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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
FACULDADE DE MEDICINA DE RIBEIRÃO PRETO
DEPARTAMENTO DE PATOLOGIA
Alcoolemia em vítimas fatais de causa
violenta ocorridas em Ribeirão Preto e região no
período de 2002 a 2004
Carolina Melo Cândido de Paula
RIBEIRÃO PRETO
2007
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Carolina Melo Cândido de Paula
Alcoolemia em vítimas fatais de causa violenta
ocorridas em Ribeirão Preto e região no período de
2002 a 2004
Dissertação apresentada ao Departamento de Patologia
da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da
Universidade de São Paulo para a obtenção do título de
Mestre em Ciências Médicas – Patologia Experimental.
Área de concentração: Patologia Humana
Sub-área: Patologia Experimental
Orientador: Prof. Dr. Bruno Spinosa De Martinis
RIBEIRÃO PRETO
2007
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AUTORIZO A REPRODUÇÃO E DIVULGAÇÃO TOTAL OU PARCIAL DESTE
TRABALHO, POR QUALQUER MEIO CONVENCIONAL OU ELETRÔNICO,
PARA FINS DE ESTUDO E PESQUISA, DESDE QUE CITADA A FONTE.
FICHA CATALOGRÁFICA
Preparada pela Biblioteca Central do Campus
Administrativo de Ribeirão Preto / USP
Paula, Carolina Melo Cândido
Alcoolemia em vítimas fatais de causa violenta ocorridas em
Ribeirão Preto e região no período de 2002 a 2004. Ribeirão Preto,
2007.
75 p. : il. ; 30cm
Dissertação de Mestrado, apresentada à Faculdade de Medicina
de Ribeirão Preto / USP – Área de concentração: Patologia
Humana. Sub-área: Patologia Experimental.
Orientador: De Martinis, Bruno Spinosa.
1. Etanol. 2. Alcoolemia. 3. Amostra postmortem. 4. Morte
Violenta. 5. Acidente de Trânsito 6. Causa de Morte.
FOLHA DE APROVAÇÃO
Carolina Melo Cândido de Paula
Alcoolemia em vítimas fatais de causa violenta
ocorridas em Ribeirão Preto e região no período de
2002 a 2004.
Dissertação apresentada ao Departamento de Patologia da
Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade
de São Paulo para a obtenção do título de Mestre em
Ciências Médicas – Patologia Experimental.
Área de concentração: Patologia Humana
Sub-área: Patologia Experimental
Aprovado em: ____/____/______.
Banca Examinadora
Profª. Dra. ________________________________________________________
Instituição: ____________________Assinatura: _________________________
Prof. Dr. ________________________________________________________
Instituição: ____________________ Assinatura: ________________________
Prof. Dr. ________________________________________________________
Instituição: ____________________Assinatura: _________________________
Embora ninguém possa voltar atrás e fazer um novo começo, qualquer um pode começar
agora e fazer um novo fim.
(Chico Xavier)
Aos meus pais, Nazareth de Melo e Aires Cândido de Paula Júnior, por permitirem ser o que
sou, pela compreensão da distância e pela admiração que tenho por vocês.
Obrigada!
Ao meu padrinho Elbio Cândido de Paula e ao
Prof. Ms. Adalberto Gonçalves de Oliveira:
Por terem acreditado em mim e pelo incentivo
que possibilitou a minha chegada até aqui.
A vocês eu dedico, não apenas essa obra, mas todas as
conquistas profissionais de minha vida.
À minha família: e amigos
Obrigado pelo carinho, compreensão e por
fazerem minha vida mais feliz
.
Agradecimentos Especiais
Ao Prof. Dr. Bruno Spinosa de Martinis.
Pela orientação, oportunidade de crescimento e
amadurecimento científico e profissional. Obrigada
por confiar em mim!
À Profª. Drª. Carmen Cinira Santos Martin
Pela orientação, demonstração de confiança e pela
contribuição para meu crescimento cientifico.
Obrigado pelo privilegio de estar com a família CEMEL..
Ao Prof. Dr. Marco Aurélio Guimarães
Pela amizade, pela orientação, por estar sempre solícito na
solução de minhas dúvidas, me fazendo sentir mais segura e
por acreditar em mim.
Aos demais membros da banca examinadora
Prof. Dr. Genival Veloso de França
Pela disponibilidade, pelo enriquecimento dado ao
trabalho e pela atenção dispensada.
Agradecimentos
A VIDA...
Que me mostrou a beleza e a maravilha de ser feliz! Por despertar o que de há de
melhor em mim. O amor.e a paz!
Ao Prof. Ms Adalberto Gonçalves de Oliveira Coordenador do curso de farmácia do Centro
Universitário Barão de Mauá, que sempre esteve ao meu lado me acolhendo e acreditando em
mim. A quem, sempre tive um imenso respeito e admiração representando meu espelho
profissional e pessoal. Meus sinceros agradecimentos.
Ao Prof. Dr. Wilson Malfará Coordenador do Curso de Farmácia da Universidade Paulista de
Ribeirão Preto e Prof de Toxicologia e Farmacologia no Centro Universitário Barão de Mauá
a quem admiro e estimo por me acompanhar desde a graduação.
Ao Dr. João Arnaldo Damião Melki, Assessor do Diretor do Núcleo de Perícias Médico-Legal
de Ribeirão Preto, pela amizade e companheirismo.
Aos meus fiéis e amados amigos Paula Fusrt Arantes, Ana Beatriz Rosseti Santos e Rodrigo
Thadeu de Araújo, pelo companheirismo, preocupação, carinho e escuta durante anos de
convivência, por terem acompanhado esta trajetória, por terem estado ao meu lado nos
momentos de cansaço, dúvida e insegurança, pela disponibilidade em me ajudar. Vocês
fizeram muita diferença, por isso, meus agradecimentos. “Se não esta bem, é por que não
chegou o fim... TA”.
As amigas Vanessa, Sibele,, Virginia e Josélia que tive o prazer de conhecê-las nesta nova etapa
de minha vida. E sempre se fizeram presentes das mais diversas maneiras, incentivando dando
uma “injeção de ânimo” através da forca de vontade e companheirismo.
A família Habib por me apoiarem minhas decisões. Ao Jorge, uma pessoa formidável, um
grande amigo e companheiro. Obrigada pelos ensinamentos, paciência e compreensão!
Às amigas e técnicas de laboratório do CEMEL: Maria Edith, Maria Ângela, Tereza Cristina e
Célia, pela amizade, pelos momentos de descontração, pelo constante auxílio, atenção, pelos
serviços prestados e pelos muitos, muitos favores concedidos. Em especial a Maria Ângela
Ruzzene e Célia Regina Lattaro Marino pelo apoio técnico.
Aos amigos, pós-graduandos e estagiários do CEMEL: Rodrigo, Enrico, Stéfano, Ricardo,
Welson, Rafael, Josi, Renata, Márcio, Ana Carolina, Luis Gustavo, Guilherme Andjara.
Aos funcionários, aos técnicos de necropsia e médicos do NPML-RP.
Aos funcionários do Departamento de Patologia da FMRP-USP: Neide, Rosângela e Edna pela
amizade, pelos serviços e favores prestados.
Aos docentes, amigos, pós-graduandos e estagiários do Departamento de Patologia da FMRP-
USP.
A Deus, sempre presente, por Sua proteção divina, por me guiar aos lugares certos e sempre
colocando pessoas de bem em meu caminho.
A todos
Muito Obrigado!
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Quantidade de etanol em algumas bebidas............................................. 18
Tabela 2 - Concentrações de etanol no sangue, estágios da intoxicação e
sintomas clínicos observados.................................................................................... 23
Tabela 3 – Relação entre as quantidades ingeridas de diferentes bebidas
alcoólicas e concentração de etanol no sangue em função do peso corporal. ......... 35
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 – Distribuição dos exames necroscópicos realizados pelo NPML-RP no
período de 2002 a 2004, segundo a causa jurídica de morte ...................................46
Figura 2 - Distribuição anual dos exames necropsiados pelo NPML-RP no
período de 2002 a 2004, segundo da causa jurídica da morte .................................46
Figura 3 – Distribuição anual das análises de alcoolemia realizadas pelo
Laboratório de Toxicologia Forense (CEMEL/FMRP/USP) no período de 2002
a2004 e dos exames necroscópicos realizados pelo NPML-RP...............................49
Figura 4 – Resultados de alcoolemia negativos, positivos abaixo e acima do
limite permitido por lei para a condução de veículos automotores em função da
causa jurídica da morte.............................................................................................51
Figura 5 – Distribuição de faixa etária dos indivíduos que apresentaram
alcoolemia positiva....................................................................................................53
Figura 6 – Distribuição dos valores médios de alcoolemia e causa jurídica de
morte.........................................................................................................................56
Figura 7 – Comparação entre a porcentagem de vítimas fatais de acidentes de
trânsito e outros acidentes ........................................................................................57
Figura 8 - Resultados de alcoolemia negativos e positivos abaixo e acima do
limite permitido por lei para a condução de veículos automotores nas mortes por
acidentes de trânsito e outros acidentes...................................................................58
SUMÁRIO
RESUMO................................................................................................................... xii
ABSTRACT.............................................................................................................. xiv
1. INTRODUÇÃO ......................................................................................................17
1.1. O ÁLCOOL .....................................................................................................17
1.1.1. CONCEITO E DEFINIÇÃO ......................................................................17
1.1.2. HISTÓRICO .............................................................................................19
1.1.3. EFEITOS FARMACOLÓGICOS...............................................................21
1.1.4. ANÁLISE QUÍMICA DE ETANOL EM AMOSTRAS BIOLÓGICAS..........25
1.1.5. USO ABUSIVO DO ÁLCOOL E SUAS CONSEQÜÊNCIAS ....................30
1.1.6. CONSUMO DE ÁLCOOL E ACIDENTES DE TRÂNSITO.......................32
2. OBJETIVOS..........................................................................................................38
3. EXPERIMENTAL...................................................................................................40
3.1. CASUÍSTICA ..................................................................................................40
3.2. DETERMINAÇÃO DAS CAUSAS JURÍDICAS DAS MORTES ......................40
3.3. DETERMINAÇÃO DA ALCOOLEMIA.............................................................42
3.3.1. OBTENÇÃO DE AMOSTRAS DE SANGUE POSTMORTEM .................42
3.3.2. ANÁLISE DAS AMOSTRAS DE SANGUE POSTMORTEM....................42
3.4. ANÁLISE ESTATÍSTICA.................................................................................43
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO.............................................................................45
4.1. DETERMINAÇÃO DAS CAUSAS JURÍDICAS DAS MORTES ......................45
4.2. DETERMINAÇÃO DA ALCOOLEMIA.............................................................47
4.3. CONCENTRAÇÃO DE ÁLCOOL NAS AMOSTRAS ......................................49
4.4. ALCOOLEMIA POSITIVA E CAUSA JURÍDICA DE MORTE.........................52
4.5. ALCOOLEMIA POSITIVA E SEXO.................................................................52
4.6. ALCOOLEMIA POSITIVA, SEXO, FAIXA ETÁRIA E CAUSA JURÍDICA DE
MORTE..................................................................................................................52
4.7. ACIDENTES DE TRÂNSITO ..........................................................................57
5. CONCLUSÕES .....................................................................................................64
6 REFERÊNCIAS......................................................................................................66
xii
RESUMO
DE PAULA,C.M.C. Alcoolemia em vítimas fatais de causa violenta ocorridas em
Ribeirão Preto e região no período de 2002 a 2004. 2007, 75p. Dissertação de
Mestrado-Departamento de Patologia da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto,
Universidade de São Paulo, Ribeirão Preto.
