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MARINA DE MOURA
A noção de infância no Brasil na década de 1930:
Uma análise da revista Infância
Mestrado em Psicologia Social
PUC/SP
PUC/SP
São Paulo
2007
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MARINA DE MOURA
A noção de infância no Brasil na década de 1930:
Uma análise da Revista Infância
Mestrado em Psicologia Social
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para obtenção do título de MESTRE
em Psicologia Social, sob a orientação do
Professor Doutor José Leon Crochík.
PUC/SP
São Paulo
2007
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Banca Examinadora
_____________________________________________________
Prof. Dr. José Leon Crochík
_____________________________________________________
Profa. Dra. Sylvia Leser de Mello
_____________________________________________________
Profa. Dra. Maria do Carmo Guedes
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total
ou parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
Assinatura:____________________________________________
São Paulo, 28 março de 2007.
4
Meus Oito Anos
Oh! Que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida,
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais!
Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais!
Como são belos os dias
Do despontar da existência!
- Respira a alma inocência
Como perfumes a flor;
O mar é - lago sereno,
O céu - um manto azulado,
O mundo - um sonho dourado,
A vida - um hino d'amor !
Que auroras, que sol, que vida,
Que noites de melodia
Naquela doce alegria,
Naquele ingênuo folgar !
O céu bordado d'estrelas,
A terra de aromas cheia,
As ondas beijando a areia
E a lua beijando o mar !
Oh! dias de minha infância!
Oh! meu céu de primavera!
Que doce a vida não era
Nessa risonha manhã!
Em vez de mágoas de agora,
Eu tinha nessas delícias
De minha mãe as carícias
E beijos de minha irmã !
Livre filho das montanhas,
Eu ia bem satisfeito,
De camisa aberta ao peito,
- Pés descalços, braços nus -
Correndo pelas campinas
À roda das cachoeiras,
Atrás das asas ligeiras
Das borboletas azuis!
Naqueles tempos ditosos
Ia colher as pitangas,
Trepava a tirar as mangas,
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Brincava à beira do mar;
Rezava às Ave-Marias,
Achava o céu sempre lindo,
Adormecia sorrindo,
E despertava a cantar !
Oh! que saudades que eu tenho
Da aurora da minha vida
Da minha infância querida
Que os anos não trazem mais !
- Que amor, que sonhos, que flores,
Naquelas tardes fagueiras
À sombra das bananeiras,
Debaixo dos laranjais !
Casimiro de Abreu
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Agradecimentos
Ao meu Deus que me deu vida, disposição, força e inteligência para
chegar até aqui.
Aos meus pais que me incentivaram sempre, mesmo que a caminhada
parecesse dura e em alguns momentos impossível. Eles me ensinaram que a
educação e o amor são nossos bens mais preciosos.
Ao meu primo Renato que me deu uma ajuda inestimável para eu iniciar
este sonho que era cursar o mestrado. Rê, sem a sua ajuda eu não teria
começado e hoje estou terminando! Muito mais que obrigada! Obrigada
também a sua esposa Claudia e seus filhos: Fernando e Patrícia.
Agradeço ao Alderi Matos que me ajudou com a revisão do português,
esteve ao meu lado me apoiando sempre com amor.
Aos meus irmãos Ernesto, Lia e Sara que me agüentaram e apoiaram na
elaboração desta dissertação e também à Rebeca, prima que me agüentou
neste último ano.
Aos meus amigos que me apoiaram durante esta trajetória Marina
Akemi, Ana Lúcia Artiolli, Cássia Pianta, Christiane Nagayassu, Kiki, Zé, CH,
SP, Ju e todos os amigos UMPessoais.
Aos amigos que fiz na PUC, Juliana, Luciana, Gorete, Karla, Ana Lúcia,
Liliane, Bruno, muito obrigada, vocês sempre estarão em minha memória.
Ao Núcleo de Memória do Instituto da Saúde de São Paulo que me
forneceu o material de análise, especialmente às pesquisadoras Dra. Maria
Lúcia Mott e Olfa Sofia Fabergé Alves.
À Cruzada Pró-Infância que no início do século passado se preocupou
com a educação e criança e muito fez por elas! Agradeço especialmente a Sra.
7
Maria Elisa Byington que me atendeu gentilmente e me encaminhou para o
núcleo de memória.
A toda equipe do DRCLAS, Jason, Tomás, Lorena e Antonia, muito
obrigada pela paciência e colaboração.
Às secretárias Marlene e Betinha que sempre me ajudaram.
E finalmente, porém não menos importante aos professores José Leon
Crochík e Odair Sass que atuou como co-orientador desde meu primeiro dia na
PUC e à CAPES com a Bolsa que me permitiu finalizar este curso.
8
SUMÁRIO
RESUMO.............................................................................................................1
ABSTRACT.........................................................................................................2
INTRODUÇÃO....................................................................................................3
.1. CRIANÇA E INFÂNCIA ASPECTOS HISTÓRICOS..................................5
1.1. INFÂNCIA ASPECTOS PSICOLÓGICOS.....................................8
2. SÃO PAULO NOS ANOS 30 E A CRUZADA PRÓ INFÂNCIA.....................12
3. EDUCAÇÃO, PSICOLOGIA E IDEOLOGIA DA INFÂNCIA ..............................20
4. METODOLOGIA............................................................................................25
4.1. OBJETIVO........................................................................................25
4.2 HIPÓTESE........................................................................................25
4.3 MÉTODO...........................................................................................25
5. RESULTADOS...............................................................................................26
CONSIDERAÇÕES FINAIS...............................................................................68
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................................71
ANEXOS...........................................................................................................75
Anexo 1. Propagandas no Ano de 1935
Anexo 2. Propagandas no Ano de 1936
Anexo 3. Propagandas no Ano de 1937
Anexo 4.Quadro 2 revista Infância, Ano 1, nº 1
Anexo 5.Quadro 3 revista Infância, Ano 1, nº 2
Anexo 6.Quadro 33336 Tc 0 Tc -0.336 Tw ( ) Tj-421.5 -26I................25 ...
9
Anexo 15.Quadro 13 revista Infância, Ano 3, nº 15
Anexo 16.Quadro 14 revista Infância, Ano 3, nº 16
Anexo 17. Quadro 15 revista Infância, Ano 3, nº 17
Anexo 18.Quadro 16 revista Infância, Ano 3, nº 18
Anexo 19. Figura 1 revista Infância, capa, Ano 1, nº 1
Anexo 20. Figura 2 revista Infância, capa, Ano 2, nº 10
Anexo 21. Figura 3 revista Infância, capa, Ano 3, 15
Lista de Quadro
Quadro 1 edições da revista Infância
Lista de Tabelas
Tabela 1 destinatários dos conteúdos da revista Infância 1935 - 1937
Tabela 2 autoria dos textos por ano
Tabela 3 presença de publicidade por ano 1935-1937
10
RESUMO
Esta pesquisa tem como objetivo analisar a noção de infância presente na
revista Infância, publicada no Brasil pela Cruzada Pró-Infância, órgão com a
finalidade de combater a mortalidade infantil e o analfabetismo e, promover da
educação de crianças. Seu público-alvo eram as mães da classe alta que
colaboravam com a Cruzada para cumprir seus objetivos entre as classes
baixas. Essa revista foi publicada na cidade de São Paulo, com periodicidade
irregular, nos anos de 1935 a 1937. Cerca de metade dos textos da revista
foram assinados por renomados médicos, educadores e outros colaboradores.
Em geral os textos eram ilustrados com fotos ou figuras e a publicidade tinha
grande espaço na revista. Nela eram anunciados produtos para homens,
mulheres e crianças. Nos três anos de publicação da revista foram lançados 18
números, dos quais 15 foram analisados na presente pesquisa. Durante os três
anos, apenas nos últimos números foi mencionado um redator responsável. Os
assuntos tratados na revista pretendiam revelar a população em geral
conhecimentos científicos principalmente nas áreas de saúde e educação. Seu
objetivo era que pais, educadores e todos aqueles interessados nas condições
de vida das crianças pudessem trabalhar para a construção de um país
próspero, sadio e culto, com o lema um país educado é um país rico; as
crianças de hoje são os adultos de amanhã. Diante disso, concluímos que a
revista Infância ao utilizar informações científicas para os leigos foi uma
publicação de vanguarda e que a psicologia e a educação tiveram grande
espaço e reconhecimento.
PALAVRAS-CHAVE
Infância, Revista Infância, Cruzada Pró-Infância, Educação, História da
Psicologia.
11
ABSTRACT
The purpose of this research is to analyze the notion of childhood present in
Infância (“Childhood”), a magazine published in Brazil by Cruzada Pró-Infância
(Crusade for Childhood), an institution devoted to fighting child mortality and
illiteracy as well as promoting the education of children. Its target constituency
was upper class mothers who helped the Crusade to fulfill its objectives among
the lower classes. The magazine was published in the city of São Paulo, with
irregular frequency, in the years 1935-1937. Approximately half of the articles
were signed by renowned physicians, educators, and helpers. Usually the texts
were illustrated with photos or drawings, and a large amount of space was
given to advertising. Products for men, women and children were advertised in
the magazine. During the three years 18 issues were published, of which 15
were analyzed for this research. During that time, only the last issues
mentioned the editor. The subjects discussed in the magazine were intended to
convey to the general public scientific information mainly in the areas of health
and education. Its aim was to urge parents, educators, and those who were
interested in children’s life conditions to work towards a prosperous, healthy,
and educated nation, under the mottos “an educated country is a wealthy
country” and “the children of today are the adults of tomorrow”. Therefore we
conclude that, in its use of scientific information for lay persons, Infância
magazine was a progressive publication in which psychology and education
were given great prominence and recognition.
KEYWORDS
Childhood; Infância Magazine; Crusade for Childhood; Education; History of
Psychology.
INTRODUÇÃO
12
A infância tem sido tema de interesse para a sociedade ocidental há
muitos séculos, mas tal interesse tem se intensificado nos dois últimos séculos
(XIX e XX). A promulgação de importantes decretos como a Declaração
Universal dos Direitos da Criança, pela ONU (Organização das Nações
Unidas), em 20 de novembro de 1959; a declaração do Ano Internacional da
Criança, em 1979, e a criação do ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente),
no Brasil, em 13 de julho de 1990, demonstram o aumento do interesse e
preocupação das sociedades ocidentais com a criança e a infância no século
passado. A atual valorização da infância e da adolescência é reforçada pela
atuação de órgãos como a UNESCO (United Nations Educational, Scientific
and Cultural Organization Organização das Nações Unidas para a Educação,
a Ciência e a Cultura) e o UNICEF (United Nations Children´s Fund Fundo
para Crianças das Nações Unidas) e amplamente divulgada pelos meios de
comunicação. Citando Abrão (1999, p. 34), “a sociedade do século XX
privilegiou, como nunca antes se viu, a infância em detrimento das demais
‘idades da vida’”.
O objetivo desta pesquisa é investigar a noção de infância na década de
1930, especialmente como a ideologia permeava tal noção. O interesse pela
década de 1930 surgiu em virtude dos acontecimentos educacionais, sociais e
políticos ocorridos no Brasil, principalmente na cidade de São Paulo, como
veremos a seguir, e porque foi nesse período que começou a se difundir a
sistematização da assistência e proteção à infância na cidade de São Paulo. A
valorização da infância naquela época foi o passo inicial para o
desenvolvimento da noção de infância que conhecemos hoje.
Ressaltamos a importância do estudo da noção de infância no início do
século XX na cidade de São Paulo sob o ponto de vista da psicologia e de suas
relações com a sociedade, que são o motivo desta pesquisa. O tema infância
tem interessado a autora desde seu curso de graduação no qual desenvolveu
uma pesquisa sobre a infância e a mídia. Para prosseguir suas pesquisas,
realizou um levantamento bibliográfico por meio do qual chegou até a Cruzada
Pró-Infância que na década de 1930 publicou a revista Infância. Depois de
entrar em contato com a organização foi informada de que o acervo da
Cruzada havia sido doado ao Instituto da Saúde de São Paulo. Como o
13
material fui publicado há mais de 70 anos, ele é considerado documento
público e foi disponibilizado pelo Instituto de Saúde (IS) de São Paulo, órgão do
governo do Estado de São Paulo, vinculado à Secretaria de Estado da Saúde
(SES), que tem como sua missão desenvolver pesquisas na área da saúde,
gerando subsídios para as políticas traçadas pela SES.
O Instituto de Saúde é composto por diversos núcleos, dentre os quais
se destaca o Núcleo Memória e Saúde, o qual “desenvolve pesquisas com o
intuito de contribuir para a preservação da memória da saúde pública paulista.
Recupera, organiza, preserva e disponibiliza ao público o patrimônio
documental (http://www.isaude.sp.gov.br/nucleos_memoria.htm em
20.08.2006).
Realizamos nesta pesquisa um trabalho histórico, tendo em vista que,
por meio do material utilizado, pretendemos reconhecer qual era a noção de
infância em São Paulo na década de 1930, além de identificar e analisar a
perspectiva psicológica contida na revista Infância. Pretendemos verificar
nossa hipótese de que a noção de infância presente na revista era
fundamentada na educação e na psicologia.
A exposição da pesquisa está dividida em quatro partes. A primeira parte
é composta do embasamento teórico, o qual está dividido em três itens, a
saber: Criança e infância aspectos históricos: nesse item apresentamos
alguns aspectos da história da infância; o item seguinte, São Paulo nos anos
30 e a Cruzada Pró-Infância, apresenta elementos da história da cidade de
São Paulo e o ambiente no qual surgiu e se desenvolveu a Cruzada; no item
Educação, psicologia e ideologia da infância, é discutida a educação, área
fortemente ligada à psicologia no período, e finalmente a ideologia da infância
que permeava a sociedade da época. Na segunda parte é descrito o método da
pesquisa. Na terceira parte encontram-se as análises quantitativas e
qualitativas do material estudado e, finalmente, na quarta e última parte são
apresentadas as considerações finais desta pesquisa.
1. CRIANÇA E INFÂNCIA ASPECTOS HISTÓRICOS
14
Este item trata brevemente da história da infância. Diversos autores têm
escrito sobre essa história no Brasil e no exterior. Entre eles citamos Rizzini
(1993), Freitas (2002), Postman (1999), Ariès (1986) e Stearns (2006). Para
uma leitura mais aprofundada desse assunto sugerimos os autores citados.
Muito embora as definições de criança e mais especificamente as
definições de infância sejam controvertidas, entendemos que a criança ao
nascer passará por um período particular de desenvolvimento que será
mediado pela sociedade na qual ela está inserida. As relações familiares,
escolares e sociais, seus principais núcleos de socialização, transmitirão à
criança valores e crenças e isso se refletirá na maneira pela qual a criança
viverá a sua infância.
Podemos encontrar instruções a respeito da educação infantil, infância e
sobre a vida da criança em sociedade há muitos séculos, diga-se de
passagem, que na Grécia Antiga, Platão (427-347 a.C.), em seu livro A
república (escrito entre 387 e 361 a.C.), apresenta algumas instruções sobre a
educação das crianças das quais se pode extrair uma noção de infância
vigente naquela época, como pode ser observado no excerto a seguir: As
crianças, à medida que forem nascendo, serão entregues a pessoas
encarregadas de cuidar delas, homens, mulheres ou homens e mulheres
juntos...” (Platão, 2002, p. 185). Essa afirmação sugere a idéia de que as
crianças deveriam ter uma educação especial e separada do mundo adulto,
pois a educação da criança era considerada tão seriamente que deveria ter
tratamento especial. Na década de 1930 no Brasil, a educação infantil também
ganhou um status especial, a idéia de que a criança precisava de uma vida
separada do adulto e com isso ter atividades especificamente voltadas para ela
era vistas como necessárias para o desenvolvimento da infância e foram idéias
difundidas naquele período. Como vimos a separação entre crianças e adultos
não é novidade, mas já existia na sociedade grega antiga. Continuando a
registrar as palavras de Sócrates, Platão afirma que “é necessário dar desde
muito cedo asas às crianças para que possam, se for preciso, salvar-se
voando” (2002, p. 196). Compreendemos a partir das palavras acima que as
crianças deveriam ser preparadas para o mundo adulto, pois além de serem
incluídas na sociedade elas poderiam se “livrar” de suas famílias e viver como
15
indivíduos. Essa concepção foi seguida durante séculos, mas hoje,
principalmente nas classes altas, os filhos levam cada vez mais tempo para
sair da casa dos pais, ficando assim cada vez mais dependentes deles.
Contudo, entendemos que as orientações para a educação da criança e a
noção de infância na Grécia antiga, ainda que estejam subjacentes às noções
da atualidade, passaram por muitas transformações.
Ariès (1986), um dos mais conhecidos historiadores da infância na
modernidade, elaborou uma história linear sobre o desenvolvimento da noção
de infância. Em seu livro A história social da infância e da família, ele defende
um “sentimento da infância” que, segundo ele, é uma atitude que revela a
consciência da particularidade infantil que distingue a criança do adulto. Ele
afirma ainda que esse sentimento surgiu na Europa a partir do século XVII e foi
então que se reconheceu a necessidade de limitar a participação das crianças
no mundo adulto, afirma Áries.
Stearns (2006) aponta para três mudanças principais que separaram a
infância moderna da infância das sociedades agrícolas dos séculos anteriores
ao século XVIII. Para o autor esse é um processo dinâmico, o que significa que
nem todas as sociedades aceitam a mesma noção de infância. Da mesma
forma, ele explica que este não é um simples processo de modernização da
infância. Stearns afirma que a primeira mudança a ser destacada foi a
passagem de uma infância trabalhadora para uma infância escolarizada, com a
qual teve início uma grande transformação, tendo em vista que a criança
passou de um indivíduo economicamente ativo para um indivíduo passivo.
Embora lenta, essa transformação, como descreve Marx (1985), afetou os
métodos da produção de mercadorias na Inglaterra. A luta pela melhoria de
vida e pela escolarização das crianças ganhou força com a industrialização da
Europa, conforme relata Marx em sua obra O capital, na qual dedica um
capítulo às condições fabris da mulher e da criança. No referido capítulo, o
autor analisa as leis que visavam proteger as mulheres e crianças
trabalhadoras na Inglaterra, concluindo que tais leis não eram cumpridas na
maioria dos casos relatados. Problemas relacionados às condições de trabalho,
escolarização das crianças trabalhadoras que foram enfrentados na Europa
nos séculos XVIII e XIX também foram motivos de luta e preocupação no Brasil
16
com a expansão da industrialização na década de 1930. Marx (1985) registrou
que na Inglaterra, “apesar da legislação, pelo menos 2 mil jovens continuam
sendo vendidos por seus próprios pais como máquinas vivas para limpar
chaminés” (p. 24). Na cidade de São Paulo, na década de 1930, a situação da
criança trabalhadora também era bastante precária. Em São Paulo a
obrigatoriedade de matricular as crianças trabalhadoras em escolas públicas
afetou as relações de trabalho, fazendo com que a jornada de trabalho fosse
diminuída e em alguns casos suspensa. No entanto, diversas foram as
implicações da aplicação desta lei para as famílias operárias. A luta pela
escolarização das crianças marcou grande parte das atividades da Cruzada
Pró-Infância e dos ativistas do início do século XX. A relação entre a proibição
do trabalho infantil e o aumento de crianças nas escolas provavelmente
ocasionou mudanças nas relações familiares, como veremos a seguir.
A segunda mudança importante relatada por Stearns (2006) foi a
redução no tamanho das famílias. Ele afirma que, com a escolarização da
infância, a criança passou a ser economicamente passiva e esse foi um dos
fatores para a redução no número de filhos. Essa redução também afetou a
relação das crianças com os adultos, que agora poderiam dedicar-se mais aos
filhos, já que seu número era reduzido. Contudo, não podemos afirmar que isso
aconteceu em todas as sociedades. O processo descrito pelo autor aconteceu
na Europa e nos Estados Unidos. No Brasil, as famílias ainda são bastante
numerosas, principalmente nas classes pobres; contudo, isso não impede as
classes ricas de serem numerosas e, além disso, também ainda hoje
encontramos crianças economicamente ativas, as quais colaboram com a
renda e o sustento de sua família.
