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1
UNIJUI
UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO ESTADO DO RIO
GRANDE DO SUL
Departamento de Economia e Contabilidade
Departamento de Estudos Agrários
Departamento de Estudos da Administração
Departamento de Estudos Jurídicos
CURSO DE MESTRADO EM DESENVO
LVIMENTO, GESTÃO E CIDADANIA
SANDRO RODRIGO STEFFENS
TRABALHO E SUBJETIVIDADE
NAS ORGANIZAÇÕES
CONTEMPORÂNEAS: DA LÓGICA SISTÊMICO-CONTROLADORA À
LÓGICA PROCESSUAL-RELACIONAL
IJU
Í (RS)
,
2006
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2
UNIJUI
UNIVERSIDADE REGIONAL DO NOROESTE DO E
STADO DO RIO
GRANDE DO SUL
MESTRADO EM DESENVOLVIMENTO, GESTÃO E CIDADANIA
SANDRO RODRIGO STEFFENS
TRABALHO E SUBJETIVIDADE
NAS ORGANIZAÇÕES
CONTEMPORÂNEAS: DA LÓGICA SISTÊMICO-CONTROLADORA À
LÓGICA PROCESSUAL-
REL
ACIONAL
Dissertação apresentada à Coordenação do Curso de Mestrado em
Desenvolvimento, Gestão e Cidadania, da Universidade Regional
do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul (UNIJUI, RS),
como
requisito parcial à obtenção do grau de Mestre em
Desenvolvimento, Gestão e Organizações.
ORIENTADORA:
Profª Dra.
ENISE BARTH TEIXEIRA
Ijuí (RS)
2006
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3
À minha esposa Alessan
dra Franke Steffens, pelo apoio
e compreensão
nos momentos de solidão...
4
AGRADECIMENTOS
À Universidade Regional do Noroe
ste do Estado do
Rio Grande do Sul (UNIJUÍ) pela oportunidade e
apoio, à Universidade do Oest
e de Santa Catarina
(
UNOESC
)
pela cooperação no desenvolvimento desta
dissertação, aos entrevistados (as) que forneceram
informações fundamentais para a consecução
da
dissertação,
aos amigos e colegas de aula pelas
profícuas desconstruções e construções da verdade
(sempre provisória), a todos os professores pela
partilha de suas profundas reflexões e
,
principalmente
,
a estimada Professora Dra.
Enise Barth Teixeira
q
ue
superou positivamente todas as expectativas existentes
na relação de orientadora e orientando.
5
Nenhum trabalho é sórdido quando significa maior independência; a
mesma atividade pode ser sinal de servilidade se o que estiver em jogo não
for a independência pessoal, e sim a mera sobrevivência, se não for uma
expressão de soberania, mas de sujeição à necessidade
Hannah Arendt (
1989, p. 93).
6
RE
SUMO
Pensar o trabalho como uma categoria que tem ligação intrínseca com a subjetividade do
trabalhador nas organizações contemporâneas tem sido uma preocupação constante nas teorias
organizacionais
, sobretudo, de gestão e desenvolvimento de pessoas. Os gestores das
organizações contemporâneas podem entender melhor qual a rz
ah
h
7
ABSTRACT
Thinking work as a category that has intrinsic linking with the worker subjectivity in
contemporary
organizations, it has been a constant concern in organizational theories, over all, in management and
development of people. The comtemporary organizational managers can understand better the
relation between practical of management and the worker subjectivity. That is possible, due to the
systemic logic substitution - controller by the procedural-relational logic. In this direction, the main
intention of this thesis is to analyze in which way the transformations occured in the work world
have affected the workers subjectivity of contemporary organizations. In order to accomplishment
the analysis, a case study of a regional university, located in the extreme-west of the State of Santa
Catarina was performed. Theoretically this thesis is based in the concepts of work, subjectivity, and
management of the contemporary organizations, over all, in whom it concerns to the practical
models and of people management, in two specific logics: the logical systemic-controller and the
relationary procedural logic. To carry through the present research the qualitative method was
adopted, developed in a simple case study of the exploratory/descriptive type. The data had been
collected by means of half-structuralized individual interviews, with managers, supervisors and
departments heads and also, using documents. For the data interpretation was adopted the content
analysis, in order to understand the study question by the theoretical reference board and from the
value of what had been spoken by the interviewed actors. The results of the research evidence that
the organization, object of this study, possesses a management logic procedural-
relationary
systemic
-controller and, oscillating between bureaucratic processes of and strict meaningless work,
as well as dialogical and flexible processes. The study demonstrates the need of implementation of
more effective practical procedural
-relationary capable to make possible a more healthful subjective
environment.
Key
-
words: Work, subjectivity, contemporary organizations, management logics.
8
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO
................................
................................
................................
......................
10
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
................................................................
..........
14
1.1 Tema
................................................................
................................
.............................
14
1.2 Questão de Estudo
................................................................
................................
........ 16
1.3 Justificativa
................................
................................
................................
...................
17
1.4 Objetivos
................................
................................
................................
......................
20
1.4.1 Geral
................................
................................
................................
....................
21
1.4.2 Esp
ecíficos
................................
................................................................
..........
21
2 QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA
2.1 As Transformações no Mundo do Trabalho
................................
................................
.
22
2.1.1 O sistema de produção capitalista
................................
................................
....... 22
2.1.2 O modelo de produção taylorista
-
fordista
................................
...........................
25
2.1.3 Do esgotamento do modelo taylorista
-
fordista às novas concepções
de trabalho
31
2.2. Trabalho e Subjetividade nas Organizações
................................
................................
32
2.2.1 O significado do trabalho
................................
................................
....................
32
2.2.2 O conceito de subjetividade
................................................................
................
38
2.2.3 A relação entre as práticas de gestão das organizações contemporâneas a
subjetividade do trabalhador
................................................................
...............
41
2.3 Su
bjetividade, Trabalho e Organizações em Transição
................................
...............
49
2.3.1 Da lógica sistêmico
-
controladora à lógica processual
-relacional .......................
51
2.3.2 Formas de caracterizar discursivamente a organização e a gestão
......................
54
2.3.3 A subjetividade e as organizações como processos em
ergentes
.........................
55
2.3.4 Desafios relacionais nas práticas de gestão
........................................................
57
9
3 METODOLOGIA
................................
................................................................
...............
58
3.1 Fundamentação da Pesquisa
................................
................................
.........................
60
3.2 Delineamento da Pesquisa
................................
................................
............................
62
3.3 Definição da Organização
................................
................................
............................
65
3.4 Sujeitos da Pesquisa
................................................................
................................
..... 67
3.5 Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dado
s
................................
...............................
69
3.6
Tratamento, Análise e Interpretação dos Dados
................................
...........................
71
4.
APRESENTAÇÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
.....................
73
4.1 Contexto
do Estudo
A Unoesc e suas características histórico
-
organizacionais
....... 74
4.1.
1 Histórico
................................
................................................................
..............
74
4.1.2 Características
da região de at
uação da Unoesc
................................
..................
77
4.1.3 A Unoesc
Campus São Miguel do Oeste
................................
.........................
79
4.1.4 Missão, visão de futuro e valores
................................
................................
........ 80
4.1.5 Responsabilidade social da Unoesc
................................
................................
..... 80
4.2
Trabalho e Subjetividade
e Organizações Universitárias
................................
.............
81
4.2.1 As organizações universitárias
................................................................
............
82
4
.2.2 As Organizações intensivas em c
onhecimento (OIC
................................
..........
83
4.3 Trabalho, Subjetividade e Gestão na Unoesc
................................
..............................
85
4.3.1
O t
rabalho
e seus sentidos
................................
................................
...................
85
4.3.2 A s
ubjetividade
no trabalho
................................................................
.................
92
4.3.3 Gestão: da lógica sistêmico
-
controlador
a à lógica processual
-
relacion
al
...........
99
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
................................................................
..........
106
BIBLIOGRAFIA
................................
................................
................................
..................
113
APÊNDICES..........................................................................................................................119
TABELAS..........................................................
....................................................................122
10
I
NTRODUÇÃO
O presente estudo desenvolve uma pesquisa sobre o trabalho e a subjetividade nas
organizações contemporâneas. Estudar o trabalho e seus aspectos subjetivos na contemporaneidade
não tem sido tarefa
fácil
. Com relação as teorias organizacionais, a questão da subjetividade, de
acordo com Vergara (2001), Dejours (1999) e Freitas (2000),
começou a ser estudada recentemente
,
e
de modo geral, era relegada a segun
do plano nas correntes dominantes da administração.
O problema reside no fato de que uma infinidade de abordagens, cada qual alicerçada
com fundamentos teóricos e epistemológicos estritamente racionais e divergentes entre si, o que tem
provocado um certo grau de dificuldade aos gestores e profissionais da psicologia que se utilizam
destes termos em suas atividades cotidianas dentro das organizações.
Por exemplo, Seligmann
-
Silva
(1995) sugere três conjuntos de modelos teóricos em saúde mental e trabalho. No primeiro
desenvolve as teorias sobre estresse, no segundo a análise é voltada para o estudo da psicodinâmica
do trabalho e o terceiro está formulado com base no conceito de desgaste mental.
Tittoni (1997) propõe dois eixos constituídos por abordagens teórico-
metodológicas
diferentes. No primeiro eixo, o autor se refere ao diagnóstico de sintomas de origem "psi" e sua
vinculação às situações de trabalho, com forte influência da epidemiologia, especialmente como
11
referência metodológica. No segundo, o foco não recai no diagnóstico de doenças ocupacionais mas
nas experiências e vivências dos trabalhadores sobre seus cotidianos laborais e suas situações de
adoecimento, influenciado pelos conhecimentos produzidos pelas ciências sociais e pela psicanálise.
Conforme Nardi, Tittoni e Bernardes (1997, p.245) apud Jacques (2003), as diferentes abordagens
que "constroem o campo da subjetividade e trabalho, buscam as experiências dos sujeitos e as
tramas que constroem o lugar do trabalhador, definindo modos de subjetivação relacionados ao
trabalho".
A confusão de abordagens, citadas acima, pode ser explicada pelo próprio ambiente em que
as organizações estão submetidas no atual mundo do trabalho, no qual, são obrigadas a conviver
com cenários ambíguos, em que a capacidade de implementar mudanças tem sido um desafio
constante. Os trabalhadores, nesse sentido, não conseguem se livrar da forte competitividade dos
negócios, nem das rupturas que ameaçam a vida de todos de todos, e nem da onipresente estrutura
de comunicação de massa que assume parte da gestão da subjetividade enquanto cultural, social e
internalizada (MALVEZZI, 2004). Todos estes aspectos, dentre outros, tornam o ambiente ainda
mais instável.
A experiência do trabalho, entretanto, se tornou mais complexa porque deixa de estar
alocada em um espaço conhecido e visível, de relativamente fácil controle, para ser transferida para
o mundo caracterizado pelo hipertexto, pela informação ininterrupta, onde a ambigüidade e a
incerteza são exponenciais. Um dos desafios mais significativos do trabalhador, nesse cenário, é o
enfrentamento rotineiro das descontinuidades que o obrigam a um contínuo ajustamento, para o
qual lhe falta sensibilidade e apoio organizacional.
Com relação ao enfrentamento rotineiro das descontinuidades e a necessidade permanente
de mudança nas organizações contemporâneas, esta pesquisa faz uma análise do trabalho e da
subjetividade nas organizações contemporâneas por meio de um outra lógica organizacional.
.
12
Parte, todavia, do pressuposto de que existem, de acordo com Watson (2005), duas formas de
caracterizar discursivamente as atividades organizacionais e gerenciais: uma forma sistêmico-
controladora e outra processual-relacional. A primeira é proveniente de aspirações modernistas e
universalis
tas acerca da maximização do controle nas questões humanas, baseada na concepção de
que as organizações são grandes sistemas controláveis, mecânicos e orientados para resultados. A
segunda via discursiva, que se apresenta como alternativa, caracteriza a realidade organizacional
pelo foco em processos emergentes dos padrões das relações entre as pessoas, as organizações e o
ambiente social que as cerca.
Em se tratando da dimensão subjetiva do trabalhador, a forma discursiva processual-
relacional
fornece aos gestores uma nova possibilidade de entendimento da realidade
organizacional, promovendo assim, a construção de novas formas de gestão capazes de
proporcionar ao trabalhador uma identidade subjetiva emergente, não estanque e não contínua.
Levando em consideração as mudanças ocorridas no mundo do trabalho, bem como a
subjetividade nas organizações contemporâneas, a presente pesquisa está estruturada em cinco
partes
. A primeira explicita a contextualização do estudo, juntamente com a delimitação do tema, a
qu
estão de estudo, a justificativa, os objetivos, e a definição dos termos. A segunda parte é
composta pelo desenvolvimento teórico do tema, o qual se divide em três capítulos. O primeiro
capítulo
aponta as diferentes transformações ocorridas no mundo do trabalho, utilizando como
enfoque o
sistema de produção capitalista,
o qual
é
apresentado desde a
construção da ideologia que
o glorificou, até a discussão do esgotamento do modelo taylorista-fordista, que culmina com o
surgimento das novas concepções de trab
alho
nas organizações
contemporâneas.
O segundo
capítulo
apresenta uma discussão sobre o trabalho e a subjetividade nas organizações. A análise
teórica, parte do significado do trabalho e do conceito de subjetividade para posteriormente analisar
a influência dos principais modos de gestão das organizações contemporâneas, no que concerne a
13
subjetividade do trabalhador. O terceiro capítulo demonstra duas formas distintas de se caracterizar
discursivamente a organização e a gestão, enfatizando a subjetividade e as organizações como
processos emergentes, bem como, os desafios das práticas de gestão na contemporaneidade.
Na terceira parte encontra-se a metodologia, a qual explicita a classificação do estudo, o
plano de coleta, análise e interpretação de dados, bem como, as etapas a serem cumpridas no
desenvolvimento da dissertação. Na quar
ta
parte, encontra-se a apresentaç
14
1 CONTEXTUALIZAÇÃO DO ESTUDO
A contextualização do estudo expressa o tema abordado na pesquisa, a questão investigada,
a definição dos objetivos geral e específicos, bem como explicita as razões teóricas e práticas que
justificam a importân
cia de sua execução.
1.1
Definição do Tema
As transformações do mundo do trabalho e sua nova sintaxe no âmbito das organizações
têm chamado a atenção de vários pesquisadores, dentre eles Dejours (1988, 1995, 2000), Vergara
(2001), Freitas (2000), Davel e Vasconcelos (1996), Zanelli (2004), dentre outros, principalmente
por consistir em uma temática absolutamente atual e emergente. Para indicar com exatidão os
aspectos que caracterizam as relações de trabalho na atualidade, é necessário voltar um pouco na
his
tória, uma vez que, as formas gere
nciais
presentes nas organizações contemporâneas, carregam
na sua etiologia os princípios que outrora fundamentaram a Organização Científica do Trabalho.
Esta
, se baseava na parcelização das tarefas e na substituição dos métodos tradicionais de trabalho
por métodos científicos de produção. É fundamental, portanto, na concepção de Zanelli (2004),
analisar a maneira como se desenvolveu o processo de trabalho e suas transformações a partir de
15
sua organização científica, para compreender a lógica de subordinação da subjetividade dos
trabalhadores às condições de trabalho.
Os métodos tradicionais de trabalho, provenientes da experiência prática dos trabalhadores
no início do século XX, deveriam ser substituídos por processos de trabalho organizados
cientificamente. Esses tinham por objetivo controlar de forma precisa os tempos e movimentos.
Tudo aquilo que representasse um movimento lento e desnecessário deveria ser imediatamente
substituído por movimentos mais rápidos e eficientes. Para que isto fosse possível, era fundamental
buscar infinitamente novas formas e ferramentas que possibilitassem um método cada vez mais
eficiente de trabalho.
No primeiro princípio citado acima, o trabalho é assumido por um administrador, o qual
tabul
a, classifica, reduz sob a forma de regras, tabelas e fórmulas, todo o conhecimento tradicional
que anteriormente pertencia aos trabalhadores. Num segundo momento, ocorre a separação de
concepção e execução, na qual o trabalhador fica impedido de utilizar-se de sua potencialidade
cognitiva na execuçã
o de sua atividade de trabalho (DEJOURS, 1999).
Qualquer atividade cerebral, desse modo, deve ser realizada somente no departamento de
planejamento ou de projetos, jamais na oficina. E por fim, as tarefas e sua execução são preparadas
pelas gerências, as quais determinam como devem ser feitas e seu respectivo tempo de execução.
Posteriormente, o fordismo, de acordo com Merlo (2000), acrescenta um caráter inovador
em relação à proposta de taylorista, ou seja, introduz meios de abastecimento que se concretizam na
linha de produção. A criação da linha de produção, caracterizada pela cadeia de montagem,
oportuniza o desenvolvimento da proposta taylorista, uma vez que do ponto de vista do capital, a
induz na direção d
e uma espécie de perfeição.
16
As inovações, contudo, implementadas pelo fordismo, produziram grande impacto na
organização e gestão do trabalho existente até aquele momento. Entretanto, com relação à
concepção tradicional do trabalho, suas idéias continuaram a aprimorar os ideais do taylorismo,
intensificando inclusive suas características tais como, parcelamento máximo das tarefas, exigência
de eficiência, monotonia, pobreza de conteúdo. O trabalho é considerado literalmente como uma
mercadoria, assumindo d
e forma enfática seu caráter instrumental.
O modelo taylorista-fordista, entretanto, começou a mostrar sinais de enfraquecimento nas
décadas de 60 e 70, com o crescimento da concorrência internacional. Os efeitos dessa crise
acabaram anunciando algumas mudanças que hoje estão em pleno curso e apresentam reflexos no
mundo do trabalho (CHANLAT, 1996) . Estas mudanças criaram novas concepções de trabalho,
como, a polivalência dos trabalhadores, mudanças nos métodos de gestão e organização do trabalho,
mudança
s nos mercados de produtos que exigem qualidade e diferenciação. Esta nova sintaxe do
mundo do trabalho, termo citado por Malvezzi (2004), traz novos desafios para o trabalhador, pois
exige um incremento de esforço nas atividades mentais, além de maior responsabilidade e
qualificação.
Ante aos aspectos que foram anteriormente apresentados, compõe
-
se em objeto deste estudo o
tema
:
t
rabalho, subjetividade e gestão nas organizações contemporâneas.
1.1
Questão de Estudo
É possível afirmar, que o papel do trabalho na vida do indivíduo e da sociedade seja um dos
aspectos futuros mais incerto da sociedade contemporânea. O conhecimento sobre os processos
subjetivos implicados no trabalho tornou-se um instrumento identificado com o silogismo da
17
eficiência nas organiza
ções
(FREITAS, 2000). Porém, a forma pela qual a dimensão subjetiva é
gerenciada nas organizações, depende, basicamente, do modelo de gestão adotado e, principalmente
do paradigma organizacional dominante em determinado período. No decorrer da história do
trabalho, e mais precisamente, a partir do século XX, casos de trabalhadores em sofrimento físico e
psíquico tornaram-
se
algo constante dentro do ambiente organizacional. Se no início, o taylorismo
deixava claro o reordenamento da subjetividade no interior do processo produtivo, hoje esta
manipulação tornou-
se mais sutil, todavia, não menos nociva àquele que trabalha.
A simples descrição do trabalho como monótono, embrutecido, repetitivo, manual, pesado,
não mais conta da realidade que se encontra nas organizações contemporâneas. Outros valores e
exigências são requisitados, tais como, atitudes criativas, capacidade de iniciativa e desafio,
comportamentos saudáveis. Estes novos comportamentos deixam de ser alvos distantes para serem
requisitos concretos do ambiente de trabalho. Estas transformações suscitam novas formas de
gestão, as quais, ao elevar o grau de autonomia do trabalhador desenvolve mecanismos de controle
mais sutis, nos quais a dominação ocorre ao nível da subjetividade do trabalhador.
Diant
e do contexto descrito, a presente
pesquisa
apresenta
a seguinte pergunta: de que
forma as transformações ocorridas no mundo trabalho têm repercutido na subjetividade dos
trabalhadores das organizações contemporâneas?
1.3 Justificativa
.
Esta
pesquisa se propõe a estudar o trabalho, a subjetividade e as organizações
contemporâneas
, diferentemente dos demais estudos construídos na área organizacional. Seu
enfoque teórico seguirá a abordagem dos estudos críticos em administração. A abordagem crítica
18
promove
nas pessoas uma postura de vigilância, de reflexão e de questionamento sobre o que se
veicula no plano da teoria administrativa e da prática organizacional. Dessa forma, este projeto não
pretende gerar conhecimento em função da melhoria da performance econômica das organizações
.
Busca, portanto, uma crítica parcial, temporária e localizada no âmbito das práticas,
das
teorias e
dos
discursos que emergem no quotidiano das organizações.
Esta abordagem se legitima teoricamente, pois a grande maioria das organi
zações
contemporâneas são concebidas e administradas como se fossem estruturas e processos mecânicos,
com tempos previsíveis, com relações intersubjetivas controláveis, com estruturas e processos
permanentemente racionais. Pensar a organização, com base neste enfoque altamente racionalizado,
é o mesmo que não contemplar toda uma outra concepção que visualiza as organizações como um
espaço dinâmico e instável por natureza.
De outra forma, se
as práticas de gestão contemporâneas conseguem racionalmente contro
lar
e prever todos os aspectos inerentes à organização do trabalho, por que motivo então, o
aparecimento de inúmeros casos de adoecimento físico e mental no trabalho? De acordo
publicações
do (ISMA)
International Stress Management Association (2006
),
é possível observar
nitidamente um aumento nas estatísticas, no que concerne ao stress e às doenças relacionadas à
organização do trabalho.
A
originalidade
desta pesquisa, portanto, está contemplada pois, propõe uma lógica de
análise dos discursos que fundamentam as práticas organizacionais na atualidade. Apresenta, assim,
além de uma crítica parcial, a possibilidade de entendimento de uma lógica organizacional
alternativa, caracterizada como processual-relacional, a qual considera de forma substancial, a
dimensão subjetiva do ser humano e sua relação com o tipo de gestão desenvolvido nas
organizações
. Os estudos existentes na área, principalmente, os relacionados à subjetividade no
trabalho, estão divididos em conjuntos de modelos teóricos em saúde mental e trabalho, não
19
realizando uma análise específica sobre as transformações históricas do trabalho, os modelos de
gestão e a subjetividade do trabalhador. Por exemplo, Seligmann-Silva (1995) sugere três conjuntos
de modelos teóricos em saúde mental e trabalho, modelos que são utilizados por profissionais da
área da psicologia nas questões que envolvem o estuda da subjetividade do trabalhador.
Assim, no
primeiro conjunto, a autora desenvolve as teo
rias sobre estresse, no segundo
a análise é volta
da p
ara
o estud
o da psicodinâmica do trabalho e o terceiro está formulado com base no conceito de desgaste
mental.
