliados: paleta, músculo, cupim, acém, pescoço, peito e costela
da dianteira. Foram também avaliados os seguintes cortes comerciais do quarto traseiro:
A) Ponta de agulha: Costela do traseiro, vazio (fraldinha); B) Traseiro-serrote:
contrafilé, capa de filé, filé-mignon, aba-de-filé, picanha, alcatra, maminha-da-alcatra,
coxão de dentro (chã-de-dentro), lagarto, coxão de fora (chã-de-fora), patinho, músculo.
As carcaças que apresentaram lesões foram submetidas à remoção dos tecidos
afetados na operação de toalete, conforme procedimento próprio de cada frigorífico.
As lesões removidas foram colhidas e separadas em sacos plásticos
individualmente de acordo com o número da carcaça com lesão e o peso total foi
63
anotado segundo a condição de origem. Todas as lesões foram pesadas e medidas no
laboratório da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Pantanal.
Avaliação estatística
A freqüência de lesões em carcaças de bovinos entre as condições foi comparada
pelo Teste do Qui-quadrado (X
2
), ao nível de significância (NS) de 1%. O teste não
paramétrico de Kruskal-Wallis foi utilizado para comparações múltiplas entre médias da
condição para as características: tamanho das lesões, idade das lesões em função da sua
coloração e a incidência de lesões nos cortes comerciais. Consideraram-se significativas
às diferenças com P<0,01. O Sistema de Analises Estatísticas e Genéticas - SAEG 9.0
(UFU, 1997) foi utilizado para analise dos dados.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados da influência do transporte Rodoviário na incidência de lesões e
peso dos tecidos retirados de carcaças de bovinos ao abate em função das condições são
apresentados na Tabela 3.
Tabela 3. Incidência de lesões e peso dos tecidos retirados de carcaças sob o efeito
do transporte rodoviário no Pantanal Sul Matogressense
Carcaças Peso dos tecidos removidos (kg)
Grupo
Sem
lesão
Com
lesão
Total de
lesões
% de
carcaças com
lesões**
Total
Peso/lesão
Peso/Animal
Condição I*
Condição II*
Condição III*
Condição IV*
Condição V*
Condição VI*
2
9
6
1
1
0
9
41
5
18
9
20
21
80
15
33
28
93
81,81 a b
82,00 a b
45,45 a
94,73 b
90,00 a b
100 b
1,898
17,297
0,577
12,926
3,128
20,342
0,090
0,216
0,038
0,391
0,111
0,218
0,210
0,421
0,115
0,718
0,347
1,017
TOTAL 19 102 270 56,170 0,208 0,550
**Médias na mesma coluna seguidas de diferentes letras diferem significativamente (P<0,01) pelo teste qui-quadrado.
*Condição I - transporte rodoviário (20 quilômetros). Condição II - transporte rodoviário (50 quilômetros). Condição III - transporte
rodoviário (50 quilômetros).
Condição IV- transporte rodoviário (70 quilômetros). Condição V - transporte rodoviário (188
quilômetros). Condição VI - transporte por comitiva (351 quilômetros) e rodoviário (120 quilômetros) totalizando 471Km.
64
Constatou-se que o total de 121 carcaças avaliadas, 102 (84,3%) tiveram uma ou
mais lesões, totalizando 270 lesões que resultaram na remoção de 56,170 kg de carne,
com média geral de 0,464 kg por animal ou 0,550 kg por animal considerando-se apenas
os animais que tiveram lesões (Tabela 3). TARRANT & GRANDIN, (2000), asseguram
que as principais perdas durante o transporte rodoviário dos bovinos estão relacionadas
principalmente a contusões e ao estresse. KNOWLES (1999), afirma que o transporte
rodoviário, em condições desfavoráveis, podem conduzir a contusões ou provocar a
morte, perdas de peso e estresse dos animais. A mortalidade de bovinos durante o
transporte é extremamente baixa (KNOWLES, 1995). BRAGGION & SILVA (2004),
em estudo na mesma região, demonstraram que 100 % dos bovinos abatidos em
frigorífico localizado no Pantanal Sul Mato-grossense apresentavam lesões, sendo que
33,08% foram devidas ao transporte inadequado.
Observou-se diferença nas proporções de carcaças com lesões entre as condições
(Tabela 3). A maior proporção de lesão foi encontradas em animais oriundos das
condições IV e VI, submetidos ao transporte rodoviário por mais de 1 hora e distâncias
superiores a 70 Km, sendo grande parte em estradas não pavimentadas. A menor
proporção de lesões foi constatada em animais pertencentes à condição III em estradas
pavimentadas. Este resultado não esteve relacionado ao espaço ocupado por animal, ou
seja, a densidade de carga, durante o transporte de caminhão sob o qual os animais
foram submetidos, levando em conta que a menor proporção de lesões foram
encontradas em animais pertencente à condição III, com 11 bovinos. Os resultados
obtidos demonstraram que a utilização de estradas não pavimentadas e longas distâncias
interferem na proporção de lesões. Esses resultados estão em concordância com os
65
encontrados por JOAQUIM (2002), que observou que as condições da estrada são
fatores importantes sob o aspecto de bem estar animal, sendo que animais que são
transportados por longas distâncias em estradas não pavimentadas apresentam, na
prática, alta incidência de contusões, como resultado dos solavancos, freadas e desvios
bruscos a que estão sujeitos os caminhões boiadeiros.
Os animais provenientes da condição VI foram transportados em comitiva por 10
dias, distância de 200 Km deste a propriedade de origem até a fazenda realizadora de
leilão, onde foram submetidos a inúmeros manejos até serem leiloados e transportados
por aproximadamente 4 horas, distância de 120 Km, desde o leilão até o frigorífico.
Estes animais apresentam 100% de freqüência de lesões em carcaças. Esse achado
provavelmente esteja relacionado à série sucessiva de procedimentos de manejo, a qual
os animais foram submetidos ficando desta maneira expostos a sofrerem lesões.
ELDRIDGE et al. (1984) concluíram que bovinos comercializados em leilões
apresentaram maior quantidade de lesões, e mais severas que aqueles enviados
diretamente para o matadouro. Tais relatos reforçam os resultados apresentados na
Tabela 3. Para YEH et al., (1978); WHYTES et al., (1981); GODOY et al., (1986);
MCNALLY & WARRISS, (1996) a presença de contusões mostra uma associação
significativa com a distância de transporte. No entanto, RAMSAY et al., (1976)
afirmaram que, além da distância de transporte, também é importante considerar o
movimento dos bovinos dentro do caminhão ou outro meio de condução durante a
aceleração e desaceleração, e que este fator pode ser inclusive mais crítico na incidência
de lesões maiores.
66
Na Tabela 4 são apresentadas as médias dos tamanhos das lesões em função das
condições, sendo a maior média encontrada em animais pertencentes à condição VI.
Esse achado provavelmente esteve relacionado à série sucessiva de manejo, a qual os
animais foram submetidos no transporte e durante a triagem dos animais para o leilão,
como conseqüências apresentaram 100% de freqüência de lesões em carcaças. A média
de animais leiloados a cada leilão é de 2.500 animais, com isso antes de serem leiloados,
os animais são expostos a uma série de manejo no curral, brete, tronco de contenção e
entre outros. Os bovinos são vacinados, separados por categoria em seguida por lote e
por último por proprietários. Vale ressaltar o total de 20 carcaças avaliadas pertencentes
à condição IV, 20 (100%) tiveram uma ou mais lesões, totalizando 93 lesões que
resultaram na remoção de 20,342 kg de carne, com média por animal de 1,017 kg.
Tabela 4. Médias dos tamanhos em função das condições
Origem Médias dos dados Total de Lesões
Condição I 1,38 a 21
Condição II 1,76 a 80
Condição III 1,33 a 15
Condição V 1,36 a 33
Condição V 1.57 a 28
Condição VI 3,00 b 93
Médias com letras distintas na mesma coluna diferem entre si (P < 0,01).
A idade média das lesões e seus percentuais, avaliados por meio da escala de
cores, em função das condições são apresentados nas Tabelas 5 e 6, respectivamente. Os
animais da condição VI apresentaram a maior média. As médias das idades de lesão de
carcaças para todos as condições coincidem com o manejo no frigorífico, exceto para os
animais proveniente da condição VI que apresentaram lesões com percentuais bastante
uniformes, desde mesmos de 1 dia de idade até mais de 1 semana. De acordo com
WARRISS (1990), várias técnicas têm sido desenvolvidas para determinar a idade das
lesões e assim estes agentes causais podem ser identificados no tempo.
67
Tabela 5. Médias da idade das lesões avaliadas pela escala de cores em função
das condições.
Origem Médias dos dados Total de Lesões
Condição I 1,00 a 21
Condição II 1,15 a 80
Condição III 1.06 a 15
Condição IV 1,27 a 33
Condição V 1,35 a 28
Condição VI 2,93 b 93
Médias na mesma coluna seguidas por letras minúsculas diferentes diferem (P<0,01) pelo teste Kruskal-Wallis.
Tabela 6. Percentual da idade das lesões sob a influência dos transportes rodoviário
Menos de 1 dia
(%)
1-2 dias
(%)
3-5 dias
(%)
5-7 dias
(%)
Mais de 1 semana
(%)
Cond. I 100
Cond. II 85 15
Cond. III 93,33 6,67
Cond. IV 75,76 21,21 3,03
Cond. V 67,86 28,57 3,57
Cond. VI 17,20 25,80 32,26 13,98 10,76
Quanto à incidência de lesões nos cortes comerciais revelaram que, apesar do
grande número de ocorrência não foi verificada diferença entre as condições (Tabela 7).
68
Tabela 7. Percentual das lesões causadas na (cortes comerciais) carcaças, sob
influência do transporte rodoviário
Cortes Comerciais Percentual de lesões nos cortes comerciais
Lagarto 28,14
Alcatra 15,18
Coxão duro 14,81
Costela 12,22
Paleta 11,48
Fraldinha 2,96
Contra filé 3,70
Peito 2,59
Cupim 1,85
Patinho 1,85
Pescoço 1,11
Coxão mole 1,11
Maminha 1,11
Músculo 0,74
Picanha 0,37
Filé mignon 0,37
Pata dianteira 0,37
TOTAL 100
69
CONCLUSÕES
Á série sucessiva de manejo e o transporte em estradas não pavimentadas por
longas distâncias apresentaram maior proporção de lesões em carcaça.
O maior número de lesões em carcaças foi nos animais provenientes da condição
de acompanhamento VI.
O uso da avaliação subjetiva por meio da validação da escala de cores das lesões
é possível julgar, em qual momento do manejo ou meio de transporte ocorrem mais
lesões.
