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Universidade Federal de Juiz de Fora
Instituto de Ciˆencias Exatas
Departamento de F´ısica
Dissertac¸
˜
ao de Mestrado
Aspectos do Nascimento de um
Universo Assintoticamente
DeSitter
Candidato : Paulo Romildo Pires J´unior
Orientador : Prof. Dr. Gil de Oliveira Neto
Disserta¸ao apresentada ao Departamento de
F´ısica da Universidade Federal de Juiz de Fora
como parte dos requisitos para obten¸ao do
t´ıtulo de Mestre em F´ısica
Juiz de Fora - Fevereiro de 2007
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Dedico esse traba l ho `a minha fam´ılia
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”Ae uma jo rn ada de mil milhas come¸ca com o primeiro passo.”
(Prov´erbio japonˆes)
iii
Agradecimentos
Gostaria de agradecer,
`a minha fam´ılia por me incentivar e apoiar,
ao meu orientador Gil Oliveira-Neto, pela paciˆencia, dedica¸ao e cons-
tante apoio nos momentos dif´ıceis de minha jornada,
`a todos professores do departamento de f´ısica da UFJF, principalmente
aqueles que for am meus mestres:
Alexei Deriglazov (hoje no departamento de matem´atica da UFJF)
Ande Gondim(na ocasi˜ao professor substituto)
Bernhard Johannes Lesche
Carlos Raimundo Andrade Lima
Gil Oliveira-Neto
Ilya Lvovich Shapiro
Jos´e Luiz Matheus Valle
Maria Cristina A. Lopes
Pablo Z. Coura
Sidiney A. Leonel
Wilson Oliveira
Ao professor Jos´e Acacio de Barro s pela oportunidade de estudar outra
int erpreta¸ao da Mecˆanica Quˆantica;
aos professores do departamento de matem´atica UFJF, com os quais
tive oportunidade de aprender etodos matem´aticos essenciais ao tra-
balho de um f´ısico;
`a todos os colegas que tive oportunidade de interagir, principalmente:
Cleverson, Wanderson, Gustavo, Diego Merigue, Diego Carneiro, Andr´e
Lima, Denise, Ot´avio Rianni, Daniel Oliveira, Mariana Brand˜ao, Edu-
ardo Galhardo, Cleb er Dias, Eduardo Novais, Eduardo Furtado, Geral-
do Magela, Ot´avio Gomes, Bruno Rizzuti, Alexandre do Carmo, Fl´avia
Sobreira, Emanoel, assio, Daniel Gustavo, Adriana, Fernanda a,
Fernando, Andr´e Aredes, Bruno Gon¸calves, Alex, Guilherme, Charles,
Roberto Sales, Ivo, Grigori, Regis, Luis Fernando
´
Avila, Luiz Fernando,
Luiz Anonio, Alexandre, Alberto Assafr˜ao, Leandro, Fernando, Ro-
drigo Fid´elis Miranda;
iv
agradecimento especial a Tib´erio pela ajuda prestada;
agradecimento especial a Helen Silva pela ajuda prestada;
ao professor Fl´avio Iassuo Takakura, por dispo nibilizar o laborat´orio
de simula¸ao em f´ısica para nosso uso;
`a coordenadora de os-gradua¸ao Maria Jos´e;
aos funcion´arios do departamento de f´ısica Domingos e Batista;
ao professor Clifford, pela ajuda no est´agio de incentivo `a docˆencia;
aos professores Germano Amaral Monerat, Ilya Lvovich Shapiro, J´ulio
C´esar Fa bris e Wilson Oliveira por aceitarem o convite para participar
da banca;
ao professor Wilson Oliveira por nos ensinar o caminho da paciˆencia e
perseveran¸ca;
`a Capes, pela bolsa concedida.
v
Resumo
Nesta disserta¸ao fizemos uma revis˜ao da quantiza¸ao canˆonica da Re-
latividade Geral at´e obtermos a equa¸ao de Wheeler-deWitt. Usando esta
teoria, estudamos um modelo cosmol´ogico descrito por um espa¸co-tempo de
Fr iedmann-Robertson-Walker fechado, com radia¸ao e uma constante cos-
mol´ogica positiva. Esse modelo descreve, em n´ıvel quˆantico, o nascimento
de um universo assinoticamente DeSitter atraes do f enˆomeno do tunela-
mento. A equa¸ao de Wheeler-deWitt, no nosso caso, se transforma em uma
equa¸ao de Schr¨o dinger com um potencial da forma a x
2
b x
4
. Esse poten-
cial a origem a uma barreira que a radia¸ao primordial do universo tem
que tunelar para dar o r ig em ao conte´udo material presente no universo a-
tual. Com o intuito de estudar a probabilidade de tunelamento do universo
atrav´es dessa barreira de potencial, resolvemos numericamente a equa¸ao de
Schr¨odinger do nosso modelo. Calculamos, tamb´em via m´etodos num´ericos,
a probabilidade de tunelamento como fun¸ao da energia edia da radia¸ao
e da constante cosmol´ogica, os parˆametros do nosso modelo. Comparamos
esses resultados obtidos numericamente com os resultados obtidos pelo uso
da a proxima¸ao WKB.
Palavras C have: M´etodos Num´ericos em F´ısica, Relatividade Geral, Pro-
babilidade de Tunelamento .
´
Areas do Conhecimento: Relatividade Geral, Gravita¸ao Quˆa ntica.
vi
Abstract
In this dissertation we revised the canonical quantization o f General Re-
lativity, up to the derivation of the Wheeler-deWitt equation. Using that
theory, we studied a cosmological model described by a closed Friedmann-
Robertson-Walker space-time with radiation and a positive cosmological con-
stant. That model describ es, at the quantum level, the birth of an asymp-
totically D eSitter universe thro ugh the tunneling process. In our case, the
Wheeler-deWitt equation becomes a Schodinger equation with a potential
of the form a x
2
b x
4
. This potential originates a barrier that the primordial
radiation has to tunnel in order to form the material content of our present
universe. With the objective of studying the tunneling probability of the uni-
verse through t his barrier, we solved numerically the Schr¨odinger equation
of our model. Also using numerical methods, we computed the tunneling
probability as a function of the mean energy radiation and the cosmological
constant, the para meters of our model. We compared our numerical results
with the ones calculated using the WKB approximation.
Conte´udo
1 Introdu¸c˜ao 2
2 Formalismo ADM 4
2.1 Introdu¸ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
2.2 Formalismo ADM da Relatividade Geral Quˆantica . . . . . . . 8
2.3 Reescrevendo a m´etrica g
αβ
. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 10
2.4 A Lagrangeana do Formalismo ADM . . . . . . . . . . . . . . 14
2.5 A Hamiltoniana do Formalismo ADM . . . . . . . . . . . . . . 17
2.5.1 Inclus˜ao de Campos ao-Gravitacionais . . . . . . . . 20
2.6 Quantiza¸ao Canˆonica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt . . . . . . . . . . . . . . . . . 2 7
2.7.1 Condi¸oes de contorno para as fun¸oes-de-onda . . . . 32
2.8 Minisuperespa¸co . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
2.9 Medida de Probabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 43
2.10 Interpreta¸ao de muitos mundos . . . . . . . . . . . . . . . . . 46
3 Metodos Numericos e Aproximativos 52
3.1 Introdu¸ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
3.2 Interpola¸ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.2.1 Introdu¸ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
3.2.2 Interpola¸ao Polinomial . . . . . . . . . . . . . . . . . 55
3.3 Integra ¸ao Num´erica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.3.1 Introdu¸ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
3.3.2 ormulas de Newton-Cotes . . . . . . . . . . . . . . . . 6 6
3.4 O M´etodo de Crank-Nicholson . . . . . . . . . . . . . . . . . . 75
3.4.1 Condi¸oes de Contorno . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3.5 O M´etodo WKB . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79
3.5.1 Transmiss˜ao atrav´es de uma barr eira . . . . . . . . . . 89
4 O modelo cosmol´ogico e os resultados obtidos 91
4.1 Introdu¸ao . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
CONTE
´
UDO viii
4.2 O Modelo Cosmol´ogico . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
4.3 Cosmologia Quˆantica com Fluido Perfeito . . . . . . . . . . . 94
4.4 Resultados Obtidos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 99
5 Conclus˜ao 107
A Tabelas 109
B A ormula de Gregory-Newton 112
Lista de Figuras
2.1 Folheamento do espa¸co- tempo quadri-dimensional . . . . . . . 11
3.1 Interpola¸ao Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 56
3.2 Polinˆomios Interpoladores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
3.3 Dedu¸ao de P
′′
i
(x) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 61
3.4
´
Area sob uma curva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 66
3.5 Polinˆomio de primeiro grau . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
3.6 ormula Composta da Regra do Trap´ezio . . . . . . . . . . . . 7 0
3.7 Discretiza¸ao do dom´ınio . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
3.8 Potencial V(x) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 83
3.9 Lineariza¸ao do potencial V(x) em torno de x = B . . . . . . . 84
3.10 Representa¸ao de φ e ρ . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 85
3.11 Fun¸ao de Airy para = 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 88
3.12 Barreira de Potencial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
4.1 Potencial usado no nosso modelo e as energias E
1
e E
2
. . . . 93
4.2 Potencial usado no nosso modelo . . . . . . . . . . . . . . . . 99
4.3 |Ψ(a, t
max
)|
2
ρ, para Λ = 0.0121, E = 185 e V
0
= 185.95 no insta nte
t
max
quando Ψ alcaca o infinito, localizado em a = 30. . . . . . . . . 102
4.4 Gr´afico de log T P
int
em fun¸ao da energia E , com Λ = 0.01. . . . . . 103
4.5 Compara¸ao entre log T P
W KB
(c´ırculos) e log T P
int
(linha) para difer-
entes valores de (E), com Λ = 0.01. . . . . . . . . . . . . . . . . . . 105
4.6 log T P
int
para 21 valores diferentes de Λ pa ra e nergia fixa E = 185. . . . 106
Nota¸oes e conven¸oes
Nesta disserta¸ao convencionaremos que ´ındices gregos (α, β, γ, . . . )
variam de 0 a 3, e ´ındices latinos (i, j, k, l, . . . ) variam de 1 a 3. Em geral,
o ´ındice 0 ou n referem-se ao ´ındice da coordenada temporal, exceto quando
dito o contr´ario.
O elemento de linha ds
2
define a m´etrica g
αβ
da seguinte forma
ds
2
= g
αβ
dx
α
dx
β
Adotando-se esta m´etrica quadri-dimensional g
αβ
, ent˜a o o s´ımbolo de
Christoffel (do segundo tipo) ´e dado por
Γ
σ
αβ
=
1
2
g
σλ
g
λα
,
β
+ g
λβ
,
α
g
αβ
,
λ
onde a v´ırgula significa derivao simples.
Assim, o t ensor de curvatura de Riemann fica definido como
R
σ
αβλ
= Γ
σ
αλ
,
β
Γ
σ
αβ
,
λ
+ Γ
σ
βµ
Γ
µ
αλ
Γ
σ
λµ
Γ
µ
αβ
Adotamos o sistema de unidades em que as constantes , c, e G a o
consideradas iguais a 1.
Cap´ıtulo 1
Introdu¸c˜ao
Nesse trabalho vamos estudar um poss´ıvel mecanismo para cria¸ao de nosso
universo. Vamos trabalhar com um modelo de Friedmann-Robertson-Walker
(FRW) fechado com constante cosmol´ogica positiva e radia¸ao. A radia¸ao
ser´a tratada como um fluido perfeito. Esse modelo dar´a origem a uma equa¸ao
do tipo Schr¨o dinger, em n´ıvel quˆantico, com um potencial da forma ax
2
bx
4
.
Iremos estudar a probabilidade do universo tunelar por esse barreira. Isso ´e
importante para a cosmologia porque pode contribuir para a discuss˜ao sobre
quais seriam as condi¸oes iniciais da fun¸ao-de-onda do universo.
´
E interessante mencionar que esse trabalho ´e inovador. O problema que
estamos abordando a foi tratado usando a aproxima¸ao WKB (vide se¸ao
3.4.1) mas somente para o alculo da fun¸ao-de-onda [1], [2] . A inovao do
nosso trabalho consiste em calcular a fun¸ao-de-onda e a probabilidade de
tunelamento numericamente sem aproxima¸oes.
Como mencionado acima, o modelo em n´ıvel quˆantico resultou numa
equa¸ao do tipo Schr¨odinger que ao apresenta solu¸ao anal´ıtica. Dessa
forma, foi necess´ario recorrer ao uso de um m´etodo num´erico - o m´etodo de
Introdu¸c˜ao 3
Crank-Nicolson - para resolvˆe-la. Conseq¨uentemente, as grandezas de nosso
int eresse que ao o btidas a partir da solu¸ao da EDP demandam etodos
num´ericos para serem calculadas. Isso ocorre com o alculo da probabilidade
de tunelamento, que necessita de integra¸ao e interpola¸ao num´erica.
Este trabalho ´e organizado da seguinte forma. O cap´ıtulo 1 ´e a introdu¸ao.
O cap´ıtulo 2 aborda os aspectos essenciais para a quantiza¸ao do modelo que
adotamos, determina¸ao de probabilidades em mecˆanica quˆantica e inter-
preta¸oes oriundas dessas probabilidades. Nesse cap´ıtulo discutimos o for-
malismo ADM e a quantiza¸ao de Dirac para sistemas vinculados e a inter-
preta¸ao de muitos mundos. No cap´ıtulo 3 abordamos os etodos num´ericos
utilizados nesse trabalho, como o etodo de Crank-Nicolson, os m´etodos
para integra¸ao e interpola¸ao num´erica. Al´em disso, discutimos um pouco o
m´etodo aproximativo WKB. No cap´ıtulo 4 discutimos o modelo cosmol´ogico
que empregamos e o s resultados o btidos nos nossos alculos da probabili-
dade e o utra s grandezas f´ısicas de nosso interesse. Finalmente, no cap´ıtulo 5
apresentamos as conclus˜oes que tiramos a partir dos resultados obtidos.
Cap´ıtulo 2
Formalismo ADM
2.1 Introdu¸ao
A teoria da relatividade geral (R.G.) foi introduzida por A. Einstein em
1916 [3] e promoveu uma grande modifica¸ao conceitual na maneira de vermos
o espa¸co-tempo. Al´em disso, a R.G. trouxe predi¸oes de novos fenˆomenos e
predi¸oes de valores diferentes para fenˆomenos a estudados, como por exem-
plo, o avan¸co do peri´elio de Merc´urio. Para exemplificar os novos fenˆomenos
int roduzidos pela R.G. podemos citar o desvio para o vermelho gravitacional,
o desvio de raios de luz ao passarem pr´oximos a corpos massivos e a s ondas
gravitacionais.
Apesar do sucesso experimental da R.G., algum tempo depois da in-
trodu¸ao das equa¸oes de Einstein, em 1922, A. Friedmann obteve solu¸oes
para as equa¸oes de Einstein para modelos cosmol´ogicos onde as font es
do campo gravitacional eram representadas por fluidos. Essas solu¸oes ao
dinˆamicas e apresentam uma “´epoca” (ou instante) no passado, singular [4].
Nessa ´epoca singular, t oda a mat´eria do Universo estaria concentrada em vo-
2.1 Introdu¸ao 5
lume infinitesimal, o que da ria origem a uma densidade de mat´eria infinita.
O surgimento dessas singularidades nas solu¸oes das equa¸oes de Eins-
tein fornece ind´ıcios de que essa teoria apresenta inconsistˆencias f´ısicas e
matem´aticas. Isso porque as singularidades mencionadas acima podem ser
caracterizadas por valores inifinitos dos escalares de curvatura de Rieman e
quantidades derivadas a partir dele, e do tensor momento-energia. Como as
equa¸oes de Einstein ao escritas em termos dessas quantidades, temos que
apesar da R.G. prever o a pa recimento dessas singularidades, uma vez que
elas aparecem a teoria perde completament e a sua capacidade de previs˜ao.
Nos anos 60, Roger Penrose, Stephen Hawking e Robert P. Geroch, en-
tre o utros, provaram em uma s´erie de teoremas [5] que, assumindo-se cer-
tas hip´oteses razo´aveis, o aparecimento de singularidades nas solu¸oes das
equa¸oes de Einstein ´e um fato natural. A generalidade de tais solu¸oes se
deve ao fato de que as condi¸oes impostas sobre as solu¸oes das equa¸oes
de Einstein nos teoremas ao bastante gerais, de forma a incluir um g rande
n´umero de solu¸oes. Como exemplo dessas condi¸oes podemos citar a neces-
sidade de que tais solu¸oes das equa¸oes de Einstein satisfa¸cam as condi¸oes
de energia forte e que ao possam apresentar curvas fechadas do tipo-tempo
[5].
Assim, com o aux´ılio de tais teoremas, podemos concluir que as singula-
ridades ao na verdade aspectos gen´ericos previstos pela Relatividade Geral
para os espa¸co-tempos. Como citado anteriormente, fazendo uma an´alise da
teoria, podemos perceber que as condi¸oes para o surgimento de singulari-
dades ao a existˆencia de campos gravitacionais muito intensos (alt´ıssimas
energias), dimens˜oes e distˆancias infinitesimais e, instantes muito recuados
no passado, pr´oximo do princ´ıpio do Universo (como o caso da singularidade
2.1 Introdu¸ao 6
cosmol´ogica, na chamada ´epoca de Planck).
Historicamente, a Relatividade Geral ao foi a ´unica teoria a apresentar
limita¸oes. Comparando-se de f orma qualitativa as limita¸oes da RG com
as condi¸oes em que o utras teorias cl´assicas (como o eletromagnetismo de
Maxwell e a mecˆanica newtoniana) deixavam de ser alidas, descobrimos
uma correla¸ao positiva entre a RG e estas teorias. Enao, para tentar solu-
cionar estas limita¸oes, tentou-se aplicar `a Relatividade Geral a mesma re-
ceita bem sucedida aplicada a estas outras teorias: o processo de quantiza¸ao.
Desta forma, a RG deixaria de ser aplicada nas condi¸oes de surgimento de
singularidade e passar-se-ia a aplicar a vers˜ao quˆantica desta teoria nestas
condi¸oes.
A partir dos trabalhos pioneiros de Paul Adrien Maurice Dirac [6] nos anos
50, e depois com a colabora¸ao de ta ntos outros grandes cientistas como John
Archibald Wheeler, Bryce DeWitt e Stephen Hawking, chegamos ao est´agio
ainda inacabado em que hoje se encontra essa teoria de Relatividade Geral
Quˆantica. Tal teoria poderia ser respons´avel pela compreens˜ao de incon-
sistˆencias da Relatividade Geral que ainda encontram-se inexplicadas, como
o surgimento de singularidades. Mas esta teoria ainda permanece inacabada
devido a dificuldades encontradas ao longo desses anos, como por exemplo, o
fato de ela ser perturbativamente infinita, como demonstrado por G. ’tHooft
e M. Veltman [7], S. Deser e P. van Nieuwenhuizen [8] , entre outros. Ou seja,
ela ´e ao renormaliz´avel. Estes resultados impulsionaram uma extensa busca
pela formula¸ao de teorias geom´etricas para a gravita¸ao que substituissem a
Relatividade Geral, que tivessem um limite cl´assico dent ro da precis˜ao obser-
vacional atual, mas que em contrapartida fossem renormaliz´aveis e unit´arias,
no n´ıvel quˆant ico.
2.1 Introdu¸ao 7
Mesmo se considerarmos que a RG ´e uma teoria efetiva e sua quantiza¸ao
nos leva a uma teoria ao renormaliz´avel, a inda assim po demos aprender
muito a partir desse programa de quantiza¸ao. E como exemplo de con-
hecimento ´util, podemos citar: a t´ecnica da quantizao que envolve a for-
mula¸ao Hamiltoniana de uma teoria de v´ınculos; a discuss˜ao de uma nova
int erpreta¸ao para a fun¸ao-de-onda do Universo, no caso da aplica¸ao dessa
teoria `a cosmologia; a l´em de propriedades sem equivalentes cl´assicos que
essa teoria quˆantica venha a introduzir e que sejam comuns a outras teorias
quˆanticas de gravita¸ao.
Para se obter uma teoria quˆantica da Relatividade Geral atraes do pro-
cesso de quantiza¸ao canˆonica, ´e necess´ario que se fa¸ca uma formula¸ao
“dinˆamica” da Relatividade Geral. Esta conclus˜ao se baseia na observao
da quantizao canˆonica de outras teorias como part´ıculas ao-relativ´ısticas
e relativ´ısticas, campo eletromagn´etico, etc. Nestas o utras teorias o interes-
se est´a em se determinar a evolu¸ao de uma fun¸ao-de-onda em rela¸ao a
um parˆametro que possa caracterizar os diferentes estados do sistema em
n´ıvel cl´assico. Esse parˆametro ´e o tempo, e a evolu¸ao da fun¸ao-de-onda no
tempo obtida via quantiza¸ao canˆonica para teorias como as mencionadas
acima haviam sido derivadas de maneira satisfat´orias. O processo de quan-
tiza¸ao canˆonica ao ´e adequado para ser aplicado `a Relatividade Geral, pois
ao resulta em uma teoria renormaliz´avel. Mesmo a ssim, podemos assumir
que mesmo que a RG seja uma teoria efetiva e que nos leve `a uma teoria
ao-renormaliz´avel, este processo de estudo a seria muito importante pa ra
entender melhor o problema da quant iza¸ao da RG.
Assim, os pesquisadores seguiram durante anos uma formula¸ao “dinˆamica”
da Relatividade Geral, a chamada ‘Geometrodinˆamica’. Um dos resulta-
2.2 Formalismo ADM da Relatividade Geral Quˆantica 8
dos mais importantes nessa linha de estudo foi o formalismo criado por R.
Arnowitt, S. Deser e C. W. Misner, o formalismo AD M (ou split 3+1) da
Relatividade Geral [9], [10]. Vale ressaltar que esse formalismo o foi poss´ıvel
devido ao trabalho de o utro s f´ısicos, como Dirac, que estudou a formula¸ao
Lagrangeana e Hamiltoniana de sistemas vinculados e parametrizados, como
por exemplo a Relatividade Geral.
2.2 Formalismo ADM da Relatividade Geral
Quˆantica
A via imediata para a o bten¸ao de uma t eoria quˆantica da Relatividade
Geral seria a aplica¸ao do formalismo canˆonico. Mas para isso ´e imprescin-
d´ıvel antes reescrever a Relatividade Geral em uma formula¸ao “dinˆamica”.
Numa formula¸ao “dinˆamica” estamos interessados em determinar a evolu¸ao
de uma fun¸ao-de-onda, em rela¸ao a um par ˆametro, que caracterize de
maneira un´ıvoca diferent es estados do sistema em n´ıvel quˆantico. Este pa-
ametro ´e o tempo e a evolu¸ao da fun¸ao-de-onda no tempo para as teo-
rias cl´assicas nas quais este m´etodo havia sido anteriormente aplicado foram
obtidas de forma satisfat´oria. O formalismo mais eficaz nessa linha foi o For -
malismo ADM (ou split 3+1) da Relatividade Geral desenvolvido por R.
Arnowitt, S. Deser e C. W. Misner [9], tamb´em chamado de Geometrodinˆa-
mica. Vamos ent˜ao come¸car a descri¸ao deste fo r malismo.
Como sabemos, a m´etrica g
αβ
de espa¸co-tempos quadri-dimensionais pos-
sui dez compo nentes independentes. Destas, apenas seis podem ser calculadas
a partir das equa¸oes de Einstein. As quatro componentes restantes que per-
manecem livres (devido a existˆencia das Identidades de Bianchi), represen-
2.2 Formalismo ADM da Relatividade Geral Quˆantica 9
tam a liberdade que t emos para aplicarmos transforma¸oes de coordenadas
nas seis componentes dinˆamicas que puderam ser calculadas. Assim, pode-
mos reescrever o formalismo da Relatividade Geral de forma que a m´etrica
do espa¸co-tempo quadri-dimensional possa ser separado em trˆes partes. A
primeira conem os seis componentes dinˆamicos de g
αβ
e com isto representa
as seis componentes independentes de m´etricas, sim´etricas, h
ij
, de hipersu-
perf´ıcies tri-dimensionais, tipo-espa¸co, que chamaremos σ’s. As outras duas
partes corresponderiam as quatro componentes independentes restantes de
g
αβ
. Estas duas partes ao representadas pelo escalar N e o vetor N
i
, o qual ´e
definido sobre as hipersuperf´ıcies tri-dimensionais, tipo-espa¸co, com m´etricas
h
ij
. A estas g r andezas damos os nomes de “lapse function” (fun¸ao lapso)
para N, e de “shift vector” (vetor deslocamento) para N
i
. Estas ao quan-
tidades que devem ser fixadas externamente e ao elas que determinam a
forma p ela qual as hipersuperf´ıcies tri-dimensionais do tipo-espa¸co evoluir˜ao
para dar or ig em a o espa¸co-tempo quadri-dimensional.
