Download PDF
ads:
I
ESTUDO GENÉTICO QUANTITATIVO DE CARACTERÍSTICAS
DE CRESCIMENTO E REPRODUTIVAS EM BOVINOS DA
RAÇA BRAHMAN NO BRASIL
Lydio Cosac de Faria
Médico Veterinário
JABOTICABAL – SÃO PAULO - BRASIL
2006
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CÂMPUS DE JABOTICABAL
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E
VETERINÁRIAS
ads:
Livros Grátis
http://www.livrosgratis.com.br
Milhares de livros grátis para download.
II
ESTUDO GENÉTICO QUANTITATIVO DE CARACTERÍSTICAS
DE CRESCIMENTO E REPRODUTIVAS EM BOVINOS DA
RAÇA BRAHMAN NO BRASIL
Lydio Cosac de Faria
ORIENTADOR: Prof. Dr. João Ademir de Oliveira
CO-ORIENTADOR: Dr. Cláudio de Ulhôa Magnabosco
Dissertação apresentada à Faculdade de
Ciências Agrárias e Veterinárias UNESP,
Câmpus de Jaboticabal, como parte da exigência
para a obtenção do título de Mestre em Genética
e Melhoramento Animal.
JABOTICABAL – SÃO PAULO - BRASIL
Dezembro de 2006
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA
CÂMPUS DE JABOTICABAL
FACULDADE DE CIÊNCIAS AGRÁRIAS E
VETERINÁRIAS
ads:
III
Faria, Lydio Cosac
F224e Estudo genético quantitativo de características de crescimento e
reprodutivas em bovinos da raça Brahman no Brasil / Lydio Cosac de
Faria. – – Jaboticabal, 2006
xi, 116 f. ; 28 cm
Dissertação (mestrado) - Universidade Estadual Paulista,
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, 2006
Orientador: João Ademir de Oliveira
Banca examinadora: Humberto Tonhati, José Benedito de Freitas
Trovo
Bibliografia
1. Bovinos de corte-Variabilidade genética. 2. Bovinos de corte-
Características de crescimento. 3. Bovinos de corte-Características
reprodutivas. I. Título. II. Jaboticabal-Faculdade de Ciências Agrárias
e Veterinárias.
CDU 636.2
Ficha catalográfica elaborada pela Seção Técnica de Aquisição e Tratamento da Informação – Serviço
Técnico de Biblioteca e Documentação - UNESP, Câmpus de Jaboticabal.
IV
DADOS CURRICULARES DO AUTOR
LYDIO COSAC DE FARIA – solteiro, nascido em 13 de abril de 1980, em
Ipameri, Goiás. Ingressou no curso de Medicina Veterinária da Universidade de
Uberaba, MG UNIUBE, em fevereiro de 1998, concluindo-o em fevereiro de 2003. No
período de abril a dezembro de 2003 realizou estágio de aperfeiçoamento em Genética
e Melhoramento Animal no Departamento de Genética da Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo - FMRP/USP (Bloco C), de março à
novembro de 2004 ocupou o cargo de Gerente de Marketing da Associação Nacional de
Criadores e Pesquisadores ANCP, gestora dos Programas de Melhoramento
Genético das Raças Brahman, Guzerá, Nelore e Tabapuã. Em agosto de 2005
ingressou no curso de Pós-graduação “latu sensu” em Julgamento das Raças Zebuínas
pelas Faculdades Integradas de Uberaba, FAZU - MG, concluindo-o em dezembro de
2006. É jurado auxiliar de zebuínos de corte pela Associação Brasileira de Criadores de
Zebu (ABCZ). Em março de 2005 ingressou no curso de Pós-graduação em Genética e
Melhoramento Animal, na Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias da
Universidade Estadual Paulista - FCAV/UNESP Campus Jaboticabal, obtendo o título
de mestre em dezembro de 2006.
V
“Não existe, neste mundo todo, uma
superioridade real que possa ser separada
de uma vida correta”.
David Starr Jordan
VI
Dedico este trabalho ao meu avô Munir
(in memorian), ao meu padrinho José Sales -
Zequinha (in memorian), a minha madrinha,
aos meus pais, tios e a minha namorada,
pelo afeto, amor, confiança e apoio que, sem
dúvida, foram de fundamental importância e
decisivos para o ingresso e,
consequentemente, para a conclusão deste
curso de mestrado.
VII
AGRADECIMENTOS
Agradeço a DEUS pela oportunidade de uma vida repleta de saúde, inteligência
e capacidades interiores para ir em busca dos meus ideais, concretizando-os sob suas
Bênçãos, para no fiel cumprimento dos meus deveres, contribuir para o bem da
evolução e progresso das necessidades recíprocas entre Homens - Animais, no Elo
perfeito de Vossa Divina Criação.
Aos meus pais SILVIO e LUIZA ARLETE, pela educação moldada em seus
exemplos de honradez, honestidade, dedicação, humildade e companheirismo, dando-
me coragem a transpor as barreiras do caminho sem perder a direção e a boa conduta.
posso agradecer hoje, dizendo que mais esta conquista pertence a vocês,
considerando que a semente que outrora semearam, começa a se frutificar. Colhamo-
las juntos.
À minha namorada Daniella Sanches Rapello pelo amor, carinho, atenção,
paciência, compreensão, incentivos e companheirismo nesta luta árdua e difícil que se
estendeu nestes últimos anos em prol desta batalha para a obtenção de mais um titulo.
Tenho muito que agradecê-la por ter tido fundamental importância nesta caminhada
rumo às novas conquistas, me propiciando forças nas horas mais difíceis e incentivando
a continuar seguindo rumo aos meus objetivos. Receba o meu reconhecimento, amor e
gratidão.
A TODOS os meus tios, em especial ao tio Rubens, a tia Lamis e à madrinha
Dulce: que tiveram participação fundamental e primordial no decorrer desta minha vida
estudantil. Sabemos que tudo na vida tem sua hora própria de acontecer. Se em certos
momentos precisamos receber, noutros, teremos a satisfação de retribuir.
Compreendendo bem esses momentos, agradeço a essencial participação que tiveram
na realização e conclusão de mais esta etapa de minha vida, pois assim, estou
podendo aprender a caminhar com minhas próprias pernas, mas fundamentalmente
perceber que nunca estive sozinho.
Ao meu avô MUNIR (in memorian), ao meu padrinho José Sales Zequinha (in
memorian), a tia Norma Martins Edreira – Amarela (in memorian), pelo companheirismo,
amizade, compreensão, orações e amor, que de alguma forma vieram-me incentivar na
VIII
busca por uma profissão e um lugar ao sol. Manifesto o meu eterno carinho, com a
certeza que noutra dimensão, ambos continuam torcendo por mim, pois posso ver
que as cicatrizes de ontem, se transformaram na LUZ que marcam suas infinitas
presenças e iluminam o meu caminho rumo às vitórias.
Ao prof. Dr. João Ademir de Oliveira, que com sua competência profissional me
aceitou como seu orientado e aluno de mestrado, compartilhou com humildade suas
preciosas lições que manifestam-se em conhecimentos sólidos do aprendizado, cuja
confiança em mim depositada é a grande bagagem que com orgulho levo do momento
presente para o amanhã que me espera...
Aos amigos Ramon Henrique Edreira Neves, Ronan Caetano Cruvinel, João
Gonçalves Corrêa - Coréia (in memorian) que através de seus dignos trabalhos,
amizade e carinho - óleo que lubrifica as engrenagens da vida - incentivaram nosso
pensamento político, construtivo, renovando o otimismo para corrigirmos e
aperfeiçoarmos nosso conhecimento para enfrentarmos os esforços da caminhada, na
descoberta do que é real e verdadeiro até dentro de nós mesmos.
Aos Profs. Dr. Raysildo Barbosa Lobo, Dr. Cláudio de Ulhôa Magnabosco, Luiz
Antônio F. Bezerra, Dr. José Benedito Trovo, Dr. Danísio Prado Munari, Dr. Adhemar
Sanches, Dr. Humberto Tonhati e a Rita de Cássia Lôbo minha madrinha do mestrado,
por terem me permitindo maior evolução de um aprendizado que será ponto de partida
para outras conquistas, incentivo no aperfeiçoamento de novas idéias em prol de
resultados sempre positivos, minha gratidão e reconhecimento.
Ao mestre Pedro Alejandro Vozzi e a colega Daniela Grossi do Amaral, talvez
seja mais um que parte. Mas a convivência nos tornou amigos, e, tantas foram às vezes
que nosso cansaço e preocupação foram sentidos e compartilhados, nos incentivando a
prosseguir cada vez mais, levaremos saudades, deixando agradecimentos pela
dedicação e as incansáveis ajudas.
Aos colegas do departamento, companheiros de jornada e de luta, irmãos e
amigos das horas solitárias longe da família, teremos agora, como tudo indica destinos
diversos, distanciando-nos talvez... Isto faz parte da História de cada um, pois o futuro
nos espera e a felicidade é outro marco a ser conquistado, pois ela depende apenas de
nós mesmos. Sejamos confiantes e acreditemos que as verdadeiras amizades que aqui
IX
nasceram, sejam como árvores frondosas que, mesmo que sejam transportadas para
outros lugares, continuem a emanar pólens, que o vento, ou algum beija flor permita-
nos maravilhosos REENCONTROS. Portanto amigos, até breve!
Ao Programa de Pós-graduação em Genética e Melhoramento Animal da
Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária “Julio de Mesquita Filho” UNESP
Jaboticabal, pela oportunidade de realizar este trabalho.
A Compania Comercial OMB em especial ao Fernando Manicardi e ao Manuel
Martinez Gomes pelas constantes ajudas e correções de algumas informações e dados.
Aos profissionais, professores e funcionários do Departamento de Ciências
Exatas, as instituições como ANCP, Embrapa e UNESP - Jaboticabal com as quais
trabalhamos de forma direta ou indireta, agradecer é pouco, muito pouco, porém é o
que podemos fazer neste momento. Temos a certeza de que suas imagens ficarão
fixadas em nossas lembranças. OBRIGADO!
X
SUMÁRIO
Resumo geral ..................................................................................................... 11
Summary............................................................................................................. 12
CAPÍTULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS..................................................... 13
1 – Introdução...................................................................................................... 13
2 – Objetivos gerais............................................................................................. 17
3 - Revisão da literatura....................................................................................... 18
3.1 – A raça Brahman.......................................................................................... 18
3.2 – Variabilidade genética................................................................................ 22
3.2.1 – Coeficiente de endogamia....................................................................... 22
3.3 - Características de crescimento................................................................... 25
3.3.1 - Coeficiente de herdabilidade (h²)............................................................. 28
3.3.2 – Correlações genéticas............................................................................. 31
3.4 – Características reprodutivas....................................................................... 33
4 – Referências.................................................................................................... 37
CAPÍTULO 2 - VARIABILIDADE GENÉTICA EM UMA POPULAÇÃO DE
BOVINOS DA RAÇA BRAHMAN NO BRASIL: ANÁLISE DE
PEDIGREE.......................................................................................................... 48
Resumo............................................................................................................... 48
1 – Introdução...................................................................................................... 49
2 – Objetivos........................................................................................................ 51
3 - Material e métodos......................................................................................... 52
3.1 – Colheita de dados....................................................................................... 52
3.2 - Análises Estatísticas.................................................................................... 53
4 – Resultados e discussão................................................................................. 55
4.1 - Estrutura do pedigree.................................................................................. 55
4.2 - Valores de endogamia................................................................................. 56
4.3 Parâmetros baseados na probabilidade de origem do
gene..................................................................................................................... 58
4.4 - Contribuição genética dos principais reprodutores .................................... 59
5 – Conclusões.................................................................................................... 61
6 - Referências ................................................................................................... 62
CAPÍTULO 3 ESTUDO GENÉTICO QUANTITATIVO DE
CARACTERISTICAS DE CRESCIMENTO NA RAÇA BRAHMAN..................... 64
Resumo............................................................................................................... 64
1 – Introdução...................................................................................................... 66
2 – Objetivos........................................................................................................ 68
3 - Material e métodos......................................................................................... 69
XI
3.1 - Origem dos dados....................................................................................... 69
3.2 - Características estudadas........................................................................... 70
3.3 - Formação dos grupos contemporâneos...................................................... 71
3.4 - Análises estatísticas.................................................................................... 71
3.5 - Estimativas de herdabilidade, correlações genéticas e eficiência relativa
de seleção indireta versus direta......................................................................... 74
4 – Resultados e discussão................................................................................. 76
5 – Conclusões.................................................................................................... 85
6 – Referências.................................................................................................... 86
CAPÍTULO 4 - ESTUDO GENÉTICO QUANTITATIVO DAS
CARACTERISTICAS REPRODUTIVAS NA RAÇA BRAHMAN.......................... 90
Resumo............................................................................................................... 90
1 – Introdução...................................................................................................... 92
2 – Objetivos........................................................................................................ 94
3 - Material e métodos......................................................................................... 95
3.1 - Origem dos dados....................................................................................... 95
3.2 - Características reprodutivas estudadas...................................................... 96
3.3 - Formação dos grupos contemporâneos...................................................... 97
3.4 – Análises estatísticas................................................................................... 97
3.5 - Estimativas de herdabilidade, correlações genéticas e eficiência relativa
de seleção indireta versus direta......................................................................... 100
4 - Resultados e discussão.................................................................................. 102
5 – Conclusões.................................................................................................... 109
6 – Referências.................................................................................................... 110
CAPITULO 5 – IMPLICAÇÔES........................................................................... 115
12
ESTUDO GENÉTICO QUANTITATIVO DE CARACTERÍSTICAS DE CRESCIMENTO
E REPRODUTIVAS EM BOVINOS DA RAÇA BRAHMAN NO BRASIL
RESUMO GERAL
O presente estudo teve por objetivos principais analisar a variabilidade genética e
obter estimativas de parâmetros genéticos das características de crescimento e
reprodutivas a partir de um conjunto de dados oriundos de uma população de bovinos
da raça Brahman no Brasil. A variabilidade genética foi determinada pela probabilidade
de origem do gene e os parâmetros genéticos foram estimados pelo método da máxima
verossimilhança restrita, utilizando análises uni e bi características. O número efetivo
de fundadores decresceu 75%, enquanto o número de ancestrais e genomas
remanescentes tiveram um crescimento de 23%, no período de 1998 a 2005. As
estimativas das herdabilidades diretas para o peso ao nascer (PN) variaram de 0,28 a
0,41, para os pesos ajustados aos 120 dias (P120), 210 dias (P210), 365 dias (P365),
455 dias (P455) e 550 dias (P550), de 0,36 a 0,52, 0,36 a 0,46, 0,40 a 0,41, 0,33 a 0,35
e 0,28 a 0,36, respectivamente. As correlações genéticas entre PN e os demais pesos
variaram de 0,51 a 0,79, entre P120 e os pesos subseqüentes de 0,78 a 0,93, entre
P210 e os pesos subseqüentes, de 0,98 a 0,99, entre P365 com P445 e P550, foram
0,99 e 0,98, respectivamente, e entre P455 e P550, 0,98. As estimativas de
herdabilidades diretas para as características reprodutivas variaram de 0,25 a 0,35 para
período de gestação (PG), de 0,09 a 0,12 para o intervalo entre partos (IEP), para os
perímetros escrotais ajustados aos 365 dias (PE365) e 455 (PE455) dias, de 0,36 a
0,37 e de 0,26 a 0,27. As correlações genéticas entre PN e PG, PG e PE365, PG e
PE455, PE365 e IEP, PE455 e IEP, PE365 e PE455, foram, respectivamente 0,27,
0,02, -0,03, -0,01, -0,12 e 0,99.
Palavras-chave: Bovinos, características reprodutivas, correlação genética,
herdabilidade, pesos, variabilidade genética
13
QUANTITATIVE GENETIC STUDY OF BOTH GROWTH AND REPRODUCTIVE
TRAITS IN A BRAZILIAN BRAHMAN CATTLE POPULATION
SUMMARY
The present study was conducted with two major objectives: the determinative of
the genetic variability and the estimation of genetic parameters for growth and
reproductive traits, in a brazilian Brahman cattle population. The data were provided by
Brahman Breeding Program. The genetic variability was determined by parameters
based on the gene’s origin probability and genetic parameters were estimated by the
restricted maximum likelihood method by single and two, trait analyses. The effective
number of founders decreased 75% while the ancestral numbers and the remaining
genomes increased 23% in a period of 1998 the 2005. The estimates of the heritability
for birth weight (BW) varied from 0.28 to 0.41, for adjusted weight at 120 days (P120)
from 0.36 to 0.52, 210 days (P210) from 0.36 to 0.46, 365 days (P365) from 0.40 to
0.41, 455 days (P455) from 0.33 to 0.35, and 550 days (P550) from 0.28 to 0.36. The
genetic correlations among BW and the other weights varied from 0.51 to 0.79. The
correlations of P210 with the other growth traits varied from 0.98 to 0.99. Similarly,
considering the, remaining growth traits the estimated genetic correlations were close to
one. The direct heritability estimates for the reproductive traits varied from 0.25 to 0.35
for gestation period (GP), from 0.09 to 0.12 to age for first calving (AFC), from 0.36 to
0.37 for scrotal circumference 365 days (SC365) and from 0.26 to 0.27 to scrotal
circumference at 455 days (SC455) of age. The genetic correlations among BW and GP,
GP and SC365, GP and SC455, SC365 and AFC, SC455 and AFC, SC365 and SC455,
were, respectively, 0.27, 0.02, -0.03, -0.01, -0,12 and 0.99.
Key-words: Bovine, reproductive traits, genetic correlation, genetic variability,
heritability, weights
14
CAPITULO 1 – CONSIDERAÇÕES GERAIS
1 - INTRODUÇÃO
A pecuária bovina de corte no Brasil é uma atividade econômica de fundamental
importância para o agronegócio. O Produto Interno Bruto (PIB) referente à pecuária de
corte é de, aproximadamente, US$ 38,47 bilhões de dólares, com envolvimento de 7,0
milhões de pessoas considerando toda a cadeia produtiva. Contribuindo com um
superávit para a balança comercial em 2005 quando comparado com 2004, de US$
34,13 bilhões de dólares. Em termos mundiais, a pecuária bovina brasileira destaca-se
não somente pela grandeza de sua população de aproximadamente 168 milhões de
cabeças (ANUALPEC, 2006), mas, sobretudo, pela sua imensa potencialidade de
crescimento, a qual, com políticas corretas em curto prazo, tornará o Brasil um celeiro
de produção de proteínas de origem bovina.
Aproximadamente 12% da população bovina mundial encontra-se no Brasil, o
que, o torna detentor do segundo maior rebanho bovino mundial, perdendo apenas para
a Índia. Em termos de produção mundial de carne, o Brasil ocupa o primeiro lugar,
superando a Austrália e os EUA, com produção anual de 7,5 milhões de toneladas de
carne em 2005. A liderança mundial na exportação de carne bovina surgiu em função
de surtos de doenças da vaca louca (encefalopatia espongiforme bovina) nos EUA.
Projeções indicam que em 2006, as exportações de carne bovina renderão ao país
aproximadamente 3,2 bilhões de dólares e o título de maior exportador em faturamento
em 2005 (ANUALPEC, 2006).
O crescimento internacional de movimentos ambientalistas abre perspectiva para
avanços ainda maiores na exportação de carne, principalmente, pelo fato desta ser
produzida a pasto e sem uso de aditivos que poderiam por em risco a saúde humana.
Pela sua importância e pela qualidade potencial de crescimento do rebanho nacional,
certamente o Brasil se consolidará como o maior produtor mundial de carne bovina.
Para tanto, uma das prioridades é melhorar a precocidade dos animais que serão
utilizados como reprodutores e matrizes possibilitando a disseminação deste material
genético de forma mais rápida, além de incluir indicadores que aumentem a qualidade
15
de carne produzida e obter desempenhos reprodutivos mais compatíveis com a
moderna pecuária bovina.
Segundo SIMÕES e FERREIRA (2000), as quotas de importação, subsídios à
produção e barreiras tarifárias e não tarifárias limitam enormemente o comércio
internacional de carnes. O Brasil, conforme mencionou (PEREIRA, 2004), ao contrário
dos países do primeiro mundo, não pratica subsídio à atividade, ou seja, seus
produtores, comumente, têm de pagar altos tributos e conviver com uma infra-estrutura
básica deficiente (meios de transporte, telecomunicações e energia) e, mesmo assim,
ser competitivo em preço e qualidade. Concorrer com os protecionismos citados é
tarefa árdua e desleal.
A despeito de todas estas dificuldades conjunturais, a pecuária de corte brasileira
dispõe de dois componentes que, no cenário de globalização das economias, dão
competitividade à esta atividade econômica: baixo custo de produção e domínio
tecnológico da atividade (PINEDA, 2000). Este autor cita outros dados ilustrando a
pujança da atividade: 168 milhões de cabeças, 200 milhões de hectares de pastagens
distribuídas em 1,8 milhões de propriedades, que absorvem 7,0 milhões de
trabalhadores, abate de mais de 40 milhões de cabeças/ano em mais de 700 indústrias
de carne e derivados, 100 indústrias de armazenagem, 55 mil estabelecimentos no
comercio varejista de carne, 560 curtumes e 4150 indústrias de calçados. É preciso
ainda ressaltar que a população bovina mundial tende a se estabilizar, ou mesmo
diminuir, nos grandes países produtores de carne, embora esta tendência não vem
ocorrendo no Brasil.
Alguns países, como o Brasil, são privilegiados no que se refere às condições
para a produção de proteínas de origem animal. Clima, solo e recursos humanos
muito deixaram de ser obstáculos e passaram a constituir vantagens comparativas que,
somadas à extensão territorial, possibilitam ao País produzir proteína animal a preços
competitivos, em quantidades crescentes, com qualidade desejada pelos consumidores,
principalmente, a qualidade exigida por mercados importadores como a África do Sul e
países do Oriente Médio.
Estudos indicam a necessidade de melhorar os índices do empreendimento para
atender às crescentes demandas do mercado mundial, da sociedade e do governo, por
16
sistemas de baixo impacto ambiental, harmoniosamente inseridos na cadeia produtiva e
capazes de promover desenvolvimento econômico e social em âmbito regional. Além
disso, podendo gerar condições de participações em dispositivos como o Tratado de
Kyoto, oportunidade com amplo espaço e que o Brasil ainda pouco explorou.
A produção animal resulta da ação conjunta das forças de origens genética e
ambiental. Altos níveis de produção podem ser alcançados melhorando
simultaneamente a composição genética dos animais e as condições ambientais da
criação. A composição genética é a base para o estabelecimento de programas de
melhoramento e é o fator que limita a capacidade de resposta dos animais aos
processos seletivos. É indispensável procurar compatibilizar o potencial genético com
as condições ambientais da exploração animal.
O aumento da produção e produtividade dos animais domésticos é um desafio
técnico e político dos dias atuais, face à crescente demanda das proteínas de origem
animal pela população humana. Esta exigência é muito mais premente nos países
tropicais, onde a maioria da população vive em estado de miséria e subnutrição. A
produtividade animal nos países tropicais é extremamente baixa quando comparada
com a dos países de clima temperado. Os trópicos, com 65% da população bovina
mundial, produzem dez vezes menos leite e quatro vezes menos carne que os países
temperados (PEREIRA, 2004). Obviamente, as causas destas acentuadas diferenças
não são somente climáticas mas sim de várias origens, sendo que, inegavelmente, o
baixo valor genético das suas populações animais, além de deficiências das condições
ambientais, são os argumentos causais mais aceitos. Evidencia-se, assim, a
importância do melhoramento genético das populações animais. Faz-se necessário que
os criadores tenham acesso a reprodutores geneticamente superiores e
simultaneamente disponibilizem condições ambientais adequadas e que haja
remuneração justa pelo trabalho e investimento.
