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desconforto de conviver com casas, ruas e lojas sujas pela fuligem que, em instância à frente, gera
um gasto desnecessário de água. Para a saúde, as queimadas representam desconfortos como
irritação dos olhos, nariz e garganta, tosse e dias difíceis para crianças, idosos maiores de 65 anos e
pessoas que possuem patologias respiratórias e cardiovasculares como asma, bronquite, enfisema
pulmonar, hipertensão. Segundo o médico pneumologista Marcos Arbex, coordenador de medicina
ambiental da Secretaria Municipal da Saúde, os gases e os materiais particulados liberados durante a
queima de vegetação ou lixo têm ação imediata no organismo porque provocam uma reação
inflamatória no pulmão ao serem inalados. “Isso faz com que as pessoas tenham diminuição da
função pulmonar e aumento do uso de medicamentos, gerando uma corrida às emergências médicas
e elevando o número de internações”, explica Arbex. O médico diz ainda que, embora não haja
comprovação, é possível que esses problemas eleve o índice de mortalidade entre as pessoas dos
três grupos citados. A Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb) é o órgão
responsável por fazer cumprir a legislação ambiental no que se refere ao controle e à prevenção de
poluição e aplicar advertências e multas a quem desrespeitar as determinações vigentes. José Jorge
Guimarães, gerente da agência da Cetesb em Araraquara, explica que a Companhia tem como base
os critérios legais que regem e orientam as queimadas de cana-de-açúcar. Segundo ele, não são
permitidas queimadas de cana a menos de um quilômetro do perímetro urbano, fora da faixa de
proteção de redes de transmissão de energia e de áreas de armazenamento de produtos derivados do
petróleo, rodovias e ferrovias de grande movimento. “Toda queimada feita fora das áreas de
restrição é alvo de penalidade que varia de advertência a multa de até R$ 120 mil”.
Este ano, desde o início da safra, em maio, somente duas advertências foram aplicadas em toda a
região atendida pela agência de Araraquara (34 municípios, 14 usinas e 180 mil hectares de cana
plantada, dos quais 25% representam áreas proibidas para queimada). O número é menor do que em
igual período do ano passado. Guimarães atribui o resultado a um trabalho com usineiros para
redução máxima do impacto das queimadas. “Por enquanto, alcançamos 60% de resposta positiva.
O ideal é que o setor produza de forma sustentável”. Apesar de a Cetesb fazer monitoramento por
satélite de todas as áreas de plantio de cana na região, o gerente reforça a importância da
participação da população por meio de reclamações e denúncias. Segundo ele, a relação entre
reclamação e redução das queimadas aumentou bastante nos últimos três anos, desde que a
Companhia começou o trabalho com as usinas.
Custo com saúde - aumenta até 30%
Carlos Corrêa - editor de Cidade
Os efeitos da poluição do ar pelas queimadas urbanas e rurais afetam também os cofres da
Prefeitura de Araraquara. Durante o inverno, com maior ênfase nos meses de julho e agosto, os
gastos do município com saúde sobem entre R$ 300 mil e R$ 400 mil por mês.
A secretária da Saúde, Eliana Honain, explica que o acréscimo é motivado por um crescimento
estimado em 30% da população que recorre às Unidades Básicas de Saúde (UBSs), aos dois
Prontos-Socorros e aos dois Núcleos Integrados de Saúde (NIS) - estes inaugurados recentemente
nos jardins Selmi Dei e Iguatemi. “A clientela dessa época é formada basicamente por crianças e
idosos, pessoas com mais propensão às doenças respiratórias”, ressalta. A rede básica de saúde
atende cerca de 50 mil pessoas por mês em períodos considerados normais. “Neste inverno de frio
mais intenso estamos atendendo até 65 mil pessoas”, diz Honain. Mesmo com o aumento da
clientela, as equipes de atendimento nos prontos-socorros não foram reforçadas. “Não houve
necessidade porque descentralizamos o atendimento com os dois NIS”. Além de levar mais doentes
as UBSs, o tempo seco e a poluição do ar fizeram crescer também as internações hospitalares. Em
julho, a Secretaria da Saúde autorizou cerca de 30% mais internações do que as 1.000 registradas
nos meses quentes. Com isso, o teto da Prefeitura com a Municipalização Plena da Saúde (repasse
SUS) pulou de R$ 1,4 milhão para algo em torno de R$ 1,8 milhão. “Quando o teto estoura, o custo
fica para o município, que é obrigado a complementar o valor”, diz a secretária da Saúde.