Assim, o espa¸co-tempo quadri-dimensional ´e formado pela “evo lu¸ao” de
se¸oes espaciais, com m´etricas h
ij
. Desta forma h
ij
desempenham o papel
de vari´aveis dinˆamicas da teoria, como por exemplo a posi¸ao da part´ıcula
na f´ısica newtoniana. Por isso, conjunto de m´etricas h
ij
de hipersuperf´ıcies
tri-dimensionais, tipo-espa¸co formam as vari´aveis dinˆamicas da teoria da
Relatividade Geral. A arena na qual estas hipersuperf´ıcies h
ij
evoluem se
chama superespa¸co e foi primeiramente sugerida por Wheeler. Na verdade,
as vari´aveis dinˆamicas da teoria ao ao todas as etricas h
ij
visto que es-
tas em ainda uma liberdade frente as transforma¸oes de coordenadas nas
hipersuperf´ıcies tri-dimensionais. Isto implica que as verdadeiras vari´a veis
ao as classes de equivalˆencia das h
ij
frent e `as transforma¸oes de coordenadas
2.3 Reescrevendo a etrica g
αβ
10
nas hipersuperf´ıcies tri-dimensionais. De qualquer maneira, o superespa¸co
tem um n´umero infinito de componentes. Outro ponto importante ´e que as
m´etricas h
ij
(ou as classes de equivalˆencia destas m´etricas) que comp˜oem o
sup erespa¸co ao ao necessariamente regulares, na verdade, para D. Brill,
m´etricas singulares ao essenciais para a descri¸ao de t ransi¸oes topol´ogicas
[15].
Os passos seguintes ao bastante claros, ou seja, devemos reescrever todas
as quantidades da relatividade geral em termos das etricas h
ij
, da fun¸ao
lapso N e do vetor deslocamento N
i
. Desta for ma, a partir da Ha miltoniana
resultante poderemos obter a vers˜ao quˆantica dessa teoria.
2.3 Reescrevendo a m´etrica g
αβ
Se considerarmos duas hipersuperf´ıcies tri-dimensionais S
1
e S
2
(como na
figura 2.1), tipo-espa¸co, definidas respectivamente, nos instantes de tempo
t e t + dt, em cada uma delas poderemos considerar uma etrica h
ij
, com
assinatura euclidiana. Estas m´etricas nos possibilitar˜ao computar distˆancias
entre pontos que estejam sobre uma mesma hipersuperf´ıcie. Se as m´etricas
forem dadas por h
ij
(t, x, y, z) e h
ij
(t + dt, x, y, z), enao as distˆancias entre
os pontos de uma mesma hipersuperf´ıcie ser˜ao genericamente dados por:
(3)
ds
2
= h
ij
dx
i
dx
j
(2.1)
onde
(3)
se refere ao fato de estarmos restritos um espa¸co tri-dimensional,
h
ij
pode assumir os valor es de h
ij
(t, x, y, z) e h
ij
(t + dt, x, y, z) dependendo
em qual hipersuperf´ıcie se encontram os pontos em quest˜ao, e onde x
i
ao as
coordenadas cartesianas de cada hipersup erf´ıcie.
Podemos considerar agora que a atua¸ao de um campo vetorial
dt sobre
2.3 Reescrevendo a etrica g
αβ
11
Figura 2.1: Folheament o do espa¸co-tempo quadri-dimensional
S
1
“evolui” esta hipersuperf´ıcie para uma hipersuperf´ıcie S
2
. Este campo
vetorial tem uma dire¸ao no espa¸co-tempo quadri-dimensional em cada ponto
de S
1
, de tal forma que ele tem proje¸oes ao-nulas sobre as dire¸oes da
normal n e das tangentes x
i
da hipersuperf´ıcie S
1
, no ponto em quest˜ao.
Estas proje¸oes em os seguintes va lo r es:
n N dt e
x
i
N
i
dt (2.2)
em que cada ´ındice i corresponde ao valor da proje¸ao de
dt sobre as dire¸oes
x, y, z sobre S
1
.
Neste formalismo, podemos calcular o intervalo entre os eventos x
i
1
em S
1
e x
i
2
em S
2
para compar´a-lo com o intervalo obtido com a m´etrica g
αβ
de todo
o espa¸co-tempo, e assim obtemos uma rela¸ao entre g
αβ
e as quantidades h
ij
,
N e N
i
.
Fazendo isto, obtemos as rela¸oes:
ds
2
= h
ij
(dx
i
+ N
i
dt)(dx
j
+ N
j
dt) N
2
dt
2
2.3 Reescrevendo a etrica g
αβ
12
ds
2
= h
ij
N
i
N
j
dt
2
+ h
ij
N
i
dt dx
j
+ h
ij
dx
i
N
j
dt
+ h
ij
dx
i
dx
j
N
2
dt
2
ds
2
= (N
j
N
j
N
2
) dt
2
+ N
j
dt dx
j
+ d x
i
N
i
dt
+ h
ij
dx
i
dx
j
. (2.3)
Comparando-se a equa¸ao (2.3) com a forma usual ds
2
= g
αβ
dx
α
dx
β
do
int ervalo entre eventos do espa¸co- t empo quadri-dimensional, temos:
g
tt
= N
j
N
j
N
2
; g
tk
= N
k
; g
kt
= N
k
; (2.4)
g
ik
= h
ik
; (2.5)
g
αβ
=
N
j
N
j
N
2
N
k
N
i
h
ik
; (2.6)
g
αβ
=
1
N
2
N
j
N
2
N
m
N
2
h
jm
N
j
N
m
N
2
. (2.7)
A curvatura ´e um dos conceitos mais importantes da Relatividade Geral
para se descrever a gravita¸ao. Neste formalismo estamos interessados em
descrever se¸oes espaciais tri-dimensionais em rela¸ao a um espa¸co-tempo
quadri-dimensional. Assim, para descrevermos a evolu¸ao destas hipersu-
perf´ıcies precisaremos definir ainda outras grandezas, que introduzir˜ao novos
conceitos de curvatura. ao o utilizaremos o conceito de curvatura intr´ınseca
como tamb´em o conceito de curvatura extr´ınseca em rela¸ao ao espco-tempo
quadri-dimensional, no qual esta hipersup erf´ıcie evolui e est´a concebida.
Precisamos, portanto, definir o tensor K
ij
, de segunda ordem, que ser´a a
grandeza que medir´a a curvatura extr´ınseca de uma dada hipersuperf´ıcie n-
dimensional em rela¸ao a um espa¸co n+1-dimensional, no qual essa hipersu-
perf´ıcie est´a concebida. Este tensor pode ser obtido da geometria diferencial
2.3 Reescrevendo a etrica g
αβ
13
pelo alculo da derivada covariante da normal a esta hipersuperf´ıcie sobre
a hipersuperf´ıcie n-dimensional. A normal `a hipersuperf´ıcie ´e dada como
n = n
α
= (N, 0, 0, 0), onde N ´e a fun¸ao lapso. Assim a curvatura extr´ınseca
ser´a:
K
ij
= n
i ; j
; (2.8)
n
i ; j
=
n
i
x
j
Γ
σ
ij
n
σ
=
= N Γ
0
ij
=
= N
g
00
Γ
0ij
+
(3)
g
0k
Γ
kij
=
=
1
N
Γ
0ij
N
k
Γ
kij
=
=
1
2N
N
i
x
j
+
N
j
x
i
h
ij
t
2 N
k
Γ
k
ij
K
ij
=
1
2N
N
i | j
+ N
j | i
h
ij
t
(2.9)
onde o s´ımbolo | significa derivao covariante.
A curvatura intr´ınseca, medida na Relatividade Geral pelo tensor de cur-
vatura de Riemann, R
ρ
αβγ
, tamb´em ter´a de ser reescrita em termos de h
ij
, N
e N
j
. A express˜ao de R
i
jkm
´e imediata, pois a ´unica diferen¸ca em rela¸ao ao
caso do espa¸co-tempo quadri-dimensional ser´a o fato que usaremos a m´etrica
h
ij
da hipersuperf´ıcie espacial tri-dimensional, no lugar da m´etrica g
αβ
de
todo o espa¸co-tempo quadri-dimensional. Podemos reescrever o tensor de
Riemann com a ajuda das equa¸oes de Gauss-Codazzi, que ao escritas em
uma base ortonormal composta por uma base da hipersuperf´ıcie mais o vetor
unit´ario normal n como se segue [10]:
(4)
R
m
ijk
=
(3)
R
m
ijk
+
1
n
α
n
α
K
ij
K
m
k
K
ik
K
m
j
; (2.10)
2.4 A Lagrangeana do Formalismo ADM 14
(4)
R
n
ijk
=
1
n
α
n
α
K
ij | k
K
ik | j
; (2.11)
(4)
R
in
in
=
1
n
α
n
α
K
2
K
ij
K
ij
+ (n
α
n
β
; α
)
; β
(n
α
n
β
; β
)
; α
; (2.12)
onde nas equa¸oes (2.1 1) e (2.12) o ´ındice n refere-se `a coordenada temporal.
Vale lembrar que podemos representar as componentes da etrica como o
produto escalar entre os vetores de base. Assim g
nn
= e
n
· e
n
= n · n = n
α
n
α
e g
nl
= e
n
· e
l
= 0 se n for diferente de l.
2.4 A Lagrangeana do Formalismo AD M
Atrav´es do princ´ıpio variacional podemos encontrar as equa¸oes de Eins-
tein `a partir da ao de Einstein-Hilbert, a qual ´e dada em [1 1] por:
S
G
=
d
4
x
g
(4)
R + 2
d
3
x
h K (2.13)
onde
(4)
R ´e o escalar de curvatura e g ´e o determinante da etrica quadri-
dimensional, e onde K ´e o escalar da curvatura extr´ınseca (K = K
a
a
) e h ´e
o determinante da m´etrica tridimensional.
Assim, com o aux´ılio das equa¸oes de Gauss-Codazzi (2.10) e (2.1 1) re-
escrevemos a Lagrangeana de Einstein como se segue:
L
G
=
g
(4)
R =
g
2
(4)
R
ij
ij
+ 2
(4)
R
in
in
. (2.14)
Mas:
G
0
0
=
(4)
R
ij
ij
=
(4)
R
12
12
+
(4)
R
23
23
+
(4)
R
31
31
=
=
(3)
R
12
12
+
(3)
R
23
23
+
(3)
R
31
31
+
1
(n
α
n
α
)
K
2
1
K
1
2
K
12
K
12
+
+
K
3
2
K
2
3
K
23
K
23
+
K
3
1
K
1
3
K
13
K
13
=
=
1
2
(3)
R
1
2 n
α
n
α
K
2
K
ij
K
ij
. (2.15)
2.4 A Lagrangeana do Formalismo ADM 15
Assim, substituindo ( 2.15) e (2.12) na Lagrangeana (2.14), temos:
L
G
=
g
(3)
R +
1
n
α
n
α
K
2
K
ij
K
ij
+ 2 (n
α
n
β
; α
)
; β
2 (n
α
n
β
; β
)
; α
.
(2.16)
Com esse r esultado (2.16) e com a express˜ao do elemento de volume
quadri-dimensional em termos das quantidades introduzidas no split 3 +1:
g d
4
x = N
h dt d
3
x (2.17)
podemos escrever a Lagrangeana, que finalmente ser´a:
L
G
=
h N
(3)
R +
1
n
α
n
α
K
2
K
ij
K
ij
+ 2 (n
α
n
β
; α
)
; β
2 (n
α
n
β
; β
)
; α
(2.18)
onde h ´e o determinante da m´etrica tri-dimensional h
ij
, e
(3)
R ´e a curvatura
int r´ınseca da hipersuperf´ıcie tri-dimensional.
Podemos tamb´em reescrever a ao (2.13) que ser´a:
S
G
=
1
16π
dt
d
3
x N
h
(3)
R +
1
n
α
n
α
K
2
K
ij
K
ij
(2.19)
onde podemos observa r claramente que os dois ´ultimos termos de (2.18)
desapareceram na integra¸ao pelo fato de darem origem a termos de fronteira
(nas hipersuperf´ıcies tri-dimensionais) do tipo-espa¸co (normal tipo-tempo) e
do tipo-tempo (normal t ipo-espa¸co), respectivamente. O primeiro termo de
fronteira de (2.18) (do tipo-espa¸co com normal tipo-tempo) se anula com a
segunda integral dada na defini¸ao da a¸ao de Einstein-Hilbert (2.13). Ou
2.4 A Lagrangeana do Formalismo ADM 16
seja:
dt
d
3
x N
h
2
n
α
n
β
; α
; β
2
n
α
n
β
; β
; α
+ 2
d
3
x
h K =
=
dt
d
3
x N
h
2
n
j
K
i
j
; i
2
1
N
K
; 0
+ 2
d
3
x
h K =
=
dt
d
2
x N
h
2
n
j
K
i
j
2
dt
d
3
x N
h
d
dt
1
N
K
+
+ 2
d
3
x
h K = 2
d
3
x
h K + 2
d
3
x
h K = 0.
0
O segundo termo de fronteira de (2.18) (do tipo-tempo com normal tipo-
espa¸co) se anula porque estamos considerando que a hipersuperf´ıcie tipo-
tempo ´e fechada, e por isso ao tem fronteira.
As componentes do vetor unit´ario tipo-tempo n ao quase que automati-
camente determinadas quando se faz a substitui¸ao da m´etrica
(4)
g
αβ
pela
m´etrica h
ij
com a fun¸ao lapso e o vetor deslocamento. Assim, a condi¸ao de
normaliza¸ao deste quadri-vetor n ´e mais facilmente formulada assumindo-se
que existe uma 1-forma, tamb´em chamada de n, por conveniˆencia, dual a n,
e tal que o produto do vetor com esta 1-f orma assume o valor de n
α
n
α
= 1.
Conseq¨uentemente, nossa ao se torna:
S
G
=
1
16π
dt
d
3
x N
h
(3)
R + K
ij
K
ij
K
2
(2.20)
que ´e a ao de Einstein-Hilbert no Formalismo ADM.
`
A esta a¸ao podem
ser somados termos contendo a densidade Lagrangeana de outros campos
fundamentais ao- gravitacionais (por exemplo: de mat´eria, gauge, etc. . . ).
Agora podemos passar `a obten¸ao da representa¸ao Hamiltoniana da teoria
uma vez que obtivemos sua representa¸ao Lagrangeana.
2.5 A Hamiltoniana do Formalismo ADM 17
2.5 A Hamiltoniana do Formalismo ADM
Come¸caremos agora a identificar o espa¸co-de-fase da Relatividade Geral.
Os g r aus de liberdade dinˆamicos da teoria est˜ao contidos nas m´etricas das
hipersuperf´ıcies tri-dimensionais, espaciais, h
ij
. O vetor deslocamento N
i
e
a fun¸ao lapso N ao apenas fun¸oes que esp ecificam a maneira pela qual
devemos evoluir as hipersuperf´ıcies para obtermos o espa¸co-tempo desejado.
Portanto, as coordenadas canˆonicas do nosso problema ser˜ao apenas os h
ij
e
seus momenta canonicamente conjugados Π
ij
, definidos usualmente a partir
da seguinte derivada:
Π
ab
L
G
˙
h
ab
(2.21)
onde L
G
´e a densidade Lagrangeana gravitacional obtida diretamente de
(2.20),
˙
h
ab
´e a derivada desta etrica em rela¸ao ao parˆametro tempo e Π
ab
´e sim´etrico por defini¸ao ( Π
ab
= Π
ba
). Fazendo explicitamente a derivao
indicada em ( 2.21), com a ajuda de (2.9), obtemos:
Π
ab
=
L
G
˙
h
ab
=
h
h
ab
K K
ab
(2.22)
Caso deriv´assemos a densidade L agrangeana em rela¸ao a
˙
N
i
ou
˙
N, ob-
servar´ıamos que tais momentos canonicamente conjugados seriam nulos, pois
a densidade Lagrangeana L
G
independe das derivadas temporais de N
i
e N.
Logo, N
i
e N ao ao vari´aveis dinˆamicas da teoria . Enao estes ao multi-
plicadores de Lagrange indicando que a teoria da Relatividade G eral ´e uma
teoria com v´ınculos. Conseq¨uentemente, podemos concluir que partimos de
um espa¸co de configura¸oes maior que o necess´ario para a descri¸ao da teoria.
A Teoria Hamiltoniana de Sistemas Vinculados (THSV) garante que deve-
mos reduzir o espa¸co de configura¸ao, deixando de lado N
i
e N, e tomando
apenas os h
ij
como vari´aveis dinˆamicas da teoria (o que corrobora o que a
2.5 A Hamiltoniana do Formalismo ADM 18
hav´ıamos visto pela forma como o Formalismo ADM reescreve a Relatividade
Geral).
Ainda a partir da THSV, sabemos que ao se escrever a ao (2 .20) em
sua forma Hamiltoniana obteremos parcelas que ser˜ao fun¸oes dos h
ij
e suas
primeiras derivadas, que aparecer˜ao multiplicadas r espectivamente pelos N
i
e
N. Essas parcelas ao os chamados v´ınculos da teoria, e ser˜ao impostos sobre
os sistemas f´ısicos, juntamente com as equa¸oes dinˆamicas, ao exigirmos que
as varia¸oes da ao em rela¸ao ao s N
i
e N sejam nulas sobre a “ tr ajet´oria”
f´ısica. Assim, com esse conhecimento vindo da THSV podemos passar ao
alculo expl´ıcito da densidade de Hamiltoniana H
G
da Relatividade Geral
no For malismo ADM.
Sabemos que a express˜ao geral da Hamiltoniana ´e dada em termos das
vari´aveis canˆonicas, seus momenta canonicamente conjugados e da Lagran-
geana original, como se segue:
H
G
= Π
ab
˙
h
ab
L
G
. (2.23)
Assim, com o aux´ılio da express˜ao da Lagrangeana L
G
obtida da ex-
press˜ao (2.20) da ao, e com o aux´ılio da express˜ao (2.22) dos momenta
canonicamente conjugados Π
ab
(com a qual escrevemos K e K
ab
em termos
de Π
ab
), obtemos depois de alguma ´algebra, a seguinte express˜ao para H
G
:
H
G
= N
h
Π
ab
Π
ab
1
2
Π
2
h
(3)
R
+ N
b
ab
|a
+
2 N
b
Π
ab
|a
(2.24)
onde Π T r Π
ab
. Iremos desprezar o ´ultimo termo porque este contribui
apenas como um termo de contorno pa ra a Hamiltoniana H
G
. Logo, podemos
reescrever H
G
da seguinte forma:
H
G
= N
G
ijkl
Π
ij
Π
kl
h
(3)
R
+ N
j
2 Π
ij
| i
. (2.25)
2.5 A Hamiltoniana do Formalismo ADM 19
Nesta express˜ao introduzimos a m´etrica do superespco G
ijkl
, que ´e defi-
nida como:
G
ijkl
=
1
2
h
(h
ik
h
jl
+ h
il
h
jk
h
ij
h
kl
) . (2.26)
Esta ´e a forma contravariante da etrica do superespa¸co, descoberta por
DeWitt [10]. Esta etrica possui as seguintes simetrias e propriedades:
G
ijkl
= G
jikl
= G
ijlk
= G
klij
(2.27)
G
ijkl
G
ijmp
= δ
mp
kl
. (2.28)
O superespa¸co, que ser´a discutido mais adiante, ´e uma variedade de dimens˜ao
infinita.
A partir da densidade de Hamiltoniana H
G
(2.25) podemos escrever a
ao S
G
da Relatividade Geral, em sua fo rma Hamiltoniana, no Formalismo
ADM:
S
G
=
1
16π
Π
ij
˙
h
ij
N H
G
N
i
H
i
G
dt d
3
x (2.29)
onde
H
G
= G
ijkl
Π
ij
Π
kl
h
(3)
R e H
i
G
= 2 Π
ij
| i
. (2.30)
O termo H
G
da ao ´e conhecido como o superhamiltoniana e o termo
H
i
G
´e conhecido como supermomentum. Variando-se S
G
em rela¸ao a N e
N
i
, e igualando a zero temos a s quatro equa¸oes de Einstein para o acuo
(R
αβ
= 0), que envolvem a componente temporal R
00
= R
0j
= 0, e assim
obtemos as condi¸oes para H
G
e H
i
G
:
H
G
= 0 , H
i
G
= 0. (2.31)
2.5 A Hamiltoniana do Formalismo ADM 20
E se va r ia rmos S
G
em rela¸ao a h
ab
e Π
ab
, obteremos as seguintes equa¸oes:
˙
h
ab
=
S
G
Π
ab
=
= 2 h
1
2
N
Π
ab
1
2
h
ab
Π
+ N
b | a
+ N
a | b
(2.32)
˙
Π
ab
=
S
G
h
ab
=
= N h
1
2
(3)
R
ab
1
2
(3)
R h
ab
+
1
2
N h
1
2
h
ab
Π
cd
Π
cd
1
2
Π
2
2 N h
1
2
Π
ac
Π
b
c
1
2
Π Π
ab
+ h
1
2
N
|b |a
h
ab
N
|c
|c
+
+
N
c
Π
ab
| c
2(N
b
)
|c
Π
ca
2(N
a
)
|c
Π
cb
.
(2.33)
Os resultados ( 2.32) e (2.33) ao as demais Equa¸oes de Einstein para o
acuo.
Na Relatividade Geral, p odemos usualmente contar as Equa¸oes de Eins-
tein como sendo 10 equa¸oes independentes, subtraindo-se 4 v´ınculos (origi-
nados das equa¸oes R
00
= R
0j
= 0), o que resulta em 6 equa¸oes dinˆamicas
de segunda ordem. a no Formalismo ADM, dobra-se o n´umero de equa¸oes
resultantes, pois nele as equa¸oes de segunda ordem transformam-se em
equa¸oes de primeira ordem, sendo 6 equa¸oes independentes para
˙
h
ab
e
outras 6 equa¸oes independentes para
˙
Π
ab
, resultando em 12 equa¸oes de
primeira ordem.
2.5.1 Inclus˜ao de Campos ao-Gravitacionais
Se tivermos outros campos al´em do campo gravitacional no sistema f´ısico
sendo investigado, a ao to tal S para esse sistema na sua forma Hamiltoni-
2.6 Quantiza¸ao Canˆonica 21
ana, no Formalismo ADM ser´a dada por:
S =
1
16π
Π
ij
˙
h
ij
+ Π
β
φ
˙
Φ
β
N H N
i
H
i
dt d
3
x (2.34)
onde Π
β
φ
´e o momento canonicamente conjugado ao campo Φ
β
definido a
partir da varia¸ao da densidade Lagrangeana L
mat´eria
da mat´eria em r ela¸ao
a
˙
Φ
β
; H ´e dado por:
H = H
G
+ H
mat´eria
(2.35)
onde H
mat´eria
´e a superhamiltoniana da mat´eria; e H
i
´e dado por:
H
i
= H
i
G
+ H
i
mat´eria
(2.36)
onde H
i
mat´eria
´e o supermomentum da mat´eria. E agora podemos passar a
quantiza¸ao da Relatividade Geral, com o aux´ılio do Formalismo ADM.
2.6 Quantiza¸ao Canˆonica
Poder´ıamos supor que a quantizao da Relatividade Geral fosse dada
simplesmente ao transformarmos as condi¸oes (2.31) em puras condi¸oes o-
peratoriais, para os operadores obtidos das m´etricas tri-dimensionais, e seus
momentas conjugados. Seguindo o caminho usual, depois disso escrever´ıamos
uma ‘equa¸ao de Schr¨odinger’ a partir da densidade de Hamiltoniana H
G
(2.25). Mas a Relatividade Geral ´e uma teoria vinculada (ou parametrizada),
o que ´e confirmado pela presen¸ca das condi¸oes (2.31). Com isso to r na-se
vis´ıvel que tal suposi¸ao ao funciona para quantizar a Relatividade porque
ao aplicarmos as condi¸oes (2.3 1), a n´ıvel operatorial `a densidade de Hamil-
toniana (2.25), esta se torna ident icamente nula. Isto nos indica que o cami-
nho a ser tomado para a quantizao da Relatividade Geral na verdade ser´a
outro, que vem da teoria de Dirac de quant iza¸ao de sistemas vinculados [20].
