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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo - PUC/SP
Programa de Estudos Pós-Graduados em Comunicação e Semiótica
Gráfico Ambiental: típicos e tópicos
Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial
para obtenção do título de MESTRE em Comunicação e
Semiótica – Signo e Significação nas Mídias, sob a
orientação do Professor, Doutor Nelson Brissac Peixoto
Eduardo Louis Jacob
São Paulo - 2007
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> Banca Examinadora
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______________________________________
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> Agradecimentos
A tantos e todos
textos ocultos.
À minha esposa,
pela ajuda, amor e companhia.
À minha mãe,
pela paciência na ausência.
À TSO,
pelo suporte.
Ao Prof. Dr. Nelson Brissac Peixoto,
pelo apoio e incentivo do começo ao fim.
Ao Grupo de Pesquisa ESPACC,
pelos conhecimentos compartilhados.
Aos outros,
sem menção.
> Resumo
O aparecimento do Gráfico Ambiental no contexto urbano é um fenômeno cuja
ocorrência é cada vez mais notada. Uma vez conceitualmente desgarrado da Comunicação
Visual, adquire consistente evidência em suas manifestações, o que lhe permite idealizar um
comportamento independente até alcançar um modo próprio de operar.
O acesso às estratégias construtivas do Gráfico Ambiental torna possível efetivar as
descrições que promovem sua especialização. A abordagem conceitual é empreendida entre a
organização do material com seus códigos mesclados e a composição do entorno espacial,
responsáveis pelas articulações das categorias de leitura do texto elaborado. O Gráfico
Ambiental necessariamente relaciona gráfico com espaço em sua sintaxe.
A pesquisa tem como objetivo reconhecer e relatar o fenômeno do Gráfico Ambiental,
avaliando suas possibilidades de configuração e de distribuição espacial, que, conjuntamente,
elaboram o perfil de uma linguagem típica que procura relacionar o aspecto visual do gráfico
com o meio tópico. Entre o aspecto construtivo do material e a interpretação o trajeto
percorrido pelo observador na tomada de contato com o texto inscrito, em que atuam as
instâncias de apreensão deste espaço experimentado. Neste contexto, são analisadas as
relações entre imagem e ambiente e deste último com a informação, consolidando marcos
referenciais que orientam a navegação por esse tortuoso caminho .
Amparado por noções coletadas na prática diária, o trabalho recorre ao apoio teórico da
semiótica e à colaboração da fenomenologia para fundamentar essa base empírica, assim
como construir compreensivamente relações de sentido, ao mesmo tempo em que se apóia em
autores cuja trajetória investigativa tangencie a temática em seus escritos.
Além de permitir o reconhecimento do Gráfico Ambiental, o estudo serve ao propósito de
embasar o seu procedimento analítico em um raciocínio lógico com viés pragmático que permita
dispor o observador como participante ativo do processo de feitura do Gráfico Ambiental.
Substituindo o observador, isso é atingido através de leituras de exemplos extraídos do
contexto urbano, funcionando como atestados práticos de uma observação elaborada.
Palavras-Chave: Comunicação; Espaço; Ambiente; Imagem; Informação; Gráfico Ambiental
> Abstract
The advent of the Environmental Graphic in the urban context is a phenomenon whose
occurrence is being increasingly noticed. Once it is conceptually detached from Visual
Communication it acquires consistent evidence in its manifestations permitting to idealize an
independent behavior until it reaches its own modus operandi.
The access to the Environmental Graphic’s constructive strategies makes it possible to
put in place the descriptions that promote its specialization. The conceptual approach takes
place between the organization of the material, with its mixed codes, and the composition of the
spatial surrounding, responsible for the articulation of the text’s interpreting categories. The
Environmental Graphic relates graphic and space in their syntax.
The objective of the research is to recognize and report the Environmental Graphic
phenomenon, assessing its configuration and spatial distribution possibilities, which, jointly,
create the profile of a typical language that tries to relate the graphic’s visual aspect with the
topical medium. Between the constructive aspect of the material and the interpretation there is
the path covered by the observer to get in touch with the text inscribed, where the instances of
seizure of this experimented space act. In this context, relations between image and
environment and the latter with information are analyzed as referential landmarks orienting the
navigation across this winding pathway.
Supported by notions captured in the daily practice, the work turns to the theoretical
support of semiotics and the collaboration of phenomenology to fundament this empiric basis,
such as comprehensively constructing sense relations while it relies on authors whose
investigative trajectory runs tangent to their writings’ thematic.
In addition to allowing the recognition of the Environmental Graphic, the study is useful to
draw a base for its analytical procedure in a logic reasoning with a pragmatic bias that enables
placing the observer as an active participant of the Environmental Graphic’s designing process.
Substituting the observer, this is achieved through examples extracted from the urban context,
functioning as practical proofs of an elaborated observation.
Key words: Communication; Space, Environment, Image; Information, Environmental Graphic
Introdução
Ponto de Partida
Origem da pesquisa
Gráfico Ambiental
Espacial: parcial e relacional
Lugar, significação e interpretação
Evolução do Gráfico Ambiental
Como atua o Gráfico Ambiental
Composição do Gráfico Ambiental
Cadeia de trabalho do Gráfico Ambiental
Contornos do campo
[1.4.1]
[1.4.2]
[1.4.3]
[1.4.4]
[1.4.5]
Definições
> Sumário
23
26
30
32
38
42
15
08
[1.1]
[1.2]
[1.3]
[1.3.1]
[1.3.2]
[1.3.3]
[1.3.4]
[1.3.5]
[1.3.6]
[1.4]
Por dentro da Comunicação Visual
Na ponte com o Design
Convivendo com a Arquitetura
Propaganda e Instrumental
Fixo entre Fluxos
16
18
22
45
45
47
52
55
58
Relações
60
[capítulo 1]
[capítulo 2]
Estabelecendo relações no meio do caminho
Relação entre imagem e paisagem
A passagem da paisagem em imagem
O surgimento da paisagem
A captura da paisagem
Paisagem não é o mesmo que espaço
Entre a técnica e a tecnologia: visualidades inauguradas
A aventura informacional
[2.1]
[2.2]
61
64
Interação e entorno
Crenças e hábitos
Palavra breve
Ideologia e estereótipo
Memória e cultura
Informação disponível
Do processamento da informação ao processo de significação
[2.2.1]
[2.2.2]
[2.2.3]
[2.2.4]
[2.2.5]
[2.2.6]
Relação entre ambiente e informação
[2.3]
64
65
67
71
73
74
Ponto de Chegada
Textos gráfico-ambientais
Leituras do mundo
Operações de leitura gráfico-ambiental
[2.3.1]
[2.3.2]
[2.3.3]
[2.3.4]
[2.3.5]
[2.3.6]
[2.3.7]
80
82
84
85
87
88
90
Operações
[capítulo 3]
[3.1]
[3.2]
[3.3]
[3.4]
Considerações Finais
94
95
98
100
Referências
115
120
Diagrama Percurso da Pesquisa 14
79
93
Lista de figuras 127
Introdução >
> 8
“Não venham com problemática que eu tenho a solucionástica[sic]” diz a prosaica
sabedoria de um famoso jogador de futebol. Por mais bizarra que soe a expressão, seu
significado é perfeitamente compreensível. Sabemos que o termo correto é “solução”, mas a
simplicidade (e sagacidade) despretensiosa deste deslize ortográfico é justamente indicar,
sem esforço e com humor, que para cada problema corresponde uma solução específica.
Por isso a expressão torna-se tão cativante. Pois bem, pela frente uma problemática e
tanto à procura de umasolucionásticaà altura.
Benjamin (2006:988) reconhecia, nas primeiras décadas do século 20, que os
luminosos nas cidades eram um novo tipo de escrita. A bem dizer, a descoberta da
presença do luminoso nas ruas de Paris aconteceu simultaneamente à sua percepção de
que um novo tipo de discurso e outra escritura advinham daí. Analogamente, o
aparecimento do Gráfico Ambiental, cuja ocorrência é examinada nessa pesquisa, busca
sua especificidade não nos traços de sua existência, mas principalmente no
reconhecimento da sua condição original de inscrição gráfica, possibilitada pela articulação
de uma linguagem típica, emanada por aparelhos técnicos e um modo de produção
inexistentes até pouco tempo. nos ensinou Mcluhan (1969), que o conteúdo de um
meio novo é o meio que o precede e, até em função disso, nesse momento da pesquisa não
importa tanto o que é inscrito, pois insistir no caminho dessa distinção pode confundir alguns
preceitos em aferição e conduzir a especulações que mais referenciariam outros meios.
Importa é como se inscreve e como são os roteiros de legibilidade que o meio utiliza para
transmitir esse conteúdo.
O que esta pesquisa se propõe é o reconhecimento do Gráfico Ambiental como meio
especializado dentro da Comunicação Visual, desenvolvido para dar forma e vazão a um
discurso que se quer manifestar espacialmente. Os poucos dados sobre o assunto, na maior
parte das vezes, encontram-se dispersos e raramente concentrados. Há aqui a preocupação
de reuni-los no limite das discussões pautadas. A extensão da análise está circunscrita à
intenção de espraiar o olhar pelo assunto e, ao mesmo tempo, acolher os conceitos mais
pertinentes ao eixo de observação aqui proposto, desvelando os indícios mais comuns de
sua emergência. Mais do que investigar os alicerces do campo em sua máxima
profundidade e alcance, procurou-se reconhecer e descrever o fenômeno em sua
organização e manifestações.
Desta maneira, a pesquisa pretende introduzir uma base epistemológica que
dialogue com as principais linhas comunicacionais, com o objetivo de traçar um mapa de
momento, aproximado e sempre suscetível a mudanças, dos contornos do campo
> 9
pesquisado, partindo dessa tomada conceitual. Tal qual a maneira de um tecelão que
constrói sua trama a partir de um esquema nodal, o desenlace da tessitura conceitual é
dado a partir da orientação do pensamento, que é o vaguear de em nó. Procedimento
que em grande parte caracteriza o método heurístico, vinculando descobertas à teoria,
estabelecendo conexões entre os eventos e “trabalhando dedutiva [do geral para o
particular] e indutivamente [através de casos particulares e buscando o seu princípio geral]
da teoria para o objeto de pesquisa e deste para aquela” (Ferrara. 1981:xiii). O método
heurístico permite “a iluminação recíproca entre o objeto de estudo e o arsenal de
informações de que dispõe o pesquisador” (id.ibid.:xiii) ensejando a descoberta através de
novos problemas que surgem no decorrer da pesquisa. Desta feita, acredito mesmo que a
verdadeira qualidade do texto está em indicar e descrever o caminho sinuoso, esse sim
merecedor de reflexão, que leva da dúvida ao entendimento, e de novo à dúvida, e da
prática ao conceito, e de novo à prática.
É preciso aqui chamar atenção para o destaque que tem o conceito de sistema nesta
pesquisa. Ontologicamente, o Gráfico Ambiental é de natureza sistêmica. A abordagem
sistêmica lida com um pressuposto essencial nesta pesquisa, como o caso dos
componentes em modificação constante, engendrando novas qualidades. Isso consolida a
noção de que um sistema não é uma entidade estável, mas processual, dinâmica e deve ser
encarado em uma dimensão do todo integrado. O biólogo Ludwig von Bertalanffy define
sistema como um conjunto de elementos em inter-relação entre si e o ambiente. Para ele
(1975:60):
> 10
[...] enquanto no passado a ciência procurava explicar os fenômenos
observáveis reduzindo-os à interação de unidades elementares
investigáveis independentemente umas das outras, na ciência
contemporânea aparecem concepções que se referem ao que é
chamado “totalidade”, isto é, problemas de organização, fenômenos
que não se resolvem em acontecimentos locais, interações dinâmicas
manifestadas na diferença de comportamento das partes quando
isoladas ou quando em configuração superior, etc. Em resumo,
aparecem sistemas de várias ordens que não são inteligíveis mediante
a investigação de suas respectivas partes isoladamente.
O cineasta Sergei Einsenstein (2002) em sua busca por um sistema básico para
métodos de expressividade cinematográfica afirmava que a experiência com elementos
isolados do cinema não podia ser mensurada. Ele elabora a sua teoria da montagem a partir
do conceito de plano, recorrendo a metáforas arquitetônicas (tijolos, blocos de construção) e
principalmente biológicas para explicar, através da compreensão dinâmica das coisas, que o
plano não é um elemento do filme mas, sim, uma célula do filme e que, como elas, em sua
divisão, formam um fenômeno totalmente distinto de outra ordem, que é o organismo, o
plano caracterizaria a montagem pela colisão ou o conflito de duas peças em oposição entre
si. Isso nada mais é do que a clássica analogia de sistema dinâmico integral como o
exemplo da célula que, no sentido material, é composta de vários componentes químicos,
como proteínas, ácidos nucléicos, etc. Cada um desses compostos pode ser considerado
como um produto químico inerte, sem vida. Esses, ao interagirem, formam um todo, uma
célula que tem as características de seres vivos: capacidade de metabolização,
crescimento, reprodução etc. – que são fruto da integração e da interação.
Admitindo-se que o Gráfico Ambiental transmita um discurso em um ambiente
percebido pelo observador, inferimos sua estrutura, conforme Debray (1995:23) apresentou,
pelo sistema composto do médium, formado pelo suporte material, o dispositivo de gravação
e o procedimento geral mais o meio-tópico em que se insere este dium. O resultado
desse conjunto é o Gráfico Ambiental.
O Gráfico Ambiental consolida a sua linguagem pela especificidade de sua
construtibilidade. É inviável que ao arranjar um texto comunicacional, os códigos presentes
nessa linguagem não sejam confrontados com a organização construtiva desse conjunto.
Por isso falamos nessa pesquisa em uma linguagem típica identificada pela combinação dos
códigos em um sistema que é firmado pelo meio-tópico, que atua como (segundo) suporte e
indicador de linguagem ao mesmo tempo.
> 11
Nada disso é novidade. McLuhan (1969:75) especulava a possibilidade do
surgimento de novas significações quando do encontro de dois sistemas ao lançar o
conceito do:
híbrido ou o encontro de dois meios, que constitui um momento de
verdade e revelação do qual nasce a forma nova. Isto porque o
paralelo de dois meios nos mantém nas fronteiras entre formas [...] O
momento de encontro dos meios é um momento de liberdade e
libertação do entorpecimento e do transe que eles impõem aos nossos
sentidos,
indicando que os sistemas não estão isolados e sim se misturando, em convergência,
gerando algo novo capaz de mobilizar nossa percepção.
O Gráfico Ambiental é operado por agenciamento de relacionamentos. Nessa lógica
de funcionamento, construir é gerenciar a interação entre cada elemento e o contexto, à
medida que este envolvimento é consolidado no sistema; de modo que o próximo elemento
se relacione com o anterior e com o contexto ao mesmo tempo. Vale ressaltar que cada
relacionamento pode vir de esferas conceituais diferentes, não sendo arbitrado a priori
nenhum roteiro construtivo, desde que o resultado obtido esteja em consonância com a
intenção construtiva do organizador. Isso equivale a dizer que não apenas um jeito para
se construir, mas muitos. A estratégia construtiva é revelada ao observador apenas ao final
do processo.
O Capítulo 1 desenvolve e explica o Gráfico Ambiental, nas encruzilhadas dos
referenciais teóricos e práticos, revelando progressivamente as suas características.
Também pretende identificar seu posicionamento perante outras áreas, sendo selecionadas
para análise as três que tangenciam e trafegam com mais freqüência entre as fronteiras
influenciando e muitas vezes condicionando sua produção: o design, a arquitetura e a
propaganda. Nesse capítulo é revelado também como se deu o início das preocupações
pelo objeto em estudo que culminaram neste trabalho.
As relações explicitadas nesta pesquisa foram identificadas como as principais
balizadoras conceituais para o entendimento do fenômeno. Entre estas, a relação entre
imagem e ambiente em combinação com a informação desempenha uma importância
fundamental na tomada conceitual geral do trabalho. A pesquisa assume essa combinação
como principal responsável daquilo que pode resultar em alteração da percepção das
variáveis ambientais e conseqüentes mudanças comportamentais nos indivíduos. Ao se
deslocar novos elementos visuais para lugares primariamente tipificados a partir de outra
lógica informacional, regenera-se o manancial de significados presentes nestes lugares,
estimulando a reprogramação de sua significação e promovendo paisagens velhas à
> 12
informação nova. A partir daí são compreendidos os conceitos seminais de entorno,
contexto e ambiente. Neste trabalho, o Gráfico Ambiental, como tecnologia a serviço da
informação, desempenha o papel de agente transformador.
Para entender essa transformação, este trabalho proporciona uma plataforma
expositiva no Capítulo 2 que investiga, ao mesmo tempo em que contextualiza, os
momentos de construção dos principais termos e conceitos que servem de fundamentação
para esta pesquisa, buscando na história e na cultura as raízes das articulações entre eles.
> 13
A pesquisa tem seu desfecho no Capítulo 3, em que se praticam leituras de Gráficos
Ambientais em alguns exemplos selecionados. A leitura é utilizada no sentido de
decodificação, de buscar o código e sua sintaxe. Essa operação de leitura procura indicar e
sublinhar os aspectos mais relevantes que marcaram a construção daquele Gráfico
Ambiental, a construtibilidade, suas ferramentas e estratégias, tanto pelo médium como pelo
meio tópico. O caminho investigativo desta pesquisa tem na interpretação a sua parada
final. O que deriva dessa interpretação é deixado a cabo do observador.
A pesquisa que resultou em Gráfico Ambiental: típicos e tópicos é o desdobramento
de um trabalho pautado na prática. Uma vez que trabalhamos com idéias ainda em
formação, conceitos em transformação, é de se esperar (ou desejar) que as formulações
aqui contidas sofram modificações com o tempo. Permanecerá, no entanto, como atestado
reflexivo de uma conduta investigativa.
texto
fixo
observador
fluxo
ambiente informado
interpretação
mente
> Percurso da Pesquisa
visualidade
visibilidade
repertório
leitura
idéia
lugar específico
organizador
médium
meio-tópico
gráfico
ambiental
procedimento
leiturabilidade
> 14
Capítulo 1 >
> 16
[1.1] Ponto de Partida
Às vezes, parafraseando Deleuze (2005), precisamos “inventar uma palavra bárbara
para dar conta de uma noção com pretensão nova”. O emprego neste trabalho de uma
terminologia pouco conhecida não vem do desejo de batizar algo novo, mas essencialmente
por duas necessidades inadiáveis: discriminar e especializar. Neste caso, a expressão trazer
à tona seria mais adequada e preferível à idéia de invenção, uma vez que o termo escolhido
e também título deste trabalho, até por ser corrente em outras paragens, já circulava
desgovernado por aqui.
De tal forma está disseminada a prática da Comunicação Visual pelos mais variados
modos de produção que, se não se produzir um termo mais especializado para a área em
foco, as interpretações continuariam demasiadamente difusas e subjetivas. Como usar a
palavra veículo sem explicar do que se trata, se de automóvel, trem, avião, carroça ou
motocicleta? Ainda numa analogia que melhor se avizinha, lançar mão da expressão artes
visuais sem especificar se é cinema, pintura, fotografia, etc. O curioso é que não o uso
corrente da expressão Comunicação Verbal como designação da fala e das linhas escritas
em todas as suas práticas, analogamente ao campo do visual. O exemplo da literatura e sua
produção em forma de livro expõe a especificação sempre em prática nessa área.
Para efetivar essa discriminação estabelecem-se diferenças. Logo de saída, para
incitar um ganho de identidade, adota-se uma nomenclatura emprestada de outra língua
para, em seguida, valer-se da análise qualitativa e comparativa entre representações
visuais, a partir dos seus recursos construtivos e suas manifestações culturais. Aqui, a
observação atenta e o conhecimento da sintaxe desses sistemas permitirão destacar as
características determinantes das suas especificidades, evidenciando similaridades e
diferenças.
A busca da especialização pode ser resumida pela condição de proporcionar
tratamento à parte, criando situações que permitam observar o fenômeno em suas
características mais proeminentes, possibilitando estudos mais particularizados. Embora a
especialização traga embutida a idéia de perícia e excelência em uma situação de
complexidade crescente, não é esse o espírito que se busca.
A idéia em voga está atrelada ao reconhecimento de que um território
estabelecido pelo Gráfico Ambiental dentro dos domínios da Comunicação Visual. Para se
fazer valer do conceito de Deleuze (2003:218), um território não fixo, mas rastreável, dotado
de contornos irregulares e formado por agenciamentos, situação que exige múltiplos
> 17
agentes, múltiplos campos de força, sempre baseada na dinâmica e não nas estruturas.
Território esse componente de um mapa sempre suscetível de mudanças, (Duarte. 2002:15)
numa condição que não trata de extrair constantes a partir de variáveis, porém de colocar as
próprias variáveis em estado de variação contínua (Deleuze. 2003:36). Nessa situação, o
que ocupa e caracteriza esse território é o deslocamento e não a fixação. Deleuze diz que o
território só vale em relação a um movimento através do qual se sai dele. Os agenciamentos
levam o Gráfico Ambiental a visitar o design gráfico, a arquitetura, o design ambiental, a
arte, a propaganda, a cibercultura, o design de produto, entre outras áreas. Em cada
necessidade, em cada elaboração, uma visita diferente. Ao retornar, um território diferente à
sua espera. Nesse território pleno de modificações e ressignificações, em que um elemento
não subsiste sem o outro, é que estão sendo plasmados, na contemporaneidade, as bases
dos processos de convergências e integrações entre novos e velhos meios.
O que se segue é o relato dessa experiência de me encontrar com e nesse território.
Perceber aos poucos que existe lógica, racional e sensível, que permeia a construção do
Gráfico Ambiental. Uma lógica que se sofistica à medida em que expande seus horizontes
práticos e conceituais e angaria adeptos em outros sistemas.
> 18
[1.2] Origem da pesquisa
O desenvolvimento da tecnologia e a crescente importância de suas aplicações em
nosso cotidiano deram a tônica ao século que passou. Percebemos facilmente que
participamos de uma nova ordem, na qual a tecnologia tem forte presença. As novas
tecnologias, integradas principalmente à computação, elaboram um complexo sistema de
conhecimento que se preocupa, de um lado em desenvolver maiores e melhores facilidades
para o ser humano, ampliando o conforto material no nosso dia-a-dia e, de outro lado,
introduzir recursos e instrumentos tecnológicos para elaboração de tarefas e produtos. Em
grande medida, o campo da Comunicação é beneficiário dessa evolução. Como indivíduos
inseridos nesse contexto, participamos direta e ativamente da história recente. Na
impossibilidade de abstrair nossa presença desses acontecimentos, cai-se no risco, não
inteiramente calculado, de transformar história em depoimento.
Desde 1994 desempenho profissionalmente trabalhos na área “(foto)+gráfica” .
Acompanhei de perto o desenvolvimento veloz da tecnologia. O espírito da época era de
entusiasmo contagiante pelas inovações tecnológicas que surgiam a todo instante. A
internet não era popular e ainda sentíamos os ecos da queda do muro em Berlim, ao mesmo
tempo em que presenciávamos a escalada vigorosa no uso da informática pelo mundo todo.
O AutoCAD, programa de desenho arquitetônico desenvolvido e comercializado a partir de
1982, inaugurou uma nova era para os projetistas. O aumento progressivo de adeptos
estabeleceu rapidamente um modelo de trabalho bastante explorado pelo mercado. Para o
profissional da área gráfica surgiam mais programas e ferramentas para Editoração
Eletrônica, aclamada como matriz tecnológica na época, a partir da popularização da
plataforma de trabalho Desktop Publishing iniciado em 1985 pelo programa Pagemaker,
como também o programa Corel Draw, criado em 1989, consolidava seu reinado soberano.
No Brasil, ainda vivíamos a era da inflação galopante, o real seria implantado em
breve, a abertura da economia dava seus primeiros passos após anos nas trevas e no
atraso pela reserva de mercado da informática. Surgiram diversas ações descentradas
voltadas à abertura de empresas de comunicação visual, denominação dada aos
empreendimentos que articulavam esforços para explorar trabalhos que contivessem
particularidades, conceituais ou materiais, para que através de recursos especiais
resolvessem situações gráficas inusitadas. Diferenciavam-se das empresas gráficas e de
serigrafia aentão dominantes na cena da impressão gráfica que, por sua vez, rejeitavam
essa necessidade crescente, por motivos práticos. Muitas dessas empresas de
comunicação visual foram criadas com o propósito inicial de lançar um produto: o recorte
> 19
eletrônico de vinil adesivo. Consiste em recortar uma folha de vinil adesivo - filme de cloreto
de polivinil (PVC), com emulsão acrílica acoplada - em uma plotter dotada de uma lâmina
fina de corte, conectada a uma CPU, partindo de um desenho previamente vetorizado em
software gráfico. Na época, o produto contemplava uma inovação sem precedentes para a
área. Pela primeira vez, podia-se elaborar peças com precisão, qualidade e rapidez, a
custos acessíveis. Antes da introdução da plotter, havia duas formas de produção
largamente utilizadas: a serigrafia ou o desenho livre feito por letrista. A inovação deu
resultados instantâneos, gerando forte demanda pelo produto. O desenho vetorizado foi
incorporado imediatamente na prática projetual, sendo adotado por todos os que desejavam
aquela qualidade na produção de suas imagens. Empresas podiam agora apreciar
satisfeitas suas marcas corporativas aplicadas em várias e inusitadas superfícies, recurso
até então inimaginável em larga escala. O recorte de vinil adesivo, aplicável em superfícies
lisas, começou a caminhar no sentido do padrão de qualidade que o mercado tanto
cobiçava: a imagem perfeita, sem ruídos, isenta das marcas deixadas pelo processo de sua
produção.
Assim, em pouco tempo começou a se alastrar um sentimento generalizado de
insatisfação devido à impossibilidade de também se criar imagens reais com cores vivas,
como as que se viam em impressos gráficos, padrão de qualidade já instituído e exigido pelo
mercado: a impressão realizada pela decomposição da imagem em filmes reticulados que,
através de sobreposição do ponto da retícula durante a impressão, entregavam meios tons
em todas as suas nuances. Algum tempo depois e muito dinheiro gasto em desenvolvimento
por empresas no mundo todo, as impressoras digitais de grande formato chegavam para
impor uma maneira totalmente inovadora de produção de imagens. A área de comunicação
visual começava a tomar a forma atual. Outros equipamentos computadorizados, o
exuberantes quanto à impressora digital, foram desenvolvidos e incorporados à prática, tais
quais, routers (topias) computadorizadas, máquinas de corte a laser, que efetuam cortes
precisos e bem acabados em madeiras, metais, plásticos, em formas e dimensões
ilimitadas, dobradeiras máquinas de solda de metal, cabines de pintura, materiais como
Lona Vinílica ou rígidos como o MDF, o Policarbonato, o Acrílico PETG, e muitos outros.
