tivessem claros quais seriam os novos desafios, sobretudo, porque um novo mundo
surgia dos escombros, erguendo-se em meio à esperança de que os conflitos
sistêmicos tivessem sido soterrados pelos destroços do muro que acabara de ruir.
Todavia, o que surgia no horizonte era um novo mundo repleto de disputas étnicas,
pobreza, injustiças e, especialmente, de novos massacres. Segundo Szayna, nos anos
que se seguiram ao término do socialismo, observamos um número crescente de
conflitos no interior dos estados nações: “Entre 1989 e 1998, apenas sete, entre os 108
conflitos armados deflagrados no mundo, foram de natureza interestatal.” (SZAYNA,
2000, p. 1)
2
.
Temos aqui claramente que o mundo pós-Guerra-fria não se mostrava tão
seguro como se tinha esperança que ele fosse
3
; ele era, na realidade, muito mais
complexo do que nos tempos do conflito bipolar, já que, se antigamente o inimigo era
facilmente demarcado, agora a maioria dos conflitos ocorria por motivos étnicos e
tendiam a resultar em massacres
4
. Parece visível que receber a obrigação de liderar
um mundo com estas características constitui-se muito mais um martírio, do que de
um prazer irrestrito, e é este mundo que os EUA recebem o papel de liderar.
O que temos como decorrência inegável é que alcançar a condição de principal
superpotência levou os EUA a desenvolverem novas obrigações, posicionando este
país como possível responsável pela solução de todos os problemas ainda não
resolvidos no mundo.
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A questão é que nem mesmo no país existia uma postura
definitiva no sentido de que este deveria, ou não, assumir o “fardo” de melhorar a
situação do mundo
6
.
O que percebemos durante os anos após a queda do muro é que EUA, apesar
das discussões internas, tomou a frente como polícia do mundo, ou, de acordo com os
2
Sendo que grande parte destes aconteceram nos países que deixaram de pertencer ao chamado mundo
socialista.
3
Apesar da constatação de que: os conflitos entre nações, que apresentavam um número maior de mortos,
realmente, foi menor durante o período.
4
Os chamados conflitos intraestatais, ou seja, os conflitos não são realizados entre nações, e sim, no
interior destas, têm como característica principal a dificuldade para que se atinja uma negociação.
5
A leitura da introdução dos artigos federalistas escrita por Isaac Kramnick acaba por nos mostrar que
existem, claramente, duas maneiras de se contar a história dos EUA. Uma primeira que posiciona a
constituição e os seus fundadores com um ar santificado e uma segunda que esclarece que a disputa
ocorrida entre Federalistas e Antifederalistas na verdade foi a disputa entre o capital contra os pequenos
proprietários originada pelo recebimento das dívidas nos Estados. Com a vitória dos federalistas o poder
acaba sendo centralizado, sem que necessariamente ocorra uma preocupação com a questão social.
6
Notamos constantes discussões, especialmente, entre idealistas e realistas, sendo que os primeiros
consideravam que era dever dos Estados Unidos levarem seu modo de vida às outras nações, e os realistas
que consideravam que a melhor saída, para este país, seria a opção se fechar, para que, o mesmo, não
fosse alvo de revanchismo, pelas nações que não conseguiram atingir o mesmo nível, e que veriam na
interferência estadunidense em seu país uma possível causa de seus problemas.