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[...] desde que o locutor se declara e assume a língua, ele implanta o
outro diante de si, qualquer que seja o grau de presença que ele atribua
a este outro [...]. Na enunciação a língua se acha empregada para a
expressão de certa relação com o mundo. A condição mesma dessa
mobilização e dessa apropriação da língua é, para o locutor, a
necessidade de referir, pelo discurso, e, para o outro, a possibilidade de
co-referir identicamente no consenso pragmático que faz de cada
locutor um co-locutor. A referência é parte integrante da enunciação.
[…] a presença do locutor em sua enunciação faz com que cada
instancia de discurso constitua um centro de referência interno. Esta
situação vai se manifestar por um jogo de formas específicas cuja
função é a de colocar o locutor em relação constante e necessária com
sua enunciação (BENVENISTE, 1989, p. 84).
A proposição feita por Saussure é a de que a significação provém do jogo das
formas materiais, porém, se retornarmos ao triângulo apresentado por Ogden e
Richards, poderemos entender que há, entre a imagem acústica e a
representação mental, a referência. Isso postula uma diferença entre sentido e
referência, pois, de um lado, há formas descritíveis e definidas (significante) e, de
outro, há significado; manifestações, conforme Benveniste (op. cit.), “[...] livres,
fugidias, imprevisíveis”.
Frege (1978) já afirmara a existência dessa dicotomia entre sentido e referência.
Para esse lógico,
A conexão regular entre sinal, seu sentido e sua referência é de tal
modo que ao sinal corresponde um sentido determinado e, ao sentido,
por sua vez, corresponde uma referência determinada, enquanto que a
uma referência (a um objeto) não deve permanecer apenas um único
sinal. O mesmo sentido tem expressões diferentes em diferentes
linguagens, ou até na mesma linguagem [...] um sentido nunca
assegura sua referência (FREGE, 1978, p. 63).
No entanto, o que permite construir o significado? Que operações cognitivas
regulam e estabilizam as formas lingüísticas?
Se a comunicação lingüística tem, muitas vezes, por objeto a realidade
extralingüística, é possível entender que o sentido faz parte do sistema que é a
língua. Já o referente é o objeto, real ou imaginário, cuja existência é construída
lingüisticamente como exterior a esse mesmo sistema. Assim, o sentido de uma