Pode
-se citar também, autores como Nardi, Titoni e Bernardes (1997), Jacques (2003),
Davel (1996), os quais, contribuem de forma significativa para o campo da subjetividade no
trabalho. Como citado anteriormente, Tittoni (1997), propõe dois eixos constituídos por
abordagens teórico-metodológicas diferentes. No primeiro eixo, o autor se refere ao diagnóstico de
sintomas de origem "psi" e sua vinculação às situações de trabalho, com forte influência da
epidemiologia, especialmente como referência metodológica. No segundo, o foco não recai no
diagnóstico de doenças ocupacionais mas nas experiências e vivências dos trabalhadores sobre seus
cotidianos laborais e suas situações de adoecimento, influenciado pelos conhecimentos produzidos
pelas ciências sociais e pela psicanálise. Entretanto, o que se verifica no campo da subjetividade e
trabalho, na concepção de Nardi, Tittoni e Bernardes (1997, p.245) apud Jacques (2003), as
diferentes abordagens que "constroem o campo da subjetividade e trabalho, buscam as experiências
dos sujeitos e as tramas que constroem o lugar do trabalhador, definindo modos de subjetivação
relacionados ao trabalho". Do exposto, se as transformações do mundo do trabalho trouxeram uma
nova sintaxe aos processos organizacionais Malvezzi(2004), é certo pensar que uma outra gica
deve fundamentar as organizações contemporâneas, as quais se situam em um novo paradigma, no
qual, a subjetividade oc
upa
e deverá ocupar cada vez mais, conforme Davel (1996), Freitas (2000),
20
Dejours (1999), Chanlat (1999), um lugar de destaque nas discussões acerca dos modos de gestão
nas organizações contemporâneas.
Por fim, ressalta-se a importância da pesquisa e sua relação com a proposta do Programa de
Pós
-graduação Stricto Sensu em Desenvolvimento, o qual, tem como objetivos a geração e a
consolidação da pesquisa e da produção científica, através da formação de pesquisadores, de
docentes e de outros profissionais qualificados para atuação na área das Ciências Sociais Aplicadas,
tendo como referência metodológica a interdisciplinaridade e como temática fundamental a gestão e
as políticas do desenvolvimento e a intervenção na realidade regional, através da reflexão crítica e
da busca de alternativas que possam contribuir para a construção de um processo de
desenvolvimento apto a gerar maior inclusão social. Dessa forma, o presente estudo, está vinculado
a Área de concentração Gestão de Organizações e do Desenvolvimento
,
contribuindo com a linha
de pesquisa sobre
Gestão de pessoas e comportamento organizacional
.
1.4 Objetivos
1.4.1 Geral
Analisar
de que forma as transformações ocorridas no mundo
do
trabalho têm repercutido na
subjetividade dos trabalhadores das organizaç
ões con
temporâneas.
1
.4.2 Específicos
- Entender as transformações do mundo do trabalho, o significado do sistema capitalista e
seus diversos modos de produção;
21
- Compreender o significado do trabalho e da subjetividade para o sujeito contemporâneo, a
partir
de um resgate conceitual
-
histórico;
-
Res
gatar o conceito de subjetividade e sua relação com os métodos de gestão existentes nas
organizações.
- Analisar a relação existente entre as práticas de gestão das organizações contemporâneas e a
subjetividade do trabalhador propondo uma forma alternativa de caracterizar
discursivamente a organização e a gestão.
22
2 QUADRO TEÓRICO DE REFERÊNCIA
O quadro teórico da presente dissertação objetiva apresentar os estudos sobre o tema
realizado
s por outros autores. Realiza, portanto, uma revisão da literatura existente, no que concerne
não ao acervo de teorias e a suas críticas, como também a trabalhos realizados que as tomam como
referência.
2.1 As Transformações no Mundo do Trabalho
Este
tópico apresenta as diferentes transformações ocorridas no mundo do trabalho, utilizando
como enfoque o sistema de produção capitalista, o qual é apresentado desde a análise da construção da
ideologia que o glorificou, até a discussão do esgotamento modelo taylorista-fordista, que culmina com
o surgimento das novas concepções de trabalho contemporâneas.
2.1.1 O sistema de produção c
apitalista
A palavra capital provém do termo latino
capitale
e significa riqueza ou valores disponíveis,
o conjunto de bens produzidos pelo homem que particip
p
d
p
p
23
social, econômico e político, um sistema de produção baseado na propriedade privada dos meios de
produção, na organização da produção visando o lucro e empregando trabalho assalariado e no
funcionamento do sistema de preços. De acordo com Bobbio (1997, p. 141), o capitalismo pode ser
definido, como um conjunto de comportamentos individuais e coletivos, atinentes à produção,
distribuição e consumo dos bens .
Várias correntes teóricas, todavia, procuram explicar o que é o Capitalismo, entretanto, se
destacam especialmente duas, as quais, são representadas por Max Weber (1864-
1920)
1
e Karl
Marx (1818-1883). De acordo com Max Weber, citado por Cattani (1991, p. 8) existe Capitalismo
onde quer que a provisão industrial das necessidades de uma comunidade seja executada pelo
método de empresa, pelo estabelecimento capitalista racional e pela contabilidad
e do Capital .
Outro entendimento do Capitalismo, compreendido neste momento, como a segunda
corrente, é ressaltado por Karl Marx (1867) citado por Dobb (1987, p. 17), a qual parte de uma
perspectiva histórica, não definindo a essência do Capitalismo no u
so da moeda para financiar uma
série de trocas com objetivo de ganho, mas num determinado modo de produção .
O capitalismo como sistema de produção elaborado por Marx, não se limitava ao estado da
técnica, o qual era compreendido como o atual estágio de desenvolvimento das forças produtivas,
mas sim ao modo pelo qual se definia a propriedade dos meios de produção e às relações sociais
entre os homens que resultavam de suas ligações com o processo de produção (DOBB, 1987, p.
17).
O processo de produção, portanto, era controlado por uma classe que representava uma
pequena minoria, os detentores dos meios de produção. Por outro lado, havia o surgimento
1
Cattani aponta em seu livro O que é Capitalismo (1991), que Max Weber objetivou compreender o capitalismo como a
civilização do moderno mundo do ocidente. De acordo com o pensamento weberiano, o capitalismo moderno pode ser
caracterizado como um vasto complexo de instituições interligadas que trabalham com base mais na prática econômica
racional do que na especulativa. Para Weber, o objetivo do capitalismo é, sempre e em todo lugar, aumentar a riqueza
alcançada, aumentar o capital.
24
crescente de uma outra classe, a qual encontrava na venda de sua força de trabalho a única forma de
subsistê
ncia. No entendimento de Dobb (1987, p. 17):
O Capitalismo não era apenas um sistema de produção para o mercado
um sistema de
produção de mercadorias, como Marx o denominou -, mas um sistema sob o qual a própria
capacidade de trabalho se tornara uma mercadoria e era comprada e vendida no mercado
como qualquer outro objeto de troca.
O sistema de produção capitalista, nesse entendimento, se caracteriza, pela propriedade
privada, pela divisão social do trabalho e pela troca de sua capacidade de trabalho. O trabalhador
não possui mais a possibilidade de produzir os bens e utensílios de que necessita e sua
sobrevivência depende dos produtos que pode adquirir e que obviamente foram produzidos por
outrem. É nesta condição de privação dos meios de produção, que o trabalhador necessita vender
sua força de trabalho como uma mercadoria, que por sinal, é a única que este possui. É necessário
lembrar que esta situação, que põe de um lado o dono do capital e de outro os possuidores da força
de trabalho, não é um fato natural, mas resultado de um processo histórico anterc
25
A venda da força de trabalho por parte do trabalhador, contudo, caracteriza de forma
particular a dimensão política deste modo de produção, trata-se de uma mudança política
e
econômica substancial em relação aos modos de produção existentes até então, pois se está falando
de uma pressão exercida, não sobre escravos, mas sobre homens juridicamente livres, sobre
cidadãos (BOBBIO, 1997, p. 142-
143).
Por fim, as palavras citadas acima explicitam as
especificidades do mundo do traba
26
o objetivo de assinalar as principais diferenças entre os dois modelos, será destacado primeiro o
modelo de produção taylorista e posteriormente o modelo de produção fordista.
Em 1903, ocorre a publicação da principal e mais conhecida de Taylor, Princípios de
Administração Científica
(1986). Nesta obra, Taylor define que o principal objetivo dos sistemas de
administração é assegurar o máximo de prosperidade ao patrão e, ao mesmo tempo, o máximo de
prosperidade ao empregado. Defendia, dessa forma, que a prosperidade do empregador não pode
existir de maneira contínua, se não for acompanhada da prosperidade do empregado e vice-
versa.
Defendia a hipótese de que era necessário dar ao trabalhador o que ele mais deseja
altos salários
e ao empregador também o que ele realmente deseja
baixo custo de produção.
No entendimento de Borges e Yamamoto (2004), Taylor nega, portanto, a dependência do
processo de acumulação do capital e de lucratividade ao processo de exploração do trabalhador
baseado na exploração da
mais
-valia relativa
, há uma conciliação entre trabalho e capital.
Suas concepções são fundamentadas essencialmente na análise da vadiagem no trabalho.
Para Merlo (1999, p. 272), Taylo
r constatou por meio de seus estudos que:
Ainda que subordinados à maquinaria e a seu ritmo, restavam ainda, aos trabalhadores,
diversas alternativas quanto à maneira de realizar uma tarefa determinada e de se
posicionar, os instrumentos a escolher, à maneira de se mover, etc. Cada um desses
aspectos retirava uma parcela de conhecimento e de poder ao nível de gestão do trabalho,
impondo por isso mesmo, limites à sua vontade de intensificação (MERLO, 1999, p. 272).
O que Taylor verificou foi que, os trabalhadores detinham enorme controle sobre seu próprio
trabalho, apesar de toda maquinaria disponíveis na época. Assim, muitos trabalhadores exerciam
suas atividades a partir de seus próprios conhecimentos empíricos, porém, este tipo de
comportamento tinha reflexos diretos na produção, devido ao fato que, muitos trabalhadores não
empregarem todo o seu esforço disponível naquele momento para o trabalho, não assegurando,
portanto, o máximo de prosperidade para o patrão, um de seus princípios mais importantes.
27
Os
métodos tradicionais de trabalho, provindos da experiência prática dos trabalhadores,
dessa forma, deveriam ser substituídos pelos padrões dos métodos científicos, os quais tinham por
objetivo controlar de forma precisa os tempos e movimentos. Tudo aquilo que representasse um
movimento lento e desnecessário deveria ser imediatamente substituído por movimentos mais
rápidos e eficientes. Para que isto fosse possível, era fundamental buscar infinitamente novas
formas e ferramentas que possibilitassem um métod
o cada vez mais eficiente de trabalho.
Para que isso fosse possível, Taylor propõe, no entendimento de Borges e Yamamoto (2004),
a máxima decomposição de cada tarefa em suas operações mínimas, bem como, a cronometragem
de cada movimento do operário na exec
ução das operações que lhe cabem. Isto é possível, segundo
Moraes Neto (1989, p. 32), devido a dissociação do processo de trabalho das especialidades dos
trabalhadores, a separação de concepção e execução e a utilização do monopólio do conhecimento
para
controlar cada fase do processo de trabalho e seu modo de execução .
No primeiro princípio citado acima, o trabalho é assumido por um administrador, o qual
tabula, classifica, reduz sob a forma de regras, tabelas e fórmulas, todo o conhecimento tradicional
que anteriormente pertencia aos trabalhadores. Num segundo momento, ocorre a separação de
concepção e execução, onde o trabalhador fica impedido de utilizar
-
se de potencialidade cerebral na
execução de sua tarefa.
Qualquer atividade cerebral, desse modo, deve ser realizada somente no departamento de
planejamento ou de projetos, jamais na oficina. E por fim, as tarefas e sua execução são preparadas
pelas gerências, as quais determinam como devem ser feitas e seu respectivo tempo de execução.
A gerência científica moderna, baseada na noção de tarefa planeja, portanto, a atividade de
cada operário com no mínimo um dia de antecedência, prescrevendo-lhe instruções escritas
completas, pormenorizando a tarefa que deve executar, bem como os instrumentos que deverão ser
28
utilizados na realização do trabalho. Moraes Neto (1989, p. 33), considera que o método de
produção t
aylorista:
[...] caracteriza-se como uma forma avançada de controle do capital (com o objetivo de
elevar a produtividade do trabalho) sobre processos de trabalho nos quais o capital
dependia da habilidade do trabalhador, seja em funções simples ou complexas. De que
forma? Através do controle de todos os tempos e movimentos do trabalhador, ou seja, do
controle (necessariamente despótico) de todos os pa
ssos do trabalho vivo.
Em síntese, a administração científica ao mesmo tempo em que propõe o trabalho árduo
como sinônimo de prosperidade, tanto para o patrão quanto para o operário, intercede de forma
direta na implementação de um método laboral que intensifica surpreendentemente o processo de
exploração e alienação do trabalhador. Ela propõe e realiza a cisão entre o pensamento e a
execução, entre o sujeito e o objeto, ampliando a mais-valia relativa. Do mesmo modo, presentifica
através da supervisão restrita, a concepção de um trabalho altamente hierarquizado e/ou
subordinado, fundamentado em uma visão dualista do ser humano.
O modelo de produção taylorista foi ressaltado até este momento de forma separada do
modelo de produção fordista. Apesar de se estruturem a partir dos mesmos princípios, existem
algumas diferenças importantes, as quais serão destacadas a seguir. Esta forma de abordagem dos
modelos de produção foi adotada para identificar de maneira paralela e independente as inovações
tecnológicas e
econômicas que cada modelo representou.
O modelo de produção fordista foi desenvolvido pelo engenheiro Henri Ford no início do
século XX. Nesta época, a produção em larga escala, marcava presença apenas em fábricas de
parafusos e utensílios dos mais diversos gêneros. Diante deste quadro, o sistema de produção
fordista, baseado na racionalização e maximização da organização do trabalho, aplica de forma
contumaz a sua teoria na prática, porém em outro contexto, qual seja, a cidade de Detroit nos
Estados Unido
s, e em outro setor, a indústria automobilística já eletrificada.
29
No entendimento de Moraes Neto (1989, p. 35):
O fordismo, enquanto processo de trabalho organizado a partir de uma linha de montagem,
deve ser entendido como desenvolvimento da proposta taylorista. Em que sentido se trata
de um desenvolvimento? No sentido de que se busca o auxílio dos elementos objetivos do
processo (trabalho morto), no caso a esteira, para objetivar o elemento subjetivo (trabalho
vivo). Essa caracterização do fordismo como um desenvolvimento do taylorismo é
amplamente disseminado na literatura.
A proposta de Ford acrescenta um caráter inovador em relação à proposta de Taylor, ou seja,
introduz meios de abastecimento que se concretizam na linha de produção. A criação da linha
de
produção, caracterizada pela cadeia de montagem, oportuniza o desenvolvimento da proposta
taylorista, uma vez que do ponto de vista do capital, a leva na direção de uma espécie de perfeição.
Por meio da linha de produção, de acordo com Moraes Neto, o fo
rdismo:
[...] fixa o trabalhador num determinado posto de trabalho, com as ferramentas
especializadas para execução dos diferentes tipos de trabalho, e transportar através da
esteira o objeto de trabalho em suas diferentes etapas de acabamento, até sua con
formação
como mercadoria. [...] o fordismo caracteriza o que poderíamos chamar de socialização da
proposta de Taylor, pois, enquanto este procurava administrar a forma e execução de cada
trabalho individual, o fordismo realiza isso de forma coletiva, ou seja, a administração pelo
capital da forma de execução das tarefas individuais se de uma forma coletiva, pela via
da esteira (1989, p. 36).
Esta forma coletiva de execução das tarefas produz várias mudanças em toda cadeia
produtiva. É possível associar, desse modo, tal sistema de produção à forma de racionalização que
define um modo de vida, a qual
necessita
como observa Gramsci (1974, p.
146
-168) de um novo
tipo humano, em conformidade com o tipo de trabalho e de processo produtivo (...) uma mão de
obra
estável, um conjunto humano (o trabalho coletivo) (...) uma máquina que não se deve
desmontar nem avariar demasiadas vezes nas suas peças individuais .
Não se deve avariar nem desmontar a máquina, pois isto significa a paralisação de toda
cadeia produtiva, que o sistema de produção fordista fundamenta-se na linha de montagem
acoplada à esteira rolante, que evita o deslocamento dos trabalhadores e mantém um fluxo contínuo
30
e progressivo das peças e partes, permitindo redução dos tempos mortos, e, portanto da porosidade
(CATTANI, 1999, p. 90).
A fábrica de Ford, entretanto, antes de 1913, ou seja, antes da criação da linha de montagem
adaptada à esteira rolante, era muito diferente em todos os aspectos possíveis, em relação à fábrica
adaptada a esteira rolante. Nesse sentido, De Masi (1999, p. 134-135), descreve que, antes de 1913
a fábrica era:
[...] um grupo restrito de operários altamente especializados, que construíam carros
utilitários, executavam trabalho experimental, realizavam trabalhos mecânicos de alta
qualidade, desenvolviam estudos de modelismo. Abaixo e em torno desses especialistas
os melhores do mundo , dizia Ford com orgulho
trabalhava um imenso aglomerado de
serventes imigrantes, encarregados de tarefas de valor ínfimo que requeriam poucos dias ou
às vezes
poucas horas para serem executadas. Esses trabalhadores passavam a maior
parte do tempo dando voltas no barracão em busca dos componentes e peças para montar
um veículo (o modelo T compunha-se de cinco mil peças) e cada um gritava em sua
língua. Em suma, era uma babel de raças, tarefas e idiomas.
A linha de montagem, a partir desse momento, evita o deslocamento do trabalhador,
colocando ordem num ambiente altamente desorganizado, barulhento e confuso. Esta organização
oportuniza
um maior aumento da produtividade, bem como, a eliminação de vários gestos e
movimentos desnecessários à produção. De acordo com De Masi (1999, p. 135):
A linha de montagem evita que o trabalhador se desloque ou se movimente para pegar um
componente, por que leva as peças ao lugar preciso onde deve utilizá-las. Desse modo,
grande parte do tempo antes perdido pelos operários é incorporado na linha de montagem.
O trabalho se parceliza posteriormente e perde qualidade. A produtividade cresce
visivelmente. Onde enlouquecia a desordem das coisas, o perambular e o vozerio dos
homens, agora reinam, soberanos, a precisão dos gestos, o silêncio das pessoas, a força das
máquinas.
A fábrica automatizada de Ford, entretanto, além de ser uma obra coletiva, comparada a
uma catedral como ele mesmo ressaltou, foi também, (pela via da automação), uma técnica de
organização e de realização do trabalho, onde os métodos de manipulação e tratamento das
matérias
-primas, bem como o controle na fabricação, referente ao funcionamento das máquinas e o
31
condicionamento do produto acabado, se integram num único sistema, permitindo o máximo de
economia do trabalho físico e intelectual do ser humano.
As inovações, contudo, implementadas por Ford, produziram grande impacto na
organização
e gestão do trabalho existente até aquele momento. Entretanto, com relação à
concepção tradicional do trabalho, suas idéias continuaram a aprimorar os ideais de Taylor,
intensificando inclusive suas características tais como, parcelamento máximo das tarefas, exigência
de eficiência, monotonia, pobreza de conteúdo. O trabalho é considerado literalmente como uma
mercadoria, assumindo de forma enfática sue caráter instrumental.
2.1.3 Do Esgotamento do Modelo Taylorista
-
Fordista às novas
Concepções de Trabal
ho
O modelo taylorista-fordista começou a mostrar sinais de enfraquecimento nas cadas de 60 e
70, com o crescimento da concorrência internacional. Os efeitos dessa crise acabaram anunciando
algumas mudanças que hoje estão em pleno curso e apresentasm reflexos no mundo do trabalho. Estas
mudanças criaram novas concepções de trabalho como, por exemplo, polivalência dos trabalhadores,
mudanças nos métodos de gestão e organização do trabalho, mudanças nos mercados de produtos que
exigem q
ualidade e diferenci
ação
(
DRUCK
,1999;
MENDES
1997).
Um fator que merece atenção, quando se trata de pensar sobre as novas concepções de trabalho,
é a pequena participação dos trabalhadores nas práticas e políticas de gestão, mesmo nas organizações
ditas mais inovadoras. Há uma excessiva preocupação com o controle do trabalho que, o qual de acordo
com Carvalho (1994, p. 140) se reflete na adoção de formas rígidas de alocação de tarefas, desenho de
postos de trabalho e hierarquização do conhecimento sobre o trabalho e que acaba limitando os
processos de aprendizagem e inovação global.
32
Também se verifica, no contexto atual do mundo do trabalho, que aliada à redução de trabalho,
ocorre a contratação de trabalhadores por hora, intensificação do trabalho e o uso de horas extras. A
lém
destes aspectos, observa
-
se a elevada rotatividade dos trabalhadores nos postos de trabalho.
Outra tendência é a flexibilização dos postos de trabalho, a qual possui reflexos negativos na
terceirização e na configuração dos subempregos. É possível também verificar, que o discurso
organizacional dominante, tem incorporado experiências de empresas japonesas como: a exigência de
qualidade de serviços e mudanças nas práticas gerenciais cuja eficiência deve estar ligada à segundo
Mendes (1997, p. 58) a integração entre como fazer e os resultados, bem como a descentralização das
decisões, autonomia, flexibilidade hierárquica, criatividade, incentivo à participação, valorização e
qualificação dos trabalhadores .
O novo cenário no mundo do trabalho, oriundo das transformações decorrentes das mudanças
tecnológicas, estruturais e econômicas são analisadas por Veloso et al (1999), o qual recorda que esta
realidade tem repercutido nos modelos organizacionais e, também, nos trabalhadores na perspectiva da
organização
do trabalho, das relações de trabalho e da saúde. Ao analisarem esta nova realidade do
mundo do trabalho e su
as conseqüências, Veloso
et al
(1999, p.
59) destacam que:
A gestão de recursos humanos, portanto, ganha uma conotação estratégica, ao mesmo temp
o
em que complexifica. Ela passa a servir como forma de canalização da produção e da força de
trabalho para a construção de uma empresa voltada para a inovação, flexibilidade, criatividade
mudança e renovação, garantindo a competitividade no contexto instável. Ao mesmo tempo,
-se na difícil tarefa de ter que lidar com aspectos tais como trabalho em equipe, subjetividade
do trabalhador, cultura organizacional, dentre tantos outros, visando a cons
ecução dos objetivos
empresaria
.
Por fim, com o esgotamento do modelo de produção taylorista-fordista, a tradicional divisão do
trabalho é modificada, pois os dois planos concepção-programação e de execução podem estar juntos
num mesmo plano de trabalho. Neste sentido, este trabalho além de gerar sobrecarga, especialmente, de
natureza cognitiva, poderá levar o trabalhador a ficar cada vez mais isolado do grupo de trabalho. Esta
nova sintaxe do mundo do trabalho ocasiona um incremento nas atividades de esforço físico, estático,
33
visuais mentais, além de exigir mais responsabilidade e
qualificação.
Todos estes aspectos repercutem
de forma direta na dimensão subjetiva do trabalhador, a qual será abordada a seguir.
2.2. Trabalho e Subjetividade nas Organizações
Este tópico apresenta uma discussão sobre o trabalho e a subjetividade nas organizações, A
análise teórica parte do significado do trabalho e do conceito de subjetividade para posteriormente
analisar a influência dos principais modos de gestão das organizações contemporâneas, no que
concerne a subjetividade do trab
alhador.