70
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muscle pH. Australian Journal of Experimental Agriculture and Animal
Husbandry, v. 21, p. 557-561, 1981.
73
YEH, E.; ANDERSON, B.; JONES, P.; SHAW, F. Bruising in cattle transported over
long distances. Veterinary Record, London, v. 103, p. 117-119, 1978.
74
CAPÍTULO IV
EFICIÊNCIA DA INSENSIBILIZAÇÃO E INFLUÊNCIA DO
TRANSPORTE FLUVIAL E RODOVIÁRIO NA INCIDÊNCIA DE LESÕES
EM CARCAÇAS DE BUBALINOS ABATIDOS NO PANTANAL SUL
MATO-GROSSENSE
Ernani Nery de ANDRADE
1.*
, Roberto de Oliveira ROÇA
2
,
Roberto Aguilar Machado Santos SILVA
3
, Heraldo César
GONÇALVES
4
1
Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Faculdade de Medicina Veterinária (FMVZ),
Universidade Estadual Paulista (UNESP). Rua Dr. José Barbosa de Barros, 835, Jardim Paraíso,
Botucatu, SP, Brasil. 18609-085. E-mail: ernani@fmvz.unesp.br. Autor para correspondência.
2
Departamento de Gestão e Tecnologia Agroindustrial (DGTA), Faculdade de Ciências Agronômicas
(UNESP), Botucatu, SP, Brasil
3
EMBRAPA Pantanal (CPAP), Corumbá, MS, Brasil.
4
Departamento de Produção e Exploração Animal (DPEA), Faculdade de Medicina Veterinária
(FMVZ), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu, SP, Brasil
*
A quem a correspondência deve ser enviada.
75
RESUMO
O sistema de criação de búfalo no Pantanal está em elevação e é
semelhante àquele tradicional utilizado na produção de bovinos. O
abate de bubalinos é realizado sem tecnologia adequada, havendo
necessidade imperiosa de uma metodologia que promova o abate desses
animais, obedecendo-se aos princípios essenciais do abate humanitário.
Objetivou-se examinar a eficiência de insensibilização de bubalinos
abatidos no Pantanal Sul Mato-grossense e a influência do transporte
fluvial e rodoviário na incidência de lesões tissulares em carcaças,
assim como a quantificação nos quartos de carcaças e o tamanho das
lesões tissulares. Observou-se que os bubalinos abatidos no Pantanal
Sul Mato-grossense receberam em média 8,46 aplicações com pistola
pneumática. Verificou-se que do total de 54 carcaças avaliadas, 11
(20,37%) tiveram uma ou mais lesões, totalizando 17 lesões que
resultaram na remoção de 4,429 kg de carne, com média geral de 0,082
kg por animal ou 0,402 kg por animal considerando-se apenas os
animais que tiveram lesões. A freqüência de lesões em carcaças de
búfalos entre as condições avaliados revelou diferença, sendo a maior
freqüência encontrada em animais, submetidos ao transporte rodoviário
por aproximadamente 1 hora, distância de 50 Km em estrada
pavimentada. As meias-carcaças direita de todos os animais em todas
as condições obtiveram as porcentagens maiores (52,9%) em relação as
meias-carcaças esquerda (47,1%). A incidência total das lesões em
76
carcaças de todas as condições ocorreram no traseiro especial, sendo
que as maiores proporções foram encontradas no quarto traseiro caudal
(64,7%), seguido do quarto traseiro médio (29,4%) e o quarto traseiro
cranial (5,9%), com as menores proporções. Com relação ao sistema de
classificação de lesões tissulares das carcaças de todos provenientes de
todas as condições, tamanho 1 (52,9%), tamanho 2 (41,2%) e tamanho
4 (4,9%) foram às categorias que as lesões foram classificadas.
Concluiu-se que houve imperícia do operador, quanto ao local correto
de aplicação do dardo para insensibilização e o principal motivo
causador de lesões em bubalinos foi à baixa densidade de carga.
Palavras-chave: abate de búfalo no Pantanal, atordoamento, contusões,
manejo pré-abate
77
SUMMARY
The system of buffaloes raising in the Pantanal is increasing and
is similar to the traditional system used in cattle raising. The
slaughtering of buffaloes is carried out without the adequate
technology. A methodology to promote these animals’ slaughter is
necessary in order to comply with the essential principles of
humanitarian slaughter. This study aimed to assess the efficiency of
stunning buffaloes slaughtered in the Pantanal, the influence of road
and fluvial transport on the incidence of tissue carcass bruising, the
quantification of the carcass quarters, and the size of tissue bruising.
The buffaloes slaughtered in the Pantanal of Mato Grosso do Sul state
received an average of 8.46 applications by pneumatic powered
stunners. From a total of 54 carcasses assessed, 11 (20.37%) had one
or more bruises, totaling 17 bruises, which resulted in the removal of
4,429 kg meat, with a general mean of 0,082 kg by animal or 0,402 kg
by animal, considering only the animals that had bruises. There was a
difference in the frequency of carcass bruising among the conditions
assessed. The highest frequency was found in animals submitted to
road transport for one hour, along 50 km, on a paved road. The right
half carcasses of all animals in all conditions presented the highest
percentages (52.9%) in relation to the left half carcasses (47.1%). The
total incidence of carcass bruising in all conditions occurred on the
special hindquarter, with the highest proportions on the tail
78
hindquarter (64.7%), followed by the central hindquarter (29.4%) and
the brain hindquarter (5.9%) with the lowest proportions. Regarding the
classification system of tissue carcass bruises from all conditions, size 1
(52.9%), size 2 (41.2%) and size 4 (4.9%) were the categories in which
the bruises were classified. The conclusion is that there was lack of
expertise from the part of the handler, regarding the correct place of the
stunning dart application. The main cause of the buffaloes’ bruises was
the low load density.
Key words: buffalo slaughter in the Pantanal, stunning, bruises, pre-
slaughter handling
79
1 - INTRODUÇÃO
Os bubalinos têm sua origem na África e na Ásia, onde foram
domesticados há 7.000 anos. Mais tarde foi introduzido na Europa, [5].
O bubalino, assim como os bovinos, é classificado zoologicamente
na família Bovidae e na Subfamília Bovinae. Os bubalinos são animais
da espécie Bubalus bubalis, a qual possui três subespécies: Bubalis,
Kerebau e Fulvus. Bubalus bubalis var. bubalis compreendem raças
como Murrah, Jafarabadi e Mediterrâneo. Bubalus bubalis var. kerebau
agrupa os indivíduos da raça Carabao. Outra classificação denomina os
búfalos domésticos como búfalos de água, considerando a existência
dos de rio e de pântano [17].
Os búfalos criados com objetivos econômicos são do gênero
Bubalus bubalis, com as variedades bubalis (50 cromossomos) e
kerebeu (48 cromossomos). Existem diversas raças, com maior ou
menor aptidão para a produção de leite e carne ou para a tração e
transporte de carga. O couro e o esterco são subprodutos [5].
A introdução de búfalos no Brasil foi em 1870, com animais das
raças do Sudeste Asiático e da Itália (Carabao e Mediterrâneo), trocados
por bovinos de corte na Ilha do Marajó (PA) por uma embarcação da
Guiana Francesa [5].
O Brasil tem 1.148.808 cabeças de búfalos, segundo o IBGE [8], e
1.136.230 cabeças de búfalos, segundo a estimativa do Instituto FNP -
80
ANUALPEC [2], representando 99% do rebanho de todo o continente
americano.
O Pantanal é uma planície estacionalmente inundável, com
aproximadamente 139.558 km² [25]. A região do Pantanal é composta
por grandes propriedades particulares, associados aos fatores
ambientais, (56% das fazendas com áreas maiores que 10.000 ha).
No Pantanal como nas demais regiões tropicais, a produtividade
de bovinos criados extensivamente em pastagens nativas é baixa [23].
Um dos principais fatores deve-se a estacionalidade da produção das
pastagens, agravada no Pantanal pelas inundações que dependendo da
duração e intensidade, podem deixar submersas grande parte das
principais unidades de paisagem usadas para pastejo [19]. Além da
variação temporal, os recursos forrageiros do Pantanal exibem extrema
variação espacial. Segundo O’REAGAIN & SCHWARTZ [18], esta
variabilidade temporal e espacial é problemática para animais em
pastejo cujas necessidades nutricionais são relativamente constante.
Inúmeros estudos têm mostrado que a dieta selecionada pelos animais
apresenta qualidade superior ao pasto disponível [21, 14, 23].
Como alternativa para o incremento da pecuária de corte no
Pantanal, o búfalo, Bubalus bubalis, apresenta-se com um potencial
altamente favorável, pois a sua rusticidade lhe confere uma elevada
adaptabilidade às condições do ambiente “pantaneiro”. Os animais
introduzidos no início do século passado, de uma maneira geral,
81
adaptaram-se muito bem às condições brasileiras, sendo explorada a
sua capacidade em áreas que dificilmente seriam aproveitadas pelos
bovinos, ou seja, nas baixadas alagadas ou semi-alagadas [15]. Alguns
autores admitem a substituição dos bovinos pelos bubalinos nas áreas
sujeitas a inundações periódicas e com pastagens de baixa qualidade
(4, 3], pois nestas condições, esta espécie mantém um ritmo de
crescimento mais acelerado quando comparado com outros bovídeos.
MOURÃO et al. [16], apresentaram informações sobre a
distribuição e abundância de espécies introduzidas no Pantanal,
estimados por meio de levantamentos aéreos através de toda região
Pantaneira. De acordo com os autores, os búfalos estão situados em
pontos isolados da planície pantaneira e a densidade média aparente de
búfalos é de 0,037 búfalos/km² , um índice de abundância de cerca de
5100 búfalos no Pantanal.
O sistema de criação de búfalo no Pantanal está em elevação e é
semelhante àquele tradicional usado na produção de bovino. A
comercialização dos animais na região envolve, vários tipos de
transporte. O transporte de búfalos das propriedades rurais até o
frigorífico é semelhante aos desempenhados com bovinos de corte. O
método mais comum de transporte é o por Comitiva.
LEMCKE [13] relata que, há duas áreas principais durante o
transporte de búfalo onde os lucros podem ser completamente perdidos
com o manejo deficiente. A primeira é devido ao estresse pré-abate, que
82
causa o endurecimento da carne através da elevação dos níveis de pH.
Os valores são perdidos com a carne enegrecida (DFD). A segunda está
ligada às lesões. A carne com contusões deve ser removida e não pode
ser usada para o consumo humano. A cada ano a indústria de carne
bovina perde milhões de dólares devido às lesões. O manejo áspero é a
principal causa de lesões. Embora sejam menos susceptíveis a lesões do
que os bovinos, devido à espessura do couro os bubalinos ainda têm
lesões devido ao manejo pré-abate ineficiente.
