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REBATIMENTO ESPACIAL DE DIMENSÕES SÓCIO-
CULTURAIS: AMBIENTES DE TRABALHO
A
LICE DE
B
ARROS
H
ORIZONTE
B
RASILEIRO
Tese de Doutorado apresentada ao Programa de
Pós-graduação em Arquitetura, Faculdade de
Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal
do Rio de Janeiro, como parte dos requisitos
necessários à obtenção do título de Doutor em
Ciências em Arquitetura.
Orientadora: Cristiane Rose de Siqueira Duarte
Co-orientador: Paulo Afonso Rheingantz
Rio de Janeiro
Abril 2007
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iii
REBATIMENTO ESPACIAL DE DIMENSÕES SÓCIO-CULTURAIS:
AMBIENTES DE TRABALHO
Alice de Barros Horizonte Brasileiro
Orientador: Cristiane Rose de Siqueira Duarte
Co-orientador: Paulo Afonso Rheingantz
Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-graduação em
Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, da Universidade Federal do
Rio de Janeiro - UFRJ, como parte dos requisitos necessários à obtenção do título
de Doutor em Ciências em Arquitetura.
Aprovada por:
________________________________________________________
Profª. Cristiane Rose de Siqueira Duarte, Dr. [Orientadora]
(PROARQ/FAU/UFRJ)
________________________________________________________
Prof. Paulo Afonso Rheingantz [Co-orientador]
(PROARQ/FAU/UFRJ)
________________________________________________________
Profª. Ângela Maria Moreira Martins
(PROARQ/FAU/UFRJ)
________________________________________________________
Prof. Rogério Medeiros
(PPGAV/EBA/UFRJ)
________________________________________________________
Prof. Circe Maria Gama Monteiro
(DAU/UFPE)
Rio de Janeiro
Abril 2007
ads:
iv
Brasileiro, Alice de Barros Horizonte.
Rebatimento espacial de dimensões sócio-culturais:
A
mbientes de trabalho/ Alice de Barros Horizonte Brasileiro.
- Rio de Janeiro: UFRJ/ FAU, 2007.
xx, 254f.: il.; 31 cm.
Orientador: Cristiane Rose de Siqueira Duarte
Co-orientador: Paulo Afonso Rheingantz
Tese (doutorado) UFRJ/ PROARQ/ Programa de Pós-
graduação em Arquitetura, 2007.
Referências Bibliográficas: f. 227-235.
1. Dimensões sócio-culturais. 2. Ambiente Construído
. 3.
Escritórios. I. Duarte, Cristiane Rose de Siqueira. II.
Universidade Federal do Rio de Janeiro, Faculdad
e de
Arquitetura e Urbanismo, Programa de Pós-
Arquitetura. III. Título.
v
AGRADECIMENTOS
Dificilmente, uma tese de doutorado é concluída sem que haja a colaboração
de muitas pessoas, e esta não poderia ser uma exceção.
A Cristiane Rose, minha orientadora, devo muito desta tese. Além de amiga de
velhos tempos, Cristiane é responsável pela minha introdução na pesquisa
científica, pelo interesse na vida acadêmica, pela minha orientação de
mestrado, e entre outras tantas coisas, agora a orientação de doutorado. Sua
orientação não poderia ter sido mais livre e mais segura, ao mesmo tempo.
Obrigada, por ter me ajudado tanto, por ter me dado suporte nos momentos de
angústia e de dúvida, e por saber me conduzir até na minha teimosia sobre o
desconhecido!
Paulo Afonso, meu co-orientador, é responsável pela minha incursão no campo
de avaliação de desempenho, com quem e em que muito aprendi (e continuo
aprendendo). Paulo, com sua serenidade e franqueza, deu-me apoio, liberdade
e sugestões fundamentais para esta tese, desde o início do curso de doutorado.
À Professora Ângela Martins, pelas valiosas sugestões na qualificação.
Aos demais membros da banca examinadora, Professor Rogério Medeiros e
Professora Circe Monteiro, por se disporem a ler e examinar meu trabalho.
À Tatiana e à Angélica, pela colaboração inestimável, sem a qual eu não poderia
ter realizado esta pesquisa. Por meio de suas generosas intervenções, eu cheguei
às empresas definitivas nas quais meu estudo de campo foi realizado; muito
obrigada às duas pelas portas que me abriram e, por conseqüência, àqueles que
permitiram que eu tivesse acesso às suas empresas: Sra. Maria Izabel, Sr. Túlio, Sra.
tia e Sr. bio, não aceitando a minha presença durante meses nos seus
ambientes, mas me recebendo com muito carinho, permitindo-me observar seu
pessoal, as rotinas diárias de trabalho, fazer medições e fotografias. Sem as
permises que tão generosamente me concederam, esta pesquisa não teria sido
realizada da forma tão produtiva! Mais uma vez, muito obrigada. E, mesmo
correndo o risco de tornar enfadonha a leitura de uma lista de agradecimentos
vi
(que está apenas no começo), seria uma injustiça de minha parte não citar
nominalmente todas aquelas pessoas que se viram obrigadas a conviver comigo
em seus ambientes de trabalho, sendo por mim observadas constantemente, mas
que nem por isso deixaram de me receber muito bem, com imenso carinho e
paciência em responder às minhas perguntas, permitindo-me participar um pouco
de seus mundos: Silvânia, Carmem, Jussara, nia, Carla Werneck, Carla Santana,
Marcelo, Geisa, Wallace, Tatiene, José Eduardo, Sergio, Wander, Alan, Cláudio,
Felipe, Fernando, Rodrigo, Fred, Eric, Wagner, João, Carlos, Rafael, Walker, Antero,
Cléo, Claudia, Vera, Leandro, Otílio, Débora, Andréia, Valéria, Ana Claudia, Paulo,
Cláudio, Tânia, Leonardo, Bruno, Robson, Flávio, Narciso, Luis Alberto, tia, Alair,
William, Heraldo, Rogelson, Ronaldo, Jorge (“Rato”), José Eduardo (“Dunga”),
Miriam, Aline, Marcelo, Valeria, André, Aline Travassos, Jorge do Vale, Rosaura,
Eduardo Lago, Nilandio, Débora, Lea, Renata, Ester, Gustavo, Rafael, Eduardo,
Claudia, Adriano, Leonardo, Ana Maria, Elaine, Sueli, Fábio, Tatiana, Gilberto,
Renato, Jean, Edson, Julio, Cláudio, Arnaldo, Isabelle, Daniel, Rosana Garcia,
Christiane, Fabiana, Anchyses, Luis Cláudio, Natália, Cristiane, Rosana Rosa e Júlia.
Tudo isso, volto a insistir, em uma receptividade tamanha com uma pesquisadora
de presença constante e, por vezes, intrusiva como fui
Aos amigos e colegas do ASC e do ProLugar, pela acolhida, pela troca frutífera
de pensamentos e por tantas idéias compartilhadas desde o início da pesquisa.
Em especial, os na época mestrandos Ana Paula, José Ricardo, Helena Rodrigues
e Michael Alvarenga, por terem fornecido insumos à minha pesquisa com as suas
próprias de mestrado.
Aos meus amigos Osvaldo, Adriana, Bianca, Adriano e Cláudio, por compartilhar
tantos momentos bons passados juntos, que ajudaram muito a aliviar a tensão
que um doutorado traz.
À Tatiana Salema, pela fiel e companheira amizade de longa data.
À Cássia, pela torcida e por me manter informada da rotina burocrática da
Universidade.
vii
À Rosina, pela sua sempre prontidão e gentileza em me socorrer nas minhas mais
diversas dúvidas.
À Maria Amália, pela torcida sincera.
A Edson Maciel por me fornecer os estudos de layout previstos de um dos estudos de
caso.
Aos colegas do colegiado e à chefia do Departamento de Tecnologia da
Construção, por terem permitido que eu me afastasse de minhas funções
acadêmicas durante um ano, para que me dedicasse à pesquisa de campo do
doutorado.
Aos colegas professores de topografia da FAU-UFRJ, pelo apoio e por terem
ficado responsáveis pelas minhas turmas da graduação durante meu
afastamento.
Aos colaboradores do Informe FAU: Jeferson Salazar, Flávio Cardoso e Francisco
Assumpção, que o produziram enquanto estive afastada de seu comando por
conta do doutorado
Aos funciorios do PROARQ, Maria da Guia, Rita e Dionísio, pela paciência e por
estarem sempre dispostos a ajudar.
À Ethel Pinheiro, pela versão do resumo desta tese para a língua inglesa e pela
criação e produção da capa.
À Suzana Viso, pela ajuda com alguns desenhos e tabulações de dados.
À Luciana Márcia, pela colaboração com a tradução e fichamento de alguns
textos de antropologia.
A toda minha família, por aturar minhas infindáveis ausências nestes últimos
tempos.
Ao Da, pelo carinho, pelo suporte físico e pelo apoio de infra-estrutura.
viii
REBATIMENTO ESPACIAL DE DIMENSÕES SÓCIO-CULTURAIS:
AMBIENTES DE TRABALHO
ALICE DE BARROS HORIZONTE BRASILEIRO
Orientador: Prof. DSc. Cristiane Rose de Siqueira Duarte
Co-orientador: Prof. DSc.Paulo Afonso Rheingantz
Resumo da Tese de Doutorado submetida ao Programa de Pós-
graduação em Arquitetura, Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo, da Universidade Federal do Rio de Janeiro - UFRJ,
como parte dos requisitos necessários à obtenção do título de
Doutor em Ciências em Arquitetura.
Esta tese busca o desenvolvimento de uma proposta metodológica de análise
cultural de ambientes de trabalho, mais especificamente, escritórios. O objetivo
geral é criar uma ferramenta que seja capaz de ler (HALL, 1994) culturalmente os
ambientes, partindo do princípio da inseparabilidade entre homem – cultura
ambiente construído. Por meio de um embasamento teórico apoiado na
arquitetura, na antropologia e na psicologia ambiental, o trabalho expõe o
processo de construção da proposta metodológica, conduzida por quatro
dimensões culturais: hierarquia e poder; coletivismo; controle das incertezas;
delimitação de territórios. Na pesquisa é mostrado o desenvolvimento
experimental da proposta metodológica; suas tentativas e erros e as descobertas
proporcionadas por ela, tanto na fase de desenvolvimento quanto na de
validação. Os resultados da pesquisa indicam que a proposta metodológica
contribui para uma maior compreensão do ambiente, como uma expressão das
subjetividades de seus usuários e das aspirações coletivas de grupos de
funcionários que trabalham em um mesmo escritório. É um dos objetivos desta
pesquisa que proposta metodológica possa ser utilizada como fonte produtora de
subsídios para o projeto de arquitetura de ambientes de escritórios. Acreditamos
que conhecer os mecanismos de moldagem do Lugar (DUARTE, 1993) e
compreender os afetos atribuídos aos ambientes constituem-se em fatores
fundamentais, tanto para a geração de estratégias de promoção do bem-estar do
homem nos espaços construídos, como para o sucesso dos projetos de arquitetura.
Palavras-chave: análise cultural, escritórios, etnografia, dimensões culturais
ix
SPATIAL REFLECTIONS OF SOCIO-CULTURAL DIMENSIONS:
WORK PLACES ISSUES
ALICE DE BARROS HORIZONTE BRASILEIRO
Advisor: Prof. DSc. Cristiane Rose de Siqueira Duarte
Co-Advisor: Prof. DSc. Paulo Afonso Rheingantz
Resuof the Doctoral Thesis submitted as partial requirement for
the obtainance of the degree in Doctor of Architectural Sciences
in the Architecture Post-graduation Program PROARQ, Faculty of
Architecture and Urbanism of the Federal University of Rio de
Janeiro.
This thesis searchs for the development of a methodological proposal in cultural
assessments of work places specifically related to offices. The general goal of this
work is to build a methodological tool that is able to culturally read environments
(Hall, 1994) taking into consideration the principle of unbreakability among man
culture - built environment. This work outlines the construction process of a
methodological proposal through a theoretical foundation based on architecture,
anthropology and environmental psychology. The four cultural dimensions that
conduct this process are: hierarchy and power; collective bounds; control of
uncertainty; territory limits. We hereby show the experimental development of the
methodological proposal with the aid of a participant research; its attempts,
mistakes and revelations have been overgrown either by the development phase
as the validation one. The results indicate that this proposal contributes with a
better comprehension of the environment as an expression of subjectivities of
users and collective aspirations of a group that works at the same office. As a goal
previously presented in this research, this methodological proposal came out to
be a producer of subsidies for office architectural projects. We believe that
knowing mechanisms of place moulding (Duarte, 1993) and comprehending the
affections offered to environments may constitute fundamental factors for the
generation of strategies for the promotion of men’s well-being in built spaces as
well as for the success of architectural plans.
Keywords: cultural assessment, offices, ethnography, cultural dimensions.
x
Sobre a capa
Para configurar a complexidade dos estudos aplicados ao campo sócio-cultural, dentro
da arquitetura, nada melhor do que a imagem de um jogo de cartas montado, que -
protegendo seus valores - mantém-se incógnito até o lance final, onde as respostas serão
reveladas. Dentro deste mesmo princípio, cremos que a arquitetura de um lugar se revela,
pouco a pouco, de acordo com determinados processos e métodos que funcionam
como fio-condutor de uma imagem final. Muitas vezes chegamos a isso através da
produção de mapas desenhados num papel; outras, através de um programa o bem
definido que restringe e direciona o produto final; muitas outras vezes, chegamos a esta
compreensão através da interpretação da disposição, dos elementos afetivos, do nível
ocupado na hierarquia do trabalho, da vida pessoal, entre outros, como esta tese busca
mostrar. Assim nasce a imagem desta capa: uma mistura de 'cartas' que se apresentam
de forma ordenada no rosto principal, conduzindo a uma aparente confusão na parte de
trás, sem no entanto revelar a intenção desta 'confusão' ou 'ordenação' (em cada
espaço produzido); isto só se pode compreender com a pesquisa e a participação.
(E. P. Santana, 2007)
xi
S
UMÁRIO
Ficha catalográfica................................................................................................... iv
Agradecimentos........................................................................................................ v
Resumo....................................................................................................................... viii
Abstract....................................................................................................................... ix
Sobre a capa............................................................................................................. x
Sumário....................................................................................................................... xi
Lista de figuras............................................................................................................ xiv
Introdução
……………………………..…………………………………...................…..
01
Capítulo 1 L
OCUS DA PESQUISA
E
SCRITÓRIOS
:
AMBIENTES DE TRABALHO
…......……..…..
09
Capítulo 2 R
EFERÊNCIAS CULTURAIS
....……......................……..................................... 15
2.1 Cultura: uma breve revisão para referência............................................ 15
2.2 Cultura “de quem”?........………..…............................................................ 22
Capítulo 3 D
IMENSÕES CULTURAIS
............………………………………………........... 27
3.1 Hierarquia e poder....................................................................................... 29
3.2 Coletivismo.................................................................................................... 32
3.3 Controle da incerteza.................................................................................. 34
3.4 Delimitação de territórios............................................................................ 36
3.5 Tempo............................................................................................................ 40
3.6 Considerações sobre o presente capítulo................................................
42
Capítulo 4 C
ARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO
....…………………………….…...
44
4.1 Empresa Invista............................................................................................. 46
4.2 Repartição A ................................................................................................ 54
4.3 Repartição B ................................................................................................. 59
Capítulo 5 A
CONSTRUÇÃO DA PROPOSTA METODOLÓGICA DE ALISE CULTURAL DE
AMBIENTES DE TRABALHO
.........................................................……………..……………..
63
5.1 As primeiras tentativas................................................................................. 64
5.2 A proposta metodológica de análise cultural de ambientes de
trabalho...............................................................................................................
66
5.2.1 A observação e suas diferente fases............................................... 66
5.2.1.1 Período de impregnação........................................................ 66
5.2.1.2 Observação paciente e constante.......................................
72
xii
5.2.1.3 Sistematização da observação em indicadores das
dimensões culturais..............................................................................
77
5.2.2 Croquis de campo............................................................................. 87
5.2.3 Entrevistas informais............................................................................ 94
5.2.4 Questionários....................................................................................... 98
5.2.5 Poema dos Desejos............................................................................ 103
5.2.6 Mapeamento territorial...................................................................... 107
5.2.6.1 Mapeamento territorial: três diferentes procedimentos
desenhos, questionários e entrevistas................................................
108
5.2.7 Análise das redes sociais................................................................... 114
5.2.7.1 Aspectos metodológicos das redes sociais..........................
116
5.3 Algumas considerações sobre a proposta metodológica.....................
129
Capítulo 6 D
ESCOBERTAS DE
C
AMPO
..............................………..……………...……… 133
6.1 Hierarquia e Poder........................................................................................ 133
6.1.1 Acesso ao poder.............................................................................. 134
6.1.2 A dinâmica de uso dos gabinetes de chefia...............................
142
6.1.3 O poder fora das salas fechadas.................................................. 148
6.2 Coletivismo.................................................................................................... 155
6.2.1 Expressões coletivas: imagens e sons............................................ 156
6.2.2 Apropriação coletiva de territórios................................................
165
6.3 Controle das Incertezas............................................................................... 169
6.3.1 Exibição ostensiva de normas e avisos..........................................
169
6.3.2 Controle de objetos pessoais..........................................................
173
6.3.3 Garantia de acesso e de visibilidade/invisibilidade....................
178
6.3.4 Costas “protegidas”......................................................................... 186
6.4 Delimitação de Territórios............................................................................ 190
6.4.1 Delimitação pelo som...................................................................... 191
6.4.2 Delimitação por isolamento........................................................... 191
6.4.3 Delimitação por fronteiras físicas................................................... 195
6.4.4 Delimitação por objetos simbólicos...............................................
200
6.4.5 Delimitação por objetos pessoais.................................................. 204
6.4.6 Delimitação por personalização....................................................
209
6.5 Considerações sobre o capítulo................................................................ 219
Conclusão.....................................……………………....……………………….... 220
Referências Bibliográficas......................................................................................
227
xiii
Anexos.....................................................................................................................
236
1 - Questionário aplicado na Invista (modelo)................................................ 237
2 - Questionário aplicado na Repartição A (modelo).................................... 238
3 - Questionário aplicado na Repartição B (modelo)..................................... 241
4 - Tabelas de relações sociais da Invista – Setor 1......................................... 244
5 - Tabelas de relações sociais da Invista – Setor 2......................................... 245
6 - Tabelas de relações sociais da Invista – Setor 3......................................... 246
7 - Tabela de relações sociais da Repartição B – 1ª sala............................... 247
8 - Tabela de relações sociais da Repartição B – 2ª sala............................... 248
9 - Tabela de relações sociais da Repartição B – 3ª sala............................... 249
10 - Tabela de relações sociais da Repartição A – 1º dia de observação..
250
11 - Tabela de relações sociais da Repartição A – 2º dia de observação..
250
12 - Tabela de relações sociais da Repartição A – 4º dia de observação..
251
13 - Tabela de relações sociais da Repartição A – 5º dia de observação..
251
14 - Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 1º, 2º, e
dias de
observação....................................................;........................................
252
15 - Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A e dias
de observação.....................................................................................................
252
16 - Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 8º, 9º, 10º,
11º, 12º e 13º dias de observação.....................................................................
253
17 - Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A – 14º, 15º, 16º
e 17º dias de observação...................................................................................
253
18 - Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A – 18º, 19º, 20º
e 21º dias de observação...................................................................................
254
19 - Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 22º, 23º e
24º dias de observação......................................................................................
254
xiv
Lista de Figuras
Nº FIGURA Pág.
Capítulo 4
4.1 Prédio onde se localiza a Invista.................................................................................
47
4.2 Posição no andar (E) e layout temporário do Setor 1 (D), durante as obras
de reforma. O rculo vermelho marca nossa posição de observação mais
constante no ambiente................................................................................................
48
4.3 Vistas gerais do Setor 1 em sua localização provisória...........................................
48
4.4 Setor 1, em sua posição definitiva. Localização no andar (E) e layout (D). O
círculo vermelho marca nossa posição mais constante no ambiente; a
mesa cinza é do funcionário responsável pelos sistemas, que apoio ao
setor...................................................................................................................................
49
4.5 Vista geral do Setor 1.....................................................................................................
49
4.6 Posição no andar (E) e layout temporário (D) do Setor 2, durante as obras
de reforma. O rculo vermelho marca nossa posição de observação mais
constante no ambiente; as cadeiras brancas representam os locais nos
quais os clientes se sentavam para serem atendidos............................................
50
4.7 Vistas gerais do Setor 2, em sua localização provisória..........................................
50
4.8 Setor 2, em sua posição definitiva. Localização no andar (E) e layout (D). O
círculo vermelho marca nossa posição mais constante no ambiente; as
cadeiras brancas representam os locais nos quais os clientes se sentavam
para serem atendidos...................................................................................................
51
4.9 Vista geral do Setor 2.....................................................................................................
51
4.10 Setor 3; localização no andar (E) e layout (D). O círculo vermelho marca
nossas posições mais constantes no ambiente; as cadeiras brancas
representam os locais nos quais os representantes externos da empresa
eram recebidos...............................................................................................................
52
4.11 Vista geral do setor 3..................................................................................................... 52
4.12 Os três setores da Invista que foram pesquisados; sua localização definitiva
no andar (E) e layouts (D). Os círculos vermelhos marcam os locais, em
cada setor, dos pontos de observação mais constantes, e as cadeiras na
cor branca marcam o local de pessoas externas à empresa.............................
53
4.13 A entrada do clube....................................................................................................... 55
4.14 O prédio no qual se encontra a sala da Repartição A, no interior do clube... 55
4.15 Vista geral da Repartição A.........................................................................................
56
xv
4.16 Fases de layout da Repartição A................................................................................
57
4.17 Prédio no qual está localizada a Repartição B....................................................... 60
4.18 Layout das salas da Repartição B.............................................................................. 61
4.19 Vistas gerais da Repartição B..................................................................................... 61
Capítulo 5
5.1 Mouse etiquetado com o nome de seu usuário......................................................
69
5.2 Na esquerda, um dos locais de observação na Invista. A pequena mesa
nos foi cedida especialmente para este fim............................................................
70
5.3 Fluxos ocorridos em um determinado instante, na Repartição A. Cada cor
corresponde a uma pessoa, as paradas que faz e o sentido de seu
deslocamento.................................................................................................................
.
88
5.4 Fluxos ocorridos em um determinado intervalo de tempo, na Invista. Cada
cor corresponde a uma pessoa, as paradas que faz e o sentido de seu
deslocamento. Nas margens do desenho, anotações correspondentes..........
89
5.5 Exemplo de um croquis da Repartição B: representação de uma
congregação de pessoas, em função do trabalho, no alto, à esquerda, e
em seguida, deslocamento e nova congregação na sala intermediária,
desta vez num momento de socialização (pausa coletiva para café e
biscoitos)...........................................................................................................................
90
5.6 Destaque espacial dado às mesas de gerentes e supervisores (realçadas
pelos círculos vermelhos), em relação às dos demais funcionários....................
93
5.7 Trecho do questionário utilizado na Repartição A (a íntegra deste e dos
outros questionários encontra-se nos anexos da tese)...........................................
99
5.8 Exemplo de mapa territorial da Repartição A, onde o respondente marcou
com asteriscos as duas mesas por ele consideradas como seu território de
trabalho............................................................................................................................
109
5.9 Exemplo de mapa territorial da Repartição A.........................................................
110
5.10 Exemplo de mapa territorial da Repartição A.........................................................
110
5.11 Resultado total do mapeamento territorial aplicado na Repartição B. As
áreas mencionadas por diferentes pessoas receberam cores superpostas,
com manchas levemente deslocadas para evidenciar a multiplicidade
existente. Quanto mais manchas em uma área houver, significa que mais
vezes ela é mencionada como sendo o território de alguém.............................
113
5.12 Exemplo de sociograma retirado de Marques (1988, p.168)................................ 117
5.13 Modelo do cartão entregue aos usrios da Invista, para aplicação do
mapeamento das redes sociais (os nomes, aqui apresentados, são fictícios).........
120
xvi
5.14 Ficha de marcação das respostas, pelo entrevistador, dos funcionários do
Setor 2. As perguntas 1 e 2 correspondem às apresentadas na figura
anterior, e os números nalinha correspondem aos de cada componente
do setor; cada nome citado por cada um dos membros era marcado
manualmente na célula correspondente. Após a marcação manual, as
respostas foram digitalizadas, recebendo cada célula marcada a cor do
setor em questão. Na Invista, foram três fichas semelhantes a esta, uma
para cada setor pesquisado (1, 2 e 3 – todas estão presentes nos anexos da
tese)...................................................................................................................................
121
5.15 Mapa das relações sociais partindo do Setor 2 na Invista. As linhas partem
das cadeiras com as cores correspondentes, mostrando a rede de relações
sociais que aquele funcionário mantém com outros funcionários. As
cadeiras em cor cinza no centro da sala são dos clientes, e a única cadeira
de funcionário que também está na cor cinza pertence a uma pessoa que
declarou não possuir contato social com nenhum colega de trabalho, por
isso não há linhas partindo de sua cadeira.............................................................
123
5.16 Redes sociais internas dos setores 1, 2 e 3 na Invista.............................................. 124
5.17 Tabela derivada de um dia de observação na Repartição A, mostrando a
quantidade de interações ocorridas entre os funcionários, Os números
dispostos na linha e na coluna correspondem a cada um dos
funcionários, e os números ao centro, a quantidade de interações,
marcadas na cor vermelha quando eram iguais ou superiores a três vezes....
126
Capítulo 6
6.1 Acesso da Invista na chegada do hall dos elevadores, com separação de
acessos para a diretoria (administração) e para demais pessoas
(atendimento).................................................................................................................
135
6.2 Indicações no corredor de acesso sobre os locais das salas de espera de
representantes e clientes, respectivamente. Acima, detalhe da placa e
vista geral da espera dos representantes, e ao lado, detalhe da placa e
vista geral da espera dos clientes..............................................................................
136
6.3 Vista geral (acima) e detalhe (ao lado) da recepção e sala de espera da
diretoria, com padrão de móveis e acabamento superior as outras salas de
espera...............................................................................................................................
137
6.4 Repartição A (E) e Repartição B (D). Notar o caminho e as distâncias entre
os acessos, marcados por setas vermelhas, e a localização dos gabinetes,
marcados por circunferências vermelhas.................................................................
138
6.5 Quanto mais longe do acesso, mais privativo e “importante” se torna o
ambiente..........................................................................................................................
138
6.6 Comparação da modificação ocorrida no gabinete da Repartição A, da
Fase 1 (E) para Fase 2 (D). Além da mudança no tamanho, houve uma
mudança no acesso; antes, feito de forma imediata (representada pela
seta vermelha), com o funcionário diretamente responsável por fazer o
controle de acesso permanecendo de costas para a porta, o que
xvii
dificultava o controle (mesa com hachuras). Após a mudança, o
funcionário passou a ficar de frente para o fluxo de acesso, interpondo-se
entre este e a porta, facilitando o controle (as mesas brancas são de outros
setores que não gabinete ou administração/assessoria)......................................
140
6.7 Porta do gabinete (E), detalhe (D) da placa de identificação e do aviso
fixados na sua face externa.........................................................................................
142
6.8 Comparação da modificação ocorrida no gabinete da Repartição A, da
Fase 1 (E) para Fase 2 (D). Apesar de ter sua área diminuída, o gabinete
passou a ser de uso exclusivo do líder e do vice-líder do órgão.........................
144
6.9 Gabinete do dirigente da Repartição B: porta sempre aberta, ausência do
previsto fechamento translúcido................................................................................
146
6.10 Quadro de recados da Repartição B, utilizado, entre outras coisas, como
veículo de repreensões por parte do dirigente do órgão, de forma a o
constranger diretamente um ou outro funcionário específico............................
147
6.11 Comparação, nos três estudos de caso, das posições relativas das mesas
de superiores (realçadas pelos rculos vermelhos) em relação aos
subordinados. Na Repartição A e na Repartição B elas estão de costas
para algum anteparo; na Invista, além de esse fato também acontecer nos
setores A e B, é possível perceber a posição de destaque que a mesa do
superior assume em relação as dos demais.............................................................
151
6.12 Detalhe de um setor da Repartição A, evidenciando a diferença de
posicionamento entre a mesa do supervisor e as dos demais funcionários......
153
6.13 Caixas de som voltadas para o ambiente, em vez de estarem voltadas
para o ocupante da mesa...........................................................................................
156
6.14 Foto de parte do grupo reunido em um evento social..........................................
157
6.15 Colocada em um computador localizado no setor 3, foto de um encontro
social entre pessoas de setores diferentes da Invista.............................................
157
6.16 Mapeamento das redes sociais do setor 3 da Invista. Notar a forte presença
de ligações dos funcionários deste setor com pessoas de outros setores da
empresa............................................................................................................................
158
6.17 Desktop de computador da Repartição A com foto de integrantes do
setor...................................................................................................................................
159
6.18 Fotografia física de grupo reunido em um almoço comemorativo de um
dos componentes do grupo........................................................................................
160
6.19 Mapa das relações sociais partindo do Setor B na Invista. Notar a maior
quantidade de ligações sociais partindo da cadeira de cor rosa, cujo
ocupante era o aniversariante do almoço mostrado na figura anterior...........
161
6.20 Entre outros, desenho caricato do contorno de cinco amigos em um
quadro de avisos da Repartição B, mais um 6º contorno, à direita do grupo.
Todos possuem as iniciais de seus respectivos nomes............................................
163
xviii
6.21 Detalhe da figura anterior............................................................................................
163
6.22 Quadro de recados da Repartição B com auto-desenho de um grupo de
amigos unidos contra um antagonista comum.......................................................
164
6.23 Redes sociais mapeadas no “grupo dos cinco” na Repartição B.......................
165
6.24 Objetos de integrantes do setor ocupando o piso do local................................
166
6.25 Janelas ocupadas por cartazes promocionais do setor........................................
166
6.26 Avisos diversos sobre organização e limpeza dos ambientes...............................
170
6.27 Avisos sobre horários e procedimentos diversos, alguns com os respectivos
vistos dos funcionários...................................................................................................
171
6.28 Avisos solicitando que mesas não sejam “bagunçadas” ou “mexidas” sem a
autorização de quem as utiliza habitualmente (a foto do canto superior
direito foi retocada, pois a frase sobre o papel estava escrita com caneta
marca-texto amarela, imperceptível na fotografia; por esse motivo, foi
ressaltada digitalmente)...............................................................................................
172
6.29 Bandeja de copos ao lado do bebedouro (E) e prateleiras com utensílios de
copa (D) na Repartição A............................................................................................
175
6.30 Copos e garrafas de uso pessoal................................................................................
176
6.31 Copos de uso pessoal expostos...................................................................................
177
6.32 Território das incertezas na configuração atual do setor 2................................... 179
6.33 Território das incertezas na configuração provisória do setor 2, durante a
obra...................................................................................................................................
180
6.34 Penúltimo layout (E) e layout atual (D) do setor 3 da Invista................................ 182
6.35 Layout adotado imediatamente após a obra de reforma...................................
182
6.36 Interpenetração dos espaços pessoais dos funcionários e representantes......
183
6.37 Variadas situações (marcadas em cores diversas) nas quais os
representantes posicionam as cadeiras que utilizam.............................................
184
6.38 “Território das incertezas” em posição única..........................................................
184
6.39 “Território” das incertezas fragmentado....................................................................
185
6.40 Na esquerda, uma das propostas de layout para a Repartição B, onde 4
mesas de uso individual estavam “de costas” para o ambiente (marcadas
pelas setas vermelhas). Na direita, o layout implantado, onde somente o
pessoal que trabalha nas bancadas permanece nesta posição.......................
187
6.41 Bancada em uso por três funcionários; notar a maior distância entre os
computadores n
os
1 e 2, do que entre os computadores n
os
2 e 3......................
192
6.42/
6.43
Acrescentada uma mesa na lateral da bancada, para onde foi deslocado
o computador nº 3.........................................................................................................
194
xix
6.44 Setor P na Fase 2, com 2 mesas (E) e na Fase 3, com 3 mesas (D)......................
195
6.45 A “fronteira” entre os setores M (mesa da esquerda) e P (mesa da direita),
em diferentes ocasiões.................................................................................................
196
6.46 Rotação de 90º da mesa do setor P, com a colocação de uma cadeira de
interlocutor que ficou ao lado da cadeira servindo
de “fronteira” do setor
M........................................................................................................................................
.
197
6.47 Pela casual existência de uma mancha escura no chão, é facilmente
percebido o quanto a mesa foi deslocada para o centro da sala,
afastando-se da janela.................................................................................................
198
6.48 O deslocamento causado pela “fronteira”, evidenciado com uma
circunferência, e a conseqüente mudança de alinhamento das mesas.........
199
6.49 A mudança de alinhamento, evidenciada pela comparação da distância
entre uma das mesas deslocadas e uma terceira, posicionada de forma
perpendicular a elas......................................................................................................
199
6.50 A troca e rotação da posição de uma mesa do setor P, antes
perpendicular, e posteriormente, paralela à circulação......................................
200
6.51 Marcadores-centrais de uso institucional na Repartição A.................................. 202
6.52 Janelas do setor M ocupadas por cartazes auto-promocionais......................... 203
6.53 Uso de chaves como marcador-central pessoal....................................................
203
6.54 Cadeiras com mais de um casaco pendurado, indicando apropriação por
mais de uma pessoa......................................................................................................
204
6.55 Posicionamento de objetos pessoais, principalmente bolsas...............................
206
6.56 Posicionamento de objetos pessoais, principalmente bolsas...............................
207
6.57 Formas de apropriação “implícitas”, não exibidas ostensivamente...................
208
6.58 Objetos utilizados como marcadores pessoais........................................................
210
6.59 Marcas pessoais colocadas em objetos e equipamentos institucionais............
211
6.60 A foto superior (E) mostra um expressivo marcador-sinal, evidenciado pela
apropriação da divisória para colocação de quadro de avisos, planilhas e
fotos pessoais. A foto inferior mostra a mesma mesa, depois que o
funcionário já não a ocupava mais...........................................................................
212
6.61 Símbolos de um clube de futebol exibidos ostensivamente pelo ocupante
da mesa adjacente à parede....................................................................................
213
6.62 Personalização da parede adjacente à bancada................................................
214
6.63 Personalização no gabinete, durante a Fase 2 do layout.....................................
215
6.64 Personalização do gabinete posteriormente à Fase 3 do layout........................
216
xx
6.65 Liberação da superfície da mesa principal do gabinete (E), pela inserção
de uma mesa auxiliar (D), para onde foi transferida parte da carga de
personalização...............................................................................................................
217
INTRODUÇÃO
principal aspecto deste trabalho, representado pelas relações entre
ambiente construído e cultura
1
, está vinculado a uma pesquisa maior, que
busca desenvolver ferramentas para uma Análise Etnotopográfica
2
do Lugar:
sistematização de metodologias para análise do espaço construído”,
coordenada pela Professora Cristiane Rose Duarte, orientadora desta tese,
desenvolvida pelo Grupo de Pesquisa “Arquitetura, Subjetividade e Cultura”,
PROGRAMA DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA – PROARQ/UFRJ.
A tese também se afina com as pesquisas desenvolvidas no Grupo de Pesquisa
“Qualidade do Lugar e Paisagem” (Sub-grupo “Lugar e Trabalho”, do PROGRAMA
DE PÓS GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA PROARQ/UFRJ, coordenado pelo
Professor Paulo Afonso Rheingantz, co-orientador desta tese, que desenvolvem
estudos em ambientes de trabalho do tipo escritórios, mesmo locus de estudo
utilizado por nós.
Nossa escolha pelos ambientes de trabalho remete-se a uma questão anterior,
que é a escolha pelo ambiente construído
3
. Segundo Souza (1995), o homem
passa, atualmente, 95% do seu tempo em ambientes artificiais (construídos pelo
próprio homem), e de acordo Machado
4
, nos países industrializados, cerca de
80% do tempo útil das pessoas é despendido em edifícios fechados
5
. Entendemos
que uma parte significativa desse tempo pode estar sendo dedicada às
atividades de trabalho; ainda que não consigamos determinar exatamente o
quanto, sustentamos que é uma parcela considerável, tanto de tempo quanto de
1
Duarte et. al., 2005.
2
O termo usado tem sua construção com base no prefixo grego ethos ciência que estuda o
comportamento dos homens em seu meio. A Análise Etnotopográfica estaria relacionada, assim, a
uma aplicação de estudos de um grupo sócio-cultural em um determinado lugar; com base e
suporte no espaço em si.
3
Consideramos como ambiente construído todo ambiente diretamente criado e/ou modificado
pelo Homem (SOUZA, 1995), processo que inerentemente, permite que haja influência direta da
cultura sobre o ambiente natural.
4
Apud Ornstein, Bruna e Romero (1995).
5
E mesmo os 20% restantes, possivelmente dedicados ao lazer, também são passados em
ambientes fechados.
O
Introdução
2
significado que o trabalho representa, principalmente para o Homem
contemporâneo das sociedades ocidentais
6
. Por isso, direcionamos nossa
pesquisa para a análise cultural destes ambientes.
O ambiente construído, como obra arquitetônica na qual se constitui, reflete as
características culturais da sociedade que o produziu, traduzidas em formas,
cores, determinações de distâncias entre as pessoas, suas posturas, suas posições,
simbolismos etc., mas mais do que isso, o ambiente construído também pode ser
considerado como um reflexo cultural daqueles que o utilizam. Como nos afirma
Hall (1994), o espaço é como uma linguagem silenciosa, que transmite
informações a respeito de seus ocupantes. O ambiente construído reflete assim,
necessariamente, aspectos culturais não só de quem o produziu, mas também de
quem o utiliza, especialmente se for um ambiente de trabalho, em que o tempo
passado no seu interior pode ser bastante significativo em termos de número de
horas.
Ao analisar um ambiente sob a ótica de aspectos culturais, vemos que cada
cultura se relaciona com os espaços de uma forma própria, e lhes atribui valores
que são exclusivos dela, haja visto como a noção de belo varia em diversas
partes do mundo. Da mesma forma, as sensações de conforto térmico, lumínico e
acústico (DUARTE e SANTOS, 1998), bem como a idéia e a necessidade de
privacidade também mudam bastante de cultura para cultura. Segundo Schein
(1992), por exemplo, a maioria das culturas tem regras bastante claras sobre
como definir espaço pessoal e íntimo, pelo uso de uma variedade de indicações
como divisões, paredes, barreiras sonoras, contato visual, posição do corpo e
outros mecanismos pessoais para sinalizar respeito pela privacidade dos outros.
Jodelet (2002, p.32/34) também ressalta a influência da cultura sobre o espaço:
(...) a significação do espaço é marcada pela cultura e pela
história, e as significações subjetivas que lhe emprestam seus
ocupantes têm a ver com a biografia e a história de seu grupo. (...)
a relação do sujeito individual ou coletivo com seu espaço de vida
passa por construções de sentido e de significado que se baseiam
6
Podemos ter uma idéia da importância e da força que o “trabalho” detém pela simples
constatação de ser freqüente e contínua a preocupação com os altos índices de desemprego
pessoas que não m um trabalho, o que, em nossa sociedade contemporânea ocidental,
representa, muitas vezes, não ter meios para a própria subsistência.
Introdução
3
(...) também no valor simbólico conferido ao ambiente construído
pela cultura (grifo nosso).
Segundo os autores citados, podemos verificar que a forma de utilizar, perceber e
valorar o espaço é peculiar a cada cultura. A partir deste fato, emerge uma
constatação, de que as metodologias de análise do espaço construído não dão
conta dos aspectos culturais, e podem resultar em dados incompletos e até
incorretos; e, a partir dela, a hipótese a ser averiguada nesta tese, a de que é
possível construir métodos de análise de ambientes de trabalho que levem em
conta os dados culturais do usuário, tornando o resultado da pesquisa mais
confiável e possibilitando a tomada de decisões futuras voltadas para a melhoria
do bem-estar dos trabalhadores e, por conseqüência, de seu desempenho
produtivo.
Assim, pela hipótese formulada, temos o problema central a ser respondido por
esta pesquisa: como avaliar os aspectos culturais nas análises de ambientes de
escritórios?
O objetivo geral que tencionamos alcançar com o desenvolvimento desta
pesquisa pretende equacionar esta questão, por meio da tentativa de
desenvolver e aplicar uma proposta metodológica de análise cultural do espaço
que permita compreender os valores e os significados dos ambientes de trabalho
para seus usuários. Por reconhecer a amplitude dos estudos culturais e a
variedade de ambientes de trabalho existentes, objetivamos, especificamente,
que esta proposta metodológica seja desenvolvida com vistas à sua
aplicabilidade em ambientes do tipo escritórios, como mencionado.
Sustentamos que estudar os aspectos culturais inscritos pelo homem no ambiente
de trabalho é, em última análise, estudar como o homem se relaciona com o
trabalho e se dedica a ele.
Como objetivos específicos e respectivas justificativas para o presente estudo,
apontamos:
Introdução
4
entender como as características culturais (dos usuários) exercem influência no
uso e no aspecto do ambiente de trabalho. Essas características podem ser
consideradas como “dimensões culturais”, e auxiliarão na investigação das
relações entre homem cultura ambiente construído, tríade de elementos
que permeiam a presente tese. As dimensões culturais serão o fio condutor que
permearão as análises, e seu estudo poderá colaborar para a compreensão
dos mecanismos de adaptação das pessoas ao seu ambiente de trabalho.
produzir parâmetros que contribuam com o desenvolvimento dos projetos de
arquitetura de escritórios. Entendemos que, a partir da compreensão de como
as dimensões culturais influenciam no uso e no aspecto dos ambientes de
trabalho, pode vir a se tornar menos complexa a tarefa que os arquitetos
possuem, de desvendar os anseios e aspirações de seus clientes, de forma a
projetar ambientes mais adequados para uso, projetos que sejam mais perenes,
que não precisem de incansáveis modificações de layout e projetos de re-
adaptação tão logo o usuário se instale em sua própria mesa, como muitas
vezes vemos acontecer. Assim, acreditamos que a pesquisa poderá trazer um
olhar mais sensível para os autores dos projetos de escritórios.
contribuir para o aperfeiçoamento do ensino da arquitetura. Os nossos
questionamentos sobre as relações entre homem cultura ambiente surgiram
através de reflexões desenvolvidas durante nosso contato com pesquisa e pós-
graduação. No entanto, a experiência como docente de um curso de
graduação em arquitetura e urbanismo nos mostra que, para os alunos que
começam a trilhar sua formação acadêmica, ainda é muito tímida a inserção
desses conceitos nas grades curriculares. Na medida em que for fomentada a
inserção de elementos culturais nas práticas de pesquisa e principalmente,
profissionais, acreditamos que será com maior fluidez que elas serão trazidas
para o interior das salas de aula da graduação. O impacto e o resultado de
análises culturais de ambientes de trabalho podem fornecer informações
preciosas aos futuros arquitetos, que ainda estão em processo de
aprendizagem. Além da informação em si, a simples apreciação e
interpretação dela contribuirá, aos poucos, para a formação de uma
consciência de aspectos culturais no futuro profissional.
Introdução
5
contribuir para a sistematização do método de análise etnotopográfica
7
, a fim
de aprofundar o conhecimento sobre as relações entre pessoa-cultura-
ambiente.
Para atingir nossos objetivos, a pesquisa contou inicialmente com os estudos
teóricos em área interdisciplinar, tanto sobre fundamentos da arquitetura, como
também psicologia ambiental e antropologia. Para isso, contamos com uma
revisão bibliográfica sobre os três assuntos, bem como um necessário
aprofundamento no último deles, com estudos desenvolvidos no Programa de Pós
Graduação em Antropologia e Sociologia (Museu Nacional - UFRJ) e no Programa
de Pós Graduação em Sociologia e Antropologia (IFCS - UFRJ).
Durante esta fase de estudos teóricos, começaram a ser delineadas as dimensões
culturais que viriam a nortear nossas futuras pesquisas em campo. Com isso, a
proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho também
começou a ser desenvolvida, sendo utilizada no início da pesquisa de campo,
concomitantemente em dois estudos de caso. Após algum tempo, a proposta
pôde ser reavaliada e foi sofrendo algumas modificações, fruto dos resultados
que estavam sendo obtidos. Como nossas pesquisas de campo foram
desenvolvidas simultaneamente em duas empresas diferentes, uma do setor
privado e outra do setor público, pudemos verificar até que ponto determinada
estratégia funcionava produzindo respostas ou não, em uma sistemática que era
retro-alimentada à medida que a coleta de informações em campo progredia.
Quando entramos em nosso terceiro estudo de caso, uma empresa também do
setor público, a proposta pôde ser testada após as transformações, chegando à
conformação que é apresentada nesta tese, embora consideremos, como
poderá ser visto na conclusão deste trabalho, que o assunto sobre a análise
cultural não se encerra (e nem poderia) em nossa pesquisa, representando um
campo extremamente fértil para pesquisas posteriores. Assim, a presente tese está
divida em seis capítulos:
7
mencionada pesquisa fomentada pelo CNPq, em desenvolvimento pelo Grupo de Pesquisas
Arquitetura, Subjetividade e Cultura, no qual esta pesquisa está inserida, e que tem a finalidade de
sistematizar métodos de análise do espaço com foco nos aspectos culturais de seus usuários.
Introdução
6
1- Locus da pesquisa – Ambientes de trabalho: escritórios
A análise cultural de ambientes tem dois aspectos que se não forem limitados,
produzirão infinitas possibilidades de pesquisa: aspectos culturais e aspectos
espaciais. Neste primeiro capítulo, delimitamos o “espaço” no qual nossa análise
estará inserida; se em ambientes de trabalho, mais especificamente em
escritórios.
2 – Referências culturais
Da mesma forma que foi feito no primeiro capítulo, este servirá para delimitar as
nuances e os aspectos culturais que serão levados em consideração na pesquisa.
No entanto, como se trata de um tema bastante amplo e permeado de
diferentes definições, foi necessário proceder a uma fundamentação teórica
sobre sua base conceitual no seu próprio campo de conhecimento, a
Antropologia. Além disso, também foram introduzidos conceitos da cultura
organizacional, adequados pelo fato de a pesquisa tratar de ambientes de
trabalho.
3 – Dimensões culturais
Neste capítulo, são estabelecidas as dimensões culturais que servirão como
elementos da análise cultural dos ambientes de trabalho. Por meio do estudo de
autores diversos, como Hofstede (1997, 2001), Hall (1989, 1994), Trompenaars
(1994) e Sommer (1973), entre outros, foram definidas as dimensões que pudessem
ser adequadas à análise de ambientes de trabalho (escritórios): hierarquia e
poder, coletivismo, controle da incerteza e delimitação de territórios. São
apresentadas suas bases teóricas e estudos sobre os diversos autores.
Introdução
7
4 – Descrição dos estudos de caso
No capítulo 4, apresentaremos os três estudos de caso feitos na pesquisa
(Empresa Invista, Repartição A e Repartição B); sua descrição e caracterização;
apresentação de desenhos arquitetônicos, fotos e demais informações relevantes
para sua compreensão.
5 Construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de
trabalho
Neste capítulo, fazemos a descrição, em etapas seqüenciais, de como foi a
construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de
trabalho; como foi o embasamento teórico que originou a escolha dos métodos
complementares iniciais; como ocorreu seu uso na prática, suas tentativas e erros,
os procedimentos que foram abandonados e os métodos que foram
incorporados (também com seu respectivo embasamento teórico), e como a
proposta metodológica estava sendo capaz de servir de instrumento de leitura do
ambiente, segundo as dimensões previamente estabelecidas. Além disso, neste
capítulo, são realçadas as etapas da proposta que funcionaram de forma
positiva, sendo estas adotadas como a sua configuração definitiva.
6 – As descobertas de campo
Aqui são apresentados os resultados obtidos com a aplicação da proposta
metodológica em nossos estudos de caso, organizados pelas dimensões culturais.
Poderão ser vistos exemplos práticos do rebatimento das dimensões nos
ambientes de trabalho.
Finalmente, serão apresentadas as Conclusões do trabalho, em que voltamos à
hipótese e aos objetivos iniciais e verificamos como eles foram respondidos,
mostrando a possibilidade de criação de uma proposta metodológica para “ler”
culturalmente os ambientes de trabalho. Além disso, também pretendemos
Introdução
8
fomentar uma maior compreensão do vasto campo das relações entre homem
cultura – ambiente.
Esperamos, com esta pesquisa, que a arquitetura dos ambientes de trabalho
possa ser vista como um “cenário atuante” do desenvolvimento de forças
produtivas, moldado pelos usuários que a utilizam enquanto estão produzindo o
seu próprio trabalho. Nesse ponto, cabe ao arquiteto compreender como o
homem percebe, utiliza, avalia e significado ao seu ambiente, podendo, pela
interação produzida (entre homem e ambiente), ser o primeiro considerado como
parte atuante do segundo.
Capítulo1
LOCUS DA PESQUISA
ESCRITÓRIOS: AMBIENTES DE TRABALHO
m um âmbito geral, nosso trabalho promove uma busca nas relações entre
Homem Cultura Ambiente. Pretendemos, através da análise da Cultura
refletida no Ambiente, contribuir para o bem-estar do Homem. Como forma de
delimitar nosso escopo de trabalho, neste capítulo procederemos ao recorte
espacial (ambiente) da pesquisa e, no capítulo subseqüente, às definições
subjacentes ao conceito de Cultura; suas implicações e aspectos a serem
abordados, desenvolvidos em uma fundamentação teórica.
Em relação ao Ambiente que serviu de locus para o nosso estudo, utilizamos
aquele onde são desenvolvidas atividades de trabalho humano, porque
entendemos que a qualidade de vida do Homem, parâmetro muito fomentado
atualmente, passa por uma série de elementos a serem considerados, sendo um
deles, sem vida, a qualidade do ambiente em que se trabalha. Acreditamos
que um dos caminhos para se chegar até esse ponto é compreender como
acontecem as dinâmicas de uso nesses locais.
Dentro do leque da diversidade existente a respeito dos ambientes de trabalho,
concentrar-nos-emos especificamente nos escritórios, por serem locais que
apresentam possibilidades de usos diversos, porém homogêneos (permitindo
flexibilidade na pesquisa sem fugir às bases necessárias de comparação): salas de
trabalho propriamente ditas, salas de reunião, salas de espera, copas, circulações
etc. Outro motivo que nos levou à escolha de escritórios foi a compatibilidade
existente entre a maneira de executarmos nossa pesquisa de campo (presentes ali,
E
Capítulo 1 – Locus da Pesquisa
10
fazendo anotações) e o tipo de trabalho executado nestes locais, facilitando a
condução do estudo.
Para uma melhor compreensão da escolha de ambientes de trabalho, passaremos
a discorrer sobre alguns pontos que consideramos pertinentes a esses locais.
Em uma análise histórica, os ambientes de trabalho, tal como os conhecemos hoje,
pluralizaram-se mais intensamente após a revolução industrial, com o surgimento
das fábricas e a intensificação do comércio. Não cabe aqui discorrer sobre a
história e evolução dos ambientes de trabalho encontrados na civilização
ocidental nos últimos séculos, uma vez que tal assunto foi bem abordado por
Rheingantz (2000), Andrade (2000), Abrantes (2004), Simões (2005), Faria (2005),
Rodrigues (2005) e Alvarenga (2005), trabalhos de quem nos remetemos.
O Homem passa parte de seu dia desenvolvendo atividades que tenham a ver
com o seu trabalho, mormente no ambiente de trabalho
8
. Não entendemos que
seja pertinente, no âmbito desta pesquisa, discutir a complexidade e a relevância
que o trabalho representa para a sociedade, bastando-nos reconhecer que sua
importância é incontestável, fato que, por si só, já reveste de relevância os estudos
concernentes ao espaço dedicado a estas atividades. Em nosso caso,
particularmente, interessa-nos estudar as ações que caracterizam os usos, bem
como a forma de atribuir ao espaço valores e significados que interferem na
relação entre o ambiente e o Homem que desenvolve o seu trabalho.
Concordamos com Gifford (1997), quando argumenta que o suporte espacial
apresenta importantes influências no comportamento do Homem no trabalho.
Além disso, segundo o mesmo autor, “o projeto de um bom lugar de trabalho
começa com o conhecimento das relações entre pessoa e ambiente no local de
trabalho”
9
. Aqui, ao falarmos de pessoa, podemos entendê-la também como uma
coletividade. Remetendo-nos a Dummont (1985, p.127), para quem “as culturas
8
Atualmente, com a facilidade das comunicações em alta velocidade e com o desperdício que é
provocado pelo tempo gasto em deslocamentos, vem crescendo muito a tendência dos home-
offices, principalmente nos trabalhos mais intelectuais, em que a presença física do trabalhador não
é requerida diariamente no seu local original de trabalho. Mesmo nesse caso, num home-office,
entendemos que se trata de um ambiente de trabalho, independentemente da edificação onde
esteja inserido. Ainda, para mais informações sobre o trabalho (e seus ambientes) na era Pós-
Industrial, verificar Rheingantz (2000).
9
Gifford, 1997, p. 279. (Tradução livre da autora).
Capítulo 1 – Locus da Pesquisa
11
são indivíduos coletivos”, vemos que o processo de moldagem do lugar (DUARTE,
1993) no ambiente de trabalho também é marcado pelo grupo que o utiliza; as
lógicas internas de uso e dinâmica vigente naquele ambiente são como “normas”
não escritas, mas que o grupo, como um todo, tem conhecimento e ajuda a
formar. Essas “normas” são passadas aos recém-chegados quase sempre de forma
implícita, e estes, aos poucos, começam a fazer parte da mesma lógica interna de
uso do local: qual mesa é preferencialmente de quem; qual computador nunca
deve ser usado, mesmo que o seu não esteja funcionando; quem nunca deve ser
interrompido quando estiver no seu “canto” etc. É, aos poucos, na aplicação
desse código implícito vigente que ocorre o processo de moldagem do lugar, e é
por meio da apreensão desse código que pretendemos ler (HALL, 1994)
culturalmente os ambientes de trabalho, como reflexo do grupo que o utiliza.