2.6 Quantiza¸ao Canˆonica 22
Nesta teoria, Dirac mostra que a forma correta de obtermos uma for mula¸ao
quˆantica de teorias vinculadas se a ao transformarmos estes v´ınculos em
operadores e impormos tais v´ınculos como condi¸oes a serem satisfeitas pela
fun¸ao-de-onda do sistema.
Faremos uso dos resultados desta teoria aplicados a teorias pa rametri-
zadas, como ´e o caso da Relatividade Geral. A t´ıtulo de revis˜ao, veremos
primeiramente uma aplica¸ao destes resultados a um sistema mais simples e
cuja equa¸ao quˆantica a nos ´e bastante familiar. Posteriormente `a verifica¸ao
de que as condi¸oes de quantiza¸ao de Dirac funcionam para esse sistema mais
simples, teremos mais seguran¸ca para us´a-las na Relatividade Geral [17].
Consideremos um sistema dinˆamico elementar com um n´umero finito de
graus de liberdade X
i
, os quais ao fun¸oes do tempo T. A ao desse sistema
´e dada em sua forma Lagrangeana por:
S =
dT L(T, X
i
,
dX
i
dT
(X
i
)
) (2.37)
onde L ´e a Lagrangiana do sistema. Este sistema elementa r, com um n´umero
finito de graus de liberdade, pode ser uma part´ıcula ao-relativ´ıstica de massa
m sobre a ao de um campo potencial V (T, X
i
). A Lagrangiana deste sis-
tema ´e dada por:
L =
1
2
m δ
ik
dX
i
dT
dX
k
dT
V (T, X
i
). (2.38)
Parametrizando este sistema de tal forma que o novo parˆametro arbitr´ario
t torne este sistema num sistema vinculado, obteremos:
T = T (t) t = t(T ); (2.39)
X
i
= X
i
( T (t) ) = X
i
(t). (2.40)
2.6 Quantiza¸ao Canˆonica 23
Come¸cemos ent˜ao a reescrever a ao (2.37) em termos desse novo parˆa-
metro temporal (onde designamos derivadas em rela¸ao a este por um po nto):
dT =
dT
dt
dt d t
˙
T e
dX
i
dT
= (X
i
)
=
dX
i
dt
dt
dT
˙
X
i
˙
T
1
(2.41)
S =
dt
˙
T L(T, X
i
,
˙
X
i
˙
T
1
)
dt
˜
L(T,
˙
T , X
i
,
˙
X
i
) (2.42)
onde
˜
L(T,
˙
T , X
i
,
˙
X
i
) =
˙
T L(T, X
i
,
˙
X
i
˙
T
1
).
O sistema descrito ´e o mesmo que o orig inal, portanto, continua com
o mesmo n´umero de graus de liberdade. Ent˜ao devemos ressaltar que as
quantidades T (t) e
˙
T (t) devem ser tratadas apenas como fun¸oes de t e ao
como vari´aveis dinˆamicas. As ´unicas coordenadas que devem ser va r ia das, e
assim tratadas como vari´aveis dinˆamicas, ao os X
i
. Assim, definiremos as
velocidades
˙
X
i
e conseq¨uentemente os moment a canonicamente conjugados:
˜
Π
i
˜
L
˙
X
i
=
˙
T
L
˙
X
i
=
˙
T
L
(X
i
)
(X
i
)
˙
X
i
=
˙
T
L
(X
i
)
˙
T
1
˜
Π
i
=
L
(X
i
)
= Π
i
. (2.43)
onde usamos explicitamente que
dX
i
dT
(X
i
)
. Vemos que os novos momenta
ao ao diferentes dos antigos. Da mesma forma, a Hamiltoniana
˜
H ao ser´a
diferente da Hamiltoniana f´ısica original, pois ser´a apenas multiplicada por
um fator
˙
T .
˜
H =
˜
Π
i
˙
X
i
˜
L = Π
i
˙
X
i
˜
L = Π
i
(X
i
)
˙
T
˙
T L =
=
Π
i
(X
i
)
L
˙
T = H
˙
T . (2.44)
Outro resultado muito importante a se saber ´e que H independe de
˙
T ,
quando expressa em termos de suas novas vari´aveis canˆonicas X
i
e
˜
Π
i
.
2.6 Quantiza¸ao Canˆonica 24
Reescrevendo a ao (2.37) em sua forma Hamiltoniana, para a teoria
parametrizada temos:
S =
dt
˜
Π
i
˙
X
i
˜
H
=
dt
˜
Π
i
˙
X
i
H
˙
T
=
=
dt
˜
Π
i
˙
X
i
H(T, X
i
,
˜
Π
i
)
˙
T
. (2.45)
Podemos notar que a a¸ao (2.45) possui uma dependˆencia linear tanto nas
“velocidades dinˆamicas
˙
X
i
quanto na “velocidade temporal”
˙
T . Por isso,
tendemos a imaginar que o tempo f´ısico T ´e uma das vari´aveis canˆonicas
int roduzidas {T, X
i
}, e conseq¨uentemente tamb´em tendemos a identificar
H(T, X
i
,
˜
Π
i
) com seu momentum canonicamente conjugado Π
T
. Desta ma-
neira, a ao ( 2.45) fica reescrita como:
S =
dt
Π
T
˙
T +
˜
Π
i
˙
X
i
. (2.46)
Na verdade, ao fazermos isso estamos aumentando o nosso espa¸co de fase
que descreve o sistema em quest˜ao. Mas devemos introduzir condi¸oes, jun-
tamente com as equa¸oes de movimento deriv´aveis de (2.46), que possam nos
garantir que continuamos a descrever o mesmo sistema inicial. Essa condi¸ao,
ou v´ınculo, ´e imediatamente reconhecida como sendo a informa¸ao de que
Π
T
´e simplesmente H (ou seja, Π
T
´e realmente dependente das demais
vari´aveis canˆonicas). Assim, nossa fun¸ao de v´ınculo ´e:
φ = Π
T
+ H(T, X
i
,
˜
Π
i
) = 0. (2.47)
Agora teremos que introduzir o v´ınculo (2.47) nesta ao ( 2.46) para
podermos vari´a-la livremente em termos das vari´a veis canˆonicas, . Isto ´e feito
com a ajuda do multiplicador de Lagrange N, o qual pode ser no aximo
uma fun¸ao do parˆametro t, de tal forma que a ao (2.46) fica reescrita
2.6 Quantiza¸ao Canˆonica 25
como:
S =
dt
Π
T
˙
T +
˜
Π
i
˙
X
i
N φ
. (2.48)
Assim podemos obter as equa¸oes de movimento e o v´ınculo (2.47) ao vari-
armos (2.48) em rela¸ao as vari´a veis canˆonicas {T, Π
T
; X
i
, Π
i
}, e ao multipli-
cador de Lagrange N(t). Conseq ¨uentemente, para desparametrizarmos esta
teoria, seguindo o caminho inverso (ou seja, `a partir da ao (2.48) obter-
mos a ao (2.3 7) ), devemos (i) resolver o v´ınculo ( 2.47) para o momentum
canˆonico Π
T
, (ii) substituir esse valor na ao (2.48) e, (iii) escolher T
como sendo uma vari´avel que marca o tempo na teoria, e identific´a-lo com
o parˆametro temporal t. Depois os retornamos `a ao f´ısica escrita em sua
forma Hamiltoniana. Primeiramente, voltemos agora ao caso da part´ıcula
ao-relativ´ıstica, de massa m, sob a ao de um potencial V (T, X
i
), cuja La-
grangeana ´e dada por (2.38). Dessa Lagrangeana ´e imediato determinarmos
a Hamiltoniana ao-relativ´ıstica H
P N R
.
H
P N R
=
1
2m
δ
ik
˜
Π
i
˜
Π
k
+ V (T, X
i
) (2.49)
em que usamos os novos momenta
˜
Π
i
pois de (2.43) estes momentum ao
iguais aos anteriores. Para este caso particular da Hamiltoniana da part´ıcula
ao-relativ´ıstica podemos tamem verificar o resultado de que H independe
de
˙
T .
Com o aux´ılio da Hamiltoniana H
P N R
podemos reescrever o v´ınculo (2.47)
para esta teoria:
φ
P N R
= Π
T
+
1
2m
δ
ik
˜
Π
i
˜
Π
k
+ V (T, X
i
). (2 .5 0)
A quantiza¸ao desta teoria ser´a efetuada seguindo as instru¸oes do For-
malismo de D irac para quantiza¸ao de sistemas vinculados. Conforme men-
2.6 Quantiza¸ao Canˆonica 26
cionado brevemente, a maneira de se quantizar teorias parametrizadas (por
exemplo, o caso citado de part´ıculas ao-relativ´ısticas) ´e dada por:
(i) Considere todas as coordenadas canˆonicas {T, X
i
} e todos os mo-
menta canonicamente conjugados {Π
T
,
˜
Π
i
} e transforme-os em operadores,
satisfazendo as rela¸oes de comuta¸ao usuais.
[X
j
, X
k
] = [
˜
Π
j
,
˜
Π
k
] = 0 , [X
j
,
˜
Π
k
] = i δ
j
k
; (2.51)
[
˜
Π
j
, T ] = [X
j
, T ] = [X
j
,
˜
Π
T
] = [
˜
Π
j
,
˜
Π
T
] = 0 , [T,
˜
Π
T
] = i. (2.52)
(ii) Escolha a representa¸ao {X
i
} e substitua os momenta pelos o per-
adores diferenciais:
˜
Π
j
= i
X
j
, Π
T
= i
T
. (2.53)
(iii) Introduza uma fun¸ao Ψ(X
j
, T ) que representar´a o estado do sistema
a n´ıvel quˆantico na representa¸ao {X
j
, T };
(iv) Substitua o s operadores momenta (2.53) no v´ınculo (2.50) e imponha
este v´ınculo como uma condi¸ao a ser satisfeita pela fun¸ao-de-onda Ψ(X
j
, T )
int roduzida em (iii), que usando φ
P N R
fica:
i
Ψ
T
1
2m
2
Ψ + V (X
j
) Ψ = 0; (2.54)
ˆ
H Ψ = i
Ψ
T
. (2.55)
As equa¸oes (2.54) e (2.55) representam a equa¸ao de Schodinger para
o caso da part´ıcula ao-relativ´ıstica, de massa m, sobre a ao do potencial
V (X
j
). Vemos enao que para esse caso a Regra de Q uantiza¸ao de Dirac para
sistemas parametrizados funciona.
`
A partir deste resultado, vamos aplicar as
regras (i) a (iv) para o caso da Relatividade Geral.
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt 27
Introduziremos as rela¸oes de comuta¸ao
h
jk
(X
i
), h
lm
((X
i
)
)
=
Π
jk
(X
i
), Π
lm
((X
i
)
)
= 0; (2.56)
h
jk
(X
i
), Π
lm
((X
i
)
)
=
1
2
i
δ
l
j
δ
m
k
+ δ
m
j
δ
l
k
δ(X
i
, (X
i
)
). (2.57)
Depois disso, introduziremos a fun¸ao-de-o nda Ψ, que na representa¸ao
da etrica se torna um funcional da m´etrica h
ij
:
Ψ = Ψ[h
ij
(X
k
)]. (2.58)
Nessa mesma representa¸ao, os momenta ao substitu´ıdos por derivadas
funcionais em rela¸ao `a m´etrica h
ij
:
Π
ik
(X
m
) = i
δ
δh
ik
(X
m
)
(2.59)
e, finalmente, substitu´ımos esses operadores (2 .59) nos v´ınculos superhamil-
toniano e supermomentum ( 2.31) e, impomos estes v´ınculos como restri¸oes
na f un¸ao-de-onda (2.58), obtendo as equa¸oes:
G
iklm
(X
j
)
δ
2
Ψ
δh
ik
(X
j
)δh
lm
(X
j
)
+ h
1
2
(X
i
) R(X
i
) Ψ = 0; (2.60)
δΨ
δh
ik
(X
m
)
|k
= 0. (2.61)
2.7 A Equa¸ao de Whee ler-DeWitt
A equa¸ao (2.61) ´e o v´ınculo do supermomentum e a equa¸ao (2.60) ´e
a famosa Equa¸ao de Wheeler-DeWitt [10], [12]. A n´ıvel cl´assico o super-
momentum ´e o gerador de difeomorfismos ou transforma¸oes de coordenadas
nas hipersuperf´ıcies Σ’s, tri-dimensionais do tipo-espa¸co. Isto pode ser confir-
mado calculando-se o parˆenteses de Poisson entre o supermomentum e todas
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt 28
as outras vari´aveis canˆonicas. Com isto, o significado do v´ınculo do super-
momentum dado na segunda parte de ( 2.31), a inda a n´ıvel cl´assico, ´e que a
descri¸ao da geometrodinˆamica ´e independente de transforma¸oes de coorde-
nadas em uma dada hipersuperf´ıcie Σ. Ou seja, esse resultado nos mostra que
as vari´a veis da nossa teoria ao ao exatamente os h
ij
, mas sim as classes de
equivalˆencia destas etricas frente aos difeomorfismos nas hipersuperf´ıcies
Σ’s consideradas.
A n´ıvel quˆantico, o significado da imposi¸ao do v´ınculo do supermomen-
tum sobre a fun¸ao-de-onda Ψ (2.61), segue diretamente do significado a n´ıvel
cl´assico exposto acima. Em outras palavras, o v´ınculo (2.61) do supermomen-
tum restringe a dependˆencia de Ψ ao das m´etricas h
ij
individualmente, mas
sim das classes de equivalˆencia de h
ij
frent e aos difeomorfismos nas hiper-
sup erf´ıcies Σ’s consideradas. Para comprovar isto, vejamos o caso em que se
deslo ca o argumento da fun¸ao-de-onda por um difeomorfismo na hipersu-
perf´ıcie dado como:
X
i
X
i
ξ
i
. (2.62)
Assim, em primeira ordem temos:
h
ij
(X
k
) = h
lm
(X
k
)
X
l
X
i
X
m
X
j
= h
lm
(X
k
)
δ
l
i
ξ
l
,
i
δ
m
j
ξ
m
,
j
=
= h
ij
(X
k
) h
lm
(X
k
) δ
l
i
ξ
m
,
j
h
lm
(X
k
) δ
m
j
ξ
l
,
i
. (2.63)
Mas sabemos que:
h
ij
(X
k
) = h
ij
(X
k
ξ
k
) = h
ij
(X
k
) h
ij
,
k
ξ
k
(2.64)
e ainda que
h
lm
ξ
m
,
j
=
h
lm
ξ
m
,
j
h
lm
,
j
ξ
m
= ξ
l
,
j
h
lm
,
j
ξ
m
(2.65)
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt 29
Assim, aplicando (2.64) e (2.65) em (2.63), obtemos:
h
ij
h
ij
,
k
ξ
k
= h
ij
δ
l
i
ξ
l
,
j
h
im
,
j
ξ
m
δ
m
j
ξ
m
,
i
h
jl
,
i
ξ
l
h
ij
= h
ij
ξ
i
,
j
ξ
j
,
i
2 h
ml
1
2
h
ml
h
im
,
j
+h
jm
,
i
h
ij
,
m
ξ
m
h
ij
= h
ij
ξ
i
,
j
ξ
j
,
i
2 h
ml
Γ
l
ij
ξ
m
(2.66)
e finalmente:
h
ij
= h
ij
ξ
i | j
ξ
j | i
= h
ij
ξ
( i | j )
(2.67)
onde as m´etricas h
ij
e h
ij
a est˜ao aplicadas no ponto X
k
e o s´ımbolo |
novamente significa deriva ¸ao covariante.
Se agora fizermos uma expans˜ao do funcional de Ψ[ h
ij
+ ξ
( i | j )
] ao redor
de h
ij
, em primeira ordem em ξ
i | j
, os obtemos:
Ψ[h
ij
+ ξ
( i | j )
] = Ψ[h
ij
] +
d
3
x ξ
i | j
δΨ
δh
ij
= Ψ[h
ij
] +
d
3
x
ξ
i
δΨ
δh
ij
| j
ξ
i
δΨ
δh
ij
| j
δΨ = Ψ[h
ij
+ ξ
( i | j )
] Ψ[h
ij
] =
=
d
3
x ξ
i
δΨ
δh
ij
| j
+
d
2
x
ξ
i
δΨ
δh
ij
e
j
.
0
ր
(2.68)
Vemos que a segunda integral em (2.68) nos a um termo de superf´ıcie
que se a nula, pois lidamos com hip ersuperf´ıcies compactas. Assim, a varia¸ao
em Ψ ser´a:
δΨ =
d
3
x ξ
i
δΨ
δh
ij
| j
=
d
3
ξ
i
H
i
Ψ. (2.69)
Podemos ver de (2.69) que as fun¸oes-de-onda que satisfazem o v´ınculo
do supermomentum (2.61) na verdade a o sentem o difeomorfismo (2.62),
pois ao ao alteradas [21].
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt 30
A superhamiltoniana a n´ıvel cl´assico ´e o gerador das transforma¸oes
no parˆametro t, ou seja, de transla¸oes temp orais. Assim o v´ınculo da su-
perhamiltoniana, dado na primeira parte de (2.31), for¸ca a descri¸ao ge-
ometrodinˆamica a ser independente de difeomorfismos envolvendo o parˆametro
t.
A n´ıvel quˆantico, o v´ınculo (2.60) sobre Ψ[h
ij
] indica que Ψ deve depender
apenas de quantidades que sejam independentes de reparametriza¸oes de t. A
demonstra¸ao deste resultado, para Relatividade Geral, ao ´e muito simples,
pois Ψ ´e definida sobre as hipersuperf´ıcies Σ’s e as reparametriza¸oes em t
ao elementos de um gr upo completo de difeomorfismos em 4-dimens˜oes [22].
´
E razo´avel assumir que a fun¸ao-de-onda Ψ [h
ij
] ´e o btida ao resolver-
mos a equa¸ao de Wheeler-DeWitt. Al´em disso, do estudo da part´ıcula ao-
relativ´ıstica parametrizada, t emos a indica¸ao de que uma das t rˆes fun¸oes
que ao os graus de liberdade geometrodinˆamicos deve representar um tempo
int r´ınseco, e as duas outras representam os verdadeiros graus de liberdade do
campo gravitacional. Infelizmente, ao se sabe como separar de forma geral
as vari´aveis dinˆamicas do tempo.
Assim, a equa¸ao de Wheeler-DeWitt (2.60) ´e uma equa¸ao diferencial
funcional, de segunda ordem nos h
ij
’s, que descreve a evolu¸ao de Ψ[h
ij
].
Em geral, obtemos um grande n´umero de solu¸oes para essa equa¸ao. Desta
forma, ´e necess´ario impor certas condi¸oes de contorno para selecionarmos
uma destas solu¸oes. Na pr´oxima sess˜ao trataremos desta an´alise.
Na verdade, a passagem dos v´ınculos cl´assicos (2.31) para as equa¸oes
quˆanticas correspondentes (2.60) e ( 2.61) ao ´e ao suave quanto poderia
parecer. os temos o famoso pro blema de ordenamento dos termos que en-
volvem os momenta Π
ij
.
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt 31
No caso do v´ınculo do supermomentum, o problema do ordenamento ´e
resolvido de forma trivial, resultando da´ı somente a equa¸ao (2.61). a no
caso da equa¸ao de Wheeler-DeWitt o problema ´e ao trivial, e a forma
da equa¸ao resultante vai depender da prop osta feita para o ordenamento. A
proposta mais aceita na literatura ´e aquela feita por DeWitt e, mais tarde, por
Hawking e Page [18]: “o operador diferencial funcional, de segunda ordem,
que aparece na equao de Wheeler-DeWitt deve ser escrito como o operador
laplaciano, na m´etrica de DeWitt do Superespa¸co”.
De forma heur´ıstica, seguindo esta regra de ordenamento, a equa¸ao de
Wheeler-DeWitt (2 .6 0), ficaria reescrita da seguint e forma:
2
Ψ[h
ij
] +
h (X
i
) R(X
i
) Ψ[h
ij
] = 0 (2.70)
onde
2
´e o laplaciano na m´etrica de DeWitt.
A introdu¸ao de outros campos ´e razoavelmente direta [14]. Vemos de
(2.35) e (2.36) que o v´ınculo do supermomentum e a equa¸ao de Wheeler-
DeWitt ser˜ao modificados para se introduzir os operadores associados ao
campo de mat´eria e seus momenta canonicamente conjugado. Esses oper-
adores devem satisfazer a ´algebra dos comuta do res entre si e as demais
vari´aveis do campo gravitacional. O acoplamento de outros campos φ ao-
gravitacionais implicam num aumento do superespa¸co. Este aumento serve
justamente para se levar em considera¸ao os graus de liberdade destes novos
campos. Desta forma, a fun¸ao-de-onda deixar´a de depender apenas dos h
ij
mas agora tamb´em depender´a de φ. Portanto a fun¸ao-de-onda passar´a a ser:
Ψ = Ψ[ h
ij
, φ ]. (2.71)
Em particular, a equa¸ao de Wheeler-DeWitt para este caso, com a proposta
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt 32
de ordenamento de DeWitt, ser´a dada por:
2
Ψ[h
ij
, φ
A
] +
h R Ψ[h
ij
, φ
A
] + V [h
ij
, φ
A
] Ψ[h
ij
, φ
A
] = 0 (2.72)
onde
2
´e o laplaciano na m´etrica de DeWitt do novo superespa¸co, agora
contendo tamb´em explicitamente os graus de liberdade do campo de mat´eria.
2.7.1 Condi¸oes de c ontorno para a determina¸ao d as
fun¸oes-de-onda
As condi¸oes iniciais e de contorno exercem papel crucial em todas as teo-
rias f´ısicas. E para o caso da quantiza¸ao da Relatividade Geral ao poderia
ser diferente. Por isso, uma an´alise cuidadosa ´e essencial. No caso da quan-
tiza¸ao da Relatividade Geral existem ao menos duas maneiras de se calcu-
lar o estado quˆantico de um dado sistema: atrav´es da quantiza¸ao canˆonica
(equa¸ao de Wheeler-DeWitt (2.70 )) ou atraes do m´etodo das integrais de
caminho. Ambas a s ecnicas requerem que, para a determina¸ao completa das
fun¸oes-de-onda, antes seja feita a an´alise de condi¸oes de contorno. E esta
exigˆencia ocorre devido ora `a natureza matem´atica da integral de caminho,
ora ao fato de que a equa¸ao de Wheeler-DeWitt ´e uma equa¸ao pseudo-
hiperb´olica independente do tempo.
´
E esta investiga¸ao das condi¸oes de
contorno impostas sobre a fun¸ao-de-onda do Universo que nos levar´a ao
caminho para se estudar a aplica¸ao da Relatividade Geral Q uˆantica `a Cos-
mologia, e com isto se obter uma Cosmologia Quˆantica.
Podemos mencionar duas propostas de condi¸oes de contorno que ao as
mais difundidas e estudadas. Estas propostas ao a ‘Condi¸ao de Ausˆencia
de Conto r no’, proposta por Hartle e Hawking [19],[13] para o caso da quan-
tiza¸ao atrav´es das integrais de caminho, onde devemos imp or tais condi¸oes
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt 33
de contorno sobre duas hipersup erf´ıcies espaciais distintas; e a ‘Condi¸ao de
Contorno de Tunelamento’, proposta por Vilenkin [23], [24] para o caso da
quantiza¸ao via solu¸ao da equa¸ao de Wheeler-DeWitt, onde as condi¸oes
de contorno dever˜ao ser aplicadas sobre uma ´unica hipersuperf´ıcie espacial.
Estas condi¸oes de contorno definir˜ao o estado dos campos gravitacional e
ao-gravitacionais que estiverem presentes no modelo particular. Por com-
pleteza, visto que iremos trabalhar com a equa¸ao de Wheeler-deWitt, vamos
int roduzir as id´eias asicas da ‘Condi¸ao de Contorno de Tunelamento’.
