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REGIANE REGINA RIBEIRO
A UTILIZAÇÃO DE PROCESSOS MIDIÁTICOS NA ESCOLA:
Um Olhar Redimensionador na Interface Comunicação-Educação
“O Programa Veja na Sala de Aula”
DOUTORADO EM COMUNICAÇÃO E SEMIÓTICA
PUC-SP
2007
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2
REGIANE REGINA RIBEIRO
A UTILIZAÇÃO DE PROCESSOS MIDIÁTICOS NA ESCOLA:
Um Olhar Redimensionador na Interface Comunicação-Educação
“O Programa Veja na Sala de Aula”
Tese apresentada à Banca Examinadora da
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
como exigência parcial para obtenção do título
de Doutor em Comunicação e Semiótica Signo
e Significação nas Mídias sob a Orientação do
Prof. Doutor José Amalio de Branco Pinheiro.
São Paulo
2007
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3
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos
e científicos, a reprodução total ou parcial desta
tese por processos fotocopiadores ou
eletrônicos.
Assinatura_____________________________
Local e data____________________________
4
DATA ____/____/______
BANCA EXAMINADORA
____________________________________________
Orientador Doutor Amálio Pinheiro
__________________________________________________
Profa. Doutora Cecília Almeida Salles
__________________________________________________
Profa. Doutor Miguel Luis Contani
Prof. Doutor Renato Martins
__________________________________________________
Prof. Doutor Lourenço Zancanaro
5
Ao João Pedro
Minha estrela guia.
6
“A finalidade da nossa escola é ensinar a
repensar o pensamento, a “des-saber” o
sabido e a duvidar de sua própria dúvida;
esta é a única maneira de começar a
acreditar em alguma coisa
Juan de Mairena
7
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Dr. Amalio Pinheiro, pela competência com que me apontou o caminho a
seguir, pela paciência e apoio em todo o trabalho.
Ao Sr. Marcelo Alencar, editor chefe do Programa Veja na Sala de Aula, pelo tempo
dedicado e disponibilização das informações necessárias para a realização da
pesquisa.
À Profa. Dra. Elsa de Lourdes Furtado, pela correção gramatical do texto e por estar
sempre pronta a me ajudar em todos os momentos.
A Profa. Dr. Cecília Almeida Salles e Prof. Dr. Miguel Contani, leitores críticos e
atentos, cujas considerações foram fundamentais para a realização deste trabalho.
Ao Prof. e amigo Hugo José do Nascimento, pelo cuidado, atenção e competência
na inserção das imagens apresentadas na pesquisa.
Á Nadi, pela amizade, colaboração e otimismo constante, sempre me impulsionando
a acreditar em meus sonhos.
Ao Fernando, por ter sido meu grande motivador e ter me possibilitado conquistar
tudo que hoje tenho de maior valor.
Ao Fabio pelo carinho, compreensão e afeto.
Á todos, que com boa intenção, colaboraram para realização e finalização deste
trabalho.
8
LISTA DE QUADROS
Quadro 1. Tipos de Perspectivas da escola........................................................66
Quadro 2. Estrutura analítica: uma ferramenta para analisar as interações e a
produção de significados da mídia impressa ......................................................132
Quadro 3. Intenções Comunicativas no Ambiente de Sala de Aula ..................134
Quadro 4. Quatro classes de ações comunicativas...........................................135
Quadro 5. Perspectivas da Escola ....................................................................136
9
LISTA DE FIGURAS
Figura 1. Capa Guia do Professor, Edição 1995 de 14/02/2007 .......................106
Figura 2. Capa Guia do Professor, Edição 1950 de 05/03/2006 .......................107
Figura 3. Exemplo de Plano de aula inserido nas três divisões propostas
pelos Parâmetros Curriculares do Ensino Médio e disciplina. Tópico dos
Parâmetros Curriculares (Ciências Humanas e suas Tecnologias) e o viés
(Filosofia) ...........................................................................................................108
Figura 4. Exemplo de Plano de aula inserido nas três divisões propostas
pelos Parâmetros Curriculares do Ensino Médio e disciplina. Tópico dos
Parâmetros Curriculares (Ciências da Natureza, Matemática e suas
Tecnologias) e o viés (Biologia) ..........................................................................108
Figura 5. Exemplo de Plano de aula inserido nas três divisões propostas
pelos Parâmetros Curriculares do Ensino Médio e disciplina. Tópico dos
Parâmetros Curriculares (Linguagem e Códigos e suas Tecnologias) e o viés
(Arte) ...........................................................................................................109
Figura 6. Exemplo de Plano de Aula Interdisciplinar – História e Literatura......109
Figura 7. Exemplo de Plano de Aula Interdisciplinar – Biologia e Geografia.....109
Figura 8. Exemplo de seção do Guia destinado a professores. Coordenação
Pedagógica .........................................................................................................110
Figura 9. Exemplo de quadros de indicação de conteúdos, habilidades e
tempo de aula......................................................................................................111
Figura 10.Exemplo de subtítulo motivador nos Planos de Aula..........................111
Figura 11.Exemplo de subtítulo motivador nos Planos de Aula..........................113
Figura 12.Exemplo de subtítulo motivador nos Planos de Aula .........................114
Figura 13.Exemplo de subseção “Para Debater”................................................116
Figura 14.Exemplo de subseção “Para seus alunos”.........................................117
10
Figura 15.Exemplo de subseção “Para seus alunos”.........................................118
Figura 16.Exemplo de subseção “Para saber mais”...........................................119
Figura 17.Exemplo de subseção “Para ir mais longe”........................................119
Figura 18.Exemplo de subseção “Para saber mais”...........................................120
Figura 19.Exemplo de subseção “Para ir mais longe”........................................121
Figura 20.Exemplo de subseção “Para você professor”.....................................121
Figura 21.Exemplo de subseção “Para você professor”.....................................122
Figura 22.Exemplo de subseção “Para pesquisar”.............................................123
Figura 23.Exemplo de Infográfico.......................................................................125
Figura 24.Exemplo de Infográfico.......................................................................126
Figura 25.Exemplo de Infográfico.......................................................................127
Figura 26.Exemplo de fotografias.......................................................................128
Figura 27.Exemplo de fotografias.......................................................................129
Figura 28.Exemplo de fotografia.........................................................................130
Figura 29.Exemplo de capa com destaque para a imagem e chamada para o
plano de aula principal ........................................................................................142
Figura 30.Exemplo de capa com destaque para a imagem e chamada para o
plano de aula principal ........................................................................................143
Figura 31.Exemplo de capa com destaque para a imagem e chamada para o
plano de aula principal ........................................................................................144
Figura 32.Exemplo em destaque do quadro de indicação dos demais planos
de aula ...........................................................................................................146
Figura 33.Exemplo de quadros de indicação de conteúdos, habilidades e
tempo de aula......................................................................................................149
11
Figura 34.Exemplo de introdução para aplicação dos planos de aula.
Subseções “Preparação da Aula” e “Para começo de conversa”........................151
Figura 35.Exemplo de introdução para aplicação dos planos de aula.
Subseções “Preparação da Aula” e “Para começo de conversa”........................153
Figura 36.Exemplo de introdução para aplicação dos planos de aula.
Subseções “Preparação da Aula” e “Para começo de conversa”........................155
Figura 37.Exemplo de atividades propostas nos planos de aula........................157
Figura 38.Exemplo de atividades propostas nos planos de aula........................158
Figura 39.Exemplo de atividades propostas nos planos de aula........................159
Figura 40.Exemplo de atividades propostas nos planos de aula........................161
Figura 41.Exemplo de inserção de elementos culturais nos planos de aula ......163
Figura 42.Exemplo de inserção de elementos culturais nos planos de aula ......164
Figura 43.Exemplo de inserção de elementos culturais nos planos de aula ......165
Figura 44.Exemplo de conteúdos relacionados ao plano de aula com
utilização de signos comuns repertório dos alunos.............................................166
Figura 45.Exemplo de conteúdos relacionados ao plano de aula com
utilização de signos comuns repertório dos alunos.............................................167
Figura 46.Exemplo de conteúdos relacionados ao plano de aula com
utilização de signos comuns repertório dos alunos.............................................168
Figura 47.Exemplo de inserção de conteúdos complementares. “Para ir mais
longe” ...........................................................................................................170
Figura 48.Exemplo de inserção de conteúdos complementares. “Para saber
mais” ...........................................................................................................171
Figura 49.Exemplo de inserção de conteúdos complementares. “Para saber
mais” ...........................................................................................................172
12
Figura 50. Exemplo de inserção de conteúdos complementares. “Veja
também” ...........................................................................................................173
Figura 51. Exemplo de plano de aula interdisciplinar.........................................176
Figura 52. Exemplo de plano de aula interdisciplinar.........................................177
Figura 53. Exemplo de plano de aula interdisciplinar.........................................178
Figura 54. Exemplo de plano de aula multidisciplinar.........................................179
Figura 55. Exemplo de plano de aula multidisciplinar.........................................180
Figura 56. Exemplo de plano de aula multidisciplinar.........................................181
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................
.......
1. COMUNICAÇÃO E ESCOLA: SISTEMAS COMPLEXOS............................22
2. DIVERSIDADE CULTURAL, ESCOLA E COMUNICAÇÃO .........................34
3. COMUNICAÇÃO DIALÓGICA................................
.........................
4. ASPECTOS EVOLUTIVOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL...........................71
4.1 DEBATES E ENSAIOS DO FIM DO IMPÉRIO................................
............
4.2 A ESCOLA PRIMÁRIA E A REPÚBLICA................................
................
4.3 UMA NOVA FILOSOFIA DA EXPERIÊNCIA E DO CONHECIMENTO .......77
4.4 O CURRÍCULO NA DÉCADA DE 1950 ................................
.................
4.5 O MANIFESTO DOS PIONEIROS DA EDUCAÇÃO NOVA E SUA
INFLUENCIA NA ORGANIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO BÁSICA...........................82
13
4.6 A LEI 5.692 – A REFORMA DO ENSINO DE PRIMEIRO E SEGUNDO
GRAU.................................................................................................................83
4.7 ORGANIZAÇÃO DO CURRÍCULO DO PRIMEIRO E DO SEGUNDO
GRAUS ..............................................................................................................86
4.8 A NOVA LEI DE DIRETRIZES E BASES DA EDUCAÇÃO NACIONAL – LEI
Nº 9.394 DE 20-12-1996....................................................................................89
4.9 O ENSINO MÉDIO................................................................
5. O PROJETO VEJA NA SALA DE AULA................................
.................
5. 1. DESCRITIVO A ESTRUTURA ORGANIZACIONAL DO GUIA DO
PROFESSOR...................................................................................................100
5.1.1 Capa ................................................................
...........
5.2.2. Contracapa e páginas internas................................
.......................
5.1.3. Outras ações didáticas propostas pelo guia..........................................
111
6. A AÇÃO COMUNICATIVA DO GUIA DO PROFESSOR............................127
6.1 A ESTRUTURA ANALÍTICA................................
...........................
6.1.1 Intenções do Guia ................................................................
6.1.2 Ação Comunicativa ................................
................................
6.2 A CAPA................................................................
...........
6.3 OS PLANOS DE AULA................................
...............................
CONSIDERAÇÕES FINAIS................................
..............................
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ................................
.......................
ANEXOS................................................................
.............
Anexo 1 – Edições Completas do Suplemento Guia do Professor.................. 191
Ribeiro, Regiane Regina. A utilização de processos midiáticos na escola: um
olhar redimendionador na interface comunicação-educação. O Programa “Veja na
Sala de Aula” 2007. 1965 f. Tese (Doutorado em Comunicação e Semiótica) –
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, São Paulo-SP
RESUMO
Essa tese de doutoramento continuidade aos estudos realizados no mestrado,
agora com busca direcionada a descobertas sobre como uma produção midíática
pode influenciar uma experiência de aprendizagem. Deve-se ressaltar que, embora
voltado para o ambiente de sala de aula, não se trata de um projeto de educação.
Pretende-se analisar a importância da ação comunicativa como estratégia no
desenvolvimento de habilidades e competências no processo educacional. Em um
primeiro momento, analisou-se a comunicação em sala de aula e pôde-se verificar
que, na maioria das vezes, essa comunicação apresentava características muito
14
prejudiciais ou mesmo retardadoras para o aprendizado: simplificação excessiva da
comunicação, ausência de elementos culturais, modelo linear e caráter mecanicista.
Nesse sentido, a pesquisa busca analisar as ações comunicativas e relacioná-las
com as características citadas anteriormente. Tendo como objeto de estudo o
Programa Veja na Sala de Aula uma parceria entre a Editora Abril e Fundação Vitor
Civita cujo intuito é levar os fatos do Brasil e do Mundo, através da mídia impressa,
para a escola. A tese pretendeu discorrer sobre a importância da inserção de mídias
no ambiente da sala de aula, propondo uma análise crítica sobre os conteúdos do
suplemento GUIA DO PROFESSOR, veículo de comunicação dirigida produzido por
educadores brasileiros que avaliam textos da revista Veja e os transformam em
atividades de aula sintonizadas com as novas correntes pedagógicas em todas as
disciplinas propostas pela grade curricular do Ensino Médio. O Guia apresenta,
ainda, exercícios, temas para debates, textos de apoio e experiências, além de
sugestões de bibliografia, filmografia e sites. Para desenvolvimento da análise foram
utilizadas teorias relacionadas à interface Comunicação/Educação, abordando
conceitos de Complexidade, Dialogismo e Diversidade Cultural presentes nas obras
de autores como BAKTHIN, MORIN, FREIRE, PINHEIRO, CANCLINI , BARBERO,
entre outros.
A análise apresentada no final da pesquisa permite concluir que a premissa inicial do
estudo confirmou-se: a introdução de mídias não convencionais para uso didático
nas escolas constitui valioso instrumental para auxiliar o processo de aprendizagem,
pois, se usada corretamente, aumenta a complexidade da comunicação e promove
maior contato com a diversidade e elementos externos ao ambiente escolar. Além
disso, facilita a atuação do professor, principalmente aqueles que, por diferentes
motivos, não dispõem de tempo ou condições para reciclar seu desempenho
profissional.
Palavras- chave: Mídia, Comunicação, Cultura, Escola, Complexidade e Dialogismo.
Ribeiro, Regiane Regina. The use of mediatic processes at school. A
redimensional look in the interface communication-education. The Programme “Veja
na Sala de Aula” (Veja in the Classroom) 2007 1965 f. Thesis (Doctorate in
Communication and Semiotics) Pontifícia Universidade Católica de São Paulo,
São Paulo - SP.
ABSTRACT
This doctoral thesis gives continuity to the studies done in the masters, now with a
directed search to discoveries about how a mediatic production can influence a
learning experience. It should be highlighted that, although focused on the
classroom environment, it is not an educational project. We intend to analyse the
importance of the communicative action as an strategy in the development of
abilities and competences in the educational process. At first, communication in the
classroom was analysed and we could notice that, most of the time this
communication showed characteristics which were very harmful or even straggling
15
to the learning process: excessive simplification of the communication, lack of
cultural elements, a linear model and a mechanicist character. Thus, this research
aims to analyse the communicative actions and relate them to the characteristics
mentioned previously and its objective is to study the Programme Veja na Sala de
Aula (Veja in the classroom), a partnership between the Publisher Abril and the
Fundação Vitor Civita (Foundation Vitor Civita), whose aim is to take to the
classroom what has been happening in Brazil and in the world through the printed
media. The thesis intended to present the importance of the media’s inclusion in the
classroom environment by offering a critical analyses of the contents of the
supplement “Guia do Professor” (The Teacher’s Guide), a means of communication
written by Brazilian educators, that evaluates texts from Veja Magazine and
transform them into classroom activities synchronized with the new pedagogical
currents in all the subjects proposed by the High School syllabus. The Guide, not
only presents exercises, themes for debates, supporting texts and experiences, but
also bibliographical suggestions, filmstrips and sites. For the development of the
analysis theories related to the interface Communication-Education have been used
approaching concepts of Complexity, Dialogism and Cultural Diversity present in the
work of authors such as BAKTHIN, MORIN, FREIRE, PINHEIRO, CANCLINI,
BARBERO among others. The analysis presented at the end of the research allows
us to conclude that the initial premise of the study has been confirmed: the
introduction of unconventional media at schools for didactic use is a priceless
instrument to aid the learning process, because, if correctly used, it increases the
complexity of communication and promotes more contact with diversity and with
external elements to the school environment. Moreover, it helps facilitate the
teacher’s performance, mainly of those who, for different reasons, don’t have either
the time or the conditions to recycle his or her professional performance.
Key-words: Media, Communication, Culture, School., Complexity and Dialogism.
INTRODUÇÃO
Essa pesquisa continuidade aos estudos realizados no
mestrado, agora com um sentido de busca mais direcionado para descobertas a
respeito de como uma produção midiática pode influenciar uma experiência de
aprendizagem. Ressalte-se que, embora voltado para o ambiente de sala de aula,
não se trata de um estudo na área de educação, mas focalizar a mídia construída
para uma determinada finalidade. Trata-se, portanto, de um estudo sobre mídia
aplicada.
16
Entende-se que a experiência da comunicação humana e,
conseqüentemente, a educação são mediadas pelas mídias: instâncias produtoras e
receptoras, que rodeiam e comprometem as interlocuções e circulam nos cenários
amplos e restritos da contemporaneidade. Tais processos midiáticos expressam com
“autoridade” a atualização cotidiana, vivências políticas, econômicas, históricas,
sociológicas e psicológicas uma vez que ocupam um lugar na base (auto-atribuída)
das complexas interlocuções entre sujeitos.
Como docente do ensino superior, com graduação em
Comunicação Social e titular de disciplinas que envolvem a aquisição de hábitos e o
desenvolvimento de competências, a autora tem constatado a importância de buscar
soluções para a questão hoje amplamente discutida no sistema educacional como
um todo ou seja, a importância de ajustar a comunicação ao processo de
construção de competências e habilidades em alunos de graduação. Há, no entanto,
necessidade de se tratar a questão com a devida antecedência, ou seja, é
indispensável que esse ajuste comece a se processar e se consolidar nos níveis
anteriores.
Por implicar no estudo inter-relacional entre comunicação,
educação e mídia, o presente objeto de estudo configura a necessidade de um
entendimento entre esses elementos. Assim, os professores, principais responsáveis
pela construção do ato comunicativo nas salas de aula, ao focalizarem a
necessidade de aquisição de competências e habilidades na comunicação tendem a
17
buscar alternativas no aperfeiçoamento puramente lingüístico, limitando suas
propostas ao domínio da habilidade de expressão. Decorrido um razoável espaço de
tempo, os resultados acabam por revelar-se tímidos e os efeitos pouco perceptíveis,
talvez pela ausência do emprego de recursos que ultrapassem o limite da linguagem
oral e escrita entre emissor (professor) e receptor (aluno).
Para Vianna (1996), alunos e professores precisam adquirir o hábito
da análise, da crítica e da contestação, não apenas para contestar, mas para reunir
argumentos que demonstrem os diversos aspectos favoráveis e contrários à
questão focalizada dos processos comunicativos. E a mídia é um suporte
importante nessa trilha cognitiva.
Os padrões de vida dos jovens mudaram, enquanto os da escola,
não. São dois mundos separados. Os meios de comunicação estão totalmente
presentes na vida dos jovens, enquanto a escola ainda se mantém, muitas vezes,
fiel a modelos pedagógicos e padrões sociais superados. Por isso, os jovens não
têm interesse na escola. Por isso, a escola não é mais capaz de responder às
necessidades da juventude e encontra dificuldades em formar para o mercado de
trabalho e preparar para a vida. Nesse modelo tradicionalista de escola, só há
espaço para a reprodução automática de conteúdos, existe pouca ou nenhuma
integração entre professor, aluno e disciplinas. Assim, o uso da comunicação na
educação surge como uma alternativa capaz de oferecer aos jovens as chaves para
a compreensão e o domínio do mundo contemporâneo, porque oferecem acesso a
meios, conhecimentos e linguagens que vão propiciar o desenvolvimento pleno de
seus potenciais como pessoas, trabalhadores e cidadãos.
Propor a educação a partir de inserções de outras mídias que não
as tradicionais utilizadas na escola requer maleabilidade nos pontos de vista. Isso
implica não propor uma análise crítica sobre seus conteúdos, mas igualmente
utilizar parte dos mesmos como fonte de aprendizado. O aprendizado que ultrapassa
o ambiente escolar transforma emoções em reflexões e o prazer em uma
oportunidade a mais para desenvolver a análise crítica.
18
Assim, a utilização de recursos tais como filmes, músicas,
desenhos, fotografias, mapas, símbolos, slogans, propagandas, logotipos e outras
possibilidades difundidas pela indústria cultural não pode ser considerada apenas
mera estratégia que permite aulas mais prazerosas. Usar essas fontes somente com
esse objetivo é inadequado e pode até mesmo frustrar alguns professores em caso
de insucesso, já que é preciso ter metas bem definidas. O uso de outras mídias deve
promover a comunicação a partir de questões problematizadoras que permitam a
ampliação do interesse dos alunos em pesquisas a serem desenvolvidas
posteriormente.
Reitera-se que, embora o problema se localize campo da
Educação, sua solução, na realidade, esta mais relacionada à compreensão do
processo de comunicação e à utilização de mídias como recurso, para se entender e
adequar à linguagem no ato comunicativo entre professor e aluno.
A autora, na dissertação de mestrado, analisou a comunicação em
sala de aula e em suas reflexões pôde verificar que, na maioria das vezes, essa
comunicação apresentava quatro características retardadoras ou muito prejudiciais
ao ensino de habilidades e competências comunicativas: simplificação excessiva da
comunicação, relações lineares, mecanicistas e autoritárias, ausência de elementos
culturais e a não predominância da diversidade e da complexidade.
A escolha do Programa VEJA NA SALA DE AULA – GUIA DO
PROFESSOR representa um direcionamento de pesquisa para descobertas do
ponto de vista dos processos psicossociais nas mídias. Trata-se de uma parceria
entre a Editora Abril e Fundação Vitor Civita que pretende levar os fatos do Brasil e
do Mundo para dentro da sala de aula. De acordo com Guiomar Namo de Mello,
diretora executiva da Fundação Vitor Civita e membro do Conselho Nacional de
Educação, o objetivo é “contribuir para a formação de cidadãos capazes de
acompanhar as mudanças de seu tempo, conhecer e interpretar os problemas do
mundo em que vivem e ajudar a fazer a história do país. O maior mérito de Veja na
Sala de Aula é ir ao encontro das transformações preconizadas pelas Diretrizes
Curriculares Nacionais do Ensino Médio.”
19
Para que tal objetivo se concretize, as escolas assinam o programa
e recebem 14 exemplares da revista VEJA e 10 GUIAS DO PROFESSOR, e
também passam a ter acesso a um site exclusivo para professor, com uma aula on-
line extra, toda semana, um banco de dados atualizado semanalmente por
disciplina, notícias e atividades criadas especialmente para os assinantes.
Num primeiro momento, e aqui se define o recorte do estudo,
direciona-se a análise apenas para o suplemento GUIA DO PROFESSOR, que é um
veículo de comunicação dirigida produzido por educadores brasileiros que avaliam
textos da revista Veja e o transformam em atividades de aula sintonizadas com as
novas correntes pedagógicas em todas as disciplinas propostas pela grade curricular
do Ensino Médio. O guia apresenta, ainda, exercícios, temas para debates, textos de
apoio e experiências, além de sugestões de bibliografia, filmografia e sites.
Nesse contexto, o desafio é descobrir, através da intenção
comunicativa do GUIA DO PROFESSOR, como se a interação na transmissão
da(s) mensagem(ns) identificando o quanto elas proporcionam possibilidades de
rompimento do modelo tradicional de aprendizagem, inserindo elementos da cultura,
diminuindo a linearidade e o caráter mecanicista e, conseqüentemente, tornando a
comunicação mais complexa.
Sabe-se que o processo de produção e adequação de linguagens
não pode ser dissociado de uma atividade interacionista. Uma primeira e básica
distinção que se pode fazer entre as linguagens é a sua divisão em verbais e não-
verbais. Entre as primeiras, podem-se distinguir a fala e a escrita. A conexão entre
ambas torna-se crítica, no ambiente escolar, a partir de um problema: quando o
aluno consegue (com grande dificuldade) realizar uma, tende a não conseguir
efetuar a outra.
Daí o interesse deste trabalho em estabelecer uma reflexão sobre
comunicação e, conseqüentemente, uma reflexão sobre sua adequação a partir da
utilização de uma mídia. É este ponto que motiva, neste estudo, a realização de uma
análise na ação comunicativa do guia por meio de diferentes linguagens,
identificando se essas promovem a interação e o diálogo entre os agentes sociais
que se comunicam e se inter-relacionam.
20
Parte-se da premissa de que essa inter-relação dá-se por meio de
sucessivos ajustes na linguagem para corrigir a comunicação. Assim, esse estudo
pretende analisar e descrever no discurso do Programa Veja na Sala de Aula - GUIA
DO PROFESSOR os fatores que promovem melhorias na competência comunicativa
em sala de aula.
A análise do processo de comunicação será feita a partir da
interface do contexto e da mensagem com o seu sujeito produtor, partindo do
conceito de que
nas interfaces do território das mensagens com o território do sujeito,
situam-se as pesquisas sobre a autonomia ou não do produtor sobre a
sua mensagem, a institucionalização do sujeito na linguagem e etc.
Enquanto na interface do território do contexto com o território do sujeito
produtor pesquisam-se os modos como o sujeito está inserido no contexto
sob aspectos físicos, psicossociais, culturais e temporais. (SANTAELLA
2001, 94 e 95).
Pretende-se, portanto, preencher uma lacuna existente que se
configura como a necessidade de professores e alunos em estabelecer vias de
entendimento que propiciem um intercâmbio de interesses e favoreça,
conseqüentemente, o aprendizado. Apresentadas essas questões como problema,
tem-se a seguinte formulação:
Como se a ação comunicativa do veículo de comunicação Veja
na Sala de Aula Guia do Professor (emissor) enquanto produtor de linguagens
para o professor (receptor) e o quanto essa ferramenta configura um novo modelo
de comunicação na sala de aula?
Com base nas respostas à questão, pretende-se:
Identificar e analisar a ação comunicativa da mídia dirigida
Veja na Sala de Aula GUIA DO PROFESSOR considerando-se
este último como produtor de linguagens e relacionar o quanto
essas linguagens cumprem o papel de promover melhorias na
competência comunicativa.
21
Descrever os modos de relação entre o Guia do Professor e
os aspectos sócio-culturais do Brasil e do mundo.
Partindo dos pressupostos de que:
A ação comunicativa do veículo de comunicação promove um
aumento na capacidade de construção de competências no
professor e, conseqüentemente, no aluno.
A linguagem utilizada pelo veículo tem a preocupação de
inserir elementos sócio-culturais no ambiente escolar.
A estruturação das linguagens está diretamente relacionada
com a melhoria do ato comunicativo na sala de aula.
O capítulo 1 discorrerá sobre a interface educação e comunicação,
no capítulo 2 apresentar-se-ão a problemática da diversidade cultural na escola, no
capítulo 3 abordar-se-ão questões sobre o discurso escolar e dialogismo.
O capítulo 4 faz referência à evolução histórica dos currículos e da
escola no Brasil, o capítulo 5 descreve o objeto de estudo e o capítulo 6 analisa a
intenção e a abordagem do Guia do Professor como recurso de aprendizagem.
22
1. COMUNICAÇÃO E ESCOLA: SISTEMAS COMPLEXOS
A Educação hoje está inserida em um cenário de saberes
separados, fragmentados e compartimentados. Essa “hiperespecialização”, termo
adotado por Morin (2000), é uma especialização fechada em si mesma sem permitir
sua integração em uma problemática global ou em uma concepção de conjunto.
Além disso o retalhamento das disciplinas torna impossível apreender “o que é
tecido junto”, isto é, o complexo, que o sentido verdadeiro nasce das relações
entre os componentes do todo.
Nesse cenário, o grande desafio da escola é entender que o desafio
da globalidade é também um desafio da complexidade. Existe complexidade, de
fato, quando os componentes, que constituem um todo (como o econômico, o
político, o sociológico, o psicológico, o afetivo) são inseparáveis e existe um tecido
interdependente, interativo e inter-retroativo entre as partes e o todo, assim como
entre o todo e as partes.
Efetivamente, a inteligência que sabe separar fragmenta a
complexidade do mundo em partes estanques, fraciona os problemas,
unidimensionaliza o multidimensional, atrofia as possibilidades de compreensão e
reflexão, eliminando assim as oportunidades de um julgamento corretivo ou de uma
visão a longo prazo. De acordo com Morin:
A insuficiência para tratar nossos problemas mais graves constitui um dos
mais graves problemas que enfrentamos. De modo que, quanto mais os
problemas se tornam multidimensionais, maior a incapacidade de pensar
a sua multidimensionalidade, quanto mais à crise progride, mais progride
a incapacidade de pensar a crise, quanto mais planetário tornam-se os
problemas, mais impensáveis eles se tornam. Uma inteligência incapaz
de perceber o contexto e o complexo planetário fica cega, inconsciente e
irresponsável (MORIN, 2001a, p.14)
A fragmentação dos conteúdos não trouxe a divisão do trabalho,
mas também os inconvenientes do confinamento e do despedaçamento do saber,
produzindo o conhecimento e a elucidação, mas também a ignorância e a cegueira.
Percebe-se que o nosso sistema de ensino, ao invés de se
preocupar em resolver essa problemática, obedece a ela. Na escola primária ensina-
se a isolar os objetos, a separar as disciplinas ao invés de reuni-los e integrá-los.
23
Obriga-se o aluno a reduzir o complexo ao simples, isto é, a separar o que está
ligado; a decompor e não a recompor; e a eliminar tudo que cause desordens ou
contradições no processo de aprendizagem.
Em tais condições, os alunos perdem suas aptidões naturais para
contextualizar os saberes e integrá-los em seus conjuntos. Ora, o conhecimento
pertinente é o que contextualiza qualquer informação e, se possível, a insere no
conjunto a que pertence.
Deve-se, pois, pensar o problema do ensino considerando, por um
lado, os efeitos da compartimentação dos saberes e da incapacidade de articulá-los;
e por outro lado, considerar que a aptidão para contextualizar e integrar é uma
qualidade fundamental da mente humana, que precisa ser desenvolvida e não
atrofiada.
Sendo assim, além do desafio da globalização e da complexidade,
não se pode deixar de citar a expansão descontrolada do saber. O crescimento
ininterrupto dos conhecimentos constrói um número gigantesco e discordante de
linguagens. Para Morin (2001b, p. 20), a única forma de se solucionar essa difícil
equação é reformar o pensamento, ou seja, empregar a inteligência para responder
a esses desafios e permitir a ligação de duas culturas dissociadas. O autor propõe
uma reforma paradigmática que torne o aluno apto a reorganizar o pensamento.
Nesse contexto, a educação deve mostrar que não
conhecimento que não esteja, em algum grau, ameaçado pelo erro e pela ilusão.
Assim, toda aprendizagem comporta esse risco e o maior erro seria subestimar o
problema. O conhecimento em forma de palavra, de idéia ou de teoria é o fruto de
uma tradução/reconstrução por meio da linguagem e do pensamento e, por
conseguinte, está sujeito ao erro. Esse conhecimento, ao mesmo tempo tradução e
reconstrução, comporta a interpretação, o que introduz o risco de erro na
subjetividade do conhecedor, de sua visão do mundo e de seus princípios de
conhecimento. A projeção dos medos e desejos de cada um e as perturbações
mentais trazidas pelas emoções multiplicam esses erros.
Na comunicação em sala de aula vê-se nitidamente a presença
dessa equação, pois existem muitas pessoas envolvidas e o processo de
24
tradução/reconstrução torna-se muito mais complexo.. Podem-se classificar esses
erros, de acordo com Morin (2000a p.21)
Erros intelectuais: aqueles que fazem resistir à informação que não
convém ou não se pode assimilar.
