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CHRISTIANE AUGUSTO GOMES DA SILVA
A CONDICIONALIDADE E O INTERTEXTO COMO
INSTRUMENTOS DE PERSUAO EM HORÓSCOPOS:
UMA ABORDAGEM SISTÊMICO-FUNCIONAL
MESTRADO EM
LINGÜÍSTICA APLICADA E ESTUDOS DA LINGUAGEM
PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO
SÃO PAULO
2007
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I
BANCA EXAMINADORA
______________________________
______________________________
______________________________
II
Para meu avô...
III
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Profª. Drª. Sumiko Nishitani Ikeda, que me orientou na
pesquisa lingüística e soube apreciar todo o esforço empregado durante o Mestrado,
tomando também para si a responsabilidade pela realização de um bom trabalho.
À Profª. Drª. Marisa Grigoletto e à Profª. Drª. Ângela Brambilla Cavenaghi Themudo
Lessa, por aceitarem participar de minha Banca de Qualificação e pela atenção
dispensada ao meu trabalho, bem como pelos questionamentos e sugestões,
valiosos para esta pesquisa por proporcionarem, além de novos ângulos e
possibilidades, mais consistência e clareza, inclusive em relação a seus objetivos e
abrangência tanto na área de Análise Crítica do Discurso, quanto nas de Lingüística
Aplicada ao Ensino de Línguas e de Gêneros Textuais.
Aos meus mestres do Programa de Pós-Graduação em Lingüística Aplicada e
Estudos da Linguagem, da PUC-SP, que, mesmo oriundos de correntes diversas do
estudo da língua, sempre enfatizaram sua importância no cotidiano do ser humano.
A todos os colegas e mestres que durante este processo foram bastante generosos
e fizeram valiosos comentários durante aulas, seminários e congressos,
corroborando para o encerramento dessa importante fase.
À Associação Alumni, pelo suporte durante todo o processo.
Aos meus pais e a toda a minha família, pelo apoio, colaboração, paciência e
respeito por esse projeto, principalmente ao meu irmão.
Para finalizar, agradeço a todos que direta ou indiretamente contribuíram para a
realização desta dissertação.
IV
RESUMO
Esta pesquisa propõe-se a estudar a linguagem persuasiva dos horóscopos,
coletados online, dos seguintes jornais dos Estados Unidos: Los Angeles Times,
New York Daily News, Chicago Tribune and San Francisco Chronicle (USA). Foram
compilados 2544 horóscopos, durante 53 dias e foram encontradas 943 construções
condicionais. Latour e Woolgar (1979) afirmam que o objetivo da persuasão retórica
é convencer os participantes de que não foram convencidos e Halliday (1985)
aponta que a persuasão tende a ser altamente implícita e a evitar a linguagem
atitudinal normalmente associada ao significado interpessoal. O horóscopo é um
gênero, e, assim, de acordo com a definição de Martin (1984), divide-se em
estágios, cada um com sua finalidade específica. Dos horóscopos examinados,
37,06% apresentam a construção condicional, com conectivo explícito, isto é, com
‘se’ (30,75% dos casos) ou implícito (69,25% dos casos). A prótase ocorre, na
maioria dos casos (71,15%), anteposta à apódose, funcionando, portanto, como
tema, ou seja, determinando o conteúdo do rema. Por outro lado, a linguagem do
horóscopo conta com a modalidade do metadiscurso, através de marcadores
pessoais, hedges e enfatizadores. Além disso, um dos estágios reflete na maioria
dos casos uma verdade, uma crença arraigada na cultura popular, que ajuda a
fazer o leitor recuperar um intertexto, evidentemente, pretendido pelo autor do texto.
A isso, junta-se a noção de enquadres (Bednarek, 2005), responsável pela
coerência do texto, que é, segundo ela, atribuída por parte dos leitores e ouvintes,
focalizando a relação entre texto, contexto, conhecimento de mundo e coerência.
Assim, ao ler um horóscopo, o leitor interage com o texto e a ele o significado
mais coerente de acordo com seu conhecimento de mundo. Esses fatores
concorrem para que, assim condicionados, os leitores não questionem as previsões
do astrólogo e ajam guiados pela força do gênero, e para que o escritor possa
esquivar-se da responsabilidade por eventuais falhas que seus prognósticos
apresentem, fazendo do horóscopo, portanto, um gênero altamente persuasivo. A
esse tipo de persuasão denomina-se implícita, pois ocorre graças a escolhas léxico-
V
ABSTRACT
This paper aims at studying the persuasive language of horoscopes from online
versions of the following American newspapers: Los Angeles Times, New York Daily
News, Chicago Tribune and San Francisco Chronicle. 2544 horoscopes have been
selected during 53 days, and 943 conditional structures have been found. Latour and
Woolgar (1979) state that the objective of rhethoric persuasion is to convince the
participants that they haven’t been convinced, and Halliday (1985) points out that
persuasion tends to be highly implicit and to avoid attitudinal language, which is
usually associated with interpersonal meaning. The horoscope is a text genre, thus,
according to Martin (1984), it can be separated in stages, each of those with its
specific function. 37,06% of the analized horoscopes present some kind of
conditional structure, with the explicit connector, ‘if’ (30,75%), or implicit ones
(69,25%). Protasis occurs, mostly (71,15%), preposed to the apodosis, functioning
as sentence Themes, and, therefore, restricting the content of the Rhemes. The
language of horoscopes also presents elements of metadiscursive modality, such as
person markers, hedges and emphatics. Besides, one of the stages consists of a
kind of truth, a belief that has its roots in polular culture and that helps the reader
rescue a specific intertext that the hosroscope writer previously had in mind. In
addition, there is the theory of frames (Bednarek, 2005), responsible for text
coherence which is attributed, in this case, by the text readers -, that focuses on
the relation among text, context, world knowledge, and coherence. Thus, by reading
a horoscope, the reader interacts with the text, giving it the most coherent meaning
according to their own world knowledge. These factors prepare the readers for the
reading and, therefore, they do not question what has been predicted by the author
and, at the same time, they act impelled by the power of this genre. The same
factors also prevent the horoscope writers from making mistakes regarding their
predictions. All that makes horoscopes a highly pesuasive text genre.This kind of
persuasion is implicit, for it makes use of a combination of specific lexico-
grammatical choices and specific contexts. Regarding the lexico-grammar, this paper
focuses on structures that convey conditional meanings, emphasizing Géis’s (1971)
concept of invited inferences and the relation between conditional structures and
Theme, and conditional meaning. It also refers to Critical Discourse Analysis
(Fairclough, 1992; Fowler, 1991), concerning the social function of language, and to
Halliday’s (1985; 1994) functional model, for the connection between language
structures and social values. People are interested in horoscopes because they
seem to work as a source for advice and entertainment as, according to Spengler
(1969), religious faith has been replaced by other beliefs. The metodology adopted is
interpretative, based on quantitative data.
Key-words: persuasion, intertext, conditional structures, systemic-functional
linguistics, horoscope, text genre, iterpersonal function.
VI
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 1
A astrologia 7
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 13
1.1. A análise crítica do discurso 13
1.2. A lingüística sistêmico-funcional 14
1.2.1. As metafunções 16
1.2.1.1. A metafunção interpessoal 17
1.2.1.1.1. O metadiscurso 18
1.2.1.2. A metafunção textual 21
1.3. A intertextualidade 22
1.4. O gênero 24
1.4.1. O gênero e a coerência 25
1.5. A construção de mundo textual 28
1.6. A avaliação implícita 29
1.7. A condição 32
1.7.1. Inferências convidadas 33
1.7.1.1. Condição perfectiva (CP – perfected conditional) 33
1.7.1.2. Extensão da CP 35
1.7.1.3. Implicatura 36
1.7.2. A construção condicional e o Tema 36
1.7.3. A expressão da condição 40
2. METODOLOGIA 43
2.1. Dados 43
2.2. Procedimentos de análise 43
3. ANÁLISE 47
VII
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS 66
4.1. Discussão dos resultados 69
4.1.1. Significativa ocorrência de estruturas condicionais 69
4.1.1.1. Prótase e apódose 70
4.1.1.2. Significativa ocorrência de estruturas condicionais sem ‘se’ 71
4.1.2. Intertextualidade 72
CONSIDERAÇÕES FINAIS 74
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 77
ÍNDICE DAS FIGURAS
Figura 1 - Prótases antepostas e pospostas 66
Figura 2 - Condicionais com e sem o conectivo ‘se’ 67
Figura 3 – Prótases antepostas com e sem ‘se’ 67
Figura 4 – Prótases pospostas com e sem ‘se’ 68
Figura 5 – Prótases com e sem ‘se’ nas CCs 69
ÍNDICE DAS TABELAS
Tabela 1 – Nº. de horóscopos e ocorrência de condição 66
Tabela 2 - Prótases antepostas e pospostas 66
Tabela 3 - Condicionais com e sem o conectivo ‘se’ 67
Tabela 4 - Prótases com e sem ‘se’ nas CCs 68
ÍNDICE DOS QUADROS
Quadro 1 - Tema e Rema 22
Quadro 2 - Prótase e apódose 32
Quadro 3 - Exemplo de divisão em estágios 44
Quadro 4 - Exemplo de análise de interpessoalidade 45
Quadro 5 - Exemplo de análise de intertexto 46
Quadro 6 - A estrutura genérica – horóscopo (1) 47
Quadro 7 - A estrutura genérica – horóscopo (2) 47
Quadro 8 - A estrutura genérica – horóscopo (3) 48
Quadro 9 - A estrutura genérica – horóscopo (4) 48
VIII
Quadro 10 - A estrutura genérica – horóscopo (5) 49
Quadro 11 - A estrutura genérica – horóscopo (6) 50
Quadro 12 - A estrutura genérica – horóscopo (7) 50
Quadro 13 - A estrutura genérica – horóscopo (8) 51
Quadro 14 - A estrutura genérica – horóscopo (9) 51
Quadro 15 - A estrutura genérica – horóscopo (10) 52
Quadro 16 - A estrutura genérica – horóscopo (11) 52
Quadro 17 - A função interpessoal – horóscopo (1) 53
Quadro 18 - A função interpessoal – horóscopo (2) 54
Quadro 19 - A função interpessoal – horóscopo (3) 54
Quadro 20 - A função interpessoal – horóscopo (4) 55
Quadro 21 - A função interpessoal – horóscopo (5) 55
Quadro 22 - A função interpessoal – horóscopo (6) 56
Quadro 23 - A função interpessoal – horóscopo (7) 57
Quadro 24 - A função interpessoal – horóscopo (8) 57
Quadro 25 - A função interpessoal – horóscopo (9) 58
Quadro 26 - A função interpessoal – horóscopo (10) 58
Quadro 27 - A função interpessoal – horóscopo (11) 59
Quadro 28 - O intertexto
– horóscopo (3) 60
Quadro 29 - O intertexto – horóscopo (5) 61
Quadro 30 - O intertexto – horóscopo (9) 61
Quadro 31 - O intertexto – horóscopo (12) 62
Quadro 32 - O intertexto – horóscopo (13) 62
Quadro 33 - O intertexto – horóscopo (14) 63
Quadro 34 - O intertexto – horóscopo (15) 63
Quadro 35 - O intertexto – horóscopo (16) 64
Quadro 36 - O intertexto – horóscopo (17) 64
Quadro 37 - O intertexto – horóscopo (18) 65
Quadro 38 - O intertexto – horóscopo (19) 65
1
A CONDICIONALIDADE E O INTERTEXTO COMO INSTRUMENTOS DE
PERSUASÃO EM HORÓSCOPOS: UMMIUMMNO5862(O)-8.4623457442(D)1.572742(D)1.572746010Tn4a06 Td[(P)930 0 3S
2
filosofia humana.
E para entender essas ‘coisas’, um caminho é seguir Libânio (2004:7) na sua
definição do ser humano como um “ser-fé”, que busca um Ser maior do que ele
através da história da cultura, e cita Pascal, para quem o homem é mais do que ele
mesmo. Por seu lado, Spengler (1969), falando em nome da filosofia, esclarece que
a religiosa é substituída por outras crenças à medida que o homem se conta
de que a vida não tem sentido após a morte. Talvez por isso, Jung (1998: 70),
psicólogo, ressalta que “em nenhuma época antiga [...] a astrologia esteve tão
difundida e tão apreciada como nos tempos atuais”.
Assim, Barbault (1993: 176), astrólogo, traça uma breve psicanálise da história da
astrologia, relatando a transição de uma astrologia antiga à atual e, embora confirme
o alijamento da astrologia dos meios oficiais, aponta que o horóscopo nada mais é
do que o algoritmo da relação de harmonia entre o indivíduo e o mundo
confrontados num dado momento e lugar.
Para Arroyo (1975), sempre foi necessário que as pessoas tivessem um modelo de
ordem e de crescimento para guiar suas vidas coletivas e para dar significado à sua
experiência individual. Na visão de Jung (2000: 19), isso constitui a necessidade
religiosa do homem ocidental para quem a visão cristã do mundo esmaeceu.
Nesse contexto, é compreensível que o que sentimos sobre o que acontece
depende muito da nossa posição de leitura (Martin, 2003: 172). Assim, segundo
Macken-Horarik (2003: 287), os textos podem ser entendidos como naturalizações
de posições de leitura para um leitor ‘ideal’, e se pudermos acessar essa posição
através de etnografia apropriada, então estaremos em posição mais forte para
conseguir acordo sobre avaliações implícitas lendo de uma posição naturalizada
desse ideal. Por outro lado, continua a autora, a avaliação, que em última instância
tem a função de levar à persuasão, é realizada prosodicamente, de tal forma que as
realizações diretas tendem a colorir o discurso e assim fornecer alguma confirmação
das avaliações implícitas.
Ligada a essas considerações, Macken-Horarik, mencionando o trabalho de Bakhtin,
3
que conscientizou os lingüistas para o caráter profundamente ‘endereçador’ dos
textos tratados como monológicos, fala em textos que ensinam implicitamente, em
especial itens de conteúdo de certos valores éticos, que assim engajam os leitores
no processo da leitura (286).
O trabalho, como uma resposta em diálogo, orienta-se em direção à resposta do outro
(outros), em direção à sua compreensão responsiva ativa, que pode tomar diversas formas:
influência educacional dos leitores, persuasão de tema, respostas críticas, influência em
seguidores e sucessores, etc ([Bakhtin 1953 f [1986]: 76).
Bakhtin destaca a omissão relativa das funções comunicativas da linguagem pelos
ramos principais da lingüística e mais especificamente a omissão do fato de os
textos e os enunciados serem moldados por textos anteriores aos quais eles estão
'respondendo' e por textos subseqüentes que eles 'antecipam'.
Essa função fundamentalmente dialógica do texto foi introduzida por Bakhtin juntamente
com a noção de heteroglossia: que tudo que diferencia as vozes sociais (classes, gêneros,
movimentos, épocas, pontos de vista) de uma comunidade forma um sistema intertextual no
qual cada um deles é necessariamente ouvido. Bakhtin mostrou que as relações que os
textos constroem juntamente com essas vozes são tanto ideacionais (representativamente
semânticas) quanto axiológicas (orientadas aos valores) (Lemke 1989: 39).
O termo 'intertextualidade', calcado na heteroglossia, trata da reatualização, no
enunciado, dos enunciados de outros, e foi cunhado por Kristeva (1969), no final dos
anos 1960, no contexto de suas influentes apresentações para audiências
ocidentais do trabalho de Bakhtin (1997). O termo, portanto, não é de Bakhtin, mas
o desenvolvimento de uma abordagem intertextual (ou em seus próprios termos,
'translingüística') para a análise de textos era o maior tema de seu trabalho ao longo
de sua carreira acadêmica e estava estreitamente ligado a outras questões
importantes, incluindo sua teoria do gênero.
Dito isso, o fato é que, como se pode verificar facilmente, a crença nos astros tem
sempre seus adeptos, provavelmente porque existe um contexto favorável e porque
os horóscopos convencem. A maioria das pessoas mesmo as que declaram “não
acreditar nessas coisas” - conhece o seu signo do zodíaco, e muitos também
consultam o horóscopo, em especial quando enfrentam situações nebulosas. Talvez
4
esses fatos expliquem o porquê de os horóscopos fazerem parte de diferentes
meios de comunicação, como jornais, revistas e a Internet, o que sugere que haja
uma expectativa do público leitor em relação a esse assunto. Assim, por exemplo,
importantes jornais dos EUA dispõem da sessão de horóscopo: Los Angeles Times,
New York Daily News, Chicago Tribune e San Francisco Chronicle. O mesmo
acontece no Brasil, onde jornais e revistas trazem cotidianamente os prognósticos
do horóscopo.
