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A peça de um ato só moderna não é um drama em miniatura, mas
uma parte do drama que se erige em totalidade. Seu modelo é a cena
dramática. O que significa que a peça de um só ato partilha com o
drama o seu ponto de partida, a situação, mas não a ação, na qual as
decisões das dramatis personae modificam continuamente a situação
de origem e tendem ao ponto final do desenlace. Visto que a peça de
um só ato já não extrai mais a tensão do fato intersubjetivo, esta deve
já estar ancorada na situação. E não como mera tensão virtual a ser
realizada por cada fala dramática (como a tensão constituída no
drama); antes, a própria situação tem de dar tudo. Uma vez que a
peça de um só ato não renuncia de todo à tensão, ela procura
sempre a situação limite, a situação anterior à catástrofe, iminente no
momento em que a cortina se levanta e inelutável na seqüência.
Como a própria situação tem que dar conta de tudo, em meio à
representação crítica dos fatos é possível detectar as propostas do dramaturgo.
Em O público em cena, tem-se a tentativa da Diretora de uma casa
de espetáculos que, preocupada com as cadeiras vazias do auditório, convida
o Público para se apresentar a uma platéia, constituída unicamente por autores
dramáticos, a fim de revelar quais são os assuntos que mais lhe apeteceria ver
em cena. A Diretora e os atores decepcionam-se, pois o Público revela-se
apático, sem preferências e reclama que há algum tempo vem sendo vetado
nas entradas do teatro devido a um público impostor ter tomado o seu lugar.
A crítica é visível na inversão de papéis entre público e autores
dramáticos, e nas falas do Público que se mostra i ndignado com a postura da
diretora, que pretendia direcionar a imaginação dos autores.
Infiltrada na crítica do Público está a voz do autor, clamando que a
imaginação dos autores possa fluir livremente:
PÚBLICO – Pois nem como directora de companhia nem como
primeira actriz a senhora tem necessidade de estar a falar com o
público. É engano seu. Comigo ninguém tem nada que falar.
Entendam-se com os autores: são eles que falam por mim. E mais
uma vez lhe digo: não julgue que em Arte se podem substituir os
autores. Pelo contrário, se querem Arte, se querem dinheiro, mais
dinheiro ainda do que cabe na vossa própria ambição, dinheiro tão
certo que não necessitem de pensar em dinheiro, eu digo-lhes o
segredo: deixem os autores levar intacta até o público a sua
imaginação de autores! O filão de oiro da Arte, da Arte que vale oiro,
e que todo o oiro do mundo não será bastante para a servir, está em
cima da mesa de trabalho de cada autor! Deixem que os autores
encham de oiro metálico, oiro-dinheiro, oiro-sonante, as vossas mãos,
pelo processo deles e no qual vós não acreditais! A imaginação dos
autores é o único segredo do mundo que faz nascer, correr e sem