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UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS
PROGRAMA DE PÓS
-
GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
CURSO DE MESTRADO EM GESTÃO E POLÍTICAS AMBIENTAIS
AVALIAÇÃO DA GESTÃO DO USO E REUSO DE ÁGUA EM
ABATEDOURO DE AVES
Jorge Luiz Araújo da Silva
RECIFE
PERNAMBUCO
BRASIL
2007
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ii
UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO
CENTRO DE FILOSOFIA E CIÊNCIAS HUMANAS
DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS GEOGRÁFICAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM GEOGRAFIA
CURSO DE MESTRADO EM GESTÃO E POLÍTICAS AMBIENTAIS
AVALIAÇÃO DA GESTÃO DO USO E REÚSO DE ÁGUA EM
ABATEDOURO DE AVES
Jorge Luiz Araújo da Silva
Orientador: Prof. PhD. Mário Takayuki Kato
Co-Orientador: Pesq. Dr. Jorge Vitor Ludke
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RECIFE – PERNAMBUCO
Abril de 2007
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iii
FICHA CATALOGRÁFICA
Setor de Processos Técnicos da Biblioteca Central – UFPE
Silva, Jorge Luiz Araújo da
Avaliação da gestão do uso e reúso de água em abatedouro de aves /
Jorge Luiz Araújo da Silva. – Recife : O Autor, 2007
129 folhas: il., tab., fotos, mapas.
Dissertação (mestrado) Universidade Federal de P
ernambuco.
CFCH. Curso de Mestrado em Gestão e Políticas Ambientais. Programa de
Pós-graduação em Geografia. Recife, 2007.
Inclui bibliografia e apêndice.
1. Identificar os aspectos e impactos ambientais gerados pelos efluentes no
abatedouro avícola da Agropecuária Serrote Redondo semi-
árido de PE e
os caracterizar. 2. Avaliar a demanda e oferta de água no abatedouro de aves
para
otimização do uso da água e seu reúso. I. Título.
00000000000 CDU (2.ed.) UFPE
0000000 CDD (21.ed.) BC2005-000
iv
v
“Nada... é possível a menos que o mundo dos negócios esteja disposto a se integrar ao mundo
da natureza”.
Paul Hawken
vi
Dedico ao meu pai Jurandir Ferreira da Silva
(in memoriam), pelo legado eterno que me
deixou.
vii
AGRADECIMENTOS
A DEUS. Bem-aventurado o homem que encontra sabedoria, e o homem que adquire
conhecimento, pois ela é mais proveitosa do que a prata, e dá mais lucro do que o ouro. A ele,
pois, a glória eternamente. Amém (Pv 3:13-14).
Aos meus pais, Jurandir Ferreira da Silva e Terezinha Araújo da Silva
, pela
dedicação, o amor, ao longo da minha vida e apoio incondicional a todos os meus sonhos.
Minha eterna gratidão.
À minha esposa Diana Ferraz e meus filhos, Thaís Ferraz e Jorge Ferraz, pelo
amor, apoio e compreensão nas horas mais difíceis.
Ao Professor Mario Takayuki Kato, pelo apoio e dedicação, pela confiança que
depositou em mim e pelas orientações e conselhos que foram fundamentais ao sucesso deste
trabalho.
Ao Pesquisador da Embrapa Suínos e Aves, Doutor Jorge Vitor Ludke, pela
amizade, incentivo e colaboração na construção deste sonho.
Ao Doutor Ronaldo Faustino da Silva
, por suas sugestões, pelo seu olhar crítico de
pesquisador e por todo o ânimo que me transmitiu desde o início da minha caminhada como
pesquisador.
Aos professores da UFPE, que fazem a Pós-graduação em Gestão e Políticas
Ambientais, como: Maria do Carmo Sobral, Edvânia Tôrres, Manoel Andrade Corrêa, pela
contribuição acadêmica e profissional imprescindíveis para a construção do minha dissertação.
Aos Mestres Valmir Marques, André Felipe, Rosangela e o colega Evânio
Oliveira, pela amizade sincera, companheirismo, cooperação, lealdade e por terem
compartilhado dúvidas, problemas, soluções e alegrias.
Aos professores da UFRPE, Marcos Antônio, Maria do Carmo Ludke e Vicente de
Paula, pela contribuição profissional e acadêmica na construção deste trabalho.
Aos dedicados funcionários do Departamento de Geografia e Engenharia Civil:
Ronaldo de Melo Fonseca, cnico do Laboratório de Saneamento Ambiental, Solange,
Valmir Marques e Secretários do curso de pós-graduação em Engenharia Civil da UFPE e
Gestão Ambiental e Políticas Ambientais em Geografia, pelo profissionalismo e sincera
amizade.
viii
A todos os amigos e colegas da Pós-graduação e do Grupo de Saneamento
Ambiental, em especial Valmir Marques e Ronaldo Faustino, pelo companheirismo e alegria
durante toda nossa convivência.
A todos os amigos da Empresa Avícola Serrote Redondo, em especial aos Diretores
Saulo Perazzo Valadares e Evandro Perazzo Valadares, pela colaboração, apóio e amizade.
Ao Banco do Nordeste do Brasil que através da FUNDECI/ETENE financiou o
projeto de pesquisa intitulado “REDUÇÃO DO IMPACTO AMBIENTAL EM
ABATEDOUROS AVÍCOLAS” no qual estão inseridas as ações desenvolvidas nesta
dissertação.
Enfim, o meu MUITO OBRIGADO aos demais amigos e pessoas que torceram e
contribuíram na construção deste trabalho.
ix
SUMÁRIO
Pág
LISTA DE FIGURAS.....................................................................................................
xi
LISTA DE QUADROS....................................................................................................
xii
LISTA DE TABELAS.....................................................................................................
xiii
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SÍMBOLOS.............................................
xiv
RESUMO..........................................................................................................................
15
ABSTRACT......................................................................................................................
16
1 INTRODUÇÃO GERAL..........................................................................
17
1.1 A PROBLEMÁTICA..................................................................................
17
1.2 JUSTIFICATIVA........................................................................................
18
1.3 OBJETIVOS................................................................................................
21
1.3.1 Objetivos Gerais..........................................................................................
21
1.3.2 Objetivos Específicos..................................................................................
21
1.4 ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO.................................................... 21
2 REVISÃO DA LITERATURA................................................................
22
2.1 O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, A DISPONIBILIDADE DE
ÁGUA E O SEU USO RACIONAL...........................................................
22
2.1.1 Desenvolvimento econômico...................................................................... 22
2.1.1.1 Cadeia de produção..................................................................................... 23
2.1.1.2 O crescimento da cadeia de produção avícola............................................ 24
2.1.2 A disponibilidade de água...........................................................................
28
2.1.2.1 Recursos hídricos no Brasil: momento atual...............................................
30
2.1.2.2 A bacia hidrográfica – unidade ambiental...................................................
32
2.1.2.3 A água no Estado de Pernambuco e a bacia hidrográfica do Pajeú.............
33
2.1.2.4 A legislação federal e estadual dos recursos hídricos e o uso da água .......
36
2.1.3 A demanda de água e seu manejo racional..................................................
37
2.1.3.1 Demanda de água por atividade no Brasil e em Pernambuco..................... 40
2.1.3.2 A adequação da água para uso no processamento de alimentos..................
44
2.1.3.3 Geração de efluentes na indústria: no tratamento de água e no processo
produtivo......................................................................................................
47
2.1.3.4 Tipos de tratamento de efluentes.................................................................
48
2.1.3.5 Programa para otimização do uso e reúso da água na indústria.................. 50
2.1.3.6 Reúso de efluentes.......................................................................................
52
2.1.4 Os resíduos gerados no abatedouro avícola.................................................
54
2.2 PRÁTICAS GERENCIAIS EFICIENTES NA BUSCA DA
SUSTENTABILIDADE..............................................................................
60
2.2.1 Os modelos para alcançar a sustentabilidade ambiental..............................
61
2.2.1.1 A série de normas ISO 14000......................................................................
61
2.2.1.2 A Produção Mais Limpa..............................................................................
62
2.2.1.3 A Emissão Zero...........................................................................................
63
2.2.1.4 Ecoeficiência............................................................................................... 63
x
Continuação
2.2.1.5 A responsabilidade social corporativa.........................................................
65
2.2.16 Balanço social..............................................................................................
65
2.2.1.7 A Agenda 21................................................................................................
65
2.2.2 Métodos de gestão para o apóio nas ações estratégicas das empresas........ 66
2.2.2.1 Custo Padrão............................................................................................... 67
2.2.2.2 Centros de Custos (CC)...............................................................................
67
2.2.2.3 Unidades de esforço de produção (UEPs)...................................................
67
2.2.2.4 Custeio Baseado em Atividades..................................................................
68
2.2.2.5 Considerações sobre os métodos de gestão................................................ 69
2.2.3 Custos ambientais....................................................................................... 70
2.2.4 Planejamento estratégico............................................................................ 71
2.2.5 Avaliação dos impactos ambientais............................................................ 73
2.2.5.1 Identificação............................................................................................... 73
2.2.5.2 Análises.......................................................................................................
73
2.2.5.3 Métodos de avaliação..................................................................................
74
2.2.6 Proposição de medidas mitigadoras e programa de acompanhamento....... 74
2.3 LITERATURA CONSULTADA............................................................... 76
3
IDENTIFICAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS
PELOS EFLUENTES NO ABATEDOURO AVÍCOLA.....................
80
3.1 INTRODUÇÃO.......................................................................................... 80
3.2 MATERIAL E METÓDOS........................................................................ 82
3.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO................................................................ 87
3.4 CONCLUSÕES.......................................................................................... 105
3.5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS........................................................ 105
4 PROPOSTA DE OTIMIZAÇÃO DO USO E REÚSO DA ÁGUA NO
ABATEDOURO AVÍCOLA.....................................................................
107
4.1 INTRODUÇÃO......................................................................................... 108
4.2 MATERIAIS E MÉTODOS...................................................................... 110
4.3 RESULTADOS E DISCUSSÃO............................................................... 113
4.4 CONCLUSÕES......................................................................................... 125
4.5 RECOMENDAÇÕES............................................................................... 126
4.6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...................................................... 127
5 CONCLUSÕES GERAIS.........................................................................
129
xi
LISTA DE FIGURAS
Figura 2.1 Evolução da produção de carne de frango no Brasil................................... 26
Figura 2.2 Consumo interno de carne de frango no Brasil........................................... 26
Figura 2.3 Exportação brasileira de carne de frango.................................................... 27
Figura 2.4 Distribuição dos recursos hídricos no Brasil...............................................
30
Figura 2.5 Demanda e disponibilidade hídrica no Brasil..............................................
31
Figura 2.6 Comitês de bacias em rios de domínio do Estado.......................................
33
Figura 2.7 Bacias hidrográficas de Pernambuco...........................................................
34
Figura 2.8 Outorga do uso da água em Pernambuco.................................................... 43
Figura 2.9 Evolução da demanda de água em abate de frango.....................................
43
Figura 2.10 Evolução da equivalência populacional da demanda de água do abate de
frangos nos últimos 20 anos........................................................................
44
Figura 2.11 Fluxograma de água e efluentes industriais.................................................
52
Figura 2.12 Evolução da carga orgânica oriunda de abate de frangos............................
55
Figura 2.13 Equivalência populacional da carga orgânica oriunda de abate de frangos
nos últimos 20 anos.....................................................................................
55
Figura 3.1 Localização da produção na UP9................................................................ 83
Figura 3.2 Fluxograma do processo de abate................................................................
84
Figura 3.3 Fluxograma dos pontos de geração de efluentes, avaliados nas
caracterizações físico-químicas...................................................................
85
Figura 3.4 Procedimento de medição de vazão adotado, para estimar a vazão dos
efluentes gerados no abatedouro Serrote Redondo......................................
86
Figura 3.5 Valores médios dos parâmetros de campo nos pontos de amostragem,
dos principais setores de geração de efluentes............................................
93
Figura 3.6 Valores médios das concentrações de DQO bruta, DBO bruta, Sólidos
Totais, Sólidos Totais Voláteis e Óleos e Graxas, nos principais pontos
de geração de efluentes...............................................................................
95
Figura 3.7 Valores médios das concentrações de DQO e DBO bruta, no decorrer
dos pontos de amostragem analisados.........................................................
95
Figura 3.8 Valores médios das concentrações de óleos e graxas no decorrer dos
pontos de amostragem analisados...............................................................
95
Figura 3.9 Sistema de tratamento primário do abatedouro Serrote Redondo...............
97
Figura 3.10 Eficiência de remoção dos principais parâmetros avaliados....................... 99
Figura 4.1 Esquema de instalação dos hidrômetros......................................................
109
Figura 4.2 Foto da barragem de brotas com capacidade máxima.................................
110
Figura 4.3 Bombeamento da água na ETA...................................................................
110
Figura 4.4 Atividades da ETA......................................................................................
111
Figura 4.5 Reservatório com capacidade para 2000 m3 de água..................................
112
Figura 4.6 Lay-out do processo produtivo de abate......................................................
112
Figura 4.7 Marcação das tubulações por atividade.......................................................
116
Figura 4.8 Representação gráfica dos consumos relativos de água conforme o uso.... 120
Figura 4.9 Vazamentos por falta de manutenção..........................................................
121
Figura 4.10 Vazamento por problemas em equipamentos..............................................
121
Figura 4.11 Mangueira com vazão de 40 lts/minuto.......................................................
123
Figura 4.12 Aves sendo depenadas e reúso da água para não acumular as penas.......... 124
xii
LISTA DE QUADROS
Quadro 4.1 Descrição das atividades de cada hidrômetro..............................................
116
xiii
LISTA DE TABELAS
Tabela 2.1
Evolução da cadeia avícola em Pernambuco no período de 1995 a 2005....
28
Tabela 2.2
Disponibilidade de água por região brasileira............................................. 29
Tabela 2.3
Vegetação e uso do solo na Unidade de Planejamento Hídrico UP9...........
36
Tabela 2.4
Distribuição do consumo de água na agro-indústria por atividades ............
42
Tabela 3.1
Cronograma das coletas realizadas no Abatedouro Serrote Redondo..........
86
Tabela 3.2
Insumos do processo de abate de janeiro 2007............................................ 89
Tabela 3.3
Entrada dos insumos, saída e disposição final dos rejeitos 90
Tabela 3.4
Valores médios dos parâmetros de campo nos pontos de amostragem, dos
principais setores de geração de efluentes e do ponto de
convergência..............................................................................................
93
Tabela 3.5
Valores médios das concentrações dos parâmetros avaliados nas
caracterizações dos pontos de amostragem.................................................
94
Tabela 3.6
Valores estimados para a média ponderada entre os pontos de
amostragem EF1 a EF3, o fator de concentração após a graxaria, a
eficiência no flotador e a eficiência das lagoas............................................
96
Tabela 3.7
Caractesticas de despejos de abatedouros de aves de acordo com diferentes
pesquisas consultadas........................................................................
98
Tabela 4.1
Custos fixos e variáveis para obtenção e manejo da água tratada 113
Tabela 4.2
Resultados da análise físico-química e bacteriológica das amostras de
água..............................................................................................................
114
Tabela 4.3
Consumo de água e abate de aves em janeiro de 2007................................ 117
Tabela 4.4
Consumo de água por ave abatida em abatedouros referenciados na
literatura e na presente avaliação.................................................................
118
Tabela 4.5
Identificação dos usos fixos e variáveis de água..........................................
119
Tabela 4.6
Estimativa do consumo na capacidade máxima de abate.............................
119
Tabela 4.7
Vazão das torneiras de lavagem de mãos.....................................................
122
Tabela 4.8
Medição dos hidrômetros em período sem abate de aves............................ 123
xiv
LISTA DE ABREVIATURAS, SIGLAS E SIMBOLOS
ABC
Activity based costing (Custeio baseado em atividades)
ABNT
Associação Brasileira de Normas Técnicas
ABEF
Associação Brasileira dos Exportadores de Frango
ANA
Agência Nacional de Águas
APA
Associação Paulista de Avicultores
APINCO
Associação dos Produtores de Pintos de Corte
AVIPE
Associação Avícola de Pernambuco
AVIMIG
Associação dos Avicultores de Minas Gerais
CC
Centro de Custos
CETESB
Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental
CIRRA
Centro Internacional de Referência em Reúso de Água
CONAMA
Conselho Nacional de Meio Ambiente
CONDEPE
Conselho de Desenvolvimento de Pernambuco
COMPESA
Companhia Pernambucana de Saneamento
CPRH
Companhia Pernambucana de Recursos Hídricos
DBO
Demanda Bioquímica de Oxigênio
DQO
Demanda Química de Oxigênio
EIA
Estudo de Impacto Ambiental
ETA
Estação de Tratamento de Águas
ETE
Estação de Tratamento de Esgoto
FAD
Flotador por Ar Dissolvido
IBAMA
Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e dos Recursos Renováveis
IBGE
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística
ISO
International Organization for Standardization (Organização
Internacional para a Padronização)
NBR
Norma Brasileira
NBR ISO
14000
Norma Técnica da ABNT de Sistemas de Gestão Ambiental
NBR ISO
9001/2/3
Normas Técnicas da ABNT de Sistemas de Gestão da Qualidade
PIB
Produto Interno Bruto
RIMA
Relatório de Impacto ao Meio Ambiente
RSC
Responsabilidade Social Corporativa
SGA
Sistema de Gestão Ambiental
SIF
Serviço de Inspeção Federal
SIGRH/PE
Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado
de Pernambuco
UBA
União Brasileira de Avicultura
UEP
Unidades de Esforço de Produção
UNU
United Nations University (Universidade das Nações Unidas)
UP
Unidade de Planejamento Hídrico
ZERI
Zero Emissions Research Initiative (Iniciativa para a pesquisa em
Emissão Zero)
15
RESUMO
O setor avícola de Pernambuco é de relevância sócio-econômica, em especial as
atividades ligadas à produção e industrialização do frango de corte. Neste contexto a
sustentabilidade ambiental da cadeia produtiva é imprescindível. O objetivo deste trabalho foi
identificar os impactos ambientais gerados pelos efluentes e recomendar soluções para
otimização da água e seu reúso, mediante um modelo microeconômico de controle aplicado
no abatedouro avícola da Agropecuária Serrote Redondo no município de Afogados da
Ingazeira, semi-árido de Pernambuco. Para isso foi realizada uma análise do processo de abate
e, posteriormente a identificação da demanda de água e a geração de efluentes. Foram
estabelecidas quais as áreas com maior potencial para aplicação de alternativas para o uso
racional e reúso da água. O consumo médio de água por ave abatida foi de 23,76 litros dos
quais 72,3 % estão diretamente ligados ao abate. O efluente gerado apresentou DQO e DBO
de 4325 e 3346 mg/L, respectivamente. Para as lagoas de estabilização, as eficiências
calculadas para a DQO, DBO e remoção de óleos e graxas foram de 92,0 %, 94,6 % e 94,4 %,
respectivamente. Com base nos resultados obtidos foram identificadas ações pontuais para a
melhoria dos processos de tratamento dos efluentes. Mediante o uso da hidrometração foi
possível identificar os principais pontos de consumo de água no abatedouro e propor medidas
de gestão de água. Os levantamentos obtidos por meio do desenvolvimento deste trabalho
permitem concluir que o uso racional e reúso da água são ferramentas básicas para os
programas de gestão de águas e efluentes em abatedouros de aves, mas que as mesmas devem
ser criteriosamente analisadas, pois podem apresentar restrições de ordem técnica ou
econômica.
Palavras chaves: abatedouro de aves, efluentes, hidrometração, reuso de água
16
ABSTRACT
PROPOSAL OF ENVIRONMENTAL MANAGEMENT OF A POULTRY
SLAUGHTERHOUSE FOCUSING USE AND REUSE OF WATER
Summary: Poultry industry in Pernambuco State is of social and economic relevance, mainly
the activities connected to broiler production and processing. So far, the environmental
sustainability of the supply chain is of main importance. The objective of this research was to
identify the environment impacts of poultry slaughterhouses wastewater and to consider
solutions on recycling water, using a microeconomic model of control at the poultry abbatoir
owned by Agropecuária Serrote Redondo, located in the city of Afogados da Ingazeira, semi-
arid of Pernambuco State. An analysis of the slaughter process and an identification of the
water consume and wastewater production were made. The activities with greater potential for
the application of alternative ways of water use and reuse were detected. The mean value of
water spent by each broiler slaughted was 23.76 liters of wich 72.3 % were directly linked to
slaughter process. The wastewater presented COD and BOD values of 4325 and 3346 mg/L,
respectively. The estabilization lagoons presented COD, BOD and oil and grease remotion
efficiency of 92.0 %, 94.6 % and 94.4 %, respectively. Considering the results pinch actions to
improve the wastewater treatments were identified. By means of water flow analysis it was
possible identify the main points of water consume and to sugest rational water management.
The information gotten during the development of this work allow to conclude that rational
use and recycling are basic tools for the programs of water management in poultry
slaughterhouses, however they must be carefully analyzed, because they can present economic
or technique restrictions.
Keywords: poultry slaughterhouse, wastewater, water flow analysis, water reuse
17
1. INTRODUÇÃO GERAL
1.1 - A PROBLEMÁTICA
A preservação do meio ambiente é, sem dúvida, a chave para um novo modelo de
desenvolvimento que tem por desafio ximo atingir o equilíbrio entre a produção de bens e
serviços e a utilização dos recursos naturais renováveis e não renováveis, de modo a garantir a
sobrevivência humana e a qualidade de vida neste planeta, diminuindo as desigualdades
sociais.
A responsabilidade ambiental, entendida como uma vantagem competitiva, deve
nortear a estratégia de negócio como um todo de modo a proporcionar impactos positivos à
produtividade, à eficácia e à eficiência operacional, à imagem corporativa e às relações com a
comunidade, com as agências de controle ambiental, com os meios de comunicação e com os
organismos internacionais. Nesse contexto, os ganhos para uma organização ambientalmente
responsável, em termos de novas oportunidades de negócio e lucro, tendem a ser crescentes e
consistentes (ANCHEGAB, 2004).
A avicultura tem obtido um desenvolvimento sem precedentes nos últimos 40 anos.
Este crescimento veio acompanhado de imensas transformações nas áreas de nutrição,
genética, manejo e sanidade. Essa evolução foi intensamente incorporada pelos empresários
do setor promovendo a transformação da "criação de galinhas" no agronegócio avícola dos
dias atuais. A avicultura acostumou-se a lidar com itens como "custo/benefício", "gestão de
qualidade ou qualidade total" (SALLE, 1999).
Atualmente, com a abertura de novas fronteiras agrícolas, principalmente as
localizadas no Centro-Oeste - Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás, que se tornaram
grandes produtoras de grãos, começaram a surgir complexos avícolas que operam num
sistema de integração e apresentam vantagens comparativas em relação ao Sul e Sudeste. Nos
dois últimos anos a evolução da avicultura de corte nas demais regiões do Brasil, inclusive na
região Nordeste, vem ocorrendo na magnitude da verificada no Sul e Sudeste.
Tem-se observado nos últimos anos, por diversos segmentos da sociedade,
questionamentos quanto aos passivos ambientais dos sistemas de produção de aves de corte.
Esses questionamentos são importantes, pois a discussão possibilitará o desenvolvimento
18
dessas cadeias produtivas com sustentabilidade, ou seja, além das diretrizes econômicas
também serão consideradas as diretrizes ambientais e sociais (Palhares 1995).
Ao caracterizar o impacto ambiental que a avicultura de corte apresenta é necessário
considerar a importância de cada elo da cadeia e, nesse sentido se destacam dois segmentos
principais: as unidades produtoras e os abatedouros. Nos abatedouros os passivos ambientais
de maior relevância são gerados pelos efluentes, devido à quantidade de água necessária para
abater uma ave, que segundo SANTOS (2003) é em média vinte litros, recurso que é
imprescindível sua racionalização ou reúso para sustentação do resto da cadeia produtiva. Os
abatedouros representam a etapa que antecede o mercado, tanto nacional como internacional,
portanto, adotar um modelo de gestão ambiental baseado em normas internacionais como ISO
14.000 é prioridade no atendimento ao consumidor, esses cada vez mais exigentes e com
melhor percepção ambiental.
Este estudo identificou os impactos ambientais produzidos por abatedouros situados
em um recorte geográfico da bacia hidrográfica do Pajeú localizada no semi-árido Nordestino.
Esta análise procurou inicialmente fazer um diagnóstico de todas atividades do processo
industrial utilizando o modelo microeconômico “custeio baseado em atividades”,
quantificando o consumo de água e a geração dos efluentes. Posteriormente estabeleceu
propostas contendo medidas mitigadoras para otimização do uso da água e aproveitamento
através do reuso e captação da água de chuva.
1.2 – JUSTIFICATIVA
A avicultura brasileira representa uma geração de divisas equivalente a dois bilhões
de dólares somente em exportações e coloca o Brasil em primeiro lugar na ordem dos
países exportadores atendendo parte da demanda mundial por carne que apresenta
crescimento contínuo. Segundo a ABEF (2006) a atividade assume relevância impar no
atendimento ao mercado com um abate anual de seis bilhões de frangos, dos quais 25 % se
destinam ao mercado externo. No contexto de globalização dos padrões de qualidade
visando o atendimento às demandas internas e internacionais o enfoque ambiental
representado principalmente pelo manejo dos resíduos gerados é de fundamental
importância para que a atividade avícola se desenvolva nas condições das restrições legais
19
tanto nacionais quanto internacionais. Assim, avaliando as perspectivas ambientais na
cadeia produtiva, uma adequada gestão ambiental alinha os fatores de produção sob o
enfoque multidimensional da sustentabilidade observando os aspectos de qualidade,
produtividade, estabilidade da produção e conservação ambiental combinados na
configuração do padrão produtivo. Uma produção sustentável, além da dimensão
econômica também se complementa na dimensão social, ética e moral e está fundamentada
na dimensão ambiental na medida em que é decorrente da necessidade de ampliar a
sustentabilidade dos ecossistemas. Isto é alcançado através de novas práticas produtivas e
mercadológicas que contemplem de forma simultânea a redução da quantidade de insumos
e de geração de resíduos pela adoção de tecnologias de produto e processo mais eficientes,
a reutilização e a reciclagem de resíduos e subprodutos. Nesse enfoque as atividades
produtivas ultrapassam a fase de atendimento dos requisitos legais para alcançar objetivos
econômicos com ganhos de produtividade através do aumento da eficiência e simultânea
prevenção da poluição.
Programas referenciais (ABIQUIM, 2007) que adotam os preceitos de gestão
ambiental, via instrumentos de gestão empresarial, se baseiam estruturalmente em cinco
grandes pilares: 1) em princípios diretivos estabelecidos, 2) em códigos e práticas
gerenciais implementados nos níveis administrativos, 3) em comitês de lideranças
executivas atuando no campo operacional, 4) na efetiva atuação dos comitês de público
consultivo e, 5) na auto-avaliação de desempenho ao nível de empresa. Por sua vez, o
comitê técnico 207 da International Organization for Standardization (ISO) tem elaborado
a uma série de normas de gestão ambiental (ISO/DIS 14000) subdivididas em dois focos
envolvendo as normas para a organização das empresas objetivando harmonizar as normas
sobre gestão ambiental existentes nos níveis nacionais e regionais e as normas para
produtos e processos nas empresas. Nas normas de organização se estabelecem padrões e
se avaliam os sistemas de gestão ambiental implementados realizando: a) a avaliação do
desempenho das empresas com relação ao cuidado com o meio ambiente e, b) auditoria
ambiental. Nas normas para produtos e processos se estabelecem os critérios para a
avaliação do ciclo de vida de cada produto e rotulagem ambiental nas empresas e também
são apresentadas as normas para os produtos e os processos com relação aos aspectos
ambientais.
