Ela pediu ao herói que lhe mostrasse sua aldeia, seus parentes e sua comida.
Përëpërëwa disse que não tinha aldeia, não tinha parentes e que a comida era apenas
aquelas folhagens. Waraku, então, foi buscar comida. Pulou na água e, logo depois,
reapareceu trazendo banana, abacaxi, batata doce, inhame, todos os tipos de comida. O
jovem não queria comer, não estava acostumado. Ela disse que o próprio pai havia lhe
dito que Përëpërëwa deveria tornar-se seu protetor e o protetor de seu pai. Përëpërëwa
riu e disse que não queria uma esposa.
Waraku disse ao herói que fizesse uma aldeia e construísse uma casa, que seu pai
havia dito que isto era a coisa própria a se fazer. Mas, ela acabou fazendo tudo sozinha.
Quando acabou, Waraku foi buscar uma rede, um banco, mais comida, fogo e barro para
fazer potes. Përëpërëwa ficou quieto apenas se perguntando o que estava acontecendo.
Waraku disse a Përëpërëwa que cortasse o campo, que era assim que o pai fazia nas
estações secas. Mas ela mesma fez tudo. Përëpërëwa não fazia nada.
Depois de um tempo, Përëpërëwa começou a comer pão de mandioca e banana (mas
não todos os alimentos). Eles foram, então, buscar mais comida com o pai de Waraku.
Ela disse a Përëpërëwa que se firmasse na canoa do pai, que não tivesse medo dos olhos
dele e que aceitasse rapidamente as coisas que ele lhe desse. Então, no meio do rio,
apareceu Ariwimë (jacaré). Ariwimë foi em direção ao genro, trazendo mandioca,
banana, tudo. Quando Përëpërëwa viu os olhos de Ariwimë, ele fugiu porque tinha medo
que o velho o agarrasse. Ariwimë levou embora as melhores plantas que davam muito
abacaxi, mandioca, banana.
Waraku, então, ficou grávida e deu a luz a um filho. Um dia, um espírito canibal de
voz esganiçada chamado Kaikë comeu Waraku e se filho. Quando Përëpërëwa chegou
em casa, falou com a mulher, mas, pela voz, desconfiou que não fosse ela. Përëpërëwa
matou o menino e cozinhou seu corpo num pote de pimenta. Quando Kaikë voltou,
Përëpërëwa ofereceu-lhe a comida. Kaikë, sem saber, comeu o próprio filho e o.caldo,
que estava muito apimentado, queimou-lhe por dentro. Enquanto ela estava morrendo,
Përëpërëwa feriu-a algumas vezes para ter certeza que ela não se levantaria de novo.
Então, Përëpërëwa estava de novo pobre, como no início, sem mulher. Um dia ele foi
caçar e deixou uma pilha de batatas sem descascar em casa, quando voltou encontrou-as
descascadas e, no dia seguinte, prontas para comer. Përëpërëwa se escondeu para
descobrir quem estava fazendo aquelas coisas: era uma mulher-urubu vinda do céu.
Përëpërëwa agarrou-a, pegou suas roupas e atirou-as no fogo. Então, ela disse que iria
deixá-lo mais uma vez.Ela disse que se ele a tivesse recebido bem, eles tornariam a viver
juntos, teriam filhos e netos, disse que o pai dela é que a havia mandado, que ele o
queria bem. Mas ela foi embora.
Përëpërëwa novamente estava pobre e sozinho. O pai de Waraku havia fechado os
rios e Përëpërëwa teve que procurar por água. Ariwimë, encontrou o genro e perguntou
onde estava sua filha. Përëpërëwa tentou explicar o que havia acontecido. O sogro disse
que tinha tentado apenas ajudá-lo, mas que agora tinha acabado. Então, Ariwimë despiu
Përëpërëwa, amarrou-o e arrastou-o pela terra e pela água, mesmo nos rios profundos.
Seu único objetivo era matar seu antigo genro, mas Përëpërëwa não podia morrer.
Finalmente, Ariwimë levou Përëpërëwa para o céu, embora quisesse vingar sua filha.
(Koelewijn, 1987: 15-21).
As diferenças entre a história de Përëpërëwa e as versões da visita ao céu acima
comentadas revelam notáveis simetrias. Em todos os casos, a situação inicial é a mesma: o
herói está sozinho. Nas versões pemon, ele é destituído da sociedade e dos bens culturais