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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
PROGRAMA DE ESTUDOS PÓS-GRADUADOS EM PSICOLOGIA
EXPERIMENTAL: ANÁLISE DO COMPORTAMENTO
A PSICOLOGIA DE ACORDO COM O RELATO DE UM MEIO DE
COMUNICAÇÃO DE MASSA
Aluna: Adriana Cristina Rocha
Orientadora: Profª Drª Paula Suzana Gioia
PUC/SP
São Paulo
2007
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ii
Adriana Cristina Rocha
A PSICOLOGIA DE ACORDO COM O RELATO DE UM MEIO DE
COMUNICAÇÃO DE MASSA
Dissertação apresentada à banca
examinadora da Pontifícia Universidade
Católica de São Paulo, como exigência
parcial para a obtenção do título de
Mestre em Psicologia Experimental:
Análise do Comportamento, sob
orientação da Profª Drª Paula Suzana
Gioia.
São Paulo
2007
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iii
AGRADECIMENTOS
Agradeço a todas as pessoas que direta ou indiretamente fizeram parte das
contingências de reforçamento que me trouxeram até a conclusão deste trabalho.
Agradeço a todos meus amigos da turma do mestrado que sempre me auxiliaram
nesta árdua caminhada até a defesa. As amigas Lisa, Ângela, Carol Alves, Thais Sales, Ju,
Mô e muitas outras que sempre estiveram me apoiando.
As minhas amigas que sempre estiveram ao meu lado agüentando eu falar deste
trabalho. Tati, Ka, Fabi, Pri. Obrigada por tudo, amigas.
Aos colegas, aos professores, e aos funcionários do laboratório que juntos fazem o
PEXP parecer parte da nossa família.
A querida Dinalva que sempre me ajudou e me deu muita força nos momentos mais
difíceis dessa caminhada, que não foram poucos. Di, muito obrigada por tudo, e agora por
ser minha grande amiga.
A minha orientadora Paula Gioia, meu muito obrigado por tudo. Até que enfim
acabamos.
A Amália e a Teia que do seu modo puderam colaborar para conclusão deste
trabalho.
Agradeço à minha família, e em especial à minha mãe e meu pai que sempre
estiveram me apoiando para terminar tudo isso. A meu irmão querido. Obrigada Lindo.
Meu querido Adriano, que sempre esteve ao meu lado me apoiando em todas as
escolhas da minha vida e dividindo todas as novas experiências. Teve paciência em
entender quando tinha que estudar e não podia ficar com ele. Amo você meu anjo.
iv
“Crescer dói.
Não crescer, dói ainda mais”
(Osvaldo Montenegro)
v
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS.........................................................................................................vii
LISTA DE TABELAS.......................................................................................................viii
RESUMO.............................................................................................................................ix
ABSTRACT..........................................................................................................................x
INTRODUÇÃO...................................................................................................................01
Conhecimento social.............................................................................................................02
A mídia no relato dos jornalistas...........................................................................................05
Estudos sobre a mídia............................................................................................................10
MÉTODO.............................................................................................................................20
1 - Fontes de informação.......................................................................................................20
2.1 - Coleta de dados.............................................................................................................20
2.1.1 – Seleção do material e do período..............................................................................20
2.1.2 – Organização do material e registro...........................................................................22
2.2 Classificação das matérias..............................................................................................22
2.2.1 – Características gerais.................................................................................................22
2.2.2 – Tema Abordado.........................................................................................................25
RESULTADOS E DISCUSSÃO........................................................................................31
REFERÊNCIAS BIBIOGRAFICAS.................................................................................47
vi
LISTA DE FIGURAS
Figura. 1 -
Distribuição do número de matérias publicadas mensalmente sobre a área da
psicologia.......................................................................................................
.................................21
Figura 2 – Número de tipos de matérias...............................................................................32
Figura 3 Número de matérias com consultoria do profissional e de matérias que
mencionem um autor reconhecido........................................................................................33
Figura 4 Número de matérias distribuídas pela participação de diferentes
profissionais..........................................................................................................................34
Figura 5 - Número de instituições de filiações dos profissionais..........................................35
Figura 6 Número de matérias de acordo com a origem do
tema.......................................................................................................................................36
Figura 7 - Número de matérias nas diferentes seções da revista.... ......................................37
Figura 8 Tipo de estratégia de gerenciamento do nível de atenção do leitor utilizada pelos
autores das matérias selecionadas e o número de matérias em cada tipo de
estratégia...............................................................................................................................39
Figura 9- Número de matérias sobre cada tema....................................................................40
Figura 10 Número de matérias de acordo com os diferentes tipos de relacionamento que
estava sendo tratado nas
matérias.................................................................................................................................41
vii
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 – Número de edições consultadas e selecionadas..................................................31
viii
Rocha, A.C. (2007). A Psicologia de acordo com o relato de um meio de comunicação de
massa. São Paulo (p.80). Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-Graduados
em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, Pontifícia Universidade Católica
de São Paulo
Orientador(a): Dra. Paula Suzana Gióia
Linha de Pesquisa:
Desenvolvimento de Metodologias e Tecnologias de Intervenção
RESUMO
Alguns analistas do comportamento, seguindo e ampliando as contribuições de
B.F.Skinner para o estudo do comportamento social, vêm abordando questões referentes a
fenômenos sociais de grande escala. Dentre as questões abordadas a análise do “relatar” da
imprensa vem sendo apontada como fundamental para a compreensão dos controles
exercidos sobre o comportamento humano e as formas pelas quais os indivíduos passam a
“conhecer” o mundo a partir deste relato da mídia. O objetivo deste trabalho foi o de
analisar como o profissional da área da psicologia está sendo apresentado à comunidade
pela revista Veja e para quais assuntos este profissional é chamado a opinar, quais as
principais características destas matérias que este profissional está sendo mencionado. Para
isso, foram coletadas por meio eletrônico, as matérias que foram veiculadas pela revista
durante um ano que faziam referência a esses profissionais e/ou à área da psicologia.
Encontrou-se como resultados que o profissional que foi mais chamado para opinar ou
escrever sobre algum assunto foi o psicólogo seguido pelo psicanalista. O tipo de matéria
em que o profissional da área da psicologia mais apareceu foi categorizado como sendo
reportagem e que este profissional estava participando apenas à nível de consultoria. As
matérias encontradas foram categorizadas de acordo com o tema da matéria, e o tema mais
encontrado foi relações (comportamento) seguido logo após por estudos de saúde e logo
depois matérias que faziam referencia a auto-ajuda. Assim foi possível concluir com esta
pesquisa que o profissional da área da Psicologia é chamado a dar explicações psicológicas
e/ou opinar sobre os mais diversos temas. As matérias foram analisadas também quanto às
estratégias do nível de gerenciamento de atenção do leitor, a estratégia mais utilizada nas
matérias selecionadas foi de arrebatamento que se refere à presença de foto na matéria ou
algum tipo de atrativo gráfico na matéria. As matérias selecionadas para esta pesquisa em
sua maioria havia a presença de fotos. Por fim, pode-se concluir que o conhecimento que
está sendo construído acerca do profissional da área de psicologia pela mídia é formado
pelas informações que este meio de comunicação publica sobre estes profissionais. O
profissional da área da psicologia é mostrado pela mídia impressa como um profissional
sempre pronto para tratar de qualquer assunto. Pois durante a análise dos temas percebemos
que este profissional é chamado para falar dos assuntos mais diferentes.
Palavras – chave: mídia, psicologia, conhecimento socialmente construído.
ix
Rocha, A.C. (2007). São Paulo. Psychology in accordance with the story of a media of
mass. Máster thesis. Programa de Estudos Pós Graduados em Psicologia experimental:
Análise do Comportamento, Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.
Orientador(a): Dra. Paula Suzana Gióia
Linha de Pesquisa:
Desenvolvimento de Metodologias e Tecnologias de Intervenção
ABSTRACT
Media reports in many cases control human behavior and social knowledge is in good part
built by this source of information. This perspective led social scientists and behavior
analysts to investigate different aspects of media reports and their relation to human
behavior. This study aimed at analyzing how Psychology is may be portrayed to lay public
through the news involving Psychology in a weekly Brazilian magazine (Veja) magazine.
All issues published during 1 iear were read on their electronic version, and all news
referring to Psychology and/or psychologists were selected. Various features of the news
were analyzed. Results showed that: (1) Most news were accompanied by illustrations
(photographs or graphs), a strategy intended to attracted readers to the news. (2) Among the
different problems and questions addressed by the selected news, questions about human
characteristics on distinct ages and their related behaviors and feelings were the
commonest. Personal relationships between people (man and woman, parents and children)
were also often addressed. (3) The psychologist, as an specialist, was consulted to give
his/her opinion about a number of different problems, but more often about personal
relationships and health.
Key-words: media, Psychology, social behavior.
x
Banca Examinadora:
__________________________________________________
__________________________________________________
__________________________________________________
Dissertação defendida e aprovada em:____/____/____
xi
Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou
parcial desta dissertação por processos de fotocopiadoras ou eletrônicos.
xii
Assinatura:___________________ Local e Data:_______________________
1
.
A análise do comportamento tem como objeto de estudo a relação do sujeito com o
ambiente com o qual este interage, e enfatiza a importância das variáveis ambientais e do
organismo na determinação do comportamento. Skinner (1953/2000). Segundo o autor,
grande parte desse ambiente é um outro homem.
De acordo com Skinner (1953/1965), “o comportamento social pode ser definido
como o comportamento de duas ou mais pessoas, em relação uma à outra ou em relação a
um ambiente comum”(p.297). O comportamento social surge quando o comportamento de
um indivíduo pode funcionar e/ou funcione como ambiente para um outro organismo.