20
As operações de produção de frangos, além de carne, geram anualmente um grande
volume de resíduos na forma de esterco, efluentes, camas de aves e aves mortas. Enquanto
que nas granjas avícolas o maior potencial poluidor é de natureza sólida, nos abatedouros
de aves os resíduos de impacto ambiental e de maior custo de tratamento são de natureza
líquida. Cada frango de corte abatido apresenta um rendimento industrial de 75% (% de
carcaça comercializável) gerando potencialmente 25 % de resíduo que é convertido em
matéria prima reaproveitável com distintas finalidades e, dessa forma, para cada 1000 aves
abatidas são gerados cerca de 25 m
3
de efluentes com 3,3 kg de DBO por m
3
.
A melhoria do desempenho ambiental de uma empresa se obtém mediante a
implementação de medidas de gestão e modificações tecnológicas. Na primeira fase podem
ser alcançados benefícios ambientais significativos através de medidas de muito baixo
custo, destinadas a melhorar a capacidade de gestão. O passo seguinte compreende maiores
gastos com alterações estruturais que somente devem ser implementadas depois de
esgotadas as medidas de gestão para obter o máximo potencial com a base tecnológica
existente.
A implementação de medidas de gestão ambiental vem acompanhada de
modificações tecnológicas menores simples de baixo custo tais como evitar perdas óbvias
de materiais e energia, melhorar a capacidade para medir as principais variáveis de
processo e implementar o sistema de controle onde seja necessário e facilitar a gestão e
tratamento dos resíduos mediante uma separação racional dos resíduos privilegiando um
melhor aproveitamento dos recursos.
Para enquadrar as empresas avícolas no mercado globalizado é necessário
identificar os pontos fracos e fortes em termos ambientais e incluir as oportunidades e
ameaças no dia a dia da administração. O desenvolvimento de técnicas de otimização e
reúso de água para empresas avícolas localizadas em áreas com regime pluviométrico
irregular apresenta o duplo propósito de conservar um bem escasso e converter o problema
de poluição ambiental, devido aos efluentes gerados no processo, em um potencial recurso.
21
1.3 – OBJETIVOS
1.3.1 – Objetivo geral
Identificar os impactos ambientais gerados pelos efluentes e propor soluções para
otimização de uso da água e seu reúso, mediante um modelo microeconômico de controle, em
abatedouros avícolas no semi-árido de Pernambuco.
1.3.2 - Objetivos específicos
Identificar os aspectos e impactos ambientais dos efluentes através de uma adequação
ao método do custeio baseado em atividades do processo (ABC) produtivo do abatedouro
avícola e os caracterizar.
Avaliar a demanda e a oferta de água no abatedouro de aves para otimização do uso da
água e seu reúso.
1.4 - ORGANIZAÇÃO DA DISSERTAÇÃO
A introdução aborda a problemática ambiental do setor avícola, em especial os
impactos causados pelos abatedouros de aves, os objetivos e a organização da tese.
No Capítulo 1, levanta-se a bibliografia relativa aos modelos gerenciais de empresas
para os controles ambientais, os impactos gerados, o uso da água e seu reúso e as práticas
eficientes para a sustentabilidade do setor.
No capítulo 2 estão identificados os aspectos e impactos ambientais gerados pelo
processo de abate adaptado ao modelo de custeio baseado em atividades, determina-se o nível
do impacto, mensura-se os efluentes identificados em quatro pontos de saídas dos rejeitos
sendo um a convergência dos três pontos e, finalmente, caracteriza-se os efluentes gerados nas
atividades.
No capítulo 3 avalia-se a otimização e reúso da água em abatedouros de aves
realizando o levantamento de macro vazão e micro vazão da água para identificar as
ineficiências e recomendam-se as diretrizes para economia e reúso da água.
As conclusões sugerem os caminhos a serem seguidos neste caso e nas próximas
pesquisas.
22
2. REVISÃO DA LITERATURA
2.1 - O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO, A DISPONIBILIDADE DE ÁGUA E O
SEU USO RACIONAL
2.1.1 - Desenvolvimento econômico
Ao longo da história observa-se uma grande oscilação no conceito de riqueza e
desenvolvimento econômico de uma nação. No início as sociedades humanas consideravam
riqueza pela quantidade percapita de alimentos ingeridos. Pois bem, com o incremento do
conhecimento dos homens e a descoberta da agricultura, riqueza era reconhecida pela
produção agrícola das tribos, na idade média essa riqueza era mensurada pela quantidade de
terra que detinha uma nação, uma vez que era dela que provinha a subsistência. Com o avanço
do mercantilismo, riqueza passou a ser a quantidade de metais que uma determinada nação
possuía (Huberman, 1971). Para Adam Smith, a riqueza estava no comércio e na
especialização da produção (Smith, 1983).
De acordo com a exposição de Bellia (1996), freqüentemente o posicionamento
pessimista quanto ao futuro do planeta é visto como uma atitude Malthusiana, o
depositando confiança na evolução tecnológica. Deve-se reconhecer que a tecnologia vem
obtendo economias consistentes tanto nos insumos materiais como no uso da força de
trabalho, mas não se pode confiar nela de modo superotimista, já que vem falhando em
diversos campos, tal como o controle da população. Nesse sentido Bellia (1996, p.22) aduz
com o seguinte:
O crescimento da população é exponencial, crescimento este agravado pela
evolução tecnológica, que não reduziu a mortalidade como prolongou a expectativa de vida, ao
mesmo tempo que alterou sua qualidade pela criação e atendimento de necessidades dos seres
humanos.”
O desenvolvimento econômico do culo XX marcou a inserção da variável ambiental
como forma de conter a insustentabilidade do planeta em quatro períodos, na década de
sessenta, setenta, oitenta e noventa. Na fase de 90, a chamada economia ecológica, se
considera o problema da economia do meio ambiente de maneira mais sistêmica e abrangente.
Esta visão é uma evolução dos enfoques anteriores, englobando além da problemática do uso
dos recursos naturais, as externalidades do processo produtivo na busca de processos
econômicos sustentáveis.
23
Porter (1999, p.371) descreve com propriedade a questão embaraçosa existente entre
economia e meio ambiente ou, mais especificamente, ecologia, tal como segue:
A necessidade de uma regulamentação que proteja o ambiente tem sido
objeto de aceitação ampla, mas relutante: ampla, porque todos querem um
planeta habitável; relutante, em razão da crença persistente de que a
regulamentação ambiental solapa a competitividade. A visão predominante é
no sentido da existência de um dilema intrínseco e inevitável: ecologia versus
economia. De um lado do dilema, situam-se os benefícios sociais decorrentes
das normas ambientais rigorosas. Do outro lado, encontram-se os custos
privados da indústria para a prevenção e limpeza custos que acarretam
aumento de preços e redução da competitividade. Com a questão assim
estruturada, o progresso em termos de qualidade ambiental se tornou uma
espécie de queda-de-braço. Um lado se empenha por normas mais severas;
o outro peleja pelo retrocesso na regulamentação. O equilíbrio do poder
pende para um lado ou para outro, dependendo da direção dos ventos
políticos.
Em fim, o homem nunca tirou tanto do meio ambiente como nos últimos cinqüenta
anos. O avanço acelerado sobre a natureza é o efeito colateral do sucesso de uma pequena
parte da humanidade. Vista pela perspectiva dos avanços relativos de cada civilização, a atual
exibe brilho sem igual. Para os não excluídos a fartura inédita de alimentos, a tecnologia para
salvar vidas e colocar foguetes na lua e a compreensão científica dos fenômenos naturais
nunca foram maiores. As contrapartidas preocupantes são a perda de biodiversidade e a
degradação do meio ambiente, a pressão sobre os estoques de água potável, o excesso de
pesca nos oceanos e indícios, não plenamente compreendidos, de mudanças climáticas
causadas pela ação do homem. O que esse processo mostra é que os recursos naturais podem
estar sendo consumidos em velocidade maior que a de reposição no planeta. Há o risco de não
sobrar o suficiente para as gerações futuras.
2.1.1.1 - Cadeia de Produção
Em 1985, Porter desenvolveu o conceito de cadeia de valor nos estudos em que
defendia que, para compreender os elementos importantes para a vantagem competitiva, deve-
se analisar as várias atividades distintas executadas na cadeia de valor de uma empresa e o
modo como elas interagem (PORTER, 1989).
24
Womack e Jones (1998, p. 4) afirmam que o valor é criado pelo produtor, que deve
buscar junto ao cliente final os requisitos que o produto deverá ter para criar valor, que o
valor pode ser definido pelo cliente final”. Csillag (1995, p. 62) complementa afirmando
que o valor real de um produto, processo ou sistema é o seu grau de aceitabilidade pelo
cliente. Esse conjunto de atividades inclui desde a produção ou extração de matérias-primas
básicas, seu processamento, armazenamento e distribuição, até a entrega aos consumidores
finais. Poirier e Reiter (1996, p.3) mostram a cadeia como uma rede (network) de
organizações interligadas, que tem como propósito comum usar as melhores maneiras de
influenciar a entrega final do produto.
A cadeia de valor é composta pelas atividades primárias e de apoio. As atividades
primárias referem-se a atividades envolvidas na criação física do produto, sua venda,
transferência ao comprador e assistência pós-venda. Dependendo da empresa, irá variar a
importância de cada uma dessas atividades para a obtenção de vantagem competitiva. As
atividades de apoio são atividades de suporte às atividades primárias e a elas mesmas. A infra-
estrutura da empresa está associada à cadeia de valor inteira (PORTER, 1989).
Miranda (2002, p.202) observa que:
“a visão de cadeia de valor nasceu a partir da constatação de que, para sobreviver de forma
competitiva, a organização deve gerenciar suas atividades ciente de que pertence a uma cadeia de
atividades que transcende as barreiras legais que a definem (visão logística que define a pessoa
jurídica) e que, dependendo da maneira como se relaciona com as demais empresas que executam
as atividades relevantes da cadeia, a organização pode construir uma cadeia de valor, ou em outros
termos, cadeia de produção eficiente. É necessário que as atividades das empresas que compõem a
cadeia de valor sejam organizadas de forma eficiente e competitiva em relação às outras cadeias que
competem pelo mesmo consumidor final”.
2.1.1.2 - O crescimento da cadeia de produção avícola
Uma das ações realizadas que mais marcou o início desse milênio certamente foi a
declaração por vários setores da nação, da relevância da agricultura e da agroindústria na
formação do PIB brasileiro e na geração do superávit para a balança comercial.
Mesmo sujeitos à instabilidade e às indefinições das políticas governamentais, os
produtores avícolas brasileiros trabalharam sempre em ritmo próprio, mantendo o mercado
interno abastecido e prospectando oportunidade lá fora. Em conseqüência, os índices de
25
crescimento da avicultura décadas se situam acima dos níveis de crescimento do PIB.
Considerando as exportações, o desempenho do segmento foi ainda mais animador. O
produtor avícola brasileiro chegou aos mercados de 122 países; as vendas externas
tangenciaram a casa dos US$ 2 bilhões; o Brasil manteve a condição do segundo maior
produtor e exportador de carne de frango e, pela primeira vez, passou a ocupar o primeiro
lugar em termos de receita cambial (UBA, 2004).
A avicultura de corte no Brasil até o final da década de 50 era uma atividade básica de
subsistência e que dispunha de poucos recursos, sendo desenvolvida em bases não
empresariais. A partir de 1960, passou a ter uma maior intensidade no seu processo de
produção, devido a melhoria genética, à introdução de novas tecnologias, ao uso de
instalações mais apropriadas, de alimentação racional e da parceria entre produtor e a
agroindústria através de contratos de integração, que permitiu saltos qualitativos na produção
e produtividade, tornando este segmento um dos mais dinâmicos e competitivos do país
(CARMO, 1999).
A produção nacional de carne de frango passou de 217 mil toneladas em 1970, para
uma produção de 6,00 milhões de toneladas no ano 2000. Segundo dados da UBA (União
Brasileira de Avicultores) em 2004 a produção para atender o mercado interno foi de
6.069.334 toneladas e foram exportadas 2.424.520 toneladas com uma produção total de
8.493.854 toneladas, mostrando um crescimento expressivo.
O consumo anual por habitante, que era de 2,3 kg em 1970, foi multiplicado por dez e
passou para 23,8 kg em 1997. Em 2005 o consumo de carne de frango no Brasil foi de 35,5 kg
por habitante, conforme apresentado na Tabela 2.1 e representado nas figuras 2.1 e 2.2.
Devido ao elevado grau de qualidade protéica, bem como ao preço mais barato em relação ao
de outros tipos de carne, aliado ao "ativismo da consciência alimentar", privilegiando as
carnes brancas, a tendência é que este crescimento no consumo de carne de frango no Brasil se
mantenha.
A evolução observada na avicultura brasileira também é decorrente dos aumentos
verificados na exportação, conforme apresentado na figura 2.3 e do total produzido
anualmente no Brasil cerca de 27 % é destinada ao mercado externo.
26
Fonte: ABEF/UBA 2006.
Figura 2.1 – Evolução da produção de carne de frango no Brasil.
.
Fonte: ABEF/UBA 2006.
Figura 2.2 – Consumo interno de carne de frango no Brasil
27
Fonte: ABEF/UBA 2006.
Figura 2.3 – Exportação brasileira de carne de frango.
A implantação de um sistema de produção integrando pequenos produtores rurais e
agroindústria é citada por Ferreira et al. (2000) como uma das razões que influenciaram o
desenvolvimento da atividade avícola, permitindo ganhos de produtividade e de coordenação
que redundaram no aumento da competitividade. A agroindústria avícola, um elo relevante
pela a alavancagem do setor, para atender as mudanças de hábitos do consumidor por produtos
avícolas processados, estimulou as pesquisas em tecnologia para processamento de carnes
procurando suprir essa procura e conseqüentemente aumentou o consumo per capita
provocando o incremento sócio-econômico da atividade. Outro aspecto importante é que o
consumo de carne de frango vem aumentando nos últimos anos devido a sua maior
incorporação na dieta e também pela substituição de outras carnes. Segundo Euromonitor
apud ANAB (496/497), o avanço do consumo de carnes de aves deve-se a uma percepção dos
consumidores sobre seus benefícios, pois as carnes de frango são mais ricas em proteínas,
também apresentando um menor conteúdo de gordura e vendidas a um preço relativamente
menor que a carne de gado.
A diminuição do tempo dedicado a cozinhar, a sempre maior ausência de pessoal
doméstico, a necessidade de evitar desperdícios na casa e o hábito, em formação, de dar
preferência aos "alimentos prontos" e ou frangos cortados são fatores atentamente
acompanhados pelos homens de marketing das indústrias de carne avícola.
28
Tabela 2.1 – Evolução da cadeia avícola em Pernambuco no período de 1995 a 2005.
Fonte: AVIPE (2006).
2.1.2 – A disponibilidade de água
O recurso renovável água é considerado um bem comum e natural, imprescindível à
vida e insubstituível. No planeta a presença de água doce corresponde somente a 2,5% da
água, porém apenas 0,26% do total de água está disponível para consumo (ANA, 2005). O
momento atual da história em que o sistema capitalista e a globalização transformam
literalmente tudo em mercadoria, inclusive coisas mais sagradas e vitais. Nesse sentido as
necessidades humanas estão sobrepostas aos próprios direitos humanos. As pessoas
32,0 133,00
94,00 101,00 Consumo de ovos (unid/hab./ano) - Brasil
52,0 35,48 29,90 23,30 Consumo de frango (kg/hab./ano) - Brasil
31,0 161,49
158,81 122,86
Consumo de
o
vos (unid/ha
b/ano)
-
PE
7,0 31,86 29,76 29,89
Consumo de
f
rango (kg/hab./ano)
-
PE
13,0 8.444 7.911 7.466 População de Pernambuco (pessoas 1000)
(19,0) 1,97 1,70 2,43 Participação no PIB de Pernambuco (%)
19,0 19,7 26,9 16,5 Participação no PIB Agropecuário (%)
92,0 770.0 458.0 402.0 Faturamento do setor (R$ milhões)
(16,7) 100.0 123.0 132.0 Total de empregos (pessoas
1000)
(16,7) 88.0 98.6 105.6 Empregos indiretos (pessoas 1000)
(16,7) 22.0 24.4 26.4 Empregos diretos (pessoas
1000)
10,0 736.279
740.509 672.358 Consumo estimado de ração (t)
10,0 147.256
148.102 134.472 Consumo estimado de farelo de soja
(t)
10,0 515.396
518.356 470.650 Consumo estimado de milho (t)
58,0 4.048 3.490 2.548 Produção de ovos comerciais (Cxs. 1000)
40,0 4.159 3.654 2.962
Alojamento de ave de postura (Cab.
1000)
463,0 95.199
83.729 16.922
Abate de frango sob Inspeção (ton.)
- 223.245
235.436 223.165 Produção de carne de frango (Cab. 1000)
(3,0) 100.110
107.260 103.088
Alojamento de pintos de corte (Cab. 1000)
5,0 128.435
124.810 122.609 Produção de pintos de corte (Cab. 1000)
40,0 1.032 967 735
Alojamento de matriz pesada (Cab. 1000)
Evolução
2005 2000 1995 Discriminação
29
contemporâneas seguem a lógica do mercado, obedecem as leis da demanda e oferta. tem
direitos quem puder pagar e for consumidor e não quem for pessoa, independente de sua
condição econômico-social. É uma traição aos ideiais da humanidade (Leonardo Boff –
2005)”.
Na década de 60, momento em que o conceito de globalização não estava bem
definido assim como sua operacionalidade, ao longe tinha-se um vislumbrante espetáculo da
terra: uma grande massa azul constituída por 70% de água. Porém, no início desse século, uma
das mais relevantes preocupações é o mal uso da água e a conseqüência direta de que cada vez
mais a água se torne escassa para o ser humano, paradoxalmente um recurso renovável com
grande abundância. Em 2005 o então secretário-geral das Organizações das Nações Unidas,
Kofi Annan, decretou os anos que compreendem 2005 a 2015 como a década da água, período
que tem como objetivo reduzir em 50% o desabastecimento que atualmente compreende a
cifra que ultrapassa dois bilhões de pessoas sem acesso à água. Para equacionar tal problema
pretende-se trabalhar em duas vertentes: a distribuição e a gestão, reconhecendo que a
água é um recurso de larga escala e de importância sócio-econômico e ambiental. Um bom
exemplo é o Brasil, que com uma reserva hídrica de 13,7% de água doce do planeta, tem 68%
dessa água superficial concentrada na região hidrográfica Amazônica localizada em 44% do
território brasileiro que é ocupado por apenas 4,5% dos brasileiros. A Tabela 2.2 demonstra
que 71,8 % da disponibilidade de água encontra-se concentrada nas regiões Norte e Centro-
Oeste representando 64,1 % da superfície onde vivem apenas 13,4 % da população.
Tabela 2.2 – Disponibilidade de água por região brasileira.
Região Disponibilidade de água Superfície População
Norte 68,50% 45,30% 6,98%
Centro-Oeste 15,70% 18,80% 6,41%
Sul 6,50% 6,80% 15,05%
Sudeste 6,00% 10,80% 42,65%
Nordeste 3,30% 18,30% 28,91%
Fonte: Ministério do Meio Ambiente, 2004.
30
2.1.2.1 – Recursos hídricos no Brasil: momento atual
O Brasil é um país privilegiado quando o assunto é recursos hídricos, no entanto, deve-
se levar em consideração a distribuição da água nesse país continental, como mostra a figura
2.4 abaixo, abundante em algumas regiões e escassa em outras.
Fonte: ANA, 2002.
Figura 2.4 – Distribuição dos recursos hídricos no Brasil.
Estudo da Agência Nacional de Águas (ANA) diz que a disponibilidade hídrica no
País é em torno de 5.795,5 Km
3
/ano, levando em consideração a vazão média de descarga
(ANA, 2002
a). Se considerarmos a população de 178.286.524 (IBGE, 2004) tivemos uma
disponibilidade hídrica média por habitante de 32.305 m
3
/ano o que levaria a induzir,
País:
33.000 m
3
/hab/ano
50 0 1.0 0 0 1.7 0 0 4.0 0 0 10 .0 0 0 m
3
p er c a p ita
M u ito po b re P o b re R e g u lar S u fic ie n te R ico M u ito ric o
E s c a s s e z E s tre s s e C o nfo rtá vel
31
erroneamente, o conceito de abundância de água, para isso é bastante verificar a Figura 2.5
que relaciona demanda por disponibilidade hídrica.
Demanda/Disponibilidade hídrica
<
<
5
5
%
%
-
-
E
E
x
x
c
c
e
e
l
l
e
e
n
n
t
t
e
e
<
<
5
5
%
%
-
-
E
E
x
x
c
c
e
e
l
l
e
e
n
n
t
t
e
e
< 5% - Excelente
5% a 10% - Confortável
10% a 20% - Preocupante
20% a 40% - Situação crítica
> 40% -Situação muito crítica
Fonte: ANA (2002).
Figura 2.5 – Demanda e disponibilidade hídrica no Brasil.
2.1.2.2 - A bacia hidrográfica – unidade ambiental
É imprescindível estudar a bacia hidrográfica como referencial na delimitação dos
problemas, a legislação, a conservação, o uso racional e o reúso, este último na forma
econômica para atender as diversas demandas sem prejuízo na renovação desse recurso.
32
A bacia hidrográfica deve ser usada como uma unidade ambiental, na visão estratégica,
o que leva os executores de gestão da água a agir de maneira pró-ativa, pela praticidade por ter
uma excelente visão e o monitoramento dos recursos naturais no que se refere à renovação,
conservação e uso (LAMONICA, 2002).
A bacia hidrográfica exerce o papel de unidade ambiental, pois é através dela que
podem ser estabelecidas as melhores relações entre causa e efeito, principalmente quando
estas relações estão vinculadas aos recursos hídricos (LANNA, 1995).
Quando a bacia hidrográfica é adotada como unidade ambiental está-se relacionando o
valor e a relevância dela como parte de um sistema ambiental. Na cadeia de processos
produtivos das várias relações econômicas dentro do sistema considerado também estão
presentes efeitos secundários em cada unidade ambiental que condicionam conseqüências em
outras áreas afetando ao final a composição do sistema. Por outro lado, as bacias hidrográficas
são consideradas unidade territorial, no momento em que se configuram numa apropriação de
uma parcela do espaço para um determinado fim. Como por exemplo, para a aplicação de uma
determinada política de gestão territorial e/ou ambiental (LAMONICA, 2002).
De uma forma ou de outra, como unidade ambiental, ou como unidade territorial, a
bacia hidrográfica se faz presente em seu limite topográfico, limite esse que se apresenta de
forma mais concreta em sua constituição física, entendendo no limite topográfico aquele que
permite uma maior facilidade e praticidade em destacá-la como unidade no espaço.
Como sabemos, a unidade que se alicerça na figura da bacia hidrográfica, tem como
alusão, a área de captação da água, região que contém um curso d’água, local drenado por um
determinado rio ou por um sistema fluvial, conjunto de terras drenadas. Entretanto, ao se
referenciar a bacia hidrográfica desta maneira é observar no contexto da totalidade na qual
está inserida, e não em relação a determinados aspectos isolados, como por exemplo, em sua
hidrografia, e sim em todo seu contexto, em seu sistema, em seu complexo (LAMONICA,
2002).
O estudo da gestão, ponderado na bacia hidrográfica, tem também como importante
função o papel descentralizador das ações às gestões dos recursos hídricos, não a gestão
integradora das águas e isso faz com que o processo de gestão seja (...) realizado a partir de
processos de planejamento regional, desenvolvidos de forma descentralizada por bacias
hidrográficas (GOLDENSTEIN, 2000).
33
Conforme indicado na Figura 2.6 no estado de Pernambuco existem formados 8
comitês de gestão das bacias hidrográficas enquanto que outros estados como São Paulo têm
21 comitês funcionando.
Fonte: Agência Nacional de Águas
Figura 2.6 - Comitês de bacias em rios de domínio dos estados
2.1.2.3 - A água no Estado de Pernambuco e a bacia hidrográfica do Pajeú
A região do semi-árido nordestino é precária em recursos hídricos superficiais, com
exceção das proximidades do rio São Francisco e o Parnaíba, porém com uma riquíssima
biodiversidade é o semi-árido de maior precipitação pluviométrica do mundo, chove em torno
de 550 700 mm ao ano, enquanto outras áreas ficam em média de 200 mm de chuvas por
ano. Com relação às águas subterrâneas existe um grande manancial, apesar da água salina e
alta dureza em muitas áreas, mas existem enormes mananciais de água subterrânea, por
exemplo, o de Jatobá situado no município de Ibimirim-PE, que tem captação em poços
profundos, chegando a abastecer as cidades de Sertânea e Arcoverde em Pernambuco.
34
A unidade geográfica para o planejamento, avaliação e controle dos recursos hídricos é
a bacia hidrográfica que, eventualmente, pode ser substituída pela região hidrográfica,
constituída por um conjunto de duas ou mais bacias.
Para efeito de avaliação de recursos hídricos, o Estado de Pernambuco foi dividido em
29 unidades de planejamento (UP), sendo 13 correspondentes a bacias hidrográficas
importantes: Goiana, Capibaribe, Ipojuca, Sirinhaém, Una, Mundaú, Ipanema, Moxotó, Pajeú,
Terra Nova, Brígida, Garças e Pontal, e 16 constituídas por grupos de bacias, das quais seis de
pequenos rios litorâneos (GL1 a GL6), nove de pequenos rios interiores (GI1 a GI9) e uma de
pequenos rios que compõem a rede de drenagem do arquipélago de Fernando de Noronha. As
unidades de planejamento estão apresentadas na Figura 2.7.
Fonte: SECTMA, 2006.
Figura 2.7 – Bacias hidrográficas de Pernambuco
As três maiores unidades de planejamento são formadas por bacias de tributários do
São Francisco: Pajeú com 16.838,74 km
2
, Brígida com 13.560,89 km
2
e Moxotó com 8.713,41
km
2
, por ordem decrescente de grandeza.
A bacia hidrográfica do rio Paj está localizada, em sua totalidade, no Estado de
Pernambuco, formando a Unidade de Planejamento Hídrico UP9, entre 7
o
16’20” e 8
o
56’01”
de latitude sul, e 36
o
59’00” e 38
o
57’45” de longitude a oeste de Greenwish. Está inserida na
região fisiográfica do Sertão de Pernambuco, nas microrregiões do Pajeú, do Sertão do
Moxotó, do Salgueiro e de Itaparica.
35
Limita-se ao norte com os estados do Ceará e Paraíba; ao sul com o terceiro grupo de
bacias de pequenos rios interiores GI3 (UP22) e a bacia hidrográfica do Moxotó (UP8); a leste
com a bacia hidrográfica do Moxotó (UP8) e o estado da Paraíba e a oeste com a bacia
hidrográfica do rio Terra Nova (UP10) e o quarto grupo de pequenos rios interiores GI4
(UP23).
O rio Pajeú nasce na serra do Balanço, município de Brejinho, a uma altitude
aproximada de 800 m nos limites entre os estados de Pernambuco e Paraíba. Percorre uma
distância de 347 km, inicialmente no sentido nordeste-sudeste até a localidade de Pajeú e em
seguida, no seu curso inferior, tem direção norte-sul até desaguar no lago de Itaparica,
formado pela barragem no rio São Francisco. Seu regime fluvial é intermitente e ao longo do
seu curso margeia as cidades de Itapetim, Tuparetama, Ingazeira, Afogados da Ingazeira,
Carnaíba, Flores, Calumbi, Serra Talhada e Floresta.