O Laboratório de Toxicologia Forense/CEMEL/FMRP/USP analisou 400
amostras de sangue de vítimas fatais, de causa violenta, para a determinação de
alcoolemia. Em relação às causa jurídicas de morte, as amostras foram provenientes
de vítimas de acidentes, homicídios, suicídios e de outras causas externas. Os
acidentes de trânsito foram estudados com maior ênfase devido à importância e
impacto sócio-econômico que essas mortes representam em todo o mundo. A
existência de legislação no nosso País sobre o consumo de etanol e a condução de
veículos automotores, que estabelece o limite máximo permitido de 0,6 g de álcool
por litro no sangue para a condução de veículos, torna obrigatório os exames
toxicológicos em vítimas nessas condições. O estudo teve como objetivos conhecer
a relação entre a concentração de álcool no sangue e as mortes de causa violentas
considerando os parâmetros sexo e faixa etária, com a finalidade de prover dados
científicos às autoridades legais brasileiras, que contribuam para melhorar o controle
e a legislação sobre o consumo de bebidas alcoólicas na sociedade, e evidenciar a
necessidade do exame de alcoolemia em outros tipos de causas de morte violenta
como homicídios e suicídios. Para a investigação da alcoolemia, foram coletadas
amostras de sangue em artérias periféricas ou central, durante o exame
necroscópico. Estas foram acondicionadas em frascos apropriados, identificadas e
imediatamente armazenadas sob refrigeração até o momento das análises. As
análises de etanol foram realizadas pela técnica de cromatografia em fase gasosa
com detector de ionização por chama (GC-FID) utilizado amostrador automático para
a introdução da amostras na fase vapor (Headspace). Foram preparadas
concentrações de 0,5; 1,0; 3,0; 5,0 g/L de etanol para a construção da curva
analítica para quantificação e determinação dos tempos de retenção, limites de
xiii
detecção e quantificação da técnica. A identificação positiva de etanol foi feita pela
comparação dos tempos de retenção do pico eluído na amostra com o pico do
padrão do etanol. A quantificação foi realizada através do método de padronização
interna utilizando isobutanol como padrão interno. Quanto aos resultados, as
amostras mais analisadas para alcoolemia, entre as mortes violentas foram,
respectivamente, os acidentes, principalmente os de trânsito, seguidos dos
homicídios, suicídios e outros tipos de morte violenta. A média de idade dos
indivíduos envolvidos nessas ocorrências foi de 36,3 anos, havendo predominância
das amostras do sexo masculino, sendo que mais que 50% das vítimas
apresentaram alcoolemia positiva, com valores acima do permitido por lei.
Concluímos que, na amostra de referência, o álcool está altamente correlacionado
com as mortes de causas violentas; que é imprescindível a solicitação e realização
do exame de alcoolemia em todas as mortes de causa externa, independentemente
do motivo, gênero e faixa etária. Ainda podemos concluir que existe a necessidade
da investigação de outras drogas lícitas e ilícitas, com especial atenção em vítimas
fatais que não apresentaram resultados de alcoolemia positivos. Tais resultados
toxicológicos poderão ser úteis para melhor interpretação dos casos e elucidação
das mortes, podendo contribuir para o estabelecimento de medidas legais,
preventivas e punitivas.
Palavras chaves: Etanol, alcoolemia, amostra postmortem, morte violenta, acidente
de trânsito, causa de morte.
xiv
ABSTRACT
DE PAULA,C.M.C.. Alcohol levels in victims of violent deaths from Ribeirão
Preto and regions between 2002-2004. 2007, 75p. Dissertation (Master) Pathology
Departament, School of Medicine of Ribeirão Preto, University of de São Paulo,
Ribeirão Preto.2007
In the Laboratory of Forensic Toxicology/CEMEL/FMRP/USP 400, blood samples
from victims of violent deaths were analyzed for alcohol levels. With regard to
juridical causes of deaths, the samples were obtained from victims of accidents,
homicides, suicides and other external causes. Traffic accidents were studied with
more emphasis due to their importance and social-economic impact worldwide. The
existence of legislation in our country on ethanol consumption and driving
automobiles, which establishes maximum allowed levels of 0.6 g of alcohol per liter of
blood for operating a vehicle, makes it mandatory to conduct toxicological tests in
victims under these conditions. This study aimed to clarify the relationship between
alcohol levels and causes of violent deaths, considering the parameters of gender,
age range and alcohol concentration to provide scientific data for Brazilian legal
authorities to improve the control and the legislation on consumption of alcohol
beverages in the society and indicate the need of the alcoholic level determination in
other causes of violent deaths such as homicides and suicides. For alcohol level
determination, blood samples were collected from peripheral or central arteries,
during necroscopic examination. The samples were placed in appropriate tubes,
identified and immediately stored under refrigeration until analysis. Ethanol analyses
were performed by using the technique of gas chromatography with detection by
flame ionization (GC-FID) using automatic sampler for introducing the samples in the
vapor phase (Headspace). Concentrations of 0.5, 1.0, 3.0, 5.0 g/L were prepared for
the construction of an analytical curve to determine the retention times, and limits of
detection and quantification of the technique. Positive identification of ethanol was
done by comparing retention times of eluted peak from the sample and standard
peak of ethanol. Quantification was done by the method of internal standardizing
using isobutanol as internal standard. The results revealed that violent deaths that
mostly present positive results for ethanol were respectively accidents, mainly traffic
xv
ones, followed by homicides, suicides and other causes of violent deaths. The age
mean of involved individuals in these occurrences was 36.3 years, the majority were
males of which 50% presented positive blood alcohol results with values above legal
limit. We concluded that the alcohol, besides being an important factor in the
development of diseases, it is also highly linked to violent deaths. It is necessary to
request and performed alcohol investigation in deaths of any cause, despite the
reason, gender and age range. We can also suggest there is a need of investigation
of other licit and illicit drugs with special attention to victims that were not positive for
alcohol. These toxicological results may be useful for a better interpretation and
elucidation of deaths, contributing for the application of legal preventives and punitive
attitudes.
Keywords: Ethanol, alcoholaemia, postmortem samples, violent deaths, traffic
accidents, causes of death.
1. INTRODUÇÃO
Introdução
17
1. INTRODUÇÃO
1.1. O ÁLCOOL
1.1.1. CONCEITO E DEFINIÇÃO
A palavra álcool origina-se do árabe al-kuhul que significa líquido. Existem vários
tipos de álcool, porém os mais importantes para a área da toxicologia forense são:
etileno glicol, ispropanol, metanol e etanol (AT-BRISTOL, s.d; IMESC, s.d. )
O etileno glicol é um álcool extremamente tóxico. No organismo, é convertido em
ácido dicarboxílico e ácido oxálico, produzindo sais insolúveis de oxalato de cálcio. Além da
remoção do cálcio do organismo, que é um íon necessário para as funções metabólicas, os
cristais de oxalato de cálcio podem precipitar nos rins e no cérebro, causando a morte do
indivíduo (ARMSTRONG et al., 2006; KRENOVA et al., 2006; LEVINE, 1999).
O metanol, ou álcool de madeira é um solvente e reagente comum na indústria
química. É uma substância extremamente tóxica, inicialmente metabolizada no
organismo em formaldeído e, então, ácido fórmico. Esse ácido diminui o pH do sangue,
resultando em acidose metabólica, que pode ser fatal. O ácido fórmico pode também
reagir com a retina causando cegueira. Não é incomum que alcoólicos crônicos,
desesperados por ingerirem qualquer bebida alcoólica, consumam produtos contendo
metanol (GULMEN et al., 2006; LEVINE, 1999).
O isopropanol é uma substância muito utilizada como antisséptico, é
depressora do sistema nervoso central e, uma vez no organismo, é convertido em
acetona (LEVINE, 1999).
Introdução
18
O etanol ou álcool etílico é a substância presente nas bebidas alcoólicas e a
mais encontrada nas análises toxicológicas de interesse médico-legal (LEVINE,
1999).
O etanol (fórmula química C2H5OH) é um líquido incolor, volátil, inflamável, de
odor característico e miscível com água. Seu ponto de ebulição é 78,5°C, podendo ser
separado da água por destilação. Sua produção é quase totalmente industrializada, por
meio de processos de fermentação e destilação. (GARRIOTT, 1996 b).
Por definição, qualquer líquido potável que contenha de 0,5% a 95% de álcool
etílico é considerado uma bebida alcoólica. Como curiosidade, antes de se conhecer
os métodos científicos para a investigação dos níveis de concentração de etanol em
uma bebida, tal quantidade era determinada misturando-se partes iguais da bebida e
de pólvora. Quando colocada em contato com fogo, se a mistura não entrasse em
combustão, a bebida era considerada muito fraca. Caso ocorresse a combustão, a
bebida era considerada muito forte.
A graduação alcoólica de uma bebida é definida pela percentagem
volumétrica de álcool puro nela contido. A Tabela 1 apresenta quantidades de etanol
em algumas bebidas. (GARRIOTT, 1996 b).
Tabela 1 - Quantidade de etanol em algumas bebidas
Bebida % de etanol
Cerveja 3,2 – 4,0
Vinho 7,1 – 14,0
Uísque 40,0 – 75,0
Vodka 40,0 – 50,0
Rum 40,0 – 95,0
Tequila 45,0 – 50,0
Introdução
19
A etapa inicial para produção de uma bebida alcoólica é a fermentação.