Erros mentais: aqueles associados ao imaginário.
Erros da razão: aqueles relacionados à utilização de uma racionalização
(fechada) ao invés de uma racionalidade (aberta).
Existem, ainda, outros elementos influenciadores no processo de
aquisição de conhecimento: os paradigmas, doutrinas e estereótipos que, juntos
determinam o Imprinting Cultural, termo proposto por Konrad Lorenz e adotado por
Morin para dar conta da marca indelével imposta pelas primeiras experiências do
animal recém-nascido. Esse imprinting marca os humanos desde o nascimento,
primeiro com o selo da cultura familiar, posteriormente da escola, da universidade e
da vida profissional.
Percebe-se, portanto, que o ensinar e o aprender apóiam-se numa
polarização desmesurada e excludente. Esses processos baseiam-se em conceitos
opostos como, por exemplo, conhecer/ignorar, inteligente/incapaz, modelo/imitação.
Esse sistema binário mantido por inclusões e exclusões é uma herança
ocidentalizante da Filosofia que reforça o pensamento dicotômico e pertence ao que
se chama, tradicionalmente, de lógica binária.
Entende-se que a dicotomia é um dos paradigmas que apresentam
uma valoração simplificadora que exclui o raciocínio e produz uma reação de
conforto rápido e cômodo em um mundo de complexidade crescente. Assim,
determinar um aprendizado como certo ou errado parece funcionar como barreira
para a dúvida e para a necessidade de pensar.
Morin (2001a) eve que, no reino cosmofísico ou astrofísico ou
quimicofísico, as dicotomias são uma mentira. Por isso, a ciência clássica terminou
reconstruindo, nesse mesmo âmbito, as dicotomias que existem no mundo
ideológico. Kramer (1988, p.75) refere-se à dicotomia afirmando que ela “deixa de
construir o que Bakhtin chama de território social comum dos interlocutores, esteja o
diálogo se dando entre crianças, crianças e adultos ou com livros e demais
produções escritas”.
Baggio e Orth apresentam essa dicotomia como:
25
Características do pensamento tradicional, com forte influência do
pensamento grego que foi mantido no decorrer da história e que ainda se
faz presente na sociedade contemporânea, é a criação de linguagem
dicotômica pela qual o humano é percebido, tratado, educado. Esse
paradigma antropológico opõe natureza à cultura, fragmenta o humano
em razão-emoção, sujeito-objeto, academicismo-objetividade, corpo-alma,
matéria-espírito, masculino-feminino, hemisférios cerebrais direito-
esquerdo e o conhecimento a partir de identidade e da não identidade.
(BAGGIO, ORTH, 1999, P.26)
E, ainda, Baggio e Orth (1999, p.4), apontam implicações para
quem não consegue ver além da dicotomia.“O nefasto desse tipo de compreensão
está na distinção, por vezes oposição, lançada sob aspectos indissociáveis, assim
como a limitação, que toda a polarização traz, por ignorar tantos outros elementos
intermediários ou distintos que compõem a vida.”
Também a vida diária, conseqüentemente, é contaminada pela
lógica binária criando problemas de oposição tais como: pai/filho, homem/mulher,
criança/adulto, etc. Toda essa série de dicotomias está relacionada à linearidade
verbal (início, meio e fim). A linearidade deu cunho físico concreto sob a forma de
dígitos àquilo que o mundo do conhecimento organizava de modo abstrato, ou
seja, dígitos seqüenciais que devem ser lidos um após o outro, obrigatoriamente, o
que solidifica essa noção. Cada membro, após ser lido é, simplesmente,
abandonado em função do subseqüente.
Morin (2001b, p.25) afirma:
O regresso ao começo não é um rculo vicioso se a viagem, como hoje a
palavra trip indica, significa experiência, donde se volta mudado. Então,
talvez, tenhamos podido aprender a aprender aprendendo. Então, o
círculo terá podido transformar-se numa espiral onde o regresso ao
começo é, precisamente, aquilo que se afasta do começo.
Reforça-se, portanto, a idéia de que a linearidade favorece a noção
de conhecimento acumulado e quantitativo ao invés de oferecer possibilidades de
relações complexas. Para Morin (2001b, p.08), a palavra complexidade lembra
problema, e não solução. Não é utilizada para designar idéias simples, nem
tampouco se reduz a uma única linha ou vertente do pensamento. Pensamento
complexo é aquele capaz de considerar todas as influências recebidas: internas e
externas. O pensamento complexo não pode ser linear. A complexidade integra os
modos simplificadores do pensar e nega os resultados mutiladores, unidimensionais
e reducionistas.
26
A dificuldade do pensamento complexo é justamente enfrentar a
confusão, a incerteza, a contradição e, ao mesmo tempo, conviver com a
solidariedade dos fenômenos existentes em si mesmos. Tal qual o humano, que é
um ser complexo, pois concentra fenômenos distintos que influenciam suas ões e
provocam transformações, assim também é o conhecimento.
De acordo com Demo (2002, p.13), o conceito de Complexidade
remete ao conceito já comum de caos estruturado; para ele: “É caótico no sentido de
que seu ser apresenta-se dotado de propriedades não lineares ou de dinâmica
também ambígua/ambivalente. É estruturado porque, na maior desordem, sempre é
possível divisar alguma ordem
Ainda segundo o autor, a complexidade apresenta características
que entendidas facilitam a compreensão do conceito e a sua utilização são elas:
1. DINÂMICA: não pode ser complexo o que não for campo de
forças contrárias, em que eventual estabilidade é sempre rearranjo provisório. A
dinamicidade não deve executar movimentos permanentes, na mesma direção,
como as estruturas sistêmicas, que acentuam as mudanças dentro do sistema se se
fechando em si mesmas, perdendo de vista a mudança.
Assim, segundo Demo:
A ciência, para persistir na sociedade, precisa constituir paradigma, até
porque é condição social de validade. Surgem escolas, representantes
relevantes de teorias; práticas, instituições específicas físicas e virtuais
(institutos, editoras, programas, sites). Assomam-se também seguidores,
discípulos e todos os que acabam vivendo à sombra do paradigma,
tornado, para essa gente, ‘teoria oficial’. Esse lado da estrutura
entretanto, não foge da invasão da dinâmica, também própria do
conhecimento científico: quanto mais paradigmática a escola científica,
menos científica tenderá a ser, ou seja, quanto mais alguém se imagina
‘valer’ em sociedade, menos é capaz de manter essa validade, porque
começa a fazer algo que agride a unidade de contrários: perdendo a visão
crítica e autocrítica, abandona o argumento e refugia-se na auto defesa.
(DEMO 2002, p.03)
Ou seja, todo paradigma científico, enquanto é institucionalmente
defendido, também é institucionalmente corroído pela ação implacável da dinâmica
do tempo. A mediocridade tende a tomar conta da escola, que toda defesa tende
a ser medíocre; ao invés de revelar tanto mais o desafio da inovação, evita-o por
27
medo da mudança. O fechamento institucional, natural na sociedade, não resiste à
corrosão do tempo, o que também não é menos natural.
É preciso observar que a dinâmica indica processo que, a partir de
componentes formalizáveis e controláveis, detém outros estritamente incontroláveis
e não formalizáveis. Dinâmica controlável não é dinâmica propriamente, pois se
restringe a rotas previsíveis. Rota propriamente criativa é aquela que avança no
imprevisível, a dinâmica implica o desconhecido necessária e intrinsecamente.
2. NÃO-LINEAR: a o-linearidade implica muito mais que
emaranhados, labirintos e complicações, onde se pode ver processos que se
complicam, mas não se complexificam. Multiplicidade de coisas não faz
complexidade necessariamente, até porque o complexo pode provir do simples e
vice-versa. É preciso ultrapassar a noção de simples organização das partes para
uma relação do todo e as partes, feitas ao mesmo tempo de relativa autonomia e
profunda dependência. A não-linearidade implica equilíbrio em desequilíbrio, que
a segurança de algo fechado coincide com a sua morte. Para continuar existindo, é
mister mudar, não apenas mudar linearmente, de modo previsível, tranqüilo,
controlável, mas de modo criativo, surpreendente e arriscado.
No todo complexo convivem estruturas e dinâmicas
desencontradas, como é, por exemplo, o processo de amadurecimento e
envelhecimento, de funcionamento e de fadiga, de vigência e de passagem. Não é
possível resolver essa equação, por que não é uma equação linear e isso fortaleceu
a tendência de assumir a noção de resolver problemas com a proposta de livrar-se
deles. Segue dque o ideal seria a situação sem problemas, marcada pela rotina
tranqüila de todos os dias, um após o outro. Observando-se bem, não problema
maior do que não ter nenhum: realidades mortas, se existissem, seriam assim.
Resolver problemas significaria, primeiro, não cultivar aqueles inúteis, insolúveis,
irrelevantes; e, segundo, fomentar aqueles criativos, que abrem potencialidades de
horizontes novos, energizam e motivam, levando sempre a apreender.
É preciso a visão de resolução de problemas no ambiente escolar,
que tem sido exageradamente linear, uma vez que sentido que se reduz a
horizontes extensos e cumulativos, deixando de perceber o complexo da vida. O
preço de uma autonomia na comunicação escolar é pensar complexamente.
28
3. RECONSTRUTIVA: a natureza o é vista somente como uma
usina sistêmica replicadora, mas como um sistema dinâmico caótico e criativo,
capaz de efetivar e, sobretudo, de criar potencialidades irreversíveis. Marcada pelo
efeito do tempo, tais estruturas dissipativas conseguem produzir processos que,
aparentemente, ultrapassam os pontos de partida e sinalizam dimensões
inovadoras. Tudo é uma questão de codificação e se torna fundamental perceber
seus limites. Assim, seu significado é sempre reconstrutivo. Se se colocar 20
pessoas em torno de uma mesa e contar a primeira uma pequena história, que
contará para a segunda, e assim sucessivamente, constatar-se-á que o relato chega
à última pessoa de modo deturpado, porque foi naturalmente reconstruído nessa
trajetória. Não se consegue reconstruir a história, como se fosse texto xerocado
porque o potencial cultural de cada pessoa interfere alterando e modificando a
mensagem inicial.
Todavia, quando se grava sucessivamente em 20 computadores o
mesmo arquivo, tem-se o mesmo conteúdo em todos eles. Por isso pode-se refletir
sobre a idéia de que os computadores como temos hoje o máquinas
sofisticadas, complicadas, mas não propriamente complexas. Nem mesmo quando
se torna apto a reproduzir textos pela técnica do hipertexto alcança qualquer
dimensão não linear: todo hiperlink puxa o hipertexto a que está linearmente ligado,
nada mais. Essa técnica enriquece a produção de textos, mais não passa de técnica
replicadora. Não é capaz, sozinha, de recriar, interpretar, construir texto. Essa
atividade criativa permanece nas mãos do usuário; isso tem levado a reconhecer
que não existe propriamente software educativo: a capacidade educativa do
software provém do educador, não da tecnologia em si, que constitui artefato muito
complicado, mas estritamente linear.
ainda uma forte polêmica sobre o processo criativo. De partida,
é comum imaginar que “criar” é como retirar do nada. Mas, na natureza, nem um
processo dinâmico se retira do nada, tudo é reconstrutivo. Essa reconstrução da
complexidade aponta para outras dimensões fundamentais como sentido de
autonomia e aprendizagem. Tanto o processo evolutivo quanto o histórico insinuam
fortemente que não se trata de mero crescimento cumulativo, mas qualitativamente
diferenciado. As espécies não se complicam apenas, mas se complexificam. A
natureza, a não ser em seus códigos formais, jamais se repete. É nisso tipicamente
29
produtiva. O ritmo temporal varia enormemente, como afirma De Landa (1999), ao
interpretar a dinâmica social dos últimos mil anos, não pela via hermenêutica
comum, mas pela geologia, para mostrar que em termos de dinâmica não linear,
uma nada deve a outra:
a dinâmica reconstrutiva pode ser vislumbrada não apenas em
fenômenos que nos aprecem frontalmente históricos, como seriam as
sociedades humanas, mais igualmente em fenômenos geológicos e
naturais: a pedra não se move na dimensão humana do tempo, que 70
anos representam, para esta, vida toda; pareceria esdrúxulo falar de
dialética da pedra; no entanto, em sua dimensão própria do tempo
milhões e milhões de anos -, move-se tanto quanto a flor que desabrocha
e fenece em alguns dias. (DE LANDA 1999, p.86)
Assim, pode-se entender que nos sistemas complexos a parte
simples é, como regra, descartável. A parte complexa é intrínseca. Na
complexidade, as partes formam hierarquia convergente que estabelece campo de
força entre elas, de tal sorte que flui uma dinâmica produtiva, mas não cumulativa e
contígüa. Segundo Morin e Moigne (2000), existe uma constituição hologramática
para indicar que o todo está na parte e a parte no todo, ou seja: em cada parte está
o sentido do todo, mas não o todo propriamente, porque, se assim fosse, não se
poderia dizer que o todo é maior que a soma das partes. Na verdade essa
expressão é incorreta: nenhum todo complexo é soma. É, sobretudo, trama, rizoma,
teia.
A autonomia do complexo advém da tessitura sistêmica, de um
lado, mas realiza-se na dinâmica também não-sistêmica, de outro, porque sua
criatividade provém de sistema em constante amadurecimento e falência consigo
mesmo. Metaforicamente, pode-se apelar para o alcance de um ideal, que ao ser
alcançado, deixa de ser o ideal. O ideal de um ideal é não se realizar assim como a
utopia: um lugar que marca a falta de lugar. Utopia realizada deixa de ser utopia.
Todavia, sem ela, contenta-se com o que se tem.
A complexidade produz a sua autonomia na incompletude, porque,
a rigor, somente realidades incompletas podem ser autônomas. Autônomo não é o
que pode separar-se, isolar-se, incomunicar-se, mas o que precisa de complemento,
de atualização para manter-se em horizonte próprio. é possível ser autônomo
com referência aos outros, nunca sozinho. A autonomia constitui dependência
30
negociada, pois sujeito não é o que exclui o outro mas o que convive sem se perder
e sem apenas dominar.
Então, é evidente que a linearidade é prejudicial para a construção
de qualquer linguagem e conhecimento. A educação tradicional apresenta questões
que não fogem da leitura seqüencial e não obrigam à releitura, não afastando,
conseqüentemente, o emissor e o receptor da dicotomia. De algum modo, pode-se
dizer que os sistemas de signos, em geral, não cabem nas concepções dicotômicas
que os filósofos da tradição ocidental criaram: mente/matéria, corpo/alma,
sujeito/objeto, significante/significado e várias outras.
4. PROCESSO DIALÉTICO EVOLUTIVO: o cérebro humano é o
principal exemplo desse processo que levou milhões de anos em formação para
atingir o patamar atual, e possui visivelmente habilidades reconstrutivas e seletivas,
que ultrapassam de longe, propriedades lógicas reversíveis. Assim também é a
capacidade de aprender. Quando se imagina que processos complexos podem ser
aprendidos, insinua-se apenas que esses processos devem incluir criatividade
autêntica, no sentido de produzir modos de ser que são sempre vir a ser, de
reconstrução e não de criação.
5. IRREVERSIBILIDADE: a irreversibilidade refere-se à inserção
temporal na qual, com o passar do tempo, nada se repete, por mais que possa
parecer. Refere-se ainda, ao caráter evolutivo histórico da natureza. Assim como o
ser humano nasce, vive, cresce e morre, a natureza também não volta a sua forma
original. A passagem dinâmica acarreta inovação intrínseca, em maior ou menor
grau, de tal forma que os produtos sempre acabam tornando-se processos. Nada
está propriamente pronto, porque a incompletude é o que garante o deu caráter
processual.
Todo fenômeno complexo possui individualidade. Se observarmos o
cérebro humano, de um lado, todos são iguais fisiologicamente falando; de outro,
cada um é profundamente diferente do outro, porque a evolução histórica implica
experiências variadas no espaço e no tempo, ativação maior ou menor de certas
rotas neuronais, seletividades preferenciais de motivação. Assim também acontece
na cultura, todas possuem traços comuns, mas cada uma é marcada por criatividade
própria. Quando ocorre a truculência de impor uma cultura a outras culturas, a
31
irreversibilidade individual aparece no fenômeno inevitável da aculturação, por meio
da qual a cultura violentada reage a seu modo, mesmo quando descaracterizada.
6. AMBIGUIDADE/AMBIVALÊNCIA: a ambigüidade refere-se à
estrutura, no sentido da composição também desencontrada de seus componentes,
típica da unidade de contrários. Estruturas ambíguas não facultam sobreposições
rígidas, replicadoras de si mesmas, porque o caóticas intrinsecamente. Embora
em todo caos seja possível identificar estruturas, porque existir é também proceder
de alguma forma, predomina a abertura para novos desafios não contidos no que
está dado, até porque nunca é possível estabelecer o que está dado e o que se
poderia dar.
A ambivalência refere-se à processualidade dos fenômenos
complexos, mais facilmente visível porque vinculada a seus modos de vir a ser. Algo
é ambivalente quando sua dinâmica é constituída de valores contrários,
estabelecendo entre eles campos contrários de força. Assim essa característica é
melhor visualizada em fenômenos de tessitura mais qualitativa, como participação,
envolvimento, felicidade, conhecimento, aprendizagem. Como argumenta Bova
(1990):
Enquanto a sociedade, de uma parte, pressiona para a reprodução
medíocre e conservadora do sistema social, persiste nela força irresistível
que é o conhecimento. Conhecimento ‘conhece’ se for questionador e
inovador. Por isso vale dizer que argumentar é questionar.
E ainda afirma:
As instituições humanas são inerentemente conservadoras. Lei, religião,
escolas, costumes sociais, todas as instituições humanas estão
enraizadas na necessidade de prover bases firmes e estáveis para as
interações sociais. (BOVA 1990 p. 244)
Na história da espécie humana, a força inovadora sempre foi, acima
de tudo, fruto do conhecimento crítico: a parte da espécie que sabe construir
conhecimento próprio desenvolve tecnologias de mudança irrefreável, civiliza-se e
impõe-se a outras sociedades..
Portanto, conhecimento é intrinsecamente constituído de certezas
ambivalentes, ou de ambivalências certas, razão pela qual se mantém inovador.
Nada seria mais conservador no conhecimento do que a produção de certezas.
32
Todavia, a desconstrução e a possibilidade de reconstrução é a alma do
conhecimento inovador.
foi dito que se aprende do que se havia aprendido, conhece-
se com base no conhecido, lançando-se mão do nosso patrimônio cultural
disponível. Porém, mesmo que se quisesse apenas transmitir conhecimento, isso
seria impraticável diante de dois horizontes entrelaçados: é inviável biologicamente,
porque o trajeto evolucionário dotou os seres humanos de rebro tipicamente
reconstrutivo; e é inviável culturalmente, pois história e cultura oferecem contexto
intrínseco criativo da linguagem e da interpretação.
Mesmo assim, a tendência padronizante da sociedade leva a captar
a realidade de forma estática. Não se capta propriamente o movimento, sobretudo
não linear, mas o lado linear das dinâmicas, sempre atrás de regularidades e até
mesmo de “leis” da realidade. É assim que se reage, por exemplo, ao desconhecido:
primeiro se busca o que nele havia de conhecido, familiar; segundo, destaca-se o
que nele se repete, porque se domina melhor o que se apresenta de modo uniforme,
homogêneo. Instintivamente, diante da dinâmica estonteante, o ser humano sente-
se menos perdido, quando vislumbra nela pontos recorrentes, séries recursivas,
modos de ser. Não é sem alguma razão que o positivismo, sobretudo o empirista,
insiste no “reteste” como critério metodológico fundamental. Por trás dessa exigência
aparentemente lógica está a expectativa estática da realidade reversível, sobretudo
confiável. Implica fatal pressuposto epistemológico que tem como resultado a
“ditadura do método”, tal qual, segundo Morin (2001a), ao invés de o todo
procurar captar a realidade, seleciona nela o que pode captar e declara real apenas
o que capta.
Isso se porque cenários instáveis, caóticos e móveis provocam
mal-estar. Resta a impressão de que o cérebro está melhor evoluído para desenhar
cenários de ordenamento da realidade. O que se repete é mais interessante para a
ciência do que aquilo que se cria.
Entretanto, a atividade padronizadora do cérebro não poderia
ocultar a sua outra face: após desenhar cenários recorrentes, é capaz de penetrar
além das aparências, dando a entender que a captação de regularidades o
implica necessariamente reduzir a realidade a recorrências lineares. Não é menos
33
impressionante a potencialidade de intervenção alternativa do conhecimento que
introduz inovações em tudo que se encontra: na natureza, na sociedade e em si
mesmo. Conhecer, como já foi dito, é, profundamente, confrontar-se, revoltar-se, não
aceitar as coisas como estão, pretender para além do razoável usar a razão para
sobrepor seus próprios limites. O senso padronizador serviria apenas como porta de
entrada. Longe de ser atividade reprodutiva, implica confronto com a realidade no
sentido reconstrutivo ostensivo. É importante ver mais do que a aparência,
surpreender curvas inesperadas, agir como sujeito que reconstrói a realidade, não
como objeto inerente.
É esse tipo de comportamento que a escola deve assumir, ao invés
de pedir aos alunos que “fichem livros”, tomem notas para memorizar ou façam
provas reprodutivas. É dever da escola conduzir o aluno a um processo de
desconstrução e construção da realidade.
De acordo com Hofstadter (2001, p.115) são capacidades
essenciais para a inteligência:
Responder a situações de maneira muito flexível;
Tirar vantagens de circunstâncias fortuitas;
Dar sentido a mensagens ambíguas ou contraditórias;
Reconhecer a importância relativa de elementos de uma situação;
Encontrar similaridade entre situações, apesar das diferenças;
Encontrar diferenças entre situações, apesar das que possam uni-
las;
Sintetizar novos conceitos, tomando conceitos anteriores e
reordenando-os de maneira nova;
Formular idéias que constituam novidades.
A inteligência está, portanto, em dar conta de situações complexas,
surpreendentes, aparentemente inesperadas e insolúveis. É saber andar por linhas
tortas, é saber aprimorar a criatividade dos caminhos tortuosos, porque, somente
eles são criativos, não lineares e abertos. A escola não deve privilegiar a tática
analítica, que vai do complexo ao simples, supondo que no nível mais simples se
possa encontrar a essência da realidade e sua própria explicação. Nessa rota,
inteligência é essencialmente exercício lógico. Saber pensar não é somente ver a
lógica das coisas, formular raciocínios formais concretos, mas principalmente
identificar lógicas onde aparentemente ela não existiria, pensar flexivelmente para
dar conta da realidade flexível, decifrar o que é ambíguo e contraditório, ordenar a
importância de elementos embaralhados numa situação, encontrar similaridades ou
34
diferenças onde parece não haver, reconstruir o conhecimento anterior e formular
perspectivas inovadoras.
Nessa perspectiva, a ação comunicativa no processo de
aprendizagem não pode ter começo, meio e fim, porque está culturalmente
contextualizada. Ao buscar definir conceitos, usam-se conceitos não definidos. Ao se
encerrar uma discussão, deve-se restringir o final apenas ao evento focalizado sem
descartar a necessidade de sempre argumentar mais e melhor. Nada começa de um
ponto zero e evidente do qual poderia emanar a mesma evidência para todos os
passos sucessivos, porque não se tem como chegar a um porto seguro, onde tudo
estaria explicado.
É sobre a experiência da complexidade fundamentada no contexto
cultural que se falará no próximo capítulo dessa pesquisa.
2. DIVERSIDADE CULTURAL, ESCOLA E COMUNICAÇÃO
A cultura é constituída pelo conjunto de saberes, fazeres, regras,
normas, proibições, estratégias, crenças, idéias, valores e mitos que se transmitem
de geração em geração, reproduzem-se em cada indivíduo, controlam a existência
da sociedade e mantêm a complexidade psicológica e social. De acordo com Morin
(2001a,p.56) “não há sociedade humana arcaica ou moderna, desprovida de cultura,
mas cada cultura é singular. Assim, sempre existe a cultura nas culturas, mas a
cultura existe apenas por meio das culturas.”
Uma cultura abre e fecha as potencialidades bioantropológicas de
conhecimento. Ela as abre e atualiza fornecendo aos indivíduos o seu saber
acumulado, a sua linguagem, os seus paradigmas, a sua lógica, os seus esquemas,
os seus métodos de aprendizagem, de investigação, de verificação, etc., mas, ao
mesmo tempo, ela as fecha e inibe com suas normas, regras, proibições, tabus, seu
etnocentrismo, a sua auto-cristalização e a sua ignorância.
35
Neste sentido, a cultura institui as regras/normas que organizam a
sociedade e governam os comportamentos individuais em todas as instâncias,
inclusive na escola. As regras/normas culturais geram processos sociais e
regeneram a complexidade social adquirida por essa mesma cultura.
Propor uma educação, através de uma ação comunicativa que
privilegie os elementos culturais, fornecerá a cada aluno os princípios, regras e
instrumentos do conhecimento. Assim, de todas as partes, a cultura age e retroage
sobre o indivíduo para nele modelar as estruturas cognitivas, sendo, portanto,
sempre ativa como co-produtora de conhecimento.
No entanto, ao se considerar que o conhecimento é produzido por
uma cultura, depende de uma cultura e está integrado a uma cultura pode-se ter a
impressão de que nada seria capaz de libertá-lo.. Mas não se deve esquecer que no
interior de todas as culturas existem seres individuais que não obedecem à mesma
ordem social e às injunções culturais e que, por isso, pode-se promover essa
libertação.
Sendo assim, a escola deve ser o local onde se produz
conhecimento via cultura coletiva e, ainda, onde se promove o inter-relacionamento
entre cultura coletiva e individual, facilitando o processo ensino-aprendizagem.
Na América Latina e particularmente no Brasil, a questão
36
Segundo Pinheiro (1995, p.16), os signos na América Latina
apresentam uma mobilidade muito grande, o que não significa que seja diferente em
outros lugares do mundo mas aqui essa mobilidade chega a ser desmesurada. Isso
se deve à mestiçagem e ao choque dos processos civilizatórios que fazem os signos
apresentarem uma maior mobilidade informativa. Dessa forma, parece ficar mais
clara a idéia de Pinheiro (1995, p.16) quando afirma que se pensa de modo diferente
nesse continente e não se poderia comportar de outro modo enquanto descendentes
de uma atitude epistemológica diferente, pois a mente trabalha os signos, mais
através da fricção de superabundâncias alógenas (daquilo que alegoricamente diz
ao outro) do que pelos mecanismos binários de inclusão e exclusão, abordados
nos capítulos anteriores.
Nesta mesma linha de raciocínio, Garcia Canclini (2000) defende
que o afastamento dos eixos tradicionais da identidade num cenário de crescimento
e produção global da cultura não pode ser considerado como situação desagradável
ou temível, por que:
vivimos en un tiempo de fracturas y heterogeneidad, de segmentaciones
dentro de cada nación y comunicaciones fluidas con órdenes
transnacionales de información, de estilo y conocimiento. En medio de
esta heterogeneidad encontramos códigos que nos unifican, o por lo
menos nos permiten comprendernos a nosotros mismos, esos códigos
son cada vez menos cuestiones de etnia, clase o nación de nacimiento.
(GARCIA CANCLINI 2000, P.87)
Assim, transforma-se num desafio inserir no cenário acadêmico de
construção e processo epistemológico a compreensão das articulações midiáticas
sobre a interface comunicação-educação, através da pesquisa proposta.
Isto é, conforme Martin Barbero:
mirar los modos hegemónicos de comunicación y los dispositivos de
lenguaje que han desarrollado los medios no como proceso/pregreso fatal
sino como modalidades de comunicación que responden a lógicas
económicas y culturales que no agotan ni los modos de comunicación
operantes en nuestras sociedades la calidad de la comunicación no
equivale ni es medible siempre en términos de cantidad de información
ni los lenguajes y los usos posibles de esos medios. (MARTIN BARBERO
1999, p.56)
De fato, de acordo com o autor, os meios de comunicação têm um
papel importante nos processos e mudanças culturais. Quer dizer, os meios não
podem ser pensados como meios, mas também, como fins que participam dos
37
modos de constituição e reconhecimento das identidades coletivas. Desse modo, a
mídia torna-se o lugar cada vez mais estratégico no que se refere aos processos de
reconversão cultural exigidos pela globalização. Por intermédio deles elaboram-se,
negociam-se e se difundem sentidos, valores e identidades propondo à sociedade,
pela exposição dos próprios modos de identidade, modos de leitura sobre a
cidadania nas interfaces com a identidade cultural e diferentes experiências vividas.
Tais meios asseguram modos de apropriação, existência e estruturação de
determinadas realidades, através de determinados dispositivos, estratégias e
competências específicas, que vão entrelaçando os fios para construir uma
determinada realidade.
Sem dúvida, na interação sócio-cultural contemporânea, a mídia
está presente como processo comunicacional produtor de sentido, que uma
importante quantidade do que se comunica é realizada através dela. Esses meios de
comunicação, num processo de midiatização, apresentam-se nas interações sociais
cotidianas através de diferentes entremeados e estratégias que configuram as
conversas sociais como lugar de fala, nas quais o discurso não vale por si
mesmo, senão, por ser parte de um conjunto de forças que atravessam a fala
configurando-a num campo que se inscreve além da superfície discursiva.
MORIN (2001) complementa que, na atualidade, temos excesso de
informação e insuficiência de organização, logo, carência de conhecimento. Ao
discurso eufórico que diz “tudo comunica” opõe-se afirmando que “quanto mais
desenvolvidos são os meios de comunicação, menos há compreensão entre as
pessoas. A compreensão não está ligada à materialidade da comunicação, mas ao
social, ao político, ao existencial, a outras coisas”. Assim, tudo consiste em fazer a
diferença entre comunicação, informação, conhecimento e compreensão. Isso se
confirma na citação abaixo:
Por isso, sempre cito Eliot: “Qual é o conhecimento que perdemos na
informação? Qual é a sabedoria que perdemos no conhecimento?"Ou
seja, a sabedoria é a capacidade de integrar, incorporar conhecimentos à
vida cotidiana. É fácil constatar que estamos vivenciando uma
degradação do conhecimento na/pela informação, acarretando uma
degradação da arte de viver no/pelo conhecimento. Precisamos separar
todas essas noções para melhor compreendê-las e praticá-las. A
compreensão humana é um tipo de conhecimento que necessita de uma
relação subjetiva com o outro, de simpatia, o que é favorecido, talvez,
pela projeção, pela identificação, como ocorre quando vamos ao cinema
38
ou lemos romances e simpatizamos com os personagens. A
compreensão, mais do que a comunicação, ou em conseqüência desta, é
o grande problema atual da humanidade. (MORIN,2001, p.65)
Paradoxalmente, pode-se dizer que a comunicação o pode
substituir a compreensão. Dito de outra maneira, para a compreensão não basta a
comunicação. Bem entendido, a compreensão pode ser afetada ou ajudada pela
comunicação, seja tecnicamente (telefone, e-mail, fax), seja pelo domínio do código
(língua). Mas é preciso que a compreensão exista, aconteça, pois a comunicação
por si mesma não pode criá-la. A compreensão não é, essencialmente, um problema
de meios, mas de fins. É um problema que questiona o aspecto subjetivo profundo
da pessoa. Nesse sentido, é um problema filosófico. A comunicação depende de
meio; os fins podem estimular a decodificação das mensagens. a compreensão
pode estar aquém ou além disso tudo. Pode vir, por exemplo, da compaixão, de uma
simpatia, de um amor. Na compreensão sempre um componente afetivo. Fala-se
muito em comunicação e na hegemonia da mídia na atualidade. Trata-se de uma
concepção que não compreende bem o fenômeno e isola o papel dos meios de
comunicação, dando a eles uma autonomia exagerada. É um clichê que atravessou
o século XX e, apesar dos esforços de pesquisa, não foi dissipado.
