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Nos municípios adjacentes, a situação de ingerência era a mesma. Duque de Caxias, após a
lei 5.449, de 4 de junho de 1968, tornou-se área de segurança nacional devido à presença de
uma refinaria de petróleo e de uma rodovia interestadual (a Rodovia Washington Luís),
tendo como primeiro interventor Carlos de Medeiros
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. Em São João de Meriti, José
Amorim, que há pouco se havia filiado à ARENA, não escapou da cassação e João Batista
Lubanco – ligado aos Raunheitti (Darcílio e Fábio) – foi nomeado interventor, em 1970
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.
No mesmo ano, Nilópolis também substituiria seu prefeito. João Cardoso, do MDB, perdeu
Raunheitti, por sua vez, nasceu em Nova Iguaçu em 1928. Advogado, formado pela UFF, casado com Lígia
Gonçalves Raunheitti, iniciou sua vida profissional como tabelião substituto em sua cidade natal. Tornou-se
uma das principais lideranças políticas locais a partir da década de 1960, articulando alianças e financiando as
campanhas de seu irmão e de outros políticos locais sem, no entanto, candidatar-se, pois teria que “fazer
frente” a seu irmão. Os dois estiveram vinculados à prefeitura de Nova Iguaçu durante a gestão de Rui
Queirós, por intermédio da empresa responsável pela limpeza urbana na cidade – CONDENI, envolvendo-se
em acusações de corrupção e mau uso do dinheiro público mas, apesar disso, não sofreram qualquer sanção
(sobre corrupção ver, por exemplo, Bezerra 1994 e 1998). A entrada de Fábio na vida pública deu-se como
Secretário de Educação e Cultura entre 1968 e 1970. Presidiu a Fundação Educacional de Nova Iguaçu de
1975 a 1976 e, também, a Companhia Municipal de Desenvolvimento até 1982.Após a morte do irmão, no
entanto, ocorrida em 1986, seu prestígio e liderança foram transferidos para Fábio, que conseguiu projeção
regional ao eleger-se deputado federal, pelo PTB, nesse mesmo ano.
Em 1969, Fábio fundou e, em seguida, dirigiu a Sociedade de Ensino Superior de Nova Iguaçu (SESNI) que
atendia à demanda de toda a região, visto que as instituições de ensino superior na Baixada eram escassas
nesse período. Com isso, adquiriu não somente knowhow, mas praticamente o monopólio de tal atividade na
região. Inicialmente, contando apenas com faculdades de pedagogia, ciências contábeis e direito, foi
conquistando cada vez mais alunos (majoritariamente trabalhadores de segmentos populares e de camadas
médias assalariadas que precisavam e/ ou desejavam aperfeiçoamento), ampliando assim a oferta de cursos e
seu orçamento particular. O carro-chefe da antiga SESNI – transformada em universidade em 1992 – agora
Universidade Iguaçu (UNIG), era (e ainda é) a faculdade de medicina (posteriormente, a ela somando-se a de
odontologia), que esteve rodeada de denúncias de compra de vagas, de gabaritos de provas, de venda de
diplomas e, por fim – fato decisivo para a trajetória política de Fábio Raunheitti: uso de dinheiro público em
sua instituição privada e nos hospitais da Posse e São José, informação que veio à tona no escândalo em que
ganhou a alcunha de “anão do Orçamento”.
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Duque de Caxias será administrada por interventores até 1985, ano em que finalmente elege seu primeiro
prefeito desde a instauração da ditadura militar. As relações políticas que têm o município como locus serão
objeto do próximo capítulo que analisará a trajetória de Zito.
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Em 1965, Darcílio, já filiado à ARENA (Aliança Renovadora Nacional) – partido que dava sustentação
política ao governo militar instaurado em 1964 – iniciou uma relação de apoio incondicional ao regime,
elegendo-se deputado estadual em 1970 e deputado federal em 1974 e 1978. Em 1979, filiou-se ao PDS,
reelegendo-se em 1982. Defensor do regime militar, impôs resistência às eleições para governadores,
senadores e deputados e colocou-se a favor da transferência do pleito de 1982 para 1986. Também fez
oposição à volta das eleições diretas para presidente da República, representada pela emenda Dante de
Oliveira, apresentada na Câmara em 25 de abril de 1984. Faleceu em 1986, transferindo sua base eleitoral ao
irmão, Fábio Raunheitti. João Batista Barreto Lubanco, por sua vez, integrante do mesmo partido de Darcílio
e ligado aos irmãos Raunheitti, elegeu-se vice-prefeito de Nova Iguaçu, em 1972, juntamente com o ex-
interventor, nessa ocasião prefeito também pela ARENA, Joaquim de Freitas. Em 1974, assumiu a prefeitura
após a renúncia do prefeito de Nova Iguaçu, em um processo aparentemente sem conflitos, no qual a
população não se pronunciou, mantendo a pretensa aparência de “ordem” (Alves, op. cit.).