Em que pese a extrema relevância de todos os estudos desenvolvidos mostrando a
importância da qualidade dos ambientes de trabalho para o seu bom
desenvolvimento, sustentamos que esta é uma área em que as pesquisas e os
estudos não se esgotam; primeiramente, porque já é um campo suficientemente
vasto por si mesmo (abrindo o leque para os inúmeros tipos de tarefas, produções,
qualificações de trabalhadores etc. que produzem juntos uma permutação
numérica de infindáveis variáveis); e, em segundo lugar, porque as características
do trabalhador, do trabalho e dos ambientes de trabalho vêm mudando bastante
ao longo das últimas décadas.
A influência que a arquitetura exerce na produção do trabalho não é um tema
inexplorado; contudo, acreditamos que ainda muito mais para ser pesquisado.
Juntamente com todos elementos de conforto ambiental e ergonomia, além de
outros, entendemos que os aspectos culturais do ambiente de trabalho igualmente
afetam o desenvolvimento deste. Entendemos que o espaço construído é um
fechamento cultural, como dizem algumas correntes da antropologia, e, portanto,
a forma pela qual ele se apresenta para o Homem terá íntima relação com o que
se desenvolve no interior de seus ambientes.
As variáveis cognitivas e comportamentais e os valores de uso dos espaços de
trabalho são fortemente regidos por fatores culturais do grupamento social
envolvido. Tal afirmativa sustenta-se em estudos que comprovam que certos
Capítulo 1 – Locus da Pesquisa
12
parâmetros como a tolerância aos ruídos, ao calor e à luz podem variar bastante
de uma cultura para outra (DUARTE, 1993; RAPOPORT, 1969, 1990, 1997; HALL, 1994),
assim como as noções de agradabilidade, privacidade e pertencimento ao lugar
(DUARTE, 1993; DUARTE, BRASILEIRO, SANTANA, PAULA, VIEIRA, UGLIONE, 2005;
DUARTE, SANTANA, BRASILEIRO, VIEIRA, PAULA, UGLIONE, 2006; TOZETTO, 2006;
COELHO, 2004; SANTANA, 2004). Da mesma forma, a própria visão de mundo e a
noção do que é belo (ORTEGA, 2003) podem afetar consideravelmente a breve
avaliação mental que cada ser humano rapidamente faz do seu ambiente de
trabalho ao tomar contato com ele e, em seguida, virão todas as noções
anteriormente citadas. Portanto, sustentamos que o ambiente de trabalho poderá
ser adequado ou não, para o seu desenvolvimento, em função do grupo cultural
que o utilizará.
Na qualidade dos ambientes de trabalho estão envolvidos outros elementos, além
dos culturais. Inúmeros são os estudos que buscam avaliar se os níveis de luz, calor
e ruído o apropriados ou não; se baixa ou elevada densidade ocupacional;
se os fluxos de pessoas e materiais estão funcionando bem ou dificultando a
circulação geral no ambiente, entre outras avaliações. Todas elas são necessárias
e não podem, em hipótese alguma, ser excluídas. Sustentamos, no entanto, que
devam ser complementadas com uma análise cultural do espaço, onde alguns
fatores que envolvem culturalmente os usuários poderão estar refletidos no
ambiente; se soubermos interpretá-los, será possível chegar a uma avaliação mais
real desse ambiente, representativa para aquele grupo de usuários, podendo
todavia servir de embasamento para futuras pesquisas e projetos.
A respeito de análises de aspectos culturais em ambientes de trabalho, um dos
primeiros estudos feitos sobre esse assunto foi desenvolvido por Hofstede (1997), em
várias filiais da IBM, em diferentes países. O autor verificou a existência de algumas
diferenças culturais significativas que atuavam no relacionamento entre as
pessoas, como por exemplo, a necessidade que algumas têm de controlar as
incertezas, não conseguindo lidar com situações imprevistas. Ao utilizar essa análise
em nossa pesquisa, rebatendo-a para o espaço físico, essa característica cultural
pode estar refletida sob a forma de um ambiente extremamente organizado, com
locais e objetos próprios para cada situação anteriormente prevista, não sendo
Capítulo 1 – Locus da Pesquisa
13
possível um eventual multiuso, podendo também o ambiente exibir normas e
procedimentos de maneira ostensiva.
Existem outras dimensões evidenciando mais diferenças culturais. Como exemplo,
podemos citar a tendência ao coletivismo. Questionamos se em um ambiente de
escritório com arranjos de layout do tipo células isoladas, os usuários tiverem uma
forte noção de grupo e de coletivismo, além de haver sinais do grupo marcados
no ambiente (fotos de confraternização; símbolos gráficos compartilhados),
provavelmente haverá muita circulação, para poder atender à interação que
naturalmente acontecerá entre eles. Nesta pesquisa, buscamos indicar, por
exemplo, se tal potencial de interação poderia ser mais bem aproveitado caso o
layout permitisse alguns lugares para trabalhos em grupo, dando aos usuários mais
conforto e condições para o desenvolvimento de suas funções, sem prejuízo das
tarefas desenvolvidas. Tanto o coletivismo quanto o individualismo representam
características culturais fortemente marcadas em algumas sociedades, o que
pode ser considerado um exemplo da interação entre Homem Cultura
Ambiente (de trabalho); por serem categorias relacionadas com as bases culturais
dos grupos de trabalhadores, pretendemos gerar formas de olhar e compreender
seu rebatimento no espaço construído.
Um outro estudo a respeito de aspectos culturais em ambientes de trabalho,
especificamente, nos escritórios de advocacia, desenvolvido por DUARTE;
BRASILEIRO; CUNHA; SIMÕES (2006), analisa como o imaginário coletivo percebe e
avalia o aspecto geral de um escritório desse gênero. O estudo indicou que as
características mais esperadas por um cliente ao adentrar em um escritório de
advogado (revestimentos em madeira escura, cores sóbrias, mobiliário tradicional,
exposição de livros na estante) refletem, em última instância, o que o cliente
espera encontrar naquele profissional em pessoa (seriedade, sobriedade, tradição,
conhecimento), confirmando, desse modo, o quanto características culturais
podem influenciar e, na verdade, falam pelo ambiente de trabalho e pelo
trabalhador.
A busca da comprovação de nossa hipótese, apresentada na introdução desta
tese, aponta para a elaboração de uma proposta metodológica permitindo
compreender os aspectos culturais que emergem no ambiente de trabalho, como
Capítulo 1 – Locus da Pesquisa
14
forma de contribuir com a sua avaliação e, também, para o desenvolvimento de
futuros projetos arquitetônicos. Acreditamos que a compreensão dos aspectos
culturais do ambiente construído, de uma forma geral, pode ser bastante útil para
a busca do bem-estar do Homem no ambiente.
Após a definição do tipo de Ambiente onde acontecerá nosso estudo de campo,
no próximo capítulo desenvolveremos a fundamentação teórica necessária para o
entendimento e a delimitação dos aspectos subjacentes à Cultura que serão
necessários em nossa pesquisa.
Capítulo 2
REFERÊNCIAS CULTURAIS
2.1
C
ULTURA
:
UMA BREVE REVISÃO PARA REFERÊNCIA
osso trabalho permeia as relações entre Homem Cultura Ambiente.
Entender como o ambiente pode “falar” sobre o homem e a sua cultura é
um dos nossos objetivos. Após estabelecermos que pesquisaremos a esse respeito
especificamente nos ambientes de trabalho, entendemos ser necessário, para a
compreensão das discussões apresentadas nesta tese, delinear uma abordagem
teórica envolvendo alguns aspectos culturais, definindo as delimitações
necessárias para sua aplicação em nossa pesquisa. Este capítulo trata, portanto,
de como serão considerados os aspectos culturais pertinentes ao nosso trabalho.
O estudo da cultura enquadra-se em uma área ligada fundamentalmente à
humanidade e ao Homem, cabendo à Antropologia sua descrição e análise. No
entanto, dependendo da corrente e do enfoque, até mesmo na Antropologia é
possível encontrar diferentes delineamentos para o conceito de cultura. Somente
Kroeber & Kluchohn
10
chegaram a catalogar mais de 160 definições para o
conceito de “cultura”, isso em 1952, quando as grandes mudanças ocorridas nos
anos 60 na antropologia ainda estavam por vir.
O termo cultura vem do latim colere, que significa cultivar. Originalmente, estaria
relacionado às atividades agrícolas, mas podemos entender que o sentido de
cultivo também está relacionado às relações humanas e sociais, ao conjunto de
normas e regras de uma sociedade, cultivadas pelo homem. Não nos cabe aqui
definir o conceito de cultura
11
, mas entendemos ser necessário delinear alguns
10
Apud Velho & Castro 1979, p.13.
11
É interessante mencionar as palavras de Apte (apud Spencer-Oatey, 2000) a esse respeito:
“Apesar de um século de esforços para definir Cultura adequadamente, no início dos anos 90 ainda
não havia concordância entre os antropólogos sobre a sua natureza”.
N
Capítulo 2 – Referências Culturais
16
aspectos culturais com os quais nos identificamos, para que seja esclarecida a
linha de nosso raciocínio ao longo do trabalho.
Entre as várias definições existentes para “cultura”, entendemos que as que mais
se aproximam da linha de pensamento de nosso trabalho são aquelas que tratam
o conceito como um conjunto de regras
(DAMATTA, 1986)
ou um sistema de
símbolos e significados (GEERTZ, 1989). Segundo Damatta, cultura é
a maneira de viver total de um grupo, sociedade, país ou pessoa
(...), um mapa, um receituário, um código através do qual as
pessoas de um dado grupo pensam, classificam, estudam e
modificam o mundo e a si mesmos. É justamente porque
compartilham parcelas importantes deste código (a cultura) que
um conjunto de indivíduos com interesses e capacidades distintas
e até mesmo opostas transformam-se num grupo e podem viver
juntos sentindo-se parte da mesma totalidade. (DAMATTA, 1986,
p.123).
Já para Geertz, cultura é um
padrão de significados transmitido historicamente, incorporado em
símbolos, um sistema de concepções herdadas expressas em
formas simbólicas por meio das quais os homens se comunicam,
perpetuam e desenvolvem seu conhecimento em relação à vida.
(GEERTZ, 1989, p.103).
Conjugando os pensamentos dos dois autores, podemos dizer que o parâmetro
de cultura com o qual nos identificamos e adotamos para o presente trabalho é
um sistema de códigos aprendidos socialmente, transmitido de pessoa a pessoa,
formado por significados compartilhados e reciclados através dos tempos.
Mesmo sendo um assunto de extrema complexidade e variadas nuances, a
cultura não deixou de ser estudada e pesquisada através dos anos. Sua influência
está presente em todos os eventos que contem com a presença de pessoas. O
estudo e a descrição de elementos culturais se faz mais importante na medida
em que a globalização e a facilidade cada vez maior da comunicação global
aproximam grupos detentores de culturas tão diversas, evidenciando a
necessidade de uma maior compreensão das lógicas e tradições de cada povo.
Capítulo 2 – Referências Culturais
17
Ainda acreditamos ser adequado mencionar uma definição do conceito que
pode não ser considerada a mais precisa de todas, mas que, em nosso entender,
resume de forma apropriada e concisa a razão principal da existência desse
trabalho, a busca da conexão entre o Homem e o ambiente construído: Para
Herskovits, “cultura é parte do ambiente feita pelo homem” (HERSKOVITS, 1974, p.
29, grifo nosso). Como nossa pesquisa desenvolve-se em ambientes de trabalho, a
partir desta noção podemos argumentar que o ambiente em que o homem
trabalha é moldado por ele próprio, de acordo com a sua cultura e, portanto,
estudar os aspectos culturais que o homem inscreve no ambiente de trabalho é,
em última análise, estudar como o homem se relaciona e se dedica ao seu
próprio trabalho.
O estudo de aspectos culturais é realizado hoje em diversas áreas de aplicação,
como as artes em geral, o design, a arquitetura, os produtos que estejam
presentes no mercado nacional e internacional, a gastronomia, a comunicação
e a moda, entre vários outros. Em cada um desses setores, estudos sobre os
aspectos culturais que têm como objetivo entender e, quando for o caso,
adequar produtos e procedimentos de acordo com as diferenças culturais dos
grupamentos sociais concernidos. No setor de Administração e Negócios,
particularmente, há vários estudos e pesquisas desenvolvidas sobre o assunto, que
além de produzirem preciosas informações sobre fatores pertinentes à cultura de
diferentes populações, deram abertura a um campo específico de estudo: a
cultura organizacional. Este campo também passa por estudos que verificam
como culturas de grupos sociais pertencentes a nações diferentes afetam a
estrutura e o funcionamento das organizações, e são principalmente
representados pelas pesquisas de Geert Hofstede (1997 [1991], 2001 [1980])
12
.
Com o desenvolvimento e expansão desta nova área de estudo, não tardaram a
surgir novos enfoques e aplicações para ela, ampliando a sua abordagem. Nas
palavras de Mayntz,
(...) estudos empíricos de cultura organizacional tratam
principalmente de firmas industriais ou corporações de negócio,
12
Além deste autor, também podem referenciados ao tema Schein (1992) e Trompenaars (1994).
Capítulo 2 – Referências Culturais
18
mas as mesmas perguntas podem ser feitas obviamente a
qualquer outro grupo social organizado
13
.
Como exemplo, podemos citar o trabalho de Evers (2001), que utiliza as teorias
culturais oriundas da área de administração no design, e Vöhringer-Kuhnt (2002),
que faz o mesmo na área de psicologia. Além disso, também um
entendimento de que uma “organização pode ser simplesmente um “grupo”,
que tenha objetivos específicos em comum, e assim a sua chamada “cultura
organizacional” seria tão somente o conjunto das lógicas culturais características
daquele grupo, um produto de seu aprendizado, conjugado às suas crenças e
valores compartilhados; um componente de um sistema social maior que se
manifesta naquele grupo específico (COHEN apud MACEDO, 2003). Da mesma
forma, Morgan (1996) também afirma que é a cultura das pessoas que delineia o
caráter da organização, não importa de qual nacionalidade ela seja.
O uso das noções e teorias provenientes da cultura organizacional permitiu a
existência de uma maior definição de parâmetros culturais que pudessem ser
utilizados em pesquisas; em nosso caso, especificamente, a cultura organizacional
também se mostra adequada, até certo ponto, porque surgiu vinculada aos
ambientes de trabalho, locus de nosso estudo. Suas teorias, apesar de hoje em
dia estarem expandidas, tiveram origem nesse tipo de ambiente.
Utilizando os estudos feitos em escritórios de vários países, a cultura organizacional
conseguiu sintetizar características culturais passíveis de comparação entre
culturas diversas, como por exemplo, os sentidos de “individualismo”,
“coletivismo”, “controle de incertezas” e “hierarquia”. Essas características
começaram a ser delineadas, na cultura organizacional, por Inkeles e Levinson
(1969) e, posteriormente, de forma bem mais difundida, por Hofstede (1997, 2001),
como mencionado. No entanto, a gênese antropológica de algumas delas é
ainda anterior, e distante desta área. Dumont (1985, 1992), na década de 1950,
por meio de um estudo sobre as castas na Índia, foi quem estabeleceu as teorias
sobre individualismo, coletivismo e hierarquia, fundamentando sociologicamente
essas noções, que mais tarde acabaram por ser “incorporadas” pela cultura
13
Mayntz, 1992, p.221. Tradução livre da autora.
Capítulo 2 – Referências Culturais
19
organizacional (mesmo em áreas além da cultura organizacional, o trabalho de
Dummont também é utilizado como suporte, sendo exemplo o visto em Velho
(2004), que faz questão de esclarecer, contudo, não se tratar de negar que
reflexões a cerca do tema do individualismo tenham sido feitas desde a
Antiguidade Clássica).
Consideramos importante a menção ao trabalho de Dumont porque, apesar de
estarmos desenvolvendo uma pesquisa no âmbito da arquitetura, o
envolvimento de abordagens multidisciplinares, mormente a Antropologia, fonte
dos aspectos culturais que fazem parte de nossa de pesquisa. A cultura
organizacional, um viés derivativo do estudo da cultura, não tem por si a
profundidade e a densidade que a Antropologia traz em seu bojo, mas por outro
lado, faz com que alguns conceitos se tornem mais “palatáveis” aos
pesquisadores sem formação nesta ciência, e por esse motivo a utilizamos.
Entretanto, para não fugir à gênese da teoria, entendemos ser importante trazer,
ainda que de maneira tênue, algumas nuances dos estudos antropológicos que
deram origem aos conceitos tão amplamente incorporados pela cultura
organizacional.
Podemos introduzir esse pequeno “passeio” por Louis Dumont lembrando que,
para ele, as as culturas são indivíduos coletivos” (1985, p.127); pelas teorias por
ele desenvolvidas, podemos perceber que há um verdadeiro entrelaçamento
entre as noções de individualismo/coletivismo e hierarquia. Segundo Leirner
(2003), o par “individualismo e hierarquia” de Dumont é na realidade um
desdobramento do par “indivíduo e sociedade”, categoria central das ciências
sociais.
Para Dumont (1985, 1992), uma relação hierárquica é a existente entre um
“conjunto” e os elementos que fazem parte desse “conjunto”, presumidamente
todos iguais, com uma relação de interdependência entre si. O autor considera
como Homo Major o Homem coletivo, uma sociedade em que encontramos as
relações hierárquicas na forma de englobamento das partes, ou seja, dando-se a
hierarquia através do englobamento das partes pelo todo. Ainda a respeito de
coletividade e hierarquia, o autor determina uma outra situação, a qual ele
nomeia englobamento do contrário, que podemos entender como sendo uma
Capítulo 2 – Referências Culturais
20
relação hierárquica de duplo sentido, mantendo cada parte hierarquia sobre a
outra, em diferentes níveis.
Da mesma forma, é chamado por ele de Homo Minor o Homem individual, que
na Índia, é representado pelo indivíduo “fora-do-mundo , o renunciante, ao
mesmo tempo exterior e superior à sociedade propriamente dita” (DUMONT, 1992,
p. 296). É alguém que permanece fora do mundo social, renunciando a sua
posição no sistema de castas. Sua presença na sociedade indiana impulsionou-a
aos modos de pensamentos individualistas” (DUMONT, 1992, p.297), mais
característicos do Ocidente, principalmente após a Revolução Industrial. Como
linha-mestra de seu pensamento, Dumont comenta que na Índia, as partes são
subordinadas à noção de totalidade, e no ocidente, a noção de totalidade é
que é subordinada às partes. O autor sustenta que, no Ocidente, a noção de
individualismo tomou forma após a Revolução Francesa, cujos ecos se
expandiram por todo Ocidente, nas noções de liberdade e igualdade, base de
várias constituições; assim como também após a Revolução Industrial, que da
mesma forma, expandiu e disseminou a possibilidade da força de trabalho
individual, oferecida livremente, em contraste com a força de trabalho familiar
tradicional.
Sobre a oposição da configuração de valores entre holismo
14
e individualismo,
Dumont preconiza que na primeira prevalece um arranjo “tradicional , em que
cada ser particular contribui em seu lugar para a ordem global, e [a segunda é]
moderna, em que o ser particular é a medida de todas as coisas”.
15
No holismo, o
“todo” é superior às partes, sendo ele o pólo de convergência e fidelidade,
enquanto que no individualismo, não um “todo” social assim configurado, a
sociedade é tão somente a junção das várias partes, e se configura em um meio
para o desenvolvimento dos elementos individualmente.
Dimensões culturais como individualismo, coletivismo e hierarquia serão
amplamente utilizadas nesta pesquisa como pontos de apoio para a
interpretação dos significados impressos nos ambientes de trabalho pelos seus
14
No sentido de “coletivismo”. Afirma Dumont que utiliza o termo porque entende que nessa
situação, o homem está “subordinado à totalidade social”. (DUMONT, 1985, p.206)
15
Leirner, 2003, p.38.
Capítulo 2 – Referências Culturais
21
ocupantes. Em que pese o fato de que essas dimensões serão desenvolvidas
neste trabalho com a utilização de referências da cultura organizacional, sua
gênese antropológica estará permeando as análises que serão efetuadas a partir
delas.
Como é inerente a qualquer pesquisa que passe pelo tema da cultura, o seu
desenvolvimento é dedicado principalmente ao ser humano, elemento
fundamental e inextricavelmente relacionado ao assunto. Não é diferente nas
pesquisas voltadas para as chamadas culturas organizacionais. O seu estudo,
fazendo a decomposição de algumas características, permite um entendimento
mais completo do Homem e dos grupos culturais por ele formados. É bom
ressaltar, no entanto, que essas características culturais não necessariamente
estarão refletidas em cada um dos componentes do grupo. Mesmo fazendo
parte de um ou mais grupos culturais, o ser humano tem a capacidade de
questionar e agir diferentemente daquilo que seria o seu “padrão cultural”
(HOFSTEDE, 1991) e embora até mesmo a opção pela não-adequação aos
padrões inerentes à cultura do grupo em que está inserido seja também efetuada
dentro de uma forma de pensar, agir e entender o mundo, que tem suas bases
na cultura em que a pessoa que “faz a opção” está inserida
16
, é esse fato que
permite a existência de uma dinâmica de alterações culturais. De outra forma, as
culturas de todas as sociedades se manteriam as mesmas ao longo dos séculos.
Laraia (2003) vai mais além, afirmando que é a capacidade de questionar os
próprios bitos que nos torna diferentes dos animais; por esse motivo é que as
formigas, apesar de viverem em sociedade, composta por inúmeros membros,
têm, segundo o autor, rigorosamente o mesmo comportamento milhares de
anos. Nesse mesmo sentido, Marx, citado por Santos e Duarte (2002), argumenta
que a diferença entre as abelhas e os arquitetos é o fato de os segundos, ao
contrário das primeiras, terem em mente a figura da própria construção antes de
executá-la, o que torna a sua forma subordinada à sua vontade.
A partir dessa sedimentação da inseparabilidade entre Homem e Cultura, e das
características delineadas no campo da cultura organizacional, buscaremos, no
16
Notas de aulas da disciplina Arquitetura e projeto do lugar”, ministrada pela Prof. Cristiane Rose
Duarte, PROARQ/FAU/UFRJ.
Capítulo 2 – Referências Culturais
22
presente estudo, utilizar as teorias daquela área para a análise das relações entre
o homem e o seu ambiente de trabalho, sendo o primeiro o produtor do segundo,
e o segundo um reflexo indelével dos aspectos culturais do primeiro. Contudo,
falta-nos definir, de forma mais específica, qual é o Homem cujos aspectos
culturais inscritos nos ambientes de trabalho serão investigados.
2.2
C
ULTURA
DE QUEM
”?
O ambiente construído, ou seja, a interferência feita pelo Homem no ambiente
natural, é uma parte importante desta pesquisa. A Arquitetura é uma das
manifestações humanas mais perenes na civilização; compreender sua expressão
pode ser um dos caminhos para a compreensão do Homem. Amos Rapoport
(1969), por exemplo, procedeu a uma extensa pesquisa sobre diferenças culturais
expressas na forma de habitações em várias partes do mundo e, para tal, se
baseou em análises de construções vernaculares, por entender que, sendo um
produto planejado e construído pelos próprios moradores e entes próximos, essas
habitações representavam a expressão direta de valores, imagens, percepções e
modos de vida daquelas pessoas.
Mesmo quando se trata da arquitetura produzida por alguém que possua o
devido conhecimento técnico-científico para esse fim, ainda assim, obviamente,
a arquitetura não deixa de ser um meio de expressão humana. A figura do
arquiteto como um “maestro” dos espaços remonta à antiguidade; já não é
nova, mas sua presença era primordialmente requerida para o projeto de
edificações institucionais, palácios de autoridades e edificações similares,
privilégios de uma pequena parte da população que detinha o poder de decidir
pela sua construção ou não. A figura do arquiteto, em grande parte, não estava
presente nas construções de menor importância no contexto social, sendo elas
produzidas muitas vezes por seus próprios futuros usuários
17
. Com as mudanças
ocorridas no mundo após a Revolução Industrial, e a necessidade da
17
Podemos dizer que através dos tempos, essa situação vem mudando gradativamente; cada vez
mais vem sendo requerida a presença do arquiteto para desenvolver um projeto de arquitetura; no
entanto, principalmente nos países menos desenvolvidos, ainda é maciça a existência do auto-
projeto, mesmo que a fase seguinte não seja necessariamente de auto-construção.
Capítulo 2 – Referências Culturais
23
diversificação dos diversos tipos de edificações, a figura do arquiteto tornou-se
mais presente. Como bem apontam Elali e Pinheiro (2003), o processo projetual de
uma obra arquitetônica, tal qual o conhecemos atualmente, é uma decorrência
histórica da divisão social do trabalho, que separou em pessoas diferentes o
produtor e o usuário do ambiente construído, ou seja, o usuário deixou de projetar
seu próprio espaço.
Com uma inserção mais freqüente na produção de uma edificação, o arquiteto
teve seu campo de trabalho ampliado. Ao projetar, ele o faz para alguém que o
solicitou, para atender a um determinado propósito. Entretanto, poderíamos ir um
pouco além na discussão, inserindo mais uma derivação, que acontece quando
o solicitante do projeto não é o mesmo que usará a edificação, o que se
configura no caso de que quem está pagando pelo projeto não ser o futuro
usuário daquele ambiente construído, fato que normalmente acontece quando
falamos de escritórios (obviamente, há mais vetores envolvidos na produção,
como investidores, administradores e construtores, entre outros, como nos
esclarece Rheingantz, ao falar sobre o modelo de produção na atual “sociedade
informacional” (CASTELLS apud RHEINGANTZ, 2000, p. 71).
Assim, de uma forma geral, o projeto arquitetônico tem início em uma demanda
a ser suprida e alguém disposto a pagar para suprir tal demanda. Na concepção
do produto arquitetônico, entram em cena principalmente os valores dos que
têm o poder de decisão – investidores, proprietários, etc. (RHEINGANTZ, 2000) e do
arquiteto. Este, além de tudo, também contribui com seu conhecimento técnico,
que deverá fazer com que, para ser adequado ao futuro usuário, idealmente, o
ambiente deverá ser desta ou daquela forma. Assim, nesse momento, o risco
de o arquiteto transmitir inadequadamente seus próprios valores ao projeto, como
nos lembra Moore:
Cada vez que o arquiteto move seu lápis, ele faz suposições sobre
as necessidades humanas, muitas das quais são inconscientes, e
decide sobre como o meio ambiente construído pode satisfazê-las.
(
MOORE apud ELALI e PINHEIRO, 2003, p. 133).
Capítulo 2 – Referências Culturais
24
Da mesma forma que os valores do arquiteto podem se impor aos valores dos
demais elementos que fazem parte do processo, também é possível os valores do
grupo de decisão se sobreporem aos dos demais. Não é difícil imaginar exemplos
em que o desejo de grandeza de um proprietário faz com que sejam produzidas
edificações que acabam por ser rejeitadas pelas outras pessoas, inclusive pelos
seus próprios usuários. Todavia, o que é mais raro de acontecer, mormente nas
sociedades capitalistas ocidentais, é uma extrema consideração aos valores dos
usuários, em detrimento das outras partes. É claro que em uma situação de um
projeto institucional, como, por exemplo, um banco, será praticamente impossível
incorporar ao projeto os valores dos seus futuros usuários (os funcionários e os
clientes), porque além de formarem um extenso grupo humano, ele é flutuante
ao longo do tempo. Sommer (1979) sugere, em função dessa dificuldade que, em
vez de buscar um usuário hipotético, pode ser mais razoável analisar as
construções afins já existentes, considerando não apenas o seu uso proposto
originalmente, mas também sua transformação em função do seu uso efetivo.
Sob um certo aspecto, pode ser direcionada a esse tipo de avaliação a nossa
busca pela identificação de aspectos culturais dos usuários impressos nos
ambientes de trabalho. No mundo contemporâneo, os ambientes de trabalho
fazem parte, em sua maioria, de edificações institucionais, onde os usuários não
têm seus valores e significados levados em consideração na concepção
arquitetônica, pelos motivos expostos acima. Contudo, os usuários inscreverão no
ambiente seus valores e significados, formando assim uma espécie de “linguagem
silenciosa” (HALL, 1994), passível de ser interpretada. Além disso, a ocupação
humana dos “espaços” também contribui para que eles se transformem em
“lugares”
18
dotados de afeto, incluindo o processo de sua moldagem (DUARTE,
1993), e segundo Rodman (2003), os Lugares são construídos socialmente pelas
pessoas que neles vivem e os conhecem. Em um ambiente de trabalho
tradicional, com jornadas de trabalho de 8 horas, em que as pessoas passam um
tempo significativo do seu dia, entendemos que não como permanecerem
indiferentes ao ambiente; alguma relação com aquele local será
18
Nos remetemos aqui à clássica definição de Tuan (1983), para quem o “espaço” transforma-se
em “lugar” quando o usuário desenvolve afetividade em relação a este local. Neste trabalho,
sempre que estivermos nos referindo a esse “lugar”, sua grafia terá sua letra inicial escrita em
maiúsculo (Lugar).
Capítulo 2 – Referências Culturais
25
indubitavelmente desenvolvida, e se refletirá no suporte espacial e na sua
dinâmica de uso. Por isso sustentamos, como hipótese desta tese, que é possível
criar uma proposta metodológica para interpretar esses “sinais” que os usuários
inscrevem nos seus ambientes de trabalho.
Rodman (2003) também argumenta que, apesar de cada Lugar poder ter uma
realidade única para cada pessoa, os seus significados podem ser
compartilhados com outras. Na análise de construções existentes, podem ser
verificados os elementos culturais provenientes do(s) grupo(s) de usuário(s); estes
serão um ponto-chave do processo porque um mesmo pesquisador, ao fazer a
análise de dois ambientes fisicamente iguais, porém com usuários de culturas
diferentes entre si, certamente poderá verificar que as duas análises terão
produzido resultados diferentes, pela falta do “compartilhamento de significados”
(RODMAN, 2003). É esse mesmo compartilhamento que nos remete à cultura.
Podemos nos reportar a Laraia que, inspirado por Geertz (1989), sustenta que
“Estudar a cultura é (...) estudar um código de símbolos partilhados pelos
membros dessa cultura”
19
, bem como ao próprio Geertz, que nos lembra que “a
cultura é pública porque o significado também o é”
20
. Por isso, entendemos a
visão de mundo, os valores e os hábitos de um grupo, reflexos da sua cultura,
ficarem marcados no ambiente, e também por isso entendemos haver uma
inseparabilidade entre o estudo da forma pela qual o Homem ocupa e interpreta
os ambientes e o estudo da sua cultura; por esse motivo, acreditamos ser
necessário inserir algumas dimensões culturais que atuem como instrumentos de
investigação na análise cultural do espaço a qual procederemos nesta pesquisa.
Ao proceder à análise cultural do ambiente, necessariamente temos que
considerar a influência exercida por quem está fazendo a análise, ou seja, o
pesquisador. Tanto quanto em relação aos usuários, os elementos culturais e
subjetivos provenientes do pesquisador também exercerão influência no resultado
da análise. Podemos dizer que acontece algo como o “efeito Heisenberg”,
19
Laraia, 2003, p.63.
20
Geertz, 1989, p.22.
Capítulo 2 – Referências Culturais
26
quando o simples fato de observar e pesquisar interfere no resultado obtido
21
. Esse
é também um preceito existente entre os antropólogos, ao efetuarem uma
observação etnográfica. Se por um lado, para Levi Strauss é necessário haver
sensibilidade para evitar que os próprios valores modifiquem o prisma da
observação, permeando os resultados com etnocentrismo (LÉVI-STRAUSS, 1986)
por outro, na etnografia, o pesquisador se faz presente e leva em conta o
impacto que as observações produzem em seus próprios sentimentos (GEERTZ,
1989; MAGNANI, 2003) . Assim, sabemos que um dos caminhos para se chegar a
esse resultado é ter consciência de que não como desconsiderar essa
influência, e sabendo da sua existência, de como estará atuando, poderá ser
mais fácil considerá-la na observação. Buscando um apoio especificamente nas
Ciências Sociais, podemos dizer que é uma maneira de o Bias
22
não ser evitado,
muito pelo contrário, aceita-se e admite-se conscientemente a sua existência,
como mais um elemento da análise. Estendendo esse raciocínio, podemos
comentar que o mesmo termo, na sua grafia francesa, “Biais” também vem ao
encontro do mesmo significado, considerando que dessa forma, estaremos
produzindo a análise por meio do olhar do pesquisador, que sente suas emoções
ao observar, e as leva em consideração em sua análise dos fatos observados.
Assim, nesta pesquisa, ao analisar culturalmente um ambiente de trabalho, além
da inerente influência exercida pelo pesquisador, estaremos considerando os
elementos culturais provenientes do grupo de ocupantes daquele ambiente, ou
seja, os seus usuários. Para iniciar uma tentativa de delineamento das dimensões
culturais que utilizaremos como instrumentos de investigação, remetemo-nos,
entre outro elementos, às pesquisas de Hofstede (1997, 2001), mencionadas
neste trabalho, e apresentadas com mais detalhes no próximo capítulo.
21
Na década de 1920, o físico alemão Werner Heisenberg demonstrou que não era possível
observar partículas subatômicas sem interferir no seu comportamento. Desde então, ciências físicas
e sociais vêm utilizando o termo “Efeito Heisenberg” para descrever tal fenômeno.
22
Termo em inglês comumente utilizado em ciências sociais para fazer referência à parcialidade e
aos preconceitos do pesquisador, que interferem diretamente no resultado da pesquisa
(GOLDEMBERG, 2001).
Capítulo 3
DIMENSÕES CULTURAIS
o capítulo anterior, traçamos as bases teóricas de um parâmetro cultural
que servisse de embasamento ao nosso trabalho, possibilitando que nos
encaminhássemos para o delineamento das dimensões culturais como
indicadores para nossa pesquisa, assunto do qual trata o presente capítulo.
Naquela revisão teórica, apresentamos alguns aspectos da cultura organizacional,
um campo particular de estudos culturais vinculados às organizações e que, por
isso, se mostra adequado à nossa pesquisa, que tem como locus de investigação
os ambientes de trabalho (escritórios). Foi, portanto, a partir de pesquisas nesta
área que começamos a buscar as dimensões culturais utilizadas em nossa própria
pesquisa.
Um dos autores mais referenciados no assunto é Geert Hofstede (1997, 2001)
23
, e
com base em suas pesquisas
24
iniciamos o delineamento das dimensões culturais
que iremos utilizar em nosso trabalho. Como psicólogo da IBM, empresa
multinacional de computação, Hofstede teve a oportunidade de utilizar como
fonte de pesquisa os funcionários da empresa em mais de 50 países, obtendo
116.000 questionários respondidos. A partir daí, delineou o que chamou de
“culturas nacionais”, caracterizando os países relativamente uns aos outros, a partir
de uma mesma empresa. Trabalhando estatisticamente os dados, o autor chegou
a algumas dimensões culturais bipolarizadas, em que alguns países apresentavam
índices mais altos e outros mais baixos, caracterizando assim sua cultura segundo
aquelas dimensões.
23
Um estudo do Social Sience Citation Index (SSCI) encontrou 1036 citações de “Culture’s
Consequences”, a pesquisa pioneira de Hofstede, entre 1980 e 1993 (SONDERGAARD, 1994).
24
Apesar dos trabalhos de Hofstede terem se tornado um clássico em Administração e Cultura
Organizacional, encontramos a gênese de suas teorias em trabalhos mais remotos, desenvolvidos por
Inkeles e Levinson, em 1969 e Louis Dumont, na década de 1950, como já mencionado.
N
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
28
No seu trabalho, podemos dizer que o autor conseguiu, ainda que suavemente,
elaborar um mapa empírico da orientação cultural de diversas nações; uma
caracterização de determinadas categorias – de pessoas – de acordo com a
insígnia da sua nacionalidade. Por exemplo, no Brasil, segundo o autor, a
população é dividida e classificada em uma hierarquia de importância, segundo
suas posições sociais. Ele nos mostra, no entanto, que essa “divisão hierárquica”
acontece muito além da estratificação econômico-social. É de fundo cultural, é
pelo nosso perfil cultural que relacionamos base da pirâmide social com
inferioridade pessoal, o que não acontece em alguns outros países por ele
analisados.
Entendemos que as caracterizações propostas por ele podem ajudar a facilitar a
compreensão de certos fatos de origem cultural, ainda mais os que ocorrem em
ambientes de trabalho, locus da sua (e da nossa) pesquisa; no entanto, não
pretendemos nos ater de forma exclusiva às descobertas de Hofstede,
principalmente porque nossa pesquisa não estará considerando diferentes países.
Da mesma forma, apesar de seu trabalho vir sendo utilizado como ponto de
partida para vários outros
25
, não estamos pretendendo confirmar ou negar as
descobertas do autor; o que pretendemos é utilizar, de forma adaptada, algumas
das dimensões definidas em sua pesquisa, para que possam servir de instrumento
de investigação na análise cultural dos ambientes de trabalho,
independentemente da nacionalidade de cada indivíduo dentro do grupo
estudado.
Além deste autor, também buscamos em Trompenaars (1994), Kluckhohn e
Strodtbeck (1965; 1961
26
) e Inglehart (2000) mais dimensões culturais ligadas às
organizações, para configurar um panorama de apoio teórico para nossa
pesquisa.
25
Ver, por exemplo, Barros (1996); Souza (2005); Malvezzi et. al. (2005); Nascimento (1999); Sornes,
Stephens, Saetre e Browning (2004); Schwartz (1992), Fonseca (1997); Hilal (2003).
26
Não conseguimos ter acesso ao original da obra citada (KLUCKHOHN, C.; STRODTBECK, F. Variations
in value orientations. Evanston: Row, Peterson, 1961), e seu estudo foi feito a partir de outras que a
referenciavam, a saber: Hills (2002); Trompenaars (1994); Gannon (2001). Além destas, também foram
consultadas, mas não diretamente citadas nesta tese: Fink, Kölling e Neyer (2005); Silva (2001); Tan
(2002) e as resenhas do original elaboradas por Goody (1964); Rosenberg (1961); Jessor (1962).
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
29
Em uma extensa pesquisa bibliográfica realizada nas obras dos autores acima
citados
27
, pudemos estudar as diversas dimensões estabelecidas por cada um
deles. Por meio deste estudo, pudemos perceber que várias dimensões guardam
semelhanças entre si, em mais de um autor. De uma forma geral, vemos que os
autores, cada um com sua própria nomenclatura, configuram dimensões para
elementos que envolvem:
Hierarquia e poder
Coletivismo/Individualismo
Posicionamento frente às incertezas
Limites do espaço pessoal e apropriação de territórios
Tempo
Para poder compreender melhor seus significados, veremos a seguir no que se
constitui cada uma delas, com os seus títulos adaptados para o uso em nosso
trabalho.
3.1
H
IERARQUIA E
P
ODER
Na base antropológica de nossa pesquisa, vimos que para Louis Dumont (1985,
1992), uma relação hierárquica existe entre um “conjunto” e os elementos que o
formam, presumidamente todos iguais, com uma relação de interdependência
entre si. Desta forma, é destacado, dentre os elementos do conjunto, um que
assume um posicionamento hierárquico superior, passando a ter o “domínio” dos
demais elementos que compõem o conjunto. Em um ambiente de trabalho, existe
essa mesma relação hierárquica, com o destaque de um elemento entre os
demais. Entendemos que relações de hierarquia promovendo maior
distanciamento social entre as pessoas. Estamos falando aqui de casos em que
alguém, que naquele momento esteja em posição hierarquica-
administrativamente superior, faça questão de agir como tal e principalmente,
27
Este estudo detalhado das dimensões estabelecidas por cada autor foi mostrado em nosso exame
de qualificação (BRASILEIRO, 2005).
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
30
demonstrar a sua posição no ambiente, por meio de mobiliário diferenciado, ou
mesmo em função da sua disposição no local. O ambiente arquitetônico, dessa
forma, pode assim ser alterado pelo usuário, e dá demonstrações de como é
encarada a hierarquia naquele ambiente de trabalho. Em uma situação oposta,
relação extrínseca de poder, mas apesar disso não exibição ostensiva da
posição de superioridade, seja por atitudes ou pela ocupação física no ambiente.
Segundo Hofstede (1997), no continente europeu e em parte da Ásia, pode ser
percebido que os países outrora partes de grandes impérios, como o romano e o
chinês, tendem a apresentar, em várias esferas (política, social etc.) uma maior
distância hierárquica do que os habitados por bárbaros na Idade Antiga. Apesar
da atual divisão político-geográfica não remontar àquela época, é possível
perceber essa separação também pelo idioma falado no país. No caso da
Europa, os países cujo idioma atual deriva do latim fizeram parte do Império
Romano, diferentemente da maioria dos países de língua germânica. O autor
argumenta que esses países, regiões ocupadas por bárbaros na Idade Antiga, não
possuíam uma figura humana na qual todo o poder estivesse centralizado, e isso
vem se refletindo culturalmente até os dias de hoje, com relações mais igualitárias
de uma forma geral, até por quem, de fato, detém o poder. Dificilmente, um
chefe de estado dos Países Baixos recebe os mesmos privilégios que um chefe de
estado latino, por exemplo, extensivo inclusive a casos como o Brasil, antiga
colônia de Portugal. Em nosso país, a distância hierárquica transcende as relações
de trabalho e invade outras esferas. DaMatta (1983) retrata isso muito bem ao
estudar a famosa frase Você sabe com quem está falando?” e os diferentes
contextos nos quais ela é proferida. As relações de poder, quando este se
encontra centralizado nas figuras de poucas pessoas, tal como acontecia nos
antigos impérios, permanecem de uma certa forma, até hoje, na cultura desses
países. Esta relação entre os antigos impérios e a hierarquia é uma das possíveis
causas pelas quais Hofstede argumenta para analisar as suas diferenças nos
diversos países, mencionando este autor ainda outras causas possíveis, porém de
menor significação.
Trompenaars (1994) e Inglehart (2000), por sua vez, enfocam que as relações de
poder podem ser diferentes, dependendo da maneira que este foi conferido à
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
31
pessoa se por mérito, de forma racional, ou simplesmente atribuído,
possivelmente atrelado a alguma tradição. Nos ambientes de trabalho, é possível
ver as duas formas como pudemos verificar em nossas pesquisas de campo e
seus reflexos espaciais no ambiente podem ser vistos de igual forma também, com
maior ou menor intensidade, independente da maneira que o poder foi
atribuído
28
.
No entanto, a forma de atribuição de poder em si não é extrema relevância para
a presente pesquisa, mas seus efeitos no ambiente, sim, principalmente quando
houver a co-existência das duas, num mesmo ambiente. É interessante a
observação de espaços de poder caracterizados como tal, advindos tanto da
conquista quanto da atribuição. Da mesma forma, entendemos que o fato do
poder atuar de forma “específica” ou “difusa” (TROMPENAARS, 1994) está
relacionado ao grau de demonstração desse poder. Formas mais difusas, segundo
Trompenaars (1994), tendem a ser mais exacerbadas, saindo do âmbito das
relações propriamente ditas, refletindo-se também no ambiente. as
demonstrações das formas mais específicas, segundo o autor, tendem a ser mais
contidas ou mesmo a não existirem, não permitindo ou dificultando a identificação
somente espacial de quem detém o poder em determinado ambiente.
Cada autor, a seu modo e com sua própria nomenclatura, percebe esta dimensão
da mesma forma: pode haver ou não demonstrações comportamentais e
ambientais do poder que uma determinada pessoa possui, sendo esta
demonstração (ou a sua ausência) uma linguagem compreendida tanto por
quem a emite quanto por quem a absorve. Em nosso país, por exemplo, é comum
ver o gerente de uma empresa ter uma cadeira maior e mais confortável do que
os seus subordinados, chegando a haver um certo estranhamento quando esta
situação não é encontrada. Este estranhamento ocorre porque faz parte de nossa
cultura associar quantidade e qualidade de espaço às pessoas consideradas
“superiores”; essa é uma das buscas que desenvolvemos em nossas pesquisas de
campo.
28
Nas pesquisas de campo, foi possível ver reflexos ambientais de alta e baixa distância hierárquica,
tanto em pessoas de poder conquistado quanto naquelas de poder atribuído, embora o mais
incomum de se ver é baixa distância hierárquica em pessoas de poder atribuído. Normalmente,
quem detém o poder de maneira informal faz questão de marcar esse fato espacialmente.
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
32
3.2
C
OLETIVISMO
A tendência ao coletivismo ou ao individualismo demonstra o nível de
envolvimento entre as pessoas; sociedades que se caracterizam por um alto
índice de individualismo, com manifestações desse aspecto nos ambientes
familiares, de trabalho etc., em que se pode dizer que o grupo é apenas um meio
para a construção do indivíduo, que por sua vez, busca a realização pessoal e a
autonomia em relação à estrutura social (HOFSTEDE, 1997, 2001). Na situação
oposta, em grupos cuja tendência coletivista é predominante, o indivíduo se
define não como um ser autônomo, mas como parte de um grupo, sendo um
meio para a sua construção e seu crescimento. Há uma maior dependência
emocional entre os membros e a valorização da estrutura social (TRIANDIS,
MCCUSKER e HUI, 1990
).
Segundo Hofstede,
o individualismo caracteriza as sociedades nas quais os laços entre
os indivíduos são pouco firmes; cada um deve ocupar-se de si
mesmo e da família mais próxima. O coletivismo, pelo contrário,
caracteriza as sociedades nas quais as pessoas são integradas,
desde o nascimento, em grupos fortes e coesos, que as protegem
para toda vida em troca de uma lealdade inquestionável (1997,
p.69).
Cabe frisar que não se trata de caracterizar um grupo por oposição a um indivíduo
isolado. Uma tendência coletivista caracteriza um “corpo social”, algo que é mais
do que a soma das partes. É o que nos mostra Dummont (1985), ao afirmar que
cada indivíduo contribui em seu lugar para a ordem global das coisas; em uma
configuração oposta, o indivíduo é a medida de todas as coisas, e a ordem é
dada pela singularidade de cada um.
Cabe também ressaltar que em nossa sociedade, os laços de união que alguns
grupos tendem a valorizar mais do que outros nos remetem à “sociedade
relacional” estabelecida por DaMatta (1983). Segundo este autor, essa é uma
marcante característica da sociedade brasileira, em que as relações entre as
pessoas são um meio para se conseguir vantagens ou elementos que pelo viés
tradicional ou legal não seriam conseguidos. A essa mesma noção, Trompenaars
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
33
(1994) o nome de “particularismo” em oposição a “universalismo”, como
características de sociedades nas quais, na primeira situação, de uma forma
exagerada, poder-se-ia dizer “não roube dos amigos”, e na segunda, “não roube
de uma forma geral”.
Outra característica desta dimensão, segundo Trompenaars (1994), é que nas
culturas coletivistas, as tomadas de decisões de uma forma geral são mais
demoradas, mas uma vez definidas, são mais bem aceitas do que nas culturas
individualistas, no que tange à convivência com outras pessoas.
Hall (1994) também caracterizou tendências coletivistas e individualistas, por meio
das formas de comunicação entre as pessoas. Segundo o autor, nas chamadas
sociedades de “alto contexto” (tendências coletivistas), não a necessidade de
grande quantidade de informação explícita, porque o contexto se encarrega de
transmitir essa informação às pessoas. nas de “baixo contexto” (individualistas),
para o sucesso da transmissão da mensagem, a informação deve ser explicitada,
de forma oral ou escrita. A esse respeito, Hofstede (1997) cita que em encontros
sociais de famílias de sociedades individualistas, como a americana, a
comunicação é de baixo contexto, e alguma conversa deve ser proferida, sob
pena de haver um constrangedor silêncio para todos. Nas sociedades coletivistas,
como algumas encontradas no oriente, nos encontros sociais, basta que os
familiares estejam reunidos, sem a necessidade de conversas banais e gratuitas.
Entendemos que pelo fato de o grupo ser coletivista, com pensamentos e
identidades compartilhadas, ele próprio é parte do contexto no qual a
informação é transmitida.
Todavia, a avaliação de nuances coletivistas ou individualistas tende a envolver
situações complexas e não raro, mistas, em que as duas características podem ser
encontradas simultaneamente. o como posicionar um rótulo definitivo sobre
este ou aquele grupo, esta ou aquela pessoa. O que pode ser feito é uma
tentativa de detectar as tendências mais efetivas de uma ou outra característica
para, se for o caso, poder potencializar a capacidade produtiva de cada um, e o
ambiente nos fornece sinais para essa detecção; outras vezes, não somente o
ambiente em si, mas a forma como ele é utilizado pode fornecer estes sinais. É
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
34
comum, por exemplo, que as tolerâncias a som, odores e apinhamento (FISCHER,
1994; DUARTE, 1993) sejam bem menores em grupos com tendências individualistas
do que em grupos com tendência coletivistas, e isso pode acarretar algum nível
de rejeição às estações de trabalho muito próximas umas das outras, ou então
haver algum nível de dificuldade em estruturar um trabalho desenvolvido em
grupo. De outra forma, um grupo com tendências coletivistas provavelmente será
mais eficiente se a forma de produção for desenvolvida em equipe, e não em
trabalhos isolados. Também nesse caso podem ser encontradas apropriações
coletivas do espaço, com a exibição no ambiente de símbolos coletivos
(fotografias do grupo reunido, seja na instituição ou fora dela; logomarcas ou
símbolos de identidade grupal, como o logotipo do setor em que trabalham ou de
um time de futebol; um objeto específico que tenha um significado determinado
para aquele grupo etc.).
3.3
C
ONTROLE DA
I
NCERTEZA
A necessidade de controlar as incertezas (HOFSTEDE, 1997) espelha o nível de
inquietude de uma sociedade frente às situações desconhecidas, incertas, ou
passíveis de ambigüidade. Em essência, a incerteza é uma experiência subjetiva, e
não é exclusivamente pessoal; é compartilhada com outras pessoas, sendo
também adquirida e apreendida culturalmente. Resume-se na tentativa de reduzir
ambigüidades, havendo uma maior necessidade de previsibilidade das coisas e
da existência de leis e regras; o ponto central da incerteza não é a forma pela
qual as situações imprevistas são solucionadas, mas, sim, a ansiedade gerada por
elas.
De uma maneira geral, cada sociedade humana, através dos tempos,
desenvolveu e/ou adotou mecanismos que aliviam a ansiedade contra as coisas
incertas, seja por meio da tecnologia (contra os elementos da natureza), das leis
(contra o comportamento de outras pessoas), ou da religião (contra elementos
transcendentais). É a característica cultural da incerteza que faz um país possuir
mais leis ou ser mais conservador do que outro, por exemplo. A esse respeito,
Hofstede (1997) cita que a Alemanha possui leis específicas para situações nas
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
35
quais nenhuma outra lei pode ser aplicada, enquanto que o Reino Unido não
possui sequer uma Constituição escrita. São características culturais de cada
sociedade que fazem com que haja maior ou menor necessidade da existência
de leis e normas.
Trompenaars (1994) e Kluckhohn; Strodtbeck (1961) dão mais ênfase à forma como
alguns grupos culturais têm maior ou menor capacidade de aceitação (e
conformidade) a certos fatos. Esse raciocínio pode ser sintetizado pela disposição
que algumas culturas possuem ao tentar modificar o que para outras pode ser
considerado como aceitável. Por exemplo: em um edifício tombado pelo
patrimônio histórico, sociedades que podem não se conformar com o fato de
que o prédio não pode ser modificado; algumas outras aceitam a impossibilidade
de modificação sem sofrer desconforto com a situação, que está fora de seu
alcance e controle.
pesquisas que caracterizam a incerteza ambiental como fonte produtora de
stress, quando um desequilíbrio entre as demandas do ambiente e os recursos
dos indivíduos para enfrentar essas demandas (GARLING et al., 1998; EVANS e
McCOY, 1988). Evitar a incerteza seria, portanto, uma forma de evitar o stress. Além
disso, em relação aos ambientes de trabalho, foi reportada a existência de uma
relação entre o controle pessoal da estação de trabalho, o stress de cada um e a
sua capacidade de produção, havendo uma redução dos sinais fisiológicos do
stress quando as pessoas podem assumir o controle de suas próprias estações de
trabalho (GREEN, 2006 e GIFFORD, 1997). Lazarus e Cohen (1977) também afirmam
que mesmo as pessoas apenas acreditando ter o controle, é o suficiente para
que elas mostrem menos stress.
Sobre esta dimensão em escritórios, é freqüente encontrar instituições e grupos de
alto controle da incerteza ocupando ambientes extremamente organizados, com
locais exatos para a execução de cada tarefa e evitando situações incertas e
ambíguas; da mesma forma, também é comum ver estampados quadros de
avisos com normas e regras que devem ser respeitadas. Na situação oposta, o
ambiente tende a ser mais flexível e até de múltiplo uso, mesmo que haja espaço
suficiente para todos, e dificilmente existirá uma grande quantidade de normas e
regras, a ponto de serem exibidas ostensivamente.
