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1
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ
CENTRO DE CIÊNCIAS HUMANAS, LETRAS E ARTES
DEPARTAMENTO DE GEOGRAFIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA (MESTRADO)
JOSÉ ANTÔNIO DE ANDRADE
AS UNIDADES DE PAISAGENS E OS SISTEMAS DE PRODUÇAO
AGRÍCOLAS NO MUNICÍPIO DE FLORAÍ-PR.
MARINGÁ-PR
2005
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2
JOSÉ ANTÔNIO DE ANDRADE
AS UNIDADES DE PAISAGENS E OS SISTEMAS DE PRODUÇAO
AGRÍCOLAS NO MUNICÍPIO DE FLORAÍ-PR.
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Geografia (Mestrado)
área de concentração: Análise Regional e
Ambiental, do Departamento de Geografia
do centro de Ciências Humanas, letras e
Artes da Universidade Estadual de Maringá
como parte dos requisitos para a obtenção
do título de Mestre em Geografia.
Orientadora: Profª Drª Maria Teresa da
Nóbrega
MARINGÁ
2005
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3
À
Rosangela e meus filhos Gustavo e Flávia,
Pelo amor e compreensão.
4
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Profª. Drª Maria Teresa de Nóbrega pela ética, e
especialmente pela oportunidade e orientação;
A Maurício Meurer pelo caráter e por compartilhar comigo um pouco do seu
conhecimento;
A Universidade Estadual de Maringá pelo curso de mestrado gratuito e de
qualidade;
Ao Programa de Pós-graduação Mestrado em Geografia e seus professores,
pela excelência de seu ensino;
Aos funcionários da Prefeitura Municipal de Floraí e demais órgãos
governamentais, pela colaboração;
A Fernando Manosso, Débora, Daniele, e demais companheiros de mestrado,
pela solidariedade;
Aos companheiros da EMATER-PR, pela cumplicidade que me permitiu
5
RESUMO
Neste trabalho, realizado no território do município de Floraí, procurou-se mediante
uma análise integrada dos elementos da paisagem, determinar diferentes
compartimentos, com base na sua estrutura geoecológica e sócio-econômica, seu
funcionamento e dinâmica. O propósito do estudo foi produzir conhecimentos
qualitativos e quantitativos de caráter social, econômico e ambiental que possam
fornecer subsídios para aplicação no planejamento territorial municipal. Assim, no
município foram identificadas três unidades de paisagem: unidade 1, denominada Platô
Elevado de Floraí; unidade 2, o Platô elevado de Nova Bilac; unidade 3, o Baixo
Patamar da Genúncia, que mostram as condições da evolução da paisagem nestas
áreas, e conseqüentemente, fornecer parâmetros para uma destinação adequada de seu
uso. O perfil produtivo do município esta intimamente ligado ao setor rural e
caracteriza-se por estar voltada ao setor primário, principalmente a produção de grãos
e cada vez mais alicerçada na cultura da soja, que vem promovendo transformações
nas paisagens dos compartimentos. Contudo, podemos afirmar, que quanto ao modo de
ocupação, Floraí exibe um padrão de comportamento característico que tem raízes
comuns, em toda região norte/noroeste do Paraná, advindas do modo de colonização
idealizadas pela CMNP (Companhia Melhoramentos Norte do Paraná). Por outro lado,
a compartimentação em unidades de paisagens mostra as diversidades que o território
do município apresenta em termos geoecológicos e sócio-econômicos, que podem,
desta forma também, serem considerados como unidades geoambientais de
planejamento, onde o sistema de produção com base agrícola interage com a estrutura
geoecológica (potencial ecológico) e é, ao mesmo tempo, dependente da estrutura
sócio-econômica aí estabelecida. Em cada compartimento foram selecionadas
propriedades típicas para ilustrar o sistema de produção e as condições sócio-
econômicas dos seus produtores, que retratam o perfil histórico da maioria das
propriedades rurais do município e representam o atual momento da agricultura local.
O modo de ocupação destas propriedades, mostra que foram incorporadas ao processo
produtivo através da lavoura cafeeira, passando gradualmente para outras atividades na
medida que surgiam alguma necessidade de se adaptarem aos processos das mudanças
ocorridas na conjuntura histórica da região.
Palavras-chave:
Compartimentação, paisagem agrícola, sistema de produção, estrutura geoecológica.
6
ABSTRACT
In this work, done in the town Floraí’s territory, it was looked for through an
integrated analysis of the elements of the landscape, to determine different
compartments, on the basis of its geoecológica and socio-economic structure, its
working and dynamics.The study’s intention was also to produce qualitative and
quantitative knowledge of social, economic and ambient character that can supply
subsidies for the application in the municipal territorial planning. Thus, in the town
three units of landscape had been identified: unit 1, called Florai’s Plateau; unit 2, the
Nova Bilac’s Plateau; unit 3, the of the Genúncia’s Compartment, that they tend to
show the conditions in the evolution of the landscape of these areas, and consequently,
to supply parameters and the correct destination of its use. The Town’s productive
profile is straight relat wiht the agricultural sector and is characterized for being faced
to the primary sector, mainly the production of grains and more and more based in the
culture of the soy, that has promoting transformations in the landscapes of the
compartments. However, we can affirm, that about the ocupation’s way much to the
occupation way, Floraí shows a standard of characteristic behavior that has common
roots, in all norte/noroeste region of the Paraná, happened by the setllement way
idealized by the CMNP (Company Improvements North of the Paraná). On the other
hand, the compartimention in units of landscape shows the varieties that the Town’s
territory also has in geoecológicos and socio-economic terms, that can,in this way
form, to be considered as geoambientais units of planning, where the production
system, with agricultural base, interacts with the geoecológica structure (potential
ecological) and is, at the same time, dependent of the socio-economic structure
established there. In each compartment were selected typical properties to illustrate the
system of production and the socio-economic conditions of its producers, that shows
the profile historical of the majority of the country properties of the Town and
represent the current moment of local agriculture. The way of occupation of these
properties, shows that had been incorporated to the productive process through the
coffee farming, passing gradually to other activities in the way that appeared some
necessity of adapt to the processes of the occured changes in the historical conjuncture
of the region.
Key-words:
Compartimention, agricultural landscape, system of production, geoecológica structure.
7
LISTA DE FIGURAS
F
IGURA
1. L
OCALIZAÇÃO DO MUNICÍPIO DE
F
LORAÍ
................................................... 28
F
IGURA
2. M
UNICÍPIO DE
F
LORAÍ
. P
RECIPITAÇÃO
T
OTAL
A
NUAL PARA O PERÍODO
1988
– 2003. A
LINHA INDICA A PRECIPITAÇÃO MÉDIA PARA O PERÍODO
(1566,94
MM
).
F
ONTE
: SUDERHSA (2004).............................................................................. 29
F
IGURA
3. M
UNICÍPIO DE
F
LORAÍ
. P
RECIPITAÇÃO
M
ÓDULO
M
ENSAL
,
PARA O PERÍODO
1988 – 2003. F
ONTE
: SUDERHSA (2004)....................................................... 30
F
IGURA 4. MAPA GEOLÓGICO DO MUNICÍPIO DE FLORAÍ. .......................................... 31
F
IGURA
5. M
APA
H
IPSOMÉTRICO DO MUNICÍPIO DE
F
LORAÍ
....................................... 32
F
IGURA
6. M
APA DE
D
ECLIVIDADES DO MUNICÍPIO DE
F
LORAÍ
.................................. 33
F
IGURA 7. MAPA DE S DO MUNICÍPIO DE FLORAÍ....................................................... 35
F
IGURA
8. E
VOLUÇÃO DA
P
OPULAÇÃO
T
OTAL
, P
OPULAÇÃO
U
RBANA E
P
OPULAÇÃO
RURAL DE FLORAÍ. FONTE: 1970 – PREFEITURA MUNICIPAL DE FLORAÍ; 1980 –
1991-- 2000 – IBGE (2004). ............................................................................. 48
F
IGURA
9. D
ISTRIBUIÇÃO DA
P
OPULAÇÃO POR
F
AIXAS
E
TÁRIAS
. F
ONTE
: IPARDES/
C
ENSO 2000. ...................................................................................................... 49
F
IGURA
10 P
ERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. S
AFRA
1990 – 1991. F
ONTE
: SEAB - DERAL (2004).......... 53
F
IGURA
11.P
ERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. S
AFRA
1991 – 1992. F
ONTE
: SEAB - DERAL (2004).......... 54
F
IGURA 12.PERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. S
AFRA
1992 – 1993. F
ONTE
: SEAB - DERAL (2004).......... 54
F
IGURA
13. P
ERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. S
AFRA
1993 – 1994. F
ONTE
: SEAB - DERAL (2004).......... 55
F
IGURA
14.P
ERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. S
AFRA
1994 – 1995. F
ONTE
: SEAB - DERAL (2004).......... 55
F
IGURA
15.P
ERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. S
AFRA
1995 – 1996. F
ONTE
: SEAB - DERAL (2004).......... 56
F
IGURA
16.P
ERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. S
AFRA
1996 – 1997. F
ONTE
: SEAB - DERAL (2004).......... 57
F
IGURA 17. PERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. S
AFRA
1997 – 1998. F
ONTE
: SEAB - DERAL (2004).......... 57
F
IGURA
18. P
ERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. SAFRA 1998 – 1999. FONTE: SEAB - DERAL (2004).......... 58
F
IGURA
19.P
ERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. SAFRA 1999 – 2000. FONTE: SEAB - DERAL (2004).......... 58
F
IGURA
20.P
ERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. S
AFRA
2000 – 2001. F
ONTE
: SEAB - DERAL (2004).......... 59
F
IGURA
21. P
ERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. S
AFRA
2001 – 2002. F
ONTE
: SEAB - DERAL (2004).......... 59
F
IGURA
22. P
ERCENTUAL DE PARTICIPAÇÃO DE CADA CULTURA SOBRE A ARRECADAÇÃO
TOTAL DA SAFRA
. S
AFRA
2002 – 2003. F
ONTE
: SEAB - DERAL (2004).......... 60
F
IGURA
23. U
NIDADES DE
P
AISAGEM DO
M
UNICÍPIO DE
F
LORAÍ
................................ 62
F
IGURA
24. V
ISTA DO COMPARTIMENTO
P
LATÔ
E
LEVADO DE
F
LORAÍ
. O
BSERVAR O
PREDOMÍNIO DAS BAIXAS DECLIVIDADES E A OCUPAÇÃO POR LAVOURAS DE
INVERNO
(
GIRASSOL
,
MILHO SAFRINHA E PASTAGEM
). ....................................... 64
F
IGURA
25. D
ETALHE DO COMPARTIMENTO
P
LATÔ
E
LEVADO DE
N
OVA
B
ILAC
.
O
BSERVAR AS VERTENTES LONGAS
,
COM DECLIVIDADES ACENTUADAS
. O
CUPAÇÃO
COM MILHO SAFRINHA E PASTAGEM
.................................................................... 66
8
F
IGURA
26. V
ISTA DO AVANÇO DA CANA DE AÇÚCAR SOBRE O COMPARTIMENTO
P
LATÔ
E
LEVADO DE
N
OVA
B
ILAC
. ................................................................................ 68
F
IGURA 27. VISTA PARCIAL DO COMPARTIMENTO BAIXO PATAMAR DA GENÚNCIA EM
DIREÇÃO AO VALE DO
R
IBEIRÃO
G
ENÚNCIA
....................................................... 69
F
IGURA
28. M
APA DA
E
STRUTURA
F
UNDIÁRIA DO
M
UNICÍPIO DE
F
LORAÍ
. E
LABORADO
PELA
C.M.N.P –1952. ........................................................................................ 72
F
IGURA
29. C
ROQUI ESQUEMÁTICO DAS ATIVIDADES DENTRO DA PROPRIEDADE
. ...... 76
F
IGURA 30. TOPOSSEQUÊNCIA ESQUEMÁTICA DA PROPRIEDADE, BASEADO EM
LEVANTAMENTO DE CAMPO
................................................................................ 76
F
IGURA
31. P
ANORAMA DO AVANÇO DA SOJA SOBRE ÁREAS DE PASTAGEM NO ARENITO
,
NO COMPARTIMENTO PLATÔ ELEVADO DE FLORAÍ............................................. 82
F
IGURA
32. C
ROQUI ESQUEMÁTICO DAS ATIVIDADES DENTRO DA PROPRIEDADE
. ...... 83
F
IGURA
33. E
SQUEMA DA TOPOSSEQÜÊNCIA DA PROPRIEDADE BASEADO EM
LEVANTAMENTO DE CAMPO
................................................................................ 83
F
IGURA
34. C
ROQUI ESQUEMÁTICO DAS ATIVIDADES DENTRO DA PROPRIEDADE
. ...... 89
F
IGURA 35. TOPOSSEQÜÊNCIA ESQUEMÁTICA DA PROPRIEDADE, BASEADA EM
LEVANTAMENTO DE CAMPO
................................................................................ 89
F
IGURA
36. C
ROQUI ESQUEMÁTICO MOSTRANDO A DIVISÃO ORIGINAL DOS LOTES QUE
HOJE FORMAM A
F
AZENDA
S
ANTA
B
ÁRBARA
..................................................... 95
F
IGURA
37. C
ROQUI ESQUEMÁTICO DAS ATIVIDADES DENTRO DA PROPRIEDADE
. ...... 96
F
IGURA 38. TOPOSSEQÜÊNCIA ESQUEMÁTICA DA PROPRIEDADE, BASEADA EM
LEVANTAMENTO DE CAMPO
................................................................................ 96
F
IGURA
39. V
ISTA DAS ESTRUTURAS DE ARMAZENAMENTO DE GRÃOS DAS
PROPRIEDADES DO COMPARTIMENTO
B
AIXO
P
ATAMAR DA
G
ENÚNCIA
. ........... 100
F
IGURA
40. A
SPECTOS DA DIVERSIFICAÇÃO DE ATIVIDADES PRESENTES NA PAISAGEM
AGRÍCOLA DO MUNICÍPIO DE
FLORAÍ. ............................................................... 106
F
IGURA
41. O
UTROS ASPECTOS DA DIVERSIFICAÇÃO DE ATIVIDADES AGRÍCOLAS DA
PAISAGEM NO MUNICÍPIO DE
F
LORAÍ
. ............................................................... 107
9
LISTA DE TABELAS
T
ABELA
1 - D
ISTRIBUIÇÃO DAS
C
LASSES DE DECLIVIDADE NO
M
UNICÍPIO DE
F
LORAÍ
34
T
ABELA
2 - L
ISTAGEM DOS
P
RODUTOS
A
GRÍCOLAS DO
M
UNICÍPIO DE
F
LORAÍ
– P
ERÍODO
1999 - 2003........................................................................................................ 50
T
ABELA
3 – O
CUPAÇÃO DO
S
OLO NO
M
UNICÍPIO DE
F
LORAÍ
– A
NO
A
GRÍCOLA
2003/2004 .......................................................................................................... 51
T
ABELA
4 – P
RINCIPAIS
A
TIVIDADES DE
C
RIAÇÕES DESENVOLVIDAS NO
M
UNICÍPIO DE
FLORAÍ ANO AGRÍCOLA 2003/2004................................................................... 52
T
ABELA
5 – C
ATEGORIAS DE
P
RODUTORES
R
URAIS NO
M
UNICÍPIO DE
F
LORAÍ
– A
NO
A
GRÍCOLA
2003/2004 ........................................................................................ 72
T
ABELA 6 - PRINCIPAIS ATIVIDADES EXERCIDAS NA PROPRIEDADE .......................... 75
T
ABELA
7 – M
AQUINÁRIOS E
I
MPLEMENTOS
E
XISTENTES NA
P
ROPRIEDADE
............. 79
T
ABELA 8 - PRINCIPAIS ATIVIDADES EXERCIDAS NA PROPRIEDADE .......................... 82
T
ABELA
9 - M
AQUINÁRIOS E
I
MPLEMENTOS
E
XISTENTES NA
P
ROPRIEDADE
........ 85
T
ABELA
10 - P
RINCIPAIS
A
TIVIDADES
E
XERCIDAS NA
P
ROPRIEDADE
........................ 88
T
ABELA 11 - MAQUINÁRIOS E IMPLEMENTOS EXISTENTES NA PROPRIEDADE............ 91
T
ABELA
12 - P
RINCIPAIS
A
TIVIDADES
E
XERCIDAS NA
P
ROPRIEDADE
........................ 94
T
ABELA
13 - M
AQUINÁRIOS E
I
MPLEMENTOS
E
XISTENTES NA
P
ROPRIEDADE
............ 98
10
LISTA DE SIGLAS
AGROPAR – Comercial Agrícola Gimenez;
AGROSOJA – Comercio de Cereais Ltda;
AMUSEP - Associação dos Municípios do Setentrião Paranaense;
CMNP – Companhia de Melhoramentos Norte do Paraná;
COCAMAR – Cocamar Cooperativa Agroindustrial;
DERAL – Departamento de Economia Rural;
EMATER-PR - Empresa Paranaense de Assistência Técnica e Extensão Rural;
EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária;
FAMEPAR – Fundação de Assistência aos Municípios do Estado do Paraná;
FERTIFRAN – Fertilizantes Fronzoe Ltda:
FPM – Fundo de Participação dos Municípios;
IAPAR – Instituto Agronômico do Paraná;
IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;
INTEGRADA – Cooperativa Agropecuária de Produção integrada do Paraná;
IPARDES – Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social;
PDA – Perfil da Realidade Agrícola.
PIB – Produto Interno Bruto;
PROGER – Programa de Geração de Emprego e Renda;
PRONAF – Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar;
SEAB – Secretaria de Estado da Agricultura e do Abastecimento;
SICRED – Sistema de Credito Cooperativo – Cooperativa de Credito Rural de
Maringá Ltda;
SUDERHSA –Superintendência de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos e
Saneamento Ambiental;
UEM – Universidade Estadual de Maringá;
11
SUMÁRIO
RESUMO.................................................................................................................... 5
LISTA DE FIGURAS................................................................................................ 7
LISTA DE TABELAS............................................................................................... 9
LISTA DE SIGLAS................................................................................................. 10
1 INTRODUÇÃO ........................................................................................... 13
2
BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS................................................. 15
2.1 O E
STUDO DA
P
AISAGEM
.................................................................................... 17
3
MÉTODOS E TÉCNICAS ......................................................................... 21
3.1 C
OMPARTIMENTAÇÃO DA
P
AISAGEM
.......................................................... 21
A
S FORMAS DE SE CLASSIFICAR UMA PAISAGEM SÃO INÚMERAS
,
E VARIAM EM
FUNÇÃO DO ENFOQUE QUE É DADO POR CADA PESQUISADOR E EM FUNÇÃO DO USO
DADO AO RESULTADO FINAL
. .................................................................................... 21
3.2 E
STUDO DOS
A
SPECTOS
F
ÍSICOS
........................................................................ 22
3.3 E
STUDO
H
ISTÓRICO
, D
EMOGRÁFICO E
E
CONÔMICO DO
M
UNICÍPIO
............... 23
3.4 A
S
P
ROPRIEDADES
T
ÍPICAS
................................................................................ 23
3.5 C
LASSIFICAÇÃO DOS
P
RODUTORES
R
URAIS
...................................................... 24
3.5.1 Produtores de Subsistência (PS) ou Produtores Simples de Mercadorias 1
(PSM 1) ................................................................................................ ..................... 24
3.5.2 Produtores Simples de Mercadorias 2 (PSM 2) ............................................. 24
3.5.3 Produtores Simples de Mercadorias 3 (PSM 3) ............................................. 25
3.5.4 Empresários Familiares (EF) ......................................................................... 25
3.5.5 Empresários Rurais (ER) ................................................................................ 26
3.5.6 Trabalhadores Rurais (TR) ............ ................................................................. 26
4 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO....................................................... 27
5 A
PRESENTAÇÃO E
D
ISCUSSÃO DOS
R
ESULTADOS
................................................. 29
5.1 SITUAÇÃO FÍSICA DA ÁREA ......................................................................... 29
5.1.1 Síntese da Distribuição dos Solos ................................................................... 40
5.2 O M
UNICÍPIO DE
F
LORAÍ
: E
STRUTURA
S
ÓCIOECONÔMICA
............................. 41
5.2.1 Histórico do Povoamento ................................ ................................................ 41
5.2.2 População ......................................................................................................... 48
5.2.3 Atividades Econômicas4 ............................................................................ ...... 49
6 A C
OMPARTIMENTAÇÃO DA
P
AISAGEM
N
O
M
UNICÍPIO DE
F
LORAÍ
................... 61
6.1
Unidade 1 – Platô Elevado de Floraí ........................................................... 63
6.2 Unidade 2 – Platô Elevado de Nova Bilac ................................................... 65
6.3 Unidade 3 – Baixo Patamar da Genúncia ................................................... 69
6.4 A
S
U
NIDADES DA
P
AISAGEM E AS
P
ROPRIEDADES
T
ÍPICAS
: D
IAGNÓSTICO DA
P
ROPRIEDADE
T
ÍPICA
............................................................................................... 71
6.4.1 Estrutura Fundiária do Município de Floraí ............ ..................................... 71
6.4.2 Propriedades Típicas da Un idade 1 - Platô Elevado de Floraí ...................... 73
6.4.3 Propriedade Típica da Unidad e 2 - Platô Elevado de Nova Bilac ................. 86
6.4.4 Propriedade Típica da Unidad e 3 – Baixo Patamar da Genún cia ................ 92
6.5 A
S
T
RANSFORMAÇÕES E A
D
INÂMICA ATUAL DA
P
AISAGEM
............................ 99
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................................................................ 108
12
REFERÊNCIAS .................................................................................................... 111
D
OCUMENTOS
T
EXTUAIS OU
I
MPRESSOS
............................................................... 111
D
OCUMENTOS DE
A
CESSO
E
XCLUSIVO EM
M
EIO
E
LETRÔNICO
........................... 114
E
NTREVISTAS
.......................................................................................................... 115
13
1 INTRODUÇÃO
Não é possível pensar em uma paisagem agrícola produtiva ou em
desenvolvimento rural de forma isolada, sem articulação com a comunidade. Um
modelo de paisagem rural em desenvolvimento seja ele qual for, deve sempre
contemplar a comunidade, articulando-se e integrando-se com os seus mais diversos
setores.