2.2.1 O Significado do Trabalho
Sem trabalho, a vida apodrece -; mas quando o trabalho não tem alma, a
vida mingua e morre .
Albert Camus
A palavra trabalho, segundo Lafer (1979, p. 29), se origina, do baixo latim
tripalium
,
derivativo de tres + palus (três paus), aparelho destinado a sujeitar cavalos que não queriam se
deixar ferrar.
Tripaliare
, trabalhar, significava torturar com o
tripalium
, que era um instrumento de
três paus .
O mesmo autor considera que ainda outra significação provinda do baixo latim qual seja,
o
trabaculum
, do latim
trabs
trave
, viga usada também para ferrar animais. Seja como for, trata-
34
se da viga que todos nós carregamos na penosa e sisífica
1
labuta de lidar com a necessidade
(LAFER, 1979, p. 30
-
31).
Albornoz (1994, p. 9-10) entende que, no latim a
tripalium
se liga ao verbo vulgar
tripaliare
, que significa justamente torturar . A
tripalium,
além de ser usada como instrumento de
tortura era utilizada como instrumento agrícola no cultivo de cereais. A autora designa ainda outra
significação para o trabalho: a de realizar uma obra que te expresse, que reconhecimento social
e permaneça além da tua vida; e a de esforço rotineiro e repetitivo, sem liberdade, de resultado
consumível e incômodo inev
itável .
A origem etimológica referente a
tripalium,
conforme Jacques (2003, p. 100-101), reforça o
significado contraditório do trabalho: por um lado, expressão do poder humano de transformar a
natureza através de uma ação significada e por outro, expressão de seus limites enquanto humano,
visto a necessidade de labutar para viver .
Outra referência importante quanto ao significado do trabalho é ressaltada por Arendt
(1999), em seu livro a Condição Humana. A autora inclui a noção de vida activa, na qual
se
encontram presentes três atividades humanas fundamentais: o labor, o trabalho e a ação. Estas são
atividades fundamentais, porque cada uma delas corresponde a uma das condições básicas
mediante as quais a vida foi dada ao homem na Terra (1999, p. 15). Diante disso, pode-
se
entender, em relação ao trabalho, que as três atividades da vida ativa representam,
1
Sísifo cometeu o pecado de transpor as colunas de Hércules do conhecimento, amar a vida, competir com os deuses.
Pela mitologia, sabemos que ele revelou aos homens os segredos divinos, ousou acorrentar a morte, nutriu uma
arrasadora paixão pela beleza da existência. Aos olhos dos gregos, aterrorizados pelo progresso tecnológico, um herói
tecnologicamente avançado e intelectualmente refinado como Sísifo deveria permanecer abominável e perigoso. Daí a
pedagógica punição
aparentemente rude e totalmente encerrada em uma dolorosa materialidade. Os deuses escreveu
Camus, tinham condenado Sísifo a transportar um rocha, sem descansar, até o alto de uma montanha, de onde a pedra
voltava a rolar pela ação do próprio peso. Eles tinham pensado
não sem razão
que não existe punição mais terrível
do que um trabalho inútil e sem esperança , MASI, Domenico De. O futuro do trabalho: fadiga e ócio na sociedade
pós
-
industrial.
Rio de Janeiro: José Olympo, 1999, p. 331.
35
respectivamente as dimensões físicas, psíquica e social do ser humano enquanto ser ativo.
Verificando, portanto, o entendimento de Arendt (1999, p.
15) pode
-
se perceber que:
O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano, cujo
crescimento espontâneo, metabolismo e eventual declínio têm a ver com as necessidades
vitais produzidas e introduzidas pelo labor no processo da vida. A condição humana do
labor é a própria vida. O trabalho é a atividade correspondente ao artificialismo da
existência humana, existência está não necessariamente contida no eterno ciclo vital da
espécie, e cuja mortalidade não é compensada por este últ
imo
. O trabalho produz um
mundo artificial de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural. Dentro de
suas fronteiras habita cada vida individual, embora nesse mundo se destine a sobreviver e a
transcender todas as vidas individuais. A condição humana do trabalho é a mundanidade.
A
ação
,
única atividade que se exerce diretamente entre os homens sem a mediação das coisas
ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao fato de que homens, e
não o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condição humana
têm alguma relação com a política; mas esta pluralidade é especificamente a condição
não
apenas a
conditio sine qua non
, mas
a conditio per quan
de toda vida política.
O trabalho, neste sentido, se constituiria na relação estabelecida entre o homem e as coisas.
A ação, na relação do ser humano com a esfera pública, local no qual se encontra a cidadania. É por
meio desse conceito, que é possível pensar o significado do trabalho em relação à cidadania, uma
ve
z que, realizado com autonomia e liberdade é capaz de permitir o agir, de possibilitar a existência
do lugar de sujeito, daquele que o exerce.
Na concepção de Arendt (1999), o trabalho significa a possibilidade de superação e
transcendência que permitiria a ocupação do espaço público e dotaria o ser humano da capacidade
de liberdade e ação política. Para alcançar este ideal, seria necessário superar o trabalho enquanto
apenas sobrevivência e massificação.
Outro modo de significar o trabalho pode ser observado por meio do imaginário da
sociedade ocidental, a qual conserva a tradição judaica
cristã. Esta tradição, de acordo com
Jacques (2003, p.101), por meio do Gênesis, confere ao trabalho o significado de castigo e
punição, imposto ao homem quando de sua expulsão do paraíso (paraíso também definido pela
ausência de trabalho) . O trecho bíblico do Gênesis (cap.três, v.17), que trata do pecado original ,
36
expressa a seguinte mensagem: Porquê ouviste a voz de sua mulher e comeste do fruto da árvore
que eu lhe havia proibido comer, maldita seja a terra por tua causa. Tirarás dela com trabalhos
penosos o teu sustento todos os dias de tua vida .
É por meio de Ítalo Calvino, entretanto, que o trabalho adquire um significado atrelado à
concepção de predestinação. Na concepção de Albornoz (1994, p. 53), o reformador francês que
viveu de 1509 a 1564, cujas idéias encontraram grande afirmação em Genebra, na Suíça do século
XVI, o trabalho como virtude se associa estranhamente à idéia de predestinação .
Se, pela preferência divina, alguns estão predestinados a ter êxitos, e outros, a ficar na
miséria, contudo é vontade de Deus que todos trabalhem, e é pelo trabalho árduo que alguém pode
chegar ao êxito, e assim realizar a vontade de Deus, que o inclui entre os eleitos. Se for vontade de
Deus que todos trabalhem, é contrário a ela que os homens cobicem os frutos de seu trabalho: eles
devem ser reinvestidos para permitir e incentivar mais trabalho (ALBORNOZ, 1994).
Com a Reforma Protestante, o trabalho aparece como a base e a chave da vida, embora
persistindo a idéia do trabalho como conseqüência do pecado, segundo a tradição judaico-
cristã.
Todo o homem capacitado para trabalhar tinha o dever de fazê-lo, pois tal ato implicava servir a
Deus, sendo o ócio considerado um
a evasão antinatural e perniciosa.
O trabalho desse modo significa uma virtude, uma obrigação, como um caminho religioso
para a salvação. A profissão é vista, como vocação, associando
-
se ao trabalho, como virtude, à idéia
de predestinação. Esta idéia, entretanto, culminou por arrastar o ser humano para o ritmo de
trabalho moderno, visto que, considerava a necessidade de uma ação racional e metódica sobre o
mundo, ação que se baseava nos ideais iluministas
2
, os quais, forneceram a indústria e
2
O termo Iluminismo indica um movimento de idéias que tem suas origens no século XVII (ou até talvez nos séculos
anteriores, nomeadameamente no século XV, segundo interpretação de alguns historiadores), mas que se desenvolve
especialmente no século XVIII, denominado por isso, o século das luzes . Esse movimento visa estimular a luta da
razão contra a autoridade, isto é, a luta da luz contra as trevas . Daí o nome Iluminismo, tradução da palavra alemã
37
respectivament
e ao trabalho, o paradigma filosófico, o qual lutava contra as emoções, o
irracionalismo e a superstição que nas comunidades rurais orientavam as ações humanas mais do
que o raciocínio ou a ciência (DE MASI, 1999, p. 206). Esta sociedade, portanto, assimila a
positividade moral conferida ao trabalho em oposição à negatividade associada ao ócio, contudo
não rompe com a tradição judaico
-
cristã de relacioná
-
lo ao sofrimento.
A sociedade dessa forma, de acordo com Maya (apud JACQUES, 2003, p. 101), passa a
exaltar o trabalhar e a pregar valores como diligência, temperança, parcimônia, poupança: a
ociosidade torna
-se um mal e o trabalho se impõe como dignificante .
Por este viés, torna-se possível resgatar o significado do trabalho conforme citada por
Dejours
(1988, p. 33). Este destaca a ideologia da vergonha, comportamento realizado
principalmente pelo subproletário, onde a doença corresponde sempre à ideologia da vergonha de
parar de trabalhar . O trabalho nesta perspectiva atravessa profundamente a vivência da doença:
doença
-
avesso
-
do
-trabalho, a tal ponto que a falta de trabalho torna-se, em si, um sinônimo de
doença .
O trabalho e sua realização significam a representação da saúde, pois, segundo o próprio
Dejours (1988, p. 33), quando alguém diz para um cara que ele esmuito velho para trabalhar ou
que ele não é mais capaz de continuar, é como se ele estivesse doente .
Conclui
-se assim, que a ideologia da vergonha do subproletário, apontada por Dejours não
visa à doença enquanto tal, mas a doença enquanto impedimento ao trabalho (1988, p. 33). Esta
ideologia questiona a impossibilidade de trabalhar e não o quê o trabalho produziu enquanto
Aufkärung
, que significa aclaração, esclarecimento, iluminação. O Iluminismo é, então, uma filosofia militante de
crítica da tradição cultural e institucional; seu programa é a difusão do uso da razão para dirigir o progresso da vida em
todos os aspectos . Norberto Bobbio
,
Dicionário de Política (1997, p. 605).
38
doença. Então, não poder trabalhar devido ao impedimento do exercício profissional pela via do
esgotamento físic
o ou mental, produz sofrimento e desequilíbrios na vida daquele que sofre.
Na concepção de Codo (1993, p. 187) a vida dos homens não deve ser reduzida apenas ao
trabalho, mas, por outro lado, não pode ser compreendida em sua essência. O trabalho faz parte da
vida do homem e onde quer que estejam as causa do sofrimento dos homens, estarão suas próprias
vidas . O trabalho significa, neste contexto, um fator de equilíbrio e desenvolvimento, talvez não
importando que tipo de trabalho e em quais condições é rea
lizado.
É imprescindível, contudo, que o trabalho seja analisado juntamente com a época histórica
em que se insere. Compreender seu significado dentro de um espaço social, de uma época
específica, é fundamental, pois, seu valor encontra-se intimamente relacionado aos valores
culturais, bem como, pela maneira que está organizado.
É necessário, entretanto, ter claro que, historicamente as relações de homens e mulheres com
o trabalho sofreram transformações, e foi por meio do sistema de produção capitalista
que
ocorreram as mudanças mais significativas em relação ao seu significado. Antigamente, quanto
mais rica menos a pessoa trabalhava, podendo dedicar-se a si, à família e aos amigos; hoje, porém,
quanto mais rico mais o homem trabalha, descuidando de si e dos outros. O trabalho passou de
castigo a privilégio (DE
MA
SI, 1999, p. 13), mas constitui-se, como um ato imprescindível para o
ser humano, pois, mesmo que seja executado sob condições precárias, é capaz de representar em
última instância, sua própria
sobrevivência.
Por fim, é preciso questionar o significado do trabalho quando este passa a simbolizar
sofrimento, doenças e fator de desequilíbrio, pois, dessa forma, sacrifica a capacidade e a potência
do agir do trabalhador, impedindo seu acesso à cidad
ania.
39
Seguindo por este raciocínio, o próximo tópico irá propor o conceito subjetividade e
trabalho com o objetivo de ressaltar a função psicológica deste. A função psicológica compreende a
possibilidade de o homem encontrar pelo trabalho a expressão criativa de seus conteúdos
emocionais, subjetivos, produzidos ao longo de sua constituição psíquica e assim ser capaz de (re)
significar
-
se ou (re) organizar
-
se frete à mesma.
2.2.2 O Conceito de Subjetividade
Nenhum trabalho é sórdido quando significa maior independência; a mesma atividade
pode ser sinal de servilidade se o que estiver em jogo não for a independência pessoal, e
sim a mera sobrevivência, se não for uma expressão de soberania, mas de sujeição à
necessidade.
(ARENDT, 1989, p. 93)
.
Para pensar o conceito de subjetividade é necessário antes de tudo, entender que o trabalho
não é redutível a uma atividade de produção no mundo objetivo, mas sim, de que este sempre
coloca à prova a dimensão psicológica do trabalhador, sua subjetividade, da qual, esta última sai
acrescentada, enaltecida, ou ao contrário, diminuída, mortificada. Trabalhar, nesse sentido, no
entender de Dejours (2004), constitui para a subjetividade, uma provação que a transforma. Desse
modo, trabalhar não é somente produzir, é também (trans)
formar
a si mesmo e, no melhor dos
casos, é uma ocasião oferecida à subjetividade para se testar e até mesmo para se realizar.
A subjetividade é entendida por esta via, como aquilo que é fundamental ao ser humano e
que permanece subjacente (DAVEL; VERGARA, 2001). É a própria história de vida do
trabalhador, suas aspirações, conquistas, derrotas, angústias, desejos. É da mesma forma, sua
interio
ridade, sua espontaneidade, seus pensamentos, condutas, ações, e em última instância, a
própria personalidade do sujeito, nas palavras de Arendt (1989) sua própria condição humana.
40
Trabalhar, portanto, não é, como se costuma acreditar, ficar simplesmente submetido ao
tempo físico, a jornada de trabalho. O trabalho, porém ultrapassa qualquer limite dispensado ao
tempo de trabalho, ele movimenta a personalidade por completo, vai muito além da simples, mas
também complexa possibilidade de manutenção das necessidades básicas dos trabalhadores, em
suma ele representa a possibilidade efetiva de organização subjetiva.
O trabalho ocupa um lugar muito mais importante na luta contra a doença do que se
supunha até agora nas concepções científicas (...) a normalidade é fundamentalmente
enigmática. Ela nunca é dada com um presente da natureza: ela supõe uma construção feita
por cada um dos sujeitos, uma luta incessante para conquistar o que se perde, refazer o que
se desfaz, reestabilizar o que se desestabiliza. (...) de
scobrem
-se habilidade, inteligência e
astúcia (...) em inventar estratégias defensivas que lhes permite viver da normalidade.
(DEJOURS, 1992, p.
165).
O trabalhador na execução de suas tarefas interage não apenas com seu ofício, mas com suas
necessidades psicológicas, suas aspirações, motivações, desejos, necessidades. Todos estes
elementos, e ainda sua história de vida passada e bem como as exigências impostas pelo ambiente
de trabalho estão em constante interação. Dessa forma, o trabalho pode ser fonte de prazer como de
desprazer, dependendo, portanto, da forma em que está organizado. É neste sentido, que se faz
necessário verificar o modelo de gestão que organiza as relações de trabalho e sua relação com a
subjetividade. Inúmeros autores, dentre eles, Dejours (1992, 1996), Merlo (1999), Davel e Vergara
(2001) Codo (2003) defendem a premissa de que, a organização do trabalho pode influenciar
diretamente na subjetividade do trabalhador, pois é ela que permite vias de descarga psíquica
Dejours (1992) ao trabalhador, fazendo com que o trabalho se torne um meio de relaxamento a tal
ponto de o trabalhador sentir
-
se melhor após a conclusão do que antes de ter começado a tarefa.
Admitindo, portanto, que a organização do trabalho pode ter íntima relação com a
subje
tividade, e sabendo que ela pode ser diferente dependendo da realidade cultural, social e
econômica em que está inserida, então, é preciso, neste momento, verificar o que são e quais os
41
principais métodos de gestão que fundamentam os diferentes modos de organização de trabalho nas
organizações contemporâneas.
Os métodos de gestão influenciam o planejamento, a execução e a avaliação, permeando de
forma geral, todas as etapas do processo produtivo. São elas que fornecem toda a orientação
necessária ao trabalhador na execução de sua tarefa. O estudo científico dos métodos de gestão,
iniciou
-se de forma mais concreta com a Organização Científica do Trabalho -
O.C.T., proposta por
Taylor no início do século XIX. Desta época até os dias de hoje, o mundo do trabalho passou por
significativas transformações, todavia, é possível perceber que na maioria dos métodos de gestão
presentes nas organizações contemporâneas, ainda são muito fortes concepções administrativas
fundamentadas nos pioneiros ideais da Organização Científica do Trabalho. Verifica-se que estes
pressupostos científicos, ainda continuam produzindo seus efeitos, em muitos casos nocivos no que
concerne a subjetividade do trabalhador, como visto anteriormente acima. Nesta via de raciocínio, o
próximo tópico, ressaltará os principais métodos de gestão das organizações contemporâneas e por
este viés verificará, de que forma estes influenciam de maneira direta na subjetividade do
trabalhador.
2.2.3 A Relação entre as Práticas de Gestão das Organizações Contemporâneas e a
Subjetividade do Trabalhador
Os modelos atuais de gestão, na concepção de Chanlat (1996), podem ser compreendidos
como estratégias administrativas adotadas pelas organizações, a fim de colocarem seus objetivos em
prática. Tais modelos podem ser classificados em: tayloriano e neotayloriano, tecnoburocrático,
excelência e participativo. A seguir, será discutida a relação existente entre os modelos de gestão
42
utilizados pelas organizações contemporâneas e sua relação, no que concerne a subjetividade do
trabalhador.
-
O modelo de gestão tayloriano e neotayloriano
Este modelo de gestão inclui o fordismo, o qual deve ser entendido como um
desenvolvimento da proposta taylorista, enquanto processo de trabalho organizado a partir de uma
linha de montagem, que busca o auxílio dos elementos objetivos do processo (trabalho morto), no
caso a esteira, para objetivar o elemento subjetivo (trabalho vivo).
Possui como base estruturante os princípios científicos desenvolvidos no início do século
XX por Taylor (1986), por meio da Organização Científica do Trabalho. Refere-se igualmente, ao
controle do trabalho pelo capital, por meio do controle das decisões que são tomadas no curso do
trabalho e caracteriza-se, fundamentalmente, pela separação das funções de execução, na
fragmentação, na especialização das tarefas, no controle de tempos e movimentos e na remuneração
por desempenho (CATTANI, 1999, p. 246). O direito de expressão neste modo de gestão é
suprimido, juntamente com a extrema rigidez de horários, o que confere um enorme controle do
trabalhador pela organização do trabalho. Por esta via, de acordo com Chanlat (1996, p. 120):
[...] o ser humano é encarado somente como uma pessoa dotada de energia física e
muscular e movido unicamente por motivações de ordem econômica, a empresa é
considerada como uma máquina e os homens e mulheres como engrenagens dessa máquina
de produção (...) é o universo por excelência do cálculo, da medida da padronização das
tarefas com a finalidade de reduzir custos, aumentar os lucros e o controlar o processo de
trabalho.
Esta padronização, não é encontrada somente na indústria, uma vez que está disseminada em
todos os setores da sociedade e, principalmente, no setor terciário. Apesar das transformações
recentes nas formas de gestão, ele permanece como uma das principais estratégias dos dirigentes
43
sob a alegação do caráter imprescindível e inevitável da divisão do trabalho e da separação entre os
dirigentes e executantes, apelando especificamente ao uso da energia muscular e corporal.
Em relação à subjetividade do trabalhador, o modelo de gestão tayloriano é um dos maiores
responsáveis pelo sofrimento mental no trabalho, pois, no entendimento de Chanlat (1996, p. 122)
o aspecto repetitivo de suas tarefas, seu caráter monótono, a pressão do tempo, a carga física e
mental penosa, a ausência de autonomia e o trabalho extra, são os principais responsáveis pelas
enfermidades e pelo envelhecimento que se m observado em muitos trabalhadores. As doenças
provocadas por este método de gestão, v
ão desde problemas de saúde física, fadiga crônica, úlceras,
doenças cardiovasculares, musculares, ósseas, insônias, e de saúde mental, caracterizada pelas
neuroses, depressões, fadiga nervosa, estresse. Já os problemas de saúde física, se não forem
tratad
os de forma coerente, podem desencadear distúrbios relacionados à saúde mental do
trabalhador. Contudo, estudos comprovam que este frenesi produtivista, proposto pelo modelo de
gestão tayloriano não contribui com a dimensão subjetiva do trabalhador, como revela Chanlat
(1996, p. 121) que:
A experiência da Mazda em Michigan é igualmente reveladora a esse respeito. O método
de gestão utilizado nessa fábrica completamente nova faz com que os trabalhadores estejam
ocupados 57 segundos por minuto, enquanto que numa fábrica americana de porte
comparável o tempo de trabalho é de apenas 45 segundos. Em outras palavras, cada
trabalhador faz com que a empresa ganhe 12 minutos por hora, 96 minutos por uma jornada
de oito horas de trabalho, e oito horas por um pouco mais de cinco jornadas de trabalho em
vantagem sobre os seus concorrentes imediatos.
Essa experiência provocou aumento em 50% de ferimentos, duplicação dos níveis de
tendinites em relação as concorrentes semelhantes, bem como a perda de peso dos trabalhadores, os
quais na maioria jovens, e por fim uma desilusão dos trabalhadores com relação ao modelo japonês
(CHANLAT, 1996).
As marcas do trabalho, que aparecem sob a forma de sofrimento psíquico ou mesmo
doenças físicas e mentais têm como uma de suas fontes, a rigidez do método de gestão tayloriano.
44
Este modelo extremamente mecanicista, no entendimento De Masi (1999, p. 242) desmotiva o
trabalhador, rouba sua criatividade, a flexibilidade e a capacidade de intuir oportunamente os
problemas, a disponibilidade d
e resolver rapidamente (...) entre duas empresas concorrentes vencerá
aquela que for mais capaz de motivar os seus colaboradores .
-
O modelo de gestão tecnoburocrático
Surgido logo após a primeira década do século XX, quase no mesmo período do sistema
ta
yloriano, desenvolveu-se primeiramente na esfera do estado, sendo que, posteriormente estendeu-
se a todos os tipos de organizações. O modelo de gestão tecnoburocrático é caracterizado por
Chanlat (1996, p. 120) da seguinte forma:
Ele se caracteriza principalmente por uma pirâmide hierárquica desenvolvida, divisão do
trabalho parcelada, regulamentação escrita onipresente, grande importância conferida a
especialistas e técnicos, controles muito sofisticados, comunicação difícil entre os escalões
da empresa, centralização do poder, autonomia relativamente fraca para os patamares
inferiores e um direito de expressão muito limitado.
O trabalhador nesse modelo fica submetido ao conjunto de normas e limites fixados no que
concerne ao desenvolvimento de sua atividade. O respeito às regras, para o autor, é uma das
características da personalidade de uma organização burocrática. Isto é necessário, pois, seu
objetivo é controlar por meio das regras tudo que venha acontecer pela ordem da incerteza ou do
arbitrário.
