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ANTÔNIO CARLOS GOMES
AS OPERAÇÕES DE LINGUAGEM COM A
MARCA “QUANDO”
Tese apresentada à Faculdade de Ciências e
Letras “Júlio de Mesquita Filho”, da Universidade
Estadual Paulista, Campus de Araraquara, para
obtenção do título de Doutor em Letras (Área de
concentração: Lingüística e Língua Portuguesa).
Orientador: Dra. LETÍCIA MARCONDES REZENDE
ARARAQUARA
2007
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2
A minha mãe Derly, a meus irmãos e amigos, que muito me
incentivaram, transmitindo os sentimentos de fé, de
perseverança e de coragem, sem os quais nenhuma meta
se tornaria realidade.
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AGRADECIMENTOS
A concretização desta tese é resultada da contribuição direta de várias pessoas.
Transmitimos nossa gratidão a todas elas e de modo particular agradecemos:
À Profa. Dra. Letícia Marcondes Rezende, pelo inestimável espírito de
fraternidade e senso humanitário, bem como pelo competente trabalho de
orientação, real suporte de nossa pesquisa.
À Profa. Dra. Márcia Cristina Romero Lopes e à Profa. Dra. Silvia Dinucci
Fernandes, pelas importantes observações, questionamentos e frutíferas
sugestões relacionadas com o nosso projeto de tese, durante o Exame de
Qualificação.
A todos os professores da Pós-Graduação, pela transmissão de enriquecedores
conhecimentos; aos funcionários, pelos eficientes serviços, apoio e informações e
à doutoranda Beatriz Quirino Arruda, pelo encorajamento e confiança que sempre
me dedicou.
Aos dirigentes, professores e funcionários do CEFET-ES, pelo apoio, incentivo, de
forma especial, aos professores Francisco Carlos Peixoto e Roberto Mauro
Mendonça, pela dedicação com que colaboraram na revisão do texto.
Aos professores Júlio Francelino Ferreira Filho e Ismael Thompsom da
Universidade Federal do Espírito Santo.
Aos professores, funcionários e alunos da Faculdade FABAVI / JSimões
Guarapari, em especial à professora Stella Fardim, pela contribuição na seleção
de poemas, e à aluna Edléa da Assunção, pela ajuda nas leituras em Inglês.
4
Eu não amava que botassem data na minha existência. A gente
usava mais era encher o tempo. Nossa data maior era o
quando. O quando mandava em nós. A gente era o que
quisesse ser usando esse advérbio. Assim, por exemplo:
tem ora que eu sou quando uma árvore e podia apreciar melhor
os passarinhos. Ou: tem hora que eu sou quando uma pedra. E
sendo uma pedra eu posso conviver com os lagartos e os
musgos. Assim: tem hora que eu sou
quando um rio. E as
garças me beijam e me abençoam. Essa era uma teoria que a
gente inventava nas tardes. Hoje eu estou
quando infante. Eu
resolvi voltar quando infante por um gosto de voltar. Como
quem aprecia de ir às origens de uma coisa ou de um ser.
Então agora eu estou quando infante. [...] Quem é quando
criança a natureza nos mistura com as suas árvores, com as
suas águas, com o olho azul do céu. Por tudo isso que eu não
gostasse de botar data na existência. Por que o tempo não
anda pra trás. Ele só andasse pra trás botando a palavra
quando de suporte.
(Manoel de Barros)
5
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO.......................................................................................................... 09
CAPÍTULO I - CONSIDERAÇÕES INICIAIS ........................................................... 11
1.1 MOTIVAÇÃO E OBJETO DE INVESTIGAÇÃO .................................................. 11
1.2 HIPÓTESES DE TRABALHO E OBJETIVO DA INVESTIGAÇÃO...................... 17
1.3 TEORIA QUE DARÁ SUPORTE ÀS ANÁLISES................................................. 19
1.3.1 Quantificação e qualificação........................................................................ 22
1.4 TEMPO E TEMPORALIDADE ............................................................................ 24
1.5 MODALIDADE .................................................................................................... 31
1.6 ASPECTUALIDADE ............................................................................................ 33
CAPÍTULO II - 2 ANÁLISES LINGÜÍSTICA DE QUANDO...................................... 37
2.1 PARÂMETROS ENUNCIATIVOS ...................................................................... 38
2.2 ANÁLISE DOS ENUNCIADOS ........................................................................... 42
2.2.1 Quando + tempo presente............................................................................. 43
2.2.2 Quando + tempo passado ............................................................................. 64
2.2.3 Quando + tempo futuro ................................................................................. 93
CAPÍTULO III - 3 ANÁLISES DA RELAÇÃO INTER-LÉXIS.................................. 105
3.1 METODOLOGIA DA ANÁLISE ......................................................................... 107
3.2. VERIFICAÇÃO DOS ENUNCIADOS ............................................................... 108
3.3. CONCLUSÕES DESSAS ANÁLISES .............................................................. 144
CAPÍTULO IV - 4 ESPAÇO DE REFERÊNCIA TEMPORAL................................. 147
4.1 REFERÊNCIA ................................................................................................... 148
4.1.1 Processo de referenciação.......................................................................... 152
4.2 VALORES REFERENCIAIS.............................................................................. 154
4.2.1 Referência Compacta, Densa e Discreta.................................................... 158
4.2.1.1 Valor referencial compacto.......................................................................... 160
4.2.1.2 Valor referencial denso ............................................................................... 161
4.2.1.3 Valor referencial discreto............................................................................. 163
4.3 UM RETORNO À TEORIA DE ANTOINE CULIOLI .......................................... 164
4.3.1 Domínio nocional......................................................................................... 165
4.3.2 A operação de localização .......................................................................... 166
4.4 ANÁLISE DAS OPERAÇÕES DE LOCALIZAÇÃO COM A MARCA QUANDO 168
4.4.1 Enunciados de valor compacto .................................................................. 169
6
4.4.2 Enunciados de valor discreto ..................................................................... 177
4.4.3 Enunciados de valor denso......................................................................... 186
5 CONCLUSÃO...................................................................................................... 191
6 REFERÊNCIAS ................................................................................................... 197
7
RESUMO
Esta pesquisa é uma análise da marca quando, apoiada na Teoria das Operações
Enunciativas, de Antoine Culioli, para quem a linguagem é uma atividade de
regulação, referenciação e representação do pensamento pelos sujeitos
enunciadores. Tal estudo é um exercício que pretende ir além do domínio do
imediatamente observável, para tentar descrever os processos de produção (e de
reconhecimento) subjacentes a uma seqüência de signos. A marca quando
aparece em enunciados com verbos nos tempos presente, passado e futuro. Ela
não torna mais evidente a noção de tempo, como também opera uma
(in)determinação no enunciado, influenciando diretamente as categorias de
aspecto e de modalidade. Quando ela conecta duas léxis, pode haver a
propriedade de voz, verificada na relação de causalidade. Após as análises,
pudemos entender que a regulação de um enunciado e da relação semântica
entre as léxis que o compõem, não depende do conector, mas do sentido
imbricado a sua direita e esquerda. A marca
quando é usada em variados
contextos, sustentada por uma invariante. Ela pode ter valores referenciais denso,
compacto ou discreto. Esses valores são aferidos pelas operações de localização,
pela determinação ou não da noção, pelo intervalo de tempo, pelo espaço de
referência e pela configuração da marca no domínio nocional do tempo.
8
ABSTRACT
This research paper is the analyses of the linguistic make when based upon the
Enunciative Operations Theory by Antoine Culioli to whom language is an activity
of regulation, reference and representation of thought by the enunciator subject.
The referred study is an exercise which intends to go further than the promptly
observed in order to describe the process of production (and also recognition)
beyond a sign sequence. The make
when appears in sentences with verbs in the
present, past and future tenses. It not only makes evidence of the notion of time
but also works as an undetermined term of the enunciation, directly influencing
both the aspect and modality. Whether it connects two lexis a voice property may
occur verified in the relation of causality. Through the analyses we could
understand that the regulation of the enunciate and the semantic aspects between
the lexis which form them, depend not only on the connector but also on the
meaning already existent on its right or its left. The make
when is used in the most
varied contexts supported by an invariable word. It may have dense referred
values or also compact or discrete ones. Such values are determined by its
location, the determination or not of its notion, the interval, the reference space
and by the configuration of the make in the notional domain of the time.
9
INTRODUÇÃO
Este trabalho consiste em uma investigação da marca quando, em enunciados da
língua, com vistas em se fazer uma descrição das operações de linguagem que
permitem regular, referenciar e representar o pensamento dos sujeitos
enunciadores.
Entende-se que as marcas funcionam como pistas dadas pelo enunciador para
permitir ao co-enunciador a regulação adequada daquilo que se pretende
representar, mediante uma seleção que envolve determinadas conclusões e
exclusões, a fim de referenciar a estrutura da significação. Esse exercício, que se
inscreve no interior da própria língua, pode ser definido como um conjunto de
relações instituídas na atividade da linguagem entre os indivíduos.
Ao empreendermos este estudo, com base na Teoria das Operações
Enunciativas de Antoine Culioli, defendemos a tese de que as operações de
(in)determinação da marca
quando têm uma invariância inerente à linguagem que
sustenta as suas variações contextuais na língua.
Na teoria das invariantes da linguagem, entende-se que é tarefa do lingüista ir
além do domínio do imediatamente observável, para tentar descrever os
processos de produção (e de reconhecimento) subjacentes a uma seqüência de
signos, com determinadas características. Essa seqüência chamada de
enunciado é um objeto empírico diretamente observável e, concomitantemente,
um objeto construído pela teoria. Isso porque é parcialmente dependente em
10
relação ao ponto de vista do observador / analista e resulta da abstração de
numerosos fatores, internos e externos, da enunciação.
Para tentar atingir nossa meta, apresentaremos esta tese dividida em quatro
capítulos. No primeiro capítulo, apresentaremos as considerações iniciais em que
falaremos sobre a motivação, o objeto, as hipóteses de pesquisa, objetivo da
investigação, e a teoria que dará suporte às análises.
No segundo capítulo, faremos análise lingüística do
quando, para verificar as
operações de determinação e a relação com a aspectualidade e modalidade. Os
enunciados serão divididos em conformidade com os tempos presente, passado e
futuro.
No terceiro capítulo, o foco da investigação será a análise da relação inter-léxis,
na qual verificaremos as relações suplementares a de tempo e a propriedade de
voz.
No quarto e último capítulo, analisaremos a referência temporal de
quando. Nessa
unidade, além de analisar as operações de localização com a marca quando e
seu espaço topológico no domínio nocional, falaremos de referência, processo de
referenciação e dos valores referenciais: compacto, denso e discreto.
Nosso entendimento é que a descrição de uma marca da língua consistirá em
uma representação dos processos (relativamente a operações, operadores e
operandos), em sua organização específica.
11
CAPÍTULO I
O Homem desperta e sai cada alvorada
Para o acaso das cousas... e, à saída,
Leva uma crença vaga, indefinida,
De achar o Ideal nalguma encruzilhada...
As horas morrem sobre as horas... Nada!
E ao poente, o Homem, com a sombra recolhida
Volta, pensando: “Se o Ideal da Vida
Não vejo hoje, virá na outra jornada...”
Ontem, hoje, amanhã, e, assim,
Mais ele avança, mais distante é o fim,
Mais se afasta o horizonte pela esfera;
E a vida passa... efêmera e vazia:
Um adiamento eterno que se espera,
Numa eterna esperança que se adia...
(Raul de Leoni)
1
1 CONSIDERAÇÕES INICIAIS
1.1 MOTIVAÇÃO E OBJETO DE INVESTIGAÇÃO
Todo indivíduo tem autonomia para mobilizar a língua, construindo
representações do pensamento e, ao colocar em funcionamento as unidades
lingüísticas, por um ato individual, faz a enunciação. Portanto, enunciar é
operacionalizar a linguagem considerando o ato, os instrumentos e o contexto da
1
- Raul de LEONI. Legenda dos dias. in: MOISÉS, Massaud. A literatura brasileira através dos
textos
. 20 ed. São Paulo: Cultrix, 1997, p. 323.
12
sua realização em determinado espaço-tempo, em que os conteúdos lingüísticos
permitem o sujeito regular e referenciar o pensamento. Conforme Culioli (1999 t.
2, p.161), a atividade da linguagem remete-se a três ordens de operação:
operações de representação, operações de referenciação e operações de
regulação”
2
, por isso é que podemos, por meio das marcas do enunciado,
recuperar as informações que remetem ao contexto de enunciação.
A linguagem oferece um universo de possibilidades para enunciar e suas
operações requerem o exercício de uma metalinguagem que facilite a
manipulação, pelo sujeito, de suas construções e reconstruções lingüísticas nas
diversas interações do dia-a-dia. Diante da necessidade de uma competência
para operacionalizar os vários domínios lingüísticos, não se pode reduzir o ato
enunciativo a um conjunto de situações padronizadas que limitam a descrição das
formas de interação verbal.
Para Benveniste (1989, p. 82), “[...] a diversidade das estruturas lingüísticas, tanto
quanto sabemos analisá-las, não se deixa reduzir a um pequeno número de
modelos
”. Portanto, a tese que defendemos não se limita à modelagem da
gramática nem se apóia em uma visão de um léxico plasticamente lógico, pois o
fato de as palavras significarem alguma coisa reside na própria essência da
língua. Por isso, categorizar uma marca significa desmontá-la, que as
representações resultam de um número significativo de operações da linguagem
e do exercício cognitivo do sujeito enunciador; portanto nossa meta é manipular
enunciados para identificar os princípios generalizáveis, orientadores de uma
2
- L’activité de langage se ramène à trois ordres d’opérations: opérations de représentation,
opérations de référenciation, opérations de régulation.
Todas as traduções de citações, que não estavam em português, foram feitas por nós.
13
maleabilidade que, possivelmente, esteja na própria essência da linguagem.
Acreditamos que isso nos permite apreender o que, de fato, seja a atividade
lingüística.
muito vimos vivenciando uma inquietação relacionada com as operações de
linguagem. Em um primeiro momento de pesquisa científica, estudamos a
conjunção e (GOMES, 2002) usada como conector de orações. Na investigação,
verificamos as relações que permeiam tal conexão. A geração e o processo
constitutivo dos enunciados com a conjunção e envolvem todas as operações
efetuadas no processo enunciativo. Nas análises, constatamos que esse
conector, apoiando-se em outras marcas, orienta as relações observadas e que,
por isso, todas as relações de sentido entre as orações ligadas pelo e não são
estabelecidas exclusivamente por ele.
Como método de pesquisa, parafraseamos o e com outras conjunções, inclusive
as consideradas subordinativas (típicas da hipotaxe) e, em decorrência dessas
análises, surgiram-nos novas perguntas:
- esse tipo de maleabilidade semântica ocorre apenas com a conjunção
e?;
- os sentidos que tradicionalmente se atribuem a outros conectores
podem também variar se consideradas as marcas dos elementos eleitos
para gerar e para compor os enunciados?;
- uma unidade que encerre o sentido em si existe na língua?
Para respondermos a essas interrogações, tornar-se-á necessário investigar a
possibilidade que temos de chegar aos mesmos resultados, obtidos na análise de
14
enunciados encontrados na cadeia parafrástica do e, em uma direção oposta, ou
seja, verificarmos enunciados em que aparecem outras conjunções, a fim de
entender qual a identidade ou variação semântica que sustenta as operações de
linguagem.
As leituras e as análises dos enunciados com a conjunção
e, tendo como suporte
a Teoria das Operações Enunciativas, embasaram-nos de novos instrumentos
para refletir sobre a língua(gem). E, ao construirmos as paráfrases para o e,
percebemos que o
quando também aparecia nos enunciados analisados, como
uma paráfrase possível
3
. Por isso, empreenderemos este estudo sobre a marca
quando, que é tradicionalmente apresentada como um advérbio ou como
conjunção subordinativa de tempo.
Para entender como se deu a relação parafrástica
4
de e por quando,
transcrevemos, por exemplo, o enunciado:
1 - Estamos em época de eleição e cada candidato começa a fazer o
seu showzinho particular,... (red. 141 - 1
o
ano)
que foi parafraseado por:
3
- Existem situações em que se podem ter o e e não o quando, a menos que se opere com outras
marcas manipulando o enunciado.
4
- A paráfrase, conforme Fuchs (1994), é reveladora do modo de funcionamento da semântica
das línguas naturais, com sua flexibilidade, suas falhas, seus jogos. É um dos mecanismos do
sistema da língua, que permite transformar um mesmo enunciado (ou texto) de partida, usando de
estratégias em nível da linguagem efetiva dos sujeitos, em uma multiplicidade de outros
enunciados (ou textos) julgados equivalentes.
Parafrasear um texto-origem (T) é, para a tradição, produzir um novo texto, “texto-alvo” (T
I
), que
reformula T. É essa reformulação que visa a esclarecer certos aspectos de T.
A passagem do texto-origem a um texto alvo (T
T
I
), elaborada na medida em que se reconstrói
o texto origem, não é apenas a substituição de uma palavra por outra palavra, mas é o
desencadeamento de um processo de interpretação do texto-origem (T) e, conseqüentemente, a
reformulação do conteúdo (C), para se produzir o texto alvo (T
I
).
15
1a - “(A) estamos na época de eleição (B) quando cada candidato
começa a fazer o seu showzinho particular,...”
Na análise das operações de linguagem e das relações estabelecidas entre as
léxis
5
, entendemos que concomitância temporal entre A e B. A léxis A não é
determinante de B nem é determinada por ela, não continuidade entre A e B,
ambas são origem de um processo. A relação de causalidade entre elas é
interrompida e não regulação de causalidade no domínio nocional organizado
em torno da causalidade tipo
6
. No enunciado (1), é possível perceber entre as
léxis, de forma mais atenuada, uma noção de tempo.
Observa-se que, além da noção temporal gramaticalizada na flexão dos tempos
verbais, a expressão em época é uma marca que também traz imbricada em si
essa noção. Portanto, no enunciado outras marcas que operam um recorte
no tempo. Isso favorece a presença do operador quando, que vai recortar o
intervalo de instantes para os acontecimentos, realçando melhor a localização da
noção semântica de tempo.
Sabe-se também que o quando pode vir introduzindo a léxis A ou a léxis B, como
em:
1.a) Quando os candidatos fazem seu showzinho, (B) é época de
eleição.
1.b) Quando é época de eleição, os candidatos fazem seu
showzinho.
5
- A léxis é o conjunto de noções primitivas, predicáveis. Esse conceito será mais bem explicado
no desenvolvimento deste trabalho.
6
- A análise completa dos enunciados com a conjunção e, inclusive desse que foi apresentado
aqui, encontra-se no capítulo III da minha Dissertação de Mestrado, cuja referência está na
bibliografia desta tese.
16
e que, no enunciado com e, não há possibilidade de uma mudança na seqüência.
Esse tipo de (in)flexibilidade não exerce influência, principalmente, nos
aspectos sintático e semântico, como também baliza as possibilidades de
construção de paráfrases.
Observamos que a proposta de análise para
quando, apresentada na gramática
normativa ou prescritiva, é a de que essa marca opera exclusivamente a noção de
tempo, o que se justifica com exemplos prototípicos, pensados ou ajustados ao
fato lingüístico. Por exemplo, Rocha Lima afirma:
É papel da oração temporal trazer à cena um acontecimento ocorrido
antes de outro, depois de outro, ou ao mesmo tempo que outro.
Para cada um desses aspectos, possui a oração temporal, quando
DESENVOLVIDA, conjunções apropriadas.
A mais geral das partículas é quando, com a qual se exprime, de
maneira mais ou menos vaga, a ocasião em que se passa um fato:
Quando a morte chegou, / encontrou-o em paz com Deus (ROCHA
LIMA, 2000, p. 283).
Cunha (1975, p. 541) diz que “[...] as conjunções temporais iniciam uma oração
subordinada indicadora de uma circunstância de tempo: quando [...]”
apresentando, como exemplo, um fragmento da poetisa Cecília Meireles “custas a
vir e, quando vens, não te demoras”. Mesmo Bechara (1999) que entende ter
passado a sua gramática “[...] por uma consciente atualização e enriquecimento
[...]”
7
afirma ( p. 502) que “[...]a oração subordinada denota o tempo da realização
do fato expresso na principal”. Ele aponta o quando como conector para o tempo
posterior (saiu quando ele chegou) e para o tempo freqüentativo (quando o vejo,
lembro-me do que me pediu).
7
- Fragmento do prefácio da 37 ed. da Moderna Gramática Portuguesa.
17
A forma com que Lima, Cunha e Bechara trataram do tema mostra que os
estudos gramaticais, geralmente, descrevem fatos que nos levam a pensar a
linguagem como se ela fosse constituída de representações prontas, arranjadas
para se ajustar à teoria, sem exigir muito esforço. No entanto, acreditamos que
uma reflexão sobre todas as formas de interação verbal deve ter como base a
própria geração do fato lingüístico pelo falante, a fim de que se possam articular o
empírico, o prático ou o particular (individual) com os processos generalizáveis ou
universais.
1.2 HIPÓTESES DE TRABALHO E OBJETIVO DA INVESTIGAÇÃO
O centro da nossa investigação é analisar as ocorrências da marca lingüística
quando, observando seu papel no enunciado e a construção do espaço de
referência. Acreditamos que os procedimentos de abstração e de generalização
apreendidos nas representações metalingüísticas feitas pelo sujeito enunciador
resultam de operações de linguagem (determinação, modalização,
aspectualidade, localização, voz etc.) que levam o quando, ao relacionar-se com
outras marcas, a não evidenciar a noção temporal, mas colocar em relação
outros valores semânticos. Dessa forma, supomos que o conjunto de significados
de que tal marca é portadora pode permitir vê-la como generalizável.
18
Considerando que todo ato de enunciação ocorre em um tempo Sit (To) em
relação ao tempo do enunciado
T
( )
8
, cuja coordenada espaço-temporal contribui
para a operação de regulação, formulamos algumas hipóteses concernentes à
marca
quando que nortearão nossa reflexão:
- a ocorrência da marca explicita a relação semântica de tempo,
mas não está apenas nela a noção de tempo;
- o conector quando pode diminuir, reduzir, com muita constância,
outras relações subentendidas no enunciado;
- o quando pode evidenciar no enunciado outro instante no domínio
nocional do tempo, em relação ao tempo de enunciação;
- uma atenuação ou evidência do domínio de outras noções
semânticas pode ser notada no enunciado, conforme a marca que
ocupar o lugar do quando no jogo parafrástico;
- as ocorrências de quando localizam e podem ser localizadas por
outros domínios do enunciado;
- a construção de um enunciado hipotático com a marca quando
pode ter como pré-construído uma relação paratática;
- a marca quando, conforme sua ocorrência, pode implicar os
valores referenciais denso, discreto ou compacto nas operações
de determinação que permitem os sujeitos enunciadores regular o
significado do enunciado.
8
- Os parênteses poderiam ser substituídos pelo tempo do enunciado ou por outra marca
temporal.
19
1.3 TEORIA QUE DARÁ SUPORTE ÀS ANÁLISES
9
Buscando fazer uma descrição das operações enunciativas que envolvem a
construção de enunciados, nos quais a marca quando, usaremos como
suporte teórico básico a Teoria das Operações Enunciativas, de Antoine Culioli.
O ponto de vista de Culioli consiste em tomar um enunciado lingüístico
como um resultado e não como uma representação. muito tempo
que se sabe que ao lado dos conteúdos há os atos de pensamento e os
atos de linguagem que os elaboram [...]
10
(CULIOLI, apud AUROUX,
1992, p. 45).
Essa teoria defende o rompimento com a dicotomia entre língua e linguagem e
parte de um nível batizado de relações primitivas para, em seguida, remontar
construindo regras que só se darão como sintático/semânticas e, por isso, situam-
se na perspectiva de uma gramática de produção e não em uma perspectiva de
simples reconhecimento dos arranjos de língua.
A relação primitiva, necessariamente, não é a primeira. Trata-se de três lugares
vazios ligados a nossa atividade cognitiva a r b que são três noções
11
instáveis, anteriores ao léxico e à gramática. Essas noções, apresentadas como
predicáveis: aquilo que é dizível (o que pode ser dito ou ser falado), são da forma
P - P
I
. Por exemplo: menino – será representado como ( ) ser menino
12
.
9
- Grande parte das afirmações contidas nesta exposição são traduções, resumos e paráfrases
dos textos de Culioli ou de autores ligados a sua teoria.
10
- Le point de vue de Culioli consiste à prendre un énoncé linguistique comme un résultat et non
pas comme une représentation. Evidemment, il y a longtemps que l’on sait qu’à côté des contenus,
il y a des actes de pensée et des actes de langage qui les élaborent […].
11
- Ver: Sur le concept de notion in: CULIOLI, Antoine. Pour une linguistique de l’enonciation.
Paris: Ophrys, 1990 t. 1, p. 47-66.
12
- Os parênteses vazios simbolizam o que vai ser preenchido (ocorre antes da fala).
20
O preenchimento das noções a r b constitui o esquema de léxis 
0,
1,
13
A segunda relação, predicativa, opera no plano do sintático. Trata-se do processo
de referenciação em que os sujeitos estabilizam o sentido. Tomando-se, como
exemplo, “menino” em uma relação predicativa, os enunciadores teriam de fazer
as operações de quantificação, de qualificação e de determinação, referenciando
“ser menino X ser não-menino” até o estabelecimento da ocorrência e,
conseqüentemente, do lugar que tal ocorrência ocuparia na léxis.
A terceira e última relação, a enunciativa, não é necessariamente dissociada das
operações predicativas. Ela ocorre no discurso, no nível pragmático, quando se
oferecem os valores materiais e as marcas que, no tempo e no espaço, permitem
os sujeitos enunciadores regularem o significado.
Nas operações enunciativas, segundo Danon-Boileau (1987, p. 19), há duas
ordens de dados:
a) a validação (e eventualmente os valores) das referências
correspondentes a cada um dos três elementos do conteúdo da
relação predicativa. O valor é obtido com base na relação enunciador
/ momento da enunciação;
b) o estatuto do conjunto do enunciado; o ponto de vista do sujeito
enunciador, com relação ao que ele imagina ser o pensamento de
seu co-enunciador, que é definido pela modalidade.
13
- Ver Jean-Pierre DESCLÉS, Schéma de lexis in: BOUSCAREN, Janine et al. Langues et
Langage
. Paris: PUF, 1995, p. 57-71.
21
É na relação enunciativa que se pode distinguir o instante da ocorrência, isto é, as
marcas que situam o enunciado no presente ou no passado: os enunciados
afirmativos, interrogativos, negativos e hipotéticos. Esse é o momento em que o
co-enunciador monta e desmonta as representações, usando o esquema de léxis.
É que se pode ter a percepção de como o domínio nocional se realiza. Tal
relação apresenta-se como um pacote: de um lado, a relação enunciação-
enunciado, envolvendo o sujeito enunciador e o sujeito do enunciado; de outro, o
tempo da enunciação e o tempo do enunciado.
A teoria culioliana permite chegar a uma teoria global e à formação de soluções
generalizáveis, fazendo as formas trabalharem por si mesmas e se servirem de
metalinguagem apropriada, que o nível das representações cognitivas (aquelas
elaboradas com base em nosso relacionamento com o mundo), o nível das
representações lingüísticas (encontradas nas marcas do texto) e o nível das
representações metalingüísticas (construções baseadas em procedimentos de
abstração e formalização) se relacionam intimamente. Além disso, essas
operações nos permitem construir relações de categorias gramaticais por meio de
operações concatenadas, uma vez que não se procura trabalhar com formas
prontas e constituídas.
A ramificação de propriedades que se organizam umas em relação às outras em
razão de fatores físicos, culturais e antropológicos estabelece um domínio
nocional, que é uma representação sem materialidade ou cuja materialidade é
inacessível ao lingüista. Segundo Danon-Boileau (1987, p. 54), Culioli propõe um
conjunto de conceitos, atribuindo-os a uma topologia lingüística aferida no
domínio da noção. No seio desse conjunto, figuram uma repartição do espaço em
22
duas zonas interior / exterior, um interior munido de um centro atrator e uma
fronteira
14
entre interior e exterior.
1.3.1 - Quantificação e qualificação
15
A Quantificação remete não à quantificação lógica, mas à operação pela qual se
constrói a representação de
qualquer coisa que se pode distinguir de um outro
estado de coisas, situando-se em um espaço de referência, para ser localizado
(no sentido abstrato do termo) dentro de um domínio de representações. Dizendo
de outra maneira,
qualquer coisa remete a uma ocorrência
16
em que o sujeito
pode apreender, discernir (perceber uma forma singular em relação ao meio),
distinguir (eliminar a indeterminação) e localizar (situar essa
qualquer coisa em
um espaço-tempo).
A operação de quantificação envolve três operações: de um lado, a operação de
extração
17
(extraction) e a de flechagem
18
(fléchage); de outro, a operação de
varredura
19
(parcours).
14
- Ver: La frontière in: CULIOLI, Antoine. Pour une linguistique de l’enonciation. Paris: Ophrys,
1990, p. 83-90.
15
- Os conceitos aqui formalizados para Qnt/Qlt são traduções ou paráfrases do texto origem de
Culioli.
16
- Uma ocorrência é um acontecimento enunciativo que delimita uma porção de espaço/ tempo
especificada pela propriedade P. No nível qualitativo - Qlt, a noção se apresenta: i) como
indivisível, isto é, como não fragmentada, tomada em bloco; ii) como não-saturada. Retomando-
se, assim, um esquema predicativo, à espera de uma instanciação que preparará
necessariamente a construção de uma ocorrência de P (passagem de uma representação mental,
a uma atividade passível de referência), correspondente a um “pôr em forma” a noção que se
chama quantitativa QNT (nível metalingüístico).
17
- A operação de extração permite ao sujeito enunciador isolar um ou mais elementos de uma
classe de ocorrências.
23
A Qualificação, que tem como suporte a noção gramatical de determinação
20
,
entra em jogo cada vez que se efetua uma operação de identificação/
diferenciação sobre qualquer coisa. Qualificar pode ser entendido como a
desestruturação de um encadeamento complexo de operações, pois não se
resume, apenas, em acrescentar um qualificativo. A qualificação distingue no fato
uma terceira dimensão, que se poderia chamar de a dimensão da validação. É
nessa dimensão que, com base em propriedades topológicas compreendidas
como domínio nocional, pode-se avaliar a relação da entidade com a qualidade.
Para conceituar as operações de referência, na perspectiva do quadro teórico
culioliano, diríamos, reproduzindo as palavras de Lopes (2000), que a unidade
lingüística apresenta uma maleabilidade que lhe é inerente, traduzida pelas
diferentes relações entre suas dimensões Qlt e Qnt. O referente pode guardar sua
autonomia com relação ao enunciado ou pode variar de uma situação de locução
a outra.
A análise de enunciados com a marca lingüística quando, que faremos nos
capítulos seguintes, será vinculada ao modelo da teoria de Culioli. O
procedimento para a análise lingüística, segundo essa teoria, parte da observação
dos arranjos de enunciados para ligá-los a um esquema primitivo de constituição
(as relações primitivas). Fundado nesse esquema, volta-se em direção ao
enunciado, para destacar uma ou mais famílias de paráfrases (de enunciados),
com as conseqüências semânticas que isso supõe, das quais a principal é ter,
18
- A operação de flechagem manifesta-se após uma extração. Ela acontece quando, diante de
duas ocorrências, a segunda é identificada com a primeira.
19
- A operação de varredura se caracteriza por não se deter em uma ocorrência, mas percorrer
um conjunto de ocorrências sem selecionar um ou outro elemento. Ela opera sobre cada elemento
de um conjunto ou sobre a totalidade deles.
20
- O artigo, o pronome e outros determinantes, ao antecederem o nome no enunciado,
representam a marca de operação que confere graus de especificidade qualitativa e quantitativa à
noção para a qual se remetem.
