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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA MECÂNICA
“AVALIAÇÃO METROLÓGICA DA MEDIÇÃO DE VAZÃO
COM LASER DOPPLER ANEMOMÉTRICO”
THIAGO TEIXEIRA DE PAULA
Belo Horizonte, 20 de março de 2007.
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2
Thiago Teixeira de Paula
“AVALIAÇÃO METROLÓGICA DA MEDIÇÃO DE VAZÃO
COM LASER DOPPLER ANEMOMÉTRICO”
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais,
como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Engenharia Mecânica.
Área de concentração: Calor e Fluidos
Orientador: Prof. Dr. Meinhard Sesselmann
Departamento de Engenharia Mecânica - UFMG
Co-orientador: Prof. Dr. Carlos Barreira Martinez
Departamento de Engenharia Hidráulica e Recursos Hídricos -
UFMG
Belo Horizonte
Escola de Engenharia da UFMG
2007
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3
Universidade Federal de Minas Gerais
Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica
Av. Antônio Carlos, 6627-Pampulha – 31.270-901 - Belo Horizonte - MG
Tel.: +55 31 3499-5145 - Fax.: +55 31 3443-3783
www.demec.ufmg.br - E-mail: cpgmec@demec.ufmg.br
“AVALIAÇÃO METROLÓGICA DA MEDIÇÃO DE VAZÃO
COM LASER DOPPLER ANEMOMÉTRICO”
THIAGO TEIXEIRA DE PAULA
Dissertação defendida e aprovada em 20, de março de 2007, pela Banca Examinadora
designada pelo Colegiado do Programa de Pós-Graduação em Engenharia Mecânica da
Universidade Federal de Minas Gerais, como parte dos requisitos necessários à obtenção do
título de "Mestre em Engenharia Mecânica", na área de concentração de "Calor e Fluidos".
____________________________________________________________________
Prof. Dr. Meinhard Sesselmann - UFMG – Orientador
____________________________________________________________________
Prof. Dr. Carlos Barreira Martinez - UFMG – Co-Orientador
____________________________________________________________________
Prof. Dr. Armando Albertazzi Gonçalves Júnior - UFSC – Examinador
____________________________________________________________________
Prof. Dr. Jair Nascimento Filho - UFMG – Examinador
4
AGRADECIMENTOS
Ao Prof. Meinhard Sesselmann pela confiança, amizade, ensinamentos, pela oportunidade de
integrar o laboratório de Metrologia e principalmente a oportunidade de poder conhecer um
pouco mais sobre a cultura alemã, seu povo e seus costumes.
Ao Prof. Carlos Barreira Martinez, que disponibilizou toda a estrutura do Centro de Pesquisas
Hidráulicas e Recursos Hídricos sem a qual não seria possível a realização deste trabalho.
Ao Prof. Jair do Nascimento Filho, grande incentivador, amigo, e conhecedor da ciência dos
fluidos e LASER.
Ao Prof. Leonardo Tôrres pelo empréstimo dos equipamentos e ajuda na aquisição e
interpretação dos dados na calibração do LDA.
A Profa. Edna Maria pela sua pronta disponibilidade em ensinar a utilizar o LDA e a resolver
eventuais problemas que apareceram.
Às amigas Yara e Carolina Côrrea pela ajuda na correção do texto e elaboração do abstract.
Ao grande amigo Frederico Allevato Ramalho Filho pelas idéias inesgotáveis sobre o sensor
de rotação.
Aos amigos do CPH pela ajuda, incentivo e compreensão.
À TU-Ilmenau, Prof. Theska, Brix, Höhne, Resak, pela oportunidade de conhecer esta grande
Universidade alemã, onde estudei e foram dadas a mim as primeiras idéias sobre o dispositivo
calibrador do LDA.
A meus pais, Juarez e Maria, grandes incentivadores e patrocinadores de parte do projeto e de
meus estudos.
A coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior, CNPq, pelo auxilio
financeiro.
5
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS 7
LISTA DE TABELAS 9
LISTA DE TABELAS 9
NOMENCLATURA 10
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS 12
RESUMO 13
1. INTRODUÇÃO 14
1.1. MOTIVAÇÃO 14
1.2. OBJETIVO GERAL 15
1.3. OBJETIVOS ESPECÍFICOS 15
1.4. SOBRE ESTE TRABALHO 16
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA 17
2.1. M
ÉTODO DA PESAGEM 17
2.2. M
ÉTODO DA COLETA DE LÍQUIDO EM TANQUE VOLUMÉTRICO 19
2.3. M
ÉTODOS DE MEDIÇÃO DE VAZÃO POR ÁREA E VELOCIDADE 21
3. CALIBRAÇÃO DO ANEMÔMETRO LASER DOPPLER 26
3.1. P
RINCÍPIO DE FUNCIONAMENTO DO ANEMÔ METRO LASER DOPPLER - LDA 26
3.2. P
ROCEDIMENTOS PARA A CALIBRAÇÃO DO LDA. 30
3.3. R
ESULTADOS DA CALIBRAÇÃO DO LDA. 36
3.4. ANÁLISE DOS RESULTADOS DA CALIBRAÇÃO DO LDA. 42
4. MEDIÇÃO DE VAZÃO COM O ANEMÔMETRO LASER DOPPLER 44
4.1. A BANCADA DE TESTES 44
4.2. P
OSICIONAMENTO DO VOLUME DE MEDIÇÃO 45
4.3. P
ROCEDIMENTOS PARA A MEDIÇÃO DE VAZÃO COM O LDA. 49
4.4. RESULTADOS 52
6
4.5. ANÁLISE DOS RESULTADOS 55
5. CONCLUSÃO 57
ABSTRACT 60
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 61
ANEXO A A1
7
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 2.1 - Diagrama de uma instalação, para calibração, por pesagem, pelo
método estático, (a) através de um tanque de nível constante e (b) bombeamento
direto. 18
FIGURA 2.2 - Diagrama de uma instalação, para calibração, por pesagem, pelo
método dinâmico. 18
FIGURA 2.3 – Diagrama esquemático de um medidor volumétrico, utilizando-se
o método de medição estática. 20
FIGURA 2.4 - Diagrama esquemático de um medidor volumétrico, utilizando-se o
método de medição dinâmica. 21
FIGURA 2.5: (a) Locação dos pontos de medição por amostragem em um tubo de
seção circular para n=3, (b) representação de uma seção retangular de um tubo,
com x partido das medianas. 24
FIGURA 3.1: Princípio de funcionamento do LDA. 27
FIGURA 3.2: Volume de medição da interseção de dois feixes. 27
FIGURA 3.3: Volume de medição. 28
FIGURA 3.4: Desenho esquemático do calibrador. 30
FIGURA 3.5: Fotografia do calibrador. 31
FIGURA 3.6: (a) Disco do encoder óptico, (b) franjas correspondentes. 32
FIGURA 3.7: Esquema do método de calibração indireta de velocidade. 33
FIGURA 3.8: Representação esquemática do efeito do desalinhamento, (a)
desalinhamento no canhão LASER, (b) relação entre o desalinhamento e a
velocidade tangencial. 35
FIGURA 3.9: Curva de erros do LDA. 42
FIGURA 4.1: Desenho esquemático da bancada de medição de vazão. 44
FIGURA 4.2: Vista geral da bancada de testes. 45
FIGURA 4.3: (a) Vista tipo planta e (b) vista traseira, do sistema de
posicionamento. 46
FIGURA 4.4: Efeito da refração na interface ar-acrílico-água. 47
8
FIGURA 4.5: (a) Disposição dos raios no interior do tubo, (b) passagem do raio
pela parede do tubo. 48
FIGURA 4.6: Localização dos pontos de medição na seção de testes, valores em
mm. 49
FIGURA 4.7: Posicionamento do volume de medição e desalinhamento, em torno
dos eixos cartesianos. 50
FIGURA 4.8: Perfil de velocidade no tubo. 56
FIGURA A1: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo,
0,5 m/s. A1
FIGURA A2: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo,
1,0 m/s. A2
FIGURA A3: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo,
1,5 m/s. A3
FIGURA A4: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo,
2,0 m/s. A4
FIGURA A5: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo,
2,5 m/s. A5
FIGURA A6: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo,
3,0 m/s. A6
FIGURA A7: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo,
3,5 m/s. A7
FIGURA A8: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo,
4,0 m/s. A8
FIGURA A9: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo,
4,5 m/s. A9
FIGURA A10: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do
tempo, 5,0 m/s. A10
9
LISTA DE TABELAS
TABELA 2.1: Métodos de locação dos pontos de medição por amostragem. 24
TABELA 3.1: Características técnicas do LDA 26
TABELA 3.2: Resultados das velocidades do padrão. 37
TABELA 3.3: Tempo necessário para a aquisição dos dados. 38
TABELA 3.4: Balanço de incerteza do LDA para 5,0 m/s. 38
TABELA 3.5: Balanço de incerteza do LDA para 4,5 m/s. 39
TABELA 3.6 Balanço de incerteza do LDA para 4,0 m/s. 39
TABELA 3.7: Balanço de incerteza do LDA para 3,5 m/s. 39
TABELA 3.8: Balanço de incerteza do LDA para 3,0 m/s. 40
TABELA 3.9: Balanço de incerteza do LDA para 2,5 m/s. 40
TABELA 3.10: Balanço de incerteza do LDA para 2,0 m/s. 40
TABELA 3.11: Balanço de incerteza do LDA para 1,5 m/s. 41
TABELA 3.12: Balanço de incerteza do LDA para 1,0 m/s. 41
TABELA 3.13: Valores de velocidades e incertezas do padrão e do LDA. 41
TABELA 3.14: Incertezas relativas das velocidades do padrão. 43
TABELA 4.1: Balanço de incerteza da medição de vazão, bomba a 750 rpm. 53
TABELA 4.2: Balanço de incerteza da medição de vazão, bomba a 1000 rpm. 53
TABELA 4.3: Balanço de incerteza da medição de vazão, bomba a 1250 rpm. 54
TABELA 4.4: Balanço de incerteza da medição de vazão, bomba a 1500 rpm. 54
TABELA 4.5: Balanço de incerteza da medição de vazão, bomba a 1750 rpm. 55
TABELA 4.6: Valores da medição de vazão e incertezas, utilizando-se o LDA. 55
10
NOMENCLATURA
Letras Latinas
o
A Área inicial da seção
V Velocidade da partícula
W Componente da velocidade da partícula na direção de interesse
D
L
Dilatação térmica
D
T
Diâmetro do tubo
D
V
Desvio
d
x
Comprimento do volume de medição na direção do eixo coordenado x
d
y
Comprimento do volume de medição na direção do eixo coordenado y
d
z
Comprimento do volume de medição na direção do eixo coordenado z
e Valor do desalinhamento
D
f Freqüência Doppler do sinal gerado pela partícula ao cruzar o volume de medição
B
f
Freqüência de defasagem do feixe LASER
+
f Freqüência da partícula se movendo na mesma direção do movimento das franjas
f Freqüência da partícula se movendo na direção contrária ao movimento das franjas
n
1
Índice de refração do meio 1
n
2
Índice de refração do meio 2
n
3
Índice de refração do meio 3
n Número de pontos de medição de velocidade
x Distância a partir do centro do tubo, em tubos de seção retangular
r Distância a partir do centro do tubo, em tubos de seção circular
w Peso atribuído às medições
R Posição radial do fio de nylon
T Período
C
C
Correção combinada
U Incerteza expandida
c
u
Incerteza padrão combinada
R
u Incerteza padrão do raio
11
T
u Incerteza padrão do período
z
V Vazão volumétrica
5...1
V Velocidade do fluido nos pontos de medição
Letras Gregas
α
Ângulo de desalinhamento do LASER
λ
Comprimento de onda do feixe LASER
θ
Metade do ângulo de separação entre os feixes LASER, ou ângulo de incidência
β Ângulo de refração
ac
β
Coeficiente de dilatação térmica superficial do acrílico
A
Variação da área da seção
x Distância entre franjas
T
Variação de temperatura.
