81
da poupança externa para financiar o desenvolvimento, mantendo as reservas
elevadas. Entretanto, nem todo financiamento externo foi usado para o
desenvolvimento da atividade produtiva. Ao mesmo tempo “cerca de dois terços da
dívida externa contratada foram originalmente contratados sob a responsabilidade
do setor público, em suas diversas esferas e empresas” (BONELLI; GUIMARÃES,
1990, p.85). e no final de 1970 e início de 1980, “em torno de três quartos da dívida
externa brasileira de médio e longo prazo estavam contratadas a taxas de juros
flutuantes”(BAER, 1993, p. 75).
51
A partir do final dos anos setenta, alguns fatores de ordem internacional
passam a afetar a economia brasileira de forma bastante negativa, que trará toda
uma crise para os anos oitenta. Três grandes fatos podem ser definidos como
marcantes para a crise da dívida externa brasileira que será vista nos anos oitenta –
a segunda crise do petróleo, a elevação brutal das taxas de juros (nominal e real)
dos empréstimos internacionais, cujos contratos estavam baseados em taxas
flutuantes, e a recessão americana, gerando a contração na disponibilidade de
fundos emprestáveis.
52
Neste cenário de crise, ainda devido à aceleração nos
preços do petróleo, com o início do Governo Figueiredo, o até então Ministro da
Fazenda, Mario Henrique Simonsen, é alçado ao Ministério do Planejamento, e
Delfin Neto, que já fora Ministro da Fazenda durante o Governo Médici, assume a
pasta da agricultura. Simonsen era o principal assessor econômico do Governo
Figueiredo, e prevendo os problemas de balança de pagamento e a expectativa de
inflação da ordem de 40% ao ano
53
, entende que a única forma de controlar uma
mais possível a dívida externa bruta e garantir-se com as reservas também elevadas.”
(BRESSER-PEREIRA, 2003, pág. 192)
51
Segundo Baer (1993) o valor da dívida externa líquida em 1977 era de 29,480 bilhões de dólares,
já em 1982, chega a 79,210 bilhões de dólares, e em 1985 a 91,533 bilhões de dólares. O auge
das taxas de juros internacionais ocorrem no biênio 1981 e 1982, onde as taxas de juros nominais
norte-americanas estão em 18,9% e 14,9% ao ano, e a taxa Libor em 16,7% e a 13,6%. Ao
mesmo tempo o valor do barril do petróleo está em sua máxima cotação em dólares no mesmo
período US$ 33,71 e US$ 31,49, enquanto a produção nacional supre apenas 26,8% do consumo.
52
“O segundo choque do petróleo em 1979, a explosão nas taxas de juros internacionais em 1979-
80, a recessão mundial do triênio 19809-1982 e a súbita contração dos mercados internacionais
de crédito, começando no terceiro trimestre de 1982, levaram o Brasil à beira de um colapso
cambial nos últimos meses de 1982 e as complexas negociações com o FMI e principais credores
internacionais que se projetam até os dias de hoje” (BONELLI; GUIMARÃES, 1990. p.79)
53
Segundo Skidmore (1988), já em 1980 “o diagnóstico anterior de Simonsen parecia comprovado. A
economia brasileira estava sendo atingida pelos dois problemas tão conhecidos desde 1945 –
aceleração de inflação e emagrecimento das divisas cambiais – com os quais o ministro [Delfin
Neto] não se preocupou no período de 1967–74.” (SKIDMORE, 1988, p. 421).