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(...) tanto quanto a norma, a violência, como forma ou resultado de
sua transgressão, constitui também ela uma linguagem, através da
qual uma sociedade nos fala do seu modo de organização, dos
valores que reputa fundamentais, da sua concepção sobre o mundo,
a natureza e o sobrenatural, e do lugar que nela ocupa a vida
humana, como princípios ordenadores da vida associada.
(MONTES, 2000, p.226).
Em outros termos, a própria violência se organiza em resposta a uma
sociedade historicamente desigual e pouco solidária, que tem na hierarquia um
valor, como analisa Da Matta (1979).
E, por conseqüência, Velho (2000) lembra que:
A família, a escola e a religião não têm sido capazes, por sua vez,
de resistir a essa deteriorização de valores. Na sociedade
tradicional, com sua violência constitutiva, existiam mecanismos de
controle social que marcaram uma moralidade básica compartilhada.
Sem dúvida, continuam existindo áreas e grupos sociais que
preservam e se preocupam com essas questões. Certamente a
maioria das pessoas não é violenta ou corrupta. No entanto, o clima
geral de impunidade incentiva a utilização de recursos e estratégias
criminosas. A mídia, fundamental numa sociedade democrática,
denuncia e divulga o estado de coisas, tornando pública, pelo
menos, parte da atividade criminosa. Mas, em poucos casos, existe
a percepção de que a denúncia tem conseqüências, aumentando a
sensação de injustiça e impunidade que é, talvez, a principal causa
de violência. Hospitais funcionam precariamente, o transporte
público é deficiente, os salários baixos e ainda, diariamente, novos
escândalos aparecem. (VELHO, 2000, p. 58-59).
Velho (2000) destaca que a violência ocorre devido a vários fatores, há um
conjunto de problemas que desencadeiam a ação violenta, ressaltando, o autor, que
não há mais lugar protegido:
A urbanização acelerada, com o crescimento desenfreado das
cidades, as fortes aspirações de consumo, em boa parte frustradas,
dificuldades no mercado de trabalho e conflitos de valores são
algumas variáveis que concorrem para tanto. Ninguém mais se
sente seguro: nem empresas nem indivíduos. Senadores da
República, ex-governadores, membros da Academia Brasileira de
Letras, diplomatas, empresários e suas famílias engordam as listas
de vítimas de roubo, assalto, seqüestro e, eventualmente,
assassinato. Elites e classes médias têm suas casas assaltadas. O
que dizer das camadas populares, secularmente vitimizadas? Nas
favelas, nos conjuntos habitacionais, nas periferias, os criminosos
fazem praticamente o que querem, seviciando, estuprando e
matando. Não há lugar protegido. Escolas, igrejas, templos,
quartéis, delegacias etc. são freqüentemente invadidos. As pessoas