Nessa pespectiva, continuamos com a análise da segunda estrofe, na qual
observamos explicitamente a figura da mulher amada. Nessa, notamos que a natureza é
citada como um recurso para trazer de volta o que foi perdido, com toda a sua dinâmica de
ciclos, e eterna sucessão de fenômenos: “ A volta do que foi perdido encontra suporte na
dinâmica da natureza, mecanismo alentador para a elaboração do luto. Nela, perdas e
conquistas se sucedem na multiplicidade de formas, cores, cheiros e movimentos”
(Rosenbaum,1993,p.195-196).Assim,temos imagens da natureza que traduzem a densidade
da perda, como o barco que navega no rio, com os “ vergers fleuris” de sua margem ficando
para trás e na memória do jovem “ Or des vergers fleuris se figeaient en arrière” (V.5)
O tema da passagem perdura na estrofe, pois estando as pétalas caídas das cerejeiras de
maio associadas à lembrança da amada, compreendemos que a metáfora representa o ciclo
das estações, como conseqüência do inexorável processo do fluir do tempo, “Les pétales
tombes des cerisiers de mai”, “ Sont les ongles de celle que j’ai tant aimée” (V.6-7). Assim,
as pétalas das flores são associadas às unhas e às pálpebras da mulher amada, não indicando
mais o desabrochar da vida, a beleza no que tange o mais alto grau de sua frescura e viço,
estando agora “flétris”, murchas ou mortas, fazendo alusão aos ciclos da existência de todas
as coisas, “Les pétales flétris sont comme ses paupières” (V.8).
Considerando o que foi exposto, partimos para a estrofe de “Mai”, que como nas duas
primeiras, apresenta imagens representativas da passagem. Nessa, observamos dois cortejos,
de um circo local, que caminham co esforço e lentidão, movimento exemplificado por meio
dos dois alexandrinos (4-5-3//2-2-2-6), além da extensão da estrofe, que é de cinco versos,
um quinteto, em contrapartida com as outras três, de quatro versos, quadras: “ Un ours un
singe un chien menés par des tziganes”, “ Suivaient une roulotte trainée par un âne” (V.10-
11). Esse primeiro cortejo, que às margens do rio, caminha lentamente, dá-nos a impressão de
sucessão do tempo, pois além do curso ininterrupto do Rhin, como cenário, os animais são
guiados por ciganos, personagens que, já de antemão, indicam constante mudança. Indivíduos
de um povo nômade, que vive de ler a sorte e do artesanato, e sobretudo, de vida incerta, sem
fixar raízes em um determinado lugar. Esses, com a leitura da sorte, jogam com o tempo que
passa, procurando retê-lo, unindo passado, presente e futuro.
Ainda, temos o segundo cortejo, a única referência alegre do poema, mas
representado como algo que se distancia: “Tandis que s’éloignait dans les vignes rhénanes”,
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