224
Professor 12-A: Lemos muito Piaget na escola. Mais tarde também lemos Vigotsky,
Wallon, Makarenko. Eu acho que não há mais um espaço para as pessoas estudarem,
discutirem, criarem, tanto o professor, como o aluno ou o funcionário.
Professor 12-A: A escolarização foi dividida em etapas tal como os estádios de
desenvolvimento de Piaget. Então nós tínhamos organizado algo que hoje estão chamando
de “progressão”, e algo muito parecido com os ciclos de aprendizagem.
Professor 12-A: A experiência do que fomos como alunos, agora, fazia diferença,
no trabalho que realizávamos como professores. Lembro-me que tive uma professora
fantástica nas séries iniciais. A professora recém tinha chegado dos Estados Unidos, onde
tinha feito um curso com Dewey, sobre a metodologia de projetos, era a época da
democratização da escola. Até a 4ª série eu não tive sala de aula com cadeiras em fila, era
um espaço sempre novo que a gente reconstruía a cada projeto, era aquilo do “aprender
fazendo”. Depois fui para uma escola confessional, que também era inovadora, que não
restringia a liberdade dos alunos. Acho que ela dava um jeito de "acomodar" as ordens da
lei ao que queria ensinar aos alunos, e ensinava muita responsabilidade, criatividade e
autonomia. Estou falando essas coisas da minha vida porque acredito que as experiências
particulares de cada um são carregadas pela vida inteira e a gente as transfere e as aplica
por onde passa. Eu penso, então, que um dos grandes problemas na formação de
professores hoje é de que as experiências que eles vivem são "pobres", e, depois, as
experiências que farão com os alunos serão, da mesma forma, muito tímidas e sem graça.
Professor 12-A: [Foi relatada a história de um aluno que deixava os professores
atordoados, pois a escola não conseguia ser nova para ele. O aluno, a cada proposta do
professor dizia já ter feito aquilo com os pais e de forma muito mais interessante, ele era de
uma família de muitas posses.] Daí nós fizemos uma reunião com um tema específico: o
aluno exigia um currículo especial, caso contrário a escola seria terrivelmente chata para
ele. Resolvemos fazer um plano de trabalho com ele, e funcionou muito bem a partir daí.
Esse era um respeito pelo aluno, junto com uma autonomia que a escola mantinha de poder
organizar algo particular para um aluno, respeitando seu desenvolvimento intelectual.
Professor 12-A: A metodologia que a escola adotou exigia um trabalho construtivo,
ela não podia ter uma metodologia que generalizasse as ações do professor e do aluno, de
tudo ser igual para todos. A metodologia, o currículo e quase tudo foi construído junto com o
grupo de professores, respeitando a autonomia que devia estar presente também no
professor que ali trabalhava.
Professor 12-A: Aconteceu de um pipoqueiro que ficava na porta do ginásio de
esportes, e que era muito apreciado pelos alunos, ser motivo para o chamamento dos
alunos à direção da escola. O motivo era a sujeira que ficava na frente da escola,
sobrecarregando o trabalho das funcionárias da limpeza. Após a conversa, os alunos se
propuseram a encontrar uma solução para o fato. Voltaram dizendo que haviam combinado
que por um mês pagariam alguns centavos a mais para que o pipoqueiro tivesse uma
vassoura, pá e lixeira; ele mesmo faria a limpeza da entrada da escola. Foram eles que
decidiram, falaram com o pipoqueiro e depois conseguiram um lugar para que fosse
guardado o carrinho da pipoca durante a noite. Os alunos sempre participavam de tudo e
eram ouvidos em suas propostas, que quando boas, acatadas.
Professor 12-A: A escola estava inserida num bairro bastante carente.
Pensávamos que não podíamos ficar alheios ao nosso redor; fomos então trabalhar com a
comunidade. Com os pais da escola conseguimos legalizar os terrenos. Sempre houve a
intenção de envolver o aluno e as famílias em ações de cidadania, que ele fizesse algo em
prol do desenvolvimento da comunidade.
Professor 11-A: Penso que só através do diálogo com os alunos a gente conquista
alguma coisa dentro da escola, um diálogo em que se esteja disposto a ouvir. Tudo o que