Condi¸c˜ao de Contorno de Tunelamento
Esta proposta de an´alise das condi¸oes de cont orno, que tamb´em contou
com a colabora¸ao de Linde [25], ´e na verdade uma condi¸ao para solu¸oes
da equa¸ao de Wheeler-D eWitt principalmente para modelos em Cosmologia
Quˆantica. O objetivo ´e encontrar uma fun¸ao-de-onda para o Universo de tal
forma que este ao tenha uma singularidade inicial. Como esta proposta con-
siste em restri¸oes impostas sobre as solu¸oes da equa¸ao de Wheeler-DeWitt
em regi˜oes assinoticas ou contornos do superespa¸co, precisamos enao ana-
lisar tais contornos.
Entendemos por contorno de superespa¸co como sendo as configura¸oes
singulares da geometria e dos campos de mat´eria. E configura¸oes singulares
ao a quelas configura¸oes que contˆeem pontos ou regi˜oes de curvatura in-
finita (tri-dimensional) ou valores infinitos do campo de mat´eria φ
A
ou ainda
suas derivadas
i
φ
A
, bem como configura¸oes de volume de hipersuperf´ıcies
espaciais (tri- dimensionais) infinito. Devemos salientar que se tivermos ge-
ometrias tri-dimensionais singulares isto ao implicar´a que espa¸co-tempos
quadri-dimensionais for mados a partir delas sejam tamb´em singulares.
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt 34
Um exemplo cl´assico (com assinatura euclidiana) ´e a hipersuperf´ıcie esf´e-
rica quadri-dimensional S
4
, formada por folia¸ao de hipersuperf´ıcies esf´ericas
tri-dimensionais S
3
. Os S
3
pr´oximos aos olos tem raios quase nulos nessa
folhea¸ao, e os escalares de curvat ura tri-dimensionais
(3)
R divergem pra in-
finito. Em compensa¸ao o S
4
´e perfeitamente regular nos olos. Outro exem-
plo, mas agora de assinatura Lorentziana e espacialmente aberto, ´e o espa¸co-
tempo anti-deSitter foliado por hipersuperf´ıcies tri-dimensionais abertas de
constante de curvatura negativa , dado pela seguinte m´etrica [5]:
ds
2
= dt
2
+ cos
2
t [
2
+ senh
2
χ (
2
+ sen
2
θ
2
) ]. (2.73)
A hipersuperf´ıcie tri-dimensional que folheia o espa¸co-tempo anti-deSitter
apresenta uma singularidade em t = ±
π
2
. Esta ´e na verdade uma singularida-
de aparente para o espa¸co-tempo anti-deSitter pois pode ser removida atrav´es
de uma mudan¸ca no sistema de coordenadas, o que poderia ser interpretado
como uma nova folia¸ao do espa¸co-tempo quadri-dimensional.
Assim, levando-se em considera¸ao os diferentes tipos de singularidades,
podemos enao separar o contorno do superespa¸co em duas partes. A primeira
chamaremos de contorno ao-singular do superespa¸co, que ´e formada por
hipersuperf´ıcies tri-dimensionais cujas ´unicas singularidades ao aquelas ge-
radas quando folheia-se variedades quadri-dimensionais regulares (como as
citadas anteriormente). A segunda parte, engloba o restante do contorno e ´e
chamado de contorno singular do superespa¸co.
Como o pr´oprio nome da proposta (Tunelamento) sugere devemos ainda
definir no¸oes de modos ‘outgoing’ (que saem) e ‘ingoing’ (que adentra m).
Para entendermos melhor estes significados vejamos primeiro um exemplo, a
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt 35
equa¸ao de Klein-Gordon:
+
mc
2
Ψ = 0. (2.74)
As solu¸oes Ψ para a equa¸ao (2.74 ) podem ser escritas em termos de
ondas com frequˆencia positiva ou ondas com freq¨uˆencia negativa, dadas r es-
pectivamente por:
Ψ
+
= A
+
e
i k
µ
X
µ
, Ψ
= A
e
+i k
µ
X
µ
(2.75)
onde k
µ
= (w,
k) e w > 0. Podemos usar o vetor de Killing tipo-tempo i
t
para se fazer uma classifica¸ao em rela¸ao `a positividade ou negatividade da
freq¨uˆencia da onda. Ou seja, as ondas Ψ
+
e Ψ
(2.75) ao auto-fun¸oes do
vetor de Killing. Assim a frequˆencia ser´a positiva ou negativa dependendo
dos sinais dos seus a uto -valores:
i
Ψ
+
t
= wΨ
+
, i
Ψ
t
= wΨ
. (2.76)
Outra forma de caracteriz´a-las poderia ser feita atrav´es do sinal da com-
ponente temporal da corrente conservada de Klein-Gordon:
J
µ
= ( J
0
,
J ) (2.77 )
onde
J
0
=
i
2
Ψ
Ψ
t
Ψ
Ψ
t
; (2.78)
J =
i
2
Ψ
(
Ψ) Ψ(
Ψ
)
. (2.79)
e tamb´em J
µ
; µ
= 0. Com isto, podemos escrever o s valores J
0
(2.78) para
Ψ
+
e Ψ
(2.75):
J
0
+
= w |A
+
|
2
, J
0
= +w |A
|
2
(2.80)
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt 36
e como vemos os sinais das duas compo nentes ao opostos. Poderemos escre-
ver uma solu¸ao qualquer da equa¸ao de Klein-Gordon em termos das ondas
Ψ
+
e Ψ
. Estas ondas ao usadas para se impor condi¸oes sobre os propa-
gadores mais a ceit´aveis da t eoria . Em particular, define-se o propagador de
Feynman, o qual tem a propriedade que somente as solu¸oes com frequˆencia
positiva, ou que podem ser escritas somente em termos de Ψ
+
, se propagam
para o f uturo a partir de uma intera¸ao [26], [27].
Podemos enao fa zer uma analogia ent re a equa¸ao de Klein-Gordon e a
equa¸ao de Wheeler-DeWitt e perceber que existem solu¸oes do tipo onda
para a equa¸ao de Wheeler-DeWitt, com frequˆencias positiva ou negativa
(2.75). Usando esta analogia, poderemos no caso da equa¸ao de Wheeler-
DeWitt, definir tamem uma corrente conservada que participar´a da defini¸ao
de medida de probabilidade. Com estas solu¸oes poderemos obter solu¸oes
mais gerais a partir de suas combinoes lineares, introduzindo condi¸oes de
contorno an´alogas aquelas que nos levaram ao propagador de Feynman na
teoria de K lein-Gordon.
Contudo, observamos ago r a um problema. Vimos que a defini¸ao de o ndas
com frequˆencias positivas e negativas depende da existˆencia de um vetor de
Killing (do t ipo-tempo) em todo o espa¸co-tempo de Minkowski. Mas sabemos
que para o caso do superespa¸co em geral ao existe tal vetor (sobre todo
o superespa¸co). Portanto, diferentemente da solu¸ao da equa¸ao de Klein-
Gordon, agora, para a equa¸ao de Wheeler-DeWitt, ao poderemos em todos
os casos encontrar solu¸oes do tipo Ψ
+
e Ψ
(2.75).
Mesmo assim, ainda ´e poss´ıvel obter-se solu¸oes do tipo Ψ
+
e Ψ
para
a equa¸ao de Wheeler-DeWitt, bastando restringir-se a certas regi˜oes do su-
perespa¸co, como por exemplo, regi˜oes pr´oximas ao contorno. Em tais regi˜oes
2.7 A Equa¸ao de Wheeler-DeWitt 37
´e possivel definir-se um vetor de Killing associado a uma dire¸ao que e uma
medida da aproxima¸ao ou afastamento do contorno. Depois poderemos es-
crever solu¸oes para a equa¸ao de Wheeler-DeWitt na dependˆencia desse
vetor de Killing. ao estas as solu¸oes chamadas de ‘ingoing’ e ‘outgoig’,
sendo do tipo oscilat´orio dadas por:
Ψ = C e
i S
(2.81)
onde C ser´a uma constante complexa e S ´e uma solu¸ao da equa¸ao de
Hamilton-Jacobi.
Usando (2.81) em (2.79) obtemos
J =
i
2
C
e
i S
(C e
i S
) C e
i S
(C
e
i S
)
J = |C |
2
S (2.82)
Assim, po demos usar esta corrente (2.82) para caracterizar as solu¸oes (2.81)
em ‘ingoing’ e ‘outgoing’. Se no contorno, o vetor
S apontar para fora da
hipersuperf´ıcie definida pelo contorno, no superespa¸co, ent˜ao tais solu¸oes
oscilat´orias (2.81) ser˜ao chamadas de ‘outgoing’. Se no contorno, o vetor
S apontar para dentro da hipersuperf´ıcie definida pelo contorno, no su-
perespa¸co, enao tais solu¸oes oscilat´orias (2.81) ser˜ao chamadas de ‘ingoing’.
Agora que temos as defini¸oes de solu¸oes ‘ingoing’ e ‘outgoing’ no con-
torno e as defini¸oes de contornos singulares e ao-singulares podemos fi-
nalmente expor a formula¸ao de Vilenkin para a Condi¸ao de Contorno de
Tunelamento:
“A fun¸ao-de-onda de tunelamento Ψ
T
, ´e uma solu¸ao da
equa¸ao de Wheeler-DeWitt que ´e limitada em todo o su-
perespa¸co, e que consiste somente de componentes ‘outgoing’
em conto r nos singulares do superespa¸co.”
2.8 Minisuperespa¸co 38
Embora haja poss´ıveis ambiguidades na sua defini¸ao e o impedimento
de se usar esta proposta em situa¸oes mais gerais, podemos mostrar que ao
se restringir a minisuperespa¸cos tais condi¸oes da proposta de Tunelamento
ao bastante claras e definem univocamente solu¸oes da equa¸ao de Wheeler-
DeWitt [23], [24], [21].
2.8 Minisuperespa¸co
Vimos anteriormente que a pelo menos uma maneira de calcularmos
a fun¸ao-de-onda da Relatividade Geral Quˆantica Ψ[h
ij
, φ
A
], que ´e atrav´es
da resolu¸ao da equa¸ao de Wheeler-DeWitt (2.72). Esta equa¸ao ´e definida
em uma variedade de dimens˜ao infinita e a esta variedade a-se o nome de
sup erespa¸co. Assim, C. Misner sistematizou, em [28], uma aproximao que
reduz o superespa¸co de dimenao infinita a uma variedade de dimens˜ao finita,
chamada de minisuperespa¸co.
O minisuperespa¸co ´e obtido a partir do superespa¸co por elimina¸ao de
algumas componentes da etrica g
αβ
e simplifica¸oes das componentes res-
tantes. Embora ainda ao esteja claro se essa redu¸ao a minisuperespa¸cos
consiste em uma aproxima¸ao sistem´atica ou a um mecanismo para estudar
certos a spectos isolados da teoria completa, podemos mesmo assim tentar jus-
tific´a-la observando a metodologia de estudo na Relatividade Geral Cl´assica.
Quando estudamos sistemas gravitacionais como a Cosmologia ou Buracos
Negros, usando a Relatividade Geral Cl´assica, come¸camos a considerar os
ansatz mais sim´etricos e simplificados para a m´etricas dos espa¸co-tempos
que representem tais sistemas. Temos a esperan¸ca de entender algumas pro-
priedades desses sistemas atrav´es das solu¸oes das Equa¸oes de Einstein obti-
2.8 Minisuperespa¸co 39
das para esses ansatz. Em Cosmologia, tais simplifica¸oes ao bem aceitas,
e uma boa justificativa ´e o fato de que acredita-se atualmente que em larga
escala o Universo seja aproximadamente homogˆeneo e isotr´opico.
De uma maneira mais precisa, quando a Relatividade Geral est´a escrita no
Formalismo ADM, a redu¸ao para minisuperespa¸cos usualmente envolve as
seguintes simplifica¸oes: na etrica (2.6 ) fazemos a fun¸ao lapso homogˆenea,
N = N(t), e o vetor deslocamento ig ua l a zero, N
i
= 0, de tal forma que
podemos escrever (2.3) como
ds
2
= N
2
(t) dt + h
ij
(x, t) dx
i
dx
j
. (2.83)
Quanto a tri-m´etrica h
ij
(x, t) restringimos esta a ser tamem homogˆenea,
de tal forma que suas componentes passam a ser dadas pelo produto entre
fun¸oes das coordenadas espaciais que ao homogˆeneas e um n´umero finito
de fun¸oes de t, digamos q
α
(t) onde α = 1, 2, . . . , m (m = n´umero aximo
de componentes independentes de h
ij
). Podemos restringir a tri-m´etrica das
seguintes formas:
(a) Como as se¸oes espaciais dos espa¸co-tempos do tipo Robertson-Walker:
h
ij
(x, t) dx
i
dx
j
= a
2
(t) (d
3
)
2
(2.84)
onde (d
3
)
2
´e o elemento de linha da tri-esfera S
3
; e q
α
(t) = a onde α = 1;
(b) Como uma m´etrica de uma hip ersuperf´ıcie, do tipo-espa¸co, homogˆenea
e anisotr´opica, com topologia S
1
× S
2
,
h
ij
(x, t) dx
i
dx
j
= a
2
(t) dr
2
+ b
2
(t) (d
2
)
2
(2.85)
onde (d
2
)
2
´e o elemento de linha de uma superf´ıcie esf´erica bi-dimensional
S
2
, r ´e uma coordenada peri´odica e q
α
(t) = (a, b) onde α = 1, 2;
2.8 Minisuperespa¸co 40
(c) (No caso mais geral) Como uma m´etrica de uma hipersuperf´ıcie, do
tipo-espa¸co, homogˆenea e anisotr´opica, como nas se¸oes espaciais de espa¸co-
tempos do tipo Bianchi
h
ij
(x, t) dx
i
dx
j
= a
2
(t) β
ij
ω
i
ω
j
(2.86)
onde ω
j
ao uma base de 1- formas e q
α
(t) consiste do produto entre a
2
(t) e os
arios componentes da matriz β, os quais descrevem o grau de anisotropia das
se¸oes espaciais (α = n´umero aximo de componentes ao-nulas da matriz
β).
os podemos reescrever, em termos de N(t) e das fun¸oes q
α
(t), todas as
quantidades at´e aqui obtidas e, com isto, obter as quantiza¸oes canˆonicas no
ˆambito dos minisuperespa¸cos. Para isto, comecemos reescrevendo a ao de
Einstein-Hilbert (2.20) mais campos de mat´eria, em sua forma Lagrangeana
no Formalismo ADM. Com as restri¸oes da m´etrica mencionadas acima, a
ao (2.20) fica com a forma geral:
S[q
α
(t), N(t)] =
1
0
dt N
1
2N
2
f
αβ
(q) ˙q
α
˙q
β
U(q)
(2.87)
1
0
dt L (2.88)
onde f
αβ
(q) ´e a m´etrica de DeWitt G
ijkl
reduzida para minisuperespa¸cos; os
limites de integra¸ao em t podem ser sempre feitos igual a 0 e 1, ajustando-
se para isso t e N; as fun¸oes q
α
(t) em (2.87) descrevem ao o os graus de
liberdade gravitacionais, mas tamb´em os graus de liberdade associados aos
campos de mat´eria presentes em (2.20).
A express˜ao (2.87), tem a forma da ao de uma part´ıcula pont ual, re-
lativ´ıstica, movendo-se em um espa¸co curvo, com m (limite superior de α)
dimens˜oes. No t amos aqui um aspecto bastante important e, e que em certo
2.8 Minisuperespa¸co 41
sentido justifica a redu¸ao para minisuperespa¸cos, o problema original bas-
tante complicado de teoria de campos (R elatividade Geral Quˆantica no su-
perespa¸co) foi r eduzido a um problema muito mais simples de Mecˆanica
Quˆantica de part´ıculas (Relatividade Geral Quˆantica no minisuperespa¸co).
Se os variarmos a ao (2.87) em rela¸ao aos q
α
(t), os obtemos as
seguintes equa¸oes de movimento:
d
dt
L
˙q
α
L
q
α
= 0 (2.89)
de onde podemos obter pela substitui¸ao de L dada em (2.88):
1
N
d
dt
˙q
ρ
N
+
1
N
2
Γ
ρ
αβ
˙q
α
˙q
β
+ f
ρλ
U
q
λ
= 0 (2.90)
onde Γ
ρ
αβ
´e o s´ımbolo de Christoffel constru´ıdo a partir da etrica f
αβ
. Se
variarmos agora a ao (2.87) em termos de N obtemos o seguinte v´ınculo:
L
N
= 0 =
1
2N
2
f
αβ
˙q
α
˙q
β
+ U(q). (2.91)
As equa¸oes (2.90) e (2.91) descrevem o movimento de uma part´ıcula
teste no minisuperespa¸co sob a ao de uma for¸ca f
ρλ
U/∂q
λ
.
Por consistˆencia, as equa¸oes (2.90) e (2 .9 1) devem ser equivalentes re-
spectivamente, as component es espacial-espacial (ij) e temporal-temporal
(tt) das equa¸oes de Einstein
R
αβ
1
2
R g
αβ
= 8 π T
αβ
(2.92)
e obviamente as componentes temporal-espacial (0i) de (2.92) devem ser tri-
vialmente satisfeitas para os modelos de minisuperespcos. Esses resultados
ao ao, entretanto, g arantidos par a todos os modelos de minisuperespa¸co.
Isso significa que, se introduzirmos um a nsatz para a etrica do modelo do
minisuperespa¸co na ao, e fizermos as varia¸oes necess´arias dessa ao para
2.8 Minisuperespa¸co 42
obtermos as equa¸oes de movimento, essas equa¸oes ao ao necessariamente
as mesmas obtidas de (2.92) pela substitui¸ao direta desse ansatz em (2.92 ) .
Os minisuperespcos que podemos considerar ser˜ao, enao, somente aqueles
para os quais as equa¸oes de movimentos provenientes da varia¸ao da ao,
ou do uso direto de (2.92) coincidirem.
No Formalismo de minisuperespa¸cos, podemos definir a Hamiltoniana da
maneira usual, introduzindo inicialmente os momenta (p
α
) canonicamente
conjugado as vari´aveis q
α
com a ajuda da Lagrangeana (2.88):
p
α
=
L
˙q
α
= f
αβ
˙q
β
N
. (2.93)
Desta forma a Hamiltoniana canˆonica fica dada por:
H
C
= p
α
˙q
α
L = N
1
2
f
αβ
p
α
p
β
+ U(q)
N H ( 2.94)
onde f
αβ
(q) ´e a inversa da m´etrica f
αβ
(q) do minisuperespco, e notamos
explicitamente a ausˆencia de uma contribui¸ao do tipo N
i
H
i
associado ao
sup ermomentum. Nesse caso reduzido temos, enao, que o ´unico v´ınculo da
teoria ´e a superhamiltoniana, a qual classicamente deve se anular:
H =
1
2
f
αβ
p
α
p
β
+ U(q) = 0. (2.95)
Da teoria escrita em sua forma Hamiltoniana podemos obter diretamente
a quantiza¸ao canˆonica da teoria. Para isso introduzimos uma fun¸ao-de-onda
Ψ(q
α
), que representa o estado da geometria, as rela¸oes de comuta ¸ao entre
as vari´aveis canˆonicas da teoria, e finalmente exigimos que o ´unico v´ınculo
H (2.95), escrito na forma operatorial, na represent a¸ao das coordenadas,
aniquile a fun¸ao-de-onda,
H( q
α
, p
α
i
q
α
) Ψ(q
α
) = 0. (2.96)
2.9 Medida de Probabilidade 43
Se usarmos a proposta de DeWitt para resolver o problema do ordenamento
nos termos que envolvem os momenta p
α
, os poderemos escrever a equa¸ao
de Wheeler-DeWitt (2.96), como ,
1
2
2
Ψ[q
α
] + U(q
α
) Ψ[q
α
] = 0 (2.97)
onde
2
´e o laplaciano na m´etrica do minisup erespa¸co f
αβ
(q
α
).
Vemos enao que podemos reescrever toda a teoria em termos da redu¸ao
para minisuperespa¸cos, e a partir da´ı podemos usar estes modelos bastante
simples para obter r esultados.
Vamos falar um pouco agora sobre como medir probabilidades e inter-
pret´a-las em cosmologia quˆantica.
2.9 Medida de Prob abil i dade
Uma das propostas mais aceitas atualmente para esta defini¸ao de medida
de probabilidade ´e a prop osta baseada na analogia formal entre a equa¸ao de
Klein-Gordon para campos escalares no espa¸co-tempo plano de Minkowski
e a equa¸ao de Wheeler-DeWitt (2.62) para a fun¸ao-de-onda Ψ[h
ij
, φ
A
] no
sup erespa¸co. Uma vez que obtivemos a corrente conservada para o caso da
equa¸ao de Wheeler-DeWitt, podemos agora definir com este
J uma medida
de probabilidade. Para isto, tomemos a equa¸ao de Wheeler-DeWitt (2.62) e
multipliquemos esta por Ψ
[h
ij
, φ
A
], pela esquerda,
Ψ
2
Ψ + Ψ
h
ˆ
R +
ˆ
V
Ψ = 0. (2.98)
Os operadores
ˆ
R e
ˆ
V ao operadores unit´arios, funcionais, reais, de h
ij
e φ
A
. Tomando-se ago ra o complexo conjugado transp osto (
) de (2.62) e
2.9 Medida de Probabilidade 44
multiplicando Ψ pela esquerda teremos:
Ψ
2
Ψ
+ Ψ
h
ˆ
R +
ˆ
V
Ψ
= 0. (2.99)
Sabemos que os operadores
ˆ
R e
ˆ
V dependem exclusivamente de h
ij
e φ
A
.
Ena o ao subtrair a equa¸ao (2.99) da (2.98) obteremos:
Ψ
2
Ψ Ψ
2
Ψ
= 0
·
Ψ
Ψ Ψ
Ψ
= 0. (2.100)
Definiremos agora o vetor entre parˆenteses como sendo proporcional a
uma corrente
J, o qual percebemos que ´e conservado no superespco:
J =
i
2
Ψ
Ψ Ψ
Ψ
; (2.101)
·
J = 0. (2.102)
Esta corrente
J (2.101) ´e an´alo ga aquela encontrada a partir da equa¸ao de
Klein-Gordon.
A medida de probabilidade pode ser definida `a partir da corrent e conser-
vada
J como sendo dada pelo fluxo de
J atrav´es das hipersuperf´ıcies do su-
perespa¸co. Para tal,
J deve interceptar tais hipersuperf´ıcies no superespa¸co
apenas uma ´unica vez. Para o caso da equa¸ao de Klein-Gordon ao pre-
cisamos nos preocupar com isto pois a densidade de probabilidade ρ ´e escol-
hida como a coordenada temporal da corrente
j. Ainda no caso da equa¸ao de
Klein-Gordon precisamos lembrar que as superf´ıcies no superespa¸co sobre as
quais estamos integrando ρ ao hipersuperf´ıcies Σ
E
do tipo-espa¸co, ou seja, a
t constante. Isto significa que j
0
jamais cruzar´a as hipersuperf´ıcies Σ
E
’s mais
de uma vez. Assim, com o aux´ılio destas hipersuperf´ıcies no superespa¸co
poderemos definir a probabilidade de se encontrar o sistema gravitacional
2.9 Medida de Probabilidade 45
em uma certa regi˜ao infinitesimal do superespa¸co como sendo:
dP =
J · d
Σ (2.103)
em que d
Σ ´e o hipervolume orientado da regi˜ao infinitesimal considerada no
sup erespa¸co.
A vantagem desta medida de probabilidade ´e que ela se mostra invariante
perante transforma¸oes da m´etrica que envolvam transforma¸oes expl´ıcitas
da fun¸ao lapso N [21]. Em compensa¸ao, a defini¸ao de medida de proba-
bilidade (2.10 3) apresenta algumas desvantagens como, por exemplo, o fato
de esta ao ser positivo definida. Isto invibializa sua interpreta¸ao como uma
medida de probabilidade. Outro problema que surge ´e que para o caso geral
nem sempre ´e poss´ıvel se fazer uma folhea¸ao global do superespa¸co com
hipersuperf´ıcies tais que estas sejam cortadas uma ´unica vez pelo vetor
J de
um dado sistema gravitacional.
a para o caso em que se faz simplifica¸oes da m´etrica, ou seja, no caso em
que se trabalha apenas no minisuperespa¸co, mas num regime WKB, ´e poss´ıvel
construir tais hipersuperf´ıcies que sejam cortadas por
J uma ´unica vez. Mais
do que isto, no caso de minisuperespcos a medida de probabilidade (2.103)
constru´ıda a partir de tais hipersuperf´ıcies poder´a ser positivo definida.
