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“Dentro desses 80% tem os alunos que só fazem e não se expõem. Os alunos, por exemplo,
que você vai aplicar uma técnica ou fazer um exame, ele faz no companheiro, mas ele não
tira a roupa pra fazer nele”. (P6)
“E tem aquelas que de jeito nenhum, passa o ano inteiro se deixar sem nada de prática. E
tem uma certa resistência.“Eu não preciso. Eu estou vendo nela”. Quando dou aula de
drenagem linfática de membro inferior tem que estar sem a calça, só de biquíni ou calcinha
mesmo. E a aluna: “Não, não eu não preciso. Eu faço nela”. Não, mas eu quero que você
sinta a minha mão. O importante é você sentir a minha pressão pra você poder passar para o
colega. “Não, mas eu estou sentindo a dela”. Sabe?” (P8)
Nos relatos dos professores entrevistados, eles levantam hipóteses para esse
distanciamento, reconhecendo os bloqueios como conseqüências da história de vida dos
alunos, de fatores religiosos, familiares, entre outros.
“... Então, você vê que são meninas que nunca tiveram que enfrentar o serviço doméstico,
pegar um ônibus para ir a escola, pegar fila, esforço físico, mesmo que seja caminhar até a
escola, de carregar mochila. Elas foram muito poupadas corporalmente, é a impressão que
dá, né. Então o corpo parece que não pertence muito a elas. Elas não tiveram essa
experiência psicomotora, porque é isso a psicomotricidade, é a imagem corporal, é o registro
que ficou do que você vivenciou no seu corpo pela vida. Na vida de relação. Elas não
expuseram muito o corpo nessa vida de relação. Elas tinham quem fizessem por elas tudo.
Quem facilitasse, quem poupasse movimentos, envolvimentos do corpo com a realidade.
Então, eu penso que é muito mais fácil sonhar, criar um corpo imaginário quando você não
participa do esforço do dia-a-dia, das ações do dia-a-dia. E alguém faz por você mais da
metade dessas atividades. Talvez isso tenha uma influência bastante importante mesmo”.
(P2)
“Isso. Por outro lado, não tem como... porque assim, é toda uma história de cada aluno, de
criação... Ainda mais essa disciplina que eu dou. Então, eu tive uma aluna o ano passado que
era de uma religião que ia de saia só. Então, ela foi uma aluna que nunca vestiu shorts pra
fazer uma aula prática. Exercícios ela ia de saia. Então, era difícil porque a percepção do
próprio corpo dela, ela já não tinha muito. Fica um pouco defasado”. (P8)
O corpo desabitado, distante de si, pode interferir na participação e integração (ou
interação) das aulas práticas. O aluno tem dificuldade de entender que ele é o agente da aula e
que deve ser o primeiro a vivenciar as práticas terapêuticas. É fundamental o aluno sentir as