É fácil perceber que os horóscopos diários, veiculados pelos meios de comunicação
de massa, não são completos, mas apenas aspectos que podem ser generalizados
para um grande número de pessoas que têm em comum o mesmo signo do
zodíaco.
Mas, mesmo que os horóscopos diários disponibilizados pela mídia mundial não
sejam específicos para cada indivíduo, eles parecem cumprir, ainda que
superficialmente, a função que deles se espera, visto que têm seus leitores.
Surge aqui um problema. Notemos que os horóscopos fazem previsões sobre fatos
do porvir, e, notemos que, por isso mesmo, o astrólogo não pode dizer nada sem o
risco de errar. Então, cabe a pergunta: como são feitas as previsões a respeito da
vida das pessoas, sem o risco de falhar nos prognósticos, que seus autores, por
um lado, precisam expor-se a esse risco e, por outro, precisam de alguma forma
evitar errar em seus prognósticos?
Durante a coleta dos horóscopos nos jornais de língua inglesa, acima citados,
percebemos dois fatos lingüísticos que podem estar relacionados à questão da
persuasão: a influência do intertexto e a função da construção condicional,
abundante nos horóscopos.
Faz-se necessário esclarecer que a seleção de corpus em língua inglesa deve-se ao
fato de o ensino de inglês ter sido o grande motivador dessa pesquisa e, portanto,
pretende-se também que ela seja um instrumento para que professores e
estudantes de inglês atentem para as funções e não somente para as estruturas da
língua.
5
Durante a pesquisa de trabalhos feitos na área, constatei que não ainda
trabalhos relacionando a persuasão em textos de horóscopos à construção
condicional. Encontrei, entretanto, trabalhos interessantes como o de Auwera
(1997), sobre a condição perfectiva; o de Fonseca (2004), sobre as comparativas
condicionais independentes no português europeu; o de Thompson e Longacre
(1985), contendo uma distinção básica entre tipos de condicionais que é feita pela
maioria das línguas, os reais e os irreais; o de Decat (1995), que aponta a
significativa ocorrência de cláusulas com inferência de condição no gênero
dissertativo; o de Sweetser (1990), mostrando a existência de condicionais em três
domínios: as de conteúdo, as epistêmicas e de ato de fala e as metalingüísticas,
também chamando a atenção para a ocorrência da contrafatualidade; o de Lechler
(2004), que conclui que não se pode fazer uma distinção clara entre raciocínio e
interpretação na interpretação das condicionais; o de Neves e Braga (1998), que
estuda as construções hipotáticas condicionais, entre outros. Então, com base
nesse panorama, o trabalho procura estabelecer tal conexão.
Portanto, esta dissertação espera responder a duas perguntas:
(a) Qual é a estrutura genérica do horóscopo para não convencer o leitor, mas
também proteger seu autor de possíveis falhas em seus prognósticos?
(b) Que outros recursos contribuem para o horóscopo cumprir as funções citadas em
(a)?
Para tanto, consideramos o horóscopo como constituindo um tipo específico de
gênero discursivo, com seus estágios e finalidades, de acordo com Martin (1984),
mas com uma abordagem mais recente que o considera um tipo de enquadre
(frame) que condiciona, que proporciona coerência ao texto, a sua compreensão
através de determinado viés (Bednarek, 2005).
A pesquisa recorrerá também a estudos na área da análise crítica do discurso,
examinando as propostas de Fowler (1991), que trata da importância da língua, de
como ela refrata a percepção da realidade
e o papel da intertextualidade na
interpretação do corpus estudado. Para tanto, assim como o faz Fowler, a análise
6
apóia-se basicamente na Lingüística Sistêmico-Funcional, de Halliday (1994) e seus
seguidores, enfocando em especial as metafunções interpessoal e textual.
As categorias de análise são a construção condicional e o intertexto, que
conjugados formam uma argumentação de tipo retórico. A argumentação retórica,
segundo
Wästerfors e Holsanova (2005), embora se assemelhe à dedução, usa
silogismos incompletos ou resumidos, os ‘entimemas’. Aqui, uma das premissas é
omitida para efeito de persuasão e brevidade, o que significa que um entimema é
uma conclusão amparada numa única premissa ou justificativa. Assim, a lógica na
retórica está escondida ou suposta e não expressa, e sua meta o é uma verdade
indisputável, mas probabilidades (cf. Grimaldi, 1972: 97, apud Wästerfors e
Holsanova, 2005). No caso dos horóscopos, uma premissa suposta, através da
inferência convidada, como veremos oportunamente.
Esses fatores contribuem para a formatação do ‘leitor ideal’, a que se refere
Macken-Horarik, e ajudam a compreender a realização da persuasão implícita dos
textos do horóscopo.
A relevância da minha investigação deve-se, principalmente, ao fato de que o
horóscopo afeta as relações humanas, que são lidos por uma parcela significativa
da população, que ao buscar algum tipo de solução para seus problemas, sofre a
persuasão exercida por esse gênero. A pesquisa tenta mostrar para o leitor que a
língua não é uma janela límpida, mas um meio de refração e de estruturação, e
como conseqüência, a visão do mundo resultante será necessariamente parcial, que
os fatos, quando expressos pela língua, sofrem uma refração, que o discurso não é
natural (Fowler, 1991: 67).
Esta dissertação organiza-se da seguinte maneira:
Ainda na Introdução será feito um apanhado geral sobre a Astrologia, buscando
relacionar os horóscopos atuais a algum tipo de necessidade que os leitores
possam ter, que, como anteriormente mencionado, os horóscopos são veiculados
porque há público para eles.
Serão apontadas a necessidade de crença por parte do
público leitor, possíveis razões para a popularidade dos horóscopos e seu lugar no
7
mundo ocidental.
No capítulo seguinte, a Fundamentação Teórica, serão apresentadas as áreas nas
quais se apoiou a análise dos horóscopos bem como seus autores de maior
relevância para o trabalho. Tendo como fundamento básico a lingüística sistêmico-
funcional, da qual se origina a análise crítica do discurso, incluímos as noções de
intertextualidade e construção de mundo textual na análise dos horóscopos. Por
outro lado, a questão do gênero, como um enquadre psicológico que direciona o
leitor, além das construções condicionais, foram importantes para a caracterização
da persuasão implícita.
A seguir, na Metodologia, serão apontados o tipo de pesquisa adotado para a
realização do trabalho, o processo de coleta de dados, os procedimentos de análise,
e a caracterização das categorias de análise.
Posteriormente, no capítulo de Análise e Discussão dos Resultados, os horóscopos
serão examinados em sua estrutura genérica, para verificar que estágios genéricos
preponderam nesse discurso, que finalidades eles têm, e quais as escolhas léxico-
gramaticais para efetivar a persuasão com risco mínimo de erro nos prognósticos do
autor.
Nas Considerações Finais, apresentamos um resumo dos achados, em que a
construção condicional tem um papel preponderante no gênero horóscopo, seja
como meio de cautela por parte do seu autor, seja para envolver o leitor.
Finalizamos com as Referências Bibliográficas.
A astrologia
Antes de iniciarmos a fundamentação teórica desta pesquisa, e para entendermos o
contexto em que se situa o horóscopo, vamos examinar como a astrologia é
considerada pela comunidade que respeita o seu estudo. Não pretendemos aqui
estabelecer uma relação de equivalência entre religiões e a astrologia, mas mostrar
que algo inerente ao ser humano que o motiva a buscar respostas em religiões e
8
crenças, o que, provavelmente, também justifica seu interesse pelos horóscopos,
que, segundo Libânio (2004: 52), “a fé antropológica é uma necessidade para o
existir humano”.
Dos estudos mais antigos de astronomia - que datam de 3000 a.C. e visavam tanto
a objetivos práticos
quanto a previsões sobre a vida -, origina-se a astrologia. As
especulações sobre a natureza do Universo devem remontar aos tempos pré-
históricos e, por tal razão, a astronomia é freqüentemente considerada a mais antiga
das ciências
1
. O céu vem sendo usado como mapa, calendário e relógio desde a
Antigüidade, sendo que os mais antigos registros astronômicos, feitos pelos
chineses, babilônios, assírios e egípcios, datam de aproximadamente 3000 a.C.,
época em que o estudo dos astros tinha objetivos práticos, como medir a passagem
do tempo, ou fazer calendários, para prever a melhor época para o plantio e a
colheita, ou objetivos relacionados à astrologia, como fazer previsões do futuro,
pois, por não terem conhecimento das leis da física, os antigos acreditavam que os
deuses do céu tinham o poder da colheita, da chuva e mesmo da vida.
Libânio ainda afirma que o homem é estruturalmente voltado para o mistério e para
a Transcendência.
Após traçar um breve perfil dos momentos de da humanidade,
esclarece que “um terrível cansaço perpassa a modernidade pós-cristã, que corroeu
idéias e valores tradicionais” (8) e aponta que “há busca de realidades místicas que
venham responder à solidão da racionalidade instrumental, ao cálculo frio da
sociedade materialista e consumista” (9) da atualidade. Assim, pode-se dizer que a
busca por algo em que acreditar faz parte da essência humana: “A fé é uma
experiência humana fundamental que se faz entre as pessoas e que se prolonga
para coisas, mistérios e religiões. Crer é a condição de existir num convívio humano
(12). De acordo com ele: “Enquanto a antropológica é uma necessidade para o
existir humano, a fé no divino parece responder ao desejo de mistério inerente ao
ser humano” (52)
Confirmando essa afirmação, em sua psicanálise da história da astrologia, Barbault
mostra que associado à ”propriedade mestra ou o privilégio essencial da ótica
1
http://astro.if.ufrgs.br/antiga/antiga.htm
9
astrológica está o fato de que “o mapa do céu de nascimento é o documento-
testemunha praticamente o individualizado quanto a carteira de identidade: cada
indivíduo tem um "tema" que lhe é próprio e que difere das figuras celestes dos outros”.
Ele segue dizendo que esse horóscopo é o hieróglifo das relações, o qual liga um lugar
dado, em um momento dado, com os elementos do sistema solar”.
Segundo Barbault, os diagnósticos e prognósticos astrológicos contribuem para o
conhecimento da pessoa: “trata-se, para o intérprete, de traduzir a significação das
forças profundas do ser e estabelecer um quadro de seu mundo interior, a fim de
ajudá-lo a encontrar o caminho de seu desenvolvimento. Tal análise permite dar a
cada um uma consciência mais aguda de si mesmo, de suas possibilidades e de
seus limites” (206).
Stephen Arroyo (1975) refere-se à astrologia como uma mitologia que pode ser
usada conscientemente: “pode ser usada como um recurso para reunir o homem ao
seu interior, à natureza e ao processo evolutivo do universo” (45). Além disso,
corrobora com os dizeres de Barbault ao reforçar a necessidade da linguagem
astrológica para a descrição da experiência e singularidade do ser humano, útil e
compreensivelmente, e também como fonte de rmulas e combinações
incomparáveis, de qualidades arquetípicas, tornando-a um instrumento psicológico
ideal. Para ele, a mitologia ênfase às manifestações culturais dos arquétipos; a
astrologia utiliza os princípios arquetípicos essenciais como sua linguagem, para
compreender as forças e as configurações fundamentais presentes tanto na vida
individual quanto na cultural e, portanto, “... a astrologia pode ser vista como a
estrutura mitológica mais compreensível que já surgiu na cultura humana” (44).
Sobre os arquétipos, Jung (2000: 53) os define como “a existência de determinadas
formas na psique, que estão presentes em todo tempo e em todo lugar”, e aponta
que o inconsciente coletivo é o conteúdo constituído de arquétipos.
Arroyo continua relacionando o renascimento atual da astrologia ao fato de a cultura
ocidental não ter qualquer mitologia viável para energizá-la, para colo-la em
contato com uma realidade maior. Para ele, sempre foi necessário que as pessoas
tivessem um modelo de ordem e de crescimento para guiar suas vidas coletivas e
10
para dar significado à sua experiência individual. Na visão de Jung (2000), isso constitui a
necessidade religiosa do homem ocidental para quem a visão cristã do mundo esmaeceu.
É, eno, nesse contexto, que Jung afirma que “em nenhuma época antiga [...] a
astrologia esteve tão difundida e tão apreciada como nos tempos atuais”. Para Jung:
A fé não exclui a razão na qual reside a maior força do ser humano. Nossa teme a
ciência e também a psicologia, e desvia o olhar da realidade fundamental do numinoso
2
que sempre guia o destino dos homens. (1997: 254)
Com a evolução da consciência do homem e conseqüente evolução de seus mitos,
segundo Stephen Arroyo, muda tamm o modo como o homem se relaciona com suas
religiões e deuses e também com a astrologia, já que ainda existe a necessidade que o
homem tem dela, a despeito de todas as tentativas para racionalizá-la fora da
existência. Para ele, a astrologia pode ser vista como uma mitologia que pode ser
usada conscientemente, visto que o ocidental contemporâneo evoluiu a ponto de
não se contentar em viver inconscientemente, de acordo com mitos obsoletos,
dogmas rígidos ou tradições arcaicas. Entretanto, diz que, simultaneamente, esse
homem perdeu o contato com as bases arquetípicas do seu ser, as quais são fonte
de alimentação e sustentação espiritual, e sugere, portanto, o uso da astrologia
como um recurso para reunir o homem ao seu eu interior, à natureza e ao processo
evolutivo do universo.
Ainda no âmbito da necessidade religiosa, o filósofo e historiador Oswald Spengler
(1969) esclarece que a religiosa é substituída por outras crenças à medida que o
homem se conta de que a vida não tem sentido após a morte. Ele afirma que a
vida de hoje está na ciência e que a evolução humana é concebida como resultado
de forças e estímulos de fora, e não do desejo e vontade interiores, ao mesmo
tempo em que define ciência como “o que o homem é; o homem a cria à sua
imagem, do mesmo modo que criou Deus” (94). Para ele, tal fato é um símbolo de
decadência, de fraqueza na vontade da raça humana e do indivíduo, enquanto os
2 Segundo o Dicionário Crítico de Análise Jungiana (http://www.rubedo.psc.br/dicjung/verbetes/numinoso.htm), nas palavras do prórpio Jung, numinoso
seria “uma instância ou efeito dinâmicos não causados por um ato arbitrário da vontade. Pelo contrário, ele arrebata e controla o sujeito humano, que é
sempre antes sua vítima que seu criador. O numinoso – indiferentemente quanto a que causa possa ter é uma experiência do sujeito independentemente
de sua vontade. ... O numinoso é tanto uma qualidade pertinente a um objeto visível como a influência de uma presença invisível que causa uma peculiar
alteração da consciência.”
11
homens que considera fortes “crêem mais em destinos do que em causa, crêem
mais no que os impele para a frente no que espicaça por trás, crêem mais numa
força interna do que em estímulos externos” (94). Tal contradição, portanto, que faz
da ciência uma nova fé, proporciona a queda da própria ciência, por apresentar
sinais de degeneração e fraqueza.
Nesse contexto, as classes superiores abandonam a enquanto as inferiores
trazem-na à tona das mais variadas formas. O autor afirma que a religião é a
essência das culturas e que o homem possui o desejo da verdadeira religiosidade
mas que o ateísmo existe nas classes superiores e, segundo ele, “é a necessária
expressão duma espiritualidade que se realizou e exauriu as suas possibilidades
religiosas” (98), daí, sendo incompatível com o desejo da verdadeira religiosidade, e
poderá acabar com uma nação pois quando o homem descobre que nação
significação na vida após a morte ele abandona a esperança, fato que faz com que
a religião deixe de ser a alma da cultura e seja substituída por mitologias. Assim, a
ciência que afasta as pessoas da religião as leva de volta ao mistério e a fé. Para
Freud
:
... a religião não mais possui sobre o povo a mesma influência que costumava ter... E isso
não aconteceu por que suas promessas tenham diminuído, mas porque as pessoas as
acham menos críveis. (1997: 61)
Esse, portanto, é o contexto cultural em que a astrologia ganha força.
Corroborando tais dizeres, Libânio (2004: 7) define o ser humano como um “ser-fé” e
diz que a busca de um Ser maior do que nós atravessa a história da cultura, ao
mesmo tempo em que cita o Princípio Esperança do filósofo marxista Ernest Bloch,
e Pascal, que afirma que o homem é mais do que ele mesmo. O autor afirma que o
homem é estruturalmente voltado para o mistério e para a Transcendência, mas que
para ele, embora pareça a fé ser uma solução, ela é um problema. Após traçar um
breve perfil dos momentos de fé da humanidade, esclarece que “um terrível cansaço
perpassa a modernidade pós-cristã, que corroeu idéias e valores tradicionais” (8) e
aponta que “há busca de realidades místicas que venham responder à solidão da
12
racionalidade instrumental, ao lculo frio da sociedade materialista e consumista”
(9) da atualidade.