É um modelo de gestão alicerçado na noção de um Homo Rationalis, destituído de paixão
(CHANLAT, 1996, p. 120). A única diferença entre o modelo de gestão tayloriano em relação ao
tecnoburocrático, é que este último encara a organização como uma máquina, todavia racional e não
unicamente mecânica.
45
Este tipo de gestão é responsável por um determinado mero de problemas de saúde física
e mental, geralmente encontrados nos serviços públicos e sociais, no sistema de saúde e no setor
educativo. As tarefas são previamente descritas, não havendo espaço para o trabalhador responder
às necessidades inesperadas ou mal avaliadas por quem planejou a execução da tarefa, no caso, os
peritos.
O trabalho executado sob a rigidez da norma, juntamente com a falta de recursos fi
nanceiros
e a desvalorização profissional, conduz muitos trabalhadores a estados de forte estresse e depressão,
como é o caso da síndrome de
burn out
4
.
A subjetividade é afetada, pois, de acordo com Chanlat (1996, p.124) as pessoas às voltas
com tal modelo de gestão são com freqüência obrigadas a transigir com uma mensagem
contraditória, difícil de superar, a saber, fazer bem o que se tem que fazer ainda que impedido de
fazê
-lo .
-
O modelo de gestão baseado na excelência
Surgido há pouco mais de duas décadas, o modelo de gestão baseado na excelência pode ser
chamado também de qualidade total. Os programas de qualidade total estão hoje associados aos
modos pós-fordistas de organização do trabalho, que favoreceriam a participação dos trabalhadores
nos pro
cessos de tomada de decisão nas empresas (CATTANI, 1999, p. 184).
É preciso produzir mais e melhor que os concorrentes, sejam estes, nacionais ou
internacionais. Para que isso seja possível, é preciso incentivar os trabalhadores na busca constante
4
A Síndrome de
Burnout
, é um tipo de estresse de caráter persistente vinculado a situações de trabalho, resultante da
constante e repetitiva pressão emocional associada com intenso envolvimento com pessoas por longos períodos de
tempo (HARRISON 1999 apud CARL
OTTO, 2002, p.3)
46
do pri
mado do êxito, a supervalorização da iniciativa, juntamente com a obrigação de ser forte, estar
sempre se adaptando às novas transformações. Este comportamento deve surgir do trabalhador, por
meio de sua energia individual, a qual deve ser posta a serviço do coletivo, é preciso jogar em time,
tendo sempre um desafio a vencer. Pode se caracterizar também, conforme Pagés et al citados por
Chanlat (1996, p. 121) numa:
[...] maior autonomia no trabalho, uma forte responsabilização, recompensas materiais e
simbó
licas individualizadas, relações hierárquicas mais igualitárias , uma flexibilidade e
uma polivalência da mão-
de
-obra e um recrutamento seletivo. Em relação aos métodos
existentes, ele introduz algo de novo: a mobilização total do indivíduo a serviço da
o
rganização.
Essa mobilização do indivíduo a serviço da organização possui um papel fundamental nesse
modelo de gestão, pois, possui como principal objetivo canalizar a energia física, afetiva e psíquica
dos trabalhadores, aos objetivos organizacionais, o que faz deste cenário, o palco de todas as
superações, identificações e projeções individuais dos trabalhadores.
È exigido o comprometimento total e uma adesão passional, àquilo que é proposto enquanto
desafio a ser superado. Os desafios deveriam ser vencidos, dentro da organização excelente, por
meio dos trabalhadores combatentes. É em suma, um método de gestão que se configura como uma
resposta ocidental (americana), desafio da administração japonesa que, como todos sabem, se
fundamenta na equipe, na qualidade, no devotamento total e na conquista dos mercados em longo
prazo (OUCHI
apud
CHANLAT, 1996, p. 121).
É um processo de racionalização que ultrapassa os limites da fábrica, espalhando seus
efeitos por toda a sociedade, como revelam Colbari e Bianco (
1994, p. 21), a felicidade no trabalho
estimularia as pessoas a canalizarem seu potencial mental para o benefício da sociedade . Assim, se
torna efetivo o velho ideal fordista de ser a fábrica, - por meio da difusão de uma conduta metódica
de trabalho
o meio pelo qual se difundiria novos padrões sociais, os quais orientariam para uma
conduta metódica de vida. Isto ocorre, pois, utiliza uma formulação ideológica persuasiva, cujo
47
objetivo, é a adesão irrestrita e inquestionável do trabalhador, que pelo engajamento coletivo, vai se
afastando do espírito crítico e, em conseqüência, reduz a possibilidade de resistência, fator que pode
originar uma importante fonte de tensão.
O trabalhador, nesse aprisionamento subjetivo ideológico, busca o reconhecimento, o
sucesso, a superação, o que de lhe satisfaz profissionalmente, mas em contrapartida um gasto
imenso de energia física e psíquica na busca desses resultados. Para Freitas (2000, p. 57) uma
espécie de esquizofrenia coletiva tomou conta de todos, em particular nos altos escalões, hoje
também fragilizados pelas reengenharias, uma vez que o risco de ser superado, no menor espaço de
tempo possível, está sempre batendo à porta . Nesse sentido, o que se verifica é um movimento
forte, sem precedentes na história,
em que, os trabalhadores se lançam na busca desenfreada de mais
informação, como se isso fosse sinônimo de conhecimento ou formação. Da mesma forma, as
experiências passadas, geralmente construídas na base do esforço contínuo de anos de trabalho, são
colo
cadas de lado, fato este responsável por ambientes de trabalho em que o herói de hoje,
provavelmente estará em desuso no dia seguinte.
Perseguir a excelência significa em última instância, não apenas uma obrigação, mas o
destino de todos. A excelência, enquanto esse patamar sempre deslocado para cima, é o único
lugar que esse trabalhador deve almejar, é o único lugar que lhe permitirá a realização, é o único
lugar onde pode existir (FREITAS, 2000, p. 58). Estar no topo, contudo é também estar com
esgotame
nto profissional, é pagar um alto preço por isso, pois, cedo ou tarde o trabalhador percebe
que não como permanecer sempre no auge, uma vez que, o impedimento desse lugar foi selado
desde na sua origem, pois o homem não foi desenhado para ser perfeito, muito menos para sê-
lo
seguidamente complementa a autora.
Outro ponto fundamental, que atinge a dimensão psíquica do trabalhador, é o papel exercido
pelas organizações em relação ao trabalhador, as quais se apresentam como um ideal identificatório,
48
faze
ndo com que, o trabalho se torne o principal ponto de referência do trabalhador. A organização,
seus valores, sua filosofia, passa, desse modo, a ser a matriz identificatória tanto social quanto
individual, invadindo o espaço do privado (vida pessoal do trabalhador) estabelecendo com esse
uma relação de referência total, de uma só via.
As conseqüências desse modelo de gestão em alguns casos são drásticas, o jornal francês Le
Monde na década de 90 publicou um estudo ressaltando uma dessa conseqüências, em q
ue,
trabalhadores japoneses morrem subitamente a cada ano e às centenas, o célebre Karoshi, KARO =
excesso de trabalho e SHI = morte, que se caracteriza por um quadro clínico ligado ao estresse
ocupacional com morte súbita por patologia coronária isquêmica ou cérebro vascular (CHANLAT,
1996).
-
O modelo de gestão participativo
Por modelo de gestão participativo se entende, aquelas situações nas quais os
trabalhadores, diretamente ou por delegação, estejam investidos da capacidade de decisão na
organização
do trabalho (CATTANI, 1999, p. 107). Essa organização ocorre eventualmente nos
procedimentos administrativos e comerciais, mais raramente, na condução geral da organização.
Esse modelo utiliza as mais variadas experiências de gestão, especialmente, às
possibilidades de participação dos trabalhadores nos diversos níveis organizacionais. A participação
pode acontecer na dimensão da organização do trabalho, como no âmbito de poder e dos resultados.
Apesar de ser adotado em geral por organizações com fins c
ooperativos, já faz parte também
de empresas privadas, porém, com um número ainda reduzido. No entendimento de Chanlat (1996,
p. 121), o referido modelo possibilita encontrar melhores soluções em toda a organização da
empresa. Ressaltando que:
49
[...] contrariamente ao método de gestão da excelência, que não é com freqüência mais que
um discurso, o modo de gestão participativo parte do princípio de que o ser humano é uma
pessoa responsável à qual se deve conceber toda a autonomia necessária para a realização
da tarefa para, na verdade, integrá-la na gestão mais global da empresa. É assim que se
pode, sob este rótulo, reencontrar as experiências de reestruturação de tarefas como também
as modificações técnicas do processo de fabricação ou ainda as formas de co-
gestão
sindical
-
patronal.
Ao possibilitar a participação criativa dos trabalhadores, cria-se um ambiente de gestão
menos hierarquizado, autoritário e desumano em relação ao método de gestão tayloriano. Em
relação à subjetividade do trabalhador, o modelo de gestão participativo parece figurar, apesar de
suas peculiaridades, como o mais salutar, em relação aos métodos de gestão precedentes. Chanlat
(1996, p. 125) considera que esse método melhora o ambiente de trabalho, pois:
[...] quer ser trate de reorganização do trabalho, de democratização do escritório, do
reconhecimento real do saber e da experiência adquirida, da criação de espaço, de palavra,
de responsabilização, todas as experiências convergem para uma melhora do clima de
trabalho e da saúde e segura
nça no trabalho.
entendimentos, porém, que questionam o modelo participativo, indicando que se trata de
um mecanismo no qual, os trabalhadores assalariados não conseguem visualizar a gerência como
fonte de pressão, o que produziria uma culpa nos próprios trabalhadores no que concerne à redução
da produtividade. Assim, na concepção de Tixier (
apud
CATTANI, 1999, p. 112), no sistema
participativo, os assalariados não reconhecem a gerência como fonte de pressão pelo aumento das
cadências, considerando-se responsáveis e culpados pelos eventuais desacertos . Por outro lado,
esta responsabilidade tem permitido aos trabalhadores, se apropriarem de conhecimentos, o que os
habilita
para o exercício da democracia em vários níveis, permitindo uma intervenção consciente e
criativa na produção, rompendo com a cultura da submissão.
50
2.3 Subjetividade, Trabalho e Organizações em
Transição.
No tópico anterior, foi ressaltada a relação existente entre os modelos de gestão e a
subjetividade nas organizações contemporâne
as
.
Para dar continuidade a este estudo, é preciso
entender que o contexto organizacional contemporâneo, decorrente da revolução tecnológica,
apresenta aspectos do processo de trabalho que estão intimamente vinculados à produção de
distúrbios físicos e psíquicos. Por isso, é importante esclarecer que não existe um modelo de gestão
ideal de, no que concerne à subjetividade do trabalhador.
Todavia, apesar de todas as mudanças tecnológicas ocorridas nos últimos anos, bem como
relações de trabalho altamente instáveis e flexíveis que exigem do trabalhador competências
múltiplas, várias organizações continuam a operar com um caráter extremamente mecanizado,
dirigindo suas políticas por meio de discursos extremamente racionais e objetivos, os quais, se
revelam superados em muitos aspectos pela nova sintaxe do mundo do trabalho, que se caracteriza
pela complexidade da intersecção de múltiplos processos na produção do desempenho, na incerteza
e na ambigüidade dos eventos.
Por outro lado, é correto pensar que estas modificações não devem ser executadas de forma
rápida, mágica, pois se trata de uma lenta construção, como observa Chanlat (1996) o método de
administração é uma construção social, assim como outras construções da humanidade, ela pode ser
modificada, desde que os responsáveis assim desejarem. Dessa forma, as transformações são
gradativas, havendo, em muitos casos, a concomitância de alguns elementos novos e antigos.
Contudo, quando se submete a crítica os principais modos de gestão contemporâneos, surge
a nítida impressão de que estes repousam sobre princípios objetivos que lesam de sobremaneira a
subjetividade dos trabalhadores. Também é possível afirmar, que de modo geral, o trabalho o é
51
simplesmente uma transformação da matéria, mas também da vida psíquica, econômica, social,
cultural e política dos atores organizacionais. Dessa forma, o conhecimento e o reconhecimento da
subjetividade, e, por conseguinte, dos processos psicológicos implicados no trabalho, tornou-se um
instrumento identificado com o silog
ismo da eficiência nas organizações.
Assim, os modos de gestão contemporâneos capturam, cada um com seus princípios
objetivos e éticos a dimensão subjetiva do trabalhador. Isto acontece de forma velada, pois a ciência
administrativa
deduz
sabiamente, que
não há possibilidade de produção plena sem a apreensão desta
subjetividade. Percebe-se, então, que a dimensão subjetiva tão negligenciada no princípio da
administração retorna na contemporaneidade com um valor rentável, uma vez que, é impensável
falar na q
ualidade dos processos e dos produtos sem o reconhecimento de relações intersubjetivas.
Por fim, de se ressaltar que existe uma sutil transição em andamento, idéias que
defendem a hipótese de que a gestão e a vida organizacional são relações sociais, um emaranhado
de relações que estão em constante transformação. Nas palavras de Davel e Vergara (2001, p. 31):
A prática da gestão contemporânea tem defendido de forma sistemática o discurso de que
as pessoas não fazem somente parte da vida produtiva das organizações. Elas constituem o
princípio essencial de sua dinâmica, conferem vitalidade às atividades e processos,
inovam, criam, recriam contextos e situações que podem levar a organização a posicionar-
se de maneira competitiva, cooperativa e diferenciada com clientes, outras organizações e
no ambiente de negócios em geral.
O discurso das práticas de gestão contemporâneas contemplam este indicativo de transição,
pois compartilham sem atritos, a premissa de que as pessoas são essenciais ao sucesso
socioeconôm
ico das organizações. Porém, se os aspectos relacionados às pessoas, a subjetividade, a
criatividade estão em alta, porquê grande parte dos trabalhadores ainda realiza suas tarefas como se
as organizações fossem uma máquina, um conjunto previsível e reificado de componentes?
Procedendo assim, as práticas de gestão, segundo Davel e Vergara (2005, p 45), não acabam por
52
reforçar e confirmar a prática alimentada pela crença de que é mais importante e produtivo
coisificar e quantificar do que singularizar e hum
53
maximização do controle nas questões humanas, operacionalizando-se por meio da idéia de que as
organizações são grandes sistemas controláveis mecânicos e orientados para resultados. A segunda
forma de caracterização, processual relacional é descrita pelo foco em processos emergentes dos
padrões das relações entre as pessoas, as organizações e o ambiente social que as cerca. Conforme
Watson (2005, p. 14), se os gestores compreenderem o modo como seu trabalho contribui
para a formação de tais processos, podem promover a construção de significados, negociações,
barganha e do exercício do poder .
54
Quadro 1: Formas sistêmico
-
controladora e processual
-
relacional de caracterização de indivíduos e organizações.
Fonte:
WATSON J. TONY
, 2005.
FORMA SISTÊMICO
-
CONTROLADORA DE
CARACTERIZAÇÃO
DOS INDIVÍDUOS
FORMA PROCESSUAL
-
RELACIONAL DE
CARACTERIZAÇÃO DOS
INDIVÍDUOS
FORMA SISTÊMICO
-
CONTROLADORA DE
CARACTERIZAÇÃO
DAS ORGANIZAÇÕES
FORMA PROCESSUAL
-
RELACIONAL DE
CARACTERIZAÇÃO DAS
ORGANIZAÇÕES
O indivíduo é uma entidade
que existe em termos
próprios, dotada de um eu
essen
cial e verdadeiro
Os indivíduos são seres
relacionais, a individualidade
somente é possível como
resultado das relações com os
demais.
A organização é uma
entidade, um sistema com
regras gerencialmente
criadas e com papéis
existentes em termos
próprios.
As organizações são
fenômenos relacionais,
conjuntos de relações e de
acordos inter
-
relacionados.
O indivíduo possui uma
série de características de
personalidade praticamente
invariáveis.
Os indivíduos sempre estão
em um processo de tornar
-
se
possuem
identidades
emergentes.
A organização é um
produto de um desenho
organizacional gerencial, e
possui uma série de
características estruturais e
culturais.
As organizações são padrões
emergentes, resultantes de
processos de trocas,
negociações, conflitos e
compromissos, assim como são
elementos de atividades
gerenciais.
O indivíduo apresenta
várias necessidades
geradoras de motivações
que o estimula a se
comportar de formas
particulares.
Os indivíduos são provedores
de sentidos, orientados a
projetos, em
vez de serem
guiados por necessidades,
negociam com demais à luz
de como interpretam suas
situações, lidando com
circunstâncias materiais e
emocionais.
A organização funciona
para garantir a realização
dos objetivos
organizacionais com os
quais se compro
mete.
As organizações são orientadas
por estratégias, no sentido de
que seus responsáveis se
esforçam em garantir sua
sobrevivência no longo prazo.
O indivíduo é capaz de
suprimir suas emoções no
trabalho, para que seu
envolvimento na análise
racional e
na tomada de
decisões não seja
influenciado por
sentimentos e valores.
Os indivíduos são,
simultaneamente, racionais e
emocionais: seus sentimentos
sobre o mundo e suas
capacidades racionais se
influenciam mutuamente.
A organização é um sistema
racional
de regras e de
procedimentos que
garantem o cumprimento
das tarefas que asseguram a
realização de objetivos
corporativos.
As organizações agem tanto
com a razão quanto com a
emoção, os sentimentos dos
gestores, dos trabalhadores e
dos clientes são tão rel
evantes
para o comportamento deles
quanto a busca racional de
interesses materiais nos
procedimentos corporativos
formais.
O individuo
independentemente da
sociedade em que vive,
desempenha o papel de
trabalhador, gestor ou
qualquer outro tipo de
papel,
de acordo com a
lógica dos sistemas
modernos de trabalho e de
sua organização.
Os indivíduos são animais
culturais: dão sentido ao
mundo e às suas atividades
profissionais de acordo com a
cultura e os valores da
sociedade e das comunidades
de que fazem parte.
A organização é uma
expressão de princípios
organizacionais e gerenciais
universalmente aplicáveis.
Todas as organizações seguem
princípios modernistas e
burocráticos, seu
funcionamento também reflete
as circunstâncias econômicas,
culturais e polít
icas das
posições sociais que ocupam.
55
2.3.2 Formas de caracterizar discursivamente a organização e a g
estão
Co
m relação a grande variedade de abordagens, escolas e perspectivas diversas destacam-
se
duas formas principais, de ver e se envolver com a gestão e a organização. São duas formas
discursivas de caracterizar a organização e a gestão.
A primeira forma é chamada por Watson (2005) de ortodoxia sistêmi
co
-controladora forma
esta que incorpora uma série de premissas incentivadoras de uma visão predominantemente
mecânica do trabalho gerencial, com uma atividade essencialmente preocupada com o desenho e o
controle
organizacionais, como um grande sistema mecanizado, programado para alcançar,
racionalmente metais organizacionais objetivas.
A segunda forma de caracterizar discursivamente as organizações, citado pelo autor como o
modelo de referência alternativo, é o
chamado de processual
-
relacional.
Este modelo é mais justo com as sutilezas e as complexidades das atividades sociais e
humanas, ao reconhecer que os gestores, assim como os demais na organização, esforçam-
se continuamente em dar sentido ao que fazem, em contextos fortemente ambíguos, com
diversas rupturas, propósitos e objetivos conflitantes (WATSON, 2005, p.
11).
Os gestores e demais atores organizacionais, neste modelo discursivo, precisam
constantemente interagir de forma dialógica, lidando com conflitos de interesses e negociando
acordos, com o objetivo de garantir que os bens produzidos ou serviços prestados sejam de
qualidade para a sobrevivência da organização.
Os dois modelos não são somente duas formas de ver ou pensar a vida organizacional, mas
pelo contrário, constituem duas formas básicas de falar, se expressar e de agir em relação à
organização e à gestão. Dessa forma, os dois modelos mostram que não se pode separar a forma
como nos referimos ao mundo da forma como nele agimos, ou seja, a forma como caracterizamos o
56
mundo sob a forma de linguagem, discurso e a forma como caracterizamos nossos atos. Nesse
sentido, é possível de acordo com Watson (2005, p.
16):
Que a cultura humana contém, vários discursos ou conjuntos inter-relacionados de
contex
tos, expressões e declarações que constituem formas de falar ou escrever sobre
determinado aspecto do mundo, caracterizando e influenciando assim a forma como as
pessoas compreendem e agem em relação a esse aspecto.
Nesse sentido, o próximo tópico vai discutir a caracterização processual-relacional partindo
do enfoque da subjetividade e das organizações como processos emergentes.
2.3.3 A subjetividade e as organizações como processos e
mergentes
Reconhecer que a subjetividade e as organizações são processos emergentes, significa
admitir que o trabalho não é redutível a uma atividade de produção no mundo objetivo, mas sim, de
que este sempre coloca à prova a dimensão psicológica do trabalhador, sua subjetividade, da qual,
esta última sai acrescentada, enaltecida, ou ao contrário, diminuída, mortificada. Trabalhar, nesse
sentido, no entender de Dejours (2004), constitui para a subjetividade, uma provação que a
transforma. Desse modo, trabalhar não é somente produzir, é também (trans)
formar
a si mesmo e,
no melhor dos casos, é uma ocasião oferecida à subjetividade para se testar e até mesmo para se
realizar.
O modelo discursivo processual relacional é importante nesse sentido, pois, reconhece uma
ontologia do tornar-se como base para reconceituarmos a organização com um processo
emergente, e não com um fenômeno estável (CHIA, 2003, apud WATSON, 2005, p. 18). A
organização, assim como a subjetividade do trabalhador, é vista não como uma entidade
caracterizada como um objeto inanimado, coisa, mas pelo contrário,
como relações organizadoras.
57
Priorizar este tipo de entendimento é reconhecer, que todas as situações organizacionais
devam ser compreendidas como situações que ocorrem em um momento histórico particular, no
contexto de uma sociedade ou comunidade específica. Esta forma de pensar se contrapõe, à
concepção da forma sistêmico-controladora, a qual considera o trabalhador com alguém que possui
uma série de características de personalidade praticamente invariáveis e a organização como o
produto de um desenho organizacional gerencial, que possui uma série de características estruturais
e sociais.
Por fim, a forma processual-relacional de caracterização das organizações e da gestão,
estimula a compreensão de que, assim como a subjet
e
s
e
qa m
e
58
Isto significa que, partindo da premissa do mundo processual-relacional, os gestores
conseguem apenas um controle gerencial parcial. Isto acontece não porque, nas palavras de Watson
(2005, p. 21) as circunstâncias passam por transformações freqüentes, mas também resulta do fato
de que as organizações são feitas de relações humanas, de contratos e trocas, e de conflitos e
interesses inevitáveis e inter
-relacionados .
Gestores competentes, porém, devem se envolver em processos de diálogo e na criação de
significados para os outros atores organizacionais, em vez de tentarem gerenciar pela distribuição
de comandos. Devem ser, portanto, capazes de se envolverem na criação da construção social da
realidade, em vez de tentarem criar culturas organizacionais. Por fim, a forma
processual
-relacional
de caracterização da realidade organizacional e gerencial não fornece receitas para a execução do
trabalho gerencial, pelo contrário, exige que os gestores sejam capazes de escolherem por si
mesmos
, conforme o contexto organizacional, cultural e local específico, os processos mais
coerentes e efetivos. Dessa forma, sabendo que a discussão teórica deste tema, não se esgota neste
estudo, encerra-se a segunda parte da pesquisa, a qual permitiu a visualização dos principais
conceitos teóricos a respeito do tema em questão. A seguir será explicitada a metodologia utilizada
na construção da pesquisa.
