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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESCOLAR
AS PRÁTICAS DAS PROFESSORAS ALFABETIZADORAS COMO
OBJETO DE INVESTIGAÇÃO:
Teses e dissertações de Programas de Pós-Graduação em Educação do
Estado de São Paulo (1980 a 2005)
Luciene Cerdas Vieira
ARARAQUARA
2007
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
FACULDADE DE CIÊNCIAS E LETRAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO ESCOLAR
AS PRÁTICAS DAS PROFESSORAS ALFABETIZADORAS COMO
OBJETO DE INVESTIGAÇÃO:
Teses e dissertações de Programas de Pós-Graduação em Educação do
Estado de São Paulo (1980 a 2005)
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação Escolar, da Faculdade
de Ciências e Letras da Universidade Estadual
Paulista, como parte dos requisitos para a
obtenção do título de Mestre em Educação
Escolar.
Luciene Cerdas Vieira
Orientador(a): Profa. Dra. Maria Regina Guarnieri
ARARAQUARA
2007
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BANCA EXAMINADORA
_________________________________
Profa. Dra. Maria Regina Guarnieri (Orientadora)
_________________________________
Profa. Dra. Luciana Maria Giovanni
_________________________________
Prof. Dr. José Geraldo Silveira Bueno
A minha mãe que com amor dedicou a
vidas à família e, em especial, a meu pai
Cláudio, cuja lembrança e saudade têm me
acompanhado.
AGRADECIMENTOS
À professora Dra. Maria Regina Guarnieri, meus sinceros agradecimentos
pela oportunidade de fazer parte deste Programa, pelo privilégio de sua orientação
em todas as etapas da pesquisa e por seu apoio e amizade nesta caminhada.
Ao professor Dr. José Geraldo Silveira Bueno e à professora Dra. Luciana
Maria Giovanni, pela leitura criteriosa do trabalho e pelas valiosas contribuições no
exame de qualificação.
Aos funcionários da Faculdade de Ciências e Letras, campus Araraquara,
pela atenção e cordialidade dispensada em todos os momentos, em especial à Silva
Helena, funcionária da Biblioteca, pela ajuda na localização e aquisição das teses e
dissertações que compõem o corpus desta pesquisa.
A Brunno, meu marido, meu muito obrigada, pelo companheirismo, paciência
e força nos momentos mais difíceis e pela compreensão nas infindáveis horas de
estudos.
Aos colegas e amigos do curso de Pós-Graduação, em especial à amiga
Gisele pela amizade cultivada nesses anos.
Aos meus irmãos, Viviane, Eliane, Anderson e Emerson, todo meu carinho,
pelo constante incentivo e apoio.
À CAPES, pelo apoio financeiro que me permitiu dedicação exclusiva à
pesquisa.
VIEIRA, Luciene Cerdas. As práticas das professoras alfabetizadoras como
objeto de investigação: teses e dissertações de Programas de Pós-Graduação do
Estado de São Paulo (1980 a 2005). 2007. 152 f. Dissertação (Mestrado em
Educação Escolar), Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2007.
RESUMO
A revisão das concepções sobre alfabetização a partir da década de 1980 tem
suscitado discussões sobre elementos mais específicos das práticas das
professoras alfabetizadoras, entre eles seus procedimentos de alfabetização, suas
práticas e saberes. Inserindo-se nesse contexto, a presente dissertação tem como
objetivo investigar o que as pesquisas com foco nas práticas das alfabetizadoras
dizem a respeito dos procedimentos de alfabetização, práticas e saberes que
caracterizam a atuação das professoras em sala de aula. Compõem o corpus desta
pesquisa bibliográfica 8 teses e 32 dissertações produzidas nos Programas de Pós-
Graduação em Educação do Estado de São Paulo no período de 1980 a 2005. O
referencial teórico no qual se baseia esta dissertação contempla textos elaborados
nesse período e que colaboraram na revisão do processo de alfabetização e nas
discussões sobre as práticas das alfabetizadoras presentes nas teses e dissertações
sob análise. Este estudo compreendeu as seguintes etapas: Definição de critérios de
seleção dos textos a serem analisados; Processo de busca e seleção do corpus;
Leitura e organização dos textos; Elaboração de quadro síntese; Descrição e análise
do corpus. A partir da análise dessas pesquisas foi possível organizá-las em três
focos temáticos: procedimentos de alfabetização, práticas docentes, e saberes
docentes. Os resultados desta pesquisa permitiram maior visibilidade aos aspectos
mais específicos que vêm sendo abordados pelos pesquisadores, bem como, ao
que vem sendo concluído por eles a respeito das práticas das alfabetizadoras. Os
dados obtidos sugerem que, apesar das especificidades de cada estudo, os
resultados apresentados por eles são reiterativos, apontando que os professores
apresentam dificuldades em conceituar, organizar e conduzir a alfabetização na
perspectiva construtivista. Também estão presentes nas pesquisas aspectos
dificultadores e facilitadores das práticas das professoras alfabetizadoras, sugerindo
que elas apresentam uma prática em que se mesclam concepções e procedimentos
construtivistas que elas não compreenderam totalmente, com concepções e
procedimentos que elas utilizavam em sala de aula. A presença de resultados
recorrentes parece indicar por outro lado, que as pesquisas ao longo do período têm
se centrado mais nas dificuldades e lacunas do trabalho das professoras do que
naquilo que elas de fato sabem sobre ler e escrever.
Palavras-chave: alfabetização; práticas de professoras alfabetizadoras; pesquisa
bibliográfica; procedimentos de alfabetização; práticas docentes; saberes docentes.
VIEIRA, Luciene Cerdas. The literacy teacher's practices: bibliographic research
toward MS Theses and PhD Dissertations produced in Education Graduate
Programs of Sao Paulo state (1980 to 2005). 2007. 152 f. Dissertação (Mestrado em
Educação Escolar), Universidade Estadual Paulista, Araraquara, 2007.
ABSTRACT
The review of the literacy conceptions in use in Brazil since 1980's has entailed
studies on more specific elements of the literacy teacher's practices. Among those
elements, there are didactic procedures, educational practices and teacher's
knowledge. In this context, the aim of this Master's thesis is to investigate what the
Brazilian research focusing the literacy teacher's practice reveal about literacy
procedures, practices and teacher's knowledge as elements that feature the
teacher's literacy work in classroom. The corpus of our analysis is composed of
thirty-two MS Theses and eight PhD Dissertations produced in Education Graduate
Programs of Sao Paulo state from 1980 to 2005. The theoretical basis underlying this
thesis, conceived as a bibliographic research, considers studies that have
contributed, in the period under analysis, to the literacy conceptions revision and to
the debates on the literacy teacher's practices approached in the thesis and
dissertations. The plan of this thesis is made up by the following steps: defining
criteria to select corpus; corpus searching process; corpus reading and organizing;
developing a summary table; corpus description and analysis. From the corpus
analysis, it was possible to categorize the research in three thematic foci: literacy
procedures, teacher's practices and teacher's knowledge. The results of our thesis
enable to us to verify more specific aspects approached by researchers and also
their conclusions concerning to the literacy teacher’s practices. Despite the
peculiarity of each research work, the data indicate the occurrence of similar results
according to which teachers have difficulties in understanding, organizing and
leading the literacy process. Data also focuses on aspects that make the teacher's
work more difficult or easy. Teachers present practices in which are combined
constructivist procedures and elements of traditional literacy, because they don't feel
secure in dealing with the constructivist framework. Similarities in the results of the
pieces of research seem to indicate, moreover, that the theses and dissertations are
focusing more on the difficulties and omissions of teachers' work than on what they
really know about reading and writing.
Keywords: literacy; literacy teacher’s practices; bibliographical research; literacy
procedures, teacher’s practices; teacher’s knowledge
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Pesquisas distribuídas por nível de formação (1980 a 2005).....................64
Tabela 2 Distribuição anual das pesquisas analisadas (1980 a 2005)......................65
Tabela 3 Pesquisas distribuídas por Instituição de Ensino Superior de origem (1980
a 2005) ......................................................................................................................66
Tabela 4 Procedimentos de coleta de dados utilizados nas pesquisas (1980 a
2005)..........................................................................................................................70
Tabela 5 Pesquisas distribuídas por Tipo de Estudo (1980 a 2005).........................74
Tabela 6 Pesquisas distribuídas por focos temáticos e temas principais (1980 a
2005)..........................................................................................................................79
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
ANPED – Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Educação
CAPES – Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior
CEALE Centro de Alfabetização Leitura e Escrita, da Universidade Federal de
Minas Gerais
EEB – Empréstimo Entre Bibliotecas
ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio
IBICT – Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia
IES – Instituição de Ensino Superior
IEL – Instituto de Estudos da Linguagem
INAF – Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
IP – Instituto de Psicologia
PCNs – Parâmetros Curriculares Nacionais
PISA – Programa Internacional de Avaliação dos Estudantes
PUC/SP – Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
SAEB – Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica
SARESP – Sistema de Avaliação da Rede Estadual de São Paulo
SEB/MEC – Secretaria de Educação Básica/Ministério da Educação
UFSCAR – Universidade Federal de São Carlos
UNESP – Universidade Estadual Paulista
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
UNIMEP – Universidade Metodista de Piracicaba
USP – Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO...........................................................................................................10
1 ALFABETIZAÇÃO E PRÁTICAS DOCENTES: o contexto de produção das
pesquisas analisadas (1980 a 2005)..........................................................................19
1.1 Contribuições da produção acadêmica sobre alfabetização e as políticas
educacionais............................................................................................................19
1.2 Conceito de alfabetização e procedimentos de ensino.....................................28
1.3 Avaliação da alfabetização e atualidade dos debates sobre as práticas
alfabetizadoras........................................................................................................48
2 CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA: SELEÇÃO E
CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS.......................................................................55
2.1 Para chegar aos dados......................................................................................56
2.1.1Critérios de seleção dos estudos...............................................................55
2.1.2 Processo de busca e seleção do corpus...................................................58
2.2 Caracterização dos estudos analisados............................................................64
2.2.1 Pesquisas por nível de formação, distribuição anual e Instituição de
Ensino Superior de Origem................................................................................64
2.2.2 Sujeitos investigados e locais de coleta de dados....................................67
2.2.3 Procedimentos de coleta de dados...........................................................70
2.2.4 Tipos de estudo e base teórica das pesquisas.........................................73
2.2.5 Temas abordados.....................................................................................75
3 AS PRÁTICAS DE PROFESSORAS ALFABETIZADORAS COMO OBJETO DE
INVESTIGAÇÃO.........................................................................................................82
3.1 O que as pesquisas têm produzido sobre as práticas das professoras
alfabetizadoras........................................................................................................82
3.1.1 Procedimentos de alfabetização...............................................................82
3.1.2 Práticas docentes......................................................................................93
3.1.3 Saberes docentes...................................................................................106
CONSIDERAÇÕES FINAIS…………………………………………...………………...118
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.........................................................................127
FONTES CONSULTADAS.......................................................................................131
ANEXOS...................................................................................................................135
ANEXO 1 Roteiro de leitura e fichamento de teses e dissertações selecionadas
para estudo.............................................................................................................. 136
ANEXO 2 – Quadro síntese das teses e dissertações selecionadas......................137
10
INTRODUÇÃO
O interesse pela temática das práticas das professoras alfabetizadoras vem,
em primeiro lugar, do reconhecimento de que a alfabetização constitui um desafio
para os professores que enfrentam a tarefa de mediar o aprendizado da leitura e
escrita de modo eficiente, ou seja, capaz de atender aos diferentes ritmos de
aprendizagem e garantir a todos os alunos a qualidade do ensino. Essa curiosidade
deve-se também a motivações pessoais decorrentes de minha formação como
professora e pedagoga e à minha atuação como docente de escolas públicas.
Formada no magistério, entre os anos de 1992-1995, participei do momento
de disseminação do construtivismo nas discussões sobre o ensino da leitura e da
escrita e da crítica aos métodos tradicionais, que aconteciam na Rede Pública
Estadual e Municipal de Ensino do Estado de São Paulo. Entretanto, as questões da
prática pedagógica, ou de como viabilizar a alfabetização na sala de aula,
mostravam-se excessivamente complexas e, sem dúvida, isso acentuou meu
interesse por estudar as práticas docentes na alfabetização.
No período de 1998 a 2003, em que atuei nas séries iniciais do ensino
fundamental e na pré-escola, pude perceber no convívio com as colegas docentes,
que as dificuldades em alfabetizar persistiam a despeito de qualquer inovação
pedagógica. Aliás, em alguns casos as incertezas eram decorrentes das mudanças
propostas, sendo freqüentes as dúvidas sobre como lidar com as dificuldades dos
alunos na compreensão do sistema alfabético de escrita, como alfabetizar a partir do
texto, como intervir para que os alunos avançassem nas hipóteses que tinham sobre
a escrita, ou ainda, sobre a necessidade ou não de se trabalhar com as unidades
menores da língua, por exemplo, com as letras e sílabas. Além disso, lecionando em
11
classes de pré-escola me deparei, mais concretamente, com a tensão na escolha de
atividades relacionadas à alfabetização e com a preocupação em realizar um
trabalho que fosse, ao mesmo tempo, eficiente e inovador.
O estágio de observação que fiz durante a Graduação em Pedagogia, em
2002, em uma classe da primeira etapa do Ciclo I da Rede Pública do Estado do
Paraná, na cidade de Curitiba, foi também fator determinante de meu interesse em
estudar mais a fundo as práticas das professoras alfabetizadoras. Verifiquei que,
apesar de algumas mudanças terem se concretizado no espaço da sala de aula,
como, por exemplo, a criação de um ambiente de maior integração e diálogo entre
professor e aluno e entre alunos, com relação às práticas de alfabetização, no
entanto, o discurso aparentemente “construtivista” das professoras revelava-se em
desacordo com sua atuação.
Na classe observada por mim durante esse estágio, a professora que se dizia
construtivista utilizava músicas infantis, parlendas, realizando um trabalho mais
lúdico, mas também lançava mão do ditado e da cópia em situações sem outra
significação que não fosse a repetição mecânica. Isso não quer dizer que essas
atividades não possam ou não devam ser utilizadas, mas, hoje, espera-se que as
professoras criem situações em que as tarefas de copiar ou o ditado tenham um
outro sentido para o aluno além do treino ortográfico, ou seja, sejam atividades
geradas pela necessidade de ler e de escrever na sala de aula.
A partir dessas experiências, algumas questões relacionadas à alfabetização
e às práticas das professoras alfabetizadoras foram sendo postas, a saber: quais
têm sido os procedimentos metodológicos, as atividades e os recursos utilizados
pelas docentes? Que concepções norteiam a escolha das atividades utilizadas para
alfabetizar? Quais os desafios enfrentados pelas professoras na realização de seu
12
trabalho com a alfabetização? Houve, ou não, mudanças significativas nas práticas
das alfabetizadoras com a disseminação da abordagem construtivista? práticas
das quais essas professoras não abrem mão? O que e como fazem as professoras
alfabetizadoras que de fato conseguem alfabetizar?
Diante dessas questões, que suscitam a investigação das práticas de
alfabetizadoras, recorri a estudos sobre alfabetização e, assim, foi possível esboçar
algumas características do estágio atual de reflexão sobre a alfabetização. Entre
elas ressaltam-se:
as mudanças sociais, como por exemplo, o desenvolvimento das novas
tecnologias, que têm ampliado as perspectivas para o ensino da leitura e escrita.
Assim, se por muito tempo, o processo de alfabetização se restringiu a ensinar as
habilidades de codificação e decodificação do código escrito, na atualidade exige-se
que ela trabalhe no sentido do desenvolvimento dessas habilidades, a fim de formar
indivíduos capazes de se envolver nas diversas atividades sociais que demandam
leitura e escrita;
a produção e divulgação de pesquisas sobre alfabetização em diferentes
áreas do saber tornaram mais evidentes a complexidade desse fenômeno.
Destacam-se na década de 1980 as pesquisas de Ferreiro e Teberosky que,
baseadas nas idéias de Piaget sobre a construção do conhecimento nos indivíduos,
descreveram as hipóteses que as crianças elaboram sobre a escrita no processo de
aprendizagem, que se inicia antes mesmo da entrada delas na escola. Essas idéias
foram, então, divulgadas, no Brasil, com o nome de construtivismo e serviram de
subsídio à elaboração de diretrizes para a alfabetização e à organização das
práticas pedagógicas;
13
a implantação de políticas para reorganizar o espaço e o tempo escolar,
baseadas na abordagem construtivista de aprendizagem, a criação do Ciclo de
Alfabetização, por exemplo, na década de 1980 em vários estados brasileiros; nos
anos de 1990, a ampliação para a 3
a
. e 4
a
. séries do ensino fundamental foram
medidas que tiveram como objetivo o enfrentamento do fracasso escolar,
evidenciado pelos altos índices de repetência e evasão nas séries iniciais do ensino
fundamental.
Tais aspectos impactaram os estudos sobre as práticas pedagógicas no
processo de alfabetização, e motivaram uma série de críticas aos métodos e práticas
tradicionalmente presentes nas salas de aula, apontando novos desafios ao
professor e propondo a renovação das práticas pedagógicas.
Mas, ainda hoje, depois de anos de influência da abordagem construtivista em
orientações e diretrizes oficiais de ensino e investimentos de formação de
professores, pode-se inferir que alfabetizar é o grande desafio da educação,
ampliado pela necessidade de inserção dos indivíduos na cultura escrita. Como
afirma Soares (2003b), o fracasso escolar não se concentra mais nas séries iniciais
do ensino fundamental com as altas taxas de evasão e repetência, mas aparece
tardiamente em avaliações externas à escola, como SAEB e ENEM, entre outras,
que denunciam o precário ou nulo desempenho dos alunos em provas de leitura
depois de quatro, seis ou oito anos de escolarização. Portanto, um grande número
de alunos continua saindo da escola não alfabetizado ou semi-alfabetizado.
Essa situação demonstra não a importância das discussões sobre
alfabetização e práticas alfabetizadoras, como também a atualidade dos debates
sobre esse tema. Um exemplo dessa atualidade foi a criação, pela Comissão de
Educação e Cultura da Câmara dos Deputados, de um Grupo de Trabalho formado
14
por especialistas nacionais e internacionais para discutir teorias e práticas de
alfabetização, evento que culminou na publicação em 2003 do relatório Os novos
caminhos da alfabetização infantil, organizado por Capovilla (2005). Nesse
documento os autores sugerem a adoção do método fônico como solução para os
problemas do ensino da leitura e escrita no país.
Por outro lado, o texto de Soares (2003b), Letramento e Alfabetização: as
muitas facetas, apresentado na 26
a
Reunião Anual da ANPED, ao mesmo tempo
em que propõe uma revisão do conceito e das práticas de alfabetização, sinaliza que
as discussões em torno do conceito de alfabetização e de suas especificidades no
processo de ensino e aprendizagem da leitura e escrita não podem ser simplificadas
pela adoção de um método como solução dos problemas relacionados à
alfabetização.
Recentemente, as entrevistas publicadas no Jornal Folha de São Paulo, de 6
de março de 2006, com Telma Weisz e Fernando Capovilla, também ilustram os
embates sobre o tema, fazendo crer que existem duas tendências no tratamento da
alfabetização, a saber, construtivistas e defensores dos métodos fônicos
respectivamente.
A publicação do texto Leitura e alfabetização no Brasil: uma busca para
além da polarização na revista Educação e Pesquisa de maio/ago. de 2006
corrobora a atualidade dos debates sobre alfabetização e práticas. Nesse artigo
Belintane (2006), professor e pesquisador da Faculdade de Educação da USP, faz
uma análise do relatório Os novos caminhos da alfabetização infantil, citado
anteriormente, discutindo a relação entre a produção científica no campo do ensino
da leitura da escrita e da alfabetização e seus efeitos no sistema público de ensino,
concluindo que, muitas vezes, a política assume este ou aquele método como forma
15
de fugir da responsabilidade mais complexa de assumir a alfabetização como
prioridade absoluta do Estado.
No âmbito das políticas educacionais, a implantação do Ensino Fundamental
de nove anos desponta como mais uma tentativa de superar o fracasso escolar na
alfabetização, na medida em que, ao prever um ano a mais de escolaridade, o
governo amplia a obrigatoriedade do ensino para os alunos de 6 anos, até então
atendidos pela educação pré-escolar não obrigatória.
Os exemplos acima confirmam a atualidade dos debates sobre alfabetização
e práticas de alfabetização e justificam a realização de um trabalho sobre o tema.
Entre as possibilidades de encaminhamento da pesquisa, optou-se por fazer uma
pesquisa bibliográfica, isso porque as buscas iniciais sobre alfabetização permitiram
encontrar um número significativo de pesquisas concluídas que enfatizam as
práticas das professoras alfabetizadoras.
Além do mais, um trabalho desta natureza fornece dados sobre como o tema
vem sendo estudado, tanto do ponto de vista teórico quanto metodológico e
temático, apontando aspectos que têm sido amplamente abordados, como outros
ainda pouco explorados e que carecem de aprofundamento. Diante do exposto,
justifica-se a realização de uma revisão das teses e dissertações que investigam as
práticas de professoras alfabetizadoras e que foram produzidas nos Programas de
Pós-Graduação em Educação do Estado de São Paulo, entre os anos de 1980 a
2005.
A questão central desta dissertação reside em saber: o que dizem as
pesquisas que investigam as práticas de professoras alfabetizadoras a respeito do
trabalho realizado em sala de aula para alfabetizar. Essa questão se desdobra nas
seguintes: Quais concepções têm norteado as práticas das professoras
16
alfabetizadoras, segundo os resultados dos estudos? Que procedimentos didáticos,
atividades e recursos materiais as pesquisas apontam como os mais utilizados pelas
professoras para alfabetizar? Quais são os aspectos dificultadores ou facilitadores
das práticas das professoras, segundo as pesquisas? Conforme os resultados dos
estudos, o que permanece e o que se alterou nas práticas das alfabetizadoras,
considerando o contexto de mudança conceitual e de revisão das práticas
pedagógicas que compreende os anos de 1980 a 2005?
Restringindo o tratamento da alfabetização ao tema das práticas das
professoras alfabetizadoras, o que se pretende é colaborar na busca de pistas que
favoreçam a compreensão do que as pesquisas vêm constatando sobre o que as
professoras pensam e fazem na sala de aula para alfabetizar. Portanto, o objetivo
desta pesquisa é, através, das teses e dissertações com foco nas práticas de
professoras alfabetizadoras, produzidas entre os anos de 1980 a 2005, nos
Programas de Pós-Graduação em Educação do Estado de o Paulo, investigar as
principais tendências dessa produção com respeito aos procedimentos de
alfabetização, práticas e saberes docentes.
Em vista desse objetivo, os procedimentos metodológicos adotados
caracterizam esta dissertação como uma pesquisa bibliográfica. As etapas
desenvolvidas em sua elaboração foram:
1) Definição de critérios de seleção dos textos a serem analisados;
2) Processo de busca e seleção do corpus;
3) Leitura e fichamento dos textos;
4) Elaboração de quadro síntese;
5) Descrição e análise do corpus.
17
O levantamento bibliográfico teve como referência inicial a década de 1980. A
escolha deve-se ao fato de que foi a partir desse momento que, segundo Soares e
Maciel (2000), se intensificam as pesquisas sobre alfabetização no cenário da
produção acadêmica brasileira, inclusive com estudos que se voltam à descrição,
caracterização e análise das práticas das professoras alfabetizadoras no contexto da
sala de aula.
É oportuno esclarecer ainda que foram selecionadas apenas teses e
dissertações defendidas entre 1980 a 2005 em Programas de Pós-Graduação em
Educação de Universidades localizadas no Estado de São Paulo, entre elas, USP,
UNESP, UNICAMP, UFSCAR, PUC e UNIMEP.
No Capítulo 1 Alfabetização e práticas docentes: o contexto de produção
das pesquisas analisadas (1980 a 2005) são abordados estudos que tratam das
questões mais gerais sobre alfabetização e práticas alfabetizadoras, a fim de ensaiar
uma caracterização do estágio atual dos debates sobre o tema, tendo como ponto
de partida os anos de 1980. Essa contextualização da temática faz-se necessária na
medida em que constitui “pano de fundo” das pesquisas analisadas.
O Capítulo 2 Caminhos metodológicos da pesquisa: seleção e
caracterização dos estudos apresenta, primeiramente, o percurso de realização
desta pesquisa bibliográfica, apontando os procedimentos metodológicos adotados
na busca e seleção das teses e dissertações. Num segundo momento, apresentam-
se as características mais gerais dos estudos com relação ao nível de formação e
Instituição de Ensino Superior de origem das pesquisas, sujeitos investigados, local
da coleta de dados, procedimentos de coleta de dados utilizados pelos
pesquisadores, classificação das pesquisas quanto ao tipo de estudo e temas
abordados.
18
O Capítulo 3 As práticas das professoras alfabetizadoras como objeto de
investigação contempla a análise das pesquisas a partir de três focos temáticos, a
saber: procedimentos de alfabetização, práticas docentes, e saberes docentes.
Apresenta-se, assim, uma análise mais detalhada da produção selecionada quanto
aos aspectos específicos abordados pelos pesquisadores e aos resultados obtidos
por eles na investigação dos procedimentos de alfabetização, práticas e saberes
docentes.
Nas Considerações Finais apresentam-se as principais contribuições desta
dissertação na identificação de pistas a respeito do que os pesquisadores têm
construído de conhecimentos a respeito das práticas de professoras alfabetizadoras.
19
CAPÍTULO 1
ALFABETIZAÇÃO E PRÁTICA DOCENTE:
O CONTEXTO DE PRODUÇÃO DAS PESQUISAS ANALISADAS (1980 A 2005)
(…) A alfabetização não é uma realidade fora da história. Por trás
daquilo a que se chama ‘saber ler’ estão competências específicas
de cada época (…) O conteúdo e os métodos de ensino mudam à
medida que a demanda social da alfabetização se transforma e,
assim, as competências que se esperam dos professores não
cessam de ser redefinidas (CHARTIER, 1998, p. 4).
Neste capítulo, são apresentados alguns aspectos constitutivos do estágio
atual do conhecimento sobre alfabetização, tendo como referência inicial os anos de
1980, período de intensificação dos estudos e debates sobre o tema. Para tanto, o
referencial teórico contempla discussões sobre o conceito de alfabetização e
práticas alfabetizadoras, que influenciaram e influenciam a produção de
pesquisas sobre práticas de professoras alfabetizadoras. Abordam-se autores
nacionais e estrangeiros que se dedicam a pesquisas e estudos sobre alfabetização,
no que diz respeito, principalmente, às práticas de ensino nesse processo.
1.1 Contribuições da produção acadêmica sobre alfabetização e as políticas
educacionais
A alfabetização, como “processo de aquisição e apropriação do sistema de
escrita, alfabético e ortográfico” (SOARES, 2003b, p. 10), constitui a base da
escolarização, pois a leitura e a escrita são instrumentos indispensáveis na busca de
novas informações e conhecimentos, tanto no âmbito escolar como fora dele.
Como conseqüência das mudanças sociais, em especial do desenvolvimento
de novas tecnologias, o acesso à leitura e à escrita nunca foi tão necessário à
inserção dos indivíduos na sociedade e à própria vida cotidiana, pois fazer compras
20
em um supermercado, procurar uma rua na cidade, utilizar um carro, uma máquina
de lavar, um computador, tudo isso requer atividades de leitura, umas mais
sofisticadas que outras (CHARMEUX, 1995).
O domínio da leitura e da escrita tornou-se fundamental para que as pessoas
não se privem da liberdade de movimentos em uma sociedade letrada, nem de
importantes fontes de informação, de iguais oportunidades na sociedade e perante a
lei e nem de experiências estéticas que causam raro prazer (CARRAHER, 1986).
Como afirma Ferreiro (1997), deve-se alfabetizar para que o aluno possa ler o que
os outros produzem ou produziram e também para que a capacidade de “dizer por
escrito” seja mais democraticamente distribuída. Nesse sentido, “o desafio que a
escola enfrenta hoje é o de incorporar todos os alunos à cultura do escrito, é o de
conseguir que todos os ex-alunos cheguem a ser membros plenos da comunidade
de leitores e escritores” (LERNER, 2002, p. 17).
Desde os anos de 1980, no Brasil, o desenvolvimento e multiplicação de
estudos e pesquisas sobre o tema abordado sob diferentes vertentes em áreas
como a Pedagogia, a Psicologia e a Lingüística proporcionaram discussões sobre
o conceito de alfabetização e impulsionaram a implementação de políticas e
reformas educacionais voltadas à alfabetização no enfrentamento do fracasso
escolar, agravado pela expansão do ensino público às camadas mais pobres da
população.
No tocante à produção acadêmica brasileira sobre a alfabetização, o relatório
Estado do Conhecimento em Alfabetização, elaborado por Soares e Maciel
(2000) apresenta um panorama do desenvolvimento dessa produção por meio de
um balanço de teses e dissertações produzidas entre os anos de 1961 e 1989. Essa
pesquisa evidencia a complexidade do processo de alfabetização pela possibilidade
21
de diferentes abordagens de estudo do tema e aponta que os anos de 1980
representam um marco nos estudos sobre alfabetização tanto pelo crescimento
quantitativo da produção, relacionado à expansão dos cursos de s-graduação,
quanto pela diversificação de temas e referenciais teóricos explicativos
1
.
Assim, contribuições de pesquisas vindas de áreas como a psicologia, a
sociolingüística e a lingüística resultaram em revisões sobre o próprio conceito de
alfabetização, leitura e língua. Segundo as autoras do relatório, tais pesquisas,
também, puseram em discussão: a concepção de métodos de alfabetização; o
processo pelo qual a criança se apropria da língua escrita; a natureza
essencialmente lingüística do objeto de aprendizagem na alfabetização; as
implicações desse processo em relação ao material didático e à formação do
alfabetizador.
No âmbito da abordagem psicológica da aprendizagem, por exemplo,
ganharam destaque as pesquisas de Ferreiro e Teberosky que, tentando
compreender como se dava a aquisição da escrita, concluíram pela existência de
quatro momentos básicos pelos quais as crianças passam, conforme a síntese
expressa por Colello (2004, p. 27-28): 1) escrita pré-silábica: produzida pelas
crianças que ainda não sabem escrever; 2) escrita silábica: a criança compreendeu
que o sistema é uma representação da fala; 3) escrita silábica-alfabética: marcada
por um momento de transição, no qual a criança percebeu a ineficácia do sistema
silábico, mas ainda não domina o alfabético; e 4) escrita alfabética: a criança
compreende o valor sonoro de cada letra
2
.
1
De acordo com Soares e Maciel (2000), 80% das teses e dissertações sobre alfabetização foram
produzidas no Brasil entre os 1980-89, o que confirma o crescimento significativo desses estudos no
período e faz supor que essa produção tende a crescer. Em nota (p.11), as autoras apresentam
dados de um levantamento inicial das teses e dissertações produzidas entre 1990-1998: foram
identificados, nesses 9 anos, 350 títulos sobre alfabetização, contra 219 entre 1961-1989.
2
Um maior detalhamento dessas fases da construção da escrita, na perspectiva psicogenética, pode
ser encontrado em Ferreiro (1997) e Ferreiro e Teberosky (1999).
22
Essas pesquisas, baseadas nos referenciais piagetianos sobre a gênese
interna dos processos de construção do conhecimento, atribuíram ao aluno o status
de sujeito do processo de alfabetização, pois ele é quem define seus próprios
problemas e constrói hipóteses e estratégias para resolvê-los.
No lugar de uma criança que espera passivamente o reforço externo
de uma resposta produzida pouco menos ao acaso, aparece uma
criança que procura ativamente compreender a natureza da
linguagem que se fala à sua volta, e que, tratando de compreendê-la,
formula hipóteses, busca regularidades, coloca à prova suas
antecipações e cria sua própria gramática (que não é simples cópia
deformada do modelo adulto, mas sim criação original) (FERREIRO;
TEBEROSKY, 1999, p. 24).
