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Maria Mônica Freitas Ribeiro
Avaliação da atitude do estudante de medicina da Universidade
Federal de Minas Gerais, a respeito da relação médico-paciente, no
decorrer do curso médico.
Tese apresentada ao Programa de Pós-graduação
em Clínica Médica da Faculdade de Medicina da
Universidade Federal de Minas Gerais, como
requisito parcial à obtenção do Grau de Doutor
em Medicina.
Área de concentração: Clínica Médica
Orientador: Prof. Carlos Faria Santos Amaral
Belo Horizonte
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Medicina
2006
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2
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERAIS
REITORA: Professora Ana Lúcia Almeida Gazzola
PRÓ-REITORIA DE PÓS-GRADUAÇÃO
PRÓ-REITOR DE PÓS-GRADUAÇÃO: Professor Jaime Arturo Ramirez
FACULDADE DE MEDICINA
DIRETOR: Professor Geraldo Brasileiro Filho
CENTRO DE PÓS-GRADUAÇÃO DA FACULDADE DE MEDICINA
COORDENADOR: Professor Francisco José Penna
COORDENADOR DO PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CLÍNICA
MÉDICA: Professor Carlos Faria Santos Amaral
DEPARTAMENTO DE CLÍNICA MÉDICA
CHEFE: Professor Dirceu Bartolomeu Greco
Belo Horizonte
Universidade Federal de Minas Gerais
Faculdade de Medicina
2006
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3
Ribeiro, Maria Mônica Freitas.
R484a Avaliação da atitude do estudante de Medicina da Universidade
Federal de Minas Gerais, a respeito da relação médico-paciente, no
decorrer do curso médico [manuscrito] / Maria Mônica Freitas Ribeiro.
– 2006.
116 f., enc. : il. p & b, tabs., grafs.
Orientador: Prof. Carlos Faria Santos Amaral.
Tese (doutorado) – Universidade Federal de Minas Gerais,
Faculdade de Medicina.
Área de concentração: Clínica Médica.
Linha de pesquisa: Ensino Médico.
Bibliografia: f. 100-106.
Anexos: f. 107-114.
1. Educação médica – Teses. 2. Medicina – Estudo e ensino –
Teses. 3. Médicos – Formação profissional – Teses. 4. Estudante de
medicina – Atitudes – Teses. 5. Relações médico-pacientes – Teses.
6. Medicina clínica – Teses. 7. Prática profissional – Teses. I. Amaral,
Carlos Faria Santos. II. Universidade Federal de Minas Gerais. Facul-
dade de Medicina. III. Título.
NLM: W 18
4
AGRADECIMENTOS
A realização de uma pesquisa para tese de doutorado, principalmente quando a
pergunta inicial parte de uma vivência profissional, se mistura um pouco com a própria vida.
Ao concluí-la e pensando nos agradecimentos, fica difícil enumerar pessoas pois elas seriam
muitas e há sempre o risco de esquecer algumas. Isto não me impede, no entanto, de
agradecê-las. Durante a formação médica, foram alguns professores que, ao me acolherem
na minha insegurança de aprendiz, me ajudaram a enxergar que medicina era muito mais que
saber muito bem o que estava nos livros. Mais tarde, professora, foram colegas que,
dividindo comigo incertezas a respeito de como ensinar medicina, me permitiram refletir
sobre a importância da relação com o paciente - ser humano - sujeito do trabalho médico e
com o estudante, sujeito do trabalho do professor. Foram estes estudantes que, adolescentes
ainda em formação, me trouxeram o desafio de apresentar-lhes, mais que conhecimentos
técnico-científicos, referências para a vida profissional (muitas vezes pessoal),
responsabilidade essa de mestre. Foram os pacientes que, sujeitos, muito exigiram de mim,
mas muito mais me ofereceram. Foram as muitas pessoas que, de forma visível ou não, têm
me permitido exercer minha função.
E foram todas essas pessoas que me motivaram a permitir o sonho e enveredar por
caminho tão difícil como esse de estudar a relação médico-paciente no ensino médico. Foram
ainda essas pessoas que me ajudaram a limitar o sonho ao possível, uma vez que sempre
gostaríamos de fazer mais do que as condições objetivas nos permitem.
Hesitei muito antes de enumerar pessoas pelo risco de esquecer alguém, mas,
considerando aquelas diretamente envolvidas na construção do projeto e na sua execução,
decidi correr o risco, pois me pareceu injusto não fazê-lo. Gostaria de agradecer:
5
- Ao Professor Carlos Faria Santos Amaral, orientador da tese, que acreditou que eu
seria capaz dessa tarefa e me ajudou a realizá-la;
- Ao Professor Aloísio Joaquim Freitas Ribeiro, pela orientação na análise estatística;
- Ao Professor Ed Krupat, que não só permitiu o uso da escala PPOS, mas sempre se
mostrou disponível para a discussão de todas as dúvidas referentes à sua aplicação;
- Aos colegas Professores Sebastião Soares Leal, Eduardo Costa Ferreira, Maria
Elizabeth Uchoa, Lúcia M. H. Figueiredo Goulart, Ceres Maria Pinheiro Ribeiro, Itamar T.
Sardinha, Valéria M. Azeredo Passos e Roberto Assis Ferreira, pela participação em
momentos diversos da construção do projeto;
- Aos Professores das disciplinas de Ciências Sociais Aplicadas à Saúde, Semiologia
Médica I-Adultos, Medicina Geral de Adultos I, Clínica Cirúrgica, Psiquiatria Clínica e dos
Internatos de Urgência e Traumatologia e de Obstetrícia, que me permitiram a aplicação do
questionário e, muitos deles, me ajudaram a fazê-lo.
- Aos estudantes dos primeiro, quinto, sétimo, nono, décimo e décimo segundo
períodos do segundo semestre de 2004, que participaram com seriedade da pesquisa;
- Ao meu filho Lourenço pela assistência nas dúvidas de informática e à minha filha
Ana, pela ajuda com a redação, principalmente com o inglês. Ao Marcelo, meu marido e
colega, pela ajuda em todas as etapas do trabalho;
- Aos colegas professores e funcionários técnico-administrativos que me ajudaram em
algumas tarefas e, principalmente, compartilharam comigo o tempo desse trabalho, seja
ouvindo, trocando idéias, ajustando horários, colaborando no momento da aplicação dos
questionários.
6
O que faz andar a estrada? É o sonho. Enquanto a
gente sonhar a estrada permanecerá viva. É para
isso que servem os caminhos, para nos fazerem
parentes do futuro.
(Mia Couto)
7
LISTA DE SIGLAS E ABREVIATURAS
ANOVA - análise de variância
CFM - Conselho Federal de Medicina
DP - escala doctor-patient
FM-UFMG – Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
HC-UFMG - Hospital das Clínicas da Universidade Federal de Minas Gerais
PPOS – Patient-Practitioner Orientation Scale ou escala de orientação médico-paciente
PSF- Programa de Saúde da Família
SUS – Sistema Único de Saúde
UFMG – Universidade Federal de Minas Gerais
8
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1: Escore total da PPOS por período do curso de medicina da UFMG, para os 738
estudantes ................................................................................................................................65
Gráfico 2: Escore total da PPOS e gênero para a amostra total de estudantes de medicina da
UFMG.......................................................................................................................................67
Gráfico 3: Escore total da PPOS por faixa de renda, em salários minimos, para a amostra total
de estudantes de medicina da UFMG......................................................................................69
Gráfico 4: Escore total da PPOS e especialidade pretendida, após a formatura, para a amostra
total de estudantes de medicina da UFMG..............................................................................72
Gráfico 5: Escore total da PPOS e especialidades de atenção básica pretendidas, após
formatura, para a amostra total de estudantes de medicina da UFMG....................................73
9
LISTA DE TABELAS
Tabela 1: Distribuição dos estudantes que responderam ao questionário e percentual em
relação ao número de estudantes matriculados por período escolar e gênero em agosto de
2004, na Faculdade de Medicina da UFMG.............................................................................61
Tabela 2: Idades mediana, mínima e máxima dos estudantes que participaram da pesquisa..62
Tabela 3: Renda familiar informada, em salários mínimos, dos estudantes que responderam
ao questionário sócio demográfico...........................................................................................62
Tabela 4: Nível de escolaridade dos pais para os 738 estudantes que responderam ao
questionário sócio demográfico................................................................................................63
Tabela 5: Número absoluto e percentagem de estudantes que informaram participação em
iniciação científica e estágios extracurriculares, por período..................................................63
Tabela 6: Especialidade pretendida após formatura pelos 738 estudantes da amostra e para
aqueles do 12º período em números absolutos.........................................................................64
Tabela 7: Escore total da PPOS por período escolar e valor de p da diferença entre o escore
do primeiro em relação aos demais períodos............................................................................65
Tabela 8:Variação das médias da sub-escala de poder, por período, com o desvio padrão e o
valor de p da diferença entre o primeiro e os demais períodos do curso..................................66
Tabela 9: Variação das médias da sub-escala de cuidado, por período escolar, com o desvio
padrão (DP) e o valor de p da diferença entre o primeiro e os demais períodos......................66
Tabela 10: Distribuição das médias totais da escala PPOS por período escolar e por gênero .68
Tabela 11: Distribuição das médias da sub-escala (PPOS) de poder por período e por gênero,
com valor de p para a diferença de gênero...............................................................................68
Tabela 12: Variação do escore total da PPOS de acordo com a faixa de renda familiar e valor
de p da diferença entre a classe de renda 1 e as demais ..........................................................69
Tabela 13: Resultado do valor de p para variação do escore total da PPOS e as variáveis
período, sexo, renda, pais médicos, iniciação científica e estágios extracurriculares, utilizando
modelo de análise de variância com uma e com todas as variáveis. ........................................70
Tabela 14: Tabulação cruzada de renda familiar e pais médicos, em percentagem, para os 738
estudantes. ................................................................................................................................70
Tabela 15: Tabulação cruzada de estágios extracurriculares, em percentagem, versus período
do curso de medicina para os 738 estudantes...........................................................................71
Tabela 16:Tabulação cruzada de iniciação científica, em percentagem, versus período do
curso de medicina, para os 738 estudantes...............................................................................71
10
Tabela 17: Variação do escore total da PPOS para escolaridade do pai e escolaridade da mãe,
com valor de p (ANOVA) para a diferença..............................................................................73
Tabela 18: Valores de escores total da PPOS, de cuidado e de poder, por gênero, para os
estudantes do primeiro período. ...............................................................................................74
Tabela 19: Escore total da PPOS para especialidades relacionadas à atenção básica comparada
com as demais especialidades, para amostra total e para o 12º período...................................75
Tabela 20: Escores total da PPOS, de cuidado e poder para os estudantes do 10º período em
agosto de 2004 e para a mesma turma de estudantes no 12º período em agosto de 2005........76
11
RESUMO
O modelo flexneriano de ensino médico, com base no modelo biomédico e no método
clínico, tem sido responsabilizado pela perda de idealismo do estudante de medicina e por seu
menor envolvimento com o paciente no decorrer do curso médico. A Faculdade de Medicina
da UFMG é uma escola médica tradicional no Brasil que, desde 1975, tem um currículo
que, pelo menos, tensiona o modelo biomédico tradicional. No entanto, a impressão do dia a
dia sugeria que o estudante ao final do curso estava mais preocupado com os casos
interessantes do que com a pessoa doente. Este é um estudo transversal que teve como
objetivo avaliar a atitude do estudante de medicina da Universidade Federal de Minas Gerais
a respeito da relação médico-paciente, se centrada no médico e na doença ou no paciente, e
sua evolução no decorrer do curso médico. Objetivou ainda verificar alguns fatores sócio-
demográficos, que de acordo com a literatura, poderiam estar envolvidos com essa atitude.
Para isso foram utilizados a escala PPOS ou escala de orientação médico-paciente, traduzida
do inglês, e um questionário com variáveis sócio-demográficas. Foram escolhidos para
participar do estudo os estudantes matriculados no primeiro, quinto, sétimo, nono, décimo e
décimo segundo períodos do curso em agosto de 2004 e presentes à aula no dia da aplicação
do questionário. Do total de 958 estudantes matriculados nesses períodos, aproximadamente
800 estavam presentes no momento da avaliação, e 738 responderam ao questionário e à
escala. Os resultados mostraram atitudes mais centradas no paciente para as estudantes do
sexo feminino do que para os estudantes do sexo masculino no início do curso médico
(p= 0,000); mas, ao final do curso, esta diferença deixou de existir (p=0,14). Embora as
atitudes ao final do curso, quando comparadas com aquelas do início, tenham sido mais
centradas no paciente para a amostra total (p= 0,000), quando se analisaram separadamente
estudantes homens e mulheres, esta diferença ocorreu apenas para os homens ( p=0,001) e
12
não para as mulheres (p=0,104). A análise das sub-escalas de compartilhamento do poder e
de cuidado mostrou mudança de atitude no decorrer do curso, para atitude mais centrada no
paciente ao final, apenas para a sub-escala de poder (p= 0,000). Renda familiar mostrou
associação inversa com atitude centrada no paciente (p=0,018), enquanto a opção por
especialidades de cuidado básico após a formatura se relacionou com atitudes mais centradas
no paciente (p=0,013). Para estudos futuros serão interessantes principalmente a avaliação de
comportamento e não apenas de atitude a respeito da relação médico-paciente, a busca de
explicações para a evolução relacionada ao gênero, assim como para a interferência da renda
familiar. O estudo do tema em outras escolas médicas do Brasil poderá ainda trazer
informações sobre a influência de aspectos culturais e aspectos relacionados ao currículo
sobre a atitude do estudante a respeito da relação médico-paciente.
13
SUMMARY
The doctor-patient relationship is fundamental to medical care and affects patients’
psychological, social and biological outcomes. Patient-centered care is an important aspect of
the doctor-patient relationship and it takes into account patients’ preferences, concerns and
emotions. Its importance has been recognized by many educators, who emphasize the need
for teaching communication skills, humanistic attitudes and behaviors, and ethical and
professional values to medical students. The objectives of this study were to examine the
attitudes of medical students towards the doctor-patient relationship at medical school of
Universidade Federal de Minas Gerais, to describe and quantify the change in these attitudes
among students in different years of medical school and to identify factors associated with
patient or doctor-centered attitudes. The Patient-Practitioner Orientation Scale (PPOS), a
previously validated instrument used to measure individual’s attitudes toward doctor-patient
relationship was translated into Portuguese and a socio-demographic questionnaire was
created. These two instruments were used to survey approximately 800 students in the first,
fifth, seventh, ninth, tenth and twelfth semesters of medical school. A total of 738 students
(>90%) completed data collection. For the entire cohort, female gender (p=0.000), later
semester in medical school (p=0.000), primary-care specialty choice (p=0.013) and lower
familial income (p=0.018) were significantly associated with more patient-centered attitudes.
Among first semester students only female gender was associated with more patient-centered
attitudes. Sharing sub-scores (focusing on power and control) were significantly more patient-
centered for twelfth semester male students than for first semester males (p=0.000), but not
for female students (p=0.157). Caring sub-scores (focusing on the value of warmth and
support) did not change with the years of school. The small increase in patient-centered
attitudes among male students and lack of change among female students needs the attention
of medical educators and administrators. These results can stimulate the assessment of
students’ attitudes toward the doctor-patient relationship at other Brazilian medical schools,
and it would be possible to identify the association between patient-centeredness and the
focus of different curricula. Communication skills need to be taught and the provision of
patient care needs to be critically examined by teachers and students aiming to change
attitudes toward the doctor-patient relationship to be more patient-centered attitudes.
14
SUMÁRIO
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS .....................................................................7
LISTA DE GRÁFICOS....................................................................................................8
LISTA DE TABELAS......................................................................................................9
RESUMO........................................................................................................................11
SUMMARY ...................................................................................................................13
1 INTRODUÇÃO...........................................................................................................16
2 REVISÃO DA LITERATURA................................................................................... 20
2.1 Introdução................................................................................................................21
2.2 Modelo biomédico na Educação Médica...............................................................23
2.3 Avaliação de atitudes de estudantes de medicina.................................................27
2.4 Medicina Centrada no Paciente.............................................................................31
2.4.1 Definições e conceitos............................................................................................31
2.4.2 Atitude do estudante de medicina em relação à medicina centrada no
paciente...........................................................................................................................36
2.5 A escala PPOS.........................................................................................................41
2.6 A Faculdade de Medicina da UFMG.....................................................................43
3 OBJETIVOS.................................................................................................................51
3.1 Objetivo geral ..........................................................................................................52
3.2 Objetivos específicos................................................................................................52
4 MÉTODO......................................................................................................................53
4.1 Os instrumentos de medida ...................................................................................54
4.1.1 O questionário sócio-demográfico.........................................................................54
4.1.2 A escala PPOS........................................................................................................54
4.2 Amostra do estudo....................................................................................................56
4.3 Coleta de dados.........................................................................................................57
4.4 Confecção do Banco de Dados e Análise Estatística .............................................58
4.5 A revisão da literatura.............................................................................................59
5 RESULTADOS..............................................................................................................60
5.1 Perfil do estudante participante da pesquisa.........................................................61
5.2 Escores total da PPOS, de cuidado e poder para a amostra total.......................64
5.2.1 Escore total da PPOS, de cuidado e de poder e o período do curso de medicina...65
15
5.2.2 Escore total da PPOS e gênero......................................................................................67
5.2.3 Escore total da PPOS de cuidado e poder versus renda, pais médicos, estágios
extracurriculares e iniciação científica. ..................................................................................69
5.2.4 Escores da PPOS e especialidades pretendidas ............................................................72
5.2.5 Escore total da PPOS e as demais variáveis do questionário sócio-demográfico..........73
5.3 Escores para o primeiro período e sua relação com o questionário
sócio-demográfico..................................................................................................................73
5.4 Escores para o décimo segundo período e sua relação com o questionário sócio-
demográfico............................................................................................................................74
5.5 Resumo do capítulo..........................................................................................................75
5.6 Busca de explicação para a redução de escores do décimo período............................76
6 DISCUSSÃO.........................................................................................................................78
7 CONCLUSÃO.......................................................................................................................94
8 PROPOSIÇÕES.....................................................................................................................97
8.1 Proposições para estudos Futuros...................................................................................98
8.2 Proposições para reflexão sobre mudanças curriculares ...........................................98
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS................................................................................100
10 ANEXOS...........................................................................................................................107
Anexo I PPOS- Patient-Practitioner Orientation Scale - Escala original em inglês.......108
Anexo II Escala PPOS traduzida .........................................................................................110
Anexo III Questionário sócio-demográfico..........................................................................112
Anexo VI Parecer do Comitê de Ética Pesquisa da UFMG................................................113
AnexoV PPOS- a- Patient-Practitioner Orientation Scale - orientaçãos do autor .............114
b- Autorização do autor da escala para sua utilização................................115
Anexo VI Termo de consentimento......................................................................................116
16
CAPÍTULO 1
INTRODUÇÃO
17
INTRODUÇÃO
Os currículos das escolas de medicina, centrados no hospital, são mencionados como
um fator importante para a manutenção do modelo biomédico baseado na racionalidade
técnica e esse modelo, por sua vez, é responsabilizado pela desumanização da medicina.