A busca por um modelo produtivo que se encaixe em todos os segmentos da
sociedade, que permita uma aliança entre produtividade e preservação do ambiente é
um desafio que está sendo imposto aos pequenos municípios agrícolas do Brasil.
Sendo a agricultura o principal meio de sustentação dos pequenos municípios
do norte/noroeste do Paraná, é importante que o modelo de agricultura adotado por
estes municípios seja um modelo que busque manter a fertilidade natural dos solos,
base da atividade econômica local, preservando também a biodiversidade regional, a
qualidade dos recursos hídricos e, reciclando os recursos naturais disponíveis, como
forma de economizar esses recursos existentes, fazendo com que apesar da sua
exploração, possa continuar com capacidade de manutenção e reprodução da sociedade
aí instalada.
As atividades humanas se inscrevem e deixam marcas visíveis no espaço
geográfico (suporte), e sua observação sistemática, de acordo com Deffontaines
(1998), permite uma apreensão das estruturas espaciais dessas atividades,
principalmente da atividade agrícola, de determinados aspectos funcionais relativos às
praticas e aos sistemas agrícolas.
Assim, a atividade agrícola se constitui em uma forma de produção de
paisagem e, a análise em um meio de conhecimento dos modos de organização
espacial da atividade agrícola.
Considerando-se tais pressupostos, fica clara a necessidade da elaboração de
um estudo de paisagem no município de Floraí, estudo este que permita aos
agricultores, técnicos do poderes públicos e demais envolvidos com as questões
agrárias e do ambiente local visualizar com maior clareza as diferenças geoecológicas
existentes entre alguns setores do município.
Neste contexto, surge esta proposta de elaborar um trabalho sobre o município
de Floraí, enfocando a diversidade do seu potencial geoecológico (aspectos naturais), o
seu perfil produtivo; e os recursos humanos. Espera-se, com este trabalho, oferecer
14
subsídios para a tomada de decisão sobre as alternativas de produção, dos meios de
produção, de conservação ambiental e, objetivando o desenvolvimento rural, a fixação
do homem na terra e, a conservação e ampliação da estrutura fundiária existente no
território de Floraí, caracterizada pela predominância de pequenas e médias
propriedades, que tem se mostrado como um ponto forte da sustentação econômica e
social local.
Esta pesquisa teve como objetivo principal a identificação de unidades de
paisagens homogêneas do ponto de vista do potencial ecológico, segundo o conceito
de Bertrand (1971), e o reconhecimento das suas formas de uso e ocupação. Em um
segundo momento, em uma outra escala de abordagem, objetivou-se a identidade dos
sistemas de produção, definidos a partir de analise da organização e funcionamento de
propriedades rurais típicas no interior de unidade de paisagem. Buscou-se, a partir de
uma abordagem sistêmica, reconhecer as relações existentes entre a estrutura
geoecológica da paisagem em cada unidade, o potencial geoecológico e seus sistemas
de produção agrícola.
15
2 BASES TEÓRICO-METODOLÓGICAS
No século XX, em alguns países, a agricultura passa por verdadeiras
revoluções. Nesta época, o Brasil se voltou para a abertura de novas fronteiras
agrícolas tendo iniciado, por volta de 1920, um processo de colonização no noroeste
do Paraná (BUCHE, 2002). Isto provocou uma complexa mudança na paisagem desta
região do estado.
A utilização dos recursos naturais no Norte / Noroeste Paranaense, região em
que se insere o município de Floraí, caracterizou-se desde o início da sua colonização,
e mais particularmente a partir de 1950, pela implantação de sistemas agrícolas de
exploração desses recursos e de obtenção de renda imediata, quase sempre decorrentes
de políticas governamentais que favoreciam o cultivo de produtos voltados a criar
excedentes exportáveis, enfatizando no agricultor uma mentalidade voltada apenas
para o mercantilismo. Foi neste período que o desenvolvimento da agricultura
brasileira se voltou para a valorização da agricultura de grande porte, por ser esta
economicamente mais privilegiada. Esse modelo de agricultura seria o instrumento
utilizado pelo país visando a modernização do setor rural, numa visão capitalista, em
consonância com os grandes grupos econômicos produtores de insumos agrícolas,
claramente interessados numa mudança do perfil agrícola regional, que forçasse uma
redução do papel regulador do estado, entregando à pura lógica dos mercados o
destino do desenvolvimento dos pequenos municípios e dos pequenos agricultores. Em
conseqüência estes agricultores vão sendo, aos poucos, deslocados do seu local de
produção.
Ao longo deste período a agricultura brasileira foi marcada por um ambiente de
forte competição, gerada pelo crescimento da economia mundial e pela globalização
dos mercados. O forte protecionismo por parte dos EUA, do Japão e dos países da
Europa, que procuravam mediante barreiras econômicas, alfandegárias e sanitárias
proteger seus mercados agrícolas (MORO, 1991), aliados a fatores internos, como a
dificuldade de acesso ao crédito e a pouca disponibilidade desse crédito, as altas taxas
de juros, e as dificuldades de acesso a novas tecnologias, afetaram principalmente a
pequena propriedade, que geralmente é trabalhada em sistema de produção familiar,
onde os conjuntos dos trabalhos são realizados pela família do agricultor, empregando-
se a mão de obra de todos os componentes que formam uma família: homens,
mulheres, jovens, crianças, e idosos. Esse tipo de agricultura foi, e continua sendo,
16
durante todo o tempo, o modelo de manejo da propriedade rural trabalhada em Floraí.
Para essas pessoas, as decisões sobre quanto e como produzir, não são determinadas
apenas por fatores como preço e lucro. Ao lado dos componentes impostos pelo
mercado funcionam outros componentes voltados a atender as mais diversas
necessidades da família, nem todos vinculados à renda monetária da propriedade.
O processo de modernização partia da premissa de que a simples transferência
de tecnologia e pacotes tecnológicos promoveriam o desenvolvimento social e
econômico dos agricultores, no entanto a grande maioria não apresentava condições de
conhecimento, nem recursos materiais e financeiros e muito menos preparo
educacional para absorver as tecnologias propostas, uma vez que estas tecnologias não
estavam adequadas à sua realidade, ou os processos de transferência eram direcionados
a uma parcela mais apta a receber e conceber mudanças (MORO, 1991).
No meio rural, a paisagem revela o desenvolvimento socioeconômico e, os
efeitos predatórios da exploração agrícola. Em Floraí a homogeneização das práticas
produtivas agrícolas, induzidas pela corrida da lucratividade imediata, intensificou a
erosão e levaram ao empobrecimento do solo, comprometeram a quantidade e a
qualidade dos recursos hídricos e levaram ao esgotamento as formações vegetais
originais.
Ao se destacar as causa básicas dos problemas ambientais locais, percebe-se
que não houve uma preocupação com qualquer tipo de planificação ou ordenamento da
exploração. Neste aspecto, em todo norte/noroeste do Paraná, ocorreram mudanças
drásticas da paisagem, influenciadas pela alta fertilidade dos solos e pela força do
trabalho do homem, que aqui se juntaram para formar um novo panorama agrícola.
Este novo panorama provocou profundas mudanças ambientais e
socioeconômicas na região. Por este motivo é conveniente, ao se fazer qualquer nova
interferência ou modificação, que se incorpore estudos integrados da paisagem, com
suas fases de análise, diagnóstico, correção de impactos, prognósticos e sínteses.
Considerar a paisagem como categoria de análise pode ser importante nos momentos
de tomadas de decisão, de forma que o seu estudo resulte em algo operativo.
17
2.1 O ESTUDO DA PAISAGEM
O termo paisagem, expressão muito comum ao homem atual, foi introduzido
como conceito geográfico-científico no inicio do século XIX por Alexander Von
Humboldt, considerado como o grande pioneiro da geografia física e geobotânica.
Humboldt definiu paisagem como “o caráter total de uma área geográfica”.
Procurando conhecer as inter-relações entre os componentes da paisagem, esse
estudioso tinha como preocupação principal as características físicas do meio
ambiente, sem, todavia negligenciar os aspectos humanos (SOARES FILHO, 1998). O
cientista alemão apresenta idéias fundamentais para a compreensão da paisagem e da
estrutura da superfície terrestre em seu conjunto, como a importância das relações
existentes entre os elementos, e definindo este conjunto como um “organismo vivo”.
Foi ele o primeiro a apresentar o funcionamento do conjunto da estrutura da superfície
terrestre de forma coerente (DIAS, 1998).
A paisagem sempre esteve presente no temário geográfico ocupando lugar de
destaque, juntamente com a região, o meio e o espaço, e é popularmente definido
mediante seu significado sensorial, real ou representativo (RIBEIRO, 1989). É de
conhecimento das ciências que os homens primitivos se movimentavam sobre a
superfície da terra, e sobre ela, colhiam vegetais e encontravam animais úteis a sua
sobrevivência e alimentação, ou retiravam materiais suficientes para confeccionarem
alguns objetos e pigmentos para suas pinturas, e através do tempo, os grupos humanos
sabiam que determinadas áreas facilitavam-lhes a sobrevivência, que em determinadas
paisagens tinham acesso a abrigos mais seguros, em outras os terrenos eram melhores
para caminhar, e que em outras paisagens encontrariam matérias primas para tais
formas ou tipos de objetos ou pigmentos para pintura. Viviam de maneira errante e
nômade e em sua luta pela sobrevivência pouco ou nada refletiram sobre o meio e a
paisagem a sua volta, que muito provavelmente era vista como algo fixa e imutável.
No entanto em um período iniciado após a última era glacial (cerca de 10.000 anos
atrás) a maior parte dos grupos humanos começaram a fixar-se em determinados
territórios e iniciaram o cultivo de plantas para obter mais facilmente parte de seus
alimentos (LEPSCH, 2002). Iniciaram a agricultura, com plantio de sementes, e assim
pela primeira vez o homem determinou alguma mudança na paisagem e a partir daí,
sob a ação antrópica, há uma ruptura da dinâmica natural da paisagem e esta passa a
ser regida, então, por uma dinâmica dupla: uma estrutura impregnada do trabalho
18
comandado pelo homem, conjuntamente com a dinâmica da natureza.(DIAS, 1998).
Através do tempo que se segue, a paisagem, aparece sempre presente ao longo da
história humana e na maioria das vezes como motivo de admiração, inspiração ou
mesmo mantenedora da vida (BUCHE, 2003). A primeira referência à palavra
paisagem na literatura aparece no “Livro dos Salmos”, poemas líricos do antigo
testamento, escritos por volta de 1.000 AC, em hebraico, por diversos autores, mas
atribuídos na maioria ao rei Davi. No livro dos salmos, a paisagem refere-se á bela
vista que se tem do conjunto de Jerusalém, com templos, castelos e palacetes do rei
Salomão. Essa noção inicial, visual e estética, foi adotada em seguida pela literatura e
pelas artes em geral (MATZGER, 2001). Na idade média os jardins se tornam áreas
abertas e freqüentadas por intelectuais, estudantes e artistas, sendo a partir daí,
definitivamente incorporadas ao meio urbano (BUCHE, 2003). Ao final do século XV,
originados da escola de paisagistas holandeses, aparece o termo paisagem para
denominar a arte de pintores que retratavam a superfície de terra firme, não o mar,
cujos quadros dava-se o nome de marinas. Na Inglaterra do século XVII, aparece o
termo “landscape”, utilizado com o mesmo sentido, concepção que perdura ate nossos
dias (BOLÓS, 1992).
As grandes mudanças de pensamento que ocorrem entre os séculos XV e XVI,
forçam a troca da paisagem idealizada pela concreta, fazendo o conceito de paisagem
formar um mosaico entre os elementos naturais e não naturais, com a natureza
perdendo o seu senso estético e de apenas mantenedora da vida, passando a ser uma
máquina que se opera e se manipula, desde que sejam conhecidas as regras do seu
funcionamento, instituindo assim um caráter mais científico (BUCHE, 2003),
evidenciando um caráter interativo e integrador da combinação dinâmica entre os
elementos da natureza e os da sociedade, assim como também ressalta o processo
dialético das transformações que se unificam na própria paisagem (RIBEIRO, 1989).
A partir do século XIX, o termo paisagem é comumente utilizado em geografia,
em geral, se concebe como o conjunto de forma que caracterizam um setor
determinado da superfície terrestre (BOLÓS, 1992), e até a primeira metade do século
XX, fica sendo o período de construção da maior parte das bases teóricas, em relação à
concepção cientifica da paisagem, é quando se consegue grandes avanços na
conceituação do termo, principalmente por parte dos discípulos de Humboldt, que
prosseguem os estudos a respeito da estrutura da superfície da terra (DIAS, 1998).
19
Nos anos 40 e 50 do século passado, a humanidade começa a tomar consciência
de que pertence a este complexo conjunto denominado “natureza”, e graças ao qual
pode viver, e a partir daí, se populariza as idéias de conservação da paisagem,
considerada como um bem da sociedade. Os estudos da paisagem adquirem
importância crescente, em princípio pelos profissionais ligados a geografia e
posteriormente com especialistas de outras disciplinas (BOLÓS, 1992).
Na década de 1960, o conceito de sistema é incorporado à Geografia mediante
concepção de geossistema formulada por Sotchava (1962). Geossistema, de acordo
com as proposições deste autor, é uma classe peculiar dos sistemas dinâmicos abertos
e hierarquicamente organizados. Considera a terra o ambiente geográfico ou o
geossistema planetário, que se divide em inúmeros domínios. São constituídos de
componentes naturais, seus relevos, o clima, as águas subsuperficiais e superficiais, os
solos, as comunidades vegetais e animais e por seu funcionamento e sua dinâmica,
numa interação complexa, como um sistema aberto. Na teoria o geossistema é
reconhecido como algo real, objetivo, independente da nossa consciência dos sistemas
territoriais naturais. São reconhecidos também como formas geográficas da matéria em
movimento, regidas por leis naturais e pela compreensão de sua estrutura e as
manifestações sistêmicas da sua funcionalidade (MELO, 1995).
Focalizando apenas a concepção sistêmica, propriamente dita, o conceito de
geossistema em Christofoletti (1995) possui a mesma lógica: Os geossistemas
“representam a organização espacial resultante da interação dos elementos
componentes físicos da natureza, possuindo expressão espacial na superfície terrestre e
representando uma organização (sistema) composta por elementos, funcionando
através de fluxos de energia e matéria. As combinações de massa e energia, no amplo
controle energético ambiental poderão criar heterogeneidades internas no geossistema,
expressando-se em mosaico paisagístico. Há os fluxos na dimensão horizontal
conectando as diversas combinações paisagísticas internas. Independentemente da
ação e presença humana, a natureza, físico-biológica do sistema terrestre organiza-se
ao nível dos ecossistemas e geossistemas” (CHRISTOFOLETTI, 1995).
Bertrand (1971) explica o funcionamento do geossistema mediante um esboço
teórico, e o situa como uma unidade básica de tratamento espacial numa escala
taxonômica de paisagem entre a regional e a local, caracterizada por uma relativa
homogeneidade dos seus componentes, cuja estrutura e dinâmica resulta da interação
entre o “potencial ecológico”, a “exploração biológica” e a “ação antrópica”. O
20
geossistema estaria em clímax quando o potencial ecológico e a exploração biológica
se encontrassem em equilíbrio.
Bolós (1992) esclarece que são muito numerosas as variáveis que podem se
considerar em um geossistema, e que ele representa o nível mais alto de organização
da epigeosfera, e quanto a sua seleção, aparecem vários tipos de elementos
fundamentais, que constituem por sua vez os subsistemas de primeira e segunda
ordem: o subsistema abiótico, o subsistema biótico e o subsistema organizado pelo
homem, entre estes subsistemas, encontram-se as zonas de transição, denominadas
“interfaces”. Entre os subsistemas abiótico e biótico, temos o subsistema edáfico e,
entre o conjunto dos subsistemas naturais e o socioeconômico ou antrópico, temos os
sistemas agrários ou agrossistemas (BOLÓS, 1992).
O homem sustenta a sua economia explorando os recursos naturais, não
podendo, com isso, evitar um certo grau de utilização dos elementos da paisagem. Esta
paisagem se modifica constantemente devido à extração de matérias-primas.
Considerando-se que os recursos naturais são esgotáveis, é necessário controlar seu
uso, prevenido-se, dessa forma, a sua destruição, a sua contaminação ou a sua
deterioração irreversível (VILAS, 1992).
21
3 MÉTODOS E TÉCNICAS
Buscando atingir os objetivos propostos, empregou-se neste trabalho um
conjunto de métodos e técnicas, descritos nos itens a seguir.
3.1 COMPARTIMENTAÇÃO DA PAISAGEM
As formas de se classificar uma paisagem são inúmeras, e variam em função do
enfoque que é dado por cada pesquisador e em função do uso dado ao resultado final.
Ao realizar uma compartimentação de paisagem, deve-se ter em mente que se
trabalha com a complexidade de um sistema. Segundo Bolós (1992) sistema pode ser
definido por “um conjunto de elementos em interação”. Dessa forma, uma
classificação de paisagem representa uma tentativa de construção de um modelo. Este
modelo, resultante do trabalho de compartimentação, dificilmente conseguirá sintetizar
toda a complexidade de uma paisagem, o que não o invalida.
A compartimentação do município em unidades de paisagens baseou-se na
construção de um modelo descritivo dinâmico, que segundo Bolós (1992) representa
uma realidade observada e leva em consideração a evolução dos processos ao longo do
tempo e do espaço e nos procedimentos metodológicos propostos por Bertrand (1971)
posteriormente descritas por Monteiro (2000). Para os autores supracitados, a
compartimentação tem princípios que permitem compreender a paisagem como um
todo, ainda que analisada em suas partes, pois a análise sistêmica da paisagem, por um
lado, conduz ao estudo das relações de interdependência existente entre os
componentes do meio físico, permitindo conhecer seus mecanismos e funcionamento;
por outro lado, a compartimentação da paisagem física também permite a identificação
de áreas homogêneas no município, cujo arranjo espacial se deve a uma origem
comum e cuja semelhança dos aspectos bióticos e abióticos traduzem uma mesma fase
evolutiva. Do ponto de vista prático, essas paisagens se comportam como verdadeiras
unidades de manejo ambiental, em alguns casos facilitando a tomada de decisões
quanto a sua utilização.
22
3.2 ESTUDO DOS ASPECTOS FÍSICOS
O estudo dos aspectos físicos foi realizado de duas formas: uma parte apoiada
sobre a bibliografia disponível, e outra com informações de campo.
A caracterização climática do município foi complementada pelo tratamento
estatístico dos dados de pluviometria oriundos da estação pluviométrica da
SUDERHSA – Superintendência de Desenvolvimento dos Recursos Hídricos e
Saneamento presente no município.
As informações sobre a geologia foram extraídas do Mapa Geológico do
Estado do Paraná, disponibilizado pela MINEROPAR (2004), e complementadas por
informações de campo.
As informações sobre a cobertura pedológica foram extraídas do Levantamento
de Reconhecimento dos Solos do Noroeste do Estado do Paraná, elaborado pelo
Ministério da Agricultura (1971), e de informações de campo, aplicando-se o Sistema
Brasileiro de Classificação de Solos, elaborado pela EMBRAPA (1999).
A elaboração do mapa hipsométrico foi realizada com o auxílio do software
SPRING 4.0
®
. As curvas de nível foram extraídas da carta topográfica “São Jorge do
Ivaí”, Folha SF-22-Y-D-I-3, Escala 1/50.000, elaborada pelo IBGE, e digitalizadas no
software AutoCAD Map 2000
®
.
Importadas as curvas no SPRING 4.0
®
, foi gerada uma grade retangular regular
de interpolação, a partir da qual foi feito o fatiamento do relevo, gerando o mapa
hipsométrico.
A elaboração do mapa de declividade foi realizada em ambiente SPRING 4.0
®
,
a partir das curvas de nível importadas para a realização do Mapa Hipsométrico.
A partir das curvas de nível foi gerada uma grade triangular irregular de
interpolação, da qual foi gerada uma grade de cálculo de declividade. Gerada esta
segunda grade, foi realizado o fatiamento das classes de declividade de acordo com a
proposta elaborada pela EMBRAPA (1999).
23
3.3 ESTUDO HISTÓRICO, DEMOGRÁFICO E ECONÔMICO DO MUNICÍPIO.
O estudo histórico do município de Floraí foi realizado a partir de informações
coletadas em livros, folhetos, almanaques e outros documentos disponíveis. Além
desta pesquisa bibliográfica, foram realizadas algumas entrevistas com os pioneiros e
moradores do município, onde estes relataram como se deu o povoamento de Floraí.
As informações demográficas foram coletadas, em sua maioria, dos dados
censitários do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística complementadas
por dados de outros órgãos, como por exemplo a Prefeitura do Município de Floraí.
No que se refere aos dados econômicos e de produção agropecuária, os dados
foram coletados junto ao Paranacidade e a SEAB/DERAL – Secretaria da Agricultura
e Abastecimento do Estado do Paraná / Departamento de Economia Rural, EMATER-
PR, escritório local de Floraí, COCAMAR – Cocamar Cooperativa Agroindustrial,
INTEGRADA – Cooperativas Integradas do Norte do Paraná e Prefeitura Municipal
de Floraí.
3.4 AS PROPRIEDADES TÍPICAS
A metodologia aplicada para a definição das propriedades típicas consiste em
uma adaptação do modelo de trabalho preconizado pelo IAPAR (1997), e utilizado
pela extensão rural oficial do estado do Paraná. Esta metodologia define uma rede de
propriedades de referências (também chamadas propriedades padrão ou típicas), que
são um conjunto de propriedades representativas dos sistemas de produção
encontrados em uma região edafo-climática e socioeconômicamente homogênea
(IAPAR, 1997). Este método de utilização das propriedades típicas em cada
compartimento,neste trabalho, tem por objetivo fornecer informações sobre o sistema
de produção em cada uma das unidades de paisagem identificadas. Foi realizado em
várias etapas: primeiramente procurou-se escolher uma propriedade que realmente
representasse a área no seu aspecto físico, como tamanho médio das propriedades, uso
e manejo dos solos, identificação de praticas predominantes; em seguida procurou-se
traçar o perfil técnico e socioeconômico do produtor, mediante entrevistas elaboradas e
visitas às propriedades. Isso se justifica, haja vista que, são nessas propriedades que se
24
aplicam as praticas agrícolas de produção ao longo do tempo, onde se ajustam os
sistemas produtivos locais e são experimentadas técnicas inovadoras, sejam de
produção ou de manejo, e avaliados os resultados em termos de adaptação dos
produtores a um determinado sistema produtivo, verificação das facilidades e
dificuldades locais, e o aproveitamento dos recursos existentes.