Para que o comportamento social possa ser reforçado é preciso a mediação de outro
sujeito, isso é denominado reforço social. Esse “outro”, no caso de humanos, apresenta
uma peculiaridade: pode ser um “falante” ou “ouvinte”. O fato de o homem poder ser
“falante” e “ouvinte” apresenta, de imediato, uma implicação: a ação sobre o ambiente
pode ser indireta, por meio da mediação de outras pessoas.
Numa situação não verbal o organismo opera diretamente sobre o ambiente, o qual
estabelece as condições nas quais uma resposta emitida pelo organismo será reforçada. Por
outro lado, existem situações nas quais a presença de outros organismos pode influenciar e
modificar a relação do organismo com o ambiente. Nesses casos, a complexidade do
comportamento aumenta, pois uma interação entre pelo menos dois repertórios
comportamentais.
A maioria das culturas produzem algumas pessoas cujo comportamento é
controlado principalmente pelas exigências de uma dada situação. As mesmas
culturas também produzem pessoas cujo comportamento é controlado
principalmente pelo comportamento de outros. (Skinner 1953/2000 p. 335)
2
.
De acordo com a afirmação acima, percebemos que as pessoas são controladas pelo
comportamento de outros, ou seja, o outro é ambiente para elas. Segundo Skinner
(1953/2000), o reforço social varia de momento para momento dependendo da condição do
agente reforçador. Portanto podemos perceber que o comportamento social é mais extenso
que o comportamento em uma ambiente não-social. O ambiente social é muito mais
variável que o ambiente não social, e todo comportamento social ocorre em um ambiente
social.
Conhecimento Social
A compreensão do relato da imprensa sobre um determinado fenômeno pode ser
abarcado pela descrição de Guerin (1992) sobre conhecimento socialmente construído.
Guerin (1992) descreveu duas condições cruciais para a determinação do conhecimento
socialmente produzido. A primeira condição refere-se às respostas verbais descritas como
tatos e intraverbais que estariam envolvidas na construção social do conhecimento. A
segunda condição refere-se à identificação de que muitas das respostas verbais que
descrevem aspectos do ambiente, topograficamente semelhantes às respostas de tatear,
seriam, na verdade, respostas intraverbais emitidas sob controle discriminativo das
respostas de outros membros da comunidade verbal. Entretanto, quando as conseqüências
que mantêm o tatear são controladas por uma parcela específica da comunidade verbal, as
respostas de tato estariam sujeitas a vieses determinados pelas condições daqueles que
obtêm os reforçadores.
A análise de Guerin (1992) traz considerações importantes para os analistas do
comportamento interessados em compreender e revelar os controles exercidos pela mídia
na divulgação de relatos, tomados por muitos como descrições fiéis, objetivas e
3
.
verdadeiras da realidade. Segundo Martone (2003), a mídia é uma grande formadora de
opinião, ditando padrões comportamentais, regras éticas, criando candidatos e
influenciando fatos políticos e históricos.
De acordo com Guerin (1992), uma questão crucial é o contato cada vez menor das
pessoas, no mundo contemporâneo, com o ambiente mecânico. Tem-se acesso à realidade,
cada vez mais, por intermédio do relato de certos segmentos da comunidade verbal.
Um problema com a mídia moderna de informação, tal como a televisão, é
que ela pode dar suporte à criação de representações sociais contrafatuais, ainda
que na ausência de um grupo social, porque as conseqüências de repetir algo lido
ou ouvido desta maneira são extremamente difusas e intermitentes (cf. Mander,
1980). Isso significa que um enorme potencial para que o conhecimento
contrafatual seja mantido na sociedade moderna, porque o comportamento está se
tornando mais freqüentemente verbal, porque os controles sobre o comportamento
verbal estão se tornando mais facilmente descolados dos controles ambientais não-
sociais. E, também, porque a mídia de massa pode manter comportamentos verbais
contrafatuais que anteriormente podiam apenas ser controlados pelas
comunidades. (Guerin, 1992, p.1428)
1
.
A análise de Guerin (1992) serve também como um alerta para os controles exercidos
por pequenas parcelas da comunidade verbal. Segundo o autor, se o controle social do tatear
1
“A problem with the modern media of information, as the television, is that it can give has supported to the
creation of conterfactual social representations, despite in the absence of a social group, because the
consequences to repeat something read or heard in this way are extremely diffuse and intermittent (cf.
Mander, 1980). This means that it has an enormous potential so that the conterfactual knowledge is kept in
the modern society, because the behavior is if becoming more frequently verbal, because the controls on the
verbal behavior if becoming more easily are unglued from the not-social ambient controls. E, also, because
the mass media can keep conterfactual verbal behaviors that previously could only be controlled for the
communities”. (Guerin, 1992, p.1428)
4
.
estiver nas mãos de um grupo que não reforça necessariamente a correspondência entre as
reais propriedades do ambiente e o relato, mas sim uma dada definição de relato “correto”
estabelecida a priori por esse grupo, se estará diante de ficções criadas para atender alguns
interesses.
De acordo com Skinner (1953/2000), uma agência de controle exerce um controle
maior sobre grupo do que o grupo propriamente dito, dado que a agência é mais
organizada. A sociedade em geral está sujeita a controle de várias agências de controle que
podem manipular variáveis, e estas variáveis tem um efeito sobre o comportamento do
grupo. Essas agências de controle citadas por Skinner (1953/2000) são: governo, religião,
psicoterapia e educação. As idéias de uma agência raramente se aplicam a outra.
Geralmente o grupo não é bem organizado, nem seus procedimentos são
consistentemente mantidos. Dentro do grupo, entretanto, certas agências de
controle manipulam conjuntos particulares de variáveis. Essas agências são
geralmente mais bem organizadas que o grupo como um todo, e freqüentemente
operam com maior sucesso. (Skinner, 1953/2000, p. 363).
Martone (2003) e Alves (2006) consideraram a mídia como uma agência de
controle. Segundo os autores, esta tem o poder de controlar comportamentos por meio de
divulgação sobre fatos não presenciados pelo leitor e produzindo assim o que Guerin
(1992) descreveu como conhecimento socialmente produzido. Os receptores de
informações da mídia (os controlados), ficam sob controle de uma realidade construída,
sem contato direto com o ambiente físico.
5
.
A Mídia no relato de jornalistas
Os estudos de Abramo (2003) nos mostram que a mídia distorce alguns fotos e
acontecimentos quando se é de seu interesse. O autor desmascara a “objetividade” da
imprensa comercial-burguesa, mostra que se trata de uma “falsa objetividade” e situa o
jornalismo praticado pelo mercado como um instrumento de controle que fica restrito nas
mãos de poucos, e que os interesses desses poucos são contrários aos interesses da maioria
dos brasileiros.
...que a “grande mídia” constitui hoje com todas as suas complexidades, os
seus paradoxos e suas contradições uma coluna de sustentação do poder. Ela
constrói consensos, educa percepções, produz “realidades” parciais apresentadas
como a totalidade do mundo, mente, distorce os fatos, falsifica, mistifica atua
enfim, como um “partido” que, da sociedade civil, defende os interesses
específicos de seus proprietários privados. (Abramo , 2003 p.8 )
Abramo (2003) afirma ainda que uma das principais características do jornalismo
brasileiro praticado hoje pela maioria dos jornalistas e da grande imprensa é a manipulação
de informação. O principal efeito dessa manipulação é que os órgãos de imprensa não
refletem a realidade, mas sim uma realidade distorcida. Essa manipulação da realidade
ocorre de diferentes maneiras. O autor nos coloca quatro padrões de manipulação
utilizados hoje pela grande imprensa.
a) Padrão de ocultação – refere-se à ausência e à presença dos fatos reais na
produção da imprensa. Talvez isto seja o que Arbex (2005) relatou sobre a queda do muro
de Berlim, em que ele foi o único jornalista brasileiro a presenciar este acontecimento e o
jornal para o qual era correspondente preferiu colocar como matéria da capa a cassação da
6
.
candidatura do apresentador Silvio Santos à presidência do país. Apesar da importância
histórica da queda do muro de Berlim, esta notícia foi para o da capa, quando merecia,
segundo o autor, três das seis colunas da capa do jornal; b) padrão de fragmentação o
todo real é espedaçado, e algumas partes são apresentados ao leitor. Isso pode estar
relacionado ao que Arbex, (2005) fala do relato da Guerra do Golfo pela CNN, em que a
guerra foi mostrada em tempo real, porém nenhuma gota de sangue apareceu na televisão;
c) padrão de inversão é fragmentado o fato em aspectos particulares, todos eles
descontextualizados, e reordenados por partes. Existe uma substituição de umas partes por
outras. Existem várias maneiras de fazer essa inversão: inversão da relevância dos aspectos
onde o secundário é apresentado como principal e vice-versa, o detalhe pelo essencial;
Inversão da forma pelo conteúdo o texto passa a ser mais importante que o fato que ele
reproduz, uma frase no lugar da informação, o tempo e o espaço da matéria predominando
sobre a clareza da explicação; Inversão da versão pelo fato aqui não é o fato em si que
passa a importar, mas a versão que dele tem o órgão de imprensa. Dentro deste padrão de
inversão temos o Oficialismo – No lugar dos fatos, existe uma versão, sim, mas de
preferência a versão oficial; inversão da opinião pela informação – a substituição inteira
ou parcial da informação pela opinião; d) padrão de indução –ocorre uma combinação dos
casos, dos momentos, das formas e dos graus de distorção da realidade. A população é
induzida a consumir uma outra realidade, uma realidade artificialmente inventada.
Ainda com relação à manipulação realizada pela imprensa, Hernandes (2006)
afirma que ocorre de forma sutil. A mídia no papel de destinadora espera um efeito no
leitor que está no papel de destinatário ao relatar sua notícia, ou seja, a dia utiliza-se da
notícia impressa para manipular o seu leitor. Um meio de comunicação obtém o que quer,
ou seja, atinge os seus objetivos, principalmente a partir da instauração de diferentes
7
.
formas de curiosidade (querer saber) que são satisfeitas com a realização de uma ação
(comprar o jornal ou a revista que contém a informação que se quer saber).