Assim, pode-se dizer que a busca por algo em que acreditar faz parte da essência
humana: “A fé é uma experiência humana fundamental que se faz entre as pessoas
e que se prolonga para coisas, mistérios e religiões. Crer é a condição de existir
num convívio humano” (12). De acordo com ele: “Enquanto a fé antropológica é
uma necessidade para o existir humano, a no divino parece responder ao desejo
de mistério inerente ao ser humano.” (52)
13
1. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
Este capítulo apresenta as áreas que forneceram embasamento teórico para a
análise de horóscopos, e está organizado da seguinte maneira. Primeiramente fará
referência à análise crítica do discurso e à lingüística sistêmico-funcional, passando
pelas metafunções interpessoal e textual. Depois, refere-se à intertextualidade, à
noção de gênero - estabelecendo uma relação entre gênero e coerência -, e
também à construção de mundo textual e à avaliação implícita. Finalmente, foca a
condição, abrangendo o conceito de inferências convidadas e seus sub-temas como
condição perfectiva (CP), extensão da CP e implicatura, além de abordar a relação
entre a construção condicional e o Tema e a expressão da condição.
1.1. A análise crítica do discurso
A análise crítica do discurso (ACD) é, segundo Fairclough (1992), uma orientação no
estudo da língua que associa a análise do texto lingüístico a uma teoria social do
funcionamento da língua. Embora Voloshinov tenha estabelecido em fins dos anos
vinte os princípios para uma análise crítica, e Firth tenha sugerido por volta de 1935
que a língua é um modo de uma pessoa se comportar, mas também de fazer os
outros se comportarem, somente na década passada a orientação crítica começou a
se impor.
Todos reconhecem a importância da língua nesse processo de construção, mas na
prática, segundo Fowler (1991), a língua recebe um tratamento relativamente
pequeno. Por isso, é seu objetivo dar à língua a devida importância, não somente
como um instrumento de análise, mas também como um modo de expressar uma
teoria geral da representação.
Para Fowler, a comunicação de eventos e idéias o se de forma neutra, que
sua transmissão ocorre através de meios com características estruturais próprias,
com valores sociais que criam uma perspectiva potencial em relação aos eventos.
Portanto, a forma particular assumida pelo sistema gramatical da língua está
intimamente relacionada às necessidades sociais e pessoais para as quais a língua
14
deve servir. O autor diz que a linguagem é carregada de valores, que estão na
língua, independentemente de quem sejam o autor e o receptor da mensagem.
Além disso, reforça a não-neutralidade da linguagem ao mencionar que a ideologia
está impressa em todo tipo de discurso.
Assim, para Fowler, na medida em que , sempre, valores implicados no uso da
língua, deve ser justificável praticar um tipo de lingüística direcionada para a
compreensão de tais valores. Esse é o ramo que se tornou conhecido como
lingüística crítica.
A análise crítica está interessada no questionamento das relações entre signo,
significado e o contexto socio-histórico, que governam a estrutura semiótica do
discurso, usando um tipo de análise lingüística. Ela procura, estudando detalhes da
estrutura lingüística à luz da situação social e histórica de um texto, trazer para o
nível da consciência os padrões de crenças e valores que estão codificados na
língua e que estão subjacentes à notícia, para quem aceita o discurso como
'natural'. Não é um procedimento que automaticamente produz uma interpretação
'objetiva'.
Fowler aponta o modelo funcional desenvolvido por M. A. K. Halliday (1985; 1994) e
seus colaboradores como o melhor modelo para examinar as conexões entre
estrutura lingüística e valores sociais. A base dessa lingüística reside na forte noção
de ‘função’, isto é: a língua tem a função de construir signifcados, podendo ser
distintamente utilizada para escrever horóscopos, manchetes, saudar, fazer um
testamento, repreender uma criança, e assim por diante.
1.2. A lingüística sistêmico-funcional
A lingüística sistêmico-funcional (LSF
3
) procura desenvolver uma teoria sobre a
língua como um processo social e uma metodologia que permita uma descrição
detalhada e sistemática dos padrões lingüísticos. Segundo Eggins (1994), a
3 Halliday a chamou Gramática Funcional.
15
abordagem da LSF, proposta por Halliday (1985; 1994) e seus colaboradores,
explica o modo como os significados são construídos nas interações lingüísticas do
dia-a-dia. Por isso, requer a análise de produtos autênticos das interações sociais,
levando em conta o contexto cultural e social em que ocorrem a fim de entender a
qualidade dos textos: por que um texto significa o que significa, e por que ele é
avaliado como o é.
Por isso, quando se trata de examinar a conexão entre estrutura lingüística e valores
sociais, o modelo funcional desenvolvido por Halliday (1985; 1994) e seus
pesquisadores tem recebido a acolhida de pesquisadores. Assim é, por exemplo,
com Kitis e Milapides (1996), Lemke (1998), Muntigl (2002), Moore (2006), Coffin e
O’Halloran (2006) e tantos outros. Assim, Fowler (1991), que se confessa
essencialmente eclético em relação à sua atitude aos instrumentos de análise,
afirma que, para ele, a LSF é o melhor modelo para esse tipo de pesquisa. O seu
ponto teórico principal na análise e esse fato nos interessa de perto - é de que
qualquer aspecto da estrutura lingüística carrega significação ideológica - seleção
lexical, opção sintática, etc. – todos têm sua razão de ser. Há sempre modos
diferentes de dizer a mesma coisa, e esses modos não são alternativas acidentais.
Diferenças em expressão trazem distinções ideológicas (e assim diferenças de
representação).
Há quatro pontos - funcional, semântico, contextual e semiótico - que caracterizam a
abordagem sistêmica como sendo uma abordagem semântico-funcional da língua:
(a) o uso da língua é funcional; (b) a função da língua é construir significados; (c) os
significados sofrem a influência do contexto cultural e social em que são
intercambiados; (d) o processo envolvido no uso da língua é semiótico: processo de
construção do significado através de escolhas.
Para a LSF, portanto, o uso da língua é funcional, e a função da língua é construir
simultaneamente 3 significados ou metafunções: ideacional (experiencial + lógico),
interpessoal e textual. Essa fusão é possível porque a língua possui um nível
intermediário de codificação: a léxico-gramática. É este nível que possibilita à língua
construir três significados concomitantes, que entram no texto através das orações.
Daí porque Halliday dizer que a descrição gramatical é essencial à análise textual.
16
Assim, a LSF é funcional porque tem como meta responder às perguntas:
1. O que fazemos com a língua? (que função tem a língua?)
2. Como a língua está estruturada para ser usada? (como estão estruturados os
textos e as outras unidades lingüísticas para construir significados?)
Além disso, o sistema lingüístico é semiótico porque é constituído por signos
investidos de significado e permite escolhas. O que caracteriza um sistema
semiótico é o fato de que cada escolha no sistema adquire seu significado em
relação a outras escolhas que poderiam ter sido feitas. Tal possibilidade permite ver
a língua como um recurso para construir significados em diferentes contextos.
Por outro lado, os significados sofrem a influência do contexto social, entendido
como (a) contexto cultural ou gênero e contexto situacional ou registro. Alguns fatos
mostram que língua e contexto estão interrelacionados: (a) somos capazes de
deduzir o contexto de um texto (um texto carrega aspectos do contexto em que foi
produzido); (b) somos capazes de predizer a língua através de um contexto; (c) sem
um contexto não somos capazes, em geral, de dizer que significado está sendo
construído. Mas quais feições desse contexto afetam o uso da língua? Para
responder a essa questão, os sistemicistas lançam mão de dois conceitos: registro e
gênero. Destes dois conceitos, enfocaremos o gênero.
1.2.1. As metafunções
A metafunção ideacional representa os eventos nas orações em termos de fazer,
sentir (processamento simbólico) ou ser. A metafunção interpessoal envolve as
relações sociais com respeito à função da oração no diálogo, e referem-se a dar ou
pedir informação ou bens & serviços. Finalmente, a metafunção textual organiza os
significados ideacional e interpessoal de uma oração re-trabalhando quais os
significados que são representados em primeiro ou no final da oração. Na presente
pesquisa, enfocaremos as metafunções interpessoal e textual.
17
1.2.1.1. A metafunção interpessoal
Segundo Halliday (1994), a oração, simultaneamente com sua organização como
mensagem (ideacional/experiencial), está também organizada como um evento
interativo, envolvendo falante, ou escritor, e a audiência. Esta metafunção embasa
uma série de modificações e ampliações que o estudo da inter-relação
produtor/receptor de textos tem experimentado em data recente. Assim, por
exemplo, segundo Thompson e Thetela (1995), talvez seja mais apropriado fazer
uma distinção no interior da metafunção interpessoal, e vê-la como abrangendo
duas funções relacionadas mais relativamente independentes: a pessoal e a
interacional. Por outro lado, numa abordagem que interessa ao meu trabalho,
Lemke (1988 e 1998)
alia essa metafunção à noção de heteroglossia para
representar as afinidades intertextuais que um texto tem em relação a padrões
regulares de discurso da comunidade e mostra como cada texto os instancia, renova
e inter-relaciona para formar um significado único e específico-do-texto.
Na metafunção interpessoal, os tipos fundamentais de papéis de fala, que ficam
subjacentes a todos os demais tipos mais específicos que possam existir, são
apenas dois: (i) dar, e (ii) pedir. Juntamente com essa distinção básica está uma
outra distinção, igualmente fundamental, que se relaciona com a natureza do
produto que está sendo permutado. Este pode ser (a) bens e serviços ou (b)
informação. A função semântica da oração como permuta de informação é uma
proposição; a função semântica da oração como permuta de bens & serviços é uma
proposta.
Para Halliday e Hasan (1976: 26-27), a metafunção interpessoal:
Preocupa-se com as funções social, expressiva e conativa da linguagem, com a expressão
do “ângulo” do falante: suas atitudes e julgamentos, sua codificação da função das relações
na situação e sua motivação em dizer absolutamente qualquer coisa.”4
Para Halliday (1985), a gramática de qualquer língua inclui um componente
interpessoal que serve para realizar essas funções. Neste componente, acima de
18
tudo, são os sistemas gramaticais de mood e modalidade que sinalizam a interação.
O primeiro é definido como o sistema que estabelece relações entre papéis entre
falante e ouvinte, enquanto que a modalidade expressa a avaliação que esse falante
ou ouvinte fazem sobre o conteúdo da mensagem, de acordo com Berry (1975: 66).
Halliday (1985: 163-164) menciona também outros elementos que realizam a
metafunção interpessoal, como os epítetos atitudinais, que são os tradicionais
adjetivos com função de avaliação.
Contudo, outros autores (e.g., Lemke, 1998: 86) notam que esta abordagem tende a
confundir as funções interpessoais e a função do ‘intrometimento’ pessoal. As
expressões modais e atitudinais normalmente expressam a visão do falante sem
diretamente estabelecer as expectativas interacionais como fazem as escolhas de
mood em especial a presença ou ordenamento do sujeito e do finito no interior do
mood(e.g., uma interrogativa espera normalmente uma declarativa como resposta
do interlocutor). Além disso, é possível ver a modalidade, mesmo que expressa por
verbos modais, como se sobrepondo e não como substituindo o tempo primário, pois
os verbos modais estão em geral no tempo presente (eles começam da visão do
falante no momento da fala).
1.2.1.1.1. O metadiscurso
Fuertes-Olivera et al. (2001) tratam da metafunção interpessoal, examinando o
metadiscurso - “aqueles aspectos do texto que se referem explicitamente à
organização do discurso ou o posicionamento do escritor em relação ao conteúdo
ou ao leitor” (Hyland, 1998: 438). Embora eles examinem o metadiscurso em
slogans e títulos, sua proposta pode contribuir para entendermos o funcionamento
dessa metafunção interpessoal na questão da persuasão que domina o discurso dos
horóscopos.
Dizem eles, que, como um construto pragmático central, o metadiscurso “permite ver
como os escritores procuram influenciar a compreensão do leitor a respeito não
4 “...is concerned with the social, expressive and conative functions of language, with expressing the speaker´s ‘angle’: his attitudes and judgments, his
encoding of the role relationships in the situation, and his motive in saying anything at all.”
19
do texto, mas também de sua atitude em relação ao conteúdo e à audiência”
(Hyland, 1998: 438).
Num sentido pragmático, prosseguem, as pessoas usam a língua para alcançar
metas específicas de acordo com dois princípios básicos da linguagem: cooperação
e esforço mínimo. Isso significa que os textos podem ter muitas (e opostas)
interpretações, não somente porque usamos a língua indexicalmente, mas também
porque o que queremos dizer não é o que dizemos. Para alcançar a solidariedade, o
metadiscurso é essencial, pois ele ajuda a organizar as palavras como um texto
coerente, e expressa a personalidade, a credibilidade, do escritor, a sensibilidade
do leitor e a relação com a mensagem. Em outras palavras, para entender a
pragmática da mensagem, precisamos situá-la no seu contexto e gênero
apropriados.
A propaganda moderna, segundo eles, é dirigida a consumidores ‘saturados’, e deve
pressupor a idéia de ‘participação’, assim implicando a predominância de funções
orientadas-para-o-participante. Em outras palavras, o consumo de massa é somente
possível se o produtor expressar uma mensagem persuasiva sob a máscara de
informação, de tal modo que o receptor tem a impressão ilusória de mensagem
referencial.
Nessa linha de raciocínio, a pesquisa da linguagem da propaganda conclui que os
redatores de material de propaganda (copywriters) confiam em certas estratégias
discursivas para superar aquelas dificuldades: (a) uso de padrões regulares de
escolhas textuais; (b) importância de estratégias de saliência, tais como aliteração,
repetição de letras, assonância, mistura de linguagens e soletração imprevista; (c)
preferência por certos tipos de sentença (especialmente perguntas retóricas e
ordens, além de estruturas de sentença, tais como a comparação implícita, elipse,
substituição e orações curtas; (d) uso freqüente de certas relações semânticas
(especialmente homonímia, polissemia e ambigüidade) e associações semânticas;
(e) escolha de linguagem de dialeto e registro, fazendo assim associações entre o
produto e a audiência meta; (f) imitação de conversa informal; (g) importância de
linguagem figurada, especialmente metáfora, sinédoque e metonímia.
Em resumo, essas estratégias discursivas diferentes parecem equilibrar as funções
20
referencial, conativa e poética da linguagem.
As estratégias revelam que os receptores podem exercer um papel ativo na
decodificação da propaganda. Em primeiro lugar, eles podem rejeitar as
propagandas porque sua mensagem não corresponde às suas expectativas, i.e.
falham em encontrar as condições de adequação (Hyland, 1996 apud Fuertes-
Olivera et al. (2001). Segundo, as mensagens podem falhar em endereçar as
condições de aceitabilidade requeridas pelos participantes da interação. Para
superar essa oposição, usa-se o metadiscurso.
A primeira objeção é superada por meio do metadiscurso textual que ajuda os
leitores a processar o texto e interpretá-lo consistentemente com sua compreensão
epistemológica e as expectativas de gênero. A segunda objeção é contornada por
meio do metadiscurso interpessoal que capacita os copywriters a adotar um tipo de
equilíbrio entre informar e persuadir. Por exemplo, títulos e slogans encontram essas
condições graças à intertextualidade.
De acordo com Halliday, a função interpessoal da linguagem possibilita ao
participante comunicar atos com outras pessoas e é realizado por vocativos, opções
de modo e modalidade. Essa função alerta os ouvintes sobre a avaliação e a atitude
do falante em relação à informação proposicional e ao próprio ouvinte. Os autores
citam os seguintes recursos para a realização da função interpessoal: marcadores
pessoais, hedges e enfatizadores, e os horóscopos fazem uso freqüente desses
dois últimos
(1) Marcadores pessoais
Embora as propagandas dirijam-se a milhões de pessoas, elas devem dar a
impressão de se dirigir pessoalmente ao consumidor. Isso se consegue basicamente
pelo uso de pronomes, que ajudam a dar um sentido de solidariedade, pois o
produtor da mensagem é mostrado como membro do grupo alvo.
(2) Hedges (possível, talvez, apenas)
21
Marcam a relutância do escritor em apresentar ou avaliar o conteúdo proposicional
de maneira categórica:
(a) usado para amenizar ou dissimular nosso ponto de vista para torná-lo aceitável
socialmente;
(b) usado para negociar o significado, especialmente em encontro face-a-face.
Os hedges asseguram os receptores de que os escritores não pretendem ameaçar
sua liberdade de ação.