Martin-Barbero destaca duas atitudes nessa reapropriação
discursiva midiática como forças que tencionam o reconhecimento e a integração do
outro proveniente(s) de cultura(s) diferente(s):
ya sea mediante el acercamiento que reduce las otras culturas a lo que
tienen de parecido con la nuestra, silenciando o adelgazando para ello los
razgos más conflictivamente heterogéneos y desafiantes, estilizando y
banalizando lo que nos choca hasta volver al otro comprensible sin
inmutarnos. O por el contrario, mediante un distanciamiento, que exotiza
al otro, lo folcloriza en un movimiento de afirmación de la alteridad que, al
mismo tiempo que lo vuelve ‘interesante’ lo excluye de nuestro universo
negándole la capacidad de interpretarnos y cuestionaros. (MARTIN
BARBERO 1999, p.124)
Na educação, Serres (1999) referindo-se à mestiçagem cultural,
afirma:
A aprendizagem consiste numa tal mestiçagem. Estranho e original,
misturado nos genes de seu pai e de sua mãe, a criança apenas evolui
através desses novos cruzamentos: toda a pedagogia retoma o gerar e o
nascimento de uma criança: nascido canhoto aprende a servir-se da mão
direita, mas permanece canhoto, renasce destro, na confluência dos dois
sentidos: nascido gascão, continua assim e torna-se francês, realmente
mestiço; como francês viaja e torna-se italiano, inglês ou alemão; casa-se
39
e aprende a sua língua, ei-lo enfim, quarteirão, octavão, alma e corpo
misturados (SERRES1999, p.36)
Percebe-se, no entanto, que essa mestiçagem é prejudicada no
espaço educacional, já que o espaço da escola é quase sempre um espaço fixo que
não se relaciona com o externo e que não se contamina com o que é estranho. Isso
pode ser observado pela arquitetura predominantemente ocidental. Ela mantém um
isolamento, gera temperaturas frias, tornando a escola um espaço postiço, à medida
que não consegue estabelecer pontos de conexão com a cultura que está do lado de
fora. E quando o aluno precisa escolher entre esses espaços opta pelo lado de fora,
pois é mais vivo e apresenta temperaturas mais calorosas. Conclui-se, com isso, que
a instituição (escola) criada para produzir e socializar a cultura, nega-a sabendo ou
não o que está fazendo, apresenta pouca diversidade de objetos culturais e
determina posições geralmente hierarquizadas.
Nesse cenário, pode-se então imaginar que uma saída possa estar
na inserção de outras mídias no processo de ensino, pois, como assinalado
anteriormente, elas são consideradas importantes agentes de informação e
persuasão. Para Castells (1999,p.321)
...tudo o que fica de fora do alcance da mídia assume a condição de
marginalidade política. (...) nas sociedades contemporâneas, as pessoas
recebem informações e formam sua própria opinião (..) por intermédio da
mídia (...) que atua como veículo de comunicação, influência e persuasão.
As mídias como processos culturais e comunicacionais criam seus
moldes e sistemas considerados aqui como elementos de importância na produção
de sentido e (re)construção social midiatizada. Na atualidade, apresenta-se
paralelamente à globalização econômica a existência de uma globalização de
práticas sociais, num contexto atravessado por diferentes mídias que se entrelaçam
configurando um complexo cenário midiatizado. Nesse conjunto de acontecimentos,
ganham força os movimentos/fluxos de sujeitos pela experiência da miscigenação
cultural, através da qual estabelecem uma linha de jogo entre duas forças: uma que
empurra e outra que puxa.
Desse modo, o conceito de fronteiras - como muro e defesa sofre
uma alteração, passando-se a considerá-las pontos de contato, espaços de relações
que se (re)organizam pela intervenção dos sujeitos através delas. O
redimensionamento desses pontos/superfícies de contato, nas relações, é
40
conseqüência das mudanças rápidas e progressivas do conceito tradicional de
fronteiras, através das quais os indivíduos projetam-se no corporal e no imaginário.
Veja-se, nesse sentido, a progressiva reunião dos sujeitos nos centros urbanos, aos
quais chegam como resultado das marchas demográficas motivadas pela procura do
desenvolvimento pessoal e/ou comunitário. Desse modo, em poucas ou, às vezes,
em uma metrópole, observa-se uma intensa concentração de pessoas. É o que
acontece no Brasil e em toda a América Latina.
Nesse cenário, percebe-se que as últimas décadas do século XX
experimentaram a reorganização de seus espaços a partir de um novo conceito de
soberania colocado sob a perspectiva de uma desterritorialização e da projeção de
suas inter-relações. Essa nova modalidade de soberania, imperial, prevê uma
expansão de todos os espaços - sejam eles físicos, geográficos, políticos,
econômicos, conceituais, filosóficos, culturais trabalhando com a idéia de que o
espaço é sempre aberto, como o concebem HARDT e NEGRI (2001). Junto a isso, a
segunda metade do século foi testemunha de um grande deslocamento
populacional, incentivado pelas dinâmicas estabelecidas a partir dos novos
reagrupamentos e configurações de forças. Novos êxodos e diásporas desenharam-
se, forçando limites e reconfigurando espaços. Muitos latino-americanos chegaram à
fronteira norte do México, conseguindo passar para os EUA, por exemplo. E por
todos os lados do planeta as multidões deslocavam-se e com elas, suas culturas,
provocando uma experiência de disseminação cultural em muitas partes do globo.
Este processo acarretou mudanças no interior do repertório cultural dos povos, e
conseqüentemente, na idéia tão fortemente demarcada de “fronteiras culturais”.
Todas estas questões a respeito dos limites fronteiriços estão
intimamente imbricadas nas novas reconfigurações projetadas por experiências nas
quais o hibridismo amalgama o processo de reorganização de identidades.
Os domínios concebidos como dentro e fora e a relação entre eles são
configurados diferentemente, numa variedade de discursos modernos. A
concepção espacial de interior e exterior, entretanto, parece-nos ela
própria uma característica geral, de fundação, do pensamento moderno.
Na passagem do moderno para o pós-moderno, e do imperialismo para o
Império, é cada vez menor a distinção entre o dentro e o fora. (HARDT e
NEGRI 2001,p.206)
41
O fenômeno da desterritorialização provocou ainda, uma quebra no
conceito de comunidade nacional, tornando-se difícil localizar antropologicamente a
linearidade de costumes e culturas. O repertório de costumes, mitos e práticas
formadoras de um universo simbólico que podia ser classificado pela Antropologia
Clássica como gerador de uma identidade não mais conta de classificações. Tais
repertórios tornaram-se transculturais, implodindo o conceito de fronteiras
delimitadas, que não têm correspondência exclusiva com os territórios em que se
encontram e tampouco mantêm com eles uma relação de oposição.
Isso deu origem a uma idéia que Mc Kensey denomina “região
transfronteiriça”, segundo a qual coexistem, em um mesmo grupo, vários códigos
simbólicos que garantem uma identidade multiétnica, transitória, mutante e migrante,
formada por elementos cruzados de várias culturas. A definição deixa de ser
unicamente sócio-espacial para assumir-se sócio-comunicacional, atuando em redes
comunicacionais deslocadas. Segundo Garcia Canclini:
Sólo una antropología para la que se vuelvan visibles la heterogeneidad,
la coexistencia de varios códigos simbólicos en un mismo grupo y hasta
en un solo sujeto, así como los préstamos y transacciones interculturales,
será capaz de decir algo significativo sobre los procesos identitários en
esta época de globalización. (GARCIA CANCLINI 1993, P. 44)
Essa rede transcomunicacional projetada pela migração e pela
tecnologização das relações, inserida num espaço urbano no qual convivem todas
as temporalidades históricas simultaneamente, acarreta uma desarticulação das
coleções de signos que anteriormente vinculados aos conceitos de “culto”, “popular”,
e, ainda, “massivo”. Tais repertórios de bens simbólicos se “descolecionam”,
derrubando as classificações que distinguiam as três categorias citadas (culto,
popular e massivo).
Se ainda for possível, ou fizer sentido, pensar a América Latina em
termos de “identidade”, que se relativizar o conceito de comunidade e
adotar noções de circuito e “fronteira”, que possam dar conta do
processo de “hibridação” proposto por Canclini, processo esse que se
forja através da “quebra e mescla das coleções organizadas pelos
sistemas culturais, a desterritorialização dos processos simbólicos e a
expansão dos gêneros impuros. (GARCIA CANCLINI 2000, p.127)
Garcia Canclini (2000) explica tal situação citando o fenômeno
identitário colocado pela cultura chicana, que se projeta como uma cultura de
fronteira, imprensada entre as culturas anglo-americana e mexicana. A idéia de
42
hibridização cultural está colocada na transposição das fronteiras e são
percebidas pelo processo bicultural e transcultural, além do bilingüismo e do
biconceitualismo que caracterizam a expressão dessa cultura. Isso proporciona a
impregnação de uma idéia de síntese e fragmentação simultâneas nas quais a
cultura desterritorializada buscará seu não-lugar, ocupando de maneira incisiva um
novo lugar de expressão, lugar este configurado por uma identidade sempre em
trânsito.
A fronteira assume, desta forma, um sentido de encontro de
realidades. Essa idéia é interessante a partir de um ponto de vista histórico que
resgata uma cultura que traz em si a marca de uma relação desigual em que a
violência é exercida no confronto com o outro. Portanto, a cultura chicana absorve os
códigos culturais das minorias excluídas do exercício do poder. Esses são
fortalecidos nas discussões raciais, étnicas, de gênero, no meio ambiente, nas
concepções religiosas, na sexualidade, na política do corpo, na língua, etc. Os
pontos de discussão entre fronteira, gênero e classe são problematizados
simultaneamente, provocando o questionamento em torno da experimentação de
identidades alternativas.
También sugieren que, cuando no hay manera de regresar “a casa”, los
espacios para la exploración y la articulación de identidades híbridas
deben construirse, junto con los diálogos en conflicto que raza, clase y
género producen dentro de los sistemas de significación y estructuras de
poder representados dentro de estos espacios. (TORRES 2000,p. 17).
Assim, a violência forja definitivamente a memória cultural da
experiência chicana. O conceito de fronteira carrega, então, o sinal de morte e de
vida, a possibilidade de fim e a esperança de um reinício, traduzindo os paradoxos e
contradições que estão presentes no interior da cultura fronteiriça.
Garcia Canclini (2000), concorda com o fato de que deve ser
relativizada a noção de identidade. Afirmar os processos de hibridação é esvaziar a
idéia de identidade “autêntica”, tal como a concebe uma forte tendência da
Antropologia assim como alguns enfoques de pesquisadores implicados com os
estudos culturais. Desta forma, o autor propõe um deslocamento do objeto de
estudo: da identidade para a heterogeneidade e hibridização interculturais.
43
Tais processos articulam-se com as questões relacionadas à
industrialização e à massificação globalizadas dos processos de significação, que se
colocam em redes transcomunicacionais desterritorializadas que abrangem as
discussões referentes à mestiçagem, criolização, sincretismo, transculturação e
todas as contradições que esses conceitos apresentam. As grandes cidades, palcos
dos processos mais interessantes de hibridização, apresentam “fronteiras porosas”,
permeáveis às redes transcomunicacionais, viabilizadoras dos processos que
impulsionam as culturas híbridas que então liberariam as análises culturais de seus
processos de fundamentalismos identitários. (GARCIA CANCLINI, 2000).
Essas questões vêm adquirindo cada vez maior abrangência,
visibilidade e conflitividade no âmbito internacional e local.. Isso preocupa muitas
sociedades. Não se trata de maximizar a dimensão cultural e desvinculá-la das
questões de caráter estrutural e da problemática da desigualdade e da exclusão
crescentes no mundo atual, nem de considerá-la um mero subproduto dessa
realidade. O importante é, tendo presente a configuração político-social e ideológica
do momento, não negar a especificidade da problemática cultural, nem considerá-la
de modo isolado e auto-centrado.
No plano nacional convém salientar que, pela primeira vez na
história do Brasil, uma proposta educacional emanada do Ministério de Educação -
os Parâmetros Curriculares Nacionais, publicados em 1997 e que suscitaram
grandes controvérsias quanto a sua concepção, processo de construção e
estruturação interna - incorporou, entre os temas transversais, o da pluralidade
cultural. Essa opção não foi pafica e sim objeto de controvérsias, de toda uma
negociação em que a pressão dos movimentos sociais se fez presente, e a
reestruturação da equipe responsável, inevitável. O próprio documento assim
justifica a introdução da temática da pluralidade cultural no currículo escolar como
será visto com mais critério na seqüência dessa pesquisa.
44
Historicamente, registra-se a dificuldade para lidar com a temática
do preconceito e da discriminação racial/étnica. O País evitou o tema por muito
tempo, sendo marcado por "mitos" que veicularam uma imagem de um Brasil
homogêneo, sem diferenças, ou, em outra hipótese, promotor de uma suposta
"democracia racial". (Parâmetros Curriculares Nacionais, vol. 10, p. 22).
Por outro lado, sabe-se que o atual contexto internacional, marcado
por uma globalização excludente, políticas neoliberais e uma emergente doutrina de
segurança global está reforçando fenômenos sócio-culturais de verdadeiro
apartheid, que assumem diferentes formas e manifestações. No entanto, essa não é
uma realidade que afeta igualmente a todos os grupos sociais, culturais, nem a
todas as pessoas. Ela atinge apenas os “diferentes” devido a características sociais
e/ou étnicas, os "portadores de necessidades especiais", por não se adequarem a
uma sociedade cada vez mais marcada pela competitividade e pela lógica do
mercado e do consumo, os "perdedores", os "descartáveis" que vêem, a cada dia,
negados o seu "direito a ter direitos" (Hanna Arendt).
Justifica-se, portanto, a importância das relações entre escola e
cultura no processo educativo. Não educação que o esteja imersa na cultura
da humanidade e, particularmente, do momento histórico em que se situa. A reflexão
sobre essa temática é co-extensiva ao próprio desenvolvimento do pensamento
pedagógico. Não se pode conceber uma experiência pedagógica em que a
referência cultural não esteja presente. A escola é, sem dúvida, uma instituição
cultural. Portanto, as relações entre escola e cultura não podem ser concebidas
como entre dois pólos independentes, mas sim como universos entrelaçados, como
uma teia tecida no cotidiano e com fios e nós profundamente articulados. Partindo-se
dessas afirmações, aceitando-se a íntima associação entre escola e cultura, e
considerando-se suas relações como intrinsecamente constitutivas do universo
educacional, cabe indagar por que hoje essa constatação parece se revestir de
novidade, sendo vista por vários autores como especialmente desafiadora para as
práticas educativas.
A na educação nutre-se da crença de que ela possa melhorar a
qualidade de vida, a racionalidade, o desenvolvimento da sensibilidade, a
compreensão entre os seres humanos, o decréscimo da agressividade, o
45
desenvolvimento econômico, ou o domínio da fatalidade e da natureza hostil pelo
progresso das ciências e da tecnologia propagadas e incrementadas pela educação.
Graças à educação, tornou-se possível acreditar na possibilidade de que o projeto
ilustrado pudesse triunfar devido ao desenvolvimento da inteligência, ao exercício da
racionalidade, à utilização do conhecimento científico e à geração de uma nova
ordem social mais racional. Essa é a utopia que impregnou e impregna ainda hoje a
educação escolar. Esse tem sido, sinteticamente, seu horizonte de sentido. É esse o
modelo cultural que vem perpassando, no meio de tensões e conflitos, o seu
cotidiano.
Tal modelo seleciona saberes, valores, práticas e outros referentes
considerados adequados ao seu desenvolvimento. Assenta-se sobre a idéia da
igualdade e do direito de todos à educação e à escola. No entanto, numerosos
estudos e pesquisas têm evidenciado como essa perspectiva termina por veicular
uma visão homogênea e padronizada dos conteúdos e dos sujeitos presentes no
processo educacional, assumindo uma visão monocultural da educação e,
particularmente, da cultura escolar. Essa parece ser uma problemática cada vez
mais evidente. O que está em questão, portanto, é a visão monocultural da
educação. Os “outros”, os “diferentes” os de origem popular, os afros
descendentes, os pertencentes aos povos originários - mesmo quando fracassam e
são excluídos, ao penetrarem no universo escolar desestabilizam sua lógica e
instalam outra realidade sociocultural.
Essa nova configuração das escolas se expressa em diferentes
manifestações de mal-estar, em tensões e conflitos denunciados tanto por
educadores como por estudantes. É o próprio horizonte utópico da escola que entra
em questão: os desafios do mundo atual denunciam a fragilidade e a insuficiência
dos ideais “modernos” e passam a exigir e suscitar novas interrogações e buscas. A
escola, nesse contexto, mais que transmissora da cultura, da “verdadeira cultura”,
passa a ser concebida como um espaço de cruzamento, conflitos e diálogos entre
diferentes culturas.
Assim, o que caracteriza o universo escolar é a relação,
atravessada por tensões e conflitos, entre as culturas. Isso se acentua quando as
culturas crítica, acadêmica, social e institucional, profundamente articuladas, tornam-
46
se hegemônicas e tendem a ser absolutizadas em detrimento da cultura
experiencial, que, por sua vez, possui profundas raízes socioculturais. Ao invés de
preservar uma tradição monocultural, a escola está sendo chamada a lidar com a
pluralidade de culturas, reconhecendo os diferentes sujeitos socioculturais presentes
em seu contexto, abrindo espaços para a manifestação e valorização das diferenças.
É essa, na opinião da autora, a questão hoje posta.
A escola sempre teve dificuldade em lidar com a pluralidade e a
diferença, tendo optado por silenciá-las e neutralizá-las por sentir-se mais
confortável com a homogeneização e a padronização. No entanto, abrir espaços
para a diversidade, a diferença e para o cruzamento de culturas constitui o grande
desafio que ela está sendo chamada a enfrentar.
Contudo, conhecendo melhor os processos sígnicos e,
principalmente, os aspectos culturais nessa noção de fronteira anteriormente citada,
poder-se-á melhorar os atos comunicativos em sala de aula e evitar alguns
equívocos que atrapalham a comunicação. Não se pode deixar de analisar a
evolução da sociedade, porém não se deve esquecer que ela estava inscrita na
cultura. Torna-se necessário, então, fazer uma união desses elementos,
aproveitando as características culturais favoráveis da América Latina.
A cultura do ambiente brasileiro (alimentação, corpo, oralidade,
paisagem, humor, lúdico, erotismo, ritmo, mistura de idiomas, etc.) não pode ser
desprezada; ela é uma das alternativas para se desenvolver uma educação que
favoreça a aprendizagem e o ensino de habilidades e competências. Pode-se
reafirmar isso através da conclusão apresentada por Morin (2001b,p.33), segundo a
qual acredita que uma saída para uma educação mais satisfatória seria a priorização
de três elementos fundamentais:
a. a existência de vida cultural e intelectual dialógica;
b. o “calor” cultural;
c. e a possibilidade de expressão de desvios.
O primeiro elemento diz respeito à pluralidade e diversidade de
pontos de vista. A dialógica cultural supõe o comércio cultural, constituído de trocas
múltiplas de informações, idéias, opiniões, teorias que têm mais chances de ocorrer
numa sociedade policultural, como a brasileira. O encontro de idéias antagônicas
47
cria uma zona de turbulência que abre uma brecha no determinismo cultural e é
função do professor proporcionar essa dialogia.
O segundo, como já citado anteriormente, é termo utilizado por
Morin (2001 para definir o confronto de idéias, opiniões e trocas de informações.
Considerando que seu contrário provoca rigidez, imobilidade e invariância, o
conceito de “calor cultural” é fundamental para o processo educativo e deveria ser
utilizado nas ações comunicativas dos professores para o ensino de habilidades e
competências.
Uma ação docente multiculturalmente orientada, que enfrente os
desafios provocados pela diversidade cultural na sociedade e nas salas de aulas,
requer uma postura que supere os enganos culturais usualmente presentes nas
escolas, responsáveis pela desconsideração da amplitude de signos culturais com
que é preciso trabalhar e uma perspectiva que valorize e leve em conta a riqueza
decorrente da existência de diferentes culturas no espaço escolar.
Além disso, os educadores devem sugerir estratégias pedagógicas
que permitam lidar com essa heterogeneidade. Como afirma McCarthy (1998), em
sua discussão sobre o processo de hibridização cultural, é essencial situar, na
prática pedagógica multicultural, além da visão das culturas inter-relacionadas,
mutuamente geradas e influenciadas e facilitar a compreensão do mundo pelo olhar
do subalternizado. Para o currículo, trata-se de desestabilizar o modo como o outro é
mobilizado e representado. “O olhar do poder, suas normas e pressupostos, precisa
ser desconstruído” (McCarthy, 1998, p. 156).
Trata-se, portanto, de desafiar a pretensa estabilidade e o caráter
histórico do conhecimento produzido no mundo ocidental, segundo a ótica do
dominante e confrontar diferentes perspectivas, diferentes pontos de vista, diferentes
obras literárias, diferentes interpretações dos eventos históricos de modo a favorecer
o entendimento de como o conhecimento tem sido escrito de uma dada forma e
como pode ser reescrito de outra.
Propõe-se, em última análise, o a substituição de um
conhecimento por outro, mas sim a condição de propiciar aos estudantes a
compreensão das conexões entre as culturas, das relações de poder envolvidas na
48
hierarquização das diferentes manifestações culturais, assim como das diversas
leituras que se fazem quando distintos olhares são privilegiados.
Não menos importante é a questão dos conteúdos.. Esses devem
ser tratados de forma complexa: identificar seu surgimento, seu contexto social,
quem os constituiu, quais eram as ideologias dominantes. Assim não se cairá no
vazio de tentar entender diversas linguagens, diversas culturas e também não se
considerará o conteúdo como algo fixo. Ou seja, entender com clareza, através do
currículo, como se construiu historicamente um dado conhecimento, como as raízes
históricas e culturais desse processo foram usualmente “esquecidas” e o que faz que
todo e qualquer conhecimento (usualmente pautado na lógica dominante nos países
centrais) seja visto como indiscutível, neutro, universal, atemporal. Nessa mesma
direção, pode-se acentuar a necessidade de explicitar, também, como um dado
conhecimento relaciona-se com os eventos e as experiências dos estudantes e do
mundo concreto, enfatizando-se ainda, na discussão, quem lucra e quem perde com
as formas de emprego do conhecimento.
Em síntese, os propósitos devem deixar claro de quem é o
conhecimento hegemônico no currículo, que representações estão nele incluídas,
que identidade se deseja que os estudantes reflitam e construam, assim como
explorar formas de desestabilizar e desafiar todas essas hierarquias, escolhas,
inclusões, imagens e pontos de vista.
Deve-se insistir, então, no questionamento do caráter
aparentemente natural, às vezes mesmo científico, dos conteúdos.. É indispensável
compreender a dinâmica histórica das categorias por meio das quais somos
rotulados, identificados, definidos e situados na estrutura social. Esse entendimento
será favorecido ao focalizarmos, no currículo, a construção das categorias, ao
lutarmos por mudar seus significados e por garantir espaço para a diversidade na
escola e na sala de aula. Ou seja, deve-se rejeitar a idéia de que existe uma
verdade, uma essência ou um núcleo. Deve-se incentivar os alunos, nas
diferentes disciplinas, a tornar evidente e contestar a construção histórica de
categorias - tais como raça, nação, sexualidade, masculinidade, feminilidade, idade
etc. que nos têm marcado. Com essas estratégias, pretende-se facilitar a
compreensão de como o mundo tem sido dividido.
49
Cabe, ainda, propor que se expandam os conteúdos curriculares
usuais, de modo à neles incluir a ctica dos diferentes artefatos culturais que
circundam o aluno. A idéia é transformar a escola em um espaço de crítica cultural,
de modo que cada professor, como intelectual que é, possa desempenhar o papel
de crítico cultural (Sarlo, 1999) e propiciar ao estudante a compreensão de que tudo
que passa por “natural” e “inevitável” precisa ser questionado e pode,
conseqüentemente, ser transformado.
A idéia é, enfim, favorecer novos patamares que permitam uma
renovada e ampliada visão daquilo com que usualmente lidamos de modo acrítico.
Nesse sentido, filmes, anúncios, modas, costumes, danças, músicas, revistas,
espaços urbanos etc. precisam adentrar as salas de aulas e constituir objetos da
atenção e da discussão de docentes e discentes.
Isso não implica que fiquemos limitados aos elementos usualmente
secundarizados na hierarquia das culturas. Certamente eles precisam ser tratados e
trabalhados nas salas de aula. Contudo, espera-se também que as manifestações
culturais mais valorizadas socialmente venham a ser conhecidas, debatidas,
criticadas e desconstruídas. Deseja-se, além da crítica cultural, a expansão do
horizonte cultural do aluno e o maior aproveitamento possível dos recursos culturais
da comunidade em que a escola está inserida.
Assim, reconhecer a inexistência, no mundo contemporâneo, de
qualquer “pureza cultural” (MCCARTHY,1998), abre espaço na escola para a
complexa interpenetração das culturas e para a pluralidade cultural, garantindo a
centralidade da cultura nas práticas pedagógicas, tanto nas manifestações culturais
hegemônicas como nas subalternizadas, integrando-as ao currículo, confrontando-as
e desafiando-as através da comunicação.
50
3. COMUNICAÇÃO DIALÓGICA
PEIRCE (CP 5.506) quando afirmou que não se pode jamais
esquecer que o próprio pensamento é levado adiante como um diálogo, acrescentou
que ele também está sujeito praticamente a toda imperfeição da linguagem.
Considerando o diálogo como um tecido organizado e estruturado que faz parte da
natureza histórica dos seres humanos, conclui-se que ele é o instrumento para a
leitura do mundo e da palavra, transformando a realidade. Assim sendo, optou-se
por mencionar aqui definições que ajudarão a associar o conceito de dialogia ao
objeto de estudo.
Para Freire e Shor (1999, p.19)
O diálogo é uma espécie de postura necessária, na medida em que os
seres humanos se transformam cada vez mais em seres criticamente
comunicativos.(...) Na medida em que somos seres comunicativos, que
nos comunicamos uns com os outros enquanto nos tornamos mais
capazes de transformar nossa realidade, somos capazes de saber que
sabemos, que é algo mais do que só saber.
Freire e Shor (1999,p.20) também menciona a importância do
diálogo na formação cognitiva das pessoas que é, justamente, a função da escola
O diálogo sela o relacionamento entre sujeitos cognitivos.(...) O diálogo é
a confirmação conjunta do professor e dos alunos no ato comum de
conhecer e reconhecer o objeto de estudo. Então, em vez de transferir o
conhecimento estaticamente como se fosse uma posse fixa do professor,
o diálogo requer uma aproximação dinâmica na direção do objeto.”
Bakhtin e Freire concebem a linguagem, primordialmente, como
dialógica. Suas idéias sobre o homem e a vida são marcadas pelo princípio
dialógico, constituidor da existência humana, segundo o qual a interação entre os
sujeitos é o princípio fundador tanto da linguagem
51
interpretação dos enunciados. Nessa perspectiva, o centro da interlocução deixa de
estar polarizado entre o eu e o tu, passando a um movimento dialógico na
comunicação, ou seja, é criado um espaço entre ambos, como sujeitos empenhados
em um entendimento simultâneo, onde cada palavra é resultado de um diálogo,
numa relação de força entre o eu e o outro vozes que representam discursos
sociais e consciências inseridas nas classes sociais.
O ponto-chave aqui é que nossa voz é híbrida por natureza. Assim,
compreender não é simplesmente decodificar passivamente um sinal
alheio, como uma voz que responde mecanicamente a outra voz. Pelo
contrário, como assinala Barros, não importam apenas os efeitos da
comunicação sobre o destinatário, mas também os efeitos que a reação
produz sobre o destinador.(...) os falantes no diálogo se constroem e
constroem juntos o texto e seus sentidos (BAKHTIN 1998).
Explícito nessa colocação é que vigora, em cada indivíduo, o
seguinte princípio: minha fala se realiza e cria sentido se pensada em relação aos
outros. São os outros que me falam e é a eles que eu falo; falar é tanto responder
quanto dirigir perguntas. Sem isso eu não precisaria de palavras; se as tivesse não
fariam sentido; ainda que fizessem sentido, não teria por que pronunciá-las. Por
outro lado, as perguntas que me fazem me chegam com outro sentido, por isso
não respondo exatamente ao que me perguntaram. O mesmo ocorre com as
perguntas que dirijo aos outros. Assim, todos os indivíduos são indispensáveis e, ao
mesmo tempo, inatingíveis. Portanto, é na intersecção dessas interlocuções
intersubjetivas entre o eu e a voz do outro que surge a dinâmica da interação e
da interatividade, elementos fundamentais do dialogismo.
Interação e interatividade são conceitos que se interpenetram. A
interação (interação) refere-se à relação entre interlocutores (pólos de comunicação
verbal ou não verbal, mediada ou não por tecnologias) e aos efeitos de sentido daí
decorrentes.
A interatividade é aqui entendida como a possibilidade de interação
flexível (Lima, 2001), de relação recíproca dos interlocutores numa situação de
diálogo. Isso significa superar visões de um modelo redutor, marcado pela
unidirecionalidade, que coloca o emissor como propositor de mensagens fechadas e
o receptor passivo diante delas. Significa transformar e redimensionar o espaço da
52
recepção como espaço de interação e transformação e modificar os papéis de
emissores e receptores, para uma dinâmica relacional co-autores/criadores.
Em última análise, significa reconhecer que interagir é mais do que
simplesmente enviar e responder mensagens; é entender emissão e recepção como
espaços recursivos, já que emissor e receptor passam a fazer parte de um processo
de relações interligadas por fios dialógicos. Tais relações são sempre processuais,
isto é, estão sempre se confrontando, fazem-se e desfazem-se, constroem-se e
desconstroem-se, num jogo simultâneo e dinâmico.
Assim, se o autor/emissor cria espaços nos quais pode combinar
um mosaico de grafismos, sons, imagens, cores, movimentos e silêncios,
oferecendo conjuntos de possibilidades de redes de articulação e conexões, o
receptor pode neles interferir, modificando, associando ou re-significando, frente à
polissemia e à ambigüidade, por aproximações sucessivas, idas e vindas, que os
sentidos atribuídos pelo receptor nem sempre são os que foram pretendidos pelo
autor.
Assumir essa ótica na educação gera desafios. No campo
educacional, como foi dito, a comunicação tem apresentado ao longo dos tempos
um caráter linear, impositivo e monológico. Para Bakhtin (1992), monologia é a
qualidade dos discursos autoritários em que um único sentido sobressai, impedindo
que os demais venham à tona; as partes são dicotomizadas em emissor (destinador
da mensagem) e receptor (receptáculo acrítico do primeiro). Na prática, percebe-se
que o diálogo restringe-se a um plano inferior de detalhamento ou esclarecimento de
discursos monológicos prontos, oriundos de um emissor, cujo espaço interacional
para a co-construção praticamente não existe e a língua passa a ser um instrumento
de reprodução do sistema vigente.
Na perspectiva de Freire (1985a, p.67), para que o diálogo
realmente aconteça é condição que os sujeitos tenham um$ campo de significados
em comum. “Em relação dialógico-comunicativa, os sujeitos interlocutores se
expressam, como já vimos, através de um mesmo sistema de signos lingüísticos”
Ademais, Freire (1985b) critica o monologismo da comunicação,
quando afirma que ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as
53
possibilidades para a sua própria produção ou construção. Para ele, ensinar exige
criticidade e respeito à autonomia do educando. Caso contrário, far-se-á
comunicados, extensão e invasão cultural e não uma verdadeira comunicação. O
diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidarizam o
refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e
humanizado, não pode reduzir-se a um ato de depositar idéias de um sujeito no
outro, nem tampouco tornar-se simples troca de idéias a serem consumidas pelos
permutantes.
