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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CÂMPUS DE JABOTICABAL
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIA
COMPOSIÇÃO CORPORAL E EXIGÊNCIAS
NUTRICIONAIS EM PROTEÍNA, ENERGIA E
MACROMINERAIS DE CABRITOS COM CONSTITUIÇÃO
GENÉTICA ¾ BOER E ¼ SAANEN.
Márcia Helena Machado da Rocha Fernandes
Engenheira Agrônoma
Jaboticabal São Paulo Brasil
2006
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Livros Grátis
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CÂMPUS DE JABOTICABAL
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E VETERINÁRIA
COMPOSIÇÃO CORPORAL E EXIGÊNCIAS
NUTRICIONAIS EM PROTEÍNA E ENERGIA DE CABRITOS
COM CONSTITUIÇÃO GENÉTICA ¾BOER E ¼SAANEN.
Márcia Helena Machado da Rocha Fernandes
Orientador: Prof. Dr. Kleber Tomás de Resende
Tese apresentada à Faculdade de Ciências Agrárias e
Veterinárias Unesp, Câmpus de Jaboticabal, como
parte das exigências para a obtenção do título de
Doutor em Zootecnia (Produção Animal).
Jaboticabal SP
Dezembro de 2006
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DADOS CURRICULARES DO AUTOR
MÁRCIA HELENA MACHADO DA ROCHA FERNANDES filha de Antônio
Gomes da Rocha Neto e Marilene Marcondes Machado da Rocha, nasceu em
Guarulhos, São Paulo, no dia 13 de março de 1975. Em fevereiro de 1999 graduou-se
no curso de Engenharia Agronômica pela Escola Superior de Agricultura “Luiz de
Queiroz” da Universidade de São Paulo, quando recebeu os prêmios “Prêmio Prof.
Nicolau Athanassof” e “Prêmio Alexandre Von Pritzelwitz”, pelo melhor desempenho
nas disciplinas lecionadas no Departamento de Zootecnia. Em fevereiro de 2000,
ingressou no curso de Mestrado em Ciência Animal e Pastagem na Escola Superior de
Agricultura “Luiz de Queiroz” da Universidade de São Paulo, defendendo a dissertação
em abril de 2002. Em fevereiro de 2003 ingressou no curso de Doutorado da Faculdade
de Ciências Agrárias e Veterinária da Universidade Estadual Paulista. Durante o
doutorado, fez estágio na Texas A&M University, Texas, Estados Unidos, sob a
orientação do PhD, PAS Luís Orlindo Tedeschi.
ORAÇÃO DA SERENIDADE
“Concedei-nos, Senhor,
a SERENIDADE necessária para aceitar as coisas que não podemos modificar,
CORAGEM para modificar aquelas que podemos e
SABEDORIA para distinguir uma das outras”.
Autor desconhecido.
DEDICO
Aos meus pais Antônio e Marilene, pela vida,
pelo apoio e sentimento de amor que sempre me
transmitiram.
Aos meus amigos Jalme e Zilda pelo incentivo e
amizade.
“Semeia uma ação e colherás um hábito;
Semeia um hábito e colherás um caráter;
Semeia um caráter e colherás um destinos”.
(Napoleon Hill)
Espero ser tão importante para meu filho quanto vocês são para mim.
OFEREÇO
Ao meu esposo Jalme Jr. E ao meu filho João
Antônio.
Este trabalho não teria sentido sem vocês na
minha vida.
Amo muito vocês, incondicionalmente....
AGRADECIMENTOS
À DEUS, por estar sempre ao meu lado, iluminando meu caminho e, acima
de tudo, por proteger e abençoar aqueles a quem meu coração pertence.
Ao Prof. Dr. Kleber Tomás de Resende, pela acolhida e amizade, pela
orientação, pelo “paternalismo”, sendo um exemplo de vida para a minha formação e,
acima de tudo, pela confiança no meu trabalho.
À Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias - Câmpus de Jaboticabal,
pela oportunidade de realização do curso.
À Fundação de Amparo a Pesquisa do Estado de São Paulo (FAPESP), pela
concessão de bolsa de estudos no transcorrer do curso e ao meu relator pelas valiosas
sugestões para concretização deste projeto.
À Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES),
pela concessão de bolsa de estudos para estágio no exterior, a qual foi muito valiosa
para minha formação.
Aos professores do Departamento de Zootecnia da FCAV, UNESP
Jaboticabal, em nome da Profa. Dra. Telma Teresinha Berchielli pela colaboração e
valiosos ensinamentos.
Aos professores do Departamento de Produção Animal da ESALQ/USP, em
nome da Profa. Dra. Ivanete Susin, pela valiosa contribuição na minha formação
profissional.
Aos membros da banca, Prof. Dr. Luis O. Tedeschi, Profa. Dra. Ivanete Susin,
Profa. Dra. Nilva Kazue e Profa. Dra. Izabelle A. M. A. Teixeira, pelas correções,
contribuições e sugestões feitas neste trabalho.
Aos funcionários Carlos e Júnior do setor de caprinos; João Guariz do setor de
ovinos; Sandra, seu Osvaldo e Fernando da fábrica de ração, por toda ajuda, apoio,
compreensão e atendimento dispensado durante a condução deste trabalho no campo.
Aos funcionários Maurícia e Plínio do Laboratório Central, Fátima e ao Prof. Dr.
João Pizauro do Laboratório de Enzimologia, Tânia do Laboratório de Tecnologia de
Produtos de Origem Animal, aos funcionários da biblioteca e a todos os funcionários do
Departamento de Zootecnia toda ajuda, atenção e atendimento dispensado durante a
realização deste trabalho.
À química do Laboratório de Nutrição Animal, Ana Paula de Oliveira Sader, que
além de me orientar nas análises químicas, tornou-se minha amiga.
Aos bolsistas, estagiários e amigos do Setor de Caprinocultura (a
“Cabritolândia”), Ângela Ferreira, José Morais, Cecília, Ana Carolina Amorim, Estevão
Tosetto, Fábio, Maurício, Rodrigo Vidal, Rafael (Kborja), Juliana (Amazona), Daiana
(Farofa), Ana (Budega), pela amizade e imprescindível colaboração durante a execução
do experimento.
Às estagiárias e amigas, Helenara e Lena pela amizade e imprescindível
colaboração durante as análises laboratoriais.Vocês serão sempre as minhas ‘pupilas’
do coração”.
À Izabelle Teixeira, por compartilhar seus conhecimentos e por toda a ajuda
durante a condução deste trabalho. A esta amiga e ao seu esposo, Gustavo, e seu filho,
Pedro, credito também agradáveis momentos de amizade e convívio onde víamos
nossos filhos crescerem juntos.
Ao Luís Tedeschi, sua esposa Heloísa e sua filha Nicole, agradeço a afetuosa
acolhida e a amizade durante a minha estadia e de minha família nos EUA. Agradeço
também a oportunidade, a confiança e os valiosos ensinamentos compartilhados.
Aos colegas de pós-graduação Sandra, Liliane, Rafael, Nívea, Tiago, Gustavo
Siqueira, Márcio, Roberta, Juci, Maria Fernanda, Liandra, Amanda e todos aqueles com
quem compartilhei ensinamentos e momentos de descontração.
À Simone, em especial, querida amiga com quem eu sempre pude contar em
todos os momentos. Sissi, você sempre terá um lugar especial em meu coração.
Aos amigos Betânia, Francisco e João Ricardo pelos agradáveis momentos
compartilhados.
À D. Inês e à Luciana, pela amizade e dedicação à minha casa e ao meu filho.
Aos funcionários e professores do Colégio Santo André, em nome de D. Marilena
Cristófano, por cuidarem do meu filho sempre com muito carinho e afeto.
Ao meu querido cunhado e amigo Juliano e aos amigos Euler José, Elder
(Meloso), Éberson, Gustavo Ubida e Adriana, por todo apoio e valiosa amizade.
Aos meus pais, Antônio e Marilene, ao meu irmão Antonio, ao meu sogro Jalme,
à minha sogra Zilda e a todos os meus familiares e amigos, pelo amor, apoio constante
e compreensão pelos momentos longe em distância, mas muito perto em meu coração.
Ao meu esposo Jalme Jr., sempre presente, paciente, companheiro, amoroso,
dedicado e amigo. Agradeço a sua confiança em mim, o seu incentivo em todos os
momentos, a sua cumplicidade. “Te amo muito”.
Ao meu filho, João Antônio, pelo apoio desde quando estava na minha barriga,
pela compreensão, pelo carinho e, acima de tudo, pelo seu sorriso que é a minha razão
de viver. “Filho, mamãe te ama muito, muito, muito”.
A todos que, de alguma forma, estiveram comigo durante este período.
OBRIGADA
SUMÁRIO
Página
LISTA DE TABELAS E FIGURAS....................................................................
iv
LISTA DE ABREVIATURAS ........................................................................... viii
RESUMO ........................................................................................................ xi
SUMMARY.......................................................................................................
xii
CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS...................................................
1
1 A raça Boer................................................................................................
3
2 Composição corporal.................................................................................
5
3 Exigências nutricionais.............................................................................. 8
3.1 Histórico.............................................................................................
8
3.2 Exigências nutricionais de energia para mantença e ganho..............
12
3.3 Exigências nutricionais de proteína para mantença e ganho............ 14
3.4 Exigências nutricionais em macrominerais para mantença e ganho 16
4 Referências................................................................................................
19
CAPÍTULO 2 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM ENERGIA E PROTEÍNA
PARA MANTENÇA E GANHO EM PESO DE CABRITOS COM
CONSTITUIÇÃO GENÉTICA ¾ BOER ¼
SAANEN...........................................................................................................
24
1 Introdução..................................................................................................
25
2 Material e Métodos.....................................................................................
26
2.1 Ensaio de digestibilidade................................................................... 28
2.2 Procedimento de abate......................................................................
29
2.3 Análises laboratoriais........................................................................ 30
2.4 Cálculo da composição corporal inicial............................................ 30
2.5 Partição de energia............................................................................
31
ii
2.6 Exigência de proteína para mantença...............................................
31
2.7 Exigências para ganho.......................................................................
32
2.8 Análise estatística..............................................................................
32
3 Resultados e Discussão.............................................................................
33
3.1 Desempenho e composição corporal e do ganho..............................
33
3.2 Ensaio de digestibilidade................................................................... 36
3.3 Exigência de energia para mantença.................................................
38
3.4 Exigência de proteína para mantença............................................... 40
3.5 Exigências para ganho.......................................................................
43
4 Conclusões................................................................................................ 50
5 Referências................................................................................................
51
CAPÍTULO 3 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM MACROMINERAIS
PARA MANTENÇA E GANHO EM PESO DE CABRITOS COM
CONSTITUIÇÃO GENÉTICA ¾ BOER ¼ SAANEN........................................
54
1 Introdução..................................................................................................
55
2 Material e Métodos.....................................................................................
57
2.1 Ensaio de metabolismo......................................................................
59
2.2 Procedimento de abate......................................................................
60
2.3 Análises laboratoriais........................................................................ 60
2.4 Exigência para mantença...................................................................
61
2.5 Exigências para ganho...................................................................... 62
2.6 Análise estatística..............................................................................
62
3 Resultados e Discussão.............................................................................
63
3.1 Ensaio de metabolismo......................................................................
65
3.2 Exigências de mantença....................................................................
68
3.3 Exigências para ganho...................................................................... 72
4 Conclusões................................................................................................ 77
5 Referências................................................................................................
78
iii
CAPÍTULO 4 PREDIÇÃO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO CORPO E
DA CARCAÇA DE CABRITOS ¾ BOER x ¼ SAANEN, UTILIZANDO
COMPONENTES DO CORPO.........................................................................
81
1 Introdução..................................................................................................
82
2 Material e Métodos.....................................................................................
83
3 Resultados e Discussão.............................................................................
87
4 Conclusões................................................................................................ 95
5 Referências................................................................................................
96
CAPÍTULO 5 IMPLICAÇÕES........................................................................
99
iv
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
Página
CAPÍTULO 2 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM ENERGIA E PROTEÍNA
PARA MANTENÇA E GANHO EM PESO DE CABRITOS COM
CONSTITUIÇÃO GENÉTICA ¾ BOER ¼
SAANEN...........................................................................................................
24
Tabela 1. Valores de temperatura máxima e mínima (
0
C) e umidade
relativa do ar (%) do período experimental............................................
27
Figura 1. Organograma dos grupos de abate e tratamentos.......................
27
Tabela 2. Ingredientes e composição química da ração (base na MS)......
28
Tabela 3. Composição corporal final e balanço de energia de cabritos,
não castrados, com constituição genética ¾ Boer x ¼ Saanen do
abate “referência” (AR), intermediário (AI) e dos 3 níveis de ingestão
(à vontade, AV, e com restrição de 30 e 60% do consumo à vontade)..
33
Figura 2. Relação entre proporção de energia retida proveniente da
proteína (ERp, Mcal/Mcal) e a concentração de energia retida no
ganho (ERc, Mcal/kg de ganho de peso de corpo vazio). A linha
pontilhada representa a ERp predita por Tedeschi et al. (2004) e a
linha inteira, a ERp pela equação [9]: ERp = 0,1691 ± 0,09 + 2,4761 ±
0,58 × Exp (-0,8778 ± 0,22 × ERc).........................................................
35
Figura 3. Relação entre proporção de energia retida proveniente da
gordura (ERf, Mcal/Mcal) e a concentração de energia retida no
ganho (ERc, Mcal/kg de ganho de peso de corpo vazio). ERf = 0,7739
± 0,04 1,4842 ± 0,90 × Exp (-0,8314 ± 0,32 × ERc)............................
36
v
Tabela 4. Valores de peso vivo, digestibilidade aparente, balanço de N,
energia digestível (ED) e energia metabolizável (EM) em cabritos
¾Boer x ¼Saanen, no ensaio de digestibilidade, recebendo 3 níveis
de ingestão (à vontade, AV, e restrição de 30% ou 60% do consumo
à vontade)...............................................................................................
37
Figura 4. Relação entre o N retido e ingerido diariamente em cabritos
¾Boer x ¼Saanen, não castrados. A- N retido, g/kg
0,75
of PCV = -
0,390 ± 0,06 + 0,41 ± 0,03 × N ingerido, g/kg
0,75
PCV, r
2
= 0,89 e B- N
retido, g/kg
0,75
of PV = 0,360 ± 0,06 + 0,60 ± 0,04 × N digestível
ingerido, g/kg
0,75
PV, r
2
= 0,88.................................................................
42
Tabela 5. Equações de regressão para estimar a composição corporal
(proteina, gordura, cinzas e água) e a energia retida em cabritos ¾
Boer x ¼ Saanen....................................................................................
44
Tabela 6. composição corporal (proteina, gordura, cinzas e água) e a
energia retida em cabritos ¾ Boer x ¼ Saanen......................................
44
Tabela 7. Equações para predição da exigência líquida de energia e
proteína para ganho em peso de corpo vazio (GPCV)...........................
45
Tabela 8. Resumo das exigências líquidas para ganho de energia (EL
g
) e
proteína (PL
g
) citadas em vários experimentos individuais e estimadas
pelo NRC (1981) e AFRC (1998)..........................................
45
Figura 5. Relação entre ingestão de EM, kcal/kg
0.75
GPCV, and (A) ganho
de peso de corpo vazio (GPCV, g/kg
0.75
PCV) and (B) ganho de peso
vivo (GPV), g/kg
0.75
PV, de cabritos não castrados ¾ Boer x ¼
Saanen, usando as regressões sugeridas por Luo et al. (2004b)..........
48
Tabela 9. Exigência de energia líquida (EL) e metabolizável (EM) para
cabritos não castrados ¾ Bôer x ¼ Saanen em crescimento
(Mcal/dia)................................................................................................
49
Tabela 10. Exigência de proteína líquida (PL) para cabritos não castrados
¾ Bôer x ¼ Saanen em crescimento (g/dia)...........................................
50
vi
CAPÍTULO 3 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM MACROMINERAIS
PARA MANTENÇA E GANHO EM PESO DE CABRITOS COM
CONSTITUIÇÃO GENÉTICA ¾ BOER ¼ SAANEN........................................
54
Tabela 1. Valores de temperatura máxima e mínima (
0
C) e umidade
relativa do ar (%) do período experimental.............................................
58
Figura 1. Organograma dos grupos de abate e tratamentos.......................
58
Tabela 2. Ingredientes e composição química da ração (base na MS).......
59
Tabela 3. Composição corporal final e desempenho de cabritos, não
castrados, com constituição genética ¾Boer x ¼Saanen do abate
“referência” (AR), intermediário (AI) e dos 3 níveis de ingestão (à
vontade, AV, e com restrição de 30 e 60% do consumo à vontade)......
63
Tabela 4. Valores de peso vivo (PV), absorção aparente (Ab) e balanço
de cálcio e fósforo, em cabritos ¾Boer x ¼Saanen, no ensaio de
metabolismo, em 3 níveis de ingestão (à vontade, AV, e com
restrição de 30% ou 60% do consumo à vontade).................................
66
Tabela 5. Valores de peso vivo (PV), absorção aparente (Ab) e balanço
de magnésio, potássio e sódio em cabritos ¾Boer x ¼Saanen, no
ensaio de metabolismo, em 3 níveis de ingestão (à vontade, AV, e
com restrição de 30% ou 60% do consumo à vontade).........................
68
Tabela 6. Equações de regressão para estimar as exigências líquidas de
mantença dos minerais pelo método do abate comparativo..................
70
Tabela 7. Equações de regressão para estimar as exigências líquidas
dos minerais pelo método das perdas endógenas.................................
70
Tabela 8. Equações de regressão para estimar a composição corporal
(cinzas, Ca, P, Mg, K e Na) em cabritos ¾ Boer x ¼ Saanen................
72
Tabela 9. Composição corporal em cinzas, Ca, P, Mg, K e Na de cabritos
¾ Boer x ¼ Saanen estimadas pelas equações da Tabela 8.................
73
Tabela 10. Equações para predição da exigência líquida de
macrominerais para ganho em peso de corpo vazio (GPCV).................
74
vii
Tabela 11. Exigência líquida de cálcio (Ca), fósforo (P) e magnésio (Mg)
para cabritos não castrados ¾ Bôer x ¼ Saanen em crescimento
(g/dia).....................................................................................................
76
Tabela 12. Exigência líquida de potássio (K) e sódio (Na) para cabritos
não castrados ¾ Bôer x ¼ Saanen em crescimento (g/dia)...................
77
CAPÍTULO 4 PREDIÇÃO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO CORPO E
DA CARCAÇA DE CABRITOS ¾ BOER x ¼ SAANEN, UTILIZANDO
COMPONENTES DO CORPO.........................................................................
81
Tabela 1. Valores de temperatura máxima e mínima (
0
C) e umidade
relativa do ar (%) do período experimental.............................................
84
Figura 1. Cortes realizados na meia-carcaça esquerda de caprinos. 1
Perna; 2 Lombo; 3 Costelas; 4 Paleta; 5 Pescoço.....................
86
Tabela 2. Definições das acronímias dos components do corpo usados
para estimar a composição química do corpo e da carcaça neste
estudo.....................................................................................................
87
Tabela 3. Valores médios, mínimos, máximos e desvios-padrão (SD) das
variáveis utilizadas neste estudo, relativas aos teores de proteína e
gordura, como porcentagem da matéria natural.....................................
88
Tabela 4. Valores médios, mínimos, máximos e desvios-padrão (SD) das
variáveis utilizadas neste estudo, relativas aos teores de água e
matéria mineral, como porcentagem da matéria natural.........................
89
Tabela 5. Melhores equações de regressão para estimar a porcentagem
de gordura e proteína do corpo e da carcaça de cabritos abatidos com
diferentes pesos......................................................................................
90
Tabela 6. Melhores equações de regressão para estimar a porcentagem
de água e matéria mineral (MM) do corpo e da carcaça de cabritos
abatidos com diferentes pesos...............................................................
93
viii
LISTA DE ABREVIATURAS
9
a
a 11
a
C 9, 10 e 11
a
costelas
AGCa Água na carcaça
AGCo Água no corpo
AV À vontade
BN Balanço de nitrogênio
Ca Cálcio
CAR Carcaça
CMS Consumo de matéria seca
CNC Componentes não-carcaça (cabeça, pés, órgãos, sangue e pele)
COS Costelas
EB Energia bruta
ED Energia digestível
EE Extrato etéreo
EL Energia líquida
EL
g
Exigência líquida de energia para ganho
EL
m
Exigência líquida de energia para mantença
EM Energia metabolizável
EM
g
Exigência de energia metabolizável para ganho
EM
m
Exigência de energia metabolizável para mantença
EPG Energia do produtos gasosos
ER Energia retida no corpo
ERc concentração de energia retida no ganho
ERf Energia retida proveniente da gordura
ERp Energia retida proveniente da proteína
FDA Fibra em detergente ácido
FDN Fibra em detergente neutro
FIG deposição de gordura no ganho
ix
GCa Gordura na carcaça
GCo Gordura no corpo
GPCV Ganho de peso de corpo vazio
GPV Ganho de peso vivo
GREN Gordura renal
GVIS Gordura visceral
IEM Ingestão de energia metabolizável
IN Ingestão de nitrogênio
K Potássio
k
g
eficiência parcial da utilização da energia metabolizável para ganho
k
m
eficiência parcial da utilização da energia metabolizável para
mantença
LOM Lombo
Mg Magnésio
MM Matéria mineral
MMCa Matéria mineral na carcaça
MMCo Matéria mineral no corpo
MS Matéria seca
Na Sódio
NDT Nutrientes digestíveis totais
O&S Órgãos mais sangue
P Fósforo
PAL Paleta
PB Proteína bruta
PC Produção de calor
PCa Proteína na carcaça
PCo Proteína no corpo
PCF Peso da carcaça fria
PCQ Peso da carcaça quente
PCV Peso de corpo vazio
x
PCVi Peso de corpo vazio inicial
PD Proteína digestível
PER Perna
PES Pescoço
PIG deposição de proteína no ganho
PJ Peso em jejum
PJ i Peso em jejum inicial
PL Proteína líquida
PL
g
Exigência líquida de proteína para ganho
PL
m
Exigência líquida de proteína para mantença
PM Proteína metabolizável
PV Peso vivo
q
m
Metabolizabilidade da ração
RMSE "root mean square error" (raiz quadrada do quadrado médio do erro)
xi
COMPOSIÇÃO CORPORAL E EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM PROTEÍNA,
ENERGIA E MACROMINERAIS DE CABRITOS COM CONSTITUIÇÃO GENÉTICA
¾BOER E ¼SAANEN.
RESUMO - Os objetivos deste estudo foram estimar as exigências nutricionais e
desenvolver equações para predizer a composição química do corpo e da carcaça.
Trinta e quatro cabritos ¾ Boer ¼ Saanen, não castrados, foram utilizados, dos quais
sete foram abatidos no início do experimento, com 21,2 kg PV. Outros seis foram
abatidos ao atingirem 28,2 kg PV. Os 21 restantes foram distribuídos aleatoriamente em
sete grupos de três animais. Os tratamentos foram definidos por três níveis de consumo
de matéria seca (CMS): à vontade e restrição de 30 ou 60% do CMS. Cada grupo foi
abatido quando o animal do tratamento à vontade atingiu 35 kg de PV. Foi utilizado o
método da abate comparativo para o cálculo das exigências. A exigência líquida (EL)
diária de energia e proteína para mantença foram estimadas em 78,2 kcal/kg
0,75
de
peso do corpo vazio (PCV) e 2,4 g/kg
0,75
PCV. Com relação aos macrominerais, a EL
diária para mantença foi estimada em 32,3 mg Ca; 30,8 mg P; 1,31 mg Mg; 8,41 mg K e
5,14 mg Na por kg de PCV. A EL para ganho de energia, para animais pesando entre
20 a 35 kg PV, variou entre 2,5 a 3,0 Mcal/kg ganho PCV (GPCV); a de proteína variou
entre 178,8 e 185,2 g/kg GPCV e a de macrominerais variou de 6,5 a 7,0 g Ca; 5,3 a
5,4 g P; 0,29 a 0,31 g Mg; 0,67 a 0,62 g Na e 1,18 a 1,05 g K por kg GPCV. A
composição química (CQ) do corpo e da carcaça foram melhores estimadas por meio
da CQ dos componentes não carcaça e das costelas, respectivamente.
Palavras-Chave: abate comparativo, caprinos, composição corporal, exigência líquida,
predição.
xii
BODY COMPOSITION AND REQUIREMENTS OF ENERGY, PROTEIN AND
MACROMINERALS FOR MAINTENANCE AND GROWTH OF ¾ BOER ¼ SAANEN
KIDS
SUMMARY - Meat production of goats has become an important livestock enterprise in
several parts of the world. Nonetheless, energy and protein requirements of meat goats
have not been defined thoroughly. The objective of this study was to determine energy
and protein requirements for maintenance and growth and to develop equations to
predict the chemical composition of body and carcass using chemical composition of
body components of ¾Boer and ¼Saanen crossbred, intact male kids. In the first trial,
34 ¾Boer and ¼Saanen crossbred, intact male kids were used. The baseline group
(BL) was comprised of seven randomly selected kids, averaging 21.2 ± 0.36 kg of BW.
