A Contratransferência a Partir de Freud – Francisco Rodrigues Al ves de Moura
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primazia durante a sessão, uma vez se tornar o órgão pe rceptivo por exc elência –
inclusive, mais rápido em relação à escuta. Inaugura-se aí uma modalidade diferente de
psicanálise, em que a fala perde o primeiro plano. Diferentemente da talking cure
freudiana ou da hipótese lacaniana, baseada no significante e na letra
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, abre-se a via par a
a psicanálise da empatia, da comunicação além das palavras. O silêncio do analista
ganha nova f orma, e suas emoções tornam-se compree nsã o. Caberia interrogar qual é o
papel da intuição, e como distinguir as emoções experimentadas. Se Lacan enfatizou o
papel do não comunicável como al go a ser tra balhado pelo analisando, revestido por
uma poesia pessoal, a via da comunicação inconsciente trilhou outro caminho. Heimann
propõe vencer a impossibilidade de comunicação através da compreensão do analista,
de uma construção de outra via de acesso inerente à relação ana lítica.
Afinal, por que Heimann prioriza a percepção inconsciente? Além dos motivos
apresenta dos pela autora em seu texto de 1959, adiciona um novo fa tor à comunicação
contratransferencial: o tempo da interpretação. Segundo esta, a interpretação baseada
nos afetos experime ntados seria mais rápida em re lação à consciente (que entende mos
como a escuta), e não utilizar tal meio poderia constituir um erro.
“Minha conclusão anterior [no artigo de 1949] foi que a
contratransferência representa um instrumento de pesquisa dos
processos inconscientes do paciente, e que as perturbações em meus
próprios sentimentos eram devido a uma defasagem tempora l (time lag)
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Para uma noção rudimentar da diferença entre estes, poderíamos arriscar algo como o seguinte. O
significante f oi a base do ensino de Lacan até seu seminário XI – significante como a unidade
fundamental da lingua gem e da fala, baseado nos trabalho de Saussurre e Jakobson. A letra, cuja
definição clássica seria a de ‘suporte material do significante’, seria como uma parte do significante. A
letra como significante desprovido de sua intenção comunicativa, e sustenta do apenas por sua
mat er ial ida de, sua qua li da de de im age m. A letr a p oder ia ser inte rpr et ada com o o d ej eto, o re sto da
comunicação – a base real dos eleme ntos de significação. O estudo da letra é o estudo do Real, como
c once it o: h á al go a lé m d as men sa gen s, a lé m da c omu nic a çã o. O q ue res ta das pa lavr a s, da s his tór ia s,
carrega a força que anima o sintoma e a fantasia.