Essa concepção construtivista de aprendizagem pressupõe, ainda, que as
crianças que crescem em um ambiente alfabetizado recebem informações a respeito
das funções sociais da escrita na sociedade que são inacessíveis àquelas que vivem
em lares com níveis baixos ou nulos de alfabetização. Essas últimas necessitam,
então, que a escola considere o trabalho com as funções sociais da escrita como
parte imprescindível do processo de alfabetização, haja vista os índices de evasão e
repetência dos alunos no primeiro ano escolar, elevados pela expansão do ensino
público que, justificaram, também, debates sobre a qualidade da alfabetização como
prioridade educacional.
Do mesmo modo, as contribuições das ciências lingüísticas sobre a natureza
dialógica da língua e de suas variantes dialetais permitiram o reconhecimento dos
muitos falares, apontando a necessidade de que o respeito ao sujeito falante e à
dimensão interlocutiva das práticas lingüísticas passassem a configurar como
pressupostos na busca pela qualidade do ensino (SILVA; COLELLO, 2003).
Entende-se que a criança quando chega à escola domina um determinado dialeto
da língua oral, que pode estar mais próximo ou mais distante da língua escrita
convencional (norma padrão), o que evidencia as diferenças, até então
23
desconsideradas pela escola, entre língua oral e língua escrita, entre sistema
fonológico e ortográfico em relação ao léxico, à morfologia e à sintaxe (SOARES,
2003a).
Além dos aspectos cognitivos e lingüísticos envolvidos na alfabetização,
Colello (2004) salienta que a divulgação, também na década de 1980, dos estudos
sobre o “letramento”
3
revelou os limites da escolarização no processo de formação
do sujeito letrado, ou seja, aquele que faz uso das habilidades de leitura e escrita no
seu cotidiano, respondendo às exigências da sociedade contemporânea. Assim, a
concepção de letramento contribuiu para redimensionar a compreensão que se tem
hoje sobre as dimensões do ensinar e aprender a ler e a escrever. A descrição do
fenômeno “letramento” demonstra “(…) a necessidade de reconhecer e nomear
práticas sociais de leitura e escrita mais avançadas e complexas que as práticas do
ler e escrever resultantes da aprendizagem do sistema de escrita” (SOARES, 2003b,
p. 1).
Conforme o estudo de Soares (2003a) sobre o fenômeno, uma diferença
entre saber ler e escrever e viver na condição ou estado de quem sabe ler e
escrever, o que permite inferir que uma pessoa pode ser alfabetizada, mas não
letrada. A pessoa que aprende ler e escrever, e que passa a fazer uso dessas
práticas, torna-se diferente social e culturalmente, pois mudam suas relações com o
outro, com o contexto e com os bens culturais.
Soares (2002) enfatiza que o sentido do letramento no aprendizado da leitura
e escrita incorpora duas dimensões, a saber, uma dimensão individual e uma social.
A primeira destaca a coexistência de dois processos leitura e escrita que
3
Colello cita entre os estudos brasileiros: KLEIMAM, A. (org.) Os significados do letramento: uma
nova perspectiva sobre a prática social da escrita. Campinas: Mercado das letras, 1995; SOARES, M.
Letramento: um tema em três
24
demandam um conjunto de habilidades lingüísticas e psicológicas distintas, mas que
se complementam. A dimensão social, por sua vez, considera o letramento como
uma prática social, ou seja, é aquilo que as pessoas fazem com as habilidades de
leitura e escrita, as práticas sociais, num determinado contexto e como essas
habilidades relacionam-se com as necessidades e valores sociais.
Grosso modo, os estudos sobre o letramento lançaram luzes sobre a faceta
social do aprendizado da leitura e da escrita, ao mesmo tempo em que apontaram
novos desafios para a escola, quais sejam: levar o aluno não a aquisição da
tecnologia do ler e escrever (alfabetizar), mas aos usos e práticas sociais da leitura e
da escrita (letrar). Depreende-se daí que
aprender ler e escrever implica não apenas o conhecimento das
letras e o modo de decodificá-las (ou associá-las), mas a
possibilidade de usar esse conhecimento em benefício de formas de
expressão e comunicação possíveis, reconhecidas, necessárias e
legítimas em um determinado contexto cultural (COLELLO, 2004, p.
110).
O que se verifica é que, de modo geral, os estudos produzidos sobre
alfabetização em diversas áreas de conhecimento ampliaram a perspectiva sobre o
ensino de leitura e escrita, apontando outros objetivos para a alfabetização, inclusive
em relação ao papel social desse aprendizado.
Para além da produção acadêmica, verifica-se a influência das discussões
emergentes nos anos de 1980 no âmbito das políticas voltadas ao ensino
fundamental e à alfabetização. A evidência de que o fracasso escolar no processo
de alfabetização é uma ameaça às “(…) legítimas aspirações de uma
democratização do saber e da cultura, que acompanhe a democratização do acesso
à escola (…)” (SOARES; MACIEL, 2000, p. 7, grifos das autoras), coloca a
alfabetização como problema básico do sistema educacional brasileiro e, em
decorrência disso, iniciativas de capacitação docente, organização de seminários e
25
encontros sobre o tema, desenvolvimento de projetos, tanto no nível dos estados
quanto no dos municípios, são exemplos de tentativas de enfrentamento do
problema.
Entre essas tentativas destaca-se, em âmbito nacional, a implantação dos
Ciclos de Alfabetização e da Progressão Escolar como iniciativas para assegurar
aos alunos a permanência na escola e a qualidade do ensino. Barreto e Souza
(2004) apresentam uma breve análise das políticas educacionais no que tange às
perspectivas e iniciativas de reorganização curricular presentes na legislação
brasileira implementadas em território nacional que trazem elementos do conceito de
ciclos. Apesar da idéia básica de ciclos estar presente ao longo da história da
educação brasileira, a denominação “ciclos” aparece somente nos anos de 1980 e
está relacionada à idéia de superação da fragmentação artificial do processo de
aprendizagem, característica do sistema seriado que margem à reprovação
anual.
Na década de 1980, Estados como São Paulo, Minas Gerais, Paraná, entre
outros, eliminaram a seriação nas ries iniciais da escolarização, estendendo para
dois anos a alfabetização, a fim de diminuir os índices de evasão e repetência
verificados nessa fase. Tal como explicam Barreto e Souza (2004), a implantação
dos ciclos básicos refletiu a necessidade de resgatar a dívida social para com as
parcelas majoritárias da população que fracassavam na escola. Essas medidas
pretendiam flexibilizar o tempo e a organização da escola garantindo que essa
clientela, diversificada sócio, cultural e economicamente, tivesse oportunidades
adequadas de aprender.
Subsidiada pela visão psicogenética de aquisição da língua escrita,
acreditava-se que a adoção dos ciclos possibilitaria trabalhar melhor com a diferença
26
existente entre os alunos, adequando o ensino aos diferentes ritmos de
aprendizagem e em função do estágio de desenvolvimento da língua escrita em que
se encontrava a criança (SAWAYA, 2000).
Além da implantação dos Ciclos Básicos e da Progressão Escolar, a
publicação dos Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino de Língua
Portuguesa (BRASIL, 1997), nos anos de 1990, confirma a incorporação de novos
objetivos para a alfabetização no âmbito das políticas educacionais. Ao reconhecer
que o domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de participação
social (por meio dela o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e
defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo e produz
conhecimento), cabe à escola permitir que os alunos sejam capazes de interpretar
diferentes tipos de texto, de assumir a palavra e de produzir textos eficazes em
diferentes situações.
De acordo com o documento, as propostas didáticas que enfatizam o papel
da ação e da reflexão do aluno na alfabetização, descrevendo os caminhos
percorridos por ele durante esse processo, apontam que a aprendizagem da leitura
e escrita vai além da aquisição de uma técnica de decifração; que “(…) para
aprender ler e escrever é preciso pensar sobre a escrita, pensar sobre o que a
escrita representa e como ela representa graficamente a linguagem” (BRASIL, 1997,
p. 82). Enfatizam os PCNs que as pesquisas de Ferreiro, ao identificar e descrever
as hipóteses que as crianças constroem sobre a língua escrita, romperam com a
crença de que o domínio do -a-bá seja pré-requisito para o início do ensino da
língua.
Conforme orientações dos PCNs (BRASIL, 1997) a unidade de ensino desde
o início do processo de alfabetização deve ser o texto, pois se o objetivo é que o
27
aluno aprenda a produzir e interpretar textos, a letra, a sílaba, a palavra ou a frase
descontextualizadas, pouco têm a ver com a competência discursiva, entendida no
documento como a capacidade de produzir discursos orais e escritos adequados às
situações enunciativas.
Além disso, o documento apresenta uma crítica à forma como a gramática é
ensinada na escola, “um conteúdo estritamente escolar”, cuja ênfase está nas
atividades de categorização e sistematização dos elementos lingüísticos
desvinculadas do uso da língua. Em contrapartida, os PCNs indicam que essas
atividades devem, em especial nos primeiros anos, estar vinculadas a situações de
produção e interpretação de textos reais, que o objetivo da “análise e reflexão”
sobre a língua escrita é garantir uma melhor qualidade no seu uso.
Considerando as tendências atuais sobre a alfabetização, recentemente, o
Governo Federal, pela Lei nº. 11.274, de 6 de fevereiro de 2006, altera a redação
dos artigos 29, 30, 32 e 87 da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a
9.394/96, dispondo sobre a duração de noves anos para o ensino fundamental, com
matrícula obrigatória a partir dos seis anos de idade, a fim de integrar ao Sistema
Público de Ensino uma clientela ainda não atendida majoritariamente pela educação
pré-escolar. Isso porque, até então, a pré-escola não era obrigatória, sendo
facultativa a matrícula das crianças de até seis anos no sistema de ensino. A o
obrigatoriedade da pré-escola resultava, muitas vezes, no não oferecimento de
vagas para atender a demanda dessa população.
Ao constatar que as crianças das camadas médias e altas da sociedade
ingressam na escola muito mais cedo que as crianças das classes populares,
estando estas últimas em desvantagem em relação às primeiras, tal medida
pretende “(…) oferecer maiores oportunidades de aprendizagem no período da
28
escolarização obrigatória e assegurar que, ingressando mais cedo no sistema de
ensino, as crianças prossigam nos estudos, alcançando maior nível de escolaridade”
(BRASIL, 2004a, p. 14).
De acordo com o documento elaborado pela SEB/MEC (Secretaria de
Educação Básica/Ministério da Educação), Ensino Fundamental de nove anos:
Orientações Gerais (BRASIL, 2004a), não se trata de transferir aos alunos de seis
anos os conteúdos e atividades da 1
a
série, mas de conceber uma nova estrutura de
organização dos conteúdos considerando para isso o perfil desses alunos.
Baseando-se na perspectiva de que a alfabetização deve acontecer na escola
a partir de eventos sociais em que as práticas de leitura e escrita sejam postas em
ação, o ensino fundamental de nove anos pode, como expõe Duran (2006),
contribuir para o letramento, na medida em que garante a todas as crianças o
acesso à leitura e à escrita.
A proposta de um ensino fundamental de nove anos, ancorada nos
pressupostos construtivistas e na perspectiva do letramento, reafirma a necessidade
de redefinição da prática alfabetizadora, “(…) questionando-se o núcleo da prática
pedagógica e analisando-se o abismo que tem separado a prática escolar da prática
social de leitura e escrita” (DURAN, 2006, p. 237). Os impactos positivos e negativos
dessa medida sobre o trabalho do professor que alfabetiza, começam a ser
explorados pela pesquisa acadêmica, e certamente constituem tema de interesse
para os pesquisadores.
1.2 Conceito de alfabetização e procedimentos de ensino
Os aspectos brevemente apresentados até aqui sobre as contribuições de
diferentes áreas do conhecimento na identificação dos vários elementos
29
cognitivos, lingüísticos e sociais - envolvidos no processo de aquisição da língua
escrita, bem como sobre as políticas educacionais implementadas com base nessas
idéias, capitanearam também discussões sobre métodos e procedimentos didáticos
utilizados na alfabetização, bem como propostas de mudanças nas práticas
docentes a partir da incorporação de concepções e procedimentos de ensino mais
articulados aos objetivos contemporâneos da aquisição das habilidades de leitura e
escrita.
Isso se explica, por exemplo, pelo crescimento na produção de teses e
dissertações sobre algumas temáticas como proposta didática em comparação com
os estudos sobre método entre 1961 e 1989, conforme o relatório Estado do
Conhecimento em Alfabetização. A disseminação de uma outra visão de
alfabetização como um processo de construção de conhecimento e sob
suspeita os métodos tradicionalmente usados para alfabetizar, em busca de
paradigmas didáticos alternativos (SOARES; MACIEL, 2000).
Se compararmos as produções sobre método e proposta didática,
podemos afirmar que método está presente em todas as décadas,
com 56% dessa produção nos anos 80; entretanto, pode-se dizer que
este é um tema que vem sofrendo decréscimo, ao compararmos com
a produção sobre proposta didática, que se concentra na década de
80 e representa mais de 80% do total da produção no período. Pode-
se concluir que, embora persista o interesse pelos métodos
tradicionalmente usados no processo de alfabetização, cresce
significativamente a busca por outros paradigmas (…). Uma análise
da produção sobre método, numa perspectiva histórica, evidencia
que, embora essa produção cresça numericamente ao longo do
tempo (…) diminui porcentualmente na última década em relação aos
demais temas (p. 17-18).
Revisando as práticas alfabetizadoras, alguns autores (CHARMEUX, 1995;
FERREIRO, 1997; MICOTTI, 1996; SOARES, 2003a, TEBEROSKY, 1993)
constataram que, durante muito tempo, para ensinar ler e escrever as professoras
lançaram mão de atividades que se caracterizavam pela excessiva mecanização das
30
tarefas, pela decodificação e codificação da escrita, privilegiando a memorização de
fatos e partes isoladas e sem sentido. A concepção de escrita como mera
transcrição da língua oral, e não como uma forma de linguagem específica, norteava
uma alfabetização baseada na apresentação das unidades menores da língua
fonemas/letras, sílabas, palavras, frases e finalmente o texto, ou, de modo inverso,
na exposição de palavras, frases, ou pequenos textos que, posteriormente, eram
divididos em sílabas e letras.
Pelo menos até os anos de 1980, no Brasil, as práticas docentes na
alfabetização caracterizavam-se pela adoção de um método, o que não significa que
essas práticas não tenham continuidade nos dias de hoje. Micotti (1996), revisando
estudos sobre métodos de alfabetização, classifica-os em sintéticos e analíticos,
conforme a seqüência em que o ensino é organizado.
Os métodos sintéticos - alfabético, silábico e fônico baseiam-se na idéia de
que o ensino deve partir do mais simples para o mais complexo e de que o princípio
lógico da escrita é adquirido por condicionamento e associações repetidas: primeiro
a criança deve conhecer as letras e seus sons e a forma como se combinam para
formar sílabas que formam palavras. A automação de todo o conjunto de signos
permitirá a pronúncia dos sons a eles correspondentes e a conseqüente
compreensão dos textos, que, no entanto, não é um problema propriamente de
aprendizagem (MICOTTI, 1996).
Os métodos analíticos da palavração, da sentenciação e do conto ou
historieta -, segundo a autora, baseiam-se na idéia de escrita como transcrição
visual da língua oral e destacam a importância da compreensão na aprendizagem,
valorizando, assim, a utilização de material didático para a leitura com sentido, de
31
modo que, a partir do todo, se desenvolvam atividades de análise e depois de
síntese.
Há ainda métodos mistos que se caracterizam pela simultaneidade, no âmbito
de uma aula ou lição, das atividades de compor e de decompor e vice-versa.
Destaca-se entre esses, o método analítico-sintético que “(…) consiste na seleção
de palavras com dificuldades gradativas, sentenças e passagens que a criança
analisa, compara e sintetiza mais ou menos simultaneamente desde o início da
aprendizagem” (MICOTTI, 1996, p. 19).
Em todos os casos, a cartilha, como um dos principais recursos didáticos do
professor, orientava seu trabalho pela apresentação seqüenciada das letras, sílabas
ou palavras. Quanto ao aluno, acreditava-se, como explica Matencio (1994), que ele
devia unicamente conhecer a estrutura da escrita, sua organização e princípios
fundamentais, para que possuísse os pré-requisitos e desenvolvesse as atividades
de leitura e produção escrita.
A crítica a esses métodos até então utilizados nas salas de aula para
alfabetizar está relacionada à perspectiva psicogenética de que esses podem até
mesmo ser prejudiciais, na medida em que bloqueiam ou dificultam a “(…)
construção real e inteligente por parte das crianças desse objeto cultural que é a
escrita” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1999, p. 283). Rejeitando a dicotomia
análise/síntese como explicativa do processo de aprendizagem da escrita pela
criança, as abordagens construtivistas em alfabetização rejeitam também os
métodos fundamentados nessas dicotomias, a saber, métodos sintéticos e analíticos
(SOARES, 2003a).
De modo geral, autores que fazem críticas aos métodos tradicionais de
alfabetização (CHARMEUX, 1995; COLELLO, 2004; FERREIRO, 1997; MATENCIO,
32
1994) referem-se à predominância de um ensino centrado no professor e baseado
em exercícios mecânicos de repetição e memorização, a partir de atividades sem
significação para os alunos e que constroem uma seqüência idealizada de
progressão cumulativa – do simples ao complexo, do fácil ao difícil – sem considerar
o que seja fácil ou difícil para a criança. Além disso, como aponta Charmeux (1995),
nesses métodos a compreensão é o resultado “mágico” de um processo de
pronúncia, que nada no trabalho previsto diz respeito à aprendizagem da
compreensão que deve vir sozinha desde que se pronuncie.
Do ponto de vista dos objetivos sociais da alfabetização as críticas de Garcia
(2001) e Zaccur (2001) às práticas tradicionais incidem sobre a impossibilidade de
se formar os “indivíduos críticos e criativos” por meio de um trabalho com sílabas
soltas, palavras isoladas ou frases sem sentido. Essas práticas, baseadas no ideal
da homogeneização, contribuem para transformar as crianças em pessoas
conformistas e facilmente manipuláveis.
Trata-se de ministrar gota a gota, frações mínimas de conhecimento
ao sujeito passivo em que a escola insiste em transformar o aluno. A
lógica da escola pressupõe que fragmentar significa facilitar a
aprendizagem. Prevalece a representação de que o aluno é ensinado
pelo professor. O aluno, como a sintaxe ensina, é sujeito paciente:
sofre a ação (ensinar) realizada pelo professor (ZACCUR, 2001, p.
18-19, grifos da autora).
As críticas de base construtivista também recaem sobre os materiais didáticos
utilizados pelos alfabetizadores, em especial sobre as cartilhas, que apesar de terem
sido amplamente aceitas nas escolas, são caracterizadas por exercícios mecânicos
de codificação, frases estereotipadas e sem sentido, elaboradas para ensinar e
aprender a ler. No entanto, pretendendo ensinar a ler, as cartilhas desconsideram a
formação do leitor e produtor de textos, ao mesmo tempo em que perpetuam a idéia
de um saber doado, no qual o ponto de vista do aluno raramente é levado em
consideração (COLELLO, 2004; FERREIRO, 1997). Como sintetiza Chartier (1998),
33
as cartilhas sofreram críticas quanto ao seu caráter ideológico (representação
arcaica da realidade, estereótipos sociais, etc.), à presença de erros lingüísticos, e
aos métodos centrados no código, mais atentos à articulação dos sons e, portanto,
inadequados para levar a uma leitura visando à compreensão.
Além disso, como sugere Colello (2004), a utilização exclusiva das cartilhas
para alfabetizar pode contribuir, significativamente, para a elaboração de textos
pouco criativos, expressivamente pobres, que o ensino da língua é substituído
pela memorização de cnicas, regras e conceitos que, muitas vezes, anulam a
possibilidade de produção criativa. “Esses textos transformam-se no ‘modelo’ que a
criança deve obedecer, quando escreve: uma sucessão de sentenças entre as quais
não coesão, não coerência, não há unidade temática” (SOARES, 2003a, p.
74).
Para Amâncio (2002), as cartilhas ocupam nas salas de aula um espaço
privilegiado, “invadindo” o espaço do professor, do aluno e da própria linguagem. De
acordo com a autora, o professor deixa de exercer o seu papel de organizar,
selecionar e conduzir as atividades, que estas estão prontas e previamente
definidas nas cartilhas. Com relação ao aluno, a cartilha dispensa a participação, a
opinião e a intervenção da criança. No que tange à linguagem, Amâncio destaca,
como Soares, Colello, Ferreiro que as cartilhas impõem uma falsa linguagem
restringindo o espaço de construção do conhecimento, pois não permitem o
exercício da linguagem em suas várias funções.
A título de exemplo, as críticas às abordagens teórico-metodológicas da
alfabetização incidiram sobre a produção de livros didáticos para alfabetizar. Como
esclarece Silva (2004), a denominação dos materiais como livros de alfabetização
em oposição às cartilhas tem sua origem nos movimentos de renovação da
34
produção acadêmica e no conseqüente questionamento das formas de trabalho
vigentes para ensinar ler e escrever. Resultou dessa renovação a separação entre
propostas denominadas tradicionais e experiências consideradas inovadoras ou
alternativas, que elaboradas a partir de abordagens construtivistas. E o mercado
editorial de livros didáticos, refletindo essas discussões, passou a investir, a partir do
final da cada de 1980, em obras atualizadas que se fundamentam em
perspectivas teóricas divulgadas e legitimadas no campo acadêmico.
De acordo com Silva, esses livros de alfabetização trouxeram novas
dimensões para o trabalho do professor no tocante à forma de conduzir sua relação
com os alunos e com os conteúdos a serem ensinados, exigindo que ele: tenha
domínio das teorias cognitivas que explicam o processo de construção do
conhecimento pelo aluno; reconheça-se como aquele que promove o avanço da
aprendizagem do aluno, facilitando a aprendizagem e não impondo conhecimentos;
saiba se guiar pelo tempo de aprendizagem do aluno e o mais pelo tempo de
transmissão do conteúdo; saiba lidar com a heterogeneidade dos ritmos de
aprendizagem, desenvolvendo formas de intervenção mais individualizadas em um
contexto coletivo de ensino.
Considerando o conjunto dos estudos apresentados até aqui, as ressalvas
feitas aos métodos e materiais utilizados na alfabetização estão relacionadas a
concepções que eles veiculam sobre professor, aluno, ensino e aprendizagem que
se mostram em desacordo com o estado do conhecimento atual sobre os processos
de ensino e aprendizagem como construção de conhecimentos. Passa-se da visão
de criança “pronta”, “madura para ser alfabetizada e dependente dos estímulos
externos e cujas dificuldades são tidas como deficiências ou disfunções individuais,
à idéia de criança como sujeito ativo capaz de elaborar conhecimentos sobre a
35
escrita a partir da sua relação com esse objeto, e cujos “erros” resultam das
constantes reestruturações que caracterizam o processo de construção do
conhecimento da língua escrita (SOARES, 2003a).
Essa construção é possível, como explica Charmeux (1995), por meios de
práticas pedagógicas que permitam o encontro da criança com obstáculos que
provocam a tomada de consciência de necessidades novas e a análise desses
obstáculos, assim como das hipóteses propostas pelos pares. Propõe Charmeux
uma prática alfabetizadora que faça emergir da criança aquilo que ela sabe sobre
a leitura e escrita e provoque o encontro desses saberes com outros dados, outros
textos, a fim de que, com a ajuda do professor, possa caminhar em direção a outras
hipóteses e soluções.
Nessa perspectiva, cabe ao professor organizar, desde o início da
escolarização, atividades que não prescindam da compreensão, ao contrário
situações que gerem nos alunos a necessidade da leitura e da escrita.
Isso significa que ler e escrever se aprende em situações autênticas
e significativas de leitura e escrita, que são geradas pela
necessidade de ler e escrever ou pela necessidade que se tem
daquilo que se lê ou se escreve (GIOVANNI, 1996, p. 83).
A partir de uma revisão de textos sobre o trabalho do professor alfabetizador,
Giovanni (1996) identifica três eixos metodológicos da organização dessas
“situações significativas de leitura e escrita”, a saber, motivação, ação e
conhecimento. De acordo com a autora, motivação deve ser o ponto de partida da
prática alfabetizadora, e ela se por meio de atividades que possibilitam a
expressão, discussão e compreensão do que os alunos sabem ou fazem. A
apresentação de novos desafios, através de atividades e situações práticas, deve
permitir aos alunos novas vivências e ações que, então, devem ser analisadas (com
perguntas, busca de respostas, estudos) e, assim, possam favorecer a interiorização
36
dessa ação, transformando-a em conhecimento, que amplia ou modifica o referencial
inicial do aluno.
Nessa perspectiva a alfabetização deve ocorrer, portanto, a partir do contato
da criança com a escrita em toda a sua complexidade, do acesso à utilização social
adulta da língua escrita, evitando práticas e atividades tipicamente escolares que
não respondem à necessidade de comunicação e não possibilitam ao aluno
descobrir e vivenciar as funções sociais da escrita.
Os alunos devem estar, não envolvidos por textos variados, mas também
por atividades que permitam a eles participarem da utilização real que se fazem
desses textos – quer sejam da escola, do ambiente, da imprensa, de documentários,
de obras de ficção. Isso porque o aluno precisa compreender, também, o papel das
atividades de leitura e da escrita no mundo, enxergando um significado concreto
para o seu aprendizado (CHARMEUX, 1995; FOUCAMBERT, 1994; MICOTTI, 1996;
TEBEROSKY, 1993).
Entre os aprendizados envolvidos na alfabetização é necessário distinguir,
portanto, a aprendizagem de convenções fixas e externas aos sistemas de escrita
(direção da escrita, formas de tipos de letra e sinais de pontuação), do aprendizado
da representação da linguagem que define o sistema alfabético (TEBEROSKY,
1993).
Ressalta Teberosky que as práticas de alfabetização devem considerar
atividades distintas para diferentes aspectos da linguagem, assim sendo, algumas
atividades têm como objetivo criar condições para que as crianças avancem na
compreensão das regras do sistema alfabético, outras para que aprendam as
convenções sobre o uso do sistema e outras para que interpretem e usem a
linguagem escrita. Propõe a autora que, nessa vertente, todas as atividades devem
37
basear-se em textos, tendo como ponto de partida a compreensão e a expressão da
linguagem.
A explicitação dessa “pedagogia da compreensão” a partir da inserção dos
alunos na “cultura dos escritos” pressupõe que a compreensão começa antes da
leitura, na tomada de consciência dos usos da escrita e nas vivências em torno do
texto. Se a iniciação à escrita, tradicionalmente, centrava-se nas especificidades do
código gráfico, na discriminação visual e na soletração fonética, pode-se dizer que a
ênfase passou da decifração para a compreensão de textos, da capacidade de
grafar para a produção de textos escritos (CHARTIER, 1998; CHARTIER; CLESSE;
HÉBRARD, 1996).
Para Chartier, Clesse e Hébrard (1996) o trabalho de iniciação à escrita deve
basear-se em três eixos. O primeiro se refere à necessidade do professor relacionar
as aprendizagens em vias de constituição pelos alunos às práticas sociais da escrita
presentes no contexto social, em particular os escritos funcionais que encontramos
nas famílias e nos espaços urbanos. O segundo baseia-se na construção de
vivências culturais em torno dos objetos e textos impressos através de uma
familiarização progressiva e sistemática em situações de descoberta e de
investigação dirigida, em atividades de manipulação livre, enfim, em atividades
regulares em que o adulto lê e relê histórias ou textos diversos.
O terceiro eixo, segundo os autores, refere-se ao emprego de uma pedagogia
da compreensão dos escritos apoiada na verbalização dos alunos. Graças às suas
observações e perguntas perante os diferentes textos o professor modula suas
escolhas de conteúdo e suas intervenções em função das dificuldades reais do
grupo e as crianças ao explicitarem os procedimentos que utilizam intuitivamente
chegam progressivamente ao seu domínio.
38
Diante dessa perspectiva, Chartier (1998) aponta pelo menos três desafios
pedagógicos concernentes aos objetivos da alfabetização, a questão dos manuais
de leitura, a passagem do oral para o escrito e a aprendizagem precoce da escrita.
Com relação aos manuais de leitura propõem-se aos professores, que iniciem os
alunos em uma forma de leitura ideovisual, a partir do trabalho com textos autênticos
(cartazes, jornais, documentos diversos, etc.) o que significa pedir aos professores
que construam eles próprios a progressão da aprendizagem através da vivência em
sala de aula.
Com relação à passagem do oral ao escrito pede-se aos professores que
sejam tratados pontos comuns entre oralidade e escrita, por exemplo, por meio da
compreensão de textos lidos pelo professor, recitação de pequenos contos, poesias
e canções, reconstituição de histórias narradas de modo coletivo e jogos de rimas. A
aprendizagem precoce da escrita supõe o abandono do período preparatório e o
encorajamento dos professores a deixarem as crianças produzirem escritas
espontâneas, ao mesmo tempo em que devem cuidar para que elas não adquiram
maus hábitos grafo-motores (CHARTIER, 1998).
Todos esses aspectos sobre as práticas pedagógicas, apontados nesses
estudos corroboram a afirmação de Chartier (1998), apresentada como epígrafe
desse capítulo, de que a alfabetização não é uma realidade fora da história, que o
ato de ensinar ler e escrever não se define por um objetivo permanente, mas, ao
contrário, o conteúdo e os métodos de ensino mudam à medida que a demanda
social de alfabetização se transforma e, com elas as competências que se esperam
dos professores são, constantemente, redefinidas.
Em relação às discussões sobre o conceito de alfabetização e os
procedimentos de ensino nesse processo, é oportuno ressaltar a idéia, apresentada
39
por Soares (2003a), de que à alfabetização tem-se atribuído, muitas vezes, um
significado demasiado abrangente, considerando-a como um processo permanente
que se estenderia por toda vida e que
(…) embora o processo de aprendizagem da língua escrita seja um
processo permanente, nunca interrompido, não parece apropriado,
nem etimológica ou pedagogicamente, que o termo alfabetização
designe, como querem alguns, tanto o processo de aquisição das
habilidades de leitura e escrita quanto o processo de
desenvolvimento dessas habilidades. Etimologicamente, o termo
alfabetização não ultrapassa o significado de “processo de aquisição
do alfabeto”, ou seja, de aprendizado da ngua escrita, das
habilidades de ler e escrever; pedagogicamente, atribuir um
significado mais amplo ao processo de alfabetização seria negar-lhe
a especificidade, com reflexos negativos na caracterização de sua
natureza, na configuração das habilidades básicas de leitura e
escrita, na definição da competência em alfabetizar (SOARES,
2003a, p.15).
Em trabalho apresentado durante a 26
a
. Reunião Anual da ANPED, Soares
(2003b) retoma essa idéia e sugere a necessidade de se “reinventar” a
alfabetização, ou seja, de se assegurar a sua especificidade como processo de
aquisição e apropriação do sistema convencional de uma escrita alfabética e
ortográfica. Em vista dos precários resultados obtidos em provas que avaliam as
habilidades de leitura e escrita SARESP, ENEM, SAEB, PISA
4
entre outras
pode-se afirmar que o fracasso, antes revelado nas ries iniciais do ensino
fundamental, estende-se, até mesmo, ao ensino médio, apontando que grandes
contingentes de alunos não alfabetizados ou semi-analfabetos saem do sistema
escolar depois de quatro, seis, oito anos de escolarização.
Para a autora, a ampliação do conceito de alfabetização e a conseqüente
perda de sua especificidade, podem ser em parte, responsáveis pelo fracasso
4
SARESP (Sistema de Avaliação da Rede Estadual de São Paulo), ENEM (Exame Nacional do
Ensino Médio), SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica), PISA (Programa
Internacional de Avaliação dos Estudantes).
40
escolar, na medida em que essa “desinvenção”
5
dificulta a organização do trabalho
das alfabetizadoras, no que refere à escolha das atividades e dos procedimentos
didáticos a serem utilizados por elas.
Entre as possíveis causas dessa “perda de especificidade” ou dessa
“desinvenção” está a reorganização do tempo escolar com a implantação dos ciclos
e do princípio da progressão continuada que mal concebidos e mal aplicados podem
provocar “(…) uma diluição ou uma preterição de metas e objetivos a serem
atingidos gradativamente (…) resultar em descompromisso com o desenvolvimento
gradual e sistemático de habilidades, competências, conhecimentos” (SOARES,
2003b, p. 4).