O Brasil é o país que mais produz embriões in vitro no mundo atualmente e vem
se beneficiando de forma extraordinária de biotecnologias reprodutivas para uma maior
obtenção de novos ganhos genéticos. Dentre essas biotecnologias citam-se a produção
in vitro de embriões, a transferência de embriões, a inseminação artificial, a sexagem de
sêmen, a seleção assistida por marcadores genéticos moleculares (MAS) e outros. No
17
Brasil, muitos progressos podem ser visualizados na qualidade genética do rebanho
bovino, principalmente a partir dos anos 1970, com a difusão da inseminação artificial,
quando se chegou a ter no País em torno de 30 a 40 centrais de produção de sêmen.
Cresceu o interesse dos criadores por reprodutores de mérito genético superior,
principalmente das raças Nelore, Gir, Guzerá, Indubrasil e raças européias utilizadas
em cruzamentos com o Zebu (MARQUES, 2003).
18
2 – Objetivos gerais
Os objetivos gerais deste estudo foram:
Estudar a variabilidade genética em bovinos da raça Brahman no Brasil
participantes do Programa de Melhoramento Genético da Raça Brahman
(PMGRB), quantificando a contribuição genética dos principais reprodutores, o
tamanho efetivo populacional, o número efetivo de fundadores, ancestrais e
genomas remanescentes e identificando os principais animais com maior
representatividade alélica na população; e
Estimar parâmetros genéticos e eficiências relativas de seleção indireta versus a
direta para as características de crescimento, peso ao nascer, aos 120, 210, 365,
455 e 550 dias de idade e para as características reprodutivas, período de
gestação, intervalo entre partos e perímetros escrotais nas idades 365, 455 e
550 dias de idade em bovinos do referido programa, com intuito de estabelecer
critérios de seleção.
19
3 – REVISÃO DA LITERATURA
3.1 - A raça Brahman
A região sul dos Estados Unidos, da costa do Golfo do México, passando pelo
estreito do Texas até a Flórida, no século XIX tinha um gado de chifres longos,
“Longhorn”, descendente dos animais trazidos pelos espanhóis, com muitos exemplares
em estado de liberdade total. Raros eram os animais de origem britânica ou francesa
como no norte do País.
Os fazendeiros daquela região precisavam encontrar resposta para uma raça
bovina que fosse competitiva em um mercado com crescente demanda de carne. A
descoberta dos Bos indicus como solução não foi inicialmente técnica. Como aconteceu
no Brasil também. Foi um presente da curiosidade humana pelo exótico. O exemplo
claro disso foi com o “irriquieto touro de circo”.
O cowboy Peter Hahn recebeu de presente do The Hagenbeck Animal Show of
the Hagenbeck Wallace Circus, um touro azulado de sangue indiano por ter ajudado na
montagem e desmontagem do circo em Columbus, 1895. Esse touro acompanhava seu
dono onde ele fosse trabalhar. Nos diversos ranchos onde passou, deixou uma
progênies com vacas das mais diversas raças que padreou (Longhorns, Herefords e
Shorthorns). Seus bezerros e bezerras fizeram diferença aos olhos dos fazendeiros
(LEMOS, 2006).
O “touro azul” era provavelmente da raça do Grupo I, na classificação do gado da
Índia relatada por LEMOS, 2006 apud Josh e Phillips, 1954, que reúne as etnias:
Guzerá (Kankrej), Kenwarianya, Malvi, Khergarh, Tharparkar e Hissar. Grupo que
apresenta muito comumente uma pelagem cinza azulada e que os brasileiros
denominaram “azulego”.
Foi notada a boa resistência dos animais filhos de animais de origem indiana ao
ambiente hostil comparada à das raças de sangue europeu. Muitos criadores
descobriram os cruzamentos com o gado de cupim e fizeram, então, o cruzamento
absorvente para a genética indiana. Na Louisiana, a criação de gado com sangue da
20
Índia teve início mais fortemente com o Sr. Richard Barrow, plantador de cana de
açúcar e algodão em Saint Francisville. Isso provavelmente, em 1854 (LEMOS, 2006).
Posteriormente, ocorreram algumas importações da Índia como a de um touro
Guzerá puro chamado "Khedive", dando início ao processo de importação de mais
animais zebuínos para a formação da raça, que se estendeu até 1915. A partir de então
os produtos cruzados receberam o nome de "big eared Louisiana cattle". Em 1915, deu-
se início a seleção de Brahman, quando ocorreu mais uma importação de 40 fêmeas
aneloradas. O grande impulso, no entanto, aconteceu quando os Estados Unidos
realizaram duas importações de Zebu do Brasil, em 1923 e 1924. O gado brasileiro
apresentava uma nítida predominância de Guzerá, com alguma evidência de Gir e de
Nelore (FELÍCIO, 2002).
O objetivo fundamental de seus formadores foi criar uma raça que pudesse
suportar calor, umidade, insetos, parasitas e doenças típicas do Golfo do México na
penúltima virada de século. Esses pioneiros eram criadores que gostavam das
características das raças inglesas (Angus, Hereford e Shorthorn) como produtoras de
carne, mas não podiam fazer com que elas tivessem sucesso e prevalecessem na
inóspita região subtropical do Sul dos Estados Unidos.
O Brahman atual apresenta as seguintes características: resistência a doenças e
parasitas, adaptação a altas e baixas temperaturas, fertilidade e facilidade de parto;
conversão eficiente de alimentos e menor exigência alimentar, precocidade sexual e de
acabamento, docilidade e habilidade materna, qualificando essa raça de Bos indicus
para os melhores trabalhos de seleção da pecuária de corte contemporânea
(MARQUES, 2003).
Após a formação da raça nos Estados Unidos conforme descrição anterior e da
fundação da ABBA - American Brahman Breeders Association, em 1929, até hoje, a
raça experimentou imenso sucesso em todo o mundo tropical, estando em mais de
70 países (FELÍCIO, 2002). Os dois últimos países a adotarem o Brahman foram a
Tailândia e o Brasil. No Brasil, a sua introdução ocorreu recentemente, tendo sua
primeira importação no ano de 1994, com animais originários dos Estados Unidos, que
no passado foram fruto de cruzamento de quatro importantes raças: Nelore, Gir, Guzerá
e Krishna Valley; posteriormente foram importados mais animais da Argentina,
21
Colômbia e Paraguai, em um total de 976 animais vivos que entraram no País desde
abril de 1994.
Quando se compara o número de animais que ingressaram no Brasil aos 288
(266 touros e 22 vacas) que a ABBA tem como o número formador do Brahman nos
Estados Unidos, pode-se dizer que existe uma boa base Brahman para os criadores
brasileiros utilizarem. Considerando-se os muitos embriões que vieram e que ainda
continuam a chegar, o sêmen de bons reprodutores e a existência do maior rebanho
zebuíno do mundo, pode se presumir, com razoável certeza que o Brasil, em breve, se
tornará uma das referências mundiais de rebanho Brahman (LEMOS, 2006). Desde sua
introdução em 1994, a raça está em constante crescimento no Brasil, o que pode ser
observado por meio de dados estatísticos da Associação Brasileira dos Criadores de
Zebu de 1995 a 2005, o volume de registros genealógicos de nascimento cresceu em
média, 129% ao ano. em 2005 foi registrado o nascimento de 10,5 mil animais na
Associação Brasileira de Criadores de Zebu (ABCZ), um aumento de 138% em relação
a 2004 (VASCONCELLOS, 2006).
Ao contrário de outras raças que têm tentado se consolidar no Brasil nos últimos
vinte anos, a forma organizada como está começando o gado Brahman, com projetos
consistentes, um programa de avaliação genética e uma associação atuante como a
Associação dos Criadores de Brahman do Brasil – ACBB. A raça Brahman foi o grande
destaque na comercialização de material genético no ano de 2003 o mercado das raças
de corte no Brasil comercializou em leilões a soma de aproximadamente US$ 175
milhões, sendo somente 2,2% correspondente à raça Brahman, mas foi à raça que
apresentou a maior média geral de US$ 4.855,00 por animal para um total de 779
animais vendidos e a maior média de fêmeas de US$ 7.760,00 para 390 matrizes
comercializadas e segunda média (US$ 5.116,00) de prenhezes por TE e FIV sexadas
de fêmeas, relativamente a 86 animais (LEMOS, 2006).
No âmbito reprodutivo, em 2005 foram comercializadas 178 mil doses de sêmen,
participando de 4% do mercado brasileiro de sêmen para corte. Apesar da redução de
9,7% em comparação a 2004, analisando a evolução dos últimos cinco anos, a raça
Brahman foi a que mais cresceu em volume de vendas. De 2001 a 2005, o aumento foi
22
de 124%. E é por isso que a Brahman é a terceira raça zebuína com maior volume de
vendas, perdendo apenas para a Nelore e Nelore Mocha (VASCONCELLOS, 2006).
Para os que vão além da inseminação artificial, os números também apontam
crescimento. VASCONCELLOS (2006), analisando a evolução da comunicação de
transferência de embriões, de acordo com a ABCZ, em 2005 foram transferidos 26 mil
embriões de doadoras PO, um aumento de 254% em comparação a 2004. O aumento
se deve à transferência de embriões in vitro (FIV), que participou de 81% do total, e
aumentou, no mesmo período, em 493%. Segundo a mesma autora a técnica tem sido
a preferida pelos criadores, por demonstrar melhor aproveitamento em doadoras de
maior valor econômico. Além disso, doses de sêmen de valores genéticos e/ou de
mercado de maior cotação também podem ser melhor aproveitadas por meio da FIV.
Por conta disso, a raça é a vice-líder na utilização de FIV, participando de 17%
desse mercado. A Nelore, com a transferência de 97,3 mil embriões, tem uma
participação de 76%. Estes dados mostram que de 2003 a 2005, a transferência de
embriões in vivo (mais conhecida como TE), aumentou em média 22%, ao contrário da
FIV, que no mesmo período aumentou em média 12 vezes mais (VASCONCELLOS,
2006).
23
3.2 - VARIABILIDADE GENÉTICA
Se a seleção ocorre à médio e longo prazos, FALCONER e MACKAY (1996)
destacaram a importância de se considerar a depressão por consangüinidade,
reduzindo, neste caso a variabilidade genética e, consequentemente, a resposta obtida.
MEUWISSEN e WOOLLIAMS (1994) definiram os efeitos detrimentais da
consangüinidade como: redução da variância genética aditiva, o que reduz as taxas de
respostas e os valores do limite da seleção para a característica alvo de seleção e
outras; depressão por consangüinidade para a característica sob seleção, se os efeitos
genéticos são não aditivos; e, finalmente, depressão por consangüinidade na adaptação
do animal.
Os valores de variabilidade presentes em uma população podem ser uma
importante ferramenta para a tomada de decisões, a respeito do aproveitamento dos
recursos genéticos presentes, além do auxílio na seleção e nos acasalamentos dos
animais.
3.2.1 – Coeficiente de endogamia
O termo endogamia ou seu sinônimo consangüinidade é usado para especificar
acasalamentos entre indivíduos mais aparentados entre si que a média da população à
qual pertencem (OLIVEIRA et al., 1999). Tal coeficiente, quando ultrapassa valores
superiores a 10% aumenta significativamente o número de locus em homozigose,
aumentando, portanto, a chance de genes recessivos indesejáveis se expressarem
(ALCALÁ et al., 1995). Levando-se em conta esses efeitos prejudiciais no processo de
seleção, o grande desafio passa a ser o de reduzir as taxas de consangüinidade a
níveis aceitáveis, no decorrer das gerações ou, de outra forma, tentar otimizar ganhos
genéticos em níveis pré determinados (CUNHA et al., 2003).
A presença de ancestrais comuns simultaneamente nos lados paterno e materno
da genealogia de um determinado animal determina um aumento na probabilidade de
um animal receber cópias idênticas de um determinado gene a partir dos gametas de
pai e da mãe (OLIVEIRA et al., 1999).
24
No trabalho realizado por MALECOT (1948) apud Elandt Johnson (1971), o
coeficiente de endogamia (F) indica a probabilidade que dois genes presentes em um
individuo para um determinado locus sejam idênticos por descendência. O grau de
homozigose resultante de acasalamento endogâmico dependerá do nível de parentesco
entre os pais, sendo igual à metade do coeficiente de parentesco, para pais não
endogâmicos (WRIGTH, 1923 apud Elandt Johnson (1971). Assim um acasalamento
endogâmico entre irmãos completos (50% de parentesco), 25% dos genes que estavam
em heterozigose nos pais estarão em autozigose na progênie.
Nesse sentido, diversas estratégias de seleção têm sido propostas no intuito de
otimizar o uso da variabilidade genética em populações de animais domésticos
selecionados e, com isso, assegurar maiores taxas de respostas à seleção, sobretudo a
médio e longo prazos, minimizando-se os efeitos prejudiciais da elevação nos níveis de
consangüinidade. Relatam-se, na literatura, práticas de acasalamentos não aleatórios
entre os pais selecionados: acasalamentos do tipo fatorial (WOOLLIAMS, 1989);
acasalamentos com parentesco mínimo (TORO et al., 1988); e acasalamentos
compensatórios (SANTIAGO e CABALLERO, 1995). Em outras estratégias, predefine-
se o valor do parentesco médio entre os indivíduos selecionados (MEUWISSEN, 1997).
O aumento do uso da inseminação artificial e outras técnicas reprodutivas,
indicam a necessidade de geração e adaptação de conhecimentos sobre a relação de
parentesco entre touros, para que medidas de acasalamento sejam tomadas pelos
técnicos no campo (VIEIRA, 2004).
VOZZI (2004) cita que o efeito da endogamia sobre características de
importância econômica em gado de corte foi extensivamente revisado por BURROW
(1993), mostrando que a endogamia do individuo tem efeito adverso consistente sobre
as características de crescimento desde o nascimento até a maturidade. Em geral, o
aumento de um por cento da endogamia resultou num decréscimo de 0,06; 0,44; 0,69 e
1,30 kg nos pesos ao nascer, à desmama, pós desmama (12 a 18 meses de idade) e à
maturidade, respectivamente. Isso representaria, supondo animais 50% endogâmicos,
uma redução de 3; 22; 34,5 e 65 kg nos pesos ao nascer, à desmama, pós desmama e
a maturidade, respectivamente. ALENCAR et al. (1981) mencionaram, na raça
25
Canchim, redução de 1,49 kg no peso à desmama de machos e de 0,98 kg nas fêmeas
para cada um por cento de aumento do coeficiente de consangüinidade.
Tanto a endogamia, como o tamanho efetivo da população, são parâmetros de
importância para delinear programas de melhoramento. A redução do tamanho efetivo
populacional deve ser considerada e avaliada nestes programas, permitindo o seu
monitoramento e manutenção em níveis aceitáveis para condução dos mesmos, que
deles depende a manutenção da variabilidade genética presente na população a ser
utilizada nas futuras gerações (VIEIRA, 2004).
Dentre os fatores que justificam a necessidade do monitoramento de uma
população em expansão pela análise do pedigree, VOZZI (2004) cita que além dos
parâmetros de probabilidade de origem do gene, a razão entre o número efetivo de
fundadores e o número efetivo de ancestrais (N
fun
/N
anc
) pode ser considerada como
uma medida de aumento ou diminuição do número de reprodutores entre períodos. Do
mesmo modo, a proporção entre o número efetivo de genomas remanescentes e o
número efetivo de fundadores (N
gen
/N
fun
) é um indicativo do processo de deriva genética
e, portanto, quantifica a perda de alelos fundadores entre gerações.
Os parâmetros baseados na probabilidade de origem do gene resultam mais
convincentes e fáceis de interpretar que os derivados dos níveis de endogamia para
quantificar o efeito da deriva genética nas populações (BOICHARD et al., 1997),
especialmente quando as informações de pedigree são incompletas e poucas gerações
são traçadas no pedigree dos animais como é o caso da raça Brahman.
26
3.3 - CARACTERÍSTICAS DE CRESCIMENTO
O crescimento rápido e adequado é desejável nos bovinos de corte, sendo que
animais que apresentam maiores ganhos em peso necessitam de menos dias para
atingirem o peso ideal de reprodução e/ou abate, tornando-se assim mais rentáveis e
interessantes economicamente (VIEIRA, 2004).
PAZ et al. (1999) estudando os efeitos ambientais sobre o ganho de peso no
período do nascimento ao desmama em animais Nelore, ressaltaram a importância da
remoção destes efeitos sobre tal característica, para que os animais possam ser
comparados e distinguidos na seleção do rebanho. Portanto, a correta identificação dos
animais geneticamente superiores é determinante para o progresso genético da
população. É também de extrema importância o conhecimento de quanto das
diferenças observadas nas características de interesse no melhoramento deve-se a
fatores genéticos aditivos, ou seja, aqueles transmissíveis às futuras progênies por
meio da seleção.
A decomposição dos componentes da variância fenotípica em variância genética
e ambiental, baseada no princípio de que semelhança fenotípica entre parentes fornece
informações a respeito do grau de diferenciação genética, é de particular interesse, por
ser o determinante primário do grau em que as progênies se assemelham aos pais,
constituindo assim o fator que governa a taxa de resposta de um caráter à seleção
(LYNCH e WALSH,1997).
De acordo com MERCADANTE et al. (1995) em mamíferos, as mães têm maior
influência no fenótipo da progênie do que o pai, sendo as muitas causas deste fato
denominadas de efeitos maternos. Efeitos maternos podem ser definidos como
qualquer contribuição, influência ou impacto sobre o fenótipo do indivíduo, atribuível
diretamente ao fenótipo (genótipo mais ambiente) da mãe, sendo manifestados na
fertilização, gestação ou durante a lactação, podendo ser transitórios ou persistir por
toda a vida do animal. Esses autores observaram que, em bovinos da raça Nelore no
Brasil, o ambiente materno contribuiu com 30% das variações totais dos pesos dos
bezerros a desmama e com 19% aos 365 dias de idade.
27
Num programa de criação animal, a seleção para maximizar a produção é uma
das mais importantes decisões a ser tomada pelo pecuarista moderno. Um pré-requisito
para o sucesso em planos de melhoramento de gado de corte é a obtenção de
estimativas acuradas de parâmetros genéticos. A falta de precisão de estimativas de
herdabilidade e de correlações genéticas e fenotípicas podem reduzir a eficiência do
critério de seleção a ser utilizado (COSTA, 2005).
A seleção em gado de corte visa o crescimento e a reprodução. O crescimento
lento resulta em prejuízos para o criador, em vista do retardamento da idade ao abate e
a baixa eficiência reprodutiva com a idade elevada à primeira cria e longos intervalos de
partos (PEREIRA, 2004).
Conforme observado por (GARNEIRO et al., 1998) o melhoramento genético de
bovinos no Brasil, passou por várias fases. Inicialmente, a seleção era baseada em
caracterização racial. Em seguida, foram implantados processos seletivos para
características de produção, tais como: controle ponderal, provas de ganho de peso e
testes de progênie, baseando a seleção em pesos padronizados em diferentes idades,
ganhos de peso e dias para atingir determinados pesos.
Sabe-se que a maioria das pesquisas na área de melhoramento genético animal
é orientada no sentido de se obter informações apenas de pesos e ganhos em peso,
durante ou logo após o período de aleitamento. Entretanto, OLIVEIRA e LÔBO (1992)
sugeriram que essas informações devam ser estendidas para o peso aos 550 dias de
idade, característica também importante para estimação de parâmetros genéticos e
adoção de esquemas de seleção. Além disso, é importante mencionar que tais
parâmetros sejam estimados em amostra bastante representativa da raça, para que se
possa obter precisão nas estimativas.
O peso aos 120 dias de idade (P120) e peso aos 210 dias de idade (P210) é um
indicador do peso à desmama, que é bastante estudado. Nessa característica verifica-
se a manifestação do efeito dos genes do próprio animal para desenvolver-se (efeito
direto) e o efeito dos genes da mãe do animal, influenciando seu desempenho (efeito
materno). Este representa a habilidade da mãe, principalmente na produção de leite,
sendo, portanto, uma medida de fundamental importância para a avaliação genética
28
indireta de matrizes pelos índices de fertilidade real e ambiental fornecida pela mãe à
cria (VIEIRA, 2004).
O crescimento do animal pós-desmame é avaliado pelos pesos as idades-padrão
de 365 (P365) e 455 dias de idade (P455). Nessas idades, o potencial genético do
próprio animal é expresso em termos de ganho em peso, embora deve -se levar em
consideração o efeito residual da habilidade materna, que vai decrescendo conforme o
aumento da idade do animal (VIEIRA, 2004).
Entre os vários fatores ambientais que influenciam o desenvolvimento pós-
desmama em bovinos, o ano e a estação de nascimento têm importância particular,
que as condições climáticas podem ser diferentes durante os vários anos, o que
significa também diferentes condições alimentares (BIFFANI et al., 1998). Para tanto, a
quantificação dos diferentes fatores que atuam sobre determinada característica, sejam
genéticos ou ambientais, indicam quais as melhores alternativas para melhorar a
produção do rebanho.
Para que dados de pesos sejam úteis em um programa de melhoramento, faz-se
necessário a disponibilidade de estimativas de seus parâmetros genéticos de forma
acurada. Além disso, necessidade de se aumentar a acurácia em identificar o mérito
genético dos animais, juntamente com seu subseqüente uso no programa de seleção,
de modo a acelerar, na direção desejada, a alteração das características selecionadas.
A implementação dos novos procedimentos teóricos aliados ao avanço tecnológico tem
tornado isso possível (MUCARI e OLIVEIRA, 2003).
O desenvolvimento ponderal de bovinos de corte é influenciado por um
componente genético, que quantifica a variância genética aditiva e não aditiva dos
genes e um componente ambiental, regulado pela influencia temporária ou permanente
do ambiente; neste contexto, o ambiente materno também influencia o desenvolvimento
do bezerro, principalmente na fase pré-desmama (LOPES et al., 2005).
A correta identificação de efeitos ambientais e genéticos que influenciam a
produção dos rebanhos é de suma importância, pois eventuais erros nessa etapa
podem provocar estimativas pouco acuradas dos parâmetros e valores genéticos.
Assim, as estimativas de herdabilidade e correlação genética entre as características
pré-desmame e efeitos genéticos aditivos direto e materno têm significativa importância,
29
pois contribuem para a seleção cada vez mais precoce, de indivíduos geneticamente
superiores (MERCADANTE et al. 1995)
Em termos práticos, 365 dias é a idade mais conveniente para a seleção em
gado de corte. Animais mais pesados nessa idade tendem a ser também os mais
pesados em idades mais avançadas, 550 e 730 dias de idade. Portanto, essa idade
permite uma seleção eficiente e precoce dos melhores animais da população
(PEREIRA, 2004).
Para bovinos de corte, até meados da década de 80 muito se discutiu sobre as
conseqüências da seleção para peso corporal sobre a eficiência de produção, incluindo
o desempenho reprodutivo das matrizes, principalmente pelo aumento do peso adulto
advindo dessa seleção (KOCH et al., 1982; SCHOLTZ e ROUX, 1984). Com o acúmulo
dos dados dos experimentos de seleção por várias gerações, somado ao aumento
quantitativo e qualitativo dos bancos de dados de criadores e associações de raças, e
ao avanço dos métodos de predição, os estudos têm mostrado que a seleção para
maior peso corporal não apresenta efeitos significativos sobre o desempenho
reprodutivo das fêmeas (WOLFE et al., 1990; MEYER et al., 1991; MORRIS et al.,
1992; PARNELL, 1994; ARCHER et al., 1998; MERCADANTE et al., 2000; SILVA et al.,
2000), embora na maioria deles os animais tenham sido criados em ambientes menos
restritivos que o tropical.