Seus afluentes principais pela margem direita são, riacho Cachoeirinha, riacho Tigre,
riacho Conceição, riacho Pajeú-Mirim, riacho o João, riacho Boa Vista, riacho Abóbora,
riacho Cachoeira, riacho Lagoinha, riacho São Cristovão, riacho Pedra Branca, riacho
Queimada Redonda e riacho Capim Grosso. Pela margem esquerda destacam-se: riacho do
Cedro, riacho Quixaba, riacho Taperim, riacho o Domingos, riacho Poço Negro e riacho do
Navio.
A geologia da bacia hidrográfica do rio Pajeú é formada quase totalmente no domínio
de rochas cristalinas e cristalofilianas do embasamento Pré-Cambriano nordestino, de vez que
86,3% da sua extensa área de 16.838,7 km
2
(a maior bacia hidrográfica do estado de
Pernambuco) é representada pelos diversos tipos líticos cristalinos; 11,7% correspondem aos
depósitos de bacia sedimentar ficando o restante por conta dos depósitos recentes, sobretudo
aluviais. A região apresenta uma grande diversificação lito-estrutural e tectônica uma vez que
compreende nada menos do que quatro domínios geotectônicos da Província da Borborema,
sendo dois maciços medianos e dois sistemas de dobramentos.
A vegetação e uso do solo da Unidade de Planejamento Hídrico UP9 - Pajeú, está
apresentada na Tabela 2.3.
36
Tabela 2.3 – Vegetação e uso do solo na Unidade de Planejamento Hídrico UP9.
Vegetação / uso do solo Área (km
2
) Percentual (%)
Vegetação arbustiva e arbórea fechada 3.019,97 17,94
Vegetação arbórea fechada 4.506,52 26,77
Açudes 79,91 0,47
Antropismo 1.864,97 11,07
Área irrigada 0,10 0,00
Afloramentos rochosos 0,40 0,00
Vegetação arbustiva arbórea aberta 7.304,95 43,39
Estradas 28,34 0,16
Área urbana 18,26 0,11
Uso não identificado:
Nuvens 15,24 0,09
Sombras 0,04 0,00
Total 16.838,70 100,00
Fonte: SECTMA, 2006.
2.1.2.4 - A legislação federal e estadual dos recursos hídricos e o uso da água
Dada a relevância que tem os recursos hídricos nas atividades das cadeias de valor que
pertencem ao desenvolvimento econômico, foi necessária a normatização do uso da água para
um regime de ordem no seu uso nas diversas tarefas e atividades que compõem os vários
segmentos da sociedade. Nessas normas criadas foram inseridos diversos conceitos sobre
comando e controle, padrões para qualidade dos recursos hídricos e emissões de efluentes e,
consecutivamente, são realizadas fiscalizações para observar se a lei está sendo cumprida
(MIERZWA, 2002).
Na Legislação Federal, a questão dos recursos hídricos está amparada na Constituição
Federal de 1988 e a resolução normativa do CONAMA 357, de 17 de março de 2005 diz
respeito a classificação das águas doces, salobras e salinas do território nacional e também ao
padrão de qualidade de cada classe de água estabelecida.
Essa resolução, além da classificação das águas, trata também dos procedimentos a
serem adotados para o lançamento de efluentes nos corpos d’água, assim como estão definidas
as concentrações máximas para o lançamento de algumas substâncias. Na resolução
CONAMA 357 estão estabelecidos os parâmetros para o lançamento de efluentes de todas
as fontes poluidoras para os corpos d’águas.
Em alusão ao Estado de Pernambuco a Lei N
°
12.984 de 30 de dezembro de 2005
dispõe sobre a Política Estadual de Recursos Hídricos e o Sistema Integrado de
37
Gerenciamento de Recursos Hídricos, e outras providências. O Título II trata do Sistema
Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de Pernambuco SIGRH/PE, e
o Capítulo I que aborda a Finalidade, Objetivos e Atribuições dispõem dos seguintes artigos:
Art. 37. O Sistema Integrado de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Estado de
Pernambuco SIGRH/PE tem por finalidade formular, atualizar, aplicar, coordenar e executar
a Política Estadual de Recursos Hídricos.
Art. 38. São objetivos do SIGRH/PE:
I – coordenar a gestão integrada dos recursos hídricos;
II – arbitrar administrativamente os conflitos relacionados com os recursos hídricos;
III – implementar a Política Estadual de Recursos Hídricos;
IV – planejar, regular e controlar o uso, a preservação e a recuperação dos recursos hídricos; e
V – fornecer dados atualizados ao SIGRH.
Art. 39. O SIGRH/PE tem como atribuições:
I Atuar em estreita articulação e cooperação técnico-operacional com o Sistema Estadual de
Meio Ambiente e com os órgãos integrantes, de modo a compatibilizar e articular suas ações
tendo em vista o cumprimento das diretrizes, metas e prioridades estabelecidas para as ações
governamentais;
II promover o desenvolvimento organizacional privilegiando a articulação operacional e o
aprimoramento dos recursos humanos dos componentes do Sistema;
III – promover a adequação e criação de novos instrumentos de gestão de recursos hídricos;
IV viabilizar o desenvolvimento e disseminação de práticas de uso adequado dos recursos
hídricos; e
V – tornar público os dados processados.
O CAPÍTULO IV do TÍTULO I ART. 5° que trata dos instrumentos da Política
Estadual dos Recursos Hídricos em seu parágrafo IV trata da cobrança pelo uso de recursos
hídricos e a SEÇÃO IV ART. 23 diz que compete ao órgão gestor de recursos hídricos
implantar a cobrança pelo uso da água, ou delegar essa atribuição às Agências de Bacia,
cabendo aos COBHS propor os valores a serem cobrados e ao CRH sua homologação.
2.1.3 – A demanda de água e seu manejo racional
Para cada tipo de uso de água existe uma demanda em termos de suas características
físicas, químicas e biológicas que assegurem aos usuários uma qualidade do produto final e a
38
indoneidade dos componentes com os quais fará contato e segundo Moran (2003), Morgan e
Wiersma (2004) são identificados os seguintes usos para a água:
Consumo humano;
Uso industrial;
Irrigação;
Geração de energia;
Transporte;
Aqüicultura;
Preservação da fauna e da flora;
Paisagismo;
Assimilação e transporte de efluentes.
A utilização desse recurso pode ser para atender simultaneamente mais de duas
necessidades o chamado uso múltiplo da água e, conseqüentemente, ocasionar conflitos entre
os vários segmentos da sociedade.
A água para consumo humano deve ser priorizada, pois é imprescindível para as
funções metabólicas, na preparação dos alimentos, na higienização pessoal e limpezas em
geral.
A água para a demanda industrial das diversas atividades desenvolvidas pelo ser
humano como as relacionadas à produção de bens de consumo a partir da transformação e do
processamento dos recursos naturais é a de maior significado. É a fração mais significativa em
termos de quantidade e diversidade nos vários usos e várias formas: matéria prima, fluxo de
transporte, inserção ao produto final, aquecimento ou refrigeração, limpeza de equipamentos
ou nos diversos processos produtivos.
A água para irrigação é uma das mais antigas técnicas secular utilizadas que tem seu
foco na melhoria da produtividade das culturas vegetais cultiváveis. Com o advento das
tecnologias de irrigação localizadas e manejo adequado de recursos hídricos foi obtida maior
disponibilidade de água como, também, maior oferta de alimentos e as civilizações passaram a
desenvolver outros processos produtivos além da agricultura. Os padrões da qualidade de água
dependem da exploração de cada cultura.
A água para geração de energia é oriunda da transformação da energia potencial,
cinética ou térmica, em energia mecânica e depois convertida ou não em energia elétrica e
39
pode ser de duas maneiras: utilização da energia potencial ou cinética disponível na água para
a movimentação de um dispositivo que gira em torno de um eixo central e o aquecimento de
água até que se transforme em vapor a alta pressão. A qualidade da água para essa atividade
está relacionada a sua função no processo e pode ser mais ou menos limitada, porém, para a
produção de vapor a água deve ter um alto índice de pureza.
A água para transporte é bastante utilizada em todo mundo de forma otimizada, pois os
navios podem transportar grandes quantidades de pessoas e materiais com menor esforço do
que qualquer outro meio de transporte. Com relação aos padrões de qualidade não existe
limitação, só depende das características geográficas da região.
As águas destinadas para aqüicultura são aquelas destinadas as criações de animais e
plantas aquáticas, como a carcinocultura que é a criação de camarão. A qualidade dessa água é
de grande relevância para o desempenho das atividades relacionadas, assim como, as pessoas
que trabalham diretamente nesses processos de produção.
A água para preservação da fauna e flora é fundamental para o desenvolvimento de
todos os seres vivos existente da mesma forma que é para o homem e é imprescindível que
tenha alto padrão de qualidade, inclusive para a sobrevivência da espécie humana.
A água para recreação e paisagismo é usada de duas maneiras diferentes, a saber: para
atividades de contato primário (esqui, natação e banhos) e para atividades de contato
secundário (náutica e pesca). O padrão de qualidade está relacionado com a sua interação com
os seres humanos, no caso o contato e a ingestão será mais restrito em contrário menos
limitado.
A água para transporte e assimilação de poluentes é de certo modo a de uso menos
nobre. Para os homens ela está nas residências onde é usada para lavagens de roupa,
alimentos, banhos, utensílios, etc. No caso das indústrias o problema é mais grave, pois
depende da sua aplicação e a diversidade de produtos tóxicos que são manipulados. O índice
de qualidade não é relevante quanto a sua utilização, porém sim com relação a disposição final
no meio ambiente (MIERZWA e HESPANHOL, 2005).
Segundo Miervwa (2002), podem acontecer duas razões para a relação entre
disponibilidade hídrica e demanda de água sobrevir: fenômenos naturais que estão
intrinsecamente ligados às condições climáticas de cada região e o crescimento da população.
Uma tipologia de conflitos pode se estabelecer da seguinte forma:
40
Entre usuários de mesma categoria irrigantes, serviços de abastecimento de água,
hidrelétricas,
Entre usos distintos: (irrigação x abastecimento público), (navegação x produção de
energia), (lançamento de efluentes x abastecimento de água).
Entre uso produtivo e conservação ambiental.
Entre unidades diferentes. No tempo, no espaço e na fase de planejamento.
2.1.3.1 - Demanda de água por atividade no Brasil e em Pernambuco
A água é um recurso renovável dos mais utilizados socialmente e industrialmente para
diversos fins e, depois do ar, apresenta numerosos usos legítimos, todavia, é também
causadora de várias formas de impactos ambientais negativos.
Segundo Suetônio Mota (2000) o homem utiliza a água para diversos fins, dela
dependendo para sobreviver. Os usos da água podem ser consuntivos, quando perdas entre
o que é retirado e o que retorna ao sistema natural, e o consuntivo.
São os seguintes os principais usos da água:
Consuntivos:
Abastecimento humano e industrial;
Irrigação e dessedentação dos animais.
Não consuntivos:
Recreação e harmonia paisagística;
Geração de energia elétrica e conservação da flora e fauna;
Navegação e pesca;
Diluição, assimilação e afastamento de despejo.
Segundo Porto et al. (1997) as categorias de demanda de água, acham-se inseridas em
três classes, são elas:
Infra-estrutura social: refere-se às demandas gerais da sociedade nas quais a água é um
bem de consumo final;
Agricultura e aqüicultura: refere-se às demandas de água como um bem de consumo
intermediário, visando a criação de condições ambientais adequadas para o desenvolvimento
de espécies animais ou vegetais de interesse para a sociedade;
41
Industrial: demandas para atividades de processamento industrial e energético nas quais a
água entra como bem de consumo intermediário.
Estudos realizados na ANA (2002
a) sobre a demanda de água por atividade indicaram
que, de maneira geral, no Brasil, a demanda de maior expressão é da produção agropecuária
(irrigação com 62,7 % e consumo animal com 5,4 %), seguido pelo abastecimento humano
com 17,9 % e uso industrial com 14,0 %. Na figura 2.8 está apresentada a outorga do uso da
água em Pernambuco conforme SECTMA (2006).
A água é um recurso renovável de grande importância para a alavancagem de inúmeras
atividades desenvolvidas pelo homem e vital para sua sobrevivência, como foi visto
anteriormente, porém para ocorrer uma disponibilidade dos recursos hídricos essas atividades
não podem ultrapassar a oferta disponível, ou seja, tem que haver compatibilidade entre as
cadeias de produções e recursos hídricos, pois se a demanda das atividades for maior do que a
oferta hídrica acarretará, possivelmente, o estresse ambiental e, conseqüentemente é inevitável
conflitos entre os diversos usuários (MIERZWA e HESPANHOL, 2005).
Na Tabela 2.4 está apresentada a distribuição do consumo de água em diversos
segmentos da agroindústria incluindo as de processamento e transformação de alimentos.
Como característica especial é possível constatar que indústrias que demandam alto grau de
mão de obra apresentam um consumo de água relativamente alto para os processos.
Segundo Silva e Simões (1999) o uso da água na indústria pode acontecer de diversas
maneiras, como segue abaixo:
Consumo humano: tem-se a água usada em ambientes sanitários, vestiários, cozinhas e
refeitórios, bebedouros, equipamentos de segurança (lava-olhos, por exemplo) ou em
qualquer atividade doméstica com contato humano direto;
Matéria-prima: como matéria-prima, a água será incorporada ao produto final, a
exemplo do que ocorre nas indústrias de cervejas e refrigerantes, de produtos de
higiene pessoal e limpeza doméstica, de cosméticos, de alimentos e conservas e de
fármacos, ou então, a água é utilizada para a obtenção de outros produtos, por
exemplo, o hidrogênio por meio da eletrólise da água. O padrão de qualidade para
atender a essas aplicações pode oscilar de forma significante, chegando a obter níveis
superiores até às águas para consumo humano, entendendo nesses casos a proteção da
saúde dos consumidores finais ou a garantia do produto final.
42
Uso como fluido auxiliar: para tal situação a água pode ser aplicada em várias
atividades, principalmente na preparação de suspensões e soluções químicas,
compostos intermediários, reagentes químicos, veículo, ou para operações de lavagem.
Uso para geração de energia: neste caso de uso, a água pode ser utilizada por meio da
transformação da energia cinética, potencial ou térmica, acumulada na água, em
energia mecânica e após em energia elétrica. Para a geração de energia mecânica ou
elétrica do ponto da energia térmica é necessário o aquecimento da água que irá
fornecer energia térmica a partir da queima de combustíveis fósseis ou biomassa.
Uso como fluído de aquecimento e/ou resfriamento: para essa aplicação a água é
utilizada como fluido de transporte de vapor para remoção do calor de misturas
reativas ou outros dispositivos que precisam de resfriamento devido à geração de calor,
ou então, devido às condições de operação estabelecidas, pois a elevação de
temperatura pode comprometer o desempenho do sistema, bem como danificar algum
equipament
o.
Neste uso o padrão de qualidade deve ser elevado afim de não danificar
os equipamentos.
Transporte e assimilação de contaminantes: considerada uma aplicação não muito
nobre, mas não se pode evitar o uso dessa água para tal finalidade, ou seja, instalações
sanitárias, lavagem de equipamentos e veículos ou inclusão de subprodutos sólidos,
líquidos ou gasosos, oriundos dos processos fabris (SECTMA, 2006).
Tabela 2.4 - Distribuição do consumo de água na agro-indústria por atividades
Distribuição do Consumo de Água (%)
Segmento Industrial Resfriamento
sem contato
Atividades
Afins e Outros
Processos e Uso
Sanitário
Carne enlatada 42 46 12
Abatimento e limpeza de aves 12 72 12
Laticínios 53 27 19
Frutas e vegetais enlatados 19 67 13
Frutas e vegetais congelados 19 72 8
Moagem de milho a úmido 36 63 1
Açúcar de cana-de-açúcar 30 69 1
Fonte: VAN Der LEEDEN et al. (1990).
43
Fonte: SECTMA, 2006.
Figura 2.8 – Outorga do uso da água em Pernambuco.
A evolução no consumo de água no abate de frangos de corte no Brasil e o seu
equivalente em consumo pela população estão apresentados nas Figuras 2.9 e 2.10.
Fonte: Dados estimados a partir da ABEF/UBA 2006.
Figura 2.9 Evolução da demanda de água em abate de frango no período de 1986 a 2005
no Brasil.
0,3%
0,3%
0,3%
0,3%
12,2%
36,9%
9,2%
3,6%
35,1%
1,3%
0,3%
0,3%
0,3%
Abast. Animais
Abast. Animais e Irrigação
Abast. Comercial
Abast. Humano
Abast. Humano e Industrial
Abast. Humano e Manutenção de Áreas
Verdes
Abast. Industrial
Abast. Público
Carcinicultura
Geração Energia Elétrica
Irrigação
Pisicultura
Refrigeração
Evolução da demanda de água no abate de frangos de corte em 20
anos no Brasil (em 1.000 m3)
0
10.000
20.000
30.000
40.000
50.000
60.000
70.000
80.000
90.000
1
2
3
4
5
6
7
8
9
10
11
12
13
14
15
16
17
18
19
20
Anos (1986 a 2005)
Água (em 1.000 m3)
44
Fonte: Dados estimados a partir da ABEF/UBA 2006.
Figura 2.10 Evolução da equivalência populacional da demanda de água do abate de
frangos no Brasil no período entre 1986 e 2005.
Verifica-se que ocorre um aumento na demanda de água pelo setor em mais de 700 %
no período compreendido entre 1986 e 2005.
2.1.3.2 – A adequação da água para uso no processamento de alimentos
As técnicas para o tratamento de água têm o objetivo de transformar a água bruta para
um padrão ideal de uso e, para que isso aconteça é necessária aplicação de técnicas específicas
para cada tipo de padrão de consumo ou combinação de várias técnicas para alcançar
resultados desejados de qualidade. Segue abaixo alguns modelos de tratamento:
1 Sistema convencional de tratamento: esta técnica é bastante utilizada pelo sistema de
abastecimento público e tem como meta adequar as características físicas, químicas e
biológicas da água a determinados padrões higiênicos, estéticos e econômicos (Azevedo Netto
et al., 1987), e este comumente é o primeiro modelo técnico de tratamento aplicado à água
para uso industrial. Esta técnica consiste em:
Aeração que tem o objetivo de retirar substâncias orgânicas voláteis causadora de
odor e sabor da água, assim como promover a oxidação de compostos ferrosos e
manganosos dissolvidos que podem precipitar ou ser oxidado após o processo de
filtração da água.
Equivalência populacional da demanda de água do
abate de aves em 20 anos (Consumo per capita 36,5
m3/hab/ano)
0
500.000
1.000.000
1.500.000
2.000.000
2.500.000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Ano (1986-2005)
Nº de Pessoas
45
Coagulação, floculação e sedimentação que consiste em separar sólidos em suspensão
sempre que a taxa de subsidência for muito baixa para promover uma clarificação
efetiva da água (NALCO, 1988).
Filtração é um processo que consiste na passagem da água efluente do sistema de
decantação, até então com partículas em suspensão, por intermédio do meio filtrante.
As partículas vão sendo removidas e o fundo do filtro de coleta uma água com
turbidez inferior a duas Unidades de Turbidez (Azevedo Neto, 1987).
Desinfecção que ocorre após a retirada dos lidos, a água é desinfetada por produtos
químicos ou radiações, isso porque muitos dos organismos presentes podem afetar os
processos produtivos nos quais participará ou, até mesmo, a saúde dos seres humanos
(Drew, 1979 e Hass, 1990).
Controle da corrosão considerada a última etapa do tratamento convencional para uso
industrial é a adequação química final, de modo que a água não provoque corrosão e
nem seja incrustante.
2 – Abrandamento: esta técnica tem por objetivo retirar as substâncias responsáveis pela
dureza da água, ou seja, capazes de reagir com os sabões insolúveis, caso específico dos íons
de cálcio e magnésio (Davis e Cornwell, 1998).
3 Troca iônica: este procedimento tem a finalidade de remover da água certas substâncias
dissolvidas, exclusivamente os compostos iônicos, que são transferidos para uma fase sólida
insolúvel denominada resina de troca iônica. Ao conter os íons não desejáveis presentes na
água, a resina libera uma quantidade equivalente de outras espécies iônicas armazenadas em
sua estrutura e inofensivas à qualidade da água tratada (NALCO, 1988).
4 Separação por membranas: neste processo é imprescindível o uso de membranas
sintéticas, porosas ou semipermeáveis, para separar da água partículas de pequenos diâmetros,
moléculas e até mesmo compostos iônicos dissolvidos. Este processo é possível se utilizar
um gradiente de pressão hidráulica ou um campo elétrico.
O Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal -
RIISPOA Ministério da Agricultura, diz do padrão de qualidade da água no artigo 62:
Nos estabelecimentos de produtos de origem animal destinados à alimentação humana, é
considerada básica, para efeito de registro ou relacionamento, a apresentação prévia de
46
boletim oficial de exame da água de abastecimentos, que deve se enquadrar nos padrões
microbiológicos e químicos seguintes:
a) não demonstrar, na contagem global mais de 500 (quinhentos) germes por mililitro;
b) não demonstrar no teste presuntivo para pesquisa de coliformes maior número de germes
do que os fixados pelos padrões para 5 (cinco) tubos positivos na série de 10 ml (dez
mililitros) e 5 (cinco) tubos negativos nas séries de 1 ml (um mililitro) e 0,1 (um décimo de
mililitro) da amostra;
c) a água deve ser límpida, incolor, sem cheiro e de sabor próprio agradável;
d) não conter mais de 500 (quinhentas) partes por milhão de sólidos totais;
e) conter no máximo 0,005 g (cinco miligramas) por litro, de nitrogênio amoniacal;
f) ausência de nitrogênio nitroso e de sulfídrico;
g) no máximo 0,002 g (dois miligramas) de nitrogênio nítrico por litro;
h) no máximo 0,002 g (dois miligramas) de matéria orgânica, por litro;
i) grau de dureza inferior a 20 (vinte);
j) chumbo, menos de 0,1 (um décimo) de parte por milhão;
k) cobre, menos de 3 (três) partes por milhão;
l) zinco, menos de 15 (quinze) partes por milhão;
m) cloro livre, máximo de 1 (uma) parte por milhão, quando se tratar de águas cloradas e cloro
residual mínimo de 0,05 (cinco centésimo) partes por milhão;
n) arsênico, menos de 0,05 (cinco centésimos) partes por milhão.
o) fluoretos, máximo de 1 (uma) parte por milhão;
p) selênio, máximo de 0,05 (cinco centésimo) partes por milhão;
q) magnésio, máximo de 0,03 (três centésimos) partes por milhão;
r) sulfatos, no máximo 0,010 g (dez miligramas), por litro;
s) componentes fenólicos, no máximo 0,001 (uma milésima) parte por milhão.
§ - Quando as águas revelem mais de 500 (quinhentos) germes por mililitro, impõe-se novo
exame de confirmação, antes de condená-la.
§ - Mesmo que o resultado da análise seja favorável, o D.I.P.O.A pode exigir, de acordo
com as circunstâncias locais o tratamento da água.”
47
2.1.3.3 – Geração de efluentes na indústria: no tratamento de água e no processo produtivo
As atividades que decorrem das diversas cadeias de produção que utilizam a água ou
alguma técnica de tratamento são grandes geradoras de efluentes que, na grande maioria dos
processos produtivos, são lançados no meio ambiente. Dessa forma torna-se necessário um
gerenciamento adequado para que não ocorram passivos ao meio ambiente, pois as principais
fontes geradoras de efluentes são os procedimentos para tratamento de água e as outras
atividades.
Nas etapas das operações no processo de tratamento de água temos a seguinte geração
de efluentes:
Sistema convencional de tratamento: os pontos de geração de efluentes são os
decantadores e filtros, sendo que, nos decantadores uma produção de lodo
produzidos pelos sólidos em suspensão oriundos da água bruta e produtos químicos
usados na coagulação e floculação (Ferreira Filho e Sobrinho, 1998) e nos filtros a
geração dos efluentes é originária da lavagem para remoção das partículas retidas no
processo de filtragem.
Abrandamento de água: os efluentes gerados neste processo são constituídos
principalmente de cálcio e magnésio e depende da região, caso a água tenha unidade
de dureza elevada.
Troca iônica: é realizada uma contra-lavagem com o objetivo de descompactar as
resinas e remover qualquer material que tenha se depositado sobre a superfície do
leito. A operação de contra-lavagem utiliza água de processo a uma vazão que
possibilite uma expansão de 50% do leito por um período em torno de dez minutos.
Separação por membranas: para esta técnica tem a corrente de concentrado como
principal efluente, pelo qual estão os contaminantes inicialmente presentes na corrente
de alimentação. O volume de concentrado e sua concentração em termos de
contaminantes dependem de dois fatores básicos: a taxa de recuperação da água do
sistema e a taxa de rejeição para o contaminante presente, ligada ao tipo de membrana
usada. Em fim, os principais efluentes gerados por um sistema de tratamento com
membranas, que devem ser gerenciados adequadamente, são: concentrado da unidade
48
(5 a 50% da vazão de alimentação); solução de limpeza química; água de enxágüe das
membranas, após a operação de limpeza química.
Os efluentes gerados nas outras atividades industriais estão relacionados aos processos
de beneficiamentos e transformação da matéria-prima em produtos que aplicam água gerando
efluentes com características físicas, químicas e biológicas diversas, de acordo com o ramo de
atividade no processo produtivo da indústria.
Uma das formas mais simples de avaliar, pelo menos qualitativamente, a composição
do efluente gerado por um processo industrial é pelo estudo e mensuração das matérias-primas
e insumos que os sistemas produtivos usam, o que reforça ainda mais a relevância de se
estudar o processo produtivo detalhadamente, desde a recepção e a preparação ou
beneficiamento da matéria-prima até as etapas de processamento e operações complementares.
A preparação e a transformação das matérias-primas em produtos finais, comumente,
envolvem intervenções bastante complexas, como transformações químicas, e também
operações mais simples, como o fracionamento e embalagens de substâncias sólidas, líquidas
ou gasosas (Shreve e Brink Jr., 1980).
A ponderação minuciosa de cada um dos processos desenvolvidos, feita na própria
indústria, empregando os recursos disponíveis, proporciona informações em mais quantidade
e fundamentais para levantamentos. Em alguns casos, é necessário que os efluentes gerados
por um determinado processo passem por uma caracterização física, química e/ou biológica,
para que possam ser analisados o mais próximos da realidade.
2.1.3.4 - Tipos de tratamento de efluentes
A identificação de uma tecnologia mais adequada para o tratamento de um efluente
está relacionada à análise detalhada dos tipos e características dos agentes contaminadores que
deverão ser eliminados ou minimizados, que a maior partes dos processos e operações
unitárias de tratamento, com mínimas exceções, é utilizada para classes muito específicas de
contaminantes. Para ajudar nessa escolha, estão relacionadas a seguir as mais utilizadas para o
tratamento de efluentes (Kiang e Metry, 1982; Martin e Johnson, 1987; NALCO, 1988; Idaho,
1992 e Tchobanoglous, 1996):
49
Neutralização é usada para ajustar o pH dos efluentes em um valor aceitável,
geralmente em torno de 5,0 e 9,0, conforme padrão estabelecido em norma (CETESB,
1992).
Filtração e centrifugação neste procedimento as substâncias insolúveis o separadas
e retidas quando a corrente a corrente líquida passa por um meio ou barreira
permeável, denominada meio filtrante.
Precipitação química consiste em mudar a solubilidade e tornar insolúveis algumas
ou todas as substâncias em uma corrente líquida, alterando-se o equilíbrio químico
(Kiang e Metry, 1982 e Idaho, 1992).