v Número de graus de liberdade
R
v Número de graus de liberdade da grandeza raio
T
v Número de graus de liberdade da grandeza período
Subscritos
ac Referente ao acrílico
x Referente ao eixo x
y Referente ao eixo y
z Referente ao eixo z
Sobrescritos
2 Quadrado da função ou do número
4 Quarta potência da função ou do número
12
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
CPH Centro de Pesquisas Hidráulicas e Recursos Hídricos
ISO International Organization for Standardization (Organização Internacional para
Padronização)
LDA LASER Doppler Anemometry (LASER Doppler Anemométrico)
NIST National Institute of Standards and Technology
PIV Particle Image Velocimetry (Velocimetria por Imagem de Partícula)
13
RESUMO
Anemômetros a Laser Doppler (LDA) são sistemas de medição caracterizados por possuírem
uma ampla faixa de medição, de velocidade (até 200 m/s), boa exatidão, além de serem não
intrusivos. Por isso, vêm sendo cada vez mais utilizados, como padrão primário de velocidade
em fluidos, assim como, em sistemas de calibração de medidores de vazão. Dispositivos
utilizados como padrões necessitam de rastreabilidade. A única forma de assegurá-la é através
da calibração. Portanto, com a calibração do LDA, o usuário ganha em confiabilidade em seus
resultados de medição e a rastreabilidade dos medidores por ele calibrados. A calibração
desses medidores se faz importante, para o CPH, uma vez que são utilizados em experimentos
e pesquisas, seja em laboratório ou em campo, onde a velocidade do fluido ou a vazão é, na
maioria das vezes, a principal variável de saída, senão a única. Esse trabalho teve dois
objetivos principais: o primeiro, o de se projetar e construir um dispositivo capaz de calibrar o
LDA, em uma faixa de velocidade de 1 a 5 m/s, com uma incerteza relativa da velocidade de,
no máximo, 0,1%, e uma abrangência de 95%. O segundo, o de se utilizar o LDA, calibrado,
em conjunto com o método adequado, de velocidade e área, para se efetuarem medições de
vazão em água, em uma faixa de medição de 11 a 26 l/s. As medições de vazão tiveram, por
finalidade, verificar a aplicabilidade do LDA como padrão primário de vazão, bem como,
levantar e quantificar as fontes de incertezas. Os resultados obtidos na calibração do LDA
revelaram um erro máximo de 4,5%. Quando corrigidos os efeitos sistemáticos do LDA, sua
incerteza expandida foi estimada em 2,6% do valor medido. Na medição de vazão, as
incertezas relativas variaram entre 11 e 20% do valor medido, demonstrando que o LDA não
é adequado para ser utilizado como padrão primário de vazão.
Palavras-chave: Medição de vazão, Anemômetro Laser Doppler, Calibração, Metrologia.
14
1. INTRODUÇÃO
1.1. Motivação
A necessidade de se medir vazão surgiu quando, depois de se canalizar a água para o consum o
doméstico, a administração pública descobriu uma fonte de arrecadação e estabeleceu taxas
para o consumo do líquido. Isso aconteceu há muitos séculos. Segundo consta, as primeiras
medições de água teriam sido executadas por egípcios e romanos, povos cujas obras de
adução de água fazem parte, hoje, das ruínas turísticas de vários países europeus e do norte da
África (DELMÉE, 2003).
A medição da vazão de fluidos é tarefa de grande importância para as diversas áreas do
conhecimento, especialmente para a engenharia. Medidores de vazão têm uma grande faixa de
aplicabilidade, são utilizados para se medir o consumo e a vazão de água desde uma simples
residência até usinas hidrelétricas, além de se medir vazão de outros líquidos, gases ou a
mistura de ambos.
Apesar de serem instrumentos de medição largamente utilizados, no Brasil atual, não é
possível encontrarem-se muitos laboratórios credenciados pela rede brasileira de calibração,
capazes de oferecer o serviço de calibração destes medidores.
A calibração de medidores torna-se importante, quando os resultados da medição de vazão
estão associados a transações comerciais, desde a venda de gasolina, em um posto de
combustível, até os testes de aceitação de turbinas em uma usina hidrelétrica, ou em pesquisas
científicas, onde, em algumas circunstâncias, a vazão é a principal variável de resposta, senão
a única, influenciando diretamente no resultado do experimento. Sendo assim, em centros de
pesquisa, como o Centro de Pesquisa Hidráulica e Recursos Hídricos (CPH), é de
fundamental importância que se tenha rastreabilidade sobre os medidores de vazão utilizados,
garantindo-se, assim, uma boa qualidade dos dados coletados.
15
Anemômetros LASER Doppler, doravante denominados apenas de LDA, vêm sendo cada vez
mais utilizados como padrões primários de velocidade de partículas, pois têm uma grande
faixa de medição de velocidade, apresentam boa repetitividade, e, principalmente porque é um
sistema não-intrusivo e não influencia no escoamento do fluido (NADER et al., 2003).
Em alguns laboratórios, como no National Institute of Standards and Technology (NIST), o
LDA vêm substituindo o tubo de Pitot, como padrão primário de velocidade, pois a calibração
do LDA pode ser diretamente verificada, através da medição de tempo e distância, enquanto
que as medições de um tubo de Pitot só podem ser comparadas às medições de outros
sistemas de medição de velocidade (BEAN, 1999).
Tubos de Pitot ou LDA são dispositivos capazes de medir a velocidade em fluidos.
Combinando-se a medição da velocidade com a área da seção, onde a velocidade foi medida,
torna-se possível conhecer a vazão dessa determinada seção.
1.2. Objetivo geral
Os objetivos deste trabalho foram: construir um dispositivo capaz de calibrar o Anemômetro
LASER Doppler (LDA), assegurando-lhe rastreabilidade e desenvolver uma metodologia para
o cálculo e avaliação da incerteza, na medição de vazão, utilizando-se o LDA combinado com
um método de medição de vazão adequado, por área e velocidade.
1.3. Objetivos específicos
1. Desenvolver, construir e testar um dispositivo capaz de calibrar o LDA com incerteza
máxima de 0,1%, sobre o valor indicado de velocidade, para uma faixa de medição de 0 a
5 m/s.
16
2. Análise metrológica do LDA, com a identificação das fontes de incertezas, avaliação dos
resultados e levantamento da curva de erro.
3. Pesquisar métodos existentes de medição de vazão, através da medição de velocidade em
fluidos e escolher um método mais apropriado para a medição de vazão com o LDA.
4. Fazer medições de vazão, utilizando o LDA calibrado e calcular as incertezas de medição
da vazão, conforme a ISO GUM.
5. Comparar os resultados da medição de vazão com o LDA com as outras técnicas de
medição de vazão normalizadas.
6. Efetuar uma discussão criteriosa dos resultados obtidos e analisar a possibilidade de
utilização do LDA combinado com uma técnica de medição de vazão, por área e velocidade,
como padrão primário de vazão.
1.4. Sobre este trabalho
Esta dissertação está dividida em cinco capítulos. O Capítulo 2 apresenta uma revisão
bibliográfica sobre as normas de calibração de medidores de vazão e os métodos de medição
de vazão, por área-velocidade. No Capítulo 3 estão contidos a metodologia, os resultados e a
análise dos resultados da calibração do Anemômetro LASER Doppler.
No Capítulo 4 contém a metodologia, os resultados e a análise dos resultados da medição de
vazão utilizando-se um Anemômetro LASER Doppler.
Nos capítulos 5 e 6, são apresentadas a discussão dos resultados e a conclusão, e, em seguida,
a referência bibliográfica utilizada. O anexo A apresenta, de forma complementar, os gráficos
obtidos na calibração do LDA, para cada um dos pontos calibrados.
17
2. REVISÃO BIBLIOGRÁFICA
Por meio da pesquisa de campo e através desta revisão bibliográfica foi possível conhecer-se
o estado da arte dos métodos de medição de vazão e os tipos de instalação frequentemente
utilizados na calibração destes medidores. A seguir, são apresentados o método da pesagem, o
da coleta de líquido em tanque volumétrico e os da medição de vazão por área e velocidade.
2.1. Método da pesagem
A ISO 4185:1980 normaliza os procedimentos para a medição de vazão em tubulações
fechadas, através da massa de líquido coletada em um tanque de pesagem, em um intervalo de
tempo conhecido.
Este método pode ser aplicado em qualquer líquido contanto que a pressão de vapor seja
suficientemente baixa, para se assegurar que não haja escape de líquido do tanque, através de
vaporização, para não se afetar a exatidão da medição, ao mesmo tempo que seja não tóxico e
não corrosivo.
