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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL
ESCOLA DE ENGENHARIA
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ENGENHARIA CIVIL
NORIE - NÚCLEO ORIENTADO PARA A INOVAÇÃO DA EDIFICAÇÃO
AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO PROTÓTIPO DE
HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL ALVORADA
Eugenia Aumond Kuhn
Porto Alegre
outubro 2006
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1
EUGENIA AUMOND KUHN
AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO PROTÓTIPO DE
HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL ALVORADA
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Engenharia Civil da Universidade
Federal do Rio Grande do Sul, como parte dos requisitos para obtenção do título de Mestre em
Engenharia na modalidade Acadêmico
Porto Alegre
outubro 2006
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2
K96a Kuhn, Eugenia Aumond
Avaliação da sustentabilidade ambiental do protótipo de habitação
de interesse social Alvorada / Eugenia Aumond Kuhn. – 2006.
Dissertação (mestrado) – Universidade Federal do Rio Grande do
Sul. Escola de Engenharia. Programa de Pós-Graduação em Engenha-
ria Civil. Porto Alegre, BR-RS, 2006.
Orientação : Prof. Dr. Miguel Aloysio Sattler
1. Desenvolvimento sustentável. 2. Habitação popular. 3. Avaliação
ambiental. I. Sattler, Miguel Aloysio, orient. II. Título.
CDU-69:658(043)
3
EUGENIA AUMOND KUHN
AVALIAÇÃO DA SUSTENTABILIDADE AMBIENTAL DO PROTÓTIPO DE
HABITAÇÃO DE INTERESSE SOCIAL ALVORADA
Esta Dissertação de Mestrado foi julgada adequada para a obtenção do título de MESTRE EM
ENGENHARIA e aprovada em sua forma final pelo professor orientador e pelo Programa de Pós-
Graduação em Engenharia Civil da Universidade Federal do Rio Grande do Sul.
Porto Alegre, 20 de outubro de 2006
Prof. Miguel Aloysio Sattler
PhD. pela University of Sheffield, Inglaterra
Orientador
Prof. Fernando Schnaid
Coordenador do PPGEC/UFRGS
BANCA EXAMINADORA
Prof. Roberto Lamberts (UFSC)
PhD. pela Leeds Metropolitan University, Inglaterra
Prof. Heitor da Costa Silva (PROPAR/UFRGS)
PhD. pela Architectural Association School of Architecture, Grã-Bretanha.
Prof. Fernando Schnaid (PPGEC/UFRGS)
PhD. pela University of Oxford, Inglaterra
4
A Rodrigo, Erni, Elisabeth, Sofia, Isadora e Lidia.
5
AGRADECIMENTOS
Agradeço a CAPES pela bolsa de estudos que possibilitou a realização dessa pesquisa.
Ao professor Sattler, pela acolhida generosa e amiga, que transformou uma tarefa, tradicionalmente
árida, em um caminho curioso e apaixonante em direção a um mundo, possivelmente, melhor.
À minha família, por ser tão família, tão minha.
Ao Rodrigo, pela impaciente paciência e por me fazer tão feliz entre saraus, leituras noturnas e novos
músicos.
À tia Cleufe, pela leitura atenciosa e pelo carinho de sempre.
Aos amigos do NORIE, que descobri e redescobri neste período de mestrado, e com os quais vivi muito
bons momentos, especialmente a Nauíra, Patrícia, Pery, Diego, Maurício, Marcos, Ingrid, Lelé e Vivi.
A todos os professores e funcionários do NORIE, por tornarem-no um espaço agradável e propício ao
desenvolvimento intelectual e de grandes amizades.
À professora Ângela Masuero, ao professor Bergmann e ao colega Daniel Pagnussat, pela gentil
presteza no esclarecimento de dúvidas pontuais e fundamentais para o resultado do trabalho.
Ao Ercole e à Lucília, pela boa vontade e prontidão ao fornecerem informações sobre o protótipo
Alvorada e seu processo de construção.
6
Marco Polo descreve uma ponte, pedra por pedra.
- Mas qual é a pedra que sustenta a ponte? – pergunta Kublai
Khan.
- A ponte não é sustentada por esta ou aquela pedra - responde Marco -,
mas pela curva do arco que estas formam.
Kublai Khan permanece em silêncio, refletindo. Depois
acrescenta:
- Por que falar das pedras? Só o arco me interessa.
Polo responde:
- Sem pedras o arco não existe.
Italo Calvino
7
RESUMO
KUHN, E. A. Avaliação da sustentabilidade ambiental do protótipo de habitação de interesse social
Alvorada. 2006. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil, UFRGS, Porto Alegre, 2006.
O setor da construção civil provoca impactos significativos sobre o meio-ambiente. No Brasil, problemas
econômicos e sociais tendem a agravar essa situação. Nesse sentido, as carências habitacionais são
provavelmente um dos maiores desafios do setor, pois a construção e fornecimento dessas moradias, além de
refletir em diferentes impactos no meio ambiente, na saúde e no conforto de seus usuários, usualmente, também
apresentam significativas restrições financeiras. Buscando alternativas para esses problemas, o grupo de
sustentabilidade do Núcleo Orientado para a Inovação da Edificação (NORIE) vem desenvolvendo estudos de
aprimoramento e de avaliação de uma habitação de interesse social concebida e construída segundo diretrizes
para edificações sustentáveis: o Protótipo Alvorada. O objetivo deste trabalho, em continuidade, é a avaliação
ambiental dos subsistemas implantados e dos materiais empregados na habitação. Complementarmente,
também é feita a identificação dos custos desses materiais. A definição do método de avaliação ambiental,
através da revisão bibliográfica, embasou-se naqueles existentes e consolidados, nas cargas ambientais
genericamente ocorrentes ao longo do ciclo de vida de uma edificação e nos dados disponíveis no contexto
nacional. O método resultante, aplicado, foi composto de critérios de avaliação, que caracterizam cargas
ambientais imediatas, vinculadas a potenciais impactos finais. A representação gráfica simultânea das três
escalas de análise (da edificação como um todo, dos subsistemas e dos materiais) proporciona uma apreensão
rápida e fácil dos resultados e permite identificar quais subsistemas apresentam potenciais de impactos
ambientais mais significativos em cada critério e, por sua vez, quais os pontos fracos dos mesmos. A partir
dessas informações é possível gerar modificações nas soluções implantadas, visando ao seu aperfeiçoamento.
Adicionalmente, os dados gerados pela avaliação fornecem valores para o desenvolvimento de referenciais
iniciais de desempenho ambiental de edificações de interesse social no contexto brasileiro. Quanto aos custos
referentes aos materiais, são considerados elevados se comparados aos de outras tipologias habitacionais de
mesmo padrão implantadas atualmente, porém, há de se considerar que são referentes a uma unidade
prototípica, os quais tendem a ser superiores àqueles de soluções consolidadas e de implantação em grande
escala.
Palavras-chave: avaliação ambiental, sustentabilidade, habitação de interesse social.
8
ABSTRACT
KUHN, E. A. Avaliação da sustentabilidade ambiental do protótipo de habitação de interesse social
Alvorada. 2006. Dissertação (Mestrado em Engenharia Civil) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia
Civil, UFRGS, Porto Alegre, 2006.
Environmental sustainability assessment of the Alvorada low-income house prototype
Considerable environmental impacts are involved in the construction industry. In Brazil, economic and social
issues tend to make this situation worse. Lack of housing is, probably, the biggest challenge, because
construction and allotment reflect impacts in environment, in users health and comfort, and usually is financially
restricted. Seeking alternatives to those problems, the sustainability group of Núcleo Orientado para a Inovação
da Edificação (NORIE) has been developing studies on the improvement and assessment of a low-income
housing designed and built according to directives in sustainable buildings: The Alvorada prototype. The aim of
this continued research is the environmental assessment of subsystems implanted and materials used in
dwelling. Complementary, materials costs are identified. The method definition, through bibliographic research,
was based in consolidated methods, in environmental loads generically happening along building life cycle and in
national context available data. Resultant, applied method is composed of evaluation criteria which characterize
immediate environmental loads and are linked up with potential final impacts. Simultaneous graphical
representation of the three analysis scales (of the construction as a whole, of the subsystems and of the
materials) provides a fast and easy results apprehension and allows to identify which subsystems presents more
significant potentials environment impacts in each criterion and their weak points. From this information it is
possible to generate modifications in the implanted solutions, aiming their improvement. Besides this,
environmental assessment data generated supply values for the initial development of benchmark about low-
income housing environmental performance in Brazilian context. Concerning material costs, they are considered
high when compared to those of most commonly built low-cost houses in Brazil. However, it must be considered
that, as a prototype, its costs are higher than the already consolidated solutions in constructions and than those
built in large scale.
Key-words: environmental assessment; sustainability; low-income housing.
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1: inserção e desenvolvimento do conceito de sustentabilidade na construção............................... 23
Figura 2: fluxos linear e cíclico no ciclo de vida de edificações.................................................................... 26
Figura 3: cadeia de causa e efeito provocada pelo ciclo de vida de edifícios.............................................. 27
Figura 4: escalas espaciais de impactos para produtos da construção civil.................................................
27
Figura 5: estrutura de Análise do Ciclo de Vida............................................................................................
67
Figura 6: uso de ferramentas de avaliação ambiental através das etapas do ciclo de vida das
edificações................................................................................................................................... 72
Figura 7: desenho da pesquisa.....................................................................................................................
80
Figura 8: classificação dos critérios quanto ao tipo de carga exercida.........................................................
87
Figura 9: vistas nordeste e noroeste do protótipo Alvorada..........................................................................
95
Figura 10: planta baixa do protótipo Alvorada.............................................................................................. 97
Figura 11: composição do subsistema de fundações................................................................................... 99
Figura 12: composição do subsistema de pisos........................................................................................... 100
Figura 13: composição do subsistema de paredes.......................................................................................
101
Figura 14: composição do subsistema de esquadrias.................................................................................. 103
Figura 15: composição do subsistema de cobertura.................................................................................... 104
Figura 16: composição do subsistema de pergolados..................................................................................
106
Figura 17: delineamento do ciclo de vida do protótipo Alvorada e das fronteiras da presente pesquisa..... 109
Figura 18: cargas ambientais identificadas para materiais empregados no protótipo Alvorada...................
110
Figura 19: emissão de resíduos perigosos................................................................................................... 115
Figura 20: consumo de energia para transporte de materiais...................................................................... 117
Figura 21: emissão de CO
2
decorrente do transporte de materiais..............................................................
118
Figura 22: distância dos produtores dos materiais empregados no protótipo Alvorada............................... 119
Figura 23: consumo de energia para processos de manufatura de materiais..............................................
122
Figura 24: consumo de recursos não reaproveitados...................................................................................
130
Figura 25: consumo de materiais sem potencial de reaproveitamento.........................................................
132
Figura 26: perdas de recursos decorrentes do processo de construção...................................................... 134
Figura 27: consumo de madeira nativa não certificada................................................................................ 137
10
LISTA DE QUADROS
Quadro 1: previsão da disponibilidade das matérias primas básicas de alguns materiais de construção....
30
Quadro 2: processos a serem incluídos na avaliação ideal da energia embutida........................................ 36
Quadro 3: índices energéticos de materiais de construção disponíveis no contexto brasileiro....................
37
Quadro 4: índices energéticos de materiais de construção disponíveis no contexto internacional.............. 38
Quadro 5: atividades de transporte presentes nas diferentes etapas do ciclo de vida de uma habitação... 39
Quadro 6: características dos caminhões de cargas encontrados nas rodovias nacionais..........................
39
Quadro 7: consumo de água para a produção de materiais no contexto nacional.......................................
41
Quadro 8: emissões relacionadas a produção de materiais no contexto brasileiro......................................
44
Quadro 9: composição do índice energético de alguns materiais de construção no contexto brasileiro......
45
Quadro 10: fatores de emissão estimados para veículos europeus pesados de transporte de cargas
movidos a diesel.......................................................................................................................... 47
Quadro 11: classificação, origem e destino dos resíduos sólidos gerados na produção de alguns
materiais de construção no contexto nacional............................................................................. 53
Quadro 12: perdas de materiais em processos produtivos convencionais brasileiros..................................
55
Quadro 13: incorporação de insumos reciclados a alguns materiais de construção.................................... 58
Quadro 14: potencial de reaproveitamento de alguns materiais de construção........................................... 59
Quadro 15: efluentes líquidos gerados na produção de alguns materiais de construção no contexto
nacional........................................................................................................................................
60
Quadro 16: relação dos critérios ambientais definidos com os potenciais impactos ambientais e com as
etapas do ciclo de vida.................................................................................................................
87
Quadro 17: quantitativos resumidos e custos dos materiais empregados no subsistema de fundações.....
99
Quadro 18: quantitativos resumidos e custos dos materiais empregados no subsistema de pisos............. 100
Quadro 19: quantitativos resumidos e custos dos materiais empregados no subsistema de paredes.........
102
Quadro 20: quantitativos resumidos e custos dos materiais empregados no subsistema de esquadrias....
103
Quadro 21: quantitativos resumidos e custos dos materiais empregados no subsistema de cobertura...... 105
Quadro 22: quantitativos resumidos e custos dos materiais empregados no subsistema de pergolados....
106
Quadro 23: quantitativos e custos dos materiais utilizados no protótipo Alvorada, discriminados por
subsistema...................................................................................................................................
108
Quadro 24: quantitativos globais dos materiais utilizados no protótipo Alvorada......................................... 108
Quadro 25: periculosidade dos produtos químicos segundo informações disponibilizadas nas FISPQ.......
112
Quadro 26: valores obtidos por Sperb (2000) para consumo de energia para transporte de materiais de
coberturas.................................................................................................................................... 120
Quadro 27: valores obtidos por Sperb (2000) para consumo de energia para transporte de materiais de
paredes........................................................................................................................................ 120
Quadro 28: valores obtidos por Sperb (2000) para consumo de energia para processos de materiais de
paredes........................................................................................................................................ 124
Quadro 29: valores obtidos por Sperb (2000) para consumo de energia para processos de materiais de
coberturas.................................................................................................................................... 125
11
Quadro 30: valores obtidos por Krüger e Dumke (2001) para consumo de energia para processos de
manufatura de materiais de paredes e coberturas.......................................................................
125
Quadro 31: contribuição das etapas de fabricação e de transporte dos materiais de construção, para o
total da energia embutida.............................................................................................................
126
Quadro 32: energia embutida incorporada na construção de habitações, em diferentes países................. 127
Quadro 33: comparação, em anos, dos aportes energéticos para fabricação e transporte dos materiais
utilizados no protótipo Alvorada, relativamente ao consumo de energia elétrica para uso de
edificação de mesmo padrão....................................................................................................... 128
Quadro 34: energia requerida para a produção e transporte dos materiais de construção do protótipo
Alvorada, em relação à estimativa de consumo de energia elétrica para a operação, ao longo
de 35 anos...................................................................................................................................
128
Quadro 35: perdas médias de materiais na etapa de construção do protótipo Alvorada............................. 133
Quadro 36: custos dos materiais empregados na construção do protótipo Alvorada...................................
139
Quadro 37: custos dos materiais empregados em habitações-padrão construídas pelo DEMHAB,
discriminados por subsistema......................................................................................................
143
Quadro 38: custos dos materiais empregados na Casa Cerâmica, discriminados por subsistema............. 144
Quadro 39: custos dos materiais empregados na Casa 1.0, discriminados por subsistema........................
144
Quadro 40: massas específicas e unitárias adotadas nos cálculos de argamassas....................................
171
Quadro 41: valores para a conversão, em massa, das quantidades de materiais....................................... 171
Quadro 42: custos dos materiais empregados na construção do protótipo Alvorada, em CUB e em dólar. 171
12
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: quantitativos do subsistema de fundações................................................................................... 163
Tabela 2: quantitativos do subsistema de pisos........................................................................................... 164
Tabela 3: quantitativos do subsistema de paredes – alvenarias.................................................................. 165
Tabela 4: quantitativos do subsistema de paredes – revestimentos............................................................ 166
Tabela 5: quantitativos do subsistema de esquadrias.................................................................................. 167
Tabela 6: quantitativos do subsistema de cobertura.....................................................................................
168
Tabela 7: quantitativos do subsistema de pergolados.................................................................................. 170
Tabela 8: caracterização do subsistema de fundações................................................................................ 173
Tabela 9: caracterização do subsistema de pisos........................................................................................ 173
Tabela 10: caracterização do subsistema de paredes..................................................................................
174
Tabela 11: caracterização do subsistema de esquadrias.............................................................................
174
Tabela 12: caracterização do subsistema de cobertura............................................................................... 175
Tabela 13: caracterização do subsistema de pergolados.............................................................................
175
13
SUMÁRIO
1 INTRODUÇÃO............................................................................................................................
16
1.1 CONTEXTO..............................................................................................................................
16
1.2 JUSTIFICATIVA................................ .......................................................................................
18
1.3 OBJETIVOS..............................................................................................................................
18
1.3.1 Objetivo principal....................................................................................................................
19
1.3.2 Objetivos secundários............................................................................................................
19
1.4 PRESSUPOSTOS.....................................................................................................................
19
1.5 DELIMITAÇÕES........................................................................................................................
20
1.6 LIMITAÇÕES.............................................................................................................................
20
1.7 ESTRUTURA DO DOCUMENTO.............................................................................................
21
2 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL................................................................................................
22
2.1 IMPACTOS AMBIENTAIS DOS PRODUTOS DA CONSTRUÇÃO..........................................
24
2.1.1 Consumo de recursos naturais..........................................................................................
28
2.1.1.1 Consumo de recursos materiais..........................................................................................
29
2.1.1.2 Consumo de energia...........................................................................................................
32
2.1.1.2.1 Energia operacional.........................................................................................................
34
2.1.1.2.2 Energia embutida.............................................................................................................
35
2.1.1.2.3 Energia para transportes.................................................................................................
38
2.1.1.3 Consumo de água e terra....................................................................................................
40
2.1.2 Emissões e geração de resíduos........................................................................................
41
2.1.2.1 Emissões aéreas.................................................................................................................
41
2.1.2.1.1 Emissões ao ar exterior....................................................................................................
42
2.1.2.1.2 Emissões ao ambiente interno.........................................................................................
48
2.1.2.2 Emissões de resíduos sólidos.............................................................................................
51
2.1.2.2.1 Resíduos de processos industriais...................................................................................
52
2.1.2.2.2 Resíduos de construção e demolição..............................................................................
55
2.1.2.2.3 Reutilização e reciclagem................................................................................................
56
2.1.2.3 Emissões de efluentes líquidos...........................................................................................
59
2.1.2.3.1 Efluentes líquidos decorrentes de processos industriais.................................................
59
2.1.2.3.2 Efluentes líquidos decorrentes do uso de edificações.....................................................
61
2.2 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO...........................................................
61
3 AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PRODUTOS DA EDIFICAÇÃO.................................................
64
3.1 ANÁLISE DO CICLO DE VIDA PARA PRODUTOS DA EDIFICAÇÃO....................................
65
14
3.1.1 Metodologia de Análise do Ciclo de Vida..........................................................................
66
3.1.1.1 Definição dos objetivos e escopo........................................................................................
67
3.1.1.2 Construção e análise do inventário.....................................................................................
68
3.1.1.3 Avaliação de impactos do ciclo de vida...............................................................................
68
3.1.1.4 Interpretação do ciclo de vida.............................................................................................
69
3.2 MÉTODOS, INTRUMENTOS E FERRAMENTAS ESPECÍFICOS PARA A AVALIAÇÃO
AMBIENTAL DE PRODUTOS DA EDIFICAÇÃO......................................................................
70
3.2.1 Métodos de ferramentas baseadas em critérios...............................................................
73
3.2.1.1 Definições gerais.................................................................................................................
74
3.2.1.2 Definições de critérios de avaliação....................................................................................
74
3.2.1.2 Definições da forma de apresentação dos resultados........................................................
75
3.3 AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PRODUTOS DA EDIFICAÇÃO NO BRASIL............................
75
3.4 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO...........................................................
77
4 MÉTODO DE PESQUISA............................................................................................................
79
4.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA.............................................................................................
80
4.2 DETALHAMENTO DAS ETAPAS DA PESQUISA....................................................................
80
4.2.1 Esboço do método de avaliação.........................................................................................
81
4.2.2 Levantamento de dados......................................................................................................
81
4.2.2.1 Dados relativos ao protótipo Alvorada................................................................................
82
4.2.2.2 Dados para caracterização dos critérios de avaliação........................................................
82
4.2.3 Organização dos dados e quantificações..........................................................................
83
4.2.3.1 Cálculo das quantidades úteis............................................................................................
83
4.2.3.2 Quantificação das perdas....................................................................................................
84
4.2.3.3 Identificação dos custos......................................................................................................
85
4.2.4 Definição do método de avaliação.....................................................................................
85
4.2.4.1 Definições iniciais................................................................................................................
85
4.2.4.2 Definição dos critérios ambientais de avaliação e das formas de caracterização..............
86
4.2.4.2.1 Emissão de resíduos perigosos.......................................................................................
88
4.2.4.2.2 Consumo de energia e emissões de CO
2
relacionadas ao transporte............................
88
4.2.4.2.3 Consumo de energia para processos de manufatura......................................................
89
4.2.4.2.4 Consumo de recursos não reaproveitados......................................................................
90
4.2.4.2.5 Consumo de recursos sem potencial de reaproveitamento.............................................
90
4.2.4.2.6 Perdas decorrentes do processo de construção..............................................................
90
4.2.4.2.7 Consumo de madeira nativa não certificada....................................................................
91
4.2.4.3 Definição da forma de apresentação dos resultados..........................................................
91
15
4.2.5 Apresentação e análise dos resultados.............................................................................
92
4.3 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO...........................................................
92
5 O PROTÓTIPO ALVORADA: HISTÓRICO E DESCRIÇÃO.......................................................
95
5.1 ANTECEDENTES.....................................................................................................................
95
5.2 CONCEPÇÃO ARQUITETÔNICA.............................................................................................
96
5.3 CONSTRUÇÃO E SUBSISTEMAS CONSTITUINTES.............................................................
98
5.3.1 Fundações............................................................................................................................
98
5.3.2 Pisos......................................................................................................................................
100
5.3.3 Paredes.................................................................................................................................
101
5.3.4 Esquadrias............................................................................................................................
102
5.3.5 Cobertura..............................................................................................................................
104
5.3.6 Pergolados............................................................................................................................
105
6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS................................................................
107
6.1 AVALIAÇÃO AMBIENTAL: RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO DOS CRITÉRIOS.........
107
6.1.1 Emissão de resíduos perigosos.........................................................................................
111
6.1.2 Consumo de energia e emissão de CO
2
relacionada ao transporte...............................
116
6.1.3 Consumo de energia para processos de manufatura......................................................
121
6.1.3.1 Energia embutida inicial: percentuais..................................................................................
126
6.1.3.2 Relação entre energia embutida inicial e energia elétrica para a operação da habitação..
127
6.1.4 Consumo de recursos não reaproveitados.......................................................................
128
6.1.5 Consumo de recursos sem potencial de reaproveitamento............................................
131
6.1.6 Perdas decorrentes do processo de construção..............................................................
133
6.1.7 Consumo de madeira nativa não certificada.....................................................................
136
6.2 IDENTIFICAÇÃO DOS CUSTOS DE AQUISIÇÃO DE MATERIAIS........................................
138
6.2.1 Custos totais e por subsistemas: implicações das práticas e das soluções
construtivas adotadas.............................................................................................................
139
6.2.2 Custos comparativos com habitações de mesmo padrão...............................................
141
6.2.3 Considerações gerais sobre custos...................................................................................
145
6.3 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO...........................................................
146
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS.........................................................................................................
148
7.1 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS.............................................................
151
REFERÊNCIAS...............................................................................................................................
153
APÊNDICE A – MATERIAIS INCORPORADOS NOS SUBSISTEMAS: COMPOSIÇÕES,
QUANTIDADES E CUSTOS...........................................................................................
162
APÊNDICE B – SÍNTESE DA CARACTERIZAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO..............
172
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
16
1 INTRODUÇÃO
Este capítulo busca orientar o leitor quanto ao conteúdo desta dissertação. Apresenta-se, primeiramente, o
contexto no qual esta pesquisa está inserida, seguem-se a justificativa, os objetivos, os pressupostos, as
limitações e as delimitações da pesquisa, bem como a apresentação da estrutura do trabalho.
1.1 CONTEXTO
A preocupação internacional com o uso responsável e distributivo dos recursos do planeta surge oficialmente na
década de 70. Desde então, a definição de desenvolvimento sustentável passou a englobar também outros
aspectos além dos ambientais. Entre eles, aspectos econômicos e sociais passaram a fazer parte dos planos de
ação para diversos setores da economia.
O setor da construção, especificamente, tem sido apontado como tendo papel significativo para o alcance de
sociedades mais sustentáveis em todas as dimensões que ela envolve. No entanto, o grande volume de
recursos consumidos pelo setor e, consequentemente, de resíduos gerados, assim como as prioridades dos
países em que as pesquisas têm sido desenvolvidas mais intensamente, fez com que o enfoque, até então, se
concentrasse nos aspectos ambientais.
No Brasil, assim como em outros países em desenvolvimento, os impactos ambientais do setor da construção
são potencializados devido a sua associação com outros problemas críticos de ordem econômica e social. O
déficit habitacional talvez seja um desses maiores problemas, no escopo direto da construção civil.
de se considerar que a construção e fornecimento dessas moradias refletem em intervenções no meio-
ambiente, que não estão relacionadas apenas aos impactos gerados no local onde se constrói, mas a todos os
processos envolvidos na produção, uso e disposição final das edificações e de seus componentes. Além disso,
as características das habitações e dos materiais nelas empregados serão determinantes para a saúde e
conforto dos usuários.
Neste sentido, segundo Silva e Shimbo (2000), as baixas condições de habitabilidade e a degradação ambiental
têm sido características das habitações produzidas até o presente momento, e não são exclusividade daquelas
de ocupações clandestinas. As limitações financeiras têm sido o principal argumento, que justifica essas
deficiências.
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
17
Buscando alternativas para a amenização desse cenário, o grupo de sustentabilidade do Núcleo Orientado para
a Inovação da Edificação (NORIE) vem desenvolvendo estudos sobre o planejamento urbano e da edificação
voltados para populações carentes. Um dos focos dos trabalhos tem sido um protótipo de habitação de interesse
social
1
: o protótipo Alvorada. O objetivo da sua construção foi testar, investigar e examinar alternativas
construtivas mais sustentáveis, que fossem simultaneamente capazes de minimizar os impactos sobre o meio
ambiente e atender as necessidades dos moradores. Assim, desde então, têm sido desenvolvidos estudos para
o aprimoramento e a avaliação das soluções propostas para a habitação. Até o presente momento, o protótipo
Alvorada foi tema de cinco dissertações de mestrado, enfocando o desempenho térmico, a otimização das
esquadrias, a avaliação ambiental da cobertura e a caracterização de impactos relacionados à fabricação dos
materiais cerâmicos empregados.
A presente pesquisa continuidade a esses estudos através da avaliação ambiental dos subsistemas
implantados e dos materiais empregados na habitação e, complementarmente, através da identificação dos
custos de aquisição desses materiais. Assim, este trabalho se insere no contexto amplo da sustentabilidade
ambiental na construção civil e também no contexto específico dos desafios e responsabilidades do setor no
panorama nacional.
A motivação para a realização dessa avaliação se deve ao fato de que avaliações ambientais de edificações e
de seus componentes têm sido adotadas como uma das ações para a promoção da sustentabilidade no setor da
construção. Isso porque permitem que se compreendam as extensões e as formas dos impactos de suas
atividades no ambiente. A partir dessa compreensão, podem-se identificar as vantagens e desvantagens
ambientais das soluções e das práticas adotadas e, posteriormente, reformular o projeto ou os novos
empreendimentos. Além disso, avaliações ambientais possibilitam caracterizar as práticas correntes e
estabelecer referenciais de desempenho. Assim, pode-se fazer um monitoramento das futuras iniciativas,
buscando melhorias e redução de impactos negativos continuamente. Esses estudos, no entanto, até
recentemente se concentraram nos países desenvolvidos.
No Brasil, as pesquisas de desempenho ambiental ainda são incipientes, incluindo aquelas focadas em
habitações de interesse social. No entanto, há de se considerar que, para esse tipo de edificação, as melhorias
1
Frequentemente, diversas nomenclaturas são adotadas como sinônimos ao se fazer referência às habitações produzidas
para ou pelas faixas de baixa renda da população. Entre elas se pode citar: habitação de baixo custo, habitação popular e
habitação de interesse social. O que se verifica, entretanto, é que as terminologias apresentam diferentes definições e
dependem do contexto em que as habitações são desenvolvidas. No Brasil, a terminologia interesse social tem sido
aplicada a políticas habitacionais públicas. Assim, o protótipo Alvorada é referenciado dessa forma neste trabalho por
apresentar os requisitos básicos, que, como aponta Larcher (2005), caracterizam a habitação de interesse social:
a) ser financiada pelo poder público, mas não necessariamente produzida pelos governos;
b) ser destinada às faixas de renda que são objeto de ações inclusivas;
c) propor soluções para outros aspectos de interesse social, assim como preservação ambiental e cultural.
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
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possibilitadas por avaliações tendem a ter um efeito multiplicador, uma vez que as soluções são, usualmente,
reproduzidas em diversas unidades, produzindo benefícios em grande escala.
Quanto aos custos, a motivação para sua identificação, está relacionada às limitações orçamentárias
mencionadas, que são uma das barreiras para a introdução de aspectos ambientais no desenvolvimento de
projetos e na seleção de soluções construtivas e de materiais de construção, não apenas, mas,
fundamentalmente, de habitações de interesse social.
1.2 JUSTIFICATIVA
O desenvolvimento deste trabalho justifica-se, de maneira abrangente, pela necessidade de que se
compreendam e tornem explícitos os vínculos entre os potenciais impactos ambientais e as atividades de
produção das edificações brasileiras, e, especificamente, de habitações de interesse social. Outra justificativa
ampla está relacionada à necessidade de que se inicie o estabelecimento de referenciais de desempenho
ambiental desse padrão de habitação no contexto nacional para que se possa monitorar e comparar os
desempenhos das novas soluções, visando à minimização contínua de impactos negativos.
Numa perspectiva mais restrita, a avaliação permite identificar as soluções construtivas adotadas no protótipo
Alvorada que apresentam potenciais de impactos ambientais mais significativos e, por sua vez, quais os
aspectos determinantes para essa condição. Adicionalmente, a identificação dos custos possibilita verificar quais
soluções demandaram maiores recursos financeiros para a aquisição de materiais, e se os valores globais e
parciais podem ser considerados altos ou baixos, comparados aos de outras tipologias habitacionais de mesmo
padrão. Essas informações podem ser referenciais para reformulações do protótipo em estudo e/ou para o
desenvolvimento de novas propostas para habitações de interesse social ambientalmente mais sustentáveis e
com custos admissíveis para no contexto nacional.
1.3 OBJETIVOS
Os objetivos deste trabalho estão classificados em principal e secundários.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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1.3.1 Objetivo principal
O objetivo principal deste trabalho é a avaliação ambiental dos subsistemas implantados
1
e dos materiais
empregados no protótipo de habitação de interesse social Alvorada.
1.3.2 Objetivos secundários
A partir do objetivo principal, estabelecem-se os seguintes objetivos secundários:
a) identificação das cargas ambientais genericamente ocorrentes ao longo do ciclo de vida de
uma edificação;
b) identificação dos dados disponíveis no contexto nacional sobre cargas ambientais
relacionadas aos produtos da edificação, e/ou de informações que possibilitem a quantificação
dessas cargas;
c) identificação de como os métodos existentes avaliam edificações e de quais são seus
benefícios e controvérsias;
d) definição do método para a avaliação dos subsistemas implantados e dos materiais
empregados no protótipo Alvorada, baseado em métodos existentes e informações
disponíveis na literatura;
e) identificação dos subsistemas, na habitação em estudo, com potencial de impactos
ambientais mais significativos;
f) desenvolvimento de referenciais iniciais de desempenho ambiental de habitações de interesse
social no contexto brasileiro;
g) identificação dos custos de aquisição dos materiais empregados nos subsistemas implantados
no protótipo Alvorada.
1.4 PRESSUPOSTOS
A seguir apresentam-se os pressupostos deste trabalho:
a) o desempenho ambiental de uma habitação pode ser avaliado, através de procedimentos que
identifiquem impactos ambientais potenciais, gerados ao longo do seu ciclo de vida;
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Nesta dissertação, definem-se como subsistemas, grupos de materiais, que correspondem à maior parte funcional de uma
edificação.
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b) o método de avaliação a ser definido e aplicado deverá ser baseado em dados nacionais
atualmente disponíveis;
1.5 DELIMITAÇÕES
Foram estabelecidas as seguintes delimitações para este trabalho:
a) a avaliação do protótipo Alvorada, objetivo principal deste trabalho, abrange, dentro do
contexto amplo da sustentabilidade, somente a dimensão ambiental;
b) não são avaliadas as instalações elétricas e hidrossanitárias, por não haver, até a realização
desta pesquisa, projetos definitivos para as mesmas;
c) são excluídas da avaliação aspectos relacionados ao conforto do ambiente interno, que
esses aspectos de desempenho já foram explorados em uma dissertação de mestrado e são,
atualmente, tema de uma tese de doutorado em desenvolvimento;
d) o método de avaliação definido e aplicado baseia-se em elementos comuns a métodos
existentes, mas exclui procedimentos, tais como, agregação, agrupamento e pesagem,
devido às imprecisões e aos aspectos subjetivos que os mesmos envolvem. Assim, a
avaliação não apresenta como resultado um valor global de desempenho;
e) quanto aos custos, delimita-se, neste trabalho, a identificação, apenas, daqueles referentes à
aquisição de materiais na etapa de construção do protótipo Alvorada. Essa delimitação
ocorre em concordância com a avaliação ambiental, que é restrita a aspectos relacionados à
seleção e ao emprego dos materiais na habitação avaliada, e também porque a mesma foi
concebida para a autoconstrução. Assim, o é feita uma avaliação global dos custos de
produção, tais como, aquelas propostas para seleção de inovações tecnológicas, que
consideram, também, outros custos diretos e indiretos de produção, e que buscam, inclusive,
a determinação do preço final do produto.
1.6 LIMITAÇÕES
A principal limitação desta pesquisa relaciona-se a impossibilidade, considerando-se as restrições de recursos e
tempo típicas de uma dissertação de mestrado, de determinação da durabilidade dos materiais empregados na
habitação por meios que não sejam arbitrários. Assim, optou-se por realizar a avaliação ambiental e a
identificação dos custos referentes apenas dos materiais empregados na construção do protótipo, excluindo-se
do estudo os materiais a serem substituídos no decorrer da etapa de uso da edificação. Essa alternativa não é
vista como aquela ideal, por não considerar custos e impactos ambientais globais do ciclo de vida da habitação e
por conferir restrições à comparação direta entre diferentes habitações. No entanto, pelo menos, não são
agregados aspectos subjetivos adicionais aos resultados desta avaliação e também não é inviabilizado que tal
avaliação seja conduzida em prosseguimento a este trabalho.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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1.7 ESTRUTURA DO DOCUMENTO
Esta dissertação está estruturada em sete capítulos. Neste primeiro, estão apresentados o contexto no qual o
tema da pesquisa está inserido, a justificativa, os objetivos, os pressupostos e as delimitações da pesquisa, além
desta apresentação da estrutura do documento.
O segundo capítulo traz uma revisão bibliográfica relacionada à construção sustentável, sendo que a primeira
parte apresenta aspectos contextuais do tema, enquanto a segunda apresenta contribuições mais diretas para
os objetivos deste trabalho. Nessa segunda parte, apresentam-se as principais cargas ambientais ocorrentes ao
longo do ciclo de vida das edificações, incluindo também dados sobre cargas específicas encontradas para o
contexto brasileiro.
O capítulo três, também de revisão bibliográfica, apresenta uma visão sobre métodos de avaliação ambiental
passíveis de aplicação a edificações. Inicialmente, são considerados os benefícios e restrições da utilização da
Análise do Ciclo de Vida para edificações e seus produtos, bem como, dos procedimentos envolvidos. Em uma
segunda seção são analisados métodos de ferramentas específicas para a avaliação ambiental de edifícios,
buscando identificar as diferenças entre as alternativas existentes e os elementos comuns desses métodos.
O capítulo quatro apresenta o método de pesquisa, dividido em delineamento da pesquisa e detalhamento das
etapas. O detalhamento apresenta os procedimentos para a definição do método de avaliação do protótipo
Alvorada, bem como o próprio método.
No capítulo cinco, é feita uma descrição do protótipo, objeto de estudo desta pesquisa, e, no capítulo seguinte,
são apresentados e analisados os resultados da avaliação ambiental e da identificação dos custos dos materiais
empregados. Por fim, o capítulo sete traz as considerações finais e as sugestões para trabalhos futuros.
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2 CONSTRUÇÃO SUSTENTÁVEL
Construção, segundo Plessis (2002), é um extenso processo ou mecanismo para a realização de assentamentos
humanos e criação de infra-estrutura de suporte ao desenvolvimento. Isso inclui extração e beneficiamento de
matérias-primas, manufatura de materiais e componentes, projetos para construção e desconstrução, e
administração e operação do ambiente construído. Logo, uma construção sustentável, assim encarada, é uma
contribuição para a diminuição da pobreza e aumento das condições para uma vida digna (INTERNATIONAL
COUNCIL FOR RESEARCH AND INNOVATION IN BUILDING AND CONSTRUCTION, 1999).
Segundo o International Council for Research and Innovation in Building and Construction (1999), nos esforços
internacionais para o alcance de sociedades mais sustentáveis, provavelmente, nenhum outro setor da indústria
tem um papel tão fundamental quanto o da construção. Diversas são as repercussões econômicas, sociais e
ambientais das suas atividades que contribuem para chegar a essa condição.
No Brasil, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2006), a participação do setor no PIB de
2005 foi de 7,3%. A indústria da construção também desempenha um papel significativo na criação de
pequenas, médias e micro empresas, as quais promovem a economia local em uma escala maior que as
grandes companhias nacionais ou multinacionais (PLESSIS, 2002).
Adicionalmente, a construção é o setor da indústria que gera o maior número de postos de trabalho (UNITED
NATIONS ENVIRONMENT PROGRAME, 2003). Em 2002, o setor incorporou, no Brasil, quase 6,2 milhões de
trabalhadores diretamente ocupados, respondendo por 9,3% do total do país (CÂMARA BRASILEIRA DA
INDÚSTRIA E DA CONSTRUÇÃO, 2002). No entanto, a esses benefícios sociais e econômicos também estão
associadas diversas práticas que desabonam o setor: corrupção, relações trabalhistas informais e injustas, altas
taxas de acidentes no trabalho, falta de treinamento formal da mão-de-obra e discriminação sexual, são algumas
delas (PLESSIS, 2002).
Em relação ao meio-ambiente, o setor da construção é apontado como responsável por grandes alterações.
Estima-se que a maior parte dos recursos naturais extraídos pelo homem seja destinada à construção civil, e
que o setor seja um dos maiores consumidores de energia e emissores de gases de efeito estufa (UNITED
NATIONS ENVIRONMENT PROGRAME, 2003). Segundo o Departamento Nacional de Produção Mineral
(2001), os agregados para a construção civil são os insumos minerais mais consumidos no mundo, sendo que,
no Brasil, o consumo está um pouco acima de 2 toneladas por habitante/ano.
Segundo Plessis (2002), em países em desenvolvimento, os impactos ambientais do setor tendem a ser ainda
maiores, tendo em vista as carências habitacionais e de infra-estrutura que, para serem supridas, demandam
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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grande quantidade de recursos naturais. Assim, as particularidades de cada contexto fazem com que a
construção sustentável assuma diversos enfoques e confira prioridades distintas a diferentes países.
Características como densidade demográfica, desenvolvimento econômico, padrão de vida da população, clima
e matriz energética influenciam na determinação das metas nacionais (INTERNATIONAL COUNCIL FOR
RESEARCH AND INNOVATION IN BUILDING AND CONSTRUCTION, 1999).
Essa conscientização, associada ao aumento da compreensão quanto à complexidade dos aspectos envolvidos
na produção de assentamentos humanos fez com que o escopo da construção sustentável, inicialmente restrito
à conservação do ambiente natural, passasse a englobar problemas relativos à igualdade social e à preservação
cultural, além de pré-requisitos econômicos (INTERNATIONAL COUNCIL FOR RESEARCH AND INNOVATION
IN BUILDING AND CONSTRUCTION, 1999). O desenvolvimento desse novo paradigma pode ser compreendido
a partir da ampliação dos requisitos considerados no processo tradicional de construção. Esses requisitos
passam a englobar, primeiro, questões ambientais e; posteriormente, aspectos culturais, sociais e econômicos.
A figura 1 ilustra este panorama evolutivo desde os princípios fundamentais, que nortearam a arquitetura e
construção clássicas, e que foram, inicialmente, definidos por Vitrúvio.
Figura 1: inserção e desenvolvimento do conceito de sustentabilidade na construção
(adaptado de: INTERNATIONAL COUNCIL FOR RESEARCH AND INNOVATION IN
BUILDING AND CONSTRUCTION, 1999)
Quanto às perspectivas de efetiva implantação dos princípios da sustentabilidade na construção, embora sejam
assumidas diferentes abordagens de acordo com o contexto de cada país, podem ser constatadas barreiras
comuns (United Nations Environment Programe, 2003):
a) o setor é muito grande, envolvendo um mero significativo de agentes em uma organização
fragmentada, o que frustra esforços para a introdução de conceitos e para a disseminação de
práticas sustentáveis;
b) a dificuldade de conscientização de profissionais e clientes;
c) a lentidão das escolas de arquitetura e engenharia em realizar mudanças e atualizações em
seus currículos, o que torna também mais lenta a produção de profissionais capacitados;
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d) a falta de programas massivos de treinamento e outras ferramentas de capacitação do setor da
construção;
e) os sistemas de financiamentos preocupados em retornos em curto prazo.
Em países em desenvolvimento, a esses obstáculos somam-se outros, os quais são apontados por Plessis
(2002):
a) insuficiências quantitativas e qualitativas dos recursos humanos. O setor é constituído
basicamente por pequenas empresas, as quais freqüentemente não têm recursos para
investir em qualificação do corpo técnico. Um segundo aspecto diz respeito à mobilidade dos
trabalhadores que aderem ao setor ou o abandonam, dependendo do seu desempenho na
economia;
b) a instabilidade política e econômica, que prevalece nesses países, desencoraja estratégias e
planejamento a longo prazo;
c) baixa taxa de investimentos em urbanização contra um alto movimento demográfico em
direção aos centros urbanos, o que tem envolvido uma acelerada degradação da qualidade de
vida das cidades como um todo;
d) carência de dados e de informações precisas, por exemplo, quanto aos impactos e
desempenho dos materiais ao longo do seu ciclo de vida;
e) falta de interesse por parte dos agentes em questões de sustentabilidade. Essa característica
está ligada ao fato da indústria da construção ser tradicionalmente conservadora. Além disso,
as empresas seguem os padrões de consumo dos clientes, que geralmente cultuam a
modernidade e os modelos de desenvolvimento dos países desenvolvidos;
f) ausência de confiança em soluções e tradições locais, que gera dependência tecnológica de
países desenvolvidos e impede a criação e aprimoramento de suas próprias tecnologias;
g) falta de pesquisa e planejamento integrados entre diferentes instituições, bem como carência
de divulgação e troca de informações entre as esferas teóricas e prática do setor.
Especificamente no contexto brasileiro, apesar de ter havido uma conscientização tardia, segundo Agopyan
(2000), expressivas mudanças ocorreram recentemente. As ações, embora ainda tímidas, têm assumido
posturas cada vez mais pró-ativas para tornar a indústria da construção menos agressiva ao meio ambiente.
2.1 IMPACTOS AMBIENTAIS DOS PRODUTOS DA CONSTRUÇÃO
Os impactos dos produtos das construção, no meio ambiente, se apresentam de diversas formas. Enquanto
alguns efeitos, como geração de poeira e barulho, durante a fase de construção, têm impactos transitórios;
outros, tais como emissões de dióxido de carbono, por queima de combustíveis, podem ter impactos
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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permanentes (HARRIS, 1999). A diversidade e complexidade desses impactos são de difícil caracterização, mas
não são, entretanto, especificidades dos produtos da construção. Para facilitar a compreensão dos mecanismos
ambientais desencadeados pela interferência das atividades humanas nos processos naturais, modelos
conceituais têm sido desenvolvidos.
Uma abordagem utilizada para descrição das interações entre as atividades humanas, os bens artificialmente
produzidos e o meio ambiente é aquela que distingue sistemas técnicos de sistemas naturais. Segundo a
Wackernagel e Rees (1996), sistemas técnicos fazem parte da tecnosfera, a qual inclui todos os artefatos
criados pelo homem, projetados e construídos para atender as demandas das sociedades. Os sistemas naturais,
em contraposição, correspondem a todos os processos envolvidos na natureza e, que em seu conjunto,
representam a biosfera ou a ecosfera.