59
3 METODOLOGIA
A pesquisa é uma indagação minuciosa ou exame crítico e exaustivo na procura de fatos e
princípios; uma diligente busca para averiguar algo. Pesquisar não é apenas procurar a verdade; é
encontrar respostas para questões propostas, utilizando métodos científicos (MARCONI;
LAKATOS, 1996). É papel do pesquisador depurar os conhecimentos existentes ou dentro do
poss
ível construir conhecimentos necessariamente novos.
Na concepção de Minayo (1999, p. 12), A cientificidade tem que ser pensada como uma
idéia reguladora de alta abstração e não como sinônimo de modelos e normas a serem seguidos . Os
modelos e normas metodológicas, neste sentido, não podem ser pensados como algo pronto,
acabado, reduzido a uma única forma. Desse modo, Teixeira (2005, p. 33) entende que, a
investigação de problemas de natureza diferentes demanda o emprego de perspectivas específicas
de pes
quisa.
Kelm (2002, p.
13
) destaca que a ciência busca oferecer explicações acerca de um
fenômeno,
mas não é um dogma - logo é discutível. É a efervescência de reflexões, discussões, contradições,
sistematizações e resistematizações que lhe vitalidade.
Esta vitalidade produzida pelas reflexões,
discussões e sistematizações adquire um sentido concreto a partir do método, ou do caminho utilizado
pelo cientista na abordagem da realidade pesquisada. De acordo com os ensinamentos de Minay
o
(1999,
p. 16) met
odologia
... é o caminho do pensamento e a prática exercida na abordagem da realidade.
60
Nesse sentido, a metodologia ocupa um lugar central no interior das teorias e está sempre referida a
elas . Dessa forma, a metodologia ... inclui as concepções teóricas de abordagem, o conjunto de
técnicas que possibilitam a construção da realidade e o sopro divino do potencial criativo do
investigador .
Marconi e Lakatos (1991, p. 83) enfatizam que, as ciências se caracterizam pela utilização
dos métodos científicos. Dessa forma, o método, é o conjunto de atividades sistemáticas e
racionais que, com maior segurança e economia, permite alcançar o objetivo (...) traçando o
caminho a ser seguido, detectando erros e auxiliando as decisões do cientista . Neste
sentido,
pode-se definir método como caminho para se chegar a determinado fim. E método
científico
como o conjunto de procedimentos intelectuais e técnicos adotados para se atingir o conhecimento
(GIL, 1999, p. 26)
.
Esta terceira parte, da presente pesquisa tem por objetivo apresentar os elementos
metodológicos constituintes do processo de investigação, como forma de garantir a confiabilidade e
o rigor científico do trabalho, com vistas a construir ou refinar conhecimentos sobre trabalho,
organizações contemporâneas
e subjetividade.
Inicialmente é descrita a orientação filosófica que baliza o estudo. Na seqüência são
abordadas as características da investigação: delineamento da pesquisa, processo de escolha da
empresa, critérios para seleção dos sujeitos da pesquisa, cnica de coleta de dados perspectiva de
anális
e.
61
3.1
Fundamentação da Pesquisa
As concepções e percepções da realidade presentes na reflexão do pesquisador estão
estritamente relacionadas com as questões filosóficas de tal momento histórico, por este vivido.
Dessa forma, todo instrumento ou procedimento de pesquisa se encontra influenciado por versões
peculiares do mundo e dos modos de conhecimento a serem adotados por este pesquisador
.
No
entender de Hughes (1980, p. 72) todo conhecimento humano é seletivo, envolvendo abstração de
acordo com
interesses particulares .
Esclarecer a posição filosófica do pesquisador é um dos fatores, no entender de Merrian
(1998) apud Teixeira (2005) que pode assegurar a confiança de uma pesquisa qualitativa. Esta seç
ão
se ocupa em explicitar a orientação filosófica que norteia a presente pesquisa.
A orientação filosófica representa as crenças sobre a natureza da realidade, sobre
conhecimento e sobre produção de conhecimento, a postura teórica do investigador ou ainda
as
concepções básicas em relação à natureza do fenômeno a ser pesquisado (MINAYO, 1994;
MERRIAM, 1998; MORGAN; SMIRCICH, 1980).
A investigação ora em análise ancorou-se no paradigma humanista de pesquisa configurada
por Hughes (1980) ou interpretativa/fenomenológica classificada por Merriam (1998), Triviños
(1987), Easterby-Smith et al. (1999) e Morgan Smircich (1980), por entender que uma realidade
subjetiva, que é fruto da percepção dos sujeitos pesquisados acerca de uma determinada realidade.
Para Hughes (1980, p. 71), o mundo sócio-histórico é um mundo simbólico criado pelo
espírito humano e não pode ser entendido simplesmente como uma relação entre coisas materiais .
Dessa forma, o autor evidencia com seus ensinamentos que o comportamento social humano é
impregnado de valores e o conhecimento de uma cultura só pode ser obtido por meio do isolamento
62
de idéias comuns, sentimentos ou objetivos em um dado período histórico. Neste enfoque, o
conhecimento de pessoas somente pode ser obtido por meio de procedimentos interpretativos,
fundamentados na recriação das experiências de outros (HUGHES apud TEIXEIRA, 2005).
Esta
dissertação, portanto, foi desenvolvida com base nas perspectivas crítica e construtivista, nas quais
o pesquisador busca a produção de ent
endimentos
arquitetados à distância de verdades
comprováveis por critérios positivistas.
Ao
tomar as diferentes suposições a respeito da natureza da realidade (
MORGAN;
SMIRCICH
, 1980), classificou-se o
design
desta dissertação como uma abordagem subjetiva
e
mudança de status quo
.
Os pressupostos epistemológicos adotados nesta pesquisa, portanto,
permeiam o interacionismo simbólico
.
Nesta perspectiva, Teixeira (2005, p. 35) ensina que o
mundo social é percebido como um padrão de relacionamentos simbólicos e significados
sustentados por meio de um processo de ação e interação humana . Dessa forma, esta perspect
iva
com relação ao mundo social está de acordo com os pressupostos teóricos que delineiam a
investigação sobre trabalho e subjetividade
nas
organizaçõe
s contemporâneas
,
uma vez que, as
organizações, bem como, os grupos sociais, no modo de compreensão simbólica, são constituídos
de seres humanos que são vistos como atores sociais que permanentemente interpretam o meio que
os cercam (MORGAN; SM
IRCICH, apud
TEIXEIRA
,
2005, p.
36).
Diante do exposto, o presente estudo - Trabalho e S
ubjetividade
nas O
rganizações
C
ontemporâneas
seguiu predominantemente as orientações de uma pesquisa qualitatitva, do tipo
hermenêutica e estudo de caso simples, por entender que é a mais, apropriada para a investigação
de fenômenos dos contextos organizacionais e sociais (MINAYO, 1994). De acordo com Merrian
(1998) apud Teixeira (2005, p. 37), a adoção dessa abordagem demonstra que o pesquisador está
interessado em entender os significados construídos pelas pessoas, buscando compreender como os
indivíduos formam suas visões
de mundo . Os seres humanos, por essa compreensão, se constituem
63
enquanto sujeitos que constroem, socialmente, diversas interpretações acerca dos fatos e da
r
ealidade social da qual participam.
O próximo tópico apresenta o delineamento da pesquisa adotado para operacionalizar os
objetivos da investigação,
diante dos pressupostos ontológicos e epistemológicos.
3.2 Delineamento da Pesquisa
A presente investigação, tendo em vista a orientação filosófica que fundamenta seu
desenvolvimento,
a abordagem qualitativa, adotou duas formas distintas de realização: a)
pesquisa documental, b) o estudo de caso histórico-
organizacional
, por meio da investigação de
caso simples (TRIVIÑOS, 1987). A abordag
em
qualitativa permite visualizar a dinâmica entre o
mundo real e o sujeito, um vínculo indissociável entre o mundo objetivo e a subjetividade do sujeito
que não pode ser traduzido em números (GIL, 1999), bem como a compreensão das informações e
realizada
de forma mais global e inter-relacionada com fatores variados, privilegiando contextos
(MEZZAROBA; MONTEIRO, 2003, p. 108). A pesquisa qualitativa responde de acordo com
Minayo (1993, p. 21)
[...]
a questões muito particulares (...) ela se preocupa, nas ciências sociais, com um nível
de realidade que não pode ser quantificado. (...) trabalha com o universo de significados,
motivos, aspirações, crenças, valores atitudes, o que corresponde a um espaço mais
profundo das relações, dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos à
operacionalização de variáveis.
A pesquisa com abordagem qualitativa, no entendimento de Triviños (1987), apresenta as
seguintes características: tem o ambiente organizacional como fonte direta dos dados; faz uso de
instrumentos capazes de descrever a realidade; sua preocupação principal está no processo de
construção dos resultados e dos produtos resultantes deste; o pesquisador tem como principal
64
instrumento a coleta de dados; analisa os dados de forma indutiva; e tem o significado como
preocupação essencial.
Esta abordagem é apropriada para o presente estudo
Trabalho e Subjetividade nas
Organizações Contemporâneas, uma vez que, busca descrever e compreender um fenômeno social
contempor
âneo,
acerca das questões concernentes ao ser humano e sua vida no universo
organizacional (MERRIAM, 1998)
.
O estudo de caso, de ac
ordo com Yin (2001); Gil (1999)
apud Teixeira (2005, p. 38), é uma
estratégia de pesquisa que busca examinar um fenômeno contemporâneo dentro de seu contexto.
Esta metodologia se caracteriza pelo estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos, de
maneira a permitir conhecimento amplo e detalhado do mesmo . Godoy (1995) afirma que, ao
adotar o estudo de caso, o pesquisador deve
estar
aberto a novas descobertas, mesmo quando
orientado por um esquema teórico. O pesquisador deve manter-se alerta aos novos elementos ou
dimensões que podem surgir ao longo do trabalho, bem como se preocupar em captar a
multiplicidade de dimensões presentes em uma determinada situação, pois a realidade é sempre
complexa.
Outra característica importante de um estudo de caso, na concepção de Teixeira (2005, p.
38) é que, a análise de algumas unidades de determinado universo, possibilita a compreensão da
generalidade dos mesmos ou, pelo menos, o estabelecimento de bases para uma investigação
poster
ior, mas sistemática e precisa.
Como estudo de caso, o presente pesquisa, se classifica por uma investigação empírica que
procura compreender um fenômeno contemporâneo em uma organização (YIN, 2001). O estudo de
caso busca examinar se a organização em questão possui uma gestão alicerçada na lógica sistêmico
-
65
controladora ou na lógica processual-relacional, levando em consideração a maneira pela quais
estas duas lóg
icas podem repercutir na subjetividade dos trabalhadores da respectiva organização.
Esta dissertação caracterizou-se, ainda, pelo enfoque predominantemente exploratório e
descritivo. O estudo exploratório tem por finalidade esclarecer, desenvolver e modificar conceitos
que poderão ser úteis para futuras abordagens, visto que há pouco conhecimento produzido e
acumulado sobre o tema em questão (TEIXEIRA, 2003). Neste caso, a presente dissertação busca
contribuir no preenchimento de uma lacuna no campo do estudo das organizações, pelo fato de não
se ter conhecimento
específico
, capaz de explicar a problemática ora proposta sob a mesma
perspectiva.
A dissertação de natureza qualitativa é descritiva, pois busca descrever com precisão os
fatos e fenômenos de determinada realidade, a partir do entendimento das pessoas envolvidas na
situação (TRIVIÑOS, 1987).
No entendimento de Teixeira (2005, p. 39), a adoção de enfoques exploratório e descritivo
pressupõe que o pesquisador deverá estar aberto a suas descobertas. Neste mesmo sentido, Godoy
(1995, p. 25) expressa que, mesmo que inicie o trabalho a partir de um esquema teórico, deverá se
manter alerta aos novos elementos ou dimensões que poderão surgir no decorrer do trabalho . O
pesquisador, portanto, deve mostrar a multiplicidade de dimensões presentes numa situação,
levando em consideração que, as organizações são, em grande medida, complexas, ambíguas e
repletas de paradoxos (MORGAN, 1996).
Os critérios considerados por ocasião da escolha da organização, objeto de estudo,
compreendem a próxima seção.
66
3.3 Definição da Organização
Esta pesquisa teve como objeto central a Universidade do Oeste de Santa Catarina
(U
noesc
)
,
Campus São Miguel do Oeste,
cuja escolha originou
-
se dos seguintes motivos:
-
R
elevância cie
ntífica, social e comunitária na região oeste do Estado de Santa Catarina.
-
Foco no
desen
volvimento regional;
-
R
esponsabilidade social e ética;
-
Investimento em pesquisa
, desenvolvimento e capacitação;
-
Demanda por profissionais co
m elevado nível de qu
alificação;
-
Adoção de estratégias voltadas ao desenvolvimento humano
.
Levando em consideração que a pesquisa estruturou-se como exploratória e qualitativa, em
que
não
se
podem
generalizar os dados obtidos na amostra para a população a amostragem
utilizad
a foi do tipo não-
probalística.
A característica principal deste tipo de amostra é a de que,
não fazendo uso de formas aleatórias de seleção, torna-se impossível a aplicação de fórmulas
estatísticas, fundamentação matemática (MARCONI; LAKATOS, 1996). Os critérios de
amostragem dependem, nesse caso, unicamente dos critérios considerados relevantes pelo
pesquisador. Neste caso tem-se uma amostragem por conveniência do pesquisador, no que se refere
à possibilidade de acesso às informações e trabalho de campo.
A amostra utilizada, todavia, foi do tipo não-probalística intencional
,
uma vez que
o
pesquisador não se dirige a massa , isto é, a elementos representativos da população em geral, mas
àqueles que, segundo seu entender, pela função desempenhada, cargo ocupado, exercem funções
que vem de encontro dos objetivos e interesse do pesquisador (MARCONI
;
LAKATOS, 1996; GIL
,
67
que influenciaram na escolha da organização em questão. A UNOESC foi a organização escolhida,
por várias razões, dentre as quais foram consideradas:
facilidade de acesso aos sujeitos da pesquisa;
pelo
fato desta estar continuamente se reestr
uturando nos últimos cinco anos;
por ser considerada uma organização em que as pessoas são incentivadas em relação a
c
riatividade, inovação e decisão;
pela
representatividade e importância social na comunidade local e regional, bem como
pela influência exercida no desenvolvimento humano de
seus colaboradores e familiares;
pelo fato do pesquisador conhecer a realidade da organizaç
ão,
a qual se constitui tamb
ém
como seu local de trabalho, estando este vinculado no cargo de professor.
3.4
Sujeitos da Pesquisa
A definição dos sujeitos que participaram da pesquisa seguiu os pressupostos da pesquisa
qualitativa, não se utilizou, portanto, do critério numérico pa
ra
garantir sua representatividade,
desse modo, os participantes da pesquisa foram escolhidos por amostra não-
probabilística
intencional
.
Apesar dos participantes representarem apenas uma amostra da totalidade dos
colaboradores da organização, a amostra escolhida foi considerada como um número ideal pois
possibilitou abranger a totalidade do problema investigado em suas múltiplas dimensões
(MINAYO, 1999). Conforme já explicitado anteriormente nesse documento, esta investigação
desenvolveu
-se numa organização de ensino superior de caráter particular e filantrópico da região
extremo
-
oe
ste do estado de Santa Catarina, sendo que a escolha foi definida por acessibilidade,
conveniência e tipicidade. É importante destacar que um dos motivos da escolha desta organiz
ação
68
é o seu reconhecido papel no desenvolvimento local e regional, tanto no âmbito do
desenvolvimento humano,
quanto no âmbito
tecnológico e científico.
Com
a intenção de analisar o t
rabalho
e as repercussões deste, na
subjetividade
do
trabalhador,
bem co
mo,
verificar a relação existente entre a lógica sistêmico-
controladora
e a
lógica
processual
-
relacional
, foram selecionadas pessoas que atuam na Universidade, nos cargos
de Gerencia, Coordenação e Chefia de departamentos (setores administrativos), com no
mínimo
cinco anos ou mais de trabalho na referida organização. O processo de definição dos entrevist
ados
foi facilitado pelo interesse do Pró-Reitor de Graduação, o qual trabalha na organização
nove
anos e possui profundo conhecimento das estruturas e processos da organização. Dessa forma,
foram sugeridos vários nomes e perfis condizentes com o objetivo da pesquisa. Desta indicação de
nomes, foram
escolhidos
cinco colaboradores com o perfil desejado pelo pesquisador para
participar
no levantamento dos da
dos primários, mediante a técnica
da entrevista.
Quadro 1: Sujeitos
Organizacionais Envolvidos na Pesquisa
Sujeito da Pesquisa
Número de
entrevistados
Gerê
ncia (Pró
-R
eitoria)
02
Coordenador
(Departamentos, C
ursos)
02
Chefe de setor (A
dministração)
01
Os profissionais citados acima que se constituíram nos principais sujeitos da presente
pesquisa focada no trabalho e na subjetividade nas organizações contemporâneas apresentam as
seguintes características: no que concerne ao gênero, a maioria são do sexo masculino (04
entrevistados); em relação à escolaridade um respo
69
possui doutorado concluído dois anos. Em relação ao tempo de empresa, o maior período é de
nove anos e o menor período e de cinco anos e dois meses, sendo que três contam com mais de seis
anos e um com nove anos e três meses. E quanto à faixa etária, os entrevistados apresentam uma
média de idade de 40 anos de idade, haja vista que a mais jovem tem 27 anos e o mais velho, 57
anos. Não é possível observar uma correlação entre o cargo/função, grau de escolaridade, faixa
etária e tempo de serviço. Por exemplo, os coordenadores entrevistados possuem baixa idade em
relação às atividades que realizam, ou seja, são jovens com atribuições que demandam bastante
conhecimento da organização.
Em relação aos critérios finais de escolha dos entrevistados buscou-se privilegiar para a
entrevista
, colaboradores que possuem as seguintes atribuições cotidianas em seus cargos: dialogar
com colegas de trabalho, tomar decisões, fazer negociações, administrar relações interpessoais
divergentes, propor ou adaptar-se as mudanças e inovações estruturais propostas pela organização
obje
to de estudo dentre outras. Estas atribuições forma escolhidas, pois podem contribuir de forma
substancial no entendimento da lógica organizacional presente na organização objeto da presente
pesquisa.
3.5
Técnicas e Instrumentos de Coleta de Dados
As fontes de coleta de dados mais utilizadas nas pesquisas sociais são: a observação, os
documentos e os registros, a entrevista e a dinâmica de grupo (YIN, 2001; GODOY, 1995,
MINAYO, 1994). A coleta de dados foi constituída por fontes primárias e secundárias. Os dados
primários decorreram de entrevista, sobretudo porque este recurso, conforme Triviños (1987, p.
146 apud TEIXEIRA 2005, p. 42), (...) ao mesmo tempo em que valoriza a presença do
70
investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que a informação alcance a liberdade e a
espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação .
Na preparação da(s) entrevistas(s) foram considerados alguns aspectos importantes, tais
como: planejamento da entrevista, construção de roteiro específico e questões mais importantes,
contato prévio com o entrevistado(
s,
as), oportunidade da entrevista, as quais foram marcadas com
antecedência, condições favoráveis, como por exemplo, segredo de suas confidências e
conhecimento prévio do campo (MARCONI; LAKATOS, 1996). A entrevista foi utilizada em
função de que vários dados não poderiam ser obtidos em registros e fontes documentais, porém
estas informações podem ser acessadas diretamente por meio dos sujeitos da presente pesquisa.
O protocolo da entrevista realizada com os cinco profissionais da organização foi dividido
em quatro blocos (Apêndice 1, p. 119). O primeiro buscou identificar o entendimento dos
participantes da pesquisa em relação ao trabalho, seu significado e condições (seis perguntas). O
segundo bloco buscou identificar os processos relacionais, momentos em que os colaboradores
precisam negociar, dialogar, tomar decisões (seis pergunta
a
71
docência, coordenação de estágios e coordenação de curso. Estes colaboradores foram escolhidos,
pois apresentavam características similares aos colaboradores selecionados como sujeitos da
pesquisa.
As entrevistas com os diversos suje
itos desta pesquisa, foram realizadas no período de 15 de
junho a 20 de julho de 2006, sendo que, o contato inicial com os entrevistados era precedido de um
breve
rapport
, no qual era explicitado os objetivos da investigação e a garantia da preservação de
sua identidade. Verificou-se também que, todos os entrevistados compreenderam os objetivos
da
entrevista, ao mesmo tempo em que, demonstraram boa disposição para respondê-
la.
Após
consentimento dos entrevistados, as entrevistas foram gravadas em um gravador digital Pen Drive/
MP3 Player DVR/ , que permite armazenar os dados em pastas e arquivos, facilitando a organização
e processamento das informações. A duração média das entrevistas foi de quarenta e três minutos,
sendo que o tempo máximo foi de cinqüenta e cinco minutos e o tempo mínimo de trinta e cinco
minutos. Quatro entrevistas foram realizadas no próprio local de trabalho do entrevistado, sendo
que, apenas uma entrevista foi realizada em uma sala especial, na qual o entrevistado poderia
responder as perguntas sem ser interrompido. Ocorreram algumas interrupções durante as
entrevistas, dentre os principais motivos destacam-se: atribuições de trabalho que o poderiam ser
adiadas, tais como, atender telefonemas urgentes, assinar papéis, tomar pequenas decisões. Esses
acontecimentos merecem destaque, pois demonstra o caráter de urgência das atividades de trabalho
dos entrevistados.
72
3.6
Tratamento, Análise e
Interpretação
dos Dados
O tratamento do material recolhido no campo compõe uma atividade do processo de
pesquisa, que pode ser subdividido em: ordenação, classificação e análise propriamente dita
(MINAYO
apud TEIXEIRA, 2005, p. 46). O processo de ordenar, classificar e analisar, conduz o
pesquisador ... à teorização sobre os dados, produzindo o confronto entre a abordagem teórica
anterior e o que a investigação de campo aporta de singular como contribuição
(MINAYO, 1999,
p.
26).
Na concepção de Bogdan e Biklen (1994, p. 205):
A análise de dados é o processo de busca e de organização sistemático de transcrições de
entrevistas, de notas de campo e de outros materiais que foram sendo acumulados, com o
objectivo de aumentar a sua própria compreensão desses mesmos materiais e de lhe
permitir apresentar aos outros aquilo que encontrou.
A análise de dados é o processo de formação de sentido além dos dados, e esta formação se
consolidando, limitando e interpretando o que as pessoas disseram e o que o pesquisador viu e
leu, isto é, o processo de formação de significado (TEIXEIRA, 2005, p. 46). Assim, a análise de
dados
evidencia as relações existentes entre o
fenôm
eno estudado e outros fatores, sendo que, a
interpretação foi edificada por meio da atividade intelectual do pesquisador, que procurou dar um
significado mais amplo às respostas, vinculan
do
-as a outros
conhecimentos
(MARCONI
;
LAKATOS, 1996
).