Teoricamente, não há limite para a aplicação desse método, que é normalmente empregado
em instalações fixas em laboratórios. Entretanto, por razões econômicas, laboratórios
hidráulicos que utilizam tal método não produzem vazões superiores a 1,5 m³/s. Por
apresentar uma elevada exatidão, o referido método é frequentemente utilizado como padrão
primário.
O principio do método da pesagem pode ser estático ou dinâmico. O estático apresenta dois
tipos de instalação, uma por reservatório de nível constante e outra por bombeamento direto,
representadas, respectivamente, na FIGURA 2.1 por (a) e (b). O método consiste em se
determinar a massa do tanque mais a massa de algum líquido que restou dentro do tanque,
desviar-se o fluxo, para dentro do tanque, até que a massa de líquido seja suficiente para se
atingir a exatidão requerida. Operando-se a válvula de controle de fluxo, controla-se o tempo
18
de enchimento. Obtém-se a vazão, através da massa coletada, do tempo de enchimento e da
densidade do líquido, em função da temperatura. O método dinâmico, representado pela
FIGURA 2.2, consiste em se deixar o líquido ser coletado no tanque, até que se atinja uma
massa pré-determinada, quando se dará o acionamento do cronômetro e em se parar o
cronômetro, quando uma massa final coletada, pré-determinada, for atingida. Obtém-se a
vazão, através da massa coletada, do tempo de enchimento e da densidade do líquido, em
função da temperatura.
FIGURA 2.1 - Diagrama de uma instalação, para calibração, por pesagem, pelo método estático, (a) através de
um tanque de nível constante e (b) bombeamento direto.
FONTE: Adapt a do de IS O 4185, 1980, p. 5
FIGURA 2.2 - Diagrama de uma instalação, para calibração, por pesagem, pelo método dinâmico.
FONTE: Adapt a do de IS O 4185, 1980, p. 6
19
Por se tratar de uma norma antiga, de 1980, não há grandes distinções entre o método estático
e dinâmico. O método dinâmico pode ser caracterizado como sendo uma particularidade do
método estático, ou seja, o método dinâmico consiste do método estático aplicado a um
intervalo de tempo pequeno.
Segundo a ISO 4185:1980, em instalações cuidadosamente construídas, bem mantidas e
corretamente utilizadas, pode-se atingir uma incerteza de medição de até ± 0,1%, com
intervalo de confiança de 95%. Para tanto, a norma recomenda, inclusive, a correção do efeito
aerostático, para se compensar o fato de o empuxo exercido pela atmosfera, no volume do
líquido, ser diferente daquele exercido sobre o volume dos pesos padrão. No caso de água,
este efeito é, aproximadamente, oito vezes maior do que nos pesos durante a calibração da
balança (DELMÉE, 2003).
2.2. Método da coleta de líquido em tanque volumétrico
A ISO 8316:1987 normaliza os procedimentos para a medição de vazão em tubulações
fechadas, através do volume de líquido coletado em um tanque volumétrico, em um intervalo
de tempo conhecido.
Esse método pode ser aplicado em qualquer líquido desde que a pressão de vapor seja
suficientemente baixa, para se assegurar que não haja escape de líquido do tanque, através de
vaporização, para não se afetar a exatidão da medição; para que a viscosidade seja
suficientemente baixa a ponto de não se alterar ou atrasar a leitura do nível, no tanque
volumétrico, e seja não tóxico e não corrosivo.
Teoricamente, não há limite para a aplicação desse método, mas por razões práticas, o citado
método é normalmente utilizado em vazões abaixo de 1,5 m³/s e em laboratórios com
instalações fixas. Por apresentar uma elevada exatidão, ele é frequentemente utilizado como
padrão primário.
20
O método de coleta de líquido, em tanque volumétrico, pode ser dinâmico (FIGURA 2.4) ou
estático (FIGURA 2.3). No modo estático, a vazão é medida, para um intervalo de tempo
conhecido, através da subtração do volume de líquido final, do volume de líquido inicial,
respectivamente, após o fechamento da válvula e antes da abertura da mesma. No modo
dinâmico, o líquido escoa ininterruptamente para o tanque, quando esse atinge um nível
predeterminado o cronômetro é disparado. Quando o líquido atinge o segundo nível, e
conseqüentemente um determinado volume, o cronômetro é paralisado. A vazão é dada pela
diferença entre os volumes predeterminados dividido pelo tempo indicado no cronômetro.
FIGURA 2.3 – Diagrama esquemático de um medidor volumétrico, utilizando-se o método de medição estática.
FONTE: Adapt a do de IS O 8316, 1987, p. 3
No método de medição volumétrica, em princípio, requerem-se apenas, medidas do tempo e
do nível. Depois do método de medição de massa, o método de medição estática, em tanque
volumétrico, pode ser considerado um dos métodos existentes mais exatos. Por essa razão, é
frequentemente utilizado como um método padrão ou como método de calibração. Quando a
instalação é cuidadosamente construída, mantida e utilizada, incertezas de ± 0,1% até ± 0,2%,
com intervalo de confiança de 95%, podem ser atingidas (ISO 8316, 1987).
21
FIGURA 2.4 - Diagrama esquemático de um med idor volumétrico, utilizando-se o método de medição dinâmica.
FONTE: Adapt a do de IS O 8316, 1987, p. 3
Entretanto, para se obterem medidas exatas, deve-se assegurar de que não existem
vazamentos no sistema; a tubulação opera completamente cheia, na seção de medição, e não
há vapor ou bloqueio de ar entre a seção de medição e o tanque volumétrico; de que não
ocorra acúmulo de líquido na tubulação devido à contração ou expansão térmica; a
temperatura do líquido que flui, pelo medidor que está sendo testado, seja a mesma do líquido
no tanque volumétrico, ou corrigida adequadamente (ISO 8316, 1987).
2.3. Métodos de medição de vazão por área e velocidade
Os métodos de medição de vazão, por área e velocidade, foram inicialmente desenvolvidos,
para serem utilizados com tubos de Pitot. Com o surgimento de novas técnicas de medição de
velocidade, como o LDA e o PIV (velocimetria de partícula por imagem), a aplicabilidade
dessas técnicas foram extendidas a estes novos equipamentos.
O tubo Pitot, o LDA, ou o PIV, são equipamentos capazes de medir a velocidade pontual em
um escoamento. Dessa forma, pode-se fazer uma exploração das velocidades locais de vários
pontos de uma tubulação fechada e, consequentemente, obter-se o perfil do escoamento, no
22
interior do duto. Aplicando-se os valores das velocidades obtidos a um principio físico-
matemático apropriado, deduz-se a vazão; este princípio de medição possibilita obter-se a
vazão de um fluido, escoando através de uma determinada seção perpendicular ao duto.
Durante a medição, é necessário assegurar-se de que não ocorra mudança na vazão, o que
pode ser verificado medindo-se a vazão em um ponto de referência, no início do experimento,
e após o término do experimento. Assim, se não for verificada alteração significativa no valor
da velocidade, pode-se considerar que o escoamento permaneceu estável.
Para se efetuar uma medição, vários pontos devem ser escolhidos ao longo de cada raio ou
coordenada. Admite-se que cada ponto de velocidade representa uma área de influência.
Dessa forma, uma fonte de erros é o posicionamento adequado do sistema de medição dentro
do conduto, já que não se pode-se assegurar de que o ponto medido corresponde exatamente
ao ponto de velocidade média de determinada área de influência; variações de posição do
ponto de velocidade média também ocorrem, devido às próprias variações do escoamento e,
até mesmo, do fluido.
Existem duas formas de se fazer a distribuição dos pontos de medição de velocidade ao longo
da seção transversal do conduto, onde se deseja medir a vazão.
A primeira, mais utilizada, consiste em se distribuir os pontos de medição espaçados, de
modo que as áreas de influência, em forma de anéis circulares, sejam iguais. Quanto mais
distantes do centro do conduto, menor será a distância entre os pontos de medição e,
consequentemente, mais estreitos serão os anéis, porém, mantendo-se a mesma área.
A segunda forma consiste em se distribuir os pontos de medição, ao longo de uma linha
radial, igualmente espaçados. Dessa maneira, cada anel terá uma área diferente; será, então,
necessário atribuir-se um fator de ponderação ou proporcionalidade, para que as maiores áreas
não influenciem, tendenciosamente, a integração do resultado. O efeito desse artifício é o
mesmo ou o equivalente a se considerar que as áreas fossem iguais. Caso esse fator de
correção não seja utilizado, na região do centro do conduto, onde se concentram as maiores
23
velocidades e consequentemente as maiores vazões, estaria sobre uma área de influencia
pequena, o que resultaria na diminuição do valor da vazão calculada.
A principal vantagem, ao se utilizarem pontos espaçados, adequadamente, de modo a se
formarem áreas iguais, é a não necessidade da utilização de fatores de correção ou
ponderação. O que se busca, com distribuições de áreas diferentes que utilizam fatores de
correção, é a possibilidade de se concentrarem as medições, em determinadas regiões do perfil
de velocidade, onde o pesquisador acredita estarem os efeitos predominantes. Por exemplo,
seria possível imaginar-se a obtenção de um resultado mais exato, em um escoamento em
regime turbulento, distribuindo-se a maior quantidade de pontos, no qual a curva do perfil de
velocidades seja mais acentuada, e a menor quantidade de pontos, na região onde o perfil seja
mais achatado (ANDRADE, 2002).
Existem diferentes métodos de escolha dos pontos de medição. A TABELA 2.1 indica a
localização dos pontos de medição em dutos circulares ou retangulares, de acordo com os
métodos citados a seguir (DELMÉE, 1982):
Centróides de áreas iguais: os incrementos das áreas de influência são igualmente espaçados.
Todas as medições de velocidade têm pesos iguais;
Cotas de Newton
: as distâncias entre os pontos são igualmente espaçadas. Cada medida de
velocidade é ponderada, adequadamente. Ver TABELA 2.1;
Chebyshef
: as locações dos pontos são adequadamente espaçadas. Todas as medidas de
velocidade têm pesos iguais.
Gauss: as locações dos pontos são espaçadas, adequadamente, e cada medição é ponderada,
segundo a TABELA 2.1.