Fica evidente nessa abordagem que, a interação e a interatividade
são possibilidades para o diálogo numa dimensão criadora entre as diferentes
vozes, para a interpretação dos sentidos e para a construção coletiva do
pensamento.
No entanto, o diálogo não é um espaço livre onde se possa fazer o
que se quer, mas deve sempre estar inserido num contexto e ter justificativa na sua
construção. Ainda de acordo com Freire (1985b, p.20), o diálogo acontece no interior
de algum programa e contexto. “Esses fatores condicionantes criam uma tensão
para alcançar os objetivos de transformação, o dialogo implica responsabilidade,
direcionamento, determinação, disciplinas, objetivos”.
Para Bakhtin (1999), o uso do termo diálogo não se constitui em
mera cnica conversacional ou de evolução temático-discursiva capaz de revelar
pontos de vista e visões de mundo, nem mesmo numa estratégia para encobrir o
domínio através da linguagem:
O diálogo, no sentido mais estrito do termo, não constitui, é claro, senão
uma das formas, é verdade que das mais importantes, da interação
verbal. Mas, pode-se compreender a palavra diálogo num sentido amplo,
isto é, não apenas como a comunicação em voz alta, de pessoas
colocadas face a face, mas toda comunicação verbal de qualquer tipo.
(BAKHTIN 1999, P. 55)
Assim, afirmar a natureza dialógica da linguagem é entender que
existem variados tipos de signos e seus arranjos passam por permanentes
deslocamentos retroalimentando-se nas seqüências intertextuais/interdiscursivas
que funcionam em seus contextos histórico-sociais como fontes dialogicamente
produtoras de sentido. Deve-se ainda esclarecer que, para Bakhtin, se pode
entender o dialogismo interacional pelo deslocamento do conceito de sujeito. O
54
sujeito perde o papel de centro e é substituído por diferentes vozes sociais, que
fazem dele um sujeito histórico e ideológico.
Barros e Fiorin (1999, p.3) afirma que se concebe o dialogismo
como “espaço interacional entre o eu e o tu ou entre o eu e o outro no texto.” Assim
encontra-se o sentido atribuído por Bakhtin ao papel do “outro” na constituição do
sentido e também no fato de que “nenhuma palavra é nossa, mas traz em si a
perspectiva de outra voz.”
Para FREIRE (1985a), o homem é um ser de relações que,
desafiado pela natureza, transforma-a com seu trabalho, criando o mundo da cultura.
E ao criar o mundo do trabalho e da cultura ele se percebe historicamente imerso na
contradição opressores-oprimidos, advindo daí a necessidade de sua superação.
É impossível, na perspectiva freireana, compreender o pensamento
fora de sua dupla função: cognoscitiva e comunicativa. A intersubjetividade ou a
intercomunicação é a característica primordial deste mundo cultural e histórico. Daí
que a função gnosiológica não possa ficar reduzida à simples relação do sujeito
cognoscente com o objeto cognoscível. Sem a relação comunicativa entre sujeitos
cognoscentes em torno do objeto cognoscível desapareceria o ato cognoscitível
(FREIRE 1985a, p.65).
Em vista disso, a educação é concebida como um ato político e de
comunicação - e não de extensão - pois a comunicação “implica uma reciprocidade
que não pode ser corrompida” (FREIRE 1985b, p. 67).
Comunicação é educação, é diálogo, “na medida em que não é
transferência de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a
significação dos significados” (FREIRE 1985b, p. 69).
Nessa visão a educação está inserida na sociedade e não
descolada para ela e reduzida a uma função capitalista de mero
treinamento/ajustamento para o trabalho. O capitalismo faz uma educação do tipo
“bancária” que representa “a inconciliação educador-educandos”.
No momento em que o educador “bancário” vivesse a superação da
contradição não seria “bancário”. não faria depósitos. não tentaria
55
domesticar. não prescreveria. Saber com os educandos, enquanto estes
soubessem com ele, seria a sua tarefa. o estaria a serviço da desumanização,
a serviço da opressão, mas a serviço da libertação. (FREIRE 1985b, p.62)
Sob essa ótica, a educação serviria para auxiliar o processo de
transformação, de mudança. Assim, Freire e Shor afirmam:
O educador libertador tem que estar atento para o fato de que a
transformação não é uma questão de métodos e técnicas. Se a
educação libertadora fosse somente uma questão de métodos, então o
problema seriam algumas metodologias tradicionais por outras mais
modernas, mas não é esse o problema. A questão é o estabelecimento de
uma relação diferente com o conhecimento e com a sociedade. (FREIRE
e SHOR, 1992 p. 48).
Assim, a mudança também se a partir do campo da consciência
e, mais precisamente, da linguagem. Freire aponta que: “existir, humanamente, é
pronunciar o mundo, é modificá-lo. O mundo pronunciado, por sua vez, se volta
problematizado aos sujeitos pronunciantes, a exigir deles um novo pronunciar“
(FREIRE, 1985, p.78).
Dizer a palavra que é também trabalho, é práxis, é transformação
do mundo - não é privilégio de alguns, mas direito de todos.
(...) o diálogo é este encontro dos homens, midiatizado pelo mundo, para
pronunciá-lo, não se esgotando, portanto, na relação eu-tu. (...) Por isto o
diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se
solidarizam o refletir e o agir de seus sujeitos endereçados ao mundo a
ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de
depositar idéias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples
troca de idéias a serem consumidas pelos permutantes.(...) (opus cit,
p.82)
Sendo fundamento do diálogo, o amor é, também diálogo. Daí que
seja essencialmente tarefa de sujeitos e que não possa verificar-se na relação de
dominação. Nesta, o que há é patologia de amor: sadismo em quem domina;
masoquismo nos dominados. (FREIRE 1987 p. 78-80).
Freire atribui ao diálogo amoroso à chave da emancipação, mas
não um diálogo amoroso qualquer, e sim um diálogo que seja a expressão da
reflexão e da ação, ou seja, da práxis; pois para ele a realidade “é funcionalmente
domesticadora”. Libertar-se de sua força exige, indiscutivelmente, a emersão dela, à
volta sobre ela. (Freire, 1987, p. 38).
56
É por meio de um autêntico diálogo amoroso, crítico e reflexivo que
se o processo de conscientização e de humanização, fim último da educação,
que, segundo o autor, ocorre quando o homem, distanciando-se de seu mundo
vivido, problematizando-o, decodificando-o criticamente, no mesmo movimento da
consciência, redescobre-se como sujeito instaurador do mundo e de sua
experiência.
Contudo, a conscientização não significa dissertar sobre conteúdos
e doar aqueles saberes que nada têm a ver com os anseios, desejos, necessidades,
esperanças e temores do povo. Para que haja uma comunicação real e não
alienadora entre educador e educando é necessário que se estabeleçam, de comum
acordo, aqueles conteúdos (temas geradores) que serão trabalhados; e esse
processo investigativo implica uma metodologia que não pode contradizer a
dialogicidade da educação libertadora.
Nessa perspectiva, p autor considera essencial que o educador
dialógico, atuando como membro de equipe interdisciplinar, contribua para
problematizar esse universo temático recolhido na investigação, ao invés de
simplesmente devolvê-lo como dissertação aos seus emissores. Em vista disso,
critica o elitismo das lideranças sobre as massas oprimidas, mesmo em situações
ditas revolucionárias, pois não é revolução o que na prática se configura como
dominação. Para ele, uma liderança que não seja dialógica está mantendo o
“dominador” dentro de si mesmo, como uma sombra.
Percebe-se que essa é uma grande dificuldade para todos os
educadores pois, tanto presencialmente quanto em ambientes midiatizados por
alguma tecnologia, o educador encontra-se numa situação de liderança, o que,
desafiadoramente, constitui essa sombra que cria obstáculos à dialogicidade entre
os sujeitos da aprendizagem. Diante disso é necessário um olhar vigilante, amoroso
e atento do educador sobre si mesmo se quiser, de fato, se tornar um agente
transformador.
A perspectiva dialógica em Bakhtin (1986), partindo de uma
perspectiva contraditória da realidade, aprofundou uma lacuna teórica que permeia a
relação entre infra-estrutura e superestrutura por meio da linguagem e da
consciência e, interpretando-a, abriu caminho para outros teóricos e educadores
57
comprometidos com a mudança. Para ele, ao lado dos fenômenos naturais, do
material tecnológico e dos bens de consumo, “existe um universo particular, o
universo dos signos” (Bakhtin, 1988, p.32). Por sua vez, um signo (...) não existe
apenas como parte de uma realidade; ele também reflete e refrata outra. Ele pode
distorcer essa realidade, ser-lhe fiel ou apreendê-la de um ponto de vista específico.
(...) O domínio do ideológico coincide com o domínio dos signos: são mutuamente
correspondentes. Ali onde o signo se encontra, encontra-se também o ideológico.
Tudo o que é ideológico possui um valor semiótico (BAKHTIN, 1988, p.32).
A partir dessa premissa, resta perguntar de onde vem o ideológico
ou o signo do homem e de sua consciência? Para o autor o signo emerge das
relações intersubjetivas e interindividuais. Mas não de homens colocados ao acaso.
É fundamental que esses dois indivíduos estejam socialmente
organizados, que formem um grupo (uma unidade social): assim um sistema de
signos pode constituir-se. A consciência individual não nada pode explicar, mas,
ao contrário, deve ela própria ser explicada a partir do meio ideológico e social
(BAKHTIN, 1988, p.35).
E ainda: “separando os fenômenos ideológicos da consciência
individual nós os ligamos às condições e às formas de comunicação social. A
existência do signo nada mais é do que a materialização dessa comunicação
(BAKHTIN, 1988, p.36).
Portanto, a comunicação e a interação entre indivíduos, por meio de
sinais, gestos, sons e palavras (signos) constituem a origem dos fenômenos
ideológicos e, ao mesmo tempo, da consciência. Para Bakhtin (1988, p.36): “a
consciência individual não é o arquiteto dessa superestrutura ideológica, mas
apenas um inquilino do edifício social dos signos ideológicos”.
No entender de Bakhtin (1988), a palavra deve ser considerada um
signo e, em coseqüência disso, deve ser percebida como originária da relação
social, estando presente em todos os atos de compreensão e de interpretação.
Dessa maneira, como os signos mediam a relação do homem com sua realidade -
como material semiótico de sua consciência - toda atividade mental do sujeito pode
58
ser expressa sob a forma de signos, exteriorizando-se por meio de palavras, mímica,
ou quaisquer outros meios.
É precisamente na palavra que melhor se revelam as formas
básicas e ideológicas gerais da comunicação semiótica. (....) A palavra acompanha
todo ato ideológico. Os processos de compreensão de todos os fenômenos
ideológicos (um quadro,uma peça musical, um ritual, um comportamento humano)
não podem operar sem a participação do discurso interior. (..) Isso não significa,
obviamente, que a palavra possa suplantar qualquer outro signo ideológico
(BAKHTIN, 1988, p.36-38).
O discurso não é individual, ocorre entre interlocutores. A
linguagem não é falada no vazio, mas numa situação histórica concreta, em que se
interpenetram a enunciação, as condições de comunicação e as estruturas sociais -
nas e pelas interações entre sujeitos nas quais seu significado se realiza. Essa
tentativa de compreender as relações entre linguagem e sociedade, num complexo
diálogo entre a existência e a linguagem, entre o mundo e a mente, entre o que é
dado e o que é criado, entre o mundo da experiência em ação e a representação do
mundo no discurso, possibilita-nos compreender a impossibilidade de uma formação
individual sem alteridade, numa evidência da presença do outro na delimitação do
mundo interior.
Retoma-se, assim, o conceito de dialogismo, que diz respeito às
relações que se estabelecem entre o eu e o outro nos processos discursivos
historicamente instaurados pelos sujeitos, que, por sua vez, instauram-se e são
instaurados por esses discursos. E aí, dialógico e dialético aproximam-se, ainda que
não possam ser confundidos, uma vez que Bakhtin (1992) vai falar do eu que se
realiza no nós, insistindo não na síntese, mas no caráter polifônico dessa relação
exibida pela linguagem.
Embora para Bakhtin (1992) todo discurso ou texto seja dialógico,
nem todo texto mostra as várias vozes do discurso. Nos textos polifônicos, os
diálogos entre os discursos são vistos ou se deixam ver. nos monofônicos, essas
falas ou vozes são ocultadas, dissimuladas, mascaradas e apresentam-se como se
fossem uma única voz, um único discurso.
59
Assim, os discursos se constituem como monofônicos ou
polifônicos, ou respectivamente, autoritários ou poéticos. Quanto aos discursos
60
61
definidos na fórmula e a comunicação nada mais é do que algo parecido com a
energia elétrica, passando de uma fonte emissora a um receptor. Pode-se discutir os
fios, a qualidade da energia, a questão ideológica da fonte, a passividade ou
atividade do aparelho receptor, mas ainda assim será alguma coisa indo de um lugar
para o outro. O processo não muda.
Ora, o ato comunicativo está além do seu processo de
acontecimento. É um acontecimento único, que somente pode ser analisado como
unidade. Mesmo sabendo dos seus componentes formadores (emissor, mensagem,
receptor) – que não deixam de existir por não serem mais o alvo principal da análise
- o processo comunicacional deve ser entendido como um momento singular, com
suas próprias características. Em uma conversa não estão presentes somente um
emissor enviando alguma mensagem ao receptor. a história desses
personagens, a maneira como enxergam o mundo e o outro, o lugar onde se realiza
o ato, a cultura da linguagem adotada, o momento social, as três dimensões do
tempo - passado, presente e futuro - um processo complexo, enfim, onde há muitos
signos envolvidos. Em uma sala de aula, o que diz o professor a uma turma não é o
mesmo que ele diz a outra, mesmo que a mensagem e a receptividade dos alunos
sejam as mesmas. Aliás, se o professor precisar repetir a mesma aula para a
mesma turma, ainda assim será outro o processo comunicacional. As unidades
nesses processos são distintas, pois os outros signos (tempo, lugar, momento,
estado de espírito) estarão ampla ou discretamente alterados, o que um caráter
único a cada um deles.
Reconhece-se que a introdução de outras mídias no processo de
ensino-aprendizagem, através da comunicação, não pode ser ignorada. Ainda que
as escolas continuem a considerar educação apenas como aquilo que resulta de um
processo baseado na lógica da escritura, em que os alunos devem apreender aquilo
que lhes é ditado pelos conteúdos programáticos, no mais das vezes ultrapassados,
e devolvê-los em provas ou outras atividades equivalentes, a cultura está
impregnada desse novo jeito de pensar, de construir o imaginário. Educação,
portanto, não é apenas instrução.
Obviamente essa negativa advém da importância que a escola
sempre teve historicamente. Com grande parcela de responsabilidade pela
62
democratização do saber, sua fórmula teve êxito durante séculos. Muitas vezes
considerada apenas como fase de transição para o mercado de trabalho, ela
cumpriu adequadamente seu papel. Hoje, vê-se premida pelas novas condições
culturais, tornando-se muitas vezes, prioritariamente, um equipamento que serve ao
controle social e político, acabando por colaborar com a exclusão.
Não é possível tratar satisfatoriamente os problemas educacionais
sem fazer considerações acerca da sua historicidade e vinculação aos fenômenos
sociais mais amplos. As instituições pedagógicas são, antes de mais nada,
instituições sociais. Cada sociedade é levada a construir o sistema pedagógico mais
conveniente às suas necessidades materiais, às suas concepções do homem e a
vontade de preservá-las. Ou, talvez, o sistema mais conveniente à reprodução das
relações de poder que se manifestam em seu seio.
O fenômeno da mudança, todavia, não ocorre de forma mecânica.
Algumas sociedades passam por notáveis mudanças no campo político e econômico
e suas instituições permanecem. Pode-se mesmo admitir que as instituições
pedagógicas sobrevivem mais que quaisquer outras instituições sociais. Tanto é que
muitos dos autores dos principais métodos renovadores da educação não eram
pedagogos.
Como instituições sociais que são, as instituições educacionais
refletem características do sistema social em que estão inseridas. Mas em seu
interior manifestam-se naturalmente as contradições inerentes a esse mesmo
sistema social. Daí por que ações originadas do interior das instituições pedagógicas
podem gerar mudanças significativas no sistema social.
Importante papel nesse processo de mudança pode ser atribuído às
doutrinas pedagógicas. Essas doutrinas, oriundas na maior parte das vezes das
divergências entre os sistemas estabelecidos ou como obra de pensadores à
margem do seu meio, concorrem para induzir os indivíduos e exercem, por
conseqüência, uma influência sobre os acontecimentos históricos .
A análise de inúmeras doutrinas pedagógicas mostra como
algumas nada mais fazem do que refletir valores sociais dominantes. Outras
63
apontam para mudanças que devem ser feitas para ajustar a sociedade a novas
realidades. E outras envolvem até mesmo propostas de libertação dos oprimidos.
Está fora dos objetivos dessa tese tratar das inúmeras doutrinas
que floresceram ao longo da história, bem como da evolução das instituições
educacionais. Como, porém, o processo comunicacional em sala de aula é, de
alguma forma, influenciado pelas instituições educacionais, convém considerar as
principais perspectivas pedagógicas do século XX e suas relações com os modelos
de interação professo-aluno na escola.
1. Perspectiva Clássica
A perspectiva clássica da educação enfatiza o domínio do professor
(tutor), o ensino em sala de aula e a ênfase nos tópicos a serem ensinados. os
alunos como instrumentos passivos, capazes de aprender e aceitas as orientações,
mais muito imaturos para iniciar qualquer atividade significativa.
Segundo Gil (2005, p.24): “a preocupação básica da escola,
segundo a abordagem clássica é a de adaptar alunos à tarefa de aprendizagem.
Assim, o controle das atividades dos alunos é fundamental para evitar o desperdício
e a ineficiência.
O modelo clássico tem sua origem na Antigüidade Greco-Romana e
foi dominante nas primeiras décadas do século XX, e apesar dos ataques que lhe
têm sido movidos pelos educadores progressistas, ainda constitui modelo muito
valorizado em inúmeras partes do mundo. Em muitos países subdesenvolvidos,
inclusive no Brasil, onde a educação constitui privilégio de uma elite, o modelo
clássico aparece como preponderante e associado à reprodução das relações de
poder.
2. Perspectiva Humanista
Constitui uma reação à escola clássica e considera que o potencial
dos alunos é aproveitado apenas em parte. Por considerar que cada aluno traz para
a escola suas próprias atitudes, valores e objetivos, a visão centraliza-se no aluno e
sua preocupação básica torna-se adaptar o currículo a ele.
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Nessa perspectiva, a escola constitui a instituição mais
conservadora, rígida, tradicional e burocrática de nossa época e propõe, como
antídoto, o ensino centrado no aluno, em que o papel fundamental do professor é o
de facilitador da aprendizagem. As bases dessa orientação estão nas obras de
Comenius, Rousseau, Pestalozzi, Maria Montessori, Carl Rogers e, mais
recentemente, no Brasil são defendidas por Paulo Freire.
3. Perspectiva Moderna
Na perspectiva moderna propõe-se uma tendência conciliatória que
procura unir a ênfase do conteúdo sistemático da visão clássica ao caráter libertário
da escola humanista. Seu principal precursor foi Jonh Dewey que criticava a rigidez
curricular da escola clássica e não via conflito entre o conteúdo desse currículo e os
interesses dos alunos.
Convém lembrar que essa definição de três perspectivas constitui
uma simplificação. Dentro de cada uma delas podem ser encontradas posições
significativamente diferentes. Nesse sentido torna-se interessante visualizar o
quadro abaixo, proposto por Gil (2005) que contrasta os valores de cada uma delas:
PERSPECTIVA CLÁSSICA PERSPECTIVA HUMANISTA PERSPECTIVA MODERNA
Adaptação dos alunos aos
objetivos da escola
Adaptação da escola às
necessidades dos alunos
Harmonização entre as
necessidades dos alunos e os
valores sociais
Certeza Dúvida Probabilidade
Competição Cooperação Crescimento
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Autocracia Laissez- faire Participação
Disciplina Liberdade Responsabilidade
Reprodução Descoberta Criatividade
Orientação para o conteúdo Orientação para o método
Orientação para solução de
problemas
Ênfase no ensino Ênfase na aprendizagem
Ênfase no processo ensino-
aprendizagem
Quadro 1. Tipos de Perspectivas da escola
Outro ponto importante a ser considerado no processo
comunicacional refere-se à priorização da linguagem escrita, fazendo-se uso do livro
como principal referência na aquisição do conhecimento.
Percebe-se que a escola encarna e prolonga, como nenhuma outra
instituição, o regime de saber que a comunicação do texto impresso instituiu. A
revolução cultural introduzida pela imprensa instaurou um mundo de separação, feito
de territorialização das identidades, gradação/segregação das etapas da
aprendizagem e dispositivos de controle social da informação ou do segredo..
Paradigma de comunicação que, desde o fim do século XVII, converte a idade no
“critério coesivo da infância”, permitindo o estabelecimento de uma dupla
correspondência entre a linearidade do texto escrito e o desenvolvimento escolar – o
avanço intelectual caminha paralelamente ao progresso na leitura e entre ele e as
escalas mentais da idade. Essa correspondência estrutura a informação escolar de
forma tão sucessiva e linear que todo atraso ou precocidade serão tachados de
anormal, ao mesmo tempo em que a comunicação pedagógica é identificada com a
transmissão de conteúdos memorizáveis e reconstituíveis: o rendimento escolar se
mede por idades e pacotes de informação aprendidos.
Segundo Huergo (1995, p.84):
Interatuar com uma fonte educativa que interpela os sujeitos-audiência
essencialmente através dos sentidos e das emoções, é uma mudança
paradigmática importante nas teorias e entendimentos educativos e,
particularmente, nas concepções e compreensões da aprendizagem
contemporânea. Essas, tradicionalmente, se basearam em e referiram-se
à linguagem escrita, e mantiveram o livro como seu principal meio de
transmissão-apropriação.
66
É necessário deixar de considerar a educação como instrução, a
aprendizagem como produto apenas do ensino, o educando apenas como aluno e o
conhecimento como saberes fragmentados. É preciso incorporar a educação ao
sistema comunicativo no qual outros elementos estarão envolvidos. A escola não
pode utilizar apenas o livro, como se todo conhecimento emergisse dele e fora dele
não houvesse salvação, ou seja, um espaço onde o aluno será vitorioso se tiver
como parâmetro a linguagem escrita e o saber livresco.
Isso explica a antiga e pertinaz desconfiança da escola com as
outras linguagens. Um bom exemplo dessa desconfiança se no controle que a
escola faz no uso da imagem, seja subordinando-a a tarefa de mera ilustração do
texto escrito, seja acompanhando-a de uma legenda que indique ao aluno o que diz
a imagem.
Perseguido por todos os lados, esse modelo de comunicação
pedagógica não só continua vivo, como se reforça na defensiva por se distanciar dos
processos de comunicação, que hoje dinamiza a sociedade. Por um lado, negando-
se a aceitar o deslocamento cultural que atravessa o que foi seu eixo
tecnopedagógico: o livro.
Uma vez que a aprendizagem do texto (do livro-texto) associa,
através da escola, um modo de transmissão de mensagens e um modo de exercício
do poder, baseados ambos na escritura. Por outro, ignorando que, enquanto
transmissor de conhecimentos, a sociedade conta hoje com dispositivos de
armazenamento, classificação, difusão e circulação muito mais versáteis, disponíveis
e individualizados do que a escola. E atribuindo a crise da leitura de livros entre os
jovens unicamente à sedução maligna exercida pelas tecnologias da imagem. O que
poupa a escola de precisar questionar a profunda reorganização que vive o mundo
das linguagens e das escrituras com a conseqüente transformação dos modos de
ler, deixando sem apoio a obstinada identificação da leitura com o que se refere
somente ao livro e não à pluralidade e heterogeneidade de textos, relatos e
escrituras (orais, visuais, musicais, audiovisuais, telemáticos) que hoje circulam.
Com isso, não só a escola, mas também o sistema educativo inteiro
se nega a fazer perguntas como estas:
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1. Que atenção estão prestando as escolas, e inclusive as
faculdades de educação, às modificações profundas na percepção do espaço e do
tempo vividas pelos jovens, inseridos em processos vertiginosos de
desterritorialização da experiência e da identidade, apegados a uma
contemporaneidade cada dia mais reduzida à atualidade, e no fluxo incessante e
embriagador de informações e mensagens?
2. Que significam aprender e saber no tempo da sociedade
informacional e das redes que inserem instantaneamente o local no global?
3. Que deslocamentos cognitivos e institucionais estão exigindo os
novos dispositivos de produção e apropriação do conhecimento a partir da interface
que enlaça as telas domésticas da televisão com as possibilidades do computador e
as lúdicas dos videogames?
4. Está, a educação se encarregando dessas indagações? E, se
não o está fazendo, como pode pretender ser hoje um verdadeiro espaço social e
cultural de produção e apropriação de conhecimento?
Não é estranho, portanto, que nossas escolas continuem vendo nas
mídias unicamente uma possibilidade de eliminar o tédio do ensinamento, de
amenizar jornadas presas de inércia insuportável. No entanto, a atitude
eminentemente defensiva da escola e do sistema educativo os es levando a
desconhecer ou disfarçar que o problema de fundo está no desafio proposto por um
ecossistema comunicativo no qual o que emerge é outra cultura, outro modo de ver
e de ler, de aprender e conhecer. A atitude defensiva se limita a identificar o melhor
do modelo pedagógico tradicional com o livro e rotular o mundo audiovisual com o
mundo da frivolidade e da manipulação das mentes jovens, imaturas e indefesas.
Todavia, a realidade cotidiana da escola demonstra que a leitura e a escritura não
são atividades criativas e prazerosas, porém, predominantemente uma tarefa
obrigatória e entediante, sem possibilidades de conexão com dimensões-chave da
vida dos jovens. Uma atividade inclusive castradora: confundindo qualquer
expressão de estilo próprio na escrita com anormalidade ou com plágio, os
professores tendem, por habitus do ofício, a reprimir a criatividade quase
sistematicamente.
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Refletindo sobre essa argumentação reitera-se que a escola não
pode mais se omitir dessa nova forma de ver, ler, sentir-se e apropriar-se do mundo.
De acordo com Matin-Barbero:
Pela maneira como se apega ao livro, a escola desconhece tudo o que de
cultura se produz e circula pelo mundo da imagem e das oralidades: dois
mundos que vivem, justamente, da hibridação, da mestiçagem, do
revolvimento de memórias territoriais com imaginários deslocalizados.
(MARTIN BARBERO 2001, P. 61).
Tal informação nos coloca diante de um dos mais graves mal-
entendidos atuais, que o reconhecimento da multiculturalidade em nossos países
implica aceitar não as diferenças étnicas, raciais ou de gênero, mas significa
também aceitar que, em nossas sociedades, convivem hoje “indígenas” da cultura
letrada com indígenas da cultura oral desde a riqueza das narrativas étnicas às
urbanas da piada e da fofoca, do rap e do rock latino e as culturas do audiovisual,
do cinema e da televisão, da internet e dos videogames. E isto no seu sentido mais
forte, uma vez que essas três culturas configuram modos muito diferentes de ver e
de ouvir, de aprender, de sentir e de experimentar.
Ao reivindicar a presença da cultura oral e da audiovisual, não
estamos desconhecendo, de modo algum, a vigência da cultura letrada, mas
desmontando sua pretensão de ser a única cultura digna desse nome e o eixo
cultural de nossa sociedade. O livro continua e continuará sendo a chave da primeira
alfabetização formal que, em vez de se fechar sobre si mesma, deve hoje, pôr as
bases para essa uma segunda alfabetização que nos abre às múltiplas escrituras.
Porque estamos diante de uma mudança nos protocolos e processos de leitura, que
não significa, nem pode significar, a simples substituição de um modo de ler por
outro. Cabe a articulação complexa de um e outro, da leitura de textos e da de
hipertextos, da dupla inserção de uns em outros, com tudo o que isso implica de
continuidades e rupturas, de reconfiguração da leitura como conjunto de modos
muito diversos de navegar pelos textos. Pois é por essa pluralidade de linguagens
que passa, hoje, a construção de cidadãos, que saibam ler tanto jornais como
noticiários de televisão, videogames, videoclipes e hipertextos.
Por esse motivo a escola precisa aprender a trabalhar com as
novas possibilidades dos alunos, criados num ecossistema comunicativo que não se
restringe à utilização de imagens ilustrativas e outras relações como complementos.
69
Caso contrário, vão ficando cada vez mais distantes a experiência cultural de que
falam os professores daquela trazida pelos alunos, na qual eles interagem e
aprendem. E, conseqüentemente, a comunicação cai no vazio.
Buscando apoio na etimologia, a palavra professor significa aquele
que professa, ou seja, que tem algo a dizer. Então parece possível reconhecer que
produzir linguagem é: dizer algo para alguém, de uma determinada forma, num
determinado contexto histórico-cultural, utilizando uma ação comunicativa carregada
de intencionalidades. Isso transforma a interação professor-aluno, antes de tudo, em
uma rede semiótica.
Seguindo essa linha de raciocínio, ao tratar-se a ação comunicativa
do professor como semiose, estão-se tomando esses processos como formas de
comunicação complexas. Ou seja, todas as linguagens construídas em sala de aula
produzem sentido e significação. Entendendo existirem várias concepções de
linguagem, utilizaremos a definição de Koch (1997, p.9) como adequada a essa
discussão:
A linguagem humana tem sido concebida, no curso da história, de
maneiras bastante diversas, que podem ser sintetizadas em três
principais:
a. como representação (“espelho”) do mundo e do pensamento;
b. como instrumento (“ferramenta”) de comunicação;
c. como forma (“lugar”) de interação.”
Visto que as três concepções atribuem à linguagem funções
importantes, optou-se por adotar a terceira concepção, pois, acredita-se estarem
nela contidas as outras duas. oc explica que essa concepção encara a linguagem
como:
a atividade, forma de ação, ação interindividual finalísticamente orientada;
como lugar de interação que possibilita aos membros de uma sociedade a
prática dos mais diversos tipos de atos, que vão exigir dos semelhantes
reações e/ou comportamentos, levando ao estabelecimento de nculos e
compromissos anteriormente inexistentes. (KOCH, 1997, p.10)
Ou ainda, fazendo uso da definição proposta por Orlandi que
afirma:
Posso considerar a linguagem como um trabalho. No sentido de que não
tem um caráter nem arbitrário nem natural, mas necessário. E essa
necessidade se assenta na homologia que podemos fazer entre
linguagem e trabalho, i.e., considerando que ambos são resultados da
70
interação entre homem e a realidade natural e social, logo mediação
necessária, produção social. (ORLANDI 1987:25)
Sabe-se que as escolhas feitas ao produzir linguagens (falar ou
escrever), ou melhor, ao produzir um discurso, não são aleatórias – ainda que
possam ser inconscientes, mas sim decorrentes das condições em que esse
discurso é realizado. Neste sentido, a ação comunicativa pode ser vista como a
instanciação do modo de se produzir linguagem, isto é, no processo discursivo se
explicita o modo de existência da linguagem, que é social.
Para ORLANDI (1987), quando se interage verbalmente com
alguém, o discurso se organiza a partir dos conhecimentos que se acredita que o
interlocutor possua sobre o assunto, do que se supõe serem suas opiniões, suas
convicções, da relação de afinidade e do grau de familiaridade e ainda da posição
hierárquica que se ocupa em relação a ele e vice-versa. Isso pode determinar as
escolhas que serão feitas com relação ao gênero no qual o discurso se realizará, à
seleção do procedimento de estruturação e à seleção de recursos lingüísticos.
Assim, FIORIN (1996, p.27) ressalta que
Existem duas teses centrais para qualquer teoria do discurso:
a) o discurso, embora obedeça às coerções da estrutura, é da ordem do
acontecimento, isto é, da História;
b) não acontecimento fora dos quadros do tempo, do espaço e da
pessoa.