Para esta pesquisa utilizou
-se a técnica de análise de conte
údo, que na concepção de Minayo
(1994), é o procedimento mais frequentemente utilizado para representar o tratamento dos dados de
uma pesqui
sa qualitativa. A análise do conteúdo para Bardin (1979, p. 42)
, é
[...] um conjunto de técnicas de análise de comunicação visando obter, por procedimentos
sistemáticos e objectivos de descrição do conteúdo mensagens, indicadores (quantitativos
ou não) que permitam a inferência de conhecimentosrelativos às condições de
produção/recepção (variáveis inferidas) destas mensagens.
73
A análise de conteúdo teve como foco a busca pela compreensão das comunicações obtidas
por meio dos documentos pesquisados, bem com, das entrevistas realizadas com os sujeitos da
presente pesquisa. Inicialmente foi realizada a identificação dos conteúdos mais significativos de
cada bloco de perguntas. A seguir foi realizada a identificação de unidades que permitissem uma
análise sistemática do Trabalho e da Subjetividade nas Organizações Contemporâneas. As
unidades de análise escolhidas foram: trabalho, processos relacionais, estruturas organizacionais e
desenvolvimento humano.
O processo de descrição e análise de conteúdo das entrevistas iniciou-se com a escuta crítica
das entrevistas realizadas. Na seqüência procedeu-se a transcrição fiel das informações coletadas,
com o objetivo de identificar e anotar os temas recorrentes entre os entrevistados, o que possibilitou
definir categorias de codificação a partir dos p
r
74
4. APRESENTAÇÃO E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS DA PESQUISA DE CAMPO
Esta quarta parte do trabalho
tem como objetivo contextualizar a organização estudada e está
estruturado em três partes. Na primeira apresentam-se características históricas organizacionais da
Unoesc, bem como, as principais características sócio-econômicas da região em que a referida
organização esta situada. Na seqüência é exposto especificamente o histórico da Unoesc Campus
de o Miguel do Oeste, sua missão e seus principais valores. Por fim, são descritas as políticas de
gestão de pessoas e os sucintamente os projetos de responsabilidade social.
4.1
A
Unoesc
e suas características histórico
-o
rganizacionais.
A descrição contida neste tópico apresenta os dados gerais Unoesc. Para efeito de
ordenamento de fatos, primeiramente explicita-se os elementos que contribuíram para sua
constituição enquanto uma organização de ensino superior. Posteriormente, é apresentado um
resumo das principais características regionais da área de atuação da organização. Por fim, é
apresentado especificamente o histórico organizacional da Unoesc Campus São Miguel do Oeste,
no qual realizou-se a presente pesquisa.
75
4.1.1 Histórico
A Universidade do Oeste de Santa Catarina (U
noesc
) foi autorizada a implantar o seu
Projeto de Universidade em 1991, através do parecer mero 587 do então Conselho Federal de
Educação. Foi reconhecida enquanto Universidade pelo Conselho Estadual de Educação em 1995,
através do Parecer número 263. Seu credenciamento pelo Ministério da Educação deu-se por meio
de Decreto do Presidente da República, no dia 14 de agosto de 1996. Hoje, a U
noesc
oferece 64
cursos de graduação, uma média
de 45
cursos de pós
-
graduação em nível de especialização ao ano e
dois cursos de pós
-
grad
uação em n
ível de mestrado, somando aproximadamente 17.000
estudantes.
A criação da
U
noesc
deu
-
se a partir da unificação de três Fundações Educacionais existentes
na região: a Fundação Universitária do Oeste Catarinense (F
UOC)
; a Fundação Educacional e
Em
presarial
do Alto Vale do Rio do Peixe (F
emarp
); e a Fundação de Ensino para o
Desenvolvimento do Oeste (
Fundeste
). Mais tarde, outras duas Fundações integraram-se à U
noesc
:
a Fundação Educacional do Extremo Oeste de Santa Catarina (
Funesc
) e a Fundação Ed
ucaciona
l
dos Municípios do Alto Irani (
Femai
). Tais Fundações localizavam-se nas cidades-pólo de Joaçaba,
Videira, Chapecó, São Miguel do Oeste e Xanxerê, respectivamente. Desenvolviam
preponderantemente o ensino de graduação e esporadicamente entravam no campo da pesquisa e da
pós
-graduação. Atuavam de forma isolada e desarticulada, sem que pudessem fazer frente ao
processo de marginalização pelo qual passava a região em termos de ensino superior.
O processo de criação da U
noesc
deu-se, portanto, motivado pela necessidade de superar
esta situação de isolamento e de marginalização, bem como, de constituir-se uma Universidade que
pudesse responder aos desafios da expansão do ensino superior não somente no contexto de uma
cidade, mas de toda uma região, ultr
apassando
-se os limites
loco
- regionais. Sabia-se, na ocasião,
que aquelas Instituições de Ensino Superior presentes na região não possuíam as condições
76
necessárias para, isoladamente e individualmente, constituírem-se em universidades. A saída
estratégic
a foi a de integrá
-
las em um Projeto de Universidade de alcance regional, diferenciado dos
demais modelos de universidades existentes no país.
Esta integração, contudo, foi mais abrangente que a mera unificação acadêmica e
patrimonial necessárias para constituir-se uma instituição universitária multicampi e comunitária.
Ela implicou, igualmente, na inserção da Universidade em um contexto regional que se estende
desde a cidade de Videira, passando por Joaçaba e alongando-se progressivamente em direção ao
oes
te e extremo-oeste, representados pelas cidades de Xanxerê e São Miguel do Oeste, uma
extensão geográfica equivalente a 28,5% de todo o território do Estado de Santa Catarina
.
Passados treze anos da autorização do Projeto de Universidade e oito anos de se
u
credenciamento junto ao Ministério da Educação, a U
noesc
apresenta-se hoje à sociedade
catarinense como sendo a terceira maior Instituição de Ensino Superior entre as quinze que compõe
a Associação Catarinense das Fundações Educacionais (
Acafe
- conforme Figura 1), onze delas
universidades, duas centros universitários e duas instituições isoladas. Com exceção da
Universida
de do Estado de Santa Catarina
(
Udesc
), instituição pública e gratuita de ensino superior,
as demais são instituições públicas municipais de ensino superior regidas pelo direito privado.
Juntas constituem um sistema universitário único no país, hoje com aproximadamente 180.000
estudantes e
10.000
professores.
77
Ilustração 1:
Sistema
Acafe
no Estado de Santa Catarina
Fonte:
www.unoescsmo.edu.br
, 2006.
4.1.2
Características da r
egião de atuação da
U
noesc
A
U
noesc
atua no Oeste de Santa Catarina em uma área territorial de 27.255,5 km²,
geopoliticamente estruturada em cinco microrregiões, reunindo 118 municípios e somando
aproximadamente
1.1
20
.
000
habitantes. Possui uma densidade demográfica de 40,9 habitantes por
km², abaixo da média estadual, que é de 56,14. A maior população rural do Estado encontra-
se
78
nesta regiã
o (37%). Conseqüentemente, tem
-
se um baixo índice de aglomeração urbana: dos dezoito
municípios com mais de 50 mil habitantes existentes no Estado, apenas dois são da região.
O Produto Interno Bruto
(PIB)
da região equivale a 18% do Produto Interno Bruto
do Estado
como um todo. Per capita, este produto, no entanto, é inferior à média estadual. A agropecuária e a
agroindústria
são os eixos irradiadores do desenvolvimento da economia da região. Juntas,
representam dois terços da agropecuária e da agroindústria do Estado de Santa Catarina. A renda
familiar na região é inferior à média estadual: enquanto 27% dos responsáveis pelos domicílios no
Estado têm rendimento superior a cinco salários mínimos, na região a média é de 21,5%. o
número de responsáveis por
domicílios cuja renda é de um salário mínimo para menos chega a 20%
no Oeste; no Estado, a média atinge em torno de 14%.
Em termos de escolaridade, o Oeste apresenta índices inferiores à média estadual: 8% dos
responsáveis por domicílios possuem menos de um ano de escolaridade, superior à média estadual,
que é de 6%. O Censo do ano de 2000 verificou ainda que a média de anos de estudo do
responsável por domicílio em Santa Catarina é de 5,3 anos, enquanto que no Oeste esta média
atinge 4,4 anos.
A população potencialmente ativa da região representa um quinto desta mesma população
em nível de Estado; contudo, apenas 20% dela atuam no mercado de trabalho formal.
Contraditoriamente, a maior parte das atividades geradoras de emprego e renda está no corcio e
no
s serviços, não na agroindústria. A remuneração do trabalhador da região é 21% menor que a
média da remuneração do trabalhador no Estado.
Administrativamente, a região de abrangência da
U
noesc
subdivide
-
se em dez Secretarias de
Estado do Desenvolvimento Regional, sediadas em pequenos pólos sócio-econômicos, cada qual
com sua cadeia produtiva. Entre as cadeias produtivas presentes na região, destacam
-
se: alimentos e
79
bebidas; agropecuária; papel e celulose; madeira e silvicultura; móveis; transporte terrestr
e;
máquinas e equipamentos; produtos de metal; aqüicultura.
4.1.3
A
U
noesc
Campus São Miguel do Oeste
O Campus de São Miguel do Oeste está situado no Extremo-Oeste Catarinense, envolto
por 19 municípios da região da
Ameosc
(Associação dos Municípios do Extremo Oeste de Santa
Catarina) e 14 municípios da região Amerios (Associação dos Municípios do Entre Rios), além
disso, atinge parte do Estado do Paraná, do Rio Grande do Sul e da Província de Misiones, da
Argentina, compreendendo uma área de 6.629 Km2 com uma população de 226.810 habitantes
(F
UNOESC
,
2004).
De acordo com a U
noesc
em números (2006), o Campus de São Miguel do Oeste conta
com aproximadamente 4500 alunos nos 22 cursos de Graduação e 600 alunos de
Pós
-
Graduação
nos 11 cursos, 218 docentes, 115 funcionários e 50 estagiários. Disponibiliza em seu espaço físico
salas de aula, laboratórios de informática, laboratório de biologia, laboratório de estudo da
performance humana, serviço de atendimento jurídico e psicológico a população de baixa renda,
biblioteca com mais de 24.000 publicações para consulta, videoteca, internet, recursos áudios-
visuais avançados, livraria universitária, cantina e uma grande estrutura para atender aos anseios
dos acadêmicos (
Funoesc
, 2004).
Com relação à estrutura organizacional e de gestão, na concepção de Machado e Silveira
(1998),
a
Unoesc
é uma organização burocrática complexa, o que se deve à diversidade de funções
e objetivos, às diversas tarefas e alta qualificação de seus profissionais. Os autores defendem que a
e
st
rutura geral da
U
noesc
,
está caracterizada da seguinte forma:
É uma instituiç
ão multi
-
campi;
80
Possui caráter comunitário pela participaç
ão da comunidade acadêmica nas
deliberações desta Instituição.
Caracteriza-
se pela unidade de direção apoiada no
processo de planejamento e
administração estratégicos.
Integra as funções de ensino, pesquisa e extensão na perspectiva comunitária.
Estrutura burocrática racional, enfatizando a eficácia e profissionalismo dos atos
administrativos democracia da estrutura de poder, o que propicia um fluxo de
comunicação, liberdade e autoridade bilateralmente, respeitando as hierarquias
respectivas.
4.1.4
Missão, visão de futuro e v
alores
A
Unoesc
tem como
missão
formar pessoas, produzir conhecimentos e oferecer servi
ços
voltados ao desenvolvimento humano, sócio-econômico e cultural do Oeste de Santa Catarina. Sua
visão
de futuro busca ser referência pela qualidade e pertinência de seus cursos, pelo mérito de sua
produção científica e pela relevância social de sua extensão universitária . Seus
valores
são:
compromisso com a excelência acadêmica, a ética e o diálogo.
4.1.5
Responsabilidade s
ocial da
U
noesc
A
U
noesc
desenvolve várias ações voltadas especificamente à comunidade na qual está inserida.
De acordo com Vergara (2001), as organizações não devem somente buscar a maximização do
retorno para os acionistas, mas devem preocupar-se com a construção de relações mais
democráticas e justas, que promovam desenvolvimento pessoal e o crescimento das pessoas e da
81
comunida
de, ao focalizar o ambiente, as ações dessas empresas buscam a eliminação de
desequilíbrios ecológicos, a superação de injustiças sociais, o apoio a atividades comunitárias,
enfim, o que se convencionou chamar de exercício da cidadania corporativa.
As
ativ
idades que mais
se destacam no Balanço Social 2004 da
U
noesc
são
:
-
apoio ao estudante com auxílios e bolsas de estudos;
-
serviço jurídico a população de baixa renda;
-
serviço de atendimento psicológico a população de baixa renda;
-
trabalhos com portado
res de necessidades especiais;
-
serviços na área de saúde;
-
trabalhos na área de geração de emprego e renda;
-
trabalho com idosos;
-
serviço de alfabetização;
-
trabalhos com crianças e adolescentes;
-
outros trabalhos e serviços
-
responsabilidade soci
al com os colaboradores
A
s principais ações de Responsabilidade Social da
Unoesc
, bem como, os recursos
financeiros aplicados na qualificação e benefícios dos funcionários de nível técnico e de nível
docen
te, podem ser
visualizadas
no apêndice p. 119.
4.
2 T
rabalho,
Subjetividade
e Organizações
Universitárias
Este tópico apresenta e discute a relação entre o trabalho e a subjetividade no contexto de
uma organização universitária do Extremo-oeste do Estado de Santa Catarina
,
que é,
simultaneamente,
complexa, com objetivos múltiplos
e
especializados e também, intensiva em
82
conhecimento
. A elaboração das descrições e inferências teve como base, os conteúdos resultantes
das entrevistas realizadas com os sujeitos da pesquisa e da análise documental. A estrutura de
análise está divida em três temas, os quais mantêm relação direta com os objetivos específicos da
presente pesquisa.
O p
rimeiro atende o objetivo d
e identificar e descrever qual
o
sentido
d
o trabalho
para os colaboradores da organização pesquisada. O segundo faz uma análise do desenvolvimen
to
humano dentro da organização verificando se existe interação processual-relacional nas relações
interpessoais da organização. Por fim, o terceiro tema, faz uma análise das práticas de g
estão
utilizadas pela
organiz
ação
, bem com
o
suas principais limitações e possibilidades.
4.2.1 As
organizações u
niversitárias
Este tópico descreve o
conceito
de organizações universitárias, com o objetivo de apresentar
suas principais características organizacionais
. Na universid
ade convivem inúmeras áreas do saber,
bom como deve haver o compromisso com a formação e a cidadania (MARCOVI
TCH
apud
MACHADO
,
2002). Para Grillo (1996), a universidade é uma organização complexa e com
objetivos múltiplos e especializados, que buscam a criação e difusão do conhecimento
.
(SCHUCH
JR
apud
MACHADO,
2002, p.
21)
Em uma visão compartilhada por diversos pesquisadores organizacionais, menciona que a
universidade é uma organização cuja especificidade decorre das características do seu
nível operacional, que é formado por profissionais altamente qualificados, que exercem
suas atividades com autonomia, em um clima liberal de criatividade e dependente da
intensa integração, que inviabiliza qualquer tentativa de supervisão direta.
Por outro lado, a organização universitária, dada sua natureza, traz para dentro de sua
dinâmica operativa os conflitos sociais e metodológicos inerentes ao meio em que está inserida, ou
que estão relacionados seus integrantes. Nesse sentido, problemas de gestão podem facilmente
ocorrer,
como bem destaca Bertucci (1999) apud Machado (2002) seus objetivos acabam por ser
83
pouco definidos, complexos, mutáveis e contraditórios; as conexões entre meios e fins não são
claras, tecnologias ou estratégias diversas produzem resultados similares, conexões entre entradas e
saídas não são facilmente estabelecidas; as influências do ambiente impactam de modo desigual nas
unidades internas; diferentes padrões de efetividade operam simultaneamente e podem, inclusive,
interferir negativamente
.
Os problemas de gestão citados acima podem interferir nas relações entre os colaboradores,
uma vez que, segundo Birnbaun (1998) não é raro encontrar um dualismo de controle na dinâmica
acadêmica. Sendo que, de um lado, existe uma estrutura administrativa,
hierarquicamente
estruturada, cuja autoridade respalda-se no sistema burocrático de delegação e responsabilização
racionalmente concebido. No outro extremo es a estrutura profissional, que tem sua fonte de
autoridade no conhecimento e nas relações entre os pares dentro de cada área de conhecimento,
muitas vezes também conflitante entre elas. Na maioria das organizações
,
este conflito
é
equacionado pela submissão da autoridade profissional à autoridade administrativa
(MACHADO,
2002, p. 29)
.
Na organizaçã
o universitária, dessa forma, é comum o entendimento de que a
estrutura
administrativa é meio à consecução dos objetivos calcados no conhecimento, na prática, o
conflito é
potencialmente permanente.
4.2.2 As Organizações Intensivas em C
onhecimento
(OIC)
Este tópico não pretende classificar a organização objeto deste estudo com uma (OIC),
porém, várias características observadas durante as entrevistas e pesquisa docume
84
ser caracterizadas, na concepção de Alvesson (2001, 1995), como organização intensiva em
conhecimento. Em relação a sua estrutura, a (OIC) caracteriza-se por ser descentralizada, com um
número pequeno de níveis hierárquicos, bem como ausência de controles mais burocráticos e um
divisão do trabalho não muito delimitada. Além disso, a organização do trabalho é baseada em
projetos, ou seja, equipes representam a base da configuração organizacional, mas o formadas à
medida que surgem novos projetos e dissolvidas tão logo esses projetos são realizados.
No que se refere à liderança, geralmente o líder apresenta o problema e os limite
85
trabalho e da subjetividade a partir da lógica processual-relacional como alternativa frente à lógica
de gestão sistêmico-controladora.
4.3
O
t
rabalho
, a subjet
ividade e a
gestão.
Este
tópico se propõe apresentar e discutir qual o significado do trabalho na visão dos
entrevistados de uma organização universitária, bem como as repercussões subjetivas do mesmo e a
forma de gestão adotada pela organização objeto
deste estudo.
4.3.1 O t
rabalho e seus sentidos
A análise das falas dos entrevistados sobre o sentido do trabalho será feita por meio das
contribuições teóricas de Morin (2001), conforme a autora compreender os sentidos do trabalho
hoje é um desafio importante para os administradores, tendo em vista as múltiplas transformações
que têm atingido as organizações e os mundo do trabalho .
Nos últimos trinta anos ocorreram inúmeras transformações no mundo do trabalho
,
diante
dessas metamorfoses, os indivíduos buscam adaptar-se à nova ordem (SENNETT, 2000). O
indivíduo se defronta com uma sintaxe dominada pelo capital, na qual reina o pensamento de curto
prazo e que estimula os trabalhadores a deixarem de perceber o trabalho como uma parte da vida,
sentindo
-o como uma forma de sobrevivência e acumulação de riquezas (CHANLAT, 1994).
Ao
mesmo tempo, as organizações modernas alcançaram uma importância que nunca tiverem antes e
estão assumindo o papel de atores centrais da sociedade (FREITAS, 1999, p. 95). Para Cha
nlat
(1994),
a principal causa da primazia das organizações sobre o homem deve-se à subordinação do
trabalho ao universo dos objetos mercadorias e à racionalidade econômica. O mundo do trabalho
na
86
concepção de Malvezzi (2004, 14) está configurado dentro de uma nova sintaxe, a qual é
caracterizada pelas seguintes características.
Crescimento da automação e da dependência de informação, pela complexidade da
intersecção de múltiplos processos na produção do desempenho e da realização do
trabalhador, dentro de um contexto de condições singulares que frequentemente demanda
adaptações que superam os limites da condição humana.
Esta n
ova sintaxe
, também é caracterizada por um processo de intensa racion
alização, o qual
produz de forma incessante a contínua alienação do trabalhador. No interior das organizações o
controle sobre o tempo de trabalho ainda predomina, mas agora com novos sistemas de
cronometragem. De acordo com Chanlat (1994), a cobrança de resultados executados por metas a
serem atingidas é um exemplo de um novo controle adotado pelas organizações, passando a
responsabilidade dos resultados e da própria remuneração aos trabalhadores. Para Antunes (1995),
as mudanças que estão em curso produzem uma classe trabalhadora fragmentada, complexa e
heterogênea,
a qual se apresenta altamente qualificada em alguns setores e extremamente
desqualificada e precarizada em outros.
A categoria trabalho , dessa forma, após as transformações ocorridas, continua
apresentando
conotações ligadas ao sofrimento, à
punição,
a condições insalubres, qualidades cuja
origem
remonta
ao distante início do século XX, com a introdução do modo taylorista/fordista de
produção
(BRAVERMAN, 1977). Na sociedade contemporânea, de acordo com Bauman (2001) o
trabalho
também está associado a questões positivas, como, por exemplo, à eliminação da miséria e
da pobreza pelo aumento da riqueza mas, de forma inerente a esta idéia está a proposta de
contribuição para o estabelecimento da ordem no intuito de colocar a sociedade humana no
comando de seu próprio destino. O trabalho, por meio desta concepção é entendido como uma
atividade na qual toda a humanidade deve estar envolvida por seu destino e natureza, e não por
escolha, a fazer parte da história, sendo definido como um esforço coletivo de que
cada membro da
87
espécie humana tinha que participar (ENRIQUEZ, 1999, p. 171 apud PICCININI; OLIVEIRA;
FONTOURA; SCHWEIG, 2004).
O sentido do trabalho na sociedade contemporânea, entretanto, foi intensamente estudado e
compreendido,
a partir dos estudos do grupo MOW (Meaning of Work, 1987) em oito países e,
posteriormente
, pelas pesquisas de Morin (2001), as quais tem demonstrado que a maioria das
pessoas, mesmo que tivessem condições para viver o resto da vida confortavelmente, continuariam
a trabalhar, pois o trabalho, além de fonte de sustento é um meio de se relacionar com pessoas, se
sentir como integrante de um grupo e da sociedade, para terem uma ocupação, um objetivo a ser
atingido na vida. Além disso, apontam que o trabalho pode assumir tanto uma c
88
Padrão F: o trabalho tem um horário determinado para sua realização; faz parte das.
tarefas do indivíduo; e, recebe
-se alguma compensação financeira para fazê-
lo.
O trabalho, dessa forma, assume várias definições, que em últim
a instância
, na concepção de
Piccin
ini;
et al
(2004, p.
4)
podem
ser classificadas em padrões.
Os padrões A, B e C apontam uma idéia positiva de trabalho, destacando sua contribuição
para a construção de algo maior, sua importância na vida dos indivíduos e seu caráter
social, respectivamente. O padrão A aproxima-se da concepção marxista de trabalho, onde
o homem transforma natureza com seu esforço contribuindo para a construção de algo
maior. O B está ligado à concepção contemporânea de trabalho, defendida por Dejours
(1987) e Kovács, (2002), que destacam a importância que o trabalho adquiriu na vida dos
indivíduos, tornando-se central na sua vida. O padrão C representa a idéia moderna de
trabalho que é visto como o construtor da sociedade e contribuir para alguém. Os
padrões D e E mostram concepções negativas do trabalho, apresentando-o como uma
atividade desagradável, exigente física e mentalmente e que se é obrigado a realizar para
ganhar a vida. Ambos remetem à concepção clássica de trabalho, nascida nas antigas
civilizações, onde o trabalho era tido como algo pesaroso que não dignifica o homem. Já o
padrão F apresenta uma concepção neutra: uma visão de que o trabalho é toda tarefa que é
executada e recompensada. Esta visão é a responsável pela não diferenciação entre
trabalho e emprego, na qual predomina apenas a visão de troca da força do empregado
pelo salário pago pelo empregador.