A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (FM-UFMG), em
1975, iniciou um currículo no qual o ambulatório era referência e um dos principais cenários
de prática. Entre os ambulatórios se incluíam os da rede pública de saúde, sem vínculo direto
com o hospital-escola, para todos os estudantes. Além disso, o processo de desenvolvimento
curricular em educação médica na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG)
considerava que a base do ensino seria o problema do paciente, a partir do qual se daria o
aprendizado do estudante, com orientação do professor (1). A participação neste processo
desde o seu início, primeiro como estudante da primeira turma desse currículo, com
participação ativa na sua implantação e, a partir de 1984 como professora do Departamento de
Clínica Médica, envolvida com comissão de coordenação didática, coordenação de disciplina
e com representação no Colegiado de Graduação, associada a leitura de trabalhos já realizados
por pesquisadores da Faculdade de Medicina, permite-nos algumas considerações. Apesar
de ser considerado um processo curricular e dos seminários institucionais realizados para sua
avaliação, já nos primeiros anos de ensino médico seguindo esse currículo aconteceram
mudanças na forma de ministrar o conteúdo teórico, com conteúdo pré-programado ao invés
de orientado pelo problema do paciente; e conseqüentemente na avaliação discente que
passou a ser baseada neste conteúdo. Com isto, pode-se dizer que houve retorno parcial ao
modelo flexneriano pois, com o ensino teórico desvinculado da prática, o estudante passou a
estudar o que era exigido em provas. No ano de 1994 ocorreram mudanças curriculares
expressivas. Disciplinas de psicologia médica foram introduzidas no segundo e sétimo
18
períodos do curso médico com objetivo de buscar solução para conflitos emocionais do
estudante e de fazer uma reflexão sobre a construção de sua identidade médica, além de
ajudá-lo na identificação de fenômenos psicossociais mórbidos presentes no atendimento
ambulatorial. Entretanto, na mesma ocasião, foram introduzidas disciplinas de especialidades
médicas, como disciplinas optativas, em substituição a disciplinas que tinham como objetivo
abordagem mais global do paciente. Para muitos estudiosos do currículo, essas últimas
mudanças, associadas ao modelo de avaliação adotado pela escola, significaram um
retrocesso, com reforço ao modelo biomédico.
Além disso, a experiência como professora da Faculdade de Medicina da UFMG
há cerca de vinte anos, com participação em recepção de calouros do primeiro período; no
ensino de Semiologia Médica I- adultos, disciplina que tem nos seus objetivos o ensino da
entrevista médica e da relação médico-paciente; no ensino de Medicina Geral de Adultos
cujos objetivos são a atenção global ao paciente adulto, com o desenvolvimento do
raciocínio clínico considerando os aspectos biopsicossociais; e na supervisão do ambulatório
da residência de clínica médica, deixava a impressão de que o estudante inicia o curso com
grande interesse no cuidado da pessoa e no seu decorrer há um processo de transformação de
tal forma que, quando inicia o ciclo profissional, o interesse já está muito mais na busca de
respostas para os aspectos biológicos da doença. Isso pode ser percebido em várias situações.
Para exemplificar, pode-se mencionar o trabalho de um aluno de Semiologia Médica que,
frente à endoscopia digestiva alta normal de uma paciente com dor epigástrica, escreveu ter
sentido que se frustraram todas as suas expectativas e, na sua percepção, também as da
paciente; ou do outro estudante também do terceiro ano, que reclamava da falta de casos
interessantes no ambulatório. A busca da racionalidade técnica parece ser um aspecto
preponderante que se torna progressivamente mais acentuado no decorrer do curso.
19
Antes de ingressar no curso de medicina, para o estudante secundarista, a medicina,
que deveria ser a mais humana das profissões, é profissão da área biológica em virtude do
conhecimento exigido pelo vestibular. Esse aspecto puramente científico-biológico é
reforçado durante os dois anos de ciclo básico cujo conteúdo é essencialmente biológico. Ao
iniciar o ciclo profissional, o exercício da profissão contrapõe o paciente fantasiado e
imaginário, a quem se dispõe a doar, cuidar, ajudar, ao paciente real, que questiona, exige,
pede, espera do médico. A cultura do individualismo, própria da época atual, também
contrapõe a qualidade de vida à exigência do outro e a pessoa (relação humana), com suas
virtudes e defeitos, se transforma facilmente
20
CAPÍTULO 2
REVISÃO DA LITERATURA
21
2- REVISÃO DA LITERATURA
2.1 Introdução
A atitude profissional é historicamente reconhecida como importante na atenção
médica, com o tema relação médico-paciente presente em mais de mil publicações científicas
anualmente, só na base de dados Medline. Seja na discussão dos aspectos éticos da medicina,
do cuidado ou da atenção médica, a valorização do paciente como pessoa na sua integridade é
salientada. Giovanni Berlinguer (3), em entrevista ao Jornal do Conselho Federal de Medicina
de Minas Gerais, fala que “o conhecimento do doente e de sua doença, o conhecimento da
terapia e o consenso na terapia e a participação do doente na defesa da própria saúde são
elementos decisivos na eficácia da ação médica”. Segundo ele, se falta a relação psicológica
entre médico e paciente, a ação médica é menos eficaz.
Mas não é só na literatura médica que é possível encontrar referências ao tema e,
apenas para ilustrar, é da literatura brasileira, mais especificamente de Herbert de Souza (4), o
seguinte texto:
“Naquela época a hemofilia não era conhecida, nem havia tratamento possível, mas ele
era o meu Rasputin. Chegava em casa, sentava numa cadeira no meu quarto, enrolava um
cigarro de palha e começava a contar histórias. Eu ficava deslumbrado e esquecia a dor que
infernizava minha vida, principalmente as minhas noites. Dr. Ari me curava temporariamente,
mas curava, me dava alívio por meio do hipnotismo de sua fala. Além disso fazia umas
fórmulas a base de salicilato que aliviavam a minha dor, menos pelo salicilato, que era
contra–indicado para hemorragias, e mais pelo fato de vir dele”.
Rubem Alves (5) também escreve de forma poética “O corpo é um delicado
instrumento musical. É preciso cuidar dele, para que produza música. Para isso, há uma
infinidade de recursos médicos. E muitos são eficientes. Mas o corpo, esse instrumento
22
estranho, não se cura só por aquilo que se faz medicamente com ele. Ele precisa beber a sua
própria música. Música é remédio. Se a música do corpo for feia, ele ficará triste – poderá
mesmo até parar de querer viver. Mas se a música for bela, ele sentirá alegria, e quererá viver.
Em outros tempos, os médicos e as enfermeiras sabiam disso. Cuidavam dos remédios e das
intervenções físicas – bons para o corpo – mas tratavam de acender a chama misteriosa da
alegria. Mas essa chama não se acende com poções químicas. Ela se acende magicamente.
Precisa da voz, da escuta, do olhar, do toque, do sorriso”.
Embora esse seja um tema que se acredita possa ser ensinado e aprendido, ele
ainda não faz parte do currículo explícito de muitas escolas de medicina e, mesmo quando o
faz, não é devidamente valorizado, permanecendo como parte do currículo oculto ou sendo
muito influenciado por ele (6,7,8,9). No entanto, desde a segunda metade do século XX a
atitude de médicos e estudantes de medicina, principalmente no que diz respeito ao cuidado e
autonomia do paciente, com enfoque principalmente em aspectos da comunicação, vem sendo
objeto de estudo.
Quando se pretende avaliar atitudes é importante mencionar quais são suas
características. Atitude é uma palavra que em português comporta muitos significados. De
acordo com o dicionário Aurélio, e considerando o sentido utilizado neste trabalho, ela pode
significar “um propósito ou uma maneira de manifestar esse propósito ou uma reação ou
maneira de ser, em relação a determinada(s) pessoa(s), objeto(s), situações, etc” (10). Mas é
na psicologia social que se encontra o conceito que será utilizado neste estudo. Para Asch
(11), atitudes são sentimentos do indivíduo em relação a pessoas, objetos ou grupos, que se
baseiam em um conhecimento direto ou inferido dos mesmos. São compartilhados por várias
pessoas e unem problemas centrais do indivíduo com problemas centrais da sociedade. São
relativamente persistentes e resistentes a mudanças. Além disto, têm o caráter de um
compromisso com a ação, embora nem sempre haja correspondência entre atitude e ação.
23
Para Montmollin (12), atitudes são as posições individuais a respeito de determinados
problemas da sociedade contemporânea. Elas se inserem na história do indivíduo e podem
mudar a partir de suas experiências pessoais. Ainda, segundo o mesmo autor, há uma
dificuldade na sua definição precisa, mesmo em psicologia social, havendo uma grande
variedade de definições de acordo com diferentes autores, mas com alguns elementos comuns
entre elas. Os elementos comuns referidos são a disposição interna do indivíduo frente a um
objeto ou situação e que se mantém estável de uma situação para outra; é adquirida e se
relaciona com tudo que evoca aquele objeto. Segundo Churchil Jr (13), atitude representa
uma predisposição para a ação que, embora consistente com o comportamento real dela
decorrente, não garante igualdade entre os dois. É relativamente persistente e consistente
através do tempo, necessitando de intervenção para mudá-la. Denota preferência e avaliação
sobre uma idéia ou objeto, resultando em sentimentos neutros, positivos ou negativos a seu
respeito.
Para entender a atitude profissional do estudante de medicina, alguns aspectos do
ensino médico precisam ser estudados.
2.2 Modelo biomédico na Educação Médica
Embora a medicina científica tenha se constituído ao longo dos séculos XVIII e XIX,
principalmente na Alemanha e na França, o ensino médico baseado no paradigma científico
biológico se iniciou, nos Estados Unidos da América, no final do século XIX e se consolidou
após o relatório Flexner em 1910, tendo representado uma verdadeira revolução tanto no
ensino como na profissão médica (14, 15 ). No Brasil, a influência norte-americana no ensino
médico se torna proeminente nos meados da década de quarenta do século XX, a partir do
Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo. Conta para isto, com apoio técnico e
financeiro da Fundação Rockfeller (16). Se, por um lado, é inquestionável a contribuição do
24
modelo biomédico para a elevação do nível técnico-científico da medicina, por outro, ele é
criticado e responsabilizado, desde o seu início, pela desumanização da medicina, tendo
Peabody (17), já em 1927, escrito que o ensino médico centrado no hospital favorecia uma
visão muito focal dos problemas do paciente. Referia ainda que “uma das primeiras coisas que
acontece ao doente quando entra em um hospital é a perda de sua identidade” e que o médico
que se propõe a cuidar do paciente e negligencia sua vida emocional é “tão pouco científico
quanto o investigador que negligencia o controle das condições que podem afetar seu
experimento”.
Para Fox (18), o modelo biomédico dominante é um modelo curativo e seus
pressupostos, atitudes e valores tendem a definir a cultura dos centros acadêmicos. Os
pacientes são considerados um depósito de doenças e o objetivo da medicina é centrado
apenas na cura, não considerando a promoção da saúde, prevenção de enfermidades e lesões,
restauração de capacidade funcional, prevenção de morte prematura, alívio de sofrimento e o
cuidado com aqueles que não podem ser curados. Embora a cura seja um objetivo apropriado
para a medicina, ele é incompleto.
Como o modelo biomédico tem como referencial a doença, os estudantes apresentam
dificuldades em lidar com pessoas que não têm doenças orgânicas, pois estes pacientes não
são bons modelos de patologia e diagnóstico e pela sua complexidade colocam, à prova, a
competência do estudante na sua necessidade de objetivar, buscando certezas (19).
Segundo Branch (20), o excesso de treinamento biológico e a necessidade de se
agregar à equipe médica, nem sempre ética, seriam fatores responsáveis pela formação de
profissionais distantes e frios. O modelo centrado em aspectos apenas biomédicos tende a
inibir o crescimento moral do estudante de medicina, comprometendo sua capacidade de
sentir empatia e compaixão e a boa prática clínica não existe separada de comportamentos
éticos e profissionais que dependem de maturidade moral.
25
Para Evans (21), os médicos, na sua educação essencialmente científica, são
preparados para lidar apenas com o corpo do paciente. E o ser humano seria mais do que
corpo, pois é corpo que pensa e sente e que conhece o que pensa e sente. “Não é possível
intervir no corpo sem intervir na experiência de nós mesmos, de nosso estado corporal, de
nossa sensação de bem estar, de mundo que nos rodeia, de nosso senso do que é possível, do
que é importante, do que é nosso sonho”.
Pesquisa realizada em Escola de Medicina de Cuba (9) mostrou que, apesar de constar
dos documentos normativos, o ensino do componente afetivo da comunicação com o paciente
não tem recebido a devida atenção. Prioriza-se o aprendizado da patologia e buscam-se o
prestígio social da profissão e a aprovação dos professores. Os autores consideram a
importância do professor como modelo para que ocorra o aprendizado desse componente
afetivo e salientam a necessidade de investir na sua capacitação para exercer esse papel. No
Brasil, López (22), escreve que “a medicina, ao adotar a visão reducionista que caracteriza a
biomedicina, torna-se incompetente para equacionar satisfatoriamente o problema de elevado
número de pacientes” e Milan (23), citando Marcondes, escreve que o ensino no hospital-
escola enfatizado pelo relatório Flexner, que serve de modelo para a maioria das escolas
médicas, oferece visão distorcida da enfermidade e a assistência médica fica prejudicada por
falta de uma visão global do ser humano.
Arruda (24) vai além e refere que “o reducionismo cartesiano transforma o médico
numa máquina previsível, ele se desumaniza transformando a relação sujeito-sujeito, para
sujeito-objeto e o médico desumanizado desumaniza o doente”. Continua com a consideração
que, sendo o médico também o professor de medicina, re-humanizar o professor é condição
fundamental para que o paciente volte a ser sujeito. Enfatiza que o “aluno se forma mais à
imagem do professor, pois este dá uma imagem perene, enquanto o conhecimento é fugaz”.
Chama atenção para o desaparecimento dos aspectos humanos dos vestibulares de medicina,
26
ficando aspectos biológicos apenas, o que já daria uma noção equivocada da medicina. Nessa
mesma linha, Komatsu (25) aponta a busca da racionalidade técnica do modelo biomédico
como responsável pela desumanização da medicina e completa escrevendo que “inexiste
conhecimento profissional rigoroso, baseado na racionalidade técnica, que dê conta da
atenção no terreno pantanoso das relações interpessoais da educação ou das profissões da
saúde”. Conclui pela necessidade do restabelecimento da confiança mútua e empatia nas
relações educador-educando e profissional de saúde-paciente, como forma de superação para
o modelo biomédico.
Caprara (26), em pesquisa realizada junto ao programa de saúde da família do estado
do Ceará, conclui que os médicos pesquisados não reconhecem o paciente como capaz de
assumir o cuidado com a própria saúde e não estimulam o paciente a desenvolver autonomia
para as práticas de prevenção e promoção de saúde ou adesão ao tratamento. Continua
afirmando que os médicos não exploram aspectos relacionados a medos e ansiedades dos
pacientes, pois eles seriam aspectos próprios da cultura do paciente com os quais o médico
não estaria preparado para lidar. Credita essa deficiência à formação médica que valoriza
apenas ou predominantemente, os aspectos biomédicos.
Briani (8), em avaliação teórica sobre as mudanças no ensino médico no Brasil
questiona se os novos currículos têm realmente ocasionado mudanças na educação médica no
sentido de formar profissionais comprometidos com a concepção ideológica de saúde como
qualidade de vida. Segundo a autora, a manutenção do ingresso nas faculdades de medicina
através de vestibulares que exigem apenas disciplinas de conteúdo científico, com
discriminação de conteúdos humanitários para uma profissão que lida diretamente com vidas
humanas, a integração apenas em teoria de conteúdos, com justaposição de enfoques de cada
professor, mesmo para as áreas tradicionais do conhecimento médico, e a ausência ou a
marginalidade de disciplinas de caráter humanístico seriam evidências de que a medicina
27
parece ainda não estar aberta à mudança de paradigma que é necessária para que mude
realmente o ensino médico e o profissional formado.
2.3 Avaliação de atitudes de estudantes de medicina em relação ao paciente
O interesse na avaliação da atitude do estudante de medicina se consolidou a partir do
final da década de cinqüenta do século XX , com a socialização do estudante de medicina
entendida como incorporação de atitudes, comportamentos e valores profissionais sendo
objeto de preocupação e estudos por muitos educadores e motivando mudanças curriculares
em algumas escolas médicas.
Becker e colaboradores (27) em seu clássico trabalho “Boys in White”, realizado na
década de sessenta do século passado, estudaram a socialização do estudante de medicina,
sendo muito citada a perda do idealismo do estudante ao longo do curso médico. Quando se
referem à atitude de estudantes frente aos pacientes, escrevem que estes são agrupados em
doentes e não doentes e que o termo “caso interessante” é usado para descrever o paciente
com patologia, variando de estudante para estudante, de acordo com a experiência clínica que
acrescenta. Com isto são eliminados, da lista de discussão dos aprendizes, os pacientes que
eles consideram apresentar coisas simples.
Em escolas médicas com propostas inovadoras como a da Universidade de
MacMaster, no Canadá, Haas e colaboradores (28) chamam a atenção para a transformação do
idealismo do estudante, que compreende emoção, empatia e respeito, em distanciamento
emocional e racionalidade científica. A justificativa para isto é a crença no fato de as emoções
poderem interferir com uma ação eficaz e com desempenho confiável. Aprende-se a objetivar
primeiro pela necessidade de aprender medicina, depois para desenvolver segurança. Aspecto
interessante citado é o fato de essas expectativas serem percebidas pelo estudante
28
independentemente da maneira de formação adotada pela escola médica, resultado
possivelmente de influência do modelo médico vigente.
Lind (29) estudou o desenvolvimento da competência para julgamento moral entre
estudantes de vários cursos, incluindo o de medicina, entre estudantes alemães. Concluiu que
os estudantes de medicina apresentaram regressão na sua competência para o julgamento
moral, ao contrário de outros estudantes universitários que apresentaram um aumento notável
nessa competência. Atribui esse achado ao fato de as escolas médicas ensinarem habilidades
técnicas e científicas e não valorizarem os aspectos éticos e humanos, sendo isto um problema
mundial e antigo. Acrescenta ainda que a capacidade para o julgamento moral pode ser
aprendida na idade adulta, com eficácia de estudos de casos em pequenos grupos.
Dini & Batista (30) utilizaram entrevistas semi-estruturadas com quarenta estudantes
de medicina, do primeiro ao sexto ano da Universidade Federal de São Paulo, para avaliar a
visão do estudante de medicina em relação à futura prática profissional. Os resultados
mostraram que, ao ingressar na Faculdade, o estudante tem uma visão idealizada da futura
prática profissional, que evolui para o reconhecimento da necessidade de preparar-se para o
exercício da profissão no meio do curso. Nessa época, o cuidado, a ética, o compromisso e a
promoção de saúde são enfatizados pelos estudantes, como necessários para uma prática
médica mais humanizada. Ao final do curso há certo desencanto, com muita insegurança em
relação ao exercício profissional e à aprovação nos concursos para residência médica.
O ambiente de aprendizado das escolas médicas tem sido estudado e vários
autores chamam a atenção para a importância do currículo oculto na formação do estudante de
medicina. Hafferty (6) alerta que “educação médica é um processo cultural constantemente
influenciado por forças externas e por problemas de integração interna” e que são inócuas as
reformas curriculares que não levem em conta a escola médica como comunidade moral.
Ferreira (14), em estudo sobre a pediatria na UFMG, alerta para os riscos de políticas oficiais
29
de pós-graduação e pesquisa, que nem sempre priorizam o compromisso social com as
necessidades de saúde da população, aliadas às pressões do mercado levarem a uma
aculturação da pediatria com assimilação acrítica da medicina tecnológica.
