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UNIVERSIDADE DO RIO GRANDE DO SUL
INSTITUTO DE ARTES
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM MÚSICA
Afastamentos composicionais no
Choro Torturado
de Camargo Guarnieri
Artigo submetido como requisito parcial para
a obtenção do título de Mestre em Música;
área de concentração: Práticas Interpretativas.
Mestranda: Elaine Milazzo
Orientação: Profa. Dra. Any Raquel Carvalho
Porto Alegre
2004
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2
AGRADECIMENTOS
Agradeço a Deus pelas pessoas que me cercaram durante todo este curso:
Por meus pais que, apesar de não serem músicos, sempre me apoiaram e me
incentivaram no caminho da música;
Pela Lílian, minha irmã que esteve presente todos os dias destes dois anos de curso,
me ajudando nos afazeres diários e juntamente com o Ismael, facilitando a minha vida pra
que eu pudesse me concentrar em meus estudos;
Pelo Tiago, meu namorado que pôde compartilhar comigo este passo tão importante
na minha vida, por seu carinho, paciência e presença, apesar da minha ausência em tantos
momentos;
Por todos os meus familiares, especialmente meus avós Paulo e Lila que me apoiaram
e me incentivaram de forma imprescindível para que fosse possível digitar este trabalho;
Pela Juciane e pela Vânia que marcaram de forma inesquecível os desafios dos
últimos dias com um apoio, uma atenção e um carinho constrangedores;
Pelo Tales, com a ajuda irrestrita e carinhosa na gravação e produção do cd;
Pela Fátima, secretária do PPG, por não negar ajuda principalmente nas “últimas
horas”;
Pela Any Raquel Carvalho, minha orientadora, com sua disposição incondicional
sempre me atendendo com um sorriso apesar da seriedade do trabalho e da corrida contra o
tempo e,
Pelos professores Maria Bernadete Castelan Póvoas, Ney Fialkow e Celso Loureiro
Chaves que compuseram a banca examinadora deste trabalho contribuindo com comentários
e sugestões que vieram a enriquecer e melhorar este trabalho.
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3
RESUMO
O presente trabalho consiste em examinar a presença dos elementos característicos
do choro tradicional nos âmbitos melódico, harmônico, rítmico e formal no
Cho o Torturado
de Camargo Guarnieri buscando investigar os afastamentos composicionais em relação ao
paradigma da definição de choro vigente em sua época. Estes afastamentos estão
fundamentados basicamente no conceito de Pantonalidade estabelecido por Rudolph Reti em
Tonality, Atonality, Pantonality – A s udy of some trends in Twentieth Century Music
(1958).
r
t
PALAVRAS-CHAVE: choro, Guarnieri, pantonalidade.
4
ABSTRACT
This study aims at identifying the presence of characteristic elements of the
traditional choro in the melodic, harmonic, rhythmic and formal aspects in Camargo
Guarnieri’s work
Choro Torturado.
The purpose is to determine the level of compositional
departure in this piece by establishing a relationship with a paradigm of the choro genre of
the same period. These compositional departures are based on the definition of
pantonality
as established by Rudolph Reti in his book
Tonality, Atonality, Pantonality – A Study of some
trends in Twentie h Cen ury Music
(1958).
t - t
KEY WORDS:
choro
, Guarnieri, pantonality.
5
SUMÁRIO
1 O CHORO ...............................................................................................................8
1.1 ORIGEM E CARACTERÍSTICAS .................................................................................8
1.2 O PIANO NO CHORO.............................................................................................10
1.3 GUARNIERI, O CHORO E O
CHORO TORTURADO
...................................................11
2 REFERENCIAL TEÓRICO ......................................................................................13
2.1 O GÊNERO CHORO ...............................................................................................13
2.2 A PANTONALIDADE ..............................................................................................18
3 ANÁLISE DO CHORO TORTURADO ......................................................................26
3.1 DESCRIÇÃO ANALÍTICA ........................................................................................26
3.2 APLICAÇÃO DO REFERENCIAL TEÓRICO NA ANÁLISE ............................................. 38
3.2.1 Aproximações do choro ...............................................................................38
3.2.2 Afastamentos do choro................................................................................45
CONSIDERAÇÕES FINAIS.......................................................................................55
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...........................................................................58
ANEXOS ..................................................................................................................61
6
INTRODUÇÃO
Em meus primeiros contatos com o
Choro Torturado
não foi possível perceber uma
relação clara da obra com o gênero choro. Porém, através do estudo da obra, de uma escuta
mais apurada e de leituras sobre o gênero foi possível perceber a presença discreta, mas
inconfundível, de elementos próprios do choro. No entanto, estes elementos pareciam estar
imersos num contexto que, de alguma maneira, afastava-se do próprio choro. Na intenção
de entender quais eram esses recursos que não permitiam que a peça fosse compreendida
como choro à primeira escuta, mas que ao mesmo tempo não eram suficientemente fortes
para negar essa natureza, foi que nasceu este trabalho.
O prévio conhecimento do idioma composicional de Guarnieri, aliado à leitura,
audição e execução do
Choro Torturado
, levaram-me a relacionar seus procedimentos
composicionais com os conceitos pantonais propostos por Rudolph Reti em seu livro
Tonality,
Atonality, Pantonality – A Study of some trends in Twentie h Century Music
(1958),
especialmente no que se referia às escolhas harmônicas feitas pelo compositor. Por isso, o
referencial teórico escolhido refere-se à pantonalidade que, neste trabalho, é utilizada
predominantemente no campo da harmonia.
t -
O objetivo desta pesquisa é investigar o nível de afastamento composicional de
Camargo Guarnieri na peça
Choro Torturado
para piano em relação ao paradigma de
definição de choro vigente em sua época. O termo ‘afastamento’ aqui se refere àqueles
recursos utilizados que não são próprios da linguagem musical do choro. O trabalho justifica-
se por consistir na análise de uma obra representante da música erudita nacional na qual um
gênero genuinamente popular brasileiro é utilizado como alicerce composicional.
7
O trabalho está estruturado em quatro etapas:
1. Identificação dos elementos que definem a linguagem musical do choro como gênero
nos âmbitos da melodia, harmonia, ritmo, forma, baixaria, instrumentação e
improvisação;
2. Identificação da constância de tais elementos na obra
Choro Tor urado
de Guarnieri;
t
3. Relação entre os recursos composicionais de Guarnieri no
Choro Torturado
e os
elementos característicos do choro para verificar o nível de afastamento
composicional existente entre a obra e o gênero no qual está baseada e,
4. Análise desses afastamentos sob a ótica de Rudolph Reti (1958) acerca do conceito
de pantonalidade.
8
1 O CHORO
1.1 ORIGEM E CARACTERÍSTICAS
O choro, por volta de 1870, era entendido como a maneira própria pela qual os
músicos cariocas interpretavam os gêneros dançantes procedentes da Europa. Até a década
de 1920 houve várias aplicações para o termo, o qual se referia tanto ao grupo instrumental
quanto ao seu repertório e às festas onde era executado. As características composicionais
que definiam uma peça como choro ainda não estavam estabelecidas e as composições
eram quase sempre subintituladas valsa, tango, polca, maxixe, mas nunca choro. Com o
decorrer do tempo, as composições, arranjos e execuções dos chorões
1
pioneiros acabariam
por fixar determinadas fórmulas que vieram definir o estilo choro.
Na década de 1910 Pixinguinha formalizou e amalgamou todas essas fórmulas em
suas obras e, a partir de então, o choro começou a ser encarado como uma forma de
composição, estabelecendo-se definitivamente como gênero (CAZES, 1998, p. 19). O
repertório do choro passou a incluir tanto o próprio choro quanto as antigas danças
européias – polca, valsa, schottisch, minueto, quadrilha – assim como os novos gêneros que
foram se estabelecendo a partir das misturas de danças européias e africanas – maxixe,
tango brasileiro, samba, etc.
Luis Filipe de Lima resume a trajetória do choro:
É voz corrente entre músicos e estudiosos da música brasileira que o choro é uma
‘maneira’ de tocar, antes de constituir um gênero musical em si. [...] Ao interpretar
de maneira própria todo este repertório de música ligeira, os músicos cariocas criam
o choro, por volta de 1870. Num primeiro momento, o termo serve para designar o
‘sotaque’ carioca emprestado ao repertório de danças européias, referindo-se, ao
mesmo tempo, à formação instrumental que tinha por base os violões, o cavaquinho
e comumente uma flauta (ou outro instrumento de sopro) solista, dedicada a
interpretar este tipo de repertório. Em pouco tempo, o choro viria a constituir um
gênero próprio, porém sempre mutante e apto a incorporar as influências mais
diversas - uma vez que guarda em si seu caráter de maneira de tocar (LIMA, 2001,
http://www.samba-choro.com.br/debates).
1
Músicos que executam choros. “[...] conferindo o nome de choro a tal maneira de tocar, e a designação de
chorões
aos músicos de tais conjuntos, por extensão” (TINHORÃO, 1974, p. 95).