3.3.1 - Coeficientes de herdabilidade (h²)
Para o desenvolvimento de programas de melhoramento genético animal, é
necessário o conhecimento das estimativas de alguns parâmetros genéticos das
características de interesse, dentre eles, os coeficientes de herdabilidades. Este
coeficiente expressa a proporção da variância total que é atribuída aos valores
genéticos, e estes é que determinam o grau de semelhança entre parentes
(FALCONER e MACKAY, 1996).
A herdabilidade (h²) é um parâmetro genético da população indispensável para o
desenvolvimento de qualquer programa de seleção, pois determina a importância a ser
dada a cada característica.
30
O coeficiente de herdabilidade tem um valor particular para determinada
característica, em uma determinada população e em um determinado tempo (PAZ,
1997). Pode-se dizer que a herdabilidade é a proporção da superioridade ou
inferioridade dos pais que se espera que seja transmitida à sua progênie (FALCONER e
MACKAY, 1996). Então, a resposta à seleção para uma dada característica irá
depender da magnitude do valor estimado para a mesma, sendo ainda necessária para
estimar a resposta correlacionada à seleção, para elaborar índices de seleção e
predizer valor genético dos animais (GUNSKI et al., 2001).
A Tabela 1 apresenta os valores de estimativas de herdabilidade por autor e raça
estudada, disponíveis na literatura consultada.
31
TABELA 1 Estimativas de herdabilidades (h²) e respectivos erros padrão (EP) para
peso ao nascer (PN), aos 205 (P205), 210 (P210), 365 (P365), 455 (P455)
e 550 (P550) dias de idades e raças de acordo com diversos autores.
Autor Característica Raça h² ± EP
REZENDE et al. (2005)
LOPES et al. (2005)
PARRA-BRACAMONTE et al. (2006)
PN
PN
Nelore
Brahman
0,29
0,56 ± 0,04
0,37
REZENDE et al. (2005)
GARNERO et al. (2001)
MARCONDES et al. (2002)
P120 Nelore 0,26
0,33
0,24
LOPES et. al. (2005)
RIBEIRO et al. (2001)
PIMENTA FILHO et al. (2001)
MAGNABOSCO et al. (1995)
REZENDE et al. (2005)
P205
P205
P205
P205
P210
Nelore
Nelore
Nelore
Guzerá
Nelore
0,64 ± 0,05
0,16 ± 0,05
0,35 ± 0,08
0,58
0,41
REZENDE et al. (2005)
RIBEIRO et al. (2001)
PIMENTA FILHO et al. (2001)
MARCONDES et al. (2002)
MAGNABOSCO et al. (1995)
P365 Nelore
Nelore
Guzerá
Nelore
Nelore
0,34
0,40 ± 0,15
0,26 ± 0,08
0,27
0,69
MARCONDES et al. (2002) P455 Nelore 0,34
RIBEIRO et al. (2001)
GARNERO et al. (2001)
PIMENTA FILHO et al. (2001)
MARCONDES et al. (2002)
P550 Nelore
Nelore
Guzerá
Nelore
0,76 ± 0,24
0,34
0,46 ± 0,16
0,43
32
3.3.2 - Correlações genéticas
O conhecimento da correlação genética entre características de interesse do
melhoramento de alto valor econômico é também importante para o delineamento de
programas de seleção em bovinos de corte (COSTA, 2005).
O coeficiente de correlação é um conceito estatístico para a medida do grau e da
direção da associação linear entre duas características. Esta associação pode ser
provocada por efeitos genéticos e ambientais. Essa associação entre duas ou mais
características observadas em indivíduos de determinada população é denominada de
correlação fenotípica, a qual decompõe-se nos componentes genético e de ambiente.
Para o melhoramento genético de um rebanho bovino, é fundamental conhecer o
sentido e a magnitude das associações genéticas entre as características selecionadas,
para verificação e controle dos efeitos de seleção sobre outras características
(FERRIANI, 2006).
Características correlacionadas são de interesse, por três razões principais.
Primeiramente, em conexão com as causas genéticas da correlação, por meio de ação
pleotrópica dos genes. Em segundo lugar, em conexão com as mudanças efetuadas
pela seleção. É importante conhecer como o melhoramento de uma característica pode
causar mudanças simultâneas em outras. Em terceiro lugar, em conexão com seleção
natural: a relação entre a característica métrica e o poder adaptativo é o agente primário
que determina as propriedades genéticas desta característica, em uma população
natural podendo exercer influência importante em seleção (FALCONER e MACKAY,
1996).
Em estudos genéticos, é necessário distinguir as duas causas de correlação
entre características: a genética e a de ambiente. A causa de correlação genética é
principalmente, pleiotropismo, embora ligações gênicas sejam uma causa de correlação
transitória, especialmente, em populações originadas de cruzamentos em linhagens
divergentes. Pleiotropismo é, simplesmente, a propriedade pela qual um gene afeta
duas ou mais características, de modo que se o gene estiver segregando, causará
variação simultânea nas características que ele afeta (FALCONER e MACKAY, 1996).
33
MASCIOLI et al. (2000) estimaram correlação genética de 0,73±0,07 entre peso
ao nascer e peso aos 120 dias de idade para animais da raça Canchim. Outros autores,
estudando correlações genéticas entre o peso aos nascer e peso aos 210 dias de
idade, tais como NÁJERA AYALA et al. (1991), reportaram o valor de 0,28; PÁDUA e
SILVA (1994), de 0,34; SOUZA RAMOS (1995), de 0,91, todos na raça Nelore.
PÁDUA e SILVA (1985) e FERREIRA (1985) estimaram na raça Nelore
correlações genéticas entre P210 e P550, de 0,33 e 0,86, respectivamente. Estes
mesmos autores, também obtiveram estimativas de correlações genéticas entre P455 e
P550, de 0,58 e 0,61, respectivamente, na mesma raça.
34
3.4 – CARACTERÍSTICAS REPRODUTIVAS
O perímetro escrotal (PE) vem sendo utilizado como critério de seleção, por
apresentar correlações genéticas favoráveis com características de sêmen (KNIGHTS
et al., 1984), com idade à puberdade em machos e fêmeas (BOURDON e BRINKS,
35
A herdabilidade relativamente alta, a facilidade de medição e as associações
genéticas favoráveis com características de sêmen e negativas com características
reprodutivas das fêmeas, fazem do perímetro escrotal o critério de seleção mais
utilizado para a melhoria da eficiência reprodutiva em gado de corte (KOOTS et al.,
1994; BERGMANN et al., 1996; QUIRINO e BERGMANN, 1998; LÔBO et al., 2000).
Entretanto, nos últimos anos, tem-se questionado a eficácia de sua utilização para
melhorar a precocidade e a fertilidade das fêmeas, com o argumento de que as
correlações genéticas têm baixa magnitude (PEREIRA et al., 1998; PEREIRA et al.,
2000b). Diante disso, haveria a necessidade de se estudar outras características
medidas diretamente nas fêmeas e que pudessem ser indicadoras de precocidade e
fertilidade.
Com relação às fêmeas, maior dificuldade de se determinar características
facilmente mensuráveis e que sejam geneticamente relacionadas com a fertilidade
(JOHNSTON e BUNTER, 1996). Algumas características geralmente utilizadas são
intervalo entre partos (IEP) e período de gestação (PG).
O intervalo entre partos (IEP) é uma importante característica para avaliação da
eficiência reprodutiva e produtiva de um rebanho. Em termos reprodutivos, ele é
constituído pelos períodos de serviço e de gestação e, em termos produtivos, pelos
períodos de amamentação e seco. No aspecto produtivo, o mesmo esta direcionado
para a matriz gerar pelo menos uma cria por ano e desmamando-a, preferencialmente
com 50% do seu peso vivo (CAVALCANTE et al., 2000).
As características relacionadas à eficiência reprodutiva, segundo informações
disponíveis na literatura, mostram valores baixos de herdabilidade. As conclusões
extraídas com base em tais estimativas sugerem que o melhoramento genético da
eficiência reprodutiva é tarefa difícil e que resultados imediatos podem ser mais
facilmente obtidos através de melhoria das condições ambientes, especialmente da
nutrição, manejo profilático-sanitário e do manejo geral da criação. No entanto, parece
que há substancial variação quantitativa nas características reprodutivas, em geral
causadas pela mistura complexa de fatores genéticos e ambientes. Em situações onde
o manejo e alimentação são de boa qualidade, as variações genéticas das
36
características de eficiência reprodutiva são mais evidentes e permitem ações seletivas
no sentido de melhorá-las (PEREIRA, 2004).
No caso das raças Zebuínas, cujas pesquisas são obtidas, na maioria dos casos,
de dados originários de criadores de elite, onde é comum, até por modismos, o uso de
reprodutores famosos e a prática de consangüinidade, é freqüente a obtenção de
estimativas de herdabilidade viciadas (subestimadas) conforme PEREIRA, (2004).
Na Tabela 2 estão relacionadas as estimativas de herdabilidade para intervalo
entre partos, obtidos pelo método de máxima verossimilhança restrita , de acordo com o
ano de publicação do trabalho e raça, segundo diversos autores.
TABELA 2 Estimativas de herdabilidade (h²) e respectivos erros padrão (EP) para
intervalos entre partos (IEP) de fêmeas das raças zebuínas no Brasil,
segundo diversos autores.
Autor(es) Raça Nº de observações h² ± EP
NÁJERA AYALA (1990) Nelore 3.285 0,039±0,027
MARTINS FILHO (1991) Nelore 318 0,100±0,130
OLIVEIRA FILHO e ABREU (1991) Nelore 2.467 0,006±0,101
SOUZA et al. (1991) Gir 8.057 0,13±0,02
SOUZA et al. (1991) Gir (PO) 2.079 0,06±0,04
SOUZA et al. (1991) Gir (PC) 5.966 0,17±0,03
MERCADANTE et al. (1996) Nelore 958 0,10
BALIEIRO (1998) Gir 8.168 0,06±0,02
GRESSLER (1998) Nelore 577 0,10±0,01
LÔBO (1998) Guzerá 2.744 0,14±0,01
PEREIRA et al. (1998) Nelore 9.476 0,06
BIFFANI et al. (2000) Nelore 30.114 0,08
PEREIRA (2000) Nelore 92.286 0,03
Fonte: Adaptado de NÁJERO AYALA (1990) apud de PEREIRA (2004)
As estimativas de herdabilidade do intervalo de partos, obtidas na literatura
nacional que trata da reprodução do zebu, revelam média de 0,17 (NÁJERA AYALA,
1990), com as restrições levantadas anteriormente. indicações de que as
primíparas apresentam valores ligeiramente mais altos do que as multíparas (PEREIRA,
2004). NÁJERA AYALA (1990), ao justificar o achado de baixas herdabilidades para
características reprodutivas, em um rebanho Nelore de elite, constatou que vinte touros
com maior número de progênies tinham parentesco médio de 0,1429. Segundo
37
PEREIRA (2004) além do parentesco, concorrem para a redução das estimativas de
herdabilidade, o uso de reprodutores selecionados, portanto, com menor variação
aditiva, além de erros que surgem pela utilização de amostras com pequeno número de
informações. Também grandes variações ambientais existentes nos climas tropicais,
provocam aumento da variância do componente de meio e, conseqüentemente, menor
valor da herdabilidade.
O período de gestação (PG) é outra característica relacionada com a reprodução
de bovinos, uma vez que vacas com menores períodos de gestação apresentam
vantagens reprodutivas sobre vacas com gestações mais longas (BOURDON e
BRINKS, 1983). Esses autores, entretanto, colocam em dúvida a eficácia da utilização
do PG como critério de seleção, sugerindo que a seleção para crescimento, associada
à seleção para menor período de gestação, seria menos eficaz que a seleção para
maior taxa de crescimento e menor peso ao nascer, pois poderia diminuir a duração da
gestação, quanto alterar a curva de crescimento.
PEREIRA et al. (2002) citaram que a duração da gestação, embora não seja
propriamente uma medida de fertilidade, é estreitamente relacionada com o período
produtivo, influenciando o número de dias para o parto e até mesmo a idade ao primeiro
parto.
GRESSLER (1998) estimou correlação genética de -0,37 a -0,44 entre perímetro
escrotal aos 365 dias de idade (PE365) e intervalo entre partos (IEP) para animais da
raça Nelore. PEREIRA et al. (1998) estimaram correlações genéticas entre perímetro
escrotal aos 550 dias de idade (PE550) e IEP, PE550 e PG, de 0,10 e -0,04,
respectivamente, na raça Nelore. Também na raça Nelore, GRESSLER et al. (2000)
estimaram correlação genética de 0,99 entre perímetro escrotal aos 365 dias de idade
(PE365) e aos 550 dias de idade (PE550).
38
4 - REFERÊNCIAS
ALCALÁ, A.M.; FRANGANILLO, A.R.; CÓRDOBA, M.V. Analisis genético de los niveles
de consaguinidad em lar aza Retinta. Archivos Latinoamericanos de Producción
Animal, v.44, p.257-265, 1995.
ALENCAR, M.M.; SILVA, A.H.G.; BARBOSA, P.F. Efeito da consangüinidade sobre os
peso ao nascimento e à desmama de bezerros na raça Canchin. Revista Brasileira de
Zootecnia, v.10, p.156-171, 1981.
ANCP - Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores. São Paulo, 2006.
Disponível em: <http://www.ancp.org.br
39
BOICHARD, D.; MAIGNEL, L.; VERRIER, E. The value of using probabilities of gene
origin to mensure genetics variability in a population. Genetic, Selection and
Evolution, v.29, p.5-23. 1997.
BOURDON, R.M.; BRINKS, J.S. Calving date versus calving interval as a reproductive
measure in beef cattle. Journal of Animal Science, v. 57, n. 6, p.1412-417, 1983.
BURROW, H.T. The effects of inbreeding in beef cattle. Animal Breeding Abstract,
v.61, p.737-751, 1993.
CAVALVANTE, F.A.; MARTINS FILHO, R.; CAMPELLO, C.C.; LOBO, R.N.B.;
MARTINS, G.A. Intervalo de partos em rebanho Nelore na Amazônia Oriental. Revista
Brasileira de Zootecnia, v.29, n.5, p.1327-1331, 2000.
COSTA, G.Z. Estudo de escores visuais e de ganhos médios diários de peso de
animais formadores da raça Brangus, 2005. Dissertação (Mestrado em
Melhoramento Genético Animal) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária,
Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal, 2005.
CUNHA, E.E.; EUCLYDES, R.F.; TORRES, R.A.; LOPES, P.S.; RIBEIRO JUNIOR, J.I.;
CARNEIRO, P.C.S. Efeito de tipos de acasalamentos e razões sexuais na seleção
baseada no BLUP. Revista Brasileira de Zootecnia, v.32, n.6, p.1297 – 1303, 2003.
ELER, J.P.; FERRAZ, J.B.S.; SILVA, P.R. Parâmetros genéticos para peso, avaliação
visual e circunferência escrotal na raça Nelore, estimados por modelo animal. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, v. 48, n.2, p.203-213, 1996.
EUCLIDES FILHO, K. Melhoramento genético animal no Brasil: fundamentos,
história e importância. Campo Grande: Embrapa Gado de Corte, 1999. 63p.
(Documento, 75).
40
FALCONER, D.S.; MACKAY, T.F.C. Introduction to quantitative genetics. 4. ed.
Longman: Essex UK, 1996. 464p.
FELÍCIO, P. E. Sistema de Informação da Carne. Disponível em:
<http://www.sic.org.br/PDF/Racas_Bovinas.pdf> Acesso em: 22 Jan. 2006.
FERREIRA, P.R.C. Estudo de pesos a diferentes idades e características
reprodutivas de um rebanho de animais Chianina, Nelore e seus mestiços em
Goiás. 1985, 148f. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal de Viçosa,
Viçosa.
FERRIANI, L. Estimativas de herdabilidade das características de carcaça e
crescimento e de suas correlações genéticas em animais da raça Nelore. 2006, 42
f. Tese (Mestrado em Genética e Melhoramento Animal) - Universidade Estadual
Paulista, Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinárias, Jaboticabal.
GARNERO, A.V. Comparação de critérios de seleção em gado de corte visando
precocidade e crescimento. 1999. 87f. Dissertação (Mestrado em Ciências)
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.
GARNERO, A. del V.; LÔBO, R.B.; BEZERRA, L.A.F.; OLIVEIRA, H.N., Comparação
entre alguns critérios de seleção para crescimento na raça Nelore. Revista Brasileira
de Zootecnia, v.30, n.3, p.714-718, 2001.
GARNERO, A.V.; LÔBO, R.B.; REYES, A.B. et al. Estimativas de parâmetros genéticos
para características incluídas em critérios de seleção em gado de corte. In: REUNIÃO
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35. 1998, Anais...Botucatu:
SBZ, 1998. p.434-436.
41
GRESSLER, S.L.; BERGMANN, J.A.G.; PENNA, V.M. et al. Estudo das associações
genéticas entre perímetro escrotal e características reprodutivas de fêmeas da raça
Nelore. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 35.,
1998, Botucatu. 1998. Anais... Botucatu: SBZ, 1998. v.3, p.368-370.
GRESSLER, S.L.; BERGMANN, J.A.G.; PEREIRA, C.S.; PENNA, V.M.; PEREIRA,
J.C.C.; GRESSLER, M.G.M. Estudo das associações genéticas entre perímetro escrotal
e características reprodutivas de fêmeas Nelore. Revista Brasileira de Zootecnia.
v.29, n.2, p.427-437, 2000.
GUNSKI, R.J.; GARNERO, A. del V.; BORJAS, A. de los R.B.; BEZERRA, L.A.F.;
LÔBO, R.B. Estimativas de parâmetros genéticos para características incluídas em
critérios de seleção em gado Nelore. Ciência Rural, Santa Maria, v. 31, n.4, p. 603-607,
2001.
JOHNSTON, D.J.; BUNTER, K.L. Days to calving in Angus cattle: genetic and
environmental effects, and covariances with other traits. Livestock Production
Science, v.45, p.13-22, 1996.
KOCH, R.M.; GREGORY; K.E., CUNDIFF, L.V. Critical analysis of selection methods
and experiments in beef cattle and consequences upon selection programs applied. In:
WORLD CONGRESS ON GENETICS APPLIED TO LIVESTOCK PRODUCTION, 2.,
1982, Madrid. Proceedings.... Madrid: WCGALP, 1982. v.5, p.514-526.
KOOTS, K.R.; GIBSON, J.P.; SMITH, C. et al. Analyses of published genetic
parameters estimates for beef production traits. 1-Heritability. Animal Breeding
Abstract, v.62, p.309-338, 1994a.
KOOTS, K.R.; GIBSON, J.P.; WILTON, J.W. Analyses of published genetic parameters
estimates for beef production traits. 2-Phenotypic and genetics correlations. Animal
Breeding Abstract, v.62, p.825-853, 1994b.
42
KNIGHTS, S.A.; BAKER, R.L.; GIANOLA, D. et. al. Estimates of herdabilities and of
genetic and phenotypic correlations among growth and reproductive traits in yearling
Angus bulls. Journal of Animal Science. v. 58, n.4, p. 887-893, 1984.
KRIESE, L.A.; BERTRAND, J.K.; BENYSHEK, L.L. Age adjustment factors, heritabilities
and genetic correlations for scrotal circumference and related growth traits in Hereford
and Brangus bulls. Journal of Animal Science, v. 69, p. 478-489, 1991.
LEMOS, J.O. O Brahman no Brasil, Uberaba- Rotal, 2006. 368 f.
LÔBO, R.B.; REYES, A.; FERRAZ, J.B.S. et al. Bivariate animal model analysis of
growth weights and scrotal circumference of Nellore cattle in Brazil. In: WORD
CONGRESS ON GENETICS APPLIED TO LIVESTOCK PRODUCTION, 5., 1994,
Guelph, Canada. Proceedings... Guelph, Canada, 1994. p.199-202.
LÔBO, R.N.B.; MADALENA, F.E.; VIEIRA, A.R. Average estimates of genetic
parameters for beef and dairy cattle in tropical regions. Animal Breeding Abstracts,
Wallingford, v.68, p. 433-462, 2000.
LOPES, J.S.; SOUZA, P.R.S.; RORATO, P.R.N.; WEBWE, T.; BOLIGON, A.A.;
DORNELES, C.K.P., Efeitos ambientais e genéticos sobre ao nascer e peso ajustado
para 205 dias de bovinos Nelore na Região Sul do Brasil. In: Reunião Anual da SBZ,
42., 2005. Goiânia – Goiás, Anais... Goiânia: SBZ, 25 a 28 de julho de 2005. CD-ROM.
LYNCH, M.; WLASH, B. Genetics and analysis of quantitative traits. Sinauer
Associates, 1997, 980p.
MAGNABOSCO, C.U.; FAMULA, T.R. et al. Componentes de variância e covariância
para características de crescimento em rebanho da raça Nelore Mocho. In: REUNIÃO
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 32., 1995, Brasília. Anais...
Brasília: SBZ, 1995, p.677-678.
43
MALECOT, G. Lês mathématiques de 1ªhérédité. Paris :Mason & Cie., 1948.
MARQUES, D. da C. Criação de Bovinos. 7 ed., rev., atual e ampl. Belo Horizonte:
CVP, Consultoria Veterinária e Publicações, 2003, 586 f.
MARCONDES, C.R. Análise de alguns critérios de seleção para características de
crescimento na raça Nelore. 1999, 93f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia), Escola
de Veterinária, Universidade Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
MARCONDES, C.R.; GAVIO, D.; BITTENCOURT, T.C.C.; ROCHA, J.C.M.C.; LOBO,
R.B.; BEZERRA, L.A.F.; TONHATI, H. Estudo de modelo alternativo para estimação de
componentes de (co) variância e predição de valores genéticos de características de
crescimento em bovinos da raça Nelore. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e
Zootecnia , Belo Horizonte, v.54, n.1, 2002.
MACKINNON, M.J.; TAYLOR, J.F.; HETZEL, D.J.S. Genetic variation and covariation in
beef cow and bull fertility. Journal Animal Science, v. 68, n. 5, p.1208-1214, 1990.
MARTIN, L.C.; BRINKS, J.S.; BOURDON, R.M. et al. Genetic effects on beef heifer
puberty and subsequent reproduction. Journal of Animal Science, v. 70, p. 4006-4017,
1992.
MARTINS FILHO, R.; LÔBO, R.B. Estimates of genetic correlations between sire scrotal
circumference and offspring age at first calving in Nellore cattle. Revista Brasileira de
Genética, v. 14, p. 209-212, 1991.
MASCIOLI, A.S.; FARO, L.E.; ALENCAR, M.M.; FRIES, L.A.; BARBOSA, P.F.
Estimativas de parâmetros genéticos e fenotípicos e análise de componentes principais
para características de crescimento na raça Canchim. Revista da Sociedade
Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.29, n.6, nov. /dez. 2000.
44
MERCADANTE, M.E.Z.; LÔBO, R.B.; OLIVEIRA, H.N. Estimativas de (co)variâncias
entre características de reprodução e de crescimento em fêmeas de um rebanho
Nelore. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29, p.997-1004, 2000.
MERCADANTE, M.E.Z.; LOBO, R.B.; REYES, A. Parâmetros genéticos para
características de crescimento em zebuínos de carne. Archivos Latinoamericanos de
Producción Animal, v.3, p.45-89, 1995.
MEUWISSEN, T.H.E. Maximizing the response of selection with a predefined rate of
inbreeding. Journal of Animal Science, v.75, n.4, p.934 – 940, 1997.
