RESUMO
Buscando contribuir para os estudos na área da lusofonia, este trabalho consiste em
uma análise comparativa das Constituições Moçambicanas de 1975 e 1990 à luz da
Análise do Discurso de linha francesa, fundamentando-se especialmente em
Althusser (1998), Maingueneau (1997, 1998, 2002 e 2004) e Charaudeau (2004 e
2006). Além de recorrer a pesquisadores moçambicanos para tratar da problemática
das línguas nacionais e da língua portuguesa em Moçambique – tais como Firmino
(2002), Lopes (2002), Namburete (2006) e Gonçalves (1985, 1996) – este estudo
apresenta um recorte da História de Moçambique, de 1960 (quando se iniciam os
movimentos em prol da liberdade), passando por 1975 (ano da independência), até
os dias atuais. Considerando-se as condições histórico-lingüísticas desse período,
nas quais foram produzidos esses documentos, buscar-se-á verificar a presença de
um discurso político-partidário marcado e identificar a ideologia e a voz (o ethos) que
permeiam esse discurso. Os resultados da análise apontam para a presença de um
discurso que, ao se revestir de uma fôrma jurídica, mascara o seu caráter político e
dissimula a sua posição autoritária da Frente de Libertação Moçambicana
(FRELIMO) e, ao mesmo tempo, constrói e reforça a imagem de “condutora da
libertação” da nação moçambicana frente ao colonialismo português. Com isso,
institucionaliza-se, por meio da Constituição da República Popular de Moçambique –
1975, um discurso antidemocrático e monopartidário e, conseqüentemente, uma
administração imperialista. Essa maneira de administrar promove o surgimento da
Resistência Nacional Moçambicana (RENAMO) que, contrária à atuação do governo
frelimoniano, argumenta a necessidade de eleições multipartidárias e a elaboração
da nova Constituição da República de Moçambique (1990).
Palavras-chave: Lusofonia. Língua portuguesa. Análise do discurso. Ethos.
Moçambique. FRELIMO.