9
Devido a este processo de desenvolvimento pelo qual passou o choro, hoje ele pode
ser entendido tanto como estilo quanto gênero. O choro é considerado
estilo
quando se
refere a uma maneira própria de tocar outros gêneros como valsa, samba, xote, frevo,
maracatu, etc, ou até mesmo, o próprio gênero choro. Quando se refere a uma forma
específica de composição o choro é considerado
gênero
. Essas duas abordagens
transparecem na explicação de Rafael dos Santos sobre a caracterização do choro:
Os elementos musicais característicos do choro [gênero] são, no seu aspecto
estrutural, de natureza melódica, harmônica e rítmica, sendo que, num conjunto
típico de choro, eles estão distribuídos entre os seus diferentes instrumentos. Tais
elementos estruturais, entretanto, não são originais nem exclusivos do choro, e sua
simples ocorrência não é suficiente para defini-lo como tal. Existe ainda um aspecto
importante, que é a maneira como ele deve ser executado [estilo], e que está
relacionada com práticas interpretativas específicas da música popular, tais como
uma sonoridade leve que permita manter a textura transparente, realização do ritmo
de forma relaxada em relação ao pulso, uma articulação que enfatize a síncope, e
forma de frasear geralmente sem exageros de dinâmica” (SANTOS, 2002, p. 5).
Neste trabalho o termo choro estará referindo-se ao choro como gênero. Mesmo
como uma forma de composição definida, o choro vem recebendo tratamentos distintos no
decorrer do tempo, fazendo-se necessária uma classificação que o distinga entre tradicional
e moderno. O choro tradicional é aquele produzido entre o final do século XIX e a década de
1930, cuja maior representação pode ser resumida através dos nomes dos seguintes
compositores: Chiquinha Gonzaga (1847-1935), Joaquim Calado (1848-1880), Ernesto
Nazareth (1863-1933), Anacleto de Medeiros (1866-1907) e, sobretudo, Pixinguinha (1897-
1973)
2
. Este último, não só definiu os moldes do gênero choro no sentido tradicional, como
também introduziu os primeiros sinais do choro chamado, posteriormente, de moderno.
Pixinguinha é considerado o maior gênio do choro, com autoridade para definir limites e até
mesmo para ultrapassá-los na forma de compor, arranjar e interpretar.
2
Vários autores estão de acordo quanto a estes nomes como sendo representativos do choro desta época e do
papel único e genial de Pixinguinha. Ver VASCONCELOS, 1964 e 1984; CAZES, 1998; DINIZ, 2003; SOUZA
et al
.,
1988).
10
A partir de 1930, com a influência do jazz e da produção erudita do século XX, o
choro foi incorporando recursos harmônicos pouco habituais a seu repertório como
harmonias alteradas, presença constante de tensões harmônicas, maior ocorrência de
modulações entre tonalidades mais distantes, harmonias por sobreposição de quartas e a
mesmo recursos modais, politonais e atonais (ALMEIDA, 1999, p. 122). Radamés Gnattali foi
o grande representante do choro moderno por demonstrar novas possibilidades de seu
tratamento, até então não imaginadas pelos chorões. Utilizando outro tipo de harmonização,
combinadas com mudanças na forma, nos esquemas originais de modulações e, novas
combinações timbrísticas, o mestre marcou a história do choro influenciando todas as
gerações de chorões que o seguiram (CAZES,1998, p. 140).
1.2 O PIANO NO CHORO
Desde seus primórdios o choro conta com a presença do piano. Na época em que
ainda não existiam gravações, era através do piano que se tinha acesso às músicas trazidas
da Europa e, a partir delas, eram elaboradas adaptações e arranjos para o grupo
instrumental de choro. Tendo em vista que o objetivo dos grupos de choro, mais tarde
chamados
regionais
, era tocar em diversos lugares, inclusive em serenatas nas ruas, o piano
não foi incluído no grupo, provavelmente por não ser portátil. Apesar disso, era freqüente
sua participação nas rodas de choro sempre que o ambiente disponibilizava o instrumento e
assim, nesta relação com o
regional,
o piano acabou incorporando os elementos do choro à
sua expressão idiomática
3
.
A primeira “pianeira”
4
chorona
que obteve lugar de destaque na história da música
popular brasileira foi Chiquinha Gonzaga (1847-1935). O choro, como gênero, ainda não
havia sido estabelecido, e o tango brasileiro era freqüentemente chamado de choro. Devido
3
Alexandre Zamith Almeida, em sua dissertação de mestrado faz uma análise sobre como os elementos típicos
do choro foram traduzidos para o repertório pianístico (1999, p. 104-166).
11
a este fato, Ernesto Nazareth (1863-1933), compositor de tango brasileiro por excelência,
acabou tornando-se o maior representante do choro para piano, tendo assim, um papel
fundamental na formação daquilo que mais tarde viria a se constituir um gênero.
1.3 GUARNIERI, O CHORO E O
CHORO TORTURADO
Foi nas formas populares que Guarnieri identificou o caminho para que suas
composições pudessem expressar as idéias nas quais acreditava, voltadas para a inclusão do
elemento nacional na música. Ele fez de seu ofício de compositor um instrumento em favor
da construção de uma música genuinamente brasileira.
Por vivenciar tanto a vida rural quanto urbana Guarnieri teve contato com gêneros
populares, os quais acabaram tornando-se matéria prima em suas mãos de compositor.
Fialkow destaca que Guarnieri
explorou principalmente as fontes populares da música rural (toada paulista),
tradições portuguesas do nordeste, os estilos urbanos (choro, modinha, tango,
samba) e as práticas musicais afro-brasileiras encontradas nas áreas urbanas e rurais
do país (1995, p. 36).
Nas obras compostas no período inicial de sua carreira, Guarnieri utilizou o termo
choro em sua “acepção popular”
5
. No programa de concerto do Instituto Nacional desica,
em 01 de outubro de 1934, quando foi executado o
Cho o para flauta, oboé, clarinete,
fagote e trompa
(Choro nº 3), há uma nota do próprio compositor em referência ao conceito
de choro:
r
Choro – é a denominação que se dá, no Brasil, a um pequeno conjunto de
instrumentos de sopros e cordas dedilhadas. Esse conjunto percorre as ruas
em serenatas, ou toca para dançar nas casas das classes populares...
(GUARNIERI apud SILVA, 2001, p. 349 - iconografia).
4
“O tocador de piano possuidor de pouca teoria musical e muito balanço que, para distinguir dos pianistas de
escola, se convencionou chamar – algo depreciativamente – de pianeiro” (TINHORÃO, 1998, p. 131).
5
Termo utilizado pelo próprio Guarnieri (GUARNIERI apud SILVA 2001, p. 479).
12
A partir de 1951, Guarnieri compõe uma série de choros, na qual o termo passa a ter
outra conotação. Em referência a uma dessas obras, diz o compositor:
Nesta obra a palavra choro não foi usada na acepção popular, isto é, um conjunto de
instrumentos de sopro, cordas e percussão que, altas horas da noite, percorre as
ruas da cidade numa espécie de serenata tocando em frente às casas das namoradas
ou para homenagear os amigos. Choro aqui está substituindo a palavra ‘concerto’. O
compositor preferiu ‘choro’ porque a mensagem, ou melhor, a linguagem musical é
nacional, própria do autor e com raízes na terra (GUARNIERI apud SILVA, 2001, p.
479).
O
Choro Torturado
foi concebido em 1930, no período inicial da carreira do
compositor. Esta fase de experimentações, denominada por si próprio de “namoro com o
atonalismo”, perdurou até 1934 (VERHAALEN, 2001. p. 28). Outros choros foram compostos
nesta época, como mostra uma relação de suas obras trazidas na quarta edição
6
da capa da
Toada
. Nesta relação os choros que Guarnieri havia composto até então aparecem
numerados da seguinte forma:
Para conjunto de Câmera
Choro n° 1: flauta, clarinete, fagote, cavaquinho e tamborim
Choro n° 2: flauta, clarinete, fagote, cavaquinho e chocalho
Choro nº 3: flauta, clarinete, fagote, oboé e corno
Choro nº 4: flauta, clarinete, fagote e corno
Para canto e orquestra
Suíte Infantil
: Toada, Curuçá (Choro nº 5), Acalentando, Requebrando, Ponteando,
Maxixando.
Para piano
Torturado
(Choro nº 6) (SILVA, 2001, p. 371) [grifo nosso]
t
Mais tarde
Curuçá
deixou de ser considerado Choro nº 5. O
Tor urado
passou a ser
uma peça avulsa com a inclusão do termo “choro” no título, o qual na partitura atual aparece
entre aspas. O Choro nº 4, por sua vez, não chegou a ser editado. Assim, a série ficou
restrita aos três primeiros choros para conjunto de câmera. Apesar disso, esta numeração
revela uma possível intenção do compositor de fazer, a partir de 1929, uma série como a
que fez Villa-Lobos
7
(SILVA, 2001, p. 506).
6
Sem data. Ver SILVA (2001, p. 371): iconografia.
7
A referência aqui é à série de dezesseis peças inspiradas no gênero choro, para as mais diversas formações,
desde violão solo até duas orquestras e bandas. A série
Choros
de Villa-Lobos foi composta entre os anos de
1920 e 1929.
13
2 REFERENCIAL TEÓRICO
Para que seja possível detectar-se os afastamentos composicionais do
Choro
Torturado
em relação ao choro, é necessário que, antes, seja estabelecido o paradigma do
conceito de choro a partir do qual ocorrerão os devidos afastamentos. Para isto, dois
referenciais serão utilizados: um que norteie o estabelecimento do paradigma de choro e
outro que ampare os desvios a este paradigma.