Consequentemente, como observam Glória e Mafra (2004), se por um lado
essas políticas garantiram um maior acesso e permanência de alunos na escola, por
outro a problemática escolar das crianças parece estar se deslocando para a saída
do sistema escolar. Na pesquisa que realizaram em uma escola da Rede Municipal
de Belo Horizonte/MG, que adotava a organização do ensino fundamental em ciclos,
as autoras enfatizam a reclamação de professoras do 3
o
. ciclo (crianças de 12 a 15
anos), quanto ao fato dos alunos chegarem nessa etapa sem saber ler e escrever.
Para Soares (2003b), no entanto, a maior causa da “desinvenção” da
alfabetização está na mudança conceitual a respeito da aprendizagem da língua
escrita difundida no Brasil, nos anos de 1980, por meio da abordagem construtivista.
Para ela, o construtivismo que modificou a concepção do processo de construção da
representação da língua escrita pela criança, afirmando que a aprendizagem se
na relação da criança com a escrita, a partir de constantes reestruturações mentais,
trouxe alguns equívocos e falsas inferências, quais sejam: privilegiou-se a faceta
5
Como explica Soares (2003b, p. 4) esse neologismo pretende nomear a progressiva perda da
especificidade do processo de alfabetização que parece vir ocorrendo na escola brasileira ao longo
das duas últimas décadas.
41
psicológica da alfabetização, em detrimento da faceta lingüística (fonética e
fonológica) do objeto de conhecimento em construção e se difundiu a falsa
inferência de que seria incompatível ao paradigma psicogenético a proposta de
métodos de alfabetização.
Além disso, segundo Soares, as discussões sobre letramento, que surgem
enraizadas no conceito de alfabetização, têm levado a uma inadequada fusão dos
dois conceitos com prevalência do conceito de letramento, que por sua vez tem
gerado o falso pressuposto de que apenas pelo convívio com a cultura escrita, a
criança se alfabetiza.
Com efeito, muitas vezes, o ensino da língua escrita tem se baseado numa
concepção holística da aprendizagem, ou seja, decorrente do princípio de que
aprender a ler e a escrever “(…) é aprender a construir sentido para e por meio de
textos escritos” (SOARES, 2003b, p. 6, grifos da autora). Esse aprendizado
aconteceria de forma natural na interação com a cultura escrita e, portanto, o
sistema grafo-fônico não seria objeto de ensino direto e explícito, sendo a criança
“(…) capaz de descobrir por si mesma as relações fonema-grafema, em sua
interação com material escrito e por meio de experiências com práticas de leitura e
escrita” (SOARES, 2003b, p.8). Acredita-se que possa ocorrer de modo incidental e
natural a aprendizagem de conhecimentos que são convencionais e em parte
arbitrários, quais sejam: o sistema alfabético e o ortográfico.
Contra essa concepção holística é que a autora propõe a recuperação das
especificidades da alfabetização a sua “reinvenção”. Contudo, como ressalta
Soares, isso não deve significar um retorno aos métodos tradicionais, mas sim a
especificação do fenômeno da alfabetização processo de aquisição do sistema
convencional de uma escrita alfabética e ortográfica bem como das práticas de
42
ensino que lhe são próprias, caracterizadas, via de regra, pelo ensino direto,
explícito e sistemático do sistema alfabético e ortográfico da língua escrita.
Soares (2003b) aponta como caminho a essa recuperação, ou reinvenção, a
revisão dos quadros referenciais e dos processos de ensino que têm predominado
na sala de aula, distinguindo o que caracteriza, prioritariamente, a alfabetização.
Constituída de muitas facetas, a alfabetização pressupõe consciência fonológica e
fonêmica
6
, identificação de relações fonema-grafema, habilidades de codificação e
decodificação da escrita, e conhecimento e reconhecimento dos processos de
tradução da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita.
Se por um lado, propõe-se a distinção entre alfabetização e letramento
através do reconhecimento de suas especificidades e diferentes facetas, por outro, a
autora ressalta a necessária conciliação entre essas duas dimensões na
aprendizagem da leitura e escrita, já que não são processos independentes.
Além do mais, a alfabetização não precede o letramento, mas são processos
simultâneos:
(…) a alfabetização se desenvolve no contexto de e por meio de
práticas sociais de leitura e escrita, isto é, através de atividades de
letramento, e este, por sua vez, pode desenvolver-se no contexto
da e por meio da aprendizagem das relações fonema-grafema, isto é,
em dependência da alfabetização (SOARES, 2003b, p. 9, grifos da
autora).
É possível, assim, afirmar que o processo de alfabetização, hoje, não deve se
restringir à aquisição das habilidades de leitura e de escrita, mas também não pode
prescindir dela na formação do leitor e escritor autônomos. Em entrevista ao jornal
Letra A do CEALE (Ano I, n. 1, abril/maio de 2005), Soares explica que a criança
6
A consciência fonológica refere-se à habilidade de prestar atenção aos sons da fala como
entidades independentes de seu significado; as habilidades de reconhecer aliterações, rimas, de
contar sílabas nas palavras são indícios de consciência fonológica. Por outro lado, a consciência
fonêmica é o entendimento de que cada palavra falada pode ser concebida como uma seqüência de
fonemas. Ela é a chave para a compreensão do princípio alfabético (as letras representam sons), pois
os fonemas são as unidades de sons representadas pelas letras (CAPOVILLA, 2005 p. 33-34).
43
deve aprender simultaneamente todas as competências e habilidades da aquisição
da escrita, ou seja, precisa aprender a decodificar e a codificar (relações
fonemas/grafemas), ao mesmo tempo em que deve aprender as funções sociais da
escrita e a compreender textos. Para tanto, a criança têm que aprender ler e
escrever interagindo com textos reais, com diversos gêneros e portadores de textos
que circulam na sociedade.
Desse modo, para a autora, não se pode falar em um método de
alfabetização, mas de todos. Ler histórias, poemas ou textos informativos para
crianças, le-las a interpretar esses diferentes textos supõe procedimentos
didáticos diferentes daqueles utilizados para desenvolver a aprendizagem das
relações fonema/grafema a partir das palavras-chave de um texto lido. São
diferentes métodos e procedimentos porque são diferentes objetos de conhecimento
e, portanto, diferentes processos de aprendizagem (SOARES, 2005).
Sob essa perspectiva, Ferreiro (2003), apesar de rejeitar a coexistência dos
termos alfabetização e letramento, afirma que a alfabetização como processo
contínuo é desencadeada pelo acesso à cultura escrita e depende do contato com o
texto. O conceito de alfabetização incorpora os preceitos do letramento propondo
uma prática pedagógica em que a aprendizagem da escrita ocorre a partir da
descoberta de seus usos e funções sociais.
Corroborando a idéia de que o grande desafio da escola é alfabetizar,
incorporando todos os alunos à “cultura do escrito”, Lerner (2002), aponta a
separação entre “apropriação do sistema de escrita” e “desenvolvimento da leitura e
escrita” é como um dos fatores responsáveis por uma prática centrada na
sonorização e na decodificação, desvinculada do significado e da compreensão, que
44
faz supor que a alfabetização seja um requisito prévio para que se possa perceber a
função social do texto, ou a utilização da linguagem escrita como tal.
O necessário é fazer da escola um âmbito onde leitura e escrita
sejam práticas vivas e vitais (…) preservar na escola o sentido que a
leitura e a escrita têm como práticas sociais, para conseguir que os
alunos se apropriem delas possibilitando que se incorporem à
comunidade de leitores e escritores, a fim de que consigam ser
cidadãos da cultura escrita (LERNER, 2002, p. 18).
Para essa autora, a transformação do ensino da leitura e escrita pressupõe
algumas condições didáticas, entre elas, a explicitação no projeto curricular dos
aspectos sociológicos, psicolingüísticos, antropológicos e históricos das práticas de
leitura e escrita, a identificação das tarefas do leitor/escritor como conteúdos de
ensino, e a articulação dos propósitos didáticos com os propósitos comunicativos
que tenham sentido atual para o aluno e correspondência com os sentidos que
orientam a leitura e escrita fora da escola, através, por exemplo, do trabalho por
projetos.
Além disso, sugere Lerner (2002), o necessário equilíbrio entre o ensino e o
controle, evitando que este prevaleça sobre aquele, de tal modo que se abram
espaços para os alunos lerem outros textos, mesmo que não seja possível ao
professor avaliar a compreensão de tudo o que lêem. É imprescindível também
compartilhar a função de avaliador, delegando aos alunos a responsabilidade,
provisória, de revisar seus textos, permitindo assim que se defrontem com
problemas de escrita.
Numa perspectiva diferenciada, que prevê a adoção de um método específico
para alfabetizar, o relatório encomendado pela Câmara dos Deputados ao Painel
Internacional de Especialistas em 2003 (CAPOVILLA, 2005), aponta que é preciso
definir mais clara e objetivamente o fenômeno da alfabetização e rever as políticas e
45
práticas de alfabetização a partir de evidências científicas sobre o ensino e
aprendizagem da leitura e escrita.
Para os autores do documento, a escrita como atividade humana que não
deriva diretamente de nenhuma capacidade inata a ser ativada pela mera exposição
aos materiais escritos, confirma que sua aprendizagem não é “um evento natural
nem sobrenatural”. Desse modo, fazendo uma crítica às abordagens construtivistas
na alfabetização das crianças, sugerem que a busca da efetiva aprendizagem dos
alunos depende, entre outras coisas, do uso de definições claras e objetivas do que
seja alfabetização; de um ensino direto e sistemático com objetivos e tarefas
definidas; e da compilação de um conjunto de competências e habilidades
consideradas fundamentais para a alfabetização.
Sob essa vertente, se alfabetizar é ensinar ler e escrever, a decodificação e a
codificação são competências centrais do processo de alfabetização, cujo foco deve
ser o reconhecimento de palavras. O aprendizado da decodificação e codificação
fonológica deve ser feito por meio de um método previamente definido e de materiais
produzidos para esse fim e que orientem o trabalho do professor em sala de aula.
No entanto, os autores também reconhecem que os objetivos exclusivos da
alfabetização não são essas competências, mas a proficiência em leitura e escrita,
que deve permitir ao leitor compreender, interpretar, modificar o texto e debater-se
com ele.
De acordo com os autores, eles baseiam-se em resultados de pesquisas
experimentais e empíricas que confirmam a superioridade dos métodos fônicos para
alfabetizar. Sendo assim, eles propõem que pelos métodos fônicos se ensine aos
alunos, de modo sistemático, as relações entre as unidades gráficas do alfabeto
46
(letras ou dígrafos) e suas correspondentes unidades fonéticas (sons)
7
, a fim de que
descubram o princípio alfabético subjacente ao código alfabético, a saber, “que as
letras representam sons” (CAPOVILLA, 2005, p. 34).
As entrevistas apresentadas no jornal Folha de São Paulo, de 6 de março de
2006, com o professor do Instituto de Psicologia da USP, Fernando Capovilla e com
a educadora Telma Weisz, ilustram o debate que vem se estabelecendo entre
defensores da adoção dos métodos fônicos e adeptos das idéias construtivistas,
respectivamente.
Fazendo uma crítica contundente, Capovilla afirma, nessa entrevista, que o
construtivismo fracassou aqui e no resto do mundo, produzindo evasão e repetência
anuais de mais de 20%, sendo que 60% dos aprovados têm sido considerados
“absolutamente incompetentes” em exames como o SAEB. Para ele, a competência
da escola em alfabetizar está relacionada à adoção do método fônico, que é capaz
de alfabetizar as crianças em 4 ou 6 meses.
Em contrapartida, Weizs rejeita a idéia de que o método fônico seja a solução
para a alfabetização e aponta que as crianças, em especial da escola pública,
precisam ser inseridas no mundo da cultura escrita para entender do que o professor
está falando quando ele se refere às letras e aos sons, pois o objetivo da
alfabetização é formar leitores competentes.
Sob essa perspectiva, destaca-se a afirmação de Teberosky (1993) de que
uma proposta renovadora do ensino e da aprendizagem depende da capacidade dos
professores de tornar acessível a linguagem escrita às crianças com diferenças
7
“Os sons e não o nome das letras, como na concepção alfabética são usados para fazer a
síntese e propiciar leitura. A análise e a síntese de fonemas são as duas estratégias mais eficazes
para levar o aluno a ler (converter letras em sons) e escrever (converter sons em letras). Enfoques
mais atualizados dessa concepção não requerem ou recomendam que o ensino das
correspondências seja baseado exclusivamente em unidades sublexicais sem significado”
(CAPOVILLA, 2005, p. 57).
47
individuais que afetam aspectos como idade, ambiente familiar e cultural,
experiência prévia, nível cognitivo, entre outros.
Nesse sentido, são muitos os desafios postos, na atualidade, ao alfabetizador
no desenvolvimento de uma ação eficaz, entre eles destacam-se: a necessidade do
professor conhecer o aluno e os processos cognitivos do aprendizado da escrita,
para melhor adaptar sua ação às carências e especificidades daquele que aprende;
a necessidade de promover um clima pedagógico facilitador da aprendizagem pela
alimentação do gosto pelo saber e pela busca do conhecimento; o rompimento com
o artificialismo pedagógico, que distancia a criança do seu próprio mundo, pela
valorização do processo mais do que do produto da aprendizagem; deve também
ser capaz de realizar interferências práticas facilitadoras da aprendizagem
(COLELLO, 2004).
Hoje o professor alfabetizador, como ressalta Colello, precisa ser um profundo
conhecedor do que ensina e ser capaz de regular as atividades propostas de acordo
com uma margem de dificuldade para o aluno, de tal modo que elas sejam um
desafio capaz de ser realizado. Além disso, o professor deve permitir que outras
fontes de informação, além dele, adentrem a sala de aula; deve reconhecer a
heterogeneidade da classe como um recurso pedagógico de uma educação
baseada no tripé questionar, aprender e ensinar. Portanto, para a autora, constituem
aspectos renovadores da prática construtivista, principalmente, o modo como o
professor entra em cena na sala de aula, sua postura como aquele que conhece,
respeita e estimula o processo de aprendizagem.
Também Campelo (2002) ao tratar dos conhecimentos necessários ao
exercício da prática pedagógica na alfabetização, aponta para o professor o desafio
de proporcionar aos alunos experiências sistemáticas que permitam o
48
desenvolvimento da oralidade e da reflexão sobre a linguagem, a importância da
aquisição da língua escrita e suas funções sociais, bem como deve ensinar ler e
escrever respeitando as variações lingüísticas e os ritmos individuais de
aprendizagem. Na perspectiva da autora, a compreensão e a articulação desses
saberes pelos alfabetizadores são aspectos fundamentais para que se definam
critérios de avaliação e de intervenção junto às crianças.
1.3 Avaliação da alfabetização e atualidade dos debates sobre as práticas
alfabetizadoras
Apesar das discussões sobre o conceito de alfabetização e sobre os
procedimentos de ensino envolvidos nesse processo e das tentativas de
enfrentamento do fracasso escolar na alfabetização pela renovação das práticas
pedagógicas e reformulações curriculares, dados atuais de exames e testes que
avaliam a capacidade de leitura e escrita têm trazido dados pouco animadores que
permitem inferir que a alfabetização ainda persiste como um grande desafio da
escola.
De acordo com o relatório apresentado pelo Ministério da Educação sobre os
dados do SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) de 2003, a
média nacional de desempenho dos alunos da 4
a
. série do ensino fundamental em
atividades de leitura é de 169,4 pontos, numa escala de desempenho que vai de 0 a
375, sendo que, segundo o relatório, um patamar de mais de 200 pontos de
proficiência para a 4
a
. série poderia ser considerado próximo do adequado, “(…) pois
nesse ponto os alunos consolidaram habilidades de leitura e caminham para um
desenvolvimento que lhes possibilitarão seguir em seus estudos com bom
49
aproveitamento” (BRASIL, 2004c, p. 7). Isso mostra que os alunos estão abaixo do
“próximo do adequado”, revelando sérios problemas de leitura.
O SAEB apresenta também resultados sobre o desenvolvimento das
habilidades de leitura, bem como a quantidade de alunos por “estágios de
construção de competências”, através de uma escala que vai do estágio ‘Muito
Crítico’, ‘Crítico’, ‘Intermediário’ até o ‘Adequado’.
Considerando as informações referentes ao percentual de estudantes da 4
a
.
série em cada estágio, verifica-se que apenas 4,8 % atingiram o estágio “Adequado”,
ou seja, são leitores com nível de compreensão de textos adequado à série. Dos
alunos restantes, 18,7% estão nos níveis “Muito Crítico”, não foram alfabetizados
corretamente, 36,7% encontram-se no nível “Crítico”, isto é, não são leitores
competentes e lêem de forma pouco condizente com a série, e 36,9% estão no
“Intermediário”, ou seja, começando a desenvolver as habilidades de leitura mais
próximas do nível exigido para a série.
Conforme consta no relatório, os dados do SAEB de 2003 revelam uma
pequena queda no percentual de estudantes da 4
a
. série do ensino fundamental
entre os níveis “muito crítico” e “crítico”, se comparados com os dados do SAEB de
2001. Verifica-se que em 2001 somavam 59% do total de alunos avaliados. Esse
percentual caiu para 55%, no entanto, essa queda não torna os dados menos
preocupantes, na medida em que revela a ineficiência do ensino fundamental no
desenvolvimento das habilidades de leitura condizentes a esse nível de
escolarização.
Informações do Indicador Nacional de Analfabetismo Funcional, o INAF, de
setembro de 2005, que avalia as habilidades e práticas de leitura e escrita da
população brasileira jovem e adulta, sugerem que a escola não está conseguindo
50
cumprir sua função de atender as exigências da sociedade atual na formação dos
indivíduos. De acordo com os dados constantes na pesquisa realizada com uma
amostra de 2002 pessoas - representativa da população brasileira entre 15 e 64
anos - apenas 26% da população têm domínio pleno das habilidades de
alfabetização, ou seja, “conseguem ler textos mais longos, localizar e relacionar mais
de uma informação, comparar textos, identificar fontes” (INSTITUTO PAULO
MONTENEGRO, 2005).
A grande maioria da população encontra-se na condição de “alfabetizado
nível rudimentar” e “alfabetizado nível básico”, totalizando 68% da amostra. Como
nível rudimentar (30%) entende-se a pessoa que “consegue ler títulos ou frases,
localizando uma informação bem explícita”, e como nível básico (38%) aquela que
“consegue ler um texto curto, localizando uma informação explícita ou que exija uma
pequena inferência”.
Relacionando o vel de alfabetização com os anos de estudo da população,
os resultados do INAF mostram que entre aqueles com 1 a 3 anos de estudo, 26%
continuam analfabetos (“não conseguem realizar tarefas simples que envolvem
decodificação de palavras e frases”) e 58% chegam a um nível rudimentar de
alfabetização. Entre as pessoas com 4 a 7 anos de estudo, predominam o nível
rudimentar (42%) e o básico (44%). Vale destacar ainda que entre as pesssoas que
têm 8 a 10 anos de estudo, apenas 32% atingem o nível pleno, ou seja, “são
capazes de ler textos mais longos, localizar e relacionar mais de uma informação,
comparar textos e identificar fontes”, sugerindo que mesmo entre aqueles indivíduos
que freqüentaram a escolar por mais tempo, a maioria não domina plenamente a
leitura.
51
Quanto aos livros mais lidos por essa população (entre 15 e 64 anos), a
pesquisa aponta que a maioria das pessoas com nível rudimentar e básico de
alfabetização não costuma ler livros ou um tipo de livro, geralmente a Bíblia ou
livros religiosos. Apenas entre as pessoas alfabetizadas no nível pleno uma
maioria de leitores que diversifica seus interesses pela leitura de textos de diversos
gêneros. Pode-se inferir de tais dados que grande parte da população alfabetizada
não desenvolveu hábitos de leitura.
Ao comparar os dados do INAF de 2005 com os dos anos de 2001 e 2003, o
relatório aponta que apesar da escolaridade da população ter aumentado em
2001, 57% da população entre 15 e 24 anos concluíram a 8
a
série, em 2003 esse
número subiu para 67% - os resultados em termos de aprendizagem são limitados.
Isso porque, segundo o documento, quando se analisa as médias de acerto da
população no teste nesses anos, observa-se que apenas entre as pessoas com
menos de 3 anos de estudo houve melhora, enquanto nos demais grupos (4 a 7
anos de estudo; 8 a 10 anos de estudo; e 11 anos ou mais de estudo) as dias
pioraram nos últimos anos. O que revela, conforme o relatório, que além de inserir
mais pessoas na escola, é preciso investir muito mais para garantir a qualidade do
ensino.
Tal situação vai de encontro às expectativas da sociedade quanto ao papel da
escola como responsável pela inserção das pessoas na cultura letrada, pois “(…)
espera-se que a educação básica crie as condições para que todos os cidadãos
possam participar, de forma autônoma, de uma sociedade onde quase tudo depende
da capacidade de processar informação escrita: comunicar-se, informar-se, planejar,
prestar contas, reivindicar” (INSTITUTO PAULO MONTENEGRO, 2005).
52
As evidências de que a escola não vem cumprindo satisfatoriamente sua
função como promotora da alfabetização, não têm reacendido os debates sobre
esse tema, como também despertado a necessidade de uma revisão das políticas e
práticas que o envolvem. Nota-se que as transformações no nível de organização da
escola e dos currículos voltados à alfabetização não têm alcançado resultados tão
satisfatórios quanto se esperava. O estágio atual das discussões sobre alfabetização
aponta para o resgate da sua especificidade e distinção das habilidades e
procedimentos de ensino que caracterizam esse processo.
Para finalizar, os elementos apontados nesse capítulo sem a pretensão de
abranger a totalidade dos aspectos constitutivos do estágio atual dos debates sobre
alfabetização caracterizam o período compreendido entre 1980 a 2005 pela
diversificação da produção acadêmica sobre alfabetização e reconhecimento de sua
complexidade, bem como por políticas educacionais voltadas a promover mudanças
nas práticas de alfabetização presentes nas salas de aula.
Destaca-se também, nesse período, no âmbito da produção acadêmica, o
desenvolvimento de estudos e pesquisas que se voltam à identificação das práticas
de alfabetização na sala de aula. Nesse contexto de discussões sobre alfabetização,
essas pesquisas lançam luzes sobre as práticas das professoras alfabetizadoras que
como diz Soares (2005), “(…) se na sala de aula com 30, 40 crianças em sua
frente, e tem de fazer com que essas crianças aprendam a ler e escrever”.
Essas pesquisas sobre alfabetização com foco nas práticas das professoras
alfabetizadoras respondem, em certa medida, a necessidade de compreensão da
alfabetização a partir do que acontece na sala de aula e do que pensam e fazem as
professoras. Reconhecendo a parcela de responsabilidade da escola e a influência
da prática docente no sucesso escolar, as pesquisas analisadas nesta dissertação,
53
procuram conhecer a realidade da alfabetização, principalmente, pela observação da
atuação das professoras e do registro de seus depoimentos e relatos.
Os debates sobre o fracasso na alfabetização incidem na busca de fatores
intra-escolares co-responsáveis por essa situação, de tal modo que, penetrar, ou
mergulhar, no cotidiano da escola e retratar a realidade para resgatar o caráter
dinâmico das práticas pedagógicas são objetivos almejados pelos pesquisadores.
Como bem observam Kramer, Pereira e Oswald (1987, p. 66-67) ao fazer um
mergulho no cotidiano da escola pública, pode-se identificar pontos cruciais para a
compreensão dos aspectos determinantes da alfabetização, que “(…) ao lado da
busca por torná-la [a escola sica] ‘de todos’ em termos quantitativos, tem se
colocado, cada vez com maior intensidade, a necessidade de se conquistar uma
nova qualidade para esta escola, tornando os conhecimentos por ela transmitidos
‘de todos’”.
Frente a esse contexto de mudanças sinteticamente apresentado neste
capítulo, os pesquisadores procuram também compreender como as professoras
vêm incorporando as tendências atuais sobre alfabetização, que prevêem o
abandono dos métodos tradicionais e a inserção dos alunos em práticas sociais de
leitura e escrita por meio de um trabalho baseado no texto e na criação de situações
significativas de leitura e escrita, levando em conta os ritmos individuais de
aprendizagem.
Algumas pesquisas buscam apreender no e pelo discurso docente indícios
que permitem refletir sobre a relação entre as concepções declaradas e a ação
concretizada, considerando para isso o impacto da abordagem construtivista sobre a
alfabetização e as condições de transformação das práticas pedagógicas. Além
disso, verifica-se que alguns pesquisadores têm discutido em seus estudos questões
54
relacionadas aos determinantes das práticas das alfabetizadoras pela identificação
de aspectos relacionados à cultura escolar e aos saberes que caracterizam a
atuação docente, revelando os processos de apropriação e criação desses saberes
na prática.
Em última análise, essa contextualização dos conhecimentos mais recentes
sobre alfabetização, mesmo que brevemente, aponta que as discussões sobre o
tema incidiram sobre aspectos mais gerais relacionados à revisão conceitual da
alfabetização e do ensino-aprendizagem de leitura e escrita, bem como, sobre as
reformas e políticas educacionais implementadas ao longo do período de 1980 a
2005. As considerações feitas neste capítulo mostram que a produção do
conhecimento sobre alfabetização tangencia discussões sobre os elementos mais
específicos das práticas dos professores alfabetizadores, entre eles seus saberes,
crenças e concepções de alfabetização, mas também, seus procedimentos de
ensino, recursos materiais e atividades propostas aos alunos.
Essas discussões sobre alfabetização contemplam o objetivo central desta
dissertação de caráter bibliográfico que, embasada em estudos e discussões
representativos do tema, pretende investigar o que as pesquisas produzidas no
período de 1980 a 2005 com foco nas práticas das professoras alfabetizadoras
dizem a respeito dos procedimentos de alfabetização, práticas e saberes docentes.
55
CAPÍTULO 2
CAMINHOS METODOLÓGICOS DA PESQUISA:
SELEÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DOS ESTUDOS
2.1 Para chegar aos dados
Da mesma forma que a ciência se vai construindo ao longo do
tempo, privilegiando ora um aspecto ora outro, ora uma metodologia
ora outra, ora um referencial teórico ora outro, também a análise em
pesquisas (…) produzidas ao longo do tempo, deve ir sendo
paralelamente construída identificando e explicitando os caminhos
da ciência, para que se revele o processo de construção do
conhecimento sobre determinado tema, para que se possa tentar a
integração de seus resultados (…) (SOARES; MACIEL, 2000, p. 6).
Os procedimentos metodológicos adotados nesta dissertação caracterizam-na
como uma pesquisa bibliográfica que, como aponta Bueno (2006), constitui um
excelente recurso para indicar as principais tendências do campo da educação e
apontar enfoques e abordagens diversos, assim como as lacunas a serem
preenchidas pelos pesquisadores.
Pretende-se com a análise das teses e dissertações defendidas no período de
1980 a 2005 contribuir para a reflexão sobre as práticas de professoras
alfabetizadoras que vem sendo construídas como objeto de investigação pela
produção acadêmica dos Programas de Pós-Graduação em Educação no Estado de
São Paulo.
Assim, saber o que os pesquisadores têm interrogado, construído de
conhecimentos sobre os procedimentos de alfabetização, práticas e saberes que
caracterizam a atuação docente na alfabetização é o objetivo central deste estudo.
As etapas desenvolvidas na elaboração desta pesquisa foram:
1) Definição de critérios de seleção dos textos a serem analisados;
2) Processo de busca e seleção do corpus;
56
3) Leitura e fichamento dos textos;
4) Elaboração de quadro síntese;
5) Descrição e análise do corpus.
É oportuno salientar que todos esses momentos foram orientados pelas
questões e objetivos específicos desta dissertação, o que não impossibilita outras
abordagens do material analisado, em vista de outros objetivos. Cabe ressaltar,
também, que a leitura de pesquisas bibliográficas recentes na área da Educação
André (2002), Barreto e Souza (2004), Bueno (2006), Jesus (2002), Mariano (2006);
Marin, Bueno e Sampaio (2005), Ordonhes (2002), Soares e Maciel (2000)
subsidiou em vários momentos o processo de organização e análise dos dados.
2.1.1 Critérios de seleção dos estudos
Para a seleção das produções analisadas observaram-se os seguintes
critérios:
a) As pesquisas deveriam fazer referência ao processo de alfabetização
A alfabetização é entendida nesta dissertação como processo de aquisição da
linguagem escrita, ou seja, de aprendizagem das habilidades básicas de leitura e
escrita (entre elas as relações fonema-grafema), que deve acontecer por meio de e
no contexto de práticas sociais de leitura e escrita (SOARES, 2003b; SOARES;
MACIEL, 2000). Vale destacar que se adotou para a seleção dos textos a mesma
perspectiva de Soares e Maciel (2000), qual seja, a alfabetização das crianças no
processo de escolarização regular. Sendo assim, não foram considerados estudos
sobre alfabetização de jovens e adultos e alfabetização em contextos extra-
escolares.
57
b) As pesquisas deveriam ser teses e dissertações produzidas entre os anos de
1980 a 2005
O presente estudo trata de teses de doutorado e dissertações de mestrado, já
que este material representa uma parte importante da produção acadêmica, sendo
revelador das tendências e abordagens de tratamento de um dado tema no âmbito
dos Programas de Pós-Graduação em Educação.
A definição do ano de 1980 como referência inicial desta pesquisa
bibliográfica deve-se ao fato de se verificar nesse período uma intensificação e
diversificação dos estudos sobre alfabetização no âmbito da produção acadêmica
nacional. De acordo com Soares e Maciel (2000), 80% da produção científica sobre
alfabetização no Brasil, foi elaborada a partir de 1980. Além disso, nesse período
cresce a produção de pesquisas brasileiras voltadas ao professor alfabetizador,
que ganham destaque na produção acadêmica nacional questões relacionadas à
competência do professor alfabetizador, à identificação da prática pedagógica, à
caracterização de práticas bem sucedidas e formas de interação professor-aluno no
processo de alfabetização (SOARES; MACIEL, 2000). Tornam-se, por exemplo,
mais freqüentes, a partir de 1980 os estudos sobre o tema caracterização do
alfabetizador
8
evidenciando a necessidade de descrever o professor alfabetizador
através de observação na escola e na sala de aula.
A escolha do ano de 2005 como data final para a seleção dos textos deve-se
ao fato de que a coleta dos dados foi encerrada nesse ano.
c) As pesquisas deveriam ter como foco de investigação as práticas das
professoras alfabetizadoras
8
Das 219 teses e dissertações inventariadas por Soares e Maciel (2000), 22 referem-se ao tema
caracterização do alfabetizador, sendo 2 da década de 1970 e 20 produzidas a partir de 1980.
58
O contato inicial com os resumos das teses e dissertações, bem como a
leitura das mesmas, possibilitaram delimitar o corpus a textos que tiveram como foco
principal de investigação as práticas das professoras alfabetizadoras, em especial
aquelas pesquisas que enfatizaram as concepções, os procedimentos didáticos, as
atividades e os recursos utilizados por essas professoras para alfabetizar seus
alunos no contexto da sala de aula. É oportuno ressaltar que tais aspectos se fazem
presentes nas discussões e debates sobre alfabetização e práticas alfabetizadoras.
Ressalta-se que foram excluídos da seleção estudos cujos pesquisadores
tomaram como referência a própria atuação em sala de aula, ou seja, eram os
próprios sujeitos da investigação, ou tenham realizado intervenções na sala de aula
com a intenção de provocar, propositadamente, modificações na situação
encontrada. Tais pesquisas, ainda que possam trazer contribuições, parecem se
distanciar do objetivo deste trabalho que reside numa tentativa de trazer o que tem
sido construído pelos pesquisadores quando tomam as práticas das professoras
alfabetizadoras como objeto de estudo para interrogá-los a partir de diferentes
olhares teóricos.