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
36
3.4
D
ELIMITAÇÃO DE TERRITÓRIOS
Em nossa pesquisa, inicialmente, esta dimensão foi estudada por meio de seus
aspectos subjetivos, baseada em Trompenaars (1994), que classificou algumas
culturas como difusas ou específicas
29
; no primeiro caso, as pessoas tendem a
compartilhar e externar seus sentimentos com todos e entendem que um amigo
do trabalho continua a ser um amigo fora daquele ambiente; por outro lado,
ainda segundo o autor, nas culturas específicas as pessoas tendem a
compartimentar seus relacionamentos em função dos vários setores de suas vidas:
família, trabalho, clube etc., agindo de forma mais reservada de uma maneira
geral. Da mesma forma, também buscamos o argumento semelhante de
Kluckhohn; Strodtbeck (1961), quando afirmam que cada cultura possui uma
concepção própria de espaços públicos e privados, em uma característica que
fornece a medida do que pode ser compartilhado publicamente naquela
sociedade e o que deve ser reservado ao domínio privado, inclusive a
exteriorização de emoções pessoais, seja em função do momento, seja do local.
Ainda na fase teórica de nossa busca, entendíamos que essa concepção do limite
entre o que é subjetivamente considerado público ou privado - o domínio -
poderia ter sua aplicação extensiva ao espaço físico, podendo ser demarcada
materialmente ou não, estando também refletida na maneira pela qual o
ambiente fosse utilizado. Todavia, na fase da pesquisa de campo, esta foi uma das
dimensões que emergiu com maior intensidade, fazendo com que ampliássemos o
leque de autores estudados, estendendo nossa busca para delimitação de
territórios, apropriação, espaço pessoal e privacidade. Assim, passamos então a
nos apoiar principalmente em Fischer (1994); Gifford (1997); Sommer (1973); Duarte
(1993); Duarte et al (2005); Tozetto (2006); Duarte, Brasileiro, Santana, Paula, Vieira
(2005), sendo estas três últimas referências desenvolvidos no âmbito do grupo de
pesquisa Arquitetura, Subjetividade e Cultura, do PROARQ/FAU/UFRJ, ao qual a
presente pesquisa também está vinculada.
A apropriação dos espaços como forma de delimitar territórios e estabelecer a
identidade e a privacidade tem seu estudo consolidado bastante tempo por
29
Como já visto no item Hierarquia e Poder.
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
37
meio de pesquisas na área de psicologia ambiental. Contudo, entendemos que
sua forma está intrinsecamente ligada ao padrão cultural vigente no grupo
estudado, o que por sua vez, vem diretamente ao encontro das demais dimensões
estudadas; possivelmente por este motivo essa dimensão tenha surgido com tanta
força na pesquisa de campo.
O nível de apropriação indica o controle psicológico que alguém possui do
espaço ocupado, expresso por meio de modificações físicas de uso, organização
e personalização. Fischer (1994) argumenta que a apropriação é uma extensão da
pessoa no espaço físico, uma forma de estabelecer uma relação identitária com o
espaço e de lhe atribuir significado, criando um sentimento de pertencimento,
relações de posse e de apego. Além disso, também é uma forma de garantir
segurança psicológica ao tentar estabelecer, pelo menos minimamente, as
fronteiras do próprio território, especialmente quando o ambiente impõe limitações
de ordem físico-espacial. E nesse caso, encontramos uma situação muito
semelhante à descrita no conceito original de território, que segundo Goffman
(1961), deriva da etologia, referindo-se à área que um animal ou grupo de animais
defende. Esta área pode ser variada, incluindo somente o seu ninho, a sua “toca”,
ou toda a superfície dentro da qual o animal regularmente se movimenta.
Segundo Fischer (1994, p. 24), a idéia de território implica habitualmente a
personalização do lugar com a ajuda de marcações e de elementos de
apropriação que indicam que se é de algum modo o seu ocupante”. Gifford
(1997) apresenta um raciocínio semelhante, sustentando que territorialidade é
(...) um padrão de comportamentos e atitudes de um indivíduo ou
grupo, que é baseado no controle percebido, pretendido ou real
de um espaço físico, objeto ou idéia definíveis, podendo envolver
ocupação habitual, defesa, personalização e marcação
30
.
Edney (1974) argumenta que o “território provê três elementos sicos
necessários para uma vida saudável: seguraa (mais forte no centro do território);
estímulo (mais forte nas fronteiras, onde a defesa contra invasores acontece mais
30
Gifford, 1997, p.120. Tradução livre da autora.
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
38
comumente), e identidade”
31
, trazendo assim, à tona, que a delimitação de um
território pode se constituir, de fato, em uma necessidade psicológica
inquestionável.
Por meio das definições dos autores acima citados, vemos que a idéia de
apropriação de um território está relacionada ao controle efetivo ou pretendido
sobre um espaço físico, seja de forma simbólica, por meio de atitudes ou
comportamentos (como, por exemplo, pela postura corporal ao sentar-se,
indicando, com o próprio corpo - braços, tronco etc., que determinada área de
uma bancada, naquele instante, está sob seu domínio, afastando com isso,
possíveis “invasores”), ou por meio de marcação e personalização. Segundo
Gifford (1997), a marcação pode ser traduzida por “colocar um objeto ou alguma
substância em um lugar para indicar a sua intenção territorial”
32
. A marcação é
definida, portanto, por marcadores, que Goffman (apud FISCHER, 1994) dividiu em
três tipos:
- Marcadores centrais, posicionados no centro do território para estabelecer a sua
posse;
- Marcadores-fronteiras, que delimitam as fronteiras do território apropriado;
- Marcadores-sinais, que inserem uma marca pessoal num objeto ou no próprio
espaço.
Os marcadores-sinais costumam representar a personalização, pois o elementos
que expressam não só a apropriação em si, mas também a pessoa responsável
por ela. Nas palavras de Fischer (1994, p.83), a personalização “acentua a
identidade pessoal que se vai refletir através de diversas modificações ou
transformações do espaço pelo seu utilizador”. Com o mesmo raciocínio, Gifford
(1997) indica que a “personalização significa marcação de uma forma que indica
a identidade de alguém”
33
A delimitação de territórios também está ligada à busca de privacidade, seja
plena ou somente visual/acústica, dentro de cada circunstância. Segundo Gifford
(1997), o indivíduo que procura privacidade busca um tipo particular de território,
31
Edney, 1974, p. 961. Tradução livre da autora.
32
Gifford, 1997, p.120. Tradução livre da autora.
33
Gifford, 1997, p.120. Tradução livre da autora.
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
39
que tendo a sua posse estabelecida, possibilita a obtenção tanto da privacidade
quanto de outras necessidades também.
O mesmo autor sugere que em escritórios, as pessoas podem utilizar mecanismos
verbais (“estou ocupado agora”) e não-verbais (mantendo a porta fechada) para
conseguir privacidade, mas aponta um estudo feito entre administradores
escolares, enfatizando que havia uma preferência por utilizar mecanismos que não
requeressem rejeição direta às outras pessoas. Assim, os mecanismos utilizados
eram mais indiretos, como por exemplo, chegando mais cedo ou saindo mais
tarde do trabalho.
34
Vários outros autores se debruçaram sobre o tema apropriação de territórios,
personalização e privacidade. Alguns o aplicaram em locais de trabalho
35
,
relacionando de forma direta o conforto psicológico proporcionado pela
personalização da própria estação de trabalho à satisfação profissional e,
conseqüentemente, à capacidade produtiva de cada um. Em um raciocínio
consonante com esta afirmação, Altman, Taylor e Wheeler (1974), apontam três
justificativas para o estudo deste tema, com as quais concordamos:
a) apresenta implicações no projeto de arquitetura dos ambientes que facilitam a
troca interpessoal;
b) provê uma abordagem para o projeto que retrata o ambiente como um reflexo
do comportamento, e não somente como determinante deste;
c) (o que consideramos o mais importante): aponta padrões de comportamento
em diferentes níveis, sendo uma importante ferramenta no diagnóstico do estado
de um grupo por um período de tempo.
Assim, entendemos que a compreensão de como os usuários de um escritório se
apropriam e delimitam territórios, personalizam-nos e buscam atingir níveis
34
Em nossa pesquisa de campo, também presenciamos o uso desses mecanismos, que podem estar
relacionados ao conflito existente entre características de uma cultura “difusa” e uma cultura
“específica” (termos conceituados por TROMPENNARS, 1994), conforme pesquisamos. Esse conflito
pode ser exemplificado com a frase “Não é nada pessoal”, na situação em que um indivíduo
simplesmente deseja privacidade para exercer seu trabalho, mas sem que o colega se sinta ofendido
pela sua “rejeição”. Dependendo da tendência cultural do grupo pesquisado, pode ser adotado
com maior freqüência um ou outro mecanismo.
35
Ver por exemplo, Archea (1977), Moleski & Lang (1986) e Donald (1994).
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
40
satisfatórios de privacidade pode ser uma informação extremamente valiosa para
auxiliar o desenvolvimento de projetos de arquitetura destes ambientes, e esta será
uma das dimensões buscadas em nossa pesquisa de campo.
3.5
T
EMPO
A dimensão tempo não será abordada de forma direta em nossa pesquisa; não
porque ela não esteja presente, muito pelo contrário. O tempo e a maneira como
as pessoas se comportam e se situam em reação a ele é uma dimensão presente,
complexa e instigante.
Dos autores pesquisados, vários fizeram menção a esta dimensão cultural; Hofstede
(1997, 2001) a relacionou com os países orientais, indicando que para aqueles
grupos culturais, o futuro seria mais importante do que o presente. Trompenaars
(1994) e Kluckhohn; Strodtbeck (1961) também argumentam que as tendências
culturais podem se apresentar de forma a valorizar o passado, o presente ou o
futuro, enfatizando um em detrimento dos demais. Sugerem os autores que é
possível constatar uma ou outra dominância pelas situações preparadas para um
prazo curto, ou para o futuro, onde as coisas são cuidadosamente planejadas a
longo prazo. Hall (1994), além de fazer a mesma menção à ênfase temporal,
adiciona os conceitos de tempo monocrônico e policrônico. O primeiro pode ser
visto como característica de sociedades que encaram o tempo de forma
seqüencial e linear, sendo a atitude predominante fazer uma coisa de cada vez,
só começando a segunda após o término da primeira; e no caso policrônico
(também conhecido como sincrônico), sociedades em que as pessoas
normalmente encaram o tempo como um arranjo que pode ser superposto,
realizando atividades diversas simultaneamente, sem que uma atrapalhe a outra.
Entendemos que poderia (e podem) haver alguns reflexos espaciais dessa
classificação especificamente, com ambientes organizados, preparados para a
realização de uma atividade de cada vez , como uma tendência monocrônica, e
ambientes flexíveis, de multiuso, como uma tendência policrônica, mas a noção
de tempo, como forte característica cultural que representa, é extremamente
permeável, agindo inclusive sobre as outras dimensões culturais. No exemplo dado,
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
41
ambientes bastante organizados também podem estar relacionados a um alto
controle das incertezas, que pode ser mais intenso do que uma possível tendência
monocrônica daquele grupo estudado.
Apesar de todas as dimensões serem permeáveis entre si, na dimensão tempo esta
característica é mais acentuada, talvez porque o tempo esteja mais presente
entre nós, nas mais diferentes formas, mesmo nas situações nas quais as outras
dimensões não se apresentam ou não podem ser verificadas, como no caso de
um bebê. Apesar de não poder ainda ter noções (e reações) culturais de
hierarquia, por exemplo, ele reage ao tempo, ao ficar sem dormir ou quando
passa muito tempo sem comer. Possivelmente por estar intimamente ligado a fatos
ditos naturais, como o movimento dos astros e o ciclo circadiano, o tempo se
encontra presente em todas as esferas e aspectos da vida, de variadas e
superpostas formas. Assim, nos ambientes de trabalho, e em nossa pesquisa de
campo, vimos circunstâncias nas quais era impossível desvincular a dimensão
temporal dos demais fatores responsáveis pelos fatos observados em campo.
Desta forma, pelo fato do tempo estar permeando todas as demais dimensões e,
frente à riqueza e complexidade do material coletado em campo, nos pareceu
metodologicamente complexa a estratégia de pinçar esta dimensão cultural
como uma de nossas categorias de análise principais.
Logo, como esta dimensão não será incorporada como uma de nossas categorias
principais em nossa análise, cabe adiantar um exemplo de como e porquê
tomamos esta decisão, antecipando alguns resultados. Nossa pesquisa de campo
demonstrou que nos escritórios o tempo é associado ao uso, não havendo muitas
marcas físicas de sua expressão; ele está intimamente relacionado à dinâmica
presente nos ambientes também. Podemos citar como exemplo uma empresa,
pesquisada em nosso trabalho, que teve seus ambientes concebidos de forma
monocrônica (reflexo de tendências da diretoria), de espaços altamente
organizados, mas que, apesar disso, eram utilizados de forma policrônica pelos
seus usuários, com uma intensa circulação entre as mesas arrumadas. E em outro
estudo de caso, um ambiente visivelmente policrônico, as pessoas o utilizavam
dessa forma, mas quando houve mais espaço disponível para os usuários, a
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
42
maneira de usar foi mudando gradativamente, passando a ser monocrônica (ou
seja, o aumento de espaço mudou a forma de encarar o tempo). Então, a
dimensão tempo se fazia presente de forma associada ao uso, e não impressa no
espaço físico; sinais sicos como a exibição de relógios, que esperávamos
encontrar em grupos mais preocupados com o tempo presente, não foram vistos,
mesmos nos ambientes em que havia um horário rígido de fechamento para
operações financeiras, quando as pessoas freneticamente falavam entre si e
circulavam, todos presos ao “horário de fechamento” (sic). Nesse ambiente, não
havia sequer um relógio visível para todos; os relógios eram os próprios
computadores de cada um. Mas isso é perceptível associado à dinâmica do
uso. Assim, no caso de nossa pesquisa de campo, a análise puramente espacial do
ambiente não contribui para revelar sinais desta dimensão, o que de certa forma,
escapa aos nossos objetivos, de ler o ambiente por meio da sua dinâmica de uso
sim, mas principalmente, pelos sinais expressos em seu suporte espacial. Talvez por
uma deficiência deste trabalho, que reconhecemos, e pelas circunstâncias que se
apresentaram ao longo da pesquisa de campo, consideramos o estudo da
dimensão temporal de forma isolada não nos permitir atingir os objetivos de nossa
pesquisa dentro do prazo previsto institucionalmente para nossa defesa.
Pelos motivos expostos acima, assumimos a opção de não trabalhar com uma
dimensão tão permeável e de reflexos tão abstratos, distantes do suporte espacial,
que afinal, é a tradução física da Arquitetura. Possivelmente, essa tarefa poderá
ser mais bem desenvolvida em um futuro trabalho, vindo a complementar o
método de análise cultural dos ambientes de trabalho proposto mais adiante.
3.6
C
ONSIDERAÇÕES SOBRE O PRESENTE CAPÍTULO
Partindo de um vasto campo como o que estuda a Cultura, tentamos buscar
algumas definições que nos auxiliassem no entendimento das inter-relações
existentes entre pessoa cultura ambiente construído. Entendemos que a
compreensão desta inter-relação é fundamental para o desenvolvimento de
projetos arquitetônicos mais adequados ao seu ocupante, o Homem,
proporcionando o seu bem-estar nos ambientes construídos.
Capítulo 3 –Dimensões Culturais
43
Temos ciência de que as dimensões culturais aqui apresentadas e estudadas não
são as únicas passíveis de análise, mas foram as escolhidas, com o auxílio das
premissas da cultura organizacional (mencionada anteriormente), por serem
altamente relacionáveis aos ambientes de trabalho e por permitirem a
visualização de seus rebatimentos no espaço. As dimensões culturais que serão
analisadas na presente pesquisa são, portanto: Hierarquia e Poder; Coletivismo;
Controle das Incertezas; Delimitação de Territórios. Apesar de compreender que
todas apresentam um certo grau de permeabilidade entre si, sabemos que
podem ser rebatidas espacialmente, o que não apenas nos direciona no caminho
de nossas metas, mas também se apresenta como condição fundamental para
que possamos utilizá-las em nossas pesquisas de campo. Afinal, como nos diz
Fischer (1994, p.38), “um espaço conta sempre uma história: individual e social; diz
do grupo e ao grupo qual é a sua maneira de viver, de habitar, de trabalhar, de
viver socialmente num lugar”. Assim, nossa busca será a procura do rebatimento
destas dimensões no ambiente construído e na sua dinâmica de uso, para
desenvolver e aplicar uma proposta metodológica de análise cultural do
ambiente que permita compreender os valores e os significados dos ambientes de
trabalho para seus usuários, objetivo geral desta tese.
No próximo capítulo, veremos a descrição e a caracterização dos estudos de caso
que foram alvo das pesquisas de campo e, na seqüência, o desenvolvimento da
proposta metodológica propriamente dita.
Capítulo 4
CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS DE CASO
s estudos de caso da pesquisa foram desenvolvidos em três escritórios
locais de trabalho, como foi definido no capítulo 1, onde comentamos
sobre o recorte espacial da pesquisa. Naquele capítulo, foram definidas as bases
que direcionaram nossa pesquisa para esses locais, bem como uma pequena
contextualização sobre as ligações entre arquitetura, cultura e ambientes de
trabalho. No capítulo seguinte (2), foram abordados os parâmetros culturais em
consonância com nossa pesquisa, para embasar teoricamente nossa abordagem
cultural. No capítulo 3, estabelecemos, com base em outros autores, as dimensões
culturais a serem pesquisadas nos ambientes de trabalho da nossa pesquisa.
No presente capítulo, são apresentados os três estudos de caso desenvolvidos na
pesquisa; como ocorreu nosso contato com cada um deles; quanto tempo durou
a pesquisa de campo em si, bem como sua contextualização e a caracterização
física dos locais. Cabe mencionar que a proposta metodológica introduzida nesta
tese, de análise cultural de ambientes de trabalho, é baseada nestes estudos de
caso, e possivelmente teria algum aspecto diverso se fossem utilizados outros no
lugar destes. O que buscamos neste trabalho é a criação de uma proposta
metodológica, que tanto pode ser utilizada com vistas a um local definido, para
fornecer subsídios para um projeto de arquitetura para aquele ambiente em
especial, ou, de forma bem mais ambiciosa, ser utilizada apenas como o início de
uma ferramenta metodológica que, em longo prazo, após ter sido utilizada
diversas vezes, possa contribuir para a criação de um possível “perfil cultural” de
usuários de escritórios.
Nossa pesquisa se desenvolveu sobre uma base teórica diversificada, versando
principalmente sobre arquitetura, antropologia e psicologia ambiental. Por ter um
caráter interdisciplinar, fomos obrigados a estender a fase teórica de estudos por
mais de dois anos, incluindo o tempo em que foram cursadas disciplinas em
O
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
45
programas de pós-graduação ligados à Antropologia, como mencionado.
Assim, iniciamos nossa pesquisa de campo durante o terceiro ano de pesquisa.
Algumas tentativas para conseguir um escritório no qual nos fosse permitido efetuar
nossa pesquisa de campo restaram completamente infrutíferas; como
mencionado no capítulo 1, não é fácil encontrar empresas que permitam a
presença de um pesquisador no seu ambiente, fazendo observações, perguntas e
abrindo possibilidades para expor as eventuais vulnerabilidades da instituição.
um receio por parte de várias empresas em se deixar pesquisar (BRASILEIRO, 2004).
Aliás, é comum encontrarmos, no âmbito acadêmico, pesquisadores que se vêem
obrigados a mudar o rumo de seus trabalhos, porque a empresa escolhida não se
permite ser alvo de pesquisas.
Em meio a nossa procura, tivemos acesso a dois dos três escritórios pesquisados
nesta tese, e por meio de um deles, chegamos ao terceiro. Como os primeiros
contatos com diretorias e gerências se mostraram positivos, obtivemos permissão
para conduzir nossos estudos de caso nas empresas em questão. O tempo de
condução da pesquisa de campo em cada um dos três escritórios ocorreu
conforme o mostrado na Tabela 1:
2005 2006 2007
Tempo
Local
Nov
Dez
Jan
Fev
Mar
Abr
Mai
Jun
Jul Ago
Set Out
Nov
Dez
Jan
Escritório 1
(Invista)
Escritório 2
(Repartição A)
Escritório 3
(Repartição B)
A seguir, veremos com mais detalhes as características de cada estudo de caso.
Tabela 1 – Tempo de condução da pesquisa de campo em cada escritório
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
46
4.1
E
MPRESA
I
NVISTA
Chegamos ao primeiro estudo de caso, a empresa Invista
36
, por meio de uma
apresentação que fizemos em um seminário de arquitetura (PROJETAR 2005), no
Rio de Janeiro. Na ocasião, o arquiteto que na época estava fazendo o projeto de
arquitetura para reforma do escritório da Invista (um andar inteiro em um prédio no
Centro do Rio de Janeiro), assistiu nossa apresentação
37
, e veio até nós para que
possivelmente pudéssemos ajudá-lo nas dificuldades de fundo cultural que estava
enfrentando no citado projeto, pois vislumbrou que poderia haver um caminho
para responder suas vidas, em face do que havíamos colocado no seminário,
sobre as dimensões culturais que poderiam ser pesquisadas nos escritórios. Assim foi
iniciado nosso contato com a empresa, na qual permanecemos por oito meses,
seis deles após o término das obras de reforma.
38
A Invista é uma empresa do ramo de seguros, com sede em um Estado do sul do
Brasil e duas filiais em estados diferentes, sendo um deles o Rio de Janeiro. Nesta
cidade, seu escritório está localizado em um prédio no Centro (ver figura 4.1), e
ocupa um andar inteiro, com cerca de 540m².
36
Com vistas a preservar a identidade da empresa, atribuímos um nome fictício para ela, doravante
denominada Invista.
37
“Índices Culturais refletidos no Projeto de Arquitetura: Pesquisa e suas Interfaces” (BRASILEIRO &
DUARTE, 2005).
38
Cabe frisar que, apesar de ter havido contato e troca de idéias com o arquiteto responsável pelo
projeto, não houve participação efetiva nossa durante sua elaboração, porque nossa pesquisa de
campo demandava tempo de observação, fator não disponível naquele momento, com o projeto
em andamento. Apesar disso, generosamente, a empresa permitiu que ainda assim fizéssemos um
estudo nas suas dependências.
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
47
Nesta cidade, a filial conta com 45 funcionários, em sete setores diferentes, sendo
quatro deles operacionais, mais recepção, diretoria e apoio. Nossa pesquisa foi
feita em três setores operacionais, abrangendo um total de 23 funcionários. Dos
três setores pesquisados, um deles (“Setor 1”) constituía-se no centro de operações
da empresa, que não poderia parar de funcionar em momento algum, nem
durante as obras de reforma que estavam começando a acontecer. Por isso, no
cronograma das obras, mesmo tendo funcionado durante alguns dias em uma
localização temporária, ele foi um dos primeiros a ficar pronto. Possuía 11
funcionários, entre eles seu gestor.
Outro setor pesquisado por nós, o “Setor 2”, era o que possuía atendimento ao
público, portanto, contava com locais para funcionários e para os clientes que
vinham até a empresa. Durante as obras, este setor funcionou em diferentes
configurações, que duravam às vezes um dia, dependendo dos locais disponíveis
para ele funcionar. Apesar disso, também apresentou uma configuração
temporária mais duradoura, de cerca de um mês, e depois disso foi localizado em
sua posição definitiva. Possuía inicialmente 6, e depois, 8 funcionários, entre eles
seu gestor.
Fig. 4.1 – Prédio onde se localiza a Invista
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
48
O terceiro setor pesquisado por nós, o Setor 3”, tinha como atividade atender os
representantes externos da empresa, que faziam a venda dos seguros. Não eram
funcionários da Invista, mas sim de outras empresas, que a representavam. Ao longo do
dia, este setor recebiarios desses representantes, que eram recebidos nas mesas dos
funcionários. Cada um permanecia na empresa entre cinco e vinte minutos,
dependendo da quantidade de propostas a serem recebidas. O funciorio da Invista
fazia toda a confencia do material recebido, e posteriormente o representante saía;
muitas vezes, voltava ainda no mesmo dia, com mais propostas. Durante as obras, este
setor funcionou no interior da diretoria, e não o pesquisamos nesta fase, somente mais
tarde, em sua localização definitiva. Possuía 4 funcionários, sendo um deles o gestor, e
soubemos, por meio de conversas, que antes das obras, este setor funcionava em duas
salas separadas, uma para o gestor e outra para os três funcionários.
As os primeiros contatos, nosso primeiro dia efetivo de observação aconteceu
juntamente com o início das mudanças físicas no escritório. Ao se preparar para a obra,
alguns setores foram deslocados, e dentre eles, o setor 1, como mencionado (ver
figuras 4.2 e 4.3).
Fig. 4.2 – Posição no andar (E) e layout temporário do Setor 1 (D),
durante as obras de reforma. O círculo vermelho marca nossa posição
de observação mais constante no ambiente.
Fig. 4.3 – Vistas gerais do Setor 1 em sua localização provisória.
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
49
A observação no setor 1 continuou depois, quando este setor foi deslocado para
sua posição definitiva, dada pela reforma (ver figuras 4.4 e 4.5). Em seguida,
passamos ao setor 2, inicialmente em sua localização provisória, e depois, em sua
localização definitiva (ver figuras 4.6, 4.7, 4.8 e 4.9).
Fig. 4.4 – Setor 1, em sua posição definitiva. Localização no andar (E) e
layout (D). O círculo vermelho marca nossa posição mais constante
no ambiente; a mesa cinza é do funcionário responsável pelos
sistemas, que dá apoio ao setor.
Fig. 4.5 – Vista geral do Setor 1
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
50
Fig. 4.7 – Vistas gerais do Setor 2, em sua localização provisória.
Fig. 4.6 – Posição no andar (E) e layout temporário (D) do Setor 2, durante as
obras de reforma. O círculo vermelho marca nossa posição de observação
mais constante no ambiente; as cadeiras brancas representam os locais nos
quais os clientes se sentavam para serem atendidos.
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
51
O setor 2 era o único que recebia clientes, portanto tinha acesso direto do público.
Antes de terminar a observação neste setor, começamos em paralelo a
observação no setor 3 (ver figuras 4.10 e 4.11), alternando os períodos do dia entre
um e outro, ou mesmo os dias da semana. Como mencionado, o setor 3 recebia
freqüentes visitas, ao longo do dia, de representantes da empresa. Possuía,
portanto, acesso de pessoas de fora da empresa, mas não do público de uma
forma geral.
Fig. 4.8 – Setor 2, em sua posição definitiva. Localização no andar (E) e
layout (D). O círculo vermelho marca nossa posição mais constante no
ambiente; as cadeiras brancas representam os locais nos quais os clientes
se sentavam para serem atendidos.
Fig. 4.9 – Vista geral do Setor 2
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
52
Foi opção nossa pesquisar somente estes três setores da Invista. O motivo principal
foi o fato de serem estes três os setores que mais concentravam funcionários (onze,
oito e quatro, respectivamente), e por esse motivo, poderiam produzir uma análise
mais rica. Os demais setores, ou eram menores, ou seus funcionários tinham
funções sem lugar fixo (como o apoio), ou estavam ligados diretamente à
Setor C
1 gestor
+ 3 func.
+ 4 repres.
externos
(diversos)
Fig. 4.10 – Setor 3; localização no andar (E) e layout (D). O círculo
vermelho marca nossas posições mais constantes no ambiente; as
cadeiras brancas representam os locais nos quais os representantes
externos da empresa eram recebidos.
Fig. 4.11 – Vista geral do setor 3
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
53
diretoria, e foi escolha nossa não promover observações nesta seção. As demais
áreas da empresa abrangem compartimentos não ocupados permanentemente,
como auditório, refeitório
39
, copas, banheiros, recepção e salas de espera.
De forma conjunta, as plantas dos setores por nós pesquisados na Invista podem
ser vistas na figura 4.12, que os mostra em sua forma definitiva, após a reforma:
Os círculos vermelhos na planta mostram nosso posicionamento na Invista; nos foi
cedida uma pequena mesa e cadeira, onde podíamos apoiar um laptop, fazer
pequenos desenhos e de onde observávamos os ambientes. Todavia,
39
Apesar de não ter feito observações de forma permanente nesta área, pudemos participar, por
diversas vezes, de confraternizações da empresa que aconteciam neste local, o que também se
tornou fonte de observação para a pesquisa.
Fig. 4.12 – Os três setores da Invista
que foram pesquisados; sua
localização definitiva no andar (E) e
layouts (D). Os círculos vermelhos
marcam os locais, em cada setor,
dos pontos de observação mais
constantes, e as cadeiras na cor
branca marcam o local de pessoas
externas à empresa
.
Setor B
1 gestor
+ 7 func.
+ 7 clientes
1 superv.
(+ ponto)
Setor C
1 gestor
+ 3 func.
+ 4 repres.
externos
(diversos)
Setor A
1 gestor
+ 10 func.
1
2
3
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
54
freqüentemente também promovíamos deslocamentos nos setores e na empresa,
observando movimento de copas, refeitório etc., ampliando, assim, nosso leque de
informações.
4.2
R
EPARTIÇÃO
A
Nosso acesso ao segundo estudo de caso, a Repartição A
40
, ocorreu de forma
não programada por nós. Na mesma época do contato com a empresa Invista,
ao comentar sobre nossa pesquisa, ouvimos de um profissional em arquitetura que
o local onde ele trabalhava “era um verdadeiro caos espacial” (sic). Intrigados
com sua descrição, fomos verificar e, de fato, deparamo-nos com um quadro
interessante e rico para pesquisa: uma sala de 70m² , com 44 pessoas trabalhando,
sem mesas e cadeiras em número suficiente para todos. Feitos os primeiros
contatos, obtivemos permissão para pesquisar o escritório, que se tornou o estudo
de caso mais longo da pesquisa, doze meses.
A Repartição A é um órgão público municipal que funciona, por motivos adversos,
no interior de um clube, no Estado do Rio de Janeiro. O fato de estar localizado em
um local inadequado um clube por si se configura um aspecto negativo
para o seu ambiente. Juntamente com o expediente de trabalho, no qual são
desenvolvidas tarefas burocráticas, os funcionários têm que conviver
rotineiramente com o movimento de pessoas jogando bola, praticando esportes,
fazendo comemorações e, principalmente, sendo uma fonte de emissão sonora
totalmente incompatível com o ambiente de trabalho de um órgão administrativo
municipal (ver figuras 4.13 e 4.14). Na ocasião, em acordo com a orientadora da
pesquisa, decidimos nos aprofundar na investigação deste caso, uma vez que
verificar os funcionários submetidos a uma situação de apinhamento (Fischer, 1994)
e stress causado por estímulos externos alheios a um ambiente de trabalho,
poderia trazer situações reveladoras da influência do espaço no ambiente, de
forma muito rica.
40
Pelos mesmos motivos de preservação de identidade, o segundo estudo de caso será
simplesmente denominado “Repartição A.
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
55
Fig. 4.13 – A entrada do clube
Fig. 4.14 – O prédio no qual se encontra a sala da
Repartição A, no interior do clube.
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
56
O espaço destinado à Repartição A é uma sala de 70 m², localizada no prédio da
sede social do clube. A sala, estreita e longa (ver figura 4.15), é subdividida por
divisórias a meia altura e uma circulação central, com um único ambiente
privativo, o gabinete da chefia, localizado em uma das extremidades, oposta
àquela por onde é feito o acesso. Esta configuração básica foi encontrada no
início da pesquisa, e se manteve durante o seu tempo, porém, com algumas
modificações nos posicionamentos de mesas, divisórias e até mesmo do tamanho
do gabinete. A modificação mais significativa aconteceu no sexto mês de
observação, quando, por mudanças administrativas, o número de pessoas
diminuiu consideravelmente. As várias modificações de layout pelas quais a
Repartição A passou foram agrupadas em fases, e estão ilustradas na figura 4.16:
Fig. 4.15 – Vista geral da Repartição A.
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
57
29 pessoas
2,4m²/pessoa
24 lugares individuais
44 pessoas
1,6m²/pessoa
27 mesas individuais
1 mesa coletiva
Obs.: Durante esta fase não
foram obtidas informações detalhadas
sobre a configuração do gabinete
41 pessoas
1,7m²/pessoa
30 lugares individuais
27 pessoas
2,6m²/pessoa
24 lugares individuais
28 pessoas
2,5m²/pessoa
24 lugares individuais
27 pessoas
2,6/pessoa
25 lugares individuais
1 mesa coletiva
28 pessoas
2,5m²/pessoa
25 lugares individuais
1 mesa coletiva
(Plantas sem escala)
Fig. 4.16 – Fases do layout da Repartição A.
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
58
As fases mostradas são fruto das modificações mais significativas, percebidas à
medida que transcorriam as visitas à Repartição A; seus períodos de abrangência
estão, portanto, diretamente relacionados a algumas das ocasiões de nossa
presença no local, e não necessariamente às datas das modificações em si.
A Fase 1, que abrange desde o início da pesquisa, na semana de dezembro de
2005, até a 1ª semana de fevereiro de 2006, caracteriza a fase de maior ocupação
da Repartição A ; são 44 pessoas para 27 mesas individuais e uma mesa coletiva
(tampo circular, diâmetro 1,20m).
A Fase 2 (1ª semana de fevereiro à semana de maio) marca a diminuição de
área do gabinete, além da rotação de duas mesas do setor E
41
.
A Fase 3 (semana de maio à semana de julho) representa a mais expressiva
modificação pela qual passou a Repartição A durante o tempo de nossa pesquisa,
quando o setor E saiu deste órgão, reduzindo sensivelmente a ocupação do local,
que ficou com 27 pessoas para 24 lugares individuais.
As Fases 3a e 3b são consideradas desdobramentos da Fase 3; a Fase 3a (
semana de julho à semana de agosto) foi marcada pela rotação de uma mesa
do setor P e pela troca de posição da mesa da impressora com uma mesa do
setor M. Esta troca ocorreu por um motivo muito específico: como a mesa do setor
M estava situada entre a impressora e o armário, acabava servindo de superfície
de apoio aos que usavam um ou outro, importunando seu ocupante, que
incomodado, promoveu a troca. Já a Fase 3b (1ª semana à semana de agosto)
mostra o deslocamento de uma mesa do setor P para o setor A e a rotação de
uma outra mesa do setor P.
A Fase 4 (4ª semana de agosto à semana de outubro) é marcada pela inserção
de mais duas mesas na Repartição A, uma no gabinete e outra de tampo circular,
ficando esta última sem uso definido; em princípio, ela abriga folders promocionais
do setor M, da Repartição A e da Prefeitura local, mas acaba servindo como
apoio para pessoas diversas também. As duas mesas, que haviam feito parte
41
Os nomes dos setores foram abreviados para resguardar sua identificação.
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
59
da Repartição A, estavam do lado de fora da mesma, mas em função de uma
obra no departamento vizinho dentro do clube, acabaram sendo reincorporadas.
Finalmente, a Fase 4a (a partir da semana de outubro) é caracterizada pela
troca de posição entre a mesa de tampo circular e uma mesa do setor M.
Por ser um local de elevada densidade ocupacional, foi mais difícil estudar a
Repartição A. Como não havia mobiliário suficiente nem mesmo para os
funcionários, muitas vezes tivemos que permanecer em e, mesmo assim,
mudando constantemente de local. O local de anotações não foi o laptop, mas
um pequeno caderno, onde também fazíamos alguns croquis das situações
observadas. Por ser um ambiente de maior complexidade espacial, necessitamos
de mais tempo para proceder à observação.
Com o término da pesquisa no estudo de caso e passados alguns meses de
observação na Repartição A, pudemos começar a testar a nossa proposta
metodológica, não somente na própria Repartição A, como também na
Repartição B, 3º estudo de caso, visto a seguir.
4.3
R
EPARTIÇÃO
B
Pudemos desenvolver o estudo de caso na Repartição B devido ao conhecimento
travado com as pessoas da Repartição A, que ambas pertenciam ao mesmo
governo municipal. A observação na Repartição B teve início ainda durante a
pesquisa na Invista, portanto, até o término da investigação naquela empresa,
tínhamos três estudos de caso em desenvolvimento simultaneamente. Após um
mês, o estudo na Invista findou e, após seis meses, na Repartição A também; sendo
assim, o estudo de caso foi utilizado principalmente para validar nossa proposta
metodológica.
A Repartição B fica localizada no mesmo município da Repartição A, em um
prédio cujo aspecto externo pode ser visto na figura 4.17:
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
60
O escritório, formado pelas três salas do andar (ver figuras 4.18 e 4.19), possui
aproximadamente 107m², e no início de nossa pesquisa, contava com 11
funcionários. Com o passar do tempo, mais pessoas foram incorporadas, e ao
término da pesquisa de campo, havia 19 funcionários no local. Podemos dizer que
o trabalho desenvolvido mescla aspectos burocráticos (que incluem
atendimento ao público) com aspectos criativos.
Na Repartição B, tivemos um pouco mais de conforto em relação à Repartição A,
para permanecermos no ambiente fazendo nossas observações, anotadas em um
caderno. Inicialmente, ficávamos sentados nas cadeiras pertencentes a eventuais
mesas vazias; com o passar do tempo, passamos a ocupar as cadeiras avulsas
existentes pelo escritório, sem ocupar nenhuma em especial, fazendo a
observação das diferentes salas simultaneamente, modificando várias vezes nossa
posição no ambiente ao longo do dia. A observação na Repartição B estendeu-se
por nove meses, havendo o intervalo de um mês nesse período, no qual não
visitamos o local.
Fig. 4.17 – Prédio no qual está localizada a Repartição B.
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
61
Fig. 4.18 – Layout das salas da Repartição B.
Fig. 4.19 – Vistas gerais da Repartição B.
Capítulo 4 – Caracterização dos Estudos de Caso
62
Diferentemente da empresa Invista, cujo projeto de arquitetura foi principalmente
a tradução dos desejos da Diretoria e da Repartição A, que não possuía nenhum
planejamento espacial, na Repartição B o layout interno foi elaborado de comum
acordo com a maioria dos funcionários. Pode-se dizer que não houve mudanças
na disposição das mesas e cadeiras, a não ser pelas mesas da sala intermediária,
que ficaram afastadas da janela enquanto esta não possuía persianas, recebendo
forte incidência solar durante o período da tarde.
Após a caracterização física e administrativa dos três estudos de caso,
passaremos, no próximo capítulo, a descrever a construção da proposta
metodológica de análise cultural dos ambientes de trabalho; suas etapas, seus
erros e acertos, e no capítulo seguinte, como identificamos nos ambientes os sinais
culturais impressos pelos seus usuários.
C
APÍTULO
5
A CONSTRUÇÃO DA PROPOSTA METODOLÓGICA
DE ANÁLISE CULTURAL DE AMBIENTES DE TRABALHO
More than you heard, and more than your eyes can see.
Much more than simple words on a paper; rewriting
cultures, saying the unsaid, thinking how to think. Being
more than you, being two, the feet and the head, the
heaven and the earth, one goes while the other remains on
the background, two experiences, one result.
That´s the ethnographer work...
42
os capítulos anteriores, vimos os parâmetros culturais pertinentes à nossa
pesquisa, com a descrição das dimensões que serão utilizadas como
instrumentos de investigação elementos da análise cultural. O presente
capítulo não terá a forma tradicional de um capítulo de materiais e métodos.
Normalmente, esses capítulos apenas apresentam os métodos utilizados nas
investigações. No entanto, como a presente pesquisa trata da elaboração de
uma proposta metodológica
43
, resolvemos, em acordo com a orientadora deste
trabalho, redigir um texto que apresenta detalhadamente o processo de
construção da proposta metodológica. Assim, em ordem aproximadamente
cronológica, relataremos o percurso, seus erros, dificuldades, descobrimentos,
surpresas, tentativas e acertos, até a construção de cada procedimento em sua
forma definitiva.
Para efeito de melhor visualização, sempre que o texto fizer referência direta à
configuração final da proposta metodológica, ele será formatado em um quadro
semelhante a este, com fundo amarelo e borda contínua.
42
Trecho do blog de Josué Tomasini, postado no endereço
.http://www.anthroblogs.org/boundaries/archives/2005/09/there_is_always.html. Acesso em abril de
2006.
43
Formada pelo conjunto de vários métodos.
N
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
64
Após a apresentação da proposta metodológica neste capítulo, serão vistas no
capítulo subseqüente as descobertas feitas em campo com a aplicação da
proposta metodológica, ou seja, como as dimensões culturais estão refletidas no
ambiente, mostrando, assim, a validade da proposta aqui apresentada.
5.1 As primeiras tentativas
Após os estudos teóricos desenvolvidos na pesquisa, compreendemos que a
proposta metodológica deveria ser baseada principalmente na observação
discreta (COSNIER, 2001) ou passiva (SPRADLEY, 1980) do ambiente e das
atividades nele desenvolvidas. A opção pela observação como método principal
da proposta justifica-se porque, para se chegar à compreensão do significado de
dimensões culturais, tanto os métodos normalmente utilizados nas avaliações
ambientais quanto nas pesquisas sociais
44
não dão conta da real dimensão do
significado procurado. Assim, a observação, paciente e tão constante quanto
possível, nos moldes de uma observação etnográfica, busca no ambiente e na sua
dinâmica de uso, as dimensões culturais que foram estudadas.
Entendemos que a busca por elementos culturais no ambiente construído passa
necessariamente por um contexto interdisciplinar, para que seja possível conjugar
as informações tanto provenientes da cultura (antropologia), quanto do ambiente
construído (arquitetura) e, dessa maneira, permitir a compreensão de como a
primeira se reflete no segundo. Portanto, a adoção de um viés etnográfico na
observação se faz necessária pelo fato de que a análise feita é de cunho
essencialmente qualitativo, necessário para alcançarmos resultados mais
representativos de como as subjetividades dos grupos de usuários podem estar
refletidas no ambiente. Além disso, sustentamos que a observação é uma
poderosa ferramenta, ao nos auxiliar na complexa tarefa de compreender como
“os indivíduos de um grupo percebem e se apropriam dos espaços [...] e
estabelecem domínios sociais”
45
.
44
Interface na qual a nossa própria pesquisa está situada.
45
Duarte, 1993, p.230-231, tradução livre pela autora.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
65
Além da observação, também selecionamos previamente alguns métodos
complementares para a descoberta das dimensões culturais no ambiente, para
que, como o próprio nome diz, complementassem as informações obtidas com a
observação, pois apesar de esta se apresentar como o método mais abrangente,
ainda assim apresenta algumas deficiências, produzindo lacunas que devem ser
preenchidas por outros meios. Em linhas gerais, os métodos complementares
servem para a decodificação de quase todas as dimensões, mas a observação
paciente e constante, ratificamos, é de maior alcance investigativo na pesquisa
de cunho etnográfico.
Tais procedimentos estavam previstos em nosso exame de qualificação. Baseados
em estudos teóricos e experimentais, desenvolvidos por outros pesquisadores,
fizemos uma pré-seleção, montando um leque de instrumentos que poderiam vir a
ser úteis em nossa pesquisa. Foram eles: croquis de campo (estudo descritivo do
ambiente - COSNIER, 2001); mapeamento comportamental (ITTELSON, RIVLIN e
PROSHANSKYl, 1970); entrevistas e questionários (SOMMER, 1979); seleção visual
(SANOFF, 1991 e PENNA, 2004); exercício de identidade cultural (GANNON, 2001);
Poema dos Desejos (SANOFF, 2001) e orientação temporal (COTTLE in
TROMPENAARS, 1994). Contudo, depois de acertada sinalização de nossa banca
examinadora, reavaliamos a real necessidade de usar tal quantidade de
elementos. Assim, no tempo decorrido entre o exame de qualificação e o início da
pesquisa de campo, mediante novos estudos, redimensionamos nosso leque de
métodos complementares, passando a adotar:
a) Croquis de campo (COSNIER, 2001; OLIVEIRA FILHO, DUARTE e SANTOS, 2002;
VOGEL e MELLO, 1985).
b) Mapeamento territorial (THORNE, 1995; ABRANTES, 2004).
c) Poema dos desejos (SANOFF, 2001).
Munidos da intenção de utilizar esses três métodos complementares, juntamente
com a observação, partimos para a pesquisa de campo, cujo desenvolvimento
será descrito no próximo item.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
66
5.2 A proposta metodológica de análise cultural de ambientes de
trabalho
5.2.1 A observação e suas diferentes fases
Nossa pesquisa de campo iniciou-se na empresa Invista, caracterizada no
capítulo anterior. Após os contatos iniciais, travados com a diretoria da empresa, o
primeiro dia efetivo de pesquisa foi somente de observação, para que houvesse
pelo menos um mínimo de contato entre pesquisador e usuários. O início da
proposta metodológica passa necessariamente por um período de coleta de
dados e de observação em campo, e esta pode ser dividida em três fases:
período de impregnação, observação paciente e constante e sistematização da
observação.
5.2.1.1 Período de impregnação
46
Optamos por abraçar as recomendações de Cosnier (2001), que sustenta que a
observação de campo deveria ser iniciada por um “período de impregnação”.
Segundo este autor, é um período quando o pesquisador permanece no ambiente
apenas observando e fazendo anotações, familiarizando-se e permitindo que o
ambiente também se “familiarize” com a sua presença. Pelo princípio adotado de
observação discreta ou passiva, nossa postura foi o menos intrusiva possível, tanto
para não interferir no trabalho das pessoas, quanto para minimizar o incômodo da
presença de uma pessoa estranha ao ambiente da organização; esse incômodo é
esperado e inevitável, pelo menos nos primeiros momentos. Apoiamo-nos, então,
em Sommer (1973), para quem o pesquisador, por meio da sua permanência no
ambiente, não somente vê, ouve, observa e sente, mas também tende a
46
Cosnier (2001).
49
Muito embora os três autores estejam considerando uma observação participante, na realidade
são descritas várias situações em que não efetiva participação do observador; apenas a
observação em si.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
67
conquistar a confiança dos participantes, e a Edgerton e Langness (1974, p.32),
que nos afirmam que
os seres humanos têm uma habilidade impressionante de supor o que os
cientistas sociais querem deles e alteram seu comportamento para agradar,
confundir ou enganar aqueles que têm a audácia de ‘estudá-los’ (...). Mas
nenhuma técnica tem se mostrado tão eficaz a esse respeito quanto a
observação participante
49
prolongada.
50
.
A duração desta fase depende do observador, mas também da complexidade do
ambiente, entendida aqui como o conjunto de interações existentes no local,
função direta da quantidade de pessoas que o utilizam simultaneamente, o que
torna mais difícil e demorada a imersão do pesquisador. É possível haver situações
na pesquisa de campo em não haja espaço físico nem para o próprio observador
permanecer de no ambiente, sem que sua presença atrapalhe fisicamente o
deslocamento de outras pessoas, como vivenciamos em parte de nosso trabalho
de campo
51
. Por isso, pudemos averiguar que quanto mais complexo o ambiente,
maior será o período necessário para a impregnação, inclusive para que os
usuários do local se familiarizem com a presença do pesquisador. Como já
mencionado, é uma observação passiva, e embora a presença do pesquisador,
por princípio, seja o menos intrusiva possível, ele não ficará oculto, havendo uma
estranheza natural por parte dos usuários. É pela constante presença do
observador no ambiente que sua presença vai deixando de ser estranhada (ou
mesmo notada) pelos usuários (SOMMER, 1973; EDGERTON e LANGNESS, 1974;
GEERTZ, 1989), deixando assim de representar um obstáculo à naturalidade dos
eventos que ali se desenvolvem, contribuindo para um resultado mais verdadeiro
da observação e da pesquisa como um todo.
No caso da empresa Invista (e na Repartição B), podemos dizer que o período de
impregnação durou até o quarto ou quinto dia de visita, após os quais os
50
Tradução livre da autora.
51
Na pesquisa na Repartição A, obtivemos melhores resultados na observação quando subdividimos
o ambiente estudado em outros menores, possibilitando uma maior atenção do pesquisador em
cada parte do ambiente, o que nos remete a Sanoff (1992), quando este autor argumenta que se as
observações forem casuais acaba acontecendo quando o ambiente é maior do que a
capacidade do observador em apreender os fatos – elas mostrarão somente o óbvio.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
68
funcionários e alguns procedimentos rotineiros das empresas já eram “conhecidos”
para o pesquisador, e este também para os usuários do ambiente. No caso da
Repartição A, este período foi um pouco mais longo, em função da complexidade
espacial do ambiente, e também do número maior de pessoas que o
freqüentavam.
Assim como relatado em diversas etnografias, verificamos que um dos instrumentos
que fornecem suporte à observação é o caderno de campo, que pode ser um
caderno propriamente dito ou mesmo um laptop; é o local onde são feitas as
anotações e o registro dos dados que chamam a atenção na dinâmica do
ambiente, muito semelhante e inspirado no caderno de campo de uma
observação etnográfica, feita pelos antropólogos
52
. As anotações são feitas à
medida que os fatos são observados, para que não sejam esquecidos
posteriormente. Além disso, é também no caderno de campo que o pesquisador
anota suas próprias emoções; o relato é feito não apenas do que é visto, mas
também do que é sentido, para que depois as anotações possam ser relidas,
pensadas e analisadas.
A pesquisa revelou útil o emprego de referências numéricas que omitissem a
identificação pelo nome dos usuários. Assim, no início da observação, a cada um
deles foi atribuído um número (mantido ao longo de toda pesquisa), utilizado tanto
para obter mais rapidez no ato de anotar, quanto para que o texto escrito no
caderno de campo ficasse isento de nomes e referências às identidades pessoais.
Também cabe mencionar (voltaremos a este assunto posteriormente) que a
experiência em campo apontou para a necessidade de iniciar os “croquis de
campo” já nesta primeira fase da observação, pois o método facilita o
entendimento espacial do que está sendo observado.
As primeiras fotografias do ambiente começaram a ser feitas a partir do segundo
dia de observação. Em um primeiro momento, apenas registrando as
características do local, mas em seguida, alguns elementos observados no dia
anterior também receberam atenção e seu respectivo registro em fotografias,
como por exemplo, na Invista, um mouse que havia recebido de seu usuário uma
52
Ver, por exemplo, Spradley, 1980, p.69 et.seq.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
69
etiqueta com seu nome. Nesta época, a empresa estava no meio de uma
reforma, com o deslocamento de
alguns setores de suas salas
originais, e por isso o equipamento
maior (como cpu’s e monitores)
estava sendo etiquetado com o
nome de seus usuários. No entanto,
chamou-nos a atenção o fato de
um mouse do setor estar com o
nome de seu usuário (ver figura
5.1), diferentemente dos demais,
que não possuíam etiqueta.
Buscamos verificar a pista de que isso pudesse estar sinalizando um possível
sentimento de apropriação por parte daquele usuário em relação aos demais, que
não tiveram o “cuidado” de etiquetar seus mouses. Assim, a dimensão delimitação
de territórios foi uma das primeiras a surgir durante a observação.
Juntamente com a observação (que permeia todas as fases da pesquisa), a
produção de fotografias igualmente se estende pelo mesmo período, e se constitui
em um importante material coletado no campo, desde a fase de impregnação.
Cabe ressaltar que fotografias são úteis não só como registros em si mesmas, mas
também como “olhos do pesquisador”, que captam detalhes nem sempre
percebidos à primeira vista, “a olho nu”, algumas vezes pela falta de percepção
propriamente e em outras vezes pela falta de oportunidade ou conveniência do
pesquisador permanecer mais do que 10 ou 20 segundos com o olhar preso a uma
única situação. Nesse sentido, as fotografias servem para congelar um
determinado instante, e permanecem disponíveis indefinidamente, sempre que o
pesquisador precisar recorrer àquela situação específica que foi registrada. Além
disso, servem como pontos de comparação entre situações anteriores e atuais,
mormente nas situações exibidas no ambiente, como limites, poder territorial,
símbolos coletivos e territórios de incerteza.
Fig. 5.1 – Mouse etiquetado com o nome de
seu usuário.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
70
Embora tenhamos feito referência à Repartição A, foi após os primeiros dias de
observação na Invista que
iniciamos nossa pesquisa neste
segundo estudo de caso.
Diferentemente da Invista, onde
nos foram cedidas mesa e cadeira
para que pudéssemos
permanecer com nosso laptop no
ambiente (ver figura 5.2), na
Repartição A, como descrito no
capítulo anterior, não havia nem
mesmo mesas em número
suficiente para os funcionários. Por esse motivo, nosso caderno de campo na
Repartição A foi um caderno, propriamente dito, no qual fazíamos nossas
anotações a mão, muitas vezes de pé, circulando pelo confuso ambiente deste
estudo de caso. Da mesma forma que na empresa Invista, iniciamos a execução
de fotografias no segundo dia de observação, mas no caso da Repartição A, logo
no primeiro dia sentimos necessidade de proceder ao croquis de campo (a serem
vistos mais adiante), com o desenho de um esboço de sua configuração. Como
mencionado, para facilitar as anotações e correspondências entre mesas e seus
ocupantes, como estratégia de observação, foi atribuído a cada um dos usuários,
em todos os estudos de caso, um número de referência; na empresa Invista, os
números das pessoas correspondiam perfeitamente às mesas que elas ocupavam,
porque cada pessoa possuía uma mesa para si. No caso da Repartição A, havia
mais pessoas do que mesas; por isso, a primeira atribuição de número foi para as
mesas e seus respectivos ocupantes prioritários, informação obtida por meio de
perguntas diretas, questionando “de quem é esta mesa?”. Às demais pessoas
presentes que não possuíam mesa específica, foram atribuídos números
independentes de lugares. Em um primeiro momento, esta estratégia funcionou
adequadamente, mas com o correr da observação, pudemos perceber que
certas pessoas, apesar de não estarem inicialmente relacionadas a nenhuma
mesa, sentavam-se regularmente sempre no mesmo local, compartilhando a
Fig. 5.2 – Na esquerda, um dos locais de
observação na Invista. A pequena mesa nos
foi cedida especialmente para este fim.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
71
mesa, em momentos distintos, com seu usuário “prioritário”. Assim, verificamos um
processo de apropriação feito de forma lenta e gradual, como estratégia dos
usuários para a legitimação de seu território perante os demais colegas de
trabalho, como veremos mais adiante. Além disso, também pudemos perceber
outros tipos de ocupação de “territórios” , como o caso em que uma mesma
pessoa sentava-se em vários locais diferentes, dependendo da disponibilidade,
espalhando a sua “possibilidade de aceitação” ou seu “passe invisível de
utilização” por diversos locais do escritório. Apesar de a pesquisa ter mostrado que
a informação fornecida verbalmente às vezes diferia das atitudes praticadas,
preferimos manter a numeração original, para não gerar um desentendimento em
nossas próprias anotações.