Qualquer material rico em amido ou açúcar pode ser utilizado para a obtenção de
produtos fermentados. Quimicamente, uma molécula de glicose é convertida em
duas moléculas de etanol e duas moléculas de dióxido de carbono. A fermentação,
utilizando leveduras, é a forma mais comum para a produção de bebidas alcoólicas
com graduação de até 20%, como cervejas e vinhos. Para a produção de bebidas
com maior graduação alcoólica, após uma etapa inicial de fermentação o álcool
pode ser separado da matriz aquosa por processo de destilação, dando origem às
bebidas alcoólicas destiladas, com graduação alcoólica entre 40% a 95% (LEVINE,
1999).
O etanol pode ser aplicado como veículo na formulação de medicamentos,
cosméticos e outros produtos. Além disso, seu consumo em bebidas alcoólicas faz
parte de hábitos diários de grupos familiares no mundo todo (HEATH,1995)
O consumo de bebidas alcoólicas ocorre em situações ambíguas, utilizadas
como simbolismo na liturgia do cristianismo, na sofisticação da culinária e no
comércio internacional. Porém, seu uso exagerado provoca graves problemas de
saúde.
1.1.2. HISTÓRICO
Não se tem conhecimento de quando o álcool foi descoberto, mas sabe-se
que há milhares de anos o homem convive com ele. Objetos arqueológicos e
bibliográficos, entre outros, indicam que a utilização de bebidas alcoólicas pelo
homem e o conhecimento dos seus efeitos no indivíduo remontam há milhares de
anos da era Cristã. Admite-se que, no período paleolítico, o homem tomou
Introdução
20
conhecimento de forma acidental dos efeitos da ingestão do produto fermentado,
originado do mel armazenado em recipientes artesanais. No período neolítico, a
cerveja e o seu fabrico já eram do conhecimento do homem. (MELLO et al., 2001).
Na Babilônia 500 a.C., a cerveja era oferecida aos deuses. Nas culturas da
Mesopotâmia no final do segundo milênio a.C, a cerveja, que era produzida de
cereais, foi substituída por fermentados à base de tâmaras. A fermentação da uva
também já era conhecida, bem como o uso medicinal de produtos alcoólicos
(BUCHER; 1991).
Muitos contos, lendas e canções de amor relataram os poderes afrodisíacos
do álcool. O seu uso social e festivo era bem tolerado, embora, no Egito, moralistas
populares se levantassem contra o seu abuso. A embriaguez, no entanto, era
tolerada apenas quando decorrente de celebrações religiosas, onde era considerada
normal ou mesmo estimulada.
Nas civilizações gregas e romanas, o álcool era consumido tanto pelo seu
valor calórico (fornecendo 7 Kcal/g), quanto pelos seus efeitos estimulantes em
festividades sociais. As primeiras informações a respeito do álcool datam do século
VI a.C. Consta do Pentateuco, no livro de Gênesis, a história da embriaguez de Noé,
que era agricultor e foi o primeiro a plantar uma vinha e depois se embriagou ficando
nu na própria tenda. Um de seus três filhos vendo a nudez do pai, o que era naquela
época um ato antifilial, foi contar aos outros dois irmãos, que o cobriram
respeitosamente com uma capa sem o ver nu. Pode-se observar que já naquela
época, os efeitos do álcool causavam problemas sociais. Noé perdeu a decência e a
honra, ficando exposto ao ridículo ao se apresentar nu diante dos filhos, permitindo
assim que um deles lhe perdesse o respeito. Contudo, por respeito e compaixão os
outros dois filhos o protegeram, amenizando a situação (GENESIS 9; 2003)
Introdução
21
A partir da Revolução Industrial, no século XIX, registrou-se grande aumento
na oferta de bebidas alcoólicas, contribuindo para um maior consumo e,
conseqüentemente, gerando aumento no número de pessoas que passaram a
apresentar algum tipo de problema devido ao uso excessivo dessas bebidas (AT-
BRISTOL,s.d.).
Nos anos 20, os Estados Unidos tentaram minimizar os problemas causados
pelo consumo excessivo de bebidas alcoólicas através da instituição da “Lei Seca”.
Na época, houve até tráfico de bebidas alcoólicas e diante de pressões econômicas
e sociais, aquela tentativa de coibir o uso excessivo de álcool fracassou.
1.1.3. EFEITOS FARMACOLÓGICOS
O álcool é considerado uma droga psicotrópica. Atua no sistema nervoso
central (SNC) provocando mudança no comportamento de quem o consome, com
potencial, para causar o desenvolvimento de dependência e de tolerância. Além dos
inúmeros acidentes de trânsito e outras violências associadas a episódios de
embriaguez, o consumo de álcool por longo prazo - dependendo da dose, freqüência
e circunstâncias - pode provocar quadro de dependência conhecido como
alcoolismo, especialmente nas sociedades ocidentais, acarretando altos custos para
a sociedade e envolvendo questões médicas, psicológicas, profissionais e familiares
(GARRIOTT, 1996 a )
O etanol é uma droga, comparável com muitas outras drogas terapêuticas e
recreacionais, tais como tranqüilizantes, narcóticos, sedativos e hipnóticos. Como é
uma droga de consumo admitido e incentivado pela sociedade atual, está disponível
sem restrição às pessoas legalmente responsáveis, ou seja, maiores de 18 anos. O
Introdução
22
aparente efeito estimulante que produz em níveis moderados de concentração no
sangue, é resultado do comprometimento dos mecanismos inibitórios que ocorrem
no SNC. Em concentrações elevadas, a ação depressiva do etanol é mais evidente,
com progressiva redução dos reflexos e finalmente um estado de anestesia.
Diferentemente dos anestésicos modernos, as concentrações de etanol necessárias
para provocar sensação de anestesia e letalidade são bem próximas (GARRIOTT,
1996 a). As mortes por intoxicações agudas acontecem quando a concentração do
álcool no SNC aumenta muito, paralisando o centro respiratório. A concentração letal
varia dependendo de fatores como sexo, idade, massa corpórea, entre outros
(LATHI et al., 2002).
Os efeitos da ingestão de álcool aparecem em duas fases distintas: uma
estimulante e outra depressora. Nos primeiros momentos após a ingestão, podem
aparecer os efeitos estimulantes como euforia, desinibição e loquacidade (UNIFESP,
2005). Ainda podem ser desencadeados alguns efeitos desagradáveis, como o rubor
da face, cefaléia e um mal-estar geral. Esses efeitos são mais intensos para
algumas pessoas, com dificuldade de metabolização do álcool. Os orientais, em
geral, têm uma maior probabilidade de sentir esses efeitos, pois não possuem
quantidade suficiente da enzima álcool-desidrogenase, que realiza a
biotransformação do etanol (UNIFESP, 2005).
Na segunda fase dos efeitos de ingestão de etanol, começam a aparecer
implicações depressoras como falta de coordenação motora, descontrole e sono.
Quando o consumo é muito exagerado, o efeito depressor fica exacerbado, podendo
provocar estado de coma (UNIFESP, 2005).
A Tabela 2 apresenta correlações entre concentrações de etanol ingeridas e
os correspondentes sintomas clínicos. É importante salientar que existe uma
Introdução
23
sobreposição de valores, pois os efeitos podem variar de acordo com as
características e condição física de cada indivíduo.
Tabela 2 - Concentrações de etanol no sangue, estágios da intoxicação e sintomas
clínicos observados.
Álcool
(g/L) Estágios Sintomas clínicos
0,1-0,5 Subclínico Normal
0,3-1,2 Euforia Relaxamento, alegria, pele ruborizada.
0,9-2,5 Excitação
Instabilidade emocional, redução da acuidade
visual, tonturas.
1,8-3,0 Confusão
Desorientação, confusão, distúrbios visuais,
aumento do limiar da dor, apatia
2,5-4,0 Estupor
Inércia geral, diminuição de resposta a estímulos,
descoordenação muscular, incapacidade de ficar
em pé e andar, vômitos.
3,5-5,0 Coma
Inconsciência, coma, anestesia, incontinência
urinária/fecal, temperatura subnormal, possível
morte.
4,5+ Morte Morte por parada respiratória
Fonte: Levine; 1999.
Quando ingerido, o álcool é absorvido no estômago e intestino. O nível de
concentração que chega ao sangue vai depender de fatores como: quantidade
ingerida em um determinado tempo, massa corporal e taxa de metabolização, além
da presença de alimento no estômago, o que provoca um retardo na absorção na
fase intestinal. Após essa fase, a distribuição se dá por todos os tecidos e fluidos do
Introdução
24
corpo. Do álcool ingerido, 90 a 98% é metabolizado pelo organismo e o restante é
eliminado pela respiração, urina, transpiração e fezes (LEVINE, 1999).
Além dos efeitos inerentes ao álcool, o consumo de etanol associado com
outras drogas pode provocar potencialização ou antagonismo farmacológico, em
especial com drogas depressoras do sistema nervoso central. Ao ser ingerido
concomitantemente com drogas tais como sedativos, hipnóticos, anticonvulsivantes,
antidepressivos, tranqüilizantes e alguns analgésicos e opiáceos, pode ocorrer um
aumento dos efeitos tóxicos e depressivos. Mesmo em baixas concentrações de
álcool, a potencialização desses efeitos pode ocorrer e tem provocado um grande
número de mortes. O consumo crônico de álcool e drogas afeta a disposição do
organismo para outras drogas. A meia vida biológica (T½) dessas substâncias pode
ser reduzida em indivíduos alcoólicos. A T½ de uma substância pode diminuir pela
metade quando existe a interação com o álcool. Desse modo, uma determinada
dose de uma droga pode apresentar efeitos reduzidos em indivíduos que consomem
álcool quando comparado com abstêmios e, portanto, necessitam de doses maiores
da droga para atingir os efeitos desejados (GARRIOTT, 1996 a).
Conforme a Classificação de Transtornos Mentais e de Comportamento da
Classificação Internacional de Doenças (CID-10), a embriaguez é a conseqüência,
no SNC, de uma ingestão maciça e recente de álcool. Com a alcoolemia aumentada,
há perda de controle, liberação da agressividade, distúrbios emocionais e distúrbios
perceptivos, como a visão dupla.