2.1.2 Processo de busca e seleção do corpus
Inicialmente, a intenção deste trabalho era abranger a produção nacional de
teses e dissertações sobre práticas de professoras alfabetizadoras. No entanto, as
primeiras buscas evidenciaram que, apesar do número significativo de estudos
encontrados, apenas os seus resumos não seriam suficientes para verificar a
relevância da tese ou dissertação, sendo necessária a leitura do texto completo. Tal
situação acabou por se constituir um obstáculo, principalmente, pela dificuldade de
acesso às teses e dissertações defendidas em Programas de Pós-Graduação em
59
Educação localizados fora do Estado de São Paulo. Além disso, considerou-se
inviável para uma dissertação de mestrado essa abrangência, pois a pesquisa
bibliográfica exige muito tempo para a localização, acesso ao material, leitura,
fichamento e análise das fontes.
Assim, foram selecionadas as pesquisas produzidas ao longo do período
compreendido entre 1980 a 2005 apenas em instituições situadas no Estado de São
Paulo e que possuem programas de pós-graduação em educação, o que permitiu o
acesso a todas as pesquisas e sua leitura na íntegra.
Ressalta-se que não se teve a intenção de fazer uma análise da produção no
âmbito de cada um dos Programas de Pós-Graduação existentes ao longo do
período delimitado. Ou seja, os programas não foram selecionados a priori, em
termos de longevidade ou maior representatividade da produção acadêmica, mas
sim, por trazerem produções referentes ao tema em foco e serem voltados à
educação, excluindo-se, portanto, as produções sobre alfabetização e práticas em
programas de psicologia, lingüística, dentre outros.
Considerando os critérios estabelecidos, procedeu-se à seleção dos textos
analisados, ou seja, teses e dissertações defendidas entre os anos de 1980 a 2005,
que tiveram como foco principal de investigação as práticas das professoras
alfabetizadoras. Para tanto, foram utilizadas, nessa etapa da pesquisa, as seguintes
fontes:
a) o relatório o Estado do Conhecimento em Alfabetização de Soares e
Maciel (2000), por terem as autoras mapeado teses e dissertações sobre
alfabetização, produzidas no Brasil no período compreendido entre 1961 e 1989;
b) o Banco de Teses da CAPES. Esse acervo eletrônico contém os resumos
das teses e dissertações concluídas nos programas de Pós-Graduação de todo
60
Brasil, desde 1987 a 2004, e pode ser acessado no seguinte endereço:
www.capes.gov.br.
Com relação ao relatório de Soares e Maciel (2000), a sua leitura permitiu
verificar que entre 1961 e 1989 foram produzidas 219 teses/dissertações sobre
alfabetização no Brasil, sendo que 93 delas foram defendidas em Programas de
Pós-Graduação de instituições localizadas no Estado de São Paulo.
Levando em conta essas 93 pesquisas, procedeu-se à leitura de seus
respectivos resumos, a fim de selecionar aquelas que tiveram como foco principal de
investigação as práticas das professoras alfabetizadoras. Nesse momento,
excluíram-se as pesquisas defendidas antes de 1980, por ser esse o ano de
referência inicial desta seleção. Além disso, foram selecionadas apenas as
pesquisas defendidas em Programas de Pós-Graduação em Educação.
Dessa busca resultaram 13 pesquisas, sendo que 7 estavam reunidas no
tema caracterização do alfabetizador
9
que, conforme as autoras, abrange estudos de
(…) descrição do alfabetizador através da observação na
escola e na sala de aula, ou identificando a prática pedagógica
em turmas de alfabetização, ou buscando caracterizar
professoras bem-sucedidas na alfabetização de crianças das
camadas populares, ou finalmente, analisando a interação
professor-aluno durante o processo de alfabetização
(SOARES; MACIEL, 2000, p. 18).
As demais estavam categorizadas nos temas determinantes de resultados,
concepção de alfabetização, e língua oral/língua escrita
10
. De acordo com a
categorização de Soares e Maciel (2000), o tema determinantes de resultados é
atribuído aos textos que investigam fatores responsáveis pelo fracasso ou sucesso
9
Da categoria caracterização do alfabetizador foram selecionadas as pesquisas de ABUD (1986),
COELHO (1989), CONTINI (1988), MENEZES (1987), OPPIDO (1988), SÁ (1988) e VERDE (1985).
10
Do tema determinantes de resultados foram consideradas duas pesquisas: BEZERRA (1989) e
SIPAVICIUS (1983). Do tema concepção de alfabetização foram selecionados os trabalhos de FOINA
(1989), DURAN (1988) e RIBEIRO (1988). Da categoria língua oral/língua escrita considerou-se o
estudo de SILVA (1987).
61
escolar das crianças na aprendizagem da leitura e escrita, discutindo as relações
entre esses resultados e os vários fatores identificados como determinantes, entre
eles a prática docente.
O tema concepção de alfabetização, por sua vez, compreende pesquisas que
discutem o próprio conceito de alfabetização a partir de perspectivas de análise que
vêm alterar, nos anos de 1980, a concepção tradicional da natureza e do significado
da aprendizagem pela criança. Na categoria língua oral/língua escrita estão textos
que discorrem sobre as relações entre a estrutura ou os usos da língua oral e a
aprendizagem da escrita, ou que estudam a capacidade de reflexão metalingüística
e suas implicações para a aprendizagem da língua escrita.
O Banco de Teses da Capes foi utilizado para a seleção das teses e
dissertações produzidas no período de 1987 a 2004. O levantamento foi realizado a
partir do descritor práticas de professoras alfabetizadoras e resultou em 319
teses e dissertações. A partir da leitura dos títulos e resumos foram excluídas 41
pesquisas que se referiam à educação de jovens e adultos. Das 278 pesquisas
restantes, observando-se o critério de que as pesquisas deveriam ter sido
produzidas em instituições situadas no Estado de São Paulo com foco em educação,
excluíram-se 185 teses e dissertações defendidas em Programas de Pós-Graduação
não localizados nesse Estado.
A partir daí, procedeu-se à leitura dos resumos das 93 pesquisas restantes
produzidas em Programas de Pós-Graduação em Educação do Estado de São
Paulo. Nessa fase da seleção, não foram contabilizadas as 13 produções entre
teses e dissertações selecionadas através do relatório de Soares e Maciel (2000)
que também aparecem nesse bando de dados. Como resultado dessa seleção
obteve-se
62
22 pesquisas que tiveram como foco principal de investigação as práticas das
professoras alfabetizadoras.
Considerando o material selecionado através do Estado do Conhecimento em
Alfabetização (13 pesquisas) e do Banco de Teses da Capes (22 pesquisas),
chegou-se ao total de 35 pesquisas. Além dessas 35, foram incluídas outras 8
pesquisas localizadas por meio de buscas com o descritor professoras(es)
alfabetizadoras(es) nos sites das bibliotecas das principais universidades do Estado
de São Paulo: USP; UNESP; UNICAMP; UFSCAR; PUC e UNIMEP.
A disponibilização nos sites das Universidades de um banco de dados de
teses e dissertações para download facilitou a localização de estudos mais recentes.
Entre esses sites destacam-se:
SABER o portal do conhecimento da USP (http://www.teses.usp.br/);
Biblioteca Digital Unesp (http://horus.cgb.unesp.br/cgb/bibliotecadigital/);
SBU Biblioteca Digital da UNICAMP (http://libdigi.unicamp.br/);
SAPIENTIA Biblioteca Digital PUC-SP (http://www.sapientia.pucsp.br/);
Biblioteca digital de teses e dissertações da UFSCAR (http://www2.ufscar.br/
interface_frames/index.php?link=http://www.bco.ufscar.br);
HomepagedaBibliotecaonline(https://www.online.unimep.br/api/gtwebsiteapi.wsa?
HCIFUNCAO=BBMENU&HCIETX=0).
Portanto, o processo de levantamento e seleção, finalizado em 2005, resultou
em 43 pesquisas. Vale ressaltar que não foram localizados estudos na UNIMEP.
A aquisição de cópias do material selecionado foi feita, principalmente por
meio do serviço de EEB, que permite o empréstimo de material entre as
Universidades Públicas do Estado de São Paulo, a saber, USP, UNESP, UNICAMP
e UFSCAR. Além disso, também foram feitas visitas às bibliotecas da USP, PUC e
63
UFSCAR, a fim de obter cópia dos textos selecionados, agilizando, assim, o
processo de localização.
Como não foi possível obter cópia da tese de Bezerra (1989) e das
dissertações de Duran (1988) e Menezes (1987), elas foram excluídas da análise
final. Procedeu-se, então, à leitura e fichamento dos 40 textos obtidos, com base em
um roteiro previamente elaborado (Anexo 1). As informações colhidas de cada texto
foram: autor; título do trabalho; nível de formação (mestrado/doutorado); ano de
defesa; Instituição de Ensino Superior de origem da pesquisa; problema (questões)
de pesquisa; objetivos da pesquisa; tipo de pesquisa; sujeitos investigados; local de
coleta dos dados; procedimentos de coleta de dados; aspectos analisados pelo
autor; base teórica dos estudos; e conclusões da pesquisa. Os dados coletados por
meio desses fichamentos foram sistematizados em um quadro-síntese (Anexo 2)
que revelou um primeiro mapa das pesquisas selecionadas.
A partir desse quadro-síntese procedeu-se ao tratamento das informações
objetivando uma primeira análise do corpus levando em conta as características
mais gerais dos estudos. Foram organizadas seis tabelas que aglutinam dados
referentes ao nível de formação, distribuição anual das pesquisas, Instituição de
Ensino Superior de origem das pesquisas, procedimentos de coleta de dados, tipo
de estudo; temas abordados nas pesquisas.
Procurou-se identificar as pesquisas por autores e de acordo com o ano de
defesa apresentado na seqüência do período estabelecido para a análise, ou seja,
de 1980 até 2005. Essa distribuição das pesquisas foi feita para facilitar a análise no
sentido de ressaltar a maior ou menor incidência das produções no decorrer dos
últimos vinte e cinco anos.
64
2.2 Caracterização dos estudos analisados
2.2.1 Pesquisas por nível de formação, distribuição anual e Instituição de
Ensino Superior de Origem
Tabela 1
Pesquisas distribuídas por nível de formação (1980 a 2005)
Nível de
Formação
Autores No. de
estudos
%
DOUTORADO Sipavicius (1983); (1988); Foina (1989);
Silva (1992); Guarnieri (1996); Cardoso
(1997); Sadalla (1997); Zibetti (2005)
8 20
MESTRADO Verde (1985); Abud (1986); Silva (1987);
Contini (1988); Oppido (1988); Ribeiro
(1988); Coelho (1989); Guarnieri (1990);
Mourilhe (1991); Cavaton (1992); Mendes
(1992); Araújo (1993); Victor (1993);
Azevedo (1994); Pezzato (1995); Amaral
(1996); Miyasato (1996); Albino (1997);
Camargo (1997); Fontes (1997); Garcia
(1997); Ambrogi (1998); Maffla (1999);
Monteiro (2000); Tassoni (2000); Amaral
(2002); Goller (2002); Valençuela (2002);
Sarraf (2003); Yacovenco (2003); Cunha
(2004); Quim (2004)
32 80
Total 40 100
Quanto ao nível de formação das pesquisas selecionadas pode-se verificar na
tabela 1 a predominância das dissertações de mestrado, que correspondem a 80%
do corpus analisado, enquanto apenas 8 estudos constituem teses de doutorado, ou
seja, 20% da produção selecionada. O maior número de trabalhos em nível de
mestrado pode estar relacionado ao fato de que os doutorados demandam mais
tempo para a defesa, em dia quatro anos, enquanto os mestrados têm sido
defendidos num prazo de, aproximadamente, dois anos e meio o que parece
justificar tendência apontada em outros estudos dessa natureza (MARIN;
BUENO;SAMPAIO,2005).
65
A tabela 2 apresenta a distribuição anual da produção no período delimitado
para estudo.
Tabela 2
Distribuição anual das pesquisas analisadas (1980 a 2005)
QuantidadeAno
Número %
1980 - -
1981 - -
1982 - -
1983
1 2,5
1984 - -
1985 1 2,5
1986 1 2,5
1987 1 2,5
1988 4 10
1989 2 5
1990 1 2,5
1991 1 2,5
1992 3 7,5
1993 2 5
1994 1 2,5
1995 1 2,5
1996 3 7,5
1997 6 15
1998 1 2,5
1999 1 2,5
2000 2 5
2001 - -
2002 3 7,5
2003
2 5
2004 2 5
2005 1 2,5
Total 40 100
Nota-se na tabela 2 que a produção científica a respeito das práticas das
professoras alfabetizadoras aparece de forma continuada ao longo do período
delimitado neste estudo (1980 a 2005), em Programas de Pós-Graduação em
Educação do Estado de São Paulo, o que sugere a permanência de interesse por
parte dos pesquisadores em relação ao tema. Tal situação confirma o que
apontavam Soares e Maciel (2000) a respeito da intensificação dos estudos sobre
alfabetização a partir dos anos de 1980. No entanto, considerando a produção anual
66
dessas pesquisas, verifica-se o pequeno número de trabalhos produzidos por ano
sobre as práticas das professoras alfabetizadoras, havendo uma produção mais
significativa apenas nos anos de 1988 e 1997 (10% e 15%). Tal dado pode revelar
que, apesar do interesse crescente pela alfabetização a partir dos anos de 1980, as
práticas das professoras alfabetizadoras constituem um tema pouco privilegiado,
pois não se verifica um crescimento anual das pesquisas no âmbito da produção
educacional.
Tabela 3
Pesquisas distribuídas por Instituição de Ensino Superior de origem
(1980 a 2005)
Instituição
de origem
Autores No. de
estudos
%
USP Sipavicius (1983); (1988); Silva (1992);
Azevedo (1994); Pezzato (1995); Cardoso
(1997); Ambrogi (1998); Sarraf (2003); Zibetti
(2005)
9 22,5
PUC/SP Abud (1986); Contini (1988); Oppido (1988);
Ribeiro (1988); Foina (1989); Cavaton (1992);
Araújo (1993); Amaral (1996); Goller (2002);
9 22,5
UFSCAR Verde (1985); Guarnieri (1990); Mourilhe
(1991); Mendes (1992); Victor (1993);
Guarnieri (1996); Fontes (1997); Valençuela
(2002); Cunha (2004);
9 22,5
UNICAMP Silva (1987); Coelho (1989); Garcia (1997);
Sadalla (1997); Maffla (1999); Tassoni (2000);
Amaral (2002);
7 17,5
UNESP
Marília
Miyasato (1996); Albino (1997); Camargo
(1997);
3 7,5
UNESP
Arara
quara
Monteiro (2000); Yacovenco (2003); Quim
(2004);
3 7,5
Total 40 100
Com relação à Instituição de Ensino Superior de origem, a tabela 2 mostra
que as pesquisas foram produzidas com maior incidência no Estado de São Paulo
67
em Programas de Pós-Graduação com foco em educação na USP, PUC e UFSCAR
que apresentam 9 produções cada uma, totalizando, conjuntamente, 67,5% da
produção total das pesquisas produzidas no período analisado, o que corresponde a
22,5% das pesquisas cada uma.
Dentre as demais instituições, a UNICAMP apresenta 7 pesquisas que
corresponde a 17,5% do total selecionado. A UNESP apareceu como instituição com
incidência menor de origem das pesquisas, somando 15% da produção,
considerando as duas unidades (Marília e Araraquara).
Cabe esclarecer que a UNIMEP não consta na tabela, que não foi
localizado nenhum trabalho com o descritor professoras(es) alfabetizadoras(es)
nessa instituição.
Embora a diversidade de instituições e longevidade dos Programas de Pós-
Graduação possam sugerir diferentes aspectos e abordagens teóricas no tratamento
do tema das práticas das professoras alfabetizadoras, esse aspecto não foi
considerado no presente trabalho, mas certamente, trata-se de um viés a ser
investigado em pesquisas futuras.
2.2.2 Sujeitos investigados e locais de coleta de dados
Com relação aos sujeitos que participaram das pesquisas, nota-se que a
maioria delas coletou dados apenas com os professores. Do total da produção
analisada, 40 estudos entre teses e dissertações, 12 pesquisas tiveram como fontes
de informação outras pessoas, além dos professores, entre eles, alunos, pais de
alunos e funcionários da escola como diretores e coordenadores pedagógicos. Entre
essas 12, os procedimentos de coleta privilegiados para a obtenção de informações
foram entrevistas ou aplicação de questionários com alunos, pais dos alunos e
68
funcionários, seja para caracterizar o perfil sócio-econômico desses sujeitos, seja
para conhecer suas opiniões a respeito do tema investigado.
Albino (1997), por exemplo, fez entrevistas com diretores e coordenadores
pedagógicos; Cavaton (1992) entrevistou os alunos das classes analisadas; Foina
(1989) entrevistou as crianças da sala investigada e aplicou questionários de
caracterização sócio-econômica nos pais dos alunos; Maffla (1999) também
entrevistou alunos e aplicou questionários com os pais dos alunos. Oppido (1989)
entrevistou as coordenadoras das escolas e de analisou documentos para levantar
dados sobre os alunos; Pezzato (1995) entrevistou funcionários da escola e os
alunos; Silva (1987) também coletou dados através de entrevistas com pais e
alunos; Tassoni (2000) ouviu os alunos a respeito do comportamento dos
professores na realização das atividades de produção de texto, filmadas por ela.
Nota-se ainda que entre essas 12 pesquisas algumas também aplicaram
testes nos alunos para caracterizar o rendimento escolar. Assim, Azevedo (1994)
entrevistou pais, e equipe técnica da escola, aplicou questionários nos pais e testes
iniciais e finais de rendimento nos alunos; Monteiro (2000) entrevistou alunos e
aplicou testes para verificar o nível de prontidão deles para a alfabetização;
Sipavicius (1983) analisou os resultados das provas de prontidão e escolaridade no
final do ano letivo dos alunos; Victor (1993) aplicou um instrumento de avaliação nas
crianças.
Com relação aos professores que participaram das pesquisas como “sujeitos
investigados” tem-se que os 40 estudos abrangem um total de, aproximadamente,
525 docentes, sendo a grande maioria quase a totalidade do sexo feminino, o
69
que corrobora a constatação do magistério, sobretudo nas séries iniciais do ensino
fundamental, como uma profissão essencialmente feminina
11
.
Sobre a formação acadêmica desses professores, a maioria deles no
momento da pesquisa, tinha formação em nível superior ou cursava a graduação. No
tocante ao tempo de serviço no magistério, pode-se notar a predominância de
docentes experientes, em alguns casos com até mais de 20 anos de atuação. Vale
destacar, também, que em alguns casos as professoras eram consideradas
alfabetizadoras bem sucedidas. Entre as produções analisadas em apenas duas
delas (GUARNIERI, 1996 e VICTOR, 1993) as professoras eram iniciantes. Tais
dados apontam que as pesquisas inventariadas referem-se, na sua maioria, à
investigação das práticas de professoras experientes e com formação em nível
superior.
Grande parte dos professores investigados atuava em redes públicas
estaduais ou municipais de ensino, instituições que atendem crianças das camadas
populares. Não raras vezes, o pesquisador escolheu professoras de escolas
situadas nas periferias das cidades para coletar dados. Do conjunto das teses e
dissertações apenas 3 estudos coletaram dados, exclusivamente, em escolas da
rede particular de ensino (AMARAL, 2002; MENDES, 1992, TASSONI, 2000) e duas
pesquisa coletaram dados, tanto na rede particular quanto na rede pública
(AZEVEDO, 1994; VERDE, 1985). Essa situação revela maior incidência de
trabalhos que privilegiam o sistema público de ensino (estadual/municipal) como
fonte principal para obtenção dos dados.
11
“…dentre os professores brasileiros 81,3% são mulheres e 18,6% são homens. Percebe-se que,
em relação às pessoas economicamente ativas (83.243.239), 58,13% são homens e 41,86% são
mulheres. Conclui-se que, no magistério, essa proporção assume características bem distintas. Cabe
ressaltar que a maioria das professoras encontra-se atuando no ensino fundamental” (BRASIL,
2004b, p.44)
70
No que diz respeito aos locais da coleta de dados das pesquisas sumariadas,
tem-se que, 30 pesquisas foram realizadas em cidades do Estado de São Paulo. As
demais, 10 ao todo, se referem à cidades pertencentes a outras unidades da
federação, quais sejam, Mato Grosso (QUIM, 2004), Mato Grosso do Sul (ALBINO,
1997, CONTINI, 1988; VALENÇUELA, 2002), Piauí (SILVA, 1987), Sergipe
(MOURILHE, 1991), Distrito Federal (CAVATON, 1992), Rondônia (ZIBETTI, 2005),
Espírito Santo (VICTOR, 1993) e Minas Gerais (RIBEIRO, 1988). Esse quadro revela
a abrangência nacional das pesquisas selecionadas, apesar delas terem sido
defendidas em instituições situadas no Estado de São Paulo.
2.2.3 Procedimentos de coleta de dados
Tabela 4
Procedimentos de coleta de dados utilizados nas pesquisas
Procedimentos de
coleta de dados
No. de
estudos
%
12
de ocorrência do
procedimento em relação ao
total de estudos (40
trabalhos)
Observação de aula 27 67,5
Entrevista 37 92,5
Análise de documentos 15 37,5
Questionário 14 35
Aplicação de testes/provas nos alunos 4 10
Autoscopia
13
3 7,5
Com relação aos procedimentos de coleta de dados utilizados nas pesquisas
analisadas no período de 1980 a 2005, primeiramente é preciso esclarecer que, os
pesquisadores com bastante freqüência associaram em seus trabalhos mais de um
12
A porcentagem apresentada nesta tabela corresponde à ocorrência dos procedimentos em relação
ao total dos estudos (40 trabalhos analisados). Muitas vezes, o estudo utiliza mais de um
procedimento, então, contabilizou-se na tabela o mesmo estudo em mais de um tipo de
procedimento.
13
A autoscopia é o procedimento através do qual os pesquisadores coletam os relatos e comentários
de professores e, em alguns casos dos alunos, sobre procedimentos e comportamentos registrados
em sala de aula e que foram filmados previamente.
71
procedimento para a coleta de dados, dessa forma o número de estudos da tabela 4
não corresponde ao total de teses e dissertações (40 pesquisas), mas à freqüência
com que os procedimentos foram mencionados pelos pesquisadores.
A utilização de um único procedimento para coletar dados sobre as práticas
das alfabetizadoras foi exceção entre as pesquisas selecionadas. É o caso da
observação que apareceu como técnica empregada na dissertação de Verde (1985).
a entrevista foi utilizada, exclusivamente, em apenas três dissertações (ABUD,
1986; AMARAL, 1996; AMBROGI, 1998).
Na tese de doutorado de Sadalla (1997) a autoscopia foi empregada como
procedimento para coleta de dados e a dissertação de Miyasato (1996) fez uso do
questionário. Nos demais trabalhos, 34 ao todo, os pesquisadores utilizaram sempre
mais de um procedimento. Essa associação de vários procedimentos de coleta de
dados em um único estudo, observada na maioria das pesquisas ao longo do
período, parece estar relacionada ao enfoque qualitativo que se tem dado às
pesquisas em educação. Esse enfoque como explicam Lüdke e André (1986), pode
utilizar vários instrumentos para tomada de dados, entre eles, a entrevista,
questionários, observação, etc, tanto para a obtenção de informações mais
genéricas como de informações mais específicas sobre a realidade pesquisada.
Sobre os dados apresentados na tabela 4, verifica-se que a entrevista
aparece com maior incidência nas pesquisas, sendo citada em 92,5% delas ao longo
do período investigado (1980 a 2005). Nota-se incidência também do uso da
observação de aulas, presente em 67,5% dos estudos. Vale ressaltar que em muitos
casos esses dois procedimentos, entrevista e observação de aulas, apareceram
associados num mesmo estudo.
72
Além da observação de aulas e da entrevista os dados da tabela 4 mostram
que 37,5% dos pesquisadores lançaram mão também da análise de documentos
(diários de classe, livro ponto, cartilhas, cadernos de alunos, avaliações,
planejamento de professores, atividades propostas em classe, material produzido
em classe pelos alunos, fotografias) e 35% dos pesquisadores fizeram uso dos
questionários na coleta de dados sobre as práticas das professoras alfabetizadoras.
Com menor incidência, aparecem a aplicação de testes/provas nos alunos, 10% das
pesquisas, e a autoscopia, 7,5%.
Convém assinalar que, embora haja a utilização de mais de um procedimento
de coleta de dados na grande maioria das pesquisas, pode-se distinguir estudos que
fizeram observação de aulas, privilegiando mais o momento da atuação das
professoras na alfabetização em sala de aula, daqueles estudos que não fizeram
observação, analisando apenas dados de questionários, entrevistas e autoscopia,
em alguns casos, também dados de análise de documentos como caderno de
alunos e atividades de sala de aula. Os estudos que não fizeram observação de
aulas são 13 ao todo e, como se pode notar, tornaram-se mais constantes a partir do
final dos anos de 1990, considerando sua distribuição no período analisado (ABUD,
1986; CONTINI, 1988; OPPIDO, 1988; AMARAL, 1996; MIYASATO, 1996;
CAMARGO, 1997; SADALLA, 1997; AMBROGI, 1998; VALENÇUELA, 2002;
SARRAF, 2003; YACOVENCO, 2003; CUNHA, 2004; QUIM, 2004).
As pesquisas que fizeram observação de aulas, privilegiando o momento da
atuação docente nas investigações são predominantes na produção analisada, 27
do total de pesquisas que como se pode observar se distribuem ao longo de todo o
período investigado (SIPAVICIUS, 1983; VERDE, 1985; SILVA, 1987; RIBEIRO,
1988; SÁ, 1988; COELHO, 1989; FOINA, 1989; GUARNIERI, 1990; MOURILHE,
73
1991; CAVATON, 1992; MENDES, 1992; SILVA, 1992; ARAÚJO, 1993; VICTOR,
1993; AZEVEDO, 1994; PEZZATO, 1995; GUARNIERI, 1996; ALBINO, 1997;
CARDOSO, 1997; FONTES, 1997; GARCIA, 1997; MAFFLA, 1999; TASSONI, 2000;
MONTEIRO, 2000; AMARAL, 2002; GOLLER, 2002; ZIBETTI, 2005). Convêm
lembrar, que a observação de aulas vem quase sempre aliada a outros
procedimentos principalmente à entrevista e/ou ao questionário sendo utilizada
com exclusividade em apenas um estudo, conforme mencionado anteriormente.
2.2.4 Tipos de estudo e base teórica das pesquisas
No que diz respeito aos tipos de estudo das pesquisas adotou-se a
nomenclatura declarada pelos pesquisadores. Quando o trabalho não explicitava
esse aspecto, optou-se por categorizá-lo nos tipos de estudo existentes, pois
esteve sob análise o texto integral das teses e dissertações. Acrescentou-se a
categoria análise de depoimentos a partir da definição de André (2002) sobre os
estudos em que o pesquisador faz levantamento de dados através de questionários
e entrevistas visando conhecer opiniões, representações e pontos de vista dos
informantes – para abranger teses e dissertações que, não tendo explicitado seu tipo
de estudo e não se enquadrando nas categorias pré-existentes, apresentavam
características relacionadas à definição da autora.
74
Tabela 5
Pesquisas distribuídas por Tipo de Estudo (1980 a 2005)
Tipos de estudo Autores No. de
estudos
%
estudo comparativo/
contrastivo
Guarnieri (1990); Sipavicius (1983) 2 5
estudo longitudinal Verde (1985) 1 2,5
estudo de caso Abud (1986); Silva (1987); Oppido (1988);
Ribeiro (1988); (1988) Coelho (1989);
Foina (1989); Cavaton (1992); Mendes
(1992); Silva (1992); Araújo (1993); Victor
(1993); Pezzato (1995); Guarnieri (1996);
Albino (1997); Cardoso (1997); Fontes
(1997); Sadalla (1997); Tassoni (2000);
Monteiro (2000); Amaral (2002);
21 52,5
pesquisa etnográfica Mourilhe (1991); Maffla (1999); Zibetti
(2005)
3 7,5
estudo exploratório Azevedo (1994) 1 2,5
pesquisa analítico-
descritivo
Camargo (1997); Cunha (2004); Quim
(2004) Yacovenco (2003)
4 10
pesquisa qualitativa Goller (2002); Valençuela (2002) 2 5
análise de
depoimentos
Contini (1988); Miyasato (1996); Amaral
(1996); Garcia (1997); Ambrogi (1998);
Sarraf (2003);
6 15
Total 40 100
No que tange à incidência dos tipos de estudo, nota-se que o estudo de caso
aparece em maior número, 21 pesquisas, o que corresponde a 52,5% do total,
estando presente ao longo de todo o período delimitado. A análise de depoimentos
compreende a 15% dos estudos e a pesquisa analítico-descritiva 10% no período.
Os demais tipos de estudo aparecem com uma incidência bem menor no
período. Tanto o estudo comparativo/contrastivo quanto a pesquisa qualitativa
incidem em 5% das pesquisas. o estudo exploratório e o estudo longitudinal
aparecem cada um em 2,5% das pesquisas.
Com relação à base teórica fez-se uma análise mais geral das áreas que
influenciaram os pesquisadores na investigação e nas discussões em torno das
práticas das professoras alfabetizadoras. Observa-se, nessa análise geral, a maior
75
influência da Psicologia com autores associados ao construtivismo como Emília
Ferreiro, Jean Piaget, Lev Semionovich Vygotsky e Henry Wallon; da Linguística
com autores como Ângela Kleiman, Luiz Carlos Cagliari, João W. Geraldi e Orlandi;
da Educação em que se verifica a influência dos estudos de Paulo Freire, Magda
Soares, Sônia Kramer, Anne Marie Chartier, Maurice Tardif e Antônio Nóvoa.
Aparece com menor incidência no período a Filosofia e a Sociologia com autores
como Agnes Heller, Antonio Gramsci, Bakthin e Karl Marx.
2.2.5 Temas abordados
Procurou-se na identificação dos temas principais de cada um dos estudos
aglutiná-los em focos temáticos correspondentes aos elementos de interesse desta
dissertação, ou seja, conhecimentos, idéias e saberes que norteiam as práticas de
alfabetização, bem como as atividades, procedimentos didáticos e recursos
utilizados para alfabetizar.
Assim, foi possível chegar a três focos temáticos: procedimentos de
alfabetização; práticas docentes; e saberes docentes, os quais reúnem os temas
principais das pesquisas. Esses temas, por sua vez, compreendem uma tentativa de
organização do material levando em conta semelhanças e diferenças dos estudos
produzidos no período de 1980 a 2005 quanto ao seu enfoque, suas questões, seus
objetivos e conclusões. Vale ressaltar a dificuldade encontrada na organização dos
temas principais e focos temáticos, já que se observa uma proximidade muito grande
dos estudos de modo geral e, principalmente entre as pesquisas dentro de cada um
dos focos temáticos, sobretudo com relação aos seus resultados e conclusões.
O foco temático procedimentos de alfabetização aglutina pesquisas que
trataram dos seguintes temas: procedimentos de ensino para organização das
76
atividades de leitura e escrita; atividades com textos (cartilha, literatura infantil e
textos funcionais); e interação professor-aluno.
O tema procedimentos de ensino na organização das atividades de leitura e
escrita reúne pesquisas que se centraram no modo como as professoras organizam
e conduzem em sala de aula as atividades de ensino de leitura e de escrita na
alfabetização.
No tema atividades com textos (cartilha, literatura infantil e textos funcionais)
os estudos investigaram os tipos de textos presentes nas práticas das professoras
alfabetizadoras e o trabalho que elas fazem em sala de aula com esses textos, com
destaque para o uso da cartilha, dos textos de literatura infantil e dos textos
funcionais (jornais, listas, cartas, e propagandas, etc.).
Por sua vez o tema interação professor-aluno reúne pesquisas que
analisaram os comportamentos dos professores no que se refere à interação com os
alunos na alfabetização, levando em conta a importância das atitudes dos
professores com relação à interação e o valor da afetividade nessas relações para
aprendizagem dos alunos.
O foco temático práticas docentes contempla pesquisas que trataram de
identificar e analisar um conjunto de elementos constitutivos das práticas das
professoras alfabetizadoras. Os temas reunidos nesse foco se referem à:
caracterização dos elementos das práticas bem/mal sucedidas; relação entre
práticas docentes e rendimento/desempenho do aluno, sucesso/fracasso escolar; e
caracterização dos elementos das práticas docentes no cotidiano escolar.