Oxidação ou redução química são aquelas nas quais o estado de oxidação de pelos
menos um dos reagentes envolvidos é elevado, e o outro, reduzido (Kiang e Metry,
1982 e Idaho, 1992), conforme apresenta a reação entre o cianeto e o permanganato
em meio alcalino.
Coagulação/floculação e sedimentação ou flotação é o mesmo procedimento usado
para o tratamento de água bruta citado anteriormente. Uma alternativa ao processo de
sedimentação, para separar os flocos formados pela coagulação e floculação, é a
flotação.
Tratamento biológico essa tecnologia foi estudada para o tratamento de esgotos,
geralmente são os mais eficientes para tratar efluentes com material orgânico
biodegradável (Martin e Johnson, 1987), e consiste no contato entre o efluente e uma
cultura adequada de microorganismo (aeróbicos ou anaeróbicos) que degradam os
compostos orgânicos. Um fator relevante é que, comumente, os processos biológicos
não alteram ou destroem compostos inorgânicos.
Adsorção em carvão ativado é qualquer forma de carvão amorfo que tenha sido
tratado para produzir um material com elevada capacidade de adsorção. Carvão
mineral, madeira, casca de coco, resíduos da produção do papel e resíduos a base de
petróleo são as importantes matérias-primas do carvão ativado (Kiang e Metry, 1982).
Processo por separação por membranas é o mesmo procedimento do tratamento de
água bruta citado anteriormente.
Troca iônica é a mesma técnica usada para tratamento da água, apresentando
algumas particularidades quando trata-se de efluentes e apresenta as seguintes
50
vantagens: geração de efluentes de qualidade superior em relação a outros processos; a
constante retirada seletiva das espécies indesejáveis; processo e equipamento
amplamente testado; facilidade de aquisição de sistemas automáticos e manuais no
mercado; e a possibilidade de uso para tratamento de grandes e pequenos volumes de
efluentes.
Processo de separação térmica são utilizados para esse processo a evaporação e
destilação.
Stripping ou extração esse processo pode ser realizado com ar ou com vapor, e
consiste em transferir os contaminantes voláteis de uma fase líquida para uma fase
gasosa por meio de dispositivos adequados: mara de aeração, sistemas de aspersão e
colunas de recheio, sendo este último o mais eficiente (Kiang e Metry, 1982 e
Kawamura, 1991).
2.1.3.5 - Programa para otimização do uso e reúso da água na indústria
Segundo o CIRRA (Centro Internacional de Referência em Reúso de água) um
programa de otimização do uso de água é composto por um conjunto de ões específicas de
racionalização do uso da água na unidade industrial, que devem ser detalhadas primeiramente
com uma avaliação de demanda e oferta de água, em função dos usuários e atividades no
processo produtivo, com base na viabilidade técnica e econômica de implantação das mesmas.
A implantação de programas de otimização da água pelo setor industrial, converte-se
em resultados econômicos positivos que permitem aumentar a eficiência produtiva, tendo
como conseqüência direta a redução do consumo de água, a redução do volume de efluentes
gerados e, como conseqüências indiretas, a redução do consumo de energia, de produtos
químicos, a otimização de processos e a redução de despesas com manutenção. Na maior parte
dos casos, os períodos de retorno envolvidos são bastante atrativos.
Ações desta natureza têm reflexos diretos e potenciais na imagem das empresas,
demonstrando a crescente conscientização do setor com relação à preservação ambiental e
responsabilidade social, bem como sobre o aumento da competitividade empresarial, em
função dos seguintes fatores:
Aumento do valor agregado dos produtos.
51
Redução dos custos relativos aos sistemas de captação, abastecimento, tratamento,
operação e distribuição de água, o mesmo valendo para os efluentes gerados;
refletindo de forma direta nos custos de produção e reduzindo custos relativos à
cobrança pelo uso da água;
Redução de custos de manutenção corretiva, uma vez que a implantação de um
sistema de gestão da água implica no estabelecimento de rotinas de manutenção
preventiva;
A otimização de água pode ser entendida como as práticas, cnicas e tecnologias que
melhorem a eficiência do uso da água, podendo ainda ser definida como qualquer ação que:
Reduz a quantidade de água extraída das fontes de suprimento;
Reduz o consumo de água;
Reduz o desperdício de água;
Reduz as perdas de água;
Aumenta a eficiência do uso da água;
Aumenta a reciclagem e o reúso da água;
Evita a poluição da água.
Levantados todos os dados é realizada uma primeira avaliação do uso da água na
indústria, em estudo, tendo como verificar o macro e o micro vazões da água.
Macro vazão: é realizada uma macro-avaliação da vazão de água que busca
compreender o caminhamento da água desde das fontes abastecedoras para
atendimento da demanda existente até o destino final dos efluentes gerados, sem
detalhamento dos usos internos e, em seguida, é gerado o macro fluxo de água. É
fundamental levantar a quantidade de água usada no processo produtivo, o qual muitas
vezes é subdividido conforme a variedade de produtos envolvidos ou etapas de
processamento. É importante também levantar os quantitativos envolvidos para
resfriamento/aquecimento (torres de resfriamento, condensadores e caldeiras), bem
como por atividades consumidoras de água, como lavagem de áreas externas e
internas, por exemplo.
Micro vazão: assim como na macro vazão ocorre também uma micro-avaliação do
fluxo de água são detalhados: vazão da água por setor da indústria; os processos,
equipamentos e atividades consumidores de água; balanços de entradas e saídas de
52
água por setores identificados para comparativo com o macro fluxo de água;
localização e quantificação de perdas visíveis para correção futura; pontos de
consumo (localização e especificação); cadastramento de redes externas e internas;
fluxo de afluentes e efluentes por setor da indústria; condições de operação de
equipamentos e sistemas consumidores de água; procedimentos comportamentais dos
usuários envolvidos em cada setor específico; plano de setorização do consumo de
água. A Figura 2.11 mostra o diagrama de blocos para indicação dos fluxos de água e
efluentes em uma unidade industrial.
Fonte: XXIV ENEGEP, 2004.
Figura 2.11 – Fluxograma de água e efluentes de abatedouros industriais
2.1.3.6 - Reúso de efluentes
Segundo CIRRA / FCTH para estudar um programa do reúso de efluentes na indústria
existem duas alternativas a serem analisadas, a saber: a primeira faz alusão ao reúso macro
externo, definido como o reúso de efluentes provenientes de estações de tratamento
Cortes
Dessosa
53
administradas por concessionárias ou outras indústrias. A segunda é o reúso macro interno,
definido como o uso interno de efluentes, tratados ou o, provenientes de atividades
realizadas na própria indústria.
A prática de reúso macro interno pode ser implementada de duas formas diferentes:
Reúso em Cascata o efluente originado em um determinado processo industrial é
diretamente utilizado em um processo subseqüente,devido ao fato das características
do efluente disponível serem compatíveis com os padrões de qualidade da água a ser
utilizada.
Reúso de efluentes tratados é o modelo de reúso com mais discussão no momento e
consiste no uso de efluentes que foram submetidos a uma técnica de tratamento. Em
função da complexidade da atividade na qual se pretende aplicar a prática de reúso é
fundamental conduzir um estudo minucioso para implantar cada uma das opções
disponíveis. Na maioria dos casos, pode ser necessário promover alterações nos
procedimentos de coleta e armazenagem de efluentes, principalmente quando o
enfoque é o reúso em cascata. Dentro da filosofia de minimização da demanda de água
e da geração de efluentes, é relevante que seja priorizado o reúso em cascata, pois ao
mesmo tempo em que o consumo de água é minimizado o volume de efluente a ser
tratado é reduzido. Cabe observar que, à medida que o uso de água e a geração de
efluentes são minimizados, obtém um alto índice de concentração de contaminantes no
efluente remanescente, uma vez que a carga de contaminantes não se altera. Isto
implica no fato da opção pelo reúso de efluentes tratados poder ser avaliada após
análise e implantação de todos os recursos para a eficientização do uso da água e
minimização de efluentes por meio do reúso em cascata. O aumento da concentração
de contaminantes específicos é uma condição que restringe o potencial de reúso e caso
não consideração devidamente, poderá comprometer o desenvolvimento das atividades
nos processos fabris nas quais a água de reúso será aplicada.
Em geral a indução de qualquer técnica de reúso de água ou efluentes tem que levar
em conta as restrições técnicas, operacionais e econômicas. Portanto, a prática do reúso de
efluentes tratados na indústria deve ser investigada criteriosamente, pois pode ser pouco eficaz
para reduzir o consumo de água e de impactos negativos. O reúso de efluentes pode até
contribuir com o aumento da degradação dos recursos hídricos.
54
2.1.4 – Os resíduos gerados no abatedouro avícola
O desenvolvimento econômico é objetivo para qualquer economia no mundo (Banco
Mundial, 1992). Este objetivo, historicamente, não foi um processo simples e de fácil
obtenção. Ele é resultado de uma série de fatores, interações e mudanças nas estruturas
produtivas, tecnológicas e sociais de uma economia (Kuznets, 1974).
O crescimento da atividade avícola no Brasil teve início com a criação das integrações,
passando pela conquista do mercado internacional, a adoção de tecnologias de abate e corte
para atender a demanda interna e externa, até chegar aos dias atuais, obtendo produto
totalmente industrializado, cuja qualidade equivale à dos concorrentes do exterior.
Por outro lado, o crescimento da atividade gerou outro importante fato, que diz
respeito à sociedade como um todo. A realidade é que o nível dos impactos negativos no meio
ambiente é ampliado com o aumento do volume de dejetos eliminados nas granjas (esterco) e
por ocasião do abate e industrialização (efluentes líquidos, sceras, penas, sangue e
gorduras). Este fato tem repercussões na qualidade de vida da população e, portanto, requer
atenção e tratamento adequados. Para que a indústria avícola cresça e se desenvolva sob as
condições de restrições legais atualmente existentes, são essenciais as práticas adequadas de
manejo dos resíduos.
No que se refere ao abate e industrialização do frango, por sua vez, geram subprodutos
que podem se constituir em poluentes ambientais potenciais, se forem incorretamente
processados ou obtiverem destinos inadequados. Do processo de abate de frangos resulta uma
quantidade de água (22m³/1000 aves) utilizada com restos alimentares, conteúdo intestinal
acidentalmente exposto, sangue, gordura, vísceras não comestíveis, penas, carcaças e partes de
carcaças descartadas na inspeção sanitária, bactérias, além de inúmeros outros possíveis
contaminantes. Deste processo, conseqüentemente seu destino final será algum curso d'água,
que correrá o risco de ser contaminado, deflagrando geração de odores e contribuição para a
proliferação de doenças. É de fundamental importância que este material seja destinado
previamente a dispositivos de tratamento como, dentre outros, as lagoas de decantação e
fermentação anaeróbica, pois mesmo após a separação dos sólidos a água ainda conterá
grande massa contaminadora (AVIMIG, 2003).
55
A evolução na geração da carga orgânica gerada com o abate de frangos de corte está
representada na Figura 2.12 e o seu equivalente populacional está apresentado na Figura 2.13.
Figura 2.12 Evolução da carga orgânica oriunda de abate de frangos nos últimos 20
anos.
Equivalência populacional da carga orgânica do abate de aves
em 20 anos (DBO 19,71 kg/hab/ano)
0
1.000.000
2.000.000
3.000.000
4.000.000
5.000.000
6.000.000
7.000.000
8.000.000
9.000.000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Ano (1986-2005)
Nº de Pessoas
Fonte: Estimado a partir de ABEF/UBA 2006
Figura 2.13 Equivalência populacional da carga orgânica oriunda de abate de frangos nos
últimos 20 anos.
Evolução da carga orgânica oriunda de abate de frango de corte em
20 anos (DBO = 2,600kg/m3)
0
20.000
40.000
60.000
80.000
100.000
120.000
140.000
160.000
180.000
1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20
Ano (1986 a 2005)
Carga orgânica (em 1.000 m3 de efluentes)
Carga orgânica
Ano
56
O processamento da carne de frango, em abatedouros avícolas que optarem pelo corte
e desossa, segue o seguinte processo produtivo conforme memorial descritivo admitido pela
vigilância sanitária (SIF, 2003).
1- Recepção de Aves Vivas: as aves chegam ao frigorífico em caminhões, dentro de gaiolas.
1.1 Área com plataformas de desembarque com aspersão e ventilação, dotado de lavador
automático para caixas transportadoras.
1.2 Paredes: devem ser revestidas em azulejos até o teto.
1.3 Piso: alta densidade, não poroso, resistente a impactos denominado Korodur polido.
2- Atordoamento ou Insensibilização:
A ave é dependurada pelos pés e a cabeça passa em recipiente com a água em contato com
corrente elétrica, com voltagem em torno de 60-90 volts, com 2 a 3 segundos de exposição.
3- Sangria é feita manual através da incisão dos vasos do pescoço (carótidas e jugular) com
faca adequada à finalidade, sendo o sangue coletado em calha própria e depois bombeado para
graxaria para fabricação de farinha. O tempo mínimo de sangria é de 3 minutos até o tanque
de escaldagem.
4- Escaldagem: a escaldadeira mecânica alimentada por vapor saturado em injeção direta, em
aço inoxidável, com temperatura da água em torno de 65ºC. As aves ainda penduradas pelos
pés, seguem imediatamente para à depenagem. As paredes da sala de escaldagem e
depenagem são revestidas de azulejos de cor clara e o piso é o tipo Korodur.
5- Depenagem: é realizada em depenadeira mecânica, tipo dedos de borracha de alta rotação,
sendo as penas coletada em calha específica e transportadas para a graxaria, usando-se água e
a gravidade como meio de transporte.
5.1 Após a depenagem é feito a inversão das aves, sendo estas dependuradas pela cabeça
(nória 2) para escaldagem e depilação das cutículas dos pés em tanque especifico com
temperatura variando entre 80 e 90ºC. Após esta operação as aves passam por uma limpeza
com o objetivo da remoção dos resíduos e também da contaminação adquiridas nas
escaldadeiras.
6- Evisceração e Inspeção: ao efetuar o corte da pele do pescoço, as aves penduradas até então
em um só ponto na nória, pelo pescoço, passa para três pontos de fixação, os pés são
pendurados na nória para a extração da cloaca;
57
6.1 O corte e extensão da cloaca é praticado através do uso de pistolas pneumáticas, que
depois de extraída, o operário é orientado a acionar a pistola com o jato de água para expeli-la
e higienizar o equipamento.
6.2 As aves, após a extração da cloaca, ainda permanecem dependuradas por três pontos de
fixação na nória para a execução do corte abdominal que é realizado horizontalmente (de uma
ponta a outra do esterno).
6.3 Após o corte abdominal é feita a eventração (exposição das vísceras), ficando as mesmas
expostas à Inspeção Sanitária.
6.4 Após a eventração, um funcionário do SIF (Serviço de Inspeção Federal), faz a Inspeção
das vísceras de todas as aves, em seguida, um outro funcionário do SIF, realiza o exame visual
e palpação externa e interna das carcaças, e por último, outro funcionário, também do SIF,
realiza a retirada das contusões e fraturas existentes.
7- Completada a operação de sangria, depenagem, evisceração e inspeção, é feita a extração
dos pulmões, através de pistola com sucção pneumática, e também é efetuado o corte da
cabeça e pescoço com equipamento específico.
As aves antes de entrarem no sistema de pré-resfriamento, passam novamente através de
chuveiros de aspersão para retirar qualquer sujidade que possua a carcaça. Com o término
desta operação, as aves têm os pés cortados através de serra específica e são desenganchados
automaticamente, caindo diretamente no sistema de pré-resfriamento (pré-chiller). Nesse
primeiro estágio (reidratação), a temperatura da água não deve ultrapassar 16ºC e a cloração
da água fica entre 2 a 5 ppm. No segundo estágio (chiller), ou resfriamento propriamente dito,
a água não deve ultrapassar 4ºC e a cloração também fica entre 2 a 5 ppm.
8- As vísceras comestíveis (fígado, moela e coração) antes de seguirem para o chiller de
miúdos, passam por uma lavagem prévia e seguem para o pré-resfriamento propriamente
dito, em tanque de material inoxidável, com rosca sem fim, água gelada e gelo em escama,
devendo a concentração de cloro desta água ficar entre 1.5 e 2 ppm. A renovação da água é
contínua.
9- Após a saída das aves do chiller, as mesmas são penduradas pelas coxas para o
escorrimento d’água aderida as carcaças, decorrente da operação de pré-resfriamento, não
podendo a absorção de água no final desta fase ultrapassar 8% do seu peso.
58
10- Realizando o gotejamento, é feito a embalagem das aves que não apresentarem mutilações
e estejam liberadas pelo SIF para comercialização das carcaças inteiras.
11- As aves que apresentarem mutilações, seguem para a sala de cortes que é climatizada com
temperatura não superior a 15ºC.
11.1 A sala de cortes dispõe de equipamentos que proporcionam fluxo contínuo, sem
acúmulo, com material inoxidável e de superfície lisa para facilitar a higienização. As paredes
são revestidas de azulejos de cor clara e o piso é do tipo Korodur. A iluminação é do tipo luz
fria, possuindo também uma boa iluminação natural.
12- Ante Câmaras: são utilizadas exclusivamente como área de circulação de produtos
acabados, com paredes revestidas de isopainel e piso do tipo Korodur. A iluminação é do tipo
luz fria.
13- Câmaras de Resfriamento: nesta seção a temperatura fica em torno de 0ºC e a umidade
relativa do ar fica entre 90 a 95%. As paredes e o teto o revestidos de isolamento e o painel
e o piso é do tipo Korodur. Declive das câmaras saindo para as áreas de circulação.
14- Túnel de Congelamento: funcionam 4 (quatro) neis de congelamento, com temperatura
variando entre 25 e 40ºC, com paredes e teto revestidos de isopainel em piso tipo Korodur.
15- Câmaras de Estocagem: a estocagem das aves é feita em câmaras próprias, com paredes e
teto revestidos de isopainel e piso tipo Korodur.
15.1 A temperatura não deverá ser superior a -18ºC. A estocagem será sobre estrados
específicos.
16- Expedição: área destinada exclusivamente à circulação de produtos acabados, das câmaras
frigoríficas para o núcleo transportador.
17- Lavagem e Desinfecção de Caixas Plásticas: É feita com água quente e vapor em máquina
específica.
18- Depósito de Gelo: o gelo utilizado no pré-resfriamento das carcaças e miúdos produzidos
no próprio estabelecimento em equipamento específico e com água dentro dos padrões de
potabilidade.
18.1 A capacidade de estocagem é em torno de 220m³ (duzentos e vinte metros cúbicos). O
gelo é transportado para o pré-chiller e através de caracol com rosca sem fim.
19- Almoxarifado: local usado para estocagem de produtos acabados.
20- Sala de Máquinas, Oficina de Manutenção e Caldeira.
59
21- Graxaria: os resíduos serão conduzidos até a graxaria por gravidade em calhas específicas,
sendo uma para pena e água, e outra para vísceras e água.
21.1 O sangue é recalcado mecanicamente do tanque coletor ligado ao túnel de sangria para a
graxaria.
21.2 A separação da água das penas é feita através de peneira estática. Os resíduos sólidos
seguem para o digestor e os resíduos líquidos seguem para as lagoas de tratamento.
21.3 A hidrólise das penas é feita sob pressão no aparelho disgestor com eixo vaporizado e daí
as penas tostadas seguem para moagem em moinho de martelos com peneiras, produzindo
farinha de penas hidrolisadas.
22- Vestiários/Sanitários: construídos em prédio separado do Abatedouro, paredes de
alvenaria revestidas de cor clara, piso tipo Korodur, peças sanitárias em louça de cor clara e
esquadria dos boxes em alumínio. O dimensionamento destas instalações é proporcional ao
número de funcionários e independente para cada sexo.
22.1 Os vestiários são providos dos acessórios necessários, obedecendo a normas específicas.
23- Lavagem e Desinfecção de Veículos: É composta de um dique de alvenaria equipado com
sistema de bomba adequada para lavagem de veículos e, localizado em área separada e
distante das demais instalações.
24- Tratamento de água de abastecimento: a água consumida em todo o estabelecimento é
tratada um uma unidade com capacidade de clarear e clorar 800m³ dia, com segurança de sua
inocuidade microbiológica.
25- Tratamento de Águas Residuais: o tratamento das águas residuais é feito através de
processo biológico utilizando lagoas de estabilização.
25.1 Os resíduos provenientes das fases de industrialização são encaminhados até uma caixa
equipada com dois conjuntos de peneira estática, onde serão separados os resíduos sólidos dos
líquidos. A parte sólida é encaminhada para graxaria e a parte líquida a uma caixa de gordura.
25.2 Após retirar a gordura, os resíduos líquidos são canalizados para um decantador primário,
onde se efetuará a sedimentação do lodo e a redução da carga orgânica do líquido em
tratamento.
25.3 O lodo proveniente do decantador é encaminhado a um leito de secagem e a parte líquida
fluirá para o sistema de lagoas.
60
25.4 Após a secagem do lodo ou mesmo pastoso o mesmo é utilizado como adubação nas
fazendas da Empresa e a parte líquida após a degradação da carga orgânica aproveitada para
irrigação em um terreno anexo à área do Abatedouro.
O fluxograma do processamento de carne de frango apresenta que vários
subprodutos que são considerados como resíduos e que na maioria dos casos são usados para a
fabricação de farinha. Mas, parte destes resíduos é aproveitada para o desenvolvimento de um
produto novo para alimentação humana ou como ingrediente alternativo para produtos já
existentes. Para isso, é preciso conhecer melhor as propriedades bioquímicas e alimentares
destes resíduos (AGROPECUÁRIA, 2005).
Atualmente considera-se um consumo médio de 22 metros cúbicos de água potável
para cada 1000 frangos abatidos. No processo de escaldagem existe um gasto de 1 litro de
água potável por frango abatido. E, em termos médios a água de escaldagem apresenta as
seguintes características: demanda bioquímica de oxigênio correspondente a 1182 mg/litro,
sólidos suspensos ao nível de 682 mg/litro e conteúdo dio de graxas de 350 mg/litro. No
processo de depenamento das aves são necessários em torno de 10 litros de água por frango
abatido dos quais metade pode corresponder à água reciclada. Na média o efluente gerado
nessa etapa do abatedouro apresenta uma DBO de 600 mg/litro. Na evisceração são gastos em
média 24 litros por ave dos quais metade deve ser água potável. A DBO do efluente é de 230
mg/litro ou 5,55 kg por mil aves abatidas. No processo de resfriamento das carcaças é
necessário um aporte de 2 litros de água potável por frango e nessa etapa o efluente gerado
apresenta em torno de 442 mg/litro ou 3,36 kg por 1000 aves abatidas. O tratamento adequado
dos efluentes finais dos abatedouros de aves que apresentam em média entre 450 e 600 mg de
DBO/litro e entre 300 a 400 mg de sólidos solúveis por litro corresponde às etapas do pré-
tratamento (geralmente separação mecânica), lagoas anaeróbicas (tratamento primário e
secundário), facultativas (tratamento secundário) e de estabilização (tratamento terciário). O
uso de aeradores e de filtros biológicos pode complementar o leque de opções.
2.2 - PRÁTICAS GERENCIAIS EFICIENTES NA BUSCA DA SUSTENTABILIDADE
Vários são os casos que vem ocorrendo em relação a problema ambiental que tem
despertado a percepção ambiental da sociedade, governantes e empresários. A evolução na
percepção crítica do conceito meio ambiente pelas pessoas tem se acelerada e dessa forma o
61
termo desenvolvimento sustentável é inserido no dia a dia das mesmas, sejam elas
participantes do primeiro setor, segundo setor e terceiro setor. Dessa forma os passivos
ambientais, ou seja ações de mitigação dos danos ambientais provocados durante os processos
produtivos, passaram a preocupar empresários e governos principalmente, fazendo parte do
seu cotidiano.
Segundo Ribeiro & Lisboa, (2000) para o desenvolvimento econômico e o meio ambiente
trabalharem compativelmente tem que ocorrer sacrifícios imediatos dos resultados
econômicos para serem revertidos em preservação, recuperação e proteção dos ecossistemas.
Portanto, rios são os motivos para que as organizações incrementem um sistema de
gerenciamento ambiental, com: definição e exigências de clientes, interesse em conquistar ou
ampliar mercados, interesse em demonstrar bons resultados ambientais para a população,
clientes, vizinhos, fornecedores, governantes e demais interessados (ASSUMPÇÃO, 2005).
2.2.1 – Os modelos para alcançar a sustentabilidade ambiental
2.2.1.1 - A série de normas ISO 14000
Com sede em Genebra, Suíça, a Organização Internacional para Padronizações, ISO
(International Organization for Standardization) foi fundada em 1946, sendo uma organização
não governamental congregando mais de cem paises, entre eles, o Brasil. A ISO tem criado
normas internacionais consensuais e voluntárias para modelos de fabricação, comunicação e
sistema de gerenciamento. Tem como missão a promoção do comércio internacional através
da harmonização de suas normas. A série ISO 14.000 foi desenvolvida pelo Comitê Técnico
207 da Organização Internacional de Normatização - ISO (ASSUMPÇÃO, 2005).
A ISO 14.000 é uma norma de processo e não de desempenho, cuja certificação será
voluntária e tratará exatamente de aspectos relativos à proteção ambiental, junto às atividades
produtivas. A ISO-14.000 está sendo redigida para ser aplicada a todos os tipos de tamanhos
de organizações, procurando dar um tratamento único para condições diferentes, quer sejam
elas sociais, culturais, políticas ou geográficas. Os aspectos ambientais que estão sendo
incluídos na série ISO-14.000 abrangem emissões líquidas e gasosas; lixos de diversas
espécies e procedências; combustíveis; energia; liberação de energias térmicas e vibratórias e
até impactos visuais (PORTUGAL, 1995).
62
A norma ISO 14.001 foi desenvolvida para que os Sistemas de Gestão, por ela
elaborados, sejam estruturados e integrados às demais atividades da organização e que devam
ser regularmente avaliados através de Auditorias ambientais. A NBR ISO 14.001 tem no seu
objetivo definir um Sistema de Gestão Ambiental como um conjunto de procedimentos,
atividades, estruturas organizacionais e controles usados por uma organização de maneira a
ajudar no gerenciamento e controle das atividades, produtos e serviços que venham agir junto
ao meio ambiente (ASSUMPÇÃO, 2005).
2.2.1.2 - A Produção Mais Limpa
Os lixos oriundos das produções que as empresas geram e o gasto associado para tratar
e armazenar requer aporte de recursos financeiros desde o início até o final de cada processo
produtivo. A partir dessa premissa, fundamenta-se o princípio básico da Produção Mais
Limpa: reduzir ou eliminar a poluição durante o processo de produção, não no seu final.
Os sistemas de produção industrial exigem recursos como matérias-primas para
fabricar os produtos; energia, usada para transportar e processar as matérias-primas; assim
como água e ar. Os sistemas de produção atuais são lineares ou credie-to-grave e com
freqüência usam substâncias danosas e recursos finitos em vastas quantidades e ritmo
acelerado (GREENPEACE, 2003).
A Produção Limpa tem por objetivo atender nossa demanda por produtos de maneira
sustentável, ou seja, ser economicamente viável, socialmente justo e ecologicamente correto.
Os sistemas de Produção Limpa são circulares e usam menor número de matérias-primas,
otimização dos recursos hídricos e energia. Os recursos percorrem todo o processo produtivo e
com o consumo em ritmo mais lento. Primeiramente, os princípios da Produção Limpa
realizam uma diligência da necessidade real do produto ou investigam outras formas pelas
quais essa necessidade poderia ser satisfeita ou minimizada. A produção Limpa tem uma visão
holística e integrada para problemas ambientais centradas no produto. Essa visão tem como
pressuposto que a maior parte das questões ambientais com: efeito estufa, poluição tóxica,
perda da biodiversidade, entre outros, é provocado pela demanda e oferta da produção de
bens. Também considera a necessidade da participação popular de decisões políticas e
econômicas (GREENPEACE, 2003).