3.5 CLASSIFICAÇÃO DOS PRODUTORES RURAIS
A metodologia utilizada para a classificação dos produtores rurais de cada
propriedade típica escolhida nos compartimentos foi estabelecida segundo os critérios
do Governo do Estado do Paraná (1996, 1999), onde os produtores rurais podem ser
classificados em:
3.5.1 Produtores de Subsistência (PS) ou Produtores Simples de Mercadorias 1
(PSM 1)
Compõe-se de produtores com pequenas áreas, menores ou iguais a 15 ha.
Cultivam produtos alimentícios para consumo familiar. O uso de capital é muito baixo,
resumido a ferramentas de uso manual e, eventualmente, equipamentos de tração
animal. As produtividades físicas das explorações estão abaixo das médias locais. A
receita mensal é muito baixa, menor ou igual a um salário mínimo por família. A
relação com o mercado resume-se á venda de produtos excedentes de produção.
Geralmente, parte significativa da renda familiar é proveniente da venda de trabalho.
3.5.2 Produtores Simples de Mercadorias 2 (PSM 2)
É constituído por produtores com áreas pequenas, entre 15 ha e 30 ha, com
sistema de produção baseado em produtos alimentícios, pequenos animais (aves,
suínos, ovinos, bicho-da-seda) e gado de leite. As benfeitorias produtivas (barracões,
currais) não ultrapassam R$ 12.000,00. O uso de capital é baixo, concentrando-se em
equipamentos de tração animal. O valor dos equipamentos agrícolas é menor ou igual
25
a R$ 12.000,00. O uso de insumos agroindustriais é esporádico e a utilização de
máquinas e equipamentos moto-mecanizados se dá basicamente sob a forma de
aluguel. As produtividades físicas são inferiores a média regional. No sistema de
produção utilizado, pelo menos um produto visa o mercado local regional. A renda
mensal da família é baixa, menor que cinco salários mínimos. A mão de obra utilizada
nas atividades é predominantemente familiar.
3.5.3 Produtores Simples de Mercadorias 3 (PSM 3)
É constituído por produtores com áreas entre 15 ha e 50 ha, com sistema de
produção baseado em produtos alimentícios e para o mercado. É comum a criação de
pequenos animais (suínos, ovinos) e de bovinos para leite e corte em pequena escala.
As benfeitorias produtivas não ultrapassam o valor de R$ 40.000,00. O uso do capital é
baixo. Podem se utilizar de equipamentos de tração animal ou moto-mecanizados. O
valor dos equipamentos agrícolas não ultrapassa os R$ 36.000,00. É comum o uso de
insumos agroindustriais em menor escala e as produtividades físicas estão dentro da
média regional. No sistema de produção utilizado, a maioria dos produtos visa o
mercado local regional. A receita bruta mensal da família está entre cinco e dez
salários mínimos. A participação da mão de obra utilizada nas atividades é
predominantemente familiar.
3.5.4 Empresários Familiares (EF)
Esta categoria é constituída por produtores com área de propriedade dentro da
área média regional, desde 50 ha até 120 ha. Os sistemas de produção baseiam-se em
produtos agroindustriais (algodão, café, milho, soja e trigo), ou na criação de animais
(aves, suínos, bovinos de leite e corte). O uso do capital concentra-se em
equipamentos, máquinas e insumos agroindustriais. Têm produtividades médias iguais
ou superiores ás médias regionais. Têm intensa relação com o mercado. Têm pequeno
índice de concentração de mão de obra, com forte concentração da família nos
trabalhos.
26
3.5.5 Empresários Rurais (ER)
Constitui-se de produtores com áreas médias e altas, iguais ou maiores a 120
ha. Têm sistema de produção baseados na criação de grandes animais (bovinos), ou
produtos agroindustriais (soja e trigo). Têm alto uso de capital centrado em máquinas e
insumos agroindustriais. Todas as atividades são voltadas para o mercado e a mão de
obra é exclusivamente contratada.
3.5.6 Trabalhadores Rurais (TR)
Caracteriza-se pela prestação de serviços temporários na atividade agrícola e
nos fluxos migratórios nos períodos de entressafra.
27
4 LOCALIZAÇÃO DA ÁREA DE ESTUDO
O município de Floraí (Figura 1) está situado na messoregião norte central do
estado do Paraná e possui uma área de 191,3 km
2
. Sua sede está situada na latitude 23º
19’ 00” S e longitude 52º 17’ 00” W Greenwich (coordenadas oficiais do IBGE –
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, verificadas em frente à Igreja Matriz
Nossa Senhora Imaculada Conceição). A altitude da sede está em torno de 500 m
(PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE FLORAÍ, 1971). O município de Floraí
confronta-se com os seguintes municípios: Nova Esperança (a norte), Presidente
Castelo Branco (a nordeste), São Jorge do Ivaí (a sudeste), São Carlos do Ivaí (a
oeste), Tamboara (a noroeste) (SFORDI, 2003).
28
29
5 APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
5.1 SITUAÇÃO FÍSICA DA ÁREA
No que tange à distribuição da precipitação no município de Floraí, os dados
demonstram que, se analisada de forma anual (Figura 2), esta precipitação tem
apresentado um comportamento variável em relação à média para o período.
0,00
500,00
1000,00
1500,00
2000,00
2500,00
1988
1989
1990
1991
1992
1993
1994
1995
1996
1997
1998
1999
2000
2001
2002
2003
Precipitação (mm)
Figura 2. Município de Floraí. Precipitação Total Anual para o
período 1988 – 2003. A linha indica a precipitação média para o
período (1566,94 mm). Fonte: SUDERHSA (2004).
A partir destes dados, observa-se que os anos de 1988 e 1991 foram marcados
por fortes estiagens, ao passo que os anos de 1997 e 2000 foram marcados por
precipitações abundantes. Os demais anos apresentaram variações pouco expressivas
em relação à média do período.
Quando analisada sob a ótica de médias mensais, verifica-se que a distribuição
da precipitação não ocorre de forma tão bem distribuída ao longo do período de
observação, havendo grandes variações em relação à média.
Em relação à distribuição da precipitação ao longo do ano (Figura 3), a análise
da precipitação módula mensal permite verificar que os meses de verão tendem a
concentrar maiores médias de precipitação, sendo janeiro o mês mais chuvoso, sendo
muito comum a ocorrência de “veranicos” neste período, que são caracterizados por
30
períodos de interrupção das chuvas por vários dias consecutivos, geralmente entre 10 e
25 dias de estiagem, como o ocorrido entre fevereiro e março de 2005, justamente no
meio da estação chuvosa, causando prejuízos às lavouras. Precedendo o inverno, os
meses de maio e junho se caracterizam por uma suave elevação dos índices
pluviométricos em relação ao mês de abril. Os meses de inverno são marcados por
uma redução dos índices pluviométricos, sem um período de estiagem bem definido,
tendo julho como o mês mais seco.
0
50
100
150
200
250
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul
Ago
Set
Out
Nov
Dez
Precipitação (mm)
Período 1988 - 2003
Figura 3. Município de Floraí. Precipitação Módulo Mensal, para o período 1988 – 2003.
Fonte: SUDERHSA (2004).
31
Do ponto de vista geológico, o município de Floraí encontra-se em uma área de
contato entre duas formações litológicas: a Formação Serra Geral e a Formação Caiuá
(Figura 4).
Figura 4. Mapa Geológico do Município de Floraí.
A Formação Serra Geral (Juro-Cretáceo) compreende as rochas formadas pelos
sucessivos derrames basálticos de origem fissural, que recobriram o centro sul do
Brasil, o Uruguai e partes da Argentina e do Paraguai. As rochas oriundas desses
derrames são todas rochas vulcânicas extrusivas e possuem características muito
similares entre si.
No município de Floraí, as rochas da Formação Serra Geral são encontradas
nas porções mais rebaixadas do município, geralmente abaixo da cota altimétrica de
400m.
A Formação Caiuá (Cretáceo) recobre a Formação Serra Geral, e representa os
depósitos que se formaram ao final dos derrames basálticos. Esta formação
32
caracteriza-se por arenitos de granulometria média a grossa, de coloração rosada à
violácea, com manchas pontuais mais claras. Apresenta estratificações cruzadas e
encontra-se recoberto por formações mais recentes (EMBRAPA, 1984).
Em Floraí a Formação Caiuá aparece nas porções mais elevadas do município,
geralmente acima da cota altimétrica de 400m.
A partir da análise do Mapa Hipsométrico elaborado (Figura 5), é possível
observar que o município de Floraí está compreendido entre as altitudes de 260 m e
560 m. As maiores altitudes estão situadas na porção nordeste do município, no divisor
de águas que separa as nascentes dos Ribeirões Esperança e Paranhos, no limite com o
município de Presidente Castelo Branco, ao passo que as menores altitudes encontram-
se justamente nos vales desses ribeirões, na porção sudoeste do município, no limite
com o município de São Carlos do Ivaí.
Figura 5.
Mapa Hipsométrico do município de Floraí.
De um modo geral, o município de Floraí apresenta duas áreas mais elevadas,
uma na porção nordeste onde esta instalada a sede do município, com altitudes em
33
torno de 500 metros e outra na porção norte do município, em direção onde está
localizado o distrito de Nova Bilac, com altitudes em torno de 400 metros.
A partir dessas porções mais altas dos interflúvios, em direção a SW, as
altitudes vão diminuindo, e o relevo configura-se com extensos patamares de topos
aplainados, com altitude entre 300 e 380 metros, entalhados pela drenagem.
Buscando contribuir para a caracterização do município de Floraí, foi
elaborado um Mapa de Declividades (Figura 6) do município. Na elaboração deste
mapa, utilizou-se como critério de fatiamento do relevo a proposta elaborada pela
EMBRAPA (1999).
A análise do Mapa de Declividades elaborado permite afirmar que o município
de Floraí apresenta um relevo predominantemente plano a suave ondulado. As maiores
declividades estão situadas principalmente nas porções norte e nordeste do município,
na área de ocorrência do arenito, sobretudo no terço inferior e médio das vertentes, ao
passo que as áreas mais planas estão situadas nos grandes patamares existentes entre os
Ribeirões Esperança e Paranhos, do médio para o baixo curso, sobre o basalto.
Figura 6.
Mapa de Declividades do município de Floraí.
34
A distribuição das classes de declividade no município pode ser visualizada na
tabela 1 a seguir.
Tabela 1 - Distribuição das Classes de declividade no Município de Floraí
Classe de Declividade (%) Área (km
2
)
Representatividade em área
0 – 3 66,20
34,60%
3 – 8 66,50
34,80%
8 – 20 53,60
28,00%
20 – 45 4,90
2,50%
45 – 75 0,10
0,05%
Maior que 75 0,01
0,005%
Do ponto de vista da cobertura pedológica, o município de Floraí apresenta
nove tipos de solos (Figura 7) descritos a seguir com base no Sistema Brasileiro de
Classificação de Solos (EMBRAPA, 1999). A transcrição das classes de solos para a
nova nomenclatura foi realizada com o auxílio das tabelas de correlação apresentadas
por Prado (2003). Os limites das classes mapeadas foram retirados mediante
levantamento dos solos em campo tendo em vistas as distorções observadas em
documentos cartográficos apresentados pela EMATER-PR, e outros trabalhos
bibliográficos. Essas distorções foram originadas por interpretações de cartas de solos
copiadas por sucessivas vezes, ou erros de interpretações de dados e até
desconhecimento dos solos locais.Neste trabalho procurou-se corrigir essas distorções
do mapa de ocupação dos solos locais,procurando elaborar um mapa de solos cuja
distribuição espacial das classes seja mais adequada à realidade observada.
35
Figura 7. Mapa de Solos do Município de Floraí.
36
LATOSSOLO VERMELHO Eutroférrico típico – Os solos desta classe ocupam
freqüentemente superfícies com fracas declividades, comumente entre 2 % e 8 %. Os
perfis possuem seqüência de horizontes A, B e C, sendo que as transições são
normalmente pouco nítidas, principalmente entre os horizontes A e B. São solos muito
profundos, normalmente com mais de 3 metros de espessura, sendo comum a
ocorrência de solos com até 10 metros de profundidade. Possuem coloração bastante
uniforme ao longo do perfil, com cores entre o vermelho-escuro acinzentado (no
horizonte superficiais) até o bruno avermelhado escuro (nos horizontes
subsuperficiais). A textura, tanto no horizonte A quanto no horizonte B, é muito
argilosa, sendo que o horizonte A apresenta estrutura pequena e ou média granular,
fraca ou moderadamente desenvolvida, enquanto que no horizonte B é comum a
ocorrência de estruturas fracas, de tamanho médio, em blocos subangulares ou
ultrapequena granular. Apesar da grande estabilidade da estrutura, a união dos
agregados nos horizontes superiores do perfil é muito fraca, transformando os torrões,
com muita facilidade, em material pulverulento, conhecido como “pó-de-café”. O grau
de consistência ao longo do perfil é macio quando seco, muito friável ou friável
quando úmido, e plástico e pegajoso com o solo molhado. São solos com alta
capacidade de retenção de água.
A utilização contínua de maquinários pesados resulta na formação de uma
camada compactada e pouco permeável entre 15 e 20 centímetros de profundidade
(conhecida como “pé-de-grade”), o que pode contribuir para a formação de processos
erosivos.
Estes solos ocupam cerca de 33% da área do município.
LATOSSOLO VERMELHO Distrófico típico textura média – Ocorrem nos
divisores de água, em superfícies aplainadas, com declividades inferiores a 6 %. São
solos derivados do arenito Caiuá. Possuem características morfológicas homogêneas
ao longo do perfil, com pequena diferenciação entre os horizontes. Apresentam
espessura superior a 3 metros, refletindo num grande volume de solo a ser explorado
pelas raízes. A coloração é vermelho escura. Diferencia-se dos demais latossolos por
apresentar altas percentagens de areia, e baixos teores de ferro (EMBRAPA, 1986).
São solos acentuadamente drenados, com a água das chuvas sendo removida
rapidamente do perfil.
37
Apresentam baixa fertilidade natural, o que requer uso maior de fertilizantes e
corretivos. Necessitam também de adubação orgânica para elevar sua capacidade de
38
No município de Floraí, ocorrem sob a forma de uma única mancha, ocupando uma
área de aproximadamente 1,1 % do município.
NITOSSOLO VERMELHO Eutroférrico – No município de Floraí, ocorrem na
porção inferior das vertentes, já próximo ao fundo do vale, tendo o basalto como rocha
matriz. Estes solos estão presentes principalmente nas margens dos Ribeirões
Esperança e Paranhos. Apresenta textura argilosa no horizonte A, e muito argilosa no
horizonte B, caracterizando um gradiente textural de baixa intensidade. São muito
resistentes à erosão e, quando molhados, possuem uma consistência muito plástica e
muito pegajosa. Possuem espessura em torno de 2 metros. A cor é bastante uniforme,
predominando no município o bruno vermelho escuro. A estrutura é do tipo granular,
sendo os elementos estruturais recobertos com serosidade forte e abundante. O grau de
consistência a seco é duro, passando a firme com o solo úmido. Apresenta abundância
de minerais pesados, muitos dos quais são atraídos pelo ímã. Apresenta efervescência
quando em contato com a água oxigenada, evidenciando teores elevados de manganês.
São solos bem drenados derivados de rochas eruptivas básicas.
Devido à alta fertilidade natural, este solo é capaz de manter-se produtivo por
muitos anos, no entanto, para sustentar alta produtividade por tempo indeterminado,
necessita de práticas adequadas de controle à erosão, além de adubação e manutenção,
principalmente a base de fósforo.
Esses solos ocupam cerca de 22,5 % da área do município.
ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Eutrófico típico textura média
Ocorrem nos Platôs s de Floraí e Nova Bilac, em relevo suave ondulado, ocupando o
terço inferior das encostas nas áreas de vale em forma de “V” aberto. Possuem
espessura superior a 2 metros. Há perceptível contraste de cor e textura entre os
horizontes A e Bt. A transição entre estes horizontes é clara ou gradual. A
permeabilidade é sensivelmente mais rápida no horizonte A do que no Bt. São
formados predominantemente pelos materiais resultantes da intemperização dos
arenitos da Formação Caiuá. São solos de coloração vermelho-amarelada.
Apresentam média fertilidade natural, sendo bastante suscetíveis a erosão, em
razão da baixa capacidade de agregação das partículas do horizonte superficial,
condicionado pelos baixos teores de argila e matéria orgânica. Mesmo corrigidas as
deficiências químicas, através de corretivos e fertilizantes, exigem ainda práticas
39
conservacionistas intensivas de controle à erosão para o seu aproveitamento com
agricultura, o que o torna mais indicado para pastagens.
Esses solos ocupam cerca de 7.5% da área do município.
ARGISSOLO VERMELHO-AMARELO Distrófico abrúptico, textura média
Ocupam as partes de relevo mais movimentado da área do município, principalmente
no Platô Elevado de Nova Bilac, ocupando preferencialmente o terço inferior das
encostas nas áreas de vales mais encaixados. São solos minerais, não hidromórficos,
com horizonte B textural. Apresentam mudança textural abrúptica entre os horizontes
A e Bt. Apresentam baixa fertilidade e alta susceptibilidade à erosão, em função do
horizonte B textural. A espessura é em torno de 2 metros, com marcante contraste de
core textura entre os horizontes A e Bt. Possuem permeabilidade extremamente mais
rápida no horizonte A do que no Bt. São formados predominantemente pelos materiais
derivados da intemperização dos arenitos da Formação Caiuá.
Considerações sobre a utilização: É um tipo de solo extremamente suceptivo à erosão,
quer pela transição abrúptica, que faz com que a água que penetra rapidamente no
horizonte superficial mais arenoso escoe lateralmente assim que chega no horizonte
subsuperficial mais argiloso, quer pela baixa capacidade de agregação das partículas
do horizonte A, condicionada pelos baixos teores de argila e matéria orgânica.
Apresentam problemas com a utilização de curvas de nível pois, quando a máquina
escava para a construção das curvas, esta expõe o horizonte textural pouco permeável,
o que pode desencadear processos erosivos associados ao escoamento superficial.
Apesar disto, podem apresentar boa produtividade se utilizados para pastagens.
Esses solos ocupam cerca de 6 % da área do município.
NEOSSOLO QUARTZARÊNICO Hidromórfico – São originados a partir da
intemperização dos arenitos da Formação Caiuá. Com profundidades geralmente
superiores a 2 metros, caracteriza-se pela composição granulométrica
predominantemente arenosa. Possuem estrutura fraca e problemas relativos com a
drenagem, em função da proximidade do lençol freático com a superfície. Muito
susceptíveis à erosão, apresentam baixo teor de matéria orgânica e baixa capacidade de
agregação das partículas, não sendo indicado para cultivo. No município de Floraí,
ocorrem em pontos muito isolados, ficando dificultada a sua representação cartográfica
em escala municipal.
40
NEOSSOLOS LITOLICOS
– Solos com menos de 50cm de espessura, que
esporadicamente ocorrem no sopé das vertentes, abaixo dos Nitossolos, junto aos
cursos de drenagem.
5.1.1 Síntese da Distribuição dos Solos
Observa-se, como foi visto acima, uma grande correlação entre a geologia, o
relevo e a distribuição dos principais tipos de solos no município, que pode ser
sintetizado da seguinte maneira:
Nas áreas onde ocorre o arenito Caiuá, nos topos e altas vertentes predominam
Latossolos, e nos setores de média vertente ocorrem os Argissolos que transicionam
para Neossolos Quartzarênicos geralmente junto aos nichos de nascentes (cabeceiras
de drenagem) e nas baixas vertentes. Quando nas áreas de baixa vertentes ocorre o
basalto como substrato, o Argissolo transiciona para o Nitossolo Vermelho e/ou
Neossolos Litólicos
Gasparetto (1999) ao estudar a cobertura pedológica de textura arenosa que
recobre o Arenito Caiuá, verificou que ao longo das vertentes ocorre transferência de
matéria. Nos horizontes superiores ocorrem perdas acentuadas de argila e modificação
da estrutura pedológica pela remobilização dessa argila. Essas feições caracterizam
coberturas pedológicas em transformação, pois segundo esse pesquisador é visível a
mudança do Latossolo Vermelho em Argissolo Vermelho, a partir da média alta
vertente e, deste, em Neossolo Quartzarênico na base da vertente.
Nas áreas de ocorrência do basalto, os latossolos estão presentes sobre os topos
de fracas declividades, principalmente nos extensos patamares, transacionando para os
Nitossolos ao longo das vertentes, em direção a jusante mais próxima aos cursos de
água. Localmente, quando ocorre acentuação das declividades aparece o Neossolo
Litólico.
Na área de transição do arenito para o basalto, próximo a altitude dos 400m, os
Latossolos de textura média, presentes sobre os topos dos interflúvios, transicionam,
ao longo de uma rampa suave que interliga os dois setores da paisagem, para os
Latossolos de textura argilosa, que recobrem os topos amplos e de fracas declividades,
desse setor de platô rebaixado, todo esculpido sobre o basalto.
41
5.2 O MUNICÍPIO DE FLORAÍ: ESTRUTURA SÓCIOECONÔMICA
Até a década de 1940, os sistemas naturais do município de Floraí estavam
sujeitos a poucas interferências antrópicas. Com a colonização do Norte/Noroeste
paranaense, intensificaram-se as transformações destes sistemas naturais. As
paisagens, regidas até então principalmente pela dinâmica natural, passaram a evoluir
sob a imposição de uma nova dinâmica, tendo o homem como explorador dos recursos
naturais e agente transformador das paisagens.
Neste contexto fica clara a necessidade de compreender a evolução desta
intervenção para oferecer condições de orientar as formas de ordenamento do
desenvolvimento local.
