A contribuição egípcia parece ter sido secundária, até o século II a.C. A
imagem do Egito como o lugar de origem da astrologia, enquanto um saber,
está ligado ao Egito helenizado dos Ptolomeus, mais especificamente à
Alexandria
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, nos séculos III e II a.C. Na metade do século I a.C. o Egito tinha
adquirido a reputação de berço da astrologia, e as maiores autoridades da
astrologia helenística lá tiveram seu lugar.
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Os tratados herméticos
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exerceram um papel fundamental na difusão
dessa idéia: muitos textos astrológicos herméticos são atribuídos a Nechepso e
a Petosiris – o que a princípio significaria uma contribuição da antiga cultura
egípcia. Porém, Barton diz que esses textos, que se supõe serem do século I
a.C., parecem ser versões egípcias da literatura de presságios mesopotamica.
Ou seja, a influência babilônica é bastante presente na produção de
conhecimento do Egito helenizado. Uma lista de planetas e signos zodiacais do
século II a.C. é claramente baseada em figuras babilônicas. Além disso, as
Magno, no século IV a.C., eles já haviam sido influenciados pelos princípios dessa teologia
astral babilônica. O início da especulação filosófica grega seria a prova disso, já que, para
Cumont, não há duvidas de que a tentativa dos gregos de reformar as antigas especulações
cosmológicas com idéias relacionadas ao céu e aos movimentos planetários teve influência da
cultura babilônica. Cf. F. Cumont, op. cit., pp. 42-3. De acordo com essa idéia, T. Barton afirma
que o diálogo entre gregos e babilônicos já se dava antes do período helenístico, e foi
intensificado no século V a.C., devido talvez às guerras persas. Foi por isso que, segundo a
autora, somente após o século V a.C. que o conhecimento dos gregos sobre o céu foi
aprimorado, e que eles passaram a distinguir os planetas (“estrelas errantes”) das estrelas
fixas. Da mesma forma, a reforma do calendário de Atenas, feito por Meton e Euctemon, no
século V a.C., se deu com base nos métodos babilônicos. Cf. T Barton, Ancient Astrology, p.
21.
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Alexandria (cidade egípcia fundada por Alexandre Magno), devido à sua posição geográfica
extremamente favorecida, proporcionou o encontro das correntes filosófico-religiosas do oriente
com o pensamento grego e se tornou, portanto, o centro cultural de novos estudos científicos,
literários e filosóficos durante o helenismo. A nova cultura elaborada pelos seus círculos
intelectuais foi denominada cultura alexandrina. Cf R. H. Barrow, op. cit., p. 35.; G. Reale, op.
cit., p. 10.
71
T Barton, Ancient Astrology, p. 22-3.
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Grupo de trabalhos técnicos e filosóficos escritos em grego, que tratam de magia, astrologia
e alquimia, cuja autoria é atribuída a Hermes Trismegistro ou a Asclépio e seu círculo. A
literatura hermética é considerada uma fusão entre o pensamento grego, egípcio e babilônico
(entre outros), sendo, portanto, fruto da Antigüidade tardia. Cf. Ibid., p. 26.