An intermediate group consisted of six randomly selected kids that were slaughtered
when they reached 28.2 ± 0.39 kg BW. The remaining kids (n = 21) were allocated
randomly to three levels of DMI (treatments: ad libitum and restricted to 30 or 60% of the
ad libitum intake) within seven slaughter groups. A slaughter group consisted of one kid
from each treatment and was slaughtered when the ad libitum treatment kid reached 35
kg BW. Individual body components were weighed, ground, mixed, and subsampled for
chemical analyses. The calculated daily NE
m
requirement was 78.2 kcal/kg
0.75
of empty
BW (EBW). A value of 2.44 g of net protein/kg
0.75
of EBW for daily maintenance was
determined. Net energy and protein (NP
g
) requirements for growth ranged from 2.55 to
3.0 Mcal/kg of empty weight gain (EWG) and 178.8 to 185.2 g/kg of EWG for 20 and 35
kg of BW, respectively. The daily net requirement of macrominerals for maintenance
was 32.3 mg of Ca; 30.8 mg of P; 1.31 mg of Mg; 8.41 of K and 5.14 mg of Na per kg of
EBW. Net macrominerals requirements for growth ranged from 6.5 to 7.0 g of Ca; 5.3 to
5.4 g of P; 0.29 to 0.31 g of Mg; 0.67 to 0.62 g of Na and 1.18 to 1.05 g of K per kg of
EWG. The chemical composition of the non-carcass components (head plus feet,
organs plus blood, and hide) had the best adjustment to estimate percentage of fat,
protein, and water in the empty body. For carcass composition, the chemical
composition of ribs was the best component to predict chemical components of the
whole carcass.
xiii
Key Words: comparative slaughter, goats, net requirement, nutrition, prediction
1
CAPÍTULO 1 - CONSIDERAÇÕES GERAIS
A caprinocultura constitui um importante setor do agronegócio mundial,
contribuindo para o fornecimento de couro, fibra, carne, leite e derivados (RESENDE et
al., 2005), além de conceder benefícios sociais e econômicos para diversas regiões em
desenvolvimento. Atualmente, tem se verificado expansão da produção de caprinos, o
que pode ser comprovado pelo aumento em 75% do efetivo mundial destes animais nas
últimas duas décadas, acompanhado de aumento de mais de 165% na produção de
carne no mesmo período (FAOSTAT, 2005). De acordo com o último censo, a
população mundial de caprinos atual é de 808,9 milhões de cabeças, a maior parte
concentrada nos países africanos e asiáticos. A produção de carne caprina mundial é
de 4,5 milhões de toneladas, sendo 3,4 milhões provenientes de países asiáticos
(FAOSTAT, 2005).
Da mesma maneira que em outros países, o crescimento da caprinocultura
também pode ser verificado no nosso país, onde o efetivo e a produção de carne
aumentaram nas últimas quatro décadas em 28% e 77%, respectivamente (FAOSTAT,
2005). A população de caprinos no Brasil é de aproximadamente 10,6 milhões de
cabeças, da qual 92,6% encontram-se nos estados do Nordeste (IBGE, 2004). Mesmo
estando concentrada no Nordeste, a exploração caprina vem despertando interesse em
outras regiões do país, notadamente nas regiões Sul e Sudeste, visando atender aos
mercados de carne, leite e derivados.
Segundo RESENDE et al. (2005), o aumento no interesse pelos caprinos
também pode ser observado nas pesquisas com esta espécie. Em levantamento na
HighWire Press constatou-se que houve aumento de aproximadamente 34% nas
publicações envolvendo caprinos e ovinos quando comparadas às décadas de 80 e 90.
Na Elsevier observou-se crescimento ainda mais relevante, na ordem de 130% no
período de 1980/1990 a 1990/2000. Este expressivo aumento das publicações com
pequenos ruminantes nesta editora pode ser explicado, entre outros motivos, pela
criação de um periódico destinado a estes animais, a revista Small Ruminant Research,
2
a qual foi criada em 1988 e atualmente é considerada uma das mais conceituadas da
área. No Brasil, observa-se também um aumento nos estudos com caprinos, sendo na
maioria estudos que abordam aspectos nutricionais (RESENDE et al., 2005). Este fato
foi também observado por MOHAND-FEHR & LEBBIE (2004), em levantamento aos
artigos indexados na base de dados Commonwealth Agricultural Bureaux (CAB), os
quais relataram que a grande maioria das publicações com caprinos no período de
1982/83 a 2000 foram relacionados com patologia e nutrição, sendo que aqueles
relacionados a patologia tenderam a diminuir e aqueles abordando nutrição cresceram
ao longo dos anos, mostrando a importância deste tópico na atividade produtiva.
Apesar do aumento do efetivo, a exploração da carne caprina no Brasil ainda
pode ser considerada baixa, apenas 0,9% da produção mundial (FAOSTAT, 2005), o
que pode ser devido aos baixos índices de produtividade e baixo nível tecnológico dos
sistemas de produção, ressaltados pela não utilização de raças especializadas para
corte. Este fato também pode ser observado em outros países, cujos sistemas de
produção de carne caprina se encontram mal definidos e a carne de cabrito é um sub-
produto das explorações leiteiras, onde os animais são abatidos entre 8 a 16 semanas
de idade, alcançando peso vivo de 10 a 20 Kg (WILKINSON & STARK, 1987).
Um problema associado com a produção de carne caprina como subproduto do
rebanho leiteiro, é que a raça Saanen não é considerada apta à produção de carne. O
cruzamento com a raça Boer, cujos reprodutores seriam cruzados com fêmeas Saanen,
poderia melhorar os níveis de produtividade dos produtos F1, tanto machos como
fêmeas, devido à precocidade e especialização para a produção de carne,
proporcionando melhor qualidade de carcaça. O cruzamento das fêmeas F1 com
reprodutores Boer proporcionaria, então, uma aditividade nesse melhoramento, cujos
produtos (¾ Boer x ¼ Saanen) seriam mais especializados para a produção de carne.
Esse tipo de cruzamento absorvente já vem sendo utilizado por vários produtores no
Brasil, com a finalidade de converter parte ou todo rebanho leiteiro em rebanho para
corte da raça Boer, introduzida recentemente no país. Apesar de ser mais demorado, o
cruzamento absorvente oferece um menor custo em relação à compra de animais
puros, uma vez que esses são importados e de valor bem elevado.
3
Sem dúvida a alimentação merece grande atenção dos pesquisadores, uma vez
que representa a maior parcela do custo de produção e o fornecimento de dietas que
atendam às necessidades dos animais pode evitar prejuízos econômicos e ambientais,
reduzindo o desperdício de nutrientes e minimizando a deposição de poluentes no
ambiente. Portanto para a elaboração de dietas eficientes e econômicas, é importante o
conhecimento dos hábitos alimentares, da composição bromatológica e eficiência de
utilização dos alimentos, do consumo destes alimentos e das exigências nutricionais
(RESENDE et al., 2005).
As exigências nutricionais, por sua vez, diferem-se entre espécies devido às
diferenças no hábito alimentar, nas atividades físicas, na composição de carcaça, entre
outros, justificando assim o estudo isolado das mesmas (NRC, 1981b). Além disso,
devem-se considerar as condições edafoclimáticas, genéticas (raças), sexo e idade
como fatores influentes nas determinações das exigências nutricionais.
1 A raça Boer
A raça Boer é uma raça caprina especializada para produção de carne e
originária da África do Sul. A raça tem esse nome por ser a palavra alemã que
representa carne. Sua provável origem é o resultado do cruzamento de cabras
indígenas africanas com raças indianas e européias, no século XIX. Os caprinos Boer
“melhorados” surgiram no início do século passado, quando um grupo de criadores
iniciou a criação de animais tipo carne que apresentavam alta taxa de fertilidade e
crescimento, pelo branco curto e marcações vermelhas na cabeça e peito. Desde 1970
esta raça foi incorporada ao Esquema Nacional de Teste de Desempenho de Ovinos e
Caprinos da África do Sul, sendo a única raça envolvida efetivamente em testes de
desempenho para produção de carne (RIBEIRO & RIBEIRO, 2001). No Brasil, esta raça
foi inicialmente introduzida na Paraíba apresentando grande difusão pelo restante do
país.
4
A raça Boer, sendo especializada para a produção de carne, apresenta ganhos
de peso de 200 a 300 g/dia. Além disso, suas matrizes são bastante prolíficas, com
produção de leite variando de 1,5 a 2,5 kg por dia, com teores de proteína de 43 g/kg e
gordura de 77 g/kg (CASEY & NIEKERK, 1988; SCHWALBACH & GREYLING, 2000).
A utilização de cruzamentos tem a finalidade de proporcionar ao produto do
acasalamento o maior ganho possível para determinada característica. Seguindo este
conceito, algumas pesquisas têm sido realizadas para avaliar o efeito do cruzamento da
raça Boer com raças nativas ou leiteiras sobre o desempenho das crias resultantes.
CAMERON et al. (2001) verificaram que a taxa de crescimento pós-desmama de
cabritos, consumindo ração com alta proporção de concentrado, foi similar para os
cabritos provenientes do cruzamento Boer x Spanish e Boer x Angora, sendo que os
animais cruzados com Boer apresentaram taxas de crescimento maiores que os
animais puros da raça Spanish. DHANDA et al. (2003), avaliando seis genótipos
provenientes de cruzamentos entre as raças caprinas Angorá, Boer, Feral e Saanen,
observaram que os animais dos cruzamentos Boer x Saanen e Feral x Saanen
obtiveram melhores taxas de ganhos que animais de outros cruzamentos, como Boer x
Angorá, Boer x Feral e Saanen x Angorá. Entretanto, PEREIRA FILHO (2003) observou
que cabritos do cruzamento Boer x Saanen apresentaram ganho de peso e rendimento
de carcaça semelhantes aos valores encontrados por YÁÑEZ (2002), trabalhando com
cabritos Saanen puros.
Uma observação interessante foi feita por SHERSTHA & FAHMY (2005) ao
avaliar estudos sobre cruzamentos raciais em caprinos. Estes autores concluiram que
uma dieta com alta qualidade foi essencial para a expressão do potencial genético da
raça Boer e seus cruzamentos, apontando talvez para uma exigência nutricional
diferenciada.
5
2 Composição corporal
O conhecimento da composição química do corpo e do ganho em peso é
fundamental para a estimativa das exigências nutricionais de uma categoria animal,
uma vez que estas estão diretamente correlacionadas (RESENDE, 1989). Vários
fatores interferem na composição corporal do animal e conseqüentemente na
quantidade e local de deposição dos tecidos como o genótipo, sexo, idade, alimentação
e categoria animal (AFRC, 1993).
Existem diversas metodologias para determinação da composição corporal e em
geral, elas podem ser divididas naquelas medidas no animal vivo e aquelas
determinadas após o abate. As metodologias realizadas no animal vivo permitem
avaliar a composição corporal várias vezes no mesmo animal, sendo não destrutivas,
entretanto, algumas delas apresentam repetibilidade inconsistente, alto custo e são
justificáveis apenas sob certas condições ambientais (MILLER et al., 1988; STANFORD
et al., 1998). Dentre estas destacam-se a ultra-sonografia (EDWARDS et al., 1989;
STANFORD et al., 1995), a condutividade elétrica do corpo ou TOBEC (WISHMEYER
et al., 1996), impedância bioelétrica ou BIA (BERG & MARCHELLO, 1994), as técnicas
de diluição utilizando uréia (KOCK & PRESTON, 1979), água tritiada (PANARETTO &
TILL, 1963; RESENDE, 1989) ou óxido de deutério (MARTIN & EHLE, 1986), entre
outros.
Na determinação da composição corporal do animal após o abate, destaca-se o
método direto (RESENDE, 1989), a composição da seção da 9
a
a 11
a
costelas
(HANKINS & HOWE, 1946; ALLEONI et al., 1997) ou ainda de outras partes do corpo
do animal (WILKINSON & GREENHALGH, 1995a; DE CAMPENEERE et al., 1999;
MEDEIROS, 2001), gravidade específica do corpo vazio (LUNT et al., 1985; RESENDE,
1989), gravidade específica da seção da costela (RESENDE, 1989), entre outros.
Apesar da escolha do método para predição da composição corporal estar
dependente de diversos fatores, tais como: custo, facilidade de tomada das medidas e a
acurácia da predição entre animais independente do sexo, idade ou regime de
6
alimentação (RESENDE et al., 2005), o método direto ainda tem sido apontado como a
forma mais precisa e confiável de avaliar a composição corporal, pois consiste na
determinação da concentração de nutrientes no corpo do animal, por meio de análise
química de todos os tecidos do animal (músculo, gordura e ossos). Entretanto, a
moagem de todo o animal torna-se difícil como rotina experimental, pois além de ser de
elevado custo, permite apenas uma avaliação por animal. Apesar das dificuldades, todo
método de avaliação indireto deve ser desenvolvido ou aferido, comparando-o com o
método direto (RESENDE, 1989).
Fornecendo quantidades adequadas de nutrientes e não havendo restrições
ambientais, o animal irá desenvolver até seu peso adulto seguindo a curva sigmóide
para crescimento acumulativo, o qual é convenientemente descrito pela equação
alométrica Y = aX
b
. O ARC (1980) propôs que as equações de predição do conteúdo
dos nutrientes por kg de corpo vazio fossem obtidas por meio de equações alométricas
logaritmizadas da quantidade do nutriente presente no corpo vazio, em função do peso
de corpo vazio (PCV): Log y = a + b log x, onde:
Log y = logaritmo da quantidade total do nutriente no corpo vazio (g);
a = intercepto;
b = coeficiente de regressão da quantidade do nutriente em função de PCV
log x = logaritmo do peso de corpo vazio (kg).
Para determinação da composição do ganho em peso, é adotada a técnica do
abate comparativo, descrita por LOFGREEN & GARRET (1968), em que um grupo de
animais é abatido no início do experimento (animais referência) representando a
composição corporal inicial e os demais animais são abatidos ao término do período
experimental, representando a composição corporal final para cada nutriente, sendo
que a partir da diferença entre a composição corporal final e a inicial, estima-se a
composição do ganho dos nutrientes por kg de ganho em peso e também a exigência
líquida destes nutrientes para o referido ganho.
No Brasil, muitos trabalhos concentraram esforços em avaliar a composição
corporal de caprinos em crescimento, cuja variação pode ser explicada pelas diferenças
7
de peso, estágios de maturidade e sexo entre os animais utilizados nestes estudos,
uma vez que estes compreenderam desde indivíduos com 5 até 45 kg de peso vivo.
RESENDE (1989), utilizando caprinos machos oriundos do cruzamento de fêmeas sem
raça definida - SRD com machos das raças Alpina ou Toggenburg, com peso vivo entre
5 e 25 kg encontrou a seguinte composição corporal: 71,5 e 64,5 % de água; 17,8 e
20,7 % de proteína 5,1 e 9,1 % de gordura; 1,5 e 2,0 Mcal de energia/kg peso do corpo
vazio (PCV); 0,96 e 1,09 % de cálcio e 0,75 e 0,71 % de fósforo, respectivamente.
Já em outro estudo, utilizando cabritos do mesmo grupo genético pesando de 5 a
15 kg, RIBEIRO (1995) obteve composição corporal de 73,4 e 61,2 % de água; 16,6 e
17,1 % de proteína; 3,6 e 13,1 % de gordura; 1,4 e 2,3 Mcal de energia/kg PCV; 0,1 e
1,0 % de cálcio e 0,66 e 0,70 % de fósforo, respectivamente.
Enquanto que SOUSA et al. (1998c) utilizando animais alpinos machos não
castrados e em crescimento com peso vivo médio de 20 kg, encontrou valores médios
para a composição corporal de: 64,88 % de água; 15,22 % de proteína, 16,11 % de
gordura, 2,40 Mcal de energia /kg PCV; 0,79 % de cálcio e 0,54 % de fósforo.
Em estudo realizado por MEDEIROS (2001), cabritos da raça Saanen, não
castrados, com peso vivo entre 5 e 20 kg, apresentaram a seguinte composição
corporal: 76,8 a 73,4% de água, 14,9 a 15,2 % de proteína, 4,0 a 7,5% de gordura e de
1,2 a 1,5 Mcal de energia/kg de PV, sendo que para a composição do ganho em peso
os valores foram: 181 a 184 g de proteína/kg de ganho e 1,7 a 2,1 Kcal de energia/g de
ganho. Em continuação ao estudo anterior, FERREIRA (2003) determinou a
composição corporal de cabritos da raça Saanen, castrados, com peso vivo entre 20 a
35 kg, encontrando os valores de 58,5 a 64,6% de água, 17,6 a 18,5 % de proteína, 8,9
a 18,1% de gordura e de 1,8 a 2,7 Mcal de energia/kg de PV.
São escassos os estudos de composição corporal utilizando animais
provenientes de cruzamentos com raça especializada para corte, sendo disponíveis
apenas dados na fase inicial de crescimento (de 5 a 25 kg PV), onde TEIXEIRA (2004)
relatou variação de 68 a 73% de água, de 18 a 20% de proteína, de 3 a 11% de
gordura, de 1,2 a 2,1 Mcal/kg de energia e de 3,6 a 4,6% de cinzas.
8
3 Exigências nutricionais
3.1 Histórico
O fornecimento de alimentos para animais depende do sincronismo entre suprir
as exigências nutricionais para determinada produção conjuntamente com a otimização
do lucro obtido em função desta produção. Isto requer informações específicas sobre a
exigência nutricional para cada função produtiva e sobre a ingestão dos alimentos e a
contribuição de cada um para atingir esta exigência. Neste contexto, alguns comitês, de
diversos países, agregaram informações e compilaram dados sobre as exigências
nutricionais de caprinos, para serem utilizados por produtores e pesquisadores.
Nos EUA, o National Research Council (NRC) da National Academy of Sciences
iniciou, em 1942, o desenvolvimento de padrões alimentares para as diversas espécies,
sendo que a primeira publicação do NRC para bovinos de corte e de leite foi editada em
1945. Esta e outras publicações específicas para cada espécie foram preparadas por
subcomitês composto por membros especialistas em nutrição.
O NRC de caprinos (Nutrient Requirement of Goats; NRC, 1981b) foi uma das
primeiras referências a compilar vários trabalhos em um documento, listando as
exigências nutricionais de caprinos em vários estágios de produção. Este documento
ganhou proeminência nos anos seguintes à sua publicação e ainda é usado como uma
referência em exigências nutricionais de caprinos por alguns grupos. Dois comentários
colocados na introdução deste documento ilustraram os desafios que existiam e ainda
existem quando se objetiva definir as exigências nutricionais de caprinos:
“É grandemente evidente que, apesar das similaridades com ovinos e bovinos,
os caprinos exibem diferenças em hábitos de pastejo, atividades físicas, consumo de
água, seleção de alimentos, composição do leite, composição da carcaça, desordens
metabólicas e parasitas..”
“...esta primeira edição do NRC deve ser considerada dentro dos limites de
conhecimento disponíveis e refinamentos são reservados para edições subsequentes,
em decorrência da evolução das pesquisas com caprinos.”
9
Apesar da consciência dos autores e do aumento de trabalhos com caprinos,
esta edição não foi revisada e a maneira de expressar alguns nutrientes entrou em
desuso, principalmente com relação à evolução ocorrida para as exigências nutricionais
de bovinos. Quando o NRC de bovinos de corte e leite foi primeiramente publicado em
1945, os valores energéticos foram expressos como Nutrientes Digestíveis Totais
(NDT). Nas décadas de 50 e 60, ocorreu uma expansão nas pequisas sobre
metabolismo de energia na Europa e nos EUA, levando a um aumento das propostas
por um novo sistema de energia, com discussões intensas sobre o mérito dos sistemas
baseados em energia digestível, metabolizável e líquida. O sistema de “Energia Líquida
da Califórnia”, proposto por LOFGREEN & GARRET (1968), foi adotado primeiramente
pelo NRC de gado de corte em 1970 e expressa as exigências em energia líquida de
mantença (EL
m
) e de ganho (EL
g
). Dentro desta proposta, o NRC de caprinos (NRC,
1981) expressou as exigências como energia digestível, energia metabolizável, energia
líquida para mantença, ganho, gestação, lactação e produção de fibra, além de utilizar
também o NDT. Estas formas de energia foram inter convertidas utilizando as relações
estabelecidas por GARRET et al. (1959) onde: 100 Mcal de energia bruta (EB)=76 Mcal
ED = 62 Mcal EM =35 Mcal EL e 1 kg NDT = 4,409 Mcal ED. Com relação à proteína,
as exigências foram expressas, pelo NRC de caprinos, como proteína total e proteína
digestível; entretanto este sistema não distingue entre proteína dietética degradada e
não degradada no rúmen e nem considera a síntese de proteína microbiana. A
complexidade e dinâmica do metabolismo de nitrogênio na nutrição de ruminantes têm
sido muito estudadas, gerando avanços conceituais importantes. O maior limitante do
uso de proteína bruta ou digestível como uma medida da disponibilidade e utilização
protéica é que esta não quantifica e nem diferencia a forma de nitrogênio presente nos
alimentos e sua conseqüente utilização pelos microrganismos ruminais. No caso dos
minerais, o NRC (1981) é ainda mais limitante pois assume que as exigências para
caprinos são semelhantes às outras espécies de ruminantes.
Em 1988, o Institut National de la Recherche Agronomique (INRA) compilou
alguns trabalhos sobre exigências nutricionais de caprinos. O conceito do sistema de
arraçoamento em energia e proteína do INRA foi primeiramente apresentado em 1978
10
(INRA, 1978), sendo revisado em 1987. Esta revisão foi superficial para os conceitos
em energia e aprofundada para os conceitos em proteína. O sistema do INRA de
avaliação dos valores alimentares e das exigências energéticas dos animais é
determinado em termos de energia líquida, considerando para cada alimento dois
valores: a unidade forrageira para leite (UFL) e a unidade forrageira para carne (UFC),
sendo a unidade padrão referência para ambos 1 kg de grão de aveia (UFL = EL
lactação/1700 e UFC = EL mantença+engorda/1820). Com relação à proteína, o
sistema utilizado é o da “proteína digestível intestinal”, a qual determina o valor protéico
dos alimentos e as exigências dos animais em termos da quantidade de aminoácidos
realmente absorvidos no intestino delgado. Entretanto, as relações utilizadas para o
estabelecimento de todas as equações utilizadas tanto para o aporte energético quanto
protéico foram baseadas em experimentos com ovinos e bovinos, além de que, não foi
estabelecido uma exigência específica para caprinos de corte.
Em 1998, o comitê de especialistas em caprinos do Agricultural and Food
Research Council (AFRC, 1998) publicou uma revisão das informações sobre a
composição corporal de caprinos e seus produtos; a ingestão e fisiologia digestiva; e as
exigências nutricionais em energia, proteína, minerais e vitaminas, focando o estudo em
trabalhos sobre caprinos realizados no Reino Unido. Neste trabalho, as exigências
nutricionais obedeceram o método fatorial (ARC, 1980), o qual fraciona a exigência
líquida dos animais em seus diversos componentes de produção (exigência total =
exigência de mantença + exigência de ganho + exigência de gestação + exigência de
lactação + exigência para exercício ou trabalho). As exigências em energia são
expressas em termos de energia metabolizável (EM), baseadas em estudos com
calorimetria feitos por BLAXTER (1962) e detalhado pelo ARC (1980), utilizando
eficiências da utilização de EM (k) específicas para vários proce, n7 ( ) Tj0 -21 TD -0.0462 corporrs irso n7 tir0074 Tc 1.1714 Tw (ex36qual fra4gên) Tjaa/1energia são
11
sendo as exigências propostas para caprinos generalizações, podendo variar sua
aplicação para raças e condições específicas. Apesar do fundamento do AFRC (1998)
ser o mais completo, pois baseia-se na composição corporal e dos produtos para a
estimativa das exigências nutricionais, muitos valores e coeficientes utilizados são
extrapolados de experimentos com bovinos e ovinos (ARC, 1980), devido,
principalmente, à quantidade limitada de trabalhos com caprinos.
Em 2004, pesquisadores do E (Kika) de la Garza American Institute for Goat
Research compilaram alguns trabalhos sobre exigências nutricionais de caprinos e o
resultado deste projeto foi publicado em uma edição especial da revista Small Ruminant
Research (2004, Volume 53, número 3), editado pela Elsevier Science. As exigências
determinadas neste estudo foram calculadas empiricamente, estimando-se as
exigências em energia e proteina através da regressão do consumo de energia ou
proteína metabolizável em função da produção, como ganho de peso, produção de
leite, e crescimento da fibra. Os fatores que poderiam estar interferindo nestas
equações são aqueles relacionados ao enchimento ruminal e às variações na
composição do ganho, os quais não são considerados no cálculo, mas influenciam na
determinação das exigências. A vantagem deste método é que os dados podem ser
obtidos de situações usuais de produção e o grau de confiabilidade da linha de
regressão, da aplicação das exigências obtidas por esta análise e o coeficiente de
variação dependerão do número de experimentos fornecedores dos dados usados para
a base dos cálculos, e se fatores como raça, aptidão produtiva e idade são
considerados.
No Brasil, o Grupo de Estudos em Caprinocultura, da Universidade Estadual
Paulista, campus de Jaboticabal tem concentrado esforços no estudo sobre exigências
nutricionais de caprinos. Os pesquisadores envolvidos utilizaram, preferencialmente, o
método direto (RESENDE, 1989; RIBEIRO, 1995; FERREIRA, 2003; TEIXEIRA, 2004)
para a determinação da composição corporal e das exigências, as quais foram
estimadas em termos de “exigência líquida”.
12
3.2 Exigências nutricionais de energia para mantença e ganho
As exigências de energia podem ser afetadas pela idade, tamanho do corpo,
crescimento de pêlos, atividade muscular, relação com outros nutrientes e fatores do
meio ambiente, tais como temperatura, umidade, intensidade solar e velocidade do
vento (NRC, 1981).