2.1 O GÊNERO CHORO
O levantamento das características que definem o choro tradicional, na época de
1930, ano de composição do
Choro Torturado
, será alicerçado em diversas fontes: Alexandre
Zamith Almeida (1999), Mário Sève (1999), Thomas Garcia (1997) e José Maria Neves
(1977). Os âmbitos musicais a serem abordados serão melodia, harmonia, ritmo, baixaria,
forma, improvisação e instrumentação. Segue um resumo extraído destas fontes, o qual
servirá de parâmetro para o alcance do objetivo deste trabalho.
Melodia
A melodia do choro apresenta-se claramente em primeiro plano sendo que, nas obras
para piano é comum sua duplicação em oitavas. A alternância entre as regiões agudas e
graves revela uma preocupação na variação do timbre (NEVES, 1977, p. 22). Além de se
notar a ocorrência de células motívicas e a valorização melódica do contratempo
8
, sua
figuração rítmica é marcada pela constância de semicolcheias e síncopes, provenientes dos
ritmos africanos.
8
Segundo Almeida, a valorização melódica do contratempo significa a valorização da segunda nota de cada
grupo de quatro semicolcheias no compasso 2/4. Ocorre quando as notas referentes aos contratempos são as
mais agudas ou as mais graves de um dado grupo melódico. Quando tais notas são alcançadas por saltos esse
efeito torna-se ainda mais evidente (1999, p. 113).
14
Outra característica do desenho melódico do choro é a freqüente utilização de
bordaduras ornamentais e melódicas. Trilos, apojaturas e mordentes são comuns
principalmente nos primeiros tempos de cada quatro semicolcheias ou no segundo tempo da
síncope. Glissandos e grupetos são mais característicos nos andamentos lentos (SÈVE, 1999,
p. 15).
Também são explorados saltos grandes, frases longas e, ampla extensão melódica,
típicos da música instrumental. Retardos e antecipações são próprios da constituição
melódica do choro, além da forte presença de cromatismo. Outro traço marcante da melodia
é a presença de freqüentes arpejos dos acordes da harmonia, muitas vezes com a sexta
agregada, tendo como pontos de repouso algumas notas da escala diatônica. A escala
menor harmônica descendente é geralmente acompanhada pela harmonia da dominante em
tonalidades menores, sendo bastante explorado o intervalo de segunda aumentada.
É importante mencionar que uma grande liberdade de interpretação é própria da
música popular, principalmente quando associada à dança, como foi o caso do choro em sua
origem. Desta forma, este gênero prevê constantes
rubatos
em seu fraseado melódico,
fazendo da partitura apenas um guia das idéias do compositor ao invés de exigir uma
interpretação fechada e definitiva (SÈVE, 1999, p. 11).
Harmonia
A harmonia do choro tradicional pode ser caracterizada por acordes, progressões
harmônicas e modulações convencionais. “A utilização intensiva de acordes invertidos é
responsável pela identidade harmônica do choro [...] As inversões de acordes assumem
tamanha força no choro que, em diversos casos, é responsável [sic] pelo seu delineamento
temático” (ALMEIDA, 1999, p. 129).
15
A utilização dos III e V graus, além do I, para a conclusão de frases também é
comum. Os acordes limitam-se a tríades sem extensões e alterações, acordes de dominante
com sétima e acordes diminutos de passagem. Entre os poucos acordes estranhos ao campo
harmônico estão o acorde napolitano e as dominantes secundárias (ALMEIDA, 1999, p. 124-
125).
Por ser transmitido oralmente e executado prioritariamente por músicos amadores
que não dominavam a leitura musical, a harmonia do choro, em sua fase inicial não é
elaborada: gira em torno do plano tonal, mantendo o vocabulário harmônico das danças
européias. No entanto, apesar do predomínio do diatonismo, é comum a incidência de
trechos essencialmente cromáticos.
Ritmo
O choro permite grande liberdade na interpretação das divisões rítmicas, inclusive na
síncope, uma das constantes que marca a originalidade da música popular brasileira. Sua
interpretação fica entre seu próprio ritmo ( ) e a quiáltera ( ) (SÈVE, 1999, p. 11).
Além de seu uso explícito, qualquer figuração rítmica que valorize a segunda semicolcheia do
grupo de quatro, faz alusão à síncope. Isto é exemplificado através da ligadura entre a
última colcheia de um grupo de quatro colcheias com a primeira do próximo grupo, figuração
própria do gênero (ALMEIDA, 1999, p. 138).
As acentuações na melodia devem adaptar-se à estrutura rítmica própria do gênero
que se está executando. Dessa maneira, uma mesma frase pode encaixar-se tanto no
samba, no choro ou no frevo, dependendo da acentuação (SÈVE, 1999, p. 13).
A fórmula de compasso mais usual é 2/4, com acentuação no segundo tempo. De
maneira geral, a figuração típica do acompanhamento ritmo-harmônico do choro está
centrado na síncope e “atinge rara complexidade pela superposição de diferentes figurações”
(NEVES, 1977, p. 23). Na melodia é comum a ocorrência de trechos ritmicamente lineares,
16
ou seja, com uma figuração baseada obstinadamente em uma única figura de valor,
geralmente a semicolcheia. A utilização de quiálteras, além de refletir uma liberdade de
interpretação, expressa um caráter virtuosístico e improvisatório nos choros rápidos. Em
choros lentos e gêneros seresteiros, as quiálteras trazem expressividade às linhas do baixo
(ALMEIDA, 1999, p. 140-141).
Baixaria
Uma das maiores características de nossa música é a sofisticação do contraponto
popular[...] [A baixaria caracteriza-se pela condução] das linhas do baixo por
movimentos adjacentes diatônicos ou cromáticos, além de desenhar, de diversas
maneiras, grupos de síncopes e semicolcheias em escalas e arpejos (SÈVE, 1999, p.
18).
A baixaria originou-se dos encadeamentos dos acordes invertidos, desenvolvendo-se
até apresentar contornos fraseológicos com as mesmas características das melodias de choro
(ALMEIDA, 1999, p. 141). Em seus primórdios a baixaria costumava ser bastante simples,
passando a explorar o cromatismo mais acentuadamente somente a partir das décadas de
1920 e 1930. Sendo assim, quanto melhor o instrumentista, mais complexa a baixaria
(GARCIA, 1997, p. 109).
Almeida (1999, p. 114 - 121) aponta três maneiras de utilização do baixo no choro:
Baixo condutor harmônico: conduz as harmonias invertidas sem criar
contornos melódicos;
Baixo melódico: define idéias melódicas mais completas que dialogam ou se
contrapõem à melodia e,
Baixo pedal: sustenta uma única nota com função harmônica por vários
compassos. É mais freqüente em introduções e transições.
17
Forma
Estruturalmente o repertório inicial do choro seguiu as formas dos modelos das
danças européias, ou seja, AABB, ABA, ABACA. Segundo Sève, a forma mais comum é o
rondó (AABBACCA) com 16 compassos em cada seção ou, em alguns casos, múltiplos de 4
(8, 20 ou 32 compassos). As modulações entre as seções seguem as características
harmônicas do gênero, ou seja, não se afastam dos tons vizinhos, relativos ou homônimos. A
introdução instrumental também é comum, sobretudo nos choros cantados, originária do
final da primeira seção (SÈVE, 1999, p. 19 - 20).
Improvisação
Embora não significasse um elemento essencial da execução em seus primórdios, a
improvisação sempre esteve presente no choro, relacionada tanto ao acompanhamento e
arranjos quanto à melodia. Implícito a esta característica está o sentido de competição,
dando ao gênero um caráter virtuosístico que exige dos instrumentistas um elevado grau de
exigência técnica e de percepção harmônica.
Segundo Garcia existem duas linhas de pensamento a respeito da improvisação no
choro: a tradicionalista, defendendo a idéia de que a improvisação não é apropriada ao
choro e que a ornamentação da melodia é o limite aceitável da improvisação e a linha
progressista, cuja opinião é a de que melodias improvisadas deveriam fazer parte da prática
do choro (1997, p. 111 - 113). Quanto ao acompanhamento harmônico, arranjos e até
mesmo quanto aos instrumentos incluídos no grupo, a improvisação continua presente e é
cada vez mais explorada.
Instrumentação
O grupo instrumental, por volta de 1880, era formado por flauta, cavaquinho e
violão, o chamado terno, sem descartar a participação de outros instrumentos melódicos
18
como o oficleide
9
e a clarineta. No final de 1890, o choro alcança o repertório das bandas
militares e na década de 1910 outros instrumentos vão sendo acrescentados ao terno
formando conjuntos maiores que tocavam em teatros, cinemas e gravações. Nos anos vinte
vê-se a profissionalização do choro através da criação dos regionais destinados a
acompanhar os cantores nas rádios. O regional do choro teve seu auge nos anos quarenta e
era composto por violão, cavaquinho, instrumentos solistas (flauta, saxofone, clarineta), aos
quais foram acrescentados o violão de sete cordas e percussão (pandeiro).