Comecei a desconfiar de uma prática nova quando se intensificaram as solicitações
dos clientes para que outros papéis e tarefas, bem diferentes dos habituais, fossem
utilizados. Boa parte deles, um grupo extraordinariamente heterogêneo, das mais variadas
classes laboriosas e níveis sócio-culturais, solicitavam vistorias em locais que desejam
revestir de imagens e informação ou então estabelecer um tipo de comunicação com os
usuários daquele ambiente. Atualmente, existe um esforço disseminado em usar o espaço
como suporte comunicacional, de impor ao “espaço livre” uma usabilidade. Difícil é
> 20
determinar o que seja exatamente esse espaço livre para o senso comum. Parece
aproximar-se da idéia de desocupado de elementos: desinformado.
É interessante, neste aspecto, traçar um paralelo com a lógica do design e inseri-lo
no contexto atual do consumo dentro dos pontos de venda, terminologia celebrada pelo
marketing para designar o local onde ocorre a ação de consumo, como lojas,
hipermercados, shopping centers e suas partições, entre outros. Faz parte da pauta de
discussão do design o sistema de valores que se desenvolve pela cadeia de consumo, quer
seja da fricção entre valor de uso e valor de troca, e suas variantes, como valor estético
(Argan. 2005:253), valor de posse e valor de seleção (Ferrara. 1993:198). Cada participante
do processo atribui um peso diferente a fim de se beneficiar, “enquanto a lógica do produtor
procura a massificação do valor de troca, a lógica do consumidor procura a valorização do
uso” (Ibid:194). Em linhas gerais, o mesmo papel que o design industrial desempenha
através do desenho, anexando qualidades formais no produto para estimular o desejo de
posse no consumidor, é também desempenhado pelo design ambiental ou outro agente
responsável, em verdadeiras superproduções nos pontos de venda. Através de um total
controle das condições ambientais, como luz e temperatura, combinado com a criação de
um aparato cênico composto por mobiliários com desenhos exclusivos e Gráficos
Ambientais, esses locais têm a missão de encorajar o público ao consumo, incitando ao
máximo seu desejo de posse e, se possível, também inibindo seu valor de seleção.
De onde é possível inferir que este modelo de ponto de venda, ao se disseminar,
torna-se um decisivo colaborador, mas não único, para a propagação de uma noção
funcional do espaço, semelhante à corrente teórica do design que advoga que a forma de
um objeto deve ser precedida da sua função. Conseqüentemente, qualquer espaço sem
forma (ou informação) também é sem função. Essa idéia de espaço desinformado
desencadeou um efeito manada nos escritórios de marketing, obrigando-os a impor usos e
atribuições aos espaços disponíveis.
Esses clientes, preocupados com essa ociosidade espacial, solicitavam uma
interpretação, camuflada em opinião, daqueles ambientes. Na visão deles, não de toda
errada, melhor tomar emprestado um juízo formulado por um profissional, que ao lidar
cotidianamente com isso, imediatamente é promovido a perito, do que dispor a tarefa sem
critérios. Afinal, conforme a sabedoria popular ensina, o hábito faz o monge. Com isso,
depois da justa interpretação daquele lugar e de uma orientação segura, a eles podiam ser
fornecidos os parâmetros técnicos necessários para se usar convenientemente aquele
ambiente como suporte para suas intenções de comunicação. Evidente que conhecimento
das técnicas de construção, assim como noções das potencialidades de uso e cálculos de
viabilidade comercial, misturavam-se nesse processo.
> 21
Após a conclusão dos trabalhos restava a sensação de que algo não presente antes,
agora estava lá. Existia um conjunto de elementos que ali estavam integrados, que
informavam algo. Nesse instante percebi o Gráfico Ambiental: não era somente vinil adesivo
e sim o conjunto formado pelo vinil adesivo, a imagem, a parede que o suporta, a luz do
ambiente, a textura do chão, a posição do observador, o fluxo de pessoas. Assim como o
painel bidimensional que se eleva do chão também se integra a um conjunto e forma um
Gráfico Ambiental. Portanto, os clientes tinham total razão: o Gráfico Ambiental modifica o
ambiente, ressignificando-o. O que havia acontecido naquele ambiente era a conversão de
matéria pura em imagem significada. Era agora um espaço representado.
Com essa problemática debaixo dos braços, tornou-se essencial pensar o assunto. À
medida em que mais informações eram incorporadas, crescia também a necessidade de
aprofundar o estudo e vincular conceitos a esses dados ainda rasos. Em busca de uma voz
própria sobre o assunto, lancei-me em direção à pesquisa.
> 22
[1.3] Gráfico Ambiental
A terminologia adotada no presente texto aproxima-se da utilizada em inglês,
environmental graphics, que explica melhor que o correspondente em português. Ainda que
a palavra ambiental esteja mais vinculada a questões ecológicas, esta nomenclatura é a que
mais se aproxima do sentido prático desejado. Ambiente é entendido nessa pesquisa como
o entorno de um indivíduo, conforme Gibson (1986:43) define: “a essência de um ambiente
é o entorno de um indivíduo”. Noção que é complementada pela formulação de Mcluhan
(1969: passim 12-13) de ambiente como área de atuação e propagação de sistemas de
linguagem. A linguagem qualifica o espaço e compõe o ambiente, como apontado nesta
pesquisa: ambiente informado. Este não é conformado por limites tácteis, como paredes ou
muros, mas estabelecido pelo observador durante o processo de leitura e interpretação dos
códigos presentes na linguagem. Por essa perspectiva, a noção de informação não se
separa da noção de ambiente e é concebida em unicidade.
É necessário entender que quando realizamos a tradução do termo environment para
o português, limitamos o seu significado original, bem mais abrangente que o espectro de
definições possíveis em português. No entanto, podemos, por aproximação semântica,
buscar o termo contexto para ajudar a explicar a aplicação de ambiente nesta pesquisa. O
contexto coloca alguma coisa em relação a outro algo para alguém. Ele limita as variáveis e
tornam esse algo específico. Nesse caso, o algo é o entorno de um indivíduo. O contexto
integraliza um conjunto de variáveis para um indivíduo, que então percebe o entorno que lhe
diz respeito. No entorno temos variáveis de ordem social (no seu sentido mais abrangente)
coordenadas em um contexto particularizado. A palavra ambiência é utilizada por alguns
como tentativa de explicação, porém ela traz marcada em seu genoma uma noção
arquitetônica do ambiente acompanhada de um juízo estético.
Quem lamenta também a ausência no português de uma palavra que descreva esse
conceito é Vilanova Artigas (1981:135) ao comentar o uso da expressão em francês
environnement descrita por ele como “o conjunto das condições da natureza modificada
pela presença humana e das condições sociais já criadas que formulam as hipóteses de
cada conjuntura.” Definição que expressamente aproxima conjuntura de contexto.
Intuitivamente, o Gráfico Ambiental remete a uma idéia de exterioridade, algo que
acontece ao ar livre, o que não é correto. Pelo contrário, a maior parte das situações mais
interessantes ocorre em interiores. Percebemos suas manifestações em shopping centers,
metrôs, restaurantes, aeroportos, banheiros, lojas; a lista é grande. Para essa idéia de
exterior se tornar correta, precisaríamos caracterizar o indivíduo em trânsito, portanto fora
> 23
de casa. Atualmente, o interior e o exterior não são precisamente determinados, e cada um
se estabelece, não definitivamente, em fronteiras difusas.
É corrente o uso da palavra outdoor, cuja tradução literal seria da porta para fora,
acentuando seu caráter externo. No entanto, esse termo é utilizado como nome de uma
família de um tipo de mobiliário urbano usado para fins publicitários, conhecida também nos
EUA como out-of-home, maneira de se diferenciar das mídias tradicionais por se tratarem
fundamentalmente de mídias dentro de casa. O outdoor poderia ser considerado uma peça
ancestral no espaço urbano, dado o seu primitivismo construtivo e não fosse tão recente a
sua implantação.
Neste ponto, vale a pena indicar a diferença de uso entre as palavras gráfica e
gráfico. Quando, numa situação hipotética, referência às qualidades gráficas de uma
peça, estamos com isso querendo dizer que a imagem está bem impressa, o papel foi
adequado àquele uso, enfim, referenciando aspectos relacionados à imagem daquela peça.
Estabelecemos mentalmente uma relação imediata ao estabelecimento comercial gráfica,
responsável pela produção daquela impressão. Por outro lado, quando nos referimos ao
> 24
propriedades construtivas, com um conhecimento material e semântico do meio tópico
usado como (segundo) suporte. O Gráfico Ambiental necessariamente relaciona gráfico com
espaço em sua sintaxe.
Alguns podem argumentar que ao colocar um quadro na parede, essa relação
também é desenvolvida. Como resposta a isso, a noção de meio tópico serve para explicar
essa distinção, pois é a que tem a qualidade de precisar o suporte do Gráfico Ambiental. O
meio tópico é relativo precisamente àquilo do que se trata, isto é, para o qual o Gráfico
Ambiental, desde o princípio, foi idealizado. Fundamentalmente, a distinção é devida à
ausência de uma atitude sistêmica entre os elementos, no caso, o quadro e a parede, que
existem independentes um do outro. O quadro não requer uma continuidade específica para
existir; o seu conjunto está encerrado em si mesmo. A parede, como sabemos, é como o
papel: aceita tudo. Sua neutralidade submissa sujeita-se a qualquer imposição. Para o
quadro qualquer parede é satisfatória, não sendo necessária a sua existência
especificamente naquela parede. A mesma indiferença acontece da parede para com o
quadro.
Leibniz, filósofo envolvido no debate da noção de espaço, afirmava que este não
existia por si e que era viabilizado pela existência das coisas no mundo. Assim sendo, o
espaço mediava as coisas no mundo na mesma medida em que delas dependia para se
servir da sua condição autônoma. O espaço é pensado não como um palco onde as coisas
se relacionam, mas como um agente relacional que condiciona a percepção mesma desses
eventos. Deleuze, valendo-se de Leibniz, diz que uma inseparabilidade das partes entre
> 25
duas partes distintas na matéria “não só pela ação dos circunvizinhos, (...) mas também pela
pressão dos circunvizinhos”, caracterizando o espaço como flexível e elástico, que “tem
ainda partes coerentes que formam uma dobra, de modo que elas não se separam em
partes de partes, mas dividem-se até o infinito em dobras cada vez menores” (Deleuze.
2005:17). Isso para demonstrar que as partes não são relacionadas por um vínculo físico,
mas cada uma está em correspondência com as outras. Essas relações entre as partes são
espécies de acontecimentos, sendo que a predicação é o que medeia esses
acontecimentos. Para Leibniz, argumenta Deleuze, o mundo é a própria predicação
(Ibid:94).
Em torno dessa idéia, a título de exemplo, podemos exibir o escultor Henry Moore,
que trabalhava em sua arte essa relação espacial. Ele afirmava que a escultura é uma arte
do ar livre. Continua ele: “a luz do dia, o sol, para mim, a natureza é o seu melhor lugar e
complemento. Prefiro ter uma escultura instalada na paisagem do que dentro ou sobre
qualquer prédio, mesmo o mais bonito” (Moore. 2002:245). É importante apontar que existe
uma grande diferença entre combinar dois elementos para que surja um terceiro e colocar
dois elementos diferentes lado a lado para que se relacionem. Na suposição de que
acontece nestes dois casos, a real intenção é o relacionamento, mesmo com ambos
atingindo esse objetivo, as implicações de um e de outro diferem bastante. O Gráfico
Ambiental também se vale desse acontecimento. Na sua elaboração ele conta com o
estabelecimento dessas relações, recorrendo tanto ao todo combinatório como ao
método justaposto.
Moore (2002:247) reconhece que a “escultura ganha ao encontrar um lugar
adequado para o seu temperamento e quando isso acontece ambos ganham, o lugar e a
paisagem”, ou seja, o relacionamento é estabelecido e há condições de predicar. No
entanto, quando dois elementos tão díspares são intencionalmente colocados um em
relação ao outro, pode ser que eles continuem assim mesmo: separados. Mesmo o autor
admite que nem toda paisagem é tão acolhedora para a escultura, dado que são elementos
ontologicamente muito diferentes: natureza, o mundo real e escultura, a construção humana.
Conclui Moore: “se for colocado uma escultura em relação à natureza os dois devem jogar
um contra o outro” (Moore. 2002:247).
> 26
Para permitir a avaliação disso ele propõe que, para sentir o poder dessa relação,
basta retirar a escultura e avaliar se as pessoas sentem a sua falta. Seria o mesmo que
admitir que a relação paisagem menos escultura seja igual a espaço desocupado. Se assim
for, desocupado é predicação. Admite-se que mesmo desfeita, a relação gerou sentido. É a
elaboração dessa noção de predicação, ou qualificação, que se busca na construção do
Gráfico Ambiental, o que acontece se a operação for bem empreendida.
Coaduna-se com essas reflexões Rosalind Krauss (1986) quando ressalta em sua
análise que a escultura modernista era “sem lugar” e largamente “auto-referente”. Com isso
quer dizer que com essas características a escultura bastava em si mesmo como objeto
construído, não exigindo qualquer tipo de diálogo com o contexto de onde está ou estará,
colocando seu significado e sua função como essencialmente nômades.
Para o Gráfico Ambiental a discussão ganha importância sob dois aspectos
fundamentais: entender como o espaço é percebido e para qual interpretação essa
construção espacial induz. Certo de que o Gráfico Ambiental forma-se a partir de uma
relação que envolve essa idéia de produção espacial, ou seja, o médium em contato com o
meio tópico em um lugar, certo também de que essa relação só gera sentido quando
interpretada por um observador, seria proveitoso entendermos como essa percepção
espacial se dá no lugar específico, onde ocorre, para daí partir a interpretação desse
conjunto, passo que antecede a re-ação do observador face ao transmitido.
[1.3.2] Lugar, significação e interpretação
Lugares inéditos são entusiasmantes. A curiosidade natural em conhecer lugares é
quase como uma prerrogativa existencial só atenuada quando da experiência do estar.
Muito diferente das noções de turismo casual, com suas longas viagens em terras
estrangeiras, o lugar inédito pode estar na próxima esquina. Mas, convém inquirir, o lugar é
inédito porque iniciou sua existência recentemente, porque nunca foi visitado por alguém ou
porque foi renovado por outro alguém? E mais, quem o classifica como inédito e através de
quais critérios?
O observador é quem qualifica a imagem ao definir o que está vendo, aplicando seu
ponto de vista individualizado. O lugar surge pela fragmentação de um espaço abstrato, total
e global, como categoria de análise que se concretiza pelos usos e hábitos de um coletivo
social (Ferrara. 1993:153), com uma marcante característica funcional. Todavia, o senso
comum avalia com displicência essa experiência sem cair em si. Se for assim, deve haver
> 27
um mecanismo de avaliação e qualificação ambiental programado para agir no subsolo da
consciência, para isentar-nos dessa tarefa.
A rigor, não existe lugar inédito. Todo lugar é lugar. se pode transformar uma
coisa em outra a partir de uma base existente, dado que a criação absolutamente original,
em que signos não teriam relação com outros pré-existentes, é inconcebível e não passa de
uma fantasia, glamourizada pelo mito da criatividade. Se algo de original no lugar que
justifique o emprego de inédito é o seu devir, na sua possibilidade de semiose.
Para se compreender isso, a semiose aparece como o conceito que explica a ão
de um signo ser interpretado em outro signo, uma ação inteligente que abrange processos
de interpretação, pensamento, conhecimento. A semiose é a produção de signos, para a
qual interpretar é traduzir um signo em outro, sendo, portanto, o significado de um signo, um
outro signo. Por aí entendemos que a semiose é responsável pelo desenvolvimento de uma
cadeia sígnica, idéia demonstrada por Peirce quando mostrou que não pensamento sem
signo. Por esta condição que os signos, cuja geração é tarefa da mente, por isso mesmo
inteligente, têm a função de se multiplicar infinitamente.
Uma vez tipificados os signos que o compõem, esse lugar passará a enfrentar
desafios permanentes para manter ativa sua perceptibilidade. Lugar inédito é uma metáfora
para o lugar no qual a camada informacional que lhe incute visibilidade foi reciclada e sua
ordem sígnica reescrita. Nesse jogo metafórico, seria útil diferenciar lugar inédito da noção
de lugar inaugurado. O primeiro é percebido e interpretado e diz respeito à atividade sígnica
em operação que é revelada pelas alterações nos usos e hábitos. Já lugar inaugurado serve
como metáfora para o lugar situado, vivenciado no espaço e no tempo, passível de
experimentação. Essa distinção é importante, porque relevo à relação que existe entre o
nível repertorial do usuário, o lugar e a significação, todos na mira de análise desta
pesquisa. Analogamente, é como distinguir nova informação para um indivíduo alienado e
informação nova para um sistema superinformado.
Um lugar pode ter visualidade e não ser visível. Essa distinção parte da ação (ou
inação) do observador, idéia que ainda será detalhada. Nesta pesquisa, lugar refere-se a
lugar situado e visto, fortemente indicial, “aquele que mais intensamente confirma o que
normalmente se entende por lugar” (Ferrara. 2002:26). Estamos trabalhando no trajeto entre
o ser visto e tornar-se visível, o lugar está lá, mas não esinterpretado pelo observador.
Para lugar significado, aquele operado pelo observador, substitui-se preferencialmente o
termo para ambiente informado, ou simplesmente ambiente, conceito debatido mais à frente
neste trabalho.
> 28
O Gráfico Ambiental é uma intervenção determinada a alterar as relações presentes
nos lugares. Ele articula a relação entre o lugar e o observador, com o intuito de promover
aquele lugar a ambiente. Toda relação com um determinado lugar é uma tentativa de ler e
capturar os diversos sentidos possíveis deste lugar, pois “não um sentido, mas sentidos
produzidos que não se impõem” (Ferrara. 2004:16). A maneira como os demais elementos
que constituem este lugar se inter-relacionam dão o sentido do lugar para o Gráfico
Ambiental, que toma emprestado esse sentido naturalizando-se neste ambiente. Ele é
colocado lado a lado aos indivíduos, dividindo os mesmos espaços de fluxos e vivências
sociais, transformando-se de representação da coisa em coisa em si e induzindo sua
presença a ser aceita naturalmente. Sutilmente, participa da modelização de nossa maneira
de ver o mundo.
O processo construtivo do Gráfico Ambiental exige uma adaptabilidade exclusiva do
gráfico, identificado como médium, para com o meio tópico, a partir de uma intenção
comunicativa baseada nessa conexão. O Gráfico Ambiental se completa e se finaliza
espacialmente. Desta forma, ele sempre opera em relação a outra coisa. Pode ser em
relação a uma parede, a um muro, a uma coluna, a um piso, a uma escada rolante, a um
teto, a um edifício, a um balcão, a um veículo ou outros. Por si só, não comunica. O modo
como a sua visualidade é criada anuncia a existência representativa do espaço e cria
roteiros de legibilidade para o usuário, posto que o significado dos lugares muda
constantemente em função dos diversos usos, dos processos que ocorrem e que podem
“variar significativamente entre observadores diferentes” (Lynch. 1997:07).
Ao conjunto formado entre o médium e o meio tópico, soma-se agora o observador,
que é quem fornece significado a esse conjunto. Quais são os recursos que o habilitam
nesse processo? O aparelho perceptivo aparece como mais abrangente que uma mera
captação sensorial. Além das sensações, que são os dados que se originam dos sentidos, a
mente participa com a construção do mundo, seja por um processo de aprendizado ou de
intuição, mas, fundamentalmente através da linguagem (Santaella. 1998:30). O texto a ser
interpretado surge na ação da linguagem como a primeira mediação que se apresenta para
revelar na consciência as relações dos fenômenos
.
Conceitualmente, texto é entendido como representação, um simulacro do mundo a
partir de um sistema de signos. É, enquanto uma representação do espaço, uma
espacialidade. É composto não por um signo único, mas de um código sem uma sintaxe
compartilhada e convencionada, composto por texturas e cores, percebidas e registradas
pela experiência (Ferrara. 2004:16). Sua linguagem não requer uma estrutura ou código,
mas possui uma estruturalidade. Essa gramaticalidade é escritura, sem ser palavra escrita,
> 29
não são apenas os gestos físicos da inscrição literal, pictográfica ou
ideográfica, mas também a totalidade do que a possibilita [...] tudo que pode
dar lugar a uma inscrição em geral, literal ou não, e mesmo que o que ela
distribui no espaço não pertença à ordem da voz: cinematografia,
coreografia, sem dúvida, mas também ‘escritura’ pictural, musical, escultural,
etc (Derrida. 2004:11).
Para estabelecer o processo de significação, esse texto contém interpretações
legítimas que correspondem ou transformam processos interpretativos aceitos como
verdadeiros dentro de um grupo social específico e, para tanto, devem submeter-se às
normas vigentes ou modificá-las. A própria linguagem é sempre um relacionar de
significados e processos de significação são jogos de diferenças a partir de leituras.
Baudrillard (1995:196) afirma que o processo de significação é imediatamente sistemático: o
signo nunca existe fora de um código e de uma língua. Todo sujeito, ao significar, produz um
ato de interpretação, um entre muitos possíveis, ato que marca sua subjetividade e significa
sua relação com o mundo. O Gráfico Ambiental e sua significação se concretizam quando
sua presença produz uma resposta sensível nos indivíduos. Aprendemos a ter experiências
no interior desses sistemas ambientais. Nesses casos, o indivíduo constrói internamente -
através da observação - a informação sobre o seu ambiente, a partir de um programa
coletivo de propagação de crenças e hábitos, baseado na cultura, de responsabilidade dos
atores comunicativos que interagem dentro desse sistema.
O Gráfico Ambiental será, quando entendido como mediação em um ambiente em
transformação, influenciado por variáveis sociais, econômicas, psicológicas, antropológicas,
ideológicas, de forma e de design, implicadas nessas interações estimulando o fluxo da
cultura.
> 30
[1.3.3] Evolução do Gráfico Ambiental
Por se tratar de uma formulação recente é de se esperar que haja uma inevitável
constrição histórica sobre o assunto, o que o torna, mais para o bem do que para o mal,
isento de tradicionalismos e padrões estereotipados. No entanto, o Gráfico Ambiental não
surgiu de uma hora para outra. Trata-se de um sistema híbrido, principalmente em sua
qualidade construtiva, na qual é possível destacar também em diversas peças a convivência
entre técnicas de elaboração ultramodernas e outras com perfil centenário, o que torna o
Gráfico Ambiental admiravelmente versátil. Certos traços evolutivos são facilmente
detectáveis e podem indicar o trajeto que uma técnica específica seguiu até então e
culminar no que hoje conhecemos. Houve uma evolução nas principais características nele
presentes, seja na construtibilidade, seja na elaboração da sua linguagem. Evolução que
não apaga os traços do passado para resgatá-los sempre que necessário.
No passado, a produção artesanal de peças de comunicação visual restringia sua
aplicação e alcance, tornando sua utilização acessível para poucos. Antigamente, peças de
qualidade estavam mais próximas das artes plásticas e do artesanato e eram resultado da
experiência e perícia manual de alguns artesãos. Aos poucos esses profissionais
especializaram-se em trabalhar placas, pôsteres, muros, instalações, diretórios, paredes e
fachadas, moldando materialmente ou colorindo com tintas a mensagem. Assim, diante das
dificuldades habituais de um trabalho artesanal, as peças tornavam-se onerosas limitando
seu uso. Convém ressaltar que eram peças idealizadas para uma longa permanência e
acompanhavam os ideais arquitetônicos da época à qual era dado o caráter de durabilidade,
solidez e perenidade.
quem veja na decoração de cavernas, milhares de anos atrás, traços de uma
intenção de se comunicar através do espaço. Robert Venturi (2001:593) deriva disso para
uma análise sobre a iconografia e sua relação com a cultura, como forma de inscrição
espacial que se daria através da exposição do indivíduo ao ambiente. Para ele, os
hieróglifos inscritos nos portões e muros egípcios são uma forma de comunicação; as
figuras nos interiores das basílicas, que chamamos de arte, tinham como intenção educar
um povo analfabeto para o cristianismo; os murais do período Barroco eram essencialmente
propaganda contra-reformista realizada pelos católicos romanos.
Sem dúvida, a inscrição de comunicação na arquitetura foi a primeira manifestação
gráfica, com intenção de comunicar, em termos ambientais. Este sinal - de acordo com a
terminologia norte-americana - ou letreiro arquitetônico nada tinha de Gráfico Ambiental.
> 31
Sua lógica é a de um aplique cuja função é identificar e divulgar. Não integrado ao contexto,
ele assume a característica das peças publicitárias.
Miller (1994) conta que o arquiteto Henri Labrouste que, além de ser um dos
primeiros a fazer uso arquitetônico de metal em construção na Bibliothèque Ste. Geneviève
(1843–50) em Paris, elaborou também uma inovadora forma material como ligação entre
arquitetura e literatura. Projetou colunas com nomes escritos de 810 autores, ao redor da
Biblioteca sendo a posição do texto no lado de fora da edificação, as mesmas dos livros nas
estantes do interior. Labrouste, adepto do classicismo como linguagem arquitetônica,
comumente mais preocupada com a estrutura, usou aí letras gravadas para mapear o
conteúdo de uma edificação a partir do seu lado exterior.
Ao se transformar sua forma escultórica com caráter permanente em presença
maciça e fugaz dos dias de hoje, o Gráfico Ambiental multiplicou muito sua capacidade de
interlocução. O início desse processo deu-se nas grandes cidades na medida em que as
multidões começaram a ser percebidas como fenômeno moderno. Estes sinais alastraram-
se no mesmo ritmo das cidades, como efeito do processo de adensamento. Neste ponto não
> 32
se distingue da invenção dos sistemas técnicos sicos da comunicação no século 19,
criados como fator de integração, numa “gestão das multidões humanas” (Mattelart.
2002:13) que dão origem ao conceito de comunicação, cujas raízes também são da
sociedade urbana emergente. se revelavam noções de centro urbano, em processo de
frenética expansão. Ao mesmo tempo em que o sinal se transforma em gráfico e inicia seu
processo de expansão, outros elementos foram adicionados às cidades, tornando-os
suscetíveis à percepção de uma paisagem informacional.