Todos os recursos usados por sistemas técnicos, chamados input, são derivados do ambiente natural e, por fim,
para ele retornam, sendo, então, denominados output. Existe, assim, uma relação entre essas duas esferas,
uma vez que a tecnosfera se mantém como um subconjunto dependente dos ciclos mais ou menos fechados da
ecosfera, exercendo, sempre, influência sobre eles. O quanto esses fluxos de massa e energia “artificialmente
produzidos” afetam a estabilidade dos processos naturais depende do grau de interfererência nas relações
historicamente estabelecidas da biosfera (IEA ANNEX 31, 2004b).
Segundo Lyle (1994), a produção de bens de consumo tem sido feita pelas economias, através de fluxos
lineares de consumo de recursos naturais, que são extraídos da natureza, manipulados, utilizados e devolvidos
sob forma, por exemplo, de resíduos e emissões gasosas. Como alternativa a esse padrão de produção, o
referido autor propõe a adoção de Sistemas Regenerativos, para que sejam usufruídos os benefícios oferecidos
pela natureza, sem comprometer as condições de vida terrestre no futuro. Esses sistemas funcionariam em
fluxos cíclicos, onde resíduos de processos são manejados de forma a servirem de matéria-prima a processos
posteriores. Essa proposta implicaria a utilização parcimoniosa dos recursos naturais, a adoção de processos de
reciclagem e a sua reutilização, como também a preocupação com o destino e periculosidade das substâncias
devolvidas para os ecossistemas.
A figura 2 ilustra os conceitos de fluxos lineares e cíclicos, aplicados a edificações e seus produtos. Lyle (1994)
coloca ainda, que apesar de todos os sistemas apresentarem chances de reciclagem, nem sempre os fluxos
podem ser fechados até os últimos estágios.
Observa-se, que, durante todos os estágios da vida de uma edificação, interações com o meio ambiente, e o
mesmo se aplica aos produtos ou bens de consumo em geral. Desse pressuposto, segundo Lippiatt (2002),
surge a abordagem de ciclo de vida, a qual implica a análise de todos os processos envolvidos na produção,
no uso e na disposição final dos produtos, tais como extração de recursos, manufatura, transporte, instalação,
operação e manutenção, reciclagem e gerenciamento de resíduos.
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Figura 2: fluxos linear e cíclico no ciclo de vida de edificações (adaptado de
GRICOLLETI, 2001 e HARRIS, 1999)
Todas as interações entre as edificações e o meio ambiente, segundo a IEA ANNEX 31 (2004b), são feitas em
termos de fluxos de massa e energia, que podem ser vistas como cadeias de causas e efeitos (figura 3). Esse
desencadeamento é provocado por processos, fontes de cargas ambientais, que, por sua vez, acarretam uma
série de mecanismos intermediários até, em último grau, provocarem um impacto ambiental final. As cargas
ambientais, entendidas como intervenções diretas no ambiente, se apresentam sob a forma: de emissões, de
consumo de recursos, e de geração de odor, de ruídos, de vibrações e de poluição em geral. Suas decorrências
imediatas são os efeitos ambientais, que se caracterizam como a primeira reação do sistema ambiental
circundante. Por fim, impactos ambientais ocorrem em decorrência dos efeitos ambientais e, usualmente,
envolvem aparente perda ou ganho para a sociedade, para um grupo de pessoas ou para um indivíduo
específico (IEA ANNEX 31, 2004b).
Geralmente, uma cadeia de causas e efeitos é mais longa e complexa do que parece. Uma fonte pode gerar
diversas cargas, cada uma com seus próprios efeitos. Diferentes combinações de cargas têm diferentes efeitos e
essas combinações podem ser provenientes de diferentes fontes. Além disso, alguns efeitos podem impactar as
fontes, gerando ciclos de impactos crescentes, sendo que, para edificações, essas redes tendem a ser ainda
mais complexas do que para produtos, em geral (IEA ANNEX 31, 2004b).
Os tipos de impactos provocados são variados e ocorrem em diferentes escalas espaciais: global, regional, local
e interior (figura 4). Segundo a United Nations Environment Programme (2003), a conveniência desta
diferenciação não está relacionada à atribuição de graus de importância, visto que não relação direta entre a
gravidade dos impactos e o aumento da escala considerada, mas, a uma necessidade de caracterização dos
diferentes meios e receptores atingidos. Dependendo da meta e do escopo do estudo, o foco pode ser restrito a
uma destas escalas. Alguns efeitos, no entanto, segundo a IEA ANNEX 31 (2004c), passam a ser relevantes
apenas a partir de certas escalas. O potencial de aquecimento global, por exemplo, pode ser considerado na
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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escala global. Em contraposição, certas cargas ambientais podem não ser significativas globalmente, mas
serem críticas para determinado ecossistema e comprometer condições de vida local.
Figura 3: cadeia de causa e efeito provocada pelo ciclo de vida de edifícios
(adaptado de IEA ANNEX 31, 2004b)
Figura 4: escalas espaciais de impactos para produtos da construção
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No entanto, mensurar a capacidade dos diferentes receptores das diversas escalas no suporte a cargas
impostas é tanto difícil como polêmico. Difícil, segundo a US EPA (US ENVIRONMENTAL PROTECTION
AGENCY, 1996), porque ecossistemas são complexos e dinâmicos, modificando-se constantemente. Isto faz a
vinculação de qualquer efeito a uma causa específica muito incerta. As condições podem não ser controladas
suficientemente, para permitir que os efeitos de cargas individuais sejam observados.
Só recentemente cientistas passaram a buscar modos de determinar os efeitos das cargas ambientais de risco a
ecossistemas. Para estudar estes efeitos, modelos de laboratório têm sido desenvolvidos. No entanto, eles
fornecem apenas representações simplificadas das verdadeiras interações ambientais, que abrangem milhares
de espécies vivas e a totalidade de condições que as rodeiam (US ENVIRONMENTAL PROTECTION AGENCY,
1996). Adicionalmente, segundo Bare et alli. (2000 apud UNITED NATIONS ENVIRONMENT PROGRAMME,
2003), mensurar os impactos finais das cadeias de causa e efeito é mais complexo do que mensurar aqueles
intermediários ou os efeitos diretos de cargas ambientais. Para os autores não disponibilidade de dados
confiáveis e modelos suficientemente robustos que apóiem a previsão dos impactos finais, permanecendo assim
demasiadamente limitada.
É importante, também, distinguir-se impactos ambientais reais de impactos potenciais. Os primeiros podem
ser definidos como conseqüências imediatas e diretas, tais como riscos para a saúde humana, danos à flora e à
fauna ou disponibilidade futura de recursos. Impactos potenciais, em contraponto, não avaliam nenhuma
conseqüência, mas apenas dão uma indicação de risco (IEA ANNEX 31, 2004b). Pelas dificuldades
apresentadas de caracterização de impactos finais, diversas abordagens baseiam-se na avaliação de impactos
potenciais, como, por exemplo, a abordagem de ciclo de vida (UNITED NATIONS ENVIRONMENT
PROGRAMME, 2003). Assim, são caracterizadas cargas ambientais de mais fácil previsão e, através delas, são
feitas associações com possíveis conseqüências ambientas.
Os principais requerimentos e as principais cargas associadas às diferentes etapas do ciclo de vida das
edificações são identificados e agrupados em dois grupos principais, neste trabalho, independentemente da
etapa em que ocorrem: consumo de recursos naturais e emissões e geração de resíduos. A relevância e a
possibilidade de cada tipo de carga ser incluída na avaliação desenvolvida nesta dissertação é discutida em
cada um dos itens. Também, os dos dados e as informações disponíveis no contexto nacional, que possibilitem
a quantificação dessas cargas são apresentados no decorrer das seções seguintes.
2.1.1 Consumo de recursos naturais
Recursos naturais são meios de que se pode dispor, presentes na natureza sob uma larga variedade de formas.
Incluem materiais brutos, como minerais e biomassa; meios físicos, como solo, água e ar; e fluxos, como vento,
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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radiação solar e geotermia. Os primeiros podem ser subdivididos, ainda, em renováveis e não renováveis. Os
renováveis se distinguem por um elevado índice de reposição natural; enquanto os não renováveis possuem
índices mínimos de reposição, ao se considerar o período humano na terra. Em relação a recursos que são
meios físicos, o declínio da qualidade é a principal preocupação. Ou seja, a questão considerada não é a
quantidade disponível, mas o estado em que se encontram, que eles não podem ser esgotados, mas o mau
uso e a contaminação podem inviabilizar sua utilização para suprimento das necessidades elementares à vida.
Recursos sob a forma de fluxos não são exauridos através do uso, no entanto, requerem outros recursos para
serem explorados. Por exemplo, para a construção de células fotovoltaicas ou turbinas eólicas é necessário
energia, materiais e espaço de terra (COMMISSION OF THE EUROPEAN COMUNITIES, 2005).
As demandas dos materiais de construção, de energia, de água e de espaço para construir, equipar e operar as
edificações e cidades, têm sido altas e interferem diretamente nos estoques e fluxos mencionados e, por isso,
são assunto a ser analisado nos itens seguintes.
2.1.1.1 Consumo de recursos materiais
Diversos impactos estão associados aos processos de exploração propriamente ditos, entre eles, estão os
danos a paisagens e a habitats naturais, que por sua vez causam a desestruturação de ecossistemas.
Atividades de mineração e de extração freqüentemente destroem a camada superficial do solo, em áreas que
ainda apóiam vegetação nativa, já que, normalmente, esses solos são preservados por terem baixo potencial de
desenvolvimento agrícola (PREECE; GREEN INNOVATIONS, 2005). Alguns processos de exploração, como a
mineração do carvão, que libera metano, também são responsáveis por cargas ambientais relacionadas aos
impactos de emissões e de geração de resíduos (LIPPIATT, 1998).
A implicação imediata e fundamental da exploração dos recursos materiais é, no entanto, a redução da
disponibilidade de reservas na natureza. No extremo, de acordo com o horizonte do tempo considerado, pode-se
constatar a potencial e irreversível exaustão de certos estoques naturais, seja na esfera global, na regional ou na
local. Assim, o uso sustentável de recursos materiais está atrelado à capacidade do meio ambiente de reproduzi-
los. Segundo Cole e Larsson (2002), a exploração dos recursos renováveis deve ser feita se respeitando a
capacidade que eles tenham de regeneração; e, dos recursos não-renováveis, permitindo-se o acesso aos
mesmos pelas gerações futuras.
Tradicionalmente, costuma-se, também, rotular os recursos em dois grupos, de acordo com a abundância ou
não na superfície terrestre, sendo que a sua caracterização baseia-se no horizonte de tempo em que
determinado recurso continuará disponível, considerando-se o tamanho das reservas naturais e as taxas
correntes de extração. No entanto, essa classificação é subjetiva. Primeiro por que exige que seja fixado um
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tempo mínimo de disponibilidade de reservas para que determinado material seja considerado abundante ou
não. Ao se buscar referências, para essa definição, constata-se que ela se baseia em questões subjetivas ou
arbitrarias que os diversos autores (LIPPIATT, 1998; SPERB, 2000; OLIVEIRA, 2005; DEPARTAMENTO
NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL, 2001), adotam diferentes horizontes de tempo.
O segundo aspecto, que confere subjetividade a essa classificação, é a dificuldade de se precisar os estoques
disponíveis para a maior parte dos recursos. Outra dificuldade está relacionada à definição do que pode ser
considerado disponível, visto que existe diferenciação entre as classificações de disponibilidade de reservas
adotadas por diferentes órgãos. A definição para a classificação das reservas como disponíveis, adotada
atualmente pelo Balanço Mineral Brasileiro leva em conta a dimensão econômica como variável
(DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL, 2001). Essa variável reduz significativamente as
disponibilidades conceituais de diversos recursos, como do calcário e da gipsita, que passam a ser considerados
como disponíveis por entre 10 e 25 anos, enquanto anteriormente correspondiam a 887 e 849 anos,
respectivamente. O quadro 1 apresenta alguns materiais de construção compostos por recursos minerais e as
respectivas disponibilidades de reservas identificadas na escala nacional e global.
Grupo Material Matérias primas básicas
Disponibilidade
nacional (anos)
1
Disponibilidade
global (anos)
2
Areia Sílica Abundante ³ Abundante ³
Cal hidratada Calcário 10-25 Abundante ³
Cimento Portland
Argila
Calcário
Gipsita
Abundante ³
10-25
10-25
Abundante ³
Abundante ³
10-25
Cerâmica vermelha
(tijolo, telha e placa)
Argila Abundante ³ Abundante ³
Pedra britada
Tipos de rochas: Granito, gnaisse,
calcário, dolomito, basalto e diabásio
121 Abundante ³
Minerais não
metálicos
/Rochosos
Vidro para construção
Calcário (~14%)
Sílica (70-72%),
Carbonatos, sulfatos e óxidos
10-25
Abundante ³
Abundante ³
abundante ³
Aço para construção Minério de ferro Calcário
69
10-25
231
Abundante ³
Aço galvanizado
Minério de ferro
Calcário
Zinco
69
10-25
25
231
Abundante ³
47
Alumínio Bauxita 168 257
Chumbo - 30 43
Minerais
metálicos
Cobre - 6 62
1
fonte: Departamento Nacional de Produção Mineral (2001)
2
fonte: Lippiatt (1998)
3
reservas consideradas abundantes pelas fontes, mas não são apresentados valores precisos
Quadro 1: previsão de disponibilidade das matérias primas básicas de alguns
materiais de construção
Para se ter uma idéia da quantidade de recursos minerais consumidos pelo setor na construção, apenas para
produção de uma habitação popular de 50 m², segundo levantamento da Fundação Instituto de Pesquisas
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
31
Econômicas da Universidade de São Paulo (apud DEPARTAMENTO NACIONAL DE PRODUÇÃO MINERAL,
2001), são consumidas 68 toneladas somente de agregados. Ainda que, segundo o Departamento Nacional de
Produção Mineral (2001), essas sejam consideradas minerações pouco danosas do ponto de vista ambiental,
comparadas às minerações típicas; o grande volume consumido tem justificado o desenvolvimento de estudos
quanto à possibilidade de utilização de entulho, em substituição ao agregado natural.
Logo, práticas de reciclagem e reutilização de resíduos estão diretamente vinculados à minimização, entre
outros impactos, do consumo de recursos naturais. Os benefícios ambientais, as barreiras para implantação e as
ressalvas a serem observadas são discutidos no item 2.1.2.2.3.
Além da quantidade, também deve ser considerada a qualidade dos recursos empregados. Essa verificação,
segundo Cole e Larsson (2002), é fundamentada na análise da procedência, com a finalidade de garantir que o
produto selecionado seja extraído de maneira criteriosa. A análise é especialmente relevante para produtos
renováveis, como a madeira, devido às suas características específicas de reprodução, desde que seja
respeitada sua capacidade de regeneração.
Estima-se que mais de 80% da madeira extraída da região amazônica, seja consumida pelo mercado interno
brasileiro e que a maior demanda está no setor da construção. Esse, contudo, tem se mostrado pouco exigente
quanto à qualidade e à procedência do produto fornecido (INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS, 2003;
MAY, 2003).
A exploração sustentável de plantações florestais, conhecidas vulgarmente como reflorestamentos, pode ajudar
a reduzir a pressão sobre as florestas tropicais e nativas remanescentes, embora seus produtos não sejam
sempre usados para os mesmos fins. Além disso, ainda que se evite o uso de madeira nativa, as florestas
plantadas, como as de pinus e eucalipto, também podem causar prejuízos, se não forem aplicados critérios
sócio-ambientais no plantio (GREENPEACE BRASIL, 1998). Segundo Amigos da Terra (2003), a única garantia
de que a madeira foi obtida de forma ambientalmente correta é o fato de ter certificação. E essa pode ser obtida,
tanto para madeira oriunda de plantações, quanto de florestas nativas manejadas.
Estão disponíveis no Brasil o sistema do Forest Stewardship Council (FSC) e o sistema de Certificação Brasileiro
(CEFLOR), do Instituto Brasileiro de Metrologia (INMETRO), os quais certificam produtos com produção
ambiental e socialmente adequada (INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS, 2003). Observa-se, no
entanto, que a pressão a favor da certificação de produtos florestais, originou-se no mercado de exportação,
refletindo a crescente preocupação mundial com os impactos ambientais, como redução da biodiversidade e
alterações climáticas, decorrentes dos desmatamentos em florestas tropicais (MAY, 2003). Talvez por isso,
especificamente quanto à madeira, a oferta de produto certificado no mercado nacional é muito menor do que a
demanda interna brasileira.
Segundo o Conselho Brasileiro de Manejo Florestal (apud AMIGOS DA TERRA,
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
32
2003), existiam no País, até 2002, 870.511 hectares certificados, o que representa uma fração inferior a 5% do
consumo nacional.
Considerando-se o panorama apresentado, embora diversas ferramentas de avaliação ambiental de edificações,
a exemplo do GBTool (COLE; LARSSON, 2002), incluam parâmetros restritivos quanto ao uso de produtos de
madeira não certificada, ou com garantia equivalente, o que se verifica, no contexto nacional, é que essa
restrição implicaria a não utilização de madeira como material de construção. Como alternativa, o método
desenvolvido por Oliveira (2005), para a avaliação de subsistemas de coberturas no Brasil, preferência por
subsistemas que apresentem, apenas, a menor quantidade de madeira proveniente de florestas nativas. Assim,
o autor prioriza a minimização de impactos gerados pela extração predatória dos recursos dessas florestas, mas
ignora aqueles decorrentes de plantações florestais ambientalmente mal manejadas.
Também, como forma de orientar os agentes do setor da construção brasileiro na seleção de produtos de
madeira, o IPT (INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS, 2003) desenvolveu um manual apontando
espécies alternativas, nativas e de florestas plantadas, que substituem aquelas tradicionalmente muito utilizadas
e que se encontram ameaçadas de extinção.
Considera-se, neste trabalho, que até o presente momento não uma solução satisfatória quanto ao uso de
madeira para a construção civil no Brasil, embora se considere o uso da madeira nativa potencialmente mais
impactante.
2.1.1.2 Consumo de energia
Praticamente todos os eventos, durante o ciclo de vida de uma edificação, envolvem troca de energia. As fontes
utilizadas por qualquer edifício, no decorrer do seu ciclo de vida, são extremamente variadas e as formas de
energia podem ser calor, força ou luz (IEA ANNEX, 2004b). A relevância de se avaliar o consumo de energia se
deve ao fato de ele estar atrelado a uma série de impactos ao meio ambiente e, também, ao esgotamento de
certas reservas naturais. Por isso, segundo Harris (1999), e, devido a relativa facilidade de ser quantificado, o
consumo de energia é um critério que recebe ênfase em grande parte das ferramentas de avaliação ambiental.
Os impactos ambientais são decorrentes das cargas associadas aos processos de geração, distribuição,
armazenamento e uso de energia. Acrescenta-se que os potenciais impactos ambientais e as cargas emitidas,
em cada etapa do processo, variam substancialmente, de acordo com da natureza da fonte energética utilizada
(IEA ANNEX 31, 2004b).
Quanto ao esgotamento de fontes, essas também são tradicionalmente classificadas como renováveis e não
renováveis. Silva (2004) afirma que, em princípio, todas podem ser produzidas e repostas na Natureza.
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
33
Entretanto, para aquelas consideradas não renováveis o processo de reposição natural envolve milhares de
anos e condições específicas, como é o caso do petróleo, onde a reposição artificial, quando não é impossível, é
absolutamente inviável. Paradoxalmente, segundo o autor, nenhuma fonte de energia pode ser considerada
inesgotável. Entretanto, são designadas fontes renováveis de energia aquelas cuja utilização pela humanidade
não representa qualquer variação significativa em seu potencial, que, em muitos casos, está avaliado para uma
duração de vários milhões de anos. São exemplos a energia solar e gravitacional, e aquelas outras, cuja
reconstituição pode ser feita, sem grandes dificuldades, em prazos de poucos anos, como no caso da biomassa.
No país, 43,9% da Oferta Interna de Energia (OIE) é renovável, enquanto a média mundial é de 14% e, nos
países desenvolvidos, apenas 6% (BRASIL, 2005b). Segundo Silva (2004), essa enorme dependência de fontes
não renováveis de energia tem acarretado, além da preocupação permanente com o esgotamento dessas
fontes, a emissão de grande quantidade de dióxido de carbono (CO
2
) e de outros gases na atmosfera,
denominados genericamente de gases de efeito estufa (GEE) e conhecidos mundialmente pela sigla GHG
(Greenhouse Gases). Como conseqüência, vem sendo observado há algumas décadas um aumento progressivo
da temperatura média terrestre. Adicionalmente, outros impactos ambientais, como a emissão de gases
responsáveis pela chuva ácida, estão associados ao uso dos combustíveis fósseis.
Diante desse cenário, afirma-se que fontes alternativas de energia como eólica, solar e biomassa aparentam
serem, hoje, as melhores opções para um futuro sustentável, apesar de não estarem isentas de provocarem
inúmeras alterações no meio ambiente (SILVA, 2004; MIGUEL, 2004, IEA ANNEX 31, 2004b). Januzzi (2000
apud MIGUEL, 2004) ressalta que não existe geração de energia sem impacto ambiental e que esse impacto só
poderá ser reduzido com a diminuição do consumo.
Tradicionalmente, classifica-se a energia consumida pela edificação como operacional e embutida. A energia
operacional é aquela necessária a todos os processos da etapa de uso das edificações, incluindo climatização,
iluminação e operação de equipamentos. a energia embutida é aquela consumida por todos os processos
associados à produção do objeto edificação, desde a extração de recursos naturais até a entrega do produto.
Isso inclui mineração, manufatura e transporte de materiais e equipamentos e gastos energéticos relativos a
funções administrativas. Os processos envolvidos na renovação e manutenção dos edifícios também compõem
o cômputo da energia embutida (MILNE; REARDON, 2005).
Quanto à relevância de se avaliar o consumo energético em todas as etapas do ciclo de vida das habitações,
constata-se que a bibliografia é controversa. Segundo Milne e Reardon (2005), até recentemente pesquisadores
acreditavam que a energia embutida na edificação era consideravelmente pequena se comparada com a energia
utilizada para operação ao longo do ciclo de vida. Por isso, de acordo com os autores, nos últimos anos,
esforços são empregados para reduzir o consumo de energia para operação dos edifícios, através do
desenvolvimento de equipamentos mais eficientes e do aumento da eficiência energética da envoltória das
edificações.
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
34
Ressalta-se, no entanto, que grande parte da bibliografia é referente a países europeus, nos quais o consumo
energético, na etapa de uso das edificações, é consideravelmente mais significativo que em países em
desenvolvimento como o Brasil. Isso se deve a dois fatores. Primeiro, ao rigor climático a que aqueles países
estão normalmente sujeitos, exigindo a utilização de condicionamento artificial para aquecimento, e o segundo
fator, ao baixo poder aquisitivo da população em países em desenvolvimento, que implica pouca utilização de
sistemas de climatização, mesmo quando as condições de conforto não são atendidas.
Tipicamente as reduções de energia operacional, em climas rigorosos, têm ocorrido à custa do aumento na
energia embutida. Logo, como a energia para operação torna-se cada vez menos significativa em relação ao
todo, a demanda energética dos materiais começa a ser considerada relativamente mais importante (IEA
ANNEX 31, 2004b). Esse novo panorama induziu o meio científico à busca de estimativas quanto à participação
relativa da energia embutida e operacional no consumo total da edificação.
As informações disponíveis no contexto nacional sobre os aportes energéticos para operação da edificação
(energia operacional), para produção de materiais (energia embutida) e para transporte são apresentadas e
debatidas separadamente nos itens a seguir.
2.1.1.2.1 Energia operacional
O objetivo de se apresentar, neste trabalho, uma seção sobre energia operacional, embora não esteja
diretamente relacionada à seleção de materiais e subsistemas, deve-se ao fato de que se pretende buscar
parâmetros para comparar o total de energia consumida para produção do protótipo Alvorada, em relação à
energia consumida para a operação de uma habitação de mesmo padrão.
A energia é vital para a operação de edifícios, em muitos climas, e é, tipicamente, responsável por metade da
energia consumida em países desenvolvidos. Além disso, essa é a maior fonte de emissões de gases de efeito-
estufa em habitações de diversos países, a exemplo da Austrália (MILNE; REARDON, 2005). No Brasil, o baixo
uso de climatização artificial, reduz bastante o consumo de energia para uso da edificação, especialmente em
habitações.
Segundo Brasil (2005b), a maior demanda do setor residencial brasileiro no ano de 2004 foi de lenha, que, assim
como o GLP, é predominantemente destinada à cocção. A eletricidade foi a segunda maior fonte energética
consumida, e segundo Lamberts et alli (2004) destina-se a maior parte aos equipamentos de refrigeração de
alimentos, chuveiros e iluminação. que observar ainda que esse tipo de energia em 2004 foi produzido
predominantemente em usinas hidrelétricas (75,5%), 2,7% em usinas termonucleares (urânio), 13% foi de
origem térmica (carvão mineral, derivados de petróleo, gás natural e outras fontes) e 8,8%, proveniente de
importação, que inclui a parcela paraguaia de Itaipu. Logo, mais de 78,2% da matriz, que compõem a oferta
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
35
elétrica no país, não envolve emissões aéreas na produção e uso, embora emissões possam ser atribuídas à
construção das usinas.
Especificamente para a cidade de Porto Alegre, Hansen (2000) desenvolveu um estudo identificando o consumo
médio de energia elétrica em diferentes tipologias de edificações residenciais. Para a tipologia habitacional de
baixa renda (entre um e três salários mínimos), a autora constatou a presença de um número reduzido de
eletrodomésticos. O consumo médio mensal dessa tipologia correspondeu a 151,70 kWh/mês (546,12 MJ), ou a,
aproximadamente, 35 kWh/mês por habitante. Equipamentos de condicionamento ambiental foram, geralmente,
representados por ventiladores e, embora presentes em 78% das residências, significaram menos de 6% da
energia total consumida nas habitações.
Em contraste, a tipologia, cujos moradores encontravam-se na maior faixa de renda, apresentou um consumo
médio mensal de energia elétrica equivalente a 555,90 kWh/mês. Para esta tipologia, o consumo elétrico por
equipamentos de condicionamento ambiental passou a representar 17% do total demandado, sendo que 72,3%
das habitações possuem aparelhos de ar condicionado e 25% possuem estufas (HANSEN, 2000).
Dados mais atuais do Programa Nacional de Conservação de Energia Elétrica (PROCEL) indicam que, entre
2005 e 2006, na faixa de consumo até 200 kW, mais de 4% das residências da região sul do Brasil possuíam
ar-condicionado, e na faixa de consumo superior a 300 kW, esse percentual já ultrapassava 66% das residências
(BRASIL, 2006).
O estudo de Hansen (2000) e a pesquisa da PROCEL (BRASIL, 2006) reforçam que as habitações porto-
alegrenses e do sul do Brasil, de praticamente todos os padrões, não atendem aos requisitos de conforto dos
usuários e que aparelhos de climatização artificial são considerados desejáveis, independentemente da tipologia
considerada. No entanto, verifica-se que o consumo de energia com este tipo de equipamento, em habitações de
baixa renda, é baixo, não por ser considerado dispensável pelos moradores, mas devido ao alto custo de sua
aquisição. Essa necessidade é confirmada ao se analisar a carta bioclimática de Porto Alegre, que indica que em
6% das horas do ano não é possível promover conforto térmico satisfatório por meios passivos (LAMBERTS et
alli, 2004).
2.1.1.2.2 Energia Embutida
Enquanto a energia operacional é dependente dos ocupantes, a energia embutida não depende deles. Ela es
contida nos materiais e processos presentes na edificação e, por isso, seu uso varia largamente com a técnica
construtiva adotada (MILNE; REARDON, 2005).
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
36
A avaliação da energia embutida envolve processos mais complexos e os resultados irão depender dos limites
definidos para o processo de avaliação. Idealmente, segundo Milne e Reardon (2005), a avaliação da energia
embutida deveria incluir, nos limites do estudo, os processos listados na quadro 2, e ainda outros. No entanto, os
próprios autores mencionam que tais cálculos são usualmente impraticáveis. Por isso, a maior parte das
pesquisas se limita ao estudo da energia diretamente relacionada aos processos de fabricação dos materiais, o
que é consideravelmente mais fácil de quantificar.
Cole (1999) propõe ainda uma subdivisão conceitual entre energia embutida direta e indireta. A primeira é
aquela despendida, especificamente, para a construção dos edifícios, no transporte final e na instalação dos
materiais e componentes. a energia embutida indireta é aquela associada à produção dos materiais e
transporte de matérias-primas.
A energia embutida direta tem sido tipicamente entendida como sendo uma pequena parcela do total requerido
para a produção de edifícios, mas, segundo Cole (1999), isso tem sido pobremente discutido na literatura
técnica.
Processos a serem incluídos na avaliação ideal da energia embutida
1 Energia requerida para extração e manufatura dos materiais
2 Energia para transporte de materiais e trabalhadores para o canteiro de obras
3
Energia embutida na infra-estrutura urbana necessária a provisão dos serviços oferecidos pela edificação, tais
como, estradas, redes de drenagem e redes de suprimento de água e energia.
Quadro 2: Processos a serem incluídos na avaliação ideal da energia embutida
(Fonte: MILNE; REARDON, 2005)
Dois conceitos básicos são úteis e usualmente adotados para a análise dos gastos energéticos, devido à
extração e fabricação de materiais de construção. Índice energético é definido pela energia necessária para a
produção de uma unidade de massa de determinado material. Genericamente, quanto maior o grau de
processamento envolvido na produção do material, maior será seu índice energético (MILNE; REARDON, 2005).
A partir dele, pode-se determinar o conteúdo energético incorporado à edificação, através da multiplicação pela
massa total de material incorporado. Para fins de comparação entre alternativas construtivas é melhor pensar no
conteúdo energético de grupos de materiais que desempenham determinada função em uma edificação do que
no conteúdo energético de materiais isolados. Assim, freqüentemente projetistas também optam por estudar
diferentes alternativas através do consumo de energia por metro quadrado construído (MILNE; REARDON,
2005).
A análise da energia embutida pode ser conduzida com diversos graus de precisão. A maneira mais exata é
através da análise dos processos específicos de determinada indústria, que inclui o cálculo da razão entre a
energia consumida pela respectiva indústria e a quantidade de unidades produzidas (HARRIS, 1999). Outra
alternativa, segundo Lamberts e Tavares (2004 apud Oliveira, 2005), é a estimativa do índice energético de um
produto ou serviço a partir de matrizes de insumo-produto, utilizando dados macro-econômicos.
A estimativa,
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
37
através de índices energéticos, proporciona menor precisão, principalmente, devido às largas variações de
sistemas produtivos e às diferenças locais na matriz energética (HARRIS, 1999). No entanto, ao se pretender
realizar o cômputo do consumo de energia para todos os materiais incorporados em uma edificação, a análise
dos processos específicos de produção de todos os materiais se torna uma tarefa trabalhosa, exigindo a
utilização de dados genéricos.
O quadro 3 apresenta índices energéticos para materiais no contexto brasileiro, oriundos de diversas fontes,
que, por sua vez, também adotam métodos e fronteiras de análise diferenciadas entre si. Essas diferenças
conferem imprecisões aos estudos e dificultam a comparação entre alternativas de materiais com mesma
função.
Material
Índice
(MJ/kg)
Fonte Observações
Aço 25,58
Aço galvanizado 32,46
Alumínio 98,82
Areia / Pedra
britada
0,07
Guimarães (1985 apud
SPERB, 2000)
Não há especificação sobre os processos incluídos e
excluídos do cômputo
Bloco de granito Desprezível Observações diretas -
Cal virgem ou
hidratada
2,35
Guimarães (1985 apud
SPERB, 2000)
Não há especificação sobre os processos incluídos e
excluídos do cômputo
Cimento Portland
2,46
1
1,25
2
1,88
3
3,59
4
Carvalho (2002
Não está incluído energia para transporte de matérias
primas
Placa Cerâmica
esmaltada PI IV
7,45 Pereira (2004)
Valor referente à média de 2 indústrias do estado de
SC; incluem processo de embalagem
5
Policloreto de
vinila (PVC)
74,33
Guimarães (1985 apud
SPERB, 2000)
Não há especificação sobre os processos incluídos e
excluídos do cômputo
Telha cerâmica
não esmaltada
9,73
Valor referente a uma única indústria, segundo
bibliografia internacional valores variam de 5,47 MJ/kg
a 6,30 MJ/kg
Tijolo cerâmico
(maciço)
2,21
Manfredini (2003)
Valor referente à média de três indústrias do estado do
RS, com produção exclusiva de tijolos maciços
Tijolo cerâmico (6
furos)
3,28 Soares; Pereira (2004)
Valores referentes à média de duas indústrias do
estado de SC
5
Vidro plano 27,93
Guimarães (1985 apud
SPERB, 2000)
Não há especificação sobre os processos incluídos e
excluídos do cômputo
1
Cimento com adição de 34% escória de alto forno
2
Cimento com adição de 70% de escória de alto forno (CARVALHO, 2002)
3
Cimento com adição de 50% de cinza volante (CARVALHO, 2002)
4
Cimento sem adições (CARVALHO, 2002)
5
valores calculados por m² e convertidos para kg; os valores apresentados no trabalho de Pereira (2004) estão em massa e
volume, para obtenção dos índices energéticos foram convertidos segundo os respectivos poderes caloríficos apresentados
no anexo E do BEN 2005 (BRASIL, 2005b).
Quadro 3: índices energéticos de materiais de construção disponíveis no contexto
brasileiro
Os dados apresentados o os mais atuais encontrados em pesquisas nacionais. No entanto, como se verifica,
informações sobre poucos materiais estão disponíveis no país e alguns dados são oriundos de pesquisas
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
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realizadas vinte anos, o que pode ser considerado muito tempo, ao se tratar de tecnologias produtivas e
fontes energéticas. Neste sentido, Cole e Rousseau (1992 apud SPERB, 2000) acrescentam que, embora as
avaliações de conteúdo energético, devam, idealmente, derivar de informações regionais, essas, muitas vezes,
não estão disponíveis, forçando-se a utilização de dados oriundos de outras fontes. Em contraposição, a IEA
ANNEX 31 (2004b) alerta que existem dificuldades quanto à utilização de dados generalizados de consumo
energético dos produtos e materiais da construção. Primeiro, porque cada país, ou regiões dentro de um mesmo
país, possuem diferentes sistemas de produção, utilizando diferentes tipos de energia. Além disso, cada região
apresenta diferente composição de fontes de energia primária para a produção de energia elétrica. Assim, como
resultado, obtém-se uma significativa variação na importância relativa às cargas ambientais indiretas,
relacionadas à energia.
Ainda assim, tendo em vista as limitações de disponibilidade de dados nacionais, considera-se a utilização de
índices energéticos estrangeiros a única alternativa atual para aqueles materiais, cujos dados ainda não foram
produzidos ou divulgados no Brasil. Tendo em vista as considerações anteriores, não se essa como a
alternativa ideal, mas como uma estimativa aproximada. Pressupõe-se, também, que, à medida que novos
dados sejam disponibilizados, eles sejam gradativamente substituídos. O quadro 4 apresenta índices
energéticos estrangeiros para materiais oriundos da madeira, tradicionalmente utilizados pelo setor brasileiro de
construção e que não são encontrados no contexto nacional.
Material Índice (MJ/kg) Fonte
Madeira dura seca ao ar livre 0,5 Cortez-Barbosa; Ino (2001 apud LAWSON, 1997)
Compensado 10,4 Cortez-Barbosa; Ino (2001 apud LAWSON, 1997)
Quadro 4: Índices energéticos de materiais de construção disponíveis no contexto
internacional
2.1.1.2.3 Energia para transportes
O setor transportes na Europa, é o setor da economia com crescimento mais rápido no consumo de energia e na
produção de gases de estufa (EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY, 2000). No Brasil, esse setor é o segundo
maior consumidor energético e o primeiro no consumo de derivados do petróleo (BRASIL, 2005b).
Além do esgotamento de fontes e dos impactos da produção e armazenamento da energia, o transporte está
também relacionado a problemas de saúde humanos, vindos da geração de ruídos e emissão de poluentes.
Além de provocar alterações em paisagens e redução da biodiversidade em áreas naturais (EUROPEAN
ENVIRONMENT AGENCY, 2000). Durante o ciclo de vida de uma edificação, atividades de transporte estão
presentes em quase todas as etapas, conforme apresentado no quadro 5.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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Etapa Transporte
Extração de matérias-prima De matérias-primas de jazidas às fábricas
Manufatura de materiais e componentes De materiais e componentes ao local da obra
Construção De trabalhadores e de materiais dentro do canteiro
Uso e reposição
De usuários, de materiais para reposição e de resíduos para disposição final,
reciclagem ou reutilização
Disposição final De resíduos para disposição final, reciclagem ou reutilização
Quadro 5: atividades de transporte presentes nas diferentes etapas do ciclo de vida
de uma edificação
Quanto ao transporte de usuários, não consenso entre pesquisadores e ferramentas de avaliação ambiental
se este deve ser considerado no cômputo de energia consumida pela edificação. Essa questão está mais
relacionada à escala urbana e sua inserção é dependente dos limites estabelecidos para o estudo (IEA ANNEX
31, 2004b).
Segundo Cole (1999), na etapa de construção, considerada pouco consumidora de energia, o transporte de
trabalhadores representa a maior demanda, e o consumo dentro do canteiro de obras é variável em função do
sistema e técnica construtiva adotada. A identificação do consumo, tanto para transporte de trabalhadores,
quanto para a operação do canteiro de obras, para esta pesquisa, é relevante, mas inviabilizada pela falta de
registros da etapa de construção do protótipo Alvorada, que permitam quantificações, no mínimo, aproximadas.
Já, o consumo de energia para transporte de matérias-primas está comumente inserido nos índices energéticos
indiretos dos materiais, disponíveis em banco de dados ou bibliografias sobre materiais específicos. O consumo
devido ao transporte de materiais e componentes ao canteiro de obras, inserido na energia embutida direta,
depende das distâncias entre os produtores e o local da edificação.
No Brasil, para transportes coletivos e de cargas são utilizados, principalmente, veículos rodoviários movidos a
diesel (ECONOMIA & ENERGIA, 2001; BRAUN et alli, 1998). Segundo Reis (1999 apud SPERB, 2000), dois
tipos de caminhões, cujos consumos energéticos, estão apresentados no quadro 6, são os utilizados para
transporte de cargas em rodovias nacionais. Entre os dois tipos, o caminhão semi-pesado de 3 eixos é o mais
comumente encontrado.
Tipo de veículo
Peso bruto total
combinado (t)
Carga líquida
(t)
Rendimento
(km/litro)
Produtividade
(litro/ t.km)
Consumo
energético
(MJ/kg.km)
Caminhão semi-pesado 3
eixos
23 14,3 3,18 0,022 0,78x10
-3
Cavalo 2 eixos com semi-
reboque 2 eixos
41,5 26,4 2,10 0,018 0,64x10
-3
Quadro 6: características dos caminhões de carga encontrados em rodovias
nacionais
Assim, baseados no trabalho de Sperb (2000), a partir dos valores de produtividade apresentados por Reis
(1999 apud SPERB, 2000) e da massa específica e poder calorífico do óleo diesel, obteve-se um coeficiente de
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
40
gastos energéticos para o transporte de cargas. Os dados referentes ao diesel, entretanto, foram neste trabalho
atualizados segundo os valores propostos pelo Balanço Energético Nacional de 2005 (BRASIL, 2005b) e
correspondem a 840 kg/m³ (massa específica) e 10.100kcal/kg (poder calorífico).
O coeficiente gerado permite estimar o consumo de energia para o transporte dos materiais de construção,
considerando a massa transportada e as distâncias entre as indústrias produtoras e o local da obra. Adverte-se,
no entanto, que os coeficientes apresentados representam as médias nacionais de caminhões cadastrados na
Associação Nacional do Transporte de Cargas (NTC), e correspondem a veículos entre seis e sete anos de uso,
com manutenção preventiva regular e transportando 100% das suas capacidades de carga. Essas condições,
provavelmente, apresentam algumas distorções em relação às condições reais de operação dos veículos
utilizados.
2.1.1.3 Consumo de água e terra
Para os recursos água e terra, as classificações, como renováveis ou não renováveis e como abundantes ou
escassos, não se aplicam, já que a quantidade disponível da terra é tida como constante. No entanto, a
qualidade dos mesmos tem sido motivo de preocupação da comunidade internacional.
O uso da terra é um parâmetro fundamental para a análise de sustentabilidade, mas, que a metodologia de Ciclo
de Vida, e também os diferentes métodos e ferramentas específicos para produtos da edificação, têm dificuldade
de avaliar (FORSBERG; VON MALMBORG, 2004). Além disso, ele está, particularmente, relacionado à escala
urbana ou regional, não estando diretamente relacionado aos materiais e soluções construtivas implantadas em
edificações. Assim, por esse motivo, é considerado dispensável, para a avaliação que se pretende fazer nesse
trabalho.
Já, o consumo de água tem recebido atenção particular em métodos e ferramentas de avaliações ambientais e
em guias para construção sustentável e, embora quase todas as etapas do ciclo de vida de uma edificação
envolvam o consumo de água, se verifica que a redução do consumo nas funções associadas ao uso das
mesmas tem recebido ênfase.
Quanto ao consumo para a fabricação dos materiais de construção, este, em princípio, deve fazer parte dos
inventários de ACVs. No entanto, encontraram-se, no contexto nacional, apenas, dados referentes à demanda
para a produção de tijolos furados e pisos cerâmicos (quadro 7), o que impossibilita o mputo dessa demanda
para a fabricação dos materiais empregados no protótipo Alvorada.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
41
Material Quantidade consumida Processo demandante Fonte
Placa cerâmicas
(1)
0 – 0,26 l/m
2
Polimento das placas, preparação das massas,
lavagem de pisos e equipamentos
Pereira (2004)
Tijolos cerâmicos
(seis furos)
(1)
5,66 - 36,6 l/m
2
Coqueria, alto-forno, sinterização
Soares; Pereira
(2004)
(1)
Dados referentes a duas empresas do Estado de Santa Catarina
Quadro 7: consumo de água para produção de materiais de construção no contexto
nacional
2.1.2 Emissões e geração de resíduos
As cargas ambientais, sob a forma de resíduos e de emissões, são extremamente variadas ao longo do ciclo de
vida de uma edificação e estão diretamente vinculadas à capacidade de assimilação e armazenamento
desempenhados pelos ecossistemas e indivíduos afetados. Os impactos causados podem ser tanto locais,
quanto globais e podem se manifestar em diferentes intensidades, de acordo com o tipo de substância emitida.
Assim, nos itens seguintes são explorados aspectos relacionados à quantidade e à periculosidade das
substâncias devolvidas aos ecossistemas sob as formas aérea, sólida e líquida. Também são apresentadas as
principais fontes emissoras e as principais formas de minimização em cada etapa, com foco naquelas
relacionadas aos materiais de construção.
2.1.2.1 Emissões aéreas
Construir, equipar e operar edificações envolve impactos ambientais, decorrentes de emissões gasosas e de
partículas sólidas e líquidas no ar. Essas emissões, que se originam em diferentes etapas, processos e
atividades, apresentam características distintas e podem afetar diversos receptores. Algumas emissões
comprometem o ar exterior, provocando impactos ambientais abrangentes, cuja extensão pode envolver desde a
escala local à escala global, com implicações diretas e indiretas à saúde humana e aos ecossistemas naturais.
Outros efeitos negativos dizem respeito à qualidade dos espaços interiores das edificações, que afetam direta e
quase somente à saúde dos usuários.
Nos dois itens seguintes, são apresentadas as fontes, as cargas e os potenciais impactos ambientais das
emissões usualmente geradas pela produção, pelo uso e disposição final da edificação e pelos seus produtos,
fazendo-se distinção entre aquelas emitidas para o ar exterior e para o ar interior.
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
42
2.1.2.1.1 Emissões ao ar exterior
Emissões antrópicas podem ser entendidas, segundo o Intergovernmental Panel on Climate Change - IPPC
(1996b), como aquelas emissões que são resultado direto de atividades humanas ou de processos naturais
afetados por elas. Entre os principais impactos ambientais vinculados a tais emissões e, que são freqüentemente
considerados em Análises do Ciclo de Vida (ACV), estão: destruição à camada de ozônio, a acidificação, a
contaminação do ar por poluentes e o aumento da temperatura global.
O aumento da temperatura global é um dos efeitos ambientais mencionados, decorrente das emissões
antrópicas que atualmente tem causado maiores preocupações à comunidade internacional. Segundo o
Intergovernmental Panel on Climate Change (1996b), a assinatura da Convenção das Nações Unidas sobre
Alterações Climáticas por aproximadamente 150 países, em 1992, no Rio de Janeiro, confirmou o
reconhecimento generalizado de que as mudanças climáticas representam as maiores ameaças ao meio
ambiente e ao desenvolvimento mundial. Segundo Lippiatt (2002), o fenômeno ocorre porque a radiação solar,
absorvida pela superfície da terra, que seria distribuída pela atmosfera e pelos oceanos e posteriormente re-
emitida para o espaço, sob a forma de ondas longas, passa a ser parcialmente absorvida pelo vapor de água e
por certos gases. Posteriormente são liberados tanto em direção ao espaço, quanto à superfície terrestre
novamente. O resultado é que a terra perde menos calor e conseqüentemente se mantêm mais quente. Esse,
em princípio, é um fenômeno natural, mas, que devido às ações humanas, tomou grandes proporções e ficou
conhecido como efeito estufa.