Na intoxicação crônica, o álcool é responsável por alterações morfológicas em
praticamente todos os órgãos e tecidos do corpo, particularmente no fígado e
estômago, onde provoca distúrbios como cirroses, hepatites, aumento da secreção
gástrica e outros. As conseqüências cardiovasculares também são amplas
Introdução
25
(vasodilatação, cardiomiopatias), além de alterações nas funções sexuais
(impotência, esterilidade) e na temperatura corporal (hipotermia). As conseqüências
psiquiátricas e neurológicas da intoxicação crônica por etanol incluem distúrbios do
sono, deterioração mental, psicoses, polineurites e síndrome de Korsakoff,
representada pela perda de memória, desorientação no tempo e no espaço
(LEVINE, 1999).
Os problemas clínicos do alcoólico desgastam o organismo ao mesmo tempo
em que alteram a mente. Tais sintomas comprometem e prejudicam as relações
sociais trazendo prejuízos como a desagregação familiar e o desemprego.
1.1.4. ANÁLISE QUÍMICA DE ETANOL EM AMOSTRAS BIOLÓGICAS
A análise toxicológica é, sem dúvida alguma, recurso indispensável na
confirmação de qualquer intoxicação exógena e de grande importância para
profissionais envolvidos no tratamento de dependência, no controle e prevenção do
uso de drogas lícitas e ilícitas e também na investigação de aspectos médico - legais
da intoxicação.
Os primeiros métodos para a determinação de álcool em amostras de sangue
ou outros tecidos foram desenvolvidos por Maurice Nicloux em 1906 e por Widmark,
em 1914. Em seguida, outros métodos foram surgindo como métodos enzimáticos
(BONICHSEN; THEORELL, 1954), técnicas de microdifusão (FELSTEIN;
KLENDSHOJ, 1954), cromatografia em fase gasosa com introdução direta da amostra
de sangue (LEVINE, 1999), cromatografia em fase gasosa com headspace (JAIN,
1971) e oxidação eletroquímica (JONES, 1978), dentre outros (LEVINE, 1999).
Introdução
26
Dentre os métodos descritos, o mais utilizado é a cromatografia em fase gasosa
com a técnica de headspace. Nessa técnica, a característica volátil do etanol é utilizada
como forma de introdução da substância de interesse para análise, ou seja, a amostra
de sangue é aquecida e em seguida a fase vapor, formada dentro do frasco de amostra
lacrado, é retirado automaticamente com uma seringa através do puncionamento do
septo de silicone revestido contido na tampa do frasco. Essa fase vapor é então injetada
no cromatógrafo para análise. Em geral, essa técnica apresenta vantagens como:
redução das etapas de preparação das amostras, completa eliminação dos efeitos da
matriz, aumento da vida útil da coluna analítica e a não contaminação do injetor do
equipamento de análise. Por suas implicações médico-legais, a determinação precisa,
bem como a interpretação correta dos resultados da investigação de etanol em
amostras biológicas são de extrema importância.
Para análise de amostras obtidas postmortem, cuidados com a coleta durante o
exame necroscópico são imprescindíveis para evitar a contaminação com outras
substâncias voláteis, que podem interferir nas análises. Como exemplos, podemos citar:
(i) possível contaminação com metanol e/ou formaldeído, que são substâncias
utilizadas nas preparações de embalsamamento de corpos; (ii) produtos de
decomposição, como os álcoois e produtos de alterações metabólicas, como a acetona
presente em casos de mortes provocadas por desnutrição, fome, ou diabetes. Ainda, a
presença de isopropanol, metanol, etileno glicol ou vários outros solventes, que podem
ser ingeridos por alcoolistas na falta de etanol (LEVINE, 1999).
A escolha de um método apropriado é muito importante para a determinação
de álcool em amostras postmortem. Do ponto de vista analítico, uma vantagem
nesses casos é que diferentes tipos de amostras e em maiores quantidades podem
ser obtidos quando comparadas com aquelas coletadas de indivíduos vivos.
Introdução
27
Tanto na investigação da morte quanto em exame de corpo de delito,
freqüentemente, é realizada a análise de alcoolemia, pois é a primeira e, às vezes,
única análise química a ser requisitada. É crucial que essas análises sejam
executadas com precisão e que os resultados sejam interpretados da melhor forma
possível, considerando todos os potenciais interferentes. Devido às solicitações
legais, estudos indicam que o abuso do álcool envolve com maior freqüência as
causas jurídicas de morte como os acidentes, homicídios e suicídios. Por sua
característica hidrofílica, o álcool é distribuído principalmente na água corporal e,
assim, sua presença pode ser detectada em várias partes do corpo. É desejável a
análise de mais de um tipo de amostra para a correta interpretação da concentração
de álcool em exames postmortem. Diferentes tipos de amostras podem ser utilizados
para a determinação dos níveis de álcool encontrados no organismo: sangue, urina,
bile, humor vítreo, conteúdo gástrico, coágulo de sangue intracerebral, etc.
Em indivíduos vivos se faz a amostragem de sangue venoso, obtido
geralmente da veia cubital anterior do braço. Nas necropsias, a amostragem é
geralmente feita do coração ou de vasos maiores em função de uma maior
dificuldade em se obter sangue periférico (GARRIOTT; 1996 a).
Durante a fase de absorção do álcool, o sangue arterial apresenta
concentração até 40% maior que o sangue venoso, enquanto que na fase pós-
absorção, não há diferença entre os dois materiais (TAGLIARO et al., 1992; LEVINE,
1999). Entretanto, pode ocorrer uma variação da concentração de alcoolemia em
indivíduos mortos, devido à distribuição incompleta, ou seja, a concentração em
vasos maiores pode ser diferente da concentração do sangue em vasos menores.
As etapas de coleta e armazenamento de amostras de sangue são
fundamentais para a garantia da qualidade do exame e, alguns cuidados devem ser
Introdução
28
rigorosamente observados. Na dependência do tempo, fatores, como frascos
lacrados inadequadamente, oxidação do etanol por microrganismos, conversão do
etanol a acetaldeído, podem diminuir a concentração do álcool no sangue. Por sua
vez o principal fator responsável pelo aumento da concentração de etanol, é a
conversão microbiológica da glicose em álcool. Para prevenir tais alterações, as
amostras de sangue devem ser armazenadas em baixas temperaturas e a elas
adicionadas substâncias que impede a coagulação, tais como sais de oxalatos,
citratos ou heparina. O crescimento de microrganismos pode ser evitado pela adição
de sais de fluoreto e/ou mercúrio. A combinação de oxalato de potássio (5 mg/ml de
sangue) e fluoreto de sódio (1 mg/ml de sangue) é freqüentemente utilizada para a
estocagem das amostras, assim como a manutenção da temperatura entre 4°C e -
20°C. (GLENDENING; WAUGH, 1965; BROWN; PATTERSON, 1973; CORRY et al.,
1978; WINE; PAUL, 1983; DICK; STONE, 1987; WINEK et al., 1996; AMICK;
HABBEN, 1997; TOENNES; KAUERT, 2001).
A absorção do álcool no trato gastrintestinal é influenciada pela presença e
tipo de alimento, grau de tolerância do indivíduo para o álcool e a preexistência de
patologias gástricas.
A investigação de álcool no conteúdo gástrico e a comparação com níveis
encontrados no sangue permitem estimar se a morte do indivíduo ocorreu na fase de
absorção ou de pós-absorção, o que indica o tempo aproximado de morte (LEVINE,
1999).
A investigação de etanol em coágulos de sangue intracerebral é de interesse
especial, pois a maioria dos traumas na cabeça é associada com violência e
freqüentemente originam hematomas nas regiões subdural, epidural ou intracerebral.
Esses hematomas estão isolados da circulação geral e se o álcool estiver presente
Introdução
29
no momento do trauma, deve teoricamente estar presente na amostra, mesmo se a
morte ocorrer após algumas horas e o sangue coletado nas artérias apresentar
resultado negativo para o álcool (GARRIOTT, 1996 a).
Para avaliar alcoolemia, amostras de urina também podem ser utilizadas. Na
interpretação dos resultados da concentração de álcool na urina postmortem, sob
condições inadequadas de armazenamento ou de coleta, altas concentrações de álcool
podem ser produzidas, comprometendo as quantificações (LEVINE, 1999). Apesar de
ser comum a coleta de amostras de urina durante exames necroscópicos, há casos em
que essa amostra não está disponível.
Recentemente, o uso do humor vítreo, para a análise de álcool nos casos
postmortem, tem aumentado muito por se tratar de amostra prontamente disponível,
relativamente fácil de ser obtida e estável. Além disso, apresenta menor chance de
contaminação por bactérias, quando comparada com sangue ou outros fluidos e
órgãos. Aproximadamente 2 ml de humor vítreo podem ser coletados de cada olho,
quantidade esta suficiente para a análise de álcool e outros procedimentos
toxicológicos. Esse material é imprescindível para análises de álcool em corpos com
leve ou moderado estado de decomposição, pois, nesse estado, pode haver
produção de álcool (GARRIOTT, 1999 a).
O grande problema para a toxicologia forense é esclarecer se o álcool é de
origem exógena, ou seja, ingerido antemortem ou se, todo ou parte dele é produto
endógeno, produzido por fermentação postmortem. A comparação das análises
obtidas no humor vítreo com outras amostras, como sangue ou urina, pode
esclarecer o resultado nesses casos. Se o álcool não estiver presente no humor
vítreo, pode-se afirmar que o álcool encontrado nas outras amostras foi produzido
postmortem. Uma vez no humor vítreo, o etanol entra em equilíbrio mais
Introdução
30
rapidamente que em outros compartimentos do corpo e por estar intacto, protegido
pelo globo ocular, mantém-se estável após a morte (DE MARTINIS et al., 2002,
GARRIOTT, 1999 a).
1.1.5. USO ABUSIVO DO ÁLCOOL E SUAS CONSEQÜÊNCIAS
Estudos realizados no Brasil mostram que cerca de 50% das internações
psiquiátricas masculinas e de outros problemas sociais, relacionados à violência,
estão associados ao consumo abusivo de álcool. Portanto, existem muitas
evidências que permitem distinguir o álcool como fator de risco para doenças e
mortes (LARANJEIRA, 2004).
O álcool está presente na maioria dos casos de violência doméstica,
conforme pesquisa divulgada pelo Centro Brasileiro de Informações sobre Drogas
Psicotrópicas - Cebrid, da Universidade Federal de São Paulo - UNIFESP. Segundo
o estudo, em 52% dos casos de violência ocorridos dentro de casa, o agressor
estava alcoolizado e em 6% dos casos também estava sob o efeito de outras drogas
(BIANCARELLI, 2003).