A exigência de energia para mantença pode ser definida como sendo a
quantidade de energia do alimento que não resulta em ganho ou perda de energia do
corpo (NRC, 1985). O ARC (1980) definiu as exigências de mantença de um animal
como a quantidade de nutrientes ou energia necessários para que os processos vitais
do seu corpo permaneçam normais, incluindo a reposição das perdas endógenas e
metabólicas pelas fezes e urina e pela pele, ou seja, é aquela que não permitirá perda
ou ganho de peso dos animais e modificações na sua composição corporal. Existem,
basicamente, três métodos para estimar as exigências de energia para mantença:
ensaios de alimentação, método calorimétrico e abate comparativo (ARC, 1980). Cada
um destes métodos possui suas vantagens e limitações, sendo que a escolha por um
deles deve levar em consideração as condições particulares de cada estudo
(RESENDE et al., 2005).
LOFGREEN & GARRET (1968) desenvolveram um sistema de energia líquida
para bovinos em crescimento e terminação, chamado de “Sistema de Energia Líquida
da Califórnia”. Este sistema separa as exigências para mantença (EL
m
) daquela para o
ganho de peso (EL
g
), expressando um valor de energia líquida do alimento para cada
uma dessas funções. De acordo com este sistema, a EL
m
corresponde à produção de
calor no jejum, e é obtida pela extrapolação ao nível zero de ingestão de energia
metabolizável (IEM) da equação de regressão do logaritmo da produção de calor em
função da IEM. A EL
g
representa a energia retida para determinado ganho em peso do
animal e pode ser estimada pela derivação da equação de regressão do conteúdo
corporal em energia em função do logaritmo do peso do corpo vazio (PCV), segundo o
ARC (1980).
13
O NRC (1981b) propôs que a exigência de energia para mantença fosse 57,2
Kcal de EL
m
/kg
0,75
PV, enquanto que o AFRC (1998) recomendou em suas tabelas o
valor de 75,3 Kcal de EL
m
/kg
0,75
PV.
Em estudos conduzidos no Brasil, RESENDE (1989) e RIBEIRO (1995),
estudando as exigências de energia em caprinos (SRD x Alpina ou Toggenburg) em
crescimento, estimaram a exigência líquida de mantença em 68,9 e 65,7 kcal de
EL
m
/kg
0,75
PCV. MEDEIROS (2001), utilizando cabritos da raça Saanen, não castrados,
com peso vivo variando de 5 a 20 kg, encontrou como exigência líquida de energia para
mantença o valor de 69,2 Kcal de EL
m
/kg
0,75
PCV, enquanto FERREIRA (2003),
utilizando animais da mesma raça, castrados, com peso vivo variando de 20 a 35 kg,
estimou o valor de 62,6 Kcal de EL
m
/kg
0,75
PCV.
Em estudos com animais F1 Boer x Saanen, as exigências líquidas de mantença
em energia foram estimadas em 53,5 e 85,1 kcal de EL
m
/kg
0,75
PV, para os cabritos
com PV variando de 5 a 15 kg e de 15 a 25 kg, respectivamente (TEIXEIRA, 2004).
Em publicação mais recente, o grupo de pesquisa da E (Kika) de la Garza
Institute for Goat Research da Universidade de Langston propôs separação das
exigências para quatro grandes grupos raciais: animais para carne (> 50% Boer),
leiteiros, nativos e Angorá. No caso especificamente das exigências de mantença foi
possível detectar diferenças nas exigências de energia metabolizável, sendo
preconizado 489, 580, 489 e 560 kJ de EM
m
/kg
0,75
de PV (ou 116,8; 138,6; 116,8 e
133,8 kcal de EM
m
/kg
0,75
de PV) para animais em crescimento das raças de corte, leite,
nativa e Angorá, respectivamente (SAHLU et al., 2004).
Para crescimento, o AFRC (1998) sugere o valor de 2,3 kcal de EL
g
/g de ganho.
No trabalho realizado por RESENDE (1989), a energia líquida de ganho foi estimada
em 1,4 a 1,8 kcal/g ganho, dependendo do tamanho do animal, sendo que RIBEIRO
(1995) encontrou valores de 1,6 a 2,6 kcal/g de ganho.
SOUSA et al. (1998c) estimaram para cabritos da raça Alpina com peso vivo de
18 a 26 kg, energia líquida para ganho de 1,8 a 1,6 kcal/g de ganho, respectivamente.
Para cabritos Saanen em crescimento, MEDEIROS (2001) estimou a exigência
de energia líquida para ganho em 1,7 a 2,1 kcal/g de ganho, para animais de 5 a 20 kg
14
PV, enquanto que FERREIRA (2003) estimou valores de 1,8 a 2,7 kcal/g de ganho,
para animais de 20 a 35 kg PV. Recentemente, TEIXEIRA (2004) observou valores de
exigência líquida de energia para crescimento variando de 1,5 a 2,3 kcal/g de ganho
para cabritos F1 Boer x Saanen de 5 a 25 kg, inferindo que essas exigências em
energia foram diferentes das recomendações preconizadas pelos comitês
internacionais, e que os cabritos F1 Boer x Saanen exigiram mais energia que os
cabritos de outras raças ou cruzamentos estudados em condições brasileiras em
similares estágios fisiológicos.
Grande parte das recomendações internacionais é expressa em termos de
nutrientes digestíveis totais, metabolizáveis ou brutos, como pode ser encontrado nas
recomendações do grupo da Universidade de Langston, o qual indica diferentes
exigências de energia metabolizável para crescimento dos grupos raciais Angorá,
nativos, leiteiros e de corte (SAHLU et al., 2004), recomendando 37,2; 19,8; 23,1 e 23,1
kJ EM
g
/g de ganho de PV (ou 8,8; 4,7; 5,5 e 5,5 kcal de EM
m
/ g de ganho de PV),
respectivamente. Para animais em aleitamento eles apresentaram uma única
recomendação independente do grupo racial pertencente sendo 13,4 kJ (ou 3,2 kcal)
EM
g
/g de ganho de PV .
3.3 Exigências nutricionais de proteína para mantença e ganho
As exigências de proteína podem ser expressas de diversas formas como
proteína bruta (PB), proteína digestível (PD), proteína degradável no rúmen, proteína
não degradável no rúmen, proteína metabolizável (PM) e proteína líquida (PL), de
acordo com as informações compiladas em cada sistema de alimentação (MEDEIROS,
2001).
A exigência de proteína para mantença tem sido determinada por dois métodos:
o primeiro, por meio das perdas mínimas nas fezes (NMf), na urina (NUe), nos pêlos e
nas secreções da pele (NP) estimadas pelo método do abate comparativo, e o segundo,
em ensaios de alimentação, pelo balanço de nitrogênio, em que a mantença representa
o equilíbrio (balanço zero) que apresenta normalmente valores maiores (RESENDE et
15
al., 2001). As exigências diárias de proteína para caprinos em crescimento podem ser
definidas como a soma das exigências para manutenção e para ganho.
Para mantença, o NRC (1981) considerou um valor de 2,8 g de PD ou 4,2 g
PB/kg
0,75
PV. O AFRC (1998) sugeriu um valor de PL para mantença (PL
m
) de 2,2
g/kg
0,75
PV/dia. No Brasil, para cabritos Saanen em crescimento, MEDEIROS (2001)
estimou a exigência de PL
m
em 1,32 g/kg
0,75
PCV/dia, para animais de 5 a 20 kg PV,
não castrados, enquanto que FERREIRA (2003) estimou valores de 2,2 g/kg
0,75
PCV/dia, para animais de 20 a 35 kg PV, castrados. TEIXEIRA (2004), utilizando
animais F1 Boer x Saanen submetidos às mesmas condições, estimou as exigências
líquidas de mantença em proteína em 2,4 e 2,6 g PL
m
/kg
0,75
PV/dia, para os cabritos
com PV variando de 5 a 15 kg e de 15 a 25 kg, respectivamente.
O grupo de pesquisa da E (Kika) de la Garza Institute for Goat Research da
Universidade de Langston detectou diferenças nas exigências de proteína
metabolizável para mantença entre os animais da raça Angorá e os demais grupos
(corte, leite e nativa), sendo recomendado 4,30 e 3,07 g de PM/ kg
0,75
PV,
respectivamente (SAHLU et al., 2004).
Alguns trabalhos de pesquisa têm sido realizados no Brasil a fim de determinar
as exigências líquidas de proteína para ganho em caprinos na fase de crescimento.
SOUSA et al. (1998c), relataram valores de 168 a 183 g PL
g
/kg de ganho de cabritos da
raça Alpina de 18 a 26 kg de PV. RIBEIRO (1995) e RESENDE (1989) trabalhando com
caprinos SRD x Alpina ou Toggenburg de 5 a 25 kg de PV encontraram exigências
líquidas de proteína para ganho de 145 a 151 g/g e 147 a 172 g/kg de ganho,
respectivamente.
No trabalho de MEDEIROS (2001), para cabritos Saanen de 5 a 20 kg, a
exigência de proteína líquida de ganho foi estimada em 181 a 184 g PL
g
/kg de ganho.
Já FERREIRA (2003) estimou a exigência líquida de proteína para ganho em 227 a 221
g PL
g
/kg de ganho, verificando que a medida que o ganho de peso dos animais
aumentou, os valores de exigências líquidas também aumentaram. Em um estudo com
cabritos F1 Boer x Saanen, em fase inicial do crescimento, as exigências líquidas para
ganho variaram de 135 a 165 g de PL
g
/kg de ganho de PV (TEIXEIRA, 2004).
16
Nas recomendações do grupo da Universidade de Langston, as exigências de
proteína metabolizável para crescimento são distintas entre os grupos raciais Angorá,
nativo e leiteiro e de corte (SAHLU et al., 2004), sugerindo os valores de 0,318; 0,290 e
0,404 g PM
g
/g ganho de PV.
As variações observadas nas estimativas de exigências nos diversos trabalhos
podem estar relacionadas a fatores como sexo, idade dos animais, raça ou grau de
sangue, taxa de crescimento, estado fisiológico e composição corporal (LU et al., 1987).
3.4 Exigências nutricionais em macrominerais para mantença e ganho
Os macrominerais representam um componente essencial na dieta de
ruminantes e influenciam de modo marcante sua produtividade, pois atuam como
cofatores essenciais para utilização de outros elementos como energia e proteína pelo
organismo animal. Além disso, esses elementos não podem ser sintetizados pelo
organismo animal devendo ser fornecidos diariamente de forma balanceada, na
alimentação (SILVEIRA, 1988).
As exigências dietéticas de minerais são muito mais difíceis de serem definidas
com exatidão em comparação aos nutrientes orgânicos, pois vários fatores exercem
influência sobre a utilização dos minerais, como inter-relações dos diversos elementos,
correlações entre frações orgânicas e minerais ou ainda variações individuais.
As exigências de minerais para mantença podem ser estimadas por três
métodos: ensaios de alimentação, utilização de radioisótopos e abate comparativo
(LOFGREEN & GARRETT, 1968; CARVALHO, 1998; DORIGAN, 2000). Entende-se por
exigência líquida em minerais para manutenção, a quantidade destes mobilizados na
manutenção dos tecidos em relação ao constante desgaste decorrente dos processos
vitais (perdas endógenas).
A utilização de radioisótopos permite uma melhor compreensão da dinâmica dos
minerais, com determinação das exigências e regulação homeostática no animal.
Entretanto esta metodologia é cara e necessita infra-estrutura adequada para sua
realização; desta maneira, a maioria dos trabalhos utiliza ensaios de alimentação, com
17
o fornecimento de dietas isentas ou muito pobres no mineral em questão, ou então pelo
fornecimento de dietas com diferentes teores do elemento mineral em estudo. A partir
dos dados obtidos, utiliza-se equação de regressão da quantidade excretada em função
da quantidade ingerida, sendo que quando a ingestão do mineral for igual a zero a
excreção obtida será a exigência líquida de mantença.
Quando se utiliza a técnica do abate comparativo, o princípio é o mesmo que o
utilizado para proteína, ou seja, a partir da equação de regressão entre a retenção do
mineral no ganho e a ingestão do mesmo. A exigência líquida do elemento mineral para
mantença será igual à retenção negativa deste quando a ingestão for extrapolada para
zero.
No Brasil, SOUSA (1997) estimou a exigência líquida de cálcio para mantença de
31 mg Ca/PCV
0,75
/dia para cabritos da raça Saanen e QUEIROZ et al. (2000b)
encontraram, em cabritos da raça Alpina, exigência líquida de fósforo para mantença de
13,7 mg P/kg PV/dia.
Utilizando radioisótopos, DORIGAN (2000) estimou a exigência líquida de cálcio
para mantença em 11,7 mg Ca/kg PV/dia. Enquanto que BUENO (1997) estimou as
exigências líquidas de fósforo para mantença em 5,6 mg P/kg PV/dia e CARVALHO
(1998) em 6,8 mg P/kg PV/dia.
Quanto às exigências de mantença dos outros minerais, estas não têm sido
estudadas no Brasil, assim os valores recomendados para ovinos de Mg = 3,5 mg/kg
PV; K = 50 mg/kg PV; Na = 15 mg/kg PV (MESCHY, 2000) tem sido utilizados.
RESENDE (1989), trabalhando com caprinos SRD x Alpina ou Toggenburg em
crescimento, verificou que as exigências líquidas dos macrominerais para ganho foram
semelhantes às de ovinos, porém inferiores às de bovinos, estimando os valores de:
7,18 a 6,89 mg de fósforo; 10,38 a 12,15 mg de cálcio; 0,40 a 0,42 mg de magnésio;
1,20 a 1,12 mg de sódio; e 1,47 a 1,22 mg de potássio/g de ganho. Entretanto, no
estudo de RIBEIRO (1995), com animais SRD x Alpino ou Toggenburg, com peso entre
5 a 15 kg, os valores de exigências líquidas encontradas para macrominerais em mg/g
de ganho foram 5,20 a 5,50 para fósforo; 8,40 a 9,40 para cálcio; 0,30 para magnésio;
0,90 para sódio e 0,70 a 1,00 para potássio.
18
Já SOUSA et al. (1998), em pesquisa com animais da raça Alpina, obtiveram
uma exigência líquida para ganho de cálcio de 6,99 a 6,98 mg/g de ganho; e de fósforo
de 5,86 a 6,43 mg/g de ganho, para animais de 18 a 26 kg de peso vivo,
respectivamente.
FERREIRA (2003), utilizando cabritos da raça Saanen de 20 a 35 kg, estimou
valores de exigência líquida de macrominerais para ganho inferiores aos citados acima,
cujos resultados foram 4,2 a 2,9 mg Ca, 2,4 a 1,5 mg P, 0,6 a 0,5 mg Mg, 0,55 a 0,35 K
e 0,37 a 0,25 mg Na por g de ganho de PCV.
Diante do exposto, este trabalho foi realizado com o propósito geral de contribuir
com o desenvolvimento da caprinocultura, apresentando dados que possam enriquecer
os conhecimentos sobre composição corporal e exigências nutricionais de caprinos.
Baseando-se na revisão de literatura apresentada, foi levantada a hipótese de que a
utilização da raça Boer em cruzamentos, aumentaria as exigências de proteína, devido
a maior proporção de músculo no ganho de peso em relação a uma raça leiteira. Assim,
o presente trabalho teve como objetivos específicos:
i) estudar a composição corporal e do ganho em peso de cabritos com
constituição genética ¾Boer e ¼Saanen pesando 20 a 35 kg.
ii) estimar as exigências líquidas de energia e proteína para mantença e ganho
em peso destes animais;
iii) estimar as exigências de Ca, P, Na, K e Mg para mantença e ganho em peso
dos cabritos;
iv) estimar a eficiência da conversão da energia metabolizável para energia
líquida (de mantença, K
m
e de ganho, K
g
);
v) estabelecer equações que permitam predizer a composição corporal utilizando
a composição de partes do corpo.
19
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Estadual Paulista., Jaboticabal, 2002.
24
CAPÍTULO 2 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM ENERGIA E PROTEÍNA
PARA MANTENÇA E GANHO EM PESO DE CABRITOS COM CONSTITUIÇÃO
GENÉTICA ¾ BOER ¼ SAANEN
RESUMO A produção de carne caprina tem se tornado uma atividade
econômica em crescimento em diversas partes do mundo. Entretanto, os estudos sobre
as exigências energéticas e protéicas de caprinos de corte ainda são poucos,
merecendo maiores esforços. Assim, o objetivo deste estudo foi estimar as exigências
em energia e proteína para mantença e ganho em peso de 34 cabritos ¾ Boer ¼
Saanen, não castrados (peso vivo inicial, PVi, de 20,5 ± 0,24 kg). Sete cabritos foram
abatidos no início do experimento, com 21,2 ± 0,36 kg PV representando os animais
referência (AR). Outros seis foram abatidos ao atingirem 28,2 ± 0,39 kg PV,
representando os animais de abate intermediário (AI). Os 21 restantes foram
distribuídos aleatoriamente em sete grupos de três animais, onde os tratamentos foram
sorteados entre os animais de cada grupo. Os tratamentos foram definidos por três
níveis de consumo de matéria seca (CMS): à vontade e restrição de 30 ou 60% do CMS
do tratamento à vontade. Cada grupo (formado por três animais, um de cada
tratamento) foi abatido quando o animal do tratamento à vontade atingiu 35 kg de PV.
Todo o corpo do animal foi pesado, moído, homogeneizado e uma sub-amostra foi
retirada para a realização das análises químicas. A exigência líquida diária de energia
para mantença (EL
m
) foi estimada em 78,2 ± 1,05 kcal/kg
0,75
de peso de corpo vazio
(PCV). A exigência líquida de proteína diária para mantença (PL
m
) foi estimada em 2,44
± 0,4 g PL
m
/ kg
0,75
PCV. A exigência líquida de energia para ganho (EL
g
) variou de 2,5 a
3,0 Mcal/kg ganho PCV e a de proteína (PL
g
) variou de 178,8 a 185,2 g/kg ganho PCV,
para animais pesando de 20 a 35 kg PV.
Palavras-chave: abate comparativo, caprinos, composição corporal, exigência líquida,
nutrição.
25
1 Introdução
A caprinocultura, vista como uma atividade econômica, tem por objetivos o
aumento da eficiência e dos índices de produtividade, visando a redução nos custos de
produção. Para tanto, além de cuidados com o manejo sanitário e reprodutivo, é preciso
buscar formas de aproveitar todo o potencial produtivo dos animais, fornecendo dietas
balanceadas, de forma a atender adequadamente, sem desperdício de nutrientes, as
exigências nutricionais de cada categoria animal. Desse modo, o conhecimento dessas
exigências torna-se de fundamental importância para uma exploração racional
(FERREIRA, 2003).
A exploração da carne caprina no Brasil é baixa, o que pode ser devido aos
baixos índices de produtividade e baixo nível tecnológico dos sistemas de produção,
ressaltados pela não utilização de raças especializadas para corte. Este fato também
pode ser observado em outros países, cujos sistemas de produção de carne caprina se
encontram mal definidos e a carne de cabrito é um sub-produto das explorações
leiteiras, onde os animais são abatidos de 8 a 16 semanas de idade, alcançando peso
vivo de 10 a 20 Kg (WILKINSON & STARK, 1987).
Um problema associado com a produção de carne caprina como um subproduto
do rebanho leiteiro, é que a raça Saanen não é considerada apta à produção de carne.
O cruzamento com a raça Boer, cujos reprodutores seriam cruzados com fêmeas
Saanen, poderia melhorar os níveis de produtividade dos produtos F1, tanto machos
como fêmeas, devido à precocidade e especialização para a produção de carne,
proporcionando melhor conformação de carcaça. O cruzamento das fêmeas F1 com
reprodutores Boer proporcionaria, então, uma aditividade nesse melhoramento, cujos
produtos (¾ Boer x ¼ Saanen) seriam mais especializados para a produção de carne.
Esse tipo de cruzamento absorvente já vem sendo utilizado por vários produtores no
Brasil, com a finalidade de converter parte ou todo rebanho leiteiro em rebanho para
corte da raça Boer, introduzida recentemente no país. Apesar de ser mais demorado, o
cruzamento absorvente oferece um menor custo em relação à compra de animais
puros, uma vez que esses são importados e de valor elevado.
26
As exigências nutricionais diferem-se entre espécies devido às diferenças no
hábito alimentar, nas atividades físicas, na composição de carcaça, entre outros,
justificando assim o estudo isolado das mesmas (NRC, 1981b). Além disso, na
determinação das exigências nutricionais deve-se considerar as condições
edafoclimáticas, genéticas (raças), sexo e idade. A utilização da raça Boer em
cruzamentos, poderia aumentar as exigências de proteína, devido a maior proporção de
músculo no ganho de peso em relação a uma raça leiteira.
O objetivo deste experimento foi determinar a composição corporal de cabritos
com constituição genética ¾Boer e ¼Saanen bem como, estimar suas exigências
nutricionais em proteína e energia.
2 Material e Métodos
O trabalho foi desenvolvido na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias -
FCAV/UNESP, Jaboticabal - São Paulo, Brasil, localizada a 21º14’05”S e 48º17’09”W,
altitude de 615 m. Os valores de temperatura e umidade relativa do ar durante o
período experimental estão apresentados na Tabela 1.
Foram utilizados 34 cabritos com constituição genética ¾Boer e ¼Saanen, não
castrados e descornados. Após a desmama, que ocorreu aproximadamente aos 60 dias
de idade, todos os cabritos foram alimentados com a ração experimental até o início do
experimento, quando os animais atingiram 20,5 ± 0,24 kg de peso vivo (PV). Sete
cabritos foram abatidos no início do experimento, com 21,2 ± 0,36 kg PV representando
os animais referência. Outros seis foram abatidos ao atingirem 28,2 ± 0,39 kg PV,
representando animais de abate intermediário. Os 21 restantes foram distribuídos
aleatoriamente em sete grupos de três animais, onde os tratamentos foram sorteados
entre os animais de cada grupo.
27
Cabritos ao
nascimento
Aleitamento
até 60
dias e ração
experimental até
20 kg PV
Animais
“referência”
intermediário,
alimentação
à vontade
À vontade
30% restrição
60% restrição
Abate quando
cabritos com
alimentação à
vontade
alcançaram 35
kg PV
Abate aos
27 kg PV
Abate aos
20 kg PV
Tratamentos
Níveis de
CMS
Tabela 1. Valores de temperatura máxima e mínima (
0
C) e
umidade relativa do ar (%) do período experimental.
Temperatura Umidade
Max Min Média Max Min Média
29,5 20,9 25,2 92,6 51,7 72,2
Os tratamentos foram definidos por três níveis de consumo de matéria seca
(CMS): à vontade e restrição de 30 ou 60% do CMS do tratamento à vontade. O grupo
foi abatido quando o animal que estava recebendo o tratamento à vontade (AV) atingiu
35 kg. Os níveis de restrição de 60 e 30% de ingestão foram determinados diariamente,
de acordo com o CMS do dia anterior do animal com alimentação à vontade, dentro do
grupo. Os animais foram alojados individualmente em gaiolas medindo 0,5 x 1,0 m,
providas de comedouro e bebedouro.
Figura 1. Organograma dos grupos de abate e tratamentos.
28
A dieta experimental foi única para todos os tratamentos e mantinha a mesma
relação entre os nutrientes, variando apenas a quantidade ofertada aos animais e foi
constituída de feno da planta de milho (planta inteira de milho sem raiz, cortada no
ponto para ensilar e seca ao sol), milho moído, farelo de soja, melaço, óleo, calcário,
núcleo mineral e cloreto de cálcio (Tabela 2). A dieta foi fornecida uma vez ao dia, às 8
horas, sendo que antes do fornecimento as sobras foram retiradas, pesadas e
amostradas. O CMS foi determinado pelo controle diário do alimento fornecido e
recusado.
Tabela 2. Ingredientes e composição química da ração (base na MS)
Item
%
Ingredient
es
Feno da planta de milho
46,3
Milho moído
25,3
Farelo de soja
19,0
Melaço
4,5
Oleo de soja
0,9
Suplemento mineral
1
2,1
Calcáreo
0,9
Cloreto de cálcio
1,0
Composição da ração
2
%
MS, %
92,9
MM, % MS
7,9
PB
, % MS
14,5
EE, % MS
3,7
FDN, % MS
39,6
FDA, % MS
15,5
EB, Kcal/kg MS
3.963,7
1
Composição do suplemento mineral em kg: 190 g Ca; 92 g Cl; 73 g P; 62 g Na; 44 g Mg; 30g Sn; 1350 mg
Zn; 1064 mg Fe; 940 mg Mn; 730 mg F (máximo); 340 mg Cu; 18 mg Se; 16 mg I; 3 mg Co.
2
MS = matéria seca, MM = matéria mineral, PB = proteína bruta, EE = extrato etéreo, EB = energia bruta,
FDN = fibra em detergente neutro, FDA = fibra em detergente ácido.
2.1 Ensaio de digestibilidade
Paralelamente foi desenvolvido um ensaio de digestibilidade com 15 animais,
separados em cinco grupos com três níveis de CMS (à vontade e restrição de 30 ou
60% do CMS do à vontade), para se determinar, na ração, a energia digestível e
metabolizável, a metabolizabilidade da ração (q
m
) e a digestibilidade da proteína,
utilizando um delineamento inteiramente ao acaso. Os animais ficaram em gaiolas para
29
ensaio de metabolismo, a qual permitia a separação de fezes e urina. As amostras do
alimento oferecido e recusado, das fezes e da urina foram coletadas diariamente,
durante cinco dias, após um período de adaptação de cinco dias. A quantidade total
diária de fezes excretadas foi pesada em balança eletrônica com precisão de 0,1 g e a
de urina mensurada em provetas com precisão de 10 mL, coletando-se uma alíquota de
10% que foi congelada a - 20º C. A urina foi coletada em baldes contendo 20 mL de HCl
6N, acidificando-a (pH abaixo de 3,0) a fim de prevenir a volatilização da amônia. A
energia digestível (ED) foi calculada por meio da energia bruta (EB) do alimento
oferecido, do recusado e das fezes. A energia metabolizável (EM) foi calculada por
meio da ED menos a EB da urina e a energia dos produtos gasosos (EPG, estimada
utilizando equação de BLAXTER & CLAPPERTON em (1965).