Por fim, a terceira mudança na concepção da infância moderna descrita
por Stearns (2006) foi a redução na taxa de mortalidade infantil. Essa redução,
além de se relacionar com a proibição do trabalho infantil, também está
associada aos avanços na saúde pública e no saneamento básico das cidades.
Esses aspectos marcaram as atividades da Cruzada Pró-Infância, que
trabalhou juntamente com as educadoras sanitárias na cidade de São Paulo.
Percebemos essas preocupações em textos da revista Infância como, por
17
exemplo, “Higiene da criança”, “Normas práticas para alimentação do pré-
escolar” e “Porque morre tanta criança”.
Como a noção de infância relaciona-se com a sociedade na qual a
criança está inserida e se desenvolve, consideramos que a industrialização, a
conseqüente escolarização e a maneira pela qual a industrialização afetou as
relações familiares estão intrinsecamente ligadas à noção de infância. A
criança passou aos poucos a receber cuidados específicos, muitas vezes
cientificamente fundamentados. As separações entre o estágio adulto e a
infância passaram a ser maiores que anteriormente e isso também foi
modificando a noção de infância. A separação entre adultos e crianças, de
acordo com Stearns (2006), fez com que as crianças passassem a ter uma
situação aparentemente privilegiada em relação ao adulto. No que diz respeito
aos cuidados e leis de proteção, a criança foi colocada numa posição de
fragilidade em relação ao adulto. Em sua tese sobre infância e historicidade,
Oliveira (1989) afirma que “... a infância ganhou um estatuto que extrapola o
dado da maturação e alcança uma expressão social com natureza de
‘cidadania’, isto é, a infância é percebida não só pelo estágio biológico, mas
pela participação efetiva da criança na cultura socialmente posta para a
criança” (p. 118).
Como relatado acima, a transformação da infância em um período
especial e “resguardado” não ocorreu num curto espaço de tempo, mas foi
conseqüência da vida moderna. Foram necessários longos períodos de
transformação histórica para que se incorporasse a idéia de que a criança
necessita de uma infância para o seu desenvolvimento como ser humano.
1.1 INFÂNCIA ASPECTOS PSICOLÓGICOS
Diante das transformações da idéia de infância, faz-se necessário
salientar a existência de uma noção psicológica, considerada por alguns
autores como uma noção vinculada à biológica. Não entendemos dessa
maneira, mas julgamos que a noção psicológica de infância destaca-se da
biológica por defender que a criança, além de ser um adulto em potencial,
necessita de um espaço para a efetivação da infância. Por outro lado, como já
18
foi dito, a concepção e a definição de infância variam entre as épocas e
sociedades, tendo em vista a natureza social do homem.
Diferentes correntes psicológicas elaboraram diferentes conceitos sobre
a criança, seu desenvolvimento e a infância, e também sobre o papel da
sociedade na vida das crianças. Podemos encontrar correntes voltadas para a
formação biológica, outras que dão suprema importância para a sociedade e,
conforme as pesquisas vão sendo feitas e as teorias sendo validadas ou caindo
no descrédito, assim também a psicologia “ganha” ou “perde” definições.
Oliveira (1989) afirma que: “Considerar a natureza social do homem, no
caso específico da criança, significa pensar a sociedade, com os bens e
valores produzidos socialmente, com as novas necessidades que se vão
criando para realizar tanto a criança que esta sociedade requer, quanto a
sociedade pedida por esse homem novo” (p. 74). Tendo em vista esta
afirmação de Oliveira sobre a relação entre infância e meio social, ressaltamos
a importância do estudo da sociedade e da família paulista na década de 1930
que será tratada no próximo tópico deste texto. Porém, antes de estudarmos a
sociedade paulista, observemos um pouco da “história” da criança em família
seu primeiro núcleo social.
Ao nascer, a criança inicia a sua participação em uma sociedade já
constituída independentemente da sua existência. É a família que a apresenta
e a inclui nessa sociedade num primeiro momento. Em seguida a escola e
outros grupos exercem essa função. Destacamos, entretanto que na atualidade
a escola tem participado cada vez mais cedo do processo de socialização da
criança. Dessa maneira, as crianças têm aí todas as possibilidades de
desenvolvimento autônomo; porém, esse desenvolvimento acontecerá de
acordo com a mediação da sociedade na qual essa criança está inserida.
Assim, a pesquisa sobre a noção de infância no Brasil relaciona-se também à
família brasileira da época em questão, mais precisamente da infância paulista,
pois, sendo o Brasil um país de dimensões continentais, não se pode afirmar
que a sociedade brasileira tenha as mesmas características em todos os
lugares. Porém, podemos afirmar que no momento cultural estudado, a terceira
década do século XX, a família tem grande importância na formação do
indivíduo, principalmente nas classes altas, que eram menos numerosas,
19
formadas por ambos os pais e as mães em geral ficavam nos lares e eram
responsáveis pela educação das crianças.
A família tem função constitutiva no desenvolvimento do indivíduo e dos
grupos. Assim, não há como estudar a infância e o indivíduo sem estudar a
família na qual ele está inserido, pois o lugar da família é socialmente definido.
Como afirmam Horkheimer e Adorno (1973) “a família apresenta-se, de fato,
como uma “interação” de determinados “papéis” desenvolvidos socialmente,
investida de outras tantas tarefas sociais, mas este enfoque pode ter conteúdos
variáveis nas diversas formas conhecidas na sociedade (p. 136).
De acordo com a conclusão de Horkheimer e Adorno, a compreensão
social da família e os papéis nela desempenhados variam nas diversas
sociedades e épocas que podem ser encontradas até a atualidade. E, se o
indivíduo é um reflexo da família na qual ele cresce e se desenvolve, o
reconhecimento do sujeito como indivíduo também varia de acordo com as
perspectivas acima. Dessa maneira é necessário lembrar que “antes de ser
indivíduo o homem é um dos seus semelhantes...” (Horkheimer e Adorno,
1973, p. 47). Assim, é fundamental ao homem a vida em sociedade, pois o que
nele o faz humano é a interação com os demais seres humanos.
A família tem sido há alguns séculos a principal célula social (porém, não
única) na qual os seres humanos são incluídos e se constituem como
indivíduos e na década de 1930 não foi diferente. Os costumes familiares, as
famílias tradicionais e os sobrenomes tinham grande importância naquela
época. Ao se dizer que alguém era da família X ou Y, podia se ter um histórico
completo sobre aquela pessoa. A valorização das famílias e das relações
familiares era forte e o senso de pertencimento na sociedade em grande parte
se dava em função das famílias.
As famílias eram em geral patriarcais, isto é, o homem era o responsável
pelo sustento material e as mães responsáveis pela educação dos filhos. Os
pais eram modelos para seus filhos, assim como as mães para as filhas, que
eram educadas para serem esposas dedicadas e mães atenciosas, mas
também preocupadas com o desenvolvimento da sociedade.
20
Naquele momento a família paulistana estava no auge de seu status.
Elas enriqueceram com a industrialização, e o poder econômico e cultural
estava nas mãos de umas poucas famílias, as quais eram responsáveis pelas
transformações, econômicas, sociais e culturais da cidade. Nesse contexto, as
crianças passaram a ser mais valorizadas, mas ao mesmo tempo cresceram as
expectativas a seu respeito. Diante disso, para nós, não há como estudar a
infância, sem que pensemos também na sociedade e na família na qual ela
está inserida.
2. SÃO PAULO NOS ANOS 30 E A CRUZADA PRÓ-INFÂNCIA
É nosso objetivo neste item discutir e delimitar alguns fatos que
marcaram a história do Brasil, principalmente em São Paulo, nas décadas de
1920 e 1930, que estão intrinsecamente relacionados à noção de infância.
Consideramos que esse passo é fundamental para a análise que pretendemos
21
realizar e apontamos aqui para alguns fatos que marcaram a sociedade
brasileira nas primeiras décadas do século XX. Conforme relata Miceli (2001),
as décadas de 1920, 1930 e 1940 assinalam transformações decisivas nos
planos econômico, social, político e cultural” (Miceli, 2001, p. 77). A Cruzada
Pró-Infância e a revista Infância publicada por essa entidade nasceram
justamente nesse período assinalado por Miceli. Vejamos alguns fatos
marcantes para São Paulo naquele período: o movimento higienista da década
de 1920; as reformas educacionais; a tomada do poder por Getulio Vargas em
1930, e a revolução constitucionalista de 1932, na qual São Paulo teve
participação ativa. E na Cruzada não foi diferente como verificamos a seguir: “E
assim como muitas mulheres paulistanas das camadas médias e mais
favorecidas, a direção e as sócias da Cruzada participaram de forma ativa no
movimento que eclodiu em nove de julho de 1932 contra o governo Getulio
Vargas” (Byington et al., 2005, p. 57). Como resultado dessa participação da
Cruzada na revolução de 1932, foram criados 18 centros de assistência, que
do início da revolução em nove de julho até 30 de setembro do mesmo ano
teve 832 voluntários que confeccionaram 29.232 peças de roupas nas 133
máquinas de costura mantidas pela Cruzada. A entidade esteve também ligada
ao Departamento de Assistência à Família dos Combatentes que era dirigida
pelo MMDC, segundo Byington et al (2005). Esses provavelmente foram
alguns fatores que impulsionaram a noção de infância que se refletiu na revista
Infância publicada no mesmo período.
Nessa época a sociedade também começou a se mobilizar em relação à
proteção à infância. Entre os documentos voltados para a proteção à infância
está o primeiro Código de Menores do Brasil, de 1927, pelo qual se
consolidaram as leis de assistência e proteção de menores abandonados. Essa
e outras iniciativas estão fortemente ligadas à ação dos higienistas que criaram
a seção de higiene infantil do Departamento Nacional de Saúde Pública,
conforme escreve Faleiros (1995). Outro aspecto foi a responsabilização do
Estado pelo futuro da criança e da sociedade. Faleiros (1995, p. 59), citando
um comentário de Mineiro
1
(1924) sobre o Código de Menores, afirma: “‘O
1
MINEIRO, Beatriz Sofia. Código de menores dos Estados Unidos do Brasil: comentado.
São Paulo: Companhia Editora Nacional, s.d.
22
Estado tem o dever da proteção à criança’, pois sendo a criança a ‘raiz da
família’, ‘o futuro (bom ou mau) da sociedade depende tanto da saúde e do
vigor com que as crianças nascem, como da maneira por que são criadas e
educadas’ (p. 3), e conclui ‘daí a necessidade do Estado lhes prestar a
indispensável assistência (p. 15)’”. A Cruzada Pró-Infância seguia esses
princípios e os incentivava por meio das mais diversas maneiras, como, por
exemplo, nos textos da revista Infância.
Vemos no comentário acima feito por Mineiro que a boa criação das
crianças depende da educação; por isso ressaltamos a importância da
institucionalização e da popularização da educação. Pinchbeck e Hewitt (in
Leite, 1972) informam que, na Inglaterra, a institucionalização da educação
formal, seguida da separação entre a criança e a sociedade adulta, foi
condição prévia para o aparecimento da infância. Vimos, também, que tal
popularização se deveu ao avanço da industrialização e da obrigatoriedade do
ensino, relatados por Marx (1985). Conforme já mencionamos no item dois,
essa tendência também se aplica ao Brasil, pois foi com a expansão da
industrialização na década de 1920 nos grandes centros urbanos que a criança
passou a ter maior importância para a sociedade brasileira e esta importância
estava fortemente ligada à educação. Vejamos agora a importância dada à
infância em conexão com as reformas educacionais ocorridas entre 1920 e
1930 e a instituição de leis especialmente voltadas para a proteção das
crianças e das mães.
Rizzini (1993) registra que, durante o período referido, a atenção estava
voltada principalmente para a infância pobre, abandonada e marginal. Essas
crianças eram um problema para a sociedade da época, que estava
preocupada com a saúde pública e o progresso do país. Grande parte da
infância brasileira, na década de 1930, ainda era composta por crianças
trabalhadoras, não escolarizadas ou pouco escolarizadas, vítimas de doenças
relacionadas ao trabalho e às más condições de vida, o que reforçava as
estatísticas de mortalidade infantil. As crianças que recebiam a atenção do
governo paulista pertenciam a famílias pobres, imigrantes e operárias que
trabalhavam nas indústrias recém-instaladas na cidade de São Paulo. Porém,
24
ser uma catástrofe. Byington et al. (2005) relatam que a vida da população
pobre se deteriorava a olhos vistos, e essa também era uma preocupação para
a saúde da cidade. Além disso, a falta de saneamento básico era muito
problemática, com a cidade crescendo da noite para o dia e a população ainda
vivendo com hábitos de comunidades rurais. Segundo as mesmas autoras, isso
preocupava as autoridades paulistanas.
É interessante relatar aqui as palavras de Sérgio Miceli (2001), que trata
da formação da elite cultural no Brasil.
25
estatais e filantrópicas preocupavam-se com o aumento da infância
abandonada, principalmente nas grandes cidades, pois isso provocava
doenças, aumento da criminalidade e de desocupados perambulando pelas
ruas. Moncorvo Filho, renomado médico pediatra da época, afirmava que era
preciso ampliar o tempo de vigilância sobre os adultos para garantir a vida das
crianças. Ele também acreditava que a ignorância dos pais, sobretudo das
mães, deveria ser preocupação do governo, de modo que o saber médico
fosse o pilar para essa luta, a fim de que um plano para a nação fosse viável,
nos informa Gondra (2002).
Esse foi, portanto, o cenário no qual a senhora Pérola Ellis Byington,
esposa de Albert Byington, engenheiro prático do ramo da eletrificação,
interessou-se pelo problema da mortalidade infantil. Ela filiou-se à Associação
de Educadoras Sanitárias e formou uma comissão que fundou em 12 de agosto
de 1930 a Cruzada Pró-Infância, formada e administrada exclusivamente por
senhoras que pertenciam às classes média e alta paulistas. Todas tinham
experiência em trabalho voluntário ou formação profissional (em geral eram
professoras), relata Mott (2003). Essa entidade, que até os dias atuais tem
como objetivo a proteção à infância, publicou em 1935, 1936 e 1937 a revista
Infância.
Para termos uma visão melhor sobre a história e objetivos da Cruzada
Pró-Infância, além do material da revista Infância recorremos a Byington et al.
(2005), que traçam um histórico da entidade e da sociedade paulista da época.
Na reunião que daria início à Cruzada Pró-Infância, a senhora Maria Antonieta
de Castro discursou: “Quanto mais crianças sadias tiver uma nação, maior será
nas suas realizações, maior na competição com outras nações. Assegurar,
portanto, à criança, tanto quanto possível, meios para a aquisição, conservação
e melhoria de suas condições de saúde e faze-la triunfar na vida, é ganhar
homens válidos para a pátria. O que fizerdes pela criança é pela pátria que
fazeis” (Byington et al., 2005, p. 45). Em seguida, a senhora Pérola apresentou
o programa que nortearia a futura cruzada:
26
É uma causa simpática essa, em nome da qual a Associação de
Educação Sanitária acaba de dirigir um apelo à sociedade paulista. [...]
Daí a idéia da Associação de Educação Sanitária de congregar
senhoras paulistas e dar a todas o privilégio de participar dessa grande
cruzada. Em traços largos, como programa: 1) Um Dispensário Central
onde os casos, apresentados não só por educadoras sanitárias, como
por pessoas idôneas, possam ser encaminhados, na medida de suas
forças, fornecendo remédios, alimentos, roupas etc., às crianças e às
mães; 2) Um serviço de parteiras adestradas para servir às mães que
de todo não puderem deixar os lares para se internar em maternidade;
3) Um abrigo ou casa maternal para os filhos sãos de mães doentes
internadas temporariamente em hospitais.[...] (Byington et al., 2005, p.
45-46).
Como vimos no discurso de Pérola transcrito acima, a ação da Cruzada
visava complementar a ação das educadoras sanitárias. E durante
aproximadamente seis meses a Cruzada funcionou sob coordenação da
Associação de Educação Sanitária. Porém, em 22 de janeiro de 1931 passou a
ter personalidade jurídica, segundo Byington et al. (2005). A Cruzada contava
com um grupo inicialmente constituído por 35 voluntárias. Todos que
pudessem colaborar eram bem-vindos homens, mulheres, crianças,
estudantes, professores, autoridades, empresários, religiosos, nacionais e
estrangeiros. Aos poucos a Cruzada foi desenvolvendo e implantando
programas. Em 1931 iniciou uma parceria com o Governo do Estado, com a
prefeitura de São Paulo e convidou profissionais de renome para prestarem
serviços na entidade. A Cruzada também implantou no Brasil a comemoração
da Semana da Criança, dando ênfase ao dia 12 de outubro como o Dia da
Criança. Durante os primeiros anos de atuação da Cruzada, houve um esforço
nacional para que a semana da criança fosse adotada por todos os Estados
brasileiros. Nessa semana diversas comemorações marcavam a luta pela
proteção à infância, dedicando-se cada dia da semana para uma área
específica.
27
A atuação da Cruzada incluía a preocupação com a educação sanitária
das classes altas e das classes populares. Conforme descreve Byington, et al
(2005) em O gesto que salva:
A educação sanitária tinha dois tipos de público-alvo: as camadas
menos favorecidas, que utilizavam os vários serviços da cruzada, e as
classes médias e elites. As visitas domiciliares e as palestras
destinavam-se ao primeiro grupo; a revista Infância, publicada entre
1935 e 1938, bem como os cursos de puericultura, oferecidos na
Semana da Criança, eram voltados, sobretudo, ao último (p. 74).
Dessa maneira, podemos ter uma idéia de quão vasta pretendia ser a
atuação da Cruzada, e de fato em suas primeiras décadas ela teve grande
visibilidade na cidade de São Paulo nas áreas de assistência à criança e à
mãe.
Durante a década de 1930 o esforço da Cruzada em atender as
mulheres trabalhadoras e seus filhos foi bastante grande. Durante a revolução
de 1932 foram instituídos 18 centros de assistência, mas ao término da
revolução foram mantidos os centros de Pinheiros, Brooklin, Barra Funda e
Brás-Moóca, sendo estes últimos bairros operários da cidade de São Paulo,
segundo Byington et al., (2005). Taverna (2003) afirma que o processo de
urbanização ocasionou a formação dos bairros de operários como, por
exemplo, Brás, Moóca, Bom Retiro e Ipiranga. Nestes bairros surgiram também
os cortiços. Ao abordar o aspecto da psicologia escolar nas creches municipais
de São Paulo, essa autora também nos dá um panorama da cidade de São
Paulo na década de 1930. Taverna (2003, p. 14) conclui quefoi no contexto do
movimento de 1930, que novas exigências voltadas à educação, à saúde e à
cultura foram impostas ao país e com elas a preocupação das elites para com
a educação dos filhos dos operários”. Neste ambiente a Cruzada Pró-Infância
surgiu e difundiu seu trabalho entre as famílias operárias, contando com a
colaboração da classe alta paulistana, que era instruída por meio da revista
Infância. Essa revista tratava dos assuntos relacionados à saúde, educação e
psicologia da criança, era destinada às classes altas, e era também um dos
28
instrumentos utilizados pela Cruzada na difusão dos conhecimentos científicos.
Por meio dos textos publicados na revista, a Cruzada pretendia educar os
“pobres” através dos conhecimentos dos “ricos”.
3. EDUCAÇÃO, PSICOLOGIA E IDEOLOGIA DA INFÂNCIA
As transformações sociais e políticas ocorridas na década de 1930
também afetaram a educação, a qual, como veremos, influenciou a psicologia,
que por sua vez também foi utilizada como ideologia, pois tratava de atitudes
consideradas modelos de comportamento adequado no trato com a infância.