Infelizmente, devemos salientar que tal defini¸ao de medida de proba-
bilidade ao ´e renormaliz´avel, o que significa que se escolhermos uma das
hipersuperf´ıcies Ξ do superespa¸co e calcularmos a probabilidade de se en-
contr ar o sistema em qualquer uma das configura¸oes de Ξ (integrando nas
hipersuperf´ıcies) apropriadas os encontra r emos um resultado infinito.
Portanto, o podemos calcular probabilidades condicionais com esta de-
fini¸ao de probabilidade (2.103). Isto significa que ao poderemos efetuar
alculos de probabilidades sobre todo o espa¸co mas apenas sobre regi˜oes. Por
2.10 Interpreta¸ao de muitos mundos 46
exemplo: dado que o universo come¸ca em uma regi˜ao finita S
1
de Ξ, qual a
probabilidade de que ele a come¸car na regi˜ao S
0
contida em S
1
? Calculada
em termos de (2.103) ter´ıamos como resposta a esta pergunta a seguinte
probabilidade:
P
S
0
S
1
=
S
0
J · d
Σ
S
1
J · d
Σ
. (2.104)
As integrais que aparecem em (2.10 4) ao finitas pois os dom´ınios de
int egra ¸ao S
0
e S
1
ao finitos. Al´em disto, o integrando em geral ´e limitado
nesses dom´ınios.
2.10 Int erpreta¸ao de muitos mundos
Agora que j´a temos como efetuar medidas de probabilidade, ´e interessante
que interpretemos os resultados obtidos dessas medidas. A primeira abor-
dagem ´e usar a interpreta¸ao de Copenhaguem (IC), mas infelizmente ela
apresenta problemas conceituais que inviabilizam o seu uso na relatividade
geral quˆantica (RGQ). Isso nos motiva a buscar uma interpreta¸ao mais geral
que pudesse ser usada tanto em situa¸oes usuais quanto em situa¸oes relativa s
a cosmologia quˆantica (CQ).
Vamos apresentar o primeiro motivo que inviabiliza o uso da IC na cos-
mologia quˆantica. Suponha que para um dado modelo encontramos que o Uni-
verso tem a probabilidade de 8 0% de assumir um certo estado E. Segundo a
int erpreta¸ao estat´ıstica da IC temos que se a experiˆencia for repetida muitas
vezes, em 80% dos casos o Universo possuir´a o estado E. O problema consiste
essencialmente em como repetir a experiˆencia, ou seja, consiste no fa t o de
estarmos tratando com uma situa¸ao de um ´unico evento que ao pode ser
repetido, como por exemplo, o surgimento do Universo.
2.10 Interpreta¸ao de muitos mundos 47
O segundo problema da IC em CQ surge quando percebemos que devi-
do ao fato do sistema em investiga¸ao ser o Universo, que por defini¸ao ´e a
totalidade das coisas, ao existe possibilidade de haver um observador ex-
terno fazendo medidas do sistema. Esses problemas conceituais motivaram os
pesquisadores a buscar uma proposta de interpreta¸ao da meanica quˆantica
de sistemas fechados e o resultado foi a denominada interpreta¸ao de muitos
mundos (IMM) [16].
Na IMM existe o cuidado de descrever quanticamente o “sistema f´ısico”e
o “observador”(ou o a par elho de medidas). Isso a torna mais apropriada do
que a IC para estudar sistemas fechados, pois trata em igualdade o “sistema
f´ısico”e o “ observador”. Vamos discutir um pouco sobre a IMM.
Seja {|S >} uma base ortonomal de vetores que descreve os poss´ıveis esta-
dos do “ sistema f´ısico”e que al´em disso, ao autovetores de um observ´avel do
“sistema f´ısico”cujos autovalores formam o conjunto {s}. Fazendo o mesmo
para o “observador”teremos os a utovetores { |O >}, de um certo observ´avel
do “observador”com autovalores {o}. Se definirmos que o universo ´e compo sto
pelo “sistema f´ısico”e o “observador”, uma base de vetores ortonormais para
o universo ser´a dada pelo conjunto de vetores formados pelo produto direto
dos vetores dos conjuntos {|S >} e {|O >}. Um elemento t´ıpico dessa base
´e dado por
|S, O >= |S > |O > . (2.105)
Por simplicidade vamos considerar o conjunto dos autovalores do ob-
serv´avel do “sistema f´ısico”s, discreto e o conjunto dos autovalores do ob-
serv´avel do “observador”o cont´ınuo. Desta forma, as condi¸oes de ortonor-
malidade e completeza para a base universal ao dadas resp ectivamente por:
2.10 Interpreta¸ao de muitos mundos 48
< S, O|S
, O
>= δ
ss
δ(o o
); (2.106)
s
|S, A >< S, A|dA = 1. (2.107)
Vamos assumir que o estado do universo em um instante inicial ´e repre-
sentado pelo vetor
|Ψ
0
>= |Ψ > |Φ > (2.108)
onde |Ψ > ´e um vetor do espa¸co de Hilbert do “sistema f´ısico”e |Φ > ´e
um vetor do espa¸co de Hilbert do “observador”. Neste estado ao existe
correla¸ao entre “sistema f´ısico”e o “observador”. O papel do “observador”´e
fazer uma medida sobre o estado do “sistema f´ısico”. Desta forma o “ sistema
f´ısico”e o “observador ”devem se acoplar durante um certo intervalo de tempo
ou interagir, de tal forma que o estado universal inicial ser´a modificado.
Vamos supor que essa intera¸ao ou medida de um estado do “sistema
f´ısico”pelo “observador”´e representada por um operador unit´ario U, que pos-
sui as seguintes pro priedades:
quando U ´e aplicado a um estado |S, O > do universo, ele ao modifica
o estado do “sistema f´ısico”;
quando U ´e aplicado a um estado |S, O > do universo, mede o estado
do “sistema f´ısico”atrav´es de modifica¸oes do estado do “observador”.
O novo estado do “observador”ir´a depender do seu estado antes da
medida, do acoplamento entre o “sistema f´ısico”e o “observa do r”du-
rante a medida, e do estado do “observador”.
2.10 Interpreta¸ao de muitos mundos 49
Pode-se representar essa medida por
U|S, O >= |S, O + gS >= |S > |O + gS > (2.109)
onde g ´e a constante de acoplamento entre “sistema f´ısico”e o “observador”du-
rante a medida.
Podemos interpretar essa intera¸ao afirmando que o “o bservador”mediu
o valor s para o observ´avel do “sistema f´ısico”e armazenou essa informa¸ao ,
uma vez que o vetor de estado sofreu uma modifica¸ao permanente de |O >
para |O + gS >. D evemos ressaltar que essa intera¸ao ou medida que consi-
deramos ´e um elemento de um conjunto mais geral de int era¸oes, que:
ao mant´em o autovalor do observ´avel “sistema f´ısico”inalterado;
O estado final do observador tem uma dependˆencia em O, g e S mais
complicada do que em (2.109).
Apesar dessa medida que iremos utilizar ser uma caso especial e sua
escolha ter sido feita com o objetivo de simplificar o tratamento do problema,
pode-se mostrar que existem Hamiltonianas que representam esse tipo de
acoplamento [29] .
Usando enao a medida representada por U, temos que o estado inicial do
universo |Ψ
0
> (2.108) deve ser modificada (pela ao de U) para um estado
final |Ψ
f
>:
|Ψ
f
>= U|Ψ
0
> . (2.110)
Desta forma, podemos avaliar, com a ajuda de (2 .1 06), (2.107), (2.109) e
da forma expl´ıcita de |Ψ
0
> (2.108), o resultado de uma medida do “obser-
vador”sobre o “sistema f´ısico”para o estado universal inicial considerado:
2.10 Interpreta¸ao de muitos mundos 50
|Ψ
f
>= U|Ψ > |Φ > = U
S
|S >< S|Ψ >
dO|O >< O|Φ >
.
|Ψ
f
>= U
S
C
S
|S >
dOΦ(O)|O >
|Ψ
f
>=
S
C
S
|S >
dOΦ(O)U|O >
|Ψ
f
>=
S
C
S
|S >
dOΦ(O)|O + gS >
|Ψ
f
>=
S
C
S
|S > |Φ(S) > (2.111)
onde definimos:
C
S
=< S|Ψ >, |Φ(S) >=
dOΦ(O)|O + gS > e Φ(O) =< O|Φ >.
No que se segue va mos supor que < Ψ|Ψ >= 1 e < Φ|Φ >= 1, o que
implica que:
w
S
= |C
S
|
2
(2.112)
satisfaz
S
w
S
= 1. (2.113)
Observando a express˜ao para o estado universal final (2.111), vemos que
esta ao representa o observ´avel do “sistema f´ısico”tendo um ´unico valor. Na
verdade, (2 .1 11) representa uma combina¸ao linear de vetores |S > |Φ(S) >,
cada um dos quais representa o o bserv´avel do “sistema f´ısico”tendo assumido
um dos seus valores poss´ıveis e o “observador”tendo medido este valo r . Para
Formalismo ADM 51
cada estado do “sistema f´ısico”|S >, existe um estado correspondente do
“observador”| Φ(S) >. Chegamos, agora, ao moment o em que a IMM ir´a
diferir da interpreta¸ao de Copenhaguen.
A IC nos informa que a fun¸ao-de-onda colapsa imediatamente a p´o s a
medida. Ao inv´es de ser formada por uma combina¸ao linear de vetores in-
dividuais ela se reduz a um ´unico vetor. Assim, no presente caso, a fun¸ao-
de-onda |Ψ
f
> ´e reduzida a um ´unico elemento | S > |Φ(S) > da combinao
linear ( 2.111). Uma vez que ao se sabe para qual elemento da combina¸ao
linear ela foi reduzida, atribui-se uma distribui¸ao de probabilidades para os
resultados poss´ıveis com os pesos (2.112) associados a cada um deles.
A IMM nos informa que a fun¸ao-de-onda nunca colapsa. Cada elemento
da combina¸ao linear (2.111), t em uma “realidade”pr´opria e independente.
A fun¸ao-de-onda universal se divide irreversivelmente em tantos ramos di-
ferentes quanto o n´umero de autovetores do observ´avel “sistema f´ısico”que
usamos para descrever |Ψ
f
>. Nenhuma medida o u processo f´ısico realizado
em um dos ramos poder´a ser detectado nos demais ramos, ou seja, eles ao
incomunic´aveis. A quantidade (2 .1 12) a uma medida da probabilidade do
“observador” ter medido um dos poss´ıveis autovalores do observ´avel do “sis-
tema f´ısico”.
A aplicabilidade da IMM para cosmologia quˆant ica pode ser claramente
percebida quando notamos que esta interpreta¸ao tr ata o “sistema f´ısico”e
o “observador”em igualdade de condi¸oes. Ambos ao descritos por estados
quˆanticos e a composi¸ao dos dois resulta no espa¸co de Hilbert universal que
nessa interpreta¸ao iremos descrever. Assim , se identificarmos o Universo
com a fun¸ao-de-onda universal e usarmos a interpreta¸ao probabil´ıstica dada
anteriormente, vemos a relevˆancia da IMM para a cosmologia quˆantica.
Cap´ıtulo 3
M´etodos Num´er icos e
Aproximati vos
3.1 Introdu¸ao
Nesse trabalho fo i necess´ario resolver uma equa¸ao diferencial parcial
(EDP) tipo Schr¨odinger. Essa EDP ao possui solu¸ao anal´ıtica conhecida.
Dessa forma, foi necess´ario recorrer ao emprego de m´etodos num´ericos para
resolvˆe-la e como sua solu¸ao ´e num´erica, todas as grandezas calculadas a
partir dela tamb´em demandam o uso de etodos num´ericos.
Nessa se¸ao descreveremos de maneira breve os m´etodos num´ericos que
foram usados nesse trabalho. Al´em disso, falaremos um pouco sobre o etodo
WKB, um etodo aproximado para resolver a equa¸ao de Schodinger. O
nosso intuito ´e comparar os resultados obtidos com o m´etodo WKB e a
solu¸ao num´erica exata que obtivemos.
3.2 Interpola¸c˜ao 53
3.2 Inte r pola¸ao
3.2.1 Introdu¸ao
A interpola¸ao ´e utilizada em casos onde ´e dif´ıcil calcular o valor da
fun¸ao em um ponto do dom´ınio ou ainda quando dispomos de um conjunto
de valores que em geral ao o btidos atrav´es de experimentos. Nesses casos,
ao temos a express˜ao anal´ıtica da fun¸ao [30]. Podemos definir o problema
da interpola¸ao da seguinte forma [31], [32]:
Defini¸c˜ao 3.2.1 S endo conhecidos os dados (x
i
, y
i
), i {0, 1, . . . , n} cor-
respondentes aos valores de argumen tos e valores de uma fun¸ao f, de modo
que y = f(x). Deseja-se ob ter os valo res f(¯x), ¯x = x
i
utilizando-se os pontos
dados.
O objetivo da interpola¸c ˜ao ´e obter o valor aproximado de f (¯x). Para isso
vamos construir, a partir dos dados, uma n ova fun¸ao φ que interpola a f ,
tal que:
1. (x
i
, x
0
x
i
x
n
) [φ(x
i
) = f(x
i
)]
2. (x [x
0
, x
n
]) [φ(x
i
)
=
f(x
i
)]
A fun¸ao φ que interpola f pode pertencer a uma das seguintes fam´ılias:
P: polinˆomios : y = a
0
x
n
+ a
1
x
n1
+ ···+ a
n1
x + a
n
F: Fourier : f
i
(x) = a
i
cos(i x) + b
i
sen(i x)
E: exponenciais : y = a exp(bx)
S: splines : peda¸cos de polinˆomios
3.2 Interpola¸c˜ao 54
Vamos abordar o problema da interpola¸ao no contexto de valores tabela-
dos. Nesse caso, a fun¸ao f pode ser dada atr av´es de uma tabela correspon-
dente aos valores da f un¸ao para um n´umero limitado de va lores x, como o
exemplo a seguir, mostrado na tabela 3.1 .
x
0
x
1
x
2
. . . x
n
y
0
y
1
y
2
. . . y
n
Tabela 3.1: Valores tabelados da fun¸ao f (x)
Admitindo que os valores tabelados foram obtidos com grande precis˜ao (
isto ´e, todas a s casas ao confi´aveis), ´e poss´ıvel obter o valor da fun¸ao em
pontos que ao est˜ao na tabela.
Assim, a partir de uma tabela com valores de uma fun¸ao f, onde y =
f(x), com n pontos, deve-se escolher n fun¸oes f
i
, i {0, 1, . . . , n} cuja com-
bina¸ao ser´a usada como aproxima¸ao da fun¸ao dada, conforme a equa¸ao
(3.1).
f(x)
=
c
0
f
0
(x) + c
1
f
1
(x) + ···+ c
n
f
n
(x) = φ(x). (3.1)
As fun¸oes f
i
ao conhecidas e escolhidas conforme a natureza do pro-
blema que est´a tabelado. O que desejamos calcular ao as constantes c
i
.
Conforme o item (1) da defini¸ao de interpola¸ao que apresentamos, temos
que a aproxima¸ao φ(x) deve coincidir com f(x) nos pontos fornecidos na
tabela [31]. Isso nos fornece o sistema:
c
0
f
0
(x
1
) + c
1
f
1
(x
1
) + ··· + c
n
f
n
(x
1
) = y
1
c
0
f
0
(x
2
) + c
1
f
1
(x
2
) + ··· + c
n
f
n
(x
2
) = y
2
.
.
.
c
0
f
0
(x
n
) + c
1
f
1
(x
n
) + ··· + c
n
f
n
(x
n
) = y
n
.
(3.2)
3.2 Interpola¸c˜ao 55
Esse sistema ´e linear e pode ser resolvido com as t´ecnicas apropriadas
[36]. A escolha das f
i
influi muito no alculo do valor aproximado de f(
x),
onde
x ao ´e tabelado. Quando ao a uma id´eia sobre a forma anal´ıtica da
f
i
, podemos escolher f
i
tal que:
f
i
(x) = x
i
(3.3)
e com isso, a fun¸ao φ que interpola a f ser´a um polinˆomio.
3.2.2 Interpola¸ao Polinomial
Os polinˆomios constituem a classe de fun¸oes mais usada na int erpola¸ao,
pois ao aceis de derivar, integrar e calcular. Pode-se usar arios tipos de
polinˆomios em interpola¸ao polinomial. Mostraremos os mais comuns.
Interpola¸ao Linear
A interpola¸ao linear constitui em passar segmentos de reta (polinˆomios
de grau 1). A figura (3.1) ilustra essa situa¸ao.
Temos ent˜ao que f(x
1
) = a
0
+ a
1
x, que passar´a por x
1
e x
2
, ou seja,
f
i
passando por x
i
e x
i+1
. Seja f
i
= a
i1
+ a
i
x
i
, com i {1, . . . , n 1}.
Queremos que f
i
(x
i
) = f
i
(x
i+1
). Trabalhando com essas restri¸oes, obtemos:
a
i
=
x
i+1
.f(x
i
) x
i
.f(x
i+1
)
x
i+1
x
i
; (3.4)
a
i+1
=
f(x
i+1
) f(x
i
)
x
i+1
x
i
. (3.5)
3.2 Interpola¸c˜ao 56
A desvantagem desse m´etodo ´e que a fun¸ao φ resultante ao possui derivada
cont´ınua em todos os pontos[31].
Figura 3.1: Interpola¸ao Linear
Interpola¸ao quadr´atica
A interpola¸ao quadr´atica consiste em passar um polinˆomio do segundo
grau atrav´es de trˆes pontos: x
i=1
, x
i
e x
i+1
, onde f
i
(x) ´e dada por:
f
i
(x) = p
2
(x) = a
0
+ a
1
x + a
2
x
2
. (3.6)
Deve- se enao resolver o sistema:
a
0
+ a
1
x
i1
+ a
2
(x
i1
)
2
= y
i1
a
0
+ a
1
x
i
+ a
2
(x
i
)
2
= y
i
a
0
+ a
1
x
i+1
+ a
2
(x
i+1
)
2
= y
i+1
.
(3.7)
3.2 Interpola¸c˜ao 57
Podemos provar que para f
i
(x) = x
i
o sistema (3.2) tem solu¸ao ´unica, o
que mostaremos a seguir [31], [32]. Escrevendo (3.2) na forma matricial para
a interpola¸ao quadr´atica, temos:
Xa = y
onde:
X =
1 x
0
x
0
2
. . . x
0
n
1 x
1
x
1
2
. . . x
1
n
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
1 x
n
x
n
2
. . . x
n
n
a =
a
0
a
1
.
.
.
a
n
y =
y
0
y
1
.
.
.
y
n
Com isso, p(x) = a
0
+ a
1
x + a
2
x
2
+ ···+ a
n
x
n
, de modo que p(x
i
) = y
i
.
Eis a prova da unicidade:
Teorema 3.2.1 O sistema Xa = y tem ´unica solu¸ao.
Prova:
Por absurdo, suponhamos que Xa = y ao tenha solu¸ao ´unica. Ent˜ao
detX = 0 e o sistema Xa = 0 adm i te solu¸oes ao nulas. Seja ¯a = {¯a
0
, ¯a
1
, . . . , ¯a
n
}
uma dessas solu¸oes com pelo men os uma compone nte a
i
= 0, i { 0, . . . , n}.
Seja q(x) o polinˆomi o dado por:
q(x) = ¯a
0
+ ¯a
1
x + ··· + ¯a
n
x
n
.
3.2 Interpola¸c˜ao 58
Este polinˆomio ao ´e identicamente nulo e tem grau menor ou igual a n.
Por outro lado, q(x
i
) = 0, 0 i n; da´ı q tem n + 1 ra´ızes distintas, o que ´e
um absurdo pelo teorema fundamental da
´
Algebra. Logo X¯a = ¯y tem solu¸ao
´unica.
Interpola¸ao pelos polinˆomios de Lagrange
Podemos determinar mais facilmente o polinˆomio interpolador sem re-
solver o sistema (3.2) utilizando os polinˆomios de Lagrange [31].
Defini¸c˜ao 3.2.2 As fun¸oes:
L
k
(x) =
n
i=0,k=i
x x
i
x
k
x
i
=
=
(x x
0
)(x x
1
) . . . (x x
k1
)(x x
k+1
) . . . (x x
n
)
(x
k
x
0
)(x
k
x
1
) . . . (x
k
x
k1
)(x
k
x
k+1
) . . . (x
k
x
n
)
(3.8)
ao polin ˆomios de Lagrange.
Teorema 3.2.2 Propriedades do Polinˆomio de Lagrange:
1. L
k
(x) P
n
. Ou seja, L
k
(x) ´e um polinˆomio de grau n.
2. L
k
(x
i
) =
1 se k = i
0 se k = i
´
E acil ver que, se x = x
i
, i {0, . . . , n}, ent˜ao L
k
(x) ´e um polinˆomio de
grau n. Caso cont r´ario, teremos um polinˆomio de grau menor que n.
Teorema 3.2.3 O po l i nˆomi o de grau n o u menor, que interpola os pontos
(x
0
, y
0
), (x
1
, y
1
), . . . , ( x
n
, y
n
), ´e dado por:
p(x) = y
0
L
0
(x) + y
1
L
1
(x) + ··· + y
n
L
n
(x) (3.9)
3.2 Interpola¸c˜ao 59
ou
p(x) =
n
i=0
f(x
i
).
n
j=0,j=i
x x
j
x
i
x
j
.
(3.10)
Teorema 3.2.4 Erro de truncamento
Seja p(x) um pol i nˆomi o (´unico) de grau n que satisfaz a cond i¸ao p(x
i
) =
f
i
, 0 i n, onde f
i
= f (x
i
) = y
i
e f ´e uma fun¸ao definid a no intervalo
[a, b] que con t´em os diferentes n + 1 pontos x
i
. Se f ´e (n + 1) vezes continu-
amente diferenci´avel em [a, b], ent˜ao para ¯x [a, b] o erro de truncamento ´e
dado por:
E
T
(¯x) = f (¯x) p(¯x) =
f
(n+1)
(ζ)
(n + 1)!
(¯x x
0
). (¯x x
1
). . . . .(¯x x
n
).
Interpola¸ao por splines c´ubicos
Uma das grandes dificuldades com a interpola¸ao lagrangiana ´e que para
polinˆomios de baixo grau o erro de t runcamento pode ser grande e para
polinˆomios de gra us mais alto s tamb´em poder´a haver arios erros.
Em certas aplica¸oes em que a fun¸ao interpolante precisa ser diferenciada
´e importante obter uma aproxima¸ao ao suave quant o poss´ıvel. Uma f orma
de obter est´a aproxima¸ao ´e atrav´es dos splines c´ubicos [31], [33].
Defini¸c˜ao 3.2.3 S ejam x
1
, x
2
, . . . , x
n
pontos distintos com a = x
1
< x
2
<
··· < x
n
= b e sejam f
1
, f
2
, . . . , f
n
os valores da fun¸ao f nestes pontos. O
spline c´ubico que interpola estes dados ´e a fun¸ao s definida em [a, b] q ue
tem as seguintes proprieda des [30], [31]:
1. s(x
i
) = f
i
, 1 i n ou f
i
= y
i
.
3.2 Interpola¸c˜ao 60
2. s(x) , s
(x) e s
′′
(x) ao cont´ınuas em [a, b].
3. Em cada subintervalo [x
i
, x
i+1
], 1 i n 1, s(x) ´e um polinˆomio
ubico.
