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(D):
Olha, propriamente, não. Porque quando terminavam os três anos de escolas
isoladas e no caso das escolas reunidas da Fazenda Amália, essas crianças que
venciam a terceira série pegaram o ‘trenzinho’ no ramal e vinha até a Estação, e
traziam esses alunos para cursar a quarta série já no Grupo Escolar daqui,
porque lá só havia 1º, 2º e 3º séries, então...
(P):
Até 1942 não surge então 1º, 2º ,3º e 4º séries em Amália, somente até 3º série?
(D):
Somente até 3º série. A 4º série eles vinham pra cá (geralmente no período da
manhã) e com uma faixa etária bastante elevada, porque geralmente o trabalho
na roça aproveitava o trabalho infantil, e eles iam para a escola não só com sete
anos, iam com oito, nove, dez,..
(P):
Fora de idade escolar?
(D)
Fora de idade escolar. Isso. E não havia assim, uma obrigatoriedade nenhuma
vigilância que pudesse coibir que aos sete anos a criança fosse matriculada na
sua vez. Então, eles vinham pelo trenzinho, desciam na estação, o porteiro ai
buscá-los, trazia em filas até à escola, e depois levava sempre quinze minutos,
vinte minutos...
(P) De alguma forma os ensinamentos inculcados nas crianças naquele período
têm reflexos hoje no padrão cultural que a cidade de Santa Rosa preserva?
(D)
Eu creio que não. Nem sei se é necessário gravar essa parte, mas que o ensino,
perdeu muito do seu entusiasmo, perdeu muito daquele status, (...) primeiro lugar
o professor/diretor era uma pessoa grata, tinha um conceito elevado, recebia
bem, vestia-se dignamente com paletó e gravata, tanto para aula, como para fora
dos estabelecimentos educacionais tinha àquele status, e isso foi caindo, porque
você vê, os homens hoje não sustenta uma família com mulher e uma ou duas
crianças, pelo ordenado que o Estado está pagando ao professor. Então essa
parte diminuiu muito, e chega a um ponto da gente pensar que: será que o
professor atual (com o perdão de uma idéia particular) está trabalhando só pelo
quanto que recebe? Fica ai uma interrogação. Porquê quem recebe bem tem a
obrigação de trabalhar bem, produzir muito, e com àquele entusiasmo que
elevava o professor, não é? Nós chegávamos aqui (por exemplo) em épocas de
festas assim, ou fora de disso, mantínhamos um bom orfeu escolar, minha esposa
tocava piano, minha filha depois se formou, também trabalhou comigo, já com 5ª
e 8ª, mas então apostos, todos uniformizados, com partitura nas mãos, tínhamos
também a fanfarra, que depois chegou a ser a banda marcial, porque já contava
com trombone, marimba, trompete, balizas e tudo, e isso tudo a gente fazia,
porque a gente nem pensava (tanto eu como os professores), nem pensava no
horário, e a gente trabalhava dez, doze horas, nos ensaios da banda marcial, e
levava o professor de educação física para a formação correta, passo certo,
alinhamento, distância, tudo..., fora do currículo escolar, obrigação era uma coisa,
entusiasmo era outra (geralmente à noite, porque conseguimos também a
iluminação das quadras que de primeiro era de terra, mas conseguimos as
quadras, depois a iluminação das quadras, fizemos pedidos políticos até
conseguir, então aí muitas melhorias. Estávamos ali para bem servir, porque se