Nas décadas iniciais do século XX a quantidade de escolas ainda não
era suficiente para a educação de toda a população brasileira, embora desde a
Independência do Brasil e a chegada da família real portuguesa em 1808
29
tenham acontecido modificações na educação pública brasileira. Mas foi,
entretanto, a preocupação com o elevado número de analfabetos que
ocasionou a reforma educacional paulista na década de 1920. Tal movimento
propunha a oferta do ensino primário em dois anos como forma de
democratizar o acesso à educação. Outras reformas educacionais também
tiveram este objetivo em diversos estados brasileiros. Multas e penas
buscavam garantir a implementação da obrigatoriedade do ensino. Como
vimos os esforços para a propagação da educação foram variados. “A reforma
paulista de 1920 representa um exemplo singular nesse esforço para dar
instrução primária a todos, de acordo com a pregação nacionalista da época
(Nagle, 1974, p. 207).
Em 1932, o Manifesto dos Pioneiros pelo movimento da Escola Nova,
liderado por Fernando de Azevedo
2
e Afrânio Peixoto
3
, apresentou-se como
resposta ao declínio da educação ocasionado pela reforma de 1920. O
manifesto que tinha como objetivo a democratização do ensino e propunha
uma revolução na educação brasileira, conforme encontramos: “na hierarquia
dos problemas nacionais, nenhum sobreleva em importância e gravidade ao da
educação”.
4
A preocupação com a proteção e assistência à infância alavancou
o crescimento da rede educacional oficial e particular, aumentando assim a
quantidade de crianças matriculadas nos grupos escolares. Todavia, segundo
Souza (1998), era perceptível o favorecimento de determinados grupos sociais.
2
Fernando de Azevedo (1894-1974), bacharel em Direito, iniciou sua carreira como jornalista
em O Estado de São Paulo. Desenvolveu a primeira e vasta pesquisa sobre a situação da
educação em São Paulo. Foi integrante do movimento reformador da educação pública, na
década de 20, que ganhou o país e foi impulsionado pela Associação Brasileira de Educação,
fundada em 1924. Entre 1927 e 1930, promoveu ampla reforma educacional no Rio de Janeiro,
capital da República, animada pela proposta de extensão do ensino a todas as crianças em
idade escolar; articulação de todos os níveis e modalidades de ensino: primário, técnico
profissional e normal; e adaptação da escola ao meio-urbano, rural e marítimo.
3
Julio Afrânio Peixoto (1876-1947), formou-se em medicina pela Universidade da Bahia,
considerado como o fundador da Psicologia forense no Brasil. Atuou nas mais diversas áreas,
foi médico legista, político, professor, crítico, ensaísta, romancista, historiador literário,
acadêmico, polemista. Foi eleito para a Academia Brasileira de Letras na cadeira de Euclides
da Cunha. No Rio de Janeiro, foi inspetor de Saúde Pública (1902). Diretor do Hospital
Nacional de Alienados (1904). Após concurso, foi nomeado professor de Medicina Legal da
Faculdade de Medicina do Rio de Janeiro (1907) e assumiu os cargos de professor
extraordinário da Faculdade de Medicina (1911); diretor da Escola Normal do Rio de Janeiro
(1915); diretor da Instrução Pública do Distrito Federal (1916); deputado federal pela Bahia
(1924-1930); professor de História da Educação do Instituto de Educação do Rio de Janeiro
(1932). No magistério, chegou a reitor da Universidade do Distrito Federal, em 1935. (Fonte:
http://www.polbr.med.br/arquivo/wal0802.htm, adaptado pela autora).
4
Manifesto dos Pioneiros, a Escola Nova, 1934.
30
Com o aumento das escolas primárias, cresceram também a quantidade de
escolas normais destinadas à formação de professores. Esse aumento de
escolas normais colaborou para que a psicologia ganhasse importância,
principalmente em virtude dos laboratórios de psicologia anexos às escolas,
que atuavam na elaboração de testes psicológicos para medir as mais
diferentes características.
Nas décadas de 1920 e 1930, a psicologia se fortaleceu, sobretudo na
educação e na medicina. Antunes (2005) afirma que a medicina foi um
importante substrato para o desenvolvimento da psicologia no Brasil no início
do século XX. Um exemplo disso foi a criação dos laboratórios de psicologia
nos hospícios e nas escolas normais.
As escolas e os laboratórios de psicologia ligados a elas também foram
fundamentais para o desenvolvimento da psicologia no Brasil nas décadas
iniciais do século XX. Segundo Antunes (2005), foi por intermédio da educação
que “grande parte dos conhecimentos produzidos na Europa e nos Estados
Unidos chegaram ao Brasil” (Antunes, 2005, p. 83). A educação e a pedagogia
buscaram a contribuição da psicologia e, dessa maneira, houve a implantação
dos institutos de psicologia aplicada em várias Escolas Normais que
produziram diversos materiais e estudos a par do que se realizava nos grandes
centros culturais do mundo, segundo Antunes (2005).
Houve, para isso, grandes investimentos, como pode ser constatado
em Minas Gerais, Rio de Janeiro e São Paulo, em que laboratórios
foram montados, cursos foram organizados e eminentes psicólogos da
época para cá vieram ministrá-los e contribuir com a criação de
condições para que aqui também houvesse possibilidade de produção
de pesquisa e, sobretudo, ampliação do raio de ação da Psicologia.
(Antunes, 2005, p. 84)
O relato acima ajuda a compreender como a psicologia difundiu-se no
Brasil. Percebemos assim que a Cruzada Pró-Infância utilizou as mais
modernas técnicas de educação, psicologia e saúde pública para combater a
mortalidade infantil e colaborar com a educação das crianças. Antunes (2005)
31
afirma que são várias as relações entre o movimento da escola nova citado
anteriormente e a psicologia, que deveria subsidiar as transformações da
escola: “As relações professor e aluno, o processo de ensino-aprendizagem, a
modernização metodológica, a organização das classes, o conhecimento e o
respeito ao desenvolvimento da criança, enfim, deveria a Psicologia, tornar-se
o mais importante braço científico e técnico da nova concepção de Educação”
(Antunes, 2005, p. 84).
A popularização do ensino, mencionada anteriormente, favoreceu a
educação em massa, na qual a crítica e o esclarecimento foram
gradativamente enfraquecidos à medida que a ideologia se difundiu.
Horkheimer e Adorno (1973) a definem como falsa consciência, afirmando que
ela é socialmente condicionada e “cientificamente adaptada à sociedade. Essa
adaptação realiza-se mediante os produtos da indústria cultural, como o
cinema, revistas, os jornais ilustrados...” (Horkheimer e Adorno, 1973, p. 201).
Ambos concordam com o efeito de dominação que a ideologia provoca.
Exercendo a ideologia um domínio sobre aqueles que não detém o poder, as
idéias expressadas em sala de aula, publicações e outros meios de
comunicação refletem a opinião daqueles que escreveram e/ou foram
responsáveis por aqueles materiais, dominando de certa maneira aqueles que
são sujeitados a esses materiais. Quanto à opinião daqueles que detêm o
poder, eles afirmam: “Se é certo que a opinião é soberana, ela só o é em última
instância, no reino dos poderosos, que fazem e governam a opinião”
(Horkheimer e Adorno, 1973, p. 186). E aqueles que governam e detêm o
poder em geral freqüentaram boas escolas e foram formados de acordo com a
ideologia vigente na época.
A classe alta teve em toda a história da educação um ensino
diferenciado das classes populares, quer fosse nas escolas, nas igrejas ou nas
próprias residências. Quando houve a formalização da educação, as famílias
ricas, apesar de seguirem os sistemas formais de ensino, iniciaram uma
diferenciação de escolas de acordo com a classe social. Partiram da premissa
de que para haver uma boa educação é necessário separar aqueles que
sabem mais dos que sabem menos, para que os primeiros possam transmitir
seus conhecimentos do mundo, da ciência e da sociedade para as classes
32
populares. Assim, em um ato de doação e engajamento social, a ideologia
continua a seguir seu caminho.
A aparência irrevogável de conhecimento pelo conhecimento em si e
sua aspiração à verdade estão impregnadas de sentido crítico. Não só
a autonomia mas a própria condição dos produtos espirituais de se
tornarem autônomos são pensadas, com o nome de “Ideologia”, em
uníssono com o movimento histórico real da Tc tssa40661 Tc 0.473aTw ( ) Tje5si3.25 TD /ecm.a33o dos p4oa
33
criando para realizar tanto a criança que esta sociedade requer, quanto a
sociedade pedida por esse homem novo” (Oliveira, 1989, p. 74). E é nesse
sentido que pensamos que a Cruzada Pró-Infância colaborou na difusão de
uma nova maneira de pensar e se relacionar com a criança, difundindo assim a
ideologia da infância e da criança ideal. Com o passar do tempo, “a infância
ganhou um estatuto que extrapola o dado da maturação e alcança uma
expressão social na natureza de ‘cidadania’, isto é, a infância é percebida não
só pelo estágio biológico, mas pela participação efetiva da criança na cultura
socialmente posta para a criança” (Oliveira, 1989, p. 118).
Concluindo, a ideologia é justificação nas palavras de Horkheimer e
Adorno. Justificação de dominação e pode ser utilizado como já vimos, pelos
meios de comunicação, mas também pelo conhecimento científico e que traz
em si toda a autoridade da ciência.
4. METODOLOGIA
4.1 OBJETIVO
Analisar a revista Infância para reconhecer a noção de infância nela
presente.
4.2 HIPÓTESE
A noção de infância era fundamentada na educação e na psicologia.
4.3 MÉTODO
Material: revista Infância, publicada pela Cruzada Pró-Infância na cidade de
São Paulo entre os anos de 1935 e 1937. A revista podia ser adquirida em
bancas de jornal ou mediante assinatura anual. Seu formato era de 26,5cm x
20cm, as capas eram coloridas, e os textos, fotos, figuras e propagandas eram
34
em preto e branco. Foi idealizada para ser uma publicação mensal, porém a
periodicidade era irregular. Circulou durante três anos (1935-1937), nos quais
foram publicados 18 números. Os números 3, 5 e 6 não foram localizados. Não
se sabe o motivo da cessação da publicação da revista. O público-alvo eram as
famílias de classe alta.
Procedimento: é feita a descrição, classificação e análise dos textos publicados
na revista Infância. Iniciamos com uma descrição da revista em geral; a seguir,
os textos são classificados de acordo com o destinatário (educadores, pais, pai,
mãe e criança); em seguida, indicamos quem foram os autores do material
publicado. Também é feito o levantamento das imagens ilustrativas da revista
e, finalmente, um levantamento das propagandas veiculadas. Depois das
classificações e análises dos conteúdos, procuramos reconhecer a noção de
infância presente na revista como um todo, isto é, nos textos, imagens e
propagandas.
5. RESULTADOS
Destinada aos pais e educadores da década de 1930, a revista tinha
como objetivo difundir as idéias científicas entre a maior quantidade possível de
leitores, conforme consta no texto “Infância” no início do primeiro exemplar:
“‘Infância’ vem focalizar a vida e os problemas da criança. A novel revista
procurará collaborar com os paes e educadores, contribuindo assim para que,
num porvir bem próximo, nos orgulhemos de possuir um povo mais sadio e
culto. (...) Conseguir multiplicar o número de leitores, levando a todos os
rincões a palavra do scientista, eis nosso objetivo”
5
(Infância, Ano 1, nº 1, p. 2).
O quadro abaixo demonstra cronologicamente todos os números publicados
pela revista.
5
Os trechos retirados da revista mantêm a grafia original, por vezes diferente da atual.
35
Quadro 1. Edições da revista Infância
Nº. Mês Ano
1 Março 1935
2 Abril 1935
3 --------- 1935*
4 Agosto 1935
5 ---------- 1935*
6 ---------- 1935*
7 Dezembro 1935
8 Fevereiro 1936
9 Abril 1936
10 Julho 1936
11 Outubro 1936
12 Dezembro 1936
13 Fevereiro 1937
14 Abril 1937
15 Junho 1937
16 Julho 1937
17 Agosto 1937
18 Novembro 1937
Nota: (*) indica edições que não foram localizados.
Fonte: Quadro elaborado pela autora com base nas revistas disponíveis entre 1935 e 1937.
Percebemos nos textos da revista Infância que também fazia parte de
seus
objetivos capacitar as famílias pobres para a tarefa de assistir e educar as
crianças. Porém, a transmissão do conhecimento se daria através dos leitores
da revista, principalmente aqueles pertencentes à classe alta. Nela
encontramos hábitos e costumes da classe alta, como, por exemplo, os
métodos de educação, os padrões de saúde e a prevenção de doenças que
eram claramente tidos como os melhores e aqueles que deveriam ser
seguidos. As crianças deveriam ser moldadas para garantir o futuro promissor
do país.
Apesar de a revista ter sido dedicada aos pais (pai e mãe), grande parte
dos artigos era destinada às mães, sendo o pai em alguns momentos
incentivando a participar dessa tarefa, apesar de a publicação dirigir-se poucas
36
vezes diretamente a ele, como veremos detalhadamente. Uma confirmação da
classe alvo da revista é a mensagem de abertura do primeiro exemplar, escrita
por Guilherme de Almeida
6
e denominada “Infância”. De certa maneira, esse
texto apresenta a idéia de criança e de infância que a revista defenderá ao
longo de sua publicação: “... onde cantam os chocalhos de prata e marfim; ou
cochilam os ursos mollengos e commodos de pellucia; ou ”posa“, muito
enfatuada, olhando com coragem a luz forte, a boneca de feltro de Lency
(Infância, Ano 1, nº 1, p. 1). Que criança na década de 1930 tinha chocalhos de
prata e ursos de pelúcia? A criança que pertencia à classe alta, principalmente
da sociedade paulistana. Assim, por meio dessas expressões verificamos que
a noção de infância presente na revista reflete as condições do público-alvo
daquela classe.
Conhecendo o público-alvo e os objetivos da revista, passaremos a
descrever cada um dos três anos da publicação. Para tal apresentação
utilizamos nas tabelas abaixo a freqüência e a proporção dos assuntos
tratados.
A tabela a seguir ilustra os destinatários dos conteúdos dos 15 números
37
Ano
Conteúdo Freqüência Proporção Freqüência Proporção Freqüência Proporção
Pais 17* 0,24 28* 0,34 34* 0,39 79 0,33
Mãe 32 0,44 24 0,29 29 0,34 85 0,35
Pai 2 0,03 1 0,01 0 0 3 0,01
Educador
14 0,19 13 0,16 18 0,21 45 0,19
Criança 7 0,1 7 0,08 0 0 14 0,06
Leitor em Geral 10 0,12 5 0,06 15 0,06
Total 72 1 83 1 86 1 241 1
Total Proporção
Nota: Os textos marcados com (*) foram considerados em duas categorias, por isso o total não é a
soma dos textos publicados.
Fonte: Elaborada com base nas informações da revista Infância entre 1935-1937
1935 1936 1937
Tabela 1.
Destinatários dos conteúdos da revista Infância nos anos de 1935-1937
Pela tabela acima constatamos que a quantidade de textos destinada às
mães é a mais alta na soma de todos os anos, porém somente no primeiro ano
representa o maior número de textos 32 (0,44). No segundo ano são 24
(0,29) e no terceiro 29 textos (0,34). Nota-se, entretanto, que no segundo e no
terceiro ano de publicação a quantidade de textos destinada aos pais (pai e
mãe) é de 28 (0,34) e 34 (0,39), respectivamente, tendo os mais altos índices
de textos. Porém, na soma geral, como verificamos, o número de textos para
os pais é o segundo mais alto.
Aos pais (homens) foram dedicados somente três textos (0,012) durante
os três anos de publicação, a menor quantidade no período. Destes, dois (0,03)
foram publicados no primeiro ano e o texto restante (0,01) foi publicado no
segundo ano.
Aos educadores foram destinados 45 textos (0,186), sendo 14 (0,19) no
primeiro ano, 13 (0,16) no segundo e no terceiro ano chegou-se a um total de
18 textos (0,21).
Às crianças foram dedicados sete textos (0,01) no primeiro ano e sete
(0,08) no segundo. No entanto, no terceiro ano não foi destinado nenhum texto
ou jogo para esse público, totalizando 14 materiais (0,058) textos e jogos
especialmente para as crianças.
38
Notamos que houve uma significativa mudança no perfil dos textos
publicados na revista Infância, principalmente em relação ao público infantil,
que não foi contemplado no terceiro ano da revista.
No segundo e no terceiro ano da revista foram localizados textos que
não se encaixaram nos grupos acima descritos e assim foram classificados
como para os leitores em geral. Tais textos podem ser dedicados a pais, mães,
educadores e interessados na educação infantil.
Diante dos dados apresentados, confirmamos que o principal
destinatário da revista eram respectivamente as mães, os pais (pai e mãe) e os
educadores, como descritos no texto de lançamento da revista. Tal resultado é
esperado para a sociedade da época e público alvo da revista, na qual as mães
da classe alta, eram as principais responsáveis pelos cuidados e educação das
crianças. Cabe ressaltar, no entanto, que a quantidade de textos destinados a
ambos os pais é a segunda maior, apesar de haver poucos textos destinados
somente ao pai. Isso demonstra algumas idéias de vanguarda para a
sociedade da época, como incluir o pai na tarefa de educação dos filhos.
As mães da classe alta, que em sua maioria não trabalhavam, eram
incentivadas pela Cruzada a participar das ações de divulgação da educação e
saúde entre as comunidades de classes baixas, que eram o principal público
das atividades da entidade.
Outro aspecto a ser observado na revista são as propagandas nela
presentes. Em geral são propagandas de produtos como geladeira, carro,
seguro, banco, alimentos e medicamentos, como se pode observar na tabela
em anexo. Tais propagandas confirmam que os leitores da revista pertenciam à
39
classe alta paulistana, tendo em vista que até hoje esses produtos não podem
ser adquiridos por boa parte da população brasileira.
Podemos notar que alguns produtos foram anunciados na maior parte
dos números. O Dr. Zuinglio Themudo Lessa
7
, um médico, anunciou os seus
serviços em onze, dos dezoito números analisados. Provavelmente os
anúncios faziam parte de um amplo acordo entre a Cruzada e seus
anunciantes, para que não só fossem colaboradores da revista, mas também
da organização como um todo.
Notamos que a composição da revista Infância teve características
semelhantes em diversos números e algumas diferenças marcantes. A partir de
agora passaremos a analisar alguns aspectos da revista. O primeiro deles será
quanto à identificação dos autores de cada texto. Pode-se perceber pela tabela
a seguir que no primeiro ano da revista a maioria dos textos não foi assinada.
No entanto, já no segundo ano de publicação, apesar do decréscimo do
número de textos por número da revista, houve uma inversão quando à
assinatura dos textos, porque durante aquele ano a maioria dos textos foi
assinada. No terceiro ano, mesmo havendo um decréscimo em relação ao
7
Zuinglio Themudo Lessa (1909-1995). Nasceu em São Luis do Maranhão, filho de Vicente do
Rego Lessa e Henriqueta Themudo. Cresceu vi ajando, devido ao trabalho missionário do pai,
pastor presbiteriano, a quem acompanhou em algumas viagens. Formou-se em medicina pela
Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo. Em 1932, alistou-se como médico
voluntário para a Revolução Constitucionalista. No dia 25 de junho de 1935, casou-se com
Nilze Ferreira Themudo Lessa, com quem teve três filhos. Dedicou-se ao exercício da profissão
tendo ocupado importantes cargos. Durante mais de 30 anos trabalhou no Hospital das
Clínicas de São Paulo, chegando a chefe do Departamento de Radioterapia. Trabalhou por
mais de 20 anos no Departamento de Radioterapia do Instituto Doutor Arnaldo Vieira de
Carvalho, na Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, onde também chegou a ocupar o
cargo de chefe do Departamento de Radioterapia. Na segunda Guerra Mundial foi convocado
para trabalhar no Hospital da Base Aérea do Campo de Marte. Chefiou o Departamento de
Radioterapia do hospital Modelo, ao mesmo tempo em que trabalhava como funcionário
público Estadual, no Setor de Radioterapia do INAMPS. No final da década de 30, foi o
primeiro médico da cidade de São Paulo a possuir em seu consultório particular um aparelho
de radioterapia importado dos Estados Unidos. Em 1989, aos 80 anos, aposentou-se do
Hospital das Clínicas, continuando a trabalhar no INAMPS por mais 3 anos.