Dedu¸c˜ao da ormula dos splines
Desde que s(x) ´e um polinˆomio c´ubico em cada subintervalo [x
i
, x
i+1
],
vamos indic´a-lo por p
i
(x). Vejamos a figura (3.2)
Figura 3.2: Polinˆomios Interpoladores
Da´ı temos (pela pro priedade 3) que p
′′
j
(x) ´e linear (reta) e, como desejamos
que a varia¸ao do raio de curvatura seja cont´ınua nos pontos bases, em cada
ponto x
i
a segunda derivada do polinˆomio anterior ´e igual `a do polinˆomio
posterior, temos:
3.2 Interpola¸c˜ao 61
p
′′
i
(x
i
) = p
′′
i1
(x
i
); (3.11)
p
i
(x
i
) = p
i1
(x
i
). (3.12)
Da´ı p
′′
i
(x) deve passar nos pontos (x
i+1
, φ
i+1
) e (x
i
, φ
i
); assim, temos o
esquema da figura (3.3),
Figura 3.3: Dedu¸ao de P
′′
i
(x)
onde
φ
i
= p
′′
i
(x
i
) = p
′′
i1
(x
i
) e h
i
= x
i+1
x
i
.
Logo, a ormula para p
′′
i
(x
i
) ´e dada por:
3.2 Interpola¸c˜ao 62
p
′′
i
(x
i
) = φ
i
+
(φ
i+1
φ
i
)(x x
i
)
h
i
Ap´os algumas manipula¸oes alg´ebricas, temos:
p
′′
i
(x) =
φ
i
(x
i+1
x)
h
i
+
φ
i+1
(x x
i
)
h
i
.
Integra ndo p
′′
i
(x), temos:
p
i
=
φ
i
(x
i+1
x)
2
2h
i
+ c
i
+
φ
i+1
(x x
i
)
2
2h
i
+ d
i
onde c
i
e d
i
ao constantes de integra¸ao.
Integra ndo novamente, temos:
p
i
=
φ
i
(x
i+1
x)
3
6h
i
+
φ
i+1
(x x
i
)
3
6h
i
+ c
i
(x x
i
) + d
i
(x
i+1
x).
Substituindo x por x
i
, temos:
p
i
(x
i
) =
φ
i
6
h
i
2
+ d
i
h
i
e
p
i
(x
i+1
) =
φ
i+1
6h
i
(x
i+1
x
i
)
3
+ c
i
(x
i+1
x
i
).
Como p
i
(x
i
) = y
i
e p
i
(x
i+1
) = y
i+1
, temos que:
d
i
=
y
i
h
i
h
i
φ
i
6
e
c
i
=
y
i+1
h
i
h
i
φ
i+1
6
.
3.2 Interpola¸c˜ao 63
Logo:
p
i
(x) =
φ
i
6h
i
(x
i+1
x)
3
+
φ
i+1
6h
i
(x x
i
)
3
+
y
i+1
h
i
h
i
φ
i+1
6
(x x
i
) +(3.13)
y
i
h
i
h
i
φ
i
6
(x
i+1
x
i
), 1 i n.
Diferenciando p
i
(x), obtemos:
p
i
(x) =
φ
i
2h
i
(x
i+1
x)
2
h
i
φ
i+1
6
+
y
i+1
h
i
y
i
h
i
+
h
i
φ
i
6
+
φ
i+1
2h
i
(x x
i
)
2
.
Calculando p
i
(x
i
) e p
i1
(x
i
) e usando as igualdades (3.11) e (3.12), obte-
mos:
h
i1
φ
i1
+ 2 (h
i
+ h
i1
)φ
i
+ h
i
φ
i+1
= 6
y
i+1
y
i
h
i
y
i
y
i1
h
i1
(3.14)
para 2 i n 1.
Logo, temos n 2 equa¸oes e n inc´ognitas: φ
1
, . . . , φ
n
. No entanto, por
(3.14) temos: s
′′
(x
0
) = s
′′
(x
n
) = φ
1
= φ
n
= 0. Enao o sistema dado por
(3.14) ´e determinado da seguinte forma:
i = 2 h
1
φ
1

=0
+2(h
2
+ h
1
)φ
2
+ h
2
φ
3
= 6
y
3
y
2
h
2
y
2
y
1
h
1
i = 3 3h
2
φ
2
+ 2 (h
3
+ h
2
)φ
3
+ h
3
φ
4
= 6
y
4
y
3
h
3
y
3
y
2
h
2
.
E assim por diante at´e i = n 1:
h
n2
φ
n2
+ 2 (h
n1
+ h
n2
)φ
n1
= 6
y
n
y
n1
h
n1
y
n1
y
n2
h
n2
.
3.2 Interpola¸c˜ao 64
Se chamarmos de:
b
i
= 6
y
i+1
y
i
h
i
teremos o sistema na seguinte forma tridiagonal:
2(h
2
+ h
1
) h
2
h
2
2(h
2
+ h
3
) h
3
h
3
2(h
3
+ h
4
) h
4
.
.
.
h
n2
2(h
n2
+ h
n1
)
φ
2
φ
3
φ
4
.
.
.
φ
n1
=
b
2
b
1
b
3
b
2
b
4
b
3
.
.
.
b
n1
b
n2
Calcula-se φ
2
, φ
n1
por Gauss e substituem-se tais valores na ormula
(3.14). Como o sistema ´e tridiagonal, podemos resolvˆe-lo recursivamente, da
seguinte forma:
c
2
= 2(h
1
+ h
2
);
c
i
= 2(h
i1
+ h
i
)
h
i1
2
c
i1
3 i n 1;
d
2
= b
2
b
1
;
d
i
= (b
i
+ b
i1
)
h
i1
.d
i1
c
i1
3 i n 1.
Os φ
i
ao calculados da seguinte forma:
φ
n1
=
d
n1
c
n1
;
φ
i
=
d
i
h
i
φ
i+1
c
i
n 2 i 2.
3.3 Integra¸ao Num´erica 65
Os polinˆomios ao assim obtidos:
p
i
(x) = y
i
+ α
i
(x x
i
) + β
i
(x x
i
)
2
+ γ
i
(x x
i
)
3
onde:
α
i
=
y
i+1
y
i
h
i
φ
i+1
h
i
6
φ
i
h
i
3
;
β
i
=
φ
i
2
;
γ
i
=
φ
i+1
φ
i
6h
i
.
3.3 Inte gra¸c˜ao Num´erica
3.3.1 Introdu¸ao
A partir do alculo diferencial e integral sabe-se que, dada uma fun¸ao
f(x) cont´ınua em um interva lo [a, b], tem-se:
b
a
f(x)dx = F (b) F (a), (3.15)
onde F
(x) = f(x). Graficamente a int erpreta¸ao da integral ´e a ´area sob o
gr´afico da fun¸ao, como sugerido na figura (3.4).
3.3 Integra¸ao Num´erica 66
Figura 3.4:
´
Area sob uma curva
Em muitas situa¸oes pode ser dif´ıcil ou mesmo imposs´ıvel a obten¸ao
de F (x). Tamb´em podem existir aplica¸oes em que a fun¸ao f(x) ´e conhe-
cida apenas para valores t abelados em um intervalo [a, b]. Nestas situa¸oes
fica inviabilizada a solu¸ao da integral. A sa´ıda ´e a utiliza¸ao de m´etodos
num´ericos. A id´eia asica da integra¸ao num´erica ´e substituir a f un¸ao f(x)
por um polinˆomio que a aproxime razoavelmente no intervalo [a, b] e integrar
o polinˆomio, ou seja:
b
a
f(x)dx =
b
a
P
n
(x)dx = A
0
f(x
0
) + A
1
f(x
1
) + ··· + A
n
f(x
n
),
onde x
i
[a, b], i = 1, . . . , n.
3.3.2 ormulas de Newton-Cotes
A fun¸ao f(x) ´e aproximada por um polinˆomio interpolador gerado a
partir da ormula de Gregory-Newton par a pontos igualmente espa¸cados no
3.3 Integra¸ao Num´erica 67
int ervalo [a, b]. As ormulas de Newton-Cotes variam de acordo com o grau
do polinˆomio interpolador, como segue [30], [33], [38]. Para ver uma apida
descri¸ao da ormula de Gregory-Newton, por favor consulte o apˆendice B.
Regra dos Trap´ezios
Nesta regra, a fun¸ao a ser integrada ser´a aproximada por um polinˆomio
int erpolador de ordem 1. Portanto, necessita-se de dois pontos para a inter-
pola¸ao [37], ou seja, [x
0
, x
1
] = [a, b]. Tem-se a express˜ao:
A =
b
a
f(x)dx
b
a
P
1
dx.
A partir da f ´ormula de Gregory-Newton, tem-se:
P
1
(x) = f (x
0
) +
(x x
0
)
h
f(x
0
),
onde h ´e dado por (b a).
Resultando em:
A =
b
a
f(x)dx
b
a
P
1
dx =
x
1
x
0
f(x
0
) +
(x x
0
)
h
f(x
0
)
dx.
Para facilitar esta integra¸ao, faz-se uma mudan¸ca de vari´aveis:
y
0
= f(x
0
); (3.16)
z =
(x x
0
)
h
; (3.17)
3.3 Integra¸ao Num´erica 68
y
0
= f( x
0
) = f(x
1
) f(x
0
). (3.18)
Resultando em:
A
b
a
[y
0
+ zy
0
] dx.
Como z =
(xx
0
)
h
e derivando em rela¸ao a x, tem:
dz
dx
=
1
h
dx = hdz.
Mudando os limites de integra¸ao:
a = x
0
z =
(x
0
x
0
)
h
= 0;
b = x
1
z =
(x
1
x
0
)
h
=
h
h
= 1,
temos:
A
1
0
[y
0
+ zy
0
] hdz (3.19)
Integra ndo a express˜ao (3 .19), tem-se:
A
1
0
[y
0
+ zy
0
] hdz = h
zy
0
+
z
2
2
y
0
1
0
= h
y
0
+
y
0
2
. (3.20)
Substituindo as express˜o es (3.16) e (3.18) em (3.20) [37], tem-se:
A =
b
a
f(x)dx h
f(x
0
) +
f(x
1
) f(x
0
)
2
=
h
2
[f(x
0
) + f(x
1
)] . (3.21)
A express˜ao (3.21) pode ser interpretada graficamente:
3.3 Integra¸ao Num´erica 69
Figura 3.5: Polinˆomio de primeiro grau
Observe que a ´area marcada representa um trap´ezio. A integral ´e aproxi-
mada pela ´area do trap´ezio [36]:
(BaseMenor + BaseMaior).Altura
2
=
h
2
[f(x
0
) + f(x
1
)] .
O erro cometido pela integra¸ao pela Regra do Trap´ezio ´e dado pela
express˜ao (3.22). Este erro pode ser chamado de erro de truncamento, pois
se t runcou a ordem do polinˆomio interpolador em 1:
E
T
=
h
3
12
f
′′
(c) c [x
0
, x
1
]. (3.22)
Como o ponto c a o ´e um ponto conhecido, a express˜ao (3.22) pode ser
aproximada pela express˜ao ( 3.23).
E
t
|
h
3
12
.max |f
′′
(x)| x [x
0
, x
1
]. (3.23)
3.3 Integra¸ao Num´erica 70
Regra do Trap´ezio - ormula Composta
A aproxima¸ao da integral pela Regra do Trap´ezio pode ser po uco precisa.
Para melhorar o resultado, pode-se subdividir o intervalo [a, b] de integra¸ao
em n subintervalos de amplitude h e aplicar a R egra do Trap´ezio em cada
subintervalos [32], [39], como pode ser visto na figura (3.6):
Figura 3.6: ormula Composta da Regra do Trap´ezio
Aplicando-se a Regra do Trap´ezio a cada subintervalo, tem-se para a
aproxima¸ao da int egral:
A =
b
a
f(x)dx
h
2
[f(x
0
) + f(x
1
)]+
h
2
[f(x
1
) + f(x
2
)]+···+
h
2
[f(x
n1
) + f(x
n
)] .
Resultando em:
A =
b
a
f(x)dx
h
2
[f(x
0
) + 2f(x
1
) + 2f(x
2
) + ··· + 2f(x
n1
) + f(x
n
)] .
3.3 Integra¸ao Num´erica 71
O erro resultante ´e a soma dos erros cometidos na aplica¸ao da Regra do
Trap´ezio em cada subintervalo [32].
E
T
= E
0
+E
1
+E
2
+···+E
n1
+E
n
=
ba
n
3
.n
12
f
′′
(c) =
(b a)
3
12n
2
f
′′
(c) a c b.
O erro cometido pode ser aproximado por:
E
T
(b a)
3
12n
2
max |f
′′
(x)| a x b.
Primeira Regra de Simpson
Nesta regra, a fun¸ao a ser integrada ser´a aproximada por um polinˆomio
int erpolador de o rdem 2. Portanto, necessita-se de trˆes pontos para a in-
terpola¸ao, ou seja, {x
0
, x
1
, x
2
}, onde x
0
= a e x
2
= b [36], [37]. Tem-se a
express˜ao:
A =
x
2
x
0
f(x)dx
x
2
x
0
P
2
(x)dx.
A partir da f ´ormula de Gregory-Newton, tem-se:
P
2
(x) = f (x
0
) +
(x x
0
)
h
f(x
0
) + (x x
0
)(x x
1
)
∆2f(x
0
)
2h
2
,
sendo h = x
2
x
1
= x
1
x
0
.
Resultando em :
A =
x
2
x
0
f(x)dx
x
2
x
0
P
2
(x)dx
A =
x
2
x
0
f(x
0
) +
(x x
0
)
h
f(x
0
) + (x x
0
)(x x
1
)
∆2f(x
0
)
2h
2
dx.
3.3 Integra¸ao Num´erica 72
Para facilitar esta integra¸ao, faz-se uma mudan¸ca de vari´aveis:
y
0
= f(x
0
); (3.24)
z =
(x x
0
)
h
; (3.25)
(x x
1
)
h
=
x x
0
h
h
=
(x x
0
)
h
1 = z 1 (3.26)
y
0
= f(x
0
) = f(x
1
) f(x
0
) = y
1
y
0
(3.27)
2
y
0
=
2
f(x
0
) = f(x
1
) f(x
0
)
2
y
0
= [f(x
2
) f(x
1
)] [f(x
1
) f(x
0
)]
2
y
0
= [f(x
2
) 2f(x
1
) + f(x
0
)] = [y
2
2y
1
+ y
0
] . ( 3.28)
Resultando em:
A
x
2
x
0
y
0
+ zy
0
+
z(z 1)
2
2
y
0
dx.
Como z =
(xx
0
)
h
e derivando em rela¸ao a x, temos:
dz
dx
=
1
h
dx = hdz.
3.3 Integra¸ao Num´erica 73
Mudando os limites de integra¸ao:
a = x
0
z =
x
0
x
0
h
= 0
b = x
1
z =
x
2
x
0
h
=
2h
h
= 2,
temos:
A
2
0
[y
0
+ zy
0
] .h.dz. (3.29)
Integra ndo a express˜ao (3 .29), tem-se:
A
2
0
y
0
+ zy
0
+
z(z 1)
2
2
y
0
.h.dz
A h
zy
0
+
z
2
2
y
0
+
z
3
6
z
2
4
2
y
0
2
0
A h
2y
0
+ 2 ∆y
0
+
1
3
2
y
0
. (3.30)
Substituindo as express˜o es (3.24) a (3.28) em (3.30), tem-se:
A =
b
a
f(x)dx h
2y
0
+ 2y
1
2y
0
+
1
3
y
2
2
3
y
1
+
1
3
y
0
A
b
a
h
3
[f(x
0
) + 4f(x
1
) + f(x
2
)] . (3.31)
O erro de truncamento resultante da integra¸ao pela primeira regra de
Simpson ´e dado por [32]:
3.3 Integra¸ao Num´erica 74
E
T
=
h
5
90
f
(IV )
(c) c [x
0
, x
1
]. (3.32)
Como o ponto c ao ´e um ponto conhecido, a express˜ao (3.32) pode ser
aproximada pela express˜ao ( 3.33).
|E
T
|
h
5
90
max
f
(IV )
(x)
x [x
0
, x
1
]. (3.33)
Primeira Regra de Simpson - ormula Composta
Para melhorar o resultado, pode-se subdividir o intervalo [a, b] de inte-
gra¸ao em n subintervalos de amplitude h e aplicar a Primeira Regra de
Simpson em cada subintervalos. Pela necessidade de haver trˆes pontos em
cada subintervalos, o n´umero de subintervalos deve ser par [32]. A formula¸ao
´e dada por:
A =
b
a
f(x)dx
A
h
3
[f(x
0
) + 4f(x
1
) + f(x
2
)] +
h
3
[f(x
2
) + 4f(x
3
) + f(x
4
)] + (3.34)
···+
h
3
[f(x
n2
) + 4f(x
n1
) + f(x
n
)]
Resultando em:
A
h
3
[f(x
0
) + 4f(x
1
) + 2f (x
2
) + 4f(x
3
) + 2f(x
4
) + ··· + 2f(x
n2
) (3.35)
+4f(x
n1
) + f(x
n
)]
3.4 O etodo de Crank-Nicholson 75
O erro de truncamento resultante da integra¸ao pela Primeira Regra de
Simpson - ormula composta ´e dado por:
E
T
=
(b a)
5
180n
4
f
(IV )
(c) c [a, b], (3.36)
onde n ´e o n´umero de subintervalos. Como o ponto c ao ´e um ponto con-
hecido, a express˜ao (3.33).
|E
T
|
(b a)
5
180n
4
.max
f
(IV )
(x)
x [a, b]. (3.37)
3.4 O M´etodo de Crank-Nicholson
Quando vamos estudar a natureza ´e comum utilizarmos equa¸oes diferen-
ciais parciais (EDP) nos modelos matem´aticos empregados. Algumas EDPs
possuem solu¸ao anal´ıtica, enquanto que outras podem ser resolvidas apenas
pelo emprego de m´etodos num´ericos. Vamos abordar o m´etodo das diferen¸cas
finitas para resolver EDPs. Concentraremos nossa aten¸ao no caso em que
a EDP depende de uma vari´avel espacial e outra temporal. No caso do pre-
sente trabalho, aplicaremos o m´etodo para resolver uma equa¸ao do tipo
Schr¨odinger proveniente do modelo de minisurpespa¸co que adotamos.
Nosso objetivo ´e encontrar a fun¸ao u(x, t) que satisfaz
au
xx
+ bu
x
+ cu u
t
= 0 (3.38)
sujeita a condi¸ao inicial u(x, 0) = f(x) ou outra poss´ıvel condi¸ao de con-
torno. Os coeficientes a, b, c podem ser fun¸oes de x e t.
3.4 O etodo de Crank-Nicholson 76
Figura 3.7: Discretiza¸ao do dom´ınio
Infelizmente ao somos capazes de calcular a fun¸ao u em todos os pontos
do dom´ınio. Calcularemos somente os valores num´ericos de u ( x, t) situados
em uma malha de x e t tomados sobre o dom´ınio, conforme a figura 3.4 . Para
obter o valor de u para valores quaisquer de x e t faremos uma interpola¸ao
levando em conta os valores conhecidos de u na malha [32] , [33].
Dessa forma, vamos discretizar nosso dom´ınio de acordo com o esquema
exposto na figura 3.4. Vamos trabalhar com de valores de x e t tais que
x [x
min
, x
max
] e t [0, T ]. Dividiremos o intervalo [0, T ] em N intervalos
igualmente espa¸cados e indexados por n = 0, ..., N e [x
min
, x
max
] em I inter-
valos indexados por i = 0, ..., I. O tamanho desses intervalos ´e k na dire¸ao
temporal e h na dire¸ao espacial. Com isso, procuraremos valores de u na
3.4 O etodo de Crank-Nicholson 77
malha (N + 1) × (I + 1). Seja u
i,n
a aproxima¸ao de u no ponto da malha
onde x = x
min
+ ih e t = nk.
O pr´oximo passo consiste em aproximar as derivadas parciais de u em cada
ponto da malha por diferen¸cas envolvendo os u
i,n
desconhecidos. Podemos
calcular u
i,0
para todos os i a partir da condi¸ao inicial f . Vamos aproximar
as derivadas parciais a partir de um ponto de coordenadas (i, n) qualquer da
malha [32 ], [33]. Assim, temos:
u = u
i,n
(3.39)
u
t
=
u
i,n+1
u
i,n
k
(3.40)
u
x
=
u
i+1,n
u
i1,n
2h
(3.41)
2
u
x
2
=
u
i+1,n
2u
i,n
+ u
i1,n
h
2
(3.42)
Substituindo esses resultados na EDP (3.38) e resolvendo as equa¸oes
para u
i,n+1
temos
u
i,n+1
=
k
h
2
a +
k
2h
b
u
i+1,n
+
1 + kc
2k
h
2
a
u
i,n
+
k
h
2
a
k
2h
b
u
11,n
.
(3.43)
Com isso, podemos calcular todos os u
i,n+1
e obter u para todos os pontos
int eriores malha. Para calcular toda a fun¸ao u, temos que usar condi¸oes de
contorno em x
min
e x
max
, por exemplo. Falaremos mais sobre isso adiante.
O resultado obtido ´e denominado m´etodo das diferen¸cas finitas expl´ıcito.
Ele tem acuracidade de segunda ordem em x e primeira ordem em t. A solu¸ao
num´erica ´e inst´avel se k/h
2
ao ´e suficientemente pequeno. Por inst´avel en-
tendemos que pequenos erros devido a imprecis˜ao aritm´etica ou devido as
3.4 O etodo de Crank-Nicholson 78
aproxima¸oes que fizemos para as derivadas tendem a se acumular e crescer
muito.
Para resolver o problema da instabilidade citado, usaremos o esquema
impl´ıcito das diferen¸cas finitas. Esse esquema ´e recomendado para a maioria
dos problemas em que se usa o algoritmo de Crank-Nicolson e ´e incondi-
cionalmente est´avel [34]. Al´em disso tem acuracidade de segunda ordem em
x e em t.
A diferen¸ca dessa nova abordagem para a anterior ´e que as derivadas
parciais est˜ao centradas em torno de t + k/2 em vez de t [33]. Com isso, as
derivadas ficam:
u =
u
i,n
+ u
i,n+1
2
(3.44)
u
t
=
u
i,n+1
u
i,n
k
(3.45)
u
x
=
u
i+1,n
u
i1,n
+ u
i+1,n+1
u
i1,n+1
4h
(3.46)
2
u
x
2
=
u
i+1,n
2u
i,n
+ u
i1,n
+ u
i+1,n+1
2u
i,n+1
+ u
i1,n+1
2h
2
. (3.47)
Substituindo as equa¸oes anteriores na EDP e multiplicando por 4h
2
k
para eliminar o s denominadores, temos:
A
i

(2ka + khb) u
i+1,n+1
+
B
i

4h
2
+ 4ka 2h
2
kc
u
i,n+1
C
i

(2ka khb) u
i1,n+1
=
(2ka + khb) u
i+1,n
+
4h
2
4ka + 2h
2
kc
u
i,n
+ (2ka khb) u
i1,n

D
i
para cada i = 1, ..., I 1.
Dispondo esses dados em forma matricial, temos:
3.5 O etodo WKB 79
B
0
A
1
0 0 . . . 0
C
0
B
1
A
2
0 . . . 0
0 C
2
B
2
A
2
. . . 0
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
0
0 ··· 0 C
I
B
I
u
0,n+1
u
1,n+1
u
2,n+1
.
.
.
u
I,n+1
=
D
0
D
1
D
2
.
.
.
D
I
(3.48)
Esse sistema pode ser resolvido de forma eficiente por elimina¸ao Gaus-
siana.
3.4.1 Condi¸oes de Contorno
Conseguimos um procedimento para determinar toda a malha de u
i,n
a par-
tir dos valores iniciais dados. A substitui¸ao das expresoes das diferen¸cas
para as derivadas na EDP fornece somente equa¸oes lineares para pontos no
int erior da malha. Ou seja, temos (I 1) equa¸oes em cada passo t emporal,
o que ao ´e suficiente para determinar as (I + 1) vari´aveis desconhecidas. As
duas equa¸oes que faltam devem ser fornecidas pelas condi¸oes de contorno
aplicadas para todo passo no tempo.