MEUWISSEN, T.H.E.; WOOLLIAMS, J.A. Effective sizes of livestock populations to
prevent a decline in fitness. Theoretical and Applied Genetics, v.89, p.1019 1026,
1994.
MEYER, K.; HAMMOND, K.; MACKINNON, M.J. et al. Estimates covariances between
reproduction and growth in Australian beef cattle. Journal of Animal Science, v.69,
p.3533-3543, 1991.
MORRIS, C.A.; BAKER, R.L.; HUNTER, J.C. Correlated responses to selection for
yearling or 18-month weight in Angus and Hereford cattle. Livestock Production
Science, v.30, p.33-52, 1992.
MOSER, D.W.; BERTRAND, J.K.; BENYSHEK, L.L. et al. Effects of selection for scrotal
circumference in Limousin bulls on reproductive and growth traits of progeny. Journal of
Animal Science, v.74, p. 2052-2057, 1996.
MUCARI, T.B.; OLIVEIRA, J.A. Análise genético-quantitativa de pesos aos 8,12,18 e 24
meses de idade em um rebanho da raça Guzerá. Revista Brasileira de Zootecnia,
v.32, n.6, p.1604-1613, 2003 (Supl.1)
45
NÁJERA AYALA, J.M. Efeitos genéticos e não genéticos sobre características
reprodutivas e ponderais de duas populações de bovinos da raça Nelore. 1990,
150f. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) - Escola de Veterinária, Universidade
Federal de Minas Gerais, Belo Horizonte.
NÁJERA AYALA, J.M.; PEREIRA, J.C.C.; OLIVEIRA, H.N. Efeitos genéticos e não
genéticos sobre características ponderais de duas populações da raça Nelore. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.43, n.1, p.81-91,
1991.
OLIVEIRA, J.A.; BASTOS, J.F.P.; TONHATI, H. Endogamia em um rebanho da raça
Guzerá. Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, n.4, p.721-728, 1999.
OLIVEIRA, J.A.; LÔBO, R.B. Fatores ambientais e genéticos relacionados com o peso
aos dezoito meses e ganho diário em bovinos Guzerá. Revista da Sociedade
Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v. 21, n.4, p. 629-636, 1992.
PÁDUA, J.T.; SILVA, R.G. da. Avaliação genética do desempenho de bovinos mestiços
Chianina x Nelore, 1. Fatores envolvidos e estimação de parâmetros genéticos. ARS
Veterinária, Jaboticabal, v.10, n.1, p.15-25, jun.1994.
PARNELL, P.F. The consequences of selection for growth rate in beef cattle.
Proceedings of Australian Society of Animal Production, v.20, p.17-26, 1994.
PAZ, C.C.P. Efeitos ambientais e genéticos que afetam o ganho de peso de pré
desmama em bovinos da raça Nelore. 1997. 108f. Dissertação (Mestrado em
Melhoramento Genético Animal) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária,
Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal.
46
PAZ, C.C.P.; ALBUQUERQUE, L.G.; FRIES, L.A. Efeitos ambientais sobre o ganho de
peso no período do nascimento o desmame em bovinos da raça Nelore. Revista
Brasileira de Zootecnia, v. 28 p. 55-64, 1999.
PEREIRA, E.; ELER, J.P.; FERRAZ, J.B.S. Correlação genética entre perímetro
escrotal e algumas características reprodutivas da raça Nelore. Revista Brasileira de
Zootecnia, Viçosa, MG, v. 29, n.6, p. 1676-1683, 2000b.
PEREIRA, E.; ELER, J.P.; FERRAZ, J.B.S. Análise genética de características
reprodutivas na raça Nelore. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.37, n.5, p.
703-708, 2002.
PEREIRA, E.; ELER, J.P.; FERRAZ, J.B.S. et al. Correlação genética entre perímetro
escrotal e algumas características reprodutivas na raça Nelore. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS, 3., 1998, Uberaba. Anais... Uberaba: ABCZ,
1998. p.381-384.
PEREIRA, J.C.C. Melhoramento genético aplicado à produção animal 4. ed.
Belo Horizonte :FEPMZ Editora, 2004, 609 f.
PIMENTA FILHO, E.C.; MARTINS, G.A.; SARMENTO, J.L.R.; RIBEIRO, M.N.;
MARTISN FILHO, R., Estimativas de herdabilidade de efeito direto e materno de
características de crescimento de bovinos Guzerá, no estado da Paraíba. Revista
Brasileira de Zootecnia, v.30, n.4, p.1220-1223, 2001.
PINEDA, N.R. Influência do Zebu na produção de carne no Brasil. In: SIMPÓSIO
NACIONAL DE MELHORAMENTO ANIMAL, 3., 2000, Belo Horizonte,. Anais… Belo
Horizonte, 2000, p.130-149.
47
QUIRINO, C.R.; BERGMANN, J.A.G. Heritability of scrotal circumference adjusted and
unadjusted for body weight in Nelore bulls, using univariate and bivariate animal models.
Theriogenology, New York, v.49, p.1389-1396, 1998.
REZENDE, F.M.; FIGUEIREDO, L.G.G.; MOURÃO, G.B.; BALIEIRO, J.C.C.; CINTRA,
D.C.; ELER, J.P.; FERRAZ, J.B.S., Estimativas de parâmetros genéticos para vigor ao
nascimento e algumas características de desenvolvimento ponderal em bovinos da
Nelore. In: REUNIÃO ANUAL DA SBZ, 42., 2005, Goiânia Goiás, Anais... Goiânia,
SBZ, 2005. CD-ROM.
RIBEIRO, M.N.; PIMENTA FILHO, E.C.; MARTINS, G.A.; SARMENTO, J.L.R.;
MARTINS FILHO, R., Herdabilidade para efeitos direto e materno de características de
crescimento de bovinos Nelore no estado da Paraíba. Revista Brasileira de
Zootecnia, v.30, n.4, p.1224-1227, 2001.
SANTIAGO, E.; CABALLERO, A. Effective size of populations under selection.
Genetics, v. 139, p. 1013 – 1030, 1995.
SCHOLTZ, M.M.; ROUX, C.Z. Correlated responses to selection for growth, size and
efficiency. In: WORLD CONGRESS ON SHEEP AND BEEF CATTLE BREEDING, 2,
1984, Pretoria, South Africa. Proceedings… Pretoria: WCSBCB, 1984, p.433-443.
SILVA, A.M.; ALENCAR, M.M.; FREITAS, A.R. et al. Herdabilidades e correlações
genéticas para peso e perímetro escrotal de machos e características reprodutivas e de
crescimento de fêmeas, na raça Canchim. Revista Brasileira de Zootecnia, v.29,
p.2223-2230, 2000.
48
SOUZA, J.C. de; RAMOS, A.A. Efeitos de fatores genéticos e do meio sobre os pesos
de bovinos da raça Nelore. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa,
v.24, n.1, p.164-172, 1995.
49
CAPITULO 2 - VARIABILIDADE GENÉTICA EM UMA POPULAÇÃO DE BOVINOS
DA RAÇA BRAHMAN NO BRASIL: ANÁLISE DE PEDIGREE
RESUMO
Este trabalho teve como objetivo determinar estatísticas descritivas sobre a
variabilidade genética em um grupo de animais da raça Brahman oriundos de 16
rebanhos participantes do Programa de Melhoramento Genético da Raça Brahman
(PMGRB) por meio da análise do pedigree. O arquivo de dados foi dividido em dois
períodos de anos: 1998-2001 e 2002-2005. A variabilidade genética foi determinada
pelos parâmetros baseados na probabilidade de origem do gene visando avaliar a
evolução nos períodos analisados. Os valores encontrados para o número de
fundadores mostraram que a população está em expansão, embora o número efetivo
de fundadores (N
f
) tenha reduzido de 718,3 para 183,3, indicando diminuição do
número de famílias de fundadores, o que não ocorreu em relação ao número de
ancestrais (N
a
) e genomas remanescentes (N
g
), que apresentaram um crescimento de
23% nos períodos avaliados. O número de ancestrais com maior contribuição genética
na população é ainda pequeno, indicando a utilização de poucas famílias na
reprodução. Tal fato poderá causar redução da variabilidade genética, além de propiciar
perdas de alelos fundadores por deriva genética e, conseqüentemente, aumento da
probabilidade de acasalamentos consangüíneos.
Palavras-chave: Bovinos, contribuição genética, endogamia, tamanho efetivo de
população
50
1 - INTRODUÇÃO
Um programa de melhoramento genético eficaz proporciona rápida propagação
de genes desejáveis, favorecido ainda pelo recente desenvolvimento de tecnologias
como a inseminação artificial, a transferência de embriões e a produção in vitro” de
embriões. A disseminação intensiva do material genético melhorado, por sua vez, a
uma redução da diversidade genética.
A estrutura do fluxo de genes na população, favorece naturalmente a diminuição
das diferenças genéticas entre rebanhos multiplicadores e comerciais, que seguem
orientados por núcleos de seleção, por sua vez caracterizados pela contribuição
genética de poucas famílias. Logo, com a implementação desses programas de
melhoramento genético e o emprego de modernas biotecnologias, a estrutura de uma
população pode ser influenciada, tendo como conseqüência, uma desigual e
prolongada contribuição genética dos principais ascendentes a contribuírem com o
desenvolvimento populacional. Isto associado à permanência desses touros por longos
períodos nas centrais de inseminação poderão proporcionar um aumento nos níveis de
endogamia nos rebanhos (FARIA et al., 2002).
No melhoramento animal, o parentesco pressupõe semelhança de genótipos.
Portanto, conhecendo o grau de parentesco entre dois indivíduos pode-se estimar o
valor genético aditivo de um animal com base nas informações de outros animais e
estimar ou predizer a contribuição genética de determinados animais fundadores,
genearcas, nas populações de reprodutores atuais (VIEIRA, 2004)
Um dos caminhos para descrever a variabilidade genética e sua evolução no
tempo é por meio de análise de informações contidas nos pedigrees dos animais
(BOICHARD et al., 1997). O método proposto por LACY (1989) para populações de
animais presentes em programas de conservação e BOICHARD et al. (1997) para
populações bovinas selecionadas, foi aplicado com sucesso na análise de diversidade
genética de raças bovinas francesas e austríacas (MAIGNEL et al., 1996; SÖLKNER et
al., 1998) e nas raças zebuínas presentes no Brasil (FARIA, 2002; VOZZI, 2004).
Um alelo autossômico amostrado aleatoriamente de qualquer indivíduo tem 50%
de probabilidade de ter sido herdado de seu pai ou mãe e 25% de probabilidade de ter
51
sido herdado de qualquer de seus quatro avós. Por meio dessa regra pode-se estudar o
pedigree de qualquer indivíduo e estimar a probabilidade de origem deste alelo de
qualquer um de seus antepassados (VOZZI, 2004).
Os parâmetros baseados na probabilidade de origem do gene com o número
efetivo de fundadores, ancestrais e genomas remanescentes apresentam muita
utilidade para descrever a estrutura populacional das raças após um pequeno número
de gerações. Mudanças nos critérios de seleção podem ser detectadas pelos
parâmetros baseados na probabilidade de origem do gene com importante sensibilidade
(VOZZI et al., 2004).
Avanços em tecnologias reprodutivas tais como transferência de embriões e
fertilização in vitro, em populações comerciais de animais domésticos, têm chamado a
atenção de pesquisadores, por proporcionarem rápido progresso genético por
propiciarem a aplicação de altas intensidades de seleção e, consequentemente,
facilitarem o aumento da consangüinidade. Estima-se que aproximadamente 50% dos
mais de 5.000 touros holandeses jovens submetidos anualmente aos testes de progênie
no mundo sejam filhos dos dez melhores touros usados de forma intensiva em
diferentes países (WEIGEL, 2001).
52
2 - OBJETIVOS
Este trabalho foi conduzido com o objetivo de estudar a variabilidade genética da
raça Brahman, utilizando informações de pedigree contidas em um banco de dados do
Programa de Melhoramento Genético da Raça Brahman (PMGRB), sob gestão da
Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP). A análise da variabilidade
genética foi realizada por meio da estimação do tamanho efetivo populacional, do
número efetivo de fundadores, ancestrais e genomas remanescentes, e identificação
dos principais animais com maior representatividade alélica na população.
53
3 - MATERIAL E MÉTODOS
3.1 - Colheita de dados
Foram utilizados dados de pedigree do Programa de Melhoramento Genético da
Raça Brahman (PMGRB) gerido pela Associação Nacional de Criadores e
Pesquisadores (ANCP), com o objetivo de promover o melhoramento genético da raça.
O conjunto de dados foi proveniente de 16 rebanhos participantes do PMGRB,
criados nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul,
Tocantins e Goiás. A maioria das fazendas, ao ingressar no PMGRB, adotaram estação
de acasalamentos, cuja duração variava de 60 a 90 dias, envolvendo o período de
outubro a março, conforme a região e o nível de manejo do rebanho. A utilização de
técnicas de reprodução como inseminação artificial (IA), produção in vitro (PIV) e
transferência de embriões (TE), como também repasse de touros, após a primeira ou
segunda oportunidade de acasalamento têm sido práticas comuns nos rebanhos
analisados. O desmame dos bezerros tem ocorrido entre sete e oito meses de idade.
Os dados colhidos nas fazendas foram submetidos a uma rigorosa consistência
antes de serem incorporados à base geral de dados.
As fazendas participantes do programa possuía manejos diferenciados de acordo
com as atividades realizadas em cada uma, pois alguns criadores participam de
exposições e leilões de elite. Desta forma, os rebanhos podem ter sido manejado
exclusivamente em pastagens, em pastagens e suplementados e em pastagens e
confinados. As pastagens mais comuns incluem Brachiarias, Andropogon, Panicuns e
Cynodon. Alguns criadores adotara técnicas de adubação e irrigação de pastagens,
com pastejo rotacionado. O clima onde se localizam as fazendas varia entre o
equatorial, subtropical quente e úmido a tropical úmido.
54
3.2 - Análises Estatísticas
O arquivo de dados analisado continha de 35.180 observações, colhidas entre os
anos de 1998 a 2005, referentes aos animais cadastrados no PMGRB. As informações
contidas no arquivo de parentesco foram: animal, pai, mãe, sexo, raça, ano de
nascimento e nome do animal. O banco de dados foi dividido, a título de comparação
em dois períodos, os quais foram estabelecidos em termos de dois quadriênios
subseqüentes (1998 a 2001 e 2002 a 2005). A estimação dos parâmetros baseados na
probabilidade de origem do gene, o coeficiente de endogamia e parentesco foram
obtidos por meio da utilização do pacote PEDIG® (BOICHARD, 2002), o qual,
apresenta programas escritos em linguagem FORTRAN para o cálculo dos diferentes
parâmetros.
O número médio de gerações, o qual quantifica a contribuição dos principais
reprodutores, foi definido pela soma, entre todas as gerações, da proporção de
ancestrais identificados em cada geração.
O número efetivo de fundadores (N
fun
) representa o número de animais com igual
contribuição que produziria a mesma variabilidade genética encontrada na população
estudada; o número efetivo de ancestrais (N
anc
) representa o mínimo de animais
(fundadores ou não) necessários para se explicar a total diversidade genética da
população estudada; o número efetivo de genomas remanescentes (N
gen
) representa o
número de fundadores com igual contribuição que produziria a mesma diversidade
genética da encontrada na população estudada e o coeficiente de parentesco mede a
probabilidade de dois indivíduos terem genes idênticos por descendência determinada
pela presença de um ancestral comum entre eles.
O número efetivo de fundadores (Nfun) foi obtido como:
Nfun = 1/p
2
i
55
em que, p
i
é a proporção de alelos da população de referência, contribuída pelo i-ésimo
fundador (LACY, 1989). A determinação do número efetivo de ancestrais (Nanc) foi
obtida computando-se a contribuição marginal de cada ancestral como:
Nanc = 1/p
2
k
em que, p
k
é a contribuição marginal do k-ésimo ancestral na população (BOICHARD et
al., 1997). O número efetivo de genomas remanescentes (Ngen) foi computado como:
Ngen = 1/ (p
2
i
/ r
i
)
em que, r
i
é a proporção esperada de alelos do i-ésimo fundador que permaneceria na
população referência, e p
i
a proporção esperada de alelos do i-ésimo fundador que
contribuiria para a população referência (LACY, 1989).
O coeficiente de endogamia (F) foi analisado nos dois períodos considerados. No
presente caso, F designa o coeficiente médio de endogamia esperado se os
reprodutores de cada período fossem acasalados aleatoriamente.
56
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1 - Estrutura do pedigree
O arquivo de genealogia utilizado permitiu calcular o número médio de gerações
de machos e fêmeas, de acordo com o ano de nascimento, cujas informações
permitiram verificar o grau de complexidade do pedigree dos animais analisados. A
Tabela 1 apresenta o referido número por sexo e ano de nascimento dos animais.
TABELA 1: Número médio de gerações por ano de nascimento e sexo dos animais da
raça Brahman.
Nascimento Machos Fêmeas
1994 2,58 1,28
1995 1,76 1,12
1996 1,71 1,22
1997 1,49 1,45
1998 1,97 1,70
1999 1,86 1,32
2000 1,22 0,50
2001 2,68 1,70
2002 2,71 2,74
2003 2,94 2,89
2004 2,72 2,66
2005 3,44 3,35
O arquivo analisado contempla informações referentes ao número de gerações
desde 1994 até 2005, onde havia pelo menos um ancestral conhecido. O número
máximo encontrado no arquivo de dados foi de aproximadamente 3 gerações para
machos e fêmeas. No trabalho realizado por FARIA (2004) na raça Sindi, o autor
encontrou um número máximo de seis gerações para ambos os sexos; enquanto que
em raças zebuínas, FARIA, (2002) encontrou até 13 gerações. Assim, os valores
encontrados no presente trabalho, menores que os relatados por esse autor para a raça
Sindi e para outras raças zebuínas, podem ser atribuídos ao ingresso desta raça no
Brasil apenas na década de 90, não possibilitando ainda a existência de muitas
gerações com antecedentes conhecidos.
57
4.2 - Valores de endogamia
O coeficiente médio de endogamia da população, bem como a percentagem de
animais endogâmicos, foram estimados em dois períodos (1998 a 2001 e 2002 a 2005).
A Tabela 2 mostra que o coeficiente de endogamia médio estimado no período de 1998
a 2001 foi maior que o do período compreendido de 2002 a 2005. Tal decréscimo se
deve, provavelmente, ao aumento populacional da raça Brahman no Brasil e,
consequentemente ao incremento significativo de animais novos na população, além da
inclusão de animais, no programa, sem pedigree conhecido.
TABELA 2: Coeficiente médio de endogamia e percentagem de animais endogâmicos
da raça Brahman, nos dois períodos analisados.
1998-2001 2002-2005
F médio (%) 0,69 0,42
% de animais endogâmicos 13,24 10,71
Dos 35.180 animais presentes no arquivo de genealogia, 5.170 (14,69%)
apresentaram coeficiente de endogamia (F) diferentes de zero, sendo a estimativa do
F
médio
igual a 0,55%, com valores variando de zero ao máximo de 37,5%. VIEIRA (2004)
reportou em seu estudo que OLIVEIRA et al. (1999) estudando a raça Guzerá, em um
rebanho isolado, obteve valores de F
médio
de 1,08% e 1,36% nos machos e fêmeas,
respectivamente.
Resultado superior ao encontrado no presente estudo foi obtido por FARIA
(2002), estudando o arquivo nacional de animais registrados na raça Nelore, que
relatou um F
médio
de 5,55%, com valores variando de zero a 39,06%. O mesmo autor
estudando outras raças zebuínas encontrou valores de F
médio
de 7,14%, 12,17%, 6,06%
e 3,77%, respectivamente, para as raças Gir, Gir mocho, Tabapuã e Nelore, os quais
são também superiores aos encontrados no presente estudo para a raça Brahman.
Neste trabalho, também ocorreu a flutuação nos valores, referente ao número de
animais endogâmicos em relação aos não endogâmicos, diminuindo de um período
para outro, representando uma pequena queda da endogamia. Isto talvez poderia ser
um indicativo de que o número de animais aparentados entre os animais que compõem
58
a base de dados do PMGRB esteja diminuindo, embora essa diminuição também possa
ter ocorrido devido ao incremento de novos animais ao PMGRB.
Na Tabela 3, pode-se observar o número de indivíduos endogâmicos na raça
Brahman em relação à sua classe de endogamia (F).
TABELA 3: Distribuição da freqüência de animais da raça Brahman, de acordo com a
classe de endogamia (F).
Classe de endogamia (F %) Número de animais
0 – 5 4.335
5 – 10 285
10 – 15 177
15 – 20 8
20 – 25 353
25 – 30 1
30 – 35 11
Total 5.170
Embora tenha ocorrido alteração no número de animais endogâmicos em relação
aos não endogâmicos, a percentagem de animais com F maior que zero é
relativamente alta. Sendo que dos 35.180 animais analisados, 5.170 apresentam um
determinado grau de parentesco, indicando a existência de uma provável utilização em
larga escala de reprodutores aparentados com uma conseqüente diminuição da
variabilidade genética da população estudada.
59
4.3 – Parâmetros baseados na probabilidade de origem do gene
O resultado da análise de pedigree por meio dos parâmetros baseados na
probabilidade de origem do gene está disponibilizado na Tabela 4. Pode-se observar
que houve um aumento de aproximadamente 2,5 vezes no número de fundadores no
último período considerado, o que pode ser explicado pela expansão da raça no Brasil
em tal período. A representação de fundadores nos animais analisados, demonstrado
pelo N
fun
, indica diminuição do valor entre os períodos estudados, apesar de que o valor
referente ao último período é de alta magnitude. Esta diminuição pode ser
conseqüência da maior utilização de poucas famílias de reprodutores. A presença de
animais das raças Nelore, Guzerá e Brahman como fundadores, pode também explicar
os valores encontrados para o parâmetro N
fun
.
TABELA 4. Parâmetros baseados na probabilidade de origem do gene na raça
Brahman por período de anos.
1998-2001
2002-2005
Nº de fundadores 3164 7973
N
fun
718,3 183,3
N
anc
41,0 50,2
N
gen
33,2 40,9
Os valores encontrados para o número efetivo de ancestrais (N
anc
) indicam
intenso uso de poucos reprodutores nos dois períodos estudados (Tabela 4), com a
predominância de inseminação artificial, produção in vitro de embriões e transferência
de embriões, inexistência de subdivisão da população, onde 10 reprodutores
contribuíram com aproximadamente 30% dos genes em cada período de referência.
Para o número efetivo de genomas remanescentes (N
gen
) ocorreu um pequeno
crescimento entre os dois períodos, devido provavelmente ao aumento de alelos
fundadores no período compreendido entre 2002 a 2005, embora exista ainda uma
predominância na utilização de poucas famílias de reprodutores.
60
De modo similar ao observado em relação ao parâmetro N
anc
, o número de
genomas remanescentes foi maior no último período considerado, possivelmente em
razão da incorporação de animais no pedigree resultante da expansão da raça.
Os valores de diversidade na raça representados pelo N
anc
são menores que os
encontrados por PEREZ TORRECILLAS et al. (2002) nas raças italianas Chianina e
Maremmana e por BOICHARD et al. (1997) na raça Simental na França, a qual possui o
maior valor de N
anc
, relatado na literatura consultada. No caso da raça Simental, as
fazendas, em sua maioria, utilizavam monta natural.