Howe (31), considerando que é na atenção primária onde mais se valoriza a relação
médico-paciente com objetivo terapêutico, estudou a percepção de estudantes de medicina
ingleses a respeito da importância da medicina centrada no paciente durante estágio
ambulatorial em comunidades, no sentido de avaliar a validade desta prática comunitária para
o aprendizado. Utilizou-se da aplicação de questionários abertos para os estudantes, com
discussão posterior dos mesmos, o que denominou de grupos nominativos, para a construção
de uma escala para medir o impacto deste estágio no aprendizado. Participaram do projeto 89
estudantes, com 70% de respostas na primeira fase e 88% de respostas à escala. Os estudantes
consideraram importantes para o aprendizado durante a prática comunitária a relação mais
prolongada e pessoal com os pacientes, a percepção da influência do ambiente social na
saúde, a importância de lidar com pessoas e não com doenças e a equipe multiprofissional
para o cuidado.
Pfeiffer et al (32), estudando a anamnese feita por 292 estudantes de medicina no
decorrer do curso médico utilizando uma escala denominada ACIR (Arizona Clinical
Interviewing Rating Scale), observaram que há redução nas habilidades de caráter
interpessoal e que os aspectos sociais da história vão sendo perdidos no decorrer do curso.
Creditam a perda de valores interpessoais e de habilidades na comunicação à maior
valorização de dados científicos (duros). Chamam atenção para o papel do currículo oculto,
baseado na percepção do que é feito e valorizado dentro do método clínico, como fator que
contribui para essa perda.
Burach et al (33) em estudo sobre o comportamento de preceptores em relação a
atitudes negativas dos estudantes com os pacientes referem que há grande dificuldade na
30
transmissão de valores e atitudes, com as respostas aos aspectos biomédicos sendo objetivos
e claros e as respostas aos aspectos do cuidado e atenção sendo evasivas, apelando para o
humor, auto-interesse do estudante ou a medicalização do comportamento. Acrescenta-se a
isso a dificuldade dos preceptores em corrigir comportamentos inadequados de estudantes e
residentes no que diz respeito ao cuidado com o paciente e aos aspectos éticos. A mesma
opinião é compartilhada por Côte et al (34) em relação à dificuldade de professores para
demonstrar atitudes positivas e supervisionar a atitude dos estudantes a respeito da relação
médico-paciente durante as atividades clínicas diárias. Pesquisa realizada por Taquette et al
(35) com estudantes dos dois últimos anos do curso de medicina da UERJ confirmou, na
opinião dos estudantes, a falta de disponibilidade de professores para a discussão de questões
éticas e morais que ocorrem durante o curso médico, sejam elas relacionadas com o próprio
ensino, com a assistência médica ou com as políticas de saúde.
Branch et al (7) alertam para o pouco conhecimento das técnicas de ensino das
dimensões humanas do cuidado durante a formação médica e descrevem as barreiras que o
inibem, salientando o papel dos currículos oculto e informal das escolas médicas. Os autores
escrevem que não adianta ensinar sobre a importância de aspectos emocionais do paciente, se
o estudante, mais tarde, observa que o residente não pergunta sobre sentimentos e emoções ao
paciente ou, ainda mais, lhe solicita que para ser eficiente não deve se envolver com os
aspectos emocionais do paciente. A linguagem utilizada na apresentação de casos clínicos
nos hospitais de ensino reflete bem a valorização excessiva dos aspectos biomédicos e
Donnely (36) chama atenção para os problemas que ela acarreta, salientando a transformação
da pessoa em um ser biológico apenas. Já na introdução, a queixa principal é traduzida para a
linguagem biomédica, com perda da perspectiva do paciente, em seguida há descrição dos
sintomas como subjetivos e dos sinais como objetivos, como se o médico não pudesse se
enganar na sua avaliação. Há, ainda, conversão da experiência do estar doente em disfunção
31
biológica, com a conseqüente insignificância do cuidado, há transformação de sentimentos
em doença, como exemplo toda tristeza vira depressão, e não há incorporação da perspectiva
do paciente. A mudança na maneira de construir e relatar a história médica, com a situação
pessoal e a perspectiva do paciente no relato oral e escrito, possibilitaria mudanças
significativas no cuidado com o mesmo e na educação médica. Charon (37) propõe que o
desenvolvimento de capacidade narrativa, utilizando-se de reflexão crítica de literatura, pode
tornar mais efetiva a prática médica, através da valorização da fala e escuta, da escrita e
leitura e dos seus respectivos sujeitos.
Feinstein (38) escreve sobre a dificuldade de avaliação de uma prática cuidadora,
centrada na pessoa, quando a “educação, sob o paradigma dominante, não enfatiza
adequadamente o alívio e o conforto”. Segundo ele os médicos são melhor remunerados
quando solicitam um exame ou procedimento de que quando se dispõem a falar e ouvir, há
uma substituição da comunicação por “screenings” e algorítimos.
Há um reconhecimento da necessidade e da dificuldade de educar o aprendiz de
medicina no sentido de formar um médico cuidador (39). A educação profissional implica em
transmitir, além de conhecimento, valores e atitudes de uma geração para outra (33). O
ensino da comunicação centrada no paciente tem sido considerado como uma nova revolução
após Flexner (40,41) permitindo melhorar a competência cultural e desenvolver o
profissionalismo no estudante. Métodos diferentes têm sido utilizados com essa finalidade
(42,43,44). O conhecimento dos princípios da medicina centrada no paciente é importante
para que se entendam as pesquisas que vêm sendo realizadas no sentido de avaliar essa atitude
e de tornar a prática médica mais centrada no paciente.
2.4 Medicina Centrada no Paciente
2.4.1 Definições e conceitos
32
A medicina centrada no paciente ou no cuidado é um tema muito amplo com
implicações diferentes quando se trata de saúde pública, como nos trabalhos desenvolvidos no
Brasil por Merhy (45,46), ou de atenção médica individual. Comporta ainda definições
diferentes quando se utiliza a oposição entre centrada no médico versus no paciente ou
centrada no paciente versus na doença. Quando se opõe a atitude centrada no médico à
atitude centrada no paciente o ponto em discussão é o poder do médico versus a autonomia
do paciente. Quando a oposição é entre doença e doente, a medicina centrada no paciente é
mais abrangente, busca entender as necessidade e desejos do paciente e não se restringe à
doença (47). Os trabalhos de Stewart e colaboradores na década de noventa do século
passado definem medicina centrada no paciente, buscando incorporar essas duas vertentes.
Segundo os mesmos autores, a medicina centrada no paciente tem seus princípios na antiga
escola de medicina grega de Cos, que considerava as particularidades de cada paciente na
abordagem de sua enfermidade ao contrário da escola de Cnidians, cuja preocupação era a
classificação das doenças, de acordo com sua taxonomia e independente do doente (48,49,50).
Ainda do acordo como os mesmos autores, desde então, a dicotomia entre tratar o doente ou a
doença vem acompanhando a medicina ao longo dos séculos, às vezes com preponderância de
uma abordagem ou de outra. O surgimento do método clínico, baseado em um modelo
biomédico, no início do século XIX e sua hegemonia durante o século XX, trouxe grandes
avanços para a ciência médica e conferiu grande poder ao médico, mas tornou o diagnóstico
da doença preponderante sobre o doente. Acontece que nem todas as pessoas adoecem da
mesma maneira ou se enquadram em uma doença bem definida e isso provocou
questionamentos ao método clínico que vêm ocorrendo desde o início do século passado.
Novamente, foi Peabody (17) quem escreveu que “o tratamento de uma doença pode ser
totalmente impessoal, o cuidado do paciente precisa ser totalmente pessoal”. Com o avanço da
tecnologia médica que o próprio método clínico proporcionou, além da fragmentação corpo-
33
mente, houve a fragmentação do próprio corpo, com a medicina se tornando cada vez mais
especializada e sub-especializada ao longo do século XX. Novos questionamentos se
tornaram mais freqüentes e começaram a surgir críticas ao modelo biomédico. Em meados do
século XX, os trabalhos de Balint (51), com a valorização da escuta atenta procurando
perceber o paciente e responder às suas necessidades e com a valorização do papel do médico
como agente terapêutico que possui inclusive efeitos colaterais, questionaram o diagnóstico
apenas físico do modelo biomédico. Mais tarde, Engel (52), a partir do pressuposto de que os
modelos dominantes de organização do conhecimento e da experiência, nem sempre
explícitos, são importantes na maneira do médico abordar o paciente, propôs o modelo
biopsicossocial. Neste modelo, o nível do sistema de onde se deve partir é sempre a pessoa,
ao contrário do modelo biomédico onde o ponto de partida é o corpo e a doença, com a
negligência da pessoa. Nessa mesma época, estudos mostraram que os aspectos culturais do
paciente e médico interferiam com os resultados da atenção médica. A discordância entre
médico e paciente na visão da doença e do processo de adoecer e nos objetivos a serem
atingidos com o tratamento repercute negativamente nesses resultados (53).
É a partir desses e outros trabalhos que Stewart et al., em 1995, propõem a medicina
centrada no paciente como uma transformação do método clínico. Definem os princípios
componentes da medicina centrada no paciente como sendo:
1- exploração e interpretação, pelo médico, da doença e da experiência de adoecer do
paciente. A experiência de adoecer tem quatro dimensões que são o sentimento de estar
doente, a idéia a respeito do que está errado, o impacto do problema na vida diária e as
expectativas sobre o que deveria ser feito;
2- entendimento global da pessoa;
3- a busca de objetivos comuns, entre o médico e o paciente, a respeito do problema
ou dos problemas e sua condução;
34
4- a incorporação de medidas de prevenção e promoção de saúde;
5- a melhora ou intensificação da relação médico-paciente;
6- a sua viabilidade em termos de custos e tempo.
Resumidamente, pode-se dizer que são dois os componentes principais da
medicina centrada no paciente, um deles refere-se ao cuidado da pessoa, com identificação de
suas idéias e emoções a respeito do adoecer e a resposta a elas e o segundo à identificação de
objetivos comuns entre médicos e pacientes sobre a doença e sua abordagem com o
compartilhamento de decisões e responsabilidades. Levar em consideração o desejo do
paciente de obter informações e de compartilhar responsabilidades e responder
apropriadamente a esse desejo também faz parte da prática médica centrada no paciente
(50).
A medicina centrada no paciente, com esses pressupostos, tem sido denominada de
um novo método clínico (48). Mitos sobre a medicina centrada no paciente são: a crença de
que ela só se aplica aos problemas emocionais e de que o simples fato de deixar o paciente
fazer perguntas torna a medicina centrada no paciente. A decisão compartilhada tanto se
aplica ao tratamento de uma infecção urinária quanto a abordagem de violência doméstica e o
paciente é um participante ativo, co-responsável pelo seu tratamento (54). Para isto é preciso
que o médico seja profissional e competente no seu instrumental técnico, não sendo possível
prescindir de conhecimentos e habilidades necessários ao desempenho profissional. Não é
possível para o médico compartilhar decisões quando não tem segurança do seu
conhecimento para discuti-las com o paciente, permitindo questionamentos. Por isto, a
atualização crítica do conhecimento médico científico torna-se indispensável. O cuidado é
parte da competência e é preciso ter em mente que muitos protocolos, que orientam a prática
médica hoje, são fundamentalmente reducionistas e que com o seu uso tornam-se ainda mais
necessárias as habilidades interpessoais e humanísticas para o atendimento da pessoa (55).
35
As vantagens da medicina centrada no paciente em relação ao modelo biomédico
tradicional, centrado no médico, são muitas, incluindo maior satisfação do paciente, maior
adesão ao tratamento e melhor resposta à terapêutica (56), maior satisfação do médico,
menor número de processos por erro médico, maior eficiência do cuidado com necessidade de
menor número de exames complementares e freqüência menor de encaminhamentos para
especialistas, com conseqüente custo menor para o sistema de saúde e o paciente (49,54).
Desde o seu surgimento, a medicina centrada no paciente foi sendo incorporada às leis
relacionadas à saúde, como exemplo o consentimento informado e a decisão pessoal prévia
sobre medidas a serem tomadas no final da vida; à educação médica; à pesquisa e à
verificação da qualidade dos serviços de saúde, além do cuidado com o paciente (40).
Little et al (57) em estudo com 845 pacientes em áreas rural e urbana da Inglaterra
concluíram que os pacientes desejam uma abordagem centrada no paciente e que é necessário
os médicos estarem atentos para essa abordagem, principalmente para aqueles pacientes que
apresentem alterações psicológicas ou que estejam se sentindo mal.
Na carta do médico, documento elaborado por sociedades americanas e
européias de medicina e publicada em 2002, os princípios do profissionalismo médico
considerados fundamentais são: o princípio da primazia do bem-estar do paciente, o princípio
da autonomia do paciente e o princípio da justiça social (58). Esses princípios podem,com
exceção do princípio de justiça social, ser contemplados com o exercício da medicina
centrada no paciente.
Sullivan (59), ao estudar a importância de considerar a autonomia do paciente e a
valorização do seu ponto de vista em relação à saúde e ao cuidado com a mesma, alerta para
uma mudança radical no paradigma da medicina vigente há cerca de duzentos anos. A
aliança dos elementos objetivos e subjetivos na ciência médica clínica viria substituir a visão
puramente objetiva da doença com a incorporação da subjetividade do paciente e o objeto da
36
medicina deixaria de ser o corpo para ser a pessoa. A re-incorporação da arte da medicina
não seria uma escolha, mas seria decorrente de mudanças de objetivos de cura e de evitar a
morte para o do cuidado com pessoas, considerando a perspectiva dessas pessoas,
principalmente no que diz respeito às doenças crônico-degenerativas. A doença definida
como alteração fisiopatológica é um dos elementos de redução da saúde ou da qualidade de
vida, mas nem sempre é a causa legítima e definitiva da enfermidade, que é sentida pelo
paciente. O paciente-sujeito estaria sendo re-introduzido na medicina e a medicina centrada
no paciente seria capaz de prover os meios necessários para alcançar esse objetivo de
incorporar a perspectiva do paciente aos fatos biológicos.
2.4.2 Atitude do estudante de medicina em relação à medicina centrada no paciente
Com o surgimento do conceito de medicina centrada no paciente, pesquisas
têm sido realizadas no sentido de avaliar a atitude de estudantes de medicina, médicos e
pacientes, em relação tanto ao cuidado com o paciente como ao compartilhamento de poder
na relação médico paciente. A utilização de escalas variadas para medir atitudes tem sido
relatada na literatura e, embora não possa haver comparação direta entre elas, os resultados
obtidos têm mostrado muitos pontos em comum.
Pesquisas utilizando metodologia qualitativa também têm sido realizadas, com
gravação e análise posterior de entrevistas médicas, outras com observação participante
associada a entrevistas semi-estruturadas.
Griffith et al (60) estudaram a mudança de atitudes de estudantes de medicina em
relação a alguns grupos de pacientes. Utilizaram-se de questionário construído com esta
finalidade que foi aplicado para estudantes de terceiro ano do curso de medicina antes e após
estágio hospitalar de dezesseis semanas em clínica médica e em cirurgia, com pacientes
internados. Participaram do estudo 88 estudantes de 96 matriculados. Foram encontradas
37
atitudes menos positivas em relação à profissão, com diminuição do idealismo; o mesmo
ocorreu em relação aos idosos e aos pacientes com dores crônicas. Creditaram essas
mudanças à pouca experiência prévia dos estudantes com pacientes e à gravidade dos
pacientes internados e acreditam que ela possa ser transitória, propondo para isso estudos com
acompanhamento de estudantes ao longo do curso.
Monchy et al (61) desenvolveram uma escala baseada em um questionário de 48 itens
com cinco alternativas cada, utilizando a escala de Likert, que denominaram escala DP
(doctor-patient). Avaliaram quatro grupos – 92 estudantes de medicina do segundo ano, 54
estudantes do último ano, 39 médicos generalistas e 29 integrantes do pessoal administrativo
da Faculdade de Medicina de Dundee ( Holanda) em relação a atitude centrada no paciente ou
no médico. Definiram atitude como predisposição para responder de certa maneira frente a
um objeto ou pessoa, mais permanente que uma opinião ou razão de momento, mas menos
cristalizada que o temperamento. Concluíram que estudantes do último ano e médicos
generalistas têm atitudes mais centradas no paciente que pessoal administrativo e estudantes
do segundo ano e que mulheres têm atitudes mais centradas no paciente do que os homens.
Embora tenha havido diferença estatisticamente significativa entre as médias, houve grande
variação dos escores dentro de cada grupo, tanto no grupo de estudantes no início do curso
como no de médicos generalistas. Chamaram atenção para o fato de que atitudes profissionais
derivam de uma soma de atitudes em relação ao outro, sendo em parte influenciada por
personalidade, caráter e temperamento. Em 1993, juntamente com outros autores, fizeram
estudo de validação da escala com 119 estudantes italianos, confirmando diferença esperada
de gênero, com atitudes mais centradas no paciente entre estudantes do sexo feminino (62)).
Com o objetivo de avaliar o efeito de gênero, a escolha da especialidade e o nível de
treinamento na atitude profissional de estudantes ao final do curso e de médicos residentes
holandeses, Batenburg et al (63) utilizaram a escala DP de Monchy. Participaram do estudo
38
120 estudantes do final do curso, e 68 médico-residentes, 37 de medicina geral e 31 de
cirurgia. Obtiveram respostas de 84% dos estudantes e de 78% e 58% dos residentes de
medicina geral e de cirurgia, respectivamente. Encontraram diferença apenas em relação à
especialidade escolhida, com atitudes mais centradas no paciente entre os que escolheram
clínica geral que entre os que optaram por cirurgia. Consideraram que o grande número de
pacientes com problemas sociais e psicológicos na atenção primária foi um fator responsável
por isso. O fato de não encontrarem diferença de gênero contrariou trabalhos anteriores dos
autores, em que as mulheres apresentaram atitudes mais centradas no paciente que os homens.
Discutiram o papel da cultura institucional dominante, principalmente nas especialidades em
que as mulheres ainda são minoria, para explicar essa mudança de atitude.
De Valck et al (64) fizeram um estudo utilizando a mesma escala DP, em que
compararam 88 estudantes de primeiro ano de medicina da Bélgica com 434 estudantes da
Alemanha, em relação a atitudes cuidadoras e atitudes centradas na cura. Os resultados
mostraram atitudes mais centradas no cuidado entre os estudantes alemães e não houve
diferenças de atitudes entre homens e mulheres para os belgas. Finalizam propondo que o
modelo cuidador não deveria se opor ao modelo curativo, e que o médico ideal deveria ser
profissional no seu instrumental e no componente afetivo de sua prática.
Haidet et al (65) em estudo com 673 estudantes de medicina analisaram as diferenças
de atitude em relação ao cuidado do paciente no início e ao final do curso médico e os fatores
associados com as mudanças de atitude. Utilizaram, para isto, a escala PPOS (Patient-
Practitioner Orientation Scale ou escala de orientação médico-paciente) que avalia a atitude
individual quanto a relação médico-paciente de práticas centradas no médico ou no paciente.
Encontraram escores de 4,47 ± 0,03 para estudantes masculinos e 4,65 ± 0,04 para as
estudantes femininas, com p< 0,01. A conclusão foi que as atitudes centradas no médico
tenderam a aumentar com o progredir do curso, com um declínio das atitudes centradas no
39
paciente, mas o padrão de mudanças foi diferente para homens e mulheres. Estas
apresentaram redução no escore no decorrer do curso, enquanto os homens apresentaram
inicialmente um aumento, seguido de redução do escore. Estudantes de origem euro-
americana apresentaram médias para os escores mais altas (4,57) que os não americanos
(4,32) e os que pretendiam fazer especialidades básicas (clinica médica, pediatria e medicina
de família) obtiveram escores significativamente mais altos (4,56), isto é, mais centrados no
paciente que os demais (4,34). O nível de significância considerado foi de 0,05.