Abramo (2003) relata que essa distorção da realidade que existe na mídia é
deliberada, tem um significado político e um propósito.
Assim, é sustentável a afirmação pelo menos em caráter de hipótese de
trabalho de que os órgãos de comunicação se transformaram em novos órgãos
de poder, em órgãos políticos-partidários, e é por isso que eles precisam recriar a
realidade onde exercer esse poder, e para recriar a realidade precisam manipular
as informações. A manipulação, assim, torna-se uma necessidade da empresa de
comunicação, mas, como a empresa não foi criada nem organizada para exercer
diretamente o poder, ela procura transformar-se em partido político. (Abramo,
2003, p. 44).
O controle e a manipulação do que é relatado sobre o ambiente fica nas mãos de
alguns membros da comunidade, o leitor que toma contato com a realidade de acordo com
o que é relatado pela imprensa fica sob controle de uma realidade construída, sem contato
direto com o ambiente propriamente dito, isso exemplifica o que Guerin (1992) chamou de
conhecimento socialmente construído.
Os grandes conglomerados de mídia e comunicação mantêm estreitos nculos com
o poder do Estado, mesmo que tais vínculos não sejam tão simples e diretos aos olhos do
grande público (Arbex, 2005).
Mesmo a divulgação de uma cifra espantosa como a Guerra do Golfo
100.000 mortes em apenas quarenta dias não produz efeitos nem sequer
longinquamente comparáveis aos que seriam criados caso fossem transmitidas
8
.
as imagens de corpos sendo estraçalhados por rajadas de metralhadoras. A
mídia conquistou, de fato, a capacidade política e tecnológica de ocultar até
genocídios de grandes proporções. Esse dado coloca, com urgência, as
indagações sobre o futuro dessa perigosa articulação de interesses entre as
grandes corporações da mídia e o Estado (Arbex, 2005, p. 121).
Hernandes (2006) realizou uma análise da mídia impressa, utilizando como base
o jornal diário Folha de São Paulo e a revista semanal Veja.
O autor afirma que esses produtos são, para a “elite”, chamados de formadores
de opinião, e que nos últimos anos essa mesma “elite” tem preferido revistas aos jornais
diários. A revista Veja tem publicação semanal, com aproximadamente 80 páginas de
jornalismo. A revista tenta espalhar assuntos de variedades e comportamento junto a
outros editoriais.
Um dos objetivos de sua análise foi investigar como as notícias servem para
infundir visões de mundo, motivar o consumo e a sobrevivência da própria mídia
impressa. O autor afirma que
o estudo das especificidades de diários e revistas tem como ponto de partida o
exame da administração de elementos no suporte de papel que mostra como
funciona, nos impressos, o gerenciamento do nível de atenção, o caminho do
sensível ao inteligível, as estratégias de arrebatamento, sustentação e fidelização
da atenção dos leitores. O manejo de suportes, os efeitos de projetos gráficos e
de diagramação remetem aos trabalhos de profissionais ligados ao design, nem
sempre interessados em discutir as produções de uma perspectiva teórica
(Hernandes, 2006, p.185-186).
9
.
De acordo com Hernandes (2006), as pessoas que são responsáveis pela
diagramação dos jornais e revistas utilizam algumas estratégias de gerenciamento do
nível de atenção do leitor que funda e sustenta a relação mídia impressa e o leitor, por
exemplo, o jogo de cores ou alguns tipos gráficos, “vermelho significa paixão” e Times
New Roman é uma letra que sugere seriedade”. Os diagramadores, segundo o autor,
fazem uso de três estratégias de gerenciamento do nível de atenção:
a) estratégia de arrebatamento: criam iscas para o olhar do leitor, em que o tulo
da notícia contenha pontos de atração de curiosidade de ordem gráfica. As iscas estão
relacionadas à criação de descontinuidades do plano de expressão com a função de obter
o primeiro engajamento perceptivo do leitor; b) estratégia de sustentação: procuram
construir uma publicação atraente, bonita e completa aos olhos do leitor. O leitor é
persuadido pela forma de apresentação da notícia e de que pode se informar de maneira
rápida e eficiente; c) estratégias de fidelização: é criado um sentido de identidade visual
do jornal ou da revista, o leitor sabe onde vai encontrar cada informação de que
precisa, pois sabe em qual parte da mídia imprensa ele vai procurar. Essa fidelização
nasce do contato rotineiro com as edições da revista. Ex: páginas amarelas na revista
Veja. Todas essas estratégias são utilizadas para sustentar e manter a atenção e a
curiosidade do leitor e assim vender cada vez mais seu produto.
O foco maior, no entanto, é o exame das estratégias de persuasão
mobilizadas pelos jornais e revistas para fazer o público-alvo realizar
principalmente a performance de consumidor. Os noticiários perseguem maior
audiência (nos casos dos programas de Tv ou rádio, além de sites na Internet)
ou maior tiragem (a exemplo das revistas e diários), base da lucratividade e do
poder das empresas de comunicação. Para atingir o objetivo, constroem as
10
.
unidades noticiosas e as organizam em edições também sedutoras (Hernandes,
2006, p. 37).
Estudos sobre a mídia
A influência da mídia na compreensão e na formação de opiniões entre as
comunidades vem sendo foco de estudo de analistas do comportamento nos últimos anos
(Martone, 2003; Andery, M. M., Sério, M. T., Micheletto, N., Gioia, P. S., Benvenutti, M.,
Guedes, M. L., Atzingen, A. C. R., Piazzon, C. S., Halfon, D., Andrade, I., Nogueira, M.,
Tafner, M., Gonçalves, P. e Paolinetti, S. S., 2004; Campos, 2005 e Alves, 2006). Estes
pesquisadores vêm tentando entender a relação da mídia e os fenômenos existentes na
sociedade. Também não se pode negar a enorme influência que a mídia exerce no
posicionamento que o indivíduo assume diante de tais fenômenos.
O trabalho de Martone (2003) teve como objetivo apresentar uma análise sobre o
relato da imprensa enquanto agência controladora sobre um conjunto de práticas
produzidas por uma cultura, imediatamente após o episódio que ficou conhecido como os
“ataques terroristas de 11 de setembro de 2001” contra os Estados Unidos. (ataque às torres
gêmeas nos EUA).
Martone (2003) utilizou como fonte de informações as notícias veiculadas na
Internet por uma rede de notícias americana (CNN) nos três dias após o ataque. O autor
utilizou a classificação feita pela própria agência controladora na divulgação dos relatos e
também fez uso de uma classificação criada a partir da identificação dos sujeitos das ações
descritas na notícia. A classificação da própria CNN foi realizada de acordo com os temas
que se encontravam escritos em sua primeira página. (AMÉRICA, LINHAS DE FRENTE,
BIN LADEN, AFEGANISTÃO, ANTRAX, VÍTIMAS, DIA DE TERROR,
11
.
RECONSTRUÇÃO, INVESTIGAÇÃO E RETALIAÇÃO). As manchetes das notícias
selecionadas foram categorizadas pelo experimentador. Essas categorias foram criadas com
o objetivo de verificar: os assuntos tratados nas manchetes veiculadas pela CNN no período
em questão.
Martone (2003) selecionou 116 notícias que foram veiculadas pela CNN das 10
horas do dia 11 de setembro até às 24 horas do dia 13 de setembro de 2001. Este
selecionou notícias do arquivo eletrônico da CNN dos dias 11, 12 e 13 de setembro de
2001. Optou-se pelos três dias iniciais de veiculação de notícias com o intuito de averiguar
como a imprensa eletrônica, no caso a CNN, relatou os episódios de 11 de setembro e seus
desdobramentos imediatamente após os “ataques terroristas”. Com base nesse critério,
somente foram selecionadas notícias categorizadas pela CNN como VICTIMS (vítimas),
DAY OF TERROR (dia de terror), RECOVERY (recuperação), INVESTIGATION
(investigação) e RETALIATION (retaliação), pois somente essas categorias traziam notícias
dos dias 11, 12 e 13 de setembro de 2001.
As manchetes das notícias veiculadas pela CNN nos dias 11, 12 e 13 de setembro
foram averiguadas quanto ao relato da ação de alguma agência de controle. O autor
destacou cinco aspectos para sua análise: o número de notícias, a categorização feita pela
CNN, a categorização construída pelo próprio autor, e ainda a categorização de acordo
com as agências de controle encontradas pelo autor.
Martone (2003) analisou as notícias veiculadas nos dias 11, 12 e 13 de setembro de
2001. Inicialmente categorizou as notícias segundo a CNN e segundo o experimentador. O
autor tentou ainda traçar uma espécie de análise cultural dos relatos da CNN,
selecionando no texto das notícias ações internas e
12
.
capitalista, industrial e protestante, praticada por indivíduos residentes na América
do Norte.
De acordo com as análises feitas pelo autor, nas primeiras seis horas após o
atentado, houve uma prevalência de notícias nas categorias intituladas “dia do terror” e
“reconstrução”. Com o passar das horas, houve um visível aumento de notícias em torno de
uma “reconstrução” e as notícias veiculadas na categoria “dia do terror” foram diminuindo
visivelmente. Concluiu-se com esta pesquisa que o conteúdo das matérias divulgadas pela
agência de controle pôde sugerir que a própria agência de controle poderia influenciar a
opinião pública logo nas primeiras horas após os “ataques”. Este tipo de relato, de acordo
com o autor, poderia estabelecer operações de controle sobre o comportamento da
população de forma a dar liberdade ao governo americano para agir conforme os seus
13
.
suas determinações históricas e sociais, propiciando o ocultamento de variáveis
importantes de controle e uma completa alienação do que ou quem está no
controle. Acredita-se que o comportamento humano seja multideterminado e não
ocorra desvinculado de seu contexto ambiental. (Martone, 2005, p. 77 – 78).
