que não havia nada estabelecido quando aos limites do folheto, quer em relação ao seu
formato, ou número de páginas, ou tipo de papel. Invoca O Catalogo de Piegos Sueltos
Poéticos de la Biblioteca Nacional do século XVIII que considerou Piegos (Folhetos) todos
os impressos até 32 páginas ou 16 folhas – na atualidade há alguns folhetos que não
respeitam mais a regra de folha dobrada às vezes duplicada ou triplicada, sem capa, sem
lombada, sem encadernação: daí que as única coisa segura na idéia de folheto seria de
modo simples a sua diferença com relação à idéia de livro ou de volume, uma vez que
este é habitualmente mais extenso e mais grosso.
Arnaldo Saraiva enumera várias modalidades e títulos de folhetos populares
portugueses
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:
Poesia, narrativa, teatro, crítica…; autos, dramas, tragédias,
farsas, entremezes, monólogos, desafios, comédias, sátiras,
invectivas, paródias, anedotas, cartas, crônicas, biografias, histórias,
contos, moralidades, dissertações, elogios, exemplos, testamentos,
orações, oráculos, hinos, canções, elegias, fados, décimas, odes,
coplas, aventuras, paixões, sonhos, viagens, suspiros, sucessos,
confissões, velhos e novos, príncipes, bandidos, soldados,
namorados, clérigos, criados, deputados, fanfarrões, fantasmas, Adão
e Eva, S. João e S. Pedro, Paulo e Virginia, Manuel e Maria,
Imperatriz Porcina, Carlos Magno, Bertoldo, A Padeira de Aljubarrota,
a Donzela Teodora, Magalona, João de Calais, Bocage, José do
Telhado, Deus e o Diabo…
A Professora Márcia Abreu
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relata estar a primeira notícia sobre a literatura de
cordel lusitana vinculada ao nome de Gil Vicente que teria publicado sob esta forma,
algumas de suas peças: mesmo após a publicação de todas as suas obras em 1562,
continuaram correndo em folhetos as histórias de Gil Vicente – o Dom Duardos, ainda no
século XVIII, era vendido como folha volante em versão modificada e o Pranto de Maria
Parda também permaneceu por três séculos, vendido como literatura de cordel. Outros
autores da chamada escola vicentina também foram considerados pela crítica como
autores de cordel, tais como Baltazar Dias, Afonso Álvares e Ribeiro Chiado. De Baltazar
Dias sabe-se que era cego e natural da Ilha da Madeira; apesar de ser um homem pobre
revelou a sua importância ao conseguir um parecer real, em 1537 sobre o seu trabalho, a
Carta de Privilégio para impressão de livros concedida por D. João III. Conhecem-se dele
Conselhos para Bem Casar e Malícia das Mulheres, sátiras em quintilhas de sete silabas
nos quais o autor critica a sociedade da época; também se conhecem três romances