O uso de álcool durante a gestação está associado ao aumento de risco de má
formação fetal, sendo a mais grave a Síndrome Alcoólica Fetal. Em mulheres
alcoolistas, o risco de ter uma criança portadora dessa síndrome é de
aproximadamente 6% (SOKOL et al., 1989). O álcool ingerido pela mãe atravessa a
barreira hemato-encefálica e faz com que o feto receba as mesmas concentrações
alcoólicas que a mãe. Porém, a exposição do feto é maior, devido ao metabolismo e
excreção serem mais lentos, fazendo com que o líquido amniótico permaneça
impregnado com álcool por mais tempo. (TEOH et al, 1994; PASSINI; AMARAL, 1994)
Introdução
31
Dados da Organização Mundial de Saúde (OMS) de 2004 indicaram que
aproximadamente dois bilhões de pessoas no mundo consomem bebidas alcoólicas,
e que esse consumo pode ter provocado 1,8 milhões de mortes. Os traumas
representam 1/3 destas mortes. Estima-se que aproximadamente 20-30% dos
cânceres de orofaringe e de fígado, além dos homicídios e acidentes de trânsito,
estejam relacionados com o consumo de bebidas alcoólicas. (WHO; 2002.)
O consumo de álcool é um dos fatores que deve ser considerado nos
diferentes tipos de morte por causa externa, e vem sendo motivo de diferentes
estudos em vários países. As evidências mais confiáveis da associação entre álcool
e causas externas de óbito provêm de estudos de mortalidade ou morbidade entre
vítimas hospitalizadas, nas quais a determinação positiva da concentração de etanol
está sempre presente. Estudos realizados entre vítimas de acidentes de trânsito,
agressões, afogamentos e queimaduras, entre outros, mostram níveis variáveis,
porém consistentes do envolvimento do álcool, de acordo com populações de
diferentes países avaliados (GAZAL-CARVALHO et al., 2002).
Pesquisas têm demonstrado que a prevalência de alcoolemia positiva em vítimas
não fatais de diferentes causas externas é de 6% a 34%, e que nos casos fatais a
prevalência do álcool nas amostras de sangue é ainda maior. As causas externas
constituem a segunda causa de óbito na população geral do Brasil, colocando-se como
a primeira causa de óbito na faixa etária de 5 a 40 anos. Nos Estados Unidos,
representam a quarta causa de óbito na população geral, sendo a primeira causa de
óbito na faixa etária de 1 a 44 anos (GAZAL-CARVALHO et al., 2002).
Introdução
32
1.1.6. CONSUMO DE ÁLCOOL E ACIDENTES DE TRÂNSITO
Pesquisas revelaram que a ingestão de álcool, mesmo em pequenas
quantidades, diminui a coordenação motora e os reflexos, comprometendo a
capacidade de julgamento, principalmente ao dirigir veículos ou operar máquinas.
Grande parte dos acidentes de trânsito é provocada por motoristas que ingeriram
álcool antes de dirigir (JEFFREI; RUNGE, 2003).
Os acidentes de trânsito continuam ainda hoje representando um campo
aberto à investigação cientifica, visto que os problemas a eles relacionados são
graves em todo o mundo, e carecem de soluções eficientes e definitivas, como
indicam as altas taxas de incapacitação e mortalidades registradas anualmente em
vários países (MARTIN SE, 1992).
No campo da prevenção, especial atenção tem sido dedicada ao estudo da
relação entre acidentes de trânsito e consumo de álcool. Estudos publicados
apontam o consumo de álcool como maior fator de risco para quase todos os tipos
de violência, e destacam a forte correlação entre este e os acidentes com veículos
motorizados. Na maioria dos estudos, investiga a influência do álcool,
particularmente, no comportamento do condutor (MARTIN, 1992b). Infelizmente,
uma situação que agrava os problemas de ingestão de bebidas alcoólicas e
condução de veículos no nosso país é a comercialização de bebidas alcoólicas em
postos de gasolina e em restaurantes localizados em rodovias, mesmo que
clandestinamente em alguns Estados Nas rodovias estaduais paulistas, a venda e a
veiculação de propagandas de bebidas alcoólicas, são proibidas (BRASIL, 2003d).
Porém, nas federais não há lei que restrinja esse comércio. Pois, o Ministério Público
Federal arquivou o processo da discussão do comécio de bebidas alcoólicas nas
Introdução
33
rodovias federais, em janeiro de 2007. A promoção do arquivamento deve-se a
alteração legislativa no Codigo de Trânsito aumentando os instrumentos de que
dispõem os orgãos de trânsto na identificacao da infracao consistente em dirigir
alcoolizado (BRASIL, 2007e).
Pesquisas realizadas nos Estados Unidos, onde o consumo per capita de etanol
puro foi de 7 litros em 1991, apontam que a morbi-mortalidade provocada por causas
externas relacionadas ao consumo de álcool está diminuindo. Tal diminuição está
relacionada à legislação e fiscalização eficientes no que diz respeito ao consumo e
comercialização de bebidas alcoólicas. No Brasil, no mesmo ano, o consumo per capita
de etanol foi de 3,6 litros, porém, enquanto nos Estados Unidos o consumo é
decrescente, no Brasil é nitidamente crescente (GAZAL-CARVALHO et al., 2002).
A National Highway Traffic Safety Administration (NHTSA, 2002) refere que,
em 2000, o custo de acidentes nos Estados Unidos com veículos automotores foi de
US$ 230,6 bilhões de dólares, com 5,3 milhões de vítimas em 16,4 milhões de
acidentes, incluindo 41.821 vítimas fatais. No trânsito brasileiro, acontecem a cada
ano mais de 350 mil acidentes com vítimas, resultando cerca de 35 mil mortos e 450
mil feridos.
Pesquisa divulgada em 2006, pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada
(IPEA, 2003), mostra que o custo de um único acidente com vítima não fatal é de R$
17.460,00, valor que sobe para R$ 144.478,00 quando há morte. Isso ocorre devido,
em sua maior parte, à imprudência e ao consumo de bebidas alcoólicas. ZADOR
(2000) estima que um indivíduo apresenta 1,4 vezes mais chance de se acidentar
com 1 dose de álcool que um indivíduo sóbrio. Para três doses, essa taxa sobe 11,1
vezes e com 5 doses, o risco aumenta em 48 vezes.
Introdução
34
O exame da alcoolemia é expresso em concentração de álcool por volume de
sangue. No campo da segurança de tráfego, o Novo Código de Trânsito Brasileiro,
Lei nº. 9.503 de 23/09/1997, Art. 276 menciona que: “A concentração de 6,0 dg/L
(decigramas de álcool por litro de sangue) comprova que o condutor se acha
impedido de dirigir veículo automotor”. Também no Art. 277 refere que: “Todo o
condutor de veículo automotor envolvido em acidentes ou que for alvo de
fiscalização de trânsito, sob suspeita de haver excedido os limites previstos no Art.
276, será submetido a teste de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame
que, por meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados pelo CONTRAN,
permitam certificar seu estado” (BRASIL, 2003a)
Nesse sentido, segundo a legislação brasileira, deverá ser penalizado todo o
motorista que apresentar concentração igual ou maior a 0,6 gramas de álcool por litro de
sangue. A equivalência das bebidas alcoólicas está demonstrada na Tabela 3,
evidenciando a quantidade necessária de álcool para que uma pessoa atinja a
concentração igual ou superior ao que a lei brasileira permite no sangue, quanto ao peso
corporal.
Introdução
35
Tabela 3 – Relação entre as quantidades ingeridas de diferentes bebidas alcoólicas
e concentração de etanol no sangue em função do peso corporal.
Peso corporal
Bebidas Volumes 60 Kg 70 Kg 80 Kg
Vinho
1 taça (80-140ml)
Cerveja 1 lata (350ml)
Destilado 1 dose (50ml)
0,27 g 0,22 g 0,19 g
Vinho
2 taças (160-280ml)
Cerveja
2 latas (700ml)
Destilado 2 doses (100ml)
0,54 g 0,44 g 0,38 g
Vinho 3 taças (240-420ml)
Cerveja
3 latas (1050ml)
Destilado 3 doses (150ml)
0,81 g 0,66 g * 0,57 g
*Dosagem superior ao permitido por lei. Fonte: FORMIGONI (1992)
Ainda segundo a resolução nº 81 de 19 de novembro de 1998 do Novo
Código de Trânsito Brasileiro, o artigo 2º diz que: “...é obrigatória a realização do
exame de alcoolemia para as vítimas fatais de trânsito”. A obrigatoriedade de
realização do exame independe da posição que a vítima ocupava em relação ao
acidente, ou seja, se eram passageiros, condutores ou pedestres, ciclistas e outros.
O marketing da bebida alcoólica faz parte da indústria global, a qual dita as
regras de um novo mercado capitalista ascendente, cuja estratégia é a utilização de
televisão, rádios, mídia imprensa, internet e promoções de ponto de vendas
(LARANJEIRA; ROMANO, 2004). Com finalidade especifica de fazer com que as
pessoas associem o consumo de bebidas alcoólicas à determinada marca, estilos e
qualidade de vida, sensação de relaxamento, humor e divertimento (PINSKY,
19994). Desta forma mantém o consumidor sempre assíduo, principalmente ao que
se referir a cerveja. Estas estratégias de promoção do álcool, vinculado ao bem estar
Introdução
36
tem apresent2i2Enseqüências graves à s
2. OBJETIVOS
Objetivos
38
2. OBJETIVOS
1) Pesquisar a alcoolemia em vítimas fatais de causas violenta ocorrida em
Ribeirão Preto e região, autopsiadas pelo Núcleo de Perícias Médico-Legais de
Ribeirão Preto (NPML-RP) no Centro de Medicina Legal (CEMEL/FMRP/USP) no
período de 2002 a 2004.
2) Conhecer a relação entre a alcoolemia e as mortes de causas violentas na
região de Ribeirão Preto, das amostras de referências analisadas, considerando
os parâmetros sexo, faixa etária e concentração alcoólica.
3) Prover dados científicos para que autoridades legais tenham subsídios nas
tomadas de decisões para maior controle do consumo de bebidas alcoólicas.
4) Evidenciar a necessidade da investigação da alcoolemia em todos os tipos de
mortes de causas externas.
3. CASUÍSTICA E MÉTODOS
Casuística e Métodos
40
3. EXPERIMENTAL
A presente pesquisa foi desenvolvida no Laboratório de Toxicologia Forense
(LTF) do Centro de Medicina Legal (CEMEL/FMRP/USP), por meio de acordo de
cooperação técnico-científica firmado entre a Secretaria de Segurança Pública do
Estado de São Paulo e a Universidade de São Paulo. Para a realização do projeto,
foi solicitada e concedida a autorização do Diretor do Núcleo de Perícias Médico-
Legais de Ribeirão Preto (NPML-RP), para utilizar dados referentes às necroscopias
realizadas no período de 2000 a 2004 e dos boletins de ocorrência policial
arquivados nesse Núcleo.