O tema caracterização dos elementos das práticas bem/mal sucedidas reúne
tanto os estudos que focalizam exclusivamente o trabalho realizado por professoras
bem sucedidas quanto aqueles que buscam contrastar práticas consideradas
77
bem/mal sucedidas, objetivando caracterizar quais elementos estão presentes na
atuação desses profissionais e que podem fornecer pistas sobre o tipo de trabalho
desenvolvido na sala de aula e sobre aspectos facilitadores e dificultadores da ação
docente.
Entre as teses e dissertações reunidas no tema relação entre práticas
docentes e rendimento/desempenho do aluno, sucesso/fracasso escolar; estão
aquelas que procuraram estabelecer relações entre aspectos da atuação docente
com os determinantes do rendimento escolar dos alunos analisando o desempenho
das professoras e dos alunos na alfabetização.
O tema caracterização dos elementos das práticas docentes no cotidiano
escolar contempla teses e dissertações que se voltaram à caracterização e análise
de vários componentes das práticas das professoras alfabetizadoras no cotidiano da
escola e da sala de aula, sem considerar previamente seus atributos de bem ou mal
sucedidas.
No foco temático saberes docentes estão incluídas pesquisas que trataram
dos seguintes temas: crenças e concepções das professoras sobre alfabetização,
ensino, aprendizagem e docência; e a construção dos saberes docentes no
exercício das práticas pedagógicas.
O tema crenças e concepções das professoras sobre alfabetização, ensino,
aprendizagem e docência aglutina teses e dissertações que analisaram o ponto de
vista, as opiniões e idéias, das professoras, investigando o ponto sobre o conceito
de alfabetização, sobre o ensino realizado, aprendizagem, aluno e função docente.
o tema construção dos saberes docentes no exercício das práticas
pedagógicas inclui teses e dissertações que examinaram como as professoras
aprendem a ensinar ao exercer a própria prática, como traduzem seu saber em
78
saber-fazer, quais as fontes dos saberes que fundamentam suas práticas e quais
saberes são mobilizados pelas docentes no exercício da prática pedagógica durante
o processo de alfabetização.
A seguir apresenta-se na tabela 6 a distribuição das pesquisas dentro desses
três focos temáticos destacando-se em cada um os temas principais dos estudos.
79
Tabela 6
Pesquisas distribuídas por focos temáticos e temas principais (1980 a 2005)
Focos
temáticos
Temas principais Autores N. de
estudos
%
procedimentos de ensino
na organização das
atividades de leitura e
escrita
Silva (1987); Ribeiro
(1988); Cavaton (1992);
Fontes (1997); Maffla
(1999); Amaral (2002);
Cunha (2004)
7 17,5
atividades com textos
(cartilha, literatura infantil
e textos funcionais)
Miyasato (1996); Albino
(1997); Camargo (1997);
3 7,5
Procedimentos
de
alfabetização
interação professor-aluno Verde (1985); Tassoni
(2000);
2 5
Caracterização dos
elementos das práticas
bem/mal sucedidas
Abud (1986); Oppido
(1988); Coelho (1989);
Guarnieri (1990); Araújo
(1993); Azevedo (1994)
6 15
relação entre práticas
docentes e
rendimento/desempenho
do aluno,
sucesso/fracasso escolar;
Sipavicius (1983); Victor
(1993) Mendes (1992);
Monteiro (2000);
4 10
Práticas
docentes
Caracterização dos
elementos das práticas
docentes no cotidiano
escolar
(1988); Foina (1989);
Silva (1992); Goller (2002);
4 10
crenças e concepções
das professoras sobre
alfabetização, ensino,
aprendizagem e docência
Contini (1988); Mourilhe
(1991); Pezzato (1995);
Amaral (1996); Garcia
(1997); Sadalla (1997);
Ambrogi (1998); Sarraf
(2002); Yacovenco (2003);
Quim (2004);
10 25
Saberes
docentes
a construção dos saberes
docentes no exercício das
práticas pedagógicas
Guarnieri (1996); Cardoso
(1997); Valençuela (2002);
Zibetti (2005)
4 10
Total 40 100
Uma análise da tabela 6 aponta uma maior incidência do tema crenças e
concepções das professoras sobre alfabetização, ensino, aprendizagem e docência
80
ao longo do período, que ele corresponde a 25% do total de pesquisas. Nota-se
que esses estudos foram realizados entre os anos de 1990 a 2005.
Outros temas que aparecem com destaque na tabela 6 são procedimentos de
ensino na organização das atividades de leitura e escrita que aparece em 17,5% das
pesquisas ao longo do período delimitado, e caracterização dos elementos das
práticas bem/mal sucedidas que corresponde a 15% do total de pesquisas
produzidas no período. Com relação a este último tema, ele aparece com maior
incidência nos anos de 1980 e nos anos de 1990.
Os temas a construção dos saberes no exercício das práticas pedagógicas;
caracterização dos elementos das práticas docentes no cotidiano escolar; e relação
entre práticas docentes e rendimento/desempenho do aluno, sucesso/fracasso
escolar; contemplam cada um 10% das pesquisas no período delimitado. No
entanto, verifica-se que o tema sobre a construção dos saberes no exercício das
práticas pedagógicas começa a aparecer em meados dos anos de 1990 e entre os
anos de 2000 a 2005.
Nota-se ainda na tabela 6 temas menos incidentes no período. O tema
atividades com textos (cartilha, literatura infantil e textos funcionais) aparece em
7,5% das pesquisas no período. o tema interação professor-aluno corresponde a
5% dos estudos.
Considerando-se o conjunto de temas aglutinados em cada foco temático
temos que saberes docentes e práticas docentes reúnem cada um 35% do total da
produção, e procedimentos de alfabetização 30% das pesquisas. No entanto,
embora saberes docentes apareça com destaque entre as pesquisas, nota-se que
elas trazem outros referenciais teóricos para a abordagem dos temas, pois as
questões sobre a construção dos saberes pelos professores vão emergindo no
81
cenário das pesquisas educacionais a partir dos anos de 1990 com a divulgação da
literatura estrangeira sobre pensamento do professor e aprendizagem da docência.
Ao se observar a distribuição dos temas principais das pesquisas no decorrer
do período, nota-se que os focos temáticos procedimentos de alfabetização e
práticas docentes concentram, conjuntamente, 65% do total da produção (26
estudos) indicando que os temas privilegiados nesse período parecem corresponder
às discussões presentes no campo da alfabetização apontadas no capítulo 1.
A apresentação feita até aqui permitiu a identificação das características mais
gerais das pesquisas inventariadas. No próximo capítulo, apresenta-se uma análise
mais detalhada dessa produção, salientando-se semelhanças e diferenças entre os
estudos e seus resultados na investigação das práticas das professoras
alfabetizadoras.
82
CAPÍTULO 3
AS PRÁTICAS DE PROFESSORAS ALFABETIZADORAS COMO OBJETO DE
INVESTIGAÇÃO
(…) a cada investigação concreta corresponde um específico objeto
de estudo, construído com base num olhar teórico particular (entre
vários possíveis) sobre um segmento da realidade, recortado de
forma não arbitrária (CANÁRIO, 1996, p. 127).
Neste capítulo, as pesquisas são analisadas levando em conta o referencial
teórico apresentado no capítulo 1 que contemplou discussões concernentes ao
conceito de alfabetização e às implicações metodológicas envolvidas nesse
processo.
No capítulo anterior se fez uma primeira ordenação da produção para
caracterizar aspectos mais gerais dos estudos realizados entre os anos de 1980 a
2005. Apresenta-se agora uma análise mais detalhada dessa produção destacando
resultados e conclusões sobre o que as pesquisas dizem a respeito das práticas das
professoras alfabetizadoras, no que tange aos seus três focos temáticos, ou seja,
procedimentos de alfabetização, práticas e saberes docentes.
3.1 O que as pesquisas têm produzido sobre as práticas das professoras
alfabetizadoras
3.1.1 Procedimentos de alfabetização
Dentre as pesquisas desse foco temático sete estudos apresentaram como
tema principal os procedimentos de ensino na organização das atividades de
leitura e escrita, ou seja, investigaram o modo como as professoras têm conduzido
o processo de alfabetização com relação ao desenvolvimento das atividades de
leitura e/ou escrita, discutindo: a relação do conteúdo ensinado na escola com as
experiências dos alunos e a ênfase dada à criatividade e à oralidade dos alunos nas
83
atividades de sala (SILVA, 1987); a potencialidade das práticas de ensino de leitura
e escrita no desenvolvimento cognitivo, social e afetivo dos alunos (RIBEIRO, 1988);
o modo como as professoras lidam com os alunos aos quais atribuem dificuldades
de aprendizagem e o trabalho desenvolvido por elas com essas crianças
(CAVATON, 1992); as estratégias utilizadas pela professora no desenvolvimento das
atividades de escrita numa perspectiva construtivista (FONTES, 1997); os
procedimentos de ensino de leitura utilizados pela professora e o aproveitamento
das experiências prévias das crianças com a leitura (MAFFLA, 1999); o modo como
as professoras conduzem as práticas de produção escrita de textos no
favorecimento do processo de letramento dos alunos (AMARAL, 2002); e a forma de
desenvolvimento dos conteúdos de língua materna com relação à expressão oral,
leitura e escrita (CUNHA, 2004).
Silva (1987) constatou que as alfabetizadoras mostram preconceitos em
relação à fala das crianças e que as interações lingüísticas presentes na escola
funcionam como forma de dominação e reforçamento das diferenças sociais. Para a
pesquisadora o fraco desempenho e o fracasso escolar das crianças que ingressam
nas escolas públicas está relacionado à desarticulação entre as experiências de vida
das crianças e os conteúdos que a escola lhes impõe por meio de atividades de
ensino-aprendizagem que se restringem a exercícios mecânicos de repetição e
cópia. O aprendizado da leitura e escrita fica restrito à aquisição dos automatismos
da língua escrita, isto é, à decifração de um código através de exercícios repetitivos
que visam à memorização de letras e sílabas, o que leva as crianças a ler e escrever
sem o entendimento do que estão fazendo.
Ribeiro (1988) também constatou que a forma como as professoras
desenvolvem as atividades de leitura e escrita não contribui para o desenvolvimento
84
cognitivo, afetivo e social dos alunos e ainda evidencia um pensamento pedagógico
tradicional que se expressa em procedimentos que conduzem à mecanização e
estereotipia do ensino, e das relações interpessoais na sala de aula, que tendem a
provocar o amordaçamento do aluno, sua submissão e apassivamento, e um maior
grau de heteronomia, ou seja, de dependência do professor. Diante dessa situação,
concluiu pela necessidade de que ampliem a compreensão dos professores sobre
questões relacionadas ao desenvolvimento infantil e à conceituação sobre o ensino
e a aprendizagem, que para a autora é necessário ao alfabetizador consciência
profissional ao lado da busca pela competência técnica e da consciência política
sobre a importância social do trabalho docente. Nesse sentido, enfatiza a
necessidade da pesquisa e da ação de psicólogos e pedagogos junto dos
professores em formação ou em atividade, na busca pela mudança qualitativa de
seu trabalho.
Ainda com relação ao desenvolvimento do ensino da leitura e escrita, Cavaton
(1992) confirmou que as professoras atribuem dificuldades de aprendizagem aos
alunos que não fixaram as sílabas ensinadas e o único trabalho desenvolvido por
elas para superar essa deficiência é o reforço e repetição do conteúdo ministrado.
As alfabetizadoras procuram a homogeneidade da classe, apresentando dificuldades
em trabalhar a leitura e a escrita com os alunos que ainda não alcançaram a
hipótese alfabética, ou seja, ainda não compreendem o valor sonoro de cada letra,
deixando-os encostados e desconsiderando o conhecimento da escrita que as
crianças traziam. Verificou também a ausência de registros escritos nas salas de
aula, as cartilhas como única forma de leitura e escrita apresentada às crianças, e a
presença de atividades que abusam das decifrações de listas de palavras soltas e
frases com linguagem artificial. Assim, para a autora as estratégias de alfabetização
85
primam pela destreza mecânica das cópias e fixação das sílabas ensinadas e as
professoras demonstram grande preocupação com a disciplina e o silêncio, não
permitindo aos alunos que falem ou escrevam seus pensamentos, ansiedades e
vontades. Cavaton (1992) conclui que as professoras com formação deficiente,
desatualizadas, mal remuneradas e sem apoio pedagógico não questionam sua
atuação e simplesmente culpam as crianças e suas famílias pelo fracasso. Essa
situação decorre tanto da falta de consciência crítica sobre seu trabalho, quanto da
falta de conhecimento teórico e de posicionamento político na sua atuação frente à
educação e à sociedade.
A dissertação de Maffla (1999) sobre os procedimentos de ensino de leitura e
escrita e sua relação com o letramento dos alunos chegou à constatação de que a
professora não leva em conta os conhecimentos anteriores das crianças para iniciá-
las no aprendizado da leitura e mesmo trabalhando com vários textos não mostra às
crianças todos os usos e funções da escrita, utilizando-os apenas para reforçar as
tarefas relacionadas à decodificação do código escrito que, segundo ela, pode ser
um dos motivos do fracasso escolar, pois os professores não oferecem condições
para a continuidade do letramento prévio das crianças e não se preocupam em
conhecer suas histórias com a escrita. Assim, recomenda que o ponto de partida
para o trabalho pedagógico com a leitura seja a compreensão da criança como
sujeito de sua aprendizagem, cabendo à professora dar às crianças oportunidades
de conhecer o mundo da escrita na sala de aula para que elas possam descobrir e
desfrutar palavras escritas, relacionando a leitura não apenas a um conjunto de
regras, mas à possibilidade de ascender ao significado do texto e ao prazer de ler.
Em estudo mais recente, Cunha (2004) também constatou que o ensino da
leitura e da escrita é concebido pela maioria das professoras como aquisição
86
crescente dos elementos constitutivos da língua, das unidades menores para as
maiores, o texto é trabalhado como pretexto para identificação dessas unidades
menores, as atividades de leitura não contemplam a variedade dos gêneros e do
material disponível para leitura, e que a ortografia e a gramática são trabalhadas de
forma mais assistemática do que sistemática. As professoras reconhecem a
importância do ensino das normas ortográficas na alfabetização, entretanto, elas são
ensinadas através de atividades que valorizam a memorização e a repetição, em
detrimento da reflexão sobre as mesmas e que essa situação parece ser decorrente
da falta de conhecimento das professoras sobre a utilização das regularidades e
irregularidades da língua. Diante desses dados conclui a pesquisadora pela
necessidade de uma formação teórica mais sólida sobre a ngua materna, que
não se pode ensinar o que o se sabe e que técnicas e modelos não garantem a
consecução do ensino eficiente, sendo preciso dosar conhecimentos específicos
com os modelos e técnicas.
Ainda entre as pesquisas que contemplaram como tema principal os
procedimentos de ensino na organização das atividades de leitura e escrita, nota-se
que algumas analisaram mais detidamente aspectos das práticas das professoras
que favorecem a aprendizagem da leitura e da escrita na alfabetização.
Foi o caso da dissertação de Fontes (1997) que apontou as seguintes ações
da professora construtivista no favorecimento da aquisição da escrita pela criança: a
utilização de múltiplos e variados materiais escritos como estímulos à leitura; a
diversidade de atividades, entre elas, atividades de leitura e pseudoleitura,
atividades de escrita e pseudoescrita, atividades de dramatização; e a proposição de
situações-problema como estratégia da professora tanto para avaliar como favorecer
a construção do conhecimento da criança sobre a língua escrita através do
87
questionamento. No caso das atividades envolvendo situações-problema, a autora
apontou que em vários momentos a professora deixou de criar tais situações que
permitissem à criança avançar no processo de construção da escrita. Assim, Fontes
(1997) concluiu que para o professor definir sua prática de alfabetização numa
perspectiva construtivista ele precisa entre outras coisas ter clareza dos
pressupostos teóricos que caracterizam o processo ensino-aprendizagem nesse
paradigma, dominar o objeto de conhecimento (linguagem escrita), ter claros os
objetivos educacionais de seu trabalho, saber observar, avaliar e propor situações-
problema para qualificar as respostas das crianças e favorecer o processo de
construção do conhecimento, compreender a natureza e importância de seu papel
como mediador na interação da criança com a escrita, e perceber o erro da criança
como subsídio para orientar suas ações.
Do mesmo modo Amaral (2002) distinguiu os elementos de uma alfabetização
voltada à formação de cidadãos conscientes e atuantes na sociedade, na medida
em que, segundo a autora, a professora analisada adotava essa perspectiva de
alfabetização em sua prática ao propor atividades de produção escrita de textos
precedidos por momentos de intensa troca e de diálogos entre alunos e professoras;
utilização de textos variados quanto à temática e gênero; e criação de situações
para os alunos vivenciarem os diferentes usos dos textos escritos. A autora concluiu
destacando que para um processo de alfabetização comprometido com a formação
do cidadão é necessário contar com a presença de um professor crítico e consciente
de que sua ação é tão política quanto pedagógica, reconhecendo-se inacabado e
capaz de uma análise crítica sobre si mesmo e sobre suas ações. Além disso, esse
professor considera seus alunos como participantes atuantes no processo educativo,
respeitando seus saberes e dialogando com eles.
88
Ao tratar dos procedimentos de alfabetização três estudos deste foco temático
apresentaram como tema principal as atividades com textos (cartilhas, literatura
infantil e textos funcionais) e analisaram o trabalho realizado pelas professoras
com os textos de literatura infantil (MIYASATO, 1996); o espaço e o papel dos textos
presentes nas práticas de alfabetização (ALBINO, 1997); e até que ponto o
professor operacionaliza o preceito curricular de devolver à escrita seu caráter de
objeto social no uso das cartilhas e dos textos autênticos/funcionais na alfabetização
(CAMARGO, 1997).
Em sua dissertação, Miyasato (1996) aponta que a presença dos textos de
literatura infantil na sala de aula é um fato incontestável, que a totalidade dos
professores declarou utilizar-se deles. Ao detalhar as atividades propostas com a
literatura infantil, verificou que os professores seguem um roteiro que demonstra
uma metodologia definida, qual seja, início do trabalho com a leitura feita pelo
professor para a classe; avaliação da compreensão da leitura, em que predomina a
reescrita ou o resumo; ilustração do texto pelos alunos, realização de atividades de
linguagem, sendo que na maioria dos casos referem-se a estudos gramaticais,
atividades variadas ligadas à leitura (dramatização, análise dos personagens,
produção de um livro e criação de uma história) e atividades direcionadas para
outros textos a partir da leitura.
Miyasato, no entanto, concluiu que o trabalho organizado e sério
demonstrado pelos professores é resultado do esforço e dedicação dos mesmos,
que procuram formas de trabalhar com a literatura, superando as fragilidades da
formação. Além do mais a preocupação em desenvolver atividades de ensino da
gramática se faz em detrimento de um trabalho voltado para o estudo da linguagem
que poderia contribuir para um aprendizado mais eficiente da língua escrita,
89
sugerindo que os professores precisam rever suas concepções de leitura, escrita e
sobre a aprendizagem desencadeada por esse processo.
Albino (1997) constatou que as cartilhas e “seus textos” são os mais
presentes no processo de alfabetização, ocupando o lugar de textos verdadeiros e
instigantes, o que acaba prejudicando o desenvolvimento de sujeitos leitores e
autores de textos e garantindo a perpetuação da produção de decifradores e
codificadores dos modelos oferecidos, destituídos de textualidade. A autora conclui
que essa situação é indício de que as formulações acadêmicas produzidas a partir
de 1980 - que concebem o ensino da língua escrita sob a perspectiva da linguagem
em uma dimensão interlocutiva - não desencadearam mudanças significativas na
prática pedagógica dos alfabetizadores pesquisados.
Os resultados da dissertação de Camargo (1997) se assemelham aos
anteriores, pois confirmou também a presença das cartilhas nas práticas das
professoras, mesmo que às vezes apareçam como auxiliares no processo de
alfabetização, não sendo formalmente adotadas. Quanto ao uso dos textos
autênticos funcionais, verificou que muitos professores consideram que esses textos
são aqueles que não constam no livro didático e mesmo quando fazem uso deles se
sentem inseguros e não os exploram em suas especificidades de forma, conteúdo e
funcionalidade, restringindo-se aos aspectos gramaticais e ignorando sua estrutura
específica. Concluiu que os professores estão no meio do caminho entre uma prática
tradicional que abandonaram em parte e uma proposta nova que não conhecem a
fundo, e que essa situação decorre dos cursos de atualização, em geral muito curtos
e genéricos. Considera os professores como o usuários da língua escrita, o que
dificulta a realização de um trabalho eficiente, revelando a incompreensão quanto ao
uso dos textos autênticos na alfabetização.
90
Finalizando esse foco temático duas produções que analisaram a
interação professor-aluno na alfabetização, com destaque para os
comportamentos dos professores e alunos no que diz respeito ao conteúdo verbal
dessa interação (VERDE, 1985) e a importância da afetividade nessas relações
durante as atividades de envolvem a escrita na sala de aula (TASSONI, 2000).
Assim, Verde (1985) constatou o predomínio da influência direta da
professora em grande parte das aulas caracterizadas por exposição do conteúdo
e/ou informações, fornecimento de diretrizes, indicações, ordens e perguntas
dirigidas à classe. Segundo o autor, as manifestações mais freqüentes dos alunos
foram relativas a respostas fornecidas às perguntas das professoras ou execução
das tarefas. Com relação às atividades não verbais presentes nas práticas das
alfabetizadoras, constatou a predominância da cópia das lições da cartilha, sendo
que a freqüência desse tipo de atividade tende a aumentar no 2o. semestre letivo,
ao mesmo tempo em que a diminuição dos eventos de fala, tanto da professora
quanto dos alunos.
Por sua vez, os resultados da dissertação de Tassoni (2000) apontam que as
professoras mantêm com os alunos um relacionamento baseado na afetividade que
é evidenciada por categorias como proximidade, receptividade, atenção, contato
físico e expressão facial, sendo que a receptividade e a proximidade foram os
aspectos observados com maior freqüência na postura das professoras nas
atividades de escrita. Sobre o conteúdo verbal das interações (incentivo, elogio,
apoio, instrução, correção, interesse e cooperação) o incentivo e o apoio foram
observados com mais freqüência durante as atividades de escrita. Para a autora, os
dados obtidos sugerem que tais aspectos mediados pela afetividade contribuem
91
para determinar a relação entre o aluno e a escrita, pois essa afetividade é
internalizada por ele, conferindo à escrita um sentido afetivo.
Tomando-se o conjunto das pesquisas aglutinadas nesse foco temático
procedimentos de alfabetização e que investigaram, mais detidamente, o modo
como as professoras organizam e conduzem a alfabetização no que diz respeito às
atividades de leitura e escrita, ao trabalho realizado com textos e à interação
professor-aluno, nota-se que os pesquisadores examinaram tais temas com base
nos referenciais trazidos principalmente pelas orientações contrutivistas divulgadas a
partir dos anos de 1980 no Brasil.
Ao olhar para os estudos desse foco verifica-se também o predomínio das
pesquisas que fizeram observação de aulas ao longo do período, que entre os 12
estudos apenas dois (CAMARGO, 1997; CUNHA, 2004) não utilizaram esse
procedimento, lançando mão do uso de questionários, entrevistas e análise das
atividades propostas pelas professoras. Nota-se ainda uma maior incidência desses
estudos a partir dos anos de 1990, que das 12 pesquisas desse foco, apenas três
foram produzidas nos anos de 1980. Tal dado parece estar relacionado à ampla
divulgação das tendências construtivistas no meio educacional, em especial nos
anos de 1990, inclusive com a elaboração dos PCNs em 1997.
Com relação aos resultados das pesquisas desse foco temático, os
pesquisadores têm caracterizado principalmente as lacunas e dificuldades dos
professores na organização e condução do processo de alfabetização em uma
perspectiva construtivista. Apesar das especificidades de cada pesquisa, seus
resultados são recorrentes e sugerem poucas mudanças com relação ao modo de
conduzir a alfabetização no que tange aos procedimentos adotados pelas
professoras, que segundo os estudos as cartilhas, atividades “tradicionais” que
92
exigem repetição, memorização de letras e sílabas soltas e o uso do texto como
pretexto à silabação continuam presentes na organização das atividades de ensino
de leitura e escrita nas salas de aula.
Outros resultados gerais também apontam que as crianças o estão
aprendendo a ler e escrever entendendo o significado e a função social da escrita, já
que os procedimentos de alfabetização ficam limitados à aquisição dos
automatismos da língua escrita, ou seja, à decifração do código. Os estudos
sugerem que os professores não têm conhecimento teórico sobre a língua e não são
usuários competentes da língua escrita o que compromete o trabalho realizado com
a alfabetização, e sugerem que a formação dos professores contemple aspectos
teóricos concernentes à alfabetização. Além disso, sugerem ainda que na tentativa
de abandonar em parte uma prática mais tradicional e aderir às orientações
construtivistas que não conhecem a fundo, as professoras acabam fragilizando a
organização do trabalho realizado e a organização das atividades propostas.
Aparece também entre os estudos que os professores apresentam preconceitos em
relação à fala dos alunos e às experiências prévias que possuem sobre a leitura e
escrita.
São exceção os estudos de Fontes (1997), Amaral (2002) e Tassoni (2000)
que caracterizam experiências bem sucedidas na condução da alfabetização a partir
das recentes contribuições teóricas, indicando procedimentos e estratégias para
organização de um trabalho que leva em conta o processo de construção da escrita
pela criança, as diferenças de ritmos de aprendizagem, e o uso dos textos através
da criação de situações significativas de leitura e escrita a partir das suas
especificidades de gênero e função social como orientam os estudos de Charmeux
93
(1995), Chartier, Clesse e Hébrard (1996), Giovanni (1996), Ferreiro e Teberosky
(1999), Colello (2004), entre outros autores referenciados no capítulo 1.
3.1.2 Práticas docentes
Entre as catorze pesquisas desse foco temático, seis estudos apresentaram
como tema principal a caracterização dos elementos das práticas bem/mal
sucedidas, sendo que quatro buscaram caracterizar quais os elementos
constitutivos de tais práticas, eficientes ou competentes, investigando as razões e os
fundamentos dessas práticas e as causas do sucesso das professoras que
alcançam êxito na alfabetização (ABUD, 1986; OPPIDO, 1988; COELHO, 1989;
ARAÚJO, 1993). As outras duas pesquisas trataram desse tema comparando as
práticas de professoras mais competentes e menos competentes, ou bem e mal
sucedidas para identificar os elementos que interferem positivamente no
desempenho do professor e na eficácia do processo de alfabetização (GUARNIERI,
1990; AZEVEDO, 1994).
Sob essa perspectiva, Abud (1986) chegou à conclusão de que apesar da
existência de pontos controvertidos entre as práticas das professoras eficientes e as
suposições teóricas atuais, as atitudes e cuidados observados na atuação delas,
principalmente pela experiência revelada no trabalho com a alfabetização, não
deixaram transparecer prejuízos sérios aos alunos. Entre essas atitudes destacam-
se o respeito e a expectativa positiva com relação ao rendimento deles. As
professoras reconhecem que os “mais lentos” precisam de mais atenção, mas não
apresentam atitudes preconceituosas (não fazem predições negativas sobre o
rendimento) procurando garantir que todos aprendam fazendo, muitas vezes,
atividades que elas reconhecem como contrárias às orientações teóricas. Além
94
disso, as professoras eficientes estimulam os alunos a revelarem os conhecimentos
que possuem sobre a escrita e, a partir daí, produzem um novo conhecimento pela
leitura e escrita das palavras-chave, palavras novas e textos criados no trabalho com
a classe como um todo e no atendimento individual aos alunos com ritmo de
aprendizagem “mais lento”. Valorizam as múltiplas experiências e conhecimentos
prévios dos alunos sobre a linguagem e transformam essas diversas experiências
em ponto de partida das práticas de alfabetização. Estabelecem, além disso, uma
relação professor-aluno baseada no respeito mútuo como uma condição essencial
para garantir a aproximação do aluno com a escrita.
Ao investigar os fatores que caracterizam as práticas das alfabetizadoras bem
sucedidas, Coelho (1989) constatou que tais práticas são marcadas por diferentes
estilos de atuação que combinam a formação tradicional aos aspectos de um ensino
renovador, que mesmo adotando formas de trabalho mais convencionais
(valorizando a ordem, utilizando atividades que enfatizam o treino, a cópia, o ditado),
procuram combiná-las com a participação e imaginação das crianças num clima de
entusiasmo e desafio na aquisição dos conteúdos. Conclui que as professoras bem
sucedidas demonstram segurança, autonomia, criatividade e entusiasmo com o
ensino, além de habilidade no relacionamento com os alunos, evidenciando que a
competência para ensinar está relacionada ao comprometimento com o trabalho, à
crença no potencial dos alunos para aprender e ao domínio da experiência adquirida
no exercício docente. Aprenderam muito observando seus alunos, trocando
experiências com colegas e tentando novas maneiras de trabalhar, o que demonstra
a maior valorização da experiência do que da formação acadêmica.
A dissertação de Araújo (1993) confirmou resultados apresentados
anteriormente, que o sucesso das práticas de alfabetizadoras bem sucedidas
95
pode ser atribuído ao compromisso e envolvimento das professoras com o trabalho,
a uma relação professor-aluno baseada no respeito e na crença na capacidade do
aluno, e na disciplina como condição para a aprendizagem e não mero cumprimento
de normas. Constatou ainda que as práticas bem sucedidas se caracterizam pela
interdisciplinaridade, a freqüente leitura de textos acompanhada de interpretação, a
leitura e interpretação das ordens escritas dos exercícios, o uso constante da escrita
em todas as atividades, e o desafio lançado pelas professoras a fim de acelerar o
processo de aquisição da leitura e escrita. Apesar da utilização de métodos e
procedimentos tradicionais, a autora identificou uma prática reflexiva, fundamentada
na ação e nos seus resultados decorrentes da avaliação diagnóstica que permeia o
processo de ensino-aprendizagem e nas experiências anteriores que d(r)3(i)2(o)-4-7()-4(49e)-4(n)12(h)-4(o)6(,)]TJ1 44 1 364 5-12(i)2(c24-4(s)-430((j4(n)-4(cn)-4(o)4(e)-344(n)-4(s)-st)-2(r)3(e)[(a)6(p)-4()-4(Tm[(1a)-344(q)6(12(o)6(d)-4(1)-4(s)-390(p)-4(r)3(o)6(f)-12(e)-4(ss)10(o)-4(r)3(Tm6(a)-314(c)-7(s4(s)-330((i)2(b)6(u)-)10(o)-4(30(co)-(l)2(i)22m)3(a)-334(p)639 Tm[(a)6(m)3(e)-41m)3(a)-334(p)-4(r)3(á)-4(t)-24(t)-322(N6(f)-12(14(p)-4(r)3(ecr)3(i)2(r)3(ecr)3(l)2(h)-4(o)6(,)]TJ1 )-4 1 85 469 T434(c)10(a)-5-366(.)-)10(o)-4(e)-230((j4(no)-5-36(10(4(r)39(r)39(6((n)-4))-5-)-(l)2a)-4(g)6(a)-4(s)-43)-304(cu)6(m)-7(e)-5-36)6(f)-1o)-4(r)3550o)-4(m)-7(pp)-4(r)3(á)-4(t)-24(r)3550o)6(f)-(ási)2(çô2(r)3374(b)-4-3(i)2(d)-4()-2(i)25o)-7(e)-414(n)-4550oe)6(n)-e)-434(n)6(-4(n)-4(ci)25o)-3(a)-364(d)6(e)]TJ1 (a) 1 85 690 Tm[(f)-4(l)2(tbl)2a(á)-4((l)2(i)2(z)10(a)-4(çô)-4(e)-42464)-m90(p)-4d(çô)-[(s)-420(q)664 n 5 1 433 4fntnorno
96
Ao contrastar as práticas de professoras consideradas mais competentes e
menos competentes, Guarnieri (1990) verificou que as professoras mais
competentes realizam trabalho diferenciado com relação aos seguintes elementos
constitutivos da prática: valorizam as experiências dos alunos, mas procedem ao
acréscimo de conteúdos e informações; lançam mão de atividades diferenciadas,
exigindo a participação dos alunos; variam a organização da sala; demonstram uma
concepção positiva dos alunos e mantém com eles um relacionamento definido por
valores e regras de conduta; utilizam uma linguagem rica e adequada à faixa etária e
realizam avaliação constante dos alunos, o fazendo diferença entre eles. No
trabalho dessas professoras verificou a existência de mecanismos de ruptura com a
cotidianidade, isto é, as professoras tentam superar os fatores de homogeneidade e
fragmentação a que está submetida à realidade do trabalho feito em sala de aula.