Em slogans e títulos, os modais misturam possibilidade epistêmica com necessidade
epistêmica. Na possibilidade epistêmica, os escritores indicam que eles não sabem
que a proposição é falsa; na necessidade epistêmica, os escritores mostram que,
com base no conhecimento que têm, eles não poderiam aceitar a possibilidade de a
proposição não ser verdadeira. Ou seja, os escritores implicam que sua mensagem
é verdadeira e que assim devem ser considerados com base na sua expertize.
(3) Enfatizadores
A pesquisa da tendência do mercado e do comportamento do consumidor sugere
que a maioria dos consumidores deve receber uma ‘informação’ adicional para
superar um tipo de dilema moral que eles enfrentam quando julgam estar
comprando algo de que não necessitam.
1.2.1.2. A metafunção textual
Para Halliday (1994), o Tema é o ponto-de-partida para a mensagem; é o solo de
onde a oração decola. Assim, parte do significado de qualquer oração depende do
elemento que é escolhido como Tema. uma diferença de significado entre Cinco
centavos é a menor moeda inglesa, em que Cinco centavos é o Tema ('Vou lhe falar
a respeito de uma moeda de cinco centavos'), e A menor moeda inglesa é a de
cinco centavos, em que A menor moeda inglesa é o Tema ('Vou lhe falar a respeito
da menor moeda inglesa'). A diferença pode ser caracterizada como 'temática'; as
22
duas orações diferem na escolha do tema. Glosando-as assim, como 'Vou lhe falar a
respeito de...', podemos sentir que elas são mensagens diferentes.
O Tema não é necessariamente um grupo nominal, como aqueles acima. Pode ser
também um grupo adverbial ou uma frase preposicional, ou uma oração, como no
caso das orações subordinadas antepostas à principal, como uma das que integram
o meu corpus de análise:
Se você resistir, você encontrará seu poder
TEMA REMA
Quadro 1 – Tema e Rema
1.3. A intertextualidade
A intertextualidade é, para a presente pesquisa, mais um pano de fundo que
possibilita a existência de vários fatores que influem na persuasão implícita, do que
propriamente uma categoria de análise. Assim, ela ampara a noção de gênero como
um enquadre estruturas mentais de conhecimento que captam as feições típicas
de uma situação, para garantir a coerência, relacionando texto, contexto,
conhecimento de mundo e coerência; está por trás da construção de mundo textual,
que por sua vez garante o papel da construção condicional uma categoria de
análise do horóscopo – na efetivação da persuasão implícita nesse gênero.
Conforme Fairclough (1992), o termo ‘intertextualidade’ foi cunhado por Kristeva no
final dos anos 1960, e tem base na abordagem intertextual de Bakhtin (1997), ou
nos termos do próprio de Bakhtin, ‘translingüística’. A intertextualidade, segundo
Fairclough, implica uma ênfase sobre a heterogeneidade dos textos e um modo de
análise que ressalta os elementos e as linhas diversos e freqüentemente
contraditórios que contribuem para compor um texto. Os textos diferem na medida
em que seus elementos heterogêneos são integrados, e também na medida em que
sua heterogeneidade é evidente na superfície do texto.
Para Voloshinov (1981), toda comunicação verbal, escrita ou falada, é ‘dialógica’, ou
seja, falar ou escrever é referir-se àquilo que foi dito/escrito antes, e
23
simultaneamente antecipar respostas potenciais ou imaginadas dos leitores ou
ouvintes. Inicia dizendo que aquilo que s falamos é apenas o conteúdo do
discurso, o tema de nossas palavras. Mas o discurso de outrem constitui mais do
que o tema do discurso; ele pode entrar no discurso e na construção sintática “em
pessoa”, como uma unidade integral da construção.
Sabe-se, segundo o autor, que a unidade real da língua, que é realizada na fala, não
é a enunciação monológica individual e isolada, mas a interação de pelo menos
duas enunciações, isto é, o diálogo. Como o receptor experimenta a enunciação de
outrem na sua consciência, que se exprime por meio do discurso interior?
Encontramos justamente nas formas do discurso citado um documento objetivo que
esclarece esse problema. Esse documento, quando sabemos lê-lo, dá-nos
indicações, não sobre os processos subjetivo-psicológicos passageiros e fortuitos
que se passam na “alma” do receptor, mas sobre as tendências sociais estáveis
características da apreensão ativa do discurso de outrem que se manifestam nas
formas da língua, no caso desse trabalho, sob a forma de horóscopos. O
mecanismo desse processo não se situa na alma individual, mas na sociedade, que
escolhe e gramaticaliza – isto é, associa às estruturas gramaticais da língua –
apenas os elementos da apreensão ativa, apreciativa, da enunciação de outrem que
são socialmente pertinentes e constantes e que, por conseqüência, têm seu
fundamento na existência econômica de uma comunidade lingüística dada.
White (2003) propõe uma análise de recursos lingüísticos referentes ao
posicionamento intersubjetivo (que têm sido rotulados de modalidade, polaridade,
evidencialidade, hedging, intensificação, atribuição, concessão e conseqüência).
Inspirando-se na noção de perspectiva dialógica de Bakhtin (1997), ele tenta
mostrar que recursos léxico-gramaticais podem ser reunidos em termos da
semântica discursiva ou retórica, fornecendo meios para o falante posicionar-se em
24
Reforçando o dialogismo de Voloshinov, White
diz que para examinar e descrever
adequadamente a funcionalidade comunicativa dos recursos léxico-gramaticais, é
necessário vê-los como fundamentalmente dialógicos ou interativos. Pelo uso de
palavras como talvez, tem sido afirmado que, naturalmente, eu acho, a voz textual
age, antes de mais nada, para reconhecer, comprometer-se ou alinhar-se com
posições que podem ser alternativas àquilo que está sendo dito no texto. É a
taxonomia que oferece meios para evidenciar como as vozes textuais se engajam
com vozes alternativas e ativamente representam o contexto comunicativo como
caracterizada pela diversidade heteroglóssica.
Em termos amplos, o autor divide os enunciados em dois grupos: heteroglóssicos ou
dialogísticos, nos quais sinal de compromisso com posições alternativas e
também a possibilidade de negociação dos significados, e monoglóssicos,
afirmações não-dialogizadas que não possibilitam posições alternativas (bare
assertions), estes últimos bastante encontradiços no texto do horóscopo.
1.4. O gênero
O texto do horóscopo, como um gênero que é, apresenta estágios, cada um com
sua função. Tais estágios constituem uma das categorias de análise no exame do
horóscopo. Adotaremos aqui a definição de gênero na LSF, devida a Martin (1984).
Mas, quando se fala em gêneros do discurso, não se pode deixar de mencionar
Bakhtin (1997) a quem se atribui a seguinte definição, aceita hoje nos meios
lingüísticos: “gêneros do discurso são tipos relativamente estáveis de enunciados
elaborados por cada esfera de utilização da língua” (279). Segundo ele, incluem
desde o diálogo cotidiano aa exposição científica. Nesse sentido, o horóscopo se
elegeria como um tipo de gênero.
Na LSF, Martin (1984) oferece uma definição mais elaborada: “gênero é uma
atividade, organizada em estágios, orientada para uma finalidade na qual os falantes
se envolvem como membros de uma determinada cultura” (25). Portanto, pode ser
visto tanto quanto um artefato cultural motivado por contexto quanto como tendo (e
25
sendo identificado por) uma estrutura esquemática. Diz ele que grande parte do
choque cultural é de fato choque de gênero. Menos tecnicamente (Martin, 1989) diz
que gêneros são como as coisas são feitas, quando a linguagem é usada para
efetivá-las (248).
Portanto, como membros de uma cultura, temos um conhecimento de como as
pessoas usam a língua para conseguirem diferentes coisas. A teoria do gênero traz
para a consciência esse conhecimento cultural inconsciente, descrevendo como as
pessoas usam a língua para fazer coisas. Martin (1992) sugere que devemos
identificar para um texto completo um macro-gênero, dentro do qual há uma série de
gêneros.
Por outro lado, Hasan
(Halliday e Hasan, 1985) mostra como estruturas
esquemáticas genéricas possuem elementos obrigatórios e, algumas vezes,
opcionais, que podem ser notados de modo linear por meio de declarações
potenciais de estrutura genérica (GSP - generic structure potential statements).
Mas, observa ela, que nem sempre é possível a identificação das etapas de um
gênero.
1.4.1. O gênero e a coerência
Bednarek (2005) relaciona a noção de gênero à de enquadres (frames), aplicadas
ao discurso pelo ouvinte estruturas mentais de conhecimento (mental knowledge
structures) que captam as feições típicas de uma situação que garantem a sua
coerência. Tendo estabelecido uma definição prática de enquadre, ela focaliza a
relação entre texto, contexto, conhecimento de mundo e coerência. Tipos diferentes
de enquadres (lingüísticos e não-lingüísticos) e suas funções de indução de
coerência são discutidos com referência a exemplos autênticos, e mostra-se que a
coerência de textos re(construída) pelo ouvinte é o resultado de uma interação
complexa de contexto lingüístico e conhecimento(frame) não-lingüístico.
Falando em termos amplos, diz a autora, a teoria de enquadre trata do
conhecimento de mundo. Numa primeira definição, um enquadre pode ser
26
considerado uma estrutura mental de conhecimento que capta feições ‘típicas’ do
mundo. Desde a sua concepção, o conceito de enquadre tem interessado
pesquisadores de vários campos e tradições (cf. Tannen, 1993a: 3; 1993b: 15). Ela
prossegue dizendo que os pioneiros vieram da filosofia e da psicologia (cf.
Konerding, 1993:8), mas que seus conceitos foram desenvolvidos e reinterpretados
por pesquisadores da inteligência
artificial (Minsky, 1975; 1977) e da sociologia
(Goffman, 1974, 1981) para nomear apenas alguns campos e autores.
Apesar do fato de não existir uma teoria de enquadre unificada com termos
específicos e definições, a teoria do enquadre tem também, de um modo ou outro,
conseguido aceitação ampla entre os lingüistas, que se concentram nos vários
aspectos do fenômeno do enquadre. Bednarek cita, por exemplo, Raskin (1984) e
Konerding (1993), que estão interessados na lexicografia e a relação entre
enquadres e significado.
Prossegue dizendo que, na verdade, a semântica de enquadre exerce um papel
importante na teoria do enquadre lingüístico. Aponta que The Round Table
Discussion dos semanticistas do enquadre (publicado no Quaderni di Semantica
1985 e 1986) conta entre seus participantes com pesquisadores consagrados como
Fillmore, Hudson, Raskin and Tannen (e.g. Flllmore, 1985; 1986, apud Bednarek,
2005); que o conceito de enquadre tem sido aplicado na análise do discurso (e.g.
Brown e Yule, 1983; Müller, 1984); afirma que Chafe (1977) está primeiramente
preocupado com enquadres e a verbalização, i.e. “aqueles processos pelos quais o
conhecimento não-verbal é transformado em língua” (Chafe, 1977: 41 apud
Bednarek, 2005) e que Shanon (1981) trata dos "indicadores lingüísticos" (Shanon,
1981: 35) de frames.
Em termos amplos, a autora diz que essa teoria trata do conhecimento de mundo e
“pode ser considerado como uma estrutura mental de conhecimento que capta
feições ‘típicas’ do mundo”. Em seu artigo, ela enfatiza a relação entre enquadres e
discurso, preocupando-se com a relação entre enquadre, ouvinte e coerência,
objetivando mostrar que se não há a aplicação de enquadre pelos ouvintes, torna-se
difícil induzir a coerência textual no discurso.
27
Quanto à coerência, a autora a conceitua como uma propriedade não inerente ao
texto, que depende de relações lógicas estabelecidas entre o ouvinte e o texto, ou
seja, ela se refere à extensão pela qual os ouvintes julgam que este texto ‘está
unido’ e constitui um todo unificado.
Bednarek (2005) afirma que a coerência dos textos é (re-)construída pelo
leitor/ouvinte como resultado de uma complexa interação entre (con)texto lingüístico
e conhecimento não-lingüístico enquadres entre os quais estaria o
reconhecimento pelo leitor do gênero a que pertence o texto. A propósito, Vigner
(1988) dizia que reconhecer um gênero é poder regular a leitura sobre um sistema
de expectativas, inscrevê-la numa trajetória previsível, a partir da apreensão de um
certo número de sinais. Antes ainda, Grivel (1973) dizia que cada signo desencadeia
uma lembrança e entra no quadro de uma longa experiência, o que permite saber o
texto antes de percorrê-lo.
considerado tanto um fenômeno cognitivo, por ser uma estrutura que é estocada
na mente, quanto como um conceito lingüístico, atualmente o enquadre é definido
como um fenômeno mental, uma estrutura de conhecimento que não é inata, mas
adquirida através da socialização, ‘construída’ a partir da experiência (da nossa
experiência ou relatos de experiência por outros etc.), e, portanto, é tão dependente
diacronicamente quanto culturalmente.
Pode-se perceber o alcance de da teoria do enquadre no efeito de condicionar o
leitor ideal. Assim, com relação ao horóscopo, julgamos que o leitor uma vez
envolvido pelo enquadre do gênero, estaria inconscientemente submetendo-se aos
ditames desse gênero, e, assim, não se preocuparia em questionar a veracidade
das afirmações ali contidas, que o enquadre lhe proporcionaria a coerência
necessária.
Em outras palavras, o gênero seria um meio de persuasão implícita altamente
eficiente.
28
1.5. A construção de mundo textual
Segundo Downing (2003), o discurso em linhas gerais é “um esforço deliberado e
conjunto por parte do produtor e do receptor para criar um “mundo” dentro do qual
as proposições apresentadas são coerentes e fazem sentido. Citando Semino
(1997, apud Downing, 2003), ela diz que quando lemos, inferimos ativamente um
mundo textual ‘atrás’ do texto, ou seja, ao contexto, ao cenário ou tipo de realidade
que é evocado em nossas mentes durante a leitura e que é referido pelo texto. O
mundo textual não é uma entidade fixa que é percebida da mesma maneira pelos
leitores; de fato, nem garantia de que os rnt
29
contextualmente”. A função do dêitico (aqui, hoje) não tem somente função
ideacional (Aqui está o livro), mas pode ser usada para criar um espaço comum
entre produtor e receptor em que a dêixis refere-se “ao lugar em que o receptor é
convidado a entrar”.
Noções igualmente importantes para a minha pesquisa, citadas por Downing, são as
de - elipse, pressuposição e conhecimento partilhado que contribuem para criar
um tom de conversa, estabelecendo a relação entre as personagens do mundo
fictício e o receptor, baseado na suposição de que quantidade suficiente de
conhecimento partilhado para determinar o sentimento de proximidade, confiança,
informalidade e intimidade. O que não é dito é que é importante, pois reflete o que
as pessoas tomam por aceito (taken for granted), que o horóscopo joga com
referências intertextuais, como veremos.
Em resumo, Downing explica que as escolhas lingüísticas são responsáveis pelos
diversos significados possíveis das coisas e que determinam diferentes pontos de
vista e interpretações da realidade, que refletem certas ideologias e constroem o
senso-comum. À luz desse conceito de visão de mundo, a autora aponta que o
discurso, sempre contextualizado, o se refere apenas a fatores pragmáticos de
escolhas de termos lingüísticos em interação, mas também à maneira como tais
escolhas contribuem para a criação de “mundos mentais” ou construções de
determinadas realidades.
1.6. A avaliação implícita
Macken-Horarik (2003) pesquisa a avaliação em narrativa, mas suas propostas
podem contribuir para o entendimento da persuasão implícita nos horóscopos.
Inicialmente, ela se refere ao trabalho de Mikhail Bakhtin (Bakhtin, 1935[1981],
1953[1986], apud Macken-Horarik, 2003),
que, como vimos, tornou teóricos literários
e, finalmente, lingüistas, mais conscientes da característica profundamente
‘discursiva’ dos chamados textos monológicos. Nessa perspectiva, como uma
resposta em diálogo, orienta-se em direção à resposta do outro (outros), em direção
à sua compreensão responsiva ativa, que pode tomar diversas formas: influência
30
educacional dos leitores, persuasão de tema, respostas críticas influência em
seguidores e sucessores, etc. (Bakhtin 1953 [1986]: 76). Segundo a autora, que
recursos lingüísticos para a construção de emoção e ética são dispostos de
maneiras específicas para co-criar complexos de significados de ordem mais
elevada, ou metarelações, que fazem os leitores adotar atitudes específicas em
relação aos personagens no decorrer de um texto.
Sua pesquisa conecta-se às tentativas dos lingüistas sistêmico-funcionais Jay
Lemke (1989, 1992, 1998, apud Macken-Horarik, 2003) e Paul Thibault (1989, 1991,
apud Macken-Horarik, 2003) no que se refere a enriquecer perspectivas lingüísticas
do significado interpessoal. Lemke ampliou o termo axiologia, de Bakhtin, para
captar a complexa orientação de valores de textos e práticas textuais.