Os diferentes padrões encontrados nos estudos do grupo MOW, de acordo com os autores
citados acima, demonstra a complexidade para a análise do trabalho na sociedade atual, refletindo
os diferentes enfoques dos indivíduos. A explicação para estes diferentes padrões p
ode
ser
encontrada
por meio de diversos fatores, tais como organização do trabalho, reestruturação das
empresas
na lógica da racionalização flexível, dentre outras.
Comparando as respostas dos entrevistados do presente estudo, com as concepções
históricas e os diferentes padrões de significação do trabalho, verifica-se que traba
89
[...] trabalhar para mim é me sentir útil, em busca de desafios, superar as dificuldades do
dia-a-dia, minha vida sem o trabalho não tem um significado, você precisa trabalhar para
se sentir útil, uma razão para estar no mundo, relacionar-se com o mundo e com as
pessoas...(Chefe de departamento).
Outras significações podem ser encontradas na fala deste entrevistado, o qual vincula o
trabalho a sua auto-realização pessoal, bem como ao sentimento de contribuição e realização
pessoal e coletiva. Nesta fala, aparece claramente o padrão C de categorização de trabalho.
Esta
categorização representa a idéia moderna de trabalho que é visto como o construtor da sociedade
e contribuir para alguém.
[...] com o meu trabalho eu busco a auto-realização, é isso que me move, pois às vezes a
gente consegue o que queria outras vezes você tem que recuar, mas o saldo é positivo, mas
a expectativa que eu tenho com o trabalho é de contribuição, de realização pessoal e dos
objetivos de minha equipe (Gestor 1).
Diante do exposto, pode-se examinar que existe relação e similaridade entre a fala dos dois
entrevistados, porém, no primeiro caso, o trabalho é entendido como uma forma de estabelecer
relações de utilidade e auto-estima, bem como de estabelecer relações afetivas. Na segunda fala,
pode-se verificar que o entrevistado busca a auto-realização com seu trabalho.
Para Maslow (2000) a auto-realização surge somente quando o indivíduo alcançou a
satisfação de todas as outras necessidades humanas, tais como: as necessidades fisiológicas,
necessidades de segurança, necessidades sociais e de amor e necessidades de auto-estima. Portanto
a necessidade de auto-realização, ocupa o topo da pirâmide das necessidades humana, proposta por
Maslow (2000). A necessidade de auto-realização total é o desejo de chegar a ser, cada vez mais, o
que se é (MASLOW, 2000, p. 56).
Em relação à auto-realização no trabalho, constatou-se que um dos entrevistados não
demonstra satisfação em relação às tarefas que vem desempenhando. Neste caso é necessário
explicitar que o respectivo entrevistado trabalhava até a pouco tempo como docente, atividade que
era desempenhada mais de cinco anos. Por motivo de substituição de coordenação de vários
90
cursos de Graduação, processo que ocorreu recentemente na organização pesquisada, este foi
convidado a assumir o cargo de coordenador, mesmo contra sua vontade, sendo que, no momento
ele era o colaborador mais capacitado para assumir tal função.
[...] na verdade eu fui literalmente convidado a assumir um cargo que não era do meu
agrado, mas no momento não havia ninguém para assumir, então nesse caso eu aceitei...
(Coordenador de curso 2).
Durante a entrevista, foi repetidamente salientado pelo entrevistado o caráter burocrático de
sua nova função e a rigidez de algumas diretrizes inflexíveis que são repassadas pelos órgãos
superiores da universidade. Quando perguntado sobre qual o sentido de seu trabalho, o entrevistado
relata sua insatisfação com o atual papel desempenhado na organização.
[...] o trabalho que eu executava em sala de aula como professor era gratificante, me
realizava, via mais utilidade no que eu fazia, mas no cargo que estou trabalhando no
momento, não vejo sentido, na parte administrativa em que estou no momento eu não vejo
muito futuro, não vejo perspectiva de realização nenhuma, não me identifico, pois na sala
de aula você pode se aprimorar, se preparar para um doutorado, mas nesse cargo não, pois
eu fico preso a picuinhas administrativas que devem ser seguidas dentro das normas da
instituição, pois poderiam contratar alguém ganhando bem menos e fazendo o mesmo
trabalho. Eu aceitei esta responsabilidade, mesmo ganhando menos, pois tenho uma forte
vinculação com a comunidade local, com o meio em que eu mesmo resido, pois antes
disso eu trabalha em outra cidade também, então agora ganho menos, mas estou em casa.
(Coordenador de curso 2).
Neste caso, apura-se que, o entrevistado está executando uma atividade que na sua
concepção não tem sentido, pois é constituído de tarefas burocráticas, que permitem pouca
flexibilidade para a mudança, ou seja, alguém determina o que fazer, tornando seu trabalho não
agradável, conforme Morin (2001), padrão C, representa a idéia moderna de trabalho que é visto
como o construtor da sociedade e contribuir para alguém. Se
gundo a análise proposta por Dejours
(1997) apud
Piccinini;
et al
,
2004, p. 4):
O trabalho, além de ter um caráter de julgamento utilitário, significa para o trabalhador
uma forma de afirmar sua identidade por meio das atribuições individuais inseridas por ele
na realização da tarefa. Desta forma o sentido atribuído pelos indivíduos ao trabalho é
composto pela utilidade para a organização e para a sociedade, relacionado com a idéia de
finalidade e objetivo. Ao mesmo tempo confere ao operário a identificação com a tarefa
permitindo o sentimento de realização e satisfação com a execução de um trabalho, além
de sentir
-
se
inserido no grupo ao ter seu trabalho reconhecido pelos pares.
91
Do mesmo modo em que algumas atividades dos gestores são percebidas como altamente
burocráticas e sem sentido, outras atividades que complementam esta perda de sentido no trabalho
são destacadas.
[...] sim, meu trabalho é bastante burocrático, mas também consigo fazer coisas diferentes,
não fico fazendo a mesma coisa todo dia, na verdade eu consigo controlar a forma e o meu
jeito de trabalhar, meu ritmo, eu procuro dialogar com os acadêmicos, com os professores,
saber o que eles estão realizando, assim a gente vai levando, daí nosso dia-a-dia não fica
tão pesado ( Coordenador de curso 2).
Esta fala confirma que apesar do caráter repetitivo e burocrático de algumas atividades de
trabalho, a relação com os alunos, às atividades e cursos que são programados pela coordenação, o
envolvimento com a comunidade via projetos de filantropia, por exemplo, concede ao entrevistado
uma condição de ligação com a realidade do mundo externo, uma visão de que as atividades
organizacionais não são realizadas de forma autônoma, independente de seu mundo social e
cultural. Dessa forma, para Watson (2005, p. 18) esta ligação com a realidade externa é
fundamental, pois a burocracia cria um espírito de máquina, o efeito desse tipo de pensamento
sobre as pessoas e suas relações com mundo exterior estimula uma visão dos seres humanos
separados de seu mundo social e de sua cultura: uma visão de entidades isoladas .
O próximo tópico discute a aproximação entre subjetividade fazendo uma conclusão parcial
sobre o sentido do trabalho no ambiente organizacional estudado e a gestão de pessoas. O material
coletado nas entrevistas será analisado conforme a proposta de Watson (2005), o qual entende que,
para caracterizar a organização com base nos processos organizadores que a sustentam deve-se
considerar as relações que geram tais processos. Este processo de relações é entendido pelo autor,
como uma lógica processual-relacional de gestão. Para Bradbury e Lichtenstein (2000) apud Davel
e Vergara (2005, p.11) adotar uma concepção relacional significa aceitar que o trabalho de uma
organização ocorre no espaço de interação de seus membros, ou seja, no espaço entre pessoas
92
conteúdos coletados na entrevista é discutida a possibilidade de repensar e de renovar a atuação
humana nas organizações contemporâneas .
4.3.2 A subjetividade no trabalho
A subjetividade no trabalho está sendo colocada na ordem do dia das organizações
contemporâneas, as quais esperam não ser percebidas unicamente como sistemas de produção ou
sistemas sociais. Em relação a este novo cenário que se apresenta no mundo das organizações,
Alvesson; Becker e Gerhart (1997, 1996) apud Davel e Vergara (2001, p. 31) expressam que:
As pessoas tornam-se fonte verdadeira de vantagens competitivas por causa de seu valor,
sua raridade, suas inimitáveis e insubstituíveis qualidades humanas, ou seja, por causa da
capacidade original de combinarem emoção com razão, subjetividade com objetividade
quando concebem situações, quando desempenham tarefas, interagem e decidem. Por isso,
a gestão que lida com pessoas torna-se atividade fundamental para a sobrevivência e o
sucesso das organizações, as quais enfrentam cenários cada vez mais competitivamente
turbulentos.
As pessoas, desta forma, não fazem somente parte da vida produtiva das organizações, elas
agregam um valor fundamental na sua dinâmica de funcionamento. Para Davel e Vergara (2001, p.
32), as pessoas inovam, criam, recriam contextos e situações que podem levar a organização a se
posicionar de maneira competitiva, cooperativa e diferenciada com clientes, outras organizações e
no ambiente de negócios em geral .
A subjetividade, por esse entendimento, remete a um movimento dialético de construção no
entrecruzamento dos objetivos coletivos organizacionais e os objetivos particulares do trabalhador,
ou seja, seu modo de ser não pode ser deslocado do contexto e assim, não separado da categoria
trabalho. Neste sentido, está clara a necessidade dos gestores reconstruírem sua forma de atuação,
enriquecendo seu entendimento sobre a singularidade das individualidades e da experiência vivida
no coletivo. Renovar uma visão que não seja tão ortodoxamente reducionista do ser humano
93
impõe aos gestores um esforço de integrar outros tipos de indivíduos, para além do homo
economicus e racional. A proposta é incluir o homo interior, homo subjectivus, homo colectivus
(DAVEL; VERGARA, 2001, p. 42). Esses autores se apóiam nas idéias de Faye (1991)
expressando que;
A contribuição da consideração da subjetividade no estudo das pessoas nas organizações é
a de tornar compreensível a experiência humana em sua fonte mais complexa, rica e
profunda. No pensamento filosófico grego, subjetividade é aquilo que é fundamental ao
ser humano e que permanece subjacente. Designa a interioridade da pessoa, a
singularidade e a espontaneidade do eu, enfim, ela é tudo aquilo que constitui a
individualidade humana e que sedimenta todo e qualquer conhecimento possível.
Compreender a dimensão da experiência humana em profundidade significa entender que as
pessoas necessitam de espaços em que possam expressar-se, seja pela via do diálogo, da
negociação, da inovação, da mudança e principalmente pelas relações interpessoais, as quais
possibilitam a construção de práticas de gestão processual-relacionais. De acordo com Watson
(2005, p. 19);
A forma processual-relacional de caracterização e da gestão incentiva, portanto, a olhar os
membros da organização e as próprias organizações como facetas mutantes de relações
sociais, econômicas, políticas e culturais. A organização é um conjunto de acordos e de
entendimentos, é uma busca contínua de interações humanas e de processos criadores de
significados.
A relação entre subjetividade e trabalho, nesse sentido, também remete à análise da maneira
como os sujeitos vivenciam e dão sentido às suas experiências laborais. Porém, o presente tópico,
não tem interesse de discutir historicamente a relação entre a subjetividade e trabalho, mas sim,
apresentar as relações existentes entre ambos, a partir da realidade de uma organização de ensino
superior que passou e passa por mudanças e inovações constantes nos últimos cinco anos de sua
existência. Assim, a subjetividade será discutida a partir de dois planos específicos, de acordo com
Watson (2005, p. 19), o plano individual e o plano organizacional.
No plano individual precisamos reconhecer que nossos sentimentos acerca do mundo, bem
como as nossas habilidades racionais, influenciam nossas ações mutuamente, e que, ao nos
relacionarmos efetivamente com os demais, necessariamente levamos em conta seus
sentimentos, assim como as razões que existem atrás de suas ações.
94
Delimitando, dessa forma, o enfoque do estudo da subjetividade no trabalho, a análise
realizada a seguir foi dividida em dois blocos diferentes. No primeiro, busca-se entender, no plano
individual, como ocorrem os processos relacionais entre as pessoas da organização. Para que isto
fosse possível, os seguintes pontos foram investigados: oportunidades de diálogo, negociação,
tomada de decisão e satisfação no trabalho. No segundo bloco de análise, o foco está voltado para o
plano organizacional, suas estruturas e processos, apresentando-se para isso, os seguintes temas:
ambiente de mudanças, inovação, valorização humana, competitividade e tarefas rotineiras.
Conforme Watson (2005, p. 19), no plano organizacional podemos apontar que os sentimentos,
tanto das pessoas que trabalham para a empresa como daquelas que usufruem seus serviços na
condição de clientes, influenciam a forma como elas agem em relação ao negócio .
Inicialmente as falas são analisadas no plano individual, sendo que, o primeiro ponto
estudado é a possibilidade de diálogo existente na organização pesquisada. De acordo com as
palavras de um dos sujeitos da pesquisa, a organização possui um arranjo próprio para a edificação
do diálogo e da comunicação, o qual foi construído no intuito de melhorar a comunicação e o
diálogo, ineficiente até então.
Em relação ao diálogo, po
de
-se dizer que a
Unoesc
tem uma estrutura colegiada que passa
pelos cursos, que passa pelos conselhos de gestão, que tem representações interna e
externas da comunidade acadêmica, o conselho universitário, mas mesmo assim, nós não
somos uma universidade que tem uma larga vivencia de eleger pessoas para todos o
s
postos
.
A
universidade se concentra hoje na eleição do reitor e o reitor posiciona os demais
cargos
, como cargos de confiança para poder criar um sistema que lhe permita gerenciar a
universidade, por que a gente até em modelos passado
s,
em
que vários
car
gos eram eleitos
e durante os
mandatos de quatro anos
,
uma pessoa que tinha um mandato eleito e outra não
apresentavam algumas dificuldades de relacionamento. Naquela época tínhamos
problemas sérios de comunicação, diálogo e agora não. Agora, o reitor é el
eito
por uma
eleição que não é universal, é uma eleição composta por um colegiado muito grande [...] o
diálogo é construído
, ou seja, é difícil não haver diálogo dessa forma (Gestor 1).
Pelo exposto, percebe-se que existem espaços de diálogo na organização, os quais foram
desenvolvidos, erigidos, de forma coletiva por meio da eleição de colegiados e conselhos, bem
como, pela indicação de cargos de confiança. Assim, espaços em que os colaboradores podem
95
chegar a acordos e entendimentos, o que permite uma busca contínua de interações humanas e
processos criadores de significado (WATSON, 2005). Este espaço de diálogo foi estabelecido, mas
fica evidente que o foco do diálogo se situa nos cargos gerenciais e de coordenação, visto que, o
modelo de comunicação adotado pela universidade anteriormente era incapaz de proporcionar
espaços de diálogos efetivos. A seguir, é possível entender de que forma ocorre o diálogo na
organização, principalmente nas questões que envolvem diretamente colaboradores e acadêmicos,
na percepção dos gestores, coordenadores e chefes de setor.
O diálogo é construído, principalmente na área acadêmica, s temos uma visão que a
democracia por si só, às vezes, não funciona, se você chamar e ouvir 1000 alunos, não
quer dizer que esses mil alunos saibam o que é melhor para a Universidade. Às vezes é
melhor você ouvir um grupo de professores ou funcionários, que estão completamente
comprometidos, eles vivem na universidade, eles sabem das coisas. O aluno, às vezes,
quer coisas para ele que nós, enquanto professores e funcionários, não podemos dar, pois
somos comprometidos com a formação dele, se nós deixarmos como ele quer, no futuro
ele até vem nos cobrar. Então nessa relação o diálogo é construído (Gestor 1).
Existe possibilidade de diálogo sim, todos podem conversar, discutir, propor, não há
restrição de espaços de fala, sempre consegui conversar, discutir, quando necessitei,
enquanto coordenador sempre fui escutado e sempre me coloquei a disposição dos
professores para escutá-los (Coordenador 2).
Temos estrutura para tomar decis
ões,
o diálogo acontece, pois temos uma gestão aberta,
que liberdade às pessoas para que busquem alternativas e não escondam nada, temos e
fornecemos suporte para que as pe
ssoas possam seguir em frente
(Chefe de s
etor)
.
Os espaços de diálogo, dessa forma, entre os funcionários técnicos administrativos e
acadêmicos, em geral, seguem o mesmo modelo utilizado pela gerência e pelas coordenações de
curso. Assim, constata-se que a organização, segundo a proposta de Watson (2005), adotou para o
diálogo a lógica processual-relacional, na qual os gestores se envolvem em processos de persuasão
e na criação de significados para outros agentes organizacionais, em vez de tentarem gerenciar pela
distribuição de comandos. Nesse sentido, para o autor, se os gestores são competentes na hora de
dialogar, também os colaboradores serão na hora de comunicar, pois é a partir dos espaços
dialógicos que a dimensão objetiva e subjetiva do colaborador pode se manifestar.
96
Outro ponto importante do nível individual em relação à subjetividade no trabalho é a
participação dos colaboradores na tomada de decisão. Na percepção dos gestores a participação dos
colaboradores pode ser aperfeiçoada, conforme segue.
Eu diria que na verdade elas participam, mas nós ainda estamos em um processo de
desenvolvimento. Eu até invento algumas analogias, como por exemplo, se você nunca foi
chamado a pensar e sim a sempre obedecer, como é o modelo mais tradicional da
organização do trabalho e isso está na nossa c
abeça,
por
que sempre houve uma separação
entre capital e trabalho, então, às vezes a gente nem quer que a nossa empresa vá bem, por
que você sabe que um cara vai ficar rico e não você, então nos ainda temos algumas
distorções
(Gestor 1).
Na
percepção deste gestor, os colaboradores
oferecem
uma participação parcial, os
colaboradores
ainda apresentam algumas resistências pessoais na hora d
97
decidir compete aos gestores e a tarefa de executar aos colaboradores em geral, a clássica div
isão
dos que planejam e dos
que executam.
Na concepção de Taylor (1986, p. 51).
O trabalho de cada operário é completamente planejado pela direção, pelo menos, com um
dia de antecedência e cada homem recebe, na maioria dos casos, instruções escritas
completas que minudenciam a tarefa de que é encarregado e também os meios usados
para
realizá
-
la
.
Na execuç
ão
, o trabalhador deve ser poupado de pensar para que possa repetir os
movimentos ininterruptamente, ganhando em rapidez e exatidão. Tem, portanto, na padronização,
no parcelamento e na separação da concepção da execução do trabalho os principais recursos
instrumentais para aumentar tanto a produção quanto o controle sobre ela. Dessa forma, os sujeitos
da pesquisa, expressam opiniões diferentes a respeito dos processos de trabalho afirmando que;
Os processos e, na verdade grande parte das decisões possuem sim uma pré organização
racional (aqui o coordenador expressa que as tarefas são pré-determinadas), ou seja,
existem interferências sobre como devemos fazer e porque, mesmo que subliminares mas
existem, mas também deve deixar registrado que há uma boa margem de mudança, há uma
margem de manobra, os processos não são totalmente rígidos (Coordenador 1)
O nosso sistema e processo de trabalho é construído, temos que organizar, estruturar os
nossos dados, é claro que algumas coisas não podemos mudar, mas grande parte das
atividades nós mudamos e construímos (Chefe de setor).
Pelo exposto, verifica-se a existência de opiniões diferentes a respeito da decisão sobre os
processos de trabalho. No primeiro caso, na visão do coordenador de curso, os processos de
trabalho em geral e suas decisões departamentais sofrem interferência subliminares dos gestores,
mas apesar delas uma grande margem de manobra e comportamentos emergentes surgem,
conforme as necessidades de trabalho. No segundo caso, os processos de trabalho são
completamente flexíveis e podem ser modificados de acordo com as necessidades, apesar de existir
alguns procedimentos que não podem ser alterados, pois são padronizados. Entretanto, pode-se
concluir que os processos de trabalho não repercutem negativamente na subjetividade dos
trabalhadores. A organização, objeto deste estudo apresenta uma característica processual-relacional
em relação aos processos de trabalho. Conforme Watson (2005, p. 20), as organizações são
98
padrões emergentes, resultantes de processos e trocas, negociações, conflitos e compromissos,
assim como, são elementos de atividades gerenciais .
Quanto ao tratamento que organização dispensa aos trabalhadores no dia-a-dia, há um
consenso entre os gestores, de que o este está atrelado ao líder de cada setor. Ao mesmo tempo,
afirma-se que a valorização das pessoas, principalmente dos técnicos administrativos, deve ser
desenvolvida, pois no momento não existe um sentimento de valorização por parte destes
colaboradores, conforme segue abaixo;
No caso da valorização humana, eu acredito que depende do líder, se você passear pela
uni
versidade, você vai ver que tem e
99
restituindo ao sujeito todo o seu espaço, sem o qual não existiria ator verdadeiro. Do contrário, a
falta de eqüidade aparente nas relações hierárquicas, contribuirá de forma substancial para a não
participação efetiva dos colaboradores e a falta de comprometimento, pontos elencados
intensamente na fala dos gestores. Nas palavras de Davel e Vergara (2001, p.
20)
,
Querer que todo mundo seja ator em seu meio de trabalho é querer que cada um mobilize
sua subjetividade e que todos possam expressar-se sobre sua experiência de trabalho
cotidiana. Se não existe ator autêntico sem a mobilização plena e integral do sujeito que o
habita, a que
stão da subjetividade remete à construção de espaços de expressão que podem
consagrar à palavra livre todo o seu lugar. Isso por que não existe subjetividade sem a
expressão de si. As organizações nas quais vivemos permitem tal expressão?
Pode
-se afirmar, nesse sentido, que existe valorização da dimensão subjetiva do trabalhador
na organização pesquisada, porém alguns pontos específicos podem ser melhorados. Entretanto,
pode
-se afirmar, há por parte dos gestores o entendimento de que as pessoas são seres relacionais e
que a individualidade somente é possível como resultado das relaç
ões com os demais. A partir deste
entendimento
, o assunto a seguir discutirá a lógica de gestão utilizada pela organização, indicando
se esta opera mais pela lógica sistêmico-
co
ntroladora ou pela lógica processual-relacional, duas
lógicas diferentes de pensar a gestão organizacional, propostas por Watson (2005).
4.3.3 Gest
ão: da lógica sistêmico
-
controlador
a à lógica processual
-
relaciona
l
Este item se propõe
a
discutir e enten
der
a lógica administrativa da organização pesquisada
,
a partir da percepção dos gestores, sobre alguns pontos específicos, tais como:
burocracia,
políticas
e práticas de gestão, ambiente de mudança, processos e estruturas organizacionais. Estes pontos
for
am escolhidos, devido ao fato de que, permitem a visualização da lógica de gestão adotada pela
organização em estudo.