O manejo pré-abate de bubalinos no Pantanal consiste em vários
estágios. Na primeira fase do manejo pré-abate, envolve a colheita dos
animais na propriedade, em lotes variados. O percurso médio é de 21
km/dia, sendo o destino final postos de embarque fluvial e rodoviário.
No Pantanal, o transporte fluvial é realizado por serviço privado,
pouco adaptados para este tipo de atividade, com um efetivo de
aproximadamente 10 embarcações, através de duas linhas principais.
Já o transporte por via rodoviária é realizado nos chamados "caminhões
boiadeiros", tipo "truque", sendo a capacidade de carga média, de 18
animais.
Segundo LEMCKE [13], quando os búfalos tornam-se excitados,
ficam propícios às quedas nos currais, caminhão ou em outros. O
conhecimento de lesões em bubalinos comercialmente abatido no Brasil
é muito pequeno, e não há pesquisa sobre a causa deste dano.
83
Sabe-se que o abate de bubalinos é realizado sem tecnologia
adequada, havendo necessidade imperiosa de uma metodologia que
promova o abate desses animais, obedecendo-se aos princípios
essenciais do abate humanitário [22].
A insensibilização dos animais para abate já existe,
provavelmente, desde o século XI [12], para facilitar o abate e proteger
os magarefes da resistência oferecida pelos animais.
O abate de búfalos é um processo traumático, em virtude da
particularidade da estrutura óssea do crânio. Considerando-se a grande
crueldade imposta aos búfalos durante o processo de abate, objetivou-
se examinar a eficiência de insensibilização de bubalinos abatidos no
Pantanal Sul Mato-grossense e a influência do transporte fluvial e
rodoviário na incidência de lesões tissulares em carcaças, assim como a
quantificação em meia carcaça direita e esquerda e no quarto dianteiro
e traseiro e o tamanho das lesões tissulares. Este foi o primeiro estudo
sobre o manejo pré-abate e lesões em carcaças de búfalos de água na
região do Pantanal Sul-Mato-grossense.
2 - MATERIAL E MÉTODOS
2.1 - Local
As observações foram realizadas nos meses de abril e setembro de
2004, em matadouro-frigorífico sob Serviço de Inspeção Federal, no
84
município de Corumbá, região noroeste do estado de Mato Grosso do
Sul.
2.2 - Animais
Foram avaliados cinqüenta e quatro búfalos sãos, pertencentes a
3 propriedades, situadas em 2 sub-regiões do Pantanal. O estudo era
composto por 25 fêmeas adultas com idade média de 7 anos, 21
machos não castrados com idade média de 7 anos, 8 fêmeas jovens com
idade média 2,5 anos. Todos os búfalos foram terminados sob o sistema
extensivo.
Os animais foram divididos em 3 condições de observações, de
acordo com a distância da fazenda de origem e do tipo de transporte.
Cada condição de observação foi composto de 1 lote, contendo 08 a 36
animais por lote.
Condição I: 08 bubalinos (08 fêmeas com idade aproximada
baseada na informação do criador de 2,5 anos), provenientes da sub-
região do Paraguai e foram submetidos ao transporte rodoviário (50
quilômetros) ou 18km em linha reta entre os pontos conforme a Figura
1;
Condição II: 10 bubalinos (6 fêmeas adultas com idade
aproximada baseada na informação do criador de 6-9 anos e 4 macho
não castrado de 4-6 anos), provenientes da sub-região do Paraguai e
foram submetidos aos transportes por comitiva (10 quilômetros), fluvial
85
(100 quilômetros) e rodoviário (25 quilômetros), totalizando 135Km ou
68Km em linha reta entre os pontos conforme a Figura 1;
Condição III: 36 bubalinos (19 fêmeas adultas com idade
aproximada baseada na informação do criador de 4-10 anos e 17
machos não castrados de 5-10 anos), provenientes da sub-região do
Paiaguás e foram submetidos aos transportes por comitiva (351
quilômetros) e rodoviário (120 quilômetros) totalizando 471Km ou
374Km em linha reta entre os pontos conforme a Figura 1.
FIGURA 1. Trilhas percorridas pelos bubalinos abatidos no
Pantanal Sul Mato-grossense.
2.3 - Transporte
Os bubalinos oriundos da condição I foram submetidos ao
transporte rodoviário no período das 15:00 às 16:00 horas do dia 16-
09-04 por aproximadamente 1 hora, desde a propriedade de origem
situada na região sul da sub-região do Paraguai até o frigorífico que
Condição I
Condição II
Condição III
86
encontra-se situado na região centro-oeste da sub-região do Paraguai,
distância de 50 Km. O tempo gasto foi de 17 horas e 40 minutos, desde
a saída dos animais da propriedade de origem até o ato da
insensibilização no frigorífico e/ou aproximadamente 1 hora
considerando-se apenas o período de transporte. Durante o período de
transporte e permanência no frigorífico os animais ficaram desprovidos
de alimentos, Tabela 1. O abate foi realizado no dia 17-09-04 às 08
horas e 40 minutos.
Os bubalinos procedentes da condição II foram inicialmente
transportados em comitiva no período das 08:00 às 15:00 horas do dia
20-04-04 por aproximadamente 7 horas, desde a propriedade de origem
até o porto de embarque fluvial localizado na região do Castelo situado
na parte norte da sub-região do Paraguai, distância de 10 Km. Os
bubalinos pernoitaram no porto e no dia 21-04-04 pela manhã foram
embarcados em lancha-curral, onde foram submetidos por
aproximadamente 8 horas de transporte, distância de 100 Km, desde o
porto até a cidade de Ladário-MS, onde foram desembarcados e
pernoitaram no curral desta mesma cidade. O embarque no caminhão
foi realizado no dia 22-04-04 no período da manhã, onde foram
submetidos por aproximadamente 20 minutos de transporte por via
rodoviária, distância de 25 Km, desde o curral de Ladário até o
desembarque no frigorífico. O tempo gasto foi de 71 horas, desde a
saída dos animais da propriedade de origem até o ato da
87
insensibilização no frigorífico e/ou aproximadamente 19 horas e 20
minutos considerando-se apenas os períodos de transportes. Durante
todos os períodos de transportes e permanência no frigorífico os
animais permaneceram desprovidos de alimento e receberam água ad
libitum apenas nas instalações do curral da cidade de Ladário e no
frigorífico, Tabela 1. O abate foi efetivado no dia 23-04-04 às 07:00
horas.
Os bubalinos pertencentes à condição III foram transportados em
comitiva do dia 18-04-04 ao dia 27-04-04, distância de 351 Km, deste a
propriedade de origem situada na sub-região do Paiaguás até o leilão
situado na sub-região da Nhecolândia, totalizando 10 dias de transporte
em comitiva, com uma média de 10 horas de transporte/dia. O
embarque no caminhão foi transcorrido no dia 28-04-04 no período da
manhã, onde foram submetidos por aproximadamente 4 horas,
distância de 120 Km, desde o leilão até o desembarque no frigorífico. O
tempo gasto foi de 268 horas, desde a saída dos animais da propriedade
de origem até o ato da insensibilização no frigorífico e/ou
aproximadamente 104 horas considerando-se apenas os períodos de
transportes. Durante o transporte por comitiva os animais pastejavam
e bebiam água, e durante o transporte por via rodoviária e permanência
no frigorífico os animais permaneceram desprovidos de alimento, Tabela
1. O abate foi realizado no dia 29-04-04 às 10:00 horas.
88
TABELA 1. Caracterização das condições de estudo
Transporte (Km)
Rodoviário
Origem
Comitiva
Fluvial
E. P.* E. n. P.**
Total de
distância
Tempo
total sem
alimento
Cond. I - - 50Km
(1 hora)
- 50Km 17 hs. e
40 min.
Cond. II 10Km
(7 horas)
100Km
(8 horas)
25Km
(20 min.)
- 135Km 71 horas
Cond. III 351Km
(100 hs.)
- 5Km
(20 min.)
115Km
(3 hs. E 40 min.)
471Km Aprox. 50
hs.
( ) Horas percorridas em cada meio de transporte.
* Estrada pavimentada.
** Estrada não pavimentada.
O transporte rodoviário referente às condições I, II e III foram
realizados por diferentes motoristas, utilizando veículo com capacidade
para 18 cabeças de gado. O transporte por comitiva respectivos às
condições II foi conduzido por peões da própria propriedade rural de
origem dos animais, utilizando 5 peões. No entanto, o transporte por
comitiva relativo a condição III, foi conduzido por peões boiadeiros
especializados para este tipo de atividade pertencentes ao Leilão,
composto de 7 peões e 1 cozinheiro, que utilizam-se em torno de 20
eqüinos e/ou mulas e burros. O transporte fluvial relativo à condição I
foi efetivado por lancha-curral constituída de 10 subdivisões sem
corredor, com uma lotação para aproximadamente 100 cabeças de
bovinos.
O fluxograma geral do transporte de bubalinos destinado ao abate
realizado no Pantanal Sul Mato-grossense está sintetizado na Figura 2.
2.4 - Frigorífico
Todos os bubalinos após serem submetidos à inspeção ante-
mortem e dieta hídrica de 12 horas, foram abatidos. O banho de
89
aspersão foi realizado com água clorada, à temperatura ambiente,
durante 6 a 10 minutos.
A inspeção "ante-mortem" é de suma importância em um
estabelecimento de abate, visto que algumas enfermidades têm
sintomatologia clara nos animais vivos. No exame "post mortem", pouca
ou nenhuma alteração é detectada.
FIGURA 2. Fluxograma geral de transporte de búfalo para abate no
Pantanal.
Sistema extensivo
Aparte dos animais
destinado ao abate
no curral da fazenda
T
ransporte por
Comitiva
T
ransporte
Rodoviário
Embarque
Transporte Fluvial
Embarque
Embarque
Desembarque
Desembarque
Curral da cidade de
Ladário, MS
T
ransporte
Rodoviário
Desembarque Frigorífico
Transporte por Comitiva
Abate
90
2.5 - Contagens das aplicações (insensibilização)
Os bubalinos foram abatidos nos dias 23 e 29 de abril e no dia 17
de setembro de 2004. Durante a insensibilização, cada animal foi
observado e numerado em planilha individual, onde registrava-se o
local e a quantidade das aplicações necessária para insensibilização.