O mais significante gás, contribuinte para o efeito estufa, é o dióxido de carbono (CO
2
), sendo sua principal fonte
de emissões a queima de combustíveis fósseis (entre 70% e 90% de todas as emissões antropogênicas)
(INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 1996). O metano (CH
4
) e o óxido nitroso (N
2
O)
também são causadores diretos do efeito estufa. Outros gases como monóxido de carbono (CO), óxidos de
nitrogênio (NOx), compostos orgânicos voláteis distintos de metano (COVDM), halocarbonos (HFCs),
hexafluoreto de enxofre (SF6) e dióxido de enxofre (SO
2
) são considerados de efeito estufa indireto
(INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 1996b). O Intergovernmental Panel on Climate
Change (1996) propõem métodos de cálculos de emissões para que os países façam seus inventários nacionais.
O dióxido de carbono recebe destaque e o Método de Referência para cálculo de emissões desse gás,
causadas pelo consumo de energia, baseia-se no conteúdo de carbono em cada tipo de combustível.
Na construção civil, as emissões de dióxido de carbono e de outras substâncias o oriundas
fundamentalmente, da queima de combustíveis fósseis, e dos processos físicos e químicos de
transformação de materiais (FISK; MACMATH, 1998). O consumo de energia se dá ao longo de todo o ciclo de
vida das edificações, da produção dos materiais à demolição ou desmonte da edificação, porém, diferentes
quantidades e fontes energéticas são utilizadas para cada etapa e processo, fazendo com que o tipo e a
quantidade de emissões geradas também variem.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
43
Conforme apontado no item 2.1.1.2, sobre consumo de energia, a maior demanda se na etapa de uso da
edificação, o que é ainda mais significativo em países desenvolvidos, devido ao uso de climatização artificial. No
entanto, a maior parte das pesquisas identificadas quanto às emissões aéreas, relacionadas ao consumo de
energia do setor da construção civil, não têm enfocado a etapa de uso da edificação, mas, sim a etapa de
extração e manufatura dos materiais de construção. Provavelmente, isso se deve ao fato das emissões
relacionadas aos materiais serem variáveis, de acordo com a seleção dos mesmos, o que depende
exclusivamente das etapas de projeto e execução e estão sobre o domínio dos projetistas e profissionais da
edificação. os fatores envolvidos no consumo de energia operacional de uma edificação não podem ser
facilmente controlados. As dificuldades de se estimar esse consumo durante longos períodos de tempo, incluem
a dependência do comportamento dos usuários e as possíveis alterações nas matrizes de fornecimento de
energia.
Quanto à relevância de se analisar emissões decorrentes da manufatura de materiais, o
INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE (2001 apud SEDJO, 2002) indica que a escolha dos
mesmos para a composição de produtos em geral, tem papel substancial na redução de emissões, porque os
diversos processos de produção, apresentam diferentes requerimentos de energia.
Para produtos da construção civil, Sedjo (2002) afirma ainda existirem poucos estudos comparativos, até mesmo
quanto às emissões de dióxido carbono, decorrentes do uso de diferentes materiais para a produção de edifícios
similares. Ainda, conforme o autor, embora se aceite, conceitualmente, que, por requerem diferentes
quantidades de energia e diferentes tipos de fontes energéticas, os diversos materiais são responsáveis por
diferentes emissões, isso apenas começou a ser examinado de maneira empírica.
No contexto internacional, encontram-se pesquisas, que buscam quantificar, principalmente, emissões de
dióxido de carbono, decorrentes do uso de energia para a manufatura de diferentes materiais (COLE, 1999;
FISK; MACMATH, 1998; SEDJO, 2002; SUZUKI et alli, 1994). No entanto, no Brasil, foram identificadas apenas
pesquisas quanto às emissões relacionadas à manufatura de cimento, tijolos e piso cerâmico (quadro 8).
Assim, a caracterização das emissões decorrentes da fabricação dos materiais para a construção de uma
edificação brasileira integral, torna-se inviável, devido à escassez de publicações nacionais sobre emissões
monitoradas em indústrias de materiais de construção e à impossibilidade de adoção de dados estrangeiros. A
restrição à importação de dados ocorre por haver diferenças entre materiais e técnicas adotadas por diferentes
países e, mesmo para materiais similares, cada país, ou regiões dentro de um mesmo país, possuem diferentes
sistemas de produção, utilizando-se diferentes tipos de energia. Além disso, como indica a IEA ANNEX 3
(2004b), cada região apresenta uma composição distinta de fontes de energia primária para a produção de
energia elétrica, o que resulta numa significativa variação na quantidade de emissões.
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
44
Material Emissão Fatores de emissão Origem
Efeito ambiental
associado
Material
particulado
0,13 kg/ton
(1)
0,06 kg/ton
(2)
0,10 kg/ton
(3)
0,19 kg/ton
(4)
Extração, britagem e moagem,
armazenamento de matéria-prima,
homogeneização, clínquerização,
moagem do cimento
prejuízos diretos à saúde
humana
NOx
1,22 kg/ton
(1)
0,55 kg/ton
(2)
0,925 kg/ton
(3)
1,85 kg/ton
(4)
Queima de combustíveis e reações
térmicas durante a produção do
clínquer
Aumento da temperatura
global (gás de efeito
indireto), acidificação,
prejuízos diretos à saúde
humana
SOx
0,19 kg/ton
(1)
0,09 kg/ton
(2)
0,15 kg/ton
(3)
0,03 kg/ton
(4)
Dissociação do enxofre contido no
combustível e na matéria-prima
dentro dos pré-aquecedores, pré-
calcinadores e forno
Aumento da temperatura
global (gás de efeito
indireto), acidificação,
prejuízos diretos à saúde
humana
Cimento
CO
2
565 kg/ton
(1)
256 kg/ton
(2)
428 kg/ton
(3)
855 kg/ton
(4)
Queima de combustíveis fósseis
para a obtenção de energia térmic
a e
descarbonatação dos materiais
carbonáticos na clinquerização
Aumento da temperatura
global (gás de efeito direto)
NO
2
0,022 kg/m² (0,235 kg/ton)
0,011 kg/m² (0,11 kg/ton)
Aumento da temperatura
global (efeito indireto),
acidificação, prejuízos
diretos à saúde humana
CO
2
41,88 kg/m² (447,00 kg/ton)
21,41 kg/m² (219,21 kg/ton)
Aumento da temperatura
global (gás de efeito direto)
Tijolo (seis
furos)
(5)
CO
0,560 kg/m² (5,900 kg/ton)
0,051 kg/m² (0,52 kg/ton)
Extração da argila (combustão do
diesel), processo de queima
(combustão de serragem)
Aumento da temperatura
global (gás de efeito
indireto)
Material
particulado
0,086 kg/m² (3,260 kg/ton)
0,012 kg/m² (0,626 kg/ton)
Principalmente da extração da argila
(combustão do diesel), também dos
processos de atomização e queima
prejuízos diretos à saúde
humana
NO
2
0,012 kg/m² (0,456 kg/ton)
0,008 kg/m² (0,417 kg/ton)
SO
2
0,046 kg/m² (1,748 kg/ton)
0,010 kg/m² (0,522 kg/ton)
Aumento da temperatura
global (gás de efeito
indireto), acidificação,
prejuízos diretos à saúde
humana
CO
2
9,369 kg/m² (356,14 kg/ton)
2,830 kg/m² (147,58 kg/ton)
Aumento da temperatura
global (gás de efeito direto)
CO
0,011 kg/m² (0,418 kg/ton)
0,009 kg/m² (0,469 kg/ton)
Extração da argila (combustão do
diesel), processo de atomização
(combustão do carvão mineral e
condições de operação da fornalha)
e processo de queima (combustão
do gás natural e matérias orgânicas
da própria massa do piso)
Aumento da temperatura
global (gás de efeito
indireto)
Fluoretos
(F-)
0,003 kg/m² (0,104 kg/ton)
0,002 kg/m² (0,076kg/ton)
Processo de queima (provenientes
da própria massa dos pisos)
Acidificação
(7)
Cloretos
(Cl)
0,006 kg/m² (0,208 kg/ton)
0,002 kg/m² (0,127 kg/ton)
Processo de queima (provenientes
da própria massa dos pisos)
Piso
cerâmico
(6)
Hidrocarbo-
netos
(HC)
0,002 kg/m² (0,069 kg/ton)
0,001 kg/m² (0,072 kg/ton)
Extração da argila (provenientes da
combustão do diesel)
Aumento da temperatura
global (gás de efeito
indireto), prejuízos diretos à
saúde humana
(1)
Cimento com adição de 34% escória de alto forno (CARVALHO, 2002)
(2)
Cimento com adição de 70% de escória de alto forno (CARVALHO, 2002)
(3)
Cimento com adição de 50% de cinza volante (CARVALHO, 2002)
(4)
Cimento sem adições (CARVALHO, 2002)
(5)
Valores referentes a duas empresas (SOARES; PEREIRA, 2004)
(6)
Valores referentes a duas empresas (PEREIRA, 2004)
(7)
Ferrari et alli (2003)
Quadro 8: emissões relacionadas à produção de materiais de construção no
contexto brasileiro
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
45
Especificamente, quanto às emissões de dióxido de carbono, essas poderiam ser parcialmente estimadas,
através de procedimentos de cálculos para determinação daquelas decorrentes, exclusivamente, da queima de
combustíveis para processos. Os procedimentos seriam baseados em publicações internacionais, como o
Revised 1996 IPCC Guidelines for National Greenhouses Gas Emissions (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
CLIMATE CHANGE, 1996), que propõem métodos de quantificação a partir dos fatores de emissão de carbono,
para cada tipo de combustível. Esses fatores, semelhantes em diferentes contextos, podem ser extraídos de
fontes que apresentem valores genéricos ou médios, como os disponibilizados pelo próprio Intergovernmental
Panel on Climate Change (1996). Os resultados, nesse caso, seriam apenas aproximados.
Uma barreira à adoção desses procedimentos, no entanto, decorre, no Brasil, da falta de dados para a
efetivação dos procedimentos iniciais, que consistem, na identificação dos índices energéticos e das fontes
energéticas, em percentuais, que compõem esses índices. Foram encontrados índices energéticos
discriminados, por fonte, apenas para cimento, telhas cerâmicas, tijolos cerâmicos maciços de 6 furos e placas
cerâmicas (quadro 9).
Fonte energética (%)
Material
Índice
energético
(MJ/kg)
Elétrica
Óleo
diesel
GLP
Gás
natural
Óleo
combustível
Coque de
petróleo
Carvão
Mineral
Biomassa
Cimento
2,46
(1)
1,25
(2)
1,88
(3)
3,59
(4)
12,79
(1)
21,94
(2)
13,52
(3)
9,60
(4)
- - -
87,21
(1)
78,06
(2)
86,48
(3)
90,40
(4)
-
Telhas
cerâmicas
(5)
9,73 0,57 1,90 - - - - - 97,54
Tijolos maciços
cerâmicos
(6)
2,21 1,28 1,49 - - - - - 97,23
Tijolos (seis
furos)
(7)
3,28 2,29 2,22 95,49
Placas
cerâmicas
(7)
7,45 8,65 7,74 0,62 56,84 - - 26,15 -
(1)
cimento com adição de 34% escória de alto forno (CARVALHO, 2002)
(2)
cimento com adição de 70% de escória de alto forno (CARVALHO, 2002)
(3)
cimento com adição de 50% de cinza volante (CARVALHO, 2002)
(4)
cimento sem adições (CARVALHO, 2002)
(5)
valor referente a uma única indústria do estado do RS, com produção exclusiva de telhas (MANFREDINI, 2003)
(6)
valor referente à média de 3 indústrias do estado do RS, com produção exclusiva de tijolos maciços (MANFREDINI, 2003)
(7)
valores referentes à média de 2 indústrias de pisos de monoqueima do estado de SC; estão considerados transporte de
matérias-primas e fabricação da embalagem; valores calculados por m² e convertidos para kg; os valores apresentados no
trabalho de Pereira (2004) estão em massa e volume e, para obtenção dos índices energéticos foram convertidos segundo
os respectivos poderes caloríficos apresentados no anexo E, do Balanço Energético Nacional – BEN (BRASIL, 2005b)
Quadro 9: composição do índice energético de alguns materiais de construção no
contexto brasileiro
Embora estejam disponíveis, no contexto nacional, emissões quantificadas para poucos materiais e a medição
ou o cálculo seja uma tarefa trabalhosa, a partir dos resultados apontados por pesquisas desenvolvidas,
podem ser adotadas algumas diretrizes a seleção dos mesmos. Nesse sentido, deve-se dar preferência a
materiais:
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
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a) oriundos de processos mais eficientes, quanto ao consumo de energia;
b) oriundos de processos que utilizem combustíveis não fósseis e que gerem menor quantidade de
emissões, a exemplo de fontes primárias como solar, eólica, hidroelétrica e de biomassa;
c) que apresentem poucas emissões por processos químicos e físicos.
Particularmente, quanto aos combustíveis de biomassa, embora apresentem fatores altos de emissão de
carbono, se comparados aos demais, esses não são considerados fontes contribuintes para o aumento da
concentração de gases de efeito estufa na atmosfera. Na queima, segundo Cortez-Barbosa e Ino (2001), o s
CO
2
é liberado na mesma quantidade que foi absorvida para a formação do vegetal, através da fotossíntese, e
na mesma proporção que seria na decomposição natural. O Intergovernmental Panel on Climate Change
(1996b) propõem que as emissões de dióxido de carbono para combustíveis de biomassa sejam calculadas
apenas a título de informação, já que se considera que o volume emitido, devido ao consumo, é igual ao
absorvido pela biomassa, que se regenera. No âmbito nacional, eles são utilizados como principal fonte
energética por diversas indústrias de materiais de construção, sobretudo em produtos cerâmicos.
Além dos processos industriais, outra grande fonte de emissões por consumo de energia, relacionada aos
materiais de construção, é o transporte. Conforme discutido no item 2.1.1.2.3, apenas o deslocamento dos
mesmos entre as indústrias fabricantes e o local da obra é responsável por uma parcela significativa do índice
energético que os compõem. Além disso, o transporte é usualmente vinculado ao consumo de fontes
energéticas fósseis.
No entanto, apesar da relevância de se avaliar emissões por ele geradas, a necessidade de dados em diversas
áreas e a larga variedade de condições, que podem afetar as emissões de cada categoria de fonte móvel, faz
com que seja muito difícil generalizá-las. Essa estimativa é um empreendimento complexo, que necessita a
consideração, entre outros, dos seguintes parâmetros (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE
CHANGE, 1996b):
a) tipo de transporte: modelo do veículo, idade média, quilometragem acumulada;
b) tipo de combustível consumido;
c) características de operação;
d) controle de emissões;
e) procedimentos de manutenção;
f) temperatura do ambiente.
Prioridade, tem sido dada ao desenvolvimento de modelos de emissão e inventários para transportes rodoviários
e aéreos. Apesar dos avanços alcançados, ainda se verifica lacunas no conhecimento, principalmente quanto
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
47
aos fatores de emissão apropriados para o transporte rodoviário, em países em desenvolvimento, onde as
características de operação dos veículos, em uso, são diferentes daquelas verificadas em países industrializados
(INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 1996b).
No Brasil, segundo Álvares e Linke (2003), para os veículos a diesel, somente há ensaios de emissão realizados
pelos próprios fabricantes, e não são correlacionáveis com as condições reais de utilização dos mesmos.
Entretanto, como esta estimativa não pode ser feita atualmente, pois não existem no país laboratórios com essa
capacitação, os autores recomendam o uso exclusivo de fatores de emissão internacionais, baseados em dados
bibliográficos. Devem ser usados, preferencialmente, fatores de emissão de CO
2
para veículos pesados
europeus, uma vez que a tecnologia de motorização utilizada no Brasil se assemelha mais àquela dos veículos
que circulam na Europa, que a dos veículos americanos.
O quadro 10 apresenta os valores de emissão de gases de efeito estufa, identificados no Intergovernmental
Panel on Climate Change (1996b), para veículos pesados europeus, com rendimento de 3,3 km/l ou 29,9
l/100km. Verifica-se que esse rendimento é bastante próximo àquele (3,18 km/l) atingido pelo tipo de caminhão
de transporte de carga, apontado por Reis (1999 apud SPERB, 2000) como sendo o de maior utilização no
Brasil.
Fatores de emissão para veículos de carga europeus
NOx CH
4
NMVOC CO N
2
O CO
2
Total g/km 10 0,06 1,9 9,0 0,03 770
g/kg de combustível
42 0,2 8,0 8,0 0,1 3140
g/MJ 1,0 0,006 0,2 0,9 0,003 74
Quadro 10: fatores de emissão estimados para veículos europeus pesados de
transporte de cargas, movidos a diesel (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON
CLIMATE CHANGE, 1996b)
O CO
2
, como pode ser verificado, é responsável por mais de 97% das emissões totais de GEE de fontes móveis.
Os especialistas do Intergovernmental Panel on Climate Change (1996b) consideram que a incerteza dos
cálculos para esse gás é da ordem de 5%, oriunda, principalmente, da operação, mais do que das imprecisões
nos fatores de emissão. Outros gases contribuem com cerca de 1% a 3%, e as probabilidades de erro atingem
até 50%, devidas principalmente aos fatores de emissão.
Além dos gases de efeito estufa, o motor Diesel emite material particulado, que consiste em partículas de
carbono e hidrocarbonetos, adsorvidos pelo carbono. Uma pequena porção do carbono de processos de
combustão escapa à oxidação, na forma de CO e HC, sendo a maior parte dessa parcela oxidada
posteriormente na atmosfera. A massa de particulados emitida por motor típico é da ordem de 0,1% da massa
de CO
2
ou até 1% do carbono submetido à queima (ECONOMIA & ENERGIA, 2001; ÁLVARES; LINKE, 2003).
Os danos causados ao meio ambiente e à saúde humana pelos gases de exaustão (NOx, CO, e HC) são
bastante conhecidos e bem descritos na literatura (BRAUN et alli, 1998). No entanto, apesar de seus malefícios,
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
48
os fatores de emissão de NOx, CH
4
, CO, N
2
O e particulados são extremamente reduzidos e ainda não
apresentam fatores de emissão precisos disponíveis para caracterização. Por esses motivos Álvares e Linke
(2003) consideram que, atualmente, inventários de emissões do diesel, devem ser baseados somente nos dados
relativos ao CO
2
, mas que, à medida que dados mais confiáveis possam ser adotados, as demais emissões
também passem a ser quantificadas. Da mesma forma, assim que estejam disponíveis dados de emissões
ajustados às características da frota de veículos e aos combustíveis brasileiros, esses devem passar a ser
adotados.
2.1.2.1.2 Emissões ao ambiente interno
Embora os estudos sobre qualidade do ar, foquem o espaço exterior; os ambientes internos podem conter mais
poluentes do que as áreas abertas. A qualidade do ar, nesses espaços, tem um impacto fundamental na saúde
de seus usuários, uma vez que habitantes de áreas urbanas permanecem a maior parte do tempo em ambientes
fechados (MÁTÉ et alli, 2005). Assim, embora, segundo Lippiatt (2002) aspectos relativos às emissões para os
espaços internos não sejam tradicionalmente incluídas em Análises do Ciclo de Vida, são questões
particularmente relevantes para produtos da construção.
A exposição a poluentes, no interior das edificações, é ligada a uma variedade de problemas de saúde. Alguns
efeitos de poluentes aéreos podem ser experimentados logo depois da exposição; outros só podem ser sentidos
muitos anos depois. Ainda pouco se conhece sobre os efeitos cumulativos e interativos da exposição a
diferentes substâncias. E, embora os níveis de poluentes de fontes individuais possam não representar um risco
significativo à saúde, a maior parte das edificações possui múltiplas fontes de poluição do ar interno, que podem
interagir (MÁTÉ et alli, 2005).
Efeitos tóxicos podem ser agudos e imediatos ou crônicos e de longo prazo. Alguns sintomas, como dores de
cabeça e irritações na pele, olhos e garganta podem ser identificados em curto prazo. Outros, como ncer e
doenças respiratórias, causados por longos períodos de exposição a poluentes, como compostos químicos e as
fibras microscópicas, muitas vezes podem ser identificados a longo prazo (AUSTRALIAN GOVERNMENT,
2000).
A síndrome do edifício doente (sick building syndrome - SBS) e a doença relacionada ao edifício (building
related illness - BRI) têm sido largamente utilizadas para descrever situações em que problemas de saúde estão
associados à qualidade do ar interior. O primeiro, segundo a US Environmental Protection Agency (1991b),
refere-se a casos nos quais os ocupantes experimentam efeitos agudos na saúde ligados ao tempo despendido
em edifícios, mas nenhuma doença ou causa específica pôde ser identificada. O segundo, ao contrário, é usado
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
49
quando os sintomas da doença diagnosticada são identificados e podem ser atribuídos diretamente a certos
contaminantes transportados pelo ar.
Estudos desenvolvidos pela US Environmental Protection Agency (2003 apud AUSTRALIAN GOVERNMENT,
2000) têm considerado que a poluição nos espaços internos é um dos cinco maiores riscos à saúde pública.
Segundo a Australian Government (2000), no entanto, relativamente, poucas pesquisas têm sido desenvolvidas
sobre a qualidade do ar no interior das edificações.
Para a US Environmental Protection Agency (1991), o desempenho ambiental do interior das edificações é
decorrente da interação entre diversos fatores, como o local, o clima, os sistemas da edificação, as técnicas
construtivas, as fontes contaminantes e os hábitos dos ocupantes. As diversas fontes de contaminação podem
ser subdivididas em categorias:
a) externas: ar contaminado proveniente do exterior; emissões de fontes próximas à edificação;
gases provenientes do solo, tais como pesticidas e contaminantes, decorrentes do uso anterior
do local; e umidade e vapor de água, promovendo o crescimento de microorganismos;
b) equipamentos em geral e sistemas de condicionamento térmico: aqueles que transportem
poeira e microorganismos oriundos da manutenção precária;
c) atividades humanas: pessoais como cozinhar, fumar, e utilizar produtos cosméticos, de limpeza,
e de pesticidas decorrentes de dedetização e do tratamento de vegetação;
d) componentes: materiais e mobiliário de edificações, superfícies texturizadas como de carpetes e
cortinas que acumulem poeira; emissões químicas, tais como compostos orgânicos voláteis
(VOCs) e compostos inorgânicos, decorrentes de elementos como pinturas, adesivos e outros
produtos;
f) outras fontes: eventos acidentais, como vazamentos de água e de outros líquidos; inundações e
infiltrações no telhado; reformas e atividades de reparo que emitam poeira, gerem
microorganismos e liberem compostos químicos provenientes de novos materiais.
Algumas dessas fontes irão ter efeitos nos ocupantes apenas enquanto estão em uso, tais como produtos
químicos de limpeza doméstica, cigarro, fornos e alguns aquecedores de ambiente, enquanto outras liberam
poluentes ininterruptamente, assim como móveis, materiais de construção e sistemas de climatização artificial
mal projetados ou mantidos (MÁTÉ et alli, 2005). Observa-se, também, que alguns destes itens não são
pertinentes a todos os tipos de edificação e outros não são passíveis de se mensurar. Além disso, a eliminação
de algumas fontes é particularmente dependente da etapa de projeto, principalmente no que diz respeito aos
sistemas de ventilação e à seleção de materiais.
Em locais com climas amenos, a necessidade de renovação do ar pode ser facilmente resolvida através de um
projeto adequado de ventilação natural dos ambientes. No Brasil e, especificamente, em habitações, sistemas de
climatização artificial, em especial ar-condicionado tem sido cada vez mais utilizados, porém, dificilmente, são
adotados como única alternativa para renovação do ar dos ambientes. Segundo o Programa Nacional de
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
50
Conservação de Energia Elétrica (PROCEL), entre 2005 e 2006, 10,5% das residências brasileiras e 16,1% das
residências da região sul do Brasil, possuíam ar condicionado (BRASIL, 2006). Em habitações de interesse
social esse percentual torna-se insignificante, fazendo com que o critério relacionado a sistemas de HVAC
(heating, ventilation and air conditioning systems), não seja pertinente ao presente estudo. Assim, entre as fontes
de contaminação apresentadas, as emissões provenientes de materiais são as únicas vinculadas à etapa de
projeto e relevantes para a avaliação de habitações de interesse social brasileiras.
Materiais de construção e mobiliários liberam poluentes continuamente, porém as quantidades emitidas tendem
a decrescer com o decorrer do tempo. Assim, emissões são geralmente mais acentuadas quando os materiais
são novos e estão sob condições de alta temperatura e umidade. Nesse mesmo sentido, a Australian
Commonwealth Scientific and Research Organization (CSIRO), estima que os ocupantes de novas edificações
possam ser expostos, muitas vezes, aos limites máximos admissíveis de alguns poluentes aéreos internos. A
exposição a esses níveis pode continuar durante muitas semanas depois do inicio da ocupação, sendo que
diferentes materiais irão emitir diferentes tipos e quantidades de contaminantes. Adicionalmente, a maioria dos
produtos químicos de uso comum nos nossos ambientes internos ainda não foi completamente testada e pouco
é conhecido sobre os seus efeitos nos sistemas nervosos humanos (MÁTÉ et alli, 2005).
Entre os reconhecidos poluentes presentes em materiais tradicionalmente utilizados na construção civil, podem-
se citar (MÁTÉ et alli, 2005; LIPPIATT, 2002; THORNTON, 2000):
a) Compostos Orgânicos Voláteis (COV) ou Volatile Organic Compounds (VOCs): substâncias
com moléculas orgânicas, ou seja, que contêm na sua estrutura Carbono e Hidrogênio, e que
se volatilizam à temperatura ambiente. Entre os VOCs comumente encontrados no interior das
edificações estão:
- formaldeído: liberado por produtos de madeira manufaturados tais como compensados,
aglomerados, revestimentos de paredes, alguns tecidos com tratamentos para aumentar a
durabilidade e móveis feitos com esses produtos. Pode também ser emitido por produtos para
isolamento térmico, pela queima de certos combustíveis, pelo cigarro e por algumas colas;
- solventes orgânicos: entre eles, xileno e tolueno estão presentes em tintas, colas, carpetes e
poliuretano. Essas substâncias químicas atuam predominantemente sobre o sistema nervoso
central, como depressoras, que dependendo da concentração e do tempo de exposição,
podem causar efeitos de diferentes magnitudes;
- dicloreto de etileno e monovinil cloreto: muitas toneladas desses produtos são liberadas
anualmente na produção de PVC (polivinil cloreto/ policloreto de vinila) ou vinil. Estão
presentes em revestimentos vinílicos para pisos, tubulações de água fria, persianas, alguns
tecidos e tintas;
- isocianetos: encontrados em poliuretanos e colas;
- resinas epoxy: usadas em colas para madeira e metal, cimento e revestimento de superfícies.
h) fibras: utilizadas, principalmente, em produtos de isolamento térmico e acústico, como fibra de
vidro, mineral. Alguns desses produtos representariam pouco ou nenhum risco aos
ocupantes dos edifícios se não fossem freqüentemente inapropriadamente instalados. O
mesmo não ocorre, no entanto, com materiais contendo amianto. Especialmente perigosos,
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
51
lançam fibras que se deterioram e em longo prazo apresentam riscos à saúde, tais como
cânceres de pulmão e outras doenças respiratórias;
h) metais pesados: são metais quimicamente reativos e bio-acumulativos. São definidos como um
grupo de elementos situados entre o cobre e o chumbo na tabela periódica.
Segundo Lippiatt (2002), freqüentemente é usado, como parâmetro da qualidade do ar, o total de Compostos
Orgânicos Voláteis (VOCs) liberados pelos materiais em contato com os recintos internos. No entanto, do ponto
de vista da autora, o fator de caracterização ideal para essa determinação deveria ser através da determinação
de todos os poluentes presentes, ainda que não haja, atualmente, uma forma precisa de se estimar a quantidade
e a origem das mesmas. Além disso, não consenso científico quanto à contribuição relativa dos diversos
poluentes passíveis de serem incorporados às edificações.
Considera-se, no presente trabalho, que uma forma apropriada para minimizar essas entradas seja através da
identificação dos materiais que apresentem, em sua composição, substâncias reconhecidamente perigosas.
2.1.2.2 Emissões de resíduos sólidos
O volume de materiais residuais gerados pela indústria da construção e por outras atividades desenvolvidas
dentro das edificações têm sido considerável e contínua. O descarte presume a existência de espaços
destinados à deposição destes materiais durante sua fase de decomposição. No entanto, para muitos detritos,
esse processo exige um longo período de tempo, gerando uma demanda crescente por novas áreas. Além de
esses espaços causarem a desvalorização da área nos arredores e de ocuparem um perímetro de terra que
poderia ser destinado a outros fins, diversos problemas ambientais e de saneamento público podem ser
associados a eles: a contaminação do solo e do lençol freático, a geração de gases e o desenvolvimento de
animais, vetores de doenças, são apenas alguns exemplos (ÂNGULO et alli, 2001; COLE; LARSSON, 2002;
READON, 2005).
Praticamente todas as atividades do setor da construção civil são geradoras de resíduos (ZORDAN, 2005). No
Brasil, apenas a geração de resíduos de construção e demolição (RCD) foi estimada em 65 milhões de
toneladas por ano, representando mais de 50% da massa de resíduos sólidos urbanos (PINTO, 1999 apud
ÂNGULO et alli, 2001; SEMINÁRIO, 2005). Além das etapas de construção e demolição, outra significativa
fonte de resíduos são os processos industriais de fabricação dos materiais e dos componentes da
edificação. Os impactos e os resíduos gerados, nessas diferentes etapas do ciclo dos materiais, são
diferenciados e, por isso, abordados separadamente nos itens 2.1.2.2.1 e 2.1.2.2.2.
Quanto à minimização dos resíduos gerados pelo setor, Ângulo et alli (2001) afirmam que se deve tentar fechar
os ciclos produtivos, para minimizar a saída de resíduos e a entrada de matéria-prima não renovável. Nesse
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52
sentido, o reaproveitamento de materiais residuais e de estruturas pré-existentes tem papel fundamental e, é
objeto de análise do item 2.1.2.2.3.
2.1.2.2.1 Resíduos de processos industriais
A maioria dos processos industriais gera, além do produto final, resíduos e co-produtos. E, algumas vezes, o
material residual de um processo pode ser parcialmente co-produto e parcialmente resíduo. Nesse caso,
pressupõe-se que um segundo produto incorpore parte desse resíduo reciclado em algum de seus processos
(INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1998; a IEA ANNEX 31, 2004b).
Idealmente, do ponto de vista ambiental, todos os processos, inclusive os industriais, deveriam ser manejados
de forma a funcionarem em fluxos cíclicos, onde resíduos sirvam de matéria–prima a processos posteriores
(LYLE, 1994). O que se verifica, no entanto, é que, para muitos dos processos industriais, a geração de resíduos
ainda é inevitável, e sua reutilização nem sempre possível. Além disso, é difícil obter-se dados sobre as
quantidades exatas e os tipos de resíduos gerados, que, freqüentemente, as indústrias consideram essas
informações confidenciais (GRIGOLETTI, SATTLER, 2003).
Para materiais de construção tradicionalmente utilizados no Brasil, identificaram-se, apenas, trabalhos sobre os
resíduos gerados nos processos de extração e manufatura do aço, da madeira serrada e de placas, telhas e
tijolos cerâmicos (quadro 11).
As pesquisas apresentadas no quadro 11 têm diferentes graus de detalhamento. Enquanto algumas fornecem,
inclusive, dados quantitativos, outras apresentam apenas uma análise qualitativa dos resíduos gerados. Ainda
assim, mesmo as investigações menos aprofundadas podem ser utilizadas para identificações de resíduos
perigosos, assumidos, aqui, como aqueles indicados pela normalização da Associação Brasileira de Normas
técnicas (ABNT), NBR 10.004. Os resíduos sólidos o enquadrados, pela norma, em duas classes distintas, a
saber (ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS, 2004):
a) Classe I perigosos: são aqueles que apresentam riscos à saúde pública ou efeitos nocivos
para o meio ambiente, devido às suas características de inflamabilidade, corrosividade,
reatividade, toxicidade e patogenicidade;
b) Classe II - não perigosos: são ainda subdivididos em:
- não inertes: são aqueles que podem apresentar propriedades de combustibilidade,
biodegradabilidade e solubilidade em água;
- inertes: aqueles que não sofrem transformações físicas, químicas ou biológicas, não
representando riscos a saúde e ao meio ambiente.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
53
Material Resíduo / classe Quantidade
Processo de
origem
Reciclagem ou destino
corrente
Fonte
Escória de aciaria
(Classe I e II)
(1)
- Aciaria
Pavimento de rodovias e
agregados
Aço
Escória de alto-forno
(Classe I e II)
(1)
-
Redução em
alto-forno
Substituição ao clínquer na
produção do cimento
Carvalho
(2002); Filev
(2005); Geyer et
alli (1997);
Grigoletti,
Sattler (2003)
Cascas e impurezas
(Classe II)
0,275m³/m³ de
madeira
processada
Desdobro
Geração de energia, substrato
de solo
Serragem
(Classe II)
0,325m³/m³ de
madeira
processada
Resíduos de
passagem da
lâmina de serra
Geração de energia, produção
de painéis aglomerados,
produção de briquetes
Substrato de solos em
criadouros
Cavacos
(Classe II)
0,5m³/m³ de
madeira
processada
Resíduos da
padronização
das toras
Geração de energia, produção
de painéis aglomerados e
MDF
(2)
(resíduo sem casca)
Costaneiras
processada
(Classe II)
0,275m³/m³ de
madeira
Processamento
primário das
toras de
madeira
Revestimento externo de
galpões, geração de energia,
produção de painéis
aglomerados (resíduo sem
casca)
Madeira
Maravalha
(Classe II)
0,25m³/m³ de
madeira
processada
Resíduos do
aplainamento
das peças
Substrato de solos em
criadouros, produção de painéis
aglomerados (resíduo sem
casca)
Fagundes
(2003); Ferreira
et alli. (1989
apud
FAGUNDES,
2003); Soares
(2002 apud
FAGUNDES,
2003)
Lodo
(Classe I e II)
0,09-3,48 kg/m
2 (3)
Sistema de
tratamento de
efluentes
líquidos
Adicionado à massa,
juntamente com as demais
argilas, utilizado como matéria
p
rima para fabricação de outros
produtos cerâmicos ou
disposição final gerenciada
Cinzas e material
particulado
(Classe II)
0,97-1,2 kg/m
2(3)
Processos de
atomização e
queima
Na fabricação do cimento ou
depósito em aterros
Cerâmica crua
(Classe II)
Perdas nos
processos de
prensagem e
secagem
Cerâmica crua
contaminada por
esmaltes ou efluentes
líquidos
(Classe I)
1,27-1,99 kg/m
2(3)
Perdas no
processo de
esmaltação
Reincorporação à massa
juntamente com as demais
argilas
Cerâmica queimada
(Classe II)
1,27-1,99 kg/m
2(3)
Perdas nos
processos de,
queima, retífica
e polimento
Reincorporação à massa
juntamente com as demais
argilas
Placa
cerâmica
esmaltada
Pedras abrasivas
(Classe II)
0,10 kg/m
2(3)
Polimento das
placas
Depósito em aterros
Ferrari (2000);
Ferrari et alli
(2002);
Figueiredo Filho
et alli (2003);
Pereira (2004)
Cerâmica crua e
queimada
(Classe II)
1,19-1,94 kg/m²
(tij. de 6 furos)
(4)
Perdas nos
processos de
moldagem,
secagem e
queima
Reincorporação à massa e
depósito em aterros
Telha, bloco
e tijolo
cerâmico
Cinzas
(Classe II)
0,25-0,37 kg/m2
(tij. de 6 furos)
(4)
Processo de
queima
Reincorporação à massa e
utilização em lavouras
Manfredini
(2003); Soares;
Pereira (2004)
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
54
(1)
Não foram encontradas referências com informações sobre constituintes perigosos específicos para os resíduos de cada
processo, no entanto, Relatórios de Impacto Ambiental (RIMAs) da indústria do aço no Estado do Rio Grande do Sul,
obtidos por Grigoletti e Sattler (2003) junto à Fundação Estadual de Proteção ao Ambiente (FEPAM), indicam uma grande
variedade de constituintes perigosos nos resíduos sólidos e líquidos gerados pelas indústrias, classificados pela Associação
Brasileira de Normas Técnicas (2004) como classe 1 e 2. Nesse sentido, Geyer et alli (1997) alertam ainda que a
composição química das escórias será dependente do tipo de aço do qual elas são provenientes, sendo que para alguns,
com altos teores de metais pesados como o cromo, as escórias resultantes são classificadas como de grande risco
ambiental. Adicionalmente, amostras coletadas pelo Greenpeace ao redor da planta de uma indústria gaúcha demonstraram
que as escórias residuais armazenadas próximo à fábrica continham altas concentrações de metais pesados tóxicos e de
bifenilas policloradas (PCBs), substâncias que classificam os resíduos como perigosos segundo a NBR 10.004 (BRIGDEN
et alli, 2000).
(2)
Medium Density Fiberboard
(3)
Quantitativos referentes a duas empresas de pisos de monoqueima do Estado de Santa Catarina
(4)
Quantitativos referentes a duas empresas do Estado de Santa Catarina
Quadro 11: classificação, origem e destino dos resíduos sólidos gerados na
produção de alguns materiais de construção no contexto nacional
2.1.2.2.2 Resíduos de construção e demolição
Os resíduos de construção e demolição (RCD), no Brasil, possuem características heterogêneas, por serem
produzidos num setor onde uma gama de diferentes técnicas e metodologias de produção e cuja cultura de
controle de qualidade do processo produtivo ainda é recente. Características, como composição e quantidade
produzida, dependem diretamente do estágio de desenvolvimento e particularidades da indústria local, tais como
qualidade da mão de obra, técnicas construtivas empregadas, adoção de programas de qualidade e etc
(ZORDAN, 2005).
No contexto europeu, a maior parte dos resíduos gerados pela construção civil provém de estradas ou da etapa
de demolições de edifícios com estruturas de concreto e com divisórias leves de fácil separação nos processos
de demolição seletiva (ÂNGULO, 2000 apud ÂNGULO; JOHN, 2002).
No Brasil, 50% ou mais do total de resíduos gerados é proveniente da etapa de construção (PINTO, 1999 apud
ÂNGULO; JOHN, 2002). Segundo Zordan (2005), a principal causa deste cenário é o alto índice de perdas nos
processos construtivos, ainda que nem toda a perda se transforme efetivamente em resíduo, já que um
percentual das mesmas fica incorporado na própria obra. Devido a essa representatividade, algumas
ferramentas de avaliação ambiental de edificações, a exemplo do GBTool (COLE, LARSSON, 2002), incluem
critérios de avaliação que computam o percentual de perdas resultantes do processo de construção não
enviado a aterros.
As perdas podem ser classificadas em dois tipos: a perda direta ocorre quando o material é danificado ou
perdido durante o processo de construção, sendo seu custo a soma do custo do material perdido com o custo da
sua remoção; perda indireta consiste na perda econômica devido à utilização em excesso do material ou
diferente da prevista, e, nesse caso, as perdas ficam incorporadas à obra (FORMOSO et alli, 1993).
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
55
As perdas podem ser estipuladas através de índices ou indicadores, que são sua expressão numérica. Os
indicadores medem o distanciamento do desempenho quanto ao uso de materiais em relação a uma situação de
referência. Assim, o cálculo do valor exige uma definição prévia de uma referência considerada perda nula e
pode ser feito através da fórmula 1 (Agopyan et alli, 2003, p. 230):
IP (%) = CREAL – CREF / CREF X 100 (fórmula 1)
Onde:
IP (%) é a perda do material expressa em porcentagem, no serviço em estudo;
CREAL representa a quantidade realmente utilizada de determinado material para a execução desse serviço; e
CREF representa a quantidade do material teoricamente necessária para a execução do serviço.
O quadro 12 apresenta indicadores médios nacionais de perdas (em %) para materiais tradicionalmente
utilizados nos país.
Material Formoso et alli (1993)
(1)
Pinto (1995 apud ZORDAN, 2005)
Agopyan et alli (1998)
CA-50 7%
Aço
CA-60 29%
26% 10%
Areia 46% 39% 76%
Argamassa 91% 91% 18%
Tijolos Furados
28%
Blocos e
Tijolos
Tijolos Maciços
27%
27% 17%
Cal - - 97%
Cimento 84% 33% 95%
Concreto 13% 1% 9%
Pedra - - 75%
¹ média de cinco canteiros de obra na cidade de Porto Alegre
Quadro 12: perdas de materiais em processos produtivos convencionais brasileiros
Na etapa de demolição, segundo Zordan (2005), a quantidade de resíduo gerado não depende dos processos
empregados ou da qualidade do setor, pois se trata de um produto do processo, e essa origem, sempre existirá.
No entanto, essa afirmação vem de encontro aos resultados de pesquisas que apontam estratégias para que
sejam facilitadas a reutilização e reciclagem dos materiais resultantes no fim da vida útil das edificações. Readon
(2005) propõe a desconstrução como alternativa à demolição. O termo refere-se ao processo, que consiste na
remoção ou desmontagem de diversos tipos de componentes para a reutilização. Ãngulo et alli (2001) utilizam o
termo “demolição seletiva” para definir o mesmo procedimento. E a IEA ANNEX (2004c) menciona como
fundamental, na concepção do edifício, que seja elaborado um projeto para desmontagem, visando a facilitar a
retirada de produtos, materiais e componentes. Um projeto para desmontagem pode, além de reduzir impactos
ambientais, reduzir custos, não apenas no fim da vida útil da edificação, mas também na renovação e
substituição de elementos da mesma.
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No Brasil, raramente são adotados processos de demolição seletiva, o que gera resíduos muito heterogêneos e
de difícil reutilização. Além disso, segundo Pinto (1999 apud ÂNGULO; JOHN, 2002), esses resíduos
apresentam grandes teores de alvenarias (material cerâmico), o que dificulta o emprego desse material até como
agregado para concretos.
Mesmo conhecidas as proporções do entulho gerado pela construção civil nas grandes cidades e todos os
problemas relacionados à disposição final dos mesmos, apenas em 2002, o Brasil recebeu uma legislação
específica, que norteasse as iniciativas para a redução dos impactos. A resolução nº. 307 do Conselho Nacional
de Meio Ambiente (CONAMA), estabelece diretrizes, critérios e procedimentos para a gestão dos resíduos da
construção civil e classifica-os quanto às possibilidades de destinação (BRASIL, 2002):
a) classe A: são resíduos reutilizáveis ou recicláveis. Argamassas e concretos são exemplos
desse tipo de resíduo e deverão ser reutilizados, reciclados na forma de agregados, ou
encaminhados a áreas de aterro de resíduos da construção civil, sendo dispostos de modo a
permitir a sua utilização ou reciclagem futura;
b) classe B: são resíduos recicláveis para outras destinações, que não o reaproveitamento na
construção civil, tais como: plásticos, papel/papelão, metais e vidros. Deverão ser reutilizados,
reciclados ou encaminhados a áreas de armazenamento temporário, sendo dispostos de modo
a permitir a sua utilização ou reciclagem futura;
c) classe C: são resíduos que não podem ser reutilizados diretamente e para os quais ainda o
foram desenvolvidas tecnologias de reciclagem ou aplicações economicamente viáveis, como
produtos oriundos do gesso. Deverão ser armazenados, transportados e destinados em
conformidade com as normas técnicas especificas;
d) classe D: resíduos perigosos ou tóxicos, oriundos do processo de construção, tais como, tinta e
solventes, ou resíduos contaminados da demolição ou reforma de edificações que lidem com
produtos químicos e radiológicos. A destinação deverá seguir normalizações específicas.
No contexto internacional, destaca-se a iniciativa de conselhos legisladores australianos, que têm requerido
planos de gerência de resíduos previamente ao licenciamento, para a execução da obra. Construtores e
projetistas são solicitados a estimar o volume total de resíduos gerados, tanto do processo de construção quanto
de demolição, e a indicar os meios de disposição desses resíduos, incluindo contrato com estações de
reciclagem e áreas de depósito (READON, 2005).
2.1.2.2.3 Reutilização e reciclagem
O reaproveitamento é uma das soluções de maior impacto para a redução, não apenas da quantidade de
resíduos gerados, mas também da minimização de novos recursos consumidos (READON, 2005). Salienta-se
que o mesmo, segundo Brasil (2002), pode ser feito de duas maneiras: através da reutilização ou da reciclagem.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
57
A reutilização caracteriza-se pelo processo em que os materiais ou resíduos recebem um novo uso diretamente,
sem que sejam re-processados. Quando o reaproveitamento exige um novo processamento e a transformação
do material residual em outro, denomina-se, então, reciclagem.
