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sobretudo à sua própria subsistência, rotulações dentro de padrões preestabelecidos não se
aplicam à sua produção bibliográfica.
O autor discutia abertamente, em crônicas e cartas ao amigos, sua opção pelo
hibridismo no intuito de “acostumar o leitor” e adaptar o método naturalista à realidade
social e intelectual brasileira.
Com um recorte traçado a partir das datas de publicação dos referidos romances,
pretende-se analisar a construção da identidade nacional em um momento crucial na
história do Brasil: os anos em torno da Proclamação da República. Nessa situação de
efervescência de idéias e pretensa ruptura, abriu-se a necessidade de elaborar um novo
arranjo político, o qual passava também pela constituição de referências que conferissem
coesão ao país, construído através de uma ampla discussão sobre a identidade nacional
8
.
Tendo em vista a ampla divulgação das idéias higienistas através das “penas” da
intelectualidade do período que, vivendo a indeterminação do presente, sentia necessidade
de intervir para transformar a realidade
9
, os textos literários serão aqui encarados enquanto
“testemunhos históricos”. A literatura, neste trabalho, será tratada como “arma intelectual”
8
De acordo com Lúcia Lippi Oliveira (1990, pp. 13-21, 30-39), pátria e nação são conceitos que compõem o
universo simbólico do mundo ocidental desde o século XVIII e têm assumido conteúdos diferentes para
diferentes povos e épocas. Cada grupo os utiliza visando um tipo de identidade coletiva e um sentimento de
pertencimento e auto-identificação. Para a autora, o nacionalismo é um substituto moderno para o teológico-
metafísico na busca pelas origens. Haveria basicamente três tipos de nacionalismo: o que privilegia os
aspectos políticos relacionados à formação dos Estados modernos, o que se baseia em traços culturais típicos
de cada grupo social e o que abrange aspectos políticos e culturais associando o êxito do Estado à obediência
às tendências
.
Por acreditar que estas possíveis “correntes” de pensamento evidenciam-se e mascaram-se em
diferentes momentos da história do país, sobretudo nos de crise, não nos preocuparemos em tentar
“enquadrar” o projeto de Aluísio Azevedo dentro destas classificações, embora de um modo geral suas idéias
estejam em consonância com o grupo dito “geração de 1870”. A “geração de 1870” constituiu-se em críticos
do Brasil de sua época: condenavam a sociedade “fossilizada” do Império e pregavam a redenção através da
abolição da escravatura e proclamação da República. Queriam “iluminar” o país através da ciência e da
cultura – únicos meios de sanar os problemas nacionais, causados pela ignorância. Guiados por uma “filosofia
do progresso”, julgavam que o país devia repetir, aceleradamente, a experiência do ocidente, a fim de alcançar
a parcela mais avançada da humanidade. Consideremos ainda o que a autora classifica como os dois tipos
de doutrina sobre nação, sendo o primeiro baseado em Herder, que privilegia a cultura, negando o progresso e
buscando as raízes para reconstruir o passado, e o segundo, baseado em Rousseau, que privilegia o elemento
político, valorizando a ação do legislador do Estado como principal fator de constituição da nação. Mais uma
vez, não pretendemos classificações rígidas como estas, sobretudo porque as aspas ao termo dizem respeito,
exatamente, à presença de opiniões conflitantes dentro do grupo “geração de 1870”, mas estas definições
ajudarão a balizar o trabalho de pensar estes intelectuais enquanto “sujeitos e personagens de suas histórias”.
Importa-nos apreender o projeto de nação expresso na obra de Aluísio Azevedo e para tanto trabalharemos
com a concepção de nação proposta por Berger e Luckamn, para os quais nação não é um conceito científico,
mas que pretende legitimar uma dada construção social da realidade de forma a garantir a integração coletiva
.
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CHALHOUB, Sidney. e PEREIRA, Leonardo Affonso de Miranda. (org): 1998, p.9.
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