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impossibilidade de comparação entre os três estudos que utilizam o crédito total, Soares (2001)
indica que os estudos quantitativos de Barros & Almeida Jr. (1997) e de Troster (1998) não
esclarecem se os dados foram dolarizados, ou se estão a preços correntes ou a preços constantes,
de maneira que a comparação entre estes também não pode ser feita. Finalmente, Soares (2001)
indica que os estudos se baseiam em períodos diversos, além de se preocuparem apenas com a
taxa de crescimento do crédito entre os pontos extremos do período, deixando de observar se eles
seriam pontos normais em termos do padrão da série. Todos os estudos expostos pelo autor
apresentaram crescimento do crédito no Brasil, mas sem apresentarem convergência quanto ao
valor da taxa de crescimento devido à escolha do período analisado e à forma de medir o
crescimento entre dois pontos.
Soares (2001) desenvolve, então, um estudo que procura criar uma série temporal para os
dados sobre o crédito concedido pelas instituições bancárias, os quais foram extraídos do
Suplemento Estatístico do Banco Central. Utilizaram-se dados para o período de janeiro de 1989
a agosto de 1999, os quais foram transformados a preços correntes em preços constantes, através
do IGP-DI, e convertidos devido às alterações no padrão monetário introduzidas em agosto de
1993 e com o Plano Real de julho de 1994
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. O autor indica que, para que o crédito tenha se
elevado após o Plano Real – como demonstram os estudos citados anteriormente –, seria preciso
que sua taxa de crescimento fosse substancialmente maior que no período pré-Plano Real. O que
os dados demonstram, todavia, é que a taxa de crescimento do volume de crédito concedido era
positiva antes do Plano Real, passando a ter uma média nula depois disso, o que indica uma
tendência de estabilidade. A conclusão a que o estudo chega é de que “no período anterior ao
Plano Real, o crédito total apresentava tendência de crescimento e que após o Plano deixou de
apresentá-la” (SOARES, 2001:16). Portanto, a expectativa de que a estabilidade do nível de
preços e a entrada de bancos estrangeiros proporcionassem a expansão do crédito não é
corroborada por esse estudo, que explicita a série temporal acerca da evolução do crédito no
Brasil. Na verdade, observou-se que, à época da introdução do Plano Real, ocorreu uma
interrupção de uma tendência de crescimento do crédito que se verificava anteriormente. Além
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Para que valores correntes de um período anterior a uma alteração no padrão monetário possam ser comparados a
valores correntes do período posterior, é necessária a conversão dos dados nominais. No caso da alteração do padrão
monetário de agosto de 1993, basta dividir os valores correntes por 1.000. No caso do Plano Real, de julho de 1994,
basta dividir os valores correntes por 2.750, o qual era o valor de uma URV (Unidade Referencial de Valor) em
Cruzeiros Reais. Note-se que para a transformação direta de valores correntes anteriores a agosto de 1993 para
valores correntes para o período após o Plano Real, basta dividir aqueles valores por 2.750.000.