Ressalta
-se, que a organização objeto de estudo, classifica-se como
uma
i
nstituiç
ão de ensino superior e como uma
or
ganização
intensiva em conhecimento (ALVESSON,
2001).
100
Nas organizações universitárias, problemas de gestão podem facilmente ocorrer, como bem
destaca Bertucci (1999) apud Machado (2002),
pois
seus objetivos acabam por ser
em
pouco
definidos, complexos, mutáveis e contraditórios; as conexões entre meios e fins não são claras,
tecnologias ou estratégias diversas produzem resultados similares, conexões entre entradas e saídas
não são facilmente estabelecidas; as influências do ambiente impactam de modo desigual nas
unidades internas; diferentes padrões de efetividade operam simultaneamente e podem, inclusive,
interferir negativamente gerando conflitos. Na maioria das organizações
,
este conflito
é
equacionado pela submissão da autoridade profissional à autoridade administrativa (
MAC
HADO
2002, p. 29). Nas organizações intensivas em conhecimento, a maior parte do trabalho é
caracterizado como sendo de natureza intelectual e desenvolvido por profissionais altamente
qualificados e bem educados. Dessa forma, as organizações universitárias, podem ser
caracterizadas, na concepção de Alvesson (2001, 1995), como organização intensiva em
conhecimento.
Também se faz necessário, antes de iniciar a análise das entrevistas,
retomar a caracterização
das
duas lógicas de gestão, objeto deste estudo. Essas duas formas discursivas de caracterizar as
organizações foram propostas por Watson (2005). Para o autor existem duas lógicas de gestão nas
organizações contemporâneas. A gica sistêmico-controladora e a lógica processual-
relacional.
A
forma sistêmica controladora de caracterizar a gestão, as organizações são percebidas como
entidades autônomas, tratadas de certa forma como alheias aos membros que a constituem e ao
mundo em que estão.
Watson
(2005, p. 18)
, afirma que,
as organizações são efetivamente definidas como grandes máquinas sociais, desenhadas,
controladas e mantidas por gestores. Esses gestores o engenheiros organizacionais, que
aplicam seu conhecimento técnico-administrativos a consecução dos objetivos do sistema.
[...] cada pessoa possui uma série de necessidades pré-determinadas, às quais seus
objetivos e motivos estão relacionados, e se os gestores oferecem oportunidades de
satisfação dessas necessidades, o indivíduo é motivado por esta promessa de satisfação [...]
o indivíduo é tratado como um pequeno sistema mecanizado cujos motivos funcionam
como um motor que leva a entidade humana a se comportar de forma particular.
1
01
Contrariamente à lógica citada acima, a caracterização processual-relacional da gestão,
incentiva os padrões de relações e processos emergentes. Incentiva, portanto, no entendimento de
Watson (2005, p. 19);
A olhar os membros da organização e as próprias organizações como facetas mutantes de
relações sociais, econômicas, políticas e culturais das quais fazem parte desde sempre, em
vez de tratá-los como previamente existentes. [...] A empresa é um conjunto de acordos e
de entendimentos; é uma busca contínua de interações humanas e de processos criadores
de significados.
Den
tro deste enfoque foi
indagado
aos entrevistados, se o trabalho que realizam é definido
por ações previamente estabelecidas racionalmente, rotinas, por exemplo, ou existe a possibilidade
de intervenção sobre os processos de trabalho
,
Bom, como a universidade é grande, o volume de trabalho também é, como dirigente eu
sempre me pauto a ter que seguir determinadas rotinas que a universidade me impõe, mas
eu sempre deixo aberto pelo menos 30% do meu tempo para pensar e pensar
conjuntamente com pessoas, tanto que situações de envolvimento de alguns meses que
você está envolvido com todos os cursos e as vezes situações em que você fica quase
um ano sem saber o que esta acontecendo com o curso. Então isso depende das dinâmicas,
das necessidades e do quanto nos chamam ou dos momentos que a gente tem para estar lá.
Mas nós temos tido tempo de estar lá, então meu trabalho não é rotineiro, tem rotina
porque ela faz parte das organizações, mas ainda assim o tempo é muito utilizado para
você poder ter uma estrutura, assim de decisões que envolvem pensamento, diálog
o,
conversa. E esses trinta por cento e
às
vezes até mais, é uma coisa aberta, ou seja, não é
que chame
eu
alguém e diga: - Olha vou poder ficar apenas cinco minutos contigo, é a
gente trocar, entender, entrar um pouco no mundo do outro, por que senão você tem uma
perspectiva de legal, mas na verdade não tá, porque o colaborador não se sente seguro
pra falar
102
Em relação aos processos, o nosso sistema é construído, temos que organizar, estruturar os
nossos dados, é claro que algumas coisas não podemos mudar, mas grande parte das
atividades nós mudamos e construímos (Chefe de departamento). Você tem que adotar o
princípio de racionalidade, isto é básico, nós temos que estabelecer alguns padrões (...) o
que a gente faz é garantir que aja uma certa padronização dos processos, mas no geral o
que se estabelece, por exemplo, o reuniões mensais de uma hora e meia e contato
freqüente com coordenadores de curso para que nós gestores possamos entender o que está
acontecendo lá fora (Gestor 1). Busca-se a racionalidade, mas constantemente sendo
aperfeiçoada pelo diálogo e pelas conversas que a gente pode estar estabelecendo com as
pessoas da organização (Coordenador 2)
A possibilidade de mudança, de inovação e flexibilidade também aparece na fala dos chefes
de departamentos. Vale ressaltar que, geralmente em se tratando da gestão, os departamentos são
espaços diferenciados em que os processos de racionalização e controle assumem posto de comando
(WATSON, 2005). Dessa forma, percebe-se que para os gestores da Unoesc, as organizações são
padrões emergentes, resultantes de processos de trocas, negociações, conflitos e compromissos,
assim como, são elementos de atividades gerencias racionais e ao mesmo tempo, emergentes.
Porém, ao serem questionados sobre as políticas e práticas de gestão de pessoas da instituição,
estes
apresentam diferentes percepções.
Olha
, para quem está chegando à instituição estimula, mas para quem está mais tempo na
instituição não mais horizonte a ser
conquist
ado.
Você em dois anos c
e
g
a
103
colaboradores podem pensar sobre o que são e o que podem ser (WATSON, 2005).
Aparece
também, uma insatisfação quanto às possibilidades de auto-realização, as quais, de acordo
com
Maslow
(2000), são as necessidades humanas mais elevadas, levam a pessoa a tentar realizar seu
próprio potencial e se desenvolver continuamente como criatura humana ao longo de toda a vida,
[...] é um impulso da pessoa em tornar-se mais do que é e de vir a ser tudo o que pode ser.
Assim,
não é possível afirmar, que as políticas e práticas de gestão de pessoas da
Unoesc
não contemplam a
auto
-realização dos colaboradores,
pois
os entrevistados se expressam percepções difern t
s
i
s
t
o
qu
e
r d
104
[...] nos últimos cinco anos em relação à competitividade, eu diria que no segmento que a
gente decidiu atuar, que é o ensino de qualidade, nos somos muito competitivos. Nós
enxugamos processos e a gente consegue atender uma necessidade da comunidade
rapidamente por essa flexibilidade. Agora, se de alguma forma essas mudanças tem
possibilitado a valorização humana, eu acho que sim, porque nós fomos uma faculdade,
uma universidade, numa época em que elas eram geridas politicamente pelas pre
feituras,
naquele momento, quem
es
tava aqui não era alguém que entendia do ensino superior era
alguém que fazia parte de um partido político e que estava na gestão de um município, e
hoje a universidade conseguiu uma autonomia, que até faz parte da perspectiva da
universidade de que, embora ela interage num ambiente o ambiente não pode interferir em
seu funcionamento, então ao mesmo tempo em que a gente tem que interagir a gente tem
que se manter numa postura a parte, que em certo aspecto não permita uma mudança que
pudesse trazer retrocesso, então eu percebo que a valorização humana está present
e,
sempre podendo ser melhorada
(Gestor 2)
A valorização humana tem diminuído no decorrer dos anos e a competitividade está
aumentando
, penso que a
Unoesc
está valorizando menos as pessoas, mas em termos de
competitividade a organização está mais forte, mas competitiva hoje, pois ela continua
crescendo, mas a valorização humana tem diminuído, pois existem mais pessoas
d
105
Assim, cabe às organizações contemporâneas e respectivamente aos seus gestores, a tarefa
de trabalhar na direção de uma lógica organizacional capaz de permitir que a questão da
subjetividade seja mais amplamente admitida tanto nos discursos como nas práticas
organizacionais. Entende-se também, que as organizações contemporâneas não podem deixar de
perseguir objetivos capazes de criar vantagens competitivas para seus negócios, porém, uma gestão
apta a inovação, a mudança, a sintaxe dos novos tempos, deve equacionar sua gestão para que se
crie uma lógica processual-relacional capaz de, ao mesmo tempo, perseguir objetivos que criem
desenvolvimento organizacional por meio das pessoas e igual desenvolvimento para as pessoas.
106
PARTE V
CONCLUSÕES E RECOMENDAÇÕES
107
CONCLUSÕES
Como recuperar a destruição sistemática que os homens sofrem desde o
nascimento, na sociedade de competição e do lucro? Cuidados geriátricos não
devolvem a saúde física ou mental. Como deveria ser uma sociedade para que, na
velhice, o Homem permaneça um Homem? Seria preciso que sempre tivesse sido
tratado como Homem.
Beauvoir, (1976)
A parte conclusiva do presente estudo está articulado de forma a responder aos objetivos
propostos mediante a apresentação dos principais resultados da pesquisa, assim como apresenta
algumas constatações e sugestões para a
Unoesc
lidar com problemas que foram identificados na
pesquisa.
Pode
-se afirmar, a partir das inferências da presente pesquisa que, as transformaçõ
es
ocorridas historicamente no mundo do trabalho m repercutido na subjetividade dos trabalhadores
das organizações
contemporâneas. A
responsabilidade destas repercussões
pode ser atribuída
à
n
ova
sintaxe presente no cenário
organizacional,
a qual é caracterizada pelo crescimento da automação e
da dependência de informação, pela complexidade da intersecção de múltiplos processos na
produção
do desempenho e a incerteza e a ambigüidade dos eventos. Estas características, em
grande medida, têm forçado as pessoas a aprender habilidades em tempo mais curto que sua
108
condição humana permite, ou solicitadas a alterar suas identidades, sem que isso faça parte de seus
planos de vida. Dessa forma,
os
três
primeiros objetivos específicos foram atingidos pela
interpretaç
ão teórica, a qual acompanhava cada tópico de an
álise,
buscando sempre destacar as
principais relações existentes entre o trabalho, a subjetividade e a gestão das organizações
contemporâneas.
Para cumprir com o objetivo de analisar a relação existente entre as práticas de gestão das
organizações contemporâneas e a subjetividade do trabalhador, buscou-se identificar duas formas
alternativas de caracterizar discursivamente as atividades organizacionais e gerencias na
contemporaneidade: uma forma sistêmico-
co
ntroladora e outra processual-relacional. Assim, o é
possível afirmar de forma definitiva, quais são as práticas gerenciais presentes nas organizações
contemporâneas que repercutem diretamente na subjetividade dos trabalhadores, porém, pelos
resultados da presente pesquisa, é possível afirmar que, a lógica sistêmico-controladora e suas
práticas gerencias, na Unoesc, têm repercutido mais negativamente na subjetividade do
trabalhador
es.
A gestão, com base neste discurso define as organizações como grandes máquinas sociais,
desenhadas, controladas e mantidas por gestores. Tal visão legitima o poder dos gestores sobre seus
subordinados,
pois cada pessoa possui uma série de necessidades pré-
determinadas,
o que
impossibilita o aparecimento de acordos e de entendimentos, de interação humana e de processos
criadores de significados.
Evidenciou
-
se
pela literatura pesquisada,
que
as organizações universitárias, dada sua
natureza
possuem objetivos complexos e mutáveis, sendo que, não é raro encontrar um dualismo de
controle na dinâmica acadêmica. Estes pressupostos teóricos forma reafirmados pela presente
pesquisa, uma vez que se constata na Unoesc dualismo de controle, ou seja, uma estrutura
administrativa
com uma gestão baseada na hierarquia, na burocracia, na delegação e na
109
responsabilização. Por outro lado, existe a estrutura profissional, que tem sua fonte de autoridade e
espaço para diálogo no conhecimento e nas relações entre os pares dentro de cada área de
conhecimento, muitas vezes também conflitante entre ela
s.
Conclui
-se, a partir do estudo apresentado que as transformações ocorridas no mundo do
trabalho repercutem na subjetividade das pessoas e que esta repercussão está intimamente ligada a
lógica de gestão
adotada pelas organizações contemporâneas, o
que
re
quer algumas considerações e
compreensões:
O trabalho nas organizações tem sido estruturado demasiadamente em cnicas, modelos e
instrumentos racionais e objetivos. Essa visão discorre sobre as organizações como um sistema
racional de regras e de procedimentos estritamente planejados que garantem o cumprimento das
tarefas que asseguram a realização de objetivos corporativos.
De outra forma, a gestão de pessoas nas organizações deve pensar na atuação e na interação
humana como um processo dialógico, r
econh
ecendo a singularidade e a multiplicidade do ser
humano, de suas interações, de sua subjetividade se expressa nas relações de trabalho. Por este viés,
o ser humano passa continuamente por um processo de tornar-se, com base em uma identidade
emergente.
As pessoas, nesse contexto de trabalho das organizações contemporâneas conferem uma
vitalidade às atividades e processos de gestão, uma vez que o capazes de inovar, criar, programar
e implementar mudanças, tomar decisões em um contexto organizacional cada vez mais
competitivo e turbulento.
A partir do estudo realizado, evidenciou
-
se que o trabalho na Unoesc
é entendido como uma
forma de estabelecer relações de utilidade e auto-estima, bem como de estabelecer relações afetivas.
uma paridade entre as tarefas baseadas na burocracia e as atividades que exigem
110
comportamentos emergentes. Porém, atividades ligadas a coordenação dos cursos têm produzido
insatisfação, na medida em que devem seguir vários procedimentos repetitivos e burocráticos.
Em relação à comunicação organizacional, a Unoesc desenvolveu um processo de
comunicação eficiente, construído pelo coletivo de trabalhadores, o qual proporciona espaços de
diálogo e de negociação mais eficazes. Assim, há espaços em que os colaboradores podem chegar a
acordos e entendimentos, o que permite uma busca contínua de interações humanas e processos
criadores de significado. Esta forma de dialogar condiz com a lógica processual-relacional, na qual
os gestores se envolvem em processos de persuasão e na criação de significados para outros agentes
organizacionais, em vez de tentarem gerenciar pela distribuição de comandos.
A organização em estudo, também apresenta uma forte preocupação em relação a
participação dos colaboradores, os quais apresentam resistências pessoais na hora de contribuir, de
colaborar, de se comprometer. Sugere-se que a organização em estudo desenvolva atividades
específicas
para que as pessoas percebam a importância da participação, da iniciativa e da pró-
atividade. A participação está alicerçada co
m base na lógica sistêmico
-
controladora, na qual a tarefa
de pensar e decidir compete exclusivamente aos gestores e a tarefa de executar aos colaboradores.
Os processos de trabalho da Unoesc permitem flexibilidade e podem ser modificados de
acordo com as necessidades de cada atividade específicas. A
presentam
, portanto, uma característica
processual
-relacional, resultante de processos e trocas, negociações, conflitos e compromissos.
Entretanto, para os gestores existem muitas tarefas altamente rotineiras e sem sentido, as quais
poderiam ser eliminadas pela adoção de novas tecnologias e contratação de funcionários técnicos
administrativos preparados para tal função operacional, o que liberaria os gestores para as
atividades de cunho mais estratégico.
111
A Unoesc reconhece o papel das pessoas nas organizações, entende, contudo, que necessita
continuar aperfeiçoando suas políticas e práticas de gestão de pessoas. É necessário o
desenvolvimento de processos satisfatórios de atração de professores e funcionários, a
implementação de um plano de cargos e salários, a formulação e aplicação de estratégias adequadas
em termos da manutenção de pessoas e qualificação para o trabalho, criando com isto, uma maior
participação e mais efetivo comprometimento entre os colaboradores. A gestão de pessoas na
Unoesc, portanto, está em fase de estruturação e carece de políticas e estratégias claramente
definidas, tendo em vista que, as práticas e políticas de gestão existentes necessitam
aperfeiçoamento. Cita-se, por exemplo, a não existência de um plano de carreira implementado na
organização capaz de possibilitar a visualização das possibilidades de crescimento profissional de
cada colaborador, pois é através do planejamento deliberado e consciente da carreira que
colaboradores podem
pensar sobre o que são e o que podem ser.
A valorização humana, de modo geral, teve um desenvolvimento tímido em
comparação com a competitividade da organização, sendo que, os interesses individuais e os
interesses organizacionais não são atendidos equitativamente. Contudo, pode-se afirmar ao final
deste estudo, que a Unoesc possui duas formas discursivas para as atividades organizacionais e
gerenciais: uma forma sistêmico-controladora e outra processual-relacional. Na primeira pode-
se
citar, que a organização objeto de estudo, se utiliza de uma série de mecanismos burocráticos e
mecânicos em relação às atividades gerenciais, preocupando-se de forma substancial com o
controle, com a racionalização e com as metas organizacionais. Na segunda forma, percebe-se um
esforço em direção ao desenvolvimento de uma organização cada vez mais voltada para a
construção de acordos, entendimentos, interações humanas e processos criadores de significado.
Por fim, esta preocupação em desenvolver cada vez mais a interação humana, espaços de
diálogo, incentivo a comportamentos emergentes, demonstra que a Unoesc acredita no valor da
112
dimensão subjetiva das pessoas. Concorda, portanto, que a gestão que se dedica às pessoas torna-
se
atividade fundamental para a sobrevivência e o sucesso das organizações contemporâneas alocadas
em um ambiente de mudanças radicais e de adaptações drásticas, que não raramente superam a
capacidade de adaptação humana.
113
BIBLIOGRAFIA
ALBORNOZ, Suzana.
O que é trabalho
. 6
ed., São Pau
lo: Brasiliense, 1994.
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118
APÊNDICES
119
APÊNDICE 1
Roteiro
da entrevista
120
UNIJUÍ
-
Universidade Regional do Noroeste do Estado do Rio Grande do Sul
Vice
-
Reitoria de Pós
-
graduação, Pesquisa e Extensão
Coordenação do Curso de Pós
-
graduação
Stricto Sensu
em Desenvolvimento, Gestão e Cidadania
Campus Ijuí
:
Rua do Comércio, 3000
Prédio Delta
-
Bairro Universitário
-
98700.000
-
IJUÍ
-
RS
-
BRASIL Cx. P. 560
-
Telefones: (0xx55) 3332
-
0200,
(0xx55) 3332
-
0545 e (0xx55) 3332
-
0544
-
FAX: (0xx55) 3332
-
9100
Endereço eletrônico: http://www.unijui.tche.br/mestradode
senvolvimento
Correio eletrônico: [email protected]
Roteiro de Entrevista com Trabalhadores da UNOESC
Universidade do Oeste de Santa
Catarina
Acadêmico Sandro Rodrigo Steffens
A)
EM RELAÇÃO AO TRABALHO
1.
O que significa o trabalho para você? O trabalho que você realiza tem sentido por quê? O
que você busca no trabalho?
2.
O que significa para você trabalhar na UNOESC?
3.
O que motivou você a querer trabalhar na UNOESC? E, hoje, o que mais lhe motiva para
continuar trabalhando na UNOESC?
4.
Como você classi
fica a UNOESC como local de trabalho?
5.
Como você classifica as estruturas e processos do seu local de trabalho? certeza nos
processos? São estruturas racionais e objetivas?
6.
No seu trabalho, as atividades estão voltadas (preocupadas) fundamentalmente ao
alcance
das metas e resultados?
B)
EM RELAÇÃO ÀS (PROCESSOS-RELACIONAIS) ENTRE AS PESSOAS DA
ORGANIZAÇÀO
1.
Existem oportunidades de diálogo na empresa? De que tipo? É destinado tempo? Onde que
acontecem?
2.
Em que situações você considera que as decisões da UNOESC são tomadas com base na
realidade social da qual ela se insere?
3.
Diante de uma situação problemática (dúvida) como você e seus colegas agem para
solucionar? negociação, acordos, busca da melhor saída para que os serviços da
UNOESC não sejam prejud
icados?
4.
No seu entender quais fatores facilitam e quais fatores dificultam as relações interpessoais
entre você e seus colegas de trabalho como um todo?
5.
Sua participação nas ações de negociação, diálogo na empresa acontece por: iniciativa
própria, indicaçã
o da supervisão/gerência, política da empresa?.
121
6.
No seu entender, as melhorias que você percebe em termos de sua satisfação pessoal, sua
carreira e desempenho profissional, seu relacionamento interpessoal, são um resultado direto
da estrutura e dos controles organizacionais, ou são um resultado das relações humanas, de
acordos e entendimentos, uma busca contínua de interações humanas e diálogo?
C)
EM RELAÇÃO À EMPRESA
1.
No seu entender, quais foram às mudanças mais importantes que ocorreram na UNOESC
nos úl
timos cinco anos?
2.
As pessoas ao realizar seu trabalho
participam da tomada de decisões, trabalham em
equipe, inovam e correm risco, controlam o ritmo de trabalho, precisam pensar,
3.
As políticas e práticas de gestão de pessoas que existem na UNOESC estimulam: a) o
desenvolvimento pessoal e profissional; c) uma vantagem competitiva para a empresa?
4.
Dentre os benefícios voluntários oferecidos pela empresa, quais os três mais importantes
para você? Por quê?
5.
Você considera que as mudanças ocorridas nas UNOESC têm possibilitado ao mesmo
tempo, valorização humana e competitividade? De que maneira?
D)
EM RELAÇÃO ÀS POSSIBILIDADES DE DESENVOLVIMENTO HUMANO
1.
Em sua opinião é possível o trabalhador se desenvolver como pessoa no espaço de trabalho
e de vida da org
anização? Como?
2.
A UNOESC oferece aos trabalhadores oportunidades de se desenvolver como pessoa?
3.
Qual sua opinião sobre o tratamento que a empresa dispensa aos trabalhadores no dia
-a-
dia?
4.
Seu trabalho pode ser considerado altamente rotineiro, sem sentido, definido por
procedimentos que estritamente podem ser alterados racionalmente com base nos processos
e estruturas organizacionais gerais?
5.
Em sua opinião nos últimos cinco anos as mudanças ocorridas na empresa afetaram de
alguma forma sua relação com o trabalho? Ocorreram inovações tecnológicas que o
obrigaram a mudar sua forma de trabalhar?
IDENTIFICAÇÃO
1-
Idade:__________2
Sexo:__________3
Estado Civil: ______________________
4
Formação Escolar: ______________________________________________________
5
Tempo de trabalho na Empresa:____________
6
Cargo/ Função:__________________________________Tempo: ________________
Outras funções já desenvolvidas na Empresa:_____________________________________
122
TABELAS
123
Tabela1. Indicadores de Responsabilidade Social
da UNOESC,
2004
.
124
Tabela 2. Indicadores de Responsabilidade Social 2004.
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