A escala dos produtos da construção civil, com possibilidades de reaproveitamento é bastante variável, por isso,
ferramentas de avaliação ambiental de edificações, a exemplo do GBTool (COLE; LARSSON, 2002),
apresentam critérios ambientais de avaliação fundamentados tanto no reuso de edificações e estruturas pré-
existentes no terreno, quanto no reaproveitamento de materiais e componentes. Um exemplo disso, pode ser o
reaproveitamento de materiais para atividades temporárias, como madeira para fôrmas, em elementos definitivos
da edificação.
Edifícios antigos correspondem a uma significativa parte do tecido urbano e representam materiais e trabalho
investidos, mas que, contudo, freqüentemente são demolidos antes do término da sua vida útil, devido a
interesses econômicos e a critérios formais. A conservação desses edifícios não apenas reduz a exploração de
novos recursos e o volume de lixo em aterros, mas também preserva a identidade das cidades (COLE;
LARSSON, 2002). Porém, não são apenas antigas edificações e seus componentes que podem ser reutilizados;
ao contrário, a utilização de resíduos de determinadas atividades da etapa de execução, como recursos para
atividades posteriores, apresentam vantagens, como a de não exigirem transporte.
O reaproveitamento é, sobretudo, vantajoso para materiais compostos por recursos não renováveis, para
aqueles que possuem um alto custo ambiental na extração, ou para os que consomem grandes quantidades de
energia no processamento, a exemplo dos metais e, especialmente, do alumínio. Nesses casos, o impacto
ambiental pode ser proporcionalmente reduzido a cada reuso (READON, 2005).
A reutilização tem sido considerada ambientalmente vantajosa em relação à reciclagem, por não exigir novos
processamentos, contudo Harris (1999) ressalta, que ela é substancialmente mais difícil de praticar, pois existem
inúmeras barreiras para sua implementação. Classificação e limpeza dos materiais exigem dispêndios
financeiros de água e de energia. Em adição, dificuldades práticas, como separação de esquadrias, tijolos e
argamassas sem danos às peças, adicionam substanciais aumentos no tempo de trabalho, o que onera os
empreendimentos da construção civil.
Quanto à reciclagem, como regra geral, materiais com alto conteúdo reciclado são preferíveis àqueles
constituídos, apenas, de novos materiais. A principal ressalva quanto à reciclagem, no entanto, diz respeito aos
impactos gerados pelos seus respectivos processos. Aspectos variáveis, como o próprio tipo de resíduo, a
tecnologia empregada, e a utilização proposta para o material, podem tornar o processo de reciclagem ainda
mais impactante do que o próprio resíduo antes de ser reciclado, superando os benefícios inicialmente
considerados (ÂNGULO et alli, 2001; SPREAD, 1995 apud SPERB, 2000). Assim, deve-se ponderar se a
reciclagem é ambiental e economicamente vantajosa, comparada à fabricação de novos produtos.
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No cenário brasileiro, a reciclagem massiva de resíduos da construção civil exige mudanças na gestão e no
processamento dos resíduos, bem como adoção de práticas de demolição seletiva e redução no uso de
materiais e produtos que gerem resíduos contaminantes (ÂNGULO et alli, 2001). Também aspectos de ordem
técnica são determinantes. Para a viabilização de utilização de resíduos de construção e demolição como
agregados, por exemplo, segundo Ângulo e John (2002), será fundamental que estejam disponíveis mecanismos
rápidos confiáveis para a caracterização dos lotes produzidos, de forma a certificar a qualidade e classificar de
acordo com a potencialidade de uso.
A incorporação de insumos reciclados nos processos de fabricação de alguns materiais tradicionalmente
utilizados na construção civil é apresentado no quadro 13, enquanto o potencial de reaproveitamento para esses
materiais, considerando-se as características e as limitações encontradas no contexto nacional, é apresentado
no quadro 14.
Material
Incorpora insumo
reciclado
Observações Fonte
Aço para
construção civil
Sim
Utilização de sucata como um dos principais
insumos.
Gerdau, 2004
Alumínio Dependente do processo
A capacidade infinita de reciclagem com grandes
vantagens econômicas faz com que muitas indústrias
utilizem o alumínio reciclado em substituição ao
alumínio primário.
Associação Brasileira
do Alumínio, 2005
CP I Não Sem adições
CP II-E
Sim Adição de 34% escória de alto forno
CP III Sim Adição de 70% de escória de alto forno
Cimento
CP IV Sim Adição de 50% de cinza volante
Carvalho, 2002
Telha Cerâmica Dependente da indústria
Diversas indústrias utilizam serragem, cavaco,
retalhos de madeiras, refil e casca de arroz, como
combustível. Esses são resíduos de outros
processos produtivos, obtidos junto a serrarias,
madeireiras e indústrias de móveis. Também
resíduos oriundos da etapa de queima são
reincorporados à massa, por algumas indústrias,
sendo moídos e denominados Chamote.
Manfredini, 2003
Tijolo Maciço Dependente da indústria
Algumas indústrias utilizam como principal fonte
energética, para a queima, além da lenha, a
serragem, que é resíduo de serrarias e madeireiras.
Manfredini, 2003
Vidro
Dependente da indústria e
do processo
À mistura vitrificável para fabricação do vidro sodo-
cálcico, utilizado na construção, freqüentemente, é
adicionado vidro partido (cacos residuais) para
diminuir a temperatura de fusão e a energia
necessária para a fundição.
Santa Marina Vitrage,
2002; Santos, 2005
Quadro 13: incorporação de insumos reciclados a alguns materiais de construção
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
59
Reciclagem
Material
Resíduo
Tóxico
Potencial de
Reuso
Potencial Fonte
Potencial de
reaproveitamento
Aço (estrutura de concreto) - baixo alto Gerdau, 2004 alto
Aço (perfis separados) - alto alto Gerdau, 2004 alto
Aço galvanizado - baixo alto alto
Alumínio (elementos) - alto alto ABAL, 2003
(1)
alto
Argamassas (cimento e areia) - nulo restrito Zordan, 2004 baixo
Blocos de pedra - alto ato alto
Concreto (cimento, areia e brita) - nulo restrito Zordan, 2004 baixo
Madeira com tratamento alternativo - alto alto alto
Madeira não tratada - alto alto alto
Madeira tratada com CCA (Arseniato
de Cobre Cromatado), creosoto,
pentaclorofenol, ou outras substâncias
tóxicas
sim - - nulo
Placa cerâmica de revestimento
esmaltada e não esmaltada
- alto restrito Zordan, 2004 alto
Telha cerâmica - alto restrito Zordan, 2004 alto
Tijolo cerâmico maciço - alto restrito Zordan, 2004 alto
Vidro para construção - alto alto Zordan, 2004 alto
Telha de fibrocimento com amianto sim nulo restrito nulo
Telha de fibrocimento sem amianto - alto restrito alto
Gesso sim - alto Nita et alli, 2004 baixo
(1)
Associação Brasileira do Alumínio
Quadro 14: potencial de reaproveitamento de alguns materiais de construção
2.1.2.3 Emissões de efluentes líquidos
Assim como as emissões de resíduos sólidos e de poluentes aéreos, as emissões líquidas também ocorrem em
diferentes etapas e apresentam diferentes características. A contaminação do solo, dos cursos de água e do
lençol freático, é, usualmente, resultado dos impactos diretos desses efluentes. Entre as cargas ambientais
associadas a essas emissões, destacam-se aquelas decorrentes dos processos industriais de fabricação de
materiais e de componentes das edificações, e aquelas oriundas da operação de edificações.
2.1.2.3.1 Efluentes líquidos decorrentes de processos industriais
A legislação brasileira estabelece condições e padrões para o lançamento de efluentes formados em processos
produtivos, através da resolução Nº. 357 do CONAMA (BRASIL, 2005). A resolução determina, para fins de
licenciamento de atividades ou de empreendimentos, cargas máximas para diversas substâncias poluidoras
passíveis de estarem presentes ou serem formadas nesses processos. É exigido, também, que os métodos de
coleta e de análises das águas residuais sejam os especificados em normas técnicas cientificamente
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
60
reconhecidas. Destaca-se, ainda, que as determinações da NBR 10.004, para classificação de resíduos sólidos,
também são válidas para efluentes líquidos, pois, segundo a referida norma (ABNT, 2004, p.3):
Ficam incluídos nesta definição os lodos provenientes dos sistemas de tratamento
de água, aqueles gerados de equipamentos e instalações de controle de poluição,
bem como determinados líquidos, cujas particularidades tornem inviável o seu
lançamento na rede pública de esgotos ou corpos de água, ou exijam para isso
soluções técnicas e economicamente inviáveis, em face à melhor tecnologia
disponível.
Para a identificação das fontes geradoras e das cargas líquidas específicas, causadas pela atividade industrial
relacionada à construção civil, enfrentam-se dificuldades semelhantes àquelas encontradas para a identificação
de emissões sólidas e aéreas. Verifica-se a indisponibilidade de dados nacionais sobre emissões monitoradas
em indústrias de materiais de construção. Embora a resolução Nº. 237 do CONAMA (BRASIL, 1997) exija a
execução de estudos de impacto ambiental e a apresentação de relatórios desses impactos (EIA-RIMAs), para
licenciamento de diversas atividades e empreendimentos ligados à produção de materiais de construção, e
sabendo-se que, em princípio, esses são documentos obrigatórios, abertos à consulta pública, o que se verifica
na prática, segundo Gricolleti e Sattler (2003), é a quase inexistência dos mesmos para grande parte das
atividades vinculadas à construção civil. Foram encontrados, pelos referidos autores, EIA-RIMA apenas para a
indústria do aço. As demais e escassas informações identificadas, no contexto brasileiro, são oriundas de
pesquisas acadêmicas e contemplam, somente, a indústria do aço e de placas cerâmicas (quadro 15).
Conforme mencionado anteriormente (página 55), uma das razões para essa escassez de informações é o
interesse das indústrias em manter sob sigilo os impactos negativos de suas atividades. Assim, a caracterização
dos efluentes quidos gerados, nos processos de fabricação dos materiais de uma edificação brasileira integral,
é inviável, até o presente momento, devido à falta de dados disponíveis.
Material Resíduo Quantidade
Processo de
origem
Reciclagem ou
destino corrente
Fonte
Aço
Efluentes líquidos diversos
contendo substâncias
apontadas como perigosas por
Brasil (2005)
-
Coqueria, alto-
forno, sinterização
Corpo hídrico após
tratamento, e reuso
(90% de
recirculação)
Grigoletti,
Sattler (2003);
Oliveira (2005)
Efluentes de lavagens de
pisos, moinhos e
equipamentos (Classe I)
Setores de
preparação dos
esmaltes e
esmaltação
Efluentes de lavagens de pisos
e moinhos (Classe II)
Setores de
moagem,
atomização e
polimento
Placa
cerâmica
Água para polimento
0,28-17,9 l/m
2 (1)
Setor de polimento
Tratamento e
reutilização em
lavagem de pisos e
equipamentos
Ferrari (2000);
Ferrari et alli
(2002);
Figueiredo
Filho et alli
(2003); Pereira
(2004)
1
Quantitativos referentes a duas empresas de pisos de monoqueima do Estado de Santa Catarina
Quadro 15: efluentes líquidos gerados na produção de alguns materiais de
construção no contexto nacional
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
61
2.1.2.3.2 Efluentes líquidos decorrentes do uso de edificações
Na etapa de uso das edificações, são geradas águas residuais no interior das mesmas. As águas negras,
oriundas de descargas sanitárias, requerem tratamento químico ou biológico para desinfecção antes do re-uso.
Já, águas cinzas são aquelas oriundas de pias, chuveiros e torneiras. Dependendo dos compostos lançados,
apresentam diferentes composições químicas, embora, freqüentemente, contenham menos patogênicos do que
as águas negras (FANE; REARDON, 2005).
A magnitude dos impactos dos efluentes gerados, nessa etapa, no entanto, não esrelacionada aos materiais
de construção utilizados na produção das edificações, a exceção daqueles empregados na implantação de
sistemas de tratamento, local ou em grande escala, e que não são objeto de estudo desta dissertação.
2.2 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO
Neste capítulo buscou-se, inicialmente, contextualizar a dimensão ambiental da sustentabilidade no panorama
nacional e internacional da construção civil, enfocando a representatividade e os desafios do setor em ambas as
escalas.
Explicitada a magnitude das influências do setor, se objetivou, então, compreender os mecanismos que tornam
suas atividades e seus produtos tão impactantes ao meio ambiente. Constatou-se que, para investigar essa
relação, modelos conceituais têm sido desenvolvidos e se baseiam nos conceitos de redes de causa e efeito.
Nessa visão, as interações entre processos e objetos artificialmente produzidos e o meio ambiente são feitos a
partir de fluxos de massa e energia. A geração, por influência humana, de determinado fluxo tem sido
denominada carga ambiental e corresponde a uma intervenção direta no ambiente, que irá acarretar, ao fim da
cadeia, um impacto final. No entanto, os modelos desenvolvidos ainda não são capazes de determinar o impacto
real, final, de cada carga ambiental, pois são simplificações e não representam a complexidade dos mecanismos
naturais envolvidos. Assim, a abordagem usual têm sido estimar cargas, que são de mais fácil previsão, e
associa-las a impactos potenciais relevantes, obtendo-se uma indicação de riscos.
Considera-se que o ideal seria que todas as cargas ocasionadas pudessem ser estimadas quantitativamente,
facilitando comparações entre diferentes produtos e processos. No entanto, como se verifica ao se analisar
aquelas usualmente ocorrentes ao longo do ciclo de vida de uma edificação, nos itens 2.1.1 e 2.1.2, enquanto
que algumas cargas são, relativamente, fáceis de se estimar, outras são de difícil caracterização. Essa
dificuldade, ao que se constata através da revisão bibliográfica aqui apresentada, pode estar associada a dois
motivos distintos.
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
62
O primeiro, especificamente relacionado ao contexto nacional, é devido a indisponibilidade de dados referentes
aos processos de extração e manufatura de grande parte do materiais de construção brasileiros e também de
outras informações representativas da realidade nacional, como fatores de emissões para veículos de transporte
de carga. Esse entrave é agravado pela heterogeneidade, observada no Brasil, de processos produtivos para a
fabricação de materiais similares, o que torna bastante imprecisa a utilização de dados genéricos.
Paralelamente, também se verifica a dificuldade de obtenção de informações sobre desempenho de indústrias
individuais.
Assim, especificamente quanto à etapa de fabricação, o consumo de energia é o único tipo de carga para o
qual estão disponíveis dados quantitativos para uma parcela significativa dos materiais tradicionalmente
utilizados no país. Ainda assim, estão disponíveis poucos dados discriminados por fontes. Para as demais
cargas, geradas nessa etapa, verificou-se que não estão disponíveis, até o presente momento, dados
quantitativos para a maior parte dos materiais de construção nacionais. No entanto, se considera que, para
algumas cargas particularmente relevantes, como emissões críticas à saúde pública ou ao meio ambiente, é
imprescindível, em uma avaliação ambiental, a identificação dessas ocorrências, ainda que não seja possível
estimar as quantidades emitidas.
Dependendo do tipo de carga ambiental considerada, uma segunda dificuldade, além da insuficiência de dados,
é encontrada para caracterização: a subjetividade ou a falta de consenso científico quanto à forma de serem
estimadas. Essa dificuldade é, particularmente, observada para cargas decorrentes do uso/ocupação da terra e
da extração de recursos materiais, tanto não renováveis, a exemplo de minerações, quanto renováveis, a
exemplo da madeira.
Quanto ao uso do solo, a principal dificuldade em quantificá-lo se deve ao fato de que a área ocupada não é o
único fator indicativo de impacto, a qualidade da terra e a forma de ocupação e/ou de exploração são aspectos
fundamentais e, dificilmente, mensuráveis por critérios objetivos ou quantitativos.
Quanto à extração de materiais não renováveis, constata-se uma dificuldade semelhante: como estimar
quantitativamente as cargas relacionadas a alguns dos principais impactos das atividades de mineração, tais
como alterações de lençóis de água subterrâneos, poluição sonora e visual, assoreamento, erosão, mobilização
de terra, instabilidade de taludes, encostas e terrenos em geral, lançamento de fragmentos e vibrações? Assim,
torna-se difícil determinar o impacto relativo de diferentes atividades extrativas, ou entre aquelas subterrâneas e
aquelas a céu aberto.
A redução das reservas naturais é outro aspecto controverso da extração de recursos materiais não renováveis,
pois, embora haja uma tendência a estimá-las a partir do período de exploração disponível, a falta de consenso
sobre como calcular a disponibilidade atual de recursos e as taxas correntes e futuras de exploração, demonstra
a subjetividade à qual essas definições estão associadas. Assim, ainda que se considere esse um parâmetro
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
63
importante para a avaliação ambiental, assume-se aqui que, até o presente momento, a impossibilidade de
caracterizá-lo por meios que não sejam arbitrários, condiciona a irrelevância, dentro das alternativas atuais, de
sua inclusão neste trabalho científico.
Também a exploração de recursos materiais renováveis, particularmente a de madeira, é um assunto polêmico
quando se trata de materiais utilizados na construção civil. Não apenas o uso de madeira oriunda de florestas
plantadas tem sido objeto de discussão. No Brasil, nos últimos anos, igualmente polêmicos têm sido os projetos
para plantações florestais. No entanto, por esse parâmetro ser considerado fundamental para avaliações de
sutentabilidade e também de fácil caracterização, entende-se que sua inclusão seja indispensável neste
trabalho.
Em relação à etapa de construção, considera-se que a identificação e cômputo das cargas ambientais geradas,
não dependem da existência de dados genéricos que caracterizem práticas correntes, visto que diferenças entre
terrenos, práticas construtivas e projetos são determinantes para a geração de cargas. Assim, a possibilidade de
caracterização das cargas, nessa etapa, depende do monitoramento realizado em cada situação particular.
Especificamente para a avaliação realizada neste trabalho, está sujeita à existência de informações coletadas e
armazenadas na construção do protótipo Alvorada.
As cargas ocorrentes na etapa de uso, por serem dependentes do comportamento e das práticas dos usuários
e, portanto, serem impossíveis de prever com precisão, bem como, por não estarem diretamente ligadas aos
materiais e subsistemas implantados na edificação, considera-se serem dispensáveis à inclusão neste trabalho.
Da mesma forma, assume-se como de difícil previsão a quantidade e o destino dos resíduos gerados na etapa
de disposição final. Assim, considera-se mais pertinente, avaliar o potencial de reaproveitamento dos materiais
e componentes, visto que ele é diretamente dependente das decisões da etapa de projeto.
Embora não se pretenda esgotar as discussões acerca dos diferentes temas, o que se buscou com a pesquisa
sobre cargas ambientais, apresentada neste capítulo, foi identificar os principais itens a serem considerados na
avaliação ambiental que se pretendeu realizar neste trabalho. Ou seja, pretendeu-se identificar o que deve estar
incluído na avaliação. Observadas as principais barreiras e controvérsias relacionadas à caracterização das
cargas ambientais que devem, idealmente serem consideradas, busca-se, no capítulo seguinte, identificar como
os métodos, instrumentos e ferramentas de avaliação ambiental de edificações e seus produtos avaliam os
diversos quesitos ou as diversas cargas.
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
64
3 AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PRODUTOS DA EDIFICAÇÃO
Compreendidas as relações genéricas entre edificações e ambiente, e identificadas as cargas ambientais
usualmente ocorrentes ao longo do ciclo de vida das mesmas, parte-se para o exame dos principais estudos
relacionados à avaliação ambiental de edificações existentes na bibliografia. Desta forma, busca-se obter
subsídios para a avaliação ambiental do protótipo de interesse social Alvorada.
Segundo Graham (2000), avaliações de desempenho ambiental de edificações são procedimentos, que auxiliam
na determinação da extensão na qual um edifício pode influenciar o ambiente. Assim, ainda que, indiretamente,
estas avaliações contribuem para reduzir danos ambientais e aumentar a qualidade dos serviços oferecidos.
Os estudos e sistemas existentes para mensurar e analisar os impactos ambientais de edifícios e materiais da
construção civil têm derivado de procedimentos adotados para avaliação de processos e produtos
industrializados, nos quais concentraram-se os primeiros esforços para redução de cargas ambientais
(EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY, 1997). As pesquisas desenvolvidas passaram a considerar, segundo
Silva (2005), que todas as etapas de vida de determinado produto ou bem de consumo, desde a extração de
matérias-primas, até a devolução destes à natureza, acarretam danos ao meio ambiente.
Esse tipo de abordagem, segundo a United Nations Environmental Programme (2003), ficou conhecida por do
berço ao túmulo. Posteriormente, verificou-se a inadequação do conceito para diversos sistemas,
principalmente, para aqueles que passaram a ser vistos como mais sustentáveis. Estabeleceu-se um ideal de
referência, no qual produtos e processos, não mais consumissem novos recursos, e sim operassem em círculos
contínuos de produção, recuperação e reaproveitamento dos materiais inicialmente incorporados (UNITED
NATIONS ENVIRONMENTAL PROGRAMME, 2003). Este novo tipo de visão adaptou o conceito inicial, e
passou a ser referenciada como análise de berço a berço.
Ainda, na tentativa de estabelecer-se uma compreensão abrangente e permitir uma mensuração dos impactos
relacionados aos processos de produção, a Análise de Ciclo de Vida (ACV) passou a ser a metodologia
reconhecida e difundida internacionalmente para avaliação ambiental, tendo sido normalizada pela International
Organization for Standartization (ISO) e abundantemente documentada e debatida por organizações
internacionais (TRUSTY; HORST, 2002, TOD; CURRAN, 1999). Sinteticamente, a metodologia de ACV consiste
em um rigoroso processo de contabilização dos fluxos de matéria e energia relacionados a todas as etapas do
ciclo de vida da edificação (IEA ANNEX 31, 2004c). Por isso, todos os demais métodos voltados à avaliação de
edificações tentam englobar seus conceitos, explícita ou implicitamente, como pode ser constatado no item 3.2.
Na seção seguinte deste trabalho, serão expostos os principais aspectos conceituais e metodológicos da ACV e
sua adequação para a avaliação de edificações e seus produtos. Posteriormente, serão introduzidos os métodos
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
65
de ferramentas específicos para a construção civil, buscando-se identificar as distinções entre aqueles
existentes, seus potenciais e limitações, bem como os elementos comuns aos mesmos.
3.1 ANÁLISE DO CICLO DE VIDA PARA PRODUTOS DA EDIFICAÇÃO
Características inerentes à metodologia de Análise do Ciclo de Vida proporcionam benefícios e limitações para
sua aplicação a produtos da edificação. Lippiatt (2002) cita, como a principal vantagem, a implementação de
uma análise trade-off, que permite alcançar uma real redução de impactos, ao invés de uma simples
substituição. Essa abordagem é particularmente relevante para produtos que alegam ser ambientalmente
amigáveis devido a melhorias pontuais de alguma estratégia adotada e que, no entanto, ignoram os impactos
que essa implementação pode acarretar em outras etapas do ciclo de vida. Por esses benefícios, a metodologia
está sendo aplicada em diversos campos no setor da construção civil (ERLANDSSON; BORG, 2003):
a) no desenvolvimento e avaliações de materiais de construção, possibilitando melhorias no
processo, e no fornecimento de informações aos projetistas;
b) na rotulagem e declarações ambientais de produtos, que ainda está em processo inicial, mas
tem recebido atenção crescente;
c) na criação de ferramentas computacionais de suporte à decisão e de auxilio ao projeto;
d) na elaboração de instrumentos de informações a projetistas, especialmente sob a forma de
catálogos;
e) em programas de avaliação e certificação ambiental de edificações;
f) na avaliação de impactos relacionados a metas de crescimento estabelecidas pelo setor da
construção, como o utilizado pelo setor da construção sueco.
Em contraposição, a quantificação de todos os impactos envolvidos, por demandarem ampla variedade de
dados, pode tornar-se cara e extensa em termos de tempo, ao se pretender analisar edificações como um todo
(TODD E CURRAN, 1999). Particularmente no contexto brasileiro, somam-se dificuldades relativas à obtenção
de dados confiáveis sobre o ciclo de vida dos materiais de construção nacionais. Além disso, diversas são as
características das edificações que, por serem produtos excepcionais, frustram as aplicações diretas da ACV
padrão. A aplicação da metodologia em edificações exige diferenciações principalmente porque (ERLANDSSON;
BORG, 2003; IEA ANNEX 31, 2004c):
a) as expectativas de vida de edificações são longas e desconhecidas, o que gera imprecisões;
b) no tradicional método de ACV são focados apenas em impactos globais e regionais. No
entanto, edificações criam ambientes de ocupação internos, que podem ser avaliados em
termos de conforto e saúde;
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
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c) componentes e produtos dos edifícios são heterogêneos em composição, portanto, uma série
ainda maior de dados é necessária;
d) o ciclo de vida das edificações inclui fases específicas (construção, uso e demolição), nos
quais o comportamento dos usuários e dos operadores dos serviços têm significativa
influência nas conseqüências ambientais;
e) edificações são multifuncionais, o que torna difícil determinar a unidade funcional apropriada
para a análise;
f) edificações criam ambientes de ocupação internos, que podem ser avaliados em termos de
conforto e saúde. Para manter a qualidade desses espaços, são necessários suprimentos de
materiais e energia, o que determina, portanto, fortes relações entre impactos no ambiente
exterior e qualidade do ambiente interior;
g) os sistemas de suporte aos serviços oferecidos pela edificação, assim como o contexto
ambiental associado, são dinâmicos;
h) os serviços proporcionados pela edificação apresentam um ciclo de vida determinado e seus
componentes apresentam ciclos de vida independentes;
i) ações do setor da construção afetam também outros setores.
Devido à complexidade de inter-relações entre os estágios do ciclo de vida, fluxos de recursos e conseqüências
ambientais da produção e uso, todas as ferramentas voltadas à avaliação de edificações, que possuem a
Análise do Ciclo de Vida em sua estrutura são baseadas em modelos computacionais e banco de dados (IEA
ANNEX 31, 2004d). Uma gama delas tem sido desenvolvida, com diferentes escopos e níveis de sofisticação, e
podem ser empregadas no auxílio ao cálculo dos resultados nos diferentes estágios (IEA ANNEX 31, 2004b).
Antes de ser feita uma análise das diferentes ferramentas existentes, no entanto, apresenta-se, no item seguinte,
os elementos constituintes da metodologia de ACV, discutindo-se as particularidades para a avaliação específica
de edificações.
3.1.1 Metodologia de Análise do Ciclo de Vida
A metodologia típica de Análise do Ciclo de Vida, normalizada pela ISO 14.040 (INTERNATIONAL
ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1997), compreende as quatro etapas inter-relacionadas e
interativas, que estão sucintamente descritas a seguir. As diferentes etapas e a estrutura, como um todo,
também devem interagir, ou serem compatibilizadas, nas aplicações do estudo, que por sua vez, podem
abranger, também, a avaliação de outros aspectos relacionados ao produto (figura 5).
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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Figura 5: estrutura de Análise do Ciclo de Vida (INTERNATIONAL ORGANIZATION
FOR STANDARDIZATION, 1997)
3.1.1.1 Definição dos objetivos e escopo
A definição dos objetivos e do escopo corresponde à primeira fase de uma ACV. Com os objetivos se identifica
as razões pelas quais o estudo está sendo conduzido e como os resultados serão utilizados; enquanto o
estabelecimento do escopo envolve a delimitação das fronteiras do estudo e a descrição da unidade funcional
do objeto analisado (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1998; TODD; CURRAN,
1999).
De acordo com os objetivos e escopo do estudo, as fronteiras identificam as unidades de processo que serão
incluídos ou excluídos da análise (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1998). Em
síntese, as fronteiras do sistema determinam a escala na qual o objeto é analisado (IEA ANNEX, 2005b).
Considerando-se, como citado, que a condução de uma ACV, de acordo com a abrangência, requer mais ou
menos tempo e recursos, a IEA ANNEX (2005c) indica que um balanço entre praticidade e validade dos
resultados deve ser buscado ao se delinear esses limites.
Quanto à unidade funcional, o objetivo da sua definição é simplificar o processo de tratamento dos dados.
Segundo Todd e Curran (1999), ao serem subdivididos em unidades-padrão, objetos alternativos tornam-se mais
facilmente comparáveis.
A unidade funcional se refere às funções desempenhadas pelo objeto a ser avaliado, por isso, para edificações,
esta definição é particularmente complexa, devido à variedade de funções desempenhadas pelas mesmas
(INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1998). Neste caso, a IEA ANNEX 31 (2004c)
indica que, ao se pretender comparar os fluxos de matéria e energia de edifícios, como um todo, por exemplo,
provavelmente a definição da unidade funcional em m
2
ou m
3
será a mais informativa. No entanto, para alguns
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
68
impactos ambientais, como conforto, a definição de unidades funcionais requer mais atenção e pode inclusive
não ser adequada, exigindo que se conduza uma avaliação global.
3.1.1.2 Construção e análise do inventário
A etapa de construção e análise do inventário compreende a coleta de dados, quantificações e qualificações dos
inputs (uso de recursos) e dos outputs (emissão de resíduos) significantes do sistema considerado. Essa é uma
etapa interativa, pois, à medida que as informações são coletadas, o pesquisador passa a compreender melhor
o sistema. A partir de então, as fronteiras delineadas anteriormente podem ser definidas e, muitas vezes, se
torna necessária a revisão do escopo (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1997; IEA
ANNEX 31, 2004c).
Um problema freqüente, nesta etapa, surge quando diferentes produtos finais abrangem as mesmas etapas de
produção, já que os ciclos de reciclagens e podem gerar além do produto final, resíduos e co-produtos
(INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1998). Nesse caso, devem ser definidas quais
cargas ambientais são atribuídas a cada um dos processos.(EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY, 1997).
Especificamente, em avaliações de edificações, a dificuldade central para o completo Inventário do Ciclo de Vida
é a inacessibilidade a diversos dados e as variações na qualidade daqueles disponíveis. Essa é uma questão
fundamental, pois para a ACVs de edifícios é usual a utilização de dados generalizados para materiais e
produtos, que produzi-los freqüentemente demanda custo e tempo, muitas vezes, não disponíveis
(ENVIRONMET AUSTRÁLIA, 2001).
3.1.1.3 Avaliação de Impactos do Ciclo de Vida
Fundamentando-se na norma ISO 14.042 (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION,
1999a), três elementos principais devem estar presentes nesta fase: seleção e definição das categorias de
impactos, classificação e caracterização. Contudo, em alguns estudos, dependendo dos objetivos e escopo, a
norma recomenda que seja feita a normalização, o agrupamento e a pesagem.
A seleção e definição das categorias de impactos, segundo Barnthouse et alli (1998), podem tanto
basear-se em categorias tradicionais ou podem ser definidas de acordo com categorias que representem
questões específicas para a tomada de decisão em determinado estudo. Essa definição deve ser estabelecida
pelo conceito de associar os resultados do Inventário do Ciclo de Vida ao ambiente, usando mecanismos
ambientais de causa e efeito para cada categoria de impacto.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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As categorias de impacto, tipicamente, consideradas em Análises do Ciclo de Vida são (IEA ANNEX 31, 2004b):
aquecimento global, acidificação, toxicidade a humanos, toxicidade a ecossistemas, depleção da camada de
ozônio, criação de oxidantes fotoquímicos, depleção de recursos bióticos e abióticos, eutroficação e uso do solo.
Especificamente, no contexto da construção civil, a inclusão da qualidade do ambiente interno, como categoria
de impacto ambiental, torna-se desejável, tendo em vista os possíveis efeitos sobre a saúde humana e
ocupacional, causados por substâncias perigosas (SILVA, 2005).
Na etapa seguinte, de classificação, os diferentes tipos de cargas ambientais são agrupados nas categorias de
impacto, de acordo com a classe de dano potencial ao meio ambiente. A partir de então, é feita a
caracterização, na qual os resultados do inventário, dentro de cada categoria, são convertidos em indicadores
(BARNTHOUSE et alli, 1998).
A caracterização de cada categoria, segundo Carvalho (2002), requer ferramentas analíticas adicionais, como
normas ambientais e fatores que convertam uma carga ambiental em impacto equivalente. Entretanto, de acordo
com a norma ISO 14.040 (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1997), a falta de
consenso em relação a essa transformação confere certa subjetividade à etapa. Isso ocorre, pois os métodos e
normas diferem quanto à consistência e à exatidão na associação de dados levantados no inventário com sua
possível conseqüência ambiental.
Quanto aos elementos opcionais dessa etapa, a normalização, segundo Carvalho (2002), consiste na
conversão dos dados de todas as categorias de impactos a uma única base referencial, sem, contudo,
determinar-se a importância relativa entre elas. O procedimento de agrupamento estabelece a hierarquização
qualitativa das categorias de impacto, de acordo com a preferência ambiental; enquanto a pesagem é um
processo de conversão dos indicadores, utilizando-se fatores numéricos, que podem ser sintetizados a um único
valor (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR STANDARDIZATION, 1999a). Segundo Barnthouse et alli
(1998), esses procedimentos não são vistos como desejáveis para todas as aplicações. A possibilidade de
comparação entre diferentes estudos é uma das vantagens de conduzi-los. No entanto, há de se considerar que,
o estabelecimento de diferentes fatores dará diferentes resultados.
Pesagem, freqüentemente, envolve valores éticos e sociais em vez de informações científicas. Para a IEA
ANNEX 31 (2004c), a fragilidade do processo surge dessa arbitrariedade para determinação dos fatores de
ponderação, que podem frustrar os esforços para assegurar a precisão dos dados tratados até essa etapa.
3.1.1.4 Interpretação do ciclo de vida
A etapa de interpretação do ciclo de vida é definida pela ISO 14040 (INTERNATIONAL ORGANIZATION FOR
STANDARDIZATION, 1999b), como aquela em que os resultados do inventário e os da avaliação dos impactos
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70
são confrontados com os objetivos e escopo definidos. Se apresentarem relações consistentes, passa-se à
elaboração de conclusões e recomendações, com a, conseqüente, elaboração do relatório final. Caso não
tenham sido atingidas, ainda, as exigências determinadas no primeiro estágio do estudo, a análise do inventário
e a avaliação dos impactos devem ser aperfeiçoadas (EUROPEAN ENVIRONMENT AGENCY, 1997).
3.2 MÉTODOS ESPECÍFICOS PARA A AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE PRODUTOS DA
EDIFICAÇÃO
Uma série de estratégias pode ser adotada para se avaliar os impactos específicos dos produtos das edificações
sobre o meio ambiente. Entre elas, os métodos, instrumentos e ferramentas de avaliação ambiental têm sido
tema de pesquisas acadêmicas e comerciais no hemisfério norte durante a última década (ENVIRONMENT
AUSTRALIA, 2001). Recentemente, essa área passou a receber atenção crescente no hemisfério sul e no Brasil.
Apesar de serem utilizados como sinônimos e muitas vezes chamados genericamente de sistemas ou
estruturas, os termos, métodos, instrumentos e ferramentas possuem definições diferentes se forem aplicados à
avaliação ambiental de edifícios. Segundo Graham (2000), um método de avaliação ambiental é um conjunto de
regras e procedimentos, cientificamente orientados à avaliação de produtos da edificação. A Análise do Ciclo
de Vida, normalizada pela ISO e apresentada na seção anterior, é um exemplo de método e, como esclarece o
referido autor, muitas ferramentas de avaliação ambiental são baseadas nessa análise.
Os Instrumentos dão suporte à tomada de decisões durante o processo de projeto, mas, normalmente, não
permitem a inserção de dados específicos. São procedimentos simples, geralmente sob a forma de listas de
checagem, que podem ser baseados em avaliações previamente feitas por ferramentas e métodos. as
ferramentas de avaliação ambiental, estabelecem a conexão, geralmente computadorizada, entre a entrada de
dados do projeto e a saída dos resultados da avaliação. Elas são responsáveis pelas conversões e cálculos
previamente estabelecidas segundo métodos. Esses métodos são, justamente, o foco de interesse desta seção
(GRAHAM, 2000).
Resumidamente, ferramentas de avaliação ambiental buscam facilitar o processo de identificação e
contabilização das diversas e complexas cadeias de causa e efeito, aquilo representa o maior desafio em
avaliações ambientais de edificações. No entanto, a IEA ANNEX 31 (2004a) ressalva que, até as mais
sofisticadas ferramentas não permitem uma compreensão completa das relações do edifício com o ambiente.
Essa limitação é justificada pelo grande número de agentes e materiais envolvidos na indústria da construção,
bem como, pela complexidade das cadeias de causa e efeito envolvidas em mecanismos ambientais, que
implicam uma restrição ao estudo, por parte dos métodos de avaliação, focalizando apenas os fenômenos mais
significativos do processo de produção da edificação. Cada método propõe, então, delimitações que
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simplifiquem os mecanismos a serem estudados, variando assim, a abordagem adotada de um para outro.
Justamente por essas características, a aplicação de diferentes ferramentas irá produzir diferentes resultados,
que, freqüentemente, não são diretamente comparáveis (IEA ANNEX 31, 2004d).
Uma grande variedade de ferramentas de avaliação ambiental tem sido lançada na última década no mercado,
tornando, segundo Trusty (2000), a seleção daquela apropriada para cada situação, uma tarefa trabalhosa e
determinante para o êxito da avaliação. Reconhecendo essa multiplicidade de propostas, algumas classificações
têm sido propostas com o objetivo de facilitar a discussão e a escolha entre ferramentas.
Trusty (2000) propõe um sistema simplificado de classificação que permite uniformizar as ferramentas de forma
que possam ser comparadas, discutidas e avaliadas de acordo com as suas características. Esse tipo de
classificação minimiza, segundo o autor, as confusões que têm sido feitas ao se comparar ferramentas com
diferentes finalidades. O sistema sugerido organiza as ferramentas em três níveis, de acordo com o objetivo,
com o momento no processo de projeto ou com avaliação em que são empregadas:
a) nível 1: fornecem informações e comparações entre materiais e produtos. Podem incluir, tanto
dados ambientais, quanto econômicos. Grande parte apresenta a ACV em sua estrutura ou
são utilizadas para realizar ACVs. São exemplos dessas ferramentas: BEES, LCExplorer,
SimaPro e TEAM.
b) nível 2: são ferramentas de suporte à tomada de decisão na fase de projeto ou em estágios
preliminares. Focam assuntos específicos, assim como Custos no Ciclo de Vida, efeitos
ambientais do ciclo de vida, consumo de energia para operação do edifício e outros. São
objetivos e se propõem a geração de dados. Entre essas ferramentas incluem-se: ATHENA,
EcoQuantum, Envest, DOE2, E10 e Radiance.
c) nível 3: são voltadas para a avaliação da edificação como um todo. Abordam, geralmente,
aspectos ambientais e econômicos, mas podem também cobrir outras dimensões da
sustentabilidade. Em sua maioria, utilizam uma combinação de dados objetivos e subjetivos,
muitos derivados de ferramentas de nível 2. A incorporação de sistemas de pontuação e
ponderação ou pesagem para obtenção de valores globais de desempenho é outra
característica comum dessas ferramentas. Algumas também fornecem certificados ou rótulos
indicando a performance do edifício. São exemplos dessas ferramentas: BREEAM, GBTool,
LEED, EcoEffect, ECOPROFILE.
As ferramentas são dirigidas à aplicação em diferentes etapas do Ciclo de Vida de uma edificação. Aquelas
orientadas à etapa de projeto têm, geralmente, o objetivo de dar suporte à tomada de decisões, possibilitando
que sejam feitas melhorias no desempenho potencial do edifício. No entanto, nessa etapa apenas se pode fazer
uma estimativa do desempenho do edifício nas etapas seguintes. as ferramentas para condução de
avaliações durante a etapa de uso, possibilitam análises mais precisas, pois medem o desempenho das
soluções efetivamente implantadas no edifício. Porém, nessa etapa, poucas alterações podem ainda ser feitas
no próprio edifício. A figura 6 ilustra, graficamente, para quais etapas do ciclo de vida de uma edificação cada
tipo de ferramenta é destinada:
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
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Figura 6: uso de ferramentas de avaliação ambiental através das etapas de projeto e
do ciclo de vida das edificações
Atualmente, praticamente todos os países europeus, além dos Estados Unidos, Canadá, Austrália, Japão e
Hong Kong possuem um sistema próprio para a avaliação ambiental de edifícios (SILVA, 2003). As mais
conhecidas ferramentas implantadas mundialmente são o BREEAM, primeiramente utilizado no Reino Unido, o
LEED, desenvolvido e utilizado, principalmente, nos Estados Unidos e o GBTool. (GREEN BUILDING
CHALLENGE, 2005; FORSBERG; VON MALMBORG, 2004). Essa última é a ferramenta resultante da
implementação de um método de avaliação de edifícios desenvolvido desde 1996 por um grupo de mais de doze
equipes do Green Building Challenge - GBC (GREEN BUILDING CHALLENGE, 2005). O GBC é um esforço de
colaboração internacional que se concentra no desenvolvimento de um método que exponha e conduza
aspectos controversos do desempenho de edificações. Os países participantes podem incorporá-lo com
adaptações ou selecionar idéias para modificar seus próprios instrumentos (GREEN BUILDING CHALLENGE,
2005).
Forsberg e Von Malmborg (2004) argumentam que tem surgido, ainda, recentemente, uma geração mais nova
de ferramentas para a avaliação de edificações como um todo, que se diferenciam dessas difundidas nos últimos
10 anos, pela utilização exclusiva de dados quantitativos. Segundo os autores, os métodos de ferramentas a
exemplo do GBTool, do LEED e do BREEAM, que se baseiam em critérios e pontuações, têm algumas questões
fundamentadas em dados quantitativos e outras estritamente em critérios qualitativos ou, até mesmo,
prescritivos. Caracterizam-se por auditorias de edificações, onde são atribuídas pontuações para cada
parâmetro ambiental avaliado, resultando em uma pontuação geral ou várias pontuações parciais para a
edificação.
Os novos métodos, segundo Forsberg e Von Malmborg (2004), utilizam-se apenas de dados quantitativos,
oriundos de Inventários do Ciclo de Vida. As ferramentas desenvolvidas para a aplicação desses métodos,
diferentemente das primeiras, por existirem oficialmente no mercado poucos anos, ainda não foram
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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extensivamente aplicadas. No entanto, os autores observam que, com o crescimento do conhecimento a
respeito das cidades e do ambiente construído, assim como dos metabolismos de matéria e energia envolvidos,
é provável que haja um aumento no uso e no desenvolvimento de ferramentas desse gênero. São apontadas
como exemplos dessas ferramentas: The Environmental Load Profile (ELP), Eco-Quantum, BEE 1.0, BEAT 2002
e EcoEffect. Ressalta-se que todas elas foram desenvolvidas no norte da Europa e têm, entre seus principais
financiadores, órgãos governamentais centrais ou locais
Segundo Graham (2000), o que praticamente todas as ferramentas existentes têm em comum é não avaliar
todos os aspectos da sustentabilidade relacionados ao ciclo de vida das edificações, concentrando-se na
dimensão ambiental. Ainda assim, os focos sobre determinados aspectos ambientais são diferenciados de uma
ferramenta para outra, primeiro, porque os impactos críticos variam de um país para outro; e segundo, porque as
práticas construtivas e de projeto são distintas, influenciadas pelas características climáticas e culturais de cada
região (SILVA et alli, 2003).
3.2.1 Métodos de ferramentas baseadas em critérios
A partir das informações apresentadas na seção 3.1, pode-se verificar que a metodologia de análise do ciclo de
vida apresenta dificuldades para aplicação direta em avaliações de edificações. Por isso, métodos específicos
para esse fim foram desenvolvidos e praticamente todos eles têm suporte em ferramentas automatizadas,
devido ao volume de dados envolvidos. Entre os métodos das ferramentas difundidas até recentemente, grande
parte fundamentam-se em critérios, alguns deles em critérios estritamente qualitativos ou até mesmo
prescritivos, enquanto outros buscam englobar, também, critérios baseados em dados quantitativos e elementos
da ACV. A abordagem estritamente quantitativa é uma tendência verificada nos novos métodos e ferramentas
desenvolvidas, mas que é dependente do aumento do conhecimento sobre os mecanismos naturais
desencadeados pelas atividades humanas e da disponibilidade de dados sobre os diversos sistemas,
componentes e materiais relacionados às edificações.
Verifica-se que a maioria dos métodos das ferramentas existentes, difundidas até recentemente, compreende
um grupo similar de elementos, que permite aos usuários fornecerem dados e obterem resultados de
desempenho ou de potenciais impactos associados à produção e ao uso da edificação. Além disso, a grande
parte das ferramentas voltadas à avaliação ambiental de edificações, mesmo não seguindo a metodologia de
ACV, extrai do método o conceito de avaliar impactos ao longo do ciclo de vida, o que faz transparecer em suas
estruturas o uso de muitos dos seus elementos (SILVA, 2003). Através das análises que a IEA Annex 31
(2004d), Harris (1999) e Green Building Challenge (2005) fazem dos diversos elementos que constituem os
métodos de ferramentas de avaliação de edificações, pode-se observar que a elaboração de um método envolve
basicamente as seguintes definições.