5.2.1 Histórico do Povoamento
Para se ter uma compreensão melhor da história e da ocupação do município de
Floraí, torna–se necessário discorrer um pouco sobre a ocupação do norte do Paraná,
pois há de se considerar os antecedentes engajados nesta causa. Para tanto, nos
apoiaremos nos relatos de pioneiros, de moradores, de autoridades do município e de
documentos que retratam um pouco da história de Floraí e do norte do Paraná.
Em 1924, a convite do Governo Brasileiro, veio ao país a chamada Missão
Montagu, que foi organizada por grandes grupos financeiros, industriais e comerciais
da Grã-Bretanha, em busca de oportunidades de investimentos na produção e
comercialização de matérias-primas, tanto para a indústria Britânica quanto para o
comércio internacional. Um dos membros desta expedição, Simon Lovat, visitou o
norte do Paraná e, impressionado com a fertilidade das terras, adquiriu algumas glebas,
com o objetivo de produzir algodão.
Essa primeira experiência fracassou, mas o grupo se reorganizou, criando a
Empresa Paraná Plantations Ltda., destinada à venda de lotes, cujas operações, no
Brasil, ficaram a cargo de uma subsidiária, a CMNP - Companhia de Melhoramentos
do Norte do Paraná, criada em 1925 (CMNP, 1975).
Esta companhia adquiriu do Governo Estadual cinco glebas contínuas, situadas
entre os rios Tibagi, Paranapanema e o Médio Ivaí.Toda essa área ainda estava
recoberta pela floresta pluvial-tropical original, e a sua ocupação e extração econômica
42
foram realizadas de modo incipiente, principalmente pelas dificuldades de acesso aos
portos, e destes aos grandes centros consumidores (AMUSEP, 1999).
A ligação ferroviária do Norte do Paraná com São Paulo, por exemplo, dava-se
pela estrada de ferro São Paulo-Paraná, que através da cidade de Ourinhos, chegava até
Cambará. A CMNP assume a ferrovia, e inicia sua expansão até suas glebas, além do
Paranapanema, no Paraná, chegando a Londrina, em 1935, e Apucarana em 1937. No
final da década de 1940, a ferrovia, que então fora encampado pelo Governo Federal,
chega com seus trilhos à Maringá. Nesta época umas sucessões de fatos muito
rápidas,fazem a região passar por profundas mudanças. Maringá havia sido elevada a
categoria de distrito, em 1947, ano que foi criado o município de Mandaguari, então
desmembrado de Apucarana, que poucos anos antes havia sido desmembrado de
Londrina. O novo município incluía toda a parte meridional da região atual, entre o
Ivaí e o Pirapó, onde poucos anos mais tarde iriam ser criados vários outros
municípios, entre eles Floraí (AMUSEP, 1999).
As primeiras terras comercializadas pela CMNP no município de Floraí datam
do ano de 1946, e foram adquiridas pelos senhores Sérgio Cardoso de Almeida,
Antenor Martins e José de Luca (PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE FLORAÍ,
1983). O lote adquirido pelo senhor José de Luca representa o local onde hoje se
encontra instalado a sede do município. A esta propriedade, o senhor José de Luca deu
o nome de fazenda Santa Flor. Segundo narrativas dos pioneiros (DE LUCCA;
MARQUES; MARTINS; ALVES MARTINS; FURUKITA; MATIAS; FORINI;
SANTOS; MOTTA; PRIULI; SILVA; SILVA SOBRINHO 1997), o proprietário e sua
família instalaram-se nestas terras por volta de 1949. Ocuparam a área próxima a uma
nascente, residindo em barracas de lona. Com a chegada de novas famílias, iniciaram-
se os trabalhos de derrubada da mata, para dar início à construção de uma estrada, que
ligaria a Fazenda Santa Flor (o município de Floraí) até Yroi (atual município de
Presidente Castelo Branco).
No entanto podemos considerar que em Floraí houve duas frentes de expansão,
pois, também em 1949, entraram no município algumas famílias provenientes da
Fazenda Paranhos, na estrada divisora com o município de São Carlos do Ivaí. Esta
fazenda havia sido instalada nas possessões doadas pelo interventor Manuel Ribas que
visava expandir a colonização do estado para além posses da CMNP, às margens do
Ribeirão Esperança no ano de 1945, sob a gerência do Sr. Manuel Silva Sobrinho o
“Seu Doquinha”. A partir dali, aproveitando a picada aberta pela Fazenda Paranhos até
43
a Fazenda Brasileira, atual Paranavaí, alguns pioneiros que adquiriram lotes da CMNP,
vieram instalar-se em suas terras em Floraí. Não demorou muito para que estas duas
frentes se encontrassem, pois os pioneiros iam derrubando o mato e alargando os
caminhos e picadas feitas por eles para chegarem até seus lotes, dando passagem aos
caminhões e carroças lotados com víveres e utensílios domésticos.
Segundo as narrativas dos pioneiros, em suas cidades de origem, os
agricultores ficavam sabendo que as terras do Norte do Paraná eram férteis e fáceis de
adquirir. As informações eram fornecidas pelos corretores, que percorriam
principalmente os Estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Goiás, Santa
Catarina, Rio Grande do Sul, além de outras partes do Brasil. No final dos anos 1940,
chegavam lotações, principalmente caminhonetes, praticamente todos os dias, trazendo
entre 10 e 12 pessoas, que vinham conhecer as terras da região. As terras desta região
deixavam estas pessoas deslumbradas com sua fertilidade e topografia.
Ainda de acordo com a narrativa dos pioneiros, a aquisição das terras era feita
diretamente com os corretores. Era muito comum o negócio ser fechado dentro da casa
do agricultor, na presença da família, com um contrato de compra e venda, onde o
agricultor dava uma entrada em dinheiro e o restante em parcelas anuais. Os contratos
não eram registrados, porém recebiam um selo e, após o pagamento da última parcela,
os agricultores recebiam as escrituras definitivas emitidas pela CMNP. No contrato de
compra e venda, existia uma cláusula que resguardava a CMNP ou ao Estado o direito
de construção de uma estrada de ferro e rodovias.
O relato dos primeiros habitantes sobre suas viagens para se fixarem no
município, nos deu conta de que as viagens de mudanças eram verdadeiras aventuras.
Marques (1994, p.78) em seu livro “Vidas Interligadas”, narra as lembranças desse
tempo: “Os Vizinhos diziam à minha mãe que estávamos ficando loucos, o Paraná era
o último! As águas eram vermelhas, que os mosquitos iam nos devorar, que as feridas
bravas comiam as pessoas, lugar de desordeiros e bandidos.”
O Sr. Walmir Silva (SILVA, 1997), narrando sua história disse que ainda
criança deixou o Estado do Rio de Janeiro e viajou com seus irmãos pequenos por
muitos dias, dormindo em estações de trem e rodoviárias até chegar a uma pequena
cidade, muito empoeirada, de terra escura, calor sufocante, grande movimento de
animais de trabalho, carroças, carros, jardineira, esse local mais tarde seria Maringá.
Ali passou alguns dias, com seus irmãos e seu pai amontoados num cômodo de hotel.
Depois seguiu viagem para um local chamado Fazenda Brasileira, hoje a cidade de
44
Paranavaí. Esta viagem foi feita de ônibus com carroceria de madeira sem janelas
laterais e com grande número de pessoas. Lembra–se o narrador que saíram de manhã
e só chegaram no seu destino ao entardecer, calculando desta forma que a viagem de
Maringá a Paranavaí durou em torno de 10 horas. Passaram a noite na estação
rodoviária em cima das malas e no outro dia de manhã seguiram viagem a cavalo em
direção a Fazenda Paranhos, aonde só chegaram ao entardecer, levando pelo menos 12
horas para percorrer uma distância de 40 km aproximadamente. Lembra-se ele que em
muitos lugares os homens “apeavam” de seus cavalos para limpar a estrada de galhos e
troncos caídos. Da Fazenda Paranhos atravessou a Estrada Divisora e fixou residência
no município de Floraí, em uma comunidade conhecida como Reserva.
Cabe ressaltar neste pequeno histórico o relevante papel das mulheres na
colonização e desenvolvimento de Floraí. Seu trabalho começava desde os
preparativos que antecediam a viagem em seu local de origem, preparando o
necessário para começar a nova vida. Já assentadas em seu local de destino, ainda com
poucos vizinhos, a vida para essas mulheres não era fácil. Dona Wanda M. H. De
Lucca, (LUCCA, 1997) narrando sua rotina de trabalho, contou que as mulheres
levantavam muito cedo, tiravam água do poço para abastecer todos os reservatórios da
casa, davam de beber e tratavam os animais domésticos, tiravam leite, cultivavam a
horta, teciam e costuravam a roupa, preparavam as refeições que levavam até o roçado
e terminavam o dia ajudando no cultivo das lavouras. À noite, após um dia de muito
trabalho, ainda se punham a preparar algumas tarefas para o dia seguinte.
Ao chegarem em Floraí, os agricultores montavam ranchos cobertos com
encerados nas proximidades de uma nascente ou ribeirão. A partir daí contratavam os
“mateiros” para efetuarem a derrubada. Primeiro cortavam a capoeira com árvores
finas, cipós, arbustos, depois com machados e trançadeiras derrubavam a madeira mais
grossa. Às vezes eram necessários quatro homens para derrubar uma única árvore. O
desmatamento dos lotes iniciava-se pelas cabeceiras entrando lotes adentro, em direção
ao manancial hídrico. Nos solos originados do basalto predominavam a Peroba,
Figueira, Cedro-rosa, Canela, Cabreuva, Guajuvinha, Marfim, Canafístula, Gurucaia,
Pau d’alho e o Palmito entre outros. Nos solos originados do arenito, a vegetação
predominante era a Canjerana, Guarita, Coqueiro, Taquara, Pindaíva, Maçaranduba,
ingazeiro entre outros (SOCIEDADE DE PESQUISA EM VIDA SELVAGEM E
EDUCAÇÃO AMBIENTAL, 1996). Nessas matas as árvores atingiam a altura de 15 a
30 metros (CAMARGO, 1994). Nos primeiros anos não havia serraria que comprasse
45
as madeiras, com isso, logo após a derrubada, ateavam fogo para fazer a queimada.
Somente três a quatro anos depois dos primeiros habitantes, chegaram a Floraí as
primeiras serrarias, que passaram então a comprar a madeira. Como a matéria-prima
era abundante, os serralheiros só compravam toras com mais de 40 cm de diâmetro e
davam preferência para a Peroba, o Cedro, a Gurucaia e a Canafístula. Praticamente
todas as casas erguidas no município eram construídas com materiais provenientes
dessas madeiras.
No ano de 1958, segundo os pioneiros, praticamente já não havia mata em
Floraí, restando apenas algumas capoeiras e pequenas áreas isoladas em algumas
propriedades. Toda paisagem havia se transformado pela ação antrópica. Naquela
época não havia nenhum tipo de preocupação ambiental, sendo que o próprio governo
colaborava para que a devastação fosse grande, cobrando imposto de quem não
derrubasse a mata, nem as margens e as proximidades de nascentes e margens de
ribeirões eram poupadas, sendo comum empurrar troncos e galhos para dentro dos
cursos d’água. Se a flora era abundante, a fauna também era muito rica e variada, entre
os espécimes que aqui viviam predominavam os macacos, veados, catetos, antas,
cachorro do mato, quati, onça, capivara, paca, cutia, preguiça, queixada, tatus, eram os
mais comuns; bem variada também era a quantidade de aves que aqui existiam, os
jacus, as araras, os papagaios,as maitacas, os tucanos, codornas, inhambus,
perdizes,jacus, macucos e jacutingas entre outros, ainda eram muito comuns os
animais peçonhentos tais como, a muçurana, a boipeba, a cascavel, a urutu, a jararaca,
só para citar alguns (CAMARGO,1994).
Após a derrubada, ateava-se fogo quando os galhos e folhas caídas já estavam
secos, sendo necessário depois da queimada fazer a “descoivara” um trabalho árduo e
estafante, que consistia em amontoar em leiras as galhadas. Depois deste trabalho os
agricultores preparavam as covas e semeavam o café, normalmente de sete a oito
sementes por cova, com espaçamento de 18 x 18 palmos, a uma profundidade de 40
cm. As sementes começavam a germinar aos 60 dias após a semeadura e este período
coincidia com a época mais quente do ano, tornando-se necessário fazer a cobertura da
planta jovem com lascas de madeira retiradas dos troncos das árvores caídas. Todos os
pioneiros se emocionam ao narrar estes detalhes, e são unânimes em afirmar que esta
foi a época mais difícil de suas vidas. Nestes tempos sua pele ficava queimada pelo
sol, suas mãos ficavam rachadas e grossas. Mulheres e crianças que também
trabalhavam nestas tarefas, muitas delas ficavam doentes, as pessoas emagreciam e
46
muitas vidas não resistiram e viveram para ver a transformação extraordinária das
paisagens desta região.
Os agricultores empenhavam praticamente toda sua economia na compra dos
lotes, o pouco que sobrava logo chegava ao fim, e como o retorno do cultivo do café
era demorado, sem rendimentos, eles se viam obrigados a comprar mercadorias,
insumos, remédios e utensílios a prazo com os comerciantes locais, fazendo dívidas
que levariam anos para serem pagas.
Os primeiros cafezais produtivos do município de Floraí datam do ano de 1952
e por quase três décadas seguintes foi o responsável pelo apogeu do desenvolvimento e
pela mudança na paisagem local. Foi neste período que Floraí recebeu seu maior fluxo
migratório, os dados censitários desse período comprovam os fatos. Em 1960 a
população estimada de Floraí de acordo com dados da prefeitura municipal era de
8.000 habitantes, em 1970 segundo o IBGE chegou a 11.050 habitantes e calcula-se
que em 1975, ano da grande geada essa população girava em torno de 17.000
habitantes (SFORDI, 2003), no entanto, já em 1980 dados oficiais do IBGE apontam
para uma população declinante de 6.638 habitantes, em 1990 de 5.478 habitantes e em
2000, 5.280 habitantes.
Encontramos explicações para esses fatos, quando analisamos a conjuntura
regional. Na década de 1950, a crescente demanda mundial pelo café, somada aos
efeitos de três grandes geadas em 1951, 1953, 1955, elevaram artificialmente os preços
do produto, estimulando a expansão da produção. Com isto, a cafeicultura regional
apresentou um dos crescimentos mais notáveis da história da cafeicultura
(MORO,1991). Por outro lado, analisando em escala mundial, a atividade já vinha
sendo ameaçada, desde o início dos anos 1950 pela concorrência de outros produtores,
pelo crescimento dos estoques reguladores, e o aumento da área plantada, que pouco
mais tarde levaria a uma super produção com conseqüente queda dos preços.
De acordo com Moro (1991) a geada de 17 de junho 1975, de grande
intensidade, comprometeu severamente a cafeicultura regional que conjugados a
outros fatores e sem os estímulos governamentais de antes, entrou em queda, incapaz
de se recuperar. Começava nesta época um novo processo de profundas mudanças na
região e no município, alterando completamente o perfil social e econômico regional,
com queda significativa da população dos pequenos municípios, e com significativo
êxodo rural.As paisagens rurais e urbanas não seriam a mesma depois da década de 70.
A região passa a ser predominantemente urbana, com o aumento da população nos
47
grandes centros, como Maringá, Umuarama, Londrina, Paranavaí, Apucarana. Neste
período de mudanças, a soja gradativamente passa a ser a principal cultura do
município, o que não só provocou mudanças na paisagem local, como permitiu reduzir
os efeitos negativos da crise da cafeicultura,e atualmente vem demonstrando sua alta
capacidade de adaptação às mudanças e necessidades do mercado mundial.
No início da atividade, a soja substituiu o café nas áreas mais férteis do
município, naqueles solos originados do basalto, enquanto a área ocupada com solos
originados do arenito a cafeicultura foi sendo substituída por diversas outras
atividades, como a bovinocultura de leite e corte, a sericicultura, a suinocultura, a
48
agressiva de produção. Por outro lado, de acordo com os técnicos das cooperativas
locais, os solos do município, se manejados adequadamente, e aliados a uma pesquisa
que busque minimizar ou resolver os problemas recorrentes de uma agricultura
tecnificada podem perfeitamente viabilizar o crescimento econômico em harmonia
com o meio ambiente.
5.2.2 População
No que se refere aos aspectos demográficos, Floraí vem apresentando, nas
últimas quatro décadas, um nítido decréscimo populacional (Figura 8).
0
2000
4000
6000
8000
10000
12000
1970 1980 1991 2000
População Total
População U rbana
População Rural
Figura 8. Evolução da População Total, População Urbana e População Rural de
Floraí.
Fonte
: 1970 – Prefeitura Municipal de Floraí; 1980 –1991-- 2000 – IBGE
(2004).
Em 1970, a população total do município era de 11.022 habitantes, sendo 3.280
habitantes na zona urbana e 7.742 habitantes na área rural. Em 1980, a população total
de Floraí passou para 6.638 habitantes, uma redução de 39,7 %, com 3.884 habitantes
na área urbana (aumento de 18,4 %) e 2.754 habitantes na área rural (redução de 64,4
%). Em 1991, a população total do município passou para 5.546 habitantes, o que
representou uma redução de 16,4 %. A população urbana passou para 4.216 habitantes
(aumento de 8,5 %), ao passo que a população rural ficou em 1.330 habitantes
(redução de 51,7 %). Em 1996, a população total do município manteve-se em 5.546
habitantes. Em 2000 a população total de Floraí ficou em 5.280 habitantes (redução de
49
4,8 %), com população urbana de 4.505 habitantes (aumento de 6,8 % em relação a
1991) e população rural de 775 habitantes (redução de 41,7% em relação a 1991).
Segundo Sfordi (2003), a população de Floraí atingiu 17.000 habitantes entre a
área rural e urbana, em 1975, ano da ocorrência de uma geada de grande intensidade
no norte do Paraná, que praticamente dizimou os cafezais, e contribuiu para a
substituição desta cultura por outras atividades produtivas. Isto foi decisivo para
acelerar a mobilidade espacial da população nas tradicionais áreas cafeeiras do estado.
Esta mobilidade contribuiu para a migração da população rural para os centros urbanos
(MORO, 1986).
No que se refere à distribuição da população por faixa etária (Figura 9), é
possível afirmar que a maior parcela (22,3%) está na faixa entre 30 e 44 anos.
0
200
400
600
800
1000
1200
até 9 anos de 10 a 14 de 15 a 19 de 20 a 29 de 30 a 44 de 45 a 59 mais que 60
anos
Habitantes
Figura 9.
Distribuição da População por Faixas Etárias. Fonte: IPARDES/ Censo 2000.
A população com idade inferior a 14 anos, ou seja, oficialmente excluída da
população economicamente ativa, corresponde a 1.229 habitantes, isto é, 23,3 % da
população total de Floraí.
5.2.3 Atividades Econômicas
50
O município de Floraí possui um Produto Interno Bruto (PIB) em torno de US$
13.113.255,25, o que representa um valor per capita de US$ 2.371,72. No que se
refere à participação no PIB municipal, o setor de serviços ocupa o primeiro lugar,
com 50,73 % de participação, seguido pelas atividades agropecuárias (36,81 %) e
industriais (12,47%) (PARANÁ – PARANACIDADE, 2004).
É importante destacar que, apesar do setor de serviços ocupar o primeiro lugar
na participação do PIB municipal, muitos destes serviços estão voltados para as
atividades agropecuárias (como é o caso das duas cooperativas que atuam no
município). Assim sendo, é correto afirmar que o município de Floraí tem a sua
economia fundamentada principalmente nas atividades agropecuárias.
No que se refere à produção, o município de Floraí possui uma boa
diversificação de atividades agropecuárias, com a produção distribuída em mais de 50
atividades agrícolas diferentes conforme descrito a seguir. (Tabela 2)
Tabela 2 -
Listagem dos Produtos Agrícolas do Município de Floraí – Período 1999 - 2003
1. ALGODÃO
2. ALHO
3. AMENDOIM
4. ARROZ IRRIGADO
5. AVEIA PRETA (GRÃOS e FARDOS)
6. AVES DE CORTE e POSTURA
7. AZEVEM FARDO
8. FRUTAS DIVERSDAS
9. BEZERROS e BEZERRAS
10. BOVINOS (LEITE E CORTE)
11. BUBALINOS PARA CORTE
12. BUCHA VEGETAL
13. CAFÉ EM COCO
14. CAMA DE AVIÁRIO (AD. ORG.)
15. CANA-DE-AÇÚCAR
16. CANOLA
17. CAPRINOS (LEITE e CORTE)
18. CARVÃO VEGETAL
19. CASULO VERDE (SEDA)
20. CERA DE ABELHA
21. EQUINOS (RECRIA e TRABALHO)
22. FEIJÃO
23. GALINHA POSTURA DESCARTE
24. LÃ
25. LARANJA
26. LATEX (SERINGUEIRA)
27. LENHA
28. MADEIRA (SERRARIA e MOURÕES)
29. MAMONA
30. MANDIOCA (CONS. e INDUSTRIA)
31. MEL
32. MILHO PIPOCA
33. MILHO
34. MILHO VERDE
35. MUDAS DIVERSAS
36. NOVILHAS
37. OLERICOLAS DIVERSAS
38. PESCADO DIVERSOS
39. PROPOLIS
40. SILAGENS (MILHO/SORGO)
41. SOJA
42. SORGO GRANIFERO
43. STEVIA (FOLHA DESIDRATADA)
44. SUINOS (REPROD. e MATRIZES)
45. SUINOS PARA ABATE
46. TOMATE
47. TRIGO (SEMENTE E GRÃOS)
48. TRIGUILHO
49. TRITRICALE
50. UVA (FINA DE MESA e RUSTICA)
51. VASSOURA
Fonte: SEAB – DERAL (2004)
51
A importância de cada um destes ramos no valor total da safra sempre foi
variável, dependendo principalmente de fatores políticos e econômicos. Uma síntese
da ocupação do solo no município no ano agrícola 2003/2004 pode ser vista nas
tabelas a seguir (Tabelas 3 e 4).