40
segundo ano nos textos assinados, eles continuaram sendo a maioria, dando
maior credibilidade às idéias difundidas pela Cruzada.
Tabela 4. Autoria dos textos por ano
Ano
1935 1936 1937
Artigos Freqüência
Proporção
Freqüência
Proporção
Freqüência
Proporção
Não Assinados 48 0,62 27 0,37 36 0,43
Assinados 30 0,38 45 0,63 47 0,57
Total 78 1,00 72 1,00 83 1,00
Fonte: Elaborada pela autora
Além de dar credibilidade às idéias e aos textos publicados, a
identificação dos autores também pode ser um indicador de que a revista foi
adquirindo credibilidade entre os profissionais de saúde da época, ou ainda que
os autores se identificavam com os objetivos e idéias difundidos pela Cruzada.
Outro fator importante diz respeito à publicidade encontrada na revista.
Quanto a isso percebe-se que houve um aumento na quantidade de
propagandas veiculadas na revista, principalmente no terceiro ano. Outra
característica é que em geral as propagandas são dos mesmos produtos,
conforme pode ser notado numa tabela no final deste trabalho (Anexos 1 a 3).
A tabela abaixo demonstra a presença da publicidade em cada número da
revista referente a cada ano de publicação. Nela também incluímos a média
anual de anúncios.
Tabela 5. Presença de Publicidade por ano da revista
Ano 1935 1936 1937
Freqüência
Proporção Freqüência Proporção Freqüência
Proporção
Média 16,2 0,25 15,6 0,20 22,3 0,16
Desvio Padrão 8,27 2,07 5,08
Total 65 1,00 78 1,00 134 1,00
Fonte: Elaborada pela autora com base nas revistas publicadas entre 1935-1937
41
Notamos por meio da tabela acima que a publicidade tinha um espaço
razoável na revista e provavelmente era uma das maneiras de garantir lucro,
divulgar a Cruzada e manter a revista. Também é interessante notar que no
último ano de publicação da revista houve um aumento na quantidade de
produtos anunciados, e mesmo assim a revista saiu de circulação.
Passaremos agora à análise do conteúdo dos textos publicados na
revista, que será dividida em quatro partes de acordo com os seguintes
assuntos: Saúde e Higiene, Educação, Aspectos Psicológicos do
Desenvolvimento e Material para Crianças. Essa separação em assuntos
também é importante na medida em que sabemos que a psicologia estava
associada a ciências como educação e biologia (aqui tratadas como saúde e
higiene). Esta análise constitui-se num importante aspecto do conhecimento da
noção de infância presente nessa publicação, tendo em vista que ela será a
nossa principal fonte de informações.
Para cada assunto analisado, existem textos de todos os anos da
revista. Antes, porém, faremos uma análise da apresentação da revista em
seu primeiro número, tendo em vista que é nesse texto que encontramos a
declaração dos objetivos e do público-alvo da revista. A seguir abordaremos os
assuntos mencionados acima.
A apresentação dos objetivos da revista, já apresentada anteriormente, e
transcrita novamente a seguir, nos deixa bem informados a respeito da mesma
e nos dá indícios dos temas a serem nela tratados. Vejamos:
“‘Infancia’ vem focalizar a vida e os problemas da criança. A novel
revista procurará collaborar com os paes e educadores, contribuindo assim
42
para que, num porvir bem próximo, nos orgulhemos de possuir um povo mais
sadio e mais culto”.
A preocupação com o futuro educacional e cultural da nação está bem
clara nestas breves linhas de apresentação da revista, as quais se harmonizam
com a hipótese da noção de infância. Tal preocupação continua a ser
expressa na frase a seguir:
“... a Cruzada Pró-Infância lança esta revista de educação e de
princípios básicos da criança, depois de avaliados os indices da mortalidade e
morbidade infantis, do grande numero de menores delinqüentes e certificar-se
de que as causas principaes dessas desgraças são a miséria e a ingnorancia”.
Mais uma vez, percebemos aqui que a educação é uma das principais
preocupações da Cruzada e, portanto, também o será da revista.
Finalizando o texto, os editores explicam: “...esta revista não procura
auferir lucros commerciaes e sim difundir entre a população, cada vez mais, os
ensinamentos e conselhos de technicos, especialistas nos vários assumptos
que interessam a criança. Conseguir multiplicar o numero de leitores, levando a
todos os rincões a palavra do educador e do scientista, eis nosso objectivo
(Infancia, ano 1, nº 1, p. 2).
Como percebemos nessa apresentação da revista a preocupação
principal é com que a informação seja científica e ao mesmo tempo prática e
útil para a população em geral.
Outra informação interessante é que, em dois textos de apresentação do
número, a revista inclui analogias com textos bíblicos, provavelmente por
influência das crenças das fundadoras da Cruzada.
43
O texto de abertura do quarto número da revista é “A parábola do pae
pródigo”. Trata-se de uma paráfrase da parábola do filho pródigo relatada nos
evangelhos. Tal parábola coloca pai e filho em situação inversa à da parábola
bíblica. “Havia um homem que tinha dois filhos e o menor delles lhe disse:
‘Pae, dá-me uma parte do teu tempo, da tua attenção, da tua companhia, e o
conselho e a direcção que me cabem’. E o pae dividiu com elle seus bens,
pagando-lhe suas contas, mandando-o a uma boa escola de preparatórios, a
escola de dansas e à universidade, e julgou que, com isso, cumpria o seu
dever de pae. (...) Quando cahiu em si, pensou (...) Irei a meu filho e lhe direi:
‘Filho, pequei contra o céu e contra ti, já não sou digno de ser chamado teu
pae. Ai de mim! nem mesmo um de teus companheiros.’ Mas o filho respondeu:
De maneira nenhuma. (...) é tarde demais. (...) Consegui então os
conhecimentos e a companhia, mas eram ambos errados e, agora, ai de
mim! sou um desgraçado na alma e no corpo e já não há mais nada que
possas fazer por mim. É tarde demais, tarde demais!” (Infância, nº 4, p. 1).
Os extratos da parábola acima demonstram o valor atribuído à família e
também ao papel do pai e revelam alguns aspectos sobre sua participação na
educação dos filhos, tendo em vista que no período de publicação da revista a
tarefa de educação dos filhos cabia principalmente à mãe. De uma maneira
geral a revista publicava textos e opiniões com fundo moral e de valorização da
família.
O texto inicial do segundo ano (oitavo número) é o último voltado
exclusivamente ao pai. É intitulado Os dez mandamentos de um pae”.
Vejamos alguns extratos do texto:
44
“‘E a criança, falou, dizendo: Eu sou teu filho amado a quem trouxeste
ao mundo, sem consultar-me. 1) Amarás a teu filho com todo o teu coração e
não vacilarás em manifestar o teu interesse e carinho para com elle. Este, o
mandamento primeiro e primordial. 2) Não farás para ti imagem de teu negócio
(...). 3) Não tomarás em vão o nome de ‘pae’, porque Deus não terá por
inocente aquele que considere de pouca importancia as responsabilidades da
paternidade. 4) Dá atenção à parte do teu tempo que cabe ao teu filho (...). 5)
Honra tua mulher, minha mãe, porque eu, teu filho a amo ternamente (...). 6)
Aconselharás teu filho em tudo, e com ele compartilharás o segredo do teu
coração. 7) Firme serás em tua disciplina (...). 8) Terás fé e confiança em teu
filho e paciência (...) em todas as suas faltas. 9) Manterás um caminho recto
perante os homens e tuas acções (...). 10) Não te esquecerás de que foste
criança, nem tão pouco esquecerás que os tempos estão muito mudados,
desde os dias em que eras joven ” (Infancia, ano 2, nº 8, s/p.).
Percebemos nesse texto de abertura do número uma analogia com a
passagem bíblica dos Dez Mandamentos. As ordens dadas ao pai têm um teor
forte e algumas vezes ameaçador. Isso nos mostra como era importante a idéia
de que a criança deveria ser vista com seriedade e ser assunto de grande
preocupação e dedicação por parte dos pais.
Agora que já temos algumas informações sobre os conteúdos que
compõem a revista, passaremos a dividir a análise conforme descrevemos
anteriormente.
Saúde e Higiene
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Consideramos como pertencentes a esse grupo os textos que tratam de
maneira direta sobre a saúde da mãe e da criança e ainda aqueles que
pretendem didaticamente ensinar pais, mães e professores os princípios
básicos de higiene. Estes textos foram em geral escritos por médicos
sanitaristas, pediatras e educadoras sanitárias.
Percebemos que os textos refletem os objetivos da revista, já que tratam
da saúde e da educação da criança. Textos publicados no primeiro ano da
revista, como, por exemplo, “Hygiene da Criança”, “A Criança ao Ar Livre”,
“Saúde”, “O Appetite do Bebê” e “Cardápio da Criança”, tratam da saúde da
criança nos primeiros anos de vida. Dentre os textos citados acima, apenas “A
criança ao Ar Livre” e “Saúde” são assinados. Dr. Itapema Alves e Myrianto
ensinam as mães e a própria criança a terem boas práticas de saúde,
principalmente de higiene, como podemos observar na seguinte afirmação: “...
a água é o factor primordial na hygiene geral. Banho nunca é demais” (Infância,
Ano 1, nº 1, p. 9). Já para as crianças Myrianto escreve: Que quer dizer
saúde? Força para o homem, Belleza para a mulher. Força e Belleza, andam,
de mãos dadas, com a Saúde. (...) A saúde, só gosta de morar em casas bem
construídas, com paredes bem fortes, com alicerces bem firmes e resistentes”
(Infância, Ano 1, nº 1, p. 10). Finalizando o mesmo texto, Myrianto escreve:
“Crianças:
Trabalhar para ser forte, é ser bom paulista, é ser patriota.
Criança! Cumpre teu dever de bom paulista.
Sê forte!
A força de teu corpo, é uma parcella sobre a qual repousa a grandeza de
tua terra.
46
Só os fortes luctam, só os fortes vencem.
Sê um delles”. (Infância, Ano 1, nº 1, p. 9).
Notamos aqui que, além da preocupação com a saúde, a mensagem de
patriotismo e força também permeia os textos da revista. Em “O Appetite do
Bebê”, as informações são quanto ao uso da mamadeira e de como a má
higienização pode causar transtornos gastrintestinais que podem até ocasionar
a morte de crianças. Para finalizar o texto, a mensagem de “educação” também
se faz presente: “Com um bebê bem acostumado, de cinco mezes, a mamãe
pode sustentar a mamadeira com a sua mão esquerda e com a outra tomar um
livro e lê-lo tranqüilamente durante 15 minutos” (Infância, Ano 1, nº 1, p. 21).
No segundo número da revista encontram-se mais textos sobre a
higiene. O texto “Hygiene da Criança” ensina às mães e educadores como se
deve lavar a cabeça, escovar os dentes e a importância destes atos para a
saúde geral da criança. Ainda no segundo número da revista, o texto intitulado
“Puericultura 22 conselhos para o bem da criança”, escrito pelo Dr. Pedro de
Alcântara
8
, orienta os futuros pais sobre práticas de higiene e saúde para a
8
Pedro de Alcântara Marcondes Machado (1901-1979) nasceu na capital paulista. Concluiu em
1924 seu curso médico na Faculdade de Medicina e Cirurgia de São Paulo, com a tese “Ensaio
de moral sexual”, especializando-se em Higiene. Em 1927, foi aprovado em concurso e
começou a trabalhar no mesmo Ginásio em que havia estudado, onde lecionou “Instrução
Moral e Cívica”. No mesmo ano, iniciou sua carreira de pediatra como assistente voluntário no
Pavilhão Condessa Penteado, da Santa Casa de Misericórdia de São Paulo, que sediava a
Clínica Pediátrica da Faculdade de Medicina de São Paulo, onde teve a possibilidade de
conviver profissionalmente com alguns dos expoentes da medicina paulista. Em 1933
transferiu-se do Ginásio do Estado para o Instituto de Higiene, onde passou a lecionar a
cadeira “Higiene da Primeira Infância” para educadoras sanitárias. Em 1945, conseguiu
transformar esta cadeira na Cátedra de Puericultura da então Faculdade de Higiene Pública de
São Paulo. Trabalhou ainda na Escola de Enfermagem do Hospital São Paulo e na Escola de
Serviço Social de São Paulo. Realçou os vínculos existentes entre a saúde da criança e a
situação sócio-econômica da população. Dedicou-se, em sua trajetória, a estudos sobre o
tema, destacando aqueles referentes à mortalidade infantil. Neste caso, atentou para a
necessidade de registro mais fiel dos eventos, para uma avaliação mais precisa do problema.
Acerca de temas relacionados à mortalidade infantil publicou vários trabalhos, inclusive um
texto célebre intitulado “Mortalidade Infantil: causas e remédios de ordem sanitária”. Além da
medicina, dedicou sua atenção à pintura e às artes. Foi membro do Conselho Administrativo do
Museu de Arte Contemporânea de São Paulo e fez conferências e palestras em eventos
47
criança. Instruindo aqueles que desejam ser pais a procurarem orientação
médica, antes mesmo de se casarem, ele afirma: “Casar-se em boas condições
de saúde contribue, para a felicidade dos filhos, mais do que longos e penosos
annos de trabalhos e fadigas”. (Infância, Ano 1, nº 2, p. 5). Entre os 22
conselhos do Dr. Pedro Alcântara, encontramos os seguintes: não dar
medicamento à criança sem orientação médica, não carregar a criança no colo
durante os primeiros meses, vacinar a criança no primeiro ano de vida, banhá-
la diariamente, agasalhá-la conforme o clima, não deixar a criança próxima a
escadas, manter o quarto da criança muito limpo e bem ventilado, usar a
chupeta somente quando não é possível acalmar a criança, não beijar a
criança para evitar a transmissão de doenças, não obedecer aos caprichos da
criança. O texto foi concluído no número seguinte, que não foi localizado. No
entanto, tais conselhos nos dão uma boa noção dos aspectos importantes para
os médicos da época sobre a saúde da criança. Verificamos que alguns
desses conselhos podem ser encontrados ainda hoje nos manuais de
puericultura e saúde da criança.
Como já vimos os textos publicados refletem os objetivos da revista, a
propagação das idéias sobre saúde e higiene. Naquela época estes eram
motivos de grande preocupação. Os higienistas buscavam cada vez mais
difundir suas idéias e a noção de saúde pública, e a prevenção ganhava cada
vez mais espaço num país onde as condições precárias de moradia e higiene
faziam muitas vítimas, principalmente entre as crianças. Em textos como
“Hygeia”, “O problema da puericultura no Brasil”, “A tuberculose de typo
ligados a arte. (Fonte: http://www.sbp.com.br/show_item.cfm?id_categoria=74&id_detalhe
=1282&tipo=D. Adaptado pela autora)
48
infantil”, “As crianças e os adolescentes são os mais beneficiados pelos banhos
de mar”, “Sobre a alimentação mixta”, “A fructa reforça as reservas alcalinas do
nosso organismo”, “Cardápio Infantil” e “Puericultura” tratam da saúde da
criança nos primeiros anos de vida e da mãe que acabou de dar a luz. Médicos
e professores como o Dr. Edgard Braga
9
, Dr. Frederico Lewis, Dr. Guilhermo
Narvajas e Dr. Luis Morquio tratam de temas que ensinam as mães a combater
o problema da mortalidade infantil e prevenir doenças como a tuberculose e
outras doenças relacionadas à má alimentação e má higienização. “Temos
procurado instruir ás boas mães, infundir-lhe conselhos ditados pela
experiência, razão, lógica, tudo bem documentado” (Infância, Ano 2, nº 8, p. 5),
afirma o Dr. Edgard Braga, colaborador assíduo da revista. Já o Dr. Frederico
Lewis encerra seu texto sobre a tuberculose da seguinte maneira: “E digamos,
para terminar, que jamais se deverá allegar ignorância em assumptos de tal
ordem, pois tal ignorancia é intolerável quando se trata de uma molestia tão
grave como a tuberculose pulmonar” (Infância, Ano 2, nº 8, p. 8).
No nono número da revista encontramos outros textos sobre saúde e
higiene. O texto “O crescimento dos ossos longos e deduções úteis em
educação physica” aconselha pais e educadores sobre como é importante
9
Dr. Edgard Braga (18971985) foi colaborador em todos os números da revista Infância.
Nasceu em Maceió, Alagoas, e radicou-se, ainda muito jovem, em São Paulo, onde exerceu,
com grande sucesso, a profissão de médico obstetra. Desde cedo se dedicou à poesia,
marcada, em seu início, por forte influência parnaso-simbolista. Teve a oportunidade de privar
com Oswald de Andrade, entre outros tantos poetas que se tornaram célebres. Mas a sua obra
se transformou depois de seu contato com os poetas concretistas muito mais jovens do que
ele, na década de 60, a partir de quando se dedicou às experimentações reunidas em seus
livros: Soma (1963), Algo (1971), Tatuagens (1976), Murograma (1982) e especialmente
Desbragada (1984), que abriga praticamente toda a sua obra elaborada sob o signo da
experimentação. Descobriu um caminho bem próprio, marcado pela tônica do caligráfico-
gestual. Tornou-se vanguarda. (Fonte:
http://www.ociocriativo.com.br/poesiadigital/mostra/homenagens.htm, adaptado pela autora)
49
estar atento aos exercícios e à postura adotada pelas crianças e como isso
pode afetar a sua saúde geral. No mesmo número, o Dr. Edgard Braga, no
texto intitulado “Do leite materno”, pretende orientar as mães quanto à
importância do aleitamento materno. “O leite materno é a vida da criança e
substituil-o por outro seria cercear a defesa orgânica do pequenino ser na luta
em que se empenhará com o meio ambiente e os elementos mórbidos que o
cercam” (Infância, Ano 2, nº 9, p. 8). No texto “Cardápio Infantil” é interessante
notar que, embora não haja nenhuma propaganda na página, é recomendado o
achocolatado Nescao. “(...) Entre os preparados existentes a base de cacau
existe o Nescao que é composto de cacao, leite, assucar e farinha de cereaes
maltada. (...) O chocolate em pó Nestlé isento de gordura pode ser dado
também ás crianças.” (Infância, Ano 2, nº 9, p. 10).
Há ainda o texto “O banho de sol e a saúde das crianças”, no qual
podemos encontrar o seguinte: Os benefícios do repouso ao ar livre e a
exposição do corpo nu aos raios solares não precisam ser realçados” (Infância,
Ano 2, nº 9, p. 14). Nesse mesmo texto há informações sobre o banho de sol
nas crianças antes dos 18 meses de idade, depois dos 18 meses e depois dos
dois anos. O texto tem a seguinte mensagem final: “Depois de cada banho de
sol, a criança deverá descansar durante meia hora mais ou menos, para que a
cura produza um effeito completo” (Infância, Ano 2, nº 9, p. 26). Um aspecto
interessante dos textos é que eles iniciam em uma página e terminam em outra
onde há espaço para ser inserido o restante do texto. Este por exemplo iniciou
na página 14 e a parte final está na página 26. O texto “A puericultura e a
escola primária” foi proferido pela senhora Maria Antonieta de Castro no
encerramento de um curso sobre o assunto para alunas do quarto ano dos
50
grupos escolares. Neste discurso ela fala sobre a importância de se ensinar as
jovens solteiras sobre as tarefas da maternidade para que desde cedo elas
saibam educar as crianças e prevenir doenças. Ela informa que as seguintes
atividades fazem parte do programa do curso: observação da curva do
crescimento (...); observação da alimentação natural, artificial, desmame (...);
observação em domicílio (...); excursões educativas (...) e exposição de
trabalhos...” (Infância, Ano 2, nº 9, p. 19). Percebemos aqui que a preocupação
em formar uma nova mentalidade nas mães estava fortemente associada às
atividades da Cruzada e era um dos objetivos da revista Infância. O curso
também era composto de atividades práticas, pois tinha como objetivo que
essas senhoritas não fossem apenas educadas academicamente, mas
pudessem utilizar e saber como utilizar os conhecimentos adquiridos no curso.