O projeto foi aprovado em 12/09/2005 pelo Comitê de Ética em Pesquisa com
Seres Humanos do Hospital das Clinicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão
Preto/USP. (Processo HCRP n° 11592/2005).
3.1. CASUÍSTICA
O presente trabalho analisou 2072 vítimas de mortes violentas (morte de
causa externa) ocorridas na região de Ribeirão Preto/SP, no período de janeiro de
2002 a dezembro de 2004, necropsiados pelo NPML-RP no CEMEL/FMRP/USP.
3.2. DETERMINAÇÃO DAS CAUSAS JURÍDICAS DAS MORTES
Pela consulta aos Boletins de Ocorrência fornecidos pela polícia, referentes
aos exames cadavéricos selecionados, foram compilados dados como sexo, idade
Casuística e Métodos
41
das vítimas e ano das mortes. As causas jurídicas da morte foram obtidas dos
laudos necroscópicos. Como critério de inclusão, foram consideradas as amostras
obtidas de indivíduos com idade acima de 10 anos.
A causa jurídica de morte acidental foi subdividida em “acidentes de trânsito”
e “outros acidentes”, devido à importância das mortes ocorridas no trânsito no nosso
país. Na classificação “acidentes de trânsito”, foram incluídas todas as mortes
ocorridas no trânsito, sem distinção entre motoristas, passageiros, ciclistas ou
pedestres. A justificativa para a não diferenciação entre as possibilidades acima, foi
a falta constante de informações nos boletins de ocorrências. Na classificação
“outros acidentes”, estão incluídos as quedas, acidentes de trabalho, acidentes
domésticos, asfixias mecânicas, afogamentos, esgorjamentos e outros acidentes
não informados. A modalidade “homicídios” foi subdivida em vítimas cuja morte foi
causada por projétil de arma de fogo, golpes de arma branca e outros tipos de
homicídios, que envolvem envenenamento, asfixia mecânica, espancamento e não
informados. Os suicídios foram separados segundo as seguintes causas:
enforcamento, precipitação e outros, entre os quais estão os envenenamentos, lesão
por projétil de arma de fogo, medicamentos, afogamento e não informado. Além
disso, foi utilizada a classificação “outras”, para as causas de morte não
esclarecidas, ou que não foram incluídas no trabalho como, por exemplo, os abortos,
uma vez que não foram coletadas amostras de sangue de indivíduos menores que
10 anos.
Todas as informações constantes do formulário para solicitação de análises
de alcoolemia encaminhado ao LTF foram inseridas em um banco de dados criado
com o objetivo de controlar e organizar os casos para pesquisas futuras.
Casuística e Métodos
42
3.3. DETERMINAÇÃO DA ALCOOLEMIA
3.3.1. OBTENÇÃO DE AMOSTRAS DE SANGUE POSTMORTEM
Durante o exame necroscópico, foram coletadas amostras de 4 mL de sangue
por meio do puncionamento de artérias periféricas ou da câmara cardíaca. As
amostras foram acondicionadas em frascos contendo oxalato de potássio e fluoreto
de sódio, que têm como função evitar a coagulação do sangue e evitar o
crescimento de bactérias que transformam a glicose presente no sangue em etanol,
resultando em falsos positivos. As amostras foram identificadas com nome, número
de necropsia e com o número de identificação do laboratório de toxicologia e
imediatamente armazenadas sob refrigeração até o momento das análises,
obedecendo uma cadeia de custódia.
3.3.2. ANÁLISE DAS AMOSTRAS DE SANGUE POSTMORTEM
A metodologia empregada para as análises de etanol nas amostras de
sangue está descrita em DE MARTINIS et al. (2006).
Para as análises das amostras, 100 µL de sangue foram colocados em
frascos de vidro de 20 mL. Em seguida foi adicionado 1 mL de solução contendo
isobutanol na concentração de 0,05 g/L (padrão interno), água deionizada e
(NH
4
)
2
SO
4
na concentração de 100 g/L
,
necessário para supersaturar a matriz e
aumentar a eficiência da extração. Os frascos foram lacrados e agitados
magneticamente por 15 minutos, na temperatura de 90°C.
Casuística e Métodos
43
Os frascos foram colocados em amostrador automático CombiPal (CTC
Analytics) e a fase vapor (Headspace) foi analisada por cromatografia em fase
gasosa de alta resolução com detector de ionização por chama (GC-FID) (Varian
3380). Foram utilizadas as seguintes condições de análise: Coluna capilar com fase
estacionária polar Carbowax (Carbopac) (25m x 0,25mm i.d., 0,25µm); temperatura
do injetor 250°C; temperatura do detector 300°C; temperatura inicial do forno 60°C,
aquecimento 20°C/min até 190°C. Soluções padrão de etanol (Mallinckrodt
chemical). Foram preparadas nas concentraç
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
Resultados e Discussão
45
4. RESULTADOS E DISCUSSÃO
4.1. DETERMINAÇÃO DAS CAUSAS JURÍDICAS DAS MORTES
Para o diagnóstico da causa jurídica da morte, a literatura nacional considera as
causas naturais e violentas e dentre estas acidental, suicídio, homicídio ou crime
(FRANÇA, 2004; HERCULES, 2005; ALCÂNTARA, 2006). As mortes naturais não
foram estudadas no presente trabalho.
Como pode ser observado na Figura 1, considerando as causas jurídicas, as
mortes estavam distribuídas da seguinte maneira: acidentais 56,0% (1161 casos),
homicídios 28,9% (599 casos), suicídios 6,6% (138 casos) e outras 8,35% (174 casos).
Usamos a denominação “outras” para as mortes violentas, sobre as quais não havia,
nos documentos disponíveis, informações de sua causa jurídica de morte.
A Figura 2 apresenta a distribuição anual de exames necropsiados pelo NPML-
RP segundo a causa jurídica da morte. Pode ser observado que o número de casos se
manteve constante para quase todas as causas jurídicas de morte, exceto para os
homicídios que diminuíram em aproximadamente 56% no ano de 2004 quando
comparado ao ano de 2002.
Resultados e Discussão
46
0
10
20
30
40
50
60
Acidental Homicídio Suicídio Outras
Causa jurídica da morte
Casos (%)
Figura 1 – Distribuição dos exames necroscópicos realizados pelo NPML-RP no
período de 2002 a 2004, segundo a causa jurídica de morte..
390
292
130
37
74
362
409
177
57
44
57
43
0
50
100
150
200
250
300
350
400
450
2002 2003 2004
Ano
Casos s
ACIDENTE
HOMICIDIO
SUICIDIO
OUTROS
Figura 2 - Distribuição anual dos exames necropsiados pelo NPML-RP no período
de 2002 a 2004, segundo da causa jurídica da morte.
Resultados e Discussão
47
4.2. DETERMINAÇÃO DA ALCOOLEMIA
No período estudado (2002 a 2004), o Laboratório de Toxicologia
Forense/CEMEL/FMRP/USP recebeu amostras de sangue de 423 cadáveres, o que
representa 20,4% dos corpos necropsiados. Foi constatado que, nas vítimas fatais
de acidentes de trânsito, situação em que a análise de alcoolemia é obrigatória por
lei, foram realizados 688 exames necroscópicos, porém, o número de amostras
recebidas foi de apenas 277 casos.
Com relação às causa jurídicas de morte dos casos que tiveram a alcoolemia
determinada, as amostras estavam distribuídas da seguinte forma: 75% (317) foram
provenientes de vítimas de acidentes, sendo 87,4% (277) de acidentes ocorridos no
trânsito, 9,4% (40) de homicídios, 7,8% (33) de suicídios e 7,8% (33) de outras
causas de morte.
Do total de amostras recebidas para análise toxicológica, 23 (5,4%) não
apresentavam informação sobre a idade e, apesar de terem sido analisadas, não
foram consideradas neste trabalho. Assim, para a apresentação dos resultados
foram considerados apenas 400 casos sobre os quais dispúnhamos de informações
sobre as variáveis estudadas. SMITH et al, (1999) relata o mesmo problema de falta
de informações relevantes para a interpretação dos dados da pesquisa. Durante o
período de 1975 a 1995, sua pesquisa mostrou que aproximadamente 25% dos
trabalhos publicados enfocando as mortes de causas violentas relacionadas com o
consumo de álcool, não apresentavam informações importantes como sexo e idade
das vítimas.
A pequena quantidade de amostras recebidas para a análise de alcoolemia
pode ser explicada por várias razões, a tradição de coleta e solicitação não existia, o
Resultados e Discussão
48
processo de reeducação comportamental dos examinadores de sala de necropsia
ainda não foi plena. Todavia, considerando o período total do estudo, já se pode
observar o acréscimo na porcentagem de solicitação de alcoolemia ao Laboratório
de Toxicologia Forense. Porém, este problema pode ser sanado com medidas mais
rigorosas no cumprimento da lei. Outra explicação deve-se aos procedimentos e
tratamento hospitalar com as vítimas que sobrevivem, porém, quando estas morrem
são encaminhadas ao NPML/CEMEL para a realização do exame necroscópico.
Nestes casos, a vítima recebeu tratamento terapêutico medicamentoso o que
prejudica a análise de alcoolemia devido a possível interação das drogas e
comumente, as amostras de sangue não são coletadas. A conscientização dos
profissionais que atuam em sala de necropsia, sobre a importância da determinação
da presença do álcool e de outras substâncias lícitas e ilícitas, mesmo nos casos em
que as intoxicações exógenas não sugerem correlação com a causa da morte.
Apoiados pela lei que exige a coleta de amostras de sangue para a realização do
exame de alcoolemia apenas em vítimas de acidentes de trânsito, alguns desses
profissionais deixam de coletar amostras de outras vítimas de causas de morte.
Apesar do baixo número de amostras coletadas, pode ser observado na
Figura 3 um aumento significativo nas amostras enviadas ao laboratório no período
estudado, o que indica maior interesse, colaboração e conscientização dos
profissionais envolvidos para a melhoria da qualidade do serviço prestado à
comunidade.