A ocupação da área rural no município de Floraí se dá da seguinte forma:
64,5% com atividades de lavoras anuais, 9 % lavouras permanentes, 15,7 % de
pastagem, 0,3 % de reflorestamento, 0,8 % de matas naturais, 0,8 % de área urbana,
estando o restante da área (8,9 %) ocupada pelas rodovias, estradas vicinais, infra-
estrutura de propriedades e cursos d’água.
Tabela 3 – Ocupação do Solo no Município de Floraí – Ano Agrícola 2003/2004
Lavouras Produtores Área (ha) Rendimento Médio (kg/ha)
Amoreira 22 62 400 (Casulo verde)
Café Adensado 54 132 3.000 (café em coco)
Cana de Açúcar 18 1.200 93.000
Mandioca 23 390 23.000
Milho (Safra Verão) 8 200 4.900
Milho Safrinha 185 8.000 2.100
Soja 260 12.000 2.850
Trigo 28 800 2.100
Aveia 56 1.200 900
Laranja 13 1.011 22.600
Uva Fina de Mesa 8 15 20.000
Olerícolas 6 10 25.000
Frutas Diversas 5 5 20.000
Eucalipto 62 40 260.000
Pastagem Cultivada 89 3.000 3 cabeças/ha/ano
Matas Naturais - 150 -
Matas Ciliares - 400 -
Fonte:
EMATER-PR (2004)
52
Tabela 4
Principais Atividades de Criações desenvolvidas no Município de Floraí
Ano Agrícola 2003/2004
Espécie Produtores Unidades Rendimento Médio
Bovinocultura de Corte 72 7.134 Cabeças 28 arrobas/ha/ano
Bovinocultura de Leite 17 1190 Cabeças 2920 litros/cabeça/ano
Suinocultura 6 1.050 Cabeças
Ovinocultura 6 600 Cabeças 10,8 kgs/cabeça/ano
Avicultura de Corte 16 660.000 Aves 1,9 Kgs/cabeça
Avicultura de Postura 3 135.000 Aves 2.874.000 dúzias/ovos/ano
Piscicultura 8 15 ha* 2 ton./ha/ano
Apicultura 10 220 Colméias 4 kg/colméia/ano
*Área total dos tanques de criação.
Fonte
: SEAB/SERAL EMATER-PR (2004)
5.3 Análise Econômica dos Produtos Agrícolas de Floraí
A partir de uma análise da arrecadação municipal do FPM (Fundo de
Participação dos Municípios) agrícola das últimas treze safras é possível verificar
transformações consideráveis no ordenamento dos principais produtos agropecuários
do município, e dependendo desses fatores, a paisagem sofre alterações
periodicamente com a inclusão de novas atividades ou o deslocamento da época de
plantio de algumas culturas, como o milho safrinha por exemplo, dentro da área rural
do município, como será possível observar nos gráficos de produção de Floraí a seguir.
Os resultados da safra 1990 – 1991 (Figura 10) demonstram o único momento
das últimas treze safras em que o valor arrecadado somente com a soja respondia por
mais da metade do valor total da safra de Floraí. Isto se deve, de acordo com a
SEAB/DERAL, a uma alta no preço do produto no mercado internacional, onde a soja
brasileira é negociada, mas nos anos seguintes haverá uma tendência à acomodação
dos preços em torno dos valores históricos, período em que o milho safra normal
ocupará um espaço importante na área de plantio dentro do município.
53
Figura 10 Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 1990 –
1991. Fonte: SEAB - DERAL (2004).
O trigo, segundo produto mais rentável neste período, era considerado
praticamente como a única alternativa econômica e de cobertura do solo nos meses de
inverno. Dessa forma, o cultivo do trigo responderá por uma montante considerável
em relação ao valor total da safra do município até a safra 1992 – 1993. A pecuária
também responderá por uma parcela importante da safra de Floraí até a safra 1995 –
1996. Neste período, de acordo com dados da EMATER-PR (VALÊNCIO, 2005), a
área com pastagem correspondia a 6.800 ha no município, portanto 30% da área total
do município.
A partir da safra 1991 – 1992 (Figura 11) os ovos de galinha passam a ocupar
uma importante fatia da produção em Floraí, como resultado dos investimentos de uma
granja de grande porte no distrito de Nova Bilac. Este empreendimento vai se manter
até a safra 1997 – 1998, quando, por motivos econômicos, passará a investir na
suinocultura. Esta mudança pode ser visualizada na safra 1999 – 2000, onde a
participação dos suínos corresponde a 4 % do valor da safra (Figura 19).
53%
16%
10%
4%
3%
3%
11%
SOJA
TRIGO
BOVINOS (CORTE)
LEITE
CAFE
FRANGO DE CORTE
OUTROS (24 PRODUTOS)
54
Figura 11.Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 1991 –
1992. Fonte: SEAB - DERAL (2004).
Ainda no período de 1991 – 1992, a sericicultura começa a se destacar como
uma atividade importante no município. Tal fato é resultado dos incentivos dados pelas
cooperativas e industria de tecelagem que possuem entrepostos de recebimento de
casulo verde instalados na região.
Nos resultados da safra 1992 – 1993 (Figura 12) o frango de corte começa a se
destacar entre as principais atividades do município. Esta mudança acontece com a
entrada da Coroaves, empresa de abate e beneficiamento de aves de corte, no mercado
regional.
Figura 12.Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 1992 –
1993. Fonte: SEAB - DERAL (2004).
27%
19%
14%
11%
6%
4%
19%
SOJA
TRIGO
OVOS DE GALINHA
BOVINOS (CORTE)
LEITE
CASULO (SEDA)
OUTROS (19 PRODUTOS)
38%
11%
10%
10%
7%
6%
18%
SOJA
OVOS DE GALINHA
TRIGO
BOVINOS (CORTE)
MILHO SAFRA DE VERÃO
FRANGO DE CORTE
OUTROS (112
PRODUTOS)
55
O milho (safra de verão) mostra-se uma alternativa à soja, em razão do preço
baixo, chegando a responder por 9 % da safra do município nos anos 1993 – 1994
(Figura 13).
Figura 13. Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 1993 –
1994. Fonte: SEAB - DERAL (2004).
A partir da safra 1994 – 1995 (Figura 14), o milho safrinha, antes utilizado
somente como alternativa de adubação de inverno ou como fornecedor de volumoso
para o gado, passa a representar uma alternativa economicamente viável no inverno.
Dessa forma, o milho safrinha passa a ocupar uma parcela mais importante da
produção do município que o próprio milho safra de verão.
Figura 14.Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 1994 –
1995.
Fonte
: SEAB - DERAL (2004).
45%
9%
9%
7%
5%
4%
21%
SOJA
BOVINOS (CORTE)
MILHO SAFRA DE VERÃO
OVOS DE GALINHA
FRANGO DE CORTE
LEITE
OUTROS (111
PRODUTOS)
30%
10%
9%
8%
8%
6%
29%
SOJA
MILHO SAFRINHA
OVOS DE GALINHA
BOVINOS (CORTE)
MILHO SAFRA DE
VERÃO
CANA-DE-ACUCAR
OUTROS (23
PRODUTOS)
56
Ainda na safra 1994 – 1995, a cana-de-açúcar aparecerá como um cultivo
importante para o município. A abertura de novas usinas de açúcar e álcool nos
municípios próximos vai servir como incentivo ao investimento nesta cultura. Na safra
1995 –1996 (Figura 15), a cana responderá por 11 % do valor total da safra de Floraí,
chegando a 16 % na safra 1996 – 1997 (Figura 17), a partir daí vai perdendo
importância dentro do contexto de arrecadação municipal, mas no momento exerce
grande pressão sobre a área vizinha a Nova Bilac e tem aumentado substancialmente
sua área no município.
Figura 15.Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 1995 –
1996. Fonte: SEAB - DERAL (2004).
A partir da safra 1996 – 1997 (Figura 16), a laranja passa a assumir um papel
de importância em Floraí, como conseqüência da instalação da empresa Paraná Citrus
no município de Paranavaí. A laranja vai se manter como uma importante cultura para
o município, tendo em vista que este cultivo emprega muita mão-de-obra.
34%
11%
10%
7%
6%
5%
27%
SOJA
CANA-DE-ACUCAR
MILHO SAFRINHA
OVOS DE GALINHA
BOVINOS (CORTE)
FRANGO DE CORTE
OUTROS (30
PRODUTOS)
57
Figura 16.Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 1996 –
1997. Fonte: SEAB - DERAL (2004).
As safras de 1997 – 1998 (Figura 17) e 1998 – 1999 não apresentaram grandes
mudanças em relação à safra 1996 - 1997.
Figura 17. Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 1997 –
1998. Fonte: SEAB - DERAL (2004).
32%
16%
10%
6%
5%
5%
26%
SOJA
CANA-DE-ACUCAR
OVOS DE GALINHA
LARANJA
MILHO SAFRINHA
FRANGO DE CORTE
OUTROS (39
PRODUTOS)
23%
14%
13%
8%
7%
7%
28%
SOJA
MILHO SAFRINHA
CANA-DE-ACUCAR
OVOS DE GALINHA
FRANGO DE CORTE
LARANJA
OUTROS (47
PRODUTOS)
58
Figura 18. Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 1998 –
1999. Fonte: SEAB - DERAL (2004).
Na safra 1999 – 2000 (Figura 19) é possível visualizar uma retomada de
importância da soja. Esta cultura, que na safra anterior respondia por 28 % do valor
total arrecadado, passou a responder por 34 % do valor da safra do município, em
função de um aumento no preço do produto pago no mercado internacional. Este
aumento poderá ser observado nas safras seguintes (Figuras 20 e 21), onde a soja
responderá, respectivamente, por 36 % e 40 % do valor da safra de Floraí.
Figura 19.
Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 1999 –
2000. Fonte: SEAB - DERAL (2004).
28%
12%
8%
8%
8%
7%
29%
SOJA
MILHO SAFRINHA
CANA-DE-ACUCAR
LARANJA
FRANGO DE CORTE
OVOS DE GALINHA
OUTROS (68
34%
12%
10%
7%
5%
4%
28%
SOJA
LARANJA
FRANGO DE CORTE
OVOS DE GALINHA
MILHO SAFRINHA
SUINOS
OUTROS (58 PRODUTOS)
59
Figura 20.Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 2000 –
2001. Fonte: SEAB - DERAL (2004).
Na safra 2001-2002 (Figura 21), o café volta a aparecer como um cultivo
importante no município de Flor.e e po forçeae
60
Na safra 2002-2003 (Figura 22), devido a sazonalidade da produção, o café não
apresenta boa safra, despontando a atividade leiteira com relativa importância no
município de Floraí. Tal fato acontece pela necessidade dos pequenos produtores
estabelecidos na área de solos originados do arenito procurarem alternativas mais
rentáveis para a pequena propriedade.
Ainda na safra 2002 - 2003, verifica-se que a cultura da soja, do milho safrinha
mantém sua importância econômica e mostra a laranja aumentando a sua importância
econômica dentro do município.
Figura 22.
Percentual de participação de cada cultura sobre a arrecadação total da safra. Safra 2002 –
2003. Fonte: SEAB - DERAL (2004).
42%
22%
12%
6%
4%
2%
12%
SOJA
MILHO SAFRINHA
LARANJA
FRANGO DE CORTE
CANA-DE-AÇÚCAR
LEITE
OUTROS ( 65
PRODUTOS)
61
6 A COMPARTIMENTAÇÃO DA PAISAGEM NO MUNICÍPIO DE FLORAÍ
Como para a maioria dos estudos de paisagens (descritos em BERTRAND,
1971 BOLÓS, 1992 e em MONTEIRO, 2000) este estudo iniciou-se com um
levantamento dos elementos componentes da paisagem. A análise integrada desses
elementos permitiu o reconhecimento de diferentes unidades de paisagem no território
municipal de Floraí, caracterizadas por estruturas geoecológicas e socio-econômicas
particulares. Esta compartimentação por si só constitui importante subsídio para o
diagnóstico ambiental e, também, um documento geográfico que pode ser aplicado em
diferentes níveis de escala e percepção do município. Seus conceitos e critérios
aplicam-se tanto ao nível da propriedade rural, quanto dentro dos compartimentos
identificados ou ao nível municipal.
No município foram identificadas três unidades de paisagem (Figura 23):
-Unidade 1, denominada Platô Elevado de Floraí;
-Unidade 2, denominada Platô Elevado de Nova Bilac;
-Unidade 3, denominada Baixo Patamar da Genúncia.
Estes compartimentos tendem a mostrar as condições da evolução da paisagem
nestas áreas, e conseqüentemente, fornecer parâmetros para uma destinação adequada
de seu uso.
62
63
Uma caracterização de cada uma das unidades é apresentada a seguir.
6.1 Unidade 1 – Platô Elevado de Floraí
Este compartimento situa-se na porção nordeste do município de Floraí,
abrigando a sede municipal. Corresponde a um setor do interflúvio entre os ribeirões
Esperança e Paranhos, alinhado na direção NE-SW. No topo do interflúvio as altitudes
variam geralmente entre 460 e 560m, chegando entre 340 e 380m nos fundos dos vales
dos principais cursos d’água.
Na maior parte desse compartimento domina como substrato geológico a
Formação Caiuá registrando-se, contudo, a ocorrência do basalto da Formação Serra
Geral nos setores de baixa vertente e fundos de vale. Essa composição e distribuição
do substrato geológico aparece marcada tanto na morfologia das vertentes, acentuadas
por rupturas nas zonas de contato arenito/basalto (entorno de 400m de altitude), quanto
nos tipos de solos que ocorrem ao longo das vertentes.
Nesta unidade, as vertentes voltadas para o Ribeirão Esperança (quadrante
norte) apresentam um comprimento médio em torno de 2500 metros. Apresentam-se
desdobradas em pequenos patamares em função do entalhe dos tributários de primeira
e segunda ordem do ribeirão Esperança.
Essa morfologia mais complexa cria uma alternância entre segmentos de
declividades fracas e segmentos de declividades mais fortes ao longo das vertentes.
Assim observa-se nos setores de alta a média vertente, segmentos de declividades entre
8 e 20% alternando-se com segmentos praticamente planos (declividades de 0 a 3%);
já nos setores de média a baixa vertente ocorre mais freqüentemente a alternância de
segmentos de declividades fracas, entre 3 e 8%, com segmentos de declividades mais
fortes, entre 8 e 20% e, eventualmente, superiores a 20%, como pode ser constatado no
mapa de declividades.
Na maior parte desse setor do compartimento do Platô Elevado de Floraí está
presente uma associação de solos caracterizada pela ocorrência do Latossolo Vermelho
de textura média no topo e alta vertente, seguido do Argissolo Vermelho-amarelo de
textura média nos segmentos de média alta até a baixa vertente, derivados do arenito
Caiuá. Na baixa vertente aparecem os Nitossolos Vermelhos associados à ocorrência
do basalto.
64
As vertentes voltadas para o Ribeirão Paranhos (quadrante sul) apresentam um
comprimento em torno de 1200 metros, são caracteristicamente convexo-retilíneas,
predominando declividades entre 3 e 8% (Figura 24). Nesse setor de morfologia mais
simples aparecem associados ao longo das vertentes o Latossolo Vermelho textura
média, na alta até a média-baixa vertente, ocorrendo a partir daí o Nitossolo Vermelho
até o fundo do vale.
Figura 24.
65
pequenas propriedades. Como opção de inverno, utilizava-se a aveia, ou então,
deixava-se o solo simplesmente em pousio.
Os agricultores que ocupam esta unidade são, basicamente, pequenos
proprietários, que utilizam a estrutura e a mão-de-obra familiar, praticamente não
utilizando mão-de-obra contratada. Em geral, a renda média familiar é pequena, não
permitindo a estes agricultores a implementação de culturas mecanizadas, a compra ou
o arrendamento dos lotes adjacentes. De acordo com os critérios do governo do estado
do Paraná a maioria dos agricultores desta unidade são classificados como PSM1 e
PSM2.
Após o ano de 2001, com o fomento ao plantio de soja sobre a área do arenito
Caiuá, as pequenas lavouras familiares
66
dá por um segmento convexo-retilíneo com declividade entre 8 e 20%, tendo na base
uma ruptura côncava (fundo do vale) (Figura 25).
Figura 25. Detalhe do compartimento Platô Elevado de Nova Bilac. Observar as vertentes longas,
com declividades acentuadas. Ocupação com milho safrinha e pastagem.
A ruptura côncava da média vertente marca o contato arenito/basalto. Assim,
os patamares e os setores a jusante têm como substrato o basalto da Formação Serra
Geral, enquanto que os setores de topo e de alta a média vertente estão sobre a
Formação Caiuá (ver Mapa Geológico, Figura 4). O relevo apresenta um maior grau de
dissecação, decorrente da maior densidade de drenagem nesta unidade.
No que se refere à cobertura pedológica, esta área apresenta uma grande
diversidade de tipos de solo. Dos nove tipos de solo existentes no município de Floraí,
oito ocorrem nesta unidade. Distintamente do Platô Elevado de Floraí, a maior parte do
setor mais elevado desta unidade (mais entalhada, com morfologia de pequenas
colinas) é recoberta preferencialmente por Argissolos Vermelho-amarelos. Nos setores
de topo menos entalhado aparece o Latossolo Vermelho de textura argilosa. Nos
patamares, sobre o basalto, predomina o Nitossolo Vermelho. É comum, também, a
ocorrência de manchas de Neossolos Quartzarênicos hidromórficos no entorno de
cabeceiras de drenagem em anfiteatros.
67
A ocupação destes solos, assim como na Unidade 1 – Platô Elevado de Floraí,
está passando por um processo de transformação. Estas transformações são decorrentes
do avanço da soja sobre o arenito em alguns lotes, mas principalmente pelo avanço do
cultivo de cana-de-açúcar, influenciado pela existência de uma usina de álcool no
município vizinho de São Carlos do Ivaí.
Até o ano de 2000, a área era ocupada por pastagens, (bovinos de corte),
lavouras de amoreira (sericicultura), uva fina de mesa, e café, além de outras lavouras
anuais como o milho, o feijão e a mandioca. A cultura da soja ficava restrita somente
às áreas de solos mais argilosos, nos patamares, já sobre o basalto.
A partir de 2001, a soja passou a avançar para os solos mais arenosos, em
posições de média a alta vertente, com declividades um pouco mais acentuadas, sem os
cuidado de manejo necessários para uma cultura deste tipo. Como resultado, graves
problemas de erosão e perda de material fértil ocorreram neste setor. Como foi o caso
do episódio de outubro de 2001, em que as ocorrências das primeiras precipitações
mais intensas sobre as áreas recém cultivadas provocaram perdas de solos e causaram
grandes erosões na forma de ravinas, causando graves prejuízos aos agricultores e
modificando localmente a paisagem.
A entrada da cana-de-açúcar vem acontecendo em função desta cultura ter
ocupado todos os espaços possíveis no município de São Carlos do Ivaí. Desta forma,
esta cultura rompe a barreira política entre os municípios, ganhando espaço nos solos
desta unidade. Esta tomada de espaço acontece pela aquisição de lotes por parte dos
agricultores de São Carlos do Ivaí, ou também pelo arrendamento de áreas
anteriormente ocupadas pelos agricultores do distrito de Nova Bilac (Figura 26).
68
Figura 26. Vista do avanço da cana de açúcar sobre o compartimento Platô Elevado de Nova
Bilac.
Muito embora pudesse ser considerada uma unidade onde já se utilizava boa
tecnologia, tendo em vista que as culturas ali instaladas demandavam tais
investimentos, as lavouras de soja e cana-de-açúcar trouxeram para esta unidade
alguns dos problemas decorrentes do mau uso de insumos agrícolas, como os
herbicidas e os inseticidas, que mal utilizados ocasionaram problemas, envolvendo
perdas, nas lavouras de uva e amoreiras, tornando a convivência destas lavouras
incompatíveis entre si, o que obrigou a vários pequenos agricultores a abandonar estas
atividades. Com a pressão exercida pela cana de açúcar nesse compartimento, a
paisagem e a economia recente da área vem mudando drasticamente, pois,dificilmente
se encontrarão formas de utilização dos recursos dos solos que se possam rivalizar com
a agroindústria canavieira quanto ao seu poder de condicionar um tipo de sociedade e
de economia, haja vista que, esta cultura tem a capacidade de, sozinha, modelar um
tipo de paisagem e estruturar um tipo de arranjo econômico do espaço, como visto em
outros municípios vizinhos e até em outras regiões do país. De acordo com os critérios
do governo do estado do Paraná a maioria dos agricultores desta unidade são
classificados como PSM1 e PSM3.
69
6.3 Unidade 3 – Baixo Patamar da Genúncia
Situada na porção sudoeste do município, esta unidade difere bastante das
unidades anteriores por estar localizada integralmente sobre os basaltos da Formação
Serra Geral, de acordo com o mapa geológico (Figura 4).
Constitui-se topograficamente em um setor caracterizado por colinas amplas
entalhadas pelos ribeirões Esperança, Paranhos (trechos médios e inferiores) e
Genúncia, com altitudes entre 340 e 380m. O topo das colinas nesse setor é muito
amplo e relativamente aplainado com declividades predominantes inferiores a 3%. As
vertentes são convexo-retilíneas e extensas chegando a 2600m de comprimento em
alguns locais. Na alta e média vertente as declividades variam entre 3 e 8%, chegando,
contudo, a declividades maiores, entre 8 e 20%, em uma estreita faixa já na baixa
vertente. Associados a essa ruptura de declive, em alguns locais, ocorrem afloramentos
de rocha sob a forma de matacões. Os vales dos cursos d’ água são estreitos e
relativamente encaixados em comparação com aqueles das unidades 1 e 2 (Figura 27).
Figura 27. Vista parcial do compartimento Baixo Patamar da Genúncia em direção ao vale do Ribeirão
Genúncia.
Dominam nessa unidade de paisagem, nos setores de topo e alta a média
vertente o Latossolo Vermelho eutroférrico, a partir da média encosta aparece o
70
Nitossolo Vermelho eutroférrico e, localmente, na baixa vertente, pode ocorrer o
Neossolo Litólico.
Neste compartimento, verifica-se, também, a presença de uma mancha de
Latossolo Vermelho de textura média, semelhante àqueles originados do arenito Caiuá.