No Brasil, FARIA (2002), em trabalho envolvendo raças zebuína, obteve valores
de N
anc
de 166, 211, 107, 34, 98, 9 e 78, respectivamente, para Guzerá, Gir, Nelore
Padrão, Nelore Mocho, Indubrasil, Sindi e Tabapuã. VOZZI (2004) reportou um N
anc
para a raça Nelore de 70, em relação ao ano de 2002. Dentre essas raças, a Sindi é a
que apresenta maior risco de perda de variabilidade genética, devido à existência de
poucos rebanhos, escasso número de fêmeas em reprodução e baixo nível de emprego
da inseminação artificial.
4.4 - Contribuição genética dos principais reprodutores
A Tabela 5 apresenta a contribuição genética dos principais ancestrais da raça
Brahman nos períodos estudados. Como pode ser observado, poucos reprodutores
apresentaram muita contribuição genética na população participante do programa de
melhoramento genético da raça. Nos últimos 4 anos, 10 reprodutores responderam por
quase 34% dos alelos presentes na população. O principal ancestral contribuiu com
mais de 10% dos genes em cada período considerado.
TABELA 5. Contribuição genética (%) dos principais ancestrais nos rebanhos da raça
Brahman considerados neste estudo, por períodos de anos.
1998-2001
2002-2005
Principais Ancestrais 14,53 11,33
5 primeiros 23,49 24,48
10 primeiros 28,78 33,80
50 primeiros 41,32 49,80
61
A elevada utilização de poucos ancestrais nos períodos analisados que
compreendem os últimos 8 anos, pode gerar uma redução da variabilidade genética
aditiva, perda de alelos fundadores por deriva genética e conseqüentemente um
aumento da probabilidade de acasalamentos consangüíneos na população estudada.
Os parâmetros analisados detectaram tendência de diminuição da variabilidade
genética. Outro fator observado é uma tendência à diminuição no número de
reprodutores entre gerações, perda progressiva de alelos fundadores e um possível
aumento das relações de parentesco entre os principais reprodutores e dentro da
população analisada da raça Brahman. Embora, a raça Brahman esteja em crescente
número populacional e aumento da quantidade de fêmeas em reprodução, o presente
trabalho indica a necessidade de constante monitoramento da diversidade genética,
para se evitar que no futuro o progresso genético para características de importância
econômica seja comprometido, devido à perda de alelos que possam ser importantes
nas futuras gerações.
Mas, como a raça encontra-se em expansão, se o material genético fundador
não for muito ruim, o melhoramento genético poderá ser bastante efetivo. Efeitos dos
fundadores seriam provavelmente mais problemáticos se a população estivesse
decrescendo.
62
5 – CONCLUSÕES
Os resultados do presente estudo com base em bovinos da raça Brahman no
Brasil permitiram concluir que:
A variabilidade genética, provavelmente, não se alterou com o aumento
populacional, assim;
necessidade de maior utilização de reprodutores, pertencentes a novas
famílias; e
Implementar acasalamentos dirigidos, com conseqüente monitoramento da
variabilidade genética nos bovinos participantes do Programa de Melhoramento
Genético da Raça Brahman.
63
6 - REFERÊNCIAS
ANCP - Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores. São Paulo, 2006.
Disponível em: <http://www.ancp.org.br> . Acesso em: 20 jan. 2006.
BOICHARD, D.; MAIGNEL, L.; VERRIER, E. The value of using probabilities of gene
origin to mensure genetics variability in a population. Genetic, Selection and
Evolution, v.29, p.5-23. 1997.
BOICHARD, D. Pedig: A Fortan package for pedigree analysis suited for large
populations. 2002. Disponível em: <http:
//dga.jouy.inra.fr/sgqa/diffusions/pedig/pedigE>. Acesso em: 11 de fev. 2003.
FARIA F. J. C. Estrutura genética das populações zebuínas brasileiras registradas.
2002. 177p. Tese (Doutorado em Ciência Animal) Universidade Federal de Minas
Gerais, Belo Horizonte.
FARIA, F.J.C.; VERCESI FILHO, A.E.; MADALENA, F.E.; JOSAHKIAN, L.A. Estrutura
Genética da Raça Sindi no Brasil. Revista Brasileira de Zootecnia, v.33, n.4, p.852-
857, 2004.
FARIA, F.J.C.; VERCESI FILHO, A.E.; MADALENA, F.E.; JOSAHKIAN, L.A. Pedigree
analysis in the brasilian zebu breeds. In: WORLD CONGRESS ON GENETICS
APPLIED TO LIVESTOCK PRODUCTION, 7., 2002, Montpellier, FR. Proceeding…
Montpellier: WCGALP, 2002. CD-ROM.
LACY, R. C. Analysis of founder representation in pedigree: founder equivalents and
founder genome equivalents. Zoo Biology. v.8, p. 111-123,1989.
MAIGNEL, L.; BOICHARD, D.; VERRIER, E. Genetic variability of French dairy breeds
estimaded from pedrigree information. Interbull Bull, v.14, p. 49-54. 1996.
64
OLIVEIRA, J.A.; BASTOS, J.F.P.; TONHATI, H. Endogamia em um rebanho da raça
Guzerá. Revista Brasileira de Zootecnia, v.28, n.4, p.721-728, 1999.
PEREZ TORRECILLAS, C.; BOZZI, R.; NEGRINI, R.; FILIPPINI, F.; GEORGETTI, A.
Genetic variability of tree Italian cattle breeds determined by parameters based on
probabilities of genes origin. Journal Animal Breeding Genetics, v.119, p. 274-279,
2002.
SÖLKNER, J.; FILIPCIC, L.; HAMPSHIRE, N. Genetic variability of populations and
similarity of subpopulations in Austrian cattle breeds determined by analysis of pedigree.
Animal Science. v.67, p. 249-256, 1998.
VIEIRA, H.C.M. Análise da Estrutura Genética de Rebanhos da Raça Guzerá de um
Programa de Melhoramento Genético. 2004, 57f. Dissertação (Mestrado em Genética
e Melhoramento Animal) - Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária, Universidade
Estadual Paulista, Jaboticabal.
VOZZI, P. A. Análise da estrutura e variabilidade genética dos rebanhos do
Programa de Melhoramento Genético da raça Nelore. 2004. 62f. Dissertação
(Mestrado em Ciências) - Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, Universidade de
São Paulo, Ribeirão Preto.
VOZZI, P. A.; MARCONDES, C. R.; BEZERRA, L. A. F.; LOBO, R. B. Estudo de
variabilidade genética na raça Nelore mediante análise de pedigree. In: REUNIÃO
ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 41., 2004, Campo Grande.
Anais...Campo Grande, SBZ: 2004. CD-ROM.
WEIGEL, K.A. Controlling inbreeding in modern breeding programs. Journal of Dairy
Science, v.84, E. Suppl., p.E177 – E184, 2001.
65
CAPITULO 3 – ESTUDO GENÉTICO QUANTITATIVO DE CARACTERISTICAS DE
CRESCIMENTO DE BOVINOS DA RAÇA BRAHMAN NO BRASIL
RESUMO
Os objetivos deste estudo foram estimar componentes de (co)variâncias,
herdabilidades para os pesos ao nascer (PN), aos 120 (P120), 210 (P210), 365 (P365),
455 (P4555) e 550 (P550) dias de idade, correlações genéticas e as eficiências relativas
de seleção indireta versus direta entre as características analisadas, para bovinos da
raça Brahman no Brasil. Foram analisados 39.783 registros contendo, 15.664, 7.432,
6.585, 4.223, 3.362 e 2.517 observações de PN, P120, P210, P365, P455 e P550,
respectivamente, sendo os animais participantes do Programa de Melhoramento
Genético da Raça Brahman (PMGRB), sob gestão da Associação Nacional de
Criadores e Pesquisadores (ANCP). Os componentes de variância e as herdabilidades
foram estimados pelo método de máxima verossimilhança restrita (REML), em modelos
unicaracter e bicaracteres. Como efeitos fixos foram considerados os grupos de
contemporâneos e idade da vaca ao parto como covariável (efeitos linear e quadrático),
aleatório o efeito do animal e do ambiente permanente da vaca (efeito aleatório não
correlacionado). Para as características PN, P120 e P210 considerou-se ainda o efeito
materno, também aleatório as estimativas das herdabilidades diretas para PN variaram
de 0,28 a 0,41, para P120 de 0,36 a 0,52, para P210 de 0,36 a 0,46, para P365 de 0,40
a 0,41, para P455 de 0,33 a 0,35 e para P550 de 0,28 a 0,36. As correlações genéticas
entre PN e os demais pesos variaram de 0,51 a 0,79, entre P120 e os pesos
subseqüentes de 0,78 a 0,93, entre P210 e os pesos subseqüentes, de 0,98 a 0,99,
entre P365 com P455 e P550, foram 0,99 e 0,98, respectivamente, e entre P455 e
P550, 0,98. Os resultados mostram que as caracteristicas estudadas podem ser usadas
como critério de seleção para a identificação dos animais mais produtivos. As
correlações genéticas estimadas indicam que, ao se selecionar os animais para
qualquer uma das características, automaticamente promoverá também uma resposta
para as outras. O peso aos 210 dias em têrmos de eficiência relativa de seleção indireta
66
versus a direta com os demais pesos pode ser adotado como critério de seleção da
raça Brahman no Brasil, embora ainda apresente influência do efeito materno.
Palavras-chave: Bovinos, Brahman, correlação genética, eficiência relativa de seleção
indireta versus a direta, herdabilidade, pesos
67
1 - INTRODUÇÃO
Para buscar a qualidade do rebanho, com o objetivo de sustentabilizar o sistema,
deve-se procurar selecionar como reprodutores aqueles animais que possuam maior
longevidade, alta eficiência reprodutiva, conversão eficiente dos alimentos em carne, e
pertencentes a tipos e padrões que irão transmitir aos seus descendentes uma
composição de carcaça desejável. A capacidade de um indivíduo possuir estas
características é devida a dois fatores: a herdabilidade e o meio ambiente no qual está
submetido. Nos sistemas de produção modernos, com o advento da informatização,
tornou-se muito fácil a utilização de informações de desempenho do animal na
determinação do seu potencial genético e sua habilidade em responder ao meio
ambiente. A avaliação dessas características é de grande importância, principalmente
na comparação e escolha de animais muitas vezes semelhantes, mas onde se busca
aquele que melhor irá responder a um programa reprodutivo eficiente.
Os recursos genéticos animais, portanto, constituem a fonte para a futura
produção de alimentos e para a estabilidade ambiental e sócio-econômica. O
crescimento da população humana e a urbanização continuarão exercendo pressões
significativas no desenvolvimento e utilização da pecuária. Conforme estas pressões
forem aumentando, haverá maior demanda por produtos de origem animal e recursos
genéticos que sustentam essa produção.
O aumento da competitividade no setor agropecuário é uma realidade na
pecuária de corte brasileira. A busca por animais economicamente produtivos tem
levado os criadores a investirem mais na aplicação de novas tecnologias. Além disso, a
globalização expôs o produto nacional à concorrência externa, enfatizando a
necessidade de se elevar a produtividade (COSTA, 2005).
Deste modo, faz-se necessário produzir carne de qualidade e sistemas de
produção que sejam capazes de se manter produzindo, de forma rentável, por diversas
gerações. Isso, entre outras coisas, requer o uso de animais adequados às condições
do ambiente de produção, pois só assim, o sistema de produção será capaz de suportar
o aumento da rentabilidade para atender o mercado consumidor (COSTA, 2005).
68
Definir biótipos animais é um processo muito complicado porque formas
orgânicas de vida são, naturalmente, muito complexas. Tentar simplificar esses
mecanismos acaba levando a generalizações muito perigosas, que podem ser
compreendidas erroneamente. Deve-se lembrar que o animal é um resultante de seu
patrimônio genético e do meio ambiente (sistema de produção) no qual ele está
inserido. Se o ambiente não for restritivo, ou seja, na ausência de estresse ambiental, é
possível dizer que animais maiores e mais pesados venham a ser mais produtivos
(desde que os fatores ambientais favoráveis estejam disponíveis de forma
economicamente viável).
Deste modo para o desenvolvimento de programa de melhoramento genético é
necessário o conhecimento de estimativas de parâmetros genéticos das características
de interesse. Em gado de corte, as estimativas de herdabilidade para características
produtivas como peso ao nascer e os pesos padronizados aos 120, 210, 365, 455 e 550
dias de idade variam, segundo a literatura consultada, de 0,16±0,05, para o peso aos
205 dias, a 0,76± 0,24, para o peso aos 550 dias, ambas estimadas por RIBEIRO et al.,
(2002) na raça Nelore, sendo que as correlações genéticas entre os pesos variam de
0,28 (PÁDUA e SILVA, 1994) a 0,91 (SOUZA RAMOS, 1995).
69
2 - OBJETIVOS
Os objetivos deste trabalho foram estimar os componentes de (co)variâncias,
herdabilidades para pesos ao nascer, aos 120, 210, 365, 455 e 550 dias de idade,
correlações genéticas e eficiências relativas de seleção indireta versus direta entre
essas características de crescimento em bovinos da raça Brahman no Brasil, visando
estabelecer critérios de seleção para os mesmos.
70
3 - MATERIAL E MÉTODOS
3.1- Origem dos dados
O arquivo de dados analisado consistiu de 39.783 registros de pesos em várias
fases do crescimento, destes 15.664 de peso ao nascer, 7.432 de P120, 6.585 de P210,
4.223 de P365, 3.362 de P455 e 2.517 de P550, sendo todos os animais participantes
do Programa de Melhoramento Genético da Raça Brahman (PMGRB), sob gestão da
Associação Nacional de Criadores e Pesquisadores (ANCP) com sede em Ribeirão
Preto, SP.
O conjunto de dados inclui 43 rebanhos localizados nos estados de São Paulo
(SP), Minas Gerais (MG), Mato Grosso (MT), Mato Grosso do Sul (MS), Tocantins (TO)
e Goiás (GO). A maioria das fazendas, ao ingressarem no PMGRB, adotou estação de
acasalamentos, com duração de 60 a 90 dias, dentro do período de outubro a março,
conforme a região e o nível de manejo do rebanho. Técnicas de reprodução como
inseminação artificial (IA), produção in vitro (PIV) e transferência de embriões (TE),
como também repasse de touros, após a primeira ou segunda oportunidade foram
utilizados com freqüência. O desmame dos bezerros ocorrem em idades próximas aos
sete e oito meses de idade.
As informações colhidas nas fazendas foram enviadas ao setor técnico da ANCP,
onde após passarem por rigorosa consistência, foram incorporadas à base geral de
dados. Os registros individuais incluíam como variáveis rebanho, sexo, data de
nascimento animal, data de nascimento e idade da mãe, pesagens com os respectivos
pesos. Antes de serem analisados, os pesos observados de cada indivíduo foram
padronizados às idades de 120, 210, 365, 455 e 550 dias.
As fazendas participantes do programa possuía manejos diferenciados de acordo
com as atividades realizadas em cada uma, pois alguns criadores participam de
exposições e leilões de elite. Desta forma, os rebanhos podem ter sido manejado
exclusivamente em pastagens, em pastagens e suplementados e em pastagens e
confinados. As pastagens mais comuns incluem Brachiarias, Andropogon, Panicuns e
Cynodon. Alguns criadores adotara técnicas de adubação e irrigação de pastagens,
71
com pastejo rotacionado. O clima onde se localizam as fazendas varia entre o
equatorial, subtropical quente e úmido a tropical úmido.
3.2 - Características estudadas
As características estudadas foram os pesos ao nascer, aos 120, 210, 365, 455 e
550 dias de idade. A Tabela 1 inclui números de observações, médias, valores mínimos
e máximos, desvios-padrão e coeficientes de variação das referidas características.
TABELA 1 Número de observações médias, valores mínimos e máximos, desvio
padrão e coeficiente de variação das características analisadas em
animais da raça Brahman.
Características Número de
Observações
Média Mínimo Máximo Desvio
Padrão
Coeficiente de
Variação (%)
PN (kg) 15.664 33,10 15 60 4,17 12,60
P120 (kg) 7.432 131,01 55 258 21,25 16,22
P210 (kg) 6.585 192,08 75 339 34,34 17,88
P365 (kg) 4.223 255,97 110 561 61,10 23,87
P455 (kg) 3.362 295,88 80 684 72,04 24,35
P550 (kg) 2.517 338,25 115 747 77,85 23,02
PN = peso ao nascer, P120 = pesos aos 120 dias de idade, P210 = pesos aos 210 dias de idade,
P365 = pesos aos 365 dias de idade, P455 = pesos aos 455 dias de idade e P550 = pesos aos 550 dias
de idade.
As padronizações dos pesos nas idades estudadas foram baseadas em uma
pesagem anterior e uma posterior à idade padrão referência. No entanto, como nos
animais, as pesagens foram realizadas a cada três meses, no caso de perda de
informação, o intervalo máximo considerado entre pesagem posterior e a anterior para a
padronização foi de 195 dias.
Os animais objeto do presente estudo nasceram entre os anos de 2000 a 2005.
As pesagens foram feitas a cada 90 dias (janeiro, abril, julho e outubro) e ao desmame
de cada lote.
72
3.3 - Formação dos grupos de contemporâneos
É de grande importância a formação de grupos contemporâneos para estimativas
de parâmetros genéticos, uma vez que, formam as bases dentro das quais as
comparações de desempenho dos animais são realizadas. São utilizados nos modelos
de análises para que se torne possível eliminar os efeitos ambientais e comparar os
animais pelos valores genéticos. É desejável que cada grupo contemporâneo tenha um
número razoável de indivíduos, que entre os grupos de contemporâneos hajam animais
aparentados (conectabilidade), isto é, os pais de determinados indivíduos em um grupo
também sejam pais de outros indivíduos em um outro grupo, e caracterizem um bom
controle ambiental, ou seja, possam diminuir a heterogeneidade entre eles. A acurácia
da predição do valor genético dos animais dentro de um grupo depende da eficiência
dos critérios usados para a definição do grupo contemporâneo. No que se refere a
grupos de contemporâneos, o importante é que, além da conectabilidade haja
“competição”, ou seja, filhos de diversos reprodutores competindo. Por exemplo, um
grupo de contemporâneos com praticamente todos os indivíduos filhos de um mesmo
touro, contribui muito pouco para sua acurácia, que a acurácia é a quantidade aliada
à qualidade das informações. Quanto maior for o número de indivíduos por grupo
contemporâneos, maior deverá ser a acurácia das estimativas genéticas, desde que, as
condições de ambiente apresentem menor heterogeneidade possível e os grupos
estejam geneticamente bem conectados (SIQUEIRA, 2000).
Os grupos contemporâneos para as características estudadas neste trabalho,
foram constituídos de animais do mesmo sexo, nascidos na mesma fazenda, no mesmo
trimestre, no mesmo regime alimentar e no mesmo ano.
3.4 - Análises estatísticas
Os dados foram previamente analisados para se estudar os fatores não-
genéticos que estavam influenciando as características em questão, e identificar
aqueles com efeitos significativos. As análises foram conduzidas pelo método dos
quadrados mínimos, usando-se o procedimento GLM (General Linear Models) do
73
pacote estatístico SAS (2000). Objetivou-se a partir desta análise inicial, definir os
efeitos fixos, como grupos de contemporâneos e covariáveis, a serem incluídas nos
modelos para as análises genéticas. Grupos contemporâneos com número de
observações menores que 3 ou filhos de um único pai foram eliminados, além dos que
tinham pais desconhecidos. O efeito de grupo de contemporâneos foi significativo para
todas as características, enquanto que o efeito da idade da vaca, como covariável
(linear e quadrática) foi significativo para PN, P120 e P210. Apesar disto, este efeito foi
mantido no modelo de análise para todos os pesos.
Os componentes de variância e covariância necessários à estimação dos
parâmetros genéticos das características estudadas foram, estimados pelo método da
máxima verossimilhança restrita, que utiliza algoritmo livre de derivadas, disponível no
pacote MTDFREML (BOLDMAN et al., 1995). O critério de convergência admitido foi de
1x10
-9
. Como efeitos fixos foram considerados os grupos de contemporâneos (sexo,
fazenda, trimestre, regime alimentar e ano), idade da vaca ao parto como covariável
(efeito linear e quadrático) e como efeito aleatório o efeito do animal. Para todas as
características foi considerado o ambiente permanente da vaca como efeito aleatório
não correlacionado. Para peso ao nascer, aos 120 e 210 dias de idade foi incluído no
modelo o efeito materno.
Em termos matriciais, o modelo geral utilizado pode ser descrito como:
y = X
+ Z
1
a + Z
2
m + Z
3
p +
,
em que:
y = vetor das observações da característica;
X = matriz de incidência dos efeitos fixos;
= vetor dos efeitos fixos;
Z
1
= matriz de incidência do efeito genético direto;
a = vetor de efeitos genéticos diretos aleatórios;
Z
2
= matriz de incidência do efeito genético materno;
m = vetor de efeitos genéticos maternos aleatórios;
74
Z
3
= matriz de incidência do efeito de ambiente permanente;
p = vetor de efeitos aleatórios de ambiente permanente; e
= vetor de efeitos residuais aleatórios.
As pressuposições acerca das distribuições de y, a, m, p e
podem ser
descritas como:
onde:
V = Z
1
G
1
+ Z
2
MZ
2
’+ 2Z
1
CZ
2
’+ Z
3
PZ
3
’+R;
G = A
a
2
em análise unicaráter e A G
0
em análise bicaráter;
C =A
am
em análise unicaráter e A C
0
em análise bicaráter;
M = A
m
2
em análise unicaráter e A M
0
em análise bicaráter;
P = Im
c
2
em análise unicaráter e Im P
0
em análise bicaráter;
R = In
e
2
em análise unicaráter e In R
0
em análise bicaráter ;
m = número total de mães;
n = número total de observações; e
NMV = multivariada normal.
Nestas designações,
a
2
é a variância genética aditiva direta;
am
, a covariância
genética entre os efeitos direto e materno;
m
2
, a variância genética materna;
c
2
, a
variância de ambiente materno permanente;
e
2
, a variância do erro. G
0
, M
0
, P
0
e R
0
são matrizes de (co)variâncias genética direta, genética materna, de ambiente
permanente e residual, respectivamente. C
0
é uma matriz de covariâncias dos efeitos
genéticos direto e materno. Assume-se que P ou P
0
e R ou R
0
não são correlacionados
;
p
m
a
y
NMV
0
0
0
0
X
RR
PPZ
MCMZCZ
CGCZGZ
PPZMZCZCZGZV
000
000'
00''
00''
3
21
2
32121
1
75
com os demais efeitos. A é a matriz de relações aditivas entre os animais. I é uma
matriz identidade e é o produto direto entre as matrizes.
3.5 - Estimativas de herdabilidade, correlações genéticas e eficiência relativa de
seleção indireta versus direta.
Os coeficientes de herdabilidade (h
2
) das características analisadas foram
estimados por meio da fórmula:
2
e
2
a
2
a
2
ˆˆ
ˆ
h
onde:
2
a
ˆ
= estimativa da variância genética aditiva, e
2
e
ˆ
= estimativa da variância de
ambiente ( a qual inclui também outros efeitos genéticos não aditivos) se existentes.
Após a obtenção das estimativas de herdabilidades pelas análises bi-caráter,
foram calculadas as médias de todos os valores estimados entre as características
analisadas. Foi estimado também o intervalo entre o menor e a maior estimativa obtida
para cada característica.
As correlações genéticas (r
aiaj
) entre as características foram estimadas por:
ajai
aiaj
aiaj
ˆˆ
ˆ
r
onde:
aiaj
ˆ
76
e 2 correlacionadas geneticamente, a eficiência relativa da seleção indireta contra a
seleção direta (G), em termos de ganho genético, pode ser obtida do quociente:
2paraseleçãosob2emgenéticoGanho
1paraseleçãosob2emgenéticoGanho
G
que é estimado pela correlação genética entre as mesmas, multiplicada pela raiz
quadrada da razão entre as herdabilidades das características 1 e 2, ou seja:
2
2
2
1
)2,1(
h
h
rG
G
onde: se (
2
2
2
1
)2,1(
h
h
r
G
) > 1, a seleção indireta é mais eficiente. Se for < 1, sugere o
quanto se estaria deixando de ganhar caso a seleção fosse direta.