Resultados e Discussão
49
146
631
90
187
640
801
0
100
200
300
400
500
600
700
800
900
2002 2003 2004
Ano
Casos %
Análises toxicológicas
Exames necroscópicos
Figura 3 – Distribuição anual das análises de alcoolemia realizadas pelo Laboratório
de Toxicologia Forense (CEMEL/FMRP/USP) no período de 2002 a2004 e dos
exames necroscópicos realizados pelo NPML-RP.
4.3. CONCENTRAÇÃO DE ÁLCOOL NAS AMOSTRAS
A determinação de álcool em casos de mortes é de grande importância para a
toxicologia forense, uma vez que seu abuso pode ter várias implicações para à
saúde, desde pequenos traumas até intoxicações graves podendo levar à morte.
Está freqüentemente associada ao risco aumentado de traumas, principalmente, em
acidentes de trânsitos, queda, incêndios, entre outros. Contudo, por ser uma droga
lícita bastante difundida pela sociedade, é encarada de forma diferenciada quando
comparada às demais drogas. Razão pela qual atingi cerca de 10% de toda
morbidade e mortalidade ocorrida no Brasil (MELONI, LARANJEIRA; 2004;
CHERPITEL, 1992; FREEDLAND, MCMICKEN e D'ONOFRIO, 1993; HINGSON;
HOWLAND, 1987; HINGSON; HOWLAND, 1993; HURST, HARTE e FIRTH, 1994;
MARTIN, 1992a; MARTIN; BACHMAN, 1997; US DEPARTMENT OF HEALTH AND
Resultados e Discussão
50
HUMAN SERVICES, 1997; US DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN
SERVICES, 2000).
Estudos realizados em diferentes países têm demonstrado que a presença de
álcool em amostras coletadas de vítimas fatais de causa externa pode variar de 20-
50% dos casos, e que essa porcentagem depende de fatores como características
da população e causa jurídica da morte, entre outros (NORDRUM et al., 2000).
Nas amostras de referência deste trabalho, foi observado que 189 amostras
(47,3%) apresentaram alcoolemia inferior a 0,01 g/L e foram consideradas amostras
negativas, ou seja, abaixo do limite de quantificação do método empregado (0,01
g/L). 211 amostras de sangue analisadas, representando (52,7%), apresentaram
resultados positivos sendo que, 123 amostras (58,3%) apresentaram valores iguais
ou superiores a 0,6 g/L, ou seja, acima do limite permitido pelo Código Nacional de
Trânsito. As amostras com resultados positivos, porém abaixo do limite legal,
totalizaram 88 casos (41,7%). A Figura 4 mostra o resultado da alcoolemia e causa
jurídica da morte, considerando as classificações: alcoolemia negativa, positiva
acima do limite permitido e, positiva, porém, abaixo do limite máximo permitido por
lei.
Resultados e Discussão
51
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
Acidental Homicídio Suicídio Outras
Causa jurídica da morte
Casos (%)
Negativo
Positivo < 0,6 g/L
Positivo > 0,6 g/L
Figura 4 – Resultados de alcoolemia negativos, positivos abaixo e acima do limite
permitido por lei para a condução de veículos automotores em função da causa
jurídica da morte.
O teste do chi-quadrado mostrou que as proporções entre o número de
amostras com resultados negativos e o número de amostras com resultados
positivos podem ser consideradas iguais (50%-50%), indicando que não há
prevalência de resultados positivos, porém, se considerarmos que em 50% das
mortes existe o fator álcool envolvido, o cenário passa a ser preocupante.
Avaliando apenas os casos positivos, observamos que o teste do chi-quadrado
indicou uma maior proporção dos casos com alcoolemia igual ou superior a 0,6
g/L.
Resultados e Discussão
52
4.4. ALCOOLEMIA POSITIVA E CAUSA JURÍDICA DE MORTE
Para os casos com alcoolemia positiva, foi observado que 75,9% foram
vítimas de acidentes, 9,4% vítimas de homicídio, 8,0% vítimas de suicídio e, 6,6%
estavam envolvidas com outros tipos de causa jurídica de morte. O teste do chi-
quadrado mostrou que existe uma diferença significativa entre o número de casos
positivos e a causa jurídica da morte.
4.5. ALCOOLEMIA POSITIVA E SEXO
Das amostras que foram encaminhadas para análises toxicológicas e que
resultaram em alcoolemia positiva, 20 amostras (9,5%) eram de indivíduos do sexo
feminino, enquanto que 191 amostras (90,5%) eram de indivíduos do sexo
masculino. O teste do chi-quadrado mostrou que existe uma diferença significativa
entre o número de indivíduos do sexo masculino e do sexo feminino para os casos
positivos.
4.6. ALCOOLEMIA POSITIVA, SEXO, FAIXA ETÁRIA E CAUSA JURÍDICA DE
MORTE.
A média de idade dos indivíduos que apresentaram alcoolemia positiva foi de
36,3 anos. Segundo a causa juridica de morte, esta média de idade foi: acidentes de
trânsito (36,6 anos), outros acidentes (38,6 anos), homicídios (32,3 anos), suicídios
(35,5 anos) e outras causas de morte de causa externa (36,7 anos).
Resultados e Discussão
53
Pode ser observado na Figura 5 que, 24% das vítimas de todas as causas
jurídicas estavam na faixa etária de 35-44 anos.
Os indivíduos do sexo masculino na faixa etária de 35-44 anos estavam mais
envolvidos em acidentes, enquanto que o número de indivíduos na faixa etária de
18-34 anos foi maior nos homicídios. Os suicídios ocorreram predominantes em
indivíduos na faixa etária de 18-24 anos.
Com relação aos indivíduos do sexo feminino, foi observado que a faixa etária
mais envolvida com acidentes foi de 25-34 anos. Devido ao número pequeno de
indivíduos do sexo feminino envolvido em outras causa jurídicas de morte tais como,
homicídios e suicídios, não foi possível inferir conclusões mais detalhadas relativo às
faixas etárias das mulheres envolvidas.
0.0
5.0
10.0
15.0
20.0
25.0
30.0
10 a 17 18 a 24 25 a 34 35 a 44 45 a 54 55 a 64 acima 65
Faixa etária (anos)
Casos (%)
Figura 5 – Distribuição de faixa etária dos indivíduos que apresentaram alcoolemia
positiva.
Resultados e Discussão
54
Excluindo a causa jurídica acidentes de trânsito, que será discutida em item
específico, o homicídio foi a segunda causa jurídica de morte em que mais foi
solicitada análises de alcoolemia pelos peritos, tendo sido recebidas amostras de
sangue de 40 cadáveres ou 10% das análises realizadas. Desses casos, 21
indivíduos (52,5%) apresentavam alcoolemia positiva, dos quais 19 (90,4%) eram de
indivíduos do sexo masculino. Considerando a causa jurídica de morte “homicídio”,
19 indivíduos (47,5%) foram vítimas de projétil de arma de fogo, 13 indivíduos
(32,5%) foram vítimas de golpes de arma branca e 8 indivíduos (20%) estavam
envolvidos em outros tipos de lesões.
As vítimas de homicídios por projétil de arma de fogo foram, na sua maioria
(89,5%), indivíduos do sexo masculino, sendo que 64,7% estavam alcoolizados. A
faixa etária de maior ocorrência estava entre 20 a 29 anos (71,4%). As mulheres
vítimas de homicídio representaram 10,5% das análises, sendo que 50% destas
estavam sob efeito de álcool.
As mortes por golpes de arma branca representaram 32,5% dos homicídios,
sendo que 12 indivíduos (92,3%) eram do sexo masculino, e 61,5% destes
apresentaram alcoolemia positiva. A faixa etária de maior ocorrência estava entre 20
e 29 anos. As mulheres representaram 7,7% das análises, sendo que todas elas
apresentavam alcoolemia positiva.
Os outros tipos de homicídios foram por envenenamento (1), asfixia mecânica
(2), embriaguez (1), espancamento (1) e os não informados (3), totalizando 8 mortes.
Em 87,5% (7) as vítimas eram indivíduos do sexo masculino, em apenas um deles
foi encontrada a presença de etanol. A única mulher envolvida nesses outros tipos
de homicídio apresentava alcoolemia positiva.
Resultados e Discussão
55
O suicídio foi a terceira causa de morte em que mais foi solicitada exames de
alcoolemia. Foram enviadas amostras de sangue de 33 cadáveres representando
8,2% das amostras realizadas. Destas, 54,5% (18) estavam com alcoolemia positiva,
dos quais 94,4% (17) de indivíduos do sexo masculino. Entre as mortes por suicídio,
a asfixia mecânica (enforcamento) foi responsável por 13 casos (39,3%), seguido de
precipitação, com 6 casos (18%), e outros tipos de suicídios, com 14 casos (42,4%)
das análises.
Para a asfixia mecânica, 84,6% foram do sexo masculino. A alcoolemia
positiva foi constatada em 54,5%.(6) das amostras. A faixa etária de maior
freqüência era de 20 a 29 anos. Dentre as mulheres não houve nenhuma análise
alcoólica que resultasse positiva.
Nas precipitações, 83,3% (5) cadáveres eram do sexo masculino e, entre
estes, 3 casos (60%) apresentaram alcoolemia positiva. A única amostra de mulher
que cometeu suicídio por precipitação apresentou alcoolemia positiva.
Dentre os outros tipos de suicídios, foram encontrados 2 casos de
envenenamento, 3 casos de lesão de projétil de arma de fogo, 4 casos de
intoxicação por medicamentos, 2 casos por afogamento e 3 casos cuja a causa de
morte não informados. Considerando todos esses formas de suicídio, o envolvimento
de indivíduos do sexo masculino foi predominante (85,7%) e apresentou alcoolemia
positiva em 57,1%. A faixa etária predominante foi de 30 aos 39 anos de idade.
Para a causa jurídica não esclarecida, que neste prabalho denominamos
como outras, foram recebidas para análise 33 amostras correspondea 8,25% do
total. A maior parte dessas amostras foi coletada de indivíduos do sexo masculino
81,8% (27 casos), dos quais 54,55% (18 casos) estavam com alcoolemia positiva e
Resultados e Discussão
56
59,2% (16) apresentavam concentração acima do limite máximo permitido. Nesse
grupo a faixa etária de maior ocorrência foi também dos 30-39 anos de idade.
A Figura 6 mostra os valores médios de alcoolemia para cada causa jurídica
de morte. A causa acidental foi subdividida, em acidentes de trânsito e outros
acidentes para facilitar a comparação dos resultados.. Foi observado que, após a
realização do teste do chi-quadrado, não foram encontradas diferenças significativas
entre os valores médios de concentração de álcool e a causa da morte.