2.2 A PANTONALIDADE
No presente trabalho o conjunto dos recursos composicionais utilizados por Guarnieri
no
Choro Torturado
que não são próprios do vocabulário musical do choro será alicerçado na
abordagem de Rudolph Reti sobre o conceito de pantonalidade e seus efeitos na música do
século XX, através de seu livro
Tonality – Atonali y – Pantonality
(1958)
t
10
. Nele, Reti oferece
uma visão de diversos tipos de formações composicionais incluídos no conceito de
pantonalidade. Apesar de abordar o problema sob diversos ângulos, ao final do livro o
próprio autor reconhece que a natureza técnica da pantonalidade não foi delimitada em
termos suficientemente concretos. Este conceito parece ter sido descrito de maneira
generalizada, com um caráter quase indefinido, se comparada, por exemplo, à idéia do
dodecafonismo, o qual, ao ser introduzido na música, já trazia consigo um conjunto de
regras definidas (p. 108). Contudo, resumindo todos os aspectos abordados no livro, a
pantonalidade pode ser entendida como uma nova categoria composicional que engendra
9
“Oficleide ou oficlide: Antigo e potente instrumento musical da família dos metais, inventado pelo músico
francês Jean-Hillarie Asté em 1817.[...] Configurando-se como uma espécie de Bombardino, o seu nome é
composto pitorescamente de
ophis
(serpente) e
kleis, kleidos
(chave), numa tentativa de definí-lo
morfologicamente através do grego” (http://www.terravista.pt/Copacabana/3647/bau_o.htm
).
10
Todas as considerações feitas neste trabalho acerca de pantonalidade foram extraídas deste livro.
19
em si um complexo de novos elementos técnicos procedentes tanto da tonalidade
11
quanto
da atonalidade
12
.
O nascimento da pantonalidade
A virada do século XX significou um momento de grandes mudanças cujas
repercussões atingiram, além dos âmbitos social, político e psicológico, também as artes e,
mais especificamente, a música. Neste momento os princípios que fundamentaram a
construção musical nos períodos chamados clássico e romântico estavam sendo
questionados. Conseqüentemente, a música do século XX, também chamada música
moderna, formava-se sobre um conceito não apenas diferente, mas, fundamentalmente
oposto ao que reinara nos séculos anteriores. Dentre os diversos âmbitos da composição
musical foi no campo da harmonia onde este novo conceito manifestou-se mais
enfaticamente (p. 1 - 2).
A tonalidade,
durante quase três séculos, foi assumida como o princípio básico e
inquestionável da formação composicional. Porém, acabou sofrendo desvios, como um
processo inevitável de seu intenso uso. Essa medida atingiu a comunidade musical de tal
maneira que tudo o que era construído fora dos moldes tonais passou a ser chamado de
atonal (p. 3).
Partindo de um mesmo conceito, o da tonalidade clássica, duas linhas em direções
opostas surgiram em busca de algo novo e reacionário. A corrente alemã instaurou os
11
Tonalidade: estado de expressão harmônica estrutural ao qual a música esteve rigidamente relacionada
derivado do fenômeno natural da série harmônica (RETI, 1958, p. 04). Este fenômeno cria unidades estruturais
através do estabelecimento de uma nota básica que se torna o centro de uma frase, grupo ou peça inteira, na
qual este grupo se inicia, termina e com a qual todas as suas partes se relacionam (idem, p. 76). Seu uso no
tecido pantonal permite que as tônicas provenientes tanto da tonalidade harmônica quanto da tonalidade
melódica sejam incluídas alternadamente (idem, p.68).
12
Atonalidade: linguagem que abandona radicalmente os parâmetros tonais. No tecido pantonal, os recursos
atonais não são utilizados no sentido da técnica dodecafônica, mas sim, de usar essas figurações atonais para
formar novas construções onde uma diversidade de impulsos tonais conduza as formas atonais a um desenho de
coerência ininterrupta (RETI,1958, p. 68-69).
20
princípios do movimento atonal (dodecafônico) e a corrente francesa, os do movimento
pantonal.
A corrente alemã
Não apenas desafiando o antigo sistema harmônico, mas contestando-o
criativamente, Wagner (1813-1883), o principal representante da corrente alemã, através de
Tristão e Isolda
(1859), inicia um novo estado tonal: a tonalidade expandida cuja “textura é
carregada de séries de acordes de passagens, desvios harmônicos e relações livres de
tonalidades (
free key relationships
) entre grupos isolados”, mas não deixa de estar baseada
na cadência clássica, ou seja, na tonalidade harmônica (p. 21). A tonalidade harmônica é
aquela que opera através da progressão harmônica forçando, inevitavelmente, uma linha a
retornar para qualquer uma das notas do acorde de tônica (p. 76). Os avanços nesta mesma
direção tomaram proporções ainda maiores com Schoenberg (1874-1951), ao qual só restou
colocar em prática aquilo que o termo atonalidade, já utilizado há algum tempo, de fato
significava: o abandono total da tonalidade.
A corrente francesa
Esta corrente tem sua representação centrada quase totalmente na obra de um único
compositor: Debussy (1862-1918). O recurso utilizado por Debussy para ir além dos limites
harmônicos do período precedente, foi re-introduzir a tonalidade melódica na música (p. 22).
A tonalidade melódica
13
é manifestada através da melodia isolada, sem qualquer tipo de
acompanhamento. Trata-se de um fenômeno presente em melodias antigas. Nestas
melodias
13
Tonalidade melódica versus tonalidade harmônica: ambas as melodias giram em torno de um centro tonal.
Uma resiste à harmonização enquanto a outra só tem sentido se utilizada com a introdução da harmonia. Ambas
não podem co-existir; a tonalidade harmônica só veio a dominar (no classicismo) quando a tonalidade melódica
(da antiguidade) foi abandonada. Da mesma maneira, a tonalidade melódica só pôde ressurgir (no modernismo)
com o abandono da tonalidade harmônica, ou seja, o tonalismo do período clássico-romântico (RETI, p.17 e 18).
21
as notas são unidas por uma força parecida com aquela à qual chamamos
tonalidade. [Uma determinada nota] representa um ponto melódico central, uma
espécie de tônica, e toda a linha melódica passa a ser entendida como uma unidade
musical, principalmente através de sua relação com esta nota básica (p. 15).
Sua característica tonal mais importante é o fato de
trazer a melodia a uma conclusão na tônica a partir de qualquer ponto de seu
percurso, sem a ajuda de qualquer dominante ou qualquer outro elemento da série
harmônica, mas simplesmente pelo seu impulso melódico inato. [...] Qualquer nota
da melodia pode tornar-se uma nova tônica simplesmente por meio da acentuação,
sustentação, ou seja, através de um fraseado apropriado (p. 23).
A bitonalidade, entendida como o uso simultâneo de duas ou mais tríades, é um
segundo recurso que se torna um procedimento constante nas mãos de Debussy, embora já
utilizado esporadicamente por compositores como Strauss, Mahler, Wagner e até mesmo
Beethoven. As harmonias formadas por estas combinações passam a ter duas ou três tônicas
soando ao mesmo tempo resultando no elemento verdadeiramente revolucionário da música
de Debussy: as tônicas múltiplas (p. 60).
E estas tônicas múltiplas – primeiramente apenas aquelas no sentido vertical –
muitas vezes na evolução pós-Debussy, tornam-se tônicas horizontais, isto é, tônicas
criando tonalidade, criando forma. Assim, um estado de tonalidades simultâneas
emerge - tonalidades que se cruzam, se sobrepõem, se complementam e até mesmo
se opõem umas às outras (não meramente tonalidades justapostas
contrapontisticamente no sentido de politonalidade à la Stravinsky ou Milhaud...) (p.
60).
As melodias de Debussy, não centradas no efeito de tônica-dominante, diferem das
melodias de compositores alemães como Beethoven e Brahms onde, apesar do cromatismo,
dos desvios modulatórios e das notas de passagem, o cerne estrutural ainda era
invariavelmente concebido sobre a cadência harmônica. “A essência do fenômeno mais
interessante em sua música [de Debussy] é justamente o de sempre haver tônicas soando,
ou seja, pontos focais nos quais os contornos melódicos se articulam” (p. 22). Este efeito é
possível porque as tônicas pertencem ao tipo melódico de tonalidade ao invés do tipo
harmônico, constituindo-se no método pelo qual Debussy forma suas linhas melódicas. Em
resumo:
22
Tonalidade melódica + modulações = harmonia moderna
14
Combinando a tonalidade melódica com várias idéias básicas da construção musical
herdadas e extraídas de obras de seus predecessores clássicos, Debussy construiu um novo
conceito de tonalidade que se tornou um dos mais fortes impulsos nas décadas seguintes.
Desenvolvido, enriquecido e intensificado com o tempo, um terceiro estado tonal ganha vida
(p. 30). A este terceiro conceito, diferente tanto da tonalidade quanto da atonalidade, Reti
denomina pantonalidade
15
, a qual “dentro de um plano maior e com um novo tipo de
formação composicional, desenvolve a idéia inerente à tonalidade e em seu rastro parece
emergir um complexo inteiro de novos elementos técnicos – de fato, um novo conceito de
harmonia” (p. 4).
Elementos pantonais
Com o surgimento de uma natureza mais complexa de múltiplas harmonias nas
composições modernas surgem, como conseqüência, não apenas as combinações verticais
de acordes, tal qual em Debussy, mas também combinações horizontais de diversas
tonalidades denominadas por Reti como harmonias flutuantes (p. 62).
Harmonias flutuantes
Este termo refere-se ao olhar vertical sobre um desenho horizontal, ou seja, significa
o resultado sonoro entre várias linhas melódicas independentes, sobrepostas
16
por uma
relação consonante com suas respectivas tônicas. Refere-se não a combinações verticais de
acordes ou, em outras palavras, sobreposição de acordes, mas sim, a combinações
horizontais de diferentes linhas com diferentes tônicas. Os efeitos deste princípio revelam um
14
RETI, 1958, p. 23.