Trata-se de uma mancha localizada, originada provavelmente sobre um depósito de
materiais oriundos do arenito Caiuá, remobilizados.
No compartimento Baixo Patamar da Genúncia a ocupação se dá com lavouras
anuais, como a soja, o milho safra de verão, o milho safrinha e o trigo. Mais
recentemente, alguns lotes próximos à divisa com o município de São Carlos do Ivaí
foram ocupados com o cultivo de cana-de-açúcar, porém a pressão dessa cultura nesse
compartimento é muito menor em relação à pressão exercida pela mesma atividade no
Platô Elevado de Nova Bilac.
A tecnologia aplicada nos plantios nesta unidade é considerada alta para os
padrões locais, com a utilização de fertilizantes, herbicidas, fungicidas, inseticidas e
máquinas e equipamentos pesados. As propriedades são de tamanho maior em relação
à média municipal, sendo comum os produtores rurais possuírem ou arrendarem mais
de uma propriedade.
Praticamente não existe população residente no local, e quando esse fato
acontece, esta população residente, em sua maioria, é constituída por empregos das
médias e grandes propriedades da área, sendo muito comum o proprietário residir no
núcleo urbano de Floraí ou mesmo em cidades maiores como Maringá ou Londrina.
Mesmo assim, a forma de gerenciamento das propriedades ainda pode ser considerada
familiar, porém com uma utilização de mão-de-obra externa qualificada muito maior
que nos demais compartimentos. De acordo com os critérios do governo do estado do
Paraná a maioria dos agricultores desta unidade são classificados como empresários
familiares e empresários rurais.
Existe nesta unidade uma boa conservação física dos solos, porém o sistema de
conservação existente deve ser melhorado e ampliado, de forma a atingir um nível
adequado aos atuais padrões de uso do solo. Um exemplo disto é a necessidade de se
aumentar a utilização de insumos biológicos no controle das pragas das lavouras, o que
vai, de certa forma, racionalizar o uso de produtos químicos. Com esta utilização de
insumos biológicos, ficam reduzidas as possibilidades de ocorrência de acidentes
ambientais.
71
6.4 AS UNIDADES DA PAISAGEM E AS PROPRIEDADES TÍPICAS:
DIAGNÓSTICO DA PROPRIEDADE TÍPICA
Para se compreender o significado das “propriedades típicas” no interior de
cada uma das unidades de paisagem é necessário, antes de tudo, que se conheça as
características da estrutura fundiária do município e dos seus produtores.
6.4.1 Estrutura Fundiária do Município de Floraí
Pelo mapa de estrutura fundiária (Figura 28) é possível observar que o
município foi colonizado basicamente por pequenas e médias propriedades rurais,
tendo sido originalmente, por ocasião de sua ocupação, dividido em 440 lotes rurais
(PREFEITURA MUNICIPAL, 2004), porém, em consulta ao cartório de registro de
imóveis da comarca de Nova Esperança, no ano de 2004, constatou-se que atualmente
existem registrados como imóveis rurais 517 propriedades, sendo comum observar
mais de um imóvel rural em nome de um único agricultor. Esta concentração de lotes
em uma única unidade produtiva ocorre com maior freqüência no Baixo Patamar da
Genúncia, área mais propícia à mecanização intensiva e de melhor histórico de
produtividade (EMATER-PR, 2004) sendo possível observar uma menor concentração
de lotes e maior quantidade de pequenos agricultores nos outros dois compartimentos:
Platô Elevado de Floraí e Platô Elevado de Nova Bilac.
72
Figura 28. Mapa da Estrutura Fundiária do Município de Floraí. Elaborado pela C.M.N.P –1952.
Além do papel representado pelo tipo de propriedade na estrutura fundiária é
importante, também, o tipo de produtor. Essa relação propriedade-produtor vai
caracterizar o sistema de produção e os vínculos com a estrutura geoecológica no
interior das unidades de paisagem. A tabela a seguir (Tabela 5) mostra o
enquadramento dos produtores do município de Floraí de acordo com a classificação
proposta pelo Governo do Estado do Paraná (1996, 1999), apresentada no item 3.8.
Tabela 5 – Categorias de Produtores Rurais no Município de Floraí – Ano Agrícola 2003/2004
Categorias
Nº de
proprietários
Nº de
produtores
Prod. De Subsistência ou Produtores Simples de Mercadorias 1 119 218
Prod. Simples de Mercadorias 2 137 178
Prod. Simples de Mercadorias 3 63 83
Empresários Familiares 42 50
Empresários Rurais 48 49
TOTAL 409 578
*Na categoria de produtores estão incluídos os parceiros, arrendatários e meeiros.
Fonte:
EMATER-PR
(2004).
73
Em cada uma das unidades de paisagem definidas para o município de Floraí,
selecionou-se uma propriedade padrão, representativa do funcionamento daquele
compartimento. No caso da Unidade 1 - Platô Elevado de Floraí, em função das
características de seu funcionamento, foram selecionadas duas propriedades.
Nas propriedades selecionadas em cada compartimento, procedeu-se a
identificação das estruturas vertical e horizontal da paisagem, enfatizando-se, a partir
de uma abordagem integrada, os aspectos relativos ao potencial ecológico, ao processo
produtivo e as relações com o mercado.
6.4.2 Propriedades Típicas da Unidade 1 - Platô Elevado de Flor
Nesta unidade, optou-se pela seleção de duas propriedades tendo em vista a
maior diversidade quanto ao tamanho e os distintos aspectos empregados no
gerenciamento destes imóveis. As características físicas da área em questão também
foram fator decisivo na escolha destas duas propriedades.
Neste diagnóstico, são apresentados os dados geoecológicos que caracterizam
as propriedades típicas desta unidade, assim como os aspectos relacionados à ocupação
da mão de obra, à composição das famílias, às condições de fertilidade e de manejo do
solo, entre outros.
Propriedade 1 – Sítio das Palmeiras
Proprietário:Domiciano Pedrone
Esta propriedade foi escolhida como sendo representativa do compartimento 1
por possuir características que se assemelham à maioria das demais propriedades desta
área. Dentre estas características comuns, é possível destacar a similaridade da
cobertura pedológica, o emprego de mão de obra familiar, o uso mediano de tecnologia
nas atividades agrícolas e o gradativo processo de substituição ou implantação de
novas atividades. Este processo de substituição das atividades vem progressivamente
transformando a paisagem agrícola das demais propriedades desta unidade.
74
Localização
A propriedade está localizada na rodovia Urbano Pedroni, km 11, a uma
distância de 4 km da sede do município de Floraí. Nos fundos da propriedade es
localizado o Ribeirão Paranhos. A propriedade tem como vizinhos: a leste o Sr.
Custódio Vicentine; a oeste o Sr. Marcos Granzotti; ao norte o Sr. Luiz Genovez e ao
sul, já na divisa com o município de São Jorge do Ivaí, o Sr. José Luis Bovo.
A propriedade possui uma área de 36,30 ha, que compreende a totalidade das
terras que estão sob a gerência de dois núcleos familiares que subsistem desta unidade
básica produtiva.
Histórico da Propriedade
A área foi adquirida em 1950 diretamente da CMNP pelo Sr. Francisco
Pedrone, pai do atual proprietário, Sr. Domiciano Pedrone. A família do atual
proprietário é oriunda do município de Cravinhos – SP, tendo migrado para o Paraná
no ano de 1947, fixando residência no município de Mandaguari.
Chegando em Mandaguari, a família reuniu todas as suas economias e adquiriu
este lote em Floraí. No lote, implantaram a cultura de café, onde trabalhavam durante
os períodos de maior atividade da cultura, geralmente nas épocas dos tratos culturais e
da colheita. Ficavam alojados em um barraco de madeira, improvisado, permanecendo
o tempo necessário ao exercício das atividades. Somente no ano de 1958 é que fixaram
residência no lote.
O atual proprietário, Sr. Domiciano Pedroni, chegou em Floraí com a idade de
20 anos, tendo participado de todas as atividades realizadas no lote, desde a derrubada
do mato até os dias de hoje. Quando chegou, ainda jovem, se casou com a Sra. Nilda
Vicentine, filha do proprietário do lote vizinho, no ano de 1963.
Ele se lembra do plantio de café com detalhes. A variedade de café plantada foi
o “Sumatra palma”, no espaçamento de 4 x 4 metros. Esta cultura foi a principal
atividade econômica da propriedade até o ano de 1975, quando da ocorrência da
grande geada, que afetou os cafezais da região norte do Paraná. Depois da geada, foi
feita uma recepa, sendo então reiniciadas as atividades de plantio de café. Neste
mesmo ano, numa área de 7 ha a 8 ha, começaram o plantio de lavouras anuais com
fins comerciais, sendo o milho e a soja as culturas escolhidas para esse fim. Essas
lavouras eram colhidas manualmente e depois debulhadas em trilhadeiras, que eram
alugadas de outros agricultores.
75
O primeiro plantio de milho rendeu algo em torno de 2.000 kg/ha, o que era
muito bom para a época, mas pouco se comparado com a produtividade média
municipal atual (em torno de 3.600 kg/ha). O mesmo pode ser dito quanto à soja, que
produziu 1.800 kg/ha (atualmente a produção está em torno de 2.750 kg/ha).
Em 1987 o café foi erradicado de forma definitiva, destinando o fundo da
propriedade para a pastagem, tendo em vista ser esta uma área bastante inclinada, de
difícil mecanização. Assim sendo, esta parte da propriedade foi utilizada para a
bovinocultura de leite, atividade que perdurou até o ano de 1999, quando houve a
repartição das atividades dentro da família. A partir de então, o filho mais velho, Sr.
Eugenio Pedrone, ficou responsável pela atividade leiteira em uma outra pequena
propriedade adquirida pela família. No ano de 1998, sob a gerência do filho Sr. Jair
Pedrone a atividade cafeeira volta a ser implantada na propriedade, utilizando novas
tecnologias, sob a forma de lavoura adensada, ocupando uma área de 2 ha.
Atividades
Tabela 6 -
Principais Atividades Exercidas na Propriedade
Período Atividades Área em ha Produtividade Kg/ha
Soja 26,0 2.720
Café (em coco) 2,0 4.400
VERÃO
Lavouras Subsistência 1,3
Arroz / Feijão /
Mandioca / Vassoura /
Frutas
Milho Safrinha 10,0 2.975
Sorgo Granífero 5,0 1.750
Aveia * 13,0
Destina-se a
Incorporação.
INVERNO
Lavouras Subsistência 1,3
Feijão/ Legumes /
Verduras / Frutas.
Mata Ciliar 5,0 Bem conservada.
OUTRAS OCUPAÇÕES
Infraestrutura 2,0
Terreiro de Café / Casas
/ Carreadores.
*A aveia é usada como adubação verde de inverno e cobertura morta para plantio da
safra de verão
76
Croqui
Figura 29. Croqui esquemático das atividades dentro da propriedade.
Toposseqüência
Figura 30. Topossequência esquemática da propriedade, baseado em levantamento de campo.
Funcionamento da Propriedade
Gerenciamento:
O gerenciamento da propriedade também está dividido entre o proprietário e
seu filho, sendo que o Sr. Domiciano Pedrone ainda controla alguns aspectos
administrativos, principalmente no que tange à parte financeira. Os demais herdeiros
não dependem ou sobrevivem da propriedade, mas exercem influência e controle sobre
o imóvel.
77
Gestão:
Compras
-
Todas as compras de insumos e bens destinados à propriedade são
feitas no comércio local, sendo que 80% das compras são realizadas com a
COCAMAR, 15% com a COOPERATIVA INTEGRADA e os 5% restantes com o
comércio local, principalmente com a AGROPAR, empresa privada que revende
insumos agrícolas no município.
Vendas - Toda a produção é comercializada no município, sendo que 80% são
comercializadas com a COCAMAR e os 20% restantes com a COOPERATIVA
INTEGRADA.
Acesso ao Crédito - Praticamente todas as atividades deste imóvel são passíveis
de financiamento e, para isso o produtor conta com uma agência bancária da SICRED,
onde possui boa facilidade de acesso ao crédito. Esporadicamente, o produtor recorre a
financiamentos no Banco do Brasil, agência de Nova Esperança. Outro fator que traz
benefícios a estes agricultores são os créditos especiais do governo federal aos quais
eles têm acesso, como por exemplo o PRONAF, o PROJER, e o Sistema de
Equivalência-Produto. Estas são modalidades de crédito com juros e condições
especiais, destinadas aos pequenos agricultores familiares.
Sistema de Produção da Propriedade
Caracterização Familiar:
A agricultura praticada é totalmente caracterizada como familiar, desde o
tamanho da propriedade, a forma como é distribuída a renda obtida da produção, o
gerenciamento, o acesso ao crédito, e a distribuição do trabalho dentro da propriedade.
Sobrevivem do imóvel em questão duas famílias. A família titular é formada pelo Sr.
Domiciano Pedrone e sua esposa, e a família descendente é formada pelo seu filho, Sr.
Jair Pedrone, sua esposa e um casal de filhos. As duas famílias residem no núcleo
urbano, próximo à propriedade rural. De acordo com a EMATER-PR, escritório local
de Floraí, e baseado nos critérios do Governo do Estado do Paraná (1996-1999) os
agricultores desta propriedade típica podem ser classificados como: Domiciano
Pedrone, PSM3 e Jair Pedrone, PSM2.
78
Ocupação da Mão de Obra:
Nesta propriedade trabalham o atual proprietário, Sr. Domiciano Pedrone, e o
seu filho, Sr. Jair Pedrone. Os dois trabalham no sistema de parceria, havendo uma
divisão dos lucros e dos gastos em partes iguais.
Suas funções dentro da propriedade são generalizadas, ficando a cargo dos dois
assumir qualquer ocupação que seja necessária. No entanto, cabe ao mais jovem, Sr.
Jair Pedrone, assumir trabalhos mais especializados ou pesados, como por exemplo a
aplicação de agroquímicos e a condução de máquinas e implementos agrícolas.
Não é utilizada mão de obra contratada, no entanto, fazem uso de mão de obra
temporária ou eventual, contratando trabalhadores volantes nos períodos de colheita e
limpeza manual das lavouras, num total que nunca ultrapassa 50 diárias por ano
agrícola.
Sistemas de Cultivo:
Pode-se considerar esta propriedade como sendo de média tecnologia, onde já
estão em uso algumas práticas conservacionistas, tais como o plantio direto, o plantio
em nível, a utilização de um sistema mecânico de conservação de solos, a utilização de
adubos e sementes de boa qualidade, além do uso de agroquímicos para controle de
pragas, doenças e ervas invasoras.
Os produtores são abertos ao uso de novas tecnologias e estão sempre presentes
em eventos que visam melhorar a sua percepção da agricultura. Apesar disto, faltam
ainda a adoção de algumas práticas que podem resultar em um melhor aproveitamento
da área disponível e em ganhos tecnológicos para a propriedade, como por exemplo, a
utilização de irrigação e a rotação de culturas.
Outro fator preocupante diz respeito à alta dependência da propriedade para
com o meio externo. Observa-se que os agricultores não têm preocupação quanto ao
uso de uma adubação alternativa, nem de sementes ou variedades próprias. Há também
uma dependência total de combustíveis fósseis para a condução das culturas. Até
mesmo nas culturas de subsistência, como o feijão, a vassoura, o arroz, os legumes,
frutas e verduras, existe uma preferência por sementes e fertilizantes adquiridos no
comércio. Isto demonstra uma mudança de hábitos por parte dos agricultores, que
abandonaram os hábitos considerados mais “saudáveis”, e aderiram às “facilidades”
decorrentes de um sistema mais comercial e moderno, bem ao gosto do modo de
consumo capitalista.
79
Máquinas e Implementos:
Tabela 7 – Maquinários e Implementos Existentes na Propriedade
Equipamento Marca Especificações Ano
Trator Massey-Fergunson 275 78 HP 1985
Trator Massey-Fergunson 50X 1973
Semeadeira Geal 7 linhas 2000
Semeadeira Jumil 11 linhas 1983
Grade Home Baldan 14 discos 1975
Grade Niveladora Baldan 36 discos 1993
Pulverizador Jacto 600 litros 1985
Canhão Pulverizador Jacto 1.200 litros 1990
Carpidor de Curvas SME 7 discos 1973
Carreta SME 2 rodas 1973
Conj. Implementos SME Manuais 1990
Solos e Manejo:
A propriedade tinha como vegetação original a floresta tropical, que foi
derrubada para dar lugar ao plantio de café. Durante o período de cultivo dessa
lavoura, não houve nenhuma preocupação com a conservação dos solos, tendo parte do
café, inclusive, sido plantado na direção do escorrimento superficial das águas. Esse
descuido inicial provocou uma substancial perca de solos na propriedade.
Outro fator importante no que se refere à degradação ambiental da área está
relacionada com as adubações realizadas nos cafezais. Estas adubações eram
realizadas sistematicamente com uma única formula pré-concebida para todas as
lavouras (20-05-20), sem levar em conta a idade do cafezal, a produtividade estimada,
as condições climáticas, o tipo de solo, entre outros fatores. Com isso os solos
passaram a apresentar um desequilíbrio nutricional, o que tem causado problemas até
os dias de hoje.
Atualmente, os proprietários estão mais preocupados com os aspectos do
manejo e da conservação de solos, procurando colocar cada tipo de cultura nos locais
mais adequados e convenientes a elas (Figura 29). O café está plantado na parte alta da
80
propriedade, em local com menor possibilidade de ocorrência de geadas, em área de
solo mais arenoso. Mais abaixo estão as culturas temporárias, subdivididas em talhões.
Na divisão destes talhões, procura-se deixar as culturas que necessitam de um maior
manejo de máquinas sempre na parte mais plana do terreno. No fundo do lote, onde o
solo é mais argiloso e a declividade é mais acentuada, os agricultores procuram alocar
as lavouras de subsistência, haja vista que estas atividades demandam basicamente
atividades manuais e revolvem menos os solos.
Nas áreas com lavouras anuais o produtor adotou o sistema de plantio direto
que, nesta propriedade, apresenta problemas semelhantes aos das demais propriedades
do norte paranaense: a dificuldade de se preservar a palha sobre o solo no período de
verão. Nesta região, a combinação das altas temperaturas, com a alta umidade e a alta
luminosidade provocam uma rápida mineralização da matéria orgânica do solo,
deixando a terra desprotegida por um longo período antes do plantio da safra de verão.
Perspectivas (do Produtor/ da Família/ Objetivos)
Fundamentalmente, a perspectiva dos agricultores desta unidade produtiva é
sobreviver da agricultura. Seus objetivos imediatos são obter lucro com a atividade, ter
maior independência financeira, alcançando uma maior capacidade de consumo e
conforto para suas famílias.
Em longo prazo o produtor mais jovem espera poder dar estudo aos seus filhos,
de forma que estes possam seguir uma outra profissão e se tornar independentes em
relação à propriedade.
Propriedade 2 – Sítio Santo Antônio
Proprietário: Moacir Vendrameto
É a segunda propriedade selecionada no compartimento 1 - Platô Elevado de
Floraí. Possui uma área de 12,1 ha, que compreende a totalidade das terras que estão
sob a gerência de um núcleo familiar, que
81
Sr. Luís Gimenez de Abreu; ao norte o Sr. José Francolino Gomes e ao sul o Sr.
Osvaldo Damico.
Histórico da Propriedade
A propriedade foi adquirida em 1951, diretamente da CMNP pelo Sr. Manoel
Scorce, que logo se mudou para a área, construindo ali um barraco de lona para se
abrigar do tempo. Iniciou imediatamente a derrubada do mato e a semeadura do café.
Em 1966, conforme registrado no cartório de imóveis de Nova Esperança, a
área foi adquirida pelo Sr. João Marques, que deu continuidade à lavoura de café. No
ano de 1969, a propriedade foi adquirida pelo Sr. Antônio Valério Gomes, que também
deu seguimento à cafeicultura até o ano de 1975, ocasião da ocorrência das fortes
geadas no estado do Paraná. Após este evento, o Sr. Antônio Valério Gomes iniciou a
erradicação do café de forma gradativa, implantando na propriedade outras atividades
de forma aleatória. A maioria destas lavouras era de cultivos anuais, como o feijão, o
milho e o algodão. Uma pequena área foi destinada para a pastagem com a atividade
da bovinocultura de leite, reservando-se apenas 2,5 ha na parte mais alta do lote para a
cafeicultura.
No ano de 1985, o Sr. Antônio Valério Gomes vai morar com a família no
perímetro urbano de Floraí, passando a ir todos os dias até a propriedade para
trabalhar.
Em 1992, seus filhos iniciaram o plantio de bucha vegetal, se dedicando a esta
atividade até o ano de 1996. Nesta ocasião, o proprietário já acumulava dívidas
oriundas dos financiamentos e dos maus resultados da comercialização de seus
produtos. Estas dívidas foram resultantes principalmente do gerenciamento equivocado
da propriedade por parte dos filhos.
Em 1998, a propriedade foi vendida ao atual proprietário, Sr. Moacir
Vendrametto, que já praticava a agricultura em outros lotes da família. Ao tomar posse
da terra, o Sr. Moacir readequou o modo de exploração do lote, aderindo ao sistema
preconizado pelas cooperativas do município de plantio de soja no arenito. A partir
deste momento, o produtor passou a utilizar a mecanização intensiva, reformando o
sistema mecânico de conservação, construindo e reformando terraços de absorção.
Toda a propriedade foi ocupada por cultivos de soja no verão, com o milho safrinha e a
aveia no inverno. Às vezes, intercalava-se culturas como o feijão, o trigo e o milho
(safra normal) nestes cultivos (Figura 31).
82
Figura 31. Panorama do avanço da soja sobre áreas de pastagem no arenito, no compartimento Platô
Elevado de Floraí.
Atividades
Tabela 8 - Principais Atividades Exercidas na Propriedade
Período Atividades Área em ha Produtividade Kg/ha
VERÃO Soja 11,6 2.600
Milho safrinha 9,10 2.230
Feijão 0,5 800
INVERNO
Aveia * 2,0
Destina-se a
Incorporação.
Mata ciliar 0,3
Medianamente
conservada.