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3.2.1.1 Definições gerais
Segundo a IEA Annex 31(2004d), a elaboração de um método inicia-se com a definição de “para quais propostas
a ferramenta será usada e quais os limites que o estudo irá abranger”. Assim, exige-se que sejam estabelecidas
definições semelhantes àquelas da primeira etapa de uma ACV: de se esclarecer os objetivos e o escopo
da avaliação, incluindo a fixação das fronteiras e da unidade funcional do estudo. Pode-se dizer que, as
dificuldades para essas definições, apresentadas na metodologia de ACV, também são encontradas nos
métodos de ferramentas de avaliação de edificações.
3.2.1.2 Definição de critérios de avaliação
Um segundo passo fundamental e crítico, nas metodologias, é a seleção de critérios de avaliação. Um critério,
segundo o Dicionário Eletrônico Aurélio (1999), é “aquilo que serve de base para comparação, julgamento ou
apreciação” ou um “caráter, norma ou modelo que serve para a apreciação de um objeto”. Em avaliações de
edifícios, a seleção dos critérios envolve a definição das categorias de impactos de interesse para a própria
avaliação e a seleção dos procedimentos, segundo os quais os dados originais serão trabalhados e avaliados
(IEA ANNEX 31, 2004d). Muitas vezes, mais de um critério pode estar relacionado à mesma categoria de
impacto, fazendo com que muitas estruturas de avaliação sejam organizadas de maneira hierárquica.
As barreiras para a definição de critérios se devem por ser este um campo relativamente novo e pela dificuldade
ou impossibilidade de se mensurar, quantitativamente, grande parte dos impactos ambientais. No campo do
aquecimento global, por exemplo, podem ser usadas simulações para estimar a escala necessária de redução
de emissões de dióxido de carbono, para que seja estabilizada a temperatura mundial. A partir de então, podem
ser estabelecidas metas para emissões de gás carbônico. No entanto, nem todos os impactos ambientais podem
ser mensurados: o efeito da qualidade do ar interno, na saúde dos ocupantes, por exemplo, é um aspecto
substancialmente mais difícil de avaliar quantitativamente (HARRIS, 1999).
Segundo Harris (1999), não consenso entre os métodos, em relação à gama de critérios e indicadores a
serem incluídos, nem em relação à pontuação de referência mínima a ser atingida em cada área. Alguns
impactos ambientais, tais como aquecimento global, são considerados de importância global e, portanto, estão
incluídos critérios associados a eles na maioria dos métodos.
Alguns métodos, a exemplo do GBTool, definem também uma pontuação de referência para cada um dos
critérios avaliados. Essa definição objetiva estabelecer parâmetros para a comparação com os resultados
obtidos pelos objetos avaliados, pois a partir do referencial podem ser atribuídos pontos positivos ou negativos
aos mesmos. Para o mencionado GBTool, por exemplo, a pontuação de referência corresponde àquela
equivalente à prática mínima aceitável, em determinada região, para determinado tipo ou classe de edifício. Em
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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alguns casos, uma regulamentação que pode ser aplicada, mas em outros a avaliação deve fazer uma
determinação baseada nas práticas locais (COLE; LARSSON, 2002).
3.2.1.3 Definição da forma de apresentação dos resultados
Obtida a pontuação para cada critério, ou para cada categoria, onde estão incluídos vários critérios, a grande
parte dos métodos efetua a etapa da agregação. A agregação, segundo a IEA Annex 31(2004d), visa à
obtenção de um valor de desempenho total para a edificação ou para cada categoria de critérios avaliados.
Freqüentemente, para serem agregados, os dados obtidos, em cada critério, precisam ser previamente
normalizados, o que significa convertê-los a unidades comparáveis.
A agregação, em si, envolve a atribuição de pesos aos diferentes critérios ou categorias. Segundo Harris (1999),
esse procedimento, assim como agrupamento e pesagem na metodologia da ACV, caracteriza-se por ser uma
das questões mais controversas em avaliações ambientais. O autor afirma que as razões para essas
discordâncias são óbvias, pois não existe um consenso entre os métodos quanto à relativa importância entre os
diferentes tipos de impactos ambientais, e conseqüentemente, entre os resultados dos diferentes critérios. Como
podem ser comparados, por exemplo, em termos ambientais, o impacto da disposição de uma tonelada de
materiais em aterros com o da emissão de uma tonelada de dióxido de carbono? Além disso, a importância
relativa também pode variar geograficamente de acordo com as prioridades locais (HARRIS, 1999).
Salienta-se que a agregação e pesagem são formas de facilitar a comunicação dos resultados, bem como a
comparação entre diferentes edificações avaliadas. Assim, essa é uma das últimas etapas constituintes dos
métodos de avaliação, sendo que, devido à subjetividade inerente aos procedimentos, alguns métodos optam
por apresentar os resultados separadamente (IEA ANNEX 31, 2004c, SILVA, 2003). Também a forma de
visualização dos mesmos é particular para cada metodologia, podendo incluir resultados relativos ou absolutos,
através de gráficos ou de indicadores.
3.3 AVALIAÇÃO AMBIENTAL DE EDIFICAÇÕES NO BRASIL
Os métodos e ferramentas, apresentados discutidos até o item anterior, foram desenvolvidos no contexto
internacional e, a maioria, tem foco nos seus respectivos países. À exceção do Green Buiding Challenge, que é
um esforço de colaboração internacional, nenhuma das principais ações para o desenvolvimento de sistemas de
avaliação ambiental e de sustentabilidade acontece no Brasil, ou em outros países em desenvolvimento. No
entanto, percebe-se nos últimos anos uma multiplicação de estudos nacionais, como serão citados a seguir,
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voltados à avaliação de edificações e de seus materiais e produtos individuais. Esta constatação denota o
crescente interesse do setor da construção civil brasileiro, ao menos no meio acadêmico, sobre esse tema.
A principal pesquisa identificada no contexto nacional, voltada a edificações como um todo, foi conduzida por
Silva (2003), que estabelece diretrizes, base metodológica e inicia o desenvolvimento de um método de
avaliação de sustentabilidade de edifícios de escritórios brasileiros. No modelo de avaliação sugerido, os limites
do estudo abrangem as etapas de construção e uso dos edifícios. Também são avaliados os agentes envolvidos
no processo, iniciando-se pela empresa construtora. Essa estrutura de avaliação e uma lista abrangente de
indicadores relacionados a ela foram submetidas à consulta das partes interessadas no Estado de São Paulo.
Silva (2003) constata, no entanto, que o setor não está preparado, em curto prazo, para medir ou ser avaliado
por sistemas sofisticados, o que a fez adotar uma estrutura simplificada, com uma estratégia de implementação
gradual.
Oliveira (2005) propõe um sistema para avaliar os subsistemas de cobertura de habitações de interesse social.
Caracteriza-se como uma ferramenta de apoio à tomada de decisões, que realiza uma análise comparativa entre
diferentes alternativas. O autor define um conjunto de oito critérios, baseados na bibliografia internacional,
segundo os quais julga o desempenho de cada uma das alternativas. O próprio autor menciona que seu método
aborda um rol restrito de critérios ambientais, devido às limitações de dados disponíveis aplicáveis à realidade
brasileira. Essa ferramenta diferencia-se daquelas existentes no contexto internacional por não reunir os
diversos critérios em um índice único ou apresentar uma classificação de desempenho dos subsistemas
avaliados. Os resultados são apresentados na forma de um perfil de desempenho, que relaciona os resultados
obtidos entre as alternativas consideradas.
Sperb (2000) avalia cinco tipologias habitacionais da vila tecnológica, implantada em Porto Alegre, a partir dos
materiais constituintes das paredes e cobertura das mesmas. Para tanto, assim como Oliveira (2005), adota um
caráter comparativo em sua análise, considerando grupos de materiais que exerçam a mesma função dentro da
edificação. A autora se baseia em instrumentos e ferramentas existentes no contexto internacional para elaborar
seus próprios critérios de avaliação. O método apresenta apenas os resultados individuais de cada critério, não
adotando ponderações.
Em relação à avaliação ambiental de materiais de construção, um número maior de iniciativas pode ser
encontrado. Duas pesquisas foram desenvolvidas avaliando os impactos ambientais das indústrias de cerâmica
vermelha no Estado do Rio Grande do Sul. Grigoletti (2001) realizou uma pesquisa em 8 indústrias, identificando
as práticas favoráveis e desfavoráveis ao meio ambiente e aos trabalhadores. A caracterização dos impactos foi
feita apenas de maneira qualitativa. Manfredini (2003) deu continuidade ao trabalho desenvolvido por Grigoletti
(2001), ampliando o número de indústrias analisadas (40) e incluindo, no escopo do seu estudo, os mesmos
impactos ambientais considerados na pesquisa anterior, porém, com informações quantitativas.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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Carvalho (2002) aplicou a metodologia de Análise do Ciclo de Vida, conforme normalização da ISO 14040, para
comparação entre cimentos portland, com adição de resíduos. O objetivo foi avaliar os benefícios ambientais da
reciclagem, fornecendo dados quantitativos. Também são feitas comparações com o desempenho medido em
pesquisas internacionais.
Um estudo sobre processos de produção de pisos cerâmicos foi conduzido por Pereira (2004), também
utilizando procedimentos de Análise do Ciclo de Vida. Foram levantados dados de duas empresas
representativas do setor no Estado de Santa Catarina. Os resultados fornecem dados quantitativos referentes à
produção de 1 m2 de piso pronto. Os resultados foram caracterizados, agrupados e pesados, gerando, por fim,
um desempenho global para o produto de cada indústria avaliada.
O trabalho de Pereira (2004) é parte integrante de um estudo maior, realizado juntamente com Soares
(SOARES; PEREIRA, 2004), o qual avaliou impactos ambientais sobre o meio ambiente associados à produção
de pisos e tijolos cerâmicos no Estado de Santa Catarina. Foram desconsiderados no estudo aspectos relativos
à segurança e à saúde dos trabalhadores, assim como à qualidade do produto. Como resultados, são
fornecidos, além das informações mencionadas sobre a produção de placas cerâmicas, dados quantitativos
referentes ao consumo de matérias-primas, água e energia de duas empresas produtoras de tijolos.
3.4 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO
Apresentadas no capítulo anterior as diversas cargas relacionadas às atividades da construção civil, buscou-se
neste, identificar como os métodos existentes trabalham os dados referentes a essas cargas para avaliar as
edificações e os seus produtos. Inicialmente, são considerados os benefícios e restrições da utilização da
Análise do Ciclo de Vida bem como, dos procedimentos que ela envolve. Verifica-se que, embora esse método
apresente vantagens, que fazem com que os métodos específicos para a construção civil nele se baseiem,
também existem aspectos do universo construído que o mesmo não consegue abordar, como qualidade do
ambiente interno. Adicionalmente, uma vez que edificações e até mesmo seus componentes são produtos
heterogêneos, compostos por diversos outros produtos, a utilização do método pode exigir a elaboração de um
longo inventário.
Justamente por essas limitações e pela grande quantidade de dados a serem processados, métodos específicos
para a avaliação de edifícios, de suas partes e de seus serviços têm sido desenvolvidos e, usualmente, têm
suporte em ferramentas automatizadas. Em uma segunda seção deste capítulo são, então, analisados métodos
de ferramentas específicas para a avaliação ambiental de edifícios, buscando identificar as diferenças entre as
alternativas existentes e os elementos comuns dos mesmos.
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O que se constata é que tem sido desenvolvida uma grande variedade de métodos destinados a avaliar o
desempenho de edificações em diferentes aspectos, em diferentes etapas do ciclo de vida, bem como, em
diferentes escalas – dos materiais e/ou serviços individuais ao todo. No entanto, também se observa que grande
parte dessas iniciativas ocorre em países desenvolvidos e se baseiam em prioridades e bancos de dados
nacionais ou regionais, o que dificulta sua extrapolação para outros contextos.
No Brasil, como se verifica ao analisar o item 3.3, um número relativamente pequeno de pesquisas relacionadas
à avaliação de produtos da construção civil pode ser encontrado, sendo que, nenhuma delas apresenta alguma
proposta de método que se adapte às especificidades do estudo que se pretendeu com este trabalho. Apesar
dessa indisponibilidade, considerou-se que os métodos existentes no contexto internacional servem de
referência para a elaboração de um método para a avaliação do protótipo Alvorada.
Analisando-os, constata-se que podem ser divididos em dois grupos aqueles baseados em critérios e aqueles
baseados em dados estritamente quantitativos, oriundos de Inventários do Ciclo de Vida. A tendência observada
é a de que todos evoluam para esse segundo tipo à medida que a compreensão sobre as interações do
ambiente construído com o ambiente natural aumente e que um maior número de informações sobre seus
produtos esteja disponível. No entanto, a maioria dos métodos difundidos atualmente se baseia em critérios,
ainda que extraiam da ACV o conceito de avaliar impactos ao longo do ciclo de vida e que utilizem diversos
elementos do método.
Os elementos comuns à grande parte dos métodos existentes são, então, identificados e discutidos no item 3.2.1
deste capítulo e servem de referência para a definição do método a ser utilizado na avaliação do protótipo
Alvorada. Esse método é detalhado no capítulo seguinte, juntamente com a apresentação do método de
pesquisa.
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4 MÉTODO DE PESQUISA
O objetivo principal deste trabalho demandou, primordialmente, a definição de como realizar a avaliação
ambiental de um protótipo de interesse social no contexto brasileiro. Através da revisão bibliográfica, conforme
apresentado no capítulo 3, verificou-se a indisponibilidade de métodos, no âmbito nacional, adequadas às
especificidades do estudo. Paralelamente, constatou-se que, aqueles estrangeiros, para produtos em geral,
como a ACV, e aquelas ferramentas destinados à avaliação de materiais e produtos da edificação, que na sua
maioria também buscam seguir a normalização da ISO 14040, baseiam-se na identificação e quantificação de
todas as cargas ambientais (inputs e outputs) envolvidas, vistas como impactos negativos. Esse método exige a
elaboração de um inventário exaustivo, especialmente para edificações como um todo, com dados
exclusivamente quantitativos, o que o torna impraticável nesta pesquisa, considerando as limitações de recursos
e tempo e as informações disponíveis no cenário nacional até o presente momento.
Partiu-se então para o estudo de ferramentas fundamentadas em métodos baseados em critérios e pontuações,
misturando dados quantitativos e qualitativos. Essas, geralmente ferramentas de avaliação global de edificações,
a exemplo do GBTool, englobam muitos critérios e categorias de desempenho, nem todos de interesse para o
contexto deste trabalho.
Assim, foi necessária a definição de um método específico para esta avaliação, fundamentado em critérios
ambientais relacionados à seleção e emprego dos materiais de construção, relevantes e passíveis de
caracterização no contexto brasileiro. Embora, neste trabalho, não se tenha a intenção de criar um modelo,
necessariamente, re-aplicável, o método foi, basicamente, composto de critérios tradicionalmente incluídos em
ferramentas de avaliação ambiental de edificações. Isso ocorre devido à importância dos critérios selecionados,
e também porque houve uma preocupação de que os resultados apresentados fossem comparáveis aos obtidos
em futuras avaliações.
Nos itens seguintes são apresentados o delineamento da pesquisa e a descrição do desenvolvimento de cada
uma das etapas deste trabalho, desde a seleção de critérios pertinentes ao contexto do trabalho à avaliação
através da caracterização final dos mesmos. A identificação dos custos, objetivo secundário deste trabalho, foi
realizada independentemente da avaliação ambiental, embora parte das etapas desenvolvidas no estudo seja
determinante para o alcance de ambos.
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4.1 DELINEAMENTO DA PESQUISA
O presente trabalho pode ser dividido em etapas seqüenciais e, em determinados, momentos interativas. A
figura 7 resume, esquematicamente, o encadeamento dessas etapas, que estão detalhadas no item seguinte
deste trabalho.
Figura 7: desenho da pesquisa
4.2 DETALHAMENTO DAS ETAPAS DE PESQUISA
A revisão bibliográfica foi uma atividade referencial constante em todas as fases de desenvolvimento deste
trabalho. Através dela se procurou captar as especificidades e desafios da construção ambientalmente
sustentável, com foco na realidade nacional, e compreender os principais mecanismos ambientais geradores de
impactos ao longo do ciclo de vida das edificações. A definição da metodologia do estudo, incluindo a seleção
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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dos critérios que fundamentam a avaliação, também buscou, na literatura, embasamento nas ferramentas de
avaliação ambiental existentes. A estrutura de avaliação resultante, aplicada, foi baseada em critérios
relacionados a impactos ambientais e os procedimentos adotados, desde a seleção preliminar, à caracterização
final dos mesmos, são descritos na seção seguinte.
4.2.1 Esboço do método de avaliação
A partir da revisão bibliográfica, obteve-se embasamento para o esboço de um método de avaliação a ser
aplicada. Esse esboço incluiu a delimitação inicial das fronteiras do estudo e o levantamento de uma lista
preliminar de critérios pertinentes à avaliação ambiental de uma habitação de interesse social no contexto
brasileiro. Os critérios foram selecionados entre aqueles que fundamentam métodos e ferramentas de avaliação
existentes, em função da possibilidade de caracterização das cargas ambientais apresentadas nos itens 2.1.1 e
2.1.2, do capítulo 2. A possibilidade e a forma de caracterização de cada critério, bem como os limites do estudo,
passaram, então, a ser avaliados concomitantemente com o levantamento de dados, fazendo com que essas
etapas fossem conduzidas de maneira interativa. Isso ocorreu, porque, à medida que novas informações iam
sendo coletadas, tinha-se uma compreensão maior do sistema estudado e de quais critérios seriam de interesse
para o estudo. Além disso, partiu-se do pressuposto de que a avaliação deveria ser baseada em dados
disponíveis, oriundos ou representativos da realidade brasileira. Assim, a seleção de critérios também foi
restringida àqueles que fossem passíveis de caracterização, consideradas essas delimitações.
O esboço da estrutura de avaliação, com os limites estabelecidos e os critérios levantados preliminarmente, foi
apresentado a uma banca avaliadora, na etapa intermediária deste trabalho, e foi revista pautando-se, também,
nas considerações dos avaliadores.
4.2.2 Levantamento de dados
O levantamento de dados foi uma atividade constante em quase todas as etapas da pesquisa, pois, além de
balizar as fronteiras estabelecidas para o estudo e a definição dos critérios ambientais para a avaliação, foi vital
para a caracterização dos mesmos. Os dados levantados pertencem a duas categorias distintas. Na primeira
categoria se inserem as informações específicas relativas ao protótipo Alvorada. Na segunda, estão dados de
diversas ordens, principalmente aqueles sobre propriedades e cargas ambientais decorrentes dos processos dos
materiais de construção empregados, necessários para a caracterização dos critérios de avaliação. As fontes de
dados utilizadas para ambas as categorias são apresentadas nos itens seguintes.
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4.2.2.1 Dados relativos ao protótipo Alvorada
O levantamento de dados da edificação buscou identificar e quantificar a composição de cada um dos grupos de
materiais que a integram. Esses grupos de materiais são aqui denominados subsistemas e foram delimitados a
partir da função que desempenham na edificação.
A caracterização física do protótipo Alvorada foi realizada a partir de dados do projeto (tais como plantas baixas,
cortes, elevações) e levantamento no local, o que permitiu a identificação das alterações do edifício construído,
em relação ao projeto original. as informações referentes à etapa de construção foram obtidas através de
entrevistas com os construtores, documentos, relatórios e planilhas de construção, além de fotos e planilhas de
controle de materiais adquiridos e de identificação de fornecedores.
4.2.2.2 Dados para caracterização dos critérios de avaliação
A disponibilidade desse tipo de fonte de informação foi determinante para a definição da possibilidade de
caracterização dos critérios de avaliação levantados inicialmente. Foram priorizados dados nacionais, mas,
quando estes não são disponíveis, admitiu-se a utilização de dados estrangeiros, desde que verificada a
hipótese de que sejam aplicáveis à realidade brasileira. Do mesmo modo, priorizaram-se os dados mais atuais
possíveis, mas não houve uma delimitação temporal para estabelecer a validade dos mesmos.
Quanto às cargas geradas pelos processos de fabricação dos materiais de construção empregados, não foram
levantados dados das indústrias produtoras específicas. Essa pesquisa assumiria uma proporção maior do que
aquela proposta para uma dissertação de mestrado e também requereria recursos além dos disponíveis. Para a
grande parte dos materiais, os quais não foram buscados em fornecedores diferenciados durante a etapa de
construção, faz mais sentido se pensar no desempenho médio do setor. Mesmo assim, como foram utilizados
dados genéricos e específicos, obtidos de diversas fontes na literatura, nem todos são representativos dos seus
setores de produção ou apresentavam originalmente padronização da comunicação das informações. Todos
esses aspectos conferem imprecisões à avaliação e são ocasionadas, em grande parte, pela natureza da
temática abordada, que lida com aspectos da realidade em franco desenvolvimento no contexto brasileiro. No
entanto, considera-se que a forma de obtenção dos dados adotada já permite atingir indicativos de desempenho,
que poderão ser aprimorados em trabalhos futuros, à medida que dados mais precisos forem sendo
disponibilizados. Além disso, também se considera que esta reunião e organização dos dados existentes, por si
só, já é uma contribuição ao desenvolvimento do tema de pesquisa no país.
Quanto aos dados correspondentes a cargas identificadas para os diferentes materiais, foram classificadas em
dois grupos, emissões e geração de resíduos e consumo de recursos, e estão agrupadas,
independentemente da etapa em que ocorrem, dentro das classes apresentadas nos itens 2.1.1 e 2.1.2. Para
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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que o vínculo entre essas cargas e seus potenciais impactos ambientais ficasse explícito ao leitor deste trabalho,
as mesmas são apresentadas no referido capítulo de revisão bibliográfica.
4.2.3 Organização dos dados e quantificações
A partir dos dados levantados, partiu-se para a quantificação dos materiais empregados no protótipo. As fontes
de dados disponíveis permitiram que, além das quantidades úteis, fossem quantificadas as perdas específicas,
ocorridas na etapa de construção do protótipo.
4.2.3.1 Cálculo das quantidades úteis
Para o cálculo das quantidades úteis, tomaram-se como referência as especificações de projeto. Identificou-se a
composição dos serviços englobados nos subsistemas e partiu-se para o cálculo das quantidades úteis, ou de
referência, dos materiais incorporados. Como muitos serviços apresentam características peculiares, as
estimativas dos consumos de referência, não puderam ser estimadas a partir de tabelas de composições. Os
procedimentos adotados estão descritos a seguir e os valores obtidos, por subsistema, são apresentados no
apêndice A (tabelas de 1 a 7):
a) argamassas e concretos: quantificaram-se, inicialmente, os volumes empregados. A partir de
então, de posse das informações quanto aos traços utilizados, o cálculo dos diferentes
insumos incorporados foi feito através da fórmula do consumo teórico de cimento, descrita por
Alves (1987, p. 304), e pressupõem a inicial conversão dos traços, adotados na obra, em
volume, para os correspondentes em massa. Essa conversão e a aplicação da fórmula
exigiram a determinação das massas específicas e unitárias do cimento e dos agregados e a
relação água/cimento e ar incorporado para cada argamassa ou concreto. As relações
água/cimento adotadas foram aquelas comumente usadas em obra
1
, e correspondem a 1,5
para argamassas e a 0,47 para concretos. O ar incorporado foi considerado apenas para
argamassas que receberam aditivos plastificantes. Nesse caso, os fabricantes foram
contatados para a determinação desse percentual. As massas específicas e unitárias do
cimento, dos agregados e dos demais materiais, que tiveram suas quantidades em unidades
ou volume convertidos em massa estão listadas no quadro 40, no apêndice A;
b) tijolos, telhas e placas cerâmicas: a quantidade útil consumida foi estimada através das
fórmulas apresentadas em Tabelas de Composições de Preços para Orçamentos (TCPO 12,
2003), além de observações no local;
1
Informação oral obtida dia 20 de junho de 2005 com professora do NORIE.
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
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c) aditivos modificadores de argamassas e concreto, impermeabilizantes e produtos para
tratamento e proteção de materiais, em geral: tiveram seu consumo calculado a partir das
indicações de uso apontadas pelos respectivos fabricantes;
c) materiais componentes das esquadrias: as quantidades em volume e massa foram extraídas do
trabalho de Fernandes (2004), no qual foi realizado um levantamento detalhado das mesmas;
d) demais materiais: tais como peças de madeira, blocos de granito e aço, foram quantificados de
maneira específica, inicialmente a partir do número de peças utilizadas, com posterior cálculo
do volume e massa.
Os dados para conversão das quantidades de materiais calculadas, em massa, estão apresentados no quadro
41, no apêndice A. Para produtos e aditivos químicos, com indicação de uso em volume, utilizou-se a densidade
apresentada pelos fabricantes para essa conversão.
4.2.3.2 Quantificação das perdas
Aos consumos úteis ou de referência, calculados para os diferentes materiais, agregou-se valores relativos a
perdas. Esses valores foram obtidos através do cálculo do indicador de perdas, expresso em porcentagem,
conforme fórmula indicada por Agopyan et alli (2003) e apresentada na seção 2.1.2.2.2. A fórmula indicada
considera os quantitativos de referência estimados e o consumo real de materiais, que foi, neste trabalho,
extraído dos registrados nas planilhas de controle de compras, durante a etapa de construção. Salienta-se
alguns procedimentos específicos adotados:
a) para cimento e agregados, contabilizou-se, para cada material, um índice único de perdas,
equivalente para todos os subsistemas nos quais estão incorporados. Para esse cômputo se
verificou a diferença entre o consumo real total e o consumo útil total desses materiais,
calculou-se o indicador de perdas, e a partir dele, chegou-se às quantidades reais de materiais
consumidos por subsistema;
b) médias gerais também foram calculadas da maneira indicada na alínea “a”, para aqueles
materiais empregados em mais de um subsistema, tais como, o aço de 4,2mm de bitola
(utilizada nas armaduras das vigas de cobertura e nas vergas) e os sarrafos de cedrinho
(utilizados nas diversas fôrmas para concretos e como ripas na estrutura do telhado);
b) para materiais parcialmente reaproveitados não foram computados índices de perdas. O
consumo útil adotado é equivalente ao de recursos novos adquiridos, registrado nas planilhas
de controle de compras;
c) para aditivos modificadores de argamassas e concretos, e outros produtos químicos utilizados,
as perdas foram calculadas através da diferença entre as quantidades consumidas e o
consumo útil correspondente às dosagens recomendadas pelos fabricantes. Para aqueles
produtos em que a quantidade consumida foi inferior à calculada, foram desconsideradas as
perdas. Ressalta-se ainda, que não foram avaliadas, neste trabalho, as repercussões dessas
diferenças de dosagens no desempenho das composições, nas quais os produtos foram
utilizados.
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
85
4.2.3.3 Identificação dos custos
Esta etapa visou atender ao objetivo secundário deste trabalho. O cálculo demandou, inicialmente, a atualização
dos custos unitários para materiais individuais, já que as notas e planilhas de compra de materiais utilizadas para
a quantificação do consumo real dos mesmos apresentam preços correspondentes ao período de construção do
PA, ou seja, a diversos períodos entre os anos de 2001 e 2002. A atualização destes valores considerou preços
unitários de materiais, praticados em lojas de materiais de construção em janeiro de 2006. Optou-se por atualizar
os preços através do contato direto com os respectivos fornecedores. Desconsiderou-se a possibilidade de
conversão através do Custo Unitário Básico da Construção Civil (CUB), devido às imprecisões intrínsecas ao
procedimento. Optou-se, também, por contatar os fornecedores específicos de cada material, que alguns
deles não são tradicionalmente encontrados no mercado, como, por exemplo, a madeira de eucalipto, sem
tratamento. Além disto, do ponto de vista do desempenho ambiental, a seleção dos produtores é um aspecto
crítico e foi priorizada na etapa de projeto e construção do Protótipo Alvorada. Em posse dos custos unitários e
das quantidades de materiais consumidos, foram quantificados individualmente os custos relacionados a cada
subsistema.
4.2.4 Definição do método de avaliação
Nesta etapa foram estabelecidas as bases para a condução da avaliação do protótipo Alvorada, depois de
reavaliado o esboço do método de avaliação e os elementos que a compõem. Nos itens seguintes são expostas,
primeiramente, as definições iniciais, constituídas pelo objetivo, fronteiras e unidade funcional da avaliação. Em
seguida, apresentam-se os critérios de avaliação e os respectivos procedimentos para caracterização dos
mesmos. E, por fim, determina-se a forma de apresentação dos resultados.
4.2.4.1 Definições iniciais
O objetivo da avaliação é a estimativa das cargas ambientais decorrentes da seleção e emprego dos materiais
incorporados no protótipo Alvorada. Em função desse objetivo, determina-se que a avaliação se fundamenta no
uso de critérios de avaliação que estão associados a impactos ambientais.
As fronteiras ou limites do estudo são decorrentes do objeto avaliado e dos processos e etapas do ciclo de vida
a serem incluídos na avaliação. Neste trabalho, o objeto a ser avaliado é o protótipo de habitação de interesse
social Alvorada. No entanto, para que pudessem ser identificados os pontos fracos das soluções construtivas da
habitação, optou-se também por fazer uma análise individual de cada uma das soluções construtivas adotadas
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
86
que podem ser substituídas por alternativas. Cada solução construtiva corresponde a um grupo de materiais que
exerce determinada função na habitação. O tipo de agrupamento adotado foi o proposto por Sabbatini (1989
apud Sperb, 2000), que classifica os grupos de materiais correspondentes à maior parte funcional de uma
edificação. Esses grupos são denominados, pelo autor, como subsistemas.
Assim, o objeto de estudo também é avaliado em uma escala menor. Neste trabalho, os subsistemas
correspondem aqueles construídos até o presente momento e foram subdivididos e nomeados da seguinte
maneira: fundações, pisos, esquadrias, paredes, cobertura e pergolados. Salienta-se que o objetivo dessa
divisão não foi compará-los entre si, e sim explicitar quais são os pontos fracos da habitação.
A partir dessas definições, são delimitadas as seguintes fronteiras para o estudo:
a) quanto aos subsistemas: não foram considerados os subsistemas de instalações elétricas e
hidráulicas, por não haver, até a realização do estudo, projeto definitivo para os mesmos.
Logo, os subsistemas avaliados correspondem àqueles construídos até o momento de
realização da dissertação;
b) quanto aos materiais: não foram consideradas, na avaliação, substituições de materiais
devido à perda de desempenho. Também não foram incluídos no estudo materiais acessórios,
tais como pregos, parafusos e aramares, ou, no caso das esquadrias, ferragens e fechaduras.
Em contrapartida, foram contabilizadas as fôrmas para o molde dos elementos em concreto,
pois, embora não sejam agregados ao produto final, ou seja, à habitação em si, são
indispensáveis para a execução;
c) quanto ao consumo de energia: não foram computados gastos energéticos para a
fabricação de aditivos e produtos químicos empregados na habitação, para fabricação e
transporte de materiais reutilizados, para a etapa de execução da obra, para uso da
edificação, para as atividades de desconstrução e para o transporte de materiais e resíduos
até a disposição final ao fim da vida útil;
Quanto à unidade funcional, considera-se que, para este trabalho, sua adoção não seja a alternativa mais
apropriada, conduzindo-se uma avaliação global do edifício e global de cada subsistema, sem delimitação
temporal.
4.2.4.2 Definição dos critérios ambientais de avaliação e das formas de caracterização
Os critérios de caracterização definidos buscaram abranger a análise dos efeitos ambientais, em todas as etapas
do ciclo de vida da habitação, que pudessem ser quantificadas ou qualificadas. No entanto, todos esses
impactos aqui avaliados são decorrentes das decisões e procedimentos adotados nas etapas de projeto e
construção, pois estão relacionados, tanto às soluções construtivas adotadas, quanto à seleção de materiais.
Os critérios fixados estão classificados em dois grupos, de acordo com o tipo de carga ambiental exercida:
consumo de recursos e emissões e geração de reduos (figura 8).
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
87
Figura 8: classificação dos critérios, segundo o tipo de carga exercida
Todos os critérios estipulados estão relacionados a impactos ambientais relevantes para o contexto nacional, e
são negativos ao meio-ambiente. Essa relação é explicitada no quadro 16, que apresenta, também, as etapas do
ciclo de vida, nas quais as cargas, geradoras de impactos, são emitidas.
Critério Potencial impacto ambiental associado
Etapa do ciclo de vida em
que ocorrem os impactos
Emissão de resíduos perigosos
Toxicidade humana, toxicidade a ecossistemas,
depleção de recursos bióticos.
Extração, manufatura,
construção, uso, demolição
seletiva, disposição final.
Consumo de energia e emissões
de CO
2
relacionadas a
transportes
Aquecimento global, acidificação, toxicidade
humana, toxicidade a ecossistemas, depleção de
recursos abióticos.
Produção de energia,
transporte.
Consumo de energia para
processos de manufatura
Dependente da fonte de energia: aquecimento
global, acidificação, toxicidade humana, toxicidade a
ecossistemas, depleção de recursos bióticos e
abióticos, uso do solo.
Produção de energia,
extração, manufatura.
Consumo de recursos não
reaproveitados
Indiretamente relacionado a todos os impactos.
Diretamente relacionado à depleção de recursos
bióticos e abióticos.
Extração, manufatura,
disposição final.
Consumo de recursos sem
potencial de reaproveitamento
Indiretamente relacionado a todos os impactos.
Diretamente relacionado à depleção de recursos
bióticos e abióticos e ao uso do solo.
Extração, manufatura,
disposição final.
Perdas decorrentes do processo
de construção
Indiretamente relacionado a todos os impactos.
Diretamente relacionado à depleção de recursos
bióticos e abióticos e ao uso do solo.
Construção
Consumo de madeira nativa não
certificada
Depleção de recursos bióticos. Indiretamente
relacionado ao uso do solo e ao aquecimento global.
Extração
Quadro 16: relação dos critérios ambientais definidos, com os potenciais impactos
ambientais e com as etapas do ciclo de vida
Como pode ser verificado, através do quadro 16 e da figura 8, não foram contemplados na avaliação critérios
relativos:
a) ao conforto do ambiente interno, uma vez que esses aspectos de desempenho do protótipo
Alvorada foram explorados em uma dissertação de mestrado (MORELLO, 2005) e são tema,
atualmente, de uma tese de doutorado em desenvolvimento;
b) às emissões aéreas, decorrentes dos processos físicos e químicos ocorridos durante a
manufatura de materiais, devido à falta de dados;
c) à operação das edificações, ao longo da etapa de uso;
d) ao consumo de água;
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
88
e) aos demais impactos ambientais tipicamente considerados em análises do ciclo de vida:
depleção da camada de ozônio, eutroficação.
Nos itens entre 4.2.4.1.1 e 4.2.4.1.7 o descritas as formas de caracterização determinadas para cada um dos
critérios estabelecidos. Neste trabalho, se define como caracterização, o conjunto de procedimentos adotados
para a obtenção de resultados quantitativos.
4.2.4.1.1 Emissão de resíduos perigosos
Este critério baseia-se na identificação dos materiais incorporados nos subsistemas cujos processos de
manufatura, uso ou disposição final emitam resíduos perigosos, segundo as definições da NBR 10.004 (ABNT,
2004). São considerados resíduos perigosos, pela referida norma, aqueles que representem propriedades
físicas, químicas ou infecto-contagiosas que possam apresentar riscos a saúde pública ou ao meio ambiente, se
manuseados ou destinados de maneira inadequada. Incluem-se, também, todos os resíduos que apresentem
características de inflamabilidade, corrosividade, reatividade, toxicidade ou patogenicidade, segundo os
parâmetros definidos pela norma. A caracterização é feita através da quantificação das massas dos materiais
que os emitem em alguma das etapas do ciclo de vida. Logo, não são quantificados especificamente os resíduos
perigosos emitidos, assim como também não é feita diferenciação quanto aos graus de periculosidade das
diferentes emissões.
4.2.4.1.2 Consumo de energia e emissões de CO
2
relacionadas a transportes
Para a caracterização do consumo de energia e emissões relacionadas a transportes, adotam-se os mesmos
procedimentos definidos nos trabalhos de Sperb (2000) e Oliveira (2005). No entanto, diferentemente dos
trabalhos mencionados, para a determinação das distâncias transportadas foram adotadas as origens dos
produtos específicos, identificadas através do contato com os fornecedores, registrados nas notas de compras.
Identificados os produtores e as cidades onde estão localizados, passou-se a determinação das distâncias.
Correspondem àquelas entre as cidades produtoras dos materiais e Porto Alegre, as quais foram extraídas do
site MSN Maps & Directions (2005) e consideram os percursos mais pidos entre os centros das cidades. Essa
fonte foi adotada por apresentar padronização quanto ao cômputo das distâncias e por ser de fácil e livre
acesso. Não foram utilizadas as distâncias disponibilizadas pelo Departamento Autônomo de Estradas de
Rodagem do Estado (DAER/RS) ou pelo Departamento Nacional de Estradas e Rodagens (DNER), pois
apresentam estritamente dados para rodovias estaduais e nacionais, respectivamente, e consideram critérios
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
89
diferentes para determinação das distâncias. O primeiro utiliza, como referência, as distâncias entre limites
municipais e o segundo, as distâncias entre centros de cidades.
A partir de então, o cálculo da energia consumida foi feito através do produto da massa de material consumido
(kg), pela distância transportada (km) e pelo coeficiente de consumo energético para transporte (MJ/kg.km). O
coeficiente de consumo energético adotado é obtido a partir dos valores de produtividade de Caminhões semi-
pesados 3 eixos, apontado por Reis (1999 apud SPERB, 2000) como o mais comumente encontrado em
rodovias brasileiras, e dos valores atualizados de massa específica e poder calorífico do óleo diesel, indicados
pelo Balanço Energético Nacional (BRASIL, 2005b).
Para de obter as emissões totais, ao resultado do consumo de energia, em MJ, se aplica o índice de emissões
de CO
2
gerado pela queima de óleo diesel em veículos europeus pesados de transporte de carga, que, segundo
IPPC (INTERGOVERNMENTAL PANEL ON CLIMATE CHANGE, 1996), corresponde a 74 g/MJ. Esses fatores
foram adotados que não estão disponíveis dados nacionais e com base em referência (ÁLVARES; LINKE,
2003) que sugere que, para estimativas, é preferível a utilização de valores referentes a emissões dos veículos
que circulam na Europa.
Ressalta-se, que neste, critério não foram computados gastos energéticos para transporte de materiais
reutilizados. Também não foram considerados transportes de materiais no interior das cidades, ou para
transporte de materiais produzidos em Porto Alegre.
4.2.4.1.3 Consumo de energia para processos de manufatura
A caracterização do consumo de energia para processos é realizada a partir do produto dos índices energéticos
dos diferentes materiais pelas suas respectivas massas. Os índices energéticos adotados não correspondem
àqueles específicos às indústrias de origem dos materiais empregados. Foram obtidos através da literatura, o
que confere certa limitação à caracterização desse critério, já que muitas vezes os índices disponíveis se
referem a grupos pequenos de indústrias ou, até mesmo, a uma única indústria, não representando o
desempenho do setor como um todo. As seguintes ressalvas devem ainda ser consideradas:
a) não foram computados gastos energéticos para materiais reutilizados, nem reciclados;
b) para placas cerâmicas não esmaltadas foi considerado o mesmo índice adotado para placas
cerâmicas esmaltadas, devido à indisponibilidade de um índice específico;
b) não foram computados, nesse critério, os gastos energéticos para a produção dos aditivos e
produtos químicos empregados no protótipo Alvorada, devido à falta de informações disponíveis
quanto aos respectivos índices energéticos. Há de se considerar, no entanto, que a massa desses
materiais corresponde a, apenas, 0,18% da massa total do protótipo Alvorada.
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
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4.2.4.1.4 Consumo de recursos não reaproveitados
Para a caracterização deste critério, contabiliza-se a quantidade de recursos reaproveitados, em relação a de
recursos novos incorporados na edificação. Foi feita uma distinção dos materiais, em função do tipo de
reaproveitamento de recursos empregados. Materiais residuais oriundos de outros processos ou da demolição
de edificações, e que não sofrem nenhum novo processo para serem incorporados à edificação, são
denominados reutilizados. Esses materiais têm 100% da sua massa caracterizada como recursos
reaproveitados.
Materiais com conteúdo reciclado, em contraste, freqüentemente apresentam apenas parte de sua composição
formada por recursos reaproveitados. Além disso, caracterizam-se por exigirem novos processos de manufatura.
Esses materiais são identificados como aqueles cujos processos de fabricação adotam como prática corrente, a
incorporação de resíduos gerados por outros processos produtivos. Tais práticas foram identificadas a partir de
informações disponibilizadas pelos fabricantes ou por trabalhos específicos sobre materiais. Salienta-se, no
entanto, que não foi estimada quantitativamente a massa de resíduos incorporados; o critério baseia-se, apenas,
na quantificação das massas de materiais que não foram reutilizados ou que não possuam insumos reciclados.
4.2.4.1.5 Consumo de recursos sem potencial de reaproveitamento
Esse critério fundamenta-se na identificação dos materiais incorporados na edificação que apresentem baixo
potencial para reutilização ou que são impróprios para reciclagem. Para a determinação da possibilidade de
reaproveitamento pressupõe-se que, ao fim da sua vida útil, a edificação seja submetida a processos de
desmontagem ou demolição seletiva, ao invés da simples demolição. Para que fossem verificados os destinos
potenciais dos diversos materiais também foi considerada a forma como eles foram aplicados na habitação.
A caracterização é feita através da quantificação das massas de materiais que possuam baixo ou nulo potencial
para reaproveitamento, em relação àqueles que apresentem médio ou alto potencial.
4.2.4.1.6 Perdas decorrentes do processo de construção
Esse critério está associado, tanto ao consumo de recursos desnecessários, quanto à geração de resíduos,
durante a etapa de construção. A caracterização é feita através da relação entre o consumo útil calculado (ou de
referência) e o consumo excedente de materiais para a execução da obra. O consumo excedente corresponde a
perdas de recursos diretas e indiretas, e é determinado através da diferença entre o valor útil calculado o valor
correspondente ao consumo real de recursos. O consumo real é obtido de acordo com o item 4.2.3.1. É
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
91
considerado como perda, tanto aqueles recursos que se converteram em resíduos, quanto aqueles incorporados
à edificação, durante a etapa de construção. No entanto, salienta-se que, como o consumo real foi determinado
estritamente através das planilhas de controle de compras, prováveis sobras de materiais estão englobadas
nesses valores.
Neste critério foram focadas as perdas físicas dos materiais, tendo-se como referência (consumo representativo
da perda nula) as prescrições de projeto. Para fins de padronização com os demais critérios que envolvem
recursos materiais e, porque o foco do critério não está na avaliação financeira, como a maior parte das
pesquisas voltadas para o estudo das perdas, os valores globais foram mensurados em unidades de massa. No
entanto, para a avaliação das perdas de materiais individuais, calculou-se, também, o indicador de perdas,
expresso em porcentagem, como forma de possibilitar a comparação com referências nacionais.
4.2.4.1.7 Consumo de madeira nativa não certificada
A caracterização desse critério está atrelada à consideração de que, até o presente momento, não
disponibilidade, no contexto nacional, de madeiras certificadas destinadas à construção civil. Assim, considera-
se também, que, atualmente, não uma solução satisfatória quanto ao tipo de madeira a ser utilizada, embora
se considere o uso de madeira oriunda de florestas naturais potencialmente mais impactante do que o uso de
madeiras de florestas plantadas.
Caracteriza-se esse critério através da relação entre as massas de madeiras oriundas de florestas naturais e de
florestas plantadas empregadas edificação. É considerado especialmente crítico o uso de madeira de florestas
naturais ameaçadas de extinção.
Para a definição da procedência da madeira, foram contatados os fornecedores específicos. Pinus e eucalipto
são consideradas madeiras de florestas plantadas, visto que são espécies introduzidas, enquanto que o cedrinho
é considerado madeira de florestas naturais. São feitas ainda, as seguintes ressalvas:
a) foram contabilizadas, além das madeiras incorporadas, também aquelas utilizadas para a
confecção das fôrmas para concretos;
b) não foram computadas madeiras de reaproveitamento.
4.2.4.3 Definição da forma de apresentação dos resultados
Optou-se por estabelecer uma forma de visualização dos resultados, através de gráficos, que apresenta o
desempenho da edificação em três escalas: na escala da edificação, do subsistema e dos materiais por
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subsistema. O terceiro gráfico apresenta os materiais de maior contribuição para o desempenho obtido por cada
subsistema. Quando pertinente ao critério avaliado, também foram apresentados indicadores apresentando o
desempenho global, por unidade de área construída.
Não foi proposta nenhuma maneira de agrupamento dos critérios em um único indicador de desempenho, pois
pressupõe a conversão dos resultados a unidades comuns e, posterior, atribuição de pesos. O agrupamento, em
si, apresenta imprecisões e a atribuição de pesos envolve decisões subjetivas. Além disso, a pontuação para
obtenção de um indicador global é relevante ao serem comparadas alternativas, ou se houver disponível um
desempenho de referência para comparação. Adicionalmente, para que a comparação apresentasse
consistência, os resultados deveriam derivar dos mesmos procedimentos.