2.2 Procedimentos de abate
O controle do desenvolvimento ponderal dos animais foi realizado semanalmente
com a pesagem dos mesmos. Para se determinar o peso ao abate ou peso após jejum
(PJ), os animais foram submetidos a jejum de sólidos e líquidos de 16 horas, seguida
de insensibilização com choque elétrico e mortos com corte nas carótidas e jugulares. O
sangue foi colhido e pesado, o trato gastrintestinal foi retirado, pesado antes e após a
retirada de seu conteúdo para determinação do peso de corpo vazio (PCV). Todo o
corpo do animal (sangue, vísceras, cabeça, patas, pele e carcaça) foi inicialmente
congelado, depois cortado em serra de fita, triturado, homogeneizado e retiradas
amostras de 500 g aproximadamente, as quais foram novamente congeladas e
liofiliozadas para determinação da matéria seca.
2.3 Análises laboratoriais
As amostras obtidas dos ingredientes da dieta experimental, do alimento
oferecido e recusado e das fezes foram secas a 60º C por 72 h e moídas em peneira de
malha de 1 mm usando um moinho do tipo Wiley. Após este procedimento, as amostras
30
foram analisadas para se conhecer os teores de: extrato etéreo (utilizando um aparato
de extração Soxlet), proteína bruta (nitrogênio total pelo método de combustão de
Dumas utilizando um analisador tipo LECO FP-528LC), matéria mineral, energia bruta
(em bomba calorimétrica tipo Parr), fibra em detergente neutro (FDN, com a-amilase e
sem sulfito) e fibra em detergente ácido (FDA) de acordo com o protocolo sugerido por
SILVA & QUEIROZ (2005).
As amostras de urina foram analisadas para se conhecer os teores de: matéria
seca, nitrogênio total e energia bruta pelos métodos descritos acima.
As amostras do corpo foram analisadas para se conhecer os teores de extrato
etéreo, proteína bruta (nitrogênio total) e energia, conforme procedimento descrito
anteriormente e matéria mineral de acordo com o protocolo sugerido por SILVA &
QUEIROZ (2005).
2.4 Cálculo da composição corporal inicial.
A composição corporal inicial (aos 20 kg) dos animais que foram abatidos no final
do experimento,foi estimada com base na composição corporal dos animais referência
(abatidos no início do experimento).
O PCV inicial e a composição corporal inicial em proteína dos animais foram
calculados a partir de equações de regressão desenvolvidas a partir dos “animais
referência” (Equação 1, r
2
= 0,82 e Equação 2, r
2
= 0,70, respectivamente).
PCVi = 0,68 + 0,80 PJi [1]
PtCVi = 0,50 + 0,14 PCVi [2]
Onde, PCVi é o peso do corpo vazio inicial, PJi é o peso em jejum inicial e PtCVi
é a quantidade inicial de proteína no corpo.
A composição corporal inicial em gordura, água, cinzas e energia foram
estimadas através das médias da composição corporal dos “animais referência”.
Os procedimentos utilizados para o cálculo da energia retida (ER, Mcal) e da
exigência energética para mantença foram similares aos utilizados por LOFGREEN e
GARRETT (1968).
31
2.5 Partição de energia.
O ganho de proteína e gordura no peso de corpo vazio (GPCV, kg/d) foi
calculado como a diferença entre os pesos inicial e final do respectivo componente no
corpo, dividido pelo número de dias em experimento. A produção de calor (PC,
kcal/kg
0,75
PCV) foi calculada como a diferença entre a ingestão de energia
metabolizável (IEM, kcal/kg
0,75
PCV) e a ER (kcal/kg
0,75
PCV). O antilog do intercepto da
regressão linear entre o log da PC e a IEM foi considerado como a exigência líquida de
energia para mantença (EL
m
, kcal/kg
0,75
PCV; LOFGREEN e GARRETT, 1968). A
exigência de energia metabolizável para mantença (EM
m
, kcal/kg
0,75
PCV) foi estimada
considerando-se o ponto de equilíbrio no qual a produção de calor foi igual à IEM. A
eficiência parcial da utilização de energia para mantença (k
m
) foi calculada como sendo
a EL
m
dividida pela EM
m
. A eficiência parcial da utilização de energia para ganho (k
g
) foi
calculada como a inclinação da regressão da RE sobre a IEM.
2.6 Exigência de proteína para mantença
A exigência líquida de proteína para mantença foi obtida a partir do intercepto da
equação de regressão da quantidade de nitrogênio retido no corpo em função do
nitrogênio ingerido (ARC, 1980), multiplicado pelo fator 6,25. A exigência dietética de
proteína para mantença foi calculada como sendo a ingestão de nitrogênio quando a
retenção de N for igual a zero multiplicada pelo fator 6,25.
2.7 Exigências para ganho.
A predição da composição corporal foi obtida por meio de equação alométrica
logaritimizada que tem como variável dependente a quantidade do componente
(proteína, gordura, água, cinzas e energia) presente no corpo vazio e variável
independente o PCV (Equação 3; ARC, 1980).
32
Log
10
(peso do componente, kg) = a + b × log
10
(PCV, kg) [3]
Onde peso do componente é a quantidade total no PCV e PCV é o peso de
corpo vazio.
A exigência líquida para ganho foi obtida através da derivada da equação de
regressão do logaritmo da quantidade do componente presente no corpo vazio, em
função do logaritmo do PCV (Equação 4; ARC, 1980).
Conc. Componente = b × 10
a
× PCV
(b-1)
[4]
Onde, conc componente é a concentração do nutriente ou da energia por
unidade de GPCV, g/kg ganho ou kcal/kg ganho; PCV é o peso de corpo vazio, e a e b
são parâmetros determinados pela equação alométrica logaritimizada da composição
corporal (Equação 4).
2.8 Análise estatística.
Para o estudo da composição corporal o experimento foi montado em um
delineamento inteiramente casualizado, com três tratamentos e sete repetições, sendo
realizada análise de regressão da quantidade do componente presente no corpo vazio
em função do PCV pelo PROC REG (SAS Inst. Inc., Cary, NC). Para o ensaio de
digestibilidade foi adotado um delineamento inteiramente casualizado com três
tratamentos e cinco repetições, as médias foram testadas pelo teste “Least square
means” pelo PROC GLM (SAS Inst. Inc., Cary, NC).
33
3 Resultados e Discussão
3.1 Desempenho e composição corporal e do ganho
Como esperado, o CMS e a IEM foram maiores para os animais consumindo à
vontade em comparação aos de consumo restrito (Tabela 3). Consequentemente,
cabritos com consumo à vontade apresentaram maiores ganho de peso (GPV), GPCV,
ER e PC, indicando que a PC aumenta concomitantemente com o aumento de IEM, em
decorrência do aumento do incremento calórico. A razão entre PCV e o PV foi maior
para os animais consumindo à vontade em comparação aos animais com 60% de
restrição alimentar (0,87 e 0,81, respectivamente).
Tabela 3. Composição corporal final e balanço de energia de cabritos, não castrados, com constituição
genética ¾ Boer x ¼ Saanen do abate “referência” (AR), intermediário (AI) e dos 3 níveis de
ingestão (à vontade, AV, e com restrição de 30 e 60% do consumo à vontade)
Níveis de ingestão
1
Variável
2
AR
AI
60%
30%
AV
SEM
P
N
7
6
7
7
7
---
---
Idade (dias)
123
15
5
167
171
169
---
---
PE, d
---
39
70
70
70
--
--
PVi, kg
21,2
20,8
20,4
20,0
20,3
0,24
0,33
PVf, kg
21,2
28,2
22,6
c
29,9
b
35,6
a
0,36
<0,0001
PJ, kg
19,1
26,2
21,1
c
28,2
b
34,0
a
0,38
<0,0001
PCV, kg
15,9
22,8
17,2
c
23,9
b
29,7
a
0,45
<0,0001
Gordura, %
PCV
11,6
14,5
12,5
b
14,2
a
15,0
a
0,66
0,004
Proteína, % PCV
17,0
17,6
18,2
a
17,8
ab
17,5
b
0,20
0,007
Água, % PCV
67,9
64,7
65,8
a
64,6
ab
64,1
b
0,62
0,001
MM, % PCV
3,45
3,27
3,7
a
3,4
ab
3,3
b
0,08
0,027
GPV, g/d
---
208,6
41,0
c
151,8
b
231,3
a
14,9
<0,0001
G
PCV, g/d
---
205,3
27,0
c
133,6
b
211,3
a
15,9
<0,0001
FIG, % GPCV
---
19,9
11,1
18,2
18,6
3,27
0,25
PIG, % GPCV
---
17,4
24,8
a
17,9
b
17,3
b
1,4
<0,01
CMS, g/d
---
921,8
442,5
c
762,7
b
1068,5
a
50,2
<0,05
CMS, g/kg
0,75
PCV/d
---
100,3
54,8
c
82,8
b
104,8
a
5,13
<0,02
IEM, kcal/kg
0,75
PCV/d
---
243,9
137,8
c
199,1
b
254,7
a
12,5
<0,03
ER, kcal/kg
0,75
PCV/d
---
64,8
9,2
c
37,8
b
56,3
a
5,45
<0,02
PC, kcal/kg
0,75
PCV/d
---
179,0
128,6
c
161,2
b
198,4
a
8,0
<0,002
PCV/PJ
0,83
0,87
0,81
b
0,85
a
0,87
a
0,01
<0,002
1
Animais de cada grupo foram abatidos quando o animal com alimentação à vontade atingiu 35 kg.
2
PE = período experimental, PV= peso vivo, PVi = peso vivo inicial, PVf = peso vivo final, PJ = peso após jejum, PCV = peso de
corpo vazio, GPCV = ganho de peso de corpo vazio, FIG = porcentagem de gordura no ganho, PIG = porcentagem de proteína no
ganho, IEM = ingestão de EM, ER = energia retida, PC = produção de calor
a, b, c
médias seguidas da mesma letra na linha não diferem entre si (P < 0,05).
34
As equações para estimar a taxa de deposição de gordura no ganho (Eq. 5, r
2
=
0,91 e RMSE = 0,005) e a taxa de deposição de proteína no ganho (Eq. 6, r
2
= 0,97 e
RMSE = 0,002) são descritas abaixo,
FIG, kg/d = - 0,037 ± 0,006 + 0,012 ± 0,002 × ERc + 0,211 ± 0,014 × GPCV [5]
PIG, kg/d = -0,095 ± 0,067 × FIG + 0,192 ± 0,013 × GPCV [6]
Onde, FIG é a taxa de deposição de gordura no ganho, ERc é a concentração de
energia retida no ganho em Mcal/kg GPCV, GPCV é o ganho de peso de corpo vazio
em kg/d e PIG é a taxa de deposição de proteína no ganho,
As equações para estimar a porcentagem de gordura no ganho (Eq. 7, r
2
= 0,92
e RMSE = 1,6) e a porcentagem de proteína no ganho (Eq. 8, r
2
= 0,99 e RMSE =
0,004) são descritas abaixo:
FIG, % = -8,48 ± 1,71 + 9,71 ± 0,59 × ERc [7]
PIG, % = 17,58 ± 0,006 × ERc 1,654 ± 0,001 × FIG [8]
Onde, FIG é a porcentagem de gordura no ganho de GPCV, ERc é a
concentração de energia retida no ganho em Mcal/kg GPCV, GPCV é o ganho de peso
de corpo vazio em kg/d e PIG é a porcentagem de proteína no ganho de GPCV.
A equação [8] é muito semelhante àquela derivada por TEDESCHI et al. (2002),
usando bois da raça Nelore (PIG, % = 17,6 × REc 1,65 × FIG + 0,008). Entretanto a
equação deste estudo para predizer FIG apresentou valores de intercepto e inclinação
menores do que os utilizados por TEDESCHI et al. (2002, FIG, % = 11,5 × ERc
10,24), sugerindo que cabritos podem ter carcaças mais magras que bois, cuja
deposição de proteína é maior do que a de gordura comparado com bovinos. A
proporção de ER proveniente da proteína (ERp) e da gordura (ERf) foram estimadas a
partir da ERc, (equações [9] e [10]). O comportamento da equação [9] é similar ao da
equação sugerida por TEDESCHI et al.(2004), utilizando bovinos castrados ou não.
ERp = 0,1691 ± 0,09 + 2,4761 ± 0,58 × Exp (-0,8778 ± 0,22 × ERc) [9]
35
ERf = 0,7739 ± 0,04 1,4842 ± 0,90 × Exp (-0,8314 ± 0,32 × ERc) [10]
Onde ERp é a energia proveniente da proteína e ERf é a energia proveniente da
gordura como uma proporção da ER total em Mcal/Mcal, ERc é a concentração de
energia retida no ganho em Mcal/kg GPCV.
A Figura 2 mostra a relação entre ERp e ERc utilizando a equação [9] e a
equação sugerida por TEDESCHI et al. (2004) e a Figura 3 mostra a relação entre ERf
e ERc utilizando a equação [10] Pode-se observar que a equação desenvolvida por
TEDESCHI et al.(2004) para bovinos tende a super- e sub- estimar ERp abaixo de 1,4 e
acima de 4,2 Mcal/kg, respectivamente. Isto pode ter ocorrido devido à grande variação
de alguns pontos neste estudo. Mesmo assim, a equação desenvolvida por TEDESCHI
et al. (2004) foi satisfatória para caprinos dentro do intervalo entre 2,5 e 3,5 Mcal/kg,
sendo semelhante à equação [9], sugerindo que pode-se determinar com precisão a
proporção de proteína retida como energia, a qual pode ser usada para estimar a
eficiência parcial de EM para EL para ganho (TEDESCHI et al., 2002; WILLIAMS &
JENKINS, 2003; TEDESCHI et al., 2004).
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Concentração de energia retida no ganho, Mcal/kg
REp,
Mcal/Mcal .
Figura 2. Relação entre proporção de energia retida proveniente da proteína (ERp,
Mcal/Mcal) e a concentração de energia retida no ganho (ERc, Mcal/kg de ganho de
peso de corpo vazio). A linha pontilhada representa a ERp predita por Tedeschi et
al. (2004) e a linha inteira, a ERp pela equação [9]: ERp = 0,1691 ± 0,09 + 2,4761 ±
0,58 × Exp (-0,8778 ± 0,22 × ERc).
36
0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1
0 2 4 6 8 10
Concentração de energia no ganho, Mcal/kg
REf, Mcal/Mcal
Figura 3. Relação entre proporção de energia retida proveniente da gordura (ERf,
Mcal/Mcal) e a concentração de energia retida no ganho (ERc, Mcal/kg de ganho de
peso de corpo vazio). ERf = 0,7739 ± 0,04 1,4842 ± 0,90 × Exp (-0,8314 ± 0,32 ×
ERc)
Como pode ser observado pelas Figuras 2 e 3, a REp tende a decrescer
enquanto a REf tende a aumentar com o aumento da deposição de energia no ganho.
Este comportamento pode ser explicado, primeiramente, pelo maior teor energético da
gordura em relação à proteína (2,25 vezes maior), além disso, a eficiência parcial de
uso da energia para síntese de gordura é maior que a da proteína (WILLIAMS &
JENKINS, 2003), o que induz o animal a depositar mais gordura no ganho de peso em
relação á deposição de proteína.
3.2 Ensaio de digestibilidade
Os valores médios da digestibilidade aparente e do balanço de N estão
apresentados na Tabela 4.
37
Tabela 4. Valores de peso vivo, digestibilidade aparente, balanço de N, energia digestível (ED) e energia
metabolizável (EM) em cabritos ¾Boer x ¼Saanen, no ensaio de digestibilidade, recebendo 3
níveis de ingestão (à vontade, AV, e restrição de 30% ou 60% do consumo à vontade)
Variável
1
Nível de restrição
60% 30% 0% (AV) SEM P
Número de animais 5 5 5 --- ---
PV, kg 19,6
c
24,4
b
28,1
a
0,30 <0,001
PV
0,75
, kg 9,3
c
10,9
b
12,2
a
0,10 <0,001
CMS, g/d 432,1
c
755,9
b
1002,6
a
80,9 0,001
Digestibilidade MS, % 75,0 72,1 71,0 2,3 0,50
Consumo de EB, Mcal/d 1,6
c
2,8
b
3,8
a
0,27 0,01
EB fezes, Mcal/d 0,4
b
0,8
a
1,1
a
0,13 0,03
EB urina,Mcal/d 0,04
b
0,06
a
0,06
a
0,01 0,04
EPG, Mcal/d 0,14
c
0,24
b
0,32
a
0,02 0,01
Digestibilidade energia, % 74,6
71,3
72,2
2,1 0,50
ED, Mcal/kg 2,96
2,83
2,86
0,08 0,54
EM, Mcal/kg 2,54
2,43
2,46
0,07 0,50
q
m
0,64 0,61 0,62 0,02 0,50
EM/ED 0,86 0,86 0,86 0,005 0,83
Digestibilidade PB, % 81,5
a
73,9
b
76,2
b
1,74 0,026
N, g/ kg
0,75
de PV
Ingestão 1,13
b
1,59
a
1,88
a
0,16 0,04
Fecal 0,21
b
0,42
a
0,50
a
0,07 0,04
Urinário 0,40 0,46 0,51 0,08 0,67
Balanço
2
0,52 0,71 0,86 0,11 0,16
1
PV = peso vivo, EB = energia bruta, EPG = energia dos produtos gasosos, calculada de acordo com
BLAXTER & CLAPPERTON (1965), ED = energia digestível, EM = energia metabolizável, qm =
metabolizabilidade da dieta.
2
considerando uma perda por escamações da pele de 0,1125 g/kg
0,75
PCV por dia (ARC, 1980).
a, b, c
médias seguidas da mesma letra na linha não diferem entre si
O consumo de matéria seca foi em média 1002,6; 755,9 e 432,1 g/dia e o
consumo de EB foi 3,8; 2,8 e 1,6 Mcal/d para os animais com 0, 30 e 60% de restrição
alimentar. O aumento do consumo de EB para os animais consumindo à vontade (0 %
de restrição) foi concomitante com o aumento da EB excretada pelas fezes e urina. A
relação negativa entre ingestão e digestibilidade de uma mesma dieta tem sido
comumente descrita, mostrando que a principal causa dessa variação está relacionada
ao menor tempo de retenção da digesta no rúmen quando aumenta o nível de ingestão.
Entretanto, neste trabalho, a digestibilidade aparente da energia, a ED e a EM não
diferiram entre os níveis de ingestão. Apesar destes valores serem numericamente
maiores para os animais com menor consumo, a análise estatística não conseguiu
detectar diferenças significativas.
38
Uma possível explicação foi especulada por DOREAU et al. (2003), os quais
relataram que em condições de ingestão muito baixa, a resposta do coeficiente de
digestibilidade a um decréscimo na ingestão pode variar devido às limitações da
atividade microbiana no rúmen. Os autores hipotetizaram que uma redução no
crescimento bacteriano ou do potencial de crescimento microbiano pode ocorrer em
animais com níveis de ingestão muito baixos, mas os mecanismos responsáveis por
isso ainda não foram totalmente descritos.
Verificou-se que a digestibilidade aparente da PB foi maior para os animais com
maiores níveis de restrição, o que pode ter sido conseqüência de um aumento da
reciclagem da uréia, como uma adaptação metabólica ao menor aporte de N para o
animal.
3.3 Exigência de energia para mantença
Exigência de energia para mantença é a quantidade de energia usada para o
metabolismo basal (mínima produção de calor necessária para os processos vitais de
um animal saudável e em jejum) mais o calor perdido quando o animal está em
movimento e quando consome alimento suficiente para manter a quantidade de energia
corporal estática, ou seja, incremento calórico com balanço energético zero (NRC,
1981c). Em nosso estudo, mudanças na quantidade de energia corporal foram medidas
em três níveis de IEM e, através da extrapolação, a exigência de energia para
mantença e as eficiências parciais da utilização de energia foram estimadas. A
regressão linear do log da PC contra a IEM (r
2
= 0,92) é apresentada na Equação 11.
Log (PC) = 1,8924 ± 0,0194 + 0,0015 ± 0,0001 IEM [11]
Onde PC é a produção de calor em kcal/kg
0,75
PCV, IEM é a ingestão de energia
metabolizável em kcal/kg
0,75
PCV.
Assim, o log da produção de calor de um cabrito em jejum foi igual a 1,8924 ±
0,0194 (consumo zero de energia metabolizável). Através do antilogaritmos dos
39
extremos, considerando o erro padrão do intercepto (0,0194), obtém-se os valores de
81,7 e 74,7, gerando então o valor médio de 78,2 kcal/kg
0,75
PCV ou 66,4 kcal/kg
0,75
PV
representando a exigência líquida de energia para mantença (EL
m
)
Este valor é semelhante aos valores sugeridos pelo NRC (1984; 2000) para
bovinos e pelo AFRC (1998) para caprinos, o qual recomenda 75,3 kcal/kg
0,75
PCV
baseado em 9 estudos conduzidos de 1906 a 1990.
A EL
m
tem sido determinada em outros experimentos em condições muito
similares ao deste. Em estudos com animais F1 Boer x Saanen, as exigências líquidas
de mantença em energia foram estimadas em 53,5 e 85,1 kcal/kg
0,75
PV para cabritos
com PV variando de 5 a 15 kg e de 15 a 25 kg, respectivamente (TEIXEIRA, 2004). Em
outros experimentos com animais Saanen, MEDEIROS (2001) estimou a exigência
líquida de mantença em 69,3 kcal /kg
0,75
PCV para cabritos inteiros com peso vivo
variando 5 a 20 kg, e FERREIRA (2003) em 62,6 kcal/kg
0,75
PCV para cabritos
castrados com peso vivo variando de 20 a 35 kg. Analisando-se estes valores, podemos
inferir que talvez animais Saanen apresentem uma exigência de EL
m
menor que
animais Boer, sendo os cruzamentos apresentando valores intermediários.
Entretanto, usando um modelo de regressão múltipla com oito genótipos, LUO et
al (2004a) relatou um valor de EL
m
de 71,2 kcal/ kg
0,75
PCV para caprinos consumindo
dietas próximas à mantença, não identificando diferenças de EL
m
entre os genótipos de
caprinos.
Vários fatores podem ter contribuído para as diferenças de EL
m
encontradas, tais
como: raça, sexo, idade, condições ambientais (principalmente temperatura) e atividade
(NRC, 1996).
A energia metabolizável para mantença (EM
m
), a qual foi calculada
interativamente assumindo a PC igual à IEM de mantença, foi estimada em 119,1
kcal/kg
0,75
PCV. Assim, a eficiência parcial do uso de EM para EL
m
(k
m
) foi 65%. O k
m
sugerido pelo AFRC (1998) é calculado a partir da equação k
m
= 0,35×q
m
+ 0,503 (ARC,
1980), no qual q
m
é a metabolizabilidade da ração (isto é, EM/EB). Neste estudo, a q
m
média foi 0,62, baseada no ensaio de digestibilidade. Assim, o k
m
calculado segundo o
40
AFRC (1998) foi 0,72, aproximadamente 10% maior que o anterior, resultando em uma
menor estimativa da EM
m
(108,6 kcal/ kg
0,75
PCV).
Em publicação mais recente, o grupo de pesquisa da E (Kika) de la Garza
Institute for Goat Research da Universidade de Langston propôs separação das
exigências para quatro grandes grupos raciais: animais para carne (> 50% Boer),
leiteiros, nativos e Angorá. No caso especificamente das exigências de energia
metabolizável para mantença foi preconizado um valor de 116,8 kcal de EM
m
/kg
0,75
de
PV para animais das raças de corte e nativa em crescimento (SAHLU et al., 2004),
sendo o valor encontrado neste estudo próximo a este.
3.4 Exigência de proteína para mantença
A exigência de proteína para mantença é representada pela soma do nitrogênio
urinário endógeno, mais o nitrogênio metabólico fecal, mais as perdas de N pelas
escamações da pele e queda inevitável de pêlos, multiplicado pelo fator 6,25 (ARC,
1980) . Utilizando-se o método do abate comparativo, foi gerada uma equação entre a
quantidade de N retido diariamente no ganho (g de N/ kg
0,75
PCV) e a ingestão diária de
N (g de N/ kg
0,75
PCV), onde a exigência líquida de proteína para mantença (PL
m
;
Figura 4A) foi igual à retenção negativa de N quando a ingestão de N foi extrapolada
para zero. Assim, este estudo indicou um valor de 391±59 mg de N/kg
0,75
PCV de
perdas mínimas de N, o qual corresponde ao valor de 2,44±0,4 g PL
m
/kg
0,75
PCV ou
2,04±0,3 g PL
m
/kg
0,75
PV. Adicionalmente, a exigência dietética de N para mantença,
na qual N retido = 0, foi calculada como 1,05 g de N/ kg
0,75
PCV, a qual corresponde a
6,57 g de PB/ kg
0,75
PCV e a eficiência de utilização de proteína ingerida para proteína
líquida (inclinação) foi 41%.
Outro método utilizado para a estimativa da PL
m
é o balanço de nitrogênio.
Dessa forma, utilizando-se os dados obtidos no ensaio de digestibilidade, foi gerada a
seguinte equação (r
2
= 0,68):
BN = - 0,357 ± 0,20 + 0,609 ± 0,12 NI [12]
41
Onde BN é o balanço de N em g de N/ kg
0,75
PCV e NI é o consumo de N em g
de N/ kg
0,75
PCV.