Se for considerada a concentração média de álcool no sangue nas amostras
de referencia no período do estudo envolvendo todas as causas jurídicas de morte,
observamos, pelo teste do chi-quadrado, que, entre os anos de 2003 (0,97 g/L) e
2004 (1,56 g/L), ocorreu um aumento estatisticamente significativo entre as médias,
porém nenhum fator que justificasse este aumento de 38% foi identificado.
0
0.2
0.4
0.6
0.8
1
1.2
1.4
1.6
1.8
2
Outros acidentes Acidentes de trânsito Homicídios Suicídios Outros
Causa jurídica da morte
[ ] média de álcool no sangue (g/L)
Figura 6 – Distribuição dos valores médios de alcoolemia e causa jurídica de morte.
Resultados e Discussão
57
4.7. ACIDENTES DE TRÂNSITO
Devido à importante e lamentável contribuição dos acidentes de trânsito nas
causas de morte violenta e, considerando os limites de concentração de álcool
estabelecidos por lei no nosso País, essa classificação foi estudada com maior
ênfase neste trabalho.
A Figura 7 mostra que 688 (59,3%) vítimas fatais de acidentes estavam
relacionadas ao trânsito, como condutores, passageiros, ciclistas ou pedestres e,
473 (40,7%) vítimas de outros acidentes.
0
10
20
30
40
50
60
70
Acidentes de trânsito Outros acidentes
Classificação da morte acidental
Casos (%)
Figura 7 – Comparação entre a porcentagem de vítimas fatais de acidentes de
trânsito e outros acidentes.
O laboratório de toxicologia forense analisou amostras de 277 (69,2%) vítimas
de acidentes de trânsito. A alcoolemia negativa foi observada em 129 amostras
(46%), enquanto que 148 indivíduos (53%) apresentaram resultados positivos (<0,6
Resultados e Discussão
58
e >0,6 g/L) como pode ser visto na Figura 8. Estatisticamente, não foram
encontradas diferenças entre o número de casos positivos e negativos (teste do chi-
quadrado). Porém, pode-se afirmar que 50% das vítimas fatais de acidentes de
trânsito estavam sob efeito de álcool.
0.0
10.0
20.0
30.0
40.0
50.0
60.0
Acidentes de trânsito Outros acidentes
Classificação dos acidentes
Casos (%)
Negativo Positivo < 0,6 g/L Positivo > 0,6 g/L
Figura 8 - Resultados de alcoolemia negativos e positivos abaixo e acima do limite
permitido por lei para a condução de veículos automotores nas mortes por acidentes
de trânsito e outros acidentes.
Com relação ao sexo, a maioria das vítimas fatais (93%) era masculina, o
que foi demonstrado ser estatisticamente significativo, quando comparado com o
número de mulheres envolvidas.
Para a faixa etária dos indivíduos envolvidos nos acidentes de trânsito, o teste
do chi-quadrado indicou uma tendência de maior número de indivíduos com idade
entre 18-24 anos. Portanto, indivíduos mais jovens estão envolvidos nas mortes de
Resultados e Discussão
59
trânsito quando comparados com os indivíduos que tiveram causa de morte violenta
em geral.
As vítimas fatais do trânsito do sexo masculino eram, predominantemente,
jovens na faixa etária entre 20-29 anos. Para as mulheres, a faixa etária mais
comumente encontrada foi de 30-39 anos.
Houve diferença significativa (Figura 8), se considerarmos a concentração de
álcool presente no sangue das vítimas de acidentes de trânsito, 65% dos indivíduos
apresentava alcoolemia igual ou superior a 0,6 g/L, com as vítimas que
apresentaram concentração de álcool inferior a 0,6 g/L (35%) foi comprovada pelo
teste do chi-quadrado.
De acordo com a Tabela 2, valores de alcoolemia iguais ou superiores a 0,6
g/L indicam que o indivíduo não apresenta condições para condução de veículos
automotores. Porém, como as informações sobre a posição da vítima no momento
do acidente, nem sempre constam no boletim de ocorrência, fica difícil concluir se a
vítima era motorista, passageiro ou mesmo pedestre.
De acordo com a National Highway Traffic Safety Adminstration (NHTSA;
2005), o uso do álcool contribui com 39% das mortes provocadas por acidentes de
trânsito nos EUA. Nos países desenvolvidos, o acidente de trânsito tem sido
apontado como a principal causa de morte violenta entre 14 e 24 anos de idade.
Mantendo - se a predominância dos homens sobre as mulheres (MARTIN, 1992b).
Nos EUA, as ocorrências de acidentes e análises alcoólicas são realizadas, na
maioria, em vítimas de acidentes de trânsito, composta por 85% de homens cujo a
concentração de álcool no sangue é superior a 0,8g/l. (HAVARD, 1979, NHTSA,
2003). Confirmamos essa predominância em nossa população, não somente nos
acidentes de trânsito, mas em todas as mortes violentas analisadas.
Resultados e Discussão
60
A relação entre o consumo de álcool e as mortes de causa violenta tem sido
relatada por vários trabalhos publicados (LUNETTA et al, 2001). Embora, a
proporção de vítimas de morte violenta associada com álcool (alcoolemia positiva)
varia muito entre os diferentes estudos (BRISMAR et al 1998).
Toro et al (2005) investigaram as características dos traumas causados pelos
acidentes fatais no trânsito envolvendo, especificamente, pedestres, ciclistas e
ocupantes de veículos automotores, na cidade de Budapeste, Hungria. Foram
avaliados 664 acidentes, sendo 371 pedestres, 45 ciclistas e 248 ocupantes de
veículos, durante o período de 1999 a 2001. Análises de alcoolemia foram
realizadas em 312 vítimas que morreram no local do acidente ou até 5 horas após
hospitalização. Foi encontrada alcoolemia positiva, acima do limite máximo permitido
(0,5 g/L), em 129 casos (42%) e em 183 casos (58%) os resultados estavam abaixo
do limite. Curiosamente, as vítimas pedestres e ciclistas que apresentavam
alcoolemia superior ao limite permitido representavam 48%, enquanto que os
ocupantes de veículos automotores, 33%. As maiores concentrações alcoólicas
foram detectadas entre os pedestres, os quais 20% deles apresentavam alcoolemia
superior a 2,51 g/L.
No presente trabalho, as vítimas de acidentes de trânsito não puderam ser
discriminadas entre pedestres, ciclistas, passageiros ou motoristas, devido à falta de
informações nos boletins de ocorrências encaminhados pela polícia juntamente com
o corpo. Assim, a única comparação que pode ser feita com relação aos resultados
apresentados por Toro et al (2005), diz respeito à porcentagem de positividade para
alcoolemia encontrada nas vítimas de acidentes de trânsito, que no trabalho de Toro
et al (2005) foi de 66% sendo que, em 42% dos casos, a alcoolemia estava acima do
valor máximo permitido por lei em Budapeste.
Resultados e Discussão
61
Nordrum et al. (2000) investigaram a prevalência e a concentração de álcool
em 1539 exames necroscópicos de interesse médico-legal em duas regiões da
Noruega no período de 1973-1992, que correspondeu a 21,0% dos exames
necroscópicos. Desses, 81,2% eram indivíduos do sexo masculino, com média de
idade de 41,9 anos. A determinação da alcoolemia foi realizada em 82,8% dos
casos, nos quais 47,6% das mortes de causa violenta, a concentração de álcool foi
igual ou superior a 0,5 g/L, sendo 43,6% vítimas de acidentes, 11,8% acidentes de
trânsito 7,60% homicídios, 23,9% suicídio, e 12,9% causa não determinada.
Estudos realizados no período de 1995 a 1999 por Skibin et al., (2005) na
região de Ljubljana, Eslovênia, demonstraram que o consumo excessivo de álcool
aumenta o risco de morte por causa violenta. No período, foram avaliados 1630
casos sendo 74,3% das vítimas do sexo masculino e a média de idade dei 44,9
anos.
Embora a violência esteja fortemente vinculada ao consumo de bebidas
alcoólicas (GRAHAM; 2001), essa associação varia, consideravelmente, com a
quantidade ingerida (MURDOCH et al.,1990; ROOM, 2001; ROSSOW, 2001). Os
efeitos do álcool contribuem com a probabilidade aumentada do comportamento
agressivo, pois este afeta as funções cognitivas (PETERSON; PIHL, 1990) levando o
individuo ao conflito, prejudicando sua habilidade emocional (PIHL; PETERSON,
1993). Estes efeitos são mais predominantes em homens que, quando alcoolizados
tendem a demonstrar suas características de dominação (GRAHAM, 2000; Mc
MLELLAND, 1974).
Os resultados obtidos neste trabalho confirmam que o álcool, além de ser um
fator importante no desenvolvimento de danos em vários sistemas orgânicos, está
Resultados e Discussão
62
altamente correlacionado com as mortes de causas violentas apontando uma
necessidade de leis e sanções mais rígidas.
5. CONCLUSÕES
Conclusões
64
5. CONCLUSÕES
Comparando os níveis de alcoolemia, a grande maioria dos casos foram
vítimas fatais de acidentes, principalmente os de trânsito, seguido dos homicídios
causados por lesão de projétil de arma de fogo e arma branca e dos suicídios
provocados por asfixia mecânica e precipitação.
A população estudada que apresentou alcoolemia positiva caracterizou-se,
predominantemente, pelo sexo masculino numa proporção de 9:1. 58% das análises
apresentaram valores acima de 0,6 g/L (valor de referência permitido pelo Código
Nacional de Trânsito). As vítimas eram da faixa etária de 35 a 44 anos, sendo que a
idade média dos indivíduos envolvidos em acidentes de trânsito de 36,6 anos.
Assim, conclui-se que a solicitação e a realização do exame de alcoolemia em
todas as causas de morte, independente do motivo, gênero e faixa etária deveriam
ser obrigatórios. A investigação de outras substâncias que podem potencialmente,
contribuir em uma morte violenta se faz necessária, para melhor elucidar sua causa
jurídica. Tais informações podem contribuir para o estabelecimento de medidas
legais, preventivas e punitivas com o objetivo de restringir o consumo abusivo de
substâncias lícitas e ilícitas pela população.
A constatação da falta de informações importantes que deveriam estar
contemplados nos boletins de ocorrência, tais como histórico completo dos fatos,
incluindo idade, sexo, o autor do crime, data, local de ocorrência, prejudicaram a
interpretação de alguns resultados e a inserção dos mesmos no banco de dados.
6. REFERÊNCIAS
Referências
66
6 REFERÊNCIAS
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