[1.3.4] Como atua o Gráfico Ambiental
“Sinalização é o primeiro contato entre o sistema e o usuário” afirma Wayne Hunt,
designer norte-americano especializado em desenho gráfico ambiental, em entrevista para a
revista How (1998). Ao comentar o desenvolvimento da sinalização no sistema de ônibus e
metrô de Los Angeles idealizada por ele, diz: uma boa sinalização deve estar onde o
usuário espera que esteja”. Com efeito, a sinalização orientativa é um recurso de ordem
funcional que serve como um guia para a navegação em ambientes complexos. O que está
implícito na presença dela? Que alguém esteve lá antes de nós. Enquanto sinalização
gráfica, ela sumariza o deslocamento do indivíduo e impõe a leitura de um autor anônimo,
previamente ocorrida à nossa experiência em andamento. Grosso modo, o indivíduo serve-
se de uma interpretação do lugar em visitação, concedida pela ação do profissional
interventor, além do benefício e do conforto do deslocamento isento de erro, que lhe aponta
o caminho correto através de um território não reconhecido
.
> 33
A expectativa do Gráfico Ambiental é ter sua ação considerada como procriativa e
não como algo estéril ou secundário para a evolução dos ambientes. O Gráfico Ambiental e
seus recursos devem fazer parte do planejamento desde o começo. Tradicionalmente, o
prédio, o parque ou a estação de metrô são vistos como prontos, como um trabalho em si
mesmo, enquanto a comunicação é assimilada como informação não essencial. Este
modelo coloca o uso social do ambiente como algo acrescentado depois do fato; sinalização
e comunicação são coisas acrescentadas depois de o arquiteto ou construtor sair de cena
(Miller. 1994:11).
A resistência de muitos arquitetos em utilizar extensivamente o Gráfico Ambiental
deve-se não só ao desconhecimento desse raio de ação do Gráfico Ambiental e suas
possibilidades tanto de linguagem como construtivas, mas também em grande parte ao
mesmo incômodo que textos explicativos causam a alguns artistas. No entender de muitos
deles, a obra artística deve ser apreciada sem o auxílio de anexos explicativos, até porque a
fruição do espectador é considerada parte da elaboração da mesma, tornando-se
desaconselhável influenciar essa interpretação. Todavia, o Gráfico Ambiental incomoda
porque referencia, indica e contextualiza. O receio desses profissionais é justamente permitir
a interpretação de uma obra por outra lógica que não a imposta pela arquitetura.
Percebe-se que o Gráfico Ambiental atua pela comutação fisionômica de um
ambiente, pela aderência, através da sobreposição de imagens e cobertura de superfícies,
ou pela legendagem, operação de aplicação de anexos gráficos tanto palavra e a imagem
- que indicam o que diz a imagem (= paisagem). Ela estimula a manipulação dos
significados das espacialidades, enquanto geração de representações do espaço,
remanejando as interações daí decorrentes, com vistas ao estabelecimento de novos
referenciais em consonância com os ideais da sociedade de comunicação generalizada e
seu múltiplo sentido da realidade, relativo e não definitivo (Vattimo. 1992:16).
> 34
[1.3.4.1] O princípio da aderência
Toda superfície é passível de cobertura. A discussão sobre superfícies adquire
atualmente duas derivações: uma que leva em consideração sua materialidade e outra que
busca no imaterial os seus argumentos de apoio. A delimitação da superfície material que
configura um limite da forma e orienta um horizonte físico, de natureza arquitetônica e
urbanística, constituído de matéria, paredes, elementos físicos, blocos e níveis, orientada
pela recepção ctil, está sendo confrontada pelo imaterial, na qual as representações e
imagens não possuem endereço certo, nem estabilidade e privilegiam a aparência à
existência. A superfície é transformada em interface, não mais fronteira sólida. Aquela que
limitava torna-se uma membrana, permitindo trocas entre dois meios (Virilio. 1993:12). A
limitação do espaço se torna uma permutação, uma coexistência, uma mutualidade quase
simbiótica. A idéia de separação radical se transforma em uma idéia de passagem, como
que o obrigatório trânsito de uma atividade constante, de trocas incessantes.
Portanto, ao considerarmos a superfície de um corpo físico devemos ter em mente
que ela é tanto parte matéria como imagem. Como se por baixo da imagem houvesse
matéria em contato, como se o “duplo sentido da superfície, a continuidade do avesso e do
direito, substituíssem a altura e a profundidade. Nada atrás da cortina, salvo misturas
inomináveis. Nada acima do tapete, salvo o céu vazio” (Deleuze. 2003:136). O sentido
aparece e atua na superfície. Na verdade, o sentido desliza sobre a superfície, contornando-
a, formando o caráter de um discurso (2003: passim 10-12).
Assim entendida a superfície, verifica-se que o princípio de aderência é empregado
pelo Gráfico Ambiental com todo vigor. Ele emprega recursos desenvolvidos para serem
> 35
acoplados à superfície de um corpo, cobrindo sua imagem original, mas preservando sua
integridade material. A superfície dos corpos pode servir agora como suporte para outra
linguagem. A lógica da aderência é dominar integralmente uma superfície, sem deixar
indícios da imagem anterior, ou seja, o Gráfico Ambiental pode alterar, reconstruir ou ocultar
as aparências originais do lugar onde se instala separando a aparência do conteúdo
funcional. Sua posição é entre caminhos, entre faces, entre o meio ressignificado e a
interpretação do observador, qualificando o lugar para o observador que por ali se desloca,
estabelecendo uma relação entre este observador e o lugar agora identificado.
A aplicação por sobreposição se verifica em toda a sua intensidade: a paisagem é
composta por camadas, nas quais uma camada sobrepõe-se à outra, uma informação é
sobreposta à outra. A paisagem altera-se sincronicamente, por todos os lados e direções,
conforme os acontecimentos surgem para uns e não para outros. Como essas camadas não
são sedimentares, ou seja, promovidas pela ação do tempo, a imagem que está por baixo
será novamente reutilizada na medida em que a imagem que a cobriu seja removida. São
como palimpsestos, escritos e reescritos continuamente.
[1.3.4.1.1] Arte como exemplo da sobreposição: Christo e sua wrapping art
O artista Christo também exercita essa lógica. Em sua arte ambiental (environmental
art), que planifica e realiza conjuntamente com sua esposa Jeanne-Claude, Christo
desenvolveu uma linguagem própria que reúne composições monumentais das mais
variadas estirpes em um espaço vivenciado. Sua arte do empacotamento (empaquetage)
utiliza materiais - principalmente tecidos - para suas intervenções que consistem em cobrir e
envolver completamente construções e edificações.
Um de seus projetos que maior repercussão causou foi o empacotamento, em 1995,
do edifício do Reichstag (Parlamento) em Berlim, durante duas semanas, chamado de
Wrapped Reichstag. Christo perseguiu a realização deste projeto por 22 anos. Pode-se
admirar aí toda a grandeza e complexidade deste tipo de intervenção.
> 36
Vemos nessa obra a intenção do artista em esconder a aparência e relevar a
essência da forma do edifício. Ao remover os detalhes, os ornamentos, as janelas e
apliques, resta uma abstração da parte essencial que é destacada. Todas as pequenas
coisas foram escondidas. O seu conteúdo fica encoberto e só vemos o seu contorno.
Christo afirma que empacotar um edifício, no final das contas, é como construir um
edifício. Para ele, não se trata de um Reichstag empacotado, mas de um novo Reichstag.
No Wrapped Reichstag percebe-se bem sua intenção de trabalhar a relação do público com
o prédio e ao mesmo tempo com o simbolismo do Parlamento. É uma forma de comparar o
antes e o depois, de presenciar a transição da arquitetura em não-arquitetura - que é o
mesmo que uma paisagem. Para depois desembalar o edifício e presenciar a volta para
uma não-paisagem - que é o mesmo que uma arquitetura (Krauss. 1986:283). O público não
está acostumado a ver mudança e de repente toda a paisagem é modificada, mesmo que
por um determinado tempo.
[1.3.4.2] O princípio da legendagem
O princípio da legendagem é aquele que trabalha por justaposição. Seja na
sinalização arquitetural ou na sinalização orientativa, a legenda tem a intenção de facilitar a
leitura ambiental de um observador ou usuário, em muitos casos.
A idéia de justaposição é a da contigüidade entre elementos, não importando o modo
como essa é conduzida em relação ao espaço. O que há para se considerar é que são dois
elementos distintos que colocados lado a lado, ou próximos um do outro, formam uma outra
idéia ou informam algo diferente sem haver dominância entre eles. A sinalização arquitetural
lida com essa lógica.
A justaposição pode até iludir um entendimento. Por exemplo, hipoteticamente,
vamos imaginar uma agência de banco como a conhecemos hoje, mas sem um padrão
> 37
reconhecível de construção que a diferencie de uma outra. Quem indica o uso social
daquela construção é a sinalização, que identifica para o usuário a função interior daquele
local. Se substituirmos a sinalização que indica um banco por uma identificação de farmácia,
quanto tempo depois entrarão pessoas na agência bancária para comprar remédios? É
certo que se trata apenas de uma suposição, que esse experimento não foi efetivado. Um
letreiro de 2,0 metros de largura pode informar mais do que um edifício.
Robert Venturi (1996), baseado em seus estudos sobre arquitetura, afirma que o
inteiro é articulado pela inclusão de uma nova parte. Ele diz que o contexto a um edifício
a sua expressão e que mudanças no contexto causam mudanças na expressão do edifício.
Se tomarmos a nova parte como sendo o Gráfico Ambiental, e dado a sua inclusão,
podemos esperar uma mudança na expressão dos elementos lá relacionados.
[1.3.4.1.1] Arte como exemplo da justaposição: Cinema e montagem
Para Benjamin (1994), o cinema como obra de arte surge através da montagem, na
qual cada fragmento é a reprodução de um acontecimento que nem constitui em si uma
obra de arte, nem engendra uma ao ser filmado. Para ele, a natureza ilusionista do cinema
está no resultado da montagem. Ou seja, a realidade simplesmente filmada vira artificial e o
que consideramos realidade pura é, na verdade, o resultado de um procedimento
meramente técnico composto por imagem filmada e montagem.
Com um pensamento peculiar e inovador, Eisenstein (2002) explicou pelo conceito
dialético, que da tese e da antítese, quando em conflito, surge uma síntese que é diferente
de ambas. Surge algo novo, maior que a mera soma das duas partes e construído a partir
da relação entre estas. No campo fílmico, para ele, então, um plano 1 combinado com um
plano 2 gera no espectador um plano 3 que é diferente da mera combinação dos dois planos
anteriores, sendo resultado dos conflitos e atrações existentes na relação entre 1 e 2. Com
isso, Eisenstein atestou que o sentido do filme poderia ser construído, deixando de lado a
natureza simplesmente linear dos filmes da época. E
> 38
época, a montagem através da justaposição de fragmentos visuais isolados entre si, desde
então influencia todo um pensar a obra, tornando-se um método construtivo.
[1.3.5] Composição do Gráfico Ambiental
A questão da organização do material e as noções de legibilidade e leiturabilidade
têm tudo para ganhar cada vez mais relevância em discussões sobre dispositivos de
produção simbólica. Para Debray (2000:151), a “natureza do suporte da inscrição condiciona
amplamente a do processo de anotação”. Indica que cada suporte tem a sua especificidade
e que isso afetaria a maneira de inscrever a mensagem. Debray condiciona esse processo
não só pela possibilidade de existir possíveis incompatibilidades técnicas entre o suporte e o
processo de anotação, mas também por questões culturais, que precisam ser seriamente
consideradas, especialmente as que lidam com a capacidade e preparo do observador em
distinguir a escrita do suporte. toda uma problemática de ordem repertorial a ser
considerada quando da escolha dos materiais. É colocado em discussão na elaboração da
peça a capacidade do observador em entender a sintaxe lhe será apresentada. Para esses
objetos organizados, Debray (2000:152) chega a usar a expressão “mediador de cultura” e
preconiza: “o bom mensageiro é o que desaparece atrás de sua mensagem”. (1995:14).
Uma boa parte da atual produção que presenciamos, quando confrontada com a
necessidade de proporcionar leiturabilidade tem comprometida a sua eficiência. Numa
época em que mais e mais suportes são desenvolvidos e utilizados sem que suas técnicas
operacionais estejam devidamente conhecidas, as espacialidades comunicativas que deles
decorrem podem ter sua comunicabilidade ameaçada.
Na arte, por exemplo, essa necessidade é desconsiderada e, muitas vezes,
desestimulada em apresentar essa relação, a fim de transgredir certas noções
estabelecidas e alavancar outros caminhos para a interpretação da obra. A anamorfose, por
exemplo, cuja premissa é a deformação do objeto, leva em consideração essa geração de
dificuldade para leitura como promoção sensorial.
A noção de construtibilidade assume grande relevância. Ela é decisiva ao mesmo
tempo em que determina a transmissão de mensagens. Para Machado (2001:11),
“nenhuma leitura dos objetos culturais recentes ou antigos pode ser completa se não se
considerar relevantes, em termos de resultados, a lógica’ intrínseca do material e os
procedimentos técnicos que lhe dão forma”. A sondagem da construtibilidade dos médiuns e
meios-tópicos possibilita entrever as intricadas conexões entre as técnicas construtivas do
material e os mecanismos de conjugação gnica que operam conjuntamente na elaboração
> 39
das peças. Esse ato combinatório que caracteriza o fazer determina o arranjo visual das
peças para o observador. Através do jogo de montagem sígnica, a visualidade, em
elaboração, permitirá notar o Gráfico Ambiental. É no âmbito dessa construção que esta
espacialidade é concebida como uma representação de um espaço experimentado, daí a
torná-lo ambiente.
O emprego do sistema dispositivo-suporte-procedimento (Debray. 1995:23), tal como
criado por Régis Debray, atende plenamente aos princípios adotados neste trabalho. O
mérito dessa anotação é separar organicamente as partes constituintes de um objeto
comunicacional, como é o caso do Gráfico Ambiental. Com essa espinha dorsal em
evidência, as relações entre as partes ficam transparentes, assim como a estratégia de
construção ali empenhada.
“Façam-me, em primeiro lugar, um corpo, a alma virá em seguida” , proclama Debray
(1993:28). As tecnologias tendem a se desenvolver mais rápido que a retórica para avaliá-
las. A produção de novos produtos tecnológicos é tão avassaladora que não é possível ao
mesmo tempo conhecê-los e discorrer sobre suas funções. Parece que ficou fácil demais
criar instrumentos tecnológicos. O que se dirá das técnicas de produção? O profissional,
para se manter atualizado, e garantir sua inserção no mercado de trabalho, é impelido a
lidar o tempo todo com a parafernália tecnológica. Não que realmente precise de todos os
novos instrumentos, mas pelo risco de ser estigmatizado com a estampa de ultrapassado. A
época da obsolescência planejada foi atualizada para a era da atualização continuada.
Dorme-se atualizado e acorda-se obsoleto.
Na arte, a história das técnicas de produção confunde-se com a da própria arte. A
cada evolução técnica um novo modo de elaborar arte surgia espontaneamente. Para
Machado (2001:11) a “história da arte não é apenas a história das idéias estéticas [...] mas
também e sobretudo a história dos meios que nos permitem dar expressão a essas idéias”.
O domínio da técnica permite o controle da expressão.
Invariavelmente desenvolvidas pelo anseio e estímulo para expansão das fronteiras
da atual imagerie, as novas tecnologias digitais aliadas às inovações produzidas em
diversos materiais deram impulso ao surgimento do Gráfico Ambiental, cuja praxis evoluiu
pela hibridização entre múltiplos modos de fazer. No justo decorrer de uma década, sua
aplicação foi impulsionada por um salto tecnológico surpreendente. Ao acompanhar o
desenvolvimento da informática na área gráfica, engendrou programas e máquinas capazes
de elaborar uma linguagem codificada em pontos e linhas, nós e contornos, vetores e
mapas de bits. Daí em diante, a concorrência entre fabricantes encarregou-se de acelerar o
desenvolvimento de equipamentos cada vez mais sofisticados, em busca do resultado
> 40
perfeito, isento de erro ou deformação, em consonância com os ideais de qualidade. Em
outra ponta, materiais cada vez mais artificiais e acessíveis, em oferta e preço,
desenvolveram-se rapidamente para dar conta da demanda por substratos materiais para o
processo de feitura, com características especiais como a capacidade de suportar a
agressividade das intempéries, serem passíveis de portabilidade e suscetíveis de fácil
remoção. Toda uma conjuntura industrial mundial foi rapidamente criada para suprir essas
mercadorias para o crescente contingente de empresas de serviços que se consolidava para
atender o mercado.
Para analisar a composição do Gráfico Ambiental fez-se necessário dividir sua
construção, como vimos, em organização do médium e posse do meio tópico. Não é
intenção desse trabalho elaborar uma lista completa de materiais usados para compor o
Gráfico Ambiental, mas, entender o seu funcionamento.
[1.3.5.1] Organização do médium
Um médium é o sistema formado pelo suporte material, o dispositivo de gravação e
um procedimento geral. Por exemplo, podemos observar como um livro se forma: o suporte
material são as folhas de papel reunidas em formato códice, o dispositivo de gravação
podemos dizer que é o gráfico off set e o procedimento são as palavras.
O Gráfico Ambiental pode ser construído por tantas formas quanto a imaginação
permitir. São tantas as combinações possíveis entre esses três componentes que torna
difícil apontar uma que represente na íntegra o médium do Gráfico Ambiental.
De modo geral, o suporte material representa a superfície no qual o processo de
gravação. Ele pode ser formado por uma placa ou chapa, por um filme, por uma lâmina de
papel, por um vinil adesivo, por lona vinílica e muitos outros.
O procedimento envolve o arranjo da camada simbólica palavra, escrita, imagem,
cáculo digital, exemplifica Debray (1993:23). Por assim dizer, é a ordenação seqüenciada
que visa unir a descrição de um objeto simbólico, segundo o nível de pertinência escolhido
(Paiva. 2004). Nesta instância é que se opera a seqüência de passos que orientam o fazer a
partir de um universo de conceitos (ou regras operatórias) das imagens. Nesse sentido,
procedimento pode ser entendido quase como um método, ou seja, um programa planejado
de operações conceituais que procura alcançar um propósito final.
Existe uma grande variedade de tipos de dispositivos de gravação que passam pelas
várias fases de produção de materiais para uso ambiental. Qualquer maneira de inscrição
do Gráfico Ambiental é válida, desde que fiel aos seus intentos. vimos a possibilidade de
> 41
inscrições em tinta, gravadas em pedra, projetadas, entre outras. No entanto, percebemos
que existem aqueles Gráficos Ambientais dotados de espírito artísticos, muitas ainda
baseadas em processos artesanais, que funcionam apenas para casos específicos e
aqueles que recorrem a dispositivos técnicos e que são pensados a partir de uma lógica que
orienta a sua construção. É esse segundo tipo de inscrição que se identifica melhor com o
teor desse trabalho.
Os dispositivos técnicos mais usados atualmente na construção do Gráfico Ambiental
são separados em função do tipo de formação de imagem que utiliza. É uma separação
usada para simplificar o entendimento, pois mesmos essas técnicas subdividem-se e, como
é freqüente, misturam-se formando imagens mistas.
No primeiro tipo, máquinas de recorte digitais usam a lógica do vetor para recortar
contornos e silhuetas. Desse grupo fazem partem as de Corte de Vinil, Routers e Corte a
Laser. Essas máquinas cortam filmes de vinil adesivo, lâminas de PVC, madeiras, acrílicos,
metais, entre outros, com acurácia permitindo montagens complexas e muito bem
acabadas.
No segundo tipo estão as máquinas de impressão digital capazes de produzir
imagens com qualidade e rapidez. Existem hoje vários tipos de impressão cada qual
defendendo uma aplicação. A impressão digital em grandes formatos, no entanto, tornou-se
uma importante ferramenta de produção de Gráfico Ambiental e estabeleceu definitivamente
a possibilidade de impressão em uma gama de materiais bastante variada.
[1.3.5.2] Posse do meio-tópico
O meio tópico está no lugar específico. A seleção do meio tópico é parte da
estratégia criativa do organizador para servir como base para o médium e por isso é um
espaço delimitado no lugar específico. Em essência, é parte do contexto do lugar,
evidenciado após a realização da seleção. O momento da posse é quando na montagem
final o médium é aplicado no meio-tópico
Ele pode ser identificado por ser um corpo material, ser apenas a superfície de um
corpo, ou ainda até o próprio lugar ao reservar para uso seus espaços intervalares. Ele é
tópico por referir-se a um endereço dentro do lugar específico, e por ser relativo
precisamente àquela aplicação.
Os meios-tópicos desempenham uma função submissa em relação ao médium.
Poucas aplicações realçam o meio-tópico. Normalmente quanto menos evidente for, mais
força expositiva terá o médium. Eles são normalmente vidros, paredes, móveis, pisos, chão
> 42
(para postes e outras estruturas de sustentação), tetos, superfícies como a de veículos,
trens, ônibus e fachadas de um modo geral.
[1.3.6] Cadeia de trabalho do Gráfico Ambiental
Em grande parte das vezes, a dinâmica no trabalho do dia-a-dia é dividida entre dois
profissionais distintos: o profissional criativo, que exerce a atividade projetiva e o profissional
realizador encarregado de produzir o material. Da integração e sintonia entre o pensar e o
realizar depende a qualidade final do material. A figura do organizador reflete o papel
idealizado de quem concentra integralmente as duas etapas descritas acima. Essas divisões
do processo produtivo podem ocasionar falhas, caso um desses profissionais esteja
alienado das características do lugar específico. Abaixo, segue um diagrama demonstrativo
do fluxo de trabalho que elabora o Gráfico Ambiental:
O profissional criativo, responsável pelo desenvolvimento, ao receber a incumbência,
vai ao lugar específico onde será instalado o Gráfico Ambiental. Este profissional deve estar
> 43
De posse dos parâmetros tanto do lugar específico como do meio tópico, o
profissional criativo retorna para pensar e desenvolver o Gráfico Ambiental. O programa que
consta no diagrama refere-se ao projeto criativo e suas etapas de desenvolvimento que
serão tão ou mais complexas quanto as exigências específicas do Gráfico Ambiental. A
plataforma de trabalho que o profissional usará para desempenhar o projeto fica a cargo do
profissional e dos recursos técnicos e projetuais de que ele dispõe.
Depois de finalizada essa etapa, o profissional criativo selecionará o profissional
realizador mais adequado para a especificidade do projeto. Existem hoje cada vez mais
profissionais realizadores habilitados para desenvolver tipos construtivos especializados. O
realizador ao dispor do projeto finalizado inicia o processamento construtivo com as
ferramentas exigidas para tornar o projeto exeqüível.
O médium que daí resulta agora será aplicado ao meio tópico no lugar específico.
Caso todos os passos tenham sido corretamente adotados, as possibilidades de falhas
serão mínimas. O Gráfico Ambiental é conectado ao meio, conformando o ambiente
informado para os observadores.
A atitude do profissional de ir ao lugar em que o Gráfico Ambiental surgirá é próxima
a do arquiteto consciente do grau de intervenção que desempenhará naquele local. Evidente
que aqueles que desconsideram essa premissa, assumindo que o seu trabalho deve se
impor no contexto do local.
Houve um importante movimento na arte, com origem na escultura, surgido no final
dos anos 60 do séc. 20 que reividicava o site specificity lugar específico como princípio
conceitual para o desenvolvimento da obra artística. Esse procedimento consiste em visitar
previamente os locais onde se da a colocação de esculturas e experimentá-los
perceptivamente. Daí decorrem esculturas, instalações, land art. Essa corrente artística
ganha adeptos até hoje, desfrutando de bastante prestígio. Os seus expoentes maiores são
Robert Smithson, Robert Morris e Richard Serra. Para eles, “as relações com o lugar
tornam-se um componente indissociável da obra de arte” (Peixoto. 2002:18).
> 44
Daí a necessidade de se fazer presente nos locais candidatos a transformarem-se
eles mesmos em obras de arte promovendo a percepção e apreensão do lugar e o seu
entorno. Ao comentar sobre a concepção de uma obra sua - Shift, de 1972 - uma escultura
imensa de aproximadamente 300 metros de extensão dentro de um campo no Canadá,
Richard Serra revelou que, de fato, o que ele “queria era uma [situação] dialética entre a
percepção individual da totalidade do lugar e a relação de um outro indivíduo com o campo
[lugar da escultura] enquanto caminha” (Serra apud Krauss, 1986:264). Esse
posicionamento do artista é, na verdade, resultado de uma ruptura das condições lógicas do
modernismo. Ao adotar essa conduta “passa a pressupor um observador inserido no espaço
engendrado pela obra” (PEIXOTO. 2002:18).
É com base no exemplo dessa experiência artística que o profissional criativo poderá
abordar o seu projeto. A visitação do lugar alvo é fundamental para adquirir a experiência da
percepção pela qual passará o observador, além de possibilitar o correto recolhimento dos
parâmetros espaciais necessários.
> 45
[1.4] Contorno do Campo
Arquitetura, Design Gráfico, Cenografia, Design Industrial, Arte, Propaganda, Pintura,
Decoração, Marcenaria, Estudos Urbanos, Engenharia, Escultura, Artes Gráficas, Ilustração,
Ecologia, Cultura, Fotografia, Esporte, Política, Eletrônica, Informática.
O Gráfico Ambiental estabelece relacionamentos com essas e outras áreas. Como
apontado, a versatilidade construtiva é uma das suas características mais marcantes.
determinadas condições de trabalho que são resolvidas após o confrontamento com
estratégias provenientes de uma esfera processual pertencente a outra disciplina. O fazer
do Gráfico Ambiental obriga seus responsáveis a rotineiramente combinar procedimentos,
técnicas e materiais diversos. Como está situado em um espaço semiótico caracterizado
pela hibridação, o Gráfico Ambiental atua em constante revezamento entre campos.
O Gráfico Ambiental ocupa uma posição na fronteira entre muitas práticas. A
fronteira “em vez de separar os elementos de um conjunto, funciona como um ‘filtro’
tradutório” (Machado. 2002:78). A fronteira não delimita um espaço divisório, mas tanto une
como separa. É zona de liminaridade, espaço de trânsito e de contato entre sistemas
semióticos (Machado. 2003:159).
Nessas fronteiras, o Gráfico Ambiental sofre influências ao mesmo tempo em que
> 46
abstração ligada a uma interpretação que o qualifica. Neste caso em particular, uma
interpretação a partir da leitura de um lugar. Mas, isso será debatido posteriormente.
Se houvesse uma Comunicação Visual Ambiental, é que estaria instalado o
Gráfico Ambiental. No entanto, isso é outra discussão, cujo mérito, em particular, não
interessa no momento a essa pesquisa.