Pela equação [12], a exigência líquida de proteína para mantença foi estimada
em 2,23 g PL
m
/kg
0,75
PCV (quando a NI = 0), cujo valor foi próximo ao estimado pela
técnica do abate comparativo. Já a exigência dietética de proteína para mantença
(quando BN = 0) foi estimada em 3,66 g de PB/ kg
0,75
PCV cujo valor foi inferior ao
estimado pela técnica do abate comparativo.
A equação obtida entre a quantidade de N retido diariamente no ganho (g de N/
kg
0,75
PV) e a ingestão diária de N digestível (g de N/ kg
0,75
PV), resultou em uma
exigência dietética de 3,9 g/ kg
0,75
PV de proteína digestível (PD) para mantença
(Figura 4B).
A eficiência da utilização de proteína metabolizável (PM
m
) para mantença (k
mp
)
varia grandemente entre os sistemas de alimentação (0,85 para (ARC, 1980); 1,00 para
(AFRC, 1998) e 0,67 para (NRC, 2001). O AFRC (1993) concluiu que k
mp
é alto, em
comparação à eficiência para outros tecidos, devido, em partes, à obrigatoriedade da
reposição para mantença, com aminoácidos prontamente disponíveis para absorção e
turnover de outros tecidos. Assim, assumindo uma k
mp
de 0,67 e 1,00, a PM
m
seria 3,6
e 2,44 g/ kg
0,75
PCV, respectivamente, a qual é menor que a recomendação de 3,8 g/
kg
0,75
PV para bovinos (NRC, 2000).
Baseado em sete estudos, o NRC (1981a) propôs uma exigência de PD para
mantença de 2,82 g de PD/ kg
0,75
PV, em comparação ao qual o valor encontrado neste
estudo foi 27,7% maior. Já as exigências de PL
m
encontradas neste trabalho (2,04)
foram 7,3% e 12,8% menores que as recomendadas para caprinos pelo AFRC (1998,
2,19 g/ kg
0,75
PV), baseada em dados com ovinos e bovinos, e pelo INRA (1989), 2,30
g/ kg
0,75
PV), baseada no balanço de N de bodes. Igualmente, TEIXEIRA (2004) relatou
uma exigência de PL
m
para cabritos F1 Boer x Saanen de 2,56 g/ kg
0,75
PV. O valores
mais baixos de PL
m
foram encontrados por MEDEIROS (2001) e FERREIRA (2003)
para cabritos da raça Saanen (1,31 e 2,16 g/ kg
0,75
PV). Em contraste, os maiores
valores foram encontrados por LUO et al. (2004b; 2004c) para caprinos da raça Angorá
e outros (nativos, corte e leiteiros), sendo 3,35 e 3,07 g/ kg
0,75
PV. A variação nos
42
valores de PL
m
para caprinos pode ser atribuída a fatores como raça, condições
experimentais e métodos de determinação. Coletivamente, estes resultados sugerem
que uma única recomendação para todas as raças e condições físicas pode não ser
adequada e que métodos mecanicistas, que levam em consideração todos estes
fatores, sejam necessários para acuradamente estimar as exigências protéicas para
condições específicas de animais e alimentos.
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.9
1.0
1.0 1.5 2.0 2.5 3.0
N ingerido, g/kg
0.75
PCV
N retido no ganho,
g/kg
0.75
PCV
0.0
0.1
0.2
0.3
0.4
0.5
0.6
0.7
0.8
0.5 0.7 0.9 1.1 1.3 1.5 1.7
ingestão de N digestível, g/kg
0.75
PV
N retido no ganho,
g/kg
0.75
PV
Figura 4. Relação entre o N retido e ingerido diariamente em cabritos ¾Boer x
¼Saanen, não castrados. A- N retido, g/kg
0,75
of PCV = -0,391 ± 0,06 + 0,41 ±
0,03 × N ingerido, g/kg
0,75
PCV, r
2
= 0,89 e B- N retido, g/kg
0,75
of PV = 0,360 ±
0,06 + 0,60 ± 0,04 × N digestível ingerido, g/kg
0,75
PV, r
2
= 0,88.
A
B
43
3.5 Exigências para ganho
Com base nos dados da composição corporal, foram determinadas as equações
de regressão do conteúdo corporal em nutrientes para os cabritos em função do seu
PCV, assim como a equação de predição do PCV em função do PV (Tabela 5), onde
pode-se verificar um bom ajustamento dos dados demonstrado pelos altos coeficientes
de determinação.
Na Tabela 6 encontram-se as concentrações relativas de proteína, gordura e
energia dos cabritos com 20, 27,5 e 35 kg, estimadas pelas equações da Tabela 5,
onde pode-se verificar um aumento na concentração gordura e energia concomitante
com o aumento de peso e um pequeno aumento na concentração de proteína,
sugerindo que o aumento de gordura foi o principal fator responsável pelo aumento da
concentração de energia do corpo.
O aumento na proporção de gordura e a diminuição da proporção de água e
cinzas do corpo com o aumento do PCV também foi relatado em outros estudos com
caprinos (MEDEIROS, 2001; FERREIRA, 2003; TEIXEIRA, 2004). Este comportamento
está coerente com a curva de crescimento animal onde o tecido adiposo tem
crescimento tardio em relação ao crescimento do corpo, aumentando a sua taxa de
deposição quando a taxa de deposição de outros tecidos estão na fase descendente
(LAWRENCE & FOWLER, 2002).
Ao contrário deste trabalho, alguns estudos verificaram que a proporção de
proteína no corpo diminuiu em cabritos da raça Saanen dos 20 ao 35 kg (FERREIRA,
2003) e F1 Boer x Saanen dos 15 aos 25 kg (TEIXEIRA, 2004). Os animais deste
estudo apresentaram o mesmo comportamento que os estudos de RESENDE (1989)
trabalhando com cabritos mestiços de 5 a 25 kg, SOUZA et al. (1998a) trabalhando com
cabritos da raça Alpina dos 18 aos 26 kg e MEDEIROS (2001) trabalhando com cabritos
Saanen dos 5 aos 20 kg, os quais também verificaram um aumento da deposição de
proteína com aumento do PV, possivelmente devido a estes animais encontrarem-se na
fase ascendente da curva de crescimento. Entretanto os animais deste estudo eram
44
mais pesados apontando para um maior peso á maturidade em relação aos animais das
raças mestiças e Saanen.
Essa variação na deposição de tecidos de acordo com a fase de
desenvolvimento leva a alteração da composição corporal entre animais da mesma raça
e entre raças diferentes, com PV diferentes, o que irá refletir diretamente nos valores de
exigências líquidas de ganho.
Tabela 5. Equações de regressão para estimar a composição corporal (proteina, gordura,
cinzas e água) e a energia retida em cabritos ¾ Boer x ¼ Saanen
Variável
*
Equações alométricas logaritimizadas r
2
RMSE
#
PCV, 0.j167.25 0 TD 0 Tc 0.2895 Tw 74PCV, 0.j167.25 6 60 TD 0 Tc 0.2895=0 Tw (2 Tj111 0 TD -0.2467 Tc - Tc (*) Tj3 Tf40 TD 0 9Tc 0.303,86 BoTc 0,84.+ 0,83 BoTc 0,Tfxes,Saanen.j167.25 0 TD 0 Tc 0.2895 Tw 91) Tj49.5 0 559-0.2467 Tc 0,85Saanen8#7,08Saanen..j167.25 0 TD 0 Tc 0.2895 Tw ( ) Tj014 532.5 109.5 0.75 re f0140534 276.75 0.75 4
45
resultados estão resumidos na Tabela 7. De uma forma geral, os resultados desta
pesquisa foram maiores do que os encontrados por RESENDE (1989), RIBEIRO
(1995), MEDEIROS (2001), TEIXEIRA (2004) e AFRC (1998) utilizando raças ou
cruzamentos para produção de leite, com exceção aos resultados obtidos por
FERREIRA (2003). Por outro lado, o NRC (1981b) recomendou um valor maior para
EL
g
, independente do PV do animal. Uma comparação direta destes valores (Tabela 8)
é complexa devido às diferenças no delineamento experimental, às variações dietárias,
à amplitude de PV considerada e aos métodos e técnicas utilizados. Entretanto, pode-
se sugerir que cabritos Boer e seus cruzamentos, uma raça de corte, apresentam uma
maior deposição de energia e proteína em comparação aos outros estudos,
apresentando maiores exigências para ganho, com exceção aos valores encontrados
por (FERREIRA, 2003).
Tabela 7. Equações para predição da exigência líquida de energia e proteína para ganho em peso
de corpo vazio (GPCV).
PV, kg
20 27 35 Equações para predição da
exigência líquida de ganho
1
PCV, kg 14,7 21,2 28,7
Energia, Mcal/kg GPCV 2,5 2,8 3,0 1322,5 x PCV
0,244
Proteina, g/kg GPCV 178,8 182,3 185,2 155,6 x PCV
0,052
1
concentração do componente = b 10
a
X
(b-1)
, onde a e b são constantes determinadas pelas equações da Tabela 5.
Tabela 8. Resumo das exigências líquidas para ganho de energia (EL
g
) e proteína (PL
g
)
citadas em vários experimentos individuais e estimadas pelo NRC (1981) e
AFRC (1998)
Raça PV, kg EL
g
, kcal/g de
ganho
PL
g
,
g/g de ganho
Referências
Mestiças x Toggenburg ou
Alpine
5 a 25 1,3 a 1,8 147 a172 RESENDE (1989)
Mestiças x Toggenburg ou
Alpine
5 a 15 1,5 a 2,6 145 a 151 RIBEIRO (1995)
Saanen 5 a 20 1,7 a 2,0 181 a 184 MEDEIROS (2001)
Saanen 20 a 35 3,4 a 4,8 227 a 221 FERREIRA (2003)
F1 Saanen x Boer 5 a 25 1,5 a 2,3 135 a 165 TEIXEIRA (2004)
Indigenous/West African dwarf
4,0
NRC (1981)
Saanen/ Toggenburg 20 to 35 1,5 a 3,9 143 a 132 AFRC (1998)
46
O k
g
foi calculado como a inclinação da regressão da ER (kcal/ kg
0,75
PCV) contra
a IEM (kcal/kg
0,75
PCV) acima da mantença, como mostra a equação [13] (r
2
= 0,86 e
RMSE = 9,56), resultando em um valor de k
g
de 0,42.
ER = -46,4 ± 7,16 + 0,42 ± 0,03×IEM [13]
Onde ER é a energia retida em kcal/kg
0,75
PCV; e IEM é a ingestão de energia
metabolizável em kcal/kg
0,75
PCV.
As eficiências parciais do uso da energia, ou seja, as eficiências com que a
energia metabolizável é utilizada para síntese de proteína (k
prot
) e gordura (k
gord
)
também representam um importante aspecto do metabolismo energético. Uma forma de
se calcular estas eficiências parciais seria por meio do ajuste de uma equação de
regressão múltipla da IEM em função da energia retida como proteína (ER
prot
) e gordura
(ER
gord
), mostrada pela equação [14] (r
2
= 0,90 e RMSE = 18,0):
IEM = 109,4 ± 8,1 + 4,74 ± 0,8 × ER
prot
+ 0,95 ± 0,4 × ER
gord
[14]
Onde IEM é a ingestão de energia metabolizável em kcal/kg
0,75
PCV, ER
prot
é a
energia retida como proteína em kcal/kg
0,75
PCV e ER
gor
é a energia retida como
gordura em kcal/kg
0,75
PCV.
A eficiência de retenção de energia foi maior na forma de gordura, apresentando
custo energético de 0,95 kcal EM/ kcal de energia retida, enquanto que para energia
retida na forma de proteína o custo energético foi de 4,74 kcal de EM/ kcal de energia
retida. O intercepto (109,4 kcal/kg
0,75
PCV) representa as exigências de energia
metabolizável para mantença, a qual foi 8% inferior ao valor encontrado previamente,
pelo método interativo. As eficiências parciais do uso de energia metabolizável para
síntese de proteína e gordura (estimadas a partir do inverso dos coeficientes de
regressão da equação) foram estimadas em 21 e 105%, respectivamente.
A mensuração da variação na quantidade de gordura e proteína corporal em
função da variação do peso e da alimentação é uma técnica necessária para se estimar
47
a exigência líquida dos animais, a qual poderá ser usada para predizer o desempenho
em função do consumo de rações diferindo em metabolizabilidade. Entretanto, a
composição corporal não é frequentemente medida devido, principalmente, aos altos
custos e trabalho associados com o abate e a determinação da composição química de
todo o corpo, da carcaça e dos componentes não-carcaça (SAHLU et al., 2004). Então,
alguns autores têm calculado as exigências energéticas, não pelo método fatorial, mas
pela regressão da IEM contra ganho de peso (LUO et al., 2004c; LUO et al., 2004d). A
Figura 5 mostra graficamente a regressão linear entre a IEM contra o GPCV dos
animais deste estudo. Esta regressão (Figura 5A) sugere uma EM
m
de 113,59
kcal/kg
0,75
PCV (quando GPCV = 0) e uma EM
g
de 6,3 kcal/g GPCV ou 5,4 kcal/g GPV.
Assumindo uma média de 2,78 kcal/g GPCV de EL
g
(Tabela 5), k
g
seria 0,44, o qual é
semelhante ao valor de 0,42 obtido pela regressão entre RE e IEM (equação 13).
O AFRC (1998) calcula o kg usando a equação k
g
= 0,78×q
m
+ 0,006. Assumindo
um valor médio de q
m
de 0,66 para a ração deste estudo, o valor de k
g
calculado de
acordo com o AFRC (1998) assume o valor de 0,52, o qual é 20% maior que os
estimados anteriormente (0,42 e 0,44).
LUO et al.(2004c) observaram um valor de exigência de EM
g
de caprinos da raça
Angorá (8,82 kcal/g de ganho de PV) maior que os deste estudo, enquanto LUO et al.
(2004d) relataram valor similar (6,8 kcal/g de ganho de PV) para caprinos adultos e
valor menor para cabritos leiteiros e de corte (5,52 kcal/g de ganho de PV) e nativos
(4,73 kcal/g de ganho de PV).
O valor de EM
g
estimado neste estudo pelo método do abate comparativo foi
similar ao valor estimado utilizando o método de regressão sugerido por LUO et al.
(2004c). Entretanto, um constante incremento na ingestão de energia diária resulta em
incrementos progressivamente menores na retenção de energia diária, provavelmente
devido ao decréscimo na metabolizabilidade da ração decorrente do aumento do nível
de ingestão. Assim, a relação entre ER e ingestão de energia deve ser curvilinear
(GEAY, 1984), sugerindo que a eficiência de utilização de EM para crescimento e
engorda pode diminuir com o aumento do GPV.
48
y = 6.2877x + 113.59
R
2
= 0.9225
0
50
100
150
200
250
300
350
0 10 20 30 40
GPCV, g/kg
0.75
PCV
IEM, kcal/kg
0.75
PCV
y = 6.7091x + 85.369
R
2
= 0.9353
0
50
100
150
200
250
300
0 10 20 30
GPV, g/kg
0.75
PV
IEM,
kcal/kg
0.75
PV
Figura 5. Relação entre ingestão de EM, kcal/kg
0.75
GPCV, and (A) ganho de peso
de corpo vazio (GPCV, g/kg
0.75
PCV) and (B) ganho de peso vivo (GPV),
g/kg
0.75
PV, de cabritos não castrados ¾ Boer x ¼ Saanen, usando as
regressões sugeridas por Luo et al. (2004b)
Por fim, agregando-se as informações sobre as exigências para mantença e
ganho estimadas neste estudo, com o intuito de proporcionar uma visualização geral da
exigência total de energia e proteína, foi elaborada uma compilação dos resultados
obtidos nesta pesquisa, conforme mostrado pelas Tabelas 9 e 10.
A
B
49
Tabela 9. Exigências de energia líquida (EL) e metabolizável (EM) para cabritos
não castrados ¾ Bôer x ¼ Saanen em crescimento (Mcal/dia).
Energia Líquida Energia Metabolizável
Peso
Vivo (kg)
ganho
(g/dia)
EL
m
EL
g
EL total EM
m
EM
g
EM total
100 0,588 0,219 0,808 0,896 0,522 1,418
150 0,588 0,329 0,917 0,896 0,783 1,679
20 200 0,588 0,439 1,027 0,896 1,044 1,940
250 0,588 0,548 1,136 0,896 1,305 2,201
300 0,588 0,658 1,246 0,896 1,566 2,462
100 0,723 0,234 0,957 1,101 0,558 1,659
150 0,723 0,352 1,074 1,101 0,837 1,938
25 200 0,723 0,469 1,192 1,101 1,116 2,217
250 0,723 0,586 1,309 1,101 1,396 2,496
300 0,723 0,703 1,426 1,101 1,675 2,775
100 0,849 0,247 1,096 1,293 0,588 1,881
150 0,849 0,371 1,220 1,293 0,882 2,175
30 200 0,849 0,494 1,343 1,293 1,177 2,470
250 0,849 0,618 1,467 1,293 1,471 2,764
300 0,849 0,741 1,590 1,293 1,765 3,058
100 0,969 0,258 1,227 1,476 0,614 2,091
150 0,969 0,387 1,356 1,476 0,921 2,398
35 200 0,969 0,516 1,485 1,476 1,228 2,705
250 0,969 0,645 1,614 1,476 1,536 3,012
300 0,969 0,774 1,743 1,476 1,843 3,319
50
Tabela 10. Exigências de proteína líquida (PL) para cabritos
não castrados ¾ Bôer x ¼ Saanen em crescimento
(g/dia).
Proteína Líquida (g/dia)
Peso Vivo (kg)
ganho
(g/dia)
PL
m
PL
g
PL total
100 18,4 15,4 33,7
150 18,4 23,1 41,4
20 200 18,4 30,8 49,1
250 18,4 38,5 56,8
300 18,4 46,2 64,5
100 22,5 15,6 38,2
150 22,5 23,4 46,0
25 200 22,5 31,2 53,8
250 22,5 39,0 61,6
300 22,5 46,8 69,4
100 26,5 15,8 42,3
150 26,5 23,7 50,2
30 200 26,5 31,6 58,1
250 26,5 39,5 66,0
300 26,5 47,4 73,9
100 30,2 15,9 46,2
150 30,2 23,9 54,1
35 200 30,2 31,9 62,1
250 30,2 39,8 70,1
300 30,2 47,8 78,0
4 Conclusões
A exigência líquida diária de energia para mantença (EL
m
) foi estimada em 78,2 ±
1,05 kcal/kg
0,75
de peso de corpo vazio (PCV), enquanto que a exigência de energia
metabolizável (EM) para mantença (EM
m
) foi calculada em 119,1 kcal/kg
0,75
PCV,
gerando uma eficiência parcial (k
m
) do uso de EM para EL
m
de 0,65. A exigência líquida
de proteína diária para mantença (PL
m
) foi estimada em 2,44 ± 0,4 g PL
m
/ kg
0,75
PCV e
a de proteína dietética em 6,57 g de PB/ kg
0,75
PCV. A exigência líquida de energia para
51
ganho (EL
g
) variou entre 2,5 a 3,0 Mcal/kg ganho PCV e a de proteína (PL
g
) variou
entre 178,8 e 185,2 g/kg ganho PCV, para animais pesando entre 20 a 35 kg PV.
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54
CAPÍTULO 3 EXIGÊNCIAS NUTRICIONAIS EM MACROMINERAIS PARA
MANTENÇA E GANHO EM PESO DE CABRITOS COM CONSTITUIÇÃO GENÉTICA
¾ BOER ¼ SAANEN
RESUMO O objetivo deste estudo foi estimar as exigências em macrominerais
(Ca, P, Mg, Na e K) para mantença e ganho em peso de 34 cabritos ¾ Boer ¼ Saanen,
não castrados (peso vivo inicial, PVi, de 20,5 ± 0,24 kg). Sete cabritos foram abatidos
no início do experimento, com 21,2 ± 0,36 kg PV representando os animais referência
(AR). Outros seis foram abatidos ao atingirem 28,2 ± 0,39 kg PV, representando os
animais de abate intermediário (AI). Os 21 restantes foram distribuídos aleatoriamente
em sete grupos de três animais, onde os tratamentos foram sorteados entre os animais
de cada grupo. Os tratamentos foram definidos por três níveis de consumo de matéria
seca (CMS): à vontade e com restrição de 30 ou 60% do CMS do tratamento à vontade.
Cada grupo (formado por três animais, um de cada tratamento) foi abatido quando o
animal do tratamento à vontade atingiu 35 kg de PV. Todo o corpo do animal foi
pesado, moído, homogeneizado e uma sub-amostra foi retirada para a realização das
análises químicas. Foi utilizado o método do abate comparativo para o cálculo das
exigências líquidas. A exigência líquida diária para mantença foi estimada em 32,3 mg
de Ca; 30,8 mg de P; 1,31 mg de Mg; 8,41 mg de K e 5,14 mg de Na por kg de peso de
corpo vazio (PCV). As exigências líquidas por kg de ganho de PCV, para o intervalo de
peso entre 20 a 35 kg PV, variaram de 6,5 a 7,0 g de Ca; 5,3 a 5,4 g de P; 0,29 a 0,31 g
de Mg; 0,67 a 0,62 g de Na e 1,18 a 1,05 g de K.
Palavras-chave: abate comparativo, caprinos, composição corporal, exigência líquida,
minerais.
55
1 Introdução
Toda forma viva requer elementos inorgânicos, ou minerais, para os seus
processos vitais. Além disso, todos os tecidos animais e todos os alimentos contêm
elementos inorgânicos em quantidades e proporções amplamente variadas. Os
minerais contidos em quantias relativamente grandes, ou seja, em concentrações
maiores que 100 ppm e freqüentemente expressos como porcentagem, são chamados
de macrominerais. Entre eles estão cálcio (Ca), fósforo (P), potássio (K), magnésio
(Mg), e sódio (Na) (MCDOWELL, 1992).
Em geral, a matéria mineral (ou cinzas) representa 3,5% do peso corporal, sendo
que cada tecido, de acordo com sua função, apresenta uma composição mineral
característica. Entre 80 a 85% da matéria mineral total do corpo situa-se no tecido
ósseo, consistindo principalmente em sais de Ca, P e Mg. Por outro lado, a maioria do
Na e K está presente como eletrólito nos fluidos de corpo e tecidos macios
(MCDOWELL, 1992).
O cálcio e o fósforo normalmente são estudados conjuntamente, devido à
interdependência nutricional e ao associado metabolismo existente entre estes dois
elementos (BAIÃO, 2002). O cálcio é o mineral mais abundante do corpo,
aproximadamente 98% estão presentes nos ossos e dentes e o restante está
distribuído nos fluidos extracelulares e tecidos moles, com uma concentração maior no
plasma sanguíneo. Além da formação do esqueleto, o Ca é essencial na coagulação
sanguínea, regulação do ritmo cardíaco, excitabilidade neuromuscular, ativação de
enzimas e permeabilidade de membranas (MCDOWELL, 1992).
Cerca de 80% do fósforo corporal encontram-se nos ossos e nos dentes e os
20% restantes têm distribuição ampla nos tecidos moles, em especial nos glóbulos
vermelhos, tecidos nervosos e músculos. O P atua no crescimento e diferenciação
celular, como componente do DNA e RNA, nas reações de utilização e transformação
de energia como componente do ATP, ADP e AMP, além de ser requerido pelos
microrganismos ruminais (NRC, 1996).
56
O magnésio está intimamente associado com o Ca e o P nos tecidos e,
principalmente no tecido ósseo, sendo 60 a 70% encontrado no esqueleto e o restante,
nos tecidos moles. É o quarto cátion mais abundante no organismo animal e exerce
funções essenciais ligadas aos sistemas enzimáticos, à oxidação celular e à atividade
muscular (MCDOWELL, 1992).
O potássio é o terceiro mineral em ordem de quantidade no tecido animal e tem
como principais funções a regulação do balanço osmótico celular e o equilíbrio ácido-
base, atuando em vários sistemas enzimáticos e no balanço hídrico do organismo
(MCDOWELL, 1992). O sódio é o principal cátion do fluido celular, atuando na
manutenção do balanço dos fluidos corporais, na regulação da pressão osmótica e no
balanço ácido-básico. Este mineral, de uma forma individual, tem efeito na manutenção
da atividade do músculo cardíaco, desde que esteja em equilíbrio com o K, participando
de uma forma geral no processo de excitação de nervos e músculos (MCDOWELL,
1992).
As exigências nutricionais de minerais são, geralmente, calculadas pelo método
fatorial, o qual estima separadamente as exigências de produção e as perdas
inevitáveis do corpo, ou seja, as secreções endógenas, conhecidas como exigências
líquidas de mantença. A soma das frações para mantença e produção irá constituir a
exigência líquida total, que corrigida para um coeficiente de absorção do elemento em
estudo, irá resultar na exigência dietética do mineral (FERREIRA, 2003).
As exigências para os principais minerais foram revisadas pelo ARC (1965) para
bovinos e ovinos, sendo atualizadas posteriormente pelo ARC (1980) e utilizadas pelo
AFRC (1998), o qual inferiu que os dados publicados referentes ao conteúdo mineral
nos tecidos do corpo, no sangue e no leite de caprinos são escassos, havendo
relativamente poucos trabalhos científicos em vários aspectos da nutrição e
metabolismo mineral para o estabelecimento das exigências em caprinos. Em geral, as
exigências minerais de caprinos são extrapoladas dos valores encontrados para
bovinos e ovinos (NRC, 1981b; AFRC, 1998). De acordo com MESCHY (2000), durante
os últimos 10 anos, ocorreu um avanço na nutrição mineral de caprinos permitindo
recomendações mais específicas, porém, os mais estudados foram Ca e P.