O trabalho realizado por Alves (2006) investigou a participação da mídia em um
fenômeno social partindo do conceito de conhecimento socialmente construído, proposto
por Guerin (1992) para tal fenômeno. Alves (2006) utilizou notícias publicadas na
imprensa brasileira sobre dois eventos ocorridos recentemente no mundo,
conhecidos como (a) o atentando de 11 de setembro de 2001, ocorrido nos EUA, e
(b) o atentado de 11 de março de 2004, ocorrido em Madrid, na Espanha. Alves
(2006) teve como foco de análise as notícias veiculadas na imprensa brasileira,
diferentemente de Martone (2003) que recorreu a CNN.
Alves (2006) retrata em seu trabalho que o conhecimento das pessoas, que
não presenciaram o evento e que leram jornais, a respeito desses eventos é um
exemplo do que Guerin (1992) chamou de conhecimento socialmente construído,
ou seja, pode ser caracterizado como comportamento verbal produzido a partir do
que foi lido nos jornais, ou visto na televisão enfim, originado do contato desses
indivíduos com a mídia. Em seu trabalho, a autora se preocupou principalmente
em identificar características nos relatos publicados sobre cada um desses eventos
na tentativa de responder a algumas perguntas: quais eram as características -
formais e de conteúdo - dos relatos publicados em alguns veículos de imprensa do
Brasil sobre os eventos de 11 de setembro de 2001 e 11 de março de 2004?
Existiam relações estabelecidas entre os relatos dos dois eventos? Quais relações
poderiam ser identificadas? Havia semelhanças e/ou diferenças em relação à forma
14
.
ou ao conteúdo dos relatos num mesmo jornal ou entre os diferentes jornais na
publicação de um ou dos dois eventos?
A autora analisou manchetes e imagens de notícias publicadas em dois
jornais diários de circulação nacional, escolhidos devido ao grande número de
exemplares produzidos e vendidos diariamente. Os jornais escolhidos pela
pesquisadora foi a Folha de São Paulo, pelo fato de ser considerado o de maior
circulação nacional e o jornal O Estado de São Paulo, por ser o terceiro jornal de
circulação nacional. Alves (2006) selecionou 12 edições dos jornais; foram
coletadas 777 matérias das quais 381 foram publicadas na Folha de São Paulo e
396 foram publicadas na O Estado de São Paulo.
Para sua análise, Alves (2006) utilizou-se da classificação formulada pela
agência de notícias CNN, a mesma utilizada por Martone (2003). As noticias neste
estudo também foram analisadas nos aspectos formais, como o tamanho das
notícias, a sua disposição pelo jornal e pelas páginas em que aparecem, a presença
ou não de imagens, a quantidade de notícias e também a origem e o formato destas
notícias. Para a autora esses aspectos formais são aspectos que podem ter efeitos
no comportamento do leitor.
Alves (2006) pôde perceber que as notícias mais publicadas,
independentemente do evento, ou do tipo de mídia que foi veiculado, foram
aquelas cujas manchetes foram classificadas em dia do terror, que de maneira
geral relataram os eventos, ou traziam relatos de testemunhas sobre os mesmos,
seguidos de matérias com manchetes classificadas como reconstrução, que
relatavam por sua vez, os diversos tipos de repercussão ocorridos tanto nos países
onde se deram os eventos, como no mundo. Com esse estudo a autora pode
verificar que ambos os jornais mostraram o evento de 11 de setembro como um ato
15
.
de guerra e o foco da reação foi a agência governamental. Já o 11 de março foi
relatado pelos jornais como uma tragédia com ênfase nas vítimas e o foco da
reação foram as manifestações da sociedade civil pela paz.
Pôde perceber, ainda, em seus resultados que houve uma semelhança entre os
jornais na configuração das suas primeiras ginas na veiculação de ambos os eventos:
apresentando um relato dos eventos no primeiro dia, a reação imediata do país atingido no
segundo, e a ênfase em apontar um suspeito no terceiro dia.
A autora concluiu que os dois jornais destinaram mais espaço de suas
páginas ao atentado aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 do que
dedicaram ao atentado ocorrido em 11 de março de 2004 na Espanha.
Campos (2005) realizou ainda uma trabalho tendo o relato da mídia como objeto de
estudo. Analisou como um meio de comunicação de massa relata sobre a visão da Igreja
em relação ao homossexualismo. Considerando a mídia e a igreja agências de controle, a
autora verificou como essas agências, possivelmente controlam as visões da comunidade
frente ao homossexualismo.
Para isso foram selecionadas as matérias publicadas no jornal Folha de São Paulo
que continham a relação entre a Igreja e homossexualismo, no período de janeiro de 1996 a
20 de abril de 2005. As matérias foram classificadas quanto aos aspectos formais e ao
conteúdo. Quanto aos aspectos formais foram analisados a data, o Caderno ou seção, o
título, a autoria e a publicação de foto ou ilustração nas matérias. Quanto ao conteúdo
foram analisados o tema, a visão sobre a homossexualismo e o momento em que foi
veiculada a matéria.
Ainda de acordo com Campos (2005), os principais resultados indicaram que o
leitor do jornal pôde estar em contato com matérias que relatam a visão da Igreja sobre o
homossexualismo. Isso, segundo a autora, pode significar que o jornal, ao publicar a visão
16
.
da Igreja sobre o comportamento homossexual, estaria dando visibilidade a Igreja e seu
17
.
publico feminino; três revistas voltadas para o público masculino; quatro revistas voltadas
para um público específicos (profissionais da saúde). Foram selecionadas todas as matérias
com referência à psicologia e/ou com referência ao profissional da área de psicologia, o
psicólogo. Tal coleta teve duração de cinco meses consecutivos. As matérias selecionadas,
entre outros aspectos, foram analisadas com relação à seção do jornal ou da revista em que
estavam publicadas; quanto ao tipo de matéria (por exemplo, reportagem, entrevista),
quanto à disposição da matéria, à linguagem utilizada, ao participante (autor), ao tema e
quanto à origem do tema.
As autoras citam em seus resultados que nos jornais diários foi observado que o
psicólogo é chamado à mídia para falar sobre os mais diversos temas, tais como, anorexia,
bulimia, autismo infantil, depressão, estresse, abstinência de drogas, hipocondria,
compulsão por jogos ou por drogas. Nas revistas específicas são chamados a falar sobre os
mais diversos transtornos e problemas de relacionamentos, emoção, cognição, inteligência,
motivação, qualidade de vida, traços de personalidade, problemas de aprendizagem,
fracasso escolar, transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, entre outros.
Tefner (2005) fez uma replicação sistemática desta pesquisa em seu trabalho de
conclusão de curso com o intuito de tentar completar sua análise e identificar, no jornal
Folha de São Paulo, como e em quais situações o profissional da psicologia é chamado a
participar na mídia impressa, e também, como ele se apresenta e responde a estas
situações.A autora analisou um período de cinco meses de publicações do jornal.
Para iniciar seu estudo, a autora realizou a coleta através dos arquivos do site da
Folha de São Paulo e foram coletadas notícias veiculadas no jornal dos dias 01/12/2003 ao
dia 30/04/2004. Após a coleta, todas as notícias selecionadas foram criadas categorias
relacionadas à estrutura da notícia e também relacionadas ao conteúdo de cada notícia.
Com relação à estrutura, a autora identificou a data em que a notícia foi veiculada, o
18
.
caderno em que a matéria foi publicada, o profissional consultado, entre outros aspectos.
Quanto ao conteúdo das notícias, foram identificados os temas tratados nas matérias e o
tipo de linguagem utilizada.
Tafner (2005) pôde identificar através dos resultados de seu estudo, que dois tipos
de profissionais da área da psicologia são mais freqüentemente requisitados pela mídia
impressa a opinar sobre diversos temas, esses profissionais são o psicólogo e o psiquiatra.
A autora identificou ainda em seu estudo que o psicólogo é chamado a falar sobre temas
sobre “relações interpessoais”, principalmente temas que abordam as relações humanas
entre os sexos. Ele foi descrito como um profissional que trabalha isoladamente, sem
vínculo acadêmico e/ou cientifico. Já o psiquiatra foi associado a temas que tratavam em
sua maioria de assuntos relacionados a diversas patologias.
Os trabalhos descritos anteriormente, que tiveram a mídia escrita como foco de
estudo, alertam para a possível influência que os meios de comunicação podem exercer
sobre as pessoas na instalação, modificação e a mesmo eliminação de alguns
comportamentos. Esta influência pode ser entendida através da análise das interações
sociais envolvidas na comunidade verbal na qual o sujeito está inserido. A mídia está
participando o tempo todo da comunidade verbal, pois é parte integrante do contexto que
formam elos entre as pessoas e o ambiente social, também pode ser considerada como um
dos componentes nas relações verbais entre ouvintes e falantes.
Partindo do mesmo foco de análise sobre o conhecimento socialmente construído,
estamos interessados em identificar que conhecimento a mídia pode estar produzindo a
respeito da psicologia. Tendo em vista que os dados levantados pelas autoras indicaram a
importância de uma análise mais minuciosa da relação entre a mídia e psicologia,
pretendemos no presente estudo realizar uma replicação sistemática dessa pesquisa.
19
.
Pretendemos produzir uma análise da relação entre a mídia e a psicologia que nos
possibilite responder a algumas perguntas:
Sobre quais assuntos o profissional da área da psicologia é chamado a opinar?
Quais as principais características encontradas nas reportagens que fazem referencia à
psicologia e/ou ao profissional desta área?
Que conhecimento é construído pela mídia a respeita da psicologia?