Ainda durante a primeira fase, a pesquisa apontou para a necessidade de haver
atenção aos dias e horários da observação. A menos que haja disponibilidade do
pesquisador e do ambiente, dificilmente a observação consegue ser realizada em
período integral, todos os dias da semana. Como esse foi o nosso caso,
experimentalmente, efetuamos algumas observações nos mesmos dias e horários,
e posteriormente, mudamos propositalmente as ocasiões, revelando-se ambos
procedimentos úteis, por diferentes motivos; a manutenção de dias e/ou horários
na observação é útil para revelar acontecimentos cíclicos, que tenham lugar no
mesmo dia ou hora. Por exemplo, em um dos nossos estudos de caso, a última hora
do expediente, quando não eram mais recebidos os clientes num dos setores,
era vivida de maneira ligeiramente mais informal; as pessoas continuavam seus
trabalhos, mas conversavam mais umas com as outras, e eventualmente a
ocupavam os lugares anteriormente destinados aos clientes. O procedimento de
variar dias e horários é útil para revelar que esse “tom” informal não acontece em
outras ocasiões; além disso, se não houvesse variação, não seria possível saber o
que acontece em outros dias e horários. Esse cuidado permite que se tenha uma
real noção do ambiente, que pode ser modificado em função dos diversos tempos
pelos quais ele passa. Como outro exemplo, podemos indicar que em nossos três
estudos de caso, as pessoas revezavam-se em diferentes horários de almoço, e a
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
72
presença ou ausência de uma ou mais pessoas muitas vezes ensejava cenários
53
diferentes para a observação.
5.2.1.2 Observação paciente e constante
Passada a fase de impregnação, o pesquisador começa a ter uma maior
compreensão do que acontece à sua volta. É quando a observação entra em sua
2
a
fase. Não um momento específico para isso, e essa é uma apreensão que
cada pesquisador, em cada ambiente, irá adquirir de uma maneira peculiar. Nos
remetemos aqui a Lazarus e Cohen (1977), que sustentam a necessidade do
tempo para o estudo transcorrer de forma apropriada:
(...).a relação entre pessoa e ambiente flui ao longo do tempo, por
isso não devemos olhar para um único e estático momento, mas sim
a continuidade do processo (...). Precisamos estudar as pessoas nas
situações vividas diariamente, não somente uma ou duas vezes,
mas repetidas vezes e intensamente, para obter um quadro válido e
profundo dos processos sociais, psicológicos e fisiológicos e padrões
estáveis dentro do mundo real, em vez do laboratório
54
.
Assim, adentrando em sua segunda fase, a observação tende a adquirir mais
consistência. Para nos auxiliar na sua condução, buscamos apoio em Magnani
(2000), que argumenta não pretender a observação feita identificar o inusitado e o
inesperado, mas, ao contrário, o padrão e a norma. Segundo este autor, os
usuários de um ambiente seguem determinados ritmos e ordens, muitas vezes sem
se dar conta do padrão obedecido, e caberá ao pesquisador a tarefa de
percebê-lo. Da mesma forma, apoiamo-nos em uma metodologia aplicada por
Oliveira Filho, Duarte e Santos (2002), utilizando conceitos de apropriação e
territorialização, procurando apreender os mecanismos de utilização e apreensão
do espaço por meio de três elementos, que podem ser resumidos sinteticamente
na frase: quem (comportamento-no-espaço
55
) faz o quê (evento) onde (local).
53
Termo aqui utilizado no sentido do “behavior setting”, desenvolvido por Barker (1968).
54
Lazarus e Cohen, 1977, p.119 e 121. Tradução livre da autora.
55
Notas de aula da disciplina “Arquitetura e Projeto do Lugar” (PROARQ), ministrada pela professora
Cristiane Rose Duarte.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
73
Em relação aos “comportamentos-no-espaço”, que em nosso caso são os
usuários, os autores sugerem que sejam formadas categorias, agrupadas ou
separadas por classes de comportamento. Nossa pesquisa mostrou-nos que, nos
ambientes de trabalho, é especialmente relevante observar como categorias de
funcionários, agrupados administrativamente segundo seu cargo ou setor, podem
assumir outras composições, não administrativas, em função de suas relações
pessoais e da existência eventual de níveis diversos de coletivismo.
No que concerne ao local (no nosso caso, um ambiente de trabalho), observamos
não somente um conjunto de elementos físicos, mas também marcos, fronteiras e
pontos de interseção impalpáveis. Ainda assim, é necessária a devida apreensão
e descrição física do ambiente.
Os eventos representam o que as pessoas desenvolvem no ambiente. Magnani
(2000) argumenta que funcionam como se fossem regras, dentro de uma
determinada lógica. Nas suas palavras:
São essas regras que dão significado ao comportamento e através
delas é possível determinar as regularidades, descobrir as lógicas,
perceber as transgressões, os novos significados. Identificar os
movimentos, os fluxos e as diferentes normas de apropriação no
universo de significado dos atores é o primeiro passo para chegar a
padrões mais gerais, responsáveis pela compreensão dos
comportamentos articulados a outras instâncias e domínios mais
amplos da vida social. (MAGNANI, 2000, p.38).
No caso de nossa pesquisa, buscamos observar esses “padrões” citados por
Magnani, não apenas no comportamento das pessoas, mas também no
comportamento delas em relação ao ambiente. As “regras” foram buscadas nas
arrumações físicas dos escritórios, as “transgressões” também foram observadas
nos arranjos espaciais; as “lógicas” foram percebidas por meio do uso dos locais
de trabalho e no relacionamento das pessoas nos ambientes em que conviviam
com seus colegas das empresas analisadas.
Referindo-se a elementos que são importantes na observação, Spradley (1980)
sugere, além dos elementos citados acima e outros que podem ser
considerados como suas subdivisões, que também sejam observados: o tempo (a
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
74
seqüência de acontecimento dos eventos); os objetivos que os atores estão
buscando no desenvolvimento daqueles eventos; e os sentimentos (emoções
sentidas e expressadas).
Assim, buscamos verificar se em um suporte espacial, o tempo pode diferenciar os
usos dados àquele ambiente, havendo um uso específico para cada período de
tempo, e isso pode se constituir em um padrão. Igualmente, os objetivos podem
seguir um padrão, havendo um local específico para cada objetivo (trabalhar ou
socializar, por exemplo), mas também podem existir padrões implícitos que façam
um mesmo ambiente ser permeado por objetivos diversos, coexistentes ou não.
Finalmente, segundo o que argumenta o autor, os sentimentos também podem
estar vinculados espacialmente a um determinado local, que gere desconforto ou
insatisfação, por exemplo.
Além da condução da observação de forma que ela seja produtiva, a própria
permanência no local também contribui para que o pesquisador adquira
conhecimento sobre o ambiente; é criado um laço com os usuários, que permite
serem várias informações adquiridas por meio de simples conversas informais.
Fazendo uma comparação, é o tipo de convívio que um etnógrafo “tradicional”
vai aos poucos adquirindo, quando passa a residir numa tribo juntamente com os
nativos (GEERTZ, 1989). Em nosso caso, passamos a acompanhar problemas do seu
cotidiano, como o intenso ar-condicionado ou quando este está com defeito; se a
fechadura do banheiro quebrou; se o elevador do prédio demora a chegar; se
alguém, por conta de uma música reproduzida em seu computador, vira alvo de
brincadeira dos demais
56
...passamos aos poucos a compreender o que é motivo
de riso para eles, o que lhes aborrece, o que deve ou o ser feito ou dito, e essa
compreensão auxiliará na produção dos resultados. Contudo, como
mencionado, a maior compreensão sobre o ambiente e seus sistemas sociais não
deve se interpor ao estranhamento necessário ao observador; como nos afirma
Lévi-Strauss (1986), o olhar distanciado é necessário para o observador poder
perceber as características culturais daquele grupo do qual ele não faz parte. Ao
se familiarizar demais com o ambiente, o risco de se perder o discernimento
56
Todos os exemplos foram vivenciados por nós em nossa pesquisa de campo.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
75
necessário para a elaboração das análises. Ao mesmo tempo, o
reconhecimento das sensações e sentimentos do observador que vivencia em
campo o cotidiano do ambiente em análise. Como a observação é um dos
elementos muito importantes na pesquisa, da mesma forma que no procedimento
etnográfico, é inegável que o contexto pessoal do próprio observador interferirá no
modo como ele observa e no que ele observa; entendemos ser preciso, desde o
período de impregnação, que haja uma consciência dessa influência, e que ela
seja contextualizada em relação ao objeto de estudo. Nas palavras de Ruth
Cardoso,
Observar é contar, descrever e situar os fatos únicos e os cotidianos,
construindo cadeias de significação. Este modo de observar supõe
(...) um investimento do observador na análise de seu próprio modo
de olhar. Para conseguir essa façanha, sem se perder entrando
pela psicanálise amadorística, é preciso ancorar as relações
pessoais em seus contextos e estudar as condições sociais de
produção dos discursos. Do entrevistador [observador] e do
entrevistado [usuário]. (CARDOSO, 1997, p.103)
Em uma metodologia de cunho subjetivo como é a observação, não como
manter uma posição de neutralidade em relação ao que está sendo observado,
nem tampouco substituir “impunemente um observador pelo outro. A observação
etnográfica leva em consideração, ainda que involuntariamente, o olhar e o
contexto pessoal de quem está observando. Por isso, a consciência das próprias
emoções
57
, bem como as referências a elas, no caderno de campo, tornam-se um
importante referencial na pesquisa, porque facilitam as análises posteriores do
material coletado. Utilizamos a mesma abordagem e termos de Coelho (2004,
p.46), que demonstra haver um enriquecimento do estudo ao unir um enfoque
subjetivo aos métodos etnográficos, propiciando “a observação do objeto de
pesquisa [...] através da subjetivação do observador”. Não obstante a
necessidade da consciência desta “subjetivação”, a objetividade não deve ser
suprimida da nossa observação de cunho etnográfico; segundo Duarte (1993), por
falar a mesma língua e morar na mesma cidade, há o risco de supor que as
57
São também utilizadas pela abordagem atuacionista e pela psicogeografia.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
76
pessoas que fazem parte do objeto de estudo tenham o mesmo universo cultural e
percebam os espaços de maneira similar à do pesquisador, o que nem sempre é
verdade. Vemos que durante a observação, tanto é necessário que o pesquisador
saiba transpor suas emoções e sentimentos para o caderno de campo,
juntamente com o fato que está sendo observado, como também manter um
distanciamento mínimo para que haja a sua estranheza ao relatar tais fatos.
Portanto, fazendo parte desse processo, pudemos perceber após dois meses
algumas mudanças sendo inevitavelmente introduzidas em nossa proposta
metodológica. Pudemos constatar que as primeiras observações continham muito
mais anotações sem utilidade posterior do que as realizadas após um certo tempo.
Assim, verificamos que as anotações estavam ficando mais consistentes.
Além da evolução do processo, nossa pesquisa mostrou-nos que, com o desenrolar
da observação, os eventos ocorridos vão suscitando questionamentos no
observador. Por exemplo: se não houve determinação por parte da chefia, por
que as pessoas escolheram sentar-se naqueles lugares? O que motivou suas
escolhas? Esse fato pode ser a porta de entrada para uma série de observações
que venham a desvendar uma rede de significados presentes no ambiente, como
por exemplo, uma lógica interna do grupo de que “o mais novo” fica com o “pior”
lugar, sendo visto como “pior” o que tem a tela de computador mais exposta a
terceiros, permanecendo, conseqüentemente, mais tempo sujeito ao controle
visual de quem passa por trás daquela estação de trabalho. Para chegar à
compreensão dessa lógica, são necessárias observações em momentos e
situações diversificadas, em função dessa variável, perfazendo o que Edgerton e
Langness (1974) classificaram de “observação sistemática”
58
. Assim, já estando em
sua fase consolidada, a observação toma o rumo de uma sistematização.
58
Segundo os autores, uma observação sistemática tem o foco num determinado evento, buscando
sinais que apontem quem, como, quando, onde e o que deve ser observado, como forma de
esclarecer o evento em si. No exemplo citado acima, da seqüência da escolha de lugares, são todas
as observações pontuais ou mesmo gerais, que venham a contribuir especificamente para elucidar
esta questão.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
77
5.2.1.3 Sistematização da observação em indicadores das dimensões
culturais
Para que a observação não seja feita somente em função de uma descrição de
eventos, “ao sabor” de cada situação (e que nem sempre o observador pode ter
sensibilidade para perceber todas as ocorridas), procuramos estabelecer um certo
direcionamento da observação, de modo a aprofundá-la, em um processo que
também entendemos ser uma sistematização, porém em função das dimensões
culturais. Para o desenvolvimento da nossa proposta metodológica, a adoção
dessas dimensões foi um grande auxílio. Como mencionado, as dimensões por
nós escolhidas têm no ambiente de trabalho um campo fértil para o seu
desenvolvimento, e foi de fundamental importância tê-las definido previamente,
antes da ida a campo, porque passada a 1
a
fase, de impregnação, foi possível
buscá-las de forma mais objetiva, no ambiente físico e na sua dinâmica de uso,
observando suas evidências, mas sempre mantendo o olhar atento a outros
eventos também, fundamentais para contribuir para a compreensão do conjunto
como um todo.
Nossa pesquisa mostrou a ocorrência de alguns pontos e situações específicas
recorrentes, que revelavam as dimensões culturais. Essas recorrências podem ser
consideradas como indicadores, que auxiliaram a configurar uma sistematização
da observação, servindo muitas vezes um mesmo indicador a mais de uma
dimensão simultaneamente. O levantamento dos indicadores foi elaborado a
partir da própria observação, como se fosse um mapeamento. Ao final de cada
dia de trabalho, ao reler nossas anotações no caderno de campo, fomos
sinalizando quais itens indicavam a existência de uma ou mais dimensões, e ao
listar todos juntos, com o material produzido em vários dias de observação, foi
possível começar a perceber a citada recorrência de alguns deles.
Os indicadores não constituem em si mesmos um roteiro de observação, mas são
resultado da imersão que o pesquisador faz no ambiente. Portanto, cada
indicador anotado não produz simplesmente um “sim” ou “não”, mas respostas
extensas, que devem esclarecer determinada situação no ambiente pesquisado.
Em outras palavras, os indicadores mapeados auxiliam na análise que é feita a
partir da observação; nossa pesquisa nos fez compreender que não representa um
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
78
avanço significativo o pesquisador ir a campo com uma lista de itens a serem
observados e se concentrar em um por vez
59
, porque reduz a observação da
diversidade de eventos, característicos de cada ambiente. Em nossa pesquisa, ao
tentar transpor de forma rígida os indicadores mapeados de um estudo de caso a
outro, a observação tornou-se incipiente, porque retirava a riqueza específica
daquele estudo de caso, que apesar de contar com as mesmas dimensões
culturais em evidência, apresentava eventos próprios e caminhos não exatamente
iguais para chegarmos até eles. A listagem rígida faz o pesquisador não perceber
importantes acontecimentos que não deixam de ocorrer só porque ele não os está
observando; essa sistematização proposta o se apresenta, portanto, limitada
como se fosse um “check list”, que uma vez cumprido indicaria a observação
também estar encerrada. Muito ao contrário, é a partir dela que outros
questionamentos poderão surgir, evidenciando a necessidade dos métodos
complementares e talvez a inserção de novas dimensões descobertas no
ambiente pesquisado. Dessa forma, os indicadores cumprem o papel que seu
próprio nome sugere: eles são elementos indicadores de situações e sinais que são
úteis ao serem levados em consideração na observação, como forma de
descobrir rebatimentos espaciais das dimensões culturais. Os indicadores obtidos
pela observação de situações recorrentes em nossa pesquisa foram:
1. Acesso
2. Mobiliário
3. Fluxos
4. Permuta de equipamentos
5. Reprodução de músicas
6. Locais de socialização
7. Distância entre as pessoas
59
Marinoff (2006, p.45), mencionando o trabalho de Abraham Maslow, cita que “...se a única
ferramenta em sua caixa de ferramentas é um martelo, uma porção de coisas começam a parecer
pregos”.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
79
8. mbolos coletivos
9. Interações entre as pessoas
10. Personalização
11. Posicionamento de objetos pessoais
12. Existência de grupos
13. Alcance visual entre superior e subordinados
14. Exposição de normas e avisos
15. Demonstração de cuidados com o ambiente
Nossa pesquisa nos mostrou que a observação desses itens é útil como auxílio para
revelar as dimensões culturais refletidas no ambiente; os nove primeiros, inclusive,
são úteis para a descoberta de mais de uma dimensão, simultaneamente. Para a
correlação entre indicadores e dimensões, e uma maior compreensão sobre como
cada indicador pode revelar uma dimensão, os quinze itens listados acima foram
posicionados em uma tabela, com colunas separadas por dimensão, como pode
ser visto a seguir.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
80
Hierarquia e poder Coletivismo Controle da incerteza Delimitação de territórios
1.Acesso
se há diferença de acessos para
diferentes pessoas (em locais
com alta hierarquia e
possibilidades físicas para isso,
há acessos diferenciados para
os que têm mais poder)
se há diferença de acessos para
diferentes pessoas (quando há
incerteza, há a necessidade de
controlar os caminhos das pessoas,
separando os acessos)
2. Mobiliário
como o mobiliário e o lay-out
podem interferir no uso dos
ambientes e possivelmente no
relacionamento entre as
pessoas (em situações de alta
hierarquia, quem tem menos
poder tem também a menor
mesa, ou o pior computador –
pode ser um poder associado
também ao “tempo de casa”, e
não necessariamente ao cargo)
se o mobiliário ou até mesmo o layout
são usados de forma diferente em
situações diferentes (ex: quando há
clientes na sala, ou não, de forma que
o “controle da situação” não seja
perdido);
como o mobiliário e o layout podem
interferir no uso dos ambientes e
possivelmente no relacionamento entre
as pessoas (se situações de incertezas
devem ser controladas, e o layout e o
mobiliário não permitirem isso, haverá
conflitos – ex: locais exclusivos para um
determinado tipo de atividade, como
comer ou transmitir um fax)
como o mobiliário e o layout podem
interferir no uso dos ambientes e
possivelmente no relacionamento
entre as pessoas (o mobiliário pode
fazer com que os limites da
apropriação sejam menores do que
o desejado pelos seus ocupantes,
idem o layout);
se o mobiliário ou até mesmo o
layout são usados de forma
diferente em situações diferentes
(ex: quando há clientes na sala ou
não – pode estar associado à
incerteza, mostrando que a partir de
certo ponto os clientes não podem
passar, ou mesmo os colegas)
3.Fluxos
pessoas com mais poder se
deslocam sem hesitar pelos
diversos locais da empresa,
inclusive nos ambientes em que
normalmente não trabalham,
provocando um fluxo específico
relacionado ao poder que é
próprio delas
como o desenvolvimento do
trabalho traz peculiaridades ao uso
dos ambientes, reunindo ou
separando espacialmente as
pessoas, podendo os grupos
coletivistas persistirem, mesmo que
trabalhem distantes entre si. Nesses
casos, é comum haver um fluxo de
pessoas exclusivamente por conta
do coletivismo, mesmo que
aconteça somente nas horas vagas.
como o desenvolvimento do trabalho
traz peculiaridades ao uso dos
ambientes (em empresas onde a
incerteza é grande, ao chegarem
pessoas externas a esta, normalmente
são direcionadas e mantidas em
ambientes próprios; o fluxo promovido
por elas não é franqueado a todas as
dependências da empresa)
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
81
4.Permuta de
equipamentos
se um usa o equipamento e o
material do outro (quando há
grande hierarquia, geralmente o
equipamento do superior não é
uma opção de uso)
se um utiliza o equipamento e o
material do outro (até certo ponto,
essa permissividade pode revelar o
quanto o outro é visto como sendo
“do mesmo grupo”)
se um usa o equipamento e o material
do outro e o que isso acarreta (quando
há alto controle da incerteza e
intercâmbio de equipamentos, é
comum haver normas estabelecidas
para esse rodízio, de forma a garantir o
direito de cada um)
se um utiliza o equipamento do
outro e o que isso acarreta (quando
os equipamentos são fortemente
apropriados pelas pessoas, há
conflitos quando eles são utilizados
por outrem)
5. Reprodução de músicas e outros sons
músicas produzidas no
ambiente, ouvida por todos,
mas escolhidas e/ou
controladas pelo superior
daquele ambiente revela a
existência de distância
hierárquica. Nesses casos, é
comum os demais funcionários
escolherem outra programação
musical, quando o chefe está
ausente
há sons que dominam os ambientes
como forma de expressão coletiva,
como uma programação musical
escolhida de comum acordo.
Dependendo do tamanho do
ambiente, a posição física da fonte
sonora também explicitará o
coletivismo; p. ex, em um ambiente
muito amplo, a fonte deverá ficar
numa posição tal que todos a
ouçam, sem que seu volume sonoro
seja insuficiente ou exacerbado
para nenhum dos membros.
como são os alcances sonoros de
cada ambiente; há conflitos sonoros
produzidos por rádios ligados
simultaneamente e com audições
próximas; é comum as pessoas
demarcarem seus territórios por meio
das músicas de sua preferência, às
vezes até num mesmo ambiente,
mostrando como o som é utilizado
como fronteira de territórios, quando
alguém faz tocar uma música
apenas para si mesmo. Da mesma
forma, a reação das pessoas a
outros ruídos, como conversas,
telefones tocando e o som
produzido pelo funcionamento de
máquinas em geral (aspirador, ar-
condicionados etc.) pode denotar
que seu território está sendo
invadido sonoramente
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
82
6.Locais de
socialização
se há um local específico para a
socialização e se ela de fato
acontece ali ou em outro lugar. Se a
socialização acontece mesmo não
havendo um lugar próprio, pode ser
um forte sinal de coletivismo, porque
caracteriza socializações
espontâneas, sem a imposição da
empresa (por exemplo: festas de
aniversariantes do mês,
confraternizações natalinas, etc.)
se há um local específico para a
socialização e se ela de fato
acontece ali ou em outro lugar (é
uma apropriação quando um
espaço de corredor é utilizado para
socialização, por exemplo)
7.Distância entre as
pessoas
como são as distâncias entre as
pessoas, se há contato físico
entre elas ou não (quando há
grande hierarquia, é comum
haver maior distância física
entre as pessoas, e isso pode se
refletir inclusive no layout do
escritório, com alas separadas
para os diferentes tipo de cargo
como são as distâncias entre as
pessoas, se há contato físico entre
elas ou não (um grupo individualista
vai relutar em aceitar muita
proximidade com os colegas de
trabalho; seu espaço pessoal é
maior do que nos grupos coletivistas)
a distância existente entre as
estações de trabalho pode ser
menor do que a considerada
mínima pelos usuários, para se
apropriarem do território à sua volta
8.Símbolos
coletivos
podem existir indicadores de
coletivismo no ambiente e na
dinâmica de seu uso: desenhos e
fotos do grupo exibidas em porta-
retratos ou nos desktops dos
computadores
documentos, cartazes, instruções
etc. que são próprios de um grupo,
podem estar expostos como forma
de marcar a apropriação coletiva
do território, estando relacionada,
portanto, ao coletivismo também
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
83
9. Interações entre as pessoas
como um sinal social, pode ser
frutífero perceber, por meio da
observação de conversas entre
as pessoas, suas expressões
corporais, falas e atitudes, como
a hierarquia está estabelecida e
como é vista naquele ambiente.
Podemos separar essa
observação em três vetores
distintos em termos de contatos
sociais: do(s) superior(es) em
relação ao subordinados; dos
subordinados em relação ao(s)
superior(es); dos subordinados
entre eles mesmos, a respeito
do(s) superior(es)
Existência de maior interação
(conversas e proximidade física)
entre as pessoas, mesmo durante o
horário de trabalho; mostras de
fidelidade também indicam
coletivismo; identidade contrastiva
de um grupo em relação a outro ou
a outras pessoas;
como é o relacionamento entre as
pessoas, se cordial ou não, e sendo
cordial, se é formalismo profissional
ou se há relações sociais extra
trabalho, que podem ser um
indicador de coletivismo;
como sinal social: as brincadeiras e
os comentários corriqueiros e banais,
“gratuitos”, normalmente são
trocados por pessoas que se
identificam entre si, formando um
senso de grupo, podendo chegar
ao desenvolvimento de expressões e
figuras de linguagem próprias
10. Personaliz.
como cada um utiliza e personaliza
o espaço de trabalho, a própria
mesa e outros lugares dos quais se
apropria (o espaço adjacente à
mesa é um dos primeiros a ser
apropriado, seja no piso ou nas
paredes)
11. Posição.
de objetos
pessoais
os objetos pessoais (como casacos,
bolsas etc.), se não possuem um
local específico de permanência,
normalmente são dispostos em
locais apropriados pela pessoa,
podendo inclusive servir como
marcadores territoriais também.
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
84
12.Existência de grupos
se há grupos ou sub-grupos
formados, e se há competição entre
eles (pode haver vários grupos
coletivistas, ao invés de um
somente). A existência de sub-
grupos pode ser percebida pelo uso
do espaço nas diferentes
combinações de pessoas,
verificando se na ausência ou
presença de uma ou mais, formam-
se configurações espaciais
diferentes, como um deslocar a sua
cadeira para próximo do outro, de
modo a estabelecer uma interação
mais próxima. O teor das conversas,
ao versar sobre os ausentes,
também pode indicar a existência
de sub-grupos
13.Alcance vis.
entre super. e
subordinados
perceber o alcance visual do
superior em relação aos
subordinados e vice-versa.
Normalmente, em situações de
alta hierarquia, o superior vê
seus subordinados, mas nem
sempre a recíproca é
verdadeira
14.Exposição de
normas e avisos
como são transmitidas as “normas da
empresa”, se além de oralmente ou por
memorandos, elas permanecem em
exibição permanente, em quadros de
avisos ou nas paredes (a exibição
permanente das normas serve como
um lembrete constante dos
procedimentos que não devem deixar
de ser cumpridos)
Capítulo 5 – A construção da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho
85
15. Demonstração de
cuidados com o ambiente
ações de ajeitar as cadeiras, fechar
as portas, organizar o ambiente,
quando executadas não por
profissionais específicos para estes
fins, demonstram apropriação dos
ambientes, podendo, também,
estar associados ou não à hierarquia
(por ex., um gerente pode executar
essas ações para organizar um
ambiente sob seu domínio, ou
simplesmente ordenar alguém a
fazê-lo, se sua noção de hierarquia
for mais alta)
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
86
Na tabela com o mapeamento dos indicadores de dimensões, encontramos
alguns que fornecem não somente dados físico-espaciais, mas também sociais,
indicando uma situação que, uma vez existente, pode vir a estar refletida no
ambiente, ainda que de forma não muito clara, mas passando a ser apontada
pela percepção do dado social. Cabe salientar, ainda que ao longo da
observação, as dimensões selecionadas para serem pesquisadas foram sendo
percebidas não de forma estanque, mas, sim, como parte de um todo. Muitas
vezes, o mesmo fato ou o mesmo indicador é observado mais de uma vez; isso não
significa que a observação está sendo redundante, muito ao contrário. Esse
procedimento não ratifica a observação em si, como pode estar retratando o
padrão recorrente de uso no ambiente estudado.
Na observação, o uso da tabela de indicadores se mostra como um importante
meio auxiliar para a descoberta das dimensões culturais refletidas no ambiente.
Nossos estudos de caso produziram os indicadores mostrados, que apesar de
terem se revelado recorrentes nos três ambientes estudados, o que sinaliza uma
certa perenidade na sua existência, a possibilidade de outros estudos de caso
produzirem uma tabela com algumas diferenças da aqui apresentada por nós. Os
resultados de nossa pesquisa apontam para a importância de efetuar as análises
finais e conclusões em função do todo da observação de todos os indicadores e
do resultado que juntos eles produzem, bem como das informações obtidas por
meio dos métodos complementares também.
Após termos visto as três fases da observação, podemos tentar resumir, de forma
sintética, os procedimentos que configuram esta a etapa mais abrangente da
proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho:
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
87
Observação de cunho etnográfico
Se inicia por um período de impregnação (COSNIER, 2001), quando o pesquisador
busca uma maior compreensão sobre o ambiente;
Ainda nesta fase são iniciadas as anotações em um caderno de campo, tanto
sobre os fatos vistos quanto sobre o que o pesquisador sente e analisa; também é
iniciada a produção de fotografias;
Com o passar do tempo, os eventos que ocorrem vão se tornando mais
compreensíveis, e é quando o pesquisador procura compreender a lógica cultural
presente no ambiente (observação paciente e constante);
Com a compreensão da lógica cultural, despontam na observação alguns
indicadores culturais, pontos recorrentes nos eventos observados, que dão forma à
sistematização da observação.
5.2.2 Croquis de campo
Este estudo consiste em um produto gráfico da observação, constituído de
desenhos arquitetônicos, croquis e esquemas. Desenvolvemos uma variante dessa
metodologia em nossa pesquisa, inicialmente baseando-nos em Cosnier (2001) e
Oliveira Filho, Duarte e Santos (2002), bem como também o trabalho de Vogel e
Mello (1985). Estes últimos autores combinaram as técnicas de fotografia e
desenho para apreender as dimensões internas da vida social do bairro estudado.
Como estudavam uma área relativamente grande, esta sofreu recortes espaciais,
por meio de eixos, criando diversos setores. Do mesmo modo, em um escritório,
apesar de ser uma área menor, verificamos ser possível utilizar setorizações, fosse
aproveitando aquelas estabelecidas administrativamente, ou criando outras, a
partir dos eventos apreendidos. Para isto, analogamente, os autores citados
também se utilizaram de fotografias e de desenhos feitos sobre elas, que permitem
uma “leitura sintética de um conjunto de eventos significativos” (VOGEL e MELLO,
1985, p.15).
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
88
Por esse motivo, aplicamos o que chamamos de croquis de campo, adaptando as
técnicas de elaboração e análise e verificamos que, de fato, o estudo contribui
para a descrição espacial dos eventos e sua verificação física no ambiente. Sua
elaboração em campo pode ser considerada tanto como uma ferramenta de
observação (como um croqui feito no momento da observação para
esclarecimento de algum evento), ou como uma ferramenta de análise, para
possibilitar uma melhor compreensão ou até mesmo a comparação de uma
situação com outra. Verificamos sua praticidade também para mapear eventos,
evidenciando a situação espacial em que eles ocorrem, eventualmente com o
uso de cores, para facilitar a emersão de características que lhes sejam próprias,
tais como concentrações de uso, aspectos funcionais, fluxos e zonas de conflitos
espaciais.
Na Repartição A, os croquis desenvolvidos no estudo descritivo do ambiente foram
muito importantes desde o início; por meio deles, podíamos representar
espacialmente situações de convívio (ver fig. 5.3), congregação de pessoas em
determinados locais, fluxos mais intensos e/ou constantes, locais de conflito
espaciais; espaços de maior intimidade entre as pessoas; posicionamento(s) dos
usuários, verificando a distância entre eles e a relação espacial com os demais;
territórios de incerteza etc., contribuindo para complementar a dinâmica de uso
observada. Para facilitar a elaboração dos croquis em campo, logo após o
primeiro dia de observação, quando fizemos in loco um croqui do suporte
espacial, digitalizamo-lo, levando sempre algumas cópias impressas para os dias
de observação.
Fig. 5.3 – Fluxos ocorridos em um determinado instante, na Repartição A. Cada cor corresponde a
uma pessoa, as paradas que faz e o sentido de seu deslocamento.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
89
Dessa forma, a dinâmica de uso, representada espacialmente, era marcada
diretamente no croquis-base elaborado. O mesmo procedimento foi utilizado
nos demais estudos de caso, mas na Repartição A, ele foi ligeiramente mais
trabalhoso, pois como foi visto anteriormente, a Repartição A passou por várias
configurações distintas. Constantemente, chegávamos para um dia de
observação e o layout estava modificado, mesmo que fosse somente a posição
de uma mesa, o que implicava a elaboração de um novo croquis de seu suporte
espacial. Justamente por esse motivo, era indispensável ir a campo na Repartição
A com várias cópias impressas, para que também servissem de base ao rascunho
da modificação. Por ser um ambiente muito denso, vários usos e várias
modificações ocorriam constantemente, o que sempre demandava um estudo
gráfico correspondente. no caso da Invista, como se tratava de um ambiente
mais organizado, planejado por um arquiteto (portanto, havendo uma concepção
projetual por trás da configuração espacial), as mudanças foram raras. Assim, na
Invista, os croquis do suporte espacial foram mais utilizados na sua pretensão
original, de situações de convívio, congregação de pessoas, fluxos e conflitos
espaciais (ver figura. 5.4).
Fig. 5.4 – Fluxos ocorridos em um determinado intervalo de tempo, na Invista. Cada cor
corresponde a uma pessoa, as paradas que faz e o sentido de seu deslocamento. Nas
margens do desenho, anotações correspondentes
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
90
A Repartição B também passou por um planejamento prévio de seu ambiente,
não havendo muitas mudanças em seu layout. Assim, neste escritório, os croquis
forma utilizados nos mesmos moldes da Invista, buscando situações de convívio,
congregação de pessoas, fluxos e conflitos espaciais (ver figura 5.5)
Como dito anteriormente, os croquis configuram-se em um produto gráfico da
observação, sendo um apoio muito importante na apreensão das dinâmicas
espaciais presentes no ambiente. É importante ressaltar que um estudo gráfico-
visual é uma ferramenta preciosa para os arquitetos, posto que o desenho é a
Fig. 5.5 – Exemplo de um croquis da Repartição B: representação de uma
congregação de pessoas, em função do trabalho, no alto, à esquerda, e em
seguida, deslocamento e nova congregação na sala intermediária, desta vez
em um momento de socialização (pausa coletiva para café e biscoitos)
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
91
linguagem natural desta profissão. Por isso, é uma ferramenta de extrema
importância para a pesquisa; a visualização das informações em uma forma
gráfica faz com que elas surjam de forma mais evidente aos olhos do pesquisador,
facilitando sua compreensão. De forma sintetizada, podemos dar o seguinte
resumo a este método:
Croquis de campo
Sua produção deve ser iniciada ainda nos primeiros dias da observação, pois é por
meio deles que o pesquisador mais facilmente apreende como estão situados os
posicionamentos dos diversos usuários; os locais de maior concentração de
pessoas; de fluxo mais intenso; os pontos de conflitos espaciais, os territórios de
incerteza etc. Mesmo que o pesquisador tenha tido acesso às plantas
arquitetônicas do local, o fato de desenhar o ambiente possibilita a ele uma rica
oportunidade de apreensão do suporte espacial e mais, de corrigir eventuais
distorções entre o desenho oficial e o existente. Como exemplo dessa situação,
podemos citar que normalmente em desenho, a distância entre as mesas dispostas
seqüencialmente, uma atrás da outra, é constante, porém, quando verificadas in
loco, é muito comum depararmo-nos com situações nas quais um usuário se
aproxima ou se afasta mais do outro. Além disso, é desenhando o ambiente que o
pesquisador vai transpor para o papel suas próprias sensações em relação ao
local, como lugares mais amplos ou mais estreitos, locais com muita concentração
de pessoas etc. Em nossa pesquisa, nossos croquis sempre foram representados
em planta baixa, mas não nada que impeça que estes sejam feitos também a
partir de outros pontos de vista.
Em relação aos croquis feitos em planta baixa, nossa pesquisa mostrou-nos que
manter várias cópias impressas do desenho-base do suporte espacial facilita a
elaboração do mapeamento da dinâmica de uso, conforme ilustrado nas figuras
acima. A pesquisa também indicou serem os croquis úteis não como
instrumento de observação e análise, mas igualmente servindo às ilustrações dos
resultados.
Ao longo dos dois primeiros meses de pesquisa de campo, utilizamos basicamente
a observação e o croquis de campo. Foi assim que pudemos começar a perceber
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
92
algumas das dimensões procuradas, por exemplo, tanto na empresa Invista
quanto na Repartição A, verificando o destaque espacial dado às mesas de
gerentes e supervisores (ver fig. 5.6), como reflexo espacial da hierarquia, servindo
como verdadeiro guia de conduta para quem chega ao local pela primeira vez.
Pelo status dado à posição, percebe-se quem é mais importante no ambiente,
como nos afirma Sommer (1973, p.22): ...os símbolos de status são usados (...)
como exigências para a perpetuação do sistema existente de status. Os
símbolos de status permitem que um recém-chegado perceba, à primeira vista,
quem é o mais importante no grupo...”. Além do posicionamento das mesas, as
cadeiras dos supervisores e gerentes geralmente possuem braços, diferentemente
das utilizadas pelos demais funcionários
60
.
60
Esse é apenas um breve exemplo das dimensões culturais verificadas no ambiente, colocado aqui
para ilustrar o processo de construção da metodologia em sua fase experimental, da forma em que
foi sendo aplicada e testada. As descobertas feitas nos ambientes pesquisados serão detalhadas e
analisadas, no próximo capítulo, onde também será retomado este mesmo exemplo.
61
Cabe aqui uma auto-reflexão sobre a prestação de favores X convivência cordial e obtenção de
informações. Essa relação de “troca” permeia várias sociedades, funcionando como um regulador
social, inclusive no âmbito da pesquisa etnográfica, como foi visto. É a “obrigação social” de “dar,
receber e retribuir”, conforme descrito por Mauss (1988).
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
93
Assim, ao usarmos os procedimentos descritos acima, as dimensões delimitação de
territórios e hierarquia logo foram reveladas pela pesquisa. Contudo, as dimensões
controle das incertezas e coletivismo puderam ser percebidas posteriormente,
com um tempo maior de observação e a aplicação de outros métodos
complementares, como será mostrado a seguir.
Fig. 5.6 – Destaque espacial dado às mesas
de gerentes e supervisores (realçadas pelos
círculos vermelhos), em relação às dos
demais funcionários.
Repartição A
Setor 3
Setor 2
Setor 1
Invista
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
94
5.2.3 Entrevistas informais
À medida que a observação vai prosseguindo, surgem lacunas que ela somente
não responde, por isso utilizamos os métodos complementares, necessários para a
condução da pesquisa. De forma não-programada por nós, a pesquisa mostrou
que conversas informais com usuários, às vezes até na hora de um “cafezinho”,
forneciam informações valiosas, e assim optamos por fazer deste mais um método
complementar de pesquisa, as “entrevistas informais”.
Concordamos com Spradley (1980), quando afirma que uma das mudanças
ocorridas durante a pesquisa de campo é ser o pesquisador reconhecido pelas
pessoas que fazem parte daquela situação social, havendo assim oportunidade
para existir uma interação mais intensa entre as duas partes; também
concordamos com Edgerton e Langness (1974), que preconizam que em um
método de cunho etnográfico, uma entrevista formal freqüentemente faz as
pessoas sentirem-se tensas, rígidas, ao passo que em uma conversa descontraída,
sentem-se mais desprendidas para falar e conversar. No entanto, segundo estes
mesmos autores, as entrevistas informais possuem um ponto fraco, por não
poderem ser sistemáticas ou confrontadas por outros pesquisadores, mas
entendemos ser sua complementaridade essencial para o preenchimento de
parte das lacunas deixadas pela observação, principalmente porque no ambiente
de trabalho, um dos maiores problemas que o pesquisador enfrenta é o receio, por
parte dos funcionários, de que alguma das informações fornecidas possa ser
utilizada contra eles, e durante uma conversa informal, esse receio tende a
diminuir. Por esse motivo, verificamos em nossa pesquisa que a presença constante
do pesquisador no ambiente, contribuindo para a construção de um sentimento
de confiança junto aos membros daquele grupo social, é de fundamental
importância. Nossa experiência em campo nos faz sustentar que é parte desse
processo de construção, inclusive, uma eventual prestação de “favores”, por parte
do pesquisador. De fato, são conhecidas várias etnografias em que o pesquisador
acaba por ser envolvido, de alguma forma, em algum nó da rede social em
estudo, e do qual pode ser arriscado afastar-se, sob pena de ter sua aceitação
reduzida entre aquelas pessoas, dificultando com isso os caminhos da própria
pesquisa. Não se trata de “pagar” por informações, mas admitir uma convivência
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
95
cordial, em que ocasionalmente o pesquisador presta algum favor para alguém
daquele grupo. É sabido, por exemplo, que o próprio Malinowski, considerado o
“pai” da etnografia, ao estudar o povo nativo das Ilhas Trobriand, morando entre
eles durante alguns anos no início do século XX, fornecia-lhes tabaco (FIRTH, 1997);
quase um século depois, e geograficamente bem mais próximo a nós, Magnani
(2003) também registrou que fazia fotos de casamentos, aniversários e outros
eventos sociais, a pedido de e para as pessoas as quais estudava. Essas trocas
acabam sendo demandadas pela convivência do pesquisador com os
pesquisados. Conforme afirmamos, embora seja uma observação discreta, esta
não é oculta. O pesquisador é uma pessoa presente no ambiente, com a qual as
demais pessoas falam, cumprimentam e conversam. A troca surge inclusive como
mais um meio de abordagem, na qual podem acontecer então as entrevistas
informais, as quais sustentamos serem necessárias para complementar a
observação
61
.
A experiência em campo demonstrou que as entrevistas podem ser feitas não
somente quando necessidade de se obter uma informação específica, mas
sempre que houver uma oportunidade; muitas vezes, antes propriamente de fazer
uma pergunta para sanar uma dúvida, é igualmente útil tecer comentários com as
pessoas sobre um fato determinado, para poder verificar o ponto de vista delas
sobre a situação, e mais, poder confrontar o que é dito com o que é observado.
Um exemplo sobre a utilidade das entrevistas informais pode ser visto na
informação que obtivemos, na Repartição A, após uma mudança de layout no
ambiente. Como havia sido uma mudança significativa, fizemos o uso de
questionários (a serem explicados posteriormente) para saber a opinião geral sobre
as mudanças, se haviam sido positivas ou não. A maioria das respostas foi positiva,
e algumas poucas, de opinião mais moderada. No entanto, conversando
informalmente (porém, em particular), com um dos usuários que com a reforma,
havia tido sua estação de trabalho colocada de frente para a parede,
juntamente com mais dois outros colegas, obtivemos deste a seguinte informação:
Parece que [o der] quer castigar a gente; botou todo mundo de frente para a
parede, como se estivéssemos na polícia federal”. Esse depoimento, que não foi
respondido por escrito no questionário, despertou para nossa observação um outro
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
96
aspecto para o qual passamos a prestar mais atenção: a satisfação pessoal e os
possíveis desafetos com os superiores.
Em especial, pudemos verificar que as entrevistas realizadas com o pessoal de
manutenção e limpeza se mostram particularmente frutíferas, posto que seu
tráfego na empresa é transversal a todos os setores, e muitas vezes algumas
informações sobre situações específicas as quais o observador não pode estar
presente simultaneamente podem ser obtidas, ou pelo menos investigadas, por
meio de entrevistas informais com esses funcionários.
As informações fornecidas auxiliam no conhecimento de fatos antigos ocorridos na
empresa, situações anteriores à nossa presença nela, que podem ajudar a
esclarecer determinadas situações. Citamos um exemplo a respeito de um gerente
que sempre se mostrou estranhamente reservado em seu próprio setor (mesmo nos
momentos de descontração), mas demonstrava muito mais facilmente seu lado
expansivo quando estava fora dele. Por meio de diferentes entrevistas informais,
pudemos saber que até um determinado tempo pregresso, ele possuía uma sala
exclusiva para si, e a partir de um determinado momento, viu-se obrigado a
compartilhar o mesmo ambiente com seus subordinados. O conhecimento desta
informação foi extremamente valioso para que pudéssemos passar a perceber
que o que parecia ser uma atitude reservada, na realidade era um desconforto
com sua própria estação de trabalho, tanto que em modificações de layout
ocorridas posteriormente nesta sala, pudemos presenciar a questão feita, por ele,
de que sua mesa ficasse em determinada posição, afastada das demais,
corroborando o padrão cultural de que mesas de superiores ficam destacadas. Só
que neste caso, para ele, o destaque de sua mesa representava uma solução
minimamente satisfatória, porque o que ele possuía anteriormente era uma sala
inteira para si, onde ele raramente falava com seus subordinados. A observação
do uso do ambiente somente mostraria o destaque da mesa, e a diferença
ligeiramente sutil que havia da posição desta mesa em relação às demais mesas
de gerentes (esta possuía um maior espaço à sua volta); mas não revelaria a razão
existente para isso, informação obtida com as entrevistas informais.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
97
Cabe aqui um esclarecimento de que foi opção nossa (conforme BOAS, 2004,
também recomendava) não obter informações previamente, antes da
observação, para não prejudicar o desenvolvimento desta etapa. Por exemplo: ao
saber, pela chefia ou pelos próprios funcionários, que “A deveria trabalhar com
“B”, o fato de eles estarem sempre juntos não seria estranhado, o que talvez
obstruísse a visão da existência de um forte vínculo social entre os dois. Ao não
tomar conhecimento prévio da informação, todos os fatos eram novos e
estranhados; percebidos, anotados e verificada a sua repetição ou não, e em
quais contextos (formal, informal, com mais pessoas, em qual ambiente da
empresa etc.). Acreditamos que nossa pesquisa mostrou-se mais produtiva
observando as dinâmicas e as interações primeiramente, para depois questionar,
de maneira frutífera, as vidas surgidas. Sustentamos esta posição pela
dificuldade em transpor informações casualmente obtidas de forma prévia, em um
dos estudos de caso da pesquisa. Na ocasião, nosso contato dentro da empresa
transmitiu-nos suas próprias impressões, afetos e desafetos na organização,
interferindo, parcialmente, em nossa própria avaliação, o que demandou mais
tempo e cuidado para que aquelas fossem transpostas e reavaliadas, desta vez
somente em função do efetivamente observado, sem a interferência do
julgamento pessoal de outrem.
Ainda sobre as entrevistas informais, definitivamente incorporadas em nossa
proposta metodológica, podemos compará-las às entrevistas “não estruturadas”,
classificadas por Frucci in Ornstein et. al. (1995) como aquelas em que o
interlocutor é incentivado a falar livremente sobre hipóteses que o pesquisador
deseja verificar. Como resumo deste método, podemos sintetizar que:
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
98
Entrevistas informais
São conversas, diálogos entre pesquisador e usuários, travadas de maneira
informal, e não configuradas como entrevistas propriamente. Entrevistas informais
se mostram úteis para a apreensão de fatos que não podem ser percebidos com a
observação, principalmente os fatos ligados à história pregressa da empresa e das
pessoas. No entanto, nossa pesquisa revelou ser mais produtivo permitir que a
dúvida surja na observação para depois questionar, do que fazer questionamentos
gratuitos às pessoas. Por meio das entrevistas informais, são conseguidas rias
informações que complementam a observação.
5.2.4 Questionários
Questionários, apesar de terem sido previstos em nosso exame de qualificação e
depois descartados, voltaram a ser considerados em nossa pesquisa como um
método complementar à nossa proposta metodológica. Tal consideração se deve
ao fato do incômodo experimentado por nós, de estarmos presentes mais de
dois meses nos escritórios pesquisados, e não termos nenhum resultado concreto e
palpável para fornecer de retorno às chefias sobre o que vínhamos observando
em seus ambientes. Como nossa proposta está baseada na observação,
procedimento demorado, que demanda paciência, o tínhamos ainda o
resultado de nossas análises para divulgação. Em que pese o fato de em nenhum
momento, nenhum dos dirigentes nos ter cobrado tal retorno, nós nos sentíamos
incomodados por estar todos os dias no ambiente, observando, anotando,
“ouvindo muito e falando pouco”. Somado a esse fato, a Invista, nosso primeiro
estudo de caso, havia acabado de passar por uma reforma, todos os setores
haviam sofrido modificações, e nos pareceu interessante conhecer as opiniões dos
usuários a respeito dos novos ambientes. Assim, elaboramos um questionário (ver
no anexo 1 desta tese), principalmente para conhecer suas opiniões, embora a
análise de suas respostas pudesse trazer contribuições à nossa pesquisa. Como será
visto posteriormente, também aproveitamos o método para inserir nele a pergunta
relativa ao Poema dos Desejos, de modo que não fossem necessárias repetitivas
abordagens aos usuários.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
99
Na Repartição A e na Repartição B, o uso de questionários também mostrou-se
adequado, tanto pela inserção do Poema dos Desejos, quanto pela possibilidade
de conhecer a opinião dos usuários. Para um dirigente que acabou de promover
mudanças em suas instalações (como foi o caso da Invista; na Repartição A, a
partir da Fase 3, como mostrado no capítulo 4; e na Repartição B, que era um
escritório de locação para aquela administração), é interessante saber até que
pontos as mudanças foram aceitas ou não, e mesmo este procedimento não ter
sido solicitado, como mencionado, entendemos que poderíamos aproveitar a
oportunidade para transmitir esta informação às chefias.
Podemos ver o trecho de
um dos questionários exemplificado na figura 5.7:
Em relação ao seu local de trabalho:
2. Sua estação de trabalho é fixa?
Não
Sim
3. Outras pessoas compartilham/dividem a mesma estação com você?
Não
Sim Quantas? __
4. Você utiliza outros locais para exercer suas tarefas?
Não
Sim Por quê?
Por razões próprias do trabalho (vistorias, atendimento ao público etc.)
Porque precisa trabalhar em conjunto com outra pessoa, na estação de trabalho dela ou de
terceiros
Porque precisa ceder seu lugar para outra pessoa
Porque não encontra condições ideais na sua estação de trabalho
Outros _______________________________________________________________________
5. Você escolheu o local da sua estação de trabalho?
Não
Sim
6. Você está satisfeito com a localização dela?
Não
Sim
Por quê? ________________________________________________________________________
Figura 5.7 – Trecho do questionário utilizado na Repartição A (a sua íntegra e dos outros
questionários encontra-se nos anexos da tese)
Entendemos o argumento de Sanoff (1991), quando este autor sustenta o uso de
questionários poder ser arriscado, uma vez que a possibilidade de que uma
determinada pergunta (ou mesmo a ausência de outra) venha a influenciar nas
respostas fornecidas, sem falar na condução de interpretação que a linguagem
utilizada na formulação das perguntas também pode apresentar. Por outro lado,
Gifford (1997) argumenta que casos nos quais os arranjos espaciais são
inadequados, e os funcionários simplesmente não percebem que seu local de
trabalho poderia ser melhor, estando no que o autor chama de “entorpecimento
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
100
ambiental”
62
. Nesses casos, nos diz o autor, os funcionários não reportam seus
sentimentos espontaneamente, e entendemos que a pergunta de um questionário
pode fazê-los “despertar” para a situação.
Os questionários
63
, foram diferentes nos três estudos de caso, em conformidade
com as características de cada um. O que foi comum aos três, além do Poema
dos Desejos, foi a forma anônima de respostas, em que pese alguns usuários terem
feito questão de se identificar. Nossa pesquisa mostrou que questões que são
mais bem respondidas pelos usuários quando estes têm tempo e/ou privacidade
para responder, como por exemplo, enumerar os pontos negativos do ambiente.
Assim, mesmo com as entrevistas informais, permanecem questões a serem
respondidas, normalmente aquelas em que os funcionários se sentem
constrangidos ao dar a resposta (como visto no exemplo acima), porque pode
envolver uma crítica aos colegas ou ao ambiente de trabalho, e por extensão, ao
seu empregador. Eventualmente, durante uma conversa, dependendo do grau de
proximidade e abertura que o pesquisador tiver obtido com as pessoas, devido ao
tempo de convívio, é possível fazer perguntas como “Do que você não gosta aqui,
no seu ambiente de trabalho?” e obter respostas verdadeiras, mas, na maioria das
vezes, os usuários dizem que não há do que não gostem ou então que não gostam
de a empresa “estar instalada num andar baixo do prédio”, por exemplo.
Verificamos que se for aberta a possibilidade para que as pessoas respondam às
perguntas garantindo o seu anonimato, a chance de obter respostas verdadeiras
é significativamente maior. O problema a ser contornado, nesse caso, é como
garantir o anonimato para que elas se sintam suficientemente em segurança para
serem honestas.
Geralmente, a forma mais clássica para esta questão é fazer circular um
questionário em papel para ser respondido sem a identificação do respondente.
No entanto, a menos que seja uma estrutura com respostas de múltipla escolha (o
que autores como Sommer (1979) recomendam que seja evitado, pois limita o
62
Do original “environmental numbness” (GIFFORD, 1997, p. 300).
63
Os questionários, apresentados nos anexos 1, 2 e 3, foram elaborados a partir das pesquisas de
campo efetuadas no grupo ProLugar, do PROARQ-FAU-UFRJ; portanto, já haviam sido aplicados e
testados. As pesquisas utilizadas como base para a montagem de nossos questionários,
principalmente os da Repartição A e da Repartição B, foram as de Abrantes (2004), Simões (2005),
Faria (2005), Alvarenga (2005) e Rodrigues (2005).