Em estudo em que consideram a empatia como elemento essencial na relação
médico-paciente e para o profissionalismo médico, Hojat et al (66) utilizaram uma escala de
vinte itens, previamente desenvolvida pelos autores, para medi-la. Participaram do estudo
371 estudantes de medicina, 198 homens e 173 mulheres. Encontraram empatia maior para as
estudantes do sexo feminino. O mesmo ocorreu para estudantes com melhor competência
clínica, de acordo com avaliação feita pelos preceptores que incluíam atitudes e habilidades,
não havendo relação com notas obtidas em provas teóricas.
Roter et al (67), em metanálise de 150 trabalhos publicados em língua inglesa e que
consideram o comportamento de médicos homens e mulheres na comunicação com pacientes
concluíram que a literatura descrevendo o efeito de gênero no processo de cuidado do
paciente é pequena. Entretanto, os resultados foram consistentes com o esperado fora do
contexto médico, com as mulheres tendo atitudes mais centradas no paciente que os homens,
durante a entrevista. As mulheres facilitariam a fala do outro por serem mais calorosas e
pessoais no contato e utilizarem mais as formas de comunicação não verbal. Apesar do nível
mais alto de troca emocional e psicossocial, não houve diferença significativa quanto aos
elementos relacionados ao cuidado, não havendo superioridade na provisão de informação
médica, na forma de dar esta informação e na sua qualidade.
40
Muitas dessas pesquisas foram desenvolvidas em escolas médicas que ainda mantém
um modelo biomédico de ensino médico, mas Haidet et al (68), em estudo sobre a obtenção
da história clínica, relataram que pesquisas recentes mostravam que o médico ainda
continuava centralizando a relação médico-paciente, apesar de haver evidências da
importância de se levar em conta a perspectiva do paciente, tanto pela sua necessidade
humana de expressão quanto pelo efeito terapêutico decorrente disso. Alertam para os fatores
que dificultam a abordagem centrada no paciente, mesmo em escolas que mudaram seus
currículos, citando entre eles: a maneira como é ensinada a semiologia, com a “coleta” em
lugar da “construção” de uma história e a forma como são apresentados os casos clínicos,
tanto na fase pré-clínica como nas corridas de leito, com valorização exclusiva ou
predominante de dados biomédicos. Fora das escolas, a exigência, pelos planos de saúde, de
preenchimento de documentação dos pacientes, segundo roteiros pré-estabelecidos e com
abordagem biomédica exclusiva, reforçaria essa tendência.
Donnely, em 2005, (69) escreveu que se as escolas médicas desejam incorporar a
medicina centrada no paciente, elas precisam começar pela mudança dos prontuários médicos
pois estes são parte importante do currículo oculto da graduação e das residências médicas,
uma vez que eles definem o que é importante. O atual roteiro de anamnese, orientado por
problemas, ensinaria os médicos a praticarem uma medicina limitada, com foco em doenças.
O autor propõe um novo prontuário médico que se iniciaria com uma breve história do
paciente, situando quem é aquela pessoa, os problemas principais em lugar da queixa
principal, a história da enfermidade atual com incorporação da experiência do adoecer, as
disfunções decorrentes e os cuidados médicos, além da perspectiva biológica de avaliação de
sintomas. A lista de problemas deveria incluir, além de patologias, os problemas na
perspectiva do paciente. Durante a evolução deveriam ser anotadas as mudanças ocorridas na
perspectiva do paciente, como seu sofrimento, entendimento de sua condição médica, suas
41
preferências e expectativas. Para pacientes hospitalizados, o sumário de alta deveria incluir o
que o paciente entendeu de sua condição médica, as novas prescrições e os cuidados
recomendados.
2.5 A escala PPOS
A escala PPOS ( Patient-practitioner Orientation Scale), foi desenvolvida por Krupat
e colaboradores com objetivo de avaliar o que os médicos, estudantes de medicina e
pacientes pensam a respeito do papel do médico, no que se refere a atitudes de poder mais ou
menos igualitárias na relação médico-paciente e a atitudes centradas principalmente no
paciente ou na doença. Utilizaram o modelo de escala de atitudes de Likert ou escala de soma
de médias que é uma escala de atributos psicológicos que permite expressar a intensidade dos
sentimentos. Segundo Churchil Jr (13), a escala de Likert é uma escala de auto-resposta das
mais usadas para medir atitudes.
Para a construção e validação da escala, Krupat et al (70) distribuíram 61
afirmativas, com seis itens cada uma variando de "discordo totalmente" a "concordo
totalmente", relacionadas ao cuidado e ao compartilhamento de poder para 297 estudantes de
psicologia para que eles manifestassem sua atitude a respeito da relação médico-paciente. A
escala foi reduzida e comparada com outras escalas, tendo-se concluído que é uma escala de
qualidades psicométricas aceitáveis. Para isto utilizou-se a validade de constructo, que
segundo Deslandes et al (71) “verifica se a característica a ser medida correlaciona-se com
uma outra, ou com o conhecimento disponível”. Apesar de haver correlação entre cuidado e
poder, eles não se superpõem completamente. A confiabilidade também foi avaliada e o alfa
para a escala total foi de 0,80 nesta pesquisa. Outros resultados importantes foram as
associações encontradas entre PPOS e gênero, PPOS e etnia e com o fato de ser natural dos
Estados Unidos da América ou não. Mulheres, brancos e norte-americanos natos
42
apresentaram orientação mais centrada no paciente, sendo que para as duas últimas variáveis
a diferença ocorreu apenas na sub-escala “compartilhar”. Para testar o valor preditivo da
escala, noventa outros estudantes de psicologia completaram a escala PPOS e leram duas
situações hipotéticas de consulta médica, manifestando o grau de satisfação para cada uma
delas. O resultado foi concordante com o previsto, ou seja, houve maior satisfação com
médicos centrados no paciente e com os médicos que apresentavam orientação contrária à do
estudante.
Posteriormente Krupat et al (72) estudaram quatrocentos médicos e 1020 pacientes,
utilizando a escala PPOS para avaliar o efeito de orientação médico-paciente na satisfação
com a consulta. Desta amostra inicial foram selecionados sessenta médicos e 450 pacientes
para participarem do estudo. Estabeleceram pontos de corte para o escore total da PPOS, em
que valores abaixo de 4,57 para o escore representavam atitudes centradas no médico, entre
4,57 e 5,00 atitudes medianamente centradas no paciente e acima de 5,00 atitudes centradas
no paciente. Avaliaram conjuntos de médicos e seus respectivos pacientes e concluíram que a
satisfação dos pacientes é maior com os médicos que são paciente-centrados mesmo quando
esta orientação é contrária a do paciente, e que pacientes de médicos que não são paciente-
centrados são menos satisfeitos com seus médicos. Sugeriram que médicos com atitudes
centradas no paciente seriam capazes de perceber a orientação do paciente e adaptarem-se a
ela.
Em outro trabalho, Krupat et al (73) avaliaram 45 médicos que exerciam medicina
interna, medicina de família ou cardiologia e 909 de seus pacientes. Mediram a expectativa
antes da consulta e a satisfação e aprovação do médico, logo após a mesma. A sub-escala de
compartilhar da escala PPOS foi preenchida por médicos e pacientes e seus escores utilizados
para determinar a correspondência de orientação de médicos e pacientes a respeito da relação
médico-paciente. Além disto, os pacientes preencheram escalas de avaliação antes e depois
43
da consulta. Os resultados obtidos mostraram que pacientes com orientação centrada no
paciente e aqueles com orientação diferente de seu médico eram menos confiantes, menos
satisfeitos e aprovaram menos o médico. Houve uma tendência para os médicos com atitude
centrada no paciente merecerem mais confiança dos seus pacientes (p=0,09).
Haidet e et al (74) compararam a atitude de 293 estudantes de medicina, avaliada pela
PPOS, com um escore de atitudes humanísticas destes mesmos estudantes, avaliadas por
cinco pacientes simulados. Encontraram associação entre atitude centrada no paciente dos
estudantes e atitudes humanisticas percebidas pelos pacientes simulados, com p= 0,01 em
análise de regressão linear, controlando gênero e mês em que foram obtidos os dados.
Street et al (75) utilizaram a escala PPOS para determinar a orientação de médicos
e pacientes. Avaliaram as gravações de 135 consultas de dez médicos, cinco deles com
atitudes centrada no médico e os outros no paciente, cada um atendendo cinco a oito
consultas. Metade dos pacientes de cada médico tinha atitude centrada no médico e os outros
no paciente. Concluíram que a comunicação na consulta médica é influenciada tanto pela
orientação do médico quanto do paciente a respeito da relação médico-paciente.
Haidet et al (65), em trabalho já mencionado na seção 2.4.2, também utilizaram a
escala PPOS para medir a atitude de estudantes de medicina a respeito da relação médico-
paciente.
2.6 A Faculdade de Medicina da UFMG
A Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) admite
320 estudantes por ano, selecionados por concurso público anual (vestibular). As notas
mínimas para o ingresso na Faculdade de Medicina têm se mantido as mais altas da
Universidade nos últimos anos e para o vestibular de 2006 há 29,62 candidatos/vaga, tendo
sido o curso mais procurado, segundo dados da Comissão Permanente do Vestibular (76). A
44
primeira etapa do concurso é comum a todos os cursos da UFMG e a segunda etapa consta de
provas de português, química e biologia. Os estudantes são divididos em duas turmas, por
ordem de classificação. A primeira turma inicia o curso de medicina em fevereiro e a segunda
em agosto.
O número total de estudantes matriculados na escola é de aproximadamente 1920,
divididos em doze períodos de um semestre, com 160 estudantes, em média, por período.
No ano de 1975, a Faculdade de Medicina sofreu profunda reforma de ensino, tendo
iniciado um currículo que tem o ambulatório como referência e cenário de prática principal
em grande parte de sua duração, incluindo ambulatórios da rede pública de saúde, sem
vínculo direto com o hospital-escola. A presença do professor durante todo o período de
atendimento nesses ambulatórios é uma característica a ser salientada. O Processo de
Desenvolvimento Curricular em Educação Médica na UFMG (1) considerava que a base do
ensino seria o problema do paciente, a partir do qual se daria o aprendizado do estudante, com
orientação do professor. Apesar de tornar o ensino médico mais voltado para os problemas de
saúde prevalentes na comunidade e menos centrado na doença, esse currículo não conseguiu,
entretanto, romper com a dicotomia ciclo básico/ciclo profissional e não propôs alterar em
nada o processo de seleção para entrada no curso médico. O curso de medicina continuou
dividido em ciclos com características bastante distintas entre eles. O ciclo básico, de
conteúdo essencialmente biológico e teórico ocupa os quatro primeiros semestres ou períodos.
O ciclo profissional é dividido em ciclo propedêutico que acontece em dois períodos,
correspondendo ao terceiro ano, seguido do ciclo ambulatorial, que no projeto original ocorria
em três semestres de ambulatórios gerais de criança e adulto, além das disciplinas de cirurgia,
patologia clínica e ginecologia e obstetrícia; e de internatos, sendo três meses de internato em
saúde coletiva, desenvolvido, em sua maioria, em pequenas comunidades do interior do
estado e os demais de internatos hospitalares, a maior parte deles no Hospital das Clínicas da
45
UFMG ( HC-UFMG) que é o hospital universitário. A proposta inicial, que considerava o
problema do paciente como a base para a aquisição de conhecimento teórico, logo após o
início de sua implantação foi desvirtuada com a instituição de conteúdos pré-definidos para os
grupos de discussão, uma vez que se considerou a necessidade de que houvesse um mínimo
de homogeneidade no conteúdo teórico ofertado aos estudantes. Com a instituição de provas,
abrangendo esse conteúdo ao final de cada semestre, o problema do paciente deixou de ser o
foco principal na avaliação teórica e foi outro fator que não permitiu romper com o modelo
biomédico tradicional ( 14,77). Além disso, é ainda Ferreira (14) que, analisando o ensino da
Semiologia na FM-UFMG chama atenção para a introdução do aluno na relação médico-
paciente através da objetividade da semiotécnica. O interesse é colocado em afastar ou
afirmar a doença no indivíduo através da objetividade do método clínico, o que pode ser
confirmado pelas queixas freqüentes de grande parte dos professores e estudantes em relação
a nosologia prevalente nos ambulatórios, referindo–se à ausência do doenças, embora os
doentes nunca tenham faltado. Professores, muitas vezes especialistas ou subespecialistas, não
se mostraram preparados para um enfoque no indivíduo e não na doença. Esta tendência para
a especialização se agravou no decorrer dos anos, com a exigência de contratação de
professores já com a pós-graduação concluída, quase sempre em áreas muito restritas do
conhecimento médico e nem sempre com uma prática de assistência ao paciente. Não há
treinamento ou supervisão especial dos docentes pelos departamentos ou pela Faculdade de
Medicina da UFMG (14). Soma-se a isso a divisão de turmas em grupos pequenos, sem um
corpo docente definido, pelo menos para a disciplina de Semiologia de Adultos. Desde o
início de sua implantação, a disciplina conta, freqüentemente, com mais de vinte professores
por semestre, que complementam nela sua carga horária, fato que gera também grande
rotatividade de professores de um semestre para outro. Em conseqüência desses fatos, a
intersubjetividade, princípio em que se fundamenta a relação médico-paciente é, com
46
freqüência, deixada a cargo do estudante desde o início do seu contato com o paciente, não
lhe sendo oferecido qualquer referencial teórico ou prático para isso, embora o ensino da
relação médico-paciente conste dos objetivos da disciplina e constitua parte importante deles
para alguns professores.
Mas foi a partir de 1994 que mudanças na estrutura do currículo, com a substituição
de ambulatórios de medicina geral de adulto e de criança, no nono período, por ambulatórios
de disciplinas optativas, em sua maioria de especialidades médicas, que esse modelo
biomédico se fortaleceu, afastando o currículo ainda mais da proposta inicial de 1975.
Embora, na opinião de Ferreira (14), pelo menos na pediatria, essa prática especializada se dê
a partir da visão de especialistas que continuam exercendo a pediatria geral, quando se
analisa o Processo de Desenvolvimento Curricular (1), esta visão do especialista estava
contemplada de outra maneira. Estes deveriam atuar como consultores nos ambulatórios
gerais, no momento de atendimento do paciente, mas esta foi uma experiência que funcionou
apenas parcialmente no início e após poucos anos deixou totalmente de existir, criando uma
distorção no projeto original. Disciplinas de saúde mental foram introduzidas no currículo,
mas dissociadas do atendimento aos pacientes, fortalecendo a dissociação corpo-mente.
Embora tenha sido introduzida a disciplina de Psicologia Médica com conteúdos relacionadas
à relação médico-paciente, tais como transferência, contra-transferência, poder médico (78), a
diversidade de cursos ministrados para a mesma turma faz com que o esse tema nem sempre
seja abordado.
Apesar disso, o ensino ambulatorial durante grande parte do curso, oferece ao
estudante a possibilidade de resolução de grande número de problemas em nível de atenção
primária, com relativamente pequeno número de encaminhamentos para especialistas e de
solicitação de exames complementares de alta complexidade. A dificuldade de obtê-los no
Sistema Único de Saúde pode ser um fator que contribui para isto, mas a tradição de centrar o
47
ensino da medicina em meios clínicos é característica da UFMG de longa data (14). O
paciente real, demandando resposta ao seu problema, acaba exigindo que se ultrapasse o
modelo puramente biológico, embora nunca tenha se conseguido a integração necessária entre
os vários saberes, pretendida para a abordagem global do paciente quando da implantação do
currículo de 1975.
A medicina tecnológica de ponta também faz parte da cultura da Faculdade de
Medicina da UFMG e é muito sedutora, pois além de conferir prestígio, facilita o
desenvolvimento de linhas de pesquisa e a produção científica, esta mais valorizada no meio
universitário que a adequada assistência ao paciente. Embora seja inegável a importância do
acesso à tecnologia e ao conhecimento atualizado para uma formação técnica satisfatória, ele
não pode estar dissociado do cuidado ao paciente. Para Howel (55), o papel do médico hoje
deve ser o mesmo de um século atrás, pois embora o paciente queira o melhor da tecnologia
no sentido biológico, socialmente falando ele continua sentindo a necessidade de ser especial
e único e deseja que o médico cuide, real e verdadeiramente, dele.
Desde 1999, atividades de iniciação à docência, pesquisa e extensão passaram a ser
reconhecidas pelo Colegiado de Graduação como disciplinas optativas curriculares (79).
A partir do conhecimento da estrutura curricular e da vivência do ensino
médico e para possibilitar melhor entendimento da atividade desenvolvida pelo estudante no
que diz respeito à relação médico-paciente em cada uma das fases do curso em que ela será
avaliada, são feitas as considerações que se seguem. Os estudantes do primeiro período estão
iniciando o ciclo básico e ainda não têm contato profissional com doentes e doenças. No
início do quinto período o estudante finalizou o ciclo básico, durante o qual ficou imerso em
disciplinas de conteúdo biológico, com poucas disciplinas que abordam o psicossocial. É um
momento do curso em que as disciplinas foram teóricas e a prática se restringiu aos
laboratórios de biologia ou química e anatomia. O doente real ainda não fez parte do universo
48
desse estudante. É a partir deste momento que ele começa o trabalho com pacientes, nas
disciplinas de Semiologia, já mencionadas anteriormente. O início do sétimo período marca o
final desse ciclo propedêutico. Agora o estudante já atendeu pacientes em ambulatórios e
enfermarias, de maneira fragmentada, estudando por sistemas, sem assumir o cuidado do
paciente de forma direta. O enfoque principal foi no método clínico. Algumas turmas, no
quinto período, participaram de atenção mais global ao paciente e discutiram relação médico-
paciente de maneira mais sistematizada. Apesar de constar do programa, a abordagem desse
tema depende de cada um dos professores dos 32 grupos. O início do nono período marca o
final do ciclo ambulatorial geral, inclusive com atendimento na rede pública de saúde. O
estudante foi o médico do paciente, com a supervisão direta e presencial do professor, que
assume a responsabilidade legal pelo ato médico. Os estudantes atenderam e acompanharam
vários pacientes nesse período de um ano. No sétimo período cursaram a disciplina de
psicologia médica. No início do décimo período o estudante terminou as disciplinas optativas,
a maioria delas de especialidades médicas, nas quais o contato com a tecnologia médica foi
mais intenso. Nelas, o estudante continuou a atender o paciente, habitualmente no
ambulatório. A diferença entre este e os dois períodos anteriores está, além da tecnologia mais
presente, na abordagem do especialista ou sub-especialista, que pode ser mais fragmentada,
durante o nono período. O décimo segundo período, além de representar o último ano do
curso, é o final dos internatos que começaram no décimo período. Agora o estudante atendeu
o paciente internado nas clínicas básicas e na urgência e traumatologia. É o final do período
de contato com o hospital, as unidades de urgência e as enfermarias. Apesar da atenção direta
ao paciente, a figura do residente tem papel importante nesse momento do curso, muitas vezes
se interpondo entre o estudante e o paciente ou entre o estudante e o preceptor ou, até mesmo,
atuando como preceptor de maneira informal.
49
Não se pode esquecer que os estudantes passaram também três meses em internato de
saúde coletiva, normalmente em pequenas comunidades, onde exerceram o papel de médicos
de família, de atenção básica ou fizeram um trabalho mais social; isto no décimo primeiro
período.
Pesquisas foram realizadas na Faculdade de Medicina da UFMG, desde a
implantação do atual currículo, com intuito de avaliar tanto o perfil do estudante de medicina
quanto sua relação com os pacientes.