Tais perguntas servirão para guiar a coleta e análise de dados e verificar que
conhecimento a mídia está socialmente produzindo com relação à psicologia e ao
profissional desta área.
20
.
MÉTODO
1. FONTE DE INFORMAÇÃO
Foram selecionadas para análise apenas as matéria encontradas na revista Veja.
Dessa revista foram selecionadas apenas matérias referentes à profissionais da Psicologia e
áreas afins. A coleta foi realizada através dos arquivos do site da revista Veja
(www.veja.com.br). Este veículo de comunicação foi selecionado devido ao fato de que,
de acordo com Hernandes (2006), ser uma importante revista de circulação nacional e
grande formadora de opinião, principalmente dentre da “elite e que chegou em 2004 a
uma circulação semanal de quase dois milhões de exemplares, como podemos confirmar
com a afirmação:
Proprietários de jornais e revistas afirmam que seus produtos são para a
“elite”, os chamados formadores de opinião. Nos últimos anos essa mesma
“elite” tem preferido revistas aos diários. As revistas semanais, capitaneadas
pela Veja, tiveram uma circulação semanal em 2004 de quase dois milhões de
exemplares. (Hernandes, 2006. p.183 e 184)
2. PROCEDIMENTO
2.1 COLETA DE DADOS
2.1.1. Seleção do material e do período
Para a seleção do período e do material correspondente a esse período na revista Veja,
procedeu-se da seguinte forma:
foi selecionado o período entre 01 de agosto de 2004 à 31 de agosto de 2005 no site da
revista Veja. Não foram utilizadas nessa pesquisa as edições regionais da Veja, como Veja
21
.
São Paulo e também não foram utilizadas as edições especiais da revista, que podem ser
sobre crianças, jovens, mulheres, homens.
No buscador disponível foram digitadas uma de cada vez as seguintes palavras:
“psicologia”, “psicólogo”, “psicanalista” e “terapeuta”. Na Figura 1 podemos verificar a
quantidade de matérias publicadas em cada mês.
2
4
6
10
ago/04
set/04
out/04
nov/04
dez/04
jan/05
fev/05
mar/05
abr/05
m ai/05
jun/05
jul/05
ago/05
Meses
Número de matérias
Figura. 1 – Distribuição do número de matérias publicadas mensalmente sobre a área da psicologia.
Observa-se na Figura 1 que o número de notícias variou de zero a nove. Podemos
notar também que existem alguns meses que se destacam dentre os outros por terem um
número maior de publicações de matérias publicadas.O mês de janeiro de 2005 foi o que
mais se destacou com nove notícias publicadas e maio deste mesmo ano com a publicação
de seis matérias. Assim como, no mês de outubro de 2004, que também chamou atenção
devido ao fato de que não houve nenhuma notícia que mencionasse qualquer profissional
da área da psicologia. No mês de junho de 2005 houve apenas uma notícia. Nos meses de
agosto de 2004, setembro de 2004, outubro de 2004, fevereiro de 2005, março de 2005,
abril de 2005, junho de 2005, julho de 2005 e agosto de 2005, o número de matérias
selecionadas variou entre duas a quatro matérias em cada mês.
22
.
Todas as matérias encontradas foram impressas e lidas em sua íntegra. Após esta
leitura, o conjunto de matérias foi organizado e cada uma classificada de acordo com os
critérios descritos a seguir.
2.1.2. Organização do material e registro
A matéria selecionada foi registrada em uma planilha Excel. As colunas eram
compostas pelos seguintes itens: data, título da matéria, tipo de matéria, se havia ou não a
presença de foto na matéria, profissão e nome do profissional participante, tema da
matéria, origem deste tema, a base para a análise da matéria e por último um breve resumo
da matéria. Nas linhas foram registrados os dados requeridos nas colunas. (Ver apêndice)
2.2 CLASSIFICAÇÃO DAS MATÉRIAS
Após a primeira leitura, as matérias foram classificadas quanto:
2.2.1 - Características Gerais:
a) Data: Registrou-se a data em que a matéria foi impressa.
b) Seção: Foi registrada a Seção em que se encontrava cada matéria. (por exemplo:
Educação, Comportamento, Páginas Amarelas, Cotidiano). A identificação da seção
sempre estava apresentada imediatamente antes do titulo da matéria e abaixo da data.
c) Tipo de matéria: as matérias foram classificadas como:
1 - Reportagem: São matérias cujo tema está sendo debatido pelo veículo de
comunicação com o envolvimento de um ou mais profissional, assinada ou não por
profissional da revista.
2 - Entrevista: São matérias na forma de perguntas e respostas. As perguntas são
dirigidas a um profissional relacionado a área da psicologia.
3 - Artigo assinado: São matérias assinadas por profissionais pertencentes à área da
23
.
psicologia.
4 - Cartas: São cartas de leitores publicadas pelo veículo de comunicação escritas
por profissionais relacionados à área da psicologia, ou leitores que fazem referência a
matérias de profissionais da área.
5 Recomendação: A menção feita ao profissional da área por algum outro
profissional (médico, ou algum outro profissional da área da psicologia).
6 Resultados de pesquisa: São matérias que apresentam resultados de estudos
relacionados à área da psicologia.
d) Tipo de envolvimento do profissional na matéria: foi registrada a forma de participação
do profissional de acordo com as seguintes categorias:
- Consultoria de: psicólogo, psicanalista, terapeuta. As consultorias são aquelas
matérias nas quais, pelo menos, um dos profissionais é chamado a opinar brevemente sobre
o tema em questão.
- Autor reconhecido: seriam aquelas matérias que existe a citação de algum autor
reconhecido dentro da psicologia. O jornalista que está escrevendo a matéria, menciona
algum autor reconhecido da área da psicologia.
e)Tipo de Profissional mencionado: Esse critério diz respeito ao destaque dado ao trabalho
do profissional participante. Quando havia mais de um participante, foram registrados os
dois participantes quando estes tinham profissões diferentes. Quando houve mais de um
profissional mencionado na matéria com a mesma profissão, registrou-se apenas a
profissão e não o número de participantes.
Psicólogo
Psicanalista
24
.
Terapeuta
Psicólogo e Psicanalista
Psicólogo +Psicanalista + Terapeuta
Psicólogo + outros (não pertencentes à área, por exemplo, sociólogo, antropólogo)
Não mencionado
Quando o participante foi identificado pelo nome, além da profissão, também foi
registrado o nome do profissional.
Observações: o símbolo + refere-se a mais de um profissional, e quando é usado o
“e” refere-se ao mesmo profissional que possui mais de uma titulação.
f) Filiação: Diz respeito à filiação do participante a alguma instituição, seja acadêmico-
científica, empresas, Ongs, entre outras. Registrou-se a instituição mencionada na matéria.
Quando não houve identificação da filiação, a pesquisadora registrou como “não
mencionado”.
Também será realizada, nesta pesquisa, uma análise de acordo com algumas
estratégias de gerenciamento do nível de atenção despertados no leitor descritos por
Hernandes (2006).
g) Estratégias de gerenciamento do nível de atenção: são estratégias utilizadas pela mídia
para prender a atenção do leitor, que Hernandes (2006) coloca como sendo algo de grande
importância e muito usado pela mídia impressa. As estratégias de gerenciamento do nível
de atenção que foram analisadas nesta pesquisa:
a) Estratégias de arrebatamento: consiste em criar iscas para o olhar do leitor através
de estratégias de ordem gráfica, como o tipo de letra utilizada no título, o tamanho da letra
25
.
do título, uma foto. As matérias encontradas nesta pesquisa em sua maioria possuem fotos
e possuem o tamanho das letras do título maior que as letras do corpo da notícia.
b) Estratégias de sustentação: fazer-crer em uma fácil legibilidade consiste em passar
para o leitor a sensação de que ele pode ter acesso rápido a tudo o que interessa a ele saber,
o leitor consegue identificar a valorização que é dada a notícia devido a ocupação espacial,
e entra aqui também o aspecto relacionado a beleza e a atratividade da notícia. Ex: muitas
notícias das quais foram selecionadas para esta pesquisa estava como assunto especial da
revista, ocupando um grande espaço da revista e com o titulo com letras enormes.
c) Estratégia de fidelização: consiste na repetição de determinadas características da
notícia, como, por exemplo, estar publicada sempre no mesmo caderno dentro da revista ou
do jornal. Ex: na revista Veja podemos citar as “páginas amarelas”, que contém em toda
edição uma entrevista com uma pessoa importante falando de algum tema da atualidade.
2.2.2 Tema abordado: As matérias também foram classificadas quanto ao seu conteúdo, ou
seja, aos assuntos que foram tratados.
1)Tema da matéria: Todas as matérias foram lidas em sua íntegra e classificadas de acordo
com o tema que abordavam. A categorização dos temas foram baseada, em parte, no
trabalho de Tafner (2005) e também em função de uma prévia leitura das matérias
selecionadas. Os temas foram categorizados da seguinte maneira:
Relações (comportamento)
Matérias abrangentes que abordam o comportamento de pessoas em diferentes fases
da vida (infância, velhice) com relação às perspectivas, expectativas, projetos e percepção
26
.
de tempo; ou também que abordam os comportamentos específicos, como por exemplo, o
pessimismo. Matérias que tratam de diversos tipos de relações que podem ser entre as
pessoas (homens e mulheres, pais e filhos, culturas diferentes, psicólogos e clientes etc).
Exemplo: Vida sexual e/ou conjugal, Relação entre psicólogo e cliente, Homossexualismo,
Relação pais e filhos, entre outros. Encontramos nessa categoria a entrevista de um
psicanalista que foi publicada nas páginas amarelas que relata como é sua atuação clinica
no atendimento de israelenses e palestinos. Outra matéria que relata que muitos casais na
atualidade tentam salvar seu casamento numa clinica com a terapia de casal. Também
encontramos uma matéria que mostram as cidades brasileiras com maior numero de
mulheres sozinhas, e que constata que a partir dos 35 anos de idade, a solidão feminina
aumenta e a do homem diminui.