15
Conforme Reti (p. 4), “pan” é a antiga palavra grega para “todo”, “completo”. Aqui o sentido é de
universalidade ou totalidade.
23
estado onde a tonalidade não aparece na superfície, mas é criada nas relações percebidas
pelo ouvido entre vários pontos da teia contrapontística ou melódica (p. 65). Neste contexto
não há uma tônica predominante no sentido vertical. A tônica será definida de acordo com
aquilo que o ouvido discernir como principal pilar em um determinado instante. A partir
desta propriedade de variação da tônica em diferentes momentos, surge um novo elemento:
as tônicas móveis.
Tônicas móveis
Este é, segundo Reti, o atributo característico da pantonalidade, ou seja, “uma
situação estrutural na qual várias tônicas exercem sua força gravitacional, poder-se-ia dizer,
em oposição, a despeito de qualquer das várias tônicas tornar-se, finalmente, a tônica
conclusiva”
(p. 67). Na prática, este termo expressa a situação na qual a tônica de um
determinado grupo é deslocada para outra tônica a partir do momento que um novo grupo
de notas é introduzido, devido à percepção das novas relações estipuladas entre eles (p.66).
A tonalidade melódica em Debussy pertence a um contexto incomparavelmente mais
complexo. Este tipo moderno de tonalidade melódica é denominado por Reti de ‘tonalidade
através das alturas’ e constitui um dos pilares da formação estrutural moderna.
Tonalidade através das alturas
É caracterizada pelo fato de que alturas que são repetidas ou reiteradas tornando-se
evidentes notas básicas (
accented corner notes)
no percurso composicional podem,
por esta qualidade, assumir um papel quase tonal, ou seja, podem ajudar um grupo
aparecer como uma unidade e podem, assim, tomar forma, ainda que o desenho
harmônico aponte para um padrão de tônica diferente ou para base nenhuma (p.
77).
Em suma, pode-se dizer que os conceitos originados na música moderna estão
relacionados com conceitos preexistentes:
16
Esta sobreposição está relacionada a uma mistura de idéias tonalmente baseadas (
tonically based ideas) –
uma
mistura, não um choque de tonalidades como na politonalidade” (RETI, 1958, p. 62).
24
Tonalidade através das alturas tonalidade melódica
Harmonias flutuantes bitonalidade e politonalidade
Tônicas móveis tônicas múltiplas
O processo de desenvolvimento da tonalidade rumo à pantonalidade e suas
conseqüentes transformações nos conceitos musicais são abordados por Reti sob diversos
ângulos: no tratamento da consonância e da dissonância, no ritmo, na forma e nas técnicas
de instrumentação
17
.
Consonância e dissonância
Na pantonalidade o sentido de dissonância e consonância não foi alterado. O que
mudou foi a abordagem desses conceitos, fazendo com que as dissonâncias sejam utilizadas
em maior número do que as consonâncias. As dissonâncias ainda soam como tensões em
busca de resoluções, embora aqui, a resolução também possa ser constituída por outra
dissonância. No atonalismo, por outro lado, as consonâncias passam a soar estranhamente
como se fossem dissonâncias, e as dissonâncias são tratadas como consonâncias, sem que
haja algo para ser resolvido.
Ritmo
O abandono da simetria na esfera rítmica foi correspondente ao abandono da
tonalidade na esfera melódico-harmônica sendo que a mesma bipolaridade presente no
domínio melódico-harmônico apresenta-se no domínio rítmico: uma corrente que se orienta
para a dissolução e abandono do ritmo (a-ritmo) e outra em direção ao enriquecimento e
transformação da antiga idéia rítmica (pan-ritmo) (p. 82). Assim como Debussy pode ser
17
Este item não será abordado por não incluir aspectos relevantes para o objetivo deste trabalho.
25
considerado o símbolo desta nova corrente no âmbito melódico-harmônico, analogamente,
Stravinsky o é no ritmo. Criador de um novo conceito da estrutura rítmica, Stravinsky utilizou
as conhecidas unidades elementares de 2, 3 e 4 em novos padrões de alternância, em
combinações mais complexas e diversificadas.
Assim como na harmonia as dissonâncias podem ser entendidas como desvios das
consonâncias, no ritmo, a assimetria pode ser entendida como desvios do padrão rítmico
regular subjacente. Um desenvolvimento posterior na esfera rítmica, correspondente ao que
ocorreu na harmonia, produziu uma aproximação dessas duas correntes fundamentalmente
diferentes. O resultado desta união “preserva a idéia da simetria rítmica, mas ao mesmo
tempo a transforma em formações maiores e mais complexas, em outras palavras, mistura
regularidade com irregularidade” (p. 87).
Forma
O termo “forma” compreende dois campos diferentes de operação técnica: a idéia
interna, através do desenvolvimento de motivos e temas e, a idéia externa, relacionada à
maneira como a música é agrupada e dividida em partes e seções. Na teoria musical clássica
o conceito de forma operava sobre dois princípios básicos: o agrupamento, representando a
idéia externa e a reiteração temática, a idéia interna.
Como conseqüência das várias maneiras de se utilizar o princípio do agrupamento,
surgiram os esquemas formais (sonata, suítes, sinfonias, etc) (p. 90). Com o advento da
música moderna e seus novos padrões harmônicos, esses esquemas originados no período
clássico foram abandonados por estarem baseados na relação tônica-dominante. No entanto,
sem a aparição de novos esquemas formais que viessem substituir os já existentes, os
compositores passaram a criar novos esquemas a cada nova composição, sem deixar de lado
tal princípio (p. 91). Enfim, apesar de utilizado de novas maneiras, a idéia externa de forma
não foi abandonada pelos compositores modernos.
26
Quanto à idéia interna, houve uma bifurcação nas tendências: os atonalistas, logo no
início do movimento dodecafônico, aboliram os temas de suas composições por evocarem a
estrutura tônica-dominante, contra a qual eles reagiam enfaticamente. Evitando a simetria
regular estes compositores substituíram a reiteração temática pela consistência motívica.
Nessa corrente, perde-se a forma interna, em outras palavras, a forma temática, mas
preserva-se a forma externa, ou seja, o método de agrupamento.
Numa atitude menos radical algum tempo depois, os atonalistas passaram a reutilizar
os temas e os esquemas formais, mas dentro de um outro contexto harmônico, ou seja, uma
harmonia moderna. A corrente que tomou essa direção, ou seja, os pantonalistas, passaram
a intensificar a forma interna através de diversas possibilidades de secções e divisões,
trazendo infinitas possibilidades de agrupamento.
3 ANÁLISE DO CHORO TORTURADO
Esta parte do trabalho constará de duas etapas: a descrição da obra onde serão
destacadas suas características relevantes e a aplicação do referencial teórico sobre estas
características.
3.1 DESCRIÇÃO ANALÍTICA
O
Choro Torturado
de Camargo Guarnieri é estruturado na forma ABA’ com
introdução. A seção A é desenvolvida sobre um tema exposto duas vezes em texturas
distintas. A seção B introduz um novo tema em lá menor, o qual é reexposto na região tonal
homônima. A repetição da seção inicial (A’) preserva as mesmas características de sua
primeira apresentação, porém conclui em região tonal diferente.
Expos.
Trans.
Reexpos.
Trans.
Expos.
Reexpos.
Desenv.
Trans.
Expos.
Trans.
Reexpos.
Coda
Tema 1
Tema 1
Tema 2
Tema 2
Variação
de motivo
do Tema 2
Tema 1 Tema 1
Nervously
Restless
Poco
meno
mosso
Con calma
Disconsolate
Grandioso Come
prima
Largamente
c.1-3
c.4-9
c.9-15
c.16-23
c.24-28
c.29-40
c.41-48
c.49-52
c.53-61
c.62-68
c.68-75
c.76-83
c.84-
86
3 compassos
25 compassos
32 compassos
25 compassos
Introdução
A
B
A’
Quadro nº 1: Seções e sub-seções do Choro Torturado
Tema 1: Tema 2:
28
A introdução, denominada
Nervously
(c.1-3), desenvolve-se a partir de um motivo
formado pela ornamentação da nota inicial da obra. A nota real é alcançada por uma
bordadura dupla e sua relação intervalar para com a primeira nota do motivo é de terça
(Ex.2).
Ex.2 Motivo gerador
Tal motivo, logo após a fermata, é transformado em notas reais que se apresentam
em novas alturas e valores rítmicos cada vez mais curtos, como um acelerando escrito por
extenso (Ex.3).
Ex.3 Desenho desenvolvido a partir do motivo inicial (c.1-3).
A nota real do motivo aparece sempre em
sfforzando (sf)
. Esta acentuação ocorrente
a cada quatro notas é responsável por construir um arpejo que, enfatizado dinamicamente,
soa como a estrutura básica desta introdução (Ex.4). A indefinição harmônica caracteriza o
resultado sonoro deste arpejo sem gerar qualquer expectativa tonal para o ouvinte. O último
compasso da Introdução contém uma mudança de compasso (C para 3/2) que funciona
como transição do caráter “nervoso” para o “inquieto” da próxima seção.