24
TABELA 2.1: Métodos de locação dos pontos de medição por amostragem.
xrwxrwxrwxrw
n = 2
0,2500
0,7500
0,5000
0,8660
1/2
0
1
0
1
1/2
0,2113
0,7887
0,4597
0,8881
1/2
0,2113
0,7887
0,4597
0,8881
1/2
n = 3
0,1667
0,5000
0,8333
0,4082
0,7071
0,9129
1/3
0
0,5
1
1
0,7071
1
0,1667
0,6667
0,1667
0,1464
0,5000
0,8336
0,3827
0,7071
0,9239
1/3
0,1127
0,5000
0,8873
0,3357
0,7071
0,9420
0,2778
0,4444
0,2778
n
=
4
0,1250
0,3750
0,6250
0,8750
0,3536
0,6124
0,7906
0,9354
1/4
0
0,3333
0,6667
1
0
0,5774
0,8165
1
0,1250
0,3750
0,3750
0,1250
0,1027
0,4072
0,5928
0,8973
0,3203
0,6382
0,7699
0,9473
1/4
0,0694
0,3300
0,6700
0,9306
0,2635
0,5745
0,8185
0,9647
0,1739
0,3261
0,3261
0,1739
n = 5
0,1000
0,3000
0,5000
0,7000
0,9000
0,3162
0,5477
0,7071
0,8367
0,9487
1/5
0
0,25
0,50
0,75
1
0
0,5000
0,7071
0,8660
1
1,0778
0,3556
0,1333
0,3556
0,0778
0,0838
0,3127
0,5000
0,6873
0,9162
0,2891
0,5592
0,7071
0,8290
0,9572
1/5
0,0469
0,2308
0,5000
0,7692
0,9531
0,2166
0,4804
0,7071
0,8771
0,9763
0,1185
0,2393
0,2844
0,2393
0,1185
Quantidade
de pontos
simétricos
Método
Centróide de áreas iguais Cotas de Newton Chebyshef Gauss
25
Na FIGURA 2.5 (a) estão representados os pontos de medição para os quatro métodos, com
n = 3, em um tubo de seção circular. O número 1 corresponde ao método das centróides de
áreas iguais, o número 2, ao método das cotas de Newton, o número 3, ao método Chebyshef
e o número 4, ao método de Gauss. A FIGURA 2.5 (b) representa uma seção retangular de um
tubo com x partido das medianas, a partir de onde deverão ser alocados os pontos de medição,
onde x é uma grandeza adimensional, proporcional à distância das medianas à parede do tubo.
De maneira análoga, r é uma grandeza adimensional relativa à distância do centro do tubo a
sua parede.
26
3. CALIBRAÇÃO DO ANEMÔMETRO LASER DOPPLER
3.1. Princípio de funcionamento do Anemômetro LASER Doppler - LDA
O LDA utilizado nos experimentos consiste em um analisador de sinais, DANTEC 58N40,
27
FIGURA 3.1: Pri ncípio de funcionamento do LDA.
FONTE: Adaptado de Bernard , 2002, p.76.
A interseção dos feixes produz o chamado “volume de medição”. Onde os dois feixes LASER
apresentam uma forma quase cilíndrica. Logo, a sua interseção forma uma elipsóide, como
mostra a FIGURA 3.2. As dimensões da elipsóide, em um caso típico, são dx = dz = 0,1 mm e
dy 0,8 mm. Com esforço, as dimensões podem ser reduzidas, significativamente, atingindo-
se 35 µm de diâmetro e 66 µm de comprimento (BERNARD, 2002).
FIGURA 3.2: Volume de medição da inters eção de dois feixes.
FONTE: Bernard, 2 002, p.76.
O cruzamento de dois feixes, cujo comprimento de onda seja o mesmo, λ, contendo ondas
planas e coerentes, produz um padrão de franjas retas de interferência, que são a alternância
28
entre regiões, com a presença de luz, e regiões com ausência de luz, representadas na
FIGURA 3.3.(a) e (b) (ANDRADE, 2002).
FIGURA 3.3: Volume de medição.
FONTE: Adaptado d e Nascimento Filho, 19 97, p.33.
Na FIGURA 3.3, o vetor
V representa a velocidade e direção de uma partícula, e
W é a
componente da velocidade na direção de interesse. O ângulo 2θ, representado na FIGURA
3.2, corresponde ao ângulo de separação entre os feixes.
Quando uma partícula presente no fluido atravessa o volume de medição, a luz espalhada por
ela apresenta um máximo de luminosidade, ao passar por uma franja brilhante. Esse sinal
luminoso é captado por um foto detector de uma lente receptora. Sua freqüência é função da
componente W da velocidade da partícula, equação 3.1.
x
W
f
D
= (3.1)
Donde:
W = componente da velocidade da partícula na direção de interesse;
D
f = freqüência Doppler do sinal gerado pela partícula, ao cruzar o volume de medição;
x = distância entre franjas.
29
A distância entre cada franja de interferência pode ser expressa a partir da equação 3.2
(DANTEC, 1995).
)(.2
θ
λ
sen
x= (3.2)
Donde:
λ
= comprimento de onda do feixe LASER;
θ
= metade do ângulo de separação entre os feixes LASER.
Combinando-se as equações 3.1 e 3.2, obtém-se a expressão para a componente W da
partícula, equação 3.3.
D
f
sen
W .
)(.2
θ
λ
= (3.3)
O termo
)(.2
θ
λ
sen
é conhecido como “Constante de calibração do LDA” e é função apenas do
comprimento de onda do LASER e do ângulo de separação entre os feixes, sendo
independente da pressão, temperatura e densidade do fluido (BEAN, 1999; DANTEC, 1995).
Partículas movendo-se com velocidade W
+
ou W
geram o mesmo sinal de freqüência.
Para se identificar o sentido da velocidade, utilizam-se moduladores óptico-acústicos,
denominados células de Bragg. Esses dispositivos defasam a propagação de um dos feixes de
uma determinada freqüência, f
B
, de maneira que a diferença entre a freqüência dos feixes
cause a movimentação das franjas. Partículas que se deslocam, na mesma direção do
movimento das franjas, produzem um sinal de baixa freqüência do tipo f
--
. (DANTEC, 1995).
DB
fff=
(3.4)
De forma análoga, partículas deslocando-se na direção contrária ao movimento das franjas
produzem um sinal de alta freqüência do tipo f
+
.
30
DB
fff+=
+
(3.5)
3.2. Procedimentos para a calibração do LDA.
A calibração do LDA fez-se necessária, para se assegurar a rastreabilidade do mesmo. Para
tanto, foi projetado e construído o calibrador do LDA, que consiste em um dispositivo, com
um motor de corrente contínua de 12V, responsável por girar o eixo dos dois discos de
plástico, nos quais, entre suas bordas, se encontra um fio de nylon de 20 µm de diâmetro. A
distância do centro do fio de nylon ao centro do eixo, chamada de posição radial do fio de
nylon, R, foi medida com o auxílio de um microscópio e é de (20,903± 0,010) mm. Com a
finalidade de se evitarem oscilações na rotação do disco e de se aumentar a inércia do sistema,
foi adicionado um volante, na qual a FIGURA 3.4 representa a montagem simplificada do
dispositivo calibrador, e a FIGURA 3.5 a fotografia do calibrador construído.
FIGURA 3.4: Desenho esquemático do calibra d or.
31
FIGURA 3.5: Fot o g rafi a do calibrador .
Na calibração, posiciona-se o volume de medição do LDA, sobre o fio de nylon, esticado
sobre os dois discos de plástico. O período T é obtido por um encoder óptico e um disco com
60 franjas, montado sobre o mesmo eixo dos discos de plástico, onde se encontra o fio de
nylon. O sinal do encoder é adquirido por um sistema de aquisição de dados a uma freqüência
de 50 kHz, processado e armazenado por um microcomputador.
No processamento do sinal do encoder, o período não é calculado pelo intervalo de tempo
entre duas franjas subseqüentes, pois o disco com as franjas apresenta erros, quanto à sua
forma geométrica. Esse erro é eliminado, quando se calcula o período, tendo-se, como
referência, a mesma franja, ou seja, o período é calculado no momento em que a mesma franja
passa duas vezes pelo sensor óptico. Além de se anular o efeito do erro geométrico do disco,
obtém-se um encoder, com a resolução de 60 pontos por volta. Na FIGURA 3.6 (a) está
representado o disco, com as 60 franjas, utilizado no experimento. A FIGURA 3.6 (b)
representa as franjas e suas correspondentes, após uma volta completa. Portanto, o período
corresponde ao intervalo de tempo necessário para a franja 1 passar pelo sensor novamente
(franja 61). Conseqüentemente, ao fim da segunda volta, 120 franjas terão passado pelo
sensor óptico e 60 valores de período terão sido obtidos.
32
FIGURA 3.6: (a ) Di sco d o en coder óptico, (b) fran jas c o rre spo ndentes.
A calibração do LDA é realizada de forma indireta. A velocidade da partícula é simulada pelo
fio de nylon, montado em cima dos discos, que se movem a uma velocidade tangencial padrão
conhecida. Os valores de velocidade são comparados entre o sistema de medição padrão e o
sistema de medição a se calibrar. A FIGURA 3.7 representa, de forma esquemática, a
calibração indireta de velocidade.
33
FIGURA 3.7: Esquema do método de calibração indireta de velocidade.
3.2.1. Sistema de medição padrão
O sistema de medição padrão, o calibrador, fornece os valores de velocidade tangencial que,
posteriormente, são comparados com as velocidades tangenciais fornecidas pelo LDA. A
velocidade tangencial
t
v, do fio de nylon, obedece a relação representada pela equação 3.6.
T
R
v
t
=
π
2
(3.6)
Donde:
R = posição radial do fio de nylon;
T = período.
As fontes de incerteza envolvidas na determinação da velocidade do padrão são: 1) a posição
radial do fio de nylon, 2) a rotação do disco. A posição radial do fio de nylon, R, é de
(20,903±0,010)mm, com distribuição retangular. A incerteza da rotação varia, de acordo com
cada aquisição, pois está sujeita às oscilações de rotação do motor de corrente contínua.
34
A incerteza combinada da velocidade no padrão é dada pela equação 3.7.
2
2
2
2
)(
2
)(
2
)(
+
= Tu
T
R
Ru
T
Vu
t
ππ
(3.7)
O número de graus de liberdade efetivo, v
ef
, é dado pela equação de Welch-Satterthwaite,
equação 3.8 (ISO 5168:2005).
