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com alguns poucos amigos, os quais podem ser capazes de compreender sua doença.
Fez vários tratamentos medicamentosos e psicoterápicos desde o início da doença,
mas sem melhora importante.
Caso 13 RM
Sexo masculino, 27 anos, superior incompleto, estudante e professor de colégio.
Sintomas iniciaram-se aos 13 anos, quando assistiu a um episódio da série
Spectramen
, no qual um menino é substituído por um alienígena que faz muito mal a
sua família. Desde então, passou a acreditar que o irmão teria sido substituído por um
“ser do mal” (
sic
) e por essa razão começou a evitar tocá-lo. Essa dificuldade aos
poucos se generalizou, de modo que não podia tocar nenhum objeto tocado pelo irmão.
Se este ligasse a TV, ele teria que desligar e ligar novamente. Desenvolveu vários
rituais de
limpeza
e
descontaminação
a partir daí, tendo que desinfetar toda sua roupa
e objetos pessoais quando saía de sua residência (não morava com os pais) e usava
transportes públicos, e particularmente quando visitava os pais. Aos 18 anos entrou na
universidade e começou a dar aulas em um colégio. Porém, ao longo do tempo
começou a ter preocupações no sentido de considerar que as pessoas do trabalho
“não eram de verdade, não eram pessoas deste planeta, mas de outra dimensão, do
mal, e que poderiam contaminar” A partir daí passou a ter que limpar-se com álcool
também quando retornava desse trabalho, em ritual de
descontaminação
. Refere que,
por meio da psicoterapia, associou o início de seus problemas com o fato de que aos
13 anos, quando brincava com seu irmão menor sob as cobertas na cama, foi flagrado
pela irmã, que fez comentários de cunho sexual sobre a situação: “Estávamos
brincando, meu irmão só estava tocando lá, foram só uns toques”. Atualmente, quando
retorna à sua residência tem que desinfetar exaustivamente tudo que veste, usa ou
carregou consigo, de modo a evitar que sua residência seja contaminada. Ou ainda,
guarda todos os objetos que considera como contaminados em um saco, de modo a ter
tempo novamente para realizar o ritual adequado. Atualmente quase não há mais
espaço disponível onde mora. Tem rituais de
limpeza
das mãos, associado a
preocupações com
números
e
contagem
“lavo a mão 150 vezes, isso porque cada vez
que lavo tenho que lavar 4 vezes, se perder a conta tenho que começar tudo de novo -
mas não pode dar “6” porque 5 é o número da besta....”. Tratado com psicoterapia e
farmacoterapia, sem melhora do quadro.
Caso 14: VBS
Paciente do sexo masculino, 26 anos, solteiro, 2
º
grau incompleto, inativo.
Asmático desde pequeno, referiu ter poucos amigos e sempre ter sido uma criança
extremamente insegura e muito tímida. Os sintomas obsessivo-compulsivos iniciaram-
se aos 7 anos: tinha que observar os pais ao saírem de casa, sob risco de algo ruim
ocorrer. Houve piora do quadro após os doze anos, quando seu pai adoeceu: contava o
número de vezes em que este se movia para respirar. Iniciou rituais de reza, de
verificação
(inclusive encobertos) que adquiriram conteúdo religioso-filosófico, além de
colecionismo
. Partia de determinados temas que o incomodavam, e que poderiam ser
casualmente mencionados por outras pessoas, como trabalho, mulheres/sexo, política
e principalmente religião, e construía uma série de argumentos sobre essas questões,
com prós e contras, mas sempre com teor auto-recriminatório. Estes eram repetidos e