24
assim, a possibilidade de uma pluralidade de interpretações, seguidamente
intrincadas. Isso é a objeção da redução da família parafrástica a um modelo. A
única resposta a essa objeção é a admissão de que essa dialética é inerente à
própria atividade lingüística. Dizer ou enunciar é sempre construir segundo certa
forma, mas, concomitantemente, é correr o risco de interpretações múltiplas: “Há
sempre proliferação da linguagem sobre ela mesma; nós temos sempre um jogo
de formas e um jogo de significações” (CULIOLI, 1973).
Segundo afirma Culioli (1999 t.2, p. 172), ”[...] a temporalidade, enquanto
categoria pura não existe [...]”
21
, pois, para esse autor,
[...] trata-se de um sistema de representação complexa, nascida da
interação de fatores heterogêneos, onde se misturam tempo, aspecto,
modalidade e determinação (esta última remetendo a operações pelas
quais construímos as “ocorrências” de representações nocionais, que
situamos no espaço de referência intersubjetivo)
22
(CULIOLI, 1999 t.2,
p. 172).
A ocorrência da marca lingüística quando traz sempre imbricada em si a noção
temporal, por isso, antes de iniciarmos a nossa análise, julgamos necessário
proceder a uma reflexão pormenorizada acerca do tempo e, de maneira concisa,
do aspecto e da modalidade que se encontram relacionados com aquela
categoria.
1.4 TEMPO E TEMPORALIDADE
21
[...] la temporalité, en tant que catégorie pure, n’existe pas.
22
[...] il s’agit d’un système de représentation complexe, de l’interaction de facteurs
hétérogènes, s’entremêlent temps, aspect, modalité, et détermination (cette denière renvoyant
aux opérations par lesquelles nous construisons des “occurrences” de représentations
notionnelles, que nous situons dans l’espace de référence inter-subjectif).
25
Conforme Coroa (1998, p. 8), “[...] a idéia de que a temporalidade é fundamental à
existência humana tem sido alvo de reflexão de muitos pensadores, desde a
antiguidade clássica [...]”, acrescenta a autora (op. cit) que “[...] não é nova nos
estudos lingüísticos a idéia de que a noção de tempo perpassa toda a
manifestação lingüística, de forma mais explicita ou menos”. Esses postulados
denotam a importância do fenômeno temporal e para a sua amplitude, sobretudo
na língua.
Conforme Bachelard,
[...] acima do tempo vivido, o tempo pensado. Esse tempo pensado
é mais aéreo, mais livre, mais facilmente rompido e retomado. É nesse
tempo matematizado que estão as invenções do Ser. É nesse tempo
que um fato se torna fator. Qualifica-se mal esse tempo ao dizer que ele
é abstrato, pois é nesse tempo que o pensamento age e prepara as
concretizações do Ser (BACHELARD, 1988, p. 24).
Para Alberti (2001) “[...] as inter-relações que instituem o dado concreto do tempo
explicitam-se nas experiências de temporalidade, segundo os ditames das
respectivas culturas[...]. Ela afirma:
A dimensão histórica de universalidade do tempo, extensiva a todas as
sociedades humanas (mesmo aquelas que não têm consciência dessa
universalidade), transfigura-se em tempos históricos ligados às
particularidades dessas sociedades e à cultura que as anima, de tal
maneira que o sentido do tempo que advém do sentido do espaço
transforma-se em sentidos próprios, vivenciados diferentemente,
conforme a construção espaço temporal de cada povo (ALBERTI, 2001,
p. 107).
Segundo Pereira Jr. (1987, p. 13), “[...] a temporalidade possui duas faces: de um
lado, o próprio tempo, e, de outro, aquilo que ocorre no tempo, ou seja, os
processos temporais”. Ele acrescenta:
No estudo dos processos temporais, encontramos (pelo menos:) cinco
abordagens:
26
a) naturalista: por meio da consideração de processos físicos e/ou
biológicos;
b)
antropológica: estudo dos modos de representação e vivência do
tempo em diversas culturas, pelo método etnológico e/ou
psicológico;
c)
fenomenológica: estudo das formas de consciência e vivência do
tempo, por intermédio, basicamente, da introspecção;
d)
transcendental: estudo racional das condições de possibilidade da
representação do tempo, por meio da chamada “dedução
transcendental” de conceitos;
e)
lingüística: estudo das flexões verbais, na linguagem ordinária ou na
lógica temporal (PEREIRA Jr., 1997, p. 15).
De fato, a palavra tempo sustenta os mais diversos significados, como: duração,
época, momento, período, ocasião, ação, oportunidade, ritmo, etc. No entanto, o
tempo na linguagem não tem o mesmo significado do tempo do mundo exterior
23
.
Ducrot (2001, p. 283) fala na existência de uma diferença significativa ao
reconhecer que o chamado tempo tempo, na morfologia de uma língua, não entra
em uma relação simples e direta com o que chamamos tempo no plano
existencial, mesmo desconsiderando as acepções filosóficas do termo. Para ele, a
existência, em várias línguas, de termos distintos para o tempo lingüístico e para
o tempo vivido é uma das provas, entre outras, desse fato. Por exemplo, no
inglês: tense e time; e no alemão: tempus e zeit.
Benveniste (1989, p. 71) reforça essa dicotomia ao afirmar que “[...] há, com
efeito, um tempo específico da língua [...]”, por isso apresenta uma análise
temporal sob três ângulos. O primeiro diz respeito ao tempo físico do mundo:
O tempo físico do mundo é um contínuo uniforme, infinito, linear,
segmentável à vontade. Ele tem por correlato no homem uma duração
infinitamente variável que cada indivíduo mede pelo grau de suas
emoções e pelo ritmo de sua vida interior (BENVENISTE, 1989, p. 71).
23
- Centraremos nosso estudo do tempo prioritariamente na abordagem lingüística.
27
Na exposição sobre o tempo físico e o seu correlato psíquico, Benveniste (op.cit.)
fala do
tempo crônico, “[...] que é o tempo dos acontecimentos, que engloba
também nossa própria vida enquanto seqüência de acontecimentos”. Para esse
lingüista:
[...] pode-se lançar o olhar sobre os acontecimentos realizados,
percorrê-los em duas direções, do passado ao presente ou do presente
ao passado. Nossa própria vida faz parte destes acontecimentos, que
nossa visão percorre numa direção ou em outra. Neste sentido o tempo
crônico, congelado na história, admite uma consideração bidirecional,
enquanto que nossa vida vivida corre a imagem recebida) em um
único sentido. [...] “tempo” é a continuidade em que se dispõem em
série estes blocos distintos que são os acontecimentos. Porque os
acontecimentos não são o tempo, eles estão no tempo (BENVENISTE,
1989, p. 71).
Benveniste (op. cit.) ainda fala de três condições necessárias na divisão do tempo
crônico, como fundamento da vida das sociedades: a “[...] estativa momento
axial que fornece o ponto zero”; a “diretiva que se enuncia pelos termos opostos
‘antes... / depois...’ relativamente ao eixo de referência” e a “mensurativa que
fixa o repertório de unidades de medida”.
Em relação ao tempo lingüístico Benveniste afirma que o presente é o tempo de
fundamento das oposições temporais.
O que o tempo lingüístico tem de singular é o fato de estar
organicamente ligado ao exercício da fala, o fato de se definir e de se
organizar como função do discurso.
Esse tempo tem seu centro um centro ao mesmo tempo gerador e
axial - no presente da instância da fala (BENVENISTE, 1989, p. 74).
De certa forma, as observações até então feitas apontam para uma temporalidade
na língua e fora dela. Em uma observação exclusivamente lingüística, Fiorin
expõe:
A temporalidade lingüística concerne às relações de sucessividade
entre estados e transformações representadas no texto. Ordena sua
progressão, mostra quais são anteriores e quais são posteriores. Isso
implica a existência de um sistema temporal lingüístico ordenado em
28
relação a marcos temporais instalados no texto, bem como um sistema
temporal organizado em função do presente implícito da enunciação
(FIORIN, 2002, p. 61).
O sentido dicionarizado de tempo na linguagem aparece principalmente
associado à categoria do verbo, Dubois et. al. (1973, p. 582) diz que “[...] chama-
se tempo uma categoria gramatical associada a um verbo e que traduz diversas
categorizações do tempo ‘real’ ou ‘natural’”.
Weinrich (1973), em sua obra
Os tempos
24
, a respeito da função dos tempos
verbais no discurso, constata que:
a) as marcas do tempo são altamente redundantes nos enunciados da
língua;
b) existem leis de concordância dos tempos dentro do período (“consecutio
temporum”);
c) os tempos não têm vinculação com o tempo (“cronos”);
d) distribuem-se em dois grupos ou sistemas temporais, com empregos
distintos.
Ele chega à conclusão de que, igualmente aos tempos verbais, as situações
comunicativas se repartem em dois grupos, entre o mundo comentado e o mundo
narrado. O mundo apresentado pelo falante é entendido como um possível
conteúdo de uma comunicação lingüística.
Reichenbach (1980), em uma tentativa de formalização do sistema temporal,
estabelece, ao tratar dos verbos, uma tripartição associando falante / evento /
enunciação, que abrange o tempo cronológico, o lingüístico e o psicológico.
24
- Le temps.
29
Assinala que esses tempos são caracterizados por três pontos: o evento, a fala e
a referência.
Conforme Culioli
25
(1999 t.2), os sistemas temporais são fundados sob três
ordens de representação:
1) sucessão ordenada dos instantes - organizada sobre uma analogia de
ordem em que o instante t
x
seja anterior ou posterior em relação ao
instante-localizado t
y.
. Trata-se, na linguagem, de uma representação
intuitiva que não seria remetida a uma construção matemática;
2)
recorte – entendido, de forma grosseira, como a representação lingüística
de certo estado de coisas a que um sujeito vai referir-se. Para construir tal
marcador, é preciso definir, sobre a sucessão ordenada de instantes, um
conjunto de pontos (cada ponto representa um estado-instante) que
delimita um intervalo. Se o recorte separa duas zonas qualitativamente
diferenciadas, tem-se um processo com uma descontinuidade sem
dimensão. Mas, se construímos uma transição entre dois estados, obtemos
uma fronteira que define a passagem de um estado estável P a um estado
estável não-P (onde não-P se interpreta como outro-P ou o contrário-de-P).
Pode-se, assim, marcar, como um primeiro recorte, a passagem de
verdadeiramente-P a não-verdadeiramente-P (início da alteração de P). Em
seguida, como um segundo recorte, a passagem de não-verdadeiramente-
P a verdadeiramente-não-P (fim da alteração e estabilização do processo).
Entre não-verdadeiramente-P e verdadeiramente-não-P teremos apenas P,
25
- Os postulados do lingüista Culioli, aqui apresentados, sobre a temporalidade, foram traduzidos
literalmente do texto original, cuja referência é: CULIOLI, Antoine. Les modalités d’expression de la
temporalité sont-elles révélatrices de spécificités culturelles? In:
Pour une linguistique de
l’énonciation
. Paris: Ophrys, 1999 t.2, p.159-178.
30
não ainda não-P, quase não-P, não verdadeiramente não-P. Isso é a
transição, a sucessão dos instantes, que é a construção de intervalos
munidos de propriedades topológicas (abertura, fechamento, construção do
complementar, etc.) e ordenados uns com relação aos outros.
3) consecução, concomitância, ajustamento fenômenos que aparecem
na relação entre intervalos: à ordem de anterioridade / posterioridade se
junta a relação de simultaneidade. A
consecução na relação:
“acontecimento
p precede acontecimento q ou “acontecimento q segue
acontecimento p”; a concomitância: p concomitante de q, q concomitante
de p. Se chamamos consecução à relação do precedente ao conseqüente,
obtêm-se assim duas relações (concomitância; consecução) cujo misto
(consecução e concomitância) fornece o esquema elementar para a
relação de causalidade (a existência de p leva a passagem não-q a q; caso
a existência de p seja pré-estabilizada ou nova, tem-se consecução. Em
contraposição, não-q sem causa, ou seja, p é uma variedade da
concomitância). Dessa forma, pode-se ver como se passa de um sistema
temporal a um sistema de inferência. também as relações de
ajustamento (encaixe) e/ou de sobreposição.
Para a teoria culioliana, o tempo da enunciação é o momento que diz respeito à
produção do enunciado; é o verdadeiro intervalo temporal da enunciação. O
tempo do enunciado refere-se ao instante para o qual o enunciado remete e
consolida-se a passagem de um pré-enunciado para um enunciado por meio das
operações de determinação e da aplicação das categorias de tempo, de aspecto
e das modalidades.
31
1.5 MODALIDADE
A passagem do pré-construído para o enunciado implica uma modalização feita
pelo sujeito enunciador. Trata-se de uma operação por meio da qual se configura
a modalidade como categoria gramatical.
[...] as MODALIDADES m estado quase exclusivamente associadas
aos
modos verbais e aos verbos modais enquanto categorias
gramaticais de expressão da atitude do locutor, quer em relação ao
conteúdo proposicional ou valor de verdade do seu enunciado, quer em
relação ao alocutário a quem o enunciado se destina.
Enquanto prática lingüística em interacção, todo enunciado apresenta
um determinado grau de modalização. Tal modalização consiste
essencialmente numa modificação introduzida pelo locutor ao nível da
predicação, como resultado das condições postas à sua relação e da
relação entre os elementos envolvidos na produção (MATEUS, 1987, p.
102-103).
Diferentes tipos de modalidade são apresentados por Lyons (1977), Mateus (op.
cit.), Carmelino (2004) entre outros, ao exporem um estudo dessa categoria
lingüística. Entretanto, usaremos em nossa análise a classificação proposta por
Culioli.
Segundo Vignaux (1988), Culioli destaca quatro tipos de operações modais:
I) O primeiro tipo agrupa as modalidades assertivas (enunciados afirmativos e
negativos), interrogativas e injuntivas.
Na modalidade assertiva, o sujeito enunciador dispõe de dois valores
(verdadeiro / falso ou positivo / negativo) para fazer a opção por um ou por
outro. Essa modalidade é primordial porque contém a importância dos
fenômenos de tematização no nível predicativo. É por meio dela que o sujeito
enunciador indica se o que ele está predicando é, ou não, um fato.
32
Enquanto na modalidade assertiva se faz uma asserção sobre um único valor,
na modalidade interrogativa uma varredura sobre valores possíveis
operacionalizados pelo sujeito enunciador. No entanto, fica para o sujeito co-
enunciador a escolha desse valor.
Na injunção, o sujeito enunciador exerce sobre o co-enunciador uma espécie de
“pressão”, para que ele realize uma ação. A injunção abrange o pedido, a
ordem, a sugestão, etc.
II) O segundo tipo de operações modais envolve, de um lado, o necessário, o
possível e, de outro, o certo, o provável, o eventual e até a certeza.
III) O terceiro tipo abrange as modalidades de natureza apreciativa. Envolve a
avaliação, a posição do sujeito enunciador diante de um fato. Por seu intermédio
poderão ser construídas todas as avaliações, todos os julgamentos centrados
no enunciador (eu, eu penso que, na minha opinião, etc.).
IV) O quarto tipo envolve uma relação de natureza intersubjetiva. Esse tipo de
modalidade agrupa: o deôntico, o desejo, a permissão, assim como abre espaço
para a modalidade do tipo 1, a injunção. Na modalidade deôntica uma
pressão sobre o sujeito do enunciado em relação à ocorrência que deve, ou
não, concretizar-se.
Para Vignaux (1988), a questão fundamental reside nas combinações entre essas
modalidades, visto que toda enunciação tem o objetivo de construir certa
representação de coisas e de estabelecer uma relação intersubjetiva com
discursos anteriores ou futuros.
33
1.6 A ASPECTUALIDADE
As gramáticas sempre privilegiaram, no estudo do verbo, a categoria de tempo. A
categoria de aspecto tem sido introduzida por estudos mais recentes como os de
Castilho (2002), que define o aspecto verbal como
“uma propriedade da
predicação que consiste em representar os graus de desenvolvimento do estado
de coisas codificado”, Mateus et. al. (1997), Travaglia (1981), Longo e Campos
(2002), entre outros. Por exemplo, Mateus et. al. (op. cit. p. 95-98) apresentam os
valores aspectuais: I) pontual: incoativo, causativo, inceptivo, conclusivo e
cessativo; II) durativo: cursivo, permansivo, iterativo, freqüentativo, habitual e
gnômico; III) acabado, inacabado.
Segundo a teoria culioliana, as operações aspectuais constituem operações de
determinação de um predicado e se manifestam no processo enunciativo,
desempenhando um papel fundamental. Modulam no tempo e no espaço os jogos
de relação entre enunciador e co-enunciador, para que eles possam construir ou
reconstruir os domínios de referência.
Conforme diz Culioli (1978),
[...] o jogo dos valores aspectuais vai, de um lado, situar-se no plano do
que é construído, predicado dentro de um enunciado, marcando assim
os limites, as fronteiras, e de outro lado, de qualquer jeito, projetar esse
espaço sobre um eixo, marcando-o na ordem temporal (tempos de
enunciação, lugar ou distância do sujeito em relação ao que ele
enuncia, coordenadas fixando os tempos e portadoras do processo)
com o fim de fixar o tipo de representação visada (CULIOLI,
apud:
VIGNAUX, 1988, p. 132).
26
26
- […] le jeu des valeurs aspectuelles va d’un côté, se situer au plan de ce qui est construit à
savoir prédiqué dans l’énoncé, marquant ainsi des
bornes des frontièrs”, et de l’autre, en
quelque sorte
“projeter” cet “espace” construit sur un “axe” le repérant dans l’ordre du
temporel (temps de l’énonciation, “place” ou “distance” du sujet par rapport à ce qu’il
énonce, “coordonnées” fixant les temps et portée du processus) aux fins de fixer le type de
représentation visée.
34
Por meio das operações aspectuais, o sujeito enunciador indica como o estado de
coisas
expresso no enunciado se desenrola no tempo. É o espaço construído por
uma trajetória desde um momento origem até um momento atingido. Dessa
forma, o jogo dos valores aspectuais pode situar-se ora no plano do predicado (no
enunciado que é construído), ora no tempo. Conforme Culioli, essa localização do
espaço no tempo
fixa o tipo de representação visada.
Os jogos da temporalidade, introduzidos na aspectualidade do processo,
permitem modular desde a certeza até o possível, incluindo nesse domínio o
hipotético e o improvável.
Danon-Boileau (1987) considera o aspecto um valor referencial associado ao
predicado no nível enunciativo. Tal valor provém:
a) da natureza da tematização definida na relação predicativa. A tematização do
predicado implica um valor de aspecto pontual (específico). a tematização
de um argumento implica um valor aspectual não-pontual (genérico);
b) dos valores do operador de referenciação (repérage) para os quais o
predicado e, às vezes, o auxiliar trazem a marca. Danon-Boileau admite como
valores do operador: o valor indiferente (égal), definido pelo presente, e o
valor ruptura (rupture), definido pelo pretérito;
c) da natureza da forma verbal, que pode ser uma forma simples (=relação
enunciativa simples) ou uma forma composta (=relação enunciativa
complexa).
Por ser um tipo de referência associada ao predicado, no nível enunciativo, o
aspecto é uma conseqüência direta da estrutura da relação predicativa. Desse
35
modo, se, na relação predicativa, o termo de partida é um argumento 1, o
aspecto do verbo é genérico (não-pontual). Como é possível observar em:
1) Pedro joga futebol muito bem.
joga futebol muito bem constitui uma propriedade não situada pontualmente no
tempo; mas
Pedro é situado com relação ao momento da enunciação em T = T
0
.
Em:
2) Pedro jogava como um campeão.
a idéia jogava como um campeão é uma propriedade não situada pontualmente
no tempo, enquanto Pedro é situado no tempo com relação ao momento da
enunciação em T T
0
.
Observa-se que o aspecto de joga e jogava é genérico (não-pontual). O tempo
gramatical apenas registra a marca temporal que localiza a posição de Pedro com
relação a T
0
, uma vez que Pedro é o ponto de partida e o verbo é que traz o traço
de sua localização temporal.
Em compensação, se, na relação predicativa, o predicado () for tematizado, o
aspecto do verbo passará a ser pontual (específico), como se verifica em:
3) Pedro está jogando futebol muito bem (agora).
4) Pedro jogou (ontem) futebol muito bem.
a posição / valor específico ou genérico do predicado deriva da organização da
relação predicativa. que se levar em conta ainda a oposição entre a forma
simples e a composta. Em:
36
1) Pedro joga futebol muito bem.
3) Pedro está jogando futebol muito bem.
o exemplo (3) apresenta o problema do estatuto do auxiliar. O verbo estar pode
ser visto como um verbo de estatuto pleno. Nesse caso, tem-se uma léxis
complexa: <Pedro, estar, jogando futebol>, em que Pedro (
0
) é um argumento
nominal; jogando futebol é um argumento proposicional (
1
) e estar é o predicado
(
).
Como há proximidade de sentido entre os enunciados (1) e (3), pode-se, segundo
Danon-Boileau (op. cit), optar pela léxis <Pedro, futebol, jogar>. Nesse caso, a
introdução do auxiliar é vista como uma opção posterior à definição de léxis. No
nível predicativo, postular-se-á a existência de uma imbricação de duas relações
predicativas: a encaixante (l’enchassante) e a encaixada (l’enchassée). A
encaixante terá Pedro como ponto de partida; o auxiliar estar como predicado; e
uma segunda relação predicativa como ponto de chegada. A encaixada será uma
relação predicativa com um lugar vazio; terá como ponto de partida esse lugar
vazio ou o predicado; e terá futebol como ponto de chegada.
Após essas breves considerações sobre o trabalho e sobre a teoria que dará
suporte teórico a ele, passaremos, nos capítulos seguintes, à análise da marca
quando.
37
CAPÍTULO II
Uns, com os olhos postos no passado,
Vêem o que não vêem; outros, fitos
Os mesmos olhos no futuro, vêem
O que não pode ver-se.
.......................................................
Perene flui a interminável hora
Que nos confessa nulos. No mesmo hausto
Em que vivemos, morreremos. Colhe
O dia, porque és ele.
(Ricardo Reis)
27
2 ANÁLISES LINGÜÍSTICAS DE QUANDO
Na discussão que segue, tentaremos analisar a marca lingüística quando,
observando o seu comportamento sintático-semântico em enunciados que iremos
sucessivamente manipulando, como um exercício que visa a ir além do domínio
imediatamente observável, a fim de fazer a descrição dos processos de produção
(e de reconhecimento) subjacentes ao enunciado.
27
- Ricardo REIS, in: NICOLA, José; INFANTE, Ulisses. Como ler Fernando Pessoa. São Paulo:
Scipione. 1988. p. 58.
38
2.1 PARÂMETROS METALINGÜÍSTICOS
Os parâmetros enunciativos metalingüísticos definidores do sistema referencial
são os seguintes:
- λ – léxis
-
є - localizador (ser, estar)
- э - ter
- S
0
: sujeito enunciador origem
- T
0
: indicador temporal origem
- Sit (S
0
, T
0
)
28
: situação enunciativa ou repère enunciativo origem. É a
situação de enunciação criada pelo S
0
em T
0
29
e representa igualmente a
origem das localizações espaciais.
Em torno de Sit (S
0
, T
0
), origem do sistema de localização (em sentido abstrato),
organizam-se as coordenadas enunciativas restantes, marcadas lingüisticamente
no enunciado. A saber:
- S
1
, T
1,
Sit (S
1
, T
1
): coordenadas da situação de enunciação relatada ou
situação de locução. S
1
simboliza o enunciador relatado (ou locutor) e T
1
o
tempo da enunciação relatada (ou locução). Essas coordenadas são
localizadas em relação a Sit (S
0
, T
0
). No caso de uma enunciação direta
em que S
0
assuma inteiramente a validação ou não-validação da relação
predicativa, teremos S
1
= S
0,
T
1
= T
0
e, portanto, Sit
1
= Sit
o;
28
- Para Sit (S
0
, T
0
) usaremos apenas Sit
o.
29
- A situação enunciativa Sit (S
0
, T
0
) não remete a uma situação empírica, mas a uma situação
abstrata. Trata-se de um parâmetro metalingüístico que está na base de toda a representação.
39
- S
2
, T
2,
Sit (S
2
, T
2
): coordenadas da relação predicativa ou do acontecimento
construído pela enunciação;
- S
3
, T
3,
Sit (S
3
, T
3
): coordenadas do ponto de referência intermediário entre
S
2
, T
2,
Sit
2
e Sit
1
, a partir do qual se constrói o ponto de vista sobre o
acontecimento, podendo esse ponto, em alguns casos, coincidir com Sit
1
e
em outros com Sit
2
.
A
léxis (λ) localiza-se em relação a Sit
2.
Sit
2
localiza-se em relação a Sit
0
passando
por Sits intermediárias, em uma relação complexa que pode ser representada
pela fórmula:
<<<
λ є Sit
2
> є < Sit
3
є Sit
1
>> є Sit
0
>
em que є é um operador primitivo de localização, susceptível de tomar os valores
de identificação (=), diferenciação (≠) e ruptura (ω). Assim, no caso do enunciado:
1 – Falaste que o Pedro estava olhando o carro.
a relação entre as coordenadas enunciativas é a seguinte:
Sit (S
1
, T
1
) Sit (S
0
, T
0
), S
1
S
0,
T
1
≠T
0.
No caso de uma enunciação direta como:
1a – (Eu falo) o Pedro está olhando o carro.
identificam-se as coordenadas que definem a situação de locução e as que
definem a situação de enunciação origem.
Sit (S
1
, T
1
) = Sit (S
0
, T
0
), S1= S
0,
T
1
= T
0.
40
O operador de localização assume valor de ruptura sempre que o acontecimento
não for localizado em relação a Sit
0
, isto é, quando Sit
2
se situa fora do plano da
enunciação.
Apenas as relações ligadas à noção de tempo a partir da marca lingüística
quando e os domínios com ela relacionados serão objeto deste trabalho, por isso,
para simplificar, no estabelecimento das relações de localização, teremos a
fórmula:
<<< λ є T
2
> є < T
3
є T
1
>> є T
0
>
No exemplo (1a), além de T
1
= T
0
, temos ainda T
3
= T
0,
T
2
= T
3,
T
2
= T
0.
O
presente lingüístico marca, aqui, a identificação de todas as coordenadas
temporais do enunciado.
No exemplo:
2 – (Eu digo) o Pedro ontem estava escrevendo uma carta.
T
1
= T
0,
T
3
T
0
e T
3
= T
2,
assim T
2
T
0.
Neste caso, T
3
é obtido por deslocamento
de T
0
e constitui o ponto de referência do qual se constrói o ponto de vista sobre o
acontecimento. O tempo verbal (imperfeito) é marcador desse deslocamento em
direção ao passado. O localizador deslocado conserva as propriedades
aspectuais do localizador origem. Por exemplo, tanto em (1a) como em (2) o
processo é visto como em desenvolvimento, concomitantemente com o ponto
localizador respectivo.
Em (2a), porém,
41
2a – (Eu digo) o Pedro tinha escrito a carta quando entrei.
é a partir de T
3
(quando eu entrei) que se constrói o ponto de vista sobre o
acontecimento, cuja coordenada é T
2
(tinha escrito).
Limitando-nos a tratar da marca lingüística quando em enunciados, teremos em
conta a representação em um espaço unidimensional. O ato enunciativo constrói
uma classe de instantes que valida a relação predicativa (também construída por
esse ato enunciativo). Tal classe de instantes é, portanto, representável no
espaço unidimensional (que se pode comparar a uma reta), relativamente a
intervalos (sucessões contínuas de pontos) com determinadas características.
A noção de tempo se manifesta na própria relação predicativa, associa-se ao
aspecto, pelo modo de processo, e ao valor modal, pela abertura de domínios
nocionais e outros marcadores da localização. A representação do valor tempo
em um enunciado faz-se, portanto, no espaço topológico da noção ou da relação
entre noções implicadas. É o espaço topológico que diz respeito ao domínio do
tempo (instantes que validam a relação predicativa). Na discussão que segue,
focaremos a marca lingüística quando em combinação com o tempo gramatical e
com outros indicadores aspecto-modais. Serão consideradas as relações intra e
inter-léxis.
O valor referencial de um enunciado, isto é, sua significação global final resulta da
localização de uma relação predicativa em relação a um espaço de enunciação,
criada pelo próprio ato ou processo enunciativo. Esse processo pode ser
representado como um intervalo semi-aberto em que se considera um primeiro
ponto, ou fronteira inicial, não se considerando o último ponto ou fronteira final.
Esse intervalo não pode incluir o seu último ponto, visto que faz parte da
42
representação metalingüística de valores construídos no interior do processo
enunciativo. Mas ele pode ser reduzido, abstratamente, a um ponto (que se
designa por momento da enunciação To) situado na reta denominada TC (tempo
crônico ou cronológico), sobre a qual se projetam as classes de instantes
construídas pela enunciação.
2.2 ANÁLISE DOS ENUNCIADOS
Acreditamos que a forma lingüística quando seja marcadora de operações que
expressem, prioritariamente, a noção de tempo. No entanto, Culioli (1999 t2, p.
172) afirma que ”tratando-se do tempo, desembocaremos para uma multiplicidade
de categorizações possíveis”
30
, por isso supomos que, em suas ocorrências, o
quando possa relacionar-se a domínios diversos, tais como o aspecto do
enunciado, a modalidade ou, até mesmo, a alteridade instalada entre os sujeitos
enunciadores.
Para organizar essa reflexão, faremos as análises da noção temporal de quando,
relacionando-a ao aspecto e à modalidade. Dividiremos os enunciados em três
grupos, com base no tempo verbal: quando + tempo presente, quando + tempo
passado e quando + tempo futuro.
Adotaremos para as análises a seguinte legenda:
30
S’agissant du temps, on aboutira à une multiplicité de catégorisations possibles.
43
A - léxis que aparece primeiro no enunciado
B - léxis com a qual A se relaciona
r – relação entre A e B
T
0
- Tempo da enunciação
T
2
– Tempo predicado no enunciado
T
3
– Marca de tempo intermédia (entre T
2
e T
0
)
[ ] – intervalo temporal fechado
] [ - intervalo temporal aberto
TC – Tempo crônico (cronológico)
2.2.1 Quando + tempo presente
Vamos considerar as ocorrências nos seguintes enunciados:
1 – Tem hora que eu sou quando uma pedra.
31
(A) (B)
Esse enunciado é organizado a partir do esquema primitivo:
31
- Manoel de Barros.
44
Ter hora r eu ser pedra
A B
Nele a léxis é construída sem origem (
o
), portanto ela é formada pelo predicado
(
) ter e pelo objetivo (
1
) hora. A léxis B tem como origem (
o
) o pronome eu, o
objetivo (
1
) é pedra e o predicado () é ser.
A léxis A com pronome anafórico que funciona apenas como uma marca de
localização temporal da léxis B, nela
hora não é determinada por nenhuma marca,
trata-se de uma ocorrência predicada pela operação de varredura no domínio
ser
hora X ser não-hora, em relação a outras possibilidades de ocorrência no mesmo
domínio nocional como: minuto, segundo, etc. O pronome eu, na léxis B, imbrica
em si a determinação e indica uma igualdade entre o sujeito enunciador e o
sujeito do enunciado. O objetivo pedra é predicado pelas operações Qnt/Qlt ser
pedra X ser não-pedra e é localizado pelo determinante uma, artigo que opera a
extração de pedra em relação a outras possibilidades enunciativas de elementos
cujas propriedades permitem ser predicados por ser. Os predicados das léxis A e
B são modalizados a partir das operações:
ter X não ter
ser X não ser
Se eliminarmos da léxis B uma, determinação de pedra, como em:
Tem hora que eu sou quando pedra.
teremos tanto na léxis A como na B uma varredura e, por isso, fica
indeterminado o tipo de ocorrência do ser, que pedra perde ainda mais a sua
propriedade física-cultural do que é, de fato, ser pedra.