A avaliação da relação médico-paciente dos estudantes de medicina da UFMG já foi
estudada por Figueiredo (80), através da entrevista com mães de pacientes pediátricos
atendidos pelos estudantes em Unidades de Saúde da Prefeitura de Belo Horizonte, utilizando
metodologia qualitativa. Na fala das mães, o estudante é carinhoso, interessado, dedicado,
"não tem nojo" de pegar na criança, em contraposição ao médico formado que não pega e, às
vezes, nem olha para ela Além disso, o estudante sugere, enquanto o médico dá ordens. Por
outro lado, nesse mesmo trabalho, na fala dos estudantes se percebe a intolerância por
atitudes do paciente que questionam o poder médico, como exemplo, quando as mães
reclamam da demora no atendimento. É ainda das mães a percepção de que o cuidado e a
atenção são transitórios, estando relacionados a uma necessidade de aprender e que, uma vez
concluído esse processo, o estudante será “um médico igual aos outros”.
Ribeiro (77), em estudo com médicos egressos da FM-UFMG que foram estudantes no
início do atual currículo e, após a formatura mudaram-se para cidades pequenas do interior do
estado, concluiu que um dos pontos fortes dos egressos estudados foi o preparo profissional
na relação médico-paciente. Por outro lado, o mesmo não se deu com as questões referentes às
relações de poder, principalmente a relação com a comunidade e com o poder político local, o
que gerou atitudes de submissão total ou graves conflitos com o poder loco – regional.
50
Levanta a hipótese de que relação autoritária estudante-professor, não completamente
resolvida, seria uma possível causa para o problema acima.
Ferreira et al (81) avaliaram o perfil sócio-econômico, a motivação para estudar
medicina, a especialidade pretendida e os objetivos em relação ao exercício profissional de
estudantes do quinto e décimo segundo períodos de medicina de 1997, na Faculdade de
Medicina da UFMG. Obtiveram respostas de 296 estudantes do quinto período e de 262 do
décimo segundo período, o que correspondeu a quase totalidade dos estudantes presentes à
aula no dia de aplicação do questionário. Os resultados mostraram que 50% dos estudantes
eram mulheres; em relação à renda familiar, 40 % apresentavam renda acima de trinta
salários mínimos (SM) mensais e 12% inferior a 10 SM. O pai de 50% deles tinha
escolaridade superior. O estudante apresentava perfil urbano, sendo a maioria natural de Belo
Horizonte e mostrava tendência a exercer a medicina liberal. A opção pela especialização
precedia a entrada no ciclo profissional e a opção por especialidades básicas se situou abaixo
de 20% tanto para o quinto quanto para o décimo segundo período. Em relação ao motivo
para estudar medicina, encontraram a identificação com a profissão em mais de 50%, sendo
também importantes os motivos altruístas e a busca do conhecimento.
Pesquisas com estudantes de medicina da UFMG, no sentido de avaliar a atitude a
respeito da relação médico-paciente e a interferência do curso médico nessa atitude não foram
realizados desde a implantação do currículo atual.
51
CAPÍTULO 3
OBJETIVOS
52
3 OBJETIVOS
3.1 Objetivo geral
Avaliar a atitude, a respeito da relação médico-paciente, dos estudantes de medicina da
da UFMG ao ingressar no curso médico, e a evolução dessa atitude no decorrer do curso
tendo como referência a medicina centrada no paciente ou no médico e na doença.
3.2 Objetivos específicos
3.2.1 Determinar, caso haja mudança, em que sentido ela se dá.
3.2.2 Determinar, caso haja mudança, em que momento do curso ela é mais
significativa.
3.2.3 Identificar, caso ocorra mudança, os prováveis fatores associados.
53
CAPÍTULO 4
MÉTODO
54
4. MÉTODO
Este é um estudo transversal realizado com estudantes de medicina da Universidade
Federal de Minas Gerais (FM-UFMG), utilizando a escala PPOS ( "Patient-practitioner
orientation scale") cujo versão original em inglês (anexo1) foi traduzida para português (anexo
2)
e um questionário sócio-demográfico (anexo 3). O projeto foi aprovado pelo comitê de ética
em pesquisa da Universidade Federal de Minas Gerais em 18 de agosto de 2004 (anexo 4).
4.1 Os instrumentos de medida
4.1.1 O questionário sócio-demográfico
O questionário sócio-demográfico foi construído para essa pesquisa considerando
variáveis como idade, sexo, especialidade pretendida após a formatura que, em outras
pesquisas (61, 62, 63, 64,65), mostraram associação com a atitude de estudantes a respeito da
relação médico-paciente ou que, não mostrando essa associação nos mesmos estudos, como
estágios extracurriculares, iniciação científica e o fato de ser filho de médicos poderiam
apresentá-la em uma realidade cultural diferente. Etnia, embora freqüentemente pesquisada e
associada com a variação dos escores, não foi considerada pela dificuldade na sua
classificação no Brasil. Optou-se por considerar a renda familiar e escolaridade do pai ou da
mãe, acreditando que alguma delas pudesse ter algum significado na atitude dos estudantes. O
questionário foi elaborado com respostas fechadas, sendo auto-aplicável.
4.1.2 A escala
Embora haja controvérsias na literatura sobre o uso de versões de
instrumentos de medida já testados em outros países ou a construção de novo objeto para
investigação semelhante (82), fatores como o custo e a complexidade de seu desenvolvimento
motivaram o uso de escala já previamente utilizada nos Estados Unidos da América. A
55
escolha da escala PPOS para esta pesquisa se deveu à inexistência de instrumento
desenvolvido no Brasil para medir a orientação de estudantes de medicina a respeito da
relação médico–paciente, à exeqüibilidade de sua aplicação por se tratar de escala de auto-
resposta e com poucas afirmativas, aos vários trabalhos já publicados com sua utilização nos
56
decisão, compartilhando o poder com o médico e sua média é nesse trabalho a variável
denominada poder. Os itens dois, três, seis, sete, onze, treze, quatorze, dezesseis e
dezessete medem o quanto essas pessoas acreditam que as expectativas, sentimentos e
circunstâncias da vida do paciente interferem no processo de tratamento, e sua média é a
variável denominada cuidado (72). Quando apenas um item não foi respondido em cada sub-
escala, a média de oito itens foi utilizada na análise, também seguindo orientação por
correspondência do autor da escala.
A validação prévia da escala em português não foi realizada.
4.2 Amostra do estudo
Do universo de estudantes matriculados na Faculdade de Medicina em agosto de
2004, foram escolhidos, inicialmente, os períodos do curso dos quais os estudantes
seriam convidados a participar da pesquisa, respondendo ao questionário e à escala PPOS. Os
períodos escolhidos e os critérios para a escolha foram:
Primeiro período – início do curso médico; quinto período – estudante terminou o
ciclo básico; sétimo período – estudante terminou o ciclo propedêutico; nono período –
estudante terminou o ciclo ambulatorial geral; décimo período – estudante terminou as
disciplinas optativas de especialidades médicas e décimo segundo período – período final do
curso médico quando o estudante tem vivência hospitalar. A aplicação do questionários nas
primeiras semanas de aula, exceto para o décimo segundo período, teve como objetivo a
avaliação do período anterior, como exemplo, para o quinto período o que se pretendeu
avaliar foi a possível influência do ciclo básico.
Foi definido que o questionário seria aplicado apenas para os alunos presentes no dia
de sua aplicação, independente do número de alunos presentes à aula naquele dia.
Considerou-se que a reaplicação dos questionários poderia tornar os resultados viciados.
57
Estudo piloto foi realizado com estudantes de turma que não participaria do estudo (6º
período), com objetivo de verificar o entendimento do questionário e da escala e determinar o
tempo aproximado que seria gasto para respondê-los. Esses questionários não foram
aproveitados para análise.
4.3 Coleta de dados
Os questionários foram aplicados apenas uma vez para cada turma, independente do
número de alunos presentes à aula no dia, durante o mês de agosto de 2004, nas três primeiras
semanas de aula.
Após a explicação do objetivo da pesquisa e de reforçar que a participação era livre, o
termo de consentimento livre e esclarecido foi distribuído para os estudantes, com a
permissão dos professores das disciplinas. Após isto, os questionários e a escala foram
distribuídos para os que aceitaram participar e foram recolhidos, pela pesquisadora ou pelo
professor do grupo, logo após terem sido respondidos. Para o primeiro período o questionário
foi aplicado no primeiro dia de aula de Ciências Sociais Aplicadas à Saúde, antes do início da
aula. Para o quinto período, sua aplicação foi na disciplina de Semiologia Médica I, módulo
de adultos, na primeira semana de aula e sempre na primeira aula de cada grupo. Os
estudantes do sétimo período foram contatados na sua primeira semana de aula, a grande
maioria na primeira e alguns poucos na segunda aula da disciplina de Medicina Geral de
Adultos I.
Para o nono e décimo períodos, pela fragmentação das turmas em vários
grupos e locais diferentes da escola, os questionários foram aplicados durante as aulas teóricas
de Clínica Cirúrgica no nono e de Urgência e Traumatologia ou de Ginecologia e Obstetrícia
no décimo período. Para o décimo segundo período os questionários foram distribuídos
durante as aulas de Psiquiatria Clínica. Como o décimo segundo período se inicia antes dos
58
demais e o que se pretendia avaliar era a atitude do aluno no final do curso, os questionários
nessa turma foram aplicados no segundo mês de aula.
4.4 Confecção do Banco de Dados e Análise Estatística
O banco de dados foi confeccionado no programa Epi-info, sendo as variáveis
incluídas de acordo com o questionário sócio-demográfico e a escala PPOS. As respostas dos
itens nove, treze e dezessete da escala foram invertidas antes de serem incluídas. Para
inclusão do questionário sócio-demográfico foram consideradas essenciais as respostas de
período e sexo e para a escala PPOS foi considerado essencial que no mínimo oito questões
de cada subescala estivessem respondidas, com uma única alternativa assinalada em cada
questão.
Para o item referente à especialidade, quando houve escolha de duas ou mais opções
divergentes, considerou-se a alternativa não sei. Quando os estudantes assinalaram as opções
cirurgia e especialidades cirúrgicas, considerou-se cirurgia, tendo o mesmo procedimento sido
adotado quando as opções foram clínica médica e especialidades clínicas.
Após o lançamento de todas as variáveis do questionário, foram criadas três
novas variáveis denominadas escore total da PPOS, cuidado e poder, de acordo com o que
já foi descrito na seção 4.1.2, escala PPOS.
Cada uma destas novas variáveis é que foi considerada variável-resposta para efeito de
análise dos resultados e elas foram relacionadas com as variáveis do questionário sócio-
demográfico.
Para avaliar o efeito de gênero, período, renda, escolaridade dos pais e demais fatores
obtidos do questionário sócio-demográfico nos escores da PPOS (escore total da PPOS,
cuidado e poder) foi usada a análise de variância (ANOVA) (83)
no programa SPSS. O
59
nível de significância estatística considerado foi de 5% ( P< 0,05). Foram usados modelos
com um fator ou com vários fatores agrupados, mas a variável resposta foi sempre única.
Teste de t de Student foi usado para verificar se houve diferença entre os grupos de
estudantes que responderam os questionários e os estudantes matriculados, em relação ao
sexo.
Especialidades foram reagrupadas para efeito de análise, tanto para a amostra total
como para o décimo segundo período, estando os agrupamentos descritos em resultados.
4.5 Revisão da literatura
A revisão da literatura foi realizada na base de dados Medline, utilizando como
palavras-chave “patient-centered care, doctor-patient relationship, medical student attitudes,
delivery of health care”. Para a busca de trabalhos nacionais e latino-americanos foi utilizada
a base de dados Scielo. Nesse caso utilizou-se relação médico-paciente como palavra-chave e
os artigos foram selecionados pelo resumo. Alguns trabalhos foram obtidos a partir da lista
de referências bibliográficas de trabalhos consultados. Alguns livros-texto utilizados são
obras de referência sobre o tema e eram previamente conhecidos. Teses realizadas na
Faculdade de Medicina da UFMG que se relacionavam ao tema em estudo foram também
consultadas .
60
CAPÍTULO 5
RESULTADOS
61
5- RESULTADOS
Foram distribuídos questionários com a escala PPOS para todos os estudantes
presentes à aula no dia se sua aplicação, o que totalizou aproximadamente 800 questionários
distribuídos para um universo de 958 estudantes matriculados nos períodos selecionados para
o estudo, em agosto de 2004. Desses, 743 questionários foram devolvidos, sendo 738 ( >90%)
aproveitados para análise. Dos cinco questionários não aproveitados, em quatro a escala
PPOS estava incompleta e em um apresentava duas respostas para cada afirmativa; dois deles
eram do primeiro período e os outros eram respectivamente do quinto, sétimo e nono
períodos.
5.1 Perfil do estudante participante da pesquisa
O número de estudantes que respondeu ao questionário em relação ao número de
estudantes matriculados por período e a respectiva distribuição por gênero estão na TAB. 1.
Não houve diferença estatisticamente significativa quanto ao gênero, entre o número de
estudantes matriculados e aqueles que responderam ao questionário, em nenhum dos períodos.
Tabela 1: Distribuição dos estudantes que responderam ao questionário e percentual em relação ao
número de estudantes matriculados por período escolar e gênero em agosto de 2004, na Faculdade de
Medicina da UFMG.
Estudantes
Período
Total Masculinos Femininos
Respondentes % Respondentes % Respondentes %
1 146 94,8 75 93,8 71 95,9
5 140 83,8 66 81,5 74 86,0
7 130 80,7 74 83,1 56 77,8
9 105 63,6 59 61,4 46 66,7
10 102 65,0 47 63,5 55 66,3
12 115 74,7 57 71,3 58 78,4
Total 738 77,0 378 75,6 360 78,6
Fonte: elaboração própria
62
A idade dos estudantes variou entre dezessete e quarenta anos, com mediana de 22
anos, e esteve diretamente relacionada com o período do curso. A mediana da idade e as
idades máximas e mínimas, por período, encontram-se na TAB. 2.
Tabela 2: Idades mediana, mínima e máxima dos estudantes que participaram da pesquisa,
por período.
Período Idade mediana
(anos)
Idade mínima e máxima (anos)
1
5
7
9
10
12
20
21,5
22
23
23
24
17-26
20-29
20-27
21-38
21-40
22-28
Fonte: elaboração própria
Dos 738 estudantes, 93,2% (688) relataram idade entre dezessete e 25 anos, 6,4 % (47)
entre 26 e trinta anos e apenas dois estudantes acima de trinta anos e um acima de quarenta
anos.
A maioria dos estudantes informou renda familiar entre dez e quarenta salários
mínimos. A TAB. 3 mostra a distribuição de renda para os 738 estudantes.
Tabela 3: Renda familiar informada, em salários mínimos, dos estudantes que responderam ao
questionário sócio demográfico
Estudantes Renda familiar
número absoluto %
< 10 106 14,4
10 a 20 227 30,8
>20 e <40 229 31,0
>40 140 19,0
não informada 36 4,8
Fonte: elaboração própria
A maioria tinha pelo menos um dos pais com nível de escolaridade superior. Desses
últimos, 138 estudantes (18,7% do total) informaram ter o pai e/ou a mãe médicos. A TAB. 4
63
mostra o número absoluto e relativo de estudantes em relação ao nível escolaridade da mãe e
do pai.
Tabela 4: Nível de escolaridade dos pais para os 738 estudantes que responderam ao questionário sócio
demográfico
Número de estudantes
absoluto % absoluto %
Nível de Escolaridade Mãe Pai
Fundamental 49 6,6 76 10,3
Médio 226 30,6 153 20,7
Superior 463 62,7 509 69,0
Fonte: elaboração própria
A participação dos estudantes em estágios extracurriculares e em programas de
iniciação científica, por período do curso, é mostrada na TAB. 5. No último período do curso,
quase a totalidade dos estudantes estava ou esteve envolvida com estágios extracurriculares e
aproximadamente dois terços deles participavam de atividade de iniciação científica.
Tabela 5: Número absoluto e percentagem de estudantes que informaram participação em iniciação
científica e estágios extracurriculares, por período.
Período do curso Estágios extracurriculares
Nº de estudantes %
Iniciação científica
Nº de estudantes %
1
5
7
9
10
12
13 8,9
29 20,7
103 79,2
92 88,5
96 95,0
108 94,7
11 7,5
31 22,1
39 30,0
60 57,7
56 55,4
75 65,8
Total 441 60,0 272 37,0
Não informaram= 3 estudantes Fonte: elaboração própria
Os dados referentes à especialidade pretendida após a formatura para todos os
estudantes, desde a sua entrada na Faculdade, e apenas para aqueles do décimo segundo
período encontram-se na TAB. 6. As especialidades foram dispostas em duas colunas, estando
na primeira delas as especialidades consideradas de atenção básica e na segunda as demais
especialidades. Nela pode se observar que mais de um terço dos estudantes não tem ainda
64
uma definição sobre essa escolha, quando se considera a amostra total, mas quando se
considera somente o período décimo segundo este percentual cai para 13,9. A opção pelas
especialidades de atenção básica apresentou percentual maior para o décimo segundo período
do que para a amostra total e quando se considera apenas os estudantes que têm uma escolha
definida, essa diferença persiste.
Tabela 6: Especialidade pretendida após formatura pelos 738 estudantes da amostra e para aqueles do 12º
período em números absolutos
Especialidades básicas 12º P Todos Demais especialidades 12º Todos
Clínica Médica 23 72
Pediatria 10 34
Generalista 00 08
Medicina Preventiva 01 02
Não sabe 16 269
Especialidades Clínicas 20 128
Cirurgia 15 90
Especialidades Cirúrgicas 09 63
Psiquiatria 03 23
Ginecologia e Obstetrícia 02 12
Oftalmologista 04 10
Otorrinolaringologista 04 08
Métodos Diagnósticos 04 07
Anestesiologia 02 06
Radioterapia 00 03
Medicina esportiva 00 01
Medicina do trabalho 01 01
Pesquisa 01 01
Total 34 116
(29,6%) (15,7%)
81 622
(70,4%) (84,3)
Fonte: elaboração própria
5.2 Escores total da PPOS, de cuidado e poder para a amostra total
O escore total da PPOS ( dezoito itens) para os 738 estudantes foi 4,66 ± 0,44 , com
uma variação entre 2,83 a 6,00. A média dos escores da sub-escala de cuidado (nove itens)
foi 5,20 ± 0,02, variando de 1,89 a 6,0 e da sub-escala de poder 4,10 ±0,02, com mínimo de
1,78 e máximo de 6,00. O menor valor para o escore total foi de estudante masculino do
nono período, 24 anos e sem escolha de especialidade definida. Para cuidado o valor mínimo
foi de estudante de 24 anos, do décimo segundo período, masculino e que pretende fazer
especialidade cirúrgica e para poder foi também de estudante do décimo segundo período,
65
sexo masculino, 25 anos e que pretende fazer clínica médica. Os valores máximos foram
sempre 6.0 e se distribuíram em vários períodos.
5.2.1 Escore total da PPOS, de cuidado e de poder e o período do curso de medicina
A variação do escore total da PPOS por período pode ser vista no GRAF. 1 e na TAB. 7. Na
análise univariada houve aumento do escore total da PPOS no decorrer do curso de medicina
para a amostra total e este foi estatisticamente significativo com p=0,000.
Gráfico 1: Escore total da PPOS por período do curso de medicina da UFMG,
para os 738 estudantes
115102105130140146N =
PERIODO
12109751
Escore Total
6,5
6,0
5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
Tabela 7: Escore total da PPOS por período escolar e valor de p da diferença entre o escore do primeiro
em relação aos demais períodos.