Eucalipto** 0,1 240 ton./ha/ano
OUTRAS OCUPAÇÕES
Infraestrutura 0,2 Carreadores / Pomar
* A aveia é usada como adubação verde de inverno e cobertura morta para plantio da safra de verão.
** O Eucalipto é comercializado com olarias da região.
83
Croqui
Figura 32. Croqui esquemático das atividades dentro da propriedade.
Toposseqüência
Figura 33.
Esquema da toposseqüência da propriedade baseado em levantamento de campo.
84
Funcionamento da Propriedade
Gerenciamento:
O gerenciamento da propriedade é todo de responsabilidade do Sr. Moacir
Vendrametto, que controla desde a parte produtiva, os aspectos administrativos até a
parte financeira, como a compra, venda e financiamentos.
Gestão:
Compras - Do montante destinado às compras, 80% são gastos com a
COCAMAR, 15% com a COOPERATIVA INTEGRADA, e os 5% restantes com o
comércio local, principalmente com a AGROPAR e a FERTFRAN, empresas privadas
que revendem insumos agrícolas no município.
Vendas - Toda a produção também é comercializadas no município, sendo que
60% é comercializada com a COCAMAR, 30% é comercializada com a
COOPERATIVA INTEGRADA e os 10% restantes com a AGROSOJA.
Acesso ao Crédito - Toda a safra de verão é financiada e o proprietário se
utiliza do crédito através do Banco do Brasil, agência de Nova Esperança. De acordo
com a EMATER-PR, por estar enquadrado como agricultor familiar, este proprietário
se beneficia dos créditos especiais dos governos estadual e federal, tais como o
PRONAF e o Sistema de Equivalência – Produto. Na safra de inverno (feijão, milho
safrinha e aveia) o agricultor prefere utilizar recursos próprios e o sistema de troca de
sementes e fertilizantes por produtos agrícolas com as cooperativas locais.
Sistema de Produção da Propriedade
Caracterização Familiar:
A agricultura praticada é totalmente caracterizada como familiar, desde o
tamanho da propriedade, a forma como é distribuída a renda obtida da produção, o
gerenciamento, o acesso ao crédito, e a distribuição do trabalho dentro da propriedade.
Sobrevive do imóvel uma família, formada pelo Sr. Moacir Vendrametto, sua esposa e
um casal de filhos menores. A família reside no núcleo urbano, próximo à propriedade
rural. De acordo com a EMATER-PR ,escritório local de Floraí, e baseado nos
critérios do Governo do Estado do Paraná (1996-1999) o agricultor desta propriedade
típica pode ser classificado como PSM2.
85
Ocupação da Mão de Obra:
Nesta propriedade trabalham o atual proprietário Sr. Moacir Vendrametto,
sendo que sua esposa trabalha como professora municipal, fato muito comum na
agricultura municipal, onde um membro da família trabalha fora para complementar a
renda familiar. Os filhos ainda estão em idade escolar, não exercendo nenhuma função
de trabalho, ficando a cargo do produtor fazer todas as ocupações que sejam
necessárias ao bom andamento da propriedade, desde os trabalhos mais pesados, como
por exemplo conduzir máquinas e implementos agrícolas, fazer a carpa manual das
curvas de nível, fazer a aplicação de agroquímicos com máquina costal, até assumir
trabalhos mais burocráticos, como o gerenciamento e a negociação de crédito rural.
A propriedade não se utiliza de mão de obra contratada, e raramente faz uso de
mão de obra temporária ou eventual, contratando trabalhadores volantes apenas em
períodos de colheita e limpeza manual das lavouras, num total que pode chegar no
máximo a 30 diárias por ano agrícola.
Máquinas e Implementos:
Tabela 9 - Maquinários e Implementos Existentes na Propriedade
Equipamento Marca Especificações Ano
Trator Massey-Fergunson 275 79 HP 1980
Plantadeira Jumil 11 linhas 1992
Plantadeira Plantcenter 7 linhas 2003
Grade Home Tatu 14 discos 1994
Grade Niveladora Tatu 32 discos 1992
Pulverizador Jacto 600 litros 1990
Tanque de Água SME 3.000 litros 1984
Arado Tatu 3 discos 1975
Escarificador Jan 5 hastes 1992
Carreta SME 2 rodas 1984
Carretas SME 4 rodas 1984
Conj. De Imp. Manuais SME Manual Vários
86
Solos e Manejo:
A propriedade tinha como vegetação original a floresta tropical, que foi
derrubada para dar lugar ao plantio de café. Durante o período de cultivo dessa
lavoura, não houve nenhuma preocupação com a conservação dos solos, tendo parte do
café, inclusive, sido plantado na direção do escorrimento superficial das águas. Por ser
uma propriedade pequena e por onde passou vários núcleos familiares, houve uma
certa persistência com a lavoura cafeeira por muito mais tempo que a média das
propriedades locais. Este fator, aliado ao manejo incorreto do solo e da lavoura,
contribuiu para a degradação e o desequilíbrio nutricional da área.
O atual proprietário mostra-se preocupado com os aspectos do manejo e da
conservação de solos, tendo realizado o trabalho mecânico da construção de curvas de
nível, visando diminuir o escorrimento superficial da água. O produtor realiza também
o plantio em nível, e procura fazer adubações mais adequadas às necessidades do solo.
Outro fator importante foi a adoção do plantio direto, que mesmo apresentando
problemas em nossa região, tem se mostrado melhor que o plantio convencional, já
que provoca um menor revolvimento da superfície do solo.
Perspectivas (do Produtor/ da Família/ Objetivos)
De acordo com o próprio agricultor, sua perspectiva é sobreviver da
propriedade e da agricultura, pois é a única atividade que aprendeu a praticar. Seus
objetivos imediatos são obter lucro com a atividade e poder dar boas condições de vida
para sua família. A médio e longo prazo, o produtor espera poder dar estudo aos seus
filhos e, segundo ele, se estes desejarem, podem continuar na agricultura.
6.4.3 Propriedade Típica da Unidade 2 - Platô Elevado de Nova Bilac
Propriedade 3 – Sítio Alvorada
Proprietário: Eraldo Bergo
É a propriedade selecionada no Platô Elevado de Nova Bilac (foto). Possui uma
área de 50,80 ha, e está sob a gerência de dois núcleos familiares, que subsiste com 80
% de sua renda advinda desta unidade básica produtiva.
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Localização
A propriedade está localizada próxima ao perímetro urbano de distrito de Nova
Bilac. Sua sede está localizada em frente ao perímetro urbano do distrito, sendo seus
vizinhos: a nordeste o Sr. José Roberto de Souza; a noroeste o Sr. José Germano
Persona; ao sul o Sr. Durval Bergo; a oeste a propriedade da família Marassi e a leste a
sede do distrito.
Histórico da Propriedade
A propriedade foi adquirida pelo pai do atual proprietário no ano de 1960. A
área original era de 145,20 ha, e possuía 72.000 covas de café.
A família do atual proprietário é proveniente de Lavínia – SP, e quando vieram
para o Paraná, o mesmo tinha 13 anos de idade. Na época, o sistema de exploração do
imóvel era feito em parceria, sendo 50 % para os parceiros e 50 % para os
proprietários. No primeiro ano da família na propriedade, a lavoura produziu 11.200
sacas de café, uma produtividade considerada alta e que permitiu à família pagar todas
as dívidas provenientes da compra do lote.
Segundo informações do agricultor, a ocorrência de grandes geadas no ano de
1963 obrigou a família a diversificar as atividades, iniciando com o plantio de trigo no
inverno, o qual era feito manualmente, no meio do café recepado.
Em 1968, com incentivo governamental, grande parte do café foi erradicada.,
iniciando-se o cultivo de soja (25 ha), primeira lavoura desta leguminosa na região de
Nova Bilac, que apresentou um rendimento médio de1.700 kg/ha. Para realizar a
primeira colheita foram alugadas uma colheitadeira e uma trilhadeira.
Em 1975, após a grande geada, a família do agricultor erradicou totalmente o
café nas áreas de basalto, deixando apenas uma pequena parcela de 10 ha na parte alta
sobre o arenito, onde foi feita a recepa do cafezal e um replantio no meio do café
velho. A partir daí, todo o restante da área foi ocupada com soja no verão e trigo no
inverno.
No ano de 1981, a propriedade foi dividida em três parcelas de 48,40 ha cada
cabendo uma destas parcelas ao atual proprietário que adquiriu mais 2,42 ha,
perfazendo um total de 50, 82 ha.
Após assumir a sua área, o atual proprietário se dedicou a várias atividades. Em
1981, plantou 5,5 ha de amora e construiu duas sirgarias (barracões de bicho-da-seda).
Neste período o produtor possuía dois agregados em regime de parceria, a quem
88
destinava 40 % da renda gerada pela atividade. Segundo o produtor, até 1986 a
paisagem da propriedade era dominada por amoreiras na cabeceira do lote, pastagens
no meio e café e soja na parte baixa do lote.
No ano de 2000 o produtor erradicou totalmente a amora arrendando 25 ha da
propriedade para o plantio de cana-de-açúcar. Atualmente, está em processo de
reforma das pastagens, aonde tem plantado mandioca, milho e soja.
Atividades
Tabela 10 - Principais Atividades Exercidas na Propriedade
Período Atividades Área em ha Produtividade Kg/ha
Soja 12,22 2.700
Cana-de-açúcar 25,00 115.000
VERÃO
Mandioca 7,00 22.700
Milho safrinha 9,00 3.220
Aveia * 2,5
Destina-se a
Incorporação.
INVERNO
Pousio 3,22
Pastagem 6,00 2,8 cabeças/ha/ano
Eucalipto** 0,1 240 ton./ha/ano
OUTRAS OCUPAÇÕES
Infraestrutura 0,5
Carreadores / Pomar /
Sede / Barracões
*
A aveia é usada como adubação verde de inverno, cobertura morta para plantio da safra de verão e
alimentação de bovinos.
** O Eucalipto é comercializado com olarias da região.
89
Croqui
Figura 34. Croqui esquemático das atividades dentro da propriedade.
Toposseqüência
Figura 35. Toposseqüência esquemática da propriedade, baseada em levantamento de campo.
90
Funcionamento da Propriedade
Gerenciamento:
O gerenciamento da propriedade é todo de responsabilidade do Sr. Eraldo
Bergo, que controla desde a parte produtiva até os aspectos administrativos e
financeiros. Sendo o proprietário responsável pela a compra bens e insumos agrícolas,
venda dos produtos e busca de financiamentos.
Gestão:
Compras - Todas as compras de insumos e bens destinados à propriedade são
feitas no comércio local. Sendo que 90% das compras são realizadas com a
COCAMAR, 10% com o comercio local, principalmente a AGROPAR e a
FERTFRAN, empresas privadas que revendem insumos agrícolas no município.
Vendas - Toda a produção é comercializada no município, sendo que 80% é
comercializada com a COCAMAR, e os 20% restantes com a AGROSOJA.
Acesso ao Crédito - Na safra de verão, a lavoura de soja é financiada e o
proprietário obtém crédito através do Banco do Brasil, agência de Nova Esperança. Na
safra de inverno o agricultor utiliza recursos próprios e o sistema de troca de sementes
e fertilizantes por produtos agrícolas com as cooperativas locais.
Sistema de Produção da Propriedade
Caracterização Familiar:
A agricultura praticada apresenta apenas algumas características do sistema
familiar como o tamanho da propriedade, o gerenciamento, a distribuição do trabalho.
Quanto à renda obtida da propriedade e ao sistema de crédito utilizado, segundo os
dados da EMATER-PR, o produtor é classificado como agricultor de médio porte, não
tendo acesso aos programas especiais dos governos estadual e federal.
Sobrevivem deste imóvel duas famílias. Uma família é formada pelo Sr. Eraldo
Bergo e sua esposa; e a outra é formada pelo Sr. Eraldo Bergo Júnior, sua esposa e um
filho menor. De acordo com a EMATER-PR, escritório local de Floraí, e baseado nos
critérios do Governo do Estado do Paraná (1996-1999) os agricultores desta
propriedade típica podem ser classificados como: Eraldo Bergo, empresário familiar e
Eraldo Bergo Júnior, como PSM2.
91
Ocupação da Mão de Obra:
Exercem atividades nesta unidade produtiva o proprietário Sr. Eraldo Bergo
que concentra todas as atividades administrativas, e seu filho Júnior, com quem divide
as demais atividades produtivas. O Sr. Júnior presta serviços para terceiros através da
locação de trator e caminhão. As esposas de ambos exercem atividades no lar e o filho
menor do Sr. Júnior, ainda em idade escolar, não exerce nenhuma atividade produtiva
na propriedade.
A propriedade não utiliza mão de obra contratada, e freqüentemente faz uso de
mão de obra temporária ou eventual, contratando trabalhadores volantes nos períodos
de colheita, limpeza manual de lavouras, reparos de cercas, arranquio de mandioca e
reformas de instalações, num total que pode chegar a 200 diárias por ano agrícola.
Máquinas e Implementos:
Tabela 11 - Maquinários e Implementos Existentes na Propriedade
Equipamento Marca Especificações Ano
Trator Massey-Fergunson 275 79 HP 1980
Grade Home 14 discos 1980
Grade Niveladora 28 discos 1987
Pulverizador Jacto 600 litros 1988
Arado 3 discos
Carreta SME 2 rodas 1987
Carpidor de Curvas 12 discos 1988
Conj. De Imp. Manuais SME Manual Ignorados
Arado de Aiveca Tatu Tração Animal Ignorado
Carpideira Tatu Tração Animal Ignorado
Adubadeira SME Tração Animal Ignorado
Plantadeira SME Manual Ignorado
Carroça SME Tração Animal 1985
92
Solos e Manejo:
Como vegetação original, a propriedade era coberta por floresta tropical, a qual
foi derrubada para dar lugar ao plantio de café. Durante o período de cultivo dessa
lavoura, não foi adotada nenhuma medida conservacionista, sendo comum o plantio de
café seguindo a direção do escorrimento superficial das águas.
Mesmo com a implantação de lavouras anuais no ano de 1963, nenhuma
prática conservacionista foi trabalhada nesta propriedade até a divisão dos lotes em
1981, quando foram iniciadas as práticas mecânicas de construção de curvas de nível.
Contudo, a forma de exploração utilizada até então fez com que a propriedade
perdesse uma boa camada de solo fértil.
Atualmente, a propriedade apresenta um bom manejo na área ocupada com
cana de açúcar. No restante da propriedade, o proprietário, por influência de seu filho,
está providenciando a construção de terraços dentro de normas adequadas, e adotando
normas que ajudam a melhorar a conservação dos solos. Dentre as práticas adotadas
estão: o plantio direto, o plantio em nível, o cultivo de lavouras para incorporação ao
solo, e o uso de fertilizantes e corretivos mais adequados às necessidades dos solos.
Perspectivas (do Produtor/ da Família/ Objetivos)
A perspectiva deste agricultor é sobreviver da propriedade e da agricultura,
pois o mesmo acha que não tem mais idade para iniciar outro tipo de atividade. O
proprietário espera continuar remunerando os dois filhos que moram fora da
propriedade, a partir dos recursos advindos das atividades desenvolvidas neste lote.
A perspectiva do Sr. Júnior, filho do agricultor que trabalha na propriedade, é
melhorar o seu padrão de vida aumentado a renda com a atividade e, no futuro,
gostaria de ver o filho estudando e trabalhando fora da atividade rural.
6.4.4 Propriedade Típica da Unidade 3 – Baixo Patamar da Genúncia
Propriedade 4 – Fazenda Santa Bárbara
Proprietário: Silvio Henrique Marques e Luis Paulo Marques
É a propriedade selecionada na Unidade 3 – Baixo Patamar da Genúncia. Foi
escolhida como representativa da área por possuir características que se assemelham à
maioria das propriedades desta unidade, como o uso de alta tecnologia, alto padrão de
93
mecanização, área maior que a média das propriedades do município, gerenciamento
familiar e trabalhos manuais com a ajuda de funcionários fixos e trabalhadores
volantes, além de possuir solos, topografia, hidrografia e outros elementos da
paisagem característicos deste compartimento. Possui uma área de 393,35 ha,
compreendendo a totalidade das terras que está sob a gerência de dois núcleos
familiares, que subsistem com 100 % de sua renda advinda desta unidade básica
produtiva.
Localização
A propriedade está localizada na Estrada Paranhos, km 9, a uma distância de 11
km da sede do município de Floraí. No fundo da propriedade está localizado o
Ribeirão Genúncia, um dos principais cursos d’água do município, sendo os demais
vizinhos: a nordeste a Fazenda Santa Amélia; a noroeste a Fazenda Sonora; a sudoeste
a propriedade do Sr. Camilo Ruiz; a sudeste as Fazendas Caiçara e Belanda e a
propriedade do Sr. José Antônio Marques.
Histórico da Propriedade
A área foi adquirida da CMNP em 1958 pelo Sr. Antônio Santos Sobrinho.
Inicialmente a Fazenda Santa Bárbara era composta somente pelo lote 240 de 116,57
ha. O primeiro proprietário derrubou a mata e plantou café, mas esta área era muito
propensa a geadas, e os primeiros cafezais nem chegaram a se formar. Em 1960 foi
transformada em fazenda de criação de gado, tendo sido toda ocupada com pastagens
de capim colonião.
Conforme consta em escritura registrada no cartório de Nova Esperança, em
16/05/1964 a propriedade foi adquirida pelo Sr. João Marques, pai dos atuais
proprietários. Inicialmente, foi adquirido o lote 240 e, posteriormente, foram sendo
anexados e adquiridos outros lotes, até chegar ao tamanho que a propriedade apresenta
nos dias de hoje.
No ano de 1976, começaram a ser cultivadas as primeiras lavouras comerciais,
primeiramente com o objetivo de reformar as pastagens, no entanto, devido à
qualidade dos solos, as lavouras se mostraram rentáveis e acabaram por ocupar toda a
paisagem da fazenda. A anexação das pequenas propriedades por produtores de maior
porte foi muito comum nesta unidade, sendo uma característica marcante da área. Os
pequenos produtores foram, aos poucos, sendo excluídos do sistema de produção,
94
devido ao modelo econômico adotado, já que era muito difícil adquirir equipamentos
para mecanizar lotes pequenos ou optar por outra atividade neste compartimento.
Sendo assim, vender ou arrendar as pequenas propriedades para os agricultores de
maior porte era a solução para estes pequenos produtores.
Hoje a Fazenda Santa Bárbara pode ser considerada uma propriedade de porte
médio para os padrões locais e se destina basicamente à produção de grãos.
Atividades
Tabela 12 - Principais Atividades Exercidas na Propriedade
Período Atividades Área em há Produtividade Kg/ha
Soja 337,35 2.975
VERÃO
Milho 10,00 5.400
Milho safrinha 150,00 3.200
Trigo 170,00 2.000
INVERNO
Aveia * 27,35
Destina-se à
Incorporação.
Mata ciliar 30,00 Bem conservada.
Infraestrutura 2,00
Casas / Carreadores /
Barracões
Pastagem 12,00 3 Cabeças/ha/Ano
OUTRAS OCUPAÇÕES
Pomar 2,00 Para Consumo
* A aveia é usada como adubação verde de inverno, cobertura morta para plantio da safra de verão e
alimentação de bovinos.
95
Croqui 1
Figura 36. Croqui esquemático mostrando a divisão original dos lotes que hoje formam a
Fazenda Santa Bárbara.
96
Croqui 2
Figura 37. Croqui esquemático das atividades dentro da propriedade.
Toposseqüência
Figura 38. Toposseqüência esquemática da propriedade, baseada em levantamento de campo.
97
Funcionamento da Propriedade
Gerenciamento:
O gerenciamento da propriedade está a cargo dos dois proprietários, Sr. Sílvio
Henrique Marques e Sr. Luís Paulo Marques, que controlam toda parte administrativa
e financeira, como a compra de insumos, equipamentos e maquinários, as vendas e os
financiamentos.
Gestão:
Compras – Do total das compras realizadas pelos proprietários, 95% são
realizadas com a COCAMAR e 5% com a COOPERATIVA INTEGRADA.
Vendas - Toda a produção também é comercializada no município, sendo que
80% é comercializada com a COCAMAR, e os 20% restantes com a COOPERATIVA
INTEGRADA.
Acesso ao Crédito - Basicamente, todas as atividades deste imóvel são
passíveis de financiamento e os proprietários têm grandes facilidades de acesso ao
crédito. Toda a produção é financiada, sendo que, para isso, os produtores recorrem ao
Banco do Brasil, agência de Nova Esperança, onde financiam de 60 % a 70 % das suas
necessidades. Uma outra alternativa de financiamento utilizado é junto ao Banco
Bradesco, agência de Floraí, onde os proprietários financiam os 30 % a 40 % restantes.
Pelos padrões do Banco Central, são considerados grandes produtores. Em
função desta classificação, têm acesso somente aos chamados recursos obrigatórios,
que são modalidades de créditos com juros mais elevados em relação àqueles
encontrados nos créditos especiais do governo federal.
Sistema de Produção da Propriedade
Caracterização Familiar:
A propriedade pertence a dois núcleos familiares, sendo dois irmãos e suas
respectivas famílias: uma é formada pelo Sr. Luís Paulo Marques, sua esposa e três
filhos; a outra é formada pelo Sr. Sílvio Henrique Marques, sua esposa, dois filhos e
uma filha. As duas famílias residem na sede do município, próximos da propriedade
rural. Toda a parte administrativa e de responsabilidade sobre o imóvel é partilhada
pelos dois irmãos. De acordo com a EMATER-PR escritório local de Floraí, e baseado
98
nos critérios do Governo do Estado do Paraná (1996-1999) os agricultores desta
propriedade típica podem ser classificados como, empresários rurais.
Ocupação da Mão de Obra:
Trabalham na propriedade, além dos dois irmãos, três empregados registrados.
Um dos empregados é o filho do Sr. Sílvio Henrique Marques. Além da parte
administrativa, os dois proprietários espor
99
Solos e Manejo:
A propriedade tinha como vegetação original a floresta tropical, que foi
derrubada para dar lugar ao plantio de café. Como a lavoura de café não prosperou
nesta propriedade, deu lugar à pastagem por um longo período. Devido às
características dos solos, mais argilosos, a área não teve grandes percas por erosão.