Isso conduz às seguintes conseqüências:
a) o discurso é o lugar da instabilidade das estruturas, é onde se criam
efeitos de sentido com a infringência ordenada às leis do sistema;
b) compreender os mecanismos de temporalização, de espacialização é
fundamental para entender o processo de discursivização.
Para Bakhtin (1998) a linguagem verbal não constitui uma entidade
homogênea. Ela é um instrumento social de comunicação e de interação entre os
indivíduos, diversifica-se e especifica-se em função dos usos e dos usuários para
construir gêneros de discursos. O discurso, quando é produzido, é manifestado
também através de textos.
Assim a comunicação pedagógica ressalta Orlandi (1987), por estar
vinculado à escola, isto é, a uma instituição, tende a ser um dizer institucionalizado
sobre as coisas, assegurando a autoridade da instituição de que se origina e para a
qual tende. A autora também considera que tal forma de comunicação pedagógica
se insere entre os discursos do tipo autoritário, pois:
71
No discurso autoritário, o referente está ausente, oculto pelo dizer; não
realmente interlocutores, mas um agente exclusivo, o que resulta na
polissemia contida (o exagero é a ordem no sentido em que diz “isso é
uma ordem”) em que o sujeito passa a instrumento de comando. Esse
discurso recusa outra forma de ser que não a linguagem. (ORLANDI
1987:15)
Ou ainda:
É um discurso exclusivista, que não permite mediações e ponderações. O
signo se fecha e irrompe a voz da autoridade sobre o assunto, aquele que
irá ditar verdades como num ritual entre glória e catequese. O discurso
autoritário lembra um circunlóquio: como se alguém falasse para um
auditório composto por ele mesmo (ORLANDI 1987:15)
Pode-se relacionar tal problemática ao entender os aspectos
evolutivos da escola no mundo e no Brasil.
4. ASPECTOS EVOLUTIVOS DA EDUCAÇÃO NO BRASIL
A tradição tem considerado o currículo escolar como o conjunto
organizado das atividades de aprender e ensinar, que se passam na escola.
Modernamente, porém o currículo é entendido como o conjunto de todas as
experiências do educando (atos, fatos, compreensões e crenças) sob a influência da
escola e, portanto, não deve ser confundido com programa escolar.
A escola primária brasileira (Ensino Fundamental), de caráter
popular, teve sua origem em uma escola destinada aos que não pertenciam à
nobreza. Inicialmente, foi uma escola eminentemente urbana, que atendia às
necessidades da nascente e crescente burguesia. Apesar de o latim ser a língua
internacional, inclusive no mundo dos negócios, os pequenos comerciantes
necessitavam realizar seu trabalho comercial. Para isso, deviam utilizar o vernáculo,
devido às necessidade de ler e escrever a língua local, para exprimir os cálculos
implícitos nas atividades comerciais. Surgem às escolas vernáculas, por iniciativa
particular, que, por sua vez, parece ter sido uma imitação das escolas mantidas
pelas corporações que no fim da Idade Média e na Renascença, tornavam-se
laicas e vernaculistas.
72
Na Idade Média, as corporações foram, predominantemente,
associações de comerciantes ou de artesões, sendo que cada ofício ou espécie de
artesanato organizava-se em corporação própria, cujos objetivos eram a
salvaguarda dos interesses da classe, tendo em vista o recrutamento de aprendizes,
o controle da produção, dos preços e da qualidade dos produtos.
Nascida de necessidades práticas, a escola encontrou o apoio de
dois fatos: a descoberta da impr39(ó)-4.33117(p)-4.3339(ó)-4.331156(o)-4.33056(i)1.87(s156(o)-4.33056(i)1.8.156(o)-4.33056(i)1.6117(s)-0.295585( )7.087(s15e)556.045( )-612.526(I)-2.16558)-612.526(I)433317(r)2.8056133117(p)-4.-32.1833(0.295585(o)-4.33117(l)1.87.(n)5.67535(t)3715(a)5.656.002]TJ-.33113117(m)-7.46(s)-0.2945(t)-2.16558(o)-4.331.(n)5.67535(t)3715(a)53(s)-0.293142(,)2786.94( )-22.1762(t)-2.1643-612.542.16558( )-32.1833(a)-171(d)5.67718(e)556.002]TJ-381.225 -20.64 Td[(0439(a)-4.3ç828)-4.33056(i)1.877(s)-0.2)53(s)-017(s)-0.295o Io11579(e)-4.3.67535(t)3715(a)53(s)-0295585(ã)5.67474(o5(a)5.656.0017(n)-4.33(a)5.656.0017(n)-4.33333117(b)/36(o)-6125585(e)-4.33117(s)-0.29553).16436(829431.164.12 0 0 cm0 G0 ge)-4-0.294974(o)-4.33056()-4.331.((j)11.8771(e)-4.331(d)[456(o)-4.336(o)-4.336(o)-4.3.n.33117(b)5.67474(7(b)/36(o)-61)-4.33117(r217(b)5.67474(7(3)5( )-612.526(I)-29m.16436(8294056.16558( )-32.1833(a)-585(c)-0.295585()-6125585(e)-4.33117(s)-0.29(I)4.33117(l)1h-0.21(e)-4.331m)-7.4971(p)-4.331172.336(o)-4.3)1.87(r)2.80439(39(ó)-4.33)-0.295585()(39(ó)-4.33)-07(bG(c)-53(a)-311723(a)-316(8294056.16558( )-3(a)-5.67474(u)-4.331s)-0.29(I)43(a)-93(s)-0295585(971(p)-3043uh-0.298-4.33)-07(bG(c)-53294056.1693(s)-93(s)-0q5R)-4.33117(s1c)-53294056.1693(s)-93(s)-0q591526(I)4)558(p1)1.14o693(s.6(d)2.6(d)2.((j)1655t)-4.3285[(a).)-4.3285-32z)-4.33117(ç)-0.295585(ã)53497(s)9.70788(p)-4.328733117(p)-4.-o.((j)1491526(I)4.336(o)-4.3.((j)3(a)-67474(p)-4.64(p)-4.6Jt6(o)-4.31m2.2057(d)-4.32873(e)556.002]TJ(s)ê-.3311645.67474(  )-4.32.67474( )-1817(b)5.67474(c)1d))-07(bG(c0q 2.16-4.33117-07(b2)53(s)095(c)1d))-07(b39(ó)-4.32(z3117-07(b)2.16436(o)-612.526(I)4c)1d))-07(b5ç91 0 Td[(o)-4.33117(s)9.12 )-612.526(I)17(ç)-0.13056(s)-0.294974(s)-0.294978033117(b)557474(e)-4.33117(c)-0b1mtip bG(c)-53294056.1c(s)9.70788(p)-4.328733117(p)-4.-o.((j)1[(o)-4.3311)bá974(s)-0.294978 2.16-4.33117971(p)-3043td
73
que a instrução não teria função utilitária, parecendo mesmo um luxo, próprio dos
senhores ricos que poderiam mandar seus filhos para as capitais, para freqüentarem
as aulas de latim e as academias.
Até a República e durante esta, o currículo escolar primário não
sofreu alterações fundamentais, a não ser em certos aspectos de orientação
metodológica, a conseqüência de tudo isso na educação foi que, de um lado, o
intelectualismo escolar reduziu o currículo primário às noções fundamentais de
leitura, escrita, cálculo elementar e a mais alguns conhecimentos científicos e
históricos e; de outro lado, o moralismo religioso e o civismo, os quais, na escola
primária, reduziram-se a uma simples transmissão de noções que os alunos deviam
memorizar.
A base teórica desse currículo, oriunda da posição filosófica e
idealista da segunda metade do século XVIII, no pensamento de DESCARTES,
KANT E ROUSSEAU, era a de que possuindo as noções básicas de instrução moral
e religiosa, leitura, escrita, elementos da língua e de lculo, o sistema legal, de
pesos e medidas, as ciências físicas e a história natural, tudo mais viria em
conseqüência. Bastaria “adquirir” essas noções e compreendê-las.
No Brasil, esse currículo consagrou-se porque, embora não
houvesse um processo restaurador bem definido, tal posição filosófica, política e
educacional casava-se perfeitamente com a mentalidade e os interesses daselites
dirigentes do segundo império. Esses aspectos são importantes para se
compreender certos aspectos do currículo da escola primária até 1930.
4.1 Debates e ensaios do fim do império
Um idealismo de prudência e mediação tendia a satisfazer
filosoficamente as elites dirigentes dos países europeus, no século XIX, com reflexos
evidentes sobre a orientação dos sistemas educacionais e, portanto, sobre os
currículos escolares.
74
PESTALOZZI havia chamado a atenção para as diferenças entre
a aprendizagem da criança e a do adulto: “o que para o adulto é elementar ou
primeiro, pode não o ser para a criança”. Contrário aos métodos e aos processos
punitivos da escola, mesmo sem qualquer base de estudo experimental, formulou
seu célebre conceito de ensino com base na intuição. A intuição pestalozziana tem
mais relação com a construção e a expressão das idéias. A chamada intuição
sensível foi uma realização concreta que poderia permitir a compreensão de uma
idéia existente no educando e, que deveria ensiná-lo a considerar cada objeto
como uma unidade em si, independentemente dos demais objetos que parecessem
associados a ele, pelo conhecimento da forma, isto é, de suas dimensões e
proporções. Finalmente, decompõe a própria intuição em seus elementos
constitutivos: os sons falados e cantados; a forma na geometria, na caligrafia e no
desenho; o número na contagem e no lculo. O que é importante, porém, é
assinalar que PESTALOZZI tentava partir da criança para o ensino e não
inversamente, isto é, da pré-determinação do conteúdo do ensino para a criança.
Em contrapartida, HERBAT desenvolveu suas pesquisas tendo
chegado à conclusão de que a vida mental consiste num jogo de representações,
que não supõe e nem exige uma atividade transcendental. Contudo, evitou o
associacionismo empirista mas adotou um de cunho idealista, pois o conteúdo da
consciência teria dois aspectos ou duas classes de representações: as meramente
formais ou lógicas e as materiais ou físicas. Sendo a vida mental o resultado de tal
jogo de representações e sendo o homem, sobretudo, vida mental, dirigir e formar
esta ultima seria dirigir e formar o homem. Educar seria, portanto instruir (MOREIRA,
1955, p.14). Se educação, porém, fosse sinônimo de instrução, seria preciso
despertar os interesses dos alunos para que a educação atingisse seu objetivo de
instruir. Dessas premissas gerais surgem os famosos passos formais da instrução
de Herbart.
O movimento intuicionista em pedagogia passou a corresponder ao
movimento elementarista ou atomístico em psicologia, dando margem a que se
procurasse substituir o ensino das noções através de processos verbais e
mnemônicos pelo da experiência sensorial partindo, não dos elementos logicamente
simples, mas dos psicológicos. O mesmo ocorreu com o método global DECROLY,
na aprendizagem da leitura, posteriormente ratificado pelos princípios da Gestalt.
75
O século XX assistiu aos trabalhos experimentais da psicogénetica,
com os estudos longitudinais da equipe de JEAN PIAGET, onde a intuição passa a
ser um processo ativo de construção das imagens mentais, por meio dos
deslocamentos espaciais da criança na exploração dos objetos e do meio, em geral.
As idéias de PESTALOZZI, FROEBEL, DEWEY E DECROLY, além
dos trabalhos de MADAME MONTESSORI sobre o ensino e aprendizagem especial,
tiveram reflexos no Brasil, nos séculos XIX e XX.
Os pareceres de Rui Barbosa, com base no ensino intuitivo,
instituíram para o ensino primário, no Município Neutro (Distrito Federal), que
geralmente servia de modelo para as províncias, as divisões das escolas públicas
em quatro categorias: jardins de crianças (jardins-de-infância), escolas primárias
elementares, escolas primárias médias e escolas primárias superiores. Tais
pareceres abordavam os processos pedagógicos a serem adotados. Para os jardins
de crianças, prescreveu-se a aplicação rigorosa das leis metódicas de FROEBEL e
um curso com duração de três anos, abrangendo as idades de quatro a sete anos.
Nos anos iniciais, o ensino deveria ser essencialmente intuitivo e de cultura moral.
Seria proibido todo ensino didático. A leitura e a escrita seriam excluídas
inteiramente de seu programa. A terceira classe seria intermediária, uma fase de
transição entre os jardins e a escola de primeiras letras. Os princípios de FROEBEL
seriam também observados, nesse período de transição. No último semestre do ano,
o aluno seria preparado para o ensino de leitura, cujo início dar-se-ia nas escolas
primárias elementares.
Na escola primária, o objetivo fundamental do ensino consistia em
prosseguir a cultura dos sentidos e o desenvolvimento das faculdades de
observação, apreciação, enunciação e execução. Para isto, eram rigorosamente
excluídos todos os sistemas mecânicos de ensino, todos os processos que
apelassem para a memória de palavras, empregando-se constantemente o método
intuitivo, o ensino pelas coisas, de que seria simples auxiliar o ensino dos livros. O
currículo primário é detalhadamente descrito.
76
4.2 A escola primária e a república
Vários fatores contribuíram para que, depois da proclamação da
Republica, o ensino tomasse novo impulso no Brasil, em quase todos os ramos e
graus.
A República manteve a descentralização dos ensinos elementar e
normal, que ficaram a cargo das administrações estaduais, mas consagrou os
princípios da obrigatoriedade e da universalidade do ensino elementar.
No início do século XX, entrecruzaram-se diversas escolas
filosóficas. Contudo, todas as correntes caracterizavam-se pelo criticismo na
interpretação da ciência, pelo positivismo, evitando conceitos e concepções que
ultrapassem os limites do que era sugerido pelas teorias e leis científicas e pelo
naturalismo.
O conteúdo curricular, que poderia ser determinado facilmente, não
era questão de maior importância nessa época, pois bastaria que tivesse um caráter
naturalístico, partisse da experiência individual, nos parâmetros do institucionismo
pestalozziano, adotasse um caráter elementarista (atomístico) formalizável em
passos metodológicos bem definidos e visasse a uma integração na formação do
educando, tendo em vista o corpo, o espírito e suas relações morais. Consagrou-se,
por isso, o culto às formas didáticas, dos métodos da calistenia (ginástica para a
forma do corpo) etc., numa orientação puramente normativa, quase ritual, com a
preocupação constante de não fugir à mecânica dos processos de ensino
considerados científicos.
No século XIX surge, na Alemanha e em outros paises da Europa, o
movimento em favor da escola única, cujo fundamento principal era de caráter social
e tinha por base o principio político-social do liberalismo, de igual oportunidade para
todos.
No Brasil, todas as escolas primárias tinham a mesma organização e
orientação e, de acordo com a Constituição da República, o ensino elementar devia
77
ser gratuito e obrigatório. A Constituição justificava, portanto, o que faziam os
Estados. Daí a escola única. Contudo, somando-se a isso á universalidade prática
que se atribuía aos métodos de ensino, teríamos não a escola única e européia, de
caráter sócio-político, mas as escolas imutáveis, rígidas e formalistas.
Entre outros fatores revolucionários e renovadores, o censo de
1920 marcou uma etapa decisiva na evolução progressiva do país, dada a
conscientização da realidade nacional em vários dos seus setores e, principalmente,
na situação cultural. As porcentagens de analfabetos, das pessoas improdutivas e
dos menores de quinze anos, bem como a renda “per capita” do brasileiro
representaram uma verdadeira ducha de água fria no ufanismo tão difundido e tão
caro à superficialidade cultural da classe media.
A guerra de 1914-1918 criou para o país, uma nova situação. Com o
desvio dos produtos manufaturados para o necessário esforço da guerra, foi preciso
improvisar uma indústria de emergência. Com o termino da guerra e normalização
do comércio internacional, surgiu a indústria nacional.
A industrialização trouxe várias conseqüências de ordem social,
dentre as quais aumentou o êxodo das populações rurais, atraídas pelas melhores
condições de vida e pela possibilidade de um trabalho melhor remunerado nas
cidades. Dada a falta de especialização da mão-de-obra, surgiram as dificuldades de
emprego e conseqüentemente aumento da marginalidade urbana.
Fenômenos sociais e psíquicos passaram a ser considerados por
estudiosos como DURKHEIN, COOLEY e outros, entre 1880 e 1920 (MOREIRA,
1955, p.79), como resultantes da interação. A educação passou a ser considerada
um fenômeno eminentemente social, uma função dependente de múltiplas variáveis
políticas, econômicas e culturais, ou seja, de interação social.
4.3 Uma nova filosofia da experiência e do conhecimento
A filosofia pragmatista norte-americana, com DEWEY, tem como
ponto de partida o aspecto biossocial, ao considerar o homem um organismo situado
78
num ambiente que se modifica e se refaz continuamente. O homem não apenas
sofre tais modificações, mas nelas intervém em seu próprio benefício. O raciocínio
não se inicia por premissas, universalmente estabelecidas, mas nas dificuldades de
uma certeza transcendental, em uma hipótese que se tornará verdadeira unicamente
mediante a sanção prática da experiência. Logo, a função do pensamento, em
relação ao mundo, não é compreendê-lo ou explicá-lo, num sistema coerente e
racional de conceitos e teorias ideológicas, mas controlá-lo e modificá-lo, na medida
das possibilidades e das necessidades humanas. A educação deveria ser realizada
na prática educativa, com o desenvolvimento de todas as aptidões que possibilitem
o controle do meio ambiente. O indivíduo vive em sociedade, e a educação é um
instrumento poderoso para a reconstrução social, política e moral.
A escola converte-se numa agência da comunidade e tem por
ambiente, como campo de trabalho, não apenas espaço geográfico, mas toda a
comunidade escolar e a sociedade em geral.
Antes de 1920, outros psicólogos, sociólogos e educadores
contribuíram para dar novo sentido à educação. A idéia era de que o ensino deveria
ajustar-se aos diferentes estágios de desenvolvimento da criança, daí a importância
dos testes na organização de classes homogêneas, e o currículo para a escola
elementar ter por base os pontos sicos e essenciais à vida. Considerou-se o
conhecimento das próprias necessidades da criança em termos de alimento,
agasalho, proteção contra os perigos, necessidade de ação e de trabalho
cooperativo. Considerou-se também, o conhecimento do meio, focalizando a ação
ambiental sobre o indivíduo e a sua reação ao meio: (1) a criança e a família, (2) a
escola, (3) a sociedade, (4) os animais, (5) as plantas, (6) a terra, a água, o ar e os
minerais, (7) o sol, a lua e as estrelas.
Segundo Dewey e seguidores, o problema do currículo se resolveria
com as crianças, pois elas deveriam organizar-se em grupos, dotados de
mecanismo para a determinação das pequenas situações de vida que enfrentariam
e para o processo dos estudos, para a avaliação e para a ação, baseadas no próprio
julgamento. As capacidades e habilidades requeridas pelas chamadas matérias de
ensino da escola, de atividades (ler, escrever, calcular etc.) seriam lançadas dentro
dos projetos de atividades, dotando os alunos dos instrumentos de que
79
necessitassem, fazendo-os tomar consciência dessa necessidade, para a solução
dos problemas da vida real que levariam dentro da escola. O professor passaria a
ser um conselheiro, um guia que cooperaria na solução dos problemas. Ao invés do
material didático estereotipado do tipo Decroly ou Montessori, materiais de trabalho
semelhantes ou idênticos aos utilizados na vida real (martelo, tesoura, faca, canivete
etc.) e mais matéria-prima (madeira, argila, papel, tintas, panos etc.). Posteriormente
Piaget irá focalizar o papel ativo da criança no estabelecimento das relações
implicativas (entre ações) e explicativas (relações causais entre os objetos) na
exploração do meio. As idéias de Dewey, ligadas à escola nova, iriam influenciar o
movimento renovador da escola no Brasil..
A primeira reforma de ensino no país, planejada e executada por
Fernando De Azevedo procurou se enquadrar dentro da nova orientação, surgida na
Europa e nos Estados Unidos. Além da falta de consciência da necessidade e do
valor da educação, por parte da sociedade brasileira, a reforma foi elaborada por um
homem culto, familiarizado com as modernas idéias pedagógicas, mas teve
dificuldades na sua execução.
O ensino deveria adotar o método intuitivo, recorrendo à observação
direta da natureza, na escola ou em excursões, às projeções fixas e
cinematográficas. Os livros seriam utilizados como meios de consulta e referência, a
fim de completar e sistematizar, sob a orientação do mestre, os seus conhecimentos.
A modelagem e o desenho seriam utilizados como instrumentos de expressão no
ensino das várias disciplinas. Assim, na determinação do currículo escolar, estariam
presentes as recomendações metodológicas, muitas delas mencionadas nos
pareceres de 1882.
Considerando as reformas, três princípios se destacaram na
organização do currículo escolar: (1) atendimento às possibilidades psicobiológicas
da criança; (2) adequação do currículo aos interesses, problemas e atividades
sociais do meio; (3) tratamento das matérias escolares como instrumentos de ação e
não como fins em si mesmas (MOREIRA, 1955, p.122).
Resumindo, as reformas que Fernando de Azevedo, Lourenço Filho,
Anísio Teixeira e outros educadores brasileiros realizaram em diferentes estados da
Federação tentaram dar aos currículos escolares primários um sentido de transição
80
para outros a serem construídos mais tarde, que tivessem por centro a criança e, por
motivo, a ambiência social da escola (MOREIRA, 1955 p.140).
4.4 O currículo na década de 1950
As reformas propostas pelos adeptos do Manifesto da Educação
Nova, visando à transição da escola clássica para a escola ativa e funcional foram
evidentemente combatidas, a partir de 1937, com a implantação do Estado Novo. A
população urbana, porém, necessitava de educação, procurando e exigindo-a, mas
sem nenhum senso discriminatório, qualquer escola servia. A solução foi criar os
cursos superiores e os demais graus de ensino, como processos intermediários.
Como o povo brasileiro dava à escola o significado de ascensão social, dada sua
tradição cultural de uma aristocracia de doutores, transplantada de Portugal, a
escola elementar perdeu seu significado de “escola para educar”, para se tornar
mera preparação para o ensino secundário.
O currículo escolar primário mais comum no Brasil, em 1954,
abrangia as seguintes disciplinas: (1) matemática (cálculo aritmético e elementos de
cálculo geométrico); (2) linguagem (oral, escrita, caligrafia, composição, gramática,
ortografia, literatura); (3) noções de ciências sociais (geografia, história, economia
regional, higiene); (4) noções de ciências naturais (o homem, os animais, as plantas
e fenômenos naturais); (5) desenho e trabalhos manuais; (6) canto e primeiras
noções de teoria musical: (7) Educação Física (com predominância de jogos infantis
e de exercícios calistênicos).
Os programas eram pré-estabelecidos, minuciosamente elaborados
pelos órgãos centrais da administração escolar, ponto por ponto, havendo
obrigatoriedade de sua execução integral (MOREIRA, 1955, p.157). O índice de
reprovação era muito alto, com os prédios escolares mal construídos e mal
instalados.
O professor não era considerado um guia, um orientador das
atividades dos alunos, mas um censor e distribuidor de tarefas; comportava-se como
81
um fiscal, sempre à frente da classe, distribuindo trabalhos, questionando, exigindo,
punindo muitas vezes e premiando raramente, mesmo assim de modo inadequado,
pois que o fazia estabelecendo discriminações ou paralelos de oposições entre
supostos valores individuais.
O ambiente integral da classe envolvia a exigência do silêncio dos
alunos, com exceção nas lições orais, quando a criança dava vasão às energias
reprimidas, respondendo em voz alta, quase gritando, não raro em uníssono,
provocando alarido, não se podendo ouvir a voz do professor, que também gritava.
O aluno devia permanecer sentado e se levantar com permissão expressa do
professor (MOREIRA, 1955 p.164). O material didático era escasso na escola
urbana e inexistente na rural. O que existia era de tipo padronizado: mapas
geográficos não adequados ao ensino elementar, globo terrestre, gravuras para o
ensino de linguagem, de cálculo, de ciência e um ou outro equipamento mais
moderno.
As bibliotecas existentes não obedeciam a qualquer plano curricular,
sendo constituídas por livros que se conseguia arranjar. Tratava-se de um ensino
formalista, rígido, desinteressante, monótono e de armazenamento de noções e
informações, sem qualquer sentido funcional para a vida da criança. Nas palavras de
MOREIRA (1955, p.166), não se tratava do velho regime de “a letra com sangue
entra”, mas certamente era um regime de “aprenda quem puder e se quiser”. Além
disso, o isolamento da escola, em relação à comunidade, era quase total. O contato
entre professores e pais era raro.
De acordo com pesquisas da época, havia ausência total de
planejamento das atividades, dado que o regulamento tudo previa. As classes eram
agrupadas por série e conforme dados de nove estados, na primeira rie haviam
crianças de seis anos e meio a quatorze anos; na segunda série, crianças de sete a
dezesseis anos; na terceira, crianças de oito a quinze anos e, na quarta série,
crianças de nove a quatorze anos. O número de alunos por classe variava de seis a
mais de cinqüenta (MOREIRA, 1955 p.171). O trabalho do professor era limitado
pelas más instalações, pela aglomeração de alunos em classe, pela falta de material
didático e pela escassez de recursos.
82
4.5 O manifesto dos pioneiros da educação nova e sua influencia na
organização da educação básica
Com a disseminação da industrialização, a demanda potencial da
educação exerceu pressão na expansão da rede escolar, que cresceu muito e de
modo inadequado, devido a discriminação social, a falta de elasticidade da oferta, ao
baixo rendimento do sistema escolar (ROMANELLI, 2001, p127). Ocorreu uma
defasagem entre a educação, que se achava vinculada às contradições políticas
causadas pelas lutas entre várias facções das camadas dominantes na estrutura do
poder, e o desenvolvimento.
De 1937 a 1946, foram decretadas as leis orgânicas do Ensino e a
criação do SENAI e do SENAC, representando intervalo das lutas ideológicas em
torno dos problemas educacionais.
Em 1946, é vetada a Constituição que restabelece o regime
democrático e, em 1961, é votada a Lei de Diretrizes e Bases. A Associação
Brasileira de Educação, criada em 1924, por um grupo de educadores brasileiros,
baseou-se no movimento da Escola Nova, irrompido na Europa e nos Estados
Unidos, que focalizava a educação em seus aspectos psicológicos, sociológicos e
biológicos, como já foi mencionado. Várias obras foram publicadas no Brasil. A
Associação Brasileira de Educação foi o centro de divulgação dessas mudanças
marcando o início da luta ideológica, que culminou com o manifesto dos Pioneiros da
Educação Nacional, em 1932, e, mais tarde, com as lutas ao redor da LDB, Lei
6024.
O Manifesto dos Pioneiros da Educação Nacional apresentou
debates sobre a gratuidade e obrigatoriedade do ensino, a laicidade, a co-educação
e o Plano Nacional de Educação. Duas correntes ideológicas confrontaram-se: a do
grupo que defendia os princípios da gratuidade, laicidade, co-educação e Plano
Nacional de Educação e a do grupo católico, que considerava o monopólio do
Estado, a não religiosidade e a co-educação, como um perigo que ameaçava os
83
princípios do catolicismo. A situação vigente era de conflito entre o novo e o velho,
entre o novo regime político e as velhas oligarquias, entre o capitalismo industrial e o
predomínio da economia rural. O momento histórico pedia que a educação se
convertesse, de uma vez por todas, num direito, porque, na verdade, ela era um
direito biológico do ser humano e, como tal, deveria concretizar-se e, para tanto,
deveria estar acima de interesses classistas.
O manifesto vislumbrava a educação como um problema social.
Partindo da aplicação do método científico aos estudos educacionais, gerou uma
nova concepção de educação, segundo a qual o educando, com seus interesses,
suas aptidões e tendências, é que deveria ser o centro da ação pedagógica. E ainda
solicitava autonomia para a função educativa e descentralização do ensino.
4.6 A lei 5.692 – a reforma do ensino de primeiro e segundo grau
A redefinição da política educacional deveria incluir, desde suas
origens, a reformulação do modelo de educação primária e média, de caráter
dualista e seletivo, seria necessária, assim a integração das escolas primárias e
médias. Esta reformulação estava ligada aos objetivos do ensino do segundo ciclo
(atual segundo grau), com vistas a um desvio de demanda social da escola superior.
A crise na Universidade era representado pelo aumento constante dos excedentes
dos exames vestibulares e pela pressão por mais vagas. Contudo, a reformulação
do ensino de primeiro grau era mais importante e atendia melhor aos interesses da
retomada da expansão econômica eminente, exigindo um aumento do nível geral de
escolaridade do trabalhador.
A profissionalização do nível médio era vista como uma exigência,
cujo resultado seria a seleção somente dos mais capazes para a universidade, dar
ocupação aos menos capazes e, ao mesmo tempo, conter a demanda de educação
superior em limites mais estreitos.
Segundo o artigo da Lei 5692/71, “O ensino de e graus tem
por objetivo proporcionar ao educando a formação necessária ao desenvolvimento
84
de suas potencialidades como elementos de auto-realização, qualificação para o
trabalho e preparo para o exercício consciente da cidadania”.
A auto-realização, qualificação para o trabalho e exercício
consciente da cidadania a serem atingidos pela formação na escola de primeiro e
segundo graus ligam-se aos processos educativos condicionados por uma Filosofia
da Educação ligada à ideologia política vigente. Como extensão da educação
recebida na família, a educação escolar iria permitir maior ou menor autonomia,
dependendo do tipo da interação social desenvolvida entre a criança e o professor,
bem como entre a criança e seus pares, extensão das interações sociais
desenvolvidas no seio familiar.
O cultivo do espírito crítico e do incentivo à criatividade, do jogo
dialético desenvolvido nas interações da criança com o meio social iria permitir o
desenvolvimento de uma personalidade consciente e integrada, em termos de
direitos e de deveres socialmente determinados. Contudo, esta prática psico-
pedagógica, desenvolvida num ambiente democrático, parece o ter sido a tônica
do ambiente escolar, nos idos da década de setenta, não tendo sido igualmente
observada, nas décadas seguintes, incluindo a atual.
Resumindo, os meios disponíveis, procedimentos de aprendizagem
e ensino apresentavam-se como problema fundamental em função dos objetivos a
serem atingidos na educação básica. Por um lado, a escola deveria propiciar os
conteúdos e os métodos para a efetivação de uma cultura geral básica e uma
educação real para o trabalho, acentuando-se, para isso, o tipo de relacionamento
social implícito nessa pratica pedagógica, que venha a permitisse o pleno
desenvolvimento moral e intelectual e a futura prática da cidadania.
Considerando-se as mudanças estruturais do ensino introduzidas
pela Lei 5692/71, observa-se a ampliação da obrigatoriedade escolar básica para
oito anos,ou seja, de sete a 14 anos. O Estado tem suas obrigações aumentadas
com relação à educação. Essas modificações foram consagradas em dois planos do
curso primário (escola elementar) e do curso ginasial em um curso fundamental
de oito anos. Eliminou-se, assim, o ponto de estrangulamento do antigo sistema,
representado pela passagem do primário ao ginasial mediante os exames de
admissão. Esse exame de admissão era um dos principais agentes responsáveis
85
pela seletividade. No plano horizontal, as mudanças eliminaram o dualismo existente
entre a escola secundária e a escola técnica, com a criação de uma escola única de
primeiro e de sendo graus: o primeiro grau com vistas, além da educação geral
fundamental, à sondagem vocacional e à iniciação para o trabalho; o segundo grau,
com vistas à habilitação profissional de grau médio (ROMANELLI, 2001, p.238).