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
101
universo de respostas e, além disso, a própria busca por dimensões culturais no
ambiente remete a atitudes e comportamentos que muitas vezes não são
conscientes nas pessoas; colocar as “possíveis opções” em uma lista pode dar
margem a um franco erro de julgamento por parte do observador), os usuários
ainda permanecem receosos de ter sua caligrafia reconhecida, o que realmente
não é difícil em um escritório no qual pessoas trabalham juntas e estão habituadas
a ler o que os colegas escrevem. A opção existente é utilizar mecanismos digitais
de respostas (como foi feito na Invista); no entanto, nem sempre esse fato é
possível, pelo acesso restrito a computadores em determinados locais, como era o
caso da Repartição A e da Repartição B, na época em que foi aplicado o
questionário. Entre fazer com que as pessoas tivessem que esperar pela
oportunidade de usar o computador para responder perguntas de uma pesquisa
que não fazia parte de suas tarefas ou distribuir questionários em papel dando
oportunidade para que eles fossem levados para as residências dos funcionários e
respondidos, preferimos adotar a segunda opção; isso sem nem levar em
consideração que possivelmente alguns dos funcionários não soubessem utilizar um
computador. Assim, os questionários foram distribuídos em papel e foi dada uma
semana para que fossem respondidos, de forma anônima. Apesar disso, alguns
retornaram com os nomes de seus respondentes, e outros levaram bem mais de
uma semana para retornarem.
na Invista, onde cada funcionário possuía um computador para seu uso
exclusivo, pudemos adotar questionários digitais, eliminando, assim, o problema de
reconhecimento da caligrafia. No entanto, como não queríamos sobrecarregar a
impressora da empresa, obrigando cada um a entregar impresso o seu
questionário, era necessário adotar uma estratégia para um retorno digital (e
anônimo) de respostas. Nesse caso, uma das saídas que pode ser adotada é o
preparo de uma home-page com um formulário eletrônico, ao qual as pessoas
possam ter acesso e responder às perguntas, nos moldes dos que foram utilizados
por Alvarenga (2005) e Faria (2005); entretanto, ao contrário do modo que estes
fizeram, em nosso caso os respondentes não precisariam se identificar, o que por
sua vez, gera outra necessidade: uma forma de controle de acesso, que pode ser
feito na forma da distribuição de senhas para acesso à página. Outra opção, a
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
102
que foi por nós adotada em nossa pesquisa, é a disponibilização de um disquete
para cada um dos funcionários, contendo as perguntas em três formatos diferentes
de arquivo (.doc, .xls e .txt), para contornar as eventuais diferenças de
computadores utilizados. Como as perguntas são previamente gravadas no
disquete, as informações relativas ao autor do arquivo são as originais do
pesquisador, e não as do usuário. Assim, ao receber o disquete, cada funcionário
pode abrir um dos arquivos e emitir suas opiniões, devolvendo-o posteriormente ao
pesquisador. Algumas considerações devem ser feitas em relação a esta opção:
1. É importante que os disquetes sejam pegos pelos próprios usuários em uma
caixa que contenha vários deles, todos rigorosamente iguais, sem quaisquer
marcas diferenciadoras, para evitar a suspeita de que haja “disquetes
marcados” para cada pessoa. Pelo mesmo motivo, ao devolver o disquete,
deve ser permitido ao usuário que ele mesmo o coloque de volta na caixa, para
evitar eventuais argumentos de que o pesquisador guardou especificamente o
disquete de um usuário “por trás de todos os outros”, ou “na parte de cima da
pilha”.
2. No retorno, os disquetes não devem ser acessados de imediato, na frente dos
usuários, porque esse fato pode constrangê-los e dificultar a continuidade da
pesquisa.
Esse procedimento, quando aplicado, garante 100% de anonimato, mas não de
retorno de respostas. Os disquetes até podem ser controlados; por meio de uma
lista de recebimento/devolução, o pesquisador facilmente pode controlar quem
ainda não o devolveu, mas nada impede que um usuário simplesmente devolva o
disquete sem nenhuma pergunta respondida, como aconteceu em uma ocasião
durante a nossa pesquisa.
Em resumo, podemos dizer que os questionários funcionam como um importante
mecanismo de avaliação da opinião dos usuários, mesmo que suas respostas
sejam mais interessantes para as chefias do que para a pesquisa, propriamente.
Sua inserção, contudo, se faz necessária para conter no mínimo a pergunta
relativa ao Poema dos Desejos, como será visto mais adiante.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
103
Questionários
São úteis para inserir o Poema dos Desejos (SANOFF, 2001) e outros
questionamentos, além de produzir um eventual documento de retorno mais direto
às chefias sobre a avaliação que os funcionários fazem do ambiente. É
fundamental a oportunidade de serem respondidos anonimamente, por meio
digital ou mesmo por formulários em papel. Nossa pesquisa mostrou que várias
opiniões conflitantes com colegas ou com as chefias só foram emitidas neste
método, justamente pela sua forma anônima de respostas.
5.2.5 Poema dos Desejos
Para complementar nossa busca, foi necessário utilizar uma ferramenta de caráter
aberto e exploratório, que permitisse livre expressão dos usuários, tal como se
apresenta o Poema dos Desejos. Método desenvolvido por Henry Sanoff (2001), é
uma forma de aproximação que estimula os usuários a fantasiar sobre o ambiente
do sonho deles por meio de um processo aberto de expressão. Consiste em
declarações, por escrito, dos usuários, respondendo à pergunta “Eu gostaria que o
[nome do ambiente analisado] ...”. É uma ferramenta consideravelmente mais
eficaz do que aquelas de objetivos muito específicos e declarados, especialmente
se a intenção é manter o pensamento global e exploratório (SANOFF, 2001), e tem
se mostrado bastante frutífera
64
. Simões (2005), por exemplo, descobriu por meio
desse método, a noção de um reduzido vínculo emocional existente entre os
usuários e o ambiente pesquisado. Em uma pesquisa anteriormente desenvolvida
por nós, na qual também fizemos uso deste método, o Poema dos Desejos se
mostrou bastante eficiente, e “apesar da grande variedade e quantidade de
desejos (em média foram tabulados 4 desejos diferentes para cada respondente),
foi possível chegar a um resultado coerente e representativo das necessidades do
64
Vide os resultados obtidos por SIMÕES, 2005; FARIA, 2005; ALVARENGA, 2005; RODRIGUES, 2005;
ABRANTES, 2004; AZEVEDO, 2002; BRASILEIRO, DEZAN, RHEINGANTZ E DUARTE, 2004.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
104
[local estudado]
65
. Por ser uma ferramenta de caráter aberto, permite uma
expressão mais livre do respondente, mesmo que seja em meio eletrônico
66
, e essa
possibilidade de liberdade de expressão pode contribuir para fornecer
informações valiosas sobre o ambiente e seus usuários. Mais tradicionalmente, um
Poema dos Desejos é utilizado para descobrir como o corpo de usuários gostaria
que fosse o ambiente em questão, mas no caso específico de nossa pesquisa, ele
pode ser utilizado como auxiliar na descoberta das dimensões culturais presentes
no ambiente, por meio da análise de seus resultados.
Como mencionado, aproveitamos os questionários para inserir uma pergunta
representando o Poema dos Desejos, diminuindo, dessa forma, a quantidade de
abordagens feitas aos usuários. Em relação a esse instrumento, especificamente,
podemos dizer que apesar de na Repartição A mais da metade das pessoas o
terem respondido especificamente a esta questão, obtivemos casos em que as
respostas realmente foram positivas para o curso da pesquisa; na sua grande
maioria (nos três estudos de caso) as pessoas gostariam de ter mais privacidade e
que o local de trabalho fosse mais tranqüilo, como por exemplo as respostas
(transcritas exatamente como foram respondidas):
“Tivesse um pouco mais de privacidade para os setores.”
“Ambiente fechado com porta.”
“Tivesse móveis apropriados, e não fosse tão”interpenetrado” por quase
todos, à toda hora, o que algumas vezes, nos desconcentra dos projetos.”
“O setor onde trabalho tivesse maior privacidade em relação aos outros
setores e a empresa funcionasse em um andar mais alto.”
“Fosse um local mais tranqüilo, com mais espaço individual, pois é um
serviço que tem que ter muita paciência, e com pessoas falando alto não
podemos nos concentrar o necessário para atender os clientes da melhor
forma possível.”
65
BRASILEIRO, DEZAN, RHEINGANTZ E DUARTE, 2004.
66
Na aplicação tradicional do Poema dos Desejos, utilizando folhas de papel, alguns respondentes
podem expressar-se por meio de desenhos, embora esse não seja um fato recorrente entre
respondentes adultos.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
105
“Fosse mais reservado, não sendo entrada principal para todos os setores,
pois trabalhamos atendendo clientes pessoalmente e por telefone e
precisamos de mais tranqüilidade para passarmos o que o cliente deseja.”
“Fosse um pouco mais organizado e não exposto como esta sendo no atual
momento (após a reforma) (...).”
67
Obviamente, este instrumento, por ser de caráter aberto, também permite
existirem respostas que em uma pesquisa tradicional (de simples avaliação dos
ambientes) em nada contribuiriam, mas na de cunho cultural, como a nossa,
podem sinalizar pontos nos quais a observação deva ser intensificada, ou então,
possíveis elementos para se tornarem objeto de uma entrevista informal:
“Tivesse o valor e o reconhecimento que ele realmente merece , muitas
vezes somos válvulas de escape para problemas que nem sempre tem a ver
com nosso setor e, quando tem, a culpa geralmente não é nossa.
Trabalhamos com mais de 120 corretoras e não recebemos nenhuma
reclamação faz algum tempo, mas parece que sempre arranjam um jeito
de reclamar da gente , não sei se por ciúmes, enfim por motivos que não
me cabem e sinceramente não me interessam.”
“Para falar verdade eu gosto muito do meu local de trabalho e da
atividade que nele eu exerço e no caso de mudanças não creio deveria
ocorrer muitas, entretanto eu acho que o único ponto negativo no meu ver
é o fato de não ter um setor de recursos humanos ou até mesmo
administrativo da empresa que fosse mais atuante no que diz respeito às
contratações e as promoções de funcionários feitos pela empresa, pois ao
meu ver nem sempre as pessoas que realmente merece é contemplada,
pois muitas vezes ao invés de aproveitar pessoas que estão na empresa
para exercer uma atividade de maior responsabilidade e lhe dar uma
oportunidade de promoção motivando a mesma, preferem contratar
pessoas de fora privando os funcionários de obter tal oportunidade de
crescimento, o que conseqüentemente causa desmotivação pela não
valorização dos funcionários da empresa. Creio também que poderia haver
uma política de ajuda de custo para as pessoas que fazem faculdade
como uma forma de valorizar o funcionário lhe dando conseqüentemente
67
Este tipo de demanda, de maior privacidade e maior tranqüilidade, vem diretamente de encontro
às tipologias adotadas nos três escritórios, de salas integradas e poucos espaços reservados. Outro
ponto que também influencia diretamente na tranqüilidade” é o som indesejado; muitos
reclamaram do nível alto de volume de conversas, atrapalhando a capacidade de concentração.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
106
uma chance de obter mais conhecimento e maior qualificação para
exercer sua atividade até mesmo dentro da empresa.”
“Um local mais justo possível , onde todos desempenhassem suas funções
corretamente sem 'meter o bedelho' nas atividades alheias. um lugar acima
de tudo de respeito ao próximo , e de seriedade. bom por hora é
...(lenha nas máquinas!!!).
A partir de respostas como estas, podíamos ter sinais para focar a atenção em
pontos como o relacionamento com as chefias, pois apesar dos questionários
terem sido respondidos, em sua maioria, anonimamente, sabíamos a qual setor
pertencia. E, de fato, ao observar os relacionamentos entre chefias e
subordinados, pudemos compreender melhor determinadas atitudes, como por
exemplo, em um determinado setor da Invista, ao chegar a hora do almoço,
revezada em dois momentos pelo total de funcionários, as pessoas simplesmente
levantavam-se e saíam, sem “dar ciência” ao seu superior que estavam indo
almoçar. Esse fato intrigava-nos, não o percebemos de imediato; só com a
demora no retorno e com as conversas posteriores entre os próprios funcionários,
percebíamos que a pessoa havia ido almoçar, mas sem menção a esse fato antes
de ele acontecer. Com a aplicação do Poema dos Desejos, por menos que
algumas respostas tivessem um caráter ambiental, esclareciam pontos como esse,
de insatisfação profissional, dificilmente obtidos por outra via que não a anônima.
Como reflexo espacial dessas atitudes, era observável a pouca interação entre
chefia e subordinados, o que por sua vez, tornava a sala “grande” para os poucos
fluxos e deslocamentos ocorridos (como comparação, víamos que em outros
setores e em outros estudos de caso, os fluxos e deslocamentos eram causados
não por necessidades profissionais, mas também por interações sociais, como
pudemos averiguar com a análise das redes sociais, a ser visto no item 5.2.7).
Assim, sobre o Poema dos Desejos, podemos sinteticamente resumir que:
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
107
Poema dos desejos
Consiste na resposta, anônima e por escrito, à pergunta “Gostaria que o [nome do
ambiente pesquisado]...”. Para diminuir o número de abordagens aos usuários,
pode ser inserido em um questionário, como mencionado. Por ser um método
de caráter aberto e exploratório, permite obter valiosas informações à pesquisa,
não somente sobre o ambiente em si, mas também sobre o relacionamento entre
as pessoas, cujos reflexos certamente estarão impressos no suporte espacial em
análise.
5.2.6 Mapeamento territorial
Inspirado nos métodos visuais indicados por Thorne (1995) e utilizado por Abrantes
(2004), o mapeamento territorial é um método complementar específico para a
procura dos limites territoriais de cada um, podendo servir aos territórios coletivos
também. Consiste na disponibilização para o usuário da planta baixa humanizada
do local onde ele trabalha (não somente do ambiente que utiliza, mas a
totalidade dos espaços que constituem a empresa, como refeitórios, auditórios,
circulações etc.), para que ele marque graficamente a área considerada como
sendo o seu território de trabalho. Este método mostra a apropriação vista pela
ótica do usuário; é útil não somente para obter informações como para confrontar
as situações observadas pelo pesquisador e as que o usuário admite acontecerem
– nem sempre as duas condizem, o que também é útil para perceber justamente o
que o usuário classifica como “informação a o ser divulgada”, o “não dito”. Em
situações de territórios próximos ou justapostos, esse fato pode estar sinalizando
uma situação de coletivismo, marcando o “pedaço”
68
utilizado por pessoas de um
mesmo grupo.
68
Aqui utilizamos o termo no sentido desenvolvido por Magnani, para quem o pedaço” é formado
principalmente por componentes simbólicos, podendo inclusive mudar espacialmente de lugar.
Segundo o autor, “para ser do ‘pedaço’ é preciso estar situado numa particular rede de relações
que combina laços de parentesco, vizinhança, procedência (...) pertencer ao ‘pedaço’ significa
poder ser reconhecido em qualquer circunstância, o que implica o cumprimento de determinadas
regras de lealdade...” (MAGNANI, 2003, p.115-116).
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
108
5.2.6.1 Mapeamento territorial: três diferentes procedimentos – desenhos,
questionários e entrevistas
Como previsto, o mapeamento territorial foi aplicado como tal (ABRANTES, 2004)
inicialmente na Repartição A, porque em meio a um confuso ambiente, com mais
ocupantes do que mesas, era uma dúvida urgente nossa saber até que ponto
alguém considerava um determinado local (ou mesa) como seu território ou não.
Assim, foi distribuída para cada um dos funcionários uma folha de papel contendo
a planta arquitetônica com o layout da Repartição A, com o seguinte texto:
“Indique, na planta abaixo, a área que corresponde ao seu território de trabalho
Ao ser entregue, era explicado que o funcionário deveria marcar os locais que
entendia como sendo os seus locais de trabalho. Pretendíamos obter um bom
retorno no nível de respostas, o que aconteceu até um certo ponto (ver exemplos
nas figuras. 5.8, 5.9 e 5.10) . Entre os motivos para tal fato, podemos vislumbrar dois
deles:
a) pela análise das respostas, constatamos que as mais expressivas eram
provenientes dos funcionários arquitetos ou de profissões afins, e que
portanto, possuíam capacidade para lidar com uma linguagem espacial,
que de forma equivocada de nossa parte, estava sendo exigida de todos
os respondentes; além disso, a palavra “território” despertou muitas dúvidas,
especialmente por parte dos não-arquitetos.
b) ao comparar as respostas fornecidas com o resultado da observação,
percebemos que não poderíamos nos basear somente no mapeamento
territorial, porque em várias delas, o respondente marcou somente a mesa
que lhe “pertencia”, mas, na prática, podíamos constatar que seu tempo
era dividido entre vários locais, havendo às vezes períodos inteiros em que
ele nem chegava perto de “sua” mesa, desenvolvendo suas tarefas em
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
109
outros locais e indo freqüentemente às mesmas estações de trabalho, até
para conversar informalmente com os colegas. Esse fato pode demonstrar
as diferenças entre os territórios “declarados” pelas pessoas e os que são
apropriados na prática, o que, portanto, merece investigações mais
detalhadas, mesmo que por outros meios.
Fig. 5.8 – Exemplo de mapa territorial da Repartição A, onde o respondente marcou com
asteriscos as duas mesas por ele consideradas como seu território de trabalho.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
110
Fig. 5.9 – Exemplo de mapa territorial da Repartição A.
Fig. 5.10 - Exemplo de mapa territorial da Repartição A.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
111
Pretendíamos, com o mapeamento, ter uma idéia dos territórios apropriados e os
deslocamentos que eram produzidos em função deles. Porém, esse objetivo foi
parcialmente atendido somente porque entre os funcionários, havia uma parcela
cuja formação era proveniente da Arquitetura e áreas afins, e que portanto, lidava
mais facilmente com uma linguagem gráfica-espacial
69
. De outro modo, o
mapeamento não teria alcançado nem minimamente seu objetivo. Nossa
pesquisa mostrou-nos, assim, que a aplicação do mapeamento territorial por meio
de expressão gráfica dos respondentes é falha, porque não pode depender desse
mecanismo de resposta para alcançar seus objetivos, devendo, então, ser
descartada
70
.
Desse modo, ao pensar em utilizar o mapeamento territorial na empresa Invista,
vislumbramos a dificuldade para que sua aplicação fosse bem-sucedida. Por esse
motivo, resolvemos incluir como mais uma pergunta no questionário daquela
empresa, o assunto relativo ao mapeamento territorial, onde solicitávamos que o
respondente enumerasse esses locais, sem no entanto mencionarmos a palavra
“território”, que tantas dúvidas havia causado na Repartição A. Pretendíamos,
assim, fazer a tentativa de uma nova modalidade de aplicação deste
mapeamento.
A pergunta que concentrava o mapeamento territorial era: “Qual (quais)
espaço(s) você considera como sendo “seu” local de trabalho? (você pode, se
quiser, enumerar ambientes, salas, setores, áreas, cantos”, móveis, objetos, etc...
etc... etc...)”. Como exemplos de respostas, obtivemos (transcritas e grifadas
exatamente como foram respondidas):
“Meu espaço de trabalho é onde estou, com uma mesa e cadeira, e meus
instrumentos de trabalho, ou seja, telefone,máquina de calcular etc...” .
“(Minha mesa e tudo que se encontra nela..) Minha mesa, o material que eu
uso..” .
“Meu setor de trabalho é o setor [...] e o meu espaço é a minha mesa.”.
69
Mas mesmo esse fato não anulava as eventuais informações conflitantes com a observação, o que
tornava indispensável a análise do mapeamento territorial de forma conjunta com esta última.
70
Como será visto mais adiante, nossa experiência em campo indicou que a melhor estratégia para
a aplicação do mapeamento territorial é uma abordagem direta e pessoal do usuário,
individualmente, solicitando que ele fale ou mostre no ambiente os locais os quais considera como
“seus”.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
112
“Considero meu local de trabalho os seguintes espaços:
1. Minha mesa.
2. Meu computador.
3. Meus documentos.
4. A recepção.
5. Meu setor” .
Estes exemplos retratam a tendência da maioria das respostas, concentradas na
própria mesa como sendo o “território” de cada um. Possivelmente, o fato de ser
um ambiente organizado, com estações de trabalho definidas para cada
funcionário, pode ter exercido influência nas respostas obtidas. Não produzimos
dados estatísticos em nossa pesquisa, mas Abrantes (2004) constatou que o
número de respostas centradas na própria mesa pode chegar a 45%, seguido de
25% que apontam ser o território todo o escritório. Por outro lado, quando
comparadas aos dados obtidos da observação, pudemos constatar que uma
parcela razoável de funcionários realmente pouco se desloca de sua própria mesa
(o setor 2). nos setores 1 e 3, que mantêm algum fluxo entre eles ao longo do
dia, a dissonância entre as respostas do questionário e a observação foi maior.
A esta altura da pesquisa, a Repartição B ainda não estava sendo pesquisada por
nós, mas no seu devido momento, dados os resultados anteriormente obtidos na
Repartição A e na Invista, a respeito da busca sobre os territórios, adotamos uma
estratégia (por sugestão de nossa orientadora) na Repartição B, que de fato,
produziu resultados mais positivos. Durante a observação, ao ter oportunidade de
conversar com os funcionários, perguntávamos, informalmente, “Qual local do
escritório você se sente melhor, mais à vontade?”. Essa era a pergunta-chave, que
poderia ser seguida por outras, dependendo da resposta a ser fornecida. Por estar
em interação direta com o usuário, era possível conduzir o diálogo na direção
necessária para obtermos a resposta sobre o local realmente considerado como
território. A busca demorou mais tempo a ser feita, porque dependia das
oportunidades de diálogo com as pessoas; podemos dizer que obtínhamos em
média duas respostas por dia de observação. Também foi estratégia nossa não
perguntar a todos em seqüência, para evitar a formulação de respostas pré-
concebidas, ao ver que os demais colegas estavam sendo questionados e que
inevitavelmente a pergunta recairia sobre todos. Assim, de uma forma mais lenta,
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
113
pudemos obter respostas mais espontâneas que, desta vez, condiziam mais com
as informações provenientes da observação, considerando os fluxos e as
interações existentes. Assim, nossa pesquisa mostrou-nos que esta se configurou na
melhor estratégia para pesquisar sobre o que as pessoas consideram como sendo
seus próprios territórios.
Na Repartição B, onde aplicamos este procedimento, produzimos um mapa
territorial, que se apresenta conforme mostrado na figura 5.11, e cuja leitura se
apresenta de forma bastante compatível com os dados fornecidos pela
observação.
Figura 5.11 – Resultado total do mapeamento territorial aplicado na Repartição
B. As áreas mencionadas por diferentes pessoas receberam cores superpostas,
com manchas levemente deslocadas para evidenciar a multiplicidade
existente. Quanto mais manchas em uma área houver, significa que mais vezes
ela é mencionada como sendo o território de alguém.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
114
Desse modo, sobre a aplicação do mapeamento territorial, podemos resumir que:
Mapeamento territorial
Para proceder ao mapeamento territorial, nossa pesquisa revelou que a forma mais
eficiente de fazê-lo é perguntando individualmente a cada usuário: “Qual local do
escritório você se sente melhor, mais à vontade?”. Esta pergunta pode ser seguida
por outras, dependendo da resposta obtida, de forma que conduza à obtenção do
dado buscado. A abordagem aos usuários não deve ser seqüencial, para evitar
que alguns formulem respostas previamente e com isso percam sua
espontaneidade. Feito desta forma, o mapeamento territorial e os dados obtidos
pela observação apresentam-se de forma mais convergente, servindo um de
corroboração ao outro.
5.2.7 Análise das redes sociais
Como decorrer da observação e da aplicação dos métodos complementares
utilizados até então croquis de campo, entrevistas informais, questionários,
poema dos desejos e mapeamento territorial as dimensões culturais que
buscávamos no ambiente vinham se revelando de forma satisfatória em nossa
pesquisa, com exceção de uma, que ainda tínhamos dificuldade em visualizar: o
coletivismo. Seus possíveis reflexos espaciais, como fotografias do grupo reunido,
ou símbolos de identidade coletiva, praticamente não existiam, em maior ou
menor grau, nos estudos de caso.
Na Invista, sabíamos que a empresa possuía uma política limitando a exibição de
pertences pessoais e a personalização das estações de trabalho, reduzindo, com
isso, a possibilidade de demonstrações físicas de pertencimento a determinados
grupos, mas ainda assim, pudemos ver alguns sinais, como fotos em
computadores, apropriação sonora coletiva do ambiente e , durante um pequeno
tempo, uma foto física de um grupo de amigos (todos funcionários da empresa)
reunidos. Na Repartição A, possivelmente as razões para a pouca demonstração
poderiam ser a extrema densidade e desorganização do ambiente, que faziam
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
115
com que não houvesse condições minimamente satisfatórias para trabalhar;
contudo, era possível observar uma certa apropriação coletiva do piso entre as
mesas de um mesmo setor, para manter objetos diversos pertencentes aos seus
funcionários, bem como uma foto de um grupo reunido na própria Repartição A,
que ficou em exibição durante alguns dias em um dos computadores existentes
(posteriormente, nas fases de menor ocupação na Repartição A, os sinais
começaram a se tornar ligeiramente mais evidentes). na Repartição B,
pudemos depois verificar fisicamente o sinal de um coletivismo existente (que se
confirmou por diferentes vezes, por meio da observação). Eventualmente, neste
escritório, um grupo de amigos utilizava um quadro de avisos como suporte para a
expressão da ligação social existente entre eles, por meio de desenhos que
retratavam o grupo unido (todos os exemplos citados serão mostrados no próximo
capítulo).
Dessa forma, verificamos que os sinais físicos que evidenciavam o coletivismo eram
menos freqüentes do que os “comportamentos no espaço, como interação,
fluxos, teor das conversas etc., apreendidos inicialmente por meio da observação,
mas que possivelmente poderiam ser mais bem analisados com o uso de alguma
outra ferramenta.
Considerando esta situação, percebemos que poderia ser a hora de utilizar uma
sugestão proveniente de nossa banca examinadora no exame de qualificação, e
que, por motivos diversos, ainda não havia sido experimentada por nós: a análise
das redes sociais. Para tanto, foi necessário proceder a um estudo teórico sobre
este assunto até então desconhecido para nós. O estudo foi feito
concomitantemente com a observação, já que não havia condições de
interrompermos a pesquisa de campo para voltarmos somente à fase teórica de
estudos, e assim, após o conhecimento do assunto, pudemos aplicar o método
para mapeamento das redes sociais em nossos estudos de caso. Podemos
adiantar que a análise das redes sinalizou alguns pontos da observação que
deviam ser reforçados, e que posteriormente confirmaram o que a análise das
redes sugeria. A análise das redes trouxe uma outra vantagem, que é o fato de seu
resultado poder ser visualizado em um gráfico das relações sociais no ambiente.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
116
As redes sociais são conjuntos formados por “nós” e suas respectivas ligações
(BORGATTI; FOSTER 2003). Os “nós” também o chamados de atores, e nas
ciências sociais, podem ser representados por “sujeitos sociais” (MARTELETO; SILVA,
2004), como indivíduos, grupos ou organizações. A análise das redes parte do
princípio de que são elas que estruturam as diversas dimensões do social
(MARQUES, 2004). Historicamente, a noção de que as relações sociais formam uma
rede, em uma espécie de tecido, é do início do século XX (MARQUES, 1999). As
redes sociais foram utilizadas, a princípio, pela Sociologia, pela Psicologia e pela
Antropologia, mas atualmente, seu uso é bastante variado, chegando até a
Biblioteconomia e a Ciência da Informação (MATHEUS; SILVA, 2005). Sua
aplicação, uma técnica consolidada, transformou-se em uma metodologia
denominada sociometria (MARQUES, 1999).
Foi observado pelos cientistas sociais que uma rede social tende a aproximar os
indivíduos de interesses mútuos (GUIMARÃES; MELO, 2005), e entendemos que esse
fato está relacionado aos aspectos culturais dos atores. Segundo Borgatti e Foster
(2003), a rede fornece informações de como elementos tais como proximidade
física, similaridade de crenças e atitudes, quantidade de interações e laços
efetivos estão relacionados, havendo modelos de redes que mostram também
como a interação dos indivíduos pode promover a mútua influência, produzindo
homogeneidade de convicções (GOMES, PELEGRINO, REGINENSI et. al., 2006). As
redes sociais existentes auxiliam na socialização de novos membros, regulando sua
inclusão e transmitindo as normas pelas quais os indivíduos, no grupo, são regidos.
Dessa forma, elas conferem uma identidade social, dividindo o espaço social em
posições ocupadas por aqueles atores que compartilham características sociais
em comum (IBARRA; KILDUFF; TSAI, 2004).
5.2.7.1 Aspectos metodológicos das redes sociais
A análise das redes ocorre por meio de sociogramas, como o exemplo retirado de
Marques (1998, p.168), mostrado na figura 5.12.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
117
Na figura acima, vemos os nós (atores) da rede e as ligações (linhas) entre eles.
Após a coleta de dados, que pode acontecer de diversas formas, conforme
veremos mais adiante, a rede é arranjada espacialmente em um sociograma,
onde a posição absoluta dos nós e o tamanho das linhas não fazem diferença na
análise, mas, sim, em outros elementos, como a densidade da rede
71
, por exemplo.
softwares específicos
72
para montar o sociograma, o recomendados
especialmente para redes com mais de 10 nós (GUIMARÃES; MELO, 2005), que a
dificuldade em sua montagem aumenta na mesma proporção da quantidade de
nós. Contudo, é exatamente na montagem do sociograma que reside a principal
adaptação que fizemos, para o seu uso em análises ambientais. Em nosso caso, o
suporte espacial, configurado em um lugar moldado pelos atores (DUARTE, 1993),
representa o foco de nossa atenção, mais do que os atores propriamente, e suas
respectivas ligações. As ligações entre os atores são analisadas na medida em que
elas são refletidas espacialmente, gerando fluxos, servindo como vetores de
71
Relação entre a quantidade de nós e quantidade de ligações (MARQUES, 1998).
72
Ver a sugestão de vários deles em Guimarães e Melo (2005).
Fig. 5.12 – Exemplo de sociograma retirado de Marques (1988, p.168).
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
118
apinhamento e conflitos espaciais, além de auxiliar na descoberta de grupos
sociais superpostos aos grupos administrativos.
Antes de descrever alguns aspectos metodológicos, é importante ressaltar que
não cabe, nesta tese, transcrever toda a metodologia utilizada tradicionalmente
na análise das redes sociais
73
. Na presente pesquisa, somente nos inspiramos no
método, e o adaptamos para o uso em suportes espaciais, fato que normalmente
não é considerado na análise clássica das redes sociais. Assim, sua análise foi feita
não em um sociograma morfologicamente abstrato, mas embasado no seu próprio
suporte espacial, isto é, no próprio ambiente em estudo. Este procedimento
revelou-se de extrema importância em nossa pesquisa, sem o qual a análise das
redes se mostraria praticamente sem objetivo, posto que nossa análise é voltada
para o suporte espacial em que se dão as relações. Estas últimas, analisadas
isoladamente, independentemente do suporte espacial em que têm lugar, não
têm muita significância em nosso trabalho. Desta forma, a seguir, passaremos
então a descrever o mapeamento das redes sociais da forma como o adaptamos
para o uso em análises do ambiente como suporte espacial.
Na análise das redes, as principais formas de coleta das informações são
entrevistas com os membros do grupo, mas também podem ser utilizados
questionários individuais ou formas indiretas, como a observação ou pesquisas de
mensagens eletrônicas, como sugerem Guimarães e Melo (2005). Em nossa
pesquisa, além das entrevistas, utilizamos a observação, no uso dos ambientes e
sua dinâmica cotidiana, principalmente notando a existência de ligações que
eram somente administrativas ou somente sociais, ou ainda, de caráter duplo. Da
mesma forma que o uso das redes serviu para corroborar a observação, esta serviu
para inferir que as informações coletadas nas entrevistas para as redes sociais
foram coerentes.
estudos
74
que trabalham com redes inicialmente abertas, em que cada ator
entrevistado é solicitado para que sejam apontados outros atores com os quais ele
interage e qual o tipo de ligação mantida entre ambos (se um depende do outro
73
Para saber mais sobre redes sociais, ver Marques (1998); Guimarães e Melo (2005); Borgatti e Foster
(2003); Matheus e Silva (2006) e Gomes, Pelegrino, Reginensi et. al. (2006).
74
Como Marques (1998) e Guimarães e Melo (2005).
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
119
para fazer o seu próprio trabalho ou se interdependência; se o outro pode ser
considerado fonte de informação e conhecimento, ou simplesmente quais as
pessoas ele conhece dentro da empresa). A entrevista é considerada por
Guimarães e Melo (2005) como a melhor forma de coleta de informações, pois
garante uma alta taxa de retorno e proporciona um maior entendimento, por
parte do entrevistado, dos objetivos do entrevistador. No entanto, segundo os
mesmos autores, por demandar muitas horas de trabalho, a entrevista pode se
tornar inviável caso o grupo de entrevistados seja maior do que 100 pessoas.
Em nossa pesquisa, trabalhamos com as redes fechadas, definidas pela
totalidade dos funcionários das empresas, incluindo aqueles que não faziam parte
diretamente de nossa observação, porque eles poderiam ser citados pelos outros.
Não era nosso interesse detalhar as redes em si, mas, sim, compreender como o
fluxo promovido pelas ligações entre as pessoas poderia estar rebatido no
ambiente. Procedemos à entrevista individual de cada um dos funcionários que
utilizavam os ambientes observados, fazendo duas perguntas:
1)
Com quem você normalmente tem que interagir para poder desenvolver
seu trabalho?
2)
Com quem você costuma manter vínculos sociais? (contato extra-trabalho)
As perguntas tinham por objetivo confrontar as ligações declaradas pelos próprios
indivíduos com o que vinha sendo observado no uso dos ambientes, além de
ajudar a esclarecer, dependendo do caso, porque o indivíduo de um
determinado setor interagia mais com colegas de outros setores do que com os do
seu próprio setor. Como a observação foi passiva, minimamente intrusiva, ainda
havia alguns aspectos administrativos, próprios da dinâmica das tarefas, que
permaneciam obscuros para nós.
Em nosso método experimental, as perguntas feitas nas entrevistas foram
acompanhadas de um papel cartão contendo os nomes de todos os funcionários
da empresa, agrupados pelos respectivos setores, com cores próprias para cada
setor. O papel era cedido ao funcionário durante a entrevista, para que ele
pudesse, facilmente, lembrar de todas as pessoas, evitando assim que se
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
120
esquecesse de alguém. Um modelo (com nomes fictícios) do cartão apresentado
pode ser visto na figura 5.13:
Com quem você normalmente tem que interagir para poder desenvolver seu trabalho?
Com quem você costuma manter vínculos sociais? (contato extra-trabalho)
José
Vera
Gilberto
Ricardo
Maria
Marcos
Marcelo
Luci
Antônio
Glória
Manoel
Jorge
Andréia
Martha
Cláudio
Ana Paula
Cris
Setor 6
Júlio
Helena
Paulo
Afonso
Setor 2
Marco Joana
Simone
S.7
Luis
Setor 1
Lúcio
Moisés
Jacira
Eduardo
Armênio
Alessandro
Rose
Fátima
Jaime
Mariana
Lenita
Carlos
Arthur
Setor 3
Sérgio
Setor 4
Alberto
Mário
Carolina
RH. Lúcia
S.5
Suzana
Diretoria
Fernando
Enquanto o entrevistado consultava o cartão mostrado, o entrevistador dispunha
de fichas, separadas por setor, onde marcava as respostas fornecidas em cada
entrevista, como pode ser visto em um exemplo (também de nomes fictícios)
mostrado na figura 5.14 (as demais tabelas produzidas encontram-se nos anexos
desta tese):
Fig. 5.13 – Modelo do cartão entregue aos usuários da Invista, para aplicação do mapeamento
das redes sociais (os nomes, aqui apresentados, são fictícios).
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
121
Pergunta 1 Pergunta 2
1(Vera)
2 (Maria)
3(Luci)
4(Manoel)
5 (Martha)
6 (Cris)
10 (Paulo)
11 (Marco)
1(Vera)
2 (Maria)
3(Luci)
4(Manoel)
5 (Martha)
6 (Cris)
10 (Paulo)
11 (Marco)
José
Ricardo
Marcelo
Glória
Andréia
Ana
Helena
Afonso
Simone
Setor 1
Lúcio
S5 Suzana
RH Lúcia
Vera 1
1
Maria 2
2
Luci 3
3
Manoel 4
4
Martha 5
5
Cris 6
6
Paulo 10
10
Setor 2
Marco 11
11
Armênio
Fátima
Lenita
Setor 3
Sérgio
Moisés
Jacira
Alessandro
Jaime
Carlos
Setor 4
Alberto
Joana
S7
Luis
Gilberto
Marcos
Antônio
Jorge
Cláudio
Setor 6
Júlio
Eduardo
Rose
Mariana
Arthur
Mário
Carolina
Diretoria
Fernando
Fig. 5.14 - Ficha de marcação das respostas, pelo entrevistador, dos funcionários do Setor 2. As perguntas 1
e 2 correspondem às apresentadas na figura anterior, e os números na 2ª linha correspondem aos de cada
componente do setor; cada nome citado por cada um dos membros era marcado manualmente na
célula correspondente. Após a marcação manual, as respostas foram digitalizadas, recebendo cada
célula marcada a cor do setor em questão. Na Invista, foram três fichas semelhantes a esta, uma para
cada setor pesquisado (1, 2 e 3 – todas estão presentes nos anexos da tese).
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
122
O exemplo mostrado ilustra a ficha com as respostas obtidas com os entrevistados
do setor 2 (empresa Invista), representado pela cor rosa. Cada integrante do setor
2 respondeu às duas perguntas, citando nominalmente seus colegas. Como
mencionado anteriormente, para efeito de procedimento metodológico, a cada
indivíduo foi atribuído um número durante a observação, com vistas a agilizar as
anotações; esses números de cada funcionário do setor podem ser vistos na parte
superior da ficha, logo abaixo das perguntas. O ego, ou seja, o cruzamento do
nome do funcionário com o seu próprio número foi pintado de preto, e as pessoas
citadas por ele, em cada uma das perguntas, teve a respectiva célula pintada
com a cor do setor do entrevistado (no caso, rosa), significando uma ligação entre
os dois funcionários, mencionada pelo funcionário do setor em questão. Assim,
podemos verificar facilmente, por exemplo, que os funcionários do setor 2
trabalham com as pessoas da diretoria, mas somente a funcionária “Vera” (nº 1 do
setor 2) mantém vínculos sociais com o funcionário “Eduardo” (nº1 da diretoria),
não havendo mais vínculos sociais entres os funcionários destes dois setores.
internamente ao setor 2, podemos encontrar a maioria dos vínculos sociais
existentes nos funcionários deste setor. Apesar disso, sua funcionária “Maria” (nº 2
do setor 2) só mantém vínculos sociais externos ao setor.
Como dito anteriormente, a aplicação da análise das redes sociais foi útil para
corroborar as observações feitas (no caso da funcionária “Maria”, por exemplo,
havia sido observada a pouca interatividade existente – como conversas informais,
por exemplo – entre ela e os demais colegas de seu setor, mostrando-se esta
funcionária mais expansiva com colegas de outros setores). O uso das redes sociais
também se mostrou útil como forma de visualização, não por meio da ficha de
entrevistas, que permite uma leitura objetiva, como da sua representação
espacial.
Em vez de adotarmos a elaboração dos sociogramas tradicionais das redes
sociais, como o exemplo apresentado na figura 5.12, optamos por mapear as
relações na planta de arquitetura do ambiente, com cada (ator) em sua real
posição. Além disso, também optamos por mapear as respostas sobre os contatos
sociais, para confrontar com as interações observadas em campo; a partir daí, se
tornou mais clara para nós a perceão de um deslocamento ocorrido por
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
123
necessidade do trabalho ou por mero contato social, que tamm tinha na empresa
parte de seu suporte espacial. Assim, o mapa de relações sociais do setor 2, cuja ficha
aparece na figura 5.14, apresenta-se da seguinte forma (ver figura 5.15)
Setor 2
(ego)
Setor 3
Setor 1
Fig. 5.15 – Mapa das relações sociais partindo do Setor 2 na Invista. As linhas
partem das cadeiras com as cores correspondentes, mostrando a rede de
relações sociais que aquele funcionário mantém com outros funcionários. As
cadeiras em cor cinza no centro da sala são dos clientes, e a única cadeira
de funcionário que também está na cor cinza pertence a uma pessoa que
declarou não possuir contato social com nenhum colega de trabalho, por isso
não há linhas partindo de sua cadeira.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
124
Dessa maneira, fica fácil a visualização
75
de que um funcionário no setor ego,
no caso, o setor 2, que mantém muitos vínculos sociais dentro da empresa, assim
como também é possível facilmente perceber funcionários de outros setores com
os quais os funcionários do setor 2 não mantêm qualquer ligação social (mesas de
outros setores que não recebem nenhuma linha na cor rosa, partindo do setor 2).
Desenvolvemos um outro estudo derivado das redes sociais por meio da
representação gráfica da rede interna de cada setor estudado (1, 2 e 3),
conforme pode ser visto na figura 5.16:
75
Em alguns aspectos, o desenho mostrado pode se aproximar visualmente dos gráficos produzidos pela sintaxe
espacial, mas o conceito, a forma de obtenção dos dados e os objetivos, em nossa pesquisa, são diferentes dos
utilizados naquela técnica, pois entre outras coisas, as propriedades do espaço, fundamentais naquela
metodologia, não fazem parte de nossa investigação.
Setor B
Setor C
Setor A
1
2
3
Fig. 5.16 - Redes sociais internas dos setores 1, 2 e 3 na Invista.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
125
Pela análise gráfica acima, é facilmente percebido que a rede interna do setor 2 é
mais densa que as dos demais, principalmente a do setor 3, na qual um dos
funcionários possui somente uma linha, ou seja, se relaciona socialmente com
um dos colegas, enquanto os outros três mantêm vínculos mútuos entre si. Nesse
caso específico, a rede explicita, de forma muito nítida, o arranjo físico das mesas
no ambiente. Esta sala passou por algumas mudanças de layout ao longo de
nossa pesquisa, mas todas sempre refletiam o arranjo 3+1, como será visto no
próximo capítulo. Mesmo sendo esta a mesa do gerente do setor, possuindo um
destaque espacial, neste caso isso acontece de forma mais evidente do que nos
demais setores
76
, e nossa pesquisa mostrou que a análise dos gráficos das redes é
útil para a verificação de que esse distanciamento é não somente hierárquico,
mas também social.
Cabe ressaltar que o uso das redes sociais como veículo para rebater
espacialmente as relações entre as pessoas está vinculado à existência de um
ambiente física e administrativamente organizado.
Na Repartição B, sua aplicação foi possível também, porque cada pessoa possui
um local específico de trabalho, mas no caso da Repartição A, um escritório de
alta rotatividade nas estações de trabalho, a visualização do rebatimento espacial
das relações sociais ficou prejudicada, posto que cada local era ocupado por
mais de uma pessoa. Por outro lado, como a sua organização de trabalho era
flexível, e não demandava uma corrida em cada minuto contado da produção,
com funcionários com mais liberdade para circular e interagir, o rebatimento das
relações sociais no ambiente pôde ser percebido com o auxílio de conversas
informais e anotações em tabelas próprias (ver exemplo na figura 5.17, as demais
encontram-se nos anexos desta tese), mais do que perguntando diretamente às
pessoas, porque as respostas começaram a se tornar muito abrangentes, e a
reunião numa tabela dos dados da observação sobre as interações pessoais
mostrou-se mais eficiente.
76
As mesas dos gerentes dos setores 1 e 3 são aquelas que têm as costas voltadas para as janelas, na
face mais à direita da planta mostrada.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
126
A título de esclarecimento, cabe dizer que a tabela mostrada acima, na figura
5.17, não representa uma técnica nova; ela nada mais é do que um produto da
observação (neste caso, feito parcialmente de forma retroativa à época de maior
ocupação da Repartição A). A partir das anotações do caderno de campo, em
cada dia de observação na Repartição A, foi produzida uma tabela como esta,
onde podemos ver na linha e na coluna os números correspondentes a cada
pessoa observada dentro da empresa, e nos cruzamentos, o número de vezes em
que houve interação social (anotada na observação) entre elas. Como não era
possível estar atento a tudo que simultaneamente acontecia no ambiente, a
pesquisa revelou útil o emprego de anotações em paralelo no correr do texto
principal do caderno de campo, como por exemplo “3x17” escrito no meio de
Fig. 5.17 - Tabela derivada de um dia de observação na Repartição A, mostrando a quantidade de
interações ocorridas entre os funcionários. Os números dispostos na 1ª linha e na 1ª coluna
correspondem a cada um dos funcionários, e os números ao centro, à quantidade de interações,
marcadas na cor vermelha quando eram iguais ou superiores a três vezes.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
127
uma frase, significando que, enquanto uma determinada situação estava sendo
observada, era possível visualizar, em outro ponto do ambiente, o usuário 3
interagindo com o usuário 17. Nesse caso, o era possível saber o teor da
interação (social ou profissional), mas a freqüência das interações, evidenciadas
pela tabela, foi útil para apontar direções para a subseqüente observação em
especial de determinados grupos.
Em nossa pesquisa, tentamos buscar, com esta tabela e outras semelhantes,
indícios de grupos sociais, que, por força de um ambiente não organizado,
poderiam ter seu rebatimento espacial coletivo de forma dissimulada em meio a
outras manifestações. De fato, foi isso que pudemos constatar, ao verificar a
constância de interações de certos grupos. Por exemplo, foi por meio da atenção
que a análise da tabela despertou a verificação de pequenos sinais no ambiente,
que a princípio poderiam parecer institucionais, mas na realidade refletiam a união
de um grupo (dentro de um setor) que também mantinha relações sociais,
informação corroborada posteriormente por meio de entrevistas informais. No local
do setor, havia uma série de cartazes institucionais, divulgando as campanhas
promovidas por ele como um todo, mas os cartazes mostravam a produção de um
grupo especificamente, que fazia questão de marcar seu território demonstrando
para os demais colegas do setor que partia deles o reconhecimento institucional
recebido por todos. À primeira vista, os cartazes demarcavam o território de todo o
setor, mas quando verificado pelo lado de dentro, a observação das relações
sociais mostrou que não era exatamente isso que acontecia
77
.
Nossa pesquisa revelou que o uso do mapeamento e análise das redes sociais
como método complementar se mostrou-se particularmente útil para desvendar a
dimensão coletivismo impressa no ambiente (no próximo capítulo, veremos
também como ela foi útil para corroborar a delimitação de territórios),
especialmente pela sua capacidade de ser reproduzida diretamente no suporte
espacial, por meio de desenhos. Tentando sintetizar os procedimentos relativos a
este método, podemos mencionar que:
77
Este exemplo será retomado no próximo capítulo.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
128
Análise e mapeamento das redes sociais
As redes podem ser investigadas por meio de perguntas feitas diretamente às
pessoas [“Com quem você normalmente tem que interagir para poder desenvolver
seu trabalho?” e “Com quem você costuma manter vínculos sociais? (contato
extra-trabalho)”];
Durante o questionamento, é útil apresentar ao respondente um cartão contendo
os nomes de todos os funcionários da empresa, para evitar que ele se esqueça de
alguém, enquanto o pesquisador dispõe de uma ficha semelhante, para marcar
em quadrículas as pessoas nominalmente citadas pelo respondente (figuras 5.13 e
5.14);
Após a coleta dos dados, as respostas, representadas por meio de ligações entre
as cadeiras dos respondentes, são desenhadas na planta baixa do escritório
(figuras 5.15 e 5.16), com o uso de cores, para facilitar a compreensão, podendo
ser agrupadas por setor e/ou por caráter (redes internas ao setor ou externas a
este);
Em ambientes muito densos ou desorganizados, a pesquisa mostrou-nos, contudo,
que as respostas às perguntas podem se tornar muito abrangentes, o que
dificultaria a análise das redes. Neste caso, um procedimento que se revelou
igualmente útil foi reunir as informações obtidas com a observação, sobre a
quantidade de interações trocadas entre as pessoas observadas, e depois transpor
estes dados para uma tabela própria (como na figura 5.17), para de sua análise
despontem os grupos de maior interação, que indicarão onde a observação deve
ser reforçada para a descoberta de grupos com tendências coletivistas;
Em síntese, nossa pesquisa revelou que o uso das redes sociais mostrou-se útil não
para revelar as relações sociais no ambiente, como também para auxiliar a
observação feita, evidenciando os pontos onde esta deveria ser reforçada. O
produto gráfico obtido com as redes contribui para que as informações obtidas
com estas possam ser mais facilmente visualizadas, embora mesmo somente a
reunião dos dados em uma tabela tenha se mostrado igualmente útil para o
objetivo pretendido.
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
129
5.3 Algumas considerações sobre a proposta metodológica
Com a aplicação da análise das redes sociais, findamos a incorporação de
métodos complementares à observação em nossa proposta metodológica.
Principalmente, porque com o leque de métodos utilizados, conseguimos perceber
nos ambientes as dimensões culturais por nós procuradas hierarquia e poder,
coletivismo, controle das incertezas e delimitação de territórios, atingindo, assim,
nossos objetivos. Além disso, não restava muito do tempo destinado à nossa
pesquisa de campo, em que pese o fato de que, se houvesse maior
disponibilidade, possivelmente poderíamos proceder à construção, em campo, de
mais duas dimensões culturais: tempo (que como explicitado no capítulo 3,
mostrou-se extremamente abstrato, mas é possível que se houvesse mais tempo
para estudos teóricos e pesquisa de campo, talvez a dimensão se revelasse); e
trocas (no sentido de “Dádiva”, estabelecido por Mauss, 1988). Apesar disso, o
tempo de duração de nossa pesquisa de campo (quatorze meses) se mostrou
suficiente para revelar o quanto ele é importante na observação, para que o
resultado da pesquisa não seja um “retrato instantâneo” daquele ambiente, mas o
de um processo, acompanhado durante alguns meses de pesquisa de campo,
registrando as mudanças, não físicas (que nem sempre acontecem no locus
estudado), mas também as da dinâmica de uso, que são freqüentes (alguém se
senta de outro modo, passando a incomodar o colega, que por sua vez se afasta
e reduz o espaço de um terceiro, etc.). Em um de nossos estudos de caso, vimos
que o deslocamento em 20 cm de uma mesa afetou a posição de quatro
estações de trabalho, além da circulação interna, como será apresentado em
exemplo no próximo capítulo. Esse fato pode ser apreendido pelo pesquisador
se ele estiver antes e depois, para acompanhar as mudanças acontecidas.
Principalmente por esse motivo, o tempo é importante. Para melhor ilustrar como
ocorreu o desenvolvimento de cada etapa de nossa pesquisa em cada um dos
três estudos de caso, é mostrado a seguir um quadro sinóptico com o resumo das
etapas ao longo do tempo do estudo:
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
130
Tabela 2 - Quadro sinóptico das diversas etapas da pesquisa de campo, nos diferentes estudos de caso
2005 2006 2007 Tempo
Local
Nov Dez Jan Fev Mar Abr Mai Jun Jul Ago Set Out Nov Dez Jan
Setor 1
Q
P
M
R
Setor 2
Q
P
M
R
Invista
Setor 3
R
Q
P
M
Repart. A
R
R
M
R
R
R
R
R
R
R
R
R
Q
P
Q
P
Repart. B
M
M
M
Q
P
Q
P
Q
P
R
R
Legenda:
Células em cinza-claro: período de observação e croquis de campo
Células em cinza-escuro: período de observação, croquis de campo e entrevistas informais
Q – Questionários
P – Poema dos desejos
M – Mapeamento territorial
R – Redes sociais
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
131
Nossa pesquisa mostrou que a complementaridade entre os métodos é
fundamental para o sucesso das descobertas. A observação inicial desperta
dúvidas, que podem ser total ou parcialmente respondidas pelos métodos
complementares e, posteriormente, são confirmadas novamente pela
observação, em um ritmo de descobertas seqüenciais. No entanto, cabe ressaltar,
sem a observação, os métodos complementares funcionam apenas de forma
isolada, havendo pouca conexão entre as informações advindas de sua
aplicação. É a observação, paciente e constante, que os conduz, permeia, e, em
um processo de retro-alimentação, preenche as lacunas deixadas por eles. É por
esse motivo que não podemos afirmar que para descobrir uma dimensão
isoladamente, é necessário utilizar este ou aquele método; além de um método
isoladamente não produzir descobertas significativas, as dimensões culturais são
extremamente permeáveis entre si, não raro havendo reflexos no ambiente que
sinalizam mais de uma dimensão, simultaneamente. Por isso, entendemos ser
importante a utilização dos métodos complementares juntamente com a
observação, porque os resultados, como frutos de uma realidade social
representada, são indissociáveis uns dos outros; as dimensões estão
profundamente interligadas entre si, e é principalmente a observação, “chave-
mestra” da proposta metodológica que as sinaliza.
Cabe também lembrar que toda esta proposta metodológica foi desenvolvida
para uma determinada faixa econômica, e um determinado grupo cultural;
portanto, a sua utilização em locais cujos hábitos ou a cultura sejam outros, é
possível não ser a tabela de indicadores das dimensões culturais aplicável da
forma na qual foi elaborada, podendo, no entanto, o pesquisador elaborar sua
própria tabela, a partir de sua própria observação. Como desdobramento para
pesquisas futuras, entendemos que há a possibilidade de adaptar a proposta
metodológica para outros contextos culturais mediante o prosseguimento de
estudos com este objetivo específico.