77
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
As estimativas dos componentes de variância genética aditiva (
ˆ
a
), residual
(
2
e
ˆ
) e fenotípica (
2
ˆ
p
), estimados, neste estudo, para os pesos ao nascer, aos 120
dias de idade (P120), aos 210 dias de idade (P210), aos 365 dias de idade (P365), aos
455 dias de idade (P455) e aos 550 dias de idade (P550) para os bovinos estudados da
raça Brahman estão sumariados na Tabela 2.
TABELA 2 - Estimativas de componentes de variância pelas análises unicaracter para
PN, P120, P210, P365, P455 e P550 de animais da raça Brahman.
Características
2
a
ˆ
2
ˆ
p
2
e
ˆ
PN
3,76 10,95 7,95
P120
113,28 321,28 178,97
P210
399,20 830,10 388,34
P365
534,81 1442,97 907,64
P455
567,96 1903,69 1336,00
P550
564,75 1911,13 1346,30
2
a
ˆ
= variância genética aditiva,
2
ˆ
p
= variância fenotípica,
2
e
ˆ
= variância residual, PN = peso ao
nascer, P120 = pesos aos 120 dias de idade, P210 = pesos aos 210 dias de idade, P365 = pesos aos
365 dias de idade, P455 = pesos aos 455 dias de idade e P550 = pesos aos 550 dias de idade
As estimativas de variâncias pelas análises bicaracteres para as características
produtivas estudadas, são apresentadas na Tabela 3. As estimativas de variância
genética aditiva, variância fenotípica e variância residual obtidas nas análises
unicaracter e nas bicaracteres, estão sumariadas nas Tabelas 2 e 3, respectivamente.
78
TABELA 3 - Estimativas de componentes de variância obtidas por análises bicaracteres
para PN, P120, P210, P365, P455 e P550 de animais da raça Brahman.
Características Intervalo
de Valores
2
a
ˆ
2
a
ˆ
média
Intervalo
de Valores
2
ˆ
p
2
ˆ
p
média
Intervalo
de Valores
2
e
ˆ
2
e
ˆ
média
PN
3,71 a 4,25
3,87
10,94 a 11,10
10,99
6,72 a 7,08
6,96
P120
116,18 a 189,11
163,78
333,07 a 375,96
363,72
166,20 a 223,44
186,44
P210
285,33 a 380,59
332,96
792,07 a 833,13
812,60
391,61 a 447,37
419,49
P365
608,11 a 611,68
609,98
1.468,45 a 1.546,25
1.507,35
858,37 a 934,56
896,46
P455
670,56 a 676,64
673,60
1.938,00 a 2.021,63
1.979,81
1.261,18 a 1.351,07
1.306,12
P550
528,76 a 735,65
632,20
1.916,76 a 2.041,59
1.979,17
1.305,94 a 1.384,78
1.345,36
2
a
ˆ
= variância genética aditiva,
2
ˆ
p
= variância fenotípica,
2
e
ˆ
= variância residual, PN = peso ao
nascer, P120 = pesos aos 120 dias de idade, P210 = pesos aos 210 dias de idade, P365 = pesos aos
365 dias de idade, P455 = pesos aos 455 dias de idade e P550 = pesos aos 550 dias de idade
As estimativas de herdabilidade para as características analisadas, obtidas por
meio de análises unicaracter, são apresentadas na Tabela 4.
Para a raça Brahman, vale ressaltar que são escassas na literatura consultada,
informações referentes à estimativas de herdabilidade para as mais diversas
características, sobretudo no Brasil onde a raça foi introduzida recentemente.
TABELA 4 - Estimativas de herdabilidade direta (
a
) e materna (
m
) para PN, P120,
P210, P365, P455 e P550 de animais da raça Brahman obtidas por
análises unicaracter.
Características
a
m
PN
0,34 ± 0,029 0,01± 0,009
P120
0,35 ± 0,064 0,00 ± 0,065
P210
0,49 ± 0,075
0,05 ± 0,029
P365
0,39± 0,078
P455
0,32 ± 0,078
P550
0,31 ± 0,095
a
= herdabilidade,
m
= herdabilidade materna, PN = peso ao nascer, P120 = pesos aos 120 dias de
idade, P210 = pesos aos 210 dias de idade, P365 = pesos aos 365 dias de idade, P455 = pesos aos 455
dias de idade e P550 = pesos aos 550 dias de idade
As estimativas de herdabilidade para as características produtivas (pesos)
estudadas na raça Brahman (Tabela 4) apresentam seus valores dentro dos limites
revisados na Tabela 1, os quais variaram de 0,13 a 0,76. Na Tabela 5 são apresentadas
as estimativas de herdabilidade direta obtidas por análises bicaracteres.
79
TABELA 5 - Estimativas de herdabilidade direta (
a
) para PN, P120, P210, P365, P455
e P550 de animais da raça Brahman obtidas nas análises bicaracter.
Características PN P120 P210 P365 P455 P550
a
média
PN 0,38 0,41 0,46 0,41 0,35 0,28 0,38
P120 0,41 0,31 0,36 0,51 0,51 0,52 0,43
P210 0,46 0,36 0,36 * * * 0,41
P365 0,41 0,40 * * * * 0,40
P455 0,35 0,33 * * * * 0,34
P550 0,28 0,36 * * * * 0,32
*Critérios de convergência atendido, porém valores super estimados
PN = peso ao nascer, P120 = pesos aos 120 dias de idade, P210 = pesos aos 210 dias de idade,
P365 = pesos aos 365 dias de idade, P455 = pesos aos 455 dias de idade e P550 = pesos aos
550 dias de idade
As estimativas de herdabilidades obtidas pelas análises unicaracter apresentam
magnitude aparentemente diferente das obtidas pelas bicaracteres, o que pode ser
atribuído ao maior número de animais contemplados na matriz de parentesco e pelas
covariâncias consideradas entre todas as características avaliadas, na análise
bicaracter, além desta levar em conta o efeito da seleção. Por esta razão, coube aqui
discutir somente os resultados das análises bicaracteres, sendo que, os das análises
unicaracter foram apresentados em função destas permitirem, devido à estrutura dos
dados, estimar os erros padrão das estimativas, que foram de pequena magnitude, que
é um indicador da precisão das mesmas.
A estimativa média de h²
a
observada de 0,38 para o peso ao nascer dos bezerros
estudados neste trabalho, é inferior às relatadas por LOPES et al. (2005), de 0,56± 0,04
e MACHADO et al. (1999), de 0,48; para a raça Nelore. Entretanto, é superior aos
valores observados na mesma raça, por REZENDE et al. (2005) de 0,29 e MILAGRES
et al. (1993); NÁJERA AYALA et al. (1991); EUCLIDES FILHO et al. (1991), que
estimaram valores variando de 0,19 a 0,36. Por outro lado, a referida estimativa de
herdabilidade (0,38) é semelhante à de 0,37 obtida por PARRA-BRACAMONTE et al.
(2006), para a raça Brahman.
A estimativa média de h²
a
de 0,43 obtida neste trabalho para o peso aos 120 dias
de idade em animais da raça Brahman é superior aos valores encontrados por
MARCONDES et al. (2002); REZENDE et al. (2005); GARNERO et al. (2001), de 0,24,
0,26 e 0,33, respectivamente, para a raça Nelore.
80
A estimativa média de 0,41 para peso aos 210 dias de idade em animais da raça
Brahman é menor que a relatada (0,64±0,05) por LOPES et al. (2005) e por MACHADO
et al. (1999) de 0,62, para peso aos 205 dias de idade (desmama) na raça Nelore. Por
outro lado, é semelhante às relatadas na literatura para a raça Nelore, que variaram de
0,13 a 0,47, com maioria de valores estando entre 0,15 e 0,25.
A estimativa média de h²
a
de 0,40 para peso aos 365 dias de idade para animais
da raça Brahman é semelhante à relatada por RIBEIRO et al. (2001) de 0,40±0,15,
porém é superior às mencionadas na raça Nelore por MARCONDES et al. (2002) de
0,27; REZENDE et al. (2005), de 0,34; EUCLIDES FILHO et al. (1991), de 0,35. No
entanto é inferior que à encontrada por MASCIOLI et al. (1996) na raça Canchim (0,53).
A estimativa média de
a
de 0,34 para peso aos 455 dias de idade observada
neste estudo para animais da raça Brahman (Tabela 5) é semelhante ao valor
encontrado por MARCONDES et al. (2002) de 0,34 para animais da raça Nelore.
A estimativa média de
a
de 0,32 para peso aos 550 dias de idade, é
semelhante à estimativa encontrada por GARNERO et al. (2001) de 0,34; mas é inferior
quando comparada às estimativas de 0,76±0,24; 0,73; 0,43, obtidas respectivamente
por RIBEIRO et al. (2001), MACHADO et al. (1999), MARCONDES et al. (2002), na
raça Nelore e a de 0,46±0,16, na raça Guzerá, estimada por PIMENTA FILHO et al.
(2001). Porém, é superior a encontrada por PÁDUA e SILVA (1994) na raça Nelore
(0,13).
As estimativas de correlações genéticas obtidas neste estudo para os diferentes
pesos estudados na raça Brahman são apresentadas na Tabela 6.
81
TABELA 6 Estimativas das correlações genéticas entre PN, P120, P210, P365, P455
e P550 de animais da raça Brahman, obtidas por análises bicaracteres.
Características P120 P210 P365 P455 P550
PN 0,79 0,62 0,60 0,54 0,51
P120 0,93 0,78 0,78 0,82
P210 0,98* 0,99* 0,99*
P365 0,99* 0,98*
P455 0,98*
*Correlação de Pearson estimada entre os valores genéticos obtidos pelas análises unicaracter dos
animais para as características em questão.
PN = peso ao nascer, P120 = pesos aos 120 dias de idade, P210 = pesos aos 210 dias de idade,
P365 = pesos aos 365 dias de idade, P455 = pesos aos 455 dias de idade e P550 = pesos aos 550
dias de idade
Como pode ser observado na Tabela 6, com o aumento da diferença entre PN e
as demais idades houve uma diminuição nas correlações genéticas entre as
características. A estimativa da correlação genética entre peso ao nascer e peso aos
120 (0,79) concorda com a de MASCIOLI et al. (2000), que obteve para a raça Canchim
a estimativa de 0,73±0,07. Quanto à estimativa de 0,62, obtida entre peso ao nascer e
peso ao desmame (P210), esta é superior às relatadas por NÁJERA AYALA et al.
(1991), de 0,28, e por PÁDUA e SILVA (1994), de 0,34, na raça Nelore, mas é menor
do que o valor estimado por SOUZA RAMOS (1995), de 0,91, na raça Nelore.
Como a estimativa da correlação genética foi positiva entre os pesos ao nascer e
à desmama, há uma indicação de que a seleção baseada nos animais mais pesados ao
nascer, deve constituir em uma técnica eficiente para a obtenção de animais mais
pesados aos 210 dias de idade, embora não seja recomendada pela possibilidade de
aumentar a incidência de problemas de parto. Observa-se também na Tabela 6 que os
valores das correlações genéticas para os pesos ao nascer e os pesos aos 365, 455 e
550 dias de idade foram de 0,60, 0,54 e 0,51, respectivamente, sugerindo que a
seleção com base nestes pesos poderão levar o aumentos, do peso ao nascer,
implicando, provavelmente, no surgimento de partos distócicos nas matrizes.
No caso da raça Brahman, no Brasil, vale ressaltar que alguns fatores podem
estar influenciando o peso ao nascer dos animais, pertencentes à população analisada,
82
devido à existência de animais provenientes de transferência e produção in vitro de
embriões (HORTA et al. 1993).
Considerando-se a estimativa da correlação entre valores genéticos entre o peso
aos 210 dias e o peso aos 365 dias de idade de 0,98 (Tabela 6), constata-se que ao
selecionar animais para peso aos 210 dias, a resposta correlacionada em P365 deve
ser favorável e no mesmo sentido. Esta estimativa é superior às mencionadas na
literatura consultada para a raça Nelore, cujos valores variam de 0,43 a 0,81. As
estimativas das correlações genéticas entre o peso aos 210 dias e os pesos aos 455
dias de idade e aos 550 dias de idade foram de altas magnitudes (0,99). Este resultado
sugere que ao selecionar para peso aos 210 dias de idade, também haverá resposta
favorável para os pesos aos 455 e 550 dias de idade. A estimativa observada entre
P210 e P550 é superior à obtida por PÁDUA e SILVA (1994), de 0,33, e por FERREIRA
(1985), de 0,86.
As estimativas das correlações genéticas entre o peso aos 365 dias de idade e
os pesos aos 455 e 550 dias de idade foram de 0,99 e 0,98 (Tabela 6),
respectivamente. Isso significa que a probabilidade de resposta correlacionada
favorável para os pesos aos 455 e 550 dias de idade é alta, se a seleção for feita com
base nos animais mais pesados aos 365 dias de idade. As estimativas das correlações
genéticas entre os pesos aos 365 dias de idade e aos 455, 550 dias de idade obtidas
neste trabalho são superiores às encontradas por PÁDUA e SILVA (1994), de 0,58, e
por FERREIRA (1985), de 0,61.
O peso à desmama apresentou herdabilidade média de valor igual a 0,41 e altas
correlações genéticas com pesos futuros (Tabela 6). No entanto, sendo uma
característica indicativa da habilidade materna da vaca, principalmente com relação à
produção de leite, não deve ser usada como critério de seleção único para
reprodutores. No entanto, MASCIOLI et al. (1996) sugeriram que o peso a desmama
pode ser usado como primeiro critério de descarte. NÁJERA AYALA et al. (1991)
indicaram um possível efeito materno implícito no peso aos 210 dias de idade,
provocando, dessa forma, uma confusão na avaliação dos bezerros.
O peso aos 365 dias de idade apresentou herdabilidade de 0,40 e correlações
genéticas positivas e altas com os demais pesos. Portanto, este peso sob seleção
83
poderá resultar em mudanças para o aumento no P455 e P550, indicando que o P365
pode se constituir em um eficaz critério de seleção.
O peso aos 455 dias de idade apresentou uma estimativa herdabilidade de 0,34,
correlações genéticas altas e positivas com os demais pesos. Assim, esse peso
também pode constituir em um eficaz critério de seleção para a obtenção de animais
mais produtivos.
O peso aos 550 dias de idade apresentou estimativa de herdabilidade de 0,32 e
correlação genética alta e positiva com os outros pesos, portanto sob seleção, deverá
provocar mudanças em P210 e P365, além do fato de poder alterar de forma não
desejável o peso ao nascer dos animais. Apresenta a vantagem de possuir pequeno
efeito materno, uma vez que, o animal já foi desmamado cerca de um ano, podendo
ser considerado, por isso, um bom critério de seleção.
Pelo que foi discutido, os pesos aos 365, 455 e 550 dias de idade constituem-se
nos melhores critérios de seleção para aumentar o peso na raça Brahman. Além do
mais, o pesos aos 455 e 550 dias de idade representam o equilíbrio entre a capacidade
de crescimento precoce e adaptabilidade dos animais, pois, até essas idades os
animais passaram por uma estação seca e uma estação chuvosa, em que ocorreu
carência de alimentos e excesso de pastagens, respectivamente.
O melhor critério de seleção proposto neste trabalho difere dos apresentados por
NÁJERA AYALA et al. (1991) e PÁDUA e SILVA (1994), que sugeriram ser o peso a
desmama e o peso a um ano de idade (P365), respectivamente. Porém, o critério aqui
apresentado como sendo o mais eficaz é concordante com os relatados por MASCIOLI
et al. (1996) e EUCLIDES FILHO et al. (1991).
Na Tabela 7 são apresentadas as eficiências de seleção indireta
comparativamente à seleção direta das características estudadas, segundo o critério de
TURNER e YOUNG (1969).
84
TABELA 7: Estimativas das eficiências relativas de seleção indireta comparativamente à
seleção direta para as características PN, P120, P210, P365, P455 e P550
de animais da raça Brahman.
Características correlacionadas Eficiência relativa de seleção (G)
PN (1) x P120 (2) 0,71
PN (1) x P210 (2) 0,59
PN (1) x P365 (2) 0,58
PN (1) x P455 (2) 0,57
PN (1) x P550 (2) 0,55
P120 (1) x P210 (2) 0,98
P120 (1) x P365 (2) 0,83
P120 (1) x P455 (2) 0,90
P120 (1) x P550 (2) 0,98
P210 (1) x P365 (2) 0,99
P210 (1) x P455 (2) 1,08
P210 (1) x P550 (2) 1,12
P365 (1) x P455 (2) 1,07
P365 (1) x P550 (2) 1,09
P455 (1) x P550 (2) 1,01
PN = peso ao nascer, P120 = pesos aos 120 dias de idade, P210 = pesos aos 210 dias de idade,
P365 = pesos aos 365 dias de idade, P455 = pesos aos 455 dias de idade e P550 = pesos aos
550 dias de idade.
Diante destes valores pode-se constatar que a seleção direta para peso, ao
nascer, é menos eficiente do que a seleção direta para os pesos aos 120, 365, 455 e
550 dias de idade. Na comparação entre a seleção indireta aos 120 dias de idade e a
direta nas idades posteriores, observa-se que a primeira também é menos eficiente.
Quando o objetivo for seleção com base nos pesos aos 455 e 550 dias de idade,
verifica-se que a seleção indireta aos 210 dias é para esses pesos mais eficiente que a
seleção direta para os mesmos. Para os pesos aos 455 e 550 dias de idade, verifica-se
que a seleção direta para o peso aos 455 dias de idade é mais eficiente para o
melhoramento do peso aos 550 dias, do que melhora-lo diretamente. Em virtude do
exposto, recomenda-se para a raça Brahman, por razões econômicas de tempo e
85
espaço, realizar a seleção com base no peso aos 210 dias de idade. Assim, a seleção
baseada neste peso deve melhorar o desenvolvimento posterior dos animais e, ao
mesmo tempo implicar num aumento dos pesos aos 455 e 550 dias de idade em função
da alta correlação genética entre os referidos pesos, além de pouco interferir no peso
ao nascer. No entanto, o peso aos 210 dias de idade (desmama) como critério de
seleção deve ser utilizado com cautela devido ao efeito residual do efeito materno que
pode ter bastante influência no peso dos animais, podendo vir a causar algum tipo de
confundimento. Uma alternativa seria a utilização como critério de seleção o peso aos
365 dias de idade, tal como pode sugere as estimativas das eficiências relativas (Tabela
7).
86
5 – CONCLUSÕES
Os resultados obtidos neste estudo em bovinos da raça Brahman no Brasil
permitiram concluir que:
As características de crescimento analisadas apresentaram suficientes
variabilidades genéticas aditivas para que a resposta à seleção com base no
fenótipo seja positiva, sendo que;
Ao selecionar qualquer uma dessas características, automaticamente, tal como
sugerem as estimativas das correlações genéticas, deverá haver resposta
correlacionada, favorável, nas demais;
O peso aos 210 dias de idade, como indicaram as eficiências relativas à seleção,
poderia ser utilizado como critério de seleção, para melhorar as características
de crescimento, embora tenha como restrição o fato de apresentar ainda
influência materna.
87
6 - REFERÊNCIAS
BOLDMAN, K.G.; KREISE, L.A.; VAN VLECK, L.D. et al. A manual of MTDFREML. A
set of programs to obtain estimates of variances and covariances [DRAFT]. Lincoln:
Agricultural Research Service, 1995. 120p.
COSTA, G.Z. Estudo de escores visuais e de ganhos médios diários de peso de
animais formadores da raça Brangus. 2005. Dissertação (Mestrado em
Melhoramento Genético Animal) Faculdade de Ciências Agrárias e Veterinária,
Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal.
EUCLIDES FILHO, K.; NOBRE, P.R.C.; ROSA, A. do N. Idade da vaca e suas inter-
relações com a fazenda, reprodutores e sexo do bezerro. Revista da Sociedade
Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.20, n.1, p.40-46, 1991.
FERREIRA, P.R.C. Estudo de pesos a diferentes idades e características
reprodutivas de um rebanho de animais Chianina, Nelore e seus mestiços em
Goiás. 1985, 148f. Dissertação (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal de
Viçosa.
GARNERO, A. del V.; LÔBO, R.B.; BEZERRA, L.A.F.; OLIVEIRA, H.N., Comparação
entre alguns critérios de seleção para crescimento na raça Nelore. Revista Brasileira
de Zootecnia, v.30, n.3, p.714-718, 2001.
HORTA, A.E.M.; MARQUES, C.C.; VASQUES, M.I.; LEITÃO, R.M.; PORTUGAL, A.V.
Indução de gestações gemelares em vacas de por transferência de embriões
produzidos in vitro.In: Simpósio Internacional de Reprodução Animal SPRA, 5., 1993,
Proceedings..., 1993, Vol.II, 163-172.
88
LOPES, J.S.; SOUZA, P.R.S.; RORATO, P.R.N.; WEBWE, T.; BOLIGON, A.A.;
DORNELES, C.K.P. Efeitos ambientais e genéticos sobre ao nascer e peso ajustado
para 205 dias de bovinos Nelore na Região Sul do Brasil. In: Reunião Anual da SBZ,
42., 2005, Goiânia – Goiás, Anais... Goiânia – Goiás, 2005. CD-ROM.
MACHADO, P.F.A.; AQUINO, L.H.; GONÇALVES, T.M., Estimativas de parâmetros
genéticos e critérios de seleção em características ponderais de bovinos Nelore.
Ciência e Agrotécnica, v.23, n.1, p.197-204, 1999.
MARCONDES, C.R.; GAVIO, D.; BITTENCOURT, T.C.C.; ROCHA, J.C.M.C.; LOBO,
R.B.; BEZERRA, L.A.F.; TONHATI, H. Estudo de modelo alternativo para estimação de
componentes de (co) variância e predição de valores genéticos de características de
crescimento em bovinos da raça Nelore. Arquivo Brasileiro de Medicina Veterinária e
Zootecnia , Belo Horizonte, v.54, n.1, 2002.
MASCIOLI, A.S.; ALENCAR, M.M.; BARBOSA, P.F.; NOVAES, A.P. de; OLIVEIRA,
M.S.C Estimativas de parâmetros genéticos e proposição de critérios de seleção para
pesos na raça Canchim. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.25,
n.1, p.72-82, 1996.
MASCIOLI, A.S.; FARO, L.E.; ALENCAR, M.M.; FRIES, L.A.; BARBOSA, P.F.
Estimativas de parâmetros genéticos e fenotípicos e análise de componentes principais
para características de crescimento na raça Canchim. Revista da Sociedade
Brasileira de Zootecnia, Viçosa, v.29, n.6, 2000.
MILAGRES, J.C.; ARAÚJO, C.R. de; TEIXEIRA, N.M.; TORRES, R. de A.; Influencias
de meio e herança sobre os pesos ao nascer, aos 205 dias e aos 365 dias de idade de
animais Nelore criados no nordeste do Brasil. Revista da Sociedade Brasileira de
Zootecnia, Viçosa, v.22, n.3, p.455-465, 1993.
89
NÁJERA AYALA, J.M.; PEREIRA, J.C.C.; OLIVEIRA, H.N. Efeitos genéticos e não
genéticos sobre características ponderais de duas populações da raça Nelore. Arquivo
Brasileiro de Medicina Veterinária e Zootecnia, Belo Horizonte, v.43, n.1, p.81-91,
1991.