3.5 O M´etodo WKB
A id´eia asica do m´etodo WKB ´e encontrar uma solu¸ao aproximada da
equa¸ao de Schr¨o dinger [40]
2
2m
2
Ψ(x)
x
2
+ V (x)Ψ(x) = EΨ(x) (3.49)
que seja alida no limite de 0. Escrevendo a fun¸ao-de-onda na forma
Ψ = exp(
iS
) (3.50)
3.5 O etodo WKB 80
e substituindo em (3.49) obtemos uma equa¸ao para S:
1
2m
S
x
2
i
2m
2
S
x
2
= E V. (3 .5 1)
Apesar da express˜ao para Ψ em termos de S ser completamente geral, essa
escolha ao ´e arbitr´aria. Sabemos que se o potencial ´e constante as solu¸oes
ao da forma exp(
ipx
). Se V = V (x), ´e natural tentarmos como solu¸ao a
express˜ao exp(
iS(x)
). Expandindo S em potˆencias de , temos:
S = S
0
+
i
S
1
+
i
2
S
2
+ . . . (3.52)
Substituindo (3.51) em (3.52), obtemos
1
2m
S
0
x
i
S
1
x
+ . . .
2
i
2m
2
S
0
x
2
+
2
S
1
x
2
+ . . .
= E V. (3.53)
Comparando os dois membros da equa¸ao (3.53) e separando os termos
de mesma ordem em , temos:
1
2m
S
0
x
2
= E V (3.54)
2
S
0
x
S
1
x
+
2
S
0
x
2
= 0. (3.55)
.
.
.
A solu¸ao para S
0
´e
3.5 O etodo WKB 81
S
0
= ±
p(x)dx (3 .5 6)
onde p(x) ´e dado por:
p(x) =
2m (E V (x)). (3.57)
Para S
1
, temos:
S
1
=
S
′′
0
2S
0
=
p
2p
(3.58)
onde o s´ımbolo
indica derivada em rela¸ao a x. A menos de uma constante
encontramos para S
1
a seguinte solu¸ao [40]:
S
1
=
1
2
ln(p(x)) (3.59)
ou
exp(S
1
) = (p(x))
1
2
. (3.60)
Assim, nas regi˜oes classicamente acess´ıveis, onde E > V (x), a solu¸ao
geral a t´e a primeira ordem em ´e
Ψ(x) =
C
1
p
exp
i
h
pdx
+
C
2
p
exp
i
h
pdx
(3.61)
Nas regi˜oes classicamente inacess´ıveis, onde E < V (x) a solu¸ao ´e dada
por:
3.5 O etodo WKB 82
Ψ(x) =
C
1
|p|
exp
i
h
|p|dx
+
C
2
|p|
exp
i
h
|p|dx
. (3.62)
As express˜oes (3.61) e (3.62) a o ao alidas perto de pontos de retorno
onde p = 0. A regi˜a o de validade dessas aproxima¸oes po de ser estimada
impondo-se que a erie de potˆencias de S seja convergente, ou seja, que
i
S
1
<< |S
0
|
o que resulta em
2|p
3
|
mV
(x)
> 1
Como ´e pequeno, (3.61) e (3.62) ao alidas, em geral, bem perto dos
pontos de retorno, mas sempre existe um intervalo pr´oximo deles onde essas
express˜oes deixam de ser alidas.
Como as express˜oes (3.61) e (3.62) ao aproxima¸oes de uma mesma
fun¸ao-de-onda, os coeficientes C
1
, C
2
, D
1
e D
2
ao ao independentes. Para
determin´a-los ´e necess´ario estudar a conex˜ao entre (3.61) e (3.62) pr´oximo
de um pont o de retorno, como o ponto x = B, onde V (B) = E, conforme
ilustrado na figura (3.8).
3.5 O etodo WKB 83
Figura 3.8: Potencial V(x)
Para x > B devemos anular o coeficiente D
2
da solu¸ao (3.62) para que
a fun¸ao -de-onda a a zero no infinito e ficamos com [40]
Ψ =
D
2
|p|
exp
1
x
B
p(x)dx
se x > B. (3.63)
Para x < B, temos
Ψ =
C
1
p
exp
i
x
B
p(x)dx
+
C
2
p
exp
i
x
B
p(x)dx
(3.64)
onde escolhemos o ponto x = B como referˆencia para tornar as integrais
definidas. Pr´oximo de x = B podemos expandir V (x) em erie de Taylor e
aproximar
E V (x)
=
dV
dx
(x B) = F
0
(x B) (3.65)
3.5 O etodo WKB 84
onde F
0
´e a for¸ca em x = B. Se ´e pequeno o suficiente e o potencial suave,
as regi˜oes de validade das aproxima¸oes (3.61) e (3.62) ter˜ao superposi¸ao
com a regi˜ao onde a expans˜ao linear (3.65 ) ´e aplic´avel, como ilustrado na
figura. Vamos conectar (3.61) e (3.62) pelo plano complexo.
A id´eia f undamental ´e a seguinte [40] : as ormulas semicassicas ao valem
muito perto de x = B, mas podemos assumir que a fun¸ao-de-onda tem uma
extens˜ao para o plano complexo e que podemos passar da regi˜ao `a direita
para a regi˜ao `a esquerda dando a volta pela dire¸ao imagin´aria. Desde que
ao nos aproximemos muito de x = B a t r ansi¸ao entre as duas regi˜oes deve
ser suave.
Vamos ent˜ao transformar a integral de p(x)dx em uma integral de linha
que ´e feita com |x B| constante, como ilustrado na figura (3.9).
Figura 3.9: Lineariza¸ao do potencial V(x) em torno de x = B
3.5 O etodo WKB 85
Escrevemos enao
(x B) ρ exp()
x
B
x
B dx
= i
φ
0
ρ
3
2
exp(
3
2
)
=
=
2
3
ρ
3
2
cos
3φ
2
+ i sen
3φ
2
(3.66)
onde ρ e φ est˜ao representados na figura. Temos que φ ´e zero `a direita e π `a
esquerda.
Figura 3.10: Representa¸ao de φ e ρ
Ena o,
x
B
x
B dx
=
2
3
ρ
3
2
=
2
3
(x B)
3
2
em φ = 0
2
3
i ρ
3
2
=
2i
3
(B x)
3
2
em φ = π
e vamos ter a regra de conec¸ao:
1
x
B
|p(x
)|dx
=
2mF
0
x
B
x
Bdx
=
2
3
2mF
0
(x B)
3
2
2i
3
2mF
0
(B x)
3
2
=
i
x
B
2mF
0
(B x
)dx
=
i
x
B
p(x
)dx
.
A amplitude tamb´em muda ao passarmos de um lado para o outro, pois
3.5 O etodo WKB 86
p
1
2
= [2F
0
(x B)]
1
4
= (2F
0
ρ)
1
4
exp(i
φ
4
)
e
D
2
(xB)
1
4
=
D
2
ρ
1
4
exp(i
φ
4
)|
φ=0
D
2
(Bx)
1
4
exp(i
φ
4
)|
φ=π
C
2
(Bx)
1
4
e temos
C
2
=
D
2
exp(i
π
4
).
Vemos enao que, pelo circuito acima, (3.61) recai no segundo termo de
(3.62). Fazendo o circuito por baixo, indo de zero `a π, pegamos o primeiro
de termo de (3.62) com
C
1
=
D
2
exp(i
π
4
).
Colocando essas express˜oes juntas, obtemos
Ψ(x) =
D
p
cos
1
x
B
p(x
)dx
+
π
4
. (3.67)
Finalmente, se existe tamb´em um outro ponto de retorno em x = A `a es-
querda, como na figura (3.8), ent˜ao a conec¸ao entre as regi˜oes classicamente
permitidas e proibidas leva `a
Ψ(x) =
D
p
cos
1
x
B
p(x
)dx
π
4
=
=
D
p
cos
1
B
A
p(x
)dx
π
2
+
1
x
B
p(x
)dx
+
π
4
. (3.68)
3.5 O etodo WKB 87
Para que as equa¸oes (3.61) e (3.62) coincidam para A < x < B devemos
impor que [40]
D = D
(1)
n
enquanto
1
B
A
p(x)dx =
n + 1
2
que ´e a regra de quantiza¸ao de Bohr-Sommerfeld. Ela pode ser re-escrita
para um circuito fechado, da seguinte for ma,
p(x)dx = 2π(
n + 1
2
) . (3.69)
Desta regra de quantiza¸ao podemos obter arios resultados importantes
como a quant iza¸ao dos n´ıveis de energia de diversos potenciais ligados.
Observe que, pr´oximo aos pontos de retorno obtivemos
Ψ(x) =
D
2|y|
1
4
exp(
2|y|
3
2
3
) se x > B
D
2y
1
4
exp(
2i
3
y
3
2
+
4
) +
D
2y
1
4
exp(
2i
3
y
3
2
4
) se x < B
(3.70)
onde
y = (2mF
0
)
1
3
(B x) e D
=
D
(2mF
0
)
1
6
As ormulas (3.70) ao express˜oes assinoticas da solu¸ao exata da equa¸ao
de Schr¨odinger
2
Ψ(x)
x
2
+
2mF
0
2
(x B = 0
3.5 O etodo WKB 88
que ´e da da por:
Ψ(x) =
1
π
0
cos
µ
3
3
µy
2
3
= Ai(y) (3.71)
conhecida como fun¸ao de Airy. A figura (3.11) apresenta um gr´afico de Ai(y)
para = 1:
Figura 3.11: Fun¸ao de Airy para = 1
3.5 O etodo WKB 89
Note que a solu¸ao exata ao diverge no ponto de retorno y = 0, mas tem
um aximo deslocado para dentro da regi˜ao permitida, x < B ( ou y < 0).
Esse aximo fica cada vez mais pronunciado e mais pr´oximo de x = B para
0 .
3.5.1 Transmiss˜ao atraes de uma b arreira
Vamos aplicar o m´etodo WKB para calcular o coeficiente de transmiss˜ao
e a probabilidade de tunelamento para uma barreira em que as part´ıculas
incidem pela esquerda sem energia suficiente para classicamente passar para
o lado direito da barreira, o que est´a esquematizado na figura (3.12).
Figura 3.12: Barreira de Potencial
De agora em diante, usaremos que p = k nas express˜oes que envolvem
p. Aplicando a proximao WKB para as trˆes regi˜oes mostradas na figura
(3.12), a solu¸ao para a equa¸ao de Schr¨odringer ´e dada por [41]:
3.5 O etodo WKB 90
Ψ(x) =
A
k(x)
exp
i
x
A
kdx
+
B
k(x)
exp
i
x
A
kdx
, se x < A
C
k(x)
exp
x
A
kdx
+
D
k(x)
exp

x
A
kdx
, se A < x < B
F
k(x)
exp
i
x
B
kdx
+
G
k(x)
exp
i
x
B
kdx
, se x > B
Vamos usar as f ´ormulas de conex˜ao para ”ligar”as fun¸oes-de-onda em
cada regi˜ao da figura (3.12), o que leva a :
A
B
=
1
2
2θ +
1
2θ
i
2θ
1
2θ
i
2θ
1
2θ
2θ +
1
2θ
F
G
(3.72)
onde θ ´e dado por
θ = exp
B
A
k(x)dx
(3.73)
Vamos assumir que ao existe uma onda incidente vindo da direita da
barreira. Com isso, temos que G = 0 na equa¸ao anterior. O coeficient e de
transmiss˜ao ´e dado por [41]
T =
|Ψ
transmitida
|
2
v
transmitida
|Ψ
inicidente
|
2
v
incidente
=
|Ψ
transmitida
k
transmitida
|
2
|Ψ
incidente
k
incidente
|
2
=
|F |
2
|A|
2
T =
4
2θ +
1
2θ
2
.
Para uma bar reira alta e larga o suficiente, temos que θ >> 1. Assim,
temos que:
T
1
θ
2
= exp
2
B
A
k(x)dx
.
Cap´ıtulo 4
O modelo cosmol´ogico e os
resultados obtidos
4.1 Introdu¸ao
Nesse cap´ıtulo vamos apresentar de forma detalhada o modelo usado nesse
trabalho e os resultados obtidos. Acredita-se que o tunelamento atrav´es de
uma barreira de potencial pode ter sido um dos mecanismos para o surgi-
mento do nosso Universo. Vamos calcular numericamente as probabilidades
de tunelamento para o modelo a dot ado e compar´a-las aos resultados obtidos
quando usamos a aproxima¸ao WKB com a mesma finalidade. Os resultados
apresentados nesse cap´ıtulo ao baseados em trabalhos apresentados em con-
gressos cient´ıficos [4 3], [44] e um artigo submetido para publica¸ao em uma
revista cient´ıfica [45].
4.2 O Modelo Cosmol´ogico 92
4.2 O Modelo Cosmol´ogico
Nesse trabalho vamos utilizar um modelo de Fr iedmann-Robertson-Wa lker
com curvatura positiva e com sess˜oes espaciais fechadas. Acredita-se que no
in´ıcio do Universo a radia¸ao desempenhou um papel predominante. Por isso,
trabalharemos com um fluido perfeito radiativo. Teremos, ainda, a presen¸ca
de uma constante cosmol´ogica positiva cuja presen¸ca garante a existˆencia de
uma barreira de potencial e uma fase de expans˜ao para o universo, depois do
tunelamento.
A m´etrica usada, posta em termos da fun¸ao lapso N ´e dada por
g
α β
=
N
2
0 0 0
0 a
2
0 0
0 0 a
2
sen
2
χ 0
0 0 0 a
2
sen
2
χ sen
2
θ
(4.1)
onde a ´e o fator de escala, e estamos t r abalhando com as coordenadas: 0
t < , 0 χ π, 0 θ π e 0 φ 2π.
O potencial que utilizado nesse trabalho pode ser visto na figura (4.1).
Sua express˜ao anal´ıtica ´e dada por V (x) = A x
2
B x
4
, onde A ´e um n´umero
positivo fixo e B ´e um parˆametro positivo que esta relacionado com a con-
stante cosmol´ogica e que podemos variar livremente.
Classicamente, se a energia inicial da radia¸ao (E
1
) for menor que o valor
aximo do potencial (V
0
), o fator de escala ficar´a oscilando entre um valor
aximo e zero. Se a energia inicial da radia¸ao (E
2
) for maior que o valor
aximo do potencial (V
0
), o fator de escala ser´a inicialmente desacelerado e
depois de ultrapassar (a
0
), o valor aonde o potencial vale (V
0
), ser´a acelerado.
Do ponto de vista quˆantico, o comportamento do universo ´e bastante
diferente pois ´e poss´ıvel ocorrer o fenˆomeno do tunelamento pela barreira de
4.2 O Modelo Cosmol´ogico 93
Figura 4.1: Pot encial usado no nosso modelo e as energias E
1
e E
2
potencial. Inicialmente, o universo representado por uma fun¸ao-de-onda que
esteja bem lo calizada `a esquerda da barreira de potencial e com uma energia
m´edia menor do que V
0
pode, com o pa ssar do tempo, aparecer `a direita da
barreira de potencial. Vamos estudar a probabilidade de tunelamento como
fun¸ao dos dois parˆametros livres do modelo: a energia edia da radia¸ao e a
constante cosmol´ogica. Faremos isso, a partir dos resultados obtidos com os
m´etodos num´ericos a descritos nessa disserta¸ao. Vamos, ainda, confrontar
alguns resultados obtidos exatamente usando esses m´etodos num´ericos com
os resultados fornecidos pela aproximao WKB aplicada ao presente modelo.
4.3 Cosmologia Quˆantica com Fluido Perfeito 94
4.3 Cosmologia Quˆantica com Fluido Perfeito
O modelo utilizado trabalha com um fluido perfeito radiativo. Assim, vamos
construir uma hamiltoniana para um modelo de fluido pefeito de acordo
com o formalismo desenvolvido por Sch utz [46]. Para uma referˆencia em
portuguˆes, consulte [47].
A ao para o modelo ´e dada por
S =
M
dx
4
g (R 2Λ)
M
dx
4
gρ (4.2)
onde R ´e o escalar de curvatura, g ´e o determinante da m´etrica, Λ ´e a con-
stante cosmol´ogica, ρ ´e a densidade do fluido e M ´e uma variedade quadri-
mensional.
Na express˜ao (4.2) o primeiro termo est´a relacionado `a ao gravitacional
e o segundo ao fluido perfeito. No f ormalimso de Schutz [46] a quadriveloci-
dade do fluido ´e dada por
U
ν
=
1
µ
(ǫ
+ β
+ ΘB
) (4.3)
onde µ ´e a entalpia espec´ıfica, B ´e a entropia espec´ıfica, e β est˜ao rela-
cionados com a rota¸ao do fluido e est˜ao ausentes nos modelos de Friedmann-
Robertson-Walker. As vari´aveis ǫ e Θ ao possuem significado f´ısico claro.
O escalar de curvatura R para a m´etrica (4 .1 ) ´e dado por:
R =
a
N
2
a
3˙a
˙
N
aN
3
+
6˙a
2
a
2
N
2
+
6
a
2
(4.4)
e o determinante g ´e
4.3 Cosmologia Quˆantica com Fluido Perfeito 95
g = N
2
a
6
sen
4
χsen
2
θ. ( 4.5)
Introduzindo essas grandezas na express˜ao (4.2) e realizando algumas
manipula¸oes alg´ebricas, chegamos a
S =
dx
4
3˙a
2
a
N
3Na
sen
2
χsenθ
dx
4
Na
3
sen
2
χsenθ
dx
4
Na
3
ρ sen
2
χsenθ. (4.6)
A integral da parte espacial resulta em 2π
2
. Assim, a express˜ao (4.6) fica
S = 2π
2
dt
6˙a
2
a
N
+ 6Na
π
2
dt
Na
3
2π
2
dtNa
3
ρ. (4.7)
As equa¸oes da Termodinˆamica para um fluido perfeito [48] ao:
ρ = ρ
0
(1 + Π), (4.8)
µ = (1 + Π) +
p
ρ
0
, (4.9)
T dB = dΠ + pd
1
ρ
0
= (1 + Π)d [ln(1 + Π) (γ 1 ) ln(ρ
0
)] ,(4.10)
em que p ´e a press˜ao, ρ a densidade de energia do fluido, ρ
0
´e a densidade
do n´umero de part´ıculas, T ´e a temperatura absoluta, Π a energia interna
espec´ıfica, µ ´e a entalpia espec´ıfica e B ´e a entropia espec´ıfica. Como o fluido
que estamos trabalhando ´e considerado perfeito radiativo, temos que γ =
4
3
.
4.3 Cosmologia Quˆantica com Fluido Perfeito 96
Combinando (4 .8 ) , (4.9) e utilizando a equa¸ao de estado p =
1
3
ρ encon-
tramos que
3µ
4
= (1 + Π). (4.11)
De acordo com (4.1 0),
T = 1 + Π,
B = ln(1 + Π) (
1
3
) ln ρ
0
.
(4.12)
Manipulando algebricamente a s express˜oes (4.1 1) e (4 .1 2), podemos ree-
screver a densidade do n´umero de part´ıculas como:
ρ
0
=
3µ
4
3
exp (3B) . (4.13)
Dessa forma, podemos agora escrever a densidade de energia interna ρ do
fluido perfeito como:
ρ =
3µ
4
4
exp (3B) . (4.14)
Podemos ainda reescrever a entalpia espec´ıfica em fun¸ao dos potenciais
ǫ e B. Para isso, fazemos uso da express˜ao (4.2), onde consideramos um
sistema de coordenadas tal que U
ν
= (N, 0, 0, 0). Enao :
µ =
˙ǫ + Θ
˙
B
N
. (4.15)
Substituindo (4.15) na ao ( 4.6) encontramos:
S = 2π
2
dt
3a˙a
2
N
3Na
2π
2
Λ
dt
Na
3
2π
2
dt
3
4N
˙ǫ + Θ
˙
B
4
exp(3B). (4.16)
Com isso, a Lagrangiana do modelo ´e dada por:
L =
3a˙a
2
N
3Na ΛNa
3
3
4N
˙ǫ + Θ
˙
B
4
exp(3B). (4.17)
4.3 Cosmologia Quˆantica com Fluido Perfeito 97
Os momentos canˆonicos ao dados por:
p
a
=
L
˙a
=
6˙aa
N
(4.18)
p
ǫ
=
L
˙ǫ
= 3a
3
3
4N
˙ǫ + Θ
˙
B
3
exp(3B). (4.19)
p
B
=
L
˙
B
= 3a
3
3
4N
˙ǫ + Θ
˙
B
3
Θ exp(3B) (4.20)
Observe que p
B
= Θp
ǫ
. Deste modo, a Hamiltoniana do sistema pode ser
escrita na forma:
H = N
p
2
a
12a
3a
1
3
3
exp(B)
a
p
4
3
ǫ
+ Λ a
3
. (4.21)
Podemos colocar a express˜ao (4.21) em uma forma mais simples atrav´es
da transforma¸ao
T =
3
3 p
B
exp(B) p
4
3
ǫ
; p
T
=
3
3 p
4
3
ǫ
exp(B) ; ¯ǫ = ǫ
4p
B
3p
ǫ
; ¯p
ǫ
= p
ǫ
,
(4.22)
que leva a express˜ao (4.21) `a forma
H = N
p
2
a
12a
3a +
p
T
a
+ Λ a
3
. (4.23)
Vamos passar pa ra o processo de quantiza¸ao do presente modelo, im-
pondo as regras de quantizao padr˜ao sobre os momentos canˆonicos:
p
a
= i
a
e p
T
= i
T
. (4.24)
4.3 Cosmologia Quˆantica com Fluido Perfeito 98
Subsituindo os operadoes p
a
e p
T
na equa¸ao (4.23), temos:
ˆ
H =
1
12
2
a
2
3a
2
+ Λ a
4
i
T
. (4.25)
Exigindo que o op erador Hamiltoniano aniquile a fun¸ao-de-onda do uni-
verso,
ˆ
HΨ = 0, (4.26)
temos a seguinte equa¸ao de Wheeler-DeWitt:
1
12
2
Ψ(a, t)
a
2
+
3a
2
+ Λ a
4
Ψ(a, t) = i
t
Ψ(a, t) (4.2 7)
onde intro duzimos t = T como a coordenada temporal e o calibre do tempo
conforme N = a.
4.4 Resultados Obtidos 99
4.4 Resultados Obtidos
Vamos apresentar os resultados obtidos no alculo da probabilidade para o
fator de escala do universo tunelar pela ba rr eira de potencial proposta e pas-
sar para a direita da barreira.
´
E interessante mencionar que o problema que
estamos abordando a foi tratado usando a aproxima¸ao WKB (vide se¸ao
3.4.1) mas somente para o alculo da fun¸ao-de-onda [1], [2] . A novidade do
nosso trabalho ´e que calculamos a fun¸ao-de-onda sem aproxima¸oes numeri-
camente e a s probabilidades de tunelamento ao foram calculadas usando
essa abordagem antes.
O potencial e algumas grandezas de nosso interesse est˜ao representados
na figura (4.2). Preste a t en¸ao em ace e acd, que ao a s abscissas dos pontos
em que a energia E
1
int ercepta o potencial V.
Figura 4.2: Pot encial usado no nosso modelo
4.4 Resultados Obtidos 100
Vamos introduzir agora o conceito de uma grandeza que calculamos nesse
trabalho: o tempo τ que o universo fica confinado `a esquerda da barreira antes
de tunelar por ela. Usou-se o seguinte racioc´ınio para estimar esse tempo
[42]. Vamos supor que exista um oton que comp˜oe a radia¸ao preso do lado
esquerdo da barreira de potencial. Esse oton fica oscilando entre 0 e ace
(veja figura 4.2) com um tempo ig ual a
t =
2ace
c
.
No sistema de unidades que estamos utilizando, temos que c = 1. Com
isso, t = 2ace. Para obtermos a frequˆencia f com que o oton colide com o
potencial basta invertermos o tempo t. Assim,
f =
1
t
=
1
2ace
.
O oto n possui uma probabilidade P T
int
de tunelar. A probabilidade p
dele atravessar a barreira de potencial por unidade de tempo ´e a freq¨encia
com que ele colide com a barreira de potencial multiplicada por P T
int
. Assim,
p
=
P T
int
2ace
.
Se invertermos p
vamos obter o tempo m´edio τ que o oton fica preso no
lado esquerdo do potencial, ou seja,
τ =
2ace
P T
int
.
Supondo que a maioria dos otons que comp˜oe a radia¸ao escapam juntos
nesse tempo, podemos considerar que esse ´e o tempo que o universo do nosso
modelo leva para nuclear.
4.4 Resultados Obtidos 101
Usamos m´etodos num´ericos pa ra resolver uma EDP (equa¸ao 4.27) tipo
Schr¨odinger e calcular a probabilidade de tunelamento P T que o universo
possui de tunelar pela barreira de potencial.