Assim, podemos sintetizar nossa proposta metodológica de análise cultural dos
ambientes de trabalho, nas seguintes etapas:
Capítulo 5 – O processo de construção da metodologia de análise cultural de ambientes de trabalho
132
1 –
O
BSERVAÇÃO de cunho etnográfico (permeará toda a pesquisa)
2 –
C
ROQUIS DE CAMPO (da mesma forma que a observação, serão produzidos ao
longo de toda a pesquisa)
3
E
NTREVISTAS INFORMAIS (para preencher lacunas produzidas pela observação
e como meio de aplicação do MAPEAMENTO TERRITORIAL
4
Q
UESTIONÁRIOS (como meio de aplicação do POEMA DOS DESEJOS e algumas
outras eventuais perguntas que requeiram anonimato)
5 –
P
OEMA DOS
D
ESEJOS (para possibilitar a livre expressão dos usuários)
6
M
APEAMENTO
T
ERRITORIAL (para verificar os territórios apropriados pelas
pessoas e a sua posterior confrontação com os dados da observação)
7 – Mapeamento e análise das
R
EDES
S
OCIAIS
Mais uma vez, ratificamos que é o conjunto das informações produzidas por todos
os métodos que fornecem resultados confiáveis para a análise cultural de
ambientes de trabalho.
No presente capítulo, vimos como ocorreu a construção da proposta
metodológica, que após a sua elaboração experimental (feita ao longo da
pesquisa de campo na Invista e em parte do tempo na Repartição A), foi aplicada
novamente, em seu modelo definitivo (na Repartição B). A validação dos
resultados demonstrou que a metodologia proposta atende aos objetivos desta
pesquisa, como será mostrado no capítulo 6, com as descobertas decorrentes de
sua aplicação, ou seja, como as dimensões culturais por nós pesquisadas se
mostram refletidas no ambiente.
C
APÍTULO
6
DESCOBERTAS DE CAMPO
“Se nós compreendermos a dinâmica da
cultura, provavelmente nós nos sentiremos
menos confusos, irritados e ansiosos quando
encontrarmos um comportamento não
familiar ou aparentemente irracional das
pessoas nas organizações; nós não só
teremos uma compreensão mais profunda
de porque vários grupos de pessoas ou
organizações podem ser tão diferentes, mas
também porque é tão difícil modificá-los.”
(SCHEIN, 1992, p.5)
Vimos no capítulo anterior como se desenvolveu e foi configurada a construção
da proposta metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho. No
presente capítulo, veremos as descobertas feitas em campo sobre o rebatimento
das dimensões culturais (hierarquia e poder; coletivismo; controle das incertezas;
delimitação de territórios) nos ambientes de trabalho. As descobertas serão
mostradas sob a forma de exemplos, agrupados por sub-itens em cada
dimensão, e são relativas a todo o período da pesquisa de campo, tanto da fase
da construção da proposta (praticamente todo o tempo da empresa Invista, e
alguns meses da Repartição A) quanto da sua aplicação e validação (meses
finais da Repartição A e durante a Repartição B). As análises aqui apresentadas
ilustrarão como a proposta metodológica apresentada nesta tese é capaz de
interpretar os aspectos culturais refletidos nos ambientes pesquisados.
6.1 Hierarquia e poder
A hierarquia (e seu vínculo ao poder) é um elemento inerentemente presente em
um ambiente de trabalho no qual existam cargos que sejam administrativamente
superiores a outros. Em algumas sociedades, a hierarquia está vinculada ao cargo
em si, e não necessariamente à pessoa que o ocupa. Podemos ver exemplos
assim na sociedade americana (EUA), por exemplo, em que o chefe é visto como
um superior somente no local de trabalho. Já em locais como a China, é como se
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
134
a hierarquia do cargo extrapolasse para além dos limites do trabalho
78
. Até certo
ponto, podemos dizer que isso também acontece na sociedade brasileira. Não é
incomum ver pessoas que ocupem cargos mais relevantes em diversas instituições
pronunciarem a frase Você sabe com quem está falando?
79,
ao se sentirem
importunadas por algum desconhecido, em situações extrínsecas ao cargo
ocupado.
Na presente pesquisa, uma das categorias que está em análise é como a
hierarquia funcional se traduz espacialmente, ou seja, como o ambiente revela as
noções de hierarquia existentes. Parafraseando Hall (1994), o espaço fala através
de uma linguagem silenciosa, e é essa linguagem que buscamos entender. Embora
a princípio nos pareçam muito naturais, as configurações que destacam o
posicionamento espacial dos superiores em relação aos subordinados
representam um valor cultural
80
, fortemente enraizado entre nós. Faz parte de nossa
herança cultural associar poder e hierarquia à quantidade e qualidade de espaço.
6.1.1 Acesso ao poder
Uma das formas de evidenciar espacialmente o local de trabalho dos dirigentes
de uma instituição é pela criação de mecanismos ou elementos que dificultem ou
mesmo separem o acesso a eles. Podemos ver esse fato traduzido espacialmente
nos locais destinados às estações de trabalho dos líderes hierárquicos em nossos
três estudos de caso. No caso da Invista, uma empresa privada, havia várias salas
fechadas, todas destinadas ao alto escalão da empresa, especialmente a
diretoria. Esta, especificamente, ocupava a fachada de vista mais agradável
disponível no andar, de frente para uma importante e larga via, em frente a uma
igreja histórica, enquanto as outras duas fachadas faceavam ruas estreitas,
78
Trompenaars, (1994).
79
DaMatta (1983) faz referência a esta frase como um exemplo de nossa sociedade relacional,
tendo em vista o forte teor de autoritarismo e hierarquia nela contidos.
80
Em certas organizações, esse valor é tão intenso que o poder de alguém pode ser medido, em
última instância, pelo tamanho e posição de sua sala, bem como pelo acabamento diferenciado,
presente inclusive no mobiliário. Como uma situação de contraste, Schein (1992) cita situações em
que algumas organizações reservam as melhores vistas e localizações da empresa para salas de
conferências (de uso comum, portanto). Não são situações que devam receber um rótulo de certo
ou errado, tal referencial não existe; são apenas diferentes maneiras culturais de encarar a
organização em si.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
135
permeadas por altos prédios, no centro da cidade
81
. Além da sala da diretoria ter
“barreiras” em seu acesso, como uma ante-sala com secretária e a recepção, o
caminho para se chegar até ela é diferente daquele para a chegada aos setores
operacionais da empresa. Logo no hall dos elevadores, podem ser vistas duas
indicações de direção (ver figura 6.1), uma, para o “atendimento” (que
recepciona clientes, representantes, e também é o acesso por onde entram os
funcionários que não pertencem à diretoria); e outra, para a “administração”
(que acesso exclusivo à ala da diretoria, com sala de espera, copa e
banheiros exclusivos também).
Como mencionado, também salas de espera separadas na empresa. As de
clientes e representantes apresentam um determinado padrão de mobiliário e
acabamento (ver figura 6.2); já a da diretoria, anexa à recepção, possui móveis e
acabamento de padrão superior às demais, caracterizando um ambiente mais
“nobre” (ver figura 6.3).
81
Como mencionado no capítulo 4, a Invista ocupa todo o andar do prédio, que possui apenas
uma fachada cega.
Fig. 6.1 – Acesso da Invista na chegada do hall dos elevadores, com separação de acessos para
a diretoria (administração) e para demais pessoas (atendimento).
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
136
Fig. 6.2– Indicações no
corredor de acesso sobre
os locais das salas de
espera de representantes
e clientes,
respectivamente. Acima,
detalhe da placa e vista
geral da espera dos
representantes, e ao lado,
detalhe da placa e vista
geral da espera dos
clientes.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
137
A pesquisa indicou que a separação de acessos para se chegar à diretoria e aos
demais ambientes da empresa é um mecanismo utilizado para preservar os locais
destinados àquele uso, resguardando-os de um fluxo desnecessário e
possivelmente perturbador. Da maneira que foi implantado, somente circulam
pelos corredores da diretoria aqueles que fazem parte de seus quadros ou que
trabalham com ela diretamente.
Nos demais estudos de caso, embora os gabinetes dos líderes sejam os únicos
ambientes fechados com porta dentro do escritório, não a separação de
acessos; nos dois casos, os gabinetes encontram-se o mais distante possível do
ponto de acesso ao ambiente, fazendo com que quem pretenda chegar à
estação de trabalho do líder, passe necessariamente por “filtros humanos,” como
Fig. 6.3 – Vista geral (acima) e detalhe (ao lado)
da recepção e sala de espera da diretoria, com
padrão de móveis e acabamento superior às
outras salas de espera.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
138
secretárias e os próprios demais funcionários (ver figura 6.4). Além disso, na
Repartição B, mesmo havendo somente um ambiente fechado com porta, o
escritório como um todo é formado por três salas, que ainda guardam suas
paredes divisórias, proporcionando, assim, uma gradação de privacidade, à
medida que nos afastamos do ponto de acesso (ver figura 6.5).
Fig. 6.4 – Repartição A (E) e Repartição B (D). Notar o
caminho e as distâncias entre os acessos, marcados
por setas vermelhas, e a localização dos gabinetes,
marcados por circunferências vermelhas.
Fig. 6.5 – Quanto mais longe do acesso, mais privativo
e “importante” se torna o ambiente
Privacidade
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
139
Na Repartição A, embora o gabinete sempre tenha sido o ponto mais afastado
da porta de entrada do escritório, durante a nossa pesquisa ele passou por
modificações, como as mostradas no capítulo 4 (passagem da Fase 1 para a
Fase 2 do layout). Essas modificações ocorreram no seu layout interno, no seu
tamanho (itens a serem examinados mais adiante), e no seu acesso. A mudança
fez com que existissem mais “obstáculos” no caminho que conduz a este local,
reforçando, dessa forma, a expressão da hierarquia existente. O ambiente
funciona como suporte espacial da hierarquia existente, possuindo também a
função de orientar e conduzir o comportamento das pessoas, sejam elas internas
ou externas à instituição. A pesquisa nos fez compreender que o ambiente
legitima as posições hierárquicas, e os funcionários também se respaldam nesta
legitimação, utilizando-se dela como um guia para seu posicionamento. De fato,
como nos diz Fischer,
O espaço opera uma espécie de identificação dos grupos
humanos com um território(...); encontrando-se num determinado
local, se é identificado com um lugar social e, por conseguinte,
objeto de uma categorização ligada a essa relação estabelecida
entre tipo de espaço e posição social (FISCHER, 1994, p.71).
A mudança que dificultou o acesso ao gabinete é representada pelo
deslocamento da sua porta de entrada e a mudança na posição da mesa do
funcionário responsável por controlar este acesso, anteriormente de costas para o
fluxo de entrada e, posteriormente, de frente e posicionado no caminho do fluxo,
junto à divisória lateral.
Durante a pesquisa, verificamos que a grande maioria das pessoas, quando
precisa falar com o líder, vai até esta mesa; se por acaso a pessoa não pode ser
atendida naquele exato momento, ela não segue adiante, retornando daquele
mesmo ponto. Esta mesa reproduz espacialmente uma fronteira hierárquica, e
que no layout anterior, não existia. O secretário que ficava mais próximo da porta
do gabinete permanecia de costas para o fluxo de entrada, e apesar de ele
também auxiliar no controle de acesso, sua posição física não indicava, a quem
chegasse, dever ser ele consultado antes da entrada no gabinete. Com a
mudança e a introdução desta mesa, de frente para o fluxo de quem chega, a
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
140
mensagem ficou evidente, sem a possibilidade de dúvidas ou questionamentos
(ver figura 6.6).
Assim como nos coloca Tuan (1983), as funções sociais e as relações vão sendo
definidas através do meio ambiente construído, fato que também pudemos
constatar em nossa pesquisa.
Cabe aqui um detalhamento da situação especial da mesa mostrada com
hachuras na figura acima. Além de servir de controle de acesso, após a reforma
também passou a comportar o aparelho de fax, que efetua chamadas para
telefones celulares. Usualmente, a mesa é utilizada por uma secretária de funções
administrativas; quando está ausente, no horário de almoço, ela é substituída por
uma outra – que apesar de gradativamente vir exercendo cada vez mais funções
administrativas, começou a exercer esta substituição quando era somente uma
funcionária do apoio. Normalmente, a funcionária substituta não recebe pedidos
dos outros funcionários para “usar o fax” ou “dar uma ligadinha (sic) para celular”.
Fig. 6.6 – Comparação da modificação ocorrida no gabinete
da Repartição A, da Fase
1 (E) para Fase 2 (D). Além da mudança no tamanho, houve uma mudança no
acesso;
antes, feito de forma imediata
(representada pela seta vermelha), com o funcionário
diretamente responsável por fazer o controle de acesso permanecendo de costas para
a porta, o que dificultava o controle (mesa com hachuras). Após a mudança, o
funcionário passou a ficar de frente para o fluxo de acesso, interpondo-
se entre este e a
porta, facilitando o controle
(as mesas brancas são de outros setores que não gabinete
ou administração/assessoria).
Gabinete
Assessores
e
secretários
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
141
No entanto, os recebe quando está ocupando aquele lugar, naquela mesa. O
fato de ocupar o lugar naquela mesa transfere à pessoa que o ocupa o poder
inerente do lugar, de controlar/autorizar as ligações feitas daquele aparelho.
Nesse caso, o poder está centrado naquele lugar, mais do que no indivíduo que o
ocupa. Em uma ou duas ocasiões, quando a funcionária que normalmente faz a
substituição não estava disponível, e uma terceira pessoa ainda menos afeita à
função ocupava o local, também recebia temporariamente este mesmo poder.
Este poder não é transmitido diretamente de pessoa para pessoa, mas, sim,
porque as demais reconhecem que quem está sentado naquela mesa recebeu
aquelas atribuições, ainda que temporariamente, e é o responsável por aquele
local e por aquelas funções
82
. Assim, aprendemos que o poder pode ser
conferido não apenas por um cargo hierárquico na empresa, mas também
reiterado pela posição física que a pessoa ocupa no ambiente.
Ainda sobre a análise dos mecanismos controladores do acesso aos locais de
poder nos escritórios, a pesquisa nos fez compreender que a hierarquia, mesmo
sendo demarcada no ambiente por meio de percursos, controle ou situação
física da sala, ainda pode ser reforçada por marcadores visuais como cartazes e
placas, conferindo ao local uma legibilidade maior das regras de
comportamento esperadas. Podemos ver um exemplo desses marcadores visuais
na Repartição A, onde, colado na porta do gabinete, existe um aviso indicativo
de que a pessoa que pretenda entrar aguarde pelo devido chamado (ver figura
6.7). Em conversas informais, foi obtida uma informação de que este aviso está na
porta do gabinete muito tempo, desde a gestão anterior. Contudo, a sua
manutenção nos dias atuais revela que ele ainda preserva sua utilidade.
82
A pessoa que ocupa esta mesa também recebe eventuais pedidos de uso da máquina digital, da
chave do carro funcional da instituição e autorização para pegar algum material de consumo nos
armários.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
142
A pesquisa mostrou, dessa forma, que tanto a posição estratégica do gabinete
da chefia quanto o controle do percurso de quem pretende acessá-lo evidencia
o poder do líder, reiterando, no ambiente, as “leis internas” o-escritas do
comportamento que se espera dos usuários em situação hierárquica inferior. Um
outro componente, apontado pela pesquisa, que contribui para evidenciar o
poder do líder, é o uso dado ao seu gabinete, como será visto no próximo item.
6.1.2 A dinâmica de uso dos gabinetes de chefia
Mesmo com posicionamento estratégico e acesso controlado, o uso dado aos
locais que concentram o poder de uma organização, ou seja, os gabinetes onde
trabalham os seus líderes, também demonstra espacialmente um maior ou menor
distanciamento hierárquico do superior em relação aos subordinados.
Como mencionado anteriormente, o gabinete da Repartição A passou por
mudanças no seu acesso, na passagem da Fase 1 para a Fase 2 do layout, mas
Fig. 6.7 – Porta do gabinete (E), detalhe (D) da placa de identificação
e do aviso fixados na sua face externa.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
143
as mudanças também afetaram seu tamanho e conseqüentemente, o uso dado
a este local.
A área do gabinete foi reduzida a pouco mais da metade, mas ao contrário do
que poderia parecer a princípio, essa redução contribuiu para destacar
espacialmente o status hierárquico do local, pois anteriormente, o gabinete
ocupava uma área maior, mas também comportava várias pessoas em seu
interior, em configurações diversas, tanto espaciais quanto temporais: diferentes
pessoas, em diferentes momentos, usavam o gabinete como local de trabalho,
em função da superlotação existente naquela instituição nessa época. Como
referido no capítulo 4, nesse tempo, existiam 44 funcionários para somente 27
mesas disponíveis, e por isso a mesa e o espaço excedentes no interior do
gabinete eram utilizados por pessoas que não o der ou o vice-líder da
organização. A leitura hierárquica do gabinete mudava também de acordo
com o tempo, mas não de forma rítmica; dependia da situação e das pessoas
envolvidas. Por exemplo: apesar de haver o já mencionado aviso na porta,
mesmo que estivesse fechada, alguns funcionários, normalmente aqueles cujo
teor do trabalho dizia respeito diretamente ao dirigente e que por isso
trabalhavam constantemente no interior do gabinete, entravam diretamente no
recinto, sem ao menos bater antes. outros davam uma leve batida,
hesitantes ao entrar, mas ainda assim entravam, fosse para efetuar uma
chamada telefônica para celular (o que seria possível dentro), para pegar
material de consumo como copos descartáveis, ou mesmo para usar
eventualmente um computador ou outros equipamentos, que permaneciam em
seu interior.
Foi possível observar, em algumas ocasiões, que o gabinete era totalmente
preservado caso estivesse ocorrendo em seu interior alguma reunião importante;
nesse caso, os secretários de apoio e assessores mais próximos se encarregavam
de resguardar o seu acesso. Portanto, o seu caráter de “local de poder” possuía
um viés associado ao tempo, ocasionado pelo fato de ser um ambiente com
múltiplos usos.
Com a redução de área proporcionada pela reforma, os equipamentos, os
computadores e o telefone de chamadas para celular foram retirados de seu
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
144
interior e somente permaneceram as mesas do der e do vice-líder da
organização; todos os outros funcionários passaram para o seu exterior, em
lugares diversificados. A mudança também permitiu que os assessores próximos
e secretários de funções administrativas pudessem permanecer na área de
acesso ao gabinete, reforçando, por um lado, o filtro de acesso e por outro,
destinando um local de trabalho próprio para esses mesmos funcionários (ver
figura 6.8).
Dessa forma, foi criado um ambiente de uso exclusivo, somente para os dois
cargos de maior hierarquia da instituição. Esse fato, observado pela pesquisa, nos
faz perceber que juntamente com o acesso controlado, a exclusividade do
ambiente é tão ou mais importante do que o seu tamanho, em se tratando de
locais destinados ao poder. Por mais que a lógica cultural sugira ser o tamanho
da sala um indicador proporcional do poder de quem a ocupa (SCHEIN, 1992), se
o ambiente não for suficientemente exclusivo, sua dimensão espacial pode ser
preterida em função desta outra característica.
Dessa maneira, e esse exemplo pode ser considerado genérico, um funcionário
que entre no escritório de seu chefe tende a se comportar de forma mais
comedida, porque sabe que está em um ambiente diferente, onde quem tem o
Fig. 6.8 – Comparação da modificação ocorrida no gabinete da Repartição A, da Fase 1
(E) para Fase 2 (D). Apesar de ter sua área diminuída, o gabinete passou a ser de uso
exclusivo do líder e do vice-líder do órgão.
Gabinete
Assessores
e
secretários
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
145
domínio administrativo também tem o domínio do ambiente. Segundo
Halbwachs, o funcionário se vê então num lugar que representa
uma zona ativa, um centro de onde irradiam os direitos e os
poderes daquele que possui a liberdade de dispor de sua pessoa
dentro de certos limites, e que à medida que penetre nesta zona
ou se aproxime desse centro, parece-lhe que se reconstitui ou
novamente surgem em sua memória as circunstâncias e as
significações do contrato que assinaram. (
HALBWACHS,
2004,
p.154 – grifo nosso).
Portanto, o ambiente em que o indivíduo está representa um forte fator
contribuinte para a orientação de sua conduta, porque o local traz impressos em
seu suporte espacial os sinais que emitem esta mensagem. É justamente por
transmitir esta mensagem que no caso da Repartição B, as definições
concernentes às características do gabinete não ficaram tão a cargo de seu
ocupante, mas, sim, de seus subordinados, que também compartilham a mesma
linguagem cultural na qual a mensagem é transmitida. E na Repartição B, seu
dirigente deu algumas mostras (como será visto mais adiante) de que não exerce
uma grande distância hierárquica em relação aos seus subordinados;
possivelmente por esse motivo, houve liberdade para que deles partisse a maior
parte das decisões sobre o local.
Por meio de entrevistas informais, pudemos ter acesso às decisões tomadas na
implantação daquela organização naquele prédio; inicialmente, o der da
Repartição B não queria ficar em um compartimento fechado, isolado, mas foi
convencido pelos demais a fazê-lo, tendo em vista sua posição hierárquica, de
líder de um órgão público, e que deveria haver um ambiente apropriado para
ele receber pessoas externas à organização etc. O gabinete separado foi
executado, mas de fato, o que pudemos comprovar pela observação é que até
hoje ele não possui um fechamento completo, pois além de a porta estar sempre
aberta, a divisão física é feita por uma divisória a meia-altura, havendo espaço
para a colocação de um vidro na sua parte superior, o que até o momento de
fechamento desta pesquisa não havia sido feito (ver figura 6.9); do mesmo modo,
por várias vezes, presenciamos a recepção de pessoas externas ao órgão, que se
reuniam com o líder em sua sala, mas a atitude de manter a porta fechada,
quando ocorria, partia dos visitantes, e não do “dono” da sala. Além disso,
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
146
observamos também o fato de que, quando presente na organização,
dificilmente o líder passava muito tempo em sua própria sala; quando o fazia,
muitas vezes era porque seus funcionários iam até para falar com ele, e se o
encontrassem, permaneciam, às vezes um em seguida de outro. No entanto,
passado o atendimento, e se vendo sozinho, verificamos que o líder falava ao
telefone ou falava com os secretários fora de sua própria sala; saía de para
fazer isso, e até para verificar um detalhe ou outro com um funcionário, ia até a
mesa de seu subordinado, passando, assim, boa parte do tempo mais fora do
que dentro de sua sala. Nesse escritório, por mais que seus funcionários tivessem
insistido para que seu dirigente tivesse uma sala exclusiva, o que observamos é
que ela servia, na prática, como local para a guarda dos pertences do seu
“ocupante” e também para o recebimento de visitantes externos, não sendo, de
fato, a sala em que aquela pessoa trabalhava. Este líder, em especial, usava todo
o escritório para isso. Possivelmente, talvez uma simples baia, apenas setorizando
o local do dirigente, fosse suficiente para este uso, sem a necessidade de uma
divisória de dois metros de altura, que permanece sem o vidro de vedação e que
provavelmente assim permanecerá. São recursos dessa natureza, por exemplo,
que poderemos utilizar em um projeto de arquitetura com a aplicação de nossa
proposta metodológica.
Ausência de
fechamento
Quadro de
recados
Fig. 6.9 – Gabinete do dirigente da Repartição B: porta sempre
aberta, ausência do previsto fechamento translúcido.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
147
Ainda em relação a este líder, um outro uso que ele fazia do ambiente de
forma a diminuir a distância hierárquica em relação aos seus subordinados.
um quadro de recados junto à entrada de sua sala (que pode ser visto na mesma
figura 6.9, à esquerda da porta) servindo para informações diversas que ele passa
para as pessoas, como lembretes etc., mas também serve como substituto para
eventuais “broncas” que poderiam ser dadas por ele. Em um determinado dia, ao
chegarmos na Repartição B, encontramos escrito no quadro o seguinte texto:
“Tem processos parados na sua mesa? Na minha não tem! Podemos resolver isso
juntos, que tal?”. Além disso, também havia, de forma indireta, uma reclamação
pelo uso excessivo de um programa de mensagens instantâneas, por meio de um
pedido de ajuda para preparar uma palestra sobre os males que tal programa
trazia (ver figura 6.10). O quadro em questão funcionava de veículo para
repreensões vindas do líder, que ao invés de fazê-lo de forma incisiva, não
causava constrangimento às pessoas, sem no entanto deixar de passar a
mensagem que considerava necessária
83
.
83
Posteriormente, em conversa com o líder, ele confirmou-nos que preferia passar as mensagens
dessa maneira mais “serena”, e sendo possível, atingindo a todos de igual forma.
Fig. 6.10 – Quadro de recados da Repartição B, utilizado, entre outras coisas, como
veículo de repreensões por parte do dirigente do órgão, de forma a não constranger
diretamente um ou outro funcionário específico.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
148
Essa atitude do líder é consonante com o uso que ele próprio faz de sua sala,
deixando-a permanentemente aberta, integrando-a ao ambiente (por contraste,
podemos nos lembrar do outro estudo de caso, cuja porta do gabinete possui um
aviso solicitando que as pessoas não entrem sem serem chamadas).
A aplicação da proposta metodológica mostrou-nos, portanto, que o
rebatimento espacial da hierarquia em um ambiente de trabalho pode ir além da
localização, do tamanho e do controle de acesso à sala destinada à chefia. O
uso que é dado a estas salas contribui de igual forma para revelar como esta
dimensão se apresenta, indicando que o olhar atento da observação é
fundamental para o sucesso da busca pelas dimensões culturais refletidas no
ambiente. No entanto, em locais de trabalho, podemos encontrar relações de
poder não somente no que diz respeito aos gabinetes dos líderes, mas nas áreas
onde trabalham os demais funcionários também, como será visto a seguir.
6.1.3 O poder fora das salas fechadas
Na Repartição B, diferentemente da maioria das pessoas
84
, o ocupante do cargo
de maior hierarquia administrativa da instituição não faz questão de demonstrar
esse fato espacialmente. Já na Repartição A, como visto anteriormente, o der
buscava essa expressão, mas neste caso, a impossibilidade física para que ela se
reproduzisse de forma plena no ambiente gerava alguns eventuais conflitos nesta
instituição. É fato que o tamanho do espaço físico ocupado pelo órgão no interior
do clube é bem menor do que seria necessário (como mencionado), sendo a
sua fase mais crítica a situação na qual se encontrava a Repartição A no início de
nossa pesquisa (como esclarecido no capítulo 4). E os funcionários que trabalham
todos no mesmo salão, fora do gabinete, possuem cargos, atividades e contatos
políticos diferentes entre si, o que a cada um deles um grau diferenciado de
poder de decisão e atuação, seja por vias formais ou informais. Da mesma forma
(considerando o escritório como um todo) que é possível verificar que as salas
fechadas correspondem aos líderes, também é possível verificar que no interior de
84
Inclusive alguns de seus subordinados, cargos do escalão intermediário da Repartição B e
também funcionários de poder informal, constituído apenas socialmente.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
149
uma mesma sala, com várias pessoas trabalhando, pode-se, também, identificar
as que possuem mais poder do que as outras.
Neste escritório, analisamos o layout da Fase 1, situação de maior densidade
ocupacional durante a pesquisa feita no órgão. Mesmo sendo um local
improvisado, que o permite a plena reprodução da lógica cultural ligada ao
poder (como visto nos itens anteriores), ainda assim encontra-se, nesta
configuração, a mesma situação de várias outras empresas: as mesas dos
superiores (no caso, os sub-chefes) estão de “costas para algum anteparo
(parede, divisória ou janela), trazendo para seus ocupantes a sensação subjetiva
de proteção, pois não ninguém sentado atrás de si mesmo
85
; não ocorrem
acontecimentos no espaço atrás de suas costas, havendo domínio visual da
quase totalidade do ambiente. Cabe mencionar que este fato e a necessidade
que as pessoas têm de posicionar a mesa desta forma serão mais bem analisados
no item Controle das Incertezas; por hora, é interessante observar que uma vez
que existisse a necessidade (ou preferência) por ocupar uma mesa na qual as
próprias costas fiquem junto a um anteparo, e não no meio do ambiente, foram
os sub-chefes que conquistaram esse posicionamento, em meio ao “caos” da
super ocupação da Fase 1
86
(ver figura 6.11).
Da mesma forma, na Repartição B e na Invista também podemos verificar a
existência dessa mesma lógica, mas nestes dois casos, em ambientes
formalmente planejados. Na Repartição B, que é configurada em três salas do
mesmo andar, uma ao lado da outra, interligadas por vãos nas paredes que a
dividem, verificamos ter a pessoa de maior poder em cada uma sua cadeira de
costas para parede, semelhante às posições vistas na Repartição A. Cabe
esclarecer que a organização dos setores administrativos não obedece à
organização espacial de três ambientes somente, pois uma interpenetração
dos setores por mais de uma sala (como visto no capítulo 4, na apresentação dos
setores com cores específicas). No entanto, se considerarmos as estações de
trabalho por sala, sempre a de maior poder formal ou informal – está na mesma
85
É a busca dessa mesma sensação que faz com que, ao chegarmos em um restaurante com
várias mesas disponíveis, busquemos uma mesa no canto, e não a que está no centro do salão.
86
Am das mesas dos sub-chefes, somente outras duas estavam posicionadas exatamente da
mesma forma, entre todos os funcionários, durante esta fase, e uma delas era ocupada
prioritariamente por uma pessoa com poderes constituídos informalmente dentro da organização.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
150
posição (ver figura 6.11). Frisamos que pode ser um poder formalmente
constituído ou não, porque, por exemplo, na sala que corresponde à entrada do
órgão, com três mesas dispostas nas mesmas posições relativas, a mesa do fundo,
de costas para a parede, não é ocupada pelo chefe do setor (que se encontra
em outra sala). No entanto, é ocupada por alguém que por deter um poder
informal (socialmente constituído) dentro do órgão, escolheu aquela mesa para
si.
na Invista, também encontramos a mesma semelhança no posicionamento
das mesas dos supervisores; elas assumem uma posição de destaque em relação
às mesas de seus subordinados, permitindo uma fácil visualização, de quem
adentra no ambiente, de quem é o “chefe” da sala”. Além disso, em dois deles,
no setor 1 e no setor 2, vemos a mesma configuração que nos demais estudos de
caso, com as mesas de costas para algum anteparo (ver figura 6.11).
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
151
Fig. 6.11 – Comparação, nos três estudos
de caso, das posições relativas das mesas
de superiores (realçadas pelos círculos
vermelhos) em relação aos subordinados.
Na Repartição A e na Repartição B elas
estão de costas para algum anteparo; na
Invista, além de esse fato também
acontecer nos setores A e B, é possível
perceber a posição de destaque que a
mesa do superior assume em relação as
d
os demais.
Repartição A
Repartição B
Setor 3
Setor 2
Setor 1
Invista
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
152
Ainda sobre este tema, podemos “aproximar a lentede um setor da Repartição
A, que fica logo de frente para a entrada. Ao longo de todas as fases de
modificações, mostradas no capítulo 4, este foi o setor que praticamente não se
modificou, em toda a instituição
87
; sendo muito bem definido, tanto em termos
espaciais quanto de pessoal. Seu espaço físico comporta todos os seus
ocupantes, principalmente depois da saída do antigo supervisor. Antes disso, uma
funcionária que também trabalhava em outro órgão da administração pública,
quando estava presente na Repartição A, eventualmente ocupava uma mesa no
lado oposto do corredor, compartilhando-a com pessoas de outros setores.
Durante a maior parte do tempo da pesquisa, eram cinco funcionários, cinco
mesas e cinco cadeiras. Essa congruência entre pessoal e mobiliário pode ter
contribuído para a perenidade do layout adotado, a respeito do qual vale a
pena frisar a posição de destaque da mesa do supervisor em relação às dos
demais funcionários. É neste setor que a sensação subjetiva de domínio visual do
ambiente (e dos subordinados), que já foi mencionada, revela-se com maior
clareza (ver figura 6.12): a mesa do supervisor, de frente para a entrada e de
frente para a circulação, é a única que está posicionada de modo a não possuir
nenhuma outra colocada atrás dela; esse fato garante o conforto psicológico
proporcionado por uma tênue privacidade, de ter as costas protegidas, inclusive
de uma exposição visual talvez não desejada
88
. As demais mesas, ao contrário, se
encontram colocadas de forma lateral à entrada e à circulação; duas delas,
inclusive, estão de frente para a parede e de costas para todo o ambiente. Tais
posicionamentos fazem com que seus ocupantes fiquem permanentemente
89
com as costas em exposição, inclusive ao supervisor, e por estarem também em
posição lateral à circulação, não há barreiras físicas entre seus ocupantes e
outras pessoas que adentrem naquele local. Por oposição, o supervisor, ao
87
A única mudança que constatada neste setor foi o deslocamento do armário existente em
direção à janela, liberando mais espaço para o posicionamento da mesa do supervisor.
88
Archea (1977) chama a essa situação de “superexposição espacial”, quando há mais informação
disponível sobre alguém do que esse alguém desejaria, acarretando uma certa perda de
privacidade.
89
Ou, pelo menos, alguma parte do tempo, pois eventualmente é possível olhar para o local e
perceber que seus ocupantes estão posicionados lateralmente às suas mesas, mantendo o pescoço
rotacionado em direção ao computador.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
153
receber uma pessoa naquele setor, tem sua própria mesa como barreira física,
que limita o contato e a aproximação.
Possivelmente, quando foi estabelecido, o layout sedimentou-se no comum
acordo entre superior e subordinados; não necessariamente expressa um conflito
de poderes, pelo contrário. Ele legitima e suporte à hierarquia existente,
servindo como referência para orientação espacial-hierárquica. Segundo Duarte
(1993), a permanência dos arranjos espaciais significa uma adequação do
ambiente às funções sociais.
De fato, como mencionado, são essas as formas de exprimir e de expressar o
poder que emana das pessoas ocupantes daqueles locais; essa é uma linguagem
compreendida tanto por quem a emite quanto por quem a absorve, porque faz
parte de nossa cultura; dificilmente haveria outra forma de reproduzir o status
diferenciador que uma pessoa possui em relação à outra; concordamos com
Sommer quando o autor diz que
(...).os símbolos de status são usados (...) como exigências para a
perpetuação do sistema existente de status. Os símbolos de
status permitem que um recém-chegado perceba, à primeira
Entrada
Circulação
Supervisor
Costas “protegidas”
Costas “expostas”
Fig. 6.12 – Detalhe de um setor da Repartição A, evidenciando a diferença
de posicionamento entre a mesa do supervisor e as dos demais
funcionários.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
154
vista, quem é o mais importante no grupo (...) (SOMMER,1973, p.
22).
A pesquisa indicou ser dessa forma que as relações de hierarquia e poder se
refletem no ambiente construído; saber interpretar esta linguagem pode auxiliar
muito o arquiteto no tarefa de projetar escritórios, adequando culturalmente aos
seus usuários o ambiente, optando pelo fechamento ou não de salas, planejando
o caminho que conduz a elas e verificando o posicionamento das mesas no
ambiente. Por exemplo, possivelmente, na ocasião em que a Repartição A for
transferida do clube para um outro local, como um prédio administrativo, será
interessante que o arquiteto responsável pelo projeto observe cuidadosamente
como é importante registrar espacialmente a hierarquia naquele escritório. Todas
as mudanças presenciadas por nós naquele layout; a busca intensa pela
diferenciação espacial da hierarquia em local com pouco espaço físico
disponível; a verdadeira “luta”, buscando, por meio da rotação de mesas e
deslocamento de equipamentos, tornar claro onde está o centro de comando
da organização, são elementos que nos dizem isso. Um projeto que não a
devida consideração ao fator hierarquia, para este escritório, tenderá a sofrer
várias modificações pelos seus próprios usuários, sob pena de elas acontecerem
in loco, sacrificando muitas vezes o posicionamento previamente estudado de
instalações e outros elementos; sem a devida análise cultural, os elementos físicos
acabam muitas vezes sendo preteridos pelos usuários, em função de que o
ambiente atenda às suas necessidades culturais.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
155
6.2 Coletivismo
Ao longo das últimas décadas, o mundo, de uma maneira geral, vem
acentuando suas tendências individualistas (HOFSTEDE, 1997, 2001). Itens como a
globalização e o desenvolvimento de novas tecnologias acentuam tendências já
existentes; Triandis et al. (1990) argumentam que os trabalhadores das estações
no Ártico tornaram-se mais individualistas depois que passou a ser possível a
transmissão do sinal televisivo para aquela região do planeta. Da mesma forma,
se pensarmos nas grandes mansões de 50 anos atrás e nas atuais, é tido que
houve um forte crescimento não no espaço destinado ao uso individual na
habitação (mais quartos com banheiros próprios, mais vagas de garagem por
morador), como também no uso individual de equipamentos (televisores, dios,
geladeiras, automóveis e, nos últimos 15 anos, os computadores). No entanto,
esse movimento, como dito anteriormente, somente acentua tendências
existentes. Segundo Hofstede (1997), sociedades com pronunciadas tendências
coletivistas o menos afetadas por essas mudanças. A título de ilustração, o
Brasil se apresenta, na escala de coletivismo elaborada por Hofstede (1997), em
uma posição mediana, embora com ligeira tendência ao coletivismo. Assim, em
nossa sociedade, é comum encontrar sinais tanto de uma quanto de outra
tendência. E em locais de trabalho, foco da presente pesquisa, devemos levar
em consideração que outros elementos de influência, como a política de
promoções da empresa (se o mérito da equipe é considerado ou somente o do
indivíduo) e a forma pela qual as atividades são distribuídas etc., que contribuem
para que o grupo atue de uma forma ou de outra. Além disso, não como
desconsiderar que existe, dependendo da empresa, uma certa competitividade
entre os funcionários, o que também pode contribuir para um eventual
encobrimento de tendências coletivistas.
Possivelmente pelos motivos expostos acima, os sinais de coletivismo encontrados
nos ambientes pesquisados apresentaram-se em menor número do que os da
dimensão anterior, hierarquia e poder. Ainda assim, foi possível visualizar alguns
deles, como será visto a seguir.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
156
6.2.1 Expressões coletivas: imagens e sons
A observação do som produzido foi o primeiro indicador da existência de um
grupo de tendências coletivas dentro da empresa Invista. Ocasionalmente, em
todos os estudos de caso, eram produzidas músicas nos ambientes; no entanto,
em um setor específico da Invista (setor 1), as pessoas o faziam de forma coletiva.
O setor contava com onze funcionários, e um deles reproduzia música em seu
computador, numa programação musical definida conjuntamente, com frases
do tipo “coloca a música tal” ou “ah, não, pula essa, que é chata”, e
subseqüentes manifestações de apoio ou o, dependendo do caso, até se
chegar a um consenso. Em determinadas ocasiões, quem estava encarregado
de reproduzir a música rotacionava as caixas de som do próprio computador, de
modo que estas ficassem voltadas para o restante da sala, e não somente para si
próprio (ver figura 6.13), denotando, desta forma, que a música era, de fato, uma
expressão do grupo como um todo, e não somente de quem a produzia.
Esse grupo, em especial, também possuía uma identidade própria em termos de
grifes de roupas, freqüentemente as mesmas entre os participantes do grupo.
Além disso, também exerciam contatos sociais fora do ambiente de trabalho; por
meio da observação, esses sinais puderam ser verificados, nas conversas entre as
pessoas e na exibição de fotografias de membros do grupo. Em algumas
Fig. 6.13 – Caixas de som voltadas para o ambiente, em vez de
estarem voltadas para o ocupante da mesa.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
157
ocasiões, após um fim de semana festivo, na feira, alguns traziam fotografias
feitas do grupo para decorar os desktops de seus computadores na empresa (ver
figura 6.14).
Essa prática também era comum no setor 3, que mostrava, por meio da foto, a
participação de contatos sociais de outras pessoas da empresa, tanto do mesmo
setor quanto de setores diferentes (ver figura 6.15). Esse fato pôde ser ratificado
pela análise das redes sociais, apresentada no capítulo anterior. Por meio desta
aplicação, utilizando as informações reunidas nas tabelas apresentadas no
capítulo 5, foi possível mapear espacialmente as relações sociais existentes,
indicando a presença de numerosas ligações sociais que os funcionários deste
setor mantinham com funcionários de outros, como pode ser visto no seu
mapeamento de redes sociais, na figura 6.16.
Fig. 6.14 – Foto de parte do grupo reunido em um evento social
Fig. 6.15 – Colocada em um computador localizado no setor 3, foto de um encontro
social entre pessoas de setores diferentes da Invista
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
158
Posteriormente, confrontando os dados obtidos com a observação e algumas
entrevistas informais, confirmamos a existência de um fluxo causado por
deslocamentos mais ligados a fatos sociais do que profissionais. Tanto pessoas de
fora do setor 3 quanto as de dentro dele, ao terem que se deslocar,
freqüentemente “visitavam” os que faziam parte de seu círculo social. Por meio
da observação, a pesquisa indicou a existência principalmente de dois grupos
sociais, que eram formados por pessoas que residiam próximas umas das outras.
Fig. 6.16 – Mapeamento das redes sociais do setor 3 da Invista. Notar a forte
presença de ligações dos funcionários deste setor com pessoas de outros
setores da empresa.
Setor 2
Setor 3
Setor 1
(ego)
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
159
Em um deles, inclusive, havia o conhecimento mútuo prévio, antes mesmo de
irem trabalhar na Invista, e essas relações pré-existentes perpetuaram-se no
ambiente de trabalho. As “visitas sociais” trocadas entre os colegas também
aconteciam não somente aproveitando um deslocamento por motivos
profissionais, mas, neste caso, eram mais freqüentes durante o horário de almoço
e antes do início oficial do expediente. Com a análise das redes sociais, no caso
estudado, foi possível verificar que a foto apresentada na figura 6.15 mostrava, de
fato, um grupo que mantinha nculos sociais entre si, com rebatimento espacial
desses vínculos no ambiente de trabalho.
O uso de desktops para o armazenamento de fotos coletivas
90
também foi visto
na Repartição A (ver figura 6.17). A diferença é que, neste caso, o grupo o
estava reunido fora da instituição, mas, sim, no seu interior.
Cabe mencionar que o grupo em questão, mostrado na figura acima, é o mesmo
que posteriormente sinalizou de outras formas a sua coesão, como será visto mais
adiante, no item 6.2.2 “Apropriação coletiva de territórios”.
Por outro lado, as fotos físicas, dispostas em porta-retratos, quase não foram vistas
durante a pesquisa. Na realidade, verificamos a existência de uma delas (ver
figura 6.18), por um breve período, no setor 2 da Invista (no qual não
presenciamos o uso de fotos coletivas virtuais). De uma forma geral, não eram
90
As fotos individuais e de cunho exclusivamente pessoal também eram temas recorrentes dos
desktops.
Fig. 6.17 – Desktop de computador da Repartição A com foto de integrantes do setor
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
160
vistos muitos objetos pessoais sobre as mesas desta empresa
91
, pois havia uma
rígida organização nesse sentido, para reduzir a quantidade de objetos não
diretamente relacionados ao trabalho.
A foto em questão retrata parte dos funcionários do setor, mais alguns
funcionários de outros setores, em um almoço em dia de expediente,
comemorando o aniversário de um dos presentes. Neste caso, o aniversário era
do funcionário que, dentro do setor 2, mantinha o maior número de ligações
sociais com os demais funcionários da empresa, como pode ser observado pelo
gráfico das redes sociais, já visto no capítulo 5 e reapresentado aqui, na figura
6.19.
91
Como também em boa parte do tempo da pesquisa na Repartição A, possivelmente devido à
alta densidade do local, o que limitava as possibilidades para manifestações pessoais em meio à
desorganização. Mesmo quando a densidade foi reduzida, não foram vistas fotografias físicas, assim
como na Repartição B também.
Fig. 6.18 – Fotografia física de grupo reunido em um almoço
comemorativo de um dos componentes do grupo
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
161
Fig. 6.19 – Mapa das relações sociais partindo do Setor 2 na Invista. Notar a maior
quantidade de ligações sociais partindo da cadeira de cor rosa, cujo ocupante era o
aniversariante do almoço mostrado na figura anterior.
Setor B
1 gestor
+ 7 func.
+ 7 clientes
1 superv.
(+ ponto)
Setor C
1 gestor
+ 3 func.
+ 4 repres.
externos
(diversos)
Setor A
1 gestor
+ 10 func.
Setor 3
Setor 2
(ego)
Setor 1
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
162
Em que pese este funcionário ser o supervisor do setor, e por este motivo, ele
possa ter “congregado” seus funcionários para o almoço, nem todos os
integrantes do setor estão presentes ao evento, enquanto alguns funcionários de
outros setores, sim, o que descarta a possibilidade de a presença no almoço ser
conseqüência direta de uma relação hierárquica. Comparando as ligações
apontadas pela aplicação das redes sociais com o evento registrado na foto,
vemos que as duas expressam a mesma realidade, não sendo o registro
fotográfico uma simples causalidade.
na Repartição B, não foi verificada a existência de fotografias, nem físicas,
nem virtuais; as imagens coletivas que observamos foi um desenho, como uma
espécie de auto-retrato, em um quadro de recados, de um grupo fortemente
coeso (informação também corroborada pelas redes sociais). O desenho (ver
figuras 6.20 e 6.21), feito por membros do próprio grupo, retratava seus
integrantes, que apesar de trabalharem em diferentes setores da instituição,
podem ser considerados os “mentores” da instalação daquele órgão naquele
prédio (o que por razões diversas, que não cabem serem discutidas nesta tese,
contribuiu para amenizar as dificuldades políticas pelas quais a repartição vinha
passando).
O desenho em questão retratava os cinco membros juntos, e um ligeiramente
separado. Todos possuíam as iniciais de seus nomes. O membro ao lado
representava uma sexta pessoa, que apesar de não ter a mesma ligação que os
cinco possuíam entre si, era par constante deles, inclusive nas eventuais saídas
conjuntas no almoço, quando normalmente ninguém mais se juntava ao grupo
92
.
Também podem ser vistos no mesmo quadro mais dois desenhos: o perfil de um
dos cinco amigos retratados, com seu respectivo apelido, e um super–homem,
desenhado pelo dirigente do local.
93
92
Em determinada ocasião, tivemos a oportunidade de compartilhar um desses almoços do grupo.
93
Possivelmente (a psicologia poderá explicar de forma mais exata) esse desenho poderia ser
entendido como uma espécie de auto-retrato, já que o órgão e o seu dirigente enfrentavam várias
dificuldades político-administrativas na época.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
163
Fig. 6.21 – Detalhe da figura anterior.
Fig. 6.20 – Entre outros, desenho caricato do contorno de cinco amigos em um
quadro de avisos da Repartição B, mais um 6º contorno, à direita do grupo. Todos
possuem as iniciais de seus respectivos nomes.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
164
Em outra ocasião, pôde ser visto no mesmo quadro, um desenho semelhante, que
mostrava um membro imaginando os outros quatro e um antagonista comum a
todos (ver figura 6.22, que para resguardar a identidade das pessoas envolvidas,
teve parte da imagem tratada digitalmente).
A pesquisa indicou, por meio da observação, das entrevistas informais e pela
análise das redes sociais, que o “grupo dos cinco” de fato se reconhece e se
representa como tal, sendo um forte indicador de coletivismo, portanto. No
gráfico das redes sociais concernente a esse “grupo dos cinco” (ver figura 6.23),
podemos verificar que somente um membro deste grupo citou não possuir
vínculos com ninguém do seu trabalho; apesar disso, três componentes do grupo
citaram seu nome como sendo um vínculo social. Como informação adicional,
nenhum outro funcionário da instituição mencionou este indivíduo, o que reforça
a menção feita por parte dos três que o indicaram.
Fig. 6.22 – Quadro de recados da Repartição B com auto-desenho de um
grupo de amigos unidos contra um antagonista comum
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
165
6.2.2 Apropriação coletiva de territórios
Um outro rebatimento espacial do coletivismo, apontado por nossa pesquisa, é a
apropriação coletiva de territórios. Embora este item seja permeado por outra
dimensão (“delimitação de territórios”, a ser vista mais adiante), sua análise aqui
versa sobre o sentido coletivo da apropriação, destacando-se, assim, das
apropriações individuais, consideradas naquela outra dimensão.
Tal demonstração de coletivismo pôde ser percebida em um setor da Repartição
A, o mesmo mencionado anteriormente, que apresentava uma foto de
integrantes do grupo no desktop de um computador (ver figura 6.17). Neste setor,
especificamente, havia a apropriação coletiva da área do piso sob as mesas
para a colocação de bolsas e outros artefatos que pertenciam aos integrantes
Fig. 6.23 – Redes sociais mapeadas no “grupo dos cinco” na
Repartição B
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
166
do setor e que, por isso, estavam colocados no setor deles e não em outros (ver
figura 6.24).
Da mesma forma, também havia a apropriação das janelas, para a colocação
de cartazes promocionais do setor como um todo (ver figura 6.25), e que no
fundo, também serviam como marcadores de territórios.
Fig. 6.24 – Objetos de integrantes do setor
ocupando o piso do local
Fig. 6.25 – Janelas ocupadas por cartazes promocionais do setor
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
167
No entanto, como mencionado no final do capítulo 5, por meio da utilização
das tabelas que resumiam a quantidade de interações entre os funcionários
(figura 5.17, no capítulo 5), foi possível identificar os grupos que mais interagiam
entre si, e a partir daí, a sua observação foi intensificada. A aplicação deste
procedimento, somado a entrevistas informais, tornou possível perceber a
existência de um grupo coeso, no interior deste setor, e serem os cartazes exibidos
demarcadores de território principalmente deste grupo mais coeso, porque partia
deles a produção que era exibida nos cartazes, diferentemente dos demais
integrantes do setor. Com a proposta metodológica apresentada nesta tese, foi
possível compreender que os cartazes funcionavam como um demarcador
interno ao setor, sinalizando que, por terem uma produção maior ou de mais
visibilidade, um grupo teria “mais direito” ao território do que os demais (cabe
lembrar que a Repartição A apresentava problemas sérios de falta de espaço
para comportar todos os funcionários), e a sua forma de marcar esse fato no
ambiente era por meio da exibição da “sua” produção. Assim, os cartazes
sinalizam a tendência coletivista do grupo em questão, remetendo-nos ao que
Halbwachs (2004) argumenta, que um grupo sempre deixa marcas no lugar
ocupado por ele.
Os sinais emitidos pelo ambiente a respeito de tendências coletivistas podem ser
um caminho para o estímulo de atividades que sejam desenvolvidas em grupo,
pois provavelmente elas serão mais bem executadas em grupo do que
individualmente pelas pessoas. A existência de um lugar demarcado fisicamente
para o grupo também é importante, e na falta dele, pode ser utilizada uma
identidade visual comum, que estimule o sentimento de pertencimento àquele
grupo. Esses são fatos importantes de serem levados em consideração em um
projeto de arquitetura para escritórios e aí reside a importância de uma avaliação
como a que estamos nos propondo a fazer. Por outro lado, se um grupo, dentro
de uma organização, conta com possibilidades físico-espaciais de se expressar
coletivamente e não o faz, muito provavelmente será porque suas tendências
individualistas estão mais presentes do que as tendências coletivistas, e nesse
caso, sua força de trabalho será mais bem aproveitada se suas estações de
trabalho forem individuais, com algum espaço físico reservado para cada um.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
168
Entendemos que qualquer que seja a tendência dominante (ou suas variações),
suas expressões físicas permanecem, mesmo que de forma tênue, impressas no
ambiente, fazendo deste um vetor de expressão das pessoas que o ocupam, pois
é ele que recebe suas marcas, suas inscrições, e é nele que têm suporte espacial
as suas dinâmicas de uso, sendo, como coloca Hall (1994), uma “linguagem
silenciosa”. Por meio de nossa proposta metodológica, podemos começar a
interpretar esta linguagem, traduzindo-a em melhorias concretas para o projeto
de arquitetura de escritórios e, conseqüentemente, para seus usuários.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
169
6.3 Controle das Incertezas
A necessidade de controlar as incertezas espelha o nível de ansiedade gerada
pelas situações não previstas. É a baixa capacidade de lidar com a possibilidade
de que coisas imprevistas podem acontecer, fazendo com que uma sociedade
necessite controlar as incertezas (HOFSTEDE, 1997). Como foi mencionado no
capítulo 3, cada sociedade, ao longo dos séculos, desenvolveu mecanismos
próprios, de maior ou menor intensidade, para lidar com as incertezas, sejam elas
originadas na natureza (para isso, desenvolveu-se a tecnologia); no
comportamento humano (para isso, foram criadas as leis) ou em elementos
transcendentais (para isso, desde os tempos mais remotos, o homem apoiou-se
na magia e na religião)
94
.
Locais de trabalho ocupados por pessoas com alto controle das incertezas
freqüentemente exibem avisos e recados, não bastando que as regras sejam
esclarecidas verbalmente ou mesmo por correspondência interna. Da mesma
forma, se houver possibilidade física, os usos dos ambientes o claramente
definidos, e dificilmente são encontrados ambientes multiuso; cada tarefa tem um
local definido para que ela aconteça.
6.3.1 Exibição ostensiva de normas e avisos
Nossa pesquisa mostrou-nos que, em nossos três estudos de caso, havia um nível
razoável de necessidade de controle das incertezas, alguns em maior grau do
que em outros. Um fato comum aos três é a existência de avisos expostos, em
paredes, quadros ou divisórias. São variadas determinações de procedimentos,
desde os relativos à organização e limpeza dos ambientes (ver figura 6.26), até
aqueles que expõem o horário dos funcionários ou outros procedimentos
específicos, contando com a respectiva ciência das pessoas na própria folha do
aviso (ver figura 6.27). É a certeza, controlada, de que ninguém possa
argumentar, posteriormente, que não tinha conhecimento de tal instrução.