As definições de Comunicação Visual, em geral, são caracterizadas pela
generalização. Munari (2001) desconfiava que não conseguiria definir, mas tentou. Arriscou
uma distinção para aquilo que é praticamente tudo o que os nossos olhos vêem”: a
intencionalidade. Para ele existe a comunicação visual casual, aparentemente aquela não
produzida pelo homem e que informa sobre o ambiente, como “a nuvem que passa no céu”
(2001:65). Da intencional, ele afirma haver dois tipos, da informação estética e a da
informação prática. Essa última, a qual ele pretende que não seja estética, sem definir o que
isso quer dizer, e cita como exemplos meios cujas produções além de muito diferentes uma
da outra, são elaboradas a partir de uma linguagem específica e elaborada, como o
noticiário de TV, o desenho técnico, uma fotografia de reportagem. Confuso, muito confuso.
Aparentemente, o que o faz distinguir uma da outra é a qualidade do seu conteúdo e a
intenção do operador, não a sua linguagem, nem o seu aspecto construtivo. Mais à frente
ele reconstitui a sua formulação e afirma que seu intuito é analisar os seus componentes,
mas faz uma indicação valiosa: diz que há um suporte visual composto por partes e
elementos que tornam visível a mensagem e assim uma nova definição, agora para
mensagem visual, que é formada por informação e um suporte visual que a “transporta”.
No Wikipedia, enciclopédia livre da internet, a definição do termo comunicação visual
assinala a difusão conceitual em que está envolvida:
Comunicação Visual é todo meio de comunicação expresso com a
utilização de componentes visuais, como: signos, imagens, desenhos,
gráficos, ou seja, tudo que pode ser visto. O termo comunicação visual
é bastante abragente e não precisa ser limitado a uma única área de
estudo ou atuação, embora o termo pode ter o mesmo sentido de
design gráfico.
Mesmo o pouco rigor científico do Wikipedia pode ser útil para apontar os aspectos
consensuais contidos neste trecho explicativo. De início chama atenção o acidente
tautológico em que essa explicação incorre: comunicação visual é tudo o que pode ser visto.
Sem ir longe na explicação, encerra com uma menção ao uso popular que muitas vezes, na
melhor das hipóteses, confunde comunicação visual com design.
> 47
Pode-se perceber que essa formulação é parecida com a anterior. Dizer muito nesse
caso é dizer nada. Com outras palavras, Wim Wenders (2001) diz o mesmo: ter tudo em
excesso significa que nada temos.”
Massimo Canevacci dedicou-se ao estudo da Comunicação Visual. Para ele, o visual
felizmente não restringe o campo de pesquisa, como ele afirma: “a comunicação que se
realiza com uma pluralidade de meios tecnológicos” (Canevacci. 2001:7). A sua
preocupação refere-se ao “aspecto visual” como reprodução possível do “ver”, encarando
sua diversidade como ponto positivo.
O termo comunicação visual aparentemente foi criado em oposição ao termo
comunicação verbal, residindo nessa distinção sua maior força explicativa: é aquela que não
é verbal, ou seja, é predominantemente visual. Se não é uma, é outra. Pierre Francastel
anunciava a chegada de um tempo em que aconteceria uma divisão como essa, ao anunciar
que o signo figurado suplantaria o signo escrito. Para ele, cinema, cartaz, publicidade,
pintura e arquitetura são os signos abreviados que apelam para a rápida interpretação. O
conhecimento das imagens e sua origem é a chave, segundo ele, do nosso tempo.
(Francastel. 1973:35)
A partir dessas considerações, a constatação inevitável a que se chega é que a
condição de ser visual não garante comunicação, nem para a dita cuja. Em nenhum
aspecto, o caráter visual consegue firmar-se sozinho, seja quando tenta ser definido, seja
quando participa da operação perceptiva. A visão sem interpretação não tem valor para o
indivíduo, somente quando a visão opera em conunto com a mente é que temos resultados
viáveis. E quando essa interpretação, são desencadeadas outras instâncias que
transformam o visual em informação qualificada.
O que credenciaria o termo Comunicação Visual seria a sua utlização como nome de
família e o como nome próprio. Sob esse aspecto, o termo é útil pela sua generalidade,
para abarcar uma série de atividades correlatas, cada uma com as suas especifições. Usar
o termo como uma camisa de força que obrigue todos a se chamarem pelo mesmo nome é
bloquear irrevogavelmente sua capacidade de inovação.
[1.4.2] Na ponte com o Design
Design não é uma profissão, mas uma atitude” proclamava Moholy-Nagy no final
dos anos 20 do século passado. Com a autoridade que lhe é reservada pelo seu trabalho na
Bauhaus, Moholy-Nagy preconizava uma atitude que dura quase um século. A aspiração
> 48
dos freqüentadores da Bauhaus era possuir uma atitude balanceada entre o arrojo do artista
e a racionalidade do capitalista. Ora mais arrojados, ora mais racionais, seus seguidores
dividiram-se em correntes estético-teóricas e em práticas cada vez mais diversas. Mesmo
não tendo sido claramente definida uma linguagem estética que integrasse arte e produção
em série, a não ser pela adoção do construtivismo como abordagem da arte na indústria, a
Bauhaus tinha a intenção de ser um modelo de uma sociedade-escola, para a qual o objeto
era “apenas um número na série, [...] mas recebia um valor de qualidade do projeto-modelo
de que era repetição” (Argan. 2005:254).
Flusser entende o design como ponte entre arte e tecnologia (Flusser. 1999:18). Se
nos colocarmos nessa ponte e monitorarmos ambas, algumas evidências irão direcionar
nossa análise. Os trabalhos elaborados tanto no sistema arte quanto no sistema objeto
carregam as marcas de seu sistema de produção. De um lado presenciamos um sistema
artesanal de produção cujo resultado é o objeto único, com características irreprodutíveis e
que serve a um interesse individual, adquirindo um nível máximo de valor. O sistema de
produção industrial, por sua vez, transforma objeto em produto e torna esse produto
acessível a um número ilimitado de usuários. Assim, a partir da linha de montagem, da
fabricação seriada de um produto, atende-se às necessidades e anseios de um interesse
coletivo, mas, comandada pelo sistema produtivo.
O design é atividade de fronteira que promove uma coisa ao grau de objeto (Flusser.
1999:252). Essa passagem de objeto único em objeto seriado e, deste em produto, é
mediada pelo design. Ele estabelece um pensamento crítico da produção que supõe uma
crítica do sistema produtivo. Permanecendo na fronteira entre os sistemas produtivos, o
design busca na arte seu reflexo criativo e entrega à indústria um modelo pronto para uso.
Por outro lado, a inovação faz parte da prática do design. A idéia do novo traz em si
uma raiz histórica da qual o design não pode, em essência, prescindir. Sem o contexto
histórico, o novo não existe. A atividade projetiva é o método de criação natural do design. O
projeto flexibiliza a criação e estimula a conversa com outros usos e espaços, além de
potencializar novas atitudes relacionais entre várias linguagens e redimensionar percepções
a respeito de processos que compõem o cotidiano dos usuários.
Em oposição ao projeto, o programa anula esses aspectos históricos ao estabelecer
um código predeterminado de conduta criativa, programada, em função de um interesse
econômico, retirando dos indivíduos a capacidade de se relacionarem com outros códigos.
O programa supõe uma descontinuidade e fixa uma cultura programada. O industrialismo
em voga impõe seus modelos, sintetizados a partir das configurações limitadas de suas
linhas de montagem. O programa estabelece uma rede de sucessivos esquemas a priori no
> 49
qual a atitude criativa fica circunscrita à combinação dos elementos que compõe a
linguagem desse programa.
A pretensão hegemônica do mercado instiga uma cooptação do design enquanto
linguagem, a fim de elaborar modelos a partir dessa linguagem limítrofe dos programas e
desenvolver modelagens capazes de serem reproduzidas em série. Instaura-se aí uma crise
do design ao fechar as fronteiras e encerrar as modelizações entre os sistemas,
submetendo-se ao modelo produzido em série e em linha de montagem.
O design livre e dialogante cria na materialidade uma perturbação nas cadeias
estéticas. O projeto é invenção e produção de informação nova. Na correlação
programa/projeto, o design procura, pelo projeto, inserir nova informação no programa. E é
quando o ciclo se completa: o design é estimulado a interagir com outros códigos culturais a
fim de estabelecer novos textos culturais e elaborar novos produtos.
Ainda que o Gráfico Ambiental divida com o design gráfico alguns princípios da
bidimensionalidade, diferenças claras separam um do outro. Fundamentos como proporção,
relação figura/fundo, contraste, cores, permeiam as disciplinas. O uso da cor e da tipografia
são comuns a essas disciplinas.
No entanto, quando o desenho “plano” se torna dimensional, novos princípios e
outras complexidades aparecem. Migramos do eixo X/Y da bidimensionalidade e
acrescentamos o eixo Z da tridimensionalidade. Mais ainda quando lidamos com noções de
bitmap (mapa de bits), a conversão RIP - Raster Image Processador - programa que traduz
as informações de layout de uma página em uma linguagem de descrição de página na
forma de pontos, suportada pelo dispositivo de impressão - pixels (picture elements)
termos correntes associado ao Gráfico Ambiental. A transposição para o tridimensional, sem
causar deformações, o na imagem, mas no lugar específico, constitui-se em problema a
ser resolvido. Normalmente o senso comum impele o profissional criativo simplesmente a
aumentar a imagem. Esse é não é um problema de tamanho, mas de escala, conceito
pouco praticado, por exemplo, por um designer gráfico, mas básico em arquitetura. Como
lidar com a transposição de um layout de 30 cm para uma parede de 300 cm ou uma
fachada de 3.000 cm? Evidente que as condições de legibilidade serão diferentes de um
caso para outro. No entanto, como não ainda repertório técnico formado para lidar com
essa situação, presenciamos, por exemplo, transposições literais de um layout de 30 cm
para 3.000 cm e convivemos com gigantes desde então. Parece que pouco estudo que
aprofunde essas questões. Mcluhan (1969:12) teria adorado ver sua teoria de que o
conteúdo de um meio novo é o velho ambiente em ação como nos moldes aqui praticados.
Régis Debray (1995) chama a isso de efeito-diligência. O conteúdo do Gráfico Ambiental
> 50
ainda é o design gráfico, ainda é a arquitetura, ainda é a propaganda. É tudo, menos um
conteúdo original.
[1.4.2.1] A inovação em 3 designers
Herbert Bayer figura aqui como exemplo pela sua contribuição para o
desenvolvimento da linguagem visual e por seu pioneirismo em perceber suas aplicações
ambientais. Transitou na fronteira do design em várias áreas como tipógrafo, publicitário,
fotógrafo, pintor, escultor e arquiteto. Muito influenciado pelo construtivismo, Herbert Bayer
marcou sua passagem pela Bauhaus como professor e designer talentoso, postulando em
sua atuação a independência de trabalhar estritamente com códigos visuais. Foi quem
desenhou a sinalização do prédio da Bauhaus e a fonte tipográfica Universal.
> 51
O destaque aqui é para o seu diagrama da “visão estendida”, um desenho das
possibilidades de visão, de 1935. Esse desenho denota a preocupação de Bayer em
explorar a comunicação em determinado lugar em todas as suas perspectivas, o que
coincide com os ideais do Gráfico Ambiental.
Projetado por Edward Johnston em 1916, o inovador sistema informacional de
navegação para metrô de Londres London Underground é um exemplo de uso precoce
dos fundamentos do Gráfico Ambiental como sinalização orientativa, que influenciaria todo
os trabalhos na área no século 20. Neste sistema constavam várias características que
observamos hoje: um completo aparato de dispositivos comunicacionais, desde placas até
mapas impressos, tabelas de horários e muita propaganda. Johnston, preocupado com a
relação observador x legibilidade dos dispositivos informacionais no metrô, desenvolveu
uma tipologia baseada nas clássicas proporções romanas que se passou a chamar
simplesmente de Johnston e é considerada uma das mais influentes no design gráfico
desde então.
> 52
Quando se fala hoje de design gráfico é indispensável falar de David Carson, que é
quem extrapolou os limites da experimentação tipográfica, literalmente repaginando a forma
de fazer design a partir dos anos 1990. Ao contrário dos construtivistas, o design que
resulta daí explora formas e linguagens, mesmo que em detrimento da legibilidade, colocada
em segundo plano. O que importa para ele é o resultado formal. O leitor que resolva como
decifrar o texto. A heterogeneidade dos elementos presentes nas peças numa colagem de
referências e fragmentações hesita em conceder um significado imediato. Aparentemente
são elementos desencontrados e desconexos. Em alguns casos percebe-se de que se trata
disso mesmo: pura experimentação em processo.
[1.4.3] Convivendo com a Arquitetura
O relacionamento do Gráfico Ambiental com a arquitetura pode ser definido como
tenso. um conflito entre o dinamismo da percepção visual, em constante modificação,
com o estado de permanência estática da percepção táctil. Hoje, a arquitetura e a
comunicação disputam o mesmo suporte: a cidade. Analogamente, a fotografia e o cinema
também se servem de um mesmo suporte, a película. Tanto em um caso como em outro, o
que os distingue é o movimento. O cinema é imagem em movimento. A fotografia é inerte.
Pode-se afirmar que a arquitetura moderna, ao abandonar a tradição escultural e do
ornamento, acabou por se colocar em uma armadilha formal da ordem do não-discurso, do
neutro, como uma folha em branco. Arquitetos modernos, ortodoxos em sua ideologia que
evita o simbolismo da forma para expressão ou reforço do conteúdo acabaram vítimas
da necessidade contemporânea de comunicação dinâmica. O prédio limpo com linhas retas
> 53
tornou-se o suporte ideal para a Mídia Exterior e certas intervenções do Gráfico Ambiental.
Num território de linguagens em interação, o ambiente midiático da comunicação sobrepõe-
se. A linguagem da arquitetura, da fotografia, do cinema, da TV, do discurso publicitário,
entre outras, hibridizam-se. Essa linguagem sincrética é hoje uma força hegemônica na
cultura, enquanto representa um fluxo constante de informação nova em oposição a uma
linguagem fixa, sem renovação.
Venturi (2003) abordou a arquitetura com olhares inovadores. Com seu famoso
diagrama do pato e o galpão decorado, ele celebra o modelo de prédio que surgiu para
caracterizar as manifestações de contradições: um espaço em branco a ser preenchido
(espaço vazio ou intervalo) em caixa de concreto cujos significado, função e ornamento, são
derivados dos símbolos conectados a ele, tanto posicionados no topo do prédio ou no
estacionamento virado para a avenida. A planta do edifício não importa mais; esse galpão
pode abrigar uma fábrica ou uma igreja o que difere uma de outra é o painel na fachada
que informa qual o uso social do prédio. Ele defende uma arquitetura como suporte de
outras linguagens, ou, como ele mesmo clama, como abrigo com símbolos por cima. A
arquitetura com frente retórica e fundos convencionais, voltados a uso e abrigo. A forma
deixou de ter função e se transformou em iconografia.
Pode-se afirmar que Rem Koolhaas é um dos grandes arquitetos do pós-moderno.
Ele defende uma arquitetura mais ampla, com limites cada vez menos precisos em
convivência com a publicidade, o design, as forças econômicas. Um de seus suportes
conceituais é a arquitetura ampliada na qual vigoram o urbanismo, o design e a infra-
estrutura. Nessa linha, ele concebe a arquitetura sem construção. Para ele, a arquitetura
desapareceu no século 20. O ímpeto construtivo em ritmo acelerado produz o que ele
chama de junkspace, os resíduos da modernização que a humanidade espalha pelo planeta.
Construímos muito mais do que precisamos (Koolhaas. 2001:408). O produto construído da
modernização não é a arquitetura moderna, mas o junkspace; é o que permanece depois
que a modernização segue seu curso, o que coagula na cidade. Arquitetura da continuidade
espacial, sempre em interiores, tão extenso que mal percebemos seus limites, sem
emendas, selado por uma pele como uma bolha.
Falar da relação entre as duas áreas é falar de imposições e jogos de interesse. No
entanto, verifica-se que a arquitetura tem se tornado, atualmente, tolerante à comunicação.
Mesmo porque, em face de outra crítica dos arquitetos de que o modo de produção da
comunicação ambiental era precário e rudimentar, produzindo peças de baixa qualidade,
que não combinavam em nada com a preocupação estética desses arquitetos. Hoje em dia
essa qualidade supera qualquer expectativa, talvez até por isso, determinando o uso mais
freqüente de comunicação em edificações, a comunicação em convivência.
> 54
Sempre é complicado fazer generalizações, ainda mais em uma área que ainda
estimula a autoria. uma busca por um estilo próprio pelos arquitetos, reiterando
freqüentemente seu vínculo ancestral com a arte. Vemos que os arquitetos mais renomados
transformam-se em grifes de estilo reconhecíveis globalmente. É possível observar que
essa assinatura dos arquitetos ultrapassa o limite do local.
Isso fica evidente quando observamos prédios nas cidades desvinculados do seu
contexto local, ao referenciar formas e materiais que tanto podem ser vistos em São Paulo,
Cidade do Cabo ou em Xangai. Estes prédios aspiram a uma condição de mundo completo,
uma espécie de cidade em miniatura, separando de maneira radical esse novo e moderno
espaço representado por eles, do sujo e degradante tecido urbano que o circunda
(Jameson. 2002:66). Experiências compartilhadas, microcidades em megacomplexos. Cada
vez mais presenciamos a construção de superempreendimentos, megabuildings, cuja
atração é a integração em um espaço colossal de locais de trabalho e estudo, centro de
compras, moradias, lazer e entretenimento.
O adensamento populacional parece ser reflexo de uma tendência e servir de cura a
muitos problemas da contemporaneidade. Dos ativistas ecológicos – pela alegação de que o
aumento da densidade urbana possibilita ao homem brecar seu espalhamento e assim
diminuir a invasão em outros ecossistemas assim como a necessidade de ambientes mais
seguros (maior capacidade de vigilância), estáveis (clima e temperatura controlada) e
facilmente percorríveis (transporte expresso).
O Gráfico Ambiental acompanha lado a lado essa tendência tornando-se mais e mais
uma exigência imposta pelo mercado, em função da necessidade de interlocução deste com
seu público, na busca de sempre aproveitar qualquer chance que lhe permita isso. Em que
pese a seu favor, o Gráfico Ambiental apóia-se na possibilidade de que, a imagem, como
linguagem seja facilmente aceita em escala global.
> 55
[1.4.4] Propaganda e Instrumental
A propaganda é a prática de aplicar a prática. Com isso quero dizer que a atenção da
propaganda está voltada à observação do cotidiano, porque é onde ela estará. Seu olhar
atento captura o prosaico, recicla-o e o devolve em forma de anúncios. Por isso, muito
dizem que a propaganda é um espelho da sociedade. Infelizmente, para alguns, e
felizmente para muitos, exige-se pouca profundidade dessa imagem refletida. A propaganda
procura o que é comum, banal e irrisório no dia-a dia. Faz isso por necessidade, não por
deficiência. Reiteradas vezes afirmou-se que a propaganda opera com semelhanças e não
pelas diferenças.
Todavia, com as mudanças ocorridas no mundo na última década, a propaganda
também tem sido forçada a mudar. A situação passou, rapidamente, de muito favorável a
bastante dramática para ela. A propaganda não é mais a principal representante, e nem
única interlocutora no dinâmico jogo da comunicação. Velozmente, áreas emergentes
começaram a irradiar apelos mais sensíveis, que começaram a minar o prestígio da área.
Carl Johnson, antigo executivo de agências como TBWA WorldWide assume que
“está quase aceito como fato consumado que o modelo está quebrado e que é chegada a
hora de encontrarmos uma nova abordagem”. Com essa idéia, largou seu emprego e entrou
em sociedade com outros que pensavam semelhante, para abrir uma nova agência em
Nova York e tentar fazer as coisas de um modo diferente. Este é o mote publicitário atual.
Talvez por ter sido estigmatizada com o selo funcional desde seu berço - a
propaganda é ferramenta de marketing, dizem os especialistas já bastante tempo - ela
tende a instrumentalizar todas as formas de transmissão de mensagens. O que é um bom
negócio para muitos, “mercadologicamente” falando. Em tudo o que é novo, a propaganda lá
está, desdobrando-se em tood ros, tos5(s)(1-048(r)-da.99193011(o)-0.l9.6n)-1.10156(0.l9.6n)-16(0.(f)-1(e)-1(.89949d(t)-1.09888.99358(b)-0.898358(0 Td[( )-115.59(f)-1(e)o(n)-1.09888(c)-1.02T(o)-1(p)-1(s.56.328 0 Td[(e)-0.997284781(m)-1.19246(a)-1.2g1.0988846(a)-1.2g19m)-18.799432(n)-7284.0988846(a)-1.2(m)(-284.098884.8989695(s5(s)(1-048(r)88( )-12t58(b)-0.8983580( )-2(n)-7284.09)-048(r18.937í4.893Td[(e)-0.990.997284781(m)-1.1.893011(-048(r18.937í4.893Td[4t)-1.20316(4284.09)-048(r1No)-0.(e)-0.898358(u)-0.8.Td[(e)-0.990.99j(o)-1(p)-1(s.56.328 016(4284.09)du)-0.8.Td[(e)-)-1.203hl9.654 )-1-1.203hl9.65.8.Td[(e)-0.91 .1900)-1(d)-1.00129(a)-1(s)-10.8.Td[(e)-05n)( )-048(r)r29(a)-1(s)-101032(p).09 016(4[(e)-05n)( v26(4[(e)-06558(u)-0.8.T.899695(p)-0.90( )-66.39961hl9.65.8.Td93018.9783 Td[(c)-0316(a)-1u888(o)-0.997284(17284(p)-1(8of3 Td.4036]TJ-259.01900)-1(d)-1.00129(a)-éá9(a)-1(s)-10.8.t)-1.00263(á)-0.997284(r3898358(i)-0.901032(s)(1-048(r)-)-0.901032(s-05n)( alu(.)-1( )-66.4010rf328 0 Td[(2(s-05n)( al783 Td7.4032g0.90103(17284(p)-1s-05n)( al783048(r)-)-0.15-214.994610s)-1(t)-1032(.994610s)-1(t)-aTd[(e)-0.899695(m)-0.893011( )-214(s)-0.9888(e)-1.098(r)-)-0.15-2r)-)-0.188( )-0.901032(q)-1.0980.90103695(a)-1(s)-1( )-0.899695t)-aTd[(e)-0.8.899695t)-1( )-0.898358]Tst)-1( )-0.898358]8358(m)-0.893011(048(r18s8358(r)-d)-16-048(r1No)-0.(e).203)-0.(e).203)-0.(e).203)-e901032(s)-0.4-0.(e).203,o
> 56
aspectos fundamentais: descentralização, customização em série e elevação dos padrões
de qualidade.
Os novos bens de produção simbólica, de alta tecnologia, romperam o centenário
paradigma da concentração em poucas mãos - provocada pelos grandes grupos de
comunicação - destituindo alguns oligopólios há muito constituídos. Esses bens tecnológicos
pulverizaram a produção de peças, não mantendo o nível de qualidade anterior, mas
elevando-o rapidamente. Com isso, diminui-se o custo de produção dessas peças, por
conta da concorrência propiciada pela descentralização. Redes de televisão, grupos
gráficos, produtoras de vídeo, editoras, entre outras, foram sacudidas por essa onda de
efeitos ainda não mensurados por completo. Randy Falco, presidente e diretor da NBC
Universal Television Group, disse em palestra que “toda uma indústria, construída sobre sua
capacidade de atingir grandes grupos de pessoas ao mesmo tempo, está tentando se
expandir e se transformar, atingindo um consumidor de cada vez” (Elliott, 2006).
Isso gerou uma crise cuja extensão tenta-se avaliar. Os gastos com publicidade nos
EUA tiveram grande queda em 2001, a maior desde 1938 (Elliott, 2005). As margens de
lucro das agências vêm caindo. A crise pela qual passa o setor tem se refletido no aumento
de encomendas de mais e mais pesquisas, tentando-se, a partir delas, entender o panorama
atual. Boa parte das verbas tem sido deslocada para “novas mídias”. Na GE (General
Eletric), a verba para marketing on-line é a que mais cresce.
O Branding virou fato consumado. O que os anunciantes procuram com esse
programa é o envolvimento entre os consumidores e suas marcas. A época de se buscar
recall (lembrança) terminou. Para Dawn E. Hudson, presidente e executiva da Pepsi Cola
North America, a profundidade de experiência com a marca e o envolvimento com os
> 57
outros. Esse cerco ao indivíduo é tão intenso que ele começa a substituir parte de sua
personalidade por aquela projetada pelas marcas. Isso é tudo o que as empresas mais
desejam: indivíduos conectados e presos a elas por identificação aos conceitos e valores
trabalhados pelas marcas.
Então, nada mais natural para as marcas procurarem acompanhar os consumidores
nos seus caminhos, nas ruas, nos lugares que freqüentam, nos locais de consumo e lazer e,
porque não, nas suas casas e até no seu corpo. Essa formatação ambiental, cujo ciclo se
intensifica agora, terá pela frente um campo de atuação praticamente inesgotável a ser
explorado.
Em São Paulo, começa a ser mais intenso o movimento de privatização do passeio
público através da adoção de ruas, praças e quarteirões inteiros por empresas interessadas
em expor suas marcas. Naomi Klein (2003:62) via sinais dessa tendência ao comentar
que “a idéia de um bairro totalmente privatizado e ‘marcado’ não é tão absurda hoje”.
A propaganda agora tenta descobrir como aferir em números esse relacionamento.
Joseph Plummer, diretor da Fundação de Pesquisa de Publicidade, o tom dessa
preocupação ao dizer que “todas as medições que temos hoje são padrões de mídia:
> 58
índices de audiência, circulação, classificação, cliques. O que precisamos é uma maneira de
determinar como o público-alvo se conectou, se envolveu com a idéia da marca” (Elliott,
2006).
Desde os murais da Coca Cola na década de 1920, pintados diretamente nas
paredes dos edifícios industriais nas zonas comercias das cidades dos EUA, até as
gigantografias em impressão digital inseridas em lugares onde deveria haver arquitetura -
simulando os próprios prédios - o Gráfico Ambiental, para a propaganda, tem sido um
instrumental de muita valia. Tudo indica que isso vai perdurar por muito tempo.
