passado e ao futuro é algo que tem lugar no momento presente. O passado e o futuro existem
em nós e formam parte da nossa existência presente.
No enfoque gestáltico, evita-se a dicotomia entre consciente e inconsciente, de
especular sobre o que não está presente. O que emerge neste momento é realmente o que
sucede na interação entre passado e futuro.
A definição de Jung
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sobre o inconsciente se assemelha à descrição da Gestalt no
desenvolvimento da consciência do eu. Ambos realizam a existência de um potencial interno
que está repleto de possibilidades para um desenvolvimento novo e de auto-realização, ambos
estimulam a integração do que já se sabe sobre nós mesmos com o que ainda não se sabe.
Nesta interação, os limites estão dentro de cada um. Dessa forma, o meio é assimilado e
transforma-se na troca que é feita com ele. Constantemente a relação do indivíduo consigo e
com o ambiente é reorganizada. A vida é um processo de adaptações criativas. As pessoas são
responsáveis por suas existências. O que foi alcançado representa aquela forma de ser que a
estrutura consegue chegar a partir da inter-relação o eu e o ambiente. Não se é submisso, nem
desafiador às exigências da sociedade. O homem maduro se caracteriza pelo fato de ele
próprio delimitar seu código de conduta moral. Ele já alcançou um certo grau de
independência interior e faz seus julgamentos baseados em sua autonomia, com
responsabilidade e respeito à alteridade.
Durante a formação de uma figura
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, não se sabe o que surgirá. Surgirá o que está
diante do sujeito, mesclado com lembranças do passado
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. Se o indivíduo estiver preso ao
passado, ele impedirá um contato mais espontâneo com a figura, porém ao crer na Gestalt,
pode-se entregar ao processo para encontrar uma nova forma que toda a situação exige, é
preciso arriscar-se. No encontro humano, em que a experiência estética inaugura a
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Carl Gustav Jung (1875-1961) Psiquiatra Suiço
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Figura é o que emerge como interesse maior contra um fundo ou contexto do campo organismo/ambiente. Figura e
fundo foi um conceito descrito inicialmente por psicólogos gestaltistas como Max Wertheimer (1880 – 1943),
Walfgang Köhler (1887 – 1967), Kurt Kaffka (1886 – 1941) que falaram de figura/fundo em relação ao fenômeno da
percepção e do conhecimento. Para Perls, Hefferline & Goodman, 1997 p. 46 “O processo de formação de
figura/fundo é um processo dinâmico no qual as urgências e recursos do campo progressivamente emprestam suas
forças ao interesse, brilho e potência da figura dominante. Não tem sentido, pois lidar com qualquer comportamento
psicológico fora do seu contexto sócio cultural, biológico e físico”. A Gestalt-terapia integrou a motivação aos fatos da
percepção, diferentemente da psicologia acadêmica da gestalt. (Perls, 1997).
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Quando recordamos, um dado objeto, um rosto ou uma cena, não obtemos uma reprodução exata, mas antes uma
interpretação, uma nova versão reconstruída da original. Podemos evocar nos olhos ou ouvidos de nossa mente,
imagens aproximadas do que experenciamos anteriormente. As imagens evocadas tendem a ser retidas na consciência
apenas de forma passageira e, embora possam parecer boas réplicas, são freqüentemente imprecisas ou incompletas.
(Damásio, 1996 p.128).