94
Cabe aqui uma reflexão, de que vários elementos considerados transcendentais há milênios atrás
(como por exemplo os raios e trovões), hoje em dia são “controlados” por meio de tecnologia, e
não mais por magia ou religião. Em tempos remotos, o seu “domínio” por magia ou religião também
era considerado uma fonte de poder.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
170
Fig. 6.26 – Avisos diversos sobre organização e limpeza dos ambientes
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
171
Fig. 6.27 – Avisos sobre horários e procedimentos diversos, alguns com os
respectivos vistos dos funcionários.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
172
Outra espécie de avisos expostos também com o objetivo de controlar as
incertezas o os encontrados na Repartição A. Têm caráter não institucional,
mas, sim, particular, solicitando que as mesas não sejam “bagunçadas” (ver figura
6.28). São manifestações da incerteza relacionadas diretamente à
superpopulação da sala, onde, em dias mais “concorridos”, basta alguém não
estar presente no momento para que “sua” mesa seja ocupada por outra pessoa.
Além disso, também demonstram o sentimento de apropriação das mesas por
parte de seu “dono” ou ocupante mais permanente, fato que será analisado
posteriormente
95
.
95
De uma maneira interessante, no questionário respondido pelos funcionários, a apropriação não
surge de forma consciente; ao fornecer respostas por escrito, ainda que anonimamente, a maioria
afirma não se “sentir dono” do local que ocupa, mas as ações praticadas na dinâmica de uso do
ambiente apontam para o sentido oposto.
Fig. 6.28 - Avisos solicitando que mesas nã
o
sejam “bagunçadas” ou “mexidas” sem a
autorização de quem as
utiliza habitualmente
(a foto do canto superior direito foi retocada,
pois a frase sobre o papel estava escrita com
caneta marca-
texto amarela, imperceptível
na fotografia; por esse motivo, foi
ressaltada
digitalmente).
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
173
6.3.2 Controle de objetos pessoais
Ainda na Repartição A, vimos que, além da exibição de avisos, o controle das
incertezas revela-se a partir das pequenas coisas, no computador que pode
vagar, na caneta que pode desaparecer. Como durante um tempo
considerável, muitas pessoas conviveram em um espaço reduzido, pequenos
objetos de uso cotidiano eram o alvo mais certo do controle das incertezas.
Durante as Fases 1 e 2, não eram vistas canetas ou lápis sobre as mesas, ou
mesmo nos porta-lápis. Estes, quando existiam, continham outros objetos ou
canetas que não escreviam. Por meio da observação, verificamos que ao se
deslocar, as pessoas carregavam consigo a própria caneta, para evitar que ela
fosse utilizada por outra pessoa qualquer, e depois fosse mais difícil descobrir
quem a utilizara e onde a houvera deixado (esse fato, além de observado, foi
confirmado em perguntas feitas diretamente às pessoas). Alguns ainda fixavam
seus nomes às suas canetas, mas nem sempre esta tática produzia resultados.
Além disso, a incerteza de encontrar as canetas disponíveis após um período de
ausência estendia-se também aos objetos funcionais, como grampeadores, por
exemplo. As canetas eram facilmente transportáveis, mas os demais objetos,
dependendo da disponibilidade de cada um para possuir gavetas, caixas etc,
eram mantidos guardados, dificilmente ficavam à vista. Isso pôde ser
percebido após um tempo de observação, porque não é uma regra
formalmente escrita, mas, sim, informalmente existente, respeitada por todos que
compartilhavam o ambiente. Após termos percebido esse fato, por meio de
conversas com os funcionários, constatamos que de fato, havia esta “norma” em
vigência.
A incerteza excessiva sobre pequenos objetos do cotidiano era provocada pela
grande ocupação do local, dificilmente observada em ambientes cuja
proporção entre tamanho e ocupação fosse mais equilibrada. Podemos dizer
que o super adensamento, no caso da Repartição A, havia se tornado um
“apinhamento”
96
, que segundo Fischer, em alguns casos, pode ser percebido
96
Fischer (1994) argumenta que densidade é a simples relação de uma quantidade de indivíduos
para um determinado espaço; já o apinhamento acarreta o estado psicológico de insatisfação, ao
se ocupar um lugar com um número maior de pessoas do que se deseja e para o conforto
esperado nesse lugar.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
174
pelas pessoas como a “falta de controle sobre e num espaço determinado
(FISCHER, 1994, p.98).
Outra questão ligada à incerteza e também provocada pelo super adensamento
do ambiente é o uso dos computadores, poucos para a quantidade de pessoas
que ali trabalham. Embora a repartição seja dividida em setores, e as pessoas até
certo ponto procurem utilizar as mesas e computadores de seus próprios setores,
eventualmente, durante as Fases 1 e 2, era possível encontrar alguém de um
setor no computador de um outro, distante até fisicamente de onde
normalmente se sentava. Em uma ocasião, perguntamos diretamente ao
funcionário porque ele estava usando aquele computador, se, naquele
momento, no seu próprio setor, havia um outro disponível. A resposta foi que ele
sabia que o computador vago no seu setor não permaneceria daquele modo
por muito tempo e, por outro lado, o que ele estava usando naquele instante não
seria utilizado pelo seu ocupante habitual naquele dia, pois o colega estava
ausente. Assim, ele escolheu sentar-se naquele local e usar aquele computador
para não ser incomodado, e ter que interromper o próprio trabalho para dar lugar
a outra pessoa.
Mais um aspecto ligado à incerteza, mas provavelmente também à escassez de
recursos é a existência de copos d’água pessoais. Foi combinado verbalmente
entre as pessoas
97
que cada um traria seu próprio copo para o uso pessoal. Nem
todos trouxeram, mas daqueles que o fizeram, vários mantiveram os seus
guardados em outros locais que não a bandeja que permanece ao lado do
bebedouro. É fato que se todos o fizessem, a bandeja existente não seria
suficiente para comportar todos os copos, assim como também o espaço
destinado aos utensílios de copa, em prateleiras suspensas (ver figura 6.29).
97
Informação obtida por meio de entrevistas informais.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
175
Por meio da observação e de entrevistas informais, nossa pesquisa verificou que,
por saber que nem todos têm seus próprios copos, e nem todos vão ao armário
buscar os copos descartáveis existentes, alguns evitam deixar os seus próprios
próximos à água, disponíveis a um eventual uso de terceiros (fato observado
diversas vezes). Em vez disso, são vistos copos em gavetas, bolsas, sobre as mesas,
ao lado de computadores e até “escondidos”, tanto nas mesas quanto nas
prateleiras de uso comum. Também podem ser vistas algumas pequenas garrafas
cumprindo a função de copos (ver figura 6.30).
Fig. 6.29 – Bandeja de copos ao lado do bebedouro (E) e prateleiras com utensílios
de copa (D) na Repartição A
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
176
Fig. 6.30 – Copos e garrafas de uso pessoal
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
177
Na tentativa de aumentar o controle do uso (mas também como forma de
personalização do local de trabalho), alguns dos copos que permanecem
expostos junto à água possuem o nome gravado ou algum outro sinal
personalizado, de forma a identificar seu proprietário. Também foi visto um caso
de duas ou mais pessoas que compartilhavam o mesmo copo, que, contudo,
permanecia guardado numa gaveta. Após a redução do adensamento da sala,
a partir da Fase 3, o uso de copos personalizados continuou, porém, atualmente,
eles permanecem mais visíveis, apenas apoiados sobre as mesas (ver figura 6.31),
diminuindo a quantidade daqueles que são mantidos guardados em gavetas ou
em outros locais.
Todos estes fatos nos sugerem que ao se encontrar em uma situação de
apinhamento, as pessoas utilizam táticas para garantir de algum modo o controle
de uso do ambiente em que trabalham.
Considerando esses aspectos, acreditamos que os arquitetos que desejam
projetar um ambiente com estas condições, devam pensar na previsão de
gavetas armários ou espaços de objetos pessoais para os usuários, demonstrando
critérios cuidadosos na especificação de mobiliário para locais de alta densidade
ocupacional
98
.
98
Esta questão também nos remete à próxima dimensão, delimitação de territórios. São duas
dimensões permeáveis entre si, e podemos antecipar que constatamos que sempre a
necessidade de apropriação de um território. No caso da Repartição A, durante a fase de mais
Fig. 6.31 – Copos de uso pessoal expostos
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
178
6.3.3 Garantia de acesso e de visibilidade/invisibilidade
Como sinal da incerteza, encontramos na Invista um campo fértil para a
avaliação desta dimensão. O ambiente é extremamente organizado, com locais
bem definidos para a realização de cada atividade, e é exatamente essa a
imagem que a instituição passa: organização.
Podemos ver, na entrada da empresa, com acessos separados, como
mencionado anteriormente, o primeiro sinal desta dimensão. Não por uma
questão de status e hierarquia, como já apresentado, as entradas separadas
preservam uma ala da empresa do acesso de representantes e clientes, sendo
estes últimos o ponto sobre o qual recaem muitas das incertezas expressas no
ambiente, como veremos mais tarde, na análise do setor 2. Além disso, o fato de
haver salas de espera separadas para clientes e representantes, evitando que
eles se encontrem, mostra a necessidade de ambientes que funcionem como
mecanismo de controle das pessoas.
Os setores nos quais foi feita a pesquisa, que juntos concentram a maior parte dos
funcionários da empresa, são ambientes abertos, acessíveis aos olhos de quem
passa pela circulação interna (ver figura 4.12, na página 53). A predileção por
esse tipo de ambiente também exprime uma tendência de controle, porque as
pessoas que os ocupam estão permanentemente expostas (pense-se, de maneira
oposta, por que os chefes m suas mesas nos fundos da sala, com suas costas
“protegidas”, mas com domínio visual de quase tudo que se passa no ambiente).
No setor 2, local onde são recebidos os clientes, uma área que denominamos
“território da incerteza”. O layout da sala é uma disposição em “U”, com os
clientes ao centro. Esse centro é o “território da incerteza”, para o qual todos os
funcionários direcionam seus olhares constantemente (ver figura 6.32). É o local
onde se concentram as pessoas que não são funcionários, e que, portanto, não
estão sujeitas às normas de comportamento profissional.
intensa ocupação, isso foi representado pelos pequenos “cantinhos” que cada um conseguia para
guardar suas coisas, sendo este território o local onde as pessoas buscavam ter o controle e a
certeza de que seus objetos não seriam alvo de terceiros.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
179
Nossa pesquisa nos fez compreender que, sendo o cliente alguém “de fora” do
ambiente de trabalho, ele representa uma incerteza à ordem e ao
funcionamento do escritório. Assim, um layout no qual os funcionários “cercam” o
espaço dos clientes, deixando para eles um local controlado por todos os
funcionários, garante uma sensação de controle muito mais confortável para
quem de fato trabalha em um lugar onde precisa lidar constantemente com a
incerteza.
Em algumas ocasiões presenciamos atitudes mais “agressivas” por parte de
clientes irritados, que levantam, circulam pela sala, vão falar com outros que
estão sendo atendidos; ou então, no extremo oposto, clientes que também
circulam e falam com outros clientes e funcionários, mas, desta vez, fazendo
brincadeiras com todos. Tanto um comportamento quanto o outro interfere no
bom andamento dos trabalhos, porque distrai a atenção e polui sonoramente o
ambiente, mas existe o fator atenuante de os clientes estarem sempre às vistas
dos funcionários, não sendo necessário que algum deles se levante para
acompanhar visualmente os movimentos do comportamento indesejado. Em
comparação com o setor 3, onde também são atendidas pessoas de fora, a
diferença de que elas vão para entregar um trabalho, estando de uma certa
forma ligadas à empresa. Raramente é para fazer alguma reclamação, o que
acontece com mais freqüência no setor 2.
Pelo que pudemos verificar, o layout atual do setor 2 é parcialmente semelhante
ao definido em projeto; foram acrescentados mais dois ocupantes na sala, e
Acesso
de clientes
“Território” das incertezas
(local dos clientes)
Fig. 6.32 – Território das incertezas na configuração atual do setor 2
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
180
algumas mesas foram reposicionadas, causando alguns conflitos entre os pontos
de instalação elétrica no piso e a posição efetiva das mesas, fato que teria sido
evitado caso tivesse sido feita a observação dos aspectos culturais, com a devida
consideração, no projeto, da predileção pela formação do território das
incertezas
99
. Podemos confrontar o layout efetivamente adotado no setor 2 com
o seu layout provisório (mostrado no capítulo 4, figura 4.6), quando este
funcionou, durante cerca de um mês, em outra posição no andar, durante a
execução das obras de reforma. Esse layout provisório, pelas informações que
pudemos obter em entrevistas informais, foi em parte determinado pelos próprios
ocupantes do ambiente, e também favorecia a existência de um “território” e um
“fluxo” de incertezas, ainda que essa não fosse ergonomicamente a melhor
solução. Isso deixava parte dos funcionários de costas para a porta, tendo que
rotacionar o tronco várias vezes ao dia, para orientar os clientes que entravam a
se sentarem nesta ou naquela cadeira (ver figura 6.33).
99
Cabe relembrar que, no projeto de arquitetura de uma instituição, diferentes vetores
envolvidos; nem sempre o arquiteto tem possibilidade de fazer o que considera mais apropriado,
porque a chefia que o contratou o faz conduzir o projeto em outra direção e, muitas vezes, quando
o layout é implantado, surgem dificuldades não previstas, como por exemplo, a constatação de
que o melhor local para a máquina de xerox está afastado do ponto de força previsto para ela.
Acreditamos que quanto mais o arquiteto dispuser de argumentos de cunho cultural para expor
suas idéias projetuais, mais facilmente elas serão aceitas pelas chefias e, conseqüentemente, mais
adequados aos usuários serão os projetos. Para isso, no entanto, é necessário que o arquiteto
detenha esse conhecimento dos aspectos culturais, isto é, que saiba ler culturalmente o ambiente.
Acesso
de clientes
“Território” das incertezas
(local dos clientes)
Fig. 6.33 – Território das incertezas na configuração temporária do setor B, durante a obra
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
181
Na época, ao tentar compreender porque dois funcionários ficavam de costas
para a porta, por meio de entrevistas informais, obtivemos respostas de que assim
(como estava), o setor funcionava melhor. No decorrer da observação, pudemos
constatar que realmente há uma comunicação própria das pessoas do setor, que
é suportada espacialmente pela visão mútua dos colegas entre si e de todos os
clientes, fato que não seria possível se uma parte das pessoas estivesse de frente
para a porta e de costas para parte dos clientes. O que chama a atenção,
portanto, é que mesmo em uma configuração temporária não foi desejado que
funcionários e clientes ficassem parcialmente em campos de visão distintos e
incertos quanto ao domínio visual de todos. Mais uma vez, é o ambiente falando
de características culturais dos seres humanos, mostrando o quanto as pessoas
necessitam de referências de controle, configurações que evitem ou contribuam
para evitar a imprevisibilidade das situações. Sabendo interpretar esta linguagem,
o arquiteto poderá trazer essas valiosas informações para seu projeto.
No setor 3, também o acesso de pessoas de fora da empresa, como dito
anteriormente, mas percebemos que a necessidade de “controle” sobre as
pessoas, embora exista, não é tão premente quanto no setor 2. Os
representantes, em sua maioria, são conhecidos pelos seus nomes; a presença de
alguns deles é constante no local. E, diferentemente de um cliente, sobre o qual
não pode ser exigida nenhuma norma de conduta senão a básica da educação,
um representante mantém vínculos profissionais com a empresa, que fazem com
que este, de uma certa forma, não seja totalmente estranho ao ambiente,
mesmo não sendo um funcionário da Invista. Apesar desses fatos, no entanto,
pudemos perceber algum desconforto por parte dos funcionários em relação às
duas últimas configurações de layout da sala, conforme os desenhos a seguir, na
figura 6.34:
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
182
O layout atual é diferente daquele que foi adotado imediatamente após o
término da obra (ver figura 6.35); este, apesar de não ter sido previsto em projeto,
foi utilizado durante cerca de dois meses. Sem entrar no mérito das razões
organizacionais que levaram à adoção de um ou de outro, uma das principais
modificações no uso do ambiente é a disposição das mesas dos três funcionários;
inicialmente estavam dispostas em uma única linha, agora estão dispostas em
paralelo, uma atrás da outra. No período inicial de uso desta configuração
(mesas em paralelo), notamos um certo incômodo por parte de seus ocupantes;
perguntados sobre o que pensavam da nova configuração, argumentaram que
Figura 6.34 – Penúltimo layout (E) e layout atual (D) do setor 3 da Invista
Supervisor
Funcionários
Representantes
Supervisor
Funcionários
Representantes
Figura 6.35 – Layout adotado imediatamente após a obra de reforma
Supervisor
Representantes
Funcionários
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
183
havia “pouco espaço” para as suas cadeiras e as dos representantes. Pelo que
verificamos, o espaço sico, apesar de não ser abundante, também não é
exíguo. A questão é que os seus espaços pessoais estão sendo invadidos (ver
figura 6.36), porque as “bolhas” de espaço invisível (HALL, 1977) que circundam
cada um de nós e que regulam culturalmente as variadas distâncias entre as
pessoas estão se interpenetrando nas “bolhas” dos representantes, e de uma
forma que as costas do funcionário permanecem expostas àquele, ou seja, o
funcionário tem alguém fisicamente (e incomodamente) muito próximo de si, que
pode observá-lo pelas suas costas, se assim o desejar. Culturalmente, essa é uma
situação de incerteza na qual poucas pessoas se sentiriam confortáveis.
Ao longo da observação, foi constatado que por mais que os funcionários se
posicionassem, de frente para seus próprios monitores, e tentassem arrumar as
cadeiras dos representantes de frente para as mesas (em um arranjo
sociofugal
100
), estes reposicionavam as suas cadeiras nas mais diferentes situações
(ver figura 6.37), raramente se contentando em serem atendidos na posição que
seria “correta”, buscando um arranjo sociopetal
101
. Esse reposicionamento causa
ainda outro fato (mencionado como incômodo pelos funcionários), que é a
invasão visual da tela do computador de um funcionário por um representante.
100
Sommer, 1973.
101
Sommer, 1973.
Figura 6.36 – Interpenetração dos espaços pessoais dos funcionários e
representantes.
Representantes
Funcionários
Supervisor
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
184
Ao verificarmos uma predileção pelo layout com mesas em linha, e ao
compararmos o setor 3 com o setor 2, constatamos, com o auxílio de entrevistas
informais, o motivo para essa predileção: com as mesas em linha, o “território das
incertezas” possui uma localização única, oposta ao “território dos funcionários”
(Figura 6.38), que psicologicamente, sustenta a dicotomia da identidade grupal
do setor (bastante presente, aliás, nos três funcionários do setor 3) entre o nós”
(funcionários) e o eles” (representantes). Fisicamente, essa configuração
representa, além da inexistência de barreiras físicas entre os três funcionários e a
existência de barreiras entre estes e os representantes, a possibilidade de contato
visual entre os três colegas. com as mesas dispostas de forma paralela, os
territórios ficam fragmentados, miscigenados (Figura 6.39), e a força do grupo
disposto como uma “barreira”, que é utilizada no setor 2, se perde no setor 3,
contribuindo para gerar a incerteza no ambiente.
Figura. 6.37 – Variadas situações (marcadas em cores diversas) nas quais
os representantes posicionam as cadeiras que utilizam.
Supervisor
Funcionários
Figura 6.38 – “Território das incertezas” em posição única
Funcionários
Supervisor
“Território” das incertezas
(lugar dos representantes)
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
185
Neste caso, a aplicação de nossa proposta metodológica foi fundamental para
descobrir o motivo da insatisfação dos funcionários. Entendemos que um projeto
de arquitetura para este setor, sendo adequado à sua dinâmica de uso, deveria
obedecer às tendências culturais de seus usuários, permitindo a criação de um
único “território das incertezas” em seu layout
102
.
Assim como as outras dimensões culturais analisadas nesta tese, a incerteza não é
um fator estanque e isolado; ela está conectada a outros também, inclusive à
hierarquia. Se de alguma forma existe uma incerteza por parte das instâncias
hierárquicas superiores que faz com que os funcionários devam permanecer sem
contato visual mútuo no setor 3 como foi determinado em projeto, por outro lado,
esse fato interfere na sensação subjetiva de incerteza com a qual esses mesmos
funcionários lidam, ao permanecerem de costas para um representante e ao não
poderem se sentir psicologicamente “protegidos” por uma fronteira entre eles e
os outros, os que não pertencem à categoria de funcionários da Invista (no caso,
os representantes). Nossa pesquisa mostrou-nos que acaba sendo criada uma
situação em que o ambiente não legitimidade ao seu ocupante enquanto
funcionário, enquanto “dono” do território, porque alguém de fora da empresa
senta-se no seu espaço adjacente, invadindo o seu espaço pessoal. Contudo,
102
Por meio de perguntas diretas, foi possível obter a informação de que foi a vontade da diretoria
que prevaleceu na definição do layout desta sala.
Figura 6.39 – “Território” das incertezas fragmentado
Supervisor
Funcionários
“Território” das incertezas
fragmentado
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
186
não podemos dizer que seja uma situação a ser considerada incorreta”, por
oposição a uma outra supostamente correta”. Assim como em outros casos, o
que é uma diversidade de fundo cultural ao se encarar o modo pelo qual as
pessoas utilizam os ambientes.
6.3.4 Costas “protegidas”
Finalmente, como último ponto analisado sobre a necessidade de controlar as
incertezas, exploraremos com maior profundidade um assunto mencionado,
sobre o fato de as pessoas rotacionarem suas próprias mesas de modo a que
fiquem de costas para um anteparo qualquer e de frente para a circulação.
Segundo Archea (1977), nós mudamos nosso ambiente ao mudarmos nossa
posição dentro dele. Na Repartição A, o estabelecimento do posicionamento
das mesas dos quatro supervisores na Fase 1 reflete isso (ver figura 6.11 , neste
capítulo), tenha sido ele estabelecido de forma consciente ou não, porque
muitas vezes os indivíduos superpõem motivos de ordem prática como justificativa
para se posicionar fisicamente no ambiente.
Da mesma forma, na Repartição B, que teve seu layout previamente discutido
com funcionários, também ocorreram modificações pelo mesmo motivo.
Segundo a pessoa responsável pelo desenho, quando os demais viam o layout
previsto em projeto, reclamavam, porque ninguém queria ficar de costas” (sic).
Ao comparar uma das antigas intenções de layout com o layout definitivamente
adotado, podemos verificar que várias mesas deixavam as costas de seu
ocupante em exposição para o ambiente e foram rotacionadas (ver figura 6.40);
essas mesas pertencem ao pessoal técnico, situados no escalão intermediário da
hierarquia
103
.
103
O desenho do layout prévio foi gentilmente cedido por um dos funcionários da Repartição B.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
187
Neste caso, os usrios puderam opinar ainda na fase de projeto; muito
provavelmente, se não lhes tivesse sido dada esta oportunidade, eles mudariam o
layout por conta própria, tão logo se instalassem, ou, no caso da chefia não
autorizar, permaneceriam insatisfeitos, como os funcionários da Invista. A pesquisa
indicou-nos que conhecer a tendência cultural dominante contribui para evitar
que um projetista elabore um layout com mesas localizadas “de costas” para o
ambiente, tornando mais adequado o projeto de arquitetura aos seus futuros
usuários e evitando, com isso, modificações posteriores à ocupação.
É necessário ressaltar que estar com a mesa na posição de frente, neste caso,
está relacionado ao que se considera culturalmente como frente, que
geralmente é o local por onde as pessoas chegam (TUAN, 1983). Este autor
analisa o sentido da frente, da importância que lhe é dada, em contraste com o
espaço posterior (as costas):
O espaço frontal é basicamente visual. É nítido e muito maior do
que o espaço posterior, que podemos experienciar através de
indicadores não visuais. O espaço frontal é ‘iluminado’ porque
pode ser visto; o espaço posterior é ‘escuro’, mesmo quando o sol
brilha, simplesmente porque não pode ser visto (TUAN, 1983, p.44
grifos nossos).
COPA
D
E
S
C
E
Fig. 6.40 – Na esquerda, uma das propostas de layout para a Repartição B, onde 4 mesas de uso
individual estavam “de costas” para o ambiente (marcadas pelas setas vermelhas). Na direita, o
layout implantado, onde somente o pessoal que trabalha nas bancadas permanece nesta posição.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
188
O espaço posterior de alguém não pode ser visto (diretamente) por esse alguém,
mas pode ser visto por outros, de forma permanente ou não. Essa exposição, o
fato de ter as costas voltadas para o ambiente ou para parte dele evoca uma
sensação subjetiva de incerteza e de inquietação, por não poder ver o que está
acontecendo atrás de si mesmo. Nossa pesquisa considerou que essa é uma
situação de incerteza na qual poucas pessoas se sentem confortáveis; que pode
ser equiparada a diversas situações corriqueiras quando, ao entrarmos em um
ambiente desconhecido, geralmente escolhermos um local para sentar,
“acolhidos” em um canto, seja em uma sala de espera, em um bar ou em um
restaurante. Para Bachelard, o canto é um local seguro, “uma espécie de meia-
caixa, metade paredes metade porta” (BACHELARD, 2005, p.146). É a
possibilidade de estar em um meio termo entre a proteção (“metade paredes”) e
a visão do ambiente (“metade porta”) que traz a sensação de estar seguro e
protegido, sem, no entanto estar isolado do que acontece à sua volta. Se essa
é uma opção buscada mesmo quando o tempo de permanência é pequeno,
mais ainda o será se o tempo de permanência for maior (no caso do local de
trabalho, durante todos os dias). Vimos que, quando essa opção, a escolha
por ter as costas protegidas por um canto é a adotada pela grande maioria de
funcionários dos escritórios pesquisados. Na Repartição A, não somente na Fase 1,
mas também nas posteriores, ao longo da evolução do layout, pôde ser visto um
movimento de rotação de várias outras mesas, de forma que ficassem
posicionadas de costas para um anteparo (que normalmente é o limite da sala) e
de frente para a circulação. Esse fato nos indica que, havendo espaço disponível
para todos, essa é a configuração notadamente preferencial dos seus
ocupantes, e é interessante que os arquitetos tenham isso em mente ao projetar o
layout de um escritório.
Aliado à incerteza que seria gerada pela não visualização do espaço posterior, o
fato de ter a mesa posicionada entre si mesmo e o ambiente faz dela um escudo,
uma fronteira, que ajuda a materializar o seu próprio espaço pessoal. É uma
forma também de delimitar seu território, onde um nimo de privacidade, ou
pelo menos um pouco mais do que quem está sentado de costas ou lateralmente
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
189
em relação à circulação. É uma defesa, proporcionada pelo suporte espacial (a
mesa), contra uma possibilidade de “invasão”, de se sentir menos vulnerável e
exposto visualmente (ARCHEA, 1977).
Por outro lado, Altman
104
, em suas pesquisas, demonstrou que os indivíduos
buscam se proteger e preservar a sua identidade, rodeando-se não somente de
barreiras físicas, mas também das psicológicas. Assim, uma simples postura
corporal pode indicar a formação de uma barreira. Em um exemplo
mencionado, em um setor da Repartição A (ver figura 6.12, neste capítulo), as
quatro mesas dos subordinados permanecem de costas para o ambiente e para
o supervisor, mas no decorrer da observação, por diversas ocasiões pudemos
constatar que apesar da posição da mesa fazer com que o funcionário devesse
permanecer com o espaço posterior em exposição, permanecia sentado “de
lado” (posição lateral à mesa), de forma que não ficasse totalmente de “costas”
para o ambiente.
Todos esses mecanismos de defesa e tentativas de controlar a incerteza das
situações ganham um reforço pelo uso da apropriação territorial, caracterizada
pelo domínio espacial de algum local, seja ele um trecho da mesa, o espaço
lateral adjacente à própria cadeira ou um trecho da janela, por exemplo. O
controle sobre o uso de uma determinada área estende os domínios pessoais,
transmite segurança psicológica ao indivíduo e auxilia na delimitação das
próprias fronteiras territoriais, conforme poderá ser visto com mais detalhes na
próxima e última dimensão cultural a ser exemplificada: delimitação de territórios.
104
Apud Fischer, 1994.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
190
6.4 Delimitação de territórios
A forma pela qual o ser humano delimita seu território está diretamente
relacionada à cultura do grupo estudado. Rapoport (1969) cita comparações
feitas entre os Estados Unidos e a Índia, onde no primeiro, o limite do que é
considerado privado em uma casa está na soleira da porta de entrada; na
segunda, ao contrário, o jardim também é considerado um espaço privativo,
estando a delimitação do território junto à calçada. Segundo o autor, essa
delimitação dos indianos passa a ser materializada por meio de muros, enquanto
que o aspecto semi-privado dos jardins frontais às casas americanas
permanecem sem barreiras físicas.
Embora não estejamos, na presente pesquisa, comparando grupos culturais tão
diferentes entre si, o exemplo ilustra a importância que a demarcação de
territórios pode representar. Como mencionado anteriormente, no capítulo 3,
Edney (1974) argumenta que o território apropriado por um indivíduo fornece
segurança, estímulo e identidade, considerados por ele como elementos básicos
necessários para uma vida saudável. Em consonância com esta afirmativa, nos
remetemos a Tozetto (2006), que mapeou as estratégias de apropriação de
territórios na favela Parque da Cidade, assim como Duarte (1993) havia feito
anteriormente na Vila Pinheiros. Da mesma forma, no interior das residências de
classe média, Saleiro (2001) mapeou a delimitação sutil do território de
empregadas domésticas; os autores citados nos mostram, assim, que a
demarcação de territórios é um fato presente em diferentes suportes espaciais.
Geralmente, a delimitação de territórios ocorre por meio da sua apropriação,
cuja intensidade demonstra o controle psicológico que alguém possui do
ambiente que ocupa, expresso por meio de modificações físicas de uso,
organização, marcação e personalização
105
.
Nos três estudos de caso verificamos várias demonstrações de delimitação de
territórios, em diferentes graus e de diferentes maneiras, também; pelo som, pelo
isolamento de outras pessoas e pelo posicionamento de móveis e objetos,
simbólicos ou não.
105
Para maior conhecimentos desses conceitos, ver Fischer (1994).
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
191
6.4.1 Delimitação pelo som
Nossa pesquisa verificou a existência de apropriações temporárias, como a
delimitação do próprio território pelo som de uma música. Da mesma forma,
Duarte e Silva (1989) também constataram este tipo de apropriação, verificando
delimitações de território na Vila Pinheiros por um morador que era deficiente
auditivo, mas colocava o próprio rádio em alto volume, como estratégia para
manter suas calçadas desocupadas de vizinhos que ali posicionavam suas
cadeiras para um “bate-papo”.
Na Repartição A, principalmente durante as Fases 1 e 2 do layout (e também em
algumas ocasiões na Invista e na Repartição B), observamos que alguns
funcionários ouviam música em seu próprio computador, tanto de forma direta
da internet quanto de cd’s trazidos de suas casas para o trabalho. E o volume do
som era suficiente somente para criar uma espécie de escudo pessoal contra
outros ruídos, provenientes de conversas e aparelhos de telefones
106
. Isso denota
um mecanismo de delimitação de território por uma fronteira sonora. É como se a
pessoa controlasse o domínio de sua “bolha” de espaço invisível (Hall, 1977) por
meio da audibilidade dos sons que é capaz de controlar, tomando uma posição
insular dentro de um ambiente maior.
6.4.2 Delimitação por isolamento
Nossa pesquisa também verificou a existência de delimitação de territórios por
isolamento, como pode ser visto na Repartição A, pelo posicionamento relativo
de uma estação de trabalho em relação a outras duas que dividem a mesma
bancada (ver figura 6.41).
106
De fato, foi possível constatar, por meio das perguntas respondidas nos questionários aplicados,
que o excesso de ruídos, gerando dificuldade de concentração, foi um dos problemas mais citados
no ambiente de trabalho.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
192
Os três computadores o utilizados por três usuários permanentes
107
. Há uma
fronteira territorial entre o computador 1 e o 2, fato que não ocorre entre o
2 e o 3. O espaço apropriado no entorno do computador 1 é maior
(eventualmente, até uma cadeira excedente, para apoio lateral), seu usuário
está mais isolado e afastado dos demais do que os usuários dos computadores
2 e 3. Neste caso, o isolamento é demarcado também por meio de objetos
que além de seu valor funcional, cumprem a função de barreiras
108
: entre os
computadores n
os
1 e 2 estão duas impressoras, caixa de documentos, papéis; há
mais ou menos 1,5m entre as cadeiras, talvez seus usuários tocassem a ponta dos
dedos caso estendessem seus braços um em direção ao outro; entre os
computadores n
os
2 e 3 há somente uma bandeja de acrílico, usada como
suporte dos objetos: grampeador, telefone sem uso, fios de telefone. As razões
para a existência desta demarcação podem ser variadas e coexistentes:
diferença na natureza do trabalho desenvolvido no computador nº1;
necessidade de maior espaço pessoal por parte de seu usuário; afinidades
pessoais em níveis diferentes, entre os usuários do computador 1 e dos usuários
dos computadores n
os
2 e 3; maior status hierárquico (formal, ou não) do
107
Por “permanentes” entenda-se que seus usuários são constantemente as mesmas pessoas. De
fato, de todos os computadores deste estudo de caso, estes são os que somente em raras ocasiões
são utilizados por outras pessoas que não seus usuários habituais, pela natureza do trabalho que
desenvolvem, diretamente ligados ao gabinete.
108
Como Zeisel (2006) descreve, barreiras podem ser elementos físicos que separam ou juntam as
pessoas, tanto física quanto simbolicamente, por meio de objetos, divisões ou paredes.
Fig. 6.41 – Bancada em uso por três funcionários; notar a maior distância entre os computadores
n
os
1 e 2, do que entre os computadores n
os
2 e 3.
nº 1
nº 2
nº 3
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
193
funcionário que ocupa o computador n
o
1, que permita a ele ter um maior
isolamento, maior privacidade e talvez mais facilidade de concentração, pois
além de tudo, sua estação de trabalho está no fundo da sala. Na realidade, no
presente exemplo, todas as razões apresentadas são verdadeiras, com uma
ligeira predominância do fato de haver um status hierárquico informal
relacionado ao ocupante desta estação de trabalho, mas independentemente
dos motivos, o fato é que o ambiente está transmitindo essa informação, de que
apesar de ser um local de densa ocupação, estações de trabalho que
possuem um maior espaço apropriado à sua volta. A partir da Fase 3, mesmo
com a diminuição da ocupação do salão, esta tendência de uso nessa estação
de trabalho se manteve: após a saída de alguns funcionários da repartição,
ocorrida em maio de 2006, o uso desta bancada sofreu pequenas alterações,
mas o território no entorno do computador 1 foi mantido; este computador
permaneceu sendo utilizado pelo mesmo usuário, mas os computadores n
os
2 e 3
receberam novos ocupantes, com um índice maior de rotatividade entre eles. Na
realidade, permaneceram três usuários revezando-se nessas duas máquinas. Além
disso, algumas mudanças físicas também aconteceram, sendo acrescentada
uma mesa na lateral da bancada (Figuras 6.42 e 6.43), aumentando o seu
comprimento efetivo
109
. E, nesta fase, é possível perceber que apesar de não
existirem tantos objetos colocados entre os computadores 1 e 2, o
afastamento entre eles foi mantido.
109
Quando perguntamos o motivo da colocação da mesa na lateral, obtivemos respostas de que o
local estaria “muito apertado” naquela parte da bancada.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
194
Com isso, o computador n
o
3 foi posicionado nesta nova mesa e fora da
bancada, passando o computador n
o
2 para onde antes estava posicionado o
n
o
3. Portanto, o par n
o
2 / n
o
3 ficou mais afastado do n
o
1, acentuando assim a
existência de espaço não-ocupado no entorno do computador 1. Kupritz
(1998), em sua pesquisa, também registra a ocorrência de fato semelhante,
enfatizando que ele funciona igualmente como mecanismo regulador da
privacidade, uma vez que mantém afastadas as outras estações de trabalho em
relação a um ponto específico. Voltando à idéia de um dia haver uma
transferência da Repartição A do clube para um local mais apropriado, no seu
projeto, se não for considerada a característica cultural relacionada a esta
estação de trabalho, e ela for posicionada próxima de outras, certamente o
Figs. 6.42 e 6.43 –
Acrescentada uma
mesa na lateral da
bancada, para onde
foi deslocado o
computador nº 3.
nº 1
nº 2
nº 3
Mesa na lateral da
bancada
nº 2
nº 1
nº 3
Mesa na lateral da bancada
nº 2
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
195
layout sofrerá modificações tão logo seja implantado. São subsídios como esse
que trazem sensibilidade ao arquiteto, no ato de projetar.
6.4.3 Delimitação por fronteiras físicas
Vimos que as delimitações de territórios também podem acontecer pelo
estabelecimento de fronteiras físicas, ainda que sejam sutis. Na Repartição A, por
ocasião da saída de vários funcionários, que deu início ao que chamamos de
Fase 3 do layout, quando se tornou maior a relação m²/pessoa, o setor P ganhou
mais uma mesa (ver figura 6.44).
Na organização do novo layout, a nova mesa que este setor ganhou ficou ao
lado de uma do setor M (que também passou a ocupar uma superfície maior no
salão, embora com o mesmo número de mesas). Apesar de estarem lado a lado,
desde o início dessa configuração houve um marcador-fronteira (GOFFMAN
apud FISCHER, 1994) entre elas, representado por uma cadeira ocupada com
várias caixas box, tanto apoiadas sobre ela quanto à sua volta. Nesse caso, a
fronteira não fazia a função de delimitar exclusivamente territórios pessoais; a
necessidade de manter aquele material guardado próximo ao local de uso fez
com que ele fosse o próprio delimitador do setor
110
. Nas palavras de Fleming e
Spicer, “as fronteiras são usualmente estabelecidas em termos de identidade mais
110
Esta fronteira está relacionada, parcialmente, aos símbolos de identidade grupais, que
delimitava um território coletivo.
Fig. 6.44 – Setor P na Fase 2, com 2 mesas (E) e na Fase 3, com 3 mesas (D).
Se
tor P
Setor P
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
196
do que no senso sico”
111
. Cabe argumentar que uma “fronteira” representada
por uma cadeira não é um anteparo fisicamente significativo (como seria uma
parede ou uma divisória), mas a sua posição naquele local demarca claramente
as diferenças de identidades; demonstra que os ocupantes habituais das
respectivas mesas não trabalham diretamente juntos. Apesar da ausência física
da parede, a fronteira existe e está posicionada no ponto em que os ocupantes
do setor reconhecem como sendo o seu limite, uma linha imaginária sobre a qual
não transposições (ver figura 6.45). Por contraste, é fácil compreender porque
esse material que configura a “fronteira” não foi posicionado na outra
extremidade da mesma mesa: ele atrapalharia a interação com a mesa vizinha,
que é do mesmo setor.
111
(FLEMING e SPICER, 2004, p. 77). Tradução livre da autora.
Fig. 6.45 - A “fronteira” entre os setores M (mesa da esquerda) e P (mesa da direita) em
diferentes ocasiões
Setor P
Setor M
Setor P
Setor M
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
197
Na primeira semana de agosto de 2006, a mesa do setor P, que ficava ao lado da
“fronteira” do setor M, sofreu uma rotação de 90º (ver figura 6.46), em função de
um fio de telefone que cruzava o caminho da cadeira de seu ocupante.
Na seqüência de acontecimentos, foi posicionada uma cadeira de interlocutor
para a mesa do setor P, ficando aquela lado a lado com a “fronteira”. Ainda,
com o passar do tempo, essa configuração passou a não corresponder às
necessidades dos ocupantes da mesa do setor M, posto que a “fronteira”, em seu
novo posicionamento, ficou situada atrás da cadeira, reduzindo bastante o
espaço suficiente para seu ocupante permanecer sentado com o mínimo de
conforto. Com isso, a mesa do setor M e sua respectiva cadeira foram
empurrados para a frente, aumentando a distância em relação à janela (ver
figura 6.47), sendo apropriado o espaço que antes era da circulação.
Fig. 6.46 – Rotação de 90º da mesa do setor P, com a colocação de
uma cadeira de interlocutor que ficou ao lado da cadeira servindo de
“fronteira” do setor M
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
198
Assim, foi possível registrar em nossos croquis de campo que o espaço
anteriormente apropriado para posicionar a fronteira tornou-se uma servidão de
passagem, servindo de lugar para a cadeira de interlocutor da mesa do setor P;
esse espaço não pôde ser mais apropriado pela “fronteira”, pois passou a ter
outro uso preferencial. Por isso, o território da apropriação foi transferido para o
espaço posterior da mesa do setor M, que por sua vez, foi empurrada para frente.
E a mesa que es do seu outro lado (que também é do setor M), para
acompanhar o seu alinhamento, também foi empurrada para frente, igualmente
se apropriando do espaço que antes era da circulação central do salão (ver
figuras 6.48 e 6.49).
Fig. 6.47 -
Pela casual existência
de uma mancha escura no
chão, é facilmente percebido o
quanto a mesa foi deslocada
para o centro da sala,
afastando-se da janela.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
199
Como informação adicional, cabe mencionar que ao constatar a existência da
fronteira, verificamos os dados obtidos nas várias tabelas de relações sociais
(apresentadas nos anexos) produzidas na Repartição A e, de fato, as pessoas que
ocupavam os dois lados da fronteira quase não mantinham contato entre si,
passando a haver então uma fronteira física para uma fronteira social que era
existente, em paralelo à divisão de setores. Apesar da fronteira ter sido percebida
por meio da observação e do croquis de campo, ela foi corroborada pela
análise das redes sociais.
A aplicação de nossa proposta metodológica mostrou-nos que uma pequena
mudança, uma simples rotação de mesa, que na lógica de um arquiteto
projetando o layout não teria conseqüências mais abrangentes, ocasionou uma
Fig. 6.48 – O deslocamento causado pela “fronteira”, evidenciado
com uma circunferência, e a conseqüente mudança de alinhamento
das mesas.
Fig. 6.49 – A mudança de alinhamento, evidenciada pela comparação da distância entre
uma das mesas deslocadas e uma terceira, posicionada de forma perpendicular a elas.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
200
redução da largura da circulação, pela necessidade de demarcação de
domínios. No fim das contas, para solucionar o problema de uma mesa, foi
apropriado espaço à circulação, que é de uso coletivo.
Nossa pesquisa nos fez compreender serem essas dinâmicas de uso que vão
moldando o ambiente, de acordo com as características dos usuários. Vimos que
a falta de espaço próprio para ser apropriado ocasionou a apropriação indireta
do espaço da circulação, prejudicando a todos, coletivamente.
Completando esse cenário, na mesma época, uma outra mesa do setor P
também foi deslocada, permanecendo uma terceira justamente de frente para
esse trecho de largura reduzida da circulação (ver figura 6.50)
112
, fazendo com
que haja uma concentração de uso naquele ponto, pelas pessoas que param
para falar com o ocupante desta mesa.
6.4.4 Delimitação por objetos simbólicos
A delimitação de territórios também pode ocorrer pelo posicionamento de
objetos simbólicos, que não dependem de suas dimensões físicas para que sirvam
a tal fim. Aqui nos remetemos a Goffman (apud FISCHER, 1994), que cita a
112
Esse deslocamento está relacionado a outro, mencionado, que foi a adição de uma mesa na
lateral da bancada próxima ao gabinete. Em função dessa adição houve o reposicionamento da
mesa do setor P.
Fig. 6.50 – A troca e rotação da posição de uma mesa do setor P, antes perpendicular, e
posteriormente, paralela à circulação.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
201
existência de “marcadores centrais”, objetos normalmente posicionados no
centro de um território para estabelecer a sua posse, como mencionado no
capítulo 3. Sobre esses objetos, encontramos exemplos de uso institucional na
Repartição A, caracterizando o território de cada setor. São placas de
identificação com o respectivo nome do setor, e estão presentes em quase todos
eles (ver figura 6.51). Mesmo nas fases de mais intensa ocupação, quando muitas
vezes nem havia local apropriado para que esses objetos fossem colocados (e,
por isso, eram até trocados de lugar constantemente), eles permaneciam em
exposição, revelando a existência de uma demarcação territorial relacionada
àquele setor e, conseqüentemente, às pessoas que a ele pertenciam. O
marcador é uma forma de assinalar a identidade também; o marcador da
Assessoria/Administração permaneceu sobre um armário, próximo às mesas do
setor, indicando ser aquele armário considerado como parte da Assessoria. É uma
forma de marcar o território de maneira semelhante à colocação de uma
bandeira no centro dele; a partir do marcador, é irradiada uma distância não
expressa fisicamente, mas que simbolicamente denota o alcance do território,
quem pertence a ele ou quem pode ser considerado um “invasor”.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
202
Fig. 6.51 – Marcadores-centrais de uso institucional na Repartição A .
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
203
Um outro exemplo desse tipo de marcador pode ser visto no setor M; ali, as
janelas são parcialmente ocupadas com cartazes promocionais do setor (como
já mostrado no item Coletivismo), com eventos e campanhas promovidas por ele.
É uma maneira de marcar o território e exibir a identidade do setor, indicando
que as pessoas ocupantes daquelas mesas desenvolvem as tarefas mostradas nos
cartazes (ver figura 6.52).
Vimos, também, nas fases mais recentes, de menor ocupação da Repartição A a
existência de marcadores-centrais pessoais, como a colocação displicente de
chaves sobre a própria mesa (ver figura 6.53), indicando que aquela é território
do dono das chaves (FISCHER, 1994) de outra forma, as chaves estariam
colocadas de uma maneira mais organizada, possivelmente junto ao restante do
material, para que não se perdessem.
Fig. 6.52 – Janelas do setor M ocupadas por cartazes auto-promocionais
Fig. 6.53 – Uso de chaves como marcador-central pessoal.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
204
Como informação adicional, foi percebido que, em algumas mesas, quando seu
ocupante habitual chega e eventualmente encontra algum objeto ou papel que
o seja seu, imediatamente o transfere de local, o mesmo acontecendo com
casacos ou coletes funcionais que por vezes tamm permanecem nas costas da
cadeira.
Assim, por meio das anotações em caderno de campo e pela observação
cuidadosa dos locais estudados, foi possível perceber como as nuances de
apropriação fazem parte do ambiente, e revelam como os usuários percebem e
utilizam seu local de trabalho. E a respeito de fronteiras de espaço pessoal, é
interessante observar o que Sommer (1973) argumenta, de que a melhor maneira
de tomar conhecimento das fronteiras invisíveis é continuar andando, até que
alguém faça alguma objeção.
6.4.5 Delimitação por objetos pessoais
A delimitação de territórios tamm acontece pelo posicionamento de objetos
pessoais, não tanto de forma simlica, mas tamm pela falta de lugar próprio para
a colocão de objetos como casacos, bolsas, mochilas e marmitas. Na Repartição
A, os casacos denotam inclusive quando uma mesma estão de trabalho é utilizada
por mais de uma pessoa, como pode ser visto na figura 6.54.
Figura 6.54 – Cadeiras com mais de um casaco pendurado, indicando
apropriação por mais de uma pessoa.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
205
Am disso, vemos também exemplos dos demais objetos citados, como pode ser visto
nas fotos que comem as figuras 6.55 e 6.56. A intenção dessas apropriações não
necessariamente é a mesma do exemplo das chaves, visto acima, mas de toda
forma, se traduz igualmente numa aproprião, porque é um espo do ambiente de
trabalho que está ocupado por objetos pessoais. Nesse caso, também vemos
exemplos na Repartão B ( na Invista, para dar mais conforto aos funcionários, e
também para evitar exageros como muita quantidade de objetos pessoais
levados para o local de trabalho, um armário especificamente para este fim,
onde são mantidas mochilas, bolsas, objetos de higiene pessoal etc., mas apesar
disso, uma das fotos mostradas pertence a este escritório).
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
206
Fig. 6.55 – Posicionamento de objetos pessoais, principalmente bolsas.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
207
Fig. 6.56 – Posicionamento de objetos pessoais, principalmente bolsas.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
208
Na Invista, como mencionado, armários específicos para que os funcionários
coloquem seus pertences pessoais, em consonância com a própria política da
empresa, em manter os ambientes organizados, com o mínimo (às vezes,
nenhum) objeto pessoal sobre as mesas. Dessa forma, objetos pessoais que são
manipulados pelos funcionários ao longo do dia, como “garrafinhas de atleta” ou
fones de ouvido, permanecem junto aos seus donos, mas de forma velada, no
chão ou sob a mesa, para que não contribuam para a desorganização das
mesas. Foi visto até um caso de colocação de bandeja de papéis, de uso
institucional, sob a mesa, para mantê-la “mais livre” (sic)(ver figura 6.57)
A pesquisa mostrou-nos, por meio da observação atenta das estações de
trabalho, que mesmo nos casos em que a instituição tente conter as apropriações
de territórios por parte dos funcionários, ainda assim elas ocorrem, mais uma vez
Fig. 6.57 – Formas de apropriação “implícitas”, não exibidas ostensivamente
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
209
reafirmando o argumento de Edney (1974), mencionado anteriormente, que
relaciona apropriação de territórios a uma necessidade básica para uma vida
considerada saudável.
6.4.6 Delimitação por personalização
Nossa pesquisa também verificou a existência da delimitação de territórios por
meio da personalização (FISCHER, 1994). Esta é representada pelo
posicionamento de objetos podendo ser funcionais ou meramente expositivos,
mas trazendo a marca personalizada do ocupante habitual da local, servindo de
elemento de identificação do indivíduo com o ambiente. São os chamados
marcadores-sinais (GOFFMAN apud FISCHER, 1994), que como mencionado,
inserem uma marca pessoal em um objeto ou no espaço, caracterizando uma
personalização (ver figura 6.58).
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
210
Fig. 6.58 – Objetos utilizados como marcadores pessoais.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
211
A marca pessoal pode ser o próprio objeto, por ser muito característico, ou o
nome da pessoa, que por sua vez, pode estar fixado em um objeto de
propriedade da empresa, como forma de garantir ao seu usuário habitual a
continuidade do seu uso. Na Repartição A, esse fato se deve, em parte, à
diferença de proporção entre pessoas e material disponível, que faz com que o
material seja insuficiente para todos, fato ocorrido com maior freqüência durante
as Fases 1 e 2 do layout
113
. Entre os objetos deste escritório que podem ser
encontrados com etiquetas de nomes estão principalmente caixas box, gavetas
e cadeiras – estas também costumam apresentar os nomes dos setores (ver figura
6.59).
113
Também relacionados à apropriação são os avisos colocados junto às mesas, solicitando que
não fossem “mexidas” ou “bagunçadas”, fato analisado no item “Controle das incertezas”.
Fig. 6.59 – Marcas pessoais colocadas em objetos e equipamentos institucionais
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
212
Marcadores-sinais maiores e mais expressivos da apropriação por personalização
também podem ser encontrados, tanto na Repartição A quanto na Repartição B.
Um deles podia ser visto, anteriormente, na ocupação de uma das mesas e da
divisória adjacente a ela, que recebeu do ocupante habitual da mesa uma
placa de isopor para funcionar como quadro de avisos, suporte para planilhas e
fotos pessoais. Além de ser uma apropriação, também era extremamente
personalizada, posto que seu ocupante era facilmente identificável, mesmo que
estivesse ausente. No deslocamento desse funcionário para outro setor, a mesa
permaneceu no local, mas não os objetos que configuravam a personalização,
vinculada ao funcionário. Pela diferença do nível da apropriação, o ambiente
passou a transmitir a mensagem, a notícia de que seu antigo ocupante não mais
ocupava aquele local. (ver figura 6.60).
Fig. 6.60
A foto superior (E) mostra
um expressivo marcador-
sinal,
evidenciado pela apropriação da
divis
ória para colocação de
quadro de avisos, planilhas e fotos
pessoais. A foto inferior mostra a
mesma mesa, depois que o
funcionário já não a ocupava mais.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
213
na Repartição B, pôde ser visto, durante um pouco mais de um mês, uma
exibição ostensiva do ocupante de uma sala, sobre sua preferência por um time
de futebol. Inicialmente, apenas com uma toalha pendurada na parede,
posteriormente, também com uma faixa na parede lateral (ver figura 6.61). Este
funcionário utilizou o suporte que as paredes próximas de sua estação de
trabalho lhe proporcionavam para expressar sua identidade
114
, apesar dos vários
protestos surgidos, não dos colegas, como também de parte do público que
recebia atendimento naquela sala. Após algum tempo, o funcionário retirou os
símbolos do clube.
De outro modo, vemos na mesma Repartição B, em uma sala afastada do
atendimento do público, um sinal de personalização por meio da fixação à
parede de um desenho feito pelo filho do funcionário. O diferencial, neste caso, é
que o funcionário não está presente todos os dias na Repartição B, por motivos
próprios ao seu trabalho (tanto que ele nem utiliza um computador do local, mas,
sim, o seu próprio laptop, que carrega consigo). Apesar disso, o local na bancada
114
A vinculação a um time, a uma agremiação ou outro grupo do gênero se encaixa na
construção identitária do indivíduo que assinala o pertencimento a um grupo, como nos indica Tuan
(1983).
Fig. 6.61 – Símbolos de um clube de futebol
exibidos ostensivamente pelo ocupante da
mesa adjacente à parede.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
214
onde se instala este funcionário sinaliza que ali é o seu lugar, mesmo quando ele
está ausente (ver Fig. 6.62)
115
Um outro caso expressivo da apropriação por personalização está concentrado
no interior do gabinete da Repartição A. É sabido que o vel de apropriação de
um local pode estar relacionado ao nível hierárquico da pessoa dentro da
organização, revelando o grau que ela possui de autonomia. Wells e Thelen
(2002) mostram-nos exatamente isso, na pesquisa em que desenvolveram.