Os textos constróem modelos putativos de seus destinatários e do mundo discursivo de
vozes competidoras, no qual pretendem ser ouvidas. Eles posicionam-se em relação a
interlocutores reais e possíveis e em relação ao que eles mesmos e os outros possam
dizer. Essa função fundamentalmente dialógica do texto foi introduzida por Bakhtin
juntamente com a noção de heteroglossia: que todas as vozes sociais divergentes (classes,
gêneros, movimentos, épocas, pontos de vista) de uma comunidade formam um sistema
intertextual no qual cada um deles é necessariamente ouvido. Ele (ou seja, Bakhtin)
mostrou que as relações que os textos constroem juntamente com essas vozes são tanto
ideacionais (representativamente semânticas) quanto axiológica (orientadas aos valores)
(Lemke 1989: 39).
Em sua pesquisa, há dois aspectos da axiologia textual relevantes a uma explicação
do destinatário da narrativa. Primeiro, o leitor é convidado a uma posição de
solidariedade empático-emocional com, ou, ao menos, compreensão das
motivações de um dado personagem. Segundo, espera-se que o leitor assuma uma
postura de discernimento-julgamento dos valores éticos adotados por um
determinado personagem. Assim, um texto ensina por meio de dois tipos de
subjetividade-intersubjetividade (a capacidade de ‘sentir com’ um personagem) e
supersubjetividade (a capacidade de ‘supervisionar’ um personagem e avaliar suas
ações eticamente).
31
Continuando, Macken-Horarik diz que a estrutura de um texto sugere uma leitura
ideal, um posicionamento a partir do qual personagens e acontecimentos tornam-se
inteligíveis, valores, partilhados e a narrativa, em si, coerente. Como o ‘narrador
implícito’ identificado por Booth (1961, apud Macken-Horarik, 2003) e o ‘leitor-
modelo’ descrito por Eco (1994, apud Macken-Horarik, 2003),
o ‘leitor ideal’ não
pode ser identificado com qualquer das vozes individuais articuladas no texto ou
com os caprichos dos leitores reais ao interagir com o texto. Como nos lembra
Chatman (1978, apud Macken-Horarik, 2003), ‘o leitor ideal é uma posição e o
uma função’. É uma posição idealizada projetada pelo leitor do texto que estabelece
os termos da interação com o leitor e torna posições de sujeitos específicos mais ou
menos prováveis ou ‘preferidas’ (Morley, 1980; Kress 1985; Cranny-Francis, 1990,
apud Macken-Horarik, 2003). O leitor ideal é uma ficção útil, ‘garantindo a
consistência de uma leitura específica sem garantir sua validade em nenhum sentido
absoluto’ (Suleiman and Crosman, 1980: 11, apud Macken-Horarik, 2003).
A seguir, a autora fala da leitura relacional, explicando que esta não é a mesma
coisa que uma leitura precisa. Há um nível de ‘jogo’ ns estratégia de resposta
disponível numa leitura literária. Além disso, a principal corrente de leitura relacional,
que é privilegiada em exames, diferirá de outra que possa seguir uma leitura crítica
(veja Rothery, 1994; Macken-Horarik, 1996).
A autora cita, então, um recente trabalho de Cortazzi e Lixian Jin destaca a
importância de estar atento a vários níveis e contextos de avaliação textual (Cortazzi
e Jin, 2000, apud Macken-Horarik, 2003), que explica de no horóscopo, mesmo que
muitas vozes possam ser ouvidas, poucas serão sancionadas, porque o autor ‘fala
ao’ leitor por meio de ventriloquismo semiótico para garantir essa sanção.
Esses leitores também são sensíveis a síndromes ou complexos de significado
atitudinal e às maneiras em que confirmam, opõem-se a ou transformam outras
escolhas léxico-gramaticais em outros locais do texto. Essas configurações de
escolhas instantaneamente relevantes criam o que Thompson (1998, apud Macken-
Horarik, 2003) denomina ‘ressonância’ uma harmonia de significados que é um
produto de uma combinação de escolhas não identificáveis com qualquer outra
escolha, isoladamente.
32
Outros notam esse fenômeno em seus estudos de avaliação. Veja, por exemplo,
Hunston e Thompson (2000), sobre a complexidade de sua realização em diferentes
discursos e Lemke (1998), sobre a qualidade ‘propagativa’ da avaliação. A esse
respeito embora algumas partes do texto possam ser mais ou menos
interpessoalmente salientes do que outras -, precisamos ver todo o texto como
aberto a e produtor de avaliação, seja ela implícita ou explícita. Embora seja muito
difícil desenvolver uma metalinguagem para o que David Butt chama de ‘padrões
latentes’ do significado textual (Butt, 1988, 1991, apud Macken-Horarik, 2003), isso
é importante se precisamos desenvolver um modelo textual adequado de
posicionamento do leitor.
1.7. A Condição
Em seu trabalho, Ikeda (2002) diz que, segundo Auwera (1997), as construções
condicionais (doravante, CCs) vem sendo pesquisadas na lingüística ocidental
um quarto de século, tendo sido seu estudo iniciado por Bolinger (1952, apud Ikeda,
2002). Só mais recentemente as CCs começaram a ser estudadas em contexto de
uso natural, deixando também o terreno exclusivo do texto escrito.
As CCs são tradicionalmente consideradas como constituídas por duas partes: a
chamada if-clause ou oração subordinada adverbial condicional, e a oração principal
(Allen, 1965; Bechara, 1969). Em lógica, a proposição correspondente à oração
subordinada é chamada prótase e à oração principal, apódose). Veja a divisão, em
Tradicionalmente, prossegue a autora, as construções condicionais o
consideradas como constituídas por duas partes: a chamada if-clause ou oração
subordinada adverbial condicional, e a oração principal (Allen, 1965; Bechara,
1969). Em gica, as proposições correspondentes à oração subordinada e à oração
principal são chamadas, respectivamente, de prótase e apódose.). Por exemplo:
(1) Se ele estiver disposto a ceder e se comprometer, conseguirá relações positivas.
Se estiver disposto a ceder e se
comprometer,
conseguirá relações positivas
33
subordinada adverbial condicional principal
PRÓTASE APÓDOSE
Quadro 2 – Prótase e apódose
Para Dancygier e Sweetser (1996), não se afirma nem a prótase nem a apódose,
mas a relação entre elas. É preditiva e envolve conexão causal ou de capacitação,
como em (1). Uma condicional preditiva estabelece automaticamente um espaço
mental alternativo, onde p não ocorre ('não está disposto a ceder e nem a se
comprometer') e nem q (‘não conseguirá relações positivas').
Dancygier e Sweetser afirmam que uma oração condicional estabelece um espaço
mental, nos termos de Fauconnier (1985; 1994), permitindo que generalizações
sobre ambos os aspectos lógico e pragmático do significado condicional sejam
capturadas, possibilitando a descrição de mundos possíveis. No caso em questão,
esse fato explicaria a ‘inferência convidada’ (Geis, 1971). Em termos de espaço
mental, dizem elas, uma condicional organiza um espaço mental: um modelo parcial
ou local de alguns aspectos de conteúdo mental, possivelmente um modelo de
alguma situação no mundo ou de alguma interação de ato de fala ou algum
processo de raciocínio. Vamos a seguir apresentar a noção de inferência convidada,
já que é ela que torna a construção condicional um veículo para a persuasão
implícita.
1.7.1. Inferências convidadas
1.7.1.1. Condição perfectiva (CP - perfected conditional)
(1) Se John se debruçar na janela, ele cairá.
Geis (1971) diz que quando confrontados com sentenças tais como (I), alunos em
cursos de gica elementar freqüentemente propõem que os exemplos devem ser
formalizados com bicondicionais e não com condicionais ou seja, que (I) deve ser
formalizado como a conjunção de (2) e (3) e não apenas de (2).
(2) L כ F
(3) ~L כ ~F (Se John não se debruçar na janela, ele não cairá.)
34
A proposta é, obviamente, errada: a proposição (2) pode ser verdadeira e a (3),
falsa, se John o se debruçar na janela, mas cair em decorrência de perder o
equilíbrio, por exemplo.
O que está certo sobre a nova proposta dos lógicos é que em várias circunstâncias,
sentenças que têm a forma lógica de (2) são interpretadas, ao menos por muitos
falantes, como se implicassem a verdade de (3). Por exemplo, muitos falantes
considerarão alguém que disser (4) como tendo se comprometido também com as
verdades de (5) e (6).
(4) Se você cortar a grama, lhe darei 5 dólares.
(5) M כ G
(6) ~M כ ~G
Certamente, dadas nossas atitudes no que se refere à troca de dinheiro nossa
sociedade, poderia-se ter a garantia por considerar que se alguém diz (4), age como
se pretendesse ambos (5) e (6). Digamos que (4) promete (5) e convida a inferêcia
de, ou sugere, (6).
Em muitos casos, incluindo os anteriormente mencionados, há uma associação
quase regular entre a forma lógica de uma sentença e a forma da inferência por ela
convidada. Uma declaração geral do princípio funcionando nesse caso é (7):
(7) A sentença da forma X כ Y convida a inferência da forma ~X כ ~Y.
O princípio (7) defende uma conexão entre forma lingüística e uma tendência da
tendência da mente humana de “completar condicionais em bicondicionais”, em
palavras sugeridas por Lauri Karttunen (s/d, apud Geis, 1971). Essa tendência é
manifestada em duas clássicas falácias lógicas. Afirmando o Conseqüente
(concluindo X de X כ Y e Y) e Negando o Antecedente (concluindo ~Y de X כ Y e
~X), bem como em casos como (1) e (4). A grande popularidade dessas falácias e a
facilidade com que o princípio (7) pode confundir o lingüista investigando a
semântica de sentenças condicionais indicam a força dessa tendência.
35
A partir daqui o princípio (7) será referido como condicional perfectiva (CP).
1.7.1.2. Extensão da CP
Vimos que CP é operacional no caso de previsões, como (1), e promessas, como
(4). Isso também se aplica aos casos de ameaças, afirmação que vale por lei (law-
like statement),
comando e condicionais contrafatuais. Um exemplo de ameaça
condicional é:
(8) Se você me incomodar essa noite, não deixarei você ir ao cinema amanhã.
Ele sugere que bom comportamento será recompensado. Um exemplo de afirmação
que vale por lei:
(9) Se você esquentar ferro, ele fica vermelho.
Um exemplo de comando condicional:
(10) Se você vir uma pantera branca, grite "Wasserstoff" três vezes.
(10) sugere silêncio na ausência de panteras brancas. Um exemplo de condicional
contrafatual que não é superficialmente marcada como tal é (11):
(11) Se Chicago fica em Indiana, sou a rainha da Romênia.
Sugere (embora não implique) que se Chicago não ficar em Indiana, então o falante
de (11), de fato, não é a rainha da Romênia.
Um caso notável de CP envolve condicionais contrafatuais marcadas, como em (12):
(12) Se Andrew estivesse aqui, Bárbara estaria feliz.
É natural supor que tanto o antecedente quanto o conseqüente são falsos, que (12)
pressupõe que Andrew não está aqui e que Bárbara é infeliz. Mas, afirma Karttunen,
apenas o antecedente é pressupostamente falso: a falsidade do conseqüente é
36
meramente sugerida, não pressuposta. O que é tão interessante em relação a esse
exemplo é que ilustra o grau em que uma CP pode desviar o analista.
1.7.1.3. Implicatura
Parece, então, ainda segundo Geis, que àquilo que chamamos "inferências
convidadas" constitui uma classe especial de "implicaturas", na terminologia do
filósofo H. Paul Grice, embora sejam claramente distintos das “implicaturas
conversacionais” que são sua principal preocupação. Grice (1975) considera que a
interpretação será dada a um enunciado dentro de um determinado contexto; ele
busca princípios gerais governando os efeitos que os enunciados têm, princípios
associados à natureza do próprio discurso. O princípio de conditional perfection é,
de alguma forma, um princípio que governa os efeitos que os enunciados possuem
- entende-se que as condicionais serão “completadas” a menos que o ouvinte tenha
razões para acreditar que a interação seja falsa mas, de maneira alguma,
podemos vê-la derivada de considerações relacionadas à natureza do ato de fala.
No caso de causa inferida, é no mínimo possível imaginar que o axioma de Grice
seja a explicação do princípio de inferência convidada.
Quanto à associação das inferências convidadas com a forma sintética, não temos
evidência de uma relação direta entre ambas, embora não possamos descartar essa
possibilidade. Parece ser o caso de que uma inferência convidada pode,
historicamente, tornar-se parte da representação semântica no sentido restrito;
então, o desenvolvimento da conjunção since, da língua inglesa, de uma palavra
puramente temporal a um marcador de causalidade pode ser interpretado como uma
mudança de um princípio de inferência convidada associada a since (devido a seu
significado temporal) com um pouco do conteúdo semântico de since.
1.7.2. A construção condicional e o Tema
Para Haiman (1978), as construções condicionais são tópicos, ou, em termos da
lingüística sistêmico-funcional, Temas, constroem espaços mentais e
contextualizam, visto que a informação conhecida, é o pano de fundo para o que
37
se diz. Este fato é importante pois a oração condicional, como diz o nome,
condiciona o leitor a raciocinar dentro dos limites que ela impõe.
Haiman (1978) mostra que as orações condicionais e tópicos são marcados
identicamente em algumas línguas não-relacionadas. Diz ele que este é um fato
surpreendente, que não são geralmente consideradas categorias relacionadas.
Entretanto, se semelhança formal reflete semelhança em significado, elas, de fato,
devem ser relacionadas. Uma revisão de análises de condicionais (na literatura
filosófica) e de tópicos (principalmente em lingüística) revela que, de fato, suas
definições são bastante semelhantes. Além disso, é possível motivar revisões
dessas definições através das quais elas se tornam virtualmente idênticas.
O autor diz que nem lingüistas e nem filósofos sugeriram uma explicação coerente
para condicionais da linguagem comum; a maioria ainda não percebeu que tal tipo
de explicação é possível. gicos, com poucas exceções, admitem que implicações
materiais, definidas como funcionalmente verdadeiras, é uma aproximação muito
pobre do significado de condicionais; e lingüistas dificilmente tentam chegar a tais
definições.
Até que uma definição satisfatória para a categoria exista, o único critério para
identificação de seus supostos membros é a forma superficial comum: no caso das
orações condicionais, a presença, em inglês, de uma conjunção comum se; em
outras línguas, de uma conjunção correspondente, ordem de palavras, desinência
verbal e outros.
A tese deste trabalho é de que as if-clauses em inglês, como representadas nas
sentenças abaixo, compartilhem um mesmo significado. Todas as orações são
tópicos das sentenças em que ocorrem:
a. Se Max vier, nós jogaremos pôquer.
b. Se Max tivesse vindo, nós teríamos jogado pôquer.
c. Se gelo for deixado ao sol, derrete.
d. Mesmo se chover, o jogo continuará.
e. Se você é tão esperto, por que você não é rico?
f. Se você é tão esperto, arrume-se.
38
g. Há comida na geladeira, se você está com fome.
h. Se um fosse um carpinteiro ruim, seria ainda um pior carpinteiro.
i. Ela tem mais de quarenta, se tiver.
Nossas definições de condicionais são principalmente o trabalho dos lógicos.
Nossas definições de tópicos, entretanto, são o trabalho de lingüistas. De modo
surpreendente, tais definições convergem: as definições mais satisfatórias de
condicionais de linguagem comum (como as idéias de Ramsey 1931, Stalnaker
1975, e Ducrot, 1972, 1973, apud Haiman, 1978) aproximam as definições
inteiramente independentes de tópicos surgidas em publicações lingüísticas
recentes (cf. principalmente Chafe, 1976). Condicionais, como tópicos, são dados
que constituem o enquadre de referência em relação a se a oração principal é
verdade (se proposição), ou feliz (se não).
Stalnaker (1975:168-9, apud Haiman, 1978) sugere que uma oração condicional é,
com efeito, uma instrução para ‘incluir o antecedente a seu estoque de
conhecimento e crenças e, então, considerar se a conseqüência é verdade ou não.
Sua crença na condicional deve ser a mesma que sua crença hipotética, sob esta
condição, sobre o conseqüente.’
Haiman compara a definição de oração condicional (1) com a de tópico (2), a seguir:
(1)
Uma oração condicional é (talvez apenas hipoteticamente) uma parte de
conhecimento compartilhado pelo falante e seu ouvinte. Como tal, constitui a
estrutura selecionada para o discurso seguinte.