45
Em (1) a modalidade é assertiva e B é um acontecimento que ocorre em um
tempo marcado por A, pois A é que marca o intervalo de duração de B, que
ser
pedra
não ocorre o tempo todo, só em determinados intervalos. Daí a inserção de
um aspecto durativo iterativo em B. Quando funciona como o elemento que, em
determinados instantes, despersonaliza o
eu atribuindo-lhe as características de
pedra. Tanto que poderíamos parafraseá-lo por:
1a) Às vezes eu pareço uma pedra.
Os intervalos temporais poderiam ser representados assim:
O enunciado:
2 – Hoje eu estou quando infante
32
.
que pode ser representado pelo esquema primitivo:
Eu estou r (eu ser) infante
A B
tem como origem (
o
) da léxis o pronome eu, o objetivo (
1
) é infante e o
predicado () é estar.
32
- Manoel de Barros.
T
3
( tem hora)
.......................]========== T
0
==[.............................. TC
T
2
(eu sou quando pedra)
46
O pronome eu, conforme mencionamos na análise do enunciado (01), imbrica em
si a determinação e indica uma igualdade entre o sujeito enunciador e o sujeito do
enunciado. O objetivo infante é predicado pelas operações Qnt/Qlt ser infante X
ser não-infante e ancora a ocorrência na varredura entre outras possibilidades
enunciativas de elementos cujas propriedades permitem ser um estado
(qualidade) de eu. O predicado é modalizado a partir das operações:
estar X não estar
A modalidade do enunciado é assertiva e B ser infante ocorre em um mesmo
intervalo de instante em que A é localizado pela marca hoje, pois ser infante está
ocorrendo exatamente agora. Daí apreendermos um aspecto durativo cursivo.
Quando funciona como o elemento que remete o eu atribuindo-lhe as
características de infante. Tanto que poderíamos parafraseá-lo por:
1a) Hoje estou sendo infante.
Os intervalos temporais poderiam ser representados assim:
Para os enunciados:
3 – Quando escrevo uma carta, todos lêem.
(A) (B)
T
3
(= quando (ser) infante)
.......................]== T
o
============[.............................. TC
T
2
(agora eu sou)
47
4 – Quando ficamos na janela, vemos tudo.
(A) (B)
notamos que (3) é organizado a partir do esquema primitivo:
(eu) escrever carta r todos ler (carta)
A B
e tem como origem (
o
) da léxis A o pronome eu recuperado pelo contexto por
meio do sufixo marca número-pessoal
o, o objetivo (
1
) é carta e o predicado é
escrever (). A léxis B tem como origem (
o
) todos como objetivo (
1
) carta
recuperado pelo contexto e predicado () ler.
O pronome eu analisamos nos enunciados (1) e (2). O objetivo carta é
predicado pelas operações Qnt/Qlt ser carta X ser não-carta e é localizado pelo
determinante uma, artigo que opera a extração de carta em relação a outras
possibilidades enunciativas, predicáveis por escrever, como: bilhete, livro, poema,
etc. A origem da léxis B todos é um pronome indefinido marcado pelo número
plural que opera uma varredura enunciativa, em cuja operação se localiza a
ocorrência. Os predicados das léxis A e B são modalizados a partir das
operações:
escrever X não escrever
ler X não ler
Esse enunciado tem uma modalidade assertiva.
48
Se eliminarmos da léxis A uma determinação de carta, como em:
Quando escrevo carta, todos lêem.
teremos tanto na léxis A como na B uma varredura e, por isso, fica
indeterminada se carta é um texto (a carta) ou a palavra (carta), portanto uma
ocorrência ambígua, assim como a
leitura (léxis B) pode deixar de ser da carta
escrita pelo eu (léxis A).
O enunciado (4) é organizado com duas léxis a partir do esquema primitivo:
(nós) ficar janela r (nós) ver tudo
A B
e tem como origem (
o
) das léxis A e B o pronome nós recuperado pelo contexto
por meio da marca número-pessoal -mos, o objetivo (
1
) da léxis A é janela e o
predicado () é ficar. A léxis B tem como objetivo (
1
) tudo e predicado () ver.
O pronome nós imbrica em si a determinação. A construção do enunciado com tal
pronome revela que o sujeito enunciador é parte do sujeito do enunciado. O
objetivo janela é predicado pelas operações Qnt/Qlt ser janela X ser não-janela e
é localizado pelo determinante a, artigo que opera a extração de janela em
relação a outras possibilidades enunciativas de elementos, cujas propriedades
têm a noção de lugar e permitem ser predicados por ficar, como: varanda, porta,
escada, etc. A origem da léxis B tudo é um pronome que tem a noção de totalizar
em si todas as possibilidades, por isso opera uma varredura enunciativa,
localizando-se nessa operação a ocorrência. Os predicados das léxis A e B são
modalizados a partir das operações:
ficar X não ficar
49
ver X não ver
Se eliminarmos o
a determinação de janela, na léxis A, como em:
Quando ficamos em janela, vemos tudo.
teremos na léxis A uma mudança, pois
janela passa a ser uma ocorrência
localizada na operação de varredura e, com isso, deixa de ser o local predicado
por ficar e torna-se o modo de se ficar para o ato de ver.
Em (3) e em (4), o tempo lingüístico das léxis A e B é o presente e retrata o
momento atual. Em (3) nossa experiência empírica de mundo permite inferir que
B pode ser um acontecimento que ocorre em um tempo posterior ao
acontecimento de A, o que permite ser representado no seguinte gráfico:
Nesse enunciado (3), a marca quando cria uma projeção temporal e funciona em
um domínio aspecto-temporal, em que é o intervalo que marca o instante inicial e
final desse domínio, com valor durativo freqüentativo. Dessa forma, tal marca
poderia ser parafraseada por sempre que, como em:
3a – Sempre que escrevo uma carta, todos lêem.
Em (4) um tempo concomitante ou simultâneo entre as léxis A e B, que pode
ser representado assim:
T
3
(= quando escrevo)
..........................]======T
0
=============[........................TC
T
2
(todos lêem)
50
Nesse enunciado a marca quando, além de criar uma projeção temporal,
estabiliza uma noção no domínio aspecto-temporal com valor durativo, em um
determinado intervalo de tempo (tempo em que estiver na janela). Por isso, essa
marca poderia ser parafraseada por
enquanto ou sempre que como em:
4a
1
- Enquanto ficamos na janela, vemos tudo.
4a
2
- Sempre que ficamos na janela, vemos tudo.
Como podemos observar, em (3) e (4) a marca lingüística quando influencia o
enunciado e é influenciada por outras marcas presentes nele. Portanto, o seu
papel em cada ocorrência depende do contexto em que o sujeito enunciador a
insere. Devido a isso, mesmo havendo o tempo presente, atual, nos dois
enunciados, percebemos que posterioridade de B em relação a A em (3) e
simultaneidade temporal entre A e B em (4). Isso permite a substituição de
quando por sempre que nos dois enunciados e a substituição de quando por
enquanto no enunciado (4). Essa segunda possibilidade de substituição, se fosse
feita em (3), implicaria uma mudança semântica, que, na paráfrase enquanto
escrevo uma carta, todos lêem, o ato de ler não estaria necessariamente
relacionado com carta, apenas pode ser uma ação simultânea. No entanto, se
mudarmos a ordem das léxis, como em:
3b – Todos lêem quando escrevo a carta.
T
3
(quando ficamos na janela)
...............................]========T
0
==========[.......................TC
T
2
(vemos tudo)
51
4b – Vemos tudo quando ficamos na janela.
tanto em A quanto em B, teremos o mesmo tipo de ocorrência da marca
lingüística quando e, por isso, a restrição de se substituir, em (3), quando por
enquanto deixa de existir.
Conforme vimos, tanto em (3) quanto em (4),
quando + o tempo verbal presente
têm um aspecto durativo freqüentativo, com um intervalo recortado pela marca
quando, que marca o instante do acontecimento. No entanto, se retirarmos a
marca, como em:
3c - Escrevo a carta, todos lêem.
4c - Ficamos na janela, vemos tudo.
não temos esse marcação do instante em um intervalo, e o caráter freqüentativo
se desfaz, pois o aspecto torna-se durativo permansivo e o acontecimento passa
a ser permanente.
Analisando o enunciado:
5 – Quando uns trabalham, outros descansam.
(A) (B)
observa-se que ele é organizado a partir do esquema primitivo:
uns trabalhar (trabalho) r outros descansar (se)
A B
52
tendo como origem (
o
) da léxis A o pronome uns, o predicado () é trabalhar; a
léxis B tem como origem (
o
) outros e como predicado () descansar. Na léxis A, o
objetivo (
1
) vem incorporado no próprio predicado, porque trabalhar tem a noção
de fazer o trabalho, dessa forma, trabalho é o objetivo. na léxis B, o objetivo
(
1
) pode ser recuperado pelo contexto, pois o predicado descansar sugere o
descansar-se (do trabalho).
Os pronomes uns e outros eleitos para a construção do enunciado indicam uma
diferença entre o sujeito enunciador e o sujeito do enunciado e são localizados,
respectivamente, pelas operações Qnt/Qlt ser uns X ser não-uns e ser outros X
ser não-outros, cujas propriedades permitem ser predicados por trabalhar e
descansar. Tais pronomes são marcados pelo número plural que opera uma
varredura enunciativa, localizando-se nessa operação as suas ocorrências. Os
predicados das léxis A e B são, respectivamente, modalizados a partir das
operações:
trabalhar X não-trabalhar
descansar X não-descansar
Neles uma modalidade assertiva e um tempo concomitante entre os
acontecimentos de A e B. A marca quando estabelece uma projeção do
acontecimento no eixo temporal, construindo um intervalo dos instantes. Isso
permite a substituição de quando por enquanto ou, de forma mais pontual, por no
momento em que, sem, contudo, comprometer o sentido do enunciado, como em:
5a
1 -
Enquanto uns trabalham, outros descansam.
53
5a
2 -
No momento em que uns trabalham, outros descansam.
A temporalidade no enunciado (5) pode ser representada conforme o seguinte
quadro:
Embora haja a construção do enunciado com o sujeito de A diferente do de B e
sejam ainda ambos diferentes do sujeito enunciador, uma estrutura de
paralelismo sintático inter-léxis que assegura alteração com a migração da marca
quando da léxis A para a léxis B, como em:
5b - Uns trabalham, quando outros descansam.
Portanto, a mudança de quando de A para B provoca a troca do referencial para o
momento da duração, que antes tinha a origem em trabalhar e, após a mudança,
passou para descansar, ou seja, essa origem acompanha a marca quando.
Se também retirarmos a marca, como em:
5c - Uns trabalham, outros descansam.
o enunciado fica sem um ponto que o valor de estabilidade para o intervalo
temporal, isto é, o Sit (apoio situacional), que é a própria marca. Isso também
implica, em (5c), alteração no domínio aspecto-temporal, pois, com ou sem
quando, temos um aspecto durativo habitual. Porém, com tal marca, a léxis A é
T
3
quando uns trabalham
...........................]======T
0
======[.............................................TC
T
2
– outros descansam
54
que constrói um intervalo para B. Sem ela, A e B mantêm seu aspecto de forma
quase independente, porque a relação aspectual entre os acontecimentos das
léxis é bastante atenuada.
Esse enfraquecimento, com a justaposição, ainda vai refletir na relação
semântica entre as léxis A e B, pois vamos ter a possibilidade de substituição de
quando por outros conectores, reduzindo, assim, a implicação entre elas, o que
deixa mais evidentes outros domínios suplementares à noção de tempo, como
veremos na análise deste e de outros enunciados que será feita no capítulo III
deste trabalho.
Os enunciados:
6 – O homem quando adulto não tem vaidade.
(B) (A) (B)
7 – Letícia quando professora é exigente.
(B) (A) (B)
são organizados a partir de esquemas primitivos bem parecidos. O do enunciado
(6) é:
homem (não) ter vaidade r (homem ser) adulto
A B
55
A origem (
o
) da léxis A é homem, objetivo (
1
) vaidade e predicado () ter. A léxis
B tem como origem (
o
) homem recuperado pelo contexto, como objetivo (
1
)
adulto e predicado () ser também recuperado pelo contexto.
O nome homem origem das léxis A e B é predicado pelas operações Qnt/Qlt ser
homem X ser não-homem e é localizado pelo determinante o, artigo que opera a
extração de
homem em relação a homens e a outras possibilidades enunciativas
de elementos cujas propriedades permitem ser predicados por
ter vaidade. O
objetivo das léxis A e B
vaidade e adulto são também predicadores de homem,
pois o homem quando qualificado como
adulto não tem a propriedade de ter
vaidade, portanto a ocorrência desses objetivos da léxis resulta de operações
predicativas Qnt/Qlt, respectivamente, de ser adulto X ser não-adulto e ser
vaidoso X ser não-vaidoso, entendendo-se que vaidoso é uma característica
apenas do ser que não é adulto. Os predicados das léxis A e B são modalizados a
partir das operações:
ser X não-ser
ter X não-ter
Se eliminarmos, da léxis A, a determinação o de homem, como em:
Homem quando adulto não tem vaidade.
teremos na léxis A uma varredura no domínio ser homem e, conseqüentemente,
situamos a ocorrência homem nessa operação.
O enunciado (7) é organizado a partir do esquema primitivo:
56
Letícia ser exigente r (Letícia ser) professora
A B
A origem (
o
) da léxis A é o nome Letícia, o objetivo (
1
) é exigente e o predicado
(
) é ser. A léxis B tem também como origem (
o
) Letícia, recuperado pelo
contexto, como objetivo (
1
) professora e predicado () ser, também recuperado
pelo contexto.
Letícia origem das léxis A e B designa apenas um único objeto identificado, é
pertencente à classe dos objetos do universo de referência pressuposta
pragmaticamente. Tal ocorrência é predicada pelas operações Qnt/Qlt e extraída
em relação a outras possibilidades enunciativas de personalidades cujas
propriedades permitem ser predicadas por
ser professora. Os objetivos das léxis
A e B, respectivamente, exigente e professora também são predicadores de
Letícia, pois Letícia, quando qualificada como professora, tem a propriedade de
ser exigente; portanto a ocorrência desses objetivos das léxis resulta de
operações predicativas Qnt/Qlt ser exigente X ser não-exigente e ser professora X
ser não-professora, entendendo-se que professora é uma característica do ser
que tem ou não a natureza ser exigente. Os predicados das léxis A e B são
modalizados a partir das operações:
ser X não ser
Se inserirmos uma determinação a para Letícia, como em:
A Letícia quando professora é exigente.
57
teremos a localização, nas léxis, de uma ocorrência resultante da operação de
extração que denota certa proximidade afetiva entre o sujeito enunciador e o
sujeito do enunciado.
Os enunciados (6) e (7) têm a léxis A inserida no interior da léxis B, e nas suas
construções há, respectivamente, relação predicativa:
homem ser adulto r
(homem) ter vaidade e Letícia ser professora r (Letícia) ser exigente. A
modalidade dos enunciados é
assertiva. Tanto em (6) quanto em (7) a léxis B tem
aspecto durativo permansivo e
quando opera um valor de no momento em que,
pois o homem não é adulto o tempo todo, nem Letícia exerce a função professora
o tempo todo.
Trabalhando com:
6a – O homem no momento em que é adulto tem vaidade.
7a – Letícia no momento em que é professora é exigente.
observa-se, ainda, que adulto e professora representam instantes diferenciados
em relação ao termo antecedente. Adulto é um intervalo progressivo no tempo
cronológico da vida do homem, no qual o instante jamais retorna para a condição
anterior. Isso significa que o homem avança no tempo e transforma-se,
proporcionalmente, com a sucessão de instantes. professora é um recorte
iterativo, isto é, a condição de Letícia em um intervalo não é a mesma em outro,
mas pode, à medida que os instantes se sucedem, retornar à condição de
professora. Por isso, há a possibilidade dessas outras paráfrases para quando:
6b – O homem depois que é adulto não tem vaidade.
58
7b – Letícia sempre que é professora é exigente.
A marca
quando (léxis A) faz, então, o recorte de um intervalo representado por
instantes dentro da léxis B em (6), que pode ser representado:
Como podemos observar, a noção temporal introduzida por quando em A faz um
recorte no curso do tempo de B sem um instante final. Essa mesma
representação também ocorre em relação ao enunciado (7) com intervalo iterativo
em que
Letícia exerce a função professora:
Ao observarmos a relação entre A e B nos enunciados, percebemos que A exerce
um papel atributivo (qualidade) para os argumentos lexicalizados homem e Letícia
das léxis B, restringindo ou delimitando uma porção de B, como se observa em:
6a – O homem no momento em que é adulto não tem vaidade.
7a – Letícia no momento em que é professora é exigente.
T
3
– quando adulto
.......................]=========To==========[..........TC
T
2
– O homem não tem vaidade
T
3
– quando professora
.......................]==============To======[.............TC
T
2
– Letícia é exigente
59
Nesses enunciados, os atributos adulto em (6a) e professora em (7a) têm valor
qualitativo, possibilitando inferir que
quando introduz um qualificador para o termo
(antecedente), sujeito do enunciado na léxis B, por isso marca intervalo de
instantes dessa identificação referencial dos termos antecedentes.
Em:
8 - De vez em quando ela abre a janela.
o enunciado é organizado apenas com uma léxis a partir do esquema primitivo:
Ela abrir janela
e tem como origem (
o
) da léxis o pronome ela, o objetivo (
1
) janela e o
predicado () abrir.
O pronome ela imbrica em si uma determinação e revela que o sujeito enunciador
e o sujeito do enunciado são diferentes. O objetivo janela é predicado pelas
operações Qnt/Qlt ser janela X ser não-janela e é localizado pelo determinante a,
artigo que opera a extração de janela em relação a outras possibilidades
enunciativas de elementos cujas propriedades permitem ser predicados por abrir,
como: porta, livro, caixa, etc. O predicado da léxis é modalizado a partir das
operações:
abrir X não abrir
Se eliminarmos a determinação a de janela, como em:
De vez em quando ela abre janela.
60
teremos uma varredura e, por isso, fica indeterminado o tipo de ocorrência
janela, dando a noção de que ela abre qualquer janela , mesmo uma não
identificada pelo enunciador, com se
ela tivesse o hábito de abrir janela.
A ocorrência de quando não estabelece, nesse enunciado, uma relação inter-
léxis, que ele é constituído de apenas uma léxis, com uma modalidade
assertiva.Tal marca pontua, no domínio temporal, uma alternância com a marca
vez; vez abre o domínio (t
x
) e quando (t
y
) indetermina o momento da repetição do
acontecimento. A combinação de
vez com quando forma uma combinação que
opera um valor aspectual durativo permansivo, mas com uma iteração entre (t
x
) e
(t
y
), formando duas zonas qualitativamente diferenciadas e desencadeando um
processo caracterizado por uma descontinuidade sem dimensão, como podemos
observar no quadro:
em que abrir tem o aspecto permansivo durativo e vez em quando opera a
iteração, marcando o início / fim e a repetição do acontecimento ao longo do
tempo.
O enunciado:
1 2 1 2 ...
......]==[.....]==[.....]==[.....]==[.....]==[.................
TC
T
2
– ela abre a janela
1 (vez) e 2 (quando) = T
3
61
9 - Quando a gente se envaidece [...] é quando o conceito desce [...]
33
(A) (B)
é organizado com duas léxis a partir do esquema primitivo:
gente envaidecer gente r ser conceito descer (conceito)
A B
Ele tem como origem (
o
) da léxis A o nome gente, o objetivo (
1
) gente
recuperado pelo contexto por meio do pronome se e o predicado () envaidecer.
A léxis B tem como origem (
o
) conceito, como objetivo (
1
) conceito e predicado
() descer. A léxis B ligada à léxis A pelo predicado ser é um predicador daquela
léxis.
A construção do enunciado com o nome gente revela que o sujeito enunciador
também participa da ação do sujeito do enunciado. Ele é predicado pelas
operações Qnt/Qlt ser gente X ser não-gente e é localizado pelo determinante a,
artigo que opera a extração de gente em relação a outras possibilidades
enunciativas predicáveis por envaidecer. A origem da léxis B conceito é predicada
pelas operações Qnt/Qlt ser conceito X ser não-conceito. Ela é determinada pelo
o, artigo que opera a extração e estabiliza a ocorrência. Os predicados das léxis A
e B são modalizados a partir das operações:
envaidecer X não envaidecer
ser X não ser
descer X não descer
33
- Adaptado de: Gilberto Pagani de FREITAS. Falsa ilusão. In: LEAL, Sergio (org). Impressões:
1ª coletânea de poetas capixabas. Vitória: Diário Oficial do Espírito Santo, 1995. p. 36.
62
Se eliminarmos a determinação a de gente, da léxis A, e o de conceito, na léxis B,
como em:
Quando gente se envaidece [...] é quando conceito desce.
teremos, na léxis A, gente evidenciando uma noção de conjunto equivalente a
pessoas e na B conceito parece tornar-se impreciso. Tais ocorrências passam
então a se localizar na operação de varredura e, por isso, também ficam menos
pontuais.
O enunciado tem uma modalidade
assertiva. O tempo lingüístico das léxis A e B
é o presente e retrata o momento atual. Ele pode ser representado assim no
seguinte gráfico:
A marca quando cria uma projeção temporal e funciona em um domínio aspecto-
temporal, no qual é o intervalo que marca o ponto inicial e final com valor durativo
freqüentativo, tanto que tal marca poderia ser parafraseada por sempre que na
léxis A ou na B, como em:
9a – Sempre que a gente se envaidece [...], o conceito desce.
9b – A gente se envaidece [...] sempre que o conceito desce.
T
3
(= quando a gente envaidece)
..........................]======T
0
=============[........................TC
T
3
(= quando)
T
2
(o conceito desce)
63
No entanto, ser, que estabelece uma relação entre as léxis A e B e torna B um
atributo (predicativo) de A, é suprimido com o
quando da léxis B.
Como podemos observar, a marca
quando influencia o enunciado e é influenciada
por outras marcas dele. Portanto, o seu papel, em cada ocorrência, depende do
contexto em que o sujeito enunciador a insere. Devido a isso, mesmo havendo o
tempo presente atual nas duas léxis, percebemos que posterioridade de B em
relação a A. No entanto, se mudássemos a ordem das léxis, como em:
9c – Quando o conceito desce [...] é quando a gente envaidece.
A B
a marca continuaria organizando o domínio aspecto-temporal da léxis A em (9c) e
pontuando o instante da ocorrência do acontecimento descrito pela léxis B, que
pode ser parafraseado assim:
9d Quando o conceito desce [...] é o momento em que a gente
envaidece.
Quando + o tempo verbal presente têm uma influência na aspectualidade de A em
relação a B; no entanto, se retirarmos as marcas quando, como em:
9e – A gente se envaidece [...] o conceito desce.
não teremos o instante marcado em um intervalo, e o caráter aspectual
freqüentativo se desfará, tornando-se um aspecto durativo permansivo, pois o
acontecimento passa a ser permanente.
Ressalta-se que a marca quando, presente na léxis B quando o conceito desce, é
uma marca de temporalidade que recorta o intervalo aberto do tempo
64
representado por instantes delimitados por essa mesma marca presente na léxis
A, ou seja, o momento da descida.
2.2.2 Quando + tempo passado
O enunciado:
10 – Quando você estava para chegar, todos ficaram calados.
(A) (B)
é composto de duas léxis complexas e organizado a partir do esquema primitivo:
Você estar chegar (você) r todos ficar calados
A B
tendo como origem (
o
) e objetivo (
1
) da léxis A o pronome você e predicado ()
estar + chegar. A léxis B tem como origem (
o
) todos, como objetivo (
1
) calado e
predicado () ficar.
O pronome você imbrica em si a determinação e denota a igualdade entre o
sujeito co-enunciador e o sujeito do enunciado; portanto, diferença entre o
sujeito enunciador e o sujeito do enunciado. A origem da léxis B todos é um
pronome indefinido predicado pelas operações Qnt/Qlt ser todos X ser não-todos.
65
Ele tem a marca de número -s (plural) que opera uma varredura enunciativa no
domínio nocional, localizando-se nessa operação a ocorrência. o objetivo da
léxis B calado é a forma verbal calar nominalizada, que funciona como um
qualificativo, um predicador, indicando o estado de todos. Os predicados das léxis
A e B são modalizados a partir das operações:
estar X não estar
estar para chegar X não estar para chegar
ficar X não ficar
Nelas ocorre uma modalidade assertiva, em que a ocorrência quando marca o
momento iminente de A em relação à ocorrência B, que é anterior a T
0,
assim A é
posterior a B, mas também anterior a T
0
, como podemos observar na
representação
:
Essa iminência de A marca um valor aspectual cessativo para B. Nesse contexto,
quando cria uma projeção (reforçando tal aspecto), além de pontuar no tempo o
exato instante em que o evento descrito por B encerra-se, mediante a
proximidade do acontecimento A. Essa noção fica mais evidente se
parafrasearmos quando por no momento em que:
T
3
– quando ele estava para chegar
...............[=========]........................T
0
..................TC
T
2
– Todos ficaram calados
66
10a - No momento em que você estava para chegar, todos
ficaram calados.
Em contrapartida, em (10b), ao retirarmos a marca quando, as léxis A e B tornam-
67
O pronome nós imbrica em si a determinação e indica uma igualdade entre o
sujeito enunciador e o sujeito do enunciado. O objetivo
calçada é predicado pelas
operações Qnt/Qlt
ser calçada X ser não-calçada e é localizado pelo determinante
a, artigo que opera a extração de calçada em relação a outras possibilidades
enunciativas com propriedades predicáveis por
limpar. Os predicados das léxis A
e B são modalizados a partir das operações:
chover X não chover
limpar X não limpar
Se eliminarmos a determinação
a de calçada da léxis B, como em:
Quando chovia, limpávamos calçada.
teremos na léxis B uma varredura e a ocorrência calçada localizada nessa
operação, com isso, a noção é de limpeza de qualquer calçada e não uma
calçada referencialmente ao alcance dos enunciadores.
no enunciado uma modalidade assertiva. A léxis A é representada por um
predicado que também traz imbricado em si a noção do tempo fenômeno da
natureza.
A inserção da ocorrência quando no enunciado marca o momento em que o
acontecimento A provoca o acontecimento B; portanto B é posterior a A, mas
tanto A como B são anteriores a T
0,
como representamos no quadro seguinte:
68
A marca quando ainda cria no enunciado uma projeção, recortando um intervalo
em um passado dotado de uma noção temporal indeterminada, de aspecto
inacabado e, simultaneamente, habitual. Devido a essas características,
poderíamos parafrasear o
quando com sempre que:
11a - Sempre que chovia, limpávamos a calçada.
Todavia, em (11b), ao retirarmos a marca quando, assim:
11b - chovia, limpávamos a calçada.
as léxis A e B tornam-se acontecimentos mais independentes um do outro no
plano sintático.
Em:
12 – Quando o jogador chutou a bola, o goleiro defendeu.
A) (B)
O enunciado, composto de duas léxis, é organizado a partir do esquema primitivo:
Jogador chutar bola r goleiro defender (bola)
A B
T
3
– quando
T
2
- chovia
..............]=======[............................T
0
...........TC
T
2
– limpávamos a calçada
69
e tem como origem (
o
) da léxis A o nome jogador, o objetivo (
1
) é bola e o
predicado (
) é chutar. A léxis B tem como origem (
o
) goleiro como objetivo (
1
)
bola, recuperado pelo contexto, e predicado () defender.
Os nomes jogador, bola e goleiro são, respectivamente, predicados pelas
operações Qnt/Qlt ser jogador X ser não-jogador, ser bola X ser não-bola, ser
goleiro X ser não-goleiro
e localizados pelos determinantes o, a e o, artigos que
operam a extração e ancoram a ocorrência em relação a outras possibilidades
enunciativas. Os predicados das léxis A e B são modalizados a partir das
operações:
chutar X não-chutar
defender X não-defender
Se eliminarmos as determinações o de
jogador e goleiro e a de bola, como em:
Quando jogador chutou bola, goleiro defendeu.
teremos tanto na léxis A como na B uma operação varredura em que se fixa a
ocorrência pelo número singular. No entanto, com a indeterminação, o enunciado
assume características da fala de quem ainda não domina todos os recursos
discursivos da língua portuguesa, ou seja, a fala típica de um infante ou de um
aprendiz estrangeiro do português como uma segunda língua.
O enunciado tem uma modalidade assertiva e nele a inserção da ocorrência
quando marca o momento em que o acontecimento A mobiliza o acontecimento
B; portanto, B é posterior a A, mas tanto A como B são anteriores a T
0,
como
representamos no quadro seguinte:
70
A marca quando, no enunciado, também cria uma projeção que moldura um
intervalo de tempo determinado no passado, de aspecto acabado e,
concomitantemente, pontual causativo / resultativo, para o qual o acontecimento A
é o ponto inicial da trajetória no espaço e no tempo que se encerra com o
acontecimento B. Assim poderíamos parafrasear o
quando com logo que:
12a - Logo que o jogador chutou a bola, o goleiro defendeu.
Em (12a), ao aspecto lingüístico, poderíamos acenar para uma concomitância
entre A e B, mas a língua reflete as propriedades físico-culturais que constroem
as noções, e a nossa experiência empírica absorve, da realidade, que, primeiro, X
chuta para, em seguida, Y defender.
Ao retirarmos a marca quando do enunciado:
12b - O jogador chutou a bola, o goleiro defendeu.
a léxis A e B tornam-se independentes uma da outra no plano sintático, mas
implicadas semanticamente. Uma outra possibilidade interpretativa nos leva a
afirmar em (12b) que, por S
2
ser diferente de A para B, o acontecimento A
necessariamente não implica o acontecimento B nem é implicado por ele. No
T
3
– quando o jogador chutou a bola
...............
.[=====]...............................T
0
................TC
T
2
– o goleiro defendeu
71
entanto, o argumento na posição b
34
, na relação primitiva, bola é o mesmo, tanto
na léxis A quanto na B e isso liga as duas léxis.
Os enunciados:
13 – Quando os pais chegaram, ele saiu.
(A) (B)
14 – Quando cheguei, todos tinham saído.
(A) (B)
são compostos de duas léxis. O (13) é organizado a partir do esquema primitivo:
pais chegar (pais) r ele sair (ele)
A B
e tem como origem (
o
) e objetivos (
1
) da léxis A o nome pais, a léxis B tem como
origem (
o
) e objetivos (
1
) ele; os predicados () das duas léxis
são,respectivamente, chegar e sair.
Pais é predicado pelas operações Qnt/Qlt ser pais X ser não-pais e é localizada
pelo determinante os, artigo que opera a extração de pais em relação a outras
possibilidades enunciativas com elementos que permitem ter como predicado
chegar. A marca número-plural -s que aparece em pais não generaliza o nome,
apenas denota segundo a experiência de mundo, que se trata do pai e da mãe do
S
2
da léxis B. O pronome ele, que imbrica em si a determinação, indica a não-
34
- Segundo Culioli, a léxis tem os lugares vazios (a r b) que serão ocupados por noções a serem
predicadas por P/P’. No caso do enunciado: “ser bola”, “ser não-bola”, que, após a eleição pelo
sujeito enunciador, torna-se argumento.
72
igualdade entre o sujeito enunciador e o sujeito do enunciado. Os predicados das
léxis A e B são modalizados a partir das operações:
chegar X não chegar
sair X não sair
Se eliminarmos a determinação
os de pais da léxis A, como em:
Quando pais chegaram, ele saiu.
teremos na léxis A uma varredura e a ocorrência pais passará, então, a localizar-
se nessa operação; por isso, a noção é que
pais não é do sujeito do enunciado
da léxis B, mas quaisquer pais.