Por volta de 1980, a propriedade já estava com a parte mecânica de
conservação pronta, sendo uma das primeiras propriedades a adotar o sistema de
plantio direto no município. A soma destes fatores fez com que os solos preservassem
grande parte da sua fertilidade natural, o que é muito comum neste compartimento.
Atualmente, a propriedade adota um sistema eficaz de conservação dos solos,
com a utilização de terraços de base larga, plantio em nível, rotação de culturas,
dissecação de ervas invasoras e a utilização de adubação adequada a cada tipo de solo.
A propriedade possui uma boa quantidade de mata ciliar bem preservada.
Apesar disto, esta mata não completa a área de Reserva Legal.
Perspectivas (do Produtor/ da Família/ Objetivos)
Os proprietários pretendem plantar 100 ha de laranja e melhorar o sistema de
rotação de culturas, com a implantação de novos cultivos. Esperam com isso aumentar
os lucros com as atividades agrícolas.
Tendo em vista que os filhos dos proprietários não precisam trabalhar na
lavoura, estes estão se encaminhando para o exercício de atividades externas à
propriedade.
6.5 AS TRANSFORMAÇÕES E A DINÂMICA ATUAL DA PAISAGEM
A paisagem do município de Floraí é essencialmente marcada por atividades
agropecuárias. A maior diversificação dessas atividades, como foi verificado em
levantamentos de campo e dados em relatórios da EMATER-PR, como o Plano de
Desenvolvimento Agrícola de Floraí de 2003 (P.D.A.), o Perfil da Realidade Agrícola
2003/2004 e Relatório do Fórum de Desenvolvimento Municipal de 2005, está
presente, principalmente, nos compartimentos do Platô Elevado de Floraí e do Platô
Elevado de Nova Bilac (Figuras 40 e 41), onde predominam solos originados do
arenito Caiuá. No compartimento Baixo Patamar da Genúncia, cujos solos são
100
originados do basalto, a agricultura está cada vez mais voltada para a produção de
grãos, com bases alicerçadas no binômio soja - milho safrinha e, secundariamente,
soja - trigo.
O desenvolvimento da cultura da soja, alternada com o milho ou trigo, se deu
após o ano de 1975. Este ano foi um marco, não somente para o município, mas para
todo o país que se encontrava sob uma reestruturação agrícola. Esta reestruturação foi
acelerada nas regiões norte e noroeste do Paraná pelo fenômeno da geada
(MORO,1991). Após esta fase, a cultura da soja vem se apresentando como principal
produto agrícola do município e na região. Esta cultura ocupou primeiramente as áreas
sobre os solos originados do basalto, e vem expandindo a sua área de plantio, mais
recentemente, para os solos derivados do arenito Caiuá, chegando a ocupar 60% das
terras agricultáveis de Floraí. A participação da soja no FPM (Fundo de Participação
dos Municípios) de Floraí representa sempre algo próximo a 40% da arrecadação
municipal.
O cultivo da soja é, desta forma, a atividade melhor estruturada do município e
presente nas propriedades de maior porte, onde os produtores detêm uma infraestrutura
para a sua produção mais adequada, incluindo maquinários e equipamentos mais
modernos e potentes. Esses produtores, além de incorporarem uma melhor tecnologia
de produção, estão localizados em áreas de solos potencialmente mais férteis. No
compartimento Baixo Patamar da Genúncia, caracterizada por esses cultivos, são
visíveis as construções e artefatos tecnológicos destinados à secagem e
armazenamento de grãos em propriedades privadas de médio a grande porte (Figura
39).
Figura 39. Vista das estruturas de armazenamento de grãos das
propriedades do compartimento Baixo Patamar da Genúncia.
101
Em relação à comercialização da soja, milho e trigo, esta é feita junto a duas
cooperativas agrícolas (COCAMAR e INTEGRADA) e empresas privadas. A
COCAMAR comercializa cerca de 75% da produção, enquanto que a INTEGRADA
se encarrega de 20% e apenas os 5% restantes são comercializados pelas empresas
privadas que atuam no município.
Do ponto de vista da estrutura fundiárias, muitas das atuais propriedades
existentes no compartimento Baixo Patamar da Genúncia foram formadas pela
concentração de pequenas propriedades a partir da implantação das culturas de soja –
milho e/ou soja – trigo. Na época da cultura do café, as terras deste compartimento
eram desvalorizadas em relação às das outras unidades de paisagem (Platôs Elevados
de Floraí e Nova Bilac), em razão de sua posição topográfica. Por serem mais baixas e
mais próximas ao rio Ivaí, estas terras são mais susceptíveis à incidência de geadas.
Atualmente, com a ocupação do binômio soja – milho e em menor proporção soja
trigo, estas terras são as mais valorizadas por possuírem maior fertilidade natural e
melhor capacidade de suporte a moto mecanização.
Os pequenos proprietários que mantiveram os seus lotes (Baixo Patamar da
Genúncia), devido ao alto custo de produção dessas culturas não possuem
infraestrutura adequada para trabalhar no cultivo de grãos. Desta forma, a alternativa
mais viável tem sido o arrendamento destes lotes para os médios e grandes produtores,
já estruturados para esta atividade.
Nos compartimentos de Floraí e Nova Bilac o desenvolvimento das atividades
agrícolas a partir de 1975 tomaram rumos distintos.
No compartimento de Nova Bilac, em função de seu relevo um pouco mais
enérgico e presença de solos predominantemente de textura média a arenosa, e também
por influência da concentração de imigrantes japoneses e pela proximidade com o
município de Nova Esperança, teve início a sericicultura, a produção de uva fina de
mesa e a pecuária destinada a criação de bovinos de corte (Figuras 40 e 41).
A sericicultura e a fruticultura foram substituídas paulatinamente até ao final da
década de 1990, principalmente por pecuária e plantio de culturas anuais (mandioca,
soja, milho).
Atualmente a sericicultura está restrita a apenas dois produtores, mas a
paisagem ainda continua marcada por edificações construídas para o desenvolvimento
desta atividade – os barracões. Essas construções remanescentes estão sendo
aproveitadas para outras atividades como a criação de suínos, a engorda de gado de
102
corte ou produção leiteira. Assim, a paisagem desta unidade está marcada por heranças
de atividades que hoje já não estão mais presentes ou sofreram forte redução (Figuras
40 e 41).
No final da década de 1980, a colônia japonesa diminuiu significativamente
com a saída dos jovens, que foram trabalhar no Japão ou estudar em centros urbanos
maiores, como Maringá e Londrina, abandonando definitivamente o meio rural, Dos
remanescentes, 8 famílias continuam com fruticultura, os outros, devido ao
envelhecimento, substituíram esta atividade e toda área ocupada com a sericultura por
pecuária de leite ou plantio de grãos, ou venderam suas propriedades para outros
agricultores
Mais recentemente e como vem sendo observado em 2005, com a valorização
do real frente ao dólar e a queda dos preços dos produtos agrícolas, a cana-de-açúcar
vem ocupando espaços cada vez maiores nesse compartimento, impulsionado,
também, pela proximidade com o município de São Carlos do Ivaí, onde existe uma
usina produtora de açúcar e álcool. Neste caso, especificamente, o modo de
gerenciamento das propriedades é através do arrendamento para os proprietários da
usina de açúcar do município de São Carlos do Ivaí, que exploram estes lotes
praticamente até a exaustão, levando para o município vizinho todos os benefícios
advindos da industrialização dos produtos da cana, criando um círculo vicioso de
pobreza em Floraí, onde reside uma classe de trabalhadores volantes, que na
entressafra, ficam totalmente dependentes dos serviços sociais da prefeitura municipal.
No compartimento de Floraí as pastagens e as áreas de sericicultura vem
sofrendo uma redução em função do aumento da cultura de soja sobre os solos
derivados do arenito Caiuá. A maioria dos agricultores está desmanchando os
barracões de criação do bicho da seda para dar espaço a esta oleaginosa. Observa-se
que este processo de mudança se faz através da venda ou do arrendamento de
pequenas propriedades deste compartimento para agricultores de outros
compartimentos e até para agricultores de outros municípios, que possuem melhor
infraestrutura de motomecanização para explorar os lotes.
Alguns pequenos agricultores têm buscado outras alternativas para se manter
na atividade rural, como o plantio de girassol, o plantio de bucha vegetal, a criação de
frangos para corte, o aumento da área plantada com mandioca. Atualmente avaliam a
proposta de uma cooperativa do município de Rolândia (norte do Paraná), que tem
103
interesse em implantar neste compartimento pomares de uvas rústicas para produção
de sucos e vinhos (Figuras 40 e 41).
No caso da criação de frangos para corte, o sistema é integrado com um
abatedouro da região, porém a sua implantação ao nível de propriedade é muito cara,
não havendo linhas de crédito que cubram todos os custos de implantação do
empreendimento. Assim sendo, o agricultor tem que dispor de recursos próprios, o que
inviabiliza esta atividade para os pequenos proprietários da área.
Para os agricultores de maior porte a citricultura, no sistema de integração com
a empresa Citrosuco, de Paranavaí (noroeste do Paraná), tem-se mostrado uma
alternativa viável, sendo esta uma atividade muito interessante para o município, tendo
em vista sua capacidade de geração de renda e trabalho para outras camadas da
população.
Nesse compartimento ainda persiste uma expressiva área com cafeicultura,
utilizando tecnologia de café adensado. Um pequeno grupo de agricultores desta
unidade pratica a olericultura, comercializando os seus produtos nas feiras de
produtores da região.
O município apresenta ainda bom potencial turístico, fato pouco detalhado
neste trabalho, mas que pode e deve ser explorado. Neste setor, destaca-se
principalmente o turismo rural, sendo que o município de Floraí destaca-se tanto pelas
suas belezas naturais como pelo seu patrimônio histórico cultural, possuindo algumas
atrações já consolidadas. É o caso dos pesqueiros e cachoeiras na área rural e as festas
típicas e religiosas. Como atrativos ainda inexplorados, pode-se destacar as velhas
colônias cafeeiras, com suas casas e madeira e seus terreirões para a secagem de grãos.
Incentivar e criar mecanismos para expandir o turismo protegendo as riquezas
locais, mostra-se como uma alternativa viável para o desenvolvimento municipal, e
como alternativa de renda para os agricultores envolvidos com as atividades rotineiras
dentro dos compartimentos.
Com relação às propriedades típicas de cada compartimento, podemos afirmar
que representam o atual momento por que vem passando a maioria das propriedades
rurais do município. Estão localizadas estrategicamente dentro dos compartimentos, de
forma que retratam o histórico produtivo desde o inicio da sua exploração até as suas
atividades atuais, e permitem traçar alguma tendência ou perspectivas de futuro.
Historicamente o modo de ocupação destas propriedades não foi diferente do
que aconteceu com outras propriedades dentro dos compartimentos, tendo sido
104
incorporadas ao processo produtivo através da lavoura de café, e com a decadência da
cafeicultura, passaram por outras atividades que melhor se adaptavam a área até chegar
ao atual momento, permanecendo com atividades de lavouras anuais no
compartimento Baixo Patamar da Genúncia e nos compartimentos do Platô Elevado de
Floraí, estão sendo incorporados ao processo produtivo da cultura da soja, e no Platô
Elevado de Nova Bilac pelo processo produtivo da cultura da soja e da cana de açúcar.
É possível observar em todas as unidades típicas, assim como na maioria das
propriedades do município a presença de tratores e implementos agrícolas
mecanizados. No atual processo de exploração agrícola, o trator tem um papel
preponderante em todos os compartimentos, mas com diferenças fundamentais entre
eles. No compartimento Platô Elevado de Floraí a mecanização das propriedades
ocorre através de máquinas e equipamentos usados e fora de padrão para as
necessidades dos agricultores; ou através da contratação de horas-máquina dos
agricultores de médio porte que os cercam, o que os induz ao plantio de grãos; a tração
animal é muito pouco utilizada, sendo empregada para a limpeza e transporte da amora
para o barracão, e para capinas realizadas na cultura de mandioca e das poucas
lavouras de subsistências que restam no compartimento. Os implementos manuais são
pouco utilizados, mas não devem ser descartados, no entanto sozinhos não respondem
ao conjunto das necessidades dos pequenos agricultores dentro das unidades
produtivas. Nas colheitas de grãos os agricultores recorrem ao aluguel de máquinas de
agricultores de outros compartimentos.
Em Nova Bilac observa-se um melhor ajuste das máquinas e implementos às
necessidades dos agricultores, haja vista que, a exploração canavieira é intensamente
mecanizada e as outras atividades do compartimento também possuem uma estrutura
de mecanização melhor que no compartimento de Floraí. Nas propriedades do
compartimento da Genúncia estão concentradas grandes partes do contingente de
máquinas e implementos do município com uso intensivo da mecanização agrícola,
utilizando-se tratores e implementos de grande porte acoplados a plantadeiras, e a
colheita sendo realizada com colhedeiras próprias. Praticamente todas as fases das
culturas plantadas no compartimento são desenvolvidas com o uso de intensa
mecanização.
Se comparadas às primeiras gerações que exploraram o município, os atuais
proprietários não tiveram número muito grande de filhos, normalmente de 2 a 4. Nas
propriedades sobre os compartimentos do Platô Elevado de Floraí e sobre o Platô
105
Elevado de Nova Bilac, pode-se observar que as famílias têm preocupação com a
questão sucessória dentro das propriedades e este fator parece se encaminhar com a
permanência de pelo menos um sucessor trabalhando a propriedade. No
compartimento Baixo Patamar da Genúncia, essa questão ainda é indefinida, levando a
perspectiva de que a propriedade deverá ser administrada por terceiros como uma
empresa.Os filhos dos atuais proprietários, por possuírem melhores condições
financeiras têm a oportunidade de buscar fora da propriedade uma formação
acadêmica, e sob o ponto de vista econômico, encontram oportunidades mais
promissoras de geração de renda com menores riscos fora da atividade agropecuária.
Porém, em todo o município, a perspectiva da grande maioria dos agricultores em
relação aos seus sucessores, demonstra não quererem que seus filhos permaneçam no
meio rural, e desejam que façam sua vida profissional independente da unidade
produtiva. Estas constatações das perspectivas do futuro profissional dos jovens, se
forem concretizadas, põem em risco a continuidade e, de certa forma, ameaçam o
futuro da produção agrícola e da estrutura fundiária local, alicerçada principalmente na
agricultura familiar, pois há uma tendência de que o processo de continuidade diminua
progressivamente em grande parte das famílias rurais do município de Floraí.
106
Figura 40.
Aspectos da diversificação de atividades presentes na paisagem agrícola do município de
Floraí.
107
Figura 41. Outros aspectos da diversificação de atividades agrícolas da paisagem no município de
Floraí.
108
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A compartimentação da paisagem do município de Floraí em três unidades
distintas foi realizada a partir da análise integrada de determinados componentes
(formação geológica, relevo, tipo de solo, forma de ocupação da área, sistemas de
produção, estrutura fundiária, etc), que refletem a diversidade fisiográfica da área de
estudo e distinguem em cada nível, áreas homogêneas com estruturas e dinâmicas
diferenciadas.
Este estudo demonstrou que o município de Floraí dispõe de uma diversidade
de recursos naturais de potencialidades múltiplas que permitem diferentes formas de
aproveitamento e os dados secundários, neste caso, viabilizaram traçar o perfil social,
econômico e físico do município de Floraí. Desta forma, infere-se que o perfil
produtivo do município esta intimamente ligado ao setor rural e caracteriza-se por
grande parte de sua produção estar voltada ao setor primário, principalmente a
produção de grãos e cada vez mais alicerçada na cultura da soja, que vem promovendo
transformações na paisagem da maioria dos pequenos municípios que possuem sua
base econômica calcada numa agricultura voltada ao modelo de desenvolvimento que
privilegia esta cultura. Contudo, podemos afirmar, que quanto ao modo de ocupação,
Floraí exibe um padrão de comportamento característico que tem raízes comuns,
advindas do modo de colonização de toda região norte do Paraná, idealizado pela
CMNP (Companhia Melhoramentos Norte do Paraná).
Por outro lado, a compartimentação em unidades de paisagem mostra as
diversidades que o território do município apresenta em termos geoecológicos e
também sócio-econômicos. Os compartimentos identificados podem, desta forma,
serem considerados também como unidades geoambientais de planejamento, onde o
sistema de produção com base agrícola interage com a estrutura geoecológica
(potencial ecológico) e é, ao mesmo tempo, dependente da estrutura sócio-econômica
aí estabelecida.
Verifica-se ainda que, a pressão agrícola exercida por esses sistemas de
produção acompanha a evolução do processo histórico, identificando a persistência de
heranças nas práticas agrícolas e as intensificações de novas técnicas que se
estabelecem ao longo do tempo. As marcas desses processos produtivos, interagindo
109
com os fenômenos de ordem natural, geram processos modeladores da paisagem,
podendo ser distinguidos na sua dinâmica e intensidade.
Como exemplo podemos citar o compartimento Platô Elevado de Floraí, cuja
produção tem mostrado tendências a diminuir a diversificação, uma vez que com o
desaparecimento das atividades típicas de pequenas propriedades, a tendência é a
intensificação do êxodo rural, com seus solos sendo ocupados com culturas mais
tecnificadas.No entanto, essas culturas têm apresentado sérios problemas de adaptação
aos solos mais arenosos e pobres em nutrientes desse compartimento, desencadeando
processos erosivos com maior intensidade que levam tanto à degradação dos solos,
quanto à geração de novas feições (sulcos, ravinas, áreas de assoreamento) ao longo
das vertentes. Além da maior vulnerabilidade aos processos erosivos esses solos
também apresentam respostas diferenciadas quanto ao comportamento hídrico (menor
capacidade de retenção de água e maior suscetibilidade à seca edáfica) e ao uso de
mecanização. Esse nível de resposta foi verificado recentemente no ano agrícola de
2005, em função do período prolongado de estiagem. De acordo com os técnicos das
cooperativas e empresas de assistência técnica locais, essa estiagem provocou nas
áreas sobre o arenito Caiuá perdas de produtividade entre 40% a 60% em relação à
média municipal, demonstrando que as vocações deste compartimento são mais
apropriadas para lavouras de ciclos mais longos ou perenes, e que a mecanização
intensiva pode ser um fator de desestabilização destes solos.
No compartimento Platô Elevado de Nova Bilac, além dos fatores relacionados
com a estiagem do ano agrícola de 2005, observa-se o avanço de estruturas para
produção de cana de açúcar assim como a presença de lavouras de soja implantadas
recentemente. Pelos relatos dos técnicos locais e agricultores da área, de cada três
propriedades, duas estão sendo incorporadas à produção de cana de açúcar ou de soja,
reduzindo as atividades praticadas nas pequenas propriedades e que dão sustentação
econômica aos pequenos agricultores da área. Essa dinâmica vem agindo diretamente
na sericicultura, na cafeicultura e provocando mudanças no perfil dos produtores de
leite.
No compartimento Baixo Patamar da Genúncia, no ano agrícola de 2005, com
a queda acentuada do preço da principal cultura da área, a soja, e também devido à
queda na produtividade nesta safra em função da estiagem, em torno de 20 a 25% em
relação a media municipal, há uma tendência à incorporação cada vez maior dos
pequenos lotes pelos grandes proprietários do compartimento. Outra tendência
110
observada é a diminuição das tecnologias utilizadas no cultivo das lavouras pelos
pequenos agricultores, devido ao alto custo dos insumos agrícolas, levando à queda da
produtividade final obtida dentro do compartimento pelos pequenos produtores rurais.
Ao se utilizar o sistema de propriedades padrão (referências) teve-se
unicamente o propósito de facilitar a compreensão das variáveis mensuráveis (mão-de-
obra, produção, comercialização, área cultivada, criações, etc) e não mensuráveis
(visão de futuro, anseios, formação política e religiosa do agricultor e seus familiares,
etc), e como cada uma dessas variáveis contribuíram sobremaneira para a formação da
paisagem de cada compartimento, em íntima relação com os aspectos fisiográficos ao
longo do tempo.
A compreensão desta complexidade desperta para a urgência de se repensar as
formas de inserção das diversas atividades dentro dos compartimentos, tendo em vista
as suas potencialidades, assim como, da necessidade crescente de aprimoramento
técnico-ecológico e dos métodos de exploração das áreas. Permite, também, conhecer
os graus de vulnerabilidade que essas paisagens apresentam com relação à inserção de
determinadas atividades, orientando inclusive a criação de mecanismos legais de
restrições para algumas atividades.
Para um melhor aproveitamento do potencial ecológico, visando um
desenvolvimento sustentável, torna-se necessário conscientizar a população local da
necessidade de aprimoramento da sua forma de exploração, numa perspectiva que
compatibilize esse potencial natural com a otimização do seu uso. Para isto, esta
análise buscou mostrar as diferenças geradas pela estrutura geoecológica e pela sócio-
econômica no território municipal de Floraí, com o objetivo de fornecer subsídios para
tomadas de decisões visando o desenvolvimento do município. Fornece, desta forma,
bases mais sólidas, possibilitando estabelecer medidas mais acertadas nas estratégias
para a exploração e o aproveitamento racional e equilibrado dos recursos da área. Isso
deve redundar em benefícios para todos os agricultores envolvidos nos três
compartimentos detalhados neste trabalho.
111
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1997.
MARTINS, L. A. Entrevista concedida a José Antonio de Andrade. Floraí, agosto de
1997.
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MATIAS, A. Entrevista concedida a José Antonio de Andrade. Floraí, novembro de
1997.
MOTTA, M. Entrevista concedida a José Antonio de Andrade. Floraí, setembro de
1997.
NOCHE, V. Entrevista concedida a José Antonio de Andrade. Floraí, maio de 2005.
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PEDRONE, N. Entrevista concedida a José Antonio de Andrade. Floraí, maio de 2004.
PRIULI, O. Entrevista concedida a José Antonio de Andrade. Floraí, outubro de 1997.
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novembro de 1997.
SILVA, W. Entrevista concedida a José Antonio de Andrade. Floraí, outubro de 1997.
SOBRINHO, M. S. Entrevista concedida a José Antonio de Andrade. Floraí,
novembro de 1997.
VALENCIO, J. L. R. Entrevista concedida a José Antonio de Andrade. Floraí, maio de
2005.
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