Ex.4 Arpejo resultante das notas básicas da introdução (c.1-3)
29
O tema da seção A é tratado de duas maneiras distintas, tanto na textura quanto na
harmonia. Entre os compassos 4 a 15 (
Restless),
a textura é de melodia acompanhada com
predomínio de uma escrita horizontal. A melodia é composta por graus conjuntos em
movimento predominantemente descendente, com ritmo sincopado, além de ser destacada
por
tenutos
, acentos (>) e dupla haste. A harmonia do
Restless
não está centrada em uma
única região tonal e os acordes formados não exercem função harmônica, conforme mostra
o Ex.5:
Ex.5
Restless
(c.3-9): Resumo harmônico
O acompanhamento é composto pelas colcheias da mão direita que não se incluem
na melodia e por um baixo condutor harmônico. Juntos, resultam em intervalos harmônicos
e melódicos que contribuem para uma instabilidade tonal (Ex.6). Ritmicamente o
acompanhamento é marcado por uma regularidade nas colcheias e semínimas contrastantes
com as síncopes da melodia. A partir do compasso 9, o baixo passa a exercer a função
pedal, promovendo uma ampliação na extensão, aproximando a sonoridade àquela que é
própria da sub-seção seguinte, onde o tema será reexposto. Entre os compassos 9 a 15 os
motivos da melodia vão sendo diluídos, dando a essa passagem um caráter de transição.
30
T
T
T T
]4J
] T
] 4J
Ex.6 Intervalos harmônicos no acompanhamento do
Restless
(c.3-7)
O caráter “inquieto” sugerido pelo compositor através do termo
restless
é retratado
musicalmente através dos recursos composicionais utilizados. Estes incluem a ausência de
armadura de clave, a articulação, as freqüentes mudanças de compasso, as apojaturas no
baixo (c.11-13), a flexibilidade da pulsação através dos
rallentando
e
a tempo
e o tratamento
harmônico não centrado na tônica-dominante.
A reexposição do tema no
Poco meno mosso
(c.16 a 28) mantém a
estrutura de
melodia acompanhada, mas com variações em seu material melódico. O tema apresentado
31
na melodia dos compassos 4 e 5 é retomado com outra distribuição rítmica e uma inserção
de notas de passagem cromáticas (Ex.7). Esta frase, originalmente de dois compassos, é
interrompida por quiálteras nos compassos 17 e 19, fazendo com que dois desenhos
distintos sejam intercalados, originando um novo padrão rítmico. Este resulta não apenas
dessas figurações rítmicas, mas também da alternância entre as fórmulas de compasso (C e
¾).
Restless
(c.3-5)
Poco Meno
Mosso
(c.16-19)
Restles
s
(c.6-9)
Poco Meno
Mosso
(c.20-23)
Ex.7: Tema 1 no
Restless
(c.3-9) e no
Poco Meno Mosso
(c.16-23)
Além da alternância entre as fórmulas de compassos, a utilização de quiálteras
simultâneas entre as mãos é uma característica rítmica encontrada no
Poco Meno Mosso.
São exemplos o compasso 17 (sete contra cinco), o compasso 19 (nove contra sete) e os
compassos 24 a 26 (dois contra três).
A textura do
Poco Meno Mosso
, um pouco mais homofônica que o
Restless,
permite
que os acordes sejam expostos mais claramente com o reforço do baixo pedal, sendo que
em cada compasso é possível detectar-se um acorde predominante (Ex.28). Apesar desses
acordes já indicarem um encadeamento harmônico próximo à região de lá menor, a
32
harmonia ainda é obscurecida pelo grande número de apojaturas, notas de passagem e
cromatismo presentes no contraponto da voz intermediária (colcheias da mão esquerda).
Ex.8 Resumo harmônico
Poco Meno Mosso
(c.16-28).
É no final desta seção que se encontra o primeiro movimento cadencial que conduzirá
à região tonal onde se desenvolverá a seção B. A transição para a seção central da obra
desenvolve-se sobre a dominante de lá menor e recebe a indicação
con calma
(c.24-28).
Uma melodia descendente em terças contribui na condução a uma atmosfera de progressivo
repouso, reforçada pela presença de sucessivas suspensões (Ex.9).
33
sus
V
i
I
sus sus
V7
Ex.9 Movimento cadencial (c.22-29)
O baixo melódico contrapõe-se à melodia utilizando, além de intervalos de segundas
e terças, também seqüências de cromatismo e saltos de nona, conforme o Ex.10:
Ex.10 Baixo melódico do
com calma
(c.24-28)
seqüências
9as
9as
seqüências
intervalos de 2as e 3as
34
A seção “B”,
Disconsola e
(c.29-61), é construída sobre um material novo que se
explorado em toda esta seção. Seu tema é exposto na voz superior entre os compassos 29 a
40 através de um contraponto a duas vozes na região tonal de lá menor. A melodia cantável
é estruturada basicamente por graus conjuntos numa extensão de nona e marcada por
ornamentos e tercinas (Ex.11). O baixo melódico preserva a subdivisão quaternária com o
predomínio de intervalos disjuntos e articulação desligada
(senza pedale).
t
Ex.11 Tema do
Disconsolate
(c.29- 41)
A reexposição do tema (c.41-47), com textura e dinâmica diferentes, ocorre na região
de lá maior. A voz intermediária preserva a natureza contrapontística, intervalar e rítmica do
baixo melódico presente no trecho anterior (c.29-40). São acrescentados ornamentos em
arpejos e um baixo condutor harmônico, enquanto a melodia é duplicada em quartas
(Ex.12).
Ex.12 Reexposição do tema do
Disconsolate
em Lá M (c. 41- 48)
O compasso 48 em 5/4 é estruturado sobre o acorde de lá maior com dissonâncias
acrescidas e está relacionado ao compasso 36, na exposição do tema em lá menor. O
35
compasso seguinte inicia uma nova subseção (
grandioso
), cuja construção está baseada na
variação de um motivo do tema apresentado no
Disconsolate
(Ex.13a e 13b).
Ex.13a Motivo do qual deriva o material do
grandioso
(c.37)
Ex.13b Material do
grandioso
(c.49) derivado do motivo do compasso 37
Os quatro primeiros compassos do
grandioso
(c.49-56) estruturam-se sob a mesma
textura utilizada no
Poco meno mosso
(c.16-23), ou seja, uma melodia oitavada preenchida
com acordes. Esta se contrapõe a uma voz intermediária baseada em notas de passagem e
apojaturas e ainda, um baixo pedal sustentando a harmonia. As dissonâncias ocorrentes na
voz intermediária são reforçadas por um desenho motívico que acentua os intervalos
melódicos de quarta e trítono (Ex.14). O mesmo motivo explorado entre os compassos 49 a
51, apresentado no exemplo 13a, é utilizado entre as três vozes do compasso 53 ao 56, com
elisão. Os compassos 57 a 61 contém o material da Introdução (c.1-3), retomado em alturas
diferentes preparando a reexposição da seção A.
36
Ex.14 Desenho motívico na voz intermediária do
grandioso
(c.49-51)
tCome prima
(c.62-75) é a repetição literal da seção A (
Res less)
até o compasso 69.
Os compassos 70 e 71 correspondem à inserção de dois compassos que seqüenciam os dois
anteriores em um intervalo de segunda maior abaixo. O desenho original é preservado entre
os compassos 72 a 75, porém com as alturas modificadas em função da mudança de região
tonal do trecho seguinte.
O
Largamente
(c.76-83) traz a reexposição do tema com a mesma textura do trecho
correspondente na seção A (c.16-23) apesar da nova região tonal e das significativas
modificações harmônicas e melódicas, conforme o exemplo a seguir:
Ex.15 Resumo Harmônico
Largamente
(c.76-83)
37
No último tempo do compasso 83, desta seção, o motivo apresentado na introdução
é retomado em nova altura, finalizando a obra antes da
codetta,
num uníssono em fá (Ex.
16).
Ex.16 Motivo inicial reapresentado no compasso 85
Os três compassos finais da obra (c.84-86),
rigorosamente in tempo
correspondem a
uma codetta formada por dois tipos de acordes que se relacionam prioritariamente pelo
intervalo de segunda menor sem resultar em um movimento cadencial funcional (Ex.17). Se
o primeiro acorde for visto enarmonicamente os acordes que encerram a peça são B7 – Fm6
promovendo uma relação de trítono entre as fundamentais.
Ex.17 Relação entre os acordes finais da obra (c.84)
38
3.2 APLICAÇÃO DO REFERENCIAL TEÓRICO NA ANÁLISE
3.2.1 Aproximações do choro
Apesar dos afastamentos composicionais detectados no
Choro Torturado
, os
elementos básicos do gênero choro em sua maneira tradicional são preservados, permitindo
que esta peça seja identificada como tal. Pode-se perceber essa aproximação através das
seguintes características:
Destaque melódico – a ênfase na melodia ocorre por meio da acentuação e do ritmo
sincopado, reforçado pela estrutura de melodia acompanhada, própria do choro:
Ex.18 Destaque melódico no
Restless
(c.3-9)
Propriedades do choro vocal – os temas utilizados por Guarnieri são compostos
predominantemente por frases curtas em movimento descendente por graus
conjuntos:
Ex.19a Propriedades do choro vocal (c.3-9)
39
Ex.19b Propriedades do choro vocal (c.29-40)
Caráter plangente – o caráter lamentoso do choro é retratado na obra através da
presença de suspensões e apojaturas na melodia, reforçado pelo uso de termos como
Disconsolate
no compasso 29:
EX.20a Caráter plangente (apojaturas c.29-33,
Disconsolate
)
Ex.20b Caráter plangente (suspensões c.20-23,
Poco meno mosso
)
Ex.20c Caráter plangente (suspensões c.24-26,
con calma
)
40
Sugestão de flexibilidade no tempo – o
Choro Torturado
traz vários elementos que
proporcionam espaço para a flexibilidade própria da interpretação do choro: a
ornamentação, os grandes saltos intervalares e o cromatismo em seqüências e a
presença de tercinas:
Ex.21a Flexibilidade no tempo: ornamentação e tercinas (c.29-33)
.