O enunciado (14) é organizado a partir do esquema primitivo:
(eu) chegar (eu) r todos ter sair (todos)
A B
e tem como origem (
o
) e objetivos (
1
) da léxis A o pronome eu recuperado pelo
contexto. A léxis B tem como origem (
o
) e objetivos (
1
) todos. Os predicados ()
das duas léxis são, respectivamente,
chegar e ter.
O pronome eu foi analisado em outros enunciados como o (1) e (2). A origem
da léxis B todos é um pronome marcado pelo número plural e predicado pelas
operações Qnt/Qlt ser todos X ser não-todos. A marca de número -s (plural) opera
uma varredura enunciativa no seu domínio nocional, localizando-se nessa
operação a ocorrência. Saído, nominalização de sair, é um qualificador que
resulta da ação praticada por todos. Os predicados das léxis A e B são
modalizados a partir das operações:
73
chegar X não-chegar
ter (sair) X não-ter (sair)
Os dois enunciados (13) e (14) têm uma modalidade assertiva. A inserção da
ocorrência quando em (13) marca o instante em que o fim do acontecimento A
pontua o acontecimento B. Portanto, B é posterior a A, mas tanto A como B são
anteriores a T
0,
como se pode representar no quadro seguinte:
A inserção da ocorrência quando em (14) marca o momento em que o início do
acontecimento A pontua o fim do acontecimento B. Portanto, B é anterior a A,
mas tanto A como B são anteriores a T
0,
como representamos no quadro
seguinte:
Quando em (13) cria uma projeção que moldura um intervalo de tempo
determinado no passado, de aspecto acabado pontual conclusivo, no qual o
T
3
– quando os pais chegaram
......
..............[==]..................................T
0
............TC
T
2
– ele saiu
T
3
- quando eu chequei
..............................[====]........................ T
0
...................TC.
T
2
– todos tinham saído
74
acontecimento A ocorre em um espaço de tempo e o seu ponto final marca o
instante, no espaço-tempo, do acontecimento B. Tanto que poderíamos
parafrasear o quando com logo que:
13a - Logo que os pais chegaram, ele saiu.
Em (14), porém, a marca
quando cria uma projeção de um intervalo de tempo
determinado no passado, de aspecto acabado
pontual cessativo, no qual o
acontecimento A inicia sua ocorrência em um espaço de tempo marcado pela
constatação do acontecimento B finalizado. Portanto, poderíamos parafrasear o
quando com no momento em que:
14a - No momento em que cheguei, todos tinham saído.
Em (13), sob o aspecto empírico, poderíamos acenar para uma concomitância
entre A e B, mas o aspecto acabado de chegaram não assegura essa
possibilidade, a menos que tivéssemos estavam chegando.
13b – Quando os pais estavam chegando, ele saiu.
Ao retirarmos a marca quando dos enunciados:
13c - Os pais chegaram, ele saiu.
14b - Cheguei, todos tinham saído.
as léxis A e B tornar-se-ão independentes uma da outra no plano sintático, pois
nem os sujeitos do enunciado (origem) nem os objetivos são comuns entre elas.
No entanto, os enunciados parecem carecer de uma outra marca temporal, que
em (13c) a chegada dos pais é a origem referencial no espaço-tempo para a
75
saída e em (14b) a saída de todos é o ponto de referência para o acontecimento
minha chegada.
Podemos, também, constatar em (13c) e (14b) que, por S
2
ser diferente de A para
B, os acontecimentos A necessariamente não implicam os acontecimentos B nem
são implicados por eles. No entanto, a ocorrência
chegar faz parte de um mesmo
domínio nocional que
sair seu complementar. Essa presença de P/ não-P vai, de
certa forma, implicar a relação semântica entre as léxis.
O enunciado:
15 – quando sentei, a aula começou.
(A) (B)
é organizado a partir do esquema primitivo:
(eu) sentar(eu) r aula começar (aula)
A B
e tem, também, como origem (
o
) e objetivo (
1
) da léxis A, o pronome eu
recuperado pelo contexto. A léxis B tem como origem (
o
) e objetivo (
1
) aula. Os
predicados () das duas léxis são, respectivamente, sentar e começar.
O pronome eu já foi analisado nos enunciados (1) e (2). Aula, origem e objetivo de
B, é predicada pelas operações Qnt/Qlt ser aula X ser não-aula e localizada pelo
determinante a, artigo que opera a extração de aula em relação a outras
76
possibilidades enunciativas predicáveis por começar. Os predicados das léxis A e
B são modalizados a partir das operações:
sentar X não sentar
começar X não começar
Se eliminarmos a determinação
a de aula, na léxis B, como em:
Quando sentei aula começou.
teremos na léxis B uma operação de varredura e, por isso, não fica claro se o eu
sujeito estava na aula começada. A noção é a de que, sem a determinação, cria-
se um distanciamento entre o eu sentar e a ocorrência da léxis B aula começar.
A inserção da ocorrência quando marca o momento em que o acontecimento A
pontua o início do acontecimento B; portanto, B é posterior a A, mas tanto A como
B são anteriores a T
0,
como representamos no quadro seguinte:
A marca quando, nesse enunciado, cria uma projeção pontuando um intervalo de
tempo determinado no passado, de aspecto acabado pontual inceptivo, em que o
fim do acontecimento A é o ponto inicial da trajetória no espaço-tempo do
acontecimento B. Tanto que poderíamos parafrasear o quando com assim que:
T
3
– quando eu sentei
......
..............[===]................................T
0
.................TC
T
2
– a aula começou
77
15a - Assim que sentei, a aula começou.
Em (15a) o mesmo tempo verbal das léxis A e B poderia acenar para uma
concomitância entre A e B, mas a ordem das léxis sugere uma sucessão dos
acontecimentos. Se mudássemos a marca quando de léxis, como em:
15b - Eu sentei, quando a aula começou.
teríamos, igualmente, a ocorrência de acontecimentos sucessivos, em que o início
da aula pontuaria o instante inicial do intervalo temporal do acontecimento
eu
sentar
.
Ao retirarmos a marca quando do enunciado (15), as léxis A e B tornar-se-ão
independentes uma da outra no plano sintático, estabelecendo apenas uma
sucessão de acontecimentos.
15c - sentei, a aula começou.
Na léxis A ocorre S
2
= S
0.
Essa igualdade sugere a presença de eu no ambiente
onde ocorre a aula S
2
da léxis B. O acontecimento A necessariamente não implica
o acontecimento B nem é implicado por ele. No entanto, a referência temporal que
A exerce para B em (15c) cria uma interação entre as léxis no espaço-tempo, de
forma tal que a parataxe sintática entre elas se torna uma hipotaxe semântica.
O enunciado:
16 – Quando deram seis horas, terminei a tarefa.
(A) (B)
é organizado a partir do esquema primitivo:
78
dar horas r (eu) terminar tarefa
A B
e tem na léxis A como origem (
o
) e objetivo (
1
) horas e como predicado ()dar. A
léxis B tem como origem (
o
) o pronome eu recuperado pelo contexto, como
objetivo (
1
) tarefa e predicado () terminar.
Horas e tarefa são predicadas pelas operações Qnt/Qlt ser horas X ser não-horas,
ser tarefa X ser não-tarefa e localizadas, respectivamente, pelos determinantes
seis, numeral, e a, artigo, que operam a extração de horas e de tarefa em relação
a outras possibilidades enunciativas de elementos predicáveis por dar e terminar.
A origem da léxis B eu foi analisada nos enunciados (1) e (2). Os predicados
das léxis A e B são modalizados a partir das operações:
dar X não dar
terminar X não terminar
Se eliminarmos a determinação seis de horas na léxis A e a de tarefa na léxis B,
como em:
Quando deram horas, terminei tarefa.
Teremos, tanto na léxis A como na B, uma varredura e, por isso, fica
indeterminada a ocasião em que se terminou a tarefa; já com tarefa, sem a
determinação, cria-se um distanciamento entre o eu e a ocorrência. A noção é
que tarefa não tem um referente que favoreça a regulação dos enunciadores;
parece ser uma tarefa qualquer.
79
A inserção da ocorrência quando marca o momento em que o acontecimento A
pontua o fim do acontecimento B. Portanto, B é concomitante ou posterior a A,
mas tanto A como B são anteriores a T
0,
como representamos no quadro:
A marca quando, nesse enunciado, cria uma projeção pontuando um intervalo de
tempo determinado no passado, de aspecto acabado pontual conclusivo, em que
o instante do acontecimento A é o ponto inicial de percurso no tempo e no espaço
da realização do acontecimento B. Dessa forma, poderíamos parafrasear o
quando por assim que:
16a - Assim que deram seis horas, terminei a tarefa.
Em (16a) a identidade no tempo verbal entre as léxis A e B e a marca temporal
pontual seis horas na léxis A permitem, também, inferir uma possível
concomitância entre A e B. Porém, se de um lado, a ordem das léxis sugere uma
sucessão dos acontecimentos (pode-se entender que só terminei depois que
deram seis horas), de outro, a marca seis horas insere uma noção de tempo
cronológico que uma abertura também para a possível simultaneidade dos
acontecimentos terminei a tarefa exatamente seis horas. Temos, então, uma
ambigüidade. Se mudássemos a marca quando de léxis, como em:
16b - Deram seis horas, quando terminei a tarefa.
T
3
– quando deram seis horas
......................[
===]....................................T
0
...................TC
T
2
– terminei a tarefa
80
não teríamos margem para admitir uma sucessividade de fatos, somente uma
concomitância, que a marca
seis horas pontuaria o exato fim de um
acontecimento,
término da tarefa, que era feita em um intervalo de tempo anterior
a seis horas.
Ao retirarmos a marca
quando do enunciado:
16c - Deram seis horas, terminei a tarefa.
as léxis A e B mantêm a relação de tempo e estabelecem apenas essa relação,
pois a léxis A é, em si, uma marca origem da referência temporal. Por isso, no
enunciado ocorre T
2
T
0.
O enunciado:
17 - Quando o telefone tocou, mamãe estava fazendo almoço.
(A) (B)
é organizado a partir do esquema primitivo:
telefone tocar telefone r mamãe estar fazer almoço
A B
tem como origem (
o
) e objetivo (
1
) da léxis A o nome telefone e o predicado ()
tocar. A léxis B tem como origem (
o
) mamãe, como objetivo (
1
) almoço e
predicado () (estar) fazer.
Telefone é predicado pelas operações Qnt/Qlt ser telefone X ser não-telefone e é
localizado pelo determinante o, artigo que opera a extração de telefone em
81
relação a outras possibilidades enunciativas predicáveis por tocar. A origem da
léxis B
mamãe é um nome personalizado pelo sujeito enunciador que estabelece
nessa qualificação a noção de intimidade, atribuindo ao
ser-mãe X ser não-mãe a
propriedade de ser mãe do enunciador; por isso, a ocorrência mamãe é extraída
em relação às mães. Quanto ao objetivo
almoço, é um nome predicado pelas
operações Qnt/Qlt
ser almoço X ser não-almoço que, associado ao predicado
fazer, insere uma noção de tempo. Essa noção de momento, de instantes,
estabiliza a ocorrência. Os predicados das léxis A e B são modalizados a partir
das operações:
tocar X não tocar
estar fazer X não estar fazer
Na léxis B, ocorrem dois tempos devido à presença de uma dupla predicação.
Dessa forma, a léxis B fica complexa <mamãe, estar, fazendo almoço>, em que
mamãe é um argumento nominal; fazendo almoço é um argumento proposicional
e estar é o predicado. O enunciado tem uma modalidade assertiva.
Nesse enunciado, o tempo lingüístico da léxis A é de anterioridade em relação ao
momento da enunciação e o da léxis B retrata um momento atualizado pela léxis
A, ou seja, é concomitante ao da léxis A. Portanto, tem-se uma sobreposição de
tempos formando um acontecimento anterior ao tempo de enunciação, pois estar,
ao assumir o estatuto de predicado, remete o acontecimento para o passado.
Essa organização temporal do enunciado pode ser representada no seguinte
gráfico:
82
A marca quando cria uma projeção temporal e funciona em um domínio aspecto-
temporal no qual ela é o intervalo que marca o ponto inicial e final de um
acontecimento com valor inceptivo, pontuando um recorte fechado no tempo da
ocorrência representada pela léxis B, que tem um valor aspectual durativo
cursivo. Essa marca poderia ser parafraseada por
no momento em que, como em:
17a No momento em que o telefone tocou, mamãe estava fazendo
almoço.
Dessa forma, o quando estabiliza uma noção em um domínio aspecto-temporal
em determinado intervalo de tempo (tempo exato do toque do telefone). Essa
marca lingüística influencia o enunciado e é influenciada por outras marcas dele
no contexto em que o sujeito enunciador a insere. Devido a isso, mesmo havendo
o tempo presente no argumento proposicional da léxis B, percebemos que
simultaneidade temporal de A e B no passado. Se mudarmos a ordem das léxis,
ou a posição da marca no enunciado, como em:
17b
1
– Mamãe estava fazendo almoço quando o telefone tocou.
17b
2
– Quando mamãe estava fazendo almoço, o telefone tocou,
o quando poderá ser parafraseado por enquanto, como em:
T
3
(= quando o telefone tocou)
...............]
|||||||
[===]
|||||||||||
[......................................... T
0
..........TC
T
2
(mamãe estava fazendo almoço)
83
17b
3
– Mamãe estava fazendo almoço, enquanto o telefone tocou.
17b
4
– Enquanto mamãe estava fazendo almoço, o telefone tocou.
Em (17b
3
) enquanto sugere um toque mais duradouro do telefone. Ainda assim as
paráfrases (17b
3
)
e
(17b
4
) confirmam a noção de simultaneidade entre os
acontecimentos das léxis A e B.
Conforme afirmamos, vimos no enunciado (17) que quando + o tempo verbal
presente
têm um aspecto inceptivo com o intervalo recortado por quando, que
marca o instante do acontecimento. No entanto, se retirarmos tal marca, como
em:
17c – O telefone tocou, mamãe estava fazendo almoço.
teremos esse instante representado por um intervalo, e o caráter inceptivo se
manterá, mesmo sem a marca que cria a projeção de uma léxis em outra. Isso
acontece devido ao tempo predicado pela léxis A, que tem essa pontualidade na
flexão do tocar.
O enunciado:
18 – Quando Leonardo quebrou o copo, cortou a mão.
(A) (B)
é organizado a partir do esquema primitivo:
Leonardo quebrar copo r (Leonardo) cortar mão
A B
84
e tem como origem (
o
) da léxis A Leonardo, como objetivo (
1
) copo e como
predicado (
) quebrar. A léxis B tem também como origem (
o
) Leonardo,
recuperado pelo contexto, como objetivo (
1
) mão e predicado () cortar.
Leonardo origem das léxis A e B designa um único objeto identificado,
pertencente à classe dos objetos do universo de referência pressuposta
pragmaticamente. É predicado pelas operações Qnt/Qlt e extraído em relação a
outras possibilidades enunciativas de nomes predicáveis por quebrar copo e
cortar a mão. Os objetivos das léxis A e B, copo e mão, resultam de operações
predicativas Qnt/Qlt, respectivamente,
ser copo X ser não-copo e ser mão X ser
não-mão. Eles são localizados pelos determinantes o e a, artigos que operam a
extração. Os predicados das léxis A e B são modalizados a partir das operações:
quebrar X não quebrar
cortar X não cortar
e tem uma modalidade assertiva.
Se eliminarmos a determinação o de copo na léxis A e a de mão na léxis B, como
em:
18a - Quando Leonardo quebrou o copo, cortou mão.
teremos tanto na léxis A como na B uma varredura e, por isso, fica a noção de
que Leonardo quebrou qualquer copo e cortou uma mão que não era,
necessariamente, a sua, parecendo ser, também, uma mão qualquer.
85
A presença de quando marca o momento em que o acontecimento A pontua o
acontecimento B, portanto B é posterior a A, mas tanto A como B são anteriores a
T
0,
como representamos no quadro seguinte:
A marca quando, nesse enunciado, cria uma projeção pontuando um intervalo de
tempo determinado no passado, de aspecto acabado pontual conclusivo, em que
o instante do acontecimento A é o ponto inicial de percurso no tempo e no espaço
da realização do acontecimento B. Por isso, poderíamos parafrasear o quando
com no momento em que:
18b – No momento em que Leonardo quebrou o copo, cortou a mão.
Nesse enunciado, há uma identidade no tempo verbal e igualdade de sujeitos (S
2
)
entre as léxis A e B que permitem, também, inferir uma possível concomitância
entre o acontecimento de A e o de B. Se mudássemos a marca quando de léxis,
como em:
18c – Leonardo quebrou o copo quando cortou a mão.
não teríamos margem para admitir uma sucessividade de acontecimentos, mas
apenas uma concomitância, que quebrar o copo não é mais a razão de cortar
T
3
– quando Leonardo quebrou o copo
......................[
===]....................................T
0
...................TC
T
2
– (ele) cortou a mão
86
a mão, pois o sujeito poderia ter cortado a mão com um outro instrumento e,
simultaneamente, quebrar o copo, por exemplo, deixá-lo cair.
Ao retirarmos a marca quando do enunciado, como em:
18d - Leonardo quebrou o copo, cortou a mão.
as léxis A e B manterão a relação de
temporalidade mais atenuada e uma relação
de
causalidade
35
ficará mais evidente.
Em:
19 - Nossa data maior era o quando.
o enunciado é composto apenas de uma léxis e organizado a partir do esquema
primitivo:
data ser quando
A origem (
o
) da léxis é data, o objetivo (
1
) é quando e o predicado () é ser.
Data é predicada pelas operações Qnt/Qlt ser data X ser não-data e localizada
pelo determinante nossa, pronome qualificador, que opera a extração de data e
cria uma aproximação entre o sujeito enunciador e o sujeito do enunciado,
denotando qualitativamente uma posse: o sujeito do enunciado é qualquer coisa
pertencente ao sujeito enunciador. Data ainda é determinada pelo qualificador
maior, que cria para a ocorrência um domínio nocional de grandeza,
expressividade em relação a outras datas. O objetivo quando é predicado pelas
35
- Trataremos dessas possíveis relações suplementares no capítulo III deste trabalho.
87
operações Qnt/Qlt ser quando X ser não-quando e é localizado pela marca
lingüística
o, artigo que opera a extração de quando em relação a outras
possibilidades que permitiriam delimitar um intervalo para
data, predicado por ser.
O predicado da léxis é modalizado a partir das operações:
ser X não ser
Se eliminarmos as determinações nossa e maior de data e o de quando, como
em:
19a - Data era quando.
teremos na léxis uma varredura que torna a origem data uma data qualquer
indeterminada por quando, formando um questionamento de qual seria a noção
que representa um intervalo temporal.
O enunciado tem uma modalidade assertiva, o sujeito enunciador é diferente do
sujeito do enunciado e o aspecto tem a noção de acabado. Acabado porque os
intervalos que formavam tal extensão temporal do acontecimento foram situados
no passado em relação ao tempo de enunciação, como podemos observar no
gráfico:
A ocorrência quando, nesse enunciado, não marca um intervalo de tempo, tal
marca é nominalizada. Ela aparece determinada pelo artigo, é passível de ser
T
o
..............[======].............................................TC
T
2
(nossa data maior era o quando)
88
pluralizada e designa algo, pois apresenta as mesmas propriedades dos objetos
que nomeiam aquilo que pode caracterizar ou qualificar uma
data maior.
O enunciado:
20 – O quando mandava em nós.
é composto de uma léxis e organizado a partir do esquema primitivo:
Quando mandar nós
e tem como origem (
o
) quando, como objetivo (
1
) nós e como predicado ()
mandar.
O objetivo quando, cuja ocorrência é personificada devido à ação do sujeito, é
predicado pelas operações Qnt/Qlt ser quando X ser não-quando e é localizado
pela marca lingüística o, artigo que opera a extração de quando em relação a
outros elementos cujas propriedades são predicáveis por mandar. O pronome
nós, objetivo da léxis, conforme vimos em outros enunciados, imbrica em si a
determinação e indica uma igualdade entre sujeito do enunciado e o enunciador.
O predicado da léxis é modalizado a partir das operações:
mandar X não mandar
Se eliminarmos a determinação o de quando, como em:
20a - Quando mandava em nós.
89
teremos na léxis a noção de uma interrogativa ou uma asserção que responde a
um questionamento, concernente à ocasião em que um evento
mandar em nós
aconteceu.
O enunciado tem uma modalidade assertiva, um sujeito enunciador diferente do
sujeito do enunciado e uma aspectualidade com a noção de
acabado. Acabado
porque os intervalos que formavam tal extensão temporal do acontecimento foram
situados no passado em relação ao instante da enunciação, assim representados:
A presença de
quando, nesse enunciado, não marca um intervalo de tempo, é
nominalizada. É um nominal porque aparece determinado pelo artigo, é passível
de ser pluralizado e designa, encarando-o como um objeto nomeável, a
propriedade comum aos objetos acerca dos quais é possível afirmar que
nomeiam aquilo que se pode personalizar para ser o sujeito do enunciado e
praticar a ação de mandar.
O enunciado:
21 – Eu tive a lembrança de quando você caiu.
(A) (B)
é composto de duas léxis e organizado a partir do esquema primitivo:
T
o
..............[======].............................................TC
T
2
(o quando mandava em nós)
90
eu ter lembrança r você cair (você)
B A
e tem como origem (
o
) da léxis B o pronome eu e como objetivo (
1
) lembrança, a
léxis A tem como origem (
o
) e objetivo (
1
) você; os predicados () das duas léxis
são, respectivamente, ter e cair.
O pronome
eu indica uma igualdade entre o sujeito enunciador e o sujeito do
enunciado. O objetivo
lembrança é predicado pelas operações Qnt/Qlt ser
lembrança X ser não-lembrança
e é localizado pelo determinante a, artigo que
opera a extração de lembrança em relação a outras possibilidades enunciativas
de elementos cujas propriedades permitem ser predicadas por ter, como:
saudade, visão, informação, etc. A origem e objetivo da léxis A você é um
pronome que indica uma igualdade entre o sujeito do enunciado e o sujeito co-
enunciador. Os predicados das léxis B e A são modalizados a partir das
operações:
ter X não ter
cair X não cair
Se eliminarmos a determinação a de lembrança, na léxis B, como em:
Eu tive lembrança de quando você caiu.
teremos na léxis B uma varredura, e a ocorrência lembrança passa, então, a
localizar-se nessa operação. Por isso, a noção é que lembrança não é apenas um
acontecimento pontual, mas alguma ação que apresenta uma extensão maior no
espaço e no tempo.
91
O enunciado tem uma modalidade assertiva. A inserção da ocorrência quando em
A marca um acontecimento pontual ocorrido no passado retomado pelo
acontecimento B. Portanto, A é anterior a B, mas tanto A como B são anteriores a
T
0,
como se pode representar no quadro seguinte:
A marca Quando em (21) cria uma projeção que moldura um intervalo de tempo
determinado no passado, de aspecto acabado pontual conclusivo, no qual o
acontecimento A ocorreu em um espaço de tempo pontual com início e fim. O
acontecimento B ocorreu em um intervalo de tempo aberto, impulsionado pelo
acontecimento A. Tanto que poderíamos parafrasear o quando com o momento
em que:
21a - Eu tive a lembrança do momento em que você caiu.
Em (21), poderíamos admitir ainda que o acontecimento A estivesse inserido no
complemento B, pois o intervalo de tempo de B transcorre durante a retomada
nocional de A, assim o acontecimento B você caiu pode ser visto como objeto da
lembrança.
O enunciado:
T
3
– quando você caiu
......
.............[[=]=========]................................T
0
............TC
T
2
– eu tive a lembrança
92
22 - Quando da sua queda todos ficaram comovidos.
(A) (B)
tem a léxis A apagada; se a recuperarmos, poderemos admitir que o enunciado é
organizado a partir do esquema primitivo:
(você quedar você) sua queda
r todos ficar comovidos
A B
A léxis A tem como origem e objetivo (
1
) o pronome você. A léxis B tem como
origem (
o
) todos e como objetivo (
1
) comovidos. Os predicados () das duas
léxis são, respectivamente, quedar e ficar.
O pronome você, conforme analisado, indica uma igualdade do sujeito co-
enunciador com o sujeito do enunciado. Ele pode ser recuperado pelo contexto
por meio de sua, determinante de queda. Queda é uma forma nominalizada do
predicado quedar; portanto, sua queda opera a flechagem da léxis A você quedou
você, que está subentendida no enunciado. Queda é predicada pelas operações
Qnt/Qlt ser queda X ser não-queda e determinada, como dissemos, pelo a,
artigo, e por sua, pronome, que operam a extração. A origem da léxis B todos é
um pronome marcado pelo número plural. Ele é predicado pelas operações
Qnt/Qlt ser todos X ser não-todos. O todos tem a marca de número -s (plural), que
opera uma varredura enunciativa no seu domínio nocional, localizando-se nessa
operação a ocorrência. o objetivo da léxis B comovidos é a predicação
comover nominalizada, que funciona como um qualificador, indicando a situação
em que se encontravam todos. Os predicados das léxis A e B são modalizados a
partir das operações:
93
quedar X não-quedar
ficar X não-ficar
Esse enunciado tem uma modalidade assertiva. A inserção da ocorrência quando
remete de forma pontual ao momento em que se deu o acontecimento da léxis A,
o qual pontua o início do acontecimento B. Portanto, A é anterior a B, mas tanto A
como B são anteriores a T
0,
como representamos no quadro seguinte:
Nesse enunciado, a marca quando cria uma projeção de um intervalo de tempo
determinado no passado, de aspecto acabado pontual cessativo, pontuando um
acontecimento finalizado em um intervalo de tempo com início e fim. Portanto,
poderíamos parafrasear o quando por no momento:
22a - No momento da sua queda, todos ficaram comovidos.
Sob o aspecto empírico, podemos admitir ainda que o acontecimento B é
posterior a A, pois, sem a queda, não teríamos a comoção; portanto, a comoção
de todos vem após a queda.
T
2
(você quedou)
T
3
quando da sua queda
............[==].....[====]........................ T
0
................... TC.
T
2
– todos ficaram comovidos
94
2.2.3 Quando + tempo futuro
Os enunciados:
23 - Quando eu crescer, vou ser atleta.
(A) (B)
24 - Quando eu sair, compro o cigarro.
(A) (B)
são organizados por mais de uma léxis. No enunciado (23), o esquema primitivo
é:
eu crescer (eu) r (eu) ir ser atleta
A B
e tem como origem (
o
) e objetivo (
1
) da léxis A o pronome eu e como predicado
()crescer. A léxis B tem como origem (
o
) eu, recuperado pelo contexto, como
objetivo (
1
) atleta e predicado () ser.
O pronome eu, nas léxis A e B,foi analisado no enunciado (1). O objetivo atleta
da léxis B é predicado pelas operações Qnt/Qlt ser atleta X ser não-atleta que
operam a varredura de atleta em relação a outras possibilidades enunciativas que
poderiam predicar qualitativamente o eu. Os predicados das léxis A e B são
modalizados a partir das operações:
95
crescer X não crescer
(vou) ser X não (vou) ser
Essa modalização do verbo, com o auxiliar ir, projeta o ser para o tempo futuro,
conforme podemos constatar neste quadro:
O enunciado (24) é organizado a partir do esquema primitivo:
eu sair (eu) r (eu) comprar cigarro
A B
e tem como origem (
o
) das léxis A e B e objetivo (
1
) da léxis A o pronome eu,
recuperado pelo contexto; o objetivo (
1
) da léxis B é cigarro. O predicado () da
léxis A é sair e o da léxis B é comprar.
O pronome eu já foi analisado nos enunciados (1) e (2). Cigarro é predicado pelas
operações Qnt/Qlt ser cigarro X ser não-cigarro e é localizado pelo determinante
o, artigo que opera a extração de cigarro em relação a elementos cujas
propriedades permitem ser predicados por comprar. Os predicados das léxis A e
B são modalizados a partir das operações:
sair X não sair
comprar X não comprar
T
3
- quando eu crescer
..........T
0
.............................]=====[.........................TC
T
2
– vou ser atleta.
96
Se eliminarmos a determinação o de cigarro, na léxis B, como em:
24a - Quando eu sair, compro cigarro.
teremos na léxis B uma varredura e, por isso, ficam indeterminadas a marca a
ser comprada e a quantidade de cigarros, se é especificamente um cigarro ou
qualquer
cigarro e, até mesmo, vários cigarros, pois o cigarro aproxima-se do
sujeito e denota que este conhece o objeto da
compra; no entanto, sem a
determinação o sujeito fica distanciado de tal objeto de compra.
Os dois enunciados, (23) e (24), têm S
2
= S
0
e uma modalização que conjuga o
possível na léxis A com o provável da B. O tempo enunciativo é situado no futuro,
em que o acontecimento B é posterior à realização do acontecimento
representado por A. O enunciado (24) pode ser representado conforme o quadro
seguinte:
A marca quando cria uma projeção temporal e funciona em um domínio aspecto
temporal hipotético-progressivo, esboçando o acontecimento em um tempo-
espaço ainda por vir, validado pela noção.
A ocorrência de quando influencia os enunciados e é influenciada por outras
marcas deles. Portanto, o seu papel, nessas ocorrências, é formatar na léxis A,
por meio do sujeito enunciador, um intervalo que é moldado pelas modalizações
possíveis na enunciação. No caso, uma possibilidade presa a uma relação de
T
3
- quando eu sair
.............T
0
...........................]====[.........................TC
T
2
– compro cigarro.
97
condicionalidade. Devido a isso, mesmo sabendo que o S
2
é possível crescer, em
(23), a realização desse acontecimento depende da trajetória progressiva no
tempo, evocando, assim, uma outra relação inter-léxis, suplementar à de
temporalidade.
No enunciado (24), a projeção no tempo-espaço das ocorrências representadas
pelas léxis A e B ancora, também, em um aspecto freqüentativo, que se apreende
com base no enunciado, pois a possibilidade do
comprar se deve à habitualidade
do enunciador
sair e comprar cigarro, como se vê em:
24b – Sempre saio e compro cigarro.
O enunciado:
25 – Quando eu completar 18 anos, vendo a casa.
(A) (B)
é organizado a partir do esquema primitivo:
eu completar anos r (eu) vender casa
A B
e tem, como origem (
o
) das léxis A e B, o pronome eu, na léxis B, recuperado
pelo contexto por meio da marca número pessoal -o, o objetivo (
1
) da léxis A é
anos e da léxis B é casa. O predicado () da léxis A é completar e o da léxis B é
vender.
98
O pronome eu analisamos no enunciado (1). O objetivo anos é um qualificador
que se relaciona a
eu, predicado pelas operações Qnt/Qlt ser anos X ser não-
anos
localizado pelo determinante numeral 18, que opera a extração em relação a
outras quantidades possíveis de completar. O objetivo casa é predicado pelas
operações Qnt/Qlt
ser casa X ser não-casa e é localizado pelo determinante a,
artigo que opera a extração de
casa em relação a outras possibilidades
enunciativas de elementos predicáveis por
vender. Os predicados das léxis A e B
são modalizados a partir das operações:
completar X não-completar
vender X não-vender
Se eliminarmos a determinação 18 de
anos e a de casa, respectivamente, das
léxis A e B, como em:
25a - Quando eu completar anos, vendo casa.
teremos nas léxis A e B uma varredura. Na léxis A quando completar anos, a
noção é a de que anos completados se refere à idade de um outro evento, como
a morte do pai, da mãe, etc., e não a própria idade do sujeito. Na léxis B, fica a
noção de que se venderá casa, ou seja, o objeto da venda deixa de ser a própria
casa e sim outras casas, como ocorre, por exemplo, na profissão de corretor de
imóveis.