A Estrutura da Educação Fundamental e Média Brasileira proposta
pela Lei é a seguinte:
1. Ensino de primeiro grau, com oito anos de duração e uma carga horária de
720 horas anuais. Destina-se à formação da criança e do pré-adolescente da
faixa etária que vai de sete a quatorze anos, de caráter obrigatório (art.17, 18, 19
e 20);
2. Ensino de segundo grau, com três ou quatros anos de duração e carga
horária de 2.200 horas para os cursos de três anos e 2.900 horas, para os cursos
de quatro anos. Destina-se à formação do adolescente (art.21, 22);
3. O ensino de primeiro grau, além da formação geral, passa a proporcionar a
sondagem vocacional e a iniciação ao trabalho; o de segundo grau passa a
constituir-se em um nível de ensino cujo objetivo primordial é a habilitação
profissional.
A Lei determina também a mudança no ensino supletivo, destinado a
proporcionar a jovens e adultos a educação que não tiveram no tempo adequado, a
suprir a escolarização incompleta ou a aperfeiçoar e atualizar conhecimentos; o
curso supletivo passa a ser ministrado por meio de comunicação de massas (art.24 -
28).
A integração do primário com o ginasial no sentido vertical e a
substituição da antiga estrutura dualista por um sistema único de escola, voltada
para a educação básica e preparação para o trabalho, não permaneceram no
plano físico da simples justaposição de ciclos e reunião de conteúdos, mas se
fundamentou também nos princípios da continuidade e da terminalidade.
A continuidade se baseia em uma educação geral ampla, nas
primeiras séries do primeiro grau; para a formação especial e as habilitações
86
profissionais, no segundo grau. Garantiu-se, assim, um núcleo comum de
conhecimentos básicos em todos os níveis e em todas
87
Resumindo, o currículo pleno do ensino de primeiro e de segundo
graus passa a ser composto de uma parte geral e outra de formação especial. A
educação geral deve fornecer uma base comum de conhecimento e será dominante
no ensino de primeiro grau. A formação especial visa, no ensino de primeiro grau, á
sondagem de aptidões e iniciação para o trabalho, sendo incluída nas séries finais
deste nível, em caráter não dominante e, no segundo grau, visa à habilitação
profissional, dominante neste nível. Desta forma, a educação geral definirá à
continuidade e a formação especial, a terminalidade. No âmbito da educação geral,
passa a ser fixado um núcleo comum para todos os níveis e para todo o território
nacional, em caráter obrigatório. Este núcleo comum foi fixado pelo Conselho
Federal de Educação (Parecer 853/71 e Resolução nº 8/71).
Os núcleos comuns fixados para os dois graus de ensino definem o
tratamento metodológico dos conteúdos, em termos de atividades, áreas de estudos
e disciplinas. As atividades são definidas como experiências vividas e são
predominantes nas séries do primeiro grau; as áreas de estudos, constituídos por
conteúdos afins, deveriam predominar nas séries finais do primeiro grau; as
disciplinas, consideradas conhecimentos sistemáticos, deveriam predominar apenas
no segundo grau.
O núcleo comum envolve uma classificação tríplice: (a) comunicação
e expressão; (b) estudos sociais e (c) ciências.
No artigo terceiro, a Resolução 8/71 fixa os objetivos do ensino do
núcleo comum: (a) Comunicação e Expressão visam ao cultivo de linguagens que
ensejam ao aluno o contato coerente com seus semelhantes e à manifestação
harmônica de sua personalidade, nos aspectos físicos, psíquico e espiritual,
ressaltando-se a Língua Portuguesa, como expressão da Cultura Brasileira; (b) nos
Estudos Sociais, ao ajustamento crescente do educando ao meio cada vez mais
amplo e complexo, em que se deve, não apenas viver, como conviver, dando-se
ênfase ao conhecimento do Brasil, na perspectiva atual do seu desenvolvimento; (c)
nas ciências, ao desenvolvimento do pensamento lógico e à vivencia do método
científico e de suas aplicações.
Ao núcleo comum foi anexado um elenco de matérias obrigatórias:
Educação Física, Educação Moral e Cívica, Educação Artística, programas de
88
Saúde e Religião (obrigatória para os estabelecimentos oficiais, mas optativa para o
aluno) (cf. art. 7º e § único).
Esta parte obrigatória do currículo deixa de ser mínima, e sua
composição plena inclui uma parte de formação especial.
Os pareceres e resoluções do Conselho Federal de Educação
apresentam fundamentação teórica de caráter empirista, bem como traços evolutivos
de psicogenética. A Lei destaca muita a palavra “ensino”, sem considerar as reações
de aprendizagem implícitas numa abordagem dialética construtiva. Nesse período,
os estudos de Psicogenética desenvolvidos pela equipe de Genebra eram levados
para a sala de aula brasileira, não para fundamentar a prática psicopedagógica, mas
para se ministrar as provas de conservação pela repetição e pelo reforçamento
extrínseco. A influência do Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova era muito
viva e presente nas escolas.
Sem fazer distinção entre o que as linhas européia e americana
propunham, a primeira apresentando material didático específico e ensino global
(integração de áreas de conhecimento) e a segunda propondo formas de
comportamento e de interação social, dentro da escola e entre esta e a comunidade,
as escolas paulistas procuravam atender aos princípios globais e sincréticos
implícitos na percepção, propostos por Decroly e confirmados pelos princípios da
psicologia da forma, tanto na integração de conhecimentos desenvolvidos pelo
método dos projetos de Dewey e de Kilpatrik, quanto pelo método global no ensino
da leitura e da escrita.
Na Universidade de São Paulo, no departamento de psicologia
experimental, tentou-se ensinar as provas de conservação de quantidades, com a
criança sendo reforçada por balinhas, nos parâmetros do behaviorismo de Skinner,
não fazendo distinção entre o ensino e aprendizagem desenvolvida por relações
lógicas, nos parâmetros do construtivismo dialético e por associações de estímulos e
respostas por repetição, segundo empirismo associacionista. Além disso, as
tentativas de aplicação de Piaget na sala de aula, além do foco nas provas de
conservação, defendiam a não-intervenção do professor como orientador ou
mediador das atividades pedagógicas, ficando a criança abandonada à própria sorte,
e gerando confusão entre pesquisa básica e pesquisa aplicada.
89
A instrução programada, desenvolvida na linha behaviorista, teve
seu período áureo nas décadas de sessenta e setenta, cuidando da organização das
atividades pedagógicas, mas de modo inteiramente desvinculado da coordenação
de ações e de um sujeito ativo construindo relações na aprendizagem. A atividade
defendida pelos princípios da complementação de frases, preenchimento de lacunas
etc. acentuava-se os pequenos passos na aprendizagem e o reforço imediato, com o
educando verificando a veracidade ou falsidade de suas respostas. Nas máquinas
de ensinar, tão em voga nos Estados Unidos, na década de 1970, a criança, além de
conferir de imediato sua resposta, recebia, também, de modo automático pelo
dispensador da quina, uma bala ou chocolate. Os professores dispunham de
sacos de biscoitos e de chocolates para o reforçamento da criança na situação
coletiva de sala de aula, cujos resultados eram a frustração e o fracasso dos menos
dotados (MONTEIRO, 1966).
Apesar de a instrução programada ter dispensado a presença do
professor censor, tão presente na escola tradicional, e ter atendido ao principio da
organização do material didático, não conseguiu atender ao principio da atividade
implícito na construção dos significados e cientificamente demonstrado pelos
estudos longitudinais de Jean Piaget.
Finalizando, a Lei 5692/71, apesar de vigorar num período repleto de
discussões sobre processos de ensino e aprendizagem, não considerou a
verdadeira formação integral na educação básica, por ter deixado inteiramente de
lado a educação pré-escolar, o que representou verdadeiro retrocesso da educação
básica brasileira.
4.8 A nova Lei de diretrizes e bases da educação nacional – Lei nº 9.394
de 20-12-1996
A nova Lei de Diretrizes e Bases (9.394/1996) ratifica e completa a
integração dos diferentes níveis de ensino, iniciada pela Lei 5692, estabelecendo as
competências de cada nível de governo e dos estabelecimentos de ensino (arts. -
90
19º); prevê a colaboração dos Estados e Municípios, de tal modo que a União teria a
responsabilidade de elaborar o Plano Nacional de Educação, tecendo as áreas de
consenso com a colaboração dos demais níveis de governo (GOMES, 1998, p. 160).
Na integração dos diferentes níveis de ensino, a lei diferencia dois níveis de
educação, básica e superior, criando nova concepção que confere maior
continuidade e integração ao sistema como um todo, e à educação básica, em
particular, composta pela educação infantil, pelo ensino fundamental, pelo ensino
médio, pela educação de jovens e adultos, não deixando de considerar a educação
especial.
Quanto aos princípios e fins da educação, a nova Lei inspira-se nos
princípios de liberdade e nos ideais da solidariedade humana, cuja finalidade é o
pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para a cidadania e sua
qualificação para o trabalho (Título II, art. 2º).
Do ponto de vista do desenvolvimento das atividades pedagógicas, a
Lei deixa margem para a consideração dos princípios psicogenéticos, como base de
todo o processo educativo, alicerçado na cooperação e na solidariedade, onde a
autonomia moral e intelectual deve ser plenamente desenvolvida (PIAGET/HELLER,
1968).
O artigo terceiro da Lei acentua os princípios básicos do ensino em
onze incisos, que focalizam: a igualdade de condições para acesso e permanência
na escola; liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e o saber; pluralismo de idéias e de concepções pedagógicas;
respeito à liberdade e apreço à tolerância; existência de instituições públicas e
privadas de ensino; gratuidade do ensino público em estabelecimentos oficiais;
valorização do profissional da educação escolar; gestão democrática do ensino
público, na forma desta lei e da legislação dos sistemas de ensino; garantia de
padrão e de qualidade; valorização de experiências extra-escolares; vinculação
entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.
O inciso III, do mesmo artigo 3º, acentua o pluralismo de idéias e de
concepções pedagógicas como um dos princípios a serem endossados pela
dinâmica curricular. Não resta dúvida de que a diversidade cultural tem que ser
considerada, não em termos de abordagens teóricas quanto de diferenças
91
individuais da clientela escolar. A interdisciplinaridade e a transdisciplinaridade
serão possíveis com a cooperação e o respeito mútuos, entre os profissionais da
educação, mas somente a pesquisa poderá confirmar ou não o que os grandes
teóricos do conhecimento apontaram. A ciência da educação será construída por
meio da pesquisa realizada em diferentes contextos sócio-culturais, a fim de se
considerar a diversidade cultural e desenvolver um ensino e aprendizagem com
base na cooperação e no respeito mútuo. Ao lado da diversidade cultural de se
considerar os princípios psicogenéticos na construção do conhecimento. O respeito
e a tolerância (inciso IV do art. 3º) são variáveis a serem consideradas, nesse
trabalho interdisciplinar e transdisciplinar, em relação à abordagem teórica e às
diferenças individuais, além de se apresentarem como manifestações avançadas da
evolução democrática. A Pedagogia da Interação Social por coordenação de ações,
reconstrução e re-significação de experiências apresenta-se como a pedagogia
alicerçada em princípios psicogenéticos e na diversidade cultural.
A descentralização do ensino levou os municípios à imcumbência de
organizar, manter e desenvolver os órgãos e instituições oficiais dos seus sistemas
de ensino, integrando-os às políticas e planos educacionais da União e dos Estados
(art. 11, Inc. I); no inciso V do mesmo artigo 11, acentua-se o oferecimento da
educação infantil em creches e pré-escolas e, com prioridade, o ensino fundamental.
Com a missão de elaborar e executar sua proposta pedagógica (art.
12, Inc. I), a escola vê resguardada sua autonomia, possibilitando uma prática
pedagógica contextualizada, uma avaliação qualitativa continuada, com o aluno se
apresentado como o centro de toda a ação pedagógica. A classificação do educando
em nível de educação sica, em qualquer série ou etapa, exceto a primeira do
ensino fundamental, poderia ser feita, independentemente de escolarização anterior,
“mediante avaliação feita pela escola, que definiria o grau de desenvolvimento e
experiência do candidato e permitiria sua inscrição na série ou etapa adequada” (art.
24, alínea c). Assim, a possibilidade de as turmas se organizarem por critérios
diferentes (alíneas a, b, c) desdobramento ao artigo 12 que propõe, entre outras
incumbências da escola, a de “elaborar e executar a sua proposta pedagógica”. A
alínea c trata do reconhecimento de aprendizagens desenvolvidas
independentemente da escolaridade anterior, ou seja, fora do palco do ensino
regular.
92
A Lei acentua, ainda, que os currículos do ensino fundamental e
médio devem ter uma base nacional comum e uma parte diversificada (art. 26). O
§1º deste artigo acentua que a parte comum deve abranger o estudo da língua
portuguesa e da matemática, o conhecimento do mundo físico e natural e da
realidade social e política, especialmente do Brasil. O § 2º destaca a obrigatoriedade
do ensino da arte e da educação física. Ora, a arte, além de componente obrigatório
das atividades curriculares, apresenta-se como meio espontâneo da construção do
conhecimento, com experiências valiosas, desenvolvidas pela Pedagogia da
Interação. Nas séries iniciais do Ensino fundamenta, a arte apresenta-se como o
veiculo espontâneo para a construção de relações implícitas nos significado, tanto
na aprendizagem da leitura e da escrita, quanto das ciências sociais e da natureza
(Monteiro, 2001 a-d).
A educação infantil, inserida na educação básica, é tratada pelos
artigos 29, 30e 31 e visa ao desenvolvimento integral da criança até seis anos de
idade, em seus aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a
ação da família e da comunidade.
A seção III da Lei trata do Ensino Fundamental, com duração
mínima de oito anos, obrigatório e gratuito na escola publica, cujo objetivo será a
formação básica do cidadão, mediante desenvolvimento da capacidade de aprender,
tendo como meios básicos o pleno domínio da leitura, da escrita e do calculo (art.
32, Inc. I). O ensino fundamental pode ser desdobrado em ciclos, progressão
continuada (art. 32, Inc. IV, §§ 1º e 2º).
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional introduz
inovações com relação à duração do ensino fundamental. A Lei 5692/71 definiu,
para este nível de ensino, a duração de oito anos; a nova Lei possibilita que os
sistemas de ensino tenham a liberdade de ampliar este tempo.
A Lei trata também da educação especial, cujo principio básico é a
integração preferencial da criança aos problemas de aprendizagem na rede regular
de ensino (art. 58), devendo haver também atendimento em classes, escolas e
serviços especializados (art. 58, §2º / art. 59, Inc.I, II, III, IV). No art. 4º, Inciso III,
especifica o atendimento educacional gratuito aos educandos com necessidades
especiais, preferencialmente, na rede regular de ensino.
93
4.9 O ensino médio
O ensino médio acentua a continuidade dos estudos e a preparação
básica para o trabalho e a cidadania. O art. 35 trata desse nível de ensino como
etapa final da educação básica com duração mínima de três anos, cujas finalidades
são: prosseguir os estudos no ensino fundamental; preparação básica para o
trabalho e a cidadania, com possibilidades de novas adaptações às condições de
ocupação e aperfeiçoamento posteriores; aprimoramento do educando como pessoa
humana, com formação ética, possibilitando o desenvolvimento da autonomia
intelectual e do pensamento crítico; compreensão dos fundamentos científico-
tecnológicos dos processos produtivos, relacionando a teoria com a prática, no
ensino de cada disciplina.
As Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino Médio
estabeleceu como princípios norteadores: (1) A Estética da Sensibilidade, (2) a
Política da Igualdade e (3) a Ética da Identidade.
O principio relativo à “Estética da Sensibilidade” acentua que se
busca substituir a estética da repetição e da padronização, incentivando o aprender
criativo, a função humana da curiosidade, o desenvolvimento da afetividade e as
formas lúdicas e alegóricas de conhecer o mundo.
O princípio da “Política da Igualdade” busca, a partir do respeito aos
direitos humanos desenvolver o princípio constitucional da igualdade no acesso aos
bens sociais e culturais, no respeito ao patrimônio comum, na corporificarão do
espírito de responsabilidade, tanto na área pública como no mundo das relações
privadas e na tolerância com todas as formas de discriminação.
O principio relativo à “Ética da Identidade” busca ultrapassar as
dicotomias entre público e privado, entre mundo moral e material, praticando um
humanismo permeável de elementos de solidariedade, espírito blico e
reciprocidade, qualidades que devem cimentar as ações da vida cotidiana,
profissional, social e civil. Enquanto fundamento educativo, essa ética não se
94
preocupa com “enquadrar” os alunos em modelos pré-estabelecidos de conduta
social (CARNEIRO 2001, p.112).
As áreas curriculares presentes nas Diretrizes curriculares Nacionais
do Ensino Médio (DCNEM) são:
a) Linguagem, Código e suas tecnologias;
b) Ciências da Natureza, Matemática e suas tecnologias;
c) Ciências Humanas e suas tecnologias.
As linguagens veiculam o conhecimento e as formas de conhecer.
Estruturam o pensamento e as formas de pensar, incorporam a comunicação e as
tipologias de comunicar.(PCN Vo. 2, p.15- MEC, BsB, 1999,(CARNEIRO, 2001,
p.113).
A expressão das relações lógicas em estruturas verbais traduz os
processos de conscientização dos processos de aprendizagem (MONTEIRO, 1999,
2000, 2001a, 2001b, 2001c, 2001d). As relações originam-se em nível prático e
evoluem em níveis intuitivo, simbólico e operatório, mas a conscientização dos
processos mentais se dá-se por meio da linguagem (MONTEIRO, 1998/1999).
As ciências da natureza, Matemática e suas tecnologias envolvem
apropriação de concepções cienficas atualizadas, referentes ao mundo físico e à
conservação do espaço terrestre. Na verdade, trata-se de compreender que o objeto
da Física, da Química, da Biologia, da Matemática etc. deve ter como referência o
mundo físico e natural, embora não se confunda com ele (CARNEIRO, 2001, p.113).
Para o Construtivismo Dialético, o pensamento lógico-matemático é
construído a partir das relações estabelecidas pelas ações do sujeito, exercidas
sobre os objetos do meio físico e social. Assim, as estruturas lógico-matemáticas,
com origem na coordenação das ações do sujeito e do conhecimento, apresentam-
se como condição necessária para a construção dos significados de qualquer tipo de
conhecimento.
As ciências humanas e suas tecnologias envolvem a ética da
identidade que pressupõe o “aprender a ser” . Em decorrência, a ação da escola não
95
se esgota em transmitir conhecimentos. A idéia é que a própria organização escolar
e a constituição curricular flexível, cimentadas nos princípios estéticos, poticos e
éticos, partam da premissa de que os conhecimentos de teor histórico-geográfico,
socioeconômico, jurídico, psicológico e antropólogo constituem insumos
fundamentais de interpretação da história cultural das sociedades e, portanto, são
instrumentos de sinalização e clarificação dos contornos do pensamento e do
conhecimento nas transações e confrontações da atividade humana (CARNEIRO,
1997 p.113). Ora, o “aprender a ser” implica o “aprender a aprender” , e toda
interação pedagógica envolve uma ética. Um currículo fundamentado em princípios
estéticos, políticos e éticos tem como base essencial os processos de interação
social, que conduzirão a tipos de personalidades que variam da mais radical
heteronomia à mais plena autonomia moral e intelectual, que envolvem espírito
crítico e prática consciente da cidadania.
Contudo, a Lei faz separação entre ensino e educação, deixando
transparecer certos traços de empirismo, apesar do foco do diploma legal ser sobre
o construtivismo dialético, ao acentuar a autonomia, a solidariedade e a cooperação
na interação psicopedagógica. Especifica, assim, a finalidade e os objetivos dos
níveis e modalidades de educação e de ensino. Enquanto ensino implica
aprendizagem, considerada como qualquer tipo de mudança de comportamento
(aprendizagem em sentido strict), a educação envolve mudança de comportamento
e organização lógica, com construção e transformação dos processos formativos da
personalidade e da própria inteligência (PIAGET,1994). Neste sentido,
aprendizagem confunde-se com o próprio desenvolvimento.
O currículo pode ser organizado por disciplinas ou por áreas de
conhecimento. Toda a legislação atual e orientação da educação e, sobretudo, a
LDB, as DCNEM e os PC, chamam a atenção para a interdisciplinaridade e para a
contextualização como princípios da organização do currículo. Interdisciplinaridade
menos como conceito acadêmico e mais como compreensão do currículo escolar, o
que significa reorganizar e re-significar a experiência, nem sempre sistematizada,
dos docentes e de outros profissionais da educação, que vivem, convivem e
trabalham na escola, a fim de que revejam e reciclem, continuamente, suas praticas
sobre o que e sobre como ensinar (CARNEIRO, 2001, p.114).
96
Contextualização implica o estabelecimento de relações lógicas de
caráter implicativo (entre as ações do educando), na exploração dos conteúdos que
possibilitam as relações explicativas entre causa e efeito. Ora, as relações
explicativas entre causa e efeito se tornam possíveis por meio das relações
implicativas devido à ação do sujeito. Logo, ensino e aprendizagem contextualizados
são realizados por um processo de reconstrução de experiência por um receptor
ativo, que conta com laboratórios na própria escola e com a comunidade,
oferecendo subsídios para o esclarecimento das relações de caráter formal
(implicativas) e de caráter real (explicativas), fundamentando o processo dialético
entre sujeito e objeto do conhecimento, entre significados e significantes, entre os
aspectos operativos e os figurativos do pensamento, durante o longo processo
construtivo do conhecimento e da própria inteligência e da personalidade (PIAGET/
INHELDER, 1979).
Concluindo, buscou-se acentuar, no presente capítulo, aspectos
filosóficos, políticos e sociais da educação básica no Brasil, implícitos nos objetivos e
finalidades, expressos no texto da nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional.
A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios
de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno
desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua
qualificação para o trabalho (art. 21).
A educação básica é formada pela educação infantil, ensino
fundamental e ensino médio (art. 21, Inc.I) e tem por finalidade desenvolver o
educando, assegurar-lhe a formação comum indispensável para o exercício da
cidadania e oferecer-lhe meios para progredir no trabalho e em estudos posteriores
(arts. 21 e 22).
A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como
finalidade o desenvolvimento integral da criança,até seis anos de idade, em seus
aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da família e
da comunidade (art. 29).
97
O ensino fundamental, obrigatório e gratuito na escola pública, tem
por objetivo a formação básica do cidadão mediante: a capacidade para aprender; a
compreensão do ambiente natural e social, do sistema político, da tecnologia, das
artes e dos valores em que se fundamenta a sociedade; desenvolvimento da
capacidade de aprendizagem, tendo em vista a aquisição de conhecimentos e
habilidades e a formação de atitudes e valores; fortalecimento dos veículos de
família, dos laços de solidariedade humana e da tolerância recíproca em que se
assenta a vida social (art. 32, Inc, I-V).
Relativamente à preparação básica para o trabalho esse nível deve
preparar o educando para se adaptar a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores. seu preparo para a cidadania deve incluir formação
ética, desenvolvimento da autonomia intelectual e do pensamento crítico, além da
compreensão dos fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos,
relacionando teoria e prática no ensino de cada disciplina.
5. O PROJETO VEJA NA SALA DE
AULA
1
Desde 1998, a Editora Abril e a revista VEJA, em parceria com a
Fundação Victor Civita, implantaram o programa VEJA NA SALA DE AULA. Trata-se
de uma ferramenta pedagógica complementar, que traz os fatos do Brasil e do
mundo para o universo escolar. Seu maior objetivo, segundo seus criadores, é
contribuir para o desenvolvimento dos alunos do Ensino Médio, fornecendo-lhes
subsídios para que se tornem atuantes, preparados e bem informados.
A missão do programa é: “Ser uma ferramenta pedagógica
complementar e diferenciada que traz os fatos do Brasil e do mundo para dentro da
sala de aula.”
E seus objetivos:
98
“Contribuir na formação de cidadãos que possam:
acompanhar as mudanças do seu tempo;
conhecer e interpretar os problemas do mundo que vivem;
ajudar a fazer a história do seu país e a sua própria.”
Os planos de aulas têm como principal critério de formulação estar
sintonizados com as atuais diretrizes da educação brasileira, focando o aprendizado
para a vida prática.
O Programa é composto por exemplares da revista Veja,
exemplares de um Guia do Professor, site exclusivo, pôsteres temáticos, edições
especiais da revista Veja, fita de vídeo e um Guia com dicas para melhor
aproveitamento do Programa.
No site exclusivo para os participantes do programa
(www.vejanasalade aula.com.br), os professores têm acesso aos seguintes
recursos: aulas extras online; banco de dados com todas as aulas elaboradas desde
a implantação do programa; fontes de pesquisas por disciplinas e/ou assuntos
selecionados para serem transformados em atividades didáticas que complementam
as informações dadas; links para as matérias selecionadas semanalmente; Guia
semanal do professor; links com outros sites ligados à educação; canal de contato
com a redação dos guias; rum para que todos os envolvidos no Programa opinem
sobre diferentes questões ali colocadas; e enquete onde é possível interagir com
questões pertinentes à educação, ao próprio programa e à sociedade em geral.
No site um texto que orienta os docentes para o uso do Guia
com o intuito de que eles explorem aoximo os recursos didáticos oferecidos pelo
programa e tirem o maior proveito do material aumentando, assim, o nível de
interesse e a participação dos alunos nas aulas.
São inúmeros os benefícios para escolas, professores, alunos e
comunidades que se envolvem no programa: as escolas têm a oportunidade de
trazer o mundo atual para as salas de aula; os professores recebem recursos para
enriquecer, dinamizar e inovar suas aulas; os alunos aproximam-se do mundo real e
1
Todas as informações assim como as citações literais sobre o programa Veja na Sala de Aula contidas neste
Capítulo foram retiradas do site www.vejanasaladeaula.com.br em acessos feitos durante os meses de dezembro
de 2006 e janeiro de 2007.
99
compreendem fatos e acontecimentos cotidianos do Brasil e do mundo preparando-
se, através deles, para o exercício da cidadania; e as comunidades e
conseqüentemente o país como um todo – serão as maiores beneficiadas pois
receberão uma geração de cidadãos melhor preparados para (re)escrever sua
própria história e, por extensão, a história do Brasil.
Os números do programa são bastante expressivos, principalmente
quando se considera que ele existe apenas há nove anos. atualmente 2538
escolas blicas participantes que recebem a doação de lotes semanais contendo
10 edições da revista Veja e 10 guias do professor e 845 escolas assinantes, que
recebem 14 revistas e 10 guias semanalmente.
A Editora Abril convida empresários para se tornarem parceiros das
escolas ajudando “centenas de professores e milhares de alunos a conhecer, discutir
e analisar os acontecimentos do Brasil e do Mundo.” Para tornar-se um “Parceiro da
Escola” a empresa deve patrocinar o envio de lotes do programa para escolas
públicas do Ensino Médio. Trata-se de um investimento benéfico não apenas para a
escola que recebe a doação mas também para a empresa doadora devido às
vantagens provenientes da imagem que projetará para a sociedade quando sua
participação no programa for divulgada.
Essa divulgação será imediata para pais e alunos que receberão
uma carta informando o nome da empresa que assumiu o compromisso de
patrocinar o programa na sua escola. Outros benefícios para as empresas são:
receber Certificado de participação no programa (extensivo à escola que a empresa
patrocina); publicação do logotipo da empresa duas vezes ao ano, na revista Veja,
juntamente com os logotipos das demais empresas patrocinadoras; dedução de
imposto de renda em doações feitas a sociedades civis beneficentes (que poderão
ser as APMs das próprias escolas que patrocinam, desde que legalmente
constituídas).
A empresa patrocinadora arca com o investimento de R$1.881,00
(com desconto de 43% sobre o preço de tabela da revista Veja) para doar o material
do programa durante 40 semanas (um ano letivo) ou R$5.200,00 (com desconto de
47% sobre a tabela) para doar durante 120 semanas (três anos letivos).
100
A escola presenteada receberá semanalmente: dez exemplares do
Guia do Professor e quatorze exemplares da revista Veja; terá acesso ao site
exclusivo do programa; receberá treinamento para uso do Guia; receberá um vídeo
com instruções para os professores; e ainda contará com assessoria pedagógica
permanente da equipe de especialistas do programa.
5. 1. Descritivo a Estrutura Organizacional do Guia do Professor
O Guia do Professor é um manual didático elaborado por uma
equipe de professores e distribuído semanalmente com as edições da revista Veja
para as escolas participantes. Os guias semanais são elaborados por uma equipe da
Fundação Victor Civita, com a colaboração de educadores especializados em suas
respectivas áreas de conhecimento - professores do ensino médio e universitários,
autores de livros didáticos e especialistas das mais diversas áreas. O Guia torna-se,
assim, um instrumento de ensino, que reúne os mais diversos conteúdos
escolares e a atualidade da maior (em número de tiragem de exemplares) revista de
informação do país. Ele apresenta sugestões de atividades, exercícios, temas para
debate, textos de apoio e experiências práticas, além de bibliografia complementar,
filmografia e uma seleção de sites para professores e alunos pesquisarem na
internet e ampliarem seus conhecimentos.
Todos os conteúdos propostos pelo Guia visam a transformar
matérias da revista Veja em atividades didático-pedagógicas fazendo uso de uma
linguagem conhecida do professor e em uma perspectiva que aproxima os fatos
mencionados nas matérias à realidade dos alunos. Sabe-se que a maior dificuldade
que os professores m para ministrar aulas dinâmicas, criativas e interessantes é
criar atividades que motivem os jovens. Essa falta de sugestões para atividades
práticas na sala de aula constitui uma lacuna crucial aos profissionais da educação
e, ao contribuir para solucionar esse problema, o Guia do Professor é considerado o
maior diferencial do programa VEJA NA SALA DE AULA. Ao utilizar fatos da
atualidade ele ajuda concretamente os professores a criar atividades didáticas que
101
auxiliam o processo de aprendizagem motivando os alunos a compreender os
conteúdos de cada disciplina.
O Guia abre espaço para temas cada vez mais presentes na
escola: globalização, política, drogas, sexo, cidadania, mercado de trabalho, etc.
Todas as disciplinas ganham uma perspectiva mais próxima da realidade dos
estudantes, sempre numa linguagem com a qual professores e alunos já estão
familiarizados.
Todas as aulas são enquadradas em uma das três grandes divisões
previstas nos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio: 1)- Ciências
Humanas e suas Tecnologias; 2)- Ciências da Natureza, Matemática e suas
Tecnologias; e 3)- Linguagens e Códigos e suas Tecnologias, indicando em cada
plano de aula a disciplina escolar correspondente a uma dessas três áreas.
Logo abaixo dessas indicações, encontram-se o título do(s) texto(s)
de VEJA aos quais cada aula se refere bem como a numeração da(s) gina(s) em
que as reportagens encontram-se na revista. Cada aula recebe também um título e
um subtítulo com uma síntese do que professores e/ou estudantes devem realizar,
ou das metas a atingir com a utilização do plano de aula. A abertura do texto é
constituída de parágrafos breves que introduzem o assunto e indicam as
reportagens, as entrevistas ou os artigos de VEJA que serão usados como base da
lição.
O plano de aula traz na introdução a imagem de um quadro-negro
onde constam os conteúdos, as competências e as habilidades a serem
desenvolvidas na aula. Ao ser desenvolvido, ele pode apresentar até seis divisões
algumas interligadas, outras independentes - que constituem recursos
facilitadores da aplicação do roteiro de atividades e que serão melhor discriminadas
no próximo tópico.
5.1.1 Capa
102
O Guia do Professor é uma publicação de oito páginas, com
dimensões semelhantes às da revista Veja. O design gráfico da capa, assim como o
número de páginas é padronizado. No alto da capa, à esquerda, encontra-se um
quadro-negro onde se o nome da revista Veja, o número e a data da edição. À
direita lê-se o nome do programa VEJA NA SALA DE AULA, a natureza da
publicação (Guia do Professor), o endereço eletrônico do Programa e o número/ano
do Guia.
Abaixo dessas informações encontra-se uma coluna estreita,
denominada NESTE NÚMERO, que relaciona os títulos de cada aula do Guia,
acompanhados de um pequeno resumo e das páginas onde se encontra cada uma.