57
Muitos fatores afetam exigências minerais, incluindo o tipo e nível de produção,
idade, nível e forma química dos elementos, interrelações com outros nutrientes, raça e
adaptação animal (MCDOWELL, 1992), acentuando a importância de mais estudos que
avaliem as exigências de minerais de caprinos.
Dessa forma, o objetivo deste estudo foi estimar a composição corporal de
cabritos com constituição genética ¾Boer e ¼Saanen utilizando a técnica do abate
comparativo, bem como estimar suas exigências nutricionais em cálcio, fósforo,
magnésio, potássio e sódio.
2 Material e Métodos
O trabalho foi desenvolvido na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias -
FCAV/UNESP, Jaboticabal - São Paulo, Brasil, localizada a 21º14’05”S e 48º17’09”W,
altitude de 615 m. Os valores de temperatura e umidade relativa do ar durante o
período experimental estão apresentados na Tabela 1.
Foram utilizados 34 cabritos com constituição genética ¾Boer e ¼Saanen, não
castrados e descornados. Após a desmama, que ocorreu aproximadamente aos 60 dias
de idades, todos os cabritos foram alimentados com a ração experimental até o início
do experimento, quando os animais atingiram 20,5 ± 0,24 kg de peso vivo (PV). Sete
cabritos foram abatidos no início do experimento, com 21,2 ± 0,36 kg PV representando
os animais referência. Outros seis foram abatidos ao atingirem 28,2±0,39 kg PV,
representando os animais de abate intermediário. Os 21 restantes foram distribuídos
aleatoriamente em sete grupos de três animais, onde os tratamentos foram sorteados
entre os animais de cada grupo.
58
Cabritos ao
nascimento
Aleitamento
até 60
dias e ração
experimental até
20 kg PV
Animais
“referência”
intermediário,
alimentação
à vontade
À vontade
30% restrição
60% restrição
Abate quando
cabritos com
alimentação à
vontade
alcançaram 35
kg PV
Abate aos
27 kg PV
Abate aos
20 kg PV
Tratamentos
Níveis de
CMS
Tabela 1. Valores de temperatura máxima e mínima (
0
C) e umidade relativa do ar (%) do
período experimental.
Temperatura Umidade
59
A dieta experimental foi única para todos os tratamentos e mantinha a mesma
relação entre os nutrientes, variando apenas a quantidade ofertada aos animais e foi
constituída de feno da planta de milho (planta inteira de milho sem raiz, cortada no
ponto para ensilar e seca ao sol), milho moído, farelo de soja, melaço, óleo, calcário,
núcleo mineral e cloreto de cálcio (Tabela 2). A dieta foi fornecida uma vez ao dia, às 8
horas, sendo que antes do fornecimento as sobras eram retiradas, pesadas e
amostradas. O CMS foi determinado pelo controle diário do alimento fornecido e
recusado.
Tabela 2. Ingredientes e composição química da ração (base na MS)
Item
%
Ingredientes
Feno da planta de milho
46,3
Milho moído
25,3
Farelo de soja
19,0
Melaço
4,5
Oleo de soja
0,9
Suplemento mineral
1
2,1
Calcáreo
0,9
Cloreto de cálcio
1,0
Composição da ração
2
%
MS
92,9
MM
7,9
PB
14,5
EE
3,7
FDN
39,6
FDA
15.5
Ca
0.95
P
0.52
Mg
0.19
K
0.68
Na
0.22
1
Composição do suplemento mineral em kg: 190 g Ca; 92 g Cl; 73 g P; 62 g Na; 44 g Mg; 30g Sn; 1350 mg
Zn; 1064 mg Fe; 940 mg Mn; 730 mg F (máximo); 340 mg Cu; 18 mg Se; 16 mg I; 3 mg Co.
2
MS = matéria seca, MM = matéria mineral, PB =proteína bruta, EE = extrato etéreo, FDN = fibra em
detergente neutro, FDA = fibra em detergente ácido.
2.1 Ensaio de Metabolismo
Paralelamente foi desenvolvido um ensaio de metabolismo com 15 animais,
separados em cinco grupos com três níveis de CMS (à vontade e restrição de 30 ou
60% do CMS), para se determinar a absorção dos minerais, utilizando um delineamento
60
inteiramente ao acaso. Os animais ficaram em gaiolas de metabolismo, a qual permitia
a separação de fezes e urina. As amostras do alimento oferecido e recusado, das fezes
e da urina foram coletadas diariamente, durante cinco dias, após um período de
adaptação de cinco dias. A quantidade total diária de fezes excretadas foi pesada em
balança eletrônica com precisão de 0,1 g e a de urina mensurada em provetas com
precisão de 10 ml, coletando-se uma amostragem de 10% que era congelada a - 20º C.
A urina foi coletada em baldes contendo 20 mL de HCl 6N, acidificando-a a fim de
prevenir a volatilização da amônia.
2.2 Procedimento de abate
O controle do desenvolvimento ponderal dos animais foi realizado semanalmente
com a pesagem, dos mesmos. Para se determinar o peso ao abate ou peso após jejum
(PJ), os animais foram submetidos a jejum de sólidos e líquidos de 16 horas, seguida
de insensibilização com choque elétrico e mortos com corte na carótida e jugular. O
sangue foi colhido e pesado, o trato gastrintestinal foi retirado, pesado antes e após a
retirada de seu conteúdo para determinação do peso de corpo vazio (PCV). Todo o
corpo do animal (sangue, vísceras, cabeça, patas, couro e carcaça) foi inicialmente
congelado, depois cortado em serra de fita, triturado, homogeneizado e retiradas
amostras de 500 g aproximadamente, as quais foram novamente congeladas e
liofilizadas para determinação da matéria seca.
2.3 Análises Laboratoriais
As amostras obtidas dos ingredientes da dieta experimental, do alimento
oferecido e recusado e das fezes foram secas a 60º C por 72 h e moídas em peneira de
malha de 1 mm usando um moinho do tipo Wiley. Após este procedimento, as amostras
foram analisadas para se conhecer os teores de: extrato etéreo, proteína bruta
(nitrogênio total pelo método de combustão de Dumas utilizando um analisador tipo
LECO FP-528LC, matéria mineral, energia bruta (em bomba calorimétrica tipo Parr),
61
fibra em detergente neutro (FDN, com a-amilase e sem sulfito) e fibra em detergente
ácido (FDA) de acordo com o protocolo sugerido por SILVA & QUEIROZ (2005).
(2005).
62
2.5 Exigências para ganho.
A predição da composição corporal foi obtida por meio de equação alométrica
logaritimizada que tem como variável dependente a quantidade do componente (Ca, P,
Mg, K, Na) presente no corpo vazio e variável independente o PCV (Equação 3)
segundo método descrito pelo ARC (1980).
Log
10
(peso do componente, kg) = a + b × log
10
(PCV, kg) [3]
Onde peso do componente é a quantidade total do mineral no PCV e PCV é o
peso de corpo vazio.
A exigência líquida para ganho foi obtida através da derivada da equação de
regressão do logaritmo da quantidade do componente presente no corpo vazio, em
função do logaritmo do PCV (Equação 4).
Conc. Componente = b × 10
a
× PCV
(b-1)
[4]
Onde, conc componente é a concentração do mineral por unidade de GPCV,
g/kg ganho; PCV é o peso de corpo vazio, e a e b são parâmetros determinados pela
equação alométrica logaritimizada da composição corporal (Equação 4).
2.6 Análise estatística.
Para o estudo da composição corporal o experimento foi montado em um
delineamento inteiramente casualizado, com três tratamentos e sete repetições, sendo
realizada análise de regressão da quantidade do componente presente no corpo vazio
em função do PCV pelo PROC REG (SAS Inst. Inc., Cary, NC). Para o ensaio de
metabolismo foi adotado um delineamento inteiramente casualizado com três
tratamentos e cinco repetições, as médias foram testadas pelo teste “Least square
means” pelo PROC GLM (SAS Inst. Inc., Cary, NC).
63
3 Resultados e Discussão
Na Tabela 3 estão apresentados os valores médios para peso vivo (PV), peso
em jejum (PJ), peso do corpo vazio (PCV), ganho de peso e composição corporal em
água e macrominerais no corpo vazio dos grupos de animais utilizados neste
experimento. De uma maneira geral e conforme o esperado, o CMS e o ganho de peso
foram maiores para os animais com consumo à vontade.
Tabela 3. Composição corporal final e desempenho de cabritos, não castrados, com constituição
genética ¾Boer x ¼Saanen do abate “referência” (AR), intermediário (AI) e dos 3 níveis
de ingestão (à vontade, AV, e com restrição de 30 e 60% do consumo à vontade)
Níveis de restrição
1
Variable
2
AR
AI
60%
30%
0% (AV)
E
P
M
P
C.V.
3
N
7
6
7
7
7
---
---
PE, d
---
39
70
70
70
--
--
PV, kg
21,2
28,2
22,6
c
29,9
b
35,6
a
0,36
<0,0001
3,2
PJ, kg
19,1
26,2
21,1
c
28,2
b
34,0
a
0,38
<0,0001
3,9
PCV, kg
15,9
22,8
17,2
c
23,9
b
29,7
a
0,45
<0,0001
5,5
Gordura, % PCV
11,6
14,5
12,5
b
14,2
a
15,0
a
0,66
0,004
12,9
Proteína, % PCV
17,0
17,6
18,2
a
17,8
ab
17,5
b
0,20
0,007
3,0
Água, % PCV
67,9
64,7
65,8
a
6
4,6
ab
6
4,1
b
,62
0
,001
2
,5
MM, % PCV
3
,45
3
,27
3
,7
a
3
,4
ab
3
,3
b
,08
0
,027
6
,6
Ca, % PCV
0,59
0,58
0,65
0,63
0,64
0,02
0,10
8,5
P, % PCV
0,5
2
0,52
0,56
0,49
0,54
0,02
0,40
11,8
Mg, % PCV
0,027
0,026
0,031
a
0,027
b
0,028
b
0,0007
0,02
6,4
K, % PCV
0,14
0,15
0,14
0,14
0,12
0,007
0,32
13,4
Na, % PCV
0,05
0,070
0,073
0,071
0,070
0,002
0,34
8,2
MM, g/kg
0,75
PCV
70,4
73,1
74,2
78,6
79,1
1,85
0,07
6,5
Ca, g/kg
0,75
PCV
11,8
12,8
13,2
b
13,8
ab
14,9
a
0,43
0,01
8,6
P, g/kg
0,75
PCV
10,5
11,4
11,4
ab
10,9
b
12,6
a
0,53
0,03
12,3
Mg, g/kg
0,75
PCV
0,55
0,58
0,63
ab
0,60
b
0,67
a
0,02
0,002
6,7
K, g/kg
0,75
PCV
2,8
3,2
2,8
3,0
2,9
0,15
0,27
13,1
Na, g/kg
0,75
PC
V
1,50
1,50
1,49
b
1,58
ab
1,63
a
0,04
0,03
7,7
GPV, g/d
---
208,6
41,0
c
151,8
b
231,3
a
14,9
<0,0001
25,3
GPCV, g/d
---
205,3
27,0
c
133,6
b
211,3
a
15,9
<0,0001
29,6
CMS, g/d
---
921,8
442,5
c
762,7
b
1068,5
a
50,2
<0,05
16,7
CMS, g/kg
0,75
PCV/d
---
100,3
54,8
c
82,8
b
104,8
a
5,13
<0,02
15,9
1
Animais de cada grupo foram abatidos quando o animal com alimentação à vontade atingiu 35 kg.
2
PE = período experimental, PJ = peso após jejum, PCV = peso de corpo vazio, GPCV = ganho de peso de corpo vazio.
3
Coeficiente de variação
a, b, c
médias seguidas da mesma letra na linha não diferem entre si (P < 0,05).
Analisando-se a composição corporal dos animais dentro dos diferentes níveis
de restrição, observa-se que os teores de água e matéria mineral diminuíram com o
64
aumento do nível de ingestão. Essa diminuição no teor de matéria mineral, em termos
percentuais, foi apenas refletida no teor de Mg, o qual também diminui com o aumento
do nível de ingestão, enquanto que os teores de Ca, P, K e Na não diferiram entre os
tratamentos.
Apesar do nível de ingestão não ter afetado signitivamente a composição
corporal em minerais, este deve ser considerado com cautela. O aumento do nível de
ingestão acarretou em aumento do peso corporal, o qual tem sido apontado como o
principal fator discriminante (FERREIRA, 2003; TEIXEIRA, 2004). Assim, com o intuito
de verificar o efeito do nível de ingestão sobre a composição corporal, tentando isolar o
efeito do peso corporal, foi feita uma análise da composição corporal de minerais em
termos de peso metabólico (Tabela 3).
Observou-se, então, maiores teores de Ca, P, Mg e Na na composição corporal
dos animais com alimentação à vontade em relação aos animais sob restrição
alimentar. Este comportamento provavelmente foi reflexo do maior ganho de peso, o
que acarretou em maior desenvolvimento corporal dos animais com alimentação à
vontade.
Em geral, a composição corporal média de cálcio, fósforo e magnésio dos
animais deste trabalho foram menores às relatadas por outros estudos com caprinos
(RESENDE, 1989; FERREIRA, 2003; TEIXEIRA, 2004). Como o cálcio, fósforo e
magnésio estão predominantemente presentes no tecido ósseo, a causa para este fato
pode ter sido decorrente de uma menor proporção de ossos dos animais deste estudo,
os quais apresentam maior grau de sangue de raça especializada em produção de
carne, em relação ao demais, cujas raças utilizadas foram mestiças, Saanen e F1
Saanen x Boer. De acordo com McDOWELL (1992), importantes diferenças no
metabolismo de minerais podem ser atribuídas à raça e, principalmente, à variação
individual de cada animal.
65
3.1 Ensaio de Metabolismo
Os valores médios de ingestão, excreções fecal e urinária, balanço e absorção
aparente dos minerais Ca, P, Mg, K e Na, quando os animais foram submetidos a três
níveis de ingestão (à vontade, AV, e restrição de 30% ou 60% do consumo à vontade),
encontram-se nas Tabelas 4 e 5.
A excreção fecal de Ca foi responsável por aproximadamente 100% da
excreção total de Ca. O que está de acordo com McDOWELL (1992), que relatou que a
principal via de excreção de cálcio é pelas fezes, sendo constituída pelo Ca não
absorvido proveniente da dieta e do Ca endógeno, proveniente das secreções da
mucosa intestinal. A excreção urinária por sua vez é mínima, devido à alta eficiência
renal na reabsorção de Ca (MCDOWELL, 1992). Esta expressiva proporção da
excreção fecal de Ca em relação ao total excretado também foi observada por SOUZA
et al. (1998b) e DORIGAN (2000), ambos os trabalhos utilizando rações com diferentes
teores de Ca.
Em relação aos níveis de ingestão, não foi encontrada diferença significativa
para a excreção fecal de Ca, o que pode ter sido decorrente da alta variação individual.
Além disso, a ração consumida pelos animais foi a mesma, contendo a mesma relação
Ca:P de 1,83:1. Por outro lado, SOUZA et al. (1998) observaram um aumento linear da
excreção de Ca em função dos níveis crescentes de Ca ingeridos, em rações com
relação Ca:P variando de 0,16:1 a 1:1. Nota-se, entretanto, que o coeficiente de
absorção aparente do Ca foi maior para os animais com maiores níveis de ingestão.
Considerando-se que o organismo absorve Ca de acordo com a necessidade (ARC,
1980), quando a ingestão de Ca aumentou devido ao aumento do CMS, houve também
um aumento no GPV destes animais, tornando suas necessidade maiores e fazendo
com que a excreção fecal fosse proporcionalmente menor.
A ração oferecida foi igual para todos os animais, contendo um teor de 0,52% de
P (Tabela 2), variando apenas o nível de ingestão. Dessa forma, o aumento da
ingestão de P incorreu em um aumento da excreção fecal de P, mas não foi
66
significativo para a excreção urinária. Todavia, nota-se que a excreção fecal de P foi
semelhante para os tratamentos com 30 % de restrição e à vontade, o que levou a um
coeficiente de absorção aparente menor para o tratamento com 30 % de restrição em
relação aos com 60 % de restrição e à vontade. Isto pode ter sido decorrente de
diferenças na excreção endógena de P fecal. A excreção metabólica fecal é
influenciada por vários fatores, entre eles a quantidade de P ingerida (CARVALHO et
al., 2003), natureza da dieta, individualidade e competição entre necessidade para
mantença e produção (AFRC, 1991). Essa variação na excreção de P endógeno fecal,
oriundo principalmente das glândulas salivares, é uma rota importante do controle
homeostático para o P (ANNEKOV, 1982), sendo este excretado de acordo com o
suprimento das necessidades do animal.
Tabela 4. Valores de peso vivo (PV), absorção aparente (Ab) e balanço
de cálcio e fósforo, em cabritos ¾Boer x ¼Saanen, no ensaio
de metabolismo, em 3 níveis de ingestão (à vontade, AV, e
com restrição de 30% ou 60% do consumo à vontade)
Variável Nível de restrição
60% 30% 0 % (AV) SEM P C. V.
1
N 5 5 5 --- ---
PV, kg 19,6
c
24,4
b
28,1
a
0,30 <0,001 3,4
CMS, g/d 432,1
c
755,9
b
1002,6
a
80,9 0,001 13,2
DigA MS, % 75,0 72,1 71,0 2,3 0,50 6,4
Ab Ca, % 54,5
b
52,3
b
69,4
a
3,7 0,01 14,2
Ab P, % 72,1
a
55,2
b
64,8
a
3,9 0,03 13,7
Ca, mg/ kg de PV
Ingestão 237,4
b
316,4
a
377,3
a
39,3 0,02 28,4
Fecal 107,8 151,7 121,8 21,6 0,37 37,9
Urinário
0,07 0,0 0,0 0,04 0,39 -
Balanço 129,5
b
164,7
a
255,5
a
22,8 0,01 27,8
P, mg/ kg de PV
Ingestão 128,3
b
170,9
a
208,7
a
19,6 0,04 26,4
Fecal 35,2
b
76,4
a
78,0
a
12,9 0,05 45,6
Urinário 0,47 0,55 0,70 0,16 0,62 63,5
Balanço 92,6
b
94,0
b
129,9
a
10,5 0,04 22,3
1
Coeficiente de variação.
a, b, c
médias seguidas da mesma letra na linha não diferem entre si.
Com relação aos minerais Mg, K e Na, há muito pouca informação na literatura
sobre seu metabolismo, sendo praticamente escassa em relação a caprinos. A variação
67
individual encontrada neste estudo foi alta, fazendo com que mesmo diferenças
expressivas numericamente não apresentassem significância estatística.
O aumento da ingestão de Mg levou a um aumento na excreção urinária, mas
não apresentou efeito significativo sobre a excreção fecal e a absorção aparente.
Segundo o NRC (1981b), caprinos tem uma habilidade marginal em compensar a baixa
ingestão de Mg através da redução da taxa de sua excreção. O Mg é excretado na
urina, nas fezes e no leite, sendo que a urina é uma via importante de excreção de Mg
após sua absorção (MCDOWELL, 1992). O coeficiente médio de absorção aparente de
Mg encontrado neste estudo (65,4%) foi bastante superior ao sugerido pelo AFRC
(1998) baseado nas recomendações adotadas para bovinos e ovinos, cujo valor é de
17%. Entretanto, este foi inferior ao valor de 73,9% de absorção aparente, relatado por
ALCALDE (1993) para caprinos consumindo ração com 0,2% Mg na MS (valor próximo
da ração deste estudo). Esta discrepância indica a necessidade de mais estudos com
caprinos.
O aumento da ingestão de K e Na afetaram diretamente a excreção urinária e
fecal e, consequentemente, a diminuição do coeficiente de absorção aparente destes
minerais (Tabela 5). Além da urina e das fezes, K e Na podem ser excretados pela pele,
através do suor, principalmente em regiões de clima quente e úmido. Segundo o AFRC
(1998), o metabolismo do Na, K e Cl estão intimamente interrelacionados, sendo que
grandes quantidades de ingestão de K também afetam o metabolismo e absorção de
Mg.
Devido grande volume de saliva (rica em K) ser continuamente secretada por
ruminantes, uma quantidade significativa de K no rúmen é proveniente da reciclagem
via saliva, assim, a absorção verdadeira do K é relativamente alta, aproximadamente
95%. Neste estudo, a absorção aparente do K foi alta, variando de 76,5 a 88,8%, mas
foi ligeiramente inferior a sugerida pelo AFRC(1998) de 90%.
Observa-se que os animais apresentaram balanço positivo de todos os minerais
estudados, mesmo aqueles em restrição alimentar, sugerindo que os níveis dos
minerais disponíveis foram suficientes para atender às exigências de mantença dos
animais.
68
Tabela 5. Valores de peso vivo (PV), absorção aparente (Ab) e balanço de magnésio,
potássio e sódio em cabritos ¾Boer x ¼Saanen, no ensaio de metabolismo, em
3 níveis de ingestão (à vontade, AV, e com restrição de 30% ou 60% do
consumo à vontade)
Variável Nível de ingestão
60% 30% AL SEM P C.V.
N 5 5 5 --- ---
PV, kg 19,6
c
24,4
b
28,1
a
0,30 <0,001 3,4
Ab Mg, % 66,9 61,1 68,2 4,3 0,58 19,3
Ab K, % 88,8
a
84,8
b
76,5
c
1,5 0,002 4,1
Ab Na, % 84,9
a
83,3
a
74,6
b
2,8 0,02 7,8
Mg, mg/ kg de PV
Ingestão 46,5
b
59,4
a
73,0
a
8,2 0,04 29,7
Fecal 14,9 22,7 24,4 4,5 0,33 53,3
Urinário
0,28
b
0,34
b
1,32
a
0,29 0,04 95,8
Balanço 31,2
b
36,2
ab
47,3
a
4,8 0,04 30,4
K, mg/ kg de PV
Ingestão 169,1
b
225,3
ab
272,3
a
29,6 0,03 30,0
Fecal 19,1
b
33,6
b
65,2
a
7,7 0,01 43,7
Urinário 3,0
b
3,5
b
10,5
a
2,4 0,04 93,8
Balanço 147,0
188,1 196,6
21,4 0,25 27,0
Na, mg/ kg de PV
Ingestão 56,0
b
74,6
ab
94,2
a
8,6 0,01 25,8
Fecal 8,4
b
12,3
b
24,2
a
3,0 0,01 45,6
Urinário 1,2 1,0 1,8 0,4 0,29 59,5
Balanço 46,4
b
61,3
a
68,2
a
6,5 0,03 25,0
a, b, c
médias seguidas da mesma letra na linha não diferem entre si
3.2 Exigências de mantença
A exigência líquida de mantença para ruminantes pode ser estimada por vários
métodos, entre eles, as perdas endógenas (em ensaios de alimentação), abate
comparativo e radioisótopos. Os resultados têm destacado o método de radioisótopos
como o mais preciso, porém este método necessita de laboratórios e equipamentos
adequados, além do custo elevado (QUEIROZ et al., 2000a). Assim, neste estudo, as
exigências líquidas foram determinadas pelo método do abate comparativo (Tabela 6)
e pelo método das perdas endógenas utilizando os dados dos animais do ensaio de
metabolismo (Tabela 7).
69
Para a obtenção das exigências líquidas por kg de PV, foi utilizado um fator de
correção de 0,85, encontrado a partir do valor médio da relação PCV/PJ dos animais
utilizados neste ensaio.
A exigência líquida de mantença para o Ca, estimada pelo abate comparativo,
foi 32,3 mg de Ca/kg PCV ou 27,4 mg de Ca/kg PV (Tabela 6). O valor estimado pelas
perdas endógenas foi 16,1 mg de Ca/kg PV (Tabela 7).
Utilizando radioisótopos, DORIGAN (2000) estimou a exigência líquida de cálcio
para mantença em 11,7 mg/kg PV/dia em cabritos da raça Saanen, enquanto SOUSA
et al. (1998b), utilizando o método das perdas endógenas, estimou um valor de 14,6
mg/kg PV/dia para caprinos da raça Alpina com PV médio de 20 kg. O NRC (1996) de
bovinos sugeriu 15,4 mg Ca/kg PV/dia para perdas endógenas totais. O valor
encontrado neste trabalho pelo método do abate comparativo foi quase 50% superior
enquanto que o estimado pelas perdas endógenas foi próximo a estes.
Com relação ao P, a exigência líquida de mantença estimada pelo abate
comparativo foi 30,8 mg de P/kg PCV (ou 26,2 mg de P/kg PV) e, estimada pelas
perdas endógenas, 31,6 mg de P/kg PV. Estes valores foram superiores aos relatados
em outros trabalhos. Alguns estudos com radioisótopos estimaram as exigências
líquidas de fósforo para mantença em 5,6 mg P/kg PV/dia (BUENO, 1997) e em 6,8
mg/kg PV/dia (CARVALHO et al., 2003). QUEIROZ et al. (2000a), utilizando o método
das perdas endógenas, estimou um valor de 13,7 mg/kg PV/dia para caprinos da raça
Alpina com PV médio de 20 kg. O NRC (1996) de bovinos sugeriu 16 mg P/kg PV/dia
para perdas endógenas totais. Estas diferenças podem ter sido decorrentes do maior
consumo de P deste experimento em relação aos demais, em média 128% superior. A
excreção metabólica fecal é influenciada por vários fatores, entre eles a quantidade
ingerida de fósforo. CARVALHO et al. (2003) observaram que a excreção de P
endógeno fecal aumentou de 11,2 a 34,11 g/kg PV/dia quando a ingestão de P
aumentou de 20,8 a 132,3 g/kg PV/dia.