Nesse enunciado, tem-se S
2
= S
0
e verifica-se uma modalização que conjuga o
possível na léxis A com a certeza da léxis B. O tempo enunciativo configura-se
situado no futuro, mas B ocorre em um tempo posterior à realização do
99
acontecimento representado por A, porque temos um presente deslocado para o
futuro. Isso pode ser representado conforme o quadro seguinte:
A marca
quando cria uma projeção temporal e funciona em um domínio aspecto-
temporal
hipotético-progressivo em que projeta o acontecimento em um tempo-
espaço, que tem o término do intervalo marcado pontualmente pela marca
temporal 18 anos.
A ocorrência quando influencia o enunciado e é delimitado por outra marca 18
anos. Portanto, o seu papel, nessa ocorrência, é formatar, na lexis A, por meio do
sujeito enunciador, um intervalo que é moldado pela enunciação. No caso, uma
possibilidade real representada pela marca temporal 18 anos, que é sustentada
por uma relação de condicionalidade. Devido a isso, mesmo sabendo que o S
2
é
possível percorrer o tempo cronológico e realizar o acontecimento completar 18
anos, a outra relação inter-léxis, suplementar à de temporalidade, é evocada, pois
o acontecimento de B está condicionado à realização de A.
No enunciado (25), a projeção no espaço de tempo das ocorrências
representadas pelas léxis A e B ancora-se também em um aspecto cursivo, já que
a realização de A ainda é um concluído nocional e a de B, sucessiva à de A, não
T
3
- quando eu completar 18 anos
...........T
0
............................[====].........................TC
T
2
– vendo a casa.
100
tem indício de pontualidade; é um acontecimento baseado na hipótese. Ainda que
alterássemos a predicação de
vender para venderei, como em:
25b – Quando eu completar 18 anos, venderei a casa.
não pontuaríamos uma demarcação no tempo-espaço para o evento
representado pela léxis B, pois a sua natureza de um acontecimento hipotético
permaneceria inalterada.
Observando os enunciados sem a marca quando:
23a – Eu crescer, vou ser atleta.
24c - Eu sair, compro cigarro.
25c – Eu completar 18 anos, vendo a casa.
constatamos que, diferentemente de enunciados com
quando + tempo presente e
quando + tempo passado, os enunciados com quando + tempo futuro não podem
ter a marca quando retirada, pois, sem ela, o enunciado torna-se agramatical.
O enunciado:
26 – Não sei até quando o dinheiro vai durar.
(A) (B)
é organizado a partir do esquema primitivo:
(eu) saber quando r dinheiro (ir) durar (dinheiro)
A B
101
e tem como origem (
o
) da léxis A o pronome eu recuperado pelo contexto, o
objetivo (
1
) é quando e o predicado () é saber. A léxis B tem como origem (
o
) e
objetivo (
1
) dinheiro e como predicado () durar.
O pronome eu, analisado em enunciados anteriores, imbrica em si a
determinação e iguala o sujeito enunciador com o sujeito do enunciado. O objetivo
quando é predicado pelas operações Qnt/Qlt ser quando X ser não-quando e é
localizado pela marca lingüística
até que abre um intervalo temporal
indeterminado por
quando e pela negação não, em relação a outras
possibilidades enunciativas de elementos cujas propriedades permitiriam delimitar
um intervalo predicado por
durar. A origem da léxis B dinheiro é predicada pelas
operações Qnt/Qlt ser dinheiro X ser não-dinheiro e é localizada pelo o, artigo que
opera uma extração em relação a outras possibilidades enunciativas passíveis de
serem predicadas por durar. Os predicados das léxis A e B são modalizados a
partir das operações:
saber X não saber
ir durar X não-ir durar
Se eliminarmos até determinação de quando da léxis A e o de dinheiro na B,
como em:
26a - Não sei quando, dinheiro vai durar.
teremos na léxis A a falta do indicador que acena para a delimitação do fim de
intervalo indeterminado; e, na léxis B, a extração que transforma a ocorrência de
dinheiro como se fosse uma operação típica da fala infantil.
102
Esse enunciado ainda é organizado com S
2
= S
0
na léxis A e uma modalidade
apreciativa que envolve a posição do sujeito enunciador ante a um fato. O tempo
enunciativo é situado no futuro e tem como ponto de referência o tempo presente.
B ocorre em um tempo posterior à realização do acontecimento representado por
A onde T
2
= T
0
. Isso pode ser representado conforme o quadro seguinte:
A ocorrência da marca quando, nesse enunciado, é um ponto derradeiro não
factual de uma projeção do tempo. Ela funciona, no domínio das modulações
aspecto-temporais, como o ponto de indefinição do fim do acontecimento de B.
Nesse ponto, a marca enunciativa de tempo presente, imbricada no predicado
não saber (não-P), estabiliza o início do acontecimento e projeta-o a um ponto
infinito. A marca até, combinada com uma noção de tempo indeterminada,
representada por quando, limita esse infinito. Dessa forma, a indeterminação
temporal da locução até quando afeta o aspecto pontual cessativo da expressão
não sei.
Os enunciados:
27 – Vais sair quando?
28– Você virá quando?
T
2
- não sei até T
3
– quando (?)
..............T
0
..................................................[===].....................TC
T
2
– o dinheiro vai durar.
103
são compostos apenas de uma léxis. O enunciado (27) é organizado a partir do
esquema primitivo:
(tu) Ir sair (tu)
A origem (
o
) e objetivo (
1
) da léxis é o pronome tu recuperado pelo contexto por
meio do sufixo marca número pessoal
–s e o predicado () é sair.
O pronome tu imbrica em si a determinação e indica uma diferença entre o sujeito
enunciador e o sujeito do enunciado. Tu é igual ao co-enunciador. O predicado da
léxis é modalizado a partir das operações:
Ir sair X não-ir sair
O enunciado (28) é organizado a partir do esquema primitivo:
Você vir (você)
A origem (
o
) da léxis e o objetivo (
1
) é o pronome você e o predicado () é vir.
O pronome você indica uma diferença entre o sujeito enunciador e o sujeito do
enunciado. Ele é igual ao co-enunciador. O predicado da léxis é modalizado a
partir das operações:
vir X não-vir
Os dois enunciados, (27) e (28), têm S
2
S
0,
com uma modalidade deôntica em
que o sujeito enunciador pressiona para obter uma determinação para a marca
quando. O tempo enunciativo é situado no futuro e tem, como ponto de referência,
o tempo da enunciação. Portanto, T
2
T
0
; o acontecimento ainda se vai realizar.
Esses enunciados podem ser representados conforme o quadro seguinte:
104
A ocorrência da marca quando, nesses enunciados, é uma projeção temporal sem
uma modulação aspectual. Não há um ponto definido para o acontecimento
representado no enunciado. A marca de indeterminação do tempo evoca um
recorte ou uma moldura por parte do sujeito co-enunciador, e não nenhuma
marca que remeta à definição, como se houvesse uma varredura na coordenada
enunciativa temporal, sem apresentar ainda uma ancoragem de um instante
projetado no intervalo. A situação enunciativa poderia remeter a uma localização
situada em um
agora, que, contudo, dependeria ainda da validação do co-
enunciador.
É possível que as peculiaridades até aqui observadas em todos os enunciados
tenham relação com a propriedade de voz, com a estruturação do espaço de
referência e com outras operações, que serão nosso objeto de investigação nos
próximos capítulos.
Precisamente no capítulo III verificaremos a possibilidade de paráfrases de
quando por outros conectores inter-léxis, para confirmar se uma
indeterminação inerente à linguagem e uma invariância sustentável das
variações. Com base na relação de causalidade, analisaremos a propriedade de
voz inter-léxis em cada enunciado. Nesse sentido, verificaremos outras operações
enunciativas com a marca quando.
T
2
- (tu) vais sair ou
você virá T
3
(quando)
...................... ]===T
0
=[........................................................TC
105
CAPÍTULO III
A vida muda como a cor dos frutos
lentamente
e para sempre
A vida como a flor em fruto
velozmente
A vida muda como a água em folhas
o sonho em luz elétrica
a rosa desembrulha do carbono
o pássaro, da boca
mas
quando for tempo
E é tempo todo tempo
mas
não basta um século para fazer a pétala
que um só minuto faz
ou não
mas
a vida muda
a vida muda o morto em multidão.
(Ferreira Gullar)
36
3 ANÁLISES DA RELAÇÃO INTER-LÉXIS
Neste capítulo, prosseguindo as análises, pretendemos verificar os enunciados
com a marca quando, observando no esquema de léxis outras relações além da
106
Tradicionalmente a propriedade de voz é estudada em função da ação dos verbos
que, segundo a nomenclatura gramatical, têm voz ativa, passiva ou reflexiva
38
.
Entretanto, a perspectiva da nossa investigação segue por outro caminho: a
possível causalidade entre as léxis. Portanto, visamos à propriedade de voz na
ação ligada ao resultado por meio da combinação das léxis, em função do
aspecto, da modalidade e da compatibilidade dos termos representados nas
operações de linguagem.
As noções predicadas no item lexical, conforme Culioli (1999 t.3, p. 10), são ”[...]
propriedades que se organizam umas com relação às outras em função de fatores
físicos, culturais, antropológicos [...]”
39
, assim, a análise com base na relação de
causalidade visa a verificar a propriedade de simetria
40
, ou seja, se nas léxis
quem pratica a ação reúne todas as condições lógicas para tal e se quem recebe
a ação tem as propriedades para recebê-la, ou seja, é com base nas experiências
ou conhecimento de mundo que se pode analisar a coerência no elo entre causa
e conseqüência. A propriedade de simetria ocorre quando todas as propriedades
da esquerda são compatíveis com as da direita.
38
- Ver, por exemplo, Rocha LIMA, p. 123-4.
39
-[...] propriétés qui s’organisent les unes par rapport aux autres em fonction de facteurs
physiques, culturels, anthropologiques [...]
40
- Matematicamente uma figura em uma, duas ou três dimensões é dita simétrica, se ela possui
um ente de simetria (ponto, eixo ou plano), de modo que, do outro lado desse ente de simetria, a
figura seja semelhante, porém invertida, como se tivesse sido colocada na frente de um espelho.
Segundo Camacho (1999, p. 381), “a conjunção simétrica significa permitir a alteração da ordem
das orações sem alteração de gramaticalidade e de significado”.
107
3.1 METODOLOGIA DA ANÁLISE
Considerando que nosso objetivo é identificar, no uso da marca quando, possíveis
relações que poderiam ser evidenciadas por meio da presença de outras marcas
e verificar as operações de voz, faremos a análise dos enunciados, adotando o
seguinte procedimento:
I apresentaremos, na análise, cada enunciado identificado com um
número;
II faremos paráfrases para verificar se existem outras relações encobertas
pela marca
quando. Essas paráfrases podem recuperar termos que foram
apagados, inserir um outro conector ressaltado pelo contexto ou outros
elementos importantes para a análise, na tentativa de facilitar o
entendimento. Cada paráfrase será identificada com o número do
enunciado seguido de uma letra;
III usaremos, em relação ao esquema de léxis,
A para a léxis que aparece
primeiro na ordem de leitura, r para a conexão ou relação e B para a
segunda léxis ligada à léxis A;
IV trataremos da propriedade de voz, na relação de causalidade entre as
léxis que compõem o enunciado, usando a nomenclatura causa efeito
ou conseqüência;
V faremos a inversão das léxis no enunciado para verificar se ocorre a
simetria sintática na propriedade de voz, ou seja, se a inversão altera a
108
natureza da noção de causalidade.
3.2. VERIFICAÇÃO DOS ENUNCIADOS
Os enunciados de que faremos as análises são os mesmos usados em outros
capítulos. Portanto, em:
1 – Tem hora que eu sou quando uma pedra.
1) Eu ser r ser uma pedra
A B
2 – Hoje eu estou quando infante.
2) Eu estar r estar infante
A B
ao se considerarem as relações semânticas em torno da marca quando e o
sentido encoberto por ela, poderemos observar as seguintes paráfrases com
conectores que não portam em si a noção de tempo, como:
1a - Tem hora que eu sou como uma pedra.
109
2a - Hoje eu estou como infante.
nessas paráfrases se verifica uma relação de comparação (a = b). Também são
possíveis as paráfrases:
1b - Tem hora que eu sou conforme uma pedra.
2b - Hoje eu estou
conforme [estava] na infância.
nas quais se nota uma relação de conformidade. Não há, nos enunciados (1) e
(2), a possibilidade de outras paráfrases sem implicar uma significativa alteração
do sentido de todo o enunciado.
Tanto em (1) quanto em (2), ao aproximar
eu de pedra e de infante, há a
predicação na origem de um resultado incorporado na cultura. A causalidade se
torna possível pela analogia da predicação ser eu, ser pedra e ser infante.
Portanto, ao observar a propriedade de voz, não se percebe entre as léxis uma
causalidade real, pois nota-se que tanto no enunciado (1) quanto no (2) B é um
qualificador ou, apenas, uma possível propriedade que se atribui a A, na ação de
se tentar transferir as propriedades de pedra e de infante para o eu.
Os enunciados:
3 - Quando escrevo uma carta, todos lêem.
3) Escrever a carta r todos ler (a carta)
A B
110
4 – Quando ficamos na janela, vemos tudo.
4) Ficar na janela r ver tudo
A B
são compostos de mais de uma léxis. Neles as relações semânticas inter-léxis e o
sentido atenuado pela marca quando, como conector, permitem outras paráfrases
por conectores que não portam em si a noção de tempo, como em:
3a
-
Se escrevo a carta, todos lêem.
4a
-
Se ficamos na janela, vemos tudo.
Nesses enunciados, observa-se a relação hipotática de condicionalidade [se A
(antecedente) B (conseqüente)], pois com o acontecimento de A é possível
o acontecimento de B. O enunciado (4a) poderia ser a resposta de uma pergunta
de alguém na dúvida, por exemplo, você realmente viu tudo? Nas paráfrases:
3b
-
Escrevo a carta e todos lêem.
4b
-
Ficamos na janela e vemos tudo.
notamos que relação paratática de adição [se A (antecedente) + B
(acréscimo)], em que B é um acontecimento esperado pelo enunciador, uma
seqüência natural da realização do acontecimento A, embora não se possa
afirmar que em (3b) exista implicação entre os acontecimentos de A e de B,
que o sujeito do enunciado na léxis A é diferente do da B; a ligação entre o ler e o
escrever é resultada da nossa experiência de mundo, isso implica B ser apenas
uma possível conseqüência de A; daí admitirmos, inclusive, as paráfrases:
111
3c
-
Escrevo a carta, mas todos lêem.
4c
-
Ficamos na janela, mas vemos tudo.
nas quais a relação é de
oposição [A (antecedente) B (não-A)], pois poder-se-ia
dizer que escrevo a carta que não deveria ser lida por qualquer pessoa ou, até
mesmo por ninguém, uma carta confidencial, por exemplo,
mas todos lêem a
carta
. Da mesma forma, poderíamos ficar na janela e, de acordo com a
disposição dela no espaço, não pudesse ver o que estivesse acontecendo (dentro
ou fora do ambiente), mas vemos tudo contraria a expectativa em relação ao que
não deveria ser visto da janela. Em:
3d
-
Conforme escrevo a carta, todos lêem.
4d
-
Conforme ficamos na janela, vemos tudo.
a relação passa a ser de conformidade [conforme A (antecedente) B
(conseqüente)], que o acontecimento A, de certa forma, vai funcionar como um
regulador do acontecimento B. Há ainda as paráfrases:
3e
-
Porque escrevo a carta, todos lêem.
4e
-
Porque ficamos na janela, vemos tudo.
3f
-
Escrevo a carta, por isso todos lêem.
4f
-
Ficamos na janela, por isso vemos tudo.
que demonstram a relação de causalidade [A (causa) B (efeito)].
Podemos afirmar, a partir das ocorrências (3e, 3f, 4e, 4f), que, com a marca
quando, a relação nocional de tempo entre as léxis A e B é mais expressiva,
112
embora não elimine as outras relações. No entanto, após as paráfrases, essa
noção de temporalidade fica menos marcada, mas permanece, que a noção
espaço-tempo é uma coordenada referencial na operação enunciativa. Em
contrapartida, as relações de condicionalidade, oposição, conformidade,
causalidade e adição ficam mais evidentes, porque os novos nexos inseridos (se,
e, mas, conforme, porque, por isso) passam a marcar o enunciado, evidenciando
a ocorrência dessas relações semânticas. Isso torna o domínio do sentido,
externado por tais nexos, mais visível.
Ao observar a propriedade de voz, percebe-se entre as léxis a causalidade,
portanto uma ação que as envolve. No enunciado (3), que tem a modalidade
assertiva e o aspecto durativo freqüentativo, nota-se que a escritura da carta pode
levar todos à leitura. Todos reúne as propriedades para ler a (carta), e a carta é
passível de ser lida; portanto, há, no enunciado, um direcionamento para a
relação de voz. No entanto, a leitura pode não ser necessariamente da carta feita
por mim, a menos que houvesse uma flechagem retomando carta na léxis B,
assim:
4g - Quando escrevo a carta, todos a lêem.
Portanto, no enunciado (3), não existe uma simetria nem reflexividade entre as
léxis. A ação eu escrever carta é apreendida com base em todos ler, e o
aspecto não-acabado revela que a leitura ainda não é de fato um resultado.
No enunciado (4), que tem modalidade assertiva e um aspecto durativo, ficar na
janela pode nos levar a ver tudo. A visão de tudo, embora tenha uma predicação
de sentido genérico, entende-se, no contexto, que seja a totalidade do universo
que se espera poder ver da janela, por isso uma possibilidade de se ter a
113
propriedade de voz em que o nós ficar na janela é a causa de ver tudo e a visão
de tudo
uma conseqüência; portanto, no plano inter-léxis, a relação causa
conseqüência e um direcionamento para se ter a propriedade de voz. No entanto,
o ficar na janela é apresentado como a única condição que possibilitaria a visão,
já que
tudo só pode ser visto quando se fica na janela. Há uma igualdade entre os
sujeitos da Léxis A e da B, além da volição que envolve o querer e o poder. O
aspecto não-acabado denota que não há uma simetria entre a ação ficar na janela
e o possível resultado dessa ação
visão de tudo, pois é preciso que a visão se
torne de fato um resultado para se apreender a ação ficar na janela.
No plano sintático, ao inverter a ordem das léxis, temos:
3h - Todos lêem quando (porque) escrevo a carta.
4g – Vemos tudo quando (porque) ficamos na janela.
em que permanece a causalidade apenas em (3h), porém a leitura passa a ser
um acontecimento que se refere, exclusivamente, à carta, motivada por ela; assim
não temos simetria sintática.
O enunciado:
5 – Quando uns trabalham, outros descansam.
5) uns trabalhar r outros descansar
A B
114
é composto de duas léxis. Nele as relações semânticas inter-léxis e o sentido
atenuado pela marca
quando, como conector, permitem paráfrases por nexos que
não portam em si a noção de temporalidade, como em:
5a)
Se uns trabalham, outros descansam.
na qual se evidencia a relação
condicionalidade [se A (antecedente) B
(conseqüente)], que serviria, por exemplo, para responder a uma pergunta do
tipo: como você organizaria o grupo? Subtendendo-se que todos não poderiam
trabalhar ao mesmo tempo. Também poderíamos parafrasear o
quando por:
5b) Ora uns trabalham ora outros descansam.
5c) Uns trabalham e outros descansam.
e ter em (5b) uma relação paratática de alternância (ora A ora B) ou, com a
mudança do conector, relação de adição como em (5c). Também é possível a
paráfrase:
5d) Conforme uns trabalham, outros descansam.
em que se torna evidente a relação de conformidade [ conforme A (antecedente)
B (conseqüente)], já que o acontecimento A, de certa forma, vai funcionar como
um regulador do acontecimento B. Há também as paráfrases:
5e
-
Porque uns trabalham, outros descansam.
5f
-
Uns trabalham, por isso outros descansam.
em que a relação de causalidade [A (causa) B (efeito)], isso considerando o
conector e a seleção de predicadores representados em A e em B.
115
Ainda em:
5g
-
Uns trabalham, porém outros descansam.
observamos uma relação paratática de oposição [A(antecedente)
B (não-A)],
porque os pares uns outros, trabalhar descansar situam-se em domínios
diferentes: de um lado,
uns e trabalhar podem ser entendidos como P, de outro
lado,
outros e descansar podem ser não-P, ou quase não-P, isto é, alguma coisa
que se coloca do outro lado da fronteira daquilo que seja P.
Conforme ficou demonstrado nas paráfrases existe entre as léxis a causalidade;
portanto, ao observar a propriedade de voz, admite-se que uma ação
envolvendo as léxis.
Na propriedade de voz inter-léxis, uma combinação entre a modalidade
assertiva e o aspecto durativo habitual. Nota-se que pode haver simetria e
reflexividade, ou não, dependendo da paráfrase que se fizer. Nas paráfrases (5b),
(5c) e (5g), a ação de causalidade entre trabalho (A) e descanso (B) é quase nula;
em (5a) e (5d), a ação entre trabalho e descanso é de uma causalidade menos
atenuada, em (5e) e (5f), uma ação de trabalho (A) que torna o descanso
(B) um resultado; portanto há uma causalidade plena. Dessa forma, em (5a), (5d),
(5e) e (5f), a ação de trabalho na léxis A implica B e descanso na léxis B é um
acontecimento resultado da ação de A. Dessa forma, a propriedade de voz
com simetria.
No plano sintático, ao inverter a ordem das léxis, temos:
5h – Outros descansam, quando (porque) uns trabalham.
116
em que permanece a causalidade, mas descanso (léxis A) é mais evidenciado
que trabalho (léxis B), assim há alteração da natureza da causalidade no contexto
e não temos uma simetria sintática no enunciado.
Nos enunciados:
6 – O homem quando adulto não tem vaidade.
6) (O homem) ser adulto r o homem não ser vaidoso
A B
7 – Letícia quando professora é exigente.
7) (Letícia) ser professora r Letícia ser exigente
A B
ao observarmos a relação entre A e B, percebemos que A exerce um papel
atributivo (qualidade) para os argumentos homem e Letícia da léxis B,
respectivamente, dos dois enunciados, restringindo ou delimitando uma porção de
B, como podemos observar em:
6a – O homem no momento em que é adulto não tem vaidade.
7a – Letícia no momento em que é professora é exigente.
117
Nesses enunciados, os atributos adulto em (6a) e professora em (7a) têm valor
qualitativo, possibilitando inferir que a marca
quando em (6) e (7) introduz um
qualificador para o termo (antecedente), sujeito do enunciado na léxis B, e localiza
o instante da identificação referencial desse antecedente.
Os dois enunciados, (6) e (7), são compostos de duas léxis. Neles as relações
semânticas inter-léxis e o sentido atenuado pela marca
quando, como conector,
além da relação qualitativa, permitem também paráfrases por nexos que não
portam em si a noção de tempo, como em:
6b – O homem como adulto não tem vaidade.
6c – O homem se adulto não tem vaidade.
6d – O homem porque é adulto não tem vaidade.
7b – Letícia como professora é exigente.
7c – Letícia se professora é exigente.
7d – Letícia porque é professora é exigente.
cujas relações evidenciadas em (6b) e (7b) é de comparação (homem = adulto) e
(Letícia = professora), em (6c) e (7c) é de condicionalidade (Se B (causa) A
(conseqüência) e em (6d) e (7d) é de causalidade (Porque B (causa) A
(conseqüência).
Ao observar as paráfrases, nota-se que existe entre as léxis A e B nos
enunciados (6) e (7) a causalidade; portanto, na propriedade de voz, admite-se
que uma ação que envolve as léxis que visa a um resultado. Observa-se, no
118
enunciado (6), que o ser adulto pode ocasionar a não vaidade, no entanto, a não
vaidade
não reúne todas as propriedades para ser uma conseqüência natural do
ser adulto. Da mesma forma, professora reúne as propriedades para tornar Letícia
exigente, mas a exigência não tem a passividade para ser uma conseqüência
natural de
professora, é apenas mais um determinante do sujeito Letícia.
Portanto, na relação entre as léxis, há um resultado, mas não existe uma ação, de
fato, para ocasioná-lo. A modalidade assertiva combinada com um aspecto
durativo permansivo não-acabado contribui para a não-compatibilidade entre
ação/ resultado, pois
adulto e professora podem ser apreendidos com base no
ser vaidoso e ser exigente; portanto, não há uma simetria entre as léxis B e A dos
enunciados (6) e (7).
Na construção sintática, ao inverter a ordem das léxis, temos:
6e – Quando (porque é) adulto, o homem é exigente.
7e – Quando (como) professora, Letícia é exigente.
em que permanece a causalidade e o enunciado não tem seu sentido alterado; no
entanto, os arranjos (6e) e (7e) não chegam a ser uma inversão; por isso, temos a
simetria sintática nos dois enunciados, até mesmo porque a léxis A se
encontrava interposta no interior da léxis B.
Os enunciados:
8 – De vez em quando ela abre a janela.
8) Ela abrir janela.
119
9 – Quando a gente se envaidece [...] é quando o conceito
desce [...]
9) A gente envaidecer (gente) r conceito descer.
A B
têm a organização diferente. O enunciado (8) tem apenas uma léxis, portanto não
tem relações inter-léxis em torno da marca quando, que não exerce a função de
um conector. O enunciado (9) é composto por mais de uma léxis.
No enunciado (9), considerando as relações semânticas inter-léxis e o sentido
atenuado pela marca quando, como conector, podemos observar paráfrases por
outros nexos que não portam em si a noção de tempo. Analisando-as, temos:
9a - A gente se envaidece, mas o conceito desce [...].
9b
-
A gente se envaidece e o conceito desce [...].
9c
-
A gente se envaidece ou o conceito desce [...].
Em (9a) uma relação paratática de compensação [A(antecedente) B (não-A)]
em que o envaidecer implicaria o descer; em (9b) uma relação paratática de
adição [A(antecedente) + B (acréscimo)], sendo o descer um acontecimento
acrescido a envaidecer e em (9c) uma relação paratática de alternância (A ou B),
entendendo-se que a vaidade é algo positivo, necessária para manter o conceito
inabalado, por exemplo, em um grupo social que prima pela vaidade para manter
determinado status.
As paráfrases:
120
9d
-
Se a gente se envaidece , o conceito desce [...].
9e
-
Porque a gente se envaidece, o conceito desce [...].
9f
-
A gente se envaidece, por isso o conceito desce [...].
9g - Conforme a gente se envaidece o conceito desce [...].
revelam outras relações. Em (9d) relação de
condicionalidade [se A
(antecedente)
B (conseqüente)], em (9e) e (9f) relação de causalidade [A
(causa)
B (efeito)], em (9g) relação de conformidade [(conforme) A B] e
(9h) relação de
proporcionalidade [(a proporção que) A (causa) B (reflexo)]
denotando implicação entre A e B.
Portanto, podemos afirmar, a partir dessas ocorrências, que com a marca quando,
a relação de temporalidade entre as léxis A e B é mais expressiva, embora não
elimine as outras relações. Após as paráfrases, a noção de tempo é menos
marcada e as outras relações tornam-se mais perceptíveis, porque os nexos
inseridos passam a evidenciar a ocorrência dessas relações semânticas. Isso leva
os domínios dos sentidos veiculados por elas a serem mais predominantes.
Nota-se, por meio das paráfrases, que existe a causalidade entre as léxis A e B
do enunciado (9) que tem uma modalidade assertiva. Assim, propriedade de
voz na medida em que uma ação envolve as léxis, na perspectiva de se obter um
resultado. Observa-se que envaidecer (a causa) não implica o conceito descer
(efeito) nem o conceito descer reúne todas as propriedades para receber a ação
do envaidecer. O aspecto durativo freqüentativo não-cabado faz o resultado
descida do conceito ter uma natureza não factual; portanto o envaidecimento
121
(léxis A) só vai ser apreendido a partir da descida do conceito (léxis B). Não existe
uma simetria na voz entre as léxis A e B do enunciado.
Na organização sintática, ao inverter a ordem das léxis, temos:
9i Quando o conceito desce é quando (porque) a gente se
envaidece.
em que não se modifica o sentido do enunciado e permanece a natureza da
noção de causalidade; conseqüentemente, temos nele a simetria sintática.
O enunciado:
10 – Quando você estava para chegar, todos ficaram calados.
10 - Você (estar) chegar r todos (ficar) calar
A B
é organizado com duas léxis complexas
41
. Na relação semântica entre elas,
quando torna evidente a noção temporal. A organização de um jogo de paráfrases
do enunciado deixa transparecer outras relações, como em:
10a - Como você estava para chegar, todos ficaram calados.
10b – Você estava para chegar, por isso todos ficaram calados.
10c – Conforme você estava para chegar, todos ficaram calados.
10d - Você estava para chegar e todos ficaram calados.
41
- Usamos a nomenclatura “léxis complexa” porque uma léxis é predicada sobre outra léxis.
122
10e - Você estava para chegar, mas todos ficaram calados.
que têm relações semânticas suplementares à de tempo. Dessa forma, na
paráfrases (10a) e (10b), uma relação de causalidade [A (causa) B (efeito)]
em que a chegada é a causa e o silêncio, a conseqüência; em (10c), uma relação
de
conformidade [Conforme A (causa) B (efeito)]; em (10d), uma relação
paratática de
adição [A (acontecimento em curso) + B (acréscimo)] que poderia
ocorrer, por exemplo, em um contexto em que uma pessoa explica para a outra o
porquê de ela chegar e encontrar todos calados; em (10e), uma relação de
oposição [A(antecedente) B (oposição)], que poderia ocorrer em uma situação
em que todos devessem cantar, aplaudir, ovacionar ou emitir qualquer ruído na
chegada, mas não o fazem.
Como se vê nas paráfrases, o quando pôde ser substituído por um outro conector
e isso deu maior visibilidade a outras relações entre A e B, colocando em
segundo plano a relação de tempo.
Em relação à causalidade entre as léxis A e B, uma ação que as envolve.
Nesse enunciado de modalidade assertiva, o estar para chegar (causa) implica
todos calarem (efeito); no entanto, esta pode não ser uma causa suficiente, mas
leva a um resultado. Podemos supor que talvez haja autoritarismo, medidas
punitivas ou uma ação que denote poder do você sobre todos; por isso, uma ação
liga as léxis A e B. Por outro lado, todos calar também não reúne as propriedades
para receber a ação do você estar para chegar, mas é, de fato, um resultado,
devido ao aspecto cessativo acabado. Portanto, uma propriedade de voz sem
uma simetria entre as léxis A e B do enunciado.
123
Na organização sintática, ao inverter a ordem das léxis, temos:
10f – Todos ficaram calados quando (porque) você estava para
chegar.
em (10f) uma intensificação da causalidade e, conseqüentemente, não temos a
simetria sintática no enunciado.
O enunciado:
11 – Quando chovia, limpávamos a calçada.
11) Chover r limpar calçada
A B
é organizado com duas léxis. Na relação semântica, entre elas, quando torna
evidente a noção de tempo. Retirando-se o quando, aparecem outras relações
verificadas no exercício da léxis A em relação à léxis B, como as paráfrases:
11a – Chovia, mas limpávamos a calçada.
11b – Chovia e limpávamos a calçada.
11c - Porque chovia, limpávamos a calçada.
11d – Chovia, por isso limpávamos a calçada.
11e – Se chovia, limpávamos a calçada.
11f – Conforme chovia, limpávamos a calçada.
124
11g – Tanto chovia quanto limpávamos a calçada.
Em (11a) relação de
oposição [A (antecedente) B (oposição)] como se
chover fosse desfavorável à limpeza da calçada; em (11b), relação de adição [A
(antecedente) + B (acréscimo)], sendo a limpeza uma ação que sucede à chuva;
em (11c) e (11d), relação de
causalidade [A (causa) B (efeito)] em que a chuva
implicava a limpeza; em (11e) relação de condicionalidade [se A
(antecedente)
B (conseqüente)] entendida como se somente a chuva
possibilitasse a limpeza da calçada; em (11f), relação de conformidade
[(conforme) A B], denotando que a limpeza era algo feito imediatamente após
a chuva ou até que a chuva e limpeza eram concomitantes e em (11g), relação de
comparação (A = B), em que se evidencia que chuva e limpeza eram ações de
mesma duração e intensidade.