As professoras menos competentes demonstram que suas práticas baseiam-
se na repetição das informações das cartilhas e em atividades nem sempre bem
elaboradas. Uma rotina negativa de trabalho, que gera indisciplina e uma relação
professor-aluno baseada na ameaça, desrespeito e castigo, sugerindo possuir uma
concepção negativa dos alunos e da classe. Não variam os recursos e apresentam
uma linguagem própria das cartilhas, além de procederem a uma avaliação
discriminatória dos alunos. No trabalho das professoras menos competentes
predominam os fatores de homogeneidade e fragmentação na realização de suas
tarefas, havendo, portanto, a permanência da cotidianidade e a submissão a
decisões exteriores ao seu próprio trabalho.
Apesar das diferenças na atuação das professoras, a autora constatou que há
também convergências nas práticas das professoras mais competentes com as
práticas das menos competentes, permitindo concluir pela existência de gradações
97
de competência, tanto no âmbito individual quanto coletivo. Os elementos da
competência são vários e depende do domínio e da conjugação desses elementos
pelos docentes. Conclui também que a consistência entre o pensamento e a ação
pode ser requisito da competência para ensinar.
Do mesmo modo, Azevedo (1994) ao comparar as práticas das professoras
com ou sem êxito no trabalho para alfabetizar constatou que a eficácia do processo
educativo centra-se no professor, em seus conhecimentos, habilidades e atitudes em
relação ao aluno que deve motivar. Nesse sentido, confirmou os aspectos
apontados pelos demais estudos, quais sejam: relação professor-aluno baseada na
afetividade e na solidariedade; o envolvimento e compromisso do professor com a
sua atuação; o estabelecimento de um clima na sala de aula em que a criança é
mais ativa e recebe encorajamento por iniciativas pessoais; e a presença de atitudes
positivas em relação à criança, criando expectativas elevadas sobre ela. Além disso,
aponta entre outros fatores relacionados ao êxito escolar, o fato das professoras
conhecerem os alunos, suas necessidades e qualidades e desenvolverem em sala
de aula uma linguagem que possa ser entendida pelo conjunto dos alunos. A
construção dessa linguagem comum implica ao professor que ele teste
constantemente se o que ele disse foi entendido.
Localizou-se também quatro pesquisas desse foco temático práticas docentes
que tiveram como tema principal as práticas docentes e o rendimento/desempenho
do aluno, sucesso/fracasso escolar. Essas pesquisas contemplaram: a identificação
dos determinantes do rendimento escolar (SIPAVICIUS, 1983), a investigação das
práticas pedagógicas e dos comportamentos observáveis dos alunos no processo de
alfabetização (MENDES, 1992); a análise do desempenho de uma professora
iniciante de seus alunos na alfabetização (VICTOR, 1993); e a análise das relações
98
entre as práticas de ensino e o sucesso/fracasso escolar na alfabetização
(MONTEIRO, 2000).
Na perspectiva de identificação de determinantes do rendimento escolar
Sipavicius (1983), explorou as inter-relações existentes entre as variáveis
antecedentes - relacionadas à formação e à experiência profissional do professor, e
as variáveis processuais que dizem respeito aos comportamentos do professor,
com o rendimento dos alunos, avaliado a partir de testes de prontidão e de
escolaridade no final do ano. A prontidão dos alunos para a alfabetização e a
mobilidade docente foram as variáveis mais importantes na determinação do
rendimento dos alunos. As demais variáveis - formação do professor; anos de
experiência docente; atitudes expressas quanto aos problemas dos alunos; uso do
elogio, repreensão e punição; tipo de participação dos alunos nas aulas; disciplina;
atividades didáticas; faltas do professor pouco acrescentaram uma vez
computados os efeitos das duas primeiras.
De modo diverso da pesquisa anterior, Mendes (1992), ao examinar os
mecanismos de alienação identificados na prática alfabetizadora e sua relação com
o desempenho das crianças na execução das atividades de sala de aula, constatou
que os procedimentos da professora (limitados ao roteiro proposto pela cartilha,
atividades que visam o treino ortográfico e motor, reconhecimento de letras e
sílabas, cópia e ditado) promovem a competitividade e o individualismo, a
mercantilização no ensino, congelando e ocultando o real pelo uso excessivo do
formalismo e do verbalismo, em um ensino centrado na professora, em que faltam
oportunidades de expressão livre das crianças, e baseado na repreensão oral, no
castigo e na chantagem. Um processo que não leva em conta a experiência anterior
do sujeito e que enfatiza a produção individual e a competitividade. Para a autora
99
esses procedimentos revelam mecanismos que tornam o sujeito adaptado a uma
sociedade estática e homogênea em que permanece passivo, obediente e
controlável. Esses mecanismos, por sua vez conduzem a alfabetização para
procedimentos formais e mecânicos que impedem a construção do conhecimento, a
compreensão do todo social e da contradição que permeia a sociedade. Assim, as
práticas observadas apontam que a tarefa de ensinar permite uma ação prática e
não uma atividade em que o pensamento e a ação permitem a dimensão reflexiva
do conhecimento e a dimensão histórica do sujeito que nele se insere.
Victor (1993), ao analisar a atuação de uma professora iniciante e o
desempenho do aluno em provas realizadas no início e final de semestre, verificou
que a professora iniciante parecia pouco preparada para desenvolver o conteúdo
proposto na alfabetização, mesmo no desenvolvimento de atividades ditas
tradicionais como cópia e ditado. As atividades práticas que a professora iniciante
desenvolvia pareciam representar um apanhado de idéias e ações, mesclando as
teorias construtivistas e interacionistas com um ensino à antiga (enfatizava o treino e
a repetição com cópia e ditado, por exemplo) sem compreender os pressupostos
teóricos que as embasam, apresentando ainda contradições entre o seu discurso e
sua prática. Apesar de apresentar preocupação em motivar os alunos e em
desenvolver estratégias participativas (mudança na disposição das carteiras na sala
e trabalhos em grupos) não conseguia relacionar as atividades umas às outras em
uma seqüência de ações encadeadas de ensino que conduzissem os esforços dos
alunos numa mesma direção, além disso, apresentava dificuldades em manter o
controle da classe em decorrência da falta de experiência. Por tudo isso, apesar de
seus esforços, os alunos evoluíram muito pouco no processo de alfabetização
conforme avaliações realizadas no início e no final do semestre. O progresso das
100
crianças foi relativamente pequeno mesmo diante de um conteúdo bastante restrito
(vogais, encontros vocálicos, e duas ou três famílias de sílabas consoantes).
Diferentemente das duas pesquisas precedentes, Monteiro (2000) identificou
tanto práticas favorecedoras do sucesso quanto práticas desfavoráveis. Entre as
práticas consideradas favorecedoras do sucesso escolar estão: as práticas
incentivadoras, cujas características residem nas explicações, diálogos e na
configuração das aulas; diversidade de atividades (leitura, escrita, fala), de recursos
simbólicos e de procedimentos; ensino coletivizado por explicações gerais e ensino
mais individual; memória avaliativa sobre os alunos; e investigação das dificuldades
do aluno nas situações de (re)ensino.
Por outro lado, constatou a presença de concepções que conformam práticas
prejudiciais ao desenvolvimento dos alunos como, por exemplo, a idéia de
imaturidade apontada pela professora como relacionada à idade, comportamento
inadequado para a série e desinteresse. As interferências externas prejudicaram o
andamento das práticas pedagógicas, impedindo a autonomia da professora, assim
como a falta de orientação diante das dificuldades não contribuiu para a melhoria do
trabalho docente realizado. Concluiu que as práticas das alfabetizadoras são
fundamentais para levar os alunos ao sucesso ou ao fracasso escolar, que as
diferenças existentes quanto ao nível de desenvolvimento das crianças apontam que
elas apropriam-se de forma diferenciada dos conhecimentos, cabendo à professora
conscientizar-se de que práticas homogêneas não contribuem para o sucesso
coletivo e, muitas vezes, acirram as diferenças e favorecem o fracasso. No entanto,
a professora observada não pode ser considerada fracassada ou bem sucedida,
pois muitas de suas práticas, ao mesmo tempo, contribuíram para o sucesso e
101
fracasso dos alunos, como também levaram muitos alunos a permaneceram numa
condição fluida.
Esse foco temático também contempla o tema caracterização dos elementos
das práticas docentes no cotidiano escolar. As quatro pesquisas identificadas se
voltaram para caracterizar os elementos mais gerais constitutivos das práticas das
alfabetizadoras no cotidiano da escola e da sala de aula, sem estabelecer
previamente o atributo de bem ou mal sucedidas (SÁ, 1988; FOINA, 1989; SILVA,
1992; GOLLER, 2002).
Nessa perspectiva (1988) revelou que as professoras alfabetizadoras no
cotidiano das salas de aula o contam com apoio pedagógico. Ensinam de modo
intuitivo, sem um plano orientador, que o ensino é feito através de atividades com
conteúdos mal dosados, sem seqüência e os procedimentos caracterizados pelo
excesso de verbalismo, pronúncia artificial das palavras e atividades estereotipadas,
repetitivas com predomínio de cópia, leitura e ditado. As professoras
desconsideravam as características de desenvolvimento dos alunos e consideravam
a disciplina como uma questão de ordem. Os recursos usados na alfabetização
limitavam-se à cartilha, giz e carimbos com figuras. Tais aspectos caracterizadores
das práticas de alfabetização no cotidiano da sala de aula revelaram a precária
formação das professoras alfabetizadoras.
Foina (1989) em sua tese de doutorado examinou nas práticas de
alfabetização a mediação feita pela professora entre os alunos e a escrita.
Constatou que a professora desconsiderava a distância entre a oralidade e a escrita
da maioria das crianças e a norma culta; concebia a leitura como memorização (sem
compreensão) e a escrita como cópia, como traçado/desenho das palavras
(valorização da boa letra e correção ortográfica precoce); elegia a repetição/imitação
102
acrítica como metodologia/objetivo de ensino; atribuía à criança a culpa pelo
fracasso. Além disso, constatou que a concepção de língua implícita no trabalho da
professora era a de língua como um mero sistema de codificação. Considerava a
criança de antemão como biológica e culturalmente deficiente, sugerindo que o
conteúdo era uma tarefa muito difícil para ela. Assim, a escola e o professor
colaboram na manutenção das desigualdades sociais quando ensinam ao aluno
apenas a decodificar/memorizar e desenhar/escrever as palavras, ao invés de
ensiná-lo a ler e escrever. Consequentemente o aluno ficava incapacitado de
permanecer na escola por muito tempo.
Focalizando as práticas da professoras alfabetizadoras nas classes de Ciclo
Básico depois da implantação dessa medida, Silva (1992) verificou que as
professoras expressam como categorias essenciais de sua prática a ordem, a
disciplina, o silêncio, a limpeza e a valorização da leitura e da escrita. Mesmo
falando da preocupação com a criança como um ser humano integral, diferenciado e
único, as professoras usam as categorias citadas para garantir a organização das
situações didático-pedagógicas, sem levar em conta àquela mesma criança, suas
formas de aprender e os objetivos do ensino no momento da alfabetização. As
professoras mais ‘democráticas’ percebem a disciplina como decorrente da
participação interessada das crianças, sendo mais comum como estratégias de
ensino, a presença de perguntas, movimento e conversa entre os grupos. Para ela a
metodologia utilizada pelas professoras nega os princípios e idéias atuais sobre
aprendizagem, que se prende à memorização dos conceitos e à fragmentação de
teorias que o usadas como discurso moderno que não se concretiza na prática.
Iniciam a alfabetização com as vogais; pelo som e letra e destacam a importância
dos pré-requisitos, ou seja, noções de forma, espaço, tamanho, coordenação
103
motora. A fala das professoras sobre sua prática, muitas vezes, é bastante diferente
daquilo que elas fazem em sala de aula. Isso se deve à maneira como se estrutura a
tradição pedagógica da alfabetização, baseada mais no fazer prático do que nas
idéias que o sustentação ao discurso das professoras. A prática pedagógica do
alfabetizador é histórica e reflete um processo pessoal de apropriação que envolve a
história de cada um e a história das práticas de alfabetização. Revelam uma prática
intuitiva, movida pela naquilo que deu certo e que lhes segurança. Isso
esclarece, em parte, o insucesso de medidas implantadas, como o Ciclo Básico. No
entanto, para Silva (1992) a resistência o é desinteresse ou acomodação, mas
pode ser vista como defesa de sua identidade ameaçada por forças de poder que
vêm de cima. As professoras expressam uma ausência total de perspectiva e
motivação para o trabalho, o que dificulta o desenvolvimento de sua autonomia
intelectual e, consequentemente, da autonomia do aluno. Essa falta de motivação
está relacionada à desvalorização salarial e social da docência em nossa sociedade.
Esses aspectos apontam à necessidade de se respeitar o saber-fazer do professor e
que, a partir dele se encaminhe para uma reflexão crítica sobre a prática.
A pesquisa de Goller (2002) identificou que as práticas docentes no ensino
fundamental são determinadas pelo objetivo desse nível de ensino, ou seja, formar
futuros profissionais competentes e produtivos. Consequentemente, uma
preocupação com a disciplina e as regras de comportamento, a seleção dos
conteúdos (ler, escrever, contar), como características tradicionais da 1a. série do
ensino fundamental. Verificou também que a alfabetização mantém sua centralidade
sendo encarada como passaporte para o conhecimento. No entanto, as crianças são
privadas de uma relação mais pessoal com a língua escrita, que o trabalho dos
professores revelou práticas de alfabetização empobrecidas, baseadas nos “textos”
104
cartilhescos que não pressupõem interlocutores e visam exclusivamente à
decodificação. Contudo, apesar do comprometimento das professoras com o
trabalho, sugere que as mudanças pretendidas nas escolas e nas práticas de
alfabetização exigem um trabalho coletivo de reflexão sobre as práticas dentro da
própria instituição.
Considerando o conjunto das pesquisas reunidas nesse foco temático
práticas docentes, nota-se que os investigadores trazem com riqueza de
detalhamento como se o processo de alfabetização a partir da inserção no
interior das escolas e, principalmente nas salas de aula para saber quais os
elementos constitutivos das práticas das alfabetizadoras, seja pela caracterização de
práticas docentes bem/mal sucedidas, ou com a preocupação de identificar os
determinantes intra-escolares do rendimento dos alunos e do sucesso/fracasso
escolar e suas relações com o trabalho desenvolvido pelas alfabetizadoras.
Uma análise do conjunto das pesquisas dentro desse foco revela que, assim
como no foco procedimentos de alfabetização, grande parte dos pesquisadores
lançou mão da observação de aulas, que das 14 pesquisas apenas duas não
utilizam esse procedimento, a saber: Abud (1986) que fez entrevistas e Oppido
(1988) que usou entrevistas e análise de documentos.
Vale ressaltar ainda que as pesquisas que investigaram professoras bem
sucedidas ou compararam práticas bem e mal sucedidas e que aparecem com mais
destaque nesse foco, que das 14 pesquisas do foco práticas docentes, 6 tratam
desse tema, revelam o interesse dos pesquisadores, apontado por André (1995,
p. 81), em entrar no cotidiano das escolas para identificar elementos que contribuam
para a compreensão do trabalho docente e apontem pistas para propor práticas
alternativas que dão certo na difícil situação do ensino brasileiro.
105
Entre esses comportamentos e atitudes das professoras bem sucedidas os
estudos apontam respeito aos alunos e uma relação baseada no respeito tuo,
expectativa positiva com relação ao rendimento deles, atendimento aos alunos com
mais dificuldades, valorização dos conhecimentos prévios dos alunos e crença na
capacidade deles para aprender, variedade de procedimentos e atividades. Os
estudos apontam ainda a presença de procedimentos mais tradicionais com
aspectos mais renovadores, uma prática nem sempre baseada em teorias de
alfabetização, atividades de recuperação ao longo do processo de alfabetização,
participação constante dos alunos nas atividades propostas, envolvimento e
compromisso do professor e uso de linguagem adequada.
Entre os aspectos apontados pelos estudos como dificultadores do êxito na
alfabetização e no rendimento dos alunos estão: dificuldade em manter o controle da
classe, relação professor-aluno baseada na chantagem e castigo, não consideram
os conhecimentos dos alunos, procedimentos repetitivos e mecânicos que impedem
a construção dos conhecimentos pelas crianças, idéia de homogeneidade e
imaturidade dos alunos para aprender, recursos limitados, conteúdos mal dosados e
sem seqüência, e predomínio de cópia e ditado.
De modo geral, pode-se verificar na caracterização dos elementos das
práticas docentes que favorecem, ou não, o êxito das crianças na alfabetização, a
importância dada pelos pesquisadores aos comportamentos e posturas dos
professores no processo de alfabetização. A perspectiva de que as discussões sobre
alfabetização avançaram para além do método de alfabetização (Cf. SOARES;
MACIEL, 2000; Soares, 2003; Micotti, 1996; Charmeux, 1995; Colello, 2004) se
confirma nesse foco temático, na medida em que as pesquisas buscam uma maior
compreensão sobre os elementos constitutivos e determinantes da alfabetização na
106
dinâmica da sala de aula, a partir de uma análise mais global das práticas das
professoras, em que se consideram vários aspectos que podem contribuir ou não
para o sucesso da alfabetização.
3.1.3 Saberes docentes
Entre as pesquisas com foco nos saberes docentes, dez tiveram como tema
principal as crenças e concepções das professoras sobre alfabetização, ensino,
aprendizagem e docência, ou seja, investigaram as opiniões e pontos de vista das
professoras sobre a alfabetização e discutiram mais especificamente as relações e
possíveis contradições entre as idéias das professoras sobre alfabetização e suas
práticas pedagógicas. Desse modo, essas pesquisas analisaram: as concepções de
alfabetização que configuram as práticas das professoras alfabetizadoras (CONTINI,
1988; MOURILHE, 1991; AMARAL, 1996; YACOVENCO, 2003; SARRAF, 2003;
QUIM, 2004); a forma como a competência é significada pelas professoras
(AMBROGI, 1998); as crenças das professoras sobre o ensino e as práticas de
alfabetização desenvolvidas por ela a partir dessas idéias (PEZZATO, 1995;
SADALLA, 1997); e as diferentes apropriações do construtivismo pelas professoras
(GARCIA, 1997).
Nesse sentido, Contini (1988) ao investigar as concepções dos professores
sobre alfabetização chegou à constatação de que as alfabetizadoras revelam
inconsistência teórica com relação ao conceito de alfabetização, que ora
restringem demais, ora ampliam muito esse conceito. As concepções das
professoras revelam ausência de critérios teóricos na escolha da metodologia para
alfabetizar. A ênfase dada por elas ao método de alfabetização em detrimento do
aluno e a valorização do amor e da doação mais do que da competência técnica
107
foram identificadas por Contini. O discurso amoroso das professoras se choca com o
fato delas atribuírem aos alunos a culpa pelo fracasso escolar, revelando falta de
competência técnica e uma prática contraditória em que o descomprometimento do
professor para com o fracasso do aluno se faz presente. Por sua vez, essa situação
está relacionada à falta de oportunidades no sistema educacional para que o
professor desenvolva uma postura mais crítica e participativa em seu trabalho.
Mourilhe (1991), ao examinar as concepções das professoras sobre
alfabetização, criança e escola, chegou à conclusão de que os alfabetizadores
possuem preconceitos motivados por uma visão ideológica de escola e aluno das
camadas populares, argumentando que esses preconceitos, aliados às dúvidas e
inseguranças, manifestam-se nas concepções e práticas pedagógicas que
evidenciam uma postura tradicional e um cotidiano insípido com práticas rotineiras e
sem criatividade. Além disso, os problemas e dificuldades relacionados aos aspectos
físicos e pedagógicos das escolas levam à insatisfação pessoal das professoras
investigadas e apontam lacunas em sua formação, indicando também, a
necessidade de se repensar a formação inicial e de se complementar a formação
dos professores já atuantes.
Amaral (1996) investigou os saberes que informam as práticas das
professoras e constatou que as professoras desconhecem os fundamentos teóricos
de suas práticas revelando que se apropriaram apenas de fragmentos do discurso
oficial veiculado a partir dos anos de 1980 e que recomenda a utilização e produção
de diferentes tipos de texto. Assim, as professoras dizem que não adotam livro
didático, não trabalham redação, não fazem correção à maneira antiga e, falam
ainda, em gramática do texto. No entanto, um olhar mais atento, aponta uma
“pedagogia do descompromisso”, em que as professoras não preparam aulas com
108
antecedência, não corrigem os textos produzidos pelos alunos, utilizam o livro
didático para garantir a seqüência da matéria e não avaliam sua própria prática. Para
a autora as professoras apresentam uma prática “ajustada” que, por sua vez, revela
insegurança para alfabetizar, formação precária e falta de domínio do conteúdo da
Língua Portuguesa.
A dissertação de Yacovenco (2003), a respeito das concepções que
configuram as práticas das professoras alfabetizadoras, verificou que as
manifestações das professoras são reveladoras de uma concepção mais ampliada
de alfabetização ao estenderem para os anos seguintes a responsabilidade por tal
processo, em decorrência disso, simplificam o trabalho com alfabetização no 1o. ano
escolar reduzindo o grau de exigência com relação à aprendizagem dos alunos, o
que implica aceitar como alfabetizado o aluno que apresenta rudimentos de leitura e
escrita. Essa situação, no entanto, parece ser conseqüência da implantação do Ciclo
Básico e da Progressão Continuada trazendo implicações para o professor,
especialmente pela falta de clareza sobre o ponto de chegada dos alunos e perda da
noção de terminalidade do sistema seriado. Além disso, a noção de continuidade do
processo confunde-se com a repetição do conteúdo no ano seguinte.
Para Yacovenco as manifestações das professoras evidenciam insegurança
quanto aos procedimentos a serem adotados na abordagem construtivista. Mesmo
as professoras que se denominam construtivistas lançam mão de atividades
“tradicionais” como cópia, ditados e escrita de palavras descontextualizadas
paralelamente ao uso de atividades "mais construtivistas”, ou seja, produção de
textos coletivos, reescrita de histórias, concretizando uma prática mesclada que para
a pesquisadora sinaliza a distância existente entre as intenções e as ações
propriamente ditas.
109
A presença de contradições entre o discurso de professoras alfabetizadoras e
sua relação com posturas pedagógicas frente à alfabetização foi o que Sarraf (2003)
constatou em sua dissertação. Se por um lado as professoras falam sobre a
necessidade de respeitar o tempo do aluno na assimilação dos conhecimentos, por
outro, culpam o aluno pelo fracasso na alfabetização. Além disso, a autora verificou
que a maior resistência das professoras está justamente na forma de sistematização
e apresentação do sistema de escrita, que suas falas revelam a insegurança
sobre um processo que não pode ser controlado passo a passo. A resistência
didático-metodológica no ensino da língua escrita pode ser decorrente devido ao
comprometido processo de letramento dos professores, pois as atividades de leitura
e escrita não se fazem presentes na vida das alfabetizadoras. Constatou também a
precária assimilação por parte das professoras de um referencial teórico para
subsidiar suas práticas. Assim, concluiu que a resistência das professoras em
reverem suas práticas e convicções decorre tanto da incompreensão e
desconhecimento dos conceitos teóricos quanto da insegurança de ensinar aquilo
que não sabem.
Quim (2004) ao analisar as concepções construtivistas que fundamentam o
processo de alfabetização, identificou que as professoras encontram-se num
momento de mudança metodológica, com vistas a uma adequação de sua prática ao
novo projeto educacional, sendo possível perceber que fazem referência a várias
teorias, em geral, quando falam de sua prática. Quando abordam as teorias
psicológicas, as professoras focalizam explicitamente as teorias do desenvolvimento
infantil no que tange às fases do desenvolvimento e à necessidade de respeitá-las
no processo ensino-aprendizagem, chegando mesmo a citar teorias clássicas da
Psicologia. Os dados apontam também muitas crenças ou teorias implícitas das
110
professoras, algumas das quais se assemelham aos princípios construtivistas
passíveis de serem observados na prática.
Por sua vez Ambrogi (1998) identificou como as professoras alfabetizadoras
concebem, significam o que é ser um professor competente por meio da análise das
manifestações delas. As concepções identificadas foram a de competentes,
sacerdotes, salvadores da pátria, compromissados, realizadores, comprometidos
politicamente, técnicos, perseguidos, ecléticos, polivalentes, heróis, porta-vozes,
modestos, perpetuadores. Em todas essas formas de significação da competência
profissional o alfabetizador está sempre re-significando-se no saber como um ser
escolhido e iluminado para levar a luz aos que nada sabem; o aluno é aquele que
jamais aprende pela própria capacidade, mas pela capacidade que o professor tem
para lhe ensinar. Na voz dos professores a escola enuncia o discurso da exclusão
social pelo sistema de aprovação/reprovação, atestando, assim, a capacidade de
alguns e a incapacidade de outros.
Ao investigar as representações da professora sobre o ensino, Pezzato
(1995) chegou à conclusão de que a atuação dela é pautada na improvisação, na
busca de soluções imediatistas aos problemas apresentados no dia-a-dia e na
alienação, na medida em que se exime das atividades e obrigações que lhe seriam
apropriadas. As concepções e práticas de alfabetização mostram-se desvinculadas
das recentes contribuições teóricas e práticas divulgadas, ou seja, de uma proposta
voltada para a construção do conhecimento pelo aluno. Entende-se que a orientação
pedagógica e a capacitação em serviço sejam formas capazes de reverter esse
quadro.
Sadalla (1997), diferentemente, verificou que as crenças da professora
investigada sobre a aprendizagem da escrita direcionavam seus esforços no sentido
111
de criar um clima afetivo e de instigar intelectualmente os alunos para que tivessem
uma participação mais ativa no processo de aprendizagem. Além disso, a professora
revelou a crença de que a aprendizagem da leitura e escrita acontecerá com o
passar do tempo. Isso implicava uma ação docente mais tolerante, mas isso não
significava que a professora fosse passiva, que propunha atividades com
estratégias para favorecer a aprendizagem. A autora concluiu apontando para a
necessidade de que no período da formação se discuta com os professores as
relações entre as crenças e as ações docentes, tomando a conduta docente como
objeto de reflexão, a fim de possibilitar o planejamento de ações futuras coerentes
com aquilo que se pretende alcançar. Assim sendo, os cursos de formação devem
oferecer condições para que o docente seja sujeito da formulação de propósitos e
objetivos de seu próprio trabalho, bem como de estratégias e meios que considere
mais adequados para atingir as metas desejadas.
Garcia (1997) investigou as diferentes apropriações do construtivismo pelas
professoras e identificou que essa teoria tem sido apropriada como: a) método; b)
atividades que podem ser anexadas aos métodos tradicionais; c) um corpo teórico
que implica em uma outra abordagem sobre a aprendizagem, uma outra concepção
de desenvolvimento e uma postura diferenciada do professor perante sua atuação e
seu aluno. Conclui que do movimento construtivista e do debate suscitado houve um
saldo benéfico de enriquecimento das atividades pedagógicas, mas também casos
desastrosos em que as professoras apropriaram-se do discurso construtivista, mas
não conseguiram desenvolver uma prática coerente, ao mesmo tempo em que
abandonaram os métodos tradicionais. As professoras com sua formação tradicional
e com a visão da experiência prática, resistem e, mesmo quando aceitam o
construtivismo, o fazem como prática social, mesclando representações
112
historicamente dadas e recriadas por apropriações socialmente norteadas. São
apropriações plurais, muitas vezes, teoricamente conflitantes.
Entre as pesquisas desse foco temático quatro estudos tiveram como tema
principal a construção dos saberes docentes no exercício das práticas pedagógicas
e investigaram os saberes mobilizados pelos alfabetizadores no exercício das
práticas de alfabetização, assim sendo, tais estudos examinam como professoras
iniciantes aprendem a ensinar ao exercer a própria prática, tendo como pressuposto
que é no exercício da docência que se consolida o processo de tornar-se professor
(Guarnieri, 1996); o modo como os professores traduzem seu saber em saber-fazer,
ou seja, as relações existentes entre o conhecimento prático dos professores e o
conhecimento pedagógico na atuação docente (CARDOSO, 1997); os saberes que
as professoras construíram ao longo de sua trajetória pessoal e profissional e que
fundamentam suas práticas pedagógicas (VALENÇUELA, 2002); e os saberes
mobilizados pela alfabetizadora no exercício da prática pedagógica (ZIBETTI, 2005).
Ao investigar professoras alfabetizadoras iniciantes, Guarnieri (1996) verificou
nas observações das aulas e nas manifestações da alfabetizadora iniciante que ela
fez um bom trabalho, mas teve dificuldade em se distanciar da própria prática para
avaliá-la. Apresentava o desejo de mudar sua prática em busca de um trabalho
construtivista, já que identificava em sua prática características tradicionais, mas que
ao mesmo tempo lhe garantia bons resultados. Isso se tornou um conflito para ela
que depositava na perspectiva construtivista os anseios de uma prática bem
sucedida. A autora constatou ainda que era precária a concepção teórica da
professora sobre o construtivismo o que dificultava a articulação teoria-prática. Além
disso, a falta de conhecimentos sobre a matéria, principalmente Português, e sobre
os alunos parecia trazer dificuldades para a professora ensinar os conteúdos, o que
113
parecia contribuir para a manutenção de procedimentos e atividades repetitivas. As
características não adequadas (excessiva rigidez, insegurança, ansiedade, medo de
errar) pareciam contribuir para a manutenção de atividades pouco atraentes para os
alunos, tendo em vista que a professora não aceitava a possibilidade de correr
riscos. As características favoráveis à profissão (bom humor, calma e paciência), no
entanto, permitiam à professora ter um bom relacionamento em classe o que
propiciava um clima adequado para a execução das tarefas. Uma das tarefas mais
difíceis para a professora iniciante era transformar os conteúdos escolares em
atividades. A sua concepção de alfabetização era restrita, pois não percebia que o
aprendizado da leitura e escrita poderia ocorrer quando se ensinam outras
disciplinas. Guarnieri (1996) conclui com relação ao processo de aprendizado da
profissão a partir do seu exercício que o movimento de avaliação quer da formação,
da cultura escolar e da prática é conduzido por um movimento de reflexão das
professoras permitindo a elas buscarem a transformação do padrão de seu próprio
trabalho e se desenvolverem profissionalmente, à medida que articulam esses
aspectos.
Cardoso (1997) analisou a constituição da competência profissional no ensino
da leitura e da escrita no plano do discurso das professoras e constatou que,
embora tenham incorporado vários pressupostos, como por exemplo, a valorização
das crianças que estão mais avançadas e a atenção especial às que estão mais
atrasadas, nas situações pedagógicas propostas as professoras reduzem a maioria
das atividades à compreensão da relação som/grafia. As professoras imersas em um
contexto de mudança e renovação da prática, no afã de introduzir modificações
terminam por trabalhar em função de um repertório de atividades que é limitado e
que gira sempre em torno dele. O movimento das professoras o vai da
114
necessidade de aprendizagem das crianças à formulação de atividades, mas ocorre
a utilização de tarefas, numa espécie de rodízio que pode levar à propostas
distantes das necessidades das crianças.
Conclui Cardoso (1997) que as práticas das professoras alfabetizadoras
evidenciam que o desempenho pedagógico no campo do ensino da leitura e escrita
implica diferentes competências e que a relação entre competência intelectual e
competência pedagógica não é homogênea. A teoria alimenta a capacidade de
intervenção prática, mas não é uma variável única e linear, portanto, a qualificação
intelectual não promove automaticamente a eficácia pedagógica em ação.