70
Tabela 6. Equações de regressão para estimar as exigências líquidas de mantença
dos minerais pelo método do abate comparativo.
Mineral
Equações
*
r
2
Exig.
líquida
mg/kg
PCV/d
Cálcio Ca retido = -0,0323 ± 0,011 + 0,207 ± 0,03 × Ca ingerido 0,71 32,30
Fósforo P retido = -0,0308 ± 0,012 + 0,324 ± 0,06 × P ingerido 0,59 30,80
Magnésio Mg retido = -0,00131 ± 0,0005 + 0,04556 ± 0,007 × Mg ingerido 0,68 1,31
Potássio K retido = -0,00841 ± 0,003 + 0,0600 ± 0,012 × K ingerido 0,55 8,41
Sódio Na retido = -0,00514 ± 0,001 + 0,1045 ± 0,012 × Na ingerido 0,78 5,14
* valores de retido e ingerido em g/kg PCV
O NRC (1981b) preconiza o valor de 2 g/dia de Ca e 1,4 g/dia de P para animais
de 30 kg de PV, para caprinos em mantença e em condições de estabulação total e
mínima atividade física. A exigência dietética de Ca e P (quando mineral retido = 0)
para mantença neste trabalho foi estimada em 156 e 95 mg/kg PCV, respectivamente,
sendo necessária a ingestão de 4 g/dia de Ca e 2,4 g/dia de P para mantença,
indicando uma subestimativa destas exigências pelo NRC (1981). Ressalta-se que as
exigências dietéticas devem ser vistas com cautela, uma vez que estas são específicas
para as condições alimentares a que foram determinadas.
Tabela 7. Equações de regressão para estimar as exigências líquidas dos minerais
pelo método das perdas endógenas.
Mineral
Equações
*
r
2
Exig. líquida
mg/kg
PV/d
Cálcio Ca exc = 16,12 ± 29,1 + 0,36 ± 0,08 × Ca ingerido 0,55 16,1
Fósforo P exc = -31,6 ± 14,3 + 0,56 ± 0,08 × P ingerido 0,79 31,6
Magnésio Mg exc = -7,77 ± 7,08 + 0,51 ± 0,11 × Mg ingerido 0,62 7,8
Potássio K exc = -39,63 ± 0,38 + 0,38 ± 0,04 × K ingerido 0,84 39,7
Sódio Na exc = -10,4 ± 4,4 + 0,35 ± 0,06 × Na ingerido 0,75 10,4
* exc = excretado. valores de excretado e ingerido em g/kg PV
A exigência líquida de mantença para os demais minerais, estimada pelo abate
comparativo, foi 1,31 mg de Mg; 8,41 mg de K e 5,14 mg de Na por kg PCV (Tabela 6).
Os valores estimados pelas perdas endógenas foram maiores em relação aos
71
estimados pelo abate comparativo, sendo 7,8 mg de Mg; 39,7 mg de K e 10,4 mg de
Na por kg PV (Tabela 7).
As perdas endógenas são constituídas pelas soma das frações endógenas fecais
e urinárias. É conveniente considerar este aspecto sob um ponto de vista relativo,
principalmente em se tratando de minerais, pois as perdas endógenas correspondem a
uma fração única que pode representar a exigência liquida de mantença, mas também
podem conter um componente de excreção que permite o organismo eliminar o mineral
absorvido em excesso (MESCHY, 2000), explicando os maiores valores estimados.
A literatura sobre dados de exigência de mantença de Mg, K e Na é muito
escassa e praticamente nula para caprinos. MESCHY (2000), revisando sobre
exigências de minerais para caprinos, recomendou os valores de 3,5 mg Mg/ kg PV, 50
mg K/kg PV e 15 mg de Na/kg PV obtidos em estudos para ovinos. Os valores
encontrados neste trabalho foram divergentes a estes e, de um modo geral,
apresentaram valores menores.
O AFRC (1998) por sua vez, adotou valores do ARC (1965) e ARC (1980),
provenientes de estudos com bovinos e ovinos, recomendando os valores de perda
endógena de 3,5 mg de Mg, 20 mg de K e 8 mg de Na por kg PV, os quais
superestimaria as exigências dos animais deste estudo, demonstrando a necessidade
de mais estudo sobre o metabolismo destes minerais para caprinos.
Por fim, é importante considerar a influência da ingestão de matéria seca sobre a
excreção dos minerais. Segundo o AFRC (1991), a secreção de Ca fecal endógeno é
pequena, ocorre ao longo do trato digestivo, independe da ingestão de Ca e não varia
com a digestibilidade do alimento na faixa de 45 a 65%, mas aumenta com o nível de
ingestão do alimento. Com relação ao P, alguns trabalhos têm verificado que a
excreção de P endógeno é afetada pela ingestão de MS (TERNOUTH, 1989;
CARVALHO et al., 2003). Não foram encontrados trabalhos com os outros minerais,
mas é provável que a excreção destes também sofra influência da ingestão de MS.
Neste trabalho, a ração utilizada foi única para todos os animais, contendo os
mesmos teores e relações entre os minerais, variando-se o nível de ingestão por
animal. Na maior parte dos estudos sobre mantença de minerais, as perdas endógenas,
72
que são as quantidades de mineral perdidas originadas do organismo do animal, são
estimadas utilizando animais recebendo rações com níveis do elemento próximo ou
abaixo das exigências (BOIN, 1985). Estas diferenças metodológicas podem ter sido
responsáveis pelas diferenças entre os resultados obtidos neste estudo e os demais.
3.3 Exigências para ganho
Na Tabela 8 são apresentadas as equações de regressão para estimativa do
PCV em função do PV e do logaritmo do conteúdo corporal dos macrominerais em
função do logaritmo do PCV. As equações foram obtidas a partir dos dados de
composição corporal. Os coeficientes de determinação mostraram um bom
ajustamento com baixa dispersão dos dados.
Tabela 8. Equações de regressão para estimar a composição corporal (cinzas, Ca, P,
Mg, K e Na) em cabritos ¾ Boer x ¼ Saanen
Variável
1
Equações alométricas logaritimizadas r
2
RMSE
*
PCV, kg PCV, kg = -3,86 ± 0,96 + 0,93 ± 0,03 x PV 0,95 1,08
cinzas, g/kg PCV Log cz, g = 1,62 ± 0,06 + 0,92 ± 0,05 x log PCV, kg 0,94 0,02
Ca, g/kg PCV Log Ca, g = 0,64 ± 0,09 + 1,11 ± 0,06 x log PCV, kg 0,96 0,03
P, g/kg PCV Log P, g = 0,69 ± 0,15 + 1,02 ± 0,11 x log PCV, kg 0,88 0,03
Mg, g/kg PCV Log Mg, g = -0,65 ± 0,06 + 1,08 ± 0,05 x log PCV, kg 0,98 0,02
Na, g/kg PCV Log Na, g = 0,35 ± 0,08 + 0,83 ± 0,06 x log PCV, kg 0,94 0,03
K, g/kg PCV Log K, g = 0,013 ± 0,006 + 0,884 ± 0,05 x log PCV, kg 0,96 0,02
1
PCV é o peso de corpo vazio.
*
Raiz do quadrado médio do erro.
Na Tabela 9, estão apresentadas a composição corporal em cinzas, Ca, P, Mg, K
e Na de cabritos ¾ Bôer x ¼ Saanen, estimadas pelas equações da Tabela 8. Apesar
das concentrações de cinzas diminuírem à medida que aumentou o PCV, as
concentrações de Ca, P e Mg apresentaram um pequeno aumento, enquanto as
concentrações de Na e K diminuíram com o aumento do PCV.
73
Tabela 9. Composição corporal em cinzas, Ca, P, Mg,
K e Na de cabritos ¾ Boer x ¼ Saanen
estimadas pelas equações da Tabela 8.
Variável
1
PV , kg
20 27 35
PCV, kg 14,7 21,2 28,7
cinzas, g/kg PCV 34,4 33,4 32,7
Ca, g/kg PCV 5,87 6,11 6,32
P, g/kg PCV 5,24 5,28 5,32
Mg, g/kg PCV 0,27 0,28 0,29
Na, g/kg PCV 0,76 0,72 0,70
K, g/kg PCV 1,42 1,33 1,26
A maior parte do Na e K estão presentes nos fluidos corporais e tecidos moles,
dessa forma, o aumento da deposição de gordura, a qual contém quantidades
negligenciáveis de minerais, promoveria um efeito de diluição na quantidade destes
minerais no corpo, explicando a diminuição nas concentrações de Na e K com o
aumento do PCV.
Considerando que os minerais Ca, P e Mg estão presentes na sua maior parte
nos ossos, o ligeiro aumento nas suas concentrações indicou que os cabritos ainda
apresentaram um crescimento do tecido ósseo independente da deposição mais
acentuada de gordura (Tabela 6, Capítulo 2), apontando talvez para uma maturidade
tardia e um peso adulto maior para este grupo genético, uma vez que estes animais
estavam na faixa de peso de 20 a 35 kg. Este comportamento foi contrário ao
observado em outras raças caprinas e cruzamentos como Saanen (FERREIRA, 2003),
Alpina (SOUSA et al., 1998c), SRD x Toggenburg ou Alpina (RESENDE, 1989) e F1
Boer x Saanen (TEIXEIRA, 2004), na faixa de peso de 5 a 35 kg.
Devido às escassas informações sobre conteúdo corporal de minerais para
caprinos, O AFRC (1998) sugeriu que fossem utilizados dados de ovinos preconizados
pelo ARC (1980). Por sua vez, o ARC (1980) considera a concentração de minerais no
conteúdo corporal constante e independente do aumento de peso, recomendando o
valor de 11,0 g de Ca; 6,0 g de P; 0,41 g de Mg; 1,1 g de Na e 1,8 g de K por kg PCV,
os quais são expressivamente maiores que os relatados neste estudo.
74
Embora apresentando ligeiros aumentos, as concentrações de Ca, P e Mg foram
em média 46%, 30% e 60% inferiores aos valores relatados em outros trabalhos com
caprinos, os quais variaram de 8 a 15 g Ca, 6 a 10 g P e 0,41 a 0,97 g Mg por kg de
PCV (RESENDE, 1989; RIBEIRO, 1995; SOUSA et al., 1998c; FERREIRA, 2003;
TEIXEIRA, 2004), o que pode ter sido reflexo de uma menor proporção de ossos na
carcaça dos animais deste estudo, cuja constituição genética apresentava maior
participação da raça Bôer.
Para se estimar a composição corporal em macrominerais para ganho de PCV,
derivou-se as equações do logaritmo da quantidade do mineral (Tabela 8),
apresentando na Tabela 10 as equações para estimar a composição do ganho em
PCV, obtendo-se a exigência líquida para ganho. Dessa forma, a exigência líquida de
macrominerais para ganho, para o intervalo de peso entre 20 a 35 kg PV, variou de 6,5
a 7,0 g de Ca/kg ganho PCV; 5,3 a 5,4 g de P/kg ganho PCV; 0,29 a 0,31 g de Mg/kg
ganho PCV; 0,67 a 0,62 g de Na/kg ganho PCV e 1,18 a 1,05 g de K/kg ganho PCV
(Tabela 10).
Tabela 10. Equações para predição da exigência líquida de macrominerais para
ganho em peso de corpo vazio (GPCV).
PV, kg
20 27 35 Equação para exigência
líquida de ganho
1
PCV, kg 14,7 21,2 28,7
Ca, g/kg GPCV 6,52 6,79 7,02 4,846 x PCV
0,1102
P, g/kg GPCV 5,36 5,40 5,44 5,0363 x PCV
0,0231
Mg, g/kg GPCV 0,29 0,30 0,31 0,2380 x PCV
0,0781
Na, g/kg GPCV 0,67 0,64 0,62 0,9118 x PCV
-0,1155
K, g/kg GPCV 1,18 1,10 1,05 1,8570 x PCV
-0,1701
1
concentração do componente = b 10
a
X
(b-1)
, onde a e b são constantes determinadas pelas equações da Tabela 8.
O AFRC (1998) de caprinos sugeriu que fossem utilizados os dados de
composição do ganho extrapolados de bovinos publicados no ARC (1980), o qual
considera composições constantes e independentes do peso animal, sendo estimadas
em 14 g Ca; 8 g P; 0,45 g Mg; 1,5 g Na e 2 g K por kg de ganho de PCV, valores muito
superiores aos encontrados neste estudo.
75
Em alguns estudos realizados no Brasil com bovinos, verificou-se valores de
composições de ganho variando de 8,6 a 12,7 g Ca; 6,8 a 8,1 g P; 0,21 a 0,28 g Mg;
0,60 a 1,22 g Na e 0,62 a 1,35 g K por kg de ganho de PCV (FONTES, 1995;
PAULINO et al., 2004). Com relação ao Ca e P, estes dados estariam superestimando
as exigências dos animais utilizados neste trabalho e de outros estudos nacionais com
caprinos, utilizando raças e cruzamentos diferentes (RIBEIRO, 1995; SOUSA et al.,
1998c; GOUVEIA, 1999; FERREIRA, 2003). Já, TEIXEIRA (2004) utilizando cabritos
F1 Saanen x Bôer pesando de 5 a 25 kg e RESENDE (1989) utilizando cabritos
mestiços SRD x Toggenburg ou Alpina pesando de 5 a 25 kg observaram valores
muito próximos aos relatados para bovinos. Como já discutido anteriormente, estas
diferenças podem ser decorrentes de diferentes proporções de ossos na carcaça.
Outro fator influenciante é a variação na concentração de gordura, a qual é função de
idade, raça, grupo genético, sexo, manejo alimentar e condições climáticas ao qual o
animal é submetido.
As composições de Mg por kg de ganho de PCV tiveram pouca variação e foram
próximas aos valores encontrados para bovinos em estudos no Brasil. Todavia, foram
em média 47% menores que os valores estimados para caprinos nos estudos de
TEIXEIRA (2004) e FERREIRA (2003).
Os valores de composição do ganho em Na e K foram os que apresentaram
maior variação de valores entre estudos. FERREIRA (2003), utilizando cabritos Saanen
dos 20 aos 35 kg encontrou valores inferiores e TEIXEIRA (2004), utilizando cabritos
Saanen dos 5 aos 25 kg encontrou valores superiores ao deste estudo. Considerando
que o metabolismo de Na e K são inter-relacionados e que ambos são perdidos pelo
suor, a variação nas exigências são dependentes da capacidade de sudorese dos
animais e das condições ambientais nas quais eles estão (MCDOWELL, 1992).
Pelos dados apresentados anteriormente pode se observar que as exigências
de minerais podem ser substancialmente variáveis, sendo afetadas por fatores como
raça, idade, peso vivo, condições ambientais e espécie, merecendo esforços no seu
estudo para caprinos. Ressalva-se que, devidos às pequenas quantidades no corpo e
76
a um grande controle homeostático, os minerais em geral apresentam grande
variabilidade entre animais, o que muitas vezes gera dificuldades na determinação de
suas exigências. Além disso, a ingestão de MS influencia a excreção dos minerais,
podendo ter sido um fator responsável pelas diferenças encontradas neste estudo.
Por fim, agregando-se as informações sobre as exigências para mantença e
ganho estimadas neste estudo, com o intuito de proporcionar uma visualização geral da
exigência líquida total de macrominerais, foi elaborada uma compilação dos resultados
obtidos nesta pesquisa, conforme mostrado pelas Tabelas 11 e 12. Vale ressaltar que
a exigência dietética pode ser calculada dividindo-se a exigência líquida pela
disponibilidade de cada mineral, que se modifica em função dos alimentos utilizados na
dieta (FERREIRA, 2003).
Tabela 11. Exigência líquida de cálcio (Ca), fósforo (P) e magnésio (Mg) para cabritos não castrados ¾
Boer x ¼ Saanen em crescimento (g/dia).
PV ganho Exigência líquida de Ca
Exigência líquida de P
Exigência líquida de Mg
(kg) (g) mant
*
ganho total
mant ganho total
mant ganho total
100 0,476 0,561 1,037
0,454 0,461 0,915
0,019 0,025 0,045
150 0,476 0,841 1,317
0,454 0,691 1,145
0,019 0,038 0,057
20 200 0,476 1,121 1,597
0,454 0,922 1,376
0,019 0,051 0,070
250 0,476 1,401 1,878
0,454 1,152 1,606
0,019 0,063 0,082
300 0,476 1,682 2,158
0,454 1,383 1,837
0,019 0,076 0,095
100 0,626 0,578 1,204
0,597 0,464 1,061
0,025 0,026 0,051
150 0,626 0,867 1,493
0,597 0,696 1,293
0,025 0,039 0,064
25 200 0,626 1,156 1,782
0,597 0,928 1,525
0,025 0,052 0,077
250 0,626 1,444 2,071
0,597 1,160 1,757
0,025 0,065 0,090
300 0,626 1,733 2,360
0,597 1,391 1,989
0,025 0,077 0,103
100 0,776 0,592 1,368
0,740 0,466 1,207
0,031 0,026 0,058
150 0,776 0,887 1,664
0,740 0,699 1,440
0,031 0,039 0,071
30 200 0,776 1,183 1,960
0,740 0,932 1,673
0,031 0,052 0,084
250 0,776 1,479 2,256
0,740 1,165 1,906
0,031 0,066 0,097
300 0,776 1,775 2,551
0,740 1,398 2,139
0,031 0,079 0,110
100 0,927 0,603 1,530
0,884 0,468 1,352
0,038 0,027 0,064
150 0,927 0,905 1,832
0,884 0,702 1,586
0,038 0,040 0,077
35 200 0,927 1,207 2,133
0,884 0,936 1,820
0,038 0,053 0,091
250 0,927 1,508 2,435
0,884 1,170 2,054
0,038 0,067 0,104
300 0,927 1,810 2,737
0,884 1,404 2,288
0,038 0,080 0,117
*
mantença
77
Tabela 12. Exigência líquida de potássio (K) e sódio (Na) para cabritos não
castrados ¾ Boer x ¼ Saanen em crescimento (g/dia).
ganho Exigência líquida de K Exigência líquida de Na
PV (kg) (g) mantença ganho total mantença ganho total
100 0,124 0,101 0,225 0,076 0,057 0,133
150 0,124 0,152 0,276 0,076 0,086 0,162
20 200 0,124 0,202 0,326 0,076 0,115 0,191
250 0,124 0,253 0,377 0,076 0,144 0,219
300 0,124 0,303 0,427 0,076 0,172 0,248
100 0,163 0,096 0,260 0,100 0,056 0,155
150 0,163 0,145 0,308 0,100 0,084 0,183
25 200 0,163 0,193 0,356 0,100 0,111 0,211
250 0,163 0,241 0,404 0,100 0,139 0,239
300 0,163 0,289 0,452 0,100 0,167 0,267
100 0,202 0,093 0,295 0,124 0,054 0,178
150 0,202 0,139 0,342 0,124 0,081 0,205
30 200 0,202 0,186 0,388 0,124 0,109 0,232
250 0,202 0,232 0,435 0,124 0,136 0,259
300 0,202 0,279 0,481 0,124 0,163 0,287
100 0,241 0,090 0,332 0,147 0,053 0,201
150 0,241 0,135 0,377 0,147 0,080 0,227
35 200 0,241 0,180 0,422 0,147 0,106 0,254
250 0,241 0,226 0,467 0,147 0,133 0,281
300 0,241 0,271 0,512 0,147 0,160 0,307
4 Conclusões
A composição corporal dos macrominerais por kg PCV, para cabritos ¾ Bôer x ¼
Saanen, pesando de 20 a 35 kg, variou de 5,8 a 6,3 g Ca; 5,2 a 5,3 g P; 0,27 a 0,29 g
Mg; 0,76 a 0,70 g Na e 1,42 a 1,26 g K.
A exigência líquida de mantença, estimada pelo abate comparativo, foi 32,3 mg
de Ca; 30,8 mg de P; 1,31 mg de Mg; 8,41 mg de K e 5,14 mg de Na por kg PCV.
A exigência líquida de macrominerais para ganho, para o intervalo de peso entre
20 a 35 kg PV de cabritos ¾ Bôer x ¼ Saanen, variou de 6,5 a 7,0 g de Ca/kg ganho
PCV; 5,3 a 5,4 g de P/kg ganho PCV; 0,29 a 0,31 g de Mg/kg ganho PCV; 0,67 a 0,62 g
de Na/kg ganho PCV e 1,18 a 1,05 g de K/kg ganho PCV.
78
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abate comparativo. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 27, n. 1, p. 186-192.
1998a.
SOUSA, H. M. H.; QUEIROZ, A. C.; RESENDE, K. T.; SILVA, J. F. C.; PEREIRA, J. C. ;
GOUVEIA, L. J. Exigências nutricionais de caprinos da raça Alpina em crescimento. 2.
Composição corporal e do ganhoem peso em proteína, extrato etéreo, energia, cálcio e
fósforo. Revista Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 27, n. 1, p. 193-197. 1998b.
TEIXEIRA, I. A. M. A. Métodos de estimativa de composição corporal e exigências
nutricionais de cabritos F1 Boer x Saanen. 2004. 92 f. Tese (Doutorado em
81
Zootecnia), Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária, Universidade Estadual
Paulista, Jaboticabal, 2004.
TERNOUTH, J. H. Endogenous losses of phosphorus by sheep. Journal of
Agricultural Science, Cambridge, v. 113, n. 1, p. 291-297. 1989.
82
CAPÍTULO 4 PREDIÇÃO DA COMPOSIÇÃO QUÍMICA DO CORPO E DA
CARCAÇA DE CABRITOS ¾ BOER x ¼ SAANEN, UTILIZANDO COMPONENTES
DO CORPO
RESUMO - A determinação da composição química do corpo e da carcaça é
muito importante em estudos de nutrição e de crescimento animal. O objetivo deste
estudo foi desenvolver equações para predizer a composição química do corpo e da
carcaça usando a composição química de componentes do corpo. Trinta e quatro
cabritos ¾ Boer x ¼ Saanen, não castrados, pesando de 20 a 35 kg, foram usados
neste estudo. Sete animais foram abatidos com 21,2 ± 0,36 kg PV kg e seis com 28,2 ±
0,39 kg PV. Os 21 restantes foram distribuídos aleatoriamente em sete grupos de três
animais, onde os tratamentos foram sorteados entre os animais de cada grupo. Os
tratamentos foram definidos por três níveis de consumo de matéria seca (CMS): à
vontade e restrição de 30 ou 60% do CMS do tratamento à vontade. Cada grupo
(formado por três animais, um de cada tratamento) foi abatido quando o animal do
tratamento à vontade atingiu 35 kg de PV. Cada componente corporal foi pesado,
moído, homogeneizado e uma sub-amostra foi retirada para realização das análises
químicas. Os componentes do corpo usados para estimar a composição do corpo e da
carcaça foram: pescoço, paleta, costelas, lombo, perna, 9 a11
a
costelas, componentes
não-carcaça (cabeça mais pés, órgãos mais sangue e pele), gordura visceral, e gordura
renal. A porcentagem de gordura, de proteína, água e de cinzas dos componentes não
carcaça mostraram-se adequadas em predizer a porcentagem de gordura, de proteína,
água e de cinzas do corpo vazio, gerando equações com R
2
de 0,74; 0,77; 0,84 e 0,49;
respectivamente. Com relação à carcaça, a composição química das costelas foi o
componente que melhor estimou a composição química da carcaça.
Palavras-chave: carcaça, composição corporal, componentes não carcaça, costelas,
estimativa.
83
1 Introdução
Estimativas exatas da composição química do corpo e da carcaça são essenciais
em diversos segmentos da indústria da carne (MILLER et al., 1988), uma vez que o
valor da carcaça é dado por qualidade. Além disso, esta pode ser utilizada para avaliar
alimentos, estimar as exigências líquidas e identificar modificações durante o
crescimento em função de fatores como raça, sexo, peso e outros (TEIXEIRA, 2004). O
método ideal para se estimar a composição corporal deveria apresentar boa
repetibilidade, fácil condução e baixos custos, e ser aplicável para animais em
84
Outros estudos mostraram que sexo (HANKINS & HOWE, 1946) e raça (ALHASSAN et
al., 1975) exigiam equações de predição específicas.
Poucas tentativas em estimar a composição química do corpo de caprinos,
utilizando partes do corpo, têm sido feitas. MEDEIROS (2001) encontrou uma
correlação elevada (r = 0.76) entre a composição química de gordura da seção da 9 a
11
a
costela e a gordura do corpo de cabritos Saanen, não castrados. Similarmente,
TEIXEIRA (2004) relatou que a composição da 9 a 11
a
costelas e do pescoço
apresentaram elevada precisão em predizer a composição do corpo de cabritos F1 Boer
x Saanen, não castrados. TEIXEIRA (2004) sugeriu, ainda, o uso do pescoço para
estimar a composição do corpo, uma vez que provoca danos menores à carcaça em
relação à remoção das 9 a 11
a
costelas. Entretanto, mais estudos são necessários para
avaliar a precisão e a repetibilidade deste componente em estimar a composição da
carcaça.
Dessa forma, a finalidade deste estudo foi avaliar a composição do corpo e da
carcaça de cabritos ¾ Boer x ¼ Saanen, não castrados, pesando entre 20 e 35 kg e
desenvolver equações para estimar a composição química do corpo e da carcaça
usando a composição química de componentes do corpo.
2 Material e Métodos
O trabalho foi desenvolvido na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias -
FCAV/UNESP, Jaboticabal - São Paulo, Brasil, localizada a 21º14’05”S e 48º17’09”W,
altitude de 615 m. Os valores de temperatura e umidade relativa do ar durante o
período experimental estão apresentados na Tabela 1.