Nesse enunciado de modalidade assertiva, ao analisar a propriedade de voz
combinada com o aspecto permansivo, notamos que existe a causalidade, mas
não uma ação que envolve as léxis A e B na perspectiva de um resultado.
Observa-se que o chover (causa) não implica necessariamente a limpeza da
calçada (efeito), porque não é uma causa factual ou suficiente, que chover tem
uma ação voltada para si mesmo, é apenas um fenômeno. A nossa ação de
limpar não reúne todas as propriedades para ser causada pela chuva ou ser um
efeito da chuva; apenas um direcionamento para a propriedade de voz. O
aspecto não-acabado leva a entender que limpeza não pode ser um resultado da
chuva, mas é importante para se apreender o contexto de chover. Também não
existe uma simetria entre as léxis A e B do enunciado.
Na organização sintática, ao inverter a ordem das léxis, temos:
125
11i – Limpávamos a calçada quando (porque) chovia.
em que o
chover se torna a causa exclusiva da limpeza da calçada; portanto,
intensifica-se a causalidade entre as léxis e, conseqüentemente, não temos a
simetria sintática no enunciado.
No enunciado:
12 – Quando o jogador chutou a bola, o goleiro defendeu.
12) jogador chutar bola r goleiro defender
A B
a marca quando torna evidente a noção de tempo entre as léxis. O paralelismo
sintático entre o jogador chutou e o goleiro defendeu permite um jogo parafrástico
em que, ao se substituir quando por outros nexos, faz emergir relações como as
que se notam em:
12a
-
O jogador chutou, mas o goleiro defendeu.
12b
-
O jogador chutou e o goleiro defendeu.
12c - O jogador chutou ou o goleiro defendeu.
que têm relação de oposição (12a) [A(antecedente) B (oposição)] em que A
chutar é a ação e B defender a ação contrária; em (9b), relação de adição
[A(antecedente) + B (acréscimo)] e em (9c), relação de alternância (A ou B) que
poderia ocorrer em um contexto em que se tentasse, por exemplo, apresentar o
126
porquê de a bola ter saído pela linha de fundos do campo. Também no exercício
da léxis A em relação à B, poder-se-iam construir outras paráfrases, como:
12d - Porque o jogador chutou, o goleiro defendeu.
12e - O jogador chutou por isso o goleiro defendeu.
12f
-
Conforme o jogador chutou, o goleiro defendeu.
12g
Se o jogador chutou, o goleiro defendeu.
Em (12d) e (12e) relação de
causalidade [A (causa) B (efeito)] na qual
podemos observar que
chutar (causa) mobiliza o defender (efeito); em (12f),
relação de conformidade [(conforme) A B], ou seja, a intensidade ou
plasticidade do chute corresponde à beleza da defesa; em (12g), relação de
condicionalidade [se A(causa) B (efeito)] que poderia ocorrer em um contexto
onde se tentasse explicar a presença da bola ainda no campo, mas fora do gol.
Existe a causalidade entre as léxis A e B desse enunciado que tem modalidade
assertiva e um aspecto pontual acabado; por isso, uma ação e um resultado
que permitem identificar a propriedade de voz. Observa-se que o chutar a bola
(causa) implica o defender (efeito), no entanto, não é uma causa suficiente, já que
a bola poderia não ser defendida, mas uma causa necessária, pois com o
chute é que se tem a defesa. A ação de defender, dessa forma, reúne todas as
propriedades para ser provocada pelo chute, já que o objeto de chute e da defesa
é o mesmo, ou seja, a bola; portanto, uma simetria no enunciado entre a ação
( léxis A) e o resultado (léxis B).
Na organização sintática, ao inverter a ordem das léxis, temos:
127
12h – O goleiro defendeu, quando (porque) o jogador chutou a bola.
em que o
chute do jogador se torna a causa da defesa do goleiro; portanto, não
se altera a noção de causalidade entre as léxis e, conseqüentemente, temos a
simetria sintática no enunciado.
Os enunciados:
13 – Quando os pais chegaram, ele saiu.
13) pais chegar r ele sair
A B
14 – Quando cheguei, todos tinham saído.
14) (eu) chegar r todos ter sair
A B
são compostos de mais de uma léxis. Na relação semântica entre A e B, a
ausência da marca quando faz aparecer, no enunciado, relações complementares
(que tiveram o domínio atenuado por quando). Elas emergem no léxico e na
seqüência das léxis mediante a presença de outras marcas. Portanto, nas
paráfrases:
13a - Os pais chegaram, mas ele saiu.
13b – Os pais chegaram e ele saiu.
128
14a - Cheguei, mas todos tinham saído.
14b - Cheguei
e todos tinham saído.
relação de
oposição em (13a) e (14a) em que [A (antecedente) B
(oposição)]; nela a saída contraria a expectativa da chegada; e em (13b) e (14b)
tem relação de
adição [A(antecedente) + B (acréscimo)]. No enunciado (13),
podemos ainda parafrasear
quando com outros nexos, dando maior visibilidade
às relações que há entre A e B, além da de tempo, como em:
13c - Porque os pais chegaram, ele saiu.
13d - Os pais chegaram, por isso ele saiu.
13e - Se os pais chegaram, ele saiu.
que nos mostram a existência de uma relação de causalidade (13c) e (13d) [A
(causa) B (conseqüência)] na qual podemos observar que a chegada dos pais
(causa) mobiliza a saída (efeito); em (13e) a relação de condicionalidade [(se) A
B] , em que poderia acontecer em um contexto que tentasse retratar que ele
não quisesse compartilhar do mesmo espaço que os pais, portanto a sua saída é
uma conseqüência da chegada dos pais que a motivaria.
No enunciado (13), que tem modalidade assertiva, uma ação que leva a um
resultado, por isso existe a causalidade entre as léxis A e B, permitindo identificar
a propriedade de voz. Observa-se que os pais chegarem (causa) mobiliza a ação
ele sair (efeito), no entanto, não é uma causa que envolve um sujeito atingindo
um objeto, mas de uma ação levando a outra ação, já que chegar e sair ocupam o
espaço topológico de um mesmo domínio nocional. O acontecimento ele sair,
129
dessa forma, reúne todas as propriedades para ser provocado pelo chegar dos
pais
, sobretudo, por exemplo, em um contexto em que ele estivesse com alguém
em casa, escondido, ou estivesse fazendo algo reprovável e
os pais chegam
forçando a saída. O aspecto pontual, conclusivo e acabado permite identificar a
saída na léxis B como um resultado chegada dos pais na léxis A; portanto, é
possível inferir uma simetria semântica entre as léxis A e B do enunciado.
O enunciado (14) com modalidade também assertiva tem uma ação
a chegada
(causa) que leva a um resultado constatação da saída de todos (efeito); por isso,
existe a causalidade entre as léxis A e B, permitindo identificar a voz.os Ob351va- 4o a1(n(constat2) )tanto,9(45409(tem2 )- )-80239(4o )-5os como897 uj[( 239(4entB, g, )-77(2o, )-64 )] T:347Wdo. entden-77 T90409(temre Tm[(constatper-58( )-77(9[(exi7condtades dentTm[(cons.5(caus0 -38nti)-53(cinfntado )-142(pelo )] TJ/F18 1 T 7416 45712 477.72 7)-56(77(95 )-irde )-59(todos)] TJ/F17 1 5112 045712 477.72(n(consdo en-34.95347W0 12 g(forma, )-14(reúne6(entprov46(as )-135(pr2riedades 3135(para22151(ser )0239(3feit(em )-63(que )] TJ/F18 1 T8512 43012 477.72 7eus 308745.889de )-59(todos)] TJ/F17 1 T29)7.843012 477.72 7, m39(186(ea37(ação)] TJ/F18 1 Tf7Wd 43012 477.72sultado )-Tm(saída) Tj/F17 1 54(d2 043012 477.72stanto,o en-36.06347W0 12 g()-5os 154acabado )-125)-53(l19(svsso )-Tm[(constatmodad47ando )-130(a )] TJ/F18 1 26Tq 40212 444.12 57 -2.31 Td[55(-133(mo0 )-56(de )-59(todos)] TJ/F17 1 345 40212 444.12 5.tatmodaP92(A; )-197(6pontusmitr( )-ntp36(concl56)-113(O )- )-57(i0 l347Wdo.) Tjspecto )-120)-4ntual, )-o8(idente(propri-126(e ,ntp1usalisseemegada 29 )-54em )-63(que )] TJ/F18 1 T6912 0375 l522.96 568.283557 -2.31 Td[3(svsso )-a )-146(chegada)] TJ/F17 1 46712 0375 l522.96 5Td[3189(pais4)-196(na )-200(18B)22(o )96(nar )-134 125347W0 12 g(2(como7)-197(um )-20224çâ60 Tm[(constando )-130(a )] TJ/F18 1 24 151 347.60477.72 7euâ60 45.889de )-59(todos)] TJ/F17 1 28712 0347.60477.72 7(pr2r189(pai27)-196(na )-202r18351xi26)-192(A; )-197255)tanto,9(55)J0 -2.3 Td7(2o, (possomo7)-09(ter )-1315125347W0J-28.7 )-82(a )-77 T39(saí34voz,355348-m6(ent36posertivcon( inferir T39135(a simetria T394salidade 34-86(ent2.3-196(na )-2034-8Aent2.3-ade 3468B)22394s)-n)-53, )] T:347W0 12 (xis A e B do enuncia0 12 g(Na organiz Tm[(constsint )-2tria, ao(pvsst(paa o39(3freem d2ntica entrenegaxis A e Bs, temeg:, )] T5.9ncia0 12 (13f esc Ele )-iu, qu( )-7-192)-5 Tmega96(do45.889am do enuncia0 12 ciac esc T-56(7B, ham 7 -2.31o, qu( )-7-192)-5 Tm45.8uei do en-5.9nciado.) TjErtiv7)-(13f Tmndo )-130(a )] TJ/F18 1 T5012 m[.00449.04 690.685 Tm[(os 68745.889de )-59(todos)] TJ/F17 1 229q m[.00449.04 6os 62)tanto,966568.2665 )-802397(ed52(em )-63(que )] TJ/F18 1 T09 m[.00449.04 6718os 687)-irde )-59(todos)] TJ/F17 1 34812 m[.00449.04 6os 62)8os 65.29 -273unciac Tmndo )-130(a )] TJ/F18 1 415142 m[.00449.04 6euæ9745.889de )-59(todos)] TJ/F17 1 T7312 0m[.00449.04 6tanto,965alidade )-1537çando )34(d2347W0 12 g( )-802vsso )-35omo656ndo )-130(a )] TJ/F18 1 T86de todos
130
O enunciado:
15 – Quando sentei a aula começou.
15) (eu) sentar r aula começar
A B
é composto por duas léxis. Na relação semântica entre elas, excluindo-se a noção
temporal evidenciada com a marca quando, aparecem no enunciado, por meio de
paráfrases, outras relações, como em:
15a - Sentei, mas a aula começou.
15b – Sentei e a aula começou.
que evidenciam uma relação de oposição em (15a) [A, mas B], que poderia
acontecer, por exemplo, em uma situação em que a expectativa fosse de sentar
para ler ou conversar com alguém e não assistir à aula e, também, uma relação
paratática de adição em (15b) [A(antecedente) + B (acréscimo)]. Prosseguindo as
paráfrases, encontramos outras relações como:
15c – Sentei por isso a aula começou.
15d - Porque sentei, a aula começou.
15e – Se sentei, a aula começou.
Em (15c) e (15d) relação de causalidade [A (causa) B (efeito)], em que
podemos observar que a aula começaria no momento em que eu estivesse
131
sentado, de forma tal que o meu sentar é que provocaria o começo da aula e em
(15e), relação de
condicionalidade [(se) A B] , ou seja, um professor advertindo
os alunos
se sentei a aula começou.
Nesse enunciado de modalidade assertiva e aspecto pontual inceptivo, existe a
causalidade entre as léxis A e B, por isso uma ação que envolve as léxis,
permitindo identificar a propriedade de voz. Observa-se que a ação de sentar
(causa) na léxis A mobiliza o começar (efeito), no entanto, não é uma causa que
exerce uma ação direta de A para B, que temos nas léxis A e B sujeitos e
ações diferentes, mas o aspecto acabado denota na
aula começada um resultado
da ação sentar. O acontecimento aula começar não reúne todas as propriedades
para ser provocada pelo sentar; portanto, não há uma simetria semântica entre as
léxis A e B do enunciado.
Na organização sintática, ao inverter a ordem das léxis nos enunciados, temos:
15g – A aula começou, quando (porque) sentei.
Em (15g) eu sentar continua implicando a aula começar, portanto permanece uma
relação de causalidade entre as léxis, porém aqui eu sentar configura-se como a
causa maior de a aula começar, alterando a natureza dessa causalidade, por isso
não temos a simetria sintática no enunciado.
Os enunciados:
16 – Quando deram seis horas, terminei a tarefa.
132
16) dar seis horas r terminar a tarefa
A B
17 – Quando o telefone tocou, mamãe estava fazendo almoço.
17) telefone tocar r mamãe estar fazer almoço
A B
são compostos de mais de uma léxis. Considerando as relações semânticas entre
elas e o sentido atenuado pela marca quando, como conector, poderíamos fazer
paráfrases por nexos que não portam em si a noção temporal. Se observarmos:
16a – Deram seis horas e terminei a tarefa.
17a – O telefone tocou e mamãe estava fazendo almoço.
16b – Deram seis horas, mas terminei a tarefa.
17b – O telefone tocou, mas mamãe estava fazendo almoço.
notamos que, em (16a) e (17a), ocorre relação de adição [A(antecedente) + B
(acréscimo)] e, em (16b) e (17b), relação contrajuntiva [A (antecedente) B (não-
conseqüente)], entendendo-se que em (16b) a tarefa não pudesse ser terminada
antes das seis horas e, em (17b), o fazer almoço impediu a mamãe de atender ao
telefone. Ainda podemos parafrasear o quando com outros nexos, como:
16c – Porque deram seis horas terminei a tarefa.
16d - Deram seis horas por isso terminei a tarefa.
133
17c – Porque o telefone tocou, mamãe estava fazendo almoço.
17d – O telefone tocou
por isso mamãe estava fazendo almoço.
Em (16c) e (16d), relação de
causalidade [A (causa) B (efeito)], em que
podemos observar que a o horário impulsiona o fim da tarefa; em (17c) e (17d),
também a relação de
causalidade se entendermos que o telefone é uma forma de
comando ou aviso para
mamãe fazer o almoço.
Esses enunciados têm modalidade assertiva. Em (16) o aspecto é pontual
conclusivo e em (17) é pontual inceptivo na léxis A conjugado com durativo
cursivo na léxis B. Nos dois enunciados, existe uma causalidade entre as léxis A e
B, por isso uma ação que as envolve permitindo identificar a propriedade de
voz. Em ambos os enunciados o aspecto acabado denota que tarefa terminada e
almoço sendo feito são, respectivamente, os resultados das ações dar seis horas
e telefone ter tocado. Observa-se, no entanto, que as ações das léxis A não
reúnem as propriedades que as tornam causa suficiente para provocar os
acontecimentos da léxis B; da mesma forma, os resultados representados pelas
léxis B reúnem as propriedades para serem mobilizados pelas ações da léxis A. A
nossa experiência de mundo permite inferir que o léxico predicado não apresenta
compatibilidade; portanto, não uma simetria entre as léxis A e B dos
enunciados.
Na organização sintática, ao inverter a ordem das léxis nos enunciados, temos:
16f – Terminei a tarefa quando (porque) deram seis horas.
17e Mamãe estava fazendo almoço, quando (porque) o telefone
tocou.
134
Em (16f) dar seis horas poderia ser a causa da tarefa terminada e em (17e) o
telefone tocar
também é uma possível representação da causa de mamãe estar
fazendo almoço
. Nesses dois enunciados, ainda ocorre uma relação de
causalidade entre as léxis, mas com alteração na sua natureza. Assim, não
podemos admitir a presença de uma simetria sintática nos enunciados.
O enunciado:
18 – Quando Leonardo quebrou o copo, cortou a mão.
18) Leonardo quebrar como r cortar a mão
A B
é composto por duas léxis. Os elementos predicadores desse enunciado (origem
/flexão temporal do predicado) que são o mesmo em A e em B, deixam uma
indeterminação maior e, conseqüentemente, uma abertura para o domínio de
outras relações, como se notam nas seguintes paráfrases:
18a - Leonardo quebrou o copo e cortou a mão.
18b
-
Leonardo quebrou o copo, porém cortou a mão.
18c - Leonardo quebrou o copo ou cortou a mão.
Em (18a) relação de adição [A (antecedente) + B (acréscimo)], sendo o cortar
a mão um acontecimento que segue o quebrar o copo; em (18b), relação de
contrajunção [A (antecedente) B (compensação)] em que o cortar a mão é uma
espécie de punição para Leonardo por ter quebrado o copo. em (18c), uma
135
relação de alternância (A ou B) que poderia ocorrer, por exemplo, em uma
situação em que duas pessoas, conversando em um ambiente diferente do em
que se encontra Leonardo, ouvem um barulho típico do estilhaçar de um copo
seguido de um ai de lamento ou dor e comentam Leonardo quebrou o copo ou
cortou a mão
. As paráfrases:
18d
Se Leonardo quebrou o copo, cortou a mão.
18e
-
Porque Leonardo quebrou o copo, cortou a mão.
18f
-
Leonardo quebrou o copo, por isso cortou a mão.
18g – Conforme Leonardo quebrou o copo, cortou a mão.
revelam relações em (18d) de condicionalidade [se A (antecedente) B
(conseqüente)], em (18e) e (18f), relação de causalidade [A (causa) B (efeito)]
e em (18g) relação de conformidade [(conforme) A B] como se o corte da
mão se assemelhasse à forma do copo quebrado.
No enunciado (18), que tem a modalidade assertiva e um aspecto acabado
pontual conclusivo, existe a causalidade entre as léxis A e B. O aspecto acabado
denota que a ação quebrar o copo (léxis A) provocou o resultado mão cortada
(léxis B). Se o quebrar o copo (a causa) implica o cortar a mão (efeito) e o cortar a
mão reúne todas as propriedades para receber a ação do copo quebrado, há uma
compatibilidade entre a ação e resultado; portanto, existe uma simetria entre as
léxis A e B do enunciado.
Na organização sintática, ao inverter a ordem das léxis no enunciado, temos:
18i – Cortou a mão, quando (porque) Leonardo quebrou o copo.
136
em (18i) Leonardo quebrar o copo sendo a causa de cortar a mão, portanto
continua ocorrendo uma relação de causalidade entre as lexis; no entanto, não se
sabe quem cortou a mão, se foi o Leonardo ou outra pessoa, que, sem a
inversão ele, subentendido no contexto, operava uma flechagem do nome
Leonardo; portanto, não temos simetria sintática no enunciado a menos que se
tenha:
18i – Leonardo cortou a mão, quando (porque) quebrou o copo.
Os enunciados:
19 – Nossa data maior era o quando.
19 – Data maior ser quando
20 – O quando mandava em nós.
20) Quando mandar nós
são iguais ao enunciado (8) quanto a sua composição, eles têm apenas uma léxis
e, com isso, não têm relações em torno da marca quando, porque tal marca aqui
não funciona como um conector, nem há uma propriedade de voz inter-léxis. Essa
marca, nos enunciados (19) e (20), aparece nominalizada.
O enunciado:
137
21 – Eu tive lembrança de quando você caiu.
21) Eu ter lembrança r você cair
B A
tem duas léxis. Na relação semântica entre A e B, a ausência da marca
quando
faz aparecer, no enunciado, outras relações que emergem mediante a paráfrase
por outros nexos, como:
21a – Você caiu e eu tive a lembrança disso.
21b – Eu tive a lembrança de porque você caiu.
Em que uma relação de
adição (21a) [A (antecedente) + B (acréscimo)], em
(21b) uma relação de causalidade [A (causa) B (conseqüência)]. Nesta
podemos observar que a caída (causa) mobiliza a lembrança (efeito), no entanto
em (21b), podemos ter também o entendimento de que a lembrança é
exatamente da causa da caída e não a lembrança da queda.
Nesse enunciado com modalidade assertiva e pontual conclusivo, existe uma
ação que envolve as léxis A e B, por isso há uma causalidade que permite
identificar a propriedade de voz. O aspecto acabado denota que o resultado
lembrança ocorrida (efeito) é provocado pela ação você cair (causa), no entanto,
não é uma causa que envolve um sujeito atingindo um objeto, mas de uma ação
que leva a outra ação. A predicação você cair que corresponde à causa não
reúne as propriedades para provocar diretamente o resultado lembrança, nem o
resultado lembrança ocorrida (efeito) reúne as propriedades para ser uma
138
conseqüência de cair. Portanto, não existe simetria na propriedade de voz, devido
à não-compatibilidade entre os elementos envolvidos.
Na organização sintática, ao inverter a ordem das léxis nos enunciados, temos:
21c – Quando (porque) você caiu, eu tive a lembrança.
Dessa forma,
cair se torna a causa da lembrança. Ainda assim não é uma causa
suficiente e a implicação entre as léxis é bastante suavizada; portanto, não
simetria sintática.
O enunciado:
22 - Quando da sua queda todos ficaram comovidos.
22) (Você quedou) na sua queda r todos ficar comovidos
A B
tem duas léxis (a léxis A está subentendida no enunciado). Na relação semântica
entre A e B, a ausência da marca quando faz aparecer, no enunciado, relações
que emergem devido ao léxico e à seqüência das léxis, mediante a presença de
outros nexos, tais como nas paráfrases:
22a – Você quedou e (no momento) todos ficaram comovidos.
22b - Devido a sua queda todos ficaram comovidos.
139
em (22a) uma relação de adição [A (antecedente) + B (acréscimo)], em (22b),
uma relação de
causalidade [A (causa) B (conseqüência)] na qual podemos
observar que
a queda (causa) provoca a comoção (efeito).
Esse enunciado com modalidade assertiva e aspecto pontual cessativo tem uma
ação entre as léxis A e B, por isso nele uma causalidade que permite
identificar a propriedade de voz. Observa-se que a comoção de todos (efeito) é o
resultado da ação
queda (causa), validado pelo aspecto acabado do enunciado. A
queda reúne todas as propriedades para provocar a comoção e a comoção é
passível de ser provocada por uma queda, ainda que ambas sejam ações que
envolvam sujeitos distintos. Sua queda é uma causa que envolve o co-enunciador
paciente em uma ação e, concomitantemente, provocador do sentimento de
todos. Daí existir simetria na propriedade de voz.
Na organização sintática, ao inverter a ordem das léxis nos enunciados, temos:
22c Todos ficaram comovidos, quando da (devido a) sua
queda
Ainda assim, mantém-se a causalidade, queda continua, ser a causa de todos
ficarem comovidos, pois a queda é o motivo da comoção; portanto, simetria
sintática.
Os enunciados:
23 – Quando eu crescer, vou ser atleta.
140
23) eu crescer r (eu) ir ser atleta
A B
24 – Quando eu sair, compro o cigarro.
24) eu sair r (eu) comprar cigarro
A B
25 – Quando eu completar 18 anos, vendo a casa.
25) eu completar 18 anos r (eu) vender casa
A B
são compostos de mais de uma léxis. Na relação semântica entre A e B, a
ausência da marca quando faz aparecer outras relações como nas paráfrases:
23a – Se eu crescer, vou ser atleta.
24a – Se eu sair, compro o cigarro.
25a – Se eu completar 18 anos, vendo a casa.
23b – Como eu vou crescer, vou ser atleta.
24b – Como eu vou sair, compro o cigarro.
25b – Como vou completar 18 anos, vendo a casa.
23c – Para eu crescer, vou ser atleta.
24c – Para eu sair, compro o cigarro.
141
25c – Para eu completar 18 anos, vendo a casa.
Encontramos nelas estas relações semânticas: em (23a), (24a) e (25a),
relação de condicionalidade [se A (antecedente) B (conseqüente)] em que o
acontecimento A é condição necessária para a realização de B; em (23b), (24b) e
(25b), relação de
causalidade [A (causa) B (efeito)]; no entanto, a léxis A passa
a carecer da presença de uma outra marca modalizadora
vou para garantir o
paralelismo com a léxis B; em (23c), (24c) e (25c), relação de
finalidade [(para) A
B], porém a léxis B passa a ser uma condição para a realização do
acontecimento descrito na A, ou seja, em (23c) atleta é condição para o
crescimento; em (24c) comprar o cigarro é um pretexto para a saída e em (25c) a
venda da casa é condição para completar dezoito anos. Esse enunciado (25c)
poderia ocorrer, por exemplo, em um contexto em que alguém (um herdeiro)
estivesse sendo coagido por meio de ameaças à sua vida para vender a casa, se
não quisesse ser assassinado.
Os enunciados (23) e (24) têm uma modalidade que conjuga o possível com o
provável e o aspecto hipotético progressivo. Em (23) o aspecto é preso a uma
condicionalidade: se crescer ser atleta; em (24) nota-se também um aspecto
freqüentativo sempre sair e comprar cigarro. O enunciado (25) tem uma
modalidade que conjuga o possível com a certeza e um aspecto hipotético
progressivo que apresenta um curso com término pontual aos 18 anos. nos
três enunciados, uma ação que envolve as léxis na perspectiva de um resultado;
portanto, uma causalidade que permite identificar a perspectiva de uma
propriedade de voz.
142
Entretanto, as relações de causalidade nos três enunciados são hipotéticas,
porque estão projetadas para um tempo futuro. Assim em (23), o
crescimento
(causa) não é suficiente para tornar alguém um atleta, nem ser atleta reúne as
propriedades para ser uma conseqüência factual do crescimento; em (24), o eu
sair
não é causa suficiente para comprar o cigarro, pode ser uma ação
necessária, nem
comprar cigarro reúne as propriedades para ser uma
conseqüência factual de
sair, por isso esses dois enunciados têm uma
modalidade que conjuga o possível com o provável e a validação das ações (léxis
A) dependentes dos resultados (léxis B). Devido a isso, em (23) e (24) não
uma efetiva propriedade de voz nem simetria semântica entre as léxis A e B.
No enunciado (25), a ação
completar 18 anos não é causa suficiente para vender
a casa, é certamente um pré-requisito legal ou uma causa necessária, e casa
reúne as propriedades para ser vendida, portanto pode ser uma conseqüência
após o completar dezoito anos. A modalidade desse enunciado conjuga a
possibilidade da ação completar 18 anos (léxis A) com a certeza de um resultado
casa vendida (léxis B); portanto, no enunciado (25), propriedade de voz com
simetria, apreendida em uma perspectiva nocional.
Na organização sintática, ao inverter a ordem das léxis nos enunciados, temos:
23d – Vou ser atleta quando (porque vou) eu crescer.
24d – Compro o cigarro quando eu (porque vou) sair.
25d – Vendo a casa, quando eu (porque vou) completar 18 anos.
143
Nestes enunciados (23d), (24d) e (25d), não mudança na causalidade, após a
inversão das léxis. Portanto, podemos admitir a presença de uma simetria
sintática neles.
O enunciado:
26 – Não sei até quando o dinheiro vai durar.
26) (eu) saber r dinheiro durar
A B
é formado por duas léxis. Nele a marca
quando não é um conector, mas expressa
uma circunstância de tempo e aparece combinada com a marca até. Essas duas
marcas poderiam ser parafraseadas com outras marcas que não portam em si a
noção de temporalidade. Se observarmos:
26a – Não sei se o dinheiro vai durar.
26b – Não sei como o dinheiro vai durar.
26c – Não sei para que o dinheiro vai durar.
26d – Não sei por que o dinheiro vai durar.
veremos que em (26a) a marca “se” introduz uma noção de dúvida expressa
pela léxis A “não sei”; em (26b), a marca “como” incorpora no enunciado uma
noção de modo associada à noção de dúvida expressa pela léxis A; em (26c) a
marca “para que” agrega ao enunciado uma noção de finalidade associada à
144
noção de dúvida expressa pela léxis A e em (26d) a noção de uma indagação da
causa, razão, justificativa para o dinheiro, o
dinheiro durar.
Nota-se, por meio das paráfrases, que não existe uma causalidade entre as léxis
A e B no enunciado (26), que a léxis A é apenas uma circunstância da B;
assim, também não há uma propriedade de voz inter-léxis na medida em que não
se apreende uma ação que envolve as léxis A e B desse enunciado.
Na organização sintática, ao inverter a ordem das léxis, temos:
26d – Até quando o dinheiro vai durar, não sei.
que não tem uma relação de causalidade, mas, por não alterar o sentido com a
inversão, temos a simetria sintática.
Os enunciados:
27– Vais sair quando?
27) – (tu) ir sair?
28 – Você virá quando?
28 – Você vir?
são idênticos aos enunciados (8), (19) e (20) no que concerne a sua composição,
eles têm apenas uma lexis; portanto, não há nenhuma relação em torno da marca
quando, porque tal marca aqui não é um conector.
145
3.3 CONCLUSÕES DESSAS ANÁLISES
Após analisarmos os 28 enunciados com a marca quando, fazer paráfrases dessa
marca com outros conectores, percebemos que podem emergir outras relações
mediante a retirada da marca e a inserção de outros nexos. Ao analisar a
propriedade de voz, observamos certas peculiaridades.
Observamos que, quando temos mais de uma léxis no enunciado e há uma
causalidade entre elas, ocorre uma propriedade de voz. Essa propriedade é
decorrente de uma ação que leva a um resultado, combinada com a modalidade e
o aspecto. Constatamos ainda que:
- os enunciados (1), (2) e (25), ainda que tenham mais de uma léxis, não
têm propriedade de voz;
- os enunciados (3), (4), (6), (7), (9), (11), (23), (24) têm propriedade de
voz, mas a ação (léxis A) depende do resultado (léxis B) para ser
validada, porque os enunciados têm um aspecto não-acabado e a
modalidade assertiva ou têm uma modalidade que conjuga o possível
com o provável. Nesses enunciados, ainda não se tem um resultado
factual;
- os enunciados (5), (12), (18) e (25) têm propriedade de voz com simetria
semântica entre ação resultado, pois o aspecto é acabado para os
enunciados com modalidade assertiva. No enunciado (25), que tem uma
modalidade que conjuga o provável com a certeza, o resultado é
146
apreendido nocionalmente. A simetria ocorre porque compatibilidade
entre os elementos da esquerda e da direita no enunciado;
- os enunciados (09), (13), (14), (15), (16), (17), (21) e (22) têm propriedade
de voz, porque o aspecto é acabado quando a modalidade é assertiva,
mas não têm simetria semântica entre causa efeito porque não
compatibilidade entre os elementos da esquerda e da direita no
enunciado;
Dessa forma, entendemos que a propriedade de voz está ligada à
correspondência entre ação e resultado, ao aspecto, à modalidade e à
compatibilidade entre os elementos predicados na relação de causalidade.
No próximo capítulo, analisaremos as operações de localização e os valores
referenciais que envolvem as operações de linguagem com a marca quando.
147
CAPÍTULO IV
Se eu morrer, morre comigo
um certo modo de ver.
Tudo foi prêmio do tempo
e no tempo se converte.
(...)
O tempo fluiu sem dor.
(Carlos Drummond de Andrade)
42
4 ESPAÇO DE REFERÊNCIA TEMPORAL
Todo o trabalho do lingüista consiste em mostrar como os sistemas
específicos de tempo lingüístico são apenas casos possíveis de
representações (no sentido de “traços”) que não desmontam a
invariância de nossas representações cognitivas da temporalidade.