TRef
LDA
LDA
v
T
Tu
v
R
Ru
v
V
Vu
44
4
)()(
)(
+
=
(3.8)
Donde:
)(
LDA
Vu= incerteza padrão da velocidade fornecida pelo LDA;
)( Ru= incerteza padrão do raio;
)(Tu= incerteza padrão do período;
R
v= número de graus de liberdade da grandeza raio;
T
v= número de graus de liberdade da grandeza período.
3.2.2.
Sistema de medição a calibrar
O sistema de medição a se calibrar, o LDA, fornece o valor da velocidade tangencial do fio de
nylon e a incerteza de forma direta. As fontes de incerteza envolvidas na determinação da
velocidade do LDA são: 1) o desvio do LDA em medir a velocidade tangencial, 2) a incerteza
do padrão, 3) o desalinhamento do LDA, em relação ao fio de nylon.
A diferença entre as velocidades tangenciais indicadas pelo LDA e o padrão é chamada de
desvio. O desvio é composto de duas parcelas: uma sistemática e uma aleatória. A parcela
aleatória é obtida pela diferença entre a média dos valores de velocidade indicados pelo LDA
e o valor de velocidade indicado pelo LDA mais distante da média, sendo atribuída a essa
35
variação uma distribuição retangular. A parcela sistemática é obtida pela diferença entre a
média das velocidades indicadas pelo LDA e a média das velocidades fornecidas pelo padrão.
A incerteza do padrão foi, a priori, desconsiderada, pois, no projeto de construção do padrão,
esse apresentaria uma incerteza dez vezes menor do que o desvio observado no LDA, o que
pode ser verificado no capítulo onde são apresentados os resultados.
O efeito do desalinhamento, provocado por uma rotação no canhão LASER, está representado
na FIGURA 3.8(a). No volume de medição, onde se localiza o padrão de franjas, representado
pela FIGURA 3.8(b), o desalinhamento é representado pelo ângulo α, a velocidade tangencial
do fio de nylon por, V
T
e e, o valor do desalinhamento.
FIGURA 3.8: Representação esquemática do efeito do desalinhamento, (a) desalinhamento no canhão LASER,
(b) relação entre o desalinhamento e a velocidade tangencial.
O efeito causado pelo desalinhamento é equivalente a um erro de segunda ordem, na
metrologia dimensional, já que, para desalinhamentos pequenos, o ângulo de desalinhamento
α entra com a segunda ordem, no cálculo do valor do erro, e pode ser quantificado pela
equação 3.9.
2
ˆ
.
2
α
T
V
e = (3.9)
Donde:
e = valor do desalinhamento, em m/s;
36
α = ângulo de desalinhamento, em radianos;
V
T
= Velocidade tangencial, em m/s.
O desalinhamento contribuiu de forma sistemática e aleatória. Haja vista que o
desalinhamento sempre reduz o valor da velocidade indicada pelo LDA, não importando qual
seja o sentido de rotação do desalinhamento.
A correção combinada é a soma simples das correções individuais de cada efeito (INMETRO,
1998). A incerteza combinada da velocidade medida com a ajuda do LDA, u(V), é a
combinação da incerteza da velocidade fornecida pelo LDA, u(V
LDA
), e da incerteza do
desalinhamento, u(e). A incerteza combinada do LDA é dada pela equação 3.10.
[][]
22
2
)()()( euVuVu
LDA
+= (3.10)
3.3. Resultados da calibração do LDA.
3.3.1.
Resultados do padrão
A TABELA 3.2 apresenta os dados obtidos pelo padrão de velocidade, o calibrador. Nela
estão representados os períodos, medidos pelo encoder óptico, que combinados com a posição
radial do fio de nylon, resultam na velocidade tangencial do fio que será medida pelo LDA.
37
TABELA 3.2: Re sul ta do s das velocidades do padrão.
Ponto de
Calibração
Período do
padrão [s]
Desvio padrão
do período [s]
Velocidade tangencial
dia [m/s]
Incerteza expandida
(95%) do padrão [m/s]
Incerteza
relativa [%]
1 0,02632 7,53E-06 4,991 0,004 0,078
2 0,02930 5,56E-06 4,482 0,003 0,066
3 0,03282 6,14E-06 4,002 0,003 0,065
4 0,03772 8,22E-06 3,482 0,002 0,069
5 0,04324 7,36E-06 3,037 0,002 0,064
6 0,05226 7,66E-06 2,513 0,002 0,061
7 0,06594 9,67E-06 1,992 0,001 0,061
8 0,08648 1,60E-05 1,519 0,001 0,065
9 0,13285 2,41E-05 0,989 0,0006 0,065
10 0,25434 3,74E-04 0,516 0,0015 0,294
3.3.2.
Resultados da calibração do LDA
No experimento da calibração do LDA, foram adquiridos 120 valores de velocidade pelo
LDA, para cada ponto de calibração, enquanto que, no padrão, o calibrador, utilizou-se uma
freqüência de aquisição de 50 kHz, ou seja, 50 mil valores por segundo. O processo de
aquisição dos dados ocorreu da seguinte maneira: iniciava-se, ao mesmo tempo, o processo de
aquisição do LDA e do calibrador; ao serem coletados 120 valores de velocidade pelo LDA,
encerrava-se o processo de aquisição do LDA, porém, no calibrador, a aquisição só era
finalizada, após um tempo pré-estabelecido. Na etapa seguinte, a análise dos dados,
ajustavam-se os períodos de tempo do calibrador e do LDA, retirando-se o período de tempo
que excedia o tempo necessário, para o LDA adquirir os 120 valores de velocidade. Dessa
forma, os dados foram comparados no mesmo intervalo de tempo. Entretanto, a quantidade de
valores adquiridos era diferente. Na TABELA 3.3 estão representados os tempos necessários
para a aquisição dos dados desse experimento.
38
TABELA 3.3: Tempo necessário para a aquisição dos dados.
Velocidade Pretendida (m/s) Ponto de Calibrão Tempo de aquisição (s)
5,0 1 3,7
4,5 2 5,0
4,0 3 5,5
3,5 4 6,1
3,0 5 5,3
2,5 6 6,3
2,0 7 7,2
1,5 8 9,4
1,0 9 15,9
Para o ponto de calibração 1, velocidade de 5,0 m/s, o tempo necessário para a aquisição dos
dados foi de 3,7 segundos. Nesse período, foram adquiridos 120 valores de velocidade pelo
LDA e, aproximadamente, 185 mil valores de período pelo calibrador.
O ângulo máximo de desalinhamento do LDA foi estimado em 3°, para o qual se admitiu uma
distribuição retangular. Sabendo-se que o desalinhamento sempre contribui de forma a se
reduzir a velocidade indicada pelo LDA, para um ângulo de 3°, a parcela do erro sistemático
corresponde a ±1,5°. Os valores destas fontes de incertezas estão representados nas tabelas
abaixo.
TABELA 3.4: Balanço de incerteza do LDA para 5,0 m/s.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
S ímbol o Descr ição Co rreção [m/s] Val o r Br ut o [m/s] Tipo de Di s t ri bu i ção Di vi s or u ν
Dv Desvi o 0,1047 0,0660 retang ular 0,03 811
eDesa linhamento 0,0017 0,0017 retangular 0,0009 7
Cc Correção Combinada 0,1064
u
c
Incerteza Pa drão C o mbi nad a no rmal 0,0 38 12
U Incerteza Exp and i d a (9 5%) no rmal 0, 07 4 7
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
3
3
39
TABELA 3.5: Balanço de incerteza do LDA para 4,5 m/s.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
S ímbol o Descr ição Co rreção [m/s] Val o r B r ut o [m/s] Tipo de Di st ri bu i ção Di viso r u ν
Dv Desvi o 0,0867 0,1020 retang ular 0, 05889
eDesa linhamento 0,0015 0,0015 retang ular 0,00 087
Cc Correção Combinada 0,0882
u
c
Incerteza Pa drão C o mbi nad a no rmal 0, 05 8 9
U Incerteza Exp and i d a (9 5%) no rmal 0, 11 5 4
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
3
333
TABELA 3.6 Balanço de incerteza do LDA para 4,0 m/s.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
S ímbol o Descr ição Co rreção [m/s] Val o r B r ut o [m/s] Tipo de Di st ri bu i ção Di viso r u ν
Dv Desvi o 0,1121 0,0560 retang ular 0, 03233
eDesa linhamento 0,0013 0,0013 retang ular 0,00 077
Cc Correção Combinada 0,1134
u
c
Incerteza Pa drão C o mbi nad a no rmal 0,0 32 34
U Incerteza Exp and i d a (9 5%) no rmal 0, 06 3 4
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
3
333
TABELA 3.7: Balanço de incerteza do LDA para 3,5 m/s.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
S ímbol o Descr ição Co rreção [m/s] Val o r B rut o [m/s] Tipo de Di s tri b ui ção Di vis or u ν
Dv Desvi o 0,1015 0,0520 retangular 0, 03002
eDesa linhamento 0,0012 0,0012 retangular 0, 00067
Cc Correção Combinada 0,1027
u
c
Incerteza Pa drão C o mbi nad a no rmal 0, 03 00 3
U Incert eza Exp and i d a (9 5%) no rmal 0,05 89
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
3
333333
40
TABELA 3.8: Balanço de incerteza do LDA para 3,0 m/s.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
S ímbol o Descr ição Co rreção [m/s] Val o r B r ut o [m/s] Tipo de Di st ri bu i ção Di viso r u ν
Dv Desvi o 0,0860 0,0180 retang ular 0, 01039
eDesa linhamento 0,0010 0,0010 retang ular 0,00 058
Cc Correção Combinada 0,0871
u
c
Incerteza Pa drão C o mbi nad a no rmal 0,0 10 41
U Incerteza Exp and i d a (9 5%) no rmal 0, 02 0 4
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
3
333333
TABELA 3.9: Balanço de incerteza do LDA para 2,5 m/s.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
S ímbol o Descr ição Co rreção [m/s] Val o r B r ut o [m/s] Tipo de Di st ri bu i ção Di viso r u ν
Dv Desvi o 0,0341 0,0870 retang ular 0, 05023
eDesa linhamento 0,0008 0,0008 retang ular 0,00 049
Cc Correção Combinada 0,0349
u
c
Incerteza Pa drão C o mbi nad a no rmal 0,0 50 23
U Incerteza Exp and i d a (9 5%) no rmal 0, 09 8 5
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
41
TABELA 3.11: Balanço de incerteza do LDA para 1,5 m/s.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
S ímbol o Descr ição Co rreção [m/s] Val o r B r ut o [m/s] Tipo de Di st ri bu i ção Di viso r u ν
Dv Desvi o 0,0266 0,1070 retang ular 0, 06178
eDesa linhamento 0,0005 0,0005 retang ular 0,0003
Cc Correção Combinada 0,0271
u
c
Incerteza Pa drão C o mbi nad a no rmal 0,0 61 78
U Incerteza Exp and i d a (9 5%) no rmal 0, 12 1 1
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
3
333333
42
desalinhamento máximo de 3° com distribuição retangular. Na curva de erros no lugar da
correção está representado a tendência, que é equivalente à correção multiplicada por menos
um.