Valençuela (2002) investigou os saberes que permeiam as práticas das
alfabetizadoras e conclui que a prática cotidiana em sala se caracteriza pela
simbiose de concepções teóricas, aprendidas na formação inicial (teoria tradicional,
humanista, construtivista e histórico crítica-sócio cultural) em diálogo com os saberes
da experiência, o que mostra que os saberes docentes advém também das teorias
da educação. O professor deve ser visto como alguém que questiona, critica, sugere
e compartilha idéias de mudança com seus pares e que revisita as teorias e práticas
pedagógicas aprendidas. O que permite algumas reflexões sobre seu fazer intuitivo,
um saber específico que somente a experiência revela: o tempo na profissão,
articulado com os demais saberes, desperta nas professoras uma percepção maior
para compreender os comportamentos e atitudes das crianças.
Por sua vez, Zibetti (2005) constatou em sua tese de doutorado sobre os
saberes mobilizados pela alfabetizadora que esses são históricos e dialógicos,
resultando da apropriação de conhecimentos veiculados nos diálogos travados pela
professora em diferentes momentos, com diferentes sujeitos e materiais tendo em
vista as necessidades do cotidiano, sobretudo aquelas relativas à aprendizagem das
115
crianças. também, segundo a autora, uma dimensão criadora na atuação
docente, na medida em que a professora diante de situações desafiadoras busca
alternativas que resultam de um esforço de reflexão, ajuste e recombinação de
saberes na busca por soluções para alfabetizar os alunos. As vozes das crianças
(suas dificuldades e necessidades) foram as que mais se fizeram ouvir na prática da
professora, que foi desafiada e, muitas vezes, impulsionaram a criação de diferentes
formas de intervenção.
Entre os desafios postos às professoras, segundo Zibetti (2005), destacam-
se: a necessidade de manter a atenção e o interesse pela tarefa de um grupo de
alunos em suas primeiras experiências de escolarização com os recursos e
condições da escola pública; atender um grupo de crianças em diferentes momentos
do processo de aprendizagem da leitura e da escrita, diferença acentuada pela
implantação do Ciclo Básico; trabalho com conteúdos curriculares necessários para
que os alunos avancem.
A análise do foco temático saberes docentes revela que as pesquisas
produzidas sobre as crenças, concepções e saberes que orientam as práticas das
professoras alfabetizadoras pressupõem que os comportamentos delas são
influenciados por seus processos de pensamento. Esses estudos evidenciam uma
maior preocupação em torno da relação teoria e prática de alfabetização e do
processo de construção dos saberes pelo professor no exercício da profissão
docente. A maior incidência desses estudos ocorre a partir de meados dos anos de
1990 e início do século XXI, apontando um interesse mais recente do tema nos
Programas de Pós-Graduação em Educação do Estado de São Paulo.
Verifica-se que o número de pesquisas do foco saberes docentes que não
recorreram à observação de aulas é maior, pois muitos pesquisadores utilizaram
116
principalmente as entrevistas e questionários. Talvez isso ocorra devido ao interesse
desses pesquisadores em trazer a perspectiva dos próprios professores, ou seja, o
que pensam, percebem e dizem a respeito de suas práticas de alfabetização,
priorizando assim, seus depoimentos e relatos verbais.
Os resultados dessas pesquisas mostram que os professores apresentam
dificuldades em conceituar a alfabetização dentro de uma perspectiva construtivista,
sendo comuns as incoerências entre as manifestações das professoras e suas
práticas pedagógicas, as professoras revelam fragmentos do discurso oficial e
resistência a um processo que não podem controlar passo a passo. Como
decorrência da incompreensão dos conceitos relacionados ao construtivismo, apesar
da ampla divulgação dessa tendência no meio educacional as professoras
demonstram, de acordo com as pesquisas, resistências, dúvidas e inseguranças em
relação ao modo de conduzir a alfabetização. Assim, para os pesquisadores o
construtivismo possibilitou o enriquecimento das atividades pedagógicas, mas
também, resultou em professoras que se apropriaram do discurso construtivista, mas
não conseguiram desenvolver uma prática coerente, ao mesmo tempo em que
abandonaram os métodos tradicionais.
Os resultados das pesquisas desse foco temático sugerem ainda que a
proposta de revisão dos conceitos de alfabetização, apontada pelos autores
referenciados no capítulo 1, resultou, muitas vezes, o em uma mudança de
concepção dos professores, mas em uma síntese, nem sempre coerente, entre
idéias estabelecidas e as orientações construtivistas, o que parece confirmar que
a qualificação intelectual não promove automaticamente uma ação pedagógica
eficaz.
117
Para alguns pesquisadores, as professoras encontram-se num momento de
mudança, revelado, muitas vezes pelo desejo manifestado pelas professoras em
alterar suas práticas, enfrentando os desafios da condução das práticas na sala de
aula, entre eles, a necessidade de manter a atenção e o interesse dos alunos em
suas primeiras experiências de escolarização com os recursos e condições da
escola pública; atender um grupo de crianças em diferentes momentos do processo
de aprendizagem da leitura e da escrita, diferença acentuada pela implantação do
Ciclo sico; trabalho com conteúdos curriculares necessários para que os alunos
avancem; e atender as necessidades de aprendizagem dos alunos. Assim, alguns
estudos enfatizam que as professoras constroem e reconstroem seus saberes ao
longo de sua vida pessoal e profissional levando em conta os desafios postos na
condução do processo de alfabetização no contexto da sala de aula.
118
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Os sucessos inesperados produzidos regularmente nessa ou
naquela turma nunca provêm diretamente do entusiasmo
comunicativo de um professor, mas de métodos de trabalho que ele
soube, algumas vezes de forma intuitiva, conduzir e regular
sistematicamente. Ao colocar a prática pedagógica ao lado das artes
de fazer comuns, pretendemos tanto designar a especificidade
dessas práticas, irredutíveis aos discursos que, no entanto, teorizam
sobre seus objetos, quanto recusar a idéia de que elas sejam
indizíveis, inefáveis e, portanto, impossíveis de analisar e transmitir.
A pedagogia é aprendida, e pode ser aprendida porque pode ser
compreendida. Dessa forma, toda arte de fazer abre caminhos tão
distantes da invenção radical quanto da pura reprodução
(CHARTIER, CLESSE E HÉBRARD, 1996, p. 165).
Para identificar o que dizem as pesquisas que investigaram as práticas de
professoras alfabetizadoras a respeito do trabalho realizado em sala de aula para
alfabetizar, questão central desta pesquisa bibliográfica, foram selecionadas teses e
dissertações que tiveram como foco central de investigação as práticas das
professoras alfabetizadoras e que foram produzidas entre os anos de 1980 e 2005
119
procedimentos de ensino e recursos didáticos utilizados pelas professoras em sala
de aula.
Como aponta Soares (2003a), as mudanças conceituais sobre a
alfabetização, decorrentes das abordagens construtivistas, deslocaram o eixo das
discussões sobre alfabetização para o processo de aprendizagem e trouxeram
críticas à importância que vinha sendo atribuída aos métodos tradicionais na
alfabetização das crianças, o que evidencia, no período delimitado, a necessidade
de uma revisão dos conceitos e práticas de alfabetização também no âmbito das
escolas. Entretanto, como afirma Colello (2004), desta vez não métodos
milagrosos, cartilhas promissoras ou condutas infalíveis, mas sim, estudos que
atentam para as especificidades de um processo bastante complexo que é a
alfabetização, exigindo uma revisão dos tradicionais princípios e das estratégias
pedagógicas que marcaram o ensino da língua materna desde muito tempo.
Frente a esse contexto em que é marcante a influência das orientações
construtivistas na alfabetização, as pesquisas sobre as práticas das professoras
alfabetizadoras têm ajudado a compreender o que ocorre nas salas de aula com os
alfabetizadores?
A análise das pesquisas sobre as práticas das professoras alfabetizadoras
evidenciou o interesse dos pesquisadores na área da educação pela investigação
dos procedimentos de ensino utilizados pelas alfabetizadoras para organização das
atividades de leitura e escrita; do trabalho que as professoras vêm realizando com
os textos na alfabetização, sobretudo, no que diz respeito às atividades propostas
com as cartilhas, a literatura infantil e os textos funcionais; e dos comportamentos
docentes na interação professor-aluno ao alfabetizar. Nesse sentido, as pesquisas
contribuem com dados sobre como os professores têm encaminhado a alfabetização
120
ao longo desse período a partir das orientações construtivistas que apontam, entre
outras coisas, a necessidade de um trabalho baseado nos textos e que leve em
conta o processo de construção da escrita pela criança.
Além disso, na perspectiva de que a alfabetização não se limita a uma
questão de métodos e, como ressalta Charmeux “é o comportamento do professor
em face de sua prática pedagógica que faz a diferença” (1995, p. 22), as pesquisas
se voltam à análise dos elementos constitutivos das práticas bem/mal sucedidas;
das relações entre práticas docentes e rendimento/desempenho do aluno e entre
sucesso e fracasso escolar; e à caracterização das práticas docentes no cotidiano
escolar na busca por determinantes da alfabetização no contexto da sala de aula.
Assim, uma vez que os sucessos alcançados na alfabetização dependem também
da ação das alfabetizadoras, os pesquisadores investigam as práticas docentes que,
como bem notam Chartier, Clesse e Hébrard (1996), referidos na epígrafe, podem
ser aprendidas porque podem ser compreendidas.
Verifica-se ainda que as mudanças conceituais sobre a alfabetização
lançaram luzes sobre um conjunto de saberes necessários ao professor na
condução desse processo numa perspectiva construtivista. Nesse sentido, as
pesquisas têm se voltado, mais recentemente, à investigação das crenças e
concepções das professoras sobre alfabetização, ensino, aprendizagem e docência,
e à análise da construção desses saberes no exercício das práticas pedagógicas na
alfabetização, que se pode notar um maior número de estudos sobre esses temas
a partir de meados dos anos de 1990.
É possível dizer que a investigação das práticas das alfabetizadoras na sala
de aula tem se colocado como uma vertente dos estudos em Programas de Pós-
Graduação em Educação. Tais pesquisas objetivam conhecer as múltiplas
121
dimensões que determinam a alfabetização no contexto de sala de aula, bem como
entender seus problemas, seus acertos, suas dinâmicas e seu funcionamento. Como
apontado na tese de Zibetti (2005), esses estudos que se voltam aos contextos
concretos em que ocorrem as práticas docentes apresentam razões suficientes para
que se façam investimentos neste campo, haja vista os desafios enfrentados pelas
professoras na tarefa de alfabetizar todas as crianças que se mantêm nas escolas
brasileiras.
Os resultados da caracterização mais geral das pesquisas, detalhada no
Capitulo 2, sugerem o interesse continuado dos pesquisadores pela investigação
das práticas das professoras alfabetizadoras ao longo do período delimitado,
confirmando a constatação de Soares e Maciel (2000) de que, a partir dos anos de
1980, alguns estudos se voltam a descrever e caracterizar as práticas pedagógicas
em turmas de alfabetização. Esse interesse contínuo talvez esteja também
relacionado aos resultados insatisfatórios dos alunos de todo ensino fundamental e
ensino médio em exames (SAEB, ENEM, PISA, etc.) que avaliam a proficiência dos
alunos em leitura e escrita, os quais apontam a alfabetização como um grande
desafio da educação no Brasil, denunciando o precário ou nulo desempenho desses
alunos em provas de leitura e escrita (SOARES, 2003b).
Em estudo realizado com pesquisas que abordaram as práticas docentes nas
séries iniciais do ensino fundamental, Marin, Giovanni e Guarnieri (2004) apontaram
que, especialmente nos anos de 1980, as pesquisas centraram-se na caracterização
das ausências, ou seja, o que as professoras não tinham, não sabiam, ou não
faziam, revelando a inadequação do trabalho do professor na sala de aula e indícios
da desqualificação do processo de ensino. A análise mais detalhada das pesquisas
122
apresentada no Capítulo 3 sugere que essa situação pouco se alterou ao longo do
período analisado.
Os estudos sinalizam as dificuldades das professoras tanto em conceituar,
quanto em organizar e conduzir a alfabetização a partir de uma perspectiva
construtivista, dificuldades que se revelam entre as professoras iniciantes (pouco
investigadas entre as pesquisas analisadas), mas também, entre aquelas com
formação superior e com vários anos de experiência docente, sujeitos
majoritariamente presentes nos estudos. Algumas pesquisas enfatizam que as
condições de trabalho, a desvalorização social e salarial da profissão docente, bem
como, a implantação de políticas de reorganização da escola, em especial os Ciclos
e a Progressão Continuada sem o devido apoio pedagógico têm afetado diretamente
o trabalho das professoras alfabetizadoras.
Retomando pesquisas realizadas na década de 1990 com professoras
alfabetizadoras, Giovanni et al. (2004) constataram que as mudanças propostas não
se fazem sem dificuldades e que as práticas presentes nas escolas e salas de aula
sugerem que medidas como os Ciclos e o Regime de Progressão Continuada não
produziram o resultado esperado, especialmente, com relação à aprendizagem dos
alunos. No tocante às práticas das professoras alfabetizadoras, concluem que
centralidade da silabação na cultura alfabetizadora das professoras, dificultando o
processo de aquisição e desenvolvimento significativo e compreensivo da leitura e
da escrita. Assim, a resistência às mudanças na prática das professoras revela que
elas defendem um processo de alfabetização calcado na lógica do adulto, mas que,
ao mesmo tempo, conferem-lhes segurança, que elas se mostram pouco
preparadas para essa tarefa, situação que se agrava haja vista o fraco desempenho
lingüístico das professoras na recepção e produção oral e escrita de textos.
123
Entre as pesquisas analisadas aqui, nota-se que, mesmo entre aquelas que
localizaram manifestações de professoras construtivistas, apontaram nos seus
resultados essa perspectiva das ausências, ou seja, as professoras não tinham
clareza dos pressupostos teóricos caracterizadores do processo de ensino-
aprendizagem nessa abordagem, faltava a elas domínio da linguagem escrita, saber
observar, avaliar e propor situações que favoreçam o processo de construção do
conhecimento pela criança, perceber o erro do aluno como subdio para orientar
suas ações, entre outros aspectos (FONTES, 1997, YACOVENCO, 2003). Nesse
sentido, as pesquisas sugerem ainda que os procedimentos de alfabetização
presentes na sala de aula caracterizam-se, muitas vezes, pelo uso das cartilhas, de
atividades consideradas estereotipadas, repetitivas, com predomínio de cópia, ditado
e silabação, ou seja, tais procedimentos, criticados pelas tendências construtivistas,
permanecem na condução do processo de alfabetização que ocorre nas salas de
aula.
Ao constatar que os procedimentos de ensino têm se caracterizado pela
manutenção de atividades dessa natureza que parecem pouco contribuir para o
aprendizado dos alunos, alguns pesquisadores pressupõem que, embora o
movimento construtivista tenha trazido algum benefício com o enriquecimento de
atividades pedagógicas, parece ter provocado incoerências entre discurso e prática
ao mencionarem certa oscilação ou ambigüidade entre os professores que se
encontram no meio do caminho entre uma prática tradicional que abandonaram em
parte e uma proposta nova que não conhecem a fundo, mesclam referenciais já
existentes e muitas vezes conflitantes para desenvolver o trabalho (CAMARGO,
1997; GARCIA, 1997).
124
Refletindo ainda sobre a análise das pesquisas, percebe-se que, apesar das
especificidades teórico-metodológicas dos estudos, seus resultados são recorrentes
em pontuar ao longo do período os “nós” da alfabetização que se apresentam mais
enfaticamente sobre o “como fazer”. De acordo com as pesquisas, as professoras
mostram insegurança e dúvidas com relação à organização do trabalho e aos
procedimentos a serem adotados na alfabetização, situação que sinaliza também a
precariedade dos resultados dos cursos de formação inicial e continuada que, como
salientam Giovanni et al. (2004), não as preparam para alfabetizar, tarefa que
aprendem no exercício da prática pedagógica.
Nesse sentido os dados desta dissertação apontam que os estudos, em
especial aqueles sobre as práticas bem sucedidas e, mais recentemente, sobre os
saberes docentes, têm se referido a um conjunto de procedimentos, crenças,
conhecimentos mobilizados no exercício das práticas pedagógicas e que vão sendo
adquiridos pelos professores ao longo de sua carreira, tanto na formação quanto na
experiência de sala de aula. Esses saberes, por sua vez, garantem aos professores
segurança diante dos desafios de sua prática cotidiana que se estabelece num
diálogo entre esses conhecimentos consolidados, as condições objetivas do
sistema educacional e as inovações teóricas sobre a alfabetização. Ressalte-se que
as pesquisas sobre professoras bem sucedidas não necessariamente objetivavam a
identificação de indícios de práticas construtivistas embora o período em que foram
realizadas já se encontrava sob o domínio de tal abordagem.
Os estudos sobre as práticas bem sucedidas revelam, por sua vez, a
complexidade do trabalho das alfabetizadoras ao caracterizarem a presença de
vários elementos constitutivos das ações que, em seu conjunto, possibilitavam aos
alunos a aquisição da leitura e da escrita. Os pesquisadores mencionam que as
125
professoras recorriam ao uso de procedimentos ditos tradicionais (enfaticamente
refutados pelo construtivismo) associados a outros aspectos considerados
relevantes ao desenvolvimento da aprendizagem como, por exemplo, manter a
disciplina, fazer avaliação diagnóstica, uso constante da escrita em todas as
atividades, respeito ao aluno e na sua capacidade de aprender, envolvimento,
compromisso com o trabalho entre outros pontos abordados. Nesse sentido alguns
questionamentos podem ser feitos.
O que foi se perdendo no trabalho com a alfabetização quando se percebe
que as práticas bem sucedidas não necessariamente se reduzem à questão da
incorporação de uma determinada abordagem? O que faz a diferença na realização
de um trabalho que promove a apropriação da leitura e da escrita pelo aluno parece
não limitar-se a um aspecto da prática docente, mas depende da articulação de
muitos fatores. Verifica-se que, muitas vezes, os pesquisadores analisam aspectos
isolados das práticas das professoras, como se um único aspecto fosse suficiente
para determinar o sucesso na alfabetização.
Cabe ainda uma última reflexão sobre a presença de resultados recorrentes.
Além de se constatar que os estudos sobre as práticas de alfabetizadoras como
objeto de investigação tem sido pouco privilegiados pelos pesquisadores ao longo
do período estudado, as pesquisas nem sempre retomam o que já se produziu sobre
o tema. Talvez isso explique os resultados reiterativos apresentados nas pesquisas
e centrados muitas vezes nas mesmas dificuldades e lacunas do trabalho das
professoras e não naquilo que elas de fato sabem sobre ler e escrever, sugerindo
que ainda se sabe pouco a respeito da complexidade do trabalho das professoras
alfabetizadoras.
126
Para finalizar, este estudo apesar de se limitar à produção dos Programas de
Pós-Graduação em Educação no Estado de São Paulo, inventaria elementos para
uma pesquisa mais abrangente que possa verificar até que ponto essa produção
dialoga nas temáticas e nos seus resultados com estudos produzidos em programas
de outros estados brasileiros. Abrem-se também caminhos para futuros projetos que
conduzam uma análise sobre a produção acadêmica dentro de cada foco temático.
127
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135
ANEXOS
136
ANEXO 1
QUADRO SÍNTESE DAS TESES E DISSERTAÇÕES SELECIONADAS
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
SIPAVICIUS
Tese
1983
USP
Os determinantes
do rendimento
escolar
estudo
comparativo
CARVALHO;
COSTA;
HARRISON;
MELLO;
ROCHA;
24 classes de nove
escolas da periferia
urbana de São
Paulo
-entrevistas com os
professores;
-observação em sala de
aula;
-análise de documentos
(livro ponto);
-aplicação de provas de
prontidão e escolaridade no
final do ano letivo.
Considerando as variáveis: formação do professor;
anos de experiência docente; atitudes expressas,
quanto aos problemas dos alunos; uso do elogio,
repreensão e punição; tipo de participação dos
alunos nas aulas; disciplina; atividades didáticas;
faltas do professor e nível de prontidão dos alunos, a
autora conclui que as variáveis mais importantes
foram a prontidão e a mobilidade docente sendo que
as demais pouco acrescentaram depois de
computados os efeitos dessas duas.
VERDE
Dissertação
1985
UFSCar
Interação verbal
professor-aluno
estudo
longitudinal
AMIDON;
BARREIRO;
MIZUKAMI;
8 professoras de
1
a
. série (6 da rede
pública e 2 da rede
particular da
cidade de São
Carlos/SP)
observação de aulas
(gravação)
Identifica entre as professoras diferentes estilos de
atuação, com predomínio da influência direta da
professora e grande utilização de atividades não
verbais, sendo que a freqüência dessas tende a
aumentar do 1
o
. para o 2
o
. semestre letivo.
ABUD
Dissertação
1986
PUC-SP
Percepções e
práticas de
alfabetizadoras
consideradas
eficientes
estudo de caso SOARES;
FERREIRO;
FRANCHI;
PATTO;
FREIRE.
10 professoras da
rede pública
estadual paulista (5
de Taubaté e 5 de
Caçapava)
entrevista aberta com
roteiro
Entre os fatores que caracterizam as práticas das
alfabetizadoras eficientes estão: experiência docente;
expectativa positiva com relação aos alunos; relação
professor-aluno baseada no respeito mútuo e na
interação; valorização dos conhecimentos e das
experiências dos alunos.
SILVA
Dissertação
1987
Unicamp
Como vem
ocorrendo a
alfabetização, em
especial como é
encarada a
maneira de falar
dos alunos e suas
implicações no
processo de
alfabetização.
estudo de caso CURY;
GRAMSCI;
MELLO;
ORLANDI;
PECHEUX;
WARDE;
4 professoras, 30
crianças e 10 pais
de escola pública
da periferia de
Teresina/Piauí
(atende crianças da
Zona Rural).
-observação de aulas;
-entrevistas com crianças,
professoras e pais dos
alunos.
As professoras demonstram preconceito em relação
à fala das crianças; atividades de ensino-
aprendizagem que se caracterizam pela
desarticulação entre as experiências das crianças e o
conteúdo trabalhado na escola; as atividades de
alfabetização limitam-se aos exercícios mecânicos
de repetição e cópia.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
CONTINI
Dissertação
1988
PUC-SP
Concepção de
alfabetização do
professor
alfabetizador e
seu
posicionamento
frente ao
fracasso, evasão e
repetência na 1
a
.
série.
análise de
depoimentos
CAGLIARI;
FERREIRO;
GIROUX;
KATO;
MELLO;
PATTO;
1
o
. momento: 87
professoras das
escolas Estaduais e
Municipais de
Corumbá.
2
o
. momento: 20
professoras
sorteadas do
universo de 87
-questionário de
caracterização sócio-
econômica e familiar para
das 87 professoras
-entrevista aberta com as 20
professoras sorteadas
A análise das concepções das professoras permitiu
verificar: ausência de critérios na seleção das
metodologias de alfabetização;
descomprometimento do professor com o fracasso
dos alunos; inconsistência teórica sobre o conceito
de alfabetização; valorização do amor e da doação
mais do que da competência técnica.
OPPIDO
Dissertação
1988
PUC-SP
A prática
pedagógica de
professores que
alcançam êxito na
alfabetização
estudo de casos ABUD;
BRANDÃO, C.
R.;
BRANDÃO, Z.;
FREIRE;
KRAMER;
SAVIANI;
MELLO;
MENEZES;
4 professoras de 4
escolas diferentes
da rede municipal
de ensino de São
Paulo com altos
índices de
aprovação na 1
a
série
-entrevista com professoras
e equipe técnica da escola;
-análise de documentos
para levantamento de dados
sobre professores e alunos
(cadernetas de chamada,
atas de avaliação, folhas de
freqüência, etc.)
Entre os contribuintes do sucesso escolar destacam-
se a continuidade da professora no processo de
alfabetização e a experiência docente. Além desses,
a mediação da linguagem oral no processo de
alfabetização (aceitação da linguagem e cultura dos
alunos); utilização de processos de análise e síntese
para aquisição da escrita; atividades de recuperação
durante o processo de alfabetização; práticas
voltadas para os interesses da clientela; e
compromisso profissional das professoras.
RIBEIRO
Dissertação
1988
PUC-SP
De que forma as
práticas de
alfabetização
podem, ou não,
favorecer a
aprendizagem
estudo de caso FERREIRO;
FREIRE, M.;
VYGOTSKY;
WEIZ;
2 professoras da
periferia de
Uberlândia (uma
classe “forte” e
outra “fraca”) de
uma mesma escola
-observação participante;
-entrevista.
As práticas de alfabetização não contribuíram como
deveriam para o desenvolvimento dos alunos. As
professoras revelam concepções arraigadas num
pensamento tradicional que se traduz em
procedimentos que conduzem à mecanização do
ensino e a estereotipia das relações interpessoais em
sala de aula. A autora destaca a importância de
especialistas no auxílio aos professores.
Tese
1988
USP
As atividades de
ensino-
aprendizagem
que caracterizam
a atuação das
alfabetizadoras
no seu trabalho
cotidiano
estudo de caso KRAMER;
MELLO;
POPPOVIC;
REGO;
2 professoras de
1
a
. série (de uma
escola da periferia
de Assis/SP) com
formação superior
e com experiência
de 22 anos ou mais
no magistério
-observação em sala de aula
e em outras dependências
da escola;
-entrevistas informais;
-consulta a documentos da
escola
A atuação revela falta de apoio pedagógico e a
precária formação das professoras, sendo
caracterizadas por: ensino intuitivo sem plano
orientador; conteúdos mal dosados e sem seqüência;
procedimentos caracterizados pelo excesso de
verbalismo; pronúncia artificial; predomínio da
cópia, ditado e leitura; os recursos utilizados na
alfabetização limitavam-se a giz, cartilha e carimbo
com figuras. A autora aponta a necessidade de
reflexão contínua sobre a prática na escola.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
COELHO
Dissertação
1989
Unicamp
Percepções e
práticas de
professoras bem
sucedidas
estudo de caso ANDRÉ;
ENGERS;
FERREIRO;
KRAMER
MICOTTI;
10 professoras da
rede pública
estadual paulista
(região de
Campinas)
-observação em sala;
-entrevista semi-diretiva.
Entre os fatores que caracterizam as práticas das
professoras ressaltam-se: valorização da experiência
profissional suplantando a formação acadêmica;
atuação que combina formação tradicional a
aspectos de um ensino renovado; demonstram
segurança, entusiasmo, autonomia e habilidade no
relacionamento dos com os alunos; demonstram
competência e comprometimento com o trabalho;
acreditam na importância de seu trabalho; e na
potencialidade dos alunos da escola.
FOINA
Tese
1989
PUC-SP
As práticas de
alfabetização, em
especial a
mediação feita
pela professora
entre os alunos e
a escrita.
estudo de caso ABAURRE;
ENGELS;
MARX;
FERREIRO;
SAVIANI;
SOARES;
1 professora de
uma escola
estadual do interior
paulista
-observação participante;
-análise de alguns materiais
distribuídos para as
crianças e da cartilha;
-entrevistas abertas com as
crianças;
-questionários aplicados
aos professores e pais
(perfil dos sujeitos)
Características do trabalho pedagógico: desconsidera
a distância entre a oralidade e escrita das crianças e a
norma culta; concebe a leitura como memorização e
a escrita como cópia e traçado das palavras; elege a
repetição/imitação como metodologia/objetivo do
ensino; e põe sobre a criança a culpa pelo fracasso.
A concepção de língua implícita no trabalho das
professoras é língua como mero sistema de
codificação. Para a autora a mudança metodológica
pode evitar o “doloroso percurso do primeiro ano na
escola”, que os alunos ficam incapacitados de
permanecer na escola.
GUARNIERI
Dissertação
1990
UFSCar
Os componentes
do trabalho do
professor
alfabetizador na
situação de
ensino
estudo
comparativo/con
trastivo
ABUD;
ANDRÉ;
AZANHA;
HYMAN;
MARIN;
NAGLE;
OAKESHOTT;
SCHEFFLER;
4 professoras da
rede municipal de
ensino da cidade
de Rio Claro/SP
(duas consideradas
mais competentes
e duas menos
competentes)
-instrumento de diferencial
semântica (para auto-
avaliação sobre aspectos da
prática);
-observação de aulas.
As professoras mais competentes têm trabalho
diferenciado com relação a todos os elementos do
trabalho docente. Apesar disso, foi possível
identificar convergências nas práticas das mais
competentes com as práticas das menos
competentes, permitindo concluir pela existência de
graduações de competência tanto individual quanto
no grupo de professoras. A consistência entre o
pensamento e a ação pode ser requisito da
competência para ensinar.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
MOURILHE
Dissertação
1991
UFSCar
As concepções
das professoras
sobre criança,
escola e
alfabetização,
bem como as
práticas que
podem estar
afetando a
aprendizagem
investigação de
natureza
etnográfica
BOURDIEU;
CAGLIARI;
FERREIRO;
FRANCHI;
FREIRE;
PASSERON;
PATTO;
SNYDERS;
SOARES;
5 estagiárias em 1
a
.
série do curso de
Magistério;
5 professoras de
1
a
. série, egressas
do mesmo curso;
5 professoras
envolvidas em um
Projeto de
Alfabetização
consideradas bem
sucedidas
(rede pública
estadual de
Aracaju/SE)
-observação em sala;
-entrevista;
-análise de documentos
relativos ao Projeto de
Alfabetização e ao estágio e
sobretudo ao planejamento
das professoras
O estudo apontou vários preconceitos nas
concepções das professoras, motivados por uma
visão ideológica de escola e de alunos das camadas
populares. Esses preconceitos, aliados às dúvidas e
inseguranças manifestam-se em práticas
pedagógicas que evidenciam uma postura
tradicional, um cotidiano insípido com práticas
rotineiras e sem criatividade. Embora expressem no
discurso a necessidade de dar ao aluno carinho e
atenção, na prática, as professoras não evidenciam
preocupação ou ações envolvendo esses aspectos
afetivos. Tal situação sugere lacunas na formação
inicial e necessidade de complementação dessa
formação.
CAVATON
Dissertação
1992
PUC-SP
O modo como o
professor lida
com os alunos
aos quais atribui
dificuldades de
aprendizagem
estudo de caso ABRAMOVAY;
ANDRÉ;
CAGLIARI;
CARRAHER;
FERREIRO;
FREIRE;
GARCIA;
KRAMER;
LEMLE;
TEBEROSKY;
VYGOTSKY;
4 professoras da
rede pública do
Distrito Federal,
sendo 2 de cada
escola e 12
crianças (3 de cada
classe)
-observação em sala;
-entrevistas com
professoras e alunos;
-análise das produções das
crianças selecionadas
O professor comete erros graves com os alunos das
camadas populares: desconsidera o conhecimento de
escrita que a criança traz; não incentiva a produção
do aluno; abandona a criança que não consegue
aprender, os quais considera com “dificuldades de
aprendizagem”; discrimina os indisciplinados e
culpa o aluno por seu rendimento. Tais erros
decorrem da falta de consciência crítica sobre seu
trabalho, falta de conhecimento teórico e de
posicionamento político na sua atuação frente à
educação e à sociedade.
As estratégias de alfabetização (cartilha) primam
pela destreza mecânica das pias e fixação das
sílabas. Preocupam-se com a disciplina e a
homogeneidade na sua atuação.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
MENDES
Dissertação
1992
UFSCar
Mecanismos de
alienação
constitutivos da
prática
alfabetizadora
estudo de caso BAKTHIN;
FRANCHI;
FROMM;
NUDLER;
SMOLKA;
VÁSQUEZ;
1 classe de 1
a
. série
de uma escola
filiada à rede
particular da
cidade de São
Carlos,
acompanhada na
pré-escola
-observação continua e
sistemática;
-entrevistas formais e
informais
Os mecanismos de alienação que constituem a
prática docente promovem a competitividade,
individualismo, competição, mercantilização no
ensino, congelando e ocultando o real pelo uso
excessivo do formalismo e do verbalismo. Tais
mecanismos conduzem a alfabetização para
procedimentos formais e mecânicos que impedem
a construção do conhecimento, a compreensão do
todo social e da contradição que permeia a
sociedade atual.
SILVA
Tese
1992
USP
As práticas de
alfabetização
depois da
implantação do
Ciclo Básico
estudo de caso ANDALÓ;
HELLER;
LIBÂNEO;
NÉBIAS;
PATTO;
SAVIANI;
SOARES;
VALENTE;
Amostra final: 4
professoras da rede
pública paulista.