Além disso, toma-se como princípio que a análise individual de cada critério, identificando-se pontos críticos e as
possibilidades de melhorias, representa o ponto crucial para que se obtenham avanços quanto ao desempenho
ambiental do todo.
4.2.5 Apresentação e análise dos resultados
Nesta última etapa da pesquisa são apresentados e analisados os resultados da avaliação ambiental e da
identificação de custos de aquisição dos materiais empregados no protótipo Alvorada, obtidos segundo os
procedimentos estabelecidos neste capítulo.
4.3 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO
Este capítulo apresenta o método adotado na pesquisa e, consequentemente, todos os procedimentos e etapas
desenvolvidas para o alcance do objetivo proposto. Essa meta exigiu, ainda, a definição do método de avaliação
a ser utilizado, o qual também é apresentado neste capítulo e teve embasamento em informações oriundas da
revisão bibliográfica, apresentada nos dois capítulos anteriores. Essa revisão esclarece sobre quais são as
cargas ambientais genericamente ocorrentes ao longo do ciclo de vida de uma edificação e que teriam
relevância para a inclusão na avaliação que se pretende realizar neste trabalho. Uma segunda parte da revisão
traz considerações sobre os métodos existentes no contexto internacional e sobre como eles avaliam
edificações.
Idealmente, entende-se que todas as cargas relevantes apontados no capítulo dois, ocorrentes no decorrer de
todo o ciclo de vida da edificação, deveriam estar contempladas no método proposto. No entanto, a escassez de
dados disponíveis no Brasil foi um condicionante a ser considerado e que inviabilizou a inclusão de mais
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
93
critérios, além dos sete apresentados. Talvez seja questionável se, neste capítulo, não deveria ter sido
apresentado um método considerado ideal para a realidade brasileira e, a partir dele, serem extraídos aqueles
inviáveis para a caracterização até o presente momento. No entanto, essa alternativa foi descartada por três
motivos. Primeiro, porque o objetivo da presente pesquisa não foi criar um método que suprisse a inexistência de
um nacional, e sim avaliar o protótipo Alvorada. A definição de um método foi, então, uma exigência que se
impôs para o alcance do objetivo, não o objetivo em si.
Segundo, porque qualquer proposta de método apresentada atualmente, dificilmente poderia ser considerada
ideal, devido às limitações do conhecimento científico. Ainda hoje há dificuldade ou, no mínimo, não há
consenso quanto à forma de estimar todas as possíveis conseqüências decorrentes das atividades da
construção civil. Logo, ao se tratar de métodos de avaliação ambiental de edificações é mais coerente se pensar
em o melhor possível para cada situação, ao invés de se buscar um genérico ideal. Isso porque, o possível
também é variável de um contexto para outro, e, justamente por isso, cada país que pretende investir na
implantação de um método de avaliação de edifícios, acaba por desenvolver ferramentas específicas próprias.
O terceiro motivo de se ter descartado a proposição de um método ideal, se deve ao fato de que, atualmente, o
desenvolvimento de um modelo aplicável a todo país, possivelmente, seria ainda mais genérico, e por isso
mesmo, englobando até menos critérios do que aqueles propostos aqui. Isso porque alguns, como o referente a
perdas decorrentes do processo de construção, provavelmente não são mensuráveis para qualquer habitação a
ser avaliada, pois exige que se possuam dados quantitativos de materiais consumidos e adquiridos na etapa de
construção, ou que se faça um monitoramento e verificação no decorrer da etapa.
Observa-se, a partir das informações colhidas no levantamento de dados e na revisão bibliográfica, que uma
condição para a adoção de um método mais completo é a existência de uma forma mais rápida e cil de se
obter dados sobre processos de manufatura de materiais de construção. Paralelamente, se constata, que, para
um método nacional, o desenvolvimento de um banco de dados pode não servir para representar as realidades
regionais. Essas diferenças culturais, climáticas, de processos produtivos e de técnicas construtivos também são
um desafio para qualquer tentativa futura de implementação de um método nacional único, que precisará ser
sensível a essas diferenças.
A partir de todas essas considerações quanto às restrições à proposição de um método ideal, se considera que
os critérios adotados para compor o método, bem como as suas respectivas formas de caracterização,
configuram a solução mais abrangente possível, no conjunto, e aprofundada, para cada critério individualmente,
dentro do contexto desta pesquisa. Isso porque, ainda que não estejam abrangidas todas as cargas ambientais
possivelmente ocorrentes, nem sejam adotadas formas de caracterização inquestionavelmente precisas, eles já
são capazes de dar sensíveis indicativos de desempenho e abordam aspectos fundamentais e urgentes de
serem discutidos, nacionalmente, no que diz respeito à sustentabilidade ambiental da construção civil.
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94
Ainda quanto ao método de avaliação proposto, a forma de apresentação dos resultados buscou uma estrutura
aparentemente simples e de fácil visualização, em que o desempenho da edificação pudesse ser percebido nas
diversas escalas, explicitando a representatividade, para o resultado do todo, de cada solução, prática e material
empregados. Conclui-se, pela adoção dessa alternativa, que o objetivo da avaliação não é dar uma “sentença”
quanto ao desempenho do protótipo, e sim identificar os pontos de maior conflito, facilitando a percepção da
relação existente entre a adoção de determinada solução e suas respectivas cargas e impactos ambientais.
Antes de serem apresentados, no capítulo seis, dos resultados obtidos com a aplicação do método, é feita, no
capítulo seguinte, uma descrição do protótipo avaliado e de seus subsistemas, incluindo os quantitativos de
materiais e custos obtidos com o levantamento de dados e com os procedimentos informados nas seções
anteriores deste capítulo.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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5 O PROTÓTIPO ALVORADA: HISTÓRICO E DESCRIÇÃO
O Protótipo Alvorada (PA) é um modelo destinado à população de baixa renda, desenvolvido pelo Núcleo
Orientado à Inovação da Edificação (NORIE), da Escola de Engenharia da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS). O modelo construído, a ser analisado, está implantado no Campus do Vale da UFRGS, e
configura uma tipologia de edificação térrea e isolada, cujas vistas externas estão representadas na figura 9.
Figura 9: vistas nordeste e noroeste do protótipo Alvorada
5.1 ANTESCEDENTES
O processo de concepção do PA foi iniciado em 1997 a partir de um convênio com a Prefeitura Municipal de
Alvorada, para investigar alternativas tecnológicas locais, passíveis de serem aplicadas na produção de
habitações mais sustentáveis, destinadas à população de baixa renda. Partiu-se, então, para a construção do
protótipo que serviria como espaço de experimentação destas alternativas. Uma equipe de alunos e professores
desenvolveu o projeto arquitetônico, a partir das idéias apresentadas no Concurso Internacional ANTAC/PLEA
95, Design Ideas Competition Sustainable Housing for Poor, que possibilitou a discussão de novos
parâmetros para políticas habitacionais (ROSA et alli, 2001; SATTLER et alli, 2003).
Salienta-se, como indicam Costa Filho et alli. (2000), que o objetivo da construção do protótipo não foi elaborar
um modelo a ser reproduzido em larga escala, mas testar, investigar e examinar alternativas tecnológicas mais
sustentáveis, que fossem simultaneamente capazes de minimizar os impactos sobre o meio ambiente e atender
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
96
às necessidades dos moradores. Para tanto, desde a sua construção, o foco dos estudos têm sido no
aprimoramento e a avaliação das alternativas propostas para a habitação.
Até o momento, o PA foi tema de cinco dissertações de mestrado, que buscaram avaliar seu desempenho
térmico e os impactos ambientais de seus materiais e componentes, individualmente. O desempenho térmico da
edificação foi monitorado por Morello (2005) durante 1 ano. Grigoletti (2001) e Manfredini (2003) desenvolveram
estudos sobre impactos ambientais relacionados às indústrias produtoras de um dos materiais predominantes do
protótipo: os materiais cerâmicos. Fernandes (2004) e Oliveira (2005) analisaram subsistemas da edificação. O
primeiro identificou variáveis para a otimização de projetos de esquadrias e propôs um desenho reformulado
para aquelas presentes no protótipo. Oliveira (2005) desenvolveu uma estrutura de avaliação ambiental de
subsistemas de coberturas de habitações de interesse social. A partir dela, comparou a solução proposta para a
cobertura do protótipo Alvorada com uma alternativa hipotética, empregando materiais usualmente adotados em
coberturas habitações populares.
O modelo do Protótipo Alvorada também foi inserido em um estudo maior, o projeto CETHS Centro de
Tecnologias Habitacionais Sustentáveis, de planejamento de um conjunto habitacional de baixa renda, com
objetivos demonstrativos e experimentais, implantado na cidade de Nova Hartz - RS (ROSA et alli, 2001). Até o
presente estudo, foram construídas e ocupadas oito habitações que representam adaptações do modelo original
do PA. Até março de 2005, as habitações do CETHS já tinham sido submetidas a duas avaliações pós-
ocupação, quanto ao alcance das diversos aspectos priorizados na etapa de projeto, tais como: produção local
de alimentos, geração de renda, conforto ambiental, funcionalidade da edificação. O objetivo das entrevistas foi a
verificação da satisfação dos usuários depois de um e três anos de ocupação (MORELLO et alli, 2003; SANTOS
et alli, 2006).
5.2 CONCEPÇÃO ARQUITETÔNICA
A concepção da forma arquitetônica foi determinada a partir de diretrizes gerais relacionadas a projetos
sustentáveis e de requisitos típicos do programa de necessidades para uma família pequena, o que inclui dois
dormitórios, sala e cozinha conjugados, banheiro, área de serviço e uma área de acesso coberta por pérgola.
Em resposta aos condicionantes, gerou-se uma habitação de planta aproximadamente quadrada (figura 10), com
reentrâncias nos espaços correspondentes à área de serviços e entrada. A área construída resultante
corresponde a 50,51 m² e a área útil a 44,17m².
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
97
Figura 10: planta baixa do protótipo Alvorada
Os espaços de maior permanência foram voltados para norte e leste, decido a orientação solar favorável.
Aqueles orientados para norte, apresentam um pé-direito variável, atingindo, na parte mais alta, 4,3 metros, onde
foram posicionadas janelas altas com o intuito de maximizar a iluminação natural e promover a ventilação por
exaustão. Esta diferença de altura foi provocada pela inclinação da cobertura, que é constituída de duas águas
e, predominantemente, voltada para sul, como artifício para a redução da incidência solar.
A oeste da habitação foi implantada uma grande pérgola, com o objetivo de promover à esta fachada, que é a
mais suscetível a radiação solar, sombreamento durante o verão. Através da inserção de vegetação caducifólia,
esse sombreamento é obtido sem comprometimento à incidência solar durante o inverno. Na área de acesso, ao
norte, foi adotada a mesma alternativa de sombreamento com pérgolas e com vegetação caducifólia, gerando
um espaço aberto, propício ao convívio nos diversos períodos do ano. Para os patamares ao alto do pergolado
oeste, foram previstas, também, instalações de um reservatório de água e de um coletor solar experimental de
baixo custo, ainda não implantados.
Os espaços de passagem e o banheiro foram projetados com espaçamentos adequados para a movimentação
independente de idosos e deficientes físicos. Quanto às possibilidades de ampliação, foram previstas duas
alternativas. A primeira delas inclui a construção de novo espaço, contíguo ao dormitório nordeste, com acesso
apenas pelo o exterior da edificação. Este seria um recinto destinado a atividades comerciais. Uma segunda
possibilidade de ampliação seria através da construção de mezaninos na sala e do quarto orientado para norte,
aproveitando o pé-direito elevado destes compartimentos. Ressalta-se, no entanto, que neste trabalho não serão
analisadas as proposta ampliadas.
Os sistemas de instalações elétricas e de água quente e fria, até o presente momento, sofreram uma série de
modificações de projeto e ainda não foram instalados, motivo pelo qual foram excluídos do escopo do estudo. Do
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
98
mesmo modo, os impactos relativos aos sistemas complementares apresentados não serão avaliados no
presente trabalho.
5.3 CONSTRUÇÃO E SUBSISTEMAS CONSTITUINTES
As atividades para a construção do PA foram iniciadas em outubro de 2001, com a sondagem do terreno e teve
continuidade no mês seguinte, através de um curso preparatório, ministrado para todos os estudantes
participantes das atividades de construção da habitação. Entre os temas abordados incluiu-se: elaboração de
cronogramas físico-financeiros, planejamento da obra, organização do canteiro de trabalho, segurança do
trabalho e documentação da execução da obra. O objetivo da participação dos estudantes na construção do
protótipo foi a verificação da adequação das técnicas escolhidas para execução de mão-de-obra não
especializada
1
.
Foi efetuada a contratação de um pedreiro para liderar as atividades de execução, mas ainda contando com a
participação de 15 estudantes, sendo que, destes, 12 desenvolveram, no mínimo, um turno de trabalho semanal
junto ao canteiro de obras. As atividades de construção se desenvolveram em um ritmo regular e foram
concluídas no final de outubro de 2002, porém com uma velocidade aquém daquela esperada. A lentidão do
ritmo foi atribuída à dificuldade dos estudantes em desenvolver várias das tarefas, que acabaram por ser
executadas pelo pedreiro, mão-de-obra que acabou por elevar o custo total da obra. Apesar da lentidão, os
trabalhos executados apresentaram grande qualidade de acabamento
1
.
Quanto à constituição física do protótipo Alvorada, para a avaliação, conforme apresentado no capítulo de
método, ele foi dividido em grupos de materiais, denominados subsistemas, que desempenham determinada
função na edificação. Esses subsistemas estão descritos a seguir.
5.3.1 Fundações
As fundações foram executadas em valas de 90 cm de largura por 90 cm de profundidade. A base das valas foi
preenchida com uma camada compactada de 30 cm de solo-cimento, com proporção de 10% de cimento, em
volume, incorporado ao solo. Em seguida, foi executada uma camada de areia de 3 cm de espessura, para
1
Informações obtidas através dos relatórios técnicos encaminhados à Caixa Econômica Federal, descrevendo as atividades
desenvolvidas ao longo da etapa de construção do protótipo Alvorada entre 2001 e 2002.
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
99
regularização do fundo das valas, sobre a qual foram assentadas três fiadas de blocos de granito, com
argamassa de cimento e areia, com relação de 1:3. As pedras foram contra-fiadas, formando uma seção
piramidal e nos pontos correspondentes ao apoio dos pilares de alvenarias, as pedras foram assentadas
formando um volume cúbico.
Parte dos blocos de granito incorporados ao subsistema é proveniente do desmonte de uma estrutura pré-
existente no terreno. Vigas de baldrame, com seção de 15 x 20 cm e com traço 1: 2,5: 3 (cimento: areia: brita),
fazem a amarração das fundações. Sobre elas, e em suas laterais, foram aplicadas duas demãos de
impermeabilização com emulsão asfáltica elastomérica. A estrutura de aço das vigas foi adquirida previamente
montada. Para as fôrmas de concretagem das vigas, foram utilizadas tábuas de pinus, de seção transversal de
2,50 x 15,00 cm, e sarrafos de cedrinho, com perfil de 2,50 x 5,00 cm.
A figura 11 apresenta, a composição do subsistema e o quadro 17, os quantitativos simplificados e os custos dos
materiais empregados.
Figura 11: composição do subsistema de fundações
Quantidade de materiais (kg)
1
Material
Calculada
(útil)
Não
reutilizados
Reutilizados
Procedência
Perdas
(%)
2
Custo final
(R$)
3
Cimento Portland CP IV-32 1.903,85 2.223,16 -
Nova Santa Rita
(RS)
16,77 724,75
Areia tipo média 6.202,69 7.080,52 - Porto Alegre (RS) 14,15 147,50
Pedra britada 1 1.886,17 2.045,82 - Porto Alegre (RS) 8,46 48,64
Blocos de granito 37.506,52 29.142,59 8.363,92 Viamão (RS) - 1.563,95
Aço (GG-50 e CA-60) 95,62 102,73 -
Sapucaia do Sul
(RS)
7,44 469,80
Emulsão asfáltica (imperm.)
48,83 54,00 - São Paulo (SP) 10,59 223,02
Madeira pinus (Fôrmas) 181,54 181,54 -
São Francisco de
Paula (RS)
- 154,19
Madeira cedrinho (Fôrmas) 25,22 25,85 - Sinop (MT) 2,53 33,30
Total 47.850,43 40.856,22 8.363,92 3.365,15
1
Quantitativos em massa para a avaliação ambiental, unidades de orçamento constam na tabela 1 - apêndice A.
2
Não foram computadas perdas para materiais total ou parcialmente reaproveitados
3
Valores referentes a janeiro de 2006
Quadro 17: quantitativos resumidos e custos dos materiais incorporados no
subsistema de fundações
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
100
5.3.2 Piso
O subsistema correspondente ao piso abrange, também, o lastro de pedra britada de 3 cm de espessura e o
contrapiso, de 5 cm, sobre ele (figura 12). O contrapiso foi composto de cimento e areia na proporção 1:3 e
aditivo impermeabilizante para concretos e argamassas. Os pisos, propriamente ditos, correspondem a placas
cerâmicas de revestimento de duas variações. Nos dormitórios, no estar e cozinha, e nas áreas de acesso e
serviço foram aplicadas placas corrugadas, não esmaltadas, de cerâmica vermelha, com dimensões de 24 cm x
24 cm, assentadas com argamassa de cimento, areia e aditivo plastificante para argamassas. No banheiro, as
placas selecionadas também são de cerâmica vermelha, porém apresentam acabamento esmaltado e
dimensões menores (11,5 cm x 11,5 cm). O assentamento destas últimas foi executado com argamassa adesiva
pré-fabricada. A argamassa de rejuntamento, para ambos os tipos de placas cerâmicas, foi produzida in loco e
composta de cimento e de areia com relação 1:3. Os quantitativos simplificados e os custos dos materiais
empregados estão expostos no quadro 18.
Figura 12: composição do subsistema de pisos
Quantidade de materiais (kg)
1
Material
Calculada
(útil)
Não
reutilizados
Reutilizados
Procedência
Perdas
(%)
Custo
final (R$)
2
Cimento Portland CP IV-32 974,88 1.138,39 - Nova Santa Rita (RS) 16,77 371,11
Areia tipo média 5.839,26 6.665,66 - Porto Alegre (RS) 14,15 138,86
Pedra britada 1 4.893,55 5.307,75 - Porto Alegre (RS) 8,46 126,20
Aditivo impermeabilizante
(contrapiso)
3
20,99 18,90 - São Paulo (SP) - 29,90
Aditivo plastificante
(contrapiso)
0,85 4,75 - São Paulo (SP) 458,50 15,79
Argamassa adesiva
3
18,04 16,67 - Jandira (SP) - 5,67
Placa cerâmica não
esmaltada
843,57 927,93 - Gravataí (RS) 10,00 850,60
Placa cerâmica esmaltada 81,18 89,30 - Gravataí (RS) 10,00 232,72
Total 12.672,32 14.169,34 - 1.770,85
1
Quantitativos em massa para a avaliação ambiental, unidades de orçamento constam na tabela 2 - apêndice A.
2
Custo de aquisição dos materiais, valores referentes a janeiro de 2006.
3
Não houve perdas, quantidade utilizada menor que a recomendada pelo fabricante.
Quadro 18: quantitativos resumidos e custos dos materiais incorporados no
subsistema de pisos
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
101
5.3.3 Paredes
Neste subsistema considerou-se, além das alvenarias, os revestimentos aplicados sobre elas, as vergas sobre
os vãos das esquadrias e os pilares de alvenaria externos. A área total das superfícies, descontando-se os vãos
e incluindo-se as faces dos pilares externos, corresponde a 138,9 m². A figura 13 apresenta, graficamente, a
composição do subsistema e o quadro 19, os quantitativos e os custos dos materiais empregados.
As paredes, tanto internas, quanto externas, são predominantemente constituídas por fiadas simples de tijolos
maciços de cerâmica vermelha assentados à chato (deitados), sem revestimentos. Nesta situação apresentam
espessura total de 10 cm. O assentamento dos tijolos foi executado com argamassa de cimento, areia e aditivo
plastificante, à exceção daquelas fiadas até 1,5 m de altura, às quais foi acrescentado aditivo impermeabilizante.
Às alvenarias externas orientadas a sul e a oeste aplicou-se, também, chapisco e massa única, como forma de
aumentar a resistência térmica e a durabilidade destas fachadas, que se encontram em situação mais crítica de
exposição. Aquela, apresenta revestimento em ambas as faces, enquanto esta, apenas na superfície exterior.
No banheiro, todas as paredes receberam chapisco e massa única, além de revestimento com placas cerâmicas
esmaltadas até a altura de 1,75 m. Assim como no piso, estas placas cerâmicas foram assentadas com
argamassa adesiva pré-fabricada e rejuntadas com argamassa produzida in loco, constituída de cimento e areia.
Para proteção e encaixe das esquadrias, o contorno dos vãos das janelas foi preenchido com um moldura de
tijolos, conferindo maior largura à parede nesses pontos. Vergas foram posicionadas na parte superior dos vãos
e, nestes pontos, os tijolos foram mantidos suspensos, através de pedaços de barras de aço de 4,2 mm,
posicionados entre juntas e ancorados nas fiadas superiores.
Pilaretes de alvenaria, além de desempenharem função estética, estruturam as paredes nos vértices, onde o pé-
direito é elevado, e amarram o pergolado oeste. Para a amarração das arestas dos pilaretes foram utilizados
grampos de aço, posicionados nas juntas a cada quatro fiadas de tijolos. Estes grampos foram adquiridos em um
depósito de materiais de demolição e se caracterizam, portanto, como material reutilizado.
Figura 13: composição do subsistema de paredes
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
102
Quantidade de materiais (kg)
1
Material
Calculada
(útil)
Não
reutilizados
Reutilizados
Procedência
Perdas
(%)
2
Custo
final (R$)
3
Cimento Portland CP IV-32 535,10 624,84 - Nova Santa Rita (RS) 16,77 203,70
Areia tipo média (graduação:
3)
5.272,38 6.018,55 - Porto Alegre (RS) 14,15 125,38
Aditivo impermeabilizante 7,81 11,98 - São Paulo (SP) 53,42 30,29
Aditivo plastificante 2,16 12,07 - São Paulo (SP) 458,50 40,17
Tijolo maciço 18.703,40 20.573,74 - Campo Bom (RS) 10,00 1.712,74
Aço - vergas (CA-60) 6,92 12,66 - Sapucaia do Sul (RS) 82,91 50,26
Aço - grampos (CA-60) 5,41 - 5,41 Sapucaia do Sul (RS) - 11,81
Subtotal 24.533,18 27.253,85 5,41 2.174,35
Revestimentos
Cimento Portland CP IV-32 396,13 462,57 - Nova Santa Rita (RS) 16,77 150,80
Areia tipo média 3.351,04 3.825,30 - Porto Alegre (RS) 14,15 79,69
Aditivo impermeabilizante 3,92 6,02 - São Paulo (SP) 53,42 15,21
Aditivo plastificante 1,15 6,41 - São Paulo (SP) 458,50 21,32
Argamassa adesiva
4
46,88 43,33 - Jandira (SP) - 14,73
Placa cerâmica esmaltada 210,94 232,03 - Gravataí (RS) 10,00 598,64
Subtotal 4.010,05 4.575,65 - 880,39
Total 28.543,23 31.829,50 5,41 3.054,74
1
Quantitativos em massa para a avaliação ambiental, unidades de orçamento constam nas tabelas 3 e 4 do apêndice A
2
Não foram computadas perdas para materiais total ou parcialmente reaproveitados
3
Valores referentes a janeiro de 2006
4
Não houve perdas, quantidade utilizada menor que a recomendada pelo fabricante
Quadro 19: quantitativos resumidos e custos dos materiais incorporados no
subsistema de paredes
5.3.4 Esquadrias
As esquadrias do protótipo são constituídas de madeira de eucalipto de diversas espécies e atendem aos
padrões de fábrica, porém, com dimensões e alguns detalhes específicos. Totalizam 7 janelas e 5 portas, com
um volume útil de madeira aproximado de 0,60 m
3
. (FERNANDES, 2004). As 7 janelas empregadas no protótipo
apresentam folhas envidraçadas subdivididas por pinázios
1
em formato quadriculado. Em quatro delas foram
instaladas, internamente, para segurança, barras de aço verticais sem pintura. Para estas esquadrias foram
necessárias 29,25m de barra de aço, com diâmetro de ½’’. Como proteção e para barrar o sol da manhã, foram
introduzidas venezianas na janela instalada no dormitório voltado para leste (FERNANDES, 2004).
Para o envidraçamento das 7 janelas foram utilizados 3,79 m
2
de placas de vidro, sendo 3,65 m
2
de vidro
transparente, com 3 mm de espessura, e 0,14 m
2
de vidro translúcido pontilhado, com 4mm de espessura, para
a janela do banheiro. Quanto às portas, das cinco, as duas que dão acesso ao exterior são de madeira maciça,
1
Pinázios o peças de seção reduzida, utilizadas para subdividir ou quadricular as folhas e se destinam à sustentação de
placas de vidro ou de outros tipos de pano (FERNANDES, 2004).
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
103
e as três interiores apresentam couceiras
1
e travessas
2
em madeira maciça e parte central preenchida com
lambris colocados em diagonal.
Para proteção da madeira das esquadrias foi testado um tratamento alternativo composto por dois tipos de
mistura. A primeira mistura, contra insetos, é composta pela diluição de um produto biológico em água e aplicada
com borrifador de jardim. A segunda, aplicada com pincel, constituiu-se de óleo de linhaça, diluído em essência
de terebentina. A figura 14 apresenta, graficamente, a composição do subsistema e o quadro 20, os quantitativos
e os custos dos materiais empregados.
Figura 14: composição do subsistema de esquadrias
Quantidade de materiais (kg)
1
Material
Calculada
(útil)
Não
reutilizados
Reutilizados
Procedência
Perdas
(%)
Custo
final (R$)
2
Madeira -eucalipto 541,71 541,71 - Rolante (RS) 66,661
Barras de aço 25,80 25,80 - Sapucaia do Sul (RS) 2,561
2.547,30
Vidro transparente 27,38 27,38 - São Paulo (SP) 41,331 91,28
Vidro translúcido 1,03 1,03 - São Paulo (SP) 38,791 3,42
Aditivo bioquímico para
madeira
0,15 0,15 - Porto Alegre (RS) -4 22,50
Óleo de Linhaça 14,50 14,50 - Gravataí (RS)- -4 214,16
Essência de terebentina 0,86 0,86 - Porto Alegre (RS) -4 8,37
Total 611,43 611,43 - 2.887,03
1
Quantitativos em massa para a avaliação ambiental, unidades de orçamento constam na tabela 5 - apêndice A.
2
Valores referentes a janeiro de 2006
3
Perdas associadas ao aproveitamento não de instalação na obra (FERNANDES, 2004)
4
Não foram identificadas perdas, sobras de materiais podem ser utilizados para reaplicação de manutenção.
Quadro 20: quantitativos resumidos e custos dos materiais incorporados no
subsistema de esquadrias
1
Couceiras são peças verticais dos quadros das folhas das portas, onde é fixada a dobradiça ou onde é instalada a
fechadura (FERNANDES, 2004).
2
Travessas são perfis que constituem elementos horizontais da folha de uma esquadria (FERNANDES, 2004).
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
104
5.3.5 Cobertura
A cobertura é constituída de duas águas, com orientação norte-sul, e área de projeção horizontal de 66,61 m
2
. A
água voltada para sul corresponde a 87% da área total, definindo esta como a orientação predominante do
subsistema. A estrutura de sustentação é composta por vigas de concreto e caibros de madeira. As vigas de
concreto têm dimensões de 16,00 x 25,00 cm e desempenham, também, a função de amarração das paredes.
As vigas foram consideradas pertencentes ao subsistema de cobertura, pois poderiam ser em número e
dimensões reduzidas, se desempenhassem apenas o papel de amarração.
Tábuas de madeira de pinus e cedrinho, com seções de 2,50 x 15,00 cm, justapostos dois a dois, exercem o
papel de caibros. Grande parte dessas tábuas (39%) são peças reaproveitadas das fôrmas de concretagem,
sendo que, da quantidade total empregada na estrutura, 65% corresponde a tábuas de pinus e 35% a tábuas de
cedrinho. As peças não receberam nenhum tipo de pintura. Apenas aquelas não reaproveitadas, sofreram um
tratamento alternativo, com uma mistura de cal e cola branca para madeira. As superfícies daquelas
reaproveitadas foram expostas a uma nata de cimento, devido ao uso anterior ao qual foram submetidas
(fôrmas).
Foram utilizadas, também, na estrutura do telhado, sarrafos de seção transversal de 2,50 x 5,00 cm, para a
amarração das telhas e tábuas de 25,00 x 2,50 cm, para o arremate lateral da cobertura. Ambas, ripas e tábuas,
são de madeira de cedrinho. As telhas de recobrimento são cerâmicas, não esmaltadas, do tipo romana. Um
incremento no isolamento térmico do subsistema é proporcionado por folhas de alumínio, reaproveitadas do
processo de off-set de gráficas. Foram fixadas entre os sarrafos e as tábuas da estrutura, com sua face polida
voltada para baixo. Com a mesma finalidade térmica, foi preservado um “colchão de ar” entre as chapas de
alumínio e o forro, podendo ter seu ar renovado, através de aberturas reguláveis no beiral inferior, e
permanentes, no beiral superior. O forro, também em madeira de cedrinho, com ripas de 0,55 x 8,50 cm, está
presente, tanto no interior da edificação, quanto nos beirais. A figura 15 apresenta graficamente a composição
do subsistema e o quadro 21, os quantitativos e os custos dos materiais empregados.
Figura 15: composição do subsistema de cobertura
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
105
Quantidade de materiais (kg)
1
Material
Calculada
(útil)
Não
reutilizados
Reutilizados
Procedência
Perdas
(%)
2
Custo
final (R$)
3
Cimento Portland CP IV-32
514,66 600,98 - Nova Santa Rita (RS) 16,77 195,92
Areia tipo média 2.112,93 2.411,96 - Porto Alegre (RS) 14,15 50,25
Pedra britada 1 2.905,13 3.151,03 - Porto Alegre (RS) 8,46 74,92
Telha cerâmica 3.244,80 3.407,04 - Bom Princípio (RS) 5,00 681,41
Aço (GG50, CA50 e CA60) 190,04 199,10 - Sapucaia do Sul (RS) 4,77 830,93
Madeira pinus caibros) 250,43 151,84 98,59
São Francisco de Paula
(RS)
- 128,96
Madeira cedrinho (caibros) 158,50 96,11 62,39 Sinop (MT) - 289,43
Madeira cedrinho (ripas) 170,06 174,36 - Sinop (MT) 2,53 224,60
Madeira cedrinho
(acabamentos)
357,88 499,59 - Sinop (MT) 39,59 1.980,55
Chapa de off-set
4
417,57 - 417,57 - - -
Aço Galvanizado 13,88 13,88 - Porto Alegre (RS) - 360,03
Cal hidratada 8,00 8,00 - Caçapava do Sul (RS) - 5,50
Cola Branca 1,00 1,00 - São Paulo (SP) - 8,81
Madeira pinus (fôrmas) 197,59 197,59 -
São Francisco de Paula
(RS)
- 167,82
Madeira cedrinho (fôrmas) 400,57 403,62 - Sinop (MT) 0,76 696,49
Total 10.943,03 11.316,09 578,55 5.581,78
1
Quantitativos em massa para a avaliação ambiental, unidades de orçamento constam na tabela 6 - apêndice A.
2
Não foram computadas perdas para materiais total ou parcialmente reaproveitados
3
Valores referentes a janeiro de 2006
4
Não foram computados custos para a aquisição das chapas de off-set, por terem sido doadas e por, até o período de
construção do protótipo Alvorada, não serem, usualmente, comercializadas pelas gráficas.
Quadro 21: quantitativos resumidos e custos dos materiais incorporados no
subsistema de cobertura
5.3.6 Pergolados
Dois são os pergolados presentes na habitação. Um orientado a norte, com finalidade de promover
sombreamento à área de acesso, e outro, a oeste da edificação, que além de sombreamento, proporcionam
apoio ao reservatório de água e ao coletor solar experimental de baixo custo, a serem implantados. Os mourões
(elementos verticais) e as linhas (elementos horizontais) empregados na estrutura são de madeira de eucalipto,
não tratada, de duas espécies (Eucalyptus Saligna e Eucalyptus Grandis). O apoio dos mourões no solo é feito
através de pedras de granito, em parte reutilizados, e pequenos blocos de concreto, que os mantêm
distanciados do solo. Sob a parte mais alta da estrutura, onde haveria maior concentração de cargas, foram
executadas fundações semelhantes as do restante da habitação, porém com vigas de dimensões reduzidas
(15,00 x 15,00 cm). Para as fôrmas de concretagem das vigas, foram utilizadas tábuas de madeira de pinus e de
cedrinho, de seção transversal de 2,50 x 15,00 cm e sarrafos, também de cedrinho, com perfil de 2,50 x 5,00 cm.
A figura 16 apresenta graficamente a composição do subsistema e o quadro 22,
os quantitativos e os custos dos
materiais empregados.
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
106
Figura 16: composição do subsistema de pergolados
Quantidade em massa (kg)
1
Material
Calculada
(útil)
materiais não
reaproveitados
materiais
reaproveitados
Procedência
Perdas
(%)
2
Custo
final
(R$)
3
Cimento Portland CP IV-32 42,86 50,05 - Nova Santa Rita (RS)
16,77 16,32
Areia tipo média 181,62 207,32 - Porto Alegre (RS) 14,15 4,32
Pedra britada 1 203,20 220,40 - Porto Alegre (RS) 8,46 5,24
Blocos de granito 864,62 671,81 192,81 Viamão (RS) - 36,05
Aço (GG-50 e CA60) 9,51 11,41 - Sapucaia do Sul (RS)
20,02 52,20
Madeira - Eucalipto 997,10 1.065,98 - Palmares do Sul (RS)
6,91 644,55
Madeira pinus (fôrmas) 17,46 17,46 -
São Francisco de
Paula (RS)
- 14,83
Madeira cedrinho (fôrmas) 15,96 16,08 - Sinop (MT) 0,75 26,66
Total 2.332,32 2.260,51 192,81 800,16
1
Quantitativos em massa para a avaliação ambiental, unidades de orçamento constam na tabela 7 - apêndice A.
2
Não foram computadas perdas para materiais total ou parcialmente reaproveitados
3
Valores referentes a janeiro de 2006
Quadro 22: quantitativos resumidos e custos dos materiais incorporados no
subsistema de pergolados
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
107
6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS
Neste capítulo são apresentados e discutidos os resultados, inicialmente, da caracterização dos critérios
selecionados para avaliação e, em uma segunda seção, da identificação dos custos associados aos materiais
empregados no protótipo Alvorada.
6.1 AVALIAÇÃO AMBIENTAL: RESULTADOS DA CARACTERIZAÇÃO DOS
CRITÉRIOS
Conforme apresentado no capítulo de metodologia, os resultados da avaliação estão apresentados em três
escalas, para cada um dos critérios: na escala da edificação, do subsistema e dos materiais, por subsistema. Os
gráficos que demonstram essa relação estão expostos entre as figuras 19 e 27. A análise dos critérios contempla
a discussão dos aspectos contribuintes para as cargas de maior magnitude e também um exame crítico das
limitações e imprecisões das formas de caracterização adotadas, apresentadas no capítulo de metodologia. As
delimitações e limitações são apontadas, para que fiquem explícitos os aspectos considerados e
desconsiderados na análise.
Quando encontradas pesquisas com dados comparáveis, esses são confrontados com os obtidos neste trabalho.
Deve-se salientar que os subsistemas comparados não apresentam, provavelmente, os mesmos desempenhos
estruturais, térmicos e acústicos do protótipo Alvorada. Realizou-se, na presente dissertação, somente uma
comparação dos aspectos ambientais, independentemente do desempenho desses subsistemas, sob outros
requisitos.
Adicionalmente, para apresentar uma visão geral do desencadeamento das etapas do ciclo de vida do protótipo
Alvorada e também dos processos incluídos e excluídos da avaliação, elaborou-se um desenho esquemático,
com os principais fluxos envolvidos (figura 17). Além disso, para uma visão global da contribuição de cada
material, apresenta-se, na figura 18, seus consumos totais e as respectivas cargas ambientais, identificadas
através das informações disponíveis atualmente no contexto nacional.
Os quantitativos calculados, a partir do método exposto no capítulo 4, para cada um dos materiais de construção
estudados, em unidades de massa, por subsistema, estão discriminados no apêndice A. Os quadros 23 e 24
apresentam um resumo dos dados apresentados nesse apêndice, por subsistema e por materiais,
respectivamente.
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
108
Quantidade real (kg)
1
Subsistema
Quantidade
calculada
(kg)
1
Total materiais
utilizados
Materiais não
reutilizados
Materiais
reutilizados
Custo final
(R$)
2
Fundações 47.850,43 49.220,14 40.856,22 8.363,92 3.365,15
Pisos 12.672,32 14.169,34 14.169,34 - 1.770,85
Alvenarias 28.543,23 31.834,91 31.829,50 5,41 3.054,74
Esquadrias 611,43 611,43 611,43 - 2.887,03
Cobertura 10.943,03 11.894,64 11.316,09 578,55 5.581,78
Pergolados 2.332,32 2.453,32 2.260,51 192,81 800,16
Total protótipo 102.952,76 110.183,77 101.043,09 9.140,69 17.459,71
1
Quantitativos em massa para a avaliação ambiental, as unidades de orçamento constam nas tabelas entre 1 e 7 do
apêndice A.
2
Valores referentes a janeiro de 2006, neste período CUB/RS: R$ 873,50 e dólar comercial (dia 31): R$ 2,214.
Quadro 23: Quantitativos e custos dos materiais utilizados no PA discriminados por
subsistema
Quantidade real (kg)
1
Subsistema
Quantidade
calculada
(kg)
1
Materiais
utilizados
Materiais não
reutilizados
Materiais
reutilizados
Custo final
(R$)
2
Bloco de granito 38.371,13 38.371,13 29.814,40 8.556,73 1.600,00
Areia tipo média (graduação:
3)
22.959,91 26.209,30 26.209,30 - 546,00
Tijolo maciço 18.703,40 20.573,74 20.573,74 - 1.712,74
Pedra britada 1 9.888,06 10.725,00 10.725,00 - 255,00
Cimento Portland CP IV-32 4367,49 5.100,00 5.100,00 - 1.662,60
Telha cerâmica tipo romana 3.244,80 3.407,04 3.407,04 - 681,41
Madeira eucalipto (esquadrias
e pergolados)
1.538,81 1.607,69 1.607,69 - 3.191,85
Madeira de cedrinho 1.128,18 1.278,00 1.215,61 62,39 3.137,19
Placa Cerâmica não esmaltada
843,57 927,93 927,93 - 850,60
Madeira de pinus 647,01 647,01 548,42 98,59 465,79
Chapa metálica de off-set 417,57 417,57 0,00 417,57 0,00
Aço 333,30 357,11 351,71 5,41 1.415,00
Placa Cerâmica esmaltada 292,12 321,33 321,33 - 831,36
Argamassa adesiva 64,92 60,00 60,00 - 20,40
Emulsão asfáltica com
elastômeros
48,83 54,00 54,00 - 223,02
Aditivo impermeabilizante para
argamassas
32,72 36,90 36,90 - 75,40
Vidro 28,41 28,41 28,41 - 94,70
Aditivo plastificante para
argamassas
4,16 23,23 23,23 - 77,28
Óleo de Linhaça 14,50 14,50 14,50 - 214,16
Aço galvanizado 13,88 13,88 13,88 - 360,03
Cal hidratada CH III 8,00 8,00 8,00 - 5,50
Cola para madeira 1,00 1,00 1,00 - 8,81
Essência de terebentina 0,86 0,86 0,86 - 8,37
Aditivo bioquímico - madeira 0,15 0,15 0,15 - 22,50
Total Protótipo Alvorada 102.952,76 110.183,77 101.043,09 9.140,69 17.459,71
1
Quantitativos em massa para a avaliação ambiental, as unidades de orçamento constam nas tabelas entre 1 e 7 do
apêndice A.
2
Valores referentes a janeiro de 2006, neste período CUB/RS: R$ 873,50 e dólar comercial (dia 31): R$ 2,214.
Quadro 24: Quantitativos globais dos materiais utilizados no PA
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
109
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
110
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
111
6.1.1 Emissão de resíduos perigosos
A identificação de produtos e materiais que emitam resíduos perigosos ao homem ou aos ecossistemas é de
interesse fundamental para avaliações de sustentabilidade ambiental e, por isso, a identificação de emissões
críticas, foi incluída no presente trabalho. Além disso, este é o critério, entre todos, mais diretamente relacionado
à saúde dos usuários da habitação. No entanto, antes de se fazer uma discussão dos resultados, é importante
salientar que existem alguns aspectos que conferem limitações e imprecisões a esta caracterização.
O primeiro deles está associado a não se fazer diferenciação entre os tipos e as quantidades de resíduos
emitidos. Além disso, embora os resíduos possuam características inerentes que lhe conferem periculosidade,
as condições de uso e a destinação final dos mesmos determinam impactos de diferentes magnitudes. Essa
consideração é particularmente pertinente ao gerenciamento dos resíduos decorrentes dos processos de
manufatura dos materiais. Contudo, devido às limitações apresentadas, foi identificada apenas qualitativamente
a periculosidade das emissões geradas.
A segunda limitação deste critério deriva do fato de as informações necessárias serem de difícil obtenção. Os
dados sobre resíduos de processos de manufatura de materiais foram encontrados na bibliografia.
Principalmente, a partir de trabalhos acadêmicos, representando, assim, resíduos genericamente emitidos. No
entanto, indústrias que produzem produtos semelhantes podem utilizar diferentes matérias-primas, que possuem
diferentes características de periculosidade.
os dados relativos à periculosidade dos aditivos e produtos químicos incorporados, foram disponibilizados
pelos fabricantes apenas, através das Fichas de Informação e Segurança de Produtos Químicos (FISPQ). No
entanto, as fichas não apresentam padronização quanto aos dados apresentados, apenas alguns itens são
determinados como obrigatórios, segundo a Norma Brasileira, que apresenta definições para a elaboração e
preenchimento de uma FISPQ (ABNT, 2005). Entre esses itens, existe um, para o caso de produtos preparados,
que deve identificar se a composição do produto inclui ingredientes que contribuam para o perigo. O quadro 25
apresenta, sinteticamente, as informações contidas nas FISPQ dos produtos utilizados no protótipo Alvorada.
Entre esses produtos, aquele alternativo, para preservação das esquadrias em madeira, com nome fantasia de
EMX multiuso, é o único que não apresenta FISPQ. Isso porque, segundo o fabricante, esse é um produto
biológico, natural, composto de enzimas derivadas de microrganismos primários e caldas de plantas (Fedegoso,
Neem, Salsa, Assa-peixe) e registrado na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (ANVISA) como produto
domi-sanitário
1
.
1
Informação obtida por e-mail <[email protected]> com o fabricante
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
112
Como se verifica através do quadro 28, 7 produtos químicos, além do mencionado produto biológico, foram
utilizados. Entre eles, apenas a essência de terebentina e a cola para madeira foram identificadas como
apresentando características que os classifiquem como perigosas. A primeira, por ser inflamável, e a segunda,
por apresentar em sua composição ingredientes classificados pela NBR 10.004 como tóxicos (ABNT, 2004).
Ambos os produtos estão associados à preservação da madeira: a terebentida, foi utilizada para diluição do óleo
de linhaça aplicado nas esquadrias; e a cola para madeira, juntamente com a cal hidratada, foi diluída em água,
compondo uma a mistura que foi aplicada sobre os caibros da estrutura da cobertura. A periculosidade desses
produtos está relacionada, tanto à etapa de construção (mais precisamente à atividade de aplicação), quanto à
etapa de uso da edificação.
Produto
Ingredientes que
contribuam para o
perigo
1
Inflamabilidade Corrosividade Reatividade Toxicidade
Argamassa adesiva
(preparado)
não informado não inflamável Ph:12 Estável o tóxico
Aditivo plastificante
para argamassas e
concretos (preparado)
Não não inflamável Ph:12 Estável
Impermeabilizante para
argamassas e
concretos (preparado)
Não não inflamável Ph:12 Estável
Emulsão asfáltica com
elastômeros
(preparado)
Não Ph: 8 Estável
Óleo de linhaça
(substância)
-
Não há indicação
de propriedades
que caracterizem o
produto como
inflamável
Ph: não
pertinente
2
não informado
Essência de
terebentina
(substância)
- inflamável
Ph: não
pertinente
Estável
Não há
indicação de
propriedades
que o
caracterizem
como tóxico
Cola para madeira
(preparado)
Tolueno e
plastificante DBP
não inflamável Ph: 6>8 Estável xico
¹ Pertinente apenas para preparados
² Segundo a NBR 14725 essa é uma informação obrigatória, mas que pode ser omitida se acompanhada de justificativa.