Outra matéria fala sobre o livro para meninas, que mostra como descobrir se o
menino está ou não interessado nela. O psicólogo afirma que se logo nos primeiros
obstáculos a menina desistir, então vai ficar muito difícil dessa se relacionar novamente.
Encontramos também uma matéria sobre amigos imaginários na infância, em que o
psicólogo vem relatar que a criança que possui esses amigos pode ser amais saudável. È
aceitável que uma criança tenha amigos imaginários até os sete anos de idade, embora essa
fantasia deixa de existir na maioria das vezes por volta dos quatro ou cinco anos.
Educação
Matérias relacionadas à melhoria da aprendizagem formal (escolar ou acadêmica),
como por exemplo: trabalhos psicopedagógicos para alunos “com perturbação de
comportamento e conduta”, orientação para vestibulandos quanto ao estudo, atividades
físicas, interação social e sua importância, aulas particulares, orientação vocacional e
27
.
escolha profissional. Como por exemplo, a matéria que fala sobre a fobia escolar entre os
professores devido ao grande índice de indisciplina dos alunos em sala de aula. Os
professores relatam em muitos casos terem medos de seus alunos, e assim muitas vezes
sentem-se impotentes diante dos alunos que na maioria dos casos ignoram a autoridade do
professor porque o vêem como uma espécie de empregado.
Violência
Matérias que tratam da análise da violência praticada por pessoas identificadas, ou
a análise da violência em geral na sociedade em que vivemos. Ex: Matéria que fala sobre a
retirada dos palestinos da faixa de Gaza pelo exército Israelense. O psicólogo é chamado
para explicar o porquê da violência nesse país.
Uma outra notícia que relata a solução que algumas escolas estão utilizando para
reduzirem os episódios de violência dentro das escolas. Uma outra noticia onde o
psicólogo é chamado a dar explicações, foi em uma notícia que mostram pesquisas que
evidenciam comportamentos agressivos no transito brasileiro, onde pessoas traçam
verdadeiras guerras e ainda mostrou que a mulher são as mais nervosas no transito.
Patologia
Matérias referentes a tratamentos e/ou informações de “patologias” e alterações
comportamentais gerais e específicas, de origem orgânica ou não (Alzheimer, Transtorno
de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtorno Obsessivo Compulsivo, Transtorno
alimentares, Síndromes do Pânico, Distúrbio de Ansiedade, fobias, entre outras) efeitos e
os riscos à saúde; consumo, prevenção e tratamento contra as drogas. Exemplos: matérias
28
.
que afirmam que a cirurgia de redução de estômago pode levar à depressão, bulimia,
anorexia e alcoolismo, entre outras doenças psiquiátricas. Foi encontrado uma matéria
onde o psicólogo estava dando explicações de diferentes assuntos, como as raízes
psicológicas do câncer.
Trabalho
Matérias que tratam das questões profissionais, mais especificamente as
organizacionais, como capacitação do profissional, competência, liderança, além das
relações sociais no ambiente de trabalho e dos comportamentos envolvidos nessa relação
do homem com o trabalho. Exemplos doenças originadas no ambiente de trabalho.
Matérias que mostram pesquisas sobre o estresse causado pelo trabalho, que o assédio
moral no trabalho pode resultar em alguns danos psicológicas, como stress, perda de
memória, ganho de peso, entre outros. Outra matéria encontrada nesta pesquisa foi que
homens e mulheres se estressam mais ou menos no trabalho por diferentes motivos. O que
mais causa stress nas mulheres é a sobrecarga de trabalho e já entre os homens é o medo de
perder o emprego.
Informática
Matérias que trazem assuntos que dizem respeito à Internet, como, por exemplo,
testes psicológicos que se encontram disponíveis em diversos sites e os problemas
referentes. Ou matérias sobre jogos eletrônicos Ex. o “The Sims” que se tornou uma
verdadeira febre entre adultos e crianças.
29
.
Religião
Matérias que tratam da importância da religião dentro dos consultórios e os
benefícios que essa pode dar aos pacientes em tratamento; comportamento dos fiéis,
seguidores de doutrinas ou religiões que seguem rituais religiosos.
Auto-ajuda
São notícias que relatam algumas alternativas para o indivíduo (isolado e não em
parceria ou grupo) vencer com mais facilidade os obstáculos do dia-a-dia que o
incomodam sejam psicológicos ou físicos. São notícias que descrevem maneiras de superar
as dificuldades que a maioria do seres humanos possuem. Ex: matéria afirma que para que
as pessoas se tornarem melhores, eles devem reservar um tempo para si mesmo e fazer
aquilo que proporcione prazer, como meditar, ler um bom livro, levar seu animal de
estimação para passear.
Livros de auto-ajuda infantis que estão invadindo o mercado. Nestes livros ensinam
como a criança pode lidar melhor com o divórcio dos pais, como superar morte de pessoas
queridas, entre outros temas.
Estudos sobre saúde
São notícias que se referem a estudos sobre novos tratamentos e novos
medicamentos para as mais diversas patologias. Ex: encontramos notícias fazendo
referência a novos tratamentos com o uso de medicamentos e o acompanhamento com
psicólogos para depressão, ansiedade e fobias.
30
.
Novos campos de atuação do profissional da área da psicologia.
São notícias que descrevem a atuação do profissional da área da psicologia nos mais
diferentes contextos e as novas áreas de atuação que estão surgindo. Ex: uma matéria que
trouxe o relato de um terapeuta que acompanhou a gravação do disco de uma banda de
rock.
31
.
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Foram consultadas 56 edições da revista Veja durante o período de agosto de 2004
a agosto de 2005. Das 56 edições consultadas da revista Veja durante o período da coleta,
foram encontradas 33 edições com matérias que faziam referência ao profissional da área
de psicologia. Isto representou 58,9 % das edições veiculadas pela revista no período da
coleta (Tabela 1). Algumas edições apresentaram mais de uma matéria e também algumas
edições não continham matéria.
TABELA 1
. Número de edições consultadas e selecionadas.
edições
consultadas
edições
selecionadas
% de
edições
Veja
56 33 58,9 %
Investigou-se ainda o tipo de matéria que estava sendo apresentada pela revista
(reportagem, entrevista, artigo assinado, cartas, recomendação e resultados de pesquisa).
Na Figura 2 observam-se os tipos de matérias mais encontrados: reportagem e resultados
de pesquisa. Pôde-se perceber que houve 23 reportagens. Foram encontradas 15 matérias
que retratavam resultados de pesquisa ou algum estudo. Foram encontradas 5 matérias que
continham cartas de leitores. Uma publicação de Entrevista a profissional da área da
psicologia foi encontrada nas páginas amarelas. Também foram encontrados um Artigo
assinado por profissional da área da psicologia e uma matéria assinada por um profissional
da área.
32
.
0
5
10
15
20
25
Reportagem Res ultados de
P es quis a
Cartas E ntrevis ta A rtigo A ss inado
Tipo d e m a té ria
Número de matérias
Figura 2 – Número de tipos de matéria.
Andery e col (2003) e Tafner (2003) também encontraram um resultados
semelhantes: a maioria das matérias analisadas eram reportagens. Os resultados podem
significar uma maneira que a mídia impressa constrói o conhecimento socialmente
33
.
0
5
10
15
20
25
30
35
40
45
Consultoria Autor Reconhecido Consultoria e A utor
Reconhecido.
Tipo de Re la to
Númeor de Matérias
Figura 3 – Número de matérias com consultoria do profissional e de matérias que
mencionam um autor reconhecido.
Nota-se na Figura 3 que em 39 matérias o psicólogo foi consultado para dar sua
opinião e/ou fazer um breve comentário a respeito do assunto que estava sendo discutido
na matéria. Encontramos 8 matérias em que havia a citação de algum autor reconhecido da
psicologia. Houve 2 matérias em que os dois tipos de relatos estava presentes, a consultoria
de um profissional da área da psicologia e a citação de alguma autor reconhecido na área
da psicologia. Nessas matérias em especial o psicólogo que foi consultado estava
mencionando um autor reconhecido da área da psicologia.
As oito matérias que fizeram menção a algum autor reconhecido indicaram, em sua
maioria Freud; uma matéria fez referência a Aaron Beck e outra a Wilhelm Reich. A
referência a Freud pode ser devido ao fato de que a comunidade verbal (leitores) está mais
familiarizada com esse autor, servindo a referência a seu nome, provavelmente, para
“popularizar” a psicologia e atrair o leitor.
Neste estudo, também foi possível levantarmos qual o profissional da área da
Psicologia estava sendo referido na matéria.
34
.
0
5
10
15
20
25
30
Psicólogo Psicanalista Psicologo + Psicanalista
Tipo de Participante
mero de matérias
Figura. 4 – Número de matérias distribuídas pela participação de diferentes profissionais
Ao observarmos a Figura 4, podemos verificar que o profissional que foi mais
representado foi o psicólogo: 24 dentre as 45 matérias envolveram, de alguma forma, esse
profissional. O psicanalista está indicado em 14 das 45 matérias selecionadas. Em cinco
matérias houve referência a estes dois profissionais conjuntamente na mesma matéria. O
terapeuta apareceu somente em três matérias.