Os animais foram abatidos através de pistola pneumática de
penetração de fabricação nacional, acionada a ar comprimido, com
capacidade de 140 animais/hora, destinada ao abate de bovinos e
eqüinos, com uma pressão de trabalho de 12 kg/cm², peso de 7,5. A
linha de ar comprimido foi instalada com diâmetro de ½”, em virtude do
compressor estar situado a mais de 9 metros da área de operação. Foi
utilizado um boxe de atordoamento inteiramente metálico, destinado a
receber um animal de cada vez, com as seguintes dimensões internas:
2400 mm de comprimento x 680 mm de largura, medidas estas
importantes para uma boa acomodação dos bubalinos e facilitar a
aplicação da pistola.
As aplicações foram feitas na região do osso frontal. O
comprimento do osso frontal de um búfalo adulto está em torno de 125-
140 mm. Segundo SANTOS [22], está área possui uma variação média
de 3-8 cm de espessura, área normalmente usada para a
insensibilização de bovinos tanto com a pistola pneumática penetrante
como para aquela não penetrante.
91
Após a insensibilização, os animais foram suspensos através de
uma das patas e a sangria realizada com facas previamente
esterilizadas em água à temperatura de ebulição. A velocidade média de
abate foi de 20 animais por hora.
2.6 - Quantificação de lesões tissulares em meias carcaças direita e
esquerda
Durante o abate, cada carcaça foi dividida em duas metades, com
o auxílio de uma serra elétrica, por meio de um corte ao longo da coluna
vertebral e do esterno e estas foram visualmente avaliadas. Cada meia
carcaça foi avaliada em ficha individual, onde anotava-se a incidência
das lesões nas mesmas.
2.7 - Quantificação de lesões tissulares nas carcaças
Cada meia carcaça foi dividida por linhas traçadas visualmente
em quarto dianteiro e traseiro e este último foi subdividido em três
porções, quarto traseiro cranial, médio e caudal, seguindo a
metodologia indicada por Australian Carcass Bruise Scoring System
(ACBSS) de ANDERSON & HOLDER (1). As carcaças foram avaliadas e
numeradas em ficha individual, onde registrava-se o local da lesão. As
lesões de carcaça foram visualmente identificadas e quantificadas
conforme o esboço na Figura 3.
O traseiro especial foi separado do dianteiro entre a 5º e a 6º
costelas, e da ponta de agulha a uma distância aproximadamente de 25
cm da coluna vertebral. Após a separação o quarto traseiro foi
92
subdividido visualmente em três grandes peças: quarto traseiro cranial
(costela e a porção torácica do lombo), quarto traseiro médio (vazio e a
porção abdominal do lombo) e o quarto traseiro caudal (coxão).
FIGURA 3. Colheita dos dados realizados em carcaças de bubalinos,
conforme a numeração que se segue: nº 1 = quarto traseiro
caudal; nº 2 = quarto traseiro médio; nº 3 = quarto
traseiro cranial e nº 4 = dianteiro.
2.8 - Sistema de classificação de lesões tissulares
Adotou-se um sistema próprio de classificação de lesões em
carcaça. As lesões de carcaça foram visualmente identificadas e
classificadas. As classificações das lesões foram realizadas, logo após as
avaliações das carcaças. As carcaças que apresentaram lesões foram
submetidas à remoção dos tecidos afetados na operação de toalete,
conforme procedimento próprio do frigorífico.
93
As lesões removidas foram colhidas e separadas em sacos
plásticos individualmente de acordo com o número da carcaça com
lesão e o peso total foi anotado segundo a condição de origem.
As lesões foram classificadas em 5 categorias básicas de acordo
com o tamanho da área de superfície da lesão, como segue:
"Tamanho 1" - de 1 a 5 cm em diâmetro.
"Tamanho 2" - de 6 a 10 cm em diâmetro.
"Tamanho 3" de 11 a 15 cm em diâmetro.
"Tamanho 4" de 16 a 20 cm em diâmetro.
"Tamanho 5" de um diâmetro maior que 21 cm.
Lesão abaixo de 1 cm de diâmetro não foi registrada.
A colheita de dados está esboçada na Figura 4.
Todas as lesões foram pesadas e medidas no laboratório da
Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - Embrapa Pantanal.
94
FIGURA 4. Sistema de classificação de lesões em carcaças de
bubalinos.
2.9 - Análise estatística
Com o objetivo de verificar as diferenças entre o número de
aplicação em função do sexo e idade dos bubalinos foram realizadas
análises de variância (ANOVA). A freqüência de lesões em carcaças de
bubalinos entre as condições foi comparada pelo Teste do Qui-quadrado
(X
2
), ao nível de significância (NS) de 1%. O Sistema de Analises
Estatísticas e Genéticas - SAEG 9.0 [20] foi utilizado para analise dos
dados.
95
3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
Os resultados obtidos com as aplicações na insensibilização
através de pistola pneumática de penetração encontram-se registrados
nas Tabelas 2 e 3.
TABELA 2. Número de aplicações em função do sexo e idade dos
bubalinos
Gênero Idade
Macho Fêmea 2,5 4 - 5 6 8 - 10 Média
Nº de
aplicações
12,92 a
(21)
6,28 b
(33)
14,44a
(8)
7,64a
(12)
7,15a
(11)
9,16a
(23)
9,60
(54)
Médias seguidas de letras diferentes apresentam diferença significativa (P<0,01).
( ) Números de observações.
TABELA 3. Insensibilização de bubalinos com pistola pneumática de
penetração
Números de Aplicações Números de Animais Percentual
1 a 5 24 44,44%
6 a 10 14 25,92%
11 a 15 10 18,52%
16 a 20 02 3,71%
> que 21 04 7,41%
O número de aplicações em função do sexo dos bubalinos
apresentou diferenças significativa, sendo o maior número de aplicações
encontrada em bubalinos machos (12,92), Tabela 2. Esse achado
possivelmente esteve relacionado à espessura do osso frontal dos
bubalinos machos, que provavelmente seja mais espesso que o osso
frontal das fêmeas e conseqüentemente receberam maior número de
aplicações necessária para insensibilização.
96
O resultado do número de aplicações em função da idade dos
bubalinos estão apresentados na Tabela 2 e incluem a média geral das
aplicações e as médias por idade.
Observou-se que os bubalinos abatidos no Pantanal Sul Mato-
grossense receberam em média 8,46 aplicações, demonstrando
imperícia do operador quanto ao local de aplicação e/ou movimentação
do animal no momento da aplicação, ou posicionamento inadequado do
animal. Em 85 animais (85%), de 100 animais estudados por SANTOS
[22], apenas uma única aplicação foi necessária para que o animal fosse
satisfatoriamente insensibilizado e vale ressaltar que as aplicações
foram feitas contra o osso occipital, num ponto médio orientado pela
média do pescoço, na nuca, em direção naso-oral diferindo do local de
aplicação observado neste estudo. Segundo o mesmo autor, este ponto
foi escolhido pela particularidade da estrutura óssea do crânio dos
bubalinos, no entanto, este ponto é incorreto, isto é, não é recomendado
como local de insensibilização, pois os animais após a insensibilização
ainda sentem dores.
Os números de aplicações da Tabela 3 representam as aplicações
necessárias para a insensibilização imediata, representada pela
ausência de reações no momento de içamento e ausência de reações ao
corte no ato da sangria.
É preciso ter em mente que todo processo de abate exige
treinamento especializado para os operadores e manutenção adequada
97
dos equipamentos, para que essa operação não represente riscos de
acidentes para o operador e também para que seja mais eficiente,
porém, mais estudos serão necessários para determinar os fatores de
risco associados com as lesões em búfalos de água durante o manejo
pré-abate.
Os resultados da influência dos meios de transportes na
incidência de lesões e peso dos tecidos retirados de carcaças de
bubalinos ao abate, são apresentados na Tabela 4.
TABELA 4. Incidência de lesões e peso dos tecidos retirados de
carcaças de búfalos ao abate em cada condição
Carcaças Peso dos tecidos removidos (kg)
Origem
Sem
lesão
Com
lesão
Total de
lesões
% de
carcaças
com lesões**
Total
Peso/lesão
Peso/Animal
Cond. I*
Cond. II*
Cond. III*
3
9
31
5
1
5
5
1
11
62,50 b
10,00 a
13,88 a
1,378
0,296
2,755
0,275
0,296
0,250
0,275
0,296
0,551
TOTAL 43 11 17 4,429 0,260 0,402
**Médias na mesma coluna seguidas de diferentes letras diferem entre si pelo teste qui-quadrado (P<0,01).
*Condição I - transporte rodoviário (50 quilômetros). Condição II - transporte por comitiva (10 quilômetros),
fluvial (100 quilômetros) e rodoviário (25 quilômetros), totalizando 135Km. Condição III - transporte por
comitiva (351 quilômetros) e rodoviário (120 quilômetros) totalizando 471Km.
Verificou-se que do total de 54 carcaças avaliadas, 11 (20,37%)
tiveram uma ou mais lesões, totalizando 17 lesões que resultaram na
remoção de 4,429 kg de carne, com média geral de 0,082 kg por animal
ou 0,402 kg por animal considerando-se apenas os animais que tiveram
lesões. LEMCKE [13], aponta o manejo pré-abate deficiente como a
principal causa de lesões em carcaças de búfalos. Segundo o mesmo
autor, os bubalinos são menos susceptíveis a lesões que os bovinos,
mas ainda têm lesões devido ao manejo bruto, as instalações de curral e
carroceria de caminhão deficiente e em embarque incorreto.
98
Em relação à freqüência de lesões em carcaças de búfalos entre
os tratamentos avaliados, foi observado maior freqüência em animais
oriundos da condição I, Tabela 4, submetidos ao transporte rodoviário
por aproximadamente 1 hora, distância de 50 Km em estrada
pavimentada. Esse resultado possivelmente esteve relacionado ao
espaço ocupado por animal, ou seja, a densidade de carga, durante o
transporte de caminhão sob o qual os animais foram submetidos,
levando em conta que a quantidade de animais pertencente ao
tratamento era de 8 búfalos jovens. No Brasil o transporte feito é em
caminhões tipo “truque”, com 25,2 m
2
de área, que transporta 18
bovinos com peso vivo médio de 550 quilos, resultando em densidade de
carga considerada satisfatória de 393 kg/m
2
, no entanto, os bubalinos
procedentes da condição I não ocuparam o espaço desejável. Desta
forma os bubalinos ficaram exposto aos lugares vagos, onde tivessem
menos equilíbrio e mais atritos com as estruturas internas da
carroceria do caminhão e conseqüentemente poderiam cair e serem
pisoteados pelos outros animais. As estradas pavimentadas próximas à
cidade de Corumbá e as que dão acesso ao frigorífico se encontram em
estado muito precário. Segundo informações de alguns pecuaristas, as
estradas não pavimentadas estão em melhores condições em relação às
estradas totalmente pavimentas. De acordo com JOAQUIM [10], as
condições da estrada também são fatores importantes sob o aspecto de
bem estar animal, sendo que animais que são transportados por longas
99
distâncias apresentam, na prática, alta incidência de contusões, como
resultado dos solavancos, freadas e desvios bruscos a que estão sujeitos
os caminhões boiadeiros.