O erro máximo observado na curva de erros, FIGURA 3.9, é de -0,202 m/s, o que
correspondente a 4,5% do valor indicado (4,5 m/s).
FIGURA 3.9: C ur va de err os do L DA.
3.4. Análise dos resultados da calibração do LDA.
Analisando-se os balanços de incerteza, pode-se observar que o efeito do desalinhamento
pouco contribuiu para o aumento da incerteza da velocidade fornecida pelo LDA. O ponto de
calibração de 1,0 m/s foi onde a parcela do desalinhamento mais contribuiu para o aumento da
incerteza combinada, representando quase 4% desta.
Em todos os pontos de calibração, como pode ser observado na FIGURA 3.9, há uma
tendência negativa, isto é, os valores médios de velocidade medidos pelo LDA são sempre
inferiores aos indicados pelo calibrador.
43
TABELA 3.14: Incertezas relativas das velocidades do padrão.
Ponto de
Calibração
Velocidade do padrão
(m/s)
Incerteza expandida (95%) do
padrão em m/s
Incerteza relativa da
velocidade do padrão (%)
1 4,991 0,004 0,08
2 4,482 0,003 0,07
3 4,002 0,003 0,07
4 3,482 0,002 0,07
5 3,037 0,002 0,06
6 2,513 0,002 0,06
7 1,992 0,001 0,06
8 1,518 0,001 0,07
9 0,989 0,0006 0,06
10 0,516 0,0015 0,29
A priori, considerou-se um décimo ponto de calibração, correspondente à velocidade de
0,5 m/s. A razão pela qual esse ponto não consta na curva de erros se deve ao fato de que
todos os valores de velocidade indicados pelo LDA são iguais. Nesse ponto, a resolução do
LDA não se mostrou suficiente, de maneira a perceber as variações de velocidade do
mensurando, além de se obter, para o calibrador, uma incerteza relativa da velocidade de
0,3% do valor indicado de velocidade. Portanto, esse valor foi maior do que a meta
estabelecida de 0,1%. Observando-se a TABELA 3.14, a incerteza relativa do padrão, nos
outros nove pontos de calibração, não ultrapassou os 0,08%, o que corresponde a um
resultado satisfatório, ao se considerar o valor máximo adm itido de 0,1%.
44
4. MEDIÇÃO DE VAZÃO COM O ANEMÔMETRO LASER
DOPPLER
4.1. A bancada de testes
A bancada de testes foi originalmente concebida para se viabilizar a realização de ensaios de
medição de vazão, utilizando tanto tubos de Pitot, quanto o LDA. Com extensa seção de
testes, os ensaios com tubos de Pitot podem ser realizados, simultaneamente, com o LDA.
O esquema da bancada de testes, com seus principais componentes, está representado na
FIGURA 4.1.
FIGURA 4.1: Desenho esquemático da bancada de m edição de vazão.
Os principais componentes da montagem são:
- Unidade de bombeamento, composta por uma bomba centrífuga modelo EHF 80-120, vazão
máxima de 96 m
3
/h, alimentada por um motor de indução trifásico, com potência nominal de
7,5 CV, girando a 3500 rpm;
45
- Tubulação flexível (mangote) de entrada e saída da bancada, com diâmetro nominal de 4
polegadas;
- Trecho em acrílico (seção de testes), com 1500 mm de comprimento, diâmetro interno de
90 mm e diâmetro externo de 100 mm;
- Inversor de freqüências, utilizado para variar a rotação da bomba centrífuga, e,
conseqüentemente variar a vazão;
- Mesa x-y Mitutoyo, com parafusos micrométricos, com erro máximo de posicionamento de
3 µm;
- Medidor de vazão eletromagnético, modelo Endress-Hausser PROMAG 33+.
FIGURA 4.2: Vi sta ge ral da bancada de testes.
FONTE: Adaptado de Andrade, 20 02, p. 87.
4.2. Posicionamento do volume de medição
O posicionamento do volume de medição, dentro do tubo de acrílico, requer uma correção,
quanto ao deslocamento, devido às diferenças entre os índices de refração dos materiais, pois
a distância percorrida pela guia, no ar, não é a mesma percorrida pelo volume de medição, na
água.
46
Quando um feixe atravessa a interface, entre dois meios, com diferentes índices de refração,
ocorre a refração, um desvio do feixe. Esse desvio angular pode ser relacionado pelos índices
de refração de cada meio, pela Lei de Snell, descrita na equação 4.1.
β
θ
sen
sen
n
n
=
1
2
(4.1)
Donde:
n
1
= índice de refração do meio 1;
n
2
= índice de refração do meio 2;
θ = ângulo de incidência;
β = ângulo de refração.
Na medição de vazão com o LDA, o posicionamento do volume de medição, onde a
velocidade deve ser medida, é estabelecido por uma das técnicas de medição de vazão. A
movimentação do LDA se dá por guias lineares acopladas a parafusos micrométricos,
evidenciados na FIGURA 4.3.
FIGURA 4.3: (a) Vista tipo planta e (b) vista traseira, do sistema de posicionamento.
No entanto, como o LDA está situado no ar, e o volume de medição encontra-se dentro do
tubo com água, é necessário corrigir-se o efeito da refração, estabelecendo-se a relação entre a
47
distância percorrida pelo volume de medição e a percorrida pela guia. O efeito da refração no
experimento está representado na FIGURA 4.4.
FIGURA 4.4: Efeito da refração na interface ar-acrílico-água.
FONTE: ANDRADE; 20 02, p. 94.
Os índices de refração dos m ateriais são os seguintes:
- Índice de refração do ar,
n
1
= 1,00;
- Índice de refração do acrílico,
n
2
= 1,49;
- Índice de refração da água,
n
3
= 1,33.
De posse dos índices acima e para θ/2 = 2,72°, aplicando a Lei de Snell, temos:
=
=
222
321
γβθ
sennsennsenn
(4.2)
Por conseguinte, os valores de β/2 e γ/2 são, respectivamente: 1,825° e 2,046°.
A relação entre o deslocamento do volume de medição, fora do tubo de acrílico, ar, e no
interior do tubo, água, não é igual, pois ocorre refração e, conseqüentemente, alteração nos
ângulos, como pode ser observado na FIGURA 4.5.
48
Inicialmente, admite-se o volume de medição posicionado no ponto 1. Vide FIGURA 4.5 (a).
O raio do tubo de acrílico é de 45mm. Logo, aplicando-se as relações trigonométricas, os
valores de a e b, são 1,06mm e 0,16mm, respectivamente. Aplicando-se, novamente, as
relações trigonométricas, encontra-se o valor de x, correspondente a 362,78mm. A distância x,
que corresponde à distância entre o canhão LASER e a parede externa do tubo de acrílico
pode ser observada de maneira mais clara na FIGURA 4.6.
Em um segundo instante, admite-se o volume de medição posicionado no ponto 3. Os valores
de a e b, são outra vez, calculados e equivalem a 3,21mm e 0,16mm, respectivamente. O novo
valor da variável x é de 328,93mm. No interior do tubo, foram percorridos 45mm, distância
entre a posição 1 e 3, enquanto que, fora do duto, foram percorridos apenas 33,85mm.
FIGURA 4.5: (a) Disposição dos raios no interior do tubo, (b) passagem do raio pela parede do tubo.
A relação entre a distância percorrida pelo volume de medição, no interior do tubo, e a
percorrida pela guia, fora do tubo, é de 45mm divididos por 33,85mm, o correspondente a
1,33. De maneira simplificada, a relação é equivalente à relação entre os índices de refração
dos meios, água e ar, e, também, é igual a 1,33.
49
4.3. Procedimentos para a medição de vazão com o LDA.
Para se efetuar a medição de vazão, foi escolhido o método das centróides de áreas iguais,
com cinco pontos de medição, dispostos em uma metade do perfil. A escolha de tal método se
deve ao fato de todos os pontos contribuírem de maneira igualitária, ou seja, possuírem o
mesmo peso, no cálculo da vazão, simplificando-se o cálculo da referida vazão e das
incertezas a ela associadas.
A seção de testes, onde são feitas as medições de velocidade, é construída em acrílico e tem
90 mm de diâmetro interno e 5 mm de parede. A disposição dos cinco pontos de medição,
enumerados de 1 a 5, na seção de testes, está repr esentada na FIGURA 4.6.
FIGURA 4.6: Localização dos pontos de medição na seção de testes, valores em mm.
O experimento inicia-se, posicionando-se o volume de medição, primeiramente, da linha de
centro do tubo, ponto tomado como sendo a referência zero. Em seguida, o volume de
50
medição é deslocado para os pontos de medição de velocidade, que se inicia no número 1 e se
encerra no número 5.
Obtidas as velocidades, nos cinco pontos de medição, a equação 4.3 representa o método das
centróides de áreas iguais, na totalização da vazão na seção d e testes.
()
54321
2
20
1
VVVVVDVz
T
++++
=
π
(4.3)
Donde:
z
V= vazão volumétrica;
D
T
= diâmetro do tubo;
5...1
V= velocidade do fluido nos pontos de medição.
As fontes de incertezas envolvidas, na determinação da vazão, utilizando-se o LDA e a
técnica das centróides de áreas iguais são: 1) a velocidade indicada pelo LDA, 2) o diâmetro
da seção de medição (tubo de acrílico), 3) a dilatação térmica do tubo de acrílico, 4)
posicionamento do volume de medição.