Com esse resultado podemos perceber que também houve um aumento na
participação deste profissional, pois na pesquisa Andery e col (2003) houve uma maior
participação de outros profissionais nas matérias selecionadas do que do psicólogo: em 8
matérias houve a participação de outros profissionais, diferentemente do que aconteceu na
pesquisa atual. Proporcionalmente, podemos perceber que houve um aumento da
participação do psicólogo na revista Veja no período analisado, que a atual pesquisa
analisou os meses de agosto de 2004 a agosto de 2005 e a pesquisa das outras
pesquisadoras analisou cinco meses durante o ano de 2003. Andery, M. A. e colaboradores
encontraram somente quatro matérias que apresentaram a participação do psicólogo e a
maior participação encontrada por essas pesquisadoras foi a de outros profissionais. ao
compararmos com Tafner (2005), que utilizou como fonte de dados as notícias veiculadas
35
.
no jornal A Folha de o Paulo, podemos perceber que esta também constatou uma maior
atuação dos psicólogos, porém encontrou uma diferença muito pequena com relação aos
psiquiatras (a participação de psiquiatras não foi analisada na atual pesquisa).
Analisou-se também a filiação, ou seja, se o profissional estava vinculado a alguma
instituição, seja acadêmico-científica, empresas, Ongs, entre outras. Registrou-se a
instituição mencionada na matéria. Quando não houve identificação da filiação, a
pesquisadora registrou como “não mencionado”.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Não identificada USP Univ. Harvard PUC -SP H.C - SP
INstituições
mero de Matérias
Figura 5 – Número de instituições de filiação dos profissionais.
Na Figura 5 vemos que houve citação de instituições diferentes pelo fato de que na
mesma matéria havia a participação de mais de um profissional e cada um deles era de uma
instituição diferente. Podemos perceber que em quinze matérias não houve identificação da
instituição de filiação do profissional. Em sete dessas matérias os profissionais eram
filiados à Universidade de São Paulo (USP). Em cinco matérias eram profissionais de fora
do país que estavam sendo consultados, pois estes eram filiados à Universidade de
Harvard. A Pontifícia Universidade Católica de São Paulo (PUC SP) foi mencionada
como sendo a instituição de filiação de quatro profissionais participantes. E, por último, foi
relatado como uma instituição a qual os profissionais estavam filiados, o Hospital das
36
.
Clínicas de São Paulo. Nas demais matérias, foram citadas várias instituições diferentes e
cada uma delas teve apenas menção em uma matéria. As Instituições que foram
mencionadas são: Universidade Estadual de Maringá; Faculdade Getúlio Vargas, Escola
Superior de Teologia de São Leopoldo Instituto Sedes Sapientae de São Paulo
Com esse resultado pôde-se inferir que a revista Veja serviu-se da qualificação dos
profissionais que estavam participando em suas matérias filiados à instituição renomada no
país ou internacionalmente com o intuito, talvez, de dar mais credibilidade à informação
que estava pretendendo veicular, fosse fidedigna ou não.
As matérias selecionadas foram agrupadas também quanto à origem do tema.
Podemos observar na Figura 6 que foram encontradas 26 matérias cuja informação
baseava-se no “cotidiano”, isto é, o texto não fez menção a qualquer tipo de trabalho
profissional ou a alguma pesquisa. Também foram encontradas pela pesquisadora 18
matérias que fizeram menção a alguma pesquisa e/ou estudo, portanto, foram classificadas
em “ciência”.
0
5
10
15
20
25
30
Cotid iano Ciênc ia E x p. P rofis sional
O rig e m d o T e m a
Número de Matérias
Figura 6 - Número de matérias de acordo com a origem do tema
Apenas em uma matéria o profissional abordou sua própria experiência
profissional. Os dados encontrados nesta pesquisa indicam que na revista Veja a origem
37
.
dos temas mais freqüentemente publicados são oriundos do cotidiano, ou seja, matérias que
não fizeram referência alguma a qualquer tipo de trabalho profissional ou a alguma
pesquisa.
Foram identificadas (Figura 7) as seções da revista Veja em que a matéria se
encontrava.
0
2
4
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8
10
12
Especial
Comportamento
Cartas
Sexo
Saúde
Educaçao
Guia
Divertimento
Páginas Amarelas
Estudo
Televisão
Filosofia
Música
História
Psicologia
Brasil
Dieta
Religião
Oriente dio
Pesquisa
Sessão da revista
Número de marias
Figura. 7 – Número de matérias nas diferentes seções da revista.
Na Figura 7 podemos notar que o profissional da área da psicologia aparece em 10
matérias da seção “Especial” da revista Veja e que trata em sua maioria de assuntos tais
como, vida sexual, relacionamento, inteligência, equilíbrio mental, entre outros.
Na seção “Comportamento” foram encontradas oito matérias. Na seção “Cartas do
leitor” foram encontradas cinco edições (como mostra a figura acima) que continham nove
cartas que estava fazendo menção ao profissional da área da psicologia. O profissional de
psicologia apareceu como leitor, em que comentava sobre alguma matéria da revista da
38
.
edição anterior em sete cartas enviadas à revista. E também apareceu como sendo citado
por outros leitores em duas das nove cartas selecionadas.
Nas seções que trataram de sexo, saúde, guia, divertimento e educação o
profissional o que estava sendo consultado nas matérias em cada uma dessas sessões falava
dos mais diversos temas.
As matérias encontradas foram publicadas em uma grande variedade de seções. Isso
pode ser devido ao fato de que a revista Veja, de acordo com Hernandes (2006), possui
cerca de 80 páginas que se subdividem em um grande número de seções. As matérias
selecionadas para esta pesquisa foram apresentadas com maior freqüência nas seções:
Especial (que não está em todas as edições de Veja), Comportamento, Cartas, Sexo Saúde,
Educação, Guia. Quanto a esta última seção, pode-se dizer que é localizada no final da
revista com o intuito de relaxar seu leitor, onde foram encontradas duas matérias que se
referiam ao profissional de psicologia.
Segundo Hernandes (2006), a organização espacial de uma matéria, expõe uma
serie de regras que mostram como essas publicações valorizam e diferenciam as unidades
noticiosas e como dirigem a percepção dos leitores para que realizem essa mesma operação
de reconhecimento de importância das noticias publicadas. Considerando esta afirmação,
as matérias coletadas, foram analisadas em alguns aspectos que pudessem dar indícios de
estratégias de gerenciamento do nível de atenção.
As matérias selecionadas para esta pesquisa também foram analisadas de acordo
com as estratégias de gerenciamento do nível de atenção descritos por Hernandes (2006):
arrebatamento, sustentação e fidelização. Na Figura 8 está representado o uso dessas
estratégias, pelos autores das matérias.
39
.
0
5
10
15
20
25
Arrebatamento Sustentação Fidelização
Estratégias Utilizadas
Número de Matérias
Figura 8 – Tipo de estratégia de gerenciamento do nível de atenção do leitor utilizada pelos autores
das matérias selecionadas e o número de matérias em cada tipo de estratégia.
Pode-se notar (Figura 8) que a estratégia de arrebatamento, que se refere à presença
de foto na matéria ou algum tipo de atrativo gráfico, foi a mais utilizadas pelos jornalistas
da revista Veja; foram encontradas 23 matérias que utilizaram fotos para criar iscas para o
olhar do leitor. A estratégia de arrebatamento, de acordo com o autor consiste da revista se
utilizar de várias maneiras para chamar a atenção do leitor, despertar a curiosidade do
mesmo, seja através de fotos, um titulo diferente com letras maiores, ou frases que
despertem curiosidade pela matéria.
a estratégia de sustentação referente a dicas que o leitor pode ter, de forma
rápida, da matéria toda, ou dos aspectos da matéria que lhe interessa saber, foi encontrada
em 21 matérias da revista Veja.
A estratégia de fidelização, que se refere à matéria estar sempre no mesmo lugar
dentro da revista, foi utilizada pelos jornalistas apenas em uma das matéria. A matéria que
utilizou esta técnica foi a entrevista, nas páginas amarela, realizada com um psicanalista.
O leitor através de seu contato rotineiro com a mídia impressa tem maior facilidade
de obter as informações que são de seu maior interesse. Tal estratégia cria uma identidade
40
.
ao material, e com o tempo gera um sentido de familiaridade para o leitor. Essa estratégia
pressupõe contatos anteriores do leitor com a mídia impressa, pois o mesmo está
familiarizado com a mídia. Esse aspecto cria um código comum entre enunciados e
enunciatários
As matérias foram classificadas de acordo com o tema que abordavam. Na Figura 9
podemos notar a quantidade de matérias sobre cada tema. Os temas foram categorizados
em parte baseados no trabalho de Tafner (2005) e em parte em função de uma prévia
leitura das matérias selecionadas pela pesquisadora.
0
2
4
6
8
10
12
14
16
Rel
a
ç
õ
es
(
C
pto
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E
s
tudos Saúde
A
uto-Ajuda
N
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as
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Religi
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o
Trabalho
Patologia
V
i
oncia
Infor
m
ática
Edu
ca
ção
Te m a da s M a té ria s
Número de Matérias
Figura 9- Número de matérias sobre cada tema
.
Percebemos pela leitura da Figura 9 que o tema “Relações (Comportamento)” foi o
que mais apareceu nas matérias selecionadas. Essas matérias abordavam o comportamento
de pessoas em diferentes fases da vida (infância, velhice) com relação às perspectivas,
expectativas, projetos e percepção de tempo; ou também que abordavam fenômenos
específicos, como por exemplo, o pessimismo. Nesse tema também foram incluídas
matérias que abordavam diversos tipos de relações que podiam ser entre homens e
41
.
mulheres, pais e filhos, culturas diferentes, etc.). Este tema apareceu em 14 matérias das 45
que foram coletadas. Os tipos de relações que foram mais encontradas estão indicadas na
Figura 10.
