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Características do pensamento tradicional, com forte influência do
pensamento grego que foi mantido no decorrer da história e que ainda se
faz presente na sociedade contemporânea, é a criação de linguagem
dicotômica pela qual o humano é percebido, tratado, educado. Esse
paradigma antropológico opõe natureza à cultura, fragmenta o humano
em razão-emoção, sujeito-objeto, academicismo-objetividade, corpo-alma,
matéria-espírito, masculino-feminino, hemisférios cerebrais direito-
esquerdo e o conhecimento a partir de identidade e da não identidade.
(BAGGIO, ORTH, 1999, P.26)
E, ainda, Baggio e Orth (1999, p.4), apontam implicações para
quem não consegue ver além da dicotomia.“O nefasto desse tipo de compreensão
está na distinção, por vezes oposição, lançada sob aspectos indissociáveis, assim
como a limitação, que toda a polarização traz, por ignorar tantos outros elementos
intermediários ou distintos que compõem a vida.”
Também a vida diária, conseqüentemente, é contaminada pela
lógica binária criando problemas de oposição tais como: pai/filho, homem/mulher,
criança/adulto, etc. Toda essa série de dicotomias está relacionada à linearidade
verbal (início, meio e fim). A linearidade deu cunho físico concreto sob a forma de
dígitos àquilo que o mundo do conhecimento já organizava de modo abstrato, ou
seja, dígitos seqüenciais que devem ser lidos um após o outro, obrigatoriamente, o
que solidifica essa noção. Cada membro, após ser lido é, simplesmente,
abandonado em função do subseqüente.
Morin (2001b, p.25) afirma:
O regresso ao começo não é um círculo vicioso se a viagem, como hoje a
palavra trip indica, significa experiência, donde se volta mudado. Então,
talvez, tenhamos podido aprender a aprender aprendendo. Então, o
círculo terá podido transformar-se numa espiral onde o regresso ao
começo é, precisamente, aquilo que se afasta do começo.
Reforça-se, portanto, a idéia de que a linearidade favorece a noção
de conhecimento acumulado e quantitativo ao invés de oferecer possibilidades de
relações complexas. Para Morin (2001b, p.08), a palavra complexidade lembra
problema, e não solução. Não é utilizada para designar idéias simples, nem
tampouco se reduz a uma única linha ou vertente do pensamento. Pensamento
complexo é aquele capaz de considerar todas as influências recebidas: internas e
externas. O pensamento complexo não pode ser linear. A complexidade integra os
modos simplificadores do pensar e nega os resultados mutiladores, unidimensionais
e reducionistas.