(2)
O tópico representa uma entidade cuja existência recebe o aval do falante e de sua
audiência. Como tal, constitui a estrutura selecionada para o discurso seguinte.
E conclui que (1) e (2) revelam a definição de categorias idênticas. Diz que:
Ao definir pressuposição como conhecimento compartilhado pelo falante e pelo ouvinte,
mesmo que provisoriamente (já que uma suposição, ou condicional hipotética, é uma
pressuposição provisória), argumento que tópicos, como orações condicionais, são
39
pressuposições de suas sentenças. Mas, superficialmente, ao menos, pressuposição
significa coisas diferentes no caso de orações nominais e sentenças completas. (Haiman,
1978: 585)
Para uma oração nominal, é a EXISTÊNCIA de seu referente que é pressuposta.
(Como suporte para a hipótese de Bach-McCawley sobre a origem de orações
nominais referenciais, podemos notar a observação de Frege de que a existência de
referentes de orações nominais referenciais geralmente constituem pressuposições
de sentenças em que aparecem). Para uma sentença, entretanto, é a VERDADE da
proposição da sentença que é pressuposta.
A validade ou verdade da proposição, entretanto, não é mais do que a existência do
estado de coisas que ela descreve. Então, pressuposições, quer sejam orações
nominais ou sentenças, são redutíveis a pressuposições de existência.
O problema de relevância existe para condicionais não menos que para tópicos, e a
solução é a mesma. Lidando com condicionais, gostaríamos de distinguir entre
sentenças como:
(3)
a. Se minha galinha botasse ovos esta manhã, eu teria feito uma omelete.
b. Se minha galinha botasse ovos esta manhã, a catedral de Colônia cairá amanhã.
Mas como vimos, autoridades recusam-se a fazer tais distinções, baseando-se no
fato de que faze-las seria extralingüístico (mais precisamente, pragmático).
Para ele, citando Rodman (1974, apud Haiman, 1978) lidando com tópicos,
podemos querer distinguir entre estas sentenças:
(4)
a
. Falando em peixe, bacalhau é bom.
b. Falando em peixe, Maria está doente.
Rodman argumenta, como acima, que não devemos. Assim como alguém que ouve
3b vasculha seu cérebro por um apropriado cenário causal, alguém que ouve 4b,
também tentará encontrar alguma conexão entre peixe e a doença de Maria.
40
Mas a mesma lei de conversação invocada por Ducrot (1973, apud Haiman, 1978)
para orações condicionais aplica-se para tópicos em geral. Não o falante
proporcionará mais informação relevante e saliente, mas seu ouvinte também irá
assumir que ele o fez. É por essa razão que ele procurará por uma conexão racional
entre antecedente e conseqüente em 3b, e entre tópico e comentário em 4b. O fato
de que fará isso indica que tópicos em geral, como condicionais em especial, são
selecionados a partir de listas potencialmente infinitas, e são implicitamente
contrastadas com os outros membros destas listas. A base para essa seleção é o
princípio extra-lingüístico da relevância.
1.7.3. A expressão da condição
Por outro lado, Ikeda (2001) refere-se às conjunções subordinativas condicionais.
Cita Gama Kury (1970, apud Ikeda 2001), que apresenta as seguintes conjunções
subordinativas condicionais no português: (introduzindo orações desenvolvidas): se
(caso, sem que = se não, contanto que, salvo se, exceto se, desde que, a menos
que, a não ser que, etc.) e (introduzindo reduzida de infinitivos): a, sem, na hipótese
de, no caso de, etc., além das construções constituindo as reduzidas de gerúndio.
Posteriormente, refere-se também a artigos sobre as CCs em inglês, que apontam if,
since, when.
A autora mostra que seu estudo encontrou construções que expressam
condicionalidade, embora não sejam nem introduzidas pelas tradicionais conjunções
subordinativas condicionais, e nem constituam orações reduzidas. São introduzidas
por: (1) comparativo, (2) senão, (3) assim, (4) toda vez, (5) sem conectivo) e (6)
interrogativo.
(1) Comparativo
A construção comparativa pode estabelecer uma condição, como se no primeiro
trecho sublinhado do seguinte segmento de conversa:
41
A: o problema é a saída quanto mais saída você só vende quando você sai
B: é a saída é
A: se você sai 10 vezes por mês você tem mais chance do que se sair 2 ou 3 vezes
É curioso notar que essa condição é explicitada com a conjunção se no segundo
trecho sublinhado da interação.
(2) Senão
Senão caracteriza uma espécie de prótase resumida (senão resume o que foi dito
por A, isto é: se não trabalharmos dessa maneira ) à qual se acopla a apódose (fica
uma briga).
A: quando receber < > sabe vamos trabalhar dessa maneira porque
B: senão fica uma briga na hora depois pra receber também é
A: fica um rolo desgraçado pra receber e a gente vive disso né? acho que a comissão tem
que ser melhor, discutir daí , que senão , quebra isso quebra aquilo aí não quer assinar.
(3) Assim
Da mesma forma que a explicação acima, assim resume (dentro de 30 dias...) e a
essa prótase resumida se acopla a apódose (ele ganha tempo).
A: se eles comunicarem que a documentação tá ok, temos que marcar que geralmente que
eles querem que advogado né? uma olhada né? ah não tenho tempo de passar hoje
não sei
B: e porque que ele fazendo isso? Dentro dos 30 dias é uma forma que ele tem de ficar
com o dinheiro < > assim ele ganha tempo
(4) Toda vez
Toda vez também pode integrar uma construção condicional. O trecho sublinhado a
seguir equivale a: se sai alguém, o trabalho pára.
A: agora deixa eu só, falando nisso, definir função, esse é o grande problema porque toda
42
a vez que sai alguém a gente pára todo o trabalho que vinha sendo feito e tem que
recomeçar e passar então
(5) Sem conectivo
Nos casos de ocorrência de condicionalidade sem conectivo, a autora afirma que o
contexto supre essa ausência, como no exemplo:
A: cliente que vem do Cr é uma carne de pescoço.
Se o cliente vem do Cr, é uma carne de pescoço
(6) Interrogativo
O seguinte exemplo, embora introduzido por se, apresenta uma peculiaridade e por
isso foi incluído neste rol: ele é enunciado com entonação interrogativa e a apódose
(afirmativa/interrogativa) deve ser entendida como sendo negativa:
A: *eu vou ficar preso 90 dias ou 120 se eu posso pegar uma proposta à vista?
* Se eu posso pegar a proposta à vista, eu NÃO vou ficar preso 90 dias ou 120.
43
2. METODOLOGIA
A metodologia tem cunho interpretativista, com base em dados quantitativos. A
análise procurou relacionar a construção condicional, implícita ou explícita (com
conectivos) com a persuasão nos horóscopos, levando em conta a noção de
intertexto que contribui para tanto para convencer o leitor, quanto para proteger o
escritor dos riscos de prognósticos falhos.
2.1. Dados
Foram analisados textos de horóscopos de 4 diferentes publicações online dos EUA
durante os meses de novembro e dezembro de 2005 e fevereiro de 2006,
totalizando o total de 53 dias. Como foram examinados 48 horóscopos por dia, o
corpus desta pesquisa totalizou 2544 textos. As publicações escolhidas foram Los
Angeles Times, New York Daily News, Chicago Tribune e San Francisco Chronicle,
pois estão entre os 20 jornais de maior circulação nos Estados Unidos, além de
serem periódicos de importantes cidades norte-americanas.
2.2. Procedimentos de análise
Todos os horóscopos foram analisados através das seguintes etapas:
(a) O horóscopo foi analisado como gênero, quando examinamos sua estrutura
genérica ou esquemática, distinguindo os estágios que o compõem, bem como suas
finalidades, conforme Martin (1984). Essa identificação mostra que há variação na
estrutura genérica, ou seja, alguns estágios o mais permanentes que outros, ou
em termos de Halliday e Hasan (1985), estágios opcionais e outros, obrigatórios.
No caso do exemplo 1, abaixo, o horóscopo está dividido em três estágios: prótase,
apódose e contexto; porém, essa divisão nem sempre acontece.
Nessa etapa, verificamos:
44
(a.1.) as CCs, explícitas ou implícitas, isto é, iniciadas ou não pela conjunção ‘se’, na
medida em que a omissão de conectivo explícito pode contribuir para envolver o
leitor de maneira sub-reptícia. Veja exemplo (1):
(a.2.) as CCs e as suas partes constituintes: prótase e apódose. No caso do
exemplo, a condicionalidade é expressa pela justaposição de duas sentenças,
prótase e apódose, sem que haja o conectivo explícito ‘se’. Veja exemplo (1):
Exemplo (1)
Your goal shold be to listen and learn today. You will be able to put new information to good
use sooner than you think. This is a great day to tie up loose ends and to get on with the
things that really matter to you. (New York Daily News, 03-03-06, Libra)
Prótase
Your goal should be to listen and learn today.
Apódose
You will be able to put new information to good
use sooner than you think.
Contexto
This is a great day to tie up loose ends and to
get on with the things that really matter to you.
Quadro 3 - Exemplo de divisão em estágios
Procedeu-se, então, à contagem das CCs, distinguindo-se as iniciadas por prótase e
as iniciadas por apódose, que a prótase inicial é tema (Haiman 1978) e, assim,
age como orientador tanto para a mensagem transmitida pela oração quanto para
as expectativas do interlocutor de como entender o que está por vir.
(b) Na etapa (b), analisamos o horóscopo quanto à função interpessoal, segundo
Fuertes-Olivera et al. (2001), procurando apontar elementos como:
(b.1.) Hedge (talvez, possível, apenas), responsável por: (i) amenizar ou dissimular
nosso ponto de vista para torná-lo aceitável socialmente; (ii) negociar o significado,
especialmente em encontro face-a-face, e por assegurarem os receptores de que
sua liberdade de ação não será limitada pelos escritores.
45
(b.2.) Enfatizador, que confere força de inevitabilidade a um acontecimento futuro,
colaborando para o tom persuasivo do texto. Assim, qualquer possível resistência
por parte dos leitores em acreditar nos prognósticos poderá ser superada por ele.
(b.3.) Marcadores pessoais, por meio do uso de pronomes através dos quais se tem
a impressão de que o texto dirige-se pessoalmente a cada leitor.
Exemplo (2)
Get ready for startling revelations. These may leave your head reeling, but you will also
benefit from the fresh perspective they bring.
(San Francisco Chronicle, 01-03-06)
Marcador
pessoal
Prótase
[You] Get ready for startling revelations.
Hedge +
Marcador
pessoal
These may leave your head reeling,
Marcador
pessoal +
Enfatizador
but you will also benefit from the fresh perspective
they bring.
Quadro 4 - Exemplo de análise de interpessoalidade
Nesse caso, o horóscopo traz hedge (may), amenizando o conteúdo da apódose,
enfatizador (will), conferindo caráter inevitável ao acontecimento futuro e
marcadores pessoais como you (como parte de estrutura imperativa e não),
aproximando o escritor do leitor.
(c) Finalmente, examinamos o intertexto, que o horóscopo faz evocar, através de
ditos populares, crenças enraizadas na cultura popular, frases-feitas etc., e que
assim contribui para a criação de um mundo textual, envolvendo o leitor com o seu
próprio conhecimento de mundo. É a verdade do leitor trazida para o texto. Veja
exemplo (3):
46
Exemplo (3)
Love is acceptance of yourself as well as others. Receive a compliment graciously. Practice
owning your brilliance and abilities. This may be a challenge, but it is one you are up to. (Los
Angeles Times, 03-03-06, Áries)
VERDADE
INCONTESTÁVEL
Love is acceptance of yourself as well as others.
Prótase Receive a compliment graciously. Practice owning
your brilliance and abilities.
This may be a challenge, but it is one you are up
to.
Quadro 5 - Exemplo de análise de intertexto
Nesse caso, o leitor aceita, resgata a verdade incontestável de que amor é
aceitação, tanto própria quanto dos outros, fato que o aproxima do texto e o torna
mais propício a agir para realizar o conteúdo da prótase.
47
3. ANÁLISE
(a) A estrutura genérica/esquemática
Portanto, de início, o horóscopo foi analisado como gênero, quando distinguimos os
estágios que o compõem, bem como suas finalidades, conforme Martin (1984).
Horóscopo (1)
You want to campaign-- everyone else does. Don't. Competitors soon become their own
worst enemies and you won't have to lift a finger. (San Francisco Chronicle, 02-03-06, Áries)
Verdade
You want to campaign-- everyone else does.
Prótase
Don't.
Apódose
Competitors soon become their own worst
enemies and you won't have to lift a finger.
Quadro 6 – A estrutura genérica - horóscopo (1)
Nesse horóscopo a prótase antecede a apódose e a CC é iniciada por um
imperativo negativo fazendo, portanto, com que ela seja implícita, pois não é iniciada
por ‘se’.
Horóscopo (2)
Today is a 7. If you can't figure out what a stubborn person is talking about, get a friend to
intervene. Maybe you need a translator. (Chicago Tribune, 08-02-06, Leão)
Contexto
Today is a 7.
Prótase
If you can't figure out what a stubborn person is
talking about,
Apódose
get a friend to intervene.
Contexto
Maybe you need a translator.
Quadro 7 – A estrutura genérica - horóscopo (2)
Em (2), a prótase, anteposta, é introduzida pela conjunção explícita ‘se’.
48
Horóscopo (3)
Jupiter's mandate for the year is to build, buy or refurbish your dream house. Saturn sitting
solemnly on your sign virtually demands that you prioritize. Currently -- with so much astro-
activity in your one-on-one house -- it appears obvious that joint funds are an issue. If a mate
is involved, use tact and intuition to calm troubled waters. (San Francisco Chronicle, 29-01-
06, Leão)
Contexto
Jupiter's mandate for the year is to build, buy or
refurbish your dream house. Saturn sitting
solemnly on your sign virtually demands that you
prioritize. Currently -- with so much astro-activity in
your one-on-one house -- it appears obvious that
joint funds are an issue.
Prótase
If a mate is involved,
Apódose
use tact and intuition to calm troubled waters
Quadro 8 – A estrutura genérica - horóscopo (3)
Também no horóscopo (3) há anteposição de prótase introduzida por ‘se’.
Horóscopo (4)
You will do well professionally today if you stick to your own job. Being versatile and having a
great capacity for multitasking is fine but that doesn't mean you should take on someone
else's work. Do your own job well. 3 stars (New York Daily News, 27-01-06, Gêmeos)
Apódose
You will do well professionally today
Prótase
if you stick to your own job.
Verdade
Being versatile and having a great capacity for
multitasking is fine but that doesn't mean you
should take on someone else's work. Do your own
job well. 3 stars
Quadro 9 – A estrutura genérica - horóscopo (4)
49
Em (4), diferentemente dos exemplos anteriores, a apódose antecede a prótase,
antecipando ao leitor uma conseqüência positiva caso o conteúdo da prótase se
realize. Nesse caso a CC é introduzida por ‘se’.
Horóscopo (5)
At the banquet of life, the food is terrific and th
50
Apódose 1
Accomplishment will come easy
Prótase 1
as long as you are honest about what you can and
can't do.
Prótase 2
Bringing in the help of someone who can take care
of the things you can't
Apódose 2
will show how efficient, complimentary and in
control you can be.
Contexto
3 stars
Quadro 11 – A estrutura genérica - horóscopo (6)
Em (6) aparecem duas CCs, ou seja, duas apódoses e duas prótases. No primeiro
caso, a prótase é introduzida por conectivo diferente de ‘se’, as long as, que é
equivalente a ‘contanto que’, ou a ‘se’, no caso, pois se houver honestidade o
conteúdo da apódose poderá realizar-se, e é posposta. no segundo, ela é
posposta e não é introduzida por ‘se’, mas por gerúndio.
Horóscopo (7)
Today is an 8. It's becoming easier for you to get your message across. If you need it,
however, request assistance from those who do this for a living. (Chicago Tribune, 06-02-06,
Leão)
Contexto
Today is an 8. It's becoming easier for you to get
your message across.
Prótase
If you need it, however,
Apódose
request assistance from those who do this for a
living.
Quadro 12 – A estrutura genérica - horóscopo (7)
No horóscopo (7), mais uma vez, a prótase é anteposta e introduzida por ‘se’.
51
Horóscopo (8)
Neighbors and friends of friends are sources for em
52
Horóscopo (10)
The less risk, the better. Don't let anyone know what your plans are -- today is about taking
others by surprise. Brainstorming may result in discovering a gimmick that will be
marketable. You are on the right track. 3 stars (New York Daily News, 21-02-06, Escorpião)
Prótase 1 The less risk,
Apódose 1 the better.
Contexto Don't let anyone know what your plans are -- today
is about taking others by surprise.