Outro texto nesse mesmo número destinado à saúde intitula-se “É mistér
combater nas crianças o hábito de roer as unhas”. O texto informa aos pais e
educadores sobre os desagradáveis resultados desse hábito que pode ser
combatido. O número seguinte também traz assuntos como, por exemplo, “A
Coqueluche constitue uma seria ameaça para a infância”, “O melhor amigo da
criança”, “Ninguém deve pretender ensinar seus filhos a andar”, “A melhor
amiga da criança” e “Cardápio da Criança”, que estão voltados para o tema da
saúde. Notamos que no mesmo número são tratados “o melhor” e “a melhor”
amiga das crianças, respectivamente o médico e a água. No texto sobre o
melhor amigo encontramos o seguinte: “Não há mãe rica ou pobre que não
saiba recorrer ao médico para cuidar da enfermidade de seu filhinho. (...) Mais
intelligente do que chamar ao médico para que attenda a uma criança enferma
é ir visita-lo para que vigie a criança sã e evitar que fique doente (Infância, Ano
51
2, nº 10, p. 8). E quanto à água encontramos: “Pode dizer-se sem exaggero
que a água é, em todas as fórmas a melhor amiga da infância; a mãe deve
aprender a conhecer esta amiga e trata-la com toda a consideração e affecto
que merece” (Infância, Ano 2, nº 10, p. 15). Médicos como o Dr. Luis Splendore
e o Dr. F. Escardó são os responsáveis pelos textos nesta área.
No décimo segundo número da revista, podemos encontrar os textos
“Hygiene Infantil”, do Dr. Pedro de Alcântara; “Não enfaixem seus filhinhos”,
assinado pelo Dr. F. Pompêo do Amaral; “O dia do lactente”, pelo Dr. Luis
Splendore, e “A arte de amamentar”, pelo Dr. Edgard Braga. Todos estão
voltados para a saúde da criança. Em “Hygiene infantil” encontramos um
exemplo claro das preocupações da época: “A solução do problema da
redução da mortalidade infantil não só de atuação do sanitarista e do médico
depende. A situação econômica da população, e a posição educacional das
massas [sic]. Não é só um problema médico e sim social” (Infância, Ano 2, nº
11, p. 9). Percebemos aqui um discurso de alerta às leitoras da revista que
pertenciam à classe alta e deveriam preocupar-se com o problema social da
mortalidade infantil. Esse assunto também deveria interessar aos ricos. Nos
textos “O dia do lactente” e “A arte de amamentar”, a valorização da
alimentação pelo leite materno é o assunto principal. Naquela época iniciou-se
no Brasil a difusão dos leites preparados e muitas mães pertencentes às
classes altas deixaram de amamentar para dar as crianças os leites
industrializados.
Finalmente, no último número publicado em 1936 a revista traz assuntos
como, por exemplo, vacinação, alimentação e desvios da coluna. No texto “A
vacina e o bebê”, assinado pelo Dr. Edgard Braga, ele incentiva a vacinação e
52
explica que esta previne epidemias que podem ameaçar toda a coletividade.
No texto sobre os desvios da coluna, assinado pelo Dr. F. Pompêo do Amaral,
os pais e educadores são alertados para o problema que estes desvios podem
causar na vida da criança, afetando sua saúde como um todo.
A ênfase na prevenção de doenças e promoção da saúde está entre os
principais objetivos. Apesar dos avanços da ciência, ainda hoje muitos desses
textos caberiam na instrução de mães das classes mais baixas.
Durante o terceiro ano de publicação da revista, vimos que os textos
publicados na área de Saúde e Higiene também estavam dentro dos mesmos
padrões seguidos nos anos anteriores. Entre os textos encontramos: “A attitude
e sua relação com a saúde”, “Regimens alimentares nas anomalias
constitucionaies”, “O leite”, “Como alimentar o lactente durante a viagem”
“Vaccine-se”, “Shyphilis e proteção a infância”, “O dentista deve ser o melhor
amigo das crianças”, “O desmame”, “Traumatismos do nascimento” e “A
importância da consulta de hygiene pré-natal” são alguns dos textos que tratam
do tema no ano de 1937. Os autores desses textos são o Dr. Edgard Braga, o
Dr. F. Pompêo do Amaral e outros médicos da época. O texto do Dr. Pompêo
do Amaral, “A atitude em relação com a saúde”, dedicado aos pais e
educadores, trata da constituição muscular e a saúde. Vejamos: “A massa de
uma pessoa não corresponde, de nenhuma forma, á intensidade de seu
desenvolvimento e não é possível, por conseguinte, concluir de sua apreciação
se esse se processa convenientemente (Infância, Ano 3, nº 13, p. 7). O autor
afirma que “as doenças podem exercer influência decisiva sobre a attitude do
corpo em pé (Infância, Ano 3, nº 13, p. 9). O autor afirma que é importante
53
estar atendo à postura da criança, pois este é um detalhe de grande
importância na saúde geral da criança.
O texto “14 regras de saúde” trata de práticas de higiene diária tais como
tomar banho e alimentar-se sem excessos. Já o texto do Dr. Luiz Splendore
sobre a alimentação nas anomalias trata dos alimentos complementares da
alimentação infantil, como, por exemplo, o leitelho Eledon, Milo e biscoitos
Gelco. Embora não seja uma propaganda direta, tais produtos são anunciados
várias vezes na revista e nesse texto são recomendados pelo médico. O texto
“O leite” trata das qualidades e benefícios que o leite de vaca pode trazer,
reforçando sempre a necessidade de higienização e cuidados na conservação
do mesmo. O Dr. W. Oliveira dedicou-se a falar sobre o leite em quase todos
os números da revista nesse ano.
Já o Dr. Pompeu do Amaral explica às mães por que não se deve
colocar o bebê sentado. “A atitude sentada é uma postura sempre prejudicial
ás crianças” (Infância, Ano 3, nº 14, p. 2). O autor conclui: “E não é só nas
classes desprotegidas que taes erros se observam. Também entre os ricos há
muitos que acreditam na conveniência de fazer os filhos sentar cedo” (Infância,
Ano 2, nº 14, p. 2). Ao falar que entre os ricos tais erros também acontecem, o
autor indica que há algumas doenças que são causadas pelas condições
sociais, demonstrando aqui a ideologia de que a educação e a boa condição
financeira diminuem os riscos de doenças e de mortalidade.
“O cardápio infantil”, texto do Dr. Luiz Splendore, assim como nos
números anteriores fala de alimentos indicados às crianças. Neste texto em
especial ele trata da alimentação do lactente durante uma viagem. “Quando o
povo ficar bem sciente o que é leite em pó o problema da alimentação infantil
54
estará bem claro. Oxalá que os leitores façam a propaganda do que eu disse e
estarão prestando serviços aos que desconhecem estes princípios tão simples
mas tão necessários” (Infância, Ano 3, nº 14, p. 24). A idéia de que o leite em
pó é o alimento indicado para as crianças foi bastante difundida naquela época,
fazendo inclusive com que muitas mães deixassem de dar o leite do peito para
alimentar as crianças com este alimento industrializado. Nota-se que público-
alvo da revista são as classes ricas, pois os custos relacionados a esta
alimentação não poderiam ser bancados por todas as famílias.
Além da alimentação, a manutenção da saúde por meio da prevenção
de doenças também era importante tema da revista. Verificamos no subtítulo “A
vacina é a única maneira de evitar a varíola” uma informação seguida da
advertência: “Vaccine-se”. Nesse texto a descoberta da vacina contra varíola é
contada detalhadamente, além de recomendar aos leitores que participem da
vacinação. Outro texto no mesmo número da revista fala sobre tratamentos da
tuberculose, o que também pode ser considerado uma prevenção, seja no
combate da propagação da doença ou na prevenção de doenças derivadas da
tuberculose.
O texto do Dr. Octávio Gonzaga, que tem como título “Syphilis e
protecção a infância”, explica às mães como esta doença pode afetar o
desenvolvimento da criança e que podem ocasionar até a morte. Notamos que
ao falar sobre esta doença sexualmente transmissível os autores tratam de
temas que podem ser considerados mal vistos para as mulheres da classe alta.
Ao afirmar que “O dentista deve ser o melhor amigo das crianças”, a
Dra. Luiza Salmain aponta: Cabe aos pais, responsáveis pela saúde dos
filhos, cuidar desses dentes frágeis. (...) Conservar os dentes infantis significa
55
evitar que venham a doer” (Infância, Ano 3, nº 15, p. 18). A indicação da autora
para o bom cuidado dos dentes relaciona-se apenas com o fato que eles
poderão vir a doer, e não ao fato de que as doenças bucais podem ocasionar
outras doenças.
Outra preocupação era com a saúde das gestantes, como podemos ver
no texto do Dr. Edgard Braga, que, ao tratar dos traumatismos do nascimento,
fala sobre os perigos de um parto feito por leigos e sobre as conseqüências
que esse pode trazer à mãe e à criança. Ele, contudo, comemora as novas
técnicas e o avanço da medicina nesta área: “Felizmente, os velhos methodos
da obstetrícia o perdendo terreno em face de uma sciencia mais constructiva
e conservadora” (Infância, Ano 3, nº 16, p. 17).
Outro texto do Dr. Edgard Braga fala da importância do pré-natal,
assunto também relacionado com a saúde da gestante. “Hoje ninguém mais
duvida da importância dessas consultas de hygiene pré-natal, e aquilo que era
feito de modo empyrico sem reflexão, é, na actualidade, cumprido com carinho
um dever de patriotismo sadio e justificado” (Infância, Ano 3, nº 17, p. 9). O
autor relaciona a higiene ao patriotismo. Aliás, diversas eram as associações
ao tema por influência dos movimentos nacionalistas.
Em seu texto “Porque morre tanta criança?”, o Dr. Pedro de Alcântara
afirma que a miséria e a ignorância eram os principais causadores dessa
mortalidade, como vemos: “O problema da mortalidade infantil está, pois,
indissoluvelmente ligado ao problema da distribuição da riqueza” (Infância, Ano
3, nº 17, p. 27). Percebe-se aqui uma crítica do autor quanto à distribuição de
renda e à necessidade de combater a mortalidade infantil.
56
O último número da revista trata de convulsões infantis e afirma que
esse acontecimento é normal nas crianças até certo ponto. O texto sobre
medicina social trata da importância do trabalho do assistente social. Nele o
autor fala sobre o problema das mães solteiras e afirma que a sociedade deve
estar atenta a este problema, para, por intermédio da medicina social, ajudar
estas mães na tarefa de educar e criar tais crianças. Ressaltamos que em
todos os números existem informações nutricionais e sugestões de pratos para
as crianças, bem como algumas receitas.
Os assuntos tratados nesta seção são variados e abrangentes, algumas
vezes voltados para as mães pobres e outras vezes para ricas e pobres.
Verificamos também que a mensagem é cientificamente adaptada ao público
leigo, característica, segundo Horkheimer e Adorno, da ideologia.
Veremos no item a seguir, sobre a educação, que a transição para uma
sociedade próspera, sadia e feliz poderia ser atingida se a educação fosse
efetuada com sucesso.
Educação
Como vimos acima, entre os objetivos da revista estava a difusão da
educação. Essa difusão também se relacionava com o desejo de desenvolver o
potencial do país e de exaltar as contribuições brasileiras, possivelmente em
decorrência do movimento nacionalista iniciado na década de 1920.
Nos quatro exemplares localizados do primeiro ano de publicação da
revista encontramos os textos “A Criança que estuda”, “Livros novos”, a coluna
“A estante infantil” (presente em todos os exemplares) e “A orientação
profissional e educacional em nosso meio escolar”. Esses são os principais
57
textos, entre outros, que de alguma maneira falam sobre a educação escolar.
Observemos a seguir os textos citados.
No primeiro número da revista, no texto “A criança que estuda”, escrito
pelo professor Dr. Flamínio Fávero
10
, podemos perceber claramente a
preocupação com a educação e o futuro da nação.
Quem aprende a ler, não nos esqueçamos, cumpre um dever não só
para comsigo mesmo, empunhando a chave de ouro de um futuro feliz, mas
ainda, e principalmente para a pátria em que nasceu, pois concorre para
elevar-lhe o nivel cultural e de civilização. Feliz a nação cuja maioria dos filhos
sabem ler(Infância, 1935, nº 1, p. 5, grifo meu). No mesmo texto o professor
continua afirmando que saber ler não é o único caminho para o futuro feliz da
nação. Ele afirma: “O paiz precisa de cidadãos que saibam cumprir as suas
leis, respeitar as auctoridades, viver honestamente, num espírito de obediencia
e de ordem” (Infância, 1935, nº 1, p. 5). No primeiro número da revista, a
coluna “A estante infantil”, assinada por V. L., indica alguns livros da
Companhia Editora Nacional, principalmente os livros da Coleção Terramarear.
Ele afirma: “(...) o que mais objetivam esses livros é implantar, na criança, de
maneira definitiva, o hábito da leitura sã e instructiva, e assim julgamos
merecerem um lugar de destaque na estante de nossos filhos” (Infância, 1935,
nº 1, p. 24). Já no segundo número são recomendados os livros História do
Brasil para Crianças, Emília no Paiz da Grammatica, João Peralta e Pé de
Moleque no Paiz das Formigas, Viagens de João Peralta e de Pé de Moleque e
História Maravilhosa da Arca de Noé, todos eles escritos por autores brasileiros
10
Flamínio Fávero (1895-1982) foi um médico, diretor da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo e professor do Mackezie College. (Fonte:
http://pt.wikipedia.org/wiki/Flam%C3%ADnio_F%C3%A1vero. Adaptado pela autora)
58
(Viriato Corrêa, Monteiro Lobato, Menotti Del Picchia
11
, F. Acquarone). É
interessante ressaltar essa valorização da pátria e de autores brasileiros, tema
bastante presente no segundo número, tendo em vista que a fundadora da
Cruzada Pró-Infância e diretora geral da organização não era de origem
brasileira. É provável que essa valorização seja fruto do movimento
nacionalista emergente na década anterior. No quarto número da revista, a
coluna “A estante infantil” recomenda os livros: As reinações de Narizinho,
Alice no Paiz das Maravilhas, Viagem ao Céu, Aventuras de Hans Staden,
Alice no Paiz do Espelho, As caçadas de Pedrinho, História do Mundo para
Crianças. Esses livros foram escritos por Monteiro Lobato, Lewis Carrol e Hans
Staden. Notamos nesse número a introdução de autores estrangeiros,
igualmente recomendados pelo autor. Finalmente, no último número publicado
em 1935, “A estante infantil”, assinada por V. Lessa Júnior, indica mais três
livros de Monteiro Lobato publicados pela Companhia Editora Nacional: A
Aritmética da Emília, A Geographia de D. Benta e História das Invenções.
Lessa declara que tais livros são muito importantes para o ensino de disciplinas
tradicionais, afirmando: “Nesta época em que a pedagogia attingiu a um grau
11
Paulo Menotti del Picchia (1892-1961) nasceu em São Paulo. Fez seus estudos secundários
em Pouso Alegre, Minhas Gerais, onde aos 13 anos de idade, editou o jornalzinho "Mandu",
nele inserindo suas primeiras produções literárias. Viveu em Itapira, cidade do interior paulista,
e aí publicou "Juca Mulato", sua obra de maior repercussão, que já teve dezenas de edições. É
autor de romances, contos e crônicas, de novelas e ensaios, de peças de teatro, de estudos
políticos e de obras da literatura infantil. Fundou jornais e revistas, foi fazendeiro, procurador
geral do Estado de São Paulo, editor, diretor de banco e industrial. Fez pintura e escultura. Foi
deputado estadual e federal. Foi tabelião e ocupou diversos e altos cargos administrativos.
Pertenceu às Academias Paulista e Brasileira de Letras. Teve destacada atuação no
movimento modernista. Foi aguerrido defensor da doutrinação "Verde e Amarelo", opondo-se
ao Oswald de Andrade de "Pau Brasil" e "Antropofagia". Defendeu também os ideais do "Grupo
da Anta", que superavam os propósitos verde-amarelistas. Participou da Semana de Arte
Moderna, sendo mesmo o seu orador oficial, e apresentando, na festividade, os poetas e
prosadores que exibiam, então, as produções da literatura nova. Suas crônicas no "Correio
Paulistano", de 1920 a 1930, como que constituem um "diário do modernismo", registrando,
quase que quotidianamente, os entusiasmos, as raivas, as lutas e as desavenças da sua
geração. (Fonte: http://www.revista.agulha.nom.br/mpicchia.html. Adaptado pela autora)
59
de evolução tão elevado, já não se admitte que a criança só aprenda nos
compêndios áridos e pesados” (Infância, 1935, nº 7, p. 16).
Como dissemos anteriormente, há uma exaltação dos autores brasileiros
no segundo número da revista, expressa a partir da apresentação desse
número, que tem como título “Narizinho”. O texto citado faz uma comparação
do conto italiano de Pinocchio e Narizinho, personagem de Monteiro Lobato.
Verifica-se a valorização do Brasil na seguinte frase: “Ora, ‘Pinocchio’ pode ser
muito interessante, muito engraçado, muito arteiro, mas não é filho de nossa
terra. (...) Eu que já sou grandão, meus camaradinhas, muitas vezes me
surpreendo com o livro do mestre dos ‘Urupês’ nas mãos e sigo (...). Vocês
meus camaradinhas, amem e respeitem os grandes artistas” (Infância, 1935, nº
2, p. 1, grifo meu).
O texto de Juventina Santanna, “A orientação profissional e
educacional", presente no sétimo número da revista, o último do primeiro ano
de publicação, relata a experiência do Laboratório de Psicologia do Instituto de
Educação. Não analisamos detalhadamente esse texto porque só a segunda
parte foi encontrada, já que a primeira parte foi publicada em número anterior
não localizado.
Durante o ano de 1936 foram publicados cinco números da revista. Em
todos eles podemos encontrar textos dedicados à educação da criança. “A
estante infantil”, “Passado, presente e futuro da criança brasileira”, “Atividades
educativas para as crianças no lar” e “Porque não conservar uma história para
seu filhinho”, são os principais textos relacionados ao assunto. Vejamos a
seguir extratos dos textos citados.
60
A coluna “A estante infantil”, presente em todos os números localizados
do primeiro ano de publicação da revista, continua nos números 8, 9 e 10,
publicados em 1937. A coluna presente no oitavo número tem como subtítulo
“Aprendendo a cultivar o amor á pátria” e foi escrita por Vicente Lessa Junior.
Nessa coluna ele afirma: “Ao proporcionar a nossos filhos os elementos com
que irão formar o habito sadio da leitura, não nos devemos esquecer de incluir
entre os mesmo uma dóse apreciável de material que os oriente para o cultivo
da historia pátria” (Infância, Ano 2, nº 8, p.27). Aspecto também valorizado,
como no ano anterior, é o sentimento de patriotismo bastante forte na época.
No número seguinte (nono), o autor Vicente Lessa fala aos pais e educadores
sobre a formação do hábito da leitura nas crianças. Vejamos: “Cumpre aos
paes intelligentes estimula-lo, procurando elogiar-lhe o bom gosto ...” (Infância,
Ano 2, nº 10, p. 15).
No texto escrito pelo Dr. Edgard Braga, ele faz um apanhado geral da
situação da infância em diversas áreas medicina, educação, psicologia e
direitos das crianças, área bastante nova. Ele cita a Convenção de Genebra e
conclui o artigo assim: “...o futuro da criança brasileira será promissor e com
isso lucrará a nossa grande pátria, que viverá dias eternos no conceito do
mundo e no coração dos homens de boa vontade”. (Infância, Ano 2, nº 10, p.