FIGURA 4.7: Posicionamento do volume de medição e desalinhamento, em torno dos eixos cartesianos.
51
O deslocamento do volume de medição, no interior do tubo de acrílico, ocorre na direção do
eixo y no plano x-y, onde está contida a linha de centro do tubo. A FIGURA 4.7 representa o
volume de medição no interior do tubo. Durante as medições de velocidade, à medida que o
volume de medição foi deslocado, o plano de entrada não era omesmo plano de saída dos
feixes, o que sinalizava pequenos desvios na trajetória ideal de medição.
Os desalinhamentos ocorreram em torno dos eixos x, y e z. Em x e z, esses são equivalentes à
1mm para 45mm percorridos pelo volume de medição, no interior do tubo, o que corresponde
a 1,3°. Já no eixo y, o desalinhamento foi de 1°. No experimento de calibração do LDA, a
contabilização de um desalinhamento de 3° não contribuiu, de forma significativa, para o
aumento da incerteza combinada da velocidade. Dessa maneira, o efeito do desalinhamento
foi desconsiderado, no cálculo da incerteza combinada da vazão, em virtude de os valores
serem inferiores aos da calibração do LDA.
A combinação das incertezas da medição de vazão, constituída pelas incertezas das
velocidades, do diâmetro e da dilatação térmica, é dada pela equação 4.4.
() () () () ()
() ()
)4.4(
)(
2
2
5
5
2
4
4
2
3
3
2
2
2
2
1
1
2
2
+
+
+
+
+
+
=
L
L
T
T
Du
D
Vz
Vu
V
Vz
Vu
V
Vz
Vu
V
Vz
Vu
V
Vz
Vu
V
Vz
Du
D
Vz
Vzu
Para a medição do diâmetro interno do tubo, foi utilizado um comparador de diâmetro interno,
com relógio, conhecido também como subto. O subto foi previamente calibrado, com blocos
padrão e, em seguida, foram verificados a circularidade e o diâmetro do tubo de acrílico. O
valor do diâmetro interno é (90,3±0,3)mm, para uma distribuição retangular.
A medição de velocidade com o LDA é um processo demorado. Foram necessárias mais de
quatro horas para que todas as medições de velocidade, sendo essas, em torno de 1500
valores, fossem adquiridas. Observou-se que, durante a duração do experimento, ocorreu uma
variação da temperatura ambiente e, conseqüentemente, do fluido e do tubo de acrílico.
52
O efeito da temperatura, na medição de vazão, será representado no balanço de incertezas,
como dilatação térmica. A variação da temperatura admitida foi de ±5°C, em torno de 25°C,
ou seja, (25±5)°C com distribuição retangular. O valor do coeficiente de dilatação térmica
superficial do acrílico, β
ac
,, é 1,5 10
-4
/°C. A equação 4.5 representa o efeito da dilatação
térmica superficial.
TAA
aco
=
β
(4.5)
Donde:
A = variação da área da seção;
o
A= área inicial da seção;
ac
β
= coeficiente de dilatação térmica superficial do acrílico;
T
= variação de temperatura.
Aplicando-se os valores da área inicial do tubo, do coeficiente de dilatação térmica superficial
do acrílico e da variação de temperatura na equação 4.4, a variação de área é de 4,77 10
-6
m
2
,
isto é, o equivalente a um acréscimo, ou redução de 0,07%, em relação à área inicial de
6,36 10
-3
m
2
.
4.4. Resultados
No experimento de medição de vazão, foram adquiridos 300 valores de velocidade, pelo
LDA, para cada ponto de medição. Com a utilização de um inversor de freqüências, foi
possível modificar-se a rotação da bomba, alterando-se também a vazão bombeada, a qual foi
medida em cinco rotações diferentes, partindo-se de 750 até 1750 rpm, com intervalos de
250 rpm. Foram coletados 7500 valores de velocidade, em todo o experimento.
As tabelas abaixo apresentam os balanços de incertezas da medição de vazão, para os cinco
valores de freqüência, previamente mencionados.
53
TABELA 4.1: Balanço de incerteza da medição de vazã o, bomba a 750 rpm.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
Símbolo
Descrição
Corrão [l/s] Valor Bruto [l/s] Tipo de Distribuão Divisor u ν
D
T
Diâmetro do Tubo
0,000000 0,074571 retangular 0,043054
D
L
Dilatação Térmica
0,000000 0,008387 retangular 0,004842
V
1
Velocidade Ponto 1
0,049915 0,420470 retangular 0,242758
V
2
Velocidade Ponto 2
0,047764 0,522724 retangular 0,301795
V
3
Velocidade Ponto 3
0,043760 0,57589 0 retangular 0,33249
V
4
Velocidade Ponto 4
0,039057 0,775323 retangular 0,447633
V
5
Velocidade Ponto 5
0,029329 1,702315 retangular 0,982832
Cc
Co rreção Co mbi n ada
0,2098
u
c
Incertez a Pad rão Co mbi nad a
normal 1,195313
U
Incertez a Exp and id a (9 5%)
normal 2,3428
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
333
3
3
3
3
3
3
TABELA 4.2: Balanço de incerteza da medição de vazã o, bomba a 1000 rpm.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
Símbolo
Descrição
Corrão [l/s] Valor Bruto [l/s] Tipo de Distribuão Divisor u ν
D
T
Diâmetro do Tubo
0,000000 0,100155 retangular 0,057824
D
L
Dilatação Térmica
0,000000 0,011264 retangular 0,006503
V
1
Velocidade Ponto 1
0,058420 1,107859 retangular 0,639623
V
2
Velocidade Ponto 2
0,045482 0,61156 9 retangular 0,35309
V
3
Velocidade Ponto 3
0,044948 0,560028 retangular 0,323332
V
4
Velocidade Ponto 4
0,047411 0,756556 retangular 0,436798
V
5
Velocidade Ponto 5
0,051153 1,064610 retangular 0,614653
Cc
Co rreção Co mbi n ada
0,2474
u
c
Incertez a Pad rão Co mbi nad a
normal 1,100141
U
Incertez a Exp and id a (9 5%)
normal 2,1563
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
333
3
3
3
3
3
3
333
3
3
3
3
3
3
54
TABELA 4.3: Balanço de incerteza da medição de vazã o, bomba a 1250 rpm.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
Símbolo
Descrição
Corrão [l/s] Valor Bruto [l/s] Tipo de Distribuão Divisor u ν
D
T
Diâmetro do Tubo
0,000000 0,124791 retangular 0,072048
D
L
Dilatação Térmica
0,000000 0,014035 retangular 0,008103
V
1
Velocidade Ponto 1
0,117852 0,86334 0 retangular 0,49845
V
2
Velocidade Ponto 2
0,115624 0,979467 retangular 0,565496
V
3
Velocidade Ponto 3
0,108154 0,732718 retangular 0,423035
V
4
Velocidade Ponto 4
0,075456 0,949522 retangular 0,548207
V
5
Velocidade Ponto 5
0,046131 0,895479 retangular 0,517005
Cc
Co rreção Co mbi n ada
0,4632
u
c
Incertez a Pad rão Co mbi nad a
normal 1,149033
U
Incertez a Exp and id a (9 5%)
normal 2,2521
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
333
3
3
3
3
3
3
333
3
3
3
3
3
3
333
3
3
3
3
3
3
TABELA 4.4: Balanço de incerteza da medição de vazã o, bomba a 1500 rpm.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
Símbolo
Descrição
Corrão [l/s] Valor Bruto [l/s] Tipo de Distribuão Divisor u ν
D
T
Diâmetro do Tubo
0,000000 0,148564 retangular 0,085773
D
L
Dilatação Térmica
0,000000 0,016709 retangular 0,009647
V
1
Velocidade Ponto 1
0,138446 1,098682 retangular 0,634324
V
2
Velocidade Ponto 2
0,136336 1,006330 retangular 0,581005
V
3
Velocidade Ponto 3
0,131804 0,994917 retangular 0,574416
V
4
Velocidade Ponto 4
0,121466 0,864350 retangular 0,499033
V
5
Velocidade Ponto 5
0,107282 1,281694 retangular 0,739986
Cc
Co rreção Co mbi n ada
0,6353
u
c
Incertez a Pad rão Co mbi nad a
normal 1,368923
U
Incertez a Exp and id a (9 5%)
normal 2,6831
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
333
3
3
3
3
3
3
333
3
3
3
3
3
3
333
3
3
3
3
3
3
333
3
3
3
3
3
3
55
TABELA 4.5: Balanço de incerteza da medição de vazã o, bomba a 1750 rpm.
EFEITOS SISTEMÁTICOS
Símbolo
Descrição
Corrão [l/s] Valor Bruto [l/s] Tipo de Distribuão Divisor u ν
D
T
Diâmetro do Tubo
0,000000 0,171811 retangular 0,099195
D
L
Dilatação Térmica
0,000000 0,019324 retangular 0,011156
V
1
Velocidade Ponto 1
0,114260 1,513252 retangular 0,873677
V
2
Velocidade Ponto 2
0,122644 0,910611 retangular 0,525741
V
3
Velocidade Ponto 3
0,132092 1,175902 retangular 0,678907
V
4
Velocidade Ponto 4
0,138948 1,22516 6 retangular 0,70735
V
5
Velocidade Ponto 5
0,129967 1,348630 retangular 0,778632
Cc
Co rreção Co mbi n ada
0,6379
u
c
Incertez a Pad rão Co mbi nad a
normal 1,617778
U
Incertez a Exp and id a (9 5%)
normal 3,1708
FONTES DE INCERTEZA EFEITOS ALEATÓRIOS
333
3
3
3
3
3
3
333
3
3
3
3
3
3
333
3
3
3
3
3
3
333
3
3
3
3
3
3
333
3
3
3
3
3
3
4.5. Análise dos resultados
Analisando-se os balanços de incerteza, pode-se observar que as parcelas das incertezas
referentes ao diâmetro do tubo e o efeito da dilatação térmica pouco contribuíram para o
aumento da incerteza da vazão. Na parede do tubo, a velocidade do fluido é nula, condição de
não escorregamento. Logicamente, nas proximidades da parede, a velocidade tende a zero de
maneira abrupta, ocasionando um aumento da incerteza que pode ser verificado no ponto 5 de
todos os balanços de incerteza.