A densidade de carga é citada por vários autores como sendo um
dos grandes problemas do transporte de animais para o abate [24, 6, 7,
11, 26, 27]. Segundo TARRANT, KENNY & HARRINGTON [26], o
principal aspecto a ser considerado durante o transporte de bovinos, é a
densidade de carga, que pode ser classificada em alta (600Kg/m²),
média (400Kg/m²) e baixa (200Kg/m²).
O manejo de origem, à distância e os meios de transporte não
influenciaram a incidência de lesões em carcaças de bubalinos, até
porque os animais pertencentes às condições II e III foram submetidos a
distâncias superiores a 130 km e passaram em média por mais de dois
diferentes meios de transporte e obtiveram uma menor proporção de
lesões em comparação aos animais oriundos da condição I.
Na Figura 5 é apresentado as proporções de lesões tissulares em
relação as meias-carcaças direita e esquerda. As meias-carcaças direita,
obtiveram as porcentagens maiores (52,9%) em relação as meias-
carcaças esquerda (47,1%). Este resultado pode ser considerado com a
mesma proporção, mesmo porque, a diferença de lesões não foi
expressiva, levando em conta o total de 17 lesões, onde que as meias-
carcaças direita apresentaram 9 lesões e as meias-carcaças esquerda
apresentaram 8 lesões.
100
FIGURA 5. Distribuição percentual de lesões em meias-carcaças.
A proporção da quantificação de lesões tissulares em carcaças
encontra-se na Figura 6. A incidência total das lesões em carcaças de
bubalinos abatidos no Pantanal Sul Mato-grossense, ocorreram no
traseiro especial, sendo que as maiores proporções de incidência de
lesões em carcaças foram encontradas no quarto traseiro caudal
(64,7%), seguido do quarto traseiro médio (29,4%) e o quarto traseiro
cranial (5,9%), com as menores proporções. Verificou-se que o quarto
dianteiro das carcaças de bubalinos não apresentou lesões. Mostra-se
nos resultados que todas as lesões de carcaças de bubalinos abatidos
no Pantanal Sul Mato-grossense ocorreram no traseiro especial, sendo
que em um sistema de comercialização, os cortes do traseiro têm uma
importância significativa e são os chamados cortes especiais.
47,1%
52,9%
Carcaça Direita
Carcaça Esquerda
101
FIGURA 6. Distribuição percentual de lesões segundo a localização na
carcaças.
Com respeito ao sistema de classificação de lesões tissulares,
tamanho 1 (52,9%), tamanho 2 (41,2%) e tamanho 4 (4,9%) foram as
categorias que as lesões foram classificadas (Figura 7). Considerando
este sistema de classificação de lesões, constatou-se que as carcaças
dos bubalinos não apresentaram lesões de tamanho 3 e 5. Segundo
JARVIS & COCKRAM [9], a extensão das contusões nas carcaças
representa uma forma de avaliação da qualidade do transporte,
afetando diretamente a qualidade da carcaça, considerando que as
áreas afetadas da mesma são aparadas, com auxílio de faca, resultando
em perda econômica e é indicativa de problemas com o bem-estar
animal.
29,4%
5,9%
64,7%
Quarto traseiro caudal
Quarto traseiro médio
Quarto traseiro cranial
102
FIGURA 7. Distribuição percentual de lesões segundo ao sistema de
classificação.
41,2%
52,9%
5,9%
Tamanho 1 - de 1 a 5 cm
em diâmetro
em diâmetro
Tamanho 4 - de 16 a 20 cm
em diâmetro
Tamanho 2 - de 6 a 10 cm
102
4 - CONCLUSÕES
Houve imperícia do operador, quanto ao local correto de aplicação
do dardo para insensibilização, proporcionando maior esforço físico,
sofrimento e estresse aos animais. O equipamento utilizado demonstrou
ser ineficiente para o abate de búfalo.
O principal motivo causador de lesões em bubalinos foi à baixa
densidade de carga.
Os quartos traseiros caudais das meias-carcaças direitas dos
bubalinos tiveram maior incidência de lesões, porém de pequeno
tamanho.
Mais estudos serão necessários para determinar os fatores de
risco associados com as lesões em búfalos de água durante o manejo
pré-abate.
103
5 - REFERÊNCIAS
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Dissertação (Mestrado em Medicina Veterinária) – Faculdade de
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PANTANAL. São José dos Campos: INEP, 1995. p. 9-10.
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stocking density during 4 hour transport to slaughter on
behaviour, blood constituents and carcass bruising in Friesian
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Long distance transportation of steers to slaughter: effect of
stocking density and physiology, behaviour and carcass
quality. Livestock Production Science, Amsterdam, v. 30, p.
223-238, 1992.
109
CAPÍTULO V
Insensibilização de bovinos abatidos no Pantanal sul matogrossense e
ocorrência de lesões em carcaças
Ernani Nery de Andrade
(1)
, Roberto de Oliveira Roça
(2)
,
Roberto Aguilar Machado Santos Silva
(3)
e Heraldo César Gonçalves
(4)
(1)
Programa de Pós-graduação em Zootecnia, Faculdade de Medicina Veterinária (FMVZ),
Universidade Estadual Paulista (UNESP). Rua Dr. José Barbosa de Barros, 835, Jardim Paraíso,
Botucatu, SP, Brasil. 18609-085. E-mail: [email protected].br.
(2)
Departamento de Gestão e
Tecnologia Agroindustrial (DGTA), Faculdade de Ciências Agronômicas (UNESP), Botucatu, SP,
Brasil. E-mail: robertoroca@fca.unesp.br
(3)
EMBRAPA Pantanal (CPAP), Corumbá, MS, Brasil. E-
mail: roberto.a[email protected]
(4)
Departamento de Produção e Exploração Animal (DPEA),
Faculdade de Medicina Veterinária (FMVZ), Universidade Estadual Paulista (UNESP), Botucatu,
SP, Brasil, E-mail: [email protected]
110
Resumo – O trabalho teve como objetivo avaliar a eficiência de insensibilização de
bovinos abatidos no Pantanal Sul Matogrossense e a influência do transporte fluvial e
rodoviário na ocorrência de lesões em carcaças, assim como a quantificação em meia
carcaça direita e esquerda e no quarto dianteiro e traseiro e o tamanho das lesões.
Observou-se que os bovinos abatidos no mesmo dia e os animais abatidos com idades
mais avançadas, obtiveram os maiores números de aplicações durante a insensibilização
por falta de manutenção da pistola pneumática de dardo cativo. Constatou-se que do
total de 106 carcaças avaliadas, 87 (82,0%) tiveram uma ou mais lesões, totalizando 136
lesões que resultaram na remoção de 60,133 kg de carne, com média geral de 0,567 kg
por animal ou 0,691 kg por animal considerando-se apenas os animais que tiveram
lesões. A freqüência de lesões em carcaças de bovinos entre as situações avaliados
mostrou-se diferença significativa, sendo a maior freqüência de lesões encontrada em
animais oriundos das situações I e II, submetidos ao transporte fluvial e rodoviário,
respectivamente. As meias-carcaças direita de todos os animais em todas as situações
obtiveram as proporções maiores de incidência de lesões (56,6%) em relação as meias-
carcaças esquerda (43,4%). Não houve diferença significativa quanto à quantificação de
lesões nas carcaças entre as situações. Verificou-se que houve diferença significativa
nas médias do tamanho das lesões entre as situações, sendo a maior média encontrada
em animais pertencentes à situação II. A falta de manutenção da pistola pneumática de
dardo cativo proporciona maior número de aplicações durante a insensibilização de
bovinos e o meio de transporte associado ao tempo de transporte, período de jejum e
condição da rodovia foram as principais causas de lesões.
Termos para indexação: atordoamento, contusão em carcaças, pistola pneumática
111
Stunning of beef cattle slaughtered in the Pantanal of Mato Grosso do Sul state
and occurrence of carcass bruising
Abstract – This study aimed to assess the efficiency of stunning of beef cattle
slaughtered in the Pantanal of Mato Grosso do Sul state and the influence of road and
fluvial transport on carcass bruising, the quantification of bruises on the right and left
half carcasses and the forequarter and the hindquarter, as well as the size of bruises. The
cattle slaughtered on the same day and the older cattle had the highest number of
applications during the stunning, due to lack of maintenance of the pneumatic powered
stunner. From a total of 106 carcasses assessed, 87 (82.0%) had one or more bruises,
totaling 136 bruises, which resulted in the removal of 60,133 kg meat, with a general
mean of 0,567 kg by animal or 0,691 kg by animal, considering only the animals that
had bruises. There was a significant difference in terms of frequency of carcass bruising
among the situations. The highest frequency was found in animals that received
situations I and II, submitted to fluvial and road transport, respectively. The right half
carcasses of all animals in all situations had the highest proportions of bruising
incidence (56.6%) in relation to the left half carcasses (43.4%). There was no significant
difference in the means of size of bruises among the situations. The highest mean was
found in animals submitted to situation II. The lack of maintenance of the pneumatic
powered stunner caused the highest number of applications during the stunning of cattle
and the means of transport associated to the time of transport, the fast period and the
road condition were the main causes of bruises.
Index terms: stunning, carcass bruising, pneumatic powered stunner.
112
Introdução
O Pantanal Mato-Grossense é uma planície sedimentar inserida na bacia do rio
Paraguai, cuja altitude oscila entre 80 e 160m acima do nível do mar. Ocupa uma
superfície de aproximadamente 140.000 km², formando a maior planície inundável de
águas interiores contínuas do planeta. Constitui um ecossistema frágil, com a produção
primária fortemente influenciada pelo ciclo hidrológico (ALLEM & VALLS, 1987). A
interação entre os condicionantes climáticos, hidrológicos e geológicos resulta na
grande complexidade e diversidade do ambiente.
Associada às sub-bacias do rio Paraguai, observa-se uma acentuada
heterogeneidade interna que permite distinguir a existência de dez pantanais
(ADÁMOLI, 1982), com características próprias, ecológicas e floristicamente
diferenciáveis. Silva e Abdon (1998) redefiniram as bases cartográficas e caracterizaram
o Pantanal em 11 sub-regiões: Porto Murtinho, Nabileque, Miranda, Aquidauana,
Abobral, Nhecolândia, Paiaguás, Paraguai, Barão de Melgaço, Poconé e Cáceres.