Ex.21b Flexibilidade no tempo: ornamentos (c.41-42)
Ex.21c Flexibilidade no tempo: cromatismo e saltos intervalares (c.24-28)
41
A presença de acordes invertidos – as inversões possuem a intenção de promover
uma continuidade na linha do baixo:
Am/E E7/D Am/C
Ex.22a Resumo da inversão de acordes (c.18-21)
.
A7/E Bm/D
Ex.22b Resumo da inversão de acordes (c.49-50)
Forma ABA’ – apesar de não ser esta a forma mais comum do choro, é um dos
exemplos pertencentes aos modelos das danças européias das quais o choro é
proveniente. Guardadas as devidas diferenças em termos de complexidade
harmônica entre o gênero e a obra, as seções e subseções do
Choro Tor urado
também transitam por regiões tonais diferentes entre si. É importante destacar a
simetria entre frases, partes e seções da obra.
t
42
SEÇÃO Intro A Ponte B A’ Codetta
Indicação de
caráter
Nervously
Restless
t
Poco
meno
mosso
Con
calma
Disconsola e Come prima Largamente Rigorosamente in
tempo
Com-passos
1-3
4-15
16-23
24-28
29-61
62-75
76-83
84-86
Número de
com-passos
3
12
8
5
32
12+2=14
8
3
25 25
Quadro 2: Estrutura geral do
Choro Tor urado
.
t
18
Presença da síncope – a síncope é explorada com mais intensidade nas seções A e A´,
que possuem um caráter mais vivo, enquanto que na seção central, de caráter lamentoso
(
Disconsolate),
a síncope dá lugar às tercinas.
Ex.23 Presença da síncope na seção A (c.3-9)
Baixos com diferentes funções – conforme mencionado no referencial, Almeida (1999)
aponta três tratamentos distintos do baixo no gênero choro. Na obra
Choro Tortu ado
,
existe a ocorrência de todos: melódico, condutor harmônico e pedal.
r
No exemplo 24a duas funções do baixo agem simultaneamente através do desenho
melódico e do reforço à nota mi no grave durante os cinco compassos apresentados.
18
Ver também as subdivisões no Quadro nº 1, p. 27.
43
Ex.24a Baixo melódico e baixo pedal (c.24-28)
Ex.24b Baixo condutor harmônico (c.4-8)
44
Ex.24c Baixo pedal (c.16-23)
Alusão a outros instrumentos característicos do regional de choro – apesar do
Choro
Torturado
ser uma obra que valoriza as propriedades do piano, o compositor explora
recursos que remetem à execução de cordas dedilhadas do violão através da articulação
desligada do baixo (c.29-40), ornamentos em arpejos ascendentes (c.41- 42),
apojaturas
(c.11-13; c.69; c.71-72) e cromatismo (c.24-28) na voz mais grave. Além do violão, a
flauta também é outro instrumento ao qual a imaginação pode associar as melodias vivas
e acentuadas. A percussão do choro, encarregada da constância rítmica e representada
freqüentemente pelo pandeiro, também pode ser relacionada às insistentes colcheias que
preenchem o ritmo da melodia no
Restless
(c. 4-15).
45
3.2.2 Afastamentos do choro
Os afastamentos composicionais em relação ao choro tradicional, investigados no
Choro Tortu ado,
podem ser detectados no âmbito rítmico nos seguintes aspectos: figuração
do acompanhamento ritmo-harmônico não centrada na síncope e as freqüentes alterações
nas fórmulas de compasso. Outro aspecto que foge dos padrões da sonoridade comum no
choro é a escrita pianística, através da qual o compositor explora, em alguns trechos, a
grandiosidade e as amplas extensões do piano. Contudo, os afastamentos estão
concentrados principalmente no campo da harmonia.
r
Lutero Rodrigues resume a visão de Guarnieri diante do aspecto harmônico:
Guarnieri via a harmonia mais como uma paleta com variadas cores que usava com a
maior liberdade do que como um sistema de forças, atrativas ou não, que o
auxiliasse a estabelecer relações hierárquicas entre as diferentes partes do discurso
musical (RODRIGUES in SILVA, 2001, p. 480).
As características harmônicas empregadas nesta obra são totalmente inesperadas
para o contexto do choro da década de 1930. O
Choro Torturado
está entre aquelas
composições que seguem princípios pertinentes tanto ao tonalismo quanto ao atonalismo,
mas que não se adequam exclusivamente a nenhum dos dois extremos. Os elementos da
obra que não se conformam às características tradicionais do choro compõe um conjunto de
elementos próprios da pantonalidade. Sabendo que este conceito está imbuído de intenções
de desviar-se da tonalidade, não apenas os conceitos pantonais serão identificados na obra,
mas também muitos daqueles recursos que precederam a pantonalidade. Tais recursos
detectados no
Choro Torturado
serão apresentados a seguir:
Auncia de armadura de clave, escassez de encadeamentos harmônicos funcionais e
de cadências – a ausência de armadura de clave nesta obra não está definindo uma
tonalidade, mas ao contrário, indica sua indefinição. O ponto central é antecedido por
uma cadência II – v – V – I, entre os compassos 22 a 28 (Ex. 25). O emprego desta
46
cadência, neste ponto da obra, consiste em anteceder a introdução do choro em sua
forma mais explícita (
Disconsolate
, c.29-40).
II
v
Ex.25 Cadência (c.22-29)
Disconsolate
(θ =60)
V
i
A afirmação de Lutero Rodrigues a respeito do tratamento harmônico de Guarnieri,
de uma maneira geral, confirma a ocorrência desse fato:
É [sic] nos movimentos lentos, evidentemente, que encontramos trechos maiores de
estabilidade tonal, mas seu procedimento mais comum era a mudança constante dos
rumos da harmonia, naquilo que chamava de ‘tonalidade fugidia’, reservando para os
pontos muito especiais do discurso os poucos casos de resolução da tensão
harmônica através de cadências mais ou menos convencionais (Rodrigues in SILVA,
2001, p. 480).
O
Choro Tor urado
exemplifica esta afirmação de Rodrigues através da seção central,
de caráter “desconsolado”, sendo o trecho de maior estabilidade tonal e onde se encontra o
andamento mais lento da obra. Esta seção é antecedida pela única cadência da peça.
t
47
Progressão entre regiões tonais diferentes – na introdução (c.1-3), um desenho
baseado no motivo inicial é desenvolvido de forma que algumas notas se
sobressaiam, conforme mostra o exemplo 26:
Ex.26 Notas destacadas a partir do desenho motívico do
Nervously
(c.1-3)
A partir da relação entre essas notas acentuadas (
sf
) e pela confirmação das que se
encontram entre elas é possível estabelecer agrupamentos tonalmente unificados formando
uma seqüência (Ex. 27).
Fám Mibm Dó M
sib sol
láb mi
Ex.27 Seqüência de grupos com regiões tonais diferentes (c.1-3)
As escalas de fá menor, mib menor e dó maior, ainda que diluídas no desenho
melódico, podem ser reconhecidas, apesar da ocorrência de notas que não se incluem em
tais escalas, mas que funcionam como apojaturas ou bordaduras em intervalos de semitom.
Reti afirma que “em tal desenho sempre haverá um número de notas, acordes ou partes de
acordes, ou até mesmo longas frases que assumirão, em maior ou menor extensão, o papel
transitório de uma tônica” (1958, p. 66).
48
A relação entre estes grupos preserva as características intervalares do motivo
gerador de todo este trecho:
mi(bemol) dó
Ex.28a Ampliação da relação intervalar do motivo inicial na introdução.
O réb do motivo relaciona-se com o início do
Restless
que possui a mão esquerda
baseada na região tonal de réb:
Ré b
Ex.28b Ampliação da relação intervalar do motivo inicial na introdução.
Diferentes regiões tonais em ação simultânea - percebe-se no trecho abaixo (Ex.29) a
presença de grupos melódicos sobrepostos com diferentes tônicas que exercem sua
força simultaneamente, sem que seja possível definir uma, e apenas uma tônica para
todo o trecho. Apesar de manterem uma relação harmônica consonante, o resultado
sonoro é uma mistura entre o tonal e o atonal:
49
Ex.29 Regiões tonais simultâneas (c.3-9)
Dó
Réb
Láb
Réb
Uso de dissonâncias - conforme previsto nas propriedades pantonais, o número de
dissonâncias utilizado é maior que o de consonâncias (RETI, 1958, p. 71). As
dissonâncias presentes no
Choro Tor urado
são exploradas de várias maneiras:
t
Utilização do intervalo de quartas:
conforme mostra o Ex.30, a duplicação da melodia em
quartas sugere uma idéia modal, enquanto a harmonia estrutura-se na região tonal de lá
maior com ocorrência de notas estranhas. Conforme Lutero Rodrigues “nos muitos casos
em que [Guarnieri] trabalhava com temas modais, preferia não reforçar o modalismo,
optando pela harmonização independente do mesmo” (RODRIGUES in SILVA, 2001, p.
480).