TABELA 4.6: Valores da medição de vazão e incertezas, utilizando-se o LDA.
Rotação
[rpm]
Vazão
[l/s]
Corrão
[l/s]
Vazão Corrigida
[l/s]
Incerteza Expandida 95%
[l/s]
Incerteza Relativa
[%]
750 11,19 0,21 11,40 2,34 20,56
1000 15,02 0,25 15,27 2,16 14,12
1250 18,72 0,46 19,18 2,25 11,74
1500 22,28 0,64 22,92 2,68 11,71
1750 25,77 0,64 26,41 3,17 12,01
A TABELA 4.6 representa, de forma compacta, os resultados da medição de vazão, com as
incertezas expandidas e relativas, para cada uma das freqüências pré-ajustadas no inversor.
56
Nela observa-se que a incerteza relativa da vazão diminui, na proporção que a mesma
aumenta.
Analisando-se a FIGURA 4.8, com a bomba em 750 rpm, as velocidades médias, nos cinco
pontos, estão entre 1,50 e 2,00 m/s. Para essa faixa de valores de velocidade, a incerteza
relativa do LDA apresenta valores máximos, como pode-se verificar na curva de erros do
LDA.
Dessa maneira, quanto maior forem as velocidades, menor será a incerteza da vazão.
Vale ressaltar que para um número de Reynolds, acima de 2000, pode-se considerar o
escoamento como sendo turbulento. Com a bomba, na menor rotação (750 rpm), o Reynolds é
aproximadamente 180.000, ou seja, não há mudança quanto ao tipo de escoamento, quando a
rotação da bomba é elevada de 750 para 1750 rpm.
FIGURA 4.8: Perfi l de vel ocidade no tubo.
57
5. CONCLUSÃO
O experimento de calibração do LDA possibilitou-nos conhecer o sistema de medição, de
maneira mais aprofundada. Foram obtidas informações relevantes na caracterização do
sistema de medição, em suas atribuições de uso e limitações. Vale destacar, a escassez de
referências bibliográficas que abrangem a utilização do LDA, na medição de vazão e técnicas
ou métodos de calibração do mesmo. No entanto, nas raras referências encontradas, foi
possível definir-se, em parte, o projeto do calibrador do LDA.
Os resultados obtidos com o calibrador do LDA mostraram-se muito satisfatórios, com uma
incerteza relativa da velocidade inferior a 0,1%, ao mesmo tempo que, um pouco
preocupantes, pois, segundo informações comerciais, a máxima incerteza relativa, associada
ao LDA é algo em torno de 0,1%. Os resultados revelaram um erro máximo de 4,5%. Quando
corrigidos os efeitos sistemáticos do LDA, sua incerteza expandida foi estimada em 2,6% do
valor medido, o que pode ser considerado elevado, para um sistema de medição tão
sofisticado, complexo e caro.
Melhorias no calibrador podem reduzir a incerteza do dispositivo e são passíveis de serem
obtidas, mas seria necessário apenas na faixa de velocidade de zero a 1 m/s, faixa na qual a
incerteza relativa da velocidade, medida pelo calibrador, foi maior que a meta estipulada de
0,1%. A parcela que mais contribuiu para a incerteza combinada da velocidade tangencial
padrão foi a incerteza do diâmetro do fio. Poder-se-ia, então, utilizar-se um fio, com diâmetro
inferior, e, conseqüentemente, menor incerteza, com relação ao do fio utilizado, 20µm. Outra
possibilidade, seria aumentar a taxa de aquisição do período. O material do fio utilizado por
pesquisadores como Nader et al (2003) e BEAN (1999) e na calibração do LDA, foi o
tungstênio. Apesar da utilização do fio de nylon, não houve problema quanto à detecção do
fio, o que nos permite concluir que o material do fio é irrelevante.
Um dos objetivos deste trabalho foi verificar a possível utilização do LDA, como um padrão
primário de vazão. No primeiro capítulo foram, mostrados os métodos de medição de vazão,
58
sugeridos pelas normas ISO. Seguindo-se as recomendações dessas normas, constatou-se que
os maiores valores de incerteza relativa seriam de 0,2%, inferindo-se que, para a utilização do
LDA como um padrão primário de vazão, seria imprescindível que os valores de incerteza
relativa não fossem superiores a 0,2%.
Um dos propósitos foi a utilização do LDA, juntamente com um método de medição de vazão
por área e velocidade, como calibrador de sistemas comuns de medição de vazão, com
incerteza entre 2 e 5%. Porém, nos experimentos de medição de vazão, utilizando-se a técnica
das centróides de áreas iguais e o LDA, verificou-se que as incertezas relativas obtidas estão
entre 11 e 20%. Com esses resultados, o alvo pretendido não foi alcançado.
Os métodos volumétricos e de pesagem têm, como principal vantagem, a facilidade na
operação. Tais métodos não requerem equipamentos muito sofisticados e ainda possibilitam a
calibração de medidores de vazão, com outros tipos de fluidos. O mesmo não ocorre com o
LDA, que tem, em fluidos transparentes, tais como a água e o ar, a sua principal aplicação.
Contudo, faz-se mister o uso de partículas, com a mesma densidade do meio, o que dificulta e
encarece a medição.
O grande valor da incerteza relativa da vazão é devido à variação na velocidade do fluido
bombeado e a incerteza da velocidade, medida pelo LDA, que, na calibração, obteve incerteza
relativa entre 0,7 e 8% do valor medido. Com isso, pode-se deduzir que, embora corrigindo-se
as velocidades medidas, através da curva de erro, o LDA não caracteriza o sistema de
medição mais adequado para se utilizar, como padrão primário de vazão, além de ser um
equipamento dispendioso e de operação complexa, que demanda pessoal qualificado.
Os valores de incerteza relativa na medição de vazão estão compreendidos entre 11 e 20%.
Uma parcela dessa incerteza é inerente do próprio LDA, a outra parcela tem como fonte o
sistema de bombeamento do fluido utilizado no experimento. Nesse sistema a velocidade do
fluido sofre variações, que ocasionam uma ampla dispersão nos valores das velocidades
indicadas pelo LDA.
59
O fator de calibração do LDA não foi estimado tendo em vista, que a parcela aleatória do erro
do LDA é, significativamente, maior do que a parcela sistemática.
A utilização de um outro método de medição de vazão, por área e velocidade, não
apresentaria mudança significativa nos resultados das vazões medidas, pois, como se pode
observar, no capítulo 2, para a medição em seis pontos, sua disposição permanece quase a
mesma levando-se em conta a maioria dos métodos citados.
Nas recomendações para trabalhos futuros de Andrade (2002), que pesquisou sobre a
utilização do LDA, na calibração de tubos de Pitot, foi sugerida a implementação de um
sistema de posicionamento do LDA, com controle digital e acionamento elétrico. O sistema
de posicionamento viabilizado neste trabalho, uma mesa x-y, com parafuso micrométrico
digital, facilitou o deslocamento do LDA, cuja principal vantagem, sobre o equipamento
utilizado por Andrade, é a grande resolução e a quase ausência de folgas. Entretanto, pôde ser
constatado que o posicionamento do LDA não foi o principal colaborador no aumento da
incerteza da vazão, pois, para um desalinhamento de 3° o aumento na incerteza da velocidade
medida pelo LDA é pouco significativo.
Uma das metas da presente dissertação foi estimar e avaliar a incerteza da medição de vazão
com o LDA e não, o valor da medição em si. Apesar disso, na realização dos experimentos,
usou-se um medidor de vazão eletromagnético e percebeu-se uma diferença entre os valores
de vazão indicados, por volta de 10%.
60
ABSTRACT
Laser Doppler Anemometry is a measurement system which not only contains a wide velocity
measurement range (whose speed amounts to 200 m/s) and good accuracy but is also non-
invasive. That is why it has increasingly been used as a primary standard for velocity in fluids
measurement as well as in flow measurement gauging systems. Devices used as measurement
standards need traceability, which can only be assured through calibration. As a result, from
LDA calibration the user gets more reliable measurements and results for the gauges,
calibrated by LDA. Such calibration is mainly important for CPH, since it is used in
researches and experiments both inside or outside laboratory, where fluid velocity or the flow
is mostly the main variable, if not the only one. This study has had two prime aims. The
former consisted of development, construction and testing a device able to calibrate the LDA,
within a velocity range from 1 to 5 m/s, considering a velocity uncertainty of 0,1%, at the
most, and a coverage factor of 95%. Applying this calibration device to the LDA a maximum
error of 4,5% of the measured velocity was obtained. Once the systematic effects are
corrected, the extended measurement uncertainty was estimated to be ±2,6% of the measured
value. The second aim took into account the use of the calibrated LDA along with the right
velocity and area method in order to carry out water flow measurements within a range of 11
to 26 l/s. The flow measurements were used to check on the applicability of the LDA as a
primary flow standard and raise and quantify its uncertainty sources. In the flow measurement
the relative uncertainty varied from 11 through 20%, which means that the LDA itself is
unsuitable as a flow primary standard.
Keywords: Flow measurement, Laser Doppler Anemometer, Calibration, Metrology.
61
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28.
SPITZER, D. W. Industrial flow measurement. 2nd ed. North Carolina: Instrument
Society of America, 1990. 441p.
A-1
ANEXO A
Nas figuras abaixo estão representas as velocidades obtidas pelo padrão e as velocidades
fornecidas pelo LDA, nos nove pontos de calibração, de 1,0 a 5,0 m/s, e no ponto de 0,5 m/s.
A.1 Gráficos das velocidades do Padrão versus LDA.
FIGURA A1: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo, 0,5 m/s.
A-2
FIGURA A2: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo, 1,0 m/s.
A-3
FIGURA A3: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo, 1,5 m/s.
A-4
FIGURA A4: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo, 2,0 m/s.
A-5
FIGURA A5: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo, 2,5 m/s.
A-6
FIGURA A6: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo, 3,0 m/s.
A-7
FIGURA A7: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo, 3,5 m/s.
A-8
FIGURA A8: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo, 4,0 m/s.
A-9
FIGURA A9: Comparação das velocidades do Padrão e LDA ao longo do tempo, 4,5 m/s.
A-10
FIGURA A10: Comparação das velocida des do Padrão e LDA ao longo do tempo, 5,0 m/s.
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