63
2.2.1.3 - A Emissão Zero
A Emissão Zero apareceu a partir da necessidade dos princípios do desenvolvimento
sustentável saírem do discurso para a prática, por meio de ões concretas, integradas ao meio
ambiente e a sociedade. Para tanto, propõe uma mudança no padrão da atividade econômica,
em particular no ramo industrial. Sua proposta, considerada visionária e inovadora, prega a
eliminação do conceito de “rejeito”, pelo total aproveitamento dos recursos materiais
utilizados pela indústria. Conforme a Qualidade Total perseguia o “zero defeito” e a
tecnologia de produção Just in Time (justo a tempo) perseguia o “estoque zero”, o ZERI
persegue o "zero rejeito", ou seja, o total reaproveitamento de resíduos lidos, líquidos e
gasosos (KRAEMER, 2002).
Portanto a Emissão Zero vislumbra todos os insumos industriais sendo aproveitados
nos produtos finais ou convertidos em insumos de valor agregado para outras indústrias ou
processos. Desta maneira os processos produtivos irão se organizar espacialmente em
conjuntos, de modo que os resíduos de cada processo sejam completamente correspondidos
pelos insumos de outros processos, e o todo integrado não produz resíduos de nenhum tipo.
2.2.1.4 - Ecoeficiência
A ecoeficiência é alcançada mediante o fornecimento de bens e serviços a preços
competitivos que satisfaçam as necessidades humanas e tragam qualidade de vida, ao mesmo
tempo em que reduz progressivamente o impacto ambiental e o consumo de recursos ao longo
do ciclo de vida, a um nível, no mínimo, equivalente à capacidade de sustentação estimada da
Terra (WBCSD, 1992).
De acordo com Almeida (2002) a ecoeficiência é uma filosofia de gestão empresarial
que incorpora a gestão ambiental, pois relaciona a competitividade empresarial ao
desenvolvimento sustentável. Nesse sentido, pretende encorajar empresas de qualquer setor,
porte e localização geográfica a se tornarem mais competitivas, inovadoras e ambientalmente
responsáveis, pela combinação entre desempenho econômico e ambiental, o que induz a
criação de valor à luz de um menor impacto ambiental.
O estudo da ecoeficiência tem o objetivo de alavancar o desenvolvimento sustentável,
para isso fundamentou-se em seus três pilares: o econômico, o ambiental e o social.
64
Ao contrário da década de 80, onde as empresas se limitavam a cumprirem as Leis
Ambientais (mesmo existindo algumas que ainda trabalham assim), a grande maioria das
empresas no Brasil vem investindo na ecoeficiência não como forma de melhorar sua
imagem perante a opinião pública, mas principalmente como resultado de todo um trabalho
sistêmico e racional de auto-conscientização.
2.2.1.5 - A Responsabilidade Social Corporativa
A prática da responsabilidade social se caracteriza pela permanente preocupação com a
qualidade ética das relações da empresa com seus colaboradores, clientes e fornecedores, com
a comunidade, com o poder público e com o meio ambiente. Seu objetivo maior é o de
assegurar aos cidadãos os direitos mais elementares da modernidade: educação, saúde,
habitação, cultura, lazer e segurança, em suma, um bem-estar social construído a partir de
ações e investimentos através de parcerias entre sociedade-sociedade e sociedade-Estado
(KRAEMER, 2002).
A discussão sobre a responsabilidade social das empresas ganha relevância sobretudo a
partir dos anos 80, quando a sociedade começa a questionar os efeitos da globalização. Com a
expansão das multinacionais e o acirramento da competição no mercado, as empresas iniciam
processos de reestruturação. Investem pesadamente em tecnologia, não apenas para melhorar a
qualidade de produtos e serviços, mas para diminuir custos com mão-de-obra, aumentar a
produção e os lucros, e, assim, garantir uma posição de destaque no mercado. Nesse processo,
muitas corporações deixaram em segundo plano a preocupação com o meio ambiente, com os
trabalhadores e até mesmo com a segurança dos consumidores. Aumento do desemprego, da
desigualdade e rebaixamento de salários ocorreram em praticamente todos os lugares. Nas
duas últimas décadas, os efeitos negativos da globalização tornam-se cada vez mais evidentes.
O tema é amplamente pesquisado e discutido em todo o mundo, o que contribuiu para que a
sociedade entendesse melhor o processo em curso e as causas do aumento das desigualdades
sociais. O comportamento das empresas é colocado em xeque, e a sociedade começa a reagir.
Por iniciativa da sociedade civil, começa a tomar vulto um movimento internacional que alerta
para a necessidade de se criar mecanismos de abertura e controle social sobre os grandes
conglomerados multinacionais e organismos internacionais, como a Organização Mundial do
Comércio (OMC), o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial. O controle
65
social coloca-se como uma alternativa para defender direitos trabalhistas, sociais e ambientais,
tendo em vista que os países passam a ter cada vez menos condições para impor limites às
empresas. Nesse cenário, muitas empresas percebem que sua imagem e, conseqüentemente,
suas vendas podem ser seriamente abaladas diante de consumidores mais esclarecidos e
exigentes. E é nesse contexto de aumento da exigência dos consumidores, diminuição da
regulação estatal e crescimento da competição entre as empresas que nasce a bandeira da
responsabilidade social e o objetivo, por parte das corporações, de adequar suas ações às
novas exigências da opinião pública, ou seja, de seu mercado consumidor. Portanto, a
responsabilidade social empresarial surge também como uma necessidade de oferecer uma
resposta à sociedade (IDEC, 2004).
2.2.1.6 - O Balanço Social
Nos anos 60, nos EUA e na Europa, o repúdio da população à guerra do Vietnã deu
início a um movimento de boicote à aquisição de produtos e ações de algumas empresas
ligadas ao conflito. A sociedade exigia uma nova postura ética e diversas empresas passaram a
prestar contas de suas ações e objetivos sociais. A elaboração e divulgação anual de relatórios
com informações de caráter social resultaram no que hoje se chama de balanço social. No
Brasil a idéia começou a ser discutida na década de 70. Contudo, apenas nos anos 80 surgiram
os primeiros balanços sociais de empresas. A partir da década de 90 corporações de diferentes
setores passaram a publicar balanço social anualmente (IBASE, 2005).
O Balanço Social é utilizado para demonstrar o nível de responsabilidade social das
empresas, ou seja, demonstrar sua interação com os elementos que a cercam ou que
contribuem para a sua existência, no intuito de avaliar seus resultados e direcionar os recursos
para o futuro. O mesmo deve explicitar as iniciativas de caráter social, resultados atingidos e
investimentos realizados (KRAEMER, 2002).
2.2.1.7 - A Agenda 21
Realizou-se, na cidade do Rio de Janeiro, no ano de 1992, a Conferência das Nações
Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento (CNUMAD), também conhecida por Eco-92
e Rio-92, objetivando verificar as mudanças ocorridas em prol do meio ambiente desde a
66
Conferência de Estocolmo, realizada a exatos 30 anos antes, em 1972, como também
promover o comprometimento ambiental mundial para o futuro do planeta.
Da Eco-92 resultaram, basicamente, cinco relatórios: a Agenda 21, a Declaração do
Rio, a Declaração dos Princípios sobre o uso das Florestas, o Convênio sobre a Diversidade
Biológica e a Convenção sobre Mudanças Climáticas. Porém, para que os mesmos sejam bem
sucedidos, é de extrema importância a necessidade de engajamento e responsabilidade dos
governos. "Agenda 21" é um programa de ação para viabilizar a adoção do desenvolvimento
sustentável e ambientalmente racional em todos os países. Nesse sentido, o documento da
Agenda constitui, fundamentalmente, um roteiro para a implementação de um novo modelo de
desenvolvimento que se quer sustentável quanto ao manejo dos recursos naturais e
preservação da biodiversidade, equânime e justo tanto nas relações econômicas entre os países
como na distribuição da riqueza nacional entre os diferentes segmentos sociais,
economicamente eficiente e politicamente participativo e democrático. No Brasil, as
instituições não-governamentais e os governos locais têm se mostrado muito mais
sensibilizados e ativos do que o governo federal na elaboração da Agenda 21 e na
incorporação dos princípios da sustentabilidade às políticas públicas, programas, projetos e até
mesmo aos padrões de consumo e comportamento (NOVAES, 2005).
2.2.2 - Métodos de gestão para o apóio nas ações estratégicas das empresas
A mudança estrutural imposta às organizações, advinda da exigência mercadológica de
alta segmentação, onde características como inovação, rapidez e qualidade são essenciais, e do
novo panorama operacional adotado, levou então as mesmas a repensarem e adequarem suas
estratégias a este novo cenário. Então, para melhor conduzir as decisões estratégicas,
relegaram o sistema contábil a um segundo plano, passando a utilizar sistemas mais
adequados ao gerenciamento dos custos empresariais. Mais adiante, entre as décadas de 80 e
90, a implantação de sistemas de melhoria da qualidade e produtividade (melhor capacitação
dos ativos tangíveis) tornou-se um lugar comum, deixando de ser uma vantagem competitiva.
Por conseguinte, dá-se início a corrida das empresas no sentido de melhor estruturar,
aproveitar e valorizar seus ativos intangíveis, a fim de atingir melhores níveis de excelência na
gestão de seus negócios, e atingir um maior valor econômico de suas ações, principalmente
para aquelas atuantes na área da informática. Atualmente vislumbra-se um movimento das
67
organizações em utilizarem instrumentos de análise estratégica e de desempenho, baseados em
perspectivas multidimensionais. No mesmo sentido Kaplan & Norton (2001, pg.12)
constataram o que segue.
Na economia industrial, as empresas criavam valor a partir de ativos tangíveis, mediante
a transformação de matérias-primas em produtos acabados. Um estudo do Brookings
Institute, de 1982, mostrou que o valor contábil dos ativos tangíveis representava 62% do
valor do mercado das organizações industriais. Dez anos mais tarde, o índice caiu para
38%. E estudos recentes estimaram que, em fins do século XX, o valor contábil dos ativos
tangíveis correspondiam a apenas 10 a 15% do valor do mercado das empresas. Sem
dúvida, as oportunidades para a criação de valor estão migrando da gestão de ativos
tangíveis para a gestão de estratégias baseadas no conhecimento, que exploram os
ativos intangíveis da organização: relacionamentos com clientes, produtos e serviços
inovadores, tecnologia da informação e banco de dados, além de capacidades,
habilidades e motivação dos empregados.
2.2.2.1 – Custo Padrão
O método do Custo Padrão foi originalmente concebido nos Estados Unidos, no final
do século XIX, e amplamente utilizado a partir da década de 20 pelas grandes empresas
americanas. Atua basicamente no controle e acompanhamento da produção e, em segundo
plano, na medição dos custos. Na sua essência é um instrumento de apoio gerencial
.
2.2.2.2 - Centros de Custos (CC)
O método dos Centros de Custos foi concebido na Alemanha, no período da Segunda
Guerra mundial, sendo bastante utilizado e difundido, principalmente no Brasil. Sua
sistemática representa perfeitamente os procedimentos da contabilidade de custos tradicional.
Considerando o custo do produto como a somatória da matéria-prima, mão-de-obra direta e
custos indiretos de fabricação, este método é utilizado somente na alocação dos dois últimos
aos produtos. Assim, para fins de cálculo, a matéria-prima permanece sendo custeada pelo
método do custo Padrão.
2.2.2.3 - Unidades de esforço de produção (UEPs)
O método das Unidades de Esforço de Produção (UEP) foi concebido originalmente na
França, no final da segunda guerra mundial, e trazido para o Brasil no início da década de 60,
68
pelo engenheiro Franz Allora. Seu objetivo principal era a alocação precisa dos custos do
chão-de-fábrica aos produtos.
2.2.2.4 - Custeio Baseado em Atividades
O método do Custeio Baseado em Atividades (ABC) foi desenvolvido nos Estados
Unidos, na segunda metade da década de 80, por Robert Kaplan e Robin Cooper, autores do
livro “Custo e desempenho: administre seus custos para ser mais competitivo”. Objetiva
principalmente aprimorar a alocação dos custos indiretos fixos (overheads) aos produtos,
principalmente custos administrativos.
Simplificadamente, sua utilização se justifica por, num curto espaço de tempo, a
empresa necessitar de determinadas atividades consideradas fixas, que não variam segundo a
quantidade produzida, ou seja, independem do volume produzido. Robles Júnior (1994, p.23)
define atividade como sendo:
Na prática, consideram-se como atividades as demandas de trabalho
queconsomem recursos, bem como o próprio consumo de recurso, mesmo
que em determinado momento não haja aparentemente uma demanda de
trabalho. Como recursos consumidos, há: salários e benecios, suprimentos,
espaço, depreciação, hardware e software, energia; enfim todos os insumos
econômicos aplicados ou utilizados no desempenho das atividades. Dentro
deste contexto, pode-se considerar como consumo de recursos a própria
manutenção de estoques.
O ABC tem em seu foco apropriar e melhorar os custos dos produtos, para isso esse
sistema de custeio se diferencia dos demais por particularizar, principalmente, os custos
indiretos. Têm o objetivo de mitigar os impactos de alocações inadequadas, através do
custeamento das atividades exigidas pelos produtos ou demais atividades operacionais.
Portanto, ele representa o ponto culminante da análise estratégica dos custos e, em
conseqüência, contribui com relevância para o processo de planejamento estratégico da
empresa.
O sistema do custeio ABC não se prende apenas a área financeira, mas contempla
outros aspectos físicos das atividades e processos, assim, são definidos como elementos
importantes desta abordagem de custeio, conforme Zardo & Schlosser (2002):
- Função: grupo de processos desempenhados com uma finalidade específica, como a função
de marketing e vendas e, por exemplo, a de controle ambiental.
69
- Processo: conjunto de atividades encadeadas com um fim específico, como por
exemplo,uma linha de montagem de um produto ou o conjunto de procedimentos necessários
para o tratamento de uma determinada quantidade de resíduos poluentes, em um período em
particular.
- Atividades: ação empreendida e recursos consumidos para se chegar a um dado objetivo,
como estudar o processo de produção para verificar, por exemplo, o que causa a poluição.
- Tarefa: trabalho desenvolvido para a execução das atividades, como, por exemplo,
selecionar os pontos passíveis de produção de resíduos poluentes.
- Operações: operacionalização das tarefas, ou seja, a menor fração de trabalho, como visitar
pontos passíveis de produção de resíduos poluentes.
Os recursos da área de gestão ambiental, conforme Zardo & Schlosser (2002), devem
ser rigorosamente mensurados e avaliados econômico, financeira e fisicamente, de forma a
garantir um adequado balanceamento de recursos possuídos pela empresa, para assegurar a
eficácia da aplicação destes recursos e para satisfazer as exigências do público externo ou,
mais precisamente, para o cumprimento da responsabilidade social da empresa, o modelo de
custeio ABC pode ser utilizados para uma avaliação dos impactos ambientais ao longo do
processo produtivo, principalmente em atividades consumidora de recursos hídricos, como é o
caso dos abatedouros avícolas.
2.2.2.5 – Considerações sobre os métodos de gestão
Percebe-se que nas metodologias apresentadas algumas apresentam pontos comuns e
relevantes para um bom desempenho das atividades das organizações, no que se referem aos
clientes internos e externos, esses elos que pertencem à algumas dessas metodologias são:
missão, visão e estratégias da organização, o que se pode identificar com esses elos pontos
importantes para que a organização faça convergir esforços nos mesmos aliados ao seu
planejamento estratégicos. Outras dar ênfase aos processos e atividades para se adequarem aos
momentos do mercado, a fim de se tornarem mais competitivas e seus dirigentes agirem de
forma pró-ativa, ou seja, há uma preocupação com os processos internos, o que termina
refletindo nos consumidores cada vez mais exigentes, para isso existem metodologias de
desempenho que procuram nos clientes melhorar seus indicadores.
70
Segundo Hronec (1994), indicadores de desempenho (ou performance) são sinais vitais
da organização que qualificam e quantificam o modo como as atividades ou outputsde um
processo atingem suas metas.
De acordo com o Departamento de Defesa dos Estados Unidos (USA-DoD, 1997), os
indicadores de desempenho permitem conhecer: como a empresa está desenvolvendo suas
atividades críticas; se está atingindo suas metas; se os clientes estão satisfeitos; se os
processos críticos estão sob controle; e onde processos de melhoria são necessários.
Sendo assim, o objetivo de uma metodologia ou sistema de avaliação de desempenho é
estabelecer o grau de evolução ou estagnação de seus processos e da adequação ao uso de seus
bens e serviços, fornecendo informações adequadas - e no momento adequado -, para que
possam ser tomadas as ações preventivas e/ou corretivas em busca das metas e objetivos
estabelecidos pela empresa.
A Revolução Industrial, no século XIX, fez nascer gigantescas empresas em diversos
setores. As inovações desenvolvidas por estas empresas na medição do desempenho
financeiro exerceram um papel vital no crescimento bem sucedido das mesmas.
Porém, na última década do século XX, a década de 90, começaram a surgir algumas
metodologias ou sistemas de avaliação de desempenho preocupados não somente com
aspectos financeiros, mas também com outras questões como desempenho dos processos,
qualidade, satisfação dos clientes, motivação dos funcionários, entre outras.
2.2.3 - Custos ambientais
Os custos de qualidade, na realidade, buscam identificar e apontar as falhas existentes,
bem como os custos para se prevenir problemas decorrentes destas falhas.
Para Bovenberg & Goulder, apud Alves (2001), a interface entre a competitividade e a
preservação do meio ambiente dá-se por meio da gestão dos custos da qualidade ambiental.
As empresas, para se adequarem à nova postura de preservação ambiental e buscarem uma
política de qualidade ambiental na gestão da sua organização, devem se preocupar também
com os custos da relação meio ambiente e meio empresarial, destacando estes custos dos
demais.
Neste sentido, Campos (1996) diz que o meio empresarial deverá se preocupar com
dois aspectos relacionados aos seus custos da qualidade ambiental: o primeiro, e mais
71
complexo, buscar formas de considerar os custos tratados, até então, como “externalidades”,
ou seja, internalizá-los; o segundo, identificar e obter, para em seguida avaliar, os custos
ambientais, sejam tanto os relacionados aos processos empresariais quanto os relacionados aos
processos produtivos. A apuração destes custos torna-se uma ferramenta imprescindível ao
direcionamento das tomadas de decisões.
Para se ter um efetivo controle dos investimentos e gastos na área ambiental, Alves
(2001) diz que o sistema de custos da qualidade ambiental pode auxiliar, sobremaneira, a
competitividade e sobrevivência das organizações, principalmente por apontar deficiências na
gestão da qualidade ambiental, podendo contribuir para as ações de melhoria contínua no
desempenho ambiental da empresa.
2.2.4 – Planejamento estratégico
Com a crescente globalização de mercados, aumenta a competição entre as empresas e
o decorrente desafio a sua sobrevivência. Firmas que sequer haviam cogitado a exposição ao
mercado externo vêem-se, freqüentemente, ás voltas com a disputa de seus clientes locais com
experientes competidores globais. Hoje, a única certeza das organizações é a incerteza.
As conseqüências desse processo têm impacto significativo no cotidiano da gestão
empresarial e a competitividade decorrente do tratamento dispensado pelos competidores à
qualidade definida pelo mercado torna-se, como jamais o fora, o nome jogo. Essa mudança
radical em andamento significa nova e mais poderosa forma de fazer negócios. Forma
emergente de requer agilidade e recursos para competir melhor e com mais vigor frente à
selvagem concorrência global e aos fugazes momentos de oportunidade divisados. Forma que
está intimamente ligada à estratégia e, por último, ao desempenho empresarial
(BARCELLOS, 1992).
No mundo dos negócios, a estratégia considerada de importância vital no embate da
concorrência está normalmente associada à arte da guerra. Entretanto, muito antes da
estratégia, já existia a concorrência; ela surgiu com a própria vida. Com a evolução da vida, os
primeiros organismos unicelulares passaram a alimentar seres mais complexos,
desenvolvendo-se, com o passar do tempo, em intricada rede de interações competitivas. Ao
longo de milhões de anos, a concorrência natural não demandou qualquer estratégia; tratou-se,
apenas, de seleção natural e sobrevivência do mais apto.
72
A estratégia implica a capacidade de raciocínio lógico, sendo necessária a habilidade
de previsão das possíveis reações às ações empreendidas. Possivelmente, o exemplo mais
primitivo de desenvolvimento da estratégia caiba aos primeiros seres humanos grupo de
caçadores reunidos para enfrentar os grandes animais da época. Entretanto, não se constituiu
em verdadeira estratégia, porquanto a presa somente contava com seu instinto, incapaz de
raciocinar. Portanto, provavelmente a primeira estratégia verdadeira tenha sido a praticada por
grupos de caçadores na conquista da área de caça de outro grupo (Henderson, 1984).
Robert (1998) afirma que a palavra estratégia passou a significar coisas diferentes para
as pessoas diferentes e que quanto mais livros lia, mais confuso ficava. Decidiu, então,
entrevistar diversos presidentes sobre o futuro das suas empresas, deparando com um
fenômeno interessante. Todos começavam a falar sobre uma certa visão” em suas mentes a
imagem da organização no futuro definida pelo autor como o início do processo de
“raciocínio estratégico”que, para Hamel e Prahalad (1989), constituiu a intenção estratégica”.
O processo de formação, compartilhamento e sustentação dessa visão é especificamente
discutido por Quigley (1993). Essa abordagem da estratégia está intimamente ligada ao
conceito de liderança visionaria citado por Kotter (1996), bem como à iniciativa
empreendedora (Barcellos et al, 1992).
Esse novo conceito sobre planejamento estratégico trouxe as lideranças empresariais a
inserção da variável ambiental como ponto relevante aos consumidores e, até mesmo aos
acionistas, que começam a se preocuparem com a visão das empresas em relação ao meio
ambiente, o que, de certo modo, reduz a insustentabilidade que passa o planeta, devido a
grande busca pela uma boa qualidade de vida as pessoas.
Enfim, o planejamento estratégico, preocupa-se com os objetivos gerais da empresa
como um todo. O foco é a sobrevivência da empresa no longo prazo. Ele considera as
variáveis ambientais (entre as quais estão: mercado, situação econômica, situação política,
evolução do padrão de consumo e exigências dos consumidores). O objetivo do planejamento
estratégico é maximizar as oportunidades e minimizar as ameaças para a empresa, escolhendo
alternativas para o futuro. O resultado do planejamento estratégico é a definição de diretrizes,
que deverão ser detalhada e quantificadas do planejamento operacional.
73
2.2.5 - Avaliação dos impactos ambientais
As atividades produtivas são criadoras de impactos ambientais de diversas
importância, na qual estão relacionados coma a debilidade dos ecossistemas, das tecnologias e
escalas de produção, dos materiais usados, etc. As técnicas de produção mais limpa tem dentre
seus objetivos principais mitigar os impactos ambientais não almejados, oriundos de tais
processos.
2.2.5.1 - Identificação
As agroindústrias produzem impactos ambientais diretos nos locais onde são
instaladas, no caso dos abatedouros avícolas que demanda enormes quantidades de água, em
torno de vinte e sete litros por ave abatida, tem como impactos de maior importância a geração
de efluentes, pois ao longo do processo produtivo é imprescindível o uso da água para
execução das tarefas nas diversas atividades para que sejam concluídas dentro das normas de
inspeção nacional e internacional.
No Brasil existe uma relevante rede hidrográfica, porém mal distribuída em todo seu
território. O abatedouro em estudo situa-se na região Nordeste onde alguma deficiência de
descarga líquida, devido à não uniformidade de distribuição das chuvas, diferentemente de
outras regiões, como a região Norte, que produz enormes descargas líquidas.
Há um impacto ambiental, quando uma ação ou atividade produz uma alteração,
favorável ou desfavorável, no meio ou em algum dos componentes do meio.
Nesta pesquisa, serão estudados somente os impactos no meio ambiente, principalmente os
gerados pelos efluentes líquidos, pois é o mais significante do ponto de vista sócio-econômico,
portanto trataremos dos seguintes impactos ambientais:
Impacto sócio-cultural.
Impacto sobre o meio físico.
Impacto sobre o meio biológico.
2.2.5.2 - Análises
74
Identificação, valoração e interpretação dos prováveis impactos ambientais, nas fases
de planejamento, implantação, operação e desativação (se for o caso) do empreendimento,
sobre os meios físicos, biológicos e antrópico.
Este item deve ser apresentado de duas formas:
Síntese conclusiva dos impactos relevantes de cada fase do empreendimento,
acompanhada da análise de suas interações.
Descrição detalhada dos impactos sobre: meio físico; meio biológico; meio antrópico.
Deverão ser mencionados os métodos de identificação dos impactos, as técnicas utilizadas
para a previsão da magnitude e os critérios adotados para interpretação de suas interações
(MOTA, 2000).
2.2.5.3 - Métodos de avaliação
Os principais métodos de avaliação de impacto ambiental são (MOREIRA, 1995):
métodos “ad hoc”;
listagens de controle: simples, descritivas, escalares, escalares ponderadas;
matrizes de interação;
redes de interação (diagrama de sistema);
superposição de cartas;
modelos de simulação.
Cada método apresenta suas vantagens e desvantagens, não havendo um que
proporcione uma completa avaliação dos impactos ambientais de um empreendimento. Esses
métodos podem ser modificados e adaptados, de forma a adequar-se a cada tipo de projeto.
O modelo Matriz de Interação é uma boa opção para ser utilizada na agroindústria
avícola, com a contribuição do sistema de custeio ABC, que identifica as atividades e tarefas
dentro do processo, podemos levantar os impactos gerados pelas atividades, tanto em
qualidade e quantidade, e finalmente a valoração dos impactos gerados no processo.
2.2.6 - Proposição de medidas mitigadoras e programa de acompanhamento
O objetivo dos procedimentos de avaliação de impactos ambientais é identificar e
elencar os impactos ambientais oriundos das ações do projeto. Se tais impactos ambientais são
75
inaceitáveis, se deve identificar as medidas mitigadoras para reduzir o impacto ambiental a um
nível de aceitabilidade. Para isso, se requer identificar as ações do projeto que são causadoras
de tais impactos inaceitáveis, assim como as razoes por que ocorrem esses efeitos.
Em geral, as medidas de mitigação incluem modificações em alguns elementos ou
processo do projeto, tais como:
Localização da planta, ou de suas partes;
Troca no Layout;
Tecnologias de processo;
Escala de produção;
Sistemas de tratamento de resíduos líquidos, sólidos e gasosos.
Condições de seguridade;
Medidas contra riscos naturais (ZAROR, 2002).
Medidas que visam a minimizar os impactos adversos, compreendendo:
Natureza das medidas: preventivas ou corretivas;
Fases do empreendimento em que serão aplicadas;
Fator ambiental a que se destinam (físico, biológico ou antrópico);
Prazo de permanência de sua aplicação;
Responsabilidade por sua implantação (MOTA, 2002).
No processo produtivo dos abatedouros avícolas os efluentes são geradores dos
impactos de maior relevância ambiental, causando danos ao meio físico, água e terra, e
biológico, flora e fauna, daí a necessidades de trabalhar medidas que amenizem impactos
nesses meios, para isso podemos utilizar o método de avaliação benefício-custo que mostrará
a melhor forma de otimização dos custos na mitigação desses impactos.
