Em geral, nas interpretações sobre a educação brasileira do
passado, as representações sobre o movimento da Escola Nova
estiveram associadas à idéia de ruptura e negação das práticas
educacionais anteriores. Para a autorização e visibilidade deste
discurso, a Escola Nova se localizava numa linha de tempo
evolutiva, como instituidora de um novo tempo histórico e
cujos agentes, os educadores, associados a médicos e juristas,
colocavam-se como sujeitos qualificados para gerar e gestar a
modernidade. Enquanto intérpretes de novas idéias, estas elites
precisavam desqualificar velhas concepções, hábitos e valores
disseminados na população, colocando a educação como tema
fundamental de suas ações.
Os esquemas explicativos para o novo movimento se repetem
nas diferentes obras produzidas na década de 20 de forma
bipolarizada. Ou seja, na escola tradicional, o ensino era
centrado no mestre, havia a disciplina da palmatória, os
métodos de soletração cantarolada, a função da escola era
transmitir conhecimento, a escola era elitista. Por sua vez, na
nova escola, o ensino deveria estar centrado no aluno, a
disciplina precisaria vir de dentro para fora, o objetivo da
escola era educar e não apenas instruir, os alunos deveriam
aprender fazer fazendo, a escola seria popularizada. Esta
disposição de idéias nos ajuda pouco para entender os
movimentos pedagógicos e a história da escola.
O movimento da Escola Nova através dos discursos difundidos
pelas elites intelectuais e pelas práticas disseminadas,
introduziu definitivamente uma nova mentalidade educacional,
a da racionalidade.
As propostas da escola ativa quiseram pôr um fim ao
empirismo das ações, como foram denominadas as práticas da
escola tradicional. Recorrendo à exatidão das ciências, porque
podem calcular e prever, os escolanovistas produziram
estratégias de ação que foram, na verdade, formas modernas de
controle.
A década de 20 foi um período de muitas mudanças na
sociedade brasileira e, portanto, um período especial de estudo
nas mais diversas áreas: economia, política, estruturação social,
cultura e, como não podia deixar de ser, na área da educação.
Segundo Paula, é nesse período que tem início o fenômeno econômico
denominado “substituição de importações”
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. Frente aos limites impostos pela
Primeira Guerra Mundial (1914-1918), interrompeu-se um processo de troca que
tradicionalmente era feito com os países europeus mais desenvolvidos: produtos
agrícolas produzidos aqui, principalmente o café, por produtos industrializados
produzidos lá (principalmente na Inglaterra). Foi preciso então que o País, por conta
própria, passasse a atender e suprir as necessidades mais prementes de consumo
interno. Conseqüentemente, houve a ampliação e diversificação do parque industrial
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PAULA, João Antonio de. Raízes da modernidade em Minas Gerais. Belo Horizonte: Autêntica, 2000. p. 77.