4). Ao escrever para a mesma coluna, Elvira Nizinska da Silva fala do problema
da literatura infantil e cita pesquisas realizadas em diversos países. Para
finalizar o texto, ela afirma: “A literatura infantil não pode ser vista assim, como,
material de distracção ou de entretenimentos, apenas. É um instrumento capaz
de exercer ação profundamente educativa e, como tal, deve ser encarada
(Infância, Ano 2, nº 10, p. 28).
61
O texto “Actividades educativas para a criança no lar”, incluído nos
números 10 e 11, ensina os pais sobre a educação de seus filhos. Não
somente a educação para ler e escrever, mas para a vida. Vejamos: A
educação da creança começa muito antes de seu ingresso na escola, pois
durante os seus primeiros annos aprende mais em menos tempo que em
qualquer outro período de sua vida” (Infância, Ano 2, nº 10, p. 29). No número
seguinte continua: Todo indivíduo necessita de um cantinho um
cubicolosinho, umas prateleiras, uma estante, ou umas gavetas em que
guardar o que é seu.(...) Os paes naturalmente desejam incutir nos filhos
habitos de ordem, economia e perseverança, e a criança, com um pouco de
animação e auxílio, usualmente adquire facilmente taes habitos”. (Infância, Ano
2, nº 11, p. 29-30). Percebemos aqui a relação que a autora Rowna Hansen faz
entre a criança ter o seu espaço e a formação de hábitos de ordem e
economia.
Finalmente o texto “Porque não conservar uma história do seu filhinho?”
estimula os pais a estarem atentos ao desenvolvimento de seus filhos e sugere
que façam anotações sobre o seu desenvolvimento, incluindo fotografias, para
que o estudo das crianças possa ser ajudado pelas anotações desses pais. É
interessante a proposta da autora, tendo em vista a escassez de material.
Durante o ano de 1936 os textos sobre educação tratam em geral da
educação formal da criança. O texto do Dr. Edgard Braga, “O homem do
futuro”, nos indica isso: “Não basta que os paes contentem de possuir um filho.
É preciso que aprendam a educal-o” (Infância, Ano 3, nº 14, p. 4). “O bébé é o
homem do futuro” (Infância, Ano 3, nº 14, p. 5). Temos aqui outra vez a idéia de
62
educação hoje para um país próspero no futuro, assim como já vimos
anteriormente.
O texto “É suficiente por hoje!”, alerta os pais para o risco de estarem
sobrecarregando seus filhos com os estudos. “Não é por muito estudar que se
aprenderá mais, pois chega o momento em que, fatigada a attenção, todos os
esforços serão estéreis” (Infância, Ano 3, nº 15, p. 14). O autor prof. J. C. Bravo
fala em tortura, quando os pais obrigam as crianças a estudar além do
necessário. Já o prof. João Toledo, em seu texto “A criança que estuda”, fala
da necessidade do acompanhamento da criança na escola. “É na infância [que]
as acquisições effectivadas no aconchego enluarado de um convívio amigo,
fazem das crianças homens argamassados.” (Infância, Ano 3, nº 17, p. 12).
Assim a criança que estuda abriga-se, na escola como debaixo da arvore
frondosa do bem, arvore que nunca deve estiolar, porque suas flores nunca se
desfolham e seus fructos nunca apodrecem (Infância, Ano 3, nº 17, p. 25).
Como destacamos nesta parte, a educação das crianças e a promoção
da saúde eram vistas como uma parte fundamental do trabalho da Cruzada
com o objetivo de se ter um país culto. A utilização do método científico como
justificativa do esclarecimento dos pais e do desenvolvimento da nação
também pode ser percebida nos textos sobre a educação.
Material para Crianças
Na seção “Para a galeria da criança”, do primeiro número da revista, há
um quadro educativo em que os editores afirmam ter como objetivo ensinar às
crianças práticas de higiene. Nas palavras dos editores: “... insistiremos na
enumeração dos principaes preceitos hygienicos, procurando assim despertar
63
na mente da criança, sempre que olharem para os quadros, a associação das
idéias que eles representam” (Infância, 1935, nº 1, p. 11). Após essa
apresentação há uma descrição do quadro e no final do texto algumas
instruções para a criança, denominadas “Boas praticas diárias de saúde”:
“Escove os dentes todos os dias.
Coma fructas todos os dias.
Beba pelo menos 4 copos d’agua todos os dias.
Brinque algumas horas ao ar livre todos os dias.
Tome diversos banhos por semana.
Durma muitas horas com as janelas abertas “ (Infância, 1935, nº 1, p.
11).
No mesmo número e em todos os demais do primeiro ano há jogos para
crianças. São jogos de completar, pequenos exercícios de matemática e de
português, contendo fundos morais.
Há ainda histórias para crianças. Elas podem ser lidas pelas crianças e
também pelos pais, durante o “serão infantil”, como indicam os editores da
revista.
Também encontramos na seção da criança como fazer alguns
brinquedos em casa, brinquedos esses em geral feitos de sucata.
A página da criança sempre apresenta exercícios criativos e educativos;
portanto, dentro dos objetivos da revista de promoção da saúde e da educação.
Durante o segundo ano de publicação da revista, houve visível redução
de textos dedicados às crianças, porém algumas histórias ainda foram
incluídas, histórias estas que deveriam ser lidas por pais ou por crianças
maiores, pois os textos eram de mais de duas páginas. As histórias foram: “O
64
corneteiro de Pirajá”, de Viriato Corrêa
12
; e “RikkiTikkiTavi”, de Rudyard
Kipling.
13
Esta especialmente continuou por três números da revista. As
histórias valorizam as boas ações, a coragem e a amizade. Encontramos
também jogos de ligar os pontos para formar figuras. No entanto, como já
dissemos houve boa redução dos textos e/ou atividades para as crianças.
Ao analisar o material destinado especificamente para crianças,
pensamos em uma cultura produzida para a criança e rapidamente nos vêm à
mente programas, publicidade e produtos voltados para o público infantil.
Observamos que na revista Infância, principalmente no primeiro ano de
publicação, diversos foram os materiais e propagandas voltados às crianças.
Contudo, mesmo que nos dois anos seguintes não tenha ocorrido a presença
de textos e materiais especialmente dedicados a elas, encontramos textos que
eram destinados aos pais para que eles os lessem aos seus filhos. Nisso
podemos perceber que a ideologia, além de ser propagada aos adultos,
também deveria ser transmitida às crianças através de histórias que seriam
contadas pelos pais ou educadores para que essas crianças incorporassem os
ideais nelas presentes. E, como veremos a seguir, os aspectos psicológicos do
12
Viriato Corrêa (1884-1967) nasceu no Maranhão com o nome de Manuel Viriato Corrêa
Baima do Lago Filho. Ocupou a cadeira 32 da Academia Brasileira de Letras. Entre suas obras
estão: Cazuza, À sombra dos laranjais, Histórias da nossa história, As belas histórias da
história do Brasil. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Viriato_Corr%C3%AAa, Adaptado pela
autora).
13
Rudyard Kipling (1865-1936), autor britânico nascido em Bombain, foi escritor e poeta. Em
1907 ganhou o Prêmio Nobel de Literatura. Foi educado em Bideford, na Inglaterra. Em 1882
voltou à Índia, onde trabalhou para jornais britânicos. Começou sua carreira literária em 1886 e
tornou-se conhecido como escritor de contos. Foi o poeta do Império Britânico e seus soldados,
que retratou em vários contos, alguns deles reunidos no volume Plain Tales from the Hills, de
1888. Em 1894 lançou O livro da selva, que se tornou internacionalmente um clássico para
crianças, também conhecido pelo seu personagem principal, o pequeno Mowgli. Também é
muito conhecido um de seus poemas, "If" (Se), no qual um pai dá conselhos a seu filho sobre
como ser um homem de bem. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Rudyard_Kipling. Adaptado
pela autora)
65
desenvolvimento também transmitiam os ideais científicos para o
desenvolvimento sadio do país.
Aspectos Psicológicos do Desenvolvimento
Os aspectos psicológicos abordados na revista eram de vanguarda, pois
a psicologia ainda nem havia sido reconhecida como profissão no início do
século e já era difundida pela revista. Entre as colaboradoras da revista
estavam as psicólogas Helen Green e Juventina Santana. No entanto a
primeira psicóloga a prestar serviços para a Cruzada foi Betti Katzenstein
14
,
psicóloga alemã que trabalhou no Laboratório de Psicologia da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo no final da década de 30 e início da
década de 40.
Apesar de os textos valorizarem fortemente a visão da medicina e da
educação na formação da criança, isto se deve ao fato de que essas ciências
estavam fortemente associadas à psicologia em seu início. Mas mesmo assim,
já podemos encontrar em alguns textos expressões como “personalidade e
formação do caráter”, “a importância da presença do pai e da mãe na formação
do caráter da criança” e “orientação profissional” que são de uso da psicologia.
14
Betti Katzenstein (1906-1981), nascida na Alemanha, formou-se pela Universidade de
Hamburgo, onde foi assistente de William Stern e concluiu o doutorado em Psicologia em 1931.
Como refugiada do nazismo, emigrou para o Brasil em 1936. No mesmo ano, ingressou no
Laboratório de Psicologia do Instituto de Educação da Universidade de São Paulo. A partir de
1940, teve atuação nas mais diversas áreas da psicologia e instituições. Na área de Educação
e Psicologia infantil, trabalhou na Cruzada Pró-Infância e chefiou o Serviço de Educação Pré-
Primária do Estado de São Paulo. Trabalhou no Senai e no Idort com seleção profissional e
estudos de testes de aptidão e lecionou na Escola de Enfermagem da USP, na Escola de
Sociologia e Política de São Paulo e no Departamento de Psicologia da Unesp de Assis, onde
também foi coordenadora da Clínica Psicológica. Considerada uma das maiores especialistas
no atendimento de crianças com deficiências físicas e mentais, atuou na Apae, Pestalozzi e
Lar-Escola São Francisco. Trabalhou com a aplicação e adaptação de testes de
desenvolvimento, aptidão e personalidade e elaborou um teste de maturidade infantil, o
Becasse. Durante 40 anos atendeu crianças e adolescentes em seu consultório particular, para
diagnóstico, orientação de pais e orientação profissional. (Fonte:
http://www.crpsp.org.br/a_acerv/pioneiros/betti/fr_betti_ resumo.htm. Adaptado pela autora)
66
No primeiro número da revista, o texto do Dr. Edgard Braga intitulado “A
psychologia da mimica infantil” aborda aspectos das expressões faciais e
corporais da criança lactente e ensina as mães a compreenderem o estado
emocional e geral de seus filhos por meio de tais expressões. O autor do texto
afirma: A criança, no seu período de lactação não sabe fingir, não tem o
desenvolvimento intellectual capaz de lhe permitir adaptações às necessidades
ambientes, como acontece ao homem na sociedade” (Infância, Ano 1, nº 1, p.
7). E dessa maneira é a expressão do bebê o principal comunicador de seu
estado.
O texto “Emquanto seu filho está crescendo é preciso ter paciência
com elle” foi escrito por Josephine H. Kenyon para mães com filhos homens.
Nele a autora faz um relato dos aspectos ligados ao desenvolvimento do
caráter e da virilidade no menino. Responsabiliza os pais pela maneira como
um menino se desenvolve e os adverte: “Procure comprehender o seu filho e,
sobretudo, tenha paciência com elle. Si porventura não for bem succedido,
peça auxílio do seu médico”. (Infância, Ano 1, nº 2, p. 21). Ainda no mesmo
número, o texto “A criança pré-escolar”, de autoria do Dr. Almeida Jr., aponta
para a necessidade de locais onde as crianças entre dois e seis anos possam
permanecer enquanto suas mães trabalham. Este não é o caso das mães
leitoras da revista. Possivelmente esse texto tinha como objetivo conscientizar
as mães que eram esposas de industriais para o problema do cuidado de
crianças na idade pré-escolar. Segundo o autor, a mãe não deveria trabalhar.
“O ideal seria que a mulher ficasse em casa, cuidando da família e assistindo
aos pequenitos, que tanto precisam do seu carinho e da sua vigilância. Esse, o
seu elevado papel biologico e social: essa, a forma acertada da sua
67
cooperação em favor da sociedade humana” (Infância, Ano 2, nº 2, p. 22).
Demonstra-se aqui a ideologia da época em relação ao papel da mulher, que
ainda hoje permeia a sociedade.
Ainda no mesmo exemplar o texto de Helen G. Green (psicóloga norte-
americana), “A formação do caráter das crianças”, apresenta a idéia de
formação do caráter e da personalidade da criança. Porém, o tema é abordado
principalmente quanto à formação do caráter do menino e a autora, utilizando o
diálogo de duas mães, demonstra às leitoras a importância de dar à criança
algumas responsabilidades e afazeres e também dar a elas a decisão sobre
alguns problemas pessoais. Ela defende que tal postura desenvolverá o caráter
e a personalidade da criança de maneira saudável e inteligente.
Também encontramos no quarto número da revista um texto sobre o
desenvolvimento mental, intitulado “Entre dois e seis annos o
desenvolvimento mental da criança”. Esse texto trata da importância da
dedicação e interesse pela educação da mente e da personalidade da criança.
“Deve-se ter sempre em mente que o período entre dois e seis annos é de
surprehendente desenvolvimento mental. (...) Durante este período a criança
contráe habitos de pensamento e acção, que somente por muito arduo e
persistente esforço ella perderá na idade adulta” (Infância, Ano 1, nº 4, p. 9). As
palavras acima demonstram a preocupação com a educação infantil e quanto
isso poderá afetar os adultos de amanhã.
No segundo ano de publicação os textos que tratam do desenvolvimento
psicológico da criança, ganharam espaço na revista. Esses textos tratam da
formação do caráter da criança e são condizentes com as idéias da época. O
texto “Os meninos mentirosos” assinado pelo Dr. Lanfranco Ciampi é ilustrado
68
com uma foto de uma mulher segurando um menino pelo braço e ele com cara
bastante assustada, uma foto também assustadora para os dias atuais.
Certamente esta foto não seria publicada na atualidade como ilustração de um
texto. O autor afirma que a mentira é um hábito e que quando instalado é difícil
de mudar, ele afirma “a criança nasce com predisposição a mentir” (Infância,
Ano 2, nº 8, p. 13). “É mister impedir que se effectuem essas experiências
mentirosas, especialmente nos primeiros annos, quando os freios lógicos,
volitivos e ethicos não funcionam ainda ou funcionam deficientemente...Se
educadores e paes souberem tratar com doçura, afabilidade e sympathia as
crianças, estas não terão razões para defender-se com a mentira” (Infância,
Ano 2, nº 8, p. 15).
No número seguinte, o texto “É mistér combater nas crianças o habito de
roer as unhas” que não é assinado, explica para paes e educadores as formas
desse hábito que quando não combatido pode ser reflexo de anormalidade no
sistema nervoso. E recomendam como forma de tratamento a psicoterapia,
vejamos: “Qual o tratamento? ... Há diversos....Para certos casos deve-se
recorrer ao tratamento psycotherápico....Para completar o tratamento deve-se
recorrer ao médico, que receitará arsênicos associados a calmantes do
systema nervoso e a extractos glandulares (Infância, Ano 2, nº 9, p. 23). O
pensamento de vanguarda está presente nos textos, tendo em vista que a
psicologia e a psicoterapia ainda eram novas na sociedade brasileira.
Ao escrever o texto “É preciso conhecer mais as crianças para melhor
moldar-lhes o caráter”, Dr. Leon Mir afirma: “Fomos, pois, impellidos a tratar de
salvar aquella parte intacta que resta de uma mentalidade prejudicada. Para
isso nos dirigimos aos primeiros tempos da vida do ser, comprovando as
69
anormalidades physicas que, sabemos, são indícios das alterações mentaes
infantis. Em lugar de fazer desapparecer esses pequenos seres, como os
gregos, procuramos no physico e psychico(Infância, Ano 2, nº 10, p. 20). E o
autor continua “é na escola onde se reconhecem os transtornos do caracter da
criança”. Esse texto o autor fala sobre as deficiências, ou retardo e suas
diferenciações. E finaliza o texto: “Estudemos detidamente todas as
manifestações normaes na infancia para poder desde cedo estabelecer
pequenos desvios que, tratados a tempo, evitarão o manicômio ou o cárcere e
poporcionarão á Nação um elemento útil”. (Infância, Ano 2, nº 10, p. 23).
Esses desvios de caráter, que na década de 1930 encaminhavam os indivíduos
para manicômios e prisões eram, por exemplo, a ‘vagabundagem’, que deveria
ser combatida e eliminada das cidades.
O prof. Dr. Francisco Martinez, no texto os “Brinquedos que ensinam e
divertem ao mesmo tempo”, afirma que tais brinquedos devem estimular as
crianças, conforme constatamos: “Os primeiros annos da infancia não se
consideram vegetativos somente. São annos de formação e de plástica, que
influem grandemente no futuro da criança quanto ao caracter e a
personalidade” (Infância, Ano 2, nº 11, p. 3). Para esse texto são destinadas
seis páginas, nas quais o autor descreve os brinquedos para as meninas e
meninos. Ele também afirma que “Podem os brinquedos tornar-se perniciosos
pela influência que venham a exercer sobre a plástica da personalidade das
crianças” (Infância, Ano 2, nº 11, p. 4). Este texto é um alerta para pais e
educadores que o simples ato de brincar é também formativo do caráter da
criança, não sendo um ato despretensioso e inconseqüente.
70
No último número publicado em 1936, o prof. Dr. W. Wimmer, assina o
texto “Que é carinho?”. Esse texto é uma explicação para os pais sobre o
carinho e como esse deve ser demonstrado e também como isso influencia na
vida da criança. Ele afirma: “Porque amar o filho é ensinal-o, educal-o, guiar-lhe
os passos e os vôos da phantasia e da imaginação; é respeitar com intelligente
zelo sua personalidade nascente; é saber sondar-lhe o caracter... (Infância,
Ano 2, nº 12, p. 9).
O último ano da revista Infância é bastante peculiar em relação aos anos
anteriores, principalmente em relação aos aspectos psicológicos nela tratados.
Nas publicações daquele ano, uma ênfase foi dada a esse assunto. E isso para
nós é bastante importante, na medida em que nossa dissertação se desenvolve
no campo da psicologia. Os textos de destaque nesse ano são: “Com o que
Brincam seus eu filhos?”; “Eu quero isto!”; “A alma da criança”; “Educação e
psicologia”; “Mostre interesse pelos brinquedos de seu filho”; “A criança e a
raça”; e Eduque os hábitos de seu filho”.
O texto do professor Francisco Cabrejas, intitulado: “Com o que brincam
seus filhos?” trata da importância dos brinquedos na formação da criança.
Vejamos o que diz o texto: “Este aspecto da educação é a tal ponto
importantíssimo que se podem obter conclusões de um grande valor para o
indivíduo em relação a colectividade. De uma infância feliz, com jogos e
brinquedos necessários, dependerá uma madureza produtiva moral, physica e
intelectualmente. (Infância, Ano 3, nº 13, p. 3). Apesar de o autor afirmar que a
educação da criança depende da maneira como ela brinca, compreendemos
que o brincar também pode ser incluído nos aspectos psicológicos do
desenvolvimento, pois ao brincar a criança exerce diferentes habilidades entre
71
elas a psíquica. Ao continuar o texto o autor afirma: “Não há dúvida alguma de
que a suppresão dos jogos ou a sua excessiva limitação, diz o doutor Rodolpho
Senet, é um dos factores determinantes do augmento da delinquencia e
criminalidade infantis, e por que consequencia, da delinquencia e criminalidade
do adulto”. (Infância, Ano 3, nº 13, p. 4). Outro aspecto valorizado no texto é a
colaboração do brinquedo na formação do caráter da criança: “Os paes e
educadores devem prestar muita atenção (...) Os varões efeminados e
homosexuaes tendem a entreter-se com divertimentos e brinquedos femininos,
e ahi devem os paes intervir muito seriamente, tendo em vista as
consequencias funestas para o indivíduo e a collectividade. É necessário então
formar-lhes o caracter; que os varões não desmeraçam seus attributos
naturaes; que as meninas não percam os encantos de sua feminilidade”
(Infância, Ano 3, nº 13, p. 6). Vimos dessa maneira que a preocupação com a
orientação sexual da criança devia estar debaixo da atenção dos pais e
educadores, e que tais desvios, poderiam ser graves para a coletividade como
relata o autor.