0
1
2
3
4
5
6
7
H om ens e
M ulhe res
Adultos e
C rianças
C rianças e
Anim ais
C rianças e
Am igos
Im aginários
R elaçcoes
C otidian as
D ifere ntes
C ulturas
Tipo s d e R elaçõ es
Número de matérias
Figura 10 – Número de matérias em cada um dos diferentes tipos de relacionamento abordados
Na Figura 10, ficou evidenciado que dentre as matérias encontradas dentro do tema
“Relações”, o tipo de relacionamento que mais apareceu foi entre homens e mulheres,
neste aspecto foi encontrado matérias que estavam analisando o Q.I. de ambos e avaliando
até que ponto essa diferença poderia interferir no relacionamento da vida à dois. Foram
encontradas também duas matérias que relatavam aspectos sobre relacionamentos de
adultos e crianças, em uma matéria estava falando especificamente do relacionamento da
figura do “Pai” com a criança, e na outra matéria estava analisando a relação dos
professores com seus alunos nos dias atuais. Foi encontrada ainda uma matéria
descrevendo a importância de uma criança que é filho único do casal de ter animais de
estimação, e em outra matéria a relação da criança estava sendo analisada com os seus
amigos imaginários, que até certo ponto, de acordo com a matéria, pode ser até saudável
42
.
para a criança. E uma ultima matéria que foi encontrada nesta pesquisa foi a de um
psicanalista falando de árabes e judeus, que ele atende e que estes se odeiam.
De acordo com Andery e col (2003), “Relações” também foi o tema mais
encontrado apresentando o profissional da área da psicologia. Esse dado pode ser devido
ao fato de que o psicólogo ainda é visto pela população somente para atuar junto a
dificuldades de relacionamentos.
O tema “Estudos sobre saúde”, que se refere a tratamentos e medicamentos para as
mais diversas patologias descobertas, foi encontrado em 10 matérias. Encontramos neste
tema matérias que falavam de tratamentos e medicamentos para fobias, ansiedade e
depressão, um estudo afirmando que o radicalismo alimentar pode engordar mais as
adolescentes que praticam dietas radicais para emagrecer do que aquelas eu comem
alimentos gordurosos.
Encontrou-se em nove matérias o tema “Auto-ajuda”. O tema aborda algumas
alternativas para o indivíduo (isolado e não em parceria ou grupo) “vencer” com mais
facilidade os obstáculos do dia-a-dia que o incomodam sejam psicológicos ou físicos. São
notícias que descrevem maneiras de superar as dificuldades que a maioria do seres
humanos possuem. Foram encontradas nesse tema matérias que relatavam os caminhos que
o indivíduo deve seguir para ter uma vida melhor em todos os aspectos: mental, social,
emocional, intelectual e espiritual e assim viver melhor em família, no trabalho e na
sociedade. Uma outra matéria descreve a luta que os atletas enfrentam para vencer doenças
comuns, como asma, diabetes, entre outras.
Foram encontradas duas matérias que faziam referência ao tema “Novos campos de
atuação do profissional da área de psicologia” que descrevem a atuação do profissional da
área da psicologia nos mais diferentes contextos e as novas áreas de atuação que estão
surgindo. Encontrou-se uma matéria de um profissional da área da psicologia que
43
.
acompanhou a gravação do disco de uma banda de rock para prevenir qualquer problema
entre a banda. E ainda em uma outra matéria relatava o relato de um profissional que é
especialista em orientar famílias que decidem adotar uma criança dando as orientações
mais importantes para que essa família esteja preparada.
Ainda encontramos em duas matérias o tema “Religião” que são matérias que
tratam da importância da religião dentro dos consultórios e os benefícios que essa pode dar
aos pacientes em tratamento e também do comportamento dos fiéis, seguidores de
doutrinas ou religiões que seguem rituais religiosos. As matérias encontradas neste tema
são acerca do espiritismo e o grande aumento de adeptos que está ocorrendo no Brasil. E
ainda uma religião um pouco diferente, mas que tem muitos famosos como adeptos nos
Estados Unidos, que é a Cientologia.
Duas matérias também foram encontradas no tema “Trabalho” que tratam das
questões profissionais, mais especificamente as organizacionais, como capacitação do
profissional, competência, liderança, além das relações sociais no ambiente de trabalho e
dos comportamentos envolvidos nessa relação do homem com o trabalho. Matérias que
mostram pesquisas sobre o estresse causado pelo trabalho, que o assédio moral no trabalho
pode resultar em alguns danos psicológicas, como stress, perda de memória, ganho de
peso, entre outros.
“Patologia” foi um tema em que encontramos duas matérias também. Tal tema
refere-se a matérias que abordam tratamentos e/ou informações de “patologias” e
alterações comportamentais gerais e específicas, de origem orgânica ou não (Alzheimer,
Transtorno de Déficit de Atenção e Hiperatividade, Transtorno Obsessivo Compulsivo,
Transtorno alimentares, Síndromes do Pânico, Distúrbio de Ansiedade, fobias, entre
outras) efeitos e os riscos à saúde; consumo, prevenção e tratamento contra as drogas.
Encontrou-se uma matéria descrevendo as conseqüências da cirurgia bariátrica realizada
44
.
pelas pessoas que estão com obesidade mórbida, porem após a cirurgia o sujeito
desenvolve outras patologias.
Por último, encontramos temas que tiveram apenas uma matéria em cada um deles.
São eles: “Informática”, “Educação”, “Violência” e “Patologia”.
No tema “Informática” referia-se a matérias que traziam assuntos que dizem
respeito à Internet, como, por exemplo, testes psicológicos que se encontram disponíveis
em diversos sites e os problemas referentes ao uso da Internet em demasia. Aqui foi
encontrada somente uma matéria falando sobre um game que está virando uma verdadeira
febre entre crianças e adultos.
o tema “Educação” referia-se a matérias relacionadas à melhoria da
aprendizagem formal (escolar ou acadêmica), como por exemplo: trabalhos
psicopedagógicos para alunos “com perturbação de comportamento e conduta”, orientação
para vestibulandos quanto ao estudo, atividades físicas, interação social e sua importância,
aulas particulares, orientação vocacional e escolha profissional. Foi encontrada uma
matéria que descrevia o pânico escolar vivenciado pelos professores nos dias atuais, pois
de acordo com a matéria, os professores perderam a autoridade diante dos alunos.
O tema “Violência” foi tratado em duas matérias, e tal tema trazia matérias que
tratavam da análise da violência praticada por pessoas identificadas, ou a análise da
violência em geral na sociedade em que vivemos. E também se encontrou uma matéria
neste tema relatando sobre a retirada das tropas palestinas da faixa de Gaza pelo exercito
israelense.
Na pesquisa de Andery e col (2003), também foi encontrada uma variação de temas
sobre os quais o profissional da área da psicologia foi chamado a estar participando que,
em sua maioria, também se referiam aos temas que encontramos nesta pesquisa. Pode-se
perceber que há uma grande variação de temas em ambos os estudos.
45
.
Segundo Abramo (2005), uma das principais características da mídia no Brasil,
atualmente, é a manipulação da informação.
Partindo desta premissa e relacionando com as matérias encontradas em nossa
pesquisa, pôde-se perceber que muitas vezes o profissional da área da psicologia é
mostrado pela mídia impressa como um profissional sempre pronto para tratar de qualquer
assunto. Pois durante a nossa análise dos temas percebemos que este profissional é
chamado para falar dos assuntos mais diferentes.
Abramo (2005) relata ainda que o principal efeito dessa manipulação usada pela
mídia, é que as matérias não refletem a realidade. Mas refletem uma realidade indireta.
Essa referência indireta à realidade acaba distorcendo a mesma. É isso que pode estar
acontecendo também com relação aos profissionais da área da psicologia. A realidade
mostrada pela mídia impressa, nem sempre é a mesma a qual este profissional vivencia, no
seu cotidiano. Percebemos um ponto negativo, pois de acordo com Abramo (2005), existe
uma manipulação e uma distorção da realidade por parte dos profissionais do jornalismo, e
por isso, provavelmente, o que está sendo relatado nas matérias não é exatamente o real.
De acordo com Martone (2003), que definiu a mídia como uma agência de controle, a
mídia possui o poder de manipular comportamento humano através dos relatos divulgados
sobre um determinado fato e gera, assim, o que Guerin (1992) descreveu como
conhecimento socialmente produzido, que seria aquele conhecimento que é adquirido
através de outrem.
Por outro lado, pode-se considerar um ponto positivo para a profissão a diversidade
da participação do profissional da área da psicologia nas matérias da revista Veja, pois isso
pode indicar que está havendo uma divulgação maior desse profissional nos meios de
comunicação de massa.
46
.
O conhecimento que está sendo construído acerca do profissional da área de
psicologia pela mídia é formado pelas informações que este meio de comunicação publica
sobre estes profissionais.
A relação entre a mídia impressa e o seu leitor é vista como sendo um
comportamento social, e a mídia, em muitos casos, exerce o papel de controlador e o leitor
de controlado. Assim, podemos inferir que o comportamento da mídia é considerado um
comportamento social, e o comportamento do individuo que tem acesso às informações
através da mídia, seja ela impressa ou visual, também será considerado um comportamento
social.
Realidades socialmente construídas existem apenas na medida que elas
contatam contingências verbais. Na extensão em que contingências ambientais
diretas modelam comportamentos comuns, nós não estamos lidando com
construções sociais ou representações sociais. Isto significa que uma análise do
comportamento das construções sociais deve olhar especificamente para a
manutenção de comportamento verbal para mostrar como o conhecimento
socialmente construído funciona (Guerin, 1992, p. 1425).
2
2
“Socially constructed realities exist only to the extent that they contact verbal contingencies. To the extent
that direct environmental contingencies shape common behaviors, we are not dealing with social
constructions or social represantations. This means that a behavior analysis of social constructions must look
closely at the maintenance of verbal behavior to show how socially constructed knowledge functions”
(Guerin, 1992, p. 1425).
47
.
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Hernandes, N. (2006). A mídia e seus truques: o que jornal, revista, TV, rádio e Internet
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Martone, R. (2003). Traçando práticas culturais: a imprensa como ferramenta de controle
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