Programa de acompanhamento das evoluções dos impactos positivos e negativos,
incluindo, conforme o caso:
Indicação e justificativa dos parâmetros selecionados para a avaliação dos
impactos;
Indicação e justificativa da rede de amostragem;
Indicação e justificativa dos métodos de coleta e análise de amostra;
Indicação e justificativa da periodicidade de amostragem para cada parâmetro;
76
Indicação e justificativa dos métodos a serem empregados no processamento das
informações levantadas (MOTA, 2002).
2.3 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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81
3. IDENTIFICAÇÃO DOS IMPACTOS AMBIENTAIS GERADOS PELOS
EFLUENTES NO ABATEDOURO AVÍCOLA
3.1 – INTRODUÇÃO
Na indústria, em geral, principalmente nas agroindústrias, existe uma grande demanda
por água de elevado padrão de qualidade e após o uso a maior parte deste volume será
eliminada para corpos receptores com altas cargas de matéria orgânica e de sólidos. Este é o
motivo pelo qual águas residuárias geradas em todos os processos industriais devem passar
por um tratamento específico. Nos matadouros e frigoríficos, os efluentes são gerados em
grande quantidade e representam um problema sério pelo seu alto teor de matéria orgânica e o
lançamento desses despejos in natura acarreta sérios prejuízos ao meio ambiente (BRAILE,
1993).
Embora seja teoricamente possível tratar o efluente para qualquer padrão requerido,
existem fatores limitantes como os custos de capital, orçamento operacional e espaço físico.
As características físicas, químicas e biológicas desse tipo de despejo são bastante conhecidas.
As águas residuárias de abatedouros de aves contêm sangue, gordura e, comumente, penas,
além de restos de tecidos de aves, conteúdo de vísceras e moela. Para DIAS (1999), os
principais impactos ambientais negativos, para esse tipo de indústria, estão relacionados com a
geração de efluentes líquidos que podem provocar a contaminação do solo e das águas
superficiais e subterrâneas, como também gerar odor indesejável na decomposição da matéria
orgânica. Os impactos dos efluentes oriundos dessas atividades representam em torno 90% do
total.
O lançamento de despejos orgânicos pode causar dois tipos de influências químicas
nocivas sobre o ambiente e os organismos: primeiro, o efeito direto, tóxico; segundo, a
influência indireta, através da criação de condições anaeróbias para corpos d’água ou pelo
menos, de deficiência de oxigênio livre (BRANCO, 1986). Por qualquer dos dois caminhos
geralmente por ambos simultaneamente a poluição orgânica pode alterar as características
do ciclo biodinâmico de uma massa d’água. Por outro lado, a poluição orgânica pode
constituir fonte de compostos micronutrientes, essenciais a certos tipos de microrganismos
aquáticos.
82
A poluição ocorre largamente para o enriquecimento, em matéria orgânica, das águas
receptoras. Essa contribuição varia quantitativa e qualitativamente, de acordo com a
proveniência dos despejos. De maior extensão, porém, são os danos causados pela redução do
oxigênio dissolvido provocado pela presença dos compostos orgânicos na água. Essa redução
é resultado da atividade dos organismos de respiração aeróbia que, continuamente, utilizam-se
dos materiais orgânicos como fonte de alimentos oxidando-os, na respiração, a fim de liberar a
energia neles contida, consumindo com isso, o oxinio dissolvido.
Quando a disposição dos despejos se no solo, ocorre o carreamento de
contaminantes através da infiltração, podendo causar a poluição dos mananciais subterrâneos.
Esse tipo de disposição ocorre, com o lançamento direto sem qualquer tratamento preliminar
ou utilizando o efluente como forma de s-tratamento, como ocorre na grande maioria dos
pequenos abatedouros do Estado. BALKS et al. (1996), afirma através de estudos, que esse
tipo de disposição pode comprometer a permeabilidade do solo, devido à alta concentração de
sólidos suspensos presentes nesse tipo de efluente, e a atividade intensa dos microrganismos.
Neste trabalho foram levantadas as atividades por meio do custeio ABC e apresentados
os valores médios das caracterizações realizadas nos efluentes gerados pelas principais
atividades diretamente ligadas ao processo de abate do abatedouro de aves da Agropecuária
Serrote Redondo em Afogados da Ingazeira, na região do sertão de Pernambuco pertencente a
bacia hidrográfica do Pajeú, semi-árido do nordeste.
3.2 - MATERIAL E MÉTODOS
A pesquisa foi realizada no semi-árido de Pernambuco em uma região denominada alto
do Vale do Pajéu, na cidade de Afogados da Ingazeira, local considerado entre as áreas semi-
áridas do planeta, de precipitações pluviométricas mais elevadas, que variam de 400 mm/ano a
600 mm/ano (IPA, 2006), com exceção de alguns anos como o de 2006 que choveu mais de
900 mm. Inserida na bacia hidrográfica do Pajeú localizada, em sua totalidade, no Estado de
Pernambuco, forma a Unidade de Planejamento Hídrico UP9, entre 7
o
16’20” e 8
o
56’01” de
latitude sul, e 36
o
59’00” e 38
o
57’45” de longitude a oeste de Gr. e cortada pelo rio Pajeú, onde
são lançados os efluentes do processo do abate, depois de tratados. Essa agroindústria possui
uma área de 50 hectares, dos quais 7 hectares são destinados as edificações, entre elas a ETA e
a ETE, e capta a água bruta da Barragem de Brotas, que atende também parte da população de
83
Afogados da Ingazeira com a capacidade de armazenamento em torno de 22.000.000 m
3
. Na
Figura 3.1 situa-se a produção avícola na região do alto Pajeú.
Fonte: CONDEPE/julho 2003
Figura 3.1 – Localização da produção na UP9.
Para o levantamento dos insumos consumidos de relevância ambiental foi escolhido o
mês de janeiro de 2007, devido a elevada demanda. A determinação dos aspectos e impactos
do processo de abate das aves foi feita com base no fluxograma do processo de abate do
abatedouro da Agropecuária Serrote Redondo como mostra a Figura 3.2. Para identificar as
entradas de água e saídas de efluentes foi construído um mapa de origem e disposição dos
rejeitos e a ponderação dos rejeitos e da poluição final no meio ambiente segundo método de
custeio baseado em atividade ABC (Kaplan e Cooper, 1980).
84
FLUXOGRAMA GERAL DE PROCESSAMENTO
Figura 3.2 – Fluxograma do processo de abate
RECEPÇÃO DAS AVES
ÁREA DE DESCANSO
DESCARREGAMENTO DAS AVES (Pendura)
INSENSIBILIZAÇÃO (Eletronarcose, tempo até a sangria 12 segundos)
SANGRIA (3 minutos)
ESCALDAGEM
DEPENAGEM
LAVAGEM
REPENDURA - TRANSPASSE
ESCALDAGEM DOS PÉS E RETIRADA DA CUTÍCULA
Corte da pele do pescoço
REPENDURA - TRANSPASSE
EXTRAÇÃO DA CLOACA
CORTE ABDOMINAL
EVENTRAÇÃO
INSPEÇÃO SANITÁRIA
POST MORTEM
PROCESSAMENTO DE
MIÚDOS
EVISCERAÇÃO
EXTRAÇÃO DOS PULMÕES
REMOÇÃO DA CABEÇA E PESCOÇO
Coração
Moela
gado
Retirada
da
cutícula
Retirada
da
cutícula
Retirada
da
vesícula
biliar
PRÉ
RESFRIAMENTO DOS MIÚDOS (4 º C Mine
-
shiller)
REVISÃO DAS CARCAÇAS
DEVE HAVER NESTE
PONTO UMA REVISÃO DE
CARCA COMO PONTO
DE CONTROLE
LAVAGEM FINAL
PRÉ-RESFRIAMENTO DAS CARCAÇAS (pré-shiller Tº 16ºC e 5ppm de cloro residual)
RESFRIAMENTO DAS CARCAÇAS
(chiller Tº 4ºC e 5ppm de cloro residual, Tº das carcaças entre 7º e 10º C)
PRODUÇÃO E
ESTOCAGEM
DO GELO
EMBALAGEM DOS
MIÚDOS
INSERÇÃO DO PACOTE DE MIÚDOS
EMBALAGEM PRIMÁRIA
EMBALAGEM SECUNDÁRIA
CONGELAMENTO
ESTOCAGEM
EXPEDIÇÃO
SUPRIMENTO DE ÁGUA
(ETA)
BLOCO ADM,
SANITARIOS ,
VESTIÁRIOS,
COZINHA, SALA
DE MAQUINAS,
GRAXARIA
CORTE DE PÉS
PRODUÇÃO E
ESTOCAGEM
DO GELO
85
As caracterizações dos efluentes líquidos, do abatedouro Serrote Redondo, foram
realizadas considerando pontos de amostragem especificados no fluxograma da Figura 3.3.
Figura 3.3 - Fluxograma dos pontos de geração de efluentes, avaliados nas
caracterizações físico-químicas.
EF1: Efluentes gerados no pátio de recepção e pendura das aves (amostra composta);
EF2: Efluentes gerados na sala de evisceração das aves (amostra composta);
EF3: Efluentes gerados nas salas de cortes e lavagem das caixas (amostra composta);
EF4: Convergência dos efluentes gerados em toda fábrica, após peneiramento na graxaria
(amostra composta);
EF5: Afluente da primeira lagoa (amostra simples);
EF6: Efluente da última lagoa (amostra simples).
Os pontos de amostragem EF1, EF2 e EF3 incluem efluentes originados da lavagem
das paredes, pisos e equipamentos que são gerados durante e/ou após o término do abate.
Os pontos EF1, EF2, EF3 e EF4 foram avaliados em amostragem composta,
obedecendo ao horário de funcionamento da indústria, considerando o funcionamento das
5:00 h às 18:00 h e os intervalos para o almoço (11:00 h às 13:00 h) e o início dos trabalhos de
.
Efluentes
líquidos
86
limpeza. Os procedimentos das coletas começaram 1 hora após cada início de atividade da
fábrica, totalizando uma média de 10 coletas por evento e intervalo de 1 hora entre as coletas.
Após cada coleta as amostras foram submetidas imediatamente às análises de campo (pH,
sólidos sedimentáveis e temperatura) e preservação em recipientes refrigerados em caixas com
gelo. O cronograma das coletas está descrito na Tabela 3.1.
Tabela 3.1 - Cronograma das coletas realizadas no Abatedouro Serrote Redondo
Durante o período da coleta composta, nos três eventos realizados, foram medidas as
vazões das principais linhas de geração de efluentes, em 4 medições através do método
volumétrico durante o período de funcionamento da fábrica, utilizando recipiente de volume
conhecido (Figura 3.4) e cronômetro.
Figura 3.4 - Procedimento de medição de vazão adotado, para estimar a vazão dos
efluentes gerados no abatedouro Serrote Redondo.
PONTOS
1ª COLETA
11/07/06
2ª COLETA
01/08/06
3ª COLETA
22/08/06
ANÁLISES
EF1
EF2
EF3
EF4
Coleta composta
Coleta
composta
Coleta
composta
EF5
EF6
Coleta simples Coleta simples Coleta simples
DQO Total, DBO Total,
Série de Sólidos, Sólidos
Sedimentáveis, pH,
Temperatura, Nitrogênio
e Fósforo.
87
O método volumétrico adotado consistiu na realização de medidas cronometradas em
triplicata adotando o tempo dio necessário para preencher um recipiente de volume
conhecido. No processo de quantificação e caracterização dos efluentes não foram
considerados neste estudo os efluentes gerados no prédio da administração que representam
um equivalente em DBO correspondente a cinco pessoas. Este efluente gerado no setor
administrativo é destinado para uma fossa asséptica isolada.
Foi desenvolvido um conjunto sistematizado de recomendações para o implementar
um Sistema de Gestão Ambiental priorizando a identificação do aspecto e impacto ambiental
gerado por efluentes no abatedouro avícola baseado nas normas da NBR ISO 14001.
3.3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
3.3.1 Levantamento dos insumos do processo de abate
As reuniões de avaliação com os gestores dos processos dentro do abatedouro
indicaram que os insumos levantados no abatedouro são de natureza líquida e sólida, ambos
de relevância ambiental, principalmente o insumo água, bastante utilizado na lavagem das
carcaças, condução dos resíduos do abate e limpeza geral, o que gera efluentes com grande
carga orgânica, além de sólidos sedimentáveis e produtos químicos causadores de impacto
ambiental negativo significante. As aves, oriundas dos produtores integrados da região,
correspondem à principal matéria-prima destinada ao abatedouro. As aves chegam em
caminhões, acondicionadas em grades e ficam em uma área denominada galpão de descanso
com ventiladores e pulverizadores para diminuição do stress da viagem por um período em
torno de uma hora para evitar mortalidade, tudo de conformidade com o planejamento
estratégico da organização.
Na plataforma de desembarque os engradados são postos em uma esteira móvel e as
aves o retiradas das grades plásticas e dependuradas pelos pés por funcionários. Neste setor
são gerados resíduos caracterizados por penas, aves mortas e excretas dos frangos de corte que
são destinados à lagoa de tratamento através de elevado volume de água.
Em seguida acontece o atordoamento que consiste em uma descarga elétrica na região
da cabeça das aves, na ordem de 70 Volts, e provoca um relaxamento muscular com o
objetivo de retirar maior quantidade de sangue (GASI, 1993), na etapa seguinte, denominada
88
sangria, a qual é ocasionada via corte de faca dos vasos do pescoço, em uma área chamada
túnel de sangria. O tempo gasto nessa área é de três minutos, tempo suficiente para descida de
todo sangue, que é coletado e conduzido por um canal a um tanque receptor e, posteriormente,
bombeado para a graxaria, em local próximo ao processo de abate, onde é transformado em
farinha de sangue que servirá como ingrediente da ração.
As fases seguintes são escaldagem, depenagem, lavagem, rependura, escaldagem dos
pés, remoção de cutículas e rependura, as quais acontecem dentro de uma mesma área,
denominada de área suja.
A escaldagem é por imersão em tanque com água aquecida por vapor, oriundo da
caldeira, cuja finalidade é remover as impurezas e sangue da superfície externa e facilitar a
retirada das penas. Esta etapa é realizada à temperatura que varia de 55 a 60º C, durante 90 a
120 segundos. Estas duas variáveis, temperatura e tempo de escaldamento, segundo Bassoi
(1999), são fundamentais no que concerne à qualidade e aparência das aves.
Na etapa depenagem, as aves são depenadas por fricção das carcaças, através de
cilindros rotativos, e as penas lançadas na canaleta de efluentes, onde são conduzidas para a
graxaria e processada para ser transformada em farinha de pena que serve como ingrediente da
ração. A condução das penas é realizada por efluentes não tratados a uma vazão de 20,5 m
3
por hora.
Em seguida as aves são rependuradas pelo pescoço para possibilitar a escaldagem dos
pés (água à 90º C) e remoção das cutículas. Os resíduos sólidos gerados nessa fase são
dispostos na canaleta de efluentes. As caldeiras para aquecimento são alimentadas por lenha,
castanha e óleo da graxaria.
A atividade denominada evisceração acompanhada de lavagem é formada pelas
seguintes tarefas: extração da cloaca; corte abdominal; eventração; inspeção sanitária,
evisceração com processamento dos miúdos (coração, moela e fígado); extração a vácuo dos
pulmões e pré-resfriamento dos miúdos. Posteriormente, são retirados o pescoço e pés,
precedendo o pré-resfriamento à C (pré-Chiller), o resfriamento à C (Chiller), a injeção
de proteínas, o recorte e embalagem. Estas etapas ocorrem numa área separada fisicamente da
área suja, denominada área limpa.
89
Os insumos sólidos são geralmente as caixas de papelão, embalagens plásticas e
grampos usados no acondicionamento das aves abatidas e seus cortes e os resíduos gerados
desses materiais são separados (papel, plásticos e metal) e coletados duas vezes por dia por
funcionários da empresa e, finalmente, prensados e armazenados para serem vendidos às
indústrias de reciclagem. O gelo é fundamental no processo para resfriar a carcaça antes de
serem estocadas nas câmaras frigoríficas, como também, controlar o desenvolvimento de
algumas bactérias indesejáveis no processo e produzem resíduos líquidos. Os produtos
químicos são utilizados na limpeza do abatedouro gerando materiais inorgânicos nos
efluentes.
Os insumos consumidos no mês de janeiro de 2007 estão relacionados e quantificados
na Tabela 3.2. Estes valores apresentados são obtidos dos relatórios técnicos gerados através
do método de análise contábil denominado Centro de Custo” utilizado atualmente na
empresa.
Tabela 3.2 - Insumos do processo de abate de janeiro 2007
ENTRADAS QUANTIDADES
Aves 1.037.103 un.
Água 27.068,39 m
3
Materiais de embalagens 1.288.062 un.
Temperos e condimentos 6.158 kg
Produtos químicos 5.057 L
Material de limpeza 32 L
Uso e consumo 400 un.
Gelo 16.000 kg
3.3.2 – Identificação dos aspectos e impactos ambientais
A identificação dos pontos de origem, disposição dos rejeitos e da poluição final
destinada ao meio ambiente está no Quadro 3.1 que são gerados pelos insumos citados na
Tabela 3.2. Determinou-se a localização das atividades envolvidas na geração dos aspectos e
impactos ambientais e, também, sua quantificação no tempo. Para tanto foram levantadas as
entradas do mês de janeiro de 2007, de impacto ambiental para os recursos hídricos, como
mostra a Tabela 3.3.
90
Tabela 3.3 – Entrada dos insumos, saída e disposição final dos rejeitos
Etapa
A
A
t
t
i
i
v
v
i
i
d
d
a
a
d
d
e
e
Entrada de
materiais
de consumo
Quantidade Rejeitos dos
materiais
consumidos
Quantidade
de
efluentes
gerados
Tratamento
e disposição
dos rejeitos
1 -Recepção
-Lavagem das
caixas.
-
Atordoamento.
-Sangria.
-Escaldagem
-Depenadeira
-Aves
-Água
1.037.103
aves.
6.186 m
3
de
água
-Efluentes
líquidos
-Sangue
-Penas
-Efluente
tanque
vapor
-Efluente
depenadeira
6.154 m
3
com DBO
de 1282
mg/L
Graxaria
ETE
2 -Evisceração
-Elaboração de
miúdos
-Extração dos
pulmões
-Lavagem de
carcaças
-Aves
- Água
1.037.103
aves.
4.186 m
3
de
água
-Efluente
eviscerado
-Vísceras
-Efluente
lavagem
carcaça
-Efluente
schiller
4.154 m
3
com DBO
de 1075
mg/L
Graxaria
ETE
3 -Corte
-Embalagem
-Resfriamento
-Congelamento
-Lavagem das
caixas
-Aves.
-Água.
-
Embalagem
-Tempero e
condimento.
-Gelo
1.037.103
aves.
2.074 m
3
de
água.
1.288.062
embalagens.
6.158 Kg de
tempero.
16.000 Kg de
gelo.
-Efluentes
líquidos
-Embalagem
2.061 m
3
com DBO
de 543
mg/L
ETE
Depósito de
material
sólido.
4 -Limpeza geral
após término do
abate.
-Água
-Produtos
químicos
-Material de
limpeza
12.196 m
3
de
água.
5.057 L de
produtos
químicos.
32 L material
de limpeza.
Efluentes
líquidos
12.128 m
3
ETE
- Etapas 1 a 4 Todos
acima
24.663 m
3
de
produtos
líquidos
Efluentes
líquidos
totais
24.497 m
3
ETE
- Etapas 1 a 4 Todos
acima
1.037.103
aves.
Carga
orgânica
mensal
81.966,96
Kg
ETE
- Etapas 1 a 4 Todos
acima
1.037.103
aves
Rejeitos
sólidos
totais
90.687,89
Kg
ETE
91
Os resíduos, vísceras, penas, sangue, carcaças condenadas e outras partes vão para
graxaria e são transformados em farinhas para serem usadas como ingredientes na ração das
aves e substitui o farelo de soja por ter alta concentração de proteína de origem animal.
As etapas 1 a 4 caracterizadas na Tabela 3.3 apresentam como característica um
consumo de 23,78 litros de água gastos por ave abatida. Cerca de 49,5 % deste total representa
a etapa de limpeza após o rmino do abate. No processo de abate desconsiderando a limpeza
pós abate ocorre um consumo de 12 litros de água por ave. O valor de DBO correspondendo a
1282 mg/L na etapa 1 deve-se de forma preponderante a presença de material orgânico na
recepção e à perdas de sangue durante a sangria. Na etapa 2 desde a evisceração até a lavagem
das carcaças o valor de DBO de 1075 mg/L deve-se sobretudo à presença de sangue. Na etapa
3 existe pequena carga orgânica com uma DBO de 543 mg/L correspondendo ao
processamento das carcaças na área limpa do abatedouro. Existe uma ineficiência no
aproveitamento do sangue no processo de abate. Esta ineficiência tem origem em um ponto
focal na área de sangria onde o sangue é armazenado para posterior processamento. Elevadas
quantidades de sobras de sangue ocorrem nos períodos que antecedem ao final do abate e
dessa forma o sangue residual acumulado no depósito de sangue entra na contabilidade do
processo de limpeza pós abate, porque efetivamente o reservatório de sangue é lavado com
água. O aproveitamento do sangue na graxaria é limitado e o processamento dos resíduos na
graxaria é sob forma de batelada. Um valor médio ponderado de DBO calculado apenas para o
período de abate (etapas 1 a 3) é o de 1090 mg/L com uma geração de 11,92 litros de efluente
por ave abatida.
Os efluentes gerados passam por um processo de tratamento antes de sua disposição no
meio ambiente, que inicia com a flotação, onde são retirados óleos e graxas para serem
utilizados como combustível na caldeira e depois os efluentes passam por sete lagoas de
estabilização.
A empresa utiliza o todo de custeio denominado “Centro de Custo” (CC),
desenvolvido na Alemanha depois da Segunda Guerra Mundial, bastante utilizado antes do
novo modelo de competição global, portanto, a nossa dificuldade da mensuração dos custos,
apesar da semelhança com o método ABC, porém com sua lógica ser bastante distinta. O
sistema do custeio ABC não se prende apenas a área financeira, mas contempla outros
92
aspectos físicos das atividades e processos, assim, são definidos como elementos importantes
desta abordagem de custeio, conforme Zardo & Schlosser (2002): função, processo,
atividades, tarefas e operações.
Os recursos da área de gestão ambiental, conforme Zardo & Schlosser (2002), devem
ser rigorosamente mensurados e avaliados econômico, financeira e fisicamente, de forma a
garantir um adequado balanceamento de recursos possuídos pela empresa, para assegurar a
eficácia da aplicação destes recursos e para satisfazer as exigências do público externo ou,
mais precisamente, para o cumprimento da responsabilidade social da empresa, portanto o
modelo de custeio ABC pode ser utilizado para uma avaliação dos impactos ambientais ao
longo do processo produtivo, principalmente em atividades consumidora de recursos hídricos,
como é o caso dos abatedouros avícolas.
Considerado não como um modelo de custo, e sim um modelo econômico operacional,
o método ABC uma visibilidade do quantitativo de massa orgânica total liberada no abate
no mês de janeiro, que nesse caso é a soma das diversas atividades e suas tarefas que podem
ser trabalhadas na redução dos danos ambientais. Uma das maneiras seria a remoção dos
sólidos, como os estercos, penas e aves mortas antes da lavagem geral para não se juntarem
aos efluentes e, conseqüentemente, diminuir a DBO e sólidos totais.
3.3.3 - Avaliações de Campo
Foram realizadas determinações de pH, de sólidos sedimentáveis e da temperatura em
cada amostra coletada (amostra composta) nos pontos de amostragem (EF1, EF2, EF3 e EF4).
Os resultados apresentados referem-se aos valores médios das determinações realizadas, como
mostra a Tabela 3.4 e a Figura 3.5.
Para os principais pontos de geração de efluentes, o pH estava próximo à faixa da
neutralidade. O pH foi ligeiramente superior no ponto EF 3, em função dos produtos químicos
de limpeza utilizados na lavagem das caixas utilizadas no setor de produção. A temperatura
apresentou valores característicos de seus respectivos setores de origem, assim como, as
concentrações de sólidos sedimentáveis, que são constituídos daquele material em suspensão
de maior tamanho e de densidade maior que a da água, que se deposita quando o sistema está
em repouso.
93
PONTOS
PARÂMETRO
Unidade
EF1 EF2 EF3 EF4
pH - 7,1±0,36 7,2±0,173
7,8±0,627 7,1±0,182
Temperatura ºC 23,8±1,39 22,0±1,82
24,4±1,86 24,1±1,22
Sólidos
Sedimentáveis
mg/L
27,0±23,13 3,4±1,91 0,9±1,10 7,4±8,27
Figura 3.5 - Valores médios dos parâmetros de campo nos pontos de amostragem, dos
principais setores de geração de efluentes.
pH
6,6
6,8
7,0
7,2
7,4
7,6
7,8
8,0
EF1 EF2 EF3 EF4
Pontos
pH
Temperatura
20
21
22
23
24
25
26
EF1 EF2 EF3 EF4
Pontos
°C
lidos Sedimentáveis
0
5
10
15
20
25
30
EF1 EF2 EF3 EF4
Pontos
mL/L
Tabela 3.4 - Valor médio e desvio padrão dos parâmetros de campo nos pontos
de
amostragem, dos principais setores de geração de efluentes.
94
A concentração de sólidos sedimentáveis se mostrou mais expressiva na área de
recepção e pendura das aves, com valor médio de 27 mL/L e valor máximo de 115 mL/L. O
maior valor em sólidos sedimentáveis ocorre em decorrência da presença de excretas oriundas
das aves. A quantidade de excretas é uma função do manejo pré-abate, especificamente do
tempo de jejum a que as aves foram submetidas nas granjas avícolas antes de serem
carregadas no veículo de transporte. O tempo total de permanência das aves no caminhão
desde a granja até o descarregamento também tem influência e quanto maior o intervalo de
permanência tanto maior a carga de matéria orgânica presente na área de recepção. É
importante observar, que não foi considerada a sala de depenagem para essa amostragem.
3.3.4 - Amostra Composta
Após a última coleta, as amostra preservadas nas bombonas em caixas com gelo, foram
agitadas e encaminhadas para os respectivos recipientes (2 litros) e destinadas ao Laboratório
de Saneamento Ambiental em caixas de isopor com gelo. Os resultados das análises dos
efluentes, em valores médios, são apresentados na Tabela 3.5 e Figuras 3.6, 3.7 e 3.8.
Os valores médios das concentrações de DBO e DQO bruta apresentaram
comportamento característico aos respectivos pontos de geração de efluentes, apenas o ponto
EF4 (ponto de convergência), apresentou destaque tendo em vista a adição do volume
excedente de sangue, não processado na graxaria, contribuindo para a elevação dessas
concentrações.
Tabela 3.5 - Valores médios das concentrações dos parâmetros avaliados nas
caracterizações dos pontos de amostragem.
Parâmetro Unidades EF1 EF2 EF3 EF4 EF5 EF6
DQO bruta mg/L O
2
2014 1478 1021 4325 2496 199
DBO bruta mg/L O
2
1283 1075 543 3346 1783 97
Sólidos Totais mg/L 1878 1645 2187 3702 1839 806
Sólidos T. Voláteis mg/L 1280 1204 805 3006 1289 208
Óleos e Graxas mg/L 277 535 339 684 462 26
Nitrogênio total mg/L 215 60 66 270 74 144
Fósforo total mg/L 16 2 22 38 14 35
95
Figura 3.6 - Valores médios das concentrações de DQO bruta, DBO bruta, Sólidos Totais,
Sólidos Totais Voláteis e Óleos e Graxas, nos principais pontos de geração de
efluentes.