[1.4.5] Fixo entre Fluxos
Os Gráficos Ambientais são posicionados no meio do nosso caminho. É impossível
deambular pela cidade sem reparar em peças de comunicação, dada a profusão de
outdoors, placas, totens, frontlights, cartazes, faixas, banners, adesivos, táxis adornados
com propaganda e muitos outros. A lista é extensa e exige que haja convivência integrada e
regulada entre todas essas manifestações comunicacionais.
O Gráfico Ambiental pode ser produzido atualmente em peças com dimensões
gigantescas, antes inimagináveis, com um ganho de escala de produção até então pouco
presenciado. Rápido, simultânea e globalmente, um projeto de Gráfico Ambiental pode ser
espalhado em vários países. É extensamente utilizado em todos os lugares onde haja
presença e fluxo de pessoas, principalmente em grandes centros urbanos.
O Gráfico Ambiental está intimamente relacionado ao deslocamento dos indivíduos
pela cidade. Pode-se supor que, na hipótese de uma cidade na qual os indivíduos sejam
impedidos ou evitem circular, de maneira que se isentem de uma experiência imediata da
cidade, um dispositivo comunicativo posicionado nos caminhos seja desnecessário.
O fluxo revela as coisas pelo movimento. Nas megacidades, a vida é agitada. As
ruas e avenidas são as conexões que ligam os diversos pontos das cidades. As vias
expressas para o transporte individual e transportes coletivos ultra-rápidos são parte da
solução para o deslocamento nessa nova estrutura. Mais do que nunca, o Gráfico Ambiental
é fixo em dependência do fluxo.
A cidade assume e incentiva a sua característica de se tornar uma passagem. Para o
transeunte, os caminhos oferecidos são como obstáculos que o impedem de ir mais rápido
do ponto “A” ao ponto “B”. Estamos mesmo, afinal, no limite da era do deslocamento
geofísico, da compressão espacial em favor do tempo ou vivemos um ajuste na relação
da percepção espacial causado pelo rearranjo dos sentidos estendidos? O deslocamento
> 59
continua sendo exigido, porém a velocidade atua mais intensamente que a sua amplitude.
Perguntamos quanto tempo ao invés de qual a distância. A velocidade suprime a paisagem
imprimindo ao espaço uma nova dimensão. O indivíduo projetado no tempo perde a noção
de distância. Quanto maior a velocidade da travessia, menor será a capacidade
contemplativa dos objetos e coisas dos lugares ao largo. A velocidade superficializa a
paisagem. Tudo passa em um relance e o olhar fica impossibilitado de se fixar. Desta
maneira, os lugares nas cidades são determinados pela velocidade desse trafegar. O
entorno é, assim, configurado pelo deslocamento.
O fluxo interage com os fixos continuamente. A dinâmica dos fixos e fluxos do
espaço, proposta por Milton Santos (2006), elabora um modelo para a compreensão das
transformações em curso no espaço urbano. Os fixos poderiam ser considerados como os
sistemas de objetos, cada vez mais artificiais e fixados ao solo e os fluxos, os sistemas de
ações. O dois sistemas trabalhariam de maneira indissociável para a transformação do
espaço. Os fluxos atingem os fixos, rompendo sua estabilidade, alterando-os ao extremo,
até a inovação. Esta é a gênese dos lugares das cidades, espaços não consolidados e
modificados pelo uso. Os lugares não se movem, mas, mudam de significação, adotando ou
vinculando-se a outros valores sistêmicos. Nessa dinâmica, igrejas viram supermercados e
cinemas viram casas de bingos.
A relação que os indivíduos elaboram entre essas realidades é mediada pelos não-
lugares, como definido por Marc Augé. Segundo ele, os não-lugares são designados pelos
“espaços constituídos em relação a certos fins (transporte, trânsito, comércio, lazer) e a
relação que os indivíduos mantêm com esses espaços” (Augé. 2004:87). As estações de
metrô são não lugares por excelência. Sempre pontos de passagem, não são espaços
vivenciados. Os não-lugares reais da supermodernidade são essas experiências de
mediação de discursos dos indivíduos em pleno deslocamento, convertendo, pelo modo de
usar, todo o sistema de objetos em comunicação. Para ele o “viajante fica de certo modo
dispensado de parar e até mesmo de olhar” (2004:89) os pontos das cidades, bastando ler
os comentários nas sinalizações.
Capítulo 2 >
> 61
[2.1] Estabelecendo relações no meio do caminho
Em suas “confissões”, o publicitário David Ogilvy (1972) revela que não gosta de
outdoors, ou posters como ele os chamava na ocasião. Em 1963, escreve com todas as
letras que nunca viu uma paisagem ser melhorada com a utilização de um deles, e vai além,
afirma que o homem atinge o cume de sua vilania quando ergue um outdoor. Causa
estranheza justamente essa afirmação vir de quem veio, um conhecido divulgador e
incentivador da propaganda. Mesmo sincera, a crítica de Mr. Ogilvy agora soa
extemporânea. De para cá, muito mudou. Hoje, esses elementos não atrapalham mais a
paisagem, mas ajudam a compô-la. Da paisagem que ele via e admirava pouco restou.
Naquela época, um outdoor nada mais era do que um penduricalho comunicacional,
descontextualizado. Quase quarenta anos depois, esta comunicação especializou-se,
> 62
A compreensão deste fenômeno informacional pressupõe o conhecimento do
processo de geração de sentido que surge por meio das relações constituídas entre esses
sistemas em interação. Nesse quadro formal, manifesta-se um sistema tripartido, a partir do
qual se estabelece uma correlação sistêmica entre as partes, ponto de origem da formação
das bases conceituais que orientam este estudo: entorno (ambiente), Gráfico Ambiental
(informação) e observador (usuário).
O arquiteto Frank Gehry, ao resolver seu primeiro projeto notável, uma casa e um
estúdio, adotou formas cúbicas simples e criou dois volumes interligados, entre um espaço
para moradia e um outro para trabalho, buscando uma relação entre os dois. Gehry revela
depois que estava interessado na idéia de conexão, em juntar as peças de um modo bem
particular para ele (Stungo. 2000:13). É assim, através das conexões que se dão as
relações. Encontradas nos interstícios dos sistemas, as conexões o pontes entre
fronteiras em cujo traçado circulam feixes multidirecionais de signos que alimentam o
intercâmbio entre os sistemas. A intenção não é a descrição das estruturas desses
sistemas, mas, justamente, acompanhar suas relações e conexões. Para efeitos
investigativos, porém, não como evitar algumas descrições, uma vez que estas balizam
as direções da análise.
O entendimento do mundo a partir da experiência da informação nova é uma
preocupação constante nesse trabalho e representa uma das pedras fundamentais que
sustentam esta pesquisa. Em nosso cotidiano, as transformações do mundo geram uma
carga excessiva de informação nova, uma velocidade que o entendimento não é capaz de
acompanhar. Perguntamos: até que ponto estamos aparelhados para entender essas
alterações em nosso entorno, causadas pelo aparecimento de toda espécie de novos
recursos tecnológicos que são introduzidos e forçam a pronta adaptação de nossos
princípios de sociabilidade? A adaptação dos indivíduos aos diversos desafios da vida
depende da capacidade de sua mente operar associações, conferir sentido às informações
e compreender os significados dos acontecimentos que vivem. Grosso modo, essa
operação parece ser de fácil execução. Todavia, evidências indicam que o contrário é mais
freqüente do que o esperado e apontam para constantes dificuldades, seja na captação,
como na interpretação dessas informações.
O ambiente é revelado ao indivíduo dentro de um amplo leque de possibilidades
interpretativas. Como bem destacou Gibson (1986), o homem alterou o formato e as
matérias do seu entorno para alterar também os seus meios e recursos, ao tornar mais
disponível o que o beneficia e menos opressivo aquilo que o ameaça. Este não é um novo
ambiente, mas o velho entorno modificado pelo homem, ressignificado.
> 63
na transformação do entorno uma importante estratégia para comunicar. O
processo de gerar conhecimento pela percepção a partir de uma informação no ambiente é
chamado de percepção ambiental, condicionada pela revelação dos signos do lugar
informado. Quanto mais homogêneo é o ambiente, menor é a sua legibilidade. O máximo de
homogeneidade permite o mínimo de leitura. lemos o que é heterogêneo ou o que se
torna saliente à nossa observação pela
ruptura dos hábitos e costumes. O texto ambiental
não é imposto. Pelo contrário, ele não nos cobra atenção. Por isso, o “hábito de atuar nos
mesmos espaços e ambientes faz com que eles sejam cada vez mais iguais e
imperceptíveis” (Ferrara. 2004:23) para os indivíduos. O perigo de a percepção ser
contaminada ou deformada, portanto, pode se dar no sentido da acomodação de uma dada
paisagem tornar-se tão familiar que mal a percebemos mais como informação. Para ela
“superar essa opacidade é condição de percepção ambiental”.
O assentamento dos conceitos em voga fornece o respaldo necessário para
orientarmos a exposição da análise em eixos temáticos que flexionem os vínculos entre as
partes e o todo e conduzam de maneira clara a articulação entre sistemas, definidos a partir
de suas gêneses. A proposição principal deriva então, de um lado, em apontar as matrizes
elementares que configuram o entorno com o qual o Gráfico Ambiental se relaciona, como
também destacar os reflexos da interação entre esses sistemas: ambiente/imagem e
informação/ambiente.
> 64
[2.2] Relação 1: imagem e paisagem
[2.2.1] A passagem da paisagem em imagem
A maneira de se deixar ver, apresentada pela paisagem em rias de suas
manifestações, serve como referencial e um aprendizado para o homem definir seu lugar no
mundo. Ao mesmo tempo, desenvolve sua capacidade de perceber e interpretar o ambiente,
estendendo a função da imagem nesse processo de cognição em evolução, ao sofisticar–se
discursiva e tecnicamente, sempre mais e mais, até a confluência nas recentes tecnologias
de produção de imagens que configuram atualmente nossos ambientes vivenciais.
É natural confundir paisagem e imagem. Mesmo porque a relação entre uma e outra
se dá por condições inerentes ao fator humano, as quais são de percepção de seu ambiente
como condição da vida. A formação histórica da noção de paisagem é um indicador de
como o homem lentamente foi aprendendo a passar de uma fase passiva de apreensão do
espaço até admitir a conversão da imagem uma em outra. A passagem da paisagem em
imagem indica a idealização do espaço social do homem, que admite viver em uma
paisagem construída dentro de um sistema de objetos também construídos.
um consenso de que existe um reforço na primazia dos signos visuais na
sociedade atual. A imagem, compreendida aqui em seu variado conjunto de produções e
representações, é uma necessidade vital da contemporaneidade. A busca por novos
dispositivos de criar imagens é uma interpretação da necessidade histórica de se
representar e entender o mundo. Como afirmou Mumford (1986:20), a arte surge da
necessidade que o homem sente de criar para si mesmo um mundo válido e pleno de
significado que faça permanecer em sua consciência as partes de suas experiências mais
preciosas, para além de qualquer exigência da mera sobrevivência animal.
É certo que a paisagem apresenta-se como uma imagem. E, como tal, ela é mil ao
mesmo tempo, multiplicada pelas inúmeras abstrações imaginadas pelos muitos que a
observam. É importante compreender a distinção de uma e de outra, se é que há, antes de
empreender o caminho que se inicia aqui.
Procura-se perceber a paisagem como um recorte realizado no espaço e no tempo, a
partir de elementos formais de pura iconicidade, combinados mentalmente (por um
observador) e registrados em um substrato material (por um operador). O mesmo
poderíamos dizer da imagem, uma superfície que pretende representar algo (Flusser. 2002)
e que se apresenta para nós como formas e cores.
> 65
Para quais paisagens dirigimos nossos olhares? Para aquela que é natural o
afetada pela ação humana como querem alguns, ou para aquela que é construída, resultado
da combinação entre
elementos naturais e socioculturais, modificada pelo homem, também
chamada de cultural pelos geógrafos (Lewis.1979:11)? Para a paisagem externa, aquela
que conforma os lugares e que vemos quando saímos de casa ou a outra que recolhemos
no nosso cotidiano midiático? Se a própria noção de paisagem é tão disputada por várias
correntes que se esforçam, cada uma, em defini-la de maneira legítima ao seu pensamento,
como será para distingui-la da imagem que a representa, a ponto de nomeá-la como
pretendem?
Paisagens são todas essas possibilidades. Parece que a paisagem existe
enquanto descrita ou representada, marcada por seu aspecto visual. Para extraí-la da visão,
ela tem que se tornar imagem. Sabemos que a imagem que se forma em nossa mente,
proveniente dessa instância geradora que alguns dão o nome de imaginário (Machado.
2002:220), essa imagem mental, para ser exteriorizada necessariamente depende sempre
de um mecanismo, seja o conversor fonema-grafema, pela formação das palavras, seja uma
mediação técnica para produção das imagens. A paisagem assim como a imagem está
associada sempre a um referente. Para Barthes (1984:115), o referente é diferenciado de
um sistema de representação para outro. No caso da fotografia é a coisa necessariamente
real colocada na frente da objetiva. Para ele, a fotografia é uma emanação do referente. Na
pintura é facultativamente real, que ela pode simular a realidade. Mais importante do que
precisar detalhadamente este conceito é a indicação segura de que na idéia de paisagem,
assim como na imagem fotográfica, alguém presenciou esse referente, que virá a ser a
própria paisagem. uma transmissão de imagem que atinge alguém pelos sentidos e,
depois de interpretar e qualificar, registra-a. Essa idéia de exposição ao referente por um
observador será desenvolvida no decorrer deste trabalho.
[2.2.2] O surgimento da paisagem
O conceito de paisagem começou a ser construído na Alemanha, ainda na Idade
Média, designado landshaft”. O termo refere-se a uma região de dimensões dias, em
cujo território desenvolviam-se pequenas unidades de ocupação humana. Logo depois na
França, a partir da Renascença, falava-se em paysage”, cuja definição considerava os
arredores em uma conotação espacial delimitada. Nessa mesma época, em meados do
século XVI, o termo começou a ser usado mais livremente associando-o à estética, aliando
aspectos naturais e representação artística da paisagem. Quase que concomitante, o
> 66
paisagismo nasceu pela arte dos jardins e significou uma intervenção estilística do homem
na natureza (Maximiano. 2005). Tanto na França, como na Inglaterra, esse conceito ao
surgir, disseminou-se com força, apesar das diferenças de estilo em cada país. Enquanto na
França os jardins eram abertos, sem muros, na Inglaterra eram cercados e confinados.
Por essa indicação, percebemos como o homem começou a relacionar-se com a
natureza, diminuindo a percepção de seu caráter hostil e ameaçador, adotando-a de
maneira controlada em seu cotidiano. Durante muito tempo, o homem e a natureza
estiveram sempre em oposição. Muito antes disso, na antiguidade, a domesticação de
plantas e animais, do homem e da paisagem natural, pela configuração territorial, ocorreram
simultaneamente (Mumford. 2004:24). O uso utilitário da paisagem caracterizou a ação do
homem durante séculos. A intervenção humana se deu a partir da observação das leis
naturais passíveis de aplicação na agricultura, com os regimes de cheias de rios, no Egito e
na Mesopotâmia, para orientação territorial, com a observação do céu e estrelas, ou ainda
conformações geológicas, como elevados, montes e montanhas, utilizadas, por exemplo,
para defesa.
Desde a Roma Antiga no século I, poetas como Teócrito celebravam o encanto da
vida simples entre pastores, e os artistas evocavam os prazeres da existência campestre.
Foi nessa época, no período helenístico, que pinturas de murais, colunas e galerias
ilustradas, imitações de quadros emoldurados e de cenários para palcos teatrais foram
utilizadas nas casas das famílias abastadas (Gombrich. 1999:113) como recurso decorativo.
Até paisagens existiam, algo incomum para a época, já que estas, até então, sempre tinham
sido vistas apenas como moldura para as cenas da vida humana ou de campanhas
militares, sempre dedicadas à representação antropomórfica. Ainda que não sejam cenas
reais desta ou daquela casa de campo, são antes um mosaico dos elementos que
constituíam a vida no campo, como pastores e rebanhos, barcos e rios, montanhas
distantes.
> 67
Roma criou aquedutos e viadutos, vias pavimentadas e parques públicos com
pérgolas, colunas, pórticos e santuários. Características que foram preservadas nos jardins
ocidentais até a Idade Média, os quais eram destituídos de ambientes naturais, recolhidos
nas cidadelas de defesa. No fim desse período, abriram-se para o mundo exterior.
O registro da paisagem ocorreu primeiro na pintura, ao se libertar da representação
sacra, redescobrindo a natureza e tornando-a o maior tema da arte renascentista do século
XV, deixando de mostrar cenas divinas para apresentar baías, campos e cidades (Peixoto.
2004:57). No ocidente, a noção de paisagem foi construída sob influência da idéia de
realidade. Pintores vislumbravam a possibilidade de a arte ser usada não para ilustrar a
história sagrada, mas para refletir o mundo real. Desde o Quattrocento, a tentativa era de
traduzir a realidade exatamente como ela se apresenta aos olhos.
Nos Países Baixos, por volta do ano de 1430, o pintor Jan van Eyck inovou a pintura
de maneira marcante. Por meio da paciente observação da natureza e da realidade retratou
temas profanos e o mundo que o rodeava. Ele realizou a ilusão da natureza mediante a
paciente adição de detalhe após detalhe até que sua pintura, com impressionante precisão,
se convertesse no espelho do mundo visível (Gombrich. 1999:239). A riqueza desse
universo de aparências, com cores incrivelmente brilhantes e efeitos de luz inéditos, foi
possível através da nova e refinada técnica da pintura a óleo, desenvolvida por ele.
Abandonando a técnica da base de têmpera, comum na época, permitia-o trabalhar detalhes
e nuances de cores pela secagem mais lenta da tinta e uso de relevo pela sobreposição da
tinta em camadas.
[2.2.3]
A captura da paisagem
O Renascimento italiano início à popularização de dispositivos técnicos
construídos por artífices com o propósito de instituir a visão técnica necessária, não mais
subjetiva, para reproduzir o mundo de maneira precisa. O artista não necessitava agora
imaginar a imagem, cabendo a ele coletá-la na própria realidade. A câmera obscura portátil
possibilitou ao artista “recopiar, reproduzir, ou fazer o decalque da imagem que nela se
projetava” (Dubois. 2004:129). A presença física do referente (a paisagem) como motivo da
pintura era necessária.
Esse é o momento primeiro das imagens técnicas, produzidas por dispositivos
técnicos, aparelhos de manipulação da realidade que funcionam pela permutação de
símbolos programados e decifráveis (Flusser. 2002:25) através de um programa que contém
todas as suas potencialidades de uso. Como exemplo de introdução de aparelho que alterou
> 68
e reprogramou o sentido da visão, a perspectiva indica uma intenção do artista em
representar, cientificamente verossímil e de maneira fidedigna, o real que ele observa e
tenta copiar. Considerada como uma técnica engenhosa capaz de simular a sensação de
profundidade, ela introduz uma lente que nos apresenta uma imagem que aparenta ser uma
realidade: uma representação (Couchot. 1993:44). A partir desse exemplo entendemos
como os aparelhos programam o ato de ver. São como dispositivos que organizam os
ingredientes a partir de uma dada receita com o propósito de ativar determinadas respostas
em um espectador.
A perspectiva renascentista era encarada como um sistema de representação
plástica baseado em leis “objetivas” do espaço formuladas pela geometria euclidiana
(Machado. 2002:225). Dessa maneira, ela ofereceria a imagem mais fidedigna do mundo
visível. A paisagem no quadro é cada vez mais sóbria, matematicamente controlada, regida
por conceitos de simetria e
funcionalidade. O Renascimento trouxe a criação da perspectiva,
elaborada como recurso técnico para representar uma nova realidade que colocava o
homem como matriz dimensional através de estudos de proporção que relacionavam as
artes e as ciências naturais.
Do século 16 em diante, as representações da paisagem passaram a ser tratadas
como um gênero independente em virtude da descoberta da natureza pelo homem. Um
pintor veneziano, Giorgione desviou sua atenção para a natureza e colocou o homem não
mais como centro, mas como um dos seus elementos. Essa transformação mudou o curso
do gosto moderno (Venturi. 1972:83). Se aentão os pintores tinham como objetivo contar
> 69
histórias em suas pinturas, Giorgione, inovou ao imaginar uma composição de figuras
criando um evocativo senso poético. A arte de Ticiano, influenciada por esse inovador
horizonte da pintura, vicejou com essa nova orienta
> 70
pinturas de paisagens deu-se em grande parte devido ao Diorama (ou panoramas como
muitos os chamavam) que, como aponta Benjamin (2006:42), “por meio de artifícios
técnicos, era um incansável esforço de tornar os panoramas, locais de uma imitação perfeita
da natureza”. A pintura agora segue caminhos próprios e, como reação à fotografia, começa
a enfatizar os elementos coloridos da imagem.
Em 1826, Niépce escolheu a vista da janela do seu quarto ao realizar sua bem-
sucedida tentativa fotográfica. Qual a razão para essa escolha, entre tantas outras
possíveis? Muito provavelmente pelo aparato pesado e frágil necessário para realizar esse
registro, Niépce comodamente escolheu a janela. A intensidade de luz que o material
necessitava para ser sensibilizado era tão excessiva que o tempo de exposição foi de oito
horas, o suficiente para o sol mover-se pelo céu e iluminar os dois lados do quintal. De
qualquer forma, a primeira imagem fotográfica registrada foi a paisagem vista da sua janela.
Vale destacar que ele morava no campo, condição que tornava essa paisagem a sua
imagem mais familiar. Algo que ele via todos os dias e que podia ser comparado dia a dia,
teste após teste, e refeito se necessário. A história não registra quantas tentativas foram
necessárias para ele obter esse resultado, mas é de se supor que não foram poucas. Para
Niépce, aquela paisagem era permanente. Além do apego emocional em registrar algo que
lhe é próprio - um olhar cotidiano - era, para ele, como se fosse uma paisagem fixa e
imutável.
> 71
Não obstante, o tema da paisagem, junto com o retrato, foi nos primeiros anos da
fotografia o mais explorado, tanto para finalidades artísticas como comerciais. O famoso
grupo dos pictorialistas encabeçados por Julia Margaret Cameron e Henry Peach Robinson
defendiam com veemência o caráter artístico da fotografia em suas composições, porque,
tal como a pintura, para eles, a fotografia buscava a beleza (Sontag. 1983:123). Desde a
sua gênese, a fotografia traz em si a herança genética da pintura. Barthes (1984:52) faz
referência a este aspecto destacando que a foto de Niépce tem o mesmo enquadramento, a
mesma perspectiva de uma pintura; para ele a fotografia era atormentada pelo fantasma da
pintura. De fato, toda a terminologia da fotografia é herdada da pintura: quadro, composição,
> 72
entanto, alteram-se continuamente para poder acompanhar as transformações da sociedade
(Santos. 2004:54). E também porque, como veremos, o tempo torna-se componente ativo
nessa equação. Enquanto a paisagem admite o tempo contínuo como elemento
configurador, passado e presente juntos, elaborando um tempo histórico, uma camada
sobre a outra, uma ação de uma geração sobre a outra, o espaço é da ordem do tempo
presente, uma atribuição de valor por uma ação dada no momento atual.
A definição de Milton Santos para espaço é “conjunto indissociável de sistemas de
objetos e sistemas de ações” (2006:63). A definição de sistema de objetos é ampla,
contemplando desde os naturais, observados na natureza, até objetos fabricados, técnicos,
mecanizados e cibernéticos. Sistemas de ações seriam os processos, dotados de propósito,
subordinados a normas e que envolve um esforço ou motivação.
Estes conceitos, amplamente validados, carregam o justo mérito da distinção em
uma linha organizada de análise. Todavia, para efeito de esclarecimento, a preferência
neste trabalho recai pela explicação, ainda dentro desse contexto, de um espaço “percebido
pela imaginação que não pode ser o espaço indiferente entregue à mensuração e à reflexão
do geômetra. É um espaço vivido.” (Bachelard. 2003:19).
Este espaço percebido e vivido significa um apelo tanto para os dispositivos do
sentido responsáveis pela percepção que permite a captação dos estímulos, notadamente o
visual, manifestados fenomenicamente e dispostos a caracterizar o espaço em suas
representações - como também um apelo para o vivido, em termos de experiência social -
modo de vida revelado através de uma linguagem que tem como signos usos e hábitos
(Ferrara. 1993:151), decorrente do modo de produção que os caracteriza, num jogo dialético
entre conhecimento e memória, mediado pela informação.
Estamos na era do espaço, declara Foucault (1984), na era da simultaneidade, da
justaposição, do perto e do longe, do lado a lado e do disperso. Não vivemos em um vazio,
mas em um espaço heterogêneo, dentro de um conjunto de relações que delineiam
posições. Na passagem para o século 20, o movimento moderno nas artes distingue-se pela
rejeição ao princípio da unidade; a obra de arte começa a coordenar uma variedade de
tempos e lugares e estados de consciência (Read. 1967:118). Existe a idéia do processo
que busca manter os elementos numa relação significativa e, por conta disso, tendo que
rejeitar a unidade clássica. Para Read, a justaposição é o marco dessa sensibilidade, em
oposição à transição linear das artes anteriores, é colocar uma coisa ao lado da outra, sem
conectivos. É justamente na relação entre as partes e dessas com o todo que se a
geração de sentido. O sentido não está nem nas partes, nem no todo, mas fora disso, em
suas relações.
> 73
A antiga função física dos espaços vem desaparecendo na supressão geográfica das
distâncias. uma crise do inteiro com suas formas fragmentadas e recortadas, espaços
simulando transparência, estruturas variáveis e móveis, ou seja, do espaço formado por
formas e substâncias, homogêneo, em benefício de um espaço heterogêneo, onde partes e
frações, novamente se tornam essenciais (Virilio. 1993:19) Esta fratura das formas inteiras
caracterizará grande parte da produção dos novos dispositivos técnicos comunicacionais.
[2.2.5]
Entre a técnica e a tecnologia: visualidades inauguradas
Freqüentemente utiliza-se o recurso da adjetivação para distinguir paisagens. Assim,
estamos acostumados a encontrar terminologias como paisagem urbana ou rural, natural ou
artificial, preservada ou devastada. Quem qualifica a paisagem é o observador, através do
olhar. Na contemporaneidade, este ato de olhar está condicionado por aparelhos
tecnológicos, que atuam como extensões protéticas, com os quais os indivíduos se
acostumaram a enxergar a realidade e o seu entorno cotidiano.