Quadro 25: periculosidade dos produtos químicos segundo informações
disponibilizadas nas FISPQ
Especificamente, quanto à etapa de uso, verifica-se que não foram utilizados tintas, vernizes, revestimentos,
materiais ou produtos que contivessem compostos orgânicos voláteis (VOCs), fibras que apresentem riscos a
saúde ou metais pesados. Todos esses materiais e substâncias estão entre os principais responsáveis pelo
acúmulo de poluentes no espaço interno. Entretanto, a cola para a madeira foi o único material identificado como
passível de liberar emissões tóxicas. Isso se deve ao fato de apresentar tolueno em sua composição, substância
que é um VOC, segundo Máté et alli (2005), e é classificada como tóxica pela NBR 10.004 (ABNT, 2004). Ainda
assim, que se considerar que abaixo dos caibros (peças onde o produto foi aplicado) está implantado um
forro, sem tratamento, que os isola do contado direto com os ambientes de ocupação. Além disso, a cobertura
apresenta um sistema de ventilação interno, que contribui para se evitar o acúmulo de poluentes no seu interior.
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
113
A respeito da possível substituição da mistura para tratamento da estrutura da cobertura, deve-se considerar,
embora não seja esse o foco deste trabalho, a eficácia do tratamento e a periculosidade de seus efeitos se
comparados a de outras alternativas. Entre aquelas tradicionais, pode-se mencionar as que incluem o uso
substâncias como o creosoto, o pentaclorofenol e o CCA (Arseniato de Cobre Cromatado), todas também
classificados pela NBR 10.004 (ABNT, 2004) como tóxicas ou agudamente tóxicas e, usualmente, utilizadas em
quantidades significativamente superiores à quantidade de cola para madeira empregada no protótipo (1,00 kg).
Quanto à aplicação dos diferentes produtos químicos na etapa de construção, verifica-se que, aqueles não
classificados como perigosos, também necessitam cuidados no manuseio, armazenamento e destinação, pois
podem ocasionar diferentes efeitos negativos para a saúde humana, como intoxicação aguda ou crônica, de
acordo com as vias, tempo e doses de exposição.
Os demais materiais identificados como responsáveis por emissões perigosas foram o aço, o aço galvanizado e
as placas cerâmicas esmaltadas de revestimento, caracterizando-se assim, devido às características de
toxicidade dos resíduos e efluentes gerados em seus processos de manufatura. No entanto, ambos os materiais,
aço e placas cerâmicas, depois de acabados são considerados como inertes, não acarretando riscos à saúde
dos ocupantes na etapa de uso, e não necessitando de disposição especial em aterros de tóxicos ao final da
vida útil.
Entre os resíduos perigosos da indústria do aço, destacam-se os efluentes líquidos originados nos processos de
coqueria, alto-forno, sinterização. O destino corrente desses efluentes, além do reuso (90% de recirculação), é o
lançamento a corpos hídricos após tratamento (GRICOLLETI; SATTLER, 2003, OLIVEIRA, 2005).
Adicionalmente, dependendo do tipo de aço produzido, a composição química das escórias resultantes também
pode conter teores de metais pesados e de substâncias que as classificam como perigosas (GEYER et alli,
1997; BRIGDEN et alli, 2000). As escórias de alto-forno são comumente utilizadas na produção de cimento
portland CPII e CPIII, enquanto o destino das escórias de aciaria dependerá da composição e do gerenciamento
dado pela indústria. Se não contaminadas, podem ser utilizadas no pavimento de rodovias e como agregados
(CARVALHO, 2002; FILEV, 2005; GEYER et alli, 1997; GRIGOLETTI; SATTLER, 2003).
ao aço galvanizado, que são os aços revestidos com zinco, podem ser atribuídas as emissões decorrentes,
tanto da indústria do o, quanto da indústria do zinco, ambas listadas pela NBR 10.004 (ABNT, 2004) como
fontes específicas de resíduos tóxicos.
Na indústria cerâmica, verifica-se que os resíduos tóxicos se originam, usualmente, apenas nos processos
relacionados à esmaltação das peças e, por isso, não foram incluídos neste critério os materiais não esmaltados.
Segundo Ferrari (2002), nas fábricas que envolvem esses processos, a lavagem do piso, das linhas de produção
(contendo, inclusive, peças cerâmicas quebradas antes da queima), dos equipamentos de serigrafia, dos
moinhos de preparação de esmaltes e demais equipamentos, gera efluentes líquidos contendo materiais sólidos
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
114
em suspensão. Com a realização de um tratamento adequado, adicionando-se produtos químicos, esta água
pode ser reutilizada, por exemplo, nos processos de lavagem da fábrica. No entanto, o volume de lodo resultante
deste processo de lavagem pode ultrapassar a 12 m³/mês. Estes resíduos sólidos, também denominados
“raspas”, contêm metais tóxicos e são classificados como Classe I e Classe IIA, requerendo uma disposição
gerenciada. Em algumas indústrias, esse lodo é parcialmente adicionado à massa para confecção das peças
(FERRARI, 2002).
No protótipo Alvorada, verifica-se que, ao todo, o aço representa 51,06% da massa de materiais identificada
como emissora de resíduos perigosos, enquanto que as placas cerâmicas representam 46,65%, o aço
galvanizado, 2,02% e os produtos químicos, 0,27%.
Pela análise dos dados contidos na figura 19, observa-se que a todos os subsistemas está relacionada alguma
forma de emissão. O aço foi utilizado em todos os subsistemas, à exceção do de pisos. Os subsistemas de
fundações e de pergolados têm esse material como o único responsável por emissões de resíduos perigosos,
estando incorporado apenas no concreto das vigas de baldrame.
As placas cerâmicas esmaltadas foram empregadas como revestimento interno das paredes do banheiro da
habitação, tendo suas cargas atribuídas, tanto ao subsistema de pisos, quanto ao de paredes. Para o
subsistema de pisos este é o único material que representa emissões de resíduos perigosos, o que lhe confere
uma posição intermediária entre os desempenhos dos demais subsistemas neste critério. para o subsistema
de paredes, aquele com a maior massa de materiais responsáveis por emissões perigosas, as placas cerâmicas
esmaltadas respondem por 94,82% do total, enquanto o restante (5,18%) é atribuído ao aço.
O subsistema de cobertura é o segundo mais impactante nesta caracterização. O principal contribuinte para
esse desempenho é o aço incorporado nas vigas de concreto da estrutura de sustentação, que corresponde a
93,04% da massa de materiais que geram emissões críticas. O aço galvanizado empregado no sistema pluvial
representa 6,49% e a cola para madeira, utilizada na mistura para preservação dos caibros, à apenas 0,47%.
Ao subsistema de esquadrias estão associadas às cargas decorrentes da utilização de barras de aço e da
essência de terebentina. A massa total impactante correspondente ao uso do aço no subsistema é de 96,77% e
a da terebentina, empregada para diluição do óleo de linhaça, é de apenas 3,23%.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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6.1.2 Consumo de energia e emissão de CO2 relacionada ao transporte
A caracterização deste critério, por derivar da adoção dos índices de consumo de energia traz imprecisões
intrínsecas, atreladas às variáveis de produtividade dos caminhões de carga. Entre os aspectos que não podem
ser determinados, e que conferem variabilidade a essa produtividade, incluem-se a idade da frota transportadora
de cada material e a freqüência com que é realizada manutenção preventiva.
Adicionalmente, consideraram-se caminhões transportando 100% da sua capacidade de carga e computou-se,
apenas, o consumo de energia para rodagem dos caminhões carregados com os materiais analisados. Essa
determinação ocorreu em função de que as transportadoras, provavelmente, otimizem suas viagens, fazendo
com que, no retorno, sejam levadas outras cargas. No entanto, essas práticas, provavelmente, não são
verificadas para todos os materiais, o que caracteriza as demais possíveis distorções atreladas ao presente
critério. Considera-se, ainda, que esse tipo de distorção dificilmente possa ser prevista e, por isso, esta forma de
estimativa se aproxime ao máximo do que possa, efetivamente, ocorrer.
Os resultados obtidos para emissões de dióxido de carbono estão diretamente vinculados aos de consumo de
energia para transportes, o que lhe confere as imprecisões já mencionadas, além de outras adicionais, que
uma larga variedade de condições pode afetar as emissões de fontes veis. A disponibilidade de fatores de
emissões, ajustados para as características da frota brasileira, é um aspectos determinantes para estimativas
mais precisas. Além disso, embora as emissões de dióxido de carbono correspondam a mais de 97% das
emissões de gases de efeito estufa de fontes móveis, idealmente deveriam ser contabilizadas, também, as
emissões de NOx, CH
4
, CO, N
2
O e particulados.
Quanto aos resultados obtidos, pela observação das figuras 20 e 21, verifica-se que houve um consumo de
5.001,27 MJ para transporte dos materiais utilizados na construção do protótipo Alvorada, equivalendo à
emissão de 370.094,14 g de CO
2
. A única referência nacional encontrada, quanto ao consumo energético para
transporte de materiais empregados em habitações de interesse social, foi a pesquisa de Sperb (2000),
avaliando uma unidade unifamiliar, de dois pavimentos, implantada na Vila Tecnológica de Porto Alegre. Os
valores obtidos pela autora correspondem a 2.982,75MJ, para a habitação como um todo, e a 56,68MJ, por
de área construída. Dividindo-se o consumo total do protótipo Alvorada por sua área construída, para fins de
comparação, obtêm-se um valor correspondente a 96,39 MJ/m2, bastante superior aquele obtido por Sperb
(2000). A autora não apresenta estimativas de emissões. No entanto, elas seriam diretamente proporcionais ao
consumo de energia. Salienta-se, ainda, que existem grandes distinções entre o escopo dos dois trabalhos, já
que o referido estudo abrangeu, também, os subsistemas de instalações elétricas e hidro-sanitárias, mas, em
contrapartida, computa apenas os principais materiais incorporados, sendo bem menos abrangente. Nesse
sentido, de se considerar, como pode ser observado na figura 22, que 941,59 MJ são referentes, apenas, às
madeiras das fôrmas utilizadas nas atividades de concretagem do protótipo Alvorada, e que não foram
computadas no trabalho de Sperp (2000).
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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Quanto ao desempenho por subsistema, verifica-se que o de cobertura foi aquele que obteve, significativamente,
piores resultados, seguido pelos de fundações e paredes. Os principais materiais contribuintes para o consumo
de energia e emissões de CO
2
nesses subsistemas, e na edificação como um todo, são, respectivamente, a
madeira de cedrinho, os blocos de granito e os tijolos maciços. O uso de madeira de cedrinho, proveniente do
Mato Grosso, é responsável por 47,99% da demanda energética para transportes do total da edificação, sendo
que seu uso se concentrou no subsistema de cobertura. Esse material é aquele cuja origem de produção é a
mais distante de Porto Alegre, e é o único, além do vidro e de alguns aditivos e produtos químicos (utilizados em
significativamente menor quantidade), não fabricado no Estado do Rio Grande do Sul (figura 22).
Figura 22: distância dos produtores dos materiais empregados no protótipo Alvorada
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
120
Os tijolos maciços e os blocos de granito, embora procedentes de cidades próximas a Porto Alegre, são os
materiais com maiores massas incorporadas ao protótipo Alvorada, o que fez com que eles demandassem,
respectivamente, 18,29% e 17,95% da energia total consumida para transportes.
Os subsistemas de esquadrias e pergolados são aqueles com menor massa de recursos incorporados e
requerem também pouca energia, comparados aos demais, para o transporte de seus materiais. Para ambos, a
madeira de eucalipto é o material responsável pelos maiores aportes energéticos. O melhor desempenho, entre
todos os grupos de materiais analisados, foi obtido pelo subsistema de pisos. Esse subsistema exigiu o emprego
de uma quantidade de materiais, em massa, superior ao de cobertura, o qual obteve o pior desempenho. Em
contrapartida, os únicos recursos empregados nos pisos, para os quais foram computados gastos para
transporte, são aqueles procedentes de fora de Porto Alegre: cimento e placas cerâmicas.
Somente foram encontradas referências para comparações dos resultados para os subsistemas de cobertura e
paredes. Observando-se os valores apresentados no quadro 26, verifica-se que o consumo total de energia pelo
subsistema de cobertura do protótipo Alvorada é bastante superior àqueles implantados na Vila Tecnológica de
Porto Alegre, analisados por Sperb (2000). Também os consumos por unidade de área construída e de projeção
horizontal da cobertura, correspondentes a 52,48MJ e a 39,79 MJ, respectivamente, são superiores aos obtidos
pela autora. Para o subsistema de paredes verifica-se o oposto, os aportes energéticos podem ser considerados
baixos, se comparados com os relacionados às tipologias avaliadas por Sperb (2000). Ao se considerar os
consumos por unidade de área construída e de paredes do PA, as quais correspondem a 19,91 MJ e a 6,87 MJ,
respectivamente, constata-se que apenas a tipologia D, apresentada no quadro 27, tem um desempenho
ligeiramente superior à analisada neste trabalho.
Consumo de energia para transportes
Tipologia
Descrição
Total
(MJ/)
Por unid. de área
construída (MJ/m2)
Por unid. de área de
projeção da cobertura
(MJ/m2)
A Estrutura de madeira e aço; telhas cerâmicas; sem forro 1.087,76
31,15 22,02
B Estrutura de concreto; telhas cerâmicas; sem forro 269,01 7,36 5,87
C Estrutura e forro de madeira; telhas e fibrocimento 1.835,6
45,89 32,31
D Estrutura de aço, forro de madeira, telhas cerâmicas 238,08 5,12 3,95
E Estrutura e forro de madeira; telhas de fibrocimento 1.209,85
30,36 22,33
Quadro 26: valores obtidos por Sperb (2000), para consumo de energia para
transporte de materiais de coberturas
Consumo de energia para transportes
Tipologia
Descrição
Total
(MJ/)
Por unid. de
área construída
(MJ/m2)
Por unid. de área
de paredes
(MJ/m2)
A Blocos cerâmicos; revestimento com argamassa 803,86 23,02 10,13
B Lajotas cerâmicas, concreto e aço; revest. de placas cerâmicas 977,71 26,75 9,21
C Madeira serrada e compensada; revestimento com arg. epoxídica 2.025,5
50,63 22,69
D Blocos cerâmicos; revestimento com argamassa 535,68 11,52 4,34
E Blocos de concreto; revestimento com argamassa 3.822,41
95,92 39,49
Quadro 27: valores obtidos por Sperb (2000), para consumo de energia para
transporte de materiais de paredes
__________________________________________________________________________________________
Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
121
6.1.3 Consumo de energia para processos de manufatura
A caracterização do conteúdo energético incorporado à edificação apresenta imprecisões quantitativas,
decorrentes da variabilidade das fontes de origem dos índices energéticos adotados. Apesar de todos terem sido
produzidos no contexto brasileiro, à exceção daquele referente à produção da madeira, as metodologias
consideram fronteiras de análise diferenciadas entre si. Além disso, em algumas pesquisas, essas fronteiras não
estão explícitas, trazendo, além de imprecisões, incertezas para o estudo.
Outra imprecisão diz respeito à atualidade dos dados disponíveis, já que alguns dados adotados seriam
invalidados, se fossem estabelecidos limites temporais rigorosos para aceitação dos mesmos. Essa limitação
está vinculada às características e eficiência das tecnologias produtivas, que tendem a ser substituídas, no
decorrer do tempo, alterando os índices energéticos dos materiais. Neste mesmo sentido, a utilização de dados
não oriundos especificamente das indústrias fornecedoras também resulta em distorções, que, através da
revisão bibliográfica, verifica-se existir, no país, uma variabilidade de sistemas de produção para materiais
similares.
Além das imprecisões quantitativas, uma limitação qualitativa na caracterização desse critério: ao não serem
feitas distinções entre os tipos de fontes energéticas utilizadas em cada processo, ignora-se a importância
relativa das cargas ambientais indiretas da geração da energia. No quadro 9, página 48, são apresentadas as
fontes discriminadas identificadas na bibliografia, no entanto, verifica-se essa disponibilidade para um número
restrito de materiais de construção, o que impediu que se distinguisse, neste trabalho, o tipo de fonte energética
utilizada.
Tendo em vista as considerações anteriores, não se considera esta a forma ideal de caracterização do critério,
mas a única possível, dentro das limitações apresentadas, para se obter uma estimativa aproximada da
magnitude dos impactos potenciais, associados do uso de energia para manufatura dos materiais utilizados no
protótipo Alvorada.
Os valores resultantes da caracterização apontam para um conteúdo de energia incorporada na edificação
equivalente a um total de 112.041,53 MJ ou a 2.218,20 MJ, por unidade de área construída (figura 23). Pode-se
dizer que essa estimativa vai ao encontro dos resultados obtidos por Guimarães (1985 apud SPERB, 2000), para
o consumo energético da produção de materiais utilizados na construção de uma habitação popular brasileira. O
valor total quantificado pelo autor corresponde 114.610,02 MJ, o que representa 2.483,96 MJ/m², considerando a
área construída de 46,14m
2
.
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
122
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
123
Também Sperb (2000), na pesquisa mencionada anteriormente, estima o valor total para esse consumo de
energia em uma habitação de interesse social unifamiliar. As quantidades calculadas pela autora são
significativamente inferiores às obtidas neste trabalho e no de Guimarães (1985 apud SPERB, 2000): 85.489,93
MJ ou 1.624,67 MJ/m
2
.
Deve-se relembrar, entretanto, que a presente pesquisa não engloba os subsistemas de instalações elétricas e
hidrossanitárias, dificultando a comparação direta entre os resultados dos três trabalhos. Para se ter uma
referência, na pesquisa de Sperb (2000), na qual se teve acesso aos valores discriminados, o consumo de
energia para manufatura dos materiais isolados desses subsistemas corresponde a 2.733,53 MJ.
Quanto à contribuição de cada subsistema e material para o desempenho global do protótipo Alvorada, neste
critério, destacam-se as cargas geradas pelos subsistemas de paredes e de cobertura. Os principais materiais
contribuintes, para ambos os subsistemas e também para a edificação, como um todo, são os tijolos e telhas as
cerâmicas. O tijolo, utilizado nas paredes, representa 40,58% dos aportes energéticos demandados para a
construção do protótipo. Embora esse material apresente um índice energético relativamente baixo, comparado
aos demais materiais incorporados, ele foi o terceiro material incorporado em maior quantidade. Menor, apenas,
que os blocos de granito e a areia, que apresentam índices energéticos muito baixos ou desprezíveis. Já, as
telhas, empregadas no subsistema de cobertura, representam 29,58% do conteúdo energético total da habitação
e, além de estarem entre os materiais incorporados em maior quantidade, o índice energético, encontrado na
bibliografia, para sua produção, é relativamente, alto em relação aos demais materiais cerâmicos não
esmaltados.
Destacam-se, também, os conteúdos energéticos para o cimento (8,56%), para o aço (8,03%) e para as placas
cerâmicas não esmaltadas (6,17%). Esses materiais, incluindo tijolos e telhas, representam 92,92% dos aportes
energéticos para manufatura de materiais incorporados. Ao cimento corresponde um índice energético
relativamente baixo. Mas esse material também foi utilizado em grande quantidade, sendo que, 43,59% da
massa total foi utilizada no subsistema fundações. O aço e as placas cerâmicas, ao contrário, embora tenham
sido empregados em menor quantidade, apresentam índices altos. Entre todos, o do aço é aquele que se
destaca, sendo 10 vezes superior ao do tijolo.
Também há de se observar que, embora tijolos e telhas representem cerca de 70% do consumo total de energia,
esses materiais tem como fonte energética predominante a biomassa (97,54%), sendo apenas 1,49% oriundas
de fontes fósseis (MANFREDINI, 2003). o cimento e as placas cerâmicas, segundo as referências
identificadas (CARVALHO, 2002; PEREIRA, 2004), têm entre 86,48% e 92,26% da sua origem em fontes fósseis
e o restante em energia elétrica.
As únicas referências encontradas para comparação, analisando o conteúdo energético de subsistemas de
habitações de baixa renda separadamente, foram os trabalhos de Krüger e Dumke (2001) e, também, de Sperb
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
124
(2000). Ainda assim, ambos os autores computaram o consumo, apenas, para paredes e coberturas (quadros
28, 29 e 30) de tipologias nas Vilas Tecnológicas de Curitiba e de Porto Alegre.
Especificamente, para o subsistema de paredes, o valor global calculado para o protótipo Alvorada (50.253,24
MJ) está próximo ao mais alto (52.475,56 MJ), obtido por Sperb (2000). No entanto, ao se considerar o consumo
de energia, por unidade de área construída, que no PA é de 1.004,01 MJ, verifica-se que esse valor passa a se
aproximar dos intermediários, referentes às tipologias analisadas pela autora (919,28 MJ - 935,25 MJ). Isso
ocorre devido às áreas construídas das mesmas serem significativamente inferiores à do protótipo Alvorada
(entre 35 e 46 m
2
). O conteúdo energético incorporado por unidade de área de superfície de paredes (365,10
MJ), torna-se, também, relativamente baixo, quando comparado ao das soluções construtivas apresentadas no
quadro 28.
Quanto aos aportes energéticos globais para o subsistema de cobertura, esses representam, no mínimo, o dobro
daqueles calculados pelas tipologias implantadas na Vila Tecnológica de Porto Alegre (quadro 29). Já, para os
aportes por unidade de área construída e de área de projeção horizontal da cobertura, as estimativas
correspondem a 811,58 MJ e a 615,42 MJ, respectivamente. Esses valores também são altos, comparados com
os apresentados no quadro 29. No entanto, uma advertência a ser feita quanto às comparações, diz respeito
aos índices energéticos adotados para os diferentes materiais. Para os dois estudos, este e o realizado por
Sperb (2000), os índices adotados não apresentam grandes variações, à exceção daquele referente à telha
cerâmica. Aqui se assumiu aquele correspondente à uma única indústria do estado do Rio Grande do Sul (9,72
MJ/kg), obtido no trabalho de Manfredini (2003). Sperb (2000) adotou o valor de 3,13 MJ/kg, extraído de
(Guimarães apud SPERB, 2000) e que não é específico para telhas.
Adotando-se o mesmo índice que a autora, os consumos energéticos totais e por unidade de área construída,
para a cobertura do protótipo Alvorada, seriam, respectivamente, 18.506,80 MJ e 366, 39 MJ/m
2
, ficando entre
os apresentados no quadro 29.
Consumo de energia para processos
Tipologia
Descrição
Total (MJ)
Por unidade de
área construída
(MJ/m2)
Por unid.e de área
de paredes (MJ/m2)
A Blocos cerâmicos revestidos com argamassa 32.101,26
919,28 404,50
B
Lajotas cerâmicas, concreto e aço; revestimento de placas
cerâmicas
52.475,56
1.435,72 494,59
C
Madeira serrada e compensada; revestimento com
argamassa epoxídica
25.182,00
629,55 282,12
D Blocos cerâmicos; revestimento com argamassa 43.489,13
935,25 351,97
E Blocos de concreto revestidos com argamassa 20.496,05
514,33 211,74
Quadro 28: valores obtidos por Sperb (2000), para consumo de energia, para
processos de manufatura de materiais de paredes
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
125
Consumo de energia para processos
Tipologia
Descrição
Total (MJ)
Por unidade de
área construída
(MJ/m2)
Por unid.
de área de
projeção da
cobertura (MJ/m2)
A Estrutura de madeira e aço; telhas cerâmicas; sem forro 14.142,95
405,01 286,24
B Estrutura de concreto; telhas cerâmicas; sem forro 14.596,97
399,37 318,50
C Estrutura e forro de madeira; telhas e fibrocimento 7.930,80 198,27 139,60
D Estrutura de aço, forro de madeira, telhas cerâmicas 21.561,12
463,68 358,10
E Estrutura e forro de madeira; telhas de fibrocimento 5.531,18 138,80 102,09
Quadro 29: valores obtidos por Sperb (2000) para consumo de energia para
processos de manufatura de materiais de coberturas
Em comparação com os aportes energéticos para manufatura de materiais, computados por Krüger e Dumke
(2001), somando aqueles correspondentes a paredes e coberturas, verifica-se, através do quadro 30, que os do
protótipo Alvorada são intermediários aos obtidos pelos autores (91.705,95 MJ e 1.815,59 MJ/m
2
). No entanto,
devido à falta de informações mais detalhadas, não é possível considerar quais fatores, individualmente, são
responsáveis pelas diferenças de desempenho observadas.
Consumo de energia para
processos
1
Tipologia
Descrição
Total (MJ)
Por unidade de área
construída (MJ/m2)
F Paredes e cobertura: painéis de poliestireno expandido; telha cerâmica 146.946,00
3.650,4
G Paredes: madeira de lei; cobertura: madeira e telha cerâmica 97.545,60 2.620,80
H
Paredes: madeira e poliuretano; cobertura: madeira aglomerada e telha
cerâmica
32.130,00 590,40
I Paredes: painéis de concreto celular; cobertura: madeira e telha cerâmica 31.446,00 558,00
J Paredes: placas de concreto armado; cobertura: madeira e telha cerâmica 13.428,00 334,80
1
foram considerados apenas os materiais básicos de cada subsistemas, não especificados quais sejam exatamente.
Quadro 30:Valores obtidos por KRÜGER e DUMKE (2001) para consumo de
energia, para processos de manufatura de materiais de paredes e cobertura
Em relação à participação dos demais subsistemas, o grupo de materiais que compõem o subsistema de piso
corresponde ao terceiro com maior conteúdo energético, embora já apresente um decréscimo significativo,
comparado aos de paredes e cobertura. Aqueles recursos de maior contribuição para o consumo total são as
mencionadas placas cerâmicas (71,79%). Ressalta-se que foi adotado, para as placas não esmaltadas, o
mesmo índice que para placas esmaltadas, o que tem reflexos nesse percentual. Essa adoção ocorreu
estritamente devido à falta de referências específicas.
Para o subsistema de fundações, verifica-se um desempenho superior aos demais mencionados até o momento.
Sua massa incorporada é a maior entre todos. Entretanto, os gastos energéticos para a produção do material
mais utilizado, a pedra, são desprezíveis. Assim, a energia utilizada para produção do cimento representa a
parcela principal atribuída ao subsistema (55,35%), seguida pela requerida para a manufatura do aço (34,81%).
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
126
O melhor desempenho, neste critério, entre todos os grupos de materiais analisados, foi obtido pelo subsistema
de pergolados, seguido pelo de esquadrias. Para o primeiro, o material demandante dos maiores aportes
energéticos foi a madeira de eucalipto, representando 55,19% do total. Já, para o segundo, o aço e o vidro
tiveram representatividades semelhantes, correspondentes a 46,01% e a 38,28%, respectivamente.
Uma limitação singular é atribuída ao subsistema de esquadrias: não foram computados gastos energéticos para
a confecção da estrutura da mesma, pois não foram encontradas referências na literatura. Logo, caracterizaram-
se, apenas, os consumos de energia para a produção de seus materiais individuais: a madeira, o vidro e o aço.
6.1.3.1 Energia embutida inicial: percentuais
A partir dos dados expostos nas figuras 20 e 23, pode-se constatar que o consumo energético para manufatura
de materiais foi significativamente superior àquele para transporte. Da energia embutida inicial da edificação,
4,27% corresponde ao demandado pelo transporte e 95,73%, pelos processos de manufatura. No entanto, uma
abordagem completa da energia embutida inicial deveria englobar, também, o cálculo dos aportes para aplicação
dos materiais durante a etapa de construção. Quanto à participação desta etapa no todo, alguns autores
apontam-na como sendo insignificante. O quadro 31 apresenta valores obtidos em algumas pesquisas, porém
não específicas para habitações de interesse social.
Em relação às referências nacionais, constata-se, que esses percentuais são semelhantes aos apontados por
Guimarães (1985 apud SPERB, 2000). O autor aponta gastos pequenos para a construção, comparada às
demais etapas. Já a pesquisa realizada por Mascaró e Mascaró (1992), embora indique uma participação
semelhante da etapa de manufatura, atribui percentuais mais equilibrados para as de construção e de
transportes.
Energia para manufatura (%)
Energia para transportes (%)
Energia para a construção (%) Fonte
94,50 5,40 0,1
Guimarães (1985 apud
SPERB, 2000)
96,41 1,38 1,81 Mascaró; Mascaro (1992)
1
Essas pesquisas não consideram a energia requerida na etapa de construção como parte da energia embutida
Quadro 31: contribuição das etapas de fabricação e de transporte dos materiais de
construção, para o total da energia embutida
Quanto à energia total contida nos materiais da edificação, pode-se também estabelecer comparações com
estudos realizados em outros países (quadro 32). O consumo estimado para o protótipo Alvorada, por unidade
de área construída, corresponde a 2.317,22 MJ (2,3 GJ), o que é significativamente inferior aos valores
apresentados no quadro 35, à exceção do correspondente à edificação estudada por Sperb (2000). Lembra-se,
novamente, que ao valor obtido neste estudo, devem ser somados os aportes energéticos referentes aos
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
127
subsistemas não contemplados nesta avaliação: de instalações elétricas e hidrossanitárias. No estudo de
Tavares e Lamberts (2006), o consumo energético para esses subsistemas corresponde a 0,11% do total da
habitação. Adverte-se, ainda, que não são explicitados em todas as pesquisas apontadas abaixo o padrão das
edificações, nem os limites precisos estabelecidos para os estudos.
País
Consumo de energia, por unidade
de área construída (GJ/m2)
Características das habitações Fonte
Índia 3-5 unifamiliares e multifamiliares
Venkatarama
Reddy; Jagadish
(2003)
3 unifamiliares, em madeira
4,5 unifamiliares, com estrutura em aço
Japão
8-10 multifamiliares com estrutura em concreto
Suzuki et alli (1994)
Dinamarca
4,5 unifamiliares
Pedersen (1988 apud Suzuki;
Oka; Okada, 1994)
Itália 6-7 unifamiliares e multifamiliares
Guliano et alli (1998 apud
SPERB, 2000)
3,94 modelo H1-2B da NBR 12.721 Tavares; Lamberts (2006)
Brasil
1,68 unifamiliar Sperb (2000)
Quadro 32: Energia embutida incorporada na construção de habitações, em
diferentes países
6.1.3.2 Relação entre energia embutida inicial e energia elétrica, para operação da habitação
Conforme discutido no item 2.2.1.2 do capítulo 2, não consenso na literatura, quanto à participação da
energia embutida e da energia operacional, no consumo total, ao longo do ciclo de vida de uma edificação. As
referências internacionais tendem a indicar que a primeira é consideravelmente pequena se comparada à
segunda. No entanto, ressalta-se, novamente, que a maior parte das pesquisas é oriunda de países
desenvolvidos e que não foram encontradas referências no contexto nacional.
Com a finalidade de se obter uma estimativa dessa relação, para habitações de interesse social urbanas no
contexto brasileiro, buscaram-se dados sobre consumo de energia na etapa de uso em habitações desse
padrão. Foi identificado um estudo, desenvolvido por Hansen (2000), que quantifica e analisa o consumo de
energia elétrica, em diferentes tipologias de edificações residenciais em Porto Alegre. A tipologia habitacional
que mais se aproxima daquela analisada no presente trabalho apresenta área construída correspondente a 39,9
m² e abriga entre 4 e 5 ocupantes.
A autora constatou que, nessas moradias, a energia elétrica é utilizada para iluminação, para aquecimento de
água e para equipamentos de refrigeração, de climatização (ventiladores) e de entretenimento. O consumo
médio mensal demandado para essas finalidades correspondeu a 546,12 MJ. Comparando-se esses valores
com os apresentados nas figuras 20 e 23, conclui-se que os aportes energéticos, para fabricação e transporte
dos materiais utilizados no protótipo Alvorada, equivalem à energia elétrica requerida ao longo de 17 anos e 10
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
128
meses de uso de uma edificação de mesmo padrão. As correspondências discriminadas estão apresentadas
abaixo (quadro 33).
Energia para processos de
manufatura
Energia para transportes
Energia manufatura e
transportes
Equivalência em anos 17,10 0,76 17,86
Quadro 33: comparação, em anos, dos aportes energéticos para fabricação e
transporte dos materiais empregados na construção do protótipo Alvorada;
relativamente ao consumo de energia elétrica para uso de edificação de mesmo
padrão
Utilizam-se, também, os valores obtidos por Hansen (2000) para estimar o consumo de energia durante 35 anos
de uso, vida útil de projeto intermediária, prevista para a estrutura principal de edifícios habitacionais de até cinco
pavimentos, segundo projeto de norma brasileiro (ABNT, 2006). Ao se comparar o resultado obtido, com os
apresentados nas figuras 18 e 20, chega-se, então, à relação expressa abaixo (quadro 34):
Energia para processos de
manufatura
Energia para transportes
Energia elétrica para
operação (35 anos)
Total em MJ 112.041,53 5.001,27 229.370,40
% 32,34% 1,44% 66,22%
Quadro 34: energia requerida para produção e transporte dos materiais empregados
na construção do protótipo Alvorada, em relação à estimativa de consumo de
energia elétrica para operação, ao longo de 35 anos
6.1.4 Consumo de recursos não reaproveitados
A diferenciação entre recursos reutilizados e reciclados é feita com o objetivo de aumentar a precisão da forma
de caracterização adotada. Isso ocorre porque, para materiais reutilizados, a massa de recursos contabilizada
como reaproveitada corresponde a, efetivamente, 100% da massa do material. Além disso, a reutilização está,
usualmente, associada a impactos significativamente menores do que a reciclagem, por não exigir novos
processamentos.
Assim, as principais limitações deste critério estão relacionadas à caracterização dos materiais com conteúdo
reciclado, pois não foi feita uma diferenciação entre os benefícios de reciclagem, de cada tipo de insumo, nem
foram determinadas as quantidades específicas de resíduos incorporados. Esta caracterização também
apresenta a imprecisão de considerar apenas os materiais para os quais o setor tem como prática corrente a
incorporação de resíduos. Essa restrição ocorre por que se esbarra na variedade de processos produtivos
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
129
existentes dentro do país para a produção de materiais semelhantes. Assim, uma caracterização mais
detalhada, avaliaria os processos produtivos de indústrias específicas.
A partir das possibilidades e restrições apresentadas, chega-se a resultados que indicam que, entre a massa
total de materiais demandados para a construção do protótipo Alvorada, 8,28% corresponde àqueles reutilizados
e 4,95%, àqueles com incorporação de recursos reciclados. Esses percentuais totalizam 13,23% (figura 24).
Quanto à reutilização, salienta-se que sua prática está relacionada ao interesse na identificação de
possibilidades de reuso de resíduos. Nesse sentido, verifica-se que, no local de implantação do protótipo
Alvorada, estavam previamente disponíveis blocos de granito resultante da demolição de uma pequena
construção, cuja quantidade integral foi incorporada às fundações e representa 93,61% da massa total de
materiais reutilizados. Materiais residuais, externos ao local da obra, também foram empregados: chapas de off-
set, oriundas de gráficas (4,57%), e grampos de aço (0,06%), adquiridos em depósitos de demolição.
Adicionalmente, reutilizaram-se materiais durante a etapa de construção: tábuas de cedrinho e de pinus,
utilizadas para concretagem das vigas de concreto, foram parcialmente empregadas como caibros, na estrutura
da cobertura (1,76%).
Já, entre os materiais com incorporação de insumos reciclados, destacam-se o cimento (devido ao uso de cinzas
volantes, na produção do tipo de cimento utilizado na habitação) e o aço (devido à prática de reciclagem de
sucata). Materiais cerâmicos não foram considerados como contendo recursos reciclados, que processos de
fabricação nacionais são bastante distintos. No entanto, para indústrias gaúchas, conforme indicado no trabalho
de Manfredini (2003), é comum a utilização resíduos de outros processos produtivos como combustível para
queima. São exemplos, os resíduos de biomassa, tais como: serragem, cavaco, retalhos de madeiras, refil e
casca de arroz, obtidos junto a serrarias, madeireiras e indústrias de móveis.
Quanto ao desempenho por subsistema, a forma de caracterização adotada identifica como mais impactantes
aqueles com maiores massas totais, não com maiores percentuais, de recursos não reaproveitados. Essa
determinação ocorre, por que é priorizada a redução da exploração de recursos em geral, visando, tanto reduzir
os impactos decorrentes, quanto evitar o esgotamento de reservas.
Por esse motivo, o subsistema de fundações, embora apresente uma proporção de recursos reaproveitados
(21,72%), em relação aos o reaproveitados (78,28%), significativamente superior aos demais, é aquele com
pior desempenho entre todos. Da mesma forma, as esquadrias, apesar de apresentar as menores proporções de
recursos reaproveitados, entre todos os subsistemas, por ser aquele de menor massa, é também o de melhor
desempenho entre todos.
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131
6.1.5 Incorporação de materiais sem potencial de reaproveitamento
Consideram-se reaproveitáveis todos os materiais para os quais, atualmente, verifica-se a possibilidade de
reutilização ou reciclagem. Assim, uma das limitações deste critério está associada à impossibilidade de se
prever as alternativas técnicas de reciclagem possíveis no futuro, para resíduos para os quais hoje existem
restrição. Além disso, são desconsideradas as condições contextuais, no presente e no futuro, determinantes
para a existência de uma demanda efetiva para o reaproveitamento dos diferentes materiais. Aspectos, como
valor de mercado relacionado ao reaproveitamento, também não são ponderados.
Para materiais com potencial de reuso, são consideradas 100% de suas massas reaproveitadas. Assim, não são
computados percentuais referentes a perdas ocorridas durante o processo de demolição seletiva, tais como
danificação e quebra de peças. Também não é estimada a parcela de materiais que não poderão ser
reaproveitados, por deixarem de cumprir, devido à deterioração, às exigências de desempenho. Nem é feita
diferenciação, para materiais com possibilidade de reuso, a necessidade de restauração.
Os resultados da caracterização, considerando essas delimitações, indicam que 61,69% dos materiais utilizados
na construção do protótipo Alvorada apresentam potencial de reaproveitamento (figura 25). Desse percentual, a
quase totalidade (61,47%) corresponde a materiais com possibilidade, tanto de reuso, quanto de reciclagem,
enquanto apenas 0,29% são referentes a materiais com possibilidade exclusiva de reciclagem. Entre os
materiais com potencial de reuso, aqueles que contribuem com as maiores quantidades, em massa, são os
blocos de granito das fundações (55,01%), os tijolos maciços das paredes (30,56%), as telhas cerâmicas da
cobertura (4,99%) e a madeira de eucalipto dos pergolados (1,56%). Já, o único material que apresenta apenas
possibilidade de reciclagem é o aço, utilizado em estruturas de concreto.
Quanto aos materiais com baixo ou nulo potencial de reaproveitamento, destacam-se aqueles constituintes de
concretos e argamassas, tais como: areia, pedra britada e cimento. Por esse motivo o subsistema de pisos,
entre todos, é aquele que contém a maior massa e a maior proporção (92,82%) de materiais com baixo potencial
de reaproveitamento, excluindo-se dessa classificação, apenas, as placas cerâmicas. Os subsistemas de
fundações e paredes também apresentam massas semelhantes e significativas de materiais sem potencial de
reaproveitamento, embora, para esses subsistemas, o percentual com potencial de reaproveitamento seja
expressivamente superior ao sem potencial. o único grupo de materiais considerado com possibilidade plena
de reaproveitamento é aquele correspondente às esquadrias.
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
132
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
133
6.1.6 Perdas decorrentes do processo de construção
As imprecisões e as limitações deste critério estão, fundamentalmente, vinculadas às restrições na obtenção dos
dados de consumo real dos materiais. Uma vez que não foram levantados dados durante o processo de
construção, os mesmos tiveram que ser extraídos dos documentos existentes. As primeiras imprecisões se
devem ao fato de que a determinação dos consumos reais, através das planilhas de compras, não possibilita
que sejam discriminadas as parcelas de materiais excedentes. Ou seja, nos valores referentes às perdas são
englobadas sobras.
Outra limitação dos procedimentos adotados para este critério está relacionada à falta de registro das
quantidades exatas dos materiais doados por parceiros. Os materiais doados, para os quais se verificou essa
restrição, foram os tijolos, as telhas e as placas cerâmicas de revestimento. A alternativa adotada, para que as
perdas desses materiais também fossem consideradas, foi à adoção de percentuais indicados em TCPO 12
(2003). Essa convenção buscou aumentar a precisão na caracterização dos demais critérios, que para este,
essa forma de cômputo das perdas de materiais é de pouca relevância.
A partir dessas delimitações, os resultados obtidos apontam que, da massa total de recursos novos utilizados
para a construção da habitação, 7.238,01 kg são referentes a perdas diretas e indiretas ou a sobras de
materiais. Constata-se, então, que foram consumidos, em massa, 7,03% mais materiais do que o previsto (figura
26).
Quanto aos materiais constituintes de concretos e argamassas, verificam-se os indicadores médios de perdas
apresentados no quadro 35. Tomando-se como valores de referências os resultados obtidos pelas pesquisas
nacionais apontadas no item 2.1.2.2.2, verifica-se que as perdas apresentadas são expressivamente pequenas.
Material Perdas (%)
Aço 7,88
Areia 14,15
Brita 8,46
Cimento 16,77
Quadro 35: perdas médias de materiais, na etapa de construção do protótipo
Alvorada
Quanto ao aço, os percentuais apontados por Formoso et alli (1993), Pinto (1995 apud ZORDAN, 2005) e
Agopyan et alli (2003) variam significativamente: entre 7% (para bitolas maiores que 10mm) e 17% (para bitolas
menores que 10mm). Logo, os valores médios obtidos neste trabalho podem ser considerados baixos. Isso
ocorre, provavelmente, devido à utilização de estruturas pré-montadas que, para as barras avulsas
empregadas, as perdas identificadas são mais altas que a média obtida. Para aquelas barras de 4,2 mm de
bitola, as perdas estimadas alcançaram 82,91%, enquanto para aquelas de 10mm atingiram 42,86%.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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Para o cimento, as perdas estimadas pelos autores citados acima variaram entre 33% e 95%, enquanto na
presente pesquisa elas representam menos da metade do menor valor. Segundo Formoso et alli (1993), a maior
parte das perdas desse material são decorrentes do excesso de espessuras dos revestimentos de argamassas
para paredes e forros. Assim, talvez as perdas relativamente baixas constatadas neste trabalho se devam ao
fato de não terem sido utilizados revestimentos, para a maior parte da superfície de paredes. O indicador de
perda obtido para a areia também foi inferior ao menor valor obtido pelas mencionadas pesquisas nacionais,
que oscilaram entre 39% e 76%. O motivo disso, provavelmente, é o mesmo verificado para as perdas de
cimento.
Os baixos valores de perdas constatados para os materiais mencionados, comparados às referências nacionais,
provavelmente se devam à preocupação do grupo participante da construção do protótipo Alvorada, quanto à
minimização da geração de resíduos e de consumo de recursos naturais, já que estes são princípios da
sustentabilidade.
Souza et alli (2006), através da quantificação das perdas em canteiros de obras de habitações de baixa renda
por autoconstrução, também chegaram a percentuais de perdas inferiores aos encontrados na literatura. Porém,
os autores atribuem essas diferenças aos distintos graus de acabamentos entre os padrões de edificações
comparados. Segundo Souza et alli (2006), habitações para usuários de baixa renda, por apresentarem
acabamentos menos elaborados, tendem a acarretar menores perdas.
Quanto aos demais materiais, os maiores percentuais de perdas foram computados para os aditivos
plastificantes (458,50%) e impermeabilizantes (53,42%). Através das informações orais obtidas quanto à etapa
de construção, verificou-se que essas perdas foram devidas, para o primeiro produto, à aplicação de dosagens
excessivas, superiores as indicadas pelos fabricantes, e, para o segundo produto, a sobra significativa da
quantidade adquirida.
Também altos indicadores de perdas são computados para as peças de madeira de cedrinho para acabamentos
da cobertura, tais como, elementos do forro e tábuas para o fechamento externo do telhado. Excepcionalmente,
para as peças de madeira do roda-forro, verificou-se que parte do percentual das perdas é relativa a sobra de
peças inteiras. Também para a madeira de eucalipto dos pergolados, parte das peças adquiridas não foi
utilizada. Ao todo são seis peças, que equivalem a 0,1m
3
de madeira.
Para as esquadrias, não há indicações da ocorrência de perdas, nem compras excedentes na etapa de
instalação. No entanto, segundo Fernandes (2004), devido aos cortes e aproveitamento das peças, o consumo
real de pranchas de madeira bruta para a confecção das esquadrias foi de 902,72 kg ou 1,00 m
3
. Perdas
semelhantes foram verificadas para o aproveitamento das placas de vidro, correspondendo à perda de 1,56m2,
e das barras de aço, que resultaram em 0,75m de sobra. Essas perdas não foram computadas na caracterização
do presente critério, pois não foram geradas na etapa de construção.
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6.1.7 Consumo de madeira
A análise da procedência de produtos da madeira, pelos aspectos discutidos no item 2.1.1.1, é de interesse
fundamental para avaliações de sustentabilidade ambiental e, por isso, um critério referente ao seu uso não
poderia deixar de ser incluído no presente trabalho. O uso de madeira, comparado a outros materiais na
construção civil, é apontado por diversas pesquisas (SEDJO, 2002; CORTEZ-BARBOSA; INO, 2001; COLE,
1999; FISK; MACMATH, 1998, YUBA et alli, 2004) como positivo, principalmente para o seqüestro do carbono
atmosférico e para minimização do uso de recursos não renováveis.
