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Essa discussão ultrapassou a fronteira decisória técnica, conforme
menciona Cyro Lyra sobre a adesão à restauração do Paço também por um
grupo da sociedade:
já no início dos trabalhos, alguns pronunciamentos de pessoas
representativas da comunidade refletiram uma posição
apriorística em favor da conservação da fisionomia
arquitetônica neocolonial, resultante da reforma levada a
efeito, no final da década dos vinte, pelos Correios e Telégrafos,
em nome da tese de incorporação ao monumento de todas as
etapas de sua história. (LYRA, 1984, p. 152).
A tendência desse grupo pela preservação do neocolonial foi, por
outro lado, explicada por Glauco Campello, sublinhando as conseqüências
arquitetônicas da permanência de um estilo em detrimento do outro:
preservar, no caso, seria manter a intervenção neocolonial. Ela
não se limitara à uniformização do volume, mas alterara os
espaços, recobrira os adornos de pedra, substituíra o telhado e
a estrutura de piso. O arcabouço de pedra e cal do período
colonial fora, no entanto, resguardado. Portanto, estavam ali os
muitos edifícios que o Paço já fora, ou pelo menos grande parte
deles, escondidos, impedidos de se expressar. Preservar, aí, seria
privilegiar uma única intervenção. E não era aquela justamente
a mais enganosa? (CAMPELLO, 1984, p. 143).
Nessa explicação, Glauco Campello claramente registra sua
preferência pela permanência da imagem barroca, representada na
iconografia da primeira metade do século XIX, assumindo-a como aquela
que, segundo os modernos, caracterizaria a tradição nacional e de interesse
cultural:
Os trabalhos preliminares de limpeza, compreendendo a
remoção de materiais em mau estado, a realização de
prospecções nas paredes, pisos e tetos, bem como a análise da
documentação iconográfica puseram em xeque a tese inicial
de uma simples conservação. À medida que se aprofundava o
conhecimento a respeito do monumento, a presença do antigo
Paço se impunha. Comparando as descobertas dos
testemunhos construtivos das obras executadas, do século XVIII
ao XX, com as referências iconográficas, chegou-se à
conclusão que, sob a vestimenta neocolonial de 29, sobrevivia,
ainda que totalmente camuflada, uma arquitetura monumental
de maior interesse cultural. (CAMPELLO,1984, p. 153). (Fig. 3.12)