O comportamento hidrológico da bacia é influenciado por eventos climáticos
locais e regionais, que definem variabilidades sazonais (estações chuvosas e secas) e
plurianuais (alternância de ciclos de anos muito chuvosos com ciclos relativamente
secos). Grande parte da planície é alagada de dezembro a junho (Mazza et al. 1994).
O clima é do tipo AW, segundo a classificação de Köppen, com temperaturas
médias entre 26 e 32ºC, registrando-se mínimas absolutas acima de 40ºC no verão. O
regime de chuvas é tropical, com duas estações bem definidas: seca - de maio a
setembro, e chuvosa - de outubro a abril. A precipitação média anual varia de 1.000 a
1.400 mm (BRASIL, 1982).
113
As características de inundação, juntamente com os tipos de solos, condicionam
a resposta das comunidades vegetais: cerrado nas partes mais elevadas e campos limpos
nas áreas inundáveis, onde o estrato herbáceo é formado principalmente de gramíneas
(COMASTRI FILHO, 1984). A pastagem nativa é o principal recurso florístico da
região, abrangendo desde a vegetação aquáticas à arbórea, com registro de 240
forrageiras não-gramíneas e 200 gramíneas. Dentre estas últimas, destacam-se, em
número de espécies, os gêneros Axonopus, Panicum e Paspalum (POTT et al. 1989).
No Pantanal, os efeitos da baixa disponibilidade de forragens sobre os animais é
maior do que em outras regiões tropicais, porque um período de inundação antecede a
estação seca. No período de cheias, por expansão dos corpos d’água, as áreas de pastejo
ficam parcial ou completamente submersas. No período de seca, as pastagens, já
sofridas por permanecerem de 2 a 3 meses sob a água, têm seu valor nutritivo ainda
mais reduzido pela seca e frio. Essa alternância de estresse hídrico causado por excesso
e por falta de água tem sérias conseqüências no desenvolvimento dos vegetais e animais
(Mazza et al. 1994).
Vários historiadores têm considerado que os primeiros bovinos chegaram ao
Mato Grosso somente após 1736, com a abertura do caminho entre Goiás e Cuiabá
(AYALA & SIMON, 1914; CORRÊA FILHO, 1926). Em decorrência disso, alguns
estudiosos têm incluído o bovino Pantaneiro no grupo das raças nacionais de origem
portuguesa, como o Caracu, o Mocho Nacional e o Curraleiro.
Atualmente, os bovinos predominantes na região são mestiços azebuados,
tendendo ao Nelore, mas sem composição genética definida, formados a partir do
bovino Pantaneiro. Importante na economia do Pantanal no início do século, o
114
Pantaneiro encontra-se hoje restrito a reduzidas populações, a maioria em avançado
grau de diluição genética.
A pecuária de corte constitui a principal atividade econômica do Pantanal.
Baseia-se nas fases de cria e recria, com a comercialização de bezerros de sobreano,
bois magros e vacas de descarte. Desenvolve-se em sistema extensivo, em áreas modais
maiores que 10.000 ha, com lotação média de 3,6 cab/ha e com reduzido emprego de
mão-de-obra. A produtividade animal é limitada pelo regime de cheias e secas (POTT et
al. 1989).
No Pantanal é habitual a utilização de várias formas de transporte de bovino de
corte para o abate. Este sistema de transporte de bovinos utilizado no Pantanal é
precário, tanto para os sistemas de transportes por comitiva e rodoviário que são
agravados pelas inundações e pela falta de estradas, quanto para o sistema de transporte
fluvial que é prejudicado pelo assoreamento de um dos principais rios navegáveis, o rio
Taquari. Desta forma todo o manejo pré-abate dos bovinos no Pantanal fica
comprometido.
Existe um grande interesse quanto ao bem-estar dos animais e com o uso de
métodos humanitários de insensibilização, antes da sangria.
O atordoamento ou a insensibilização pode ser considerado a primeira operação
do abate propriamente dito. Determinado pelo processo adequado, o atordoamento
consiste em colocar o animal em um estado de inconsciência, que perdure até o fim da
sangria, não causando sofrimento desnecessário e promovendo uma sangria tão
completa quanto possível (Roça, 2001).
115
Os processos de insensibilização que podem ser utilizados são: concussão
cerebral, pistola pneumática de penetração, pistola de dardo cativo, corte da medula,
degola, eletronarcose e processos químicos.
Nos dias atuais, através de procedimentos técnicos e científicos procura-se
garantir o bem-estar dos animais desde a recepção até a operação de sangria.
Desta forma, o presente trabalho objetivou-se avaliar a eficiência de
insensibilização de bovinos abatidos no Pantanal Sul Matogrossense e a influência do
transporte fluvial e rodoviário na ocorrência de lesões em carcaças, assim como a
quantificação em meia carcaça direita e esquerda e no quarto dianteiro e traseiro e o
tamanho das lesões.
Material e Métodos
Local
O estudo foi administrado no município de Corumbá, região noroeste do estado
de Mato Grosso do Sul, em um frigorífico com inspeção federal localizado no
município, nos meses de abril e setembro de 2004.
Origem dos animais
Foram avaliados cento e seis bovinos sãos, da raça Nelore sendo provenientes de
3 propriedades, situadas em 3 diferentes sub-regiões do Pantanal. Os animais eram
compostos por 106 fêmeas adultas com idade média de 6,5 anos. Todos os bovinos
foram criados sob o sistema extensivo.
116
Os animais foram divididos em 3 situações de acompanhamentos, de acordo
com a distância da fazenda de origem e do tipo de transporte. Cada situação de
acompanhamento foi composto de 1 lote, contendo 25 a 46 animais por lote.
Situação I: 25 animais (25 vacas com idade aproximada baseada na
informação do criador de 7-9 anos), originários da sub-região do Paraguai e foram
submetidos aos transportes por comitiva (10 quilômetros), fluvial (100 quilômetros) e
rodoviário (25 quilômetros), totalizando 135Km ou 68Km em linha reta entre os pontos
conforme a Figura 1;
Situação II: 46 animais (46 vacas com idade aproximada baseada na
informação do criador de 5-7 anos), oriundos da sub-região do Abobral e foram
submetidos ao transporte rodoviário (150 quilômetros - na Estrada Parque, não
pavimentada) ou 65km em linha reta entre os pontos conforme a Figura 1;
Situação III: 35 animais (35 vacas com idade aproximada baseada na
informação do criador de 4-5 anos), procedentes da sub-região do Nabileque e foram
submetidos ao transporte rodoviário (50 km em estrada não pavimentada e 120 km em
estrada pavimentada) totalizando 170Km ou 99Km em linha reta entre os pontos
conforme a Figura 1.
Transporte
Os bovinos oriundos da situação I foram primeiramente transportados em
comitiva no período das 08:00 às 15:00 horas do dia 20-04-04 por aproximadamente 7
horas, desde a propriedade de origem até o porto de embarque fluvial localizado na
região do Castelo situado na parte norte da sub-região do Paraguai, com distância de 10
Km. Os bovinos pernoitaram no porto e no dia seguinte pela manhã foram embarcados
117
em lancha-curral, onde foram submetidos pôr aproximadamente 8 horas de transporte,
distância de 100 Km, desde o porto até o porto de desembarque localizado na cidade de
Ladário-MS, pela qual pernoitaram nas instalações do curral desta mesma cidade. O
embarque no caminhão foi realizado no dia 22-04-04 no período da manhã, na qual
foram submetidos pôr aproximadamente 20 minutos de transporte por via rodoviária,
distância de 25 Km, desde as instalações do curral da cidade de Ladário até o
desembarque nas instalações do curral do frigorífico. O tempo gasto foi de 71 horas,
desde a saída dos animais da propriedade rural de origem até o ato da insensibilização
no frigorífico e/ou aproximadamente 19 horas e 20 minutos considerando-se apenas o
tempo de transportes. Durante todos os períodos de transportes e permanência no
frigorífico os animais permaneceram desprovidos de alimento, Tabela 1, exceto nas
instalações do curral da cidade de Ladário e no frigorífico, onde receberam água ad
libitum. O abate realizou-se no dia 23-04-04 às 07:00 horas.
Os bovinos pertencentes à situação II foram submetidos ao transporte rodoviário
no período das 15:00 às 18:00 horas do dia 28-04-04 por aproximadamente 3 horas,
distância de 150 Km de estrada Parque, desde a propriedade de origem situada na região
oeste da sub-região do Abobral até o frigorífico. O tempo gasto foi de 16 horas, desde a
saída dos animais da propriedade rural de origem até o ato da insensibilização no
frigorífico e/ou aproximadamente 3 horas considerando-se apenas o período de
transporte. Durante o período de transporte e permanência no frigorífico os animais
ficaram desprovido de alimento, Tabela 1. O abate iniciou-se às 07:00 horas no dia 29-
04-04.
118
Os bovinos procedentes da situação III foram submetidos ao transporte
rodoviário no período das 13:00 às 18:00 horas do dia 16-09-04 por aproximadamente 5
horas, distância de 170 Km, desde a propriedade rural de origem localizada na região
centro-oeste da sub-região do Nabileque até o frigorífico que se encontra situado na
região centro-oeste da sub-região do Paraguai. O tempo gasto foi de 18 horas e 30
minutos, desde a saída dos animais da propriedade de origem até o ato da
insensibilização no frigorífico e/ou aproximadamente 5 horas considerando-se apenas o
período de transporte. Durante o período de transporte e permanência no frigorífico os
animais ficaram desprovido de alimento, Tabela 1. O abate foi realizado no dia 17-09-
04 às 07 horas e 30 minutos.
O transporte por comitiva concernente a situação I, foi conduzido pelos peões da
própria propriedade rural de origem dos animais, utilizando 5 peões. O transporte fluvial
relativo à situação I foi efetivado por lancha-curral constituída de 10 subdivisões sem
corredor, com uma lotação de 100 cabeças de bovinos. O transporte rodoviário referente
às situações I, II e III foi realizado por diferentes motoristas, utilizando veículo com
capacidade para 18 cabeças de gado.
O fluxograma geral do transporte de bovinos destinado ao abate no Pantanal Sul
Matogrossense está sintetizado na Figura 2.
Frigorífico
Desembarcados no frigorífico os bovinos foram submetidos à inspeção ante-
mortem e a idênticos manejos pré-abate: jejum e dieta hídrica de 12 horas. O banho de
aspersão dos animais foi realizado com água clorada, à temperatura ambiente, durante 6
119
a 10 minutos. Os animais foram abatidos, suspensos por meio de guincho elétrico e
processados com o auxílio de transportador aéreo automático.