Prótase 2 Brainstorming
Apódose 2 may result in discovering a gimmick that will be
marketable.
Contexto You are on the right track. 3 stars
Quadro 15 – A estrutura genérica - horóscopo (10)
Mais uma vez, no horóscopo (10) aparecem duas CCs. Nesse caso, a primeira tem
prótase anteposta introduzida por uma estrutura comparativa; a segunda, também
com prótase anteposta, é introduzida por um gerúndio.
Horóscopo (11)
Be careful how you handle friends and family today. You may give the wrong impression if
you are too friendly or not friendly enough. You will walk a fine line so maintain balance and
you will probably end up pleasing everyone. 5 stars (New York Daily News, 26-02-06, Libra)
Contexto
Be careful how you handle friends and family
today.
Apódose 1
You may give the wrong impression
Prótase 1
if you are too friendly or not friendly enough.
Contexto
You will walk a fine line so
Prótase 2
maintain balance and
Apódose 2
you will probably end up pleasing everyone.
Contexto
5 stars
Quadro 16 – A estrutura genérica - horóscopo (11)
53
O décimo-primeiro horóscopo traz duas CCs. A primeira tem prótase posposta,
introduzida por ‘se’ e a segunda, proposta, é introduzida por imperativo.
(b) A função interpessoal
Em seguida, o horóscopo foi analisado quanto à função interpessoal. Seguindo a
proposta de Fuertes-Olivera et al. (2001), buscamos identificar os seguintes
elementos: hedge (talvez, possível, apenas), enfatizador e marcadores pessoais.
Horóscopo (1)
You want to campaign-- everyone else does. Don't. Competitors soon become their own
worst enemies and you won't have to lift a finger. (San Francisco Chronicle, 02-03-06, Áries)
Marcador
pessoal
You want to campaign-- everyone else does.
Marcador
pessoal
Prótase
Don't [you].
Enfatizador
Competitors soon become their own worst
enemies and you won't have to lift a finger.
Quadro 17 – A função interpessoal – horóscopo (1)
Aqui, soon é um enfatizador, enquanto you é um marcador pessoal.
Horóscopo (2)
Today is a 7. If you can't figure out what a stubborn person is talking about, get a friend to
intervene. Maybe you need a translator. (Chicago Tribune, 08-02-06, Leão)
54
Today is a 7.
Marcador
pessoal
Prótase
If you can't figure out what a stubborn person is
talking about,
get a friend to intervene.
Hedge +
Marcador
pessoal
Maybe you need a translator.
Quadro 18 – A função interpessoal – horóscopo (2)
Em (2), há a ocorrência de marcador pessoal (you) e de hedge (maybe).
Horóscopo (3)
Jupiter's mandate for the year is to build, buy or refurbish your dream house. Saturn sitting
solemnly on your sign virtually demands that you prioritize. Currently -- with so much astro-
activity in your one-on-one house -- it appears obvious that joint funds are an issue. If a mate
is involved, use tact and intuition to calm troubled waters. (San Francisco Chronicle, 29-01-
06, Leão)
Marcadores
pessoais
Jupiter's mandate for the year is to build, buy or
refurbish your dream house. Saturn sitting
solemnly on your sign virtually demands that you
prioritize. Currently -- with so much astro-activity in
your one-on-one house -- it appears obvious that
joint funds are an issue.
Prótase If a mate is involved,
Marcador
pessoal
[you] use tact and intuition to calm troubled waters.
Quadro 19– A função interpessoal – horóscopo (3)
Também no horóscopo (3) ocorrência de marcadores pessoais, incluindo não
somente you, mas you implícito em imperativo e também your.
55
Horóscopo (4)
You will do well professionally today if you stick to your own job. Being versatile and having a
great capacity for multitasking is fine but that doesn't mean you should take on someone
else's work. Do your own job well. 3 stars (New York Daily News, 27-01-06, Gêmeos)
Marcador
pessoal +
Enfatizador
You will do well professionally today
Marcadores
pessoais
Prótase
if you stick to your own job.
Marcadores
pessoais
Being versatile and having a great capacity for
multitasking is fine but that doesn't mean you
should take on someone else's work. [You] Do
your own job well. 3 stars
Quadro 20 – A função interpessoal – horóscopo (4)
Em (4), o marcador pessoal you é seguido pelo enfatizador will na apódose e
reaparece também posteriormente, assim como your own e o imperativo.
Horóscopo (5)
At the banquet of life, the food is terrific and the portions are ample. So, when someone tries
to fight you for crumbs on the floor, it's best to be big about it and let him win. (Los Angeles
Times, 31-01-06, Capricórnio)
At the banquet of life, the food is terrific and the
portions are ample. So,
Marcador
pessoal
Prótase
when someone tries to fight you for crumbs on the
floor,
Enfatizador +
Marcador
pessoal
it's best [for you] to be big about it and let him win.
Quadro 21– A função interpessoal – horóscopo (5)
56
Nesse horóscopo encontramos ocorrências do marcador pessoal you e de um
enfatizador it’s best.
Horóscopo (6)
Accomplishment will come easy as long as you are honest about what you can and can't do.
Bringing in the help of someone who can take care of the things you can't will show how
efficient, complimentary and in control you can be. 3 stars (New York Daily News, 15-02-06,
Virgem)
Efatizador
Accomplishment will come easy
Marcadores
pessoais +
Hedge +
Prótase 1
as long as you are honest about what you can and
can't do.
Hedge +
Marcador
pessoal +
Hedge
Prótase 2
Bringing in the help of someone who can take care
of the things you can't
Enfatizador +
Marcador
pessoal
+Hedge
will show how efficient, complimentary and in
control you can be.
3 stars
Quadro 22 – A função interpessoal – horóscopo (6)
Em (6) observamos a ocorrência tanto de marcador pessoal (you) quanto de hedge
(can e can’t) e enfatizador (will).
Horóscopo (7)
Today is an 8. It's becoming easier for you to get your message across. If you need it,
however, request assistance from those who do this for a living. (Chicago Tribune, 06-02-06,
Leão)
57
Marcadores
pessoais
Today is an 8. It's becoming easier for you to get
your message across.
Marcador
pessoal
Prótase
If you need it, however,
request assistance from those who do this for a
living.
Quadro 23 – A função interpessoal – horóscopo (7)
No horóscopo (7) verificamos que há os marcadores pessoais you e your.
Horóscopo (8)
Neighbors and friends of friends are sources for employment. Be specific about which jobs
you are willing to do and which ones you are not willing to do. Otherwise, someone tries to
get you to do his dirty work. (Los Angeles Times, 22-02-06, Gêmeos)
Marcadores
pessoais
Neighbors and friends of friends are sources for
employment. [You] Be specific about which jobs
you are willing to do and which ones you are not
willing to do.
Prótase Otherwise,
Marcador
pessoal
someone tries to get you to do his dirty work.
Quadro 24 – A função interpessoal – horóscopo (8)
Nesse caso encontramos apenas marcadores pessoais: imperativo e you.
Horóscopo (9)
Relationships have an arc. The start is interesting, exciting and new. Unless the fire is fed
with constant fodder, there is a cooling off. This period is appropriate and healthy and can be
quite enjoyable if you accept it. (Los Angeles Times, 01-03-06, Touro)
58
Relationships have an arc. The start is interesting,
exciting and new.
Prótase 1 Unless the fire is fed with constant fodder,
there is a cooling off.
Hedge This period is appropriate and healthy and can be
quite enjoyable
Marcador
pessoal
Prótase 2
if you accept it.
Quadro 25– A função interpessoal – horóscopo (9)
Em (9), os elementos interpessoais presentes são hedge (can) e marcador pessoal
(you).
Horóscopo (10)
The less risk, the better. Don't let anyone know what your plans are -- today is about taking
others by surprise. Brainstorming may result in discovering a gimmick that will be
marketable. You are on the right track. 3 stars (New York Daily News, 21-02-06, Escorpião)
Prótase 1 The less risk,
the better.
Marcadores
pessoais
Don't [you] let anyone know what your plans are --
today is about taking others by surprise.
Prótase 2 Brainstorming
Hedge +
Enfatizador
may result in discovering a gimmick that will be
marketable.
Marcador
pessoal
You are on the right track. 3 stars
Quadro 26 – A função interpessoal – horóscopo (10)
A relação de interpessoalidade no horóscopo (10) se por marcadores pessoais
(imperativo, you e your), hedge (may) e enfatizador (will).
59
Horóscopo (11)
Be careful how you handle friends and family today. You may give the wrong impression if
you are too friendly or not friendly enough. You will walk a fine line so maintain balance and
you will probably end up pleasing everyone. 5 stars (New York Daily News, 26-02-06, Libra)
Marcadores
pesosais
[You] Be careful how you handle friends and family
today.
Marcador
pessoal +
Hedge
You may give the wrong impression
Marcadores
pessoais
Prótase 1
if you are too friendly or not friendly enough.
Marcadores
pessoais +
Enfatizador
You will walk a fine line so
Marcadores
pessoais
Prótase 2
[you] maintain balance and
Marcadores
pessoais +
Enfatizador
you will probably end up pleasing everyone.
5 stars
Quadro 27– A função interpessoal – horóscopo (11)
No horóscopo (11) marcadores pessoais (imperativo e you), enfatizador (will) e
hedge (may).
(c) O intertexto
Finalmente, cada horóscopo foi analisado com o intuito de descobrir como se a
relação intertextual. Em geral, há uma ‘verdade’ que o leitor conhece e traz para o
texto do horóscopo no processo chamado de intertexto fato que aumenta as
probabilidades de ele aceitar o prognóstico contido na mensagem.
60
Nesta parte, não manteremos sempre os mesmos exemplos analisados em (a) e (b)
por acreditarmos que os horóscopos evocam o intertexto por meio de uma vasta
gama de elementos que contribuem pra a criação do mundo textual de cada um de
seus leitores. Assim, os horóscopos analisados terão seus números mantidos e,
os apresentados pela primeira vez, serão numerados a partir do Horóscopo (12),
inclusive.
Horóscopo (3)
Jupiter's mandate for the year is to build, buy or refurbish your dream house. Saturn sitting
solemnly on your sign virtually demands that you prioritize. Currently -- with so much astro-
activity in your one-on-one house -- it appears obvious that joint funds are an issue. If a mate
is involved, use tact and intuition to calm troubled waters. (San Francisco Chronicle, 29-01-
06, Leão)
REFERÊNCIA
AOS ASTROS +
REFERÊNCIA A
ASTROLOGIA
Jupiter's mandate for the year is to build, buy or
refurbish your dream house. Saturn sitting
solemnly on your sign virtually demands that you
prioritize. Currently -- with so much astro-activity
in your one-on-one house -- it appears obvious
that joint funds are an issue.
Prótase If a mate is involved,
use tact and intuition to calm troubled waters.
Quadro 28 – O intertexto - horóscopo (3)
Esse horóscopo estabelece o intertexto por meio da utilização de referência aos
astros (Júpiter e Saturno) e a astrologia, ao referir-se a atividade astral e a casa
astral. Ao aproximar o leitor dos astros, tais referências conferem um certo grau de
cientificidade ao texto, tornando-o mais crível para o leitor que se interessa por ou
acredita em astrologia.
Horóscopo (5)
At the banquet of life, the food is terrific and the portions are ample. So, when someone tries
to fight you for crumbs on the floor, it's best to be big about it and let him win. (Los Angeles
Times, 31-01-06, Capricórnio)
61
METÁFORA
At the banquet of life, the food is terrific and the
portions are ample. (So,)
METÁFORA
Prótase
when someone tries to fight you for crumbs on the
floor,
it's best to be big about it and let him win.
Quadro 29 – O intertexto - horóscopo (5)
Em (5), a metáfora ‘banquete’ utilizada para referir-se a vida evoca o intertexto de
que a vida é abundante, o que é reforçado pela boa comida e fartura. Assim, o leitor
privilegia o que importa na vida e não se desgasta por bobagens, o que se
depreende das ‘migalhas’ no chão.
Horóscopo (9)
Relationships have an arc. The start is interesting, exciting and new. Unless the fire is fed
with constant fodder, there is a cooling off. This period is appropriate and healthy and can
be quite enjoyable if you accept it. (Los Angeles Times, 01-03-06, Touro)
VERDADE
INCONTESTÁVEL
Relationships have an arc. The start is
interesting, exciting and new.
Prótase 1 Unless the fire is fed with constant fodder,
there is a cooling off.
This period is appropriate and healthy and can
be quite enjoyable
Prótase 2 if you accept it.
Quadro 30 – O intertexto - horóscopo (9)
No horóscopo (9), a verdade incontestável de que os relacionamentos são moldados
como um arco faz com que o leitor recorra a sua própria experiência sobre o
assunto, envolvendo-o no texto.
62
Horóscopo (12)
The Moon/Pluto conjunction shows a sacrifice carries a steep price. Remember: it's grueling
ordeals that deliver the most lasting rewards. (San Francisco Chronicle, 22-02-06,
Escorpião)
REFERÊNCIA
AOS ASTROS
The Moon/Pluto conjunction shows a sacrifice
carries a steep price.
Remember: it's grueling ordeals that deliver the
most lasting rewards.
Quadro 31 – O intertexto - horóscopo (12)
No horóscopo (12) a relação intertextual é estabelecida por meio de uma referência
aos astros, aproximando o escritor da ciência e, portanto, tornando seus dizeres
mais confiáveis.
Horóscopo (13)
The planets help you take your natural optimism to the next level of total commitment to the
impossible. On a practical note, do you know where your important documents are? This is a
good time to organize. (Los Angeles Times, 12-02-06, Aquário)
REFERÊNCIA
AOS ASTROS
The planets help you take your natural optimism to
the next level of total commitment to the
impossible.
On a practical note, do you know where your
important documents are? This is a good time to
organize.
Quadro 32 – O intertexto - horóscopo (13)
Assim como em (3) e (12), também em (13) o intertexto é estabelecido por referência aos
astros, evocando o mesmo tipo de intertexto.
63
Horóscopo (14)
Time is irrelevant to the heart. You may want to revisit a dream you thought was impossible.
New pathways are opening, and it is up to you to travel them. (Los Angeles Times, 06-02-06,
Capricórnio)
VERDADE
INCONTESTÁVEL
Time is irrelevant to the heart.
You may want to revisit a dream you thought was
impossible.
New pathways are opening, and it is up to you to
travel them.
Quadro 33 – O intertexto - horóscopo (14)
Nesse horóscopo, assim como em (9), a intertextualidade é trazida por uma verdade
incontestável.
Horóscopo (15)
Cupid is like St. Nick -- after age 10, it takes more imagination to keep it real. You
experience something Tuesday or Wednesday that defies your current beliefs. Go with it.
Loved ones present you with wonderful gifts this weekend, but they are not the kinds of gifts
that are wrapped up in paper and bows. (Los Angeles Times, 26-02-06, Áries)
CRENÇA
POPULAR –
MITOLOGIA -
RELIGIOSIDADE
Cupid is like St. Nick -- after age 10, it takes more
imagination to keep it real.
You experience something Tuesday or Wednesday
that defies your current beliefs. Go with it. Loved
ones present you with wonderful gifts this
weekend, but they are not the kinds of gifts that are
wrapped up in paper and bows.
Quadro 34 – O intertexto - horóscopo (15)
Nesse horóscopo, a referência feita a Cupido e a um Santo possibilita a
intertextualidade.
64
Horóscopo (16)
All bets are off as long as Uranus is strong (4 weeks). But the Wheel of Fortune Planet works
in capricious ways. You could come out ahead. (San Franciso Chronicle, 01-03-06, Áries)
All bets are off
REFERÊNCIA
AOS ASTROS
as long as Uranus is strong (4 weeks).
CULTURA
POPULAR
But the Wheel of Fortune Planet works in
capricious ways.
You could come out ahead.
Quadro 35 – O intertexto - horóscopo (16)
Os elementos intertextuais do horóscopo (16) são sua referência aos astros (Urano)
e ao popular jogo ‘Roda da Fortuna’.
Horóscopo (17)
You have your differences, but what it comes down to in the end is: money talks. Who would
think that capitalism would promote tolerance? (San Francisco Chronicle, 02-02-06, Touro)
DITO POPULAR -
PROVÉRBIO
You have your differences, but what it comes down
to in the end is: money talks.
Who would think that capitalism would promote
tolerance?
Quadro 36 – O intertexto - horóscopo (17)
O dito popular presente em (17) é o elemento responsável pela intertextualidade.
Horóscopo (18)
Approval is a double-edged sword. You crave it, but resent feeling so needy. None of this
really matters. Ask and you shall receive. (San Francisco Chronicle, 06-06-06, Capricórnio)
65
EXPRESSÃO –
FRASE-FEITA
Approval is a double-edged sword. You crave it,
but resent feeling so needy. None of this really
matters.