43
(CULIOLI, 1999 t.2, p. 172)
Para Culioli, o enunciado resulta de um conjunto de operações de localização
abstrata que incidem sobre um termo e o localizam em relação a um segundo
termo. O termo localizado adquire, assim, uma determinação que não tinha antes.
A passagem da estrutura de origem a uma estrutura dotada de significação
mediante as operações enunciativas corresponde à construção de um
acontecimento lingüístico localizado em relação ao parâmetro situação de
enunciação, que é o localizador de origem de toda a cadeia de operações.
42
- Carlos Drummond de ANDRADE in: MORAES, Lygia Marina. Conheça o escritor Carlos
Drummond de Andrade
. 4.ed. Rio de Janeiro: Record, 1978, p. 48.
43
- Tout le travail du linguiste consiste à montrer que les systèmes spécifiques de tenses ne sont
que des cas possibles de représentations (au sens de “traces”), qui n’entament pas l’invariance de
notre représentation cognitive de la temporalité.
148
Na discussão que segue, trataremos da construção da significação nos
enunciados e da relação da marca lingüística
quando nas operações de
localização, que atribuem determinação a cada um dos termos. Entretanto, como
construir significado é referenciar, vastruir06(abruir )-01(par(ntes5es )115(paras )110(fazeir )993(uas )116(breveo )] TJ0 -2.3 Td[(relex7ão )3114acearca )301(dca )3095(refe(nncia )3067(e )3105dca )3095(significação )3108antesa seguir coo so
cnceitor refe(nncia )2558(é )2466basetanea abs(traor )2687poir tratar uas operação
cigntivca que linuaguem al(me )554ado muando, dmeasioncado e
149
representados; ela está em toda operação de linguagem capaz de proporcionar a
representação do pensamento. Ricoeur (2000) afirma que
[...] enquanto postulado da semântica, a referência ressalta, antes de
mais nada, o caráter sintético da operação central do discurso, a saber,
a predicação, e opõe esta operação a um jogo de diferenças e de
oposições entre significantes e significados. (RICOEUR, 2000, p. 331)
Para Ducrot (1972) “[...] referenciais são as expressões que permitem ao locutor
designar, para o destinatário, um ou mais objetos particulares do universo do
discurso [...]”. Conforme Azeredo (1999) “[...] a referência constitui o conjunto dos
meios pelos quais o locutor designa, no discurso, as variáveis do contexto: ele
próprio (o locutor), o interlocutor, o tempo, o espaço, o assunto”.
Como esses conceitos apresentados informam a referência não é apenas a
gramaticalização da linguagem por meio de uma classificação de marcas no
discurso. Tentaremos entender como se estabilizou o significado de referência
partindo da afirmação de Saussure (1969, CLG, p. 80), que diz “[...] o signo
lingüístico une não uma coisa e uma palavra, mas um conceito e uma imagem
acústica” e conclui classificando-o como “uma entidade psíquica de duas faces
[...]”.
Essa dicotomia proposta por Saussure é complementada por Ogden e Richards
45
,
que acrescentam à definição de signo a coisa significada e dessa forma
descrevem o signo constituído por uma relação triádica da seguinte maneira:
45
RICHARDS, I. A. & OGDEN, C. K. apud: Castelar de CARVALHO. Para compreender
Saussure
, 11 ed., Petrópolis: Vozes, 2002, p. 29.
150
pensamento ou referência
significante ............................. referente ou coisa
A proposição de Saussure é a de que a significação provém do jogo de formas
materiais. No entanto, a referência é a função que permite às unidades e aos
enunciados da língua remeter ao mundo real ou ideal em um sistema de
correspondência que, em uma perspectiva clássica, tende a se conceber como
estável e imediata. Por isso releva-se uma relação de transparência e adequação
das unidades da língua, às idéias que elas permitem representar e que são, em
si, suficientes para constituir as representações do mundo. A referência não é
feita com um objeto real, mas com um objeto do pensamento.
Conforme Mateus et. al. (1989, p. 51) “[...] uma expressão de uma dada língua
natural, quando usada em um dado contexto comunicativo, tem um dado
significado e um dado valor referencial”. Dessa forma, por meio de uma
expressão nominal ou pronominal, nomeia-se o objeto (real ou imaginário) ou a
ele se faz referência, o qual é construído como exterior à própria língua. Esse
objeto é o referente da expressão usada para referir. Além de um referente, a
cada expressão nominal associa-se, igualmente, um sentido (ou significado).
Para Benveniste (1989, p. 84), “[...] a questão é ver como o sentido se forma em
palavras [...]”, pois “[...] antes da enunciação, a língua não é senão possibilidade
da língua [...], já que
151
[...] desde que o locutor se declara e assume a língua, ele implanta o
outro diante de si, qualquer que seja o grau de presença que ele atribua
a este outro [...]. Na enunciação a língua se acha empregada para a
expressão de certa relação com o mundo. A condição mesma dessa
mobilização e dessa apropriação da língua é, para o locutor, a
necessidade de referir, pelo discurso, e, para o outro, a possibilidade de
co-referir identicamente no consenso pragmático que faz de cada
locutor um co-locutor. A referência é parte integrante da enunciação.
[…] a presença do locutor em sua enunciação faz com que cada
instancia de discurso constitua um centro de referência interno. Esta
situação vai se manifestar por um jogo de formas específicas cuja
função é a de colocar o locutor em relação constante e necessária com
sua enunciação (BENVENISTE, 1989, p. 84).
A proposição feita por Saussure é a de que a significação provém do jogo das
formas materiais, porém, se retornarmos ao triângulo apresentado por Ogden e
Richards, poderemos entender que há, entre a imagem acústica e a
representação mental, a referência. Isso postula uma diferença entre sentido e
referência, pois, de um lado, formas descritíveis e definidas (significante) e, de
outro, significado; manifestações, conforme Benveniste (op. cit.), “[...] livres,
fugidias, imprevisíveis”.
Frege (1978) afirmara a existência dessa dicotomia entre sentido e referência.
Para esse lógico,
A conexão regular entre sinal, seu sentido e sua referência é de tal
modo que ao sinal corresponde um sentido determinado e, ao sentido,
por sua vez, corresponde uma referência determinada, enquanto que a
uma referência (a um objeto) não deve permanecer apenas um único
sinal. O mesmo sentido tem expressões diferentes em diferentes
linguagens, ou até na mesma linguagem [...] um sentido nunca
assegura sua referência (FREGE, 1978, p. 63).
No entanto, o que permite construir o significado? Que operações cognitivas
regulam e estabilizam as formas lingüísticas?
Se a comunicação lingüística tem, muitas vezes, por objeto a realidade
extralingüística, é possível entender que o sentido faz parte do sistema que é a
língua. o referente é o objeto, real ou imaginário, cuja existência é construída
lingüisticamente como exterior a esse mesmo sistema. Assim, o sentido de uma
152
expressão é interno à língua; é o lugar que essa expressão ocupa em um sistema
de relações semânticas com outras expressões da língua, delimitando-se
mutuamente. expressões que nascem e outras que desaparecem ou se
modificam e a organização relativa das expressões que coexistem é
continuamente feita e refeita. Parafraseando Culioli, diríamos que a significação
se encontra na essência da língua.
4.1.1 Processo de referenciação
Como afirmam Mondada e Dubois (2003, p. 20) “[...] a referenciação não diz
respeito a ‘uma relação de representação das coisas ou dos estados de coisas’,
mas a uma relação entre o texto e a parte não lingüística da prática em que ele é
produzido e interpretado.” Dessa forma, podemos entender que o processo de
referenciação é constitutivo do ato de enunciar. Então o que seria a
referenciação?
Reportando a Culioli, diríamos que referenciação é um processo pelo qual o
sujeito constrói e (re)constrói a significação lingüística na analogia representação-
referente. Nessa operação, o sujeito enunciador localiza a relação que se
estabelece entre os termos mediante a situação de enunciação e seu
pensamento, direcionado-se ao sujeito co-enunciador. No nível do enunciado,
essa valoração da referência vai depender do ponto de vista daquele que
enuncia, em relação àquilo que ele supõe ser o pensamento ou a posição de seu
153
interlocutor e àquilo que ele visa a construir como juízo de valor do deslocamento
de certo número de significações anteriores, presentes ou possíveis.
Essa relação intersubjetiva, que se estabelece no processo de referenciação, está
presente nos postulados de Mondada e Dubois:
[...] passar da referência à referenciação [...] implica uma visão dinâmica
que leva em conta não somente o sujeito “encarnado”, mas ainda um
sujeito sócio-cognitivo mediante uma relação indireta entre os discursos
e o mundo. Este sujeito constrói o mundo ao curso das suas atividades
sociais e o torna estável graças às categorias - notadamente às
categorias manifestadas no discurso. Isto significa que, no lugar de
fundamentar implicitamente uma semântica lingüística sobre as
entidades cognitivas abstratas, ou sobre os objetos
a priori do mundo,
nós nos propomos a reintroduzir explicitamente uma pluralidade de
atores situados, que discretizam a língua e o mundo e dão sentido a
eles, constituindo individualmente e socialmente as entidades
(MONDADA; DUBOIS, 2003, p. 20).
O enunciado tem, na sua base, uma proposição, ou conteúdo proposicional, que é
uma estrutura abstrata
46
à qual se associa um sentido. Quando a proposição sofre
operações de determinação, pelas quais lhe são atribuídos os valores de
quantificação e qualificação (singular, plural, etc.), valores modais (epistêmica
assertiva, apreciativa, intersubjetiva, etc.), temporais (anterioridade,
simultaneidade e posterioridade), aspectuais, etc., torna-se um enunciado e
podemos então lhe associar um valor referencial.
Para Mateus et. al. o processo de referência é o próprio ato enunciativo, como
afirmam na passagem :
[...] o significado e o valor referencial
47
de uma proposição são função
do significado dos elementos que a constituem e das condições em que
a frase que a exprime foi enunciada. Em particular, o seu valor
referencial é função do significado dos seus elementos e de um
conjunto de parâmetros enunciativos, de que fazem parte o locutor
(LOC), o alocutor (ALOC), o tempo, o espaço, o discurso anterior e o
universo de referência (MATEUS et. al.,1994, p 51).
46
- Entendemos que a estrutura abstrata (primitiva) se trata da léxis a ser predicada.
47
- O conceito de valor referencial externado pelas autoras não tem a mesma concepção do que
adotaremos em nossa investigação.
154
As reflexões que apresentamos sobre sentido e referente, sobre signo (palavras)
e frases e sobre o processo de referenciação parecem relegar o conteúdo do
referente para um plano exterior à atividade lingüística. Entretanto, a abordagem
que norteará nossa pesquisa é a de que a linguagem é um processo de
representação, regulação e referenciação
48
.
Ao construirmos referência, produzimos seqüências lingüísticas que são
associadas não a segmentos de um mundo, real ou não, inteiramente exterior a
atividade da linguagem, mas a segmentos de um universo que nós próprios
projetamos de acordo com a nossa experiência. Assim, nosso entendimento é o
de que referenciar não corresponde a estabelecer uma relação direta entre o
enunciado e um referente extralingüístico, mas a operar cognitivamente sobre a
linguagem.
4.2 VALORES REFERENCIAIS
A escola culioliana se distingue no campo da semântica referencial por
introduzir um nível referencial intermediário entre o sentido e o
referente, designado como aquele de valor referencial do enunciado.
Como o referente, o valor referencial é aquilo a que um enunciado se
refere: os enunciados têm, portanto, uma dupla referência. Mas o valor
referencial é construído pelo enunciado e não tem outra existência que
não seja a que o enunciado lhe confere: é uma construção lingüística
constituída de entidades aparentando a ordem da linguagem. Ela é
aquilo que o enunciado diz tal qual o referente, mantido na sua
exterioridade da língua, não é aquilo que o enunciado fala. Ela se dá em
conseqüência de uma reconstrução do referente [...].
49
(VOGUE, 1999,
p. 77).
48
- Esse é o conceito de linguagem na perspectiva da Teoria das Operações Enunciativas.
49
- L’école culiolienne s’est distinguée dans le champ de la sémantique référentielle en
introduisant un niveau référentiel intermédiaire entre sens et référent, désigné comme celui de la
valeur référentielle de l’énoncé. Comme le référent, la valeur référentielle est ce à quoi un énoncé
155
O que leva à construção de um valor referencial
50
? Metaforicamente Vogue
(1999b) descreve o processo da construção de um valor referencial como se
fosse um cenário no sentido cinematográfico, onde o enunciado fornece todos os
recursos necessários à filmagem para se reconstituir a cena. Esse cenário
apresenta, de um lado, as entidades particulares (pessoas, eventos, situações
etc.) que ali se configuram e, de outro, as qualidades a que tais entidades se
encontram ligadas. Há, portanto, uma dupla dimensão: a quantitativa (Qnt) e a
qualitativa (Qlt). A relação ajusta-se entre essas duas dimensões. Partindo-se dos
elementos qualitativos - noções que revêem os lexemas implicados no enunciado
e das configurações operadas pelos diferentes marcadores do enunciado é que
se encontram as entidades mobilizadas como valor referencial.
De certa forma, o valor referencial supõe ser uma abstração com feitio particular
cuja noção instanciada por ele é a mesma que o define. Subentende-se aqui a
possibilidade da passagem do qualitativo das noções ao quantitativo das
ocorrências, para que as noções, em si, tenham, no fato desejado, uma dimensão
quantitativa. Essa relação paradoxal parece ser constitutiva do tipo de material
semântico que mobiliza os lexemas de uma língua.
Uma noção é uma instância de ordem qualitativa e caracteriza-se por uma
configuração particular de qualidades diferenciadas. A qualidade é
réfère: les énoncés ont donc une double référence. Mais la valeur référentielle est construite par
l’énoncé, et n’a d’autre existence que celle que l’énoncé lui confère: c’est une construction
linguistique, constituée d’entités appartenant à l’ordre du langage. Elle est ce que l’énoncé dit,
alors que le référent, maintenu dans son extériorià la langue n’est que ce dont l’énoncé parle.
Elle se donne par conséquent comme une reconstruction du référent [...].
50
- Na citação de Mateus, referimo-nos a um valor referencial, no entanto a valoração no seu
estudo, que tem uma perspectiva funcionalista, é diferente da valoração na abordagem de Culioli,
pois, pelo que nos parece, tomando por base as leituras que fizemos, para o que a autora afirma
ser um valor referencial, entende-se que seja um processo de referenciação, comparável às
Operações Enunciativas da teoria Culioliana.
156
necessariamente qualidade de qualquer coisa e implica, portanto, um campo de
“suporte” externo que é de ordem quantitativa. Sem dúvida, pode-se considerar a
qualidade uma abstração feita de toda quantidade particular, suscetível de a
suportar: uma abstração daquilo que constitui a particularidade da quantidade. O
quantitativo é uma das dimensões dos diferentes lexemas que constituem uma
língua.
Em certos lexemas, a própria semântica vai definir e caracterizar um tipo
particular de entidade. Este é o caso, por exemplo, de lexemas como cão,
chocolate e leitura. Não se saberia definir as noções a que esses lexemas se
referem sem que eles passem por uma explicitação do que seja uma entidade ser
cão ou ser chocolate e do que seja a atividade leitura. Esses léxicos têm em si as
qualidades próprias que lhes caracterizam e a primeira delas é ser entidade ou
ser não-entidade.
Para o lexema chocolate descrever a noção de chocolate e explicitar tal
157
certas substâncias. Ainda assim a noção conserva uma dimensão quantitativa,
mas implica, necessariamente, um suporte que vai localizar e especificar a
doçura, fazendo a noção determinar, de uma maneira ou de outra, sobre as bases
qualitativas, o padrão das ocorrências que a poderiam instanciar. O quantitativo
se acha, dessa forma, duplamente implicado em tais noções, não somente pelas
vias de um tal padrão, mas também pelas vias dos suportes que a qualidade pode
convocar. Como toda qualidade implica os tais suportes, pode-se sustentar que
uma noção como a de doçura convoca os suportes de maneira mais fundamental,
no caso ainda mais interna.
Não importa qual a natureza dos suportes que estão sujeitos a se aplicar à
qualidade doçura; pode-se pensar em todo campo de coisas que são suscetíveis
de serem doces: coberturas, balas, sabor ou outros, mas, ao contrário, é mais
difícil, por exemplo, de aceitar um ovo, um triângulo ou um canivete serem dados
como doce. Ora, quando se invoca a noção de doçura, engloba-se outra
qualidade em si: o conjunto de seus suportes potenciais. Nisso o conceito de
noção presente, aplicado no uso ordinário, parece mais difuso e mais amplo que o
conceito de qualidade: ele recobre em definitivo o domínio de tudo aquilo que não
se poderia dizer que é doce. Isso quer dizer que uma noção como a de doçura vai
determinar, sobre as bases qualitativas, não somente o padrão de suas eventuais
instanciações quantitativas, mas também a configuração própria dos suportes que
ela implica.
Pode-se imaginar um triângulo, um canivete ou um ovo doces, mas faltaria achar
nesses nomes um suporte para doçura, a menos que se dissesse, por exemplo, a
doçura do traço do triângulo, a doçura do tamanho do canivete ou a doçura do
sabor do ovo. Ainda assim, triângulo, canivete e ovo estariam afetados pela
158
noção de doçura que a eles é aplicada, que essa qualidade não lhes é própria.
Isso supõe que tal noção apenas seja conhecida por um operador, condicionando
seus operantes, e, portanto, os termos que lhe podem servir de argumento,
definindo-se no argumento tomado. Eles exigem, dessa forma, que se coloquem
em cena os argumentos. Portanto, dizer
doçura implica, necessariamente, um tipo
particular de entidade suscetível de ser doce.
Admitindo a implicação do quantitativo nas noções (sob a forma de padrões ou de
suportes), compreendemos como se a construção dos valores referenciais. A
partir das noções, pode-se elaborar o cenário onde as quantidades são colocadas
em cena, uma vez que os enunciados ainda não são estáveis e evocam a forma
de cenário onde as próprias noções são dotadas de um poder de estabilidade.
Elas estabilizam, sobre as bases qualitativas, as quantidades que as implicam.
4.2.1 Referência compacta, densa e discreta
A construção de ocorrências passa por um esquema de individuação
que coloca em jogo ponderações variáveis sobre QNT e QLT. Essas
ponderações resultam nas operações de determinação em interação
com as propriedades lexicais dos termos abrangentes. Discreto,
compacto e denso correspondem a tipos de ponderações diferentes
[...]
51
(CULIOLI, 1999 t.3, p. 14).
Essa citação antecipa o aspecto principal da nossa reflexão, que é um
esclarecimento de como se dão as ocorrências por meio da balança Qnt e Qlt.
51
- La construction d’occurrences passe par un schème d’inviduation qui met en jeu des
pondérations variables sur QNT et sur QLT. Ces pondérations tiennent aux opérations de
détermination en interaction avec les propriétés lexicales des termes concernés. Discret, compact,
dense correspondent à des types de pondération différents,[...].
159
A unidade lingüística apresenta uma maleabilidade que lhe é inerente e que se
traduz pelas diferentes relações entre suas dimensões Qnt e Qlt. Essas
deformações, por serem independentes desta ou daquela unidade lingüística,
correspondem, assim, a um dos planos nos quais as operações regulares,
provenientes da atividade de linguagem, tornam-se presentes: plano do modo de
construção referencial (referências compacta, densa, discreta).
Em vez de ser simplesmente o quantitativo de um lado - as ocorrências,
e o qualitativo de outro as noções, podendo então ser diversamente
colocados em relação, obtendo-se na discussão duas dimensões
quantitativas e duas dimensões qualitativas: ao lado da configuração
qualitativa sobre a qual se organiza a noção, também as qualidades
próprias que as ocorrências possuem enquanto entidade particular. No
resultado, um jogo, portanto, as conseqüências são extremamente
importantes sobre o modo de constituição dos valores referenciais
52
(VOGUE, 1999b, p. 84).
A ocorrência é definida com base na noção. Mas há, com certeza, três
possibilidades de correspondências sobre as quais se pode fundir a relação entre
ocorrência e noção: uma correspondência qualitativa, uma correspondência
quantitativa ou uma correspondência simultaneamente quantitativa e qualitativa.
No primeiro caso, a ocorrência é uma entidade particular cujas qualidades
correspondem àquelas pelas quais a noção se define, mas isso não implica
necessariamente que ela se como instanciação quantitativa dessa noção. No
segundo, ao contrário, a ocorrência é uma instanciação quantitativa da noção.
Não é mais necessário efetivamente, na qualidade de entidade particular. No
terceiro caso, enfim, faz-se a convergência das duas dimensões: a ocorrência é
dada como uma instanciação quantitativa da noção e, a um tempo, verifica a
dimensão qualitativa dessa noção.
52
- Au lieu d’avoir simplement du quantitatif d’une part, les occurrences, et du qualitatif d’autre
part, les notions, pouvant alors être diversement mis en relation, on a en lice deux dimensions
quantitatives, mais aussi deux dimensions qualitatives: à coté de la configuration qualitative sur
laquelle s’organise la notion, on a aussi les qualités propres que possède l’occurrence en tant
qu’entité particulière. Il em résulte un jeu, dont les conséquences sont extrêmement importantes
sur le mode de constitution des valeurs référentielles.
160
De uma maneira mais objetiva, os três tipos de valores referenciais do quadro
teórico de Antoine Culioli podem ser explicitados da seguinte forma
53
:
4.2.1.1 Valor referencial compacto
No valor referencial compacto, é atribuída ao suporte uma qualidade sem o
recorte espaço-temporal. Se falamos em suporte, é porque o termo lingüístico (ou
o segmento lingüístico) ao qual é atribuída essa função não apresenta nenhuma
individualidade. Como afirma Culioli, “no caso do
compacto, o tipo não faz o
papel preponderante, é a construção de um gradiente que é fundamental
54
.
(CULIOLI, 1999 t.3, p. 14).
Como exemplo desse valor referencial, tomamos o enunciado:
1- A doçura do clima da serra.
Em (1)
clima, que corresponde ao suporte, é apreendido exclusivamente sob o
aspecto de
doçura: atribui-se a clima a qualidade doçura. Nos exemplos:
2 - O pé da mesa está jogando.
3 - O avião jogou muito.
53
- As explicações que se seguem, inclusive os exemplos apresentados, são contribuições de
LOPES (2000) apresentadas em sua tese de doutorado, cuja referência se encontra na
bibliografia.
54
- Dans le cas du compact, le type ne joue pas de rôle prépondérant, c’est la construction d’un
gradient qui est fondamentale
161
162
Neste caso, QNT corresponde a formas de amostragem
55
(CULIOLI, 1999 t.3, p.
14).
Para exemplificar esse valor, tomemos, por exemplo:
6 - Um pouco de doçura só faz bem.
Nesse caso, um pouco de permite quantificar doçura. Contudo, essa doçura
quantificada não deixa de ser doçura; continua apresentando todas as qualidades
relativas à
doçura.
Em:
7 - As crianças estão jogando na rua.
as crianças são responsáveis pelo desenrolar de um jogo, que só existe enquanto
jogo à medida que as crianças jogam.
E em:
8 - Ontem , ele bebeu, dançou, se divertir à beça.
o que é absolutamente importante é que, durante um determinado espaço de
tempo, definido por ontem, ele bebeu, ele fez o que se conhece por beber.
55
- Le dense correspond à un mixte, un cas intermédiaire et instable. Ni QNT, ni QLT ne sont
prépondérants. Il n’y a pas de forme type qui stabilise. Dans ce cas, QNT correspond à des formes
de prélèvement.
163
4.2.1.3 Valor referencial discreto
Com base em propriedades primitivas, ocorrem nomes ou processos que se
apresentam no enunciado com o funcionamento do tipo discreto, remetendo para
ocorrências enumeráveis, quantificáveis e individualizadas.
No caso do discreto, QNT é preponderante e o tipo é privilegiado com
relação ao atrator. Trata-se de um modo de construção de uma
ocorrência tal que a delimitação de uma porção de espaço-tempo seja
privilegiada. A estabilidade da ocorrência se fundamenta sobre a
relação do tipo. Exibir um representante de uma propriedade faz parte
de um funcionamento do tipo discreto [...].
56
(CULIOLI, 1999 t.3, p. 14).
De forma mais objetiva, poderíamos dizer que o funcionamento do tipo discreto é
pré-identificado por um formato; ele traz em si uma validação (o indivíduo, ao
responder a um formato, corresponde a uma discretização da noção). Em relação
aos processos, verifica-se a construção de um resultado, chega-se a um fim. Isso
pode ser verificado em:
9 - Hoje não me resta mais do que uma amarga doçura.
Nesse enunciado, a doçura instanciada não deixa de ser doçura individualmente.
A expressão nominal uma amarga doçura não deixa de ser exatamente a doçura;
ela é diferente por ser amarga, mas ela é uma ocorrência singular.
Em:
10 - Jogou a herança inteirinha no cassino.
56
- Dans le cas du discret, QNT est prépondérant et le type est privilégié par rapport à l’attracteur.
Il s’agit d’un mode de construction d’une occurence tel que la délimitation d’une portion d’espace-
temps soit privilégiée. La stabilité de l’occurrence se fonde sur la relation au type. Exhiber un
représentant d’une propriété relève d’un fonctionnement de type
discret [...].
164
existia algo a ser jogado – a herança – e, uma vez o jogo feito, não existia nada
mais a ser jogado. Um
jogar preciso ocorreu, delimitado pela herança.
E em:
11 - Pronto, ele bebeu o remédio.
o que tinha para se beber foi efetivamente bebido. Um beber preciso ocorreu,
delimitado pelo
remédio.
4.3 UM RETORNO À TEORIA DE ANTOINE CULIOLI
Até aqui buscamos entender a significação, ou referenciação, expondo citações,
estabelecendo conceitos e, às vezes, fazendo menção do quadro teórico de
Culioli, que também foi utilizado para dar suporte às análises feitas em outros
capítulos II deste trabalho. A começar deste ponto, retomaremos aspectos da
teoria culioliana, de forma mais específica, enfatizando aspectos que serão
usados nas próximas análises da marca quando.
Enunciar é referenciar, essa postulação nos leva ao entendimento de que o
processo de referenciação, na teoria de Culioli, representa o momento em que o
co-enunciador monta e desmonta as representações, usando o esquema de léxis.
É que se pode ter a percepção de como o domínio nocional se realiza como se
fosse um pacote: de um lado, a relação enunciação-enunciado que envolve o
165
sujeito enunciador e o sujeito do enunciado; de outro lado, o tempo da enunciação
e o tempo do enunciado.
4.3.1 Domínio nocional
O domínio nocional é formado com base em uma projeção que cria uma abertura
que tem como ponto de referência um
centro, ou seja, o alto grau da noção. A
partir desse centro, ocorre uma transição em que se formam gradientes por meio
de
estabilizações de noções (ocorrências), ou por deformações, que são as
oscilações em relação ao centro. Essa transição poderia, conforme Vignaux
(1988), ser representada no seguinte esquema:
Como podemos observar no quadro acima, a noção, após ser predicada, passa
por um processo de regulação até ser estabilizada e, depois, opera-se uma
transição, quer seja por uma referência remetida ao centro, quer tenha o centro
////////////////////////////////////////////////////
Verdadeiramente P Não verdadeiramente P Verdadeiramente não-P (outra coisa)
Ф
//////////////////////////////////////////////////////
166
como ponto de partida. Esse espaço topológico a transição - pode ser assim
representado:
Em relação ao domínio nocional do tempo lingüístico, entendemos que toda
ocorrência estabelece uma abertura de um domínio para tal noção. Também
mudanças de ocorrências porque os intervalos ou recortes temporais não são
iguais. Assim, poderíamos situar no centro do domínio da noção o intervalo que
apresenta continuidade e os instantes inicial e final; entre o centro e a fronteira os
recortes que não apresentam esses pontos inicial e final, ou seja, têm uma
abertura sem fechamento e a noção sem nenhum intervalo demarcado situa-se
na fronteira do domínio.
4.3.2 A operação de localização
O conceito de localização, segundo Culioli (1999 t.3), está ligado ao conceito de
determinação e ao ato de situar um termo em relação a outro. Dizer que x está
localizado em relação a y significa que x está situado com referência a y, que é
Interior Fronteira Exterior
Propriedade P típica Último ponto imaginário
/ / / / / / / / / / / / /
\ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \
Ponto imaginário Nada de tudo-P
Verdadeiramente não P
167
um localizador (ponto de referência). Esse y pode ser uma origem ou pode, ainda,
ser localizado por outro localizador. Um objeto somente adquire um determinado
valor por meio de um sistema de localização.
O operador de localização é notado є (está localizado por), portanto a ocorrência
<
x є ( )> significa que x é o determinado em uma relação que está sendo
estabilizada. A partir de <
x є ( )> pode-se construir um localizador, diga-se y, e,
assim, ter-se a relação <
x є y>, isto é, x está localizado em relação a y.
Falar em localização é referir-se tanto ao estabelecimento de uma relação quanto
à relação que foi estabelecida.
A operação de localização envolve duas propriedades primitivas reflexividade /
não-reflexividade, simetria / não-simetria. Quando temos uma localização
simétrica, reflexiva, temos identificação, mas, quando a localização tem a
propriedade de não simetria, temos a diferenciação. Isso se pode notar na
operação <
x є y> < y є x> (por exemplo: < x possui y> (y é possuído por x ).
Após essa breve retomada dos postulados teóricos, prosseguiremos nossa
análise da marca lingüística quando, para verificar como ela se comporta nas
operações de localização.
Nas análises que seguem, necessariamente, não identificaremos os enunciados
com mesma numeração usada nos capítulos anteriores.
168
4.4 ANÁLISE DAS OPERAÇÕES DE LOCALIZAÇÃO COM A MARCA
QUANDO
Todo enunciado se associa a um tempo lingüístico abstrato (T
2
) e seus valores
referenciais de tempo resultam da relação entre T
2
e o tempo da enunciação T
0
,
ou seja, resultam de uma operação de localização em que há um termo localizado
e um localizador. Nas análises que seguem manipularemos os enunciados com a
marca quando para verificar a operação de localização e os valores referenciais.
Dessa forma, observaremos no enunciado:
I - o termo localizador e o tempo localizado;
II - a determinação / não-determinação da noção de temporalidade,
Usaremos nessa análise a seguinte legenda:
T
0
– Indicador temporal origem
T
1
– Tempo da enunciação relatada
T
2
– Tempo predicado no enunciado
T
3
– Marca de temporalidade intermédia (entre T
2
e T
0
)
Não retornaremos às análises feitas, mas entendemos ser importante levar em
consideração que as nossas representações resultam da aglutinação de todas as
operações de linguagem em que se associam as particularidades da língua e a
nossa experiência empírica de mundo. Portanto, entendemos que a modalidade,
a aspectualidade, as operações de determinação e a propriedade de voz
169
concorrem, para que a marca lingüística quando assuma os valores referenciais
de denso, de discreto ou compacto.
Adotaremos como procedimento metodológico o uso de paráfrases da marca
quando, para manipular o enunciado e regular o seu sentido. Em face disso,
acreditamos poder entender o seu funcionamento no contexto e identificar os
valores referenciais em relação ao uso.
4.4.1 - Enunciados de valor compacto
Analisando os enunciados:
1 – Tem hora que eu sou quando uma pedra.
2 - Hoje eu estou quando infante.
notamos que acontecimento lingüístico é construído como simultâneo à situação
de enunciação T
2
= T
0
. Nas operações de localização temporal T
3
respectivamente tem hora e hoje são os tempos lingüísticos localizadores dos
acontecimentos eu sou uma pedra e estou infante. T
3
também é simultâneo a T
0,
ou seja
,
T
3
= T
0
. O presente lingüístico garante essa igualdade entre as
coordenadas temporais.