Ao lado e à direita dessa coluna uma imagem colorida, que
ocupa o maior espaço da capa, acompanhada de um pequeno texto comentando o
tema de uma aula que não consta da coluna já mencionada porque seu título, assim
como um resumo maior que os outros e o número da página onde a matéria se
encontra na revista, ocupam um espaço mais destacado na parte inferior da capa.
Lê-se, ainda, em nota de rodapé na parte inferior da capa, a
advertência “VEJA NA SALA DE AULA é um suplemento da revista VEJA, exclusivo
para uso em escolas, e não pode ser vendido separadamente. É distribuído em
escolas particulares e públicas com lotes da revista VEJA. O conteúdo pedagógico
deste Guia é de responsabilidade da Fundação Victor Civita.”
Seguem dois exemplos de capas do Guia:
103
Figura1. Capa Guia do Professor, Edição 1995 de 14/02/2007
.
104
Figura 2. Capa Guia do Professor, Edição 1950 de 05/03/2006
.
105
5.2.2. Contracapa e páginas internas
Na contracapa e nas páginas internas encontram-se os planos de
aula referentes às matérias selecionadas para exploração em cada Guia. Esse plano
inicia-se indicando a qual das três divisões propostas pelos Parâmetros Curriculares
Nacionais refere-se à aula bem como especifica o viés que será adotado para o
estudo, como demonstram as figuras abaixo:
Figura 3. Exemplo de Plano de aula inserido nas três divisões propostas pelos Parâmetros
Curriculares do Ensino Médio e disciplina. Tópico dos Parâmetros Curriculares (Ciências
Humanas e suas Tecnologias) e o viés (Filosofia).
Figura 4. Exemplo de Plano de aula inserido nas três divisões propostas pelos Parâmetros
Curriculares do Ensino Médio e disciplina. Tópico dos Parâmetros Curriculares (Ciências da
Natureza, Matemática e suas Tecnologias) e o viés (Biologia).
Figura 5. Exemplo de Plano de aula inserido nas três divisões propostas pelos Parâmetros
Curriculares do Ensino Médio e disciplina. Tópico dos Parâmetros Curriculares (Linguagem
e Códigos e suas Tecnologias) e o viés (Arte).
São sugeridas ainda, aulas interdisciplinares sempre que a matéria
escolhida possibilitar, como se exemplifica em: “um roteiro sobre a arquitetura do
106
Antigo Egito, por exemplo, pode transformar-se numa aula com conteúdo
interdisciplinar, pois abrange Arte e História a primeira pertencente ao bloco de
Linguagens e Códigos e, a segunda, ao grupo das Ciências Humanas.” Veja
exemplo:
Figura 6. Exemplo de Plano de Aula Interdisciplinar – História e Literatura
Figura 7. Exemplo de Plano de Aula Interdisciplinar – Biologia e Geografia
Existe no Guia um espaço que é utilizado com maior sazonalidade,
direcionado para professores e não para os alunos. Esse espaço recebe o nome de
“Coordenação Pedagógica” e apresenta conteúdos relacionados a matérias da
revista Veja que abordam problematizações sobre o universo escolar, como visto na
edição 1950 do Guia, de 5/03/2006, na p. 5.
107
Figura 8. Exemplo de seção do Guia destinado a professores. Coordenação Pedagógica
Logo abaixo dessas informações, o plano de aula especifica o título
da matéria e a(s) página(s) onde ela está localizada na Veja. A seguir vem o título da
aula que tanto pode ser uma pergunta ou uma afirmação. O título da aula é seguido
de um subtítulo que algumas vezes indica para o professor o(s) ponto(s) de vista
usado(s) para o estudo e outras, sugere a ele ações práticas para despertar o
interesse dos alunos pelo tema proposto.
Antes do início do texto que constitui o desenvolvimento do plano
de aula informações sobre a identificação do(s) docente(es) que elaboraram o
referido plano e as instituições educacionais às quais ele(s) pertence(m).
Ao lado, num pequeno quadro em destaque e com fundo
sombreado, são indicados os conteúdos da aula, as habilidades que se pretende
desenvolver no aluno e o tempo estimado (número de aulas com 50 minutos) para
sua aplicação.
Figura 9. Exemplo de quadros de indicação de conteúdos, habilidades e
tempo de aula.
108
A seguir, em um texto claro e conciso, dão-se dicas preciosas para
uma espécie de “preleção motivadora” que o professor pode fazer para despertar o
interesse dos alunos pelo tema. Veja exemplos:
Figura 10. Exemplo de subtítulo motivador nos Planos de Aula.
109
Figura 11. Exemplo de subtítulo motivador nos Planos de Aula
110
Figura 12 .Exemplo de subtítulo motivador nos Planos de Aula
O passo seguinte do plano de aula é a leitura da matéria na revista.
As atividades de cada aula são indicadas ao professor na seqüência, sempre em
linguagem clara, objetiva e com a preocupação de fornecer argumentos, sugerir
ações práticas e indicar outras fontes de informações sobre o tema. Quando é o
caso de o tema ser explorado em duas ou mais aulas, o Guia sugere todas as
atividades a serem desenvolvidas em cada uma delas explicitando para o professor
os objetivos de cada ação didática.
111
5.1.3. Outras ações didáticas propostas pelo guia
O roteiro apresentado no item anterior vale para todas as aulas mas
112
Figura 13 . Exemplo de subseção “Para Debater”
Outro recurso do Guia que não aparece obrigatoriamente em todas
as edições é um quadro cujo título “PARA SEUS ALUNOSdestaca-se em letras
brancas sobre um fundo vermelho e traz informações adicionais sobre o conteúdo da
aula e, às vezes, sugere experiências ou ações que os alunos poderão executar
tanto na sala de aula como fora dela pois prescindem de ajuda ou qualquer
interferência do professor para serem executadas. Veja exemplos:
113
Figura 14. Exemplo de subseção “Para seus alunos”
114
Figura 15. Exemplo de subseção “Para seus alunos
Alguns planos de aula terminam com um quadro destacado com
sombra em cor diferenciada e intitulado “VEJA TAMBÉM” onde se indica a
bibliografia usada no preparo da aula assim como remete a obras e sites para mais
informações sobre o assunto.
casos de aulas contendo sugestões em quadros destacados -
que podem denominar-se “PARA IR MAIS LONGE”, “PARA LER E PENSAR”,
115
Figura 16. Exemplo de subseção “Para saber mais”
Figura 17. Exemplo de subseção “Para ir mais longe”
116
Figura 18. Exemplo de subseção “Para saber mais
117
Figura 19. Exemplo de subseção “Para ir mais longe”
Mas o Guia não privilegia apenas o desejo de aprofundar
conhecimentos dos alunos uma vez que em alguns há um quadro destacado -com o
título “PARA VOCÊ PROFESSOR” - contendo informações dirigidas aos professores
que transcendem o conhecimento veiculado através do plano de aula.
Figura 20. Exemplo de subseção “Para você professor”
118
Figura 21. Exemplo de subseção “Para você professor”
Os planos de aula oferecem ocasionalmente uma atividade de
pesquisa indicada num quadro destacado com cor diferente e denominado “PARA
PESQUISAR”. Ali o professor encontra ajuda para orientar passo a passo o trabalho,
desde o número de grupos para dividir a turma às conclusões finais a que eles
poderão chegar através da pesquisa.
119
Figura 22. Exemplo de subseção “Para pesquisar”
Um dos planos de aula do Guia da edição 1947, de 15/03/06, por
exemplo, sugere uma pesquisa relacionada ao impacto de movimentos sociais
como: a Marcha do Sal, na Índia, em 1930; o protesto contra a corrupção do
Presidente Collor, no Brasil, em 1992; o Bed in Peace de Lennon e Yoko Ono, na
Holanda, em 1969; a greve de fome do frei Luiz Flávio Cappio, em Pernambuco, no
ano de 2005; e o protesto anual da Parada Gay. Ao propor a pesquisa, o Guia traz
ilustrações de cada uma delas – material didático de apoio para uso do professor – e
sugere encerrar a atividade com uma pergunta provocativa aos alunos: “que tipo de
protesto pode se tornar mais eficaz no combate a graves problemas atuais, como a
fome, a miséria, a intolerância religiosa, o desrespeito aos direitos humanos, a
poluição, a corrupção...”?
O Guia do Professor pode ainda listar atividades que o aluno deve
desenvolver antes de o tema ser abordado em sala de aula como consultas,
pesquisas ou leituras. Por exemplo: "Uma semana antes da aula, peça que os
alunos leiam uma crônica de José de Alencar".
120
Mas o Guia pode ir além da sugestão da atividade em si mesma
pois, algumas vezes, ele dialoga com o professor buscando antecipar-se a suas
dificuldades dando respostas práticas e, principalmente, exeqüíveis, a elas. É o que
se constata na citação a seguir, transcrita do site.
É o começo da aula. A idéia aqui é ‘esquentar’ a turma para o assunto a
ser estudado. Uma estratégia possível é lançar perguntas para despertar
a curiosidade geral mas sem entrar diretamente no tema em questão.
O preâmbulo vai auxiliar você a apurar o nível de interesse da classe e
perceber o conhecimento dos alunos em relação ao tema. Neste espaço
você encontra sugestões para estimular os estudantes a expressar
opiniões. Por exemplo: se o foco da aula for violência, o debate pode
centrar-se nas causas político-econômicas do fenômeno, na impunidade
dos criminosos e na fragilidade da Justiça ou ainda no papel da polícia. O
Guia do Professor propõe a realização de análises mais densas, antes ou
depois dos exercícios práticos. Aqui você encontra uma seleção dos
pontos mais controversos do assunto da aula, abordados de forma
instigante e sintonizados com o universo dos jovens.
O Guia preocupa-se também com as diferenças entre os alunos e a
multiplicidade de objetivos que podem nortear a ação de cada professor e, muitas
vezes, oferece opções diferenciadas de trabalho a fim de que o professor opte pela
mais adequada à sua turma. É o que se observa em:
Os roteiros didáticos de VEJA NA SALA DE AULA muitas vezes
apresentam propostas de atividades com diferentes níveis de dificuldade.
Dessa forma, você tem condições de optar pelas que melhor se adaptem
a seus objetivos didáticos e sua disponibilidade de tempo e espaço. As
sugestões de exercícios podem solicitar, por exemplo, a construção de
linhas do tempo, a elaboração de dramatizações e jogos e a organização
de experimentos científicos.
O Guia do Professor considera que imagens e palavras ajudam a
ensinar, por isso oferece várias ilustrações, infográficos e fotos que, algumas vezes,
são utilizados nas atividades propostas no desenvolvimento das aulas mas, em
outras, são colocadas como possibilidades para que os professores possam elaborar
atividades que não constem do Guia mas que eles considerem necessárias às suas
turmas. Como o infográfico é desconhecido da maioria dos professores, o Guia não
apenas o define mas também justifica o seu uso didático ao destacar os benefícios
que ele traz:
Os infográficos envolvem um conceito moderno, cada vez mais adotado
nos meios impressos de comunicação: eles aliam imagem e texto de
121
modo a oferecer uma percepção melhor do assunto abordado (veja o
exemplo ao lado, usado numa aula sobre os mecanismos do medo no
organismo humano). Se Galunos, eles provavelmente compreenderão
mais facilmente o tópico estudado, com a vantagem de reter
simultaneamente informações verbais e visuais.
Figura 23. Exemplo de Infográfico
122
Figura 24. Exemplo de Infográfico
123
Figura 25. Exemplo de Infográfico
Quanto às fotos que constam no Guia, assinala-se que pertencem
ao “melhor acervo de documentação do Brasil e das principais agências de notícias
do mundo” e quanto às ilustrações coloridas o Guia afirma que são “sempre
relevantes para a elaboração de suas aulas.”
124
Figura 26. Exemplo de fotografias.
125
Figura 27. Exemplo de Fotografias
126
Figura 28. Exemplo de fotografia
127
6. A AÇÃO COMUNICATIVA DO GUIA DO PROFESSOR
6.1 A Estrutura Analítica
A mediação do Guia do Professor é uma proposta de complexa
execução, que somente a sua intenção comunicativa não garante o sucesso da
iniciativa. Sabe-se que no ambiente da sala de aula há uma multiplicidade de signos
envolvidos que interagem no processo de aprendizagem e certamente o influenciam
e por ele são influenciados: a arquitetura, o espaço interno, a linguagem oral, a
performance do professor, e muitos outros mais. Dentre todos, a atuação do
professor no processo de entendimento e tradução dos planos de aula pode ser
considerada elemento chave no processo. Á medida que esses signos se
harmonizam, a comunicação e a aprendizagem tendem a apresentar um
direcionamento positivo com quebra de resistências e maior clareza nos objetivos a
atingir.
Esse estudo não teve a pretensão de analisar todos esses
elementos e nem atribuir qualquer valor a um ou outro em função de seu grau de
influência. Toda a reflexão tem como foco a linguagem verbal e não-verbal do Guia
em sua estrutura e intenção. E ainda, na possibilidade de identificar seguramente se
essas linguagens adequam-se às problematizações discorridas na fundamentação
teórica desse estudo.
Entendendo-se o Guia como direcionador do processo
comunicativo em sala de aula, considerar-se-ão aqui as estratégias utilizadas para
atingir seus objetivos. Isso porque tão importante quanto a inserção do Guia na sala
de aula é verificar de que forma ele relaciona a mídia impressa como recurso de
aprendizagem, e ainda, se seus conteúdos estão coerentes com os demais signos
existentes no processo.
Como assinalado anteriormente, a maior dificuldade que os
professores têm para ministrar aulas dinâmicas, criativas e interessantes é criar
atividades que motivem os jovens. Essa falta de sugestões para atividades práticas
na sala de aula constitui uma lacuna crucial nas publicações dirigidas aos
128
profissionais da educação e, ao contribuir para solucionar esse problema, o Guia do
Professor é considerado o maior diferencial do programa VEJA NA SALA DE AULA.
Ao utilizar fatos da atualidade, ele ajuda concretamente os
professores a criar atividades didáticas que auxiliam o processo de aprendizagem
motivando os alunos a compreender os conteúdos de cada disciplina. Isso, por si só,
justifica sua escolha como objeto de estudo dessa tese.
Para a realização da análise optou-se pela criação de uma matriz
analítica, conforme mostra o Quadro 1, que relacionasse a intenção e ação do Guia
do Professor às características facilitadoras do processo comunicativo em sala de
aula.
Aspectos da Análise
i. Intenção
1. Intenções do Guia
ii. Ação
2. Ação Comunicativa
Quadro 2: A estrutura analítica: uma ferramenta para analisar as interações e a produção de
significados da mídia impressa
Cada aspecto da análise é introduzido brevemente nas seções
seguintes para uma visão mais detalhada.
6.1.1 Intenções do Guia
Seguindo os princípios da teoria apresentada, considera-se que o
ensino produz um tipo de performance no plano social da sala de aula. Essa
performance é direcionada pelo professor que planejou o seu “roteiro” e tem a
iniciativa de “apresentar” as várias atividades propostas em cada aula. O trabalho de
129
desenvolver o conteúdo é central nessa performance e o Guia torna-se uma
ferramenta no planejamento da aula.
Como ferramenta de comunicação, portanto, mediação entre o
professor e os alunos foram identificadas e classificadas algumas intenções
comunicativas relevantes no ambiente de sala de aula que são apresentadas no
Quadro a seguir
.
Intenções Foco
Criar um problema
Engajar os estudantes, intelectual e
emocionalmente, no desenvolvimento inicial dos
conteúdos.
Explorar a visão dos estudantes Explicitar e explorar as visões e entendimentos
dos estudantes sobre idéias e fenômenos
específicos.
130
Introduzir e desenvolver o conteúdo Disponibilizar as idéias científicas (incluindo temas
conceituais, epistemológicos, tecnológicos,
culturais e ambientais) no plano social da sala de
aula.
Guiar os estudantes no trabalho com o
conteúdo e dar suporte ao processo de
internalização
Dar oportunidades aos estudantes de falar e
pensar com as novas idéias, em pequenos grupos
e por meio de atividades com toda a classe. Ao
mesmo tempo, dar suporte aos estudantes para
produzir significados individuais, internalizando
essas idéias.
Guiar os estudantes na aplicação dos
conteúdos e na expansão de seu uso,
transferindo progressivamente para eles o
controle e responsabilidade do
aprendizado
Dar suporte aos estudantes para aplicar as idéias
ensinadas a uma variedade de contextos e
transferir a eles o controle e responsabilidade pelo
uso dessas idéias.
Manter a narrativa e reconstruir os
saberes, sustentando o desenvolvimento
dos conteúdos
Prover comentários sobre o desenrolar dos
conteúdos, de modo a ajudar os estudantes a
seguir seu desenvolvimento e a entender suas
relações com o mundo que os cerca, dando a
possibilidade de reorganização da informação de
acordo com o seu repertório de informações.
Quadro 3: Intenções Comunicativas no Ambiente de Sala de Aula
6.1.2 Ação Comunicativa
O conceito de ação comunicativa é central na estrutura analítica,
fornecendo a perspectiva sobre como o Guia trabalha as intenções e o conteúdo do
ensino por meio das diferentes intervenções pedagógicas verbais e não-verbais que
resultam em diferentes padrões de interação. Foram identificadas na fundamentação
teórica quatro classes de ões comunicativas que devem ser promovidas na
escola: não simplificação da comunicação, promoção de relações dialógicas,
inserção de elementos culturais e predominância da diferença e da complexidade.
Tipos de Ação Comunicativa
131
(Estratégias)
Complexa Simplificadora
Dialógico Autoritária
Com inserção de elementos
culturais
Sem inserção de elementos
culturais
Com desvios Sem desvios
Quadro 4: Quatro classes de ações comunicativas
Nesse sentido, pretendeu-se analisar nas abordagens do Guia do
Professor as relações entre as classes e as intenções comunicativas verificadas no
seu conteúdo.
Como assinalado no capítulo anterior, o Programa Veja na Sala
de Aula e o Guia do Professor são elaborados a partir das diretrizes pedagógicas do
ensino médio, o que por si não garante sua eficácia. Mesmo seguindo o modelo
de educação vigente faz-se necessário adequar esse modelo à realidade dos alunos
e à situação comunicativa já que existe uma experiência do signo que é material, e é
necessário que essa parte material se inter-relacione com o contexto cultural e
demais elementos do processo.
Sabe-se que um grande número de propostas pedagógicas são
apenas aparentemente progressistas, porque no momento da sua execução,
fundamentam a comunicação em concepções normativas e estáticas. Isso favorece
que a ação comunicativa proposta pelo professor resuma-se à transmissão de
informações em detrimento de outros aspectos como a manifestação de sentimentos
e idéias. E como já se afirmou, quando prevalece apenas um lado, inibe-se a
possibilidade de levar em conta aspectos intermediários que igualmente figuram no
interior do processo.
Buscando apoio na teoria estudada, a escola segundo GIL (2005)
pode estar inserida em três perspectivas assim apresentadas:
PERSPECTIVA
CLÁSSICA
PERSPECTIVA
HUMANISTA
PERSPECTIVA
MODERNA
Adaptação dos alunos aos
objetivos da escola
Adaptação da escola às
necessidades dos alunos
Harmonização entre as
necessidades dos alunos e os
valores sociais
Certeza Dúvida Probabilidade
132
Competição Cooperação Crescimento
Autocracia Laissez- faire Participação
Disciplina Liberdade Responsabilidade
Reprodução Descoberta Criatividade
Orientação para
O conteúdo
Orientação para
o método
Orientação para solução de
problemas
Ênfase no ensino Ênfase na aprendizagem Ênfase no processo ensino-
aprendizagem
Quadro 5. Perspectivas da Escola
Pode-se verificar no texto da Lei de Diretrizes e Bases da Educação
Nacional e suas determinações para o ensino médio uma forte tendência para um
modelo de escola que trafega entre a Perspectiva Humanista e Moderna como
demonstra o artigo terceiro da Lei:
...igualdade de condições para acesso e permanência na escola;
liberdade de aprender, ensinar, pesquisar e divulgar a cultura, o
pensamento, a arte e o saber; pluralismo de idéias e de concepções
pedagógicas; respeito à liberdade e apreço à tolerância; existência de
instituições públicas e privadas de ensino; gratuidade do ensino público
em estabelecimentos oficiais; valorização do profissional da educação
escolar; gestão democrática do ensino público, na forma desta lei e da
legislação dos sistemas de ensino; garantia de padrão e de qualidade;
valorização de experiências extra-escolar; vinculação entre a educação
escolar, o trabalho e as práticas sociais.
Percebe-se também que temas como diversidade cultural,
diferenças individuais, interdisciplinaridade e transdisciplinaridade são citados como
prioridade nessa nova proposta pedagógica da Lei, o que confirma a importância
dos conceitos pré-determinados nessa análise: ação comunicativa com inserção de
elementos culturais e possibilidade de desvios. Segue trecho que relaciona tal
afirmação:
Não resta dúvida de que a diversidade cultural tem que ser considerada,
não em termos de abordagem teóricas quanto de diferenças
individuais da clientela escolar. A interdisciplinaridade e a
transdisciplinaridade serão possíveis com a cooperação e o respeito
mútuo, entre os profissionais da educação, mas somente a pesquisa
poderá confirmar ou não o que os grandes teóricos do conhecimento
apontaram. A ciência da educação será construída por meio da
pesquisa realizada em diferentes contextos sócio-culturais, a fim de se
considerar a diversidade cultural e desenvolver um ensino e
aprendizagem com base na cooperação e no respeito mútuo. Ao lado da
diversidade cultural de se considerarem os princípios psicogenéticos
na construção do conhecimento. O respeito e a tolerância (inciso IV do
art. 3º) são variáveis a serem considerados, nesse trabalho interdisciplinar
e transdisciplinar, em relação à abordagem teórica e às diferenças
133
individuais, além de se apresentarem como manifestações avançadas da
evolução democrática
.
No mesmo texto foram ainda estabelecidos princípios norteadores
que estão diretamente relacionados às problematizações dessa tese.
No princípio relativo à “Estética e Sensibilidade” valoriza-se a
substituição de uma estética de repetição e padronização, características de uma
ação comunicativa simplista e autoritária, por um apreender criativo, curioso com o
desenvolvimento de formas lúdicas e alegóricas de conhecimento do mundo. Essa
proposta parece privilegiar novamente a inserção de elementos externos ao
ambiente escolar, bem como um processo de aprendizagem mais democrático onde
mais de uma voz são ouvidas e se inter-relacionam.
Na distribuição das áreas curriculares pode-se refletir também
sobre alguns aspectos importantes. Na área referente a Ciências Humanas e suas
Tecnologias fica evidente a preocupação com a ética da identidade que pressupõe o
“aprender a ser”. Nessa perspectiva, a ação da escola não se esgota em transmitir
conhecimentos. A idéia é que a própria organização escolar e a constituição
curricular flexível, cimentadas nos princípios estéticos, políticos e éticos, adotem a a
premissa de que os conhecimentos de teor histórico-geográfico, socioeconômico,
jurídico, psicológico e antropólogo constituem insumos fundamentais de
interpretação da história cultural das sociedades. Ora, o “aprender a ser” implica o
“aprender a aprender”, e toda interação pedagógica envolve uma ética.
Um currículo fundamentado em princípios estéticos, políticos e
éticos tem como base essencial os processos de interação social, que conduzirão a
tipos de personalidades que variam da mais radical heteronomia à mais plena
autonomia moral e intelectual, que envolvem espírito critico e prática consciente da
cidadania.
Vale ainda ressaltar o Art 35, Incs I-IV que afirma:
O ensino médio tem como finalidade a consolidação e o aprofundamento
dos conhecimentos adquiridos no ensino fundamental, possibilitando o
prosseguimento de estudos, a preparação básica para o trabalho e a
cidadania do educando, para continuar aprendendo, de modo a ser capaz
de se adaptar, com flexibilidade a novas condições de ocupação ou
aperfeiçoamento posteriores; o aprimoramento do educando como
pessoa humana, incluindo a formação ética e o desenvolvimento da
134
autonomia intelectual e do pensamento crítico; compreensão dos
fundamentos científico-tecnológicos dos processos produtivos,
relacionado à teoria com a prática, no ensino de cada disciplina
.
Em outras palavras: todas essas afirmações convergem para que
se priorize questões como as defendidas nessa tese, bem como incentivam a
utilização de recursos que possam fazer valer tais determinações. Pressupõe-se,
assim, que o simples fato do Programa Veja na Sala de Aula ser desenvolvido em
sintonia com a Lei já demonstra uma preocupação com a aplicação prática de
conceitos que geralmente não transcendem o universo teórico.
Cabe, portanto, tentar identificar se a sua iniciativa de fato executa
no plano prático a sua intenção maior: ser uma ferramenta pedagógica
complementar e diferenciada que traz os fatos do Brasil e do mundo para dentro da
sala de aula, estando sintonizados com as atuais diretrizes da educação brasileira e
focando o aprendizado para a vida prática.
Em primeira análise do Guia como mediação na sala de aula
verificou-se que sua estrutura adequa-se à perspectiva moderna da escola, em que
se prioriza uma harmonização entre as necessidades dos alunos e os valores sociais
a partir de conceitos como: participação, responsabilidade, criatividade, e resolução
de problemas. Isso será melhor descrito no texto que segue.
6.2 A Capa
A disposição dos elementos verbais e não-verbais das capas são,
na maioria das vezes, estruturados em um mesmo padrão. Esse padrão apresenta-
se da seguinte forma: no topo da página, à direita, existe um elemento visual no
formato de um quadro negro com o nome da revista com aparência de escrita a giz,
a data de publicação do Guia e o número da edição. Esse recurso visual indica uma
preocupação de harmonização dos signos utilizados na sala de aula e a mídia em
questão.
135
uma priorização da imagem (fotos, charges, infográficos,
imagens manipuladas, etc.) em relação aos demais elementos da capa. Acredita-se
que essa priorização remete à intenção do Guia de chamar a atenção do leitor para
a ferramenta, despertando assim um maior interesse na sua utilização, o que é
bastante comum nesse tipo de publicação.
O uso de imagens na mídia impressa é um recurso cada vez mais
comum porque elas propiciam maior apreensão e entendimento dos conteúdos, bem
como incentivam e aguçam a curiosidade no recebimento da informação. São ainda
condição básica para comunicações eficientes no ambiente escolar que, como
mencionado, privilegia a linguagem verbal (escrita e oral) em detrimento de outras
linguagens.
Embora defenda que a utilização das imagens no contexto da
escola deve sempre apresentar um caráter problematizador que amplie o interesse
no conteúdo, as imagens usadas nas capas do Guia têm função mais ilustrativa que
problematizadora que estão sempre relacionadas ao plano de aula em destaque.
As imagens têm também a função de direcionar a identidade visual da capa,
harmonizando-a com as imagens e promovendo maior percepção, principalmente
dos conteúdos verbais.
O critério de escolha do plano de aula que se destaca na capa do
Guia não obedece a nenhum critério prévio. Percebe-se uma tendência de não
repetir nas edições subseentes a mesma área de atuação e disciplina, e o seu
conteúdo verbal está sempre localizado na parte inferior da página, logo abaixo da
imagem. O título aparece sempre em evidência e faz referência ao conteúdo
abordado. Em seguida é apresentado um pequeno texto que sugere ao professor
inúmeras maneiras de interagir com os alunos.
Verifica-se que esse discurso inicial tende a e ce dsi doie -2.47.(t)-2.]TJ313.145 .16558(i)1.871(ã)-4.33d.e(.).67474(e).49466((.).6784.33d)-4.3al(i)1.87122(o)-4.8(o)556.05582(i4.33056(1703(a)-4.33117(z)9.71032( )]8n-0.295585(o)-4.-52.3103(a)-4.33117(z)9.71585(e)-J324.071 0 Td[(r)2(i)1.87122(o)-h8n-0.2953(q)5.67412.349(a)-4.33117( )-4.33117( )-242.306(d)-4.33117(i)1.87122(e)-4.32873(n)-6878(c)-0.2i))278]TJ-325.872 -20.73(ú)-4.33056(m)2.510u4(a)-4.33117( )-322.5585(i)1b718(u)556.0024.32873(p(é)-4.33117(r)2.80439(i)1h3117(l)1.8717171717171717171717171706(d)-49.71032(474(m)-7.49466e3117( )-352.371(e)5.633117(t)-2.16558(e)5.6747449466e3117( )g17(i)1.87129n)5.67474(820.76 Td[(r(i)1.8720.2955)-342.365(f)-12.1703(a)-4.33113117(d)5.674-4117(p)-4.3.16558(e)5.633056(117( )-352.371(e)5.633133117(.)278]TJe)5.6330( )-3524(o)-4.332873( )-252.312(n)2q22(a)-4.34(o)20.73(ú)-4.37(i)1.87(s195585(e)-4.33117( )-352.3723117(d)f4(e).49466((.).67474(e).74(m)r)2.80561(i)1.87(z)9.4.33056(m)2.4032(m)-7.49588(a)--92.2175(c)-0.295585(a2873(e)-4.6784.33d)[(m)-7.49466( --92.2175(c Td[(r)9588(a)-4.33056(g)5.6117(a)-65585( )-2.16558(d)5-7(.)278]0.2i))278]-2.16436(e)-(o)5.67474( )-92.2187(2955)-342.364.3305666(o)-4.33117(r)2.804398522(z)9.71032(a3(e)-4.6c-92.2187(2955)-34.87122(o)-h8n-0.2953(q)5.6742.51003(o)5(i)1.871221m)-4.33117(ç)-0.2955.71032(a3(e.87122(n)-4ó(2955)-342.364.3305666(o)-4.33117(r)2(m)-.33117( )-15280.2i))278]-2.16436(e)e)-4.32873( .g403(e)-4.33056(r)24328735563117( )-2.1653117-20.73q37(i)1.87(s195585(e)-4556.002]Ti)1.87122(s)-0.295585(c)-0.2122(z)9.71030Eei)1.8720.2955)-342.3608[(r(i)1.8723666(o)2(o)-4.8(z)9.7103o(r)2.804-i)1..804398522(z)9.71032(a3(e)-h)1.87(c)-0.4.33361( )-252.e)5.67474(n(t)-2.16436(i)11.8771(d87205d)5.674-46558(e)5.633056(117( 3117()2(o)-4.8(z)9.7103o95585(s)-0.4(n)-4.3Ju )-322.354(t)7.84032(a61( )-252 )-1TJ90.0531 -30.72 Td[9)-4dd703o95585(s)-0.42(z)9.71030Eei).86878(r).67474(e).1653117-2080439(e)5.67474(f)-12.1703(d)5.677.295585(a)-4.93( .g403(e)247(16436(e)5.67474(n)-4.3311117-20.73q37()-2.16436(i)11.(o)-h8n-0.2953(q)5.6q37()-2.16436(i)11.(o)a-8(r).67471032(a3(e)-h)1.87(c)-0.4.33361( )-252.e)56436(i)11.(o)-h8n-0.3361( )-252.e)56436(i)qilrt essn t9iça iesea
136
de saber, mas um encontro de sujeitos interlocutores que buscam a significação de
significados.
Quando a ação comunicativa do Guia propõe que o professor - com
a participação efetiva dos alunos - analise os argumentos da revista, contextualize o
conteúdo de determinada reportagem e seus desdobramentos, avalie as implicações
de um determinado fenômeno e reflita sobre as possibilidades existentes,
estabelece-se um ambiente onde várias vozes participam do processo de
aprendizagem: a do Guia, a do professor que traduz as informações e inclui nessa
mediação sua própria voz e a dos alunos que participam ativamente dando opiniões,
sugestões, concordando ou criticando as idéias apresentadas. Observe os
exemplos:
137
Figura 29. Exemplo de capa com destaque para a imagem e chamada para o plano de aula principal
.
138
Figura 30. Exemplo de capa com destaque para a imagem e chamada para o plano de aula principal.