85
Tabela 1. Valores de temperatura máxima e mínima (
0
C) e umidade relativa do ar (%) do
período experimental.
Temperatura Umidade
Max Min Média Max Min Média
29,5 20,9 25,2 92,6 51,7 72,2
Foram utilizados 34 cabritos com constituição genética ¾Boer e ¼Saanen, não
castrados e descornados. Após a desmama, que ocorreu aproximadamente aos 60 dias
de idade, todos os cabritos foram alimentados com a ração experimental até o início do
experimento, quando os animais atingiram 20,5 ± 0,24 kg de peso vivo (PV). Sete
cabritos foram abatidos no início do experimento, com 21,2 ± 0,36 kg PV. Outros seis
foram abatidos ao atingirem 28,2 ± 0,39 kg PV. Os 21 restantes foram distribuídos
aleatoriamente em sete grupos de três animais, onde os tratamentos foram sorteados
entre os animais de cada grupo. Os tratamentos foram definidos por três níveis de
consumo de matéria seca (CMS): à vontade e restrição de 30 ou 60% do CMS do
tratamento á vontade. O grupo foi abatido quando o animal que estava recebendo o
tratamento à vontade (AV) atingiu 35 kg, Os níveis de restrição de 60 e 30% da
ingestão foram determinados diariamente, de acordo com o CMS do dia anterior do
animal com alimentação à vontade, dentro do grupo. Os animais foram alojados
individualmente em gaiolas medindo 0,5 x 1,0 m, providas de comedouro e bebedouro.
A dieta experimental foi constituída de feno da planta de milho (46,3%, planta
inteira de milho sem raiz, cortada no ponto para ensilar e seca ao sol), milho moído
(25,3%), farelo de soja (19,0%), melaço (4,5%), óleo de soja (0,9%), calcário (0,9%),
núcleo mineral (2,1%) e cloreto de cálcio (1,0%), com 14,5% de proteina bruta (PB) e
2,43 Mcal/kg de energia metabolizável (EM). A dieta foi fornecida uma vez ao dia, às 8
horas, sendo que antes do fornecimento as sobras eram retiradas, pesadas e
amostradas. O consumo de matéria seca (CMS) foi determinado pelo controle diário do
alimento fornecido e recusado.
O controle do desenvolvimento ponderal dos animais foi realizado semanalmente
com a pesagem, dos mesmos. Para se determinar o peso ao abate ou peso após jejum
86
(PJ), os animais foram submetidos a jejum de sólidos e líquidos de 16 horas, seguida
de insensibilização com choque elétrico e mortos com corte na carótida e jugular. O
sangue foi colhido e pesado, o trato gastrintestinal foi retirado, pesado antes e após a
retirada de seu conteúdo para determinação do peso de corpo vazio (PCV). O corpo foi
separado nos componentes individuais: órgãos internos (fígado, coração, pulmões e
traquéia, língua, pâncreas, rins, e baço), trato gastrointestinal vazio e limpo (rúmen,
retículo, omaso, abomaso, intestinos delgado e grosso), pele, cabeça, pés, carcaça e
gordura visceral (gordura separável da cavidade corporal) e a gordura perirrenal
(separada fisicamente de ambos os lados), os quais foram pesados individualmente.
A carcaça foi obtida após a separação das mãos e dos pés na articulação carpo
metacarpiana e tarso metatarsiana respectivamente, além da retirada dos rins, gordura
perirrenal e diafragma obtendo-se então o peso da carcaça quente (PCQ). As carcaças
foram mantidas em câmara fria por 24 horas, em temperatura de 5
0
C, obtendo-se o
peso da carcaça fria (PCF). Após as mensurações, as carcaças foram divididas
longitudinalmente e da meia-carcaça direita foi retirada a seção da 9 a 11
a
costela (9
a
,
10
a
e 11
a
costelas com as vértebras e o flanco). A meia-carcaça esquerda foi dividida
em cinco cortes (Figura 1), realizados segundo PEREIRA FILHO (2003). A base óssea
e a região de secção dos cortes foram: 1- perna, que abrangeu a região do ilíaco (ílio),
ísquio, púbis, vértebras sacrais, as duas primeiras vértebras coccígeas, fêmur, tíbia e
tarso; 2- lombo, compreendendo toda a região das vértebras lombares; 3- costelas, que
incluiu o esterno e todas as costelas e vértebras torácicas; 4- paleta, correspondendo à
região da escápula, úmero, rádio, ulna e o carpo; 5- pescoço, região correspondente às
sete vértebras cervicais (Figura 1).
87
Figura 1. Cortes realizados na meia-carcaça esquerda de caprinos. 1 Perna; 2
Lombo; 3 Costelas; 4 Paleta; 5 Pescoço (Fonte: PEREIRA FILHO, 2003)
Todos os componentes do corpo do animal foram inicialmente congelados,
depois cortados em serra de fita, triturados, homogeneizados e retiradas amostras, as
quais foram novamente congeladas e liofiliozadas para determinação da matéria seca.
As amostras do corpo foram analisadas para se conhecer os teores de extrato etéreo
(utilizando um aparato de extração Soxhlet), proteína bruta (nitrogênio total pelo método
de combustão de Dumas utilizando um analisador tipo LECO FP-528LC), matéria
mineral e energia bruta (bomba calorimétrica tipo Parr) de acordo com o protocolo
sugerido por SILVA & QUEIROZ (2005).
A Tabela 2 lista os componentes do corpo e seus acrônimos usados para a
predição da composição química do corpo e da carcaça dos cabritos usados neste
estudo.
1
2
3
4
5
88
Tabela 2. Definições das acronímias dos components do corpo usados para estimar a composição
química do corpo e da carcaça neste estudo.
Acronímias Definições
CAR Carcaça
O&S Orgãos mais sangue
PES Pescoço
PAL Paleta
COS Costelas
LOM Lombo
PER Perna
9
a
a 11
a
C 9-10-11
a
costelas
CNC Componentes Não-carcaça (cabeça, pés, órgãos, sangue e pele)
GVIS Gordura Visceral
GREN Gordura Renal
Os dados foram analisados usando o PROC REG do SAS (SAS Instituto Inc.,
Cary, NC) para identificar as correlações entre a composição química do corpo e da
carcaça com a composição química dos componentes do corpo. As equações de
regressão múltipla foram selecionadas baseando-se em três critérios de seleção:
coeficiente da determinação (R
2
), seleção forward e estatística Cp de Mallows
(MACNEIL, 1983).
3 Resultados e Discussão
Nas Tabelas 3 e 4 encontram-se os valores médios, mínimos, máximos e os
desvios padrão das variáveis empregadas para a obtenção das equações de
estimativa, que caracterizam a população utilizada no experimento.
89
Tabela 3. Valores médios, mínimos, máximos e desvios-padrão (SD) das
variáveis utilizadas neste estudo, relativas aos teores de proteína e
gordura, como porcentagem da matéria natural.
Variável Média Min Max SD
PCV (kg) 21,8 14,7 31,3 5,1
PCQ (kg) 12,8 8,3 18,7 3,1
GCo 13,6 10,5 19,2 2,1
GCa 13,3 11,2 18,1 1,7
9
a
a 11
a
C gor 16,0 11,8 22,8 2,8
PES gor 13,0 10,6 17,0 1,6
PAL gor 14,4 11,3 22,1 2,2
LOM gor 14,5 10,4 20,4 2,6
COS gor 18,1 14,3 26,8 3,1
PER gor 12,5 9,1 16,7 1,7
O&S gor 17,9 9,4 30,0 5,4
CNC gor 14,5 10,1 20,8 2,9
GVIS 2,6 0,9 5,2 1,1
GREN 0,7 0,08 1,8 0,4
PCo 17,6 16,4 18,8 0,6
PCa 17,6 15,8 19,1 0,7
9
a
a 11
a
C PB 18,4 16,3 21,0 1,0
PES PB 17,3 15,2 18,9 0,8
PAL PB 19,3 16,6 23,6 1,4
LOM PB 18,9 16,4 20,6 1,0
COS PB 17,5 14,1 20,5 1,4
PER PB 19,8 17,4 21,1 0,8
O&S PB 12,2 9,9 15,5 1,0
CNC PB 18,7 16,5 21,2 1,2
1
PCV = peso do corpo vazio, PCQ = peso da carcaça quente, GCo = gordura no corpo, GCa = gordura
na carcaça, PCo = proteína no corpo, PCa = proteína na carcaça, O&S = órgão mais sangue, PES =
pescoço, PAL= paleta, COS = costelas, LOM = lombo, PER= perna, 9-11C = 9-10-11
a
costelas, CNC=
componentes não-carcaça (cabeça, pés, órgãos, sangue e pele), GVIS = gordura visceral , GREN=
gordura renal, gor = gordura
90
Tabela 4. Valores médios, mínimos, máximos e desvios-padrão (SD) das
variáveis utilizadas neste estudo, relativas aos teores de água e
matéria mineral, como porcentagem da matéria natural.
Variável Média Min Max SD
AGCo 65,3 60,1 68,7 2,1
AGCa 67,4 61,3 69,9 1,6
9
a
a 11
a
C água 65,2 50,4 70,3 3,9
PES água 69,1 66,3 71,3 1,5
PAL água 66,0 55,9 69,3 2,8
LOM água 67,3 64,1 71,8 1,7
COS água 64,0 57,7 68,0 2,5
PER água 65,0 60,7 69,1 1,9
O&S água 69,8 58,5 76,9 4,8
CNC água 66,7 61,7 70,9 2,6
MMCo 3,4 3,0 4,2 0,3
MMCa 4,2 3,7 5,0 0,3
9
a
a 11
a
C MM 3,2 1,9 5,1 0,8
PES MM 3,5 1,8 5,2 0,7
PAL MM 4,8 3,6 6,0 0,6
LOM MM 4,6 3,6 5,6 0,6
COS MM 3,7 2,3 5,2 0,7
PER MM 4,9 3,8 6,4 0,7
O&S MM 0,8 0,4 1,8 0,3
CNC MM 2,5 1,9 3,2 0,3
1
AGCo = água no corpo, AGCa = água na carcaça, MMCo = matéria mineral no corpo, MMCa =
matéria mineral na carcaça, O&S = órgãos mais sangue, PES = pescoço, PAL= paleta, COS =
costelas, LOM = lombo, PER= perna, 9-11C = 9-10-11
a
costelas, CNC= componentes não-carcaça
(cabeça, pés, órgãos, sangue e pele)
Na Tabela 5 encontram-se as melhores equações para a estimativa da
porcentagem de gordura do corpo e da carcaça selecionadas a partir da porcentagem
de gordura dos seus componentes. A porcentagem de gordura dos CNC (Eq. 4 na
Tabela 5) e da 9
a
a 11
a
C (Eq. 5 na Tabela 5) foram as que melhor explicaram,
utilizando uma regressão linear simples (com uma variável independente), a variação
na porcentagem de gordura no corpo, como indicado pelos valores dos coeficientes de
determinação (R
2
de 0,74 e 0,71; respectivamente). A porcentagem de gordura dos
componentes O&S e GREN mostraram-se altamente correlacionados com a
91
Tabela 5. Melhores equações de regressão para estimar a porcentagem de gordura e proteína do corpo e da carcaça de cabritos
abatidos com diferentes pesos.
Componentes
*
Equação intercepto PCQ GREN
CNC
gor
O&S
gor
COS
gor
9
a
a 11
a
C
gor
Cp p
&
R
2
MSE
#
Gordura do corpo (% PCV)
1 2,76(0,96) 0,39 (0,08)
0,32(0,09) 2,2 0,82
0,92
2 4,27(1,05) 0,17(0,03)
0,39(0,09) 8,5 0,79
1,01
3 4,96(1,29) 1,61(0,72)
0,47(0,09) 15,5 0,75
1,10
4 4,38(0,99) 0,63 (0,06)
14,8 0,74
1,09
5 3,55(1,19)
0,63(0,07) 22,0 0,71
1,17
Gordura da Carcaça (% PCV)
6 4,71(0,78) -0,11(0,04) 0,55(0,04) 0,21 0,83
0,73
7 4,24(0,83) 0,50(0,04) 4,4 0,79
0,79
8 5,63(1,07)
0,47(0,06) 34,0 0.63
1,07
CNC
proteína
COS
proteína
9
a
a 11
a
C
proteína
Proteína do Corpo (% PCV)
9 8,80(0,86) 0,47(0,04)
22,0 0,77
0,31
10 6,36(0,89) 0,48(0,04) 0,13(0,03)
3,0 0,86
0,25
11 7,82(1,18) 0,46(0,05) 0,06(0,05)
20,6 0,78
0,31
Proteína da Carcaça (% PCV)
12 11,81(1,23) 0,33(0,07)
7,6 0,41
0,56
*
PCQ = peso da carcaça quente, PCV = peso do corpo vazio, O&S = órgãos mais sangue, COS = costelas, 9-11C = 9-10-11
ta
costelas, CNC= componentes não-
carcaça (cabeça, pés, órgãos, sangue e pele), GREN = gordura dos rins
&
Cp e p são estatística Cp de Mallows e número de variáveis independentes utilizadas nas equações, respectivamente.
#
erro padrão da estimativa
92
porcentagem de gordura do corpo, representados nas equações múltiplas (com duas ou
mais variáveis independentes) 2 e 3 da Tabela 5. A Eq. 1 (Tabela 5), na qual combinou-
se a porcentagem de gordura dos CNC e da 9
a
a 11
a
C, numa regressão linear múltipla,
foi a que apresentou o valor de Cp mais próximo a p e o menor desvio-padrão da
estimativa, justificando-se como a melhor equação para estimar a porcentagem de
gordura no corpo. Segundo MACNEIL (1983), para equações em que o número de
variáveis são diferentes, o menor desvio- padrão é um critério mais adequado para
selecioná-las que o coeficiente de determinação máximo.
Em bovinos, a utilização da seção da 9
a
a 11
a
costelas (ou seção HH) vem sendo
extensamente estudada para predizer a composição do corpo (LANNA et al., 1995;
ALLEONI et al., 1997) e da carcaça (HANKINS & HOWE, 1946; MILLER et al., 1988;
LANNA et al., 1995), representando uma parte importante do corpo a ser estudada.
MEDEIROS (2001) e TEIXEIRA (2004) relataram equações para estimar a
porcentagem de gordura do corpo utilizando a porcentagem de gordura das 9
a
a 11
a
costelas em cabritos. Entretanto, as inclinações e os interceptos das regressões foram
diferentes dependendo da população.
Com relação à carcaça, a porcentagem de gordura das COS esclareceu 79% da
variação na porcentagem de gordura da carcaça (Eq. 7, Tabela 5), e adicionando o
peso quente da carcaça (PCQ), numa regressão linear múltipla ocasionou um aumento
do valor R
2
para 0,83 (Eq. 6).
A porcentagem de gordura da 9
a
a 11
a
costelas também pode ser utilizada para
estimar a porcentagem de gordura da carcaça, como mostrado pela Eq. 8 (Tabela 5).
Este fato também foi verificado em trabalhos com bovinos. MILLER et al. (1988)
relataram que a porcentagem de gordura e de tecido magro da seção da 9
a
a 11
a
costelas esclareceu 86% da variação na porcentagem de gordura da carcaça. LUNT et
al. (1985) verificaram que a gordura da seção da 9-11
a
costelas esclareceu 92% da
variação na gordura fisicamente separável da carcaça de bovinos. Os mesmos autores
utilizaram a seção das costelas de ambos os lados da carcaça a fim de reduzir a
93
variação resultante do seccionamento da carcaça e dos erros angulares do corte
durante a remoção desta seção.
A Tabela 5 lista também as melhores equações para predizer a porcentagem de
proteína do corpo e da carcaça usando a porcentagem de proteína de componentes do
corpo, individualmente ou combinados. A equação utilizando a porcentagem de
proteína dos CNC (Eq. 9) explicou 77% da variação da porcentagem de proteína do
corpo. A equação múltipla da porcentagem de proteína da 9
a
a 11
a
C com a dos CNC,
resultou em um R
2
de 0,78 (Eq. 11). Por último, o R
2
mais elevado e o MSE mais baixo
(0,86 e 0,25, respectivamente; Eq. 10) foram obtidos combinando-se as porcentagens
de proteína das COS e dos CNC para estimar a porcentagem de proteína do corpo. A
porcentagem da proteína das COS foi a variável indicada para predizer a porcentagem
de proteína da carcaça (Eq. 15).
Na Tabela 6 encontram-se as melhores equações para a estimativa da
porcentagem de água e MM do corpo e da carcaça selecionadas a partir da
porcentagem de MM dos seus componentes. A porcentagem de água dos CNC (Eq. 13)
foi a que apresentou o R
2
mais elevado e o MSE mais baixo para estimar a
porcentagem de água do corpo (Eq.13 , R
2
= 0,84). A porcentagem de água da carcaça
também pode ser estimada pela equação usando a porcentagem de água das COS
(Eq. 18).
O PCV e as porcentagens de MM da PER, dos CNC, da PAL e das COS (Eq. 19
a 22) explicaram a maior parte da variação na porcentagem de MM do corpo. A
equação linear múltipla da porcentagem de MM das COS juntamente com o PCQ,
explicou 43% da variação da porcentagem de MM da carcaça (Eq. 24).
Como já relatado previamente na literatura (RAMSEY et al., 1991; LANNA et al.,
1995; ALLEONI et al., 1997), as equações para predizer as concentrações de proteína
e MM apresentaram um coeficiente de determinação mais baixo. De acordo com
ROBELIN & GEAY (1976), esta menor precisão é mais evidente em
94
Tabela 6. Melhores equações de regressão para estimar a porcentagem de água e matéria mineral (MM) do
corpo e da carcaça de cabritos abatidos com diferentes pesos.
Componentes
intercepto
CNC
água
PAL
água
O&S
água
COS
água
9
a
a 11
a
C
água
Cp p
&
R
2
MSE
#
Água do corpo (% PCV)
13 11,0(4,6) 0,59(0,06) 0,22(0,06) 2,1 0,84 0,88
14 21,3(4,4) 0,34(0,06) 0,31(0,03) 6,5 0,81 0,94
15 15,3(4,5) 0,51(0,08) 0,25(0,09) 7,8 0,81 0,95
16 20,4(4,5) 0,67(0,06) 15,2 0,76 1,04
17 21,2(4,7) 0,69(0,07) -0.03(0,05) 15,5 0,77 1,05
Água da carcaça (% PCV)
18 33,1(4,3) 0,53(0,06) 4,1 0,67 0,95
PCV
PER
MM
CNC
MM
COS
MM
PAL
MM
MM do corpo (% PCV)
19 2,0(0,4) -0,02(0,006) 0,10(0,04) 0,50(0,10) 5,2 0,56 0,17
20 2,5(0,3) -0,02(0.006) 0,52(0,11) 9,6 0,49 0,18
21 2,2(0,3) -0,02(0.006) 0,52(0,10) 0,08(0.05) 7,8 0,53 0,18
22 2,1(0,3) -0,02(0.006) 0,44(0,11) 0,12(0,05) 5,1 0,56 0,18
MM da Carcaça (% EBW) PCQ
23 3,7(0,3) -0,03(0.001) 0,19(0,05) 12,2 0,44 0,21
24 3,9(0,3) -0,03(0.001) 0,21(0,06) 12,8 0,43 0,21
*
PCV = peso do corpo vazio, O&S = órgãos mais sangue, PAL = paleta
95
populações cuja quantidade de nutrientes na massa livre de gordura apresenta uma
amplitude de variação na composição mais estreita.
O único componente do corpo cuja composição química foi utilizada
individualmente nas equações para estimar a porcentagem de gordura, proteína, água
e MM do corpo foi a composição química dos CNC (Equações 4, 9, 13 e 20 com R
2
=
0,74; 0,77; 0,84 e 0,49; respectivamente); entretanto, a sua conveniência em situações
práticas é relativa. Apesar de não representarem o maior valor econômico do animal
que é a carcaça, os CNC incluem a pele e alguns órgãos internos os quais representam
uma parte do valor econômico do abate de caprinos.
Da mesma forma, utilizando cordeiros, WILKINSON & GREENHALGH (1995b)
encontraram alta correlação entre a composição química em proteína e gordura dos
componentes não carcaça e a composição química do corpo vazio.
A composição química das costelas, retirada da meia carcaça esquerda, foi o
melhor preditor da composição química da carcaça em gordura, proteína, MM e água.
Entretanto, a porcentagem de proteína e de MM das costelas não apresentaram um
bom ajuste dos dados em estimar as porcentagens de proteína e MM da carcaça (R
2
=
0,41 e 0,43), respectivamente. Esta falta de precisão em predizer a porcentagem de
proteína pode ser devido à baixa variação na porcentagem de proteína na população
estudada (Tabela 3). Resultados similares a este estudo foram relatados por CANTÓN
et al. (1992), que propuseram o uso da região das costelas como um preditor da
composição da carcaça para carneiros deslanados (raças Blackbelly e Pelibuey).
Neste estudo, foi sugerido o uso da correlação entre a composição química do
corpo vazio e a composição química dos componentes não carcaça, assim como entre
a composição da carcaça e a das costelas. Entretanto as equações desenvolvidas não
foram testadas em um grupo diferente de animais. É esperado que o uso destas
equações em outras situações possa gerar erros de predição causados pelas variações
nos procedimentos de abate e pelas diferenças entre raças na distribuição dos
componentes corporais, principalmente em relação à proporção de gordura abdominal.
Dessa forma, recomenda-se que estudos adicionais devem ser feitos para a avaliação
96
destes componentes do corpo utilizando diferentes raças e sexo, sob diferentes
cenários produtivos.
4 Conclusões
Para cabritos com 20 a 35 kg PV, os resultados apresentados neste estudo
indicaram que a composição percentual de proteína, gordura, matéria mineral e água
do corpo foram estimadas por meio da composição química dos componentes não
carcaça. A composição química das costelas, retirada da meia carcaça esquerda, foi o
melhor preditor da composição química da carcaça em gordura, proteína, MM e água.
97
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100
CAPÍTULO 5 IMPLICAÇÕES
Encontrar uma parte do corpo que pudesse estimar exatamente a composição do
corpo ou da carcaça contribuiria muito para a diminuição dos custos em experimento,
principalmente os relacionados a exigências nutricionais, podendo ajudar também em
programas de avaliação da carcaça de caprinos. No entanto, a confiabilidade de um
método particular para determinar as composições do corpo ou da carcaça deve
continuamente ser avaliada para grupos diferentes de animais. Neste estudo, foi
sugerido o uso de equações utilizando a composição química dos componentes não
carcaça (cabeça, pés, órgãos internos, sangue e pele) para estimar a composição
química do corpo vazio, assim como a de equações utilizando a composição química
das costelas, retirada da meia carcaça esquerda, para estimar a composição da
carcaça. Entretanto as equações desenvolvidas não foram testadas em um grupo
diferente de animais. Dessa forma, recomenda-se que estudos adicionais devam ser
feitos para a avaliação destes componentes do corpo utilizando diferentes raças e sexo,
sob diferentes cenários produtivos. É esperado que o uso destas equações em outras
situações possa gerar erros de predição causados pelas variações nos procedimentos
de abate e pelas diferenças entre raças na distribuição dos componentes corporais,
principalmente em relação à proporção de gordura abdominal, devendo ser estudados
coeficientes de ajustes para tal.
Este estudo encontrou valores de exigências em energia e proteína para ganho
maiores que trabalhos previamente publicados para outras raças caprinas, com
exceção aos valores recomendados pelo NRC (1981b) que foram maiores e não
contabilizam as variações no PV dos animais. Sugere-se que mais pesquisas sejam
feitas utilizando-se outros genótipos de caprinos, diferentes proporções entre volumoso
e concentrado, e diferentes cenários produtivos, para que sejam especulados e
quantificados outros fatores responsáveis por variações nas exigências nutricionais
individuais em caprinos.
Pode se observar que as exigências de minerais podem ser substancialmente
variáveis, sendo afetadas por fatores como raça, idade, peso vivo, condições
101
ambientais e espécie, merecendo esforços no seu estudo para caprinos. Ressalva-se
que, devidos às pequenas quantidades no corpo e a um grande controle homeostático,
os minerais em geral apresentam grande variabilidade entre animais, o que muitas
vezes gera dificuldades na determinação de suas exigências. A maioria dos estudos
sobre minerais, principalmente no tocante à estimativa das exigências para mantença,
utilizaram rações com diferentes teores do mineral. Neste estudo, a ração oferecida
aos animais foi única, variando a quantidade ofertada, com base no método do “abate
comparativo”. Como a ingestão de MS influencia a excreção dos minerais, isto ter sido
um fator responsável pelas diferenças encontradas neste estudo em relação aos
demais. Outro fator muito importante a ser considerado é o método empregado para a
estimativa da exigência, assim como o procedimento laboratorial adotado para a
análise dos minerais. Neste trabalho, o preparo da solução mineral foi feito pela “via
seca”, utilizando ácido clorídrico, que apresenta maior possibilidade de perda por
volatilização em comparação à “via úmida”, utilizando ácidos nítrico e perclórico.
Entretanto, o método “via seca” consome menos reagentes e apresenta menor perigo
de manuseio.
Analisando-se este estudo como um todo, podem ser geradas recomendações
de exigências nutricionais para caprinos de corte, as quais são apresentadas nas
Tabelas 9 e10 (Capítulo 2) e 11 e 12 (Capítulo 3). Estas recomendações devem ser
vistas com cautela, uma vez que são provenientes de um estudo isolado utilizando
animais cruzados e determinada ração, entretanto podem ser úteis para serem usadas
como referencial para a formulação de rações para caprinos de corte, devido à
escassez de informações sobre estes.
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