Argumentam os autores serem os funcionários que mais personalizam suas
estações de trabalho os que ocupam as mais altas posições e, normalmente, os
que também ocupam um escritório privativo e fechado, caso exatamente
encontrado na Repartição A. Nossa pesquisa nos fez descobrir que se
desenvolve, fortemente impulsionada por fatores culturais, uma estreita relação
entre hierarquia maior poder maior espaço maior autonomia maior
personalização, enquanto que, inversamente, aos funcionários posicionados em
uma situação de baixa hierarquia, não são permitidas (ou, pelo menos,
incentivadas) as personalizações explícitas em seus ambientes de trabalho.
115
Quando perguntado sobre seu “território”, o funcionário nos confirmou, em uma entrevista
informal, que aquele desenho contribuía intensamente para que ele sentisse aquele “canto” da
bancada como “seu”.
Fig. 6.62 - Personalização da parede adjacente à bancada
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
215
O gabinete da Repartição A passou por fases distintas de ocupação; embora
sempre tivesse sido o local de trabalho do líder, durante a Fase 1 também era o
local de trabalho do vice-líder, juntamente com vários outros funcionários, que
utilizavam o gabinete para desenvolver suas tarefas. Ainda assim, apesar de
possuir uma considerável “população flutuante”, seus dois ocupantes principais
(líder e vice-líder) imprimiam nele algum grau de personalização, situação que se
manteve na Fase 2, quando o gabinete foi reduzido por uma reforma, que
admitiu em seu interior, somente as duas mesas principais. Objetos pessoais de
valor simbólico podiam ser vistos sobre as mesas ou no território de cada um. São
itens que os ajudam a expressar suas identidades, desenvolvendo um papel em
suas relações sociais, na medida em que são fontes transmissoras de informações
a respeito dos ocupantes do local: fotografias, troféus, itens religiosos etc. (ver
figura 6.63).
Fig. 6.63 – Personalização no gabinete, durante a Fase 2 do layout.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
216
Já na Fase 3, quando o gabinete passou a ser de uso exclusivo do líder, o nível de
personalização foi aumentando gradativamente, sendo exibidas na parede mais
fotografias e outros elementos, incluindo um desenho infantil (ver figura 6.64);
também houve a inserção de mais uma mesa no ambiente, sendo transferida
para ela a carga de personalização anteriormente concentrada na mesa original
de trabalho do líder.
Assim, passou a existir uma nova configuração, com duas mesas (ver figura 6.65):
uma com a superfície praticamente livre, para o desenvolvimento do trabalho em
si, e outra que serve de suporte espacial para a personalização, além de manter
o material de trabalho que devia ser conservado.
Fig. 6.64 – Personalização do gabinete posteriormente à Fase 3 do layout
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
217
É interessante observar o valor afetivo da personalização do local de trabalho. Os
objetos que concentram a carga mais peculiar de personalização não são
necessários para o desenvolvimento do trabalho propriamente dito; havendo
necessidade de dispor de espaço livre na superfície da mesa, a retirada destes
objetos não alteraria o curso do trabalho em si, mas afetaria emocionalmente o
usuário do local, pela perda da expressão identitária que é estabelecida por
meio da personalização. Concordamos com Tuan (1983), quando o autor
argumenta haver objetos de nosso cotidiano que são quase parte de nós
mesmos; eles compõem o ambiente em que vivemos, nos dizem que estamos no
nosso” lugar. Do mesmo modo, Fleming e Spicer (2004) sustentam que trazer
objetos pessoais para o trabalho pode fazer o indivíduo se sentir mais à vontade,
dando a ele maior conforto psicológico, confirmando também o mencionado
argumento de Edney (1974), da necessidade humana de delimitar seus próprios
territórios. Esse fato existe independentemente do nível hierárquico de cada um
dentro da organização, tanto que na Repartição A, logo que houve
oportunidade, com a diminuição do número de funcionários ocupando o salão,
as manifestações de apropriação começaram a se tornar mais evidentes. No
caso do gabinete, o mesmo fato aconteceu, potencializado pelo fator
hierarquia, que proporciona maior autonomia ao seu ocupante para se
manifestar por meio da personalização, como já esclarecido. Sobre esse fato,
Fischer (1994) possui um raciocínio que consideramos muito apropriado à nossa
pesquisa. Segundo o autor,
Fig. 6.65 – Liberação da superfície da mesa principal do gabinete (E), pela inserção de uma mesa
auxiliar (D), para onde foi transferida parte da carga de personalização.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
218
(...) a definição ou a identificação de um terririo corresponde
a uma organização social produtora de fronteiras que
inscrevem no espaço as regras e usos culturais de um
grupo.(FISCHER, 1994, p.28 - grifo nosso).
A delimitação de territórios diz de um grupo as suas maneiras de usar o ambiente,
suas dinâmicas espaciais, valores hierárquicos e interações sociais. É por meio
desses elementos de lógica cultural que o ambiente é compreendido e utilizado
pelos seus usuários.
Em todos nossos estudos de caso, verificamos que a dimensão delimitação de
territórios apresentou-se com bastante intensidade; mesmo quando não havia
espaço disponível (como na Repartição A), ou quando as normas da empresa
não permitiam muita liberdade de apropriação (como na Invista).
Algumas vezes, a delimitação também se referia a um território maior, marcado
por fronteiras bem definidas, mas o fato é que esta foi a dimensão mais
notadamente vista em nossa pesquisa, sob variadas formas, o que nos leva a crer
que, mesmo no caso da Invista, onde armários próprios para que os
funcionários depositem seus pertences pessoais, ainda assim existe a delimitação
de territórios, feita da maneira possível para não burlar as normas da empresa.
Mais uma vez, ratificamos a importância do conhecimento desta dimensão
cultural no planejamento de escritórios e locais de trabalho. Um layout que
ofereça condições de nima privacidade, ainda que seja parcial, e com
alguma flexibilidade, que permita a delimitação do próprio território, fará com
que o ambiente transmita tranqüilidade e segurança para seu usuário, condições
positivas para o desenvolvimento do seu trabalho, e que o projeto de arquitetura
deve buscar alcançar. mencionamos a importância, corroborada por diversos
autores, que os objetos pessoais possuem ao serem levados para o local de
trabalho; eles contribuem para o equilíbrio psicológico das pessoas
116
. O que
conseguimos comprovar com o estudo desta dimensão é que ela inegavelmente
existe, até onde as “normas não permitem a sua existência ou onde não haja
espaço aparente para a sua manifestação.
116
E esse fato já não é novidade; existem empresas no mundo que permitem até que o funcionário
leve seu animal de estimação para o escritório.
Capítulo 6 – Descobertas de Campo
219
6.5 – Considerações sobre o capítulo
No capítulo anterior, vimos a construção e a configuração da proposta
metodológica de análise cultural de ambientes de trabalho. Todas as
descobertas produzidas pela sua aplicação nos estudos de caso foram mostradas
no presente capítulo. São estes exemplos mostrados, muitas vezes simples em suas
grandezas, que retratam como elementos do cotidiano de um escritório,
eventualmente passando despercebidos, podem estar vinculados a aspectos
culturais dos seus usuários. Com este capítulo, esperamos ter podido mostrar o
quanto essa análise pode ser rica e frutífera, pois é a partir dela que podem ser
produzidos insumos para projetos de arquitetura de escritórios.
Como mencionado, entendemos que nossa proposta metodológica não se
limita às dimensões aqui estudadas. Acreditamos que o estudo de elementos
culturais seja um viés com inúmeras possibilidades de exploração; por esse motivo,
sustentamos que nossa proposta metodológica, criada nesta tese, seja somente o
primeiro passo para um melhor entendimento das relações entre homem – cultura
– ambiente construído.
CONCLUSÃO
sta pesquisa tem sua aplicabilidade voltada diretamente para a produção
dos ambientes de trabalho. Entendemos que por serem locais nos quais o
Homem exerce boa parte de suas atividades diárias, devem ser planejados de
acordo com as aspirações de seus usuários. No projeto arquitetônico destes
ambientes, as considerações sobre outros elementos, tais como o conforto
ambiental e a ergonomia também o importantes e, felizmente, existem muitas
pesquisas a esse respeito, que embora certamente ainda não tenham esgotado
o tema, fornecem bons subsídios para os planejadores destes locais. Da
mesma forma, existem consolidadas e bem-sucedidas metodologias de
avaliação de desempenho dos ambientes construídos, como forma de analisar e
produzir conhecimento para fomentar novos projetos de arquitetura.
O que
argumentamos é que além de parâmetros técnicos, o Homem também está
sujeito a parâmetros subjetivos e culturais, não sendo passíveis de serem medidos
com instrumentos que funcionem objetivamente, e esta é uma área do
conhecimento em que não encontramos muitas pesquisas disponíveis. Por esse
motivo, no âmbito da pesquisa desenvolvida no grupo ASC/PROARQ/UFRJ
115
,
tentamos, com esta tese, iniciar uma proposta metodológica que consiga se
aproximar da análise das aspirações e dos aspectos culturais dos usuários de
escritórios, utilizando um instrumento tão subjetivo quanto os próprios elementos a
serem analisados: o Homem, que assume a posição de observador do ambiente
para poder compreender as gicas internas de cada grupo social. Tais lógicas,
entre outras coisas, contribuem para regular as sensações de aconchego,
privacidade, apinhamento, incerteza, além de elementos como espírito de grupo
e demonstrações de poder. Sensações e elementos se fazem presentes no
ambiente, contribuindo ou prejudicando o desempenho produtivo e o bem-estar
dos usuários, dependendo do nível ou do grau em que o suporte espacial estiver
planejado para dar conta dessas situações.
115
Pesquisa apoiada pelo CNPq , intitulada Análise Etnotopográfica do Lugar: sistematização de
metodologia para análise do espaço construído”, que tem o objetivo de sistematizar métodos de
análise do espaço com foco na cultura do usuário.
E
Conclusão
221
Sustentamos que ao aplicar a proposta metodológica contida nesta tese, o
arquiteto estaapto a projetar ambientes de forma mais adequada aos futuros
usuários de seu projeto. Da mesma forma, entendemos que se a proposta não for
utilizada, não será por esse motivo que o projeto não poderá ser um bom projeto
de arquitetura, mas certamente, ao ser utilizada, a proposta metodológica
contribuirá para que o projeto seja desenvolvido com maior sensibilidade, com
mais possibilidades de responder aos aspectos subjetivos de seus ocupantes. É
dessa maneira que esperamos contribuir para ser a conformação dos ambientes
de trabalho tal, que estes não necessitem de modificações o logo os usuários
nele se instalem, por simples falta de adequação cultural do meio ao Homem
116
.
Assim, um arquiteto pode, por exemplo, dar mais “evidência espacialà estação
de trabalho de um superior, se perceber que naquele local, a distância hierárquica
se revela de extrema importância, ou, de outra forma, redistribuir melhor o espo
disponível, se verificar que a chefia, culturalmente, não considera importante o
destaque espacial de sua estação de trabalho. Essas duas possíveis direções a
serem tomadas no projeto de arquitetura de um escritório não são definidas
simplesmente fazendo medições, entrevistas ou questionários. É principalmente a
observação de cunho etnográfico, realizada durante um certo período de tempo,
que vai fornecer a resposta real a esta questão
117
.
Para desenvolver esta pesquisa, iniciamos nossos estudos vinculando Homem
cultura ambiente construído, pelo fato inquestionável de que o último é reflexo
dos dois primeiros. Citando novamente Herskovits (1974), para quem cultura é a
parte do ambiente feita pelo homem, entendemos que quando o Homem produz
seu ambiente, ele o faz movido por suas próprias referências culturais.
É grande o número de autores que relacionam cultura e ambiente construído (ou
cultura e espaço, usando uma terminologia mais afeita à geografia), como visto
116
Podemos dizer que a proposta metodológica teve sua utilidade posta à prova antes mesmo de
ser elaborada na sua totalidade, pois foi por meio da exposição (em um seminário) de suas bases
teóricas, somadas à nossa intenção de sua proposição, que um arquiteto nos conduziu a um de
nossos estudos de caso, por ver que possivelmente poderíamos ajudá-lo na sua compreensão dos
elementos culturais, com os quais ele vinha tendo dificuldades de lidar, na sua tarefa de reformar o
escritório da empresa.
117
Lembramos de nossos próprios estudos de caso, nos quais um deles, como mencionado no
capítulo 6, o líder da organização exercia suas funções mais fora do que dentro de sua exclusiva
sala, havendo ainda outros sinais de baixa distância hierárquica impressos neste ambiente.
Conclusão
222
desde a introdução desta tese e ao longo de sua fundamentação teórica.
Considerando essa inseparabilidade entre cultura e ambiente, e considerando o
caminho que ainda o foi suficientemente trilhado nas metodologias de
avaliação do ambiente construído, estabelecemos a seguinte hipótese para esta
tese: é possível construir métodos de análise de ambientes de trabalho que levem
em conta os dados culturais do usuário; emergindo, a partir desta, o problema
central a ser respondido pela pesquisa: como avaliar os aspectos culturais nas
análises de ambientes de escritórios?
Pretendendo responder à questão, iniciamos nossa busca para desenvolver uma
proposta metodológica de análise cultural dos ambientes de trabalho, mais
especificamente, dos escritórios.
Para prosseguir em nosso estudo, inicialmente buscamos a delimitação de
referências culturais que servissem de embasamento a esta tese. Vimos que o
assunto é extremamente vasto, e consumiu boa parte de nossa pesquisa teórica.
Dessa forma, após termos estudado as várias nuances que o tema pode assumir,
definimos o fio condutor da nossa pesquisa, no que tange aos aspectos culturais.
Estabelecidas nossas referências, partimos em busca das dimensões culturais que
serviriam de parâmetros para a pesquisa. Por meio do estudo das referências
culturais adotadas e também da cultura organizacional, adotamos quatro
dimensões culturais que funcionassem como indicadores da busca por reflexos
culturais no ambiente construído: hierarquia e poder, coletivismo, controle das
incertezas e delimitação de territórios.
Juntamente com o estudo das referências e das dimensões culturais, aos poucos
esboçamos, teoricamente, como poderia se desenvolver a proposta
metodológica de análise cultural. O uso da observação, nos moldes da
elaboração de uma etnografia, despontava como o caminho mais indicado,
fato verificado durante o tempo dedicado ao estudo teórico dos temas
pertinentes à cultura. A proposta metodológica propriamente dita, porém,
deveria ser desenvolvida experimentalmente, diretamente no campo, seguindo
por caminhos que a própria observação apontaria. Apesar disso, vislumbrávamos
uma possível e eventual utilização, de forma complementar, dos métodos
Conclusão
223
tradicionais de avaliação de ambientes construídos, como por exemplo, o Poema
dos Desejos e o mapeamento territorial, mas voltamos a ratificar, o uso destes ou
não seria encaminhado pela própria observação.
A esta altura, tínhamos um grande problema a enfrentar: a falta de ambientes
para pesquisar. Por meio dos caminhos expostos na tese, chegamos, enfim, aos
nossos três estudos de caso para desenvolver nossa proposta metodológica: uma
empresa particular e duas repartições públicas municipais.
A construção da proposta metodológica foi iniciada com a pesquisa na empresa
particular e parcialmente em uma das duas repartições públicas. No restante do
tempo de pesquisa neste local e posteriormente, na outra repartição, seis meses
após o início da pesquisa de campo, pudemos aplicar a proposta
desenvolvida, servindo este último estudo de caso para a sua validação.
Munidos principalmente da vontade de observar e de um caderno (ou laptop)
de campo, compreendemos que os primeiros dias de pesquisa de campo são
confusos, sendo o ambiente novo para o observador (e sustentamos que essa é
uma boa forma de tomar contato com o ambiente, pois como reportamos,
obtivemos informações prévias em um dos estudos de caso, o que nos fez
recomeçar e ter que transpor as opiniões de outrem para que não influenciassem
em nossa própria avaliação). Vimos que o desconhecimento das pessoas e das
práticas diárias da empresa é vencido com a própria observação, e podemos
dizer que no sentido oposto, a recíproca é verdadeira. Os usuários, normalmente,
não conhecem a pessoa que os está observando, mas observam-na também. Em
determinados momentos da pesquisa, era quase possível “sentir” que o assunto
do programa de mensagens instantâneas, utilizado pelos usuários dos
computadores da sala em que estávamos, éramos nós mesmos. Podemos,
humildemente, fazer uma referência a Malinowski, estudando o povo das Ilhas
Trobriand, no início do século XX, quando dizia ter sua cabana observada por
todos os nativos, enquanto ele era apenas um para observar a todos (FIRTH, 1997).
As dimensões culturais foram, aos poucos, revelando-se no ambiente. “Hierarquia
e poder” e “delimitação de territórios” foram as primeiras a serem vistas, seguidas
por controle das incertezas” e “coletivismo”. Para todas, a observação foi
Conclusão
224
fundamental e podemos considerá-la a linha mestra que conduziu a pesquisa.
Mesmo na aplicação de métodos complementares, é a observação que os
permeia e une as informações, que analisadas isoladamente, dificilmente
produziriam o mesmo efeito. Dessa forma, fomos percebendo, no ambiente,
reflexos de uma ou outra dimensão cultural, e não raro, um mesmo fato estava
relacionado a mais de uma dimensão. Podemos citar como exemplo: um superior,
que pelo cargo ocupado, tem duas mesas à sua disposição (“hierarquia”),
colocadas no canto de uma sala, tendo ele um anteparo às suas costas e outro
em uma de suas laterais (“controle da incerteza” quanto a uma exposição visual
indesejada), e que por dispor de mais espaço, num “canto seu, tem mais
possibilidade de personalizar sua estação (“delimitação de territórios”) do que um
outro funcionário, no meio do salão, que não conta com nenhum anteparo para
pendurar um simples calendário, se fosse o caso. Como dito, um mesmo fato
fornece análises sobre mais de uma dimensão, e este não é um exemplo isolado.
As próprias dimensões “Delimitação de territórios” e “Controle das incertezas”
estão intimamente ligadas, por meio das palavras “privacidade” e “controle”.
Quando reunidas na forma inversa, “controle da privacidade (GIFFORD, 1997),
concentramos em uma só expressão as duas dimensões.
Tivemos o cuidado de evidenciar, em quadros com aspecto didático, as partes
relativas à configuração final da proposta metodológica, para facilitar sua
visualização no texto. Cabe frisar que consideramos esta a sua configuração final
para esta tese; as próprias dimensões tempo e troca, como mencionadas no
interior deste trabalho, são candidatas muito prováveis a serem incluídas no rol
das dimensões a serem pesquisadas, e certamente ainda poderão existir outras.
Com a elaboração da proposta metodológica de análise cultural dos ambientes
de trabalho, esperamos ter atingido os objetivos propostos para esta tese, a
saber:
Entender como as características culturais (dos usuários) exercem influência
no uso e no aspecto do ambiente de trabalho. Por meio da aplicação da
proposta metodológica, conduzida pelo leque das dimensões culturais
estudas por nós, conseguimos montar uma relação entre os aspectos culturais
Conclusão
225
dos usuários e a forma pela qual o ambiente é utilizado e apreendido. Os
sinais que as dimensões culturais deixam impressos no ambiente permitem que
este seja passível de ser lido, como uma linguagem silenciosa (HALL, 1994).
Produzir parâmetros que contribuam com o desenvolvimento dos projetos de
arquitetura de escritórios. A partir do conhecimento produzido com a
aplicação da proposta metodológica, baseada nas quatro dimensões
culturais utilizadas, podem ser produzidas informações que funcionem como
parâmetros de projeto, como por exemplo, local e possibilidades físicas para
demonstrações espaciais de poder, quando houver grande distância
hierárquica entre superiores e subordinados, porque é dessa forma que
provavelmente funcionará melhor o ambiente de trabalho, ou local disponível
para apropriação de territórios, de maneira a permitir que as pessoas
expressem suas identidades, especialmente se a tendência dos usuários for
individualista, com pouca tolerância a apinhamento e superposição de
espaços pessoais (SOMMER, 1973).
Contribuir para o aperfeiçoamento do ensino da arquitetura. Quanto maior for
produção de conhecimento por meio de pesquisas que visem à identificação
das relações entre aspectos culturais e os usuários de um ambiente, maior
será a possibilidade deste conhecimento chegar de forma mais plena às salas
de aula da graduação, e entendemos que, pesquisando sobre o tema,
estamos colaborando para que este processo se fortaleça.
Contribuir para a sistematização do método de análise etnotopográfica
118
.
Como parte integrante desta pesquisa maior, que versa sobre vários
ambientes, nossa pesquisa contribui para o seu desenvolvimento também,
inserindo importantes parâmetros sobre os aspectos culturais presentes
especificamente nos ambientes de trabalho.
A busca pelo bem estar do Homem, esteja ele em sua casa, no seu local de
trabalho, no seu local de lazer ou na rua, é tarefa de todos s, arquitetos. É
função nossa projetar ambientes saudáveis e adequados para a peça mais
118
mencionada pesquisa fomentada pelo CNPq, em desenvolvimento pelo Grupo de Pesquisas
Arquitetura, Subjetividade e Cultura, no qual esta pesquisa está inserida.
Conclusão
226
importante de todos os projetos de arquitetura: o seu usuário. Esperamos, com
esta pesquisa, que a arquitetura dos ambientes de trabalho possa ser vista como
um “cenário atuante” do desenvolvimento de forças produtivas, moldado pelos
usuários que a utilizam enquanto estão produzindo o seu próprio trabalho. Nesse
ponto, cabe ao arquiteto compreender como o homem percebe, utiliza, avalia e
significado ao seu ambiente, sendo, pela interação produzida (entre homem
e ambiente), o primeiro considerado como parte do segundo.
Concordamos com Gifford (1997), quando este autor argumenta não haver um
único projeto de escritório que seja o melhor para todos os funcionários; além
disso, o autor também sustenta que, apesar de haver boas inteões por parte
dos projetistas, os locais de trabalho são em sua maioria projetados para os
funcionários, em vez de com os funcionários. Portanto, entendemos que a
criação de uma proposta metodológica que torne legíveis as aspirações e
subjetividades de um grupo de usuários seja como a soma de vários indivíduos
ou seja como uma coletividade – é fundamental para que comecemos a ter mais
informações para subsidiar o arquiteto, no momento em que ele elabora o
projeto de tais ambientes. Esperamos, assim, que haja uma maior adequação
destes locais aos seus usuários, para que, nas palavras de Gifford, “muito mais
necessidades sejam satisfeitas envolvendo os funcionários na moldagem do
espaço onde eles passarão muitos dos melhores anos das suas vidas”
119
.
Voltamos a frisar que apesar de se revestir de um caráter inédito, a proposta
metodológica aqui produzida não se encerra com a presente pesquisa; ela ainda
apresenta um largo campo de investigação, possivelmente não haverá um
“ponto final” para essa busca, afinal, a metodologia procura reflexos de algo que
é extremamente dimico, a cultura, produzida por um elemento que está em
constante mutação: o Homem. Assim, entendemos que a busca pelo bem-estar
das sociedades humanas nunca estará encerrada; sempre haverá algo novo
para ser acrescentado a ela.
119
GIFFORD, 1997, p.304. Tradução livre da autora.
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Anexos
Anexo Pág.
1 Questionário aplicado na Invista (modelo).................................................... 237
2 Questionário aplicado na Repartição A (modelo)........................................ 238
3 Questionário aplicado na Repartição B (modelo)........................................ 241
4 Tabelas de relações sociais da Invista – Setor 1............................................. 244
5 Tabelas de relações sociais da Invista – Setor 2............................................. 245
6 Tabelas de relações sociais da Invista – Setor 3............................................. 246
7 Tabela de relações sociais da Repartição B – 1ª sala................................... 247
8 Tabela de relações sociais da Repartição B – 2ª sala................................... 248
9 Tabela de relações sociais da Repartição B – 3ª sala................................... 249
10
Tabela de relações sociais da Repartição A – 1º dia de observação........ 250
11
Tabela de relações sociais da Repartição A – 2º dia de observação........ 250
12
Tabela de relações sociais da Repartição A – 4º dia de observação........ 251
13
Tabela de relações sociais da Repartição A – 5º dia de observação........ 251
14
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 1º, 2º, e
dias de observação............................................................................................
252
15
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A e dias de
observação..........................................................................................................
252
16
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 8º, 9º, 10º, 11º,
12º e 13º dias de observação............................................................................
253
17
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 14º, 15º, 16º e
17º dias de observação.....................................................................................
253
18
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 18º, 19º, 20º e
21º dias de observação.....................................................................................
254
19
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 22º, 23º e 24º
dias de observação............................................................................................
254
237
ANEXO 1
Análise Cultural de Ambientes de Trabalho
Doutorado em Arquitetura - PROARQ/FAU/UFRJ
Pesquisadora: Alice Brasileiro
Q
UESTIONÁRIO
O
PINIÃO DOS
U
SUÁRIOS
Recentemente, a [Invista] passou por uma grande reforma, que afetou todos os setores operacionais da
empresa. Gostaríamos de saber sua opinião em relação a esta nova configuração, e como esta mudança
poderá contribuir para a qualidade do ambiente de trabalho. Participando desta pesquisa, você estará dando
sua contribuição para o conhecimento de como o ambiente é avaliado por seus usuários e também para a
ampliação do conhecimento na área de projetos e avaliação de escritórios. Não é necessário se identificar,
mas você pode fazê-lo, se assim o desejar. Sua participação é muito importante! Obrigada.
1) O setor em que você trabalha mudou de sala depois da reforma; compare brevemente
a antiga sala e a atual, enumerando alguns pontos positivos e negativos de ambas:
2) Qual (quais) espaço(s) você considera como sendo “seu” local de trabalho? (você
pode, se quiser, enumerar ambientes, salas, setores, áreas, “cantos”, móveis, objetos,
etc... etc... etc...)
3) Você considera o “seu” espaço como uma extensão de você mesmo (como se fosse a
“sua” zona de influência)?
4) Você considera que a sala na qual você trabalha se constitui num ambiente individual
(são várias pessoas trabalhando no mesmo local) ou coletivo (é um grupo que trabalha
num determinado local)?
5) Você considera(ria) natural (isto é, você se sente ou se sentiria confortável) que o seu
superior tome(asse) decisões por conta própria, sem consultar seus subordinados?
6) Em seu trabalho, você está exposto a um certo nível de stress, devido ao contato com
o público. Aonde você vai (e/ou o que faz) quando precisa relaxar por alguns momentos?
Essa sua prática (ou o local onde ela acontece) mudou depois da reforma? Como?
7) Complemente o trecho abaixo da maneira que desejar:
Gostaria que meu local de trabalho...
Muito obrigada pela sua colaboração!
238
ANEXO 2
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA – PROARQ/FAU/UFRJ
Grupo ASC – Arquitetura + Subjetividade + Cultura
Pro-LUGAR – Grupo de Pesquisa Projeto e Qualidade do Lugar
Pesquisa: Análise Cultural de Ambientes de Trabalho - Pesquisadora: Alice Brasileiro
Pro-LUGAR
Questionário – Opinião dos Usuários
Recentemente, a [Repartição A] passou por uma modificação no seu ambiente físico, com uma diminuição na sua densidade
ocupacional. Gostaríamos de saber sua opinião em relação a esta nova configuração, e como esta mudança poderá
contribuir para a qualidade do ambiente de trabalho. Participando desta pesquisa, você estará dando sua contribuição para
o conhecimento de como o ambiente é avaliado por seus usuários e também para a ampliação do conhecimento na área de
projetos e avaliação de escritórios. Não é necessário se identificar, mas você pode fazê-lo, se assim o desejar. Sua
participação é muito importante! Obrigada.
_____________________________________________________________________________________________________________________
1. Qual dessas tipologias é idealmente a mais adequada para a realização do seu trabalho?
a. Célula/Sala
Ambiente fechado do piso ao teto, com porta
b
.
Baia
Ambiente fechado por divisóriasdias ou altas, sem porta
c
.
Paisagem/Aberto
Ambiente aberto, integrado visualmente, sem divisórias
ou com divisórias baixas
d
.
Combinado
Ambiente misto, com salas, baias, e ambientes abertos
Quais os aspectos positivos e negativos da tipologia escolhida?
(se desejar, pode descrever os de outras também)
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
________________________________________________________________________
Instrumento produzido a partir das pesquisas desenvolvidas no ProLugar/FAU/UFRJ www.fau.ufrj.br/prolugar
239
Em relação ao seu atual ambiente de trabalho:
2. Seu posto de trabalho é fixo?
Sim
Não
3. Quantas pessoas compartilham/dividem o mesmo local com você?_____________________________
4. Você utiliza outros locais para exercer suas tarefas?
Sim
Não Por quê?
(marque abaixo)
Por razões próprias do trabalho (vistorias etc.)
Porque não encontra condições ideais na [Repart. A]
5. Você escolheu o seu espaço (a localização de sua mesa ) atual de trabalho?
Sim
Não
6. Você está satisfeito com a localização dele ?
Sim
Não
Porque?
______________________________________________________________________________________
______________________________________________________________
7. Você se sente “dono” do seu espaço de trabalho?
Sim
Não
8. O que faz você se sentir “dono” do espaço que ocupa? ______________
___________________
_______________________________________________________________________________________
9. Mesmo que você não se sinta “dono” do seu espaço, qual (quais) espaço(s) você considera como sendo
o seu “ponto de referência” na SEMUAM? (você pode, se quiser, enumerar ambientes, setores, áreas,
“cantos”, móveis, objetos, etc... etc... etc...) _________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
Pouca(o) Muita(o)
10.
Como você avalia..
(marque com um “x” o campo correspondente à sua opinião)
-3 -2 -1 1 2 3
a. ...a necessidade de interação com os seus colegas para a realização do seu trabalho
b. ...a possibilidade que o ambiente oferece para a interação necessária com os seus colegas
c. ...a necessidade de privacidade / concentração para a realização do seu trabalho
d.
...a possibilidade que o ambiente oferece para a privacidade / concentração
necessárias para a realização de seu trabalho
e. ...a sensação de bem-estar geral proporcionada pelo ambiente
f. ...a necessidade de controlar a localização de objetos de trabalho (canetas, etc...)
g. ...o nível de coletivismo (em oposição ao individualismo) no ambiente da secretaria
h. ...o nível de conforto auditivo proporcionado pelos ruídos externos à sala
i..
...o nível de conforto auditivo proporcionado pelos ruídos internos da sala
11. Existe algum tipo de ruído no seu ambiente de trabalho que traga perturbação?
Sim
Não Qual?
___________________________________________________________________________________________________________
12. Quais são os principais problemas do seu atual ambiente de trabalho?
___________________________________________________________________________________________________________
___
_____________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
_______________________________________________________________________
13. O que você considera positivo no seu atual ambiente de trabalho?
Instrumento produzido a partir das pesquisas desenvolvidas no ProLugar/FAU/UFRJ www.fau.ufrj.br/prolugar
240
13. O que você considera positivo no seu atual ambiente de trabalho?
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
14. O que você sente em relação ao seu ambiente de trabalho:
Conforto
Desprezo
Liberdade
Constrangimento
Afeição
Satisfação
Indiferença
Insatisfação
Outro
(
especificar
): _____________.
15. Complemente o trecho abaixo da maneira que desejar:
Gostaria que meu local de trabalho...
Observações (sugestões / críticas / justificativas / comentários)
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
Obrigada por sua atenção e pelo seu tempo!
Para esclarecimentos ou informações, entre em contato com
Alice Brasileiro, pelo email alicebrasileiro@ufrj.br
Instrumento produzido a partir das pesquisas desenvolvidas no ProLugar/FAU/UFRJ www.fau.ufrj.br/prolugar
241
ANEXO 3
UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO DE JANEIRO – FACULDADE DE ARQUITETURA E URBANISMO
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ARQUITETURA – PROARQ/FAU/UFRJ
Grupo ASC – Arquitetura + Subjetividade + Cultura
Pro-LUGAR – Grupo de Pesquisa Projeto e Qualidade do Lugar
Pesquisa: Análise Cultural de Ambientes de Trabalho - Pesquisadora: Alice Brasileiro
Pro-LUGAR
Questionário – Opinião dos Usuários
A [Repartição B] completou quatro meses ocupando seu novo endereço. Houve uma significativa mudança em relação
ao local anterior, tanto em termos de localização, quanto de ambiente interno e de ocupação. Agora que você já está
mais habituado a trabalhar no novo local, gostaríamos de saber sua opinião em relação a ele. Participando da
pesquisa, você estará dando sua contribuição para o conhecimento de como o ambiente é avaliado por seus usuários e
também para a ampliação do conhecimento na área de projetos e avaliação de escritórios. Não é necessário se
identificar, mas você pode fazê-lo, se assim o desejar. Sua participação é muito importante! Obrigada.
_______________________________________________________________________________________________________________________
1. Qual dessas tipologias é idealmente a mais adequada para a realização do seu trabalho?
a. Célula/Sala
Ambiente fechado do piso ao teto, com porta
b
.
Baia
Ambiente fechado por divisóriasdias ou altas, sem porta
c
.
Paisagem/Aberto
Ambiente aberto, integrado visualmente, sem divisórias
ou com divisórias baixas
d
.
Combinado
Ambiente misto, com salas, baias, e ambientes abertos
Quais os aspectos positivos e negativos da tipologia escolhida?
(se desejar, pode descrever os de outras também)
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
___________________________________________________________________________________________________________
Instrumento produzido a partir das pesquisas desenvolvidas no ProLugar/FAU/UFRJ www.fau.ufrj.br/prolugar
242
Em relação ao seu local de trabalho:
2. Sua estação de trabalho é fixa?
Não
Sim
3. Outras pessoas compartilham/dividem a mesma estação com você?
Não
Sim Quantas? ______
4. Você utiliza outros locais para exercer suas tarefas?
Não
Sim Por quê?
Por razões próprias do trabalho (vistorias, atendimento ao público etc.)
Porque precisa trabalhar em conjunto com outra pessoa, na estação de trabalho dela ou de terceiros
Porque precisa ceder seu lugar para outra pessoa
Porque não encontra condições ideais na sua estação de trabalho
Outros ____________________________________________________________________________
5. Você escolheu o local da sua estação de trabalho?
Não
Sim
6. Você está satisfeito com a localização dela?
Não
Sim
Por quê? _____________________________________________________________________________
______________________________________________________________
7. Você se sente
“ocupando seu território
quando está na sua estação de trabalho?
Não
Sim
8. O que faz (ou pode fazer) você sentir que está num espaço
“seu”
? _____________________________
______________________________________________________________
9. Mesmo que você não se sinta “ocupando seu território” na sua estação de trabalho, qual (quais)
espaço(s) você considera como sendo o seu “ponto de referência no departamento de URBANISMO?
(você pode, se quiser, enumerar ambientes, setores, áreas, “cantos”, móveis, objetos, etc... etc... etc...)
______________
____________________________________________________
______________________________________________________________
______________________________________________________________
10
Em relação ao local onde você permanece mais tempo,
como você avalia...
A = Muito bom; B = Bom; C = Razoavelmente bom; D = Razoavelmente ruim; E = Ruim; F = Muito ruim
(Marque com um “x” o campo correspondente à sua opinião)
A
B
C
D
E
F
a. ...a sensação de bem-estar geral proporcionada pelo ambiente
b. ...o tamanho do local?
c. ...a disposição dos veis e equipamentos?
d. ...a adequação / conforto dos móveis às suas atividades?
e. ...a privacidade do local, necessária para o desenvolvimento da sua atividade?
f. ...o favorecimento à concentração para a execução das tarefas?
g. ...a possibilidade que o ambiente oferece para a interação necessária com os colegas?
h. ...a iluminação
natural
de sua sala?
i. ...a iluminação
artificial
de sua sala?
j. ...o isolamento contra ruídos
externos
ao URBANISMO?
l. ...o isolamento contra ruídos
internos
das salas do URBANISMO?
m.,
...o nível de conforto auditivo de sua sala?
Instrumento produzido a partir das pesquisas desenvolvidas no ProLugar/FAU/UFRJ www.fau.ufrj.br/prolugar
243
11. Você traz objetos pessoais para o trabalho?
Não
Sim Quais?
Cd’s, mp3, rádio e
similares
Comestíveis (não
considere o almoço)
Material de
escritório
Material de
limpeza
Porta-retratos e
fotografias pessoais
Objetos de valor
afetivo para compor sua
estação de trabalho
Quadros, gravuras,
cartazes e similares
Eletrodomésticos
Outros (Quais?): ________________
______________________________
12. Algum tipo de ruído no ambiente de trabalho te perturba?
Não
Sim Qual?
___________________________________________________________________________________________________________
13. Quais são os principais problemas do seu local de trabalho?
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
14. Quais são as principais qualidades do seu local de trabalho?
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
15. Complemente o trecho abaixo da maneira que desejar:
Gostaria que meu local de trabalho...
Observações (sugestões / críticas / justificativas / comentários)
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
____________________________________________________________________________________________________________
Obrigada pela sua atenção e pelo seu tempo!
Para esclarecimentos ou informações, entre em contato
com Alice Brasileiro, pelo email
alicebrasileir[email protected]
Instrumento produzido a partir das pesquisas desenvolvidas no ProLugar/FAU/UFRJ www.fau.ufrj.br/prolugar
244
ANEXO 4
Tabelas de relações sociais da Invista – Setor 1
Pergunta 1 Pergunta 2
1 2 3 4 5 6 7 8 12
13
1 2 3 4 5 6 7 8 12
13
José
1 1
Ricardo
2 2
Marcelo
3 3
Glória
4 4
Andréia
5 5
Ana
6 6
Helena
7 7
Afonso
8 8
Simone
12
12
Setor 1
Lúcio
13
13
S5
Suzana
RH
Lúcia
Vera
Maria
Luci
Manoel
Martha
Cris
Paulo
Setor 2
Marco
Armênio
Fátima
Lenita
Setor 3
Sérgio
Moisés
Jacira
Alessandro
Jaime
Carlos
Setor 4
Alberto
Joana
S
7
Luis
Gilberto
Marcos
Antônio
Jorge
Cláudio
Setor 6
Júlio
Eduardo
Rose
Mariana
Arthur
Mário
Carolina
Diretoria
Fernando
OBS:
Pergunta 1: Com quem você normalmente tem que interagir para poder desenvolver seu trabalho?
Pergunta 2: Com quem você costuma manter vínculos sociais? (contato extra-trabalho)
245
ANEXO 5
Tabelas de relações sociais da Invista – Setor 2
Pergunta 1 Pergunta 2
1 2
3 4 5
6
10
11
1 2
3 4 5
6
10
11
José
Ricardo
Marcelo
Glória
Andréia
Ana
Helena
Afonso
Simone
Setor 1
Lúcio
S5 Suzana
RH Lúcia
Vera 1
1
Maria 2
2
Luci 3
3
Manoel 4
4
Martha 5
5
Cris 6
6
Paulo 10
10
Setor 2
Marco 11
11
Armênio
Fátima
Lenita
Setor 3
Sérgio
Moisés
Jacira
Alessandro
Jaime
Carlos
Setor 4
Alberto
Joana
S7
Luis
Gilberto
Marcos
Antônio
Jorge
Cláudio
Setor 6
Júlio
Eduardo
Rose
Mariana
Arthur
Mário
Carolina
Diretoria
Fernando
OBS.:
Pergunta 1: Com quem você normalmente tem que interagir para poder desenvolver seu trabalho?
Pergunta 2: Com quem você costuma manter vínculos sociais? (contato extra-trabalho)
246
ANEXO 6
Tabelas de relações sociais da Invista – Setor 3
Pergunta 1 Pergunta 2
18 11 16 21 18 11 16 21
José
Ricardo
Marcelo
Glória
Andréia
Ana
Helena
Afonso
Simone
Setor 1
Lúcio
S5 Suzana
RH Lúcia
Vera
Maria
Luci
Manoel
Martha
Cris
Paulo
Setor 2
Marco
Armênio
18
18
Fátima
11
11
Lenita
16
16
Setor 3
Sérgio
21
21
Moisés
Jacira
Alessandro
Jaime
Carlos
Setor 4
Alberto
Joana
S7
Luis
Gilberto
Marcos
Antônio
Jorge
Cláudio
Setor 6
Júlio
Eduardo
Rose
Mariana
Arthur
Mário
Carolina
Diretoria
Fernando
Pergunta 1: Com quem você normalmente tem que interagir para poder desenvolver seu trabalho?
Pergunta 2: Com quem você costuma manter vínculos sociais? (contato extra-trabalho)
247
ANEXO 7
Tabela de relações sociais da Repartição B – 1ª sala
Pergunta 1 Pergunta 2
14
13
5R
52
34
50
45
51
14
13
5R
52
34
50
45
51
Marcos 14
14
Julia 13
13
Isabel 5R
5R
Tânia 52
52
Mauro 34
34
Leo 50
50
Letícia. 45
45
SALA 1
Laura 51
51
Eduardo
Jurandir
Nelson
Lívia
SALA 2
Heloísa
Douglas
Paulo
Rubens
Juliana
Pierre
SALA 3
Gilda
Externos
OBS:
Pergunta 1: Com quem você normalmente tem que interagir para poder desenvolver seu trabalho?
Pergunta 2: Com quem você costuma manter vínculos sociais? (contato extra-trabalho)
248
ANEXO 8
Tabela de relações sociais da Repartição B – 2ª sala
Pergunta 1 Pergunta 2
6 49
1 2 46
6 49
1 2 46
Marcos
Julia
Isabel
Tânia
Mauro
Leo
Letícia.
SALA 1
Laura
Eduardo 6
6
Jurandir
49
49
Nelson
1
1
Lívia
2
2
SALA 2
Heloísa
46
46
Douglas
Paulo
Rubens
Juliana
Pierre
SALA 3
Gilda
Externos
OBS:
Pergunta 1: Com quem você normalmente tem que interagir para poder desenvolver seu trabalho?
Pergunta 2: Com quem você costuma manter vínculos sociais? (contato extra-trabalho)
Células na cor cinza: o respondente citou que indiretamente trabalhava com todas as pessoas do
escritório
2
249
ANEXO 9
Tabela de relações sociais da Repartição B – 3ª sala
Pergunta 1 Pergunta 2
23
26
53
56
5J
21
23
26
53
56
5J
21
Marcos
Julia
Isabel
Tânia
Mauro
Leo
Letícia.
SALA 1
Laura
Eduardo
Jurandir
Nelson
Lívia
SALA 2
Heloísa
Douglas 23
23
Paulo
56
56
Rubens
53
53
Juliana
56
56
Pierre
5J
5J
SALA 3
Gilda
21
21
Externos
OBS:
Pergunta 1: Com quem você normalmente tem que interagir para poder desenvolver seu trabalho?
Pergunta 2: Com quem você costuma manter vínculos sociais? (contato extra-trabalho)
250
ANEXO 10
Tabela de relações sociais da Repartição A – 1º dia de observação
01 02 03 04 05J 05R 06 07 08A 08M 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
01
01
01
01
02
01
01
01
03
01
01
04
01
05J
05R
02
01
01
01
01
06
01
02
01
01
02
07
01
02
01
01
01
08A
01
08M
01
01
01
01
09
01
01
10
01
01
01
11
12
13
01
02
01
02
14
01
01
01
02
02
02
15
01
16
01
02
17
01
01
18
01
01
01
19
01
01
20
21
22
23
01
01
01
01
01
01
24
25
26
27
28
29
30
01
31
01
32
01
02
33
34
01
35
01
02
02
02
01
36
37
38
01
01
39
40
41
42
43
44
45
46
ANEXO 11
Tabela de relações sociais da Repartição A – 2º dia de observação
01 02 03 04 05J 05R 06 07 08A 08M 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
01
02
03
04
01
05J
05R
01
01
06
07
01
08A
08M
02
09
10
01
01
01
01
11
12
13
01
14
01
02
15
01
01
16
17
01
01
01
18
19
20
21
22
23
01
24
25
26
02
02
01
01
27
01
28
29
30
01
01
31
32
33
01
34
01
35
36
37
01
38
01
39
01
40
41
42
43
44
45
46
251
ANEXO 12
Tabela de relações sociais da Repartição A – 4º dia de observação
01 02 03 04 05J 05R 06 07 08A 08M 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
01
02
03
04
01
05J
05R
01
06
07
01
08A
08M
01
01
01
01
09
01
01
10
01
11
12
01
01
01
01
13
14
01
01
01
01
01
15
01
01
01
01
16
01
17
18
01
02
19
20
21
22
23
01
01
01
01
24
25
26
27
01
02
28
29
30
31
32
33
34
35
36
37
01
01
01
38
01
01
01
01
39
01
01
40
41
42
43
44
45
01
46
ANEXO 13
Tabela de relações sociais da Repartição A – 5º dia de observação
01 02 03 04 05J 05R 06 07 08A 08M 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
01
01
01
01
02
01
01
02
01
01
02
01
01
01
01
01
02
03
01
01
01
01
01
04
01
01
05J
05R
01
01
01
06
01
02
02
02
07
01
01
02
08A
01
01
08M
02
01
09
10
11
12
01
13
01
02
01
14
01
02
01
15
01
01
16
01
17
01
18
01
19
01
01
01
20
01
21
22
23
02
01
02
02
01
01
24
25
01
26
01
01
01
01
27
28
29
30
31
01
32
01
01
33
34
35
36
37
01
38
39
01
40
01
02
01
01
41
42
43
44
45
46
252
ANEXO 14
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 1º, 2º, 4º e 5º dias de observação
01 02 03 04 05J 05R 06 07 08A 08M 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
01
2
1
1
3
1
1
1
2
1
1
02
2
1
1
1
1
1
1
2
03
1
1
1
1
1
2
04
1
1
3
05J
05R
1
1
2
1
1
1
1
1
2
1
06
1
2
1
1
2
3
2
2
07
3
1
2
1
1
1
3
08A
1
1
1
08M
3
1
1
1
1
2
2
2
09
1
1
1
1
10
1
1
1
1
1
2
1
11
12
1
1
1
1
1
1
13
1
1
2
2
1
4
14
1
1
3
1
1
1
4
1
1
2
2
2
1
15
1
1
1
2
2
1
1
16
1
1
1
2
17
1
1
2
1
1
18
1
1
1
1
2
1
19
1
1
1
1
20
1
21
22
23
2
1
2
3
2
1
1
2
1
1
1
1
1
1
24
25
1
26
1
2
2
1
1
1
1
1
27
2
2
28
29
30
1
1
1
31
1
1
32
2
2
1
33
1
34
1
1
35
1
2
2
2
1
36
37
1
1
1
2
38
2
2
1
1
1
39
1
1
2
40
1
2
1
1
41
42
43
44
45
1
46
ANEXO 15
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 6º e 7º dias de observação
01 02 03 04 05J 05R 06 07 08A 08M 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
01
1
2
1
02
2
1
1
1
03
1
1
04
05J
1
1
1
1
1
05R
1
1
1
1
06
1
2
1
1
1
1
07
1
1
08A
08M
2
1
1
1
1
1
09
10
1
11
12
1
1
13
1
1
1
1
14
1
1
1
1
15
1
16
1
1
1
17
1
18
1
1
19
2
1
1
1
20
21
22
23
24
1
1
25
2
1
1
1
1
26
1
27
28
1
29
30
1
31
1
1
1
1
1
1
32
1
1
1
33
1
34
1
1
1
35
36
37
1
1
1
38
39
40
1
1
1
1
41
42
1
1
1
1
43
1
44
45
1
46
253
ANEXO 16
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 8º, 9º, 10º, 11º, 12º e 13º dias de observação
01 02 03 04 05J 05R 06 07 08A 08M 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
01
5
2
1
1
1
3
1
4
1
2
3
1
3
4
02
5
2
1
2
1
2
2
1
1
1
1
1
1
4
03
2
2
1
3
1
2
3
2
1
1
04
1
1
05J
1
1
05R
1
1
1
1
6
1
1
1
1
1
06
2
1
07
1
08A
1
1
2
1
1
2
4
08M
1
1
1
1
09
1
2
1
1
10
1
1
1
1
11
12
13
1
1
14
1
3
2
1
15
1
1
4
2
16
3
1
1
1
1
17
2
1
1
1
1
2
1
1
1
1
1
18
1
2
2
3
1
3
1
1
2
19
1
20
21
22
1
1
23
1
1
1
1
3
1
1
1
24
4
2
3
1
2
1
1
2
1
2
2
2
1
2
2
25
26
1
1
2
2
1
2
1
1
1
1
27
1
3
1
28
1
1
1
6
1
1
1
1
2
1
2
2
1
1
29
2
1
2
1
3
2
2
1
1
5
30
31
2
1
1
2
32
3
3
1
1
1
2
1
1
1
1
33
1
1
2
1
1
1
1
1
1
1
1
1
34
1
1
35
36
37
1
1
1
38
3
1
1
2
1
1
1
2
39
40
4
4
1
1
1
4
4
2
1
2
1
1
5
1
1
1
1
1
41
1
42
1
1
1
1
1
43
2
2
1
1
44
1
1
45
1
46
1
1
ANEXO 17
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 14º, 15º, 16º e 17º dias de observação
01 02 03 04 05J 05R 06 07 08A 08M 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
01
1
1
1
1
3
02
1
2
1
03
1
1
04
05J
05R
1
2
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1
06
1
1
1
2
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1
1
07
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1
1
1
2
08M
1
1
1
1
09
1
1
10
1
1
11
12
13
2
1
14
2
2
1
1
1
1
15
1
1
1
1
16
1
2
1
2
1
17
1
1
1
18
1
2
3
1
19
1
1
1
2
20
21
1
1
22
23
2
2
1
1
1
24
1
1
1
1
1
2
1
1
25
26
27
1
1
2
3
1
1
1
28
1
1
1
2
1
1
1
1
29
3
1
1
1
1
1
1
2
2
1
30
1
31
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1
32
33
1
1
1
34
1
1
35
36
37
38
1
2
1
39
40
2
1
1
1
2
41
42
1
1
43
1
44
2
45
1
1
1
1
46
1
1
254
ANEXO 18
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 18º, 19º, 20º e 21º dias de observação
01 02 03 04 05J 05R 06 07 08A 08M 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
01
1
2
1
2
1
1
1
1
02
1
1
1
2
2
4
3
03
04
05J
1
1
1
2
05R
1
2
3
1
1
2
1
1
2
1
1
2
06
2
1
1
2
1
1
4
2
1
1
07
08A
2
4
1
1
2
1
3
1
1
1
08M
2
1
1
1
1
1
1
09
1
1
10
4
1
2
1
1
2
1
1
1
11
12
1
1
1
1
13
1
3
1
1
1
1
1
14
1
1
15
2
1
1
2
1
1
3
16
1
17
2
1
2
2
1
1
1
2
18
1
1
1
19
20
1
21
2
1
1
1
22
1
1
1
1
1
1
1
23
2
4
1
4
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
1
24
1
1
1
1
1
1
2
1
25
26
1
3
2
1
1
2
27
28
2
1
1
1
1
1
29
1
3
1
2
1
1
1
1
1
3
3
30
1
31
1
1
1
1
1
1
1
32
1
1
1
1
1
33
2
2
1
1
1
1
1
34
1
1
1
1
2
1
35
36
37
38
1
1
1
1
1
1
1
3
1
1
1
39
40
2
1
1
1
1
2
3
1
41
42
1
43
1
1
1
3
2
1
1
1
1
44
1
1
1
45
1
1
1
46
ANEXO 19
Tabela-somatório de relações sociais da Repartição A 22º, 23º e 24º dias de observação
01 02 03 04 05J 05R 06 07 08A 08M 09 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40 41 42 43 44 45 46
01
2
1
2
2
3
1
2
2
02
2
1
2
1
5
1
2
1
1
1
3
1
3
1
4
1
1
5
3
1
03
1
3
6
1
1
3
1
1
1
1
1
04
05J
2
1
3
1
1
1
05R
1
1
1
1
1
2
06
1
5
1
1
1
6
5
1
6
1
1
1
1
07
08A
2
1
3
1
1
1
4
2
4
1
08M
2
1
3
1
2
1
1
3
1
1
1
09
6
1
1
2
1
1
2
1
1
1
1
10
1
3
2
1
1
3
1
3
1
2
1
11
12
1
13
2
1
1
1
1
2
1
1
14
2
3
6
1
5
2
2
1
15
1
1
1
1
1
1
1
2
2
16
17
1
1
1
1
3
1
1
1
1
18
1
1
1
19
1
5
1
1
1
2
20
3
21
1
1
3
1
1
22
1
23
3
1
6
1
1
5
1
1
1
3
4
1
3
2
2
2
24
1
1
1
1
25
26
3
1
1
2
1
1
4
1
1
1
1
2
1
27
28
29
1
3
1
4
3
2
3
1
1
1
2
2
4
4
1
30
1
2
31
1
1
2
1
2
1
1
32
4
2
1
1
1
3
1
1
2
1
33
1
1
2
1
34
1
1
1
1
1
1
1
2
1
1
1
1
35
1
1
2
36
37
1
1
1
2
2
2
2
38
2
5
1
1
2
4
1
1
1
1
1
39
40
2
4
1
2
2
2
1
2
4
1
41
42
3
1
1
1
1
1
2
1
1
1
1
43
44
1
1
1
45
1
2
1
1
2
2
2
1
1
46
1
1
1
1
Obs: a observação não se encerrou no 24º dia; a produção das tabelas é que foi vinculada às fases
de extrema ocupação da repartição. A partir do 25º dia de visita, a Repartição A se encontrava
com menos funcionários, o que possibilitou que a observação das interações fosse suficiente para a
pesquisa, sem a necessidade de contabilizar a sua quantidade numa tabela.
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