PARRA-BRACAMONTE, G.M.; MARTINEZ-GONZÁLES, J.C.; TEWOLDE-MEDHIN, A.;
GONZÁLEZ-REYNA, A.; BIONES-ENCINIA, F.; GARCIA-ESQUIVEL, F.;
CIENFUEGOS-RIVAS, E.G. Alternative models in genetic parameter estimation of
weaning weight of registry Brahman cattle from México. In: WORD CONGRESS ON
GENETICS APPLIED TO LIVESTOCK PRODUCTION, 8, Belo Horizonte, Brasil.
Procedings…, Belo Horizonte, Brasil, 2006, CD-ROM.
PÁDUA, J.T.; SILVA, R.G. da. Avaliação genética do desempenho de bovinos mestiços
Chianina x Nelore, 1. Fatores envolvidos e estimação de parâmetros genéticos. ARS
Veterinária, Jaboticabal, v.10, n.1, p.15-25, 1994.
PIMENTA FILHO, E.C.; MARTINS, G.A.; SARMENTO, J.L.R.; RIBEIRO, M.N.;
MARTISN FILHO, R. Estimativas de herdabilidade de efeito direto e materno de
características de crescimento de bovinos Guzerá, no estado da Paraíba. Revista
Brasileira de Zootecnia, v.30, n.4, p.1220-1223, 2001.
REZENDE, F.M.; FIGUEIREDO, L.G.G.; MOURÃO, G.B.; BALIEIRO, J.C.C.; CINTRA,
D.C.; ELER, J.P.; FERRAZ, J.B.S., Estimativas de parâmetros genéticos para vigor ao
nascimento e algumas características de desenvolvimento ponderal em bovinos da
Nelore. In: Reunião Anual da SBZ, 42., 2005, Goiânia Goiás, Anais... Goiânia
Goiás, CD-ROM.
RIBEIRO, M.N.; PIMENTA FILHO, E.C.; MARTINS, G.A.; SARMENTO, J.L.R.;
MARTINS FILHO, R., Herdabilidade para efeitos direto e materno de características de
crescimento de bovinos Nelore no estado da Paraíba. Revista Brasileira de
Zootecnia, v.30, n.4, p.1224-1227, 2001.
90
SAS INSTITUTE. SAS\STAT User`s guide. 8.2 ed. Cary, Inc. 2000.
SOUZA, J.C. de; RAMOS, A.A. Efeitos de fatores genéticos e do meio sobre os pesos
de bovinos da raça Nelore. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, Viçosa,
v.24, n.1, p.164-172, 1995.
SIQUEIRA, R.L.P.G. Análise da variabilidade genética aditiva das características
de crescimento na raça Nelore, 2000, f.68. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) -
Faculdade de Ciências Agrária e Veterinária, Universidade Estadual Paulista,
Jaboticabal.
TURNER, H.N.; YOUNG, S.S.Y. Quantitative genetics in sheep breeding. New York,
Cornell University Press, 1969, 332p.
91
CAPITULO 4 - ESTUDO GENÉTICO QUANTITATIVO DAS CARACTERISTICAS
REPRODUTIVAS NA RAÇA BRAHMAN
RESUMO
Os objetivos neste trabalho foram estimar componentes de (co)variâncias e
herdabilidades para o peso ao nascer (PN), período de gestação (PG), intervalo entre
partos (IEP) e perímetro escrotal aos 365 (PE365), 455 (PE455) e 550 (PE550) dias de
idade, as correlações genéticas e as eficiências relativas de seleção indireta versus a
direta entre as características analisadas, para bovinos da raça Brahman no Brasil.
Foram analisados 25.449 registros, contendo 4.095 períodos de gestações, 2.547
intervalos entre partos e 1.028, 1.216 e 899 perímetros escrotais aos 365, 455 e 550
dias de idade, respectivamente, sendo os animais participantes do Programa de
Melhoramento Genético da Raça Brahman (PMGRB). Os componentes de variância e
os coeficientes de herdabilidades foram estimados pelo método da máxima
verossimilhança restrita (REML), em modelos de análises unicaracter e bicaracteres.
Como efeitos fixos foram considerados grupos de contemporâneos e idade da vaca ao
parto como covariável (efeito linear e quadrático), efeito aleatório o efeito de animal e de
ambiente permanente da vaca (efeito aleatório não correlacionado). Para as
características, período de gestação e peso ao nascer considerou-se ainda o efeito
materno, também aleatório. Análises bicaracteres foram efetuadas para PG com PN,
PG com PE365 e PE455, IEP com PE365 e P455 e PE365 com PE455. As estimativas
de herdabilidades diretas variaram de 0,25 a 0,35 para PG, de 0,09 a 0,12 para IEP, de
0,36 a 0,37 para PE365 e de 0,26 a 0,27 para PE455. As correlações genéticas entre
PN e PG, PG e PE365, PG e PE455, IEP e PE365, IEP e PE455, PE365 e PE455,
foram, respectivamente 0,27, 0,02, -0,03, -0,01, -0,12 e 0,99. Os resultados mostraram
que o PG pode ser utilizado como um critério de seleção, no intuito de melhorar o
desempenho reprodutivo do rebanho. O baixo valor estimado de herdabilidade para IEP
indica que esta característica deve responder muito pouco a seleção com base no
fenotípo. Quanto ao perímetro escrotal, as estimativas de herdabilidade sugerem que
essa característica nas idades analisadas, apresenta variabilidade genética aditiva
92
suficiente para responder de modo favorável à seleção, como indicativo de precocidade
sexual. No entanto, a opção seria PE365, pois permitiria selecionar os animais, em
idade anterior aos 455 dias, tal como indicou a estimativa da eficiência relativa.
Palavras-chave: bovinos, características reprodutivas, correlação genética, eficiência
relativa de seleção indireta versus direta, herdabilidade, peso ao
nascer
93
1 - INTRODUÇÃO
A expressão eficiência reprodutiva tem um significado amplo e de difícil
caracterização, porque se relaciona com todas as fases da vida do animal, desde sua
fecundação até o nascimento e morte. Nas fêmeas, a eficiência reprodutiva abrange,
entre outros, os seguintes eventos: puberdade, ovulação, regularidade de ciclos estrais,
idades à primeira concepção e primeiro parto, período de serviço (do parto até início de
nova geração), intervalo de partos, número de crias produzidas ao longo da vida útil,
longevidade, facilidade de parição, etc.
Variações na eficiência reprodutiva são expressões fenotípicas resultantes de
ações que envolvem fatores genéticos e ambientais. É difícil quantificar com precisão a
contribuição de cada uma dessas forças para a sua expressão. Em geral, as causas
genéticas tem individualmente menor influência e sua importância é diluída pelos
fatores ambientais que exercem ação mais expressiva, como a nutrição, mineralização,
saúde e profilaxia, etc.
Em geral, os parâmetros rotineiramente usados para quantificar a eficiência
reprodutiva não levam em consideração as fêmeas problemas que, em sistemas mais
intensivos de exploração, são responsáveis por até 50% das perdas totais do rebanho.
A omissão de tais informações provoca redução na variação genética da fertilidade
geral do rebanho, causando estimativas de herdabilidade baixas quando,
possivelmente, estas são mais elevadas.
VACCARO et al. (1988) mencionaram que a herdabilidade verdadeira ou real da
eficiência reprodutiva é mais alta do que comumente tem sido quantificado,
especialmente nos países tropicais. O criador, pela importância econômica da
fertilidade, deve adotar critérios rígidos de seleção visando à valorização funcional
daquelas fêmeas que, no mesmo ambiente, revelam-se superiores e melhores
adaptadas.
Os vários estádios do crescimento são bem documentados (MOHJUDDIN, 1993;
MERCADANTE et al., 1995; BERTAZZO et al., 2004), porém o número de estudos
quanto às características de reprodução ainda são escassos (KOOTS et al., 1994 a,b).
Existem evidências a respeito do antagonismo genético entre crescimento e reprodução
94
em ambiente desfavorável (MARIANTE e ZANCANER, 1985; BARBOSA, 1991), porém
também estudos indicando que estas características estão pouco relacionadas
(SMITH e BRINKS, 1989), ou até mesmo favoravelmente relacionadas com outras
características (BARBOSA, 1991; MEYER et al., 1991).
A maioria dos trabalhos publicados com características indicadoras de
precocidade está relacionada ao perímetro escrotal. Esta característica apresenta
correlação negativa com características reprodutivas, tais como, idade ao primeiro
parto, dias para o parto e duração de gestação (PEREIRA et al., 1998). Desta forma,
seleção para perímetro escrotal implicaria em ganhos genéticos para estas
características de eficiência reprodutiva.
Os problemas reprodutivos são os principais limitantes da eficiência produtiva em
bovinos de corte (MATTOS e ROSA, 1984) e, por isso, a inclusão de características
reprodutivas nos objetivos de seleção seria indispensável para a otimização da
eficiência econômica do rebanho. Apesar disso, os programas de melhoramento
genético mais tradicionais têm dado ênfase quase exclusivamente às características de
desempenho ponderal.
ALENCAR et al. (1993) sugerem a fertilidade dos machos como critérios de
seleção alternativo para aumentar a taxa de natalidade imediata e permanente, uma
vez que a baixa herdabilidade das características de fertilidade das fêmeas aliada à
baixa intensidade de seleção, normalmente aplicada a esse sexo, resulta em baixo
progresso genético esperado.
O intervalo entre partos (IEP) e o período de gestação (PG) são também
importantes características para a avaliação da eficiência reprodutiva de um rebanho.
As estimativas de herdabilidade para o IEP, segundo valores obtidos na literatura
consultada, variam de 0,02 (PEREIRA, 2000) a 0,17±0,03 (SOUZA et al., 1991) e com o
valor médio de 0,10 em diversas raças (KOOTS et al., 1994), enquanto que as do PG
variam de 0,09 a 0,28 em bovinos de corte (SILVA e PEREIRA, 1986; WRAY et al.,
1987; SACRPATI, 1997; PEREIRA et al., 2002). Por outro lado, as estimativas para
perímetro escrotal em várias idades são maiores, variando de 0,31 (GRESSLER et al.,
1998) a 0,77 (QUIRINO e BERGMANN, 1998).
95
2 - OBJETIVOS
Este trabalho teve como objetivos, estimar componentes de (co)variâncias,
herdabilidades para peso ao nascer (PN), período de gestação (PG), intervalo entre
partos (IEP) e perímetro escrotal (PE) aos 365, 455 e 550 dias de idade, correlações
genéticas envolvendo o peso ao nascer com o período de gestação, perímetros
escrotais com intervalo entre partos e entre os perímetros nas idades estudadas e
eficiências relativas de seleção indireta em comparação com a direta entre essas
características em bovinos da raça Brahman no Brasil, com propósito de estabelecer
critérios de seleção para os mesmos.
96
3 - MATERIAL E MÉTODOS
3.1 - Origem dos dados
O arquivo de dados analisado consistiu de 25.449 registros contendo 15.664
informações de peso ao nascer, 4.095 de período de gestação, 2.547 de intervalo entre
partos e 1.028, 1.216 e 899 de perímetros escrotais aos 365, 455 e 550 dias de idade,
respectivamente, sendo todos os animais participantes do Programa de Melhoramento
Genético da Raça Brahman (PMGRB), sob gestão da Associação Nacional de
Criadores e Pesquisadores (ANCP), com sede em Ribeirão Preto, SP.
O conjunto de dados inclui 43 rebanhos localizados, nos estados de São Paulo
(SP), Minas Gerais (MG), Mato Grosso (MT), Mato Grosso do Sul (MS), Tocantins (TO)
e Goiás (GO). A maioria das fazendas, ao ingoci91(Aozendas,m)-1((PMdas, 26(esttamas,m)6(2(gestaças,m)-141(de )] TJ0 -1.72 [(acasalhorametros )-), c de)-10urestaças,24de2 90as,24d,(de2)-4envolvontendo p23(eríode2)-221(de 4)-outubr5ode2
97
com pastejo rotacionado. O clima onde se localizam as fazendas varia entre o
equatorial, subtropical quente e úmido a tropical úmido.
3.2 - Características reprodutivas estudadas
As características estudadas foram período de gestação (PG), intervalo entre
partos (IEP), perímetros escrotais aos 365 (PE365), 455 (PE455) e 550 (PE550) dias de
idade. A Tabela 1 inclui números de observações, médias, valores mínimos e máximos,
desvios-padrão e coeficientes de variação. Os perímetros escrotais foram ajustados
para as idades padrão de acordo com a medição anterior e uma posterior a idade
referência. No entanto, como os animais, foram submetidos a medições a cada três
meses, no caso de perda de informação, o intervalo máximo considerado entre
medições posterior e anterior para a padronização foi de 195 dias.
TABELA 1 Número de observações, médias, valores máximos e mínimos, desvios
padrão e coeficientes de variação de PN, PG, IEP, PE365, PE455 e
PE550 dias de idade de animais da raça Brahman.
Características Número de
Observações
Média Mínimo Máximo Desvio
Padrão
Coeficiente de
Variação (%)
PN (kg) 15.664 33,10 15,00 60,00 4,17 12,60
PG (dia) 4.095 286,83 245,00 315,00 11,83 4,13
IEP (dia) 2.393 439,92 285,00 998,00 100,83 22,92
PE365 (cm) 1.028 20,36 15,00 32,30 2,90 14,20
PE455 (cm) 1.216 22,90 14,40 36,10 3,29 14,40
PE550 (cm) 899 26,00 16,10 38,90 3,37 12,90
PN = peso ao nascer, PG = período de gestação, IEP = intervalo entre partos, PE365 = perímetro
99
quadrados mínimos, usando-se o procedimento GLM (General Linear Models) do
pacote estatístico SAS (2000). Objetivou-se a partir deste estudo inicial, definir os
efeitos fixos, como grupos de contemporâneos e covariáveis, a serem incluídas nos
modelos para as análises genéticas. Grupos contemporâneos com número de
observações menores que 3 ou filhos de um único pai foram eliminados, além dos que
tinham pais desconhecidos. Apesar do efeito fixo de grupo de contemporâneo ser o
único significativo para todas as características estudadas, o efeito de idade da vaca foi
mantida como covariável (linear e quadrática) no modelo, para todas as características
estudadas.
Os componentes de variância e covariância necessários à estimação dos
parâmetros genéticos das características estudadas foram, obtidos pelo método da
máxima verossimilhança restrita, que utiliza algoritmo livre de derivadas, disponível no
pacote MTDFREML (BOLDMAN et al., 1995). O critério de convergência admitido foi de
1x10
-9
. Como efeitos fixos foram considerados os grupos de contemporâneos (sexo,
fazenda, trimestre, regime alimentar e ano), idade da vaca ao parto como (co)variável
(efeito linear e quadrático) e como aleatório o efeito animal. Para todas as
características foi considerado o ambiente permanente da vaca como efeito aleatório
não correlacionado. Para período de gestação e peso ao nascer foi incluído no modelo
o efeito materno.
Em termos matriciais, o modelo geral utilizado pode ser descrito como:
y = X
+ Z
1
a + Z
2
m + Z
3
p +
,
em que:
y = vetor das observações da característica;
X = matriz de incidência dos efeitos fixos;
= vetor dos efeitos fixos;
Z
1
= matriz de incidência do efeito genético direto;
a = vetor de efeitos genéticos diretos aleatórios;
Z
2
= matriz de incidência do efeito genético materno;
100
m = vetor de efeitos genéticos maternos aleatórios;
Z
3
= matriz de incidência do efeito de ambiente permanente;
p = vetor de efeitos aleatórios de ambiente permanente; e
= vetor de efeitos residuais aleatórios.
As pressuposições acerca das distribuições de y, a, m, p e
podem ser
descritas como:
onde:
V = Z
1
G
1
+ Z
2
MZ
2
’+ 2Z
1
CZ
2
’+ Z
3
PZ
3
’+R;
G = A
a
2
em análise unicaráter e A G
0
em análise bicaráter;
C =A
am
em análise unicaráter e A C
0
em análise bicaráter;
M = A
m
2
em análise unicaráter e A M
0
em análise bicaráter;
P = Im
c
2
em análise unicaráter e Im P
0
em análise bicaráter;
R = In
e
2
em análise unicaráter e In R
0
em análise bicaráter ;
m = número total de mães;
n = número total de observações; e
NMV = multivariada normal.
Nestas designações,
a
2
é a variância genética aditiva direta;
am
, a covariância
genética entre os efeitos direto e materno;
m
2
, a variância genética materna;
c
2
, a
variância de ambiente materno permanente;
e
2
, a variância do erro. G
0
, M
0
, P
0
e R
0
são matrizes de (co)variâncias genética direta, genética materna, de ambiente
permanente e residual, respectivamente. C
0
é uma matriz de covariâncias dos efeitos
genéticos direto e materno. Assume-se que P ou P
0
e R ou R
0
não são correlacionados
;
p
m
a
y
NMV
0
0
0
0
X
RR
PPZ
MCMZCZ
CGCZGZ
PPZMZCZCZGZV
000
000'
00''
00''
3
21
2
32121
1
101
com os demais efeitos. A é a matriz de relações aditivas entre os animais. I é uma
matriz identidade e é o produto direto entre as matrizes.
3.5 - Estimativas de herdabilidade, correlações genéticas e eficiência relativa de
seleção indireta versus direta.
Os coeficientes de herdabilidade (h
2
) das características analisadas foram
estimados por meio da fórmula:
2
e
2
a
2
a
2
ˆˆ
ˆ
h
onde:
2
a
ˆ
= estimativa da variância genética aditiva, e
2
e
ˆ
= estimativa da variância de
ambiente ( a qual inclui também outros efeitos genéticos não aditivos) se existentes.
Após a obtenção das estimativas de herdabilidades pelas análises bi-caráter,
foram calculadas as médias de todos os valores estimados entre as características
analisadas. Foi estimado também o intervalo entre o menor e a maior estimativa obtida
para cada característica.
As correlações genéticas (r
aiaj
) entre as características foram estimadas por:
ajai
aiaj
aiaj
ˆˆ
ˆ
r
onde:
aiaj
ˆ
= estimativa da covariância genética aditiva, entre as características i e j; e
ajai
ˆ
e
ˆ
= desvios padrão genético (da variância genética) aditivo para as
características i e j, respectivamente.
A eficiência relativa da seleção praticada em uma característica sobre outra a ela
geneticamente correlacionada foi estimada pela fórmula apresentada por TURNER e
YOUNG (1969) que discutiram o valor das correlações genéticas em um processo de
seleção simultânea para duas características, relataram que, sendo as características 1
102
e 2 correlacionadas geneticamente, a eficiência relativa da seleção indireta contra a
seleção direta (G), em termos de ganho genético, pode ser obtida do quociente:
2paraseleçãosob2emgenéticoGanho
1paraseleçãosob2emgenéticoGanho
G
que é estimado pela correlação genética entre as mesmas, multiplicada pela raiz
quadrada da razão entre as herdabilidades das características 1 e 2, ou seja:
2
2
2
1
)2,1(
h
h
rG
G
onde: se (
2
2
2
1
)2,1(
h
h
r
G
) > 1, a seleção indireta é mais eficiente. Se for < 1, sugere o
quanto se estaria deixando de ganhar caso a seleção fosse direta.
103
4 - RESULTADOS E DISCUSSÃO
As estimativas dos componentes de variância genética aditivo direto, variância
fenotípica e residual (ambiente temporário), para o período de gestação (PG), intervalo
entre partos (IEP), e perímetros escrotais aos 365 (PE365), 455 (PE455) e 550 (PE550)
dias de idade para bovinos da raça Brahman no Brasil estão sumariados na Tabela 2.
TABELA 2 - Estimativas de componentes de variância pelas análises unicaracter para
PG, IEP, PE365, PE455 e PE550 de animais da raça Brahman.
Características
2
a
ˆ
2
ˆ
p
2
e
ˆ
PG
10,07 40,12 25,98
IEP
7333 1.833.325 1.759.992
PE365
115,00 311,83 196,82
PE455
125,11 471,61 341,49
PE550
119,87 617,34 497,47
2
a
ˆ
= variância genética aditiva,
2
ˆ
p
= variância fenotípica,
2
e
ˆ
= variância residual, PG = período de
gestação, IEP = intervalo entre partos, PE365 = perímetro escrotal aos 365 dias de idade, PE455 =
perímetro escrotal aos 455 dias de idade e PE550 = perímetro escrotal aos 550 dias de idade.
As estimativas de variâncias obtidas pelas análises bicaracteres para PG, IEP,
PE365 e PE455 são apresentadas na Tabela 3.
TABELA 3 - Estimativas de componentes de variância pelas análises bicaracteres para
PG, PE365 e P455 de animais da raça Brahman.
Características Intervalo
de Valores
2
a
ˆ
2
a
ˆ
média
Intervalo
de Valores
2
ˆ
p
2
ˆ
p
média
Intervalo
de Valores
2
e
ˆ
2
e
ˆ
média
PG
12,09 a 14,49
12,91
42,02 a 42,58
42,21
24,83 a 25,82
25,49
PE365
111,14 a 115,18
113,16
308,48 a 311,99
310,23
196,80 a 196,90
196,85
PE455
113,77 a 130,78
122,27
466,11 a 472,66
469,38
341,88 a 352,30
347,09
2
a
ˆ
= variância genética aditiva,
2
ˆ
p
= variância fenotípica,
2
e
ˆ
= variância residual, PG = período de
gestação, PE365 = perímetro escrotal aos 365 dias de idade e PE455 = perímetro escrotal aos 455 dias
de idade.
104
As estimativas de herdabilidade para as características reprodutivas analisadas
por análises unicaracter são apresentadas na Tabela 4.
As estimativas de herdabilidades obtidas pelas análises unicaracter apresentam
magnitude aparentemente diferente das obtidas pelas bicaracteres, o que pode ser
atribuído ao maior número de animais contemplados na matriz de parentesco e pelas
covariâncias consideradas entre todas as características avaliadas, na análise
bicaracter, além desta levar em conta o efeito da seleção. Por esta razão, coube aqui
discutir somente os resultados das análises bicaracteres, sendo que, os das análises
unicaracter foram apresentados em função destas permitirem, devido à estrutura dos
dados, estimar os erros padrão das estimativas, que foram de pequena magnitude, que
é um indicador da precisão das mesmas.
TABELA 4 - As estimativas de herdabilidade direta (
a
) e materna (
m
) para PG, IEP,
PE365, PE455 e PE550 de animais da raça Brahman obtidas por análises
unicaracteres.
Características
a
m
PG
0,25 ± 0,047
0,18 ± 0,11
IEP
0,12 ± 0,003
PE365
0,37 ± 0,142
PE455
0,27 ± 0,125
PE550
0,19 ± 0,125
a
= herdabilidade,
m
= herdabilidade materna, PG = período de gestação, IEP = intervalo entre partos,
PE365 = perímetro escrotal aos 365 dias de idade, PE455 = perímetro escrotal aos 455 dias de idade e
PE550 = perímetro escrotal aos 550 dias de idade.
O valor de herdabilidade direta estimado para o período de gestação de 0,25 ±
0,047 é semelhante ao valor encontrado por PEREIRA et al. (2002) de 0,26, na raça
Nelore. Esta estimativa de herdabilidade permite indicar como positiva a resposta à
seleção para a característica. Embora, o PG ainda não tenha sido muito utilizada como
critério de seleção, ela pode ser uma ferramenta importante no monitoramento do peso
ao nascer (PN), que pode estar aumentando nos programas de melhoramento devido à
correlação genética com o peso à desmama.