Escore total da PPOS por período Valor de p da diferença entre o primeiro e
os demais períodos
1º período 4,57 -----
5º período 4,60 0,56
7º período 4,67 0,0380
9º período 4,76 0,0012
10º período 4,61 0,41
12º período 4,77 0,0002
Fonte: elaboração própria
Esse aumento, no entanto, não ocorreu em todos os períodos. Quando se analisa
separadamente cada período em relação ao primeiro, observa-se que não há variação
estatisticamente significativa entre o escore total da PPOS do primeiro com o do quinto e o do
p=0,000
ANOVA
66
décimo períodos. A diferença torna-se progressivamente maior quando se comparam os
escores do primeiro com os escores do sétimo, nono e décimo segundo períodos, quando o
67
Em busca de explicação para essa menor variação nos escores da escala de cuidado,
verificou-se o poder de discriminação dos itens da escala PPOS. A análise desses itens
mostrou que os itens de números sete e dezesseis, que estão incluídos na sub-escala de
cuidado não discriminaram bem, concentrando mais de 80% das respostas no número seis
(discordo totalmente).
5.2.2 Escore total da PPOS e gênero
A análise do escore total da PPOS por gênero mostrou escore mais elevado para o
sexo feminino (4,75 ± 0,41) quando comparado ao masculino (4,56 ± 0,45), com diferença
estatisticamente significativa (p= 0,000) na amostra total (GRAF.2).
Gráfico 2: Escore total da PPOS e gênero para a amostra total
de estudantes de medicina da UFMG
360378N =
Sexo ( M=1 F=2 )
21
Escore total da PPOS
6,5
6,0
5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
Quando se comparam os escores por gênero, por período, a TAB.10 mostra que os
escores são mais altos na amostra total e nos primeiros períodos do curso (primeiro ao sétimo)
para o sexo feminino em relação ao masculino, com diferenças estatisticamente
significativas. A partir do nono período, embora as médias continuem mais elevadas para as
p=0,000
ANOVA
68
mulheres em relação aos homens, não há diferença estatística entre elas. Ao final do curso os
estudantes têm atitudes mais centrada no paciente que no início (p= 0,001), mas as estudantes
não (p= 0,104).
Tabela 10: Distribuição das médias totais da escala PPOS por período escolar e por gênero
Período
escolar
Média geral
PPOS
PPOS
Masculino
PPOS
Feminino
P
(Dif.masc/fem)
1 4,57 ± 0,43 4,43 ± 0,39 4,72 ± 0,42 0,0000
5 4,60 ± 0,41 4,48 ± 0,38 4,70 ± 0,42 0,0009
7 4,67 ± 0,41 4,59 ± 0,42 4,78 ± 0,39 0,0012
9 4,76 ± 0,48 4,69 ± 0,52 4,85 ± 0,42 0,097
10 4,61 ± 0,45 4,55 ± 0,48 4,66 ± 0,42 0,22
12 4,77 ± 0,44 4,70 ± 0,49 4,83 ± 0,38 0,14
Total 4,66 ± 0,02 4,57 ± 0,45 4,75 ± 0,41 0,0000
Fonte: elaboração própria
Quando se analisam os escores da sub-escala de cuidado, gênero é a única variável que
mostra diferença estatisticamente significativa, com o escores sendo maiores para o sexo
feminino (5,28 ± 0,39) em relação ao masculino ( 5,13 ± 0,49) com p= 0,000.
Para a sub-escala de poder a diferença de escores por sexo (TAB.11) também é
estatisticamente significativa (p=0,000) com atitudes mais centradas no paciente para as
estudantes, quando se considera a amostra uiçã.
69
e mulheres a partir do nono período. A comparação do escore para o sexo feminino entre o
final e o início do curso revela que não há diferença (p=0,231) ao contrário do sexo
masculino onde há diferença estatisticamente significativa (p=0,000).
5.2.3 Escore total da PPOS de cuidado e poder versus renda, pais médicos, estágios
extracurriculares e iniciação científica.
Renda foi outra variável que se mostrou estatisticamente significativa (p= 0,0018),
com redução do escore total da PPOS para faixas de renda mais altas (GRAF. 3).
Gráfico 3: Escore total da PPOS por faixa de renda, em salários minimos,
para a amostra total de estudantes de medicina da UFMG
140229227106N =
Renda familiar
Escore total da PPOS
6,5
6,0
5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
A redução foi progressiva, com os menores valores do escore ocorrendo na faixa de renda
familiar acima de quarenta salários mínimos. A variação dos escores para renda foi de 4,59 a
4,75 e está mostrada na TAB. 12.
Tabela 12: Variação do escore total da PPOS de acordo com a faixa de renda familiar e valor de p da
diferença entre a classe de renda 1 e as demais
Classe de renda Escore total da PPOS valor de p
renda 1 (<10SM)
renda 2 (>10 e < 20 SM)
renda 3 (> 20 e < 40 SM)
renda 4 (> 40 SM)
4,75 ± 0,42
4,65 ± 0,46
4,63 ± 0,44
4,59 ± 0,41
---------
0,048
0,017
0.005
SM = salário mínimo Fonte: elaboração própria
p=0,018
ANOVA
<10 10 a 20 20 a 40 > 40
70
Filhos de médicos apresentaram escores totais da PPOS menores que os dos outros estudantes
(p=0,058). Os escores totais da PPOS dos estudantes que informaram participação em
estágios extracurriculares e programas de iniciação científica foram mais altos em relação aos
que não participaram , com p=0,002 e p=0,019 respectivamente. Entretanto, quando se
colocou no mesmo modelo estatístico de análise de variância, as variáveis período, sexo,
renda, pais médicos, iniciação científica e estágios extracurriculares, apenas período, sexo e
renda mantiveram a significância estatística, sendo que no caso da renda para p<0,10,
conforme pode ser visto na TAB.13.
Tabela 13: Resultado do valor de p para variação do escore total da PPOS e as variáveis período, sexo,
renda, pais médicos, iniciação científica e estágios extracurriculares, utilizando modelo de análise de
variância com uma e com todas as variáveis.
Variável valor de p
modelo com
1 variável
modelo com
todas variáveis
período 0,000
0,016
sexo 0,000
0,000
renda 0,018
0,073
pais médicos 0,058 0,219
estágio extracurricular 0,020 0,427
iniciação científica 0,019 0,917
Fonte: elaboração própria
Quando se analisaram renda e pais médicos no mesmo modelo, o fato de ser filho de médico
deixa de ser estatisticamente significativo. Em busca de explicação para esse fato foram
cruzadas as variáveis renda e pais médicos e o que se observou foi que a maioria ( 76,1%) dos
filhos de médicos relatou renda acima de vinte salários mínimos, conforme TAB. 14.
Tabela 14: Tabulação cruzada de renda familiar e pais médicos, em percentagem, para os 738 estudantes.
Renda familiar em salários mínimos
Pais médicos
<10 10 a 20 20 a 40 > 40 NI
Total
Sim (138)
Não (600)
Total (738)
0,7
17,5
14,4
15,9
34,2
30,8
34,8
30,2
31
41,3
13,8
19,0
7,2
4,3
4,9
100
100
100
NI= não informada Fonte: elaboração própria
71
Estágios extracurriculares e iniciação científica, quando colocados no mesmo modelo
que período, deixaram de apresentar significância estatística para a diferença de escore total
da PPOS. Isto ocorre porque tanto a freqüência de estágios extracurriculares como de
participação em iniciação científica aumenta no decorrer do curso. As TAB. 15 e 16 mostram
esses resultados.
Tabela 15: Tabulação cruzada de estágios extracurriculares, em percentagem, versus período do curso de
medicina para os 738 estudantes
Período
Estágio extracurricular
%
Sim Não NI Total
1
5
7
9
10
12
8,9 91,1 0,0 100,0
20,7 79,3 0,0 100,0
79,2 20,0 0,8 100,0
87,6 10,5 1,9 100,0
94,1 5,9 0,0 100,0
93,9 6,1 0,0 100,0
NI= não informado Fonte: elaboração própria
Tabela 16:Tabulação cruzada de iniciação científica, em percentagem, versus período do curso de
medicina, para os 738 estudantes.
Período
Iniciação científica
%
Sim Não NI Total
1
5
7
9
10
12
7,5 92,5 0,0 100,0
22,1 77,9 0,0 100,0
30,0 69,2 0,8 100,0
57,1 41,9 1,0 100,0
54,9 44,1 1,0 100,0
65,2 34,8 0,0 100,0
NI= não informado Fonte: elaboração própria
Para a sub-escala de poder a diferença de renda também interferiu no escore da PPOS
(p=0,002), com os escores para poder diminuindo à medida que a renda se elevava, e os
menores escores para estudantes com renda familiar acima de 40 quando comparados aos
estudantes com renda abaixo de 10 salários mínimos (p=0,000). As demais variáveis
mostraram comportamento semelhante ao que ocorreu com o escore total da PPOS.
Para a sub-escala de cuidado não houve diferença de escore para nenhuma das
variáveis analisadas acima.
72
5.2.4 Escores da PPOS e especialidades pretendidas
Para efeito de análise, as especialidades foram reagrupadas em sete categorias, sendo
consideradas clínica médica e especialidades clínicas (Clm), cirurgia e especialidades
cirúrgicas (Cir), pediatria ( Ped), psiquiatria (Psi), ginecologia e obstetrícia (Gob), não sabe
(NS)) e as demais (Outras). O GRAF. 4 mostra a variação do escore total da PPOS de acordo
com a especialidade pretendida. Apesar de não mostrar diferença estatisticamente
significativa, sua observação pode ser importante.
Gráfico 4: Escore total da PPOS e especialidade pretendida, após a formatura,
para a amostra total de estudantes de medicina da UFMG.
39269122334153208N =
Especialidade
7,006,005,004,003,002,001,00
Escore total da PPOS
6,5
6,0
5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
Optou-se, então, por fazer novo agrupamento de especialidades, agora considerando
especialidades de atenção básica (clínica médica, pediatria e médico de família ou generalista)
e todas as demais. As médias foram mais altas entre os estudantes que escolheram
especialidades ligadas à atenção básica (4,78 ± 0,45) em relação àquelas dos que escolheram
outras especialidades ou não sabiam qual especialidade fazer (4,64 ± 0,44), quando se
considerou a amostra total (p=0,013), conforme GRAF. 5.
p=0,112
ANOVA
Clm Cir Ped Psi Gob NS outras
73
Gráfico 5: Escore total da PPOS e especialidades de atenção básica pretendidas, após
formatura, para a amostra total de estudantes de medicina da UFMG .
624114N =
Especialidade
OutrosCLM, PED, GEN
Escore Total da PPOS
6,5
6,0
5,5
5,0
4,5
4,0
3,5
3,0
2,5
5.2.5 Escore total da PPOS e as demais variáveis do questionário sócio-demográfico
Escolaridade do pai e escolaridade da mãe não interferiram no escore total da PPOS,
conforme pode ser visto na TAB.17.
Tabela 17: Variação do escore total da PPOS para escolaridade do pai e escolaridade da mãe, com valor
de p (ANOVA) para a diferença.
Escolaridade do pai Nível Fundamental 4,71
Médio 4,66
Superior 4,65
p = 0,533
74
masculino e feminino, com as estudantes apresentando escores mais altos tanto para a escala
total quanto para as subescalas de cuidado e de poder, conforme pode ser visto na TAB.18.
Tabela 18: Valores de escores total da PPOS, de cuidado e de poder, por gênero, para os estudantes do
primeiro período.
Escore Masculino Feminino p de dif. fem/masc
Total da PPOS 4,43 ± 0,39 4,72 ± 0,42 0,000
Cuidado 5,04 ± 0,47 5,26 ± 0,43 0,003
Poder 3,82 ± 0,58 4,18 ± 0,58 0,000
Fonte: elaboração própria
Quando se observaram os valores mínimos para os escores, eles também ocorreram
entre os homens, com 3,44 para escore total e cuidado e 2,11 para poder em relação a 3,78
para escore total, 4,33 para cuidado e 2,56 para poder entre as mulheres.
Foram analisadas todas as outras variáveis do questionário sócio-demográfico, para os
estudantes do primeiro período, em relação aos escores total da PPOS, de cuidado e de poder
e não houve diferença estatisticamente significativa para nenhuma delas. Portanto quando o
estudante inicia o curso de medicina na UFMG, a única diferença encontrada foi a de gênero,
com as estudantes apresentado atitudes mais centradas no paciente que os estudantes.
5.4 Escores para o décimo segundo período e sua relação com o questionário
sócio-demográfico
O escore total da PPOS para os estudantes do décimo segundo período foi de 4,77 ±
0,44 e os escores das sub-escalas de cuidado e poder foram respectivamente 5,27 ± 0,50 e
4,26 ± 0,65. Os escores não mostraram associação estatisticamente significativa com sexo,
renda, o fato de ser filho de médico ou a escolaridade dos pais.
Em relação à especialidade pretendida, apesar de mantida a diferença com escores
mais altos para aqueles que escolheram especialidades de atenção básica, não houve
significância estatística para p < 0,05 (TAB. 19).
75
Tabela 19: Escore total da PPOS para especialidades relacionadas à atenção básica comparada com as
demais especialidades, para amostra total e para o 12º período.
Especialidade pretendida Atenção básica Demais
especialidades
valor de p
Amostra total 4,78 ± 0,45 4,64 ± 0,44 0,013
12º período 4,87 ± 0,46 4,72 ± 0,43 0,095
Fonte: elaboração própria
5.5 Resumo do capítulo
- O número de questionários respondidos foi percentualmente maior nos períodos
iniciais do curso de medicina.
- Os escores total da PPOS, de cuidado e poder não mostraram variação durante o
ciclo básico.
- Houve aumento dos escores total da PPOS e de poder, com atitudes mais centradas
no paciente, no ciclo profissional, durante o ciclo propedêutico (quinto ao sétimo períodos) ,
durante o ciclo ambulatorial geral (sétimo ao nono períodos) e durante os internatos (décimo
ao décimo segundo períodos). Os escores do décimo período se mostraram inalterados em
relação aos do primeiro e foram menores que os do período anterior.
- Os escores da sub-escala de cuidado não mostraram variação estatisticamente
significativa no decorrer do curso de medicina.
- Em relação ao gênero, as mulheres iniciaram o curso com escores totais da PPOS e
de poder mais elevados que os dos homens, mas essa diferença diminuiu no decorrer do curso
e deixou de existir a partir do 9º período. Quando se considera apenas o sexo feminino, não
há diferença nos escores do início para o final do curso.
- Renda familiar mostrou associação inversa com escore total da PPOS e com poder,
com estudantes de renda mais alta tendo atitudes mais centradas no médico que os de renda
mais baixa.
76
- A opção por especialidades de atenção básica se relacionou com escores mais
elevados da PPOS, isto é, com atitudes mais centradas no paciente.
- As demais variáveis investigadas não mostraram associação com os escores da
PPOS.
5.6 Busca de explicação para a redução nos escores do 10º período.
Na tentativa de explicar a queda do escore total da PPOS e dos escores de cuidado e
poder no décimo período, a escala PPOS foi reaplicada para a mesma turma no décimo
segundo período, em agosto de 2005. Não foi reaplicado o questionário sócio-demográfico;
apenas a especialidade pretendida e o sexo foram novamente perguntados. Responderam
novamente 107 estudantes e os escores total da PPOS, de cuidado e de poder se encontram
na TAB. 20 comparados com os escores obtidos para a mesma turma no décimo período em
agosto de 2004. Foi usado o teste t para amostras não pareadas, uma vez que não era possível
a identificação dos questionários individuais. Não houve diferença estatisticamente
significativa entre eles.
Tabela 20: Escores total da PPOS, de cuidado e poder para os estudantes do 10º período em agosto de
2004 e para a mesma turma de estudantes no 12º período em agosto de 2005.
Escore da PPOS
10º período -2004 12º período -2005 p (teste t)
Total 4,61 ± 0,45 4,64 ± 0,41 0,591
Cuidado 5,19 ± 0,47 5,16 ± 0,42 0,678
Poder 4,03 ± 0,66 4,12 ± 0,64 0,320
Fonte: elaboração própria
Mas quando se comparou o escore total do décimo segundo período de 2004 (4,77 ± 0,44)
com o do atual décimo segundo período (4,64 ± 0,41) houve uma diferença estatisticamente
significativa entre eles, com p=0,037. Os estudantes que responderam no final do curso em
2004 apresentavam atitudes mais centradas no paciente que aqueles que responderam em
2005. Quando se analisaram separadamente por sexo os escores do décimo segundo período
de 2005 em relação aos respectivos escores do primeiro período, para o sexo masculino houve
77
um aumento de escore total (p= 0,032) e de poder ( p= 0,030) mas não houve diferença entre
os escores de cuidado. Para o sexo feminino, esta diferença não ocorreu, com os escores de
poder, cuidado e total mantendo-se praticamente inalterados em relação àqueles do primeiro
período. Em relação à especialidade pretendida após a formatura não houve diferença
estatisticamente significativa entre os escores dos estudantes que escolheram especialidades
de atenção básica ou não. Dos 107 estudantes que responderam à pesquisa, dez não sabem que
especialidade fazer, 36 pretendem fazer especialidades de atenção básica, sendo que apenas
um deseja fazer saúde da família, 21 cirurgia e os demais se distribuem por várias
especialidades médicas.
78
CAPÍTULO 6
DISCUSSÃO
79
6 DISCUSSÃO
O escore total da PPOS para toda a amostra de estudantes da Faculdade de Medicina
da UFMG, em agosto de 2004, foi 4,66±0,44 que é superior ao encontrado por Haidet et al.
(2002) para estudantes norte-americanos: 4,57±0,48 para toda a amostra e 4,32 para o
conjunto de estudantes de ascendência hispânica, asiática e africana. Esses escores situam o
estudante de medicina da UFMG como medianamente centrado no paciente, de acordo com
os pontos de corte estabelecidos por Krupat et al (72).
O aumento do escore no decorrer do curso de medicina, com atitudes mais centradas
no paciente no último período contraria a hipótese nula deste trabalho e alguns resultados da
literatura utilizando a PPOS (65) ou outras escalas (32). Entretanto, outros autores como
Monchy et al (61) também encontraram atitudes mais centradas no paciente para o estudante
no último ano do curso de Medicina em universidade holandesa em comparação com
estudantes do segundo ano.
Considerando-se que a hipótese nula do trabalho baseou-se no comportamento dos estudantes,
não se pode esquecer que a escala PPOS mede atitudes e não comportamento, embora estudos
de Krupat et al (72) mostrem coerência entre escores elevados para os médicos e satisfação
dos pacientes. É importante salientar que o estudante ao responder baseia-se em realidade
diferente do profissional, mas Haidet e al (74) encontraram associação entre atitudes centradas
no paciente entre estudantes e a percepção de humanismo do médico por pacientes simulados
Além disso, dados obtidos a respeito do médico formado na FM-UFMG no início do atual
currículo por Ribeiro (77), em pesquisa com egressos que foram para o interior do estado,
mostraram que um dos pontos fortes entre esses médicos era a boa relação médico-paciente.
O estudante de medicina ingressou no curso com atitude limítrofe entre centrada no
médico e no paciente quando se considerou o escore total da PPOS, mas sua atitude foi
centrada no médico quando o referencial foi o compartilhamento de poder. Durante o ciclo
80
básico não houve variação na atitude dos estudantes, o que é de certa forma esperado diante
das características dos dois primeiros anos do curso médico. O aumento de escore após o
primeiro ano do ciclo profissional poderia ser explicado pelo interesse do estudante em
adquirir conhecimentos e habilidades necessários à prática profissional, o que seria motivado
pelo contato com os pacientes. Becker et al (27) consideram que nesta fase do curso o
estudante teria uma visão do paciente diferente daquelas da cultura médica ou da cultura leiga
e os pacientes que lhes acrescentam experiência clínica são os que mais lhes interessam,
observando ainda, neste período, um retorno do idealismo em relação ao paciente. Dini &
Batista (30) observaram também que a visão idealizada do estudante de medicina ao
ingressar no curso de Medicina, a respeito da futura prática profissional, evolui para o
reconhecimento da necessidade de se preparar para o exercício da profissão no meio do curso,
quando o cuidado, a ética, o compromisso e a promoção de saúde são enfatizados.