є є є є
170
Nesses enunciados, a ocorrência de quando é localizada por ser pedra e estar
infante
. Em uma relação < x є y>, ou seja, x está localizado em relação a y, a
marca
quando ocupa o lugar de x e o seu localizador é que fornece um intervalo
de tempo marcado pelo curso de uma seqüência de pontos (ou instantes), que
representam o domínio da noção temporal da marca
quando. Dessa forma, tal
marca pontua um intervalo de tempo aberto em relação ao tempo crônico,
nocionalmente situado no presente. Ainda que em (2) a asserção ser infante
remeta ao passado do sujeito enunciador, essa condição é transportada para o
presente pela desinência verbal sou.
Nos enunciados:
3 – Quando escrevo uma carta, todos lêem.
4 – Quando ficamos na janela, vemos tudo.
verifica-se que o acontecimento lingüístico é construído como simultâneo à
situação de enunciação T
2
= T
0
. Nas operações de localização temporal T
3
quando escrevo uma carta em (03) e quando ficamos na janela em (04) são os
tempos lingüísticos localizadores, respectivamente, dos acontecimentos todos
lêem e vemos tudo. T
3
também é simultâneo a T
0,
ou seja
,
T
3
= T
0
. O presente
lingüístico garante essa igualdade entre as coordenadas temporais.
Nos enunciados (03) e (04), a ocorrência de quando é localizada,
respectivamente, por (03) escrevo e (04) ficamos na janela. Em uma relação < x є
є є є є
171
y> (x está localizado em relação a y) a marca quando ocupa o lugar de x e os
seus localizadores se encontram em
y e fornecem um intervalo de tempo
marcado pelo curso de uma seqüência de pontos (ou instantes), que representam
o domínio nocional de tempo da marca. Dessa forma,
quando representa um
intervalo de tempo aberto em relação ao tempo cronológico e, nesses
enunciados, ele representa uma ocorrência que poderia ser regulada como
pertencente ao interior do domínio da noção temporal situada em um gradiente
(entre o centro e a fronteira).
Em:
5 – O homem quando adulto não tem vaidade.
6 - Letícia quando professora é exigente.
o acontecimento lingüístico é construído como simultâneo à situação de
enunciação T
2
= T
0
. Nas operações de localização temporal T
3
, representado
pelas predicações
57
quando adulto e quando professora, é o tempo lingüístico
localizador dos elementos homem e Letícia, presentes na asserção o homem não
tem vaidade e Letícia é exigente. Esse localizador denota uma fração de tempo
dentro do conjunto tempo. T
3
também é simultâneo a T
0,
ou seja
,
T
3
= T
0
.
57
- Essas predicações têm o estatuto de pré-construído.
є є є є
172
A ocorrência de quando é localizada, respectivamente, por (05) adulto e (06)
professora. Esses localizadores representam um período de tempo na vida
humana:
adulto e uma fração de tempo na existência do homem e ser professora
é a soma de instantes de exercício de uma profissão; portanto, fornecem um
intervalo de tempo marcado pelo curso de uma seqüência de pontos (ou
instantes) que representam o domínio nocional do tempo da marca quando.
Dessa forma, essa marca representa um intervalo de tempo situado entre o centro
e a fronteira de um domínio; um recorte de tempo aberto em relação ao tempo
cronológico.
Nos enunciados:
07 - Quando eu crescer, vou ser atleta.
08 - Quando eu sair, compro o cigarro.
o acontecimento lingüístico é construído como posterior à situação de
enunciação: T
2
T
0
. Nas operações de localização temporal, T
3
, igual às
predicações quando eu crescer e quando eu sair, é o tempo lingüístico
localizador, respectivamente, dos acontecimentos presentes nas asserções eu
vou ser atleta e compro cigarro. Esses localizadores projetam uma fração
temporal, dentro do conjunto tempo. T
3
situa um tempo futuro em relação a T
0,
ou
seja
,
T
3
≠ T
0
.
є є є є
173
Nesses enunciados, a ocorrência de quando é localizada em (07) por crescer e
em (08) por
sair. Crescer representa um período de tempo ainda por vir na vida
humana e
sair denota o momento de um acontecimento. Portanto, esses
localizadores fornecem um intervalo de tempo marcado pelo curso de uma
seqüência de pontos (ou instantes), que representam o domínio da noção
temporal da marca quando. Dessa forma, tal marca representa um intervalo de
tempo aberto em relação ao tempo cronológico.
No enunciado:
09 – Quando chovia, limpávamos a calçada.
o acontecimento lingüístico é construído como anterior à situação de enunciação
T
2
T
0
. Nas operações de localização temporal T
3
, equivalente à predicação
quando chovia, é o tempo lingüístico localizador do acontecimento presente na
asserção limpávamos a calçada. Esse localizador indica um intervalo de tempo
não determinado, pois não tem o ponto inicial nem o final. T
3
remete também a um
tempo passado em relação a T
0,
ou seja
,
T
3
≠ T
0
.
Nesse enunciado, a ocorrência de quando é localizada por chovia. Chovia
representa em si um evento que denota temporalidade. Portanto, esse localizador
fornece um intervalo de tempo marcado pelo curso de uma seqüência de pontos
(ou instantes), que representam o domínio da noção temporal da marca quando.
є є є є
174
Dessa forma, quando agrega em si um intervalo de tempo aberto em relação ao
tempo crônico.
Esse contexto da noção de tempo inscrita na marca quando é não-determinado
na ocorrência do enunciado que se situa entre o centro e a fronteira do domínio
nocional, ou seja, uma temporalidade sem um ponto delimitador de início e de fim.
No enunciado:
10 – Quando
1
a gente se envaidece (...) é quando
2
o conceito desce....
o acontecimento lingüístico é construído como simultâneo à situação de
enunciação T
2
= T
0
. Nas operações de localização temporal T
3,
igual a quando a
gente se envaidece, é o tempo lingüístico localizador do acontecimento é quando
o conceito desce. T
3
também é simultâneo a T
0,
ou seja
,
T
3
= T
0
. O presente
lingüístico garante essa igualdade entre as coordenadas temporais.
Nesse enunciado, a ocorrência de quando
1
é localizada por envaidece e quando
2
é localizada por desce. Em uma relação < x є y>, ou x está localizado em relação
a y, as marcas quando ocupam o lugar de x e os seus localizadores são os y e
fornecem um intervalo de tempo marcado pelo curso de uma seqüência de pontos
(ou instantes), que representam o domínio nocional do tempo da marca quando.
Dessa forma, quando pontua um intervalo de tempo aberto em relação ao tempo
crônico, representando uma ocorrência que poderia ser regulada como
є є є є
175
pertencente ao interior do domínio da temporalidade situada em um gradiente
(entre o centro e a fronteira).
Portanto, nesses enunciados de (1) a (10), encontramos:
- um intervalo de tempo não delimitado (sem início e sem fim);
- uma noção localizada dentro do próprio enunciado;
- não-pontualidade, ou seja, uma atemporalidade em termos de recorte
temporal;
- uma noção situada entre o centro e a fronteira do domínio nocional de
temporalidade.
Se retomarmos os enunciados:
1 – Tem hora que eu sou quando uma pedra.
2 – Hoje eu estou quando infante.
3 – Quando escrevo uma carta todos lêem.
4 – Quando ficamos na janela, vemos tudo.
5 – O homem quando adulto não tem vaidade.
6 – Letícia quando professora é exigente.
7 – Quando eu crescer vou ser atleta.
8 - Quando eu sair compro o cigarro.
9 - Quando chovia limpávamos a calçada.
176
10 – Quando agente envaidece (...), é quando o conceito desce.
veremos que podem ser, respectivamente, parafraseados por
1a – Tem hora que basta ser pedra
para ser eu
A B
2a – Hoje basta estar infante
para estar assim
A B
3a – Basta escrever uma carta
para carta ser lida
A B
4a – Basta ficar na janela para tudo ser visto
A B
5a – Basta o homem ser adulto para não ter vaidade
A B
6a – Basta ser professora para Letícia ser exigente
A B
7a – Basta crescer para ser atleta
A B
8a - Basta sair cigarro ser comprado
A B
9a – Basta chover calçada ser limpa
A B
10a – Basta a gente envaidecer para conceito descer
A B
Com esse procedimento, é possível notar que a léxis A pode ser apreendida
do ponto de vista da léxis B, pois existe a ocorrência em (1a) ser pedra do
ponto de vista do modo de ser; em (2a) de estar infante do ponto de vista de jeito
177
de estar; em (3a) de escrever uma carta do ponto de vista da leitura; em (4a) de
ficar na janela do ponto de vista da visão; em (5a) de homem ser adulto do ponto
de vista do
ser vaidoso; em (6a) ser professora do ponto de vista da exigência;
em (7a) crescer do ponto de vista do atletismo; em (8a) sair do ponto de vista da
compra do cigarro; em (9a) chover do ponto de vista da limpeza; em (10a) a gente
envaidecer
do ponto de vista da descida do conceito. Dessa forma, podemos
notar que em todos os enunciados a léxis B qualifica a léxis A, conferindo-lhe um
atributo, conferindo ao funcionamento da marca quando um valor compacto.
4.4.2 - Enunciados de valor discreto
No enunciado:
11 - Quando você estava para chegar, todos ficaram calados.
o acontecimento lingüístico é construído como anterior à situação de enunciação
T
2
T
0
. Na operação de localização temporal T
3
, igual à predicação quando você
estava para chegar, é o tempo lingüístico localizador do acontecimento presente
na asserção todos ficaram calados. Esse localizador, no enunciado, indica um
tempo não determinado. T
3
remete também a um tempo passado em relação a T
0,
ou seja
,
T
3
≠ T
0
.
є є є є
178
ainda no enunciado, a ocorrência de quando é localizada pela perífrase verbal
estava para chegar que aponta para um breve acontecimento, que está na
iminência de acontecer. Portanto, esse localizador fornece um intervalo de tempo
marcado pelo curso de uma seqüência de pontos (ou instantes) que representam
o domínio nocional da temporalidade imbricada na marca quando. Dessa forma,
tal marca agrega em si um intervalo de tempo fechado em relação ao tempo
crônico.
Esse contexto nocional de temporalidade da marca
quando é não-determinado na
ocorrência do enunciado. Situa-se entre na fronteira do domínio nocional, ou seja,
uma temporalidade com um ponto delimitador de início e de fim.
Em:
12 – Quando uns trabalham, outros descansam.
verifica-se que o acontecimento lingüístico é construído como simultâneo à
situação de enunciação T
2
= T
0
. Nas operações de localização temporal T
3
quando uns trabalham é o tempo lingüístico localizador do acontecimento outros
descansam. T
3
também é simultâneo a T
0,
ou seja
,
T
3
= T
0
. O presente lingüístico
garante essa igualdade entre as coordenadas temporais.
A ocorrência de quando é localizada por uns trabalham. Em uma relação < x є y >
(x está localizado em relação a y) a marca quando ocupa o lugar de x e os seus
localizadores se encontram em y e fornecem um intervalo de tempo marcado
є є є є
179
pelo curso de uma seqüência de pontos (ou instantes) que representam o domínio
da noção temporal da marca
quando. Dessa forma, essa marca representa um
intervalo de tempo aberto em relação ao tempo crônico, mas o intervalo de
descansar é delimitado por trabalhar, ele representa uma ocorrência que poderia
ser regulada como oscilante entre o interior domínio da temporalidade
tempo de
trabalho
e o seu complementar tempo de descanso.
Esse contexto nocional de temporalidade da marca
quando é nocionalmente
determinado, ou seja, tem uma temporalidade com um ponto delimitador de início
e de fim, já que uma ocorrência delimita a outra.
A análise dos enunciados:
13– Quando o jogador chutou a bola, o goleiro defendeu.
14 – Quando os pais chegaram, ele saiu.
15 – Quando cheguei, todos tinham saído.
16 – Quando sentei a aula começou.
permite-nos inferir que o acontecimento lingüístico é construído como anterior à
situação de enunciação T
2
T
0
. Nas operações de localização temporal, T
3
,
equivalente às predicações quando o jogador chutou a bola, quando os pais
chegaram, quando cheguei e quando sentei, é o tempo lingüístico localizador,
respectivamente, das asserções o goleiro defendeu, ele saiu, todos tinham saído
e a aula começou. Esses localizadores, em cada enunciado, determinam o
instante de um acontecimento de forma pontual. T
3
situa um tempo passado em
relação a T
0,
ou seja
,
T
3
≠ T
0
.
180
Nesses enunciados as ocorrências de quando são localizadas, respectivamente,
em (13) por chutou, em (14) por chegaram, em (15) por cheguei e em (16) por
sentei. Cada um desses delimitadores, representados pelos verbos, denotam uma
noção de tempo ocorrido, por isso fornecem um intervalo de tempo marcado pelo
curso de pontos (ou instantes) que representam o domínio noção temporal da
marca
quando. Dessa forma, quando configura-se em um intervalo de tempo
fechado em relação ao tempo crônico.
Nos enunciados:
17 – Quando deram seis horas, terminei a tarefa.
18 – Quando o telefone tocou, mamãe estava fazendo almoço.
19 – Quando completar 18 anos, vendo a casa.
verificamos que o acontecimento lingüístico em (17) e (18) é construído como
anterior à situação de enunciação T
2
T
0
. No enunciado (19) ele é posterior T
2
T
0.
Nas o Tj/F17 1 Tf12 0 0 12TJ65dos
181
Nos três enunciados, a ocorrência de quando é localizada em (17) por seis horas,
em (18) por
tocou e em (19) por completar 18 anos. Os delimitadores de (17)
(marca temporal) e (18) (verbo) representam uma noção de tempo ocorrido. O
delimitador de (19) (verbo + marca temporal) tem uma noção de tempo exato a
acontecer. Portanto, nos três enunciados,
quando fornece um intervalo de tempo
marcado pelo curso de pontos (ou instantes) que representam o domínio nocional
do tempo da marca quando. Dessa forma, quando configura-se em um intervalo
de tempo fechado. Esse intervalo, no passado, tem sua pontualidade validada
pelo sujeito enunciador e, no futuro, a modalidade que conjuga
possibilidade+certeza valida essa pontualidade nocional. Portanto, em todos os
enunciados, temos um intervalo de tempo fechado em relação ao tempo crônico.
O enunciado:
20 – Quando Leonardo quebrou o copo, cortou a mão.
tem o acontecimento lingüístico construído como anterior à situação de
enunciação T
2
≠ T
0
. Nas operações de localização temporal T
3
, igual à predicação
quando Leonardo quebrou o copo, é o tempo lingüístico localizador da asserção
cortou a mão. Esse localizador determina o instante de um acontecimento de
є є є є
182
forma pontual. Em (20) T
3
situa um tempo passado em relação a T
0,
ou seja
,
T
3
T
0
.
Nesse enunciado a ocorrência de
quando é localizada por quebrou que
representa uma noção de um tempo ocorrido. O delimitador de (20) ( desinência
verbal) fornece um intervalo de tempo marcado pelo curso de um ponto (ou
instante) que representa o domínio nocional da temporalidade da marca quando.
Em:
21 – Eu tive lembrança de quando você caiu.
22 – Quando da sua queda todos ficaram comovidos.
o acontecimento lingüístico é construído como anterior à situação de enunciação
T
2
T
0
. Nas operações de localização temporal T
3
, equivalente às predicações
quando você caiu e quando da sua queda, é o tempo lingüístico localizador,
respectivamente, dos acontecimentos presentes nas asserções eu tive lembrança
e todos ficaram comovidos. Esse localizador indica um intervalo de tempo
pontual, pois tem o ponto inicial o final. T
3
remete também a um tempo passado
em relação a T
0,
ou seja
,
T
3
≠ T
0
.
є є є є
183
Nesses enunciados, a ocorrência de quando é localizada, respectivamente, por
caiu e queda (quedou) que fornecem um intervalo de tempo pontual marcado pelo
curso de uma seqüência de pontos (ou instantes), que representam o domínio da
noção temporal da marca quando. Dessa forma, quando agrega em si esse
intervalo de tempo fechado em relação ao tempo crônico.
Esse contexto da noção de tempo inscrita na marca
quando é determinado na
ocorrência do enunciado e se situa entre o centro e a fronteira do domínio
nocional, ou seja, uma noção temporal com um ponto delimitador de início e de
fim.
Dessa forma, tal marca configura-se em um intervalo de tempo fechado em
relação ao tempo crônico.
Portanto, nos enunciados de (11) a (22) encontramos:
- a existência de um intervalo de tempo fechado com início e fim;
- uma noção de temporalidade totalmente determinada no próprio
enunciado;
- a estabilização de uma ocorrência que equivale à marca lingüística;
- a espaço de referência pleno, possibilitador de um domínio nocional de
temporalidade localizada pelo próprio enunciado;
є є є є
184
- a ocorrência localizada na fronteira do domínio nocional de quando.
Revendo os enunciados:
11 - Quando você estava para chegar, todos ficaram calados.
12 - Quando uns trabalham, outros descansam.
13 – Quando o jogador chutou a bola, o goleiro defendeu.
14 – Quando os pais chegaram, ele saiu.
15 – Quando cheguei, todos tinham saído.
16 – Quando sentei a aula começou.
17 – Quando deram seis horas, terminei a tarefa.
18 – Quando o telefone tocou, mamãe estava fazendo almoço.
19 – Quando Leonardo quebrou o copo, cortou a mão.
20 – Quando eu completar 18 anos, vendo a casa.
21 – Eu tive lembrança de quando você caiu.
22 – Quando da sua queda todos ficaram comovidos.
podemos inferir que:
11 – Houve um estar para chegar ------------ todos calados
A B
12 – Houve um trabalho de uns ----------descanso de outros
A B
185
13 – Houve um chute da bola -------------- bola defendida
A B
14 – Houve uma chegada dos pais ------------- saída de alguém
A B
15 – Houve uma chegada ---------- saída de todos verificada
A B
16 – Houve um movimento de sentar ---------- aula começada
A B
17 – Houve deram seis horas --------- tarefa terminada
A B
18 – Houve um toque ----------- almoço sendo feito
A B
19 – Houve um copo quebrado ------------- mão cortada
A B
20 – Houve um completar 18 anos ------------- casa vendida
A B
21 – Houve uma caída----------- lembrança ocorrida
A B
22 – Houve uma queda ---------------- comoção de todos
A B
Portanto, nos enunciados de (11) a (22), um nocional temporal em que a léxis
A é um acontecimento independente da léxis B. A marca quando coloca em
relação essas léxis que poderiam, perfeitamente, ser enunciadas
independentemente. A presença da marca quando faz de B um resultado de A.
Esse funcionamento da marca assume um valor referencial discreto.
186
4.4.3 - Enunciados de valor denso
Analisando os enunciados:
23 - De vez em quando ela abre a janela.
24 – Não sei até quando isso vai durar!
25 – Vai sair quando?
26 – Você virá em vitória quando?
verifica-se que o acontecimento lingüístico dos enunciados (23) e (24) é
construído como concomitante ao tempo de enunciação (T
2
= T
0
)
.
O T
2
ainda
necessita ser qualificado e quantificado; portanto, ainda é necessário transformar-
se o gradiente em ocorrência.
nos enunciados (25) e (26) o acontecimento lingüístico é construído como uma
possibilidade futura T
2
≠ T
0.
=
є є є є
є є є є
187
Nas operações de localização temporal, no enunciado (23), T
3
, equivalente a vez
em quando
, é o tempo lingüístico localizador do acontecimento representado na
asserção
ela abre a janela; no enunciado (24) T
3,
igual a até quando, é o tempo
lingüístico localizador da asserção isso vai durar; nos enunciados (25) e (26) não
uma operação em que a marca
quando seja o localizador de algum
acontecimento.
Nos enunciados (23) e (24), a ocorrência de quando é localizada,
respectivamente, por
vez e por não sei. Vez representa um período de tempo não
definido alternativo para quando e não sei denota indefinição de um momento.
Isso evoca um intervalo de tempo a ser marcado pelo curso de uma seqüência de
pontos (ou instantes) que representarão o domínio da noção temporal da marca
quando. Dessa forma, quando incorpora a ausência desse intervalo de tempo
não-determinado em relação ao tempo crônico.
Nos enunciados (23), (24), (25) e (26), a temporalidade da marca quando é não-
determinada por qualquer outra marca, não incorpora em si um domínio nocional
de tempo definido. Toda a noção de temporalidade se limita à própria marca, que
não tem uma delimitação do seu início nem uma referência alternativa do fim.
Portanto, é uma marca que ainda necessita ter um localizador que lhe afira uma
validação.
A relação de validação no enunciado (23) pode ser feita pelo S
2
(sujeito do
enunciado) ela. no enunciado (24), a validação da noção de tempo somente
será feita a partir do momento em que o enunciador determinar o quando por uma
outra ocorrência de qualquer marca temporal mais pontual; por exemplo, uma
data, um espaço de tempo delimitado como mês, ano, etc. Nos enunciados (25) e
188
(26), a validação da noção temporal deverá ser feita pelo co-enunciador (S
1
), ou
seja, na alteridade instalada na situação enunciativa.
Nos enunciados:
27 – Nossa data maior era o quando.
28 - O quando mandava em nós.
o acontecimento lingüístico é construído em um tempo anterior à situação de
enunciação T
2
T
0
. Nas operações de localização temporal em (27) T
2
era o
quando
é o tempo lingüístico localizador do acontecimento nossa data; em (28) a
desinência temporal de mandava opera a localização temporal de quando. T
2
não
é simultâneo a T
0,
ou seja
,
T
2
T
0
. O passado lingüístico, nos dois enunciados,
garante essa diferença entre as coordenadas temporais.
Em uma relação < x є y>, ou x está localizado em relação a y, o nome quando
ocupa em (27) e em (28) a posição de x ao ser localizado, respectivamente, por
era e mandava que apenas fornecem um intervalo de tempo marcado pelo curso
de uma seqüência de pontos (ou instantes) não-fechados em relação ao tempo
crônico, para a asserção feita. Quando à temporalidade da marca quando não é
nocionalmente determinada.
є є є є
189
Portanto, nos enunciados (23), (24), (25) (26), (27) e (28), em relação à marca
quando, encontramos:
- a não-existência de um intervalo de tempo nocionalmente representado;
- uma noção de tempo mais centrada na marca
quando;
- a não-estabilização de uma ocorrência com a marca
quando,
- a carência de uma determinação da temporalidade, que deverá ser feita
pelo sujeito enunciador, sujeito do enunciado ou o co-enunciador;
- a não-referência externa para delimitar um domínio nocional de tempo
que fica situada no
quando, transformando-o no centro organizador do espaço
topológico.
Se retomarmos os enunciados:
23 – De vez em quando ela abre a janela.
24 – Não sei até quando o dinheiro vai durar.
25 – Vais sair quando?
26 – Você virá quando?
27 – Nossa data maior era o quando.
28 – O quando mandava em nós.
teremos a seguinte composição:
190
23 – De vez em quando... ------------ ela abre a janela
B
24 – Não sei até quando... ----------- o dinheiro vai durar
B
25 – Vais sair ------------ quando
B
26 – Você virá ----------- quando
B
27 – Nossa data maior era --------- o quando
B
28 – O quando... ------------- mandava em nós
B
Dessa forma, não temos a léxis A para localizar a léxis B. Como B não qualifica A
(como no compacto) e A não faz de B um resultado (como no discreto), temos
uma simples localização temporal pelo apagamento da léxis A, léxis introduzida
por quando que o conduziria ao nocional. Portanto, nesses enunciados a marca
funciona com um valor referencial denso.
191
5 CONCLUSÃO
Este trabalho teve como objetivo proceder a um estudo da marca quando
verificando as operações de linguagem para identificar a invariância que sustenta
as variações de uso. Tomamos, como objeto de análise, enunciados da língua,
em ocorrências reais, articulando língua e linguagem, tendo como suporte a
Teoria das Operações Enunciativas de Antoine Culioli.
Observamos que a noção de tempo imbricada na marca quando, conforme
prescreve a teoria culioliana, funda-se nas ordens de representação de uma
sucessão ordenada de pontos ou instantes como se fosse uma dimensão linear,
em recortes e em intervalos consecutivos, concomitantes ou ajustados em relação
ao o tempo da enunciação.
Portanto, ao observarmos as ocorrências de quando nas análises feitas,
verificamos que elas, além de introduzirem no enunciado uma noção temporal,
criando a projeção para tal domínio, mantêm uma estreita interação com as
categorias de aspectualidade e de modalidade. No caso do aspecto, a marca
quando opera uma (in)determinação, influenciando diretamente essa categoria.
Constatamos, no capítulo II, que, nos enunciados com os tempos presente e
passado, temos a modalidade assertiva e um aspecto verbal concretizado. Já nos
enunciados com tempo futuro, a aspectualidade é hipotética e as modalidades
são apreciativa, intersubjetiva, deôntica e as que envolvem o necessário em
relação ao provável, ao eventual e à certeza.
192
É interessante ressaltar que, conforme as análises, nos enunciados com
modalidade assertiva, o
quando faz uma projeção, criando uma moldura ou um
intervalo para o tempo da realização do acontecimento. nas outras
modalidades essa marca indetermina a pontualidade do tempo e não pode ser
retirada do enunciado, a menos que haja, explicitamente, uma outra relação entre
as léxis. Isso se verifica nos enunciados com
quando mais tempo futuro em que
relação de condicionalidade ao se projetar a realização de um acontecimento
validado nocionalmente. Como afirma Bachelard:
[...] toda intuição do futuro é uma promessa de ações que não leva em
conta a duração dessas ações; essa intuição se limita a imaginar a
sucessão e a ordem dos instantes ativos. Prever um futuro é fixar sua
trama, negligenciando os intervalos [...] (BACHELARD, 1988, p. 39)
Precisamente no capítulo III, verificamos, por meio de paráfrases de quando por
outros conectores inter-léxis, que uma indeterminação inerente à linguagem.
Identificamos a emersão de outras relações semânticas à medida que retirávamos
o quando ou o substituímos por outros nexos.
Dessa forma, podemos afirmar, com base nessas ocorrências parafrásicas, que,
com a marca quando, a relação nocional de tempo entre as léxis A e B é mais
expressiva, embora não elimine as outras relações. Essa noção temporal fica
menos marcada quando retiramos ou substituímos o quando, mas permanece,
que a noção espaço-tempo é uma coordenada referencial na operação
enunciativa, como afirmam Durozoi e Roussel:
Quer seja apreendido como um período que transcorre entre dois
acontecimentos, ou como uma
mudança contínua e irreversível
segundo uma dimensão linear em virtude da qual o presente se torna
passado e o futuro presente, o tempo permanece paradoxalmente
inapreensível enquanto nele estamos imersos sem jamais podermos
dele nos abstrair. (DUROZOI; ROUSSEL, 1999, p. 462)
193
Nesse sentido, a presença da marca quando faz ficar mais evidente a noção de
tempo. Por outro lado, as relações ofuscadas por tal marca ficam mais visíveis
sem ela, porque os novos nexos inseridos permitem apreender com mais clareza
as outras relações semânticas entre as léxis a cada paráfrase efetuada.
A existência de relações semânticas complementares à de tempo, em torno da
marca quando, também foram constatadas por Souza (1996), por Neves (2000) e
por Carmelino (2004), em seus estudos realizados com base nas teorias
funcionalistas.
Com base na análise, ainda no capítulo III, da propriedade de voz, verificada na
relação de causalidade, pudemos entender que a regulação de um enunciado e a
relação semântica entre as léxis que o compõem dependem do conector apenas
para evidenciar o sentido já imbricado a sua direita e esquerda. Portanto, a
presença no enunciado da marca quando pode ser entendida como o instante de
restrição para se evidenciar a causalidade e outras relações semânticas
imbricadas na representação.
Verificamos também que a propriedade de voz depende não do
contexto e das referências exofóricas, mas da seleção lexical, da organização
sintática, do aspecto, da modalidade, da correspondência em relação à ação e ao
resultado. A simetria na propriedade de voz pode ocorrer se houver
compatibilidade entre os elementos predicados na ação resultado, pois é
necessário que eles reúnam as propriedades para ser a causa e ter a passividade
para ser conseqüência. Ainda foi possível constatar, neste capítulo, que ao
inverter a ordem das léxis, os enunciados que mantiveram inalterada a natureza
da noção de causalidade, apresentavam simetria sintática.
194
No capítulo IV, como podemos verificar nas análises, há operações de localização
da marca
quando e por meio dessa marca dentro do enunciado.
Conseqüentemente, existe uma localização de
quando em um espaço topológico,
observando a noção de tempo. A localização da marca nesse espaço está
relacionada com um de seus valores referenciais: denso, compacto ou discreto.
Esses valores referenciais para o quando são aferidos pelas operações de
localização, pela determinação ou não da noção, pelo intervalo de tempo, pelo
espaço de referência e pela sua configuração no domínio nocional do tempo.
Portanto, podemos representar tais valores de quando no domínio, conforme o
quadro seguinte:
O valor referencial compacto tem uma noção de tempo relativa ao aspecto
topológico e uma localização referencial no próprio enunciado. Há um intervalo de
tempo aberto, mas não existe uma determinação da temporalidade com exatidão,
pois tal determinação situa-se nos gradientes do domínio temporal, ou seja, a
léxis A introduzida por quando necessita da qualificação que é feita pela léxis B a
que está ligada.
(
Interior do domínio)
quando = tempo
Fronteira Exterior
denso quando = tempo quando = tempo
compacto discreto
Ф / / / / / / / / / / / / / noção de não-tempo
\ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \ \
Ponto imaginário
195
O valor referencial discreto incorpora a dimensão temporal de forma bem
determinada. O intervalo é pontualmente delimitado, fechado, e apresenta uma
marca que o define no próprio enunciado, portanto situado na fronteira referencial
do domínio da noção de tempo. Em face disso, a marca quando apenas funciona
para colocar dois acontecimentos independentes em relação, ou seja, colocar
paralelamente as duas léxis fazendo da léxis B resultado da léxis A introduzida
por quando.
No valor referencial denso, não nenhuma referência da noção temporal no
próprio enunciado. A marca quando, que é representa essencialmente a noção de
tempo, projeta intervalos não-determinados. Ela depende de um
dimensionamento temporal que poderá ser feito pelo enunciador, pelo co-
enunciador, pela alteridade instalada ou por outro centro de referência externo ao
enunciado. Portanto, a léxis A a ser introduzida por quando é apenas localizada
temporalmente pela outra léxis B e situa-se no centro organizador do domínio
daquilo que se possa considerar como essencialmente tempo.
Como afirma Bachelard (1998, p. 25) “[...] é no aspecto temporal e ordenado de
nossas ações que a linguagem se reveste, para nós, de sua verdadeira função
espiritual. Ela é a tradução de nossas preferências [...]”, assim somos livres para
preferir um léxico em qualquer variante, desde que ela seja capaz de representar
o nosso pensamento. No entanto, com base nas análises da marca quando, é
oportuno parodiar esse autor afirmando que é no aspecto temporal e ordenado de
nossas operações que a linguagem se reveste.
A manipulação dos enunciados com quando permitiu-nos inferir que existe uma
invariante que sustenta as variações. Nos estudos funcionalistas realizados por
196
Souza (1996), por Neves (2000) e por Carmelino (2004), houve a descrição e até
a quantificação das ocorrências de
quando como conector de léxis, mostrando o
seu funcionamento, mas não se chegou a essa abstração, que não era o foco
das análises feitas.
Como se sabe, o falante é livre para expressar o pensamento de acordo com o
seu interesse, no tempo que lhe for conveniente, pois, como afirma Bachelard
(1988, p. 25) “[...] a coesão da nossa duração é feita da coerência de nossas
escolhas, do sistema que coordena nossas preferências”. Assim, mesmo havendo
variadas formas de se exprimir usando a marca
quando, a verificação das
operações de linguagem com ela nos mostrou que a noção temporal imbricada na
marca é a invariante que sustenta as variações de uso.
197
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(domaine notionnel). Paris: Ophrys, 1999, t. 3, p. 17-34.
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(domaine notionnel). Paris: Ophrys, 1999, t. 3, p. 81-89
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UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP
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