Para o intervalo entre partos (IEP), foi encontrado a estimativa de herdabilidade
de 0,12 ± 0,003, valor este maior ao relatado por PEREIRA et al. (2002) de 0,06, para a
105
raça Nelore. Trabalhos realizados por KOOTS et al. (1994) observaram herdabilidade
média de 0,10 em trabalhos com várias raças, valor este semelhante ao encontrado
neste estudo para a raça Brahman.
Os valores de coeficiente de herdabilidades estimadas para os perímetros
escrotais aos 365, 455 e 550 dias de idade foram 0,37 ± 0,142, 0,27 ± 0,125 e 0,19 ±
0,125, respectivamente. As estimativas para PE365 e PE455 são inferiores as
mencionadas por SESANA et al. (2005) de 0,43, para ambas as idades, na raça Nelore,
porém o valor encontrado para PE455 é semelhante ao encontrado por VARGAS et al.
(1998) para a raça Brahman. A literatura consultada apresenta para a raça Nelore
valores de estimativas de para perímetros escrotais de 0,31 (GRESSLER et al.,
1998) a 0,77 (QUIRINO e BERGMANN, 1998), mostrando que a seleção para perímetro
escrotal poderia levar à ganhos genéticos importantes para esta característica.
Os resultados das estimativas de componentes de variância e herdabilidades,
por meio de análises bicaracteres, para as características peso ao nascer (PN), período
de gestação (PG), intervalo entre partos (IEP) e perímetros escrotais aos 365 e 455
dias de idades obtidos neste estudo para raça Brahman, são apresentados na Tabela 5.
TABELA 5 - Estimativas de herdabilidade direta (
a
) para PN, PG, IEP, PE365 e P455
de animais da raça Brahman obtidas nas análises bicaracteres.
Características PN PG PE365 PE455 h² média
PN 0,35 * * * 0,35
PG * 0,34 0,29 0,29 0,31
IEP * * 0,09 0,09 0,09
PE365 * * 0,36 * 0,36
PE455 * * 0,24 0,28 0,26
* Critérios de convergência atendido porém valores super estimados
PN = peso ao nascer, PG = período de gestação, IEP = intervalo entre partos, PE365 = perímetro
escrotal aos 365 dias de idade e PE455 = perímetro escrotal aos 455 dias de idade.
Pelas análises bicaracteres, a estimativa de herdabilidade para o peso ao nascer,
em animais da raça Brahman no Brasil, foi de 0,35, a qual é inferior à encontrada por
MACHADO et al. (1999), para a raça Nelore (0,48±0,03).
Quanto ao período de gestação foi obtido a estimativa média de herdabilidade de
0,31, a qual foi superior aos valores de 0,09 a 0,28 relatados na literatura para bovinos
106
de corte (SILVA e PEREIRA, 1986; WRAY et al., 1987; SCARPATI, 1997; PEREIRA et
al., 2002).
Para o intervalo entre partos foi encontrada neste estudo a estimativa média de
herdabilidade de 0,09 para a raça Brahman (Tabela 5), que é superior à obtida por
PEREIRA et al. (2002) de 0,06, para a raça Nelore. E semelhante aos valores relatados
em revisão elaborada por KOOTS et al. (1994), que apresentaram estimativa média de
herdabilidade de 0,10, considerando várias raças.
Em relação aos valores de coeficientes de herdabilidade estimados para os
perímetros escrotais aos 365 dias de idade de 0,36 e de 0,26, aos 455 dias de idade
(Tabela 5), estes são inferiores aos valores encontrados por SESANA et al. (2005) de
0,43 para as duas idades, na raça Nelore. Porém, a estimativa para PE455 é
semelhante à citada por VARGAS et al. (1998) para a raça Brahman. Na literatura
consultada as estimativas de herdabilidade mencionadas para perímetro escrotal, na
raça Nelore, são iguais a 0,31 (GRESSLER et al., 1998) e 0,77 (QUIRINO e
BERGMANN, 1998).
Na Tabela 6 são apresentadas as estimativas das correlações genéticas entre as
características: peso ao nascer com período de gestação, intervalo entre partos com
perímetro escrotal aos 365 dias de idade, intervalo entre partos com perímetro escrotal
aos 455 dias de idade, obtidas neste estudo, por análises bicaracteres, em animais da
raça Brahman.
TABELA 6 Estimativas das correlações genéticas entre PN, PG, IEP, PE365 e PE455
de animais da raça Brahman obtidas por análises bicaracteres.
Características PG PE365 PE455
PN 0,27
PG 0,02 -0,03
IEP -0,01 -0,12
PE365 0,99
PN = peso ao nascer, PG = período de gestação, IEP = intervalo entre partos, PE365 = perímetro
escrotal aos 365 dias de idade e PE455 = perímetro escrotal aos 455 dias de idade.
A correlação genética estimada entre o peso ao nascer (PN) e o período de
gestação foi positiva (0,27), valor inferior ao relatado por SCARPATI (1997), que obteve
107
a estimativa de 0,41, para a raça Nelore. Este resultado sugere que a seleção com base
no PG tem influência no peso ao nascer, ou seja, os bezerros com gestação mais curta
nascem mais leves, conforme citação feita por LÔBO et al. (2000). BOURDON e
BRINKS (1983), também estimaram correlação genética positiva entre PG e peso ao
nascer.
A estimativa da correlação genética entre intervalos entre partos e perímetro
escrotal aos 365 dias de idade foi de -0,01 e para intervalo entre partos e perímetro
escrotal aos 455 dias de idade, foi de -0,12, indicando que a seleção para PE
praticamente não tem influência na fertilidade do rebanho (intervalo entre partos). A
literatura mostra resultados controversos quanto à correlação genética entre PE e IEP,
apresentando estimativas positivas, segundo MORRIS e CULLEN (1994) e GRESSLER
et al. (2000), e negativas, de acordo com MEYER et al. (1991) e PEREIRA et al. (1998).
A baixa estimativa de herdabilidade do intervalo entre partos de 0,09, sugere a
necessidade do estudo de outras características que possam avaliar diretamente a
fertilidade da fêmea e que tenham maior herdabilidade. Deve ser lembrado que o uso
de biotecnias reprodutivas (PIV e TE) nos rebanhos estudados, podem viesar as
estimativas obtidas do IEP.
A estimativa da correlação genética entre perímetro escrotal aos 365 dias de
idade com o período de gestação, é de 0,02, valor este semelhante ao encontrado por
PEREIRA et al. (2002) para a raça Nelore. A estimativa da correlação genética entre
PE455 e PG foi negativa (-0,03), e foi semelhante à relatada por PEREIRA et al. (2000).
Como os resultados sugerem, as características PG e PE não são influenciadas pelos
mesmos genes. Portanto a seleção com base em uma delas não deverá proporcionar
uma resposta correlacionada na outra.
A estimativa da correlação genética entre os perímetros escrotais aos 365 e 455
dias de idade foi de 0,99 (Tabela 6), valor este superior ao encontrado por FRIZZAS
(2006) para a raça Nelore, de 0,89. Este resultado sugere que os perímetros escrotais
medidos aos 365 e 455 dias de idade podem ser considerados em termos genéticos
como sendo a mesma característica. Assim, pode-se adotar como critério de seleção
para essa característica nos machos, para a identificação antecipada de animais mais
108
precoces sexualmente, a medida na idade de 365 dias, por questão essencialmente do
tempo.
Na Tabela 7 são apresentadas as eficiências de seleção indireta
comparativamente à seleção direta das características estudadas, segundo o critério de
TURNER e YOUNG (1969).
TABELA 7: Estimativas das eficiências relativas de seleção indireta comparativamente à
seleção direta para as características PN, PG, IEP, PE365 e PE455 em
animais da raça Brahman.
Características correlacionadas Eficiência relativa de seleção (G)
PG (1) x PN (2) 0,25
PG (1) x PE365 (2) 0,01
PG (1) x PE455 (2) -0,03
IEP (1) x PE365 (2) 0,00
IEP (1) x PE455 (2) 0,07
PE365 (1) x PE455 (2) 1,16
PN = peso ao nascer, PG = período de gestação, IEP = intervalo entre partos, PE365 = perímetro
escrotal aos 365 dias de idade e PE455 = perímetro escrotal aos 455 dias de idade.
As estimativas de eficiência relativa obtidas indicam que se a seleção para menor
PG for adotado como critério, haverá também diminuição do PN, em proporções
menores do que se a seleção fosse direta para PN, o que é desejável, considerando
que menores PN reduzem problemas de parto, mas não devem ser drasticamente
reduzidos para que complicações relacionadas ao desenvolvimento e crescimento do
bezerro sejam evitadas. Com relação à eficiência relativa da seleção indireta para PG
sobre P365, os valores obtidos mostram que a mesma pode ser considerada
praticamente inexistente, em comparação com a seleção direta para P365. Desta
forma, estas duas características podem ser usadas simultaneamente em programas de
seleção, não havendo interferência entre elas.
Diante dos valores apresentados na Tabela 7 pode-se constatar que a seleção
direta para peso ao nascer, período de gestação e intervalo entre partos, é menos
eficiente do que a seleção direta para perímetros escrotais aos 365 e 455 dias de idade.
109
Quando o objetivo for seleção com base nos perímetros escrotais, verifica-se que
para a seleção indireta aos 365 dias de idade, é mais eficiente que a seleção direta
para o perímetro escrotal aos 455 dias de idade.
Em virtude do exposto, recomenda-se para a raça Brahman, por razões
econômicas de tempo e espaço, realizar a seleção com base no perímetro escrotal aos
365 dias de idade, com intuito de melhorar o desempenho reprodutivo dos machos nos
rebanhos estudados da referida raça.
110
5 – CONCLUSÕES
Os resultados obtidos neste estudo em bovinos da raça Brahman no Brasil
permitiram concluir, dentre as características reprodutivas analisadas; que:
O intervalo entre partos deve responder muito pouco à seleção fenotípica, tendo
em vista ser baixa a proporção da variância total que é atribuível a variância
genética aditiva estimada;
A utilização do menor período de gestação como critério de seleção, deve levar a
uma diminuição no peso ao nascer (PN), mas, em proporção menor do que a
seleção direta para menor PN;
O perímetro escrotal aos 365 dias de idade pode ser adotado como critério de
seleção para melhorar as características reprodutivas dos machos.
111
6- REFERÊNCIAS
ALENCAR, M.M.; OLIVEIRA, F.T.T.; TAMBASCO, A.J. et al. Desenvolvimento pós-
desmama e eficiência reprodutiva pós-parto em gado de corte: influencia da produção
de leite. Revista da Sociedade Brasileira de Zootecnia, n.22, p. 1012-1018, 1993.
BARBOSA, P.F. Análise genético-quantitativa de características de crescimento e
reprodução em fêmeas da raça Canchim. Ribeirão Preto: Faculdade de Medicina de
Ribeirão Preto, 1991, 237p.
BERTAZOO, R.P.; FREITAS, R.T.F.; GONÇALVES, T.M.; PEREIRA, I.G.; ELER, J.P.;
FERRAZ, J.B.S.; OLIVEIRA, A. I.G.; ANDRADE, I.F. Parâmetros genéticos de
longevidade e produtividade de fêmeas da raça Nelore. Revista Brasileira de
Zootecnia, v.33, n.5, p. 1118-1127, 2004.
BOLDMAN, K.G.; KREISE, L.A.; VAN VLECK, L.D. et al. A manual of MTDFREML. A
set of programs to obtain estimates of variances and covariances [DRAFT]. Lincoln:
Agricultural Research Service, 1995. 120p
BOURDON, R.M.; BRINKS, J.S. Calving date versus calving interval as a reproductive
measure in beef cattle. Journal of Animal Science, v. 57, n. 6, p.1412-417, 1983.
FRIZZAS, O.G. Curva de desenvolvimento e parâmetros genéticos e fenotípicos
para peso corporal e perímetro escrotal de bovinos da raça Nelore, 2006, f.59.
Dissertação (Mestrado em Genética e Melhoramento Animal) - Faculdade de Ciências
Agrária e Veterinária, Universidade Estadual Paulista, Jaboticabal.
GRESSLER, S.L.; BERGMANN, J.A.G.; PEREIRA, C.S.; PENNA, V.M.; PEREIRA,
J.C.C.; GRESSLER, M.G.M. Estudo das associações genéticas entre perímetro escrotal
e características reprodutivas de fêmeas Nelore. Revista Brasileira de Zootecnia.
v.29, n.2, p.427-437, 2000.
112
GRESSLER, S.L. Estudo de fatores de ambiente e parâmetros genéticos de
algumas características reprodutivas em animais da raça Nelore. 1998, 149f.
Dissertação (Mestrado em Zootecnia) Universidade Federal de Minas Gerais, Escola
de Veterinária, Belo Horizonte.
KOOTS, K.R.; GIBSON, J.P.; SMITH, C. et al. Analyses of published genetic
parameters estimates for beef production traits. 1-Heritability. Animal Breeding
Abstract, v.62, p.309-338, 1994a.
KOOTS, K.R.; GIBSON, J.P.; WILTON, J.W. Analyses of published genetic parameters
estimates for beef production traits. 2-Phenotypic and genetics correlations. Animal
Breeding Abstract, v.62, p.825-853, 1994b.
LÔBO, R.N.B.; MADALENA, F.E.; VIEIRA, A.R. Average estimates of genetic
parameters for beef and dairy cattle in tropical regions. Animal Breeding Abstracts,
Wallingford, v.68, p. 433-462, 2000.
MACHADO, P.F.A.; AQUINO, L.H.; GONÇALVES, T.M., Estimativas de parâmetros
genéticos e critérios de seleção em características ponderais de bovinos Nelore.
Ciência e Agrotecnica, v.23, n.1, p.197-204, 1999.
MARIANTE, A.S.; ZANCANER, A. Crescimento e reprodução em gado Nelore. Visão
do criador e do pesquisador. 1.ed. São Paulo: Ed. dos Criadores, 1985, 152p.
MATTOS, S.; ROSA, A.N. Desempenho reprodutivo de fêmeas de raças zebuínas.
Informativo Agropecuário, n.10, p.29, 1984.
MERCADANTE, M.E.Z.; LOBO, R.B.; REYES, A. Parâmetros genéticos para
características de crescimento em zebuínos de carne. Archivos Latinoamericanos de
Producción Animal, v.3, p.45-89, 1995.
113
MEYER, K.; HAMMOND, K.; MACKINNON, M.J. et al. Estimates covariances between
reproduction and growth in Australian beef cattle. Journal of Animal Science, v.69,
p.3533-3543, 1991.
MOHJUDDIN, G. Estimates of genetic and phenotypic parameters of some performance
traits in beef cattle. Animal Breeding Abstract, v.61, p.495-522, 1993.
MORRIS, C.A.; CULLEN, N.G. A note on genetic correlation between pubertal traits of
males or females and lifetime pregnancy rate in beef cattle. Livestock Production
Science. Amsterdam, v.39, p.291-297, 1994.
PEREIRA, E.; ELER, J.P.; FERRAZ, J.B.S. Análise genética de características
reprodutivas na raça Nelore. Pesquisa Agropecuária Brasileira, Brasília, v.37, n.5, p.
703-708, 2002.
PEREIRA, E.; ELER, J.P.; FERRAZ, J.B.S. et al. Correlação genética entre perímetro
escrotal e algumas características reprodutivas na raça Nelore. In: CONGRESSO
BRASILEIRO DAS RAÇAS ZEBUÍNAS, 3., 1998, Uberaba. Anais... Uberaba: ABCZ,
1998, p.381-384.
PEREIRA, E.; ELER, J.P.; FERRAZ, J.B.S.; COSTA, F.A.A.; MENDONÇA, C.D.A.
Análise genética da correlação entre idade ao primeiro parto e perímetro escrotal em
um rebanho Nelore. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE
ZOOTECNIA, 37., 2000, Viçosa, MG. Anais... Viçosa, MG: Sociedade Brasileira de
Zootecnia, 2000a. 1 CD-ROM.
QUIRINO, C.R.; BERGMANN, J.A.G. Heritability of scrotal circumference adjusted and
unadjusted for body weight in Nelore bulls, using univariate and bivariate animal models.
Theriogenology, New York, v.49, p.1389-1396, 1998.
SAS INSTITUTE. SAS / STAT User`s guide. 8.2 ed. Cary, Inc. 2000.
114
SCARPATI, M.T.V. Modelos animais alternativos para estimação de componentes
de (co)variância e de parâmetros genéticos e fenotípicos do período de gestação
na raça Nelore. 1997. 71p. Dissertação (Mestre em Ciências) - Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto, USP, Ribeirão Preto.
SESANA, R.C.; ALBUQUERQUE, L.G.; SILVA, J.A. de V.; SESANA, J.C.; ORTELAN,
A.A. Estimativas de parâmetros genéticos para perímetro escrotal, medido em
diferentes idades em animais Nelore. In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE
BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 42., 2005. Goiânia, Anais...Goiânia: Sociedade
Brasileira de Zootecnia, 2005, CD-ROM.
SILVA, M.A.; PEREIRA, F.A. Fatores de meio e genéticos que influem no desempenho
reprodutivo de fêmeas Zebu e mestiças Chuianina-Zebu. Revista Brasileira de
Zootecnia, v. 15, n. 2, p. 132-141, 1986.
SMITH, B.A.; BRINKS, J.S. Estimation of genetic parameters among reproductive and
growth traits in yearling heifers. Journal of Animal Science, v.67, p.2886-2891, 1989.
SIQUEIRA, R.L.P.G. Análise da variabilidade genética aditiva das características
de crescimento na raça Nelore, 2000, f.68. Dissertação (Mestrado em Zootecnia) -
Faculdade de Ciências Agrária e Veterinária, Universidade Estadual Paulista,
Jaboticabal.
TURNER, H.N.; YOUNG, S.S.Y. Quantitative genetics in sheep breeding. New York,
Cornell University Press, 1969, 332p.
VACCARO, L.; QUIJANDIRA, B. et al. The role of animal breeding studies in farming
systems research. Ottawa: The International Development Research Centre, 151p.,
1988.
115
VARGAS, C.A.; ELZO, M.A.; CHASE, JR.; CHENOWETH, P.J.; OLSON, T.A.
Estimation of genetic parameters for scrotal circumference, age at puberty in heifers,
and hip height in Brahman cattle. Journal of Animal Science, v.76, p.2536-2541, 1998.
WRAY, N. R.; QUAAS, R. L., POLLAK, E. J. Analysis of gestation length in American
Simental cattle. Journal of Animal Science, v. 65, p. 970-974, 1987.
116
CAPÍTULO 5 – IMPLICAÇÕES
O aumento populacional de bovinos da raça Brahman no Brasil em seu programa
de melhoramento genético não correspondeu a um incremento na variabilidade
genética. Isto sugere a necessidade da utilização de novos reprodutores, sem
parentesco com os atuais, com conseqüente monitoramento da variabilidade genética
na população participante do referido programa, no sentido de se evitar perdas futuras
na mesma.
Considerando que o Programa de Melhoramento Genético da Raça Brahman
tem como objetivo incrementar a produtividade nos rebanhos participantes e sabendo-
se que a variabilidade genética é fator essencial na condução do mesmo, recomenda-
se que seja implementado acasalamentos dirigidos, tendo em vista a taxa de
endogamia, o tamanho efetivo populacional, o número efetivo de fundadores, ancestrais
e genomas remanescentes, com o propósito de melhorar a taxa de resposta à seleção
em cada geração subseqüente.
Estas estratégias possibilitariam aos criadores direcionar melhor os
acasalamentos, o que aliado à multiplicação mais adequada dos animais por meio das
biotecnias reprodutivas disponíveis, tão exploradas atualmente, levaria a um
conseqüente incremento na variabilidade genética da população e uma maior oferta de
reprodutores.
Com base nas herdabilidades estimadas neste estudo, espera-se resposta
positiva à seleção, tendo como critério as características de crescimento analisadas,
para a identificação dos animais mais produtivos. Por outro lado, como sugeriram as
associações genéticas entre tais características, ao se selecionar para qualquer uma
delas automaticamente promoverá uma resposta correlacionada favorável nas demais.
Os resultados da eficiência relativa de seleção direta comparativamente à
indireta, permitiram indicar o peso aos 210 dias de idade como um critério de seleção a
ser adotado, com intuito de melhorar as características de crescimento nos bovinos da
raça Brahman no Brasil. Isto poderá gerar maior ganho genético em um menor intervalo
de tempo, porém o inconveniente da característica ser influenciada pelos efeitos
maternos, os quais interferem no desempenho dos animais. Uma alternativa seria a
117
utilização como critério de seleção o peso aos 365 dias de idade, que praticamente
depende apenas do potencial genético do animal.
Em termos reprodutivos, o menor período de gestação pode ser adotado como
critério de seleção, pois além de melhorar o desempenho do rebanho neste aspecto,
diminuirá o peso ao nascer (PN) dos bezerros. O PN está diretamente ligado à
facilidade de parto e diminuição de partos distócicos. Como a raça está em plena
expansão, a utilização deste critério de seleção para a identificação das melhores
doadoras de embriões, poderá surtir efeitos importantes principalmente no intuito de
diminuir o peso ao nascer.
O baixo valor de herdabilidade estimado para o intervalo entre partos indica que
o mesmo deve ser bastante influenciado por fatores ambientais ligados a interferência
humana, principalmente na adequação de manejo. Outro fator que pode ter influenciado
a estimativa de herdabilidade obtida, seria o fato que animais presentes no conjunto de
dados analisados terem participado de programas de transferência e produções in vitro
de embriões, que devem interferir diretamente no valor do intervalo entre parto. Deste
modo, esta característica deve responder muito pouco à seleção fenotípica.
Por outro lado, as herdabilidades estimadas para o perímetro escrotal aos 365
dias de idade (PE365) e 455 dias de idade sugerem que esta característica, em ambas
as idades, apresentam suficiente variabilidade genética aditiva para responder
favoravelmente à seleção. A opção, como critério para melhorar as características dos
machos na raça Brahman no Brasil, seria PE365, por permitir selecionar os animais, em
idade anterior aos 455 dias, possibilitando, deste modo, a identificação daqueles mais
precoces sexualmente.
Livros Grátis
( http://www.livrosgratis.com.br )
Milhares de Livros para Download:
Baixar livros de Administração
Baixar livros de Agronomia
Baixar livros de Arquitetura
Baixar livros de Artes
Baixar livros de Astronomia
Baixar livros de Biologia Geral
Baixar livros de Ciência da Computação
Baixar livros de Ciência da Informação
Baixar livros de Ciência Política
Baixar livros de Ciências da Saúde
Baixar livros de Comunicação
Baixar livros do Conselho Nacional de Educação - CNE
Baixar livros de Defesa civil
Baixar livros de Direito
Baixar livros de Direitos humanos
Baixar livros de Economia
Baixar livros de Economia Doméstica
Baixar livros de Educação
Baixar livros de Educação - Trânsito
Baixar livros de Educação Física
Baixar livros de Engenharia Aeroespacial
Baixar livros de Farmácia
Baixar livros de Filosofia
Baixar livros de Física
Baixar livros de Geociências
Baixar livros de Geografia
Baixar livros de História
Baixar livros de Línguas
Baixar livros de Literatura
Baixar livros de Literatura de Cordel
Baixar livros de Literatura Infantil
Baixar livros de Matemática
Baixar livros de Medicina
Baixar livros de Medicina Veterinária
Baixar livros de Meio Ambiente
Baixar livros de Meteorologia
Baixar Monografias e TCC
Baixar livros Multidisciplinar
Baixar livros de Música
Baixar livros de Psicologia
Baixar livros de Química
Baixar livros de Saúde Coletiva
Baixar livros de Serviço Social
Baixar livros de Sociologia
Baixar livros de Teologia
Baixar livros de Trabalho
Baixar livros de Turismo