Uma possível explicação para as atitudes dos estudantes mais centradas no paciente
ao final do curso, situando-os como medianamente centrados no paciente, poderia estar no
ensino predominantemente ambulatorial. No ambulatório o paciente é ativo e é quem de fato
executa o tratamento, trazendo para o consultório as dificuldades encontradas para realizá-lo,
e o estudante (médico), de certa forma, tende a questionar o poder do médico. E é
exatamente na sub-escala de poder que há um aumento de escore, com o estudante mais
predisposto a compartilhar o poder com o paciente ao final do curso de medicina.
Em relação ao estudante de medicina da UFMG, Figueiredo (80) observou, a partir da
fala das mães de pacientes pediátricos, atendidos em centro de saúde na comunidade, que elas
reconhecem o estudante como atencioso e empático, com uma relação de poder ainda não
totalmente cristalizada, fazendo sugestões enquanto o médico formado dá ordens. Entretanto,
acreditam que o cuidado e a atenção por parte do estudante são transitórios, estando
81
relacionados a uma necessidade de aprender e que após formado ele “será um médico igual
aos outros”.
É de interesse salientar que os maiores aumentos no escore total da PPOS ocorreram
no início do nono período, após dois semestres de ambulatório nos quais o estudante
realmente assume o paciente, um deles em unidades básicas do Sistema Único de Saúde, e no
início do décimo segundo período, muito próximo ao Internato em Saúde Coletiva. Howe
(31), em pesquisa com estudantes ingleses em estágio ambulatorial na comunidade, encontrou
uma valorização pelos estudantes da prática da medicina centrada no paciente após esse
estágio.
O menor escore total para a PPOS durante o curso médico ocorreu no início do
décimo período, após o estudante ter cursado disciplinas de especialidades médicas, onde o
uso da tecnologia é mais intenso e a abordagem do paciente pode ser mais fragmentada.
Como a avaliação foi transversal, com turmas diferentes respondendo ao questionário na
mesma época, não se pode afirmar uma relação de causalidade, mas apenas constatar esses
fatos. As atitudes menos centradas no paciente para os estudantes do décimo período tanto
podem se relacionar a uma característica da turma, como ao momento do curso em que foi
avaliada. Outro aspecto importante a se considerar é que foi uma das duas turmas que
participaram da pesquisa com menor percentual de estudantes.
O resultado obtido com a aplicação da PPOS para os estudantes do décimo segundo
período, em agosto de 2005, com objetivo de avaliar o menor escore para a escala nesta turma
quando no décimo período, mostrou que provavelmente há aspectos que são particulares da
turma, pois o escore se manteve menor que aquele encontrado para a turma do décimo
segundo período em agosto de 2004. O fato de não ser possível parear os dados, em
conseqüência da não identificação dos questionários, pode comprometer os resultados, mas
ainda assim vale salientar que os estudantes do sexo masculino apresentaram atitude mais
82
centrada no paciente, tanto no escore total como no de poder quando comparados com os
estudantes do primeiro período de 2004, o que não ocorreu quando esta mesma turma
respondeu à escala no décimo período. Continua, portanto, em aberto esta questão.
Não é possível saber, com os dados obtidos nesta pesquisa, se a atitude mais ou
menos centrada no paciente é transitória e relacionada à situação vivida recentemente pelos
estudantes. Para isto um estudo longitudinal, com avaliação da mesma turma em diferentes
momentos do curso, seria necessário.
Em relação às atitudes mais centradas no paciente entre as estudantes do sexo
feminino há concordância com os resultados encontrados na literatura com a utilização de
diferentes escalas, tanto na Europa como nos Estados Unidos (61,62,65,66). Metanálise de
150 trabalhos sobre o efeito de gênero no processo de cuidado do paciente revelou que as
médicas têm atitudes mais centradas no paciente que os médicos durante a entrevista e esse
achado seria consistente com as diferenças no estilo de comunicação entre homens e
mulheres, fora do contexto médico (67). Esse pode ser o motivo de as estudantes da UFMG
já ingressarem na Faculdade apresentando escores significativamente maiores que o dos
estudantes, com valores, para elas, já medianamente centrados no paciente, enquanto eles
apresentam valores compatíveis com atitudes centradas no médico. As estudantes persistem
com escores medianamente centrados no paciente durante todo o curso, com aumento
discreto no valor desse escore, sem significância estatística, enquanto os estudantes mudam
de atitude centrada no médico e na doença para atitude medianamente centrada no paciente,
não havendo ao final do curso diferenças entre escores de homens e mulheres. Haidet et al
(65) , em trabalho já citado, encontraram evolução semelhante para os escores totais da
PPOS para as estudantes no decorrer do curso e questionaram se a opção por atividades ainda
predominantemente masculinas dentro da medicina não interferiram em suas atitudes,
tornado-as mais próximas das atitudes masculinas. Em estudo com estudantes do final do
83
curso de medicina e com médicos residentes, Batenburg el al (63) não encontraram diferença
de gênero ao contrário do ocorrido com estudantes em início do curso e também atribuíram
esse fato à assimilação, pelas mulheres, da cultura institucional dominante, que ainda é
predominantemente masculina.
Neste trabalho cabe questionar se os estudantes masculinos seriam mais susceptíveis a
mudanças de atitudes do que as estudantes, até mesmo pelo fato de ingressarem no curso com
atitude mais centrada no médico e, conseqüentemente, maior crença no poder do médico e da
ciência, que vai sendo questionada com o tempo e com o atendimento dos pacientes. Médias
globais para a PPOS praticamente inalteradas ao final do curso em relação ao seu início para
as estudantes femininas, nesta pesquisa, podem sugerir que a importância de relação centrada
no paciente não é adequadamente enfatizada na faculdade. Pode também sugerir que há
fatores relacionados ao currículo oculto que, enfatizando a necessidade de aproximação com o
comportamento masculino, inibiriam o maior desenvolvimento dessa atitude.
Renda familiar mostrou associação negativa com atitudes centradas no paciente, com
estudantes de renda mais alta tendo atitudes de compartilhar menos as decisões. Essa não é
uma associação pesquisada na literatura, não sendo, por isto, possível estabelecer uma
comparação. A medicina no Brasil, ainda hoje, é considerada uma profissão capaz de conferir
status social e econômico, o que pode ser comprovado pela concorrência no vestibular. É
uma das profissões nas quais se busca manter ou elevar o nível sócio-econômico, apesar de
pesquisa realizada pelo Conselho Federal de Medicina (CFM) ter revelado uma queda na
renda mensal do médico, com a maioria dos médicos considerando a profissão desgastante,
tendo múltiplas atividades, muitas vezes, em condições adversas e referindo-se com
pessimismo ao futuro da profissão. Há que se considerar, no entanto, que não há desemprego
em medicina no Brasil, com 98% dos médicos exercendo a profissão, mesmo que em tempo
84
parcial (84). Entre os estudantes da FM-UFMG, na amostra avaliada, houve associação entre
renda mais alta e o fato de ser filho de médico.
Manter o poder médico com o domínio do saber parece diminuir o risco de ser questionado. A
utilização de tecnologia de ponta, além de ser rentável, dá a quem a utiliza certa hegemonia
mesmo entre os colegas de profissão. Atender pessoas deixou faz muito tempo de ser
considerada atividade nobre, haja visto o valor pago por uma consulta médica pelas empresas
de saúde suplementar, isto para não falar do SUS, que remunera a consulta médica na atenção
básica em menos que dois dólares. Para os médicos contratados no serviço público, o
interesse na quantidade, com excesso de pacientes para atender em relação ao tempo
disponível e o excesso de burocracia, consumindo parte desse tempo em preenchimento de
formulários, é uma realidade. Dominar a tecnologia de manusear um aparelho e interpretar os
resultados é mais valorizado, tanto do ponto de vista econômico como pelo próprio paciente.
Todos esses fatores poderiam se relacionar a uma preocupação menor com os pressupostos
básicos da medicina centrada no paciente entre os estudantes de renda mais alta.
Obtiveram-se escores mais altos para aqueles estudantes que pretendiam fazer
especialidades relacionadas à atenção básica para a amostra total, mas não para os estudantes
do décimo segundo período. Para esses, a diferença existe, mas não apresenta significância
estatística. O número de estudantes ainda sem uma definição da escolha profissional após a
formatura, mesmo no décimo segundo período, é grande, tendo sido freqüente a enumeração
de quatro ou mais especialidades, muitas vezes, sem nenhuma congruência entre elas. Essa
relação da atitude a respeito da relação médico-paciente com a especialidade poderia ser mais
bem avaliada com médicos residentes ou mesmo com médicos já exercendo a profissão há
algum tempo. Atitudes mais centradas no paciente entre estudantes que optaram por
especialidades de atenção básica (65) ou entre residentes de clínica geral foram relatadas na
literatura (63).
85
Não se encontrou associação entre estágios extracurriculares e os escores da PPOS,
para a amostra total. Como ao final do curso quase todos os estudantes informaram
participação em estágios extracurriculares, foi pesquisada associação em períodos onde esta
participação não era tão significativa e também neles ela não ocorreu. Embora não
reconhecidos no histórico escolar do estudante, estágios extracurriculares fazem parte de sua
formação médica, mas com o instrumento de avaliação utilizado não foi possível detectar se
eles influenciam a atitude do estudante a respeito da relação médico-paciente. O mesmo
aconteceu com a participação em atividades de iniciação científica, que não mostrou
associação com os escores da PPOS. Haidet et al (65) avaliaram a associação da PPOS com
formação prévia em ciências ou não e, embora encontrando uma tendência de estudantes
com formação prévia em áreas não científicas serem mais centrados no paciente, não houve
significância estatística.
Antecedentes escolares dos pais e o fato de ter pais médicos não interferiram com
atitude mais ou menos centrada no paciente do estudante. Haidet et al (65) relataram
achados semelhantes entre estudantes norte-americanos.
Quando se analisam as sub-escalas de cuidado e de poder observa-se que as médias
para cuidado são bem maiores para a amostra desse estudo comparadas às médias para poder,
significando que há uma tendência em considerar o paciente de maneira mais global, mas não
de compartilhar com ele as decisões. Esta compreensão do paciente de maneira mais global,
com valorização de aspectos sócio-econômicos e culturais na determinação da doença, foi
observada em pesquisa realizada com médicos da rede pública de Campinas (45).
Considerando os pontos de corte já mencionados anteriormente para a escala, a
amostra total de estudantes avaliada estaria medianamente centrada no paciente, quando se
considera o escore total, mas seria muito centrada no médico quando se considera a sub-escala
de poder. Quando se considera apenas o décimo segundo período esses valores ainda
86
persistem apesar de aumento significativo das médias em relação ao primeiro período.
Fatores culturais podem estar envolvidos nessa menor tendência a compartilhar decisões e é
importante chamar atenção para o nível cultural da maioria da população atendida pelos
estudantes ao longo do curso de medicina. Embora essa realidade esteja mudando com o
empobrecimento da classe média, a maioria das pessoas atendidas pelo Sistema Único de
Saúde (SUS) ainda tem nível sócio-econômico e cultural baixo e muitos ainda são analfabetos
e sem acesso a informações técnicas relacionadas ao cuidado de saúde e às doenças. Estudo
feito com usuários do SUS em Natal, Rio Grande do Norte, mostrou que grande parte deles
não se vê como cidadão com direito a atenção à saúde e, apesar de desejar um atendimento
personalizado que alivie ou amenize seu sofrimento, está mais preocupado com aspectos
materiais, estruturais e organizacionais do sistema de saúde do que com os aspectos
relacionados à atenção e ao cuidado (85). Uma população menos questionadora reforçaria a
tendência paternalista e autoritária do estudante de medicina. O currículo formal, por outro
lado, não contempla com uma atitude crítica esses aspectos e, embora haja professores que o
façam, são atitudes isoladas. Ao contrário, há toda uma cultura de valorização do “caso
interessante”, aqui considerado como um caso que traz desafios ao diagnóstico, seja por sua
raridade ou pelo inusitado da maneira de apresentação. Estes casos estimulam o raciocínio
clínico dentro do modelo biomédico e, além disso, podem resultar em publicação científica,
dentro de uma instituição onde as publicações são muito valorizadas para avaliação do
professor e também do estudante ao final do curso. A valorização de publicações na análise de
currículo, em testes de seleção para o ingresso nas residências médicas, está se tornando cada
vez mais institucionalizada, não apenas nos hospitais universitários. Como ao final do curso a
maioria dos estudantes de medicina deseja fazer residência médica em instituição qualificada,
este é um elemento importante do currículo oculto da Faculdade.
87
Outro fator que pode estar envolvido no maior escore para a sub-escala de cuidado é o
fato de que a escala foi traduzida e os itens de números sete e dezesseis não apresentaram
bom poder de discriminação, concentrando mais de 80% das respostas na alternativa de
número seis. A consistência da escala completa foi avaliada e mostrou-se um pouco menor
que a da escala original em inglês com α = 0,60 (Cronbach’s). Isto pode acontecer quando se
utilizam escalas traduzidas, pois fatores culturais podem interferir com o entendimento de
algumas afirmativas, mesmo que em termos lingüísticos elas estejam claras.
A idade dos estudantes relacionou-se diretamente com o período do curso e por isto não foi
utilizada para análise.
Etnia, variável que foi estudada por outros autores, não foi incluída nessa pesquisa, pois a
miscigenação racial no Brasil torna bastante controversa sua utilização em nosso meio.
Professores e estudantes receberam bem a pesquisa e os estudantes se dispuseram a
colaborar respondendo aos questionários. Houve várias manifestações, tanto de professores
quanto dos estudantes, sobre a importância de estarem sendo valorizados, na pesquisa,
aspectos de avaliação não formal do curso de medicina. O percentual de questionários
devolvidos foi superior a 90% e correspondeu a 77% do total de estudantes matriculados nos
períodos avaliados. Isto permite afirmar que a amostra é representativa do universo de
estudantes avaliados.
O menor número de estudantes no nono e décimo períodos, 105 (63,6%) e 102 (65,0%)
questionários respondidos respectivamente, pode ser justificado por menor comparecimento e
atrasos para as aulas teóricas. Estudantes que chegaram atrasados perderam o tempo dado
pelo professor para a pesquisa e não participaram do estudo. A aplicação dos questionários
para grupos menores, nos demais períodos, também facilitou o controle da sua devolução,
permitindo obter maior percentual de questionários respondidos nos demais períodos.
88
A análise dos dados do questionário sócio-demográfico, embora não constitua o
objetivo principal desta pesquisa, merece algumas considerações. A aceitação da pesquisa
com as discussões que ela acarretou durante a aplicação dos questionários, principalmente
entre as turmas mais adiantadas no curso foi muito interessante. A necessidade de dar maior
ênfase aos aspectos éticos ao longo do curso foi muito comentada pelos estudantes e embora
não esteja documentada, pois fez parte das conversas informais enquanto a pesquisadora
aguardava as respostas do questionários, merece ser mencionada. O perfil do estudante de
medicina não foi diferente daquele encontrado por Ferreira et al (81) com relação à renda
familiar, escolaridade dos pais e gênero entre estudantes do quinto e décimo segundo
períodos da FM-UFMG em 1997.
Em relação à idade, chama atenção a faixa etária dos estudantes, a grande maioria
deles muito jovem, em fase ainda de formação e consolidação de valores morais. Esse
aspecto é preocupante, pois exige o professor-educador mencionado por vários autores ( 9,20,
24,34,77) e o professor de medicina nem sempre se encontra preparado adequadamente para
essa tarefa. A dificuldade em intervir frente a atitudes inadequadas quanto a aspectos éticos e
de relação com o paciente é descrita por esses autores. No Brasil, Taquette et al (35),
encontraram opinião semelhante entre os estudantes dos dois últimos anos de medicina. A
maioria dos professores das escolas médicas brasileiras, e também da UFMG, são médicos ou
pesquisadores que ensinam medicina e que, mesmo tendo doutorado, pouco estudaram ou
estudam sobre ensino em geral ou ensino médico, em particular, uma vez que são mestres ou
doutores em medicina ou em ciências básicas. Embora haja exceções, o que se espera é que,
com este perfil, estejam pouco preparados para exercer a função de educadores e esse fato
torna o currículo oculto muito mais importante na formação do estudante do que já seria
esperado. Uma das propostas do Processo de Desenvolvimento Curricular (1), já citado, era
89
exatamente a qualificação do docente e, com exceção de algumas intervenções esporádicas
com participação de número limitado de docentes, ela praticamente não ocorreu.
Do total de 738 estudantes, 37% informaram participar de iniciação científica, com
aumento do envolvimento em atividades de pesquisa no decorrer do curso. Considerando que
o aprendizado do método científico é de grande valor para o exercício da profissão médica,
este é um dado significativo para a escola, mas há que se refletir sobre ele. Sem dúvida há
estudantes interessados genuinamente em pesquisa, mas o reconhecimento, desde o ano 1999,
de atividade de iniciação científica como atividade geradora de crédito dentro do processo de
flexibilização curricular na FM-UFMG (79) pode ser um dos fatores que favoreceu o número
de estudantes envolvidos com essas atividades. A exigência de publicações ou de trabalhos
apresentados em congressos nas seleções para residência médica é outro fator, talvez ainda
mais importante. É inegável o ganho que o estudante pode ter ao participar de um projeto de
pesquisa, mas é necessário ter maior controle sobre as atividades desenvolvidas pelo estudante
nos projetos e se elas não estão sendo realizadas em detrimento das atividades formais do
curso. É preocupante quando alguns estudantes solicitam o reconhecimento de créditos em
três atividades diferentes no mesmo ano, além de freqüentar 32 horas de aulas semanais. A
experiência de atuação na Comissão de Flexibilização Curricular do Colegiado, desde a sua
criação, revela que todos os anos a Comissão tem que negar a revalidação de créditos de
alguns estudantes pois, pela resolução do Colegiado citada acima, apenas uma atividade é
reconhecida por estudante no período de um ano.
Detectou-se neste estudo aumento dos estágios extracurriculares no decorrer do curso
e no décimo e décimo segundo períodos, 94% dos estudantes informaram realizá-los. Chama
atenção o fato de, no início do sétimo período, 79% dos estudantes participarem de estágios
extracurriculares, fazendo-o muitas vezes em horários de atividades do currículo formal.
Embora o Colegiado de Curso de Medicina tenha conhecimento da maioria desses estágios,
90
não tem um controle sobre eles e não há nenhuma maneira de avaliá-los, pois eles não são
reconhecidos no histórico escolar do aluno para concessão de créditos. A busca do estágio,
principalmente nos períodos mais iniciais do ciclo profissional, pode resultar de insegurança
do estudante com relação ao atendimento de urgência e ao tratamento de pacientes graves e
hospitalizados. No currículo formal, o internato de urgência só acontece no décimo período e
os estágios de enfermaria no sexto ano (86). Como parte do currículo oculto, muito
valorizado por vários pesquisadores (6, 32), ainda há professores na Faculdade que
consideram que o ensino médico deveria ocorrer à beira do leito, em enfermarias e não em
ambulatórios, pois segundo eles lá é que as doenças existem, mantendo uma visão
estritamente biomédica para o ensino médico e contribuindo com isto para a insegurança do
estudante. Por outro lado, os concursos para residência valorizam a realização de estágios na
pontuação do currículo, do mesmo modo que a iniciação científica, conforme pode ser visto
nos editais de vários hospitais. Ainda em relação aos estágios, alguns são remunerados e
muitos estudantes os procuram também por isto.