Contagens das aplicações (insensibilização)
Os bovinos foram abatidos nos dias 23 e 29 de abril e no dia 17 de setembro de
2004. Durante a insensibilização, cada animal foi observado e numerado em planilha
individual, onde anotava-se a quantidade das aplicações necessária para
insensibilização.
Os animais foram abatidos por meio de pistola pneumática de penetração de
fabricação nacional, acionada a ar comprimido, com capacidade de 140 animais/hora,
destinada ao abate de bovinos e eqüinos, com uma pressão de trabalho de 12 kg/cm²,
peso de 7,5 kg. A linha de ar comprimido foi instalada com diâmetro de ½”, em virtude
do compressor estar situado a mais de 9 metros da área de operação. Foi utilizado um
boxe de atordoamento completamente metálico, destinado a receber um animal de cada
vez, com as seguintes dimensões internas: 2400 mm de comprimento x 680 mm de
largura, medidas estas importantes para uma boa acomodação dos bovinos e facilitar a
aplicação da pistola.
As aplicações foram feitas na intersecção das linhas traçadas da base do chifre
de um lado ao ângulo inferior do olho do lado oposto. De acordo com Santos (1996),
neste ponto, o cérebro está diretamente sob a parte menos espessa do crânio e a
aplicação produzirá maior efeito. Mais abaixo, a calota craniana é dupla, por causa do
“sinus” frontal e a cavidade nasal; mais para cima, mais próximo da base do chifre, o
crânio torna-se mais espesso. Segundo Roça (1997), nas aplicações de pistola
pneumática de penetração o dardo atravessa o crânio em alta velocidade (100 a 300m/s)
120
e força (50 Kg/mm²), produzindo uma cavidade temporária no cérebro. A injúria
cerebral é provocada pelo aumento da pressão interna e pelo efeito dilacerante do dardo.
Segundo o mesmo autor, este método é considerado o mais eficiente e humano para a
insensibilização de bovinos.
Após a insensibilização, os animais foram suspensos por uma das patas e a
sangria realizada com facas previamente esterilizadas em água à temperatura de
ebulição. A velocidade média de abate foi de 35 animais por hora.
Quantificação de lesões em meias carcaças direita e esquerda
Após o abate, cada carcaça foi dividida em duas metades, com o auxílio de uma
serra elétrica, por meio de um corte ao longo da coluna vertebral e do esterno e estas
foram visualmente avaliadas. Cada meia carcaça foi avaliada em ficha individual, onde
anotava-se a incidência das lesões nas mesmas.
Quantificação de lesões nas carcaças
Cada meia carcaça foi dividida por linhas traçadas visualmente em quarto
dianteiro e traseiro e este último foi subdividido em três porções, quarto traseiro cranial,
médio e caudal, seguindo a metodologia recomendada por Australian Carcass Bruise
Scoring System (ACBSS) de Anderson & Holder, (1979). As carcaças foram avaliadas
e numeradas em ficha individual, onde registrava-se o local da lesão. As lesões de
carcaça foram visualmente identificadas e quantificadas conforme o esboço na Figura 3.
O traseiro especial foi separado do dianteiro entre a 5º e a 6º costelas, e da ponta
de agulha a uma distância aproximadamente de 23 cm da coluna vertebral. Após a
separação o quarto traseiro foi subdividido visualmente em três grandes peças: quarto
121
traseiro cranial (costela-do-traseiro e a porção torácica do lombo), quarto traseiro médio
(vazio e a porção abdominal do lombo) e quarto traseiro caudal (perna).
Sistema de classificação de lesões
Adotou-se um sistema próprio de classificação. As lesões de carcaça foram
visualmente identificadas e classificadas. As identificações das lesões foram realizadas,
logo após as avaliações das carcaças. As carcaças que apresentaram lesões foram
submetidas à remoção dos tecidos afetados na operação de toalete, conforme
procedimento próprio do frigorífico.
As lesões retiradas foram colhidas e acondicionadas em sacos plásticos
individualmente de acordo com o número da carcaça com lesão e o peso total foi
anotado segundo a situação de origem.
As lesões foram classificadas em 5 categorias básicas de acordo com o tamanho
da área de superfície da lesão, como segue:
"Tamanho 1" - de 1 a 5 cm em diâmetro.
"Tamanho 2" - de 6 a 10 cm em diâmetro.
"Tamanho 3" de 11 a 15 cm em diâmetro.
"Tamanho 4" de 16 a 20 cm em diâmetro.
"Tamanho 5" de um diâmetro maior que 21 cm.
Lesão abaixo de 1 cm de diâmetro não foi registrada.
A colheita de dados está esboçada na Figura 4.
Todas as lesões foram pesadas e medidas no laboratório da Empresa Brasileira de
Pesquisa Agropecuária - Embrapa Pantanal.
122
Avaliação estatística
O teste não paramétrico de Kruskal-Wallis foi utilizado para avaliar o número de
aplicações de insensibilização em função da idade e dia de abate dos bovinos. Também
foi utilizado para comparar as médias de tamanho de lesões em função das situações.
O teste X
2
foi utilizado para comparar a ocorrência de lesões entre as situações.
Foi adotado o nível de significância de 1% para ambos os testes. O Sistema de Analises
Estatísticas e Genéticas - SAEG 9.0 (UFU, 1997) foi utilizado para analise dos dados.
Resultados e Discussão
Os resultados obtidos com as aplicações na insensibilização por meio de pistola
pneumática de penetração em função do dia do abate, da idade dos bovinos e a
freqüência de aplicações encontram-se registrados nas Tabelas 2, 3 e 4,
respectivamente.
Os dados do número de aplicações em função do dia de abate dos bovinos na
qual foram submetidos está apresentada na Tabela 2. Houve diferença entre o dia de
abate e o número de aplicações, sendo a maior média encontrada em animais abatidos
no dia 23 de abril de 2004. Esse achado possivelmente esteve relacionado à falta de
limpeza da pistola pneumática de dardo cativo. É necessário que se faça a limpeza diária
da pistola, pois caso contrário cria-se um zinabre no êmbolo da pistola tirando a força
do dardo. Desta forma as aplicações do dardo cativo são prejudicadas, além de oferecer
maior sofrimento e estresse dos animais por não produzir insensibilização imediata,
interfere no fluxo normal de abate e proporcionam maior esforço físico e menor
segurança aos operadores.
123
Os resultados encontrados relacionados ao número de aplicações em função da
idade dos bovinos por meio do teste de Kruskal-Wallis estão apresentados na Tabela 3.
Houve diferença na quantidade de aplicações entre as idades dos animais abatidos no
Pantanal Sul Matogrossense. Observou-se que os bovinos abatidos com idades mais
avançadas entre 8 a 9 anos, apresentaram as maiores médias de aplicações durante a
insensibilização. Este achado provavelmente esteja relacionado também à falta de
limpeza da pistola pneumática de dardo cativo, pois a média de idade dos animais
abatidos no dia 23 de abril de 2004 foi de 8,4 anos.
O número de aplicações apresentados na Tabela 4 representam as quantidades
necessárias para a insensibilização imediata, representada pela ausência de reações no
momento de içamento e ausência de reações ao corte no ato da sangria.
Os resultados da influência do transporte fluvial e rodoviário na incidência de
lesões e peso dos tecidos retirados de carcaças de bovinos ao abate, encontram-se na
Tabela 5.
Constatou-se que do total de 106 carcaças avaliadas, 87 (82,0%) tiveram uma ou
mais lesões, totalizando 136 lesões que resultaram na remoção de 60,133 kg de carne,
com média geral de 0,567 kg por animal ou 0,691 kg por animal considerando-se apenas
os animais que tiveram lesões. Segundo JARVIS & COCKRAM, (1994) o transporte é
o agente principal da incidência de contusões. Knowles (1999), afirma que o transporte,
em condições desfavoráveis como aumento da temperatura, jejum, desidratação,
cansaço, espaço diminuído, pode provocar a morte dos animais ou conduzir a contusões,
perda de peso e estresse dos animais. Para Warris (1990), as lesões podem ocorrer em
124
qualquer momento do comércio, do manejo ou na fazenda, através do transporte, ao
tempo imediatamente seguinte ao atordoamento antes da sangria.
O teste do Qui-quadrado mostrou diferença significativa, em relação à
freqüência de lesões em carcaças de bovinos entre as situações avaliados, sendo a maior
freqüência de lesões encontrada em animais oriundos das situações I e II, Tabela 5,
submetidos ao transporte fluvial e rodoviário, respectivamente. Este resultado
provavelmente esteve relacionado ao tempo de transporte, período de jejum e condição
da rodovia.
Os bovinos oriundos da situação I foram submetidos aos transportes por
comitiva, fluvial e rodoviário por aproximadamente 19 horas, distância total de 135 km.
Os animais passaram por vários manejos, inclusive 2 embarques e desembarques, sendo
que durante os quatros dias de transporte os animais permaneceram desprovidos de
alimento e água, exceto nas instalações do curral da cidade de Ladário, onde receberam
água ad libitum. Transporte por tempo superior a 15 horas é inaceitável do ponto de
vista de comportamento e bem-estar animal (WARRISS, et al. 1995). Segundo
Ferguson, (2000) o transporte de bovinos para o abate resulta em inevitáveis perdas em
ambos qualidade e quantidade da carne. A magnitude das perdas ira depender da
intensidade e duração dos vários estressores que ocorrem entre o portão da fazenda e o
frigorífico e também da susceptibilidade dos animais ao estresse. Durante a fase do pré-
abate, os bovinos podem ser expostos a vários estressores que incluem: jejum,
desidratação, ambientes não familiares ou estranhos, transporte, aumento do contato
com humanos, alteração na estrutura social (separação ou mistura de animais),
125
alterações climáticas súbitas, números de animais/carga e quilometragem até o
frigorífico.
As privações de alimentos por mais de 24 horas têm ação estressora (Lyon et al.,
1990; Apple et al., 1993; Warriss et al., 1994). Entretanto, em condições inadequadas, o
jejum sempre vem acompanhado de outros fatores estressores e esta associação
contribuiria para reduzir a qualidade das carcaças (Batista de Deus, 1999).