Ask and
you shall receive.
Quadro 37 – O intertexto - horóscopo (18)
Em (18) a expressão ‘faca de dois gumes’ ativa intertextualidade, preparando o leitor
para algo que considere bom e para algo que considere ruim.
Horóscopo (19)
Mix business with pleasure if at all possible. Romance is in the stars but avoid people who
are already involved with someone else. Travel arrangements will be disrupted or not go
according to plan. 3 stars (New York Daily News, 05-03-06, Câncer)
DITO POPULAR
Mix business with pleasure
Prótase if at all possible.
REFERÊNCIA
AOS ASTROS
Romance is in the stars but avoid people who are
already involved with someone else. Travel
arrangements will be disrupted or not go according
to plan. 3 stars
Quadro 38 – O intertexto - horóscopo (19)
O horóscopo (19) usa um dito popular às avessas como elemento intertextual ao
sugerir que negócios e prazer sejam misturados, além de referir-se às estrelas ao
dizer que elas antevêem romance.
66
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
A análise de 2544 textos de horóscopos - 48 por dia, durante 53 dias encontrou o
significativo número de 943 estruturas condicionais.
Nº. De horóscopos Ocorrência de condição
2544 943
Tabela 1 – Nº. de horóscopos e ocorrência de condição
Predominaram as prótases antepostas (71,15% das ocorrências), funcionando como
tema, conforme mostram Tabela 2 e Figura 1:
Prótases
Antepostas Pospostas
71,15% 28,85%
Tabela 2 – Prótases antepostas e pospostas
PRÓTASES
ANTEPOSTAS POSPOSTAS
Figura 1 - Prótases antepostas e pospostas
Nossos dados revelam que a condição expressa com o conectivo ‘se’ responde por
apenas 30,75% das ocorrências, enquanto a condição expressa de maneira
implícita responde pela maioria das ocorrências, 69,25%.
67
Condicionais
Com o conectivo ‘se’ Sem o conectivo
30,75 % 69,25%
Tabela 3 – Condicionais com e sem o conectivo ‘se’
Veja a figura abaixo:
CONDICIONAIS
Com o conectivo ‘se’ Sem o conectivo
Figura 2 - Condicionais com e sem o conectivo ‘se’
Observa-se, então, que as prótases são introduzidas de maneiras diversas: if, when,
once, by + gerúndio, comparativo, imperativo, gerúndio e infinitivo, para citar os de
maior ocorrência. Veja como as prótases antepostas são iniciadas na Figura 3:
PRÓTASES ANTEPOSTAS
IF WHEN ONCE
COMPARATIVO IMPERATIVO GERÚNDIO
BY+-ING INFINITIVO
9
Figura 3 – Prótases antepostas com e sem ‘se’
68
A seguir, a Figura 4 mostra como são introduzidas a
69
0,00%
10,00%
20,00%
30,00%
40,00%
50,00%
60,00%
70,00%
80,00%
90,00%
PRÓTASES
ANTEPOSTAS
PRÓTASES
POSPOSTAS
INFINITIVO
BY+-ING
GERÚNDIO
IMPERATIVO
COMPARATIVO
ONCE
WHEN
IF
Figura 5 – Prótases com e sem ‘se’ nas CCs
Os horóscopos analisados apresentam as CCs como estágios obrigatórios na
estrutura genérica dos horóscopos analisados, ainda que a condicionalidade não
seja explícita, ou que o intertexto seja necessário para que tal relação seja
estabelecida.
Dentre os elementos intertextuais utilizados pelos escritores de horóscopos,
constatamos: ditos populares/ provérbios, referências a cultura popular, expressões/
frases-feitas, referências aos astros, mitologia/ religiosidade, elementos arraigados
na crença popular e elementos de ‘verdade incontestável’, que aproximam o leitor
do texto.
4.1. Discussão dos resultados
Os resultados apresentados na análise nos permitem concluir o seguinte:
4.1.1. Significativa ocorrência de estruturas condicionais
A razão dessa grande ocorrência de condicionalidade poderia ser explicada da
seguinte forma. No texto do horóscopo, há uma parte que é o prognóstico do
70
astrólogo e outra parte em que ele se resguarda do risco de esse prognóstico não
se realizar. Ao resguardar-se, o autor convida o leitor a confiar nele ao mesmo
tempo, o que também contribui para o caráter persuasivo do horóscopo. Em termos
lingüísticos, isso significa que a parte do prognóstico se realiza através da oração
principal (apódose), e a outra parte (prótase) se realiza através da oração
condicional.
4.1.1.1. Prótase e apódose
A apódose, ou oração principal, traz os prognósticos, ou seja, estabelece as
previsões, indica o que acontecerá ou não, enquanto a prótase, ou oração
subordinada, restringe seu conteúdo através da velada inclusão de condições
necessárias para que os prognósticos se realizem. Durante a pesquisa, constatamos
o predomínio das condicionais que têm prótase anteposta (71,15%), fazendo com
que seja possível dizer que preferência pela tematização das prótases. Ao
colocar as prótases como Temas das orações, os advérbios que as introduzem
restringem as orações principais, Remas, e, conseqüentemente, restringem também
as possibilidades de que as previsões se realizem, colocando sobre o leitor a
responsabilidade pelo seu sucesso e, portanto, possibilitando aos escritores
esquivar-se da responsabilidade por eventuais falhas que seus prognósticos
apresentem.
Decat (1995) sugere que uma outra explicação para a anteposição das prótases,
pode fundamentar-se no fato de essa relação constituir “um tipo de canonicidade
semântica”, vindo a “premissa antes da conclusão” (Kato, 1986 e Kato, Tarallo et al.,
1993 apud Decat, 1995).
Ao mesmo tempo em que o posicionamento das condicionais como Temas enfatiza
a necessidade de que a condição se cumpra, há a interferência do que se denomina
‘inferência convidada’, ou seja, a interferência da intertextualidade no momento
da interpretação do horóscopo pelos leitores e, dependendo do conhecimento de
cada um, uma condição necessária pode ser interpretada como essencial para a
concretização da previsão, e seu não-cumprimento pode ser interpretado como
71
indicativo da não-concretização da previsão. Para Geis (1971), as pessoas
transformam as condicionais em bicondicionais e criam as ‘inferências convidadas’,
conforme esclarecido na fundamentação teórica. Ou seja, as interpretações dos
horóscopos variam de acordo com seus leitores, que trazem consigo uma carga
distinta de informações, um diferente intertexto.
Devido a isso, os escritores aproveitam-se da intertextualidade como recurso
discursivo, pois sempre há a possibilidade de mais de uma interpretação, caso uma
delas falhe e, dessa maneira, sendo cautelosos, eles evitam o erro.
Assim, podemos pressupor que as inferências feitas pelos leitores ao lerem seus
horóscopos estão relacionadas com os Temas, que constroem espaços mentais por
eles organizados em sua mente, fazendo, neste caso, com que o leitor interprete o
texto de acordo com os limites por eles impostos. Ou seja, têm uma idéia do que
esperar quando se deparam com um texto de horóscopo e, por esse motivo,
organizam em sua mente um espaço propício para a aceitação de previsões,
sugestões, etc.
A tal fato, junta-se a noção de enquadres proposta por Bednarek (2005),
responsável pela coerência do texto por parte dos leitores e ouvintes. A teoria
focaliza a relação entre texto, contexto, conhecimento de mundo e coerência e,
portanto, ao ler um horóscopo, o leitor interage com o texto e a ele o significado
mais coerente de acordo com seu conhecimento de mundo. Entretanto, como
limitação temática e o conhecimento do gênero horóscopo por parte do leitor, a
condicionalidade não é percebida como persuasiva.
4.1.1.2. Significativa ocorrência de estruturas condicionais sem ‘se’
Como anteriormente apontado, a significativa ocorrência de CCs chama atenção por
ser uma das estruturas utilizadas como instrumento de persuasão em horóscopos.
Entretanto, além disso, nossa pesquisa achou uma variedade na maneira como tais
CCs aparecem.
72
A Tabela 4, originada da análise das ocorrências de CCs, apresentada
anteriormente, também nos fornece elementos que colaboram para persuadir os
leitores de horóscopos. Ela mostra as ocorrências mais freqüentes de introdução de
prótases, encontramos informações valiosas. Vamos nos ater, primeiramente, aos
números relativos às prótases pospostas, visto que as antepostas foram
contempladas no item anterior ao falarmos sobre sua tematização.
Podemos notar que o conectivo ‘se’ aparece em mais da metade (58,45%) das
prótases pospostas, diferentemente do que acontece nas antepostas, em que não
chega a 20% das ocorrências. Tal discrepância pode ser explicada pelo fato de que,
como não iniciadas pela prótase, as condições para que as previsões se realizem
devem ser deixadas bastante claras pelo escritor, para que ele se proteja de
eventuais erros. Assim, nada mais seguro e eficiente do que usar o canônico
conectivo de CCs. Outro dado curioso e relevante para este trabalho é a
discrepância entre os números de prótases introduzidas por gerúndios: mais de 13%
nas antepostas contra menos de 2% nas pospostas, mostrando que embora as
estruturas apareçam em ambos os casos, a baixa porcentagem nas prótases
pospostas pode indicar que a forma em questão cumpre melhor sua função quando
anteposta, o oposto ocorrendo com as formas by + gerúndio e infinitivo, que
aparecem em maior número quando iniciando prótases pospostas.
Assim, de maneira velada, implícita, os horóscopos trazem construções
condicionais, que pelo fato de nem sempre serem explícitas, funcionam como
instrumentos para a persuasão dos leitores, que não percebem que elas estão ali.
4.1.2. Intertextualidade
Além da persuasão exercida pela condicionalidade, os exemplos analisados
também nos remetem à questão do intertexto. Retomando Voloshinov (1981), toda
comunicação verbal é dialógica. Portanto, pode-se dizer que o intertexto é a
bagagem trazida pelo leitor ao ler o texto. Esta bagagem compõe-se do
conhecimento de mundo do leitor, que conhecedor de textos do gênero horóscopo,
mesmo que de modo inconsciente, sabe o que poderá encontrar ao ler suas
73
previsões, e até possui expectativas em relação ao que será lido. Ainda que
inconscientemente, sabe que este gênero poderá proporcionar-lhe sugestões, dicas,
conselhos, e espera que, de alguma forma, tais palavras possam auxiliá-los,
consolá-los, animá-los, motivá-los para mais um dia. Sabem, também, que para
obterem uma melhor situação, devem seguir o que seus horóscopos propuserem e,
desta forma, a partir do momento em que começam a ler seus horóscopos, já sabem
que terão que fazer alguma coisa, que nada acontecerá sem que façam sua parte.
Devido a essa relação existente entre o leitor e o texto, o intertexto, a leitura
condicional de textos não claramente condicionais é efetivada e, portanto, age na
mente dos leitores impelindo-os a agir.
É importante salientarmos, uma vez mais, que os leitores são levados a interpretar
os horóscopos como estruturas que os condicionam a tomar atitudes pois conhecem
o gênero e, portanto, fazem a leitura conforme o enquadre do gênero horóscopo,
como explicado, segundo Bednarek (2005) e, daí, fazem suas inferências, como
explica Geis (1971).
74
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Esta pesquisa procurou examinar como se a persuasão nos textos do gênero
horóscopo a fim de que o texto não convença o leitor, mas também proteja seu
escritor para que este não seja responsabilizado por eventuais falhas de suas
previsões.
A análise de 2544 textos de horóscopos apontou 37,06% de ocorrência de CCs, de
vários tipos, dos quais 30,75% têm prótase introduzida pelo conectivo ‘se’ (if),
explícito, e 69,25% são iniciados de alguma uma outra forma. Tal constatação
sugere que os autores preferem não condicionar abertamente seus prognósticos,
atitude condizente com sua preocupação em não errar ao fazê-los.
Dentre os que apresentam CCs, 71,15% m prótase anteposta, ou seja,
apresentam condicionais como Temas, mostrando que os escritores acautelam-se
antes de fazer seus prognósticos, responsabilizando o leitor pela realização ou não
de suas previsões, visto que as prótases como Temas restringem os conteúdos das
apódoses.
Além da tematização das CCs, a pesquisa apontou que a interferência de
‘inferências convidadas’, ou seja, a interpretação que o leitor ao texto, com base
em seu conhecimento intertexto -, pode fazer com que uma condição necessária
seja interpretada como essencial para a concretização da previsão e seu não-
cumprimento seja interpretado como indicativo da não-concretização da previsão.
De tal forma, o autor dos horóscopos fica protegido de eventuais erros.
Outro fator que auxilia o escritor na tarefa de persuadir o leitor, além do intertexto, é
a interpessoalidade, presente em 100% dos textos, que traz elementos como hedge,
enfatizador e marcador pessoal, com as respectivas funções de tornar o ponto de
vista do escritor aceitável e negociar significado, reforçar a inevitabilidade de
acontecimentos futuros, e dirigir o texto pessoalmente a cada um de seus leitores.
Assim, podemos ver que o leitor do horóscopo fica a mercê desse gênero por vários
motivos, além, é claro, das razões presentes em sua vida que o fazem procurar esse
75
tipo de apoio.
O horóscopo, como um enquadre, condiciona-o a aceitar a mensagem nele contida
sem um exame detido de seu conteúdo. Por outro lado, esse conteúdo está
expresso através de estruturas as CCs - que compõem os estágios desse gênero,
que o condicionam por meio de conectivos dissimulados e por meio da prótase
antecipada à apódose. Dessa forma, acreditamos que o horóscopo está arquitetado
tanto em termos formais, quanto em termos de conteúdo, para proteger o seu autor
e para envolver um leitor desprevenido e, em geral, emocionalmente frágil. É
interessante notar que a noção de enquadre (frame) age dialeticamente: o texto faz
sentido porque é um horóscopo, e leva o leitor a acreditar nele; ao mesmo tempo, o
leitor acredita no texto porque está diante de um horóscopo e assim é levado a agir.
O trabalho constatou que, de fato, os textos do gênero horóscopo freqüentemente
trazem um tipo de condição e de conseqüência, embora não haja estágios fixos,
reforçando a tese de que um gênero não é formado por etapas pré-fixadas e,
portanto, privilegiando o papel do leitor-no-texto.
Pretendemos ter conseguido demonstrar que as condicionais são uma das formas
lingüísticas de persuasão e que elas também funcionam como forma de
argumentação em textos, fato importante, pois a persuasão facilita a argumentação.
Como é do conhecimento da comunidade científica e de educadores em geral, a
língua é um instrumento de poder e proporciona “sofisticação” ao discurso. Assim, a
argumentação e a persuasão trazem poder àqueles que as dominam. A
comunicação de eventos e idéias, portanto, não se de forma neutra, visto que
valores sociais que criam uma perspectiva potencial em relação a eles. Assim, a
língua toma a forma relacionada às necessidades sociais e pessoais para as quais
ela serve, no nosso caso, à persuasão.
Utilizando-se de estruturas condicionais o autor resguarda-se e, ao mesmo tempo,
convida o leitor a confiar nele, o que funciona como outro instrumento de persuasão.
Entretanto, a contextualização e a confiança no autor/falante não são instrumentos
persuasivos exclusivos de textos de horóscopos, ao contrário, são instrumentos
encontrados em vários outros gêneros discursivos, tais como os discursos políticos,
76
os discursos de professores, de gerentes e de presidentes de empresas, enfim, são
características discursivas de todos aqueles grupos que precisam que outros os
atendam e/ ou neles confiem, em diferentes níveis.
O ensino de línguas é uma área que este trabalho também pretende tocar,
principalmente em relação a sua abordagem sistêmico-funcional. Quando estudam
determinada língua, os alunos aprendem sua forma, suas estruturas, mas não são
ensinados a quais funções tais formas podem servir. No nosso caso,
especificamente, os alunos aprendem as formas dos diversos tipos de condicionais
em inglês, mas não são, ou são raramente, expostos ao uso das condicionais em
seu cotidiano como estruturas lingüísticas que os ajudem a exercer as mais variadas
funções. Nunca é dito, por exemplo, que as condicionais são estruturas que podem
ser usadas com função persuasiva e que podem ser de grande utilidade em textos
argumentativos, por exemplo, os quais devem saber escrever a fim de defender
seus pontos de vista. Não se pode esquecer, também, que o domínio lingüístico é
uma forma de poder e que é um discurso persuasivo o responsável pela
manutenção ou pela perda de poder em vários momentos do nosso cotidiano.
Esperamos, além disso, que cientes de que a língua exerce importantes funções em
seu cotidiano, os alunos sintam-se mais motivados a aprendê-las, estudá-las.
77
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