Figura 3.7 - Valores dios das concentrações de DQO e DBO bruta, no decorrer dos pontos
de amostragem analisados.
Figura 3.8 - Valores médios das concentrações de óleos e graxas no
decorrer dos pontos de amostragem analisados.
0
500
1000
1500
2000
2500
3000
3500
4000
4500
5000
EF1 EF2 EF3 EF4 EF5 EF6
mg/L
DQO bruta DBO bruta
0
100
200
300
400
500
600
700
800
EF1 EF2 EF3 EF4 EF5 EF6
mg/L
0
450
900
1350
1800
2250
2700
3150
3600
4050
4500
4950
P1 P2 P3 P4
mg/L
DQO Bruta DBO bruta ST SST SDT Óleos e Graxas
5
1
2
3
4
6
1
1
1
2
2
2
3
3
3
4
4
4
5
5
5
6
6
6
(6)
(1)
(2)
(3)
(4)
(5)
96
Na Tabela 3.6 estão apresentados os valores estimados para a média ponderada nos
pontos de amostragem EF1 a EF3 para as análises realizadas, além do cálculo do fator de
concentração no ponto EF4 que é a convergência dos efluentes gerados em toda fábrica, em
ponto localizado após a graxaria. Pode-se verificar que a graxaria é um ponto dentro do
processo que apresenta alta contribuição para elevar os níveis de todos os parâmetros
ambientais avaliados na amostragem EF4. Neste sentido torna-se necessário um estudo
específico para avaliar as eficiências, através de balanço de massa, em todos os processos de
transformação que ocorrem dentro da graxaria.
A graxaria dentro de um abatedouro de aves é um ponto nevrálgico para onde
convergem todos os descartes líquidos e sólidos orgânicos originados como subprodutos da
matéria prima principal durante o abate. A concepção equivocada dos processos, o
subdimensionamento, as falhas de operação nos digestores, a inoperância de componentes
mecânicos nos diferentes setores da graxaria conduzem a elevado passivo ambiental. O
manejo adequado do sangue dentro do abatedouro em especial dentro da graxaria é de crucial
importância. É necessário que existam medidas de controle ambiental alternativas no processo
de abate considerando os riscos de não operação, operação parcial ou operação ineficiente da
graxaria.
Tabela 3.6 – Valores estimados para a média ponderada entre os pontos de amostragem EF1 a
EF3, o fator de concentração após a graxaria, a eficiência no flotador e a
eficiência das lagoas.
Parâmetro avaliado
Valor médio
EF1 a EF3
Fator de
concentração EF4
Eficiência
no Flotador
Eficiência entre
EF5 e EF6
Unidade mg/L - % %
DQO bruta 1668 2,59 42,29 92,03
DBO bruta 1170 2,86 46,71 94,56
Sólidos Totais 1851 2,00 50,32 56,17
Sólidos Totais Voláteis 1175 2,56 57,12 83,86
Óleos e Graxas 374 1,83 32,46 94,37
Nitrogênio Total 138 1,96 72,59 -
Fósforo Total 12 3,17 63,16 -
97
A eficiência calculada para o flotador para os diferentes parâmetros ambientais
avaliados está apresentada na Tabela 3.6. Os valores baixos são decorrentes da concepção
estrutural do flotador: suddimensionado apresenta apenas um ponto de oxigenação disposto
em um único nível ao invés de múltiplos pontos dispostos em série e em múltiplos níveis
dispostos em paralelo para aumentar o potencial de oxigenação.
Quanto aos óleos e graxas são substâncias orgânicas de origem mineral, vegetal ou
animal. Estas substâncias geralmente são hidrocarbonetos, gorduras, ésteres, entre outros. o
raramente encontrados em águas naturais, normalmente oriundos de despejos e resíduos
industriais, esgotos domésticos.
A pequena solubilidade dos óleos e graxas constitui um fator negativo no que se refere
à sua degradação em unidades de tratamento de despejos por processos biológicos.
Foi observado que o sistema atual de remoção de óleos e graxas, matéria orgânica e
material particulado (Flotador por Ar Dissolvido - FAD) apresentado na Figura 3.10, mostrou-
se inadequado e ineficiente, atingindo apenas 32% de remoção de óleos e graxas, quando é
comparado o ponto que antecede o flotador (EF4) e o ponto posterior (EF5).
Figura 3.9 - Sistema de tratamento primário (Flotador por Ar
Dissolvido) do abatedouro Serrote Redondo.
Os valores de eficiência calculados para os parâmetros ambientais para as sete lagoas
de tratamento de efluentes caracterizados pelos pontos de coleta EF5 e EF6 estão acima de 90
98
% para a DQO bruta, DBO bruta e concentração de óleos e graxas. Pode ser observado alto
nível (84,9 %) de remoção de sólidos totais voláteis. Os sólidos totais sofreram uma variação
de 56,2 % na concentração. Isto identifica que ocorreu uma efetiva mineralização da carga
orgânica presente nos efluentes, confirmando o conceito de que a função das lagoas de
estabilização não é a remoção dos sólidos e sim a transformação dos sólidos de um estado não
oxidado ou pouco oxidado para um estado altamente oxidado.
A alta taxa de mineralização do Nitrogênio e Fósforo presentes nos compostos
orgânicos durante os processos de oxidação que ocorreram seqüencialmente nas sete lagoas
que integram o sistema de tratamento de efluentes leva a uma alta taxa de solubilização que se
verifica no efluente da última lagoa, identificado no ponto de coleta EF6 e desta forma o N e P
solubilizados tiveram incremento de 92 e 150 %, respectivamente.
A Tabela 3.7 apresenta os valores dos principais parâmetros, avaliando efluentes de
abatedouros de aves, encontrados por alguns pesquisadores.
Tabela 3.7 - Características de despejos de abatedouros de aves de acordo com diferentes
pesquisas consultadas
PARÂMETRO
HOKKA
(1984)
CHÁVEZ et al.
(2005)
SCHOENHALS
(2006)
MITTAL
(2006)
O presente
estudo
(EF4)
PH 6,5-9,0 6,1-7,1 6,7 6,5 7,1
Temperatura (°C) 24 24,1
DQO bruta (mg/L) 200-3200
5800-11600 1020 3417 4325
DBO bruta (mg/L) 150-2400
4524-8700 1250 3346
Sólidos Totais (mg/L) 250-3200
1084-4558 1740 2481 3702
Óleos e Graxas (mg/L) 149-748 147-666 430 684
Nitrogênio Total
(mg/L)
15-300 74,9 16 158 270
Fósforo Total (mg/L) 9,52 53,3 80 38
Os valores determinados na caracterização dos efluentes do abatedouro Serrote
Redondo mostraram-se semelhantes aos encontrados em outras bibliografias.
99
Em relação à eficiência de todo sistema de tratamento (flotador e as sete lagoas de
estabilização), considerando os pontos EF4 e EF6, são apresentados na Figura 3.10 os índices
dos respectivos parâmetros.
Figura 3.10 - Eficiência de remoção dos principais parâmetros avaliados
Considerando a ação conjunta do flotador e das lagoas de tratamento de efluentes os
processos de eutrofização da carga orgânica foram eficientes. A eficiência de remoção dos
sólidos totais presente nas amostras coletadas foi satisfatória e a redução na concentração de
sólidos totais voláteis e óleos e graxas presentes nas amostras analisadas foi elevada.
Os valores de eficiência calculados demonstram que o sistema de tratamento de
efluentes funciona de modo adequado para a conversão do estado de oxidação da matéria
orgânica gerada no abate de aves. A remoção dos sólidos totais e sólidos totais voláteis em
suspensão verificada pela avaliação do efluente EF6 é um ponto positivo no sistema, porém
não resolve o problema da quantidade de matéria orgânica que entra como resíduo no ponto
EF4.
A análise geral indica que o sistema de tratamento de efluentes do abatedouro necessita
de melhorias no que se refere à funcionalidade e à eficácia. O manejo do sangue dentro do
abatedouro, o manejo geral dos resíduos orgânicos sólidos e líquidos dentro da graxaria, um
adequado dimensionamento do flotador, e adequação da eficiência técnica do flotador são
pontos de melhoria necessários.
0
10
20
30
40
50
60
70
80
90
100
DQO Total DBO Total Sólidos
Totais
ST Voláteis O&G (mg/L)
%
100
3.3.5 Vazão Medida x Vazão Estimada
Através das quatro medições durante o procedimento de coleta foi possível determinar
uma vazão média de 82,10 m
3
/h. Para o valor médio diário entre as vazões medidas em todos
os procedimentos de medição, a vazão estimada foi de 985,24 m
3
/dia, valor este, muito
próximo do estimado pela direção da fábrica (1021,35 m
3
/dia), que considera 25 Litros de
água por ave abatida, utilizada em todo processo, desprezando as possíveis perdas. Para essa
estimativa, foi determinada a média entre a produção dos três dias de amostragem, com o
número de 40854 aves abatidas. As determinações das vazões tiveram como referência, as
equações 1.1 e 1.2 descritas a seguir.
Temos:
QmTQ
×
=
1
Onde:
1Q
:
Vazão diária estimada através de medição com recipiente com volume
conhecido (m
3
/dia);
T
: Período estimado de funcionamento da fábrica, incluindo o período de limpeza
(12 h);
Qm
:
Vazão média por hora (82,10 m
3
/h).
avesNvQ
º2
×
=
Onde:
2Q :
Vazão diária estimada através do volume de água utilizada por ave abatida
(m
3
/dia);
v
:
Volume de água utilizada por ave abatida (0,025m
3
);
avesNº
:
Número de aves abatidas por dia.
diamQ
/2,9851
3
=
diamQ
/3,10212
3
=
1.1
1.2
101
3.3.6 Cargas Orgânicas
A carga orgânica é quantidade de matéria orgânica expressa em massa por unidade de
tempo, transportada ou lançada num corpo receptor, ou sistema de tratamento de águas
residuárias. Para essa determinação deverá ser utilizada a vazão média diária do efluente no
cálculo da carga orgânica. Considerando as duas vazões estimadas, teremos:
SQCO
×
=
Onde:
CO
:
Carga Orgânica afluente ao sistema de tratamento (kg DBO/dia);
Q
:
Vazão média diária afluente (m
3
/dia);
S
:
Concentração de matéria orgânica afluente (kg DBO/m
3
).
A concentração média da DBO afluente ao sistema de tratamento (EF4) foi de:
LmgDBO /3346
=
ou
3
/3,3
mkgDBO
=
Considerando as duas vazões estimadas (Q1 e Q2) teremos:
diakgDBOCO /29,32511
=
diakgDBOCO
/62,33702
=
Em termos de equivalência populacional, a carga orgânica proveniente dos efluentes
líquidos gerados em toda planta industrial, poderá alcançar 62.419 habitantes.
Segundo a Norma Técnica da CPRH 2.001, que dispõe sobre controle de carga
orgânica em efluentes líquidos industriais, as fontes poluidoras com a carga igual ou superior
1.3
102
a 100 kg/dia, deverão remover no mínimo 90% de DBO, já a carga orgânica não-
biodegradável (DQO), para a tipologia industrial em estudo, condiciona a uma eficiência de
remoção mínima de 60 %.
3.3.7 - Proposta ao SGA com ênfase nos efluentes do processo de abate
A empresa por ter uma filosofia familiar não possui em sua estratégia organizacional
um sistema de qualidade e ambiental definido, apesar de atender a legislação em vigor nos
padrões requisitados, porém do ano de 2005 realiza trabalhos na gestão de qualidade e
ambiental com o apóio da diretoria e a inserção de pessoas (filhos) na empresa das áreas de
economia, administração e saúde e, também, consultorias. Por conta destas ações foram
implantados os programas
5S, BPF (
Boas Práticas de Fabricação) e está sendo concluído o
APPCC
(Análise de Pontos de Perigo e Controle Crítico). A sugestão é a implantação da ISO
9.000 e a série da ISO 14.000, pois estão prontos os requisitos para tais implantações com
ênfase nos efluentes gerados por percebermos ser o causador de mais de 90% dos impactos
negativos de relevância.
A NBR ISO 14001 define aspecto ambiental e impacto ambiental da seguinte forma:
Aspecto ambiental é o elemento das atividades, produtos ou serviços de uma
organização que pode interagir com o meio ambiente.
Impacto ambiental é qualquer modificação do meio ambiente, adversa ou benéfica, que
resulte, no todo ou em parte, das atividades, produtos ou serviços de uma organização.
Portanto, o abatedouro de aves em análise é gerador de efluentes com um nível de carga
orgânica (DBO = 3370,62/dia) elevada e tem o potencial de provocar relevantes impactos
negativos ao meio ambiente, mediante essa situação sugerimos a criação de uma comissão
para atender as propostas seguintes:
A empresa deve adotar o sistema de custeio
ABC
para facilitar na identificação das
atividades causadoras de maiores danos ambientais.
O abatedouro deve estabelecer e manter procedimentos para identificar os aspectos
ambientais de suas atividades ligadas à geração dos efluentes por serem causadores de
impactos ambientais significante para evitar a ocorrência de danos ao meio ambiente e
103
considera-los na definição dos seus objetivos ambientais (item 4.3.1 da NBR ISO
14001).
Controlar os
input
e
out-puts
ligados às atividades atuais e passadas, se pertinente,
afim de monitorar a evolução do desempenho desses efluentes.
Não necessidade de avaliar cada insumo é bastante verificar as atividades, o que é
importante utilizar o modelo de custeio
ABC
por diferenciar processo, atividade,
tarefa e operação que estão ligados a parte ambiental e estudar um plano na redução
da carga orgânica, reúso, tratamento que venham diminuir os impactos e otimização
dos insumos de relevância ambiental.
Avaliar a importância dos impactos e para isso pode usar a formula:
I =
[3I + 2E +
M + P + R],
em que a importância (I) está relacionada com os fatores benéficos (+),
prejudiciais (-), intensidade (I) (dano), extensão (E) rea de influência), momento
(M) (T1 – T0), persistência (P) (tempo de efeito) e reversibilidade (R), com o objetivo
de evitar multas ou conflitos no entorno do abatedouro. No abatedouro da
Agropecuária Serrote Redondo a importância do impacto dos efluentes sobre os
recursos hídricos segue abaixo:
Fatores utilizados no cálculo da importância do impacto ambiental
SINAL
Impacto benéfico = + 1
Impacto prejudicial = -1
INTENSIDADE (I) (dano)
Baixa = 1
Média = 2
Alta = 4
Muito Alta = 8
EXTENSÃO (E) (Área de Influência)
Pontual = 1
Parcial = 2
Extensa = 4
Crítica 8
MOMENTO (M) (ti – to)
Longo prazo = 1
Médio prazo = 2
Imediato = 4
PERSISTÊNCIA (P)
(permanência do efeito)
Recuperação imediata (< 1 ano) = 1
104
Temporal ( 1- 3 anos) = 2
Recuperação Longa (3-10 anos) = 4
Permanente = 8
REVERSIBILIDADE (R)
Curto prazo = 1
Médio prazo = 2
Longo prazo = 4
Irreversível = 8
Irrecuperável = 20
IMPORTÂNCIA (I) -
A importância do impacto assume valores na faixa de 8 a 100.
Apresenta valores intermediários entre 40 e 60 (Canter, L. 1996)
I = 1 x (3I + 2E + M + P + R) = -1 x (3x8 + 2x4 + 4 + 4 + 4) = 44
Para uma carga orgânica apresentada de 3,346 kg/m3 possui um valor intermediário
devido a intensidade alta e valores altos para os outros fatores, o que requer
monitoramento assíduo desses efluentes.
Realizar um processo contínuo dos efluentes do abatedouro que determine o impacto
(positivo ou negativo) passado, presente e potencial das atividades sobre o meio
ambiente (ISO 14004) e verificar a evolução das ações.
Desenvolver registros dos aspectos ambientais dos efluentes com três fases:
Identificação dos aspectos e impactos ambientais.
Avaliação da significância.
Compilação dos registros.
Treinamento, conscientização e competência.
A empresa deve identificar a necessidade de treinamento dos seus funcionários, afim
de determinar que todo o funcionário cujas as tarefas desenvolvam impactos relevantes
sobre o meio ambiente tenham treinamento voltado a mitigação desses impactos e
estejam aptas a conduzirem essas atividades.
Estabeleçam e mantenham procedimentos que façam com que os empregados estejam
conscientes, pertinente a cada nível e função.
As ações previstas no Plano de Conscientização visam garantir que todos estejam
conscientes sobre:
- Política de Meio Ambiente e o Sistema de Gestão Ambiental;
- Aspectos e Impactos ambientais significativos de suas tarefas;
105
- Responsabilidades no SGA, inclusive no atendimento a emergências;
- Benefícios ao meio ambiente com a melhoria de seu desempenho pessoal; e
- Potenciais conseqüências do não cumprimento dos procedimentos.
Realizar um programa educativo para o pessoal que executam tarefas que possam
causar danos ambientais significativos com o objetivo de torna-los competentes.
3.4 – CONCLUSÕES
A identificação dos aspectos e impactos ambientais do processo de abate com o uso do
método de custeio
ABC
pode contribuir para a verificação das atividades com maior potencial
de impactos ambiental, o que leva os gestores a tomar decisões pontuais e a mitigação dos
danos ambientais.
A caracterização dos efluentes veio confirmar uma carga poluidora considerável
(3.370,62 kgDBO/dia), com o pH praticamente neutro, tal carga é causadora de impactos
negativos aos meios físicos (sub-solo, águas, corpos de águas), biológico (ecossistemas
naturais aquáticos) e, também, sócio-econômico, pelo uso da água, ressaltando aqui as
relações de dependência entre a sociedade local, os recursos ambientais e o potencial da
utilização deste recurso, neste caso considerado principalmente os hídricos.
A carga orgânica produzida diariamente no Abatedouro Serrote Redondo, supera os
100 kgDBO/dia, preconizado pela CPRH. Entretanto, em termos de eficiência de remoção de
DBO e DQO, o sistema de tratamento de efluentes do abatedouro, composto por um FAD
(Flotador por Ar Dissolvido) e 7 (sete) lagoas de estabilização em série, conferiram uma
eficiência de 97 % e 95% respectivamente, atendendo, portanto, a legislação de controle local.
3.5 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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Determination of the Progression in
Soil Microbial Response, and Charges in Soil Permeability, Following Application of Meat
Processing Efluent to Soil.
1996, In: APPLIED SOIL ECOLOGY.
BASSOI, L. J. (1999) Tratamento de Águas Residuárias de Curtumes e Abatedouros
Bovinos, Suínos e Avícolas. CETESB. São Paulo-SP.
106
BRAILE, P. M.; CAVALCANTI, J. E. W. A.
Manual de Tratamento de Águas Residuárias
Industriais
. 18ª ed, São Paulo: CETESB, 1993, p. 155-174.
BRANCO, S. M.
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. 3 ed, São Paulo: CETESB,
1986, p. 323-346.
CHÁVEZ C. P., CASTILLO R. L., DENDOOVEN L., ESCAMILLA-SILVA E.M.
Poultry
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.
2005, In: BIORESOUCE TECNOLOGY.
DIAS, M. C. O.
Manual de Impactos Ambientais.
Fortaleza: BANCO DO NORDESTE, 1999,
P. 49-67.
GASI, T. M. T. (1993) Caracterização, Reaproveitamento e Tratamento de Resíduos de
Frigoríficos, Abatedouros e Graxarias. São Paulo: CETESB.
HOKKA, C.O.
Estudo Cinético de Tratamento de Águas Residuárias de Abatedouro Avícola
por Processo de Lodo Ativado.
Dissertação (Mestrado em Engenharia Agrícola) - Faculdade
de Engenharia de Alimentos e Agrícola, UNICAMP. Campinas – São Paulo. 1984.
MITTAL, G. S. Treatment of wastewater from abattoirs before land application—a review.
2006, In: BIORESOUCE TECNOLOGY.
NBR – ISO 14001 e 14004.
SCHOENHALS, M.
Avaliação da Eficiência do Processo de Flotação Aplicado ao
Tratamento Primário de Efluentes de Abatedouro Avícola
. Dissertação (Mestrado em
Engenharia Química) Universidade Federal de Santa Catarina -UFSC. 81p. Florianópolis
Santa Catarina. 2006.
107
4. PROPOSTA DE OTIMIZAÇÃO DO USO E REÚSO DA ÁGUA NO ABATEDOURO
AVÍCOLA
4.1 - INTRODUÇÃO
Pode parecer estranho falar de escassez em um planeta que tem aproximadamente 75%
de sua superfície coberta por água. Porém, embora a água em si não seja rara, a
água utilizável
pelo homem
é pouca e finita.
O Brasil detém 12% da água doce do planeta e 6.220 bilhões de m
3
das fontes
renováveis do mundo, porém, a nossa riqueza hídrica está concentrada na região Norte do País
que possui em torno de 68% da disponibilidade de água. O nordeste possui a menor
disponibilidade, apenas 3% e mal distribuída. A região em estudo neste trabalho, o Alto Pajeú,
é privilegiada com ocorrência de 80% das chuvas de fevereiro a abril e precipitação
pluviométrica em torno de 400 a 600 mm/ano, portanto, com um bom programa de
aproveitamento dessa água como captação de águas de chuvas, racionalização, reúso e outras
técnicas mais, podemos atender a demanda industrial sem causar conflitos.
Dentro do segmento agro-industrial de Pernambuco está inserido o abatedouro de aves
da Agropecuária Serrote Redondo, localizado no Vale do Pajeú no município de Afogados da
Ingazeira, a margem da barragem de Brotas, que necessita em torno de 24 litros de água por
ave abatida. A Serrote Redondo tem o potencial de abater em média 50.000 aves /dia com um
consumo de 1.200.000 litros de água por dia e este recurso pode limitar a cadeia de produção
avícola, essencial ao processo de abate, portanto, é imprescindível estabelecer os fatores
quantitativos e qualitativos, dotados de um valor econômico e também como um recurso
natural finito, necessita estabelecer um gerenciamento hídrico.
A otimização do uso da água inclui qualquer medida que reduza a quantidade e que
seja consistente o melhoramento da qualidade da água. Na questão qualidade está
contemplada no processo produtivo uma estação de tratamento de água, que utiliza o processo
convencional de tratamento, ou seja, transformar água bruta em tratada, utilizando produtos
químicos e, conseqüentemente, gerando resíduos durante as etapas de tratamento (coagulação,
floculação e filtração). Basicamente são dois tipos de resíduos: os gerados nos decantadores e
aqueles produzidos durante a operação de lavagem dos filtros. na questão da racionalização
108
e reúso nas regiões áridas e semi-áridas, a água se tornou um fator limitante para o
desenvolvimento urbano, industrial e agrícola. Planejadores e entidades gestoras de recursos
hídricos, procuram, continuamente, novas fontes de recursos para complementar os escassos
recursos hídricos ainda disponíveis, por isso a importância de técnicas de reúso da água e
programa de conservação é essencial para dar sustentabilidade às atividades que demandam
muita água, como é o caso do abatedouro de aves da Agropecuária Serrote Redondo, afim de
alavancar o desenvolvimento regional e suprir as necessidades da presente geração sem o
prejuízo do atendimento às gerações futuras.
4.2 - MATERIAL E MÉTODOS
FASE 1: Avaliação Técnica Preliminar
Nesta etapa efetuou-se o levantamento de todos documentos existentes e relevantes,
como subsídio para o início de entendimento do uso da água no abatedouro.
FASE 2: Levantamento de Campo
Foram coletadas informações de cada setor consumidor, avaliando-se os
procedimentos de utilização da água, condições dos sistemas hidráulicos, perdas físicas, usos
inadequados e usuários envolvidos. O levantamento foi acompanhado por funcionários da
equipe de manutenção com conhecimento do sistema hidráulico e gerente do abatedouro.
Foram levantados também:
- Características da água utilizada (qualidade) nas atividades consumidoras: As coletas foram
feitas em pontos previamente determinados, acondicionados em recipientes fornecido pelo
Laboratório de Saneamento Ambiental LSA, onde foram realizadas as análises. Para as
análises foram utilizados os métodos recomendados pelo Standard Methods for the
Examination of Water and Wastewater (2001).
- Quantidade de água consumida em cada setor: Para medição dos fluxos de água em cada
setor foram instalados hidrômetros, conforme figura 4.1.
109
Figura 4.1 – Esquema de instalação dos hidrômetros
Hidrômetro
Referência Descrição
1
AF1.1a
Linha que abastece recepção, escritório, gerência, banheiros,
lavador de mãos, lavador de botas e sala de lavagem de caixa.
2
AF1.1b Refeitório e casa de máquina
3
AF1.2
Sala de embalagem, sala dos carrinhos, corredor das câmaras
frias, corredor do carregamento e um bodelor.
4
AF1.3a Sala dos compressores e graxaria
5
AF 1.3b Caldeiras
6
AF1.4
Salas de pendura, sangria e embalagem, além de água quente
nas salas escaldagem, depenadeira e evisceração.
7
AF1.5 Máquina de gelo
8
AF2.1 Máquina de moela
9
AF2.2
Máquinas de atordoamento, escaldagem de pés, depenadeira de
pés e frango.
10
AF2.3 Pré-chiller e mesa de separação das vísceras
110
4.3 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.3.1 – Documentos levantados
Os relatórios técnicos e as plantas arquitetônicas forneceram as seguintes informações:
a captação da água bruta na barragem de Brotas fica a uma distância de mil metros da ETA,
Estação de Tratamento de Água, e possui um sistema de bombeamento com capacidade de
tratar 80m
3
de água por hora. A capacidade de armazenamento da barragem é de 22.000.000
m
3
(
CONDEPE, 2003
),
como mostram as Figuras 4.2 e 4.3. Em abril 2006 a barragem estava
com a capacidade máxima e sangrando.
Figura 4.2 – Foto da barragem de brotas com capacidade máxima
Figura 4.3 – Bombeamento da água ETA
111
A presença da planta aquática vulgarmente chamada de baronesa (Eichornia cras
sipes)
é um filtro natural, apesar de poucas, mais requer um monitoramento pela sua capacidade de
proliferação e causadoras de danos se forem sugadas na captação. Segundo a CPRH esta
barragem tem contínuo monitoramento e fiscalização desde 2005. Um outro problema que
necessita ser solucionado é o sistema de descarga que não é acionado três anos e poderá
acarretar alguns problemas futuros, devido ao acúmulo de sedimentos retidos junto a parede,
entre eles, a contaminação da água.
A ETA tem a capacidade de tratar 80 m
3
/hora de água bruta, que depois de tratada é
armazenada em um reservatório com capacidade de 2.000 m
3
de água e bombeada para outro
reservatório localizado em cima do abatedouro, na parte central, onde é distribuída por
gravidade às várias tarefas. A quantidade de água do reservatório da ETA supre quase dois
dias de abate nas operações de abate de 50.000 aves/dia. A Figura 4.4 mostra algumas etapas
da ETA.
Figura 4.4 – Atividades da ETA
A Figura 4.5 mostra o reservatório de água tratada cuja capacidade compreende dois
de abate de aves considerando carga de abate máxima de 50.000 aves ao dia.
112
Figura 4.5 – Reservatório com capacidade para 2.000m
3
de água.
As plantas arquitetônicas do processo produtivo de abate detalham as atividades
operacionais do abatedouro. A Figura 4.6 mostra o “lay-out” deste processo. As tarefas
executadas nas atividades do processo consomem 88% da água incluindo a limpeza geral, o
restante do consumo é destinado ao uso sanitário e outros (Van Der LEEDEN, 1990).
Foram levantados os custos da obtenção e manejo da água tratada mediante coleta de
dados do centro de custos da empresa. Os valores estão apresentados na Tabela 4.1.