No texto da professora Anna Maria Ramires, “Eu quero isto” há a
seguinte nota no texto de abertura: “A imaginação infantil depois dos três
annos, adquire tal desenvolvimento que constitue um dos aspectos mais
importantes que devem ser considerados em sua educação: por isso, deve-se
comprehender que nem todos os caprichos são infundados, mesmo quando
pareçam mais absurdos” (Infância, Ano 3, nº 14, p. 6). A professora orienta aos
pais sobre o funcionamento dos desejos da criança e como lidar com eles. Ela
finaliza o texto da seguinte maneira: “É preciso admitir e tolerar muitas coisas
nas crianças porque não se pode collocar a sua psychologia ao mesmo nível
72
da nossa, e comprehender que seus sonhos e brinquedos nunca têm mau
precedente nem má intenção” (Infância, Ano 3, nº 14, p. 8). A compreensão da
autora sobre a criança nos indica também a classe social a qual pertencia à
autora e o público da revista, falar em psicologia da criança para as famílias
que muitas vezes não tinham com o que se alimentar direito e nas quais as
crianças trabalhavam era um assunto impossível.
O texto do Dr. Edgard Braga “A alma da Criança”, trata da organização
da formação da criança em seus aspectos psicológicos. Vejamos: “A expressão
educar, deve ter na actualidade, tanto no lar, como na escola, um sentido mais
lógico e racional, pois, se a criança é um adulto em miniatura, do ponto de vista
da própria organização, não possue, entretanto, a faculdade, que só a edade
aperfeiçoa, de cohibir os seus impulsos e exteriorizações. A psyche infantil, aos
olhos da sciencia, já não é aquelle amalgama informe e sem vida que a mão do
homem plasmaria, mais tarde, a sua vontade...(Infância, Ano 3, nº 15, p. 10).
O autor fala aos pais sobre a necessidade de educar as crianças, nas palavras
do autor “a pequenina alma infantil apresenta arestas, asperezas que precisam
de polimento” (Infância, Ano 3, nº 15, p. 10). O autor continua a informar aos
pais que é necessário uma auto-educação para, empreender a educação de
um filho. Vejamos: “Para educar um filho, do ponto de vista psychologico, é
necessário que se prepare a própria alma, que se faça mesmo um exercício
quotidiano de autominio ou de censura. Não é com castigos physicos, ou
imposições violentas que os paes conseguem dominar os impulsos infantis,
mas, com brandura e firmeza ministrando explicações em torno dos
phenomenos da vida e de sua physiologia, ora, directamente, ora por analogia
ou comparação com o que se passa fora do ambiente familiar” (Infância, Ano 3,
73
nº 15, p. 11). E o autor conclui o texto encorajando pais e mestres a
empreender tarefa tão nobre a educação das crianças. É interessante notar
como a importância dada a psicologia nos artigos é bem pontual, a psicologia
começou a ganhar espaços na década de 1930, como a revista Infância era
liderada pela senhora Pérola que tinha raízes Norte-Americanas, as idéias
expressas na revista também eram de certa forma influenciadas pelas idéias
norte-americanas.
O texto de Ângelo Raymundo de Souza, “Educação e Psychologia”,
orientado para pais e professores traz em seu primeiro parágrafo: “A educação
dada cientificamente, corrigindo o indivíduo, indicando a sua própria
personalidade, desmanchando complexos nervosos, requer do educador uma
perfeita visão do que se propõe. (...) A educação dada cientificamente abrange
dois aspectos; a realidade ‘ser’ e o ideal ‘vir a ser’. Necessita para isso do
auxílio da Psychologia, Biologia, Ética e Filosofia, e como diz Herbert, ‘o
educador deve ter no mínimo uma ampla concepção do mundo e da vida
(Infância, Ano 3, nº 16, p. 19-20). A idéia da educação científica e utilizar a
psicologia na educação foram idéias que passaram a ganhar espaço naquela
época no Brasil. O autor fala ainda de velha psicologia que ele afirma ser a
psicologia empírica e que, segundo foi substituída pela psicofisiologia de
Wundt. O autor continua afirmando que “É preciso velar-se atentamente pela
vida psicológica da creança que recebe as impressões de fóra, as assimilando-
as comprehende de uma maneira particularíssima, da qual a maioria dos paes
vive absolutamente ignorante, deixando que se desenvolva quasi sempre, de
uma maneira dolorosa de interpretar e comprehender” (Infância, Ano 3, nº 16,
p. 20). Percebemos na frase acima que a importância do meio ambiente é forte.
74
O meio social é valorizado e a responsabilidade é dada aos pais e educadores
pelo futuro da nação. A ênfase no biológico vai cada vez mais perdendo
espaço para as influências sociais. O mesmo acontece no texto “A criança e a
raça”.
No texto de Raul Briquet
15
, “A criança e a raça” o autor fala a pais e
educadores sobre a igualdade das crianças nas mais diversas raças, mesmo
passados vários anos da abolição da escravidão no Brasil e a chegada de
muitos imigrantes no início do século passado a idéia e inferioridade ainda era
presente e fazia-se necessário também falar a elite sobre o problema da
discriminação. Vejamos como o autor aborda a questão: “Na educação social
avulta o problema da raça. Não existe questão mais delicada do que esta,
malferida por preconceitos que alimentam ódios e malquerenças entre povos e
nações. É dever, portanto, de paes e preceptores, incutirem cedo na alma
infantil a verdade que o homem, em qualquer região do Universo, é sempre a
mesma criatura, com o mesmo sustrato orgânico e psyquico, e que a
diferenciação étnica é produto do meio e da educação (Infância, Ano 3, nº 17,
p. 20). Ainda hoje a questão da raça é um assunto que precisa de atenção e
formação contra o preconceito. Briquet fala da necessidade de formação das
15
Raul Briquet (1887-1953). Paulista de Limeira, médico, formado pela Faculdade de
Medicina do Rio de Janeiro, em 1911, dedicado à Ginecologia e Obstetrícia, praticou a
medicina até o fim de sua vida. Seus interesses foram além da medicina: estudou diversas
áreas do conhecimento entre elas a Psicologia. Um dos pioneiros do ensino da Psicologia
Social no Brasil, que foi uma continuidade do tema das representações coletivas,
desenvolvido na Sociologia de Émile Durkheim (1958-1917). Lecionou Sociologia, Psicologia
e Educação na Escola Livre de Sociologia e Política de São Paulo. Devido à participação
brasileira nas duas Guerras Mundiais, Raul Briquet se preocupou com o atendimento aos
feridos em combate; assim foi o primeiro a propor o ensino da enfermagem no Brasil. Entre
seus textos técnicos de apoio pedagógico se destaca o Manual da Socorrista de Guerra
(1943). (Krüger, Helmuth, "BRIQUET, Raul Carlos (1887-1953)", In: Dicionário Biográfico da
Psicologia no Brasil, 2001, p.102). (Fonte:
http://www.crpsp.org.br/a_acerv/set_linha_tempo_psi.htm - 1935. Adaptado pela autora)
75
crianças contra o preconceito e sua relação com a prosperidade do país, da
mesma maneira que as idéias nacionalistas da década 1930. “Ensine-se as
crianças que o Brasil é o único grande paiz que comprehendeu a
mescegenação sem ressentimentos motivados pelo accidente da cor e por
outros caracteres que resultam da influência do meio e que independem do
caracter individual (...) A geração que os vae succeder terá a missão suprema
de solidarizar os homens pelo amor e pela concórdia. Para tanto, requer a
criança forte e sã, de corpo e espírito(Infância, Ano 3, nº 17, p. 20 e 24).
Constatamos, portanto, que os aspectos psicológicos do
desenvolvimento da criança tinham grande importância para os responsáveis
pela Cruzada e pela revista. Apesar de a psicologia ainda não ser reconhecida
como ciência na década de 1930, ele teve grande espaço e importância para
esta publicação. Os autores dos textos publicados tiveram expressão no meio
científico, principalmente nas áreas da psiquiatria, psicologia e educação, e
muitos deles foram os primeiros a atuar na área das ciências psicológicas no
Brasil.
76
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Concluímos que a revista Infância foi uma publicação de vanguarda,
tendo em vista que seus colaboradores foram estudiosos e cientistas pioneiros
em suas áreas de atuação no Brasil.
Verificamos que alguns aspectos relacionados à educação e à saúde
infantil abordados na revista poderiam hoje ser enquadrados nos aspectos
psicológicos do desenvolvimento. Isso se deve ao avanço da psicologia como
ciência autônoma. Assim, constatamos a importância desta análise da revista
Infância para a psicologia, pois ela foi um dos primeiros veículos a difundir essa
nova ciência para o público leigo, principalmente os pais.
Vimos que a noção de infância passou por profundas transformações na
década de 1930, as quais têm influenciado a concepção de infância até a
atualidade. As idéias difundidas pelo movimento da escola nova e pelos
higienistas, bem como a elaboração de leis sobre a proibição do trabalho
infantil também contribuíram para as transformações da noção de infância.
Concluindo nossa análise, apontamos para os aspectos que nos
chamaram a atenção e demonstram qual era a noção de infância que a classe
alta paulista possuía na década de 1930.
Percebemos que a idéia de educação era tida como a chave para o
futuro crescimento do país. Essa é uma idéia marcante na revista e até hoje
permeia a sociedade, seja no meio leigo, científico ou político.
77
A saúde e a mortalidade infantil, temas que preocuparam os fundadores
da Cruzada Pró-Infância e da revista Infância, ainda são na atualidade temas
de grande repercussão no Brasil. Os altos índices de morbidade e mortalidade
infantil nas classes pobres continuam sendo assuntos de grande interesse.
Neste aspecto, podemos afirmar que as políticas de saúde pública têm
melhorado bastante a qualidade de vida das crianças no Brasil. No entanto, a
grande desigualdade na renda da população ainda é um problema para a
sociedade brasileira.
Muitos são os estudos publicados a cada ano sobre a infância, porém é
limitado o consenso sobre o assunto. Contudo, acreditamos que estudar a
noção de infância em São Paulo na década de 1930 é importante para a
compreensão da atual noção de infância na psicologia.
Encontramos nos textos da revista Infância assuntos que hoje em dia
estão relacionados à psicologia social, como, por exemplo, a orientação
profissional e a questão da raça. Destacamos a importância desses temas
tratados na revista e sua relevância atual para a psicologia social, embora
naquele tempo talvez parecessem estranhos à sociedade.
Como verificamos, diversos foram os aspectos que contribuíram para a
formação da noção de infância na década de 1930 e que ainda hoje a
influenciam. São exemplos disso a educação formal, a industrialização, o
capitalismo e o consumismo. A internet e a velocidade com que as informações
são transformadas também afetam a concepção e a noção de infância que
temos atualmente. Não podemos afirmar que a atual noção de infância no
Brasil seja única, mas compreendemos que a infância das crianças brasileiras
tem sido protegida de diversas maneiras.
78
Sendo a sociedade brasileira multicultural, a noção de infância atual,
assim como no início do século XX, tinha visões diferentes nas diferentes
classes sociais. Hoje, da mesma maneira, também podemos encontrar
diferentes concepções em diferentes classes sociais e regiões do Brasil.
79
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82
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MACHADO, P. De A. M. SBP. Sociedade Brasileira de Pediatme -21 TD -0.00 Tw 1dm7 TD db21 TD -0.258 e Al8.s Tw (IE70.00 Tw 3rPt2i Estado deom3db21E702 a.ht e4 Tc .D0 T7972 i7 TD -0hdo e e4 1 a.ht e4 Tc0 Tw 3rPt2i 1TD db21 TD2T2D -0.258 01r1-=10nTrt.>6rPt2i -) Tj18 G e4 1 a51min3 Te8, cht 7e4 Tc0 Tw 3rPt2a51h TD0 T82
83
ANEXOS
84
Anexo 1. Propagandas no Ano de 1935
A Nortista 1
Assucar Leblon
1
Biscoitos Aymoré
1
Café e Assucar União 1
Caixa Econômica Federal de São Paulo 2
Camolmillina
2
Casa Alemã
3
Casa Casoy 1
Casa Fretin 1
Casa Fuchs
1
Casa Lemcke
1
Casa Porcelana 1
Casa Pratt 2
Casa São João 1
Casa Stolze 1
Casas Mesbla
1
Casssio Muniz & Cia., 1
Cia City
1
Cia Melhoramentos de S. Paulo
1
Cia. Paulista de Seguros
1
Creme Dental Nemo
3
Dr. Plinq ETQ BT88.5 557.25 TD Tw ( ) Tj25w (1) Tjo1c 0 Tw (1) Tw ( Tc 0.2658390.123 Tc 0.1665 Tw (Casa Porcelana)6.75 TD0 Tc 0.2895 Tw ( ) c 0 T11n.25 0 TD 0 Tc 0ef 80 TD4r747 Tw 9 0 TD 0 Tc 0.2895 Tw ( ) Tj216.75 -0.75 TD -0. ) TjE49al Nemo Cia Melhoramentos de S. Paulo
85
Anexo 2. Propagandas no Ano de 1936
A pastilha de casanova
1
Air France
1
Ambassador (Isnard & Cia)
1
Antártica
2
Atwater Kent
2
Bicoitos Gelco
1
Biscoitos Aymoré
1
Byington Cia
1
Café Paraventi
1
Camomillina
3
Carburador Ford
1
Casa Alemã
4
Casa Edison
1
Casa Lemcke
1
Casa Odeon
1
Casa Porcelana
1
Concurso Vanetil
1
Cruzada Pró-Infância
1
Dr. Alexandre Yazbek
1
Dr. Allegretti Filho
1
Dr. Cardim
1
Dr. Edmundo Vasconcelos
1
Dr. Fritz Weiss
1
Dr. José de Paula Dias
1
Dr. Paschoal Lobosque
1
Dr. Zuinglio T. Lessa
5
Drogaria Morse
1
Empresa Constructora Universal
1
Est. Graphico Cruzeiro do Sul
1
Ford
2
Ford V.8
2
Glucose
1
Guaraton
1
Hortulania Paulista
1
Laboratórios Raul Leite
3
Ladio
1
Lança Perfume Pierrot
1
Leite Condensado Moça
1
Leite e Manteiga Vigor
2
Leite em pó Molico
1
Leite Moça
1
Livro - A Dietetica Infantil
1
Loja da China
1
Malzbier
1
Malzbier Antártica
2
Malzbier Brahma
1
Mappin Stores
2
Molico
1
Necáo
1
Pastilha CasaNova
2
S.M. Radium - Saponáceo Radium
1
São Paulo Cia de Seguros
1
Serraria Americana
1
86
Singer
1
Spalt (comprimidos que eliminam Dores de cabeça)
1
Vigantol,
1
Westinghouse Streamline
2
Xarope das Crianças
1
87
Anexo 3. Propagandas no de 1937
A preferida 1
ACM - Associação Cristã de Moços
1
Aleptan 5
Antunes de Abreu e Cia
1
Ao Esporte Nacional 1
Assucar Tupy
1
Banco do Brasil 1
Banco do Estado de São Paulo 3
Banco Italo Brasileiro 1
Banco Real do Canadá 1
Bismuthan
4
C.I. Souza Noschese S.A.
1
Caixa Econômica Federal de São Paulo 1
Capebeno
2
Casa Alemã
5
Casa da Porcelana 1
Casa Frettin 1
Casa Genin - Lã Filhinha 3
Casa Hanau 1
Casa Prat 2
Casa Schulz
1
Chimène 1
Cia. Melhoramentos
2
Companhia City
2
Cruzada Pró-Infância 4
Dextrosol - Maisena Brasil S.A. 1
Dr. Fritz Weiss
1
Dr. Zuinglio Themudo Lessa
6
Dylanina
4
Eledon
1
Estab. Graphico Cruzeiro do Sul
3
Extracto de Carne Veribest
2
Feno de Chimène
1
Ford Motor Company
1
Ford V-8
3
Geladeria Neve 1
Giorgi - Fábrica de Rolhas
1
Guaraná Brahma 1
Insulenx
3
Karo 1
Lactogeno
1
Leite Condensado Moça
1
Leite e Manteiga Vigor
2
Leite Vigor
1
Leitelho Preparado Guigoz
1
Leonard 1937 - Byinton&Cia
1
Loteria Paulista
1
Louça Byington
1
Madaleine Hanania - Dentista de Senhoras e Crianças 3
Maizena Duryea 1
Mappin Stores 5
Molico
1
Neo-Phymatoleo 4
88
Nestlé 1
Nestogeno
1
Pasta Cereja Chimène
1
Refrigeradores Alaska
1
Revista Infância
3
Sabonete Feno
1
Selvoral
5
Serraria Americana 1
Tapeçaria Schulz
5
Telefunken
1
União - Café e Assucar
1
Vinho de Caju 1
Vinho de Cajú Phóspho-Iodado
6
Xarope das Crianças 4
Xarope Elekeiroz 2
Quadro 2. revista Infância Ano 1 nº 1
Título do artigo Assinado por Presença de Ilustração Propaganda
Infância Guilherme de Almeida não não
Cartilha da Gestante figura não
Hygiene da Criança figura não
A criança que estuda Prof. Faminio Fávero figura sim, caixa econômica Federal de SP
Cinema Educativo não sim, Frigidaire - Campos Sales & Cia.
A psychologia da Mímica infantil Dr. Edgard Braga figura sim (2º parte) Assucar Léblon
A criança ao ar livre - A educação physica do bebê Dr. Itapema Alves figura sim (2º parte) Oleo Gergegoliva
Saúde My rianto figura não
Para a galeria da criança não sim, Mappin Stores
Suggestões para a mamãe não sim, São Paulo - Cia Nacional de Seguros
Bebê vae chegar! foto
Para as excursões do Bebê foto
A geração que surge ** foto não
O appetite do Bebê foto sim, vitamina Lorenzini e Eledom (leite em pós Nestlé)
Livros Novos foto sim, Casa Alemã
O Serão Infantil foto sim, A Nortista
Para distrahir a irmazinha figura não
Estante Infantil V.L. foto sim, Histórias da Casa Grande - Contos de Gina Carvalho
Cardápio da Criança figura sim, Loja da China - Alimentos
O Leite figura sim, portátil Royal e Cia. Paulista de Seguros
Cruzada Pró-Infância não sim, gordura de côco Selecta
Ovomaltine, Creme dental Nemo, Cia City
2
Quadro 3. revista Infância Ano 1 nº 2
Título do artigo Assinado por Presença de Ilustração Propaganda
Narizinho Menotti Del Picchia não não
Infância não sim, ovomaltine
Hygiene da Criança - Asseio Interno e Externo - O Banho figura não
Cartilha da Gestante figura não
Puericultura Dr. Pedro de Alcantara figura Sim, Vitamina Lorenzini
Junto ao Berço Dr. Edgard Braga figura Sim, Gymnasio Paulistano
Para a Galeria da Criança não Sim, Mappin Stores
Estante Infantil V.L. foto não
Enxoval do Bebê figura Sim, Xarope São João
Natação, esporte ideal Prof. Julio Avarez foto não
**
Bebê e a Moda foto não
Emquanto seu filho cresce Dr. Josephine Kenyon foto não
Cinema Infantil não não
A criança pré-escolar Dr. Almeida Júnior não Sim, Dr. Plinio Bove, Guido Pannaim, Prof. Dr. J.C. Celeghin
Cardápio da Criança figura sim, Nestlé
O Leite figura não
Os dois Inimigos figura não
O serão Infantil - O melhor de todos figura não
Página Alegre figura sim, biscoitos Aymoré
Cruzada Pró Infância não não
Creme Dental Nemo
3
Quadro 4. revista Infância Ano 1 nº 4
Título do artigo Assinado por Presença de Ilustração Propaganda
Parábola do Pae Pródigo B.M.G. não
Cartilha das Gestantes - Ar puro e recreações não Nestlé
Cinema Infantil não Jemalt
Normas practicas para a alimentação do pré-escolar no Brasil
Prof. F.A.de Moura
Campos
figura Xarope São João, Camolmillina
Entre dois e seis anos - O desenvolvimento mental da criança não Mappin & Webb
Amas de leite Dr. Edgard Braga não Casa Alemã
Vestido em ponto grande - para criança de 4 annos figura Lã Filhinha
O enxoval do bebê foto
Escolhendo roupa apropriada
Do Departamento de
Agricultura do E. S. P.
foto
Crianças Paulistanas ** foto
Vestidinho de malha - para menina de 3 annos foto
As crianças retardadas Dr. Albert Derouèlle foto
O somno e o Sol são tão necessários como o alimento - Como
dorme seu filho?
figura
Amparemos o Lactente! Dr. Agenor C. Stein não
A criança ao ar livre figura
A estante Infantil - Uma colleção de ouro V.L. não
Cardápio da Criança figura Leite Condensado - Moça
A formação do caracter das crianças Helen G. Green figura
Cuidado com a Língua!' figura
Memórias de um gato Origenes Lessa figura
Jogos Infantis
Uma caixa de Ferramentas que qualquer menino pode fazer figura
4
Quadro 5. revista Infância Ano 1 nº 7
Título do artigo
Assinado
por
Presença de
Ilustração Propaganda
...