Os bovinos pertencentes à situação II foram submetidos ao transporte rodoviário
por aproximadamente 3 horas, distância de 150 Km de Estrada Parque. A Estrada
Parque, presente no município de Corumbá, criada pelo Decreto Estadual n° 7.122, de
17 de março de 1993, é uma rodovia em condições precárias de tráfego. No período das
cheias fica intransitável, prejudicando todo o sistema produtivo da região. Os animais
foram transportados para o abate no mês de abril, período das cheias no Pantanal, onde
a Estrada Parque permanece inundada pelas águas do Rio Paraguai. De acordo com
Joaquim (2002), as condições da estrada são fatores importantes sob o aspecto de bem
estar animal, sendo que animais que são transportados por longas distâncias apresentam,
na prática, alta incidência de contusões, como resultado dos solavancos, freadas e
desvios bruscos a que estão sujeitos os caminhões boiadeiros.
À distância não influenciou a incidência de lesões em carcaças de bovinos,
mesmo porque, os animais pertencentes à situação III foram submetidos à distância
maior em relação as demais situações, aproximadamente 170 km, sendo 50 km em
estrada não pavimentada e 120 km em estrada pavimentada e obtiveram uma menor
proporção de lesões em comparação aos animais oriundos das situações I e II.
126
A Figura 5 apresenta o percentual de lesões em meias-carcaças direita e
esquerda em relação a todos os animais das situações. Constatou-se que as meias-
carcaças direita, obtiveram as proporções maiores de incidência de lesões (56,6%) em
relação as meias-carcaças esquerda (43,4%). Os resultados encontrados no presente
estudo, provavelmente está relacionada com a posição do rúmen nos animais, levando
em conta que o rúmen ocupa a maior parte da metade esquerda da cavidade abdominal.
Este achado pode ser considerado como uma proteção dos animais em relação ao
rúmen, uma vez que as meias-carcaças esquerdas obtiveram menores incidências de
lesões em comparação as meias-carcaças direitas.
Os resultados do teste de Kruskal-Wallis a que foram submetidos os dados
quanto à quantificação de lesões nas carcaças revelaram que, apesar do grande número
de lesões encontrada nas carcaças entre as situações, sendo o quarto traseiro caudal e
quarto traseiro médio com as maiores incidências de lesões, não se verifica diferença
significativa entre as situações.
Na Tabela 6 são apresentados os resultados do tamanho das lesões em função
das situações, sendo a maior média encontrada em animais pertencentes à situação II.
Este resultado está relacionado à alta ocorrência de lesões nas carcaças de grande
tamanho, sendo que as maiores freqüências quanto o tamanho das lesões no tratamento
foram atribuídas ao tamanho 3 e 4 com diâmetro entre 11 a 20 cm.
127
Conclusões
1. A falta de manutenção da pistola pneumática de dardo cativo proporciona
maior número de aplicações.
2. O meio de transporte associado ao tempo de transporte, período de jejum e
condição da rodovia foram as principais causas de lesões de diâmetro entre 11 a 20 cm.
3. O quarto traseiro caudal e o quarto traseiro das meias-carcaças direitas dos
bovinos tiveram maior número de lesões.
128
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132
tabelas
Tabela 1. Caracterização das condições de estudo
Transporte (Km)
Rodoviário
Origem
Comitiva
Fluvial
E. P.* E. n. P.**
Total de
distância
Tempo
total sem
alimento
Situação I 10Km (7
horas)
100Km
(8 horas)
25Km (20
minutos)
- 135Km 71 horas
Situação II - - 10Km (17
minutos)
140Km (2 hs. e
43 min.)
150Km 16 horas
Situação III - - 120Km (3 hs. e
10 min.)
50Km (1 h. e
50 min.)
170Km 18 hs. 30
min.
( ) Horas percorridas em cada meio de transporte.
* Estrada pavimentada.
** Estrada não pavimentada.
Tabela 2. Número de aplicações em função do dia de abate dos bovinos
Dia de Abate Observações Nº de aplicações Médias dos dados
23-04-2004 25 52 2,08 a
29-04-2004 46 46 1,00 b
17-09-2004 35 46 1,31 a b
Médias na mesma coluna seguidas por letras minúsculas diferentes diferem entre si (P < 0,01).
Tabela 3. Número de aplicações em função da idade dos bovinos
Idade Observações Nº de aplicações Médias dos dados
4 - 5 anos 47 59 1,23 a
6 - 7 anos 38 41 1,10 a
8 - 9 anos 21 44 2,09 b
Médias na mesma coluna seguidas por letras minúsculas diferentes diferem entre si (P < 0,01).
Tabela 4. Freqüência de insensibilização de bovinos com pistola pneumática de
penetração
Números de Aplicações Números de Animais Percentual
1 88 82,07%
2 05 4,72%
3 09 8,49%
4 05 4,72%
5 00 0,00%
133
Tabela 5. Incidência de lesões e peso dos tecidos retirados de carcaças de bovinos ao
abate em cada situação
Carcaças Peso dos tecidos removidos (kg)
Origem
Sem
lesão
Com
lesão
Total de
lesões
% de carcaças
com lesões**
Total
Peso/lesão
Peso/Animal
Situação I*
Situação II*
Situação III*
2
3
14
23
43
21
51
56
29
92,00 a
93,48 a
60,00 b
15,450
35,979
8,704
0,302
0,642
0,300
0,671
0,836
0,414
TOTAL 19 87 136 60,133 0,442 0,691
**Médias na mesma coluna seguidas por letras minúsculas diferentes diferem (P<0,01) pelo teste qui-quadrado.
*Situação I - transporte por comitiva (10 quilômetros), fluvial (100 quilômetros) e rodoviário (25 quilômetros), totalizando 135Km.
Situação II - transporte rodoviário (150 quilômetros). Situação III - transporte rodoviário (170 quilômetros).
Tabela 6. Médias dos tamanhos das lesões entre situações
Origem Médias dos dados Total de Lesões
Situação I 1,54 a 51
Situação II 3,16 b 56
Situação III 1,55 a 29
Médias com letras distintas na mesma coluna diferem entre si (P < 0,01).
134
figuras
Figura 1. Trilhas percorridas pelos bovinos abatidos no Pantanal Sul Matogrossense.
Situação I
Situação II
Situação
III
135
Figura 2. Fluxograma geral de transporte de bovino para abate no Pantanal.
Sistema extensivo
Aparte dos animais
destinado ao abate no
curral da fazenda
Transporte por Comitiva
Transporte Rodoviário
Embar
q
ue
Trans
p
orte Fluvial
Embar
q
ue
Embar
q
ue
Desembar
q
ue
Desembar
q
ue
Curral da cidade de
Ladário
,
MS
Transporte Rodoviário
Desembar
q
ue Fri
g
orífico
Trans
p
orte
p
or Comitiva
Abate
136
Figura 3. Colheita dos dados realizados em carcaças de bovinos abatidos no
Pantanal Sul matogrossense, conforme a numeração que se segue: nº 1 = quarto
traseiro caudal; nº 2 = quarto traseiro médio; nº 3 = quarto traseiro cranial e nº 4 =
dianteiro.
137
Figura 4. Sistema de classificação de lesões em carcaças de bovinos.
Figura 5. Distribuição percentual de lesões em cada meia-carcaça.
43,4% 56,6%
Carcaça Direita
Carcaça Esquerda
138
IMPLICAÇÕES
Considerando-se a importância das fases da cadeia produtiva da
carne, com o intuito de se ter um produto de qualidade típico do
Pantanal, que, por conseguinte tem finalidade à mesa do consumidor e
que dê a devida importância ao bem-estar animal, há a necessidade do
conhecimento de como são realizados os procedimentos, em cada fase
da cadeia produtiva regional, para que posteriormente sejam feitas as
devidas correções, caso determinados métodos realizados sejam
indevidos. Partindo-se deste pressuposto foi feito um diagnóstico do
efeito dos procedimentos de pré-abate sobre a qualidade de carcaça de
bovinos e bubalinos de corte no Pantanal Sul Mato-grossense, visando
otimizar a melhor metodologia para a fase do pré-abate e abate que são
consideradas etapas importantes da cadeia produtiva da carne.
Neste sentido, a pesquisa elucidou toda a forma de manejo pré-
abate atual de bovinos e bubalinos de corte no Pantanal Sul Mato-
grossense, colocando em pauta a falta de tecnologia adequada
empregada no sistema que ocasionou problemas significativos que
devem ser solucionados, pois não obedecem aos princípios essenciais
do abate humanitário, e que somente a pesquisa científica poderá
resolvê-los através da conscientização destes problemas aos
responsáveis pela realização das etapas do pré-abate e abate.
O manejo pré-abate de bovinos e bubalinos no Pantanal Sul
Mato-grossense consistem em vários estágios. A primeira fase é
realizada na propriedade de criação e prolonga-se até o embarque dos
animais, onde envolve a colheita destes em lotes variados, feita pelas
comitivas que, no entanto, é considerada a etapa menos estressante,
pois os animais podem pastejar, beber água e descansar durante o
percurso da caminhada. A segunda fase está ligada ao transporte
rodoviário e/ou fluvial que é a etapa mais preocupante do manejo pré-
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abate. Para o transporte rodoviário, as rodovias existentes não
permitem ligações às fazendas mais distantes e as vias de acesso
terrestres são inadequadas, pois os animais ficam expostos aos
solavancos, freadas e desvios bruscos realizados pelos motoristas dos
caminhões boiadeiros. O transporte fluvial é realizado por serviço
privado, pouquíssimos adaptados para está atividade. É o meio de
condução de animais que possui os maiores problemas, que vão desde
as instalações de embarque presente nos portos até as instalações de
desembarque situado na cidade de Ladário, MS.
Os dados obtidos nestes estudos confirmaram que os
procedimentos de abate impostos pelos frigoríficos da região pantaneira
são ineficientes, desde o manejo dos animais nos currais dos frigoríficos
até a falta de manutenção da pistola pneumática de dardo cativo.
Porém, estes problemas podem ser solucionados com a adição de
medidas educativas, instalações de embarcadouros e
desembarcadouros adequados nos portos, fazendas e na cidade de
Ladário de maneira que venham a proporcionar o mínimo conforto ao
animal.
A respeito das condições de transporte, devem-se ser mudadas as
estruturas das lanchas-curral, desde a troca do piso por um assoalho
que apresente ação antiderrapante, substituição das estruturas de ferro
dos currais das lanchas por madeira ou revestido com cano plástico, até
a adição de bebedouros e/ou comedouros, por considerar as longas
distâncias que podem levar vários dias de transporte em que os animais
são submetidos e, se possível, quando as lanchas-curral estiverem
transportando animais que não transportem pessoas, pois este tipo de
interação homem-animal deve ser evitado pelo estresse que ocasiona.
Para o transporte rodoviário deve-se ter um cuidado especial ao
percorrer as estradas pavimentadas e não pavimentadas que são
rodovias de péssimo estado de conservação.
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