50
Ex.30 Quartas na melodia (c.41-48)
Além dessa idéia modal, pode-se entender o uso das quartas em substituição às
terças paralelas características da música brasileira, pois, segundo Rodrigues, Guarnieri
“empregava raramente as tríades formadas pela simples sobreposição de terças,
preferindo usar acordes mais complexos” (RODRIGUES in SILVA, 2001, p. 480).
O exemplo 31 mostra que a tendência de desviar-se da tonalidade e evitar as
tríades tradicionais é reforçada pela abundância do intervalo de quartas, o único intervalo
não encontrado na série harmônica (Ex. 31).
51
4J 4J 4J T
5J
5A 4J T
5A T T T T 4J 4J T
]4J
5J 5J
T 4J 5J
T T
] T
] 4J T T
4J
T T
5J 5J
5J
5J
Ex.31 Intervalos de 4ª, 5ª e trítonos (c.3-8)
Uso de apojaturas, notas de passagem e cromatismo:
nestes trechos (Ex.32a e 32b) a
base tonal é expressa através das notas reais, enquanto as outras, interpretadas como
dissonâncias, manifestam a intenção de obscurecer a tonalidade. Esse grande número de
apojaturas, cromatismo e notas de passagens são exemplos constantes de dissonâncias
que parecem estar “conscientes de que seu destino é serem resolvidas – mesmo que a
nota de resolução torne-se imediatamente uma nova dissonância, ou mesmo se uma
resolução nunca tome lugar” (RETI, 1958, p. 74). São dissonâncias que estão conduzindo
a uma consonância.
52
Ex.32a Apojaturas e notas de passagens na voz intermediária do
Poco mono mosso
(c.16-23)
53
Ex.32b Apojaturas e notas de passagens na voz intermediária do
Largamente
(c.76-81)
Alterações, extensões e ambigüidade na classificação dos acordes: manter um acorde
acrescentando notas estranhas ou torná-lo ambíguo, são alternativas usadas por
Guarnieri para se afastar da tonalidade.
Ex.33a Acorde de lá maior com notas estranhas acrescidas (c.48)
?
Réb7M ou
fám 6
Ex.33b Acordes ambíguos (c.49 e 84)
Ré sus/E ou
Mi 7(11)
54
Uso da escala de tons inteiros Reti diz que Debussy lança mão deste recurso por
seu desejo de desviar-se do padrão regular dos modos maior e menor e sua inerente
tonalidade tônica-dominante (1958, p. 29). Guarnieri, com o mesmo propósito,
também utiliza este procedimento.
Acordes da mão direita
Escala de tons inteiros
utilizada
compasso 51 compasso 53
Ex.34 Tons inteiros
Embora tanto a linguagem musical tonal como atonal possam emergir dessa massa
sonora, o efeito final não é nem tonal nem atonal, mas algo diferente de ambos. Conforme
Reti, ao falar de outro exemplo que aqui se aplica:
a teia polifônica e a textura do desenho composicional, podem, à primeira vista,
parecer sem padrão e quase concebidos arbitrariamente. Na realidade, no entanto,
é centrada em uma base estrutural inequívoca embora a imaginação do compositor
não seja embasada por nenhum esquema ou regra. O que torna isto possível é o
fato de que tanto as idéias melódicas quanto harmônicas são igualmente
concebidas a partir de um único impulso temático (1958, p. 115).
55
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As características gerais do
Choro Torturado
serão resumidas a seguir e logo após,
serão apresentadas as conclusões deste trabalho.
Forma
O
Choro Torturado
está construído sobre dois temas, um regendo as seções
externas (A e A’) e outro a seção interna (B). A seção interna é construída sobre um
esquema harmônico tradicional enquanto as seções externas são harmonicamente não-
tradicionais. O trecho que possui a mais evidente proximidade do choro tradicional é parte
central (c.29-40).
Textura
Cada seção é subdivida em dois tipos de tratamento: um mais horizontal e outro
mais vertical. A tabela abaixo apresenta os tipos de texturas predominantes em cada seção
da obra:
SEÇÃO Intro A Ponte B ponte A’
Sub-seção
Nervously
(c.1-3)
Restless
(c.4-15)
Poco meno
mosso
(c.16-23)
(c.24-28)
Disconsolate
(c. 29-61)
Grandioso
(c.49-56)
(c.57-61)
Come prima
(c.62-75)
Largamente
(c.76-86)
Tipo de
Textura
predominante
h o r i z
o n t a l
vertical
h o r i z
o n t a l
Vertical
h o r i
z o n t a l
vertical
Quadro 3: Tipos de texturas predominantes em cada seção do
Choro Torturado
Ritmo
Ritmicamente a obra possui uma escrita que requer a liberdade de expressão própria
do choro tradicional. As alternâncias das fórmulas de compasso produzem um leve desvio da
acentuação do pulso básico, contudo essas irregularidades estão inseridas em uma estrutura
regular subjacente resultando em um enriquecimento rítmico.
56
Harmonia
O
Choro Torturado
é inspirado no choro de uma época em que este gênero é
considerado tradicional e não moderno, conforme explicado neste trabalho. Este período da
história indica momentos distintos para a música popular e a música erudita no Brasil.
Enquanto a primeira se encontrava numa fase de formação, a segunda já vivia o
modernismo. O choro, proveniente da classe média, sempre foi considerado de cunho
popular e, portanto, não partilhava das inovações modernas que atingiam a música erudita.
Se a obra for encarada como um choro composto com técnicas modernas, dois domínios
musicais em fase distintas de evolução se cruzam, a saber, o popular e o erudito,
antecipando o que mais tarde seria feito por compositores representantes do choro
moderno: inovações harmônicas. Considerando então sua situação, afirmamos que o maior
afastamento do
Choro Torturado
em relação ao choro tradicional se apresenta na dimensão
harmônica.
A seção central, onde o choro é mais evidente, está emoldurada pela indefinição
tonal. Nesta seção a definição tonal é o que caracteriza sua harmonia, enquanto que as
seções que a emolduram, são caracterizadas pela indefinição tonal, como mostra o quadro:
SEÇÃO Intro A Ponte B ponte A’
Sub-seção
Nervously
(c.1-3)
Restless
(c.4-15)
Poco meno
mosso
(c.16-23)
(c.24-28)
Disconsolate
(c. 29-61)
Grandioso
(c.49-56)
(c.57-61)
Come prima
(c.62-75)
Largamente
(c.76-86)
Característica
Harmônica
Indefinição
tonal
Pouca
definição
tonal
Definição
tonal
Pouca
definição
tonal
Indefinição
tonal
Pouca
definição
tonal
Quadro 4: Características harmônicas das seções do
Choro Torturado
Três tipos de tratamento harmônico podem ser detectados no
Choro Torturado.
O
primeiro tipo é encontrado no
Restless
(c.4-15) e
Come Prima
(c.62-75), onde as tônicas são
definidas no sentido melódico devido ao uso simultâneo de diferentes regiões tonais. No
segundo tipo
, Poco Meno Mosso
(c.16-23) e
Largamente
(c.76-83), a cada compasso são
57
estabelecidos acordes que unem a melodia e harmonia definindo com mais clareza uma só
região tonal. No terceiro tipo de tratamento harmônico, percebe-se uma volta aos padrões
clássicos através de um contraponto a duas vozes, onde se vê a presença de encadeamentos
com função harmônica dentro de uma harmonia claramente tonal. Este último encontra-se
no
Disconsola e
(c.29-48).
t
r
rt
t
r
Apesar do maior afastamento do
Choro Tortu ado
em relação ao choro tradicional
apresentar-se na dimensão harmônica, a obra não é descaracterizada como gênero devido à
permanência da atuação de vários elementos. Entre esses elementos estão: a baixaria
preservando o cromatismo próprio do choro, o contraponto entre baixo e melodia, o caráter
plangente, as referências aos instrumentos próprios do regional, células rítmicas e figurações
comuns no choro, acentuações, ornamentações e uma proposta de liberdade de
interpretação.
O recurso de lançar mão do material popular em composições eruditas já não era, na
época de composição do
Choro To urado,
um procedimento composicional novo. Utilizando
esse recurso, Guarnieri se inspira em referências concretas, mas as transcende em sua
representação musical. Em outras palavras, o compositor fundamenta-se nas raízes da
linguagem brasileira através do material popular, mas ao invés de apropriar-se dela, ele a
assimila e a incorpora em sua atividade criadora transmitindo-a sutilmente, através da
elaboração da escrita. Assim sendo, o choro tradicional não se revela no
Choro Tor urado
em
sua superfície, mas está presente em um nível mais profundo.
Finalmente, a obra pode ser vista sob dois enfoques: uma peça moderna baseada
num gênero popular ou um gênero popular em seus moldes tradicionais, tratado com as
técnicas modernas de composição que, naquele momento, orientavam a música erudita. O
Choro Tortu ado
representa, então, um choro moderno escrito em um momento onde este
gênero ainda é tratado tradicionalmente.
58
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Partitura:
GUARNIERI, Camargo. ‘
Choro’ Tortu ado.
São Paulo: Ricordi Brasileira, 1951.
r
Gravação:
SVERNER, Clara.
A música brasileira para piano.
RCA Victor, BSL – 1537, 1971.
61
ANEXOS
Partitura da obra
Choro Torturado
de Camargo Guarnieri.
CD com a gravação da obra
Choro Torturado
por Elaine Milazzo no dia 4 de abril, de
2004, no auditório do Departamento de Música da Universidade de Brasília.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
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