Elsie
Pinheiro
não
Mortalidade Infantil
Dr. Pedro
de
Alcantara
não
Nescáo
Vencendo a Primeira Jornada não
Casa Alemã
Vacina B. C. G.
M. de
Oliveira
não
Café e Assucar União
Em que Idade começamos a falar?
Dr. J.
Gerson
foto
Luvaria Paris, Massas Aymoré
Sobre alimentação mixta
Prof. Dr.
Luís
Morquio
foto
Casa Fretin, Casa Lemcke
Cardápio Infantil
Dr. Luiz
Splendore
figura
Ovomaltine
Vestindo Bebê - Calções practicos foto
Casa Stolze
A estante infantil - Um lindo presente de
Natal
V. Lessa
Júnior
foto
Jane Withers - uma nota alvoroçante para
os pequenos frequentadores de cinema
V. L. J. foto
O coração materno é talisman
Dr.
Edgard
Braga
foto
Gente meúda de São Paulo** foto
Banhos de Sol foto
Maisena Brasil
A orientação Profissional e Educacional em
nosso meio escolar
Juventina
P.
Santanna
figura
Xarope das Crianças -
Elekeiroz, Camomillina, Isnard & Cia., Casssio Muniz & Cia., Casas Mesbla, Xaropes São João, Pastilha de Casanova, Cia Melhoramentos de S.
Paulo
Página da Criança figura
Casa São João
O Gigante das Montanhas figura
Mappin & Webb, Casa Fuchs
Illusões de Optica figura
Casa Porcelana
Relatório referente ao mez de Outubro de
1935
não
Casa Casoy, Caixa Econômica Federal de São Paulo
Refrigeradores Westinghouse, Casa Pratt, Creme Dental Nemo
5
Quadro 6. Revista Infância Ano 2 nº 8
Título do artigo Assinado por Presença de Ilustração Propaganda
Os Dez Mandamentos de Um Pae R.E.D. não não
Hygeia Myrianto foto Wetinghouse Streamline
O probelma da puericultura no Brasil Dr. Edgard Braga foto não
A tuberculose de Typo Infantil Dr. Frederico Lewis foto casa Alemã, Mappin Stores
As crianças e os adolescentes são os mais beneficiados
pelos banhos de mar
Dr. Guilhermo Narvajas foto não
Os meninos mentirosos Dr. Lanfranco Ciampi foto
leite em pó Molico, Dr. Allegretti Filho, Pastilha de Casanova, Laboratórios
Raul Leite
Mundo Infantil Paulistano** não não
Sobre Alimentação Mixta Prof. Dr. Luiz Morquio foto não
A fructa reforça as reservas alcalinas do nosso organismo foto Dr. Zuinglio T. Lessa e Drogaria Morse (2ºparte)
Cardápio Infantil Dr. Luiz Esplendore não não
Aleitamento Materno e Desmame Dr. Agebir C. Stein figura Loja da China, Lança Perfume Pierrot, Casa Edison e Casa Odeon
Estante Infantil V. Lessa Júnior não não
O Corneteiro de Pira Viriato Correa não Camomollina, Atwater Kent
A Cruzada Pró-Infância não não
Ford V.8
6
Quadro 7. Revista Infância Ano 2 nº 9
Título do artigo Assinado por Presença de Ilustração Propaganda
Minha Mãe Martins Fontes não não
O Crescimento de ossos longos Dr. F. Pompeu do Amaral figura Dr. Zuinglio Themudo Lessa
Os filhos Victor Pauchet não Spalt (comprimidos que eliminan Dores de cabeça)
O Copo Lena não não
Photographias de crianças não Casa Alemã
Do Leite materno Dr. Edgard Braga figura não
Cardápio Infantil Dr. Luiz Esplendore não não
Rikki-Tikki-Tavi Rudyard Kipling não Atwater Kent, Camomillina, Necáo, Antartica (2ºparte)
O banho de Sol e a saúde das crianças foto a pastilha de casanova
Crianças de São Paulo não
A puericultura e a escola primária D. Maria Antonietta de Castro foto não
O hábito de ir cedo para a cama foto não
É mister combater nas crianças o Habito de roer as unhas foto Laboratórios Raul Leite
Jogo Infantil - Conquista das Bandeiras foto não
Regresso figura Westinghouse Streamline
Estante Infantil V. Lessa Júnior foto não
Uma visita altamente honrosa para a Cruzada Pró-Infância foto Cruzada Pró-Infância
A Cruzada - Proteger a Criança é cuidar do futuro da Pátira Jane Craig Smith foto não
A Cruzada Pró Infância não não
Ford V.8
7
Quadro 8. Revista Infância Ano 2 nº 10
Título do artigo Assinado por Presença de Ilustração Propaganda
Os Filhos Paul Reboux não Não
A coqueluche constiue uma seria ameaça para a infância Dr. Leon Velazco Blanco não Malzbier
Passado, Presente e Futuro da Criança Brasileira Dr. Edgard Braga foto Antartica
As Cinco Dionnes foto Não
O melhor amigo Dr. Florencio Escardó foto Camomillina
Ninguém deve pretender ensinar seus filhos a andar Dr. F. Pompeo do Amaral figura S.M. Radium - Saponáceo Radium
A melhor amiga da Criança Dr. Florencio Escardó foto Dr. Zuinglio Themudo Lessa
Crianças Paulistanas ** foto Não
É preciso conhecer mais as crianças para melhor moldar-lhes
o caracter
Dr. Leon Mir foto Casa Alemã, Laboratórios Raul Leite
Jogos Infantis foto Biscoitos Aymoré
Cardápio da Criança Dr. Luiz Esplendore figura Xarope das Crianças
Estante Infantil - O problema da Litratura Infantil Elvira Nizinska da Silva foto Guaraton, Leite Condensado Moça
Actividades educativas para a criança no lar Rowa Hansen não Não
Rikki-Tikki-Tavi Rudyard Kipling não Pastilha CasaNova, Ladio, Air France, Livro - A Dietetica Infantil
Médicos que prestam serviços à Cruzada não Não
Ford
8
Quadro 9 Revista Infância Ano 2 nº 11
Título do artigo Assinado por Presença de Ilustração Propaganda
Os destinos da Cruzada Pró Infancia não Não
Primavera - Tempo de Plantar foto Não
Brinquedos que ensinam e divertem ao mesmo tempo Prof. Francisco Martinez foto
Malzbier - Antártica, São Paulo Cia de Seguros, Casa Alemã, Leite e
Manteiga Vigor, Dr. Paschoal Lobosque
Hygiene Infantil Dr. Pedro de Alcantara não Malzbier - Brahma
Não enfaixem os seus filhinhos Dr. F. Pompêo do Amaral foto Não
O dia do Lactente Dr. Luiz Splendore não Vigantol, Dr. Fritz Weiss (2 parte)
A arte de amamentar Dr. Edgard Braga foto Café Paraventi, Dr. Zuinglio Themudo Lessa
Cruzada Pró-Infância - Semana Nacional da Criança foto Não
Crianças Paulistanas** foto Não
Actividades Educativas para a criança no lar Rowna Hansen não
Dr. José de Paula Dias, Dr. Alexandre Yazbek, Dr. Cardim, Dr. Edmundo
Vasconcelos, Molico, Bicoitos Gelco
Médicos que prestam serviços à Cruzada não Não
Ford
9
Quadro 10. Revista Infância. Ano 2 nº 12
Título do artigo Assinado por Presença de Ilustração Propaganda
A criança Plinio Barreto não Não
A Vaccina e o Bebe Dr. Edgard Braga foto Não
Um quarto para a criança Dr. Luiz Maria Lamadrid figura Leite e Manteiga Vigor, Carburador Ford
Que é carinho? Prof. Dr. W. Wimmer foto Não
O Leite figura Casa Porcelana, Dr. Zuinglio T. Lessa, Leite Moça (2ºparte)
Porque não conservar uma história do seu filhinho? Sra. Joanna de Abreu foto Malzbier - Antartica, Casa Lemcke, Concurso Vanetil, Serraria Americana
Os vestidos de bebe foto Não
Actividades Educativas para a criança no lar Rowna Hansen foto Mappin Stores
Os desvios vertebraes e suas causas Dr. F. Pompeo Amaral foto Não
O Chantecler Preto não Hortulania Paulista
As crianças de Peito não Glucose
Bibliotheca da "Infância" foto Não
Cruzada Pró Infância foto
Est. Graphico Cruzeiro do Sul, Singer, Empresa Constructora Universal
Byington Cia, Ambassador (Isnard & Cia)
10
Quadro 11. Revista Infância. Ano 3 nº 13
Título do artigo Assinado por Presença de Ilustração
Propaganda
Os pequeninos Paul Reboux Não Não
Chegou Bebé! Dr. J. R. Ferguson Foto
Tapeçaria Schulz, Dr. Fritz Weiss, Dr. Zuinglio Themudo Lessa
Com o que brincam seus filhos?
Prof. Francisco P.
Cabrejas
Foto e Figura
Casa Alemã, Casa Hanau, Leite Manteiga Vigor
A attitude e sua relação com a saude Dr. Pompêo do Amaral Foto
Guaraná Brahma, Estabelecimento Graphico Cruzeiro do Sul
Cardápio - Refeições de uma criança de 6 annos,
pesando 20Kg
Não Não
Dez Bordados para as camisinhas de bebê Foto Telefunken
14 regras de saúde Não Não
Sobre o modo de comer Não Não
Cuidado! Dr. Eduardo Ursini Foto Não
Vigiando seu somno há de corrigi-lo Dr. Mario Alzua Foto
Banco Real do Canadá, Mappin Stores, Xarope Elekeiroz, Cruzada Pró-
Infância
Regimens alimentares nas anomalias constitucionais Dr. Luiz Splendore Figura e Foto Nestogeno
O Leite Dr. W. de Oliveira Não
Banco do Estado de São Paulo
Penteados Foto
Cruzada Pró-Infância - Balanço Geral 1936
Leonard 1937 - Byinton&Cia
Companhia City
11
Quadro 12. Revista Infância. Ano 3 nº14
Título do artigo Assinado por Presença de Ilustração Propaganda
A Mulher Castilho Não Não
Não Ponha seu fihinho sentado
Dr. F. Pompeo do Amaral
Não Estab. Graphico Cruzeiro do Sul (2 parte)
Honrosa Visita Não Mappin Stores
Nossa Capa Não Não
O homem do fururo
Dr. Edgard Braga
Foto Casa Alemã
Eu quero isto
Profa. Anna Maria Ramires
Foto Dr. Zuinglio Themudo Lessa
Um sério problema: que brinquedo hei de levar?
Prof. Dr. Francisco Martinez
Foto e Figura Leite e Manteiga Vigor, Lactogeno
O Leite Dr. W. Oliveira Não Feno de Chimène, Tapeçaria Schulz
Crianças, Anjos do Lar
Dr. Antonio Campos de
Oliveria
Foto Cruzada Pró-Infância
Cruzada Pró-Infância - Relatório Não
Xarope Elekeiroz, A preferida, Casa da Porcelana, Casa Genin -
Filhinha
Ensinando a Filhinha Figura Cia City
Cardápio Infantil - Como alimentar o lactante durante a
viagem
Dr. Luiz Splendore Não Selvoral
Ford Motor Company
12
Quadro 13. Resvista Infância Ano 3 número 15
Título do artigo
Assinado
por Presença de Ilustração Propaganda
A semana da Criança em 1937 Não Não
Vaccine-se! É a única maneira de evitar a variola
Dr. Pedro
Ruiz
Foto
Geladeria Neve, Banco do Brasil, Neo-Phymatoleo, Casa Prat, Vinho de Cajú, Banco Italo
Brasileiro
Tratamentos Adjuvantes da tuberculose
Prof.
Leoncio
Pinto
Não Mappin Stores
Porque não se deve carregar uma criança
Dr. F.
Pompeo do
Amaral
Foto Capebeno
A Alma da criança
Dr. Edgard
Braga
Foto Estb. Graphico Cruzeiro do Sul, Dylanina
Syphilis e a Proteção á Infância
Dr. Octávio
Gonzaga
Foto Casa Alemã, Aleptan e Selvoral (2 parte)
É suficiente por hoje!
Prof.
J.C.Bravo
Foto e Figura Cia. Melhoramentos, Bismuthan
O Dentista deve ser o melhor amigo das crianças
Dra. Luiza
Salmain
Foto e Figura Dr. Zuinglio Themudo Lessa, Insulenx
Aprenda a contar historias a seu Filhinho
Sra. Angela
de
Etchegoyen
Foto e Figura Não
O Leite
Dr. W.
Oliveira
Não
Caixa Econômica Federal de São Paulo, Leite Condensado Moça, Assucar Tupy
Pullover Branco Foto Casa Genin-Lã Filhinha, Cruzada Pró-Infância
Que Horas são?
Profa.
Matilde
Ferreira
Foto e Figura Tapeçaria Schulz
Cruzada Pró-Infância Não
Maizena Duryea e Karo, Xarope das Crianças, Serraria Americana
Louça Byington
Banco do Estado de São Paulo
13
Quadro 14 Revista Infância Ano 3 n. 16
Título do artigo Assinado por
Presença de
Ilustração Propaganda
Semana da Criança em 1937 Não Não
Sugestões para realização da
Semana da Criança
Cruzada Pró-
Infância
Não Xarope das Crianças
A prevenção e a cura da gripe Não Mappin Stores, Loteria Paulista
Formando a Biblioteca Infantil Não Não
O desmame
Dr. Carlos A.
Urquijo
Foto Eledon, Bismuthan
Não o levante pelo Pulso!
Dr. Alfredo
Giménez
Foto Casa Alemã, Tapeçaria Schulz
Fim de semana bem aproveitado
Sra. Elvira C. de
Gómez
Foto Não
Na occasião da passagem do corpo
á attitude erguida
Dr. F. Pompeo do
Amaral
Foto
Madaleine Hanania -Dentista de Senhoras e Crianças, Cruzada Pró-Infância e Dr. Zuinglio Themudo Lessa (2
parte)
Traumatismos do Nascimento Dr. Edgard Braga Não Vinho de Cajú Phospho-Iodado, Aleptan, Giorgi - Fábrica de Rolhas
Educação e Psychologia
Angelo
Raymundo de
Souza
Foto
Casa Pratt, Casa Frettin, Vinho de Cajú Phospho-Iodado, Selvoral
A grande importancia do molar dos
seis annos
Dr. Oscar H.
Volpe
Foto Não
Calções para o Bebé
Figura Casa Genin -Lã Filhinha, Neo-Phymatoleo
Puericultura - 22 Conselhos para o
bem da creança
Dr. Pedro de
Alcantara
Não Antunes de Abreu e Cia, Capebeno, Chimène, Dylanina
Cruzada Pró-Infância
Não Não
Aleptan
Ford V-8
14
Quadro 15 Revista Infância Ano 3 n. 17
Título do artigo Assinado por
Presença de
Ilustração Propaganda
1 Concurso de Robustez da Criança
Escolar do Estado de São Paulo
Não Não
Preliminares e Bases para a realização
do 1 concurso de Robustez da Criança
Escolar do Estado de SP
Não Neo-Phymatoleo, Xarope das Crianças, Sabonete Feno, Dylanina, Vinho de Cajú Phospho-Iodado, Revista
Infância
Cruzada Pró-Infância Não Não
Semana da Criança Não
Aleptan
Importância a Consulta de Hygiene Pré-
Natal
Dr. Edgard Braga Não Pasta Cereja Chimène, Vinho de Cajú Phospho-Iodado
A capeba nas doenças do fígado Não Não
A Criança que estuda
Prof. João de
Toledo
Foto ACM - Associação Cristã de Moços, Selvoral
Mostre Interesse pelos brinquedos do
seu filho
Prof. Francisco
Martinez
Foto e Figura
Madaleine Hanania -Dentista de Senhoras e Crianças, Bismuthan
Faça Passeios com o bebé
Sra. Elvira C. de
Gómez
Foto Mappin Stores
O decubito prono na educação physica
do lactente
Dr. F. Pompeo do
Amaral
Foto Banco do Estado de São Paulo
A criança e a raça Dr. Raul Briquet Foto Não
Eduque os Hábitos de seu filho Ernesto Nelson Foto Molico, Casa Schulz
Por que morre tanta criança
Dr. Pedro de
Alcantara
Foto Dr. Zuinglio Themudo Lessa
Seis blusas e seis saias Figura Não
Collete e pullover para meninos Foto Aleptan
Casaquinho para bebé Foto Não
Cruzada Pró-Infância Não Não
Ford V-8
15
Quadro 16 Revista Infância Ano 3 N. 18
Título do artigo Assinado por
Presença de
Ilustração
Propaganda
Cumprindo um programma Não Não
Defendamos o binomio: MÃE E FILHO
Dr. Carlos A.
Bambarén
Foto Dylanina, Revista Infância, Neo-Phymatoleo, Casa Alemã, Extracto de Carne Veribest (2 parte)
Convulsões Infantis Dr. Carlos Riestra Foto Dextrosol - Maisena Brasil S.A., Leitelho Preparado Guigoz, Extrato de Carne Veribest
Uma Homenagem Oportuna Não União - Café e Assucar
Alimentação e Saúde América Machado Foto Não
A Criança e a Hereditariedade Dr. Edgard Braga Foto Vinho de Cajú Phospho-Iodado
As flores facilitam as primeiras lições Dr. Lucianel Carrildo
Foto Dr. Zuinglio Themudo Lessa, Vinho de Cajú Phópho-Iodado
Conselhos sobre alimentação Não Refrigeradores Alaska
Concurso de Robustez da Criança
Escolar - Os Premios Oficiaes Instituídos
Foto Não
Os vencedores das provas finaes Não Não
A cooperação do escotismo no
Concurso de Robustez
Foto C.I. Souza Noschese S.A.
A sessão de encerramento no Theatro
Municipal
Foto
Revista Infância, Ao Esporte Nacional, Madaleine Hanania - Dentista de Senhoras e Crianças, Insulenx, Nestlé,
Tapeçaria Schulz, Selvoral, Xarope das Crianças
A contribuição da Associação de
Escoteiros para o Concurso de Robustez
Não Companhia Melhoramentos, Bismuthan
Cruzada Pró-Infância - Curso de
Puericultura
Não Não
Leite Vigor
Ford V-8
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
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