Os panoramas, os quais Benjamin referenciava como uma revolução nas relações da
arte com a técnica, são um emblema que simboliza a busca por uma visualidade inovadora
a partir da construção de dispositivos técnicos, uma das linhas que sustentam e conduzem
esta pesquisa. Parece que estavam todos os elementos que configuram certa cena que
se repete nos dias atuais. Tecnologias que faziam surgir a todo instante inovações para
surpreender a todos e que causavam uma ebulição nas artes e articulações da sociedade
em torno de novas idéias. Havia a expansão da cidade e a formação dos centros urbanos
cosmopolitas, novidades como são hoje as noções de sociedade em rede, a globalização e
a cibercultura. São “expressões de um novo sentimento de vida” (Benjamin. 2006:42). Esses
panoramas, para Benjamin, conseguiram trazer a paisagem do campo para a cidade, que se
amplia, transformando-se também em paisagem.
A tecnologia sempre procurou criar novos meios de transmissão de informação que
rapidamente pudessem disseminar mensagens. A história é rica tanto em exemplos de
desenvolvimento de equipamentos que tanto foram aproveitados e aprimorados, quanto
como em relatos de tentativas frustradas, curiosas e renegadas. Esses recursos
tecnológicos bem-sucedidos, uma vez combinados entre si, evoluem e dão origem a
técnicas e artifícios que, por sua vez, compõem outras dimensões comunicacionais,
hibridamente compostas em sua estrutura e linguagem. Seguidamente aparecem outras
máquinas de visão que vêm para proporcionar outros textos e outras leituras. Um imenso
campo de ação foi aberto pela técnica. Além da sua reprodutibilidade inerente, Virilio (1993:
> 74
57) alerta para a “súbita multiplicação das dimensões da matéria” e cita Gustave Flaubert:
“quanto mais os telescópios forem aperfeiçoados, mais estrelas surgirão”. A identificação
dos códigos que compõem a linguagem desses dispositivos permite contemplar textos, onde
antes havia apenas rabiscos. O estudo de suas configurações e dimensões sígnicas é uma
operação que nos permite ver e entender como se produzem sua visualidade, seus roteiros
de legibilidade e como projetam o entendimento para os usuários.
O registro das imagens é a matriz da visualidade. A partir da visualidade, através do
impacto que causa no observador, revela-se a condição existencial representativa da
imagem e se condições de se operar sua leitura e interpretação. A questão da
visualidade es relacionada ao ponto de vista do observador. Cada um pode trazer uma
percepção particular dos fenômenos em um dado momento, daí sua relatividade. Grandes
mudanças na visualidade causam grandes mudanças nos indivíduos. Desde o início do
século 20, a profundidade de campo das perspectivas clássicas foi atualizada pela
profundidade de tempo das técnicas avançadas, na qual o ponto de fuga, centro onipresente
do antigo olhar em perspectiva, cede lugar à instantaneidade televisada de uma observação
prospectiva a transmissão instantânea à distância - de um olhar que vai além das
aparências das maiores distâncias, dos espaços monumentais. (Virilio.1993: passim 23 -24)
Entre o aspecto construtivo e a interpretação das imagens o trajeto percorrido
pelo observador na tomada de contato com o suporte material e seu respectivo texto, onde
atuam as categorias de apreensão do espaço. A primeira qualidade a ser considerada é a
condição de ser visível para ser notado. Essa característica, a visualidade, permite perceber
a existência da representação espacial em observação. A diferença entre a capacidade de
ler um texto e interpretar um texto é entendida aqui a partir de conceitos como legibilidade e
leiturabilidade, elencados como partícipes primazes no processo de leitura posterior à
visualidade, o qual será detalhado posteriormente na pesquisa.
[2.2.6
] A aventura informacional
Se falarmos de civilização da técnica em termos próximos do pensamento de
Heidegger, estaremos nos referindo a uma modificação do agir humano em técnico,
característica da nossa civilização e que o tom de sua essência. A técnica, propõe ele,
determina nosso agir, nosso pensar e conduzir, interpelando-se produtivamente e
substituindo-nos em nossa responsabilidade: é a que cuida das coisas por nós (Critelli.
2002). Não aludimos aqui ao conjunto dos aparelhos técnicos que se colocam como
> 75
mediadores do homem e a natureza, mas sobretudo “o desenvolvimento específico da
informação e da construção do mundo como imagem” (Vattimo. 1992:23).
Sabemos que, quanto mais tecnológica a configuração material de um texto
comunicacional, mais eficiente sua comunicabilidade pode se tornar, se levarmos em conta
o arranjo otimizado entre as técnicas construtivas do suporte e os mecanismos de
conjugação sígnica que operam conjuntamente na elaboração desse texto. E que quanto
mais eficiente a comunicação, mais codificada ela será, se a medida de eficiência for a
harmoniosa parceria entre os aspectos construtivos do texto executada pelo organizador e a
interpretação bem-sucedida desses códigos pelo observador (ou usuário) na tomada de
contato com esse texto.
Muito do que sabemos “sobre nossa sociedade, ou mesmo sobre o mundo no qual
vivemos, o sabemos pelos meios de comunicação” (Luhmann., 2005:15). Conhecimento não
só apenas da sociedade e da história, mas também o da natureza. O estatuto da fisicalidade
não comporta mais a exclusividade das experiências vivenciadas pelos indivíduos e o
próprio cotidiano é, em grande medida, vivenciado alhures. O mecanismo interativo sofre
distorções e influências de uma vivência dos meios de comunicação, que constroem
referenciais distanciados da realidade física, elaborando um real particular. Desta feita, o
imaginário, faz algum tempo, deixou de ser resultado de uma percepção direta da
realidade, para se construir tendo como base as representações da realidade observadas
em “ambientes editados pela mídia” (Kerckhove.2003:18). Fica evidente perceber que:
(...) o desequilíbrio entre a informação direta de nossos sentidos e a
informação mediatizada das tecnologias avançadas é hoje tão grande que
terminamos por transferir nossos julgamentos de valor, nossa medida das
coisas do objeto para a sua figura, da forma para a sua imagem (Virilio.
1993:40).
Adota-se um novo princípio para o mundo: a crença em uma realidade do imaginário.
Para Flusser (2005:9), o homem passa a viver em função das imagens, ao invés de se servir
das imagens em função do mundo. As formas tradicionais de representar não dão conta de
traduzir o mundo, que se torna mais e mais uma representação de um imaginário técnico e
midiático. uma flagrante crise de referenciais do real, buscando-se no imaginário estes
novos referenciais. Diante disso, a capacidade imaginativa do homem de fazer e decifrar
imagens impõe-se de modo decisivo em sua maneira de interagir com o mundo. Livres do
vínculo com o mundo sico, as imagens estabelecem relações diretamente com o repertório
informacional do receptor, reforçando sua força cultural (Ferrara. 2002:63).
Uma característica da paisagem informacional é a dispensabilidade da experiência
imediata, aquela vivenciada quando estamos fisicamente presentes no ato do processo de
> 76
experimentação do fenômeno. Quando não podemos ter essa experiência imediata, as
mídias é que são as coisas para nós. Saber é aprender a ler a mídia nesses casos (Flusser.
2002:27). O problema é que quanto mais tecnicamente perfeitas as imagens, mais
pungentes também se tornam, e mais completamente elas substituem os fatos que
originalmente representaram. Os fatos tornam-se não mais necessários assim como a
experiência imediata dos acontecimentos geradores dos fatos. A percepção preparada para
lidar com as mídias fornece mais do que precisamos. Sabemos das coisas antes de
conhecê-las. Acostumados por essa percepção, quando acometidos pela imposição da
experiência imediata, automaticamente deturpamos o horizonte físico pela imaginação,
executando uma operação mental de tradução da forma em imagem pela passagem do
terceiro dimensional para o segundo dimensional, moldando o plano fragmentado.
A arquitetura, no entanto, não consegue se desvencilhar do seu passado mecânico
de superação da gravidade e participar da era da mídia eletrônica, afirma Peter Eisenman
(2006:602). Na arquitetura, diz ele, ainda é usado o termo discursivo do sujeito humano
dotado da visão monocular e antropocêntrica, iniciado na Renascença. Essa visão, continua
Eisenman, diz respeito a “uma categoria especial da percepção relacionada com a visão
monocular perspectivada”, que permite que todas “as projeções do espaço se resolvam em
uma única superfície planimétrica”. Para Venturi (2001) chegou o momento da mudança da
substância para o sinal e da forma para a iconografia. Ele propõe que devemos aprender
com o próprio ambiente ao redor, uma vez que o contexto ambiental é o que fornece
expressão a um edifício, e que mudanças nesse contexto causam mudanças na expressão.
Sugere que a arquitetura se ajuste à era da informa
> 77
sensível, o medium. A realidade da mídia é discursiva e a linguagem é considerada por ele
como mediação universal. Ele explica que:
(...) implica a midiatização, por conseguinte, uma qualificação particular da
vida, um novo modo de presença do sujeito no mundo, ou um bios específico
(...) midiatização deve ser pensada como tecnologia de sociabilidade onde
predomina a esfera de negócios, com uma qualificação cultural própria (a
‘tecnocultura’). O que se fazia presente, por meio da mídia tradicional e do
mercado consolida-se hoje com novas propriedades por meio da técnica
digital (Sodré. 2002:24).
Assim, de acordo com ele, entramos em um momento na história onde a esfera
civilizacional que circunda o homem é espectral, não mais substancial e táctil. É constituída
do impalpável, de uma ausência ou presença de luz, de um circuito fechado ou aberto, seja
imagem no cinema ou na fotografia. Tudo isso é cada vez menos substancial e mais visual.
Essa realidade é outra forma de vida. É um bios midiático, em que bios é igual a existência.
Com o desenvolvimento e a rápida disseminação do uso do computador como
ferramenta de trabalho para designers, ilustradores, gráficos e artistas, a peça única voltou a
ser possível e desejável na cena produtiva. Sua unicidade não está mais em seu conteúdo,
nem em ser fruto do esforço direto do artesão, mas em sua forma passível de
personalização, apesar de reproduzida tecnicamente. Essa condição tem sido denominada
de customização, que é a capacidade de transformar em único algo originalmente pensado
para ser produzido em série. A lista é cada vez maior: jeans, carros, interfaces gráficas e
apartamentos, adaptados ao gosto do cliente, ainda em sua fase de fabricação. A
“espacialização em série” da arquitetura moderna possibilitada pelo desenvolvimento de
materiais como ferro e concreto ou os produtos seriados das linhas de montagem ameaçam
promover uma reviravolta: o que era sistema artesanal é agora customização em série,
possibilitada pelo surgimento do computador e suas ferramentas e da última versão cada
vez mais individualista da sociedade do pós-modernismo.
As novas tecnologias de impressão parecem corresponder aos anseios dos artistas
que, desde a Renascença, desejavam através da pintura tornar o interior das igrejas
representações do paraíso idealizado pelo catolicismo em voga e, ao pintar os tetos dessas
construções, simulavam uma continuidade desta com o céu, morada de Deus. Era como se
na Igreja, o teto deixasse de existir, e esta, em verdade, estivesse fisicamente conectada
com os santos, anjos e outros habitantes do paraíso católico. O trompe l’oleil é a técnica
que ostenta a capacidade de simular a experiência táctil exclusivamente pela visão.
Atualmente qualquer pessoa com treino técnico suficiente pode querer ser um Michelângelo
e realizar em minutos o que para o artista levou anos. A novidade e o destaque que a
> 78
técnica recebe hoje é pelo seu alastramento e as transformações que essa massificação
causa na sociedade.
Se na física, dois corpos não podem ocupar ao mesmo tempo um lugar no espaço,
na comunicação é possível um espaço ser ocupado por duas imagens simultaneamente:
uma imagem conforma e a outra informa. Se a forma pelo seu volume e contorno nos diz
uma coisa, o que “realmente” vemos diz outra. São espacialidades ambíguas e dinâmicas. O
formato do suporte não mais necessariamente precisa corresponder à imagem.
Antigamente, a imagem era construída à semelhança do suporte, para que este não
interferisse na obra. A tela e a moldura usadas para suportar a imagem trabalhavam em um
nível semântico de submissão de um para com o outro. Se eram interdependentes, agora
são autônomos. Por exemplo, se o suporte é uma caixa d’água e a imagem recobre a
superfície dessa, ela não deixa de ser o que é: uma caixa d’água, agora evidenciada pela
sua silhueta. Isoladamente, a imagem aplicada tem o seu próprio universo referencial. Quem
determina o referente é o próprio usuário, dependendo da conexão que este desejar
assumir. A paisagem continua uma representação do real; o que mudou é a percepção do
que é o real agora.
Vista por vários ângulos, a sociedade contemporânea consolidou uma direção a ser
tomada da qual o sai ilesa: uma existência simbioticamente conectada à informação.
Adotar novas tecnologias não significa apenas atualizar-se. É, principalmente, comprometer-
se com uma nova ordem, sem paralelo que nos ensine como dar respostas às nossas
inquietações. Significa ir vivendo o que for sendo. O comprometimento a essa nova ordem,
com seus riscos e mistérios, é colocado em evidência nesse trabalho.
> 79
[2.3] Relação 2: ambiente e informação
Desde sempre, o mundo em sua multiplicidade indissociável, apresenta-se para
reconhecimento. Sua realidade, sua materialidade, sua geografia, sua inesgotável
constelação de descrições conformam uma rede de significações compartilhadas por um
coletivo heterogêneo em busca de sentido para os fluxos de estímulos a que estão
submetidos. Esse mundo, pelas imagens, sons, cheiros recebidos, pelas texturas, pelas
metáforas criadas, pelas significações culturais a nós transmitidas, pelas técnicas materiais,
as línguas, os textos e as palavras com as quais pensamos e elaboramos nossas
mensagens, tudo aquilo através do qual experimentamos e vivemos o mundo é,
precisamente, o próprio mundo.
O mundo é aquilo que percebemos a partir de um conjunto de sensações e é afetado
pelos diferentes sistemas que interagem em um lugar comum. Em vida, o ser humano, como
todos os seres vivos, nasce munido de instrumentos capazes de interpretar esse mundo: os
sentidos. A apreensão do mundo pelos sentidos não deve resumir o ato perceptivo, uma vez
que a mente também desempenha importante papel. Se o sensório é admitido como porta
de entrada das informações coletadas no mundo, a mente é que organiza a consciência
diante desses fenômenos, em um processo ativo de interpretação.
Para entender o que somos, o que carregamos em nosso interior e porque
produzimos um determinado pensamento, torna-se necessário produzir um olhar crítico
baseado em uma diversificada plataforma conceitual, para analisar como se dá nossa
formação como indivíduos. Nós somos o quê pensamos e também o quê pensamos que
somos, qual seja, a percepção que temos do mundo e a percepção que temos de nós
mesmos, idéia em sintonia com Arnheim ao afirmar que “perceber e pensar estão
indivisivelmente entrelaçados” (Arnheim. 1997:v). Pensar com os sentidos é a proposta
apresentada por ele como união entre percepção e pensamento e que “sem informação do
que es acontecendo no tempo e espaço, o cérebro não trabalha” (id, ibid), tornando a
operação necessária para gerar conhecimento capaz de influenciar comportamentos. Esse
pensamento seria impossível sem uma linguagem que o traduzisse. A linguagem é tida
como pensamento em potencial. Cabe uma indagação: o que precede a linguagem?
Merleau-Ponty pontuou que não temos nenhum texto para nos confrontar, pois não
linguagem antes da linguagem. Um pouco como fazem “nossas análises de pensamento,
como se antes de ter encontrado as suas palavras, ele fosse uma espécie de texto ideal
que nossas frases procurariam traduzir” (Merleau-Ponty. 2004:71). Tudo aquilo que
> 80
dissemos ou vamos dizer está contido nessa linguagem. Um texto ideal anterior à
linguagem. Deleuze chamou a isso de um continuum amorfo atmosférico. Continua ele:
é esse continuum amorfo que representa, por enquanto, o papel de
‘significado’, mas ele não pára de deslizar sob o significante para o qual serve
apenas de meio ou muro: todos os conteúdos vêm dissolver nele suas formas
próprias. Atmosferização ou mundanização dos conteúdos. Estamos na
situação descrita por Lévi-Strauss: o mundo começou por significar antes
que se soubesse o que ele significava, o significado é dado sem ser por isso
conhecido (Deleuze&Guattari. 2003:62).
[2.3.1] Interação e entorno
Como vimos, Gibson (1986:43) nos indica que “a essência de um ambiente é o
entorno de um indivíduo” ressaltando a importância dessa ligação entre indivíduo e entorno,
o qual, mesmo compartilhado com outros sujeitos, é um entorno privado e único, que,
levando-se em consideração que o indivíduo não esteja observando de um ponto de vista
estacionário, mas, em movimento, elaborando, desta maneira, um conjunto de
possibilidades de pontos de observação. Muito do que se pretende apreender, parte do
entendimento da interação do ser humano com o ambiente, ainda porque, sem este, não
o outro.
Nessa interação, a procura por informações é reflexo do envolvimento do indivíduo
com o ambiente e implica no preciso controle de suas ações, condicionando a formação de
sua identidade a partir da relação entre ação e uma dada percepção. Se, diante do resultado
da reconfiguração do entorno, a partir da inserção do gráfico ambiental, esta percepção faz
existir para nós o fora, o observador estabelece o significado dos estímulos do mundo que
ativam a vida dos sentidos. A percepção e o mundo sensível são como duas faces da
mesma moeda. O indivíduo não está distanciado do mundo, mas mergulhado nele.
Apreender o mundo como fenômeno e representá-lo em mediações
possíveis e incompletas é o grande avanço da ciência do século XX: aponta-
se para uma nova racionalidade que supera o afastamento epistemológico
entre o sujeito e o objeto científicos para envolvê-los na mesma conexão que
faz com que o mundo se apresente cognoscível, por que mediado por uma
representação que permite ao sujeito se reconhecer no objeto, ou seja, na
representação o sujeito encontra reflexos do seu próprio pensar (Ferrara.
2002: 58).
É impossível na descrição do mundo afastar completamente o observador do seu
entorno, uma vez que a perturbação causada pela observação é comparável aos próprios
fenômenos que estão sendo observados. Essa relação não tem começo nem fim, somente
meio. O observador está em meio ao entorno. Nas palavras de Deleuze (ibid.:113): “o sujeito
> 81
e o objeto oferecem uma aproximação do pensamento (...) Pensar se faz antes na
relação entre território e a terra”. Uma vez que o sujeito não está afastado do seu objeto,
mas imerso em uma inter-relação, que induz à geração de um outro sistema, que é a própria
idéia de relação sistêmica presente no pensamento de Uexküll,
nem objetivista, nem subjetivista (...) mas sistêmica. Isso quer dizer que ele
entendia o processo vital como um sistema coerente
> 82
percebemos aquilo que estamos preparados para interpretar (...) enquanto
isso, deixamos de perceber aquilo para cuja interpretação não estamos
preparados, embora exceda em intensidade aquilo que deveríamos perceber
com a maior facilidade se nos importássemos com sua interpretação (Peirce.
2003:227).
reforça o caráter interpretativo da percepção e da necessidade de um repertório a priori, um
modelo, através do qual a tomada de consciência do fato se dará através de associações
conscientes e inconscientes entre vários elementos. É uma interpretação, como é a própria
percepção do fato, já que ao perceber, como esclarece Peirce, estamos fazendo abduções,
tentando explicar o mundo exterior, interpretando-o. Aqui cabe explicar o conceito de
abdução de Peirce, segundo o qual é:
o processo de formação de uma hipótese explanatória. É a única explicação
lógica que apresenta uma idéia nova, pois a indução nada faz além de
determinar um valor e a dedução meramente desenvolve as conseqüências
necessárias de uma hipótese pura (id, ibid,:22).
A abdução é a hipótese explicativa, isto é, todas as possibilidades de explicação,
dentro das quais escolhemos uma ou mais para teste. Entende-se porque ele relaciona
abdução com instinto. A importância deste conceito no pensamento de Peirce fica aparente
quando alinhavado por ele com a classe dos juízos perceptivos, que juntos compõem a
noção de interpretação. Parece que Peirce quer deixar claro que juízo perceptivo é
necessariamente interpretativo e que conteria em si o elemento hipotético do pensamento
abdutivo. Este vigoraria quando da iminência de algo novo e surpreendente que pudesse
exceder nosso repertório e contrariar nossas expectativas. Assim, os fenômenos, que por
sua estranheza e singularidade atuam sobre nós, irão interferir em nossos hábitos e
crenças, alterando-os.
[2.3.2]
Crenças e hábitos
Por força do hábito é uma expressão popular bastante usada para indicar repetição
freqüente de um uso ou costume realizado de modo quase automático. Como se
programados para reproduzir sempre um mesmo processo, transformamos nosso cotidiano
em uma rotina sem questionamento. A ordem é perpetuar os ditames apreendidos. Peirce
dizia que a essência da crença é a criação de um hábito. Daí para o convencionalismo é um
passo. De tanta repetição, fundamos uma crença.
> 83
Pirandello nos brindou com um romance memorável, escrito em 1926, no qual seu
protagonista, Vitangelo Moscarda, após um insight que lhe acomete a partir de uma
revelação irônica de sua esposa - de que seu nariz era torto - dá-se conta de que não
possuía uma visão própria da realidade e se revolta contra esse determinismo de causas
indefinidas para ele. A vida até então era mansa e plena de certezas. Suas crenças
sustentavam seu pensar de maneira inabalável. A intranqüilidade em seu espírito seguida a
esse acontecimento reflete as mudanças no pensamento da época, intensificadas pelos
descobrimentos da ciência e das artes. Em um instante ele percebeu que, ao longo de sua
vida, a imagem que tinha de si mesmo havia sido construída pelos outros. Assim, havia mais
de cem mil eus” espalhados, todos construções subjetivas do que ele realmente era.
Conseqüentemente, não havia nenhum. Disposto a mudar essa relação, a ser um, tornou-se
obcecado em conhecer e decompor as imagens que dele faziam seus concidadãos.
Pirandello desvendou todo um sistema de normas de comportamento social, regras e
costumes. Em meio a seus delírios, Moscarda discutia consigo mesmo:
vocês acreditam que podem conhecer a si mesmos sem se construírem de
algum modo? E que eu possa conhecê-los sem construí-los um pouco a meu
modo? Podemos conhecer apenas aquilo que podemos dar forma (...) A
realidade que tenho para vocês está na forma que vocês me dão; mas é
realidade para vocês, não para mim. A realidade que vocês têm para mim
está na forma que eu lhes dou; mas é realidade para mim, não para vocês. E,
para mim mesmo não tenho outra realidade senão na forma que consigo me
dar. Como assim? Construindo-me (Pirandello. 2001:66).
Segundo Peirce, a fixação de uma crença é atingida pela ação do pensamento e
antecedida por um estado de excitação própria da dúvida. Em muitos casos, a força do
hábito poderá levar o sujeito a prender-se durante um tempo a crenças já arraigadas,
mesmo sabendo-as sem fundamento, como no nosso exemplo.
A dúvida significa um necessário momento de reflexão que possibilita a escolha do
caminho a trilhar. Assim define Flusser o tema:
a dúvida é um estado de espírito polivalente. Pode significar o fim de uma fé,
ou pode significar o começo de uma outra (...) Em dose moderada estimula o
pensamento, mas em dose excessiva paralisa toda atividade mental
(Flusser.1999:17).
A dificuldade de revisão das crenças atesta uma natureza humana tanto insegura
quanto crítica da inovação, acomodada pela certeza.
A dúvida desfaz a ingenuidade e,
embora possa produzir uma fé nova e melhor, esta não pode mais ser vivenciada como boa.
> 84
As certezas originais, abaladas pela dúvida, são substituídas por novas certezas, mais
refinadas e sofisticadas, porém não mais originais, exibindo a marca da dúvida que lhes
serviu de origem.
A partir deste ponto, surge um processo de contaminação de pessoa a pessoa, uma
metástase sensória, uma forma de contágio de significações compondo uma rede de
percepções programadas anulando a possibilidade da inovação. Dessa forma, uma
percepção dotada de significação é inoculada em um indivíduo, que reage e por sua vez
inocula em um próximo, e dessa maneira,
a interpretação estende-se ao infinito, e nada jamais encontra para interpretar
que não seja uma interpretação. Assim, o significado não pára de fornecer
novamente significante, de recarregá-lo, ou de produzi-lo. A forma vem
sempre do significante. O significado último é então o próprio significante em
sua redundância ou seu excedente (Deleuze&Guattari. 2003:65).
[2.3.3]
Palavra breve
O pensamento seria impossível sem um sistema de símbolos e sinais que o
traduzisse. Esse sistema é a língua, que pode ser definida como o suporte material de um
sistema de sinais e dos conceitos semânticos desses sinais e que para Flusser é igual à
totalidade daquilo que é apreendido e compreendido, isto é, a totalidade da realidade.
(Flusser. 2004:201). Tudo aquilo que dissemos ou vamos dizer está contido nessa língua.
No entanto, assim como usamos a língua como um instrumento para nos expressar,
a língua da mesma forma e ao mesmo tempo nos modifica e influencia. É preciso destacar
que a linguagem não é esse conjunto de regras gramaticais que usamos para tornar
nossos sons inteligíveis. Ela interage com o indivíduo e é a ponte de ligação do indivíduo
com o grupo social no qual está imerso. Dito de outra forma a língua, enquanto ponto de
partida social do pensamento individual, é a mediadora entre o que é social, dado, e o que é
individual, criador, no pensamento individual. O que aprendemos vem através da língua.
Nela está contida todo um conhecimento anterior, toda a carga de experiências vividas e
selecionadas de gerações anteriores à nossa. Desde conhecimentos básicos, instintivos,
ligados à nossa sobrevivência e relacionados à preservação de nossa espécie, até formas
mais sofisticadas de pensamentos conceituais ligados, por exemplo, às artes e às ciências.
Nascemos com a capacidade de aprender e falar. A língua se apropria das
experiências anteriores, parte para repassá-las; apropria também nossas experiências
individuais e por sua vez irá repassá-las às gerações futuras, num ciclo contínuo. O seu
significado depende de quem a está empregando, ou seja, é fruto de uma ação recíproca
> 85
entre pessoas de um grupo social. No dizer de Bakhtin, a palavra é o fenômeno ideológico
por excelência. A realidade toda da palavra é absorvida por sua função de signo. A palavra
não comporta o que não esteja ligado a essa função, nada que não tenha sido gerado por
ela. A palavra é o modo mais puro e sensível de relação social (Bakhtin. 1992:36).