139
Figura 31. Exemplo de capa com destaque para a imagem e chamada para o plano de aula principal
.
Espera-se, mas não se pode garantir que com essa ação do Guia
nem uma voz seja ocultada, dissimulada ou mascarada como se fosse uma única
140
voz, o que acontece freqüentemente nos discursos autoritários da sala de aula, no
qual a voz do autor prevalece, esvaziando o papel ativo do receptor/leitor que
atribui sentido a partir de sua própria trajetória sociocultural e seu mundo interior.
O mesmo recurso comunicativo aparece no quadro exposto do lado
esquerdo da página onde são apresentados os demais planos de aula de cada
edição. Reitera-se, portanto, na capa do Guia, a intenção comunicativa de criar
um problema para professores e conseqüentemente para os alunos, buscando
engajá-los, intelectual e emocionalmente, no desenvolvimento inicial dos conteúdos
a partir das ações já mencionadas. Segue exemplos:
141
Figura 32. Exemplo em destaque do quadro de indicação dos demais planos de aula.
142
6.3 Os Planos de Aula
Os planos de aula, como já descrito na capítulo V, obedecem a uma
estrutura padrão bastante flexível que cada proposta de aula contém um número
de elementos fixos e outros que se organizam de acordo com o conteúdo abordado
e os recursos escolhidos por quem desenvolveu. Essa é uma questão de extrema
importância, pois toda a composição dos planos esdiretamente relacionada ao
emissor da comunicação que, segundo a própria organização do Guia, são
educadores renomados em suas respectivas áreas de conhecimento - professores
do ensino médio e universitário, autores de livros didáticos e especialistas.
Cabe aqui, porém, um questionamento interessante. Será que
somente o conhecimento de suas respectivas áreas e conteúdos são suficientes
para que o aprendizado se efetive?
Na verdade, esse conhecimento dos conteúdos é vital mas não
legitima o aprendizado. Podem-se citar inúmeros casos no ambiente escolar onde o
professor domina de forma incontestável os conteúdos, porém não consegue
relacioná-lo com o mundo exterior e com as questões
143
ser ouvida e relacionada com as outras vozes (equipe da Veja, professor que fará
uso do plano e alunos) numa cadeia semiótica complexa, dinâmica, não-linear e
reconstrutiva.
Vale lembrar que o pensamento complexo é aquele capaz de
considerar todas as influências recebidas: internas e externas. A complexidade
integra os modos simplificadores de pensar e nega os resultados mutiladores,
unidimensionais e reducionistas. Portanto, a proposta de uma ferramenta construída
em parceria com outras vozes inseridas e interessadas no processo tende a garantir
uma comunicação mais complexa e dialógica.
Entender na cadeia semiótica as noções de (re)organização dos
conteúdos numa esfera de discursos que se sobrepõem e se reconstroem
caracteriza uma ação comunicativa tecida em conjunto, portanto com maior
probabilidade de aparecimento de desvios. Esse tipo de discurso, como
destacado, que considera todas as influências recebidas - a interna e a externa, em
ações integradas - tende a promover um maior desenvolvimento das competências e
habilidades necessárias ao aprendizado. A reestruturação geral da complexidade
dos modos de interação produz conseqüentemente o desenvolvimento de uma nova
rede semiótica com maior diversidade que os processos comunicacionais do
discurso pedagógico tradicional.
Os planos de aula iniciam-se sempre com a discriminação da área
de conhecimento e da disciplina abordada, seguidas do título da matéria da Revista
Veja e suas respectivas páginas. Tal qual ocorre na capa, a chamada do plano
aparece em evidência seguida de um pequeno texto problematizador.
Essa opção metodológica comprova nos títulos dos planos de aula
a criação de um ambiente de dúvida e curiosidade nos alunos em relação às
questões que serão tratadas. Somente após essa apresentação é que se propõem
as etapas seguintes, nas quais serão delimitadas as habilidades, competências e o
tempo estimado para desenvolvimento.
Essa ação comunicativa que aparece em todos os planos de aula é
um recurso extremamente interessante, tanto para os professores como para os
144
alunos, pois quando o discurso docente consegue transmitir o verdadeiro sentido de
um determinado conteúdo e de que forma esse conteúdo poderá ser utilizado na
vida, o interesse pela aprendizagem aumenta consideravelmente. O aluno precisa
entender por que e para quê precisa do conhecimento
145
Assim, o papel do professor não é visto somente pelo ângulo de
sua competência para estruturar a comunicação, mas também de escutar, facilitando
as articulações necessárias entre “conhecimentos e competências” por um lado e
bases vivenciais e culturais do aluno, por outro. As ações docentes parecem
promover, nesse contexto, a utilização do raciocínio mais complexo em detrimento
da memorização. A leitura da reportagem da revista somada à introdução do plano
de aula e à preparação para as atividades demonstram a preocupação do Guia em
inserir o aluno no ambiente da aprendizagem, podendo relacioná-lo com outros
recursos e outras vozes não emergidas na sala de aula. Possibilita-se, assim, um
tempo para que ele construa o seu conhecimento e argumentação em torno do
conteúdo proposto. Essa iniciativa quebra várias limitações e conduz o aluno ao
desenvolvimento de uma competência fundamental nos dias de hoje que é a
construção da aprendizagem por seu próprio esforço de busca, seleção e
sistematização das informações (aprender a aprender).
Isso se confirma quando se toma o que BRAGA e CALAZANS
(2001:119) afirmam:
Esta experiência (de um nível superior ao do simplesmente operatório)
permite não somente aprender através do processo, mas, potencialmente,
maximizar a aprendizagem, expressar e avaliar o que se aprendeu,
estruturar o resultado das operações em representações e/ou
operacionalizar o resultado das reflexões preparando, portanto o
aprendido para novas necessidades de transferência.
Essa intenção comunicativa dedutiva pode ser comprovada nos
parágrafos introdutórios de cada plano e também nas seções denominadas
“PREPARAÇÃO DA AULAe “PRA COMEÇO DE CONVERSA”. Segue exemplos:
146
Figura 34. Exemplo de introdução para aplicação dos planos de aula. Subseções
“Preparação da Aula” e “Para começo de conversa”.
147
149
150
Figura 36. Exemplo de introdução para aplicação dos planos de aula.
Subseções “Preparação da Aula” e “Para começo de conversa”.
Esse percurso, no entanto, deve ser explorado e monitorado pelos
professores através das ações comunicativas, tanto nas exposições orais quanto
nas atividades práticas que seguirão o plano da aula.
151
As atividades práticas propostas nos planos de aula são
extremamente diversificadas, começam com a leitura da reportagem da revista Veja
que direcionou o conteúdo e vão desde propostas de criação e reconstrução dos
saberes, desenvolvimento de peças teatrais e dramatizações, pesquisas, resolução
de questões-problema, atividades interdisciplinares, etc.
A utilização dessa comunicação no Guia tem uma característica
dialógica contrária à concepção de mundo e educação dissociada, dicotômica e
excludente. Prevalece o contato pessoal, a interação e a possibilidade de expressão
substituindo o pensamento monológico que só prejudica a aprendizagem do aluno.
Na afirmação de BRAGA e CALAZANS (2001, p.62) :
Com a sociedade midiatizada, os espaços de permeação (interação social
midiatizada ampla) parecem, ao contrário, mais amplos que a escola,
mais vívidos, mais ágeis, sedutores, renovados, diversificados. È
evidente, que tudo isso não significa que sejam melhores apenas que
são mais atraentes e estimulantes. A Escola encontra então, neste
aspecto, dificuldades para se colocar como espaço de maior relevância
para a vida futura do aluno.
A escola não pode, enfim, tornar-se um espaço mais ou menos fixo
que não se relaciona com o externo e não se contamina com o que é estranho
porque, agindo assim, ela mantém-se no isolamento, gerando temperaturas frias,
tornando-se um espaço postiço, à medida que o consegue estabelecer pontos de
conexão com a cultura exterior a seu espaço geográfico. E entre o espaço de dentro
(inclusão) e o de fora (exclusão), a maioria (e não apenas os alunos indisciplinados)
preferem o mais borbulhante, o mais vivo: o calor das altas temperaturas conforme
destacado por Morin.
As atividades do Guia apresentam propostas que vêm preencher
essa lacuna. Percebe-se que a intenção é oferecer uma amostragem, tão pertinente
quanto possível, das informações e processos sociais profissionalmente relevantes,
na esperança de que, a partir dessa amostragem, os alunos desenvolvam
competências para tratar do que subseentemente lhes pareça importante.
Permitem ainda, que o aluno consiga visualizar a aprendizagem como algo que pode
acontecer através de informações co-relacionadas ao conteúdo. Ou seja, não é
necessário aprender matemática utilizando apenas teorias e fórmulas pois pode-se
fazê-lo a partir de problemas práticos e reais que remetam a esses conceitos. Isso
152
proporciona, como já foi visto, temperaturas muito mais quentes e interessantes para
a aquisição de conhecimentos e, sem dúvida, em circunstâncias bem mais
agradáveis. Esse procedimento está relacionado à definição proposta por BRAGA &
CALAZANS, (2002: 59):
O sistema escolar é urgentemente solicitado a fornecer conhecimentos e
competências para uma participação mas eficaz na sociedade e para o
enfrentamento das questões e dificuldades por ela colocados. Este ângulo
de interface corresponde, portanto ao sistema escolar e a própria
sociedade de comunicação e é relacionado à necessidade educacional
de formar e socializar os estudantes para esta.
Seguem alguns exemplos de atividades propostas nos planos de
aula que confirmam as afirmações acima:
Figura 37. Exemplo de atividades propostas nos planos de aula
.
153
Figura 38. Exemplo de atividades propostas nos planos de aula
.
154
Figura 39. Exemplo de atividades propostas nos planos de aula.
155
156
Figura 40. Exemplo de atividades propostas nos planos de aula.
As atividades propostas privilegiam também a idéia de que a
educação, conforme Morin, deve favorecer o acionamento de uma aptidão natural da
mente humana para formular e dar resposta a problemas essenciais com o uso da
inteligência geral, desenvolvendo no aluno uma habilidade que valoriza questões
como resolução de problemas, tomadas de decisão, exercícios do pensamento
crítico, argumentação e reflexão.
Para tanto, requer-se o livre exercício da curiosidade que o autor
aponta como a faculdade mais expandida e mais viva durante a infância e a
adolescência que, com freqüência, a instrução extingue e que, ao contrário, se trata
de estimular ou, caso esteja adormecida, de despertar. Morin (2000:39).
Constata-se, com base nas atividades do Guia, que uma
mudança na ênfase dada ao conteúdo a ser apreendido. Não existe a preocupação
de “cobrar” do aluno o conhecimento da teoria pela teoria, ou como um fim em si
mesmo. Ao contrário, a teoria é usada como um pano de fundo para que o aluno
interprete e, conseqüentemente, reorganize as informações usando a linguagem
verbal e não-verbal num discurso eficaz para construir um diálogo entre as vozes
existentes.
157
Verificou-se também nas atividades dos planos de aula a intenção
de que o aluno desenvolva várias habilidades distintas, ou seja, várias formas de
expressão com significações próprias (escrita, dramatização, leituras, interpretação
de textos e etc).
Percebe-se, também, a inserção de elementos que valorizam o
contexto sócio-cultural, promovendo uma relação do aluno com o externo. Essa ação
comunicativa tende a desconfigurar o isolamento tradicional do ambiente escolar,
gerando temperaturas mais quentes e estabelecendo pontos de coneo com a
cultura que está do lado de fora. Assim, se o aluno precisar escolher entre o espaço
da escola e o de fora dela, poderá optar pelo primeiro que esse também pode
gerar temperaturas quentes operacionalizadas pelos elementos culturais e pela
diversidade de objetos inseridos nesse novo contexto.
Essa ação reflete a importância das relações entre escola e cultura
no processo educativo. Não há educação que não esteja imersa na cultura da
humanidade e, particularmente, do momento histórico em que se situa. A reflexão
sobre essa temática é co-extensiva ao próprio desenvolvimento do pensamento
pedagógico. Não se pode conceber uma experiência pedagógica em que a
referência cultural não esteja presente. A escola é, sem dúvida, uma instituição
cultural. Portanto, as relações entre escola e cultura não podem ser concebidas
como entre dois pólos independentes, mas sim como universos entrelaçados, como
uma teia tecida no cotidiano e com fios e nós profundamente articulados. Partindo-se
dessas afirmações, aceitando-se a íntima associação entre escola e cultura, e
considerando-se suas relações como intrinsecamente constitutivas do universo
educacional, é animador verificar que algumas propostas pedagógicas, como a do
Guia do Professor, tendem a se preocupar com tal problemática. Isso pode ser
confirmado com alguns exemplos relacionados abaixo:
158
Figura 41. Exemplo de inserção de elementos culturais nos planos de aula
159
Figura 42. Exemplo de inserção de elementos culturais nos planos de aula
160
Figura 43. Exemplo de inserção de elementos culturais nos planos de aula
Verificou-se também no desenvolvimento das atividades das aulas
a intenção de criar a necessidade de retroalimentação ou feedback da mensagem,
podendo o aluno, a partir das ações comunicativas do Guia, readequar seu discurso
a partir do discurso prévio do mesmo. Projeta-se no aluno, nesse caso, uma co-
responsabilidade na construção do seu percurso educativo, em uma perspectiva de
adulto em formação profissional. Isso é demonstrado na utilização de discursos que
fogem do caráter autoritário da maioria dos textos didáticos que explicam fatos,
situações, idéias e relações sem o embate das vozes ou o cruzamento das
interpretações e sem apresentar os elementos de sua construção histórica a partir
de questões específicas de interação, compreensão e significação. Sem dar
importância aos efeitos de sentido, tais discursos tornam a significação
unidirecionalmente baseada no autor ou no texto, esvaziando o papel ativo do
receptor/leitor que atribui sentido a partir de sua própria trajetória sociocultural e seu
mundo interior.
Vale ressaltar a afirmação de FREIRE (2001) que condiciona o
discurso dialógico a um campo de significados comum, onde os sujeitos
interlocutores se expressam através de um mesmo signo lingüístico. Percebe-se que
a utilização da linguagem nos planos de aula preocupa-se com essa problemática e
a própria organização dos signos verbais e não-verbais demonstra esse cuidado. É o
que fica evidente nos quadros denominados “PARA SEUS ALUNOS”, expostos
abaixo:
161
Figura 44. Exemplo de conteúdos relacionados ao plano de aula com
utilização de signos comuns repertório dos alunos.
162
Figura 45. Exemplo de conteúdos relacionados ao plano de aula com
utilização de signos comuns repertório dos alunos.
163
Figura 46. Exemplo de conteúdos relacionados ao plano de aula com
utilização de signos comuns repertório dos alunos.
Como visto, a ação comunicativa dos planos de aula faz uso de um
repertório e de recursos lingüísticos que aproximam o aluno do contexto da
aprendizagem. No dicionário de Comunicação (1978), o conceito de repertório é
164
descrito como: Conjunto de signos conhecidos ou assimilados por um indivíduo,
uma espécie de estoque de experiências fixado por um código.”
Nesse tipo de ação ampliam-se as informações disponíveis,
proliferam-se imagens, criam-se contatos entre áreas (interdisciplinaridades),
aceleram-se interações apoiadas em códigos verbais e o-verbais. Assim, os
alunos não absorvem os conteúdos, mas interagem com eles, reagindo e
interpretando. E interpretar nada mais é do que usar o seu acervo cultural para
processar interpelações recebidas. Assim, mesmo sabendo que na educação e em
qualquer processo semiótico existem boas e más interpretações, deve-se destacar
que o saldo, seja ele positivo ou não, pode ser considerado aprendizagem, e
conseqüentemente, produção de habilidades e competências. Essa ampliação de
informações está presente em todo o plano da aula, mas se efetiva com maior
clareza nas seções “PARA SABER MAIS”, “PARA IR MAIS LONGE” E “VEJA
TAMBÉM”. Seguem exemplos:
165
Figura 47. Exemplo de inserção de conteúdos complementares. “Para ir mais longe
166
Figura 48. Exemplo de inserção de conteúdos complementares. “Para saber mais”
167
Figura 49. Exemplo de inserção de conteúdos complementares. “Para saber mais”
168
Figura 50 .Exemplo de inserção de conteúdos complementares. “Veja também”
MORAES apud BALZAN (1999:49) vêm ao encontro do que se
afirmou, quando sustentam que:
169
(...) devemos lembrar que um ambiente de aprendizagem, como, qualquer
outro, deve reconhecer a importância do papel da cultura e do contexto na
construção do conhecimento, compreender que a construção de
conceitos ou o desenvolvimento de quaisquer outras habilidades
intelectuais estão diretamente relacionados com a riqueza ou a pobreza
dos materiais existentes na cultura e no contexto, são dependentes de
certos tipos de modelo fornecidos e reforçados pela cultura.
Convém destacar que o Guia apresenta uma comunicação que
favorece a aprendizagem a partir das experiências vividas. Os alunos são
incentivados a produzir, em um processo de erros e acertos, desenvolvendo um
saber-fazer relacionado ao contexto do mundo e de interação com ele. Assim,
BRAGA e CALAZANS acrescentam que:
Aparentemente, desde que a espécie humana se caracteriza pelo fato de
aprender, este aprender ultrapassa o saber-fazer (ainda que talvez,
lentamente, no início), para chegar ao vel de abstração e das
representações sobre o mundo e sobre as ações e fazeres sociais. Estas
representações e abstrações circulam na forma de saberes (oralizados,
escritos, e mais recentemente “mostrados”). Assim, a ação e o saber-
fazer (e o aprender-a-fazer-fazendo) não aparecem normalmente isolados
de representações (no repertório do sujeito e na própria situação em
enfrentamento, da experiência vivida.)
Outro recurso utilizado pelo Guia do Professor que merece
destaque é a proposta de ações pedagógicas interdisciplinares e multidisciplinares.
Sabe-se que esses dois termos são extremamente difundidos e incentivados no
ambiente escolar, porém suas aplicações tendem a não transpor o plano teórico,
gerando insatisfação tanto para professores como para alunos.
São inúmeros os motivos que dificultam essa aplicação Um deles
refere-se ao próprio sistema de ensino que determinou um cenário de saberes
separados, fragmentados e compartimentados. Essa “hiperespecialização”, termo
adotado por MORIN, é uma especialização fechada em si mesma sem permitir sua
integração em uma problemática global ou em uma concepção de conjunto. Além
disso, o retalhamento das disciplinas torna impossível apreender “o que é tecido
junto”, isto é, o complexo, que o sentido verdadeiro nasce das relações entre os
componentes do todo.
A fragmentação dos conteúdos não trouxe a divisão do trabalho,
mas também os inconvenientes do confinamento e do despedaçamento do saber,
produzindo o conhecimento e a elucidação, mais também a ignorância e a cegueira.
170
Percebe-se que o sistema de ensino que tem prevalecido, ao invés
de se preocupar em resolver essa problemática, obedece a ela. Na escola primária,
ensina-se a isolar os objetos, a separar as disciplinas ao invés de reuni-las e integrá-
las. Obriga-se o aluno a reduzir o complexo ao simples, isto é, a separar o que está
ligado; a decompor e não a recompor; e a eliminar tudo que cause desordens ou
contradições no processo de aprendizagem. Nesse sentido, ações pedagógicas que
produzam uma inter-relação promovem um tipo de aprendizado complexo e,
portanto não simplificador, levando o aluno à posição de reorganizador do
pensamento.
Vale assinalar ainda que as ações pedagógicas do Guia do
Professor, mesmo que denominadas interdisciplinares e multidisciplinares, ainda não
são suficientes para resolver tal problemática. No entanto, não se pode
desconsiderar que a sua intenção torna-se fundamental para modificar esse cenário
nas escolas. Seguem alguns exemplos:
171
Figura 51. Exemplo de plano de aula interdisciplinar
172
Figura 52. Exemplo de plano de aula interdisciplinar.
173
Figura 53. Exemplo de plano de aula interdisciplinar
174
Figura 54. Exemplo de plano de aula multidisciplinar
175
Figura 55. Exemplo de plano de aula multidisciplinar
176
Figura 56. Exemplo de plano de aula multidisciplinar
Outra reflexão importante na aplicação do Guia como mediador da
relação professor-aluno faz-se através da idéia de que não há conhecimento que
não esteja, em algum grau, ameaçado pelo erro e pela ilusão. Assim, toda
aprendizagem comporta esse risco e o maior erro seria subestimar o problema. O
conhecimento em forma de palavra, de idéia ou de teoria é o fruto de uma
tradução/reconstrução por meio da linguagem e do pensamento e, por conseguinte,
está sujeito ao erro. Esse conhecimento, ao mesmo tempo tradução e reconstrução,
177
comporta a interpretação, o que introduz o risco de erro na subjetividade do
conhecedor, de sua visão do mundo e de seus princípios de conhecimento. A
projeção dos medos e desejos de cada um e as perturbações mentais trazidas pelas
emoções multiplicam esses erros.
Assim, por mais que os planos de aula sejam estruturados com
intenções pertinentes e adequadas a um modelo de educação moderna, deve-se
pensar que o processo comunicativo em sala de aula é realizado com o
envolvimento de muitas pessoas e o processo de tradução/reconstrução torna-se
muito mais complexo.
Pode-se relacionar na utilização do Guia diversos erros que
influenciam o processo comunicacional produzindo resistência ao recebimento das
informações. São questões diretamente ligadas às dificuldades de receber
informações que não convêm ou não se pode assimilar, resistência a informações
associadas ao inconsciente e ao imaginário e também resistência proveniente de
racionalidades fechadas. Nesse aspecto, os paradigmas, doutrinas e estereótipos
que, juntos determinam o Imprinting Cultural, têm influência direta no sucesso do
projeto.
Percebe-se também na proposta do Guia a preocupação de fazer o
aluno substituir as ações pedagógicas com ênfase na memorização e reprodução
para um caráter de desconstrução e reconstrução da realidade. Isso fica evidente
em ações comunicativas que privilegiam a inteligência do aluno provocando-o para
dar respostas mais flexíveis aos problemas, adotando uma comunicação não
baseada na lógica da escritura e nem da dicotomia.
Outro ponto importante verificado é a intenção de fazer o aluno dar
sentido a mensagens ambíguas ou contraditórias, reconhecendo a importância
relativa de cada elemento de uma determinada situação, encontrando diferenças e
similaridades, sintetizando novos conceitos, a partir de conceitos anteriores e
formulando idéias que constituam novidades.
Não menos importante é a questão dos conteúdos. Percebeu-se no
Guia a intenção de tratar os conteúdos de forma complexa: identificando seu
surgimento, seu contexto social, quem os constituiu, quais eram as ideologias
178
dominantes. Essa ação reflete um melhor entendimento das diversas linguagens e
culturas e também não considera o conteúdo como algo fixo. Ou seja, entender com
clareza, através do currículo, como se construiu historicamente um dado
conhecimento, como as raízes históricas e culturais desse processo foram
usualmente “esquecidas” e o que faz que todo e qualquer conhecimento seja visto
como indiscutível, neutro, universal, atemporal. Assim, o Guia procura explicitar
como um dado conhecimento relaciona-se com os eventos e as experiências dos
estudantes e do mundo concreto, enfatizando-se ainda, na discussão, quem lucra e
quem perde com as formas de emprego do conhecimento.
Em síntese, os planos de aula tendem a deixar claro de quem é o
conhecimento hegemônico no currículo, que representações estão nele incluídas,
em que identidade se deseja que os estudantes reflitam e que identidade se deseja
que eles construam além de explorar formas de desestabilizar e desafiar todas
essas hierarquias, escolhas, inclusões, imagens e pontos de vista. Assim, busca
incentivar os alunos, nas diferentes disciplinas, a tornar evidente e contestar a
construção histórica de categorias - tais como raça, nação, faixa etária, sexualidade,
masculinidade, feminilidade, etc. – que têm marcado a humanidade.
Com essas estratégias, pretende-se facilitar a compreensão de
como o mundo tem sido dividido. Isso é possível pela inserção de outras
linguagens dentro da sala de aula. Nesse sentido a possibilidade que o Guia do
Professor oferece para inserir filmes, anúncios, modas, costumes, danças, músicas,
espaços urbanos etc, na sala de aula constitui um dos principais recursos de
fortalecimento dessa mediação como uma alternativa para aulas mais prazerosas e
com temperaturas mais calorosas.
Para finalizar essa análise acredita-se ser conveniente responder
às questões que foram propostas no capítulo três da fundamentação teórica,
reapresentadas abaixo.
1. Que atenção estão prestando as escolas, e inclusive as
faculdades de educação, às modificações profundas na percepção do espaço e do
tempo vividas pelos jovens, inseridos em processos vertiginosos de
179
desterritorialização da experiência e da identidade, apegados a uma
contemporaneidade cada dia mais reduzida à atualidade, e no fluxo incessante e
embriagador de informações e mensagens?
2. Que significados m aprender e saber no tempo da sociedade
informacional e das redes que inserem instantaneamente o local no global?
3. Que deslocamentos cognitivos e institucionais estão exigindo os
novos dispositivos de produção e apropriação do conhecimento a partir da interface
que enlaça as telas domésticas da televisão com as possibilidades do computador e
as lúdicas dos videogames?
4. Está, a educação, encarregando-se dessas indagações? E, se
não o está fazendo, como pode pretender ser hoje um verdadeiro espaço social e
cultural de produção e apropriação de conhecimento?
Não se pode afirmar, até pelo número relativamente ainda pequeno
de escolas que utilizam o Programa, e também pelos inúmeros agentes que
participam do processo, que a iniciativa do Projeto Veja na Sala de Aula seja a
solução para questões tão complexas como a desterritorialização da aprendizagem,
a adaptação do ensino à proliferação de novas linguagens e à abundância de
informação e ao entendimento da escola como espaço social e cultural.
Porém, deve-se admitir que iniciativas como essa, criadas e
produzidas dentro de um cenário mais adequado à aprendizagem, tendem a abrir
caminho para a mudança nas práticas pedagógicas tradicionais e podem ser, nesse
sentido, muito importantes, pois colocam os alunos, professores e demais envolvidos
em contato com a informação dando-lhes elementos que os capacitem a superar os
estágios elementares de leitura superficial da informação para, enfim, transformar
esses dados em conhecimento.
E é justamente nesse ponto que reside ou deve residir o
compromisso dos profissionais da educação e da comunicação, daqueles que
realmente se consideram educadores e comunicadores, ou seja, o de tornar a
informação acessível e, mais importante, conceder os elementos que permitam a
decodificação e o entendimento dos conteúdos e dos saberes em uma cadeia
180
complexa, com elementos da cultura e da sociedade na expectativa de um mundo
mais justo e melhor.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O propósito dessa tese foi analisar como se a intenção
comunicativa do veículo de comunicação Veja na Sala de Aula enquanto produtor de
linguagens para o professor (receptor) e o quanto essa ferramenta configura um novo
181
modelo de comunicação na sala de aula.
Nesse contexto, o desafio era descobrir, através da ação
comunicativa do GUIA DO PROFESSOR, como se dava a interação na transmissão
da(s) mensagem(ns) identificando o quanto elas proporcionavam possibilidades de
rompimento do modelo tradicional de aprendizagem, inserindo elementos da cultura,
diminuindo a linearidade e o caráter mecanicista e, conseqüentemente, tornando a
comunicação mais complexa.
Todo interesse da pesquisa visava a estabelecer uma reflexão sobre
comunicação e, conseqüentemente, sobre sua adequação a partir da utilização de
uma mídia. A motivação desse estudo foi, portanto, analisar a ação comunicativa do
Guia por meio de diferentes linguagens, seu potencial para promover a interação e o
diálogo entre os agentes sociais que se comunicam e se inter-relacionam.
Procurou-se, assim, colocar no mesmo nível elementos como
cultura, interface entre comunicação e aprendizagem, habilidades e competências. A
cultura foi tratada como um grande sistema com ltiplas relações e a escola como
um subsistema da cultura. O Guia do Professor, como se pôde perceber, comprovou
a necessidade de modificação nas ações pedagógicas tradicionais e revelou a
importância de inserir elementos externos ao ambiente escolar na perspectiva de
uma nova forma de aprendizagem.
Essa aprendizagem está diretamente relacionada à ação
comunicativa do professor que, nesse caso, pode fazer uso de recursos como o
Guia para conduzir mais adequadamente suas aulas, proporcionando e criando
espaços com temperaturas mais quentes, favorecendo intervenções e modificações
no mundo e fazendo da escola um ambiente de construção e reconstrução de
conhecimento.
Ficou evidente que, embora o Guia do Professor seja uma proposta
inovadora com intenções e ações comunicativas satisfatórias, trata-se de uma
ferramenta didática de complexa execução, porque não está isolado no ambiente
escolar. Conforme assinalado, nesse ambiente há uma multiplicidade de signos
envolvidos que interagem no processo de aprendizagem e certamente o influenciam
e por ele são influenciados. Somente à medida que esses signos se harmonizam, a
182
comunicação e a aprendizagem tendem a apresentar um direcionamento positivo
com quebra de resistências e maior clareza nos objetivos a atingir.
Como recurso de aprendizagem, constatou-se que o Guia
representa uma alternativa para aulas mais dinâmicas, criativas e interessantes,
preenchendo uma lacuna crucial nos processos de aquisição de conhecimentos,
podendo ser considerado um diferencial positivo da maioria dos projetos cujo
objetivo seja a inserção de outras mídias na escola. Ao utilizar fatos da atualidade, o
Guia ajuda concretamente os professores a criar atividades didáticas que auxiliam o
processo de aprendizagem motivando os alunos a compreender os conteúdos de
cada disciplina.
Outro ponto relevante na estrutura do Guia é a sua aplicabilidade
prática que, mesmo dependendo diretamente do professor que vai traduzi-lo e
aplicá-lo, tem um caráter progressista real, pois foge das comunicações normativas
e estáticas. Isso tende a transformar a ação comunicativa docente que, na maioria
das vezes, resumia-se a transmitir informações.
Nas intenções comunicativas, o objeto de estudo proposta em cada
Guia, prioriza a harmonização entre as necessidades dos alunos e os valores sociais
a partir de conceitos como: participação, responsabilidade, criatividade, resolução de
problemas e comunicação dialógica estando inserido em uma perspectiva de escola
moderna.
O Guia ainda prioriza um tipo de discurso que tende a considerar
todas as influências recebidas, tanto internas quanto externas, em ações integradas
proporcionando um maior desenvolvimento das competências e habilidades
necessárias para o aprendizado.
No entanto, não se pode afirmar, até pelo número ainda pequeno
de escolas que utilizam o Programa, e também pelos inúmeros agentes que
participam do processo, que a iniciativa do Projeto Veja na Sala de Aula seja a
solução para questões tão complexas como as apresentadas nessa tese. Deve-se
admitir, porém, que iniciativas como essa, criadas e produzidas dentro de um
cenário mais adequado à aprendizagem, tendem a abrir caminho para a mudança
nas práticas pedagógicas tradicionais e podem ser muito importantes para se
183
reesruturar o modelo escolar vigente.
Não se pode, evidentemente, pretender que a discussão se esgote
nos fatores trazidos à reflexão e nas conexões descobertas entre eles. As questões
amplificam-se gerando novas indagações que devem ser redirecionadas. O que se
pode, nesse ponto, lançar como idéia é um possível modelo de ação comunicativa
na escola a partir da inserção da mídia impressa e outras linguagens que coloquem
os alunos em contato com a informação tentando dar-lhes elementos para capacitá-
los a superar os estágios elementares de leitura superficial da informação para,
enfim, transformar esses dados em conhecimento.
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ed. São Paulo: Atlas, 2004.
ZUMTHOR, Paulo. A letra e a voz: a literatura medieval. Tradução Amalio Pinheiro e
Jerusa Pires Ferreira.São Paulo: Companhia das letras, 1993.
190
ANEXOS
191
Anexo 1 – Edições Completas do Suplemento Guia do Professor
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