No entanto, no Brasil, visto que não é verificada a disponibilidade de madeira certificada para a construção civil,
atualmente, considera-se que não existe uma alternativa segura quando à determinação da magnitude dos
impactos da utilização de seus produtos. Não apenas a extração de madeiras oriundas de florestas naturais é
apontada como danosa, mas, também, o plantio de grandes áreas de espécies exóticas, principalmente de pinus
e eucalipto, têm sido polêmico, especificamente, no Rio Grande do Sul.
Tendo em vista a complexidade dos fatores envolvidos no contexto mencionado, não se tem a pretensão, neste
trabalho, de esgotar a discussão sobre esse assunto, porém, convencionou-se considerar o uso de madeira
nativa potencialmente mais impactante, devido aos prejuízos ambientais unanimemente reconhecidos.
Verifica-se que, para a construção do protótipo Alvorada, foram utilizados 5,21m
3
de madeira, o que
corresponde, em massa, a 3.371,72 kg (figura 27). Desse total, 36,05% são de madeira de cedrinho, 16,26% de
madeira de Pinus e 47,68% de madeira de eucalipto. Pinus e eucalipto são consideradas madeiras de florestas
plantadas, visto que são espécies introduzidas. Já, a madeira de cedrinho, é considerada nativa, de ocorrência
amazônica, embora o IPT (INSTITUTO DE PESQUISAS TECNOLÓGICAS, 2003) advirta que, na cidade de São
Paulo, são comercializadas sobre o nome de cedrinho cerca de 15 diferentes espécies de madeira, tanto
amazônicas, quanto de florestas plantadas, que são empregadas indistintamente em obras.
Da madeira total consumida na construção do protótipo Alvorada, 24,97% foram destinadas às fôrmas para
concretos. Desse percentual, 11,75% correspondem à utilização de pinus e 13,21%, à de cedrinho. Uma análise
do processo construtivo permite observar que o uso de madeira de ambas as espécies poderia ter sido reduzido.
Embora parte das tábuas utilizadas para confecção das fôrmas das vigas de concreto da cobertura tenha sido
reutilizada como caibros, o que minimizou o uso de 0,11m
3
(62,39kg) de madeira de cedrinho e de 0,20m
3
(98,59
kg) de madeira de pinus, as demais peças destinadas a fôrmas não foram reaproveitadas na própria obra. No
entanto, segundo Tabelas de Composições de Preços para Orçamentos (2003), a reutilização das fôrmas é
possível em a quatro vezes. Considera-se aqui, que, esse número de reaproveitamentos não poderia ser
realizado na construção de uma única habitação. Entretanto, o reaproveitamento das fôrmas uma vez seria
tecnicamente viável, e reduziria ainda mais o consumo das mesmas.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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138
O restante da madeira consumida foi empregado na estrutura e acabamentos do subsistema de cobertura, nos
pergolados e nas esquadrias.
A madeira de cedrinho, considerada de piores impactos, foi empregada em significativamente maior quantidade
no subsistema de cobertura (96,54%). Do total consumido, excluindo-se fôrmas, 0,85 m
3
destinaram-se aos
acabamentos, como forro e fechamentos externos e 0,46 m
3
aos caibros e ripas de sustentação das telhas.
Quanto aos acabamentos, verifica-se que a quantidade real consumida foi significativamente superior à
calculada (ou de referência). O valor excedente, 39,59%, no entanto, não correspondeu apenas a perdas devido
aos cortes, mas também ao excesso na compra.
Já, a madeira de pinus, foi empregada exclusivamente na confecção de fôrmas para vigas e, parcialmente, nos
caibros da cobertura. A madeira de eucalipto foi utilizada apenas nas esquadrias e nos pergolados. Para o
segundo subsistema poderia ter sido reduzido o consumo de 0,1 m
3
de madeira, que corresponde ao excedente
adquirido, conforme mencionado no item anterior (5.3.6). Para as esquadrias, embora não haja indicações de
terem ocorrido perdas na aplicação, nem compras excedentes, poder-se-ia diminuir a quantidade de madeira
consumida através de otimizações de projeto, que aproveitassem melhor as dimensões das pranchas originais.
Aos consumos de madeira apresentados aqui, deve-se considerar que se somam, ainda, as quantidades
relativas a perdas ocorridas desde o início do processamento das toras extraídas das florestas. Para a produção
de tábuas, por exemplo, Ferreira et alli (1989 apud FAGUNDES, 2003) estimam que sejam necessários 2,5 m
3
de madeira bruta, para a produção de 1,00 m
3
de madeira processada.
6.2 IDENTIFICAÇÃO DOS CUSTOS DE AQUISIÇÃO DE MATERIAIS
Para a avaliação dos custos dos materiais empregados na construção do protótipo Alvorada, objetivo secundário
deste trabalho, faz-se, nesta seção, uma análise dos reflexos financeiros das soluções construtivas para os
diversos subsistemas e das práticas adotadas durante o processo de construção. Também são identificados
pontos onde os custos poderiam ter sido reduzidos, sem alterações no desempenho funcional dos subsistemas.
Em um segundo momento, são feitas comparações com custos de habitações do mesmo padrão. Ressalta-se
que todos os custos apresentados nesta seção são referentes ao mês de janeiro do ano de 2006.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
139
6.2.1 Custos totais e por subsistema: implicações das práticas e das soluções
construtivas adotadas
A partir dos dados quantitativos de materiais empregados no PA, podem-se sintetizar os custos da habitação,
como um todo, e dos subsistemas individuais que a compõem, conforme apresentado no quadro 36.
Subsistema
Custo quantidade
calculada/ teórica
(R$)
Custo
correspondente a
perdas (R$)
Economia por
reaproveitamento
(R$)
Custo final (R$)
Custo final por
unidade de área
construída
(R$/m
2
)
Fundações 3.593,20 220,80 448,85 3.365,15 66,62
Piso 1.582,35 188,50 - 1.770,85 35,06
Paredes 2.680,43 374,31 - 3.054,74 60,48
Esquadrias 2.887,03 - - 2.887,03 57,16
Cobertura 5.090,93 688,38 197,53 5.581,78 110,51
Pergolados 738,84 71,67 10,35 800,16 15,85
Total 16.572,78 1.543,66 656,73 17.459,71 345,67
Observação: os valores convertidos em CUB podem ser encontrados no quadro 42, no apêndice A
Quadro 36: custos dos materiais empregados na construção do protótipo Alvorada
Quanto à gestão dos processos e às práticas adotadas durante a etapa de construção, verifica-se que, em
termos de porcentagem financeira, o valor gasto poderia ter sido reduzido em até 8,84%, em se tratando da
minimização das perdas. Ainda que esse índice seja igual ou menor aos que, segundo Agopyan et alli (1998),
são encontrados na literatura e, que a perda nula seja uma referência inatingível, considera-se que valores
menores poderiam ser obtidos. Souza et alli (2006) constataram perdas financeiras para materiais, em canteiros
de obras de habitações de baixa renda por autoconstrução equivalentes a 7,00%. Salienta-se, no entanto, que
os sistemas construtivos se diferenciavam bastante daquele analisado neste trabalho.
Em contrapartida, aponta-se como sendo positiva a prática de reaproveitamento de materiais, também do ponto
de vista financeiro, tanto provenientes da reutilização de estruturas pré-existentes no terreno, como da
incorporação de resíduos de processos de outros setores. No Protótipo Alvorada foram exemplos destas práticas
a reutilização de pedras de granito nas fundações, residuais e pré-existentes no local; o reuso parcial das fôrmas
das vigas de concreto como caibros na cobertura; e a adequação de chapas de off-set, resíduos de gráficas, no
isolamento térmico da cobertura. A economia obtida ao todo correspondeu a R$ 656,73 (0,75 CUB),
desconsiderando-se os investimentos que seriam necessários para a substituição do off-set por outro material
isolante.
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140
Ainda quanto a possibilidades de economia de recursos materiais, embora parte das tábuas utilizadas para
confecção das fôrmas das vigas de concreto da cobertura tenha sido reutilizada como caibros, as demais
madeiras destinadas a fôrmas não foram reaproveitadas sendo que, segundo Tabelas de Composições de
Preços para Orçamentos TCPO (2003), é possível reaproveitá-las até quatro vezes. Considera-se aqui, que,
embora o número de reaproveitamentos apontado por TCPO não pudesse ser realizado na construção de uma
única habitação, o reaproveitamento das fôrmas uma vez seria tecnicamente viável e contribuiria
significativamente para a redução do custo total das mesmas, que foi expressivo em relação ao todo,
correspondendo a R$ 1.093,28 (1,25 CUB) ou a 6,29% do custo global do protótipo. que considerar, ainda,
que as peças de madeira de cedrinho das fôrmas poderiam ser substituídas por equivalentes em madeira de
pinus, as quais são comercializadas a preços significativamente mais baixos, sem prejuízos à função
desempenhada.
Quanto à participação de cada subsistema no consumo de recursos financeiros, observa-se que o subsistema
de cobertura foi aquele que demandou maiores investimentos, representando 31,97% do custo total do protótipo.
Entre os materiais com maior contribuição estão o forro de madeira de Cedrinho e as fôrmas para concretagem
das vigas de concreto, com custos correspondentes a R$ 1.283,10 (1,47 CUB) e R$ 864,31 (0,99 CUB),
respectivamente.
O segundo subsistema com custo mais elevado foi o de fundações, imediatamente seguido pelo de alvenarias.
O primeiro demandou um consumo de materiais e, conseqüentemente, de investimentos financeiros,
significativamente altos, se comparados àqueles de outras habitações, de porte semelhante implantadas em
outras localidades. Isso foi, no entanto, devido às características do solo local. Como referência de custos
correntes, pode-se citar aqueles orçados para modelos semelhantes ao protótipo Alvorada, construídos no
Município de Nova Hartz, onde o solo apresenta características mais favoráveis. Os custos destas fundações
corresponderam a R$ 2.284,72 (2,62 CUB), ou seja, apenas 67% dos recursos despendidos para as do protótipo
em estudo
1
. Os blocos de granito foram os materiais com maior representatividade no custo total. Neste
subsistema, foi utilizada também uma quantidade de cimento significativamente superior aos demais (43,59% do
total empregado na habitação), o que, conseqüentemente, refletiu em custos significativos.
Quanto às paredes, 71,18% dos custos estão relacionados às alvenarias, enquanto 28,82%, aos revestimentos
das mesmas. O material mais representativo em termos de investimentos financeiros foi o tijolo cerâmico,
responsável por mais da metade dos recursos consumidos para a construção desse subsistema. As placas
cerâmicas esmaltadas empregadas nas paredes do banheiro também demandaram expressivos recursos.
Ressalta-se que essas são peças de fabricação artesanal e, por isso, apresentam custos bastante elevados, R$
1
Informação obtida através de planilhas de orçamento das habitações. Valores ajustados a partir do CUB.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
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46,44/m
2
(0,053 CUB/m²), se comparados a outras, de mesma resistência à abrasão (essas peças não
apresentam PEI -Porcelain Enamel Institute). Assim, sua utilização foi possível por que este material foi
doado pela indústria produtora.
Com relação ao subsistema de pisos, de se considerar que a maior parte dos recursos financeiros
despendidos são relativos às placas cerâmicas de revestimento, correspondendo a 61,17% do total. Foram
utilizadas peças não esmaltadas nos dormitórios, na sala/cozinha e nas varandas. Também se utilizou as
mesmas peças esmaltadas das paredes do banheiro no piso do mesmo. Verificou-se que o preço das placas
não esmaltadas também é alto, comparado com o de outras de mesmo PEI, ou seja, PEI 0 (R$19,25/m
2
ou 0,02
CUB/m²). Optou-se, neste trabalho, por considerar o preço de mercado das placas utilizadas, o que conferiu alto
custo ao subsistema, como um todo.
O subsistema de pergolados foi aquele que envolveu menores recursos financeiros. Entre os materiais
empregados, destacam-se os custos das linhas e dos mourões de eucalipto, representando 80,55% do total do
subsistema. Verifica-se, no entanto, que 6 das 45 peças compradas acabaram por não serem utilizadas. O custo
dessas peças excedentes correspondeu a R$ 68,22 e poderia ter sido economizado.
Identificam-se possibilidades de redução de custos de materiais do protótipo Alvorada, sem que sejam alterados
os desempenhos dos subsistemas. A substituição das peças de cedrinho das fôrmas para concretagem, por
peças de pinus, e das armaduras de aço pré-montadas, por barras avulsas montadas in loco, são duas dessas
oportunidades. Quanto à substituição da madeira, a mesma teria também reflexos positivos também no
desempenho ambiental da habitação, pois se estaria reduzindo o consumo de madeira nativa e diminuindo-se as
distâncias de transporte desse material.
Em relação à substituição das armaduras de aço, ressalta-se que a economia é obtida apenas, porque não o
considerados custos com mão-de-obra, que a habitação foi concebida para auto-construção. Em
contraposição, de se considerar que o tempo de execução das vigas seria aumentado e, possivelmente,
seriam majorados, também, os percentuais de perdas para esse material.
Também se poderia obter economia adicional, através da substituição das placas cerâmicas de revestimento por
outras de similar desempenho, e através da redução das dosagens utilizadas de aditivos plastificantes e
impermeabilizantes aos padrões recomendados pelos fabricantes.
6.2.2 Custos comparativos com habitações de mesmo padrão
Para que pudessem ser estabelecidos referenciais, foram levantadas informações sobre custos de materiais
para construção de habitações de interesse social construídas no contexto municipal e nacional.
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
142
Especificamente em Porto Alegre, entre os anos de 2001 e 2002, dois modelos-padrão de habitações de
interesse social eram implantados pelo Departamento Municipal de Habitação (DEMHAB)
1
. Os modelos
apresentam materiais e técnicas construtivas comuns, porém se diferenciam significativamente em relação à
área construída. Aquele de maior área, denominado aqui Modelo A, foi concebido com 40,40m
2
, para abrigar
quatro moradores. O denominado Modelo B apresenta área de 23,37 m
2
e possui apenas 1 dormitório, destinado
a duas pessoas. Os custos totais, convertidos para o CUB de janeiro de 2006, incluindo mão-de-obra,
movimentos de terra e todas as instalações necessárias, representaram respectivamente R$ 24.650,63 e R$
19.643,08, e os custos apenas de materiais discriminados por subsistema estão apresentados no quadro 37.
Verifica-se que o custo total de materiais do protótipo Alvorada é superior ao de ambas alternativas
apresentadas. No entanto, o custo atingido por unidade de área construída, correspondente a R$ 345,67, é
intermediário àqueles obtidos pelos dois modelos do DEMHAB. Enquanto o modelo A apresenta um custo por m²
construído 12% inferior ao do protótipo, o modelo B apresenta um custo 18% superior. Assim, embora os
sistemas construtivos dos dois modelos sejam os mesmos, o custo não é diretamente proporcional à área
construída, o que indica que estas diferenças de custo são ocasionadas pelas variações das formas
arquitetônicas.
Os subsistemas de fundações e pisos do protótipo Alvorada apresentaram custos significativamente elevados,
se comparados aos das habitações construídas pela Prefeitura de Porto Alegre. Pode-se dizer que estas
discrepâncias estão relacionadas a dois fatores, já apontados. Para as fundações, essas diferenças se devem às
características do terreno, e para os pisos, aos custos das placas cerâmicas empregadas.
Uma análise individual dos demais subsistemas demonstra que apenas as alvenarias e esquadrias das
habitações do DEMHAB apresentam custos mais elevados que aquelas do protótipo Alvorada. Os custos dos
materiais de assentamento das alvenarias resultaram equivalentes, fazendo com que a diferença constatada
entre os subsistemas de alvenarias estivesse relacionada principalmente à aplicação de revestimentos.
Enquanto todas as paredes do PA foram executadas em fiadas simples de tijolos maciços, as habitações do
DEMHAB foram construídas com paredes externas duplas e internas simples, de blocos cerâmicos de 21 furos.
Devido às características de acabamento, as primeiras receberam revestimento apenas naquelas fachadas cujas
condições de exposição eram mais severas, enquanto as segundas exigiram a aplicação de reboco e pintura em
todas as superfícies.
Quanto às esquadrias, deduz-se que as diferenças de custos se devam ao material empregado, já que,
inclusive, um número maior de aberturas foi empregado no protótipo Alvorada. Tanto as portas, como as janelas
1
Informação oral obtida no dia 7 de fevereiro de 2006, com engenheiro civil do Departamento Municipal de Habitação -
DEMHAB
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
143
externas presentes nas habitações do DEMHAB são de aço e exigiram, complementarmente, a aplicação de
pintura. As esquadrias do protótipo, em contraste, são de madeira de eucalipto, de diversas espécies, e
receberam apenas um tratamento alternativo de proteção.
Custos modelo A
1, 2
Área: 40,40 m²
Custos modelo B
1, 2
Área: 23,37 m²
Subsistema Descrição simplificada
1
Total (R$)
Por unidade de
área
construída
(R$/m²)
Total (R$)
Por unidade
de área
construída
(R$/m²)
Fundações
Blocos grês; vigas de baldrame de concreto
armado
1.179,79 29,20 843,35 36,09
Piso
Piso em cimento queimado placas cerâmicas
de revestimento apenas nos banheiros
762,20 18,87 559,05 23,92
Paredes
Blocos cerâmicos de 21 furos; reboco;
pintura
3.619,40 89,59 3.647,28 156,07
Esquadrias
Portas internas de madeira, portas e janelas
externas de ferro
3.784,63 93,68 2.195,82 93,96
Cobertura
Estrutura de madeira; telhas de fibrocimento,
forro de madeira (cedrinho)
2.957,72 73,21 2.297,23 98,30
Total 12.303,74 304,55 9.542,73 408,33
1
Informações obtidas através de planilhas de orçamento e memoriais descritivos fornecidos por técnicos do DEMHAB.
2
Custos convertidos para janeiro de 2006 através do CUB (CUB/RS - janeiro de 2006 = R$ 873,50).
Quadro 37: Custos de materiais empregados em habitações-padrão construídas
pelo DEMHAB, discriminados por subsistema
No contexto nacional, levantaram-se padrões de habitações, propostos ao governo federal, por duas
associações brasileiras de diferentes materiais de construção. Ambas as soluções construtivas estão aceitas
como adequadas para a reprodução em larga escala, em todo o Brasil (FEDERAÇÃO DAS INDÚSTRIAS DO
ESTADO DE SÃO PAULO - FIESP, 2006; ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE CIMENTO PORTLAND - ABCP,
2004).
Através dos quadros 38 e 39, verifica-se que as habitações propostas apresentam custos semelhantes, por
unidade de área construída, embora apresentem diferentes relações dos subsistemas na participação do custo
total. Observa-se, também, que à exceção do subsistema de paredes, todos os demais apresentam custos
sensivelmente mais baixos que os implantados no protótipo Alvorada. Os subsistemas com custos mais
contrastantes foram os de cobertura e de pisos.
Quanto à cobertura, pondera-se que os custos elevados do protótipo Alvorada, em relação aos outros
subsistemas, se devem parcialmente à utilização de vigas de concreto moldadas in loco para sustentação da
cobertura, visto que apenas as fôrmas para a concretagem, demandaram R$ 864,31 (0,99 CUB), enquanto, nos
demais sistemas construtivos, puderam ser suprimidas, devido ao uso de blocos estruturais.
Em relação aos pisos, as principais diferenças de custos se devem às diferenças entre os preços das placas
cerâmicas empregadas e ao fato de, na Casa 1.0, onde os custos do subsistema de pisos foram
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
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expressivamente mais baixos, ter sido empregado apenas um revestimento cimentado, e placas cerâmicas,
apenas no banheiro.
Para as diferenças de custos das alternativas de paredes conclui-se, que, provavelmente, os custos mais baixos
verificados para o protótipo Alvorada se devam à utilização de revestimento, apenas, nas superfícies sob
condições mais severas de exposição.
Custo
1,2
Área: 50,54 m²
Subsistema Descrição simplificada
1
Custo total
(R$)
Por unidade de área
construída (R$/m²)
Fundações Radier 1.825,54 36,12
Piso Regularização de base; placas cerâmicas de revestimento 579,31 11,46
Paredes Blocos de cerâmica estrutural; revestimento de argamassa; pintura 3.387,44 67,02
Esquadrias Portas internas de madeira, portas e janelas externas de ferro 1.208,72 23,92
Cobertura Lajes treliçadas; estrutura metálica; telhas cerâmicas 3.449,36 68,25
Total 10.450,36 206,77
1
Informações obtidas através de material de divulgação produzido pelo Sindicato da Indústria da Cerâmica para Construção
do Estado de São Paulo (SINDICERCON-SP) em abril de 2006 sob o título Casa Cerâmica.
2
Custos convertidos para janeiro de 2006 através do CUB (CUB/RS - janeiro de 2006 = R$ 873,50).
Quadro 38: custos de materiais empregados na Casa Cerâmica, discriminados por
subsistema
Custo
1,2
Área: 42,30 m²
Subsistema Descrição simplificada
1
Custo total
(R$)
Por unidade de área
construída (R$/m²)
Fundações Radier 1.716,98 40,59
Piso Cimentado; placas cerâmicas de revestimento apenas nos banheiros 35,74 0,84
Paredes
Blocos de concreto estrutural; revestimento de argamassa
industrializada; pintura
3.404,97
80,50
Esquadrias Portas internas de madeira; portas e janelas externas de ferro 1.333,98 31,54
Cobertura
Estrutura de madeira; telhas de concreto (tipo tégula), forro de madeira
(pinus)
2.529,34
59,80
Total 9.021,01 213,26
1
Informações obtidas através de material de divulgação produzido pelo Associação Brasileira de Cimento Portland (ABCP)
sob o título Casa 1.0 e do contato com uma construtora que a reproduz na região metropolitana de Porto Alegre.
2
Custos convertidos para janeiro de 2006 através do CUB (CUB/RS - janeiro de 2006 = R$ 873,50).
Quadro 39: custos de materiais empregados na Casa 1.0, discriminados por
subsistema
Pode-se, também, estabelecer uma comparação com o custo unitário básico (CUB) do projeto-padrão de casa
popular, conforme características e acabamentos definidos pela NBR 12.721 (ABNT, 1999). O valor do CUB, em
materiais, para esse padrão de edificação, no Rio Grande do Sul, em janeiro de 2006, correspondeu a R$ 254,72
(Sindicato da Indústria da Cerâmica para Construção do Estado do Rio Grande do Sul - SINDUSCON-RS, 2006).
Logo, verifica-se um custo superior do protótipo Alvorada, por unidade de área construída (R$ 345,67). Também
as habitações fornecidas pelo DEMHAB apresentam custos superiores, enquanto os dois sistemas propostos
pelas associações apresentam custos inferiores.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
145
Quanto à participação dos planos horizontais e verticais no custo total da edificação, verifica-se que, no protótipo
Alvorada, a cobertura demandou recursos financeiros significativamente superiores ao subsistema de paredes,
enquanto, nas demais as tipologias com que ele foi comparado, o que se verifica é justamente o contrário: as
paredes são responsáveis pelas maiores demandas. Segundo Mascaró (1998), em climas com grande
incidência solar e, particularmente, em edificações térreas, a exigência térmica dos elementos horizontais é
significativamente superior a dos planos verticais, visto que 70% do calor incidente na edificação atinge a
cobertura, enquanto 30% alcança as fachadas. Nessas situações, justificam-se, então, segundo o autor,
investimentos superiores nas superfícies horizontais do que nas verticais.
6.2.3 Considerações gerais sobre custos
Verificou-se, que entre as soluções adotadas na etapa de projeto, com a intenção de aumentar o conforto
térmico e visual, bem como reduzir impactos ambientais da edificação, algumas representaram um aumento
significativo nos custos, se comparadas às alternativas adotadas para demais habitações de interesse social
analisadas, enquanto outras não.
Soluções relacionadas ao desenho bioclimático, como a adoção de uma cobertura predominantemente voltada
para sul, que possibilitou, além da minimização da incidência solar, a criação de ambientes com pé-direito
elevado, onde janelas altas proporcionam ventilação natural por efeito chaminé e aumentam a área de
iluminação, não implicaram em aumento de custos, ainda que tenham envolvido a construção de superfícies
maiores de paredes. Para esse subsistema, verificaram-se os menores custos, comparados às demais
edificações. Em contraposição, a criação dos pergolados para sombreamento, envolveu custos adicionais, não
computados para as demais tipologias.
Quanto à escolha da composição dos subsistemas, praticamente todos, à exceção do de paredes, implicou em
custos maiores do que os correntes. Para o de cobertura, observam-se os custos mais expressivos. A adoção de
telhas cerâmicas implicou o projeto e execução de vigas de concreto, que suportassem maiores cargas, e a
utilização de grande número de peças de madeira, para a estrutura. A preocupação com a qualidade dos
acabamentos também teve grande contribuição.
Em relação aos procedimentos adotados na etapa de construção, verificam-se baixos índices de perdas,
comparadas a referências nacionais, o que reflete na economia de recursos. O que se constata, no entanto, é
que uma economia adicional poderia ter sido obtida, através de um maior controle nas quantidades adquiridas, já
que, para alguns materiais, observou-se compras de materiais excedentes.
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
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Em geral, conclui-se que os custos referentes aos materiais empregados no protótipo Alvorada podem
considerados elevados, em relação a outras tipologias de habitação de interesse social, com área semelhante.
No entanto, salienta-se que os valores apresentados são referentes a uma unidade prototípica e tendem a ser
superiores àqueles de soluções consolidadas e de implantação em grande escala. Assim, também que
considerar que alguns materiais foram doados por parceiros e adotou-se, no custo da construção, o seu valor de
mercado. Outra ressalva é feita em relação às dimensões das fundações que, devido às características do solo
local, demandaram investimentos significativamente superiores aos correntes.
6.3 SÍNTESE E CONSIDERAÇÕES SOBRE O CAPÍTULO
Neste capítulo são apresentados os resultados obtidos a partir do método exposto no capítulo 4. Optou-se por
fazer a análise dos resultados de cada critério ambiental separadamente, pois eles se referem a cargas
ambientais diferentes, que não são diretamente comparáveis. A análise individual também é decorrente da
opção por não expressar os resultados em um valor ou indicador único, pois implicaria na conversão dos
resultados preliminares a uma unidade comum e posterior atribuição de pesos. Como apresentado no capitulo
três de revisão bibliográfica, essa conversão envolveria procedimentos conhecidos como agrupamento,
ponderação e pesagem, os quais apresentam imprecisões e envolvem decisões subjetivas, visto que buscam
comparar variáveis para as quais não existem critérios científicos de embasamento. Pelo mesmo motivo, os
resultados da identificação dos custos também são analisados em uma seção independente.
Embora os diversos critérios tenham sido analisados individualmente, a apresentação dos mesmos em um
conjunto de gráficos, permite que sejam feitas, rapidamente, associações entre os diversos resultados. Assim,
também se torna fácil perceber a possível interferência de qualquer alteração, que busque melhorar o
desempenho de qualquer solução em determinado critério, nos demais critérios ou nos custos. Por exemplo:
uma análise superficial dos gráficos já demonstra que a opção pelo uso de madeira de cedrinho na cobertura do
protótipo foi responsável pelo, significativamente, pior desempenho do subsistema nos critérios consumo de
energia para transporte de materiais, emissões de CO
2
decorrentes do transporte rodoviário e consumo de
madeira nativa. Adicionalmente, pode-se observar que esse material representou mais de 55% do custo total de
construção do subsistema de cobertura, que é aquele que demandou, expressivamente, maiores recursos.
Assim, visto que este material teve uma grande representatividade tanto em impactos, quanto em custos, pode-
se pensar em substituí-lo, buscando minimizar ambos os efeitos. A substituição pela madeira de pinus, total ou
parcialmente, por exemplo, poderia melhorar o desempenho ambiental nos critérios mencionados sem piorar os
demais, bem como poderia reduzir custos. Isso é possível, porque essa é uma madeira oriunda de florestas
plantadas, de origem significativamente mais próxima e com preço unitário inferior. A única ressalva a ser feita,
quanto à substituição, é que o desempenho e a durabilidade podem ser inferiores para algumas aplicações,
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
147
como para o forro, caso não se utilize tratamento, já que o pinus é um tipo de madeira mais suscetível ao ataque
de insetos do que o cedrinho.
Esse é um exemplo do quanto avaliações ambientais, como a realizada neste trabalho, facilitam e esclarecem os
projetistas e os responsáveis pela tomada de decisões em processos de projeto de edificações. Particularmente
quando os resultados intermediários da avaliação são exibidos, tornam-se evidentes os reflexos das soluções,
das práticas e dos materiais adotados.
É lógico, que o exemplo dado demonstra uma situação favorável, na qual uma alteração simples tem efeitos
benéficos para a redução de algumas cargas, sem o aumento na geração de outras ou no custo. No entanto,
para outras soluções, pode ocorrer que as opções alternativas não reflitam positivamente em todos os demais
critérios, ou na redução dos custos. Nesta situação, como a estrutura de avaliação adotada no trabalho não
define prioridades, são transferidas, ao projetista ou responsável pela decisão, a definição mesmas e a
responsabilidade pelas escolhas. Assim, o principal benefício da avaliação realizada, é a possibilidade que se
façam proposições alternativas futuras para melhoramentos no protótipo Alvorada de maneira muito mais
objetiva e esclarecida, permitindo benefícios ambientais efetivos.
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148
7 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Uma análise geral dos resultados obtidos, e também do processo, das atividades desenvolvidas e do debate
internacional acerca do tema da pesquisa permite que sejam feitas considerações sobre os objetivos
estabelecidos inicialmente.
As primeiras questões a serem abordadas dizem respeito aos objetivos secundários que tiveram que ser
superados para o alcance do objetivo principal. O passo inicial foi a identificação das principais cargas
ambientais ocorrentes a longo do ciclo de vida de edificações e da relevância e possibilidade, no contexto
nacional, de se analisar cada uma delas. Essa identificação foi realizada a partir da revisão bibliográfica e seus
principais aspectos e debates estão apresentados nas seções 2.1.1 e 2.1.2. Ainda, nessa mesma seção, e
também baseado no estudo da literatura, são apresentados os resultados da identificação dos dados
disponíveis no Brasil sobre cargas ambientais relacionadas aos produtos da edificação. Priorizou-se a
obtenção de informações relacionadas ao padrão de habitação estudada e aos materiais nela empregados,
porém, quando identificados, também são apresentados dados referentes a outras práticas correntes no país.
Optou-se por apresentar esses dados na referida seção, ou seja, juntamente com a identificação das cargas,
para que o vínculo entre os mesmos e as possibilidades de caracterização ficassem explícitos ao leitor.
O passo seguinte foi a identificação de como os métodos existentes avaliam edificações e dos seus
benefícios e controvérsias. O resultado desse objetivo secundário é apresentado no capítulo dois e, juntamente
com a identificação das cargas ambientais decorrentes da produção de edificações e dos dados disponíveis no
contexto nacional, possibilitou a definição do método para avaliação do protótipo Alvorada.
A definição do método é o quarto objetivo secundário desta pesquisa e pode-se dizer que, embora restrito a
um pequeno número de critérios, abrange aspectos fundamentais da sustentabilidade ambiental para o contexto
nacional e consegue caracterizar cargas ambientais potenciais e imediatas decorrentes das práticas adotadas e
das decisões tomadas no decorrer da etapa de projeto e execução do protótipo Alvorada. Logicamente, o
método apresenta limitações e imprecisões. Entre elas, destacam-se as citadas no inicio da análise dos
resultados de cada critério e que estão, na sua maioria, relacionadas à indisponibilidade de dados referentes aos
processos de produção de materiais de construção no Brasil e de outras informações representativas da
realidade nacional, como, por exemplo, características da frota de veículos de transporte de carga.
Quanto aos dados referentes aos processos de manufatura, no entanto, verificou-se aqui, que, para a realidade
brasileira, a solução desse problema não está apenas relacionada à criação de banco de dados genéricos,
representativos de setores como um todo. As indústrias brasileiras apresentam uma heterogeneidade de
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
1
49
processos produtivos, que reflete na geração de cargas ambientais muito diferentes para a fabricação de
produtos similares. Assim, a seleção de fornecedores torna-se um aspecto crítico para o desempenho da
edificação como um todo. Aliás, essa questão, que foi priorizada na etapa de projeto e construção do protótipo
Alvorada, acabou por não ser contemplada, nesta avaliação, devido à necessidade de utilização de dados não
específicos.
A partir das informações e das diversas controvérsias identificadas na revisão bibliográfica, colocam-se questões
quanto ao objetivo principal desta pesquisa: a avaliação ambiental dos subsistemas implantados e dos
materiais empregados no protótipo. Considerando-se os limites atuais do conhecimento científico e a
complexidade dos mecanismos ambientais decorrentes dos processos e atividades humanas, mesmo através de
métodos de avaliação ambiental sofisticados, a vinculação de qualquer causa a impactos ambientais finais
específicos ainda é incerta. Aliando-se essa constatação à incipiência dos estudos de avaliação ambiental de
edifícios, no contexto nacional, e aos limites de uma dissertação de mestrado, considera-se que seria tanto
impraticável quanto cientificamente frágil buscar apontar, neste trabalho, uma resposta definitiva e absoluta
quanto ao desempenho ambiental do protótipo Alvorada.
Nesse sentido, ao se compreender a sustentabilidade, e, especificamente, sua dimensão ambiental, como uma
meta cujos limites não são nem claros, nem determináveis, as diversas alternativas podem apenas ser
classificadas como mais ou menos próximas a ela, dentro de uma escala infinita cujo grau final é praticamente
inatingível. Assim, o que se poderia aspirar, nesta pesquisa, é à obtenção de resultados que indicassem a
posição da habitação avaliada em relação a outras tipologias semelhantes, produzidas no Brasil.
Também essa comparação apresenta restrições. Primeiro, devido à indisponibilidade de pesquisas de caráter
similar a esta no contexto nacional, voltadas a habitações de interesse social. No entanto, se tinha em mente
essa limitação ao se propor este trabalho, visto que foi justamente uma das lacunas identificadas no contexto
científico nacional e que estimularam seu desenvolvimento. Quando encontrados dados para a comparação dos
resultados parciais, esta foi feita ao longo da análise de resultados dos critérios. No entanto, as pesquisas
identificadas restringiram-se àquelas relativas ao consumo de energia e geração de perdas. Especificamente
quanto ao consumo de energia, também se buscou, através do relacionamento com outros dados, iniciar uma
caracterização da representatividade da energia embutida inicial, discriminada em energia para manufatura e
energia para transportes, em relação ao consumo energético para operação da edificação.
A segunda restrição a comparações está relacionada à obtenção de respostas categóricas quanto aos níveis de
desempenho global das habitações a serem confrontadas. Neste trabalho não se propõem a agregação dos
resultados a um valor absoluto. Isso porque, se procedimentos, tais como agregação, agrupamento e pesagem,
são controversos em métodos consolidados, devido a sua subjetividade, nesta pesquisa, frustrariam todo o
esforço em se obter exatidão nos resultados, que já envolvem uma série de limitações e imprecisões explicitadas
ao longo do trabalho e que são decorrentes da escassez de dados no contexto nacional.
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
150
Assim, optou-se justamente pelo oposto, além de se manter os resultados desagregados para os diferentes
critérios de avaliação, apresentam-se também nas diversas escalas parciais, nas quais não estão envolvidos
julgamentos de valor. A representação gráfica simultânea das três escalas de análise foi a maneira adotada para
proporcionar uma apreensão rápida e fácil dos resultados e permitir que, em comparações com trabalhos
posteriores, estejam explícitos todos os aspectos contribuintes para formação dos resultados finais.
Os resultados da avaliação estão apresentados no item 6.1 deste trabalho e sua análise permite a identificação
dos subsistemas que apresentam potenciais de impactos ambientais mais significativos em cada critério
e, por sua vez, quais os pontos fracos dos mesmos, determinantes para essa posição. A partir dessas
informações, é possível gerar modificações nos subsistemas implantados, visando ao seu aperfeiçoamento. A
avaliação também quantifica aspectos ponderados apenas subjetivamente, através de diretrizes projetivas,
durante as etapas de projeto e execução. Nessas etapas, também são considerados, concomitantemente,
diversos outros requisitos, além dos ambientais. Além disso, provavelmente, ela revela impactos negativos nem
mesmo previstos durante essas etapas, principalmente, relacionados aos processos produtivos dos materiais
incorporados.
Quanto à possibilidade das informações geradas serem utilizadas para a comparação com futuras pesquisas e
servirem para o desenvolvimento de referenciais iniciais de desempenho ambiental, pode-se considerar
que, embora a avaliação não tenha contemplado todos os subsistemas básicos de uma habitação, o que incluiria
também instalações elétricas e hidráulicas, os resultados, por estarem desagregados, possibilitam a comparação
das partes. Aliás, se tratando do aprimoramento de projetos ou de soluções implantadas, e não de uma simples
classificação ou rotulagem ambiental, considera-se que o confronto parcial e analítico das alternativas é a
escolha mais apropriada. Também é fundamental para a possibilidade de comparações que os procedimentos e
os dados adotados para a avaliação sejam os mesmos, ou que, no mínimo, se perceba claramente as distinções
existentes. Por isso se procurou deixá-los o mais explícito possível, ao longo do trabalho, reforçando, sempre
que pertinente, as suas limitações.
Quanto à identificação dos custos de aquisição dos materiais empregados, no protótipo Alvorada, verifica-
se que os mesmos podem ser considerados altos, se comparados aos de outras habitações de mesmo padrão.
Esse aspecto não foi priorizado ao longo do desenvolvimento do projeto da edificação, que o objetivo de sua
concepção e construção foi testar alternativas mais sustentáveis e não, necessariamente, mais econômicas.
Porém, considera-se que inserção de soluções ambientalmente mais amigáveis nas práticas correntes de
produção de habitações de interesse social, não ocorrerá, usualmente, sem que sejam ponderados os custos
envolvidos.
A esse respeito, neste trabalho, não foi estabelecida uma relação direta entre os custos identificados e os
resultados obtidos na avaliação ambiental, devido às limitações de tempo e de recursos típicas de uma
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
151
dissertação de mestrado. No entanto, as informações produzidas, nesta pesquisa, possibilitam que se
continuidade aos estudos de aprimoramento das alternativas propostas para o protótipo Alvorada, considerando-
se também os aspectos relativos aos custos. Um dos caminhos de continuidade é a identificação das possíveis
alterações nos subsistemas implantados, buscando reduzir as cargas ambientais mais significativas e aproximar
os custos dos valores, usualmente, considerados admissíveis para esse padrão de habitação. A partir de então,
pode-se realizar novamente a avaliação das soluções e identificar seus custos, ponderando-se as vantagens e
desvantagens em comparação com o projeto original.
7.1 RECOMENDAÇÕES PARA TRABALHOS FUTUROS
Todas as limitações encontradas, nesta pesquisa, apontadas neste capítulo e no decorrer do trabalho, indicam
que o tema, principalmente, no contexto nacional, ainda se encontra em fase inicial de investigação e também
sugerem diversos caminhos para o prosseguimento dos estudos. A partir das limitações encontradas, entre as
inúmeras opções de continuidade, o feitas as seguintes sugestões para trabalhos futuros, vistas como mais
urgentes:
a) realização de análises ambientais dos processos produtivos de materiais de construção,
preferencialmente, baseadas em ACV e realizadas, sistematicamente, a partir de esforços organizados;
b) avaliação sistemática das diversas tipologias de habitações de interesse social implantadas atualmente
no Brasil e avaliação dos futuros projetos, gerando dados de referência e promovendo a inclusão de
aspectos ambientais como requisitos adicionais no desenvolvimento de novas propostas;
c) desenvolvimento e aplicação de um método de avaliação específico para o contexto nacional, que
abranja também as demais dimensões da sustentabilidade.
Especificamente quanto ao aprimoramento do protótipo Alvorada, sugerem-se as seguintes possibilidades de
prosseguimento:
a) ampliação da avaliação realizada nesta pesquisa:
- computando substituições de materiais, através de métodos científicos e;
- incluindo os subsistemas não avaliados, neste trabalho, assim que os mesmos estiverem
implantados;
b) aprofundamento da avaliação ambiental através da substituição dos dados utilizados por outros mais
confiáveis. À medida que estejam disponíveis novas informações, também é sugerida a inserção de
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Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
152
critérios adicionais na avaliação ou a substituição dos mesmos por outros mais relevantes, superando
as limitações e imprecisões explicitadas;
c) realização de uma avaliação de custos, incluindo também custos indiretos de produção do protótipo e
custos ao longo do ciclo de vida;
d) reprojeto e posterior reavaliação das soluções adotadas no protótipo Alvorada, buscando-se o
aperfeiçoamento contínuo, através da redução de impactos ambientais e de custos.
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Avaliação da Sustentabilidade Ambiental do Protótipo de Habitação de Interesse Social Alvorada
153
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YUBA, A. N.; INO, A.; SHIMBO, I. Análise da pluridimensionalidade das questões de sustentabilidade das etapas
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Paulo: ANTAC, 2004. Disponível em: <htttp://www.infohab.org.br/>. Acesso em: 12 dez. 2005.
ZORDAN, S. E. Entulho da Indústria da Construção Civil. Reciclagem de resíduos como materiais para a
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Disponível em: <http://www.reciclagem.pcc.usp.br/entulho_ind_ccivil.htm>. Acesso em: 4 jan. 2006.
__________________________________________________________________________________________
Eugenia Aumond Kuhn. Porto Alegre: PPGEC/UFRGS, 2006
162
APÊNDICE A – MATERIAIS INCORPORADOS NOS SUBSISTEMAS:
COMPOSIÇÕES, QUANTIDADES E CUSTOS
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Material
Massa unitária
(kg/dm³)
Massa específica
(kg/dm³)
Observações Fonte
Cimento CPV-32 0,76 2,69
Referentes a cimento proveniente da
Região Metropolitana Porto Alegre
Posser (2004)
Areia graduação 3 1,61 2,63
Referentes à areia proveniente do rio
Jacuí
Paulleti (2004)
Pedra britada 1 1,43 2,64 Referentes à brita de origem basáltica
Tutikian (2004)
Quadro 40: massas específicas e unitárias adotadas nos cálculos de argamassas e
concretos
Material
Massa específica/
densidade/ massa por
unidade
Fonte:
Granito 2.800kg/m³ (média)
Tijolo cerâmico (específico) 2,14 kg/um média obtida em ensaios
Telha cerâmica tipo romana (específico) 2,60 kg/um dia obtida em ensaios
Madeira de eucalipto de diversas espécies (média) -
esquadrias
900,00 kg/m³ Fernandes (2004)
Madeira de eucalipto - pergolado (Eucalyptus Salignas) 731 kg/m³ Rodrigues (2002)
Madeira de cedrinho 500 kg/m³ INO apud Sperb, 2000
Madeira de pinus 590 kg/m³ INO apud Sperb, 2000
Chapas de Off-set 2.700 kg/m³ Oliveira (2005)
Placa cerâmica esmaltada 18 kg/m² fabricante
Placa cerâmica não esmaltada 21 kg/m² fabricante
Aço galvanizado 7.200 kg/m³ fabricante
Vidro 2.500 kg/m³ Fernandes (2004)
Aço
ver massa linear nas
tabelas entre 1 e 7
fabricante
Quadro 41: valores para conversão, em massa, das quantidades de materiais
Custo quantidade
calculada
Custo
correspondente a
perdas
Economia por
reutilização
Custo final (R$)
Custo final por
unidade de área
construída
Subsistema
(CUB)
1
(US$)
2
(CUB)
1
(US$)
2
(CUB)
1
(US$)
2
(CUB)
1
(US$)
2
(CUB/m
2
)
1
(US$/
m
2
)
2
Fundações 4,1100 1622,94 0,2528 99,73 0,5139 202,73 3,8525 1519,94 0,0763 30,09
Piso 1,8100 714,70 0,2158 85,14 - - 2,0273 799,84 0,0401 15,84
Paredes 3,0700 1210,67 0,4285 169,07 - - 3,4971 1379,74 0,0692 27,32
Esquadrias 3,3100 1303,99 - - - - 3,3051 1303,99 0,0654 25,82
Cobertura 5,8300 2299,43 0,7881 310,92 0,2261 89,22 6,3901 2521,13 0,1265 49,91
Pergolados 0,8500 333,71 0,0820 32,37 0,0118 4,67 0,9160 361,41 0,0181 7,16
Total 18,9500 7485,44 1,7672 697,23 0,7518 296,63 19,9882 7886,05 0,3957 156,13
1
CUB/RS - janeiro de 2006 = R$ 873,50
2
Dólar comercial - 31 de janeiro de 2006 = R$ 2,214
Quadro 42: custos dos materiais empregados na construção do protótipo Alvorada
em CUB e dólar
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APÊNDICE B – SÍNTESE DA CARACTERIZAÇÃO DOS CRITÉRIOS DE AVALIAÇÃO
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