-questionário inicial
(caracterização das
professoras frente ao CB);
-entrevistas;
-observação participante
(gravação)
A prática docente é histórica e reflete o processo
pessoal de apropriação que envolve a história de
cada um e a história milenar das práticas de
alfabetização. Revelam uma prática intuitiva,
movida pela naquilo que deu certo. Sua prática
se expressa num saber fazer fortemente
estruturado, resiste às propostas de mudança. Isso
esclarece, em parte, o insucesso de medidas
implantadas, como o Ciclo Básico. As
professoras expressam falta de motivação para o
trabalho, relacionada à desvalorização salarial e
social da docência. Para a autora, necessidade
de se tomar a prática como objeto de reflexão, na
busca da construção de uma competência
profissional: reflexiva, crítica e interacional.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
ARAÚJO
Dissertação
1993
PUC-SP
As causas do
sucesso das
práticas
pedagógicas de
professores bem
sucedidos.
estudo de caso ANDRÉ;
FERREIRO;
FREIRE;
JACOBSON;
KRAMER;
LUCKESI;
MENEZES;
ROSENTHAL;
SCHÖN;
SOARES;
TEBEROSKY;
2 professoras bem
sucedidas de
escolas da zona
urbana
-observação de aula;
-entrevistas semi-
estruturadas com as
professoras;
-análise de documento
(método e materiais usados,
planos de aula, cadernos
dos alunos, diários fichas
dos alunos e mapas
avaliativos da escola)
As práticas revelam compromisso e envolvimento do
professor o trabalho; relação professor-aluno baseada no
respeito e na crença na capacidade do aluno; disciplina
como condição para aprendizagem, não mero cumprimento
de normas; interdisciplinaridade; freqüente leitura de textos
acompanhada de interpretação; leitura e interpretação das
ordens escritas dos exercícios; escrita constante; e desafio
lançado pelas professoras para acelerar o processo de
aquisição da leitura/escrita. Apesar da utilização de
métodos tradicionais, é uma prática reflexiva
fundamentada na ação e nos resultados, evidenciados na
avaliação diagnóstica que permeia o processo de ensino e
nas experiências anteriores que deram certo, ou seja, nos
saberes que elas construíram na prática. No entanto, nem
sempre as práticas são baseadas nas teorias, de modo que
assumam uma postura de formação do leitor crítico.
VICTOR
Dissertação
1993
UFSCar
Análise da do
desempenho de
uma professora
iniciante e do
desempenho de
seus alunos
estudo de caso KRAMER;
MELLO;
GARCIA;
uma classe de 1
a
.
série de uma
escola municipal
da periferia de
Vitória/ES
-entrevistas com a
professora;
-observações de aula;
-aplicação de um
instrumento de avaliação
das crianças.
Verificou que a alfabetizadora parecia pouco preparada
para desenvolver o conteúdo proposto na alfabetização,
mesmo no desenvolvimento de atividades ditas tradicionais
como cópia e ditado. As atividades práticas que a
professora iniciante desenvolvia pareciam representar um
apanhado de idéias e ações, mesclando as teorias
construtivistas e interacionistas com um ensino à antiga
(enfatizava o treino e a repetição com cópia e ditado, por
exemplo) sem compreender os pressupostos teóricos que as
embasam, a professora apresentava também contradições
entre o discurso e a prática. Apesar de apresentar
preocupação em motivar os alunos e em desenvolver
estratégias participativas (mudança na disposição das
carteiras na sala e trabalhos em grupos) não conseguia
relacionar as atividades umas às outras em uma seqüência
de ações encadeadas de ensino que conduzissem os
esforços dos alunos numa mesma direção, além disso,
apresentava dificuldades em manter o controle da classe
em decorrência da falta de experiência. Por tudo isso,
apesar de seus esforços, os alunos evoluíram muito pouco
no processo de alfabetização conforme avaliações
realizadas no início e no final do semestre. O progresso das
crianças foi relativamente pequeno mesmo diante de um
conteúdo bastante restrito (vogais, encontros vocálicos e
duas ou três famílias de silabas consoantes).
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
AZEVEDO
Dissertação
1994
USP
A prática do
professor e suas
relações com o
sucesso e o
fracasso escolar
dos alunos
estudo
exploratório
DIAS-DA-
SILVA;
FERREIRO;
FREIRE;
GOODMAN;
KAUFMAN;
LEAL;
LEITE;
TEBEROSKY;
VASQUEZ;
ZELAN;
1 professora da
rede particular de
São Paulo
(indicada por ser
experiente com 1
a
.
série) e 1 da rede
estadual (indicada
por não estar
conseguindo
desenvolver seu
trabalho)
-observação;
-entrevistas com pais,
professoras, e equipe
técnica;
-questionário com pais
(perfil)
-análise de documentos
(plano escolar, diário
classe, sínteses bimestrais
de rendimento dos alunos);
A comparação dos dados nas duas classes permite
inferir que o método é o mesmo mas a forma como é
trabalhado difere nas classes e pode contribuir ou
não para a alfabetização. Nesse sentido a relação
professor-aluno, a postura e compromisso do
professor e o clima da sala de aula são aspectos
destacados pela autora. A autora aponta a
necessidade da formação e desenvolvimento de uma
percepção crítica da realidade.
PEZZATO
Dissertação
1995
USP
Representações
da professora
primária sobre o
ensino
estudo de caso LE FEVRE 1 professora de
uma classe
constituída de
alunos
multirepetentes da
periferia de São
Paulo.
-observação em sala de
aula;
-entrevista com a
professora, funcionários do
setor administrativo e de
apoio da escola e com
alunos;
-visita à casa de 5 alunos
A atuação da professora é pautada na improvisação,
na busca de soluções imediatistas aos problemas
apresentados no dia-a-dia e na alienação.
Procedimentos desvinculados de objetivos claros da
reavaliação e da continuidade. Ptica desprovida de
sentido educativo. As concepções e práticas de
alfabetização mostram-se desvinculadas das recentes
contribuições teóricas e práticas divulgadas, ou seja,
de uma proposta voltada para a construção do
conhecimento pelo aluno.
AMARAL
Dissertação
1996
PUC-SP
Os saberes que
informam as
práticas das
professoras
alfabetizadoras
análise de
depoimentos
BAKHTIN;
DAVIS;
GERALDI;
NUNES;
5 professoras de
uma mesma
Delegacia de
Ensino da grande
São Paulo que
participaram em
1993 de um curso
de
aperfeiçoamento
-entrevista semi-estruturada As professoras assumem a voz reconhecida dos que
valorizam a “produção de diferentes tipos de texto”,
apresentando fragmentos do discurso proposto e
uma prática ajustada que revela insegurança
profissional, formação precária e falta de domínio do
conteúdo da alfabetização. Aponta a necessidade de
se repensar a capacitação dos professores a partir das
questões surgidas na prática para a teoria e de uma
reflexão mais política sobre a realidade.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
MIYASATO
Dissertação
1996
UNESP/Mar
O trabalho do
professor
alfabetizador com
os textos de
literatura infantil
análise de
depoimentos
FERREIRO;
FOUCAMBERT
BAKTHIN
GERALDI
FREIRE, P.
29 professores
alfabetizadores do
município de
Pompéia /SP.
- questionários A presença desses textos na sala de aula é um fato
incontestável, que a totalidade dos professores
declarou utilizar-se deles. Quanto ao trabalho
realizado com esses textos, a autora verificou que os
professores seguem um roteiro que demonstra uma
metodologia definida, qual seja: início do trabalho
de leitura, com predomínio da leitura do professor
para a classe; avaliação da compreensão de leitura,
em que predomina a reescrita ou o resumo; propõe
aos alunos que ilustrem o texto; realizam atividades
de linguagem, sendo que na maioria dos casos
referem-se a estudos gramaticais; atividades
variadas ligadas à leitura (dramatização, análise dos
personagens, produção de um livro e criação de uma
história); e atividades direcionadas para outros
textos a partir da leitura. No entanto, para Miyasato
(1996) o trabalho organizado e sério demonstrado
pelos professores é resultado do esforço e dedicação
dos professores que procuram formas de trabalhar
com a literatura superando as fragilidades da
formação, além do mais a preocupação em
desenvolver atividades de ensino da gramática se faz
em detrimento de um trabalho voltado para o estudo
da linguagem que poderia contribuir para um
aprendizado mais eficiente da língua escrita.
Acredita a autora que os professores precisam rever
suas concepções de leitura, escrita e sobre a
aprendizagem desencadeada por esse processo.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
GUARNIERI
Tese
1996
UFSCar
como as
professoras
alfabetizadoras
iniciantes
aprendem a
ensinar ao
exercer a própria
prática
estudo de caso VEENEMAN;
SHULMAN;
VONK;
num primeiro
momento fez um
estudo com 7
professoras
iniciantes por meio
de entrevistas.
Num segundo
momento
acompanhou o
trabalho de 1
professora
iniciante, da rede
pública estadual da
cidade de
Araraquara/SP, em
seu segundo ano
de atuação
profissional
-entrevistas;
-observação de aulas
A alfabetizadora iniciante fez um bom trabalho, mas
teve dificuldade em se distanciar da própria prática
para avaliá-la. Apresentava o desejo de mudar sua
prática em busca de um trabalho construtivista,
que identificava em sua prática características
tradicionais, mas que ao mesmo tempo lhe garantia
bons resultados. Isso se tornou um conflito para ela
que depositava no construtivismo os anseios de uma
prática bem sucedida. Constatou ainda que era
precária a concepção teórica da professora sobre o
construtivismo o que dificultava a articulação teoria-
prática. Além disso, a falta de conhecimentos sobre
a matéria, principalmente Português, e sobre os
alunos parecia trazer dificuldades para ela ensinar os
conteúdos, o que parecia contribuir para a
manutenção de procedimentos e atividades
repetitivas. As características não adequadas
(excessiva rigidez, insegurança, ansiedade, medo de
errar) pareciam contribuir para a manutenção de
atividades pouco atraentes para os alunos, tendo em
vista que a professora não aceitava a possibilidade
de correr riscos. As características favoráveis à
profissão (bom humor, calma e paciência), no
entanto, permitiam à professora ter um bom
relacionamento em classe o que propiciava um clima
adequado para a execução das tarefas. Uma das
tarefas mais difíceis para a professora iniciante era
transformar os conteúdos escolares em atividades. A
sua concepção de alfabetização era restrita, pois não
percebia que o aprendizado da leitura e escrita
poderia ocorrer quando se ensinam outras
disciplinas. Conclui com relação ao processo de
aprendizado da profissão a partir do seu exercício
que o movimento de avaliação quer da formação, da
cultura escolar e da prática é conduzido por um
movimento de reflexão das professoras buscarem a
transformação de trabalho e se desenvolverem à
medida que articulam esses aspectos.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
CAMARGO
Dissertação
1997
Unesp/Marília
O uso de textos
no processo de
alfabetização
pesquisa
analítico-
descritiva
FERREIRO;
VOTRE;
WEISZ;
Documentos da
SE/CENP
(Coordenadoria
de Estudos e
Normas
Pedagógicas)
1
o
. momento: 32
professoras da rede
estadual de
Oswaldo Cruz/SP
(questionário);
2
o
. momento: 10
docentes
entrevistadas (em
virtude da
qualidade dos
trabalhos das
crianças enviados
com o
questionário)
-questionário: perfil e
prática;
-entrevistas;
-análise dos trabalhos das
crianças.
O professor encontra-se no meio do caminho entre
uma prática tradicional que abandonou em parte e
uma proposta nova que não conhece a fundo, mas
que se sente impelido a seguir.
Prática tradicional camuflada, uma roupagem
diferente esconde a rotina que não pode realizar-
se às claras. Apresentam um discurso progressista
diferente de sua prática que se caracteriza pelo uso
da cartilha, mesmo que como apoio.
CARDOSO
Tese
1997
USP
O processo de
constituição da
competência
profissional no
ensino da leitura
e escrita
estudo de caso CHARTIER;
COLL;
HUBERMAN;
PERRENOUD
TEBEROSKY
1
o.
momento: 202
professores da rede
pública
2
o
. momento: 4
professoras desse
total (2 mais
tradicionais e 2
mais renovadoras)
-questionários;
-entrevistas;
-observação de aulas.
Embora no plano do discurso as professoras tenham
incorporado vários pressupostos, como por exemplo,
a valorização das crianças que estão mais avançadas
e a atenção especial as que estão atrasadas, nas
situações pedagógicas, elas reduzem às atividades a
compreensão da relação som/grafia. As professoras
imersas em um contexto de mudança, no afã de
introduzir modificações terminam por trabalhar em
função de um repertório de atividades que é
limitado. O movimento das professoras não vai da
necessidade de aprendizagem das crianças à
formulação de atividades, mas ocorre a utilização de
tarefas, numa espécie de rodízio que pode levar à
utilização de propostas distantes das necessidades
das crianças. A teoria alimenta a capacidade de
intervenção prática, mas não é uma variável única e
linear, portanto, a qualificação intelectual não
promove automaticamente a eficácia pedagógica em
ação.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
FONTES
Dissertação
1997
UFSCar
As estratégias de
mediação que
caracterizam as
práticas de
alfabetização
numa perspectiva
construtivista
estudo de caso CARRAHER;
FERREIRO;
FRANCHI;
GÓMEZ;
KLEIN;
MACEDO;
PIAGET;
REGO;
SCHÖN;
SHULMAN;
TEBEROSKY;
1 professora da
rede municipal de
São Carlos que
participou de um
procedimento de
assessoria de
Formação
Continuada e que
adotava o
construtivismo
-observação (filmagem) das
aulas;
-análise de documentos
(planejamentos)
A construção de uma prática de alfabetização
construtivista pressupõe a articulação teoria-prática,
tendo em vista a inter-relação entre variados
materiais de escrita, diversidade de atividades e
propostas de situações-problema.
Numa perspectiva construtivista é fundamental,
entre outras coisas, que o professor tenha clareza dos
pressupostos teóricos que caracterizam o processo
ensino-aprendizagem nesse paradigma; domine o
objeto de conhecimento (linguagem escrita); tenha
claro os objetivos educacionais de seu trabalho;
saiba observar, avaliar e propor situações-problema
para qualificar as respostas das crianças e favorecer
o processo de construção do conhecimento;
compreenda a natureza e importância de seu papel
como mediador na interação da criança com a
escrita; perceba o erro da criança como subsídio para
orientar suas ações.
GARCIA
Dissertação
1997
Unicamp
O impacto do
construtivismo
como teoria e
prática de
alfabetização e
suas diferentes
apropriações
pelos professores
análise de
depoimentos
BAKHTIN;
BOURDIEU;
COLL;
FERREIRO;
HELLER;
PERRENOUD;
TEBEROSKY;
13 professoras de 7
escolas da rede
estadual da cidade
de Campinas/SP
foram entrevistas;
4 professoras de 3
escolas foram
também
observadas na sala,
sendo 1
tradicional, 1
construtivista e 2
que mesclam as
tendências.
- entrevista semi-
estruturada;
- observação (recurso
secundário)
Foi possível identificar diferentes apropriações do
construtivismo: a) como método; b) como atividades
que podem ser anexadas aos métodos tradicionais; c)
como um corpo teórico que implica outra
abordagem sobre a aprendizagem, numa outra
concepção de desenvolvimento e numa postura
diferenciada do professor perante sua atuação e seu
aluno. Identificam-se três tipos de professores
(práticas): o construtivista total ou convicto; o
construtivista parcial; e o tradicional.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
SADALLA
Tese
1997
Unicamp
As crenças das
professoras a
respeito da sua
sala de aula e
suas relações com
a sua ação
estudo de caso COLL;
FÉRNANDEZ;
FREIRE;
MIRAS;
TOREZAN
1 professora da
rede pública
municipal da
cidade de
Campinas
-autoscopia (filmagem das
aulas e considerações da
professora sobre os
episódios selecionados para
análise)
As crenças da professora sobre a aprendizagem do
código escrito indicam que ela estaria voltando seus
esforços para criar um clima afetivo e instigar
intelectualmente os alunos para que possam ter
participação ativa no processo de aprendizagem.
Revela a crença de que a aprendizagem da
leitura/escrita acontecerá com o passar do tempo, o
que implica uma ação docente mais tolerante. Tal
situação não significa que a professora seja passiva,
ela propõe atividades para favorecer a
aprendizagem. Destaca a importância de se discutir,
na formação as relações entre crenças e ações
docentes, almejando o planejamento de ações
coerentes com o que se quer alcançar.
ALBINO
Dissertação
1997
Unesp/Marília
O espaço e o
papel dos textos
na alfabetização
estudo de caso AMÂNCIO;
GERALDI;
LAJOLO;
SMOLKA;
ZILBERMAN;
2 professoras de
1
a
. série da rede
pública estadual de
Três Lagoas/MS,
diretor e
coordenador
pedagógico das
escolas e 6 alunos
(3 de cada classe,
sendo 1 forte, 1
fraco e 1 médio)
-questionário com
professores da rede;
-entrevista semi-estruturada
com as professoras, diretor
e coordenador;
-observação participante;
-análise de documentos
(diários de classe, material
produzidos pelas crianças,
textos usados em sala)
A cartilha e “seus textos” ocupam lugar privilegiado
no processo de aprendizagem ocupando o lugar de
textos verdadeiros e instigantes, prejudicando o
desenvolvimento de sujeitos leitores e autores de
textos.
As formulações acadêmicas produzidas a partir de
1980 não desencadearam mudanças significativas na
prática pedagógica dos alfabetizadores pesquisados.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
AMBROGI
Dissertação
1998
USP
O discurso do
alfabetizador bem
sucedido,
focalizando os
diversos modos
em que a
competência é
significada.
análise de
depoimentos
ALTHUSSER;
DUGAICH;
GENTILLI;
ORLANDI;
PÊCHEUX;
SMOLKA;
3 professoras
consideradas bem
sucedidas (critério
adotado: 70% de
alunos
alfabetizados) que
atuam na rede
pública de São
Paulo.
entrevistas gravadas Seja como competente, sacerdote, salvador da pátria,
compromissado, realizador, comprometido
politicamente, técnico. perseguido, eclético,
polivalente, herói, porta-voz, modesto, perpetuador,
o professor estará sempre re-significando-se no
saber, como um ser escolhido e iluminado para levar
a luz aos ignorantes. O aluno é aquele que jamais
aprende pela própria capacidade, mas pela
capacidade que o professor tem para lhe ensinar. Na
voz dos professores a escola enuncia o discurso da
exclusão social pelo sistema de
aprovação/reprovação, atestando, assim, a
capacidade de alguns e a incapacidade de outros.
MAFFLA
Dissertação
1999
Unicamp
Procedimentos de
ensino da leitura,
em especial, se a
professora
aproveitou o
processo de
letramento dos
alunos
pesquisa
etnográfica
CAGLIARI;
FOUCAMBERT
FREIRE;
GOODMAN;
KLEIMAN;
KRAMER;
SMITH;
SOARES;
1 turma de 1
a
. série
da rede pública
municipal da
cidade de
Campinas
(crianças das
camadas
populares)
-entrevista com crianças e
professora
-observação de aula;
-questionário com os pais
A professora não levou em conta os conhecimentos
anteriores das crianças para iniciá-las no processo de
aprendizagem da leitura e escrita. Mesmo
trabalhando com vários textos não mostrou às
crianças todos os usos e funções da escrita,
utilizando-os para reforçar as tarefas relacionadas à
decodificação do código escrito.
A autora sugere que o ponto de partida do trabalho
pedagógico deva ser a compreensão da criança como
sujeito da sua aprendizagem e por isso, a professora
deve dar as crianças a oportunidade de conhecerem
o mundo da escrita na sala de aula.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
MONTEIRO
Dissertação
2000
Unesp
Araraquara
As práticas
pedagógicas e
suas relações com
o rendimento dos
alunos
estudo de caso FRANCHI;
MELLO;
PATTO;
SMOLKA
1 sala de CB I de
uma escola pública
estadual da
periferia da cidade
de Araraquara/SP
-observação participante;
-entrevista semi-estruturada
com a professora e alunos;
-aplicação de teste ABC
nos alunos;
-análise de documentos da
escola;
-técnica de “coaching”
A prática pedagógica e é fator decisivo do
rendimento escolar, podendo, ao mesmo tempo,
favorecer a aprendizagem de uns e não de outros. A
alfabetizadora investigada, apesar de suas
contradições, efetivadas na relação teoria-prática,
não pode ser qualificada como bem sucedida ou
como fracassada, pois muitas de suas práticas
contribuíram, ao mesmo tempo, para sucesso e
fracasso dos alunos, como também levaram muitos a
permanecerem numa condição fluida. As diferenças
existentes na classe quanto ao nível de
desenvolvimento das crianças, apontam que elas
apropriam-se de forma diferenciada dos
conhecimentos. A professora precisa conscientizar-
se de que práticas homogêneas não contribuem para
o sucesso coletivo, e, muitas vezes, acirram as
diferenças gerando discriminação e favorecendo o
fracasso.
TASSONI
Dissertação
2000
Unicamp
Aspectos afetivos
presentes nas
interações
professor-aluno e
que influenciam a
apropriação da
linguagem escrita
estudo de caso FERREIRO;
MATURANA;
TEBEROSKY;
VYGOTSKY;
WALLON;
4 professoras da
rede particular da
cidade de
Campinas
-observações em sala
(videogravação);
-comentários dos alunos
(autoscopia);
-entrevistas com as
professoras
Com relação à postura das professoras,
receptividade e proximidade foram os aspectos
observados com maior freqüência; sobre o conteúdo
verbal, o incentivo e o apoio foram os mais
freqüentes, em especial durante a execução das
atividades. A mediação feita pelas professoras
constitui-se fator fundamental para determinar a
natureza da relação aluno/escrita, pois a afetividade
que permeia essa mediação feita pelas professoras
entre o aluno e a escrita é internalizada por ele,
conferindo à escrita um sentido afetivo.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
AMARAL
Dissertação
2002
Unicamp
As práticas
constituintes do
processo de
alfabetização
comprometido
com a formação
do cidadão crítico
(capaz de analisar
a realidade em
que vive)
estudo de caso ABAURRE;
FREIRE;
GERALDI;
KAUFMAN;
SMOLKA;
SOARES;
1 professora da
rede particular da
cidade de
Campinas/SP
conhecida por ser
inovadora. A
professora foi
indicada como
“professora
cidadã”
-entrevista semi-
estruturada;
-observação das atividades
de produção escrita
(videogravadas);
-autoscopia
Caracterizam a prática pedagógica na perspectiva
crítica: diálogo entre alunos e professores; utilização
de textos variados quanto à temática e gênero;
criação de situações para os alunos vivenciarem os
diferentes usos dos textos escritos; professor crítico
e consciente de que sua ação é tão política quanto
pedagógica, reconhecendo-se inacabado e capaz de
uma análise crítica sobre si mesmo e sobre suas
ações.
GOLLER
Dissertação
2002
PUC-SP
Os fatores que
determinam as
práticas docentes
no ensino
fundamental
investigação de
caráter
qualitativo
DIETZSCH;
JULIA;
SAWAYA;
SOUZA, R. F.;
WEISZ;
2 turmas de 1
a
.
série de uma
escola da rede
municipal da
cidade de
Guarulhos/SP
(uma professora
com experiência
em Ed. Infantil e
outra com
experiência no
E. Fundamental)
-entrevista;
-observação de aula
Os objetivos do ensino fundamental diferem da
educação infantil: formar futuros profissionais. A
disciplina, a seleção dos conteúdos,
ler/escrever/contar, caracterizam a 1
a
. série do
ensino fundamental, revelando uma tradição. A
alfabetização mantém a sua centralidade e continua
sendo encarada como passaporte para o
conhecimento. No entanto, as crianças são privadas
de uma relação mais pessoal com a língua escrita, já
que as práticas de alfabetização são empobrecidas,
baseiam-se nos “textos” cartilhescos, que não
pressupõe interlocutores e visam exclusivamente a
decodificação. Apesar do comprometimento das
professoras com o trabalho, necessidade de
mudanças que pressupõem um trabalho coletivo de
reflexão sobre as práticas.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
VALENÇUELA
Dissertação
2002
UFSCar
Os saberes que
permeiam a
prática
pedagógica das
alfabetizadora
pesquisa de
abordagem
qualitativa
GÓMEZ;
HUBERMAN;
LIBÂNEO;
MIZUKAMI;
NÓVOA;
PEREZ
RAYMOND;
SCHÖN;
SAVIANI;
TARDIF;
ZEICHENER;
6 professoras de 3
escolas públicas
estaduais de
Maracaju/MS
-questionário;
-entrevista.
Os saberes que permeiam a prática têm como fonte o
ambiente familiar e religioso. A prática permite
reflexões sobre seu fazer intuitivo, um saber
específico que somente a experiência revela: o
tempo na profissão, articulado com os demais
saberes desperta uma percepção maior para
compreender os comportamentos e atitudes das
crianças. A prática apresenta uma simbiose das
concepções teóricas (tradicional, humanista,
construtivista e histórico-crítica) da formação inicial
(saber acadêmico) em diálogo com os saberes da
experiência. Necessidade de valorização do
professor como alguém que questiona, sugere,
critica e compartilha idéias e de uma política de
valorização do magistério.
SARRAF
Dissertação
2003
USP
As concepções
dos professores,
seus
posicionamentos
graus de
consciência sobre
sua condição
docente e suas
posturas
pedagógicas
frente à
alfabetização
análise de
depoimentos
BRUNER
COLELLO;
FERREIRO;
GARCIA, R. L.;
MACEDO;
REGO;
SOARES;
TEBEROSKY;
VYGOTSKY;
WEIZ;
20 alunas do 4
o
.
ano do magistério
da rede estadual de
SP e 20
professoras da rede
estadual sem
qualificação
superior, formadas
no mesmo curso
Normal e com
mais de 5 anos de
experiência
-questionário (perfil);
-entrevistas
AS professoras atuantes têm idéias e condutas
cristalizadas e diante da solidão com que enfrentam
os desafios do dia-a-dia, muitas vezes, escolhem o
caminho mais fácil e seguro, que certamente, não é o
caminho do novo, da ousadia e da criatividade.
contradições no discurso das professoras que se por
um lado falam sobre necessidade de respeitar o
tempo do aluno na assimilação dos conhecimentos,
por outro culpam o aluno pelo fracasso na
alfabetização. A não incorporação de atividades
significativas de leitura e escrita nas práticas de
alfabetização pode ser explicada, também, pelo fato
de que essas atividades não estão presentes na vida
das alfabetizadoras. Assim, a resistência das
professoras em reverem suas práticas e convicções, é
decorrente tanto da incompreensão e
desconhecimento dos conceitos teóricos quanto da
insegurança de ensinar aquilo que não sabem.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
YACOVENCO
Dissertação
2003
Unesp/Arara
quara
As concepções
que configuram
as práticas das
professoras
alfabetizadoras
no 1
o.
ano do
ensino
fundamental
analítico-
descritiva
MARIN;
ESTEVE;;
MICOTTI;
ABUD;
SOARES;
GIOVANNI;
4 professoras e
uma escola da rede
pública estadual da
cidade de
Bauru/SP (2 de
classe forte; 1
classe fraca; 1 de
classe média)
-questionário (perfil);
-entrevista individual e
coletiva com as
professoras;
-análise de caderno dos
alunos e de documentos da
escola.
As professoras revelam uma concepção de
alfabetização mais ampliada ao estenderem para os
anos seguintes a responsabilidade por tal processo.
Ao mesmo tempo, ao ampliarem tal visão,
simplificam o trabalho com alfabetização no 1
o
. ano
escolar, reduzindo o grau de exigência com relação à
alfabetização dos alunos, o que implica aceitar como
alfabetizado o aluno que apresenta rudimentos de
leitura e escrita. A implantação do Ciclo Básico e da
Progressão Continuada teve implicações para o
professor, especialmente pela falta de clareza sobre
o ponto de chegada dos alunos e perda da noção de
terminalidade do sistema seriado. Além disso, a
noção de continuidade do processo confunde-se com
a repetição do conteúdo no ano seguinte.
CUNHA
Dissertação
2004
UFSCar
As relações entre
as expectativas
das professoras
sobre os
conteúdos da
língua materna e
a forma como
esses conteúdos
são ensinados
analítico-
descritiva
FERREIRO;
FRANCHI;
GERALDI;
MATENCIO;
POSSENTI;
ROJO;
SOARES;
39 professoras de
Ciclo (1
a
. e 2
a
.
série) da rede
municipal de São
Carlos
(questionários)
Dessas, 6
professoras de 6
escolas diferentes
foram
entrevistadas.
-questionário sobre
conteúdos importantes da
língua;
-entrevista;
-análise de materiais dos
alunos.
O ensino da leitura e da escrita é concebido como
aquisição crescente dos elementos da língua. O texto
é trabalhado como pretexto para identificação das
unidades menores. As atividades de leitura não
contemplam a variedade dos gêneros e do material
disponível. A ortografia e gramática foram
trabalhadas de forma mais assistemática. As
professoras reconhecem a importância do ensino das
normas ortográficas, entretanto, ensinavam através
de atividades de memorização, repetição, em
detrimento da reflexão sobre as mesmas. Talvez isso
decorra do desconhecimento das professoras das
regularidades e irregularidades da língua.
necessidade de uma formação teórica mais sólida
sobre a língua materna, que não se pode ensinar o
que não se sabe.
autor
grau do
estudo
ano
IES
Enfoque
principal da
pesquisa
Tipo de Estudo Base teórica
dos estudos
Sujeitos
investigados/
local da coleta de
dados
Procedimentos de coleta
de dados
Conclusões
QUIM
Dissertação
2004
Unesp/Arara
quara
teorias implícitas
e que
fundamentam o
processo de
ensino-
aprendizagem
desenvolvido por
elas
analítico-
descritivo
construtivista 6 professoras de
escolas do
município de Alto
Araguaia/MT
Ao analisar as teorias implícitas no discurso das
alfabetizadoras, argumentou que as professoras
encontram-se num momento de mudança
metodológica, com vistas a uma adequação de sua
prática ao novo projeto educacional, assim foi
possível perceber que as professoras fazem
referência a várias teorias quando falam de sua
prática; assim também quando abordam as teorias
psicológicas as professoras focalizam explicitamente
as teorias do desenvolvimento infantil no que tange
às fases do desenvolvimento e à necessidade de
respei-las no processo ensino-aprendizagem,
chegando mesmo a citar teorias clássicas da
Psicologia. Os dados apontam também muitas
crenças ou teorias implícitas das professoras,
algumas das quais se assemelham aos princípios
construtivistas passíveis de serem observados na
prática.
ZIBETTI
Tese
2005
USP
Os saberes
docentes
mobilizados na
prática de uma
professora
alfabetizadora
pesquisa
etnográfica
ANDRÉ;
BAKHTIN;
EZPELETA;
HELLER;
MALDONADO
MERCADO;
PENIN;
SOARES;
TALAVERA;
VYGOTSKY;
1 professora da
rede pública
estadual da cidade
de Rolim de
Moura/RO
-observação participante;
-entrevistas;
-análise documental
(planejamentos, ou registro
de aulas, atividades
propostas, materiais
didáticos);
-fotografias
duas dimensões na constituição dos saberes: dimensão
histórico/dialógica - os saberes são apropriados e
objetivados a partir do diálogo com as experiências vividas
pela docente, formadoras, crianças e materiais didáticos.
Dimensão criadora, pois mesmo submetida às
determinações do trabalho cotidiano, frente aos desafios da
alfabetização a professora cria formas distintas de
intervenção no processo pedagógico. As vozes das crianças
(suas dificuldades e necessidades) foram as que mais se
fizeram ouvir na prática da professora, que foi desafiada e
muitas vezes impulsionaram a criação de diferentes formas
de intervenção. Entre os desafios postos à professora estão:
a necessidade de manter a atenção e o interesse pela tarefa
do grupo de alunos em suas primeiras experiências de
escolarização com os recursos e condições da escola
pública; atender um grupo de crianças em diferentes
momentos da aprendizagem da leitura e da escrita,
diferença acentuada pelo Ciclo Básico; trabalho com
conteúdos curriculares necessários para que os alunos
avancem.
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