CAPÍTULO 3
- A VIRADA DO SESC SÃO PAULO NOS ANOS 80: A DIMENSÃO DA CULTURA NA REDE URBANA PAULISTANA
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“de formação de quadros. Foi uma época em que a instituição adquiriu uma
visão homogênea. E, mais uma coisa: foi uma época em que toda a área-
fim e a área-meio - ou seja, área-fim é quem cuida da programação e área-
meio é quem cuida da administração, pessoal, material - [era] só com
pessoas que pensavam em lazer. O Requixa preferia. Quando tinha que
nomear um gerente de pessoal, pegava um técnico de cabeça boa e que
ele achava que tinha tino gerencial, e mandava fazer um curso de MBA, e
voltar para assumir a área. Ele preferia isso a pegar alguém que só tinha
lidado com recursos humanos na vida e mandar ele aprender a lidar com
lazer. Então, hoje, no SESC, você vê, a direção do SESC: o Danilo, é óbvio,
é técnico, não é administrativo” (2004:13).
Por sua vez, Newton Cunha, depoente já citado, comenta outro sentido de aprendiza-
gem e mesmo de formação cultural, a partir do trabalho realizado:
Já Dante Silvestre, outro depoente já citado, destaca, sobre o processo de formação
profissional dentro da instituição:
Já o depoimento de Luis Octávio de Camargo, especialista em lazer, enfatiza a
preparação dos técnicos na gestão de Renato Requixa, na qual houve um investimento
bastante grande
”Bem, acho que o SESC me permitiu, primeiro, aprender muita coisa.
O SESC foi, não digo uma universidade, evidentemente, mas funcionou
como agente cultural para mim. Agente cultural no sentido de estimular
determinadas experiências e conhecimentos. Experiências sensíveis, artís-
ticas, no sentido de conhecer muito arte ... é, [como] freqüentador compul-
sório. E também oportunidades de estudo, estudei fora. Depois de estudar
fora, me senti, como se diz, estimulado a continuar outros estudos. Quer
dizer
, só vim a fazer Filosofia depois que fiz o curso na França, porque senti
que era uma área que eu precisava. E isso o SESC sempre permitiu.
Sabendo aproveitar essas oportunidades, acho que... Eu direi que foi mais
que um trabalho” (2004:30).
“Eu, como trabalhador do SESC, quando eu saio do SESC e vou para o meu
fim de semana, por exemplo, é evidente que qualquer coisa que eu faça de
alguma forma pode ser carreada para o meu trabalho profissional. Se eu
for assistir um filme, isso ocorre..., por exemplo, tem filme que vou utilizar
para uma palestra que vou dar no SESC. Se eu passo em um lugar que tem
uma fila, eu já comparo a organização dessa fila com a fila que é feita no
caixa do SESC: ‘Será que esse modo de organizar a fila é mais eficiente,
mais rápido?’ Então, o tempo todo você está fazendo a transferência de
coisas da sua vida pessoal para a vida do trabalho, e vice-versa. Está liga-
do o tempo todo. É o que você lê, o que você vê, aquilo que você conversa,
está muito ligado ao trabalho. Acaba sendo interessante, também. Um
outro aspecto é a respeito das necessidades. Como é que o SESC lida
com a especialização de profissionais? Muitas vezes, dentro do SESC...
Um exemplo fala mais claramente: o gerente do SESC Odontologia não
é dentista. Há um dentista, um odontólogo que é responsável técnico, mas