Para resolver a EDP, usamos o etodo de Crank-Nicholson (se¸ao 3.3.2) ,
que foi implementado no programa GNU-OCTAVE. Escolhemos esse m´etodo
porque ele apresenta boa acuracidade na solu¸ao e ´e apido o suficiente. Ado-
tamos que a fun¸ao-de-onda ´e nula na origem e no infinito. Inicialmente a
fun¸ao-de-onda encontra-se bem localizada `a esquerda da barreira de po-
tencial, bem pr´oxima de a = 0. Escolhemos para fun¸ao-de-onda inicial a
seguinte gaussiana normalizada:
Ψ(a, 0) =
8192E
3
π
1
4
a exp
4Ea
2
onde E ´e a energia m´edia do pacote que est´a associada a energia da radia¸ao.
Depois essa fun¸ao-de-onda evolui no tempo segundo a EDP at´e atingir o
infinito, que no presente caso foi colocado em a = 30. A seguir temos o gr´afico
de uma solu¸ao obtida para a fun¸ao-de-onda com os parˆametros Λ = 0.0121,
E = 185 no momento em que Ψ atinge o infinito, localizado em a = 30. Para
este caso, temos ace = 10.72 87, acd = 11.5252 e V
0
= 185.95.
Usando os m´etodos num´ericos apropriados para integra¸ao num´erica (se¸ao
3.3.2) e spline c´ubico (se¸ao 3.2.2 ) , podemos calcular essa probabilidade de
tunelamento. Para integra¸ao num´erica usamos a ormula composta da re-
gra do trap´ezio (se¸ao 3.3.2). Escolhemos essa regra porque apresenta grande
acuracidade e ´e computacionalmente muito a pida. Para interpola¸ao usamos
a t´ecnica do spline c´ubico (se¸ao 3.2.2), pois apresenta boa acuracidade. Cal-
culamos (P T ) da seginte forma:
4.4 Resultados Obtidos 102
ρ
0
0.1
0.2
0.3
0.4
5 10 15 20 25 30
a
Figura 4.3: |Ψ(a, t
max
)|
2
ρ, para Λ = 0.0121, E = 185 e V
0
= 185.95 no instante t
max
quando Ψ alcaca o infinito, localizado em a = 30.
P T
int
=
acd
|Ψ(a, tmax)|
2
da
0
|Ψ(a, tmax)|
2
da
, (4.28)
onde ´e o infinito para fins de alculos computacionais que no presente caso
ser´a igual a a = 30 e Ψ(a, t
max
) ´e a fun¸ao-de-o nda calculada numericamente
no instante tmax em que a fun¸ao-de-onda atinge o infinito em a = 30.
Como Ψ ´e uma fun¸ao-de-onda normalizada, a probabilidade ´e dada pelo
numerador de (4.28).
O nosso modelo apresenta dois parˆametros que podemos variar: a energia
E e a constante cosmol´ogica Λ. Primeiro vamos considerar a dependˆencia da
P T
int
em rela¸ao a energia. Fixamos Λ = 0.01 e calculamos numericamente
P T
int
para 47 valores distintos da energia. Isso significa que resolvemos nu-
mericamente a equa¸ao diferencial parcial tipo Schr¨odinger do nosso modelo
e calculamos a integral mostrada em (4.28) 47 vezes, uma vez para cada valor
da energia. Para Λ = 0.01 temos que a a ltura axima da barreira de poten-
cial vale 225. Todos os 47 valores de E ao menores que 225 para termos o
4.4 Resultados Obtidos 103
fenˆomeno do tunelamento. As tabelas ( A.1) e (A.2), no Apˆendice A, mostram
os resultados obtidos nos alculos de P T
int
, τ, ace e acd para cada valor de E.
Na figura (4.4), temos o gr´afico da pro babilidade de tunelamento em fun¸ao
da energia. Pelo fato dos valores da probabilidade serem pequenos, t omamos
o logaritmo da probabilidade para fazer o gr´afico.
–60
–50
–40
–30
–20
–10
logTP
0 50 100 150 200
E
Figura 4.4: Gr´afico de log T P
int
em fun¸ao da e nergia E , com Λ = 0.01.
Observando o gr´afico podemos preceber que a PT cresce com E, com Λ
fixo. Segundo o modelo adotado, temos que ´e mais prov´avel que o universo
tenha nucleado com a maior energia poss´ıvel.
Foi calculado tamb´em a probabilidade de tunelamento usando a aprox-
ima¸ao WKB, que chamaremos P T
W KB
. Para o modelo em quest˜ao temos
4.4 Resultados Obtidos 104
P T
W KB
=
4
2θ +
1
(2θ)
2
, (4.29)
onde,
θ = exp
acd
ace
da
12(3a
2
Λa
4
E)
. (4.30)
Para calcular P T
W KB
fixou-se Λ = 0.01 e realizou-se o alculo represen-
tado pelas expresoes (4.29) e (4.30) para cada um dos 47 valores da energia
usados para calcular P T
int
. O s resultados est˜ao nas tabelas (A.1) e (A.2), no
Apˆendice A. Na figura (4.5) temos a compara¸ao entre P T
int
e P T
W KB
. Pela
an´alise do gafico podemos perceber que P T
int
e P T
W KB
ao semelhantes
apenas para valores da energia E pr´oximos do topo da barreira de poten-
cial. Isso ocorre porque o m´etodo WKB o ferece uma boa aproxima¸ao para
a fun¸ao-de-onda somente em regi˜oes onde o potencial ao apresenta grande
varia¸ao, que ocorre pr´oximo ao topo da barreira.
4.4 Resultados Obtidos 105
–500
–400
–300
–200
–100
0
logTP
50 100 150 200
E
Figura 4.5: Compara¸ao entre log T P
W KB
(c´ırculos) e log T P
int
(linha) para diferentes
valores de (E), com Λ = 0.01.
Vamos agora fixar a energia em E = 185 e calcular as probabilidades de
tunelamento para 21 valores distintos de Λ. Na tabela (A.3) no Apˆendice A,
temos os resultados dos alculos de P T
int
, V
0
(valor aximo da barr eira de
potencial), τ, ace e acd para cada va lo r de Λ. Na figura (4.6) temos o gr´afico
do logaritmo da probabilidade de tunelamento por Λ. Podemos perceber que
a probabilidade aumenta `a medida que Λ aumenta, com E fixo. Isso sugere
que pelo presente modelo o universo tem a maior probabilidade de tunelar
com maior valo r poss´ıvel para a constante cosmol´ogica.
4.4 Resultados Obtidos 106
logTP
-4
-8
-16
-12
Lambda
0,0120,01150,01050,01 0,011
Figura 4.6: log T P
int
para 21 valores diferentes de Λ pa ra e nergia fixa E = 185.
Cap´ıtulo 5
Conclus˜ao
Neste trabalho estudamos um modelo de Friedmann-Robertson-Walker fe-
chado. Nesse modelo considera-se que o universo ´e homogˆeneo e isotr´opico
e ´e consitu´ıdo por radia¸ao. A radia¸ao ´e tr atada como um fluido perfeito e
temos, a inda, uma constant e cosmol´ogica positiva.
Usamos m´etodos num´ericos para resolver as equa¸oes pertinentes a o mo-
delo, no caso uma equa¸ao diferencial parcial (EDP). Aplicando o etodo
de Crank-Nicolson na resolu¸ao de uma EDP t ipo Schr¨o dinger obtivemos
fun¸oes-de-onda que representam o fenˆomeno do tunelamento. O tunela-
mento pode ser encarado como um poss´ıvel mecanismo para o surgimento
do nosso Universo.
O nosso modelo admite dois parˆametros que podemos ajustar: a energia
e a constante cosmol´ogica. Fixamos um parˆametro e variamos o outro com o
int uito de calcular a probabilidade de tunelamento.
Variando a energia e fixando o valo r da constante cosmol´ogica, calculamos
a probabilidade de tunelamento. Ap´os construir um gr´afico com os resultados
obtidos perceb emos que existe uma possibilidade maior do universo tunelar
108
se a energia inicial da radi¸ao for a maior poss´ıvel.
Quando fixamos a energia e variamos a constante cosmol´ogica para cal-
cular a probabilidade de tunelamento percebemos, atrav´es do gr´afico que
existe maior probabilidade do universo tunelar se a constante cosmol´ogica
for a maior poss´ıvel.
Apˆendi ce A
Tabelas
Energia T P
int
T P
W KB
τ ace acd
0.0000 0.0000 7.0246 × 10
522
0.0000 17.3205
1.0000 2.5795 × 10
67
2.7574 × 10
517
4.4790 × 10
+66
0.5777 17.3109
2.0000 3.9975 × 10
64
2.7181 × 10
513
4.0896 × 10
+63
0.8174 17.3012
3.0000 4.8040 × 10
61
1.5939 × 10
509
4.1702 × 10
+60
1.0017 17.2915
4.0000 2.6388 × 10
59
6.6774 × 10
506
8.7714 × 10
+58
1.1573 17.2818
5.0000 5.7738 × 10
57
2.1799 × 10
502
4.4844 × 10
+56
1.2946 17.2721
6.0000 9.3459 × 10
56
5.8369 × 10
499
3.0366 × 10
+55
1.4190 17.2623
7.0000 6.9178 × 10
55
1.3258 × 10
495
4.4337 × 10
+54
1.5335 17.2525
8.0000 7.0061 × 10
56
2.6169 × 10
492
4.6827 × 10
+55
1.6404 17.2427
9.0000 6.3878 × 10
53
4.5691 × 10
489
5.4506 × 10
+52
1.7409 17.2328
10.0000 3.9939 × 10
51
7.1563 × 10
486
9.1944 × 10
+50
1.8361 17.2229
15.0000 1.3310 × 10
46
1.8319 × 10
470
3.3888 × 10
+46
2.2553 17.1731
Tabela A.1: Os valore s calculados de P T
int
, P T
W KB
, τ , a c e e acd para 47 valores
diferentes de E quando Λ = 0 .01.
110
Energia T P
int
T P
W KB
τ ace acd
20.0000 3.3918 × 10
44
9.0816 × 10
456
1.5401 × 10
+44
2.6119 17.1224
30.0000 1.4814 × 10
41
7.5933 × 10
428
4.3450 × 10
+41
3.2183 17.0189
40.0000 5.8991 × 10
40
2.5466 × 10
401
1.2679 × 10
+40
3.7397 16.9120
50.0000 9.8017 × 10
39
8.0358 × 10
376
8.5875 × 10
+38
4.2086 16.8014
60.0000 1.1252 × 10
37
3.9314 × 10
351
8.2507 × 10
+37
4.6419 16.6869
70.0000 1.1121 × 10
36
4.1409 × 10
327
9.0821 × 10
+36
5.0499 16.5680
80.0000 1.0627 × 10
35
1.1845 × 10
303
1.0236 × 10
+36
5.4391 16.4443
90.0000 1.0557 × 10
34
1.0939 × 10
280
1.1016 × 10
+35
5.8147 16.3153
100.0000 1.1488 × 10
33
3.7271 × 10
258
1.0760 × 10
+34
6.1803 16.1803
110.0000 1.4319 × 10
32
5.2113 × 10
236
9.1338 × 10
+32
6.5393 16.0386
120.0000 2.1333 × 10
31
3.2602 × 10
213
6.4634 × 10
+31
6.8942 15.8893
130.0000 3.9754 × 10
30
9.8051 × 10
193
3.6464 × 10
+30
7.2479 15.7311
140.0000 9.7584 × 10
29
1.5060 × 10
171
1.5582 × 10
+29
7.6029 15.5626
150.0000 3.3597 × 10
27
1.2439 × 10
150
4.7398 × 10
+27
7.9623 15.3819
160.0000 1.7562 × 10
25
5.7774 × 10
130
9.4858 × 10
+25
8.3293 15.1863
165.0000 1.5321 × 10
24
1.0157 × 10
119
1.1118 × 10
+25
8.5171 15.0818
170.0000 1.5472 × 10
23
1.5685 × 10
109
1.1259 × 10
+24
8.7085 14.9720
175.0000 1.8431 × 10
22
2.1361 × 10
99
9.6624 × 10
+22
8.9045 14.8563
180.0000 2.6520 × 10
21
2.5758 × 10
89
6.8673 × 10
+21
9.1059 14.7337
185.0000 4.7418 × 10
20
2.7600 × 10
79
3.9286 × 10
+20
9.3142 14.6029
190.0000 1.0919 × 10
18
2.6372 × 10
69
1.7457 × 10
+19
9.5310 14.4624
195.0000 3.3916 × 10
17
2.2544 × 10
59
5.7545 × 10
+17
9.7585 14.3099
200.0000 1.5114 × 10
15
1.7295 × 10
49
1.3233 × 10
+16
10.0000 14.1421
205.0000 1.0542 × 10
13
1.1943 × 10
39
1.9466 × 10
+14
10.2605 13.9543
210.0000 1.3129 × 10
11
7.4432 × 10
30
1.6069 × 10
+12
10.5485 13.7379
215.0000 3.6494 × 10
09
4.1983 × 10
20
5.9628 × 10
+09
10.8801 13.4767
216.0000 1.2796 × 10
08
3.7003 × 10
18
1.7121 × 10
+09
10.9545 13.4164
217.0000 4.7368 × 10
08
3.2487 × 10
16
4.6582 × 10
+08
11.0325 13.3523
218.0000 1.8642 × 10
07
2.8413 × 10
14
1.1926 × 10
+08
11.1150 13.2837
219.0000 7.8683 × 10
07
2.4754 × 10
12
2.8476 × 10
+07
11.2029 13.2097
220.0000 3.6052 × 10
06
2.1485 × 10
10
6.2674 × 10
+06
11.2978 13.1286
221.0000 1.8228 × 10
05
1.8577 × 10
8
1.2512 × 10
+06
11.4018 13.0384
222.0000 1.0419 × 10
04
1.6002 × 10
6
2.2110 × 10
+05
11.5187 12.9352
223.0000 7.0045 × 10
04
1.3731 × 10
4
3.3281 × 10
+04
11.6558 12.8118
224.0000 5.9816 × 10
03
1.1671 × 10
2
3.9562 × 10
+03
11.8322 12.6491
Tabela A.2: Continua¸ao da tabela A.1
111
Λ T P
int
V
0
τ ace acd
0.0100 4.7449 × 10
20
2.2500 × 10
+02
3.9260 × 10
+20
9.3142 14.6029
0.0101 1.9386 × 10
17
2.2277 × 10
+02
9.6427 × 10
+17
9.3467 14.4800
0.0102 5.5162 × 10
15
2.2059 × 10
+02
3.4010 × 10
+15
9.3803 14.3571
0.0103 1.0768 × 10
12
2.1845 × 10
+02
1.7487 × 10
+13
9.4152 14.2343
0.0104 1.4239 × 10
10
2.1635 × 10
+02
1.3276 × 10
+11
9.4515 14.1114
0.0105 1.2522 × 10
08
2.1429 × 10
+02
1.5156 × 10
+09
9.4892 13.9882
0.0106 7.1354 × 10
07
2.1226 × 10
+02
2.6708 × 10
+07
9.5286 13.8645
0.0107 2.5363 × 10
05
2.1028 × 10
+02
7.5462 × 10
+05
9.5697 13.7402
0.0108 5.3391 × 10
04
2.0833 × 10
+02
3.6009 × 10
+04
9.6129 13.6151
0.0109 6.1795 × 10
03
2.0642 × 10
+02
3.1259 × 10
+03
9.6583 13.4888
0.0110 3.5077 × 10
02
2.0455 × 10
+02
5.5342 × 10
+02
9.7062 13.3610
0.0111 8.4175 × 10
02
2.0270 × 10
+02
2.3183 × 10
+02
9.7570 13.2314
0.0112 9.5984 × 10
02
2.0089 × 10
+02
2.0443 × 10
+02
9.8112 13.0996
0.0113 1.2079 × 10
01
1.9912 × 10
+02
1.6341 × 10
+02
9.8692 12.9648
0.0114 1.3117 × 10
01
1.9737 × 10
+02
1.5143 × 10
+02
9.9318 12.8264
0.0115 1.4639 × 10
01
1.9565 × 10
+02
1.3662 × 10
+02
10.0000 12.6834
0.0116 1.6190 × 10
01
1.9397 × 10
+02
1.2446 × 10
+02
10.0752 12.5344
0.0117 1.7538 × 10
01
1.9231 × 10
+02
1.1586 × 10
+02
10.1594 12.3773
0.0118 1.8752 × 10
01
1.9068 × 10
+02
1.0938 × 10
+02
10.2559 12.2088
0.0119 1.9940 × 10
01
1.8908 × 10
+02
1.0402 × 10
+02
10.3703 12.0232
0.0120 2.1463 × 10
01
1.8750 × 10
+02
9.7983 × 10
+01
10.5150 11.8082
0.0121 2.2964 × 10
01
1.8595 × 10
+02
9.3439 × 10
+01
10.7287 11.5252
Tabela A.3: Os va lores calculados de P T
int
, EP
max
, τ , ace e acd pa ra 22 valores difer-
entes de Λ fixando E = 185.
Apˆendi ce B
A ormula de Gregory-Newton
Vamos deduzir a o r mula de Gregory-Newton.
Defini¸c˜ao B.0.1 Dado um conjunto de pontos (x
i
, y
i
), 0 i n, ent˜ao a
diferen¸ca dividida de primeira ordem ´e dada por:
[x
i
, x
i+1
] =
f(x
i+1
f(x
i
))
x
i+1
x
i
, 0 i n 1 (B.1)
Al´em da nota¸ao usada em (B.1), vamos usar tamb´em a seguinte nota¸ao:
[x
i
, x
i+1
] = y
i
= f[x
i
, x
i+1
]
Podemos tamb´em definir as diferen¸cas divididas de ordem zero e de ordens
sup eriores `a primeira. A diferen¸ca dividida de ordem zero ´e dada por:
y
i
= f[x
i
] = y
i
, 0 i n (B.2)
Podemos escrever a diferen¸ca dividida de primeira ordem por [36]:
113
y
i
= f[x
i
, x
i+1
] = [x
i
, x
i+1
] =
y
i+1
y
i
x
i+1
x
1
Podemos generalizar e definir a diferen¸ca dividida de ordem n que ´e dada
por:
n
y
i
= [x
i
, x
i+1
, ..., x
i+n
]

(n+1)termos
=
f[x
i+1
, x
i+2
, ..., x
i+n
] f[x
i
, x
i+1
, ..., x
i+n1
]
x
i+n
x
i
ou a inda
[x
i
, x
i+1
, ..., x
i+n
] =
n1
y
i+1
n1
y
i
x
i+n
x
i
Por conveniˆencia, vamos usar a no ta¸ao p(x) em vez de f(x). Assim , a
partir da diferen¸ca dividida de primeira ordem, temos:
p[x, x
0
] =
p(x) p(x
0
)
x x
0
(B.3)
Isolando p(x), temos
p(x) = p(x
0
) + (x x
0
)p[x, x
0
] (B.4)
Mas
p[x, x
0
, x
1
] =
p[x, x
0
] p[x
0
, x
1
]
x x
1
Da´ı:
p[x, x
0
] = p[x
0
, x
1
] + (x x
1
)p[x, x
0
, x
1
] (B.5)
Substituindo (B.5) em (B.4 ), temos:
p(x) = p(x
0
) + (x x
0
)p[x
0
, x
1
] + (x x
0
)(x x
1
)p[x, x
0
, x
1
] (B.6)
114
Por outro lado:
p[x, x
0
, x
1
] = (x x
2
)p[x, x
0
, x
1
, x
2
] + p[x
0
, x
1
, x
2
] (B.7)
e substituindo (B.7) em (B.6), temos:
p(x) = p(x
0
) + (x x
0
)p[x
0
, x
1
] + (x x
0
)(x x
1
)p[x
0
, x
1
, x
2
] +
+(x x
0
)(x x
1
)(x x
2
)p[x, x
0
, x
1
, x
2
] (B.8)
Continuando o processo, temos:
p(x) = p(x
0
) + (x x
0
)p[x
0
, x
1
] + (x x
0
)(x x
1
)p[x
0
, x
1
, x
2
] +
+ ···+ (x x
0
)(x x
1
) . . . (x x
n1
)p[x
0
, x
1
, . . . , x
n
] +
+(x x
0
)(x x
1
) . . . (x x
n
)p[x, x
0
, x
1
, . . . , x
n
]. (B.9)
Com alguns alculos alg´ebricos vemos que:
p[x, x
1
, . . . , x
n
] = 0
Substituindo p(x
0
) por y
0
em (B.8), temos:
p(x) = y
0
+ (x x
0
)p[x
0
, x
1
] + (x x
0
)(x x
1
)p[x
0
, x
1
, x
2
] +
+ ··· + (x x
0
)(x x
1
) . . . (x x
n1
)p[x
0
, x
1
, . . . , x
n
]. (B.10)
Podemos ver que
i
y
0
= p[x
0
, x
1
, x
2
, . . . , x
i
]; da´ı (B.10) pode ser escrita
como
115
p(x) = y
0
+ (x x
0
)∆y
0
+ (x x
0
)(x x
1
)∆
2
y
0
+
+ ··· + (x x
0
)(x x
1
) . . . (x x
n1
)∆
n
y
0
(B.11)
O polinˆomio dado em (B.11 ) ´e chamado Polinˆomio de Newton [36] e pode
ser escrito como:
p(x) = y
0
+
n
i=1
i
y
0
i1
j=0
(x x
j
)
No caso dos pontos x
i
, 0 i n serem igualmente espa¸cados [32 ] , [36],
podemos adotar o seguinte artif´ıcio. Seja h = x
i+1
x
i
, para todo 0 i n,
isto ´e, h ´e uma constante.
Seja z dado por:
z =
x x
0
h
Logo:
(x x
0
) = zh
(x x
1
) = (x (x
0
+ h)) = x x
0
h = h(z 1)
.
.
.
(x x
n1
) = (x (x
0
+ (n 1)h)) = h(z (n 1))
Substituindo estes valores em (B.10), temos:
p(x) = y
0
+ hzy
0
+ h
2
z(z 1)∆
2
y
0
+ ···+ h
n
z(z 1) . . .
. . . (z (n 1))∆
n
y
0
(B.12)
Vamos definir a diferen¸ca finita quando os pontos est˜ao igualmente espa¸cados.
116
Defini¸c˜ao B.0.2 As diferen¸cas finitas ascend entes ao dadas por:
1.
0
y
i
= y
i
2. y
i
= y
i+1
y
i
=
0
y
i+1
0
y
i
3.
2
y
i
= y
i+1
y
i
4.
n
y
i
=
n1
y
i+1
n1
y
i
Teorema B.0.1 Seja a fun¸ao y = f(x) definida pel os pon tos (x
i
, y
i
), 0
i n, tais que x
i+1
x
i
= h, para todo i.
n
y
i
=
n
y
i
n!h
n
(B.13)
Substituindo (B.13) em (B.12), t emos:
p(x) = y
0
+ z
y
0
1!
+ z(z 1)
2
y
0
2!
+ ···+ z(z 1) . . .
. . . (z (n 1))
n
y
0
n!
(B.14)
A ormula (B.14) ´e conhecida como ormula de Gregory-Newton e o pode
ser utilizada quando os pontos x
i
, 0 i n, ao igualmente espa¸cados.
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de setembro de 2006,
´
Aguas de Lind´oia , SP. agina do trabalho:
http://www.sbf1.sbfisica.org.br/eventos/enfpc/xxvii/sys/resumos/T0040-
2.pdf.
[45] G. A. Monerat, G. de Oliveira-Neto, E. V. C. Silva, J. A. de Ba r r os,
P. Romildo Pires Jr. e L. G. Ferreira Filho, Tunneling probability for
the birth of an asymptotically DeSitter universe, gr-qc/0612031, sub-
metido para publica¸ao na PRD.
[46] B. F. Schutz, Phys. Rev. D2, 2762 (1970); D4, 3559 (1971).
[47] G. A. Monerat, Universos Cl´assicos e Quˆanticos de Friedmann-
Robertson-Walker, Tese de Doutorado, Instituto de F´ısica, Universidade
Federal F luminense, (2003).
[48] F. G. Alvarenga, Cosmologia Quˆantica com acuo Dinˆamico , Tese
de Doutorado, Instituto de F´ısica, Universidade Federal Fluminense,
(2000).
[49] W. F. Blyth e C. J. Isham, Phys. Rev. D 11, 768 (1974).
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