Figura 4.6 – Lay-out do processo produtivo de abate
113
Tabela 4.1 – Custos fixos e variáveis para obtenção e manejo da água tratada.
Custos Fixos
Valor (R$)
Mão de obra com encargos sociais 1.480,00
Depreciação da construção 2.500,00
Depreciação de máquinas e equipamentos 1.250,00
Manutenção 1.250,00
Custos Variáveis
Valor (R$)
Produtos químicos 1.386,74
Energia 3.500,00
Outorga* 16.241,03
Total
27.607,77
* custo R$ 0,60 m
3
no setor industrial do estado do Ceará.
Os custos levantados são referentes ao mês de janeiro de 2007 para tratamento de
27.068,39 m
3
de água usadas no abate de 1.037.103 aves. O custo atual representa R$ 1,02 por
metro cúbico de água tratada ou 2,662 centavos por ave abatida.
4.3.2 – Levantamento de campo
4.3.2.1- Características da água utilizada (qualidade) nas atividades consumidoras
Os resultados das análises físico-química e bacteriológica da água de abastecimento
estão apresentados na Tabela 4.2. Segundo o Instituto Tecnológico de Pernambuco ITEP, o
resultado da análise físico-química está de acordo com o VMP – Valor Máximo Permitido em
todos os pontos coletados. Os resultados das análises bacteriológicas para os pontos
P3, P4,
P5 e P6
indicam a ausência de crescimento de coliformes de bactérias do grupo coliformes,
pois NMP – Número Mais Provável deu o resultado menor do que dois (NMP<2).
114
Tabela 4.2 – Resultados da análise físico-química e bacteriológica das amostras de água
Pontos de coleta da água
Rol de
Entrada
Tanque de
Escalda
Evisceração
Chiller
Sala de
Cortes
Saída da
ETA
Entrada da
ETA
Parâmetro Unidade P1 P2 P3 P4 P5 P6 P7
Cor mg/l Pt-Co 15 15 15 15 15 15 20
Turbidez UT 2 2 3 2 2 2 2
PH - 7,4 7,1 7,2 7,4 7,3 7,0 7,4
Condutividade
µ
S/cm
398 401 402 404 402 402 375
Salinidade
0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0 0,0
ST Dissolvidos mg/L 188 188 189 190 189 189 175
Alcalinidade mg/L CaCO
3
84 82 83 84 83 82 81
Dureza Total mg/L CaCO
3
93 90 94 86 84 85 88
Dureza de Cálcio mg/L CaCO
3
21 21 22 22 21 21 18
Cloretos mg/L Cl
-
66 65 64 64 64 65 58
Sólidos Totais mg/L 198 156 200 203 200 152 184
ST Fixos mg/L 172 109 197 173 171 101 169
ST Voláteis mg/L 26 47 3 30 29 51 15
S. Suspensos Totais mg/L 1 1 2 0 3 2 2
SS Fixos mg/L 1 0 1 0 0 1 1
SS Voláteis mg/L 1 1 1 0 3 1 1
S. Dissolvidos Totais
mg/L 197 155 198 203 198 150 182
SD Fixos mg/L 171 109 196 173 171 100 168
SD Voláteis mg/L 26 46 2 30 26 50 14
Sulfato mg/L SO
4
38 39 38 38 38 38 4
Ferro mg/L 0,2 0,2 0,2 0,3 0,2 0,2 0,3
Sódio mg/L 38 37 37 35 36 35 34
Potássio mg/L 8,5 8,5 8,4 8,1 8,1 8,2 8,1
Coliformes totais NMP/100 ml 2 4 < 1,0 < 1,0
< 1,0
< 1,0
240
Coliformes fecais NMP/100 ml 1 3 < 1,0 < 1,0
< 1,0
< 1,0
3,1
*Pontos de coleta nas atividades de abate:
P1:
Rol de Entrada da Indústria,
P2:
Tanque de
escalda,
P3:
Evisceração,
P4:
Chiller,
P5:
sala de cortes,
P6:
saída da ETA,
P7:
entrada da
ETA.
Porém, nos pontos
P1, P2 e P7
pode ocorrer crescimento de coliformes porque o
NMP>2, isto aponta ambiente indicativo de desenvolvimento de coliformes, o que realmente
115
ocorre nos pontos
P1 e P2
pela grande quantidade de matéria orgânica (fezes, sangue, penas),
que são os resíduos oriundos das aves, e o
P7
é a água bruta captada da barragem de brotas,
portanto, antes da atividade de desinfecção. Os pontos
P3, P4, P5 e P6
estão de acordo com o
artigo 62 do RISPOA (Regulamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal), que trata da
parte físico-química e bacteriológica da água.
4.3.2.1 - Quantidade de água consumida em cada setor
Mediante as informações da equipe técnica da empresa e acesso aos relatórios da
consultoria técnica reconheceu-se as micro-vazões da água das atividades envolvidas no
abatedouro para mensuração dos consumos. Depois de identificadas as micro-vazões da água
foi realizada a instalação dos hidrômetros para cada setor e foram criadas as planilhas para
registrar os consumos nos dias de abate, pois até o momento do levantamento não se
monitorava o consumo da água das tubulações. Para implantação desta ação foi mapeada a
micro-vazão da água relacionando-a às suas atividades de uso final, a água entendida aqui
como um
input
relevante à execução da tarefas. Neste procedimento foi utilizado o modelo de
custeio baseado em atividades
ABC
(Robert Kaplan e Robin Cooper, 1980).
A Figura 4.7 mostra a identificação de algumas dessas micro-vazões para as várias
atividades do processo e na Tabela 4.2 está apresentada a planilha de consumo de água em
cada atividade.
Conforme apresentado no Quadro 4.1 a distribuição dos hidrômetros de cada tubulação
atende de 1 a 7 atividades para o uso na execução das tarefas, inclusive destinada à tarefa
bastante distinta, por exemplo, a tubulação onde está instalado o hidrômetro 1 conduz a água
desde a recepção, localizada fora do processo de abate a a lavagem de caixas dentro do
processo fabril, entretanto, o modelo usado (
ABC)
apropria os custos indiretos, neste caso, o
uso indireto da água no consumo total do processo, por entender que as tarefas realizadas fora
do processo de abate, apesar da não inserção direta, mas está vinculada ao abate, aqui
considerado uso indireto.
116
Figura 4.7 – Marcação das tubulações por atividade.
Quadro 4.1 – Descrição das atividades relacionadas a cada hidrômetro.
Hidrômetro
Referência
Descrição
1
AF1.1A
Linha que abastece recepção, escritório, gerência, banheiros, lavador de
mãos, lavador de botas e sala de lavagem de caixa.
2
AF1.1B
Refeitório e casa de máquina
3
AF1.2
Sala de embalagem, sala dos carrinhos, corredor das câmaras frias, corredor
do carregamento e um bodelor.
4
AF1.3A
Sala dos compressores e graxaria
5
AF 1.3B
Caldeiras
6
AF1.4
Salas de pendura, sangria e embalagem, além de água quente nas salas
escaldagem, depenadeira e evisceração.
7
AF1.5
Máquina de gelo
8
AF2.1
Máquina de moela
9
AF2.2
Máquinas de atordoamento, escaldagem de s, depenadeira de pés e
frango.
10
AF2.3
Pré-chiller e mesa de separação das vísceras
117
As quantidades de água consumidas nas atividades foram levantadas por planilha em
Excel durante o mês de janeiro de 2007, esse mês foi escolhido devido a alta demanda, e os
valores estão consolidados na Tabela 4.3. Os hidrômetros eram lidos todos os dias a partir das
5:00 horas antes de iniciar o abate e ás 5:30 horas, tempo suficiente para realizar a leitura dos
hidrômetros. As atividades de depenagem, pré-resfriamento, resfriamento, lavagem de carcaça
e lavagem geral iniciada logo após o término do abate demandam bastante água, enquanto
outras como cortes, embalagem e acondicionamento nas maras frigoríficas necessitam de
menos água. O padrão de qualidade da água nos para usos nobres (lavagem de carcaça,
evisceração, pré-resfriamento, resfriamento, etc) é alto, exigência do Ministério da Agricultura
(RIISPOA, Artigo 62). A média do consumo de 23,76 litros/ave abatida foi comparada a
alguns padrões pesquisados a nível nacional e internacional, como apresentado na Tabela 4.4.
Tabela 4.3 – Consumo de água e abate de aves em janeiro de 2007.
Consumo de água
Referência Hidrômetros Total (m
3
/mês) Volume médio diário (m
3
/dia)
AF1.1A 1 255 11
AF1.1B 2 2093 87
AF1.2 3 1478 62
AF1.3A 4 4626 193
AF1.3B 5 1293 54
AF1.4 6 1775 74
AF1.5 7 480 16
AF2.1 8 968 40
AF2.2 9 5924 247
AF2.3 10 4656 202
TOTAL - 23548 986
Abate de aves
Total Aves abatidas 1037103 aves ao mês 41481 aves ao dia
Consumo por ave
Litros/ave 22,71 23,76
O resultado do consumo encontrado revela que a média está inferior as encontradas
nos Estados Unidos, o maior produtor de frango do mundo, Israel que tem uma pequena
produção e a recomendação do Ministério da Agricultura, porém superior ao intervalo médio
encontrado na pesquisa brasileira. O intervalo encontrado na média nacional depende da
reposição de água do chiller, eficiência do processo de desinfecção e, principalmente, a
disponibilidade hídrica da região.
118
Tabela 4.4 – Consumo de água por ave abatida em abatedouros referenciados na literatura e na
presente avaliação.
Autores País Litros por ave
VAN der LEEDEN (1990) EUA 25
TROISE e TODD (1990) Israel 33
SANTOS (2003) Brasil 18 a 22
MAPA (Portaria 210) Brasil 27
O presente estudo Pernambuco 23,8
Pelos resultados da Tabela 4.4 o abatedouro da Agropecuária Serrote Redondo está
com seu consumo acima da média nacional e está localizado no nordeste onde se tem o menor
percentual de disponibilidade de água, além da com a segunda maior população do Brasil.
Estes dados são preocupantes por se tratar de um setor com importância sócio-econômica para
a região, portanto, uma estratégia organizacional do projeto em relação à gestão dos recursos
hídricos é imprescindível, pois a redução desta média no mínimo para o menor índice do
intervalo da dia brasileira, ou seja, 18 litros por ave abatida é fundamental para o
desenvolvimento sustentável regional.
A dia de aves abatidas no mês de janeiro foi de 41.481 com uma variação de abate
entre 25.103 a 51.700 aves, cuja oscilação em percentual é de 39,48% do menor abate e
24,64% do maior, correspondente a um desvio padrão médio de 5.320 aves, o que implica em
uma ineficiência no planejamento do abatedouro em função do mercado e/ou logística. A
medição do consumo por atividades evidencia as demandas de água em fixa e variável, o que
contribui para um eficiente planejamento da quantidade de aves abatidas e, conseqüentemente,
uma gestão racional do recurso hídrico. Com o abatedouro em operação foram identificados
os usos fixos e variáveis da água de janeiro de 2007 e os resultados médios estão apresentados
na Tabela 4.5.
O abatedouro tem a capacidade operacional de abate 50.000 aves/dia com uma
demanda fixa de 6.257 m3 mensal para uma carga horária de 250 horas/mês. A eficientização
do plano de abate é uma maneira de minimizar os gastos hídricos e econômico, também,
que a quantidade de água de uso fixo no abatedouro quando opera com 20.000 aves é o
mesmo para 50.000 unidades, ou seja, um consumo de 26,57% do abate na sua capacidade
total. Na Tabela 4.6 estão apresentados os valores estimados para o consumo otimizado de
água por ave abatida.
119
Tabela 4.5 – Identificação dos usos fixos e variáveis de água
Descrição da atividade Consumo (m
3
) Tipo do uso % Hidrômetro
Refeitório, banheiros e vestuário
1.320m
3
Fixo 5,61 2
Máquina de gelo 480m
3
Fixo 2,04 7
Casa das máquinas 773 m
3
Fixo 3,28 2
Recepção das aves, lavagem de
caixa, lavador de mãos e botas.
246m
3
Variável 1,04 1
Sala de embalagem, corredor da
câmaras frias, bodelor
203m
3
Variável 0,86 3
Sala dos compressores, graxaria
e caldeiras
5.919m
3
Variável 25,13 4 e 5
Salas pendura, sangria,
embalagem, escaldagem,
depenagem, escaldagem dos pés,
chiller, separação de vísceras,
máquina da moela.
9.418m
3
Variável 39,99 6, 8, 9 e 10
Lavagem dos caminhões 1.505 m
3
Variável 6,39
Lavagem geral 3.260m
3
Fixo 13,84 Todos
Gerência, irrigação, banheiros. 423,87 m
3
Fixo 1,80 Todos
Total 23.547,87 m
3
- 100 -
Esta seria uma medida de redução com decisões tomadas ao nível administrativo
comercial, econômico e operacional, pois levaria a uma economia de 38.550m3 / ano, para um
ano operacional de 300 dias úteis.
Tabela 4.6 – Estimativa do consumo na capacidade máxima de abate
Quantidade diária de abate janeiro/07 41.481
Consumo de água por 1000 aves 23,76m
3
Dias de abate 25
Consumo de água na limpeza geral do abate de jan/07 - (
A
) 15,08m
3
Consumo de água na limpeza geral no abate de 50.000 aves/dia – (
B
) 12,51m
3
Diferença - (
B-A)
(2,57m
3
)
Consumo de água na capacidade operacional total 21,19m
3
Segundo a OMS uma pessoa necessita no mínimo de 40 litros de água para as suas
necessidades diárias, porém, ao mensurar os consumos com refeitório, banheiros e vestuários
120
verificou-se que a demanda no mês de janeiro de 2007 foi de 1.320m3 de água. Essas
atividades estão ligadas diretamente aos funcionários que são 300 e trabalham em turno longo
de 10 horas durante 25 dias por mês, portanto, o consumo por pessoa é de 176 litros. Nesse
caso um programa de educação ambiental com certeza reduziria esse consumo com ganhos à
empresa. Na figura 4.8 está representado graficamente a demanda de água por atividade
dentro de um abatedouro de aves localizado no semi-árido de Pernambuco.
.
Demanda de água de um abatedouro de aves ( m3)
6%
1%
2%
3%
1%
25%
40%
6%
14%
2%
Refeitório, banheiros,
vestuário
Recepção das aves, lavagem
de caixa, lavador de mãos e
botas.
Máquina de gelo
Casa das máquinas
Sala de embalagem,
corredor da câmaras frias,
bodelor
Sala dos compressores,
graxaria e caldeiras
Salas pendura, sangria,
embalagem, escaldagem,
depenagem, escaldagem
dos pés, chiller
Lavagem dos caminhões
Lavagem geral
Figura 4.8 – Representação gráfica dos consumos relativos de água conforme o uso.
As perdas físicas verificadas estão relacionadas à vazamento ocasionado por
problemas no sistema hidráulico, um programa de manutenção voltado à parte hidráulica e
implementação de novas tecnologias na área hídrica como torneiras mais eficientes, descarga
121
de sanitários modernas e outros equipamentos com controles de vazão mais eficiente. As
Figuras 4.9 e 4.10 mostram alguns vazamentos.
Figura 4.9 – Vazamentos por falta de manutenção
Figura 4. 10 – Vazamento por problemas em equipamentos.
Esta situação ocorreu com o abatedouro fora de operação, mesmo assim foram
encontrados vários vazamentos e não mensurados porque os hidrômetros não estavam
instalados.
A Tabela 4.7 mostra o tempo de vazão de dez torneiras automáticas destinadas a
lavagem das mãos. Essas vazões foram medidas acionando os botões da saída da água na
pressão máxima e cronometrando até parar de vazar.
122
Tabela 4.7 – Vazão das torneiras de lavagem de mãos
Torneiras Vazão (litros/segundo)
1 – abate 0,212
2 – abate 0,300
3 – abate 0,057
4- abate 0,179
5 - abate 0,082
6- vestuário masculino 0,150
7- vestuário masculino 0,269
8– refeitório 0,083
9– refeitório 0,086
10– refeitório 0,043
Foi observado que todas as torneiras estão desreguladas, como está registrado a vazão
das torneiras variam de quarenta e três mililitros de água por segundo (torneira 10) a trezentos
mililitros (torneira 2). Essas torneiras no abatedouro em operação são acionadas duas vezes: a
primeira para molhar as mãos e passar o sabão líquido; a segunda com o objetivo de tirar o
sabão, o que agrava mais o desperdício naquelas com maior vazão por segundo, como é o caso
da torneira 2. Por falta da conscientização dos funcionários sobre os efeitos da escassez da
água, os mesmos procuram as torneiras de maior vazão para lavar as mãos e seus utensílios de
trabalho. Um exemplo dessa situação aconteceu com um funcionário que lavou e desinfetou
seis capacetes de segurança em uma mangueira cuja vazão é de quarenta litros por minuto,
como mostra a Figura 4.11, e gastou o tempo de seis minutos nesta lavagem,
conseqüentemente, um consumo de duzentos e quarenta litros.
Uma outra medição foi realizada nos hidrômetros no dia domingo em que o
abatedouro estava totalmente parado, com exceção da casa de máquinas e fábrica de gelo.
Os hidrômetros foram mensurados com intervalo de 1:00 hora e o resultado encontrado
está apresentado na Tabela 4.8.
123
Figura 4.11 – Mangueira com vazão de 40 litros por minuto.
Tabela 4.8 – Medição dos hidrômetros em período sem abate de aves
Hidrômetro
Medição (1) – m
3
Tempo (1)
Medição (2) – m
3
Tempo (2)
Consumo m
3
1
000663,59 8:35 000663,64 9:35 0,05
2
005179,04 8:37 005180,81 9:37 1,77
3
003135,36 8:40 003135,36 9:40 0,00
4
013861,28 8:41 013861,49 9:41 0,13
5
004223,11 8:42 004223,33 9:42 0,22
6
005258,28 8:43 005258,28 9:43 0,00
7
- - - - 2,00
8
01954 8:44 01954 9:44 0,00
9
012322,91 8:45 012322,91 9:45 0,00
10
009473,94 8:46 009473,94 9:46 0,00
No momento desta mensuração tinham quatro pessoas no abatedouro e verificou-se
que alguns hidrômetros não movimentaram (
3, 6, 8, 9 e 10
) e outros mudaram de posição (
1,
2, 4, 5, 7
). Os hidrômetros dois e sete pertencem às tubulações que abastecem a casa de
124
máquinas e fábrica de gelo, respectivamente, atividades que funcionam vinte horas por dia,
portanto, não consideramos desperdício. Os hidrômetros um, quatro e cinco que atendem a
recepção, escritório, gerência, banheiros, lavador de mãos, lavador de botas, sala de lavagem
de caixa, sala dos compressores, graxaria e caldeiras deslocaram 0,40m
3
em uma hora, o que
neste caso trata-se de desperdício, pois o abatedouro estava totalmente sem funcionar. Esta
situação vem confirmar os vazamentos detectados anteriormente e para a empresa que opera
em dia trezentos dias úteis por ano restam sessenta e dois dias parados. Os dias sem
atividades equivalem a 1.488 horas mais 4 horas de paralisação nos dias de operação
correspondente a 1.200 horas somam 2.688 horas / ano paralisado e um desperdício de
1.0755,20 m
3
/ano. Os investimentos para economizar água nesta situação são de baixo custo
frente a um recurso natural de tamanha importância.
A empresa realiza um reúso de efluente não tratado para o transporte das penas até a
graxaria, onde os efluentes das próprias penas retornam ao local da depenadeira fechando o
ciclo. Esta ação ocorre durante todo tempo do abate, no final tem sua disposição nas lagoas de
tratamento. As penas o transformadas em farinha e utilizadas como ingrediente na ração. A
Figura 4.12 mostra a depenadeira e o reúso desse efluente.
Figura 4.12 – Aves sendo depenadas e reúso da água para não acumular as penas.
125
A vazão desse reúso é de aproximadamente 10.000 litros/hora, assim foram registrados
no mês de janeiro uma média 9 horas/abate/dia, portanto, nos 25 dias úteis foram gastos 225
horas, o equivalente a 2.250 m3/mês, neste caso considerada uma boa economia de água.
Essa prática de reúso deveria acontecer em outras tarefas do abatedouro, como por
exemplo, na lavagem dos caminhões. A empresa possui 60 caminhões para transportar aves
vivas e abatidas e cada veículo consome por lavagem 4,28 m
3
(SENAI, 2002), como esses
transportes são lavados, no mínimo, quatro vezes por semana, a empresa tem um consumo de
água de 4.108,80 m
3
mensal de uso não nobre, proporcional a uma demanda de água para
quatro dias de abate.
4.4 – CONCLUSÕES
O levantamento detalhado da demanda de água nas atividades do abatedouro de aves,
em relação aos macro vazão e micro vazão, é o primeiro passo para se ter uma visão do
consumo de água nas atividades do processo de abate para identificação de suas ineficiências
e, posteriormente, correção.
A qualidade da água é outro ponto imprescindível no desempenho das atividades de
abatedouro de aves, uma vez que se trata de alimentos para consumo humano e a
vunerabilidade de contaminação pela água é alta, o que faz necessário um monitoramento nas
características dos recursos hídricos utilizados, tanto nas áreas físico-química e bacteriológica.
A hidrometração das atividades de abate e a conscientização dos funcionários são
pontos relevantes na organização de um programa de gestão da água com o objetivo na
otimização e reúso, de forma sistemática e contínua, principalmente em regiões de escassez do
recurso hídrico, como é o semi-árido do nordeste brasileiro.
No reúso deve-se levar em consideração fatores limitantes como técnicas,
operacionalidade e econômico, muito embora, em regiões com pouca disponibilidade de água
devem ser lançadas alternativas que visem evitar conflitos e desenvolver um programa de
sustentabilidade. O reúso do efluente das penas é um bom exemplo de uma ação de redução da
água.
126
4.5 – RECOMENDAÇÕES
1 A empresa deverá criar um comitê da gestão das águas com o foco em duas metas: macro-
fluxo e micro-fluxo do insumo água. Para a gestão das águas junto a essa comissão propõe-se
o seguinte modelo:
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+
+
PROGRAMA DE GESTÂO
2 Realizar estudos econômicos-finaceiros ocasionados pela redução dos custos com a gestão
da água e sua agregação de valor aos produtos pela otimização produtiva, como também, a
melhoria da imagem da empresa perante o mercado competitivo. Para está análise de
avaliação utilizar a ferramenta TIR (Internal Rate Retorne), com esta complexa, porém
conhecida fórmula, é possível prever a taxa de retorno do investimento planejado, que aliado
a outra ferramenta denominada Pay-back, é possível verificar o tempo de retorno.
3 Realizar estudos econômicos-finaceiros ocasionados pela redução dos custos com a gestão
da água e sua agregação de valor aos produtos pela otimização produtiva, como também, a
melhoria da imagem da empresa perante o mercado competitivo. Para está análise de
avaliação utilizar a ferramenta TIR (Internal Rate Retorne), com esta complexa, porém
conhecida fórmula, é possível prever a taxa de retorno do investimento planejado, que aliado
a outra ferramenta denominada Pay-back, é possível verificar o tempo de retorno.
127
4 – Programa de educação aos funcionários voltado aos recursos hídricos, treinamento e
reciclagem da equipe de gestão da água afim de mantê-los informados dos acontecimentos
atuais.
5 Implantar um programa de estudos em reúso de efluentes tratados para uso em atividades
que demandam água não nobre como lavagem de caminhões, caixas de transporte de aves,
descargas de sanitários, irrigação de plantas e lavagem de pisos externos.
6 Implantação da tecnologia de geo-tubos na ETA (COMPESA, 2006) para aproveitamento
da água de descarga.
Portanto, recomenda-se para abatedouro de aves que a conservação deve ser
promovida através de programas de educação ambiental e gestão adequada da demanda e, o
reúso se basear na gestão da oferta, isto é, buscando fontes alternativas de suprimento,
incluindo água recuperada, águas pluviais e água subterrânea, complementada através de
recarga artificial de aqüíferos.uma posição de acordo com o meio ambiente, focando um
insumo vital que é a água, consciente na adequada necessidade de seu uso de maneira
otimizada em termos quantitativos e qualitativos.
4.6 – REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
AGÊNCIA ESTADUAL DE PLANEJAMENTO E PESQUISAS DE PERNAMBUCO -
CONDEPE/FIDEM Jul/2003
VAN DER LEEDEN, F.; TROISE, F. L.; TODD, D.K. The water encyclopedia. 2. ed.
Michigan: Lewis Publishers, 1990
KAPLAN, Robert S.; COOPER, Robin.
Custo e desempenho:
administre seus custos para ser
mais competitivo. São Paulo: Futura, 1998.
BRASIL. MINISTÉRIO DO MEIO AMBIENTE. Disponibilidade de água doce no Brasil.
Disponível em http//:www.mma.gov. Acesso em 18 de maio de 2005.
MINISTÉRIO DA AGRICULTURA – Portaria 210
RIISPOA – Ministério da Agricultura , art. 62
PALHARES, J.C.P. Impacto ambiental causado pela produção de frango de corte e
aproveitamento racional de camas. In: CONFERÊNCIA APINCO 2005 DE CIÊNCIA E
TECNOLOGIA AVÍCOLAS. 2005, Santos. Anais... Campinas: Facta, 2005. p.43-60.
128
SANTOS, J. L. – Revista Avicultura Industrial, Ed.1080 – Artigo, 2003.
SITE: www. Jardimdeflores.com.br – Baronesa - consulta 2007.
SENAI, SEBRAE, UNEP Estudo de caso na Perdigão Agro-Industrial Serrafina rrea,
2001.
129
5. CONCLUSÕES GERAIS
1- Os conhecimentos dos aspectos e impactos ambientais gerados por efluentes de abatedouro
de aves é de grande importância ambiental pelos danos que pode causar ao meio ambiente,
essencialmente os recursos hídricos, por se lançados em corpos de água e o monitoramento
desses efluentes é imprescindível na elaboração SGA de abatedouro de aves. O modelo de
custeio ABC deu uma grande visão das atividades mais impactantes e facilitador das tomadas
de decisões em relação as medidas mitigatórias.
2 - Fica claro que a água é um recurso que pode limitar a produção avícola, sendo ela
importante em termos quantitativos e qualitativos. Desta forma, deve ser entendida como um
insumo produtivo, disponível em quantidade e qualidade e dotado de valor econômico, e
também como um recurso natural finito, fundamental para o desenvolvimento da vida no
planeta e das atividades humanas, portanto todos os agentes da cadeia produtiva de aves, neste
estudo os abatedouros, têm a responsabilidade de conserva-la como usuários e como cidadãos.
3. O trabalho desenvolvido mostrou-se de extrema importância, uma vez que aponta para uma
solução sustentável em relação à atividade avícola, principalmente o elo da cadeia produtiva
abatedouro de aves, na região do Nordeste. Os resultados aqui apresentados apontam para a
importância dos impactos ambientais gerados pelos efluentes de abatedouro de aves, a
otimização da água e tecnologias para reúso.(Cap 2).
4. A gestão da água é imprescindível como ferramenta para sustentabilidade no processo de
abate de aves em regiões com escassez de recursos hídricos.(Cap 3).
De um modo geral, os resultados aqui apresentados mostram subsídios para a
continuidade dos avanços científicos, técnicas, políticas e institucionais para o monitoramento
dos impactos ambientais dos abatedouros avícolas e o gerenciamento dos recursos hídricos, de
maneira a contribuir com um Sistema de Gestão Ambiental (SGA) de abatedouro de aves, que
torne essa atividade sustentada.
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