Atravessando a teoria semiótica, é possível uma definição de signo como sendo a
menor unidade da linguagem dotada de sentido. Portanto, quando é ressaltado o caráter de
signo ideológico da palavra está se querendo dizer que a palavra adquire um sentido que
ultrapasse sua própria particularidade. E é exatamente nessa distância, no intervalo entre a
coisa e sua representação sígnica que reside o ideológico. É importante entender as
implicações dessa ideologia. Dentro do nosso problema isso quase quer dizer que tudo o
que elaboramos com a linguagem é carregado de ideologia. Essa ideologia começou a ser
apresentada a nós no processo de aprendizado. A ideologia nasce no nosso cotidiano. Uma
vez que os signos podem ser constituídos dentro de um grupo social, nunca apenas num
único indivíduo, mas, sim entre indivíduos organizados, formando assim o seu meio de
comunicação. Mas, se os signos são frutos de uma experiência exterior, social, em entra o
individual, ou melhor, a nossa consciência individual, que é afinal o que pretendemos
identificar? Isso fica mais claro se compreendido como surgem as ideologias.
Na análise marxista de Bakhtin, a infra-estrutura é quem determina a ideologia. De
acordo com a visão marxista existe a infra-estrutura que é a base, a realidade, o campo
econômico do dia-a-dia. A superestrutura o as idéias, como política, filosofia etc. Os
conflitos, os interesses dos acontecimentos na base é que dão surgimento às ideologias.
Sabemos que sem signos não existe ideologia. Assim como os signos, a consciência
individual é formada no exterior e não no interior do indivíduo e a consciência adquire forma
e existência nos signos criados por um grupo organizado no curso de suas relações sociais
(op. cit.). A consciência individual recorre aos signos para se construir e desenvolver, sendo
seu único conteúdo, sem o qual ela não existe
.
[2.3.4]
Ideologia e estereótipo
É necessário entender claramente essa função ideológica da palavra. Ela é a forma
mais imediata e básica de relação social entre os indivíduos. No entanto, a palavra, quando
transmitida, vem carregada com outro significado, algo além de si mesma. Se foi chamada
de ideologia, também pode ser chamada de estereótipo. Palavra e estereótipo estão
fortemente relacionados. É muito difícil conseguir distinguir o caráter conceitual do aspecto
estereotípico da palavra. Mas, se ficou claro como a consciência individual existe no
> 86
âmbito do campo social, podemos supor que outros fatores atuam na consciência individual
a ponto de influenciar o comportamento de uma pessoa, que é o escopo dessa análise. O
estereótipo tem um papel decisivo como fator de influência nesse comportamento. Ele
estampa um significado na mente a ponto de o reconhecermos a existência dele, e que
vem a alterar a percepção e conseqüentemente a ação, traduzida em comportamento.
Diz Walter Lippmann (1980:151) que “na maior parte das vezes, não vemos primeiro
para depois definir, mas primeiro definimos e depois vemos”. Tal economia de pensamento,
como diz Lippmann, é uma forma cômoda de percepção da realidade. Ao não se dar ao
trabalho de construir uma percepção própria, adquire-se uma pronta para uso. No dizer de
Mikhail Bakhtin “converte-se, assim, em signo o objeto físico, o qual, sem deixar de fazer
parte da realidade material, passa a refletir e a refratar, numa certa medida, uma outra
realidade” (ibid:31). Mas, se os estereótipos parecem vírus conceituais, como nos
contaminamos? Justamente no processo de formação da linguagem, quando a educação
transmite o saber social acumulado, não só sob a forma da linguagem na sua unidade com
o pensamento, mas, também sob a forma dos sistemas de valores e, por conseqüência dos
estereótipos dos comportamentos humanos. Conseqüentemente sofremos a contaminação
dos estereótipos desde cedo e imediatamente os colocamos em prática de forma
pragmática. Se nossa visão de mundo é contaminada de estereótipos, portanto as nossas
opiniões também o serão. Lippmann afirma que isso é uma forma cômoda de percepção da
realidade, a qual denomina de economia de pensamento. Não nos damos ao trabalho de
construir uma percepção própria. Adquirimos uma pronta para uso, pois nem sempre
estamos dispostos à aventura da percepção; mais fácil enxergarmos as coisas que povoam
nosso mundo através das mediações impostas.
Os piores problemas acontecem quando defendemos essas visões impostas como
sendo um conhecimento inquestionável e imutável. Trocamos inicialmente nossas próprias
opiniões pelas alheias porque acreditamos nas instituições que estão para nos educar.
Não geramos conhecimento que seria, segundo Adorno, a opinião verificada. E se ficamos
passivos utilizando opiniões alheias, a nossa consciência se enfraquece, tornando-nos
acomodados e conformistas, com grandes chances de desenvolvermos preconceitos com
graves conseqüências em nossos comportamentos. Na medida em que nos tornamos
indivíduos sociais precisamos ficar atentos aos elementos que aderem e se incorporam à
nossa estrutura. São esses que vão nos moldar enquanto consciências individuais, para que
possamos desenvolver um conhecimento próprio, isento de estereótipos e preconceitos,
conscientes dos mecanismos de dominação ideológica do sistema social em que estamos
inseridos, no curso de nossas vidas, no prosseguir do nosso cotidiano. Canevacci, ao falar
> 87
de comunicação urbana, envereda pelo mesmo caminho e atesta a formação e cristalização
de estereótipos também nos espaços urbanos. Ele diz que esta é uma comunicação do tipo:
...dialógica e não unidirecional. Em algumas paisagens urbanas, com o
passar do tempo um conjunto de signos se estratifica (na memória individual,
de um casal, ou de um grupo), tornando-as exemplos de alguns
comportamentos que podem criar tendências, isto é, retomam os
movimentos comportamentais de estratos significativos da população, os
quais terminam por assumir uma função que atrai também os outros estratos,
como um modelo em que se experimenta e se realiza o grande jogo dos
códigos urbanos (Canevacci. 2004:23).
[2.3.5
] Memória e cultura
Hábito sugere um sistema de normas e regras, indica também repetição em um eixo
temporal, evidenciado pela disposição de algo
se ajustar num determinado tempo histórico
dentro de uma civilização.
Não se atribui hábito à primeira vista. Na memória, os hábitos são
gravados, arquivados e, posteriormente, ativados pela experiência cotidiana. É a base da
experiência futura, ou seja, do que se tem hoje, a partir de experiências passadas, que
moldarão pensamentos e comportamentos futuros. A memória, então, processa e armazena
todo um conjunto de experiências com o propósito de operar ação, de maneira análoga a
um sistema operacional (programa) de computador. Todo um conjunto de mecanismos de
controle, regras e instruções que comandam o comportamento humano e que transformam
a experiência imediata em um sistema de signos.
A memória coletiva, para além da consciência individual, que “não apenas armazena
informações como também funciona como um programa gerador de novos textos,
garantindo assim a sua continuidade” (Machado. 2003:54), é chamada de cultura. Lotman
adota como concepção de cultura “todo o conjunto de informação não hereditária como a
memória comum da humanidade ou de coletivos mais restritos nacionais ou sociais”
(Lotman. 1981:101), considerando cultura como sistemas comunicativos baseados em um
sistema semiótico que é a linguagem cultural.
A cultura poderia ser examinada como um sistema de textos que podem ser
armazenados e transmitidos, que necessita não de um código para decifrá-la, como
também de um sistema complexo de construção de modelos culturais do mundo. A
semiótica da cultura ajuda a descrever as relações existentes entre diferentes sistemas,
assim como a entender o emprego de um determinado signo em conteúdos modificados.
Vem desta teoria a idéia aqui em uso de texto, como qualquer comunicação que se tenha
registrado num determinado sistema, como também a sua transformação de sentido,
propiciada pelo contato entre diferentes sistemas de signos
.
> 88
Para Lotman, a cultura tem em seu interior um dispositivo estereotipizador, isto é, ela
transforma elementos em estereótipos, para poder organizar estruturalmente o mundo que
rodeia o homem, gerando estruturalidade, no sentido de dotar de estrutura os sistemas que,
por natureza, não dispõem de um modo organizado ou de uma codificação para a
transmissão de mensagens a partir de uma linguagem natural. A estruturalidade é o ponto
de partida dos sistemas modelizantes e se define como uma fonte ou um modelo a ser
aplicado. Modelizar é conferir estruturalidade e corresponde à busca de uma
gramaticalidade, uma organização da linguagem, a um sistema cultural.
[2.3.6] Informação Disponível
que as noções de cultura e informação estão fortemente relacionadas, melhor
apreciar de perto o conceito de informação mais adequado ao trabalho, que seu uso é
bastante utilizado. Pelas pioneiras teorias matemáticas de Shannon, todo conteúdo
específico da informação poderia ser abstraído, restando apenas a forma de decisão entre
duas alternativas possíveis. A unidade básica de informação seria um dígito binário, a
quantidade mínima de informação necessária para escolha de uma mensagem afirmativa ou
negativa, um ou zero. Em conseqüência, a informação
> 89
A mensagem parte de uma fonte, onde é codificada e emitida através de um
transmissor, passa por um canal de comunicação e chega ao receptor depois de
atravessada por um sistema de decodificação. Abraham Moles ao recorrer a essa matriz
teórica considerou informação em termos quantitativos mas, também, em termos de seu
valor de uso, isto é, como o receptor faz uso dos seus conhecimentos para determinar sua
conduta. Assim, tanto maior é o valor da informação quanto maiores forem as modificações
no comportamento do receptor, o que quer dizer informação não necessariamente mais
longa e sim, mais nova. O valor es ligado ao inesperado, ao imprevisível, ao original
(Moles. 1978:36). A teoria de Wiener deu aos fenômenos comunicacionais um outro nível de
descrição, seja ao colocá-los no centro da investigação de como é possível conhecer as
mensagens, seja ao revelar as condições entrópicas em que se dão o trânsito das
mensagens; ou, ainda, ao demonstrar que a capacidade de trocar mensagens nem sequer é
uma competência exclusiva dos humanos. Ao usar um novo conceito na Física, o dos
processos de não-equilíbrio, a que chamou de entropia, inovou ao usar esse conceito para
auxiliá-lo na formulação da sua teoria da informação.
Essas teorias combinam importantes noções que encaminham a definição de
informação para algo que é basicamente transmissível entre emissor e receptor com algum
tipo de intermediário de transmissão envolvido no processo. No entanto, sabemos que a
informação disponível no ambiente não é transmitida por um canal. Neste aspecto, o
entendimento do conceito gibsoniano de informação é central para a compreensão da
atividade humana e suas relações com o meio ambiente, com referência especial aos
processos de percepção, cognição e ação.
Para Gibson (1986), a informação é exterior ao indivíduo, estando disponível e não
necessitando ser interpretada. Para ele, o mundo não fala ao observador. A informação
simplesmente está lá. É como assumir que o ambiente é a própria informação. Luz, sons,
texturas, odores, estarão lá para todo o sempre, sugerindo uma inesgotabilidade da
informação. A informação disponível para a percepção não pode ser interpretada como um
conhecimento comunicado ao recebedor e nem mensurada como Shannon propôs. Gibson
nos diz que:
a informação do arranjo-ótico difere radicalmente da informação de entrada
sensorial. É informação na luz, não nos impulsos nervosos. Envolve projeção
para um ponto de observação, não comunicação entre emissor e receptor.
Está fora do observador e disponível para ele, não dentro do observador.
Apenas tem que ser assistida, não tem que ser interpretada
1
.
1
GIBSON, James J. Information in Visual Theory in: < http://www.huwi.org/gibson/theory.php> extraído em 30/03/2006 Texto
original: “Optic-array information differs radically from sensory-input information. It is information in light, not in nervous
impulses. It involves projection to a point of observation, not communication between a sender and receiver. It is outside the
observer and available to him, not inside the observer. It has only to be attended to, it does not have to be interpreted”.
Tradução do autor.
> 90
É importante entender que para Gibson, mesmo que a informação seja visual e
passe pelo sentido da visão, não significa dizer que é transmitida por fibras nervosas através
de algum tipo de código sensorial. A informação não é exatamente uma luz que ativa os
fotorreceptores, ela está na luz que ativa o sistema; a informação pode ser entendida como
uma especificação do ambiente e não como uma especificação dos receptores do indivíduo.
Luz, na concepção gibsoniana, é luz ambiente, como resultado de iluminação, e se projeta a
um ponto de observação. Esta pode ser entendida pela luz que circunda um determinado
ponto, em um espaço ocupado pelo observador. Para Gibson, trata-se da informação sobre
um ambiente para um animal. Ele afirma que esta apresenta dois aspectos inseparáveis
informação sobre o ambiente, denominada de invariantes e informação para o indivíduo,
denominada de affordances. Uma affordance aponta para os dois sentidos, tanto o ambiente
como o observador. É um fato do ambiente, e é um fato do comportamento. Hall diz que
uma cena contém informações que se compõem a partir de uma série de elementos
diferentes (Hall. 2005:235). O ambiente, para Gibson, não é o mesmo que o mundo físico,
aquele descrito pela Física. O ambiente de animais e homens é o que eles percebem.
[2.3.7] Do processamento da informação ao processo de significação
O que se busca é compreender como se dá, dentro de uma perspectiva ambiental, a
relação entre indivíduo e ambiente até o ponto em que se a significação, deste com
aquele. A significação como um processo, não como algo acabado e a informação como
variável, não como algo transmissível. Lotman aporta uma explicação segura sobre o
assunto:
a vida de todo ser representa uma interação complexa com o mundo que o
rodeia. Um organismo incapaz de reagir às influências externas, nem de
se adaptar, pereceria inevitavelmente. A interação com o exterior é atividade
de recepção e deciframento duma informação determinada. O homem é
inevitavelmente arrastado num processo intensivo: ele está rodeado por uma
vaga de informações através das quais a vida lhe envia seus sinais. [Porém],
se estes sinais não são entendidos e a informação não é compreendida,
perdem-se possibilidades importantes na luta pela sobrevivência (Lotman
apud Machado. 2003:149).
A capacidade de processar a informação em códigos é condição da vida. Para
Luhmann (2005:38) o código é formado de dois lados, o interno e o externo. Entre eles
uma distinção, uma diferença condutora que determina as operações que pertencem ao
sistema e aquelas que ocorrem no ambiente externo a ele. O sistema idealiza uma visão
> 91
dúplice do mundo a partir da qual podem ser assinaladas e ordenadas diferenças. O código,
desde o seu interior, ordena os elementos do mundo sob a forma de informação, que
distribui para as redes das relações sociais. O código emerge como um esquema que
permite compreender o mundo como um conjunto ordenado de semelhanças e diferenças,
de forma a torná-las acessíveis à comunicação, uma chave que permite a escolha dentro
de um conjunto de possibilidades. O pensamento de Luhmann não é limitado por essa idéia
de código informação/não informação. Para ele são necessários também programas que
“classifiquem aquilo que pode ser esperado como informação e o que permanece sem valor
informativo” (Luhmann. 2005:38). Essa informatividade, caracterizada como qualidade
imprevisível da informação, ajuda a entender a necessidade de codificação/decodificação
como operador da compreensão de um texto. Quando detectado um novo tipo de
informação no sistema, um novo código deverá ser criado para processar essa nova
informação. Daí, o conceito de informação de Bateson ser preciso para Luhmann.
Segundo Bateson, informação pode ser sucintamente definida como “qualquer
diferença que num acontecimento posterior faz a diferença” (1972:381), referência à
cibernética lidada aqui. Esta explicação aponta para o princípio do processamento da
informação: só há o reconhecimento da informação após esta ter sofrido uma transformação
avaliativa na mente. O input sensorial não é responsável isoladamente pela categorização
da informação. Após o input sico, através de mecanismos processadores (programas)
que acessam a memória, há a identificação e a interpretação da informação.
Este princípio nos leva a considerar todo o processo de significação como um jogo
formal de diferenças. A própria linguagem é sempre um relacionar de significados, e
processos de significação são jogos de diferença a partir de leituras. Todas as leituras são
possibilidades de leituras, mas apenas algumas serão legitimizadas, isto é, apenas algumas
serão aceitas como válidas dentro de determinada comunidade interpretativa, como explica
Ferrara (2004:7):
toda ação interpretante é, pois, uma relação entre uma representação
presente e outras representações possíveis, eventuais e virtuais. O resultado
dessa relação é o significado de uma linguagem.
A necessidade de evidenciar e elencar estas conexões, é para que através das
ligações estabelecidas entre as partes, uma nova significação destaque-se do emaranhado
original e fique em evidência para ser relatada. Deleuze desenvolve a idéia de que
é preciso, então um mecanismo secundário a serviço da significância: é a
interpretância ou interpretação. Neste caso o significado assume uma nova
figura: deixa de ser esse continuum amorfo, dado sem ser conhecido, sobre o
qual a rede dos signos lançava sua malha. A um signo ou a um grupo de
> 92
signos corresponderá uma parte de significado determinado como conforme,
conseqüentemente conhecível (Deleuze&Guattari. 2003:65).
Dependendo de como arranjamos este sistema obtemos conexões que nos dão
conta das mais diversas interpretações.
Capítulo 3 >
> 94
[3.1] Ponto de Chegada
Até o momento, a pesquisa mostrou as condições construtivas do Gráfico Ambiental
e os conceitos gerais que o envolvem. É dado o momento de ceder vez ao movimento de
leitura desse Gráfico Ambiental como um todo acabado, ou seja, com todas as instâncias
presentes. Ao assumir essa operação, a intenção é colocar-se no papel do observador e,
através da substituição deste, integralizar a formação do Gráfico Ambiental. Para se
alcançar isso, intentou-se recorrer ao uso da noção de texto e dos conceitos de legibilidade
e leiturabilidade, como segue.
A partir da escolha dos exemplos, procuramos identificar a estratégias de quem
organizou em relação a um ponto de vista. Será analisado como é o sistema construtivo do
Gráfico Ambiental em questão, avaliando se a estratégia construtiva adotada alcança a sua
finalidade, utilizando para isso o critério da legibilidade e da leiturabilidade. Ressalte-se,
mais uma vez, que o conteúdo em si da mensagem não nos importa. O que está em jogo é
o funcionamento das peças.
Com o propósito de estabelecer controle sobre o mecanismo de leitura, a
organização do material carrega a lógica de sua construção gnica. Desmantelar essa
construção é o procedimento que permite entender os mecanismos e os modos de inscrição
na peça, a fim de atingir a comunicação desejada. Significa passar a entender a peça como
um sistema de linguagem e não mais apenas como um conjunto de signos. Para que isso
ocorra, o observador precisa ser estimulado a iniciar o processo de associação e promover
a mente como recurso para compreender e interpretar o sentido da obra. Esse salto é o que
acompanha a passagem do visual para o visível, da visualidade em visibilidade. É preciso
“olhar para ver” considerou Merleau-Ponty (Déjean apud Merleau-Ponty. 1999:312).
> 95
[3.2] Textos Gráfico-Ambientais
Lynch (1997:04) desenvolveu em 1960, em seu estudo sobre a fisionomia das
cidades, o conceito da imagem ambiental como um quadro mental do mundo físico exterior
criado para reconhecer e padronizar ambientes. No seu pensamento, imagem e ambiente
integram-se, evidenciando uma interação do indivíduo e seu corpo com o ambiente. Ao
embasar o estudo das cidades dentro de uma postura fenomenológica, menos social e
cultural, pensamento hegemônico na época, Lynch inovou e muito. Ainda mais quando
revelado que a imagem ambiental é produto da sensação imediata (apreensão pelos
sentidos) da lembrança de experiências passadas (processamento pela mente) para
interpretar as informações (significação) e orientar a ação (comportamental). Estes passos
que, para Lynch, compõem a imagem ambiental aproximam-se conceitualmente do eixo de
análise desenvolvido pela noção de paisagem e seu correspondente fenomênico, a imagem,
a partir de um ponto de vista individual do observador. Lynch promoveu a legibilidade como
qualidade a ser perseguida e elencou as variáveis que atuam em uma cidade no sentido de
esta projetar uma apreensão facilitada de si mesma.
Para Flusser (2002: 21) existem dois tipos de textos: o das linhas escritas e o das
superfícies. O primeiro corresponde ao alfabeto ocidental, que se caracteriza pelo processo
seqüencial de leitura. Já o segundo representa o mundo das imagens, a exemplo da
fotografia, da pintura e do cartaz. Enquanto no texto das linhas escritas, o esforço de leitura
é realizado linha a linha, da esquerda para a direita, de cima para baixo, numa seqüência
imposta para nós pelas próprias regras estruturais convencionadas de composição; no texto
das superfícies, o olhar assimila inicialmente o todo, em um golpe de vista (Flusser. 2001:
7), para depois vaguear imprecisamente pela imagem para captar as relações que
compõem a imagem registrada. Na leitura do texto das superfícies, procedemos a primeiro
uma síntese (reunião do todo) para depois efetuar a análise, que é o processo de decompor
o todo e examinar como as partes se relacionam. No texto da linha escrita, ao final da sua
leitura, captamos a mensagem a partir de um pensamento conceitual. No texto de
superfície apreendemos a mensagem de imediato e depois, a partir de um pensamento
imaginativo, a traduzimos em conceito. Verifica-se que ambas as leituras dispõem de
temporalidades bastante distintas. É a mesma oposição entre o tempo contínuo da história e
o tempo fragmentado da montagem cinematográfica.
Outra maneira de se entender essa relação é por meio da lógica adotada pelo
operador, quando está diante de um texto múltiplo que mistura texto de superfícies e textos
> 96
de linha escrita. Nesta última, a associação adotada é de contigüidade, ou seja, a lógica da
sintaxe verbal linear do sujeito-predicado-complemento (Ferrara. 2004:08), realizada
seqüencialmente. na primeira, a lógica em uso é de similaridade, cuja forma de atuar é
do reconhecimento/comparação, método que obriga o leitor a buscar em seu repertório
pessoal, através da memória, elementos que se encaixem e dêem sentido à sua
observação.
Daí a questão fundamental: percebe-se que dois processos de leitura envolvidos
no manuseio de textos e de superfícies. Nas imagens, uma etapa inicial onde uma
tomada geral e uma decodificação imediata . Essa etapa é realizada a partir da visualidade
e consiste na identificação dos códigos presentes no texto. O tempo dessa operação é
curto, a apreensão é imediata e o código é rapidamente reconhecido. A base dessa
operação é o sentido da visão, de forma análoga a um texto escrito em que se reconhece de
> 97
não perturbar o hábito perceptivo dos receptores (ou potenciais consumidores). Desse
modo, a sua tão propagada criatividade se justamente no território que transforma a
visualidade em visibilidade. É o momento em que se podem testar caminhos que acelerem a
tomada de consciência através de atalhos criativos. Quanto mais efetiva for essa passagem,
maiores as chances de convencimento ou persuasão.
> 98
[3.3] Leituras do Mundo
Para o senso comum, o principal objetivo ao ler uma obra é a compreensão do seu
conteúdo. Por vezes, creditamos a nós mesmos o não entendimento de uma peça literária,
uma obra de arte, um filme, um cartaz, um desenho, uma propaganda, ou mesmo um
objeto, a partir de uma sensação pessoal de vazio repertorial. Porém, outras vezes essa
carência de entendimento pode ser creditada às armadilhas posicionadas pela natureza
sintática dos objetos em observação, decorrentes do mau arranjo dos elementos que
elaboram essa sintaxe
.
Vale lembrar que, antes de aprender a ler e a escrever a palavra, aprendemos a
conviver e a identificar os elementos que o mundo apresenta. A leitura do mundo precede
sempre a leitura da palavra. Sabemos identificar as coisas ao nosso redor antes mesmo de
aprendermos a palavra que representa essa coisa. O estabelecimento das bases de uma
linguagem ambiental, apoiada na prática de uma linguagem visual, aliada à uma percepção
do ambiente é fundamental para a formação da consciência individual, a qual permite uma
leitura do mundo. Nessa linha, Paulo Freire, ao lembrar que em sua terra, antes de aprender
a ler e a escrever a palavra, aprendeu a conviver e a identificar os elementos que o mundo
apresentava a ele, em um sítio onde morava, com uma casa rodeada de árvores, anuncia
que “a leitura do mundo precede sempre a leitura da palavra e a leitura desta implica a
continuidade da leitura daquele” (Freire. 1992:11).
As cidades, as ruas, são o pano de fundo, o cenário no qual nossas vidas são
encenadas. Se as crianças ao brincarem nas ruas percebem os elementos que compõem
seus ambientes, familiares e sociais, quando adultas, com a mesma naturalidade,
perceberão o mundo ao seu redor, não se opondo à transformação do entorno. Diz Paulo
Freire (ibid,:20) “que a leitura da palavra não é apenas precedida pela leitura do mundo mas
por uma certa forma de ‘escrevê-lo’ ou de ‘reescrevê-lo’, quer dizer, de transformá-lo através
de nossa prática consciente”.
Todas as leituras são possibilidades, mas nem todas serão legitimizadas, isto é,
apenas algumas serão aceitas como válidas dentro de determinada comunidade
interpretativa: “toda ação interpretante é, pois, uma relação entre uma representação
presente e outras representações possíveis, eventuais e virtuais. O resultado dessa relação
é o significado de uma linguagem” (Ferrara. 2004:07).
[3.4] Operações de leitura
gráfico-ambiental
>
> 3.4.1- Empacotamento de edifícios e construções
fig. 48
fig. 49 fig. 50
fig. 51
fig. 52
Médium
Lona Vinílica com
Impressão Digital.
Meio-tópico
Paredes de alvenaria.
Descrição
Condição de Legibilidade
Ótima. As peças estão bem
impressas, nítidas e
aparentando boa definição
de cores. O material está
bem instalado, sem rugas.
Condição de Leiturabilidade
> 100
Nessas duas gigantografias
percebe-se a intenção do
organizador de adequá-las ao
meio-tópico como lugar de
passagem. As imagens
aplicadas no edifício foram
preparadas para serem vistas de
dentro de carros e a do prédio
histórico para ser visto por
pedestres. Houve o cuidado de
ajustar as imagens
especialmente para cada face do
edifício.
Muito boa. A mensagem é clara nos dois exemplos.
Há o predomínio de imagens característico de peças
posicionadas em vias expressas. A peça da Fig.52-51 utliza
referências cômicas locais para elaborar um material que terá
longa duração.
> 3.4.2 - Ambientação Cenográfica
fig. 53
fig. 54
fig. 55
> 101
Médium
Vinil adesivo com
impressão digital.
Meio-tópico
Parede de alvenaria (Fig.53,54)
e teto (Fig.55).
Descrição
A ambientação cenográfica procura o
envolvimento do visitante. O lugar
específico, os móveis, as luzes aguçam a
percepção do observador para aquilo que
está sendo exibido. Nesses dois interiores
de uso comerciais, uma loja de roupas e
um escritório de arquitetura, o visitante é
apresentado tem ao estilo de cada um.