Em relação à especialidade pretendida após a formatura, entre os estudantes que
fizeram essa escolha, 15,3% desejam fazer clínica médica em um total de 24,7 % que
pretendem fazer especialidades de atenção básica. Quando se analisa apenas o décimo
segundo período, 14% ainda não sabem que especialidade fazer e dos que sabem 33,3%
pretendem fazer especialidades de atenção básica, com 23,2 % do total querendo fazer
clínica médica. A clínica médica é, hoje, considerada pré-requisito para grande número de
especialidades, e isso talvez comporte uma discussão interessante que foge ao âmbito deste
trabalho. Face ao grande número de médicos formados, a exigência de dois anos de clínica
médica poderia ser uma forma de retardar o ingresso de especialistas no mercado, mas poderia
ser, por outro lado, uma forma de complementação do curso de medicina, que não estaria
formando o médico apto a exercer a profissão. O percentual de estudantes que deseja ser
91
generalista ou médico de família é ainda muito pequeno na amostra total (1%), a despeito de o
Programa de Saúde da Família (PSF) representar, hoje, uma das principais ofertas de emprego
público para os médicos, contratando recém-formados sem residência médica. A criação de
um plano de carreira para o PSF é apontada como prioritária pelos médicos, em pesquisa, já
citada, realizada pelo Conselho Federal de Medicina com os médicos brasileiros. Para estes a
garantia de continuidade do PSF, com menor dependência da gestão política municipal e com
valorização da especialização em saúde da família, poderia tornar a opção pela medicina geral
mais atraente e melhorar a eficácia do programa de modo a não se constituir em um paliativo
a mais para a saúde da população (84). Enquanto isto não acontece, a medicina especializada
ainda confere mais status tanto para os leigos quanto entre os próprios médicos e dá mais
segurança, pois se acredita ser mais fácil manter-se atualizado em uma parte do
conhecimento médico do que na sua totalidade. Além disso, a maioria dos estudantes sente-se
insegura para assumir isoladamente o trabalho pr
92
estudo, permitindo a comparação dos dados obtidos com aqueles encontrados em outros
países, em estudos semelhantes. Aspectos relacionados à influência cultural na relação
médico-paciente puderam ser levantados e podem servir de objeto para outras pesquisas. A
generalização dos resultados para estudantes de outras Faculdades de Medicina não pode ser
feita, mas investigações sobre interferência do currículo na atitude dos estudantes poderão ser
realizadas através de estudos em outras escolas médicas do Brasil, principalmente em Minas
Gerais ou no Sudeste. Há ainda a possibilidade de acompanhar uma das turmas desde o início
do curso, em estudo longitudinal, para verificar como a atitude se modifica ao longo do curso
de medicina, com melhor avaliação de fatores associados a essa mudança. Aprofundamento
da investigação, inclusive com uso de metodologia qualitativa para procurar entender a
diferença de gênero nos períodos iniciais e a forma como evolui a atitude frente à relação
médico-paciente para estudantes homens e mulheres, pode levar ao entendimento de uma
questão que ainda permanece em aberto, mesmo na literatura internacional. A associação da
atitude a respeito da relação médico-paciente com a especialidade, inclusive considerando o
aspecto de gênero, com médico-residentes ou mesmo no âmbito do PSF seria também um
objeto de estudo interessante.
O estudo do comportamento do estudante a respeito da relação médico-paciente ao
longo do curso, para avaliar se o estudante apresenta comportamento mais centrado no
paciente ao seu final, é desejável e demanda outras metodologias. O fato dos resultados
contrariarem a hipótese nula do trabalho poderia significar que o comportamento não
corresponde à atitude. A atitude estaria refletindo muito mais o que se considera
politicamente correto e deveria ser praticado do que o que realmente se pratica.
Neste contexto é interessante mencionar que há preocupação crescente dos órgãos de classe
em valorizar a relação médico-paciente, o que pode ser comprovado pelo livro sobre relação
93
médico-paciente que foi distribuído, como presente aos médicos de Minas Gerais, pelo
Conselho Regional de Medicina, no último dia do médico.
Finalizando, atitudes mais centradas no paciente precisam ser incorporadas pelos
médicos e as escolas médicas precisam assumir o seu papel nesta discussão, pois relação
médico-paciente não pode ser algo que se aprende com o tempo de exercício profissional.
Apesar dos resultados favoráveis da FM-UFMG, quando se analisam os números obtidos
nesta pesquisa, a evolução da atitude para mais centrada no paciente é muito pequena e
restrita ao estudantes masculinos. Ainda há muito para ser feito no sentido de permitir ao
paciente passar de objeto a sujeito na prática médica, e isto demanda mudanças significativas
na maneira de se ensinar e praticar a medicina.
O momento atual, com a proposta de uma reestruturação curricular, é propício para a
discussão desse aspecto e de como esse tema deverá ser incluído no currículo da faculdade.
94
CAPÍTULO 7
CONCLUSÃO
95
7 CONCLUSÕES
1- Os estudantes de medicina da UFMG apresentaram atitudes mais centradas
no paciente ao final do curso, quando comparadas às atitudes no seu início e
as estudantes não apresentaram mudanças nas suas atitudes a respeito da
relação médico-paciente. Estes achados contrariaram a hipótese nula deste
trabalho.
2- A atitude a respeito da relação - médico paciente não mostrou variação
durante o ciclo básico e, após o início do ciclo profissional, a atitude dos
estudantes foi mais centrada no paciente em todos os momentos de avaliação,
exceto no início do décimo período. Este achado não pôde ser explicado
com nova aplicação da escala PPOS para a mesma turma no décimo
segundo período em agosto de 2005.
3- As mulheres iniciaram o curso de medicina com atitudes mais centradas no
paciente que os homens, mas essa diferença diminuiu no seu decorrer e
deixou de existir a partir do nono período.
4- Renda familiar elevada esteve associada com atitudes menos centradas no
paciente.
96
5- A opção por especialidades de atenção básica, após a formatura, esteve
associada com atitudes mais centradas no paciente.
97
CAPÍTULO 8
PROPOSIÇÕES
98
8 PROPOSIÇÕES
8.1 Proposições para estudos Futuros
Os resultados deste trabalho nos propõe algumas questões que poderão ser objeto de
estudos futuros:
- O comportamento do estudante a respeito da relação médico-paciente corresponde à
sua atitude?
- Quais os motivos para evolução diferente de atitudes das estudantes em relação à
dos estudantes?
- A atitude mais centrada no paciente entre os estudantes da UFMG, quando
comparada a de estudantes norte-americanos, seria resultante de aspectos culturais, da
utilização de escala traduzida ou do currículo?
- Qual a explicação para atitudes menos centradas no paciente entre estudantes de
renda mais alta?
- A atitude mais centrada no paciente entre os estudantes que fazem opção por
especialidades de atenção básica permanece após o início do exercício profissional nestas
especialidades?
- A atitude a respeito da relação médico-paciente varia significativamente com o
momento do curso ou muda de forma lenta e contínua, permanecendo estável após estas
mudanças? Para avaliar isto seria necessário estudo longitudinal.
- O que pensam os professores a respeito da relação médico-paciente e da relação
professor-aluno?
8.2 Proposições para reflexão sobre mudanças curriculares
Considerando a discussão sobre reforma curricular atualmente em andamento na Faculdade
99
de Medicina da UFMG, alguns aspectos para reflexão merecem ser considerados:
- A atitude inalterada a respeito da relação médico-paciente no ciclo básico seria
decorrente da dissociação básico-profisssional? A introdução de outras formas de pensar, que
não o científico-biológico apenas, poderia interferir nesta atitude? A mudança no vestibular,
caracterizando o curso de medicina como da área de humanas, além da biológica, poderia
interferir positivamente?
- A abordagem do paciente a partir da sua história de vida e não da história da
moléstia atual, como hoje ocorre na Semiologia, é possível? Além da reestruturação do
prontuário, o que mais poderá ser feito? Como preparar o professor para esta abordagem?
- Assistência X Ensino: Como colocar para professores e estudantes a
interdependência entre assistência e ensino em um currículo docente-assistencial?
- Necessidade de avaliação de competências incluindo atitudes, habilidades e
comportamento além dos aspectos cognitivos, priorizando avaliação formativa. A importância
da formação do professor para que isto aconteça de fato para todos os estudantes.
- Procurar conhecer e entender os elementos do currículo oculto que atuam na
Faculdade de Medicina, tanto os internos como os externos. Apesar do currículo priorizar a
formação geral do médico, só um estudante em 107 formandos deseja fazer medicina de
família. Efeito do currículo atual ou de fatores relacionados ao currículo oculto? Mudanças
curriculares podem interferir nisto? Se sim, quais?
- Atitudes e comportamentos devem ser trabalhados ao longo do curso. Deixar isto a
cargo de cada professor, permeando as disciplinas, ou explicitar em algum momento a sua
importância, de modo a atingir todos os estudantes? A avaliação levada a sério pode ser uma
maneira de fazê-lo?
100
CAPÍTULO 9
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
101
9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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de desenvolvimento curricular em educação médica na Universidade Federal de Minas
Gerais. Belo Horizonte; 1976.
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06/99. Regulamenta as atividades acadêmicas curriculares de iniciação à pesquisa, à
extensão e à docência, dando início a implantação do processo de flexibilização do
curso de medicina. Belo Horizonte; 18/11/1999
80. Figueiredo LMH. Depois que forma muda: estudo da relação médico-paciente no
âmbito da prática docente-assistencial [dissertação]. Belo Horizonte. Faculdade de
Educação da UFMG; 1992.
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http://www.medicina.ufmg.br/coleg/grade htm. Acesso em 01/11/2005
107
ANEXOS
108
Anexo I
PPOS- Escala original em inglês
Patient-Practitioner Orientation Scale
The statements below refer to beliefs that people might have concerning doctors, patients,
and medical care. Read each item and then blacken in the circle to indicate how much you
agree or disagree with each.
Strong- Moder- Slight- Slight- Moder- Strong-
h each.
109
16. It is not that important to know a patient’s culture O O O O O O
and background in order to treat the person’s illness.
17. Humor is a major ingredient in the doctor’s treatment O O O O O O
of the patient.
18. When patients look up medical information on their O O O O O O
own, this usually confuses more than it helps.
110
Anexo II
Escala PPOS traduzida
Os itens abaixo se referem a crenças existentes em relação a médicos, pacientes e o exercício
da medicina. Leia-os e assinale em uma escala de 6 a 1, sua opinião sobre cada um deles.
O número 6 da escala indica discordância total com a afirmativa e o número 1 indica
concordância total.
Discordo Concordo
totalmente totalmente
6 5 4 3 2 1
1- Cabe ao médico decidir o que será
conversado durante a consulta. ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
2- A atenção à saúde mais impessoal nos ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
dias atuais é um pequeno preço a pagar
pelos avanços alcançados pela medicina.
3-A parte mais importante da consulta ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
médica padrão é o exame físico.
4- Freqüentemente, é melhor para o paciente ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
que ele não tenha uma explicação detalha-
da sobre sua condição clínica.
5- O paciente deve confiar no conhecimento do ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
seu médico e não buscar informações sobre
suas condições de saúde por conta própria.
6 -Quando o médico faz muitas perguntas sobre ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
os aspectos psicossociais da vida do paciente
isto é intromissão em problemas pessoais
7- Se o médico é realmente bom de diagnóstico ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
e tratamento, a forma como ele se relaciona
com o paciente não é tão importante.
8- Muitos pacientes mesmo quando não estão ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
aprendendo nada novo, continuam a fazer
perguntas
9- O paciente deve ser tratado como parceiro ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
do médico, igual em poder e importância.
10- O paciente busca, geralmente, mais ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
tranqüilização que informações
sobre sua saúde.
111
Discordo Concordo
totalmente totalmente
6 5 4 3 2 1
11- Um médico cuja primeira estratégia ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
na consulta é mostrar-se acessível e
receptivo não terá muito sucesso.
12- Se o paciente discorda de seu médico, ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
é sinal que o médico não tem o respeito
e a confiança do paciente.
13-Um tratamento não pode dar certo se estiver ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
em conflito com os hábitos e valores do paciente.
14- A maioria dos pacientes prefere permanecer ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
no consultório médico o menor tempo possível.
15- O paciente deve saber que o médico é quem ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
está no comando.
16- Não é muito importante conhecer as ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
características culturais e psico-sociais do
paciente para tratá-lo.
17- O bom-humor é um ingrediente fundament ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
para que o médico trate o paciente
18- Quando o paciente busca informação médica ( ) ( ) ( ) ( ) ( ) ( )
por conta própria, isto geralmente mais
confunde que ajuda.
112
Anexo III
Questionário sócio-demográfico
Este questionário contém algumas perguntas sobre você, suas atividades e escolhas em
relação à medicina. Assinale a alternativa correta em cada item:
1- Período que você está cursando: ( ) 1º ( ) 5º ( ) 7º ( ) 9º ( ) 12º
2- Idade ...... anos
3- Sexo: ( ) M ( ) F
4- Renda familiar ( ) < 10 SM ( ) 10-20 SM ( ) 20-40 SM ( ) > 40 SM
5- Escolaridade do pai ( ) Fundamental ( ) Médio ( ) Superior
6- Escolaridade da mãe ( ) Fundamental ( ) Médio ( ) Superior
7- Pai ou mãe médicos ( ) Sim ( ) Não
8- Estágios extracurriculares: ( ) Sim ( ) Não
9- Atividade de iniciação científica: ( ) Sim ( ) Não
10- Especialidade pretendida após a formatura:
( ) Acunpuntura
( ) Cirurgia
( ) Clínica Médica
( ) Especialidades cirúrgicas ( exemplos: urologia, ortopedia, etc.).
( ) Especialidades Clínicas ( exemplos- cardiologia, neurologia,
pneumologia, endocrinologia, gastroenterologia, dermatologia, etc.)
( ) Generalista ou Saúde da Família
( ) Ginecologia e obstetrícia
( ) Homeopatia
( ) Medicina Social - incluindo gerenciamento e administração
( ) Métodos Diagnósticos ( Imagenologia, Patologia Clínica, outros)
( ) Pediatria
( ) Psiquiatria
( ) Oftalmologia
( ) Otorrinolaringologia
( ) Outros. Especificar _________________________
( ) Não sei
113
Anexo 4 Parecer do Comitê de Ética
114
Anexo V -a
PATIENT-PRACTITIONER ORIENTATION SCALE (PPOS)
The PPOS can be filled out by patients and practitioners without any modification of the
items or instructions. Information and instructions follow:
Scoring instructions. PPOS scores are reported as mean scores to allow patients’ and
providers’ responses to be used even if one or two scale items are deleted. One Total mean
score can be calculated for the 18 items, and two sub-scale scores can also be calculated. The
Total Score ranges from “patient-centered” to “doctor-” or “disease-centered.” The higher the
score the more patient-centered the orientation. Sub-scale scores for Sharing and Caring can
also be calculated. Sharing scores reflect the extent to which the respondent believes that a)
practitioners and patients should share power and control on a relatively equal basis, and b)
that practitioners should share as much information with their patients as possible. Caring
refers to the extent that respondents believe that a) caring about emotions and good
interpersonal relations is a key aspect of the medical encounter, and b) that practitioners
should care about the patient as a whole person rather than as a medical condition. Items
measuring Sharing are 1, 4, 5, 8, 9, 10, 12, 15, & 18. Caring items are 2, 3, 6 ,7, 11, 13, 14,
16, & 17.
The 6 point scale is laid out from left to right as strongly disagree to strongly agree. Strongly
disagree (far left) is scored 6 and strongly agree (far right) is scored 1. Three items are reverse
worded, and scoring needs to be reversed. These are 9, 13, & 17. Therefore a high score
indicates an orientation toward patient-centeredness.
##########
I thank you for your interest in the scale. However, the scale is copyrighted and I request that
you ask permission before using it.
All questions regarding the scale should be addressed to:
Ed Krupat
Director of Evaluation
Harvard Medical School
115
ANEXO V –b
Autorização para utilização da Escala PPOS
Many thanks for sending me the Portuguese translation of the PPOS.
Of course you have my
permission to use the scale. I wish you well in your research, and I
would ask that you
inform me about your results when the research is completed. If
there is any way that I
can be of assistance in your work, please let me know.
Sincerely,
Ed
[Ocultar Texto Citado]
Doctor Krupat,
We made a contact last november about the PPOS. Now, I have the
final
translation of the PPOS in Portuguese. I am attaching a copy of the
scale and a
copy of a questionnaire that I constructed to apply simultaneously.
I would like to have your permission to use the translated PPOS. The
study is
part of my pos graduate course in Internal Medicine at the Medical
School of
UFMG- Universidade Federal de Minas Gerais (PhD level). The PPOS
will be
applied to 800 medical students from UFMG in five different moments
of the
course. The data analysis will be similar to that used by Haidet et
al. in
their work at Med.Ed.,36(6), 2002.
Thank you for your attention,
Maria Monica Freitas Ribeiro
-------------------------------------------------
This mail sent through IMP:
http://webmail.medicina.ufmg.br/horde/services/go.php?url=http%3A%2F
%2Fhorde.org%2Fimp%2F
Attachment converted: Macintosh HD:Question=rio.doc (WDBN/MSWD)
(0004C94A)
--
Edward Krupat, PhD
Director of Evaluation
Harvard Medical School
383 MEC
260 Longwood Ave.
Boston, MA 02115
617-432-1689 (phone)
116
Anexo VI
FORMULÁRIO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
PROJETO: “Avaliação da atitude dos estudantes da Faculdade de Medicina da UFMG em
relação à assistência aos pacientes no decorrer do curso médico”.
Termo de Esclarecimento e Solicitação de Consentimento aos Estudantes
Pesquisadora responsável: Maria Mônica Freitas Ribeiro
Professora Assistente do Departamento de Clínica Médica,
Faculdade de Medicina da UFMG
Departamento de Clínica Médica- Fone: 3248-9746
Orientador: Professor Carlos Faria Santos Amaral
Professor Adjunto, Departamento de Clínica Médica, Faculdade de
Medicina da UFMG
Departamento de Clínica Médica- Fone: 3248-9746
Prezado (a) estudante:
A atenção ao paciente é parte fundamental do exercício da medicina e tem sido tema
de estudo em todo o mundo. Como professores de medicina desta escola já há alguns anos,
preocupados com ensino médico e, particularmente, com o ensino docente-assistencial,
pareceu-nos importante avaliar como o estudante percebe o papel do paciente e do médico,
como esta percepção evolui no decorrer do curso de medicina e quais fatores poderiam estar
envolvidos nessa percepção. Para isso, estamos aplicando questionários iguais a este para
estudantes de vários períodos do curso médico da Faculdade de Medicina da UFMG. Não há
resposta certa ou errada, é necessário apenas que você responda com sinceridade às questões.
Os questionários não são identificados e este termo de consentimento deve ser
destacado e colocado em envelope próprio separado do questionário, no momento da
devolução, de modo a não permitir identificação das respostas individuais.
Embora seja muito importante para a nossa pesquisa que a maioria dos estudantes
respondam, você tem liberdade de escolher participar ou não, sem que isso lhe traga qualquer
prejuízo. Estes dados serão utilizados apenas para a pesquisa proposta, não podendo servir
para avaliação em qualquer disciplina do curso ou para qualquer outro fim.
Se você tiver qualquer dúvida em qualquer momento da pesquisa, poderá solicitar
esclarecimentos à professora Maria Mônica, no Departamento de Clínica Médica ou no
telefone acima.
Somos gratos pela sua atenção.
Maria Mônica Freitas Ribeiro Carlos Faria Santos Amaral
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