Condição de Legibilidade
Ótima. Peças esteticamente agradáveis
com acabamento esmerado e bem
aplicadas nos respectivos meios-tópico.
Condição de Leiturabilidade
Excelente para o teto e boa para as
paredes. A mensagem do teto tem teor
leve para funcionar como ambientação,
enquanto na parede do escritório de
arquitetura a profusão de imagens de
edifícios, todos projetos do próprio
escritório, causa confusão entre eles.
> 3.4.3 - O edifício/fachada como suporte para comunicação
fig. 56 e 57
fig. 58
> 102
Médium
Vinil adesivo com impressão
digital (Fig. 56, 57);
lona vinílica com impressão
digital (Banner – Fig. 58).
Meio-tópico
Fachada em vidro (Fig.56,57);
fachada de alvenaria (Fig.58).
Descrição
Dois casos de lugares especializados em
abrigar eventos. A comunicação do evento
que acontece no interior é projetada para o
exterior, aproveitando todas as
particularidades construtivas dos edifícios
como suporte material. O material se adapta
ao lugar específico. Isso fica claro ao
perceber-se como os banners com os rostos
estampados estão igualmente intercalados
com as colunas. No outro exemplo, ampla
porta de entrada é evidenciada pela
ausência do grafismo.
Condição de Legibilidade
Apenas razoável nos dois exemplos.
Condição de Leiturabilidade
Não há mensagem clara nos grafismos,
que servem como identidade visual para
o evento. No museu, a leiturabilidade foi
bastante comprometida; a mensagem é
pouco clara.
3.4.4 - Envelopamento de interiores
fig. 59
fig. 61
> 103
Meio-tópico
Piso( Fig.61);
todo o interior( Fig.60,61).
Médium
Tipos variados de vinil adesivo com
impressão digital com destaque ao
material de piso específico para
trânsito intenso.
Descrição
São três exemplos de prática de
envelopamento de lugares.
No exemplo da Fig.61 vemos só a
fotografia que destaca o piso. Na
Fig.60 o lugar específico foi
inteiramente forrado por imagens,
alterando sua configuração sígnica.
Na Fig.59 a intenção do organizador
não está clara, indicando
descontrole na operação criativa.
Condição de Legibilidade
Ótima na Fig 61, boa na Fig 60 e bastante
comprometida na Fig. 59
Condição de Leiturabilidade
Muito na boa nas Fig. 61,60 e péssima na
Fig.59.
fig. 60
> 3.4.5 - O Gráfico Ambiental com outra função: abrigar
fig. 62
> 104
Médium
Estrutura metálica com acrílico
moldado e retroiluminação.
Descrição
Uma cobertura que se projeta no
espaço herdeira da função de
identificar ou um Gráfico Ambiental
que herdou a função de cobrir? O
fato é que a peça comunica pelas
cores, pela conformação espacial
causada pela sua projeção e pelo
logotipo dimensional que lá está.
Meio-tópico
Piso, pelo material que o
sustenta e espaço aéreo, pela
posição que assume.
Condição de Legibilidade
Excelente. Leitura e identificação
imediata. Ótimo posicionamento
espacial atingindo o observador que
trafega de carro.
Condição de Leiturabilidade
Excelente. O observador mesmo
desatento consegue captar sua
presença e a mensagem disponível.
> 3.4.6 - Empacotamento de Veículos
fig. 63
fig. 64
fig. 65
fig. 66
> 105
Médium
Vinil adesivo com impressão
digital.
Meio-tópico
Superfície dos veículos.
Descrição
Quando executado com equilíbrio, sem
exageros, o impacto visual que este
dispositivo causa é enorme. Não há quem
fique omisso à sua presença. O destaque
é carro de fórmula 1 da Honda que foi
coberto com a imagem de uma foto de
satélite, como que sugerindo uma
preocupação ecológica. Com
certeza,.uma influência do carro de rua
em um fórmula 1, com obrigação de
comunicar.
Condição de Leiturabilidade
Relativa. A captação de mensagem
depende mais do ponto de vista do
observador.
Condição de Legibilidade
Média. Se composto por muitos
elementos a mensagem tende a se
dissipar. Enquanto a visualidade
cresce, a visibilidade decresce.
> 3.4.7- Gráfico Ambiental como
substituto de desenho
arquitetônico
fig. 67
fig. 68
fig. 69
> 106
Médium
Lona vinílica com impressão
digital e estrutura metálica
(Fig. 68 e 69) e vinil adesivo com
impressão digital e estrutura de
madeira(Fig. 67).
Meio-tópico
Parede alvenaria (Fig. 69);
piso(Fig. 67); piso (Fig.68).
Descrição
Cada vez mais comum na cena urbana, é o
atestado prático da fórmula de Venturi, da
arquitetura com frente iconográfica e fundo
funcional. O destaque vai para a agência de
propaganda de São Paulo que cobriu totalmente
sua fachada com uma imagem de floresta
(Fig.68), dando o tom de ativismo ecológico..
Causa grande impacto visual pelo
estranhamento, no entanto, tende a se perder na
paisagem com o tempo.
Condição de Legibilidade
Muito boa. Pela suas dimensões as peças
alcançam grande impacto visual. São peças bem
produzidas, fáceis de se absorver. Os três
exemplos são isentos de informação escrita.
Condição de Leiturabilidade Ótima. As peças
são fáceis de interpretar, exigindo pouco
repertório natural dos observadores.
> 3.4.8- Gráfico Ambiental como apoio em exposições
fig. 71,72,73
fig. 70
> 107
Médium
Vinil adesivo recortado eletronicamente
e vinil adesivo com impressão digital.
Meio-tópico
Expositores madeira pintada com
as obras.
Descrição
Cada vez mais presente em exposições de
arte, o material fornece o apoio necessário,
para ao mesmo tempo cenografar o
ambiente, inserir anexos explicativos e
dados adicionais sobre as obras e autores.
Condição de Legibilidade
Excelente. Sua tarefa é ser legível para
tornar outras peças mais legíveis.
Condição de Leiturabilidade
Excelente. Informação verbal já destilada
para o observador, cujo trabalho fica
limitado a prestar atenção e percorrer a
exposição.
> 3.4.9- Sinalização integrada com a arquitetura
> 108
fig. 74,75
fig. 76
Médium
Vinil adesivo com impressão digital
(Fig.76) ) e letra caixa em metal com
pintura ( Fig. 74 ,75).
Meio-tópico
Paredes, piso e teto (Fig. 74,75) e
parede (Fig. 76).
Descrição
Quando a arquitetura coopera com outras
áreas visuais os resultados costumam ser
surpreendentes. Neste caso a arquitetura
ajuda a comunicar de maneira inteligente,
elegante e sóbria.
Condição de Legibilidade
Ótima. Devido à visualidade emprestada pela
construção, a peça estabelece presença
marcante.
Condição de Leiturabilidade
Média. Requer repertório para detectar os
pontos de conexão entre uma e outra. Pode
causar dificuldades em certos observadores.
> 3.4.10- Gráfico Ambiental dimensional: escultura
fig.77
fig.80
fig.81
> 109
Médium
chapa metálica recortada, dobrada e
pintada.
Meio-tópico
Piso de apoio.
Descrição
São três exemplos com a mesma
linguagem, porém com funções bem
distintas, qual seja, sinalização
interna, sinalização externa e
sinalização de grande formato,
quase como marco referencial local.
Condição de Legibilidade
Ótima legibilidade. As peças
possuem características visuais bem
marcantes, condição necessária
para serem inseridas no contexto
em que se apresentam.
Condição de Leiturabilidade
Média. Pelo pendor artístico que lhe
extrai objetividade, as peças
possuem um forte teor abstrato que
dificulta a absorção pelos
observadores.
fig.78, 79
> 3.4.11- Sinalização interna como entretenimento: design
fig. 85
fig. 82
fig. 83
fig. 84
fig. 86
> 110
Médium
Totem em madeira revestida de vinil
adesivo com impressão digital e vinil
adesivo com impressão digital (Fig.82);
chapa de PVC com impressão digital e
sinalização em caixa metálica com
acrílico revestido de vinil adesivo
retroiluminado (Fig.83,84); vinil
adesivo com impressão serigráfica
(Fig.85,86).
Meio-tópico
Piso, teto e paredes de interiores
(Fig.82); piso e paredes (Fig.83,84).
Descrição
Quando o Gráfico Ambiental se une
ao design para produzir ambientes
informados, o resultado costuma ser
bastante rico. O exemplo da Fig.82
mostra o domínio que o gráfico tem
sobre as superfícies não renováveis
dos lugares. O exemplo da Fig.85,86
ensina que a sobriedade e a boa idéia
podem ter tanto impacto quanto outras
peças mais atrevidas.
Condição de Legibilidade
Excelente. Esse tipo de sinalização
sempre estará nos lugares óbvios.
Condição de Leiturabilidade
Excelente. Essa sinalização já
antecipa e funciona abreviando os
passos mentais para se chegar à
interpretação.
> 3.4.12- Gráfico Ambiental para vitrines
fig. 87
fig. 88
> 111
Médium
Vinil adesivo translúcido com
impressão digital (Fig.87);
Painel em MDF com aplicação
de impressão digital (Fig.88).
Meio-tópico
Vidro (Fig.87); teto do interior da
vitrine (Fig.88).
Descrição
A vitrine tem grande
responsabilidade no ponto de venda.
Além de atrair ela tem a função de
persuadir o consumidor.
Condição de Legibilidade
Muito boa. A transparência do vidro
lhe permite trabalhar a mensagem
com clareza as mensagens ainda
mais quanda aliadas à um bom
dimensionamento e escolha de
materiais corretos.
Condição de Leiturabilidade
Ótima. Pela premissa fundamental
de estimular uma contemplação
mais demorada por parte do
observador, as vitrines constituem-
se de ótimos pontos de articulação
entre produtos e consumidores.
> 3.4.13- Gráfico Ambiental e simulação: trompe l'oeil
fig. 89
fig. 90
fig. 92
> 112
Médium
Lona vinílica com impressão digital e
estrutura metálica (Fig.89); tapume
com aplicação de vinil adesivo com
impressão digital (Fig.90); painel
estrutura metálica com lona vinílica e
impressão digital (Fig.91,92).
Meio-tópico
Parede alvenaria (Fig.89);
piso (Fig.90); piso (Fig.91,92).
Descrição
São peças de grande expressividade
seguindo uma antiga linhagem na
arte cuja proposta era elaborar
paisagens a partir da simulação da
percepção táctil.
Condição de Legibilidade
Ótimas. Peças de grande impacto
visual, divertem e informam ao
mesmo tempo.
Condição de Leiturabilidade
Razoável. Sua ambiguidade ao
mesmo tempo em que lhe confere
maior expressividade, diminui suas
possibilidades comunicacionais.
fig. 91
> 3.4.14 - Gráfico Ambiental em lugares comerciais
fig. 93
fig. 94
> 113
Médium
Slatwall em MDF com
aplicação de vinil adesivo
(Fig.93) e painel em MDF
com aplicação de vinil
adesivo com impressão
digital (Fig.94).
Condição de Legibilidade
Média. Os pontos de venda são lugares de intenso trânsito de
imagens e objetos, que disputam palmo a palmo a atenção dos que ali
passam. Essa condição limita a capacidade de captar e manter a
atenção dos observadores.
Descrição
O ponto de venda é
hoje passagem
obrigatória para
indivíduos
interessados em
consumir produtos e
absorver opiniões.
O ato de consumo é
reverenciado como
fenômeno cultural e
torna o ponto de venda
um palco privilegiado
para a consagração de
marcas. Lugares como
restaurantes e bares
assumem um forte
viés cultural e tentam
cativar frequentadores
através da exploração
de manifestações
artísticos-culturais e
de estilos de vida
amplamente
cultuados.
Meio-tópico
parede de alvenaria.
Condição de
Leiturabilidade
Média. Pelos mesmo
motivos relacionados
acima, a profusão de
códigos visuais
coexistindo no mesmo
lugar causa
perturbações ao
entendimento dos
observadores.
> 3.4.15- Gráfico Ambiental como decoração: esporte
fig. 96
> 114
Médium
Estrutura metálica com
instalação de lona vinílica
(Fig.95 e Fig.96).
Condição de Legibilidade
Ótima. Normalmente posicionadas em locais
de grande fluxo, as peças se preocupam em
apresentar baixo nível de dificuldade de leitura
para seus espectadores.
Condição de Leiturabilidade
Excelente. Suas mensagens
são facilmente decifráveis e
carregadas de grande apelo
emocional e forte impacto
visual.
Descrição
O esporte é tema e lugar constante na prática do
Gráfico Ambiental, devido à sua condição em
conformar espaços socializantes, tornando-o alvo
preferencial de marcas dispostas a relacionarem
seu nome ao de atletas bem sucedidos. Quase
sempre auto-referente, suas imagens funcionam
também para motivar e conquistar adeptos.
Meio-tópico
Parede alvenaria.
fig. 95
> 115
> Considerações Finais
Em uma época em que o reconhecimento territorial se faz mais através de imagens
do território e não tanto pela vivência do mesmo, o mundo é identificado por imagens. O
acesso facilitado a determinados equipamentos via satélite como o sistema de
posicionamento global - mais conhecido por GPS ou global positioning system utilizado
para determinar a posição de um aparelho receptor na superfície da Terra, incorporado em
palm-tops e celulares e em sistemas de navegação presentes em veículos automotivos; e o
Google Earth, com suas imagens de satélite cada vez mais sofisticadas. O mundo se faz
reconhecer por mediações tecnológicas baseadas em representações da sua imagem. Hoje
somos habitantes de um planeta que conhecemos por imagens. A identidade planetária tem
se tornado mais forte do que as baseadas em porções territoriais delimitadas.
Nesses territórios que efetivamente vivemos, a arquitetura parece criada para ser
observada à distância. Não temos como experimentar as construções a não ser quando as
vemos em fotos. Jameson (2002:120) explica que o que queremos consumir hoje não são
os próprios edifícios que mal podemos reconhecer quando passamos pelas vias expressas.
O reflexo condicionado dos centros urbanos transformou-se em algo insípido até nos
lembrarmos de suas fotos.” E foto é imagem, pois que a imagem é quem representa a
paisagem. Mas, como debatido ao longo da pesquisa, não é a imagem que forma a
paisagem?
Essa pesquisa mostrou preocupação pelos desdobramentos da era da primazia da
imagem. Apregoa-se que a imagem está se tornando, tanto quanto nós, habitantes desse
planeta. Para ficar em um exemplo particular, conheço mais lugares do que neles estive.
Por foto, através da televisão, no cinema, percorri muitas viagens de
reconhecimento;“Quando não podemos ter experiência imediata, é a própria mídia que são
as coisas para nós” diz Flusser (2002:27). “Saber” continua ele “é aprender a ler a mídia
nesses casos”.
que nos acostumamos com a experiência midiática, a ponto de, muitas vezes,
dispensar voluntariamente a experiência imediata. Invertendo a formulação, quando nós não
podemos ter a experiência midiática, é o Gráfico Ambiental que a traz para nossa existência
ambiental. Por essa idéia, cada intervenção estará remetendo não ao entorno local direto,
mas a um território infinitamente mais vasto e diversificado. Ato contínuo, ela se torna parte
de um jogo cenográfico para simulação de uma realidade não vivenciada fisicamente. Isso
> 116
sem falar dos dispositivos eletrônicos portáteis, como os celulares, que carregam a mídia
como sua bagagem para cima e para baixo.
O filme de ficção científica Minority Report (2002) elabora uma visão bastante
peculiar das possibilidades da inserção de imagens em espaços públicos com proposições
parecidas com a do Gráfico Ambiental. O resultado é um cenário futurístico no qual um
tipo de Gráfico Ambiental com uma evidente dominante espectral, resultado da
convergência de mídias em pleno espaço urbano. Extensas paredes volumadas
impregnadas com imagens eletrônicas com a missão de identificar e interpelar os
passantes, saudando-os e convidando-os a interagir. Em tempo real, essas imagens
espectrais alteram sua configuração simultaneamente com os acontecimentos no seu
entorno e com os humores percebidos dos transeuntes. Vídeo e cinema, propaganda e
jornalismo, fotografia e holografia, tudo reunido em uma mídia de quatro dimensões emitida
no espaço.
É de causar espanto, não apenas a apresentação futurística de um tipo de Gráfico
Ambiental, mas o nível de convivência do homem com a imagem. Se antes víamos filmes
repletos de homenzinhos do espaço prestes a invadir o planeta, hoje as películas de ficção
científica brincam com o conceito de imagem simulada e suas representações. Pela mente
desses autores, essas imagens habitarão o planeta junto com o homem. Em Minority Report
a imagem está por todos os lugares. Faz da cama, da mesa e, porque não, do banho,
suportes de imagens. Paredes, tetos e muros transubstancializam-se em painéis de
imagens. O futuro é a imaterialidade. As imagens mentais assumem estatuto de verdade e
> 117
podem ser compartilhadas. Espécie de Blow Up” ultrafuturístico, a imagem não precisa ser
representada para evidenciar um crime, a imagem mental basta para isso. O pensamento
visual tem, enfim, seu reconhecimento.
Harvey (1992) analisa que a imagem produzida em larga escala é introduzida como
valor máximo da sociedade pós-moderna, na qual a realidade convive com o simulacro, do
qual não se separa mais, e assinala que a idéia de produzir imagem como mercadoria,
previamente formulada por Baudrillard, pela alegação de que o capitalismo está mais
preocupado em produzir signos, imagens e sistemas de signos do que em produzir
mercadorias. Se a imagem se transforma em bem de capital, em commodity dos tempos de
giro acelerado, onde fica o seu pregão de valores?
O “espaço de fluxos” (Castells, 2005) organiza o mercado de valores das imagens.
Esses valores são adquiridos de maneira quase espontânea e imagens são construídas e
destruídas da noite para o dia. O pixel (picture element) está se convertendo na moeda de
troca desse comércio de imagens. Uma imagem vale mais ou menos pela quantidade de
bytes que a forma, que se traduzem em melhores ou piores imagens, sejam elas
fundamentais ou dispensáveis. É o mercadão do vale quanto pesa das imagens.
Importante destacar, assim no filme como na vida real, que as imagens ganham
autonomia. Também o imagens estáticas, imóveis, mas imagens dinâmicas, em
movimento, com vida própria, dotadas de organicidade. O movimento é a regra que vale
ouro. Tem-se impressão que tudo adquire movimento. As coisas parecem sempre em pleno
processo. Dar forma acabada para algo é decretar sua falência existencial. O design de
> 118
David Carson sempre parece a ponto de se alterar. A sua tipografia falha e desconexa
apresenta o traço do incompleto. A arquitetura de Frank Gehry parece diferente ou
inacabada toda vez que a olhamos - ele mesmo revela que não sabe se concluiu a sua
casa em Santa Mônica. Cada ponto de vista ao redor da construção traz uma apreensão
das formas diferente das outras. A arquitetura interage com a luz solar durante o dia,
alterando-se. Não há imagem pronta e sim em mudança.
Neste âmbito, o Gráfico Ambiental ocupa uma reposição. A substituição de um por
outro é condição de existência. A transitoriedade é uma das suas características mais
evidentes. Quando acomodado em seu posto, perde progressivamente força informativa.
Seja pelo manejo dos novos elementos do entorno que lutam para ganhar evidência em
detrimento dos antigos, seja pela necessidade da novidade em tempo real, certo é que
bastante procura por lugares inéditos.
O Gráfico Ambiental aparece pela percepção ambiental. O relacionamento do
indivíduo com o Gráfico Ambiental ocorre no ato da tomada de contato com o lugar
informado ou no ato em que se a necessidade de parâmetros de conhecimento
geográfico para orientação em ambientes complexos. O Gráfico Ambiental luta para romper
com o bito perceptivo dos lugares. Nessa luta, novas ferramentas são forjadas para
aumentar as chances de sucesso. Daí a inclusão quase que cotidiana de dispositivos
técnicos para construção de textos ambientais. Se não houver ferramenta nova à
disposição, arranjos originais contentarão os anseios em busca de diferenciação. A
linguagem do Gráfico Ambiental, uma vez acoplada a uma base, sobrepuja a superfície
existente, como vimos pelo princípio da aderência. É de se esperar que no embate entre
uma linguagem clara, pulsante e enérgica e uma linguagem lenta, de baixa complexidade, a
primeira se sobressaia.
A tentativa de refrear a inserção de novas linguagens eminentemente elaboradas por
códigos visuais no espaço urbano é anacrônica e primitiva. É como acusar o diabo pela
chuva que estragou a plantação e louvar outros santos pela chuva equilibrada em boa hora
para a colheita farta. O que qualidade para a chuva não é sua intensidade ou volume,
assim como não é para a imagem. Quem faz juízo dela é quem faz uso dessa chuva. Para
se valer do pensamento de Castells (2005:500) sobre espaço é dizer que o “o espaço não é
o reflexo da sociedade, é a sua expressão”. Esse espaço que aí lidamos é o pensamento da
sociedade. As imagens que aí estão são manifestações dessa expressão.
Nesta perspectiva, o que nos apresenta é a necessidade de também
compreendermos as mudanças de ordem sócio-culturais contemporâneas e como elas
afetam as relações humanas, de modo que, como nos indicou Guattari (1990:8), o que está
> 119
em questão é a maneira de se viver daqui em diante nesse planeta; uma articulação
entre os três registros ecológicos - ambiente, cotidiano e subjetividade - é que poderia
esclarecer e permitir mudanças positivas em escala planetária.
Referências >
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Saramago, Wim Wenders; Hermeto Pascoal e outros. Ravina Filmes, 2001, Bobina
Cinematográfica, son., color., 35mm
MINORITY Report, Direção: Steven Spielbeg. Elenco: Tom Cruise, Colin Farrel e outros.
Twentieth Century Fox, 2002. 148 min. Bobina Cinematográfica, son., color., 35mm
> Teses, dissertações, artigos, revistas e periódicos
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> Lista de Figuras
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Figura 3 – Revista Signs of the Times, ST Media Group, Dezembro de 2006, p.22.
Figura 4 – Acervo do Autor, Junho de 2005.
Figura 5 – Revista Signs of the Times, ST Media Group, Fevereiro de 2007, p.45.
Figura 6 – Acervo do Autor, Carmim, Janeiro de 2007.
Figura 7 – WILKINSON, Alan,University of California Press, Henry Moore, p.207, fig. 67.
Figura 8 – Acervo do Autor, Agosto de 2004.
Figura 9 – Rockport / Allworth Editions, Signs and Spaces, p.14.
Figura 10 – Disponível em <http://www.artandarchitecture.org.uk>
Figura 11 – ATGET, Eugène, Könemann, Aperture Masters of Photography, p.13.
Figura 12 e 13 – HUNT, Wayne, Harper Design, Enviromental Graphics, p.36 e p. 39.
Figura 14 e 15 – ST Media Group, The Big Picture, Cincinnati, Ohio, p.26 e 27.
Figura 16 – Acervo do Autor, Março de 2004.
Figura 17 e 18 – Disponível em <http://www.christojeanneclaude.net>
Figura 19 – Fotograma, 35mm, Paris Files, A Força de um Amor, cenas 1, 2 e 3.
Figura 20 e 21 – Disponível em <http://www.pucsp.br/artecidade/novo/urbanismo05.htm>
Figura 22, 23, 24, 25, 26, 27, 28 – Disponível em http://phomul.canalblog.com/ e
<http://www.tipografos.net/designers/bayer.html
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Figura 29, 30 e 31, 32 e 33 – Disponível em <http://www.photoitmcollection.org/>
Figura 34 e 35 – Revista HOW, AIGA, The Audit Bureau,fevereiro de 1998, p.77 e 78.
Figura 36 – Jornal Folha de São Paulo, Ilustrada, 7 de abril de 2006, E6.
Figura 37– Disponível em <http://www.ruyotake.com.br>
Figura 38 – Disponível em <http://www.danda.be/gallert/91>
Figura 39 – Jornal Folha de São Paulo, Dinheiro, 27 de julho de 2005, B11.
Figura 40 – Acervo do Autor, Agosto de 2006.
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Figura 41 – GOMBRICH, E.H., LTC, A História da Arte, p.114,fig 72.
Figura 42 – GOMBRICH, E.H., LTC, A História da Arte, p.328,fig 209.
Figura 43, 44 e 45– Disponível em:
<http://www.midleykent.fsnet.co.uk/diorama/Diorama_Wood_1_1.htm>, 22 março 2007.
Figura 46 – Acervo do Autor, Junho de 2005.
Figura 47 – Acervo do Autor, Junho de 2005.
Figura 48, 49,50 – Acervo do Autor, Maio de 2006.
Figura 51 e 52 – ST Media Group, The Big Picture, Cincinnati, Ohio, p.9.
Figura 53 e 54 – Acervo do Autor, Maio de 2003.
Figura 55 – Acervo do Autor, Junho de 2007
Figura 56 e 57 – ST Media Group, The Big Picture, Cincinnati, Ohio, p.93.
Figura 58 – ST Media Group, The Big Picture, Cincinnati, Ohio, p.94.
Figura 59 – ST Media Group, The Big Picture, Cincinnati, Ohio, p.87.
Figura 60 – ST Media Group, The Big Picture, Cincinnati, Ohio, p.116
Figura 61 – Acervo do Autor, novembro de 2006.
Figura 62 – Acervo do Autor, Junho de 2005.
Figura 63 – Jornal Folha de São Paulo, Esporte, 27 de fevereiro, D2.
Figura 64 – ST Media Group, The Big Picture, Cincinnati, Ohio, p.56.
Figura 65 e 66 – Acervo do Autor, Setembro de 2005.
Figura 67– Acervo do Autor, Dezembro de 2006.
Figura 68 – Disponível em <http://www.eagora.com.br/ler.php?idnew=50571&canid=20>
,25 março 2007
Figura 69 – ST Media Group, The Big Picture, Cincinnati, Ohio, p.24.
Figura 70, 71, 72, 73– Acervo do Autor, Abril de 2006.
Figura 74 e 75 – Rikuyosha Co.,Best Sign Design In Japan Selection 220,p.155.
Figura 76 – Rikuyosha Co.,Best Sign Design In Japan Selection 220,p.177.
Figura 77, 78, 79 – HUNT, Wayne,Harper Design, Enviromental Graphics, p.53.
Figura 80 – Rikuyosha Co.,Best Sign Design In Japan Selection 220,p.123, fig.67.
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Figura 81 – Rikuyosha Co.,Best Sign Design In Japan Selection 220,p.22, fig 11.
Figura 81 –
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